“15Quando os Anjos os deixaram, em direção ao céu, os pastores disseram entre si: “Vamos já a Belém e vejamos o que aconteceu, o que o Senhor nos deu a conhecer”. 16Foram então às pressas, e encontraram Maria, José e o recém-nascido deitado na manjedoura.” (Lc 2:15-16)
Mas, afinal, quem eram esses pastores que se mantinham vigilantes à noite?
Grande fonte econômica daqueles tempos era a criação de caprinos (ovelhas, carneiros e afins) e, por essa razão, centenas de pastores viviam pelas colinas da Judeia, sem que, entretanto, a maioria notasse algo de extraordinário naquela noite. O Estudante Rosacruz, ávido estudante do Cristianismo Esotérico sabe, porém, que esses pastores, a quem o Anjo do Senhor apareceu, eram os Iniciados da Religião trazida na Época Ária (a “Religião do Cordeiro”, a Religião Cristã) e, como seres humanos de elevada espiritualidade que eram, sendo Clarividentes voluntários ou positivos, puderam perceber o Anjo mensageiro e clariaudientemente ouvir os cantos celestiais, proclamando a Nova Era, a Era de Peixes, que se inaugurava naquela noite, pois já estavam sobre a “Órbita de Influência” do Signo de Peixes, por Precessão dos Equinócios. Na verdade, foi uma Noite Santa para a toda a Humanidade; foi a abertura de um novo caminho que finalmente nos livrará da Roda de Nascimentos e Mortes aqui, possibilitando a todos aqueles que desejarem, beber da Água da Vida.
Por meio dos Estudos Bíblicos Rosacruzes aprendemos que o nome Davi significa “bem-amado”; Belém, a “casa de pão” ou o “princípio coração”, feminino, manifestando-se em todas as coisas, desde o minúsculo átomo até o onipresente Deus. E, por meio desse conhecimento, aprendemos que o desejo, sentimento e a emoção devem ser purificados e esse amor ou princípio do coração deve ser expandido antes de Cristo poder nascer dentro de nós (o Cristo Interno), pois as passagens da Bíblia nos mostram, similarmente, que o grande princípio Redentor do Amor não poderá nascer em nenhum outro lugar, a não ser em Belém, que é a representação da vida purificada, a vida Crística.
O Irmão Maior Jesus nasceu numa manjedoura, onde os animais se alimentavam. Esse lugar tem uma significância esotérica profunda, pois representa a natureza dos desejos, sentimentos e das emoções inferiores, que deve ser regenerada antes que o Poder do Criador possa nascer na estalagem, esse lugar que simboliza a “cabeça”. Assim, cada neófito no Caminho da Preparação e Iniciação Rosacruz deve, também, deixar Nazaré, símbolo da vida material, e iniciar a jornada a Belém, símbolo da vida impessoal purificada.
Assim, cada neófito verificará, a princípio, que não há acomodações na “estalagem” e que o nascimento deve ter lugar numa “manjedoura”, onde os “animais” se alimentam. Esse é realmente o significado do Natal!
Pouco significa para Jesus que reverenciemos o seu nascimento na Noite Santa, pois o importante é que possamos aprender a seguir o Cristo, encontrando o Caminho que nos conduzirá à realização da nossa Noite Santa individual.
Assim, levamos à frase de profundo recado esotérico de Angelus Silesius: “Embora Cristo nasça mil vezes em Belém, se não nascer em teu coração, tua alma segue extraviada”.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de março/1967 – Fraternidade Rosacruz-SP)
“Vocês precisam de paciência para que, depois de terem feito a vontade de Deus, possam receber a recompensa”[1].
Sem dúvida, S. Paulo viu a impaciência dos “Pequeninos”, como os Estudantes de hoje, ansiosos para “colher onde não haviam semeado” e se queixam de seu lento progresso. Primeiro a natureza e depois o espiritual, o crescimento do anterior e a analogia do superior. São necessários vinte e oito anos de vida terrestre para fazer da personalidade do ser humano um bebê primogênito; isto é, um indivíduo fisicamente adulto e seguro. É provável que um ser eterno e imortal possa desenvolver e definir um caráter cristão e uma profunda raiz espiritual em poucos anos?
O Espiritual só pode se desenvolver quando a Natureza cede, pois em um jardim a planta preferida floresce exatamente na proporção em que as ervas daninhas são arrancadas e o cultivo é restabelecido.
Nosso Salvador Cristo não prometeu transformar o ser humano. Ele prometeu “Poder” para se tornarem Filhos de Deus e “acreditar em Seu nome”. O poder de se tornar uma árvore ou flor perfeita está em uma semente, o pequeno começo do crescimento espiritual, está na “crença n’Ele”.
O jardineiro tem um trabalho a fazer: manter todas as ervas daninhas afastadas e cultivar a terra. A vida cresce na semente.
Quando alguém aceita a Cristo com o coração, ele dá a vida que crescerá para a perfeição espiritual para o cultivo. Os frutos do Espírito são todas as belas qualidades da alma que tornam uma vida nobre e útil, porém, não são vistas ao mesmo tempo produzidas em sua plenitude. A aparente mudança pode ser grande em relação à de um mundano – egoísta, mercenário, vaidoso e impuro – porém, leva tempo para desenterrar as velhas raízes e ervas daninhas, cujas sementes tendem a ter uma periodicidade de aparecer.
Muitos que se consideram firmemente estabelecidos no bem-estar, são pegos dormindo e derrubados por algum defeito do passado por falta de vigilância. A espiritualidade, em seus estágios iniciais, é facilmente desviada do coração por influências mundanas; ninguém precisa de uma amamentação mais prolongada para manter seu poder afetivo. O cérebro é o elo de conexão e os pensamentos mentais devem estar focados para alcançar seu ideal, a fim de se manter longe das muitas tentações que o mundo oferece, especialmente aos jovens.
Os Ensinamentos Rosacruzes apelam para os Cristãos que, de certa forma, se afastaram dos desejos da natureza e que, talvez, tenham sido plenamente experimentados e provados que estão carentes das qualidades que satisfazem a alma; contudo, a Natureza morre lentamente, as exigências da santidade são difíceis e, especialmente nos Cristãos com mais idade física, retroceder não é incomum. Muitos chegam a qualquer novo ensinamento para os obter “os pães e os peixes”, enquanto que um grande número se unem a uma igreja popular para curar seus males corporais e permanecer ali a fim de continuar recebendo as bênçãos da saúde. Esse motivo parece ser depreciativo para o crescimento da alma, mas, não se pode entrar em contato com a Espiritualidade sem sentir sua influência para a elevação; e assim, com o tempo, aqueles que chegam por razões egoístas podem se tornar seguidores sinceros da fé. Há muitas almas vacilantes indo de um culto a outro para encontrar descanso para as solas dos pés, e onde a Verdade for encontrada em maior medida, a grande multidão virá para o “pão da vida”. Elas podem ser muito sinceras, honestas, mas de modo alguns estão prontas para a Iniciação. As plantas que, às vezes, dão flores e frutos em abundância precisam ser transplantadas várias vezes antes de mostrarem seu verdadeiro vigor e, quando finalmente chegam ao lar permanente, ainda precisam esperar longos meses e até anos de desenvolvimento, antes que o fruto nasça. Somente a maturidade do tempo traz a produtividade total.
Analise as lágrimas de qualquer um dos verdadeiros Santos que se mantiveram na fé e terminaram o caminho para Deus; o caminho deles, certamente, não foi de rosas. Morrer diariamente para si mesmo, para as paixões da Natureza inferior, para a adoração material; sacrifícios diários na cruz do Corpo Denso, com olhos fixos no Senhor, com Cristo interno repleto no coração, com todos os presentes no altar na consagração à Humanidade. Os Cristãos são compostos de vários tipos e qualidades, parecido com os tipos das embarcações marítimas: alguns parecem apenas com barcos a remo amarrados à costa, com medo de se aventurar sozinhos; outros mais ousados, mas com medo de águas profundas; outros, então, como um navio veloz para passageiros, preparado para a viagem, bem equipado, o Capitão em seu posto, de olho na bússola. E mesmo assim, algumas vezes, batem em uma rocha ou falham em resistir a um vendaval, e afundam. Existem outros que parecem submarinos que exploram os segredos das profundezas.
Tais são os Adeptos na Fraternidade Rosacruz, talvez profundamente envolvidos nos segredos do governo, em missões importantes, guardiões avançados na pesquisa, difíceis de se encontrar, difíceis de destruir, vencedores do inimigo das almas. Depois, existem as aeronaves; essas são símbolos dos Irmãos Maiores, que navegam em outro elemento. Pois, Eles estão no ar, na atmosfera clara de um ar rarefeito, e enxergam além das brumas que escondem o passado e o futuro da nossa visão limitada. Esses tipos de pessoas não surgiram em um só dia. Há muito tempo de desenvolvimento entre o barco a remo frágil e o submarino ou a aeronave.
A paciência deve ter seu ciclo de trabalho terminado: a alma deve crescer de maneira ordenada, primeiro a folha, depois a espiga e depois a espiga cheia de milho. Um dia de cada vez, uma falha superada, um ato altruísta, um pensamento amoroso verdadeiramente universal; através de todos e de cada um de nossos passos no “Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz”. Não adianta se preocupar, não adianta se apressar; é uma daquelas situações onde é melhor fazer isso bem devagar, pois se você fizer isso muito depressa, você cometerá erros. Somente o tempo e a paciência podem curar a alma de sua incapacidade e levá-la à estatura total de “Uma pessoa em Cristo Jesus”[2]. A sequoia, a maior árvore do mundo, leva milhares de anos para atingir sua altura elevada, e as outras árvores de mais de cem anos parecem pequenas mudas delas, em comparação.
Estruturas fortes e permanentes avançam lenta e seguramente, contudo, são construídas para durar, suportar os vendavais, o estresse da vida. Aos Estudantes da Filosofia Rosacruz é muito bom o manter essas verdades, constantemente nas suas Mente (e não aumentar os encargos da sede de um Centro Rosacruz, escrevendo com espírito de crítica, de impaciência, como alguns que conheço. O escritor está longe, e mesmo assim, acaba entrando em contato com outros Estudantes que também demonstram essa falta de compreensão da vida). Os meios de crescimento, cultivo e poder da alma estão nas nossas mãos, em nossos lares e no ambiente ao nosso redor. Aqui e agora é o nosso lugar e hora para começar de novo, a cada dia abençoado para desenvolver um corpo espiritual, para preparar as glórias prometidas aos fiéis até o fim. “Você tem pouca força se cair no dia da adversidade”[3].
(Publicado na: Rays From The Rose Cross – janeiro/1916 – e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
[1] N.T.: Hb 10:36
[2] N.T.: IICor 12:2
[3] N.T.: Pb 24:10
Os importantes passos da vida de nosso Salvador, Cristo, conforme narrados pelos quatro Evangelhos, compõem o esquema geral de Iniciação para todos nós, enquanto desenvolvemos gradualmente o Espírito do Cristo em nosso interior, o Cristo Interno.
Os quatro Evangelhos descrevem, dramaticamente e em símbolos, os incidentes que serão encontrados no nosso Caminho da Santidade.
Sabemos que havia três seres dentre os Discípulos mais íntimos do Cristo que alcançaram o pináculo da Iniciação. E os Evangelhos contêm um maravilhoso relato de do elevado contatos deles com a Memória da Natureza. Os três Discípulos eram: João, o bem-amado ou, em outras palavras, o mais avançado; Tiago, o primeiro a sacrificar sua vida pelos preceitos da nova Religião instituída por Cristo – o Cristianismo, e Pedro, a rocha, simbolizando o poder da fé e obras, sobre as quais a Religião Cristã foi estabelecida. Diz o Evangelho que “os levou para o Monte”[1], explica Max Heindel que esse é um termo místico significando a Iniciação.
Max Heindel não foi um intérprete das Escrituras, segundo o seu próprio entendimento. As informações mencionadas foram colhidas através de visão espiritual e contato pessoal com a Região do Pensamento Concreto, na qual o Iniciado pode examinar as verdadeiras gravações feitas na Memória da Natureza.
Um dos mais importantes pontos desse relato é que os Discípulos averiguaram, durante a sua Iniciação, a realidade do Renascimento, uma vez que Moisés e Elias eram expressões de um mesmo espírito. Esse fato ilustrava o que o Cristo havia lhes dito a respeito de João Batista: “Esse é Elias, que devia vir”[2].
Dessa forma, fica mais e mais aparente que o Cristo ensinava reservadamente aos seus Discípulos o fato do Renascimento. Porém, essa doutrina deveria constituir um ensinamento esotérico por muito tempo, conhecido somente de alguns pioneiros. É da maior significação que o trabalho real de Cristo-Jesus começou após a Transfiguração, quando preparou setenta pessoas como mensageiras e as enviou em grupos de dois para cada lugar onde elas deveriam ir.
Nos lugares onde eram bem recebidas, deviam ficar, curar os enfermos e pregar as boas novas. Quando não as recebiam, deveriam sacudir “o próprio pó das suas sandálias”.
Aprendemos na Fraternidade Rosacruz que há três passos importantes no Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz: o primeiro, quando o Estudante Rosacruz dá o primeiro passo, atraindo a atenção do Irmão Maior; o segundo, quando é admitido para o Probacionismo e assume a solene obrigação de servir a Humanidade por meio do sacrifício de sua natureza inferior (“eu inferior) ao Eu superior, ocasião em que a sua aura se mescla com a do Irmão Maior. O próximo passo é o Discipulado: não poderá mais voltar atrás, já que caminho do Discipulado foi comparado com a torre de uma igreja: estreita-se gradativamente até o topo, encontrando a solitária cruz.
Aí é o ponto máximo de provação do Aspirante à vida superior e os grandes problemas de disciplina espiritual aparecem, inicialmente, como dificílimos. No entanto ele deve continuar a trabalhar consciente e inconscientemente para frente e para cima, rumo ao próximo passo que é o de Irmão Leigo ou Irmã Leiga, para o grande clímax que na história do mais nobre de todos que tenham percorrido o Caminho do Cristão Místico foi chamado de Transfiguração.
A Transfiguração representa uma ocorrência, durante a qual um processo de transfiguração se efetua no corpo do Iniciado. A essência das experiências vividas e a união da Mente com o Coração produzem uma luz radiante que penetra todos os seus Corpos e veículos.
Temos agora uma melhor compreensão a respeito da Transfiguração, conforme narrada nos Evangelhos. Devemos lembrar que foram os veículos de Jesus que ficaram temporariamente afetados pelo Espírito de Cristo na Transfiguração. Escreve Max Heindel: “A Transfiguração, de acordo como é revelada na Memória da Natureza, mostra o corpo do Cristo de um branco deslumbrante, assim evidenciando Sua ligação com o Deus-Pai, o Espírito Universal. Não há nada no mundo tão raro e precioso como aquele extrato do ser humano: o Cristo Interno. E quando cresce, ele brilha através do corpo transparente como a Luz do Mundo”.
O estudo cuidadoso da vida de Cristo-Jesus, conforme relatada pelos Seus Discípulos, nos quatro Evangelhos, mostrará que Ele deixou a Sua orientação para qualquer tipo de problema que nós, como Aspirantes à vida superior, eventualmente encontraremos no Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz. Derramando a Sua enorme força espiritual sobre nós, Ele acalma as tempestades do excesso emocional, cura a grande enfermidade que é a ignorância, devolve a visão aos cegos pelo materialismo, expulsa os demônios do ódio e do egoísmo, derrotando o último grande adversário: o medo da morte. Aqui temos o verdadeiro sentido da redenção: a vitória sobre a alienação do ser humano dele mesmo, dos outros e de Deus!
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de outubro/1975-Fraternidade Rosacruz-SP)
[1] N.R.: At 1:12
[2] N.R.: Mt 11:14
Resposta: As adversidades são mais benéficas que os fatos agradáveis que nos sucedem. O indivíduo comum – mormente o que não se dedica aos estudos espirituais esotéricos dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental – dificilmente aceitará ou compreenderá esta afirmação, mas o Aspirante à vida superior, por certo, reconhecerá a verdade subjacente nestas palavras.
Em uma de suas “Cartas aos Estudantes”, Max Heindel afirma categoricamente: ” As provas são um sinal de progresso e uma causa de grande regozijo”[1]. E segue explicando que, uma vez alguém reconheça suas responsabilidades espirituais e enverede pelo caminho da espiritualidade, passa a receber contínuas oportunidades de expiar as “dívidas morais” contraídas em vidas passadas sob a Lei de Causa e Efeito.
Todo ato perverso cometido e todo pensamento desarmonioso emitido devem ser compensados. Deve haver restituição, seja diretamente a pessoa atingida, seja por meio de serviço altruísta prestado a outrem. Se o indivíduo sofre, é porque violou as Leis da Natureza – que são as Leis de Deus – e não pela vontade de um “Deus caprichoso”.
As adversidades que se manifestam como privações e sofrimento, em realidade, são oportunidades de aprendermos nossas lições – lembrando: que nós mesmo escolhemos! – e, consequentemente, crescer moral, mental e espiritualmente. Devemos expiar, aprender e crescer. Cabe-nos superar todos os resíduos de destino. Isso é imprescindível se desejamos ser suficientemente puros para conquistar o elevado grau de espiritualidade, exigível na culminação de nossos esforços para o despertamento do Cristo interno. Naturalmente, quanto mais rápido isso acontecer, mais aptos estaremos para assumir nossa responsabilidade de servir à Humanidade.
Mais capacitados, ainda, estaremos para ajudar nossos semelhantes a trilharem o mesmo Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz que agora estamos percorrendo.
Cada prova a nos atormentar, cada dilema a nos confundir, cada sensação de dor ou conflito – seja existencial ou espiritual – a nos abalar, representam oportunidades de crescimento. O recebimento dessas oportunidades é, em si mesmo, um sinal de progresso.
As Potestades Superiores estão conscientes de nossos primeiros esforços no Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz. Reconhecendo nosso empenho sincero, imediatamente fazem com que as provas se interponham em nossa caminhada.
Entendidos dessa forma, esses obstáculos são, inquestionavelmente, grandes bênçãos em nossas vidas!
Os benefícios que as provações nos trazem dependem de nossa atitude em relação a elas. Se deploremos nosso destino, só nos preocupamos; se, de alguma forma, reagimos negativamente, fazendo concessões à natureza inferior, perderemos a oportunidade de progredir. Se não aprendermos a lição da primeira vez, podemos estar seguros de que outra oportunidade se oferecerá e, provavelmente bem mais desagradável.
Não podemos fugir indefinidamente. O fracasso da primeira vez significa uma segunda prova ou quantas mais forem necessárias. Neste caso, a adversidade já deixou de ser uma benção para se converter num obstáculo ao nosso progresso.
Se reconhecermos em cada prova a sua verdadeira natureza; se encararmos o problema de frente, com alegria e otimismo, convictos de que no final tudo se resolverá satisfatoriamente, então, veremos como as coisas não são tão amargas como imaginávamos. Se reagimos a cada dificuldade, inspirados nos Ensinamentos Cristãos – como preconizados pela Fraternidade Rosacruz –, nos cuidando de, sob a mais extrema provação, agir compassivamente, fazendo o possível para promover a harmonia, daremos um grande passo em direção a nossa meta espiritual. Aprenderemos importantes lições de uma forma menos dolorosa e seremos beneficiados com um crescimento anímico inimaginável. Então, certamente, a adversidade terá sido um privilégio.
As provas, como bem o sabemos, assumem formas diversas. Vão desde o mais evidente até o incrivelmente sutil. Chegam a nos desafiar em assuntos de bem-estar físico e estabilidade emocional. Entram em nossas relações com a família, os amigos e conhecidos. Importuna-nos no trabalho e perturbam nosso descanso. Frustram nossos planos e interferem com nossas esperanças e nossos ideais.
Em certo sentido, é correto afirmar que estamos sendo constantemente provados. E se vivermos cada minuto de nossas vidas como sabemos que Cristo desejaria que o vivêssemos, então passaremos todas nossas provas gloriosamente.
Considere por um momento o significado desta afirmação: “Se vivermos cada minuto de nossas vidas como sabemos que Cristo desejaria que o vivêssemos”. Há, dentro de nós, uma pequena voz chamada consciência, dizendo como nos portar em qualquer eventualidade.
Devemos responder com paciência e amor, não importa que injustamente pareçamos ser tratados por outro indivíduo. Sabemos que se alguém necessita de ajuda, devemos prestá-la, deixando de lado nossos interesses pessoais. Sabemos, também, que em momentos de dificuldades econômicas, aparentemente sem solução, se apresentam, por si mesmas, saídas alternativas, quando recorremos a meditação e oração – como nos ensinam a Filosofia Rosacruz. E sabemos, ainda, que nossas aparentes tribulações perdem importância quando, observando o mundo ao redor, constatamos a situação muito mais desesperadora de outras pessoas. Aí, então, nos sentimos impelidos a aliviar seus sofrimentos.
Se, depois de estudarmos os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, nos perguntarmos como agiria o Cristo em uma determinada situação, logo o saberíamos. O Cristo em todas as circunstâncias seria compassivo, paciente, compreensivo e amoroso. E nós podemos agir dessa forma… se o quisermos. Afirmar tudo isso é fácil, e crer também. Difícil é fazê-lo! Mas, podemos manifestar essas elevadas virtudes… se o quisermos. Isso, claro, é difícil, porque via de regra “não o queremos”. Nossa natureza de desejos predomina sobre a razão e obtém o melhor do nosso Eu Superior. Os sentimentos de altruísmo sucumbem ante a tirania da Personalidade e o amor fraternal é vencido pela satisfação de si mesmo.
Quando fracassamos em uma de nossas provas podemos estar certos de que isso aconteceu por uma razão egoísta. É muito mais cômodo retribuir com a mesma moeda e tratar com agressividade alguém que nos tenha acusado injustamente, ou agindo de má fé. Requer-se um caráter altamente evoluído para “caminhar o outro quilômetro”[2], procurar a “divina essência oculta” dentro de tal pessoa e se sobrepor as suas palavras vilipendiosas.
É egoísmo fugir de uma situação, porque a fuga, naquele momento, parece ser o caminho mais fácil, uma forma de alívio ou a saída para não encarar o problema de frente.
É egoísmo nos preocupar, nos impacientar, alimentar temores, porque isso é desperdiçar tempo valioso que melhor seria empregado em propósitos construtivos.
Em realidade, é egoísmo fazer coisa que nos impeça de passar por uma prova, porquanto consiste numa recusa em progredir. O crescimento de um indivíduo acrescenta muito à evolução da Onda de Vida humana. Caso uma só pessoa relute em fazer sua parte, impedirá que nossa Onda de Vida avance um pouco mais.
Se alguém considera exagerada esta afirmação lembre-se de que “uma corrente e tão forte como seu elo mais fraco”. Qualquer pessoa incapaz de assumir sua responsabilidade e se empenhar no seu fortalecimento mental, moral e espiritual, está debilitando a corrente que é a nossa Onda de Vida.
Não esqueçamos: esta mesma Onda de Vida está destinada a evoluir até o ponto de, vestida com o Dourado Traje de Bodas – o Corpo-Alma-, se tornar capaz de fazer a Terra levitar no espaço, liberando o Espírito de Cristo dos grilhões que o prendem ao nosso Planeta.
Se pensarmos como fracasso em passar por uma prova constitui um obstáculo à consumação desse glorioso dia, talvez sejamos mais persistentes e escrupulosos em nossos esforços.
Então, aprendamos a aceitar nossas adversidades como bênçãos, recordando que procedendo assim ajudaremos a nós mesmos, a nossos semelhantes e ao Espírito de Cristo.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz fevereiro/1986 – Fraternidade Rosacruz-SP)
[1] N.R.: Carta ao Estudante nº 72 do Livro Cartas aos Estudantes – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz
[2] N.R.: Mt 5:39
Quando alguém, seja homem ou mulher, se torna um Estudante Rosacruz é porque acordou para realidades mais elevadas. Esse despertar mostra ter o Aspirante à vida superior alcançado já certo amadurecimento interno, fruto de sua peregrinação, embora estivesse, até então, inconsciente disso. O referido amadurecimento interno é que o leva a se ligar à Misteriosa Escola Rosacruz ou Fraternidade Rosacruz. Feita a ligação com essa Escola, recebe o Estudante a orientação necessária, assim como o auxílio dos Irmãos Maiores, a fim de que possa realizar, daí em diante e conscientemente, a sua evolução que antes se processava de maneira inconsciente. Nesse caso, ela se realiza com lentidão e muito sofrimento, enquanto no outro caso ocorre exatamente o contrário. É que, ao se ligar à Escola, tomou o Estudante o caminho de atalho.
Aproveita o tempo e pode fazer na atual vida o que não faria em várias, de outro modo. Convém esclarecer que, uma vez ligado à Escola, o maior ou menor avanço no Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz depende exclusivamente da dedicação do Estudante. A parte de incentivo e orientação que compete à Escola e aos Irmãos Maiores jamais faltou ou faltará. Cada Estudante é atendido prontamente, no nível da sua dedicação. Aliás, não poderia ser de outra forma.
Quanto mais o Estudante se dedica, maior compreensão lhe surge, quase que automaticamente, dos mistérios da vida e da mencionada Escola que o orienta e apoia. Os horizontes vão se alargando até que, um dia, o simples Estudante torna-se um Iniciado. Portanto, querido amigo ou querida amiga, é sobremaneira importante esforçar-se. Todo esforço traz um resultado positivo na Economia da Natureza. Do preparo de cada um depende a capacidade para melhor e mais SERVIR.
(de Hélio de Paula Coimbra – publicado na Revista Serviço Rosacruz de dezembro de 1965)
Muito já se escreveu sobre o amor, mas ninguém soube elevá-lo tanto, ninguém o revestiu de profunda clareza, e ao mesmo tempo de suprema transcendentalidade, como São Paulo no Capítulo XIII em sua Primeira Epístola aos Coríntios.
S. Paulo, longe de simplesmente tecer uma rebuscada apologia ao amor, como alguns podem julgar, procura apresentá-lo em suas reais dimensões. Suas palavras deixam transparecer uma clareza meridiana. Seus apelos são diretos e incisivos, dispensando concessões e ambiguidades.
Como Cristãos só nos resta empreender os maiores esforços por expressá-lo em nossas vidas diárias, buscando concomitantemente, compreendê-lo em suas raízes mais profundas.
1. Para fazer download ou imprimir:
A Eulogia do Amor – Por um Estudante – Fraternidade Rosacruz
2. Para estudar no próprio site:
A Eulogia do Amor
Por um Estudante
Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82
Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil
Traduzido, Compilado e Revisado de acordo com:
Eulogy of Love
1ª Edição em Inglês, 1916, in The Rays from The Rose Cross – The Rosicrucian Fellowship
pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
contato@fraternidaderosacruz.com
fraternidade@fraternidaderosacruz.com
Sumário
O Amor Não se Conduz Inconvenientemente.. 10
O Amor Não Busca os Seus Interesses. 11
O Amor Não se Ressente do Mal.. 13
O Amor Não se Alegra com a Injustiça, mas se Regozija-se com a Verdade.. 14
O Amor Espera Todas as Coisas. 18
O Amor Suporta Todas as Coisas. 19
O Amor que o Estudante Rosacruz deve valorizar.. 21
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S. Paulo, o grande Iniciado, escreveu uma tese maravilhosa sobre o amor. Maravilhosa pela sua brevidade abrangente e pelo seu alcance todo-inclusivo. Abrange toda a gama do amor e o seu acorde dominante de altruísmo. Foi escrita para a Igreja de Corinto, uma cidade do sul da Grécia conhecida pelo seu abandono a todas as formas de luxo e sensualidade. Aplica-se ainda mais a nós, nesta época, pois começamos a responder às altas vibrações espirituais e podemos mais facilmente viver os seus profundos ensinamentos.
Este capítulo maravilhoso da Primeira Epístola de S. Paulo aos Coríntios é um epítome do amor altruísta, o amor ágape. É o ideal que devemos nos esforçar para alcançar. Sabiamente, nós o incorporamos no nosso Ritual do Serviço Devocional do Templo e o seu glorioso resumo diz o seguinte: “E agora permanecem a fé, a esperança e o amor; mas o maior destes é o amor”.
A fé é importante — a fé que pode remover montanhas. A esperança é necessária — a esperança que ilumina o horizonte distante, por mais escuro que seja o ambiente atual. Ambas são grandes auxiliares da vida superior e da Humanidade comum; mas o amor coroa tudo. O amor é o poder que move o universo. Não é meramente o poder sobre o Trono, mas o poder por trás do Trono.
No prefácio desse maravilhoso epítome do amor nos é dito que, sem ele, somos nada — apenas um “metal que soa ou um sino que tine”. O metal pode emitir sons melodiosos, pode expressar a perfeição da arte, mas lhe falta algo. Não é humano. Não soa os tons da Alma — a qualidade vibrante da vida.
Sem amor não temos expressão. Esse fato é ilustrado por todos os lados. Tomemos a arte, por exemplo. Sem a qualidade que designamos por “alma”, ela é apenas o que o seu nome indica, “arte”. Mas ponha amor nela e deixe que a Alma aquecida, ávida e brilhante se expresse por meio dele: assim a Alma vive.
A cultura tem pouco valor (exceto como um bem de boa criação) sem o amor animador que a inspira e vivifica. Quão vazias, quão artificiais são todas as tentativas de expressão, em qualquer linha, sem o ávido brilho da Alma que brota do amor! Grande parte da nossa arte moderna dá um testemunho lamentável da ausência desse fogo divino.
Trazido para a Personalidade, como emociona e encanta! Como ilumina um rosto humano! Como atrai! Como somos dolorosamente repelidos pela sua antítese e aborrecidos pela sua ausência! O rosto mais simples, com esse brilho interior que transparece nas suas feições, torna-se belo para nós. O rosto mais belo, de acordo com o padrão de contorno físico do mundo, torna-se repulsivo sem essa luz da Alma e nós nos afastamos dele com um estremecimento interior.
Essa bela luz da Alma não pode ser enganada, mas alguns dos seus efeitos podem ser simulados durante algum tempo. Alguns dos modernos ensinamentos de beleza podem permitir que se adquira um certo efeito do “metal que soa”. Pode tornar possível que alguém se torne um “sino que tine” muito melodioso, mas isso é tudo o que faz sem o belo amor espiritual por detrás dele — brilhando através dele.
É isso que esse amor faz por nós, no plano da nossa Personalidade. De fato, ele cria a Personalidade. Sem ele, não há encanto, não há poder de atração ou de agradar. Não há disfarce que tenha valor. A qualidade interior transparece através da máscara mais espessa. Não podemos simulá-la sem sermos detectados. Do amor emana algo, uma força que se faz conhecer e sentir. A imitação adquirida através da, assim chamada, cultura pode mostrar certos truques de vivacidade ou certas graças da sociedade, mas reconhecemos instintivamente a pose, a farsa, o fingimento. Conhecemos a diferença entre essa aparência de vida e o verdadeiro amor que anima, vivifica e inspira.
O amor de que falamos é Espírito-Vida, é Fogo. Ele transmuta todas as qualidades mais inferiores em ouro puro. É uma chama viva que irradia de um centro puro. Deve irradiar e deve irradiar para outras vidas. É esse o seu poder e a sua prerrogativa. Sentimos instantaneamente a sua presença. Alguns estão tão cheios dessa vibração, desse poder mágico, que sentimos quando nos aproximamos deles. Isso, queridos amigos e queridas amigas, é o que todos nós precisamos cultivar cada vez mais. Só isso fará com que o nosso centro de comunhão cresça e viva. Isso deve começar individualmente. Pode e deve manifestar-se coletivamente. Quando nós, como organização, pudermos expressar esse belo amor divino, não mais lamentaremos a falta de trabalhadores. Não precisaremos mais de propaganda ou tentativas de atrair as pessoas para nós. Elas não poderão se afastar de nós, se irradiarmos esse amor de Cristo.
Pelo teste dado na Primeira Epístola de S. Paulo aos Coríntios, analisemos este amor divino em manifestação. Vejamos como a nossa vida se ajusta a ele!
Outro teste: o amor vê demasiado longe para invejar. Reconhece o estatuto real do “Eu pessoal”. Sabe que os “Eus separados” são uma ilusão e pertencem ao plano da ilusão. Sabe que, na realidade, todos partilhamos o mesmo “Eu” e todos bebemos da mesma Fonte espiritual de acordo com a nossa capacidade de receber. Em uma visão cósmica, sabe que a sua vida, em todas as suas expressões e correlações, pertence a mim tal como a minha lhe pertence. Nós, diferenciados por um tempo, somos apenas expressões de várias linhas da Vida Única — o Espírito Único. Suas capacidades, seus talentos, seus dons e graças, o encanto da sua Personalidade, a sua beleza e nobreza, tudo isso é meu e, na minha consciência ampla eu os abraço e amo. São uma parte da Vida Cósmica — uma expressão da Deidade e, assim, pertencem a mim e a você. Por outro lado, o que eu sou na fase atual de desenvolvimento é uma parte da Vida Única e universal e por isso pertence igualmente a você. Logo, não há lugar para a inveja e o Amor não inveja.
Porque vê o “Eu pessoal” como ele realmente é; conhece todas as falhas e fraquezas, todas as debilidades e loucuras desse “Eu” limitado e as reconhece como parte do animal que tem que treinar, transmutar e glorificar, unindo-o ao Divino. Por isso, não há lugar para o orgulho ou ufanismo tolo — para a autoglorificação. Tudo que nos pertence individualmente, que é do nosso “Eu pessoal”, é a nossa limitação, a nossa imperfeição. É o transitório, a parte temporária — aquilo que se desvanecerá com a morte, se não for fundido com o que realmente somos: Espírito. Não é algo de que nos devamos orgulhar, particularmente. Quanto mais a Personalidade absorve algo da verdadeira beleza e brilho interiores, menos ela se torna uma Personalidade distinta e separada. Tudo que revelamos desse carácter interior que enriquece a vida é apenas uma expressão mais plena da Divindade interior e pertence igualmente a todos; por isso, o amor não pode ser orgulhoso.
Não se vangloria, porque vê o mundo com olhos de terna compaixão. Não encontra espaço para o orgulho próprio, porque o seu centro não é o “Eu pessoal”. Tendo desenvolvido algo de beleza ou de valor da vida universal, especializando-se em algumas graças espirituais, não vê razão para orgulho ou vanglória. Se o “Eu pessoal” e separado adquiriu algum encanto próprio, alguma beleza, virtude ou graça, o amor sabe que tudo isso deve ser extraído, absorvido pelo “Eu superior” e levado adiante para enriquecer a vida universal — tanto para um como para outro.
É indecoroso brincar com coisas sagradas, ter pensamentos impuros, manter uma sugestão impura na Mente ou transmitir essa sugestão a outra pessoa. Todas as insinuações secretas, os duplos sentidos, as piadas tolas que sugerem sensualidade, tudo aquilo que rebaixa a vida e arrasta a Alma para baixo é inconveniente e o Amor não pode permitir ou suportar isso. O amor é castidade, é pureza, é brilho, beleza, serenidade — mas energia radiante. Sendo puro, não pode se afiliar à impureza; mas queridos amigos e queridas amigas, aqui está uma verdade oculta que, às vezes, não conseguimos descobrir: o amor brilha e transmite sua própria pureza mística às manchas mais sombrias da Alma de outra pessoa. Pode, pelo seu poder absorvente, transformar a vida que toca. O amor nunca toma atitudes de superioridade. O amor não se afasta do pecador penitente com um sentimento de autogratificação por suas próprias virtudes. Não pode comportar-se de forma contrária à sua natureza interior, mas pode e deve se aproximar de outras vidas — mesmo aquelas que chamamos de degradadas, a fim de irradiar o seu poder que abençoa e ajuda. A energia radiante do amor destrói o mal.
Porque o Cristo-Amor não reivindica nada para si mesmo. Suas correntes divinas fluem através da vida, trazendo bênçãos para todas as outras vidas que toca. Procura não guardar, acumular ou reter para si mesmo. Quando isso acontece, deixa de ser amor — mistura-se com a liga do desejo. Desejo é a vontade de possuir algo para si ou para outro “eu” que amamos. Está tudo bem em um determinado estágio do nosso crescimento, porque precisamos do estímulo que ele transmite. Quando manifestado em suas fases mais elevadas, acelera, inspira e leva aos impulsos mais elevados. Refinado até à essência, manifesta-se no mais terno amor materno, amor que deseja apenas para o filho o seu amor. Este amor está muito próximo da fronteira do divino, mas ainda é humano e limitado, pois está misturado com a liga do “eu”. Somente quando amamos aquilo que não nos pertence em qualquer sentido especial — aquilo sobre o qual não temos direito e que nunca nos beneficiará de forma alguma — é que realmente amamos com o amor divino. O amor é a energia radiante que se derrama em todas as formas. Seu poder restritivo é a devoção altruísta. Não busca o que é seu, não busca qualquer bem ou ganho para si mesmo. Em algum ponto da escala, a energia emitida e representada pelo desejo pode ser direcionada para dentro e usada como força espiritual. Então ela se funde com o amor.
Existem inúmeros graus de amor, porém mantendo continuamente o ideal mais elevado no pensamento o estágio sublime do perfeito amor de Cristo pode ser alcançado. Quando essa chama pura brilhar dentro de nós, enviaremos um poder vivificante, um calor, uma energia radiante que todos sentirão no mais breve contato. Nós o vemos brilhar nos olhos e sentimos seu hálito perfumado de vez em quando em alguns raros momentos. É a bênção mais rica do mundo — este poder de amar — e é um poder porque não procura o que é seu. Nem sequer pede que seja devolvido. É como a luz do Sol espalhando bênçãos e inspirando vida: só porque é amor!
Nunca se ofende, nunca se exaspera — mesmo quando a intenção é ofender. Todos os ataques de língua afiada, as calúnias venenosas, os significados desvirtuados que os insensíveis, os mal-intencionados, os invejosos e os cruéis lançam contra a Alma consagrada caem inofensivamente. Eles caem dessa forma porque o amor verdadeiro consagrado aos fins mais elevados e não pode parar no caminho para considerar o mal; ele não tem tempo de se sentir magoado nem inclinação para se sentir ofendido. Conhece a Lei de Deus: “que tudo se reverterá para o remetente do mal” e tem compaixão da Alma ignorante e tola que pratica esses crimes contra o amor. O amor não é facilmente provocado.
Porque a sua própria essência é pura. O Cristo-Amor não poderia pensar mal do outro, porque não há mal dentro dele. Quando falamos mal de outra pessoa, traímos a nós mesmos — a qualidade interior de nossas Almas. Podemos ser forçados a reconhecer o mal ou a falha no outro, mas instantaneamente direcionamos o fluxo de amor radiante sobre ele e nos esforçamos para transmutá-lo ou consumi-lo. Apenas criticar é totalmente mal e não tem lugar em uma organização como essa. Os puros de coração, e não apenas os exteriormente puros, nunca procuram o mal. Quando o encontram, eles ficam tristes com isso e tentam com sua própria força maior ajudar o coração em dificuldades do irmão ou irmã a superá-lo. Todos os pensamentos malignos que permitimos vagar em nossos cérebros vêm de um plano inferior onde todos os acréscimos imundos de eras se acumularam. A corrente passa por nós continuamente através dos Éteres; mas lembre-se de que só nos apropriamos daquilo com que temos afinidade. Portanto, a qualidade do nosso pensamento mostra a nossa natureza interior. Nós nos autocondenamos quando pensamos o mal de outra pessoa; quando pensamos o mal em nós mesmos, revelamos a qualidade interior de nossa natureza.
Ele não poderia se alegrar com a injustiça, porque o seu propósito é o desenvolvimento, a expansão, a manifestação da unidade na diversidade e o seu ser é a harmonia, a vida. Alegrar-se com a injustiça seria alegrar-se com aquilo que perturba, desintegra, destrói! Ele se alegra com a verdade e busca continuamente. Ele conduz à verdade e é a própria verdade, quando manifesta sua expressão última e plena.
Se imaginarmos, por um momento, que o amor pode andar à deriva por jardins de rosas, escapando das tempestades da vida e dos seus males, não conseguiremos perceber a sua verdadeira natureza. O amor tem que sofrer, quando está aprisionado na forma. A sua própria natureza — energia radiante que procura expressão no plano físico, no meio de todos os “tipos e condições de servidão” — necessita de dor e tristeza.
A própria natureza do amor encontra em um verdadeiro Centro da Fraternidade Rosacruz (onde há um Templo onde se oficia os Rituais, onde há um Departamento de Cura e onde há Reuniões de Estudos focados em estudar fielmente e tão somente os Ensinamentos Rosacruzes) um campo para essa expressão. As diferentes Personalidades dos Estudantes Rosacruzes daquele Centro — muitas vezes desarmoniosas e, infelizmente, por vezes discordantes ao ponto do antagonismo —, as diferentes opiniões e ideias deles, os preconceitos e desejos deles, as várias formas de vaidade e egoísmo deles, tudo isso fornece um campo rico para a plena frutificação do amor através da provação e da dor. O amor idealiza-se quando é exposto por meio da Personalidade e, quando se desilude, surge o sofrimento. Isso é exemplificado não apenas nos nossos amores individuais, mas no coletivo, em nossas uniões para: o serviço amoroso e desinteressado (portanto, o mais anônimo possível) ao irmão e à irmã, focado na divina essência oculta em cada um de nós – que é a base da Fraternidade, o estudo e a expressão, por exemplo.
Ora, se o amor pode suportar este processo de desilusão, então é amor. A imitação, que é apenas uma forma de desejo pessoal, desaparece e morre sob o estresse e a tensão da experiência. Por exemplo, somos atraídos pela Fraternidade Rosacruz. Formamos uma concepção ideal da mesma e realizamos suas atividades com um entusiasmo fulgurante. Mas nada do que encontra expressão física é ideal e, por isso, logo nos deparamos com a decepção! Na expressão das diferentes Personalidades, que ainda não estão totalmente dominadas por nós, o Espírito Virginal da Onda de Vida humana manifestado aqui, encontramos muita coisa que entra em conflito com os nossos ideais e, na repentina oposição de sentimentos que se segue, ficamos doentes do coração e somos levados a nos afastar. Mas aqui está a prova do amor. Se ele não pode resistir a um teste tão pequeno, como trilharemos o Caminho da Preparação e Iniciação Rosacruz?
O amor sofre por muito tempo. Não há limite de tempo para ele. O amor pode produzir muitas eras ou vidas de provação e carga, porque nos tornamos vencedores quando suportamos todos os testes. Os portões do Templo se abrem apenas para aqueles que se tornaram fortes por meio do amor e do sofrimento. A verdadeira grandeza é demonstrada pelo domínio de todas as situações e o amor se prova pelo seu poder de suportar. O amor é bondoso.
Amigos e Amigas, há um mundo de significado nessa pequena palavra: bondade. É dito que ela siga o sofrimento como um efeito. O amor nunca retalia quando lhe é feita uma injúria. Nunca imagina que uma ofensa foi feita. Nunca é ingrato quando lhe é feita uma gentileza. Nunca é invejoso. Nunca diz coisas rancorosas e maldosas. É bondoso no sentido mais completo da palavra. Nós nos magoamos tanto uns com os outros, quando não amamos verdadeiramente. Mas esse amor que estamos considerando agora ministra de mil maneiras ternas e belas ao Amado, seja ele individual ou reunido em um corpo como a nossa Fraternidade Rosacruz. O amor, que é o ideal pelo qual nos esforçamos, é bondoso.
Podemos imaginar situações em que o “amor” pode ser orgulhoso no seu sofrimento. Ele pode se afastar em um distanciamento ofendido e recusar a ser bondoso. Mas isso, caros amigos e caras amigas, é o amor fictício! O verdadeiro amor sofre muito e é bondoso. Mais do que tudo, ele teme causar dor ao outro. Prefere sofrer a magoar o outro, mesmo que tenha sido gravemente prejudicado. Nunca se vinga quando recebe uma injúria. Nunca imagina que uma ofensa foi feita. Nunca é ingrato quando recebe uma gentileza. Nunca é invejoso. Nunca diz coisas rancorosas e maldosas. É bondoso no sentido mais completo da palavra. Nós nos magoamos muito quando não amamos verdadeiramente. Mas esse amor que estamos considerando agora trata o Amado de mil maneiras ternas e belas, seja ele individual ou coletivo como um corpo igual à nossa Fraternidade Rosacruz. O amor, que é o ideal pelo qual nos esforçamos, é bondoso.
A esperança brota de fato e perene no seio humano, quando este amor de que falamos a inspira. O desespero não consegue encontrar um lugar onde seu veneno nocivo possa se alojar, quando esta chama do Amor Divino arde continuamente. Nas cavernas mais sombrias da Terra nunca poderá apagar este fogo e a sua luz. Ele destrói os gases venenosos e a esperança brilha como um farol, pois ela está inclusa no amor.
Pode carregar fardos pesados e nunca vacilar. Pode suportar os fardos dos outros e nunca hesitar. Sua força de Alma brilhante lhe confere muito poder.
Aprende através do sofrimento a suportar pacientemente. Permite que os corações humanos perseverem. É a inspiração da vida. Suporta o sofrimento com sua energia radiante que anima. Pode tornar a Alma grande e elevada, permitindo-lhe, como tão belamente foi expresso, “navegar com um vento favorável através de muitas tempestades e no meio das ondas desfrutar de uma bela calma”[1].
Quando deixamos de aprender algumas das nossas lições da vida, é porque ainda não conhecemos este amor na sua plenitude. Quando ficamos fracos e cedemos a alguma tentação sutil, é porque ainda não nos tornamos um canal para essa força extraordinária. Quando falhamos em algum dever, é porque as correntes de amor são desviadas e não atingem nossas almas com seu poder animador e vivificante. Quando nos desviamos e desanimamos diante das tarefas desesperadoras, é porque ainda não conhecemos esse amor de que falamos. Nunca poderemos falhar enquanto ele brilhar dentro de nós e irradiar, a partir de nós, correntes de força viva. É a própria vida e sem ela somos meras sombras ou autômatos mecânicos.
De acordo com este padrão podemos ver que muito do nosso assim-chamado amor é desejo. Pode ser um desejo que foi refinado até sua essência, mas ainda assim é um desejo, em última análise.
Talvez aqui surja uma questão: se o desejo é movimento, como se diz, como pode o amor maior estar separado do desejo? Quando Deus, que é Amor, começa a Se manifestar, Ele não deseja expressão? Ele flui por todo o universo e Se manifesta através dessas inúmeras formas. O que faz com que Ele Se manifeste? Não é desejo? Mas há uma diferença fundamental entre o desejo que move o Amor Divino em Sua missão benéfica e aquele que leva nossos corações humanos a agirem. O amor de Deus circula pelo Universo como as correntes arteriais em nosso microcosmo, trazendo vida, energia vital e cura; além disso, ele reúne em seu retorno, através de outros canais, todos os acréscimos, impurezas e manchas da nossa Personalidade e os transmuta, purifica e envia de novo em forma de corrente de amor para abençoar e rejuvenescer.
Quando amamos com o Amor Divino, não desejamos para nós mesmos, mas para o outro. Quando desejamos para nós mesmos, poluímos a pura corrente do amor e a enviamos carregada de veneno. Há um trabalho muito bonito que alguns dos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz fazem pela Humanidade — e do qual todos nós podemos participar, se quisermos. À meia-noite, eles reúnem todos os maus pensamentos e forças que foram enviados durante o dia e, através da alquimia divina do amor, transmutam em forças para o bem. Algum trabalho poderia ser mais bonito? Vejamos se algo neste trabalho precisa ser feito por nós.
Nós podemos nos transformar em canais de bênçãos para a Humanidade, usando a força do nosso pensamento para os fins mais puros e elevados. No nosso Ritual do Serviço Devocional do Templo, falamos em sermos usados como “canais conscientes na obra benfeitora dos Irmãos Maiores à serviço da Humanidade”. Também usamos o Amor como tema da nossa meditação. Este amor é o poder que devemos usar em nossa vida superior. Nós o pervertemos em nosso desenvolvimento passado. Nós o usamos para atrair coisas para nós mesmos. Muitos dos nossos cultos e das nossas sociedades religiosas fazem isso agora em um grau alarmante. Podemos pensar em bens materiais ou tesouros emocionais, desejos e vontades do coração. Ele pode ser usado para atrair amor humano ou graças espirituais para nós. Seja o que for que procuremos ou desejemos para enriquecer nosso “Eu pessoal” de alguma forma, é uma perversão da força que chamamos de amor. Em um estágio do nosso avanço, isso se torna mau, se houver excesso.
Precisamente aqui, eu gostaria de falar sobre uma tendência entre as “escolas de pensamento superior” de ignorar o chamado amor humano (o amor filia) ou de refiná-lo até que mal seja uma essência. Para muitos ainda é difícil traçar uma linha entre o amor filia e o amor ágape. Quantos de nós, ao iniciar o Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz, ficamos extremamente intrigados ao saber até que ponto podemos manter, guardar ou valorizar os nossos amores humanos? De alguma forma, talvez lendo superficialmente essas linhas, adquirimos a noção de que todo amor entre homem e mulher ou pais e filhos pertença a um plano inferior e deva ser renunciado. Na verdade, ele deve ser transcendido em algum estágio futuro, mas deve ser mantido e valorizado até que tenha servido ao seu propósito mais completo. O ponto de vista faz toda a diferença. Se o mantivermos para fins egoístas, ele se tornará um erro. Se o nosso amor se estende para abençoar o outro coração; se a alegria que sentimos em ser amados tem o seu centro no ser amado, então ele está de acordo com a Lei de Deus. E algum dia, amando assim, nossa consciência será estendida para abranger toda a Humanidade. Então conheceremos o verdadeiro significado e valor do amor, o amor ágape.
A razão pela qual o Estudante Rosacruz aprende que deva valorizar apenas o amor ágape é porque grande parte do nosso amor filia está misturado com o desejo egoísta. No entanto, até mesmo esse desejo tem a sua parte no grande plano cósmico; ele é a força dinâmica que nos faz agir. Marte representa a energia dinâmica e rege a natureza de desejo. Essa força, às vezes, atua de maneira muito sutil, quando misturada com os acréscimos da nossa Personalidade. Trabalhando através do raio de Marte, ele deseja e envia energia para cá e para lá, sem propósito, razão ou método. Mas Mercúrio, o símbolo da razão, está agora intervindo para ensinar como essa força de desejo deve ser usada. Então o raio de Vênus entra e nos inspira com um amor mais puro e impulsos mais nobres. Ele reúne e prende com um cinto de ouro os corações que toca. Além disso, acelera com sua radiante energia as almas que unifica. O raio de Vênus, na melhor das hipóteses, não busca o que é seu. Ele olha com seu lindo e terno amor para a outra Alma e abençoa com seu poder conquistador. Ele atrai para si todas as forças em conflito e as harmoniza, une e mantém. É o raio de Vênus que nos dá os amores humanos (que é o amor filia) que são ideais, a nossa rica música emocional, a vida artística, os interesses e laços pessoais, o encanto de Personalidades fascinantes que conquistam e atraem todos para si. É uma influência muito bonita e bastante benéfica. Ela mantém as vidas humanas unidas por um vínculo poderoso: ela dá vida, cor e charme.
A existência pareceria muito vazia e monótona sem o raio de Vênus. Não deve ser sufocado ou descartado, mas, isto sim, tomado e usado como um grande propulsor para o nosso progresso ascendente. O poder de amar e de atrair amor é um dom elevado, deve ser valorizado como tal e usados para os fins mais nobres. Mas o raio de Vênus, por mais bonito que seja, não é tudo; ele também serve a um propósito e deve desaparecer. Existe um Poder maior, uma Força superior que está entrando em nossa evolução. Foi Isso que começou a tocar a Humanidade entre as colinas da Judéia, quando o Mestre dos mestres as pisou com Seus pés sagrados. Isso nós chamamos de raio de Urano. É ele que os mais avançados da Humanidade estão começando a enfrentar agora. Esse Amor combina as influências de Marte e Vênus. É o amor ágape! É, ao mesmo tempo, extrovertido e introvertido. Possui toda a doçura e encanto, toda a beleza e harmonia do raio de Vênus. Possui toda a energia dinâmica e força do raio de Marte. É Espírito, fogo, vida, luz. É tudo que o amor expressa — é amor ágape. É a Divindade interior em manifestação. É o Deus-Amor.
O “Eu pessoal” não é o centro desse amor. Ele flui e transmuta tudo dentro do “Eu pessoal” em propósitos mais elevados, em ideais mais puros. Ele forma os nossos ideais e se eleva das terras baixas e dos vales da vida até às alturas onde a nossa visão pode abranger horizontes distantes.
Vemos, então, o significado e o propósito do amor. Sabemos que é uma parte da Chama universal e de forma alguma deve ser confinada dentro de formas — limitada, condicionada, restringida. Quando esse amor ágape nos possui, vemos todos como um e reconhecemos a Divina Essência oculta em cada um de nós. Afinal, nossas Personalidades são meras máscaras e quando adoramos a Personalidade, adoramos uma mera aparência — uma quimera que serve a um propósito temporário, mas que se dissolverá como a névoa diante do Sol na luz maior para a qual iremos. Tudo o que é belo e verdadeiro, tudo que é valioso em nossa Personalidade brilhará com uma juventude imortal e resplandecerá no grande Deus-Luz. Tudo o que é belo, doce e puro na máscara que usamos em cada vida terrena perdurará, pois faz parte do Deus interior. Aquilo que está ligado ao animal perecerá ou se dissolverá. Na verdade, nada perece, mas certas manifestações se desintegram e retornam a suas partes componentes. Só continua aquilo que é mantido unido pela Vida – o que tem coerência e unidade. A vida é Deus e Deus é Amor. Portanto, o Amor é o poder, a força que vence a morte e que incorpora na Alma a vida imortal. Este Amor de Cristo é como a radioatividade e flui do seu centro brilhante no Espírito, abençoando todos na periferia do seu Poder mágico.
Vamos aplicar o teste a nós mesmos como Fraternidade Rosacruz – o teste do raio de Urano (o amor ágape). Nós amamos? Estamos interessados apenas no grande trabalho a ser realizado para elevar, ajudar e ensinar a Humanidade? Deixamos de lado nossos próprios sentimentos e interesses individuais em prol de uma vida maior, de um motivo mais elevado, da vida de serviço? Estamos consagrados à vida superior, ao Ideal de Cristo? Ou magnificamos nossas Personalidades, adorando cegamente em algum santuário de grandeza imaginária ou criticando de forma ignóbil os nossos irmãos e as nossas irmãs? Permitimos que nossas pequenas animosidades e preconceitos pessoais nos levem a retardar o trabalho que nos comprometemos a fazer? Temos inveja do mérito superior e procuramos menosprezar ou destruir a influência daqueles que podem ter captado uma visão da verdade mais clara do que a nossa? Em outras palavras, estamos vivendo de acordo com a definição de amor do Cristo, o amor ágape? Esse amor é a Chama pura que acende todas as nossas pequenas lâmpadas. Somos parte da Chama, parte da corrente que dá luz; mas muitas vezes nos fechamos em nosso pequeno mundo e pensamos que a luz que possuímos pertence exclusivamente a nós mesmos. Não consideramos os outros “Eus”. Ligamos nossa corrente e fechamos nossas cortinas, imaginando que estejamos isolados do mundo. Mas lá embaixo, na rua, há um poderoso arco de luz e por trás dele há uma corrente que atravessa os outros onde existem forças poderosas. No entanto, não se origina aí. Ainda mais atrás — mais profundamente onde a paixão cessa e as forças elementais nascem — a corrente começa e termina. Seu circuito está completo em Deus.
Queridos amigos e queridas amigas, as nossas pequenas Personalidades deveriam encolher e desaparecer no nada diante dessa Grande Luz. Não deveríamos ser meros colecionadores ocupando o cargo mercurial, mas forças, poderes, um centro muito radiante que difunde a nossa luz para todos ao nosso redor. Expressaríamos assim a oitava superior de Mercúrio que é Netuno e a oitava superior de Vênus, que é Urano Isso é o que deveríamos fazer, queridos amigos e queridas amigas, no nosso atual estágio de avanço. Se evoluímos o bastante no Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz para nos unirmos aqui como um Centro da Fraternidade Rosacruz ao longo dessas linhas mais elevadas, certamente deveríamos ser capazes de deixar de lado o nosso amor-próprio, a nossa vaidade mesquinha, a nossa presunção, a nossa sensibilidade mórbida, nossas calúnias e críticas indelicadas — tudo que, na verdade, é falso, feio e discordante. Deveríamos ser capazes de nos unir no único objetivo da vida superior: o serviço à Humanidade, que é serviço a Deus. Que diferença faz se a Essência Divina se expressa como você ou eu? A forma específica através da qual funciona realmente não importa. É a Essência interior que nós servimos.
Se irradiamos amor, pouco importa o que mais nos falta. Se não expressarmos em nosso coração e em nossa vida a prova que Cristo nos deu, pouco importa quais outras qualificações tenhamos. Riqueza, cultura, mentalidade brilhante, realizações intelectuais — tudo aquilo a que o mundo se curva em homenagem servil — é nada sem amor.
“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos Anjos, se não tiver amor, serei como o metal que soa ou como o sino que tine”. “E ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e todo ciência; e ainda que eu tenha tamanha fé a ponto de remover montanhas, se não tiver amor, nada serei”. “E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará”.
Portanto, queridos amigos e queridas irmãs, o amor é Deus e sem Ele nós somos meras conchas, unidades isoladas e sem vida, sem propósito, átomos à deriva no mar cósmico. Mas com esse amor preenchendo todo o nosso ser e brilhando através de nós, nós nos tornamos forças poderosas trabalhando com a vida cósmica.
FIM
[1] N.T.: Trecho do Livro St. Elmo de Augusta Jane Evans (1835-1909), escritora estadunidense.
Há uma classe de sensitivos com caracteres fortes positivos por seu poder interno, de acordo com os ditados de sua própria vontade. Esses caracteres podem ser treinados para se converter em Clarividentes voluntários e serem seus próprios senhores em lugar de serem escravos de um Espírito desencarnado (de um irmão ou de uma irmã que morreu e não entrou no Purgatório, ou seja: um “Espírito apegado à Terra”, vivendo nas três Regiões inferiores do Mundo do Desejo por meio do seu Corpo de Desejos).
Em alguns sensitivos é possível extrair parte do Éter que forma o Corpo Vital. Quando um Espírito desencarnado obtém acesso a um sujeito de tal natureza, desenvolve esse sensitivo como um Clarividente involuntário, chamado de “médium materializante”.
O ser humano que é capaz de extrair os dois Éteres superiores do seu Corpo Vital por um ato volitivo se converte em um cidadão de dois Mundos, consciente, independente e livre. São conhecidos, geralmente, como Auxiliares Invisíveis Conscientes. Por meio dos Exercícios Esotéricos fornecidos pela Escola dos Ensinamentos Ocidentais, a Fraternidade Rosacruz, pode-se lograr, com o tempo, separar os dois Éteres Superiores do dois Éteres inferiores do Corpo Vital – que chamamos de Corpo-Alma –, então, pode sair de seu Corpo Denso, o físico, deixando-o abandonado momentaneamente, rodeado e vitalizado somente pelos dois Éteres Inferiores do seu Corpo Vital. Com esse Corpo-Alma ele pode sair levando o seu Corpo de Desejos e a sua Mente para quaisquer distâncias, mantendo-se ligado ao Corpo Denso por meio do Cordão Prateado.
Os Auxiliares Invisíveis são seres humanos que chegaram a um grau de evolução tal, que, ao mesmo tempo que observam durante o dia, em seu Corpo Denso, uma vida consagrada ao serviço amoroso e desinteressado (portanto, o mais anônimo possível) ao seu irmão e a sua irmã, focando na divina essência oculta que há dentro de nós – e que é a base da Fraternidade, têm merecido o privilégio de ser, durante a noite, os colaboradores assíduos dos Irmãos Maiores. Os Auxiliares Invisíveis podem dirigir correntes de força vital solar para fins de cura para os irmãos e as irmãs doentes e, também, podem materializar mãos para manipular a parte enferma do Corpo Vital desses irmãos e dessas irmãs. Todos eles trabalham sob a direção dos Irmãos Maiores, que são os geradores da Panaceia Espiritual Curativa.
Contudo, para se converter em um Auxiliar Invisível é necessário, primeiramente, ser um Auxiliar Visível, ou seja, levar uma vida durante o dia voltada: a ajudar os nossos irmãos e as nossas irmãs; a fazer os Exercícios Esotéricos Rosacruzes; a oficiar diariamente os Rituais dos Serviços Devocionais; a trilhar o Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz e, importantíssimo voltada a prática do serviço amoroso e desinteressado (portanto, o mais anônimo possível) ao seu irmão e a sua irmã que estão ao seu lado, focando na divina essência oculta que há dentro de nós – e que é a base da Fraternidade.
(Publicado no O Encontro Rosacruz – Fraternidade Rosacruz de Santo André – SP – abril/1982)
Resposta: Desde que foi publicado, em 1909, o livro Conceito Rosacruz do Cosmos – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz exerceu reconhecida influência no espiritualismo em geral, suscitando até a criação de várias entidades com várias denominações Rosacruzes ou Rosacrucianas independentes, algumas delas dedicadas a inteira divulgação das obras de Max Heindel. Tudo isto é auspicioso, para que se cumpra a missão prevista pelo Irmão Maior da Ordem Rosacruz, quando Max Heindel passou na prova para ser o único mensageiro dos Irmãos Maiores e para isso fundou a The Rosicrucian Fellowship onde se tem um Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz que, se seguido, conduz o Estudante Rosacruz à Ordem Rosacruz com segurança e via o Conhecimento Direto.
Todavia, o que destoa e enfeia é que, no esforço de autoafirmação, alguns “amigos”, em vez de juntar-se conosco, buscam subestimar a Max Heindel, pretendendo haver-lhe enxertado revelações mais altas e atualizadas.
Uma pessoa pequena (por dentro), no esforço de subir, pisa nos outros. Eis uma constatação: se alguém está seguro de si, não precisa se esforçar para “ser”. Ele “já é”! Mas aquele que está inseguro procura diminuir os outros, pensando, com isso, ficar mais alto que eles.
É compreensível que isto suceda nos meios sociais comuns porque ali, como se costuma dizer, é “cada um por si e Deus por todos”: uma competição não fraterna.
Mas, que dizer quando isto parte de alguém que pratica a espiritualidade há muito tempo? Alguém que ocupa a direção de movimentos espiritualistas?
Tempos atrás uma estudante veio me dizer que não queria continuar o Curso Preliminar de Filosofia Rosacruz. Respondi-lhe: “Não há problema. Nem precisa comunicar à Fraternidade Rosacruz. Respeitamos o livre arbítrio. Cada um é livre para entrar e sair, sem qualquer compromisso conosco”. “Aí ela acrescentou: o ‘Conceito’ já está ultrapassado…”. Perguntei-lhe: “A Senhora já o estudou bem?”. Ela disse, sem jeito: “Não… nem o li inteiro. Estou na 4ª lição do Curso Preliminar de Filosofia Rosacruz. Mas, uma pessoa muito entendida me disse isso”. Calei-me.
Tenho pensado nisso, não por mágoa, mas para meditar sobre o assunto. Lembrei-me da parte introdutória do “Conceito Rosacruz do Cosmos”, sobre aqueles que não aproveitam uma contribuição ou porque não ouviram falar sobre o tema ou porque não concordam com suas opiniões. Recordei, principalmente, aquela frase no Conceito: “A única opinião digna de ser levada em conta é a que tem, com base, o conhecimento”[1].
Normalmente, há um vestibular para se ingressar numa faculdade (especialmente quando a faculdade tem menos vaga do que candidatos). O vestibular é importante para avaliar os que estão em nível de frequentá-la e aproveitá-la. Há, também, uma “advertência” na “introdução” do “Conceito Rosacruz do Cosmos” (justamente o texto Uma Palavra ao Sábio), para que a pessoa se dispa das pretensões e se torne “como uma criança” para, com a Mente aberta, sem preconceitos, possa aproveitar o conteúdo. Só nesse estado de receptividade (não de inocência) a intuição pode falar; só desse modo a sabedoria interna nos permite sentir o “sabor” da verdade. Só uma Mente aberta descobre a coerência lógica.
Max Heindel é muito modesto. Cônscio de sua responsabilidade, como mensageiro da Ordem Rosacruz, ao fundar a Fraternidade Rosacruz, que é o aspecto humano, preparatório – o cursinho para a “Faculdade” Ordem Rosacruz – sinceramente diz: “Dizer que essa exposição é infalível seria o mesmo que pretender que o autor fosse onisciente. Até os próprios Irmãos Maiores nos dizem que eles mesmos se enganam, às vezes, nos juízos que fazem. Assim, está fora de qualquer discussão um livro que queira proferir a última palavra sobre o mistério do mundo, e é intenção do autor dessa obra apresentar apenas os ensinamentos mais elementares dos Rosacruzes”. O autor não é onisciente, nem os outros são. O Conceito Rosacruz do Cosmos está longe de ser a última palavra sobre este assunto. “à medida que avançamos, se apresentam aos nossos olhos novos aspectos e se esclarecem muitas coisas que, antes, só víamos ‘como em espelho, obscuramente’” (ICor 3:12)” (Conceito).
Prossegue Max Heindel: ” essa obra encerra apenas a compreensão do autor sobre os Ensinamentos Rosacruzes relativos ao mistério do mundo, revigorados por suas investigações pessoais nos mundos internos, a respeito dos estados pré-natal e pós-morte do ser humano, etc.”. ” tendo-se esforçado o possível para sugerir as ideias verdadeiras, se considera também na obrigação de se defender da possibilidade de a obra vir a ser considerada como uma exposição literal dos Ensinamentos Rosacruzes. Sem essa recomendação esse trabalho teria mais valor para alguns Estudantes, mas isto não seria justo nem para a Fraternidade nem para o leitor. Poder-se-ia manifestar certa tendência para atribuir à Fraternidade a responsabilidade dos erros que nesse trabalho, como em toda obra humana, possam ocorrer. Daí a razão dessa advertência.”. (Conceito)
Por outro lado, diz ele: “Durante os quatro anos decorridos, desde que foram escritos os parágrafos anteriores, o autor continuou suas investigações nos Mundos invisíveis e experimentou a expansão de consciência relativa a esses Reinos da Natureza (…). Pelo que pôde investigar por si próprio, os ensinamentos desse livro estão de acordo com os fatos tais como ele os conhece. (…) A Fraternidade Rosacruz tem a concepção mais lógica e ampla sobre o mistério do mundo. (…) Ao mesmo tempo crê firmemente que todas as outras filosofias do futuro seguirão as linhas mestras dessa filosofia, por lhe parecerem absolutamente certas”. (Conceito).
Vamos, agora, a meditação do assunto “ultrapassado” e “desatualizado”, como também já ouvi de outra escola com o nome de “rosacruz”.
Em primeiro lugar, para avaliar uma obra é preciso estudá-la com a Mente aberta. Depois que se a estuda, a apreciação que dela fazemos é de ordem pessoal: seguindo nosso ponto de vista, porque ninguém pode ver ou perceber além de seu nível interno. É, pois, uma opinião pessoal.
Em segundo lugar, para que nossa apreciação de uma obra seja realmente válida para todos, é indispensável que estejamos acima do nível do autor. Só quem está em nível superior pode apreciar o que está abaixo dele. Pergunto: a pessoa que diz: “O ‘Conceito’ está ultrapassado”, encontra-se acima do nível de Max Heindel? Sabemos que ele alcançou a quarta Iniciação Menor (que dentre outras revelações, capacita o Iniciado a funcionar conscientemente na Região arquetípica do Mundo do Pensamento, onde constatou muitas realidades) e, além disso, teve a assistência de um Irmão Maior, em virtude de sua missão, como fundador da Fraternidade Rosacruz. Alguma dessas pessoas tem mais evolução do que ele? Se não tem, incorrerão naquela falha apontada por um passo evangélico: “A sabedoria se torna estultícia para quem não a percebe”. Um sábio é, muitas vezes, tido por louco, pela maioria ignorante que não o compreende.
Em terceiro lugar: o que é estar ultrapassado? Ou desatualizado? Porque a edição do “Conceito” foi em 1909 e estamos numa época de velocidade? Já ouvi também esse argumento. Fiquei com pena dos Vedas que vem de 8.000 anos antes de Cristo; fiquei com pena dos ensinamentos de Zoroastro, de Buda, de Pitágoras etc.. E a Bíblia? Por que a estudam ainda? Não serão, também, velharias? Verdades anacrônicas?
Dirá alguém, em defesa: “mas a Bíblia é diferente. Lá está escrito: ‘Tudo passará, mas minhas palavras não passarão’”.
Por quê? Por que são verdades eternas? E as de Buda? E as de Zoroastro? E as de Pitágoras?
Em verdade, as realidades constatadas dos Mundos invisíveis não são passageiras. São verdades permanentes. Apenas a sua transmissão aos seres humanos comuns é que merece um modo adequado. Segundo o nível de evolução, os costumes, as tendências etc., os Iniciados transmissores dessas verdades apresentam-nas de modo acessível, em vários graus, atendendo a todos. É como apresentar a mesma pessoa em roupagens diferentes. Assim, a novidade não está na verdade, mas na sua forma de apresentação. Podemos gostar mais de um vestido do que outro, considerando-o mais moderno e atraente: a questão de preconceito, de moda. Já no campo espiritual, a coisa é mais séria, pois o método ou o modo de apresentação de uma filosofia pressupõe razões mais profundas. Por exemplo, a Filosofia Rosacruz tem a finalidade de atender a razão lógica da mentalidade ocidental, a fim de que possamos compreender e aceitar as verdades espirituais e comecemos a falar uma fé racional. Seu campo há de estender-se por muitos séculos, conforme diz Max Heindel: “As linhas mestras desta Filosofia orientarão as filosofias do futuro”. Em questão espiritual, o fator tempo entra numa dimensão muito mais ampla. De fato, embora os Evangelhos tenham transmitido os ensinamentos orais do Cristo há mais de 2.000 anos atrás, quem pode dizer de sã consciência, que os segue cabalmente? Quem pode dizer-se Cristão no profundo sentido de quem vive os ensinamentos do Mestre?
Daqui depreendemos o sentido de atual ou presente; de desatual ou passado. Enquanto não atingimos a vivência de algo, estamos aquém dele. Nesse caso, tal ensinamento está no futuro em relação a nosso nível de ser. Quando o atingimos, o conhecimento se torna presente. E só quando o ultrapassamos é que ele se torna passado. Pergunto: Quem ultrapassou o “Conceito”? Quem realizou o que ali se ensina? Respondam as pessoas que procuram justificar suas escolas como superiores. Não são as palavras que dão gabarito, mas o nível de “ser”.
Em ciência, quando uma mentalidade avançada (muitas vezes inspirada pelos Irmãos Maiores, que são os guardiões dos poderes) descobre novos princípios, anulando erros anteriores, dizemos que houve evolução: ultrapassamos conceitos tidos por certo, mas que se revelaram parcial ou totalmente falsos. No campo espiritual, mais elevado, as probabilidades de engano se tornam menores, ainda mais que lá tomamos contato com a realidade mesma e não com sua enganosa aparência física. Daí que as obras sérias atravessem séculos e milênios, atendendo a evolução de certo período. Quando mudam é mais na forma de apresentação, como dissemos.
Enfim, nenhuma realidade deixa de sê-lo, pelo simples fato de que a neguem alguns. Os seres humanos estão limitados a seu nível e muitas vezes cometem imprudência de atacar o que não alcançam, pela pretensão de justificar sua verdade relativa como padrão universal.
Isso nos honra. Como disse alguém: “Por que fulano me critica? Nunca lhe fiz nenhum bem!”.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – julho/1976 – Fraternidade Rosacruz SP)
[1] N.R.: O texto “Uma Palavra ao Sábio” das primeiras páginas do livro Conceito Rosacruz do Cosmos: O fundador da Religião Cristã emitiu uma máxima oculta quando disse: “Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele” (Mc 10:15). Todos os ocultistas reconhecem a imensa importância desse ensinamento de Cristo, e tratam de “vivê-lo” dia a dia.
Quando uma nova filosofia se apresenta ao Mundo é encarada de forma diferente pelas mais diversas pessoas. Algumas se apoderam avidamente de qualquer novo esforço filosófico, procurando ver em que proporção ele serve de apoio às suas próprias ideias. Para essas a filosofia em si mesma é de pouca valia. Terá valor se reforçar as SUAS ideias. Se a obra os satisfizer a esse respeito, adotá-la-ão entusiasticamente, a ela aderindo com o mais desarrazoado partidarismo. Caso contrário, afastarão o livro, aborrecidos e desapontados como se o autor os tivesse ofendido pessoalmente.
Outras adotam uma atitude cética tão logo descobrem que a obra contém alguma coisa a cujo respeito nada leram nem ouviram anteriormente, ou sobre a qual ainda não lhes ocorrera pensar. E, provavelmente, repelirão como extremamente injustificável a acusação de que sua atitude mental é o cúmulo da autossatisfação e da intolerância. Contudo, esse é o caso, e desse modo fecham suas Mentes à verdade que eventualmente possa estar contida naquilo no que rejeitam.
Ambas as classes se mantêm na sua própria luz. Suas ideias pré-estabelecidas os tornam invulneráveis aos raios da Verdade. A tal respeito “uma criança” é precisamente o oposto dos adultos, pois não está imbuída do sentimento dominador de superioridade, nem inclinada a tomar aparência de sábio ou ocultar, sob um sorriso ou um gracejo, sua ignorância em qualquer assunto. É ignorante com franqueza, não tem opiniões preconcebidas nem julga antecipadamente, portanto é eminentemente ensinável. Encara todas as coisas com essa formosa atitude de confiança a que denominamos “fé infantil”, na qual não existe sombra de dúvida, conservando os ensinamentos que recebe até comprovar para si mesmo a certeza ou o erro.
Em todas as escolas ocultistas o aluno é primeiramente ensinado a esquecer de tudo o que aprendeu ao lhe ser ministrado um novo ensinamento, a fim de que não predomine o juízo antecipado nem o da preferência, mas para que mantenha a Mente em estado de calma e de digna expectativa. Assim como o ceticismo efetivamente nos cega para a verdade, assim também essa calma atitude confiante da Mente permitirá à intuição ou “sabedoria interna” se apoderar da verdade contida na proposição. Essa é a única maneira de cultivar uma percepção absolutamente certa da verdade.
Não se pede ao aluno que admita de imediato ser negro determinado objeto que ele observou ser branco, ainda que se lhe afirme. se pede a ele sim, que cultive uma atitude mental suscetível de “admitir todas as coisas” como possíveis. Isto lhe permitirá pôr de lado momentaneamente até mesmo aquilo que geralmente se considera um “fato estabelecido”, e investigar se existe algum outro ponto de vista até então não notado sob o qual o objeto em referência possa parecer negro. Certamente ele nada considerará como fato estabelecido, porque compreenderá perfeitamente quanto é importante manter a sua Mente no estado fluídico de adaptabilidade que caracteriza a criança. Compreenderá, com todas as fibras do seu ser, que “agora vemos como em espelho, obscuramente” e, como Ajax, estará sempre alerta, anelando por “luz, mais luz”.
A grande vantagem dessa atitude mental quando se investiga determinado assunto, ideia ou objeto, é evidente. Afirmações que parecem positivas e inequivocamente contraditórias, e que causam intermináveis discussões entre os respectivos partidários, podem, não obstante, se conciliar, conforme se demonstra em exemplo mais adiante. Só a Mente aberta descobre o vínculo da concordância. Embora essa obra possa parecer diferente das outras, o autor solicitaria um auditório imparcial, como base, para julgamento subsequente. Se, ao ponderar esse livro, alguém o considerasse de pouco fundamento, o autor não se lamentaria. Teme unicamente um julgamento apressado e baseado na falta de conhecimento do sistema que ele advoga, ou que diga que a obra não tem fundamento, sem, previamente, lhe dedicar atenção imparcial. E deve acrescentar, ainda: a única opinião digna de ser levada em conta precisa se basear no conhecimento.
Há mais uma razão para que se tenha muito cuidado ao emitir um juízo: muitas pessoas têm suma dificuldade em se retratar de qualquer opinião prematuramente expressa. Portanto, se pede ao leitor que suspenda suas opiniões, de elogio ou de crítica, até que o estudo razoável da obra convença do seu mérito ou demérito.
O Conceito Rosacruz do Cosmos não é dogmático nem apela para qualquer autoridade que não seja a própria razão do Estudante. Não é uma controvérsia. Publica-se com a esperança de que possa ajudar a esclarecer algumas das dificuldades que no passado assediaram a Mente dos Estudantes das filosofias profundas. Todavia, a fim de evitar equívocos graves, deve ser firmemente gravado na Mente do Estudante que não há, sobre esse complicado assunto, qualquer revelação infalível que abranja tudo quanto está debaixo ou acima do sol.
Dizer que essa exposição é infalível seria o mesmo que pretender que o autor fosse onisciente. Até os próprios Irmãos Maiores nos dizem que eles mesmos se enganam, às vezes, nos juízos que fazem. Assim, está fora de qualquer discussão um livro que queira proferir a última palavra sobre o mistério do mundo, e é intenção do autor dessa obra apresentar apenas os ensinamentos mais elementares dos Rosacruzes.
A Fraternidade Rosacruz tem a concepção mais lógica e ampla sobre o mistério do mundo, e a tal respeito o autor adquiriu algum conhecimento durante os muitos anos que consagrou exclusivamente ao estudo do assunto. Pelo que pôde investigar por si próprio, os ensinamentos desse livro estão de acordo com os fatos tais como ele os conhece. Todavia, tem a convicção de que o Conceito Rosacruz do Cosmos está longe de ser a última palavra sobre esse assunto e de que, à medida que avançamos, se apresentam aos nossos olhos novos aspectos e se esclarecem muitas coisas que, antes, só víamos “como em espelho, obscuramente” (Jo 1:3). Ao mesmo tempo crê firmemente que todas as outras filosofias do futuro seguirão as linhas mestras dessa filosofia, por lhe parecerem absolutamente certas.
Ante o exposto, compreender-se-á claramente que o autor não considera essa obra como o Alfa e o Ômega, ou o máximo do conhecimento oculto. Embora tenha por título “O Conceito Rosacruz do Cosmos”, deseja o autor salientar com firmeza que essa filosofia não deve ser entendida como uma “crença entregue de uma vez para sempre” aos Rosacruzes pelo fundador da Ordem ou por qualquer outro indivíduo. Convém enfatizar que essa obra encerra apenas a compreensão do autor sobre os Ensinamentos Rosacruzes relativos ao mistério do mundo, revigorados por suas investigações pessoais nos mundos internos, a respeito dos estados pré-natal e pós-morte do ser humano, etc. O autor tem plena consciência da responsabilidade em que incorre quem, bem ou mal, guia intencionalmente a outrem, desejando ele se precaver contra tal contingência e, também, prevenir aos outros para que não venham a errar.
O que nessa obra se afirma deve ser aceito ou rejeitado pelo leitor segundo o seu próprio critério. se pôs todo o empenho em tornar compreensíveis os ensinamentos e foi necessário muito trabalho para poder expressá-los em palavras de fácil compreensão. Por esse motivo, em toda a obra se usa o mesmo termo para expressar a mesma ideia. A mesma palavra tem o mesmo significado em qualquer parte. Quando pela primeira vez o autor emprega uma palavra que expressa determinada ideia, apresenta a definição mais clara que lhe foi possível encontrar. Empregando as palavras mais simples e expressivas, o autor cuidou constantemente de apresentar descrições tão exatas e definidas quanto lhe permitia o assunto em apreço, a fim de eliminar qualquer ambiguidade e para apresentar tudo com clareza. O Estudante poderá julgar em que extensão o autor logrou o seu intento. Entretanto, tendo-se esforçado o possível para sugerir as ideias verdadeiras, se considera também na obrigação de se defender da possibilidade de a obra vir a ser considerada como uma exposição literal dos Ensinamentos Rosacruzes. Sem essa recomendação esse trabalho teria mais valor para alguns Estudantes, mas isto não seria justo nem para a Fraternidade nem para o leitor. Poder-se-ia manifestar certa tendência para atribuir à Fraternidade a responsabilidade dos erros que nesse trabalho, como em toda obra humana, possam ocorrer. Daí a razão dessa advertência.
Max Heindel
Resposta: Há quatro Evangelhos escritos que se completam e nos oferecem tudo que precisamos aprender na primeira vinda de Cristo entre nós. Desses quatro, que compõem parte do Novo Testamento, três são chamados sinóticos (o Evangelho Segundo S. Mateus, o Evangelho Segundo S. Lucas e o Evangelho Segundo S. Marcos), porque são semelhantes, mas complementares. Depois que foram escritos, ninguém escreveu mais Evangelhos, porque não havia necessidade. Sabemos que os quatro Evangelhos são Fórmulas de Iniciações Cristãs, com chaves ocultas e muito simbolismo sob a roupagem da vida de Cristo-Jesus. A prova de que ainda não foram devidamente compreendidos é que nos dividimos em credos e seitas cada um explicando os Evangelhos a sua maneira. É compreensível e estava previsto pela evolução. Mas a Ciência, a Arte e a Religião passam por gradativa evolução, paralelamente ao descerrar da consciência humana, devendo atingir sua “re-UNIÃO” quando tivermos alcançado o Casamento Místico mencionado no Livro do Apocalipse. Só então havendo alcançado a unidade interna, veremos seu reflexo exteriormente na identidade com todas as coisas criadas, concebendo, então, fielmente, que tudo é “uno” e ao mesmo tempo Verdadeiro, Belo e Bom, respectivamente pela Ciência, Arte e Religião.
Mas, o que tem a ver isto com a Fraternidade Rosacruz?
Tem e muito. Constituímos o Cristianismo Esotérico ou Oculto – preconizado pela Fraternidade Rosacruz – e nosso fim, longe de somar mais uma facção no movimento Cristão, é justamente o de propiciar a quem quiser a oportunidade de alcançar essa unidade ou universalidade mencionada acima. Foi preparado, didaticamente transmitido na Região Química do Mundo Físico (onde vivemos enquanto estamos em mais uma vida terrestre) por meio de Max Heindel, o Mensageiro autorizado dos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz. Eis a razão de ser da Fraternidade Rosacruz.
A Ordem Rosacruz já existia e trabalhava ocultamente desde sua fundação, no século XIII. A Fraternidade Rosacruz foi a oficialização dos ensinamentos elementares da Ordem Rosacruz par o Mundo Ocidental, no século XX, porque já havíamos atingido condições mentais para compreender mais profundamente o que S. Paulo chama de “Mistérios Cristãos”. Todavia ainda constituímos pequena e bem expressiva minoria. Ainda hoje, não é difícil perceber como a grande parte de nossa gente ainda prefere, negativamente, entregar a terceiros a salvação de suas almas, interessando-se pelo ocultismo apenas de forma curiosa, buscando “fenômenos”, “provas” e “manifestações”.
Agora nós é que perguntamos: “Estamos em condições de receber novas revelações públicas da Ordem Rosacruz, se tão pequena minoria ainda sequer atingiu a plena compreensão e vivência dos elementares princípios expostos no livro “Conceito Rosacruz do Cosmos – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz“?
Individualmente podemos e recebemos ensinamentos mais elevados, conforme trilhamos o Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz. Isso já é questão sabida por todos que conhecem um pouco da nossa Filosofia Rosacruz. Depois de certo ponto do desenvolvimento individual (pois a formação é estritamente individual) pode o Estudante Rosacruz receber algo mais. Como disse S. Paulo: “Às criancinhas espirituais damos leite e aos adultos, alimento mais sólido” (ICor 3:1-2). É logico. É uma máxima oculta de que: “quando o discípulo está preparado, o mestre aparece”!
Publicamente ainda temos de esperar bom tempo. A contribuição valiosa da Filosofia Rosacruz ao mundo tem a vigência de alguns séculos, segundo nosso entender.
Aconselhamos nossos perguntantes a estudarem mais a Filosofia Rosacruz para compreenderem isto. E depois compreenderão, também, que o argumento usado por certas “escolas de ocultismo”, algumas das quais se denominam também “rosacruzes”, de que estamos antiquados, saudosistas e vivemos de estudos ultrapassados, é muito inconsistente e ingênuo.
A lógica está ao dispor de todos os que estão em condições de usá-la.
A questão não é de arranjar novas roupagens, mas de aprofundar, assimilar e apropriar-se do conteúdo. Afinal: “A letra mata; o espírito vivifica” (ICor 3:6).
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz fevereiro/1972 – Fraternidade Rosacruz-SP)