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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Valioso Patrimônio

Muitos se queixam das dores físicas e morais pelas quais passam nesta vida. Em vez de nos queixarmos, devemos pôr em prática o autoexame, a fim de percebermos em que ponto está a insuficiência para descobrir a falta, ou seja, a causa das tribulações. Desse modo a vergastada de Saturno durará pouco ou até perderá seu efeito. Não é propósito de Deus, amoroso e justo como é, que soframos neste mundo. Nós é que, pela transgressão das Leis da Natureza, provocamos efeitos dolorosos.

O autoexame e o descobrimento da causa de nossas dores é uma preciosa lição que deve ser aprendida por todo Estudante Rosacruz sincero à espiritualidade. Ao descobrir e assimilar a razão do sofrimento, ele experimentará a alegria que sente o que encontra a valiosa pérola do conhecimento. E essa alegria superará as dores e lembranças tristes que envolveram a aprendizagem da lição. Compensa em muito. E, no decorrer do tempo se desenvolverá, no Estudante Rosacruz, a posse mais valiosa de cada um de nós (o Ego que é o que somos): o equilíbrio – que o levará acima das exigências do mar das emoções, ao reino de paz eterna que sobrepassa todo o entendimento. Essa é a lição que nos transmite aquela passagem dos Evangelhos em que o Cristo vem andando sobre as águas e sua aparição atemorizou os Discípulos no barco. Então, S. Pedro pediu permissão ao Mestre para ir ao Seu encontro, andando também sobre o mar. Mas, ele temeu e ia afundando, quando o Mestre o amparou (Mt 14:22:36).  Isso significa: o Aspirante à vida superior, que é o Estudante Rosacruz, deve confiar em suas possibilidades espirituais e buscar sobrepor-se a sua instabilidade emocional, contando, entretanto, com auxílio superior, nos momentos de fraqueza (pois “o único fracasso é deixar de lutar”).

Quando o Estudante Rosacruz atingir esse ponto de seu desenvolvimento, tanto Saturno como Júpiter ou outros Espíritos Planetários não mais terão poder de impulsioná-lo, pois foi aprendida a regra do domínio próprio e, desde então, poderá tomar o timão de seu destino e orientá-lo pelo adequado uso da razão superior, que está de acordo, sempre, com a vontade divina. É o que significam as palavras de S. Paulo: “Já não sou em quem vive, mas o Cristo (o Espírito Interno) em mim” (Gl 2:20); e as de Cristo: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10:30). Goethe, o grande Iniciado alemão, esclareceu a esse respeito: “O homem se liberta de todas as forças que encandeiam o mundo quando alcança o domínio de si mesmo”.

A Fraternidade Rosacruz e a Ordem Rosacruz, como Escola de Mistérios Ocidentais, adaptada à necessidade evolutiva desta parte mais adiantada do globo, nunca louva e jamais condena; nunca obriga o Estudante Rosacruz a nada. Apenas o orienta, deixando que o anseio de libertação brote espontaneamente de seu íntimo. O discernimento, a capacidade de julgar as obras, ações, os atos, desejos, sentimentos, as emoções e os pensamentos, cabe a cada um, orientado pela Fraternidade Rosacruz. Em todos os Aspectos os Irmãos Maiores ensinam-no a manter-se e andar com suas próprias pernas, de modo a não depender de ninguém, nem mesmo deles. Essa é uma das diferenças entre o método Ocidental (Fraternidade Rosacruz) e o Oriental (demais escolas, algumas até indevidamente com o nome de Rosacruz, também).

Diz acertadamente o provérbio: “quanto mais alto subimos, tanto maior é a queda”. Isso no caso de cairmos e há esse perigo. Em qualquer grau de nosso desenvolvimento.

Preparatório ou mesmo iniciático pode um indivíduo cair numa prova. E as provas existem para testar sua firmeza e avaliar-lhe o mérito de atingir pontos mais altos, como os exames e sabatinas ao estudante que deseja avançar na escola. Somente pelo cultivo do equilíbrio e da autoconfiança, ligadas ao zelo de uma firme devoção, estaremos aptos a prosseguir. Não importa o que possam dizer de nós. Por mais discretos que sejamos em nossa atuação (e a discrição é importante mesmo) não podemos evitar que muitos nos julguem “diferentes” e outras coisas mais. Não importa, repetimos. As opiniões, as palavras, não têm o poder intrínseco de nos ferir, se vibramos superiormente. É nossa própria atitude mental em relação às palavras e atitudes dos outros que determinam o efeito delas sobre nós, tanto para o bem como para o mal. S. Paulo, em face da perseguição e maledicência, afirmou que “nenhuma dessas coisas me comove” (At 20:24). O equilíbrio é indispensável a quem pretende avançar espiritualmente. Sem ele o Corpo de Desejos se desenfreia ou se congela na proporção da natureza das emoções geradas no convívio com os outros.

Ser pacífico numa vida fácil ou nas montanhas ou ainda vivendo como um eremita é simples e não tem méritos. Como disse Cristo: “ser amigo de quem nos ama e agrada é muito fácil; é preciso que amemos nossos inimigos” (Mc 6:27). Realmente, é difícil manter uma atitude equânime, equilibrada, pacífica, num ambiente industrial ou em meio à tribulação. Todavia é preciso que essa atitude seja por nós conquistada. Muitas pessoas famosas chegaram a sê-lo porque verificaram, em tempo, que a perda de equilíbrio interferia em suas ambições. Por isso praticaram o equilíbrio. Em suas biografias e observações relatam que o equilíbrio lhes trouxe um aumento de eficiência nos negócios, na saúde e, por corolário, na felicidade em geral. Ora, se o autocontrole pode ser conseguido pelas pessoas mundanas e tanto benefício tem trazido às condições ordinárias da vida, igualmente é benéfico nos esforçarmos para seguir o “caminho”. Aliás, somos observados por nossos familiares e companheiros. Em nós o equilíbrio deve ser uma coisa natural, porque constituem um reflexo lógico da fé e da esperança. Se damos um bom exemplo, nos constituímos defensores daqueles companheiros mais novos que ainda não têm grande iluminação, dando-lhes ânimo para alcançá-la também.

A depressão e a soberba são nocivas. O equilíbrio deve ser cultivado, como auxílio na obtenção e manutenção da saúde e condição de maior avanço espiritual.

Esperamos que todos consigam possuir esse patrimônio valioso.

(Publicado na Revista: Serviço Rosacruz – abril/1965 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Nosso Próprio Reflexo

O nosso mundo interior é refletido por nossos pensamentos, sentimentos, nossas emoções, palavras, ações, obras e nossos atos. O observador perspicaz sabe disso. Nos Evangelhos encontramos a evidência dessa verdade na citação: “Pois a boca fala do que está cheio o coração” (Mt 12:34).

Frequentemente, agimos de modo ambíguo, por isso somos incoerentes, semelhantes aos fariseus que se amoldavam à conveniência das circunstâncias: “Pode jorrar, de uma mesma fonte, água doce e amarga?” (Tg 3:11).

Curioso é observar que não suportamos nossos próprios defeitos e os projetamos sobre os outros. Geralmente, o mais malicioso é que vê e critica a malícia no semelhante; o desonesto (em algum âmbito obscuro para ele) é o que mais condena o roubo. É um grito estrangulado da consciência que está sempre em busca de apontar a verdade que também está no nosso interior. Quando tentaram o Cristo, com a mulher adúltera (e os fariseus trouxeram apenas a mulher, quando a Lei prescrevia o mesmo castigo ao homem que adulterava com ela), Ele os desconcertou com o conhecimento que tinha da natureza humana. “Aquele que estiver isento de pecado, seja o primeiro a atirar a pedra” (Jo 8:7) . E diz a tradição que o Mestre, tranquilamente reclinado sobre o solo, escrevia com uma vara sobre a areia, em que cada fariseu via escritos seus defeitos pessoais. Certamente é um símbolo da consciência que, dentro de cada um, ia clamando seus defeitos para arrasar a pretensão de juiz daquela mulher.

Qualquer pessoa que estudou um pouco a Filosofia Rosacruz compreende o quão necessário se torna o autoconhecimento. Nenhuma elevação espiritual é possível sem essa condição. À medida que vamos nos conhecendo, pela prática dos Exercícios Esotéricos Rosacruzes de Observação e de Discernimento e do Exercício Esotérico noturno de Retrospecção, prescritos pela Fraternidade Rosacruz, vamos consolidando e fortalecendo aquilo que aprendemos. Consideramos esse conhecimento e, subsequentemente, o domínio de si mesmo, como a pedra fundamental do progresso interno e da felicidade. Goethe, o grande Iniciado, criador de “Fausto” o definiu bem: “O homem se liberta de todas as limitações que o encandeiam, apenas quando alcança o domínio de si mesmo”. E Cristo mostra o caminho: “Conhecereis a verdade e a Verdade vos libertará” (Jo 8:32).  Essa máxima representa a Verdade que está dentro de nós, pela sujeição de tudo a nós, o Ego, o “Eu Superior”. Nenhuma ciência, nenhum conhecimento, nenhuma arte ou posse representa uma finalidade na vida. Tudo tem valor, na medida em que se incorpore e expresse o que há de espiritual em nós.

Em síntese e reproduzindo S. Paulo: temos uma Mente carnal e uma Mente espiritual, um Corpo de Desejos, dividido em uma parte inferior e outra parte superior. Aqui residem as origens de nossas controvertidas expressões. Nós, o Ego, concebemos a ideia, mas quando ela se reveste de uma forma na Região do Pensamento Concreto, sofre a influência escravizante do Corpo de Desejos, que se unindo à Mente, desde a Época Atlante, formou em nós uma espécie de “alma animal”.

Mas, não basta conhecer a Verdade. Ela apresenta a solução, mas, é mister alcançá-la. Como nos libertar e nos regenerar, nos tornando, de novo, à condição de ser espiritual, filho e herdeiro de Deus?

O livro “Conceito Rosacruz do Cosmos” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz, em sua última parte expõe magistralmente essa questão. Tudo se resume na prática dos Exercícios Esotéricos Rosacruzes recomendados e num persistente esforço de repetir o bem na vida diária. Em verdade, aquilo que em nós vê o defeito e o mal nos outros, é o lado inferior. O lado superior possui apenas a Força de Atração, simpatia, o amor, a filantropia, o Poder Anímico, a Força Anímica, a Vida Anímica e de todas as demais qualidades superiores da vida. Por isso vê apenas o bem, o amigo, o semelhante, o espírito e a essência que, unido a nós e a todos, forma a Onda de Vida humana ou Hierarquia Criadora de Peixes (aos Espíritos Virginais da Onda de Vida humana em evolução), Filhos de Deus, transitoriamente diferenciados na cor da pele e nas condições externas.

O Aspirante à vida superior deve se esforçar diariamente para sublimar seu “eu inferior”. Se for permissivo a ponto de deixar suas condutas ditadas pelo lado inferior, poderá ser comparado a um animal irracional. Em verdade, o ser humano dominado por sua Personalidade se torna inferior aos próprios animais.

A Onda de Vida humana é racional e detentora de uma Mente. Essa deve ser exercitada e espiritualizada. O Estudante Rosacruz está vigilante para essa verdade. Não se expõe à insensatez pela imposição, aos outros, de suas ideias. Tão pouco sofre sem proteções a insensatez dos outros. Em todas as suas ações procura ser prudente, sábio, amoroso e justo, expressando o que tem de superior. Apenas assim, poderá se elevar e, ao mesmo tempo, elevará os demais, edificando e perfumando todos os ambientes em que passar

(Publicado na Revista Rosacruz – janeiro/1966 – Fraternidade Rosacruz-SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Um Apelo à Favor da Pureza

Sabemos que a força da paixão degenera aqueles que a ela se entregam. Aprendemos isso no caso dos antropoides superiores (orangotangos, gorilas, chimpanzés e bonobos), – que pertencem a nossa Onda de Vida –, entes que ficaram para trás na Onda de Vida humana e degeneraram em forma semelhante à dos animais, devido ao abuso da força sexual criadora, com a consequente cristalização. A responsabilidade dos Espíritos Lucíferos por essa condição foi demonstrada no livro “Conceito Rosacruz do Cosmos” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz, assim como o fato de que eles poderão nos alcançar se evoluírem o suficiente antes da metade da próxima Revolução, a quinta, deste Período Terrestre.

Mas, como o Cristo disse, há uma dupla responsabilidade no conhecimento: “A quem muito é dado, muito será exigido” (Lc 12:48). Enquanto a transgressão dos que existiram naqueles dias primitivos pode ser perdoada – e isso comporta um atraso de milhões e milhões de anos – a situação dos que possuem a iluminação do conhecimento superior, que foi disponibilizada a todos nós, especialmente nos dias de hoje, e que mesmo assim insistem em transgredirem a Lei de Deus abusando da força sexual criadora, pode se converter num caso muito mais sério do que o da classe que agora está incorporada em formas antropoides superiores.

A Magia Negra (que sempre que é praticada precisa utilizar a força sexual criadora em abundância) está sendo praticada com muito mais frequência do que se poderia supor, algumas vezes de forma absolutamente inconsciente (o que não diminui a culpa de quem a pratica), pois a linha divisória pode estar unicamente no motivo. No entanto, se abusarmos do nosso conhecimento superior, ainda que sejamos mais refinados na indulgência com as nossas paixões, o resultado será certamente desastroso. Na atualidade, a força sexual criadora (exceto a quantidade insignificante que possa ser requerida para a propagação da Onda de Vida humana aqui) deve ser transmutada em Poder Anímico, Força Anímica e Vida Anímica (ou seja: Poder da Alma, Força da Alma e Vida da Alma). Portanto, continuemos insistentemente no caminho da pureza, para que não nos vejamos em situação pior que a desses seres humanos degenerados encontrados como escravos de Lúcifer na “cozinha da bruxa”[1] – como é representado no mito de Fausto de Goethe.

Se em algum momento formos tentados, por pensamentos impuros, voltemos imediatamente nossas Mentes para outros temas afastados da sensualidade (os Exercícios Esotéricos Rosacruzes auxiliam e muito nesse sentido. É só praticá-los!).

(Publicado na Revista Rosacruz – agosto/1972 – Fraternidade Rosacruz-SP)


[1] N.R.: “Cozinha da Bruxa”, também chamado de “caverna de Feiticeira”, em português, faz parte da obra Fausto de Johann Wolfgang von Goethe. Segundo as palavras do próprio Goethe, que Eckermann registrou numa conversa datada de 10 de abril de 1829, a cena “A Cozinha da Bruxa” foi escrita no jardim da Villa Borghese em Roma, na primeira metade de 1788.

QUADRO VII

Vasta caverna de Feiticeira. Ao fundo, uma porta baixa e informe. Do lado esquerdo, uma lareira térrea; por cima dela uma espaçosa chaminé. Na lareira, assente numa trempe, um grande caldeirão. Na fumarada que dele sai, vão vislumbrando várias figuras. Espalhadas pela caverna tripeças, e uma canastra com diversos objetos, entre os quais um copo de dados, archotes, uma bola, uma coroa, um cartapácio encadernado de preto com broches de ferro. Pelas paredes sem reboco e afumadas, pendem desordenadamente vasilhas de mil formas, uma peneira, um espelho, uma vara, um abano de cauda. Uma cantareira com garrafas e copos.

CENA I

Ao pé do caldeirão, e a escumá-lo, com sentido que não se deite por fora, está sentada uma CERCOPITECA (macaca muito grande, de rabo comprido) (). O CERCOPITECO (o macho) está sentado, com os filhinhos ao pé, a aquecer-se. FAUSTO, MEFISTÓFELES.

FAUSTO (a Mefistófeles)

Este sarapatel de nigromâncias

faz-me nojo, declaro. E projetava

este diabo restaurar-me a vida

em tão vil charco de hediondezes fúteis!

Aconselhem-se lá co’uma carcaça!

Ou tenham fé que possam burundangas

duma cozinha assim descarregar-me

trinta anos do cachaço. A não saberes

receita que mais valha, estou servido.

Pois dar-se-á que não tenha a natureza

algum bálsamo seu, já descoberto

por algum alto engenho?

MEFISTÓFELES

Aí ’stão palavras

que mostram não ser parvo o nosso amigo.

Sim senhor; sem sair da natureza

há também com que um homem se remoce.

Vem isso noutra obra; e bem curioso

que ele é, o tal capítulo.

FAUSTO

Declara-o!

MEFISTÓFELES

Guapa receita. E curativo grátis,

sem precisar Doutor, nem feiticeira.

Ponha-se fora; vá-se aos campos; are;

cave; enclausure-se, alma e corpo, em solo

dadivoso, mas parco; esteie a vida

com frugal passadio; aprenda e exerça

co’os seus brutinhos o viver nativo;

não julgue desairar-se, em repartindo

por suas mãos o adubo ao chão que o nutre.

Fie-se em mim: se há coisa que descargue

de oitenta anos, é isto.

FAUSTO

Agora é tarde

para me acostumar. Nunca até hoje

peguei num alvião. Para o meu génio

esse viver obscuro era insofrível.

MEFISTÓFELES

Então, é recorrer à feiticeira.

FAUSTO

Mas porque há-de ser logo a preferida

a tal mondonga velha? Não podias

preparar-me tu próprio a beberagem?

MEFISTÓFELES

Belo divertimento! Eu preferia

gastar o tempo em construir mil pontes.

Para arranjar os filtros desta casta

quer-se, além do saber, paciência e muita,

e atenção de anos largos; só co’o tempo

é que se alcança o fermentar completo

do líquido eficaz. Pois a quantia

d’ingredientes raríssimos! É certo

que o diabo é quem os sabe, e ensina tudo;

mas lá para os estar manipulando

é que não tem pachorra.

(Reparando nos animais)

Olhe a gracinha

do casal que ali está! São a criada

e o servo cá da casa.

(Aos animais)

Olá! já vejo

que a velhusca, vossa ama, anda por fora.

OS ANIMAIS

Eh eh eh eh!

Ao fricassé!

Foi pelo cano

da chaminé.

MEFISTÓFELES

Gasta lá nessas frescatas

muito tempo a feiticeira?

OS ANIMAIS

O tempo em que na lareira

nós aquecemos as patas.

MEFISTÓFELES (a Fausto)

Que tais acha estes nossos bicharecos?

FAUSTO

Ai! de apetite! Nunca os vi mais feios.

MEFISTÓFELES

E eu então o meu gosto é conversá-los.

(Aos animais)

Dizei, bonecos danados,

que tendes no caldeirão,

que estais tão azafamados

a mexer co’o colherão?

OS ANIMAIS

Pois não vês? esta iguaria

são as sopas dos mendigos.

MEFISTÓFELES

Nesse caso, meus amigos,

tereis muita freguesia.

O CERCOPITECO (tira da canastra o copo dos dados, e vai-se chegando a MEFISTÓFELES fazendo-lhe muitas festas)

Joguemos aos dados!

Meu rico parceiro,

não tenho dinheiro,

fazei-mo ganhar.

Ser pobre é ser parvo.

Espírito nobre,

salvai-me de pobre,

salvai-me de alvar.

MEFISTÓFELES

Este cercopiteco endoidecia,

se pudesse ganhar na loteria.

(Nestes entrementeses, andam os cercopitequinhos a brincar com uma grande bola que tiraram da canastra, e vão rolando diante de si.)

O CERCOPITECO

Tal é o mundo!

Rolar, correr,

subir, descer.

Vidro rotundo

sonoro e oco,

a pouco e pouco

fendas a abrir.

Aqui brilhante;

lá coruscante;

sempre cambiante,

sempre a fugir.

Fala-te um ente,

qual tu vivente,

qual tu mortal.

Evita, amigo,

esse inimigo

mundo fatal.

Crê-lo maciço,

e é quebradiço

como cristal.

MEFISTÓFELES

Que faz aqui esta peneira?

Tem algum préstimo?

O CERCOPITECO (tirando a peneira do prego)

Pois não?

Mostra a verdade nua e inteira.

Supõe que fosses um ladrão,

cara de santo e fala arteira,

logo eu te via a maganeira,

em observando o teu carão

pela peneira!

(Corre para a fêmea, a quem obriga a olhar para Mefistófeles, através da peneira)

Toma a luneta, companheira,

observa, observa o figurão.

Reconheceste-lo à primeira.

Declara o nome do ladrão!

Viva a peneira!

MEFISTÓFELES (aproximando-se do lume)

E este pote?

OS CERCOPITECOS (macho e fêmea)

Fora zote,

burro, estúpido, asneirão.

Não vês que é um caldeirão?

Chama a um caldeirão um pote!

MEFISTÓFELES

Bruta corja!

O CERCOPITECO (levanta-se arrebatadamente do chão um abano de rabo e mete-o na mão de Mefistófeles)

O quê! Depressa!

Toma o rabo deste abano!

Assenta-te na tripeça,

e esperta a fogueira, mano!

(Obriga Mefistófeles a sentar-se numa das tripeças, fazendo do abano ventarola)

FAUSTO (que durante todo este tempo, estivera parado defronte de um espelho, ora aproximando-se, ora recuando)

Oh mago espelho! que divina imagem!

Asas, asas, Amor! conduz-me a ela!

Se me acerco, recua, e mal a avisto

sombra de sombra esmorecida em névoa.

Tais graças feminis, dar-se-á que existam?

Estarei vendo neste esbelto corpo

das delícias dos céus a quinta essência?

Cabe ao mundo um tal dom?

MEFISTÓFELES

Naturalmente.

Quando lida na obra um Deus seis dias,

ao sétimo a contempla, e exclama: Bravo!

De ver está que executou portento

de costa acima. Farte os olhos, farte!

Deixe-me furoar que tarde ou cedo

lhe hei-de desencantar esse tesoiro.

Feliz quem no obtiver.

(Continua Fausto a olhar para o espelho. Mefistófeles espreguiçando-se na tripeça, e brincando com o abano, continua a falar.)

Que belo assento,

em que eu me estou aqui repetenando!

Nem rei no trono. Empunho um ceptro. Resta

vir a coroa radiar-me a testa.

OS ANIMAIS (que até aqui tem estado, uns com os outros, fazendo trejeitos e momices, trazem da canastra a Mefistófeles uma coroa, com grande algazarra)

Tome-a lá! Grude-a a si bem grudada,

com suores e sangue, oh Senhor!

(Ao brincarem à doida, deixam cair a coroa, que se parte em pedaços. Apanham-nos e atiram-nos por joguete uns aos outros.)

Ih! Quebrou-se a coroa sagrada!

Viva a turba! Acabou-se o temor.

Galrar já podemos,

de ventas no ar.

As zangas que temos,

até poderemos,

querendo, rimar.

FAUSTO (sem se apartar do espelho)

Ui que sanzala! Esvaem-me o juízo!

MEFISTÓFELES

Se até eu tenho a bola à roda, à roda!

OS ANIMAIS

E se a coisa desta feita

vinga e dá seu resultado,

das ideias a colheita

torna o mundo afortunado.

FAUSTO (como acima)

Já me arde o coração. Presto, fujamos!

MEFISTÓFELES

Já se vê pelo menos que estes mecos

tem para a poesia embocadura.

(Como a macaca tinha largado o caldeirão, começa este a entornar-se, ocasionando grande lavareda que sobe pela chaminé. Pelo meio dessa lavareda, desce a Feiticeira vozeando.)

CENA II

A FEITICEIRA e os MESMOS

FEITICEIRA

Ão, ão, ão, ão!

Maldita mona,

que me entornaste

o caldeirão,

e a vossa dona

incendiaste!

Maldita! ão, ão!

(Repara em Fausto e Mefistófeles)

Que temos? Vós quem sois? Quem teve o atrevimento

de vos deixar entrar? qual era o vosso intento?

Por entrardes sem vénia e a furto aos lares nossos,

má fogo que vos queime, e vos derreta os ossos!

(Mete o colherão na caldeira; tira-o cheio; sacode o líquido, que vai cair, convertido em chamas, sobre Fausto, Mefistófeles e os animais. Os bichos lançam grandes guinchos)

MEFISTÓFELES (levantando-se a súbitas, revira o abano com o cabo para fora, e começa a malhar com ele na caldeira, e em tudo que vê diante)

Ah! tu brincas? Pois eu faço

à tua solfa o meu compasso,

múmia ascosa. Na fogueira

vaso as sopas. A caldeira

ela aí vai tornada estilhas;

e atrás dela estas vasilhas…

Nada inteiro há-de ficar.

(A Feiticeira tem ido retrocedendo, cheia de terror)

Monstro! horror! arcaboiço! Olá! Não reconheces

o teu amo e senhor? Ínfima das refeces,

queres-te opor a mim? Não sei que me tem mão

que vos não leve a pau, desfeitas, de rondão,

tu, e toda a relé da tua bicharia.

Pois já esta demente acaso esqueceria

este cocar de galo? a cor de grã que eu visto?

até o meu semblante? Ainda, após tudo isto,

para saber quem sou precisa que lhe ponha

claro, eu próprio, o meu nome, a biltre sem vergonha!

A FEITICEIRA

Confesso, Grão Senhor, que foi mal-recebido.

Vossa alteza perdoe;… mas tinha-lhe esquecido

o pezinho cabrum e o par de corvos.

MEFISTÓFELES

Bem.

Por esta inda te passo.

(A Fausto)

Ele havia também

já tantíssimo tempo, a dizer a verdade,

que me não tinha visto!… A lei da humanidade

também se estende a nós: Le monde marche. Um vento

que se chama O Progresso, ora rijo, ora lento

mas constante, que varre e leva a quanto existe,

também por cá chegou. Foi-se o fantasma triste

do nevoento Norte. Onde há já ’í diabo,

que use chavelhos, garra ou pé de cabra e rabo?

Ora eu enquanto ao pé, – membro que não dispenso,

por ser quem me carreia em basta gente assenso –

quanto ao pé, anos há que uso ao disfarce botas,

como usam panturrilha os magrizéis janotas.

A FEITICEIRA (cantando e dançando)

Não caibo em mim d’alegria

por ver meu Dom Santanás

nesta minha cova fria,

tal como outrora soía,

lá quando eu era algum dia

menos velha, e ele rapaz.

Viva o meu Dom Santanás!

MEFISTÓFELES

Vedo que nunca mais tal nome se me dê.

A FEITICEIRA

Pois que mal lhe fez ele? explique-se: por quê?

MEFISTÓFELES

Nome é que anda há já muito entre outros mil escritos

no volumoso rol das fábulas e mitos.

(A Fausto)

Coisas da espécie humana: o génio mau proscrevem

e ficam-se co’os maus; a esses não se atrevem.

(À Feiticeira)

Chama-me se te apraz «Barão!» «Senhor Barão!»

Não há mais que dizer. Fico um fidalgarrão

como os do sangue azul. Quanto eu sou nobre, escuso

encarecer-to; e aí vão as armas do meu uso!

(Faz certo acionado.)

A FEITICEIRA (rindo a bandeiras despregadas)

Ah ah ah ah!

Ih ih ih ih!

Nunca vi, não há,

não há, nunca vi

brejeiro maior!

Bargante, bargante!

Em moço, tunante;

em velho, pior!

MEFISTÓFELES (a Fausto)

Repare, meu amigo e aprenda! Esta a maneira

como deve tratar co’a súcia feiticeira.

A FEITICEIRA

Que desejam agora estes senhores?

MEFISTÓFELES

Mando

que nos tragas já já um copo trasbordando

da sabida mistela, e quanto mais anosa

a tiveres, melhor, mais eficaz.

A FEITICEIRA

Gostosa

obedeço já já.

(Tira uma garrafa e um copo da cantareira)

Nesta garrafa tenho

com que dar ao seu mando óptimo desempenho.

Desta é que eu muita vez mato o bicho. Fortum

nem por onde ele passe. Um copo! e mais do que um

se quiser, essa é boa!

(Baixo a Mefistófeles)

Olhe que o sujeitinho,

se traga aquilo assim como quem bebe vinho,

sem se ter preparado, estoira antes de um’hora,

bem sabe.

MEFISTÓFELES (baixo à Feiticeira)

O teu receio é mal cabido agora.

Eu sou amigo dele e não lhe quero a morte.

Podes-lhe dar sem medo o que haja de mais forte

no teu laboratório. A l’obra, presto, a l’obra!

Risca-me nesse chão o círculo da cobra.

Reza lá o conjuro, e dá-lhe um copo cheio.

(A Feiticeira com solenes ademães, risca um círculo e põe-lhe dentro coisas esquisitas. Para logo principiam os utensis e os copos a traquinar, com certa afinação. Traz afinal um cartapácio. Mete no círculo os cercopitecos. Um deles fica a servir-lhe de estante. Os outros archotes tirados da canastra, e que per si se acenderam simultaneamente. A Feiticeira acena a Fausto, que se lhe acerque)

FAUSTO (a Mefistófeles)

Mas tudo isso a que vem? Patranhas vãs! Descreio

de quanto vejo aqui: visagens estudadas,

imposturas sem sal, tontices, meros nadas.

Sei tudo isso de cor; tenho-lhe nojo.

MEFISTÓFELES,

Asneira!

É forte bravejar contra uma brincadeira!

Pois não vês que a mulher não faz em tudo aquilo

senão seguir à risca o medical estilo?

para que te aproveite e preste a beberagem,

põe muito palavrão, muitíssima visagem.

A FEITICEIRA (empurra Fausto para dentro do círculo; e põe-se a ler no livro, declamando com grande ênfase)

Agora me explico,

Do um, dez fareis;

o dois deixareis;

o três uguareis;

e já sondes rico.

Lançar quatro fora.

Dos cinco e dos seis,

sete e oito fareis.

São estas as leis,

e andai-vos embora.

E os nove são um;

e os dez são nenhum.

E tenho acabada,

segundo cumpria,

toda a tabuada

da feitiçaria.

FAUSTO (a Mefistófeles)

Ela estará com febre? A modo que extravaga.

MEFISTÓFELES

Ai! de pouco se admira. Inda por ora a saga

do introito não passou; e todo o calhamaço

vai no mesmo teor. Eu já o li de espaço;

por sinal que até fiz sobre o seu conteúdo

o estudo mais cabal, mais sério, mais miúdo,

do que vim a inferir o que lhe exponho franco:

no que é contraditório, o sábio fica em branco,

assim como o ignorante. Esta arte, meu amigo,

é velha e nova; há nela, a par do imenso antigo,

algo também moderno. Inda não houve idade,

que, a bem de traficar co’a pobre humanidade,

não andasse a espalhar, com rara impavidez,

erros de três por um, ou erros de um por três.

Onde havia ensinar-se o claro, o verdadeiro,

mentiu-se adrede ao vulgo estólido e crendeiro.

Contra a superstição e audácia, era preciso

combater e suar; e a gente de juízo

preferiu sempre a tudo um bom viver pacato.

Nos mortais em geral dá-se um pendor inato

para absorverem crença. Era melhor primeiro

pensar, e crer depois; crer só no verdadeiro.

A FEITICEIRA (continuando)

A potência da ciência

que anda oculta em névoa escura,

só revela a sua essência

ao mortal que a não procura.

FAUSTO

Que absurdo nos diz ela? A tantos disparates

já se me oira a cabeça; oitenta mil orates

não doidejavam mais.

MEFISTÓFELES

Nobre sibila, basta!

Venha o copo e bem cheio. Um homem desta casta,

um famoso Doutor em tanta faculdade,

pode beber sem risco e sem dificuldade.

Mal imaginas tu que tragos de alto engodo

ele já tem provado.

(Notando em Fausto alguma hesitação, continua.)

Abaixo! abaixo! Todo!

Animo! escorripicha! E tu verás em breve

como esse coração bate contente e leve.

Ora gosto de ti! Convives co’o demónio

tu cá, tu lá, e agora estás como um bolónio

com medo a um fogachinho!

(Fausto acaba de beber resolutamente o copo apesar de saírem dele pequenas chamas.)

(A Feiticeira desfaz o círculo. Fausto sai dele.)

Estás liberto. Agora,

exercício que farte.

A FEITICEIRA

Em muito boa hora

que tomasse o meu filtro.

MEFISTÓFELES (à Feiticeira)

E tu, se me quiseres

alguma coisa, velha, é bom que lá me esperes

na Valburga esta noite.

A FEITICEIRA (a Fausto)

Aprenda outra cantiga

antes de se ir embora; e é dadiva de amiga.

Toda a vez que a entoar, há-de sentir no peito

um certo não lho digo; enfim um certo efeito

(Fausto dá-lhe costas enjoado, com ar desprezativo)

MEFISTÓFELES (a Fausto)

Vem comigo, eu te guio. A fim de que a poção

no interior e por fora opere a sua ação,

não há que estar à espera; é necessário e urgente

medir terra, correr, suar copiosamente.

Depois te ensinarei como se logra a vida

no suave far niente em flores envolvida,

e como o deus de amor brinca, borboleteia,

e oferta aos lábios mel pela áurea taça cheia.

FAUSTO (querendo tornar-se ao espelho)

Deixem-me inda uma vez mirar nesse brilhante

venturoso cristal a que é sem semelhante,

da graça o non plus ultra.

MEFISTÓFELES

À fé, que a imagem dela

era de todo o ponto e em todo o extremo bela;

mas que não dirás tu, em vendo o original?

vivinho! em carne e osso! ao pé de ti!

(À parte)

Que tal!

Co’a dose que tomou, qualquer mulher que aviste

vai julgá-la outra Helena.

Ah, sábio, alfim caíste!

A cozinha da bruxa levará Fausto a completar seu grande “livramento” no âmbito da materialidade. Ele deveria rejuvenescer para que sua aparência lhe proporcionasse maior mobilidade no mundo das suas aspirações. Porém, rejuvenescer para o doutor fazia parte de um aspecto bem maior. A magia lhe proporcionava vencer a finitude do corpo do herói velho sem mobilidade. Ele necessita agora de energia para pôr em prática sua ânsia de conhecimento. Precisa de disposição para o amor, e assim recobrar o tempo perdido. A poção da bruxa confere um novo conteúdo à sua forma. Fausto assume o ímpeto da juventude e sua alma fáustica está agora em perfeita conformidade com suas forças físicas.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Astrologia ao Longo do nosso Tempo aqui – Parte 10: A Astrologia nos Séculos XIX e XX

O século 19 viu um ressurgimento do interesse pela Astrologia.

Em 1811, Goethe (1749-1832) não hesitou em proclamar a sua fé na Ciência dos Astros, ainda que a interpretação dele não se baseasse nas posições dos Astros, mas num método alquímico: “Vim ao mundo em Frankfurt -le-Main, 28 de agosto de 1749, às 12 badaladas do meio-dia. A constelação estava feliz, o Sol estava no Signo de Virgem; Júpiter e Vênus estavam com Aspecto benéfico com ele; Mercúrio não estava desfavorável, Saturno e Marte estavam neutros; só a LuaLua Cheia naquele dia – exercia a força da sua reverberação, tanto mais poderosa quanto se iniciava a sua ‘hora planetária’…” (Poesia e Verdade. Cap. I – 1811).

Podemos verificar isso no horóscopo dele:

  • Não há Aspecto de Vênus e Júpiter com o Sol;
  • Mercúrio está em Quadratura com Plutão (complexo de Fausto), mas Goethe não poderia saber disso;
  • Saturno, em Conjunção com o Ascendente e em Trígono com a Lua, está longe de ser neutro;
  • Marte também faz Trígono com a Conjunção Sol-MC.

Os únicos elementos correspondentes à Astrologia tal como a praticamos são: Sol em Virgem, Lua Cheia e com fortes influências.

Balzac (1799-1850) escreveu: “A Astrologia é uma ciência imensa que reinou sobre as maiores Mentes”.

O Tenente da Marinha Real Inglesa, Richard James Morrisson (1795-1874) ocultou suas atividades astrológicas sob o pseudônimo de Zadkiel. Em 1861, ele escreveu: “A posição estacionária de Saturno este ano oferecerá influências muito adversas para todas as pessoas nascidas em 26 de agosto… Entre os aflitos, lamento ver o valente príncipe consorte”. No entanto, descobriu-se que o príncipe Alberto de Saxe-Coburgo, que se casou com a rainha Vitória em 1840, morreu em 14 de dezembro de 1861.

O Daily Telegraph conseguiu revelar a identidade de Morrisson e o processou. É Morrisson quem ganha o caso e fica famoso…

Chegamos ao alvorecer do século XX.

A Astrologia cresceu nos últimos anos do século XIX e no início do século XX. Nessa época, um novo sopro de vida passou pelas Ciências: a descoberta dos raios X, das ondas eletromagnéticas, da mecânica quântica e da relatividade de Einstein. Essas descobertas abalaram as certezas racionalistas da Ciência dos séculos passados.

O declínio do pensamento mecanicista e causal no sentido estrito dos termos, a realização da interdependência global do universo (não localidade ou emaranhamento quântico) abrem as portas para uma Astrologia renovada.

Em finais do século XIX, o Abade Nicoullaud (1854-1923) apresentou em 1897 um Manual de Astrologia Esférica e Judicial, sob o pseudônimo Fomalhaut, destinado a verificar o ensinamento de Ptolomeu.

Em 1901, a obra de Morin de Villefranche, muito empoeirada desde a sua publicação em Haia em 1661, foi traduzida do latim para o francês.

Para nós, Estudantes Rosacruzes, é especialmente o trabalho de Max Heindel e Augusta Foss Heindel, que nos é necessário e suficiente para aprendermos e praticar a Astrologia Rosacruz, por meio do estudo dos livros: “Astrologia Científica Simplificada”, “Mensagem das Estrelas” e “Astrodiagnose – Um Guia de Saúde”, como também pelo aprendizado dos ensinamentos oferecidos pelos três cursos de formação: Curso Elementar de Astrologia Rosacruz, Curso Superior de Astrologia Rosacruz e Curso Superior Suplementar de Astrologia Rosacuz. É um assunto de estudo ao longo de toda a nossa vida. A Astrologia Rosacruz assume toda a sua dimensão esotérica e mística na medida em que o conhecimento propiciado por ela se baseia nos Ensinamentos Rosacruzes fornecidos pelos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz.

As leis gêmeas: Lei de Consequência (ou Lei de Causa e Efeito) e a Lei do Renascimento resolvem o problema do livre arbítrio e do determinismo que surge quando se aborda a Astrologia Rosacruz de um ângulo esotérico.

Em particular, dois fatos fundamentais esclarecem o assunto:

  • Os Anjos do Destino, que estão acima de todo erro, dão a cada um e a todos exatamente o que necessitam para o seu desenvolvimento;
  • Por meio do Sacrifício de Cristo no Gólgota, Ele torna possível a qualquer um aplicar a doutrina do Perdão dos Pecados e a alcançar libertação do Ciclo de Renascimento (Nascimentos e Mortes).

Porque, recorde-se sempre, ainda que os Astros possam impelir, eles não podem absolutamente compelir. Em última análise, somos os árbitros de nosso destino e a despeito de todas as influências adversas, está em nosso poder dominar nossos Astros pelo exercício da Vontade, a marca de nossa Divindade ante a qual tudo mais deve se inclinar. Por esse motivo é que sempre utilizamos o verbo “tende” e não “é” e nem “tem” (a não ser para o irmão ou para a irmã que não cuida da parte espiritual da sua vida e vive aqui “como uma folha ao sabor do vento” ou buscando somente a felicidade neste mundo material evanescente, palco de nosso atual ciclo de evolução. Nesse caso a “sugestão”, na maioria das vezes, vira “ação” e o “tende” vira “é” ou “tem”).

(de: Introduction: L’Astrologie Selon Les Enseignements Rosicruciens : L’Astrologie Rosicrucien, da Association Rosicrucienne Max Heindel, Centre de Paris – Texte inspiré de l’enseignement rosicrucien légué à Max Heindel par les Frères Aînés de la Rose-Croix – Traduzido pelos irmãos e irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Carta de Max Heindel: Guardiões Invisíveis à Humanidade

Setembro de 1911

Você viu na lição sobre o Batismo como retrocedemos no tempo até os primórdios da evolução em nosso Planeta para descobrir o significado daquele Sacramento. Você deve ter notado também, naquela lição do mês passado, como o Sacramento da Comunhão tem suas raízes naqueles tempos remotos. Deste modo, é evidente que, a menos que sejamos capazes de investigar a história passada da Onda de Vida humana, não poderemos obter uma concepção clara a respeito de qualquer coisa relacionada com a Humanidade. Goethe falava de “das ewing werdende”, que quer dizer “sempre em transformação”. A mudança é a principal alavanca do progresso e se observarmos o ser humano tal como é agora, sem atentarmos para o que ele foi, as nossas deduções quanto ao seu futuro deverão ser, necessariamente, muito limitadas.

A última lição ilustra a Lei da Analogia, mostrando como o ser humano foi guiado pelos Divinos Guardiões[1], de maneira semelhante àquela em que a criança pequena é cuidada pelos pais ou responsáveis para prepará-la para a batalha da vida; e podemos ter a certeza de que, embora esses Divinos Guardiões se retiraram da liderança “visível”, eles ainda estão conosco e mantém um olhar atento sobre seus antigos protegidos, exatamente como os pais ou responsáveis continuam interessados no bem-estar de seus filhos, mesmo depois destes deixarem o lar dos pais ou responsáveis para travar a batalha da vida por seus próprios meios.

Quando tivermos nossos “olhos espirituais” abertos – ou seja: desenvolvido a nossa visão espiritual – e tivermos aprendido a distinguir as diversas classes de seres das regiões superiores, essa tutela será um dos fatos mais tranquilizadores para o observador; pois, ainda que ninguém possa interferir no livre arbítrio da Humanidade e, embora seja de alguma forma contrário ao plano divino coagir um ser humano a fazer aquilo que ele não quer fazer, não há nada que o impeça de se sugestionar e, assim, provavelmente escolher. E é devido à sabedoria e ao amor desses Grandes Seres que o progresso ao longo de linhas humanitárias é a palavra de ordem do dia.

No transcurso dos últimos tempos, nós que habitamos o mundo ocidental, sentimos particularmente a profunda angústia, o intenso sofrimento e a dor provocados pelas guerras e pelos conflitos. A luta pela existência se torna cada vez mais acirrada; é ditada pelo comportamento cruel que as pessoas demonstram umas com as outras – ou “a desumanidade do homem para com o homem”[2]. Contudo, há também outro fator desenvolvido pelos Senhores do Amor e da Compaixão, nomeadamente, os movimentos altruístas, que se multiplicam em números a um ritmo maravilhoso e ganham em eficiência, à medida que os anos passam. No entanto, é digno de nota que tanto a beneficência como as esmolas, que degradam quem as recebe, vão sendo substituídas pela ação de ajudar-se a si mesmo, que eleva tanto quem ajudamos como quem assim age, tornando os necessitados autossuficientes. Esse tipo de ajuda envolve pensamento e autossacrifício, que são promovidos pelos nossos Guardiões Invisíveis entre os mais fortes que são, agora, os guardiões dos seus irmãos e das suas irmãs mais fracos.

É motivo de considerável regozijo sabermos que vários membros da Fraternidade Rosacruz são trabalhadores em instituições onde a sistemática de ajuda é a de tornar o indivíduo capaz de se bastar a si mesmo e eu, sinceramente, espero ver o dia em que muitos outros estejam dispostos a assumir um trabalho dessa natureza, cada um no seu respectivo ambiente. Mas, comece no seu próprio lar, sendo gentil com todos com quem você entrar em contato cotidianamente e, assim, quando você for considerado fiel nessas pequenas coisas, oportunidades maiores não lhe faltarão.

(Carta nº 9 do Livro “Cartas aos Estudantes” – de Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)


[1] N.T.: as Hierarquias Criadoras

[2] N.T.: de “Man’s inhumanity to man”, expressão cunhada pelo poeta escocês Robert Burn, publicado em 1784 na primeira edição da obra Poems, Chiefly in the Scottish Dialect em 1786.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Astrologia ao Longo do nosso Tempo aqui – Parte 7: A Astrologia nos Século XVI e XVII

Chegamos ao século XVI, o chamado século “renascentista”, porque aí redescobrimos as antigas fontes. Os estudiosos dessa época são, em geral, favoráveis ​​à Astrologia.

Em 1520, uma cadeira de Astrologia foi fundada na universidade papal. O médico suíço Bombastus Von Hohenheim, mais conhecido como Paracelso (1493-1541), fundou a medicina hermética e utilizou o simbolismo astrológico na prática de sua arte. Ele escreve: “Aquilo que cura indica a natureza e a causa do mal, e como cada Astro é representado por um metal: Marte pelo ferro, Vênus pelo cobre, Saturno pelo chumbo, seguir-se-á que a ação terapêutica de cada metal indicará a influência mórbida da estrela correspondente”.

Catarina de Médicis (1519-1589), muito afeiçoada à Astrologia, trouxe para a corte muitos videntes e astrólogos e, em particular, o famoso Nostradamus (1503-1566). As profecias contidas em seus Centuries ainda fazem correr muita tinta…

Mas, a próspera era da Astrologia está terminando com a descoberta do heliocentrismo pelo astrônomo polonês Copérnico (1473-1543). Alguns meses antes de sua morte, ele publicou “revolutionibus orbium coelestium”, que teria uma grande influência no pensamento humano.

Pela primeira vez em 17 séculos, reafirma-se que a Terra e todos os outros Planetas giram em torno do Sol, girando a Terra, aliás, sobre si mesma em 24 horas. Deve-se saber que nenhum fato novo esteve na origem dessa teoria. Copérnico conhecia os escritos de Heráclides (388-315 a.C.) e Aristarco (310-230 a.C.), a quem saudou como seus precursores e é essencialmente por razões metafísicas que adotou esse ponto de vista.

De fato, ele considerava normal colocar a estrela mais brilhante no centro do mundo, aquela que fornece luz e calor à Terra. No entanto, os resultados das observações à sua disposição não lhe permitiram descobrir as leis exatas do movimento dos Planetas. Isso seria descoberto no século seguinte por Kepler, graças às observações astronômicas de um dinamarquês, apaixonado por Astrologia, Tycho-Brahe (1546-1601).

Tycho-Brahe estava inicialmente destinado à carreira jurídica, mas sua paixão pela Astrologia o levou a querer saber as posições dos Planetas com mais precisão do que se fazia na época. Com o apoio do rei Frederico da Dinamarca, ele mandou construir o primeiro observatório digno desse nome perto de Copenhague, que batizou de “Uranienborg” (nome profético quando Urano só seria descoberto quase dois séculos depois).

Com a ajuda dos instrumentos que construiu, conseguiu determinar com precisão a declinação e as coordenadas equatoriais dos Planetas. Tycho-Brahe nunca aceitou a teoria heliocêntrica. Talvez ele tenha percebido que essa teoria se tornaria uma arma contra a Astrologia?

Mas, vamos às descobertas do astrônomo alemão Johannes Kepler (1571-1630). Kepler havia sido aluno de Tycho-Brahe e tinha os resultados de suas observações; mas, ao contrário de Tycho-Brahe, ele era partidário do sistema de Copérnico.

É, portanto, graças aos resultados de Tycho-Brahe que Kepler conseguiu destacar as leis do movimento dos Planetas: movimento elíptico dos Planetas ao redor do Sol, velocidades de revolução não uniformes (= lei das áreas).

No entanto, ele ainda era, ao contrário do que afirmam os detratores da Astrologia, um grande Astrólogo (embora tenha lutado contra a Astrologia de “baixo nível”).

Ele escreve: “Vinte anos de estudo prático convenceram meu espírito rebelde da realidade da Astrologia”.

Ele entende que o heliocentrismo não lhe diz respeito: “Basta ao astrólogo ver como os raios vêm do leste, do sul ou do oeste, basta que saibamos se dois Planetas estão em Conjunção ou em Oposição. O astrólogo pergunta como isso é feito? Na verdade, ele não faz isso, assim como o camponês não pergunta como se forma o verão ou o inverno e, no entanto, ele é regulado pelas estações”.

Ele também escreve: “Há um argumento bastante claro e além de qualquer exceção, em favor da autenticidade da Astrologia, é a comunidade de temas entre pais e filhos” (hereditariedade astrológica).

Com Kepler já cruzamos o limiar do século XVII. Ao mesmo tempo, Galileu (1564-1642) também aderiu ao sistema copernicano.

Ele foi o primeiro a usar, para observar as estrelas, o telescópio de “aproximação” (ampliação x50) que já existia há alguns anos. Ele descobriu milhares de estrelas que não eram visíveis a olho nu, os quatro maiores satélites de Júpiter, manchas solares e principalmente as fases de Vênus análogas às da Lua, que vieram a sustentar a teoria heliocêntrica.

Parece que Galileu, sem ter ele próprio praticado Astrologia, se interessou por ela. Ele teria dito a seu aluno, Paolo Dini, que a teoria de Copérnico não poderia abalar os fundamentos da Astrologia.

Em 1616, a Igreja advertiu-o de que esse sistema era “contrário às Sagradas Escrituras e, portanto, não pode ser mantido ou tido como verdadeiro” (Cardeal Bellarmi). Como ele manteve suas opiniões, teve que comparecer, em 1632, perante um tribunal de inquisição e teve que se retratar solenemente. O que ele faz, após 16 anos de resistência, para evitar a estaca; mas, depois, pronunciará esta famosa frase: “E ainda assim ela gira”.

Vale lembrar que o ex-monge Giordano Bruno havia sido queimado em 1600 por ter dito que as estrelas eram corpos semelhantes ao Sol e que havia outros mundos habitados.

Na primeira metade do século XVII, a Astrologia continuou a progredir, apesar da revolução copernicana. Placidus (de Titis ou Tito) (1603-1668), matemático e físico, professor da Universidade de Pavia, desenvolveu outro sistema de Casas.

Esse sistema é ainda mais complicado que os anteriores, pois não utiliza um único plano de referência, mas sucessivos paralelos de declinação. A ideia do método consiste em dividir por três o tempo que o ponto localizado no Ascendente leva para chegar ao MC. O primeiro terço desse tempo, reportado à eclíptica, dá a ponta da Casa 12, o segundo terço dá a ponta da Casa 11 e procedemos da mesma forma entre o MC e o DS (Descendente).

Quanto mais longe do equador você fica, mais ângulos desiguais você obtém; mas, isso também é verdade para os outros sistemas mencionados acima. Existem, ainda, em qualquer altura, duas localizações geográficas variáveis, uma no Círculo Polar Ártico, outra no Círculo Antártico onde não é possível definir um Ascendente: são os dois polos da eclíptica (não confundir com os polos norte e sul fixos que são os do equador).

As diferenças entre Casas de diferentes sistemas podem ser bastante significativas. Assim, um Astro pode estar na Casa 12 em um sistema e na Casa 1 ou mesmo 2 em outro. É o método de Placidus que ainda é o mais amplamente utilizado hoje. Max Heindel o adotou nas tabelas que editou.

Tendo uma base científica sólida, ele poderia ter desenvolvido tabelas de outro sistema, se tivesse encontrado um mais em conformidade com a realidade astrológica. Deve-se saber, no entanto, que certos astrólogos usam outros sistemas, incluindo o da Antiguidade, em que o Ascendente está a 15° do ponto da Casa 1.

Mas, voltando ao século XVII. Outra figura muito importante na Astrologia desse século é Jean-Baptiste Morin de Villefranche (1583-1656), médico, astrólogo do Duque de Luxemburgo, então professor do College de France.

Ele é o fundador da Astrologia moderna e deixa uma obra abundante, a Astrologia gálica, composta por 26 volumes escritos em latim. Richelieu não desdenhou de consultá-lo; Mazarin concedeu-lhe uma pensão.

Foi ele o responsável por traçar o mapa astral do futuro Luís XIV (nascido em 5 de setembro de 1638, às 11h11).

Morin teve que se defender dos ataques de um de seus colegas do College de France, Gassendi, um matemático que, provavelmente não tendo estudado Astrologia, o repreendeu por não ter adotado o sistema de Copérnico.

Ainda hoje encontramos essa resposta ou explicação sem sutileza, sem originalidade, como uma ideia difundida, já conhecida de todos e que ninguém verificou, com a da Precessão dos Equinócios

Em 1666, Colbert, ministro de Luís XIV, criou a Academia de Ciências e, “em nome da Razão”, proibiu que a Astrologia fosse ali ensinada, ou mesmo praticada por seus membros sob pena de perda de cargo. A partir de agora, esse ensino também será banido das universidades.

Um declínio invencível não demora a tomar forma.

Antes de deixar o século XVII, é necessário dizer algumas palavras sobre Newton (1643-1727), porque ele é o fundador da astronomia mecanicista que contribuirá para relegar a Astrologia um pouco mais para o armário das superstições como, para alguns, Religião em si.

Seu pai já havia morrido antes de ele nascer e ele foi criado pela avó. Quando ele tinha 16 anos, sua mãe pediu que ele assumisse a fazenda; felizmente, ela entende que ele é mais “feito para estudos”. Aos 18 anos ingressou em Cambridge, onde o professor de matemática Isaac Barrow lhe abriu as portas do conhecimento. Aos 25 anos, ele já é um matemático e físico genial. Interessa-se pela óptica e pelo estudo dos prismas desenvolve a sua teoria da luz (à qual Goethe se oporá), e descobre as leis da mecânica que permitem explicar, em particular, os movimentos dos Planetas assinalados por Kepler, um século antes.

Reza a lenda que foi ao observar a queda de uma maçã que teve a intuição da lei universal da atração. Paul Valéry escreveu: “Você tinha que ser Newton para ver que a Lua está caindo, quando todos podem ver claramente que ela não está caindo”. De fato, um objeto lançado ao ar cai pela lei da gravidade; mas, a mesma lei se aplica a um satélite (natural ou artificial): está a uma distância tal que a Terra não está mais perto o suficiente para cair sobre ela e é assim que começa a girar.

Podemos ver isso como uma queda contínua, a Terra constantemente “caindo”. O próprio Newton não era um materialista. Ele escreve: “Este sistema mais que admirável do Sol, dos Planetas e dos cometas, só pode emanar do desígnio e da autoridade de um Ser inteligente e poderoso”.

Mas, a maioria dos cientistas, por mais de dois séculos, preferiu ignorar esse aspecto do pensamento de Newton e acreditar, com base em suas descobertas, que “tudo” pode ser explicado mecanicamente e que “tudo é puramente físico”.

No capítulo XIV do livro “Conceito Rosacruz do Cosmos”, Max Heindel descreve a experiência da água e do óleo representando, respectivamente, o espaço e a nebulosa original e o cientista que não percebe que ele próprio desempenha o papel de Deus criador através da concepção da experiência e sua intervenção com o auxílio de um bastão, para colocar em ação o movimento formativo dos “planetas”.

Foi somente no século XX, com os paradoxos da relatividade de Einstein e da mecânica quântica, que os cientistas (pelo menos alguns) adotaram uma posição mais aberta, como veremos adiante.

(de: Introduction: L’Astrologie Selon Les Enseignements Rosicruciens : L’Astrologie Rosicrucien, da Association Rosicrucienne Max Heindel, Centre de Paris – Texte inspiré de l’enseignement rosicrucien légué à Max Heindel par les Frères Aînés de la Rose-Croix – Traduzido pelos irmãos e irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Audiobook: Como Conheceremos Cristo Quando Voltar? – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz

Como Conheceremos Cristo Quando Voltar – Introdução
Como Conheceremos Cristo Quando Voltar – Parte 1 – Quem é Cristo
Como Conheceremos Cristo Quando Voltar – Parte 2 – Por que Cristo veio à Terra pela primeira vez?
Como Conheceremos Cristo Quando Voltar – Parte 3 – Por que Ele deve vir outra vez?
Como Conheceremos Cristo Quando Voltar – Parte 4 – Como conheceremos Cristo quando Ele voltar?

FIM

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Goethe e Sua Contribuição à Humanidade

Goethe[1] é considerado um dos luminares da inteligência humana. Tal foi a amplitude do seu cabedal de conhecimentos, admirável a profundidade do seu pensamento, que constitui tarefa complexa traçar sua biografia. Os traços biográficos de um homem dessa Natureza não podem cingir-se meramente à indicação de sua origem, de seus passos, de sua morte, ao relato de suas imortais obras e ao alcance de seus conceitos mais divulgados. Tornar-se-ia necessário viver suas próprias experiências, beber da fonte da sabedoria da qual ele extraiu as mais belas joias do pensamento humano.

Suas obras, analisadas literalmente, evidenciam sua genialidade. Perscrutadas nas entrelinhas, à luz do espírito, descortinam um verdadeiro universo de conhecimentos ocultos, próprios de um Iniciado. E ele era. Em “Fausto”, por exemplo, encontramos algumas das leis básicas da evolução. Quando Lúcifer pede a Fausto que assine o pacto estabelecido entre ambos com “uma gota de sangue”, surge uma dessas evidências.

Constitui um trabalho fascinante descobrir as várias facetas desse grande espírito. Vamos a algumas delas.

É nesta altura que nos são abertas, pelas ideias de Goethe, perspectivas completamente novas. Goethe não era apenas o grande poeta lírico e dramático, autor do ‘Werther’[2], ‘Iphigenie’[3] e ‘Fausto[4], mas um cientista e filósofo tão profundo e original que ele mesmo considerava sua obra científica superior à sua obra poética. Várias descobertas lhe asseguram um lugar de destaque na história das ciências.

Mas não é como cientista ‘de métier’ que Goethe nos interessa aqui. Tampouco valeria a pena determo-nos demoradamente em suas ideias, se fossem apenas opiniões ou teorias divergentes, em certos detalhes, das de seus predecessores e contemporâneos. Goethe representa muito mais do que isso: sua cosmovisão é uma alternativa, totalmente diferente, para toda maneira de ser e de pensar dos séculos XIX ao XXI. Para quem acompanha, com preocupação cada vez maior, o enfoque da vida e a escala de valores adotados pela humanidade sob a influência do materialismo científico e do pragmatismo utilitarista, o “goetheanismo” constitui uma opção que só não tem merecido atenção maior porque certos conceitos são tão arraigados no ser humano de hoje que ele simplesmente não pode imaginar uma maneira diferente de pensar e de julgar.”

Por esse motivo, analisaremos mais profundamente o “goetheanismo”, sem nos preocuparmos com o que possa ter de inusitado e esdrúxulo para pessoas acostumadas a raciocinar exclusivamente dentro dos moldes e conforme os modelos atualmente aceitos. As ciências têm evoluído por um caminho oposto a Goethe, e o mundo moderno é um fruto dessa evolução.

Para Goethe, as ciências têm a função de explicar ao ser humano os fenômenos com que esse se defronta ao abordar a Natureza. Nesse ponto, Goethe não diverge dos grandes pioneiros das ciências. Mas, o que significa ‘explicar’? Para Goethe, ‘explicar’ um fato novo e desconhecido significa reduzi-lo, dentro da mesma esfera de observação, a outros fenômenos mais simples, até mostrar que ele se integra no contexto do mundo fenomenal restante, sem que haja divergência entre o fato e as ideias subjacentes a esse mundo. Dentro de cada área há fatos tão simples que não podem ser reduzidos a outros ainda mais simples: são evidentes em si. Goethe os chama de ‘fenômenos primordiais’ (‘Urphônomen’).

Nossa curiosidade científica é satisfeita quando conseguimos explicar um fato pelos ‘fenômenos primordiais’ subjacentes. Tais fenômenos primordiais existem em todas as áreas da Região Química do Mundo Físico: na mecânica, na ótica, na termologia, no magnetismo… A explicação científica deve, portanto, descobrir, dentro da mesma área, os fenômenos primordiais que fazem parte do fenômeno indagado. Não se acrescenta coisa alguma a uma explicação quando se procura encontrar uma ‘causa’ situada em outra área. Explicar o fenômeno ótico por uma ‘causa mecânica’, por exemplo, seria não só inadequado, mas contrário à própria função da ciência. Essa atitude seria totalmente ilícita, se a ‘causa’ invocada fosse algo hipotético como, por exemplo, a aceitação hipotética de ‘ondas’ de luz para explicar certos fenômenos óticos.

O cientista deve sempre ficar dentro do âmbito dos fenômenos, e não pode procurar causas teóricas situadas além desse âmbito. Os fenômenos primordiais podem ser enunciados sob forma de ‘Leis da Natureza’, e sua formulação pode conter elementos matemáticos, desde que o aspecto matemático-quantitativo faça parte desse fenômeno. O que não é permitido é reduzir fenômenos qualitativos a estruturas meramente quantitativas e recorrer a leis mecânicas, matematicamente formuladas, para ‘explicar’ um fenômeno. ‘Explicar’ o fenômeno ‘calor’ pelo movimento browniano das moléculas não significa nada, para Goethe. O fenômeno ‘calor’, que existe na percepção de um ser sensível, paralelamente pode ter, na área do universo molecular, um efeito como o movimento browniano, mas não se acrescenta algo à explicação do fenômeno invocado como sua ‘causa’ o referido movimento, ou pior ainda, afirmando que a ‘realidade objetiva’ do fato se verifica no nível do mundo molecular.

A Natureza nos fala, portanto, por meio de linguagens próprias a cada área. Reduzindo os fenômenos observados, dentro de uma área, a ‘causas’ existentes em outras, é procurar obter uma resposta em uma linguagem imprópria. A resposta perde o seu sentido quando formulada em uma linguagem estranha. Ora, quando se dá uma explicação mecanicista e quantificada para um fenômeno que o organismo sensorial do ser humano vivencia como qualitativo, a linguagem da resposta é imprópria. Por esse motivo, a atitude de Descartes[5] de admitir em um objeto apenas as qualidades ‘primárias’, as qualidades secundárias, implica uma abstração ilícita; pois o objeto não é captado em sua realidade, já que tamanho e movimento não podem ser considerados independentemente do resto. Igualmente, o tamanho e as demais qualidades ‘objetivas’ são revelados por nossos sentidos, ou por aparelhos que os substituem.

Convém fazer, nesta altura, uma ressalva. O “goetheanismo” não significa, de modo algum, que o ser humano deixe de raciocinar; significa apenas a negação de um raciocínio unilateralmente matemático e mecanicista, em áreas onde só um pensar mais amplo é capaz de captar toda a realidade. Não é correto que as verdades matemáticas sejam mais simples ou de compreensão mais fácil do que as outras.

Goethe realça, de certo modo, as qualidades ‘secundárias’, porque são elas que afetam, de forma mais intensa, o maravilhoso organismo sensorial do ser humano, que o cartesianismo tacha desdenhosamente de subjetivo.

Nunca devemos esquecer que é o ser humano (o Ego humano, que é um Espírito Virginal da Onda de Vida humana manifestado aqui) que se encontra, com suas perguntas, diante da Natureza e é como ser humano que deve receber as respostas; e deve recebê-las de forma humana. A inobservância desse princípio básico é a causa da alienação do ser humano em relação às ciências e da alienação das ciências em relação à realidade.

Ao enfrentar um fenômeno da Natureza, o ser humano o faz como ser total (um Tríplice Espírito que trabalha em um Tríplice Corpo e uma Mente, todos veículos construídos por ele mesmo em cada vida que ele vive aqui); ele tem diante de si o fenômeno como algo total. Se o raciocínio abstrato for a única função do observador, e se as únicas qualidades captadas do objeto forem as acessíveis a esse pensar mecânico-matemático, a relação do ser humano-objeto nunca poderá ser completa; será restrita e, portanto, falsa. Para que a pergunta — que sempre envolve o ser humano total — possa ser satisfatoriamente respondida, deve haver uma comunhão total entre ele e a Natureza. Goethe afirma que tal comunhão intuitiva — chama-a também de juízo contemplativo — é possível porque o próprio ser humano emana da Natureza e continua a fazer parte dela. O ser humano contém a Natureza; foi ela que plasmou seus órgãos sensoriais — existe, pois, uma afinidade intrínseca entre o seu ser e o ser da Natureza. O olho não apareceu no ser humano ‘por acaso’, permitindo-lhe, depois, enxergar a luz; foi ela que plasmou o olho (afinal, a luz preexistente criou o olho que a pudesse ver, ou ainda, a Natureza construiu os olhos para receberam a luz, em resposta à função já existente, lá na Época Atlante). Existe, portanto, uma afinidade básica, essencial, entre o órgão da visão e o Mundo visível; isto é, iluminado pela luz. A cognição do mundo pressupõe uma correspondência íntima entre o modo de ser da Natureza e o modo de conhecer do observador; de outro lado, essa correspondência é suficiente para se ter a verdadeira contemplação ou intuição, que permite vislumbrar na ‘realidade’ a ideia do que nela se ‘realiza’.

Em sua ‘Teoria das Cores’[6], Goethe dirigiu uma forte crítica a Newton. Não poderemos julgar equitativamente essa polêmica se não tivermos em mente que a maneira de ambos abordarem a Natureza é totalmente diversa. Não há medida comum possível; eles falam, de certa forma, línguas diferentes.

Compreendemos a Natureza nos compenetrando por meio de uma investigação intuitiva junto às leis intrínsecas de cada um dos seus reinos e setores. Captar essas ideias não significa viver uma atitude de misticismo sonhador, mas, sim, de penetrar até os últimos segredos da Natureza.

Em cada setor ou reino, essas ideias se realizam através de graus de intensidade que a vivência íntima do observador permite captar. A Natureza brinca, de certo modo, com formas primordiais, e produz a multiplicidade das suas formas visíveis por meio de uma atividade criadora, que é afim com o impulso criador do artista. E assim como mergulhamos dentro de uma obra de arte sem dissecá-la, identificamo-nos também com a essência dessas formas através de uma atitude de contemplação ativa; ou seja, uma identificação que é, ao mesmo tempo, inteligente e intuitiva, e que nos faz chegar às ideias mestras que se expressam em um fenômeno da Natureza; isso é o que Goethe chama de ser realista e objetivo.

As ideias ativas dentro da Natureza se realizam segundo os princípios da polaridade e da intensificação. Cada ideia produz, em dado momento, uma multiplicidade dentro da unidade. Sem ter a rigidez formal da dialética hegeliana[7], esse princípio da polaridade explica a diversidade das formas. Além disso, cada força pode atuar com um maior ou menor grau de intensidade. Esses dois princípios — o da polaridade acoplado ao da intensidade (‘Polaritât und Steigerung’) — produzem uma quase ilimitada riqueza de formas e fenômenos. São energias intrínsecas que o observador pode e deve vivenciar como tais. Se ele quer analisar um fenômeno, aplicando-lhe um critério exterior — em outras palavras, se o ‘mede’ com um metro proveniente de outro setor (medir é comparar uma grandeza com um ‘metro’ que não lhe é estranho) — ele não capta a realidade intrínseca, mas apenas aquelas qualidades que o fenômeno possa ter em comum com o setor do qual foi tirado o metro.

Também no campo da Natureza orgânica existem formas básicas, que podem servir de critério para a compreensão de qualquer forma particular. Goethe os chama de ‘tipos’, e todas as suas concepções botânicas e zoológicas têm por objetivo a metamorfose desses tipos básicos, que causa a diversidade das formas e fenômenos concretos. Segundo ele, os fenômenos da vida só podem ser compreendidos dessa forma, e nunca por uma análise químico-física que usa exclusivamente parâmetros da Natureza inorgânica. O cientista age também incorretamente quando transpõe os critérios de ‘um’ setor da Natureza inorgânica para a ‘explicação’ de um fenômeno observado em outro setor, também da Natureza inorgânica.

Segundo Goethe, o objetivo das ciências não é a “dissolução” de um fenômeno em uma fórmula (com a perda de todas as suas características individuais), mas sua integração no resto dos fenômenos da mesma área.

Cabe aqui, mais uma vez, uma observação a respeito do uso da matemática nas ciências. Leibniz[8] tinha afirmado que uma ciência é ciência só na medida em que contém matemática. Goethe diverge fundamentalmente dessa opinião — embora negue peremptoriamente ser um inimigo da matemática. Ele lhe reconhece os grandes méritos, dentro de uma determinada área: o objetivo da matemática são as grandezas; ora, há muita coisa no mundo que não é grandeza, ou que é mais do que simples grandeza.

Igualmente, a matemática abrange princípios formais que não são meras ‘grandezas’. Encontramos também em Goethe um profundo respeito perante esse tipo de matemática, que se aproxima do pitagorismo[9].

Sem estar ligado a qualquer dogma, Goethe era um homem profundamente religioso. Para ele, a Natureza é obra divina, e revela a existência e a atuação de forças divinas.


[1] N.R.: Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) foi um polímata, autor e estadista alemão do Sacro Império Romano-Germânico que também fez incursões pelo campo da ciência natural. Como escritor, Goethe foi uma das mais importantes figuras da literatura alemã e do Romantismo europeu, nos finais do século XVIII e inícios do século XIX.

[2] N.R.: Iphigenia in Tauris (alemão: Iphigenie auf Tauris) é uma reformulação de Johann Wolfgang von Goethe da antiga tragédia grega Iphigeneia en Taurois de Eurípides. O título de Eurípides significa “Iphigenia entre os taurinos”, enquanto o título de Goethe significa “Iphigenia in Taurica”, o país dos tauri.  Aqui um resumo da obra: Os sofrimentos do jovem Werther ou no original em língua alemã Die Leiden des jungen Werthers (1774) é um romance de Johann Wolfgang von Goethe. Marco inicial do romantismo, considerado por muitos como uma obra-prima da literatura mundial, é uma das primeiras obras do autor, de tom autobiográfico — ainda que Goethe tenha cuidado para que nomes e lugares fossem trocados e, naturalmente, algumas partes fictícias acrescentadas, como o final. Neste livro, o suposto Werther envia, por um longo período, cartas ao narrador, que, em notas de rodapé, afirma que nomes e lugares foram trocados. O romance é escrito em primeira pessoa e com poucas personagens. Após a sua primeira publicação, em 1774, teria ocorrido, na Europa, uma onda de suicídios, atribuída à influência do personagem de Goethe, que foi chamada “efeito Werther”. No entanto, esse impacto do romance sobre o número de suicídios nunca foi demonstrado. Apenas mais recentemente foram realizadas tentativas científicas de examinar a existência desse possível efeito de Werther.

[3] N.R.: Amado pelos deuses por sua sabedoria, o semideus Tântalo uma vez foi convidado para sua comunhão. Tornando-se turbulento enquanto celebrava com eles, ele começou a se gabar e roubou o néctar e a ambrosia dos deuses, seu alimento de imortalidade. Quando os deuses vieram ver Tântalo, por sua vez, ele testou sua onisciência oferecendo seu próprio filho Pélope a eles como refeição. Ofendido pelo engano, os deuses baniram Tântalo de sua comunidade para o Tártaro e amaldiçoaram ele e sua família, a Casa de Atreus. Isso ficou conhecido como a maldição dos tântalo, na qual os descendentes de Tântalo em todas as gerações subsequentes foram levados por vingança e ódio ao assassinato de seus próprios familiares. Assim Agamenon, comandante do exército e bisneto de Tântalo, ofereceu sua filha mais velha Ifigênia à deusa Diana (em grego conhecida como Ártemis) para garantir ventos favoráveis ​​para a viagem de Áulis, moderna Avlida, a Tróia, onde pretendia travar a guerra. contra Tróia. Na crença equivocada de que seu marido Agamenon havia assassinado sua filha Ifigênia, Clitemnestra então matou Agamenon após seu retorno da Guerra de Tróia. Como resultado, Orestes e Electra, irmão e irmã de Ifigênia, guardaram rancor contra a mãe pelo assassinato de seu pai, e Orestes, com a ajuda de Electra, assassinou sua mãe Clitemnestra. Sendo agora culpado de um assassinato, ele também caiu sob a maldição da família. Em uma tentativa de fugir de seu destino iminente de ser vítima de vingança e de ser morto por seu crime, ele fugiu. Consultando o Oráculo de Delfos de Apolo, ele foi instruído a trazer “a irmã” para Atenas e que essa seria a única maneira de acabar com a maldição. Como supunha que sua irmã Ifigênia já estava morta, Orestes supôs que o oráculo devia significar a irmã gêmea de Apolo, a deusa Diana. Ele, portanto, planejou roubar a estátua de Diana do templo em Tauris e partiu com seu velho amigo Pílades para a costa de Tauris.

[4] N.R.: Fausto (em alemão: Faust) é um poema trágico do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe, dividido em duas partes. Está redigido como uma peça de teatro com diálogos rimados, pensado mais para ser lido que para ser encenado. É considerado uma das grandes obras-primas da literatura alemã. A criação da obra ocupou toda a vida de Goethe, ainda que não de maneira contínua. A primeira versão foi composta em 1775, mas era apenas um esboço conhecido como Urfaust (Proto-Fausto). Outro esboço foi feito em 1791, intitulado Faust, ein Fragment (Fausto, um fragmento) e, também, não chegou a ser publicado. A versão definitiva só seria escrita e publicada por Goethe no ano de 1808, sob o título Faust, eine Tragödie (Fausto, uma tragédia). A problemática humana expressada no Fausto foi retomada a partir de 1826, quando ele começou a escrever uma segunda parte. Esta foi publicada postumamente sob o título de Faust. Der Tragödie zweiter Teil in fünf Akten (Fausto. Segunda parte da tragédia, em cinco atos) em 1832.

[5] N.R.: René Descartes (1596-1650) foi um filósofo, físico e matemático francês.

[6] N.R.: Teoria das Cores é um livro do alemão Johann Wolfgang von Goethe publicado em 1810. Contém uma descrição do fenômeno das cores que veio influenciar fortemente os artistas pré-rafaelistas.

[7] N.R.: O pensamento filosófico de Hegel é um sistema complexo de unidades no qual a mesma estrutura processa-se em áreas diferentes do conhecimento. Hegel, como um grande filósofo sistemático, aplica as mesmas categorias aos mais variados problemas. Sua dialética tríade domina sua forma de apresentar e superar os mesmos.

[8] N.R.: Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) foi um proeminente polímata e filósofo alemão e figura central na história da matemática e na história da filosofia. Sua realização mais notável foi conceber as ideias de cálculo diferencial e integral, independentemente dos desenvolvimentos contemporâneos de Isaac Newton

[9] N.R.: A Escola Pitagórica, fundada por Pitágoras, foi uma influente corrente da filosofia grega à qual pertenciam alguns dos mais antigos filósofos pré-socráticos. Os pitagóricos foram muito importantes no desenvolvimento da matemática grega. A própria palavra “matemática” surgiu com os pitagóricos (mathematikós, em grego), com a concepção de um sistema de pensamento em bases dedutíveis, e deles advêm o conhecido aforisma de que “a matemática é o alfabeto com o qual os deuses escreveram o universo”. Até então, a geometria e a aritmética tinham um caráter utilitário, intuitivo, fulcrado em problemas práticos, sendo fruto dos pitagóricos a classificação dos números em pares, ímpares, primos e racionais (estes são todos os números que podem ser representados na forma de fração). Também dos pitagóricos advêm estudos sistematizados de alguns poliedros e polígonos regulares, sobre proporções, números decimais e a seção áurea ou divina. A sua vez, a matemática influenciou sua posição filosófica concebendo que os números são os princípios de todas as coisas.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de abril/1977-Fraternidade Rosacruz-SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Arte — Expressão Criadora do Ser Humano

Que é o ser humano mortal para que te lembres dele? E o filho do ser humano para que o visites? Contudo, pouco menor o fizeste do que os Anjos, e de glória e de honra o coroaste.” (Sl 8:4)

A arte, conforme permite sua habilidade, segue a natureza como um aluno segue o seu Mestre. De modo que a arte deve ser, por assim dizer, algo que deriva de Deus.[1] (Dante)

Todas as atividades do ser humano podem ser divididas em três categorias, a saber: Ciência, Religião e Arte. A mais alta consecução do ser humano é conseguir florescê-las. Na escala da evolução o ser humano está situado entre a Onda de Vida dos Anjos e a Onda de Vida dos animais. Deus fez o ser humano “um pouco menor que os Anjos” e lhe concedeu o domínio sobre o Reino animal. Considerando a existência desses três fatores, Ciência, Religião e Arte, podemos compreender a diferença principal existente entre o ser humano e o animal. Nem a Ciência nem a Arte são necessárias para os animais, na presente fase do desenvolvimento deles.

No presente, a Ciência, com suas descobertas, assumiu posição destacada. A Religião também está despertando. Porém, aqui desejamos considerar as Artes. Não nos é possível traçar linhas claras de demarcação ao classificar as atividades do ser humano dessa maneira, porque a Ciência ajuda a compreender a Arte. E a Arte segue de mãos dadas com a Religião, quando trata de revelar a divindade do nosso ser. Max Heindel chama a Ciência, a Arte e a Religião de “uma trindade na unidade”. Sabemos que a separação em classificações diferentes é temporária. Num estado posterior do nosso desenvolvimento, as três tornarão a ser “um”

A verdadeira Religião inclui tanto a Arte como a Ciência, pois ensina uma vida formosa em harmonia com as leis da natureza.

A verdadeira Ciência é artística e religiosa no sentido mais amplo, porque nos ensina a reverenciar as leis que governam nosso bem-estar e a nos conformar com essas leis, explicando, além disso, por que a vida religiosa conduz à saúde e à beleza.

A verdadeira Arte é tão educacional como a Ciência e tão edificante como a Religião. Na arquitetura temos uma sublime apresentação de linhas cósmicas de força no universo.

Para muitos a vida sem a Arte verdadeira seria intolerável, porque a imaginação do ser humano requer alimento assim como o corpo necessita de nutrição. E é “imaginando” que se nutrem as almas. Existem três elementos necessários, quando se considera a Arte real: a música, a pintura, a poesia e a arquitetura. Esses três elementos indispensáveis são: emoção, expressão e ritmo.

A Arte pode ter por objeto a apresentação da forma exterior ou pode mostrar o espírito interno de um objeto; porém sempre é possuída por um crescente impulso emocional.

Para o artista dedicado é possível interpretar as realidades profundamente ocultas da natureza interna do ser humano. Essa revelação do espírito do ser humano é a sua mais elevada missão. Cada época produz escultores, pintores e músicos capazes de produzir verdades criadoras ao contemplar as obras de Deus. Porém, sempre essas criações contêm a concepção própria e individual do ser humano e a sua própria interpretação, posto que conservam sua “maneira de refletir a natureza”. Essa concepção individual do universo de Deus é o que promove as diferenças existentes no mundo da arte criadora. Sem dúvida, há somente uns poucos em cada época que podem pretender expressar uma originalidade verdadeira. Em geral o artista copia e recopia, sem ser capaz de revelar sua própria concepção individual do tema ou objeto.

Quando um artista se torna verdadeiramente criador, é capaz de influenciar a vida de uma nação inteira. O rumo que um povo segue delineia-se, em primeiro lugar, no trabalho e na expressão daqueles que têm sentimentos fortes, internos, e que são sensíveis aos impulsos ocultos do ser humano. Eles devem refletir as impressões que são capazes de receber para que os demais também se beneficiem delas.

O domínio de qualquer Arte requer disciplina. E isso significa que o aspirante tem que aprender a dominar a forma, seja essa de linguagem, cor, tom, etc. Unicamente por meio da meditação e da concentração intensa é que se conquista a habilidade em uma Arte. Por conseguinte, é compreensível que em algumas Escolas de Mistérios da Grécia, o Mestre-Artista fosse admitido ao Templo sem que executasse os exercícios preliminares. A faculdade de dominar uma arte-forma era considerada suficiente para entrar diretamente nos mais internos ensinamentos.

A história se converte em uma realidade para nós através da Arte. Os arquitetos e escultores do Egito, Assíria, Grécia e Roma deram-nos uma demonstração gráfica da civilização desses países. Temos acesso aos restos sublimes das figuras de barro e mármore. Sem podermos examinar o que há nos muros e pirâmides nas margens do Nilo e sem o nosso presente conhecimento dos edifícios e estátuas da Grécia e de Roma nossas ideias sobre a vida desses povos seriam, em verdade, confusas e irreais.

A arte do ser humano dá testemunho do seu ser interno. Nada indicará o rumo dos tempos tão precocemente como a música, a pintura, a arquitetura ou a poesia de um povo. Até parece que o artista criador pressente as sombras arrojadas pelos acontecimentos futuros. Os anseios e temores, as elevadas aspirações, assim como os sentimentos de incerteza de um povo podem ser percebidos nas obras daqueles que dedicam suas vidas à expressão de suas próprias capacidades criativas. O artista mesmo, com poucas exceções, em geral não é consciente de que suas criações são uma parte necessária e valiosa do desenvolvimento de toda a humanidade. Vive e trabalha à ordem da sua fantasia. Está satisfeito enquanto pode seguir o impulso interno que o conduz à expressão.

Quando observamos o rumo ou tendência da arquitetura moderna, da pintura e da música moderna, das diferentes nações do nosso globo terrestre, ficaremos impressionados com a similaridade dessas tendências. Nós nos veremos obrigados a admitir que universalmente o harmônico e o grotesco se revelam a si mesmos. De um modo geral podemos dizer que todas essas tendências têm muito em comum. A Arte mais moderna demonstra que as fontes profundas, ocultas, estão perturbadas e que as imagens do bom, do verdadeiro e do belo não são claramente concebidas e transmitidas.

Temos que chegar à conclusão de que, no esforço de um ser humano para criar algo e sensacional, ele exibe sua própria imagem interna, estranha e pessoal, em vez de usar as verdades espirituais que estão à sua disposição, em seus esforços de criação.

Em nossas próprias atividades devemos ser capazes de seguir as tendências originais, próprias, sempre que isso seja possível. Em nossos jardins, na ordem das nossas casas, ao servir nossas refeições ou até na seleção dos nossos quadros, nas cores das nossas roupas; em todas essas coisas devemos seguir nosso gosto individual. Existem bons livros sobre a apreciação da Arte. Devemos dedicar tempo e meditação a estudá-los.

Ao tecer os fios confusos das nossas vidas temos não somente a Lei de Causa e Efeito à nossa disposição, mas podemos sempre, dentro de certos limites, usar a Epigênese para realizar alguma obra original, alguma expressão singular. A possibilidade de originalidade é a espinha dorsal da evolução do ser humano.

Nos Ensinamentos Rosacruzes aprendemos que existe uma força dentro do ser humano em evolução que é o que torna possível o desenvolvimento. Essa força subministra algum campo para nossa capacidade criadora.

Como o expressa tão bem o poeta: “O problema maior de toda arte é produzir, por meio das aparências, a ilusão de uma realidade mais sublime” (Goethe).

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – março/1974 – Fraternidade Rosacruz – SP)


[1] N.T.: Inferno: notas Canto XIV – da obra A Divina Comédia de Dante Alighieri

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Importância da Astrologia Rosacruz

Apesar de ter sido considerada como ciência maldita, na antiguidade, com o decorrer dos séculos, a Astrologia acabou tomando seu lugar no tempo e no espaço, não se podendo mesmo negar o grande interesse que vem despertando, atualmente, no mundo inteiro. Embora, para a maioria das pessoas, esse interesse se apoie mais no conhecimento antecipado dos fatos futuros calcados, na maioria das vezes, nesses horóscopos de almanaque, a compreensão da finalidade real e grandiosa desta maravilhosa ciência dos Astros, já começa a manifestar-se entre pessoas de mentalidade mais aberta.

Para o Estudante Rosacruz, por exemplo, a Astrologia Rosacruz é basicamente uma ciência espiritual, uma ciência divina, que, além de revelar o ser humano a si mesmo, vem estabelecer sua relação com Deus. O Estudante Rosacruz sabe que debaixo da ordem de Deus nada acontece arbitrariamente, que cada criatura tem o destino que merece, que nasceu no ambiente exato em que deveria nascer, entre familiares com quem deverá realmente conviver, e que enfrentará aqueles acontecimentos que lhe cabem por herança de seu próprio mérito, quer sejam afortunados, quer sejam adversos.

Só mesmo a Astrologia Rosacruz pode explicar a razão das aparentes disparidades entre pessoas que nascem com um destino privilegiado, daquelas que parecem ter vindo ao mundo só para sofrer. Se existe mesmo uma lei da natureza que esteja além de qualquer dúvida, essa será, seguramente, a Lei de Causa e Efeito. Ela nos esclarece que tudo o que nos acontece são causas que nós próprios devemos ter produzido numa existência anterior, causas essas que foram as responsáveis por nosso nascimento ter ocorrido ou não, sob uma “boa estrela”.

A Astrologia Rosacruz nos conscientiza de que o propósito da vida não é conquistar a felicidade, mas adquirir experiência e formar caráter. Daí aquela expressão ocultista de que “caráter é destino”. E de onde se depreende, também, que destino é resultado do merecimento de cada um, sendo, o merecimento, por sua vez, a decorrência de um bom caráter.

Assim sendo, está claro que se quisermos melhorar as nossas condições futuras para uma vida mais sadia e equilibrada, nessa mesma vida ou nas próximas, nosso primeiro passo deverá ser o aprimoramento de nosso caráter. Podemos dizer então que, por indução, convicção na Astrologia Rosacruz requer a crença numa existência prévia, bem assim como em vidas futuras, mostrando-nos que, ao mesmo tempo em que colhemos, através do nosso horóscopo, os frutos de uma vida passada, vamos produzindo, por nossos atos atuais, as bases para um novo horóscopo, que irão, por sua vez, manifestar-se numa nova vida.

A utilidade da Astrologia Rosacruz está, realmente, no fato de nos indicar, através das posições astrais (Sol, Lua e Planetas) de nosso tema natal, os pontos vulneráveis do nosso caráter e, também, aqueles em que podemos nos apoiar para a regeneração de nossos negativismos. Isso para que, regenerados no bem, possamos elevar-nos acima de nossos sofrimentos, compreendendo também que, quando as coisas não podem ser de maneira diferente do que gostaríamos que fossem, quando não se pode tirar do caminho um pesadelo, sempre haverá um jeito de apreendermos a conviver até com a própria dor, se soubermos sobrepujar-nos a ela, por meio de uma atitude paciente abnegada. Estaremos, assim, atingindo uma nova concepção de vida, um maior equilíbrio, baseados em valores mais novos e reais, podendo também chegar à nossa própria realização espiritual que nada mais será do que o esforço consciente no sentido do certo, do bem e da verdade. Qualquer gesto, então, de real utilidade para o contexto, especialmente em favor de outrem, sem esperarmos retribuição, estará nos aproximando de nosso destino espiritual, purificando nossas vidas e, conseguintemente, dando uma força viva às configurações positivas de nossos horóscopos, em detrimento dos negativismos.

Ficará então, bem claro para nós, porque “os Astros predispõem, mas não impõem” ou porque “os Astros impelem, mas não compelem”. Saberemos, também, que na medida crescente em que a pessoa avança na evolução, menos ensejará ser dominado por seus Astros, que é marca de alma evoluída, o fato de permanecer equilibrada ante as vibrações astrais de seus temas natais, que “mesmo o barco da vida nos arrojando, muitas vezes, contra o rochedo da dor e do sofrimento” será sempre na intenção de ensinar-nos a desenvolver dentro de nós mesmos, a força da vontade, capaz de libertar-nos do domínio dos nossos Astros regentes, conduzindo-nos ao porto seguro de nosso próprio autodomínio, como já disse Goethe, o grande místico: “De todos os poderes que encadeiam o mundo, a pessoa se liberta quando adquire o domínio de si mesmo”.

Verdade que esse autodomínio não se consegue apenas num piscar de olhos. O crescimento anímico dele resultante, é, sem dúvida, um processo interno, lento, exigindo paciente persistência no bem, na ação reta. Um ou dois atos, mesmo, de serviço, de abnegação, de autossacrifício terão relativamente pouco efeito se o Ego – que é o que realmente somos – continuar dedicando a maior parte de sua vida ao serviço dos próprios interesses egoístas.

É mister nos conscientizarmos de que até o modo como agimos em nossas atividades diárias tem mais importância para a alma do que se procedermos de forma correta apenas uma ou outra vez, em tempo de maiores dificuldades. A nossa atitude sincera e desprendida enquanto fazemos nossos trabalhos de rotina, o modo como dirigimos nosso lar e nos relacionamos com nossos familiares e com nossos amigos é tão ou mais importante do que o motivo que poderá levar-nos a um ou outro gesto abnegado, feito só por obrigação.

O crescimento anímico não se consegue da noite para o dia. É uma constante no bem-proceder. Mesmo que não conheçamos a Astrologia Rosacruz e a importância que possa ter em nossas vidas, se cada um de nós criar hábitos corretos no sentido permanente do bem e da bondade, estará, mesmo sem saber, regenerando seus Astros e aproximando-se cada vez mais de sua herança divina.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de dezembro de 1977-Fraternidade Rosacruz-SP)

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