Arquivo de categoria Filosofia

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pergunta: É errado primos de primeiro, segundo ou terceiro graus se casarem e, em caso afirmativo, por quê?

Resposta: A finalidade do matrimônio é a perpetuação da raça humana e, de acordo com a natureza física dos pais, somada ao ambiente em que ambos vivem, assim será a criança. Vemos, por exemplo, que os emigrantes, que chegam a um determinado país, são diferentes das crianças que eles mesmos, uma vez chegados ao novo país, geram e, que as crianças geradas no continente americano são diferentes das geradas no continente europeu, por exemplo. Assim, os sicilianos – que vieram da Itália – possuem a cabeça mais alongada e os filhos que eles geram no país para o qual emigraram têm uma cabeça mais arredondada; da mesma forma os judeus possuem a cabeça mais arredondada e os filhos que geram no país para onde emigraram têm uma cabeça mais ovalada, o que mostra que as pessoas oriundas de vários lugares quando migram para outros países, especialmente, do continente americano, têm uma tendência de amalgamar e gerar um novo formato de partes do Corpo.

Essas mudanças não são frutos do acaso. Os Grandes Líderes da Humanidade sempre concentram seus esforços em criar certas condições que permitam o surgimento de determinados tipos. Pois, somente dessa forma, podem se desenvolver as faculdades necessárias ao progresso do Espírito. Houve um tempo em que foi necessário, para a evolução do Ego, que se casassem dentro de uma mesma família. Naquela época, a Humanidade não era tão evoluída e individualizada como é atualmente. Ela era regida por um Espírito de Família que entrava no sangue por meio do ar que inspiravam para ajudar o Ego a controlar seus Corpos. Então a Humanidade tinha o que é conhecido como a “segunda visão”, a qual é ainda encontrada entre as pessoas que persistiram, principalmente, em se casar dentro da própria família, como, por exemplo, os indivíduos que habitam as Terras Altas da Escócia (norte daquele país) e os Ciganos.

Mas, era necessário que os seres humanos esquecessem os Mundos espirituais, por um certo tempo, e não se lembrassem de outra vida, a não ser a presente. Para realizar essa mudança conscientemente, os Grandes Líderes da Humanidade tomaram algumas medidas, entre elas a proibição de casamentos dentro de uma mesma família. Quando lemos no quinto capítulo do Livro do Gênesis que Adão viveu mais de 900 anos e todos os patriarcas viveram séculos, isso não significa realmente que essas pessoas viveram durante todo esse período de tempo, mas o sangue que corria em suas veias era transmitido diretamente aos descendentes deles e esse sangue continha os acontecimentos da família individual deles como agora contém os acontecimentos de nossas vidas individuais, pois o sangue é o detentor de todas as nossas experiências. Consequentemente, os descendentes das famílias patriarcais se viam como Adão, Matusalém, etc. É natural que, com o passar dos séculos, as imagens desses acontecimentos, gradualmente, iam se enfraquecendo e, quando a memória de Adão se apagou do sangue de seus descendentes diretos, foi dito que Adão morreu.

À medida que o ser humano se tornou mais individualizado, foi necessário aprender a se manter ereto sobre as próprias pernas, sem a ajuda do Espírito de Família. Então, os casamentos entre membros de diferentes grupos raciais foram permitidos, ou até mesmo ordenados, e o casamento dentro da família não era mais autorizado. Isso pôs fim à Clarividência. A ciência demonstrou que quando o sangue de um animal é inoculado nas veias de outro animal, ocorre a hemólise, ou a destruição do sangue, de modo que a espécie inferior morre. Porém, com a inoculação de sangue estranho, seja de que modo for, sempre mata alguma coisa, se não a forma, pelo menos uma faculdade, e o sangue estranho introduzido pelo casamento pôs fim à Clarividência adquirida pelo ser humano primitivo. Sobre a afirmação de que o sangue estranho pode destruir, tanto é verdadeira que podemos ver isso no caso dos híbridos. Onde, por exemplo, um cavalo e um burro são acasalados, a progênie é uma mula, mas essa mula não tem a faculdade reprodutora porque não está sob o Espírito-Grupo dos cavalos nem sob o domínio do Espírito-Grupo dos burros, e se fosse reproduzir, o resultado seria uma espécie que não estaria sob o domínio de nenhum Espírito-Grupo. A mula não está tão evoluída a ponto de poder guiar o seu instrumento sem o auxílio de um Espírito-Grupo, assim lhe é negada a faculdade de reprodução – o Espírito-Grupo retém o Átomo-semente da fecundação. No entanto, com a Humanidade foi diferente. Quando se chegou à fase em que os casamentos fora do grupo foram ordenados, os seres humanos haviam chegado ao ponto da evolução da autoconsciência em que eram capazes de se guiar deixando de ser autômatos guiados por Deus para se tornarem indivíduos autônomos. Quanto maior for a mistura de sangue, menor será a influência que o Espírito encarnado receberá de qualquer Espírito de Raça ou Espírito de Família, os quais influenciaram os nossos ancestrais. Assim, maior abrangência será dada aos Egos que renascem quando há casamentos com estranhos, do que quando o fazemos com um primo, por exemplo.

(Pergunta nº 23 do livro “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas, Vol. I” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Valor do Inventário Espiritual

O ano passado, com tudo o que nos proporcionou em termos de venturas e tristezas, êxitos e malogros, já faz parte do passado. É mister, entretanto, proceder-se a um inventário espiritual. O Estudante Rosacruz sincero, por certo, analisará sua atuação durante o período recém-findo, objetivando verificar a extensão de seu progresso e a estatura de seu patrimônio moral. É uma autoanálise. Seguramente evidenciará as falhas de caráter e as virtudes já conquistadas. Fará vir à tona uma série de distorções subconscientes. Mostrará, enfim, as debilidades a serem substituídas gradativamente pelas qualidades opostas, e os pontos positivos que deverão ser fortalecidos. É um dever ao qual não podemos nos eximir.

Não olvidemos o trabalho empreendido pelo Espírito de Cristo, cujo clímax é atingido pelo Natal. Estejamos cientes de nossa responsabilidade perante essa ajuda. O refrão popular “Deus ajuda a quem se ajuda” tem sua razão de ser. Não poderemos usufruir dessa infusão de energia espiritual se nos mantivermos “impermeáveis” a ela. Nosso crescimento será maior e mais rápido na medida em que agirmos consoante a Lei Cósmica.

É lógico, o ser humano mundano é também envolvido pelo Auxílio Crístico, porém em amplitude bem menor do que o espiritualista que se esforça por tornar-se não só um elemento receptível, mas também um canal a espargir as mais elevadas benções. Na proporção em que se aumenta a capacidade de dar, ampliam-se as possibilidades de receber. É uma Lei!

É importante conscientizarmo-nos de que somos canais. Mas só isso não basta. O canal necessariamente deverá estar limpo e desimpedido para que o fluxo através dele não sofra solução de continuidade. Aí encontramos o valor do inventário espiritual. Ele nos propicia o real vislumbre dos atritos a serem eliminados, dando-nos a dimensão exata do trabalho de purificação e regeneração a ser executado.

É louvável nosso desejo de ajudar a Humanidade. É compreensível e confortadora nossa ânsia de trabalhar na “Vinha do Senhor”. Contudo, nós o faremos mais eficientemente se nos libertamos pouco a pouco de nossas falhas.

Preparemo-nos convenientemente para a labuta do ano entrante, delineando alguns objetivos a serem colimados. E que um deles seja o aprimoramento de nosso caráter.

(Gilberto A V Silos – Editorial da Revista Rosacruz – janeiro/1973 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Poder do Amor

“O Amor nasce do Pai eternamente, dia a dia, hora a hora, impregnando constantemente o Universo Solar para nos redimir do mundo da matéria que nos mantém presos à morte. É impelido do Sol, onda a onda para todos os Planetas, estimulando ritmicamente todas as criaturas que neles evoluem” (Livro “Coletâneas de um Místico” – Max Heindel-Fraternidade Rosacruz)).

Tal é a natureza do Amor Cósmico que nos faz estremecer, e que um dia, eventualmente, todos nós seremos capazes de emanar também; temos plena consciência desse Amor Cósmico, a mais sublime das emoções, que nos é oferecida por meio do Cristo recém-nascido no Natal de cada ano.

O nascimento místico de Cristo, repleto da nova vida e do Amor do Pai, é nos dados para nos salvar da fome física e espiritual que nos destruiria se não fosse essa dádiva anual de Amor.

O Amor que faz pulsar os corações de todos os sistemas religiosos, independentemente das divergências que possam aparentar, é a pedra de toque de toda a criação.

A maneira como cada um de nós, participante do processo evolutivo, é receptivo e responde ao Amor, e aprende eventualmente a transmiti-lo, determina o nosso grau e nível de ascensão na escada do desenvolvimento (desde a completa ignorância até a total consciência; depende de nós). A maioria de nós conhece o que considera “amor” sob três formas.

Primeiro, a paixão marciana, a luxúria que não tem nada a ver com a faceta espiritual do Amor.

Segundo, o amor pessoal de Vênus, a que a maior parte de nós responde. É uma forma de amor egoísta, separatista e exclusivista.

Finalmente, o altruísmo uraniano – o amor que engloba todos os seres igualmente e que Cristo veio nos ensinar, como a palavra-chave do Seu reino, que ultrapassa a concepção ou os limites da compreensão de grande parte de nós.

O amor ao nosso “semelhante”, ou seja, o amor a todos os nossos irmãos e nossas irmãs, é o mandamento supremo e ultrapassa todas as leis do passado. Cristo-Jesus foi claro ao nos deixar a mensagem de que as Leis da Religião de Raça haviam servido a seu objetivo, mas que, a partir de então, todas as Leis passariam a ser subordinadas ao Amor. Atingimos um ponto da sua evolução em que nos foi pedido que aprendêssemos a fazer o bem por amor ao bem, e não por receio das consequências dos nossos erros. “O Amor perfeito elimina todo o medo.” (IJo 4:18) – quando aprendermos a irradiá-lo, de nós próprios, fará bem a nós e ao nosso semelhante, automaticamente.

O Amor é a força criadora que emanamos a fim de criar outro ser. Os Anjos projetam todo o seu amor, sem desejo ou egoísmo, e são banhados em troca pela corrente da Sabedoria Cósmica. Projetamos apenas uma parte do nosso amor e guardamos o resto, utilizando-o na construção dos nossos órgãos de expressão interno e no nosso próprio aperfeiçoamento. Desse modo o amor que conseguimos expressar se tornou egoísta e sensual. Usando parte do poder criador da nossa alma, amamos egoisticamente, porque necessitamos de outra pessoa para colaborar no processo de propagação da espécie humana (se todos resolvessem não ter mais filhos – o que é impossível, pois “os Anjos do Destino estão acima de todos os erros e dão a cada um e a todos exatamente o necessitam para o seu desenvolvimento” – não teríamos mais a espécie humana nesse Planeta.). E com a outra parte do poder criador usamos para expressar nossos pensamentos aqui na Região Química do Mundo Físico, embora também por razões egoístas, pois a nossa ambição é obter mais conhecimentos.

Temos agora a responsabilidade de nos purificar do pecado, do egoísmo. Só quando o fizermos é que compreenderemos e seremos capazes de exprimir o Amor Altruísta e Espiritual – o Amor Crístico.

A vida é o que temos de mais precioso, pois “Não há Amor maior do que o do ser humano que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15:13). Ao cultivarmos o altruísmo, aprendemos, figurativamente, a dar a nossa vida, a sacrificar o “Eu pessoal” – “eu inferior” – pelo nosso semelhante, atingindo o estado do Amor Crístico.

Atualmente, a razão nos controla, aliando-se à causa da natureza de desejos, emoções e sentimentos. Essa soberania terá de ser sucedida pela do amor que, presentemente, age independentemente (e por vezes, contrariamente) aos ditames da razão. Na Sexta Época (a próxima), na Nova Galileia, o que chamamos de Amor não será egoísta e a razão servirá à causa da Fraternidade Universal, e aprovará o que o Amor lhe ditar. Todos trabalharão para o bem comum, pois o interesse egoísta terá desaparecido para sempre.

Assim, o Estudante Rosacruz que procura acelerar a sua evolução deve aprender, desde agora, a ambicionar apenas aquele amor “que é da alma e que envolve todos os seres vivos, superiores e inferiores, e que aumenta em proporção direta às necessidades daquele que recebe” (como estudamos no Conceito Rosacruz do Cosmos – Max Heindel-Fraternidade Rosacruz). O amor de indivíduos, que exclui outros, terá pouco a pouco de ser substituído pelo amor do todo. Os ensinamentos espirituais do passado requeriam que amássemos nossos familiares e, embora essa exortação continue sendo válida ainda hoje, os ensinamentos mais recentes nos dizem que ampliemos esse amor partilhando-o com toda a “família humana”.

Infelizmente, é vulgar que a Mente humana confunda o “amor” com a “paixão”. O primeiro, porém, nada tem a ver com a segunda, como se pode claramente depreender da ópera “Parsifal” (ópera de três atos do com a música e libreto do compositor alemão Richard Wagner, muito estudada no Curso Suplementar de Filosofia Rosacruz), em que esse diz a Kundry que representa o Corpo Denso: “perderíamos a eternidade se cedesse a ti, nem que fosse só por uma hora… assim, vou salvar-te e libertar-te da maldição da paixão, pois a amor que te consome é sensual, apenas; entre ele e o amor verdadeiro dos corações puros existe um abismo tão grande como entre o céu e o inferno”.

Sabemos, também, que as crianças geradas num momento de paixão ardente e sem amor, ou sob a ira ou a embriaguez, têm probabilidades de nascer com veículos mais fracos e uma vida mais curta do que aquelas geradas em condições de harmonia e de verdadeiro amor. O Corpo Vital, que é o veículo do amor, determina o desenvolvimento e a formação do Corpo Denso.

É infinitamente melhor ser capaz de sentir e exprimir o amor do que o definir. Podemos pregar e exortar outros a amar, mas, enquanto não tivermos aprendido verdadeiramente a arte de amar como Cristo amou, não nos encontraremos mais perto de sua realização do que agora. Podemos fazer os nossos Exercícios Esotéricos Rosacruzes fielmente; podemos oficiar todos os Rituais Rosacruzes, mas os resultados serão nulos se não forem constantemente acompanhados de atos de amor Crístico! A expressão intensa do amor na sua forma de serviço amoroso e desinteressado (portanto, o mais anônimo possível), esquecendo os defeitos dos outros, e focando na divina essência oculta – que é a base da Fraternidade – aumenta a densidade fosforescente dos dois Éteres superiores do nosso Corpo Vital. Assim construímos o nosso Corpo-Alma.

A sabedoria, a expressão do princípio Crístico, só é possível quando o conhecimento estiver aliado ao amor. E só quando essa união for consumada é que teremos a certeza de que as nossas ações terão o único fim de promover o bem comum e não (muito embora apenas inadvertidamente) os nossos fins egoístas.

O Poder do Amor é bem conhecido de todos. Não se opõe nunca aos planos de Deus; e consegue inspirar pessoas a fazer esforços para os quais nunca se supuseram capazes. É uma força que age tão perfeitamente por meio da expressão de objetivos criadores humanos, como de criações cósmicas. É um agente de transformação que, quando encontra a sua forma de expressão adequada, ultrapassa todas as formas do mal e transmuta o próprio ódio em Amor.

Deus é Amor, e se amamos uns aos outros, Deus está em nós e nós n’Ele” (IJo 4:12).

O verdadeiro Amor é divino e descreve a solidariedade de “Espíritos livres”. A paixão é diabólica e o que a ela cede se torna escravo do pecado. Eis o princípio em que se baseia a exortação de amar segundo o Espírito (o Ego) e não segundo a “carne”.

Temos, pois, de aprender a elevar o amor do âmbito passional ao Reino Espiritual, a fim de permitir a igualdade entre o homem e a mulher. Embora a “supremacia masculina” não represente o peso social que foi no passado (apesar de ainda existir e em muitos lugares e situações com a tal supremacia do passado), é necessário que nos lembremos de que os opressores de uma época serão os oprimidos da época seguinte (pois renascemos alternadamente: uma vez homem, outra vez mulher) e que, portanto, só nos elevaremos quando a igualdade total dos sexos deixar de ser um conceito hipotético e se tornar um fato real e concreto.

Atualmente, a ciência médica considera o coração como um músculo involuntário, constituído ao longo do comprimento, pelas fibras que se encontram geralmente nesse tipo de músculo. Contudo, o aparecimento de fibras horizontais tem deixado os cientistas perplexos, pois desconhecem que elas significam o controle que o Ego eventualmente terá sobre o coração. Ao manifestar-se cada vez mais o princípio do amor altruísta essas fibras horizontais se tornarão mais numerosas e nós, Ego, poderemos, então, atingir a soberania do coração com maior facilidade, e um dia saberemos regular a quantidade de sangue necessária ao cérebro, alimentando o lado dedicado a atividades altruístas e filantrópicas e deixando “à mingua” o outro, que se dedica a fins meramente egoístas. Assim, a circulação sanguínea passará eventualmente a ser controlada unicamente pelo unificante Espírito de Vida – um dos nossos três veículos superiores –, o Espírito do Amor, enquanto os centros de expressões dos pensamentos egoístas, que usamos hoje, serão atrofiados.

(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – março/1985 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Devemos ser Tolerantes

Dentre os pensamentos maravilhosos que compõem o Ritual Rosacruz do Serviço Devocional do Templo destacamos o seguinte: “Devemos esquecer diariamente os defeitos dos nossos semelhantes, e servir a Divina Essência neles oculta, o que constitui a base da Fraternidade”. Estas palavras encerram uma exortação à busca do lado positivo de todos nós. Contudo, podemos ir mais além, pois na realidade o ideal é procurarmos vislumbrar o bem em todas as coisas.

Como estudamos no Conceito Rosacruz do Cosmos, certa vez Cristo percorria os arredores de Jerusalém em companhia de seus discípulos. Em dado momento estes depararam com o cadáver de um cão, já em adiantado estado de decomposição. Ante aquele quadro nauseabundo todos expressaram sentimentos de desagrado, porém o Mestre impassível, afirmou: “As pérolas não são mais brancas que seus dentes”. Esta foi uma das mais expressivas lições que o Salvador nos legou. Contudo, não tem sido bem compreendida. Raras vezes percebemos o lado bom das coisas ou dos nossos semelhantes. É muito mais fácil notar as falhas alheias do que ponderar sobre os próprios defeitos. Essa tendência negativa nos coloca em constante atrito com os outros, formando ao nosso redor uma atmosfera de desarmonia.

Cada um nós é como que um diamante a ser lapidado. Embora muitas vezes coberto por uma crosta pouca atraente, que mais cedo ou mais tarde mostrará seu brilho. Deus, o grande lapidário, dispõe de diversos meios para remover a dita crosta. Deixemos de considerar a fealdade desta última e procuremos meditar sobre o fulgor interno.

Cada um de nós é uma lei em si mesmo. Não há dois de nós absolutamente iguais no mundo. Cada um renasce num ambiente diferente, passa por experiências também diferentes, o que acentua sua individualidade. Então, não temos o direito de querer padronizar o comportamento humano. Cada um de nós se encontra num determinado estágio evolutivo. “Até entre as estrelas existe diferença de esplendor” (ICor 15:41). É uma grande injustiça, de nossa parte, exigir de todas as pessoas um ajustamento aos nossos conceitos pessoais de ética. Nossa formação é, assaz, débil para alimentarmos tal pretensão. Nem sempre nossos conceitos de bem e de mal correspondem à realidade das coisas. Bem é o que nos deleita; mal é o que nos desagrada. Quão restritos são tais conceitos! Consideramos nossas aflições e experiências dolorosas como sendo um mal, e, no entanto, são elas que encerram lições marcantes, despertando nossa consciência para uma vida mais elevada. Precisamos de muita cautela quando julgamos os atos dos nossos irmãos e das nossas irmãs. Eis porque destacamos a tolerância como a virtude a ser cultivada por quem anela o aprimoramento espiritual, o verdadeiro Estudante Rosacruz.

É necessário que se esclareça que tolerância não é conivência com coisas erradas nem com certas distorções dos sentimentos humanos. Porém, entre criticar destrutiva e ferinamente, e orientar amorosamente há uma grande diferença. Uma orientação amigável só tende a fortalecer e alimentar as boas qualidades alheias fazendo com que as falhas morram de inanição. A tolerância sempre é um fator de preservação da paz e harmonia em nosso meio ambiente, seja no lar ou no trabalho.

Nem sempre a nossa compreensão e as nossas boas intenções são correspondidas inteiramente, porém, isto não constitui argumento para que busquemos o litígio. Um erro não justifica outro. Se alguém nos decepciona pelo modo como procede, isto não é problema nosso. Ante a Lei de Consequência cada um responde pelos seus atos. Não somos obrigados a errar, pois temos o livre arbítrio. Podemos perfeitamente optar por um curso de ação, porém, colhemos infalivelmente aquilo que plantamos.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – março/1968-Fraternidade Rosacruz-SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Os Cinco Panoramas da Vida

À medida que nós, como Espírito em evolução – o Ego –, atravessamos os vários planos durante a nossa existência, defrontamos com os cinco Panoramas da Vida abaixo relacionados. Max Heindel explica os quatro primeiros no “Conceito Rosacruz do Cosmos” e o quinto, no livro “Cristianismo Rosacruz”.

Os panoramas são os seguintes:

Panorama 1 – Após a morte;

Panorama 2 – No Purgatório;

Panorama 3 – No Primeiro Céu;

Panorama 4 – Na Preparação para o Próximo RenascimentoTerceiro Céu; e

Panorama 5 –No momento da entrada do Espírito na matriz do útero materno.

1 – Considerações sobre o Panorama de Vida “Após a morte”.

Toda nossa existência individual aqui na Terra, do nascimento até a morte, fica gravada no Corpo Vital, que é o repositório das memórias conscientes. Nesse Corpo, mais exatamente no polo negativo do Éter Refletor, que é o assento da memória subconsciente, estão todos os atos e experiências de todas as vidas passadas desde quando recebemos o Átomo-semente no Período de Saturno.

Após a morte, somos direcionados a rever, na ordem inversa, o panorama seguindo da morte até o nascimento. Nesse momento, somos apenas um expectador ante esse panorama da vida passada, pois, não expressamos nenhum sentimento pelo fato de estarmos ainda na Região Etérica do Mundo Físico. Sentimento é um atributo existente no Mundo do Desejo.

Esse Panorama da Vida dura de algumas horas até aproximadamente três dias e meio. Quando a resistência do Corpo Vital atinge seu limite máximo e não conseguimos mais nos manter desperto para rever esse Panorama da Vida, o Corpo Vital entra em colapso encerrando seu trabalho e somos impelidos a entrar no Mundo do Desejo. Assim, os veículos superiores – Corpo Vital (Éter Luminoso e Refletor), de Desejos e a Mente – são vistos abandonando o Corpo Denso em um movimento em espiral, levando consigo as forças do Átomo-semente que se localiza no ponto referencial do ápice do ventrículo esquerdo do coração. Esse é o Átomo-semente permanente do Ego, pois, será o núcleo que servirá para compor o Corpo da próxima encarnação. E os dois Éteres inferiores permanecem com o Corpo Denso inerte para desintegrarem-se.

Por isso, é oportuno que o “morto” não seja perturbado por lamentações e histeria até que termine essa gravação para que ela possa ser impressa no Corpo de Desejos de forma clara e nítida. Quando pudermos compreender que a morte é apenas um fim no Mundo Físico e um nascimento nos Mundos Espirituais, certamente, deixaremos de produzir sofrimento aos nossos entes queridos no leito de morte.

2 – Considerações sobre o Panorama de Vida “No Purgatório”.

Ao despertar do nosso Panorama da Vida depois da morte, no Purgatório, que está localizado nas três Regiões inferiores do Mundo do Desejo, assumimos imediatamente a aparência do Corpo que tínhamos durante a vida recém-terminada. Portanto, seremos reconhecidos por qualquer outro ser humano que porventura conhecemos, enquanto encarnado.

O Panorama da Vida “Após a morte”, como vimos acima, ocorreu na ordem inversa, isto é, da morte até o nascimento, porém, sem expressão de sentimento. Agora vemos a necessidade de purgar toda matéria mais grosseira de desejos, e novamente é revisto todo o Panorama da Vida em sentido inverso. A missão do Purgatório é erradicar os nossos hábitos prejudiciais, corrigindo as debilidades e vícios que retardam o nosso progresso, tornando impossível sua gratificação. Sofremos exatamente e com tripla intensidade o que fizemos os outros sofrerem, com os desejos, sentimentos e emoções inferiores gerados (por exemplo: ódio, intolerância, crueldade, raiva, inveja, etc.) e, também, pelas oportunidades perdidas na vida por nossa própria culpa e que foram traduzidas em desejos inferiores (culpa, medo, preguiça, desleixo, folga, etc.). E é graças a esse sofrimento e dor que aprendemos a gerar os desejos, sentimentos e emoções antônimos daqueles inferiores, dirigindo-os ao nosso próximo, numa vida futura e, também, aprendemos a lição de aproveitar melhor as oportunidades surgidas. Esse período no Purgatório dura aproximadamente um terço dos anos que vivemos em Corpo Denso.

Portanto, se quisermos escapar ou economizar esse tempo no Purgatório após a morte, vale salientar o enorme valor do exercício da Retrospecção para vivermos o nosso Purgatório todas as noites enquanto encarnados, introduzindo no Espírito, como sentimento correto, a essência das experiências diárias.

3 – Considerações sobre o Panorama de Vida “No Primeiro Céu”.

Findo todo o processo do Purgatório, os resultados dos sofrimentos são incorporados ao Átomo-semente do Corpo de Desejos, o que nos comunica a qualidade de reto sentimento que atuará, no futuro, como impulso para o bem e repulsão ao mal. Então, nós, o Espírito, elevamo-nos ao Primeiro Céu, que está situado nas três Regiões mais elevadas do Mundo do Desejo: Vida Anímica, Luz Anímica e Poder Anímico. Aqui, o Panorama da Vida da vida desenrola-se outra vez, mas então as boas obras da vida são a base dos nossos sentimentos. Sentimos toda a felicidade que causamos aos outros, na vida anterior, e a gratidão que eles sentiram. Também sentimos alegria pelos aspectos espirituais dos atos construtivos realizados. Aprendemos a lição de que o bem e a verdade trazem uma recompensa suprema. No Primeiro Céu, nós, também, concretizamos os nossos desejos construtivos que alimentamos durante a vida terrestre e que não foram realizados. Aqui o que prevalece é o caráter.

Quando terminam todas as lições aprendidas no Primeiro Céu e depois de serem impressas no Átomo-semente do Corpo de Desejos, junto com a “essência” recolhida no Purgatório produzimos uma profunda convicção do que realmente é valioso para ser utilizado nos renascimentos futuros.

Assim, estamos prontos para realizar a transição para o Mundo do Pensamento.

4 – Considerações sobre o Panorama de Vida “Na Preparação para o Próximo RenascimentoTerceiro Céu.

Para nos situarmos, o Mundo Físico é o mundo da forma. O Mundo do Desejo, em que se acham o Purgatório e o Primeiro Céu, é especialmente o mundo da Cor. Mas, o Mundo do Pensamento, em que estão localizados o Segundo Céu e o Terceiro Céu, é o mundo do Som.

Depois de ter esgotado todas as experiências da vida passada, relacionadas aos desejos, sentimentos e emoções, nós, o Ego, abandonamos o Corpo de Desejos e entramos no Segundo Céu, situado na Região do Pensamento Concreto, o mundo dos sons. Música de caráter sublime constitui uma das delícias especiais dessa região. O Segundo Céu é o nosso verdadeiro lar. Ali permanecemos, geralmente, durante vários séculos, levando uma existência muito ativa e preparando o ambiente da próxima vida.

O quarto Panorama da Vida não acontece até que cheguemos ao Terceiro Céu. Que correspondente à Região do Pensamento Abstrato. Nós, o Tríplice Espírito – o Ego, o Espírito em evolução – estamos desnudos, pois, deixamos para traz os quatro veículos inferiores, porém, retivemos os Átomos-semente de cada um, para que sirvam, no futuro, à formação de novos veículos. Para a maioria de nós, no estado de evolução atual, o Terceiro Céu não é um lugar de atividade, porque suas vibrações são demasiadas superiores para a maioria de nós. A maioria de nós descansa; flutua na divina harmonia que enche essa Região e obtém as forças necessárias para renascer. Quando assimilamos suficiente força espiritual, desejamos novas experiências na Escola da Vida para nos aperfeiçoarmos.

Contemplamos então, um novo nascimento e aí surge uma série de quadros ante a nossa visão – um Panorama da Vida da nova vida que nos espera. Lembrando que esse Panorama da Vida irá conter somente os acontecimentos principais. Quanto aos detalhes é nos dada a própria liberdade de escolha. E essa visão do Panorama da Vida é do berço ao túmulo (ou seja: não é inversa) e o objetivo visto dessa maneira é mostrar como certas causas ou atos produzem certos efeitos.

Com a escolha feita prepara-se o nosso retorno ao nascimento, atraindo a quantidade de material necessário que deverão compor nossos Corpos e veículo para vivenciar naquele Panorama da Vida escolhido anteriormente.

Depois da escolha feita no Terceiro Céu, ficamos atrelados ao ajuste de contas e não podemos mais modificá-lo.

5 – Considerações sobre o Panorama de Vida “No Momento da Entrada do Espírito na Matriz do Útero Materno”.

Depois de atraído todo o material para composição de nossos Corpos e veículo que deveremos utilizar no novo nascimento ficamos com a nova roupagem flutuando constantemente próximo a nossa futura mãe que, sozinha, trabalha sobre o novo Corpo Denso nos primeiros dezoito ou vinte e um dias após a fertilização, antes que o feto possa entrar no corpo.

O momento de entrada na matriz vital do útero é de grande importância na nossa vida, como afirma Max Heindel, “pois quando se põe em contato pela primeira vez com a já mencionada matriz do Corpo Vital, novamente comtempla o Panorama da vida que tem pela frente, e o que foi impresso naquela matriz pelos Anjos do Destino com o objetivo de dar-lhe as necessárias inclinações para liquidar as causas maduras na vida futura”.

Porém, se nos rebelamos contra o que está reservado para nossa vida futura, podemos tentar escapar a essa nossa prisão do futuro Corpo Denso. Mas, não podemos mais romper essa conexão e ficarmos forçando essa saída, o que muitas vezes pode provocar o deslocamento da cabeça do Corpo Vital com a cabeça do Corpo Denso que está se formando na matriz. De modo que o Corpo Vital ao nascer não estará concêntrico com o Corpo Denso, isto é, a cabeça do Corpo Vital estará acima do Denso. Essa nossa ação poderá se manifestar em termos que nascer e viver mentalmente como um idiota congênito.

Mesmo em condições favoráveis, passar pelo útero sempre trará uma tensão grande e penosa. Daí a importância dos pais em viver o mais harmoniosamente possível durante a gestação de seus filhos; com esse ambiente será possível ajudá-los no próximo nascimento.

Que as rosas floresçam em vossa cruz

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

As Razões Esotéricas do Natal

Os Evangelhos, como é normalmente lido nas Religiões que preconizam o Cristianismo Popular, muitas vezes, contam o Natal como a história de Jesus, um personagem único, o Filho de Deus em um sentido especial, que nasceu em Belém, viveu na Terra por um curto período de 33 anos, morreu por nós, depois de muito sofrer e está agora permanentemente sentado à direita do Pai, de onde “há de vir para julgar os vivos e os mortos”. Celebramos seu nascimento e sua morte em determinadas épocas do ano, pois se supõe que esses eventos tenham ocorrido em datas definidas.

Mas, enquanto as explicações acima satisfazem aqueles que não procuram ir muito a fundo em suas investigações sobre a verdade, há um outro lado muito evidente tanto ao Cristão ocultista como ao Cristão místico: uma história de amor Divino e de sacrifício perpétuo que o enchem de devoção para com o Cristo Cósmico, O qual nasce periodicamente para que possamos viver e evoluir. O Cristão ocultista e o Cristão místico entendem que, sem recorrer a esse sacrifício anual, a Terra e suas condições atuais de desenvolvimento seriam uma impossibilidade.

Quando o Sol está no Signo celestial de Virgem (a Virgem), acontece a Imaculada Concepção. Uma onda de Luz e de Vida do Cristo solar é, então, enfocada sobre a Terra. Aos poucos essa luz penetra cada vez mais profundamente na Terra, até que o ponto decisivo no momento mais importante do ano, que chamamos Natal. Esse é o nascimento Místico de um impulso de vida Cósmico que impregna e fertiliza a Terra. É a base de toda vida terrestre; sem isso nenhuma semente germinaria, nenhuma flor surgiria na Terra, nem o ser humano, nem o animal existiriam, e a vida logo se extinguiria.

Há, portanto, uma razão muito válida para a alegria que se sente na época do Natal. Como o Autor Divino de nossa existência, nosso Pai no Céu nos deu o maior de todos os presentes, Seu Filho, assim também nós somos levados a nos presentearmos, uns aos outros, e a alegria, paz e boa vontade reinam na Terra, quer compreendamos ou não as razões místicas e anualmente renovadas.

Assim como “um pouco de fermento faz fermentar um todo”, esse impulso de vida espiritual, que impregna a Terra no Solstício de Dezembro, trabalha durante os meses de dezembro, janeiro, fevereiro e março em seu caminho em direção à circunferência, dando vida a tudo com que entra em contato. Mesmo os minerais não se desenvolveriam se esse impulso de vida fosse contido.

Ao chegar à época da Páscoa, quando a Terra está em pleno vigor, tudo está imbuído dessa grande vida Divina. Aí, então, ela se esgota, morre e se levanta novamente à direita de nosso Pai. Assim, o Natal e a Páscoa são pontos decisivos que marcam o fluxo e o refluxo de Vida Divina, anualmente dados por nossa causa. Se formos um pouco sensíveis, podemos sentir o Natal e a Páscoa no ar, pois ambos estão carregados de amor, vida e alegria divinas. Mas, de onde vem aquela nota de tristeza e sofrimento que precede à Páscoa da Ressurreição?

Por que não nos regozijamos com uma alegria genuína, quando o Filho é liberado e retorna a Seu Pai? Por que essa paixão, essa cruz de espinhos? Para compreender esse mistério é necessário analisar o problema do ponto de vista do Cristo, e é necessário entender, por completo, que essa onda de vida anual, projetada em nosso Planeta, não é simplesmente uma força destituída de consciência. Ela carrega em si mesma a consciência plena do Cristo Cósmico. É certo que sem Ele não existiria nada do que foi feito. Na época da Imaculada Concepção, em setembro, esse grande impulso de vida começa sua descida para nossa Terra, e na ocasião do Solstício de Dezembro, quando acontece o nascimento Místico, o Cristo Cósmico está plenamente concentrado sobre e dentro do nosso Planeta.

Deve causar desconforto para tão grande Espírito estar preso dentro desta Terra, e estar consciente de todo o ódio e discórdia que emanamos, todos os dias. Não se pode negar que toda expressão de vida seja feita por meio do amor; do mesmo modo, a morte vem por meio do ódio. Se o ódio e a discórdia que geramos em nossas vidas diárias e as consequentes falsidades, infâmias e egoísmo fossem deixados sem antídoto, esta Terraseria engolida pela morte.

Nos serviços que se realizam todas as noites, à meia-noite, o Templo da Ordem Rosacruz é o foco de todos os pensamentos de ódio, raiva, inveja, cólera, astúcia, egoísmo, inquietação e todos os afins a esses do mundo, no qual ele serve. Esses pensamentos são, então, desintegrados e transmutados, e essa é a base do progresso social do mundo. Espíritos puros se afligem e sofrem muito com as perturbações do mundo, com nossa discórdia e ódio e enviam, através de si mesmos, individualmente, pensamentos de amor, de paz, de fraternidade, de compaixão, de concórdia, de bondade e de afins com esses. Os esforços associados da Ordem Rosacruz são dirigidos aos mesmos canais, normalmente à meia-noite, quando o mundo está mais tranquilo em relação ao esforço físico, e se torna mais receptivo à influência espiritual. Nessa hora eles se empenham em atrair e transformar as flechas daqueles pensamentos inferiores citados acima, compartilhando, assim, com o sofrimento de Cristo, e com esse trabalho ajudam a tirar alguns dos espinhos da coroa do Salvador.

O Espírito de Cristo na Terra está, como diz S. Paulo, atualmente “gemendo e lutando à espera do dia da libertação” (Rm 8:22). Dessa forma, Ele tem em Si todas as flechas dos pensamentos inferiores citados acima e é esta a Sua coroa de espinhos.

Em tudo que vive, o Corpo Vital irradia correntes de luz da força que usou ao construir o Corpo Denso. Quando o Corpo Denso se apresenta com saúde, essas correntes de força carregam os venenos do Corpo e o mantém limpo. Condições semelhantes prevalecem no Corpo Vital da Terra, que é o veículo do Cristo. As forças venenosas e destrutivas geradas por nossas paixões são levadas pela força de vida do Cristo. Mas, qualquer pensamento ou ato maldoso causam-Lhe uma dor proporcional e, portanto, torna-se parte da coroa de espinhos – coroa porque a cabeça é considerada, sempre, como o lugar da consciência. Deveríamos compreender que todos os atos, todas as ações e obras maldosos têm uma reação em Cristo, como foi descrito acima, acrescentando um espinho a mais de sofrimento.

Em vista do que foi dito, podemos imaginar com que alívio Ele pronuncia as palavras finais no momento de libertação da cruz terrena: “Consummatum est” (Está terminado).

E, por que a repetição anual do sofrimento? Da mesma forma, como temos que receber continuamente em nossos Corpos, o oxigênio da vida a fim de vitalizar e dar energia a todo o Corpo, e como o oxigênio se extingue para o mundo exterior, enquanto está habitando o nosso Corpo (onde está sendo carregado de venenos e resíduos e finalmente é expelido como dióxido de carbono, um gás venenoso), é necessário que o Salvador entre, anualmente, no grande corpo que chamamos Planeta Terra,  e leve para Ele todo o veneno que é gerado por nós, para limpar e purificar a Terra e lhe dar uma nova oportunidade de vida antes que Ele, finalmente, ressuscite e suba  para  Deus-Pai.

(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – janeiro/1983 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Mais uma vez o Maior de Todos os Eventos do Ano

Mais uma vez é atingido o ponto culminante do ano, o maior de todos os eventos cósmicos: o Natal, a renovação do impulso Crístico na Terra.

Na Noite Santa, o solene tanger dos sinos invoca a presença dos fiéis para reverenciar a magna data. É a colimação cíclica de um processo irresistível e irreversível.

Novamente, o acendrado amor de Cristo por cada um de nós se faz sentir por meio da manifestação da Sua energia, sensibilizando os nossos corações para as esferas superiores da vida. É a observação fiel de um compromisso, cujo término se condiciona ao nosso próprio livre arbítrio, perdurando até que uma boa parte de nós desenvolva o Corpo-Alma, o “soma psuchicon”, identificando-se então com o próprio Cristo, por isso que é chamado, também, de Cristo interno.

Hoje, tal promessa é tão viva, tão real, tão sonora como o foi há mais de dois mil anos! Sentimos a presença do Cristo em cada ato de benevolência. Ouvimos a voz d’Ele nas palavras consoladores, nas pregações sinceras, nas músicas sublimes. Observamos os milagres d’Ele na ação pura dos idealistas. Cada novo Cristão é um Lázaro que ressurge. Cada novo Cristão é um participante da multidão alimentada com o “pão da vida”.

Mais de vinte séculos são decorridos e as vitórias do Cristianismo se sucedem. Forjado com o sangue dos mártires imolados em Roma e na Ásia Menor, resistiu a todas as procelas: aos tenazes perseguidores, às incompreensões e divergências internas, ao materialismo dos nossos tempos.

Força irresistível! Sobreviveu a todas as tentativas de destruição que lhe fizeram.

Estamos atravessando um momento crítico nesse Esquema de Evolução. Nunca carecemos tanto da presença de Cristo como agora, e nunca Ele esteve tão próximo, empenhando-se em nos despertar a nossa verdadeira vocação espiritual.

Somos uma massa heterogênea. Formamos um conglomerado de virtudes e defeitos, de injustos, justos e injustiçados, de crentes e indiferentes, de altruístas e egoístas, de explorados e exploradores. A cada Natal, a força Crística reinicia o processo de transmutação dessa massa, sensibilizando as nossas faculdades espirituais. É essa energia dinâmica na verdadeira acepção da palavra que procura romper a barreira das nossas limitações. É ela que nos inspira no aprimoramento do nosso caráter. Ela nos enleva ante uma estátua esculpida na algidez de uma pedra. Ali não deparamos meramente com a figura estática, mas sentimo-la vivente, palpitante.

Essa energia nos deixa extasiados ao examinarmos um quadro, em que os contornos e as cores sugerem sentimentos. Ela nos eleva e aquieta ao som de uma Sinfonia de Beethoven, de uma composição de Bach ou Haendel.

Nessas contemplações transcendemos a forma, penetramos no âmago, no espírito das coisas.

A esse propósito, queridos irmãos e irmãs, almejemos cada vez mais penetrar no Espírito do Natal, identificando-nos com ele. O verdadeiro Natal é interno. Consiste no nascimento do Cristo em nosso mundo interior.

Convertamos nossos corações em humildes manjedouras para receber Aquele que salva. E quais Reis Magos, depositemos aos Seus pés nossas oferendas: o ouro, o incenso e a mirra, traduzidos simbolicamente no Corpo, na Alma e no Espírito. Reverentes e gratos, entreguemos nossas dádivas Àquele que em si mesmo é a dádiva perpétua, a oferta perfeita, o Cristo que salva, que redime, que consola, que eleva, que encontra uma réplica microcósmica em cada ser humano, e que, ano após ano, generosamente, oferece-nos sua ajuda no sentido de ampliarmos Sua imagem em nós, até que todas formem uma só aura, uma só força, um só poder, no grande dia das Bodas Místicas.

Que este Natal nos encontre unidos em torno do nosso ideal, o ideal do Cristo!

(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – dezembro/1973–Fraternidade Rosacruz–SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Cristo, o Espírito da Terra

E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.” (Mt 28:20)

Os Ensinamentos Rosacruzes estabelecem uma diferença entre Cristo, o grande Arcanjo e Espírito Solar e Jesus, o mais elevado espiritual ser humano. Nos Evangelhos nos é dito que na época do Batismo o “Espírito de Deus” desceu sobre Jesus.

Foi de fato naquele momento que Jesus entregou a Cristo seu Corpo Denso e seu Corpo Vital, de modo que o grande Espírito Solar pudesse se manifestar entre nós e realizar o supremo sacrifício do Gólgota. Um sacrifício que não consistia apenas em morrer numa cruz, mas que permitia que Cristo entrasse no interior da Terra e começasse a espiritualizá-la.

Esse é o grande sacrifício de Cristo, pois as baixas vibrações do nosso Mundo constituem, para ele, uma imensa dolorosa limitação.

Cristo permanece, no entanto, sendo o grande Espírito Solar, pois é apenas um dos seus raios (parte de sua consciência) que penetrou em nossa Terra quando o sangue de Jesus fluiu no Calvário.

Mantendo uma conexão com o nosso Planeta, ele se retira, todos os anos, na Páscoa e começa a penetrar, novamente, em setembro para fornecer à Terra (e a nós) uma nova vida durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro.

Essa força espiritual atinge sua intensidade máxima durante a noite de Natal, a noite mais sagrada do ano.

Muitas pessoas começam a sentir as vibrações Cristãs de paz, alegria e amor na época do Natal. E a prática de dar presentes é um primeiro passo para a Fraternidade Universal.

(Traduzido do: Le Christ, Esprit de la Terre, da Association Rosicrucienne Max Heindel, Centre de Paris – Texte inspiré de l’enseignement rosicrucien légué à Max Heindel par les Frères Aînés de la Rose-Croix)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Origem do Natal

Os materialistas se recusam a aceitar o formoso relato sobre o nascimento de Jesus e frequentemente formulam esta pergunta: “Se Cristo veio ao mundo para salvar os seres humanos do pecado e da morte, quem salvará as milhões e milhões de almas que estavam em manifestação antes da Era Cristã, que data de apenas um pouco mais de 2000 atrás”?

Disse São João Evangelista: “Porque Deus amou de tal maneira o mundo que lhe deu seu Filho Unigênito para que todo aquele que n’Ele crê não se perca, mas tenha a vida eterna. Porque não O enviou Deus para condenar o mundo, mas para que o mundo se salve por Ele.” (Jo 3:16).

Essas palavras de Cristo-Jesus têm dado o que pensar a muitos e até fizeram que alguns se afastassem de sua fé em Deus, porque: “…como pode alguém acreditar na Paternidade de Deus e Sua Bondade: como pode alguém crer no amor desse grande Espírito e, também, pensar que Ele deixou de dar o necessário a Seus filhos, em todas as épocas? Quem pode continuar crendo n’Ele, se foi tão cruel a ponto de enviar Seu único Filho para salvar apenas uma pequena parte de seus outros filhos humanos? Quem pode crer, tal como o creem os ortodoxos, que esse amoroso Pai tivesse permitido que a maioria de seus filhos fosse arrojada às trevas para sofrer eternamente, apenas por que vieram antes de Cristo? Diante disso, é de surpreender que as Religiões de Buda, Maomé e Zoroastro continuem florescendo, embora reconheçamos que os ensinamentos do Mestre Cristo-Jesus preencham as necessidades da nova onda evolutiva?”.

Os ministros ortodoxos afirmam que o Natal começou a ser celebrado apenas uns quatrocentos anos depois de Cristo. De fato, nada existe na história para confirmar que os Cristãos tivessem celebrado esse acontecimento nos primitivos tempos do Cristianismo. Mas, isso é fácil de se compreender. Até sua oficialização, o Cristianismo sofria cruéis perseguições. Ademais, o paganismo fortemente espalhado então desvirtuaria a pureza de sua apresentação. Os essênios eram devotos e pouco dados a práticas externas, como o faziam os fariseus. Mais tarde, a própria exigência do povo pelo cerimonial estabeleceu essa prática. Vejamos o Antigo Testamento e leiamos sobre os grandes festivais promovidos pelo povo naqueles remotos tempos e que correspondem a nossos presentes festejos de Natal e Páscoa de Ressurreição.

Os antigos eram muito dados a cerimoniais. Seus festivais eram religiosamente observados, ainda mais do que as festas religiosas de hoje. Vejamos os festivais dos tempos de Abraão: Moisés deu instruções bem definidas a seus seguidores em relação a essas cerimônias, que deveriam acontecer com seus ritos Religiosos. Moisés é o autor dos cinco primeiros livros da Bíblia (Pentateuco) e seus Dez Mandamentos são a pedra angular de todas as atuais Religiões. Os antigos festivais eram terrivelmente desfigurados com ritos que as pessoas modernas considerariam repulsivos. Em algumas ocasiões não apenas eram imolados animais no Altar dos Sacrifícios, senão que o próprio sangue humano corria, para apaziguar a fúria dos deuses pagãos. Quase todos os festivais eram oferecidos ao Deus do Sol e muitas das Religiões antigas se achavam mescladas com os mitos solares. No Solstício de Dezembro, quando o Sol chega à sua mais baixa declinação sul e deve empreender a marcha ascendente rumo ao norte, converte-se num salvador de vidas e, então, renasce o deus-sol.

Em algumas das Religiões antigas, encontramos o relato da mãe e do filho divino. Na Índia, Krishna nasceu como um salvador e seus pais tiveram que fugir de sua terra devido ao decreto do Rei Karnsa de matar toda criança de sexo masculino recém-nascido. Na história do nascimento de Krishna encontramos os Anjos, os Pastores e os Magos. A história da vida deste deus-sol da Índia é muito parecida à de Cristo Jesus.

Na história da Babilônia encontramos o deus do sol, Tammuz, que nasceu de uma mãe virgem. Uma lenda similar é a do deus Apolo. Encontramos, também, o mesmo mistério em relação à data de nascimento desses deuses, que foi igual à de Jesus.

Em todos os relatos dos nascimentos dos grandes Mestres existe a aparição de um Anjo anunciando a uma Virgem que Deus a havia escolhido para mãe de uma divina criança. A história difere mui ligeiramente nas distintas Religiões. O idioma, o cerimonial e os costumes é que motivam essas diferenças secundárias.

Afinal, por que a Virgem e um menino divino aparecem nessas Religiões antigas, inclusive na classificadas de pagãs? Isso não é uma prova que deve existir alguma conexão entre esses mitos, os quais coincidem maravilhosamente com o nascimento do Salvador e com a marcha do Sol através do Zodíaco? Em alguns desses relatos fala-se de um grande silêncio existente em toda a Terra, no momento do nascimento. Tudo era silêncio. Isso é uma realidade no Solstício de Dezembro. No hemisfério norte da Terra, a vida vegetal parece descansar. A força de Deus se aquieta por algum tempo. A seiva se recolhe nas raízes. Os ramos e os talos se desnudam. A vida dorme e o Sol penetra no reino de Saturno, Capricórnio. A Terra é uma massa vivente que respira, mas nesse tempo parece reter seu alento, como o faz uma pessoa quando vai realizar um ato muito importante.

O nascimento do Sol é como uma exalação da vida do Cristo, sentido por toda a Humanidade. O Natal, nascimento místico, é um período de regozijo para a Terra, bem como o é principalmente para a Humanidade, porque então os Anjos portam correntes de júbilos.

O mito do Sol existente nas Religiões antigas, encarado sob o ponto de vista da Astrologia e da Astronomia, fala-nos do grande Plano Cósmico. O Sol em seu caminho pelos Signos do Zodíaco é uma manifestação atual das glórias do Universo de Deus. Por enquanto é apenas uma manifestação externa de uma verdade maior, o Filho cósmico, o Cristo, por quem flui toda a vida de Deus em favor da Humanidade. Ele é o grande portador da vida, cujo veículo material nasceu há mais de 2000 anos atrás. Veio à Terra para que por Seu intermédio pudesse Deus acender em todo ser humano a chama do Amor divino, os atributos do Segundo Aspecto de Sua Natureza. Igualmente nessa época nasce o Sol em sua subida ao Norte, brilhante e com mais força e vigor, mais próximo da Terra, para renovar a vida em toda a Natureza.

Se examinarmos esse grande evento anual do Natal sob os dois pontos de vista, o pagão e o festival do deus-sol em sua jornada pelos Signos do Zodíaco e relacionamos com o relato do nascimento do Filho de Deus de uma Virgem, nosso Amor e reverência pelas Páscoas modernas em vez de decrescer, aumentarão, mesmo que os textos Cristãos ortodoxos afirmem que as festas que se celebravam nos tempos pré-Cristãos eram pagãs.

O exposto, que a história nos conta, revela que nós sempre buscamos uma Religião. Nossa alma sempre ansiou por Deus. Por mais cruel que haja podido ser essa concepção de Deus para conosco, não invalida nem diminui a realidade de Sua existência. Desde a época em que os nossos olhos foram abertos para o mundo e o véu do conhecimento de nós mesmos foi retirado, fomos buscando resolver os grandes mistérios da vida. À medida que cresçamos em Sabedoria e compreensão espiritual, a verdadeira luz nos será mostrada no caminho, essa luz que esteve escondida nas dobras dos séculos que passaram. Então poderemos verificar que os deuses, assim como a nossa Mente, crescem junto com as Religiões para ganhar em consciência. Assim também deve crescer nosso ideal do Natal, em amor e beleza. Quando o Cristo-menino nasça e se alimente em nossos corações poderemos entender perfeitamente o sentido destes versos de Angelus Silesius: “Ainda que Cristo nasça mil vezes em Belém, enquanto não nascer dentro de ti, tua alma estará extraviada. Olharás em vão a Cruz do Gólgota enquanto ela não se erguer em teu coração também”.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de dezembro/1965-Fraternidade Rosacruz-SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Símbolos e Emblemas: qual a diferença entre eles e para que servem

Em todas as atividades filosóficas religiosas aparecem, frequentemente, os símbolos. O esoterista conhece um bom número deles e, por isso, pode interpretar logicamente os mitos. O Cristão esoterista sabe que a Bíblia não é um “livro aberto”. Ao contrário, é um compêndio riquíssimo, composto pelos Anjos do Destino, com tal Sabedoria que pode ser interpretada validamente por muitos modos. Podemos fazer uma ideia disso, pela citação de S. Paulo apóstolo, em uma de suas Epístolas: “a história de Sara e Agar é simbólica[1]. “Cristo-Jesus dizia falar por meio de parábolas, a fim de que, ouvindo-o, não o entendessem”. Em outra passagem, S. Paulo, pedagogicamente, afirma: “aos pequeninos na doutrina damos leite; aos adultos, alimento sólido[2]. Pelo exposto vemos que os livros mais profundos se constituem de “chaves” ou “mistérios” que vão sendo desvelados pelos seres humanos, na medida de sua iluminação interna.

Realmente, todas as coisas criadas devem ser consideradas de um duplo ponto de vista: espiritual e material. O Cristão-cientista leva evidente vantagem na compreensão de tudo, porque tem essa visão global. Ele sabe que o plano espiritual é o mundo das causas e o material, o dos efeitos. A visão do materialista é parcial e defeituosa, sendo amiúde induzido a erros. Também o Cristão místico muitas vezes se engana, porque dedica pouca atenção às leis da matéria. O ideal é a fusão da Ciência, Religião e Arte, ensinada pela Fraternidade Rosacruz e conducente a uma compreensão integral, una, coerente, dos aspectos externo e interno, do micro e do macrocosmo.

Que os Mundos espirituais são os das causas e o Mundo material, o dos efeitos, não há dúvida. Podemos comprová-lo a cada passo. O ser humano, racional que é, nada faz que não seja precedido pelo pensamento, pelo planejamento. Tudo o que existe ao nosso redor nasceu primeiramente de um pensamento, que era invisível a todos, menos a seu criador. O início do Evangelho de S. João, o mais profundo e misterioso dos quatro, afirma que “tudo nasceu do Verbo[3] e tudo o que vemos manifesto, inclusive nós, é carne provinda do Verbo.

No mundo mental, a Hierarquia Zodiacal de Sagitário, os Senhores da Mente, já em estado criador são os responsáveis pela formação dos quatro Reinos em evolução. Eles nos deram o germe da Mente e nos ajudam a desenvolvê-la. Nesse plano, consideram nossa evolução e Epigênese admitindo nossa interferência na formação de nossos futuros corpos e do ambiente em que vamos renascer, quando ainda estamos na vida antenatal.

De cada coisa criada – nossos veículos, os de um determinado animal, vegetal, um continente – há naquele plano mental um molde vivente, chamado Arquétipo, que é a origem vibratória que modela e sustenta as coisas manifestadas. Tais Arquétipos têm, cada um, determinado tempo de vibração, durante o qual a forma se mantém. Vencido esse prazo, deixa de vibrar e a forma se desfaz, porque a energia que a mantinha coesa se afasta, voltando à sua origem para formação de novos Arquétipos. É a morte física. Fica, todavia, na Memória da Natureza, uma gravação da forma criada, permitindo que, em qualquer tempo futuro, um Iniciado de quarto grau, como foi Max Heindel, possa verificar, na Região arquetípica do Mundo do Pensamento, os sucessos do passado, tais como foram e não como a história os relata.

Muitas vezes ocorre que uma coisa criada seja a combinação de vários Arquétipos. E muitas vezes um Arquétipo é modificado para que a forma, neste Mundo material, também o seja. É o caso, por exemplo, de certa região que sofra modificações, em virtude de uma erupção vulcânica. É o caso de todas as mudanças havidas através dos tempos no globo terrestre. Mas, as modificações, primeiramente, ocorrem no plano mental e depois no físico. É o mesmo que um indivíduo que, anos após haver construído sua casa, faz uma reforma e a modifica. Para isso ele modificou o primeiro planejamento, em sua Mente, atendendo a certas conveniências. Isso nos mostra como realmente “o que é em cima é como o que está embaixo”.

Esse preâmbulo é importante fundamento para o tema que nos propomos, sobre símbolos e emblemas.

Que é um símbolo? É a representação de uma verdade espiritual. É bem diferente de emblema.

Que é um emblema? É a combinação de certas ideias e coisas, de um ponto de vista material ou filosófico.

Nesta época de conquistas espaciais tem se falado como poderíamos fazer-nos compreender por habitantes de outros Astros ou de outros Sistemas Solares. Pois nós respondemos: através dos símbolos. Se projetarmos, por exemplo, um triângulo perfeito, damos imediatamente, a qualquer ser racional, deste ou de outros Sistemas Solares, a ideia de uma trindade em um. E por que entenderão? Porque somos todos, nós e eles, essencialmente Espíritos e o íntimo nos revela a significação do símbolo, não importa quão diferente seja nosso exterior do deles. Já o emblema, não; ele é o resultado do mundo fenomênico. Um brasão que represente um município, combinando ideias e coisas caracterizadoras dessa região, nada ou pouco dirá a um habitante de terras distantes, necessitando ser interpretado.

É verdade que também o símbolo, para ser compreendido com certa profundidade, deverá ser interpretado por pessoa competente. Mas, os significados do símbolo encontram eco em nosso interior, provocam certas vivências internas, reações espirituais, porque nosso íntimo reconhece algo familiar, que está sendo gravado em nossa persona ou natureza humana. O emblema já não provoca essa correspondência interna. No máximo, atende a certa correlação lógica de coisas e fatos. Às vezes, nem isso, como é o caso da pintura moderna, em que as representações exprimem uma indefinida vivência de seu criador.

A cruz é um símbolo. Ela corresponde a um conjunto de Arquétipos e de verdades pré-existentes. O madeiro inferior, partindo de baixo para cima, é uma expressão do reino de vida vegetal, porque as forças vitais mantenedoras do reino vegetal se exteriorizam, de dentro do Globo para a periferia, das raízes para as copas. O madeiro horizontal simboliza o Reino de vida animal, porque as forças espirituais mantenedoras desse Reino transitam pela superfície da Terra, passando pela espinha dorsal dos animais. Nenhum deles, por isso, pode manter-se durante muito tempo em posição vertical, pois morreria por falta desse influxo do Espírito-Grupo. O madeiro superior corresponde ao Reino de vida humano, porque as forças espirituais que se infundem em nós, vêm de cima para baixo. Assim, a cruz, fixada no solo mineral, é um conjunto de Arquétipos correspondentes aos quatro Reinos atualmente em evolução na Terra. Representa, igualmente, o conjunto instrumental do ser humano, a série de Corpos pelos quais atualmente se expressa: o Corpo Denso (o solo em que se fixa a cruz, o mundo em que evolucionam os elementos de que ele se formou), o Corpo Vital (o madeiro inferior, a capacidade etérica de metabolismo, procriação, capacidade sensorial, calor e circulação sanguíneos, memória), o Corpo de Desejos ou emocional (madeiro horizontal, capacidade de movimento, instintos, desejos e emoções) e veículo Mente (madeiro superior, laringe em vertical, influxo espiritual de cima para baixo, capacidade racional).

Dentre os materiais que Max Heindel recebeu dos Irmãos Maiores, para fundação da Fraternidade Rosacruz, está o símbolo da Cruz e das Rosas. Consiste numa Cruz trilobada e branca sobreposta a uma Estrela Dourada de cinco pontas. No centro da Cruz há uma rosa branca, rodeada por uma quase coroa de sete rosas vermelhas.

Já vimos o simbolismo da Cruz. É uma realidade arquetípica ter uma correspondência no Mundo do Pensamento Concreto. A cruz representa a cadeia completa de veículos pelos quais se expressa o gênero humano. Representa, igualmente, os quatro Reinos em evolução na Terra. As razões já foram explicadas.

As rosas simbolizam os Centros sensoriais do Corpo de Desejos, os pontos de percepção que devem ser despertados em nosso Corpo de Desejos. São faculdades latentes adormecidas, cujo despertar corresponde ao desabrochar das rosas das virtudes. O ser humano é uma planta invertida. A planta recebe o alimento pelas raízes e o encaminha para cima. O ser humano o toma em cima, pela boca, e o dirige para baixo. Os órgãos geradores da planta são a flor, coisa bela que deleita a quem a vê; que inspira o artista. A geração é feita castamente, sem paixão. O ser humano tem seus órgãos geradores em baixo e os esconde com vergonha. Seu ato gerador é mesclado de paixão. Desse modo, a flor simboliza um ideal de pureza que o ser humano deve alcançar um dia, quando haja sublimado seus instintos e dirija a força sexual criadora à cabeça, para despertar os dois centros sensoriais situados no crâneo.

Surge, então, a Clarividência, a iluminação, e a cabeça se converte numa auréola de luz, cuja haste etérica desce pela laringe, como autêntica flor espiritual. Nos trabalhos da Fraternidade Rosacruz, o Oficiante (o Estudante Rosacruz que está oficiando o Ritual do Serviço Devocional) sempre se dirige aos presentes com a saudação “que as rosas floresçam em vossa cruz”. É o desejo que ele expressa de que essa iluminação interna se realize em cada Aspirante à vida superior. Os ouvintes retribuem dizendo: “E na vossa também!”. As rosas são vermelhas, não o vermelho da paixão do sangue venoso, senão a expressão de energia pura. A rosa branca do centro é a súmula, a síntese das cores, o símbolo da Unidade de nossas virtudes.

Quando Max Heindel concebeu esse símbolo sob orientação dos Irmãos Maiores, sendo um Iniciado que havia atingido a Região Arquetípica do Mundo do Pensamento Concreto, sabia que ele correspondia a uma realidade espiritual com força interna para suscitar, no íntimo de quem o vê, uma mensagem de regeneração, um convite à elevação, algo que faz bem a nossa Alma. Não deve, pois, ser alterado em nenhum de seus detalhes, porque a forma mental de um emblema (pois não seria um símbolo) semelhante seria atraída ao Arquétipo verdadeiro, pela similitude vibratória da forma, provocando desarmonias no ideal de quem o criou.

Pelo exposto podemos compreender que os verdadeiros símbolos têm raiz espiritual e só podem ser transmitidos por um Iniciado. Aquilo que os neófitos criam para representar a mensagem que desejam transmitir a seus companheiros é apenas emblema, sem força de gerar em nossa alma os impulsos vibratórios induzidos dos Mundos internos. É por isso que os Evangelhos dizem: “Não temos outra autoridade senão a que recebemos dos céus; não precisamos combater nada; o que vem de Deus subsiste; o que vem do ser humano, logo passa”. “Mas, buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6; 33).

Dessa fonte interna, quando começa a jorrar, é que provém a inspiração, a intuição, o magnetismo que atrai o poder de comunicar a ideia, a capacidade de congregar seres humanos e esforços.

A força comunicada pelos símbolos é que tem eternizado o Cristianismo. A força da Religião antiga judaica, transmitida por Moisés, igualmente residia nas coisas ocultas. O Tabernáculo no Deserto com suas dimensões, formas e finalidades era um símbolo do universo, do mundo e do ser humano. Por isso ainda se conserva o Antigo Testamento, que, junto ao Novo Testamento, constitui o mais completo documento evolucionário jamais dado à Humanidade.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – junho/1968 – Fraternidade Rosacruz – SP)


[1] N.R.: Gl 4:24

[2] N.R.: ICor 3:1-3

[3] N.R.: Jo 1:1

Idiomas