Parafraseando uma frase de um poema de Vicente de Carvalho: “A felicidade está onde nós a pomos, mas nós nunca a pomos onde nós estamos”. Em verdade, estes dois versos resumem admiravelmente o sentido comum do viver humano. Fazemos da felicidade uma utopia, colocado distâncias no caminho, esquecidos de que, ao chegarmos ao seu encontro, de novo a empurramos para mais adiante. Com isso, a vida, chegará ao fim, e a felicidade nunca chegará ao viver da criatura.
É necessária uma alteração em nosso modo de pensar, a luz da Filosofia Rosacruz. A felicidade não pode ser procurada, tão pouco localizada no espaço ou no tempo. Ela é simplesmente – ou pelo menos deveria ser – o produto do viver momento a momento, segundo nossa voz interna. Não nos é dado penetrar de imediato nos “portais dourados”, transpostos os quais nos inundaria o éden incomensurável de paz e ventura. Se “somos deuses em formação”, não podemos fugir ao percurso do caminho que conduz a essa perfeição. Enquanto isso, toca a criatura, sobretudo, viver o papel da criatura, afrontando as limitações que a vida terrena naturalmente impõe, dentre os quais, permanentes solicitações da Mente, a chamar o ser humano para uma vida cheia de vazio, para a ilusão dos sete pecados capitais, especialmente a miragem do “acumular tesouros na Terra”. De fato, os almejados tesouros nos vêm às mãos. Mas como somos “peregrinos neste mundo” e estas aquisições pertencem ao mundo, acabamos ficando “de mãos vazias”.
Ao final de tudo, parece haver falta de compreensão mais profunda da vida, do “por que, afinal, nos achamos aqui”. A afirmação da Individualidade é imprescindível a nossa vida. Cada um de nós é único na Obra de Criação, e como único devemos viver entre os demais, a todos ligado pelo traço do amor.
Entende-se a afirmação individual como sendo a realização, por cada um de nós, de nossos pendores mais profundos, representados por energias naturais que não podem ser desconhecidas, nem reprimidas. Essas forças não são, em si, nem boas, nem más. O uso que delas fazemos é que lhes imprime esta ou aquela coloração, segundo o caráter do nosso comportamento.
É claro que essa realização pessoal implica a mais ampla liberdade de escolha pelo indivíduo. Do contrário, haveria o risco de “sermos” outrem, diferente de nós mesmos, criando-se um artificialismo pernicioso para a saúde mental. É a partir dessa importante conclusão que a Pedagogia se encaminha para o revolucionário sistema de Educação, conhecido como liberdade orientada. A criança cresce “conhecendo-se”, através do estudo e de trabalhos práticos adequados ao “despertar” de vocações, de modo que em nada se prejudique o viço da flor natural que deve desabrochar.
O bom uso da energia que a Natureza assim coloca a nossa disposição faz com que o manancial que a produz se torne cada vez mais abundante, porque “a quem mais tiver, mais ser-lhe-á dado”[1]. E nós, assim disposto em uníssono com as vibrações cósmicas, poderemos experimentar um estado de íntima satisfação que muito terá de felicidade, coroada pela certeza de que “quem mais der, mais receberá”[2] e “quem quiser ser o maior, deverá ser o servo de todos”[3].
Para a Ciência oculta a inércia é uma ilusão. Decorre daí que “não paramos”. Ou estamos progredindo, ou regredimos, na caminhada. Conhecendo-se e realizando-se, nos encaminhamos para a comprovação das palavras de Cristo, segundo as quais “as obras que eu faço, vós as fareis, e maiores ainda”[4].
A partir da certeza de que, durante um renascimento aqui, existe para nós uma necessidade interna de expressão constante, podemos vislumbrar uma possível causa de os manicômios andarem cada vez mais povoados, bem como de crescer o número de suicídios, especialmente nos países ditos mais “desenvolvidos”. Parece que o conforto trazido pela técnica se transforma em ócio para o indivíduo, tirando-lhe a oportunidade de utilizar as energias de que naturalmente dispõe. A serenidade do artesão parece que decorria do prazer de criar com as próprias mãos. Agora a máquina faz quase tudo. Pouco sobra para nós de oportunidade para autoafirmar, especialmente no trabalho. Então, a vida inconformada com a imposta “inércia”, contraria as Leis da Natureza de tudo quanto é vivo, rompe os diques e foge, ou para o hospício, ou para o suicídio, como saída para a torturante angústia em que se vai transformando o viver.
Evidentemente, a máquina tem seu lugar próprio na vida humana. Nós é que precisamos desenvolver o preparo para viver ao lado dela, não se deixando absorver, “matar”. O tempo a mais deixado para nós com o advento da máquina no trabalho, deve ser aplicado no cultivo de fatores capazes de preencher esse vazio, até que a espiritualidade criadora faça parte atuante da nossa vida humana do comum. Ou seja: cumpramos o que prometemos para nós mesmos no Terceiro Céu: desenvolvermos espiritualmente, aperfeiçoando os nossos Corpos e o veículo Mente e crescendo o nosso Corpo-Alma, se preparando para a Era de Aquário, já que estamos na Órbita de Influência dessa Nova Era. O restante? Será nos dado por acréscimo, como Cristo nos ensinou!
Em resumo, tudo quanto existe e vive, vive porque tem vida na Natureza. Se para todas as coisas existe maravilhosa harmonia, para nós, em especial, também existirá, desde que nos prontifiquemos a se integrar na posição cósmica que nos cabe e viver as leis profundas da própria vida.
Dessa forma, jamais procuraremos a felicidade, pois essa nos virá por acréscimo, nascida da compreensão de que não somos mais felizes porque não temos preocupações, mas sim, porque encaramos como próprias à vida, coloca-as no lugar devido, certo de que depois da tempestade vem a bonança, e que tempestade e bonança são igualmente partes da Criação.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – outubro/1964 – Fraternidade Rosacruz – SP)
[1] N.R.: Mt 25:29
[2] N.R.: Mt 10:30
[3] N.R.: Mt 10:44 e Mc 9:35
[4] N.R.: Jo 14:12
Dentro de cada um de nós há um impulso para a liberdade. Pode se manifestar, às vezes, como um convite alegre a “subir mais acima” para alcançar mais ansiosamente a liberdade que pode tomar e fazer nossa. Esse impulso interno tem sido chamado “o descontentamento divino”, que nos incita a seguir adiante, para cima e para sempre. Esse impulso é também responsável pelo nosso progresso no caminho espiral desse Esquema de Evolução.
Ainda que esse impulso possa estar inteiramente latente, ou talvez embotado pela inércia mental e por forças das circunstâncias, não obstante, está presente, e destinado a se vivificar e se converter na nossa força motriz. Provavelmente não há maneira melhor de determinar até onde chegamos trilhando o Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz, do que considerando o grau da nossa aspiração à liberdade, indicado pelo zelo com que nos esforçamos em nossa vida diária a fim de alcançarmos tal liberdade.
Mas aqui necessitamos decidir exatamente o que queremos dizer com a palavra “liberdade”. Liberdade de que ou para quê? É uma interrogação lógica. Existem dois pontos de vista principais que podemos usar para obter uma perspectiva satisfatória desse polêmico tema.
Em primeiro lugar está o conceito comumente aceito de liberdade: liberação de fatores externos, tais como um governo ditatorial, uma igreja dominante ou condições sociais escravizantes, de tal modo que possamos viver em liberdade de adorar como lhe aprouver, de falar e de escrever livremente sem temor de intimidação e perseguição, de trabalhar em local de nossa escolha, sob condições convenientes ao nosso próprio respeito e a nossa boa saúde; de votar e ser votado para participar num governo “do povo, pelo povo e para o povo”. A luta da Humanidade em prol dessas liberdades tem chamado a atenção de pensadores avançados e escrito páginas da história durante os séculos passados e ainda prossegue nos dias de hoje.
Podemos encontrar frases sobre isso, como: “Quando a liberdade desaparece, a vida torna-se insípida e perde seu sabor”. E outra como: “A liberdade, como o dia, amanhece na alma, e como um relâmpago do céu incendeia todas as faculdades com alegria gloriosa”.
Essa “alegria gloriosa”, uma vez provada, não é fácil de ser esquecida. Na perseguição dela, entramos na vida ativa, a vida na qual somos incentivados a demonstrar o que sabemos, a pôr em uso cada uma das faculdades que possuímos, a recusar a tranquilidade física e mental, mediante a qual podemos ser reduzidos à escravidão. Aqueles que aceitaram esse desafio no passado são os que hoje estão na vanguarda da civilização, porque é óbvio que a causa da liberdade se identifica com a causa do progresso do Espírito humano. Na Fraternidade Rosacruz são os Adeptos, até certo ponto, e os Irmãos Maiores, que já alcançaram a plenitude nesse quesito.
Podemos ler a respeito de alguma tentativa de se alcançar “pedaços” do que se conceitua como liberdade em praticamente todas as fontes de informações noticiosas publicadas na atualidade: as dificuldades raciais na África, na Ásia e em outras partes do mundo; a tendência para o nacionalismo em países que até o momento estavam subjugados; os esforços para a alfabetização entre milhões de analfabetos vergonhosamente escravos da ignorância e da pobreza; as controvérsias concernentes ao pensamento regimentado em outras partes do mundo; as revoluções agrícolas e econômicas que têm lugar em vários países, quando as pessoas tratam de aprender a prover-se de alimento suficiente e de melhores lugares; as cruzadas contra o crime, contra os narcóticos, contra o uso das bebidas alcoólicas, contra o consumo de carne animal (mamíferos, aves, peixes, crustáceos, anfíbios, frutos do mar e afins) e usos de partes de corpos animais como vestimenta, decoração, etc..
Efetivamente, na atualidade, a maioria dos seres humanos se intensificam na perseguição em prol da liberdade. Todos nós estamos sujeitos à pressão que sempre vem no final de uma Era. Afinal, estamos agora no final da Dispensação Pisciana – Era de Peixes – e já na Órbita de Influência da Era de Aquário. Uma melhor ordem de coisas se perfila no horizonte e a Fraternidade Universal há de ser a característica dominante nessa nova ordem, da Era de Aquário, desde que estejamos prontos para vivenciá-las, ou seja, desde que tenhamos um Corpo-Alma o suficientemente desenvolvido para funcionar conscientemente na Região Etérica do Mundo Físico.
Mas há um segundo ponto de vista ao se considerar a liberdade: um ponto de vista interno, ligado à nossa liberação das ataduras do nosso próprio “eu inferior” – a Personalidade – que construímos a cada vida aqui e que é constituída do nosso Corpo Denso, Corpo Vital e Corpo de Desejos, com a Mente “concreta” escrava do Corpo de Desejos. É completamente desejável, nesse momento em que estamos no final de uma Era e já com a outra nos influenciando, que cheguemos a ser livres da dominação externa, mas é também essencial que usemos essa liberdade no interesse de todos. Portanto, é necessário que dominemos o maior de todos os inimigos: a Personalidade, ou seja, o nosso “eu inferior”. Para isso, se requer, em primeiro lugar, autoanálise e muita disciplina.
A tarefa da autoanálise é uma tarefa sutil. Sendo essencialmente egoísta, a nossa Personalidade está destinada a obter e possuir coisas materiais, poder e fama mundanos. A nossa Personalidade sugere toda classe de desculpas para se autojustificar, e lança mão de toda classe de recursos ao adotar uma atitude de falsa inocência, quando é acusada de ser responsável por condutas indesejáveis. Conduz-nos a lançar a culpa a outros por qualquer coisa que seja má em nossa própria vida e em nosso próprio mundo (sempre a “culpa é do outro”, seja esse “outro” quer for). Impulsiona-nos à vingança e à revanche contra aqueles a quem culpamos por nossas dificuldades individuais e coletivas. Estimula sentimentos cancerosos, tais como os ciúmes, a cobiça, a inveja, o rancor, o desejo de vingança, o ódio, a raiva, o ressentimento e uma infinidade de outros mais, todos compostos por materiais das Regiões inferiores do Mundo do Desejo.
Para nos ajudar a vencer esses nocivos dominadores de pensamentos, de emoções, de desejos e de sentimentos, foi-nos dado o Exercício Esotérico noturno de Retrospecção. Os Ensinamentos Rosacruzes nos ensinaram como fazê-lo, todas a noites antes de dormir, corretamente, revisando os acontecimentos do dia e examinando nossos pensamentos, sentimentos, desejos, nossas emoções, palavras, obras, ações e nossos atos louvando-nos ou culpando-nos onde for necessário. A principal característica desse maravilhoso e poderoso Exercício Esotérico noturno de Retrospecção é que ele não é um exercício de memória (!), mas sim de “coração”: os acontecimentos (na ordem inversa no tempo, efeito-causa) vão se apresentando a nós conforme o grau de intensidade que foi impregnado em nós quando ele ocorreu. Ou seja: não necessariamente todos os acontecimentos do dia serão objetos da Retrospecção! Aos poucos, com o autocontrole, mais e mais acontecimentos serão objetos desse Exercício.
Complementando àquele – pois se não o fizer bem, dificilmente fará esse – também nos foi ensinado o Exercício Esotérico matutino de Concentração para que possamos controlar nossa Mente, e não deixar que seja levada daqui para lá pelas incessantes ondas de pensamento, desejo emoção e de sentimento que nos envolvem.
Todo aquele que colocou conscientemente seus pés no Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz, que conduz à perfeição de si próprio e à liberação das garras do materialismo sabe que isso não é fácil. A vida disciplinada, a vida autodisciplinada, requer constante atenção e esforço. É a tarefa demasiado difícil? Não, compreendemos que não é, porque o exemplo foi dado por nosso Grande Indicador do Caminho, Cristo Jesus. Nos quatro Evangelhos, contidos na Bíblia, Ele nos deixou as fórmulas para a Iniciação, os sublimes conceitos e preceitos espirituais que nos conduzem para diante, para cima e para sempre.
Quando compreendermos o verdadeiro propósito da vida, que é o de adquirir experiência (e não “buscar a felicidade”), considerando-a como um desafio e nos dermos conta de que, como chispas da Chama Divina, temos um ilimitado poder de desenvolvimento dentro de nós, um poder pronto para ser demonstrado e exercitado, poderemos considerar a tarefa da autodisciplina com regozijo e determinação. Nós, a Individualidade – um Ego da Onda de Vida humana manifestado aqui – sempre buscamos o nosso direito de nascimento no Reino de Deus (ainda que, em muitos, inconscientemente). Vira e mexe, estamos dando impulsos para levarmos uma vida de retidão, uma vida na qual a consciência de vigília se identifica com o que realmente somos, um Ego; uma vida que não é apenas “construtivamente” criadora, mas que segundo os preceitos de Cristo Jesus é como “uma coisa formosa”, e é verdadeiramente um “regozijo eterno”.
No capítulo 8º do Evangelho Segundo S. João, Cristo Jesus usa duas frases que enfatizam a mesma ideia. No versículo 31, fala de “Discípulos verdadeiros”, e logo no versículo 36, de “verdadeiramente livres”.
O Discipulado – no Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz, o próximo grau depois do Probacionismo – significa uma vida disciplinada, mas não é necessária uma vida limitada por restrições e limitações enfadonhas e irritantes. Existe uma profunda corrente submarina de felicidade e de liberdade sem empecilhos, em uma vida vivida de acordo com os mais sublimes preceitos. Para tanto, Cristo Jesus disse que o propósito de Seu ensinamento era que “a vontade de Deus seja sempre cumprida.” (Jo 16:24).
Um verdadeiro Cristão, que todo Estudante Rosacruz deve ser, nunca pode se contentar com esforços periódicos ou esporádicos por viver segundo os ensinamentos de Cristo Jesus. Deve haver uma disciplina diária, um esforço constante por “amar a vossos inimigos, bendizer aos que os maldizem, fazer o bem aos que os aborrecem e orar pelos que os usam malignamente”.
Para ser verdadeiramente livres devemos ser capazes de seguir; devemos servir de boa vontade e amorosamente onde quer que apareça a oportunidade; devemos ser capazes de nos esquecermos de nós mesmos e pensarmos, antes de tudo, em nossos próximos. Devemos chegar ao ponto em que nos arrependamos, nos restituamos e nos reformemos, com alegria e boa vontade em nossos corações. Essa é a vida de autoconquista, a vida que nos desafia, como peregrinos sobre a Terra, a viver em constante vigilância para responder unicamente aos impulsos superiores.
Afinal, somos Espíritos Virginais manifestados aqui com um Ego da Onda de Vida humana e sendo assim nosso verdadeiro lugar está nos Mundos celestes, e tão logo aprendamos as lições desta escola da vida, levaremos à realidade um mundo pacífico no qual a Fraternidade Universal será um fato e mais rápido nos livraremos da cruz de nossos Corpos.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de junho de 1973 e publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz” – julho-agosto/ 88-Fraternidade Rosacruz-SP)
Qualquer Religião ou Filosofia é benéfica unicamente na medida em que a praticamos em nossas vidas diárias e a capacidade de nossa compreensão é o grau em que traduzimos seus conceitos em ações, com o objetivo de ajudar.
Não podemos todos ser reis, presidentes ou líderes em nosso país ou esferas de atividades. Se, portanto, nossas circunstâncias são tais que não podemos ver nenhuma possibilidade, próxima ou distante, de executar coisas de “importância”, então, que podemos fazer para pôr em prática nossas ideias dentro de nossa própria família, da sociedade ou comunidade que pertencemos e na nossa vida diária de trabalho e atividades?
Para nós, Estudantes Rosacruzes, podemos atribuir que a Fraternidade Rosacruz, cujos ensinamentos estamos desejosos de aplicar, estão baseados ou conectados em alguma forma com Cristo, de maneira que, antes de tentar responder nossa pergunta, seria bom que tratássemos de entender, tão brevemente como seja possível, exatamente porque veio Cristo e o que foi que Ele procurou fazer e logo, tendo-O como nosso ideal, podemos, como Seus auxiliares, reajustar nossa pergunta inquirindo o que é que podemos fazer para continuar Sua obra.
Na Filosofia Rosacruz se nos ensina que Cristo veio preparar o caminho para a emancipação da humanidade do Espírito de Raça e Espírito de Família e reunir as raças, os povos e as nações separados em um vínculo de paz e de boa vontade, unindo toda a família humana em uma Irmandade Universal ou Fraternidade Universal, na qual todos, voluntária e conscientemente sigam a lei do Amor.
Cristo veio, portanto, preparar-nos para a libertação de qualquer tipo de governo externo, para fortalecer nossa Individualidade (nosso Tríplice Espírito) e o desenvolvimento da confiança própria pelo exercício do livre arbítrio.
À primeira vista, parece que ao fazê-lo, Ele frustraria Seu próprio objetivo de unirmo-nos a uma Fraternidade Universal de Amor, uma vez que, quanto mais duramente nos convertamos em indivíduos, mais nos inclinamos a ver unicamente nossos próprios direitos e ignorar os dos outros. Tornamo-nos imbuídos com um sentido de separatividade em que nos sentimos distintos dos demais seres, vivendo todos em um mundo no qual as condições são tais que devemos lutar por nossas próprias finalidades materiais, sem dar muita importância a se prejudicamos ou não aos demais nesse processo. É esse esforço para executar nossas próprias finalidades, sem considerar os outros, o que nos traz todas as lutas em nossas famílias e na sociedade, nos negócios e na vida em geral, quando estamos aqui renascidos.
Porém, com o desenvolvimento do nosso livre arbítrio, a ação e a reciprocidade de cada um durante o desenvolvimento dão um sentimento de responsabilidade pelo qual aprendemos a reconhecer os direitos dos outros e confessar que quando reclamamos nossos direitos queremos, na realidade, privilégios, porque não estamos preparados para assumir as responsabilidades que acompanham os direitos.
À medida que aprendermos a reconhecer os nossos semelhantes como indivíduos em estado de desenvolvimento, chegaremos à conclusão de que deve haver tolerância entre uns e outros e assim, gradualmente, obteremos a realização do ideal de Cristo representado onde todos, felizes e conscientes, seguem a lei do Amor. É, então, que começamos a perguntar a nós mesmos: onde posso me adaptar dentro do esquema das coisas? Que posso fazer para cooperar com a obra de Cristo e ajudar para que Seu ideal se realize? Uma vez que a forma ideal é que todos, satisfeitos e conscientes, sigam a lei do Amor, é evidente que qualquer coisa que façamos deve ser algo que ajudará a realizar o almejado e elevado estado de coisas.
Quando felizes e conscientes seguimos a lei do Amor, como poderá ela encontrar expressão em nossas vidas diárias? Seguramente no afeto e na ajuda, imbuídos com a simpatia que nasce da inteligência. Então não é a prática diária dessas coisas a resposta de nossa pergunta? Parece muito simples, porém quando tratamos de pô-las em prática, essas coisas não são nem simples e nem fáceis.
Na vida em família, quando as pessoas não vivem em harmonia, é sempre tão simples e fácil reconhecer o ponto de vista do outro com o objetivo de ter paciência e ajustar-se a si mesmo em vez de esperar sempre que o outro faça o ajuste necessário? Na vida dos nossos negócios, é fácil permanecer paciente e atento contra as injustiças dos superiores, os zelos dos colegas, as desonestidades dos concorrentes e os transtornos gerais da vida diária? E em nossa vida em geral se, por exemplo, um partido político que está no poder não representa nossa classe particular de político, podemos refrear um pouco a crítica maldosa e dar, ao menos, um pouco de crédito aos ideais que fielmente se seguem?
O exemplo é sempre muito mais eficaz que o predicar, e qualquer movimento nessa direção o faz um pouco mais fácil para que outros façam o mesmo, e ao fazê-lo, o círculo se amplia; e estamos de fato ajudando ativamente na grande obra de Cristo, unindo as nações separadas em vínculo de paz e amor. Ao falar algumas palavras de simpatia para aliviar uma alma oprimida, ou dando um sorriso para infundir alegria a outra pessoa, cooperaremos na obra de Cristo!
Assim estaremos cumprindo um dos preceitos Rosacrucianos, que diz que devemos nos esforçar cada dia para servir aos nossos semelhantes com amor, modéstia e humildade em qualquer oportunidade que se nos ofereça e ao fazê-lo estamos cumprindo uma das advertências de Cristo quando disse: “O que for o maior entre vós, seja o servo de todos” (Mt 20:26). Se é a grandeza da Alma o que desejamos, ali está a promessa e o caminho!
Outro preceito nos diz que o silêncio é uma das maiores ajudas no crescimento anímico, portanto, devemos procurar o ambiente de paz, equilíbrio e quietude. Ao praticar a benevolência, a reflexão, a simpatia e a inteligência estamos de fato criando tal ambiente, que levaremos conosco para onde quer que formos. Se nossa atitude habitual para com os demais é de uma inteligência simpática, expressada em bondade de pensamento e ação, devemos levar a paz em nosso íntimo e devemos adquirir equilíbrio, porque só assim não ficamos facilmente “transtornados” pelo que os outros dizem ou fazem. Assim, nos encontramos em todas as situações com uma tranquilidade e paz internas que são mais efetivas que todos os ruídos do mundo.
Estaremos cumprindo ainda um terceiro preceito, no qual, enquanto desenvolvemos inteligência, simpatia e afeto, devemos necessariamente aprender a ser indulgentes e isso conduz ao controle de si mesmo, que é um dos maiores passos para a própria segurança, virtude capital do Aspirante à vida superior.
Já nos foi dito em repetidas ocasiões, por meio da literatura Rosacruz e em nosso Ritual Devocional do Serviço do Templo que “o serviço amoroso desinteressado para com os outros é o caminho mais curto, mais seguro e mais agradável que nos conduz a Deus”. Como podemos oferecer serviço amoroso e desinteressado a outros, a não ser que desenvolvamos a qualidade inestimável da inteligência? É estranho, porém certo, que, se fazemos todos os dias as coisas comuns e simples de uma maneira simpática, bondosa e inteligente, estamos fazendo a obra do Mestre e ajudando a cumprir nossa oração diária “Venha a nós o Vosso Reino”. Na realidade, o Reino de Deus não pode vir a nós de outra maneira.
Volumes se têm escrito oferecendo soluções a todas as deficiências dos seres humanos quando temos a solução na simples sentença: “Amai-vos uns aos outros.”. É tão simples, que em nossa perversidade procuramos todas as classes de coisas complexas que, sendo muito humanas e materialistas, levam internamente a semente da sua própria destruição, enquanto o simples mandamento de Cristo leva dentro de si mesmo a semente de seu próprio êxito.
Poderia existir a horrível consequência de uma depressão econômica se o ser humano enfrentasse seu semelhante com inteligência e afeto? Poderia existir a fome, a miséria, a pobreza, a escravidão e todas essas coisas horríveis que resultam da manipulação do sistema do dinheiro para o benefício de alguns, se nos amássemos uns aos outros? Seguramente o remédio depende da educação do ser humano para usar o dinheiro e seu poder para o bem-estar de seus semelhantes, usando-o com boa vontade e simpatia.
Poderia existir a contenda política internacional e guerras se os diretores das nações fossem um pouco mais compreensivos dos pontos de vista das outras nações e com desejo sincero de obter o bem-estar comum? Se todos nós que somos as unidades de nossas nações agíssemos com inteligência e amor, não somente para com o nosso povo, mas também com todos os de outras nações, seguramente que seria uma arma de paz muito mais poderosa que todas as armas de guerra. É indiscutível que Cristo precisa de nossa ajuda para vencer Seu propósito de unir os seres humanos e nações que estão separados; e os povos e diretores de nações devem colaborar nessa tarefa.
Então por que não cooperamos hoje, agora, expressando a todos os seres, onde quer que se encontrem, a bondosa e simpática inteligência que com o tempo guiará a Fraternidade Universal, na qual todos, felizes e alegremente, seguirão a lei do amor?
(Traduzido da Revista “Rays From The Rose Cross” e publicado na Revista Serviço Rosacruz de setembro/1971-Fraternidade Rosacruz-SP)
A sinceridade é qualidade de quem é sincero. Ser sincero é ser coerente consigo mesmo. Para o Aspirante à Vida Superior, é qualidade fundamental. Sua atuação sincera, aqui no Mundo Físico, produz substanciosa repercussão nos Mundos internos. Lembremo-nos da sinceridade de nosso amigo Max Heindel. Recordemos, também, a sinceridade dos Apóstolos do Cristo. Poderíamos continuar enumerando seres que alcançaram o cume da espiritualidade, mas, todos foram sinceros.
A sinceridade, como vem sendo demonstrado, é qualidade básica para que o Aspirante à vida superior se sintonize com as forças superiores. Ela o aproxima do Cristo, também, de maneira efetiva. Feliz, pois, de quem cultiva, assiduamente, essa luminosa qualidade!
O oposto dessa qualidade é aquela coisa que levou o Apóstolo Judas Iscariotes a trair Cristo-Jesus. É produto do “eu inferior”, da Personalidade, assim como a sinceridade é resultante do “Eu Superior”, da Individualidade, também chamado Deus Interno.
Viver sinceramente, embora o mundo não compreenda nem mesmo certas pessoas intelectualizadas, essa é a verdade, é ter conformado a vida às Leis Divinas. O ser que assim procede, apesar de não ter vaidade alguma e, nada ostentar, trata-se de um ser superior, a partir de si mesmo. Tem sólida estrutura em seu comportamento e conquistou o domínio das forças inferiores. Deixou de ser um joguete delas, para ser o seu controlador. Tornou-se, então, conscientemente, um filho de Deus e o artífice de seu destino, porque usa só com acerto o seu livre arbítrio.
(por: Hélio de Paula Coimbra – Publicado na Revista Serviço Rosacruz – de novembro/1966-Fraternidade Rosacruz-SP)
Quanto a misericórdia, a Primeira Epístola de São Paulo a Timóteo nos ensina, referindo-se a ele mesmo:
“… a mim que anteriormente fui blasfemo, perseguidor e insolente; mas alcancei misericórdia, porque o fiz por ignorância e na minha incredulidade.” (ITim 1:13).
É, na verdade, uma virtude saber mostrar misericórdia aos ignorantes. Quantas vezes por dia nos tornamos perturbados – e com razão – por causa daqueles que não se importam com pessoa alguma e desconhecem o próximo.
Quando um carro nos “corta” subitamente, numa rodovia, qual é a nossa reação? É de raiva ou desdém? Quando, em uma reunião, ouvimos alguém fazer um comentário que para nós não é totalmente válido, por estar sendo encarado do ponto de vista terreno, condenamos esse alguém por sua ignorância ou rimos pela sua falta de compreensão?
Quando vemos um criminoso na T.V. ou lemos sobre ele nos jornais, qual é nossa reação? Dizemos: “bem-feito, era isso que ele merecia”, esquecendo que ele é fraco e está perdido num mundo sensacionalista do crime?
Se respondermos “sim”, com toda a honestidade, a qualquer dessas perguntas, então somos fracos, ignorantes e negligentes em relação aos outros. Ter misericórdia é conscientizarmo-nos da fraqueza do próximo e ajudá-lo com compreensão, enviando-lhe pensamentos positivos, ao invés de negativos. Misericórdia exige que uma coisa esteja ativa: o autoesquecimento, uma vez que encontramos em nosso desdém, raiva e improbidade, um elemento de nosso “Eu inferior” (Personalidade) que, no caso, age como juiz – nós nos arvoramos em juízes. É fácil que nos deixemos “cair” nesse estado de ignorar os outros, até porque estamos cercados de outras pessoas que não ligam para ninguém. No entanto, isso não nos isenta de culpa; somos tão culpados quanto aqueles que nos cercam. Deveríamos, portanto, tentar nos precaver contra esses hábitos, à medida que eles começam a dominar nossos pensamentos, nossos sentimentos, desejos, nossas emoções, palavras, nossos atos, nossas obras e ações.
Uma maneira de começar a trabalhar nisso é dizer-nos, quando alguém nos empurra ao passar por nós: “Quantas vezes já me senti culpado por isso; quantas vezes agi dessa forma?” – lembrando o quanto temos que mudar. Se procurarmos com verdadeira seriedade, descobriremos que nosso desdém, raiva e improbidade refletem uma única coisa: egoísmo.
Assim, misericórdia, segundo Timóteo, é o perdão da ignorância ou do egoísmo. Se pudermos perdoar aqueles que nos ofendem, encontraremos uma compreensão em nosso caráter, pois, aquilo que damos, também conservamos. Se dermos compreensão e misericórdia, retemos a compreensão sob a forma de conhecimento e grandeza interior. Tente agir assim e descobrirá que quanto mais ajudar os outros sob esse aspecto, mais aprenderá sobre você mesmo.
Na verdade, o objetivo de “viver a vida” não devia ser rebaixado a ponto de só se “dar” se houver recompensa. Porém, se seguirmos a fórmula mencionada anteriormente, sentiremos uma reação bastante marcante: quanto mais nos conhecemos, mais procuramos servir nossos irmãos e nossas irmãs. Quanto mais sentirmos a nossa Individualidade atuar em nós, mais perceberemos que estamos aqui para ajudar os outros e, com alegria e regozijo, colocaremos toda nossa energia nisso.
A seguir vem a piedade. O que é piedade? Segundo o Dicionário, piedade é “tristeza pelo sofrimento e desgraça alheia”.
O que isso significa para nós? Para aqueles que anseiam uma vida espiritual, significa muitas coisas que a maioria das pessoas nem percebe. Piedade é o primeiro passo para a compaixão. Precisamos ser capazes de sentir a dor alheia. Como Parsifal (o ser puro que almeja uma vida superior, personalizado na obra Parsifal de Richard Wagner), precisamos sentir a tentação e a dor da “queda”, pois, sem a compreensão do fracasso e da vitória, não poderemos dar consolo àqueles que foram tentados. Piedade, então, deve ser a capacidade de sentir o sofrimento ou a desgraça alheia, como foi definido acima.
Mas, como podemos compreender isso? Como podemos sentir a dor de outra pessoa? Uma das melhores maneiras é através das nossas próprias experiências; o que sentimos em determinada situação poderá ser transmitido para outro, em situação similar. Mas, como nos sentimos quando não experimentamos uma situação similar? O que poderá nos despertar para os sentimentos alheios? O que poderemos usar como modelo?
Sabemos que no passado remoto da nossa existência devemos ter sentido, provavelmente, todas as mágoas, todas as tristezas que alguém possa sentir. Mas, isso não está à nossa disposição assim tão prontamente, de maneira que precisamos encontrar um meio que nos faça lembrar, talvez não detalhadamente, esse sentimento do passado.
Uma maneira ou modelo é a imaginação. Ao nos colocarmos no lugar de outro, talvez possamos perceber como ele se sente e daí, então, compreender seu dilema. “O ser humano é aquilo que seu coração diz”. Se pensarmos ou imaginarmos aquilo que uma determinada pessoa está passando na vida, através de nossa própria experiência nesta vida, seremos capazes de despertar, em nós, a compreensão e o sentimento latente de amor por aqueles que sofrem e são desafortunados.
Descobrimos, assim, um modelo para nos ajudar a sentir piedade e, também, compreensão para a tristeza alheia. Mas, o que significa piedade para nós, em se tratando de grau de evolução? Piedade é um termômetro dos nossos próprios sentimentos, visto que para sentir piedade de alguém, no sentido mais verdadeiro da palavra, precisamos conhecer e estar conscientes dos nossos próprios sentimentos. Mas, sentir piedade é dar um passo mais adiante do que simplesmente sentir pena pela tristeza alheia, pois, nos leva a uma compreensão superior e a maior compaixão.
Quando sentimos “pena” de um amigo ou de uma amiga doente ou de alguém com problemas emocionais, talvez o abracemos e digamos: “Oh! coitadinho!”. Mas isso adianta? Isso lhe dá coragem para continuar vivendo? Talvez, não sei. Mas, quando sentimos uma compreensão ou compaixão verdadeira e desejo de ajudar a minorar o sofrimento diremos: “Está bem, você está doente e precisa de ajuda, o que você quer, o que você pretende fazer?”.
É uma ajuda e um conforto deixar alguém chorar nos nossos ombros, mas, só ajudaremos se fizermos algo para que ele possa vencer sua dificuldade. Há muitas pessoas no mundo que sentem pena dos animais, que até fundaram sociedade para protegê-los contra maus tratos. Mas, essas pessoas continuam comendo essas mesmas criaturas que eles intencionam salvar (ou animais de estimação são “diferentes” dos outros animais, apesar de pertencerem ao mesmo Reino, a Onda de Vida Animal?). Isso é piedade? Compaixão? Até certo ponto talvez, mas será verdadeira quando puderem dizer “eu sinto tanto por eles que estou preparada a renunciar comê-los”. A verdadeira piedade é o desejo de sacrificar ou desistir de algo, por uma ideia. Sentimos muito quando uma pessoa está doente, mas se dermos muita atenção a essa pessoa, ela poderá ficar doente por muito tempo, só pela atenção que lhe damos. Descobrimos, então, que precisamos controlar nosso sentimento pessoal de piedade e ajudá-lo, com amor e inteligência.
Compaixão também tem severidade, mas com a finalidade de ajudar, de algo bom. Sentimos a dor alheia, mas sabemos que ela precisa ser superada e a pessoa tem que lutar para que a saúde vença. Ajudar a pessoa a lutar, com firmeza e interesse.
Uma ótima ajuda e que realmente ajudará a pessoa doente ou enferma é solicitar a ela que se inscreva no Departamento de Cura de um Centro Rosacruz que o possua (mais informações, encontre aqui: Como os Rosacruzes Curam os Enfermos e aqui Como Funciona a Cura Rosacruz e como Solicitar Auxílio.
Vemos, então, que piedade é um passo que nos leva a um melhor entendimento de nós mesmos e a nossa capacidade de ajudar o próximo.
A seguir vem a paz, algo que todos nós almejamos. Thomas Kempis nos diz sobre a paz: “Poderíamos aproveitar a paz se não nos preocuparmos com o que os outros dizem ou fazem, pois isso não é de nossa alçada”.
Como alguém pode ter paz por um longo período se ele se intromete sempre na vida dos outros; vagueia sem sossego e não se esforça em perdoar?
Se procuramos o mundo e seus supostos tesouros, certamente não podemos esperar paz em nossas Mentes e em nossos Corações. A única paz verdadeira é a quietude que nos cerca, onde quer que estejamos ou o que for que estivermos fazendo. A chave para essa paz é sermos honestos. Quando alguém possui essa virtude de verdade, ele está em paz. Mas, o que é a honestidade? Na verdade, enquanto estivermos procurando as muitas diversidades do mundo não podemos estar em paz. Mesmo que nos concentremos em um único objetivo no mundo como ter um carro novo ou uma nova televisão ou um cargo mais alto no trabalho, a paz dura somente até o momento em que aquilo for alcançado; aí passaremos a procurar outra coisa. Consequentemente, o que devemos procurar não está no mundo. Deve estar, se é que está, em algum lugar, dentro de nós.
Quando procuramos essa paz interior, um novo mundo se abre, o mundo de Cristo. Dentro de cada um de nós há essa chama de Luz e quando encontrada, a televisão, o carro, o cargo no trabalho terão a sua validade, mas não como antes, isto é, não serão mais uma pedra dentro da nossa alma. O que realmente estávamos procurando em todas essas coisas era o Maná para saciar uma fome que não sabíamos definir. Perceberemos que, dentro de nossas almas, há desejos e a única maneira de saciar essas dores interiores é a consolação interior. O alimento dessa consolação é a Luz. Podemos perguntar: “o que preciso fazer para conseguir essa fonte interior de alimento e de onde vem esse alimento?” Em poucas palavras podemos dizer: “Orando e vivendo a vida em sua plenitude”.
A prece procura nos elevar a esferas que crescem tanto quanto nós e ainda mais do que nós mesmos, à medida que somos capaz de compreendê-la. Essa grandeza é a expansão eterna, é o nosso desenvolvimento espiritual.
Paz, então, é prece, mas prece que expande e alerta o Espírito – a Individualidade –, além dos confins da Terra, para a realização do todo. Fomos ensinados a orar sem parar e isso é viver a vida (como São Paulo nos ensina); procurar o Cristo Interno e viver de acordo com aquelas Leis de Deus, do qual somos toda uma parte. Quando nossa vida for honesta, para perceber as maravilhas de Deus, teremos paz. Uma paz que supera toda compreensão.
Agora é a vez do maior sentimento de todos: amor. O que se pode dizer sobre amor? Muitas coisas foram ditas sobre amor e todos os anos na época do Natal sua forçaestá mais perto do que imaginamos. Na Noite da Véspera do Natal (Noite Santa) celebramos o simbólico “nascimento do corpo de Jesus” e para a maioria das pessoas, isso é suficiente; suficiente para encher-lhes o coração por algum tempo, com o espírito de dar. Para alguns é a época de comidas sofisticadas, luzes, presentes, reuniões mundanas e enfeites de Natal. Para muitas pessoas é uma época agitada, ocupada em coisas só materiais. É uma época agitada porque há algo mais no ar do que só “pinheiros e comidas”. Há o Cristo!
Cristo, agora, está entre nós, mais próximo do que o ar. Não é dizer que Ele está conosco somente no Natal, mas agora é uma época muito especial porque Ele nos prestou um dos mais lindos serviços que se possam encontrar. Ele nos deu Seu dom de liberdade e está, agora, nos mostrando o caminho para a libertação, embora esteja preso no interior da Terra. Tudo isso e mais ainda. O que Ele está mostrando com o dom da liberdade é o Amor. É aquela força libertadora que abre as correntes e soltas as amarras da Terra. Não aquele tipo de amor que diz que “você é meu e eu sou sua”, mas aquele tipo de amor que diz estarmos aqui para nos ajudar mutuamente a crescer, de modo a podermos nos entender conscientemente. Aprenderemos, pela experiência, que somos um no amor, um individualmente, mas provenientes da mesma fonte.
William Blake diz que “somos postos na Terra para gerar os raios do amor”. Isso é verdade. Precisamos tornarmo-nos flexíveis para a ginástica da vida e quanto mais resistência tivermos, mais fortes serão nossos músculos. Temos que tomar conhecimento das coisas gradualmente, entendê-las bem e estar preparados a resolvê-las quando nos colocarmos em contato com elas. Até atingirmos o ponto de expansão interior, nossa cura é vagarosa, nossos corações não podem, ainda, suportar a verdadeira Paixão de Cristo.
Paixão é dor e a dor do despertar do Cristo Interno eventualmente transcende o corpo e nos encontramos nos Mundos espirituais. É somente com um grande Treinamento Esotérico, com domínio próprio, que compreendemos que nos livramos dos valores do Mundo Físico. Isso não quer dizer que não exista alegria neste Mundo Físico, porque suportando essa Paixão ou Cruz, estamos se alegrando e dilatando o nosso Coração e a nossa Mente para regiões inexplicáveis para os menos atentos. A alegria, no entanto, está em todos os lugares e em todas as coisas. Está sempre perto, como Anjos cantando, suavemente, mas corretamente, no ouvido interior – cantando louvores para outro nascimento de Cristo e para a expansão d’Ele em nós.
(Publicado na Revista “Serviço Rosacruz” – setembro/1980 – Fraternidade Rosacruz – SP)
A Sabedoria descrita nesse versículo dos Provérbios (“Obtenha sabedoria e compreensão” (Pr 1:2)) representa o princípio feminino de Deus, o fluir da revelação cósmica, enquanto a Compreensão representa o princípio masculino, que é alcançado pelo emprego da Vontade e da Razão (Logos). A temática do presente artigo aborda esses dois polos básicos que fundamentam qualquer desenvolvimento humano – até mesmo o desenvolvimento inconsciente que, mesmo sendo respeitado, não é sugerido aos Estudantes Rosacruzes, pois somente pelo emprego correto desses polos é que coisas originais podem ocorrer, de fato. Lembrando que a originalidade aqui mencionada, sempre será fundamentada no Amor, que também é o propósito de toda Ação, de todo o Poder e de toda a Sabedoria. Qualquer criação fundamentada fora do Amor é vaidade.
Duas figuras representam, em seu mais elevado grau, os polos feminino e masculino: a Virgem Maria que personifica o polo feminino e Hiram Abiff – o Construtor do Templo de Salomão – que representa o polo masculino. Lázaro, por sua vez, representa o fruto dessa união, ou o ser andrógeno ressuscitado pelo Leão de Judá, o Cristo. Ele, junto a Jesus, alcançou a vida eterna pela união dos dois polos. Essa androgenia foi majestosamente representada por Leonardo da Vinci na obra ‘A Última Ceia’, em que São João Evangelista é representado como um ser andrógeno.
Originalmente, o mundo foi concebido em equilíbrio e cooperação perfeita entre os polos masculino e feminino. Aqui todos os elementos da Natureza operam em consonância para a benignidade e para a vida. Condição conhecida na Bíblia como Jardim do Éden. Com o evento conhecido por “Queda do Homem” tanto o ser humano como a Natureza passaram a ser divididos: ao mesmo tempo em que a Natureza nos fornece a vida e o alimento de cada dia, há vírus, micróbios, vermes, infectuosos, animais e plantas que sugam, parasitam, lutam e matam. Catástrofes e desgraças provindos da Natureza, passaram a ocorrer após a “Queda do Homem”. Esse fenômeno é ilustrado por Ezequiel no Capítulo 31, versículos 16-17: “Ao som da sua queda fiz tremer as nações, quando o fiz descer ao inferno, com os que descem à cova; e todas as árvores do Éden, a flor e o melhor do Líbano, todas as árvores que bebem águas, se consolavam nas partes mais baixas da terra. Também estes com ele descerão ao inferno a juntar-se aos que foram traspassados à espada, sim, aos que foram seu braço, e que habitavam à sombra no meio dos gentios”.
Do mesmo modo, passamos a ter duas Naturezas pós-queda: uma superior (Imagem de Deus) e outra inferior (que atualmente é dessemelhante a Deus). A busca pelo reestabelecimento da condição antiga é meta do Aspirante a vida superior – o Estudante Rosacruz – e a Nova Jerusalém só poderá ser uma verdade quando essa condição for alcançada por nós.
O principal motivo pelo qual não atingimos esse estágio ocorre pelo fato de não compreendermos o Mistério do Divino Feminino e da não aplicação desse saber em nossa vida. A pureza é o elemento fundamental que transcende a experiência humana para além da representação ou do conhecimento cerebral (sombra da real essência pensante do Ego). Ao se buscar a pureza, alimenta-se a Virgem Maria interior, que desperta um saber acima do intelecto e permite a experiência da verdadeira Vida.
A quinta essência do polo masculino, conhecida na Fraternidade Rosacruz como quintessência da linhagem de Caim, se alimentada isoladamente, deslocada da pureza, seduzirá a pessoa ao ponto de acreditar ser detentora de grande poder e que pode bastar em si mesma.
O polo masculino isolado, então, jamais produzirá um poder epigenético (originalidade) colaborativo à Grande Obra. A originalidade sem pureza é muito perigosa, sendo sua expressão máxima manifestada em alguns sistemas econômicos atuais. Por exemplo, o capitalismo, que tem foco na produção e no lucro, induz seus adeptos (ainda que inconscientes em sua maioria) para a necessidade de ambição e originalidade. Estabelece, assim, a competição entre as pessoas. Pelo modo como esse sistema é aplicado hoje (sem pureza), aquele que tiver a melhor ideia (ou a ideia mais lucrativa) ganhará sua promoção ou recompensa. Por ser unilateral, possui efeitos colaterais como a exacerbação do individualismo, da vaidade e a periferia econômica-social.
Obviamente que os conceitos de: dinheiro, poder, amor e fama são os elementos colocados pelos Grandes Líderes da humanidade como fonte motivacional para que saíamos da inércia e dinamizamos nossos poderes latentes, por meio da obtenção de experiências e aprendizagem (ainda que isso pareça um absurdo quando se contempla a miséria que um sistema unilateral, como o acima mencionado, promove).
Lembrando o que estudamos no Conceito Rosacruz do Cosmos: “O Amor, a Fortuna, o Poder, a Fama! Eis os quatro grandes motivos de toda ação humana. O desejo de alguma ou várias destas coisas é o motivo por que o ser humano faz ou deixa de fazer algo. Os grandes Líderes da humanidade agiram sabiamente quando lhe deram tais incentivos para a ação, a fim de obter experiências e aprender. O Aspirante à vida superior deve continuar usando-os como motivos de ação, firmemente, mas deve transmutá-los em algo superior. Por meio de nobres aspirações, deve saber transcender o amor egoísta que busca a posse de outro Corpo, e todos os desejos de fortuna, poder e fama fundamentados em razões pessoais egoísticas. O Amor pelo qual se deve aspirar é unicamente o da Alma; que abarca todos os seres, elevados e inferiores e que aumenta em proporção direta às necessidades daquele que recebe. A Fortuna pela qual se deve lutar é somente a abundância de oportunidades para servir os semelhantes. O Poder que se deve desejar é o que atua melhorando a humanidade. A Fama pela qual se deve aspirar é a que possa aumentar nossa capacidade de transmitir a boa nova, a fim de os sofredores poderem encontrar o descanso para a dor do seu coração.”
No entanto, a questão que fica é o modo como utilizar os conceitos de fortuna, poder, amor e fama: se houver correspondência aos raios inferiores de Marte e Vênus, tem-se uma vida comum e materialista; por e outro lado, se houver preenchimento destes conceitos com coragem, bravura, intrepidez, simetria, simpatia e Amor, pode-se despertar o raio universal de Urano e concretizar, aqui e agora, a Nova Jerusalém.
Atualmente, o polo masculino impera de modo invertido na grande maioria das pessoas, principalmente nas pessoas que possuem Mentes com poder material e que determinam aquilo que seguramente as massas aderirão. Aqui existem dois problemas:
O foco unilateral no polo feminino (linhagem de Água) também possui seus efeitos colaterais: mesmo que promova a experiência de fidelidade e pureza, induz o ser humano a mergulhar no “Eu verdadeiro” – o Ego, a Individualidade – e suspender todas as suas faculdades pessoais. Quem busca o “Eu verdadeiro” suprimirá o centro falso que é o “Eu inferior” (alimentado isoladamente pelo polo masculino isolado). Nessa libertação radical se atinge o estado de consciência sem sopro e sem reflexão. Aqui se alcança a transcendência do fenômeno de existir no “Eu inferior”; de qualquer senso de consciência do tempo, espaço e causa. Chega-se na dissolução do senso do ser individual. Em outras palavras, mata-se a Personalidade!
Entretanto, o método inaugurado por Cristo-Jesus – o Cristianismo – é o mais eficaz no propósito de reequilibrar a Natureza e o ser humano. Nele, o Fogo se encontra com o Água e nada se extingue na Personalidade humana. Ao contrário, tudo nela se abrasa. Esta é, de fato, a experiência do binário legítimo ou a união das duas substâncias separadas na essência única (Deus). Em outras palavras, as substâncias continuam separadas (Espírito e Corpo – Binário) para não serem privadas daquilo que é o mais precioso em toda a existência: a aliança livre no amor. Por isso no Cristianismo se diz sobre o dom das lágrimas, pois a Personalidade permanece. O próprio Cristo Jesus chorou na ressureição de Lázaro, que é a personificação da união perfeita entre os polos masculino e feminino.
Neste sentido, o Amor, que é a base do ensinamento do Cristo, só pode se manifestar se houver um binário; se houver um Amante e um Amado; se houver um “Eu” e um “Tu”; se houver Sopro (Espírito, Fogo) e Reflexão (Corpos, Água). Este é o motivo pelo qual Cristo sempre dizia, “Em verdade, em verdade”, referenciando a consonância entre o Espírito (primeiro “em verdade”) e o Corpo (segundo “em verdade”), e que dessa fecundação, nascerá a Alma, que são os poderes anímicos, como aprendemos na Fraternidade Rosacruz, que é a Tríplice Alma: Alma Consciente, Alma Intelectual e Alma Emocional. Também este é o verdadeiro motivo pelo qual Ele curou um doente (fruto do círculo fechado) num Sábado, reabrindo a espiral em que Deus vem até o ser humano e o ser humano vai até Deus.
O principal meio para alcançarmos a união verdadeira entre os polos masculino e feminino (Originalidade-Pureza) é o Amor. Não é possível amar unilateralmente. Para o Amor se manifestar, deve haver os dois polos, em relação. Um alimenta o outro, sendo a Cristificação o fruto deste casamento. Somente assim a Nova Jerusalém se tornará uma realidade.
Do ponto de vista prático ou do cotidiano, dois são os meios que se pode atingir da união de complementares (Masculino-Feminino; Eu-Tu; Hiram-Rainha de Sabá; Espírito-Corpo; Sopro-Reflexão; Originalidade-Pureza): no nível pessoal (regeneração da Personalidade) e no nível coletivo (serviço amoroso e desinteressado aos outros), sendo que um aprimoramento não pode existir sem o outro. Isso está de acordo com a lógica de “espirais dentro de espirais” ou “de como é em cima, é embaixo”. Em ambos os níveis, a Imaculada Concepção e a Glória de Shekinah são alcançadas.
Os alquimistas revelaram uma grande verdade quando declararam que a Pedra Viva (o corpo da Nova Era) era formada pela união do Sol (polo masculino) e da Lua (polo feminino), e o percurso dos Astros no Sistema Solar, o Corpo-Templo de Deus, possui um correlato similar do Corpo-Templo do ser humano. Este é um dos maiores simbolismos do Corpo Humano.
A Semente Sol e a Semente Lua, conforme o Estudante Rosacruz se torna dedicado na busca espiritual, a cada ano, imediatamente após o Solstício de Junho, a Semente-Sol, ou semente masculina, inicia seu circuito anual através do corpo, simulando o caminho do Sol em seu curso pelo céu. As correntes vitais no ser humano e na Natureza estão sempre em sincronia, a menos que atrapalhemos esta harmonia. No Equinócio de Setembro a Semente-Sol alcança o centro do coração e no Solstício de Dezembro, o Sol alcança sua maior declinação, no Sul. Na humanidade comum, este ponto é onde fica o Plexo Celíaco. No Equinócio de Março, toca novamente o coração e, finalmente, no Solstício de Junho a semente-Sol toca a sua “Casa” que é a Glândula Pineal. Mas neste caso, temos as correntes vitais de um Adepto (um ser humano que já possui as Nove Iniciações Menores e uma Maior). Podemos utilizar a figura de uma lemniscata para ilustrar esse ponto: aqui, o ponto de maior declinação sul é na base do coração, enquanto em nós, humanidade comum, o ponto mais baixo é na região do Plexo Celíaco. Do mesmo modo, o ponto onde há o cruzamento do fluxo da energia vital, no Adepto ocorre na Laringe, seu novo órgão criador, enquanto em nós, ocorre no coração. Concomitante ao ciclo do Sol ocorre o ciclo da Lua.
A Semente-Lua (princípio feminino) segue o caminho da Lua. Na Lua Cheia, temos a ativação do centro da geração (Plexo Celíaco) – se a força sexual permanecer na pessoa, então ela subirá: “Qualquer um que é nascido de Deus não comete pecado; porque a sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus.” (1Jo: 3-9). Quando ocorre a Lua Cheia, a ativação da força de vida é sempre abundante, mas, a maior parte de nós acaba por derramá-la no robustecimento da incongruência entre Espírito, Alma e Corpo. Para aqueles que buscam uma vida casta, que é o esforço consciente para manter a sincronia entre Espírito (Céu), Alma (Purgatório) e Corpo (Terra), a semente permanecerá nele. Assim, o fluxo de energia de vida seguirá sua ascensão, a cada mês e, na Lua Nova, tem-se a ativação da Glândula Pituitária ou Corpo Pituitário. Se o Estudante Rosacruz for capaz de, a cada mês, trilhar o caminho da santidade, que é a mais solene preparação e com a maior reverência e devoção, então a semente permanecerá nele (12 sementes a cada ano, uma a cada ciclo da Lua em um Signo do Zodíaco). Assim, quando ocorrer o Solstício de Junho, as 12 sementes Lunares (polo feminino) serão unificadas a uma semente Solar (polo masculino). A fusão entre as sementes ocorre no terceiro ventrículo cerebral, que é a ponte entre as Glândulas Pituitária e Pineal. Por isso o terceiro ventrículo chamado de a cama da lua de mel, em que a Criança Santa (a união entre as sementes Lunar e Solar) é concebida e nascida. Também é chamado de “manjedoura” e as Glândulas Pituitária e Pineal denominadas: Pai e Mãe. O desequilíbrio desse processo, fruto da “Queda do Homem” no Jardim do Éden, causou a perturbação da sincronia entre as correntes de força cósmica e as correntes de força humana, que têm a mesma origem (“como em cima, é embaixo”). Este foi o nosso pecado, quando vivemos na antiga Lemúria (na Época Lemúrica), desperdiçamos nossas sementes sem levar em conta a lei e sem considerar o amor. Mas é nosso privilégio, enquanto Cristãos, nos redimir, pela pureza de nossa vida, em memória do Senhor. São João diz: “Sua semente permanece n’Ele” e este é o significado oculto “do pão e do vinho”. Vale lembrar que santidade é algo muito maior do que ter ou não ter relação sexual. “Não é o uso, mas o abuso que produz todas as perturbações e que interfere com a vida espiritual. Não há necessidade alguma de abandonar a vida superior quando não se possa ser casto, nem é necessário ser estritamente casto para passar pelas Iniciações Menores” (Max Heindel). A força sexual deve ser direcionada para outros propósitos, de modo a, gradativamente, sublimarmos a tendência passional e egoísta de satisfação pessoal, e a empregarmos em fins espirituais. Astrologicamente, isso é feito pela transmutação da paixão de Marte e do amor de Vênus (sensual e pessoal) no altruísmo de Urano exaltado em Escorpião, o Signo da regeneração.
“A Sala Oeste do Tabernáculo era tão escura como os céus o são quando a luz menor – a Lua – encontra-se na parte oeste do céu em oposição ao Sol, isto é, na Lua Nova, quando começa um novo ciclo num novo Signo do Zodíaco. Na parte mais ocidental deste escuro santuário ficava a Arca da Aliança com os Querubins pairando acima dela, e, também, a ardente Glória de Shekinah, da qual saía a Luz do Pai que comungava com Seus adoradores, mas que para a visão física era invisível, portanto, escura” (Max Heindel em Iniciação Antiga e Moderna). Para a compreensão do que é a Glória de Shekinah, devemos ter em mente que o elemento Fogo está presente em todo o universo. Não há nada que exista que não esteja envolvido por tal elemento. Talvez seja difícil compreendermos este fato, pois associamos fogo com chama. Mas bem sabemos que o fogo guarda a mesma relação com a chama que o Espírito tem com o Corpo; o Espírito é invisível assim como o fogo, e o corpo representa a chama, que é o fogo manifestado. Assim como a Árvore da Vida possui seu correlato no corpo do ser humano, assim também as partes do Tabernáculo do Deserto possuem correlatos anatômicos e funcionais com nosso Corpo-Templo. “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (ICor 3:16). A cabeça é o correlato anatômico da Sala Oeste do Tabernáculo do Deserto. Essa Sala é também conhecida como o Santo dos Santos ou Sanctum Sanctorum. Nenhum mortal poderia passar o véu que separava a Sala Leste da Sala Oeste, somente o Sumo Sacerdote em uma ocasião especial do ano, chamado Yom Kippur, o Dia da Expiação, é que podia ali adentrar. O Tabernáculo inteiro era o santuário de Deus, mas, neste lugar, sentia-se o imponente poder de Sua presença, a morada excepcional da Glória de Shekinah, e qualquer mortal tremeria dentro deste recinto sagrado, como devia acontecer ao Sumo Sacerdote no dia da Expiação (Max Heindel). Mesmo assim, essa entrada pelo Sumo Sacerdote, era feita após a mais solene preparação e com a maior reverência e devoção. É justamente sobre esta preparação que a Imaculada Concepção possui sua importância, pois somente “os puros verão a Deus”. No mundo existe matéria-prima dada por Deus, que é simbolizada pelo trigo. Ora, do mesmo modo que o trigo é a matéria-prima para elaboração e consumo do pão, os eventos de cada dia se apresentam como oportunidades de trabalho (originalidade) com a matéria-prima (gratidão, devoção e pureza), dadas por Deus, para elaboramos o “Pão da Vida”, que alimenta o Espírito. Note que a cada evento que nos deparamos, todos os dias, podemos enfocar nossa Mente sobre ele, e aqui trabalharemos com a matéria-prima do Mundo do Pensamento. Transformando o trigo em pão pelo emprego da duplicidade Originalidade-Pureza. O mesmo para os sentimentos que são despertados em nós na vivência dos fatos da vida. Se deixarmos que a nossa Natureza emocional degenerada sempre permaneça, sairemos da vida com o mesmo temperamento que entramos. Isso significa que não trabalhamos com a matéria-prima (trigo) do Mundo do Desejo que nos foi dada e, por isso, não produzimos nenhum pão. “Porque a qualquer que tiver será dado, e terá em abundância; mas ao que não tiver até o que tem ser-lhe-á tirado.” (Mt 25:29). O mesmo para os hábitos que são o resultado que fazemos com o Corpo Vital. Se adquirirmos vícios e maus hábitos nesta vida, significa que estamos destruindo nosso Corpo-Templo que Deus habita e, nas próximas vidas, teremos mais doenças e morte. Finalmente, se não cuidamos de nosso Corpo Denso e do ambiente que vivemos (nossos lares e todos os locais que passamos), também deixamos de construir o “Pão da Vida”. Aqueles que já desenvolveram suas capacidades estão envolvidos nos sistemas acadêmicos, religiosos, políticos e artísticos, promovendo melhorias em nível coletivo, alcançaram consciência e capacidade que permitiram que seu círculo de ação fosse expandido. Veja que a vida se torna muito mais do que ter de trabalhar, comer, beber, nos momentos livres dedicar-se as distrações, prazeres e descansar. Se não criarmos vias originais para que a energia sexual floresça, com certeza ela fluirá para os órgãos sexuais e jamais a Imaculada Concepção permitirá a abertura dos olhos para ver o Fogo Invisível ou a Glória de Shekinah. O contato com o Altíssimo jamais ocorrerá, pois “somente os puros verão a Deus”. Com os “olhos abertos”, vendo face a face, um maior alcance de serviço amoroso nos será inaugurado e poderemos servir lá, como aqui procuramos servir. A Nova Jerusalém será, então, uma verdade. “E serás uma coroa de glória na mão do Senhor, e um diadema real na mão do teu Deus. Nunca mais te chamarão: Desamparada, nem a tua terra se denominará jamais: Assolada; mas chamar-te-ão: O meu prazer está nela, e à tua terra: A casada; porque o Senhor se agrada de ti, e a tua terra se casará. Porque, como o jovem se casa com a virgem, assim teus filhos se casarão contigo; e como o noivo se alegra da noiva, assim se alegrará de ti o teu Deus” (Is 62:3-5).
(Trecho do Livro The Life and Mission of the Blessed Virgin – Corinne Heline – traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz-Campinas-SP-Brasil)
“5E quando orardes, não sejais como os hipócritas, porque eles gostam de fazer oração pondo-se em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. 6Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechando tua porta, ora ao teu Pai que está lá, no segredo; e o teu Pai, que vê no segredo, te recompensará. 7Nas vossas orações não useis de vãs repetições, como os gentios, porque imaginam que é pelo palavreado excessivo que serão ouvidos. 8Não sejais como eles, porque o vosso Pai sabe do que tendes necessidade antes de lho pedirdes.” (Mt 6:5-8)
No “Sermão da Montanha”, Cristo fez essa importante preparação, para depois ensinar a “Oração do Senhor”, vulgarmente conhecida como o “Pai Nosso”.
Vejamos o sentido das frases-chave desse trecho:
Gostar de ser visto pelos homens — Eis uma regra básica que o Cristo deu, para sabermos quando é que a Personalidade falsa está nos condicionando: ela gosta de prestígio, de elogios, de parecer boa. Se levarmos à criteriosa análise essa regra, poderemos perceber essa intenção de “ser visto pelos homens” nas maneiras mais sutis, até mesmo em coisas aparentemente inocentes e sem gravidade. É preciso isenção de ânimo para tomar consciência disso em nós. Se estamos envolvidos na Personalidade, impossível constatá-lo. É preciso estar como “de fora”, num estado de observação imparcial de nós mesmos, sem julgamento nem objeção; sem resistência ao maligno (em nós) para não dar a perceber à Personalidade que ela está sob consciente observação e vigilância.
É preciso situar-nos como um Eu espiritual a testemunhar a ação da Personalidade, sem objetar nem julgar. Só observar. Essa simples constatação, sem identificação emocional e mental, permite-nos receber, da Mente (ou Memória) Supraconsciente, a voz da intuição. O conhecimento interior, se assenhoreará da verdade e essa dissolverá a magia da Personalidade. Eis uma excelente maneira de cultivar-se uma percepção certa da verdade libertadora. Como disse Cristo: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.
Isso depende unicamente de exercício, de repetição paciente, até que, no dizer de São Paulo, possamos “orar sem cessar”, ou seja: manter-nos no aqui e agora, conscientes de nossas intenções (sem recriminações!), na consciência de que o “Eu” verdadeiro e superior é quem faz as obras.
Em verdade já receberam sua recompensa — Receberam sua recompensa de quem? Do mundo. Assim, nada têm a reclamar dos céus ou do íntimo, como Alma, como crescimento evolutivo. É uma forma de dizer, pois não há recompensas. Não se pode dizer que os frutos sejam a recompensa à árvore. Simplesmente são um corolário, uma consequência natural de sua ação, na ordem evolutiva.
Mas, a Personalidade ignorante, que vive sob a ilusão de separatividade do Espírito, busca atrair os méritos da ação, reclamando paga e retribuição. Quando buscamos satisfação e realce da Personalidade, “engordamo-la”; assemelhamo-nos a árvores folhudas, de bela ramagem, de majestoso tronco, porém, estéril: toda a energia vital, toda a seiva que ela recebe, converge na apresentação de si própria, na promoção e projeção de si. Não sobra energia para os frutos. A alma fica desnutrida porque sua ação não alcança o íntimo. Não é natural, providencial, que a lei de Causa e Efeito precise de fazer-nos umas “podas” pedagógicas, para que sobre energia aos frutos e cumpramos o objetivo essencial de nossa vida, que é a evolução?
Quanto às pessoas que oram de pé ou nas esquinas, pode ser que sejam sinceras. Os israelitas e os muçulmanos têm horas prefixadas de oração e, onde estiverem, devem fazê-la. Mas como o orar numa esquina podia trazer fama de piedoso, com vantagens sociais, com o tempo se amiudaram as “coincidências”. O importante é a intenção e, como Deus não se acha num templo determinado, mas está em toda a parte, principalmente “dentro de nós”, a oração sincera deve ser discreta, evitando os meios sutis de chamar a atenção sobre si, inconscientemente.
Fecha-te no teu quarto — Segundo o original grego dos Evangelhos (do primeiro século), esse quarto era o “quarto de guardados” (“eis tò tameiõn”), onde as pessoas estranhas não podiam entrar. E justamente para mostrar-nos o sentido de “intimidade”. Refere-se a um recolhimento individual, pois a pessoa devia trancar a porta após entrar. Notem que nessa frase (verso 6) o tratamento é “tu” e não vós: é individual.
Ninguém pode penetrar o íntimo humano. Mesmo os Iniciados, que podem desvelar-nos o íntimo até certo ponto, não o fazem, porque o livre arbítrio é o mais sagrado direito. E, também, respeitam as “prisões sem grade” dos condicionamentos e restrições internos, porque sabem que o processo de libertação vem de dentro para fora e deve ser presidido pela própria pessoa interessada, se bem possa ela ser orientada e assistida “de fora”. Gandhi já dizia: “ainda que me prendam na mais profunda masmorra, serei um homem livre”. Ele se referia a essa liberdade interior que só o indivíduo pode roubar a si mesmo, por ignorância.
Nesse “lugar secreto do Altíssimo” (Salmo 91) do íntimo, é que a Personalidade humilde, consciente de sua função, como canal do Espírito, deve orar.
As palavras são desnecessárias e até podem prejudicar a abertura e receptividade interna, à manifestação da Presença, como uma taça erguida, de boca para cima, à espera de preenchimento da “água viva”. Podemos estar no banco de um ônibus, viajando quietamente num carro (não na direção), numa sala de espera ou numa fila — e orar internamente, sem demonstrações evidentes, como fechar olhos, mãos postas, cara de anjo, mover lábios. Mas será melhor, certamente, no silêncio de um quarto: um cantinho escolhido onde habitualmente nos recolhemos (se possível às mesmas horas). A prática vai formando no local e em torno dele um santuário invisível, um templo “não feito com mãos”, uma capela etérica, visível ao Clarividente como algo lindíssimo, de formas e cores próprias, que deve ser alimentado pela repetição fiel. Depois de certo tempo de prática notar-se-á ali uma vibração agradabilíssima. Não convém que outra pessoa esteja a entrar ali.
Esse mesmo princípio explica o porquê nos sentimos bem numa certa poltrona em que nos sentamos sempre, seja em casa ou numa fraternidade: ela fica impregnada por nossa vibração particular, quase sempre boa, porque naqueles momentos vibramos mental e emocionalmente em assuntos elevados.
Ora a teu Pai que está no secreto — Veja que uma boa definição de prece pode ser a silenciosa busca do “Eu interno”. Orar é escutar Cristo em nós, no silêncio e vazio da Personalidade. Quando Ele, de algum modo, “responde”, aí já é inspiração.
Essa orientação está claramente exposta nos Evangelhos: “Deus é Espírito e Verdade; importa que O adoremos em Espírito e Verdade”. “O Reino de Deus está dentro de vós.” O corpo é o templo do Altíssimo.
Passemos a orar corretamente, ainda que os resultados pressuponham longa prática, sincera e perseverante. Vale a pena. Estejamos prevenidos contra a tendência imediatista, de alcançar resultados a curto prazo. A impaciência contra as restrições é um sério entrave ao desenvolvimento espiritual. Não imponhamos prazos. As realizações internas dependem de um natural amadurecimento. Dependem do que tenhamos conquistado anteriormente, se bem que o método correto pode abreviar, agora, o acesso à Graça.
Pratiquemos fervorosa e pacientemente a oração mística, sem olhos voltados para os frutos da colheita. Lembremos a estória de um menino que plantou uma semente e todos os dias a desenterrava para ver em que ponto estava: arruinou-a! Igualmente, na realização espiritual é preciso fazer o que nos incumbe. Deus jamais falha em cumprir Sua parte. Cumpre-nos adubar, plantar, regar (prática regular e amorosa), confiando que a Terra faz sua parte, até que um raminho verde-esperança assome à superfície da consciência e nos mostre os primeiros resultados.
Max Heindel exprime de modo poético e profundo: “Busquemos o Cristo interno com renovada ânsia, como uma pessoa repleta de um amor verdadeiro e sincero, vigilante às horas dos encontros, embora não receba declaração alguma de amor”. Se O buscarmos, estejamos certos de que Ele vem ao nosso encontro. Embora não O possamos sentir (por causa de nosso grau vibratório) há inequívoca manifestação de paz. Devemos permanecer quietos, à parte da Personalidade, num vazio expectante, até que Ele nos encha o vácuo de luz. Estejamos sempre como ao telefone, dizendo: “Pai, fala que teu servo escuta”, até que a “pequenina e silenciosa voz” nos penetre a consciência, como uma réstia de luz coada pelos intervalos das folhas de uma árvore, iluminando o chão. Então, sentimos uma harmonia inenarrável: a paz que ultrapassa todo o humano entendimento.
Mas não devemos contar aos outros tais experiências. Nunca! Essa profanação é provocada pela Personalidade que deseja “ser vista” como superior. Essa profanação custa caro: podemos perder temporariamente o “contato”. Logo, é secreto mesmo. A instrução é clara: sacralidade!
Teu Pai que vê no secreto, te retribuirá — Quando aprendemos a orar corretamente, os resultados internos surgem com toda a segurança. Cristo esclareceu: “Pedis e não recebeis porque pedis mal”. Quando se fala, quando se pede, o pedido deve ser “do pão espiritual”, do amor, da sabedoria, porque “tudo o mais vem de acréscimo”. Isso é o que nos ensina o “Pai Nosso”. Salomão pediu bem (a Sabedoria) e recebeu tudo o mais que não havia pedido. O crescimento de consciência é inevitável, na medida em que Deus se nos vai manifestando. O que está no íntimo se vai extravasando inevitavelmente: eis a chamada “recompensa” deste passo. Não é que um Almoxarife celeste nos abra a torneira de graças quando fazemos uma oração jeitosa. É simplesmente a consequência lógica de uma transformação interior, de uma transferência, de apoio ao “Eu” verdadeiro e superior, que se vai expressando em nossa vida com sua natureza própria, que é paz, harmonia, sabedoria, amor etc. Não precisamos de criar essas coisas. Elas já existem dentro de nós (como ensina a “Oração Rosacruz”). Basta libertá-las. Por isso é que a Bíblia nos ensina: “Somos herdeiros de Deus e coerdeiros com o Cristo”. “Filho, tudo o que é meu é teu.”
Quando orais, não useis de vãs repetições, como os gentios que pensam que pelas muitas palavras serão ouvidos. – Hoje, podemos considerar como “gentios” as pessoas ignorantes da verdade espiritual, que evoluem por penosos meios e não sabem aplicar os recursos esotéricos para uma evolução mais rápida e fácil. Incluímos os religiosos comuns que atribuem valor demasiado às ladainhas, às longas repetições de preces mecânicas. Arrolamos igualmente os orientais que, na fase elementar, de repetição de “mantrans” e “japam” julgam ser transformados pelo “som”, sem um trabalho interno transformador. Nenhuma palavra, por mais sagrada que seja sua vibração, pode, por si mesma, levar-nos à santidade. A “palavra perdida” só pode exercer poder quando pronunciada por uma pessoa de consciência despertada. Isso é o que ensina a estória de “Aladim e a lâmpada maravilhosa”: só quem encontra a lâmpada (símbolo da sabedoria espiritual) pode pronunciar a palavra de poder (que suscita o gigante), esfregando-a (produzindo vibração).
A repetição de preces mecânicas e “mantrans” é um exercício para concentrar o íntimo em algo elevado; é um método para silenciar a Mente palradora e predispor o candidato à meditação. Preferimos ir mais diretamente à meta, exercitando o silêncio e a busca da Presença.
A repetição sem um objetivo elevado tem um perigo: tornar-se mecânica e fria. É preciso estar atento para renová-la com sentimento e intenção a cada prática.
Nenhum fator externo tem o poder de nos iniciar ou produzir uma abertura de consciência. Há muitas pessoas desejosas de rápida Iniciação e não hesitariam em pagar bem para consegui-lo de um “mestre”. O verdadeiro Mestre ensina que o processo vem “de dentro para fora” e tentar remover o caroço de um pêssego verde seria perder a fruta. A ajuda externa é como um fole: assopra para acender o fogo naquele que tem, no íntimo, os carvões já acesos.
A oração não é, pois, ensejo para darmos ordens ao Espírito, a fim de que Ele faça aquilo que nossa Personalidade acha melhor. Ele sabe melhor do que nós o que nos convém, antes mesmo de o pedirmos. Orar é não atrapalhar; é ser um canal vazio e fiel do fluxo divino, quando a união se efetiva. E dizer: meu alimento é fazer a vontade de meu “Eu” verdadeiro e superior! Daí a necessidade de aprendermos a orar corretamente.
Nessa ordem de ideias, mais vale um momento de sentida prece do que uma hora de ladainha. Uma fervorosa súplica, bem consciente, com a direção do pensamento e com a força do amor, forma duas asas que voam ao trono de Deus interno e trazem de volta uma resposta.
Não desconhecemos os efeitos da repetição sobre o Corpo Vital. As repetições formam os hábitos e os hábitos fazem a segunda natureza da Individualidade, de nós, o Ego. Por meio da repetição consciente de melhores hábitos é que promovemos nossa regeneração. Sabemos disso e o praticamos também, tornando nossa repetição um “orar sem cessar”, porque buscamos estar presentes no aqui e agora, vivendo muitas vezes ao dia a prática da Presença, o intento de servi-La como canal fiel. Ainda mais: levantamo-nos com o pensamento: “Meu Cristo. Este dia é teu. Estabelece tua unidade comigo, cada vez mais, até que sejamos UM. Pensa através de minha Mente; ama através do meu coração; fala por minha boca; age por meu inteiro Ser. Faze de mim um instrumento de tua vontade!”. E, ao deitar-nos, como último pensamento, antes do exercício de Retrospecção noturna, consagramo-nos: “Meu Cristo. Ensina-me esta noite. Permita que eu possa servir como Auxiliar Invisível”.
Não nos apoiemos meramente em palavras, senão em sincero propósito de elevação. As palavras, por si mesmas, são algo externo. Atribuir-lhes valor é materialismo. Como vestimenta, elas valem apenas quando revestem a verdade e o amor.
Vosso Pai sabe o que vos é necessário antes que o peçais – A obra de Deus é perfeita. Nossa vida é prevista em suas linhas gerais. Deus, como Inteligência universal ou como Centelha individualizada como “Eu” e como “Tu”, é o único suprimento e JÁ está constantemente à nossa disposição. Cada qual recebe segundo sua necessidade interna. Lançamos ao exterior as expressões do nosso estado de consciência e recebemos o eco, a resposta, diretamente correspondente. Max Heindel o afirmou categoricamente: “Os Anjos do Destino dão, a cada um e a todos, exatamente o de que necessitam para o seu desenvolvimento”. Portanto, se estamos carentes de dinheiro, não peçamos dinheiro; se estamos enfermos, não peçamos saúde; se estamos infelizes, não peçamos felicidade. Não peçamos nada. Oração é pedir Deus. Só Deus. Sua mera Presença em nossa vida é reajustamento; é a expressão cabal de todas as mais justas necessidades. Como disse o Cristo: “Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus (elevação ao íntimo) e vosso ajustamento a Ele (viver de acordo com as Leis divinas) e tudo o mais vos será dado de acréscimo”.
“9Portanto, orai desta maneira: ‘Pai nosso que estais nos céus, santificado seja o Vosso Nome, 10venha nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa Vontade, assim na terra, como no céu. 11O pão nosso de cada dia nos dai hoje. 12Perdoai as nossas dívidas como nós perdoamos aos nossos devedores. 13E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal’. 14Pois, se perdoardes aos homens os seus delitos, também o vosso Pai celeste vos perdoará; 15mas se não perdoardes aos homens, o vosso Pai também não perdoará os vossos delitos.” (MT 6:9-15)
“25E quando estiverdes orando, se tiverdes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhes, para que, também, o vosso Pai que está nos céus vos perdoe as vossas ofensas”. 26Mas se não perdoardes, também vosso Pai que está nos céus não vos perdoará vossas ofensas.” (Mc 11:25-26)
“1Estando num certo lugar, orando, ao terminar, um de seus discípulos pediu-lhe: ‘Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou a seus discípulos’. 2Respondeu-lhes: ‘Quando orardes, dizei: Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso Nome; venha a nós o Vosso Reino; seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu; 3o pão nosso de cada dia nos dai hoje; 4perdoai-nos as nossas dívidas, como nós perdoamos os nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação, mas livrai-nos do mal’.” (Lc 11:1-4)
Essa foi a única oração deixada por Cristo. Foram criadas muitas preces e formas de adoração, inclusive no Cristianismo, mas o “Pai Nosso” constitui uma síntese acabada e completa para atender a todas as necessidades do ser humano. Realmente, em seu conteúdo esotérico, tal como o constataram os Iniciados, é uma fórmula abstrata para satisfazer às necessidades dos sete princípios humanos. Ele nos dá a compreensão de como melhorar e purificar o Corpo Denso, Corpo Vital, Corpo de Desejos e a Mente, de cuja atuação possamos extrair o pão da Tríplice Alma, para alimentar o Tríplice Espírito.
Tal é o propósito evolutivo: a dinamização das potencialidades divinas em cada ser, para aumentar a consciência Espiritual e ampliar sua expressão.
A Oração do Senhor se compõe de sete frases fundamentais, além de uma invocação inicial (Pai nosso que estás nos céus) e um fecho que não foi dado por Cristo, mas que termina de maneira apropriada a prece, (pois vosso é o Reino, o Poder e a Glória para sempre, amém).
Notem os números cabalísticos: sete frases básicas (série completa) mais a invocação e encerramento, dá-nos o número NOVE, representativo da humanidade (ADM ou 1+4+40=9).
No “Pai Nosso” se estabelece relação entre o Espírito individual (o ser humano real) com o Criador (a Trindade Universal).
A Trindade Universal é representada pelos nomes: Pai, Filho e Espírito Santo. É o UNO que se expressa como TRIUNO (tal como o branco se refrata nas três cores primárias: azul, amarelo e vermelho; ou como a tonalidade se exprime no acorde fundamental (dominante, mediante e tônica)).
O verdadeiro ser humano é feito à imagem e semelhança de Deus. Herdou-Lhe as mesmas características espirituais, das quais uma pequena parte já foi dinamizada (Alma, consciência) e uma parte infinita espera o despertar, para que sejamos perfeitos como o Pai celestial. Na nomenclatura da Fraternidade Rosacruz, os três aspectos da Trindade individual se chamam: Espírito Divino (emanação do Pai); Espírito de Vida (emanação do Filho) e Espírito Humano (emanação do Espírito Santo).
Os corpos que utilizamos, como Espíritos individualizados, foram sendo formados e aperfeiçoados com ajuda das Hierarquias Criadoras. Essa cadeia completa de veículos, cujos germes ou sementes nos foram dados pelas Hierarquias, tem ligação direta com os três aspectos da Trindade Individual: o Corpo Denso, químico, emanou do Espírito Divino; o Corpo Vital, etérico, emanou do Espírito de Vida; o Corpo de Desejos, emocional, emanou do Espírito Humano. A Mente é o elo ou foco, através da qual a Trindade Individual se exprime ao Tríplice Corpo, até que o consiga controlar completamente. Através desses três Corpos o Tríplice Espírito vai acumulando experiências ou Alma, nos correspondentes Átomos-semente.
Damos, a seguir, um diagrama para facilitar a compreensão do que expusemos. Nele se mostra a relação dos três Corpos com os três aspectos da Trindade Individual e dessa com a Trindade Universal.
O triângulo com a ponta para cima é símbolo da Trindade. O de cima representa a Trindade Universal, o de baixo (do meio) figura a Trindade Individual.
O triângulo com a ponta para baixo representa a Trindade manifestada como Personalidade, com seus três Corpos. Entre a Personalidade (em baixo) e o Espírito individualizado, a Individualidade (triângulo do meio), o foco da Mente está representado por uma linha horizontal, um elo entre a Personalidade e a Individualidade (o Espírito).
As linhas pontilhadas, verticais, mostram a relação de cada Corpo com o aspecto espiritual que o emanou e, através deste, com o Aspecto correspondente da Trindade Universal.
O Corpo Denso (o mais inferior) se liga ao mais elevado aspecto espiritual da Trindade Individual (Espírito Divino) e da Trindade Universal (Pai).
O Corpo Vital se liga ao segundo aspecto da Trindade Individual (Espírito de Vida) e da Trindade Universal (Filho).
O Corpo de Desejos se liga ao terceiro aspecto da Trindade Individual (Espírito Humano) e da Trindade Universal (Espírito Santo).
Esse esquema mostra a relação cósmica entre o Espírito individualizado e o seu Criador. Acompanhando as relações indicadas, vejamos, a seguir, sua aplicação ao “Pai Nosso”.
A invocação é um reconhecimento da Onipresença do Criador que, embora se exprima puramente no Mundo de Deus, compenetra cada partícula de Sua Criação. Ao mesmo tempo mostra o entendimento de que somos Espíritos e não corpos (nem Personalidade), e nessa qualidade nos dirigimos a nosso Pai Universal.
1. As frases de adoração partem da Trindade individual para a Trindade Universal, cada aspecto por vez, e a Sua contraparte.
2. O Espírito Humano adora sua contraparte, o Espírito Santo, dizendo: “Santificado seja o vosso nome”.
3. O Espírito de Vida prostra-se ante sua contraparte, o Filho, e diz: “Venha a nós o vosso reino”.
4. O Espírito Divino ajoelha-se ante sua contraparte, o Pai, e diz: “Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu”.
As frases de dedicação ensinam como formular os justos pedidos numa prece: o Espírito individual pede à Trindade Universal para atender às necessidades de seus veículos (conforme a Vontade e Sabedoria de Deus).
5. O Espírito Divino pede pelo Corpo Denso, ao Pai: “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”.
6. O Espírito de Vida pede por sua contraparte, o Corpo Vital, ao Filho: “Perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores”.
7. O Espírito Humano pede pelo Corpo de Desejos, ao Espírito Santo: “E não nos deixeis cair em tentação”.
8. Por último, os três Aspectos do Espírito individual juntam-se e formulam, em uníssono, um pedido pela Mente, à Trindade universal: “Mas livrai-nos do mal”.
9. E encerram a prece, exprimindo o reconhecimento de que Deus é a única Fonte, Presença e Poder eternos, infalíveis.
A frase 5 mostra que o ser humano encarnado é mantido e globalmente atendido pelo “pão” ou “pão da vida”, que se expressa em todas as múltiplas e legítimas necessidades humanas.
Esse “pão da vida” é a causa de nossas ações mentais, emocionais e físicas, para transformarmos as experiências em Alma.
A frase 6 revela que o Corpo Vital é o que grava, através do ar, no sangue, na Memória Subconsciente, os fatos da vida. Nesse Corpo é que, portanto, as transgressões e ódios devem ser dissolvidos.
A frase 7 ensina que o Corpo de Desejos é que nos impulsiona à ação, através da motivação emocional. O desejo é o grande tentador da humanidade e, ao mesmo tempo, o grande incentivo para a ação. É bom quando cumpre os propósitos do Espírito, mas quando se inclina para algo degradante, rebaixa-nos a natureza. A tentação do desejo existe sempre, mas não devemos nela cair.
A Mente é a ligação entre o lado superior (Espírito, Individualidade) e inferior (Personalidade). Nela é que nascem os conceitos de bem e de mal. Na maioria dos seres humanos (exceção dos Iniciados que transcenderam a quinta Iniciação Menor) a Mente está ligada ao Corpo de Desejos e comprometida por ele, criando enganos que geram ações errôneas e, por sua vez, suscitam dolorosas consequências da Lei de Causa e Efeito. Por isso, a oração pela Mente traduz a aspiração de nos libertarmos dos condicionamentos da “falsa luz”, transcendendo o intelecto limitador pela “metanoia” e alcançando a ligação permanente com o Espírito. É o anseio de, conscientemente, nos libertarmos das experiências resultantes da aliança com a natureza de desejos e de tudo quanto tal aliança origina.
Nos tópicos seguintes abordaremos os nove versos do “Pai Nosso”, um por vez, com mais clareza, a fim de que esta síntese se torne, para todos, um método claro e eficaz de realização interior.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de fevereiro e março/1977- Fraternidade Rosacruz-SP)
O ser humano é uma essência espiritual a quem foi dada a Sabedoria Divina. A emanação espiritual ofusca o ser humano em cada um dos seus renascimentos. O ser humano é, portanto, não um novo Espírito, mas o mesmo que já renasceu muitas vezes antes. O elementoespiritual se desenvolve gradualmente e começa a se tornar ativo já na criança. Não é absorvido de imediato, mas desperta gradualmente, à medida que o ser humano cresce e chega à razão e à inteligência.
Muitos vivem, casam-se e morrem sem chegar a possuir, por completo, o raio divino da sabedoria que, sozinho, pode transformar o indivíduo em um ser humano imortal. Há uma grande diferença entre a Individualidade (vida) e a Personalidade (forma), sendo que a Personalidade é uma máscara mutável que o raio individual produz.
A única maneira de se desenvolver uma Individualidade mais forte e maior é agindo. Cada ato cria um novo impulso que, acrescentando à energia já existente, aumenta sua força. Resolva e ouse obedecer às Leis de Deus e você se tornará seu próprio senhor e possuirá poder sobre tudo.
Deus é vida e a expressão das inúmeras forças de vida é encontrada perto de nós. Vida nos Mundos espirituais é chamada consciência. Vida no Mundo do Pensamento é chamada inteligência. Vida no Mundo Físico é chamada força.
O ser humano chega próximo à consciência na experiência mística da iluminação, na ocasião em que um raio divino desperta uma resposta em sua natureza superior; mas a constituição atual do ser humano não é capaz de manter esse estado enlevado constantemente e com consistência.
As energias fluem de acordo com as restrições que se vão apresentando e atuam em harmonia com os modelos dos Arquétipos da vida. Essas forças arquetípicas revelam as leis dominantes que governam todas as ações. A força, por si própria, não tem um objetivo, a menos que esteja dirigida pelo intelecto, embora a inteligência esteja, normalmente, limitada à esfera das manifestações objetivas.
Na Filosofia Rosacruz aprendemos que o universo é criado pela consciência (vontade), apoiado pela sabedoria (conhecimento aplicado com amor) e, finalmente, desintegrado pela força (atividade).
Olhe a seu redor. Um instrumento musical não inventa o som, ele obedece à mão de um musicista. Quanto mais perfeito for o instrumento, mais doce será a música. A luz não se origina nas belas joias, mas é um reflexo, e quanto mais pura for a joia maior será sua radiação brilhante.
Do mesmo modo, o ser humano não deu origem ao pensamento, à vontade e à inteligência. Ele é um espelho no qual os poderes de Deus e da Natureza são refletidos, um instrumento através do qual o desejo eterno se expressa. Em outras palavras, em uma pequena gota de orvalho temos a réplica em miniatura do oceano universal e isso é compreendido pela inteligência. Todas as forças superiores estão contidas no ser humano, mesmo assim ele é apenas uma imitação do ser humano universal, até que desperte para as forças ocultas da criação, que estão dentro dele.
A força da visão não vem do olho, nem o ouvir vem do ouvido, nem o sentir vem dos nervos. É o Ego – um Espírito Virginal da Onda de Vida manifestado aqui – que vê, ouve e sente através destes órgãos físicos. Sabedoria, razão e pensamento não estão contidos no cérebro, mas essas qualidades pertencem ao Espírito invisível que sente através do coração e pensa usando como instrumento de leitura dos seus cinco sentidos o cérebro. Todas essas forças estão contidas no universo invisível e se manifestam através de suas formas materiais representativas.
Uma perfeita manifestação da força só pode ocorrer em um instrumento perfeitamente construído. Se o canal for imperfeito, a manifestação será imperfeita, mas isso, de maneira nenhuma, indica que a força original seja imperfeita. A menos que o intelecto humano descubra o princípio evidente nas formas manifestadas, o raio divino faltará. A sabedoria tem de encontrar sua resposta no Coração de seu futuro criador. É bem verdade quando se diz que a imaginação é a causa de muitas doenças e a fé é a cura de todas. Gêmeos – filho da sabedoria – responde a seu mais alto chamado. Entenda e se apegue ao imenso significado de sua herança no Mundo Físico. A luz e a vida do universo necessitam de um olho com o qual possam ver a necessidade de expressão, resultante da crescente manifestação das forças zodiacais, as forças criadoras do universo. Para aumentar a atenção para com a consciência de Deus, e para reproduzir uma esfera maior de atividade, os princípios cósmicos penetraram muito profundamente na matéria.
Aprendemos que Signos precisam ser reconhecidos como VIDA, não como forma, mas como grandes Seres Criadores. Precisamos convidá-los a trabalhar conosco, como amigos. Reconhecemos a função espiritual de todas as Hierarquias Criadoras.
Áries e Touro têm sido mostrados como representando uma mistura de forças positivas e negativas (vontade e amor) do Pai e é devido a essa união que toda nossa criação existe como a conhecemos hoje. Esses grandes Seres são diretamente responsáveis por todo o desenrolar e desenvolvimento que acontece no universo.
Áries, a vontade, é a força de vida do Pai, unida à Touro, o princípio feminino passivo na Natureza, e ambos no útero do tempo produziram o campo de operações no qual as Hierarquias Criadores subsequentes foram capazes de atuar. Todos os outros Signos (ou Hierarquias Zodiacais) são filhos deles.
Áries, como Caminho do Espírito, e Touro, o primeiro dos Signos femininos e a grande mãe Terra, se uniram para dar vida, luz e amor aos Signos seguintes do Zodíaco.
O resultado da realização dessas Hierarquias Criadoras está além da compreensão humana; são espíritos muito velhos e foram esquecidos pelos mortais. Sabe-se que eles nos deram alguma ajuda no início do nosso Esquema de Evolução e, tendo completado seu trabalho, desapareceram da existência limitada, para a liberação. Não mais representam Hierarquias Criadoras ativas que ajudam o progresso do ser humano ou dependam da aceitação dele das Leis da Vida e do Universo.
Depois que as forças de Áries e Touro formaram a base para manifestações futuras, Gêmeos chegou à Terra, com suas mãos estendidas, oferecendo o duplo presente: a inteligência e a sabedoria. Todos os presentes de Gêmeos são duplos – ele é a divina hermafrodita. Para as mulheres ele vem como homem, para os homens vem como mulher.
Quando entramos em contato com Gêmeos, somos recebidos nas portas de uma espaçosa mansão por Mercúrio, seu servo e amigo. Quando nos viramos para examinar o lar dessa importante personagem, notamos muitas coisas curiosas. Para alguns são mostrados terríveis e violentos pecados secretos, para outros botões perfumados e pensamentos de pura beleza e para outros, ainda, são mostradas joias ofuscantes. Alguns dos nativos de Gêmeos habilidosamente pegarão essas joias e as esconderão sob seus casacos, mas Mercúrio se vira para esconder um sorriso, pois sabe que as joias perderão sua luz e seu brilho quando longe de seu verdadeiro lar. Esses filhos necessitam disciplina, mas Mercúrio ainda não os punirá, pois ele é simplesmente um guia para aqueles que viajam no caminho da vida. Ele é o instrumento através do qual muitas experiências necessárias são focalizadas. Mercúrio sabe que quando os nativos de Gêmeos aprendem sua lição, não mais serão perturbados e confundidos por tentações.
A casa de Gêmeos
A casa de Gêmeos está construída em um local alto e tem duas grandes torres. Em uma há muitos trabalhos inteligentes produzidos pelos cérebros dos seres humanos, na outra estão escondidos os sinais e símbolos secretos. Na segunda está guardado o báculo (a vara, o cajado, o cetro) de Mercúrio, o boné alado e as sandálias que são dadas a seu mensageiro, quando há trabalho a ser feito. Da primeira torre, vem a indicação do lugar para onde Mercúrio será enviado e o trabalho que deve tomar forma pela realização e consumação do ser humano. Da segunda torre, Gêmeos traz para fora um símbolo que abre o Coração do ser humano para o qual a mensagem é levada.
(*) Advertência:
A descrição aqui apresentada é mais exata conforme a cúspide da 1ª Casa esteja mais próxima do ou no segundo decanato do Signo (10º graus até 20º graus)
Quando os 3 últimos graus de um Signo estão ascendendo, ou quando os 3 primeiros graus ascendem no momento do nascimento, diz-se que a pessoa nasceu “na cúspide” entre dois Signos, e, então, a natureza básica dos Signos envolvidos são mescladas no corpo dela
Astros nas Casas:
Em tais casos o Estudante dever usar seu conhecimento do caráter dos Astros em conjunto com a descrição do Signo.
(Veja mais no Livro: Mensagem das Estrelas – O Signo Ascendente – Max Heindel e Augusta Foss Heindel)
Os nativos de Gêmeos precisam perceber que essa Hierarquia Criadora traz em si uma grande força divina para o uso do ser humano. Gêmeos desperta o ser humano – em formação – e dá a ele um campo de operação no qual o Ego possa continuar a agir. O plano de Deus é lei e ordem e todas as coisas no universo tem um lugar importante no Esquema da Evolução e em cada partícula que nos cerca. Todo desenvolvimento da humanidade depende igualmente tanto do avanço das coisas maiores como das menores da criação. Gêmeos deve aprender bem essa lição: as almas jovens aprendem pelas experiências amargas e as almas velhas pela observação.
É por isso que esse grande Ser manda seu mensageiro, Mercúrio, com uma indicação de trabalho que deve tomar forma, porque pelo seu duplo talento: inteligência e sabedoria, ele possui o símbolo que abrirá o Coração daquele para quem a mensagem é dirigida. As qualidades mentais e espirituais desse Signo dão aos nativos de Gêmeos suas mais fortes características e proporcionam uma bênção interior maravilhosa e que pode ser observada pelo seu esplendor radiante.
Gêmeos é inquieto e se movimenta de cômodo em cômodo, abrindo e fechando portas e lugares secretos, pois procura a verdade e a encontrará. As formas externas pouco significam para Gêmeos, só o conteúdo tem valor para ele. Gêmeos não está interessado no que ouve ou no que lhe é mostrado. Olha além das cenas aparentes para encontrar a verdade. Mercúrio pode ser considerado o mediador das forças que lutam pelo controle da alma humana. Mercúrio é o Deus da Inteligência e como o mercúrio químico, ele age como um solvente (de acordo com os alquimistas) ao procurar harmonizar os diversos opostos celestiais.
Fatos remotos são rapidamente desvendados, assim como impurezas são eliminadas à medida que a harmonia se estabelece.
Gêmeos subirá sempre rapidamente, pois ele está ávido para respirar os Éteres mais finos que são encontrados lá em cima. Seu lar deveria ser as estrelas e com luz dourada.
Gêmeos não pode ser confinado – não enquanto a verdade puder iluminar o caminho do ser humano. Mercúrio carregará a tocha da razão até que ela encontre uma resposta nos corações da humanidade e, também, até que a sabedoria se torne suprema. Seus símbolos são inteligência e sabedoria e com as mãos entrelaçadas de amor e amizade levará essas dádivas para todos os nativos de Gêmeos. O geminiano tem a faculdade excepcional de ser capaz de compreender muitos pontos de vista que dizem respeito a uma decisão e, portanto, essas pessoas são, frequentemente, hesitantes quanto a posições a tomar e nem sempre reconhecem sua força potencial. Gêmeos é um Signo positivo, masculino. Quando crianças são, muitas vezes, incompreendidas, mas são, do mesmo modo, capazes de desprezar essa compreensão. O geminiano tem a aptidão de adquirir hábitos por meio do contato e associações com outras pessoas. Não obstante, muitas experiências indesejáveis possam ocorrer nos primeiros anos de formação, o geminiano tem a habilidade de se descartar das condições negativas sem necessidade de muita ajuda. Toda criança de Gêmeos deveria ser exercitada mentalmente e receber ajuda positiva dos pais, professores e parentes próximos. Uma palavra encorajadora vinda de alguém mais puro que nós pode nos animar a um maior esforço moral, que talvez não pensássemos possuir e julgássemos estar muito além de nossa força. Contudo, é nossa própria força latente que produz essa reação e essa força emerge. Do mesmo modo, uma inteligência maior do que a nossa própria inteligência, um Ego mais puro, alguém mais consciente da própria divindade, pode nos ajudar a revelar a energia divina que está em nós, porque é essa revelação que nos eleva a um plano mais elevado. O geminiano, em particular, reagirá favoravelmente ao estímulo de uma força superior, mas o caráter, a fibra moral, deve se tornar uma parte inerente de sua natureza para ter um valor permanente.
Não tente esconder coisas do geminiano, pois como Mercúrio eles são observadores – nada lhes escapa! Naturalmente propensos a sonhos e visões, fantasias e imaginações, os reflexos mentais e emocionais são estimulados ao extremo. Com essas reações, o geminiano precisa de muito carinho e atenção.
Os nativos de Gêmeos precisam estudar seriamente e, acima de tudo, precisam aprender a começar e terminar o que começam. Coisas soltas, deixadas de lado, representam oportunidades perdidas que fazem a diferença entre os dois tipos desse Signo: o positivo e o negativo. Aceitar responsabilidades e aprender a realizá-las em face às dificuldades não é tarefa fácil para o geminiano, mas é esse o caminho do desenvolvimento para ele.
Em todas as experiências da vida, os problemas e as dificuldades encontradas pela humanidade se tornam mais trágicas quando ampliadas, no entanto, quando o geminiano dá importância e pensa profundamente na sua própria jornada pela vida, é certo que ocorrerá um verdadeiro despertar. Uma resposta intuitiva para as ocasiões e condições da vida, ajuda muito.
Coordenação física e o uso construtivo da energia – mesmo em grau mínimo – é uma indicação de harmonia interior e de controle para os geminianos.
A força da alma vem da paz, da harmonia e das experiências da vida que ajudam a compreender os problemas alheios. Uma pessoa atenta procura aprender pela observação. Gêmeos pensa. Se ele puder evitar tomar partido, se envolver emocionalmente, é certo que desenvolverá mais seus talentos e habilidades e reconhecerá seus valores espirituais.
As lições devem ser absorvidas, mas não necessariamente através só de experiências ruins!
É trabalho do Espírito (Sol) transformar os estados negativos em atitudes positivas dinâmicas. Com o cultivo das forças latentes, tiramos a sabedoria da experiência. A liberdade de expressão crescerá e despertará estados superiores de consciência. Gêmeos não está satisfeito com condições limitadas e precisa externar todas as suas forças para merecer o ideal progressivo que procura. As qualidades versáteis e adaptáveis desses nativos são típicas e assim pegando um pouco aqui, um pouco ali, eles vão construindo uma base sólida, assegurando o seu crescimento. Um raio divino abre seu Coração e de seu interior as forças criadoras da vida iluminam o caminho com uma radiação brilhante. A consciência despertada do ser humano e dirigida para esse estado superior desenvolverá um canal para o fluxo de energias muito fortes.
A sabedoria circunda o ser humano desenvolvido como uma veste dourada de suaves tons espirituais. A essência da alma é o veículo espiritualizado de pureza radiante que o ser humano desperto possui. Gêmeos recebe, do mesmo modo, uma grande força de vida do universo invisível e das Hierarquias Criadoras. A sabedoria está à disposição do refinado filho de Gêmeos, que deve deixar Mercúrio levá-lo por seu caminho.
Fique atento e observe profundamente. O caminho de Mercúrio e Gêmeos é razão e inteligência e o fruto desse trabalho consciente e elevado é a sabedoria.
“Nenhuma lição é de valor real como princípio ativo de vida se a sua verdade for assimilada superficialmente.” (Max Heindel).
(de Thomas G. Hansen – com prefácio da Fraternidade Rosacruz de Campinas – SP – Traduzido do original inglês: Zodiacal Hierarchies de Thomas G. Hansen e publicado na revista Rays from the Rose Cross da The Rosicrucian Fellowship, no período de abril de 1980 a março de 1981 – publicada na Revista Serviço Rosacruz da Fraternidade Rosacruz em junho de 1982)
Os Probacionistas são Estudantes da Fraternidade Rosacruz que se propõem a mais seriamente servir ao “Eu Superior” e aos Ideais de fraternidade e serviço que ele representa.
É um compromisso perante si mesmo, um voto de fidelidade à causa espiritual. Desde esse momento se lhe fornecerão Ensinamentos Rosacruzes mais profundos, que envolvem maior responsabilidade; deixou de tomar “o leite das crianças espirituais e passará a comer carne doutrinária”. A carne é símbolo de sabedoria no sentido filosófico atribuído pela mitologia nórdica (o javali Scrimner) e na sabedoria oriental (Buda estava farto de carne quando morreu).
Ora, a quem mais se dá, mais se lhe pede. Se recebemos recursos para aumentar o conhecimento de nós mesmos, se tomamos consciência dos poderes que podemos empregar em benefício dos demais e negligenciamos, teremos de ajustar contas conosco mesmo, o “Eu Superior”, a quem prometemos servir.
Sigfried descobriu Brunhilde, a Verdade, no meio do círculo de fogo e com ela se casou, jurando-lhe fidelidade eterna. É uma representação de um Probacionista. Porém, muitas vezes sofrerá o assédio de inimigos astutos, disfarçados em amigos, os vícios e falhas de sua Personalidade, apresentados como legítimas necessidades e impulsos, que defendem sua posição de prestígio, a todo custo, na corte do corpo humano. Não hesitam, pois, em trair o Senhor, o Cristo dentro de nós, o Cristo interno.
Precisamos compreender o verdadeiro sentido, o verdadeiro conceito, da palavra FIDELIDADE, em termos de obediência da Personalidade à Individualidade, o “Eu Superior”, em termos de vigilância e oração, para evitar, ao máximo de nossas possibilidades e entendimento, que nosso Senhor seja traído.
Olhemos a história: todas as pessoas de valor foram autênticas; não tiveram medo; não recuaram na defesa de seus ideais. São Paulo foi autêntico e sincero em dois extremos de ação, o Saulo, perseguidor e o Paulo, pregador, muitas vezes surrado e preso.
Não pretendemos sugerir façamos tanto. Mas, na medida de nosso nível evolutivo, devemos conservar a qualidade comum de sinceridade, de autenticidade, conosco mesmos. Isso equivale não apenas a sermos nós mesmos, sem máscaras, como também o reconhecimento de nossos defeitos e o propósito de os corrigirmos, para a indispensável regeneração que o ideal nos reclama. Ora, se somos fiéis a nosso “Eu Superior”, buscamos com ele conversar todos os dias, em recolhimento e prece, pedindo-lhe orientação e ajuda. Ele nos mostrará as tramas que se armam dentro de nós, pois está consciente de tudo que se passa com seus “discípulos”, sabe onde está Judas e o que faz contra ele, sabe das fraquezas de Pedro, perdoa-o e sempre o ajuda.
Podemos dizer que os únicos e grandes inimigos do Senhor estão dentro de nós. Não critiquemos, pois, os outros. A crítica é mau sinal. O “Eu Superior” jamais crítica. Ele ilumina amorosamente. Quem critica é a natureza inferior, o “Eu inferior”, a Personalidade. Cada vez que criticamos mais engordamos os maus vassalos, e contribuímos para a discórdia de nosso Reino. Cada vez que criticamos, damos ênfase a tensões. Cada vez que criticamos, fazemo-lo com o disfarçado propósito de evidenciar nossa superioridade, rebaixando o outro, comparando-o negativamente a nós.
Fidelidade não é servir nosso “Eu Superior”, defendendo-o dos outros, de fora, que não partilham de nossas opiniões. Cada Ego é um mundo à parte. Cada um deve responder por sua evolução. Nossa relação com eles deve ser de Ego para Ego, buscando ver em cada um a divina essência que nos identifica como irmãos, filhos do mesmo Pai. Com nosso discernimento, domínio próprio, com amor e firmeza evitaremos tudo o que da Personalidade, da natureza inferior dos outros, possa prejudicar-nos. Principalmente quando esses outros são importantes no “mundo dos homens” e nossa Personalidade tem interesse de agradá-los para tirar-lhes proveito da influência. Essa é uma prova muito expressiva. Se muitos gostam de bajuladores, se esses muitas vezes se beneficiam, não nos deve absolutamente tentar nem desiludir. Mantenhamos nossa autenticidade por meio de uma legítima cordialidade, tolerância e fraternidade. Muitos há que, por terem mais experiência da natureza humana ou por se cansarem dos bajuladores, atraem para si os mais sinceros servidores.
Tudo isto é humano e natural. Temos falhas e os outros também. Mas a luta mesmo é a que se trava dentro de nós. Precisamos de ser fiéis ao “Eu Superior”, haja o que houver: “Aquele que deseja salvar sua alma a perderá, e quem a perder em minha causa, ganhá-la-á”. Essa citação mostra o ensinamento de Cristo de que os lucros do mundo são os celestiais. Ele também disse: “Quem recebeu do mundo já nada tem a receber nos céus”.
Mas, esclareçamos: não quer dizer que as coisas mundanas sejam necessariamente antagônicas às coisas espirituais. O emprego das coisas é que, às vezes, o são. Nada é bom nem ruim, o emprego é que qualifica a ação ou a faculdade.
Esclareçamos também: não busquemos guarida nessas consolações, à guisa de pretexto, para justificar nossos insucessos e fracassos de relacionamento humano. Muita gente não progride por falhas pessoais e não porque os outros sejam ruins e ingratos. Temos observado que muitas pessoas que interpretam indevidamente os Ensinamentos Rosacruzes não são profissionais conscienciosos nem fraternais. Vivem mal, têm experiências desagradáveis com os demais e não chegam a atinar com seus defeitos, em que reside a causa da falha.
Por isso insistimos: a única fonte de esclarecimento é o nosso Ego. Ou renunciamos humildemente à nossa Personalidade e buscamos a orientação do “Eu Superior” e sua ajuda, propondo-nos a fielmente servi-lo, ou ficamos marcando passo e respondendo mais pesadamente pela oportunidade que nos foi dada, por meio de uma Escola Superior de conduta, com o é a Fraternidade Rosacruz.
Só desejamos que cada um se ilumine e se identifique como Espírito, como “Eu Superior”, como um Espírito Virginal da Onda de Vida Humana manifestado, um Ego. Nessa medida é que se estabelece a verdadeira Fraternidade, fundada em Luz, em Alma; nessa medida é que cada um pode melhor contribuir para si mesmo, para sua família, para o seu entorno e para a sociedade. Nessa medida é que cada um serve melhor a Cristo, nessa medida, finalmente, é que cada um se credencia a se constituir como um legítimo cidadão da futura Fraternidade Universal.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de outubro/1969-Fraternidade Rosacruz-SP)
Não há outro inimigo, senão nós mesmos. Enquanto houver dentro de nós um resquício sequer de Personalidade, haverá separação.
Na Fraternidade Rosacruz, distinguimos nitidamente entre Personalidade e Individualidade. Personalidade é a “persona”, o conjunto enganoso, provisório e em constante mudança formado pelas nossas sensações, emoções, sentimentos e modo de pensar. São os laços de sangue, as tradições, os elos do mundo, essas coisas mais fortes que algemas de aço, tudo a que o Cristo simbolicamente chamava de “o reino dos mortos”. O mundo, a família, os bens, tudo isso é meio de aprendizagem indispensável ao espírito, no presente estado evolutivo. Contudo, há o perigo de nos identificarmos com eles, de pensar que nos pertencem ou que lhes pertencemos, olvidando nossa origem celestial, nossa condição de espírito livre, em peregrinação e aprendizagem.
“Aquele que quiser ser meu discípulo, deve abandonar pai, mãe, irmãos, amigos, tudo”, disse o Cristo. Com isso não quis significar que devamos desleixar nossos deveres de pais, filhos, irmãos ou amigos Cristãos. Ao contrário, o verdadeiro Cristão é um excelente marido, esposa, pai, mãe, irmão, amigo, porque dá à sua afeição e trabalho o mais puro pensamento, sentimento e esforço. Dá e não espera receber; ama e não espera ser amado; compreende e não espera ser compreendido. As ingratidões não lhe suscitam ressentimentos, mas o cuidado de verificar se não contribuiu para isso. O verdadeiro Cristão busca a amorosa tentativa de reconciliação; ora e espera pela pessoa que é teimosa e rancorosa.
Ser Cristão é exemplificar AMOR, em seu sentido lato. É deixar que o Cristo, em si, fale, viva, ame.
Individualidade é a expressão do EU real (o que somos de fato, Espírito), verdadeiro e superior, comandando os pares físicos, morais e mentais como instrumentos de ação.
A Personalidade é a expressão do ser humano, de baixo para cima, o “homem invertido”, os valores instintivos, colorindo desordenadamente seu modo de ser; é o amordaçamento do espírito e seu condicionamento às conveniências instintivas. Um pentagrama com a ponta superior para baixo…
A Individualidade não prescinde da bagagem de experiências anímicas; ao contrário, vale-se dela de um modo próprio, original, epigenético, criador. Porém, nós, o Espírito, é quem mandamos e orientamos. Como disse São Paulo: “Não sou mais eu quem vive, mas o Cristo em mim”; e o próprio Cristo-Jesus: “Eu e o Pai somos um”.
É certo que essa condição vamos atingindo gradativamente, em uma luta constante entre a natureza inferior e a superior, entre as trevas e a luz dentro de nós. Por isso, a lenda dos Maniqueus, referindo-se internamente ao ser humano e ao mundo, fala da guerra dos Filhos das Trevas contra os Filhos da Luz. Estes acabam vencendo aqueles; entretanto, sendo bons, não podem exterminá-los. Incorporam, pois, o reino das trevas ao da Luz; ou seja, efetuam a transmutação dos valores inferiores em valores espirituais. Os alquimistas medievais faziam o mesmo, quando falavam sobre transformar os metais inferiores em ouro. Também entre os manuscritos encontrados no soterrado mosteiro dos Essênios, Qumran, às margens do Mar Morto, há um que fala da guerra dos Filhos das Trevas contra os Filhos da Luz.
Goethe, o grande Iniciado e autor de “Fausto”, falou, pela boca de um de seus personagens: “Duas almas — ai! — lutam dentro do meu peito pela posse de um reino indivisível; uma buscando alçar-se aos Céus em ilibados anseios, enquanto a outra se agarra à Terra, em passionais desejos”. São Paulo, o apóstolo, igualmente dizia: “Pobre homem sou! O bem que desejaria fazer, não faço; o mal que não desejaria fazer, esse eu faço”.
Tudo isso mostra, de sobejo, o que todas as Escolas (como a Fraternidade Rosacruz) e Ordens ocultistas (como a Ordem Rosacruz) ensinam.
Todo Aspirante sincero à espiritualidade “ora e vigia”, sobretudo quando se acha à frente de um movimento espiritualista e deve viver o que ensina. Ao mesmo tempo, o claro entendimento dessa luta dentro de cada um de nós nos torna rigorosos conosco e tolerantes com os demais, de modo a unir e não desunir, a estimular e não censurar; enfim, “a buscar a divina essência que existe em cada um”, o que constitui a base da Fraternidade que almejamos formar, como precursores da “Era de Aquário”.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de setembro/1965)