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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Nosso Próprio Reflexo

O nosso mundo interior é refletido por nossos pensamentos, sentimentos, nossas emoções, palavras, ações, obras e nossos atos. O observador perspicaz sabe disso. Nos Evangelhos encontramos a evidência dessa verdade na citação: “Pois a boca fala do que está cheio o coração” (Mt 12:34).

Frequentemente, agimos de modo ambíguo, por isso somos incoerentes, semelhantes aos fariseus que se amoldavam à conveniência das circunstâncias: “Pode jorrar, de uma mesma fonte, água doce e amarga?” (Tg 3:11).

Curioso é observar que não suportamos nossos próprios defeitos e os projetamos sobre os outros. Geralmente, o mais malicioso é que vê e critica a malícia no semelhante; o desonesto (em algum âmbito obscuro para ele) é o que mais condena o roubo. É um grito estrangulado da consciência que está sempre em busca de apontar a verdade que também está no nosso interior. Quando tentaram o Cristo, com a mulher adúltera (e os fariseus trouxeram apenas a mulher, quando a Lei prescrevia o mesmo castigo ao homem que adulterava com ela), Ele os desconcertou com o conhecimento que tinha da natureza humana. “Aquele que estiver isento de pecado, seja o primeiro a atirar a pedra” (Jo 8:7) . E diz a tradição que o Mestre, tranquilamente reclinado sobre o solo, escrevia com uma vara sobre a areia, em que cada fariseu via escritos seus defeitos pessoais. Certamente é um símbolo da consciência que, dentro de cada um, ia clamando seus defeitos para arrasar a pretensão de juiz daquela mulher.

Qualquer pessoa que estudou um pouco a Filosofia Rosacruz compreende o quão necessário se torna o autoconhecimento. Nenhuma elevação espiritual é possível sem essa condição. À medida que vamos nos conhecendo, pela prática dos Exercícios Esotéricos Rosacruzes de Observação e de Discernimento e do Exercício Esotérico noturno de Retrospecção, prescritos pela Fraternidade Rosacruz, vamos consolidando e fortalecendo aquilo que aprendemos. Consideramos esse conhecimento e, subsequentemente, o domínio de si mesmo, como a pedra fundamental do progresso interno e da felicidade. Goethe, o grande Iniciado, criador de “Fausto” o definiu bem: “O homem se liberta de todas as limitações que o encandeiam, apenas quando alcança o domínio de si mesmo”. E Cristo mostra o caminho: “Conhecereis a verdade e a Verdade vos libertará” (Jo 8:32).  Essa máxima representa a Verdade que está dentro de nós, pela sujeição de tudo a nós, o Ego, o “Eu Superior”. Nenhuma ciência, nenhum conhecimento, nenhuma arte ou posse representa uma finalidade na vida. Tudo tem valor, na medida em que se incorpore e expresse o que há de espiritual em nós.

Em síntese e reproduzindo S. Paulo: temos uma Mente carnal e uma Mente espiritual, um Corpo de Desejos, dividido em uma parte inferior e outra parte superior. Aqui residem as origens de nossas controvertidas expressões. Nós, o Ego, concebemos a ideia, mas quando ela se reveste de uma forma na Região do Pensamento Concreto, sofre a influência escravizante do Corpo de Desejos, que se unindo à Mente, desde a Época Atlante, formou em nós uma espécie de “alma animal”.

Mas, não basta conhecer a Verdade. Ela apresenta a solução, mas, é mister alcançá-la. Como nos libertar e nos regenerar, nos tornando, de novo, à condição de ser espiritual, filho e herdeiro de Deus?

O livro “Conceito Rosacruz do Cosmos” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz, em sua última parte expõe magistralmente essa questão. Tudo se resume na prática dos Exercícios Esotéricos Rosacruzes recomendados e num persistente esforço de repetir o bem na vida diária. Em verdade, aquilo que em nós vê o defeito e o mal nos outros, é o lado inferior. O lado superior possui apenas a Força de Atração, simpatia, o amor, a filantropia, o Poder Anímico, a Força Anímica, a Vida Anímica e de todas as demais qualidades superiores da vida. Por isso vê apenas o bem, o amigo, o semelhante, o espírito e a essência que, unido a nós e a todos, forma a Onda de Vida humana ou Hierarquia Criadora de Peixes (aos Espíritos Virginais da Onda de Vida humana em evolução), Filhos de Deus, transitoriamente diferenciados na cor da pele e nas condições externas.

O Aspirante à vida superior deve se esforçar diariamente para sublimar seu “eu inferior”. Se for permissivo a ponto de deixar suas condutas ditadas pelo lado inferior, poderá ser comparado a um animal irracional. Em verdade, o ser humano dominado por sua Personalidade se torna inferior aos próprios animais.

A Onda de Vida humana é racional e detentora de uma Mente. Essa deve ser exercitada e espiritualizada. O Estudante Rosacruz está vigilante para essa verdade. Não se expõe à insensatez pela imposição, aos outros, de suas ideias. Tão pouco sofre sem proteções a insensatez dos outros. Em todas as suas ações procura ser prudente, sábio, amoroso e justo, expressando o que tem de superior. Apenas assim, poderá se elevar e, ao mesmo tempo, elevará os demais, edificando e perfumando todos os ambientes em que passar

(Publicado na Revista Rosacruz – janeiro/1966 – Fraternidade Rosacruz-SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Origem do Natal

Os materialistas se recusam a aceitar o formoso relato sobre o nascimento de Jesus e frequentemente formulam esta pergunta: “Se Cristo veio ao mundo para salvar os seres humanos do pecado e da morte, quem salvará as milhões e milhões de almas que estavam em manifestação antes da Era Cristã, que data de apenas um pouco mais de 2000 atrás”?

Disse São João Evangelista: “Porque Deus amou de tal maneira o mundo que lhe deu seu Filho Unigênito para que todo aquele que n’Ele crê não se perca, mas tenha a vida eterna. Porque não O enviou Deus para condenar o mundo, mas para que o mundo se salve por Ele.” (Jo 3:16).

Essas palavras de Cristo-Jesus têm dado o que pensar a muitos e até fizeram que alguns se afastassem de sua fé em Deus, porque: “…como pode alguém acreditar na Paternidade de Deus e Sua Bondade: como pode alguém crer no amor desse grande Espírito e, também, pensar que Ele deixou de dar o necessário a Seus filhos, em todas as épocas? Quem pode continuar crendo n’Ele, se foi tão cruel a ponto de enviar Seu único Filho para salvar apenas uma pequena parte de seus outros filhos humanos? Quem pode crer, tal como o creem os ortodoxos, que esse amoroso Pai tivesse permitido que a maioria de seus filhos fosse arrojada às trevas para sofrer eternamente, apenas por que vieram antes de Cristo? Diante disso, é de surpreender que as Religiões de Buda, Maomé e Zoroastro continuem florescendo, embora reconheçamos que os ensinamentos do Mestre Cristo-Jesus preencham as necessidades da nova onda evolutiva?”.

Os ministros ortodoxos afirmam que o Natal começou a ser celebrado apenas uns quatrocentos anos depois de Cristo. De fato, nada existe na história para confirmar que os Cristãos tivessem celebrado esse acontecimento nos primitivos tempos do Cristianismo. Mas, isso é fácil de se compreender. Até sua oficialização, o Cristianismo sofria cruéis perseguições. Ademais, o paganismo fortemente espalhado então desvirtuaria a pureza de sua apresentação. Os essênios eram devotos e pouco dados a práticas externas, como o faziam os fariseus. Mais tarde, a própria exigência do povo pelo cerimonial estabeleceu essa prática. Vejamos o Antigo Testamento e leiamos sobre os grandes festivais promovidos pelo povo naqueles remotos tempos e que correspondem a nossos presentes festejos de Natal e Páscoa de Ressurreição.

Os antigos eram muito dados a cerimoniais. Seus festivais eram religiosamente observados, ainda mais do que as festas religiosas de hoje. Vejamos os festivais dos tempos de Abraão: Moisés deu instruções bem definidas a seus seguidores em relação a essas cerimônias, que deveriam acontecer com seus ritos Religiosos. Moisés é o autor dos cinco primeiros livros da Bíblia (Pentateuco) e seus Dez Mandamentos são a pedra angular de todas as atuais Religiões. Os antigos festivais eram terrivelmente desfigurados com ritos que as pessoas modernas considerariam repulsivos. Em algumas ocasiões não apenas eram imolados animais no Altar dos Sacrifícios, senão que o próprio sangue humano corria, para apaziguar a fúria dos deuses pagãos. Quase todos os festivais eram oferecidos ao Deus do Sol e muitas das Religiões antigas se achavam mescladas com os mitos solares. No Solstício de Dezembro, quando o Sol chega à sua mais baixa declinação sul e deve empreender a marcha ascendente rumo ao norte, converte-se num salvador de vidas e, então, renasce o deus-sol.

Em algumas das Religiões antigas, encontramos o relato da mãe e do filho divino. Na Índia, Krishna nasceu como um salvador e seus pais tiveram que fugir de sua terra devido ao decreto do Rei Karnsa de matar toda criança de sexo masculino recém-nascido. Na história do nascimento de Krishna encontramos os Anjos, os Pastores e os Magos. A história da vida deste deus-sol da Índia é muito parecida à de Cristo Jesus.

Na história da Babilônia encontramos o deus do sol, Tammuz, que nasceu de uma mãe virgem. Uma lenda similar é a do deus Apolo. Encontramos, também, o mesmo mistério em relação à data de nascimento desses deuses, que foi igual à de Jesus.

Em todos os relatos dos nascimentos dos grandes Mestres existe a aparição de um Anjo anunciando a uma Virgem que Deus a havia escolhido para mãe de uma divina criança. A história difere mui ligeiramente nas distintas Religiões. O idioma, o cerimonial e os costumes é que motivam essas diferenças secundárias.

Afinal, por que a Virgem e um menino divino aparecem nessas Religiões antigas, inclusive na classificadas de pagãs? Isso não é uma prova que deve existir alguma conexão entre esses mitos, os quais coincidem maravilhosamente com o nascimento do Salvador e com a marcha do Sol através do Zodíaco? Em alguns desses relatos fala-se de um grande silêncio existente em toda a Terra, no momento do nascimento. Tudo era silêncio. Isso é uma realidade no Solstício de Dezembro. No hemisfério norte da Terra, a vida vegetal parece descansar. A força de Deus se aquieta por algum tempo. A seiva se recolhe nas raízes. Os ramos e os talos se desnudam. A vida dorme e o Sol penetra no reino de Saturno, Capricórnio. A Terra é uma massa vivente que respira, mas nesse tempo parece reter seu alento, como o faz uma pessoa quando vai realizar um ato muito importante.

O nascimento do Sol é como uma exalação da vida do Cristo, sentido por toda a Humanidade. O Natal, nascimento místico, é um período de regozijo para a Terra, bem como o é principalmente para a Humanidade, porque então os Anjos portam correntes de júbilos.

O mito do Sol existente nas Religiões antigas, encarado sob o ponto de vista da Astrologia e da Astronomia, fala-nos do grande Plano Cósmico. O Sol em seu caminho pelos Signos do Zodíaco é uma manifestação atual das glórias do Universo de Deus. Por enquanto é apenas uma manifestação externa de uma verdade maior, o Filho cósmico, o Cristo, por quem flui toda a vida de Deus em favor da Humanidade. Ele é o grande portador da vida, cujo veículo material nasceu há mais de 2000 anos atrás. Veio à Terra para que por Seu intermédio pudesse Deus acender em todo ser humano a chama do Amor divino, os atributos do Segundo Aspecto de Sua Natureza. Igualmente nessa época nasce o Sol em sua subida ao Norte, brilhante e com mais força e vigor, mais próximo da Terra, para renovar a vida em toda a Natureza.

Se examinarmos esse grande evento anual do Natal sob os dois pontos de vista, o pagão e o festival do deus-sol em sua jornada pelos Signos do Zodíaco e relacionamos com o relato do nascimento do Filho de Deus de uma Virgem, nosso Amor e reverência pelas Páscoas modernas em vez de decrescer, aumentarão, mesmo que os textos Cristãos ortodoxos afirmem que as festas que se celebravam nos tempos pré-Cristãos eram pagãs.

O exposto, que a história nos conta, revela que nós sempre buscamos uma Religião. Nossa alma sempre ansiou por Deus. Por mais cruel que haja podido ser essa concepção de Deus para conosco, não invalida nem diminui a realidade de Sua existência. Desde a época em que os nossos olhos foram abertos para o mundo e o véu do conhecimento de nós mesmos foi retirado, fomos buscando resolver os grandes mistérios da vida. À medida que cresçamos em Sabedoria e compreensão espiritual, a verdadeira luz nos será mostrada no caminho, essa luz que esteve escondida nas dobras dos séculos que passaram. Então poderemos verificar que os deuses, assim como a nossa Mente, crescem junto com as Religiões para ganhar em consciência. Assim também deve crescer nosso ideal do Natal, em amor e beleza. Quando o Cristo-menino nasça e se alimente em nossos corações poderemos entender perfeitamente o sentido destes versos de Angelus Silesius: “Ainda que Cristo nasça mil vezes em Belém, enquanto não nascer dentro de ti, tua alma estará extraviada. Olharás em vão a Cruz do Gólgota enquanto ela não se erguer em teu coração também”.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de dezembro/1965-Fraternidade Rosacruz-SP)

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O Exemplo Acima de Tudo

Uma das falhas comumente apontada pelos jovens quando desejam expressar a descrença deles nas gerações passadas é a incoerência de atitudes. “Falso moralismo” é o termo mais empregado no afã de definir aquilo que mais lhes desagrada em seus pais ou outros ascendentes, de quem criticam a maneira farisaica de apregoarem, e, às vezes, até de imporem certas normas de conduta que velada ou abertamente não observam. É a filosofia do “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.

Se bem reconheçamos a temeridade de tal generalização sobre a referida falha de caráter, somos forçados a admitir que alguns de seus aspectos têm resistido aos séculos de tão antigos que são.

Há dois mil anos Cristo já censurara os escribas e fariseus por sobrecarregarem o povo com uma infinidade de leis e obrigações morais. Eles mesmos não as cumpriam.

Guardem-se os Estudantes Rosacruzes de incorrerem ou perseverarem em erros de tal natureza, pois estarão assim se desacreditando no meio onde vivem.

A Fraternidade Rosacruz está empenhada na árdua tarefa de, divulgando a admirável filosofia dos Ensinamentos Rosacruzes, tornar-se fator vivente na regeneração e evolução da Humanidade.

Para tanto, ela não pode prescindir do concurso de um Estudante Rosacruz sequer.

Todos podem e devem colaborar dentro de suas possibilidades e aptidões para a concretização dos ideais Rosacruzes.

Diariamente se nos oferecem valiosas oportunidades de servir. Na medida em que as aproveitamos, elas parecem multiplicar-se, crescendo com isso os nossos talentos. Nossas vidas, em tais condições, cobrem-se de bênçãos.

Contudo, não basta apenas nossa disposição em ajudar aos necessitados, e muito menos nosso empenho em proclamar aos outros as excelências da Filosofia Rosacruz, se a nossa vida moral deixa a desejar. Assim procedendo estaremos construindo castelos sobre a areia. Mais cedo ou mais tarde ruirão sob o peso da nossa incoerência.

Cada Estudante Rosacruz, pelo seu trabalho e pelo seu procedimento, deve constituir-se em uma “luz” onde quer que esteja. Porém, que não seja uma falsa luz!

Evitemos escandalizar aqueles que em nós confiam, observando uma permanente autovigilância. “Uma vida exemplar é o melhor sermão“, afirmou certa vez Max Heindel.

(por Gilberto A. V. Silos – Editorial da Revista Serviço Rosacruz – abril/1975 – Fraternidade Rosacruz São Paulo – SP)

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A Sagrada Família e as Três Classes Sociais que existiam naquele tempo

Ao tempo de José e Maria havia, na Palestina, três classes religiosas: os fariseus, os saduceus e os essênios, cada uma com características próprias.

Os Fariseus seguiam à risca o Torah. Chamavam a atenção pelo seu excessivo formalismo religioso, censurando acerbadamente aos que não observavam rigorosamente a lei. Acreditavam na sobrevivência dos espíritos, no renascimento dos justos e no livre arbítrio limitado pelo destino.

Zelosos em fazer cumprir os princípios, na verdade assumiam uma postura meramente de fachada. Cristo desmascarou-os publicamente ao compará-los a sepulcros caiados: belos por fora, mas interiormente cheios de imundície. O zelo que demonstravam, no fundo, não passava de hipocrisia. O nome fariseu vem de “pherusin” que quer dizer “separados”.

O nome Saduceu, provavelmente, provenha de Sadoc, sumo sacerdote ao tempo de Davi. Constituíam minoria, exercendo influência mais política que religiosa. Eram materialistas, não acreditando na sobrevivência dos espíritos, nem na existência dos Anjos. Essa classe pouco valor atribuía à ritualística e às tradições, preferindo ater-se à lei de Talião. Mesmo assim, em termo de poder seu peso específico era considerável porquanto faziam parte do Sinédrio.

Já a seita dos Essênios era bem diferente. Em primeiro lugar, não se ostentavam publicamente. Eram piedosos, estudiosos e contemplativos.

Enquanto os saduceus se perdiam num materialismo estéril e os fariseus se comprometiam com a interpretação puramente literal da lei, a Ordem Essênica procurava o sentido mais profundo das coisas. Conheciam as leis naturais e primavam por viver consoante esses princípios. Viviam em vários mosteiros espalhados pelo oriente médio, sendo o mais famoso o de Qumram, descoberto em 1947, as margens do Mar Morto. Nele foram encontrados diversos pergaminhos cuja decifração possibilitou o esclarecimento de muitos mistérios dos Evangelhos. Uma vida plena de Oração e devoção afastava os essênios de um convívio maior com o povo. No entanto, sua bondade natural, sua pureza de costumes e outras virtudes, atraiam-lhes os sofredores, os desamparados e os sequiosos de alívio.

Essênios foram João Batista, Zacarias, Maria, José e alguns dos Apóstolos. Jesus de Nazaré cresceu e fortificou-se nesse ambiente elevado. Desde tenra idade irradiava uma espantosa sabedoria e a “benevolência de Deus estava sobre ele”. Esse fato é confirmado nos Evangelhos quando do relato do encontro entre o menino e os doutores do Templo.

José e Maria, elevados Iniciados, iam anualmente a Jerusalém, pela Páscoa. Finda a festividade, ao regressarem, ficou o menino Jesus em Jerusalém, sem que seus pais o soubessem. Não o achando regressaram à sua procura. Três dias depois foram encontrá-lo no Templo, ouvindo e interrogando os doutores. Todos se admiravam de sua inteligência e de suas respostas. Afinal, aquilo não era comum em uma criança de sua idade.

Maria repreendeu-o: “Seus pais iam todos os anos a Jerusalém para a festa da Páscoa. Quando o menino completou doze anos, segundo o costume, subiram para a festa. Terminados os dias, eles voltaram, mas o menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais o notassem. Pensando que ele estivesse na caravana, andaram o caminho de um dia, e puseram-se a procurá-lo entre os parentes e conhecidos. E não o encontrando, voltaram a Jerusalém à sua procura. Três dias depois, eles o encontraram no Templo, sentado em meio aos doutores, ouvindo-os e interrogando-os; e todos os que o ouviam ficavam extasiados com sua inteligência e com suas respostas. Ao vê-lo, ficaram surpresos, e sua mãe lhe disse: ‘Meu filho, por que agiste assim conosco? Olha que teu pai e eu, aflitos, te procurávamos’. Ele respondeu: ‘Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?’. Eles, porém, não compreenderam a palavra que ele lhes dissera.” (Lc 2:41-49)

Dessa forma, Jesus preparou-se para aquele que seria o mais elevado propósito jamais cumprido por um ser humano: ceder seus veículos inferiores (Corpo Denso e Corpo Vital) ao Cristo, para que fosse cumprida a missão de ajudar a humanidade a elevar-se e a libertar-se dos grilhões da materialidade.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – fevereiro/1981 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Forte Aperto da Pata do Leão

Um correspondente deseja saber o que determina a época da Páscoa a cada ano e, sendo maçom, também deseja saber qual a conexão entre a ressurreição de Cristo na Páscoa e a ressurreição de Hiram Abiff na simbologia maçônica.

Terminada a nossa série sobre a Iniciação Cristã Mística, continuaremos o assunto com outro artigo que trata da Iniciação e se chama “Maçonaria e Catolicismo”. Nesses artigos, o assunto mencionado por nosso correspondente será amplamente debatido. Enquanto isso, esboçaremos brevemente a lenda maçônica que é necessário conhecer para compreender o assunto a que se refere.

A lenda maçônica diz que no início Iahweh criou Eva e o espírito de Lúcifer, Samael, uniu-se a ela; dessa união nasceu Caim. Então Samael deixou Eva e ela se tornou virtualmente uma viúva; assim, Caim era filho de uma viúva e dele descenderam todos os artesãos do mundo, incluindo Hiram Abiff, o grande mestre-de-obras do templo de Salomão, a quem Iahweh revelou o projeto para o Seu templo; mas, Salomão foi incapaz de executar o projeto e, portanto, compelido a contratar Hiram Abiff, um artesão exímio, filho de Caim e, portanto, filho de uma viúva.

Os elevados maçons místicos reconhecem o fato de que, do ponto de vista cósmico, Hiram Abiff é simbolizado pelo Sol. Enquanto o Sol (Hiram) está nos Signos do norte — Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão e Virgem — ele está entre amigos e seguidores fiéis, mas quando, no decorrer do ano, ele entra nos Signos do sul — Libra, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes — ele é atacado pelos três conspiradores, conforme registrado na lenda maçônica, e finalmente morto no Solstício de Dezembro, para ser novamente ressuscitado enquanto sobe em direção ao equador, que ele cruza no Equinócio de Março.

A lenda maçônica relata que a Rainha de Sabá viajou de longe para ver o sábio Salomão de quem ela tanto ouvira falar. Ela também viu o belo templo e quis ver o exímio artesão, o mestre-de-obras e seus operários, que haviam forjado tal maravilha. Mas, sempre houve inimizade entre os filhos de Caim e os filhos de Seth. Mesmo quando eles cooperaram, nunca confiaram totalmente um no outro e Salomão temia que sua bela noiva pudesse se apaixonar por Hiram Abiff; portanto, ele se esforçou para chamar os trabalhadores pessoalmente, mas nenhum respondeu. Eles “conheciam a voz do seu pastor”, Hiram Abiff (o Sol em Áries, o Signo do cordeiro). Eles foram treinados para obedecer ao seu chamado e não atenderiam a outra voz. Portanto, Salomão foi finalmente forçado a mandar chamar Hiram Abiff e pedir que ele chamasse seus artesãos; no momento em que ergueu o seu martelo (1 grau de Áries, que é o Signo de sua autoridade e exaltação), eles vieram em uma multidão que não poderia ser contada, cada um ansioso para fazer a sua vontade.

Em meados de março o Sol (Hiram) ingressa em Áries a 1 grau, Signo de sua Exaltação. Esse Signo tem a forma do martelo que Hiram ergueu e todos os trabalhadores do templo (o Universo) correm para cumprir suas ordens e continuar seu trabalho, quando ele ascender ao trono de sua dignidade e autoridade nos céus do Norte. Ele é o seu pastor porque no Equinócio de Março ele entra no 1° grau de Áries, o Signo do carneiro ou cordeiro. Eles o ouvem, mas essas forças da natureza assumem o comando de ninguém menos que o Sol em Áries, o Sol da Páscoa.

Essa é a interpretação cósmica, mas de acordo com a Lei da Analogia, Hiram, o filho de Caim, também deve ser elevado a um grau superior de Iniciação e somente o Espírito-Sol, prestes a subir aos céus, poderia realizar a façanha. Portanto, Hiram renasceu como Lázaro e foi levantado pelo forte aperto da pata do Leão. Ele havia sido um líder dos artífices durante o regime de Iahweh e Seu filho Salomão. Por essa Iniciação ele foi elevado com o propósito de ser um líder no Reino de Cristo e ajudar as mesmas pessoas em uma fase superior de sua evolução. Portanto, ele se tornou Cristão, encarregado de explicar os mistérios da Cruz e como símbolo desse mistério a Rosa foi adicionada a ele; essa missão foi incorporada em seu nome simbólico, Christian Rosenkreuz.

Em geral, a rosa é chamada de emblema do mistério; mas, a maioria das pessoas não sabe que essa adição da rosa à cruz foi a origem desse significado simbólico. A rosa é o emblema do mistério da cruz porque explica o caminho da castidade, a transmutação do sangue da paixão em amor. Lázaro, portanto, tornou-se Cristão Rosa-Cruz e os Rosacruzes são os mensageiros especiais de Cristo para os filhos de Caim, como Jesus é para os filhos de Abel.

Os fariseus sabiam muito sobre a origem oculta dessas duas classes da humanidade e, portanto, o milagre de Lázaro foi para eles o grande crime do Cristo. Eles ficaram seriamente alarmados com o fato de que sua Religião nacional seria substituída por outra, se mais sinais fossem realizados, pois eles sentiram que fosse uma Iniciação de natureza mais elevada do que eles conheciam e um presságio da entrada em um ciclo superior. Antes de Cristo, todas as Religiões eram Religiões de Raça, adequadas às pessoas a quem foram dadas e apenas a elas. Todas essas Religiões eram Religiões de Iahweh, pois assim como o Pai foi o mais elevado Iniciado do Período de Saturno e Cristo, o Filho, foi o mais elevado Iniciado do Período Solar, Iahweh, o Espírito Santo, foi o mais elevado Iniciado do Período Lunar. De Iahweh, então, vêm as Religiões de Raça, que se empenham em preparar a humanidade no caminho da evolução por meio da lei. Essas Religiões de Raça serão substituídas pela Religião universal do Espírito-Sol Cristo, que unirá todos os seres humanos em uma fraternidade. A mudança de uma para outra e o fato de que a Religião do Deus lunar Iahweh deve preceder a Religião do Espírito-Sol Cristo é simbolizada pela maneira como a Páscoa é determinada.

A regra em uso atual para determinar o tempo da Páscoa é que ela aconteça no primeiro domingo após a Lua Cheia pascal. Isso foi adotado pelos primeiros Cristãos, que tinham conhecimento e consideração pelo significado oculto, mas logo pessoas ignorantes começaram cismas e fixaram-na em diferentes épocas. Isso ocasionou grande controvérsia. No segundo século surgiu uma disputa sobre esse ponto entre as Igrejas orientais e ocidentais. Os Cristãos orientais celebravam a Páscoa no 14º dia do primeiro mês ou Lua judaica, considerando-a equivalente à Páscoa judaica. Os Cristãos ocidentais celebravam no domingo, após o 14º dia, sustentando que fosse a comemoração da ressurreição de Jesus.

O Primeiro Concílio de Nicéia, 325 d.C., decidiu a favor do uso ocidental, marcando a prática oriental com o nome de heresia. Isso, no entanto, apenas estabeleceu a norma de que a Páscoa não deveria ser celebrada em um determinado dia do mês ou da Lua, mas em um domingo. O ciclo astronômico adequado para calcular a ocorrência da Lua da Páscoa ainda não tinha sido determinado, mas eles finalmente adotaram o antigo método de fixar o festival pela Lua e, assim, o antigo costume original foi finalmente revivido. Dessa forma, a Páscoa, agora, é celebrada no mesmo dia exigido pela tradição oculta e necessária para simbolizar adequadamente o significado cósmico do evento. A esse respeito, tanto o Sol quanto a Lua são fatores necessários, porque a Páscoa não é meramente uma festa solar. O Sol não deve apenas ultrapassar o Equador, como acontece em 21 de março, mas também a Lua Cheia após o Equinócio de Março, e então o domingo seguinte é a Páscoa, o dia da Ressurreição. A luz do Sol de Março ou Abril deve ser refletida por uma Lua Cheia antes que esse dia possa raiar na Terra e há, como foi dito, um profundo significado oculto por trás desse método de determinar a Páscoa; a saber, que a humanidade não está suficientemente evoluída para ter a Religião do Sol, a Religião Cristã da fraternidade universal, até que ela tenha sido totalmente preparada através das Religiões da Lua, que segregaram e separaram a humanidade em grupos, nações e raças; isso é simbolizado pela ascensão anual do Espírito do Sol na Páscoa, sendo adiada até que a Lua Jeovística tenha refletido completamente a luz do Sol da Páscoa.

Todos os fundadores das Religiões de Raça — Hermes, Buda, Moisés, etc. — foram Iniciados nos mistérios jeovistas. Eles eram Filhos de Seth. Em sua Iniciação, eles foram animados por seu Espírito de Raça particular e Ele, falando pela boca de tal Iniciado, deu leis a seu povo, como, por exemplo, o Decálogo de Moisés, as leis de Manu ou as nobres verdades de Buda. Essas leis manifestavam pecado porque o povo não as guardava e não podia mantê-las em seu estágio de evolução. Em consequência disso os povos fizeram uma certa dívida de destino. Esse destino, o Iniciado humano fundador da Religião teve que assumir e então precisou nascer de novo e de novo para ajudar seu povo. Assim, Buda nasceu como Shankaracharya e teve vários outros renascimentos. Moisés renasceu como Elias e João Batista; mas Cristo, por outro lado, não precisava nascer, em primeiro lugar. Ele o fez de livre e espontânea vontade para ajudar a humanidade, para revogar a lei que traz o pecado e emancipar a humanidade da lei do pecado e da morte.

As Religiões de Raça do Deus lunar Iahweh transmitiam a vontade de Deus à humanidade de maneira indireta por meio de videntes e profetas, que eram apenas instrumentos imperfeitos como os raios lunares que refletem a luz do Sol. A missão dessas Religiões é preparar a humanidade para a Religião universal do Cristo Sol-Espírito, que Se manifestou entre nós sem intermediário, como a luz que vem direto do Sol, e “vimos a Sua glória como o unigênito do Pai”, quando ensinou o Evangelho do Amor. A Religião Cristã não oferece leis, mas prega o Amor como o cumprimento da lei; portanto, nenhuma dívida de destino é gerada sob ela e assim, o Cristo, que não teve necessidade de nascer, não será atraído para o renascimento sob a Lei de Consequência, como foram os fundadores das Religiões lunares da Raça, que devem carregar de vez em quando os pecados de seus seguidores. Quando Ele aparecer, será em um corpo feito dos dois Éteres superiores — o Éter de Luz e o Éter Refletor — o Dourado Manto Nupcial, chamado de soma psuchicon ou Corpo-Alma por São Paulo, que é muito enfático em sua afirmação de que “carne e sangue não podem herdar o Reino de Deus”. Ele afirma que seremos transformados e seremos semelhantes a Cristo; ora, se não podemos entrar no Reino em um corpo carnal, seria absurdo supor que o Rei da Glória usaria uma roupa tão grosseira e pesada!

O Sacerdócio, do qual Iahweh tirou Seus representantes, os profetas, os fundadores de Religiões e os construtores de templos espirituais, são os Filhos de Seth. Os Filhos de Caim ainda sentem no peito a natureza divina do seu ancestral; eles repudiam o método indireto de salvação pela fé da Igreja e insistem em encontrar a luz da Sabedoria eles mesmos pelos métodos diretos do trabalho, aperfeiçoando-se nas artes e ofícios e construindo o templo da civilização material pela indústria e estadismo, de acordo com o plano de Deus, o Grande Arquiteto do Universo, sendo Cristo “a principal Pedra Angular” e cada maçom místico uma “pedra viva”.

Com o tempo, porém, essas duas grandes correntes dos Filhos de Seth e dos Filhos de Caim devem se unir para alcançar os portais do Reino de Cristo. Antes do Seu tempo, não havia como tal amálgama ocorrer, mas quando Cristo, o grande Espírito do Sol, veio, Salomão renasceu como Jesus, em quem o Cristo-Espírito entrou no Batismo e Hiram Abiff renasceu como Lázaro. Quando Lázaro foi levantado pelo forte aperto da pata do Leão de Judá, Hiram e Salomão, os antigos antagonistas, apagaram suas diferenças, conforme solicitado pelo Espírito de Cristo, e ambos estão trabalhando agora para o estabelecimento do Reino de Cristo. Foi isso que os fariseus, de alguma forma, sentiram ou presumiram e daí seus temores de que esse Jesus iniciaria muitas pessoas e as retiraria da Religião de Raça com a qual eles (os fariseus) estavam fiéis seguidores.

(por Max Heindel – Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de maio/1917 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Possessão Demoníaca

Então trouxeram-lhe um endemoninhado cego e mudo. E ele o curou, de modo que o mudo podia falar e ver. Toda a multidão ficou espantada e pôs-se a dizer: “Não será este o Filho de Davi?”. Mas os fariseus, ouvindo isso, disseram: “Ele não expulsa demônios, senão por Beelzebu, príncipe dos demônios”. Conhecendo os seus pensamentos, Cristo Jesus lhes disse: “Todo reino dividido contra si mesmo acaba em ruína e nenhuma cidade ou casa dividida contra si mesma poderá subsistir. Ora, se Satanás expulsa a Satanás, está dividido contra si mesmo. Como, então, poderá subsistir seu reinado? Se eu expulso os demônios por Beelzebu, por quem os expulsam os vossos adeptos? Por isso, eles mesmos serão os vossos juízes. Mas se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus já chegou a vós. Ou como pode alguém entrar na casa de um homem forte e roubar os seus pertences, se primeiro não o amarrar? Só então poderá roubar a sua casa. Quem não está a meu favor, está contra mim, e quem não ajunta comigo, dispersa.” (Mt 12:22-30).

Aqueles engajados no trabalho de cura — os profissionais da saúde, bem como o curador mental e espiritual — estão se tornando cada vez mais conscientes da realidade da “possessão”. Eles estão percebendo que uma entidade desencarnada pode tomar posse parcial ou total do corpo de alguém que vive no plano terrestre. A medicina tem vários nomes para tal condição: neurose, psicose, esquizofrenia… E usa vários tipos de tratamentos para efetuar a cura. Em alguns casos, a entidade que causou obsessão parcial pode ser desalojada por meios físicos, mas o curador espiritual tem a verdadeira chave para a dificuldade.

Cristo Jesus, Mestre expoente do Amor Divino, naturalmente tinha o poder de afastar os “demônios” ou “diabos” de sua vítima, como está registrado, muitas vezes, nos Evangelhos. Seu nome pode ser usado ainda hoje para comandar esses seres rebeldes, por aqueles qualificados a fazê-lo. Tais casos devem servir como advertências impressionantes para “aqueles que têm ouvidos para ouvir” — advertências contra a vida negativa que torna a pessoa suscetível à obsessão parcial ou completa. Não há perda mais terrível do que a do Corpo Denso para outra entidade e isso só pode acontecer pela transgressão séria das Leis de Deus.

No incidente relatado acima encontramos, novamente, os fariseus reacionários, aqueles opositores astutos do novo regime de Cristo, buscando alguma razão para acusar o novo Mestre de transgredir a lei sacerdotal, para que O afastassem do povo. Entre si, eles inventaram a acusação de que Ele usou o poder de “Beelzebu, príncipe dos demônios”, para efetuar Seus resultados.

Mas, Cristo Jesus conhecia seus pensamentos, o que deve ter espantado seus acusadores nesse e em muitos outros casos semelhantes, e começou a usar Sua lógica soberba para responder à acusação deles (Podemos notar, de passagem, que esse poder do Mestre de ler pensamentos era uma indicação de uma faculdade que eventualmente será possuída por todas as pessoas. Observamos uma percepção crescente desse poder em nosso mundo moderno, mesmo entre os cientistas materialistas). Ele ensinou a doutrina indiscutível de que “Se uma casa estiver dividida contra si mesma, essa casa não poderá subsistir.” (Mc 3:25). Muitas vezes ouvimos nessa afirmação a necessidade de unidade no plano material, mas o significado mais vital é de natureza espiritual: “Aquele que não está comigo está contra mim” significa que deve haver uma dedicação completa à vida espiritual, para que o verdadeiro progresso possa ser efetuado no Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de outubro/1978 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

(*) A pintura é de Gustave Doré

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Os Fariseus e os Saduceus

Ao tempo de Cristo, os fariseus constituíam uma seita predominantemente antipatizada pelos demais, dado o seu rigor pela observância exterior da lei e pelo seu desprezo a todos aqueles que não participavam de suas ideias.

Daí a designação fariseu, que quer dizer: separado. Eram formalistas e hipócritas. Acreditavam na sobrevivência dos espíritos, na encarnação dos justos (segundo eles, os maus ficavam a sofrer os tormentos do fogo eterno) e no livre arbítrio limitado pelo destino. Tinham participação no Sinédrio.

Os saduceus eram um grupo pouco numeroso, mais político do que religioso, formado por pessoas importantes que organizavam um senado com autoridade sobre toda a nação (ano 200 A.C); mas tarde transformado no Sinédrio com a participação dos fariseus.

A sua forma religiosa era associada à lei (Torá). Eram severos na aplicação da lei de Talião, eram materialistas e não acreditavam na sobrevivência dos Espíritos, nem nos Anjos e desprezavam os rituais, o que levava os fariseus a detestá-los.

São João Batista apelidou-os de “geração de víboras” (… quem vos recomendou que fugísseis da ira vindoura?…) para referir que eles eram venenosos e astutos como as víboras.

As víboras previam as enchentes do Mar Morto e antecipadamente fugiam para se refugiarem nos galhos das árvores.

Tal fato é comparado com as atuações deles e sua condição, pois tinham muitos pecados e estavam procurando refugiar-se no Batismo de São João, antes que a Lei de Causa e Efeito lhes trouxesse as consequências.

Pelo simples fato de, por tradição, pertencerem ao “povo escolhido”, os judeus julgavam que já estavam automaticamente salvos. São João Batista esclarece que o laço de sangue nada influi; que o Corpo Denso é constituído por elementos químicos e, constantemente, os espíritos que renascem estão formando novos corpos materiais.

Assim acontecia com eles, filhos de Abraão. Ora, o corpo nada tem a ver com a salvação e tão pouco a descendência, porque a responsabilidade do espírito evoluinte é individual; cada um responde pelos seus atos. Daí que lhes dissesse ser necessário darem frutos dignos da reforma íntima, isto é, mostrarem por atos a sua regeneração interna.

Que as rosas floresçam em vossa cruz

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Chamados a serem Santos

Chamados a serem Santos

No início, o Cristianismo se espalhou como fogo. Mesmo assim, não se esperaria que tantos santos Cristãos aparecessem assim como apareceram, pelo menos de acordo com o apóstolo São Paulo.

Você acha que os únicos santos são os santos que estão mortos? São Paulo estava interessado nos santos vivos. Alguns exemplos: “todos os santos que estão na Acaia”, aos quais dirigiu sua 2ª Epístola de São Paulo aos Coríntios; “Os santos que estão em Éfeso” (Ef 1:1); “Todos os santos em Cristo-Jesus que estão em Filipos” (Fp 1:1); “Os santos e irmãos fiéis em Cristo que estão em Colossos” (Col 1:2); “A todos os que estão em Roma, amados de Deus, chamados a serem santos” (Rm 1:7); “Para os que são santificados em Cristo Jesus, chamados para serem santos” (1Cor 1:2). Claramente, os santos abundavam nos dias de São Paulo.

O termo parece virtualmente sinônimo de “Cristão praticante”, denotando toda a união Cristã daqueles que acreditavam que o recém-ressuscitado Cristo-Jesus é o Filho de Deus. São Paulo frequentemente solicitava doações para os “santos pobres” em Jerusalém. Quem foram os doadores? Santos menos pobres na área do norte e leste do Mediterrâneo. Ele encarregou os romanos de receber Febe, a diaconisa, “para que a recebais no Senhor de modo digno, como convém a santos“.

Então, naturalmente, perguntamos: para onde foram todos os santos? Talvez eles ainda estejam conosco, e em números comparativamente grandes. Talvez seja a própria palavra que se tornou rara, muito exclusiva, muito seletiva.

Angelus Silesius é claro neste ponto: “Um santo você não será e ainda deseja que o céu ganhar! / Ó tolo, apenas os santos devem entrar pelos portões do céu“. Santo primeiro, depois o céu.

E se todos devem ser salvos, quem não é chamado a ser santo? Se alguém é santo, os doze Discípulos de Cristo certamente se qualificam. Contudo, todos eles O abandonaram e fugiram do Jardim do Getsemani quando os bandidos de Caifás prenderam o Senhor. São Pedro, o Discípulo que disse do Messias “Eu não o conheço”, foi anteriormente repreendido com as palavras “tu és uma ofensa para mim, porque tu não sabes o que é de Deus”. Fato claro em nossa revisão do estereótipo dos santos: os santos erram, os santos negam Aquele que os santificou, os santos duvidam.

A porta da santidade agora se abre mais? O termo se tornou mais amigável? A imagem popular de um santo é a de alguém que quase desapareceu da existência, que normalmente é velho, reverendo, talvez translúcido, exalando um aroma de santidade. Sendo assim, como é que tal visão alinha-se com nossa imagem de São Paulo, que como Saulo “destruiu a Igreja” (At 8:3)? “Muitos dos santos foram encerrados na prisão” (At 26:10).

Cristo-Jesus rejeita essa mesma ilusão santa ao falar de São João Batista: “O que fostes ver no deserto? Uma cana agitada pelo vento? “. São João Batista açoitou seus ouvintes com palavras. Ele foi veemente e intransigente. O mundo secular não está em posição de julgar quem é santo.

Etimologicamente, um santo é uma pessoa santa (latim, sanctus), alguém que é santificado pela fé em Cristo (At 26:18). Os Cristãos são inspirados a serem santos por meio do Espírito Santo, que primeiro foi dado pelo Cristo Ressuscitado quando soprou sobre Seus Discípulos e disse: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20:22).

A esquiva usada pelos mornos e tímidos é que a santidade está reservada aos espíritos miticamente heroicos, os titãs morais. Contudo, São Paulo nos lembra que “Como está escrito, não há justo, não, nenhum … Pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3:10-23). Há muitos santos porque é Cristo quem santifica e santifica todo aquele que nele crê. Além disso, “se as primícias (Cristo) são sagradas, a massa (o Cristão praticante) é sagrada; e se a raiz é sagrada, também o são os ramos” (Rm 11:16).

Podemos dizer que santo é aquele que exagera o que o mundo negligencia. Deus pode ser exagerado? Aos olhos do mundo, sim. Então, novamente, o que é Deus aqui senão virtudes Cristãs encarnadas como ações vivas – misericórdia, ajuda espontânea não solicitada, compreensão transparente, serenidade poderosa, silêncio eloquente, obediência sem exceção, simplicidade libertadora, discrição silenciosa, humildade imperceptível. A simplicidade santa se baseia na obstinação.

Embora possamos estar fazendo muitas tarefas, abaixo da atividade há uma quietude, um espaço sagrado onde a oração segue, onde a chama da devoção arde continuamente, onde a vigília constante é mantida. Aqui está a pureza de coração porque a multiplicidade externa é subsumida pelo recolhimento interior, o repouso interno da alma santificada não é distraído por qualquer agitação passageira. Para conhecer a simplicidade, devemos saber como nos livrar das coisas e das relações. A espada de Cristo corta tudo o que nos conforma com o mundo ou com os bens menores, para que possamos escolher o que é necessário.

Afinal, onde acaba o apego às coisas, aí começa Deus. O que está diante do meu olho interno? A que minha Mente faz reverência – coisas criaturas ou o Criador? Onde está meu coração, aí também está meu tesouro. É um tesouro terreno, corruptível? A pobreza espiritual está relacionada à piedade. A purificação ou esvaziamento próprio precede a entrada do Santo Convidado.

Max Heindel deixa claro que o Estudante sério dos Ensinamentos Rosacruzes está embarcado no caminho da santidade, onde, “no início, há muitas coisas que podemos nos permitir. Mas, à medida que avançamos, essas digressões devem ser eliminadas uma após a outra e devemos nos dedicar cada vez mais exclusivamente ao serviço da santidade. Por fim, chega um ponto em que esse caminho é tão afiado quanto o fio de uma navalha, e então podemos apenas agarrar a cruz.” (do Livro “Iniciação Antiga e Moderna” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz).

A verdadeira santidade não se baseia no medo de querer evitar o inferno ou na ambição de entrar no céu, mas no desejo estrito de amar a Deus e fazer a Sua vontade. A história é contada sobre um homem caminhando por uma estrada que encontra um Anjo que carrega um balde de água em uma das mãos e uma tocha na outra. Questionado sobre o que ele está interessado, o Anjo responde: “Eu vou apagar o fogo do inferno e queimar as mansões do céu. Então, vamos descobrir quem realmente ama a Deus”. Santidade é uma colaboração entre Deus e Seus filhos e filhas pródigos, cuja essência divina, tendo sido coberta (ocultada) por túnicas de pele durante a involução, experimentam uma crise de compreensão que os reorienta e os impele a retornar ao Pai Celestial em autoconsciência santificada.

Embora a santidade não tenha alcançado seu objetivo, ela jura permanecer fixa no alvo. Nem parou de lutar. Em vez disso, é alguém despertado e casado com a santidade pelas dificuldades. É parteira de dúvidas e tentações. Portanto, lutamos contra o medo, a solidão e o orgulho e nos esforçamos para perceber que todas as batalhas externas são distrações e máscaras da única batalha real – aquela contra nossa própria natureza egoísta.

Santidade designa uma medida de luz interior formada em alguém, cuja alma se prepara para receber o Cristo. Para atingir esse estado e promovê-lo o eu pessoal será posto na prisão, será zombado e perseguido, perderá tudo, será abandonado, morrerá e se entregará de bom grado Àquele cujo ferrolho não é digno de soltar. E essa perda de tudo leva a ganhar tudo, a Cristo. Ela despertou poderes e virtudes que eram apenas vagas latências. Santidade é um assunto secreto entre Deus e o “eu interior”. Não é uma demonstração perante o mundo.

Nossas vidas estão “escondidas com Cristo em Deus” (Cl 3:3). Por tudo o que a santidade nos chama a fazer, não podemos nos tornar santos – somos feitos santos. Não decidimos ser santos, somos chamados a ser santos. Cristo diz: “Não me escolhestes, mas Eu te escolhi” (Jo 15:16). “Pois esta é a vontade de Deus, sim, a sua santificação.” Ele “nos chamou … para a santidade” (ITs 4:3-7). Deusnos chamou com uma santa vocação, não segundo as nossas obras, mas segundo o seu propósito e graça.” (IITim 1:9).

O chamado à santidade é o chamado para ser perfeito: “Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.” (Mt 5:48). Mas não sabemos o que é isso e, se julgarmos nosso comportamento de uma posição que não podemos ocupar, somos vítimas de um perfeccionismo irritável, que é cheio de personalidade. Visto que Deus enriquece os pobres de espírito, que conhecem sua pequenez como criatura, melhor progresso é feito por aqueles que permitem que sua vida espiritual seja formada por seus deveres e pelas ações que são exigidas pelas circunstâncias diárias.

Pode-se dizer que a perfeição consiste em suportar a pobreza, a miséria, os desprezos, a adversidade e todas as adversidades que se abaterem, de boa vontade, com alegria, livremente, avidamente, calmo e impassível e persistindo até a morte sem um porquê. Essa descrição, talvez, expresse mais de perto nossa ideia de um santo. E ao viver dessa maneira completamente tolerante as respostas a todos aqueles porquês não perguntados aparecem como maná no coração. A santidade obtém sabedoria não porque a busca diretamente, mas porque vivendo em obediência, amor e humildade, ela a assume.

O mundo material precisa encapsular a santidade, precisa ser capaz de apontá-la, visto que o mundo está lá fora. Os escribas e fariseus aparentavam serem justos e literalmente desgastaram a santidade deles (e toda a sua intelectualidade) usando-a como talismã. Mas sua recompensa veio do mundo, que eles deveriam impressionar, visto que eram homens “santos profissionais”, contratados e pagos para serem santos. No entanto, a entrada no Reino dos Céus é mais exigente, mais cara. Fazer não é suficiente. Deve-se ser santo – e se alguém aceitar e se revestir de Cristo, será batizado n’Ele.

Boas ações costumam ser o efeito de ser bom, mas não sua prova, visto que fazer, como efeito, pode ser simulado.

Perto do final do Período Terrestre, nossas almas serão “conhecidas, como nós também conheceremos”, “veremos face a face”. A dissimulação será impossível. Então, ao pensarmos em nossos corações, seremos vistos.

Embora sejamos chamados para ser santos, somos livres para aceitar ou recusar o chamado. O Apóstolo São Pedro nos lembra: “Assim como aquele que vos chamou é santo, sede vós também santos.” (IPe 1:15). Assim vivemos nossa santificação.

Santificação é o processo contínuo de nossa vida de forma consciente e combinada, momento a momento, no amor e poder transformador de Cristo. Santificação não é minha ideia do que eu quero que Deus faça por mim. É a ideia de Deus do que Ele quer fazer comigo e por mim. Portanto, ele me castiga. Não nos ofendamos quando nós, como São Pedro, somos “repreendidos por ele” (Hb 12: 5). Pois assim somos separados do pecado e tornados santos. A contenção é uma bênção. Portanto, nos é ordenado: “Não extingais o espírito.” (1Tes 5:19). Os Discípulos, chamados para serem santos, são disciplinados.

A mais importante entre as virtudes da santificação é a obediência. Obediência a quê? À vontade do Pai.

O que nós fazemos? Ele diz: “Fiqueis quietos e sabeis que Eu Sou Deus.”. Levamos “todo pensamento cativo à obediência de Cristo.” (IICor 10:5), até que Deus seja tudo em todos. Obediência é fazer todas as coisas como ao Senhor. Ele nos permite lançar “argumentos e todas as pretensões que se erguem contra o conhecimento de Deus”. A espinha dorsal da obediência é santa vontade. Portanto, é dito que aquele que é “lento para se irar é melhor do que o mais poderoso; e aquele que governa seu espírito, do que aquele que toma uma cidade”.

A santificação conclui nossa luta contra o mal, a falsidade, a tentação? Em vez disso, nossa luta é intensificada. A vida de Jesus foi sagrada desde o nascimento, mas ele conheceu os testes e o conflito desde o início.

Ainda mais depois de receber o Cristo. É a Sua santidade supercarregada que atrai o tentador a ele.

Sem Cristo, a santidade seria uma raridade. Seu sacrifício planetário torna possível uma vida mais espiritual, mais moral, mais vital, mais sã fisicamente, quer a pessoa conheça ou não a de Cristo, seja um humanista secular, um praticante aderente ao islamismo sufista ou teosofista.

A santificação envolve tanto uma retirada (saída) quanto uma colocação (entrada), um esvaziamento e, também, um enchimento. A santa investidura é precedida e simultânea a uma alienação mundana. Na santidade vivida, cada um se torna eucaristia, torna-se pão partido e vinho derramado onde e para quem o Espírito Santo designar. Pois, como diz São Paulo, “é o mesmo espírito de Deus que nos santifica.” (ICor 6:11).

O chamado para a santidade envolve um despojamento para a condição zero, para o lugar da morte. Envolve a eliminação de pretensões, afiliações, julgamentos, expectativas. Somos de Cristo e não de nós mesmos. Deus nos deu a Ele (Jo 17: 6). Declaramos falência mundana. Tornamo-nos pobres para Deus. Nós sabemos que um homem não pode receber nada exceto que seja dado a ele do céu. Se Cristo disser “Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma.” (Jo 5:30), o que um santo pode fazer? Nada. E ele sabe disso. Aqui está a honestidade, humildade e obediência que atendem à vontade daquele por quem tudo é possível. É esse vazio que o torna poderoso em santidade e pessoa – mas é a pessoa de Cristo nele, vencida por uma batalha campal.

O santo, como aquele que é chamado para ser santo, talvez seja mais completamente caracterizado pela obediência. O santo Cristão é “obediente até a morte.” (Fp 2: 8).

A obediência floresce no amor. O que a princípio pode ser uma conformidade grosseira às leis impostas externamente torna-se a ação alegre impelida pelo consentimento interior. Da mesma forma, o amor cumpre a lei e o santificado retribui a todo o seu valor (Rm 13: 7) e, por causa de sua benevolência graciosa, alcança uma espécie de anonimato, desviando a atenção de sua pessoa, seguindo as coisas que fazem para a paz.

Não se busca diretamente a santidade; em vez disso, a pessoa emula a Cristo em todas as coisas, contribuindo assim para a santidade. Santidade é um subproduto. A vida sagrada envolve sacrifício. Sacrifício é o que fazemos para conformar nossas vidas ao nosso chamado Cristão. Santificação é o que Deus faz por nós. Quando estamos prontos para segui-Lo daquela mesa festiva onde Ele era o honrado entre os amigos, para o Jardim de Getsemani onde ele estava sozinho e lutou com o grande problema diante Dele enquanto Seus amigos dormiam, então estamos fazendo um sacrifício vivo. O Cristão é chamado a apresentar seu corpo como “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”, que é seu “serviço razoável.” (Rm 12:1).

A verdadeira substância da santidade, vista por clarividentes e seres superiores, é o que Max Heindel chama de “a vestimenta luminosa da chama“, o Corpo-Alma. Aumenta-se a luminosidade dessa vestimenta etérica por meio de um rigoroso e cotidiano exercício esotérico de Retrospecção noturna, entre cujos frutos está uma purificação da natureza do desejo.

Sem a vida pura”, escreve Max Heindel no livro “Ensinamentos de um Iniciado”, “não pode haver avanço espiritual”.

O desafio, a proibição da santidade, está no compromisso implícito. Pareceria uma aventura de tudo ou nada. Mas quando é a Cristo a quem buscamos como nossas identidades individuais seria contrário, ao nosso objetivo declarado, renegar a santidade, que é a demonstração incessante de nossa santificação.

O caminho de Cristo é o caminho da imersão no comum. A espiritualidade baseada no renascimento permeia a matéria com vontade espiritual, com pensamento amoroso. A Divindade desce às profundezas da finitude corporificada e suporta toda a sua fixidez maçante.

Somente fazendo isso, indo ao limite, bebendo o cálice da mortalidade de sua última gota, a paz final, a liberdade perfeita e a transcendência permanente podem ser conquistadas.

Por causa do Renascimento, o mais baixo é atingido por completo com o mais alto. Agora a santidade de Cristo flutua na Terra. Com o tempo, será nossa santidade. A luz e o amor do santo ajudam a fazer da Terra uma estrela. Longe? Possivelmente. Mas, como santos, somos visionários. Trazemos o distante para o presente. Nós o alimentamos, tornamo-nos amigos e íntimos dele. Abrimos espaço para a graça e continuamos com a base do amanhã plantando boas ações no solo de hoje.

Se o resplandecente Soberano do Sol, o Cristo, pode caminhar entre mortais, incompreendidos, duvidosos e humilhados, nossa experiência semelhante deve ser considerada uma bênção e honra, não uma ocasião para amargura e desespero.

O Renascimento deu um valor incomensurável ao estar diário no Corpo Denso, ela mesma se tornou redentora, potencialmente transformadora de todas as nossas pequenezas e superficialidades – se dedicarmos nossas atividades e engajarmos nossas Mentes em Seu serviço.

Tudo o que chega até nós, neste contexto, tem um efeito santificador. Como Cristo fez, nós também devemos fazer. Ele não foi salvo da adversidade. Ele foi entregue n’Ele e por meio d’Ele. Um santo pode “ter bom ânimo“, mesmo quando aparentemente derrotado pelas adversidades, porque a vitória é impossível para qualquer um, exceto para Deus. Graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo.

Nós somos os guardiões da chama. Está santificado em nossas almas. A centelha da divindade acende o holocausto sagrado da oferta pelo pecado. Meu Deus é um fogo consumidor. Consumindo o quê? Tudo desprezível. No fogo do remorso aceso pelo espírito são incinerados todas as nossas mesquinharias, nossa vaidade, nossas tendências egoístas. A pira do sofrimento terreno separa a escória da mera preocupação mundana do ouro da doação e da ação de graças.

A energia que mais promove a integridade é o elogio. Nosso chamado mais nobre é adorar a Deus, pois isso alinha cada átomo nosso com a harmonia da Mente perfeita de Deus e Sua criação desejada.

Em conclusão, fomos santificados por Deus por meio do sangue de Jesus Cristo. Somos feitos santos pela contínua ministração do Espírito Santo e por nossa fé no amor de Cristo, conforme demonstrado em nossa pessoa e em nossos atos. Podemos, compreensivelmente, recusar o uso das palavras santo e divino, mas não que seja por falta de esforço para ser e fazer tudo o que essas palavras implicam. Pois agora somos filhos e filhas de Deus e, embora ainda não pareça o que seremos, sabemos que nosso bendito chamado e destino é ser como Ele (IJo 3:2), porque somos moldados à Sua semelhança e carregará como nosso próprio Seu Filho Cristo. Portanto, saibamos que o nosso chamado é para cuidar do fazer e do ser.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de maio-junho/1997 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

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Essênios – Os Precursores de Cristo

Essênios – Os Precursores de Cristo

Com o recente descobrimento desses antigos documentos palestinos, que hoje conhecemos com o nome de Pergaminhos do Mar Morto, importantes fatos relacionados com o advento do Cristianismo surgiram, chamando a atenção não somente dos eruditos e estudantes bíblicos como de todo o povo e ser humano que lê e pensa, sem preconceitos, livremente. O interesse geral que hoje notamos sobre o conteúdo de tais pergaminhos mostra que esse descobrimento tem especial significação.

Os pergaminhos são restos de uma biblioteca pertencente aos Essênios, comunidade religiosa de antes e ao tempo de Cristo, espalhada por diversos pontos do mundo daquela época e que fundou uma colônia nas colinas da Judeia perto do Mar Morto, numa data não especificada do segundo século antes de Cristo. Nesse lugar, chamado Qumran, um pastor beduíno, procurando uma cabra perdida, entrou numa gruta e encontrou uns jarros de cerâmica que encerravam o maior achado documental de toda história. Isto aconteceu em 1947. Desde então, despertados para o assunto, representantes católicos e protestantes bem como estudiosos cientistas empreenderam no local e nas proximidades contínuas explorações, encontrando tesouros após tesouros nesse campo, ascendendo hoje a centenas de manuscritos. A maioria deles são simples fragmentos, porém, de grande importância, posto que compreendem partes de quase todos os livros do Antigo Testamento, bem como dos livros apócrifos, além de Hinos e escritos acerca dos Essênios, essa Ordem Devota, já estudada por Max Heindel quando escreveu o “Conceito Rosacruz do Cosmos” em 1909, e não mencionada no Novo Testamento. Muitos desses manuscritos bíblicos são anteriores em mais de mil anos ao tradicional texto hebraico que constituiu o fundamento de nossa bíblia.

Existem nove grutas perto do antigo centro Essênio; nestas se encontravam os inapreciáveis manuscritos, alguns de pele, outros de papiro e outros ainda de cobre. A primeira gruta encerrava o grande rolo de Isaías, que é quase uma versão fiel do texto atual, contido na bíblia. Os eruditos apontaram ligeiras variantes desse pergaminho, em confronto com o texto atual, das quais, apenas algumas merecem importância maior. Essas divergências mais importantes já foram incorporadas na Versão Standard Revisada (inglesa). Segundo os estudiosos, o maior proveito que se tirou do pergaminho de Isaías foi a eliminação da barreira para o conhecimento do texto hebreu arcaico, conhecimento que até agora não havia sido conquistado. Essa primeira gruta continha também um Comentário sobre o livro de Habacuque, que era desconhecido, e o Manual de Disciplina Essênio, como foi chamado. Muito do material encontrado já foi traduzido e publicado em diversas línguas, inclusive em português. A Universidade Hebraica de Jerusalém foi a primeira a proceder a versão dos artigos principais, além do pergaminho segundo de Isaías, um saltério da Ordem e uma relação essênia da Guerra dos Filhos da Luz.

O seguinte descobrimento importante foi o da quarta gruta, onde acharam mais de trezentos manuscritos. A diferença era a de conservação: os documentos da primeira gruta estavam encerrados em jarras fechadas e seladas, portanto, conservados, ao passo que o da quarta estavam sem nenhuma proteção contra os elementos e, assim, em condições fragmentárias. Deduzimos daí que foram deixados às pressas por ocasião da invasão romana levada a efeito no ano 67 D.C. em que destruíram Qumran. As explorações continuam. Cada ano traz algo de novo aos descobrimentos. A tarefa de decifrar, traduzir, cotejar e interpretar o material é uma obra que absorverá a atenção dos eruditos por muitos anos mais.

ESTUDOS DOS PERGAMINHOS

A primeira apresentação geral do assunto foi feita por Edmund Wilson, num extenso artigo publicado no THE NEW YORKER, número de maio de 1955. Desde então foram publicados centenas de artigos em jornais e revistas religiosos, populares e científicos. Já em 1952 havia sido publicado um livro de cem páginas, sob o título “Os pergaminhos do Mar Morto” por A. Dupont-Sommer, professor de línguas semíticas da Universidade Sourbonne de Paris. Era um estudo preliminar. A Universidade de Oxford está preparando uma série de volumes sobre o assunto.

Para os esoteristas, principalmente os cristão-esotéricos, que são os estudantes rosacruzes, a literatura dos Essênios é de enorme interesse por mais de uma razão. Os Essênios foram os esoteristas de seu tempo e se achavam entre os principais depositários dos Ensinamentos dos Mistérios da Antiguidade. Possuíam literatura a que tinham acesso apenas “os discretos”. Eram o degrau entre a Antiga e a Nova Dispensação, constituídos pelo Alto para serem os precursores de Cristo e os iluminados heraldos de um novo evangelho. É um descobrimento estremecedor que projeta sobre essa santa Ordem uma luz mais clara do que a que a iluminava nos dias da comunidade cristã primitiva.

AS TRÊS SEITAS DO JUDAISMO

Os Essênios, os Fariseus e os Saduceus foram as três principais seitas que existiam dentro do Judaísmo, ao tempo de Cristo. Os Essênios foram, segundo palavras da sra. Blavatsky, “os religionários da nova fé”. Constituíam uma sociedade estreitamente esotérica. A ela pertenceram João Batista, seus pais Zacharias e Izabel, Jesus, Maria e José, Ananias que em Damasco iniciou São Paulo etc.

Os Saduceus eram a classe sacerdotal que havia perdido a luz interior com sua absorção nos interesses materiais.

Não acreditavam em Anjos nem na imortalidade da alma. Por isso são considerados os materialistas religiosos de sua época.

Os Fariseus eram constituídos pelos escribas e os Doutores e intérpretes da lei. Consideravam tão rigorosamente a letra, o texto, que perdiam de vista o espirito dela. Em outras palavras, eram os tradicionalistas.
Desse modo, nem os Saduceus, nem os Fariseus estavam capacitados a ler corretamente os sinais dos tempos.

Ambos conheciam a lei e os profetas, ensinavam a vinda de um redentor ao mundo. Não obstante, eram incapazes de perceber a preparação efetiva dos Essênios para recebê-Lo. Carecendo de percepção espiritual, não apenas não reconheceram o Messias como se tornaram Seus inimigos. Que trágica incoerência! Os líderes oficiais de Israel (cujo destino nacional e racial era preparar um veículo físico para a pessoa de Jesus de Nazaré na Divina Encarnação e estabelecer um ambiente adequado e uma atmosfera social propícia à Sua manifestação e ministério) não conheceram sua missão!

Mas o plano de salvação não podia ser frustrado pelo fracasso desses seres, embora devessem eles estar à frente do cumprimento dessa preparação. Mas, para contrabalançar, atrás dessa cena pública encontravam-se em recolhimento os Essênios, aquelas almas que não haviam perdido a iluminação interna e se conservavam fiéis à Sabedoria dos Mistérios. Eles se haviam consagrado, como discípulos espirituais, a preparar os passos do Senhor.

Com esse fim, visando a evitar a contaminação do mundo, reuniram-se em cidades pequenas e, das grandes cidades afastavam-se para o deserto, constituindo comunidades fechadas, inteiramente dedicadas ao cultivo da vida espiritual. Não era um retiro egoísta com finalidade de fugir das responsabilidades que deviam ter perante a comunidade nacional. Ao contrário; era genuína e profundamente altruísta, pois tinham perfeita visão das condições e sofrimentos do mundo e se incumbiam do nobre duro mister de criar as condições etéricas necessárias para a vinda do Messias que devia ser o Salvador do mundo. Foi um movimento sacrificial que implicava a observância de severas disciplinas e preces; uma forma ascética de vida e um ostracismo virtual do mundo convencional que os cercava. Eles eram diferentes, demasiado diferentes para livremente misturar-se com a multidão e seguir suas normas de vida.

Os Essênios chamavam a si mesmos de Novo Israel e se consideram o povo do novo testamento. Chegara o tempo em que a Antiga Dispensação deveria ceder lugar à Nova. Os Essênios estavam preparados para essa transição e prepará-la foi sua missão.

Nesse tempo, o Judaísmo oficial, como dissemos, estava nas mãos dos tradicionalistas e de sacerdotes egoístas.

Os saduceus (termo que significa os filhos de Sadoc) eram a Casta Sacerdotal. Sadoc foi o passado da classe sacerdotal judaica e o primeiro a servir no Templo de Salomão. Mas os Saduceus já não eram fiéis a este prestígio e à confiança que neles depositavam, pois os interesses egoístas competiam com o serviço sacerdotal. Permitiam que os traficantes negociassem em santos lugares, sacrilégios que mais tarde moveu Cristo a expulsar do Templo os cambistas de moedas. Mas a vocação sacerdotal não devia ser abandonada. Devia, isso sim, ser restaurada em seu legítimo lugar de honra e dignamente conservada para presidir no altar do Senhor. Os requisitos para tal serviço deveriam advir, não da herança física, mas da aptidão espiritual que os Essênios buscavam cumprir. Daí os Essênios reclamarem para si o nome de Filhos de Sadoc, não em virtude de sua ascendência, senão em decorrência de sua linhagem espiritual.

Em conexão com este fato, Flávio Josefo, o famoso historiador judeu do primeiro século de nossa era, afirmou que na comunidade dos Essênios a vida estava baseada, não nos laços de sangue, mas no zelo da virtude e no amor à humanidade. Isto os situa definidamente na Nova Dispensação. Foram cristãos, antes da vinda de Cristo.

SUPERAÇÃO DOS LAÇOS DE SANGUE

O laço de sangue era a base da comunidade judaica na Antiga Dispensação. As unidades sociais eram determinadas pelas relações físicas. Com exceção dos Essênios, os hebreus anteriores à vinda de Cristo, e ainda os judeus de hoje, estavam ligados em virtude de sua descendência comum do Pai Abraão. Cristo veio para romper esse laço de sangue e substitui-lo pela união espiritual. A isto se referia Cristo quando disse aos judeus que se orgulhavam de ser os eleitos, por serem filhos de Abraão: “Antes de Abraão fosse, eu era”. Com essa afirmação estava atribuindo a seus ouvintes uma herança maior, a herança de Deus, o Pai. Essa herança, comum a toda a humanidade, torna todos os seres humanos irmãos. Os Essênios não haviam aceitado este fato de modo puramente intelectual: eles o viviam. Suas ações não eram motivadas pelos impulsos hereditários que emanavam do sangue, senão que brotavam do centro espiritual de seu Ser. Eles haviam alcançado a união com o Cristo interno e por ele, a ligação com o Cristo Cósmico, antes mesmo de sua encarnação, pondo sua vida em consonância com a d’Ele. Haviam, assim, transcendido o pensamento racial separatista e chegado a ser verdadeiramente universalistas.

O destino de toda humanidade é alcançar algum dia a libertação dos restritivos laços raciais e alcançar a viva realização da unidade do gênero humano, como conseguiram entre si os Essênios. A essência da missão de Cristo é precisamente a de ajudar a humanidade a alcançar esse estado. Mas Sua ajuda não foi dada de uma vez por todas, durante os três anos de Seu ministério por Jesus; Seu ministério continua dos mundos internos irradiando à nossa esfera humana, impulsos espirituais que fortalecem a vida egóica do ser humano, despertando-lhe o reconhecimento de seu Eu espiritual e fazendo-o compreender seu imortal destino como filho de Deus.

Que os Essênios haviam tido contato consciente com o Cristo Cósmico, para cuja iminente encarnação estavam fazendo os mais cuidadosos preparativos, está evidenciado nos pergaminhos que deixaram, que em muitos pontos mantêm inequívoca similitude com os Evangelhos, deixando entrever sua associação com Cristo-Jesus. Por exemplo, o Manual de Disciplina, um dos mais importantes dos recém-descobertos manuscritos essênios, contém uma afirmação quase idêntica à usada por São João, ao inicio de seu Evangelho: “E por Seu conhecimento, tudo se fez. E tudo o que é, foi estabelecido por seu propósito e fora d’Ele nada se faz”. A versão de João dessa sublime verdade, tão familiar a nós, estudantes rosacruzes, reza: “Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele e sem ele nada do que tem sido feito se fez”. Tão profundas afirmações só podiam ter surgido da consciência de um Iniciado. João a possuía, conforme o expressa no Evangelho. Antes de João, os Essênios a possuíam, conforme ficou evidenciado em seus escritos.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de 03/1962)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Quem eram os Saduceus e os Fariseus

Quem eram os Saduceus e os Fariseus

Os fariseus constituíam, ao tempo de Cristo, uma seita predominante, antipatizada pelos demais em razão do seu rigor na observância exterior da Lei e da Tradição e, principalmente, por seu menosprezo aos patrícios que não participavam desse rigorismo. Daí o nome fariseu, que quer dizer separado. Eram formalistas e hipócritas. Acreditavam na sobrevivência dos espíritos, na reencarnação dos justos (os maus, segundo eles, ficavam sofrendo os tormentos do fogo eterno) e no livre arbítrio limitado pelo destino. Eram cerca de 6.000. Participavam do Sinédrio.

Os saduceus eram um grupo pouco numeroso, mais político que religioso, formado por personagens importantes que organizaram um senado com autoridade sobre toda a nação no ano 200 AC, mais tarde transformado no Sinédrio, com a participação de fariseus. Sua forma religiosa era adstrita à Lei (Thorah). Severos na aplicação da lei de Talião. Materialistas, não acreditavam na sobrevivência dos espíritos, nem nos anjos e desprezavam os rituais; por isso os fariseus os detestavam.

A expressão “Geração de víboras, quem vos recomendou que fugísseis da ira vindoura?”, dirigida por João Batista aos fariseus e saduceus, é para referir-se que eles eram venenosos e astutos como as víboras, por isso, eram filhos delas. As víboras previam as enchentes do Mar Morto e antecipadamente fugiam para se refugiarem nos galhos das árvores. Esse fato é comparado com a condição deles, que tinham muitos pecados e estavam buscando refugiar-se no batismo de João, antes que a lei de causa e efeito lhes trouxesse as consequências.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de 08/77)

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