No Livro do Apocalipse[1] há uma descrição bem detalhada do que é o casamento místico do nosso “Eu superior” com o “eu inferior” dentro de nós – o perfeito equilíbrio dos nossos polos positivo e negativo.
Os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental velam que nós, Ego (o Espírito Virginal da Onda de Vida humana manifestado aqui) não somos nem homem nem mulher, mas que durante o presente estado de manifestação se tornou necessário dedicar uma metade da força sexual criadora para o desenvolvimento do cérebro e da laringe, por meio dos quais podemos criar pela palavra e produzir imagens mentais que serão reproduzidas em matéria concreta do Mundo Físico. Dessa forma se tornou necessário desenvolver um organismo físico, um Corpo Denso, com dois sexos: um expressando a qualidade espiritual da Vontade (masculina) e outro a da Imaginação (feminina). Note o Corpo Denso expressa ou o sexo masculino ou o sexo feminino. O Corpo Vital expressa o polo negativo (quando o Corpo Denso expressa o sexo masculino) e o polo positivo (quando o Corpo Denso expressa o sexo feminino). Já o Corpo de Desejos “não tem sexo”. E a Mente também “não tem sexo”.
Como cada um de nós nasce alternadamente em Corpos Densos masculinos e femininos, assim também expressamos, alternadamente, nossas faculdades gêmeas de Vontade e Imaginação. Cada uma dessas duas faculdades predomina em cada vida nossa aqui, enquanto a outra permanece latente, determinando, assim, os sexos masculino ou feminino. Porém, como renascemos aqui, vida após vida, na Grande Escola vamos nos tornando, com o aprendizado, mais capacitados a compreender e a dirigir o mecanismo dos sexos, até que vai nos sendo possível expressar simultaneamente e em certa medida essas duas qualidades. No Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz isso é possível para nós quando alcançamos o nível de Adepto. Mas esse trabalho vai sendo efetuado por graus, até que nos encontremos realmente nas mais sutis qualidades femininas e a mulher dentro de si se identifique com os mais nobres traços masculinos e nas mais sutis qualidades masculinas e a homem dentro de si se identifique com os mais nobres traços femininos. Quando tal ocorre, produz-se o equilíbrio e tem lugar o “casamento místico” ou “matrimônio místico”. Em tal condição, estaremos funcionando com os seus dois hemisférios cerebrais. É dito que no céu não há casamento, nem se dar em casamento, porque nós lá estamos livres das limitações e das imposições da carne. Lá não há problema sexual nem estamos sujeitos à expressão unilateral de um de seus polos. A nossa qualidade dual é então utilizável e, consequentemente, o casamento é desnecessário. Cada um cria o Arquétipo de seus futuros Corpos, com apenas a assistência das Hierarquias Criadoras. Só quando se deixa o Mundo celeste se penetrando na Região Química do Mundo Físico é que se torna necessária a cooperação de pessoas para a formação de Corpo Denso, que se adapte ao arquétipo construído no Segundo Céu. Este conhecimento de nossa constituição permite ao Estudante Rosacruz entender hoje a necessidade de se encarar como realmente é uma unidade criadora integral. Desse modo, ele vai preservando racional e conscientemente sua força sexual criadora, a fim de usá-la como energia para fins espirituais. E assim, naturalmente, a força sexual criadora provoca a ascensão do fogo espinhal para que, ao devido tempo, se defrontem dentro de nós o homem e a mulher. Tal fato foi muitas vezes exposto de modo falso por certas escolas espiritualistas na teoria das “almas gêmeas”, prestando-se a grosseiras concepções, uniões sexuais ilícitas, etc.
Realmente é do modo descrito que se realiza dentro de nós o Casamento Místico, com a ligação desses dois polos e o despertar de uma consciência criadora em todos os reinos da Natureza.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz – abril/1972 – Fraternidade Rosacruz – SP)
[1] N.R.: “6Ouvi depois como que o rumor de uma grande multidão, semelhante ao fragor de águas torrenciais e ao ribombar de fortes trovões, aclamando: “Aleluia! Porque o Senhor, o Deus todo-poderoso passou a reinar! 7Alegremo-nos e exultemos, demos glória a Deus, porque estão para realizar-se as núpcias do Cordeiro, e sua esposa já está pronta: 8concederam-lhe vestir-se com linho puro, resplandecente” — pois o linho representa a conduta justa dos santos. 9A seguir, disse-me: “Escreve: felizes aqueles que foram convidados para o banquete das núpcias do Cordeiro”. E acrescentou: “Estas são as verdadeiras palavras de Deus”. 10Caí então a seus pés para adorá-lo, mas ele me disse: “Não! Não o faças! Sou servo como tu e como teus irmãos que têm o testemunho de Jesus Cristo. É a Deus que deves adorar!”. Com efeito, o espírito da profecia é o testemunho de Jesus Cristo.” (Ap 19:6-10).
“Entrai pela porta estreita, porque largo e espaçoso é o caminho que conduz à perdição. E muitos são os que entram por ele. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho que conduz à Vida. E poucos são os que o encontram.” (Mt 7:13-14).
Para o leitor profano, estas palavras de Cristo-Jesus parecerão detestáveis e seu aspecto apavorante foi usado livremente por muitos padres e pastores de igrejas que pregam o Cristianismo popular, que continuam atuando sob o impulso do regime jeovístico do medo, com a intenção de amedrontar as suas congregações a levar uma vida mais religiosa. Mas, quando se interpretam sob a luz reveladora dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, indicam as verdades e belezas do Caminho Espiritual – a vida “mais abundante”, na qual todas as nossas faculdades latentes se desenvolvem em uma bela floração. Em verdade a vida, de acordo com as Leis de Deus que nos governam e governam todo o universo, requer o sacrifício de coisas que chamam aos sentidos, mas também brindam uma mudança de percepção, que estabelece uma apreciação mais penetrante e o poder de desfrutar das coisas reais da vida. Gradualmente, “um Coração Nobre, uma Mente Pura e um Corpo São” trabalham em perfeito acordo para proporcionar paz e satisfação sempre crescentes.
Vivendo como o faz em meio de incontáveis atrações aos sentidos, podemos até achar mais fácil seguir a linha de menor resistência e agradar aos sentidos. Não obstante, o tempo tem que chegar quando a aversão, a saúde prejudicada e o sofrimento levam a prestação de contas e ao desejo de conhecermos as joias da vida espiritual. Começamos a abandonar o caminho da vida sensual, e aprendemos a falar e a atuar em harmonia com a Vontade de Deus, que governa tudo.
Quando Cristo convidou a todos para entrar pela “porta estreita”, estava chamando o Eu Superior em nós (o Ego, o Espírito Virginal da Onda de Vida humana manifestado aqui), a nossa parte que sempre se dirige às estrelas, que sempre aspira às alturas, como o simboliza o Signo de Sagitário. Somente por períodos temporários essa voz interna em nós pode ser silenciada, porque embora enterrado entre as capas da materialidade, nós, o Ego, anelamos por nosso lar primitivo com o nosso Criador, Deus. Há sempre um impulso interno para um modo mais espiritual de vida!
Como Espíritos diferenciados em Deus (não de Deus), como imortais, passando tempos incontáveis através do Ciclo de Vida que conduz desde os Céus até a materialidade, e desde o mundo material, de retorno para os planos superiores, realmente um novo Dia Evolutivo chega, e algo em muitos de nós cai para adiante, enquanto que em outros de nós, não havendo conseguido se capacitar, são colocados em outro meio ambiente para cumprir o trabalho que não fizeram e, portanto estão atrasados.
Aqueles dentre nós que têm a face voltada para a Luz, reconhecem o enorme Poder do Espírito e não admitem frustração alguma no Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz. Quando uma vez a pessoa houver despertada e for devidamente ativa, o “eu inferior” é sentenciado à morte. A vida dos sentidos perde suas atrações, e o Caminho, no qual se crucifica a Personalidade pela eterna glória de Deus, se converte cada vez mais luminoso e sedutor. Cada dia de amor e serviço amoroso e desinteressado (e, portanto, o mais anônimo possível) prestado ao irmão e à irmã que está ao lado, focando na divina essência oculta em cada um deles – que é a base da Fraternidade – traz certo adiantamento para o Reino da “Vida”, a vida abençoada de atividades e progresso no Grande Jardim de Deus.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – agosto/1981 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Começaremos por estudar, de maneira sucinta, a questão da “Salvação”, relacionada com cada uma das três teorias da vida. A Teoria Materialista propõe que a vida é o resultado de um processo químico e que a vida de um indivíduo é somente uma viagem do útero ao túmulo. A Teoria Teológica, sustentada pela igreja ortodoxa, prega que o nascimento representa um Espírito recém-criado que está entrando para a vida pela primeira vez. A Salvação está baseada nas crenças adquiridas durante esta única vida. A Teoria do Renascimento, ensinada pela Fraternidade Rosacruz, afirma que o ser humano tem muitas vidas, sempre renascendo como um ser humano, nunca como um animal, e que durante estas vidas ele adquire experiência e, desta maneira, desenvolve seus potenciais divinos de acordo com a Lei de Consequência.
A Teoria Materialista, por negar o aspecto divino do ser humano, não é capaz de chegar a um conceito racional da vida humana e seu destino final. Não oferece nenhuma esperança de Salvação. Os teólogos ortodoxos, com sua interpretação da Bíblia e seus conceitos, apresentam um “plano de Salvação” errôneo para o mundo. A Teoria do Renascimento oferece o único plano justo e íntegro de Salvação, semelhante ao justo e íntegro Deus, a quem o plano pertence.
O erro básico na Teoria Materialista é que ela trata somente da parte da forma da vida e despreza o lado espiritual. O erro básico, no plano de Salvação ortodoxo é a afirmação de que o principal mérito está na crença ou fé que se tem, com pouca ou nenhuma ênfase dada ao “viver” a vida. Um segundo erro recai na crença de que a Salvação está baseada nesta única vida terrena.
Os teólogos Cristãos ortodoxos dizem que somente a fé em Jesus Cristo nos salvará. Dizem que os salvos serão aqueles que acreditam. Não é propriamente a vida que levam, mas, sim no que acreditam. Isto satisfaz aos que dão valor às coisas materiais e creem que estão “salvos” apesar de continuarem a viver como antes, sem transformações internas e constantes.
Lemos na Bíblia: “‘Com efeito, é mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!’. Os ouvintes disseram: ‘Mas então, quem poderá salvar-se?’” (Lc 18:25-26).
Para o materialista, Salvação está relacionada com o lado forma-matéria da vida, visto que ele nega o lado espiritual da vida. Salvação, do ponto de vista forma-matéria, quer dizer sobrevivência dos mais fortes ou seleção natural. Do ponto de vista espiritual o problema da Salvação não é uma consequência. O materialista acredita que a vida é só o produto de um processo químico e não parte de um plano divino. Portanto, Salvação do nada, não quer dizer nada.
Uma pessoa que não pode aceitar nem a ideia Cristã Ortodoxa da Salvação, nem os pontos de vista da ciência materialista, começa a procurar outros conceitos de “Salvação” e, em consequência, a aprofundar-se nas palavras de Cristo.
Aqueles que seguem os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental da Fraternidade Rosacruz e estão, assim, em busca de uma solução para os mistérios da vida através da razão, Salvação significa progresso na nossa atual onda evolutiva de vida. Diz Max Heindel que “é isto o que se quer dizer quando se fala em ‘Salvação’ na Religião Cristã. Tal Salvação deve ser procurada com toda diligência”.
A “Condenação Eterna” não significa destruição ou sofrimento sem fim. Entretanto, é algo muito sério encontrar algum Espírito num estado de inércia, durante inconcebíveis milhares de anos até que, num novo Esquema de Evolução (em um novo Grande Dia de Manifestação), chegue ao estado de se unir-se a ela e prosseguir sua tarefa, numa nova oportunidade (vide mais detalhes no livro Conceito Rosacruz do Cosmos).
A maioria dos planos de Salvação do Cristianismo ortodoxo põe de lado a maneira de viver das pessoas. Para citar Corinne Heline: “A igreja ortodoxa acha que para ser salvo, tudo o que se precisa fazer é aceitar Cristo verbalmente. Todos devem se ajoelhar diante d’Ele e todas as vozes devem proclamá-Lo Senhor e Salvador do mundo. Na realidade, o que temos de fazer é trabalhar, viver a vida dia a dia, numa demonstração viva dos princípios do Cristo Cósmico em termos de unidade, igualdade, fraternidade, paz, harmonia e amor. Somente aqueles que manifestam estes princípios, independente de raça, credo, nacionalidade ou cor, serão qualificados como pioneiros da nova Sexta Raça e serão capazes de ‘encontrá-Lo no ar’”.
A Bíblia não afirma que a aceitação verbal de Jesus Cristo é suficiente para a Salvação. Pelo contrário, a Bíblia dá ênfase a “viver a vida”, a fé e ações. Algumas passagens relevantes são: “Nem todo aquele que me diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus.” (Mt 7: 21).
“Assim, todo aquele que ouve essas minhas palavras e as pôr em prática será comparado a um homem sensato que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enxurradas, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, mas ela não caiu, porque estava alicerçada na rocha. Por outro lado, todo aquele que ouve essas minhas palavras, mas não as pratica, será comparado a um homem insensato que construiu a sua casa sobre a areia.” (Mt 7:24-26).
“Pois o Filho do Homem há de vir na glória do Seu Pai, com os Seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com o seu comportamento.” (Mt 16:27).
Portanto, Salvação envolve “seguir Cristo”. A Salvação estará baseada na maneira pela qual vivemos a vida.
Salvação, então, depende do que fizermos, com fé, durante a vida. Podemos ver que a afirmação dos teólogos ortodoxos de que para sermos salvos precisamos só acreditar, está errado. A vida que levamos é muito importante para a Salvação. “Vi então os mortos, grandes e pequenos, em pé diante do trono, e abriram-se livros. Também foi aberto outro livro, o da vida. Os mortos foram então julgados conforme sua conduta, a partir do que estava escrito nos livros.” (Ap 20:12).
Não é a aparência externa que conta, mas o desenvolvimento interno que é complementado, por meio da fé e das ações. Deveríamos estar trabalhando todos os dias, no nosso Dourado Manto Nupcial que não nos será dado no dia do julgamento. Devemos construí-lo por meio da fé e serviço amoroso, dia a dia. Tendo em Mente que a forma de vida que levamos é de suma importância para nossa evolução, não podemos acatar a ideia apresentada pela igreja ortodoxa, de que a cada nascimento uma nova vida é criada e que este Espírito, criado por Deus, não existia antes do nascimento atual.
Quando pensamos em diferentes ambientes dentro dos quais este novo Espírito pode nascer, uma pergunta se levanta: se a Salvação deve ser baseada em uma única vida, por que cabe a alguns, cargas maiores do que a outros ou vidas e situações tão diferentes?
Devemos analisar as duas maneiras de nos encontrarmos com Deus e saber também por qual caminho o estamos procurando. Podemos nos aproximar de Deus através da linha da fé onde o Coração predomina. Esta é a característica do Cristianismo Ortodoxo, a escola da fé. Ou podemos nos aproximar de Deus através da razão, onde a Mente predomina; é a escola do conhecimento.
Na escola da fé encontramos o Místico. Na escola do conhecimento encontramos o Ocultista. O Místico anda pelo caminho com o auxilio da Fé, o Ocultista com a ajuda do conhecimento. Cada um procurando encontrar Deus.
Vemos, portanto, que a fé e conhecimento são meios para se chegar a um fim comum. Devemos, porém, compreender que nem a fé nem o conhecimento representam o fim propriamente dito. São Paulo nos diz: “Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência, ainda que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse a caridade, eu nada seria.” (ICor 13:2).
O propósito dos Ensinamentos da Fraternidade Rosacruz é fazer com que a Mente e o Coração se integrem; é equilibrar a fé com as ações. Quando as perguntas da Mente são respondidas, o Coração está livre para amar (amar perfeitamente, ou seja: caridade). Do mesmo modo, o Coração estará mais forte quando a Mente estiver mais madura. Embora São Paulo tenha nos dito que o conhecimento passa, ele também nos adverte para não sermos “crianças em Cristo”, mas sim maduros (“homens espirituais) na nossa maneira de pensar[1].
Nem a fé, o Coração sozinho, nem as ações e a Mente por si só, tem o poder de salvar. São Tiago nos chama a atenção: “Com efeito, como o corpo sem o sopro da vida é morto, assim também é morta a fé sem obras.” (Tg 2:26).
É-nos ensinado pela Bíblia que Deus é Amor. Por meio dos ensinamentos da Fraternidade Rosacruz tomamos conhecimento e compreendemos o plano de Deus, Sua sabedoria, justiça e compaixão.
As aparentes injustiças do plano de Deus para a Salvação são explicadas por meio das Leis do Renascimento e da Consequência, tal como é ensinado pela Fraternidade Rosacruz. Sob a luz da Teoria do Renascimento e da Lei da Consequência, constatamos que nossa vida presente está baseada em nossas vidas passadas.
Nossa próxima vida será baseada, em grande parte, em nossa vida atual. Nascemos em diversos ambientes e enfrentamos problemas diferentes devido a maneira como nós nos comportamos no passado. Daí o valor de se trabalhar muito nesta vida para, assim, desenvolvermos nossa postura física e espiritual para uma vida futura.
A Salvação não depende de uma única vida. Salvação está relacionada com a nossa evolução, durante muitas vidas. Vemos aí, a importância da afirmação de São Tiago: “A fé sozinha, sem trabalho, é uma coisa morta”[2]. Esforcemo-nos para unir o Coração e a Mente de maneira que a fé seja aumentada pelas ações. Assim, viveremos a vida como se deve e com nós mesmos nos prometemos lá no Terceiro Céu!
(Publicada na Revista Serviço Rosacruz – janeiro/1981 – Fraternidade Rosacruz – SP)
[1] N.R.: “Quanto a mim, irmãos, não vos pude falar como a homens espirituais, mas tão-somente como a homens carnais, como a crianças em Cristo. Dei-vos a beber leite, não alimento sólido, pois não o podíeis suportar. Mas nem mesmo agora podeis, visto que ainda sois carnais.” (ICor 3:1-3) e “De fato, aquele que ainda se amamenta não pode degustar a doutrina da justiça, pois é uma criancinha! Os adultos, porém, que pelo hábito possuem o senso moral exercitado para discernir o bem e o mal, recebem o alimento sólido.” (Hb 5:13-14).
[2] N.R.: Tg 2:14
Vários artigos de recente publicação se referem, quando está prestes a ocorrer, ao estranho alinhamento de Planetas. É quando alguns dos Planetas do nosso Sistema Solar estão dispostos em linha reta com o Sol.
Alguns cientistas têm predito que semelhante configuração, resultante da atração gravitacional dos Planetas, causará uma aceleração na atividade magnética do Sol. Esse acontecimento é esperado separadamente, entre outras coisas, para determinar a marca do tempo na Terra, alterando as direções dos ventos na atmosfera.
Alguns cientistas advertem também que o efeito friccional exercido pela circulação atmosférica poderá ser adversamente afetado causando, subitamente, um repouso na rotação da Terra. Se isso acontecer, os cientistas predizem que vários terremotos poderão ser desencadeados em muitas partes do mundo.
Desde que considerável alarme se tem feito notar como resultado dessas predições, acreditamos mais uma vez no benéfico ensinamento oculto concernente às causas dos terremotos e outras catástrofes naturais.
É verdade, portanto, que os fatores físicos assim como os enumerados acima, podem parecer um desastroso desequilíbrio no conjunto natural. De qualquer modo, o assunto que os cientistas veem como causas físicas fundamentais são manifestações meramente superficiais.
Todos assim chamados desastres naturais são resultados diretos do uso distorcido ou abusivo dos direitos naturais do ser humano.
As catástrofes somente terminarão quando os seres humanos se libertarem necessariamente de seus próprios sofrimentos. Estes chegarão ao seu final quando o ser humano aprender a viver sem lutar contra a natureza.
Os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental também frisam que os Planetas não são corpos constituídos de matéria inerte: estão vivendo, pulsando, e neles vibrando a Grande Inteligência Espiritual.
As influências astrais não são desencadeadas arbitrariamente para perturbar a humanidade.
Elas, de qualquer modo, ensejam as experiências necessárias que decidem os resultados do desenvolvimento espiritual humano.
Algumas vezes essas influências aparentam ocasionar situações calamitosas para um indivíduo ou mesmo, uma raça, nação, povo inteiro. Mas isso é devido ao comportamento da humanidade, principalmente naqueles Planetas “visados”, cujo material prioritário necessita de uma organização.
É bom se lembrar, também, que alteramos nosso senso espiritual a ponto de inibir a capacidade de entendimento da elevação das influências astrais. Para recuperar isso precisamos elevar nossa moral, nosso comportamento e usar a força criadora como objetivo próprio. Precisamos dirigir o pensamento no sentido do progresso espiritual. Todos nós carecemos de abandonar os prazeres materiais que nos retêm na escravidão.
Há muitos indícios encorajando à procura de novo caminho, apesar da considerável evidência do egoísmo e materialismo ainda existentes entre nós.
O despertar da consciência social e os novos interesses pelos ensinamentos esotéricos estão tomando muitas formas. É melhor começar no real do que consultar publicações de informações médias que deixam a desejar.
Assim, o medo do futuro e o alarme sobre as terríveis predições não são recursos de todos. As catástrofes cessarão de nos atormentar uma vez que tenhamos aprendido a viver a vida do amar e servir. E isso acontecerá tão logo a humanidade se devote intensamente ao esforço de um melhor fim.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – outubro/1975 – Fraternidade Rosacruz-SP)
Resposta: Sim, há. Como estudamos no livro Coletâneas de um Místico de Max Heindel: “Quando vivemos vidas de pureza, quando nossos dias são preenchidos em serviços para Deus e para nossos irmãos e as nossas irmãs com pensamentos e ações da mais alta nobreza, então estamos criando para nós o Dourado Manto Nupcial[1], que é uma força radiante para o bem. Qualquer manifestação maligna não consegue penetrar essa armadura, porque o mal age, então, como um “bumerangue” (aquela arma australiana que sempre volta para seu dono) trazendo para o mesmo o mal que ele nos desejou.
Essa é, essencialmente, a base de todas as proteções que poderemos necessitar, tanto na Região Química, como na sua Região Etérica, ambas pertencentes ao Mundo Físico. Se nossas vidas, nossos pensamentos, desejos, sentimentos, nossas emoções, palavras, obras, ações e nossos atos são de natureza comprovadamente dignas e não imaginariamente elevadas, puras e dirigidas para o serviço amoroso e desinteressado (portanto, o mais anônimo possível) focando na divina essência oculta do nosso irmão e da nossa irmã que está ao nosso lado e para o nosso progresso espiritual, automaticamente atraímos as forças da Luz. E, ao mesmo tempo, construímos nosso invólucro etérico protetor – a Luz que procede do nosso interior e nos fornece perfeita proteção.
Os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz estão sempre à mão para dar encaminhamento e coragem ao sincero ao Estudante Rosacruz em seu Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz. Orando por orientação e ajuda em nosso caminho, nos será reservada essa proteção segura. A admoestação primeira feita ao Estudante Rosacruz pelos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental (os Ensinamentos Rosacruzes) é de dedicar a sua vida tão somente àquele serviço definido acima a todos os seres humanos (independente de quaisquer parentescos, querências, simpatias, segmentações, grupos, tribos, povos, nações ou outro tipo de divisão que haja). Se tentar, honestamente, não agir por interesse próprio e sim por interesse de seus semelhantes, com amor em seu coração, “todas as outras coisas lhe serão dadas por acréscimo“.
(Publicado da Revista Serviço Rosacruz fevereiro/1972 – Fraternidade Rosacruz-SP)
[1] N.R.: o Corpo-Alma, o Traje Dourado de Bodas, a vestimenta do casamento místico entre o “Eu superior” e o “eu inferior”, o Soma Psuchicon (ensinado por São Paulo) – que é uma proteção etérica, uma radiante força do bem, um novo Corpo, formado de material dos dois Éteres superiores da Região Etérica do Mundo Físico: o Éter de Luz ou Luminoso e o Éter Refletor.
Desde o seu início, o Cristianismo vem sendo deturpado por interpretadores levianos, por entidades dogmáticas, por pretensiosos e pseudomestres, desavisados transmissores dos seus ensinamentos, os ensinamentos de Cristo, os ensinamentos Cristãos.
Vem sendo erroneamente ou mesmo inconscientemente confundido nos seus ensinamentos. Confundidos, sim, por aqueles que apenas o leram, sem entendimento e conhecimento de seu profundo significado oculto.
Essa verdade aqui exposta, sem nenhum sentimento ou propósito não fraternal, nós a encontramos se nos transportarmos aos textos do próprio Livro sem prefácio, a Bíblia. Esse livro que se constitui num verdadeiro manancial de ensinamentos revividos pelos apóstolos de Cristo e seguidos, retamente, por aqueles que possuem internamente a sua chave de interpretação.
Até mesmo nas suas traduções, esse fenômeno de deturpação se generalizou, se anotou de maneira muitas vezes grosseira, pois quase que a totalidade dos seus tradutores se julgaram privilegiados portadores da verdade, ao traduzi-la e entregá-la ao sabor de interpretadores menos capacitados.
Entretanto, nós sabemos que nenhum deles, ou melhor, a maioria deles não nos apresentou uma tradução do texto original, havendo, consequentemente, uma disparidade nas suas variadas traduções, encontrando-se, na maioria delas, a marca das funestas e nefastas influências de poderosos grupos da época de escribas, de fariseus interessados numa versão ajustada às conveniências e interesses desses mesmos grupos predominantes e, não raras vezes, fugindo à lógica da sua cristalina interpretação.
Dessa confusão e dessa disparidade caracterizada nas suas traduções surgiu o catolicismo, o protestantismo, enfim, a divisão de centenas de grupos e seitas religiosas, todas elas, porém, mantendo o sufixo “ismo”, o que, vale dizer, sem se afastarem do Cristianismo.
O movimento Rosacruz (cabendo aqui salientar: que não é uma seita ou organização religiosa, mas sim uma grande Escola de Pensamento Filosófica Cristã, também conhecida como a Escola dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental), no entanto, sem se preocupar com tais disparidades de traduções, sem pretender dar novas formas aos seus textos, vem procurando interpretar e “prefaciar” a Bíblia dentro da sua não deturpável realidade oculta, buscando, nas suas entrelinhas, a sua real e efetiva significação esotérico-espiritual, sem se preocupar com as razões ou interesses de variados grupos guiados por preconceitos egoísticos, finalidades não definidas e por vezes danosas aos superiores interesses do Cristianismo, corretamente aplicado.
Com a segurança dessa interpretação, com a convicção das verdades existentes no texto oculto da Bíblia, vem a Fraternidade Rosacruz, com seus respectivos Centros e Grupos de Estudos, conquistando a aprimoração e difusão dos seus ensinamentos, que muito vêm ajudando os nossos irmãos, as nossas irmãs, as nossas amigas e os nossos amigos nessa preocupação constante de sobreviverem na verdade, unicamente na verdade, no desejo de constituir uma humanidade mais Cristã, mais Fraternal, mais humana.
A trajetória percorrida pela Fraternidade Rosacruz, nessa espiral de evolução, vem se pontilhando e se purificando no grande sacrifício de uma luta constante, difícil e, muitas vezes, incompreendida, porém profundamente gloriosa.
Nessas circunstâncias, aos Estudantes Rosacruzes não recomendamos a leitura pura e simples do livro sem prefácio, a Bíblia, porém, que cada um procure estudá-la sem interesses outros que não sejam aqueles de, constantemente, aprender a interpretá-la na imperativa missão de fazer prevalecer a verdade dos seus ensinamentos e nunca as conveniências de grupos que consciente ou inconscientemente vêm contribuindo para dificultar o estabelecimento da tão aspirada Fraternidade humana.
Afinal, não nos esquecemos do que repetimos todas as vezes que oficiamos o Ritual do Serviço Devocional do Templo: “A Bíblia foi dada pelos Anjos do Destino que estando acima de todos os erros dão a cada um e a todos exatamente o que necessitam para o seu desenvolvimento”.
E, mais, como estudamos no Conceito Rosacruz do Cosmos: “Há muito boas razões para que a Bíblia – que contém não uma, mas duas Religiões, a Cristã e a Judaica – fosse dada ao Ocidente. Se procurarmos a luz diligentemente veremos a Suprema Sabedoria oferecida por esta dupla Religião, apropriada como nenhuma outra Religião atual, às nossas necessidades especiais. Esclarecendo melhor esse assunto tratemos, nesse capítulo, de alguns pontos já examinados em outras partes desse livro.”
“A Bíblia, portanto, contém os ensinamentos de que necessitam, especialmente, os povos ocidentais.”
“Não pretendemos defendê-la (na forma atual comumente conhecida) como a única, verdadeira e inspirada Palavra de Deus, não obstante, ser verdade que ela contém muitos conhecimentos ocultos inestimáveis. Isso é, em grande extensão, escondidos sob interpolações e obscurecidos pela supressão arbitrária de certas partes julgadas “apócrifas”. O ocultista cientista que, claro, sabe o que se quis expressar pode ver facilmente quais as partes originais e quais as que foram interpoladas.”
“Antes de proceder com uma análise, é necessário dizer que as palavras da língua hebraica, especialmente no estilo antigo, sucedem-se umas às outras sem a separação ou a divisão que é de uso em nossa língua. Acrescentando a isso, havia o costume de retirar as vogais da escrita, de maneira que sua leitura dependia muito donde fossem colocadas, se verá quão grandes são as dificuldades a vencer para apurar o significado original. Uma ligeiríssima mudança pode alterar inteiramente o significado de qualquer sentença.
Além dessas grandes dificuldades, devemos também saber que dos quarenta e sete tradutores da versão do Rei Jaime (a mais comumente usada na Inglaterra e América) unicamente três conheciam bem o hebraico e, desses três, dois morreram antes da tradução dos Salmos. A ata que autorizava a tradução, tenhamos também em atenção, proibia aos tradutores todo o parágrafo que pudesse desviar grandemente ou perturbar as crenças já existentes. É evidente, portanto, que as probabilidades de se conseguir uma tradução correta eram bem escassas.
Tampouco foram mais favoráveis as condições na Alemanha. Lá, Martin Lutero , o único tradutor, mesmo ele não a traduziu do texto original hebraico, mas tão só de um texto latino. A maioria das versões empregadas pelos protestantes dos diversos países é simples traduções em diferentes idiomas da tradução de Lutero.
Certamente tem havido revisões, mas não tem melhorado grandemente a matéria. Além disso, há grande número de pessoas que insiste em considerar o texto inglês da tradução do Rei Jaime como absolutamente exata, da primeira à última letra, como se a Bíblia tivesse sido escrita originalmente em inglês e a versão do Rei Jaime fosse uma cópia fidedigna do manuscrito original. Assim, os erros subsistem apesar dos esforços que se têm feito para eliminá-los.
Deve-se também notar que os que originalmente escreveram a Bíblia não pretenderam dar a verdade de maneira a poder tê-la quem quisesse. Nada estava mais distante de sua Mente do que a ideia de escrever ‘um livro aberto de Deus’.”
“Originalmente, a Bíblia Judaica foi escrita em hebraico, mas não possuímos nem uma só linha da escritura original. No ano 280 antes de Cristo fez-se uma tradução para o grego, a ‘Septuaginta’. Ainda em tempos de Cristo, havia já uma confusão tremenda e diversidade de opiniões relativas ao que se devia admitir como original e ao que tinha sido interpolado.
Só depois da volta do desterro da Babilônia, começaram os escribas a compendiar as diferentes escrituras. Pelo ano 500 D.C. apareceu o Talmud (um livro sagrado dos judeus, um registro das discussões rabínicas que pertencem à lei, ética, costumes e história do judaísmo. É um texto central para o judaísmo rabínico), com o primeiro texto semelhante ao atual. Em vista dos fatos mencionados, não pode ser perfeito.
O Talmud esteve em mãos da escola Massorética que, desde o ano 590 até 800 D.C., permaneceu, principalmente, em Tiberíades. Depois de enorme e pacientíssimo trabalho, escreveu-se um Antigo Testamento Hebreu, o mais próximo ao original que temos atualmente.
Esse texto massorético será utilizado na elucidação seguinte sobre o Gênesis e, não confiando no trabalho de um único tradutor, será suplementado por uma tradução alemã de três eminentes estudiosos do hebreu: H. Arnheim, M. Sachs e Jul. Furst que cooperou com um quarto, Dr. Zunz, sendo esse último também o editor.”[1]
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – fevereiro/1965 – Fraternidade Rosacruz – SP)
[1] N.E.: atualmente, em português, temos uma versão que atende à fidelidade descrita nesse parágrafo por Max Heindel em uma versão da “Bíblia de Jerusalém, edição brasileira (1981, com revisão e atualização na edição de 2002) da edição francesa Bible de Jérusalem, que é assim chamada por ser fruto de estudos feitos pela Escola Bíblica de Jerusalém, em francês: École Biblique de Jérusalem. De acordo com os informativos da Paulus Editora, a edição “revista e ampliada inclui as mais recentes atribuições das ciências bíblicas. A tradução segue rigorosamente os originais, com a vantagem das introduções e notas científicas.” Essas notas diferenciais em relação às outras traduções prestam-se a ajudar o leitor nas referências geográficas, históricas, literárias etc. Suas introduções, notas, referências marginais, mapas e cronologia — traduções de material elaborado pela Escola Bíblica de Jerusalém — fazem dela uma ferramenta útil como livro de consulta, para quem precisa usar passagens bíblicas como referência literária ou de citações. A Bíblia de Jerusalém é considerada atualmente, pela grande maioria dos linguistas, como uma das melhores bíblias para o estudo, aplicável não apenas ao trabalho de teólogos, religiosos e fiéis, mas também para tradutores, pesquisadores, jornalistas e cientistas sociais, independentemente de serem católicos, protestantes, ortodoxos ou judeus, ou mesmo de qualquer outra religião ou crença e ateus.
Fevereiro de 1914
No final da lição do mês passado vimos que Siegfried, o que procura a verdade, chegou ao fim de sua busca. Ele tinha achado a verdade. Meditando sob o assunto me ocorreu que seria conveniente me servir dessa carta para uma franca e direta resposta sobre a questão: “Onde devemos procurar a verdade e como a reconhecermos, quando a encontrarmos?”
É de vital importância estarmos absolutamente seguros dessa questão. Muitos que, acidentalmente, encontram o caminho do Mundo do Desejo, como os médiuns, por exemplo, estão emaranhados na ilusão e na alucinação, devido à incapacidade deles de reconhecer a verdade. Além disso, os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz fornecem aos Probacionistas um ensinamento científico definitivo sobre esse ponto e, com o objetivo de preservá-los do perigo acima mencionado, preparam uma prova real antes de admiti-los ao Discipulado. Todos devem alcançar um certo padrão nesse assunto. Logicamente, pode surpreender você o fato de não reservarmos essa discussão só para os Probacionistas ou Discípulos, mas a Fraternidade Rosacruz não acredita em segredos ou mistérios. Todo aquele que quiser pode se qualificar para qualquer grau, e essa qualificação não é uma questão de forma, mas de viver a vida.
A respeito da primeira parte da pergunta “Onde devemos procurar a verdade?”, há somente uma resposta: dentro de nós mesmos. Isso se refere absolutamente ao desenvolvimento moral, e a promessa de Cristo de que se vivermos a vida, nós saberemos que a doutrina é verdadeira no sentido mais literal. Você nunca encontrará a verdade estudando seja os livros de minha autoria ou de qualquer outro. Enquanto você correr atrás de mestres externos – eu próprio ou qualquer outro – estará simplesmente desperdiçando energia. Os livros e os mestres podem despertar o seu interesse e impeli-lo a viver a vida, mas somente na medida em que você fizer de seus preceitos uma parte do seu “eu interior”, você realmente buscará na direção certa. O Irmão Maior – a quem eu, talvez equivocadamente, chamo de Mestre – nunca me ensinou diretamente, desde o curto período em que me foi transmitido o que está contido no livro “Conceito Rosacruz do Cosmos”. E no ano passado eu aprendi a não fazer perguntas, pois percebi que sempre que eu as fazia, ele simplesmente me sugeria de como eu mesmo poderia obter as informações desejadas. Agora, em vez de fazer perguntas, peço a orientação sobre como solucionar o problema. Assim, você vê que é pelo uso de nossas próprias faculdades, que podem ser comparadas aos talentos mencionados por Cristo, que alcançaremos as informações que tenham maior valor para nós mesmos.
A segunda parte da pergunta: “Como podemos reconhecer a verdade?” é melhor respondida se referindo ao Exercício noturno Esotérico recomendado na Conferência nº 11, “A Visão e a Percepção Espirituais”[1]. Esse exercício pode ser realizado por qualquer pessoa, independentemente de ser ou não Probacionista da Fraternidade Rosacruz. O Mestre disse, no momento de dá-lo, que se fosse possível conseguir que a pessoa mais depravada do mundo realizasse esse Exercício Esotérico fielmente durante seis meses, ela se reformaria para sempre, e aqueles o que fiéis em fazer tal Exercício Esotérico descobriram que ele aguça todas as faculdades mentais, particularmente a memória. Além disso, por meio desse julgamento imparcial de si mesmo, noite após noite, se aprende a discernir a verdade do erro em um grau que não pode ser alcançado de nenhuma outra maneira. Nem todos os nossos Estudantes Rosacruzes estão inclinados a assumir o Probacionismo, e nunca apressamos ninguém a fazer, seja o que for, na Escola da Sabedoria Ocidental. Mas, se você realmente quer conhecer a verdade, eu posso, honestamente, recomendar este método. Esse Exercício Esotérico desenvolve uma faculdade interior e não importa qual afirmação seja feita a você, uma vez que você a tenha desenvolvida, você saberá imediatamente se soa verdadeiro ou não.
(Carta nº 39 do Livro Cartas aos Estudantes – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
[1] N.T.: CONFERÊNCIA Nº 11 – VISÃO E PERCEPÇÃO ESPIRITUAL
Quando nós falamos de visão espiritual, não estamos falando simbolicamente, ou de uma maneira vaga, como um sentimento de êxtase ou algo semelhante, mas de uma faculdade definida tão real como a visão física, e tão necessária à percepção dos mundos espirituais e à verdadeira habilidade para compreender as qualidades internas das condições suprafísicas, como a visão física é indispensável para uma ampla cobertura de todos os pontos importantes das coisas materiais.
A visão espiritual de que falamos não é para ser confundida com a Clarividência desenvolvida em alguns nos meios espiritualistas. Essa última depende de um estado negativo da Mente onde os Mundos internos são refletidos na consciência do receptor, da mesma forma que uma paisagem é refletida em um espelho. Tal método produz uma visão, mas não há a ampla cobertura indispensável e necessária de todos os pontos importantes do que está sendo visto no Clarividente involuntário, do mesmo modo que não há no espelho. Ele está em uma posição similar àquela de um homem preso a um cavalo sem rédeas nem freios, podendo assim ser levado de um lado para outro, dependendo da vontade do cavalo. Tal faculdade é uma maldição. O clarividente devidamente desenvolvido não está preso: pode ver ou deixar de ver à vontade; maneja as rédeas do seu cavalo; é dono de sua faculdade, enquanto o outro é tão somente escravo dela.
Certas fases negativas de Clarividência são também desenvolvidas através de drogas, bola de cristal, etc. Em todos esses casos, a faculdade torna-se perigosa e prejudicial, uma vez que não se acha sob o controle do espírito. As drogas têm efeito terrivelmente destruidor sobre os diferentes veículos do ser humano. Porém, o mais perigoso de todos os métodos de desenvolvimento é a prática de exercícios respiratórios aplicada de modo indiscriminado. Muitos indivíduos acham-se hoje em manicômios ou até morreram tuberculosos por haverem praticado tais exercícios em aulas de desenvolvimento dirigidas por pessoas tão ignorantes quanto eles mesmos. Exercícios respiratórios, quando necessários, jamais devem ser feitos em conjunto, uma vez que cada discípulo tem constituição diferente dos demais. Assim, cada um requer exercícios individuais, particulares, bem como diferentes exercícios mentais para acompanhar aqueles.
Somente através de instruções individuais dadas por um instrutor competente, pode-se desenvolver com segurança a visão e a compreensão espirituais. Estas advertências referem-se exclusivamente aos exercícios respiratórios como método de desenvolvimento oculto, e nunca aos exercícios físicos que são excelentes quando praticados com moderação.
Surge daí a pergunta: Como achar um instrutor autêntico e como distingui-lo de um impostor? É uma pergunta muito importante, porque quando o aspirante encontra tal mestre, pode considerar-se em perfeita segurança e protegido contra a grande maioria dos perigos que cercam aqueles que, por ignorância ou egoísmo, traçam seus próprios rumos e buscam poderes espirituais, mas sem qualquer esforço para desenvolver fibra moral.
É uma verdade axiomática que os seres humanos são conhecidos “por seus frutos” e, como o mestre esotérico exige de seu pupilo desinteresse nas motivações, infere-se justamente que o instrutor deve possuir esse atributo em grau ainda maior. Portanto, se alguém se arvora em ser instrutor e oferece seus conhecimentos em troca de dinheiro, a tanto por aula, mostra assim que está abaixo do padrão que exige de seus discípulos. Alegar que precisa de dinheiro para viver, ou apresentar outros motivos semelhantes para cobrar pelo ensino, tudo não passa de sofismas. As leis cósmicas cuidam de todo aquele que trabalha com elas. Qualquer ensino oferecido em bases comerciais não é ensino superior, porque este jamais é vendido ou envolve considerações materiais, pois, em todos os casos, chega ao recebedor como um direito em função do mérito. Assim, mesmo que o verdadeiro instrutor tentasse negar o ensino a determinada pessoa que o merecesse, pela Lei de Consequência, seria um dia compelido a ministrar-lhe o mesmo.
No entanto, tal atitude seria inconcebível porque os Irmãos Maiores sentem uma grande e indizível alegria toda vez que alguém começa a palmilhar a senda da vida eterna. Por outro lado, embora ansiosos por tal, eles a ninguém podem revelar seus segredos antes que cada um tenha dado provas de sua constância e altruísmo, pois só assim poderá alguém ser um firme guardião dos imensos poderes resultantes, que tanto podem servir ao bem como podem ser usados para o mal. Se permitimos que nossas paixões se imponham descontroladamente, e se a avareza ou a vaidade são as molas de nossas ações, apenas sustamos o progresso de nosso semelhante ao invés de ajudá-lo. E, até que aprendamos a usar apropriadamente os poderes que possuímos, não estaremos em condições de realizar o trabalho ainda maior exigido daqueles que têm sido ajudados pelos Irmãos Maiores a desenvolverem sua visão espiritual latente, e a conseguirem compreensão espiritual, que é o que torna valiosa aquela faculdade como fator de evolução.
Portanto, a “Senda da Preparação” antecede o “Caminho da Iniciação”. A perseverança, a devoção, a observação e o discernimento são os meios de alcançá-lo, porque tais qualidades sensibilizam o Corpo Vital. Através da perseverança e da devoção, os Éteres Químico e de Vida capacitam-se a cuidar das funções vitais do Corpo Denso durante o sono. E uma separação entre estes dois Éteres e os dois superiores – Éter de luz e Éter refletor – acontece. Quando os dois últimos se espiritualizam suficientemente mediante a observação e o discernimento, uma simples fórmula dada pelo Irmão Maior capacita o Discípulo a separá-los e a levá-los consigo, à vontade, juntamente com seus veículos superiores. Deste modo, ele fica equipado com um veículo de percepção sensorial e memória. Qualquer conhecimento que possua no mundo material pode, então, ser utilizado nos Reinos espirituais, como também pode trazer ao cérebro físico recordações das experiências por que passou enquanto esteve fora de seu Corpo Denso. Isto nos é necessário para funcionarmos separados do Corpo Denso, plenamente conscientes tanto do Mundo Físico quanto do Mundo do Desejo, pois o Corpo de Desejos ainda não está organizado e, se o Corpo Vital não transferisse suas impressões no momento da morte, não poderíamos ter consciência no Mundo do Desejo durante a existência post-mortem.
Os exercícios respiratórios indiscriminados não produzem a divisão acima descrita, mas apenas tendem a separar o Corpo Vital do Corpo Denso. Por isso, as ligações entre os centros etéricos dos sentidos e as células cerebrais rompem-se ou deformam-se em certos casos, resultando ao final em vários tipos de insanidade mental, como a loucura. Em outros casos, o rompimento ocorre entre o Éter de Vida e o Éter Químico e, como o primeiro responde pela assimilação orgânica dos alimentos e é a avenida particular para a especialização da energia solar, essa ruptura resulta em tuberculose. Somente através de exercícios apropriados pode-se efetuar a separação correta. Quando a pureza de vida permite que a força sexual, que é criadora, gerada no Éter de Vida eleve-se até o coração, essa força encarrega-se de manter a quantidade de circulação necessária ao estado de sono. Deste modo, as funções físicas e o desenvolvimento espiritual correm paralelamente ao longo de linhas harmoniosas.
Temos, pois, aí a razão para o voto de celibato feito por aqueles que se dedicam inteiramente à vida superior. Não é necessário que o principiante se torne um asceta. A castidade absoluta por enquanto é só para poucos, especificamente, para aqueles que já alcançaram as Iniciações Maiores. Atualmente, o ato sexual é o método normal de procriação. Não existe outro meio de prover-se Corpos Denso aos Egos que precisam renascer – pois a fila é enorme! –, e é dever de todo aquele que é mental, moral e fisicamente sadio proporcionar veículo e ambiente apropriado a Espíritos, irmãos e irmãs, que desejam e precisam renascer aqui, isto de acordo com seus meios e oportunidades. Deveríamos encarar o ato da procriação como um Sacramento, não um ato para simples gratificação dos sentidos, mas para ser realizado com espírito de oração. A força sexual é exigida para geração apenas umas poucas vezes na vida de qualquer pessoa, de modo que o excedente pode ser legitimamente aproveitável ao autodesenvolvimento, já que ela é criadora.
Discernimento é a faculdade – e um importante Exercício Esotérico, como nos ensinado no livro Conceito Rosacruz do Cosmos – que nos permite distinguir aquilo que é essencial daquilo que não tem importância, separando a realidade da ilusão, e o que é duradouro daquilo que é efêmero. Na vida comum, acostumamo-nos a pensar que somos só corpo. O discernimento ensina-nos que somos Espíritos e que nossos corpos e veículos nada mais são que moradas provisórias, instrumentos para nosso uso. O carpinteiro usa martelo e serra que são importantes instrumentos. Contudo, nunca lhe ocorre que ele próprio seja essas ferramentas. Jamais devemos identificar-nos com o nosso Corpo Denso ou Corpo Vital ou ainda Corpo de Desejos, mas sim aprender, pelo discernimento, a considerá-lo um servidor, valioso tão somente enquanto obedeça a nossas ordens. Quando o considerarmos assim, descobriremos que somos capazes de fazer com facilidade muitas coisas que até então julgávamos impossível realizar. O discernimento gera a Alma Intelectual e imprime em nós o primeiro impulso em direção à vida superior.
A observação – além de ser mais um importante Exercício Esotérico, como nos ensinado no livro Conceito Rosacruz do Cosmos – é o uso dos sentidos como meio de obter-se informações a respeito dos fenômenos que ocorrem ao nosso redor. A observação e a ação geram a Alma Consciente. É de máxima importância para o nosso desenvolvimento que observemos minuciosamente tudo o que se passa em torno de nós; caso contrário, as imagens da nossa Memória Consciente deixam de coincidir com aquelas de nossa Memória Subconsciente ou automática. O ritmo e a harmonia do Corpo Denso são perturbados em proporção à superficialidade de nossa observação durante o dia. Nossas atividades durante o sono restauram parcialmente a harmonia, mas o entrechoque de vibrações dia após dia e ano após ano é uma das causas que, gradualmente, endurecem e destroem nosso organismo até torná-lo impróprio para o uso do Espírito que, então, precisa abandoná-lo e buscar nova oportunidade de desenvolvimento em um corpo novo e melhor. Na mesma proporção em que aprendemos a observar atentamente, ganharemos em saúde e longevidade e precisaremos de menos repouso e sono. Este último é um ponto muito importante, como veremos.
Devoção – além de ser mais um importante Exercício Esotérico, como nos ensinado no livro Conceito Rosacruz do Cosmos – aos elevados ideais restringe os instintos animais, gera e desenvolve a Alma Emocional. O cultivo, pois, dessa faculdade é essencial. Para algumas pessoas, essa é a linha de menor resistência; eis porque são aptos a se converterem em místicos sonhadores. As energias do Corpo de Desejos expressam-se então na forma de entusiasmo e êxtase religioso. Outros há que desenvolvem anormalmente a faculdade de discernimento que os leva ao longo das frias linhas intelectuais da especulação metafísica. Em ambos os casos há desequilíbrio e existe perigo. O sonhador místico pode tornar-se joguete de toda sorte de ilusões por estar dominado pela emoção. Ao intelectual ocultista isso nunca pode acontecer, mas pode terminar na magia negra se perseguir a senda do conhecimento só por desejo de conhecimento e não para poder servir. O único meio seguro é desenvolver simultaneamente a “Cabeça e o Coração”.
O Ocultista desenvolve-se ao longo de linhas intelectuais; procura a verdade pela observação e pelo discernimento, observa e raciocina sobre tudo o que vê. Assim, ele alcança o conhecimento, mas, como diz o apóstolo São Paulo: “O conhecimento ensoberbece, mas o amor edifica.”[1]. Portanto, antes que seu conhecimento possa ser útil ao próprio desenvolvimento espiritual, precisará aprender a senti-lo, pois, de outro modo, não poderá vivê-lo. Quando tiver feito isto, será tanto Ocultista quanto Místico.
O Místico desenvolve especialmente a faculdade de devoção. Ele sente a verdade sem precisar raciocinar. Sabe, mas não tem meios para explicar a razão de sua fé, de modo ajudar os outros. Deve, pois, desenvolver o lado intelectual de sua natureza, a fim de ser o mais útil possível na elevação da humanidade. Assim, o intelecto pode agir como um freio sobre as emoções, e a devoção pode guiar o intelecto com segurança. Se seguirmos unicamente uma das linhas, teremos mais tarde que seguir a outra, caso queiramos ter um desenvolvimento completo e harmonioso. Por isso, é melhor tentar desenvolver agora a faculdade que nos falta, pois assim progrediremos mais rapidamente em direção à meta final e em perfeita segurança.
A clareza e a nitidez de uma fotografia dependem do modo do fotógrafo focalizar as lentes. Uma vez ajustada a objetiva, o foco se conserva. Todavia, se a máquina tivesse vida e vontade próprias, se pudesse modificar sua direção e focalização, as imagens captadas apareceriam sem nitidez. A Mente encontra-se em situação análoga: vagueia sem objetivo como se estivesse literalmente com “dança de São Vito”[1] e resistindo tenazmente a qualquer restrição. Mas ela pode e deve ser subjugada, e a perseverança é o meio de conseguir. Na proporção em que a Mente é aquietada, o Espírito pode refletir-se no Tríplice Corpo, segundo o princípio de que os raios do Sol não se podem refletir num mar encapelado, mas somente em águas tranquilas.
O Corpo Vital é como um espelho, ou melhor, como uma película cinematográfica em movimento: filma o mundo mesmo que esteja em desacordo com a nossa faculdade e observação e com as ideias que brotam do Espírito interno, conforme a clareza e o treinamento mentais. A devoção e o discernimento, ou em outras palavras, a emoção e o intelecto, decidem nossa atitude face a essas imagens, e o equilíbrio entre as ações de ambos conduz a um desenvolvimento perfeito. Alcançado certo grau de aperfeiçoamento, elas realizam inevitavelmente o processo de purificação. O ser humano precisa compreender que, para alcançar a meta, deve pôr de lado tudo o que possa entravar a roda do progresso. O bom mecânico prefere sempre as melhores ferramentas e esmera-se em conservá-las perfeitas, porque sabe quão importantes são para realizar um bom trabalho. Nossos Corpos são as ferramentas de nós, o Espírito, de modo que, na medida em que elas se encontrem obstruídas, estorvam a nossa manifestação. O discernimento aponta-nos o que obstrui. A devoção à vida superior ajuda-nos a eliminar maus hábitos e traços de caráter indesejáveis, suplantando o simples desejo.
A carne animal (mamíferos, aves, peixes, anfíbios, répteis, frutos do mar e afins) obtida à custa da vida e sofrimento de outros seres e, que além de estar impregnada dos desejos e paixões do animal encontra-se já em estado de decomposição, não é um alimento puro. Nenhum sincero Aspirante à vida superior e aos poderes superiores deve escolher este tipo de alimento. Deve estudar, sim, para aprender como atender às necessidades do seu organismo com alimentos puros. Deve também se dar conta da importância de manter seu cérebro lúcido para que sua consciência possa abrir-se completamente à influência espiritual, concluindo-se daí que abandonará o uso do fumo (seja de qualquer espécie e das bebidas alcoólicas que estimulam e entorpecem o cérebro. Moderação é um termo impróprio com relação à bebida alcoólica. O uso do álcool, em qualquer escala, é desastroso ao desenvolvimento espiritual.
Perder a serenidade é prejudicial ao crescimento interno, além de dissipar, em grande escala, utilíssima energia que poderia ser utilizada beneficamente; a raiva envenena o organismo, inutiliza-o e retarda enormemente o progresso espiritual.
Da mesma forma, pensamentos de crítica nos prejudicam, por isso deve o Aspirante à vida superior evitá-los tanto quanto possível. O discernimento ensina-nos, de modo impessoal, o que é bom e o que é mau, mas não imprime em nós nenhum sentimento sobre isso, e isto é um ponto muito importante. O exame de um fato, de uma ideia ou objeto, seguido de uma decisão relativa ao seu valor, é necessário e não deve ser evitado. Porém, os pensamentos não caridosos devem ser evitados, uma vez que geram pensamentos em forma de flecha que, conforme se exteriorizam, atingem e bloqueiam o fluxo de bons pensamentos emanados constantemente dos Irmãos Maiores e atraídos por todos os seres humanos bons.
Dois exercícios específicos são dados ao Aspirante à vida superior que inicia a jornada preparatória. Ambos conduzem ao desenvolvimento da visão e da compreensão espirituais. Um eles levam ao caminho reto e apela mais para o Ocultista, que trabalha mais com o intelecto, mas é de grande valor para o Místico porque desenvolve nele a qualidade que mais lhe falta — a razão. Esse exercício é chamado de Exercício Esotérico matutino de Concentração e produz “poder mental”. O outro produz resultado semelhante de maneira indireta. Agrada mais ao Místico, mas é extremamente necessário ao intelectual Ocultista porque proporciona-lhe o senso da verdade, que está além da razão. Tal exercício é o Exercício Esotérico noturno de Retrospecção, que desenvolve o “poder da devoção”. Ambos são necessários para garantir um desenvolvimento completo e harmonioso.
A filosofia da conquista da visão e compreensão espirituais resume-se em obrigar o Corpo de Desejos a efetuar, dentro do Corpo Denso e em completo estado de vigília, — ou seja, positivo e consciente — o mesmo trabalho que realiza quando se encontra fora durante o sono, ou no estado post-mortem.
Existem certas correntes no Corpo de Desejos de todos. São fortes, bem definidas, e formam sete grandes vórtices nos clarividentes, mas são fracas, descontínuas e destituídas de vórtices no ser humano comum, naquele que não pode “ver”. O desenvolvimento dessas correntes e vórtices conduzem à visão espiritual. Durante o dia, enquanto somos absorvidos pelos nossos interesses materiais, essas correntes fluem muito vagarosamente. Mas, tão logo nos retiramos do Corpo Denso ao dormir, iniciamos o trabalho de restauração, conforme descrito na Conferência IV do Livro Cristianismo Rosacruz, as correntes reativam-se e os vórtices também, fulgurando como se fossem incandescentes, porque então o Corpo de Desejos se encontra no seu elemento de origem, livre do peso embaraçante do Corpo Denso.
O tempo de que o Corpo de Desejos precisa para restaurar o ritmo do Corpo Vital e do Corpo Denso depende do modo que usamos esse último durante o dia. Se o extenuamos nesse período, as desarmonias criadas serão naturalmente maiores, e isso exigirá a maior parte da noite para o Corpo de Desejos poder restaurar a harmonia e o ritmo. Assim, vive o ser humano preso ao seu Corpo Denso, dia e noite. Mas quando ele aprende a controlar a ação, a controlar gastos de energia nas atividades diárias, cessando de malbaratá-las em palavras e atos vãos, quando começa a dominar seus impulsos e a impedir novas desarmonias resultantes de uma observação imperfeita, então o Corpo de Desejos não precisa trabalhar o período inteiro do sono noturno para restaurar o Corpo Denso. Uma parte da noite pode ser empregada para se trabalhar fora. Se os centros sensoriais do Corpo de Desejos estão suficientemente desenvolvidos — como regra geral estão na maioria dos indivíduos inteligentes — o ser humano pode então desatar o cabo e elevar-se ao Mundo do Desejo. Lá ele tem uma visão do que se passa nesse plano, embora geralmente não consiga recordar depois de nada do que viu, até que consiga efetuar a separação entre as partes superior e inferior do Corpo Vital, conforme já explicado.
Vemos, pois, a grande importância da observação correta, da devoção aos elevados ideais, da pureza de alimentação, etc., tudo isso tendendo a harmonizar as vibrações internas com as vibrações externas. Na mesma proporção em que progredimos nessa direção, o tempo empregado na restauração dos veículos é abreviado, sobrando-nos, portanto, uma margem para trabalharmos no Mundo do Desejo.
EXERCÍCIO NOTURNO
O Exercício Esotérico noturno de Retrospecção é o mais eficiente dos métodos existentes para fazer o Aspirante à vida superior avançar na senda da realização espiritual. Seu efeito tem tal alcance que permite ao indivíduo aprender agora não apenas as lições dessa vida, mas também lições que normalmente lhe estariam reservadas para existências futuras.
Após deitar-se à noite, o Aspirante à vida superior relaxa o Corpo Denso e começa a recordar os acontecimentos do dia na ordem inversa, partindo dos da noite, em seguida os da tarde, e depois os da manhã. Deve esforçar-se para “rever” cada cena com a máxima fidelidade e procurar reproduzir ante seus olhos mentais tudo o que aconteceu em cada uma delas, a fim de poder julgar seus atos e certificar-se de que suas palavras transmitiram o sentido desejado ou deram uma impressão falsa, como também se exagerou ou foi omisso ao relatar experiências a outrem. Deve examinar sua atitude moral relativa a cada cena. E quanto aos alimentos, verificar se “comeu para viver” ou “viveu para comer”, para gratificar o paladar. Durante todo o Exercício Esotérico noturno de Retrospecção, o Aspirante à vida superior vai julgando a si mesmo, censurando-se onde couber reprovação e elogiando-se onde couber o louvor.
Os Probacionistas acham, às vezes, difícil permanecer acordados até o fim do Exercício Esotérico noturno de Retrospecção. Em tais casos, é permitido que se sentem na cama, até que lhes seja possível seguir o método comum.
O valor do Exercício Esotérico noturno de Retrospecção é imenso. Vai muito além de nossa imaginação. Em primeiro lugar, realizamos o trabalho de restauração da harmonia conscientemente e em tempo muito mais curto do que o Corpo de Desejos pode fazê-lo durante o sono, sobrando assim uma maior porção da noite para trabalhos fora do corpo. Em segundo lugar, vivemos nosso Purgatório e Primeiro Céu cada noite, incorporando a nós, o Espírito, o senso de retidão como essência das experiências do dia. Escapamos, assim, do Purgatório depois da morte, economizando também o tempo que despenderíamos no Primeiro Céu.
Por último, e não menos importante, tendo dia após dia extraído a essência das experiências que produzem o crescimento anímico, e havendo incorporado essa essência em nós, o Espírito, passamos a vivenciar realmente uma nova atitude mental e a nos desenvolver por linhas que normalmente estariam reservadas a vidas futuras.
Executando fielmente esse Exercício Esotérico noturno de Retrospecção, dia após dia, apagamos de nossa Memória Subconsciente o registro de fatos desagradáveis e eliminamos os nossos pecados, nossas auras começam a reluzir com o ouro espiritual extraído das experiências diárias pela Retrospecção, e aí começamos a atrair a atenção do Irmão Maior.
“Os puros verão a Deus.”[1], disse Cristo, e o Irmão Maior abrirá nossos olhos quando estivermos prontos para entrar no “Templo do Saber” — o Mundo do Desejo — onde obtemos nossas primeiras experiências de vida consciente fora do Corpo Denso.
EXERCÍCIO MATUTINO
O Exercício Esotérico matutino de Concentração, o segundo exercício, é executado pela manhã, tão logo o Aspirante à vida superior desperta. Ele não precisa levantar-se para abrir as janelas ou fazer qualquer coisa desnecessária. Sentindo o Corpo Denso confortável, deve relaxar e começar imediatamente a se concentrar. Esse momento é muito importante porque nós, o Espírito, acabamos de regressar do Mundo do Desejo, podendo termos contato consciente com esse Mundo, bem mais facilmente do que em qualquer outra hora do dia.
Se o Corpo Denso está em desconforto, o Aspirante à vida superior deve se mexer com o objetivo de acomodá-lo melhor antes de iniciar a Concentração, mas muito da eficácia do exercício é perdida em razão de se iniciá-lo com atraso.
Vimos na Conferência IV do Livro Cristianismo Rosacruz que, durante o sono, as correntes do Corpo de Desejos fluem e seus vórtices movem-se e giram com enorme rapidez. Porém, tão logo ele interpenetra o Corpo Denso, suas correntes e vórtices são quase paralisados pela matéria densa e pelas correntes nervosas do Corpo Vital que levam e trazem mensagens ao cérebro. A finalidade deste exercício é levar o Corpo Denso ao mesmo grau de inércia e insensibilidade do estado de sono, embora com o Espírito dentro dele e conservando-se totalmente acordado, alerta, consciente. Deste modo, cria-se uma condição em que os centros sensoriais do Corpo de Desejos podem começar a girar no interior do Corpo Denso.
Concentração é uma palavra enigmática para muitos, por isso tentaremos esclarecer seu significado. O dicionário dá-nos diversas definições, todas aplicáveis à nossa ideia. Uma é “convergir para um centro”, enquanto outra, uma definição química, é “reduzir à extrema pureza e potencialidade pela eliminação de constituintes inúteis”. Aplicada ao nosso problema, uma das definições faz-nos ver que, se convergimos nossos pensamentos para um centro, para um ponto, podemos aumentar sua força, segundo o princípio que estabelece que a força dos raios solares é multiplicada quando focalizada num ponto através de uma lente de aumento. Eliminando-se de nossa Mente todos os demais assuntos, todo o nosso poder mental pode ser completamente aproveitado na consecução de um objetivo ou solução do problema em que nos concentramos. Podemo-nos absorver em nosso assunto a tal ponto que, mesmo um canhão sendo disparado, não o ouviremos. Há pessoas que podem concentrar-se numa leitura de tal maneira que são capazes de esquecer tudo mais. O Aspirante à vida superior deve, igualmente, ser capaz de abstrair-se numa ideia, objeto de concentração, a ponto de fechar por completo sua consciência ao mundo dos sentidos e atentar exclusivamente para os Mundos espirituais.
Quando aprender a fazer isso, ele verá o lado espiritual de um objeto, ou ideia, iluminado por uma luz espiritual e, assim, ele alcançará o conhecimento da natureza interna de coisas nem sequer sonhadas pelo ser humano mundano.
Quando se chega a esse ponto de abstração, os centros sensoriais do Corpo de Desejos começam a girar lentamente no interior do Corpo Denso e a se acomodarem por si mesmos. Com o tempo, esses centros tornam-se cada vez mais definidos e passam gradativamente a exigir menos esforço para pô-los em movimento.
O tema da concentração pode ser um ideal elevado e sublime, mas preferivelmente que seja de uma natureza tal que consiga situar o Aspirante à vida superior acima do tempo e do espaço, afastando-o das sensações ordinárias do Mundo material. Para isto, não há melhor fórmula do que os cinco primeiros versículos do primeiro Capítulo do Evangelho Segundo São João. Tomando-os como base, sentença por sentença, manhã após manhã, com o tempo, o Aspirante à vida superior terá adquirido uma admirável compreensão do princípio do nosso universo e do método da criação — compreensão que está muito longe de ser alcançada em livros.
Depois de algum tempo, quando o Aspirante à vida superior já tenha aprendido a manter sem oscilações, ininterruptamente por uns cinco minutos, a ideia na qual venha se concentrando, pode, um dia, tentar lançar fora repentinamente essa ideia, deixando a Mente “em branco”. Em nada deve pensar então, mas simplesmente esperar que algo venha preencher aquele vazio mental. Com o tempo, as visões e cenas do Mundo do Desejo deverão ocupar essa lacuna. Após ter-se acostumado a essa prática, o Aspirante à vida superior pode desejar que algo se apresente ante seus olhos mentais. A coisa virá e então ele poderá investigá-la à vontade.
Mas o ponto principal é que, seguindo as instruções acima, o Aspirante à vida superior vai purificando a si mesmo. Sua aura começa a brilhar e isso atrairá infalivelmente a atenção do Irmão Maior, que designará alguém para ajudá-lo, quando necessário, a dar o passo seguinte.
Mesmo que passem meses ou anos sem resultados visíveis, estejamos certos de que não nos esforçamos em vão; os Irmãos Maiores veem e apreciam nossos esforços, e vivem eles tão ansiosos por nossa colaboração quanto nós por trabalhar. Os Irmãos Maiores podem ver razões que nos impeçam de empreender o trabalho pela humanidade no momento presente ou mesmo por toda esta vida. Mas, tão logo essas razões desapareçam, poderemos ser admitidos à luz, onde seremos capazes de ver por nós mesmos.
Uma antiga lenda diz que escavações em busca de tesouros devem ser feitas somente na calada da noite e no mais absoluto silêncio; falar uma só palavra antes de os descobrir fará com que desapareçam inevitavelmente. Trata-se de uma parábola mística relativa à busca da iluminação espiritual. Se tagarelarmos ou contarmos a outrem as experiências de nossos momentos de concentração, poderemos perdê-las. Antes de extrairmos delas, pela meditação, pleno conhecimento das leis cósmicas subjacentes, tais experiências podem reduzir-se a nada, uma vez que esta classe de experiências não pode suportar a transmissão oral. A experiência em si, portanto, não conta muito, pois, afinal, não é mais do que uma casca envolvendo e ocultando saboroso fruto. A lei tem valor universal, como vai ficar evidente, porque ela explica os fatos da vida, ensina-nos como tirar vantagem de certas condições e o modo de evitar outras. Em benefício da humanidade, ela pode ser livremente revelada, à vontade de seu descobridor. Então, a experiência que a revelou parecerá, em sua verdadeira luz, apenas uma coisa passageira que dispensa maiores considerações. Por conseguinte, tudo o que aconteça durante o Exercício Esotérico matutino de Concentração deve ser considerado sagrado e guardado no mais absoluto sigilo pelo aspirante.
Finalmente, evitemos considerar os Exercícios Esotéricos Rosacruzes como tarefas desagradáveis. Estimemo-los em seu verdadeiro valor, pois eles são nossos mais altos privilégios. Somente quando assim os considerarmos, poderemos fazer-lhes justiça e colher todo o benefício de sua prática.
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Na Fraternidade Rosacruz, os Irmãos Maiores distinguem três classes:
1) Estudantes Preliminares e, depois Estudantes Regulares, aqueles que simplesmente estudam a Filosofia. Pessoas das mais variadas denominações entram em instituições de ensino tais como as Universidades de Harvard ou Yale e ali estudam mitologia, psicologia e Religião comparada sem prejuízo de suas filiações religiosas. Nestas mesmas bases, os candidatos a estudos podem inscrever-se na Fraternidade Rosacruz. Qualquer um pode candidatar-se, se não for hipnotizador ou não esteja profissionalmente comprometido como médium, quiromante ou astrólogo.
2) Probacionistas, que são Estudantes Rosacruzes que aspiram o conhecimento direto a fim de se capacitarem para o serviço. Ao fim de dois anos na condição de Estudante Regular Rosacruz, e caso tenha já se convencido da veracidade dos Ensinamentos Rosacruzes e esteja decidido a cortar toda ligação que eventualmente ainda tenha com qualquer outra entidade esotérica ou ordem religiosa — exceto as igrejas e irmandades Cristãs — o Aspirante à vida superior pode assumir o Compromisso que o fará ser admitido no grau de Probacionista. A estes, a Sede Mundial fornece um formulário mediante o qual o Aspirante à vida superior promete a si mesmo praticar fielmente os dois Exercícios Esotéricos Rosacruzes (noturno de Retrospecção e matutino de Concentração), e registrá-los todos os dias em outro formulário especial que deve ser devolvido mensalmente à Sede. As provas duram no mínimo cinco anos e seu propósito é testar a dedicação e a persistência do Aspirante à vida superior, dando-lhe a oportunidade de purificar-se a si próprio antes de passar aos métodos de treinamento mais diretos pertinentes ao Discipulado. Esse registro diário destina-se também a ajudar o Aspirante à vida superior a fazer os Exercícios Esotéricos Rosacruzes. É próprio da natureza humana tentar fazer o melhor sempre que tenha de mostrá-lo, portanto, sabendo-se observado, o Aspirante à vida superior procura esmerar-se nesses Exercícios Esotéricos Rosacruzes.
Longe estamos de insinuar que as demais escolas de ocultismo não devam ser consideradas. Muitos são os caminhos que levam a Roma, mas lá chegaremos com menos esforço se seguirmos por um só deles ao invés de ziguezaguear de um a outro.
Em primeiro lugar, nosso tempo e energia são limitados e são reduzidos ainda mais pelos deveres sociais e familiares, que não devem ser negligenciados em favor do autodesenvolvimento. Portanto, só com o propósito de economizarmos essa limitada energia — a qual podemos usar de modo mais legítimo — e evitar o desperdício do reduzido tempo à nossa disposição, é que os Irmãos Maiores insistem para renunciarmos a todas as outras ordens.
O mundo é um agregado de oportunidades, mas para aproveitá-las é necessário possuirmos eficiência em certa linha de esforços. O desenvolvimento dos poderes espirituais pode nos capacitar a ajudar ou prejudicar aos nossos irmãos mais fracos. E esses poderes só se justificam quando o objetivo é Servir à Humanidade.
O método de realização Rosacruz difere dos outros sistemas por um pormenor especial: procura desde o princípio emancipar o Discípulo de toda dependência dos outros, tornando-o autoconfiante no mais alto grau, de maneira a poder permanecer só em todas as circunstâncias e enfrentar todas as condições. Somente aquele que for tão bem equilibrado pode ajudar ao débil.
Quando certo número de pessoas se reúne em classe ou círculo objetivando o autodesenvolvimento, mas por meio de métodos negativos, geralmente os resultados são conseguidos em pouco tempo, seguindo o princípio de que é mais fácil deixar-se levar pela corrente, do que lutar contra ela. O médium, contudo, não é senhor dos seus atos, mas escravo do espírito que o domina. Por isso tais reuniões devem ser evitadas pelos Probacionistas.
Mesmo as reuniões em que se mantenha uma atitude mental positiva não são aconselhadas pelos Irmãos Maiores, porque os poderes latentes de todos os membros são amalgamados. Então as visões dos Mundos internos obtidas por quaisquer deles apenas resultam parcialmente da influência das faculdades dos demais. O calor de um carvão no centro de uma fogueira fica aumentado pelo dos carvões que o rodeiam. O Clarividente originado num círculo, mesmo que esse seja positivo, é como uma planta na estufa – demasiado dependente para que se lhe possa confiar os cuidados dos demais.
Portanto, todo Probacionista da Fraternidade Rosacruz efetua seus exercícios sozinho, no isolamento do seu lar. Seguindo esse método, obtêm-se resultados mais lentamente. Porém, quando tais resultados aparecerem, manifestar-se-ão como poderes cultivados por ele mesmo, e poderão ser empregados independentemente dos demais. Além disso, os métodos Rosacruzes constroem o caráter, ao mesmo tempo em que desenvolvem as faculdades espirituais, resguardando assim o Discípulo da tentação de perverter seus poderes divinos em busca de prestígio mundano.
Do que foi dito acima, não se conclua que o candidato deva empregar todo o seu tempo em esforços espirituais. Se não podemos dispor de muito tempo, cinco minutos pela manhã e quinze minutos à noite é quanto basta. De fato, dedicar ao desenvolvimento de faculdades espirituais um tempo que precisaria ser legitimamente usado em responsabilidades materiais é decididamente um erro. Antes de nos entregarmos ao serviço nos mundos espirituais, precisamos cumprir todos os nossos deveres no mundo material. Não se pode esperar fidelidade no trabalho espiritual de quem é infiel aos seus deveres terrenos.
Após a remessa de sessenta relatórios consecutivos, o candidato pode solicitar instruções individuais, as quais, se possível, lhes serão dadas.
3) Discípulos, composta de pessoas que, havendo completado a fase de Probacionista, são consideradas aptas para receberem instruções individuais dos Irmãos Maiores. O ensino é gratuito.
A Filosofia Rosacruz tem conquistado adeptos por toda parte, os quais se mantêm em estreito contato com o movimento e que trabalham para difundir as profundas verdades concernentes à Vida e ao Ser que os estão ajudando.
Os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, promulgados pela Fraternidade Rosacruz, são dirigidos especialmente àqueles que não aceitam o Cristo exclusivamente pela fé. Tais pessoas, amadurecidas, mas caracteristicamente intelectuais, correm o risco de perigosamente se enlearem nas teias retardadoras do materialismo. Por meio de uma explicação lógica e profunda do Cristianismo – somente propiciada pelo Cristianismo Esotérico – poderão, uma vez satisfeita a Mente, atender aos reclamos do Coração.
O embasamento do nosso crescimento anímico não poderá ser unilateral, pois caso contrário “haverá fome em alguma parte” do nosso ser. A segurança do nosso desenvolvimento depende de um método equilibrado e equilibrador. Tal equilíbrio compreende o desenvolvimento paralelo de nossas naturezas ocultista e mística, isto é, no cultivo da razão (simbolizada pela lamparina) e do sentimento (simbolizado pelo coração). Daí resultará um corpo são e melhor serviço à humanidade. Segundo Platão, devemos ser “sábios, santos e atletas”. E o lema Rosacruz o parafraseia: “Mente pura, Coração nobre, Corpo São”.
Com o propósito de realizar essas duas finalidades, a Fraternidade Rosacruz promove a publicação de artigos, de materiais, dos textos dos Rituais, de vídeos fiéis aos Ensinamentos Rosacruzes, de livros da biblioteca Rosacruz, a execução de Reuniões de Estudos, Palestras, Oficinas e Seminários e a promoção de Cursos que ajudam a orientar, a percorrer, a avançar nos graus e a se aprofundar no Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz.
Isso tem maior importância do que podemos imaginar. Se realmente levamos a sério nosso ideal, na medida do possível devemos estudar esse material, fazer os Cursos, participar dos eventos e ajudar naquilo que mais se precisa em cada caso por meio de um Centro Rosacruz.
Quando de palestras ou eventos que durem, no máximo duas horas, procedemos de uma de duas maneiras: a primeira, em palestra ou evento o terminamos com o ofício do Ritual Devocional de Serviço próprio do dia. A segunda maneira, antecedendo a palestra ou o evento, começamos a oficiar o Ritual Devocional de Serviço próprio do dia até após o momento da Concentração; ao terminá-la fazemos a palestra ou o evento e depois terminamos o ofício com as partes próprias de cada Ritual Devocional de Serviço. A repetição das mesmas palavras ritualísticas a cada encontro grava em nosso íntimo preceitos básicos para nossa formação Cristã-esotérica. Essa, devidamente sedimentada e sinceramente expressa em obras na vida diária, constrói o “templo sem ruído de martelos”.
Cultivar os dois polos de nossa divindade interna é condição essencial para um crescimento harmonioso. O potencial equilibrado desses dois polos é que nos tornará, gradativamente, uma “usina de força”, uma fonte de luz. Deus é Luz. Somos feitos a imagem e semelhança d’Ele. Essa Luz encontra-se em toda parte, principalmente em nós. Como manifestá-la? Por meio do despertamento dos divinos atributos latentes em nós, objetivo maior do método Rosacruz de desenvolvimento.
Devorar ansiosamente os livros, correr de palestra em palestra, de evento em evento atrás de novidades intelectuais, percorrer diletantemente várias escolas filosóficas, vários movimentos cristãos ou não, ao mesmo tempo, não conduz a nenhum resultado positivo. O intelectual é presa fácil da vaidade e do personalismo. Igualmente, o místico, por falta de discernimento, pode ser enganado nas suas experiências internas, confundindo os meros reflexos de seu subconsciente com os raios da intuição, essa sim originária do Espírito de Vida.
As razões apresentadas justificam, sobejamente, a natureza equilibradora do método Rosacruz, conduzindo o Aspirante à vida superior com segurança pelo, geralmente íngreme, caminho da realização espiritual. Daí a simbologia maravilhosa da lamparina e do Coração.
(Gilberto A V Silos – Editorial da Revista Serviço Rosacruz de março/1975-Fraternidade Rosacruz-SP)
“Depois disso, vi quatro Anjos, postados nos quatro cantos da terra, segurando os quatro ventos da terra, para que o vento não soprasse sobre a terra, sobre o mar ou sobre alguma árvore. Vi também outro Anjo que subia do Oriente com o selo do Deus vivo. Esse gritou em alta voz aos quatro Anjos que haviam sido encarregados de fazer mal à terra e ao mar: ‘Não danifiqueis a terra, o mar e as árvores, até que tenhamos marcado a fronte dos servos do nosso Deus’. Ouvi então o número dos que tinham sido marcados: cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel.” (Ap 7:1-4).
“Um dos Anciãos tomou a palavra e disse-me: ‘Estes que estão trajados com vestes brancas, quem são e de onde vieram?’. Eu lhe respondi: ‘Meu Senhor, és tu quem o sabe!’. Ele, então, me explicou: ‘Estes são os que vêm da grande tribulação: lavaram suas vestes e alvejaram-nas no sangue do Cordeiro. É por isso que estão diante do trono de Deus, servindo-o dia e noite em seu templo. Aquele que está sentado no trono estenderá sua tenda sobre eles: nunca mais terão fome, nem sede, o sol nunca mais os afligirá, nem qualquer calor ardente; pois o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará, conduzindo-os até às fontes de água da vida. E Deus enxugará toda lágrima de seus olhos’.” (Ap 7:13-17).
A Lei do Renascimento, uma das leis básicas expostas pelos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, está sob a administração de Grandes Seres chamados os Anjos Arquivistas ou Senhores do Destino ou, ainda, Anjos do Destino. Eles cuidam de que todo o indivíduo tenha a chance de obter tanto de experiência quanto ele ou ela possa resistir. Se for necessário para uma pessoa permanecer mil anos nos Mundos invisíveis entre dois nascimentos, ali permanecerá. Os que evoluíram mais depressa precisarão ficar nos planos superiores apenas umas poucas centenas de anos, como sucedeu a Max Heindel, que ficou trezentos. Os Anjos Arquivistas ou Senhores do Destino são os “quatro Anjos” mencionados por São João quando conta a visão que teve.
Os “servos de Deus”, a que São João se refere como “assinalados” em sua testa, num total de 144.000, são aqueles que viveram de acordo com as leis de Deus, de acordo com o que fizeram os “vestidos brancos”, o “Traje Dourado de Bodas” ou Corpo-Alma (composto dos dois Éteres superiores do Corpo Vital), que será essencial como condição de vida na seguinte grande Época, a Nova Galileia. Nove é o número da humanidade (a soma de 144.000 dá esse número: 1+4+4=9). Indica-se que uma porção da humanidade evolucionará através de grande tribulação – suficientemente para fazer a transição para a Sexta Época.
Na Nova Galileia a humanidade terá um corpo mais eterizado do que agora. A Terra será transparente também. Como resultado, esses corpos serão muito mais sensíveis aos impactos espirituais da intuição. Tal corpo nunca se cansará porque não haverá noite. A Nova Galileia será um lugar de paz (Jerusalém). A Fraternidade Universal unirá todos os seres da Terra através do amor. Não haverá morte porque a Árvore da Vida, a faculdade de gerar a força vital, se tornará possível por meio do órgão etérico que existirá na cabeça dos que se tiverem desenvolvido, os quais serão os pioneiros da humanidade daquela época.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – novembro/1965 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Já se escreveu e falou sobre a natureza autossacrificadora do serviço amoroso à humanidade que os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental expõem. Sacrifício de interesses, desejos, objetivos, tempo e, às vezes, até da saúde pessoal são requisitos para o desempenho de tal serviço.
Entretanto, quem de nós considerou alguma vez o sacrifício do medo a esse respeito? Na verdade, percebemos que devemos aprender a superar o medo físico — medo do fogo, das alturas, de doenças e outros desse tipo. Isso é bastante simples de se compreender e certamente necessário, se o nosso serviço a outra pessoa tiver que ser aperfeiçoado.
De fato, o medo é o maior obstáculo que o Auxiliar Invisível consciente (aquele ser humano que já possui um Corpo-Alma suficientemente desenvolvido que lhe fornece a capacidade de trabalhar, fora do seu Corpo Denso e normalmente à noite, conscientemente nos Mundos suprafísicos) deve aprender a suplantar. Antes que ele possa trabalhar e ser bem-sucedido no Mundo do Desejo, deve estar plenamente convencido de que nem o fogo, nem a água, nem quaisquer outros objetos ou entidades têm força para molestá-lo. Destarte, a vitória sobre esse tipo de medo, no plano físico, é um prelúdio importante para que consigamos nos tornar um Auxiliar Invisível consciente.
Existe outra espécie de medo, contudo, muitas vezes não reconhecido como tal. Trata-se do medo de nos projetar diante dos outros ou nos expormos às suas apreciações críticas, medo esse talvez mais conhecido como acanhamento ou timidez. Existem, certamente, graus de timidez, e a maior parte das pessoas tem momentos nos quais preferiria que ninguém se apercebesse delas ou que pudessem evitá-las, desempenhando uma tarefa que não as expusesse diante dos olhos do público.
Existem algumas pessoas, todavia — e talvez em maior número do que geralmente se crê —, as quais o exame por parte do público, seja ele em relação ao que for, tanto por parte de três pessoas sentadas em uma sala quando nela se adentra ou da parte de um auditório completamente tomado por espectadores ansiosos, consiste em uma agonia completa. Essas pessoas, muitas das quais talentosas e que poderiam trazer contribuições construtivas à melhoria do gênero humano, fogem das oportunidades de “deixar as suas luzes brilharem”, simplesmente porque são muito temerosas de se erguerem diante de outras e tornar conhecidos os seus pontos de vista ou, por seus próprios meios, tornar os seus talentos conhecidos.
A timidez nada mais é do que a falta de autoconfiança. “O que eles estão pensando a meu respeito?” ou “O que eles irão dizer?” é o tipo de pensamento que, consciente ou inconscientemente, predomina na Mente de uma pessoa tímida. Todo ato público seu é cercado por uma muralha de autodúvida, hesitação e desejo de terminar o quanto antes o serviço e desaparecer. Como resultado, muitas vezes o trabalho é mal executado e os circunstantes de fato pensam coisas negativas sobre o seu realizador. Caso ele estivesse à vontade e trabalhasse bem, aconteceria justamente o oposto. E todo o episódio consiste em uma perda de tempo e de energia e serve apenas para criar vibrações desagradáveis que perpetuarão aquilo que teria sido melhor não fazer.
Por quê? Tudo porque a essa pessoa faltou confiança em si mesma.
Como sabemos muito bem, cada um de nós tem a centelha do Divino dentro de si. Quanto mais permitirmos que essa centelha nos penetre e governe as nossas ações, tanto mais razão teremos para termos autoconfiança. De certa forma, pode-se até mesmo dizer que a timidez consiste em uma blasfêmia porque nega essa centelha Divina, a qual, se lhe fosse dada uma oportunidade, melhoraria nossas ações e nossas imagens.
Vista de outro ângulo, a timidez consiste em uma forma pervertida de autoindulgência e presunção. A maior parte de nós concordaria que os que não tenham paciência com os pontos de vista ou paixões de outras pessoas são egocêntricos. O extremo oposto, a timidez, é outra forma desse mesmo egocentrismo. Ao invés de se concentrar no que poderia fazer em proveito de outrem, de quem tanto receia, a pessoa tímida concentra-se muitas vezes no que poderia fazer para evitar a execução de algo, escapando assim de ser notada. Pensa totalmente em si própria da mesma maneira com que um presunçoso faz.
A pessoa tímida, portanto, deplora o dedicar-se ao serviço amoroso não menos do que a egocêntrica e egoísta o faz, embora possa não perceber isso e mais do que provavelmente não tencione isso. Frequentemente, uma pessoa tímida tem um desejo ardente de se mostrar prestativa, mas é muito receosa das opiniões de outras pessoas, do mesmo modo que muitas que experimentam um medo físico se ofereceriam em momentos de perigo, caso não fossem tão medrosas em relação ao próprio perigo.
Conta-se que Max Heindel estava caminhando pela área de Mount Ecclesia, a alguns passos de uma jovem que fora destacada para fazer uma apresentação em um serviço da Pro-Ecclesia. Ela se queixava a seu amigo de que não desejasse apresentar — porque se sentia tímida para isso. Max Heindel, tendo ouvido isso casualmente, disse-lhe: “Minha cara, caso você não deseje apresentar na Pro-Ecclesia, não o faça. Esse tipo de serviço você não faria bem com semelhante estado de ânimo”.
Isso ilustra o ponto verdadeiramente importante de que o “serviço” que for relutado de um modo ou outro, até mesmo em virtude de timidez, não será um serviço na acepção dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental. Seria, entretanto, um exercício fútil, em maior ou menor grau que, na melhor das hipóteses, permitiria obter uma fração do que poderia ser obtido e, no pior dos casos, criaria uma condição completamente oposta àquela visada de início.
Realmente, é muito fácil dizer que a pessoa tímida necessita unicamente esquecer o seu medo de outras, concentrar-se na centelha Divina dentro de si e usá-la da maneira melhor em aplicações de benemerência; a timidez, então, se desvaneceria na alegria do serviço “auto-esquecedor”.
É o que realmente acontece. Mas, não é coisa fácil de se realizar. Não é mais fácil conquistar a timidez do que conquistar o medo do fogo, a claustrofobia ou quaisquer medos físicos que dominam nas vidas de qualquer um de nós.
Todavia, aqueles que forem tímidos devem vencer esse temor e, do mesmo modo que muitos outros anteriormente, poderão juntar-se às fileiras dos serviçais altruístas, os trabalhadores do Reino de Cristo. A conquista da autoconfiança demanda tempo e é feita em pequenas etapas; para isso, haverá muitos momentos de “exposição pública” tão amedrontadoras à pessoa tímida como uma exposição a um perigo físico. Ela muitas vezes cometerá erros — e quem não os comete? — e poderá, sem dúvida, passar por momentos nos quais todos os seus temores de ser ridicularizada ou escarnecida serão justificados. Mas, conhecerá também momentos de extrema satisfação, quando descobrir que poderá atuar diante da apreciação do público de modo tão satisfatório quanto outra pessoa qualquer e terá tanta possibilidade de ser ouvida e respeitada quanto aqueles indivíduos salientes os quais vinha até então invejando.
Em tempo e com persistência, perceberá com alegria que superou — sacrificou — o seu medo e pode, a partir daí, utilizar inteiramente as suas capacidades de servir.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de abril/1974-Fraternidade Rosacruz-SP)