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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Imaculada Conceição

A doutrina da Imaculada Conceição ou Imaculada Concepção é um dos mais sublimes mistérios da Religião Cristã e, talvez por essa razão, tem sido mais encarada pelo lado material do que qualquer outro dos mistérios.

A ideia popular, mas errônea, é que há 2.000 anos, um indivíduo chamado Jesus Cristo nasceu sem a necessidade da cooperação de um pai terreno e que esse incidente é tido como único na história do mundo.

Na realidade, não é assim. A Imaculada Conceição já ocorreu muitas vezes na história do mundo e será universal no futuro.

O fluxo e refluxo periódico das forças materiais e espirituais que afetam a Terra são as causas invisíveis das atividades físicas, morais e mentais exercidas sobre o nosso globo. De acordo com o axioma hermético “como em cima, assim é em baixo”, uma atividade semelhante ocorre no ser humano, que é uma edição menor da Mãe Natureza.

Os animais têm vinte e oito pares de nervos espinhais e, atualmente, estão em seu estado lunar, perfeitamente sintonizados com os vinte e oito dias que a Lua demora para circundar o Zodíaco. O Espírito-Grupo regula o acasalamento dos animais em estado selvagem. Por isso, neles não existe o abuso.

O ser humano, no entanto, encontra-se em estado de transição: progrediu demasiado e por isso mesmo não obedece às vibrações lunares, porque tem trinta e um pares de nervos espinhais. Mas ainda não está sintonizado com o mês solar de trinta e um dias e se acasala em qualquer época do ano; daí o período menstrual da mulher, o qual, em condições apropriadas, é utilizado para formar parte do corpo de um filho mais perfeito que o do seu pai ou de sua mãe.

De igual modo, o fluxo periódico da humanidade se converte em espinha dorsal do adiantamento racial; o fluxo periódico das forças espirituais da Terra, que ocorre no Natal, resulta o nascimento de Salvadores que, de tempos em tempos, renovam os impulsos para o avanço espiritual da raça humana.

A Bíblia possui duas partes: o Velho e o Novo Testamento. Depois de relatar resumidamente como foi formado o mundo, o Antigo Testamento nos fala da “Queda”.

Nós entendemos que a “Queda” foi ocasionada pelo abuso ignorante da força sexual do ser humano, em ocasiões em que os raios interplanetários eram adversos à concepção dos melhores e mais puros veículos. Desse modo, o ser humano foi se aprisionando gradualmente em um Corpo Denso, cristalizado pela pecaminosa paixão e, consequentemente, dentro de um veículo imperfeito, sujeito ao sofrimento e à morte.

Então começou a peregrinação através da matéria e por milênios temos vivido neste duro e cristalizado corpo que obscurece a luz dos Céus ao Espírito interno. O Espírito é como um diamante encerrado em uma crosta grosseira e os lapidadores celestiais, os Anjos do Destino, estão continuadamente procurando remover essa crosta a fim de que o Espírito possa brilhar através do veículo que anima.

Quando o lapidário encosta o diamante na pedra polidora, ele emite um gemido, como se fosse um grito de dor, à medida que a cobertura opaca se desprende. Aos poucos, o diamante bruto que é submetido às aplicações da pedra transforma-se em gema de transcendental brilho e pureza.

Do mesmo modo, os seres celestiais que zelam pela nossa evolução nos oprimem fortemente contra a pedra polidora da experiência. Dores e sofrimentos resultam disso e despertam o Espírito que dorme dentro de nós. O ser humano que até este momento se contentou com as coisas materiais, que tem sido indulgente com os sentidos e com o sexo, sente descontentamento e isso o impele a buscar uma vida mais elevada.

No entanto, a satisfação dessa sublime aspiração é normalmente acompanhada de uma luta muito severa, por parte da natureza inferior. Foi durante essa luta, que São Paulo exclamou com toda a angústia de um coração devoto e aspirante: — “Infeliz homem que sou… Porque eu não faço o bem que quero, mas faço o mal que não quero… Porque eu me deleito na lei de Deus, segundo o homem interior, mas sinto nos meus membros outra lei que repugna à lei do meu Espírito e que me faz cativo na lei do pecado, que está nos meus membros.” (Rm 7:19-24).

Quando se espreme uma flor, liberta-se a sua essência e, assim, enche-se o ambiente com a sua grata fragrância, que deleita o olfato de todos os que tenham a sorte de estar próximos. Os golpes do destino podem envolver um homem ou uma mulher que tenha chegado ao estado de eflorescência, mas isso servirá para mostrar a doçura da natureza e exaltar a beleza da alma, até que brilhe com fulgor, marcando o seu possuidor com um halo luminoso.

Essa pessoa encontra-se no caminho da Iniciação. Ela aprende como o licencioso uso do sexo, sem ter em conta os raios astrais, fizeram-na prisioneira do corpo; como está acorrentada a ele e como, por meio do uso apropriado dessa mesma força sexual, em harmonia com os Astros, poderá gradualmente melhorá-lo e sutilizá-lo, obtendo afinal a libertação da existência concreta.

Um construtor naval não pode fazer um barco de carvalho usando madeira comum. Nem o ser humano colhe uvas de espinheiros; semelhante atrai semelhante e um Ego de natureza passional, quando se encarna, é arrastado para pais da mesma natureza; deste modo, o seu corpo será concebido em harmonia com o impulso do momento, pela satisfação dos sentidos.

A alma que provou da taça da tristeza devido ao abuso da força criadora e bebeu sua amargura, gradualmente buscará pais cada vez menos dominados pelos instintos passionais, até que por fim obterá a Iniciação.

Havendo sido instruída, no processo da Iniciação, sobre a influência dos raios astrais no parto, o próximo corpo será gerado por pais Iniciados, sem paixão e sob a constelação mais favorável para o trabalho a que o Ego se propôs.

Por isso, os Evangelhos (que são fórmulas de Iniciação) começam com o relato da Imaculada Conceição e terminam com a Crucifixão, ambos ideais maravilhosos que teremos de alcançar, porque somos Cristos em formação e alguma vez passaremos pelo nascimento místico e pela morte mística anunciados nos Evangelhos. Por meio do conhecimento poderemos apressar o dia da nossa libertação, em vez de frustramos estupidamente o nosso desenvolvimento espiritual, como agora fazemos.

Em relação à Imaculada Conceição, prevalecem incompreensões em todos os sentidos, como: a perpétua virgindade da mãe depois do parto; a baixa posição de José como suposto pai adotivo, etc. Vamos rever rapidamente esses pontos, como são revelados na Memória da Natureza.

Em algumas partes da Europa, classifica-se de “bem-nascidos” ou mesmo “altamente bem-nascidos” as pessoas de classe elevada, filhos de pais que têm lugar preponderante na sociedade. Tais pessoas, por vezes, olham com desdém os de modesta posição.

Nada temos contra a expressão “bem-nascidos” e desejaríamos mesmo que todos fossem bem-nascidos; isto é, que fossem filhos de pais de alta posição moral, sem nos importar a sua hierarquia social.

Existe uma virgindade da alma que é independente do estado do corpo, uma pureza da Mente que conduz quem a possui ao ato da geração sem a mancha da paixão e torna possível que a mãe tenha o filho em seu seio com um amor inteiramente isento do desejo sexual.

Antes de Cristo, isso teria sido impossível. Em tempos remotos, na jornada do ser humano sobre a Terra, era mais desejável a quantidade do que a qualidade e daí a ordem: “Crescei e multiplicai-vos”. Além disso, foi necessário que o ser humano esquecesse temporariamente sua natureza espiritual e concentrasse suas energias sobre as condições materiais. A indulgência em relação à paixão sexual atingiu esse objetivo e a natureza de desejos teve amplitude em suas funções. Floresceu a poligamia e quanto mais filhos tivesse um matrimônio, mais se honrava, enquanto a esterilidade era vista como a maior aflição possível.

Por outro lado, a natureza de desejos foi refreada pelas leis dadas por Deus e a obediência aos mandatos divinos foi forçada por castigos aplicados aos transgressores, tais como guerras, pestes ou fome. Recompensava-se a rigorosa observância desses mandatos e os filhos, o gado e as colheitas do ser humano “reto” eram numerosos; ele obtinha vitórias sobre os seus inimigos e a taça da felicidade transbordava para ele.

Mais tarde, quando a Terra estava suficientemente povoada, depois do dilúvio Atlante, a poligamia foi decrescendo cada vez mais, tendo como resultado a melhoria da qualidade dos corpos e, na época de Cristo, a natureza de desejos podia ser refreada, no caso dos mais avançados entre a humanidade; o ato gerador tornava-se possível sem paixão, para que os filhos fossem concebidos imaculadamente.

Assim eram os pais de Jesus. Diz-se que José era um carpinteiro; todavia ele não era um trabalhador de madeira, mas um “construtor” no mais alto sentido. Deus é o grande Arquiteto do Universo. Abaixo de Deus existem muitos construtores de diferentes graus de esplendor espiritual. Todos estão ocupados e comprometidos na construção de um templo sem ruído de martelos e José não era uma exceção.

Por vezes, perguntam-nos por que os Iniciados são sempre homens e nunca mulheres. Não é assim: nos graus inferiores existem muitas mulheres; mas quando é permitido a um Iniciado escolher o sexo, normalmente prefere um Corpo Denso que é positivo, masculino, pois a vida que o conduziu à Iniciação espiritualizou o seu Corpo Vital e o tomou positivo sob todas as condições, de modo a ter, então, um veículo da mais alta eficiência.

No entanto, há épocas em que as exigências de natureza evolutiva requerem um corpo feminino, como por exemplo para prover um corpo do mais refinado tipo, a fim de que receba um Ego de grau elevadíssimo. Então, um alto Iniciado pode tomar um corpo feminino e passar novamente pela experiência da maternidade, depois de, talvez, ter deixado de fazer por várias vidas, como foi o caso do formoso caráter que conhecemos como Maria de Belém.

Em conclusão, recordemos os pontos expostos: somos Cristos em formação; algum dia cultivaremos qualidades tão imaculadas que nos tornem dignas de habitar corpos imaculadamente concebidos.

Quanto mais depressa começarmos a purificar as nossas Mentes, tanto mais rápido alcançaremos esse objetivo. Em última análise, isso depende apenas da honestidade dos nossos propósitos e da força da nossa vontade.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de janeiro/1969)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pregar o Evangelho

Ninguém, acendendo uma candeia, coloca-a em lugar secreto, nem debaixo do alqueire; mas no castiçal, para que os que entrem vejam a luz” (Lc 11: 33).

Vós sois a luz do mundo… Assim, resplandeça vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos Céus” (Mt 5: 14:16).

Quando alguém faz o compromisso consciente de seguir a Cristo, ele se torna uma luz que brilha em um mundo de trevas. Ou seja, começa a irradiar uma luminosidade espiritual que cresce com o tempo até se tornar esplendorosa e brilhante. A afirmação de que uma candeia é colocada à vista do público se refere ao fato de que o Cristão, de posse da luz espiritual, deve deixá-la brilhar diante de todos os seres humanos, a fim de que a luz possa ser acesa neles.

Assim, vemos que o indivíduo Crístico tem a obrigação de “pregar o Evangelho”. Os Cristãos que trabalham nos moldes da Fraternidade Rosacruz têm uma obrigação particular a esse respeito, por causa do seu conhecimento intelectual sobre assuntos espirituais, o que pode aumentar muito a eficácia da sua fé e de suas boas obras.

“Divulgar os Ensinamentos”, em sentido espiritual, refere-se a uma técnica baseada no princípio envolvido no exemplo de dois diapasões do mesmo tom. Quando um é tocado próximo ao outro, esse último começa a vibrar no mesmo tom daquele. Da mesma forma, a espiritualidade em um indivíduo evoca a espiritualidade do outro. Naturalmente, o primeiro deve possuir um grau de semelhança com o Cristo em si mesmo ou seus esforços para “pregar o Evangelho” ao segundo indivíduo não provocarão uma resposta espiritual.

Torna-se claro, então, que a dimensão espiritual deve ser buscada seriamente; do contrário, não teríamos um “Evangelho” verdadeiro para pregar. Promulgar um conjunto de escritos, o estabelecimento de organizações, a distribuição de livros ou a solicitação de aumento no número dos membros pode nos fazer acreditar que estamos cumprindo nossa obrigação; no entanto, a menos que experimentemos o Cristo como uma presença viva em nossas vidas diárias, tais atividades externas servem apenas para nos desviar da verdadeira obrigação, que é acender a luz em nossos corações e compartilhá-la.

Porque Deus, que ordenou que a luz brilhasse das trevas, brilhou em nossos corações para nos dar a luz do conhecimento da Sua glória na face de Jesus Cristo.” (IICor 4:6).

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de julho-agosto/1995 e traduzido pelos irmãos e irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Originalidade do Cristianismo

Deus esteve presente entre nós na forma de um homem, através do Filho, o Cristo. Jesus era o homem e a partir do batismo no Jordão passava a atuar o Deus-Homem, Cristo Jesus. Com a crucifixão no Gólgota, Cristo libertou-se do corpo de Jesus e incorporou-se à Terra. Esse foi um fato único na história que operou uma decisiva mudança em nosso planeta. Desde então a presença de Cristo é uma constante entre nós. “O amor de Cristo envolve a todos, não importa como a nós ou a Ele O chamarmos”.

E esse Sublime Ser que mudou nossa história, deixou-nos um profundo ensinamento espiritual em que se fundamenta a originalidade do cristianismo e o diferencia de outros sistemas filosóficos e religiosos que o precederam: é através do próximo que se chega a Deus.

Enquanto, tanto no oriente como no ocidente, se busca a Deus mediante orações, meditações, mística transcendental etc., Cristo Jesus nos exortar a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Essa é a chave de ouro, é a máxima que precisamos aprender em nosso atual período evolutivo e que nos capacitará a passarmos para o próximo.

O verdadeiro Amor é dar o melhor de nós sem esperar nada em troca. Quando sentimos sinceramente que em essência somos iguais a tudo que nos cerca e que somos partes integrantes de um todo maior, é sinal de que o Amor está nos ajudando a suplantar a ilusão da separação criada pela personalidade – a famosa dicotomia que nos faz crer que estamos separados dos demais e de Deus.

A pessoa que aprende a amar desinteressadamente a seu próximo, seja ele mineral, vegetal, animal ou outra pessoa, torna-se capaz de estender esse Amor também para os outros seres, em um processo gradativo cujo ápice é a conquista do AMOR UNIVERSAL.  “Então, não mais existirá em nós o que entendíamos ser a escuridão, pois andaremos na LUZ.”

(Publicado no Ecos da Fraternidade Rosacruz de setembro-outubro de 1993)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Palavra Criadora

A) Na Bíblia, no Gênesis, Capítulo 1, Versículo 1, encontramos: “No princípio Deus criou os céus e a terra. A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Disse Deus: Faça-se a Luz e a luz foi feita”.

B) No evangelho de São João, Capítulo 1, Versículo 1, lemos: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio junto de Deus”.

No Versículo 14, complementa-se: “e o Verbo se fez carne e habitou entre nós e vimos sua glória, a glória que um Filho Único recebe do seu Pai cheio de graça e de verdade...”.

C) Ainda em São João, no Capítulo 19, Versículo 30 lemos: “Havendo Jesus tomado do vinagre disse: TUDO ESTÁ CONSUMADO! (Consumatum est). Inclinou a cabeça e rendeu o espírito”.

No “Conceito Rosacruz do Cosmo”, temos no Capítulo 16: “A Palavra Criada”.

“A Mente é o instrumento mais importante que o espírito possui, um instrumento especial na obra da criação. A laringe espiritualizada e perfeita, falará a Palavra Criadora, mas a Mente aperfeiçoada decidirá quanto à forma particular e volume de vibração. A Imaginação será a faculdade espiritualizada que dirigirá a criação.

… Atualmente só podemos formar imagens mentais que tenham relação com a forma, porque a Mente humana começou seu desenvolvimento neste Período Terrestre, e está no estado ou forma “mineral”. Por esse motivo, nossos labores estão limitados às formas minerais…

…Seguir-se-á um longo intervalo de atividade subjetiva durante o qual os Espíritos Virginais absorverão todos os frutos do período setenário de Manifestação. Passado esse intervalo, submergir-se-ão em Deus, de Quem vieram, para ao alvorecer de outro Grande Dia, reemergirem como seus Gloriosos Colaboradores. Durante a passada evolução as possibilidades latentes foram transmutadas em poderes dinâmicos. Tendo adquirido Poder de Alma e Mente Criadora, frutos de sua peregrinação através da matéria, terão avançado da impotência à onipotência, da ignorância à onisciência.”

Em “Estudos de Astrologia”, de Elman Bacher, tomo I, Capítulo VII, temos:

O Planeta Mercúrio – A faculdade do intelecto por meio da qual interpretamos, identificamos, classificamos, analisamos e avaliamos as coisas da Terra, atribui-se simbolicamente ao planeta Mercúrio. Representa, como Princípio da Identificação, o “dar nomes” (Adão dava nome à criação), a “criação de palavras”, e a objetivação dos pensamentos em palavras e escritas. É o símbolo da comunicação e da percepção conscientes.

A substância que chamamos mercúrio é pesada, entretanto é de qualidade liquescente; nossos pensamentos quando estão desorganizados ou desfocados são também liquescentes e passageiros. Indo rapidamente de uma impressão a outra, de “cima-baixo”, “sim-não”, “quente-frio”. Entretanto, quando nossos padrões de pensamento estão organizados, temos a faculdade de decidir definitivamente e incorporá-los em uma espécie de exteriorização concreta definida, em palavras isoladas ou em suas extensões em orações (frases). Essa exteriorização é o que chamamos de linguagem – a faculdade universal da incorporação do pensamento. A liquescência de Mercúrio se vê de muitas maneiras pelas quais se pode identificar uma coisa específica: sua precisão se observa na “solidez” com que é identificada uma palavra ou oração específica.

Mercúrio identifica o abstrato assim como o concreto. É por meio de Mercúrio que compreendemos o concreto, mas é por meio de outras faculdades planetárias que entendemos o abstrato. Mercúrio, entretanto, é a raiz básica do nosso desenvolvimento, de compreensão, desde o mais concreto, literalmente, até o mais intangível abstrato.

Analisemos o símbolo planetário de Mercúrio:

Uma cruz (matéria, manifestação, estrutura, concreto, encarnação) e sobre ela um círculo (perfeição, terminação) que por sua vez tem sobre si um semicírculo voltado para cima (instrumentação, receptividade de instrução ou inspiração).

Diz-se que os Senhores de Vênus e os Senhores de Mercúrio foram os mestres que instruíram a humanidade nascente, nos princípios da linguagem, artes e ofícios e as ciências, pelas quais a humanidade aprendeu a funcionar com eficácia sempre crescente no mundo material. Em resumo, Mercúrio é o elo (mensageiro) entre os deuses (princípios) e a humanidade. É por meio de Mercúrio que nós aprendemos primeiro a natureza objetiva e qualidade das coisas e logo a consciência dos princípios abre essa nossa consciência à realidade subjetiva, em ambas as oitavas estamos aprendendo. À primeira nos integramos por meio da identificação, na segunda conhecemos mediante a experiência que dá a compreensão.

São manifestações de Mercúrio: aprender a falar, ler e escrever em outros idiomas. Representa, como faculdade da razão, a raiz por meio da qual se aprende a Lei de Causa e Efeito. A Mente consciente observa o mundo material, de onde desenvolve uma consciência da exteriorização de causas internas.

Resumindo, devemos utilizar objetivamente as qualidades de Mercúrio, sem emoção e de forma concisa. Fatos, não crenças; exposições, não implicações; provas realizáveis, não simplesmente utilizá-las às cegas e credulamente aceitas pela preguiça mental.

(Publicado no Ecos da Fraternidade Rosacruz de julho-agosto de 1993)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Luz: o Presente do Espírito Santo

Que o mundo de hoje está trabalhando de maneira nova com a luz é inquestionável. Continuamos a aprender como a ciência física está tendo uma tremenda experiência com o desenvolvimento do poder da luz, inclusive para as maravilhas LASER, que, embora capaz de projetar um feixe na lua distante, também pode ser usado para realizar a cura delicada de um órgão interno do corpo como, antes, só era possível por meio de cirurgia.

No entanto, embora não possamos questionar que o mundo esteja experimentando uma vasta liberação de luz, podemos e questionamos a maneira como o ser humano responde a essa experiência, porque, ao enfrentarmos o grande poder dela, devemos também enfrentar o fato de que qualquer poder, incluindo o da luz, se canalizado incorretamente ou mal direcionado, será um desastre em potencial. Mesmo a própria luz do conhecimento muitas vezes conduz apenas ao desespero e à destrutividade, enquanto a luz do amor, por si só, frequentemente contribui apenas com a soma total da instabilidade emocional e da loucura humana. É evidente que até mesmo o poder da luz requer um agente direcionador seguro, se for para servir à intenção divina.

Essa direção segura está disponível através do Cristo que, como mediador entre a humanidade e o Mundo da Luz, libera a luz e dirige na extensão de onda do Amor-Sabedoria de tal maneira que ela pode ser verdadeiramente efetiva na vida espiritual da humanidade. Todo o Seu ensino durante Sua encarnação aponta nessa direção. Ele ensinou, sempre, que os Ritos da Páscoa, marcando a conclusão de um ciclo de objetividade no plano físico, nunca eram o fim, mas o início de uma experiência nova, especial e mais profunda, bem como de um relacionamento aprofundado com Ele, por meio de uma liberação divina conhecida em termos da Trindade como o Aspecto de Luz de Deus: Deus, o Espírito Santo.

Quando, por meio do uso correto do poderoso impulso do Amor, que é o poder transformador da vida humana, a humanidade tiver respondido a tudo que o Cristo trouxe à Terra e reconhecer esse poder como o aspecto do Amor de Deus, então será possível para o ser humano entrar no estado exaltado prometido por Cristo, a Iluminação de Fogo. Nas palavras da Bíblia, “Todos os livros do mundo não poderiam conter o que poderia ser dito…” sobre um verdadeiro contato da alma com a própria natureza de Deus como Luz. Para todos os que buscam essa iluminação divina com reverência e sinceridade, a Luz do Espírito Santo concede três grandes dons de consciência.

O primeiro desses três dons é o autoconhecimento. “Homem, conhece-te a ti mesmo” é um conselho antigo. Os Iniciados da antiguidade afirmavam que Deus, o Incognoscível, tornou-Se conhecível na medida em que o ser humano, uma criação à imagem e semelhança de Deus, tornou-se realmente conhecido por si mesmo. A Luz do Espírito Santo serve para aumentar esse conhecimento. Ela abre caminho para a Iluminação. Os estudantes da Bíblia reconhecem essa Luz como o Espírito interior da Verdade, o Santo Consolador, o paráclito predito por Cristo. Seja qual for o nome, todos podem reconhecê-lo como um aspecto do Ser interior que atua como professor e guia. Quando aquele guia interior é fervoroso e reverentemente chamado para iluminar o caminho e a resposta da “Voz do silêncio” é ouvida e amorosamente obedecida, a Luz do Espírito Santo torna-Se potentemente operativa na experiência diária do nível humano. Com a elevação da consciência acompanhando a percepção que surge desse conhecimento de primeira mão da atividade do Espírito Santo, segue-se a espiritualização progressiva, ou o Cristianismo, da mente humana, que é a meta suprema para a realização da atual humanidade.

O segundo grande dom da Luz do Espírito Santo é o entendimento. É a Luz que ilumina o caminho da experiência, revelando as leis que o governam e os propósitos por trás dele. É a Luz que nos mostra onde estamos, por que é o que devemos fazer a respeito. Esse ensino é a base da cena comovente do Novo Testamento na qual o Cristo chorou por Jerusalém. Sua tristeza não era só pela cidade que estava diante de Seus olhos físicos, mas pelo que Sua visão interior considerava o grande centro da humanidade. Foi a esse centro inclusivo, que chamamos de onda de vida humana, que Ele disse tristemente: “Não Me vereis mais até que abençoes todas as coisas que vêm em Meu nome”. Com efeito, Ele estava aqui dizendo: “A partir de agora, até que Eu volte, sua tarefa é usar a Luz para me encontrar nos fenômenos da existência do plano físico, para Me ver em cada experiência, para Me encontrar em todas essas coisas. Não posso voltar até que vocês façam isso, porque vocês não vão Me conhecer a menos que tenham aprendido a Me ver — na vida”. Sob a tutela do Espírito Santo, o ser humano aprende a abençoar todas as experiências vividas, percebendo que elas vêm em Nome do Cristo e para fins de desenvolvimento da alma. Então, ele não pede mais para ser aliviado da experiência, não importa o quanto ela seja dolorosa, mas aprende a dizer, como Jacó: “Não vou deixar você ir até que me abençoe com a sua bênção”. Então, também ele pode falar, igual a Jacó, no amanhecer do novo dia: “Eu vi Deus face a face nesta experiência e minha vida foi preservada”. Assim, poderemos falar quando da noite da alma.

O terceiro dom divino do Espírito Santo ao ser humano é o sentimento de totalidade. É a Luz que revela Deus, a Natureza e o Ser humano como o tecido perfeito da existência universal. É a Luz que abre visões para o Reino de Deus externado na Natureza e conscientemente cooperativo dentro do “Reino do Homem”. É a Luz na qual o ser humano experimenta sua divindade essencial: de fato e verdade, em Deus o ser humano “vive, move-se e tem o seu ser”.

O Espírito Santo é Deus em manifestação, é Deus em forma. A natureza constitui Seu corpo cósmico. Na temporada de verão, que representa o meio-dia da Sua atividade Criativa, a evidência da Sua obra está em toda parte. Todos os reinos da natureza estão soando Sua nota de criação e é especialmente nesse momento, quando a expansão da luz física tem sua maior potência, que, pela beleza terrena assim revelada, o ser humano também encontra dentro de si a capacidade de se expandir e entrar em uma unidade abrangente com o Cosmos.

Essas verdades foram provadas por grandes pessoas do passado. Foi assim com Moisés. Como o portador de luz para as mentes dos homens, o Espírito Santo falou a Moisés através da sarça ardente para revelar o plano de Deus à onda de vida humana e dar a lei que governaria o plano. No entanto, havia mais na revelação. As palavras “Moisés, tira os sapatos, pois o lugar em que estás é solo sagrado” foram usadas para indicar algum local sagrado; um antigo santuário, talvez. No entanto, tirar os sapatos, na linguagem dos Mistérios, significa remover as limitações do entendimento, feitas pelo ser humano, para que a Luz do Espírito revele a verdade. Aquele que experimentou a iluminação do Fogo espiritual obtém uma revelação, sobre a vivência da Terra e tudo que nela vive, que lhe permite saber que todo terreno, em todos os lugares, é o corpo de uma Entidade espiritual, sendo, portanto, sagrado, um santuário, a morada de Deus.

Foi assim com o profeta Esdras. Na época do Solstício de Junho, o profeta jazia de bruços no Campo de Ardath, um deserto rochoso “onde não cresciam flores”, e chorava por causa da esterilidade da existência terrena. Então o Arcanjo Uriel veio a ele como Mestre e Emissário do Espírito Santo, revelando a ele o propósito da vida e o significado da experiência de tal modo que o campo antes tão estéril se tornou um campo de flores. Esdras foi capaz de “comer das flores onde nenhuma flor crescia”. Ele foi capaz de colher o florescimento do espírito no terreno pedregoso da experiência. Contudo, novamente havia mais, porque Uriel ensinou a Esdras a vastidão da Sabedoria Antiga, a magnitude do plano para o ser humano e sua própria parte nele; Esdras foi transformado. Ele enxugou as lágrimas e começou a trabalhar — seu trabalho era transcrever os livros do Antigo Testamento, dando a ele, em grande parte, sua forma atual.

As verdades com as quais estamos lidando também se tornaram impulsos vivos e criativos na vida dos discípulos de Cristo. Reunidos em união com o Cristo místico e interior, Sua promessa foi cumprida. Em um batismo de fogo eles receberam do Espírito Santo. Então foram também transformados de mortais assustados em imortais que nada poderiam deter ou amedrontar. Também foram elevados acima da limitação humana para contemplar o passado, o presente e o futuro do plano. Eles viram, pela primeira vez, o propósito do Cristo e a parte que interiormente foram chamados a levar adiante.

Para alguém chegar a tal consciência, mesmo que em menor medida, é necessário olhar para a vida de maneira nova e diferente. A pessoa então fica entre todas as dualidades da experiência humana — noite e dia, dor e alegria… — mas, não escolhe qualquer uma, rejeita nenhuma, mas aprende, na Luz, a encontrar a base da realidade espiritual em ambas. E essa consciência da base espiritual da vida permite ao espírito humano colher seu próprio florescimento do seu próprio deserto rochoso de Ardath.

Em tal consciência, também, a Luz do Espírito Santo torna-Se uma luz LASER individual, cortando todas as barreiras em todos os mundos: as barreiras da ignorância, crueldade e medo, autocriadas entre os homens, grupos, nações e outros reinos do mundo de Deus. Só pode haver um resultado de tal conhecimento. Conhecer a unidade da vida só pode trazer a compreensão de que somos os “irmãos guardiões” e que não pode haver pensamento, impulso ou ação que não afete, para o bem ou para o mal, todos os seres vivos.

Viver com tal consciência é saber que, assim como o Fogo do Céu, emanando como o calor do verão, acelera o ventre da natureza e libera a vida em fruição, assim também, quando esse mesmo Fogo divino toca o coração do ser humano, ele é retirado de suas limitações anteriores para viver uma nova vida e liberdade por meio de uma compreensão mais profunda da beleza essencial da existência humana, em uma reverência mais profunda pela vida e um parentesco alegre com cada criatura viva. É então que sente, como o poeta que “a Terra está abarrotada de Céu e cada feixe de luz está em chamas junto a Deus”.

(Publicado na Revista New Age Interpreter – do segundo trimestre de 1964)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Os Doze Poderes de uma Pessoa Crística

O Cristo planetário, em sua função de Redentor mundial, atraiu para Si doze poderes do Espírito através dos quais Se manifestou na Terra de maneira a suscitar toda a experiência necessária à evolução.

Os doze aspectos da energia divina através dos quais o Cristo Se manifesta na Terra são conhecidos, pelo ser humano, como os Signos do Zodíaco. Cada Signo zodiacal carrega a impregnação de uma qualidade especializada do Princípio de Cristo. Cada um é uma influência à qual todas as formas de vida respondem. Esses Signos ou esses atributos são, literalmente, o corpo de Cristo partido nos céus para nossa necessidade.

Cristo, o macrocosmo, é o padrão para o ser humano, o microcosmo. Assim como o Cristo Se apropriou de fluxos de energia divina que eram necessários ao Seu propósito, o ser humano, que é um Cristo em formação, durante um ciclo de vida na Terra, apropria-se, em medidas e sequências prescritas, desses mesmos atributos. Essas qualidades, latentes nele, são sua “esperança de glória” e garantia do cumprimento final do seu destino na forma. Eis o tema esotérico da Bíblia Cristã, de Gênesis a Apocalipse.

À medida que o ser humano reage ao impacto das influências espirituais que são liberadas pelo Cristo planetário, essas mesmas forças, em seu ser interior, são estimuladas, ativadas e trazidas à fruição pelo poder. Sob o “fogo cruzado” de experiências conflitantes que são trazidas à cena pela influência zodiacal, o ser humano aprende suas lições designadas de autoconhecimento e autodomínio. À medida que cada lição é concluída, alguma qualidade da alma nasce. Quando essas qualidades são, por sua vez, aplicadas à vida em forma de amor e dedicação à vontade Divina, são gerados os poderes da alma, os poderes de um ser humano que está em Cristo. Esse é o caminho, a verdade e o padrão de vida ensinado por Cristo-Jesus. Não há outros.

No Antigo Testamento, o personagem de Jacó representa o Cristo planetário, o poder do Sol espiritual, que envia doze “filhos”, os Signos do Zodíaco, ao mundo para realizar uma tarefa evolucionária. Cada palavra de admoestação e profecia dada por Jacó descreve o caminho do progresso para toda a onda de vida humana. Suas palavras são, assim, tão aplicáveis hoje como quando foram ditas pela primeira vez. Nelas estão definidas as qualidades das energias zodiacais, seu propósito e seus potenciais, bem como os problemas, os pontos fortes e as fraquezas produzidos na humanidade, em resposta a elas.

A primeira evidência na Bíblia sobre uma cooperação real com o propósito do Cristo planetário é encontrada na história da chamada dos doze por Moisés, o princípio da Mente, para que eles possam ativar a consciência da humanidade em níveis mentais. No estágio de desenvolvimento assim representado, a resposta da humanidade ao estímulo espiritual não era de alta qualidade. Exprimia-se frequentemente como a ganância, avareza e separatividade usuais da Mente inferior. No entanto, à medida que essas energias atuavam no despertar da Mente do ser humano, elas desenvolveram, da mesma forma que hoje, em uma curva mais elevada da espiral os rudimentos da lei ética e moral. A humanidade foi disciplinada por tudo o que é retratado nos esforços para ganhar e manter um lugar na Terra Prometida, até que aprendeu a reagir ao impulso espiritual de maneira mais elevada.

Em um ciclo posterior, representantes humanos dos doze poderes apareceram novamente no cenário bíblico. Até o exoterismo classifica os profetas de Israel em grupos de doze. Esotericamente, sabemos que cada um dos doze profetas maiores e menores estava preocupado em ativar as qualidades da alma capazes de responder ao impulso de Cristo em um nível superior. Nas Escolas de Mistérios durante essa Era, os representantes proféticos do Cristo trabalharam para trazer à objetividade os aspectos da consciência humana que prepararam a humanidade para receber o Divino em forma humana.

Quando a humanidade foi preparada, o Cristo encarnou na pessoa de Jesus de Nazaré e, de acordo com o modelo cósmico, atraiu para Si indivíduos nos quais as qualidades de sua natureza estavam suficientemente desenvolvidas para funcionar no nível do discipulado ativo. Mais uma vez, ele enviou os Doze, dessa vez como personalidades humanas, ao mundo para liderar a humanidade nas etapas finais, em direção ao seu objetivo.

Jacó abençoou os Doze e enviou para se expressar em um ciclo de geração em que o espírito interior seria absorvido, pela ação e reação dos níveis externos, até que um despertar para a meta tornasse possível o contato com o ensino de Cristo. No estágio de discipulado ativo, sob a tutela de Cristo, os desejos humanos que motivam os “filhos de Jacó” a embarcarem no caminho da geração tornam-se os poderes da regeneração, por meio do amor e Serviço. Nos Discípulos de Cristo, o egoísmo que impele à experiência humana tornou-se uma aspiração altruísta de servir como instrumento para o Seu propósito.

Na longa peregrinação de Jacó a Cristo, Gad, o filho de Jacó que representa Áries, personificação do princípio da vontade, torna-se Tiago, irmão de João. A vontade humana, com o problema do uso correto, soprada como palha pelos ventos da experiência que não é direcionada, torna-se, por meio do sacrifício, o poder da vontade divina funcionando no esforço dirigido da personalidade que promove o plano de Deus.

O taurino Issacar, vinculado à materialidade pelo desejo de saber e ter, aprende a pagar suas dívidas cármicas com amor e paciência. Então revive como André, aquele que, motivado totalmente por amor, ganha o poder de se libertar da forma ao encontrar a Vida Única dentro de todas as formas

Os irmãos gêmeos, que representam o Signo de mesmo nome, Simeão e Levi, mutáveis e instáveis, divididos entre a interação dos opostos polares, cujo problema é a enorme lacuna entre as atrações da personalidade e as da alma, têm a missão de encontrar a unidade e alcançar a meta em Tomé. Nele, o padrão de dualidade muda da preocupação com o superficial para se tornar o intérprete e avaliador do bem e do mal. Tal pessoa, como a vida das ondas da personalidade antes do sol nascente do ser espiritual, vive no poder da unidade intuitiva com sua fonte.

A Benjamin, o filho canceriano, é atribuído o uso correto da imagem formadora do poder da Mente para construir o corpo da alma. Seu problema é transmutar o medo e a autopiedade em consciência solidária das necessidades dos outros. Com as lições aprendidas, ele se torna Natanael, em quem não há medo, porque aprendeu o poder da pureza interior para vencer o morador das trevas.

O leonino Judá, animado na longa jornada por uma intensa autoconsciência e vontade de dominar, torna-se, por meio da renúncia e do domínio de si, a força do Amor Crístico. “Aquele que perde sua vida por minha causa certamente a encontrará” é o jeito de Leão. O exemplo supremo do fracasso do ser humano em cumprir a tarefa de Leão é encontrado em Judas Iscariotes. O ser humano egocêntrico, cego pela ambição pessoal e material, torna-se o poder da autodestruição. Seu lugar é assumido, no padrão dos doze, por Matias, o “totalmente dedicado”.

Sob o impulso de Virgem, o eu, que é Diná, desenvolve o poder forte da percepção espiritual para se tornar Tiago, o Menor, a personificação de uma consciência na qual o útero da forma não é violado, mas, em vez disso, nutre e protege a semente do Princípio de Cristo.

O libriano Asher, confrontado com o problema da escolha certa entre os valores materiais, desenvolve a discriminação espiritual que permite à alma pender para o lado das verdades eternas e, assim, traz os fatores da vida de maneira ordenada, bela, harmoniosa e pacífica para se tornar Judas Tadeu.

Dan, sob a influência de Escorpião, no campo de batalha do fogo e da água, encontra as provas nas quais o desejo da natureza é libertado da escravidão da vida dos sentidos para se tornar João Evangelista, o poder de regeneração e o amado de Cristo. Sob a bênção de Escorpião, o aguilhão da morte é transmutado no poder do desejo purificado de elevar o ser humano carnal às alturas da imortalidade.

A José é dada a tarefa sagitariana de trazer a aspiração pessoal para o domínio da alma, no nível do poder superior da Mente Criativa. Em Filipe, o Discípulo, esse poder é desenvolvido e usado na resposta unidirecionada à orientação espiritual de alguém em quem a flecha da Mente é apontada infalivelmente para o objetivo do Mestre a quem ele serve.

O capricorniano Naftali, o Primeiro Adão, terreno e materialista, sabiamente usa as lições da existência humana para atingir, como Simão, o Último Adão, os poderes de uma Mente enraizada no cosmos para transcender os limites do entendimento normal.

Ruben, sob o impacto de Aquário, recebe a tarefa de transmutar a preocupação pessoal e o autosserviço em consciência de grupo e humanitarismo sensível. Em Mateus, o Publicano, o longo esforço é consumado. Seu Evangelho, com a marca da consciência social e da responsabilidade de grupo, é o guia para todos os Aspirantes à vida superior, em todos os lugares, que buscam se libertar das limitações de uma vida dedicada à personalidade para seguir e servir a Cristo.

Sob o influxo da energia espiritual de Peixes, Zebulom desenvolve a consciência de Pedro. A experiência consumada, avaliada, assimilada e liberada torna-se o poder da sabedoria de alma que percebe o divino em toda experiência. Por meio da transmutação da personalidade, a alma é liberada para novos ciclos de aventura divina.

Hoje, o ser humano trabalha com os rudimentos das qualidades de alma que devem funcionar como poderes espirituais em seu futuro veículo de expressão; porém, na maior parte do tempo, o trabalho prossegue abaixo do nível da Mente consciente. Poucos, mesmo entre os Aspirantes, sabem o que está realmente acontecendo dentro deles, mas gradualmente, à medida que a própria vida ganha consciência da existência da alma e do plano evolutivo, o ser humano reconhece sua oportunidade de trabalhar voluntariamente com a Hierarquia planetária.

Quando qualquer um dos doze poderes de Cristo são ativados por meio do reconhecimento consciente do trabalho a ser feito e de um esforço voluntário da vontade de cooperar com ele de forma semelhante a Cristo, a espiritualização de todo o veículo assume uma tremenda aceleração e o Discípulo se encontra na última volta de sua jornada evolutiva. Então, o holofote da Mente, tornando-se rapidamente iluminado espiritualmente, é capaz de penetrar aspectos do plano até então não reconhecidos, enquanto as qualidades magnéticas do coração receptivo são correspondentemente sintonizadas com a necessidade, em níveis superiores e humanos. Com a Mente e o Coração assim integrados, o indivíduo torna-se ciente das áreas da existência divina e dos estados de consciência que, embora eternamente presentes, ele foi incapaz de perceber ou contatar. Então, sob a orientação de instrutores a quem ele serviu, a sua personalidade torna-se totalmente um instrumento de Serviço, funcionando no nível da alma em novos, e nunca sonhados, reinos de Luz, Amor e Serviço.

E o que dizer do objetivo final? A resposta está nos capítulos finais do Livro do Apocalipse. Aqui é descrito o Templo da alma, perfeito em todas as suas medidas. Quando o Templo de Deus — ou seja, o ser humano — é medido e considerado perfeito, assim como o Pai Celestial é perfeito, o ser humano saberá que sua designação foi cumprida. Doze portas para o renascimento forneceram os campos necessários para o progresso da alma em evolução. A essência crística desse esforço agora se tornou o corpo de luz e joias dos iluminados espiritualmente. Esse corpo não projeta sombra. Não há qualquer substância escura dentro dele. A glória do Deus interior é a sua luz e o seu poder.

(Publicado na Revista New Age Interpreter – Corinne Heline do 1º trimestre de 1963 e traduzido pelos irmãos e irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Cada um tem a sua Besta

Começaremos lendo um trecho do Apocalipse, o Livro das Revelações, escrito pelo Apóstolo São João, capítulo 13, 1-10: “Vi, então, subir do mar uma besta com dez chifres e sete cabeças. Sobre seus chifres, dez diademas e sobre as cabeças nomes blasfematórios. A besta, que vi, era como uma pantera, os pés eram como pés de urso e a boca como a boca de leão. O dragão lhe deu poder e trono e uma grande autoridade. Vi a primeira cabeça ferida de morte, mas a chaga mortal foi curada. E toda a Terra, maravilhada, seguia a besta e adorava o dragão que tinha dado poder à besta, e adorava a besta dizendo: ‘Quem é como a besta e quem poderia lutar com ela?’ Foi lhe dada também uma boca para proferir palavras cheias de arrogância e blasfêmia e lhe foi concedido poder de agir durante quarenta e dois meses. E ela abriu a boca em blasfêmias contra Deus, para insultar o seu nome e a sua tenda e os que moram no céu. Foi-lhe dado fazer guerra aos santos e vencê-los. Recebeu poder sobre toda tribo, povo, língua e nação. E a adoraram todos os habitantes da terra cujo nome não está escrito, desde o princípio do mundo, no livro da vida do Cordeiro imolado. Se alguém tem ouvidos que ouça: Se alguém está destinado ao cativeiro, irá para o cativeiro. Se alguém mata pela espada, pela espada morrerá. Nisso se baseia a perseverança e a fé dos santos“.

Simbolicamente falando, a água significa as emoções e o mar é, normalmente, usado para indicar o Mundo do Desejo. Esse Mundo é que contém material para construção do nosso Corpo de Desejos, bem como para o Corpo de Desejos do animal. É também o Mundo que fornece material para termos nossas emoções, aspirações, nossos desejos e sentimentos.

Desde a última parte da Época Lemúrica, para alguns, e início da Época Atlante para todos, os Espíritos Lucíferos começaram a chamar a nossa atenção para a existência do Mundo Físico, ajudando-nos a perceber a forma exterior do nosso Corpo Denso. E, também, começaram a nos instigar a usar a nossa Mente para distinguir as formas externas, dar-lhe nomes, dominá-las e colocá-las ao nosso dispor. A partir desses dois movimentos temos gerados muitos desejos inferiores, muita paixão, muita ambição, muito egoísmo, muito mal, sendo o mal uma ação contrária as Leis de Deus. Inicialmente o fizemos por inocência, depois o fazemos por ignorância.

A todo esse conjunto de desejos inferiores somado aos pensamentos inferiores que resultam em todo o mal que já cometemos em todas as nossas vidas passadas constitui a “besta que saiu do mar”, ou como é conhecido na ciência oculta: o Guardião do Umbral.

Esse ser é, portanto, a encarnação de todo o nosso mal gerado em vidas passadas, mal esse ainda não expiado e que espera a expiação em vidas futuras, até completarmos toda a roda de nascimentos e mortes necessários para tal.

E o Guardião do Umbral, a Besta, está muito ligado ao dragão, ao diabo, também conhecido como a Serpente ou os Espíritos Lucíferos, que nos incita ao egoísmo, a gratificação dos prazeres e a maldade, pois como lemos nesse trecho do Apocalipse: “O dragão lhe deu poder e trono e uma grande autoridade“.

Essa entidade monstruosa se encontra nas Regiões Inferiores do Mundo do Desejo. Entretanto nos é invisível entre a morte e um novo Nascimento, se bem que está ali presente. Ela só se torna visível quando nós, como Aspirantes à vida superior, entramos conscientemente no Mundo do Desejo, deixando o nosso Corpo Denso dormindo no leito. Portanto, esse é o momento que nós temos que passar por essa entidade criada por nós mesmos. Devemos reconhecer e admitir essa entidade como parte de nós, prometendo liquidar todas as dívidas, todo o mal, representado por essa forma, o mais cedo possível.

Reparem que nesse momento de reconhecimento, o Aspirante não deve ter medo de tal entidade, mas utilizá-la como reforço para nossa coragem e determinação: “Nisso se baseia a perseverança e a fé dos santos“, como acabamos de ler no trecho do Apocalipse.

Afinal, deixou de ser oculto o motivo pelo qual há muito destino maduro para cumprirmos. Deixou de ser oculto o porquê sofremos tanto com penas, dores e restrições. Ao contrário, a partir daí nós temos plena e consciente condição de trabalhar para eliminar todos os débitos contraídos e sentirmos a eliminação deles todas as vezes que encararmos tal entidade.

Está aqui um dos motivos para que a nossa preparação, como Aspirante, é uma tarefa essencial, bem feita e indispensável para nos tornarmos um Auxiliar Invisível Consciente.

Perceba que quanto mais o mal fizermos, quanto mais desejos inferiores criarmos, mais alimento estaremos dando ao nosso particular Guardião do Umbral e mais ele crescerá.

Por outro lado, quanto mais nos esforçarmos para reparar o mal cometido, arrependendo-nos de dentro do nosso íntimo e procurando, de uma forma ou de outra, compensar esse mal com o bem, servindo altruisticamente, menos alimento estaremos dando ao nosso particular Guardião do Umbral e menos ele crescerá.

Se, ainda com isso, considerarmos o pagamento de nossas dívidas do destino contraídas nas vidas anteriores, o nosso particular Guardião do Umbral diminuirá de tamanho.

Outro alimento importante para o crescimento do nosso Guardião do Umbral é o temor, o medo. O medo não conduz a nada de bom, e representa a nossa falta de confiança em Deus e a falta de consciência de que “em Deus vivemos, nos movemos e temos o nosso ser” (At 17, 28). Ao ter medo, esquecemos que nada pode existir fora de Deus e, que, portanto, Ele está onde estivermos. E que tudo trabalha para o bem final, pois: “Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar; até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá” (Sl 139,7).

Mas há mais alimentos que fazem o nosso Guardião do Umbral crescer: são as nossas dúvidas, nossas maldades, nosso egoísmo, nossa ignorância. Enquanto insistirmos em permanecer na condição irresponsável de: “não quero nem saber… o importante é gozar a vida… não quero nem pensar no depois… ou, o que é pior: só quero pensar se puder tirar algum proveito próprio” então, estaremos fornecendo alimento para o nosso Guardião do Umbral. No entanto, mesmo que permanecendo nessa condição, uma coisa ocorrerá com toda a certeza desse mundo: um dia enfrentaremos sozinhos nosso Guardião do Umbral, somente ele e cada um de nós.

Agora, se tomarmos a consciência de que o Guardião do Umbral é um elemental criado por nós mesmos e que o alimentamos com as nossas más ações, maus desejos e maus pensamentos, poderemos começar a trabalho de diminuir esse crescimento.

E mais, usando o nosso domínio próprio e muita força de vontade, poderemos eliminá-lo por completo, matando-o por inanição, por não mais alimentá-lo.

Mas esse trabalho exige persistência, persistência e persistência, senão: “Vi a primeira cabeça ferida de morte, mas a chaga mortal foi curada“, como lemos nesse trecho do Apocalipse, ou seja: se, uma vez começado, abandonarmos o trabalho de aniquilar o nosso Guardião do Umbral, ele voltará a crescer.

E todo esse trabalho começa aqui, durante a nossa vida no Mundo Físico. Mas como? Dedicando-nos a parte espiritual da nossa vida: sendo Cristão de fato, tendo fé, buscando o equilíbrio, mantendo uma atitude mental sempre positiva, sempre otimista, afirmando como o Salmista, quando for assaltado por pensamentos de medo, de dúvida ou por situações onde predominem tais sentimentos: “O Senhor é meu Pastor, não me faltará“; “Nada temerei, pois Deus está comigo” (Sl 22).

O cultivo desse equilíbrio implica no cuidado com o nosso Corpo de Desejos, com o controle das nossas emoções, nossos desejos e sentimentos e isso é uma tarefa muito difícil. Uma das maiores dificuldades nesse cultivo do equilíbrio está no que se refere ao egoísmo.

Muitos acham que não são egoístas. Pois bem, aqui está o primeiro passo: reconhecer o nosso egoísmo. Uma auto-análise nos mostrará onde estamos colocados. E não há auto-análise mais completa do que o Exercício de Retrospecção. Contrapondo-se com o nosso particular Guardião do Umbral está o resultado de todo o bem que temos feito em nossas existências passadas, inclusive nessa. Todo esse belo conjunto se chama “Anjo da Guarda”: essa personificação do bem em nossas obras, ainda que invisível, está sempre conosco nos impulsionando a trabalhar retamente, a sempre caminhar fazendo o bem. É um poderoso aliado a nossa luta de aniquilação do nosso Guardião do Umbral.

É importante sabermos que a condição de não assumirmos a responsabilidade de não mais alimentarmos nosso Guardião do Umbral, favorece fortemente o mal coletivo de toda a humanidade e que incita a qualquer um, principalmente os que possuem debilidades metais e fraqueza de caráter, a mais facilmente fazerem o mal que o bem. Afinal: “E toda a Terra, maravilhada, seguia a besta e adorava o dragão que tinha dado poder à besta, e adorava a besta dizendo: ‘Quem é como a besta e quem poderia lutar com ela?”‘.

(…) Foi-lhe dado fazer guerra aos santos e vencê-los. Recebeu poder sobre toda tribo, povo, língua e nação. E a adoraram todos os habitantes da terra“, como lemos nesse trecho do Apocalipse. Pois é um fato que todo o mal coletivo incorporado em todas as pessoas é uma força potente no mundo. É muito mais fácil deixar-nos levar pelas emoções e circunstâncias do que controlá-las e colocá-las sob o jugo da nossa vontade. É muito mais fácil deixar os pensamentos fluir do que criá-los e concentrá-los sob o poder da vontade. É muito mais fácil não fazer nada do que fazer o bem.

É muito mais fácil se conformar do que arregaçar as mangas e partir para a luta, afinal: ‘Quem é como a besta e quem poderia lutar com ela?’. Não é mesmo?.

Mas, as pessoas que se esforçam para reparar o mal feito no passado, para se armar para não cometer mais o mal, buscando viver uma vida pura e dedicada ao serviço amoroso e desinteressado são as que têm os seus nomes “escritos no livro da vida do Cordeiro imolado“, como dito nesse trecho do Apocalipse, ou seja: estão em acordo com os ensinamentos do Cristo, o Cordeiro.

Agora, aqueles que continuam a praticar o mal, que usam de sua posição para tirar proveito do próximo, que vivem como se essa fosse a única e verdadeira vida (mesmo depois de ter a oportunidade de saber que não é), esse: “irá para o cativeiro“, pois, pela Lei de Consequênciaestá destinado ao cativeiro“, ou esse: “pela espada morrerá“, pois “mata pela espada“, como também lemos nesse trecho do Apocalipse.

A esperança de que todos conseguiremos enfrentar e aniquilar, cada um o seu Guardião no Umbral, é dada quando se diz: “Foi lhe dada também uma boca para proferir palavras cheias de arrogância e blasfêmia e lhe foi concedido poder de agir durante quarenta e dois meses“. Ou seja: 3 anos e meio, metade de sete anos, tempo perfeito. Então, não será para sempre. Durará até que uma quantidade suficiente de Espíritos Virginais da onda de vida humana que evoluem aqui na Terra seja capaz de mante-la, tomando a rédea da nossa evolução e que, assim, todos os outros sigam esses Espíritos Virginais para o caminho para cima e para a frente no nosso esquema de evolução.

Nessa certeza da possibilidade de aniquilar, cada um, por meio de um trabalho sério, corajoso, determinado e aplicado, o seu Guardião do Umbral e assim, tornar um Auxiliar Invisível Consciente é que se “baseia a perseverança e a fé dos santos“.

Ou seja: de todos aqueles que compreenderam e assimilaram, e, portanto, vivenciam o ensinamento do Cristo que: “a messe é grande, mas os operários são poucos“.

Que as Rosas Floresçam em Vossa Cruz

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Grande Mistério do Gólgota

Mais de 2000 anos já se passaram desde o Grande Mistério do Gólgota e, ainda hoje, quantas pessoas tem consciência desse Grande Drama Cósmico, representado ao nosso redor, dia após dia, ano após ano? Quantos são os que conhecem o profundo significado dos Equinócios de Março e de Setembro e dos Solstícios de Junho e de Dezembro? Mesmo entre nós, Estudante Rosacruzes, quantos são verdadeiramente conscientes da grande importância desses ciclos anuais?

Para a maioria das pessoas, o Natal é simplesmente o tempo de receber e dar presentes e de comer bastante. Ou será que esse Santo Dia encerra um significado espiritual mais profundo?

As pessoas se preocuparam em saber quem são ou por que estão aqui? Costumam pensar seriamente nesses e noutros mistérios que diariamente confrontam, ou chegam à conclusão de que, por serem eles muito profundos, estão além da sua compreensão?

O Aspirante à vida superior não comemora a Páscoa só como um fato histórico que ocorreu no Gólgota.

Durante todo um ano, não há nenhum tempo mais propício para começar a pensar e resolver os mistérios da vida do que agora, tempo em que o clímax da atividade espiritual do ano é atingido.

As respostas para todas as perguntas estão escritas nos céus e podem ser lidas por qualquer um que tenha olhos para ver, olhos iluminados com a luz do espírito.

Nosso universo solar é o corpo do Deus do nosso Sistema Solar e cada pedacinho desse universo está impregnado com sua Inteligência e Vida. Ele é o criador de tudo que existe, desde a onda de vida que se expressa como minerais até as mais sublimes Inteligências do Seu universo.

Houve um tempo em que nós, a onda de vida humana, estávamos no globo que agora é o Sol, juntamente com os habitantes dos outros Planetas do nosso Sistema Solar. Depois, no decorrer da nossa evolução, cristalizamo-nos de tal modo que não conseguíamos mais responder às altas vibrações que lá havia. O mesmo ocorre com outros grupos de seres, ainda que de modo um tanto diferente. Com isso, a fim de que pudéssemos continuar evoluindo, assim como os demais seres, foi necessária a expulsão de partes do Sol, de tempos em tempos, à distância própria pera evolução de cada grupo de seres. Foi assim que vieram à existência os diferentes Planetas, incluindo a Terra.

Uma parte importante de nosso trabalho no globo terrestre foi a construção do cérebro. Para isso fomos ajudados e dirigidos pelos Anjos. Quando terminou a construção dele, os Senhores de Mercúrio, nossos irmãos do Planeta Mercúrio que são bem mais avançados espiritualmente que nós, foram enviadas para cá, para nos ensinar como usar a Mente e torná-la verdadeiramente criadora.

Em resumo, a tarefa dessas duas Hierarquias, Anjos e Senhores de Mercúrio, foi a de nos elevar do estado de inconsciência ao primeiro grau de inteligência criadora.

Mas esse plano foi frustrado pelos Espíritos de Lúcifer, os atrasados da onda de vida dos Anjos, oriundos do Planeta Marte. Eles precisavam de um campo físico de ação para prosseguir em sua evolução e, como não podiam criar esse campo com seus próprios meios, vieram a nos ensinar como podíamos conhecer o bem e o mal, despertando, na natureza humana, a apaixonada e animalizada natureza de desejos que agora possuímos. Ensinaram que possuíamos em nós a capacidade de formar novos corpos, sem a necessidade da ajuda dos Anjos. Erramos em abusar da sagrada força sexual criadora utilizada para tal.

Assim, nos desviamos do caminho do desenvolvimento evolutivo planejado pelas Hierarquias Criadoras, e nos afundamos nos abismos da materialidade e, com ela, no egoísmo, egocentrismo, na astúcia e na ilusão do poder material.

Chegamos a tal ponto que a maioria perdeu a visão de sua origem espiritual. Atingimos uma condição tão restritiva e cristalizadora que, se não fosse uma rápida e poderosa ajuda, teríamos perdido a oportunidade de continuar evoluindo nesse esquema evolutivo. Ainda mais, com o advento das Religiões de Raça, em que imperava a Lei e o temor, acumulamos dívidas imensas sob a Lei de Causa e Efeito. Não sabíamos como substituir o ódio pelo amor. Nossa Terra estava cristalizando rapidamente.

Foi quando Cristo, em Quem havia florescido o princípio Amor-Sabedoria de Deus, se ofereceu como sacrifício vivo a fim de redimir o povo decaído. O espiritualmente iluminado Jesus, que pertence a nossa onda de vida, cedeu seus Corpos Denso e Vital a este Grande Espírito, Cristo, que pertence à onda de vida dos Arcanjos. Desse modo, Cristo, através desses veículos se manifestou funcionando, vivendo e movendo-se entre a humanidade, demonstrando objetivamente o princípio do amor de Deus, ajudando-nos a compreender que amar a seu irmão o ajudar a evoluir, a se libertar da Lei que imperava.

Mas, a missão do Cristo Cósmico mal havia começado. O Cristo Cósmico é uma Entidade sublime, tão complexa, grande e com tanto poder, que a completa compreensão de Sua Natureza é impossível para nós, no nosso atual estado de desenvolvimento. Sabemos, entretanto, que um Raio do Cristo Cósmico incorporou fisicamente para promover a nova Religião do amor, a Religião do Filho que está destinada a se converter na Religião unificante da onda de vida humana.

Na crucificação, por meio do sangue que fluiu dos ferimentos do corpo de Jesus, Cristo penetrou na Terra e, mediante suas próprias sublimes vibrações, tornou acessível a Iniciação a todo aquele que de coração quiser.

Assim, do centro da Terra, convertendo-se no seu Espírito Planetário, impregnou e rodeou o Planeta com seu Corpo de Desejos, purificando o Mundo do Desejo. Com isso temos a matéria mais limpa e pura de desejos para construir nossos veículos individuais e com os quais podemos criar emoções e desejos mais elevados.

Mais ainda, cada ano Ele volta e repete o processo de purificação mencionado e, por esses repetidos impactos, nossos corpos estão se tornando mais sutis e dóceis. É esse poder, dado anualmente, que vitaliza toda a criação vivente separada.

Foi através dessa intervenção do Cristo que os que ficaram para trás na onda de vida humana tiveram outra oportunidade e aqueles que estavam em perigo de ficar para trás podem, agora, aperfeiçoar os seus veículos, juntando-se aos que lutam por um avanço espiritual.

Todos os anos, em torno de 20 de agosto, quando o Sol transita de Leão para Virgem, o Cristo abandona seu Lar Celestial, que é o Mundo do Espírito de Vida e inicia sua jornada em direção à Terra. Em 21 de setembro, no Equinócio de Setembro, quando o Sol passa de Virgem para Libra, Ele toca a superfície da nossa Terra. Gradualmente penetra em nosso globo e em torno de 21 de dezembro, na entrada do Solstício de Dezembro, chega ao centro da Terra. Ali permanece por quatro dias e meio, irradiando Sua força vital em todas as direções, para a periferia do globo terrestre, a fim de que, não somente a Terra, senão toda a vida em conexão com ela possa continuar existindo e evoluindo.

Depois de dar Sua vida e Seu amor até não poder mais, Ele começa a sair lentamente. A saída completa se dá no Equinócio de Março – em torno de 21 de março. De 21 de março até 21 de junho, data do Solstício de Junho, Ele passa através das regiões superiores e alcança o Mundo do Espírito Divino, o Trono do Pai.

Durante julho, enquanto o Sol permanece no Signo de Câncer e, durante agosto, enquanto transita por Leão, ele está reconstruindo e restaurando seu Espírito de Vida como preparação à nova descida à Terra para lançar novo impulso de luz e de vida espirituais.

Podemos concluir, então, que os Equinócios marcam o tempo em que o Espírito do Sol, Cristo, vem para a Terra e dela se retira, anualmente. Os Solstícios indicam o tempo em que Cristo está ou na Casa Celeste do Pai ou no seu amoroso ato de autossacrifício, quando derrama sobre a Terra e seus habitantes Sua própria vida e amor universal.

Percebam que no Solstício de Dezembro o Cristo nasce na Terra, morre para os céus. Como nós, que quando nascemos aqui, morremos para o mundo espiritual; e quando morremos aqui, nascemos no mundo espiritual.

E, assim como o espírito, quando nasce, vê-se incrustado neste véu carnal, o Espírito de Cristo, encontra-se aprisionado cada vez que nasce na Terra, pois se veste com esse pesado manto físico por nós cristalizado.

Com o nascimento do Cristo na Terra, o espírito de “paz na Terra e boa-vontade entre os homens” prevalece.

Sabendo, agora, o grande sacrifício feito por Cristo anualmente, qual deve ser a nossa aspiração nesta época do ano? Qual senão a de imitar a maravilhosa obra de Deus?

O Aspirante à vida espiritual deve desejar, mais do que nunca, tornar-se um servidor amoroso e desinteressado, um colaborador assíduo do Plano de Cristo. Para conceber essa aspiração, procuremos, durante o ano vindouro, seguir Seus ensinamentos com uma fé e confiança mais complexa.

Que as rosas floresçam em vossa cruz

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Significado da Sentença “Eu não vim trazer a Paz, mas uma Espada” proferida por Cristo

Pode ser difícil para nós nos reconciliarmos com estas palavras: “Eu não vim trazer a Paz, mas uma Espada”. Elas foram ditas por nosso bendito Salvador, Cristo-Jesus. No entanto, há uma explicação para a Sua declaração que nos permite saber o verdadeiro significado. Somente quando entendemos o que significa essa declaração, a paz pode reinar em nossa Terra. No Evangelho Segundo São João, 10:16, é dito: “Tenho outras ovelhas que não são deste rebanho: também as trago e elas ouvirão a minha voz; e haverá um só rebanho e um só pastor”. Não há dúvida quanto ao significado: que todos os povos devem, por fim, entrar em um estado de unidade sob Seu governo.

Voltando aos nossos registros históricos vemos que houve conflito, ódio, contenda e, como resultado, sofrimento e guerra por causa das diferenças de ideais dos diferentes povos, religiões, culturas, governos, línguas e até mesmo características físicas. Essas diferenças levaram a um sentimento de separação entre os povos que, por causa do egoísmo do ser humano imperfeito, resultou em competição e turbulência contínuas, inclusive nos tempos atuais. Qual é a solução para o problema de estabelecer condições pacíficas em todo o mundo?

A solução é viver de acordo com as Leis imutáveis de Causa e Efeito e Renascimento, que trazem a cada pessoa exatamente o que ela mereceu. Os Anjos do Destino não cometem erros — precisamos colher o que plantamos. Só então poderá haver paz no mundo. Cada indivíduo criou aquilo que veio a ele e apenas ele mesmo pode mudar sua vida ou resgatar suas dívidas. Isso também se aplica às nações. A menos que enfrentemos a vida com pleno conhecimento desses fatos, não poderemos trazer paz ao nosso mundo.

Sempre conosco estão as Forças da Luz e do Amor. “Todo aquele que quiser” pode abrir seu coração ao influxo divino e enviá-lo novamente à humanidade. O sábio olhará para a vida de Cristo-Jesus e terá coragem. Uma vida perfeitamente positiva. Ele viveu de forma construtiva. Ele amou. Ele curou. Ele ensinou. Ele forneceu o poder e apontou o caminho para a unificação de todos os seres humanos em paz e amor. Seu caminho é o único caminho para a paz permanente.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de jul-ago/1995 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Chamados a serem Santos

Chamados a serem Santos

No início, o Cristianismo se espalhou como fogo. Mesmo assim, não se esperaria que tantos santos Cristãos aparecessem assim como apareceram, pelo menos de acordo com o apóstolo São Paulo.

Você acha que os únicos santos são os santos que estão mortos? São Paulo estava interessado nos santos vivos. Alguns exemplos: “todos os santos que estão na Acaia”, aos quais dirigiu sua 2ª Epístola de São Paulo aos Coríntios; “Os santos que estão em Éfeso” (Ef 1:1); “Todos os santos em Cristo-Jesus que estão em Filipos” (Fp 1:1); “Os santos e irmãos fiéis em Cristo que estão em Colossos” (Col 1:2); “A todos os que estão em Roma, amados de Deus, chamados a serem santos” (Rm 1:7); “Para os que são santificados em Cristo Jesus, chamados para serem santos” (1Cor 1:2). Claramente, os santos abundavam nos dias de São Paulo.

O termo parece virtualmente sinônimo de “Cristão praticante”, denotando toda a união Cristã daqueles que acreditavam que o recém-ressuscitado Cristo-Jesus é o Filho de Deus. São Paulo frequentemente solicitava doações para os “santos pobres” em Jerusalém. Quem foram os doadores? Santos menos pobres na área do norte e leste do Mediterrâneo. Ele encarregou os romanos de receber Febe, a diaconisa, “para que a recebais no Senhor de modo digno, como convém a santos“.

Então, naturalmente, perguntamos: para onde foram todos os santos? Talvez eles ainda estejam conosco, e em números comparativamente grandes. Talvez seja a própria palavra que se tornou rara, muito exclusiva, muito seletiva.

Angelus Silesius é claro neste ponto: “Um santo você não será e ainda deseja que o céu ganhar! / Ó tolo, apenas os santos devem entrar pelos portões do céu“. Santo primeiro, depois o céu.

E se todos devem ser salvos, quem não é chamado a ser santo? Se alguém é santo, os doze Discípulos de Cristo certamente se qualificam. Contudo, todos eles O abandonaram e fugiram do Jardim do Getsemani quando os bandidos de Caifás prenderam o Senhor. São Pedro, o Discípulo que disse do Messias “Eu não o conheço”, foi anteriormente repreendido com as palavras “tu és uma ofensa para mim, porque tu não sabes o que é de Deus”. Fato claro em nossa revisão do estereótipo dos santos: os santos erram, os santos negam Aquele que os santificou, os santos duvidam.

A porta da santidade agora se abre mais? O termo se tornou mais amigável? A imagem popular de um santo é a de alguém que quase desapareceu da existência, que normalmente é velho, reverendo, talvez translúcido, exalando um aroma de santidade. Sendo assim, como é que tal visão alinha-se com nossa imagem de São Paulo, que como Saulo “destruiu a Igreja” (At 8:3)? “Muitos dos santos foram encerrados na prisão” (At 26:10).

Cristo-Jesus rejeita essa mesma ilusão santa ao falar de São João Batista: “O que fostes ver no deserto? Uma cana agitada pelo vento? “. São João Batista açoitou seus ouvintes com palavras. Ele foi veemente e intransigente. O mundo secular não está em posição de julgar quem é santo.

Etimologicamente, um santo é uma pessoa santa (latim, sanctus), alguém que é santificado pela fé em Cristo (At 26:18). Os Cristãos são inspirados a serem santos por meio do Espírito Santo, que primeiro foi dado pelo Cristo Ressuscitado quando soprou sobre Seus Discípulos e disse: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20:22).

A esquiva usada pelos mornos e tímidos é que a santidade está reservada aos espíritos miticamente heroicos, os titãs morais. Contudo, São Paulo nos lembra que “Como está escrito, não há justo, não, nenhum … Pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3:10-23). Há muitos santos porque é Cristo quem santifica e santifica todo aquele que nele crê. Além disso, “se as primícias (Cristo) são sagradas, a massa (o Cristão praticante) é sagrada; e se a raiz é sagrada, também o são os ramos” (Rm 11:16).

Podemos dizer que santo é aquele que exagera o que o mundo negligencia. Deus pode ser exagerado? Aos olhos do mundo, sim. Então, novamente, o que é Deus aqui senão virtudes Cristãs encarnadas como ações vivas – misericórdia, ajuda espontânea não solicitada, compreensão transparente, serenidade poderosa, silêncio eloquente, obediência sem exceção, simplicidade libertadora, discrição silenciosa, humildade imperceptível. A simplicidade santa se baseia na obstinação.

Embora possamos estar fazendo muitas tarefas, abaixo da atividade há uma quietude, um espaço sagrado onde a oração segue, onde a chama da devoção arde continuamente, onde a vigília constante é mantida. Aqui está a pureza de coração porque a multiplicidade externa é subsumida pelo recolhimento interior, o repouso interno da alma santificada não é distraído por qualquer agitação passageira. Para conhecer a simplicidade, devemos saber como nos livrar das coisas e das relações. A espada de Cristo corta tudo o que nos conforma com o mundo ou com os bens menores, para que possamos escolher o que é necessário.

Afinal, onde acaba o apego às coisas, aí começa Deus. O que está diante do meu olho interno? A que minha Mente faz reverência – coisas criaturas ou o Criador? Onde está meu coração, aí também está meu tesouro. É um tesouro terreno, corruptível? A pobreza espiritual está relacionada à piedade. A purificação ou esvaziamento próprio precede a entrada do Santo Convidado.

Max Heindel deixa claro que o Estudante sério dos Ensinamentos Rosacruzes está embarcado no caminho da santidade, onde, “no início, há muitas coisas que podemos nos permitir. Mas, à medida que avançamos, essas digressões devem ser eliminadas uma após a outra e devemos nos dedicar cada vez mais exclusivamente ao serviço da santidade. Por fim, chega um ponto em que esse caminho é tão afiado quanto o fio de uma navalha, e então podemos apenas agarrar a cruz.” (do Livro “Iniciação Antiga e Moderna” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz).

A verdadeira santidade não se baseia no medo de querer evitar o inferno ou na ambição de entrar no céu, mas no desejo estrito de amar a Deus e fazer a Sua vontade. A história é contada sobre um homem caminhando por uma estrada que encontra um Anjo que carrega um balde de água em uma das mãos e uma tocha na outra. Questionado sobre o que ele está interessado, o Anjo responde: “Eu vou apagar o fogo do inferno e queimar as mansões do céu. Então, vamos descobrir quem realmente ama a Deus”. Santidade é uma colaboração entre Deus e Seus filhos e filhas pródigos, cuja essência divina, tendo sido coberta (ocultada) por túnicas de pele durante a involução, experimentam uma crise de compreensão que os reorienta e os impele a retornar ao Pai Celestial em autoconsciência santificada.

Embora a santidade não tenha alcançado seu objetivo, ela jura permanecer fixa no alvo. Nem parou de lutar. Em vez disso, é alguém despertado e casado com a santidade pelas dificuldades. É parteira de dúvidas e tentações. Portanto, lutamos contra o medo, a solidão e o orgulho e nos esforçamos para perceber que todas as batalhas externas são distrações e máscaras da única batalha real – aquela contra nossa própria natureza egoísta.

Santidade designa uma medida de luz interior formada em alguém, cuja alma se prepara para receber o Cristo. Para atingir esse estado e promovê-lo o eu pessoal será posto na prisão, será zombado e perseguido, perderá tudo, será abandonado, morrerá e se entregará de bom grado Àquele cujo ferrolho não é digno de soltar. E essa perda de tudo leva a ganhar tudo, a Cristo. Ela despertou poderes e virtudes que eram apenas vagas latências. Santidade é um assunto secreto entre Deus e o “eu interior”. Não é uma demonstração perante o mundo.

Nossas vidas estão “escondidas com Cristo em Deus” (Cl 3:3). Por tudo o que a santidade nos chama a fazer, não podemos nos tornar santos – somos feitos santos. Não decidimos ser santos, somos chamados a ser santos. Cristo diz: “Não me escolhestes, mas Eu te escolhi” (Jo 15:16). “Pois esta é a vontade de Deus, sim, a sua santificação.” Ele “nos chamou … para a santidade” (ITs 4:3-7). Deusnos chamou com uma santa vocação, não segundo as nossas obras, mas segundo o seu propósito e graça.” (IITim 1:9).

O chamado à santidade é o chamado para ser perfeito: “Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.” (Mt 5:48). Mas não sabemos o que é isso e, se julgarmos nosso comportamento de uma posição que não podemos ocupar, somos vítimas de um perfeccionismo irritável, que é cheio de personalidade. Visto que Deus enriquece os pobres de espírito, que conhecem sua pequenez como criatura, melhor progresso é feito por aqueles que permitem que sua vida espiritual seja formada por seus deveres e pelas ações que são exigidas pelas circunstâncias diárias.

Pode-se dizer que a perfeição consiste em suportar a pobreza, a miséria, os desprezos, a adversidade e todas as adversidades que se abaterem, de boa vontade, com alegria, livremente, avidamente, calmo e impassível e persistindo até a morte sem um porquê. Essa descrição, talvez, expresse mais de perto nossa ideia de um santo. E ao viver dessa maneira completamente tolerante as respostas a todos aqueles porquês não perguntados aparecem como maná no coração. A santidade obtém sabedoria não porque a busca diretamente, mas porque vivendo em obediência, amor e humildade, ela a assume.

O mundo material precisa encapsular a santidade, precisa ser capaz de apontá-la, visto que o mundo está lá fora. Os escribas e fariseus aparentavam serem justos e literalmente desgastaram a santidade deles (e toda a sua intelectualidade) usando-a como talismã. Mas sua recompensa veio do mundo, que eles deveriam impressionar, visto que eram homens “santos profissionais”, contratados e pagos para serem santos. No entanto, a entrada no Reino dos Céus é mais exigente, mais cara. Fazer não é suficiente. Deve-se ser santo – e se alguém aceitar e se revestir de Cristo, será batizado n’Ele.

Boas ações costumam ser o efeito de ser bom, mas não sua prova, visto que fazer, como efeito, pode ser simulado.

Perto do final do Período Terrestre, nossas almas serão “conhecidas, como nós também conheceremos”, “veremos face a face”. A dissimulação será impossível. Então, ao pensarmos em nossos corações, seremos vistos.

Embora sejamos chamados para ser santos, somos livres para aceitar ou recusar o chamado. O Apóstolo São Pedro nos lembra: “Assim como aquele que vos chamou é santo, sede vós também santos.” (IPe 1:15). Assim vivemos nossa santificação.

Santificação é o processo contínuo de nossa vida de forma consciente e combinada, momento a momento, no amor e poder transformador de Cristo. Santificação não é minha ideia do que eu quero que Deus faça por mim. É a ideia de Deus do que Ele quer fazer comigo e por mim. Portanto, ele me castiga. Não nos ofendamos quando nós, como São Pedro, somos “repreendidos por ele” (Hb 12: 5). Pois assim somos separados do pecado e tornados santos. A contenção é uma bênção. Portanto, nos é ordenado: “Não extingais o espírito.” (1Tes 5:19). Os Discípulos, chamados para serem santos, são disciplinados.

A mais importante entre as virtudes da santificação é a obediência. Obediência a quê? À vontade do Pai.

O que nós fazemos? Ele diz: “Fiqueis quietos e sabeis que Eu Sou Deus.”. Levamos “todo pensamento cativo à obediência de Cristo.” (IICor 10:5), até que Deus seja tudo em todos. Obediência é fazer todas as coisas como ao Senhor. Ele nos permite lançar “argumentos e todas as pretensões que se erguem contra o conhecimento de Deus”. A espinha dorsal da obediência é santa vontade. Portanto, é dito que aquele que é “lento para se irar é melhor do que o mais poderoso; e aquele que governa seu espírito, do que aquele que toma uma cidade”.

A santificação conclui nossa luta contra o mal, a falsidade, a tentação? Em vez disso, nossa luta é intensificada. A vida de Jesus foi sagrada desde o nascimento, mas ele conheceu os testes e o conflito desde o início.

Ainda mais depois de receber o Cristo. É a Sua santidade supercarregada que atrai o tentador a ele.

Sem Cristo, a santidade seria uma raridade. Seu sacrifício planetário torna possível uma vida mais espiritual, mais moral, mais vital, mais sã fisicamente, quer a pessoa conheça ou não a de Cristo, seja um humanista secular, um praticante aderente ao islamismo sufista ou teosofista.

A santificação envolve tanto uma retirada (saída) quanto uma colocação (entrada), um esvaziamento e, também, um enchimento. A santa investidura é precedida e simultânea a uma alienação mundana. Na santidade vivida, cada um se torna eucaristia, torna-se pão partido e vinho derramado onde e para quem o Espírito Santo designar. Pois, como diz São Paulo, “é o mesmo espírito de Deus que nos santifica.” (ICor 6:11).

O chamado para a santidade envolve um despojamento para a condição zero, para o lugar da morte. Envolve a eliminação de pretensões, afiliações, julgamentos, expectativas. Somos de Cristo e não de nós mesmos. Deus nos deu a Ele (Jo 17: 6). Declaramos falência mundana. Tornamo-nos pobres para Deus. Nós sabemos que um homem não pode receber nada exceto que seja dado a ele do céu. Se Cristo disser “Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma.” (Jo 5:30), o que um santo pode fazer? Nada. E ele sabe disso. Aqui está a honestidade, humildade e obediência que atendem à vontade daquele por quem tudo é possível. É esse vazio que o torna poderoso em santidade e pessoa – mas é a pessoa de Cristo nele, vencida por uma batalha campal.

O santo, como aquele que é chamado para ser santo, talvez seja mais completamente caracterizado pela obediência. O santo Cristão é “obediente até a morte.” (Fp 2: 8).

A obediência floresce no amor. O que a princípio pode ser uma conformidade grosseira às leis impostas externamente torna-se a ação alegre impelida pelo consentimento interior. Da mesma forma, o amor cumpre a lei e o santificado retribui a todo o seu valor (Rm 13: 7) e, por causa de sua benevolência graciosa, alcança uma espécie de anonimato, desviando a atenção de sua pessoa, seguindo as coisas que fazem para a paz.

Não se busca diretamente a santidade; em vez disso, a pessoa emula a Cristo em todas as coisas, contribuindo assim para a santidade. Santidade é um subproduto. A vida sagrada envolve sacrifício. Sacrifício é o que fazemos para conformar nossas vidas ao nosso chamado Cristão. Santificação é o que Deus faz por nós. Quando estamos prontos para segui-Lo daquela mesa festiva onde Ele era o honrado entre os amigos, para o Jardim de Getsemani onde ele estava sozinho e lutou com o grande problema diante Dele enquanto Seus amigos dormiam, então estamos fazendo um sacrifício vivo. O Cristão é chamado a apresentar seu corpo como “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”, que é seu “serviço razoável.” (Rm 12:1).

A verdadeira substância da santidade, vista por clarividentes e seres superiores, é o que Max Heindel chama de “a vestimenta luminosa da chama“, o Corpo-Alma. Aumenta-se a luminosidade dessa vestimenta etérica por meio de um rigoroso e cotidiano exercício esotérico de Retrospecção noturna, entre cujos frutos está uma purificação da natureza do desejo.

Sem a vida pura”, escreve Max Heindel no livro “Ensinamentos de um Iniciado”, “não pode haver avanço espiritual”.

O desafio, a proibição da santidade, está no compromisso implícito. Pareceria uma aventura de tudo ou nada. Mas quando é a Cristo a quem buscamos como nossas identidades individuais seria contrário, ao nosso objetivo declarado, renegar a santidade, que é a demonstração incessante de nossa santificação.

O caminho de Cristo é o caminho da imersão no comum. A espiritualidade baseada no renascimento permeia a matéria com vontade espiritual, com pensamento amoroso. A Divindade desce às profundezas da finitude corporificada e suporta toda a sua fixidez maçante.

Somente fazendo isso, indo ao limite, bebendo o cálice da mortalidade de sua última gota, a paz final, a liberdade perfeita e a transcendência permanente podem ser conquistadas.

Por causa do Renascimento, o mais baixo é atingido por completo com o mais alto. Agora a santidade de Cristo flutua na Terra. Com o tempo, será nossa santidade. A luz e o amor do santo ajudam a fazer da Terra uma estrela. Longe? Possivelmente. Mas, como santos, somos visionários. Trazemos o distante para o presente. Nós o alimentamos, tornamo-nos amigos e íntimos dele. Abrimos espaço para a graça e continuamos com a base do amanhã plantando boas ações no solo de hoje.

Se o resplandecente Soberano do Sol, o Cristo, pode caminhar entre mortais, incompreendidos, duvidosos e humilhados, nossa experiência semelhante deve ser considerada uma bênção e honra, não uma ocasião para amargura e desespero.

O Renascimento deu um valor incomensurável ao estar diário no Corpo Denso, ela mesma se tornou redentora, potencialmente transformadora de todas as nossas pequenezas e superficialidades – se dedicarmos nossas atividades e engajarmos nossas Mentes em Seu serviço.

Tudo o que chega até nós, neste contexto, tem um efeito santificador. Como Cristo fez, nós também devemos fazer. Ele não foi salvo da adversidade. Ele foi entregue n’Ele e por meio d’Ele. Um santo pode “ter bom ânimo“, mesmo quando aparentemente derrotado pelas adversidades, porque a vitória é impossível para qualquer um, exceto para Deus. Graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo.

Nós somos os guardiões da chama. Está santificado em nossas almas. A centelha da divindade acende o holocausto sagrado da oferta pelo pecado. Meu Deus é um fogo consumidor. Consumindo o quê? Tudo desprezível. No fogo do remorso aceso pelo espírito são incinerados todas as nossas mesquinharias, nossa vaidade, nossas tendências egoístas. A pira do sofrimento terreno separa a escória da mera preocupação mundana do ouro da doação e da ação de graças.

A energia que mais promove a integridade é o elogio. Nosso chamado mais nobre é adorar a Deus, pois isso alinha cada átomo nosso com a harmonia da Mente perfeita de Deus e Sua criação desejada.

Em conclusão, fomos santificados por Deus por meio do sangue de Jesus Cristo. Somos feitos santos pela contínua ministração do Espírito Santo e por nossa fé no amor de Cristo, conforme demonstrado em nossa pessoa e em nossos atos. Podemos, compreensivelmente, recusar o uso das palavras santo e divino, mas não que seja por falta de esforço para ser e fazer tudo o que essas palavras implicam. Pois agora somos filhos e filhas de Deus e, embora ainda não pareça o que seremos, sabemos que nosso bendito chamado e destino é ser como Ele (IJo 3:2), porque somos moldados à Sua semelhança e carregará como nosso próprio Seu Filho Cristo. Portanto, saibamos que o nosso chamado é para cuidar do fazer e do ser.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de maio-junho/1997 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

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