Aos Cristãos comuns o festival natalino vem a ser a celebração da maior oferenda de Deus à nós: a vinda de um Redentor, uma época de grande júbilo, de felicidade e boa vontade transbordantes. Realmente, o mês de dezembro é a época mais apropriada para a celebração da vinda do Salvador.
Do mesmo modo com que o Solstício de Dezembro assinala o término do movimento descendente do Sol, salvando-nos assim de virmos a perecer de frio e fome, especialmente no hemisfério norte deste Planeta, assim também, quando Cristo veio, Ele deteve o movimento descendente da Humanidade e nos fez voltar à direção certa: para frente e para cima. Destarte, foi bastante apropriado que os antigos festivais solares – pré-Cristãos –, que celebravam o nascimento do Sol do novo ano, fossem substituídos pelo Natal.
Há também o retorno anual do Cristo, nesse período do ano, que não deve ser confundido com o Seu retorno, como prometera, no Corpo Vital de Jesus.
No momento da Crucificação, o Raio do Cristo Cósmico, que utilizava o corpo de Jesus, sobrepairou o Planeta Terra e nele adentrou. A cada ano, no Equinócio de Março, Ele recomeça o Seu retorno para os Mundos superiores e então celebramos a Páscoa. Inicia uma nova estação com o Sol nos céus do norte, misticamente chamado de “Polo Norte”, e retorna trazendo outro ano de suprimento do espiritualmente chamado Seu “sangue”, que, conforme lemos no Evangelho Segundo S. João 6:53[1], recebemos junto à nossa comida diária para limpeza de todo pecado, nutrindo o Cristo desperto, parcialmente desperto ou ainda adormecido dentro de nós (“A estes quis Deus tornar conhecida qual é entre os gentios a riqueza da glória deste mistério, que é Cristo em vós, a esperança da glória!” (Cl 1:27)). Isso começa a ser derramado sobre a Terra no Equinócio de Setembro, atinge a sua intensidade máxima na estação do Natal e cessa quando Ele retorna aos Mundos superiores, na Páscoa.
Naturalmente, quando isso está no auge, os impulsos de regozijo, do altruísmo e da boa vontade Crísticos são mais sentidos por nós. A isso se chama de espírito do Natal, sendo sua influência sentida por todos, em maior ou menor grau. Ele pode ser simbolizado por um ser humano idoso, de longa barba branca, com um corpo rotundo e natureza maravilhosamente benigna, alegre e generosa. Ele passou o verão no “Polo Norte” e traz aos “filhos dos homens” os presentes que esteve fazendo. S. Nicolau ou “Papai Noel” não é, realmente, um mito ou fábula, mas, sim um símbolo do grande fato que é o retorno anual do Cristo – ainda que hoje, por ignorância, muitos transformem o símbolo do “Papai Noel” em apelo comercial.
Um dos presentes trazidos por S. Nicolau, sobre o qual são pendurados os outros, é a árvore de Natal. O mais significativo a respeito da árvore de Natal é que ela é, ou deveria ser, um pinheiro. As árvores comuns, que perdem suas folhas no outono e apresentam novas na primavera, simbolizam os ciclos periódicos de morte e ressurreição do Corpo Denso por meio do renascimento; o pinheiro, porém, simboliza a vida eterna, a contínua consciência de que o Cristo veio para Se oferecer a nós.
A maioria de nós não receberá essa vida eterna, a não ser algum tempo após a Segunda Vinda de Cristo. A Bíblia diz que o último inimigo que deve ser destruído é a morte (“O último inimigo a ser destruído será a Morte, pois ele tudo colocou debaixo dos pés dele.” (ICor 15:26)). De fato, não mais existindo morte não haverá necessidade de renascimento.
O lenho dos pinheiros é comumente menos denso do que a madeira das árvores que deixam cair suas folhas. Isso está em acordo com o ensinamento de que nossos novos Corpos Densos serão menos cristalizados do que os atuais, de carne e sangue, que não podem herdar o Reino de Deus (ICor 15:50). Também a árvore de Natal tem as suas próprias luzes, proféticas de nossa futura e íntima ligação com a fonte de toda luz, de forma tal que os ensinamentos profanos serão quase, ou totalmente, desnecessários.
A história do “nascimento virginal”, na Bíblia, é um pormenorizado relato alegórico do que realmente sucederá a cada um de nós, quando tivermos “nascido novamente”, como Cristo explicou a Nicodemos, no Evangelho Segundo S. João (Jesus lhe respondeu: “Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer do alto não pode ver o Reino de Deus”. Disse-lhe Nicodemos: “Como pode um homem nascer, sendo já velho? Poderá entrar uma segunda vez no seio de sua mãe e nascer?”. Respondeu-lhe Jesus: “Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, o que nasceu do Espírito é espírito. Não te admires de eu te haver dito: deveis nascer do alto. O vento sopra onde quer e ouves o seu ruído, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito”. (Jo 3:3-8). Teremos então a mesma espécie de “chaves” que foram oferecidas a S. Pedro (“Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus.” (Mt 16-19)) e seremos capazes de ver os Mundos superiores, chamados de Reino de Deus, e entrar neles, à semelhança do vento, em nossos novos corpos, “como fantasmas” chamados “Vestido Dourado de Bodas” ou “Manto Nupcial” – o Corpo-Alma – enquanto os Corpos Densos estão adormecidos durante a noite ou em outros momentos.
Alguns pais tentam fazer com que seus filhos creiam literalmente em S. Nicolau e, quando estes começam a pensar de outra maneira, a fé em seus pais é fortemente abalada. Alguns líderes religiosos nos fizeram crer em um literal nascimento virginal, tais como as afirmações de Buda, Tamuz e outros, assim chamados, líderes. Isso faz com que muitos percam a confiança nas Igrejas.
Outro ângulo da história do Natal, que se relaciona ao “nascer novamente”, é a estrela. S. Mateus nos diz que ela foi vista por “homens sábios”, mas não disse que foi vista por alguém mais[2]. S. Lucas não se refere a isso, absolutamente. Os “homens sábios” de hoje ainda seguem essa mesma estrela, a fim de que possam ser conduzidos até o nascimento de seus próprios “Cristos Internos”. Esse constrói para si, dentro do Corpo Denso e nele interpenetrando, o novo e etérico “corpo anímico”, o Corpo-Alma. Antes do seu “nascimento” ou formação, que é consumado sob a orientação e o controle dos Irmãos Maiores, está ligado ao Corpo Denso em sete pontos, cinco dos quais — a fronte, as palmas de ambas as mãos e as plantas de ambos os pés — configuram uma estrela.
Uma vez que, simbolicamente falando, o véu do templo foi rasgado em dois, todos podem aspirar agora ao “novo nascimento”, que S. Paulo chama de “o elevado chamado de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3:14).
Do mesmo modo que o Sol do ano novo leva algum tempo para banir o frio do inverno, assim também é necessário certo tempo para que o Cristo limpe as condições adversas acumuladas em épocas anteriores a Ele. Quando consideramos que 2.000 anos correspondem a menos de um mês em um Ano Sideral, que tem aproximadamente 25.000 anos, e comparamos as condições não tão boas da atualidade com as muito piores de 2.000 anos atrás, sentimos que houve muito progresso. E o índice de melhora aumentará do mesmo modo que o grau de aquecimento aumenta à medida que realmente chegamos à “primavera”.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de dezembro/1972 – Fraternidade Rosacruz-SP)
[1] N.R.: “Em verdade, em verdade, vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós.”
[2] N.R.: Onde está o rei dos judeus recém-nascido? Com efeito, vimos a sua estrela no seu surgir e viemos homenageá-lo”. Ouvindo isso, o rei Herodes ficou alarmado e com ele toda Jerusalém. E, convocando todos os chefes dos sacerdotes e os escribas do povo, procurou saber deles onde havia de nascer o Cristo. Eles responderam: “Em Belém da Judéia, pois é isto que foi escrito pelo profeta: E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és o menor entre os clãs de Judá, pois de ti sairá um chefe que apascentará Israel, o meu povo”. Então Herodes mandou chamar secretamente os magos e procurou certificar-se com eles a respeito do tempo em que a estrela tinha aparecido. E, enviando-os a Belém, disse-lhes: “Ide e procurai obter informações exatas a respeito do menino e, ao encontrá-lo, avisai-me, para que, também, eu vá homenageá-lo”. A essas palavras do rei, eles partiram. E eis que a estrela que tinham visto no seu surgir ia à frente deles até que parou sobre o lugar onde se encontrava o menino. 10Eles, revendo a estrela, alegraram-se imensamente. (Mt 2:2:10).
Por que este número três?
Seria por causa de S. Mateus que só menciona três presentes: ouro, incenso e mirra – atribuindo-se, assim, simplesmente um presente para cada Rei?
O texto evangélico não diz mais, além do que os “Magos vieram do Oriente à Jerusalém” (Mt 2:1) onde perguntaram a todos pelo recém-nascido – “Onde está o rei dos judeus recém-nascido? Com efeito, vimos a sua estrela no seu surgir e viemos homenageá-lo” (Mt 2:2).
Segundo S. Mateus, os Magos encontraram o Menino Jesus e Maria em “Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, no tempo do rei Herodes” (Mt 2:1). Quem seriam esses Magos? Max Heindel dá-nos uma resposta rica em detalhes de conhecimento oculto: “Nos tempos antigos antes da vinda de Cristo, somente uns poucos escolhidos podiam seguir o caminho da Iniciação” (do Livro Conceito Rosacruz do Cosmos – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz). Era um privilégio ao alcance de uma minoria, tais como os Levitas, Druidas, Trotes. Estes eram levados aos Templos, onde lá permaneciam. Casavam-se em condições determinadas. Alguns se preparavam para fins definidos, como por exemplo, desenvolver um apropriado afrouxamento entre os Corpos Vital e Corpo Denso, cuja separação é necessária para a Iniciação. Tem de haver esta separação para que se possam desprender os dois Éteres Superiores e deixar os outros dois Éteres Inferiores. Isso não se podia fazer com a Humanidade comum daquele momento evolutivo. A maioria das pessoas estava, ainda, muito aferrada ao Corpo de Desejos, e por isso, devia aguardar até mais tarde, quando as condições evolutivas dessa maioria fossem melhores.
Até àqueles que se encontravam reunidos nos Templos era perigoso o trabalho de libertá-los fora de certas épocas; e a mais longa noite do ano, a noite de Natal, era uma das mais apropriadas para a Iniciação.
Quando o maior impulso espiritual estava presente, havia melhor oportunidade para estabelecer contato com Ele, do que em qualquer outra parte do ano. Na Noite Santa do Natal era costume dos Seres Sábios – os Magos – que estavam, evolutivamente, acima da Humanidade comum, levar ao Templo aqueles que se estavam tornando sábios e, portanto, com direito a serem Iniciados. Realizavam-se determinadas cerimônias e os candidatos eram mergulhados numa espécie de transe. Naquele tempo não se lhes podia conceder a Iniciação em estado de completa vigília, como hoje. Quando despertada a sua percepção espiritual, podiam ver através da Terra que para a sua visão espiritual tornava-se transparente, por assim dizer, e viam a Estrela da Meia-Noite, o Sol espiritual do outro lado do globo terrestre.
Porém, essa estrela não brilhava somente nessa época. É mais fácil vê-la agora, porque Cristo alterou as vibrações da Terra e desde então o seu aperfeiçoamento se efetiva. Ele rasgou o véu do templo, e fez o Santo dos Santos – o lugar da Iniciação – accessível a todo aquele que, de coração devoto, queira alcançar a Iniciação. Desde então não mais foi necessário o transe ou estados subjetivos. Há uma chamada consciente dentro do Templo para todo aquele que deseja entrar.
Temos de considerar outra coisa: as oferendas dos Magos, postas aos pés do Salvador recém-nascido. Segundo a lenda um trouxe ouro, outro mirra e o terceiro incenso.
Sempre temos ouvido falar do ouro, como símbolo do Espírito. O Espírito é simbolizado deste modo no Anel dos Nibelungos[1]. Na primeira cena vemos o ouro do Reno. O rio é tomado como emblema da água e ali se vê o ouro brilhando sobre a rocha, simbolizando o Espírito Universal em perfeita pureza. Mais tarde roubam-no e o convertem em anel. Isto o fez Alberico, simbolizando a Humanidade na parte média da Atlântida em cuja época o Espírito penetrou nos veículos humanos. Depois o ouro foi adulterado, perdeu-se e foi à causa de toda a tristeza sobre a Terra. Os Alquimistas dizem ser possível transmutar os metais baixos ou vis em ouro puro; este é o modo espiritual de dizer que eles queriam purificar o Corpo Denso, refiná-lo e extrair dele a essência espiritual, pela sublimação dos instintos, e não pela sua supressão ou pelo recalcamento.
Portanto, o presente de um dos reis Magos, o ouro, simboliza o Espírito puro.
A Mirra é extraída duma planta aromática, cultivada na Arábia. Por esse motivo simboliza aquilo que extraímos de nós mesmos quando nos purificamos, libertando o nosso sangue da paixão que nos consome. Deste modo, nos convertemos em algo semelhante às plantas, na nossa castidade e pureza. Então, o nosso Corpo Denso se torna uma essência aromática. É certo que existem homens e mulheres tão santos que emitem de si um aroma agradável, e daí dizer-se que morreram em odor de santidade. A mirra representa a essência da alma, extraída da experiência realizada enquanto se vive em Corpos Densos. Por isso ela simboliza a Alma.
O incenso é uma substância física de um caráter muito sutil e usada muito amiúde, nos serviços religiosos, onde serve de veículo físico para as forças invisíveis, simbolizando assim o Corpo Denso.
Esta é a chave dos três presentes oferecidos pelos Magos, ou seja: o Espírito, a Alma e o Corpo.
Cristo afirmou: ” Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens” (Mt 19:21). Não deve ficar com coisa alguma. Tem que dar o Corpo, a Alma e o Espírito, tudo, pela Vida Superior para Cristo, não para um Cristo exterior, mas para o Cristo Interno, o Cristo que está dentro de cada um de nós. Os três Magos, segundo diz a lenda, eram: um amarelo, outro negro e outro branco. Representavam as três Raças existentes sobre a Terra: a Mongólia – amarela; da África – a negra; e do Cáucaso – a branca. A lenda demonstra que seu tempo todas as Raças se unirão na benéfica Religião do Cristo, porque “diante d’Ele todo o joelho se dobra” (Rm 14:11). E cada um, a seu tempo, será guiado pela Estrela de Belém.
(Publicado na Revista: Serviço Rosacruz – dezembro/1968 – Fraternidade Rosacruz – SP)
[1] N.R.: O Anel de Nibelungo é, na mitologia nórdica, um anel mágico que daria ao seu portador um grande poder. Na Fraternidade Rosacruz, essa obra é estudada no Curso Suplementar de Filosofia Rosacruz.
Os verdadeiros presentes de Natal são mais profundos que aqueles que muitos de nós dão, por ensejo tradicional.
Afinal, o Caminho da Espiritualidade começa em dar de si. Não se trata de dar presentes, mas dar de si mesmo, nas menores coisas e manifestações (pelos pensar, sentir, falar e agir). Tal é “o caminho mais curto, o mais seguro e mais agradável que nos conduz à Deus” (que repetimos todas as vezes que oficiamos o Ritual do Serviço Devocional do Templo), ou seja, à religação consciente com o “Eu superior”, o que realmente somos, a Individualidade, o Ego, um Espírito Virginal da Onda de Vida humana manifestado aqui.
O Natal é o símbolo da culminância de um estado de transição, do humano para o espiritual. Para chegar a esse portal e ser admitido como “novo nascido” é mister aprender a lição do serviço amoroso e desinteressado (portanto, o mais anônimo possível), focado na divina essência oculta em cada um de nós – que é a base para a Fraternidade Universal, em cada minuto do ano.
Cristo é o divino presente a que todos devemos almejar: é o coração que preparamos para recebê-lo; é a consciência despojada de valores negativos que pode conceber o Messias interno. Devemos nos preparar, “Somos Cristos em formação”, como nos ensina S. Paulo em suas Epístolas. Que Deus fortaleça nossas aspirações!
Vamos falar do símbolo que há no pinheirinho de Natal. O pinheirinho é árvore de folhas perenes. No auge do inverno no hemisfério norte, quando a neve se vai acumulando, pesando e crestando suas folhas, ele permanece firme, à espera do hálito quente da primavera que vem reanimá-lo. Daí haver sido tomado como símbolo da vida eterna, que transita pelas estações do ano, inalterável aos desafios dos renascimentos, ereto, olhando para o céu e levantando os braços em oração.
A silhueta do pinheiro é triangular. O triângulo com a ponta para cima é o símbolo da Trindade Divina, em que reside a vida eterna. Seu verde constante é o símbolo da esperança que não se abate nas vicissitudes.
Assim, não importa que aqui no hemisfério sul não haja neve. Pense no símbolo e ponha uns flocos de algodão sobre as folhas de seu pinheirinho. E as lampadazinhas lembrarão o significado da vida, que por si só ele exprime.
Agora, vamos falar sobre a simbologia que há nas velas natalinas. As velas que se acendem ou que figuram nos adornos natalinos, representam a luz do Aspirante à vida superior, Cristão. Nosso estado atual de consciência ainda não pode libertar a luz total do Espírito interno. É apenas uma fresta, uma pequenina luz. No entanto, todas as trevas do mundo não podem esconder a luz de uma pequenina vela. Ao contrário, quanto mais profunda as trevas, mais ressalta a luz, por pequena que seja. Se não podemos ser uma estrela, sejamos uma lâmpada que alumia a todos e a nós mesmos. Se não podemos ser uma lâmpada, sejamos, pelo menos uma pequena vela. Dizendo melhor, não é que humanamente possamos ser alguma coisa. Em verdade depende de compreendermos que o Divino, em nós, é quem faz. “Deus é Luz” (IJo 1:5). Somos feitos à Sua imagem e semelhança. Basta, pois, que deixemos a luz interna brilhar, na medida em que removemos os condicionamentos da Personalidade, como as nuvens desfeitas revelam o Sol. Acenda as velas de Natal e pense nisso.
Será que o verdadeiro “Papai Noel” – não esse que temos nos comerciais vestido de vermelho, azul e outras cores e o branco e que, para muitos, é o que é o Natal – também é um símbolo natalino? Vejamos! A figura simpática, sempre esperada, de “Papai Noel” ou S. Nicolau (conforme a tradição) está ligada a Júpiter, governante de Sagitário: alto, forte, rosado, risonho, dadivoso – as características físicas e internas de Júpiter, Regente de Sagitário, que precede e anuncia o Natal.
E por falar em presentes, não podíamos deixar de citar os três Reis Magos e seus presentes. Vamos ver a simbologia que aqui há: a narrativa da visita dos Reis Magos está no Evangelho segundo S. Mateus[1]. Nesse trecho se fala indeterminadamente de alguns magos que vieram do oriente. A tradição designou três representantes das Raças: branca, amarela e negra. Beda, um escritor inglês (673-735) foi quem os batizou de Gaspar, Melchior e Baltazar. A palavra “mago” vem do hebraico “magh”, em sânscrito “mahat”, que significa “grande”.
A simbologia é clara: a realização do verdadeiro Cristianismo há de abraçar a Humanidade inteira e dissolver todo o conceito de Raças na unidade espiritual. Mas, isso acontecerá quando cada um de nós se tornar um “mago”, isto é, grande (por dentro), um rei (que governa a si mesmo), ao alcançar a união com o “Eu superior” – e servir à “divina essência oculta” em todos nossos irmãos e nossas irmãs, acima de todos os preconceitos que são as divisórias atuais.
Os presentes que três Reis Magos deram: ouro, incenso e mirra são alegorias do Espírito, Corpo e Alma, respectivamente. Estamos evoluindo, e quando iluminados pela consciência é o ouro depositado das escórias. A mirra é uma erva amarga (resina de Balemodendron) procedente da Arábia e alude às dores e dificuldades com que o nós, o Ego humano, evoluímos acumulando nossas experiências por meio dos Renascimentos aqui. O incenso é utilizado nos ofícios religiosos para incorporação de Elementais que trabalham, sob as ordens dos Anjos, pela respectiva comunidade. A Fraternidade Rosacruz desaconselha o seu uso e prefere meios internos, já que é um recurso de incorporação. Daí estar ligado com o “corpo”.
Conjuntamente, os presentes dos magos representam a dedicação integral do Aspirante à vida superior ao seu Cristo Interno, quando Ele nasce. Somente quando a consciência do que realmente somos (a Individualidade, um Espírito, um Ego humano) desperta se diz que o Cristo Interno nasceu.
O Cristo definiu essa dedicação integral como o maior mandamento Cristão: “Amar a Deus (o Divino em si, nos semelhantes e no Universo) de todo o coração, de todo o entendimento, com todas as forças, de toda alma” (Mt 12:30).
Agora, vamos ver o símbolo que há oculto no presépio natalino. Segundo a história, o presépio foi instituído por S. Francisco de Assis, para representar a cena da manjedoura, descrita pelo Evangelho segundo S. Lucas. Seria ideal que nossos filhos e nossas filhas aprendessem a modelar as figurinhas de massinha, para representar essa cena. Uma caixa de areia, com o auxílio de uns pedaços de plástico para imitar os rios, pontilhões de papelão, manjedoura com palhinha e pauzinhos, detritos de madeira serrada e pintados de verde, para imitar a grama, fixam vivamente, no íntimo da criança, o cenário natalino, de tão formosos símbolos. O presépio nos enseja ocasião de explicar às crianças, com palavras simples, aquilo que Cristo pede a cada um de nós (“Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, não para os homens.” (Col 3:23); “Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade.” (IICor 9:7); “Devemos dar nossa vida pelos irmãos.” (IJo 3:16)). José e Maria não encontram lugar para Jesus nascer e tiveram que se ajeitar em uma manjedoura (lugar anexo à casa onde pernoitavam e alimentavam os animais, principalmente no inverno). Pergunta: Você tem um lugarzinho em seu coração, para nascer Jesus?
A cidade se chamava Belém, que significa “casa do pão”. Essa “casa de pão” é o nosso coração, quando aprendemos a viver bem, isto é, quando aproveitamos as oportunidades de cada dia, como grãozinhos de trigo, e vamos moendo, cozendo, com bons pensamentos, sentimentos, desejos, boas emoções, palavras verdadeiras e amorosas, atos bons, ações e obras boas, o pão vivo, a hóstia sagrada.
Belém ficava na região da Galileia, que significa “Jardim fechado”; quer dizer o nosso íntimo, o lugar secreto do Altíssimo mencionado no Salmo 91[2]. Ali é que tem que nascer nosso Cristo Interno, como “nasceu” o Cristo aqui entre nós. É Cristo que nos ensina que deve haver um Natal interno. Angelus Silésius nos ensinou: “Ainda que o Cristo nascesse mil vezes em Belém, se não nascer dentro de ti, tua alma continuará extraviada… Olharás em vão a cruz do Gólgota, a menos que ela seja erguida em teu próprio coração”.
José conduziu Maria grávida, para Belém. Também nós devemos estar cheios de luz, de bem, de amor, de entendimento da verdade espiritual, para que nasça o Cristo Interno. A gestação é de tempo variável: depende do nosso preparo. Podemos abreviá-lo ou retardá-lo. Os incômodos da gravidez são altamente compensados pela alegria do nascimento.
O menino se chamou Jesus. Jesus significa “aquele que é salvo por Deus”. Salvo de quê? De quem? De você mesmo, de sua falsa Personalidade, egoísta, que é o “anticristo”. Só a Graça de Deus pode conseguir isso, bem como aprendemos no Livro das Crônicas: “Não temais, não vos deixeis atemorizar diante dessa imensa multidão; pois esta guerra não é vossa, mas de Deus.” (IICro 20;15). Então você poderá se chamar também Jesus, “aquele que é salvo por Deus”.
A mesma Trindade (pai, mãe e filho, aqui representada por José, Maria e Jesus respectivamente) aparece igualmente na tradição filosófica de outros países. Sempre um iluminado ser nascia de uma “virgem” e esses Iniciados estavam relacionados com o Sol. Entre os persas foi Mitras; entre caldeus foi Tamuz; entre os egípcios foi Horus, filho de Osíris e Isis. Os antigos deuses do norte previam a aproximação da “luz-dos-Deuses” como a chegada de Surt, o brilhante Sol-Espiritual desses deuses e inaugurar harmonia em “”Gimie”, a terra regenerada.
Só o Cristianismo fala de Alguém que veio e que voltará!
No ponto de vista externo, exotérico, essas crenças criaram a adoração do Sol, como fonte de espiritualidade, luz e vida. Em todas as partes se construíram os Templos com as portas em direção ao Leste, onde “nasce o Sol”.
Do ponto de vista interno, esotérico, o “místico Sol da meia-noite” há de brilhar na escuridão da nossa inconsciência atual, com o irromper da Luz interna, do Cristo Interno, que vem estabelecer definitiva harmonia em nosso ser, quando estejamos preparados, em condição de uma “terra regenerada”, isto é, uma Personalidade transformada para servir de canal ao “Eu superior”. Isso pressupõe uma Personalidade humilde (a “manjedoura”) e a parte instintiva, animal, domesticada (o boi e o burrico) que S. Francisco de Assis colocou ali inspirado pelo Livro de Habacuc[3].
De um prisma cósmico, mais amplo, Cristo veio efetivamente do Sol, pois é o mais elevado Iniciado entre os Arcanjos. O que possibilitou Sua vinda foi o preparo de Jesus, que lhe cedeu os veículos Corpo Denso e Corpo Vital, para que se manifestasse entre nós como um ser humano. “Como é em cima é em baixo” e, assim, para manifestação do Cristo Interno é necessário que a Personalidade se regenere. Então, se cumpre a profecia da vinda do Messias o “Himmanu-El”[4], “o Deus conosco” – Aquele que nascerá no íntimo de cada um de nós, quando transformado e libertado.
O nascimento de Jesus foi narrado por S. Mateus e S. Lucas. Cada um deles fez a narrativa de forma diversa, porque os Evangelhos são métodos de Iniciação. S. Mateus é o método masculino, positivo, do fator vontade. Sua narrativa é marcada de aventuras e perigos. José é avisado pelo Anjo para receber Maria, que “concebeu do Espírito Santo”, o que mostra que da vontade humana não pode vir a realização espiritual, mas de uma fonte mais elevada, pois é Deus-Pai “em mim quem faz as obras; eu, de mim mesmo, nada posso”. Receber a visita dos Reis Magos seus presentes (dedicação consciente ao Cristo interno. Prevalece o fator masculino). José é avisado novamente para deixar Belém, antes do ataque de Herodes (o egoísmo, natureza inferior enciumada), refugiando-se no Egito, a Terra do Silêncio (o preparo interno e silencioso). Já em S. Lucas é o método místico na cena da manjedoura, em humildade e recolhimento, mostrando que o processo de preparo é interno, reservado. É sempre Maria (o fator feminino, coração) que é avisada pelo Anjo. Ela deve ser virgem (um ser humano despojado de impurezas internas, em sua imaginação, o lado feminino), desposada com José, um viúvo, segundo a tradição, ou seja, a vontade humana a serviço do justo, desligada da esposa, do mundo, do vício.
Na Fraternidade Rosacruz aprendemos que os dois lados são necessários: o Ocultista (intelecto, cabeça, razão) e o Místico (coração, a devoção). Por isso, a Fraternidade Rosacruz adota os emblemas de uma lâmpada ou lamparina (a razão) e de um coração (a devoção), que são os dois polos que temos. Quando esses dois polos se aperfeiçoam, de seu encontro nasce a luz, a sabedoria interna, decorrente da união do amor e do conhecimento, para tornar a Mente amorosa e o Coração sábio.
O fato histórico existiu e persiste como tradição, porque esotericamente a vida de Cristo-Jesus é um convite à realização interna. À nossa maneira, todos devemos realizar, individualmente, as fases daquele que nos serviu de modelo.
Agora, vamos ver como é o verdadeiro presente natalino que todos, pobres e ricos, bons e maus, crianças e idosos, homens e mulheres e quaisquer outras “duplas” que podemos segmentar recebem na época do Natal.
Do ponto de vista cósmico é o que anuncia o presente do céu: o Cristo do Ano Novo, a vida que vem dar novo alento à Terra (na noite mais longa e escura do Ano) física, em uma boa parte da Terra e espiritual em toda à Terra; o Cristo é a promessa da nova vida, com a beleza de cores e perfumes, com as sementes que se converterão em alimento físico e espiritual, para que a Humanidade não pereça.
Do ponto de vista coletivo, Cristo é o presente celeste, confortando pelo novo impulso de altruísmo e luz que dá ao globo terrestre, para nos assegurar a evolução e nos livrar de uma nova espécie de “Queda do Homem”. É um eterno presente, já que Ele voluntariamente se encadeou a cruz do mundo, até que sejamos salvos: “Estarei convosco até a consumação dos séculos” (Mt 28-20).
Do ponto de vista individual, é a promessa do fruto espiritual, já que todos somos “Cristos em formação” e Ele é o modelo, o exemplo que todos devemos imitar, a nosso modo, internamente. É o convite de um Natal interno, pela religação consciente com o “Eu superior”.
Assim, de modo geral, os presentes natalinos e o coração generoso que os oferece, representam as dádivas divinas, em todos os sentidos, já que “Deus é Amor” (IJo 4:8). É o Espírito de Natal expresso em todos os minutos do ano, mas que assumiu sua mais significativa expressão pela vinda do Cristo, o excelso presente.
Oxalá que esta orientação do Cristianismo Esotérico da Filosofia Rosacruz lhe traga uma nova abertura e um firme propósito para alcançar essa meta sublime!
(Publicado na Revista O Encontro Rosacruz de dezembro/1982 – Fraternidade Rosacruz de Santo André-SP)
[1] N.R. : Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que vieram magos do Oriente a Jerusalém, 2perguntando: “Onde está o rei dos judeus recém-nascido? Com efeito, vimos a sua estrela no seu surgir e viemos homenageá-lo”. 3Ouvindo isso, o rei Herodes ficou alarmado e com ele toda Jerusalém. 4E, convocando todos os chefes dos sacerdotes e os escribas do povo, procurou saber deles onde havia de nascer o Cristo. 5Eles responderam: “Em Belém da Judéia, pois é isto que foi escrito pelo profeta: 6E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és o menor entre os clãs de Judá, pois de ti sairá um chefe que apascentará Israel, o meu povo”. 7Então Herodes mandou chamar secretamente os magos e procurou certificar-se com eles a respeito do tempo em que a estrela tinha aparecido. 8E, enviando-os a Belém, disse-lhes: “Ide e procurai obter informações exatas a respeito do menino e, ao encontrá-lo, avisai-me, para que, também, eu vá homenageá-lo”. 9A essas palavras do rei, eles partiram. E eis que a estrela que tinham visto no seu surgir ia à frente deles até que parou sobre o lugar onde se encontrava o menino. 10Eles, revendo a estrela, alegraram-se imensamente. 11Ao entrar na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o homenagearam. Em seguida, abriram seus cofres e ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra. 12Avisados em sonho que não voltassem a Herodes, regressaram por outro caminho para a sua região.
[2] N.R.: 1Quem habita na proteção do Altíssimo pernoita à sombra de Shaddai, 2dizendo a Iahweh: Meu abrigo, minha fortaleza, meu Deus, em quem confio! 3É ele quem te livra do laço do caçador que se ocupa em destruir; 4ele te esconde com suas penas, sob suas asas encontras um abrigo. Sua fidelidade é escudo e couraça. 5Não temerás o terror da noite nem a flecha que voa de dia, 6nem a peste que caminha na treva, nem a epidemia que devasta ao meio-dia. 7Caiam mil ao teu lado e dez mil à tua direita, a ti nada atingirá. 8Basta que olhes com teus olhos, para ver o salário dos ímpios, 9tu, que dizes: Iahweh é o meu abrigo, e fazes do Altíssimo teu, refúgio. 10A desgraça jamais te atingirá e praga nenhuma chegará à tua tenda: 11pois em teu favor ele ordenou aos seus anjos que te guardem em teus caminhos todos. 12Eles te levarão em suas mãos, para que teus pés não tropecem numa pedra; 13poderás caminhar sobre o leão e a víbora, pisarás o leãozinho e o dragão. 14Porque a mim se apegou, eu o livrarei, eu o protegerei, pois conhece o meu nome. 15Ele me invocará e eu responderei: “Na angústia estarei com ele, eu o livrarei e o glorificarei; 16vou saciá-lo com longos dias e lhe mostrarei a minha salvação”.
[3] N.R.: 1 Título — 1Oráculo que o profeta Habacuc recebeu em visão.
I. Diálogo entre o profeta e o seu Deus
Primeira lamentação do profeta: a derrota da justiça
2Até quando, Iahweh, pedirei socorro e não ouvirás, gritarei a ti: “Violência!”., e não salvarás? 3Por que me fazes ver a iniquidade e contemplas a opressão? Rapina e violência estão diante de mim, há disputa, levantam-se contendas! 4Por isso a lei se enfraquece, e o direito não aparece nunca mais! Sim, o ímpio cerca o justo, por isso o direito aparece torcido!
Primeiro oráculo: os caldeus flagelo de Deus
5Olhai entre os povos e contemplai, espantai-vos, admirai-vos! Porque realizo, em vossos dias, uma obra, vós não acreditaríeis, se fosse contada. 6Sim, eis que suscitarei os caldeus, esse povo cruel e impetuoso, que percorre vastas extensões da terra para conquistar habitações que não lhe pertencem. 7Ele é terrível e temível, dele procede seu direito e sua grandeza! 8Seus cavalos são mais rápidos do que panteras, mais ferozes do que lobos da tarde. Os seus cavaleiros galopam, seus cavaleiros chegam de longe, eles voam como a águia que se precipita para devorar. 9Acorrem todos para a violência, sua face ardente é como um vento do oriente; eles amontoam prisioneiros como areia! 10Ele zomba dos reis, príncipes são para ele motivo de riso. Ele se ri de toda fortaleza; ele amontoa terra e a toma! 11Então o vento virou e passou… É culpado aquele cuja força é seu deus!
Segunda lamentação do profeta: as extorsões do opressor
12Não és tu, Iahweh, desde o início o meu Deus, o meu santo, que não morre? Iahweh, tu o estabeleceste para exercer o direito, ó Rochedo,” tu o constituíste para castigar! 13Teus olhos são puros demais para ver o mal, tu não podes contemplar a opressão. Por que contemplas os traidores, silencias quando um ímpio devora alguém mais justo do que ele? 14Tu tratas o homem como os peixes do mar, como répteis que não têm chefe! 15Ele os tira a todos com o anzol, puxa-os com a sua rede e os recolhe em sua nassa; por isso ele ri e se alegra! 16Por isso ele oferece sacrifícios à sua rede, incenso à sua nassa; pois por causa delas a sua porção foi abundante e o seu alimento copioso. 17Esvaziará ele, sem cessar, a sua rede, massacrando os povos sem piedade?
2 Segundo oráculo: o justo viverá por sua fidelidade
1Vou ficar de pé em meu posto de guarda, vou colocar-me sobre minha muralha e espreitar para ver o que ele me dirá e o que responderá à minha queixa. 2Então Iahweh respondeu-me, dizendo: “Escreve a visão, grava-a claramente sobre tábuas, para que se possa ler facilmente. 3Porque é ainda uma visão para um tempo determinado: ela aspira por seu termo e não engana; se ela tarda, espera-a, porque certamente virá, não falhará! 4Eis que sucumbe aquele cuja alma não é reta, mas o justo viverá por sua fidelidade”.
II. Maldições contra o opressor
Prelúdio
5Verdadeiramente a riqueza engana! Um homem arrogante não permanecerá, ainda que escancare suas fauces como o Xeol, e, como a morte, seja insaciável; ainda que reúna para si todas as nações e congregue a seu redor todos os povos! 6Não entoarão, todos eles, uma Sátira contra ele? não dirigirão epigramas a ele? Eles dirão:
As cinco imprecações
I Ai daquele que acumula o que não é seu, (até quando?) e se carrega de penhores! 7Não se levantarão, de repente, os teus credores, não despertarão os teus exatores? Tu serás a sua presa. 8Porque saqueaste numerosas nações, tudo o que resta dos povos te saqueará, por causa do sangue humano, pela violência feita à terra, à cidade e a todos os seus habitantes!
II 9Ai daquele que ajunta ganhos injustos para a sua casa, para colocar bem alto o seu ninho, para escapar à mão da desgraça! 10Decidiste a vergonha para a tua casa: destruindo muitas nações, pecaste contra ti mesmo. 11Sim, da parede a pedra gritará, e do madeiramento as vigas responderão.
III 12Ai daquele que constrói uma cidade com sangue e funda uma capital na injustiça! 13Não é de Iahweh dos Exércitos que os povos trabalhem para o fogo e que as nações se esforcem para o nada? 14Porque a terra será repleta do conhecimento da glória de Iahweh, como as águas cobrem o fundo do mar!
IV 15Ai daquele que faz beber seus vizinhos, e que mistura seu veneno até embriagá-los,para ver a sua nudez! 16Tu te saciaste de ignomínia e não de glória! Hebe, pois, tu também, e mostra o teu prepúcio! Volta-se contra ti a taça da direita de Iahweh, e a infâmia vai cobrir a tua glória! 17Porque a violência contra o Líbano te cobrirá, e a matança de animais te causará terror, por causa do sangue humano, pela violência feita à terra, à cidade e a todos os seus habitantes!
V 19Ai” daquele que diz à madeira: “Desperta!”. E à pedra silenciosa: “Acorda!”. (Ele ensina!) Ei-lo revestido de ouro e prata, mas não há sopro de vida em seu seio. 18De que serve uma escultura para que seu artista a esculpa? Um ídolo de metal, um mestre de mentira, para que nele confie o seu artista, construindo ídolos mudos? 20Mas Iahweh está em seu Santuário sagrado: Silêncio em sua presença, terra inteira!
III. Apelo à intervenção de Iahweh
3 Título — 1Uma oração do profeta Habacuc no tom das lamentações.
Prelúdio. Súplica
2Iahweh, ouvi a tua fama, temi, Iahweh, a tua obra! Em nosso tempo faz revivê-la, em nosso tempo manifesta-a, na cólera lembra-te de ter compaixão!
Teofania. A chegada de Iahweh
3Eloá vem de Temã, e o Santo do monte Farã. A sua majestade cobre os céus, e a terra está cheia de seu louvor. 4Seu brilho é como a luz, raios saem de sua mão, lá está o segredo de sua força. 5Diante dele caminha a peste, e a febre segue os seus passos. 6Ele pára e faz tremer a terra, olha e faz vacilar as nações. As montanhas eternas são destroçadas, desfazem-se as colinas antigas, seus caminhos de sempre. 7Vi em aflição as tendas de Cusã, estão agitadas as tendas da terra de Madiã.
O combate de Iahweh
8Será contra os rios, Iahweh,que a tua cólera se inflama, ou o teu furor contra o mar para que montes em teus cavalos, em teus carros vitoriosos? 9Tu desnudas o teu arco, sacias de flechas a sua corda. Cavas o solo com torrentes. 10Ao ver-te as montanhas tremem; uma tromba d’água passa, o abismo faz ouvir a sua voz, levanta para o alto as suas mãos. 11Sol e lua permanecem em sua morada, diante da luz de tuas flechas que partem, diante do brilho do relâmpago de tua lança. 12Com cólera percorres a terra, com ira pisas as nações. 13Tu saíste para salvar o teu povo, para salvar o teu ungido, destroçaste o teto da casa do ímpio, desnudando os fundamentos até à rocha. 14Traspassaste com teus dardos o chefe de seus guerreiros, que se arremessavam para nos dispersar com gritos de alegria, como se fossem devorar um miserável em lugar escondido. 15Pisaste o mar com teus cavalos, o turbilhão das grandes águas!
Conclusão: Temor humano e fé em Deus
16Eu ouvi!’ Minhas entranhas tremeram. A esse ruído meus lábios estremeceram, a cárie penetra em meus ossos, e os meus passos tornam-se vacilantes. Espero tranquilo o dia da angústia que se levantará contra o povo que nos ataca! 17(Porque a figueira não dará fruto, e não haverá frutos nas vinhas. Decepcionará o produto da oliveira, e os campos não darão de comer, as ovelhas desaparecerão do aprisco e não haverá gado nos estábulos). 18Eu, porém, me alegrarei em Iahweh, exultarei no Deus de minha salvação! 19Iahweh, meu Senhor, é a minha força, torna meus pés semelhantes aos das gazelas, e faz-me caminhar nas alturas. Ao mestre de canto. Para instrumentos de corda.
[4] N.R.: ou Immanu-El, que é uma forma de se referir a Cristo Jesus, o Messias, como “Deus conosco”. O nome aparece em Mateus 1:23, onde se lê: “E ele será chamado Emanuel, que significa, Deus conosco“.
Novamente estamos na época do Natal. Sempre os mesmos enfeites coloridos, as músicas, o movimento de compras, os presentes, as ceias, os sinos, os cumprimentos…
Porém, jamais nos encontramos iguais. O desenvolvimento e os frutos da última colheita nos acrescentaram “algo” ao íntimo, tornaram-nos um pouco mais amadurecidos animicamente. Portanto, o íntimo em cada Estudante Rosacruz que vê, que discerne, que sente, que avalia, concebe um Natal um pouco mais profundo e ora até às lágrimas para que o doloroso parto se complete: o nascimento do Cristo Interno.
Quanta resistência ainda existe no Mundo Físico e no Mundo do Desejo para o Reino prometido!
Herodes reage enciumado. Ele compreende que o Reino do Príncipe Salvador não é desse Mundo, mas também não ignora que não pode servir e ser servido. Um será o Regente e o outro, o Servidor. E como S. Paulo, nos embates da Iniciação, sente aumentar o conflito entre a matéria e o Espírito, entre as trevas e a luz.
Procura-nos o ponto sensível, o “calcanhar de Aquiles”[1], o ponto fraco nas costas de Siegfried[2], para que sucumbamos uma vez mais. A verdade chorosa adiará, uma vez mais, a ansiada união.
Enquanto os sinos tocam, parece que ouvimos um galo cantar, o que nos lança na consciência o apelo do Senhor rejeitado. Quantas aspirações mortas em pleno florescimento! Contudo, mesmo assim, graças elevamos porque no silêncio do mais íntimo recôndito ainda vive nosso Salvador, prudentemente aguardando que envelheça e morra nosso egoísmo e lhe suceda, pouco a pouco, algo menos ruim.
Natal! Quanto mais te compreendo, mais almejo que se realize em mim!
Natal! Ainda temo falhar como S. Pedro. Ainda urdo as manhas de Judas; ainda falho na resolução de S. Paulo; ainda estou precisando de forças para renunciar às três tentações do meu deserto; ainda tenho de fazer esperar o meu Senhor!
Natal! O exterior canta em movimentos, em cores e sons; mas o interior chora no entendimento cada vez mais agudo de uma realização que se protela!
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de dezembro/1968 – Fraternidade Rosacruz-SP)
[1] N.R.: “Calcanhar de Aquiles” é uma expressão que se refere a um ponto fraco ou vulnerável de uma pessoa, organização ou coisa. A expressão tem origem na lenda grega de Aquiles, um herói invencível que tinha apenas um ponto fraco: o calcanhar.
[2] N.R.: Estudamos com mais profundidade Siegfried, o herói do Nibelungenlied, e das óperas Siegfried e Götterdämmerung de Richard Wagner no Curso Suplementar de Filosofia Rosacruz. Podemos adiantar aqui que após a morte de Fafnir, Siegfried adquire novos poderes, banhando-se no sangue do dragão, que o torna invulnerável, exceto por uma pequena parte das suas costas onde uma folha se prendeu, impedindo o contato com o sangue. Este detalhe sobre a sua vulnerabilidade será crucial para os acontecimentos futuros na história do herói.
“15Quando os Anjos os deixaram, em direção ao céu, os pastores disseram entre si: “Vamos já a Belém e vejamos o que aconteceu, o que o Senhor nos deu a conhecer”. 16Foram então às pressas, e encontraram Maria, José e o recém-nascido deitado na manjedoura.” (Lc 2:15-16)
Mas, afinal, quem eram esses pastores que se mantinham vigilantes à noite?
Grande fonte econômica daqueles tempos era a criação de caprinos (ovelhas, carneiros e afins) e, por essa razão, centenas de pastores viviam pelas colinas da Judeia, sem que, entretanto, a maioria notasse algo de extraordinário naquela noite. O Estudante Rosacruz, ávido estudante do Cristianismo Esotérico sabe, porém, que esses pastores, a quem o Anjo do Senhor apareceu, eram os Iniciados da Religião trazida na Época Ária (a “Religião do Cordeiro”, a Religião Cristã) e, como seres humanos de elevada espiritualidade que eram, sendo Clarividentes voluntários ou positivos, puderam perceber o Anjo mensageiro e clariaudientemente ouvir os cantos celestiais, proclamando a Nova Era, a Era de Peixes, que se inaugurava naquela noite, pois já estavam sobre a “Órbita de Influência” do Signo de Peixes, por Precessão dos Equinócios. Na verdade, foi uma Noite Santa para a toda a Humanidade; foi a abertura de um novo caminho que finalmente nos livrará da Roda de Nascimentos e Mortes aqui, possibilitando a todos aqueles que desejarem, beber da Água da Vida.
Por meio dos Estudos Bíblicos Rosacruzes aprendemos que o nome Davi significa “bem-amado”; Belém, a “casa de pão” ou o “princípio coração”, feminino, manifestando-se em todas as coisas, desde o minúsculo átomo até o onipresente Deus. E, por meio desse conhecimento, aprendemos que o desejo, sentimento e a emoção devem ser purificados e esse amor ou princípio do coração deve ser expandido antes de Cristo poder nascer dentro de nós (o Cristo Interno), pois as passagens da Bíblia nos mostram, similarmente, que o grande princípio Redentor do Amor não poderá nascer em nenhum outro lugar, a não ser em Belém, que é a representação da vida purificada, a vida Crística.
O Irmão Maior Jesus nasceu numa manjedoura, onde os animais se alimentavam. Esse lugar tem uma significância esotérica profunda, pois representa a natureza dos desejos, sentimentos e das emoções inferiores, que deve ser regenerada antes que o Poder do Criador possa nascer na estalagem, esse lugar que simboliza a “cabeça”. Assim, cada neófito no Caminho da Preparação e Iniciação Rosacruz deve, também, deixar Nazaré, símbolo da vida material, e iniciar a jornada a Belém, símbolo da vida impessoal purificada.
Assim, cada neófito verificará, a princípio, que não há acomodações na “estalagem” e que o nascimento deve ter lugar numa “manjedoura”, onde os “animais” se alimentam. Esse é realmente o significado do Natal!
Pouco significa para Jesus que reverenciemos o seu nascimento na Noite Santa, pois o importante é que possamos aprender a seguir o Cristo, encontrando o Caminho que nos conduzirá à realização da nossa Noite Santa individual.
Assim, levamos à frase de profundo recado esotérico de Angelus Silesius: “Embora Cristo nasça mil vezes em Belém, se não nascer em teu coração, tua alma segue extraviada”.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de março/1967 – Fraternidade Rosacruz-SP)
Bem no fundo do nosso coração existe o anseio místico que foi implantado no primeiro Natal, quando a luz de Cristo fixou um lugar definido dentro e sobre este denso Planeta Terra.
A história do nascimento de Cristo quer seja entendida literal, mística ou simbolicamente, traz a cada um de nós uma verdade fundamental que eleva todo o nosso ser a uma altura não alcançada até então, à medida que nossas faculdades espirituais evoluem e funcionem para perceber e aceitar tal verdade.
Para o Aspirante à vida superior, as palavras de Cristo, “Ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14:6) carregam um significado transcendente. Parsifal pergunta: “Quem é o Graal?”. E a resposta indica uma elevada percepção espiritual:
Se tu foste por Ele convidado,
De ti o fato não será afastado…
À terra para Ele nenhum caminho conduz,
E a busca só nos afasta mais d’Ele, até,
Quando Ele próprio o Guia não é.
Uma verdadeira interpretação da lenda do Natal requer, antes de tudo, um entendimento. Por mais obscuro que ela seja no início, o nascimento do menino Jesus na manjedoura, no estábulo entre os animais, simboliza o primeiro e tênue nascimento da consciência de Cristo dentro de nós.
A minúscula chama interior, que é a chama de Cristo, está adormecida dentro de nós. Ela agora recebe um estímulo suficiente para crescer e se ampliar até que, afinal, nos tornemos um fator poderoso na nossa própria e o primeiro passo em direção a Deus-Pai, por meio do Cristo, o Deus-Filho.
Já alcançamos um estágio nesse Esquema de Evolução que percebemos o nosso veículo de expressão, um conjunto de Corpos e uma Mente, já o vivificamos, de modo que, entre os “animais” da nossa natureza inferior, na manjedoura ou no local de alimentação das nossas faculdades animais, o “bebê” da Consciência Crística nasce. A manjedoura, o berço do Menino Jesus, é um lugar de santuário.
Uma grande manifestação solar se concretiza no Natal. Os grupos de forças que compõem essa manifestação foram personalizados ao longo dos tempos. A história bíblica, quando interpretada corretamente, contém uma aproximação da verdade real. Toda a história do Natal é um símbolo universalmente aplicável.
Em uma data, que hoje chamamos de 25 de dezembro, nasceu o Irmão Maior Jesus, o ser humano que teve a benção de ceder seu Corpo Denso e o seu Corpo Vital – depois, quando tinha 30 anos de idade – ao Cristo, a Luz do Mundo, o portador da Luz espiritual para todos nós. Desde a antiguidade, muitos mitos dizem respeito ao nascimento do “Cristo místico”. Quer tenha nascido em uma caverna, um estábulo ou em outro lugar, esse nascimento tem dois grandes significados simbólicos:
1. O nascimento da “paz na terra aos homens de boa vontade”. A entrega de uma nova Lei a nós, expressa aqui: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros.” (Jo 13:34).
2. O nascimento da consciência Crística para aqueles que, verdadeiramente, aspiram às alturas da verdade espiritual. Nenhuma contradição pode contrariar essa verdade universal.
Em sentido Cósmico, o Natal celebra a descida da Luz Divina, o Espírito penetrando e permeando a matéria. No sentido humano, é a descida do Filho de Deus, a Luz Espiritual, à matéria, a entrada do “Ego no Corpo Denso”.
A Véspera de Natal, entre 24 e 25 de dezembro, é considerada a noite mais sagrada do ano, porque nessa meia-noite as influências espirituais são as mais fortes. Na Iniciação, o candidato, por meio da visão espiritual, vê a mística Estrela de Belém, o Sol espiritual que brilhou na Noite Santa, que o conduz ao Cristo interior. Em seu coração ecoa uma canção profética e imortal: “Paz na terra e boa vontade para os homens. (Lc 2:14). Alegrai-vos, filhos da Terra, porque hoje vos nasceu um Rei” (Lc 2:11), os Serafins cantaram naquela Noite Santa, muito tempo atrás.
Presentes foram trazidos para o nascimento de Jesus no casebre do pastor — preciosas dádivas de ouro, incenso e mirra: poder espiritual, sabedoria e movimento foram derramados sobre a criança recém-nascida, a Luz Crística no coração humano, o bebê nos braços de sua mãe, a grande mãe Terra que carrega, nutre e preserva o minúsculo veículo vital. Esses dons, ou qualidades, foram derramados pelos gloriosos Magos dos reinos Cósmicos, que abençoam e enriquecem cada nascimento espiritual e individual.
Esses poderes, em relação à e irradiados pela luz prateada da esplêndida Estrela Crística, derramam sobre nós, ainda que fracos e sofredores, sua influência e força estimulantes, sem as quais o curso nesse Esquema de Evolução seria, para cada um de nós, muito mais difícil e prolongado.
Os Magos, elevados Iniciados, foram atraídos para o lugar sagrado por sua percepção interior e pelo conhecimento do evento cósmico que aconteceria: o nascimento do “Salvador do mundo”. Os três Reis Magos representam aqueles Egos avançados que foram reunidos em propósito comum das três Raças primárias. Seus dons significam as várias faculdades ou invólucros humanos que entram no processo de manifestação. Eles são conduzidos pela gloriosa Estrela ao “Salvador do Mundo”, cujo objetivo da forma física era fornecer um veículo material e etérico para um Espírito universal, o Cristo.
Um dos Reis Magos trouxe ouro, designado simbolicamente como o emblema do Tríplice Espírito.
O outro trouxe o incenso, que é uma substância física de natureza muito leve, frequentemente usada em serviços religiosos, simbolizando o nosso Tríplice Corpo.
E o outro trouxe mirra. É o extrato de uma planta aromática muito rara. Simboliza aquilo que nós (por meio do nosso Tríplice Espírito), trabalhando sobre o nosso Tríplice Corpo, extraímos por meio da experiência no Mundo Físico: a Tríplice Alma.
Maria, a mãe, era o foco da luz, o sagrado crisol etérico onde acontecia a transmutação dos elementos. Ela representa o ideal da pureza, devoção e humildade que torna possível o renascimento do mais evoluído dos Egos humanos.
Os pastores que viram a Estrela caracterizam a visão interior do Fogo Divino, conforme esse Fogo vem para aqueles no plano terrestre, cuja piedade abriu a janela da alma e ativou a Clarividência. O discernimento deles lhes permitiu ver a glória nos Céus e sentir os impulsos espirituais irradiando da Estrela maravilhosa.
A Estrela que simboliza a chama de forças concentradas para trazer à expressão material uma apresentação física do Logos, o “Salvador do mundo”.
Naquele dia o ar estava reverentemente silenciado, como se prendesse a respiração, pois naquele momento estava arrebatadoramente focado em Belém (que significa nascimento). Silêncio, solidão e adoração desenvolvem o olho perspicaz, o ouvido interno e o Espírito sensível.
Especialmente neste Natal não devemos centralizar nosso pensamento nessas verdades? Não devemos meditar sobre a verdadeira interpretação da sublime narrativa do Natal, aprofundando nosso conhecimento e avivando nossa compreensão sobre esse evento místico? Não devemos centrar nossos esforços na expansão de nossa capacidade de servir?
Celebremos este Natal prestando ao Menino Jesus o amor e a homenagem que Lhe são devidos, além dos nossos dons e bênçãos.
Regozijemo-nos com os pastores: “Porque vimos a Sua Estrela no oriente e viemos adorá-Lo” (Mt 2:2). Ele, que ilumina a cada um de nós que viemos ao mundo, permanecendo iluminando o nosso Caminho (querendo a gente ou não).
Afinal, como símbolo da Verdade e da Vida, a Estrela de Belém revela o caminho que conduz a Deus-Pai. Pois foi Cristo que nos ensinou: “Para onde Eu vou, vós também ireis” (Jo 14:2).
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross novembro/dezembro/1995 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
No encerramento do Ritual do Serviço Devocional do Templo da Fraternidade Rosacruz há uma exortação que a seguinte: “nos tornemos melhores homens e mulheres e mais dignos de sermos utilizados como colaboradores conscientes na obra benfeitora dos Irmãos Maiores, a serviço da Humanidade.”.
Os excelsos seres mentores do nosso Esquema de Evolução necessitam de pontos de apoio aqui no Mundo material – que é a Região Química do Mundo Físico – para realizarem seu trabalho de regeneração (parte do Plano de Salvação inaugurado por Cristo, na Sua primeira vinda). Não fosse assim, pouco ou nada conseguiriam. A face do Planeta Terra se tornaria uma verdadeira desolação, em virtude das nossas falhas e, muitas vezes, insistências em querer destruir esse Campo de Evolução.
Cooperar com seres humanos elevados espiritualmente e com todas as Hierarquias Criadoras, além de um inigualável privilégio, é um dever. Todos aqueles ligados aos movimentos espiritualistas têm colhido grandes bênçãos, como resultado de seu esforço em procurar se aperfeiçoar espiritual e moralmente. Como muito recebem, cabe-lhes, em contrapartida, a responsabilidade de dar, fazendo, assim, cumprir a Lei de Deus.
Quem aceita, voluntariamente, a missão de servir se põe em sintonia com a Fonte Suprema de todas as coisas: Deus. Quanto mais ajuda, percebe como crescem suas qualidades, seus talentos e suas possibilidades de colaborar em esferas cada vez mais amplas. Converte-se em um canal por onde fluem todas as dádivas divinas.
É essa a condição de meio de expressão das forças espirituais: não esqueçamos que “amém” significa “assim seja”. Terminemos sempre nossas preces com esta poderosa expressão de fé e confiança no Poder Divino, na presença luminosa e sábia que é Cristo, o Ser sublime que nos fornece vida, e que habita em nós, no coração de cada um, saibamos ou não. Assim nos compenetraremos, cada vez mais, da verdade de que Cristo, não age por nós, mas sim por meio de nós. Os Seus ‘milagres’ são a maneira d’Ele de utilizar sabiamente as Leis de Deus. Quando deixamos que a nossa vontade se apoie, firmemente, nas Leis de Deus, vemos que Cristo pode criar tudo através de nós e fazer, assim, todos os milagres.
O requisito fundamental para servirmos de canais de ajuda e cura é estarmos sintonizados com o Cristo em nós mesmos. Por isso constitui valioso exercício, uma ou duas vezes ao dia, recolhermo-nos por alguns minutos, procurando nos conscientizar da Divina Presença e de nossa unidade com Deus-Pai – para isso é mister fazer os Exercícios Esotéricos Rosacruzes, durante o dia, de Concentração e Meditação. Isso é muito importante porque além de nos ensejar proteção contra os maus pensamentos ou sentimentos desejos e/ou más emoções – tão comuns, principalmente nos ambientes de trabalho, do lar e até de alguns outros lugares – poderá nos converter em meios de manutenção de equilíbrio e bem-estar.
Para muitos, essa prática pode parecer inédita ou até surpreendente. Mas não é verdade. Se consultarmos a Bíblia verificaremos inúmeros casos em que alguém ou algumas pessoas serviram de instrumento ou de canal para que se operassem “prodígios” ou “milagres”.
No capítulo 5 do Evangelho Segundo S. Lucas, por exemplo, vemos como um grupo de homens, pela intensidade de sua fé no poder curador do Cristo, se tornou o instrumento para a realização da cura[1]. E assim, em várias passagens encontramos fatos idênticos.
Tudo isso sempre foi uma realidade. Apenas agora que um número cada vez maior de pessoas começa a se sensibilizar a essa verdade. Como disse Salomão, no Livro de Eclesiastes: “O que foi, será, o que se fez, se tornará a fazer: nada há de novo debaixo do sol!” (Ecl 1:9).
Assim, consciente dessa responsabilidade, o Aspirante à vida superior deve se manter sempre calmo, paciente, humilde, simples, esperançoso, confiante e equilibrado diante de todas as circunstâncias. Não deve permitir que a dúvida ou a preocupação ofusquem sua visão interior, ou que alguma condição adversa venha a perturbá-lo. Sabe que o amor divino é expresso no mundo através dos canais humanos. Não procura, entretanto, fazer valer a sua vontade, mas sim a de Deus-Pai (“Pai, faça-se sempre a Sua vontade, e não a minha”).
Não é o que realizamos, nem a extensão de nossa influência, que nos torna importantes a Deus, mas, quão desejosos estamos por deixar que Seu amor encontre expressão, por meio de nós, exatamente onde estamos. Dessa forma, Ele pode, realmente, criar tudo através de nós, e realizar os assim chamados “milagres”.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – maio/1980 – Fraternidade Rosacruz – SP)
[1] N.R.: 1Certa vez em que a multidão se comprimia ao redor dele para ouvir a palavra de Deus, à margem do lago de Genesaré, 2viu dois pequenos barcos parados à margem do lago; os pescadores haviam desembarcado e lavavam as redes. 3Subindo num dos barcos, o de Simão, pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra; depois, sentando-se ensinava do barco às multidões. 4Quando acabou de falar, disse a Simão: “Faze-te ao largo; lançai vossas redes para a pesca”. 5Simão respondeu: “Mestre, trabalhamos a noite inteira sem nada apanhar; mas, porque mandas, lançarei as redes”. 6Fizeram isso e apanharam tamanha quantidade de peixes que suas redes se rompiam. 7Fizeram então sinais aos sócios do outro barco para virem em seu auxílio. Eles vieram e encheram os dois barcos, a ponto de quase afundarem. 8À vista disso, Simão Pedro atirou-se aos pés de Jesus, dizendo: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador!”. 9O espanto, com efeito, se apoderara dele e de todos os que estavam em sua companhia, por causa da pesca que haviam acabado de fazer; 10e, também, de Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram companheiros de Simão”. Jesus, porém, disse a Simão: “Não tenhas medo! Doravante serás pescador de homens”. 11Então, reconduzindo os barcos à terra e deixando tudo, eles o seguiram.
Cura de um leproso — 12Estava ele numa cidade, quando apareceu um homem cheio de lepra. Vendo a Jesus, caiu com o rosto por terra e suplicou-lhe: “Senhor, se queres, tens poder para purificar-me”. 13Ele estendeu a mão e, tocando-o, disse: “Eu quero. Sê purificado!”. E imediatamente a lepra o deixou. 14E ordenou-lhe que a ninguém o dissesse: “Vai, porém, mostrar-te ao sacerdote, e oferece por tua purificação conforme prescreveu Moisés, para que lhes sirva de prova”. 15A notícia a seu respeito, porém, difundia-se cada vez mais, e acorriam numerosas multidões para ouvi-lo e serem curadas de suas enfermidades. 16Ele, porém, permanecia, retirado em lugares desertos e orava.
Cura de um paralítico — 17Certo dia, enquanto ensinava, achavam-se ali sentados fariseus e doutores da Lei, vindos de todos os povoados da Galileia, da Judéia e de Jerusalém; e ele tinha um poder do Senhor para operar curas. 18Vieram então alguns homens carregando um paralítico numa maca; tentavam levá-lo para dentro e colocá-lo diante dele. 19E como não encontravam um jeito de introduzi-lo, por causa da multidão, subiram ao terraço e, através das telhas, desceram-no com a maca no meio dos assistentes, diante de Jesus. 20Vendo-lhes a fé, ele disse: “Homem, teus pecados estão perdoados”. 21Os escribas e os fariseus começaram a raciocinar: “Quem é este que diz blasfêmias? Não é só Deus que pode perdoar pecados?”. 22Jesus, porém, percebeu seus raciocínios e respondeu-lhes: “Por que raciocinais em vossos corações? 23Que é mais fácil dizer: Teus pecados estão perdoados, ou: Levanta-te e anda? 24Pois bem! Para que saibais que o Filho do Homem tem o poder de perdoar pecados na terra, eu te ordeno — disse ao paralítico — levanta-te, toma tua maca e vai para tua casa”. 25E no mesmo instante, levantando-se diante deles, tomou a maca onde estivera deitado e foi para casa, glorificando a Deus. 26O espanto apoderou-se de todos e glorificavam a Deus. Ficaram cheios de medo e diziam: “Hoje vimos coisas estranhas!”
O Evangelho de S. Lucas relata que os homens retornaram contando com muita alegria: “Senhor, até os demônios se sujeitaram a nós por causa de Teu Nome” (Lc 10:17).
O poder de “ordenar aos demônios” constituía um dos pontos importantes do ministério de Cristo-Jesus. O Novo Testamento encontra-se repleto de narrativas alusivas ao demônio, a “força do mal”. Há frases nas quais são mencionados os termos: “mensageiros de Satanás”, “o pai da mentira”, o iníquo, o adversário e o destruidor. Toda essa nomenclatura mostrando a existência cósmica do “poder do mal”. Podemos ter certeza, dessa forma, que o mal existe na realidade e que é de natureza pessoal, tendo, naturalmente, efeitos sobre nós como indivíduos.
Um dos aspectos mais impressionantes relativos ao enorme interesse por temas do pseudo-ocultismo é que: pessoas que firmemente negam a existência de Deus acreditam e parecem profundamente impressionadas com o demônio. Devemos completar essa ideia mencionando o fato de que o demônio não é, em absoluto, uma invenção da Religião Cristã. Uma das formas mais persistentemente em evidência, um ser portador de chifres, asas e garras data, pelo menos, de épocas tão remotas como a antiga Mesopotâmia.
Pode-se observar, em nossos tempos, uma onda de fascinação exercida pelas “forças invisíveis”. O nosso mundo e a nossa arte sentem o impacto de cultos mais ou menos satânicos, sessões envolvendo bruxas e bruxaria e, como é de conhecimento de todos, drogas.
Parece de pouca consistência em nosso mundo supercientífico e supertecnológico, o exame, e reexame, tanto pelo público, como pelas elites intelectuais, das forças malignas invisíveis e suas manifestações.
Esse interesse também se reflete em nossos veículos de comunicação. A publicação de obras literárias e filmes servem de indicadores seguros do grau de interesse pela atuação dos “espíritos malignos”.
Assim sendo, pode não ser coincidência o fato dos autores dos Evangelhos terem distinguido a obsessão dos outros tipos de moléstias curadas. Como se sabe, grande parte das curas efetuadas por Cristo-Jesus foram desse tipo. Entre as curas individuais realizadas, conforme o Novo Testamento, sete envolviam pessoas obsidiadas por demônios: cinco homens, um menino e uma menina. Em cada um desses casos, Cristo-Jesus usava de métodos específicos e diferentes para a obtenção da cura, ponto merecedor de estudo detalhado do Aspirante à vida superior aplicado.
Em primeiro lugar, é de se notar que todas as entidades obsessoras reconheciam o Cristo, avaliavam seu poder sobre elas e se lhe declararam sujeitas sem opor resistência (Mc 1:23-26). Esse primeiro relato de exorcismo refere-se a um incidente ocorrida num domingo em Cafarnaum, na Galileia, no interior da Sinagoga, enquanto o Cristo ensinava. Relata o Evangelho: “E estava na sinagoga um homem com um espírito imundo, o qual exclamou dizendo: Ah! Que temos contigo Jesus Nazareno? Vieste destruir-nos? Bem sei quem és, o Santo de Deus. E repreendeu-o Jesus dizendo: Cala-te e sai dele. Então o espírito imundo convulsionando-o, e clamando, com grande voz, saiu dele.”. Essa cura foi espontânea e, sem dúvida, surpreendente para a multidão da sinagoga. O demônio não suportou as altas vibrações de Santa Presença e foi obrigado a se revelar, encontrando assim o destino relatado.
No Evangelho segundo S. Mateus (9:32-33) – “Logo que saíram, eis que lhe trouxeram um endemoninhado mudo. Expulso o demônio, o mudo falou. A multidão ficou admirada e pôs-se a dizer: “Nunca se viu coisa semelhante em Israel!”. Note que é um caso do endemoninhado surdo e mudo, cujos órgãos vocais e auditivos estavam sendo controlados por uma entidade. Imediatamente após o afastamento dela, o indivíduo recuperou a sua fala, voltando ao normal. Porém, isso não agradava aos fariseus! Dizem eles: “Os fariseus, porém, diziam: “É pelo príncipe dos demônios que ele expulsa os demônios” (Mt 9:34).
Existe, porém, uma narrativa de um ato de exorcismo extraordinário contido nos Evangelhos e é de se admirar que tal incidente não consiga horrorizar ninguém não havendo, até hoje, um escritor bastante interessado em tecer um amplo comentário a respeito, o que traria à realidade, para os seres humanos de hoje, o tremendo poder à disposição do Cristo.
E o mais impressionante ato de exorcismo relatado na Bíblia é o do homem geraseno ou gadareno, cujos obsessores identificaram-se a si mesmos como “legião”. Essa cura deve ter particular importância, uma vez que três dos evangelistas, S. Mateus, S. Marcos e S. Lucas escreveram a respeito[1].
O incidente ocorreu num dia em que o Cristo e os Discípulos decidiram atravessar para a costa Oeste do Lago de Tiberíades. A área se compunha, em sua maioria, de pedras calcárias dispostas em penhascos pontilhados de cavernas, lugar em que se costumava sepultar os mortos.
Quando o pobre homem obsidiado avistou o Cristo, veio correndo e se prostrou diante d’Ele gritando “O que temos a haver contigo Filho do Altíssimo? Não nos atormente”. O Cristo reconheceu de imediato o grande mal que havia naquele homem e ordenou: “Saia desse homem espírito imundo”. Em seguida formulou uma pergunta que poderia parecer até irrelevante: “Qual é o seu nome?”. A resposta foi: “É legião, porque somos muitos”.
Há vários pontos a serem considerados nesse relato de exorcismo. O mais importante é que imediatamente após o afastamento das entidades obsessoras, o ser voltava de imediato à condição de ser humano normal. Do ser bestial, demente, cuja presença afastava a todos, surgia o ser humano absolutamente normal e comum, que só rogava aos santos homens que ficassem com ele. O Cristo disse, porém, que era mais útil levar o conhecimento dessa cura para o seu círculo de amigos como testemunho da dádiva recebida por ele de Deus. Tarefa não muito fácil, de fato, pois a família e os amigos representam, às vezes, a maior dificuldade a ser enfrentada por aquele que foi purificado pelo amor de Cristo, e quer segui-lo.
O Cristo instruía Seus Discípulos num método muito avançado de exorcismo. Mostrava-lhes que tão logo o exorcista estivesse de posse do nome da entidade, ela se encontrava debaixo de Seu poder. Nesse tipo de exorcismo os Discípulos recebiam instruções reservadas sobre o poder das vibrações contidas em nomes e como ele deveria ser usado nas curas comuns ou no exorcismo, bem como para finalidades superiores a outros.
O relato bíblico envolvendo o demônio chamado “legião” acaba por evidenciar que as entidades receberam a permissão de Cristo para entrar numa manada de porcos levada a um abismo.
Com referência a esse ato de destruição, é interessante voltar à antiga simbologia egípcia. Naqueles tempos, os porcos eram simbolicamente identificados com o Planeta Marte, ou seja, a natureza inferior e passional do ser humano.
Há aqui uma indicação simbólica do poder de Cristo em purificar os seres, enviando as entidades inferiores para o seu próprio elemento inferior, simbolizado na narrativa pela manada de porcos.
Parece quase certo que a cura de obsessões por intermédio de entidades desencarnadas será o ministério de maior importância no setor de cura durante a Nova Era.
S. Paulo aconselha que “oremos sem cessar”, cobrindo-nos assim da Aura Protetora da oração. Isso é assaz importante para o Aspirante à vida superior, uma vez que a quantidade de pensamentos, desejos, emoções, sentimentos, palavras, ações, obras e atos negativos, constantemente gerados em nosso Planeta, fica incorporada nas três Regiões inferiores do Mundo do Desejo, podendo perfeitamente obsidiar qualquer indivíduo que não foi treinado a controlar ou destruir o seu impacto. Assim, “legião” passa a ser um espelho da luta que se trava no interior de cada ser humano e que só pode ser acalmada pelo Poder do Espírito unificador e purificador de Cristo-Jesus. A abordagem intelectual dessa situação só poderá frustrar os esforços de melhorar o estado do paciente.
A Filosofia Rosacruz foi dedicada ao mundo ocidental por causa do monopólio exercido pelo intelectualismo sobre os indivíduos dessa parte do globo. Max Heindel afirmou que é uma dura tarefa para intelectuais cultivar a compaixão, que deve temperar o seu conhecimento e ser o guia, realmente, no uso desse conhecimento.
É isso que o Método Rosacruz de desenvolvimento almeja por realizar, levando o candidato à compaixão, por meio do conhecimento. Esse método procura cultivar dentro do Aspirante à vida superior as faculdades latentes de visão e audição espirituais, já desde o começo de sua carreira como Aspirante à vida superior. Ensina-o a conhecer os mistérios ocultos do ser e da natureza e a perceber racionalmente a unidade de cada um com todos – onde desperta a compaixão por meio do misticismo – para que, finalmente, mediante o conhecimento, possa desabrochar dentro dele o sentimento que o que faz um com o Infinito.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de outubro/75 – Fraternidade Rosacruz-SP)
[1] N.R.: “Ao chegar ao outro lado, ao país dos gadarenos, vieram ao seu encontro dois endemoninhados, saindo dos túmulos. Eram tão ferozes que ninguém podia passar por aquele caminho. E eis que se puseram a gritar: “Que queres de nós, Filho de Deus? Vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?”. Ora, a certa distância deles havia uma manada de porcos que estava pastando. Os demônios lhe imploravam, dizendo: “Se nos expulsas, manda-nos para a manada de porcos”. Jesus lhes disse: “Ide”. Eles, saindo, foram para os porcos e logo toda a manada se precipitou no mar, do alto de um precipício, e pereceu nas águas. Os que os apascentavam fugiram e, dirigindo-se à cidade, contaram tudo o que acontecera, inclusive o caso dos endemoninhados. (Mt 8:28-33).
“Chegaram do outro lado do mar, à região dos gerasenos. Logo que Jesus desceu do barco, caminhou ao seu encontro, vindo dos túmulos, um homem possuído por um espírito impuro: habitava no meio das tumbas e ninguém podia dominá-lo, nem mesmo com correntes. Muitas vezes já o haviam prendido com grilhões e algemas, mas ele arrebentava os grilhões e estraçalhava as correntes, e ninguém conseguia subjugá-lo. E, sem descanso, noite e dia, perambulava pelas tumbas e pelas montanhas, dando gritos e ferindo-se com pedra. Ao ver Jesus, de longe, correu e prostrou-se diante d’Ele, clamando em alta voz: “Que queres de mim, Jesus, Filho de Deus altíssimo? Conjuro-te por Deus que não me atormentes! “Com efeito, Jesus lhe disse: “Sai deste homem, espírito impuro! “E perguntando-lhe: “Qual é o teu nome?” Respondeu: “Legião é o meu nome, porque, somos muitos”. E rogava-lhe insistentemente que não os mandasse para fora daquela região. Ora, havia ali, pastando na montanha, uma grande manada de porcos. Rogava-lhe, então, dizendo: “Manda-nos para os porcos, para que entremos neles”. Ele o permitiu. E os espíritos impuros saíram, entraram nos porcos e a manada — cerca de dois mil — se arrojou no mar, precipício abaixo, e eles se afogavam no mar. Os que os apascentavam fugiram e contaram o fato na cidade e nos campos. E correram a ver o que havia acontecido. Foram até Jesus e viram o endemoninhado sentado, vestido e em são juízo, aquele mesmo que tivera a Legião. E ficaram com medo. As testemunhas contaram-lhes o que acontecera com o endemoninhado e o que houve com os porcos. Começaram então a rogar-lhe que se afastasse do seu território. Quando entrou no barco, aquele que fora endemoninhado rogo-lhe que o deixasse ficar com Ele. Ele não deixou, e disse-lhe: “Vai para tua casa e para os teus e anuncia-lhes tudo o que fez por ti o Senhor na sua misericórdia”. Então partiu e começou a proclamar na Decápole o quanto Jesus fizera por ele. E todos ficaram espantados.” (Mc 5:1-20).
“Navegaram em direção à região dos gerasenos, que está do lado contrário da Galileia. Ao pisarem terra firme, veio ao seu encontro um homem da cidade, possesso de demônios. Havia muito que andava sem roupas e não habitava em casa alguma, mas em sepulturas. Logo que viu a Jesus começou a gritar, caiu-lhe aos pés e disse em alta voz: “Que queres de mim, Jesus, filho do Deus Altíssimo? Peço-te que não me atormentes”. Jesus, com efeito, ordenava ao espírito impuro que saísse do homem, pois se apossava dele com frequência. Para guardá-lo, prendiam-no com grilhões e algemas, mas ele arrebentava as correntes e era impelido pelo demônio para os lugares desertos. Jesus perguntou-lhe: “Qual é o teu nome?”. — “Legião”, respondeu, porque muitos demônios haviam entrado nele. E rogavam-lhe que não os mandasse ir para o abismo. Ora, havia ali, pastando na montanha, uma numerosa manada de porcos. Os demônios rogavam que Jesus lhes permitisse entrar nos porcos. E ele o permitiu. Os demônios então saíram do homem, entraram nos porcos e a manada se arrojou pelo precipício, dentro do lago, e se afogou. Vendo o acontecido, os que apascentavam os porcos fugiram, contando o fato na cidade e pelos campos. As pessoas então saíram para ver o que acontecera. Foram até Jesus e encontraram o homem, do qual haviam saído os demônios, sentado aos pés de Jesus, vestido e em são juízo. E ficaram com medo. As testemunhas então contaram-lhes como fora salvo o endemoninhado.” (Lc 8:26-36)
Os importantes passos da vida de nosso Salvador, Cristo, conforme narrados pelos quatro Evangelhos, compõem o esquema geral de Iniciação para todos nós, enquanto desenvolvemos gradualmente o Espírito do Cristo em nosso interior, o Cristo Interno.
Os quatro Evangelhos descrevem, dramaticamente e em símbolos, os incidentes que serão encontrados no nosso Caminho da Santidade.
Sabemos que havia três seres dentre os Discípulos mais íntimos do Cristo que alcançaram o pináculo da Iniciação. E os Evangelhos contêm um maravilhoso relato de do elevado contatos deles com a Memória da Natureza. Os três Discípulos eram: João, o bem-amado ou, em outras palavras, o mais avançado; Tiago, o primeiro a sacrificar sua vida pelos preceitos da nova Religião instituída por Cristo – o Cristianismo, e Pedro, a rocha, simbolizando o poder da fé e obras, sobre as quais a Religião Cristã foi estabelecida. Diz o Evangelho que “os levou para o Monte”[1], explica Max Heindel que esse é um termo místico significando a Iniciação.
Max Heindel não foi um intérprete das Escrituras, segundo o seu próprio entendimento. As informações mencionadas foram colhidas através de visão espiritual e contato pessoal com a Região do Pensamento Concreto, na qual o Iniciado pode examinar as verdadeiras gravações feitas na Memória da Natureza.
Um dos mais importantes pontos desse relato é que os Discípulos averiguaram, durante a sua Iniciação, a realidade do Renascimento, uma vez que Moisés e Elias eram expressões de um mesmo espírito. Esse fato ilustrava o que o Cristo havia lhes dito a respeito de João Batista: “Esse é Elias, que devia vir”[2].
Dessa forma, fica mais e mais aparente que o Cristo ensinava reservadamente aos seus Discípulos o fato do Renascimento. Porém, essa doutrina deveria constituir um ensinamento esotérico por muito tempo, conhecido somente de alguns pioneiros. É da maior significação que o trabalho real de Cristo-Jesus começou após a Transfiguração, quando preparou setenta pessoas como mensageiras e as enviou em grupos de dois para cada lugar onde elas deveriam ir.
Nos lugares onde eram bem recebidas, deviam ficar, curar os enfermos e pregar as boas novas. Quando não as recebiam, deveriam sacudir “o próprio pó das suas sandálias”.
Aprendemos na Fraternidade Rosacruz que há três passos importantes no Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz: o primeiro, quando o Estudante Rosacruz dá o primeiro passo, atraindo a atenção do Irmão Maior; o segundo, quando é admitido para o Probacionismo e assume a solene obrigação de servir a Humanidade por meio do sacrifício de sua natureza inferior (“eu inferior) ao Eu superior, ocasião em que a sua aura se mescla com a do Irmão Maior. O próximo passo é o Discipulado: não poderá mais voltar atrás, já que caminho do Discipulado foi comparado com a torre de uma igreja: estreita-se gradativamente até o topo, encontrando a solitária cruz.
Aí é o ponto máximo de provação do Aspirante à vida superior e os grandes problemas de disciplina espiritual aparecem, inicialmente, como dificílimos. No entanto ele deve continuar a trabalhar consciente e inconscientemente para frente e para cima, rumo ao próximo passo que é o de Irmão Leigo ou Irmã Leiga, para o grande clímax que na história do mais nobre de todos que tenham percorrido o Caminho do Cristão Místico foi chamado de Transfiguração.
A Transfiguração representa uma ocorrência, durante a qual um processo de transfiguração se efetua no corpo do Iniciado. A essência das experiências vividas e a união da Mente com o Coração produzem uma luz radiante que penetra todos os seus Corpos e veículos.
Temos agora uma melhor compreensão a respeito da Transfiguração, conforme narrada nos Evangelhos. Devemos lembrar que foram os veículos de Jesus que ficaram temporariamente afetados pelo Espírito de Cristo na Transfiguração. Escreve Max Heindel: “A Transfiguração, de acordo como é revelada na Memória da Natureza, mostra o corpo do Cristo de um branco deslumbrante, assim evidenciando Sua ligação com o Deus-Pai, o Espírito Universal. Não há nada no mundo tão raro e precioso como aquele extrato do ser humano: o Cristo Interno. E quando cresce, ele brilha através do corpo transparente como a Luz do Mundo”.
O estudo cuidadoso da vida de Cristo-Jesus, conforme relatada pelos Seus Discípulos, nos quatro Evangelhos, mostrará que Ele deixou a Sua orientação para qualquer tipo de problema que nós, como Aspirantes à vida superior, eventualmente encontraremos no Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz. Derramando a Sua enorme força espiritual sobre nós, Ele acalma as tempestades do excesso emocional, cura a grande enfermidade que é a ignorância, devolve a visão aos cegos pelo materialismo, expulsa os demônios do ódio e do egoísmo, derrotando o último grande adversário: o medo da morte. Aqui temos o verdadeiro sentido da redenção: a vitória sobre a alienação do ser humano dele mesmo, dos outros e de Deus!
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de outubro/1975-Fraternidade Rosacruz-SP)
[1] N.R.: At 1:12
[2] N.R.: Mt 11:14
As “Escrituras” apresentam as várias seções da Oração do Senhor na ordem adequada a nós, operando em seu nível mais alto, que está em contato com Deus. Na discussão que se segue, que parte do ponto de vista de nós focados em nosso nível mais inferior, na Região Química do Mundo Físico, a ordem das seções foi alterada para enfatizar nossos níveis graduados de aplicação.
A Oração do Senhor pode ser interpretada de vários pontos de vista diferentes, todos válidos. No nível mais baixo ou exotérico, é pura e simplesmente uma oração de pedido contendo um conjunto de reivindicações a Deus. Uma indicação clara de que essa oração se aplica a outros níveis também é o fato de que, como pedidos, certas partes da oração soam incongruentes ou são enganosas.
Provavelmente, a frase mais chocante e incongruente é o pedido a Deus para “não nos deixeis cair em tentação”, pois certamente Deus sabe o que faz. Pedir a Deus pelo nosso pão diário é incerto, pois isso não faz “o maná cair do céu”. Há um processo social complicado de produção e distribuição de alimentos. Aqueles que estão diretamente envolvidos na produção de alimentos fazem um excedente para a comunidade distribuir para aqueles que ajudam de outras maneiras. Em outras palavras, o pão diário tem que ser ganho pelo serviço à comunidade.
Todas essas dificuldades são esclarecidas quando a prece é interpretada de níveis progressivamente mais altos ou esotéricos. De um ponto de vista um pouco mais elevado, que é direcionado para dentro de nós, a Oração do Pai-Nosso se torna um manual de instruções para o cuidado e manutenção dos nossos vários veículos que nós, Espírito, possuímos. Quando assim considerada, a Oração revela a complexidade desses veículos. Primeiramente, recebemos um Corpo Denso e o “manual de instruções” diz: “Dê-lhe comida, diariamente”. “Perdão” é o bálsamo para o próximo veículo, o Corpo Vital que permeia o Corpo Denso e produz vitalidade ou a falta dela.
A matéria física, por exemplo, o cálcio, nunca fica doente; é a força vital e organizadora que, quando funciona mal, produz, nesse caso, as doenças ósseas. Isso se deve ao “pecado” ou transgressão das Leis de Deus. Em um nível óbvio, a raiva e a irritabilidade são fontes bem conhecidas de doenças. Em um nível mais sutil, todas as doenças são causadas por emoções, sentimentos e desejos em desarmonia (ou seja, criados a parte do uso de material das três Regiões inferiores do Mundo do Desejo). Quando a harmonia mental e espiritual é restaurada, a força vital funciona em harmonia e ficamos sadios e não doentes. “Tentação” é o problema dos nossos desejos, sentimentos e das nossas emoções, mostrando a necessidade de controlá-los. Somos nós que devemos controlar nossos desejos para não cair nas tentações.
“Livrai-nos do mal” é uma diretriz para a Mente, pois a razão pode ser usada objetivamente e sem emoção para planejar atos bons ou ruins.
É somente no nível do pedido que a oração é passiva. Em qualquer grau mais elevado, ela é dinâmica, pois requer uma ação definida nossa. Como um “manual de instruções”, a Oração não apenas mostra a complexidade dos nossos veículos (Corpo Denso, Corpo Vital, Corpo de Desejos e a Mente), mas também a responsabilidade dada por Deus em reação a eles, por isso temos que cuidar dos nossos veículos e usá-los sabiamente.
No próximo nível mais alto, um direcionado para fora, a Oração do Senhor é um manual ambiental que define as nossas relações com um ambiente complexo que inclui nossos semelhantes. No nível físico, a Terra deve ser mantida como uma fonte contínua de alimento (o “pão diário”) e temos que cuidar e zelar do nosso ambiente físico para mantê-lo como fonte renovável de vida e energia, que são a base da ciência da ecologia. Assim como podemos poluir a Terra física e torná-la um deserto, também podemos poluir as atmosferas vitais, emocionais e mentais ao nosso redor. Certas áreas podem se tornar salubres ou irritantes; certas atmosferas podem gerar raiva e violência ou promover tranquilidade; e certos grupos podem fomentar o pensamento maligno, egoísta ou o planejamento altruísta. Assim, a Oração indica que o nosso ambiente também é deixado sob nossos cuidados e custódia e temos que trabalhar ativamente para mantê-lo bem, porque somos tão responsáveis pelas condições ao nosso redor quanto pelas condições dentro de nós.
Outro passo para cima eleva a oração a níveis espirituais onde define claramente as nossas qualidades espirituais e nosso relacionamento com Deus. A oração é dirigida a “nosso Pai” nos “Céus”. Nosso Pai é conhecido somente através de Sua Vontade, um Princípio abstrato — razão pela qual Cristo não pôde “mostrar” o Pai aos seus Discípulos como solicitado por eles (Jo 14:1). O que podia ser visto era Cristo fazendo a Vontade do Pai (Jo 14:8-11). Similarmente, o princípio abstrato da justiça não pode ser mostrado, exceto através de pessoas praticando as Leis de Deus. A frase de abertura nos lembra que é em prol da Vontade de Deus que estamos aqui na Terra e a tarefa a ser cumprida é dada por este pedido: “Seja feita a Tua Vontade assim na Terra como no Céu”. “Céu” é onde Deus governa e Sua Vontade é feita; Cristo indicou que o “Céu” está entre nós (Lc 17:21). Esta fase da oração ensina que a Vontade de Deus, que é o Princípio espiritual do Amor dentro de nós, deve ser manifestado na Terra.
O poder energizante que torna possível a manifestação da Vontade de Deus é o “nome” de Deus usado em um sentido similar ao “nome da lei” que motiva a conduta dos oficiais da lei, ou o “nome da caridade, misericórdia, piedade” e assim por diante, usado como força motivadora. Quando Adão – nós, como Humanidade, na Época Polar – “nomeou” os animais (Gn 2:19), ele deu força à forma; isto é, ele energizou “modelos de argila” (terra). Na realidade são níveis de matéria energizante. Forças energizantes podem ser usadas para o bem ou para o mal, de maneira altruísta ou egoísta; portanto, a Oração insiste que o “nome” de Deus, que é uma força criadora, seja “santificado”; isto é, usado reverente e responsavelmente para criar apenas o bem em todos os níveis (físico, vital, emocional e mental).
“Venha a nós o vosso Reino” relaciona-se diretamente com a missão do Cristo de despertar Deus ou o Bem em nós, quando este governar a Terra, mas não como um Reino dividido onde as obras de Deus e do diabo correspondem a direções conflitantes do nosso Eu superior e “eu inferior”; mas como um reino imaculado, unificado e inspirado por Cristo sob a direção do nosso “Cristo interior” (Cl 1:27), com seus Eu superior e “eu inferior” combinados em nós.
Por fim, a frase final “porque vosso é o reino, o poder e a glória para sempre” dedicam todo o projeto, depois de concluído, como uma oferta de amor ao nosso Pai, Deus.
À medida que nos desenvolvemos espiritualmente, nos tornamos mais e mais conscientes das forças complexas e maravilhosas que o auxiliam e a Oração se torna uma prece de louvor e ação de graças. Percebemos que somos Ego, um Espírito Virginal da Onda de Vida humana, manifestado aqui como um Tríplice Espírito feitos à imagem de um Deus Trino (Pai, Filho e Espírito Santo) e estamos desenvolvendo os três aspectos espirituais (Espírito Divino, Espírito de Vida e Espírito Humano) em nós, usando as contrapartes veiculares deles (Corpo Denso, Corpo Vital e Corpo de Desejos, respectivamente). As várias partes da Oração mostram as ligações e dependências de nossos veículos com nosso Tríplice Espírito e, finalmente, com nosso Deus Trino. Cada veículo é uma expressão e está sob cuidado e orientação contínuos de um dos nossos três aspectos. O Corpo Denso, o Corpo Vital e o Corpo de Desejos representam cada uma das qualidades e a Mente é a ponte ou elo. A Oração, neste nível, nos eleva a um estado equilibrado e tranquilo, onde nos tornamos um radiador silencioso de louvor e ação de graças que, por sua vez, exerce um efeito edificante sobre nós mesmos e sobre o nosso ambiente no entorno.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de março/2003 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)