Arquivo de categoria Esquema, Caminho e Obra da Evolução

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Senda: o Caminho Estreito e Direto para o seu Desenvolvimento Espiritual Rosacruz

Solitário, cego e nu. Eis o início da longa jornada. Aquele que tanto buscou, passo a passo, a Senda, com suas carnes sangrando pelas pedras e espinheiros do caminho estreito e tortuoso, vê-se de repente no umbral da vida, sem paralelos, sem apoio. No princípio tudo lhe parece vazio e aterrador, mas, já não pode voltar atrás. Tem que avançar mais, sempre mais, já se ouviu a ordem: “Queimem os barcos”[1]. Agora terá de enveredar-se pela Senda afora ou estagnar-se, o que significa morte. Cristo não chama à Senda qualquer um, pois somente às ovelhas sedentas de Verdade e de Vida é que se lhes abrem as portas gigantescas do infinito saber. O Discípulo terá que, sozinho, compreender e lutar no silêncio, sem apoio e sem voz alguma que o oriente e console, até atingir a meta: a morada do Mestre – Cristo –, que o conduzirá pela estrada de ouro do saber, até à Iniciação.

Antes, porém, terá o Discípulo de aprender a guiar seus próprios passos, cuidadosamente, para não cair. Terá de aprender a ouvir, ver, ousar e calar, seguindo apenas a voz do silêncio eterno. Não adiantará perguntar, pois não obterá resposta. Apenas com seu humano saber e sua inteligência escolherá os próprios caminhos. Enfrentará tempestades em mares bravios e lutará em batalhas gigantescas, terrificantes, no mais profundo abandono, até que se apontem os primeiros raios do Sol nascente, rompendo as trevas noturnas da humana ignorância. Então, uma voz potente como as águas dos mares da Terra, lhe dirá: “Vinde, benditos de meu Pai.” (Mt 25:34). E será então chamado de “o Liberto”!

(Publicado na Revista Rosacruz – outubro/1969-Fraternidade Rosacruz-SP)


[1] N.T.: Há vários exemplos na história, de comandantes valorosos que fizeram a mesma coisa. Dizem que os Vikings faziam o mesmo – ao chegar num porto para invadir um território e conquistá-lo – queimavam seus navios para impedir qualquer possibilidade de recuo. “Queimar as Naus” significa, pois, vencer ou vencer! Outro exemplo foi o do conquistador espanhol Hernán Cortez e foi utilizada de maneira motivacional. Conta-se que ao chegar em terras mexicanas e notar apreensão e medo em seus soldados, Cortez, para impedir que seus soldados fugissem acovardados, ateou fogo aos navios. Não havia modo de voltar atrás. Ou venciam ou morriam. Também dizem que César mandou queimar os navios e os remos, quando chegaram na Inglaterra, para ninguém fazer corpo mole diante do inimigo. Sem alternativas para voltar para casa, eles tinham que vencer ou vencer.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Voltar Atrás

Uma das coisas mais prejudiciais ao processo de transmutação interna que o Estudante Rosacruz deve realizar mediante um trabalho árduo e sistemático, é o ato de voltar atrás. Quando já conseguiu atingir determinado ponto na escalada de ascensão no Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz e, subitamente, por algum motivo que bem pode ocultar uma prova necessária, decide retroceder, abandonando um hábito novo positivo, voltando a retomar hábitos antigos, já superados anteriormente, fará estremecer as bases de sua conquista interna. Se já chegou a atingir certo nível de progresso anímico, é porque estava capacitado para tanto, e não se justifica mais que retraia todo aquele esforço.

Cristo diz na Bíblia que quem tropeçar num só ponto, cairá por inteiro. Daí se depreende que, quando já conseguimos superar, em alta escala, duas ou três, ou mais de nossas fraquezas, em parte ou totalmente, e de repente falhamos em uma delas apenas, todas as outras conquistas se sentirão abaladas, tenham ou não ligação entre si. Então pode acontecer que comecemos a sentir novamente impulsos recônditos de voltar — não só àquele – como a muitos outros erros ultrapassados. A besta inferior – o irmão burro de São Francisco de Assis – adormecida, começa a despertar e a comprometer todas as demais intenções superiores.

De modo contrário, em outra passagem da Bíblia, Cristo afirma que “um pouco de fermento faz toda a massa levedar”. Significa que um pequeno esforço para o bem vai mexer com todo o sistema interno de conquista, deslocando um pouco mais para a frente e para cima, as pedras interligadas do mosaico interno que estamos construindo. Daí a necessidade que se impõe de mantermos firmes os nossos propósitos, tomando decisões que sabemos estar em condições de poder enfrentar e sustentar. Verdade que ninguém está livre de levar quedas, e muitas, durante a escalada. Mas, o importante é saber tirar partido dessas quedas, mantendo-nos firmes na luta, para não deixar que se repitam. Max Heindel mesmo afirmou “o único fracasso é deixar de lutar”. E esse lutar, é lutar mesmo, sem esmorecimento, porque os retornos e as paradas são válidos até certo ponto, como resultado do nosso processo interno de esmerilhamento. Mas, uma vez estabelecida a conquista, voltar atrás é negar a si mesmo o próprio esforço já realizado.

Como exemplo do que foi dito acima, temos o caso de um homem que deixou por várias vezes o hábito de fumar, cada vez por um tempo maior, até que decidiu peremptoriamente não voltar a fumar. Assim se manteve durante muito tempo, aceitando o fato já como conquista interna positivada, quando de repente, não resistindo a uma grande decepção — que pode aparecer sempre como tentação, para confirmar a nossa certeza — retomou o velho hábito e de forma intensa, como se quisesse desforrar-se do tempo que passara sem fumar. Não tardou muito, começou a ficar rouco e acabou constatando a existência de um câncer na garganta.

É assim que funciona o processo quando não sabemos ou não temos força de assumir e conservar responsabilidades novas, adquiridas com sacrifício; quando não sabemos manter vivo o esforço dirigido; quando, subitamente, abandonamos uma longa linha de ação, apesar de termos revelado a nós mesmos certas aptidões para chegar a determinado progresso, o desequilíbrio que resulta de tudo isso vai obrigar a natureza a repor as coisas em seus lugares, mediante o sofrimento. E até nas pequenas coisas, isso pode acontecer. Basta que tenhamos assumido determinado compromisso conosco mesmos. O fato mesmo de dizermos “amanhã faço tal coisa” ou “amanhã vou a tal lugar”, na firme intenção de fazer o que nos propomos e, no dia seguinte, modificarmos os planos unicamente porque se perdeu a vontade de cumpri-los, sem motivo sério que justifique a retração, até isso nos fará dar um passo atrás no cultivo das forças conquistadas. E temos a notar também que esse prejuízo vai refletir-se fora do nosso plano interno de ação. Isso porque tudo o que fazemos, tanto de bem como de mal, por pequeno que seja, vai sempre influir na totalidade de nossa vida, e em tudo o que nos cerca e do qual fazemos parte: nosso lar, nossos familiares, nossos amigos, nosso relacionamento de todo o dia. Até nossa conduta poderá sofrer certas alterações desagradáveis, muitas vezes contra nossa própria vontade.

Por isso é sempre bom mantermo-nos alertas diante de qualquer tropeço, procurando corrigir de imediato qualquer falha. Ali pode estar a chave de uma experiência importante que nos abrirá as portas para um caminho mais amplo e mais seguro. Conservando-nos positivos, em qualquer circunstância, garantiremos o bom êxito final de todos os nossos esforços e das nossas conquistas.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de agosto/1974-Fraternidade Rosacruz-SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Cristo: Sua Trajetória e Sua Missão para nos salvar

Há milhões de anos atrás, um grandioso Ser solar que havia cumprido as Leis da sua esfera de ação com a máxima perfeição, tornou-se o Iniciado mais elevado da Onda de Vida dos Arcanjos. Esse Ser, chamado o Cristo Cósmico, funciona, normalmente, num veículo feito de substância do Mundo do Espírito de Vida, Mundo esse onde cessa toda a separatividade. Seu trabalho também se harmoniza e se relaciona com outros dois Grandes Elevados Iniciados de outras Ondas de Vida que também colabora com Deus na evolução criadora do Sistema Solar no Mundo de Deus.

No início da nossa jornada no Período de Saturno (o primeiro Período de um total de sete, que compõe o nosso atual Esquema da Evolução) foi fornecido o Átomo-semente do Corpo Denso, a nós, os Espíritos Virginais da Onda de Vida humana. Nessa jornada ou Esquema de Evolução, depois desse Período, passamos pelos Períodos Solar e Lunar e chegando ao início do Período Terrestre (o quarto Período). Lembramos, aqui, que cada Período é composto de 7 Globos e de 7 Revoluções em torno desses Globos de densidades diferentes. Nesse momento, nosso Campo de Evolução ainda estava no Sol. Com o tempo, verificou-se que o desenvolvimento desses Espíritos Virginais da Onda de Vida humana não acompanhava, com a mesma rapidez, os demais, atrasando a evolução do conjunto todo. Assim, os Planetas: Urano, Saturno, Júpiter, Terra, Marte, Vênus e Mercúrio foram expelidos do Sol, um a um, de forma a servirem de campo de atividades e evolução dos Espíritos Virginais em seus diferentes estados de desenvolvimento; cada um a distância exata necessária e com o tamanho e composições ideais para ser o melhor Campo de Evolução para cada grupo de Espíritos Virginais. Assim é que se formou o nosso Planeta, a Terra, separada do Sol, Campo de Evolução da nossa Onda de Vida humana.

A um certo tempo de evolução, já aqui no Planeta Terra, passamos a ser guiados e orientados pela terceira manifestação da Divindade ou o terceiro aspecto de Deus, nosso criador – o Espírito Santo, Jeová, o Iniciado mais avançado da Onda de Vida Angélica. É dele a autoria de todas as Religiões de Raça que serviu (e ainda serve, em algumas circunstâncias específicas) para nos conduzir a humanidade do Período Terrestre. Esse auxílio, prestado a toda humanidade nesta fase de desenvolvimento, teve a participação ativa de hostes de Arcanjos (como Espíritos de Raça) e Anjos (como Mensageiros e Anjos da Guarda) e foi prestado a partir de fora da Terra. Ou seja, foi necessário que as orientações para as nossas atividades na Região Química do Mundo Físico nessa época fossem dirigidas através de fontes exteriores.

Quando chegamos à metade quarta Revolução desse Período Terrestre, houve a necessidade de haver mais segmentações no nosso Campo de Evolução, a fim de facilitar a aprendizagem das lições que estavam reservadas para nós. Essas segmentações são chamadas de Épocas. Durante a Época Lemúrica e Atlante (a terceira e quarta das 7 Épocas, respectivamente) foi acrescentado um novo veículo em nossa evolução: a Mente. Também, foi na Época Atlante que surgiram, para nós, os seres atrasados da Onda de Vida dos Anjos, chamados Espíritos Lucíferos (ou Anjos Lucíferos ou, ainda, Anjos caídos). Eram atrasados porque não conseguiam evoluir no Esquema de Evolução dos Anjos sem a necessidade de um cérebro – tal como os Anjos que nunca precisaram de um – mas também não conseguiam construir um, já que, originalmente, os Anjos não necessitam. Naquela Época a nossa consciência ainda estava ligada aos planos superiores (ou seja: não estamos com a nossa consciência de vigília, focada na Região Química do Mundo Físico, como temos hoje). Os Espíritos Lucíferos sugeriram para nós que o cérebro era uma estrutura física, capaz de auxiliar-nos a entender como criar outros Corpos Densos, aqui nesse Mundo Físico, sem se sujeitar a direção de Jeová e dos Anjos (que era como era feito até então) e, assim, seríamos dono de nós mesmos e conheceríamos o bem e o mal.

Consequentemente, a grande maioria de nós (e não todos!) aceitou a sugestão e passou a viver dessa maneira: usando e abusando da força sexual criadora. Logo, derivando para ambições egoístas, aprendendo a mentir, a praticar a astúcia desenfreadamente, a desenvolver a vontade do “eu inferior”, a se revoltar contra os preceitos de Jeová. Sob a Lei de Consequência (ou Lei de Causa e Efeito) tivemos castigos severos por desobediência a essa Lei. Fomos divididos em Raças e essas em nações. A fim de entender que o “caminho do transgressor é sofrido” e nos dar a oportunidade da escolha, sempre que preciso, uma Raça era utilizada para guerrear contra outra: uma que obedecia aos preceitos do seu Senhor (Jeová) contra outra que insistia em não obedecer. E o objetivo aqui era que cada um controlasse o seu Corpo de Desejos.

Como quando o Átomo-semente da Mente foi dado a nós, estávamos acostumados a caminhar somente pelo desejo inferior (satisfazendo-o a qualquer custo e preço), então associamos a Mente juvenil um instrumento da natureza de desejos. Conclusão: facilmente a Mente se tornou um meio de justificar e arquitetar pensamentos que evidenciasse o nosso “eu inferior” (a Personalidade) e deixou de servir o “Eu Superior” (a Individualidade). Renascimentos e renascimentos aqui praticando o abuso da força sexual criadora, por meio de ondas de paixões, desejos inferiores, sensualidades, astúcias e mentiras nos assolou e criamos dívidas e mais dívidas de Destino Maduro (aquele que só há uma maneira de pagar: expiando). Até que a cristalização do nosso Corpo Denso (e a incapacidade do nosso Corpo Vital em vivificá-lo) se tornou de tal grau que quase não era possível evoluir nele; assim como a própria Terra – o nosso Campo de Evolução – foi-se cristalizando em grande intensidade até que surgiu o perigo de que toda a nossa evolução humana poderia chegar a um grau tão alto de cristalização que poderia surgir à segunda Lua da Terra!

Para evitar esta calamidade foi necessário um novo nível de ajuda espiritual que viesse até nós. Cristo, o Espírito do Sol, era o único que poderia nos ajudar, porque ele trabalha e domina totalmente a substância do Mundo do Espírito de Vida, o primeiro Mundo debaixo para cima onde cessa toda a separatividade, onde a fraternidade é um cotidiano, a partir do amor ágape – o amor verdadeiramente desinteressado e focado na divina essência do ser a que amamos. E isso foi feito por meio de um grande sacrifício cósmico. Ele, como qualquer outro Arcanjo, só conseguia construir, como veículo mais inferior, o Corpo de Desejos. Mas Ele precisava estar entre nós (viver o nosso dia a dia, para mostrar como a partir do nosso interior poderíamos sair dessa situação que nós mesmos nos colocamos), para sentir a dificuldade que estávamos sentindo e, assim, nos prescrever exatamente o que devíamos fazer para sair desse estágio perigoso. Assim, precisava se adaptar à existência material. Para isto teve que recorrer aos Corpos Vital e Denso de um ser humano. O mais indicado, pelo seu grau de evolução, foi o ser humano de Jesus. Ele cedeu, voluntariamente nesse renascimento, o seu Corpo Denso e o seu Corpo Vital à Cristo.

O Corpo Denso e o Corpo Vital de Jesus foram aperfeiçoados e sutilizados em sua juventude e até aos 30 anos de idade pelos Essênios, de forma a sintonizarem-se com as vibrações elevadíssimas para que mais tarde esses veículos pudessem ser cedidos por Jesus, no Batismo, a Cristo, quando as ligações entre o Corpo de Desejos de Cristo e os Corpos Denso e Vital de Jesus foram feitas. Esse foi o Seu primeiro passo do sacrifício cósmico: entrar nesses veículos (Vital e Denso). A dualidade deste maravilhoso “Ser” conhecido por Cristo-Jesus tornou-se única entre todos os Seres dos sete Mundos que compõe o universo. Só Ele possui os doze veículos que unem diretamente o ser humano no Corpo Denso a Deus. Ninguém melhor do que Ele podia compreender, com maior compaixão, a nossa posição e as nossas necessidades e nos trazer alívio total.

Nos três anos de seu ministério, Cristo-Jesus ensinou a verdadeira Religião Cristã Esotérica: a unificação futura de todos nós. O amor impessoal, focado na divina essência de um ser, e a Fraternidade Universal são os dois grandes mandamentos de Amor que constituem o alicerce imediatamente necessário à nossa evolução espiritual.

A Crucificação ocorreu no momento em que Cristo-Jesus deu o passo final e se tornou o Espírito Planetário da Terra. O sangue que jorrou da coroa de espinhos e dos ferimentos do seu Corpo Denso penetrou no Planeta Terra libertando Cristo dos veículos de Jesus e tornando-O o Espírito Interno da Terra. Nesse instante a Terra foi permeada com o Seu Corpo de Desejos que lavou os pecados do mundo, não do indivíduo. Assim, purificou o Corpo de Desejos que estava contaminado da Terra – o Mundo do Desejo –, libertando-a das influências negativas, inferiores e cristalizantes que se haviam acumulado e sendo tão nefastas para a humanidade. A partir deste momento, todos nós, com vontade e esforço, temos condições de purificar os nossos veículos e acelerar o nosso desenvolvimento espiritual – se quisermos –, pois foi possível o acesso a esta substância espiritual pura.

Devido a este extraordinário sacrifício, Cristo agora vive parte do ano limitado e oprimido na nossa Terra, aguardando o Dia de Sua Libertação. Esse tempo é marcado pelo Equinócio de Setembro quando Cristo toca a atmosfera da Terra e termina no Equinócio de Março, que marca o fim do trabalho na Terra voltando ao seio do Pai, para preparar o seu retorno no próximo ano.

Cristo sente todo ódio, raiva, egoísmo, astúcia, discórdia e todos os outros desejos, sentimentos e outras emoções, tomando os materiais das Regiões inferiores do Mundo do Desejo, que nós geramos todos os dias. Mas, Ele recebe também uma extraordinária ajuda dos Irmãos Maiores que trabalha, diariamente, para transmutar todo o mal em forma de pensamentos, sentimentos, palavras, atos, obras e ações em fatores positivos através de Sua força de vida. Mesmo sabendo que a maioria de nós não está ciente deste trabalho, nós como Estudantes Rosacruzes devemos procurar não expressar estes desejos, sentimentos e outras emoções, tomando os materiais das Regiões inferiores do Mundo do Desejo. Se não o fizermos aliviaremos o sofrimento do nosso Salvador Cristo e apressaremos a Sua libertação.

A nossa dívida com o Cristo é imensa, e se quisermos começar a saldá-la, mesmo que muito modestamente, comecemos a praticar na nossa vida diária o serviço amoroso e desinteressado, servindo a divina essência do irmão e da irmã que vive ao nosso lado, no nosso cotidiano, seja quem for. Assim teceremos o Corpo-Alma, o veículo que encontraremos com Ele na Sua segunda vinda e nos possibilitará dar o próximo passo para frente e para cima nesse Esquema de Evolução. A decisão é nossa!

“Que as rosas floresçam em vossa cruz”

 

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Nossa Jornada Cíclica

Há corpos celestes e corpos terrestres, mas certamente uma é a glória dos celestes e outra, a dos terrestres. Uma é a claridade do Sol e outra é a claridade das estrelas, porque até uma estrela difere em claridade de outra estrela.”

(I Cor 15:40-41)

Toda pessoa dada à meditação uma vez ou outra há de ter considerado a imensidade do tempo e, talvez, chegado a mesma conclusão que Walt Whitman em seu trabalho “Canção de mim mesmo” no Poema 20 onde ele detalha sobre a amplitude do tempo[1]. Comparando o tempo com nossa curta estadia sobre a Terra, compreendemos que nossa existência aqui dura só um momento ínfimo, um relâmpago de consciência.

A evolução é um fato na natureza e aponta para um plano, uma meta que pode ser alcançada com o tempo. Permite-nos chegar à conclusão de que seremos capazes de alcançar a perfeição por meio da experiência. “Em qualquer parte na natureza encontra-se esse lento e persistente esforço pela perfeição.”

Sabemos, por intuição, que para o ser humano existe algo mais do que este curto lapso de existência no meio físico. Continuando a viver esta nossa vida diária descobrimos que o tempo segue sua marcha inexorável, quer nos interessemos por ele ou não, e que a morte é o fim de cada existência, de cada ser que vive sobre a Terra. Essa conclusão nos faz formular as seguintes perguntas, formal e meditativamente: de onde viemos? Por que estamos aqui? Para onde vamos?

Sabemos que nascemos em um Corpo Denso e pequenino, mas possuindo abundantes qualidades. Sabemos que esse Corpo cresce até alcançar a estatura de adulto e que realmente nos serve bem. Depois de funcionar durante uma vida ele se torna menos flexível e não executa nossas ordens tão prontamente como antes. Finalmente, em meio a todas as incertezas que esta vida nos oferece, há só uma certeza: que algum dia nossa jornada terminará.

Com a ajuda da lógica e da intuição, da analogia e da fé, chegamos à conclusão de que a morte não põe fim à nossa existência. Há dentro de nós algo indicando que todos os sonhos e todos os nossos planos não terão fim quando terminar nossa existência física. Se o ser humano não possuísse mais do que o Corpo Denso, seria impossível manifestar algo mais do que as substâncias químicas que constituem a sua forma. O denso Mundo Físico é feito de cristais inertes, porém o pensamento e o sentimento do ser humano penetram em reinos superiores. Devemos realmente compreender que são necessários outros e mais sutis veículos para suas múltiplas experiências no plano terrestre.

Agora se impõe a seguinte pergunta básica e devemos encontrar a sua resposta. Descobrimos que o que chamamos de morte é uma mudança da consciência de um plano de existência a outro.

Há leis cósmicas e imutáveis que não são menos importantes para a nossa vida espiritual e mental do que a lei da gravidade é para a nossa existência física.

Descobrimos que a matéria e a energia nunca estão em estado de repouso, mas perpetuamente estão mudando de um estado de visibilidade a um estado de invisibilidade e vice-versa. Sondando o enigma da nossa existência temos de tomar em consideração esse fato. Temos que admitir que “vivemos em um Mundo de efeitos que é o resultado de causas invisíveis”.

Não podemos perceber as forças que moldam a matéria e a forma, as quais são invisíveis aos nossos sentidos. Reconhecemo-las por suas manifestações. A eletricidade, para mencionar uma delas, chegou a ser o servidor mais valioso do ser humano, depois dele compreender as leis que a regem. Com a ajuda da câmera fotográfica, do microscópio e dos Raios-X, estamos começando a olhar o interior, os, até agora, invisíveis processos da natureza. Porém, até que o ser humano obtenha um sentido inteiramente novo, será incapaz de resolver o problema dos reinos invisíveis, completamente.

É lógico concluir que os “mortos” se encontram agora em Mundos invisíveis para nós. Porém há alguns que, tendo conhecimento direto e definido, percebem esse plano por meio de um sexto sentido. Não existe algo de sobrenatural nisso, mas como é “suprafísico” deve despertar-se e se desenvolver.

As palavras de Cristo, “Procurai e encontrareis“, foram particularmente aplicadas às qualidades espirituais e dirigidas a “qualquer um que as deseje”. Não existe alguém que impeça e, sim, muitos que desejam ajudar o investigador sincero que está à procura do conhecimento.

O desenvolvimento desse conhecimento começa com “o melhoramento de si mesmos”.

Os Mundos invisíveis estão divididos em diferentes reinos, porém essa divisão não é arbitrária, mas necessária, porque cada plano é regido por leis diferentes. Como cada Mundo está composto de matérias diferentes, o ser humano deve ter um veículo feito da mesma substância com o objetivo de poder funcionar naquele Mundo. Como foi escrito pelo Apóstolo São Paulo na sua Epístola aos Coríntios, “Como trazemos em nós a imagem do ser humano terrestre, devemos também trazer a imagem do celeste”.

No estado de vigília, todos os veículos do ser humano são concêntricos com o Corpo Denso, quando o pensamento, o sentimento e a ação estão funcionando. Mas, quando o Corpo se cansa e esgota, esses veículos mais elevados saem do Corpo Denso. Isso causa a inconsciência, sobrevindo o sono. Assim, esse veículo denso pode ser restaurado, tornando-se de novo útil e eficiente.

O ser humano é uma parte da natureza e, também, é uma miniatura dela. A vida do nosso Planeta reflete-se em menor escala na vida humana. O Grande Ser que habita nosso Planeta é um dos Sete Espíritos diante do Trono. O ser humano também é um Espírito e foi feito à semelhança de Deus.

A fonte dos Planetas é o pai Sol e eles giram em torno dele em ciclos elípticos. O espírito humano dá voltas ao redor de sua fonte, Deus, também em órbita elíptica.

O ser humano está mais perto de Deus quando sua esfera o leva para próximo de sua fonte. E está mais distante enquanto vive sua vida aqui na Terra, em seu Corpo Denso. Todos nós sentimos em algum momento a saudade das regiões celestiais.

Essas posições cambiantes são necessárias para que o ser humano possa adquirir experiências variadas e realizar-se como um ser humano completo. No presente, o ser humano não pode permanecer perpetuamente no Céu, nem um Planeta pode parar e permanecer imóvel.

Cada existência terrestre é um capítulo da história da vida, extremamente humilde no começo, porém aumentando em importância à medida que nos elevamos a posições mais e mais altas de responsabilidade humana.

Nenhum limite é concebível, porque em essência somos divinos e, portanto, devemos ter as infinitas possibilidades de Deus. O poder para desenvolver essas potencialidades internas está dentro de nós. E o trazemos conosco em cada nascimento.

Na presente circunstância, a morte é uma necessidade. Novos nascimentos em novos ambientes fornecem ao ser humano outras oportunidades de aprender todas as lições que ele possa desejar aprender durante um dia na escola da vida.

Temos de compreender que a continuidade da vida é um fato fundamental, se desejamos estudar a existência do ser humano aqui e no Além. O renascimento, assim como a Lei da Causa e Efeito, torna possível que o ser humano desenvolva todos os seus poderes latentes na amplitude do tempo.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de abril/1974-Fraternidade Rosacruz-SP)


[1] N.T.: poema 20 da obra Canção de Mim Mesmo (Song for Myself):

Quem vai ali? Cheio de realizações, tosco místico, nu;

Como extraio energia da carne que consumo?

O que é um homem afinal? O que sou eu? O que és tu?

Tudo o que marco como sendo meu tu deves compensar

com o que é teu.

De outro modo seria perda de tempo me ouvir.

Não lanço a lamúria da minha lamúria pelo mundo inteiro,

De que os meses são vazios e o chão é lamaçal e sujeira.

Choradeira e servilismo são encontrados junto com os

remédios para inválidos, a conformidade polariza-se

no ordinário mais remoto.

Uso meu chapéu como bem entender dentro ou fora de casa.

Por que eu deveria orar? Por que deveria venerar e ser

cerimonioso?

Tendo inquirido todas as camadas, analisado as minúcias,

consultado os doutores e calculado com perícia,

Não encontro gordura mais doce do que aquela que

se prende aos meus próprios ossos.

Em todas as pessoas enxergo a mim mesmo, em nenhuma

vejo mais do que eu sou, ou um grão de cevada a menos.

E o bem e o mal que falo de mim mesmo eu falo delas.

Sei que sou sólido e sadio.

Para mim os objetos convergentes do universo

perpetuamente fluem,

Todos são escritos para mim, e eu devo entender o que a

escrita significa.

Sei que sou imortal,

Sei que a órbita do meu eu não pode ser varrida pelo

compasso de um carpinteiro,

Sei que não passarei como os círculos luminosos que as crianças

fazem à noite, com gravetos em brasa.

Sei que sou augusto.

Não perturbo meu próprio espírito para que se defenda ou

seja compreendido,

Vejo que as leis elementares nunca pedem desculpas,

(Reconheço que me comporto com um orgulho tão alto

quanto o do nível com que assento a minha casa, afinal).

Existo como sou, isso me basta,

Se ninguém mais no mundo está ciente, fico satisfeito.

E se cada um e todos estiverem cientes, satisfeito fico.

Um mundo está ciente e esse é incomparavelmente o maior

de todos para mim, e esse mundo sou eu mesmo,

E se venho para o que é meu, ainda hoje ou dentro de

dez mil anos, ou dez milhões de anos,

Posso alegremente recebê-lo agora, ou esperá-lo com

alegria igual.

Meus pés estão espigados e encaixados no granito,

Debocho daquilo que chamas de dissolução,

E conheço a amplitude do tempo.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Seu Crescimento Espiritual na Fraternidade Rosacruz

Quanto mais estudamos a vida, seu propósito, origem e destino, mais compreendemos a verdade contida na antiga máxima de que “a Analogia é a chave dos Mistérios”. Outra expressão dessa grande verdade é “a Analogia é a Mestra da Natureza”. Um dos maiores instrutores espirituais expressa o seu pensamento no agora famoso axioma: “assim como é em cima, é embaixo”. Essa “fórmula para a sabedoria” nos ensina que existe um princípio unificante que sustenta toda a vida; isto é, o modelo divino, porque toda a vida manifesta repete a si mesma em todos os Planos. A repetição do modelo é evidente em cada um dos departamentos da Natureza. Desde o átomo até os Sistemas Solares e ainda nas gigantescas constelações do espaço encontramos leis e princípios análogos que governam a vida e a forma.

A compreensão dessa simplicidade ou uniformidade no desenho do Supremo Arquiteto para o Cosmos pode ser de grande benefício prático para nós, em nossa busca de conhecimento. Por exemplo, com frequência nos perguntam: em que constitui realmente o crescimento espiritual? Nossa resposta é que o crescimento espiritual é semelhante ou análogo ao crescimento físico. As plantas e os animais crescem pela adição de substância física aos seus corpos, células novas. O crescimento espiritual também é um assunto de acréscimo, de adição de substâncias. Na maioria de nós, os veículos superiores carecem de forma e densidade. São demasiado tênues e inorganizados para servir de instrumentos apropriados para a expressão consciente nos Planos internos. Bastante extraordinário é o nosso Corpo Denso, nosso veículo mais denso que está mais bem organizado e quase totalmente evoluído. Esse Corpo Denso é o nosso veículo mais antigo e mais bem coordenado; consequentemente, somos mais versáteis e eficientes nos trabalhos físicos do que nas atividades que se relacionam com as Regiões superiores nos Mundos suprafísicos. Temos, por exemplo, muitíssimo mais domínio sobre nosso veículo físico do que sobre o nosso Corpo de Desejos ou sobre a nossa Mente. O equilíbrio, a paz e o desenvolvimento cultural que anelamos são, em verdade, qualidades espirituais e essas nós só podemos adquirir por meio do crescimento — real aumento de densidade — do nosso Corpo de Desejos ou da nossa Mente.

A expansão da consciência também acontece em proporção à estatura de nossos veículos internos, pois os tênues e inorganizados Corpo de Desejos e a Mente dos nossos irmãos e irmãs que habitam Corpos primitivos são inteiramente inúteis como instrumentos de consciência nos elevados Planos espirituais.

Nossa literatura Rosacruz nos recorda várias vezes a necessidade de desenvolver o Corpo-Alma, o Dourado Manto Nupcial. Ela diz que a construção desse instrumento (o Templo) é um requisito para todo desenvolvimento espiritual; que primeiro devemos ter um veículo bem construído com os materiais de determinado plano antes de, conscientemente, podermos funcionar e fazer trabalho construtivo em tal plano. Em uma próxima Era, teremos que prestar nossa atenção consciente à construção do nosso Corpo de Desejos e da nossa Mente, assim como agora nos esforçamos para construir o Corpo-Alma, corpo que se constrói com os materiais da Região Etérica do Mundo Físico, a Nova Jerusalém, a qual será o seguinte passo da nossa expressão.

Desse modo veremos a Lei de Analogia manifestando-se. Como o crescimento espiritual é semelhante ao crescimento físico, envolve um acréscimo de substância. A repetição também é um fator nesse processo, porque é por meio dela que os materiais adquiridos novamente se organizam para funções específicas.

Alguns Estudantes Rosacruzes têm perguntado: “Qual é a relação existente entre essa mera adição de substâncias espirituais e as virtudes ou, assim chamadas, qualidades espirituais, que notamos em alguns homens e mulheres?”.

Foi-nos ensinado precisamente que o Primeiro Céu, que se situa nas três Regiões superiores do Mundo do Desejo, é um lugar de paz, amor e harmonia. A beleza ali cobre o lado oposto como um manto; a unidade de toda a vida é evidente a todos que conscientemente funcionam nesse plano. Por conseguinte, quando desenvolvemos nossos veículos superiores até certo grau, ou densidade, chegamos a ser mais ou menos conscientes dessa beleza e harmonia e tendemos a expressar essas qualidades em qualquer coisa que façamos. Por exemplo, suponhamos uma mulher que é amada por todos pela sua afabilidade e encantos. Se diz que é — e de fato o é — muito espiritual. Embora ela não perceba o amor e a beleza dos Mundos celestes, sem dúvida devido ao seu altamente desenvolvido e bem-organizado Corpo-Alma, sente essas harmonias celestiais ao ponto de não poder evitar de expressá-las, sendo bondosa e considerada por todos. Ela sente a unidade de toda a vida tão intensamente que não tem outro desejo a não ser fazer o bem, servir e ajudar a todos os demais de todas as formas que lhe for possível.

Vemos então que as qualidades espirituais que admiramos nos outros e que temos a esperança de adquirir algum dia estão baseadas no volume e organização dos nossos veículos superiores. Dizem que os grandes Iniciados têm “em verdade auras imensas”.

O termo Corpo-Alma como se usa em nossa terminologia Rosacruz refere-se a esse veículo interno que é construído com os Éteres superiores (o Éter Luminoso e o Éter Refletor). Na vindoura Época Nova Galileia funcionaremos conscientemente nesse veículo, assim como atualmente encontramos expressão por meio do Corpo Denso. Naturalmente, devemos nos lembrar de que, enquanto esse Corpo é construído com substância etérica, sem dúvida em nosso presente estado serve como veículo de consciência no Mundo do Desejo também, justamente como nossos Corpos Densos, por meio do cérebro e do coração, atuam agora como uma base para a expressão do pensamento e do sentimento no plano físico.

Agora se faz evidente que os caminhos e meios para acrescentar volume ao Corpo-Alma devem ser encontrados, se queremos progredir espiritualmente. Sem dúvida, não temos que investigar muito. Nós, de fato, sempre soubemos o processo. Em todas as Épocas, líderes religiosos têm ensinado a necessidade de viver vidas de serviço, trabalhando sem egoísmo, para a família, tribo ou raça. Eles nem sempre explicaram como “dando aos outros” aumenta-se a estatura espiritual de uma pessoa e, sem dúvida, sempre afirmaram que “nossas únicas posses permanentes são as que damos aos demais”. Esse dar é, pois, a chave para todo o progresso espiritual. Nossa Filosofia Rosacruz acentua a advertência bíblica que diz: “O serviço amoroso e desinteressado aos demais é o caminho mais curto, mais seguro e mais agradável que conduz a Deus”.

Os Estudantes Rosacruzes algumas vezes perguntam: “Uma vez que podemos aumentar muito nossos poderes mentais e físicos sem levar em conta considerações éticas, porque o Aspirante à vida superior deve ser bondoso, amoroso, generoso e amar a fim de desenvolver os poderes do espírito?”. Uma resposta parcial foi dada anteriormente, quando dissemos: “Só o que damos aos outros é, em verdade, nosso”. Uma explicação mais ampla pode ser dada pelo uso da “analogia”. Por exemplo, uma lei física estabelece que “ação e reação são opostas e iguais”. Porém, para ser mais explícitos digamos que há um jovem que descobriu que sua força física é totalmente inadequada. Necessita músculos mais fortes. Assim, ele sabiamente busca o auxílio de um treinador físico. Tomou parte em um curso progressivo de exercícios físicos de natureza vigorosa. Uma vez que deseja intensamente possuir mais força, persiste em seus treinamentos até que realmente consegue ter êxito no desenvolvimento de músculos consideravelmente maiores e mais fortes. No decorrer do seu treinamento, sem dúvida aprendeu um fato importante; a saber, que não desenvolveu “músculos” durante seu período de exercícios. Na verdade, destruiu tecidos musculares a um grau mais rápido, enquanto duraram os exercícios. Foi durante os períodos de descanso ou nos intervalos dos exercícios que o real desenvolvimento ocorreu. Seu treinador lhe explicou que, pela demanda que fez sobre os músculos, o esforço intenso e requerido para executar os vários exercícios, a natureza, por assim dizer, veio em seu auxílio e construiu tecidos maiores e mais fortes em um esforço para diminuir a tensão extraordinária e a violência exigidas do corpo. Assim, nosso atleta aspirante aprendeu que somente se tornou forte dando sua força e energia para poder construir músculos maiores e mais fortes.

Assim sucede também nos assuntos do Espírito. Isso é a substância de todos os ensinamentos religiosos. Devemos dar sem egoísmo, se queremos chegar às alturas. Somos nós mesmos que temos de nos dar. Dar nosso amor, nosso afeto e nossas energias, porque “A dádiva sem o dador de nada serve”. No começo isso poderá talvez ser possível só como um dever, porém logo teremos de servir e nos dar propriamente pela alegria que isso proporciona. Os primeiros esforços do “construtor de músculos” foram dolorosos e exigiram grande força, porém logo conseguiu um estado em que tudo se convertia em prazer positivo, ao gastar suas energias na conquista. A felicidade, por si mesma, parece estar baseada em “dar”. Se nos falam dos “radiantes seres superiores”, “os que brilham” nos Planos superiores, pensamos neles como pessoas radiantes, felizes. Disso não temos a menor dúvida, porém deveríamos recordar que eles são radiantes porque “irradiam para fora”, constantemente permitem que brilhe a sua luz. Ao homem forte também lhe agrada exibir sua força e energia, pois como em todo departamento da vida, a reação de “dar” é de pura felicidade.

Algumas escolas de metafísica nos ensinam que no Espírito nós já somos perfeito e só temos que nos colocar em contato com esse “Eu Superior” a fim de conhecer a perfeição hoje e para sempre. Estamos de acordo que se busque sempre o conselho do “Eu Superior”, porém nos foi ensinado que somos apenas potencialmente perfeitos espiritualmente. Se o Tríplice Espírito fosse totalmente perfeito, não haveria necessidade dessa “Jornada através do Deserto”. Por meio de nossas atividades aqui, no Tríplice Corpo também extraímos ou libertamos uma “essência-energia” que se amalgama no Tríplice Espírito e, só assim, podemos nos converter de verdade em deuses, homens ou mulheres. O equilíbrio, a cultura, o encanto que todos buscamos não é o produto da perfeição física. Essas são qualidades espirituais e têm que ser buscadas por meio da conduta religiosa ou ética. Temos outro incentivo para o esforço espiritual, quando nos recordamos de que “o poder espiritual é muito maior que o poder mental, assim como este é muito maior do que o poder físico”.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de novembro de 1980-Fraternidade Rosacruz-SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Base do Cristianismo: uma Conversa na Pro-Ecclesia

Max Heindel

Quando Cristo esteve diante de Pilatos, esse Lhe fez uma pergunta que tem sido repetida por todas as eras desde que o ser humano começou a buscar conhecimento sobre o problema cósmico, a saber: “o que é a Verdade?“. A Bíblia responde à pergunta dizendo que: “Tua palavra é Verdade”. E, quando nós nos voltamos para o maravilhoso primeiro capítulo do místico Evangelho Segundo São João, lemos que “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus; e nada do que tem sido feito foi feito sem Ele, n’Ele havia a Vida”. Assim, temos um maravilhoso alimento para meditação a partir desses significados e relações de sinônimo entre as palavras Verdade, Deus e Vida.

Um grande obstáculo para a maioria dos que buscam a verdade é que eles procuram encontrar uma fé que seja entregue “de uma vez por todas”, completa e imutável. Falham em ver que a Verdade é a Palavra de Deus. A primeira sílaba do decreto criador foi proferida no início da Evolução e cada uma das suas palavras, desde então, tem soado para nossa elevação, como as palavras de uma frase que lentamente revelam o significado projetado pelo orador.

A nota-chave de todo avanço ainda está soando; enquanto toda a Palavra não tenha sido proferida, a sentença não estará completa e a Verdade não estará revelada a nós em Sua plenitude, até que nossa própria trilha de desenvolvimento espiritual nos tenha dado o poder de espírito necessário para entender a Verdade final.

Logo, vemos que a grande Palavra criadora da Verdade e da vida está reverberando no universo hoje, mantendo e sustentando tudo o que é e nos revelando a medida tão grande da Verdade quanto agora somos capazes de compreender. É dever nosso procurar entender essa Verdade divina da melhor maneira possível para que possamos vivê-la e nos encaixar no Plano Divino; também devemos manter nossas Mentes em um estado de flexibilidade para que, à medida que visões maiores e mais nobres da Verdade se desdobrem diante de nossos olhos espirituais, possamos estar preparados para assumir o novo, deixando o velho para trás, como o Náutilos mencionado por Oliver Wendell Holmes, que constrói sua pequena câmara, uma um pouco maior do que a anterior e assim por diante, até que finalmente deixe a casca superada e parta a uma nova evolução. Portanto, que esse também seja nosso o esforço:

Ó minha alma, constrói para ti mansões mais majestosas

Enquanto as estações passam ligeiramente!

Abandona o teu invólucro finalmente;

Deixa cada novo templo mais nobre que o anterior,

Com cúpula celeste com domo bem maior,

E que te libertes decidida, largando tua concha superada nos agitados mares

desta vida!

Em cumprimento a essa política divina de adequar a Verdade à nossa capacidade de compreensão, diferentes Religiões foram fornecidas à humanidade em vários momentos, cada uma adaptada àquela classe específica de pessoas que devessem crescer com ela. Para os chineses veio o Confucionismo; aos indianos foi ensinada pela primeira vez a doutrina da Trindade na Unidade: Brahma, Vishnu e Shiva — o Criador, o Preservador e o Destruidor eram aspectos de uma Deidade que a tudo incluía, análoga ao nosso próprio Pai, Filho e Espírito Santo. Depois veio o Budismo, que tem sido chamado de Religião sem Deus, porque enfatiza particularmente a responsabilidade do ser humano por suas próprias condições.

Não pergunte algo aos deuses indefesos com oração ou hino,

Nem os suborne com sangue, nem alimente com frutas ou bolos.

Dentro de vocês, a libertação deve ser buscada,

Cada homem que sua prisão faz,

Cada um tem poderes como os mais altos,

Não com deuses ao redor, acima, abaixo,

E com todas as coisas e tudo o que respira

Aja com alegria ou desgraça.

Como o Hinduísmo afirma a existência do poder divino acima do ser humano, o Budismo afirma a divindade do próprio ser humano. Também descobrimos que Moisés, o líder divino que guiou seu povo para a mesma conquista, enfatizou isso de maneira semelhante, no chamado “Cântico de Moisés”, onde chama a atenção dos hebreus para o fato de que já tinhamsido liderados pelos poderes divinos, mas depois receberam a escolha, a prerrogativa de poder moldar seu próprio destino.

Contudo, ele também lhes disse que seriam responsabilizados pelas consequências de seus atos sob as leis outorgadas por seu governante divino, mas daí em diante invisível. Gradualmente, outras Religiões evoluíram no Egito, na Pérsia, Grécia e em Roma; também os países escandinavos do Norte receberam um sistema religioso prenunciando, em grande parte, a Religião mais recente e sublime de todas; a saber, a Religião ocidental — o Cristianismo.

Acabamos de celebrar o final do drama cósmico, que se repete anualmente; sendo seu começo o nascimento místico do Cristo no Natal e a morte mística na Páscoa, o seu fim. Pouco antes do ato final do drama, a crucificação, como retratada nos Evangelhos, encontramos o Cristo participando da Última Ceia com Seus Discípulos. Afirma-se que Ele pegou o pão, partiu-o e lhes deu para comer, dizendo: “Este é o meu corpo”. Ele também pegou o “vinho” e todos beberam do sangue místico. Então veio a injunção que iremos observar particularmente: “Façam isso em memória de mim, até que Eu venha”.

Ele também afirmou isso e nesse mandamento depositou a base do Cristianismo: “Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o coração, toda a mente e ao próximo como a ti mesmo”. É fácil ir à mesa do Senhor nos domingos para comer ou beber com Ele; no entanto, e infelizmente, quão difícil é carregar Sua cruz na segunda-feira, negando a nós mesmos para servir e ajudar os outros. Agindo assim, mais do que merecemos a acusação do poeta: “a desumanidade do ser humano para com o próprio ser humano produz incontáveis lamentações”.

A pergunta “O que é o amor?” parece difícil de responder. O maravilhoso 13° capítulo da Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios nos fornece uma ideia; porém é bastante abstrata e, logo, precisamos de algo mais concreto para que possamos trabalhar e trazer a nossas vidas. Tomemos, portanto, como ilustração o amor fraterno em uma família. Nela, os filhos são dos mesmos pais e, portanto, pertencem a um relacionamento real de sangue entre irmãos. Dentro do círculo familiar podemos encontrar um excelente material para nos orientar em relação ao círculo maior da comunhão humana.

Uma das evidências mais impressionantes é que embora, às vezes, irmãos e irmãs discordem e briguem entre si, o amor ainda permanece e eles defenderão alguém da família, se ofendido, tão prontamente quanto qualquer outro também da família. Quando um é atacado, parece agir como apelo ao resto para reunir-se ao resgate e sempre fazem isso, em uma família normal. Se um membro da família comete ato vergonhoso, seus irmãos e irmãs não o publicam nem se alegram com o seu infortúnio, procurando, contudo, encobrir seu erro e achar justificativas, porque sentem uma unidade com ele.

Assim também nos sentiríamos em relação à família maior, se estivéssemos imbuídos do senso Cristão de amor. Procuraríamos desculpar os erros daqueles que chamamos de criminosos, ajudá-los, reformar e não retaliar; além disso, deveríamos sentir que sua desgraça também seja, em realidade e verdade, parcialmente nossa. Quando um de nossos compatriotas consegue um feito notável, sentimos que tenhamos o direito de desfrutar de suas honras. Apontamos com orgulho para todos os filhos notáveis ​​de nossa nação e, em nome da consistência, sentimos vergonha daqueles que falharam devido às condições da família nacional, já que somos verdadeiramente responsáveis ​​por sua queda, talvez até mais do que pelas honras daqueles que as alcançaram.

Na pequena família, quando um dos membros mostra talento, geralmente, todos se unem para lhe dar a oportunidade e a educação que os desenvolverão, pois todos são motivados pelo verdadeiro amor fraterno. Nós, da família universal, geralmente obstruímos e sufocamos os precoces sob o calcanhar da necessidade econômica de ganhar a vida. Não lhes deixamos lazer para a realização. Oh! Que possamos entender nossa responsabilidade universal e procurar, por meio de comissões, nossos irmãos e irmãs mais novos, que sejam talentosos em qualquer direção, para que possamos promover seus talentos visando ao eterno bem-estar da humanidade, bem como socorrer aqueles que agora pisoteamos como criminosos.

Mas o amor não consiste em doações indiscriminadas. Também leva em consideração o motivo por trás dos presentes. Muitas pessoas alimentam o vagabundo na porta dos fundos porque as deixam desconfortáveis pensar que um humano esteja com fome. Isso não é amor. Às vezes, de fato, pode ser um grande ato de amor justamente recusar comida aos mendigos — mesmo que soframos ao pensar em sua atual situação —, se o fizermos com o objetivo de forçá-lo a procurar trabalho e se tornar um membro útil da sociedade. A indulgência com os maus hábitos em pessoas, sem discriminação, pode realmente levar um irmão ou irmã ao caminho descendente. Pode ser necessário, mesmo que desagradável e inoportuno, impedir que tais pessoas sigam desejos tolos. O ponto é esse: independentemente do que nossas ações possam parecer, sob o ponto de vista superficial, devem ser ditadas pela nota-chave do CristianismoAmor. Por falta disso, a Igreja está definhando. A luz sobre o altar está quase apagada, muitos foram procurá-la em outro lugar.

Aí reside outro erro grave, pois tal conduta é análoga à da tripulação de um navio que afunda e demora para usar os barcos e salvar o navio. Está certo buscar a luz, mas deve haver o propósito de usá-la adequadamente. Você já esteve perto de uma ferrovia, em uma noite escura, e viu um trem se aproximando? Notou como o farol brilhante envia seus poderosos raios à frente da pista por uma grande distância? Como, quando se aproxima, esses raios cegam aos olhos? Como passa rápido e então, num momento, você está na escuridão total? A luz que brilhava tão forte na frente não envia o menor raio para trás e, portanto, a escuridão parece ainda mais profunda.

Há muitas pessoas que buscam a luz mística e adquirem bastante iluminação; entretanto, como o motor da locomotiva mencionada, elas se concentram e focalizam a pista que elas mesmas devem seguir. Tomam todo o cuidado possível para que nenhum raio se desvie desse caminho, para que todo vestígio de luz possa ser aproveitado e iluminar seu próprio caminho. Trabalham exclusivamente a este propósito: atingir poderes espirituais para si próprios. Estão tão concentrados nesse objetivo que nunca suspeitam da escuridão profunda que envolve todo o resto do mundo.

No entanto, Cristo ordenou que deixássemos nossa luz brilhar, que a colocássemos, como em uma cidade, sobre a colina para que ninguém pudesse deixar de ver; para nunca a escondermos debaixo de um alqueire, mas sempre deixá-la iluminar nosso arredor, até onde seus raios chegassem. Somente na medida em que seguimos essa ordem, somos justificados para buscar a luz mística. Nunca devemos manter um único raio para nosso uso particular, mas nos esforçar dia após dia para nos tornar tão puros que não haja obstrução à divina luz interior, que ela possa fluir através de nós em sua plenitude para toda a família humana, que está sofrendo por falta de Luz e Amor. Muitos de fato são chamados e poucos são escolhidos. Levemos isso a sério, sendo muito zelosos por Cristo em todos os nossos tratos e ações, para que realmente sejamos escolhidos: selecionados para fazer Sua obra de Amor.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de julho de 1915 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O terceiro fator nesse Esquema de Evolução que quando não atua ou se torna inativa no indivíduo, na família, nação ou no povo começa a degeneração

Nos dias atuais dá-se muito valor à criatividade. Em alguns campos de atividade humana a ausência do poder criativo causa verdadeiras crises. Quando surge alguém, capaz de inovar ao descobrir algum aspecto inusitado de alguma coisa, recebe o epíteto de “revolucionário”. Isso sem considerar que de tempos em tempos espíritos avançados promovem transformações radicais em seus campos de atuação. Trazem soluções novas, abrem perspectivas nunca dantes imaginadas, rompem novos caminhos, inaugurando patamares mais elevados dentro de determinados ramos de atividade ou conhecimento. A esse processo criativo original os Ensinamentos Rosacruzes chamam de Epigênese.

Há grande tendência em admitir que tudo é resultado de qualquer coisa pré-existente. Isso constitui grande equívoco e desconhecimento das leis que regem a evolução em todos os níveis. Se fosse verdade, não haveria margem para esforços novos e originais, promotores de novas causas.

A Epigênese é a base real da evolução, ou seja, o único elemento a dar-lhe significado, convertendo-a em algo mais que simples desdobramento ou desenvolvimento de qualidades latentes. Não fosse assim, a face da Terra seria um painel por demais monótono e desolador, habitada por seres estereotipados, como que saídos de uma linha de montagem de uma indústria. Incapazes de descobrir novos caminhos, os seres acabariam por perder sua identidade com o Supremo Criador de todas as coisas. Tornar-se-iam imitadores, grotescos imitadores, ao invés de imprimirem a marca da originalidade em seus trabalhos.

A Epigênese, é bom ressaltar, é uma faculdade do Espírito, não da persona (personalidade). Sua capacidade epigenética melhora ou aperfeiçoa a forma, tornando-a elemento maleável e utilizável.

O progresso não é simplesmente desenvolvimento, nem tampouco involução: há um terceiro fator, a Epigênese, completando o trinômio. Quando ela não atua, ou torna-se inativa no indivíduo, na família, nação ou raça, cessa a evolução e começa a degeneração. Isso se aplica também às ideias, aos sistemas, as organizações, etc. Se, pelo menos, não se reciclarem periodicamente perdem sua eficiência e, consequentemente, sua razão de ser.

É interessante notarmos como as dificuldades são fatores capazes de exigir muito da capacidade epigenética das pessoas. Os seres humanos acomodam suas vidas aos princípios ou características da sociedade que pertençam. Com o passar do tempo essas “formas” (características) tornam-se obsoletas. Sobrevêm, então, as crises. A maioria propõe sempre soluções velhas, desgastadas, sem nenhuma eficácia. Quem propõe uma solução inédita, original, resultante de seu espírito criativo, consegue, via de regra, resolver o problema. As crises, portanto, não devem assustar. Indicam que o agrupamento, ou a própria pessoa, encontra-se em fase de transição, de transformação. Quando, porém, o ser humano reage negativamente as soluções novas propostas, quando insiste em formulações bolorentas e ultrapassadas, acaba gerando o impasse. Aí, só mesmo o sofrimento surge como meio de solucionar a questão. E, diga-se de passagem, é um meio irracional. Denota teimosia e inadaptabilidade.

Há, entretanto, outro aspecto a ser considerado: nem tudo o que é novo merece aceitação. Nem sempre representa uma lídima aspiração do Espírito. Talvez não passe de uma manifestação da natureza inferior, ávida de reconhecimento, desejosa de satisfazer a vaidade, o orgulho e a ilusão do ser humano pouco evoluído.

Que o “Tribunal Interno da Verdade”, no dizer de Max Heindel, julgue e decida sempre!

(Gilberto A V Silos – Editorial da Revista Serviço Rosacruz de junho/1980)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

As Dificuldades no Caminho de Volta

Existem dois momentos mais cruciais nessa vida que devemos enfrentar sozinhos: quando nascemos nesse Mundo Físico; e quando dele partimos.

Mais especificamente, estamos sozinhos quando: estamos diante da nova vida que escolhemos viver; ou diante das experiências dessa vida que acabamos de viver.

Portanto, a solidão emprega um papel importantíssimo em nossa evolução. Infelizmente, poucos têm consciência disso. Muitos têm medo dela, fazendo dela uma terrível ameaça. Nem em um ambiente muito silencioso conseguem ficar por muito tempo! Aliás, a solidão se torna ameaça quando não sabemos usá-la. E ela se torna um problema porque não compreendemos o que ocorre quando estamos sozinhos.

Sabemos que a nossa Mente está muito ligada ao nosso Corpo de Desejos, especialmente na sua parte inferior. Se não nos ocupamos com alguma coisa nesse Mundo Físico, começamos a preencher a Mente com assuntos que não gostaríamos de pensar, começamos a nos sintonizar no negativo ou no supérfluo. Tentamos preencher a nossa Mente com algo ou que nos agrada – principalmente o negativo – ou com algo que não nos comprometa, coisas supérfluas. Afinal: “semelhante atrai semelhante”. Entretanto, chega um dia em que nós, se somos Aspirantes à vida superior, temos que enfrentar um dilema: prosseguir sozinho o nosso caminho rumo à Verdade.

Infelizmente, a maioria de nós sente pouco interesse em querer conhecer as verdades ligadas à realidade espiritual. A maioria gosta de viver apegada a sua Personalidade (manifestada pelo conjunto Corpo Denso, Corpo Vital e Corpo de Desejos) e, a sua Individualidade (Tríplice Espírito) fica sempre em segundo plano.

A propósito, já é clássico que para muitos de nós, a Individualidade se manifesta somente quando sofremos. Aí está a importância do sofrimento no nosso Esquema de Evolução.

Infelizmente, a maioria ainda não está disposta a (como lemos em Mateus 16:20): a esquecer-se de si mesmo, a erguer voluntariamente a sua cruz e a seguir os passos de Cristo. Aliás, é em Mateus (7:13-14), que encontramos o importante ensinamento direcionado ao Aspirante a Vida Superior: “Entrai pela porta estreita, pois larga é a porta e espaçosa a senda que leva à perdição, e muitos os que por ela entram. Quão estreita é a porta e apertado o caminho que leva à vida, e poucos são os que o encontram!”.

E isso é o que mais vemos no nosso cotidiano. Para muitos de nós não interessa “entrar pela porta estreita” já que é “difícil o caminho que leva à Vida espiritual”. Por isso que “poucos são os que o encontram”.

Quando nos achamos sozinhos, o que nos vem para pensar é fruto daquilo que nos alimentamos quando não estamos sozinhos. Ou seja: as situações que passamos são assimiladas quando estamos sozinhos.

Portanto, se: renunciamos às curiosidades e escolhemos leituras tais, que mais sirvam para nos compungir, que para nos distrair; nos abstivermos de conversações supérfluas e passatempos ociosos; nos abstivermos da sede insaciável por novidades e por boatos; acharemos tempo mais que suficiente para cuidarmos de nós mesmos, para relembrar os benefícios de Deus, para refletir sobre o nosso papel nesse esquema de evolução e para reforçar o nosso compromisso e a nossa vontade de percorrer o “caminho mais apertado” e “passar pela porta mais estreita que nos leva à Vida espiritual”.

E essa busca pela solidão que nasce em nós, como abraçamos a causa em ser um Aspirante à vida auperior, é causada pelo ardente desejo de nos afastarmos do mundo, mundo esse que acaba não compreendendo as nossas atitudes.

Senão vejamos: a maioria de nós não quer nem se preocupar em pensar nas três intrigantes perguntas que permeiam a nossa existência: de onde viemos; porque estamos aqui; para onde vamos.

Queremos curtir essa vida do que jeito que ela vier. No máximo nos esforçamos para modificá-la materialmente buscando o objetivo de ter muito dinheiro, saúde, uma boa posição social, liberdade para agirmos como quisermos.

Outros de nós, ainda, buscamos ter uma família, filhos, equilíbrio social e financeiro. Tudo voltado à realização no plano do Mundo Físico. Como que, chegando à idade avançada, nos sentiremos realizados, felizes e completada a nossa missão!

Ainda há, entre nós, os que se arriscam no plano espiritual mundano, buscando no Cristianismo popular satisfazer algo que sente que lhe falta, mas que não entende bem. Quando o faz pelo anseio interno de que deve servir aos seus semelhantes, pois todos são Filhos de Deus, significa que já entendeu, pelo menos, que existe algo mais importante nessa vida que a busca pela felicidade material.

Muitos de nós, infelizmente, o fazemos: pela aparência social, ou por lhe trazer algum alívio de consciência, ou ainda, o que é pior, pela possibilidade de ter alguma coisa boa em troca, como se Deus fosse mercenário.

Por não concordar com toda essa insensatez é que nós, quando decidimos ser Aspirante à vida superior, buscamos nos separar de tudo aquilo que é socialmente aceito ao nível da crença ou do comportamento. E isso sempre nos trás problemas, pois, como é possível observar em nosso cotidiano: “meninos passam indiferentes por uma árvore sem frutos, porém, se estiver carregada ricamente, jogarão pedras para despojá-las das frutas”. Do mesmo modo ocorre com cada um de nós: enquanto ocos, andando com a multidão, não há problemas. Quando, porém, atitudes conscientes são tomadas, as mesmas serão sentidas como o caminho certo pela integridade interna das outras pessoas e nos tornamos, sem querer, censura viva, mesmo se os nossos lábios não proferirem uma palavra de censura sequer.

As críticas e as chacotas que recebemos, após ousarmos a separação do que é tradicional, trarão, sem dúvida, um ardente desejo de nos afastarmos do mundo que parece não nos compreender, a ponto de querermos ingressamos no primeiro mosteiro que nos permitisse continuar a nossa vida espiritual em paz e buscando a solidão como a companheira inseparável.

Entretanto, jamais devemos esquecer que o baluarte da nossa evolução é aqui no Mundo Físico. Que somente cumprimos a nossa missão em mais uma estada na Terra quando vencemos esse mundo e não quando dele fugimos.

Cristo sabia da dificuldade que nós teríamos quando decidíssemos começar a voltar para a Casa do Pai e rompêssemos com os dogmas, os costumes, a crença e os hábitos, quando disse no Sermão da Montanha, em Mateus 5:10-11: “Bem aventurados os que sofrem perseguições por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. (…) Bem aventurados sois vós quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus, porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós”.

O meio ambiente em que fomos colocados pelos Anjos do Destino foi de nossa própria escolha, quando estávamos no Terceiro Céu, olhando com os olhos do Espírito, sem o empecilho da cegueira produzida pela matéria, prestes a descer mais uma vez para esse Mundo Físico.

Assim, o nosso ambiente contém lições preciosíssimas e cometeríamos um grave engano evadir do mesmo por completo. Do mesmo modo, todas as pessoas ao nosso redor e com as quais precisamos conviver, oferecem oportunidades de serviço, que não poderão ser encontrados em mosteiros ou outras espécies de retiros. Além disso, essas oportunidades foram feitas sob medida para um nosso nível de evolução, a fim de que aprendamos exatamente o que necessitamos, no grau que podemos assimilar. E é importantíssimo lembrar que o serviço é um componente importante no Caminho da Iniciação.

Além disso, a sem obras – sem o serviço prestado – é morta. Como lemos na Epístola de São Tiago 2,14-26: “De que aproveitará, meus irmãos, a alguém dizer que tem fé, se não tiver obras? Poderá a fé salvá-lo? Se o irmão ou a irmã estiverem nus e carentes do alimento cotidiano e algum de vós lhes disser: ‘Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos’, mas não lhes derdes com que satisfazer à necessidade do corpo, que adiantaria? Assim também a simples fé, se não tiver obras, será morta. Mas alguém dirá: ‘Tu tens fé e eu tenho obras’. Mostra-me tua fé sem as obras que eu por minhas obras te mostrarei a fé”.

A exortação de São Paulo em sua Epístola aos Efésios 6:10-15 é muito atual e deve permear para todo Aspirante à vida superior: “Vistam toda a armadura de Deus… para que possam resistir no dia ruim, e tendo feito tudo fiquem de pé. Estai, pois firmes, tendo cingido os vossos lombos com a verdade e vestido a couraça da justiça e calçados os pés com o zelo do evangelho da paz.”.

Então, como podemos nos fortificar para essas batalhas com as quais devemos contar?

Primeiro: lembre-se do que Cristo disse quando enviou os Seus Discípulos ao Serviço pela humanidade. E que certamente é o mesmo recado para todo Aspirante à vida superior: “Eis que vos envio como ovelhas no meio de lobos; portanto sedes prudentes como as serpentes e inocentes como as pombas.” (Mt 10:16).

Segundo: busque a organização dos nossos instrumentos utilizados para satisfazer as nossas necessidades de evolução, quais sejam: os nossos veículos Corpo Denso, Corpo Vital, Corpo de Desejos e Mente da seguinte maneira: para resistir à crítica, devemos aprender a efetuar a nossa autocrítica, o julgamento de nós mesmos.

Muito nos ajuda o exercício de Retrospecção e o desenvolvimento de um raciocínio abstrato que constitui o uso da Mente não atrelada ao Corpo de Desejos: para resistir à tendência da Mente em divagar quando estamos a sós levando-nos a pensar no que não queremos e nos envolver com matéria das Regiões inferiores do Mundo do Desejo, devemos aprender a fixar o pensamento num ideal e mantê-lo assim, sem permitir que se desvie. É uma tarefa sumamente difícil.

Muito nos ajuda o exercício de Concentração: para resistir à tentação de utilização da Mente como meio de fixar pensamentos que se perdem ao longo do tempo, não deixando nada de aprendizado, ou seja, desperdiçando a força mental, devemos aprender com eles, extraindo de cada pensamento que criamos toda a utilidade que dele pode vir.

A prática de estudos que envolvem a lógica, o Esquema, Caminho e Obra da Evolução (que temos completo no livro Conceito Rosacruz do Cosmos) ou conceitos abstratos, tais como matemática, física e música permitem que nossas Mentes, passem a funcionar menos atrelada a parte inferior do Corpo de Desejos; assim a tendência em preencher a Mente com assuntos divagadores e sem importância que sob os ditames do Corpo de Desejos fica menor.

Com isso tornamos mais práticas as nossas ideias. Se não a utilizamos de imediato ficará disponível para utilização futura. Aos poucos vemos que todo aquele pensamento que nos dedicamos rapidamente aparecerá a oportunidade de utilizarmos. Afinal mostramo-nos pró-ativos, dispostos a ajudar, prontos para servir.

Muito nos ajuda o exercício de Meditação, para resistir à dúvida, devemos utilizar a lógica. Deduzir e tirar conclusões de todos os fatos observados e vividos. É muito fácil chegar a conclusão, sobre a cegueira do Ser Humano nessa Terra, dada por Cristo nos Evangelhos: “têm olhos e não vêem… têm ouvidos, mas não ouvem”. Não deixe que as circunstâncias falem por si. Não se deixe levar ao sabor dos ventos também aqui, no ponto em que você deve ter a sua opinião. Utilize do raciocínio lógico. Como disse Max Heindel: “a lógica é o melhor instrutor no Mundo Físico e o guia seguríssimo em qualquer mundo”.

Muito nos ajuda o exercício de Observação e depois o de Discernimento. Aqui já não importa mais se estamos sozinhos ou no meio de uma multidão. A solidão deixa de ser um refúgio, ou de ser temida para ser apenas mais um momento que vivemos como qualquer um outro. Estamos aonde melhor podemos servir, melhor podemos ser úteis, tendo a certeza de que “Deus mora em meu coração”, como disse São João Evangelista. Toda essa segurança buscada pelo Aspirante à vida superior tem como objetivo ajudá-lo a realizar, nessa presente passagem, tudo que ele escolheu como aprendizado. E se ele conseguir conquistar tal segurança estará como disse Abraham Lincoln: “É difícil a tarefa de derrubar um Ser Humano quando se sente digno e apoiado no parentesco com o Grande Deus que o criou”.

Que as Rosas floresçam em Vossa Cruz

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Peregrino do Tempo

O ser humano, necessariamente, é sempre um peregrino do tempo, um andarilho dos labirintos da ilusão, um espectador, um turista da exposição maravilhosa que foi construída por um Mestre Artesão, um observador de eventos nos quais ele tem uma parte, mas que estão além e não são o seu Eu real. Se ele for sábio, absorverá as lições de ilusão da vida, seguro de seus enganos e limitações.

Eu digo que ele é necessariamente um peregrino. Pois é apenas nos labirintos do tempo que pode obter as faculdades, poderes e dons necessários, se quiser se tornar um mestre da ilusão. O verdadeiro lar do espírito está em outro lugar, no reino da Realidade, onde não há “mudança, nem sombra de mudança”. Não foi um místico, sábio e perspicaz, quem disse: “Aqui não temos uma cidade permanente, mas buscamos uma que seja”?

E, novamente, “não feito por mãos, eterno nos céus”? Pode parecer uma meta distante, uma jornada sem fim, mas algum dia chegaremos ao lugar onde poderemos fazer para nós mesmos “roupas de peles” e usar à vontade; naquele dia, nós nos tornaremos como nossos Irmãos mais velhos, os nascidos da Mente e Filhos da Sabedoria, aqueles “sem pai, sem mãe… sem princípio de dias nem fim de vida”.

Para conhecer essa consumação é necessário manejar de forma sábia a vara de poder que cria e dispersa à vontade, conforme a necessidade do espírito. Essa faculdade só pode ser adquirida experimentando tudo aquilo que o tempo pode oferecer e percebendo que o ser humano não está sujeito à passagem dos dias, mas permanece à parte deles, embora vestido com as roupas que estão sujeitas.

O peregrino está em uma jornada atemporal, já que seu fim seja a perfeição e seu objetivo, a eternidade. Ele está sempre buscando um caminho que vá do melhor para o melhor, do menor para o maior, da ilusão à realidade, da separação à união, do fragmento ao todo…

O microcosmo está sempre ansioso pelo macrocosmo. Seus fundamentos são sempre os mesmos: o ganho de experiência e sabedoria por meio de uma série de excursões pelos curiosos atalhos dessa ilusão conhecida como tempo. Porque o tempo é a maior de todas as ilusões. Acreditamos que vivemos pela graça de um relógio, dos dias que passam, das horas que marcam os anos; mas quando alguma crise se abate sobre nós, então sabemos que um minuto pode abranger um século e um dia, parecer um segundo, quando já passou. É então que percebemos o significado da frase, “para Ele um dia é como mil anos e mil anos, como um dia”. Inspirado por essa declaração profética, um dos maiores poetas do mundo escreveu sobre o monge que não conseguia entender como isso poderia ser verdade, mesmo em relação ao Deus que ele adorasse; então, quando ele saiu em uma manhã para caminhar, antes do café da manhã, ouviu por dez minutos (ele pensou) o canto de um passarinho cuja música fosse transcendentalmente doce. Quando voltou ao mosteiro, descobriu que os dez minutos tivessem sido mil anos para o mundo que ele ignorou enquanto ouvia.

A razão pela qual o tempo do peregrino parece ser a única realidade enquanto ele está experimentando é que ele deve estar continuamente vestindo e retirando “roupas de peles”, pois é somente por meio delas que ele pode ganhar experiência. No entanto, é igualmente por meio delas que o tempo consegue impor seu espetáculo de sombras como se fosse realidade.

Para essas “roupas”, descanso, comida e abrigo são necessidades. Uma das maiores imposições do tempo é a exigência de que, enquanto o peregrino começa a vida como uma criatura nova e ágil, com o passar dos dias ele envelhece, seus músculos se tornam mais rígidos, o brilho se afasta de suas bochechas, seu passo torna-se menos seguro, seu olho menos aguçado, seu entusiasmo se afasta — até que, por fim, a ilusão se completa e ele se torna um morador idoso nos corredores do tempo, diminuído por suas depredações, encolhendo-se diante das rajadas dos dias que se aproximam. Entretanto, essa mesma concepção é uma prisão, uma cela estreita feita para prender o peregrino na ilusão de que a vida seja uma coisa que possa ser medida com o passar dos anos, quando na realidade é incomensurável.

A vida é poder, força e vitalidade sem fim. Porque por algumas horas, dias e anos um pouco dela fica retida dentro do corpo físico, não significa que seja cativa desse corpo. A vida é tão imortal, eterna e sempre jovem quanto o Espírito do universo e sua extensão de atividade é tão imensurável quanto. A vida não começa com cada novo corpo que nasce no mundo. Não envelhece com o passar dos anos: nunca envelhece. Ela meramente permanece por algumas horas no mundo da ilusão, adquirindo um pouco da sabedoria e da força que o Ego que veio encontrar. Quando as “cascas” tornam-se inadequadas para seu florescimento posterior, ela as deixa cair para retornar ao seu próprio habitat verdadeiro, aguardar um momento favorável para assumir a ilusão de um novo tempo e acumular um novo estoque de conhecimento.

No entanto, mesmo o ser humano que cede mais plenamente ao engano do tempo, reconhecendo que envelhece com o passar dos anos, ainda guarda rebelião em sua Mente contra o que chama de necessidade da idade, o enfraquecimento das faculdades, a mão paralisada que não obedece mais às suas ordens… O espírito imortal que mora dentro dele conhece seu parentesco com as estrelas. Ele anseia pelo toque dos ventos da eternidade para encher seus pulmões e renovar suas energias. Seu verdadeiro lar está em outro lugar. Ele é um cidadão da esfera mais ampla, de uma perspectiva mais ampla, de uma visão mais ampla e nunca se contenta com a limitação dos anos.

O espírito do ser humano começa sua peregrinação pelos intermináveis corredores do tempo como uma centelha viva do Divino, mas que deve crescer, através da sabedoria acumulada por suas muitas jornadas, e se tornar uma chama envolvente, um fogo vivo que irá, por incontáveis eras do infinito, brilhar para iluminar outras Centelhas em seu caminho de expansão. A princípio, e por muitos renascimentos, essa Centelha não consegue perceber, enquanto habita em seus “casacos de pele”, que possui outra casa além das estrelas que abandonou temporariamente.

No entanto, à medida que mais e mais frutos da experiência se acumulam na casa real do peregrino, vislumbres começam a aparecer. Cenas surgem diante do olho interno, uma experiência vem, à qual ele responde: “Eu já tive isso”. As paisagens se revelam para sua visão e ele diz: “Já estive aqui”. Velhos amigos são recebidos e calorosamente saudados com uma lembrança de outros lugares claramente diante dele.

Antigos inimigos também são enfrentados e dívidas, canceladas. Uma grande expansão de consciência ocorre. Quando isso acontece, a vida no corpo e fora dele se torna uma aventura maravilhosa, não no tempo, mas nos campos infinitos da eternidade. Cada vez mais colhemos no corpo o que semeamos e devolvemos isso ao Lar como feixes de luz.

O peregrino agora vislumbra o grande plano de evolução, que está sendo cumprido de forma lenta, mas segura. O drama é visto através dos véus do tempo, porém não é menos real e impressionante por isso. Surge uma novo ser que, do pó da decepção, reconhece o fruto das oportunidades que não foram aproveitadas, em outro dia distante, quando, em outro corpo, ele descuidadamente deixou de lado o papel que deveria ter desempenhado e outro assumiu a função que deveria ter escolhido. Pela agonia da perda, ele aprende três coisas: primeiro, qualquer coisa que não fosse dele ele não poderia reter; segundo, o que ele tira dos outros deve ser pago, embora seja com gotas de sangue; terceiro, e o melhor conhecimento de todos, o que é verdadeiramente seu não pode ser tirado dele.

À luz obtida com o drama da evolução e sua parte nele, o peregrino deixa de se preocupar, de se afligir, de abrigar inquietação. O vertiginoso turbilhão do tempo diminui e se torna uma vibração constante, segura e silenciosa que o leva mais rápida e infalivelmente em direção ao seu objetivo. Nenhum obstáculo, nenhum atraso, nenhuma decepção podem prejudicar a serenidade do seu progresso. Nenhuma perda pode deprimi-lo, nenhum triunfo ou prazer pode atrasá-lo por muito tempo, porque ele sabe que isso é apenas outra fase da novela de sombras mágicas do tempo e usa todos os eventos, todos os pensamentos e todas as emoções como degraus para pavimentar o caminho que leva da ilusão para a vida, do tempo para a eternidade.

Ele aprende outra coisa importante: ele não é escravo de suas “túnicas de peles”; se ele recorrer ao seu próprio Eu eterno, incansável e sempre ansioso, ele poderá ser jovem, embora seu cabelo esteja branco e seus membros se tornem lentos, incertos. Seguro em seu conhecimento acumulado durante eras, ele percorre os corredores do tempo, absorvendo novas experiências e transmutando-as no ouro da sabedoria eterna que perdurará quando o tempo não existir mais. Ele sorri da própria dor, o que o torna irmão de todos os que sofrem e o permite ser seu consolador. Ele aceita a adversidade, porque ela traz consigo a força para resistir. Ele aprende a trazer para sua consciência os sofrimentos do grande órfão, a humanidade — toda sua agonia, todas as decepções esmagadoras que parecem ameaçar a vida do espírito; todos os desesperos que não conhecem mitigação; todas as esperanças que morrem antes de florescer, deixando apenas uma dor maçante para trás; as separações que parecem intermináveis e os dias de dor que parecem nunca cessar…

O peregrino aprende a trilhar o caminho com o coração partido, com lágrimas interiores que sempre caem pelas tristezas do mundo, mas também com o pleno conhecimento de que um dia as ilusões passarão, os olhos se abrirão de verdade e, então, essas coisas também morrerão.

Tudo isso ele faz para ser considerado digno de ter levado a termo sua crucificação na cruz da matéria, de ter mantido seu lugar com plena paciência, resistência e sacrifício para que outro universo possa surgir no grande drama da Evolução e outras Centelhas da Chama possam ter seu Dia de evolução nela. Naquele dia ele saberá que será totalmente um com tudo o que vive e esse conhecimento tornará doce o presente trilhar do Caminho.

Por fim, chegará o tempo em que o peregrino perfeito se tornará um cidadão do reino da luz, com a escuridão sendo um sonho do passado, a bem-aventurança, uma realidade viva e a agonia, estando para sempre terminada. A paz eterna estará à sua disposição. Ele só precisará estender a mão para obter a meta que conquistou por meio da angústia e da alegria de muitas vidas.

Então a escolha é oferecida a ele. Ele pode ter a paz da perfeição, a glória da plena união com o “Eu Superior”, o amor puro que o espera. Ou pode voltar e, tomando o caminho da renúncia, ajudar aqueles que ficaram para trás, seus próprios irmãos e irmãs ainda tateando na ilusão do tempo.

E quando ele faz a grande renúncia, quando se liga ao mundo que conquistou, o peregrino se torna a coisa mais sagrada que a terra pode produzir, sua flor mais bela e portadora do título mais digno: “Salvador dos Homens”.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de novembro-dezembro/1995 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Os Bosques da Alegria

Os Bosques da Alegria

No onírico, de acordo com nossas visões ocidentais – e muito pouco prático no oriente, onde, em geral, os sentimentos profundamente religiosos das pessoas superam em muito o instinto material – o sonho, às vezes, se materializa da maneira mais surpreendentemente prática.

Por muito tempo e em muitos lugares o mais pesado da viagem era e ainda é realizado de maneira primitiva, a pé ou por animais de carga, que auxiliam no tráfego das trilhas e, frequentemente, ao longo do caminho o viajante cansado encontra um “Bosque da Alegria”; um grupo de árvores com uma pequena casa onde, como um dever religioso, uma refeição gratuita é fornecida para o ser humano ou animal pelas pessoas da vizinhança que, assim, discretamente dão do seu escasso estoque para que seu irmão possa ser revigorado, descansar e se recuperar para começar de novo a próxima etapa da sua jornada. Que sensação deve ser a de gratidão e alegria, de descanso e alívio sentida pelo ser humano e pelos animais, quando entram em tal lugar, após um dia na poeira, na claridade e no calor da estrada e que atmosfera de altruísmo deve haver ali, para incalculável benefício espiritual tanto do doador quanto do receptor, do benfeitor e do beneficiário! Por outro lado, que calamidade seria se a maioria dos viajantes dessas rodovias e atalhos ficasse cega pela poeira da estrada ou pelo brilho do sol, de modo que não pudesse ver esses Bosques da Alegria. Quanto eles perderiam! Quão dura e quão difícil seria sua jornada!

Nossa vida, aqui na Terra, é uma grande jornada do berço ao túmulo e, como Jó diz: “O homem que nasceu da mulher tem poucos dias e tem muitos problemas”. Mesmo aqueles entre nós que vivem em ambiente mais abrigado têm tristeza e sofrimento, às vezes. O que dizer, então, daqueles infelizes que são assediados por provações e tribulações todos os dias de suas vidas? Todos nós temos que suportar aflições físicas em alguma medida; alguns sofrem aflições mentais ou morais; alguns sofrem com a perda ou desgraça de entes queridos; nenhum de nós está livre das cicatrizes da tristeza que, às vezes, marcam a alma até o âmago do nosso ser. Alguns ficam desapontados com suas ambições para si ou para os outros, após uma vida de sacrifício, e partem para a sepultura caindo de decepção; tudo isso porque estamos cegos pela poeira, pelo brilho da clareira e permitimos que o espectro da tristeza obscureça os Bosques da Alegria que estão ao longo da estrada da vida, repletos de altruísmo e prontos para nos receber, removendo dos nossos olhos o brilho e o charme, para encher nossa alma de alegria e nos enviar rejuvenescidos e alegres pelo caminho, deixando claro que não estamos caminhando para a sepultura, mas para Deus, o doador de tudo o que é bom.

A vida é uma corrida; porém não é de forma alguma uma corrida de cem metros que pode ser realizada em um único momento por um jato de energia. É um teste de resistência e, portanto, devemos perceber que seja um erro fatal estabelecer um ritmo mais rápido do que podemos manter. É também uma regra bem estabelecida que em uma corrida devemos deixar de lado todo peso que não seja absolutamente necessário e, se aprendermos a nos apressar lentamente, provavelmente viveremos mais e aprenderemos mais, porque seremos menos prejudicados pela poeira da tristeza e pelo clarão da ilusão. Se pararmos para visitar os Bosques da Alegria — onde a sombra protetora da Religião alivia nossos olhos cansados do brilho gerado pela ilusão daquilo que o mundo valoriza e mostra os verdadeiros padrões de amor e luz, onde podemos viver perto dos riachos de alegria para nos lavar do pó da tristeza que nos oprime, atrapalhando nossa corrida, e lançar nossas preocupações n’Aquele que cuida de nós, conforme mostrado por Seu convite, “Venham todos vocês que estão cansados e sobrecarregados e Eu vou dar-lhes descanso”, — então nos sentiremos, ah, muito mais leves! Nossos pés serão calçados com as asas do vento e caminharemos sustentados pela força adquirida nos Bosques da Alegria. Então seremos capazes de realizar uma obra maior no mundo.

Não é perda de tempo começar o dia com oração, louvor e adoração a Deus, o doador de todo bem, não importa o quão apressados possamos estar. O tempo investido nesse propósito logo será compensado pela suave elevação que levaremos conosco por esta comunhão com nossa Fonte e nossa Meta. Não é necessário recorrer ao nosso Pai quando estivermos cansados, exaustos, fatigados com o trabalho e as preocupações do dia. Devemos dormir mais profundamente, descansar e nos recuperar melhor. Geralmente somos muito religiosos em nossa observância dos momentos em que o alimento é servido para a restauração do ser humano físico; mas “o homem não vive só de pão” e não importa quão suntuosa seja nossa comida, morreremos de fome se não visitarmos o Bosque da Alegria, onde nosso Pai espera pelos errantes, pronto com o pão do estímulo espiritual para banir o cuidado embotado e reavivar o espírito que se afunda. Nossa é a perda, se permitirmos que a poeira e o brilho da estrada da vida nos ceguem e não passemos por essas casas de repouso; nosso é o ganho, se muitas vezes nos afastarmos do caminho da dor para comer o pão da vida nos Bosques da Alegria.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de set/1918 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)

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