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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Carta de Max Heindel: Onde devemos procurar a verdade e como devemos reconhecê-la

Fevereiro de 1914

No final da lição do mês passado vimos que Siegfried, o que procura a verdade, chegou ao fim de sua busca. Ele tinha achado a verdade. Meditando sob o assunto me ocorreu que seria conveniente me servir dessa carta para uma franca e direta resposta sobre a questão: “Onde devemos procurar a verdade e como a reconhecermos, quando a encontrarmos?”

É de vital importância estarmos absolutamente seguros dessa questão. Muitos que, acidentalmente, encontram o caminho do Mundo do Desejo, como os médiuns, por exemplo, estão emaranhados na ilusão e na alucinação, devido à incapacidade deles de reconhecer a verdade. Além disso, os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz fornecem aos Probacionistas um ensinamento científico definitivo sobre esse ponto e, com o objetivo de preservá-los do perigo acima mencionado, preparam uma prova real antes de admiti-los ao Discipulado. Todos devem alcançar um certo padrão nesse assunto. Logicamente, pode surpreender você o fato de não reservarmos essa discussão só para os Probacionistas ou Discípulos, mas a Fraternidade Rosacruz não acredita em segredos ou mistérios. Todo aquele que quiser pode se qualificar para qualquer grau, e essa qualificação não é uma questão de forma, mas de viver a vida.

A respeito da primeira parte da pergunta “Onde devemos procurar a verdade?”, há somente uma resposta: dentro de nós mesmos. Isso se refere absolutamente ao desenvolvimento moral, e a promessa de Cristo de que se vivermos a vida, nós saberemos que a doutrina é verdadeira no sentido mais literal. Você nunca encontrará a verdade estudando seja os livros de minha autoria ou de qualquer outro. Enquanto você correr atrás de mestres externos – eu próprio ou qualquer outro – estará simplesmente desperdiçando energia. Os livros e os mestres podem despertar o seu interesse e impeli-lo a viver a vida, mas somente na medida em que você fizer de seus preceitos uma parte do seu “eu interior”, você realmente buscará na direção certa. O Irmão Maior – a quem eu, talvez equivocadamente, chamo de Mestre – nunca me ensinou diretamente, desde o curto período em que me foi transmitido o que está contido no livro “Conceito Rosacruz do Cosmos”. E no ano passado eu aprendi a não fazer perguntas, pois percebi que sempre que eu as fazia, ele simplesmente me sugeria de como eu mesmo poderia obter as informações desejadas. Agora, em vez de fazer perguntas, peço a orientação sobre como solucionar o problema. Assim, você vê que é pelo uso de nossas próprias faculdades, que podem ser comparadas aos talentos mencionados por Cristo, que alcançaremos as informações que tenham maior valor para nós mesmos.

A segunda parte da pergunta: “Como podemos reconhecer a verdade?” é melhor respondida se referindo ao Exercício noturno Esotérico recomendado na Conferência nº 11, “A Visão e a Percepção Espirituais[1]. Esse exercício pode ser realizado por qualquer pessoa, independentemente de ser ou não Probacionista da Fraternidade Rosacruz. O Mestre disse, no momento de dá-lo, que se fosse possível conseguir que a pessoa mais depravada do mundo realizasse esse Exercício Esotérico fielmente durante seis meses, ela se reformaria para sempre, e aqueles o que fiéis em fazer tal Exercício Esotérico descobriram que ele aguça todas as faculdades mentais, particularmente a memória. Além disso, por meio desse julgamento imparcial de si mesmo, noite após noite, se aprende a discernir a verdade do erro em um grau que não pode ser alcançado de nenhuma outra maneira. Nem todos os nossos Estudantes Rosacruzes estão inclinados a assumir o Probacionismo, e nunca apressamos ninguém a fazer, seja o que for, na Escola da Sabedoria Ocidental. Mas, se você realmente quer conhecer a verdade, eu posso, honestamente, recomendar este método. Esse Exercício Esotérico desenvolve uma faculdade interior e não importa qual afirmação seja feita a você, uma vez que você a tenha desenvolvida, você saberá imediatamente se soa verdadeiro ou não.

(Carta nº 39 do Livro Cartas aos Estudantes – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)


[1] N.T.: CONFERÊNCIA Nº 11 – VISÃO E PERCEPÇÃO ESPIRITUAL

Quando nós falamos de visão espiritual, não estamos falando simbolicamente, ou de uma maneira vaga, como um sentimento de êxtase ou algo semelhante, mas de uma faculdade definida tão real como a visão física, e tão necessária à percepção dos mundos espirituais e à verdadeira habilidade para compreender as qualidades internas das condições suprafísicas, como a visão física é indispensável para uma ampla cobertura de todos os pontos importantes das coisas materiais.

A visão espiritual de que falamos não é para ser confundida com a Clarividência desenvolvida em alguns nos meios espiritualistas. Essa última depende de um estado negativo da Mente onde os Mundos internos são refletidos na consciência do receptor, da mesma forma que uma paisagem é refletida em um espelho. Tal método produz uma visão, mas não há a ampla cobertura indispensável e necessária de todos os pontos importantes do que está sendo visto no Clarividente involuntário, do mesmo modo que não há no espelho. Ele está em uma posição similar àquela de um homem preso a um cavalo sem rédeas nem freios, podendo assim ser levado de um lado para outro, dependendo da vontade do cavalo. Tal faculdade é uma maldição. O clarividente devidamente desenvolvido não está preso: pode ver ou deixar de ver à vontade; maneja as rédeas do seu cavalo; é dono de sua faculdade, enquanto o outro é tão somente escravo dela.

Certas fases negativas de Clarividência são também desenvolvidas através de drogas, bola de cristal, etc. Em todos esses casos, a faculdade torna-se perigosa e prejudicial, uma vez que não se acha sob o controle do espírito. As drogas têm efeito terrivelmente destruidor sobre os diferentes veículos do ser humano. Porém, o mais perigoso de todos os métodos de desenvolvimento é a prática de exercícios respiratórios aplicada de modo indiscriminado. Muitos indivíduos acham-se hoje em manicômios ou até morreram tuberculosos por haverem praticado tais exercícios em aulas de desenvolvimento dirigidas por pessoas tão ignorantes quanto eles mesmos. Exercícios respiratórios, quando necessários, jamais devem ser feitos em conjunto, uma vez que cada discípulo tem constituição diferente dos demais. Assim, cada um requer exercícios individuais, particulares, bem como diferentes exercícios mentais para acompanhar aqueles.

Somente através de instruções individuais dadas por um instrutor competente, pode-se desenvolver com segurança a visão e a compreensão espirituais. Estas advertências referem-se exclusivamente aos exercícios respiratórios como método de desenvolvimento oculto, e nunca aos exercícios físicos que são excelentes quando praticados com moderação.

Surge daí a pergunta: Como achar um instrutor autêntico e como distingui-lo de um impostor? É uma pergunta muito importante, porque quando o aspirante encontra tal mestre, pode considerar-se em perfeita segurança e protegido contra a grande maioria dos perigos que cercam aqueles que, por ignorância ou egoísmo, traçam seus próprios rumos e buscam poderes espirituais, mas sem qualquer esforço para desenvolver fibra moral.

É uma verdade axiomática que os seres humanos são conhecidos “por seus frutos” e, como o mestre esotérico exige de seu pupilo desinteresse nas motivações, infere-se justamente que o instrutor deve possuir esse atributo em grau ainda maior. Portanto, se alguém se arvora em ser instrutor e oferece seus conhecimentos em troca de dinheiro, a tanto por aula, mostra assim que está abaixo do padrão que exige de seus discípulos. Alegar que precisa de dinheiro para viver, ou apresentar outros motivos semelhantes para cobrar pelo ensino, tudo não passa de sofismas. As leis cósmicas cuidam de todo aquele que trabalha com elas. Qualquer ensino oferecido em bases comerciais não é ensino superior, porque este jamais é vendido ou envolve considerações materiais, pois, em todos os casos, chega ao recebedor como um direito em função do mérito. Assim, mesmo que o verdadeiro instrutor tentasse negar o ensino a determinada pessoa que o merecesse, pela Lei de Consequência, seria um dia compelido a ministrar-lhe o mesmo.

No entanto, tal atitude seria inconcebível porque os Irmãos Maiores sentem uma grande e indizível alegria toda vez que alguém começa a palmilhar a senda da vida eterna. Por outro lado, embora ansiosos por tal, eles a ninguém podem revelar seus segredos antes que cada um tenha dado provas de sua constância e altruísmo, pois só assim poderá alguém ser um firme guardião dos imensos poderes resultantes, que tanto podem servir ao bem como podem ser usados para o mal. Se permitimos que nossas paixões se imponham descontroladamente, e se a avareza ou a vaidade são as molas de nossas ações, apenas sustamos o progresso de nosso semelhante ao invés de ajudá-lo. E, até que aprendamos a usar apropriadamente os poderes que possuímos, não estaremos em condições de realizar o trabalho ainda maior exigido daqueles que têm sido ajudados pelos Irmãos Maiores a desenvolverem sua visão espiritual latente, e a conseguirem compreensão espiritual, que é o que torna valiosa aquela faculdade como fator de evolução.

Portanto, a “Senda da Preparação” antecede o “Caminho da Iniciação”. A perseverança, a devoção, a observação e o discernimento são os meios de alcançá-lo, porque tais qualidades sensibilizam o Corpo Vital. Através da perseverança e da devoção, os Éteres Químico e de Vida capacitam-se a cuidar das funções vitais do Corpo Denso durante o sono. E uma separação entre estes dois Éteres e os dois superiores – Éter de luz e Éter refletor – acontece. Quando os dois últimos se espiritualizam suficientemente mediante a observação e o discernimento, uma simples fórmula dada pelo Irmão Maior capacita o Discípulo a separá-los e a levá-los consigo, à vontade, juntamente com seus veículos superiores. Deste modo, ele fica equipado com um veículo de percepção sensorial e memória. Qualquer conhecimento que possua no mundo material pode, então, ser utilizado nos Reinos espirituais, como também pode trazer ao cérebro físico recordações das experiências por que passou enquanto esteve fora de seu Corpo Denso. Isto nos é necessário para funcionarmos separados do Corpo Denso, plenamente conscientes tanto do Mundo Físico quanto do Mundo do Desejo, pois o Corpo de Desejos ainda não está organizado e, se o Corpo Vital não transferisse suas impressões no momento da morte, não poderíamos ter consciência no Mundo do Desejo durante a existência post-mortem.

Os exercícios respiratórios indiscriminados não produzem a divisão acima descrita, mas apenas tendem a separar o Corpo Vital do Corpo Denso. Por isso, as ligações entre os centros etéricos dos sentidos e as células cerebrais rompem-se ou deformam-se em certos casos, resultando ao final em vários tipos de insanidade mental, como a loucura. Em outros casos, o rompimento ocorre entre o Éter de Vida e o Éter Químico e, como o primeiro responde pela assimilação orgânica dos alimentos e é a avenida particular para a especialização da energia solar, essa ruptura resulta em tuberculose. Somente através de exercícios apropriados pode-se efetuar a separação correta. Quando a pureza de vida permite que a força sexual, que é criadora, gerada no Éter de Vida eleve-se até o coração, essa força encarrega-se de manter a quantidade de circulação necessária ao estado de sono. Deste modo, as funções físicas e o desenvolvimento espiritual correm paralelamente ao longo de linhas harmoniosas.

Temos, pois, aí a razão para o voto de celibato feito por aqueles que se dedicam inteiramente à vida superior. Não é necessário que o principiante se torne um asceta. A castidade absoluta por enquanto é só para poucos, especificamente, para aqueles que já alcançaram as Iniciações Maiores. Atualmente, o ato sexual é o método normal de procriação. Não existe outro meio de prover-se Corpos Denso aos Egos que precisam renascer – pois a fila é enorme! –, e é dever de todo aquele que é mental, moral e fisicamente sadio proporcionar veículo e ambiente apropriado a Espíritos, irmãos e irmãs, que desejam e precisam renascer aqui, isto de acordo com seus meios e oportunidades. Deveríamos encarar o ato da procriação como um Sacramento, não um ato para simples gratificação dos sentidos, mas para ser realizado com espírito de oração. A força sexual é exigida para geração apenas umas poucas vezes na vida de qualquer pessoa, de modo que o excedente pode ser legitimamente aproveitável ao autodesenvolvimento, já que ela é criadora.

Discernimento é a faculdade – e um importante Exercício Esotérico, como nos ensinado no livro Conceito Rosacruz do Cosmos – que nos permite distinguir aquilo que é essencial daquilo que não tem importância, separando a realidade da ilusão, e o que é duradouro daquilo que é efêmero. Na vida comum, acostumamo-nos a pensar que somos só corpo. O discernimento ensina-nos que somos Espíritos e que nossos corpos e veículos nada mais são que moradas provisórias, instrumentos para nosso uso. O carpinteiro usa martelo e serra que são importantes instrumentos. Contudo, nunca lhe ocorre que ele próprio seja essas ferramentas. Jamais devemos identificar-nos com o nosso Corpo Denso ou Corpo Vital ou ainda Corpo de Desejos, mas sim aprender, pelo discernimento, a considerá-lo um servidor, valioso tão somente enquanto obedeça a nossas ordens. Quando o considerarmos assim, descobriremos que somos capazes de fazer com facilidade muitas coisas que até então julgávamos impossível realizar. O discernimento gera a Alma Intelectual e imprime em nós o primeiro impulso em direção à vida superior.

A observação – além de ser mais um importante Exercício Esotérico, como nos ensinado no livro Conceito Rosacruz do Cosmos – é o uso dos sentidos como meio de obter-se informações a respeito dos fenômenos que ocorrem ao nosso redor. A observação e a ação geram a Alma Consciente. É de máxima importância para o nosso desenvolvimento que observemos minuciosamente tudo o que se passa em torno de nós; caso contrário, as imagens da nossa Memória Consciente deixam de coincidir com aquelas de nossa Memória Subconsciente ou automática. O ritmo e a harmonia do Corpo Denso são perturbados em proporção à superficialidade de nossa observação durante o dia. Nossas atividades durante o sono restauram parcialmente a harmonia, mas o entrechoque de vibrações dia após dia e ano após ano é uma das causas que, gradualmente, endurecem e destroem nosso organismo até torná-lo impróprio para o uso do Espírito que, então, precisa abandoná-lo e buscar nova oportunidade de desenvolvimento em um corpo novo e melhor. Na mesma proporção em que aprendemos a observar atentamente, ganharemos em saúde e longevidade e precisaremos de menos repouso e sono. Este último é um ponto muito importante, como veremos.

Devoção – além de ser mais um importante Exercício Esotérico, como nos ensinado no livro Conceito Rosacruz do Cosmos – aos elevados ideais restringe os instintos animais, gera e desenvolve a Alma Emocional. O cultivo, pois, dessa faculdade é essencial. Para algumas pessoas, essa é a linha de menor resistência; eis porque são aptos a se converterem em místicos sonhadores. As energias do Corpo de Desejos expressam-se então na forma de entusiasmo e êxtase religioso. Outros há que desenvolvem anormalmente a faculdade de discernimento que os leva ao longo das frias linhas intelectuais da especulação metafísica. Em ambos os casos há desequilíbrio e existe perigo. O sonhador místico pode tornar-se joguete de toda sorte de ilusões por estar dominado pela emoção. Ao intelectual ocultista isso nunca pode acontecer, mas pode terminar na magia negra se perseguir a senda do conhecimento só por desejo de conhecimento e não para poder servir. O único meio seguro é desenvolver simultaneamente a “Cabeça e o Coração”.

O Ocultista desenvolve-se ao longo de linhas intelectuais; procura a verdade pela observação e pelo discernimento, observa e raciocina sobre tudo o que vê. Assim, ele alcança o conhecimento, mas, como diz o apóstolo São Paulo: “O conhecimento ensoberbece, mas o amor edifica.”[1]. Portanto, antes que seu conhecimento possa ser útil ao próprio desenvolvimento espiritual, precisará aprender a senti-lo, pois, de outro modo, não poderá vivê-lo. Quando tiver feito isto, será tanto Ocultista quanto Místico.

O Místico desenvolve especialmente a faculdade de devoção. Ele sente a verdade sem precisar raciocinar. Sabe, mas não tem meios para explicar a razão de sua fé, de modo ajudar os outros. Deve, pois, desenvolver o lado intelectual de sua natureza, a fim de ser o mais útil possível na elevação da humanidade. Assim, o intelecto pode agir como um freio sobre as emoções, e a devoção pode guiar o intelecto com segurança. Se seguirmos unicamente uma das linhas, teremos mais tarde que seguir a outra, caso queiramos ter um desenvolvimento completo e harmonioso. Por isso, é melhor tentar desenvolver agora a faculdade que nos falta, pois assim progrediremos mais rapidamente em direção à meta final e em perfeita segurança.

A clareza e a nitidez de uma fotografia dependem do modo do fotógrafo focalizar as lentes. Uma vez ajustada a objetiva, o foco se conserva. Todavia, se a máquina tivesse vida e vontade próprias, se pudesse modificar sua direção e focalização, as imagens captadas apareceriam sem nitidez. A Mente encontra-se em situação análoga: vagueia sem objetivo como se estivesse literalmente com “dança de São Vito”[1] e resistindo tenazmente a qualquer restrição. Mas ela pode e deve ser subjugada, e a perseverança é o meio de conseguir. Na proporção em que a Mente é aquietada, o Espírito pode refletir-se no Tríplice Corpo, segundo o princípio de que os raios do Sol não se podem refletir num mar encapelado, mas somente em águas tranquilas.

O Corpo Vital é como um espelho, ou melhor, como uma película cinematográfica em movimento: filma o mundo mesmo que esteja em desacordo com a nossa faculdade e observação e com as ideias que brotam do Espírito interno, conforme a clareza e o treinamento mentais. A devoção e o discernimento, ou em outras palavras, a emoção e o intelecto, decidem nossa atitude face a essas imagens, e o equilíbrio entre as ações de ambos conduz a um desenvolvimento perfeito. Alcançado certo grau de aperfeiçoamento, elas realizam inevitavelmente o processo de purificação. O ser humano precisa compreender que, para alcançar a meta, deve pôr de lado tudo o que possa entravar a roda do progresso. O bom mecânico prefere sempre as melhores ferramentas e esmera-se em conservá-las perfeitas, porque sabe quão importantes são para realizar um bom trabalho. Nossos Corpos são as ferramentas de nós, o Espírito, de modo que, na medida em que elas se encontrem obstruídas, estorvam a nossa manifestação. O discernimento aponta-nos o que obstrui. A devoção à vida superior ajuda-nos a eliminar maus hábitos e traços de caráter indesejáveis, suplantando o simples desejo.

A carne animal (mamíferos, aves, peixes, anfíbios, répteis, frutos do mar e afins) obtida à custa da vida e sofrimento de outros seres e, que além de estar impregnada dos desejos e paixões do animal encontra-se já em estado de decomposição, não é um alimento puro. Nenhum sincero Aspirante à vida superior e aos poderes superiores deve escolher este tipo de alimento. Deve estudar, sim, para aprender como atender às necessidades do seu organismo com alimentos puros. Deve também se dar conta da importância de manter seu cérebro lúcido para que sua consciência possa abrir-se completamente à influência espiritual, concluindo-se daí que abandonará o uso do fumo (seja de qualquer espécie e das bebidas alcoólicas que estimulam e entorpecem o cérebro. Moderação é um termo impróprio com relação à bebida alcoólica. O uso do álcool, em qualquer escala, é desastroso ao desenvolvimento espiritual.

Perder a serenidade é prejudicial ao crescimento interno, além de dissipar, em grande escala, utilíssima energia que poderia ser utilizada beneficamente; a raiva envenena o organismo, inutiliza-o e retarda enormemente o progresso espiritual.

Da mesma forma, pensamentos de crítica nos prejudicam, por isso deve o Aspirante à vida superior evitá-los tanto quanto possível. O discernimento ensina-nos, de modo impessoal, o que é bom e o que é mau, mas não imprime em nós nenhum sentimento sobre isso, e isto é um ponto muito importante. O exame de um fato, de uma ideia ou objeto, seguido de uma decisão relativa ao seu valor, é necessário e não deve ser evitado. Porém, os pensamentos não caridosos devem ser evitados, uma vez que geram pensamentos em forma de flecha que, conforme se exteriorizam, atingem e bloqueiam o fluxo de bons pensamentos emanados constantemente dos Irmãos Maiores e atraídos por todos os seres humanos bons.

Dois exercícios específicos são dados ao Aspirante à vida superior que inicia a jornada preparatória. Ambos conduzem ao desenvolvimento da visão e da compreensão espirituais. Um eles levam ao caminho reto e apela mais para o Ocultista, que trabalha mais com o intelecto, mas é de grande valor para o Místico porque desenvolve nele a qualidade que mais lhe falta — a razão. Esse exercício é chamado de Exercício Esotérico matutino de Concentração e produz “poder mental”. O outro produz resultado semelhante de maneira indireta. Agrada mais ao Místico, mas é extremamente necessário ao intelectual Ocultista porque proporciona-lhe o senso da verdade, que está além da razão. Tal exercício é o Exercício Esotérico noturno de Retrospecção, que desenvolve o “poder da devoção”. Ambos são necessários para garantir um desenvolvimento completo e harmonioso.

A filosofia da conquista da visão e compreensão espirituais resume-se em obrigar o Corpo de Desejos a efetuar, dentro do Corpo Denso e em completo estado de vigília, — ou seja, positivo e consciente — o mesmo trabalho que realiza quando se encontra fora durante o sono, ou no estado post-mortem.

Existem certas correntes no Corpo de Desejos de todos. São fortes, bem definidas, e formam sete grandes vórtices nos clarividentes, mas são fracas, descontínuas e destituídas de vórtices no ser humano comum, naquele que não pode “ver”. O desenvolvimento dessas correntes e vórtices conduzem à visão espiritual. Durante o dia, enquanto somos absorvidos pelos nossos interesses materiais, essas correntes fluem muito vagarosamente. Mas, tão logo nos retiramos do Corpo Denso ao dormir, iniciamos o trabalho de restauração, conforme descrito na Conferência IV do Livro Cristianismo Rosacruz, as correntes reativam-se e os vórtices também, fulgurando como se fossem incandescentes, porque então o Corpo de Desejos se encontra no seu elemento de origem, livre do peso embaraçante do Corpo Denso.

O tempo de que o Corpo de Desejos precisa para restaurar o ritmo do Corpo Vital e do Corpo Denso depende do modo que usamos esse último durante o dia. Se o extenuamos nesse período, as desarmonias criadas serão naturalmente maiores, e isso exigirá a maior parte da noite para o Corpo de Desejos poder restaurar a harmonia e o ritmo. Assim, vive o ser humano preso ao seu Corpo Denso, dia e noite. Mas quando ele aprende a controlar a ação, a controlar gastos de energia nas atividades diárias, cessando de malbaratá-las em palavras e atos vãos, quando começa a dominar seus impulsos e a impedir novas desarmonias resultantes de uma observação imperfeita, então o Corpo de Desejos não precisa trabalhar o período inteiro do sono noturno para restaurar o Corpo Denso. Uma parte da noite pode ser empregada para se trabalhar fora. Se os centros sensoriais do Corpo de Desejos estão suficientemente desenvolvidos — como regra geral estão na maioria dos indivíduos inteligentes — o ser humano pode então desatar o cabo e elevar-se ao Mundo do Desejo. Lá ele tem uma visão do que se passa nesse plano, embora geralmente não consiga recordar depois de nada do que viu, até que consiga efetuar a separação entre as partes superior e inferior do Corpo Vital, conforme já explicado.

Vemos, pois, a grande importância da observação correta, da devoção aos elevados ideais, da pureza de alimentação, etc., tudo isso tendendo a harmonizar as vibrações internas com as vibrações externas. Na mesma proporção em que progredimos nessa direção, o tempo empregado na restauração dos veículos é abreviado, sobrando-nos, portanto, uma margem para trabalharmos no Mundo do Desejo.

EXERCÍCIO NOTURNO

O Exercício Esotérico noturno de Retrospecção é o mais eficiente dos métodos existentes para fazer o Aspirante à vida superior avançar na senda da realização espiritual. Seu efeito tem tal alcance que permite ao indivíduo aprender agora não apenas as lições dessa vida, mas também lições que normalmente lhe estariam reservadas para existências futuras.

Após deitar-se à noite, o Aspirante à vida superior relaxa o Corpo Denso e começa a recordar os acontecimentos do dia na ordem inversa, partindo dos da noite, em seguida os da tarde, e depois os da manhã. Deve esforçar-se para “rever” cada cena com a máxima fidelidade e procurar reproduzir ante seus olhos mentais tudo o que aconteceu em cada uma delas, a fim de poder julgar seus atos e certificar-se de que suas palavras transmitiram o sentido desejado ou deram uma impressão falsa, como também se exagerou ou foi omisso ao relatar experiências a outrem. Deve examinar sua atitude moral relativa a cada cena. E quanto aos alimentos, verificar se “comeu para viver” ou “viveu para comer”, para gratificar o paladar. Durante todo o Exercício Esotérico noturno de Retrospecção, o Aspirante à vida superior vai julgando a si mesmo, censurando-se onde couber reprovação e elogiando-se onde couber o louvor.

Os Probacionistas acham, às vezes, difícil permanecer acordados até o fim do Exercício Esotérico noturno de Retrospecção. Em tais casos, é permitido que se sentem na cama, até que lhes seja possível seguir o método comum.

O valor do Exercício Esotérico noturno de Retrospecção é imenso. Vai muito além de nossa imaginação. Em primeiro lugar, realizamos o trabalho de restauração da harmonia conscientemente e em tempo muito mais curto do que o Corpo de Desejos pode fazê-lo durante o sono, sobrando assim uma maior porção da noite para trabalhos fora do corpo. Em segundo lugar, vivemos nosso Purgatório e Primeiro Céu cada noite, incorporando a nós, o Espírito, o senso de retidão como essência das experiências do dia. Escapamos, assim, do Purgatório depois da morte, economizando também o tempo que despenderíamos no Primeiro Céu.

Por último, e não menos importante, tendo dia após dia extraído a essência das experiências que produzem o crescimento anímico, e havendo incorporado essa essência em nós, o Espírito, passamos a vivenciar realmente uma nova atitude mental e a nos desenvolver por linhas que normalmente estariam reservadas a vidas futuras.

Executando fielmente esse Exercício Esotérico noturno de Retrospecção, dia após dia, apagamos de nossa Memória Subconsciente o registro de fatos desagradáveis e eliminamos os nossos pecados, nossas auras começam a reluzir com o ouro espiritual extraído das experiências diárias pela Retrospecção, e aí começamos a atrair a atenção do Irmão Maior.

“Os puros verão a Deus.”[1], disse Cristo, e o Irmão Maior abrirá nossos olhos quando estivermos prontos para entrar no “Templo do Saber” — o Mundo do Desejo — onde obtemos nossas primeiras experiências de vida consciente fora do Corpo Denso.

EXERCÍCIO MATUTINO

O Exercício Esotérico matutino de Concentração, o segundo exercício, é executado pela manhã, tão logo o Aspirante à vida superior desperta. Ele não precisa levantar-se para abrir as janelas ou fazer qualquer coisa desnecessária. Sentindo o Corpo Denso confortável, deve relaxar e começar imediatamente a se concentrar. Esse momento é muito importante porque nós, o Espírito, acabamos de regressar do Mundo do Desejo, podendo termos contato consciente com esse Mundo, bem mais facilmente do que em qualquer outra hora do dia.

Se o Corpo Denso está em desconforto, o Aspirante à vida superior deve se mexer com o objetivo de acomodá-lo melhor antes de iniciar a Concentração, mas muito da eficácia do exercício é perdida em razão de se iniciá-lo com atraso.

Vimos na Conferência IV do Livro Cristianismo Rosacruz que, durante o sono, as correntes do Corpo de Desejos fluem e seus vórtices movem-se e giram com enorme rapidez. Porém, tão logo ele interpenetra o Corpo Denso, suas correntes e vórtices são quase paralisados pela matéria densa e pelas correntes nervosas do Corpo Vital que levam e trazem mensagens ao cérebro. A finalidade deste exercício é levar o Corpo Denso ao mesmo grau de inércia e insensibilidade do estado de sono, embora com o Espírito dentro dele e conservando-se totalmente acordado, alerta, consciente. Deste modo, cria-se uma condição em que os centros sensoriais do Corpo de Desejos podem começar a girar no interior do Corpo Denso.

Concentração é uma palavra enigmática para muitos, por isso tentaremos esclarecer seu significado. O dicionário dá-nos diversas definições, todas aplicáveis à nossa ideia. Uma é “convergir para um centro”, enquanto outra, uma definição química, é “reduzir à extrema pureza e potencialidade pela eliminação de constituintes inúteis”. Aplicada ao nosso problema, uma das definições faz-nos ver que, se convergimos nossos pensamentos para um centro, para um ponto, podemos aumentar sua força, segundo o princípio que estabelece que a força dos raios solares é multiplicada quando focalizada num ponto através de uma lente de aumento. Eliminando-se de nossa Mente todos os demais assuntos, todo o nosso poder mental pode ser completamente aproveitado na consecução de um objetivo ou solução do problema em que nos concentramos. Podemo-nos absorver em nosso assunto a tal ponto que, mesmo um canhão sendo disparado, não o ouviremos. Há pessoas que podem concentrar-se numa leitura de tal maneira que são capazes de esquecer tudo mais. O Aspirante à vida superior deve, igualmente, ser capaz de abstrair-se numa ideia, objeto de concentração, a ponto de fechar por completo sua consciência ao mundo dos sentidos e atentar exclusivamente para os Mundos espirituais.

Quando aprender a fazer isso, ele verá o lado espiritual de um objeto, ou ideia, iluminado por uma luz espiritual e, assim, ele alcançará o conhecimento da natureza interna de coisas nem sequer sonhadas pelo ser humano mundano.

Quando se chega a esse ponto de abstração, os centros sensoriais do Corpo de Desejos começam a girar lentamente no interior do Corpo Denso e a se acomodarem por si mesmos. Com o tempo, esses centros tornam-se cada vez mais definidos e passam gradativamente a exigir menos esforço para pô-los em movimento.

O tema da concentração pode ser um ideal elevado e sublime, mas preferivelmente que seja de uma natureza tal que consiga situar o Aspirante à vida superior acima do tempo e do espaço, afastando-o das sensações ordinárias do Mundo material. Para isto, não há melhor fórmula do que os cinco primeiros versículos do primeiro Capítulo do Evangelho Segundo São João. Tomando-os como base, sentença por sentença, manhã após manhã, com o tempo, o Aspirante à vida superior terá adquirido uma admirável compreensão do princípio do nosso universo e do método da criação — compreensão que está muito longe de ser alcançada em livros.

Depois de algum tempo, quando o Aspirante à vida superior já tenha aprendido a manter sem oscilações, ininterruptamente por uns cinco minutos, a ideia na qual venha se concentrando, pode, um dia, tentar lançar fora repentinamente essa ideia, deixando a Mente “em branco”. Em nada deve pensar então, mas simplesmente esperar que algo venha preencher aquele vazio mental. Com o tempo, as visões e cenas do Mundo do Desejo deverão ocupar essa lacuna. Após ter-se acostumado a essa prática, o Aspirante à vida superior pode desejar que algo se apresente ante seus olhos mentais. A coisa virá e então ele poderá investigá-la à vontade.

Mas o ponto principal é que, seguindo as instruções acima, o Aspirante à vida superior vai purificando a si mesmo. Sua aura começa a brilhar e isso atrairá infalivelmente a atenção do Irmão Maior, que designará alguém para ajudá-lo, quando necessário, a dar o passo seguinte.

Mesmo que passem meses ou anos sem resultados visíveis, estejamos certos de que não nos esforçamos em vão; os Irmãos Maiores veem e apreciam nossos esforços, e vivem eles tão ansiosos por nossa colaboração quanto nós por trabalhar. Os Irmãos Maiores podem ver razões que nos impeçam de empreender o trabalho pela humanidade no momento presente ou mesmo por toda esta vida. Mas, tão logo essas razões desapareçam, poderemos ser admitidos à luz, onde seremos capazes de ver por nós mesmos.

Uma antiga lenda diz que escavações em busca de tesouros devem ser feitas somente na calada da noite e no mais absoluto silêncio; falar uma só palavra antes de os descobrir fará com que desapareçam inevitavelmente. Trata-se de uma parábola mística relativa à busca da iluminação espiritual. Se tagarelarmos ou contarmos a outrem as experiências de nossos momentos de concentração, poderemos perdê-las. Antes de extrairmos delas, pela meditação, pleno conhecimento das leis cósmicas subjacentes, tais experiências podem reduzir-se a nada, uma vez que esta classe de experiências não pode suportar a transmissão oral. A experiência em si, portanto, não conta muito, pois, afinal, não é mais do que uma casca envolvendo e ocultando saboroso fruto. A lei tem valor universal, como vai ficar evidente, porque ela explica os fatos da vida, ensina-nos como tirar vantagem de certas condições e o modo de evitar outras. Em benefício da humanidade, ela pode ser livremente revelada, à vontade de seu descobridor. Então, a experiência que a revelou parecerá, em sua verdadeira luz, apenas uma coisa passageira que dispensa maiores considerações. Por conseguinte, tudo o que aconteça durante o Exercício Esotérico matutino de Concentração deve ser considerado sagrado e guardado no mais absoluto sigilo pelo aspirante.

Finalmente, evitemos considerar os Exercícios Esotéricos Rosacruzes como tarefas desagradáveis. Estimemo-los em seu verdadeiro valor, pois eles são nossos mais altos privilégios. Somente quando assim os considerarmos, poderemos fazer-lhes justiça e colher todo o benefício de sua prática.

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Na Fraternidade Rosacruz, os Irmãos Maiores distinguem três classes:

1) Estudantes Preliminares e, depois Estudantes Regulares, aqueles que simplesmente estudam a Filosofia. Pessoas das mais variadas denominações entram em instituições de ensino tais como as Universidades de Harvard ou Yale e ali estudam mitologia, psicologia e Religião comparada sem prejuízo de suas filiações religiosas. Nestas mesmas bases, os candidatos a estudos podem inscrever-se na Fraternidade Rosacruz. Qualquer um pode candidatar-se, se não for hipnotizador ou não esteja profissionalmente comprometido como médium, quiromante ou astrólogo.

2) Probacionistas, que são Estudantes Rosacruzes que aspiram o conhecimento direto a fim de se capacitarem para o serviço. Ao fim de dois anos na condição de Estudante Regular Rosacruz, e caso tenha já se convencido da veracidade dos Ensinamentos Rosacruzes e esteja decidido a cortar toda ligação que eventualmente ainda tenha com qualquer outra entidade esotérica ou ordem religiosa — exceto as igrejas e irmandades Cristãs — o Aspirante à vida superior pode assumir o Compromisso que o fará ser admitido no grau de Probacionista. A estes, a Sede Mundial fornece um formulário mediante o qual o Aspirante à vida superior promete a si mesmo praticar fielmente os dois Exercícios Esotéricos Rosacruzes (noturno de Retrospecção e matutino de Concentração), e registrá-los todos os dias em outro formulário especial que deve ser devolvido mensalmente à Sede. As provas duram no mínimo cinco anos e seu propósito é testar a dedicação e a persistência do Aspirante à vida superior, dando-lhe a oportunidade de purificar-se a si próprio antes de passar aos métodos de treinamento mais diretos pertinentes ao Discipulado. Esse registro diário destina-se também a ajudar o Aspirante à vida superior a fazer os Exercícios Esotéricos Rosacruzes. É próprio da natureza humana tentar fazer o melhor sempre que tenha de mostrá-lo, portanto, sabendo-se observado, o Aspirante à vida superior procura esmerar-se nesses Exercícios Esotéricos Rosacruzes.

Longe estamos de insinuar que as demais escolas de ocultismo não devam ser consideradas. Muitos são os caminhos que levam a Roma, mas lá chegaremos com menos esforço se seguirmos por um só deles ao invés de ziguezaguear de um a outro.

Em primeiro lugar, nosso tempo e energia são limitados e são reduzidos ainda mais pelos deveres sociais e familiares, que não devem ser negligenciados em favor do autodesenvolvimento. Portanto, só com o propósito de economizarmos essa limitada energia — a qual podemos usar de modo mais legítimo — e evitar o desperdício do reduzido tempo à nossa disposição, é que os Irmãos Maiores insistem para renunciarmos a todas as outras ordens.

O mundo é um agregado de oportunidades, mas para aproveitá-las é necessário possuirmos eficiência em certa linha de esforços. O desenvolvimento dos poderes espirituais pode nos capacitar a ajudar ou prejudicar aos nossos irmãos mais fracos. E esses poderes só se justificam quando o objetivo é Servir à Humanidade.

O método de realização Rosacruz difere dos outros sistemas por um pormenor especial: procura desde o princípio emancipar o Discípulo de toda dependência dos outros, tornando-o autoconfiante no mais alto grau, de maneira a poder permanecer só em todas as circunstâncias e enfrentar todas as condições. Somente aquele que for tão bem equilibrado pode ajudar ao débil.

Quando certo número de pessoas se reúne em classe ou círculo objetivando o autodesenvolvimento, mas por meio de métodos negativos, geralmente os resultados são conseguidos em pouco tempo, seguindo o princípio de que é mais fácil deixar-se levar pela corrente, do que lutar contra ela. O médium, contudo, não é senhor dos seus atos, mas escravo do espírito que o domina. Por isso tais reuniões devem ser evitadas pelos Probacionistas.

Mesmo as reuniões em que se mantenha uma atitude mental positiva não são aconselhadas pelos Irmãos Maiores, porque os poderes latentes de todos os membros são amalgamados. Então as visões dos Mundos internos obtidas por quaisquer deles apenas resultam parcialmente da influência das faculdades dos demais. O calor de um carvão no centro de uma fogueira fica aumentado pelo dos carvões que o rodeiam. O Clarividente originado num círculo, mesmo que esse seja positivo, é como uma planta na estufa – demasiado dependente para que se lhe possa confiar os cuidados dos demais.

Portanto, todo Probacionista da Fraternidade Rosacruz efetua seus exercícios sozinho, no isolamento do seu lar. Seguindo esse método, obtêm-se resultados mais lentamente. Porém, quando tais resultados aparecerem, manifestar-se-ão como poderes cultivados por ele mesmo, e poderão ser empregados independentemente dos demais. Além disso, os métodos Rosacruzes constroem o caráter, ao mesmo tempo em que desenvolvem as faculdades espirituais, resguardando assim o Discípulo da tentação de perverter seus poderes divinos em busca de prestígio mundano.

Do que foi dito acima, não se conclua que o candidato deva empregar todo o seu tempo em esforços espirituais. Se não podemos dispor de muito tempo, cinco minutos pela manhã e quinze minutos à noite é quanto basta. De fato, dedicar ao desenvolvimento de faculdades espirituais um tempo que precisaria ser legitimamente usado em responsabilidades materiais é decididamente um erro. Antes de nos entregarmos ao serviço nos mundos espirituais, precisamos cumprir todos os nossos deveres no mundo material. Não se pode esperar fidelidade no trabalho espiritual de quem é infiel aos seus deveres terrenos.

Após a remessa de sessenta relatórios consecutivos, o candidato pode solicitar instruções individuais, as quais, se possível, lhes serão dadas.

3) Discípulos, composta de pessoas que, havendo completado a fase de Probacionista, são consideradas aptas para receberem instruções individuais dos Irmãos Maiores. O ensino é gratuito.

A Filosofia Rosacruz tem conquistado adeptos por toda parte, os quais se mantêm em estreito contato com o movimento e que trabalham para difundir as profundas verdades concernentes à Vida e ao Ser que os estão ajudando.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Carta de Max Heindel: A Próxima Época no Ar

Janeiro de 1912

Revendo a lição do mês passado, há a surpreendente afirmação de que na próxima Época nós vamos abandonar a nossa atual terra seca e firme e vamos viver no ar revestidos de um sem a substância ou solidez que hoje conhecemos. Outro escritor, nessa mesma linha, provocou muita diversão com uma série de artigos tão descontroladamente imaginários que as opiniões expressas que ouvimos, unanimemente, o consideraram o campeão entre os contadores de histórias. No entanto, ele ainda permanece nessa Terra; seus templos são tão sólidos como uma rocha; e eu hesitei muito antes de publicar os ensinamentos acima mencionados, mas decidi que o dever me obrigava a falar, ainda que alguns Estudantes Rosacruzes me classifiquem como um visionário.

O problema é que todos nós nos tornamos muito mais impregnados de materialismo do que imaginamos, e isso nos atrapalha em nossa busca. Como Estudantes de uma filosofia transcendental, nós nos acostumamos a considerar que a vida individual e intermitente em um Corpo etérico só é possível ser realizada por uns poucos, mas quando percebi, vi que a totalidade da Onda de Vida humana pode sim viver permanentemente no ar durante toda uma Época! – na verdade, fiquei sem fôlego quando percebi que a Bíblia quer dizer exatamente isso quando afirma que “encontraremos o Senhor no ar… estaremos com Ele para sempre”[1].

No entanto, olhando para o futuro, através da perspectiva do passado, a ideia realmente não nos deveria causar surpresa, pois está estritamente alinhada com o caminho por onde viemos até chegar ao nosso desenvolvimento atual. Outrora vivíamos como o mineral e estávamos imersos em uma Terra gasosa. Crescemos para fora do centro ígneo durante uma existência análoga ao vegetal. Nossa peregrinação começou, mais tarde, na fina crosta terrestre, longe do núcleo interno onde nossa evolução começou. A marcha da progressão foi sempre para fora, portanto, é evidente que o próximo passo deva ser para nos elevarmos acima do nível da Terra.

Eu estou divulgando esses ensinamentos para uma apreciação, porque a maioria dos nossos Estudantes Rosacruzes acredita no Renascimento e na Lei de Consequência, que são os árbitros principais do destino durante a presente Dispensação dos ciclos recorrentes. O conhecimento dessas Leis é de grande valor, pois nos permite ordenar nossa existência inteligentemente, construindo nessa vida as condições para o próximo renascimento.

A maioria dos Cristãos não têm essa grande vantagem, mas, eles vivem sofrendo totalmente as tribulações dessa Época – o “Reino dos Homens” – com a grande esperança de possam se qualificar para a admissão no Reino de Deusa próxima Época. A nossa visão da vida tem um foco mais curto do que o deles, que é mais longo. Eles vivem menos cientificamente do que aqueles entre nós que aplicam, mais apropriadamente, os conhecimentos atuais,mas, eles estão se preparando para a futura Época, se viverem de acordo com os ensinamentos da Bíblia. Suas informações podem ser vagas, mas eles vivem e morrem com a firme convicção da suprema e principal verdade, de que vão para os Céus e estarão com o Senhor para todo o sempre, se forem realmente Cristãos.

Se acreditarmos somente no Renascimento, não podemos esperar nada além de um retorno contínuo à Terra para batalhar com a Lei de Jeová; não termos parte no amor de Cristo. Para estar perfeitamente em sintonia com os fatos, para poder viver toda a verdade, devemos perceber que o nascimento e a morte são condições evanescentes dessa Época de existência concreta, mas a vida em si mesma é interminável. São Paulo[2] nos diz muito claramente que, embora não saibamos como será a nossa constituição, seremos transformados à semelhança de Cristo e permaneceremos imortais durante toda a Época; e cabe a nós manter essa esperança firmemente diante de nós e orar pela vinda do Reino, como Nosso Senhor ensinou.

(Carta nº 14 do Livro Cartas aos Estudantes – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)


[1] N.T.: ITs 4:17

[2] N.T.: ICor 15:50-53

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Carta de Max Heindel: O Inventário Espiritual durante a Estação Santa

Dezembro de 1916

Cristo comparou as almas aspirantes de Seu tempo aos servos que haviam recebido um certo número de talentos do senhor deles e deveriam negociar com eles para aumentar o capital confiado aos cuidados deles[1]. Podemos compreender, por essa Parábola, que a todos os que aspiram servi-Lo é exigido, igualmente, usar os seus talentos fornecidos por Deus, de tal maneira que possam mostrar um aumento de crescimento da alma quando, no devido tempo, forem chamados a prestar contas de sua administração.

Essa contabilidade, ao que diz respeito à maioria da humanidade, é adiada até que o Ceifador tenha fechado o livro de registros da vida e essa grande maioria da humanidade se encontre no Purgatório, para auferir o resultado das ações praticadas durante a vida aqui recém-terminada, tenham sido elas cometidas porque a pessoa quis ou porque nem sabia que fez, o que achou que era para o bem ou para o mal.

Mas, o que pensaríamos de um empresário que praticasse um método tão imprudente, como o simbolizado pela Parábola dos Talentos, em conduzir seus negócios? Não nos pareceria que ele estivesse se encaminhando diretamente para a falência, se não equilibrasse as suas contas e fizesse um balanço dos seus ativos e passivos anualmente? Certamente concluiríamos que ele mereceu o fracasso, devido a sua insistência em não seguir os métodos do seu negócio mais apropriados para a questão.

Se nós percebemos o valor de um sistema e o benefício de constantemente conhecer com precisão, como nos posicionarmos em relação aos nossos assuntos materiais, nós também devemos buscar os mesmos métodos seguros em relação aos nossos assuntos espirituais. Não, devemos ser muito mais circunspectos na conduta dos assuntos celestiais do que na dos assuntos mundanos, pois nossa prosperidade material é tão somente um manter-se acordado em uma noite comparada ao bem-estar eterno do Espírito.

Estamos nos aproximando do Solstício de Dezembro, que é o começo de um Ano Novo do ponto de vista espiritual, e estamos ansiosos pela nova efusão de amor do nosso Pai Celestial por meio do Cristo Menino. Portanto, essa é a melhor época para fazer um balanço e nos questionar de que forma empregamos as ofertas de amor do ano passado, de como temos nos esforçados para juntar tesouros nos céus. E nós devemos experimentar um grande benefício, se abordarmos esse levantamento com o estado de espírito apropriado e no momento mais auspicioso, pois há um tempo para semear e um tempo para colher, e para tudo que está debaixo do Sol há um tempo em que poderá ser feito com maiores chances de êxito do que em qualquer outra época[2].

As estrelas são os marcadores dos tempo celestiais. Delas procedem as forças que nos influenciam ao longo da vida. Na Noite Santa, entre os dias 24 e 25 de dezembro, à meia-noite, no lugar onde você habita, você verificará que a retrospecção e as resoluções engendradas nessa ocasião para o Ano Novo serão mais eficazes.

Em Mount Ecclesia e nos vários Centros Rosacruzes se celebra o Serviço da Meia-noite na Noite Santa[3], e os Estudantes Rosacruzes que participam desse Serviço são, por isso, liberados de quaisquer atividades de comunhão consigo mesmo, como explicada no parágrafo anterior. Outros podem não conseguir ficar despertos até este momento e por várias razões. Para esses, oficiar o Serviço da Meia-noite Santa em qualquer uma das primeiras horas da noite ou da manhã terá a mesma eficácia. Mas, vamos nos unir todos nesta noite num esforço espiritual concentrado de aspiração; e que cada Estudante Rosacruz, não apenas ore pelo crescimento anímico individual no próximo ano, mas que todos se unam em uma oração pelo crescimento coletivo do nosso movimento. Todos da Sede Mundial também solicitam seus pensamentos de ajuda.

Se, neste momento, todos trabalharem arduamente, fazendo um esforço extenuante, nós teremos a certeza de que receberemos uma bênção individual e coletiva excepcional e teremos um ano espiritualmente próspero.

(Carta nº 73 do Livro Cartas aos Estudantes – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)


[1] N.T.: A Parábola dos Talentos: Pois será como um homem que, viajando para o estrangeiro, chamou os seus próprios servos e entregou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois, a outro um. A cada um de acordo com a sua capacidade. E partiu. Imediatamente, o que recebera cinco talentos saiu a trabalhar com eles e ganhou outros cinco. Da mesma maneira, o que recebera dois ganhou outros dois. Mas aquele que recebera um só o tomou e foi abrir uma cova no chão. E enterrou o dinheiro do seu senhor. Depois de muito tempo, o senhor daqueles servos voltou e pôs-se a ajustar contas com eles. Chegando aquele que recebera cinco talentos, entregou-lhe outros cinco, dizendo: ‘Senhor, tu me confiaste cinco talentos. Aqui estão outros cinco que ganhei’. Disse-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor!’” Chegando também o dos dois talentos, disse: ‘Senhor, tu me confiaste dois talentos. Aqui estão outros dois talentos que ganhei’. Disse-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor!’ Por fim, chegando o que recebera um talento, disse: ‘Senhor, eu sabia que és um homem severo, que colhes onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste. Assim, amedrontado, fui enterrar o teu talento no chão. Aqui tens o que é teu’. A isso respondeu-lhe o senhor: ‘Servo mau e preguiçoso, sabias que eu colho onde não semeei e que ajunto onde não espalhei? Pois então devias ter depositado o meu dinheiro com os banqueiros e, ao voltar, eu receberia com juros o que é meu. Tirai-lhe o talento que tem e dai-o àquele que tem dez, porque a todo aquele que tem será dado e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem será tirado. Quanto ao servo inútil, lançai-o fora nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes!’ (Mt 25:14-30).

[2] N.T.: “Há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu. Tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar a planta. Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de destruir, e tempo de construir. Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de gemer, e tempo de bailar. Tempo de atirar pedras, e tempo de recolher pedras; tempo de abraçar, e tempo de se separar. Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de jogar fora. Tempo de rasgar, e tempo de costurar; tempo de calar, e tempo de falar. Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.” (Ecl 3:1-8).

[3] N.T.: O Ritual Devocional do Serviço de Véspera de Natal.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Carta de Max Heindel: O Trabalho do Espírito de Raça

Julho 1916

Dentro de poucos dias celebraremos nos Estados Unidos da América “O Glorioso 4 de Julho”, Dia da Independência, e desperdiçaremos muita pólvora em perfeito estado e de grande utilidade que poderia ser mais bem aproveitada do que para demonstrar nosso “patriotismo”. Se julgarmos os acontecimentos que antecederam essa data[1], podermos prever que ocorrerá um considerável número de incêndios e acidentes.

Para que propósito tudo isso quando observamos o dilacerante espetáculo da guerra que, por quase dois anos, fez das lágrimas uma escárnio, pois nenhum símbolo da profunda angústia, tristeza e arrependimento é adequado para a ocasião. Percebamos que se não houvesse o “patriotismo”, poderia não ter havido a guerra; e compreendendo a sua influência funesta, aprendamos a dizer como Thomas Paine[2]: “O Mundo é minha Pátria, e fazer o Bem é minha Religião”. Esse – parece para mim – é o evangelho que devemos pregar aos nossos semelhantes em qualquer país em que estejamos, pois, essa atitude da Mente será um dos fatores que irá realizar nossa emancipação do Espírito de Raça, que fomenta o sentimento de “patriotismo”, a fim de manter o poder dele sobre um determinado povo tanto quanto for possível. Em um certo sentido, o Espírito de Raça se alimenta da guerra, pois, naquele momento, fará com que a nação que esse Espírito de Raça rege dissipe suas diferenças internas, durante um certo tempo, reunindo seu povo uns perto dos outros para defesa ou agressão contra o inimigo comum. Assim, eles vibram em harmonia numa extensão maior que a habitual, e isso fortalece o Espírito de Raça e, por isso em certa medida retarda o advento de Cristo. Enquanto o patriotismo mantiver as nações escravizadas aos Espíritos de Raça, o Reino Universal não poderá ser iniciado.

Por isso, eu solicito fortemente que os Estudantes Rosacruzes se abstenham de participar de quaisquer exercícios patrióticos que sempre tem uma natureza marcial. Pratique a Fraternidade Universal nunca mencionando ou reconhecendo as diferenças de nacionalidade, pois todos somos um em Cristo.

(Carta nº 68 do Livro Cartas aos Estudantes – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)


[1] N.T.: O autor se refere à Primeira Guerra Mundial (1914-1918) que, em 1916, ainda estava em curso.

[2] N.T.: Thomas Paine (1737-1809) foi um político britânico, além de panfletário, revolucionário, inventor, intelectual e um dos Pais Fundadores dos Estados Unidos da América. Thomas Paine foi, a um só tempo, ator, intérprete e testemunho não apenas das Revoluções Americana e Francesa, mas também dos movimentos revolucionários ingleses em fins do século XVIII e, em menor medida, do movimento revolucionário nos Países Baixos e na Irlanda, onde ele era continuamente citado e admirado.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Carta de Max Heindel: Servindo onde melhor estivermos preparados para servir

Fevereiro de 1917

Uma pergunta foi me colocada recentemente; ei-la: “Você fala tanto sobre o serviço; mas o que isso significa? Há muitas pessoas em nossa Fraternidade Rosacruz que dizem que gostam muito de servir, mas nada fazem além do que gostam de fazer. Isto é servir?”.

Parece-me que essa questão nos oferece alimento para uma reflexão proveitosa e que uma análise sobre o assunto pode beneficiar a todos nós, por isso decidimos dedicar a carta mensal a esse propósito.

É evidente que a maioria das pessoas no mundo não prestará serviço algum a não ser que haja “algum proveito disso” para ela. Estão procurando por uma recompensa material, e esta é a maneira sábia empregada pelos poderes invisíveis para estimular as pessoas à ação, pois assim elas estão evoluindo inconscientemente até atingir a etapa do crescimento anímico, onde as pessoas servirão pelo amor de servir. Mas não se pode esperar que tal coisa mude da noite para o dia; não há transformações repentinas na Natureza. Quando a casca do ovo se rompe e o pintinho sai, ou quando o casulo se rompe e a borboleta voa por entre as flores, sabemos que a mágica não foi instantânea. Houve um processo interno de preparação antes que pudesse haver a mudança externa. Um processo similar de um crescimento interior ou interno é necessário para transformar os servidores de Mamon[1] em servidores do Amor.

Se queremos construir um edifício maior, tudo o que temos que fazer é transportar nossos tijolos e demais materiais de construção para o local, montar uma força tarefa de trabalhadores e pronto! O edifício começa a crescer rapidamente em qualquer dimensão e na velocidade que desejarmos, dependendo tão somente da nossa habilidade em equipar a mão de obra e em fornecer todo material necessário. Mas, se queremos aumentar o tamanho de uma árvore ou de um animal, não podemos atingir nosso objetivo pregando madeira no tronco da árvore ou colocando carne e pele no dorso do animal. O edifício cresce por acréscimos externos, porém, em todas as coisas viventes o crescimento físico é de dentro para fora e não pode ser apressado em nenhuma extensão apreciável sem o perigo de se provocar complicações.  É a mesma coisa que acontece com o crescimento espiritual; ele procede de dentro para fora e deve ter tempo. Não podemos esperar que pessoas que começaram recentemente a sentir o impulso interior, que as impele a uma associação altruísta, renunciem em um piscar de olhos a todo egoísmo e a outros vícios e se desenvolvam à estatura de Cristo. Na melhor das hipóteses, somos apenas um pouco melhores do que éramos, exceto pelo fato de estarmos nos esforçando e nos empenhando para seguir “Seus passos”. No entanto, nisto está toda a diferença, pois estamos tentando servir como Ele serviu.

Se este é o motivo, de modo algum, diminui o serviço de um músico que nos inspira com devoção em nossos serviços, por ele amar sua música. Tampouco torna o serviço menos valioso, porque o orador que nos inflama com fervor na obra do Mestre, gosta de revestir suas ideias com belas palavras. Nem por isso, um salão se torna menos atraente porque a pessoa que o varreu, limpou e decorou gosta de deixar seu ambiente externo bonito. Cada um pode, de fato, servir com muito mais vantagem se a linha de serviço estiver no caminho de suas inclinações e habilidades naturais, e devemos encorajar uns aos outros a procurar oportunidades onde cada um esteja mais apto para servir.

Não há mérito especial em procurar servir em uma função ou situação que nos seja desagradável. Seria um erro se o músico dissesse a um encarregado da organização de um recinto: “Não gosto de esfregar o chão e nem de decorar ambientes, e sei que você treme só de pensar em tocar, pois está sem prática, mas vamos trocar de lugar por amor ao serviço”. Por outro lado, se não houvesse ninguém para tocar, seria dever do encarregado da organização de um recinto deixar a desconfiança de lado e servir da melhor forma possível. Se fosse necessário esfregar o chão e limpar as cadeiras, o orador e o músico deveriam estar dispostos a fazer esse trabalho também, de livre e espontânea vontade, independentemente de qualquer aversão pessoal. Nada é insignificante, servil, subalterno ou inferior. O mesmo princípio deve ser aplicado no lar, no ambiente de trabalho ou em qualquer lugar que se esteja. O serviço prestado pode ser definido como o melhor uso de nossos talentos – a colocação de nossos talentos para melhor utilização em cada caso de necessidade imediata, independentemente da nossa preferência de gostar ou não.

Se nos esforçarmos em proceder dessa maneira, nosso progresso e crescimento da alma aumentarão de forma proporcional.

(Carta nº 75 do Livro Cartas aos Estudantes – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)


[1] N.T.: Mamon é um termo, derivado da Bíblia, usado para descrever riqueza material ou cobiça, na maioria das vezes, mas nem sempre, personificado como uma divindade. A própria palavra é uma transliteração da palavra hebraica “Mamom”, que significa literalmente “dinheiro”. No Evangelho, a palavra é utilizada quando afirma que não é possível servir simultaneamente a Deus e a Mamon (Lc 16:13). O termo, no texto original, também é citado no Evangelho Segundo São Mateus.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Carta de Max Heindel: A Lei do Êxito para os Assuntos Espirituais

Janeiro de 1919

Parece apropriado iniciar nossa correspondência para 1919 desejando a você um Feliz e Próspero Ano Novo. Mas, como diz o provérbio: “Se querer fosse poder”. É necessário algo mais para garantir o êxito e a felicidade do que meros desejos e, talvez, os meus possam resultar em melhores frutos se eu explicar a você a Lei do Êxito.

Os Estudantes Rosacruzes estão familiarizados com o fato de que não existe “sorte” e estão bem de acordo com Mefistófeles em Fausto quando diz:

O quão intimamente a sorte está ligada ao mérito,

Nunca ocorre ao tolo.

Eu juro, ele tinha a pedra do sábio,

Não tinha a Pedra Filosofal.

Porém, aqui uma pergunta surgirá imediatamente à Mente de muitos: “É possível reduzir o êxito a uma lei?”

Sim, existe uma Lei do Êxito, tão certa e imutável como qualquer outras das grandes Leis Cósmicas. E, embora eu deva aplicá-la somente aos assuntos espirituais, certamente, não posso ocultar de vocês que ela também trará certa prosperidade nos assuntos materiais. Mas antes de aplicá-la nessa direção, considere cuidadosamente que, ao fazer isso implicará suicídio espiritual, pois “não podeis servir a Deus e a Mamon[1]. É preferível que “buscai primeiro o Reino de Deus e Sua justiça; e todas as outras coisas vos serão dadas por acréscimo[2]. Eu posso dar testemunho da veracidade dessa promessa, por estar vivendo-a há muitos anos.

Portanto, a Lei do Êxito pode ser enunciada da seguinte forma:

Primeiro, determine e defina claramente o que você deseja – desenvolvimento do poder de cura, aumento da visão espiritual, ser um Auxiliar Invisível, possuir a habilidade em se comunicar e disseminar a mensagem Rosacruz a outras pessoas, etc.

Segundo, ao estabelecer a sua meta, jamais admita, nem por uma momento, um pensamento de medo ou de fracasso, mas cultive uma atitude de determinação invencível para realizar seu objetivo, apesar de todos os obstáculos. Mantenha constantemente o pensamento: “Eu posso e farei”.

Não comece a fazer planos sobre como alcançar tal meta até que tenha adquirido o estado de absoluta confiança em si mesmo e na capacidade de fazer o que almeja, porque uma Mente influenciável pelo mais leve temor de fracasso não pode fazer planos que terão pleno êxito. Portanto, seja paciente e se certifique primeiro de cultivar uma fé absoluta em si mesmo e na sua capacidade de obter êxito, apesar de todas as adversidades.

Quando você atingir esse ponto, no qual estará totalmente convencido de que poderá ter êxito e positivamente determinado no sucesso da sua busca, não haverá poder na terra ou no céu que poderá resistir a você nesse desenvolvimento em particular; e você poderá, então, planejar como irá alcançar o desejo do seu coração com certeza de êxito.

Espero que você aplique essa lei fervorosamente na realização pelo crescimento da alma, não apenas durante o próximo ano, mas em todos os anos futuros.

(Carta nº 97 do Livro Cartas aos Estudantes – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)


[1] N.T.: Mt 6:24

[2] N.T.: Mt 6:33

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Carta de Max Heindel: Instrutores Espirituais: Verdadeiros e Falsos

Fevereiro de 1916

Um dos problemas mais difíceis que um líder de um movimento espiritual tem que enfrentar é a impaciência dos estudantes que querem colher onde não semearam. Eles não são, suficientemente, pacientes para esperar a colheita, pois, querem os resultados imediatamente e, se não conseguem fazer brotas asas dentro de um determinado tempo, feitas por eles mesmos, estão sempre dispostos a apregoar a “fraude” e procuram um “instrutor individual”, visível ou invisível. Desde que o líder “garanta” resultados, eles estão preparados para deixar o bom senso de lado e segui-lo cegamente, ainda que tal líder possa conduzi-los a um hospício ou à uma sepultura devido a uma doença consumptiva[1], ou nos casos daqueles que se livram com mais facilidade de uma punição severa, simplesmente separando uma parte do dinheiro deles.

Esse assunto já foi debatido em Cartas aos Estudantes anteriores, mas sempre há aquele que se esquece e, também, há sempre novos Estudantes Rosacruzes que, constantemente, ingressam nessa Escola; portanto, é necessário reiterar pontos importantes de tempos em tempos. Recentemente ouvimos de um Estudante que deixou um Centro Rosacruz para se juntar a um “instrutor individual” e, parece que foi até invejado por outros Estudantes do mesmo grupo que não foram tão afortunados (?) e, também por isso, me parece oportuno retomar o assunto.

Você já viu alguma instituição de ensino, desde o jardim de infância até a universidade, onde se mantêm um professor para cada aluno? Nós não temos. Nenhum Conselho de Educação sancionaria tal desperdício de energia, nem contrataria um professor individual para qualquer pessoa, simplesmente, pelo fato deste aluno estar impaciente por desejar concluir a escola “rapidamente”. E, finalmente, mesmo que fosse permitido pelo Conselho e nomeasse um professor em um caso especial que “abarrota-se” o cérebro de aluno de conhecimento, haveria um grande perigo de febre cerebral, insanidade e, talvez, de morte devido a este método.

Se isso é verdade nas escolas de ciências físicas, como alguém pode acreditar que haja diferença em relação à ciência espiritual? Cristo disse a Seus Discípulos: “Se não credes quando vos falo das coisas da terra, como ireis crer quando vos falar das coisas do céu?[2] Nenhum “instrutor individual”, se tal houver, pode iniciar alguém nos mistérios da alma até que o aluno esteja preparado por seu próprio mérito. Quem professa fazê-lo se autodenomina um impostor de baixo nível. E assim, quem se deixa ludibriar, mostra não ter bom senso; pois, de outra forma, perceberia que nenhum instrutor altamente desenvolvido não poderia desperdiçar seu tempo e sua energia na instrução de um único aluno, quando poderia facilmente ensinar a muitos.

Imagine, se vocês podem conceber, os doze Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz cada um atendendo unicamente um aluno! Esse pensamento é um sacrilégio. Tais seres humanos, verdadeira e altamente desenvolvidos, têm outras tarefas e muito mais importantes para lidar, e mesmo os Irmãos Leigos e as Irmãs Leigas, que foram Iniciados por eles, não são permitidos incomodá-los por coisas tão pequenas e sem importância.

Portanto, podemos afirmar enfaticamente que os Irmãos Maiores não costumam visitar ninguém na Fraternidade Rosacruz ou fora dela, como um “instrutor individual”, e quem assim pensar, está se enganando. Eles transmitem certos ensinamentos que formam a base da instrução nessa escola, e aprendendo como viver essa ciência da alma, nós podemos, com o tempo, nos qualificar para encontrá-los, face a face, na escola dos Auxiliares Invisíveis. Não há outro caminho.

Eu acredito que essa ideia possa ser fixada mais firmeza em sua Mente, mais do que antes, e que isso possa lhe dar uma base para corrigir as outras pessoas que estão correndo o risco de se desviarem.

(Carta nº 63 do Livro Cartas aos Estudantes – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)


[1] N.T.: doenças que provocam definhamento, enfraquecimento ou debilidade tal como a tuberculose, a síndrome consumptiva (ou síndrome de Wating) e doenças que provocam a caquexia (perda de tecido adiposo e músculo ósseo).

[2] N.T.: Jo 3:12

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Carta de Max Heindel: A Guerra: uma Operação para remover a Catarata Espiritual

Novembro de 1915

Você já deve ter estudado no livro Conceito Rosacruz do Cosmos, que houve uma Raça no final da Época Lemúrica, sete Raças na Época Atlante, sete Raças na Época Ária e haverá uma na vindoura Época Nova Galileia, totalizando dezesseis Raças. Você também se lembra que essas dezesseis Raças são chamadas pelos Irmãos Maiores de “os dezesseis caminhos para a destruição”, porque o risco de se enredar nos corpos de qualquer Raça é tão alto, que o Espírito ficará incapaz de seguir os outros Espíritos ao longo do Caminho da Evolução. Durante os Períodos e as Épocas sempre há tempo suficiente para que os Líderes da humanidade possam reunir e ordenar da forma mais adequada e eficaz os que estão sob as suas responsabilidades. Contudo, os judeus são o exemplo do que pode acontecer a um povo que se tornou tão intensamente imbuído do espírito racial, que eles se recusam totalmente a abandonar tal espírito racial. Eles continuam como uma anomalia entre o restante da humanidade, um povo sem uma pátria, um rei ou outro qualquer dos fatores que impulsionam a evolução racial.

Essa foi a tendência entre as nações da Europa até a guerra atual[1]. Assim, o patriotismo e o ideal de Raça são fomentados, o que as conduz para longe de Deus. As inúmeras descobertas científicas foram precedidas por uma era de dúvida e de ceticismo, e as Raças pioneiras no mundo ocidental foram levadas muito próximas à beira da destruição. Por conseguinte, se tornou necessário que os Irmãos Maiores concebessem medidas para que a humanidade abandonasse o caminho do prazer e cultivasse o caminho da devoção, e isso só poderia ser feito removendo a catarata espiritual de um número suficientemente grande de pessoas para que, então, superar a dúvida e o ceticismo do restante da humanidade.

Quando nós habitávamos sob as águas na primitiva Época Atlante, éramos, como você sabe, incapazes de ver o Corpo Denso ou até mesmo senti-lo, porque a nossa consciência estava focada nos reinos espirituais. Víamo-nos uns aos outros, alma a alma. Estávamos inconscientes tanto do nascimento como da morte, e não sentíamos a separação daqueles que amávamos. Mas, quando nós, gradualmente, nos tornamos conscientes dos nossos Corpos Densos, e a nossa consciência foi focada no Mundo Físico desde ao nascimento até a morte aqui, e nos Mundos espirituais da morte até o nascimento lá, houve uma separação e o consequente pesar devido ao advento da morte. No entanto, em tempos passados, havia muitos seres humanos que eram capazes ver em ambos os mundos; eles formavam um número considerável entre toda a população humana. Os testemunhos desses seres humanos sobre a continuidade da vida foram um grande conforto para aqueles que ficavam desolados com a morte, pois eles acreditavam plenamente que aqueles que haviam morrido ainda estavam vivos e felizes, embora incapazes de se dar a conhecer. Mas, gradualmente, o mundo se tornou cada vez mais materialista; a fé na realidade da vida após a morte aqui se desvaneceu, e tornando-se mais intensa e profunda a angústia, a tristeza e até o arrependimento pela perda dos entes queridos, e ainda hoje muitos acreditam que a separação é definitiva. Para esses, a palavra “renascimento” é uma palavra vazia de sentido e, portanto, a angústia profunda e pungente é imensa.

Mas essa angústia profunda e pungente é o remédio da natureza para a catarata espiritual. Tão certo como o desejo de crescimento construiu o complicado canal alimentar desde o começo mais simples para que o anseio de crescimento pudesse ser satisfeito; tão certamente quanto o desejo de movimento desenvolveu as maravilhosas articulações, os tendões e ligamentos com os quais isso é realizado; com a mesma certeza, o intenso anseio de continuar os relacionamentos rompidos pela morte construirá o órgão para sua gratificação – o olho espiritual. Portanto, essa matança em massa de milhões de seres humanos ajudou e está ajudando mais a preencher o abismo entre os Mundos invisíveis e o Mundo visível do que mil anos de pregação poderiam fazer. Ao longo da história do mundo, foi registrado que os guerreiros (das batalhas e guerras) viram as chamadas manifestações sobrenaturais, e há muitos testemunhos de que estas visões também foram vistas na guerra atual. O choque da ferida, os sofrimentos nos hospitais, as lágrimas das viúvas, dos viúvos e dos órfãos, tudo isso está abrindo os olhos espirituais da Europa, e os tempos da dúvida e do ceticismo, aos poucos, desaparecerá. Em lugar de ficar envergonhado por ter fé em Deus, o mundo honrará o ser humano mais por sua devoção do que por suas proezas, e isso num futuro não muito distante. Elevemos uma prece para este dia chegar.

(Carta nº 60 do Livro Cartas aos Estudantes – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)


[1] N.T.: Refere-se à Primeira Grande Guerra Mundial.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Carta de Max Heindel: A Fraternidade Rosacruz, um Centro Espiritual

Novembro de 1912

Fez um ano em 28 de outubro de 1912 que começamos a obra para a construção do primeiro edifício em Mount Ecclesia. Foi um glorioso e ensolarado dia típico na California, com um céu sem nuvens e cujo azul intenso rivalizava com o azul marinho do Oceano Pacífico que, dos terrenos da Sede Central onde estávamos, podia ser visto além de cento e cinquenta quilômetros. Éramos um pequeno grupo de nove, a maioria visitantes. Ao olharmos a leste, para o encantador vale verde de San Luis Rey[1] em direção às grandes montanhas cobertas de neve, e ao contemplarmos as paredes brancas, os telhados vermelhos e a cúpula dourada da Missão Católica de São Luis Rey[2], onde os padres franciscanos tanto trabalharam e ensinaram mexicanos e indígenas durante séculos, pareceu-nos de bom augúrio.

Aqui estávamos nós, uns poucos entusiastas, sobre um pedaço de terra baldia onde aspirávamos fundar um Centro Espiritual. Aqueles antigos padres tinham se encontrado em uma situação parecida, melhor em alguns casos e pior noutros. Os meios de locomoção e transportes modernos nos permitem chegar hoje a todas as partes do mundo, enquanto o campo de ação deles se achava, naquela época, limitado às proximidades imediatas. Viram-se obrigados a lavrar a terra, bem como a cuidar das almas do seu rebanho, para obter a sua subsistência. Pediram ajuda para o trabalho físico, enquanto planejavam, e por seus esforços conjuntos foi erguido um templo onde todos puderam orar e celebrar. Neste aspecto eles estiveram em melhores condições do que nós; todos os seus membros estavam presentes no local, prontos para ajudar fisicamente na edificação da Missão, que para eles era o que nossa Sede será para a Fraternidade Rosacruz. Mas, nós não temos pessoas a nossa disposição, não reivindicamos nenhuma autoridade e repudiamos a interferência na liberdade individual, pois tal interferência é diametralmente oposta aos Ensinamentos Rosacruzes, que são os mais elevados do mundo. “Se queres ser Cristo, ajuda-te a ti mesmo”, é o que se propõe desafiadoramente ao candidato que se submete à Iniciação quando ele geme ao peso da prova. Ninguém que for capaz de caminhar sem apoio ou consolação pode ser ao mesmo tempo um auxiliar; cada um deve aprender a caminhar sozinho.

A quantidade dos nossos Estudantes são hoje quatro vezes maior do que há um ano atrás e, claro, o trabalho é muito mais pesado – embora os procedimentos padronizados e a maquinaria possibilitem a três de nós, que trabalhamos nos escritórios, fazer o trabalho que exigiria muitos colaboradores, sendo que as tarefas caseiras e as de jardinagem são feitas por pessoas que pagamos. No entanto, o trabalho rotineiro constando da preparação das aulas e cartas dos vários cursos[3], a correção das lições desses cursos, o envio mensal de cerca de 1500 cartas individuais para ajudar nossos Estudantes Rosacruzes nas suas dificuldades, além das lições desses cursos, às vezes, nos sobrecarregam demais. Chega ao ponto de parecer que não poderíamos atender outro pedido por falta de ajuda para fazer a parte mecânica do trabalho. Mas, milagrosamente, parece que o céu de repente se abre, inventamos um novo método para realizar uma certa parte do trabalho com maior rapidez ou menor esforço; e estamos prontos para um novo crescimento; como dissemos, nós temos hoje quatro vezes mais trabalho do que há um ano, com menos ajuda e menos esforço.

Mas, enquanto a Fraternidade Rosacruz, em geral, está bem cuidada, a própria Sede foi um tanto descuidada. A pretendida Escola de Cura, o Estabelecimento que serviria para a preservação ou a recuperação da saúde – o nosso “Sanitarium” –, e o mais importante de tudo, a Ecclesia – onde a Panaceia deve ser preparada e onde os potentes e fervorosos Serviços de Cura devem espalhar a saúde moral e física por todo o mundo – tudo isso são apenas e ainda ideias germinais. À medida que o clamor da humanidade nos chega por meio de milhares de cartas, o nosso desejo pela realização dos planos dos Irmãos Maiores se torna mais intenso e, de fato, tão intenso que parece incorporar o anseio concentrado de todos os que apelam para nós por se encontrarem profundamente tristes, pesarosos e sofrendo.

A nossa Fraternidade Rosacruz já está espalhada por todo o mundo. Não podemos seguir o exemplo dos padres espanhóis e pedir aos nossos Estudantes Rosacruzes que façam tijolos físicos e os venham colocar, tijolo por tijolo, como um trabalho amoroso. Eu nunca pedi um centavo a ninguém – o trabalho da Fraternidade Rosacruz vem sendo inteiramente mantido por donativos voluntários e pela modesta receita financeira da venda dos meus livros. Nem posso, agora, fazer um apelo para obter fundos para a construção de um edifício; isto deve vir do coração dos amigos, se é que deve vir. Mas, sentindo, como estamos aqui na Sede, o intenso pulsar de dor no mundo, sou impelido a procurar os meios para realizar o plano de tornar a Sede da Fraternidade Rosacruz um Centro Espiritual mais eficiente.

Há um ano escrevi aos Estudantes Rosacruzes informando-os o momento exato em que iríamos começar a primeira construção em Mount Ecclesia, e pedi a cada um que entrasse nos seus aposentos e estivesse conosco em oração, se não pudesse estar conosco pessoalmente. É maravilhoso a elevação que sentimos como resultado desse esforço espiritual coletivo; o impulso inicial promoveu o trabalho em um grau inestimável durante o ano passado e, novamente, me sinto impelido a invocar a sua ajuda em linhas semelhantes.

O movimento Cientista Cristão[4] “demonstra” que quando deseja construir edifícios, e o dinheiro jorra em seus cofres; os Novo Pensador envia um “pedido” e Cristãos de todas as denominações “rezam” por fundos. Todos eles usam o mesmo método, mas empregam nomes diferentes. Todos querem colunas magníficas de pedras e vidros, e conseguem obtê-las. Eu sei que é necessário um lugar e um edifício apropriados à dignidade do nosso trabalho, mas, por mais que precisamos deles, não posso rezar por paus e pedras, nem posso pedir a vocês que o façam; mas posso, quero e peço a todos vocês que se unam comigo em oração para que a Sede da Fraternidade Rosacruz se torne um Centro Espiritual mais eficiente e poderoso. Orem, com toda a sua alma, para que os que trabalham na Sede alcancem a graça de levar esse trabalho adiante; torne-os um foco em seus pensamentos amorosos, para que possamos irradiar essa graça de volta ao mundo faminto por esse amor. Nós mesmos somos frágeis, mas por meio das suas orações e da Graça de Deus seremos uma força poderosa no mundo; e, se buscarmos primeiro o Reino de Deus, o restante, como os edifícios necessários ao nosso trabalho surgirão naturalmente, sem degradar a oração, tornando-a um meio para adquirir as posses materiais necessárias.

(Carta nº 24 do Livro Cartas aos Estudantes – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)


[1] N.T.: Localizado na região hidrológica da costa sul da Califórnia, o Upper San Luis Rey Valley (anteriormente chamado San Luis Rey Valley) tem em torno de 8000 quilômetros quadrados de tamanho.

[2] N.T.: A Missão San Luis Rey de Francia (espanhol: Misión San Luis Rey de Francia), fundada em 1798, é uma antiga missão espanhola em San Luis Rey, um bairro de Oceanside, Califórnia. Foi a maior das missões californianas, juntamente com suas terras agrícolas circundantes.

[3] N.T.: Curso Preliminar de Filosofia Rosacruz, Curso Suplementar de Filosofia Rosacruz, Curso Elementar de Astrologia Rosacruz, Curso Superior de Astrologia Rosacruz, Curso Superior Suplementar de Astrologia Rosacruz e Curso dos Ensinamentos Bíblicos Rosacruz.

[4] N.T.: A Ciência Cristã é um conjunto de crenças e práticas associadas aos membros da Primeira Igreja de Cristo, Cientista. Os adeptos são comumente conhecidos como Cientistas Cristãos ou estudantes da Ciência Cristã, e a igreja às vezes é informalmente conhecida como a igreja da Ciência Cristã.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Carta de Max Heindel: O Espírito de Cristo e a Panaceia Espiritual

Agosto de 1912

Você lembra de ter lido no livro “Conceito Rosacruz do Cosmos” sobre como nos tempos de Noé até os tempos de Cristo, sob o regime de Jeová, o egoísmo universal foi fomentado em toda a humanidade. Disseram ao homem: “O céu é o céu do Senhor, mas a terra, ele a deu para os filhos de Adão[1]. Assim, o ser humano se viu forçado a procurar posses materiais e não tinha noção dos tesouros do Céu, que são os frutos do autossacrifício. Em consequência disso, sua vida espiritual se tornou cada vez mais estéril; o seu progresso espiritual decaiu e, a menos que um novo impulso lhe fosse fornecido, seu progresso espiritual teria cessado definitivamente.

Então, o Espírito do Cristo Cósmico, o “Redentor”, começou o Seu beneficente trabalho e, finalmente, conseguiu obter o acesso à Terra, mediante o “Sangue purificador de Jesus”, quando fluiu no Gólgota; e, agora, o Espírito do Cristo está trabalhando de dentro do nosso globo para atenuar os seus constituintes físicos e suprafísicos. Um enorme influxo espiritual foi sentido no momento em que Ele tomou posse total da Terra no Gólgota; tão grande que, verdadeiramente, aquela intensidade de luz cegou o povo. Desde aquele momento, o princípio do altruísmo começou a ter uma influência maior sobre a Onda de Vida humana; gradualmente, vamos deixando de olhar exclusivamente para os nossos próprios interesses, e estamos acumulando tesouros ao se interessar no bem-estar do nosso próximo. Se não fosse a vinda de Cristo, outra Lua deveria ter sido expelida para nos livrar dos piores elementos, mas fomos salvos graças ao sacrifício do Espírito do Cristo Cósmico – um sacrifício que não envolve a Sua morte, como comumente é entendido, mas que é uma infusão da Terra com a vida superior que nos capacita viver mais abundantemente no espírito.

Nós temos uma analogia entre essa vinda de Cristo à Terra e a administração da Panaceia espiritual, de acordo com a lei: “Como é em cima, assim é embaixo”. Em cada pequena célula do corpo humano há uma vida celular separada, mas, sobre e acima disso está o Ego que dirige e controla todas as células para que atuem em harmonia. Durante certas doenças prolongadas, o Ego se torna tão concentrado no seu sofrimento que cessa de vivificar plenamente as células; assim, as doenças corporais acarretam a inação mental e pode se tornar impossível se livrar da doença sem um impulso especial para dissipar a confusão mental e reiniciar as atividades das células. É isto que a Panaceia Espiritual faz. Assim como a dádiva da vida de Cristo no Gólgota começou a dissipar a nuvem do medo, criada pela lei inexorável que pendia sobre a Terra como uma mortalha, e assim como isso deu início a que milhares de pessoas encontrassem o caminho da paz e da boa vontade, assim também, quando a Panaceia é aplicada, a vida de Cristo nela concentrada penetra no corpo do paciente, e infunde cada célula com um ritmo que desperta o Ego aprisionado de sua letargia, devolvendo-lhe a vida e a saúde. Que Deus nos permita poder levar, o mais rapidamente possível, essa elevada dádiva à humanidade sofredora.

(Carta nº 21 do Livro Cartas aos Estudantes – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)


[1] N.T.: Sl 115(113B) (16)

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