Muitos já passaram pela Fraternidade Rosacruz, assistindo às suas reuniões de estudos e devocionais, ou fazendo os Cursos por correspondência ou por e-mail (Filosofia Rosacruz, Astrologia Rosacruz e Estudos Bíblicos Rosacruzes), na investigação da sublime Filosofia Rosacruz, cujos ensinamentos transcendem os conhecimentos comuns.
Inesperadamente, alguns desses irmãos e dessas irmãs deixam de comparecer às Reuniões de Estudos ou falham com suas lições dos cursos. Poderão não ter conseguido assimilar ou identificar-se com o elevado Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz?
Nós, ocidentais, somos dotados de grande impaciência para colher os frutos dos Ensinamentos Rosacruzes. A evolução processa-se a passos lentos. A Natureza não dá saltos e, talvez, isso constitua um obstáculo à sede de conhecimento. Vivemos uma fase em que a paciência e a tolerância parecem divorciadas do ser humano.
A maioria sente-se atraída por aqueles que, se intitulando mestres (ou gurus ou instrutores ou, ainda, especialistas), prometem rápidos progressos espirituais e até mesmo condecorações. Para eles, o grau é avaliado pelo volume da contribuição, a maioria das vezes financeira.
Aí está a prova insofismável de uma ignorância. O saber não pode ser comprado, nem dado como um passe de mágica. Só nosso esforço, a nossa perseverança, pode adquiri-lo. A Fraternidade Rosacruz oferece o saber gratuitamente, mas sem laurear ninguém.
Se confiarmos nossos problemas a outros, certamente pagaremos pela atrofia de nosso cérebro e acabaremos tornando-nos incapazes para tomar nossas decisões, Assim, está nas nossas mãos a oportunidade de lutar pela aquisição do conhecimento. O fracasso só existe quando nada se tenta fazer e a Humanidade só terá consciência do seu mundo, conhecerá sua missão, saberá de onde veio, saberá para que veio aqui, saberá para onde vai, se utilizar suas faculdades, ainda latentes, no estudo e na investigação dos Mundos suprafísicos.
Assim, muitos de nós, apesar da atual fase de interesse pela espiritualidade, ainda vivem na agitação das lutas, com a intranquilidade reinando por todo o mundo, destacando-se a predominância do Espírito de Raça, apesar do grau de desenvolvimento intelectual já atingido.
A Humanidade comum segue o caminho lento da evolução por milhares de anos, antes que possa governar conscientemente seu Corpo de Desejos, o veículo sobre o qual trabalham os Espíritos de Raça.
Muitos da nossa população nasceram em outros países ao qual é justo o seu amor, mas não podemos malquerer aos naturais de outras nações. Afinal, todos somos seres humanos, criaturas de Deus, nosso Pai comum e devemos nos amarmos uns aos outros como Ele nos ama.
Aí uma fórmula que ajuda o ser humano a se libertar dos grilhões do Espírito de Raça. Assim, desenvolverá o Caminho da Espiritualidade em direção ao reinado do Cristo, para que essa Humanidade possa viver unida pela Lei do Amor.
Dentro do amor à terra – ao país, à nação – em que vivemos, cabe lembrar as palavras de Thomas Paine[1], como lema para libertação do Espírito de Raça: “O mundo é a minha pátria e fazer o bem é a minha Religião”.
Constituindo cada Grupo de Estudos e cada Centro Rosacruz um centro de irradiação da Filosofia Rosacruz para todos os lugares no entorno, nós o fazemos sem distinção de Raças ou Religiões, realçando o Amor entre os nossos semelhantes.
Embora seu número de membros possa até ser reduzido, dada a imensidão do lugar onde está instalado o Grupo ou o Centro, a Fraternidade Rosacruz representa o fermento que certamente fará crescer a massa (o Pão da Vida) que alimentará a Alma dos nossos semelhantes dos quais somos integrantes. Quem trilha persistentemente o Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz se gratifica a cada grau alcançado e a visibilidade que apresenta o seu crescimento espiritual.
Parabéns aos persistentes! Para esses o fracasso não existe!
E muito poderemos fazer com a força do nosso pensamento, ajudando o Cristo a estabelecer a Fraternidade Universal, que deixará de ser um ideal, para se tornar um fato positivo.
(discurso proferido pelo irmão José Augusto Pinto Coelho, por ocasião da solenidade realizada em 24 de setembro de 1972 e publicado no Editorial da Revista Serviço Rosacruz de setembro/72 – Fraternidade Rosacruz-SP)
[1] N.R.: Thomas Paine (1737-1809) foi um político britânico, além de panfletário, revolucionário, inventor, intelectual e um dos Pais Fundadores dos Estados Unidos da América. Thomas Paine foi, a um só tempo, ator, intérprete e testemunha não apenas das Revoluções Americana e Francesa, mas também dos movimentos revolucionários ingleses em fins do século XVIII e, em menor medida, do movimento revolucionário nos Países Baixos e na Irlanda, onde ele era continuamente citado e admirado.
O livro de Jó constitui uma das mais belas páginas das Sagradas Escrituras. Emoldurado por um lirismo sem igual, relata, esotericamente, as desventuras de um homem – anteriormente rico e poderoso – que num curto espaço de tempo viu-se despojado dos bens que possuía, de seus entes queridos e até da própria saúde: “Havia na terra de Hus um homem chamado Jó: era um homem íntegro e reto, que temia a Deus e se afastava do mal. Nasceram-lhe sete filhos e três filhas. Possuía também sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois, quinhentas mulas e servos em grande número. Era, pois, o mais rico de todos os homens do Oriente.” (Jó 1:1-3).
Quando uma pessoa suporta com resignação um destino pontilhado de adversidades, diz-se, popularmente, que “ela tem uma paciência de Jó”. Isso, porém, não é exato. Quem conhece esse livro do Antigo Testamento sabe que Jó não era tão conformado assim. Tão logo caiu em desgraça, passou a contender contra a Divindade, lamentando profundamente seu estado.
No primeiro versículo delineia-se o perfil de Jó: era íntegro, reto, temente a Deus, rico, poderoso, etc. O próprio Senhor se orgulhava dele, a ponto de, num diálogo com Satanás, apontá-lo como modelo entre os homens.
Satanás, porém, ardilosamente, responde: “Mas estende tua mão e toca nos seus bens; eu te garanto que te lançará maldições em rosto.” (Jó 1:11).
E Jó foi provado. Perdeu todos os seus bens, servos e filhos. Contudo, em tudo isso não atribuiu a Deus falta alguma, a ponto de proclamar: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei para lá. Iahweh o deu, Iahweh o tirou, bendito seja o nome de Iahweh.” (Jó 1:21).
Satanás, contudo, não se deu por vencido. Voltou à carga. “Iahweh disse a Satanás: “Reparaste no meu servo Jó? Na terra não há outro igual: é um homem íntegro e reto, que teme a Deus e se afasta do mal. Ele persevera em sua integridade, e foi por nada que me instigaste contra ele para aniquilá-lo”. Satanás respondeu a Iahweh e disse: “Pele após pele! Para salvar a vida, o homem dá tudo o que possui. Mas estende a mão sobre ti e, fere-o na carne e nos ossos; eu te garanto que te lançará maldições em rosto”.
“Seja!”, disse Iahweh a Satanás, “faze o que quiseres com ele, mas poupa-lhe a vida”. E Satanás saiu da presença de Iahweh. Ele feriu Jó com chagas malignas desde a planta dos pés até o cume da cabeça.” (Jó 2:3-7).
Quando as coisas chegaram a esse estado, Jó mudou seu comportamento. Aquele homem íntegro, justo, sempre pronto a adorar ao Senhor, tornou-se sombrio e revoltado. Amaldiçoou o dia de seu nascimento, procurou de todas as maneiras justificar suas queixas, protestando contra a severidade de Deus, lamentando a miséria em que caiu e afirmando nada mais esperar desta vida.
Em meio a todo esse sofrimento, recebe a visita de três amigos, Elifas, Bildade e Zofar, desejosos de consolá-lo de todo o mal que lhe sobreveio. Na realidade trataram apenas de repreendê-lo e acusá-lo de uma série de falhas, sem, contudo, procurarem explicar as razões de tanto sofrimento.
Surge outro personagem Eliú – mais sensato e esclarecedor – admoestando Jó e seus três amigos.
Finalmente o Senhor convence a Jó de sua ignorância. Este confessa e admite sua fragilidade diante das oscilações da vida. E, no último capítulo, Deus restaura a prosperidade de Jó: “Então Iahweh mudou a sorte de Jó, quando intercedeu por seus companheiros, e duplicou todas as suas posses.” (Jó 42:10).
Esta é a história de Jó, narrada literalmente. À luz do esoterismo, qual o significado profundo dessa narrativa? Analisemos, primeiramente, a figura do principal protagonista.
Jó, antes de mais nada, representa um ser humano convencional, observador, zeloso das tradições, das normas sociais vigentes, etc. É o seguidor da Lei no seu sentido rigorosamente literal e formalista. Não enxerga um palmo fora desses limites, é incapaz de vislumbrar alguma coisa além da forma, nem admite ao menos essa possibilidade. Foi condicionado desde tenra idade a “viver assim”. Nada o fará mudar, a não ser o sofrimento, esse indesejável, mas, às vezes, inevitável “tratamento de choque”.
Jó, outrora poderoso, seguro da proteção divina, imaginou-se depois o homem mais infeliz do mundo. Sua vida se resumia aos bens perdidos.
Notamos aí o sentido admiravelmente psicológico desse livro. Antigo, como a própria Bíblia, ele conserva uma juventude, um frescor, uma atualidade notável. Se tentarmos enquadrá-lo no cotidiano, encontraremos vários símiles.
Jó prefigura um ser humano moderno comum, alicerçando sua segurança nos valores e posses exteriores.
Não raro acredita em condições imutáveis, sequer imaginando a possibilidade de oscilações em sua posição socioeconômica. Imutáveis só mesmo as Leis Cósmicas. As condições materiais são transitórias, sujeitas a transformações. Não fosse assim a evolução seria impossível. Portanto, que segurança as coisas exteriores podem oferecer? Nenhuma é claro. As convenções, as tradições, o formalismo pouco ou nada ensejam em termos de segurança.
Não é de admirar que pessoas colocadas diante de uma situação como a de Jó caiam num desespero avassalador, capaz de levá-las até ao suicídio.
Tudo isso é decorrência de um desconhecimento da nossa verdadeira natureza. Nós somos um Espírito, uma Centelha Divina em evolução. No primeiro capítulo do Gênesis lemos que “O homem foi criado a imagem e semelhança de Deus”. Cada um de nós é um microcosmo, tendo em si, potencialmente, todos os atributos do macrocosmo. Através da evolução procuramos dinamizar ou transformar em consciência essas faculdades latentes. Essa herança divina infinita todos nós a recebemos. O grau de evolução de cada um é determinado pela maneira como essa herança encontra sua expressão.
Em nosso íntimo existe uma fonte inesgotável de faculdades, um verdadeiro universo de possibilidades. Quantos, entretanto, estão conscientes dessa verdade? Uma minoria já desperta para a grande realidade do Espírito, a despeito das milenares exortações para o ser humano descobrir-se a si mesmo.
Séculos antes de Cristo, esse apelo já figurava no frontispício do templo de Delfos, na Grécia: “homem, conhece-se a ti mesmo”. É, ao mesmo tempo, um convite e um desafio a cada um de nós para empreender a mais fascinante de todas as jornadas: um mergulho em nós mesmos. As Escolas de Mistérios e as expressões esotéricas de todas as Religiões ensinam isso.
Eis porque Jó caiu numa prostração total. Ele, como todo ser humano convencional, não se conhecia intimamente. Toda sua conduta era orientada por fatores externos, por padrões estabelecidos de fora para dentro. É o escravo das fórmulas, das convenções. Não tem uma filosofia de vida própria; nada criou internamente. Qualquer mudança brusca em sua vida gera uma lamentável desorientação. Nem sequer lhe passa pela cabeça a ideia de que uma transformação em sua vida pode constituir-se na gestação de uma vivência superior.
As aparentes dificuldades nada mais são que estímulos para uma ascese espiritual, para a busca de níveis mais elevados de consciência. Dessa maneira, não há razão para desespero. Nossa origem é divina. No Universo só há um poder: o Poder de Deus. Portanto, o pessimismo, o desânimo, a angústia são uma negação de Deus no ser humano.
Todas as soluções podem ser encontradas no interior de cada um de nós, na imensidão de nossa real natureza. Max Heindel, em sua obra “Cartas aos Estudantes” recomenda-nos submeter todos os problemas ao “tribunal interno da verdade”. Nesse templo sentimos a Divina Presença em nós. Ali nos identificamos com a “Fonte de todas as coisas”. Naquele sacrário o Aspirante à vida superior pode afirmar: “Eu e o Pai somos um”[1].
O próprio Cristo proclamou que o “Reino de Deus está dentro de nós” (Lc 17:21). “Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai.” (Jo 14:12). “Procurai o reino de Deus e Sua Justiça e todas as coisas ser-vos-ão dadas por acréscimo.” (Mt 6:33).
Ora, se o Reino de Deus, com todas as suas benesses, está dentro de nós basta procurá-lo para que nossa vida seja plenitude.
Tudo depende de nós, de como nós agimos ou reagimos às situações. Quando Cristo curava os enfermos, não afirmava: “Eu te curei”. Não. Simplesmente dizia: “Tua fé te curou. Vai e não peques mais para que não te suceda coisa pior.” (Jo 5:14). A fé não é uma qualidade adquirida, originária do exterior. É um atributo interno, um estado de espírito. É, no dizer de S. Paulo na Epístola aos Hebreus, capítulo 11, versículo 1: “Na certeza das coisas que se esperam a convicção de fatos que não se veem.”. É o sobrenatural manifesto no recôndito do ser. É esse estado de espírito que realizava as curas descritas nos Evangelhos. Encontrava-se no próprio indivíduo a possibilidade de curar-se pela fé e também de enfermar-se pela transgressão.
A Oração Rosacruz nos dá uma ideia de como todas as possibilidades e potencialidades estão em nós: “Não te pedimos mais luz ó Deus, mas olhos para ver a luz que já existe. Não te pedimos canções mais doces, senão ouvidos para ouvir as presentes melodias. Não te pedimos mais força, mas sim o modo de usar o poder que já possuímos. Não te pedimos mais dons, amado Deus, mas senso para perceber e melhor usar os dons preciosos que já recebemos de Ti”.
O que deflagra as causas é a maneira que se pensa, se sente e se crê em nosso íntimo. Isso determina nosso modo de agir, gerando, em consequência, efeitos correspondentes.
Não existe força no Universo capaz de nos atingir sem que tenhamos contribuído para tal. Deus, em manifestação no indivíduo, só almeja o crescimento. Deus é o único Poder infinito. Matemática e cientificamente é impossível haver dois infinitos, pois um anularia o outro. Não há mal exterior capaz de nos derrubar! O que nos infelicita é a nossa própria ignorância ou nosso acervo de atributos ainda não regenerados. É a nossa “natureza inferior”.
Satanás quer dizer “adversário”, “antagonista” ou “tentador”. Ao contrário do que muita gente pensa, não é o adversário do Deus macrocósmico. Já foi dito: “Deus é o único Poder infinito”. Satanás é nosso próprio adversário, e só nos atinge porque temos pontos frágeis, não porque é mais forte que o Divino em nós. Davi golpeou Golias em seu ponto fraco. Aquiles sucumbiu porque sua única parte vulnerável foi alvejada. As hordas bárbaras só lograram invadir o Império Romano por esse se encontrar debilitado pela permissividade, corrupção e desunião. O organismo humano só enferma quando suas defesas naturais se encontram combalidas.
Jó, naturalmente, não possuía “vivência interior”. Era um homem formalisticamente reto, íntegro e temente a Deus, revestido de tênue verniz ético, um superficialismo religioso, sujeito a um dia ser posto à prova, como de fato o foi. Chegara, portanto, a hora da verdade.
Os três amigos, ou seja, Elifaz, Bildade e Zofar, representam o raciocínio comum e as crenças tradicionais, válidos até certo ponto, mas sem poder suficiente para soerguer e fortalecer nos agudos momentos de crise.
O cotidiano nos é pródigo em exemplos de como isso é verdade.
Elifaz, Bildade e Zofar, no fundo também formalistas, limitavam-se a censurar seu amigo, sem ao menos tentar explicar as razões de Sua desgraça. E a Jó, impotente diante de todo esse quadro, nada mais restava senão justificar-se e atribuir à Divindade todos os males que o afligiam.
Surge, então, a figura de Eliú (a natureza superior) afirmando sabiamente: “Mas é o espírito no homem, o alento de Shaddai[2] que dá inteligência.”[3]. Argumenta com Jó até convencê-lo de sua própria ignorância, de sua falta de fé, de seu superficialismo. Jó aceita humildemente as ponderações, reconhecendo suas falhas. Era o prenúncio de mudança para melhor. No último capítulo lemos o relato de como Deus restaurou a prosperidade de Jó: “Então Iahweh mudou a sorte de Jó, quando intercedeu por seus companheiros, e duplicou todas as suas posses.”[4].
Isso ocorre quando nós no nosso íntimo nos harmonizamos com tudo e com todos, comungando com a Divindade. Da agitação passamos a quietude, sentindo uma paz inimaginável. Já não pensamos em nós mesmos, não nos angustiamos com problemas; apenas oramos, vivemos e agimos em função das carências alheias. Ao atingir esse estado de consciência, de total esquecimento de nós mesmos, obtemos acesso a todas as riquezas e a todos os poderes. Tornamo-nos um instrumento, um canal de fluxo e expressão de todas as bênçãos e talentos.
Eis aí o significado desse livro. Em suas linhas deparamos com a luta travada continuamente em nosso interior. É, em realidade, a nossa história, a de um ser humano, ajudando-nos a ter uma visão objetiva de nós mesmos.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – maio/1980 – Fraternidade Rosacruz – SP)
[1] N.R.: Jo 10:30
[2] N.R.: o Todo-Poderoso
[3] N.R.: Jó 32:8
[4] N.R.: Jó 42:10
Em 23 de julho de 1865, a fria e loira Copenhagen via nascer um menino de nobre ascendência. Era um Von Grasshoff, nome cuja origem remontava à velha Prússia. No entanto, ele não viria desfrutar os privilégios inerentes à nobreza. Era um ser diferente dos demais. Não buscava o que a maioria almejava. Seus ideais, talvez para o vulgo, pareciam utópicos ou fantasiosos; mas constituíam sua força motriz. Em tenra idade deixou o lar e a terra natal: procurou a Escócia. Lá, sob as brisas gélidas do Mar do Norte, trabalhava num estaleiro e cursava a Faculdade de Engenharia Naval. Formou-se, trabalhando mais tarde como engenheiro-chefe em um navio, percorreu diversos países. Conheceu muitos povos. Observou os usos e costumes mais bizarros. Aumentou sensivelmente o seu já considerável cabedal de bens culturais. Sensibilizou-se diante do sofrimento humano. Isso lhe causava inquietação e pontilhava a alma de indagações: “Por que as pessoas sofrem? Como dissipar essas agruras?”. Procurava incessantemente respostas para tais dúvidas.
Mais tarde radicou-se nos Estados Unidos. Lá, movido pela ânsia de conhecimentos espirituais, ingressou em uma organização espiritualista da qual veio a se tornar mais tarde o vice-presidente. Sua atuação era destacada. Era um membro de escol. Contudo, ainda permanecia insatisfeito. A filosofia divulgada por essa Sociedade era a mescla de ensinamentos ocidentais e orientais, porém sem uma clara definição do que se ajustasse mais a uns ou aos outros. Max Heindel percebeu a diferença entre os ocidentais e os orientais. Admitia serem os primeiros eminentemente racionalistas, imediatistas, objetivos; dissemelhando, portanto, daqueles que habitavam a parte oposta do globo. Reconhecia conter o Cristianismo os ensinamentos mais apropriados à índole e natureza dos povos do ocidente. Mas como apresentar logicamente esses ensinamentos? Como projetar luz científica sobre a Bíblia? Como aqueles que não aceitavam o Cristo pela fé poderiam aceitá-lo pela razão?
Alguém lhe sugeriu procurar um grande ocultista na Alemanha, dando-lhe esperanças de dirimir suas dúvidas e aquietar sua alma, desejosa de respostas convincentes. Motivado pelo nobre desejo de servir ao gênero humano, Max Heindel não mediu esforços e na primeira oportunidade dirigiu-se às plagas germânicas. Lá, não vacilou em procurar a pessoa indicada. Localizou-a e entrevistou-se com ela; no entanto, longe de ficar satisfeito, decepcionou-se por completo.
Desiludido e frustrado, resolveu encetar a viagem de regresso ao Estados Unidos. Nesse ínterim, enquanto aguardava a chegada de um navio, passou por uma experiência que veio imprimir novos rumos à sua já tão sofrida existência. Recebeu em seus aposentos a visita de um ser misterioso homem que se intitulava membro de uma Ordem oculta possuidora de ensinamentos tão profundos que trariam as respostas tão ansiadas. Porém, tais conhecimentos lhe seriam franqueados sob a condição de serem mantidos em sigilo absoluto; isto é, de não serem revelados a quem quer que fosse, por motivo algum.
Max Heindel repeliu acerbamente essa proposta, afirmando que se algo semelhante lhe fosse benéfico, beneficiaria também aos outros. Reiteradas vezes ouviu a proposta e em todas manifestou sua absoluta desaprovação, até que a verdade veio à tona. Verificou, então, que durante esse tempo fora submetido a uma prova. Conseguindo superá-la com galhardia, credenciou-se a cumprir uma missão importante e nobilitante: divulgar publicamente os Ensinamentos Rosacruzes, até então acessíveis a uns poucos que, em virtude de méritos incontestes, constituíam-se a elite espiritual da humanidade. Mas dentre os ocidentais, muitos já se faziam dignos de receber tão profundos Ensinamentos. Além disso, os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz sabiam que o ano de 1910 marcaria uma nova fase na história e que conhecimentos transcendentais deveriam ser levados a público. Max Heindel foi incumbido de realizar o trabalho. Entrou em contato com a Ordem Rosacruz e foi Iniciado em seus Mistérios, via as Iniciações Rosacruzes. Voltou aos Estados Unidos e condensou os Ensinamentos Rosacruzes que recebeu em um livro: Conceito Rosacruz do Cosmos. Embora estivesse em precaríssimo estado de saúde, não se furtou ao trabalho. Não obstante lutasse contra a carência de recursos materiais para imprimir o livro, jamais desanimou. Cônscio da importância de sua missão, não mediu esforços para concluir a obra até os fins de 1909. E ele conseguiu! Pronto o Conceito Rosacruz do Cosmos, novos horizontes se abriram, novas perspectivas de uma maior difusão da Filosofia Rosacruz foram surgindo. Mesmo acometido por uma séria moléstia cardíaca, Max Heindel intensificava suas atividades. Um espírito forte e indômito animava aquele corpo débil. Promovia conferências, escrevia, orientava a formação dos grupos de estudos Rosacruzes.
A década seguinte foi decisiva para o movimento. Max Heindel contraiu núpcias com Augusta Foss, sua companheira de ideal e, mais tarde, o seu braço direito. Juntos empreenderam uma viagem para a Califórnia à procura de um local que reunisse condições ideais para a instalação da Sede Central da Fraternidade Rosacruz. A missão logrou êxito! Foi adquirida uma gleba e pouco tempo depois era assentada a pedra fundamental com Max Heindel proferindo um discurso memorável[1]. Daí por diante, o lugar, chamado Mount Ecclesia, tornou-se o foco de irradiação dos Ensinamentos Rosacruzes para todo o mundo.
Max Heindel continuou trabalhando devotada, ininterrupta e incansavelmente até janeiro de 1919, quando seu corpo não mais resistiu aos constantes esforços. Esse grande espírito foi então para o Além, deixando uma obra de gigante.
Em síntese, eis alguns traços biográficos do insigne fundador da Fraternidade Rosacruz, um espírito devotado ao bem comum, um denotado buscador da verdade.
Que sua vida seja o nosso exemplo mais grato!
Que o imitemos em nossa luta pela difusão do Cristianismo Esotérico!
Mesmo enfrentando a incompreensão e a ingratidão, que tenhamos paciência e humildade para perseverar!
Que, diante das maiores dificuldades, tenhamos a fibra necessária para lutar a boa luta, oferecendo o incenso de nossa alma ao Cristo, o inspirador do movimento Rosacruz!
Que nossa querida Fraternidade Rosacruz possa contar sempre conosco, aconteça o que acontecer!
Que o nosso entusiasmo pelo ideal seja grandioso e contagiante!
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de julho de 1970-Fraternidade Rosacruz-SP)
[1] N.R.: O seguinte discurso foi proferido por Max Heindel aos nove irmãos presentes em Corpo Densos e a três Irmãos Maiores presentes nos seus Corpos Vitais, na ocasião da fundação da Fraternidade Rosacruz em Mount Ecclesia: Cristo disse: “Onde dois ou três estiverem reunidos em Meu nome, Eu estarei no meio deles” e como tudo que Ele disse essa declaração era a expressão da mais profunda sabedoria divina. Ela se apoia sobre uma lei da natureza tão imutável como o próprio Deus. Quando os pensamentos de dois ou três focalizam-se sobre qualquer objeto ou pessoa determinada, gera-se uma forma poderosa de pensamento como uma expressão definida de suas Mentes imediatamente projetada para seu objetivo. Seus efeitos ulteriores dependerão da afinidade entre o pensamento e a quem ele é endereçado, pois para conseguir gerar uma correspondência vibratória, sobre a nota soada pelo diapasão, é necessário outro diapasão afinado no mesmo tom.
Se forem projetados pensamentos e orações de natureza inferior e egoísta, apenas criaturas inferiores e egoístas responderão a eles. Essa espécie de oração nunca chegará até Cristo, como a água não pode correr montanha acima. Gravita para os demônios ou Elementais, que são totalmente indiferentes às sublimes aspirações manifestadas pelos que estão reunidos em nome de Cristo.
Como estamos reunidos hoje neste lugar a fim de assentar a pedra fundamental para a construção da Sede de uma Associação Cristã Mística, estamos confiantes em que, tão certo como a gravidade atrai uma pedra em direção ao centro da Terra, o fervor de nossas aspirações unidas atrairá a atenção do Fundador de nossa fé (Cristo) que, assim, estará entre nós. Tão certamente como diapasões com a mesma afinação vibram em uníssono, também o augusto “Cabeça” da Ordem Rosacruz (Christian Rosecross) faz sentir sua presença nesta ocasião quando a sede da Fraternidade Rosacruz está tendo início. O Irmão Maior que inspirou este movimento está presente e visível, pelo menos para alguns de nós. Estão presentes nesta maravilhosa ocasião e diretamente interessados nos acontecimentos formando o número perfeito — 12. Isto é, há três seres humanos invisíveis que estão além do estágio da humanidade comum, e nove membros da Fraternidade Rosacruz. Nove é o número de Adão, ou ser humano. Destes, cinco — número ímpar masculino — são homens, e quatro — número par feminino — são mulheres. Por sua vez, o número dos seres humanos invisíveis, três, apropriadamente representa a Divindade assexuada. O número dos que atenderam ao convite não foi programado pelo orador. Os convites para tomar parte nesta cerimônia foram enviados a muitas pessoas, mas apenas nove aceitaram. E, como não acreditamos no acaso, o comparecimento deve ter sido conduzido de acordo com os desígnios de nossos líderes invisíveis. Pode ser entendido também como a expressão da força espiritual por trás deste movimento, e não é necessária maior prova do que observarmos a extraordinária expansão dos Ensinamentos Rosacruzes, que se disseminaram por todas as nações da Terra nos últimos anos, despertando aprovação, admiração e amor nos corações de todas as classes e condições de pessoas, especialmente entre os seres humanos.
Enfatizamos isso como um fato notável, pois enquanto todas as outras organizações religiosas compõem-se em sua maioria de mulheres, os homens são maioria entre os membros da Fraternidade Rosacruz. Também é significativo que nossos membros profissionais da saúde sejam mais numerosos que os de outras profissões e que, em seguida, estejam as pessoas que exercem alguma posição nas igrejas Cristãs. Isso prova que aqueles que têm a prerrogativa de cuidar do corpo enfermo estão conscientes que causas espirituais geram fraqueza física, e estão tentando compreendê-las para melhor ajudar os enfermos e doentes. Demonstra também que aqueles cujo trabalho é cuidar das pessoas doentes estão tentando socorrer Mentes inquisidoras com explicações razoáveis sobre os mistérios espirituais. Reforçam, assim, sua fé esmorecida e tentam firmar seus laços com a Igreja, em vez de responder com máximas e dogmas não sustentadas pela razão, o que abriria totalmente as comportas para o mar agitado do ceticismo, afastando aqueles que procuram a luz através do porto seguro da Igreja, e levando-os para a escuridão do desespero materialista.
É um abençoado privilégio da Fraternidade Rosacruz socorrer a muitos que buscam, sinceramente, a verdade e que, embora ansiosos, são incapazes de acreditar no que lhes parece contrário à razão. Recebendo explicações razoáveis sobre a fundamental harmonia entre os dogmas e doutrinas apresentadas pela Igreja e as leis da natureza, muitos retornaram à sua congregação, regozijando-se com os companheiros, tornando-se mais fortes e melhores membros do que antes de se afastarem.
Qualquer movimento para perdurar deve possuir três qualidades divinas: Sabedoria, Beleza e Força. Ciência, Arte e Religião, cada uma possui, de certa forma, uma dessas qualidades. O objetivo da Fraternidade Rosacruz é unir e harmonizar umas com as outras, ensinando uma Religião que é tanto cientifica como artística, e reunir todas as Igrejas numa só grande Irmandade Cristã. Presentemente, o relógio do destino marca um momento auspicioso para o início das atividades da construção, erigindo um centro visível de onde os Ensinamentos Rosacruzes possam irradiar sua benéfica influência para aumentar o bem-estar de todos que estão fisicamente, mentalmente ou moralmente enfermos ou doentes.
Portanto, agora ergamos a primeira pá de terra no local da construção com uma prece pela Sabedoria, para guiar esta grande escola no caminho certo. Cavemos o solo, uma segunda vez, com uma súplica ao Mestre Artista pelo direito de introduzir aqui a Beleza da vida superior, de tal maneira a torná-la atrativa para a humanidade. Cavemos, pela terceira e última vez, com relação a esta cerimônia, murmurando uma prece pela Força, para que, paciente e diligentemente, possamos continuar o bom trabalho em perseverar e tornar este lugar um maior fator de elevação espiritual do que qualquer dos que nos antecederam.
Cavado o local do primeiro prédio, continuaremos, agora, plantando o símbolo maravilhoso da vida e do ser, o emblema da Escola de Mistérios ocidentais. O emblema consiste na cruz, representando a matéria, e nas rosas, que envolvem e rodeiam o tronco, representando a vida em evolução subindo cada vez mais alto pela crucificação. Cada um de nós, os nove membros, participará deste trabalho de escavação para este primeiro e maior ornamento de Mount Ecclesia. Vamos fixá-lo numa posição em que os braços apontem um para Leste e outro para Oeste, enquanto o Sol do meridiano projeta-o inteiramente em direção ao Norte. Assim, ele estará diretamente no caminho das correntes espirituais que vitalizam as formas dos quatro Reinos da vida: Mineral, Vegetal, Animal e Humano.
Sobre os braços e a parte superior desta cruz podemos ver três letras douradas, “C.R.C”, Christian Rosenkreuz, ou Christian Rosecross, as iniciais do Líder Augusto da Ordem. O simbolismo desta cruz está parcialmente explicado aqui e, também, em nossa literatura, mas seriam necessários volumes para dar uma explicação completa. Vamos olhar um pouco mais longe sobre o significado da lição que nos oferece este maravilhoso emblema.
Quando vivíamos na densa atmosfera aquosa da antiga Atlântida, estávamos sob leis completamente diferentes das que nos regem hoje. Quando deixávamos o corpo, não o percebíamos, pois nossa consciência estava focalizada mais nos Mundos espirituais do que nas densas condições da matéria. Nossa vida era uma existência contínua; não percebíamos nem o nascimento nem a morte.
Ao emergirmos para as condições aéreas da Época Ária, o mundo de hoje, nossa consciência dos Mundos espirituais desvaneceu-se e a forma tornou-se mais proeminente. Então, começou uma existência dupla, cada fase definidamente diferenciada da outra pelos eventos do nascimento e da morte. Uma dessas fases é a vida do espírito livre no reino celestial: a outra, um aprisionamento num corpo terrestre, que é virtualmente a “morte do espírito”, como está simbolizado na mitologia grega de Castor e Pólux, os gêmeos celestiais.
Já foi elucidado, em diversos pontos de nossa literatura, como o espírito livre ficou emaranhado na matéria pelas maquinações dos espíritos de Lúcifer, aos quais, Cristo se referiu como as falsas luzes. Isso ocorreu na ígnea Lemúria. Portanto, Lúcifer pode ser chamado o Gênio da Lemúria.
O efeito de seu erro não ficou totalmente aparente até a Época de Noé, compreendendo o período final Atlante e o início da nossa presente Época Ária. O arco-íris, que não poderia existir sob as condições atmosféricas anteriores, pairou com suas cores sobre as nuvens como uma inscrição mística quando a humanidade entrou na Época de Noé, onde a lei dos ciclos alternantes trouxe enchente e vazante, verão e inverno, nascimento e morte. Durante essa Época, o espírito não pôde fugir permanentemente do corpo mortal gerado pela paixão satânica primeiramente inculcada por Lúcifer. Suas repetidas tentativas de fugir para seu lar celestial são frustradas pela lei da periodicidade, pois, ao livrar-se de um corpo pela morte, será trazido para renascer quando o ciclo se completar.
Engano e ilusão não podem perdurar eternamente. Surgiu, portanto, o Redentor para purificar o sangue cheio de paixão, para pregar a verdade que nos libertará deste corpo de morte. Surgiu para inaugurar a Imaculada Concepção ao longo das linhas grosseiramente indicadas na ciência da eugenia, para profetizar uma nova Era, ‘um novo céu e uma nova terra’, onde Ele, a verdadeira Luz, será o Gênio; uma era em que florescerão a virtude e o amor, pelos quais toda a humanidade suspira e procura.
Tudo isso e a maneira de evoluir estão simbolizados na cruz de rosas que temos em frente. A rosa, na qual a seiva da vida está inativa no inverno e ativa no verão, ilustra com clareza o efeito da lei dos ciclos alternantes. A tonalidade da flor e seus órgãos reprodutores lembram o nosso sangue. No entanto, a seiva que flui é pura, e a semente é gerada imaculadamente, sem paixão.
Quando alcançarmos a pureza de vida assim simbolizada, estaremos libertos da cruz da matéria, e as condições etéricas do milênio estarão presentes. A aspiração da Fraternidade Rosacruz é apressar esse dia feliz, quando a tristeza, a dor, o pecado e a morte desapareçam e nós sejamos redimidos das fascinantes, mas escravizantes ilusões da matéria, e despertados para a suprema verdade da realidade do Espírito. Que Deus apresse e frutifique nossos esforços.
Qualquer Religião ou Filosofia é benéfica unicamente na medida em que a praticamos em nossas vidas diárias e a capacidade de nossa compreensão é o grau em que traduzimos seus conceitos em ações, com o objetivo de ajudar.
Não podemos todos ser reis, presidentes ou líderes em nosso país ou esferas de atividades. Se, portanto, nossas circunstâncias são tais que não podemos ver nenhuma possibilidade, próxima ou distante, de executar coisas de “importância”, então, que podemos fazer para pôr em prática nossas ideias dentro de nossa própria família, da sociedade ou comunidade que pertencemos e na nossa vida diária de trabalho e atividades?
Para nós, Estudantes Rosacruzes, podemos atribuir que a Fraternidade Rosacruz, cujos ensinamentos estamos desejosos de aplicar, estão baseados ou conectados em alguma forma com Cristo, de maneira que, antes de tentar responder nossa pergunta, seria bom que tratássemos de entender, tão brevemente como seja possível, exatamente porque veio Cristo e o que foi que Ele procurou fazer e logo, tendo-O como nosso ideal, podemos, como Seus auxiliares, reajustar nossa pergunta inquirindo o que é que podemos fazer para continuar Sua obra.
Na Filosofia Rosacruz se nos ensina que Cristo veio preparar o caminho para a emancipação da humanidade do Espírito de Raça e Espírito de Família e reunir as raças, os povos e as nações separados em um vínculo de paz e de boa vontade, unindo toda a família humana em uma Irmandade Universal ou Fraternidade Universal, na qual todos, voluntária e conscientemente sigam a lei do Amor.
Cristo veio, portanto, preparar-nos para a libertação de qualquer tipo de governo externo, para fortalecer nossa Individualidade (nosso Tríplice Espírito) e o desenvolvimento da confiança própria pelo exercício do livre arbítrio.
À primeira vista, parece que ao fazê-lo, Ele frustraria Seu próprio objetivo de unirmo-nos a uma Fraternidade Universal de Amor, uma vez que, quanto mais duramente nos convertamos em indivíduos, mais nos inclinamos a ver unicamente nossos próprios direitos e ignorar os dos outros. Tornamo-nos imbuídos com um sentido de separatividade em que nos sentimos distintos dos demais seres, vivendo todos em um mundo no qual as condições são tais que devemos lutar por nossas próprias finalidades materiais, sem dar muita importância a se prejudicamos ou não aos demais nesse processo. É esse esforço para executar nossas próprias finalidades, sem considerar os outros, o que nos traz todas as lutas em nossas famílias e na sociedade, nos negócios e na vida em geral, quando estamos aqui renascidos.
Porém, com o desenvolvimento do nosso livre arbítrio, a ação e a reciprocidade de cada um durante o desenvolvimento dão um sentimento de responsabilidade pelo qual aprendemos a reconhecer os direitos dos outros e confessar que quando reclamamos nossos direitos queremos, na realidade, privilégios, porque não estamos preparados para assumir as responsabilidades que acompanham os direitos.
À medida que aprendermos a reconhecer os nossos semelhantes como indivíduos em estado de desenvolvimento, chegaremos à conclusão de que deve haver tolerância entre uns e outros e assim, gradualmente, obteremos a realização do ideal de Cristo representado onde todos, felizes e conscientes, seguem a lei do Amor. É, então, que começamos a perguntar a nós mesmos: onde posso me adaptar dentro do esquema das coisas? Que posso fazer para cooperar com a obra de Cristo e ajudar para que Seu ideal se realize? Uma vez que a forma ideal é que todos, satisfeitos e conscientes, sigam a lei do Amor, é evidente que qualquer coisa que façamos deve ser algo que ajudará a realizar o almejado e elevado estado de coisas.
Quando felizes e conscientes seguimos a lei do Amor, como poderá ela encontrar expressão em nossas vidas diárias? Seguramente no afeto e na ajuda, imbuídos com a simpatia que nasce da inteligência. Então não é a prática diária dessas coisas a resposta de nossa pergunta? Parece muito simples, porém quando tratamos de pô-las em prática, essas coisas não são nem simples e nem fáceis.
Na vida em família, quando as pessoas não vivem em harmonia, é sempre tão simples e fácil reconhecer o ponto de vista do outro com o objetivo de ter paciência e ajustar-se a si mesmo em vez de esperar sempre que o outro faça o ajuste necessário? Na vida dos nossos negócios, é fácil permanecer paciente e atento contra as injustiças dos superiores, os zelos dos colegas, as desonestidades dos concorrentes e os transtornos gerais da vida diária? E em nossa vida em geral se, por exemplo, um partido político que está no poder não representa nossa classe particular de político, podemos refrear um pouco a crítica maldosa e dar, ao menos, um pouco de crédito aos ideais que fielmente se seguem?
O exemplo é sempre muito mais eficaz que o predicar, e qualquer movimento nessa direção o faz um pouco mais fácil para que outros façam o mesmo, e ao fazê-lo, o círculo se amplia; e estamos de fato ajudando ativamente na grande obra de Cristo, unindo as nações separadas em vínculo de paz e amor. Ao falar algumas palavras de simpatia para aliviar uma alma oprimida, ou dando um sorriso para infundir alegria a outra pessoa, cooperaremos na obra de Cristo!
Assim estaremos cumprindo um dos preceitos Rosacrucianos, que diz que devemos nos esforçar cada dia para servir aos nossos semelhantes com amor, modéstia e humildade em qualquer oportunidade que se nos ofereça e ao fazê-lo estamos cumprindo uma das advertências de Cristo quando disse: “O que for o maior entre vós, seja o servo de todos” (Mt 20:26). Se é a grandeza da Alma o que desejamos, ali está a promessa e o caminho!
Outro preceito nos diz que o silêncio é uma das maiores ajudas no crescimento anímico, portanto, devemos procurar o ambiente de paz, equilíbrio e quietude. Ao praticar a benevolência, a reflexão, a simpatia e a inteligência estamos de fato criando tal ambiente, que levaremos conosco para onde quer que formos. Se nossa atitude habitual para com os demais é de uma inteligência simpática, expressada em bondade de pensamento e ação, devemos levar a paz em nosso íntimo e devemos adquirir equilíbrio, porque só assim não ficamos facilmente “transtornados” pelo que os outros dizem ou fazem. Assim, nos encontramos em todas as situações com uma tranquilidade e paz internas que são mais efetivas que todos os ruídos do mundo.
Estaremos cumprindo ainda um terceiro preceito, no qual, enquanto desenvolvemos inteligência, simpatia e afeto, devemos necessariamente aprender a ser indulgentes e isso conduz ao controle de si mesmo, que é um dos maiores passos para a própria segurança, virtude capital do Aspirante à vida superior.
Já nos foi dito em repetidas ocasiões, por meio da literatura Rosacruz e em nosso Ritual Devocional do Serviço do Templo que “o serviço amoroso desinteressado para com os outros é o caminho mais curto, mais seguro e mais agradável que nos conduz a Deus”. Como podemos oferecer serviço amoroso e desinteressado a outros, a não ser que desenvolvamos a qualidade inestimável da inteligência? É estranho, porém certo, que, se fazemos todos os dias as coisas comuns e simples de uma maneira simpática, bondosa e inteligente, estamos fazendo a obra do Mestre e ajudando a cumprir nossa oração diária “Venha a nós o Vosso Reino”. Na realidade, o Reino de Deus não pode vir a nós de outra maneira.
Volumes se têm escrito oferecendo soluções a todas as deficiências dos seres humanos quando temos a solução na simples sentença: “Amai-vos uns aos outros.”. É tão simples, que em nossa perversidade procuramos todas as classes de coisas complexas que, sendo muito humanas e materialistas, levam internamente a semente da sua própria destruição, enquanto o simples mandamento de Cristo leva dentro de si mesmo a semente de seu próprio êxito.
Poderia existir a horrível consequência de uma depressão econômica se o ser humano enfrentasse seu semelhante com inteligência e afeto? Poderia existir a fome, a miséria, a pobreza, a escravidão e todas essas coisas horríveis que resultam da manipulação do sistema do dinheiro para o benefício de alguns, se nos amássemos uns aos outros? Seguramente o remédio depende da educação do ser humano para usar o dinheiro e seu poder para o bem-estar de seus semelhantes, usando-o com boa vontade e simpatia.
Poderia existir a contenda política internacional e guerras se os diretores das nações fossem um pouco mais compreensivos dos pontos de vista das outras nações e com desejo sincero de obter o bem-estar comum? Se todos nós que somos as unidades de nossas nações agíssemos com inteligência e amor, não somente para com o nosso povo, mas também com todos os de outras nações, seguramente que seria uma arma de paz muito mais poderosa que todas as armas de guerra. É indiscutível que Cristo precisa de nossa ajuda para vencer Seu propósito de unir os seres humanos e nações que estão separados; e os povos e diretores de nações devem colaborar nessa tarefa.
Então por que não cooperamos hoje, agora, expressando a todos os seres, onde quer que se encontrem, a bondosa e simpática inteligência que com o tempo guiará a Fraternidade Universal, na qual todos, felizes e alegremente, seguirão a lei do amor?
(Traduzido da Revista “Rays From The Rose Cross” e publicado na Revista Serviço Rosacruz de setembro/1971-Fraternidade Rosacruz-SP)
“Levantai, ó, portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó, entradas eternas, e entrará o Rei da Glória.”[1]. Essa passagem, tirada dos Salmos, o Livro dos Louvores, Canções de Sião, considerados como os primeiros dos “escritos” do Antigo Testamento, bem pode ser usada em conexão com o mistério do Cristo.
Os judeus, como outras nações, mostram em seus escritos religiosos que esperavam por um Salvador que viria, o Ungido, Cristo ou Messias. Nesse tempo, o adorado era o Deus Jeová, o Senhor dos Exércitos e Criador das Formas. Portanto, nesse tempo o Cristo devia ser um Deus pessoal, principalmente porque a Mente ainda estava em seu estado ou forma mineral. Eles não poderiam imaginar outra espécie de Deus. Ainda hoje nós O concebemos assim, mas aos poucos mudamos a ideia que temos sobre Ele, por meio da evolução do nosso veículo Mente. Coube àquele educado místico, São Paulo, revelar o segredo básico do Cristianismo, segundo o qual Cristo pode realmente ser formado em nós e, dessa forma, podemos antecipar prazerosamente o dia em que o Ungido irá Se tornar, e já é, nós mesmos.
Os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental acerca da evolução do ser humano explicam o nascimento, crescimento e desenvolvimento dos vários corpos com seus Átomos-sementes, bem como as várias forças que por eles agem, em uma sequência natural, lógica. Agora, estamos tentando, conscientemente ou não, construir um novo corpo feito de Éter no qual o Átomo-semente se tornará ativo. Estando pronto esse veículo, o Poder Crístico poderá nele penetrar; e quando ele despertar, nascerá em nós o Cristo Menino como o segundo aspecto de Deus — Cristo assume então o controle do nosso ser. Disse o místico Angelus Silesius: “Embora Cristo nascesse mil vezes em Belém, enquanto não nascer dentro de ti, tua alma continuará extraviada”.
Antes de podermos agir como verdadeiros Cristãos, como expressões do consciente Espírito de Vida interior, devemos construir tal corpo, o Dourado Manto Nupcial, composto dos dois Éteres superiores do Corpo Vital (Éter Luminoso e Éter Refletor). Por meio do Corpo-Alma nós, o Ego – o Espírito Virginal da Onda de Vida humana manifestado –, podemos agir. Esse Corpo-Alma é, portanto, nosso primeiro objetivo. Ele se desenvolve e é nutrido pelo poder do amor que busca sua manifestação pelo serviço amoroso e desinteressado, focado na divina essência oculta no irmão ou na irmã, porque quando amamos, procuramos servir. Quer compreendamos, quer não, todas as coisas criadas servem a outrem; seu propósito é servir.
Quando o Sol passa pelo Signo de Câncer, onde a Lua está fortíssima – pois a Lua rege Câncer – é um ótimo momento para estudarmos o serviço amoroso e desinteressado, focado na divina essência oculta no irmão ou na irmã, ou: o Espírito – simbolizado pelo Sol – servindo a Alma (a quintessência dos nossos Corpos) – simbolizado pela Lua. Já quando o Sol passa pelo Signo de Leão, vemos exatamente o oposto: a Alma servindo ao Espírito, pois neste mês o Sol rege Leão e domina a influência lunar. Esse é o tempo da construção e melhorias do Corpo, da forma; devido às poderosas forças solares, o Espírito trabalha sobre o Corpo para obter posterior crescimento anímico, o Crescimento da Alma. O crescimento e o fortalecimento da manifestação física são necessários para conter um influxo de atividades maiores e mais refinadas do poder de Cristo, que volta no fim de cada ano. Por isso, é dado maior impulso à exibição material do poder físico do Sol, estando diminuídos seus poderes anímicos. O poder do Sol está agora em seu máximo de força, fisicamente, objetivamente; espiritualmente, contudo, está subjetivo, em preparação para o futuro crescimento anímico.
É, portanto, pela compreensão intelectual das coisas místicas que levantamos nossas cabeças e abrimos nossos corações às portas e entradas eternas para, por elas, deixarmos entrar o Cristo, o Rei da Glória, tornando-nos Cristãos no verdadeiro sentido.
O Signo de Leão é o do Rei e do coração, a fonte do amor e, por isso, nesse nosso período evolutivo, o grande poder do amor é, na verdade, o “rei” e reina supremo. O amor, como causa, produz como efeito o serviço e é essa causa e efeito que, quando demonstrados, tecem misteriosamente o precioso manto do Cristo (o Corpo-Alma), o Soma Psuchicon de que falou São Paulo, como um veículo independente, utilizável para os voos anímicos da vida superior. Esse Corpo-Alma não deve ser confundido com a Alma que o interpenetra. Ele é algo intangível, percebido pelo espírito de introspecção através do qual sentimos o Poder do Pai no Céu, a incitação íntima que todos os Aspirantes à vida superior conhecem tão bem. É o Poder do Pai que acende a luz, tornando o Corpo-Alma luminoso.
Lembremo-nos, entretanto: é o Sol, o Espírito, que é poder, força ou energia agindo no Corpo, o responsável pela Alma e, nessa ocasião, quando atinge sua máxima força, bem podemos aprender com suas atividades. O Livro “Conceito Rosacruz do Cosmos” informa-nos que no Período Solar, um renascimento anterior da nossa Terra, os Senhores da Sabedoria irradiaram de Si o germe do Corpo Vital, capaz de crescimento posterior, possuindo faculdades que agora estão latentes; que essas faculdades iniciaram sua manifestação na segunda Revolução desse Período e continuaram até a sexta Revolução. Nessa Revolução apareceram os Querubins e despertaram o germe do Espírito de Vida; ou seja, o Princípio Crístico do ser humano. No Período Lunar, os Senhores da Individualidade irradiaram de Si o Corpo de Desejos germinal, ligando-o ao Corpo Vital e mais tarde os Serafins despertaram no ser humano o germe do Espírito Humano. No Período Terrestre, no qual agora estamos, esse trabalho envolvendo os Éteres ficou sob a tutela dos Anjos, os mestres dos seres humanos nesse assunto, por serem peritos na construção do Corpo Vital, já que foram humanos quando o Éter era a condição mais densa da matéria.
Já atravessamos o arco descendente da Involução, nesse Esquema de Evolução, e agora iniciamos a porção ascendente da Evolução, armados com a faculdade da Epigênese; estamos passando das substâncias mais densas para as mais sutis, bem como espiritualizando nossas forças e poderes; em poucas palavras, estamos indo do reino puramente físico para o etérico e, por isso, a especialização que vem sofrendo o Corpo Vital, a Alma Intelectual e o Espírito de Vida ou o Ser Cristo. Essa é nossa primeira tarefa como seguidores do Cristo. O Corpo Vital está radicado na posição referencial do baço, por meio do qual especializa a energia solar e é o construtor e restaurador do Corpo Denso; mas enquanto esse Corpo Vital for o canal pelo qual as forças solares são introduzidas no Corpo Denso, ele não tem poder em si mesmo. Determina a direção em que uma dada força é usada; contudo, essa força é fornecida do exterior. Pelo poder do amor, levantamos portas e abrimos entradas eternas em nosso coração para possibilitar ao Cristo entrar e habitar em nós, permitindo assim que nossa Luz brilhe diante dos seres humanos para que possam ver nossas boas obras e glorificar nosso Pai, que está nos Céus.
Outrora, o Corpo de Desejos dos mais avançados da humanidade foi dividido em duas partes: a superior e a inferior, tornando-se capaz de conter um Ego humano. Hoje, estamos provocando a divisão do Corpo Vital também em duas partes: uma superior e outra inferior. A parte superior é conhecida como o Dourado Manto Nupcial (como vimos, o Corpo-Alma) que permitirá ao Cristo, o Rei da Glória, agir dentro de nós. Essa semente virá à vida e crescerá em força e beleza com o decorrer do tempo, se for alimentada e nutrida pelo poder do amor em seu mais elevado aspecto, o que quer significar isto: o sacrifício da carne pelo Espírito. Não podemos ter “Deus e servir ao Mammon[2]”. A lei da autopreservação deve ceder lugar à de viver para os outros.
A construção desse Dourado Corpo Solar do Espírito de Vida é mais bem conseguida por meio da experiência purgatorial obtida pelos Exercício Esotérico noturno de Retrospecção, por meio do qual se diz que “tomamos o céu de assalto”[3]. É pelos atos, pelas ações, obras de amor e bondade, ou melhor, pelo motivo que está por trás desses atos, dessas ações e obras que construímos o Veículo do Cristo com os Éteres Refletor e Luminoso do Corpo Vital, o Corpo-Alma. Não há outro jeito! O serviço amoroso e desinteressado, focado na divina essência oculta no irmão ou na irmã nos traz as melhores recompensas, pois nenhum exercício pode construir a Alma, porque é apenas um processo de amalgamação pelo qual as experiências da vida física são transmutadas em poder anímico, o poder da Alma.
A força solar, expressa por meio do polo masculino, é a responsável pelo poder da Vontade, um atributo do Princípio Paterno que cuida de Seus filhos, assim como a força lunar, expressa por meio do polo feminino, é a responsável pelo poder da Imaginação, um atributo do Princípio Maternal, que ama Seus filhos. Logo, temos durante todo mês de julho a expressão positiva da Lua, ou trindade fraternal, já que o Sol passa pelo Signo de Leão.
Leão é o Signo dos filhos que vêm ao nascimento pelo poder do amor e, sendo masculino, é natural que os Átomos-sementes dos nossos três Corpos e da Mente sejam depositados por meio do elemento positivo ou masculino e sob o cuidado amoroso das qualidades anímicas femininas para serem nutridos e sustentados.
“Senhor, ajuda-me a viver dia a dia
De tal maneira altruísta
Que mesmo quando me ajoelhe para orar
Minhas orações sejam pelos outros”.
“E a cidade não necessita de Sol nem de Lua para que nela resplandeçam, porque a Glória de Deus a tem alumiado e o Cordeiro é a sua lâmpada” (Ap 21:23).
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de julho/1970-Fraternidade Rosacruz-SP)
[1] N.R.: Sl 24:7-10
[2] N.R.: a palavra siríaca (a língua da Síria antiga, um dialeto ocidental do aramaico no qual muitos textos Cristãos primitivos importantes são preservados e que ainda é usado pelos Cristãos sírios como língua litúrgica) para as riquezas desejadas pelas pessoas sem bom senso ou sem julgamento, imprudentes ou néscias. Contudo, uma pessoa pode manter-se em seus negócios e cuidar deles pelo bem de todos, não por seu próprio interesse ou ganância, mas fazendo o possível para ajudar os outros. Não servindo a “Mammon”, não importa quanta riqueza esteja administrando.
[3] N.R. Mt 11:12
Do mesmo modo que um eco volta a nós, muitas vezes, repetido, assim também a canção celestial de vida é repercutida na Terra.
Toda a criação entoa um cântico de louvor. Um coro de uma legião de línguas repete sem cessar. As pequeninas sementes no seio da Mãe Terra começam a germinar, brotando e despontando em todas as direções, e logo um maravilhoso mosaico de vida, um tapete verde aveludado bordado com flores multicoloridas, substitui o manto de imaculado branco invernal.
Das espécies de animais de pelo e pena, a “palavra de vida” ressoa como uma canção de amor, impelindo-os ao acasalamento. Geração e multiplicação é o lema em toda parte – o Espírito ressuscitou para uma vida mais abundante.
Descubra mais sobre esse assunto clicando aqui: A Relação entre a Crucificação do Salvador e energia vital na Terra
“Um só carvão não produz fogo, mas, quando se juntam vários carvões, o calor latente em cada um deles pode converter-se em chama, irradiando luz e calor”. Foi em obediência a essa mesma Lei da Natureza que nos reunimos aqui, esta noite, porque ao acumular nossas aspirações espirituais para curar e ajudar nossos companheiros sofredores, poderemos realizar nossa modesta parte no sentido de levantar o manto de tristeza que agora paira sobre a vida deles e apressar o dia do Reino vindouro, onde o sofrimento e a tristeza serão abolidos e mesmo a morte deixará de ter domínio sobre os seres humanos.
As “Reuniões de Cura” são realizadas nas noites em que a Lua esteja em um Signo Cardeal ou Cardinal (Áries, Câncer, Libra, Capricórnio), porque nesse momento o máximo de energia cósmica é infundido no trabalho que iniciamos; assim, existem as melhores chances de um problema ser resolvido. Portanto, estamos aproveitando as forças do universo e o pensamento é o veículo que usamos para transmitir esse poder de cura.
No entanto, antes que a energia possa ser transmitida, ela deve ser gerada e, para fazer isso com eficiência, devemos entender com precisão qual é o método. Lemos na Bíblia que: “Como um homem pensa em seu coração, assim ele é” (Pb 23:7). Isso vai ao fundo do assunto, pois, embora possamos confessar com a boca acreditar em certas coisas e, logo, enganar os outros ou, sim, até nós mesmos, apenas aquilo em que realmente acreditamos em nosso interior, o que pensamos no fundo do coração, é válido. Se professamos com a boca que cremos em Deus, que vivemos a vida correta, que fazemos aos outros o que é certo, independentemente do que façam conosco, ou que sigamos outros altos padrões de conduta, ainda poderemos viver uma vida ambígua e sermos hipócritas. Contudo, se realmente aceitarmos isso em nosso cerne, não será necessário que façamos declarações. Cada um dos nossos atos proclamará exatamente o que pensamos em nosso íntimo e no que acreditamos. Rapidamente, as pessoas descobrirão justamente que tipo de pessoa somos, observando nossas ações, em vez de ouvir o que dizemos.
Devemos perceber que todo pensamento é uma centelha emitida pelo Ego, que quando nasce, atrai para si um determinado tipo de material apropriado à sua natureza. Esse pensamento-forma pode ser enviado a outras pessoas, visando ao seu bem ou mal; mas haverá uma reação sobre nós mesmos, boa ou má, dependendo do que foi canalizado aos outros. É um fato e não apenas mero provérbio poético afirmar que “pensamentos, como galinhas, sempre voltam para o poleiro”. Qualquer pessoa que tenha a visão espiritual despertada vê em cada um de nós uma atmosfera áurica sutil, colorida de acordo com nossa particular tendência de pensamento; embora, é claro, a cor básica seja determinada por características do povo e da nação.
Se depositarmos em nossos corações pensamentos de otimismo, bondade, benevolência, ajuda e serviço, então esses pensamentos gradualmente vão colorir nossa atmosfera de certa maneira que é muito expressiva de todas essas diferentes qualidades ou virtudes desejáveis. E, à medida que nossos corpos são construídos pela Mente em uma expressão de nossa atitude mental, isso reage em nosso Corpo Denso, trazendo para nós saúde e bem-estar. Por essa razão, os Ensinamentos Rosacruzes são verdadeiros, quando afirmam que dessa maneira a saúde e a prosperidade são alcançadas; ainda que ninguém com Mente espiritual realmente use tais meios para obter riqueza material. Mas, essa é apenas outra maneira de provar a verdade das palavras de Cristo: se procurarmos primeiro o Reino de Deus e Sua justiça, todas as outras coisas nos serão acrescentadas[1].
O profeta de Israel também deu essa garantia, quando afirmou: “Fui jovem e já estou velho, mas nunca vi um justo abandonado, nem sua descendência mendigando pão”[2]. É uma lei do universo que, se trabalharmos com Deus, Ele certamente cuidará de nós de maneira material. “Não se vendem dois pardais por um asse? E, no entanto, nenhum deles cai em terra sem o consentimento do vosso Pai!”[3]; porventura não valem mais do que muitos pardais? Por toda a palavra de Deus temos a promessa de que, se trabalharmos com fidelidade, honestidade e o melhor da nossa capacidade, lutando pelos interesses do Cristo, trabalhando em “Sua vinha”, Ele cuidará de nós.
Quando alguém cria sobre si mesmo uma atmosfera áurica de utilidade, bondade e serviço real — porque não basta desejarmos prestar o serviço, mas devemos nos esforçar dia após dia para servir ao máximo — deita toda noite cansado, na feliz consciência de ser um verdadeiro servo de Cristo. Contudo, quando tivermos feito isso, encontraremos um mundo mudado. Acharemos em outras pessoas as mesmas qualidades que possuímos, porque essa atmosfera áurica é como um vidro através do qual devemos olhar para todos. O mundo inteiro é colorido por nossa própria aura, como se estivéssemos em uma sala com janelas de vidro vermelho e o mundo lá fora, então, as árvores, casas e tudo o mais, parecesse vermelho.
Para mencionar um fato, vemos o mundo em que vivemos através dessa atmosfera áurica e, se ela for vibrante pela benevolência e bondade, encontraremos sobre nós pessoas que sejam benevolentes e gentis, pois atraímos delas as qualidades que nós mesmos expressamos, seguindo o mesmo princípio científico do diapasão: quando um é tocado, ele desperta as vibrações de outros diapasões de tom idêntico; assim, as pessoas que nos conhecem são sempre atraídas e respondem àquilo que temos em nós mesmos.
Portanto, um ser humano que é benevolente, como dito, sente a benevolência e a bondade de outras pessoas. Um que dispõe de pensamentos mesquinhos e preocupantes, que é pessimista ou habitualmente tem pensamentos de crueldade para com os outros, invocará sobre si próprio os mesmos traços de caráter que envia. Estamos todos vibrando em determinado tom e o Átomo-semente do coração é a base da existência física e das vibrações que saem de nós para o mundo físico.
É de imenso benefício conhecer essa evidência científica, já que podemos controlar nossos pensamentos e, através deles, todas as condições da vida. Cabe a nós, portanto e diariamente, cultivar o otimismo, a utilidade, a benevolência e a bondade para podermos ter maior valor no trabalho do mundo. A menos que tenhamos essas qualidades em algum grau, é impossível realizar a tarefa para a qual viemos aqui, hoje à noite: ou seja, ajudar outras pessoas e curar.
Milhares de Estudantes Rosacruzes em todo o mundo concentraram seus pensamentos aqui, durante este dia, como faz todos os dias, quando há uma “Reunião de Cura”, seja em um Centro Rosacruz, em um Grupo de Estudos ou mesmo em um lar. Essa agregação de pensamentos agora flutua sobre a Pro-Ecclesia, aqui na Sede Mundial, uma força poderosa. O Símbolo Rosacruz na parede oeste é o instrumento ou foco através do qual devemos enviar essa força poderosa ao mundo. Temos ali a estrela dourada de cinco pontas e a cruz trilobada de quatro pontas. Os números cinco e quatro formam o místico nove, que é o número de Adão, a Humanidade. A cruz é branca e pura, símbolo que indica que quem deseja se tornar um Auxiliar Invisível da Humanidade deve se purificar de todo o mal e, embora tentando fazer isso caiamos repetidas vezes, lembremos que não exista falha, exceto desistir da missão. As sete rosas que enfeitam este símbolo representam o sangue purificado.
Enquanto a Humanidade e os animais que têm sangue quente e vermelho estão cheios de paixão e desejo, a planta não tem paixão. A rosa vermelha, sendo o órgão gerador da planta, permanece como um símbolo da imaculada concepção que ocorre quando o Cristo nasce em nosso interior, purificando-nos dos pecados do passado e santificando-nos para a obra do futuro. Esse é o grande ideal ao qual aspiramos. Concentremos nosso pensamento na rosa branca do centro do Símbolo Rosacruz, que representa o coração puro do Auxiliar Invisível, que é tão desinteressado. Oramos para que nossos pensamentos sejam tão puros quanto aquela rosa, para que possamos gerar conceitos de pureza, força, utilidade e confiança em Deus, apesar de todos os desânimos.
Acima de tudo, depois que fizermos nossa parte, confiemos os resultados a Deus, eliminando nossa própria Personalidade. Somos fracos demais para lutar contra forças cósmicas; entretanto, Deus é onipotente. Não tentaríamos atravessar o oceano em um barco a remo que, muito provavelmente, afundasse; no entanto, se formos de avião, grande e bem construído, as chances serão muito favoráveis à sobrevivência contra qualquer vento forte que nos possa assolar. Essa metáfora também pode ser aplicada à viagem em direção ao nosso objetivo espiritual. Se nos esforçarmos para manter as próprias forças, estaremos muito aptos a cair; porém, se nos comprometermos com Deus e orarmos a Ele por orientação, descobriremos que as chances de sucesso aumentam bastante. E por oração não se entende apenas a dos lábios, mas a do coração.
Como Emerson ensina:
Embora seus joelhos nunca estejam dobrados,
Para o céu, de hora em hora, seus pedidos são enviados;
E sejam, para o bem ou para o mal, formados,
Ainda são respondidos e registrados.
(De Max Heindel, publicado na Revista “Rays from the Rose Cross”, de julho/1915 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz de Campinas – SP – Brasil)
[1] N.T.: Mt 6:33
[2] N.T.: Sl 37:25
[3] N.T. Mt 10:29
De fato: não precisamos de uma nova Religião nem de uma nova Filosofia. Precisamos, isto sim, é de RE-ligião, de FILO-sofia, quer dizer, necessitamos buscar, dentro de nós, o nosso Deus, o Cristo Interno, com Quem devemos Re-atar, conscientemente, as relações. Uma vez que o encontremos e o ouçamos, seremos FILÓ-sofo, amigo da sabedoria. Essa é a verdadeira sabedoria, perfeitamente individualizada às nossas necessidades. Ninguém melhor do que nosso Verdadeiro Eu para compreender-nos e intuir-nos a melhor forma de viver.
É útil o estudo dos Evangelhos se pudermos pôr de lado as formas convencionais de interpretação e se pudermos neutralizar as induções materialistas dos nossos sentidos. Para isso, basta que leiamos e meditemos calmamente ficando, depois, em silêncio, para que a Deidade interna nos instrua. Mas, precisamos de calma e de concentração. O nervosismo e a preocupação movimentam o nosso Corpo de Desejos e comprometem a recepção mental. Se estivermos preocupados ou nervosos, respiremos profunda e calmamente e peçamos que o Cristo se levante do fundo da barca do nosso corpo-templo e, estendendo Seus poderosos braços, acalme as ondas das emoções e os ventos dos pensamentos errantes. De toda maneira, o acalmar e concentrar são preâmbulos indispensáveis ao contato com o Cristo. Pode suceder, também, que hajamos estado a conversar frivolidades e ouvindo até coisas maliciosas. Limpemos a Mente e as emoções. Isso representa tirar as sandálias, para pisar um solo santo, de encontro com o Senhor. Aí podemos ler, meditar e silenciar, pedindo ao Cristo que nos instrua.
Realmente, os Evangelhos continuam sendo atualíssimos, continuam a desafiar-nos que os vivamos, para sermos realmente felizes. Quando tivermos atingido esse ponto, aí sim, virão ensinamentos mais altos; será quando o Cristo entregar seu Reino ao Pai, a fim de que recebamos d’Ele orientação mais elevada. Mas, quem chegou a esse ponto? Os sofrimentos internos e sociais, as guerras, as doenças, são macabros atestados de como projetamos, de dentro de nós, as sombras de nossas discórdias às Leis da Natureza.
A Filosofia Rosacruz apareceu, no começo deste século, para orientar, pela razão, os Egos ocidentais que não aceitam o Cristo simplesmente pela fé. É uma Filosofia de ação Cristã, racional, atualizadíssima, que vai preparar a humanidade para uma forma de Religião mais alta, o Cristianismo Esotérico, para a próxima Era de Aquário. Ela pode servir-nos de segura orientação, porque os Irmãos Maiores que a estruturaram são Elevados Iniciados que já passaram pelas nove Iniciações Menores e pelas quatro Iniciações Maiores ou Cristãs.
Precursores que já foram até o fim do caminho desse Esquema de Evolução e pensando naqueles que ficaram para trás, amorosamente voltaram para ajudá-los, prevenindo-os da melhor forma para vencer os obstáculos da jornada. Eles podem olhar lá de cima do grande monte e vislumbrar claramente os caminhos que levam ao cume. Daí Eles serem muito tolerantes com todas as formas religiosas e filosóficas que se criaram para ajudar a humanidade. No entanto, eles indicam um caminho mais curto, um caminho do MEIO, para os que tenham coragem de vencer a si mesmos e de renunciar ao ilusório, como o “atleta que fica com o mínimo de roupas, para melhor vencer a corrida”.
A Fraternidade Rosacruz não é uma nova filosofia. É Sabedoria antiquíssima que surge para a NOVA criatura. À medida que nos renovamos, nos aparecem meios mais elevados de orientação. Simplesmente isso! A Sabedoria nada tem de nova. O método sim é adequado às necessidades internas do povo a quem se dirige. Eis a razão de ser da Fraternidade Rosacruz, que busca livrar o Aspirante das ilusões e miragens do Caminho no deserto, mostrando-lhe, seguramente, as vias de chegar à Terra Prometida, dentro dele mesmo.
Ela não manda “matar os desejos” nem se sentar em meditação ou fazer longos retiros e jejuns, negligenciando os deveres familiares e fugindo aos desafios da vida social. Não! Dá condições de nós, Aspirante à vida superior, haurirmos o alimento anímico no próprio ambiente em que vivemos e lutamos e, nos momentos que nos sobram, buscar a Deus, estudar as verdades espirituais que foram mantidas pela Ordem Rosacruz, livres da conspurcação materialista, de modo que estabeleça no íntimo um Templo. Se nós, Estudantes Rosacruzes, recebemos a oportunidade desse contato com a Fraternidade Rosacruz e a aproveitamos, consideramos isso uma graça de Deus. Mas, se nós temos a oportunidade e não reconhecemos nada de superior nos ensinamentos da Fraternidade Rosacruz e não sentimos vibrar o íntimo à Mensagem dela, é porque não chegou a nossa hora. Ainda estamos verdes; ainda precisamos de “viver e sofrer” até que “encontremos” tempo para o cultivo da Alma, por julgar que isso é a coisa mais importante do mundo.
Então podemos começar a escalada. Aí compreendemos o que é “AMAR A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS E AO PRÓXIMO COMO A SI MESMO”.
Compreendem isso, meu Amigo e minha Amiga?
(por Gilberto A V Silos – Editorial da Revista Serviço Rosacruz de julho/1972-Fraternidade Rosacruz-SP)
“No Princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”. Esse é um versículo muito citado pelos estudantes de ocultismo, já que é um legado fundamental. No primeiro versículo do primeiro capítulo do Gênesis lemos que Deus criou os Céus e a Terra, e no primeiro versículo do primeiro capítulo do Evangelho de São João nos é informado o modo em que a criação se levou a cabo. Nos versículos posteriores do mesmo capítulo se nos diz que o “Verbo estava no princípio com Deus e que todas as coisas foram feitas por ele, e que n’Ele estava a vida e que a vida era a luz dos homens”.
Tudo o que encontramos no Universo existiu primeiro como um pensamento na Mente do Criador; isso se manifestou como o Verbo que é som rítmico. É esse som, o Verbo que constitui a vida dentro da forma.
Lemos também na Bíblia que o ser humano foi feito à imagem e semelhança de Deus e se esperamos ser como Ele, muito teremos que aprender. Agora somos ensinados em distintas formas. Vidas após vidas terão que aprender a ser criadores também. De modo que, depois de um período longo de tempo nos quais ganhamos em experiência, podemos esperar que sejamos criadores, diretamente por meio da palavra (Verbo) de nossa boca. A fim de que possamos levar a cabo essa instantânea criação, temos que aprender primeiramente a criar por outros meios. Isso é o que estamos tratando de fazer agora, quando trabalhamos na Região Química do Mundo Físico e usamos nossas energias para conquistar essa Região. No presente, com o pensamento e a Mente, o ser humano exercita seu poder somente sobre os minerais e por meio da química. Trabalha com eles e cria muitas ferramentas novas e concebe novas coisas para sua comodidade. Esse treinamento é essencial a fim de que possamos aprender a criar sem cometer erros e fazer as coisas bem-feitas desde o princípio. Quando criarmos por meio da palavra de nossa boca, será feito instantaneamente e tem que ser feito certo desde o princípio porque não há possibilidade de mudanças imediatas posteriores.
Dos instrumentos que o espírito possui, o mais importante é a Mente. Nos esforços do ser humano para ser um criador, a Mente é um instrumento especial. Quando nossa laringe for perfeita, algum dia, no futuro, seremos capazes de pronunciar a Palavra Criadora. Todavia estamos ainda muito longe disso, já que nossa Mente não pode dar-nos uma ideia clara do que é necessário para essa criação imediata. Nossa Mente ainda se encontra em seu estado mineral.
Existe ainda outro requisito mais importante antes que possamos começar a pensar em criar do mesmo modo que Deus o faz. O ser humano deve ser bom. Enquanto as ações do ser humano não forem governadas por seu coração, suas criações não serão dignas. No presente de nossa evolução, certamente, nossas criações são às vezes sem importância e às vezes maliciosas. Quando aprendermos a pensar retamente seremos capazes de conceber o verdadeiro, sem experimentar, e a seu devido tempo seremos capazes de pronunciar nossos pensamentos e cristalizá-los em coisas.
No passado, quando o ser humano era um ser espiritual e mais ligado ao seu Criador, era ensinado diretamente por seres Superiores. Usava, então, palavras formativas sobre os animais e as plantas. Quando a santidade houver novamente tomado o lugar do profano na linguagem do ser humano, ele voltará a ter o poder de usar a Palavra Criadora. Encontramos no livro Cristianismo Rosacruz esta citação: “Todas as coisas da Natureza vieram à existência por meio do Verbo que fez a carne (São João). O som, o pensamento falado, será nossa próxima força de manifestação, uma força que nos converterá em Homens-Deuses criadores, quando mediante nossa atual escola nos hajamos preparados para usar esse formidável poder em benefício de todos, sem ter em conta nosso próprio interesse”.
O ser humano é a única criatura sobre a Terra que usa as palavras. Muitos de nós não podem pensar ou formular pensamentos sem a ajuda das palavras. É quão preferível quando pensamos, expressarmos o correto significado do que queremos dizer, e quando falamos, sentimos que soa diferente do que queremos dizer. As palavras encerram pensamentos de um ser a outro e são as coisas mais humanas. As palavras também executam o valioso serviço de encarnar pensamentos de um período de tempo a outro, fazendo possível o escrever o registro de uma geração para outra, e, portanto, tornando possível a evolução.
A primeira vez que o ser humano primitivo usou a palavra foi no começo da Época Atlante. Foi, então, que a humanidade adquiriu um pouco de memória e com isso vieram os rudimentos da linguagem. Até aquela fase de nossa existência, o humano primitivo fez uso somente de sons, porém, agora as palavras evoluíram. O ato de pronunciar palavras era uma coisa sagrada para eles. As palavras constituíam a mais elevada expressão direta do espírito e nunca eram usadas levianamente. Esses seres humanos primitivos estavam mais próximos de sua fonte espiritual do que em épocas posteriores, e, portanto, constituíam ainda uma raça espiritual. Seus sentimentos como espíritos ainda tinham efeito sobre eles.
Quando os Apóstolos ficaram cheios com o Espírito Santo, no Dia de Pentecostes, seus Corpos de Desejos haviam sido purificados e lhes foi possível falar em distintas línguas, quando davam a sua mensagem a tantos que vinham ouvi-los desde distintos países nos quais se falavam linguagens diferentes. No futuro, quando a humanidade em geral houver se purificado suficientemente, todos os seres humanos serão capazes de se entenderem uns aos outros novamente. Nesse dia a separatista Consciência de Raça haverá sido dominada e a união com o Espírito Santo será um fato e as barreiras da linguagem deixarão de existir.
Copiando do livro Mistérios Rosacruzes: “Nas Regiões inferiores do Mundo de Desejo há as mesmas diversidades de língua que na Terra, e os chamados ‘mortos’ de uma nação se veem impossibilitados de conversar com aqueles que vieram de outro país. Assim, vemos que o conhecimento de várias línguas é de grande valor para os ‘Auxiliares Invisíveis’ dos quais falaremos depois, porque sua esfera de utilidade se amplia grandemente pela sua capacidade”.
Do modo em que usamos nossas palavras, a miúde causa incompreensão, porém, nas Regiões superiores do Mundo do Desejo essa confusão de linguagem não existe. Aí nossos pensamentos tomam formas definidas que se impregnam de cores que emitem tons que não são palavras, porém, que encerram certos significados que qualquer um pode compreender.
Os sons das palavras contêm um poder maravilhoso e as palavras corretas são verdadeiras, e, portanto, liberam ao que as pronuncia. “A Verdade vos libertará”. Palavras verdadeiras nunca são obstruídas pelo tempo nem o espaço. Elas chegam aos mais distantes rincões da Terra, e quando o que as pronunciou houver falecido e se distanciado da Terra para as mais altas esferas, as palavras que ele pronunciou poderão ainda ser ouvidas e inclinam as multidões pelo poder de sua força moral. De certa forma os Apóstolos estão pregando a mensagem de Cristo que ainda trazem bálsamo a este atribulado mundo.
Se nos déssemos conta do poder contido na palavra falada, então poderíamos, talvez, compreender ligeiramente a magnitude do Verbo de Deus. Quando Deus envia Seu poder na forma de som, é algo muito mais que isso, é o Fiat Criador. Quando em princípio reverberou pelo espaço e começou a criar as formas da matéria primordial, construindo mundos, se formou o nosso planeta. Quando passamos um arco de violino sobre a borda de uma placa de cristal, sustentando pó muito fino, podemos observar, em quase um minuto, sons sendo moldados em figuras geométricas.
O som do Verbo Criador ainda sustenta os corpos celestes em marcha em sua órbita e os impele para frente em sua marcha. O Verbo Criador continua produzindo formas de eficiência gradualmente crescente, expressando vida e consciência.
Quando houver sido pronunciada a última sílaba e houver ressoado a palavra completa, teremos chegado à perfeição como seres humanos. Então, será o final dos tempos, e com a última vibração da Palavra de Deus, os Mundos serão dissolvidos ao seu elemento original. Nossa vida, então, será una em Cristo com Deus, até que a Noite Cósmica – o Caos – haja terminado e despertemos de novo para fazer grandes coisas em um novo Céu e em uma nova Terra.
(Publicado na Revista “Serviço Rosacruz” maio/1981 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Aos ouvidos duros de entendimentos, Cristo cita, ainda, o caso de Elias, renascido como São João Batista: “E, se o quereis reconhecer, ele mesmo é o Elias que havia de vir. Quem tem ouvidos, ouça” (Mt 11:14-15)
Ou seja: Moisés renasceu como Elias e, depois, como São João Batista.
Cabe lembrar que São João Batista, Zacarias, Maria, José e alguns dos Apóstolos eram Essênios.
São João Batista, veio para preparar os caminhos do Senhor Cristo. Cristo mesmo dá testemunho chamando-o de muito mais que profeta (Mt 11:9). Portanto, ser muito mais que profeta, é estar acima da humanidade e, também, daqueles que anteriormente foram chamados para suas respectivas missões como profetas. Pela sua boca falava o Espírito Santo, assim como sucedeu a todos os profetas surgidos até então.
Notemos que São João Batista não pregou filosofias ou doutrinas. Sua mensagem era o arrependimento dos pecados cometidos. Era um meio de preparar as pessoas para o Cristianismo. Sabia que o Cristo ofereceria a Graça, o Perdão dos Pecados, mas isto depende da transformação da consciência de cada um. Arrependimento é uma mudança da Mente e do Coração em relação ao ato pecaminoso. Porém, o remorso exagerado é nocivo, debilitando as correntes do Corpo de Desejos e afetando as glândulas endócrinas. Vemos, então, como tudo depende de um processo interno.
Se quiser saber mais sobre esse assunto é só clicar aqui: O Batismo de São João Batista e o de Cristo Jesus