A reverência pela Vida, pelo Amor e pela Luz, perfeitamente compreendida em toda intensidade do significado dessas três poderosas palavras, só pode ser conseguida depois que o significado transcendente do sagrado Sol se torne parte do nosso conhecimento interior como Sabedoria e Amor.
Os êxtases divinos que vêm, como recompensa aos “puros de coração”, trazem consigo um conhecimento de Deus e esse conhecimento encerra em si a majestade do nosso Deus Solar, cujos poderes estão por trás do Sol físico, visível.
A glória do nosso Deus Solar é muito pouco avaliada por nós. Não somos agradecidos pelo Seu enorme sacrifício.
Por trás do Sol físico há o Sol Espiritual, invisível aos nossos olhos mortais. Este Sol Espiritual é, na realidade, nosso Pai que está nos céus. “N’Ele vivemos, nos movemos e temos a nosso ser”[1].
Não nos maravilha que os antigos Caldeus, com sua sabedoria divina que era parte inerente de sua consciência, consciência essa muita diferente da nossa atual, adorassem o Sol. Pois eles conheciam diretamente, em primeira mão, que esse grande Espírito Solar era, na realidade, seu Pai e que a Vida, o Poder e a Luz de todo o nosso Sistema Solar eram Seus.
No poderoso movimento que agora sacode a Terra com a finalidade de nela fermentar o amor e a inteligência espiritual, no movimento da Fraternidade Rosacruz, mais uma vez a Astrologia Rosacruz encontra seu lugar, lugar sagrado que conservou durante muito tempo nas civilizações passadas. Em vista desse fato, é aconselhável mostrar qual o propósito real do Sol na Astrologia Rosacruz, isto é, seu propósito como veículo de Deus e como o horóscopo de nascimento é um mapa sagrado; é uma assinatura nossa – um Espírito Virginal da Onda de Vida humana manifestado aqui – escrita nos céus.
O Sol é o centro do nosso Sistema Solar. É a Luz, o Amor e a Vida que alimentam nosso Sistema Solar. A Luz Espiritual é o Pai, o aspecto Vontade; o Amor é o aspecto Filho (Cristo) e a Vida é o Espírito Santo (Jeová), o aspecto atividade ou fecundante. Essa Trindade Divina forma o Deus Trino e Seu Poder é representado na Astrologia Rosacruz pelo Sol que alimenta e serve nosso organismo como um todo.
Conhecendo esses fatos é nosso dever auxiliar, prestar assistência e servir aqueles que necessitam. Tanto isso é verdadeiro que na Era de Aquário aqueles que fizeram mau uso dos seus conhecimentos da Astrologia Rosacruz para fins egoístas, como meio de obter ganho (seja financeiro ou de fama ou de poder), perderão o seu conhecimento. A Astrologia Rosacruz será conhecida somente por aqueles que olham essa Ciência Divina e Sagrada com santa intenção.
À luz dos fatos precedentes, consideremos o lugar e a força do Sol num horóscopo. O Sol, como centro de toda vida e de todo ser, é a nota-chave de qualquer horóscopo. A força básica, inerente ao motivo, é determinada pela força e posição do Sol, completada pela da Lua. Os Planetas são os distribuidores de destino, e o Ascendente significa o ser humano físico.
A força do Sol pode, é logico, ser modificada pelo Signo que o contenha. Os Signos Fixos lhe dão mais força, seguindo dos Signos Cardeais (ou Cardinais) e depois os Signos Comuns. Um Sol numa Casa Angular também mostra a força com a qual somos fortalecidos para enfrentarmos as adversidades da vida psicofísica.
A 1ª Casa é um angulo feliz para o Sol. É um lugar de força e fornece abundância de vitalidade, quando ele não está afligido por Aspectos adversos (Quadratura, Oposição e algumas Conjunções adversas). Reconhece-se facilmente uma pessoa com o Sol na 1ª Casa, porque tem Personalidade que ela consegue comandar. É o que pode ser chamado de “Dignidade Solar”. As “almas mais velhas” é que têm o Sol na 1ª Casa e são caracteres esplendidos. Dessas, temos exemplo notável em Max Heindel que tinha o Sol nos primeiros graus de Leão. Nesses indivíduos, se vê o Sol em seus rostos, pois possuem o que chamamos de expressão solar. Tais indivíduos conseguem grande desenvolvimento espirituais com Aspectos benéficos ou adversos. Uma pessoa já despertada, mesmo com um horóscopo cheio de Aspectos adversos, transmuta os obstáculos e os egoísmos, fazendo-os de degraus para o altruísmo, dependendo da força e do modo de aplicação da vontade despertada.
Contrariando a opinião popular a respeito, vemos que a 4ª Casa é uma posição muito forte para o Sol. Podemos chamar a 4ª Casa de ângulo magnético-psíquico. Em geral, como se passa nessa Casa como real, espiritual, esse ângulo é o mais forte dos quatro. O Sol na 4ª Casa fornece a maior parte dos obstáculos e impedimentos durante a vida física. Contudo, quando o Sol está fortalecido, proporciona à pessoa coragem e habilidade ativa para se sobrepor aos obstáculos e se ela tiver força de vontade já desenvolvida, ganhará grande crescimento anímico com isso. Seu estado evolucionário se elevará, conforme a quantidade de trabalho progressista que tenha feito durante esse renascimento. Com o Sol nessa posição há abundância de possibilidades espirituais latentes, trazidas dessa vida ou de vidas passadas. Todavia, essas possibilidades serão, por certo, cerceadas e incapazes de terem expressão completa. O nadir é um ponto psíquico e oculto, e traz abundantes dificuldades; mas também fornece força suficiente para que a pessoa se sustenha em todas as situações difíceis. O “teste supremo da alma” vem, em geral, àqueles que têm o Sol na 4ª Casa.
O Sol na 7ª Casa fornece um esplêndido campo de ação para os sentimentos mais nobres e para as emoções mais elevadas. De acordo com o estado e Destino Maduro da pessoa, assim serão as experiências que terá com o púbico e suas relações. Na Era de Aquário, agora próxima, as pessoas com o Sol na 7ª Casa serão procuradas para serem elevadas a posições em que muito beneficiarão a Humanidade. Esse ângulo, portanto, é um ponto estratégico para a alma sábia se expressar em suas relações com os companheiros de viagem do porto do Nascimento ao porto da Morte.
O Sol na 10ª Casa está em posição idêntica à da primeira. No entanto, a 10ª Casa lhe aumenta o poder. Habilita a pessoa para os lugares de autoridade e da dignidade. Essa posição proporciona às pessoas força e propósito e não importa a esfera em que vivam, serão bem conhecidas, tanto no bem como no mal.
Todos os Aspectos, benéficos ou adversos, deverão ser cuidadosamente considerados. Os Aspectos adversos fornecem incentivo e força para melhorar no caminho espiritual. Proporcionam desejos de transmutar o que é inferior no que é mais elevado. Os Aspectos adversos do Sol impelem as almas despertadas para a sua realização e se elas possuírem a coragem necessária, obterão vitórias genuínas, que lhes fornecerão simetria anímica, isto é, “a cabeça e o coração” unidos em perfeito equilíbrio, como é o ideal Rosacruz.
Há horóscopos com Aspectos benéficos cujos possuidores são pessoas indolentes, preguiçosas e que não tem inclinação para tomarem os negócios de Deus-Pai; por outro lado, há horóscopos com Aspectos adversos, cujas pessoas são impelidas por uma fome anímica enorme que as fazem ativas, determinadas, que tudo fazem para se sobreporem a vida material, grosseira. Quando um horóscopo está com muitos Aspectos adversos há, em geral, uma grande necessidade interna de luz, quer isso se manifeste ou não, o que depende da Vontade espiritual.
Os Aspectos adversos, especialmente entre o Sol (Espírito) e Marte (os sentidos), invariavelmente oferecem os melhores caminhos para o nosso avanço espiritual, se soubermos escolhê-los. Tais Aspectos proporcionam a nós excelente oportunidade para muito desenvolvimento espiritual. De fato, estando despertados espiritualmente quase sempre mudamos o nosso temperamento e a nossa Personalidade pelo uso correto das forças dinâmicas ativas entre o Sol e Marte. Além disso, é axiomático que todas as pessoas ativas têm, indubitavelmente, algum Aspecto entre Marte e o Sol, pois, onde há Aspecto, seja ele benéfico ou não, há ação! Onde não há, dificilmente há ação.
Os que são espiritualmente “vivos” sabem como pôr sua força anímica (a Lua) como mediadora entre as forças de Marte e as altas vibrações do Sol. Dessa alquimia mística, dessa divina sublimação surgirá uma essência que confere poder e liberdade espiritual.
O segredo do Sol é o segredo da vida. Aquele que ordena sua vida sabiamente, com inteligência aquariana, será purificado e transmutado por meio do caminho do Sol constituído pelos doze símbolos divinos, os doze Signos de Zodíaco.
Pelo estudo reverente da Astrologia Rosacruz pode-se chegar à união espiritual com a consciência do Cristo.
O poder do Sol vitaliza todo o Cosmos, rico em diversidade, embora esplêndido na unidade. A variedade unitária da natureza é espantosa em sua glória, estupenda em sua magnificente beleza. Tempo virá em que as pessoas que estão imersas em pompa e nos desejos físicos, deverão sair da escuridão em busca da Luz.
Aqueles que vibram com a força do Sol estão, agora, tentando destruir as condições cristalizadas do mundo; está fornecendo verdades que fermentarão toda a Terra no futuro, verdades que darão maior incentivo a nós para viver a Vida de Cristo, verdades que terão de ser praticadas e compreendidas antes que a Era de Aquário chegue.
A avareza, a luxúria, o ódio, a ignorância e todas as outras limitações que nos mantêm presos devem ser afastadas, devem ser repelidas pelos processos de limpeza promulgados pelos vanguardeiros. Estamos num dia de transição, num dia de purificação. A força do Cristo está cada vez mais se fortificando na Terra e saiba a maioria ou não, creia ou não, o regime de Cristo está se estabelecendo, apesar da aparente contradição das atuais condições do mundo. A harmonia, a cooperação, o altruísmo se tornarão realidade e substituirão os mitos que hoje são ensinados e que são discutidos por aqueles que menos os praticam no mundo.
Deste fervente caldeirão da idade moderna surgirá, todavia, a democracia de Aquário, a Democracia de Cristo, um estado de vida agradável e harmonioso que vem sendo previsto. A simpatia, a compreensão, a tolerância, a amizade, a compaixão e a fraternidade humana serão fatos e não teorias. Pois, acreditemos ou não, somos os guardiões dos nossos irmãos e das nossas irmãs, e os verdadeiros aquarianos serão aqueles que farão a Sua Vontade, a Vontade d’Aquele que os enviou a Sua “Vinha”.
E em cada horóscopo do ser humano, o Sol nos fornece a conhecer seu estado aquariano, se tivermos conhecimento bastante para ler essa mensagem mística.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – setembro/1960 – Fraternidade Rosacruz – SP – Traduzido de “Rays from the Rose Cross” pela Fraternidade Rosacruz do Rio de Janeiro em 1935)
[1] N.T.: At 17:28
Geralmente, a ansiedade, o temor e o medo nos assaltam quando nos imaginamos num hospital, seja recebendo cuidados médicos, seja numa cirurgia. Preocupamo-nos tanto com a dor e o medo que “anestesiamos” nossa consciência da saúde e nossa fé na eficácia das forças curativas. É certo que as pessoas podem libertar-se da desarmonia física, emocional e mental, por uma ação interna, um desvio na congestão da desarmonia, para a realização da saúde. Essas pessoas são provas inequívocas de que a cura é interna.
A Astrologia espiritual, praticada pela Fraternidade Rosacruz que chamamos de Astrologia Rosacruz, nos fornece ensinamentos sublimes e profundos sobre este assunto: a hospitalização.
Para melhor entendermos isso, numa roda do Zodíaco, vamos desenhar os Signos de Sagitário e Peixes nas cúspides de suas próprias Casas, respectivamente a 9ª e a 12ª Casas.
Tracemos agora uma linha reta iniciada em Sagitário e terminada em Peixes.
Sagitário pertence ao elemento Fogo, representativo dos Signos Comuns e, como tal, exprime a percepção da verdade.
Esse desenho nos informa uma pérola de ensinamento: um mau uso da verdade (Sagitário, 9ª Casa) resulta em Dívidas do Destino (Peixes, 12ª Casa).
As condições que requerem hospitalização são sempre consequências de se haver expressado o falso em vidas passadas.
O hospital é um local de limitações, pesar, dor, mas limitações somente para as pessoas que se recusam a expandir sua consciência. Para quem busca a verdade, o hospital é um local de oportunidades para a regeneração.
Normalmente, quando uma pessoa está hospitalizada, ela pergunta-se “por quê?”.
Quando essa pergunta é formulada com sinceridade, desejo de evoluir espiritualmente e de buscar a Verdade, sempre inevitavelmente essa pessoa revitaliza sua consciência e esclarece o significado da presente experiência.
O desejo sincero e profundo de conseguir restabelecer sua saúde, inspira-a a buscar a compreenção verdadeira das causas de sua atual condição.
Sob uma análise superficial, os hospitais parecem lugares de dor, pesar e tristeza. A verdade é exatamente o contrário.
Os hospitais são centros de forças curadoras da Luz do Amor; são uma exteriorização de forças do Poder Curador do Pai.
Todos eles, do mais simples aos maiores complexos hospitalares do mundo, estão protegidos e revitalizados continuamente por energias curadoras de esferas mais elevadas.
O Poder Curador do Pai, pelo processo da alquimia espiritual, sublima todo hospital, de um local de Destino Maduro, a um local onde a redenção pode ser alcançada.
A relação entre médicos, médicas, enfermeiros, enfermeiras e os demais profissionais de saúde envolvidos para com os pacientes possui muitos pontos semelhantes com a relação de pais e filhos, pois a simpatia, humildade e dedicação, conjuntamente com o serviço amoroso e desinteressado, os possibilitam a fazer uso de forças regeneradoras dos Reinos Superiores, para uso no hospital em que trabalham.
Certa vez alguém disse: “….o primeiro hospital foi construído quando uma pessoa orou, com muita fé, pela cura de um semelhante….”.
(Adaptado de um artigo de Elman Bacher, publicado no Ecos da Fraternidade Rosacruz em São Paulo – SP – jan-fev/2002)
Aprendemos na Fraternidade Rosacruz que nós, Espírito Virginal da Onda de Vida humana manifestado aqui, em uma regra geral (pois há exceções), renascemos aqui, em média, duas vezes em cada Era Zodiacal, expressando-nos na Região Química do Mundo Físico, alternadamente como sexos masculino e sexo feminino, a fim de adquirirmos todas as espécies de experiência, posto que a experiência de um sexo difere amplamente da do outro. Ao mesmo tempo, como as condições externas não se alteram demais num milhar de anos, a entidade pode, por um lado, receber experiências em idêntico ambiente, tanto como homem quanto como mulher. E, por outro, cada Signo Zodiacal, ao interagir com o Sol, proporciona condições próprias e diferentes dos demais Signos.
Pelo fenômeno da Precessão dos Equinócios (um dos inúmeros movimentos do Planeta Terra), sabemos que uma Era Zodiacal dura, aproximadamente, 2.155 anos, o tempo que a intersecção entre a Eclíptica (o movimento aparente do Sol, visto da Terra) e o círculo do Zodíaco no atual mês de março (que marca o Equinócio de Março) demora para percorrer a distância angular de 30 graus, correspondente a um Signo.
Lembrando que só temos Eras e Épocas durante a nossa passagem pela metade da quarta Revolução deste Período Terrestre. E que cada Época tem 3 Eras. Exemplos: Época Atlante teve as Eras de Touro, Gêmeos e Câncer; Época Ária tem as Eras de Áries, Peixes e Aquário.
Pelas mesmas razões por que precisamos renascer duas vezes em cada Era Zodiacal, nós precisamos renascer, em média, 24 vezes em cada ciclo completo de Eras que são em número de 12 no total.
Por outro lado, como aprendemos na Fraternidade Rosacruz, conforme o Sol atravessa os diferentes Signos, no curso do ano, as mudanças climáticas e outras tais nos afetam como também impactam nossas atividades de várias maneiras. Semelhantemente, a passagem do Sol por Precessão dos Equinócios através dos doze Signos do Zodíaco, que é chamado Ano Mundial, produz na Terra as mais variadas condições. Assim, um Ano Mundial tem a duração de, aproximadamente, 25.860 anos (12 x 2.155). Consequentemente, durante um Ano Mundial nós renascemos aqui 24 vezes.
(Publicado na Revista Amizade Rosacruciana de Junho/1987 – Centro Rosacruz Max Heindel – Lisboa – Portugal)
“É assunto de conhecimento comum entre os místicos que o caminhar evolucionário da Humanidade está indissoluvelmente ligado às Hierarquias Divinas que regem os Astros e os Signos do Zodíaco e que a passagem do Sol e dos Planetas através dos doze Signos assinala o progresso do ser humano no espaço e no tempo.”
Max Heindel
Há um prazer mesclado a uma profunda gratidão, em poder citar o que Max Heindel disse em seu Livro “A Mensagem das Estrelas”. Em minha juventude, quando me debatia em meio às dificuldades Religiosas, seus livros estiveram entre aqueles que ofereceram grande conforto, liberdade e iluminação. Todos aqueles que pertencem à nossa geração e que se perturbam com as dúvidas suscitadas pela Religião ortodoxa ou estão sedentos de uma compreensão espiritual que possa satisfazer tanto o coração como o intelecto, todos reconhecem nele uma das luzes direcionais pela contribuição dada à decifração da mensagem celestial e à solução do enigma do universo.
Entre todas as artes e ciências que se propõem a revelar a nós a nossa natureza interna e explicar a nós as Leis da Natureza, não há mais bem qualificada para assim proceder do que a mais velha de todas as Ciências — a Ciência da Astrologia Rosacruz. Seu estudo vem exercendo irresistível atração aos verdadeiros Estudantes Rosacruzes; em todos os tempos, as pessoas que aceitam implicitamente as descobertas e luz reveladora dela têm inspirado inúmeras gerações, desde o mais remoto passado ao presente. Provavelmente, nenhuma outra Ciência no mundo registrou uma história mais completa e interessante do desenvolvimento da Terra e da evolução da Humanidade. A relação dela com todas as grandes Religiões, incluindo a Religião Cristã, é demonstrada não somente pelas alegorias astrológicas e referências feitas nos livros sagrados e na mitologia, mas também por inscrições e ilustrações de símbolos nos antigos Templos. Referências à Lua Nova e Lua Cheia, aos Eclipses Solares e Lunares, aos Solstícios e Equinócios e às Conjunções dos maiores Astros, mostrando sua importante influência sobre nós e sobre a Terra, têm sido registradas pelas grandes civilizações, não importando quando ou onde tenham existido. Os antigos sábios, por repetidas observações, estavam capacitados a descobrir todos aqueles fenômenos naturais e a determinar a influência que os corpos celestes exercem sobre as pessoas. Assim, eles nos deram um sistema filosófico que tem desempenhado importante papel na moral, na Religião, na ciência e na evolução espiritual da Humanidade.
A Astrologia Rosacruz, a sua aplicação por meio da Astrodiagnose e a Filosofia Rosacruz sempre tiveram um lugar no nosso pensamento e nos nossos sentimentos, embora fossem muito obscurecidas em certas épocas. Que assim tenha sido não é de causar surpresa, ao considerarmos que a Astrologia Rosacruz é o maior sistema de pensamentos organizados que já concebido. As interpretações dela sobre a origem do cosmos e sobre a nossa origem são o mais antigo sistema de Filosofia Religiosa. Muito antes do Cristianismo e de outras grandes Religiões, a Astrologia já era conhecida e estudada (infelizmente, ao longo do tempo, muitos a difamaram, deturpando o seu uso). Assim, foi-nos transmitida como Religião e Filosofia. A Astrologia Rosacruz é uma fase da Religião, em virtude da santa e exaltada concepção dos corpos celestes, do Seu Criador, pelo profundo sentimento religioso e pela reverência que vem inspirando em cada Estudante Rosacruz sincero que pesquisa seus segredos. É uma Filosofia, considerando-se que não pretende proporcionar poderes mágicos e conhecimentos sobrenaturais, mas chegar a conclusões por raciocínio, provindo da causa ao efeito.
Desde muito tempo, observamos que o Sol, em seu trajeto anual ao redor dos doze Signos do Zodíaco, determina as estações do ano: primavera, verão, outono, inverno. Observamos o movimento dos Astros e notamos que suas influências estão na dependência de suas naturezas intrínsecas, verificando-se as poderosas tendências que projetam sobre nós, tanto para o bem como para o mal, desde o nascimento até a morte. Por meio da interpretação desses fenômenos podemos explicar as diferenças inerentes em pessoas e, especialmente, a causa das suas doenças e enfermidades nessa vida, resultado das más ações geradas pelas próprias pessoas. Assim, no curso do tempo, nos tornamos aptos a prever, por meio do símbolo dos Astros, o destino que está reservado as pessoas e aos assuntos nos quais estão inseridos.
A Astrologia Rosacruz oferece, de forma completa e viva, maravilhosos e interessantes lampejos de eventos pré-históricos que fizeram a história do nosso Planeta e de seus habitantes.
A Astrologia Rosacruz é uma ciência que proporciona um discernimento sobre a verdade, em sua concepção de realidade universal em todos os aspectos e em todas as particularidades.
Na parte básica da Astrologia Rosacruz aprendemos que em ambos os lados do caminho solar há um número de estrelas fixas que se agrupavam em doze constelações. A partir daí definimos o que chamamos de Signos astrológicos. Para entendermos um pouco sobre esse assunto imaginemos uma faixa circular projetada a partir da Terra e dividida em doze setores iguais. Isso é o que astrologicamente chamamos de Signos Astrológicos ou Zodiacais. Observemos que algumas constelações celestes levam o mesmo nome dos Signos astrológicos e é por isso que muita gente confunde e acha que Signos e constelações são a mesma coisa. Cada Signo exerce influências, tem características similares e peculiaridades expressas por diferentes animais. Ainda observamos que, quando o Sol, a Lua ou os Astros, em seu percurso, entra em um desses Signos, os raios sutis e invisíveis do Signo reagem sobre a vibração astral e se fazia sentir na natureza e em milhares de seres humanos distanciados entre si. Essas projeções dos corpos celestes influenciam o destino de cada um de nós e, dessa forma, de todos os assuntos que fazem parte da vida terrestre. Assim, a arte horoscópica é uma realidade. O horóscopo, originário do instante em que a criança inala a primeira golfada de oxigênio, indica, pela posição dos Astros nos Zodíaco e pelos Aspectos que formam entre si, o caráter da pessoa e o destino dela.
A Astrologia Rosacruz deve ser utilizada com o propósito de auxiliar à cura das doenças e enfermidades (físicas, emocionais, mentais). E para isso qualquer assunto (detalhado pelas Casas astrológicas) pode ser o motivo de se manter uma doença ou enfermidade latente ou de ativá-la e causar o sofrimento, a dor e as tristezas da pessoa nessa vida.
De todas as contribuições para o conhecimento, duas descobertas são de suma importância: a primeira é a correlação das várias partes do Corpo Denso com os vários Astros e Signos; a segunda, a compreensão adquirida da Precessão dos Equinócios.
A regência das partes do Corpo Denso pelos Astros é uma parte importantíssima no relacionamento da Astrologia Rosacruz com o estudo das doenças e enfermidades. O horóscopo, levantado por meio da Astrologia Rosacruz mostra as doenças e enfermidades incipientes desde o nascimento até a morte de uma pessoa e, desse modo, ter tempo suficiente para aplicar uma dose de prevenção e, talvez, escapar de uma doença ou enfermidade ou, pelo menos, minimizar sua severidade, quando ela tiver tomado conta da pessoa. A Astrologia Rosacruz indica o dia em que as crises vão se manifestar e, assim avisada, a pessoa pode tomar medidas extras de precaução para superar o ponto crítico. Ela indica quando as influências adversas estão diminuindo, e fortalece a pessoa para que suporte os sofrimentos presentes com a força nascida do conhecimento de que a recuperação é certa em determinado momento. Assim, a Astrologia Rosacruz oferece ajuda e esperança de uma maneira impossível de se obter por outro método, pois seu campo é mais amplo do que o de todos os outros sistemas e penetra na própria alma do Ser.
Todas as influências causadoras de desordens mentais, morais e físicas ou as indicações de como um medicamento deva ser administrado, bem como o tempo favorável para tal, foram investigados e estudados nos tempos de Ptolomeu, Paracelso e, modernamente, por Max Heindel e Augusta Foss Heindel.
Usando como base a Astrologia Rosacruz obtemos por meio da Astrodiagnose – que é a arte de se obter conhecimento científico sobre doenças e suas causas, bem como os meios de superá-las, através de indicações dos Astros. Logicamente, a Astrodiagnose não é uma ciência que despreze as escolas de medicina e diagnose tradicionais, mas sim é um acréscimo às mesmas. É claro que qualquer pessoa com Mente aberta está pronta a aceitar um novo e avançado método de diagnose, desde que a confiabilidade desse seja comprovada.
É um fato que a dependência total de sintomas externos para identificar as doenças ou enfermidades e a confiança unicamente na ação de remédios já custaram e custam a vida de muitas pessoas. Mas conforme nos tornamos mais esclarecidos, com uma mentalidade bastante ampla vamos nos libertando de velhos métodos que provaram, por meio de muitos erros e sacrifícios de muitas vidas, serem inadequados. A ciência médica tradicional, sem dúvida, com seus instrumentos e procedimentos aperfeiçoados, deu grandes passos em direção a melhores métodos de diagnose. Mas não está longe o tempo em que se admitirá, publicamente, que o melhor caminho a seguir é saber, previamente, onde está o elo humano mais fraco para entender, por meio da Astrologia Rosacruz, onde o praticante pode encontrar o problema. Então, os profissionais de saúde poderão chegar mais rápido às causas das doenças e enfermidades (físicas, emocionais e mentais) e, também, poderão conhecer quais os melhores métodos de cura. Quando tais profissionais de saúde forem capazes de usar o horóscopo, levantado por meio da Astrologia Rosacruz, poderão descobrir o tratamento mais adequado que cada pessoa doente ou enferma poderá melhor responder. Ainda mais, tais profissionais de saúde conhecerão o caráter pessoa doente ou enferma; se a vontade dessa é fraca e se é de natureza negativa ou emocional. Então, de acordo com as informações obtidas, tais profissionais de saúde serão guiados em seus métodos de tratamentos. As doenças e enfermidades podem ser classificadas em dois tipos: latentes e ativas. Os “sintomas” fornecem indicação que a doença ou enfermidade está em processo de materialização. As tendências latentes para doenças e enfermidades são mostradas pelos Aspectos adversos (Quadraturas, Oposições e Conjunções adversas) nos Astros, verificadas no horóscopo natal. Em alguns casos, essas tendências são capazes de permanecer latentes por toda a vida, porque a pessoa pode viver de tal modo que nenhuma tensão seja aplicada ao Corpo Denso, tensão essa que daria aos Astros oportunidade de desenvolver suas fraquezas latentes. Pois se há um elo fraco em uma corrente, mas nenhuma pressão se faz sobre este, ela continuará inteira. A mesma coisa ocorre com os Aspectos adversos (Quadraturas, Oposições e Conjunções adversas) entre os Astros: elas continuarão latentes. Mas tão logo a pessoa abuse do Corpo Denso dela, esses pontos fracos poderão se manifestar. Isto nos proporciona a segunda classe de doenças: as do tipo ativas. Quando os Aspectos entre os Astros são ativados e a doença ou enfermidade aparece, as posições dos Astros progredidos fornecem a chave para o diagnóstico. Quando profissionais da saúde, cientistas, pessoas que trilham o Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz e Astrólogos Rosacruzes verdadeiros chegarem a um entendimento amigável; quando recentes descobertas e pensamentos mais tolerantes das pessoas deixarem de divergir tanto uns dos outros, então saberemos que o terror e a dor da sala de cirurgias serão coisas do passado. Uma saúde radiante será desfrutada universalmente, pois seremos ensinados a viver de modo que evitaremos sofrimentos. Os profissionais de saúde viverão tão ansiosos por manter as pessoas sadias como estão agora para ajudá-las a se recuperarem de doenças e enfermidades.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1973-Fraternidade Rosacruz-SP)
“O Serviço de Páscoa em Mount Ecclesia foi realizado, como de costume, ao nascer do Sol, ao redor da Cruz colocada na estrela de flores douradas, localizada no centro do gramado circular, em frente ao prédio da biblioteca. Em nenhum momento emitimos convites especiais ou nos esforçamos para ter um número específico de pessoas presentes, mas vale ressaltar que, como de costume em todos os eventos importantes, o número de presentes, multiplicado ou somado, fez o número 9, que é o “Número do Homem” e o número de graus dos mistérios menores para os quais a Fraternidade Rosacruz é uma escola preparatória. Nesta ocasião estiveram presentes 33 pessoas.
Às cinco e meia Max Heindel, como de costume no Serviço de Páscoa, tomou seu lugar ao lado da Cruz e dirigiu-se aos presentes. Ele disse, em parte, o seguinte:
‘Se entrássemos em uma igreja ortodoxa ou assistíssemos aos cultos feitos ao ar livre da manhã de Páscoa, realizados em muitos lugares por todo o país, provavelmente ouviríamos a história da ressurreição de um indivíduo chamado Jesus, que morreu por nossos pecados na Sexta-feira Santa e ressuscitou dos mortos no Domingo de Páscoa. Embora a história da vida de Jesus, conforme registrada nos Evangelhos, seja praticamente verdadeira e nós O amemos e veneremos pelo nobre trabalho que Ele fez e está fazendo pela humanidade, olhamos além: para a importância e o significado esotérico da Páscoa’.
‘Se esta fosse simplesmente uma festa para comemorar a morte de um indivíduo, então seria, à primeira vista, uma tolice fazer dela uma festa móvel; não fixamos a morte de Lincoln pelo Sol, como sabemos que é o caso da Páscoa em relação ao Cristo, como comumente se supõe; pois esse evento é sempre determinado pelas Conjunção do Sol e da Lua no Signo de Áries, o carneiro ou cordeiro. Primeiro, o Sol e a Lua devem chegar a uma Conjunção, que é a Lua Nova; depois a Lua deve seguir seu curso no meio do círculo do Zodíaco até que se torne uma Lua Cheia; então, o primeiro domingo seguinte a esse evento é o Domingo de Páscoa”.
‘Isso mostra claramente que não estamos comemorando a morte de um indivíduo, mas que este é um festival solar. No entanto, não adoramos o Sol, a Lua e as Estrelas. Fazer isso seria idolatria. No entanto, sabemos que o Sol é o veículo físico da Divindade, assim como os Planetas são os veículos dos Sete Espíritos diante do Trono. Portanto, percebemos que o Espírito de Cristo que iluminou o corpo de Jesus e entrou na Terra no Gólgota não completou o sacrifício de uma vez por todas, assim como o Sol, ao brilhar sobre a superfície da Terra apenas uma vez não pode fazer as plantas crescerem para sempre nem envolver a Terra com o seu calor continuamente. Mas a cada ano, quando o Sol desce em direção ao nodo ocidental, no Equinócio de Setembro, o raio vitalizante de Cristo entra na superfície da Terra e permeia nosso globo até o centro, que atinge quando o Sol está em seu ponto mais baixo de declinação e quando falamos do nascimento do Salvador, no Natal’.
‘Então, quando o Sol começa a ascender em direção ao Equinócio de Março, essa grande onda vitalizadora de força dinâmica volta a ascender à periferia da Terra, fertilizando os milhões de sementes adormecidas no solo. Ele impulsiona a seiva nas árvores e as faz brotar, de modo que a floresta se torna um abrigo nupcial para o acasalamento de animais e pássaros. Esta força cósmica de Cristo é libertada da escravidão da Terra na Páscoa, quando ela se esgota, depois de dar sua vida pelo mundo’.
‘Assim, há uma inspiração e uma expiração na natureza e o mundo não poderia existir sem essa impregnação anual pela força cósmica do Cristo, assim como não podemos existir sem respirar continuamente o ar oxigenado em que vivemos. Logo, de fato, o Cristo nos dá anualmente o pão da vida; mas não apenas em sentido físico. Há, além disso, uma efusão espiritual durante os meses de junho, julho, agosto e meados de setembro da qual podemos nos beneficiar muito, se estivermos dispostos a nos sintonizar com suas vibrações. Esse é o verdadeiro pão da vida no sentido mais elevado da palavra e sem ele nossas almas morreriam de fome; daí a nossa grande gratidão ao Cristo pelo seu sacrifício anual’.
Naquele momento, quando a borda superior do Sol se tornou visível apenas sobre as montanhas do Leste, Max Heindel solicitou aos reunidos: ‘Vejam o nascer do Sol’, enquanto agradecia silenciosamente e oferecia orações e louvores.
Quando o Sol nasceu completamente e a região circundante, verde e alegre com uma profusão de flores, estava banhada pelo Sol brilhante, Max Heindel proferiu aos reunidos a antiga Saudação de Páscoa, ‘O Senhor ressuscitou’, para a qual a resposta é: ‘Sim, Ele verdadeiramente ressuscitou’.
Isso concluiu os cultos na Cruz e o grupo se dirigiu à Pro-Ecclesia, onde foi realizado o tradicional culto de domingo de manhã.”
(Relato de Augusta Foss Heindel, publicado na Revista Rays from the Rose Cross de maio/1918 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)
Assim, pois, o Zodíaco e os Astros são como um livro no qual nós podemos ler a história da Humanidade durante os estados passados e, também, nos dá uma chave para futuro que está diante de nós. No famoso Zodíaco do Templo de Denderah, Câncer não estava representando como hoje. Lá era representado por um escaravelho. Este escaravelho era o símbolo da alma, e Câncer sempre foi conhecido antigamente, como ainda hoje entre os místicos, como sendo a esfera da alma, a porta da Vida no Zodíaco, de onde os espíritos que vem renascer entram em nossa condição sublunar. Está, portanto, governado muito apropriadamente pela Lua, que é o Astro da fecundação, e é notável que vemos Capricórnio, que é o Signo oposto, ser regido por Saturno, o Planeta da morte e do caos. Saturno é desenhado simbolicamente como “O segador com sua foice e sua ampulheta nas mãos”.
Estes dois Signos opostos são, portanto, os pontos nos quais gira a evolução da alma. Câncer e Capricórnio, respectivamente, marcam o ponto de maior ascensão do Sol no hemisfério norte e o ponto de descida mais inferior, no hemisfério sul. Observamos que durante os meses de junho e julho, quando o Sol está na esfera do Câncer e Signos aliados, a fecundação e o crescimento estão na ordem do dia. Mas quando o Sol está em Capricórnio temos a época em que a natureza está morta. Os frutos são então consumidos e por nós assimilados.
Como a dança circular do Sol entre os doze Signos determina as estações do ano quando o vemos “direito”, produzindo germinação de miríades de sementes, enterradas no solo assim como o acasalamento da fauna, que então faz o mundo mais alegre com as vistas e os sons da vida em manifestação e na outra ocasião deixa o mundo mudo, confuso e abatido com a tristeza sob o domínio de Saturno, assim também pelo movimento mais lento e para trás conhecido como a Precessão dos Equinócios, é que se produz a grande mudança que se conhece como Evolução. Com efeito, essa Precessão do Sol determina, o nascimento e a morte das raças, das nações e de suas religiões, pois o Zodíaco e seus Signos são a representação simbólica do nosso desenvolvimento passado, presente e futuro.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – dezembro/1979-Fraternidade Rosacruz-SP)
“Deus é Luz” (IJo 1:5) e como presença corporal do Pai entre nós temos o Cristo, de modo que qualquer um que crê n’Ele, não perece, mas tem a vida eterna. Por isso que Cristo disse: “Eu sou a Luz do Mundo.” (Jo 8:12).
É do Sol visível que nos vem cada partícula de energia física e é do Sol espiritual invisível que nos vem toda nossa energia espiritual.
Vejamos agora, como nós daqui do nosso Planeta Terra visualizamos todos os anos a passagem, a permanência e o trabalho do nosso Salvador, Cristo: o nosso Planeta Terra gira em torno de uma estrela que conhecemos como Sol. O Sol, por sua vez, gira em torno de um conjunto de estrelas fixas.
Essas estrelas fixas formam 12 grupos ou constelações que conhecemos com o nome de Signos do Zodíaco. Esse caminho, tomando como referência o nosso Planeta Terra, feito pelo Sol é chamado de Eclíptica.
Zodíaco não quer dizer que tais constelações pareçam com animais, mas é porque suas influências estão voltadas em exteriorizar as principais características no ser humano incorporadas no símbolo.
Assim, por exemplo: a arrogância, a energia e a coragem que vem de Áries não podem estar mais bem simbolizadas do que pelo Carneiro.
Ou a pacífica, mas prodigiosa força e a grande persistência que vem de Touro não podem ser mais bem descritas que pelo simbólico Touro.
O Zodíaco permanece sempre na mesma posição relativa, ou, pelo menos, sua mudança é tão insignificante que pode ser desprezada.
Olhando daqui do nosso Planeta Terra, percebemos que todos os anos, no dia 20 ou 21 de março, temos a impressão de que o Sol começa a abandonar o hemisfério sul, cruzando a linha do equador em direção ao hemisfério norte.
Isso ocorre porque o nosso Planeta Terra possui movimentos em torno do seu eixo como um pião cambaleante. Esses movimentos cambaleantes são de dois principais tipos conhecidos como:
Na realidade, não é que o Sol abandona o hemisfério sul. O que acontece é que seus raios incidem no nosso Planeta Terra mais perpendiculares, no hemisfério sul, a partir de 20 ou 21 de março e mais inclinados no hemisfério norte. Com isso, há a sensação de mais calor no hemisfério norte do que no sul.
Já a partir de 22 ou 23 de setembro tudo se inverte: o Sol abandona o hemisfério norte, cruza a linha do equador e penetra no hemisfério sul. Novamente, o Sol não abandona o hemisfério norte, mas seus raios incidem no nosso Planeta Terra, mais perpendiculares no hemisfério norte, a partir de 22 ou 23 de setembro, e mais inclinados no hemisfério sul.
Assim, todos os anos quando o Sol cruza a linha do equador indo do hemisfério sul para o hemisfério norte temos o Equinócio de Março (ou de Outono), para nós do hemisfério sul, o início da estação do outono. Isso ocorre todos os anos, em torno do dia 21 ou 22 de março. Já para o hemisfério norte é o Equinócio de (ou da Primavera), o início da estação da primavera.
Agora, todos os anos quando o Sol cruza a linha do equador indo do hemisfério norte para o hemisfério sul temos o Equinócio de Setembro (ou da Primavera) para nós do hemisfério sul, o início da estação da primavera. Isso ocorre todos os anos, em torno do dia 22 ou 23 de setembro. Já para o hemisfério norte é o Equinócio de Setembro (ou de Outono), o início da estação do outono.
Nesse cruzamento de hemisfério sul para hemisfério norte ocorre um fato importantíssimo: devido aos movimentos vibratórios dos pólos descritos anteriormente o Sol cruza o equador sempre em um ponto anterior do que ele fez no ano anterior e, como, nesse dia, os períodos do dia e da noite são de iguais durações, ou seja, o Equinócio, esse cruzamento chama-se Precessão dos Equinócios. Ou seja, a cada ano o Sol precede em relação ao lugar em que ele cruzou o equador no ano anterior.
Se não houvesse tal Precessão dos Equinócios o Sol penetraria sempre na constelação de Áries, todos os anos no Equinócio de 21 ou 22 de março no mesmo ponto, no mesmo grau e no mesmo minuto.
Esse movimento é muito lento: um grau cada 72 anos, aproximadamente.
Assim, o Equinócio de 21 ou 22 de março ocorreu no primeiro grau de Peixes mais ou menos 2160 anos atrás (72 anos*30 graus).
Além desses movimentos, o nosso Planeta Terra tem um movimento de translação ao redor do Sol. Esse movimento tem a forma de uma elipse, e o Sol ocupa um dos focos dessa elipse.
Assim sendo, por duas vezes o Sol atinge suas posições mais afastadas do equador: em junho e em dezembro de cada ano.
De qualquer modo, observe bem esse fator importante para entender o que segue adiante: independente da influência física dos raios solares, é a distância que o Sol se encontra da Terra o mais importante:
E isso independe do hemisfério que nós estamos! Esse ponto é fundamental para entendermos a relação do movimento do Sol, por Precessão dos Equinócios, e a vinda dos “Salvadores”.
É exatamente o movimento do Sol em torno do Zodíaco, descrito acima, que fundamenta as vidas de todos os “Salvadores da Humanidade”.
Essa passagem do Sol pelo Zodíaco descreve: as provações e os triunfos de todo Iniciado, ou seja, de todo ser humano que já alcançou, pelo menos, a primeira Iniciação Menor.
Todos os “Salvadores da Humanidade” vieram com luz divina e com conhecimentos espirituais para nos ajudar a encontrarmos a Deus e, portanto, os acontecimentos das vidas deles estavam de acordo com os acontecimentos que o Sol encontra em sua peregrinação anual.
Excetuando o Cristo, os demais “Salvadores da Humanidade” vieram para ajudar uma parte específica da Humanidade: um povo, uma nação, uma parte.
Vamos falar do Salvador de todos nós, ou seja, de toda a Humanidade: o Cristo, na Sua primeira aparição entre nós como Cristo-Jesus.
Jesus nasceu de uma Virgem imaculada, quando a escuridão era maior entre a Humanidade. Do mesmo modo que o Sol começa sua jornada na noite mais longa do ano, quando o Signo de Virgem, a virgem, se mantém sobre o horizonte oriental em todas as latitudes, entre as 22 e as 24 horas do dia 24 para o dia 25 de dezembro de todo ano, como lemos no Evangelho Segundo São Lucas no capítulo 1 e no Evangelho Segundo São Mateus no capítulo 2.
Como nesse dia a Terra está prestes a ficar mais próxima do Sol do que qualquer outro momento no ano, ela é permeada mais fortemente pela aura do Sol Espiritual.
Assim, dizemos que o Sol do “novo ano” nasce do dia 24 para o dia 25 de dezembro de todo ano. Ele é a esperança de vida que nasce para salvar a Humanidade do frio e da fome (física e espiritual) que se seguiriam se não nascesse todos os anos.
Após esse advento do Cristo, todos os anos, a 21 ou 22 de dezembro, um raio do Cristo Cósmico chega até o centro do nosso Planeta Terra e começa irradiar: toda a Sua Luz, todo o Seu Amor, toda a Sua Vida, que funciona como um influxo rejuvenescedor do nosso Pai celestial.
Deste ponto, o Sol vai crescendo em esplendor, passando pelos Signos de: Capricórnio e Aquário.
Quando passa pelo Signo de Peixes, temos a época do “jejum do Iniciado”, período de elevação espiritual.
Depois da quaresma o Sol passa pelo Equinócio de Março, entrando no Signo de Áries, simbolizando o cordeiro Pascal, marcial.
Nesse cruzamento do Sol pelo equador, rumo ao norte, temos a Crucificação do Salvador que depois de nos ter dado toda a Sua Vida, Sua Luz e todo Seu Amor, como alimento físico e espiritual, Ele se liberta da cruz da matéria para ascender novamente ao Trono do Pai, deixando o nosso Planeta Terra e todos os seres vivos que nele evolucionam totalmente providos dos alimentos físico e espiritual para serem utilizados nos próximos meses do ano.
Aqui Cristo eleva-se até ao Mundo do Espírito de Vida, atingindo-o no período do Equinócio de Março, onde executa um trabalho de correlacionar todos os seres vivos de todos os Astros do nosso Sistema Solar numa Fraternidade Universal.
Continuando seu trabalho vem a passagem por Touro, símbolo do amor e da subida ao Reino dos Céus, ou regresso ao Trono ou casa do Pai.
A 21 ou 22 de junho de todos os anos, o Sol atinge o seu ponto máximo de declinação boreal no Solstício de Junho.
Então, Cristo chega ao Trono do Pai no Mundo do Espírito Divino onde, durante os meses de julho e agosto, enquanto o Sol passa por Câncer e por Leão, o Cristo está reconstruindo Seu veículo do Espírito de Vida para, na próxima descida, oferecer ao nosso Planeta Terra e a todos os seres vivos que aqui evoluciona.
Temos, então, a 15 de agosto a festa da Ascensão de Cristo, em Leão, que marca o trabalho do Cristo no Mundo do Espírito Divino trabalho esse onde Ele busca correlacionar todos os seres vivos de todos os Astros de todos os Sistemas Solares do Universo numa Fraternidade Universal.
De Leão o Sol passa pelo Signo de Virgem. A 22 ou 23 de setembro o Sol cruza novamente o equador, na direção: do hemisfério norte para hemisfério sul. Temos o Equinócio de Setembro, como já foi dito acima.
Nesse momento Cristo está entrando no Mundo do Espírito de Vida, no seu caminho descendente.
Ele está pronto a focar sua consciência no nosso Planeta Terra para que possamos ter vida e “vida em abundância” (Jo 10:10).
E, então, novamente a 21 ou 22 de dezembro um raio do Cristo Cósmico chega até o centro do nosso Planeta Terra e começa irradiar: toda a Sua Luz, todo o Seu Amor, toda a Sua Vida que funciona como um influxo rejuvenescedor do nosso Pai celestial.
Estamos na época em que as poderosas vibrações espirituais vivificantes da onda Crística estão na atmosfera terrestre e podemos utilizá-las com maior vantagem se conhecemos esse fato e redobrarmos nossos esforços o que seria impossível se nós não estivéssemos conscientes disso.
Imaginemos o quão aprisionado sente-se um Ser da estatura de Cristo em ambiente tão cristalizado como o nosso Planeta.
Imaginemos quão grande é o Seu sacrifício que faz: por nossa causa e por nossa incapacidade de evoluirmos sozinhos.
Portanto, deveríamos agradecer por esse sacrifício anual indispensável. A melhor forma de expressar essa gratidão é colaborando com Ele, nos dando a nós mesmos em serviço para com todos os nossos semelhantes, ajudando a limpar o Corpo de Desejos do nosso Planeta e vivenciando a Fraternidade Universal por onde vivemos. Assim construindo nossos Corpos-Almas, um dia tomarmos a Sua carga e o Seu fardo, libertando-O dessa Sua prisão anual e dirigirmos a nossa Evolução para cima e para frente em direção ao nosso Pai Celestial.
Que as Rosas Floresçam em Vossa Cruz
Nesta era intelectual, com sua pressa, sua correria louca e sua busca vã por prazer, posses, poder e prestígio, poucos são os que procuram viver uma vida de devoção a elevados ideais ou cultivar, dentro de si, aquela atitude de espírito que busca o bem e o belo em todas as coisas.
Para a grande massa da humanidade, a percepção material parece ser a única base de compreensão: o que costuma ver com os sentidos externos, acredita ser verdade. Mas, não acredita no que não pode ver com os olhos físicos.
O Cristão Místico (que vive mais com o “Coração” do que com a “Cabeça”), por outro lado, percebe um significado ulterior, uma beleza e acepção ocultas em todos os objetos, atos e eventos da vida diária. Para ele não há algo mesquinho ou sórdido no universo; mas, considera todas as coisas, desde a minúscula folha de grama até as constelações brilhantes no caminho ardente do Zodíaco, como símbolos do Divino.
Assim, nas coisas que muitas vezes, o intelectual (que vive mais com a “Cabeça” do que com o “Coração”) vê com indiferença, devido à constante familiaridade com elas, o Cristão Místico percebe um significado oculto que lhe revela a importância espiritual delas.
No brilho do Sol ele vê um símbolo do grande amor de Deus pela humanidade; nas nuvens, que muitas vezes o obscurecem, as preocupações mundanas e as buscas materiais que impedem que esse amor se manifeste.
Na glória do nascer do Sol ele vê a promessa de um futuro glorioso pelo qual anseia e nas cores deslumbrantes do pôr do Sol, a certeza de uma continuação da vida além da noite escura da morte do Corpo Denso.
O riacho seguindo seu caminho tortuoso e tempestuoso em esforços incansáveis para alcançar o mar é um símbolo adequado da alma no caminho da realização, trilhando o labirinto do mundo material, buscando seu caminho para a Verdade e a Luz.
Cada pequena flor que cresce à beira do caminho fala com mais eloquência do caminho da castidade que todos devem trilhar para alcançar esse objetivo. Em cada pequena semente é revelada a história da evolução e as grandes possibilidades da alma humana. Na transformação da lagarta em borboleta, obtemos uma pista sobre o que o ser humano foi e, também, o que ele está destinado a se tornar.
Tal é a atitude que o Cristão Místico mantém em relação a todas as coisas da Natureza. Ele olha para tudo com uma visão espiritual que vê em cada objeto um símbolo do propósito Divino e busca, no mais profundo do seu ser, aprender uma lição com isso.
Da mesma forma, todos os atos e eventos da vida diária são considerados, pelo Cristão Místico, como símbolos de coisas superiores e ele pratica seus deveres com espírito de devoção, como se fizesse ao Senhor. Motivo por que, para ele, esses atos se tornam sacramentos.
Quando ele come, cada refeição é para ele a Santa Ceia a ser abordada com reverência e comida em memória d’Aquele que disse: “Isto é o meu corpo”, pois ele vê verdadeiramente que o pão que ele come é de fato uma parte do corpo do grande Espírito de Cristo que Se sacrifica pelo bem da humanidade.
O banho ele vê como um símbolo daquela purificação interior tão essencial para quem busca trilhar o caminho.
O matrimônio ele considera algo elevado e sagrado, pois nessa união de alma com alma é prefigurada aquela união maior e mais sagrada do casamento místico entre Deus e a alma.
É assim que o Cristão Místico, cultivando dentro de si aquela atitude devocional da Mente que vê apenas o bem, o verdadeiro e o belo em todas as pessoas e coisas, e percebendo o significado interior que está contido em todas as experiências, abre sua alma para o influxo da vida Divina que ilumina o seu entendimento e o dota com uma visão espiritual que o capacita a ler os segredos contidos no livro da Natureza.
Sempre buscando instrução nas coisas espirituais, ele se esforça para refinar diariamente seus sentidos da mera percepção das formas externas para que possa perceber mais claramente a importância espiritual delas.
No entanto, não se deve supor que ele desconsidere as coisas da vida comum ou gaste seu tempo em especulações ociosas sobre assuntos metafísicos. Ele considera o mundo como uma escola onde é colocado para aprender, pela experiência, as lições da vida e, desse modo, ele passa pela vida com uma Mente alerta e bem desperta observando todas as coisas e cuidadosamente pesando e testando todas as experiências, extraindo assim de cada uma o maior benefício possível. Dessa maneira, ele é uma das pessoas mais práticas, fazendo seu trabalho no mundo da melhor maneira possível; mas, sempre tendo o foco no verdadeiro propósito da vida e lutando constantemente para entender o significado espiritual de tudo.
Todo aquele que deseja trilhar o caminho da realização espiritual deve cultivar assiduamente, dentro de si, essa atitude mental e devocional. É o primeiro passo no caminho que leva ao conhecimento superior e tem uma importância enorme e de longo alcance. Em todo lugar em nosso ambiente devemos procurar aquilo que evoca em nós sentimentos de respeito e veneração. Tais sentimentos são para a alma o que o alimento é para o Corpo Denso.
É cultivando nossa natureza devocional que alimentamos a alma, fazendo com que ela se expanda e fortaleça. Sentimentos de ódio, desrespeito e antipatia, por outro lado, provocam a fome e o enfraquecimento das nossas atividades anímicas. Portanto, devemos evitar tais sentimentos e concentrar todas as nossas energias na tarefa de desenvolver a atitude devocional dentro de nós mesmos. Então, plantamos firmemente nossos pés no caminho mais elevado que finalmente nos levará a Deus.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de junho de 1915 e traduzido pelos irmãos e irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)
Resposta: Na realidade, Ele não foi chamado assim; Ele chamou a Si mesmo assim “Quem dizem os homens que Eu sou o Filho do Homem?”[1]. Ele foi chamado de “Filho do Homem” por Ele possuir um corpo humano, mas há nisso uma referência oculta ao Signo de Aquário, no qual explicaremos à frente. Então, o “Filho do Homem” retornará. Houve um tempo em que a humanidade adorou o Touro, quando o Sol, por Precessão de Equinócios, passava pelo Signo do Touro[2]. Todo ano, o Sol dirige-se para o norte e, em torno de 21 de março ele atinge o Equador. Isso é o que chamamos o primeiro grau do Signo de Áries. Em seguida, ele percorre todo o círculo e, em torno de 21 de março seguinte atinge novamente o Equador, mas chega um pouco antes – ele precede. No Equinócio de Março, quando o Sol passa pelo Equador, chegará um pouco antes ao primeiro grau de Áries do ano anterior, e assim, por Precessão dos Equinócios, o Sol percorre todos os Signos. Quando ele atravessou o Signo do Touro, como foi mencionado, os povos adoravam o Touro. Em seguida, ele passou pelo Signo de Áries, e adorar o “bezerro de ouro” tornou-se um pecado mortal. Deus convocou o Seu povo: “Saiam do Egito. Não adoreis mais o Touro, mas pelo sangue do Cordeiro tereis a vossa Páscoa”[3]. Por essa razão, a verga e as ombreiras das portas foram aspergidas com o sangue do cordeiro e eles foram salvos pelo sangue do Cordeiro.
Então, Cristo nasceu, e Ele disse àqueles que queria como Seus Discípulos: “Afastai-vos do lugar onde se adora o cordeiro.”. (…) “Eu vou tornar-vos pescadores de homens”[4]. Ele, então, preparou para essa Era, quando o Sol está transitando pelo Signo de Peixes, nesses últimos 2000 e poucos anos. No decorrer desses 2.000 e poucos anos muitos de nós comem peixe às sextas-feiras, durante a estação da Quaresma, etc. Logo após a morte de Cristo, houve uma grande controvérsia: deveria Ele ser representado pelo símbolo de um cordeiro ou de um peixe? É por essa razão que os bispos usam uma mitra em forma de cabeça de peixe. O Salvador é assim indicado pelo Signo que o Sol percorre por Precessão dos Equinócios. Agora, ele está se aproximando da cúspide do Signo de Aquário, o grande Signo intelectual. Deixará, brevemente, o Signo da devoção, Peixes, onde as pessoas tem vivido uma fé cega. Nós estamos nos aproximando de Aquário e já começamos a sentir a sua influência, o grande Signo intelectual do “Filho do Homem”. Se estudarmos a nossa Bíblia corretamente e sem opiniões preconcebidas, verificaremos que o primeiro milagre de Cristo Jesus foi a transformação de água em vinho, nas bodas de Caná[5]. Não obstante, ao chegar ao término do Seu ministério, Ele revogou a antiga aliança, enviando Seus Discípulos a um local onde pudessem comer a refeição pascal. Ele disse-lhes:
“Logo que entrardes na cidade, encontrareis um homem levando uma bilha de água. Segui-o até à casa em que ele entrar. Direis ao dono da casa: ‘O Mestre te pergunta: onde está a sala em que comerei a Páscoa com os meus discípulos?’ E ele vos mostrará, no andar superior, uma grande sala, provida de almofadas; preparai ali”. Eles foram, acharam tudo como dissera Jesus, e prepararam a Páscoa”[6]. Eles seguiram as Suas instruções e, então, Ele veio, partiu o pão e deu graças. Depois passou a taça e disse: “Então, tomando um cálice, deu graças e disse: ‘Tomai isto e reparti entre vós; pois eu vos digo que doravante não beberei do fruto da videira, até que venha o Reino de Deus’”[7]. Este é o ponto, a questão. Ele disse aos seus Discípulos que procurassem um homem com uma bilha ou um jarro de água – o Signo de Aquário. Há somente um Signo em todo o Zodíaco em que aparece um homem, e Aquário está ali, com uma bilha que despeja água. Cristo Jesus chamou a Si mesmo de o “Filho do Homem” porque Ele trouxe a Religião da Era Aquariana, da Era de Aquário.
(Do Livro “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. II” – Pergunta nº 93 – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
[1] N.T.: Mt 16:13
[2] N.T.: a Era de Touro, na Época Atlante.
[3] N.T.: Ex 12:13
[4] N.T.: Mt 4:19
[5] N.T.: “No terceiro dia, houve um casamento em Caná da Galileia e a mãe de Jesus estava lá. Jesus foi convidado para o casamento e os seus discípulos também. Ora, não havia mais vinho, pois o vinho do casamento tinha-se acabado. Então a mãe de Jesus lhe disse: ‘Eles não têm mais vinho’. Respondeu-lhe Jesus: ‘Que queres de mim, mulher? Minha hora ainda não chegou’. Sua mãe disse aos serventes: ‘Fazei tudo o que ele vos disser’. Havia ali seis talhas de pedra para a purificação dos judeus, cada uma contendo de duas a três medidas. Jesus lhes disse: ‘Enchei as talhas de água’. Eles as encheram até à borda. Então lhes disse: ‘Tirai agora e levai ao mestre-sala’. Eles levaram. Quando o mestre-sala provou a água transformada em vinho — ele não sabia de onde vinha, mas o sabiam os serventes que haviam retirado a água — chamou o noivo e lhe disse: ‘Todo homem serve primeiro o vinho bom e, quando os convidados já estão embriagados serve o inferior. Tu guardaste o vinho bom até agora!’. Esse princípio dos sinais, Jesus o fez em Caná da Galileia e manifestou a sua glória e os seus discípulos creram nele.” (Jo 2:1-11).
[6] N.T. Lc 22:10-13
[7] N.T.: Lc 22-17-18
Você já ouviu falar dos doze Signos do Zodíaco, aqueles grupos de estrelas que formam uma faixa ao redor da Terra, através da qual o Sol parece passar, durante o ano, e a Lua em sua jornada, a cada vinte e oito dias.
Contos e lendas sobre os Signos do Zodíaco foram contados por milhares de anos, pois eles são muito, muito velhos, talvez mais velhos do que a nossa Terra. As crianças na China, no Egito, na Babilônia, Pérsia e Arábia sabiam muito sobre eles, e olharam para cima e os encontraram no céu, como você pode fazer agora.
Os nomes que os povos antigos lhes davam não eram sempre os mesmos que os nossos, mas as histórias que contaram sobre eles eram semelhantes.
Você pode se perguntar se alguns desses contos são verdadeiros. Bem, parte deles é, mas outras partes você deve descobrir por si mesmo. Se você faz aniversário no mesmo dia como Rex ou Zendah você encontrará que algumas de suas aventuras acontecerão a você, durante o sono ou acordado, ou você quererá fazer muitas das coisas que eles gostaram muito de fazer.
Há 4 meios de você acessar esse Livro:
1. Em formato PDF (para download ou imprimir):
2. Em forma audiobook ou audiolivro:
Esme Swainson – As Aventuras de Rex e Zendah no Zodíaco – audiobook
3. Em forma de videobook ou videolivro no nosso canal do Youtube: https://www.youtube.com/c/TutoriaisEstudosFraternidadeRosacruzCampinas/featured
aqui:
Esme Swainson – As Aventuras de Rex e Zendah no Zodíaco – videobook
4. Para estudar no próprio site:
AS AVENTURAS DE REX E ZENDAH NO ZODÍACO
Por
Esme Swainson
Fraternidade Rosacruz
Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82
Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil
Traduzido e Revisado de acordo com:
1ª Edição em Inglês, 1932, The Adventures of Rex and Zendah
In The Zodiac, editada pela The Rosicrucian Fellowship
2ª Edição em Inglês, 1981, The Adventures of Rex and Zendah
In The Zodiac, editada pela The Rosicrucian Fellowship
Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
www.fraternidaderosacruz.com
contato@fraternidaderosacruz.com
fraternidade@fraternidaderosacruz.com
Sumário
O Carneiro vem correndo na primavera,
Sua saída é uma coisa mais calma,
Em seguida vem o Touro com passo pesado;
A terra vem ele que se lança com a cabeça.
Os Gêmeos celestiais dançam pelo ar
A alegria ou tristeza deles fixam o olhar.
O Caranguejo rasteja fora do largo oceano
Atrás de sua rocha, ele se esconde muitas vezes.
Com dignidade o Leão se estabelece;
Tão justo e verdadeiro ele governa suas terras.
A Virgem segura um feixe de milho;
Olha para o seu trabalho quando ela nasce,
Para o próximo, a Balança provada e verdadeira
Pesará as coisas que você deveria fazer.
O que se segue é uma coisa curiosa:
Escorpião com sua picada cruel.
O Arqueiro seguinte, tão sábio e selvagem,
Parece um homem velho e uma criança.
A Cabra do Mar sobe a montanha alta.
Seu lema, “alcançar ou morrer”.
O Homem com o Jarro de água no alto
Derrama sua sabedoria do céu.
Por fim, dois Peixes nadam no mar;
Devem trazer Paz e Unidade.
Você já ouviu falar dos doze Signos do Zodíaco, aqueles grupos de estrelas que formam uma faixa ao redor da Terra, através da qual o Sol parece passar, durante o ano, e a Lua em sua jornada, a cada vinte e oito dias.
Contos e lendas sobre os Signos do Zodíaco foram contados por milhares de anos, pois eles são muito, muito velhos, talvez mais velhos do que a nossa Terra. As crianças na China, no Egito, na Babilônia, Pérsia e Arábia sabiam muito sobre eles, e olharam para cima e os encontraram no céu, como você pode fazer agora.
Os nomes que os povos antigos lhes davam não eram sempre os mesmos que os nossos, mas as histórias que contaram sobre eles eram semelhantes.
Na Babilônia, o Signo que chamamos de Leão era o Grande Cão, e os Gêmeos tinham um pastor para cuidar deles, para que eles não entrassem em trapaças, suponho, como os gêmeos costumam fazer!
Os chineses representam o Zodíaco tanto quanto nós, mas eles têm duas Virgens sentadas com as mãos dobradas, em vez de uma, e um Dragão, em vez de uma Cabra do Mar, e às vezes, todos os Signos são bem assentados em pequenas estandes, como aqueles que você vê nas lojas em vasos chineses antigos.
Você pode reconhecer os mesmos Signos, também, nos quadros egípcios, onde a cabra do mar é, muitas vezes, retratada como um crocodilo, enquanto na Arábia antiga o Carneiro, Touro e a Cabra têm um deus montado em suas costas, e os Peixes têm um deus sentado entre eles.
O Ano Novo zodiacal não começa quando o nosso começa e talvez você queira saber o porquê o Carneiro não “se apressa dentro” de janeiro, em primeiro lugar.
O Ano Novo não começa em primeiro de janeiro para cada nação, e muitas centenas de anos atrás era o costume celebrar isso com o próprio tempo solar, ou seja, no dia vinte e um de março, pois o Sol sempre dizia qual era o começo do novo ano, apesar das leis que os seres humanos fazem. Os velhos romanos reconheceram isso por um longo tempo, até que um dos imperadores decidiu que iria alterar o calendário.
O Sol, a Lua e as Estrelas formam um relógio gigante e calculam seu tempo da mesma forma, não importa o que dizemos, e não faz muito tempo que os seres humanos, na Inglaterra, contavam seu dia, mês e ano de um modo tão atabalhoado que não concordava com o tempo medido pelo Sol, e quando tentaram acertar, tiveram que perder onze dias para endireitar as coisas.
O que aconteceu com as crianças que tiveram aniversários naquela época eu não sei; foi ruim o suficiente, como algo parecido em dizer que temos um mês de fevereiro com vinte nove dias em um ano bissexto! No entanto, apenas para mostrar que o Sol sabe melhor do que os adultos; ele lhe dá um aniversário exatamente o mesmo todos os anos, mesmo se você nasce no dia vinte e nove; só que nem sempre é no mesmo dia.
As estrelas que compõem os grupos que são chamadas de os Signos do Zodíaco podem ser observadas em uma noite clara; você os verá melhor antes que a Lua se levante, e talvez os mais fáceis de encontrar sejam os Gêmeos, pois as duas grandes estrelas, que devem estar sobre sua cabeça são facilmente vistas, uma abaixo da outra. Não muito longe, você encontrará um conjunto de sete pequenas estrelas chamadas Plêiades e estas estão no Signo do Touro. Elas são, às vezes, chamadas as sete irmãs e se supunha que uma delas teriam feito algo errado e por isso era tímida e se escondia atrás das outras. A menos que seus olhos sejam muito afiados você não poderá vê-la.
“Esses contos são verdadeiros?” Você pode se perguntar. Bem, parte deles é, mas qual parte você deve descobrir por si mesmo. Se você faz aniversário no mesmo dia que Rex ou Zendah você perceberá que algumas de suas aventuras acontecerão a você, durante o sono ou acordado, ou você quererá fazer muitas das coisas que eles gostavam muito de fazer.
Agora nós devemos começar a aventura.
Rex e Zendah viviam no campo, numa casa ao lado de um morro coberto de pinheiros que, como Zendah costumava dizer, cantavam para o sol adormecer à noite. Rex pensava que eles fossem as antenas que transmitiam as mensagens das fadas para os habitantes das estrelas.
Todas as manhãs, do seu quartinho viam o Sol erguer-se sobre os montes do lado oposto, e à noite, geralmente observavam as estrelas acenderem seus luzeiros a pouco e pouco – isto é, quando acontecia de estarem acordados.
Durante o inverno, por vezes, levantavam-se da cama para espiar a cintilante estrela do Cão que então estava alta nos céus para tomar conta da terra depois que Órion guardava sua espada e acendia as luzes do seu cinturão para que todos vissem.
O aniversário de Rex era em 27 de março, pouco depois de o Sol ter entrado no Signo do Cordeiro (Áries). Rex era ligeiro e alegre; tinha olhos castanhos e cabelo ondulado, da cor da castanha madura. Alguns dos seus amigos diziam que seus cabelos eram tão quentes quanto seu gênio, mas ele nunca ficava zangado por muito tempo.
O aniversário de Zendah era em 26 de novembro, ocasião em que o Sol está no Signo do Arqueiro (Sagitário). Tinha lindos cabelos louros, grandes olhos azuis e tinha pena de que seus cabelos fossem apenas ligeiramente ondulados e não tanto quanto os de Rex! Seu maior prazer era montar o pequeno “pônei” que seu pai lhe dera quando fez 12 anos.
Nenhum dos dois gostava de ficar dentro de casa, e passavam quase todo o tempo correndo no campo à procura de aventuras de qualquer espécie.
No inverno gostavam de sentar-se perto da lareira, enquanto o vento uivava na copa dos pinheiros, ouvindo as histórias que sua mãe contava sobre pássaros e animais, ou então olhavam pelo telescópio do papai e procuravam descobrir todos os nomes das estrelas. Foi então que aconteceu a Grande Aventura – mas – é bom que vocês a leiam.
Nesta noite particular, em 20 de março, Rex e Zendah haviam conversado muito tempo sobre estrelas antes de irem dormir, e por isso Zendah não se surpreendeu quando acordou e se deparou com uma figura amarelo-brilhante em pé ao lado de sua cama.
– “Rex”, gritou, “acorda! Hermes, o mensageiro dos deuses, está aqui no quarto! Acorda, antes que ele se vá!”.
Ambos se sentaram na cama e ficaram observando a figura do mensageiro.
Viram que tinha asas nos pés e que ele trazia seu báculo com as duas serpentes enroladas tal como seu pai lhes havia contado.
Hermes sorriu e disse:
– “Vocês querem, realmente, saber tudo sobre o Zodíaco? O Pai Tempo disse que vocês poderão vir comigo e viajar pelas terras do Zodíaco esta noite se quiserem”.
– “Mas não levará muito tempo?”, perguntou Zendah, “que dirá mamãe se não nos encontrar aqui?”.
– “Aqueles que atravessam os portões dourados da entrada dos doze Signos, um segundo antes da meia-noite, poderão ter todas as aventuras antes do relógio bater as doze badaladas – todo mundo sabe que nesse preciso momento o tempo não existe”.
– “Oh! Que maravilhoso!”, disseram ambas as crianças, pulando da cama e dançando alegremente, “vamos partir logo”.
– “Um momento”, disse Hermes sorrindo, “vocês têm de usar seu corpo estelar; o corpo físico de vocês é muito pesado; vocês não podem ir com ele às estrelas”.
Então levou-os até a janela e disse-lhes para olharem para Sirius, a estrela mais brilhante da Constelação do Cão, e manifestarem o ardente desejo de visitá-la.
Quando eles o fizeram, sentiram uma curiosa sensação de estarem afundando, ficando cada vez menores e mais compactos até que, de repente, – zás – parecia que havia dois Rex e duas Zendah, um adormecido sobre a cama e outro muito bem acordado, com um corpo brilhante circundado por interessante nuvem de várias cores.
– “Agora vocês estão usando seu corpo estelar”, disse Hermes, “e podem voar comigo até os Portões Dourados”.
Imediatamente partiram pelo espaço, – deixando no trajeto a Lua e outras coisas estranhas – até que chegaram à entrada das terras do Zodíaco. Os portões ficam exatamente entre os Peixes e o Cordeiro (Peixes e Áries).
Como eram bonitos esses portões! Brancos, com reflexos de inúmeras cores! Por vezes pareciam feitos de fogo dourado, outras vezes de fogo prateado; olhando-os de novo, pareciam diferentes. Algo de sua cor vocês podem perceber em noite fria quando há lenha acesa numa fogueira; às vezes, podem também observar um lampejo de seu brilho quando o Sol está a ponto de desaparecer para seu descanso noturno.
A uma palavra de Hermes, os portões se abriram, e as felizes crianças entraram. Milhares de lindas formas vieram ao seu encontro.
– “Os Anjos!”, murmurou Zendah. Hermes conduziu-os a um templo de mármore branco, que tinha sete degraus maciços que conduziam ao pórtico da entrada. Dentro havia um hall circular com doze cômodos, havendo um Anjo em cada um. Os Anjos vestiam lindos mantos de cores diferentes, tendo uma brilhante estrela na fronte.
Os viajantes não puderam ver muito do que havia lá dentro, porque havia muita luz e esta era muito forte; parecia que a luz mudava constantemente; mostrava primeiro uma cor, depois outra. Subitamente a luz tornou-se cintilante e do branco mais puro e nesta ocasião ouviu-se uma voz dizer:
– “Que desejam estas crianças mortais?”.
– “Oh, grande Ser, permite-nos visitar as terras dos doze Signos”, falou Hermes, “a fim de que estas crianças, ao voltar à terra, possam contar aos outros a obra do Zodíaco, como o fizeram os Sábios de antigamente”.
– “Bem pensado”, disse a voz.
– “Vão, crianças, e não percam os talismãs mágicos que os Guardiães de cada Signo lhes darão”.
Conservando seus rostos voltados para a luz até atingirem a entrada do Hall, foram conduzidos por Hermes, fora do templo até o primeiro portão.
Ao passarem por esse portão, viram portas de espaço, nas paredes de nuvens que circundavam toda aquela terra; foi para uma dessas portas no lado esquerdo, que Hermes os conduziu.
– “Eis a entrada para o Signo dos Peixes”, disse ele.
– “Mas por que?”, perguntaram Rex e Zendah, “não começamos pelo Signo do Cordeiro, já que nos ensinaram que Áries é o primeiro da lista?”.
– “Porque na Terra dos Astros tudo é ao contrário. Na terra, se vocês quiserem ter uma boa vista do campo, têm que começar a subir a montanha desde a parte inferior até atingirem o cimo, e tendo visto tudo, vocês descem outra vez ao vale e contam aos seus amigos tudo o que viram no seu passeio. A terra é como um espelho e nela se reflete tudo o que acontece nas estrelas, e como vocês sabem, em um espelho tudo é invertido.
Quando vocês voltarem para casa e quiserem usar os talismãs que os guardiães dos Signos lhes derem, vocês começarão com o talismã de Áries, o Cordeiro. Tomem este rolo e não o percam, pois nele estão escritas as “palavras de passe” para todos os Signos; o Guardião de cada portão pedirá essa “palavra de passe” antes de vocês poderem entrar”.
Hermes despediu-se e deixou-os para continuarem a jornada, mas lhes disse, com seu alegre sorriso, que eles o veriam de novo quando menos esperassem.
Antes de baterem na porta dos peixes, ficaram alguns minutos olhando para ela – pois era muito difícil encontrar onde bater. Os lados da porta eram como duas grandes ondas e entre elas apareciam linhas de água em movimento, não parando um momento, e brilhando com todas as cores que se veem numa concha. Girando, no centro do portão, havia dois peixes, um seguindo o outro; um cor de cobre e o outro tinha cor parecida com a do zinco. No meio desse bonito portão havia uma pérola de grande valor, maravilhosa na forma e na cor, que, como um espelho, refletia um rosto que mudava constantemente de feições. Em um momento esse rosto era hediondo e no momento seguinte era belo, tão bonito que dificilmente poderia alguém deixar de gostar dele.
Zendah viu um búzio no chão, junto ao portão.
– “Sopra-o”, disse Rex. “Nos contos de fadas que nós lemos, sempre se toca uma corneta na entrada do castelo do gigante”.
Zendah soprou o búzio. Soou uma nota suave, e todo movimento do portão cessou; os peixes pararam de nadar em roda e colocaram-se um de cada lado da pérola, ficando assim:
– “Quem pede para entrar” gritou uma voz. “Dê a palavra de passe”.
– “Rex e Zendah”, disseram as crianças, “e a palavra de passe é AMOR”.
– “Pela virtude do Amor, entrem, Rex e Zendah”, disseram várias vozes, e o portão abriu-se lentamente.
Enquanto o portão se abria, Zendah olhou para Rex com espanto e exclamou:
– “Veja, Rex, veja! É só mar!”
As crianças estavam paradas sobre a macia areia de uma praia, e tanto quanto sua vista abrangia, viam milhas e milhas de ondas agitadas, pontilhadas de pequenas ilhas.
Longe, no mar alto, na maior das ilhas, erguia-se um castelo construído em madrepérola.
Logo apareceu perto delas um lindo bote com duas crianças dentro: um menino com cabelos cor de palha e uma menina, tão loura que seus cabelos brilhavam como prata.
O bote tinha o formato de um peixe voador e podia elevar-se no ar e voar, à vontade de quem o dirigia.
-”Vamos voar” gritou Rex, mal se sentaram no bote. O bote elevou-se no ar levemente, depois mergulhou nas ondas e novamente se elevou, porque parecia não poder subir a grande altura sobre as ondas.
Mostraram às crianças que o bote era movido por eletricidade. No fundo do bote, exatamente sob o banco onde estava sentada a menina que dirigia o bote, havia placas de cobre. Essa menina calçava sapatos estranhos; o pé esquerdo tinha sola de cobre e o pé direito, sola de zinco; quando queria que o bote navegasse, ela apertava ambos os pés contra as placas de cobre do fundo; quando queria que o bote navegasse nas águas, apertava somente o pé direito; e apertava o pé esquerdo, com sola de cobre, quando queria fazer o bote parar.
Como as crianças ouvissem um cântico curioso enquanto navegavam e não vissem pássaros, perguntaram de onde vinha tal cântico.
-”São os peixes”, disseram seus guias. São domesticados e cantam para nós, já que não temos pássaros na Terra dos Peixes”.
Passaram por inúmeros botes semelhantes ao em que estavam e logo chegaram ao Castelo de Pérola. Depois de desembarcarem em um pequeno cais andaram por um caminho coberto por diferentes espécies de conchas, por entre duas filas de meninas vestidas com túnicas cor de malva pálido. Seus sapatos eram lindos e todas as jóias que usavam estavam nos pés.
Em parte alguma do castelo havia cores brilhantes. As paredes eram cor de marfim; os pilares pareciam feitos de feldspato translúcido que lembravam a névoa que certa vez eles haviam visto de manhã, à beira-mar, quando o Sol brilhava através dela. Todas as paredes e pilares, quando tocados, emitiam um som musical, e todas as pessoas que eles encontravam no caminho levavam um instrumento musical.
Depois de passarem por muitas salas e por escada encaracoladas, pararam afinal na sala do trono e viram o Rei Netuno. Seu trono era feito de conchas marinhas, com estofo de seda violeta. Em sua mão segurava uma vara longa, feita de um metal esbranquiçado e brilhante, em cuja extremidade havia pontas e em cada uma delas, uma pérola.
– “O Tridente de Netuno”, murmuraram um para o outro. Netuno deu-lhes as boas-vindas e virando-se para uma bela senhora que estava a seu lado disse-lhe para mostrar às crianças as maravilhas do país.
– “A Rainha Vênus passa muitas horas nesta terra, ajudando-me”, disse Netuno, “e ela entende de crianças mais do que eu”.
Elas foram conduzidos a todos os quartos do castelo; em um deles, encontraram uma orquestra composta de crianças, cada uma tocando um instrumento diferente; a música que tocavam era a mais bonita que já jamais ouviram. Uma ou duas delas, sentadas quietinhas num canto, pareciam nada fazer.
– “Por que não estão tocando com os outros? Estão de castigo?”, perguntou Rex.
– “Qual nada”, disse Vênus, “estão escutando a música dos Anjos e escrevendo-a para que os outros possam tocá-las”.
Em outro aposento encontraram todos atarefados em escrever e toda a vez que uma das crianças parava e parecia estar pensando profundamente, aparecia sobre sua cabeça uma pequena nuvem com centenas de pequenos quadros.
– “Estão escrevendo estórias e poesias”, disse Vênus, respondendo a pergunta mental das crianças”. Todos esses pequenos quadros que vocês veem na nuvem, são as ideias que lhes chegam”.
Deixando esses aposentos e descendo as escadas, chegaram a um anexo ao castelo onde havia várias espécies de animais, alguns feridos nas orelhas, pássaros com asas ou pernas quebradas, e outros com outras doenças. Crianças de todas as idades tentavam ligar os membros quebrados deles ou curar-lhes as feridas. Rex e Zendah olharam para seu guia com olhares interrogativos.
– “Quando os animais são feridos na terra, vêm para cá para se curarem”, disse Vênus olhando em volta.
“As crianças também deviam vir aqui para aprenderem a ser bondosas e a amar todos os animais, pois aqui temos hospitais onde tanto as pessoas como os animais são curados. Mas antes de vocês partirem, vou mostrar-lhes algo muito precioso”, disse Vênus.
Entrando em outro bote voador semelhante ao primeiro eles foram conduzidos a uma ilha próxima do Castelo de Pérola. Era muito pequena e quase que completamente coberta por um Templo de vidro, circular, guardado por dois cavaleiros cobertos por armaduras brilhantes e com escudos onde se via gravado um emblema de uma Taça Prateada em fundo azul. Os cavaleiros também pediram a palavra de passe e, tendo-a recebido, deixaram as crianças entrar.
Nada havia no interior a não ser um altar num dos cantos e um grande espelho. Sobre o altar brilhava intensa luz como a da Lua cheia; dentro dessa luz puderam ver a taça de cristal que cintilava como diamante, ou melhor, mais parecia o Sol brilhante numa gota de orvalho.
– “Crianças”, disse Vênus “quando o Rei Artur veio viver entre as estrelas, trouxe consigo a Taça Mágica, que tem o poder de dar aquilo que cada um mais deseja. Mas vocês devem estar certos daquilo que desejam. Deve ser algo que vocês possam repartir com aqueles que vocês amam. Essa taça não voltará à terra enquanto os seres humanos brigarem uns com os outros. Apontando para o espelho, ela disse: “neste espelho, se seus olhos forem bastante forte, vocês poderão ver tudo o que aconteceu ou o que venha a acontecer. Vou dar-lhe um espelhinho mágico semelhante a este, Zendah, e se você usá-lo bem, quando estiver em dificuldades, você saberá exatamente o que fazer.
– “Rex use esta pérola, e toda a vez que você pegar nela, lembre-se da palavra de passe desta terra e assim fazendo, procure levar de volta à terra, outra vez, o Santo Cálice”, concluiu Vênus.
Muito contritos, nas pontas dos pés, voltaram ao pórtico do Templo, trazendo consigo seus presentes; retomaram o bote voador, deixando a Rainha Vênus, com um sorriso em seus lábios, em pé sobre os degraus da escada. Voltaram à praia e saíram pelo portão da Terra dos Peixes, e uma vez fora, passaram a procurar pela Terra do Aquário, por vezes conhecido como, “O Homem do Jarro”.
As crianças estavam paradas agora no lado externo do segundo portão. Este era muito diferente do primeiro; parecia feito de nuvens de movimento rápido e acima delas podia-se ver um grande globo verde tendo uma estrela no meio.
Rex encontrou uma vara que parecia ter vida, caída perto do portão. As instruções do rolo diziam que ele devia usá-la para conseguir entrar.
– “Não vejo onde possa bater”, disse ele para Zendah, mas no momento em que levantou a mão com a vara, uma faísca, como um relâmpago, saiu do extremo desta em direção ao globo verde em cima do portão. Subitamente as nuvens desapareceram e os meninos viram que o globo descansava sobre uma grossa coluna verde. Atravessadas no meio do portão estavam duas serpentes; uma de prata, por cima, e outro de bronze, por baixo:
Gravado por cima das serpentes aparecia o símbolo de duas mãos dadas:
– “Quem veio chamar o guardião das Grandes Distâncias?”, gritou uma voz.
– “Rex e Zendah, da terra”, responderam elas.
– “Dê a palavra de passe”.
– “Fraternidade”, respondeu Rex.
– “Entrem, Rex e Zendah, pelo espírito da Fraternidade, na terra do Aquário”.
Os portões rangeram. Os dois encontraram-se no começo de uma larga estrada que se estreitava quando se olhava para longe, em frente. De cada lado dessa estrada saíam outras cinco estradas, ficando assim o terreno dividido em onze partes, tendo ao longo de cada uma delas lindas casas.
Logo viram vindo, ao longe, um homem envolto em uma túnica feita de um material que eles nunca viram antes. Parecia uma malha de proteção e embora não fosse de metal, brilhava qual escamas de uma cobra em furta-cor, ora verde, ora laranja, ora púrpura. Sobre esta malha havia uma vestimenta feita de vários quadrados coloridos. Em torno dos tornozelos tinham aros com joias que brilhavam como a vara do portão. Ele deu as boas-vindas às crianças e convidou-as a verem o Rei.
O homem bateu as mãos por cima da cabeça e imediatamente uma máquina voadora prateada desceu, e eles entraram nela. Voaram alto, por cima da grande estrada central e chegaram logo ao castelo, com a velocidade do pensamento. Homens altos, vestidos como seu guia, estavam parados de cada lado ao longo do lance das escadas, e todos eles faziam gestos de saudação quando eles passavam, juntando a mão direita com a esquerda.
O castelo estava cheio de belas estátuas e ornamentos de toda espécie e eram tantos que não dava tempo de verificar a sua variedade.
– “Rex”, murmurou Zendah, “parece o museu Britânico, só que muito mais bonito”.
Passaram pelo grande hall e por fim chegaram diante do trono, feito de muitos metais estranhos. O tapete onde estavam o trono e as cortinas que lhe ficaram por trás, eram feitos de quadrados verdes e laranja, alternados.
Um homem idoso, de semblante sério e longa barba, estava sentado no trono. Vestia túnica verde escuro, em cuja bainha havia muitas crisólitas e raios de azevinho com bagas vermelhas e por baixo tinha uma vestimenta de fino linho branco. Segurava uma ampulheta e a seu lado permanecia um homem escuro com os olhos penetrantes e uma coroa que parecia luzir com brilhantes raios de fogo. Sua roupa também mudava de cor cada vez que se olhava para ela.
– “Sejam bem-vindos, crianças”, disse o velho Rei. “Vocês conhecem o meu nome; sou o pai tempo, por vezes chamado Saturno. Aqui, na terra do Homem de Jarro, muito do meu trabalho é feito pelo Rei Urano, que é mais velho do que eu, embora pareça mais jovem. Ele mostrará a vocês as maravilhas desta terra”.
– “Vamos primeiro às minas”, disse Urano, descendo do trono. Deixando o palácio entraram novamente na máquina voadora, e partiram para as montanhas onde chegaram logo.
Urano levou-os ao interior de uma montanha em que havia cavernas profundas nas quais homens trabalharam com máquinas curiosas, diferente de qualquer outra que tinham visto antes.
– “Estas são minas de rádium”, disse Urano. “Vejam!”, e ele apertou um botão de uma máquina que estava próxima das paredes da caverna. Imediatamente uma espécie de espada desceu e cortou uma abertura na rocha. Do corte saiu uma torrente de metal cintilante que brilhava como o Sol. Parecia ter vida e as crianças não conseguiam olhar para ele além de um instante.
– “Temos desse metal na terra?”, perguntou Rex.
– “Sim, mas não muito. Quando a Terra era muito jovem, pusemos boa quantidade nela, mas com o tempo, quase toda irradiação voltou para cá, restando somente um metal pesado que vocês chamam chumbo; mas esse metal pertence na realidade, a outra Terra”.
– “Que pena! Gosto mais deste!”, disse Zendah.
– “Algum dia os homens aprenderão a transformar o chumbo novamente em rádium; mas isso não é para já”, disse Urano sorrindo.
Deixando as cavernas eles subiram ao topo da montanha onde havia uma construção com telhado de vidro, cuja porta de entrada era alcançada por meio de centenas de degraus. Aí eles viram todas as variedades de máquinas voadoras sendo construídas.
Em um canto perceberam certo número de pessoas em pé em altos pilares, abrindo os braços, pulando de lá de cima e planando até chegar ao chão como se tivessem asas.
– “Que fazem eles?”, perguntou Zendah.
– “Praticam o voo sem máquinas; todos podem fazer isso se aprenderem a usar seu corpo astral apropriadamente; mas sem ele não é fácil, não”.
Novamente fora, em um lindo vale viram blocos de mármore nos quais homens e mulheres esculpiam estátuas, algumas, apenas começadas e outras terminadas.
Zendah desejava muito poder fazer o mesmo, e Urano deu-lhe uma pequena ferramenta e disse-lhe que quando chegasse em casa experimentasse, mas praticasse primeiro com a argila.
– “Eu preferia poder enviar mensagens pelo ar’, disse Rex.
As crianças foram levadas para outro prédio onde havia inúmeros fios passados de uma parede à outra. Rex viu uma grande placa de ebonite com botões de prata e Urano disse-lhe: pode apertar um dos botões e desejar intensamente.
– “Pense na mensagem que você quer mandar e ela chegará ao seu destino”, disse Urano.
– “Só pensar?”, perguntou Rex. “Basta isso?”
– “Sim, isso basta, mas você deve pensar firme e ao mesmo tempo olhar nesse espelho ao lado”.
Rex pensou em sua mãe e desejou que ela soubesse as maravilhas que eles estavam vivendo.
Ele viu sua mãe em casa, sentada perto da lareira, e uma pequena bola luminosa, cheia de quadros das suas aventuras, partiu como um relâmpago até chegar perto dela e então desapareceu.
Ela sorriu e disse para si mesma: “Que lindos sonhos estão tendo as crianças”.
– “Algum dia”, disse Urano, “as pessoas não precisarão mais de fios para mandarem suas mensagens; apenas ficarão sentadas, pensarão firmemente, e as mensagens chegarão ao destino. As crianças poderão fazê-lo mais facilmente do que os adultos”.
– “O povo desta terra faz outras coisas interessantes?”, perguntou Zendah.
– “Sim; aqueles lá estão desenhando lindas catedrais e outros edifícios e aqueles”, apontou para outra parede, “estão aprendendo a armazenar o relâmpago e a utilizá-lo para movimentar máquinas em substituição ao carvão ou à gasolina”.
Enormes chamas passaram de um lugar para o outro, estremecendo por vezes o edifício – era como se fosse uma grande apresentação de fogos de artifícios! Eles viram centelhas saírem aos milhares de bolas brilhantes que iam de um lado a outro. Essas bolas apresentavam diversas colorações variando de conformidade com a altura de que eram vistas. As mais baixas eram vermelhas e amarelas, mudando para o verde, ao passo que as mais altas eram azuis e púrpura. Um homem estava parado em um dos lados da sala e apontava para uma máquina no lado oposto. Quando fazia isso, parecia que jorrava do seu dedo uma torrente de fogo colorido e a máquina punha-se em movimento sem outro auxílio.
Foi muito maravilhoso, mas Urano apenas sacudiu a cabeça quando Rex perguntou como foi feito. “Você vai descobrir algum dia, meu filho”, ele disse, “se você pensar bastante”. Então, levando-os para o portão de entrada, ele deu a Rex uma ponte mágica minúscula que, ele disse, permitiria que ele enviasse seus pensamentos como Relâmpago onde quer que ele desejasse, se ele a segurasse e usasse a senha. Para Zendah, ele deu um pendente feito de duas cobras, como aquelas no portão, cada um segurando uma safira em sua boca. Eles nunca souberam como eles saíram daquela terra. De repente viram um clarão de luz, o chão tremeu, e eles estavam na frente do portão seguinte, o de Capricórnio.
O portão seguinte estava muito parado – não havia movimento de nenhuma espécie. Parecia sólido e pesado; seu ornamento central era uma montanha, com um pequeno edifício no pico mais elevado. Os pilares eram entalhados com cabeça de bode na parte superior, e nas bases tinham uma guarnição de rabos de peixes.
Rex não sabia como poderiam entrar, pois não viram campainha nem nada em que bater, nem mesmo um pau para bater no portão.
Subitamente Zendah disse: “Existe um pequeno buraco de fechadura lá em cima do portão, Rex, mas não sei como poderemos alcançá-lo; e mesmo que chegássemos lá, não temos chave. Todavia, você pode subir nos meus ombros para ver se chega até a fechadura”.
Rex subiu-lhe aos ombros, mesmo assim não alcançou a fechadura. Pulou então para o chão e as crianças se entreolharam, desanimadas.
– “Isto é cansativo”, disse Rex, olhando para o portão. “Veja aquelas letras, Zendah. Eu não as havia visto antes”.
Ficaram surpresos ao verem escritas no portão as seguintes palavras:
“Se não conseguir da primeira vez, tente, tente novamente”.
De súbito Zendah percebeu uma enorme pedra próxima do portão. Havia um raio de luz vindo debaixo dela, então ela disse: “Tentemos mover esta pedra e talvez encontremos a solução”. Ambos empurraram a pesada pedra; no fim de alguns minutos a pedra foi afastada e embaixo dela encontraram uma caixa de pedra branca.
Dentro dela havia uma pequena chave feita de um metal escuro que parecia pesado. De fato, era muito pesado, pois, juntos, com dificuldade conseguiram levantá-la. Depois de puxarem por um tempo deixaram-na cair para pegarem um pouco de ar. Então Zendah segurou a chave com ambas as mãos e ao fazê-lo Rex gritou: “Zendah, Zendah você está ficando cada vez mais alta! “. Ele viu-a crescer como um pé de feijão e em poucos minutos estava tão alta que alcançou a fechadura e pôde colocar a chave nela. Ao terminar de fazer isso, voltou instantaneamente ao seu tamanho normal, e ouviram uma voz que dizia:
– “Quem encontrou o segredo da entrada da Terra do Bode? “.
Os meninos responderam: “Rex e Zendah”.
– “Deem a palavra de passe!”
– “Perseverança”, responderam as crianças.
– “Entrem, Rex e Zendah, pela virtude da perseverança”.
Aos poucos, bem lentamente, o portão abriu-se e um vento frio fez com que tremessem ao passar pelo umbral.
Que visão tiveram!! Filas e filas de montanhas, umas cobertas de neve e outras de pedras cinzentas. O Sol acabava de surgir e enquanto olhavam as montanhas, elas foram mudando do cinzento para lindas cores azul e púrpura e à proporção que o sol se fazia mais alto no céu, iam-se tornando em cor de rosa, alaranjado, até ficarem com a cor que tinham durante o inverno as montanhas do lugar onde viviam.
– “Está frio aqui”, disse Zendah, batendo com os pés, “mas eu gosto de subir montanhas”.
Voltaram-se ao ouvir passos e viram uma mulher idosa, com cabelos grisalhos, que se dirigia para elas.
Segurava um bastão e vestia roupa de alpinista, feita de material esverdeado, amarrada com um cinto de couro castanho-escuro.
– “Vocês vão ver que esta terra é difícil”, disse ela, balançando a cabeça gravemente para as crianças, “mas eu lhe darei a força dos pés do bode e vocês poderão subir a montanha”.
Assim falando, tocou-lhes os pés com seu bastão e, para seu espanto, verificaram que podiam subir as encostas da montanha com toda facilidade.
– “O que teria acontecido, se você não tocasse nossos pés com o seu bastão? “, perguntou Zendah.
– “Seus joelhos se dobrariam, vocês cairiam, e nunca teriam podido atingir o cume da montanha”, disse a senhora.
Subiram, subiram, atravessando grandes bosques da faia, aqui e ali, homens cortavam algumas, preparando-as para serem trabalhadas lá embaixo, no sopé da montanha.
Próximo ao cume, encontraram um lindo jardim com fileiras de álamos e de seixos, tão bem arrumadinhos que Rex imaginou ver soldados em marcha.
No centro, havia um palácio negro, que brilhava como mármore polido, mas disseram-lhe que era feito de azeviche.
No palácio de azeviche encontraram o Rei Saturno que sorriu quando eles entraram e lhes disse que era nessa casa que ele era encontrado mais frequentemente.
– “Receio que vocês só achem interessante esta Terra do Capricórnio quando virarem adultos e, virando-se para um jovem que estava sentado ao seu lado, que tinha os cabelos semelhantes aos de Rex, acrescentou:
– “Vocês conhecerão todas as nossas maravilhas por meu filho, Marte, que é jovem e ficará contente por ter uma desculpa para fazer outra coisa que não seja permanecer sentado, quieto, ao meu lado, todo o dia!”.
Marte ergueu-se com um sorriso e saíram, lançando um olhar, à medida que passavam, nos diversos cômodos do palácio onde viviam homens e mulheres falando, falando tanto que vocês pensariam que deviam estar cansados de tanto tagarelar.
Em outra dependência viram pessoas cercadas de livros e rolos de papel com centenas de selos verdes e vermelhos pendentes, havia livros nas prateleiras, livros nas mesas, livros no chão em montes; eram tantos livros que quase não se viam as pessoas!
– “Alguns destes estão estudando tudo sobre leis, de modo a poderem orientar seus reis a dirigirem seus países”, explicou Marte, e outros escrevem livros para serem armazenados nas livrarias e bibliotecas para que muitas pessoas possam lê-los.
As crianças acharam que isso era enfadonho, e então Marte levou-os fora do palácio onde viram centenas de bodes e cabras, grandes e pequenos, cinzentos, brancos e malhados, correndo montanhas acima e abaixo, nunca escorregando nem caindo quando saltavam de um penhasco para outro.
– “Não existem outros animais aqui? “, perguntou Zendah.
Marte mostrou-lhe uma lagoa escura, próxima ao sopé de uma das montanhas. Lá viram centenas de crocodilos.
– “Não gosto deles, nem do seu cheiro”, gritou Zendah.
Marte riu. “Feche os olhos”, ordenou, e disse uma palavra mágica.
– “Pode abri-los agora”. Quando Zendah abriu os olhos, todos os crocodilos haviam virado cabras que subiam as margens da lagoa tão depressa quanto podiam.
Pouco depois chegaram a uma fenda na montanha, e engatinhando por ela chegaram a uma espécie de caverna semelhante a um pequeno elevador – em todo caso parecia um pequeno quarto, com cadeiras de um lado. Depois de se terem sentado, o quarto tornou-se subitamente escuro e zás – bum! Sua respiração quase parou e eles viram uma luz fraca.
– “Fiquem quietos, bem quietos se quiserem ver os gnomos trabalhando”, sussurrou Marte, quando chegaram a uma estreita passagem dentro da gruta. Estavam na beira de um rochedo olhando para uma caverna embaixo.
Lá, centenas de pequeninos homens marrons andavam de um lado para outro. Alguns olhavam para uns caldeirões nos quais ferviam metais. Outros empurravam pequenos carros cheios de metal fundido e viravam os carros, derramando o metal quente nas frestas das rochas.
– “Que fazem eles” sussurrou Rex.
“Estão pondo chumbos nos veios das rochas para que possa escorrer até a terra e os seres humanos possam encontrar minas de chumbo, se cavarem bem fundo. Os metais têm de ser postos na terra, antes que os seres humanos os possam achar. Agora vamos ver o que fazem eles com as árvores que vocês viram sendo derrubadas nos declives da montanha”.
Passaram a um grande edifício no qual os troncos das árvores eram reduzidos a tábuas lisas. Algumas eram polidas até ficarem como espelhos; as crianças podiam ver seus rostos refletidos nelas. Por toda a parte, todas as coisas eram feitas de madeira: mesas, brinquedos, botes e caixas. Num canto, um homem arrumava pequenos triângulos e quadrados diminutos, coloridos, formando um desenho parecido com o de um tapete.
– “Como demora fazer isso! “, suspirou Zendah, lembrando-se que não gostava de ficar sentada, quietinha por muito tempo.
– “Ele vem fazendo isso há 84 anos”, replicou Marte. “Como você vê é preciso ter muita paciência para fazer isso, e essa, é uma das coisas que se aprende aqui”.
As crianças começavam a sentir-se cansadas com a subida porque o poder do bastão mágico começava a declinar, e por isso Marte carregou-as para cima de uma montanha muito alta, cujo cume parecia estar acima das nuvens.
Afinal chegaram diante da porta de um edifício de cristal que tinha cinco lados, como uma estrela. Sobre a porta, liam-se as seguintes palavras:
“O SILÊNCIO É DE OURO”
No pórtico da entrada próxima a uma janela que subia do chão até o teto, estava sentado um velhote. A janela tinha uma abertura na parte superior por onde um telescópio apontava para o céu estrelado. O velhote estava no meio de uma porção de mesas cobertas com livros e papéis desenhados com círculos e números fantásticos. Como Marte levasse as crianças perto dele levantou o olhar dos cálculos que fazia.
– “Datas de nascimentos, por favor”, foi tudo o que disse.
– “27 de março e 26 de novembro”, responderam Rex e Zendah.
O velhote riu e disse:
– “Por favor, um de cada vez”.
Escreveu seus nomes num grande livro que estava a seu lado. Querendo saber o porquê ele queria as datas de seus nascimentos, Rex e Zendah ficaram olhando para ele, mas o velhote mergulhou novamente em seus cálculos e as crianças viram então que Marte esperava por eles à porta.
Deixando esta antecâmara, chegaram à entrada do “hall” principal.
Marte disse-lhe para que o seguissem devagar e mansamente. No centro, pendia uma lâmpada suspensa ao teto por uma corrente dourada que brilhava quando balançava com o vento. Embaixo da lâmpada estava uma mesa em cujas pernas havia serpentes entalhadas, e em cima dela, sobre uma almofada cor de púrpura, havia um livro encadernado em veludo branco. Várias correntes e cadeados estavam amarrando o livro e na capa do livro lia-se em letras de ouro:
“SABER É PODER”
Um anjo verde estava ajoelhado em cada canto, enquanto um outro permanecia atrás da lâmpada, vigiando para que o livro nunca saísse dali.
– “Este é o livro no qual toda a sabedoria do mundo está escrita, em todas as línguas”, disse Marte. “Está fechado com sete cadeados, e a pequena chave que vocês acharam na porta da entrada desta terra, abre um deles, mas enquanto vocês não visitarem todas as terras do Zodíaco não serão capazes de ler nenhuma de suas palavras. A lâmpada é como a lâmpada de Aladim; pode dar a vocês tudo o que desejarem. Antes de partirem, o Pai Tempo dará a vocês uma cópia dessa lâmpada e ensinará vocês como usá-la”.
Marte carregou-as pelo lado da montanha até o palácio de azeviche[1]. O Pai Tempo sorriu quando as viu. Lendo seus pensamentos disse-lhes:
– “Então vocês querem ler o livro da sabedoria, hein, crianças? Algum dia vocês o farão. Tome Zendah, dou-lhe um exemplar da lâmpada; você deve descobrir onde esfregar e quantas vezes; depois, vocês devem usar essa descoberta juntamente com a palavra de passe desta terra, isto é, Perseverança. Você, Rex, pode usar esta estrela de cinco pontas feita de jade, para lembrar-se desta terra”.
Marte conduziu-os até as portas do palácio. Despediram-se e as crianças correram montanha abaixo chegando à porta de entrada dessa terra mais depressa do que esperavam. Pudera! É muito mais fácil descer uma montanha do que subi-la! Eles não sabiam ao certo o que pensar da terra do Capricórnio porque, como disse Zendah, lá as coisas eram muito confusas, e, lá fazia muito frio.
Havia figuras em movimento sobre estes portões, como os primeiros que eles visitaram, mas não puderam vê-las bem, devido às luzes cintilantes que saíam da sua superfície. A única coisa que eles puderam ver claramente foi um rolo de papel com letras prateadas perto da parte superior dos portões. Depois de observá-lo cuidadosamente durante algum tempo, as crianças viram que lá estava escrito:
“APONTA PARA A ESTRELA E ACERTA NA LUA”
– “O que você acha que isto significa? Perguntou Rex.
– “Tem algo a ver com atirar”, respondeu Zendah, “devemos procurar alguma coisa para atirar”.
Procuraram em redor e logo acharam um arco muito pequenino pendurado de um lado do portão, e uma pequena bolsa de setas do outro lado.
– “Não podemos, ambos, usá-lo ao mesmo tempo”, explicou Rex. “Eu, penso que sou melhor atirador”.
Apanhou o arco e apontou uma seta para o portão, mas errou e acertou no pilar da esquerda. Apontou novamente e acertou o pilar da direita.
– “Pensei que você fosse melhor atirador”, riu Zendah. “Experimente apontar mais alto”.
Rex apontou para um lugar acima do portão e acertou num pequeno escudo bem abaixo do rolo de papel que ele não havia percebido antes.
Imediatamente todo o portão ficou iluminado, podendo ver-se ao centro uma seta grande, de fogo. De cada lado estava um personagem, metade ser humano e metade cavalo; um deles estava vestido com linda armadura e o outro com peles grosseiras como um selvagem.
Uma voz pediu a palavra de passe e responderam: “Liberdade”.
– “Entrem, livremente, Rex e Zendah, na terra do Arqueiro”, ouviu-se em resposta. Como nas outras terras, os portões abriram-se imediatamente.
Um jovem vestido com uma pequena túnica azul, pernas nuas e sandálias como os antigos gregos, correu ao encontro delas. Segurava, com uma correia dois elegantes galgos. Levantando sua mão direita num gesto de saudação, deu-lhes as boas vindas e convidou-as a segui-lo.
Era uma terra linda com planícies onduladas, cobertas de grama e cercadas de pequenas cadeias de montanhas.
Aqui e ali, graciosos templos com pilares resplandecentes de diferentes pedras coloridas, como aqueles que ainda se podem ver na Grécia ou em Roma. Levando um apito de prata aos lábios, o guia fez soar uma nota limpa e imediatamente surgiram quatro magníficos cavalos.
– “Sabem montar?”, perguntou ele.
– “Sim”, gritaram as crianças. Porque já haviam passeado a cavalo nos campos próximos de sua casa.
Rex montou num cavalo preto, Zendah, num cavalo branco e o guia ficou de pé, com um pé sobre um cavalo marrom e o outro num cinza. Com as rédeas nas mãos, ele dirigia os quatro cavalos. Partiram e com alegres gritos de animação os cavalos voavam como o vento pelos caminhos. Os cavalos, não estavam encilhados e as crianças seguravam nas crinas dos cavalos, porque estes iam tão velozes que era necessária toda atenção para não caírem.
Por toda parte viam quantidade de cavalos de todas as cores e tipos perseguindo caça e correndo, alguns com cavaleiros, outros com cabeça de ser humano e corpo de cavalo da cintura para baixo. Havia também muitos cães ajudando na brincadeira. Pararam repentinamente defronte de um pátio pavimentado com pedras quadradas, brancas e pretas. Desmontando, o jovem amarrou as rédeas dos cavalos em um anel em um dos postes do portão.
As crianças seguiram-no do centro do pátio até uma curiosa construção feita de metal branco brilhante, com nove lados e nove janelas, uma em cada lado. Não parecia haver caminho de entrada, a não ser voando através de uma janela!
Em torno de cada janela havia uma guarnição de pedra, entalhada com folhas e sinais fantásticos, e em cima de cada uma, uma espécie de pássaro surgindo de chamas.
Seu guia fez um som baixo, interessante, e de súbito toda a frente do edifício abriu-se, e eles se encontraram olhando para dentro de um estábulo feito inteiramente de pedra purpúrea, polida como espelho.
– “Veja, Rex, veja!”, gritou Zendah, “É Pégaso, o cavalo voador”.
Na verdade, vindo em sua direção, estava o mais bonito cavalo branco que elas jamais viram. Seu pelo era brilhante como seda, e logo atrás dos seus ombros havia duas grandes asas prateadas que ele mantinha dobradas ao longo do seu dorso enquanto não voava. Zendah chegou-se perto dele e fez-lhe uma carícia no focinho.
– “Podemos dar um passeio nele?”, perguntou ela.
– “Não creio que vocês possam dirigi-lo”, disse-lhes o guia sacudindo a cabeça, “e se vocês não puderem, como ele pode voar por toda parte, até mesmo para as estrelas que vocês têm dificuldades para ver, poderá levá-los para uma delas de onde será muito difícil vocês voltarem.
Quando tiverem aprendido todas as palavras de passe das terras do Zodíaco, talvez então estejam aptos a montá-lo e a darem um passeio pela via Láctea. Nosso Rei dará a vocês um apito de estanho; não será fácil soprar a nota exata para chamar Pégaso, mas quando vocês conseguirem, ele virá e vocês poderão montá-lo.
Depois de deixarem o estábulo, desceram uma planície coberta da mais linda grama curta e musgo; um verdadeiro tapete de relva, por toda a parte havia bancos cobertos de relva uns diante dos outros como se fossem degraus de uma escada.
Crianças, homens e mulheres estavam sentados nessas ondulações, olhando outros que estavam no espaço central, tomando parte em toda a espécie de corrida e de jogos.
– “Como parecem alegres e bem-humorados”, disse Rex depois de ter observado uma das corridas. “Parece que não se preocupam nada com se perdem ou ganham”.
Mal foram pronunciadas essas palavras e viram dois garotos que pareciam se importar! Eles acabavam de terminar uma corrida, ao mesmo tempo, empatados, e estavam discutindo para ver a quem cabia a coroa de folhas de figueira, que era o prêmio da corrida.
O jovem foi até eles e disse: “Se vocês não chegam a um acordo terão de ir à presença do Rei”.
Chamando mais dois cavalos para aqueles garotos, todos eles montaram e saíram percorrendo as verdes campinas até chegarem a um castelo que tinha nove torres com espirais pontudos. Homens vestidos com longas túnicas e capacetes brancos vieram ao seu encontro, e os acompanharam desde a entrada até a sala principal. Aí eles viram sentado no seu trono, o mais alegre Rei jamais visto, com face rosada e olhos azuis e pestanejantes.
– “Com certeza esse rei tem algum parentesco com o velho Rei Repolhudo”, pensaram as crianças, pois parecia que ele estava pronto para rir, mesmo quando estava sério! Não era possível a ninguém ficar triste olhando para ele; tinha que se sentir feliz”.
Os pajens que estavam de serviço, mostraram a Rex e Zendah algumas almofadas nos degraus próximos do trono, e depois de se curvarem para o Rei que lhes deu um dos seus alegres sorrisos, eles se sentaram.
Dois outros pajens trouxeram os dois contendores à presença do Rei Júpiter (pois esse era o seu nome), que pareceu sério por alguns minutos, enquanto ouvia a história.
– “Que bobos são vocês”, disse ele, “Não tem a mínima importância quem chegou primeiro, pois que ambos correram o melhor que puderam. Vocês conhecem o ditado que está por cima da entrada, desta terra: TODOS PODEM APONTAR PARA A ESTRELA, MAS ENQUANTO NÃO TIVEREM PRÁTICA, NÃO ESPEREM ALCANÇÁ-LA”.
Então Júpiter dividiu a coroa entre os dois que ficaram muito satisfeitos. Júpiter levantou-se do trono e bateu palmas.
“Tragam o banquete, e que meus alegres músicos toquem suas melhores músicas para mostrarem a Rex e Zendah como os súditos do Rei Júpiter podem ser alegres e felizes”.
Em alguns minutos apareceram mesas, e pratos maravilhosos de frutas e bolos e sobremesas foram colocados diante deles. Havia uma abundância de tudo; todos tentavam fazer as crianças se sentirem em casa e mostravam a eles presentes com figos, damascos para levarem com eles. Eles não sabiam o que fazer primeiro – agradecer a todos, comer as frutas, ou ouvir as músicas, que eram muito lindas. Neste momento um velhote que estava sentado na ponta da mesa, se levantou e ergueu sua mão. “Vamos cantar nossa música de agradecimento aos anjos, por nos ajudarem a cuidar de todas estas frutas.” Um glorioso hino de louvor foi cantado por todos, depois do qual as crianças foram levadas novamente diante do trono do rei Júpiter.
Lá Zendah recebeu o prometido apito, e Rex recebeu uma estrela de nove pontas feita de carbúnculo e muito desapontados ouviram que era hora de partir. Eles nunca estiveram em um lugar onde todos eram tão generosos e nenhum outro lugar que ficaram tão chateados de terem que partir.
Finalmente seu guia trouxe os cavalos à porta do palácio e eles montaram. Desta vez ele deixou que guiassem seus próprios cavalos de volta ao portão. Centenas de pessoas acompanharam-nos para se despedirem. Enquanto estavam do lado de fora e os portões se fechavam gradualmente ouviram vozes chorando e dizendo: “Adeus, adeus, voltem logo, ficaremos muito felizes em revê-los.”
“Eu amei esta Terra do Arqueiro” Zendah falou.
“Claro que amou”, retrucou Rex. “É seu próprio Signo!”
Depois que os portões da terra do Arqueiro se fecharam completamente, Rex e Zendah procuravam a entrada da próxima Terra, mas não viram nenhum vestígio dela.
– “Como podemos tentar abrir um portão que não parece existir?” – disse Rex. “Talvez Hermes venha nos ajudar”.
Para passar tempo, eles sentaram-se no chão e começaram a olhar para a lista de palavras chave que Hermes lhes dera. Enquanto eles abriam a lista, Zendah percebeu pequenos pedaços de pedras brilhantes, que pareciam ir um em direção dos outros, quando ela os remexia com os pés.
Ela sentou-se quietinha e observou. Não eles não se moviam: deve ter sido sua imaginação. Nesse momento, Rex deixou cair o canivete que havia tirado do seu bolso; como isso acontecera ele nunca soube, mas, para seu espanto, os estranhos pedaços de pedra moveram-se para o canivete e arrumaram-se em volta dele.
– “Por que será – ela falou – que parecem partes de um quebra-cabeças?”.
Apanharam algumas pedrinhas.
– “Você acha que pode ser um quebra-cabeça, Rex?” – perguntou Zendah – “Vamos tentar fazer uma palavra juntando algumas”.
Juntaram uma quantidade dessas pedrinhas esquisitas, escuras e brilhantes e viram que podiam fazer várias palavras com elas. Afinal fizeram a palavra “SEGREDO”.
Imediatamente um ruído curioso por trás deles fez que eles se voltassem. Era um ruído semelhante ao ruge-ruge das sedas e eles viram algo que parecia com água correndo ligeira sobre pedras num leito de rio, depois de muita chuva.
Viram então um movimento, onde antes parecia nada haver. No fundo do leito do rio havia inúmeras linhas parecendo água movendo-se em espiral, elevando-se aos poucos, indo de um lugar para o outro, ligeiras, para cima e para baixo até formarem um funil, uma tromba d’água, tão alta, quanto uma casa e com cerca de oito pés de largura no alto.
No fundo, sua cor era púrpura escura quase preta; mas as linhas móveis tornaram-se mais claras, mais avermelhadas, até parecerem de uma linda cor carmesim. Então formou-se no fundo do funil uma bolha que aos poucos foi subindo até em cima, para rebentar sem ruído.
Mais sete bolhas se formaram, uma maior do que a outra, subiram, e quando a última, a oitava, rebentou, toda a água desapareceu e eles viram o portão que dava acesso àquela Terra. Era feito de ferro primorosamente trabalhado, com a figura de uma enorme águia bem no topo.
Nenhuma voz pediu a palavra de passe; o portão abriu-se subitamente com um som estridente, e subitamente fechou-se logo que o transpuseram.
Na sua frente o caminho estava bloqueado por grandes rochas sobrepostas que fechavam também os lados, até onde estava o portão que agora desaparecera.
Não era possível avançar nem retroceder, mas parecia haver uma entrada, pois uma corrente de água escura passava sob a pedra próxima de seus pés.
“Vamos tentar dando a palavra de passe” – disse Zendah – “Pode ser que aqui seja como a caverna de Ali-Babá”.
E eles murmuraram: “PODER”.
Oito vezes essa palavra ecoou pelas pedras, como se fora um coro de pessoas invisíveis zombando deles. Mas súbito apareceu uma passagem bem à sua frente e um bote estava na água nesta entrada.
Elas entraram no bote e, sem qualquer aviso, ele partiu em grande velocidade, como se o rio descesse pela montanha. Passaram por cavernas tão negras como azeviche; atravessaram torrentes tão rápidas que o bote estremecia tanto ao ponto de pensarem que seriam lançados fora dele! Por vezes as águas eram geladas e eles viam blocos de gelo, de todas as formas e tamanhos, espichando-se para cima, de ambos os lados como se fossem os pilares de uma catedral. Depois passaram por um lugar que era tão quente quanto era frio o lugar que haviam deixado. Fontes de água fervente lançavam-se para o teto da caverna e elas mal podiam respirar.
Quiseram parar o bote, mas não puderam porque as paredes da caverna pareciam vivas e eram revestidas de vidros coloridos que pareciam as joias que sua mamãe usava no pescoço.
Afinal o bote foi lançado em terra aberta e parou ao lado de um outeiro onde cresciam sabugueiros e amieiros. No outeiro estava de pé um personagem que eles reconheceram. Era Marte. Pularam do bote e correram para ele.
– “Vocês não demoraram a encontrar o segredo da entrada da caverna, disse ele, “e estou muito satisfeito porque a viagem subterrânea não amedrontou vocês. Na terra do Escorpião-Águia vocês terão de descobrir muitas coisas por vocês mesmos. Agora escolham: querem ir para leste ou para oeste?”.
– “Oeste” – disse Zendah, falando primeiro, antes que Rex pudesse decidir. Logo que ela falou, desceu uma carruagem voadora puxada por quatro águias.
Subiram na carruagem e voaram sobre campos gelados, passando por cachoeiras; subiram até muitas milhas de altura, até que o ar se tornou mais quente e chegou até eles um perfume parecido com o de um jardim.
Desceram da carruagem. Estavam num terreno extenso e plano, cheio de canteiros com ervas. Algumas eram conhecidas porque no jardim de sua casa havia delas, mas a grande maioria, eles jamais haviam visto antes.
– “Como cheiram bem” – disse Rex indo de um canteiro para outro, apanhando aqui e ali uma folha enquanto iam e vinham pelas aleias – “Mas porque são precisas tantas?
– “Elas têm muitos usos como vocês verão” – respondeu Marte, levando-os mais longe. No meio do jardim das ervas havia uma casa comprida e baixa; dentro dela viram muitas mulheres pondo as ervas em bandejas para secar, e depois passando-as por peneiras e por fim colocando-as em garrafas. Viram as ervas, em outra parte da casa, sendo fervidas em grandes vasilhas para servirem de remédios que os médicos usam para curar pessoas doentes.
– “Existe uma erva para cada doença; basta que o povo se dê ao trabalho de descobri-la” – disse Marte.
No centro da construção havia um quarto com janelas de vidros pelas quais as crianças viram oito homens idosos em torno de uma mesa sobre a qual havia um vaso de vidro arrolhado. Para seu espanto, viram que o vaso estava cheio de um líquido de cor linda que se movia e pulava como se quisesse sair do vaso. Era de linda cor carmesim, semelhante a vinho com centenas de bolhas douradas. Era tão bonito que pediram para levar um pouco para casa, mas disseram-lhes que ainda não estava pronto e que quando ficasse pronto curaria todas as doenças.
– “É o Elixir da Vida que os antigos alquimistas sempre tentaram fazer, e eles vieram da Terra para esta terra para descobrirem como fazê-lo” – disse Marte.
Outra coisa interessante que eles viram foi uma porção de pessoas fazendo óculos. O interessante é que não havia dois pares de formato semelhante e cada um tinha vidros de uma cor diferente.
Pediram para olhar um desses óculos. Todas as pessoas puseram-se a rir e disseram em coro:
– “Vocês já têm um par”.
De onde vieram os óculos subitamente, eles não tinham ideia, mas Rex estava com óculos cor de rosa e Zendah com óculos azuis.
Que maravilhas viram por esses óculos! Podiam ver dentro da terra, como se esta fosse transparente, ver onde estavam os poços de petróleo e ver correntes d’água subterrâneas. Olhando para os rios, viram que estavam cheios de ondinas brincando uma com as outras. No ar, viram milhares de figuras pequeninas que antes não haviam visto e perceberam algumas delas em torno das flores com pincéis e paletas de tinta, colocando as cores nos bastões que se abriam e nos frutos. Aqueles óculos eram mágicos; “Todo mundo tem um par”, disse Marte, “mas muito poucas pessoas sabem como usá-los e a maioria nem sabe que os possui”.
Saindo da fábrica de óculos, viram, num pátio próximo, um poço profundo coberto com uma grande pedra de mármore.
Marte retirou a pedra e eles viram que o poço estava seco. Na areia do fundo do poço rastejavam alguns bichos escamosos que pareciam lagostas, apenas eles que tinham um ferrão na extremidade das caudas que mantinham curvadas por cima de suas costas.
– “Estes não deviam estar aqui!”, disse Marte. “Já foram todas bonitas águias, mas toda vez que uma criança pertencente a esta terra diz uma palavra má ou grosseira, uma das nossas águias vira escorpião”.
– “E nunca mais volta a ser águias?” – perguntou Zendah, sentindo muita pena das pobres águias condenadas a rastejar em vez de voar.
– “Oh, sim, mas as crianças devem fazer três boas ações antes que eles possam virar águias de novo”.
Elas viram muitas outras coisas curiosas; todas estavam ocultas, e, para se tornarem visíveis, tinham de pronunciar uma palavra mágica. Afinal chegaram ao palácio do rei. A entrada do terreno era através de grandes campos de papoulas de todas as cores, e a fragrância delas fez Zendah bocejar tanto e se sentir tão cansada que para evitar que caísse no sono apressaram-na a subir as escadas do palácio.
Este palácio estava sobre oito pilares e tinha um fosso em toda a volta, de modo que todo o palácio se refletia na água do fosso; a ponte de acesso parecia feita de nuvens e cada passo que Rex e Zendah davam era como se andassem em flocos de algodão. Mulheres vestindo capas vermelho-escuro e com véus em suas cabeças, presos por um ornamento em forma de serpente, estavam em pé nas passagens e corredores para saudar a Marte e às crianças levantando a mão. Meninos-pajens de olhos negros penetrantes e com cachos de cabelos escuros ondulados, afastaram as cortinas do salão central.
A parte superior do salão era feita de mármore preto e branco e o trono era uma grande pedra verde salpicada de pequenos pontos vermelhos. De cada lado havia grandes vasos de ferro nos quais cresciam brancas papoulas tão grandes quanto árvores pequenas.
Uma lâmpada de luz vermelha pendia do teto defronte ao trono e braseiros de cada lado desprendiam nuvens de fumaça aromática. Havia alguém sentado no trono, vestindo roupa de cor carmesim róseo debruada com bordados de várias cores e ricamente cravejada de joias. Não puderam ver o rosto do rei porque estava coberto por oito véus, mas viram que usava uma coroa cravejada de joias cintilantes.
Uma voz profunda apresentou-lhes as boas-vindas e ordenou que seu assistente enchesse a taça e desse às crianças a bebida da lembrança. “Porque sem isto vocês não serão capazes de lembrar o que viram na Terra do Escorpião-Águia.” Uma mulher alta estendeu-lhes uma taça lindamente lapidada, cheia com líquido vermelho, ao mesmo tempo que passava a mão sobre os olhos delas. Era uma beberagem estranha, muito doce enquanto bebiam, mas deixando um gosto amargo na boca depois de bebida.
Devolvendo a taça, olharam para o trono e viram atrás dele uma figura carmesim com asas – um grande Ser que atingia quase o teto do salão, tendo uma estrela cintilante na cabeça.
Era um dos quatro Guardiães dos Ventos, disseram-lhe, e a Quarta parte do mundo estava a seu cargo. O Guardião Verde vivia na Terra do Homem do jarro, mas antes de beber da água da lembrança, eles não podiam ver nenhum dos quatro Guardiães.
Estavam embevecidos olhando para as lindas asas carmesim e para a estrela cintilante do Anjo até que a voz do rei os despertou.
– “Tragam o Capacete de Invisibilidade”, ordenou o rei.
Um pajem entrou trazendo uma almofada de cetim carmesim, mas eles não viram nada nela. Este “nada” foi posto na cabeça de Zendah. Ela sentiu como se estivesse pondo um chapéu na sua cabeça, só que não via o que era e quando o chapéu foi colocado nela, Rex não mais a viu; ela tornara-se invisível.
Em torno do pescoço de Rex foi pendurado um cordão vermelho com um pendente feito de um topázio em formato de águia.
– “O capacete invisível ajudará vocês a verem as coisas ocultas, e servirá para torná-los invisíveis na terra, como ficaram aqui.
– “Vocês já ficaram muito tempo nesta terra, mas ainda tem muito o que ver”, disse o Rei, “e eu mandarei vocês rapidamente para a próxima Terra”.
O Rei levantou-se e elevando as mãos para cima da cabeça falou uma palavra estranha que jamais se lembraram qual foi.
O assoalho pareceu levantar-se, tudo ficou escuro, e a primeira coisa que eles perceberam é que estavam ao lado de fora do portão, e, como tinha acontecido antes de entrarem não viram nenhum sinal dele.
“Este é o segundo terremoto”, disse Zendah.
No momento em que as crianças se voltaram e viram o portão seguinte, exclamaram: “Que lindo!”
De certo era o portão mais bonito de todos os que já viram. Os pilares eram semelhantes a pessegueiros, com cachos de frutos pendentes dos ramos. O portão propriamente dito era de cobre polido tendo em cima um sol de cobre meio mergulhado num mar também de cobre. Cada raio do sol tinha uma mãozinha na ponta.
No centro do portão erguia-se outro pilar em cuja extremidade, que ficava justamente sob o sol de cobre já mencionado, havia uma balança de dois pratos. Um dos pratos estava erguido no ar e o outro abaixado com uma bola que cintilava com muitas cores.
– “Esta é a terra da Balança”, disse Rex; “não me admira se antes de podermos entrar tivermos de procurar algo para botar no outro prato a fim de equilibrar a balança”.
– “O melhor que fazemos é procurar logo para ver se temos algo para colocar lá”, disse Zendah, examinando os bolsos. Neles encontrou apenas um lenço. Rex achou apenas o canivete que deixara cair nas proximidades do portão anterior.
Ficando nas pontas dos pés, colocaram esses objetos no prato da balança; nada aconteceu. Mas já suspeitavam que não seria suficiente.
Olhando em torno, viram no pilar central uma pequena caixa onde se lia:
“PROCURA BEM; ESCOLHE SABIAMENTE”
Abrindo a caixa, encontraram dentro dela pequenas bolsas de ouro, alguns corações também de ouro, pequenas espátulas e vários livros pequenos. Rex apanhou as bolsas de ouro e empilhou-as no prato da balança, mas esta não se moveu. Apanhou então uma porção de espátulas que colocou no prato. Nada; a bola continuava em baixo. Tentaram com os livrinhos, mas não obtiveram resultados.
– “Bem só ficou faltando uma coisa”, disse Zendah; “talvez dê certo”. Apanhou os corações de ouro e colocou-os no prato da balança. Imediatamente a balança começou a movimentar-se, para cima para até que ficou em equilíbrio, com os dois pratos nivelados.
Nessa ocasião ouviram-se vozes entoando um acorde, acompanhadas de sons musicais.
– “Dê a palavra de passe do equilíbrio perfeito”.
– “Harmonia”, responderam as crianças.
O portão abriu-se tão silenciosa e gentilmente que ficaram maravilhados de não ouvir um som.
Lá dentro estava de pé o Pai Tempo. Olharam para ele espantados pois estava tão diferente. Não estava com a capa que aparecera na Terra de Capricórnio; agora vestia uma túnica branca prateada, coberta de pedras cintilantes e de ornamentos verdes. Lembraram-se daqueles magníficos dias de sol no inverno, quando a neve cintilava como diamante nos pinheiros. Ele sorriu vendo o seu espanto e disse-lhes:
– “Eu só visto esta túnica quando venho visitar a Rainha Vênus. Em geral, nas outras terras, todos esperam me ver sério, mas não sou assim tão severo. Vocês verão quando me conhecerem melhor. Aprendam tudo o que puderem aqui e reflitam. A Rainha Vênus lhes dirá como”.
Apanhou sua capa escura e sua ampulheta em um nicho próximo ao portão pelo qual saíra, fechando-se após sua passagem.
– “Refletir, refletir em que? – Perguntou Rex.
– “Tenho certeza de que não sei,”, disse Zendah, “mas espero que logo saberemos”.
Começaram a olhar em volta; tudo era muito amável; o céu estava iluminado pelo mais bonito crepúsculo como jamais viram. O perfume de várias flores chegava até eles, mas era difícil identificar tais flores porque a fragrância era muito diferente daquela a que estavam acostumados em casa.
Sete estradas abriam-se defronte deles e por uma delas, vinham em sua direção um homem e uma mulher de braços dados. Era agradável olhar para esse casal, mas o que surpreendia era que eles não caminhavam pelo chão, nem pela grama, mas flutuavam um pouco acima do solo. Ambos trajavam roupas da mesma cor azul profunda que o mar mostra quando o sol quente do verão a ilumina e em sua cintura traziam cintos de cobre com camadas de opalas. Não pareciam ser sólidos pois, por vezes as crianças julgaram ver através deles.
Quando chegaram perto de Rex e Zendah, a eles se juntou outro casal e os quatro entoaram o acorde que ouviram na estrada. Imediatamente surgiram centenas de pequeninas fadas segurando um tapete de várias cores que mais parecia uma nuvem ao pôr do sol. Com sorrisos e gestos, as fadas convidaram as crianças a se sentarem nesse tapete, quando deslizou gentilmente e iniciaram a viagem.
Viajando assim tão gentilmente que mal perceberam que havia se levantado do solo. Era muito mais fácil verem tudo enquanto passavam e pensaram que era o melhor meio de transporte que foi utilizado até agora.
Coisa curiosa eles puderam observar: todas as casas estavam suspensas no ar; nenhuma estava construída em terra firme. Não puderam compreender como eram feitos os alicerces.
Por toda a parte viram lindos jardins cheios de flores, lírios, violetas e rosas, todas floridas nas quais centenas de abelhas sugavam o néctar.
Ouvindo uma música em surdina, perceberam que eram as fadas cantando para adormecer as flores a fim de poderem depositar nelas o mel que as abelhas encontrariam no dia seguinte. Acima de suas cabeças precipitaram-se os sons de uma música gloriosa que fez com que olhassem para cima e viram o palácio.
O palácio era feito de nuvens; suas torres e ameias, multicores: vermelho, alaranjado, verde, púrpura e aquele azul bonito que você vê no céu durante o crepúsculo de um dia claro. Subindo sempre, chegaram à entrada. Ao seu encontro vieram fadas para saudá-los e orná-los com colares feitos de rosas que colocaram em volta dos seus pescoços.
Descendo do tapete, subiram os degraus mágicos do castelo e entraram na antecâmara. Por toda a parte, havia flores e fadas. Logo chegaram a um corredor com muitos quartos, sete dos quais tinham o mesmo tamanho, mas diferiam na cor; vermelho, alaranjado, verde, amarelo, azul, violeta e índigo.
Cada quarto parecia mais bonito que o anterior e quando passavam pelos umbrais dos quartos, ouvia-se uma nota musical. Cada quarto agia sobre eles de modo diferente. Passando pelo quarto vermelho, eles sentiam-se cheios de vida e de energia; nada os perturbava e caminhavam através desse quarto como que marchando; de fato, a nota musical desse quarto soava como marcha para eles. No quarto alaranjado eles sentiam-se como se estivessem ao sol; queriam sentar-se a gozar desse sol e planejar sobre o que desejavam fazer.
O quarto amarelo fê-los sentirem-se capazes, Rex pensou nas somas que não conseguira no colégio e imediatamente achou todas as respostas às questões que não soubera responder. Zendah lembrou-se de todas as datas da História que, para ela, sempre foram difíceis de guardar.
No quarto verde Zendah lembrou-se que não havia dado comida aos seus coelhos na noite anterior e que não ajudara sua mãe na jardinagem conforme havia prometido, enquanto Rex lembrou-se do rapaz de perna quebrada que morava na casinha isolada da estrada e que lhe pedira para ler um livro para ele.
O quarto azul dava a sensação de estarem numa igreja e eles o atravessaram nas pontas dos pés e falavam murmurando. Imaginaram ver Anjos em torno, e ouviram um órgão tocando, como ouviam aos domingos.
O quarto violeta, eles nunca puderam explicar exatamente como se sentiram dentro dele. Era uma sensação parecida com a que tiveram na terra dos Peixes e no Templo do Santo Graal.
Finalmente entraram no quarto azul marinho, no grande hall. Lá no fim, viram a Rainha Vênus sorrindo para eles, sentada em seu trono de marfim. O trono era alto e seu espaldar curvava-se para a frente por cima da cabeça da rainha dando a impressão que ela estava sentada dentro de uma bola de marfim.
No trono havia uma bonita almofada azul e por trás dele, nas paredes, pendiam cortinas de seda azul coberto com pinturas de várias cores. Por toda a parte viam-se vasos com flores e as pessoas presentes tinham grinaldas na cabeça. A Rainha Vênus estava vestida de pura seda branca bordada em azul com opalas.
As crianças correram para ela e seguraram suas mãos.
– “Sentem-se nas almofadas, perto de mim”, disse ela, “e reflitam.” As crianças entreolharam-se e murmuraram:
– “De novo, refletir? Que quer dizer isso?”
Sentando-se nas almofadas que lhe foram designadas, e observavam. Chegavam à sala muitas pessoas com o rosto triste, melancólicas e irritadas. A Rainha Vênus voltava-se para elas, murmurava algumas palavras nos seus ouvidos e mandava-as sair acompanhadas por um dos presentes.
Em pouco tempo voltavam, completamente diferentes, e beijando as mãos da Rainha, retiravam-se da sala.
– “Vocês querem saber o que se passa com essas pessoas?”, perguntou Vênus às crianças. Rex fez que sim com a cabeça.
– “Todos sentem-se infelizes ou estão descontentes. Vem aprender a fazer a paz em vez de serem causadores de perturbações no mundo. Eles não compreendem que cada um tem sua nota musical particular, sua cor própria, e se eles não usarem sua nota própria, sairão do tom. Por isso mando tais pessoas através dos quartos pelos quais vocês já passaram, para que encontrem sua nota musical e aprendam a usá-la corretamente. Depois eles voltam para a terra com sua tonalidade restaurada e não mais se queixam.
Tudo tem sua nota própria; prestem atenção às quedas d’água e ao vento que sopra entre as árvores e vocês ouvirão suas tônicas. Até as estrelas tem seu acorde. Ouçam!” A Rainha ergueu sua mão e todos na sala se silenciaram.
Ela levantou-se e entoou algumas notas de um acorde. No ar, sobre os assistentes apareceu uma lira com sete cordas. A primeira corda vibrou e emitiu um som, depois a segunda, a terceira, a quarta, até que as sete cordas vibraram conjuntamente. Sobre a lira relampejou uma estrela que desapareceu em seguida. Eles jamais ouviram sons iguais, tão sublimes que eles sentiram medo e foram para perto da Rainha Vênus.
Rindo do receio deles, ela disse: – “Esta é a música dos sete Planetas; na Terra, somente os poetas e os grandes músicos podem ouvi-la. Os grandes músicos nunca ficam satisfeitos com o seu trabalho porque é muito difícil transportar a música das esferas para o papel, a fim de que outras pessoas possam tocá-la. Se vocês sempre pensarem em coisas bonitas e procurarem causar felicidade por onde andarem poderão voltar a esta Terra e ouvir de novo a música dos Planetas, porque esta é a “Terra da Harmonia”.
– “Foi isso o que o Pai Tempo quis dizer quando disse a vocês para refletirem; reflitam antes de falar, para que não pronunciem palavras más que vão ferir e prejudicar a harmonia do mundo. Reflitam antes de agir, para verem se o que vão fazer será de ajuda para os outros e não para vocês mesmos”.
– “Para que vocês se lembrem desta terra tomem esta estrela de opala com cinco pontas, Zendah. E você Rex, tome esta pequena lira de sete cordas para com ela tentar fazer músicas de verdade para o mundo”.
As crianças beijaram as mãos de Vênus ao se despedirem dela, e disseram que se sentiam muito entristecidos por terem de deixá-la, mas Vênus sorriu e disse-lhes que eles a veriam de novo antes de regressarem para casa.
Fora do palácio retomaram o tapete mágico e voaram para o portão. Em vez de saírem pelo portão aberto, os meninos sentiram que passavam através do portão fechado.
O tapete e as fadas desapareceram, e eles desceram lentamente até o chão, no lado de fora.
A balança pendia novamente para um lado. O sol, que se punha no alto do portão, desapareceu sob o mar de cobre e aos poucos fez-se a escuridão.
A entrada para a próxima terra se fazia por meio de um pórtico cujos pilares eram inteiramente cobertos por espigas de milho seguras por meio de folhas entre as quais apareciam ramos de frutas e flores. Lembraram-se do festival da colheita.
Na base de cada um dos pilares havia uma bacia com água; em torno de cada bacia havia palavras gravadas.
Numa estava escrito: “Somente com mãos e pés limpos podem entrar nesta terra”. E na outra: “O asseio é quase religiosidade”.
O espaço entre os pilares não era fechado por portão, mas parecia coberto de pés de milho mais altos do que as crianças. Não se via nenhum caminho e quando as crianças tocavam os pés de milho com as mãos sentiam que eles eram duros, não dobravam. Não havia nenhuma passagem entre os pés de milho.
Zendah olhou para o rolo que Hermes lhes dera e mostrou a Rex o que lá estava escrito: “Quando chegarem à Terra da Virgem, lavem as mãos na água das bacias e esvaziem-nas diante dos pés de milho entre os pilares: depois pronunciem a palavra de passe”.
Dirigiram-se para as bacias e começaram a lavar as mãos. Rex lavou as mãos em uma e Zendah na outra.
– “Você acha que nós devemos lavar em ambas as bacias?”, perguntou Rex.
– “É claro, bobinho”, disse Zendah. “Suponho que sejam espécies diferentes de água. Senti isso quando pus minhas mãos dentro delas”. Sentando-se no chão, Zendah pôs os pés nas águas de ambas as bacias.
– “Não vejo necessidade de fazer isso”, resmungou Rex, pensando que estavam perdendo tempo com tanta lavagem. Todavia, Zendah mostrou a Rex que numa das bacias estava escrito sobre limpeza de pés e mãos e Rex concordou que era melhor lavar os pés também. Depois de se lavarem, despejaram a água como estava ordenado. Na areia apareceram as seguintes palavras: PUREZA e SERVIÇO. Essas palavras formaram-se lentamente e logo desapareceram. Uma voz assustou-os – “Sejam bem-vindas crianças, enfim”.
Olharam para cima e viram que, envergando com as duas mãos, onde antes havia pés de milho que não dobravam, estava Hermes.
– “Vocês se conduziram muito bem até aqui sem mim”, disse Hermes, “mas nunca me afastei de vocês, embora vocês não me percebessem. Era eu quem “soprava” nos seus ouvidos quando vocês não sabiam o que fazer”.
Chamou-os para perto de si e afastando os pés de milho com uma das mãos, com a outra apontou para um caminho que havia atravessando o milharal.
Caminharam por extensos milharais, por grandes plantações de aveia, cevada, trigo e outras espécies de grãos.
Tudo madurinho, pronto para ser colhido. No fim do caminho encontraram uma bonita cidade onde várias mulheres, vestidas, de amarelo – cor de milho maduro – foram ao seu encontro. Essas mulheres pareciam não ver Hermes, e falaram direto com as crianças.
– “Lavaram seus pés? “, perguntou uma.
– “Suas mãos estão limpas? “, perguntou outra.
– “Espero que vocês não tragam a menor partícula de sujeira para a Terra da Virgem”, disse uma terceira.
Rex e Zendah ficaram atarantados e olharam para Hermes para saber o que deviam dizer.
– “Senhoras”, disse ele, “não há necessidade de fazerem tais perguntas. Estariam bem empregadas para muita gente: não para essas crianças que estão usando seu corpo astral que, como sabem, está sempre limpo. Além disso, eles não poderiam entrar nesta terra sem usarem antes a água das bacias do portão”.
As mulheres inclinaram-se solenemente para as crianças que seguiram com Hermes pela cidade ensolarada. Por toda a parte viam-se pequenas casas com jardins, cada um diferente dos outros.
Umas coisas tinham esses jardins em comum; não se via nenhuma erva daninha, e em todos eles havia canteiros de flores e passeios limpos, sem uma pedra fora do lugar. Era tudo tão bem arrumadinho que chegaram a ter receio de passar por ali.
Passando além desses lugares floridos chegaram à cidade principal que Hermes disse chamar-se cidade da Perfeição.
Lá havia lindas casas limpas que, na maioria, pareciam lojas dos mais variados negócios. Dentro delas, escreventes trabalhavam afanosamente escrevendo em enormes livros, fazendo soma de parcelas com várias ordens de algarismos.
Todas as paredes eram cobertas de prateleiras divididas em centenas de repartições, cheias de papéis e todas rotuladas com nomes diferentes. Pessoas andavam apressadas pondo ou tirando papéis dessas repartições.
Estavam muito atarefadas para poderem explicar às crianças, que também não se mostraram muito interessados até que Hermes lhes explicou que aquilo que ali escreviam era de grande utilidade para outras terras porque lá se escreviam e conservavam guardadas as coisas importantes que aconteciam.
De lá foram ter a um grande quarto abaixo dos escritórios que muito os interessou.
Era o maior laboratório que já haviam visto. Homens e mulheres de aventais brancos, auxiliados por vários rapazes da idade de Rex, estavam agrupados em torno de pequenas chamas azuis de gás, observando tubos de vidro de formas estranhas.
Outros esmagavam coisas em almofarizes. De quando em quando havia explosões nos vidros e todos se juntavam em redor anotando em seus cadernos de apontamento.
Um homem tirava o suco de várias frutas, enchia vidros com ele e experimentava o efeito de gotas de líquidos coloridos sobre eles. Esses resultados também eram anotados.
– “O que estão fazendo?”, perguntou Rex.
– “Tentam descobrir quais as coisas que têm maior valor alimentício para as pessoas comerem”.
Rex replicou: – “Pensei que os melhores alimentos fossem o de melhor gosto.”
Hermes riu: – “Temo que nem todos pensem assim nesta terra.”
Daí eles passaram por um corredor até uma sala verde cheia de plantas e de flores desabrochadas; muitas delas desconhecidas para eles.
– “Por que?”, perguntou Zendah, depois de andar de uma planta para outra, “elas não se parecem nem um pouco com as que temos em casa?”.
O jardineiro-chefe chegava nesse momento e respondeu:
– “Não, não são: aqui as Fadas nos ajudam desenvolver novas espécies de frutas e flores. Vejam: assim é que fazemos, mas primeiramente precisamos ver se as estrelas dizem ser o tempo propício”. Dirigiu-se para um livro pendurado num dos cantos da sala e correu seu dedo por uma página.
– “Bem, em cinco minutos poderemos começar”.
Tirou uma pequena escova de uma caixa e dirigindo-se a uma planta branca semelhante a um lírio que crescia próximo, tirou um pouco de pólen dos seus estames e depositou-o no longo talo verde que crescia no centro de uma magnífica flor vermelha.
– “Agora”, disse, “devemos atá-lo num saquinho de musselina para que ninguém o toque. Quando as sementes amadurecerem, veremos delas nascer um lindo lírio, vermelho com pintas brancas ou então branco com pintas vermelhas. Não podemos afirmar como será porque tudo depende das Fadas”.
Depois, deu-lhes um pêssego com gosto de abacaxi e uma maçã almiscarada, sem sementes.
Mostrou-lhes uma rosa azul e uma ervilha amarelo-brilhante.
– “Todas essas flores e esses frutos são descobertos aqui, antes de vocês poderem produzi-los na terra”, disse ele.
Zendah segurou em seu braço.
– “Quando poderemos produzir uma rosa azul?”, perguntou. Ele balançou a cabeça misteriosamente.
– “Quando o jardineiro-chefe for morar com vocês”, respondeu.
Eles não queriam mais sair dali. Afinal, Hermes disse-lhes que se apressassem e levou-os a um jardim cercado por altas paredes de pedras. As paredes eram cobertas por árvores frutíferas. No meio do jardim havia um canteiro hexagonal cheio de lírios brancos Madonna. No centro desse canteiro havia uma árvore estranha; suas folhas brilhavam como prata e os frutos cintilavam como joias de diversas cores. No alto do galho mais elevado havia uma maçã dourada que brilhava como o sol.
– “Esta é a coisa mais valiosa desta Terra”, disse Hermes, “a maçã Dourada do conhecimento e da cura. Em todo o universo só existe este exemplar. Algumas das pessoas que vocês acabaram de ver estão tentando fazer nascer outras árvores semelhantes a esta. Conseguiram fazer uma maça prateada que fará muito benefício, mas ainda não descobriram como fazer nascer a maçã verdadeira”. Saindo desse pátio, penetraram no palácio. Aí, como em toda parte, tudo estava onde devia estar; nada faltava, embora não fosse tão bonito nem tão confortável quanto o Palácio de Vênus.
As paredes eram cobertas de linho branco e amarelo. Pequenas correntes d’água passavam por canais nos corredores de modo que para se entrar nos quartos era preciso passar pela água. Isso era para evitar a entrada de poeira nos quartos.
Na sala maior, bem no fundo, havia um dossel sob o qual estavam sentados cinco homens sábios em torno de uma mesa redonda. Havia uma cadeira vazia na mesa; a diferença entre essa cadeira e as outras estava em ser mais belamente entalhada. Hermes disse que essa era a sua cadeira, mas que sempre estava tão ocupado como mensageiro dos deuses que os cinco homens governavam por ele quando estava ausente.
– “Meu irmão Vulcano também ajuda, mas está tão ocupado em forjar obras de arte que também não tem muito tempo para governar. Pouca gente sabe quando ele está aqui”.
Eles olharam para uma oficina ao lado da sala. Lá viram Vulcano martelando folhas de metal. Muitos jovens faziam inúmeras coisas úteis, desde vasos e bacias até pequenos baldes. Era notável a delicadeza dos detalhes e o polimento dado a cada peça. Voltando à sala grande, Hermes apanhou em um prato uma bonita maçã colorida e deu-a a Zendah. Olhando-a surpresa, Zendah verificou que era de metal embora parecesse verdadeira.
– “Esta é uma cópia da maçã da saúde”, disse Hermes, “mas poderá fazer passar a dor de cabeça quando você cheirar, também cura uma porção de outros males”.
Nas mãos de Rex, Hermes depositou um alfinete com feitio de lírio, cuja cabeça era de jaspe, dizendo-lhe para conservá-lo como lembrança da Terra de Virgem.
De um outro prato tirou um grande pedaço de bolo e partindo-o ao meio deu um pedaço a cada um.
– “Em parte alguma vocês encontrarão pão que satisfaça tanto como este da Terra da Pureza”, disse.
De fato, depois de terem provado, Rex e Zendah concordaram que jamais provaram pão tão delicioso.
De regresso ao portão de entrada, passavam por todas as casas tão limpinhas e de novo chegaram aos campos de milho. Hermes mostrou-lhes o caminho e acenou com a mão.
Elas penetraram no caminho mostrado e logo chegaram ao lado de fora da Terra da Virgem, próximo do portão seguinte.
Rex e Zendah ficaram por algum tempo diante do portão do Leão admirando-o. De fato, eles não podiam decidir qual o mais bonito: se esse ou o portão da Balança.
Era feito de ouro: algumas partes foscas e outras tão polidas que podiam refletir os raios de luz. De cada lado, havia uma alta torre. A porta estava entre elas; era de sistema levadiço. Um sol de ouro constituía a porta enquanto os raios do sol formavam as barras que a completavam. Havia uma pequena portinhola em cada torre, com uma campainha em forma de cabeça de leão.
Rex dirigiu-se para uma delas e bateu: abriu-se a portinha e apareceu um rosto que perguntou:
– “Quem é?”
– “Rex e Zendah”, responderam.
– “Dê a palavra de passe”.
– “Fé”, disseram ao mesmo tempo as crianças.
Ouviu-se uma fanfarra de trombetas e o portão foi suspenso deixando passagem livre por uma ponte que conduzia a outra porta.
Dirigiram-se para essa porta que se abriu lentamente diante deles, mas aí eles pararam de súbito; barrando seu caminho, havia dois leões que pareciam ferozes, um com juba preta e outro com juba castanha. O pior era que os leões não estavam presos e pareciam prontos a pular se quisessem. Eles não podiam regressar porque a ponte tinha sido suspensa, deviam seguir para a frente.
Zendah teve uma inspiração! O pão que Hermes lhes dera na Terra da Virgem! Ela ainda tinha umas migalhas. Pondo a mão no bolso, tirou-as e timidamente ofereceu-as aos leões.
Bem podem vocês imaginar quão grande foi a surpresa delas quando os leões comeram as migalhas, começaram a ronronar e estiraram as cabeças para serem acariciados. De certo seu ronronar era mais parecido com um longínquo trovão, comparado com o ronronar do gato delas em casa.
– “Eles serão muito bons se vocês forem valentes, mas evitem que qualquer covarde penetre nesta Terra”, disse uma voz.
Olhando em direção da voz, eles viram um cavaleiro vestido com armadura dourada, sobre a qual havia um manto de linho branco onde se via bordado um coração vermelho sobre uma cruz também vermelha.
Tomou as crianças pela mão e gritou:
– “Em nome do Rei, abram a porta”. Abriu-se a porta e eles se viram defronte de uma estrada cheia de pessoas todas vestidas com lindas roupas de ouro, carmesim e púrpura.
Cavaleiros armados, pajens com trombetas, servos com bandeiras e uma banda composta de todas as espécies de instrumentos musicais estavam organizados em fila.
Um magnífico coche aproximou-se parando diante deles e foram convidados a entrar nele.
O bombo deu um sinal e a banda começou a tocar; todos, em procissão partiram pela estrada, o coche com Rex e Zendah no meio. O povo, postado aos lados da estrada acenava com bandeiras, enquanto eles passavam.
Olhando pela janela enquanto viajavam, perceberam que não havia casas pequenas. Todas as casas eram em centro de jardim próprio onde cresciam centenas de girassóis e malmequeres; quelidônias formavam um tapete dourado no chão. Chegando afinal ao palácio, viram que estava situado em um parque circular limitado por uma larga alameda de magníficos cedros, igualmente espaçadas, havia doze entradas que conduziam ao palácio, cada uma ensombrada por cedros. A sombra era necessária já que o Sol brilhava fortemente, pois era sempre verão na Terra do Leão.
Descendo do coche em um dos portões, caminharam sobre lindo tapete purpúreo em direção à entrada principal, escoltados por vários pajens.
Dois arautos foram ao seu encontro e precedendo-os na sala do trono, tocaram as trombetas: as cortinas abriram-se; eles pararam e olharam em torno espantados, pois a sala era circular como o parque e as paredes feitas de ouro, enquanto o chão era um enorme rubi. Essa grande sala levava a cinco outras menores cujas paredes também eram de ouro. Pendentes do teto, defronte do trono, havia sete lâmpadas vermelhas acesas. Ao lado do trono, braseiros aromatizavam o ar com fumaça perfumada, tal como na Terra do Escorpião-Águia.
Servos, bem como os grandes senhores, tinham bordados em suas túnicas corações vermelhos e dourados. Um carrilhão de sinos bateu doze pancadas; no mesmo instante todos se voltaram para o trono de ouro cujos braços eram formados por dois leões. Um sol, semelhante àquele do portão da entrada, estava entalhado no encosto do trono. As nuvens de fumaça perfumadas enchiam o ambiente, e elas julgaram ver estranhos animais, montanhas e gigantes, mas, luzindo além deles, perto do teto da sala, via-se uma estrela brilhante. A nuvem de fumaça dissipou-se e eles viram a estrela brilhando na fronte de um Anjo de asas de ouro, era tão alto que ia do chão ao teto. A nuvem de incenso localizou-se sobre o trono e à medida que se dissipava, aparecia uma luz brilhante, tão brilhante que Rex e Zendah cobriram seus olhos. Ninguém pode olhar para o sol.
Uma voz profunda e suave deu-lhes as boas vindas, e olhando para o trono viram lá, sentado, um formoso jovem. Era jovem, mas parecia sábio e bondoso. Seus cabelos ondulados lembravam raios de sol. Sua veste era amarelo-brilhante, algo parecida, com armadura de escamas feitas de pequenas folhas de ouro e trazia ao pescoço uma pesada corrente da qual pendia um rubi em forma de coração. Com uma das mãos segurava uma bola de cristal com uma cruz em cima, e com outra, um cetro de ouro. Enquanto eram conduzidos a cadeiras próximas ao trono, viram no fundo da sala uma cortina ligeiramente suspensa, deixando ver um palco.
Uma orquestra oculta tocou uma abertura. Terminada essa, seguiu-se uma peça sobre as aventuras de um jovem que procurava um tesouro oculto.
Por toda a parte encontrava dificuldades: em cavernas sombrias, os gnomos se opunham à sua passagem; no mar, furiosas tempestades faziam com que as ondas caíssem em cima dele, e por várias vezes esteve a ponto de naufragar. Do ar, fadas sopravam fortes ventos, para impedir que ele chegasse à ilha do Tesouro de Ouro e quando chegou, um círculo de fogo, antes de poder escalar a Montanha do Tesouro. Durante a subida da Montanha, animais ferozes opunham-se ao seu avanço e embora tivesse de combater durante todo o seu caminho não sofria nenhum dano porque enfrentava todos os perigos sem temor. Chegando em cima, viu um dragão postado na entrada da caverna. Depois de duro combate o dragão foi vencido e o jovem entrando na câmara secreta, achou o Coração de Rubi que é o tesouro da Terra do Sol; um coro de vozes acompanhado pela orquestra entoou um cântico de regozijo, saudando o vencedor. As cortinas desceram e a peça terminou.
Depois da representação, dois pajens conduziram-nos para uma das salas laterais onde eles viram crianças estudando mapas. Um dos pajens explicou que eles estavam se preparando para serem dirigentes e reis e por isso deviam saber e compreender como se fazia tudo antes de poderem mostrar aos outros como se fazem as coisas.
Rex pensou que era muito duro aprender para ser rei. Mais ainda quando viu que aquelas crianças passavam o tempo de folga aprendendo a correr, a pular e a usar todas as espécies de armas ofensivas para poderem proteger seus súditos em caso de ataque embora eles nunca combatessem a não ser para proteger alguém.
Os pajens escoltaram-nos de volta ao grande salão onde mais uma vez ficaram de pé em frente ao rei. De uma almofada segurada por um servo, o rei tirou uma corrente com um rubi pendente e colocou-a em torno do pescoço de Zendah. Essa corrente parecia com a que ele mesmo usava.
Vocês sabem a palavra de passe desta Terra, disse ele, “conserve seu coração bondoso para todos, e procure o que há de melhor em cada pessoa. Fazendo assim seu rubi brilhará esplendorosamente”.
Voltando-se para Rex colocou em suas mãos um bastão de ouro com um rubi numa das extremidades.
– “Isto dar-lhe-á poder para dirigir e organizar em qualquer parte que você esteja, mas lembre-se que você não deve ordenar ninguém a fazer algo que você mesmo não possa fazer. Agora vocês devem partir e como esta é a Terra do Terceiro Guardião dos ventos, vocês viajarão velozmente para o portão de entrada”.
Todos se levantaram e fez-se silêncio no grande salão. Ouviram sussurrar outra palavra estranha, que eles não conheciam. Uma voz depois de outra foram-se unindo até surgir um coro de belíssima música cantado por centenas de vozes.
À medida que as vozes iam-se juntando ao coro, começou a soprar um vento que aos poucos foi aumentando de velocidade.
Ao final, o rei levantou-se e cantou uma palavra em linda tonalidade. As vozes do coro foram sumindo em um murmúrio.
O salão estremeceu, como aconteceu na Terra do Escorpião-Águia, e imediatamente se encontraram do lado de fora da Terra do Leão.
– “O terceiro terremoto”, disse Rex.
Rex e Zendah sentaram-se, para recobrar o fôlego depois de sua súbita saída da Terra do Leão. Se vocês não estão habituados aos terremotos, eles lhes tirarão o fôlego, embora, como no caso que vimos, eles contribuam para economizar o tempo. Poucos minutos depois elas levantaram-se e começaram a procurar o portão do Caranguejo. Primeiramente tiveram de esfregar bem os olhos porque não podiam distinguir onde estava o portão por causa do nevoeiro.
Era como se procurasse ver o monte que ficava além do quintal de sua casa em manhã enevoada.
Mas, à medida que acomodavam a vista, a névoa foi-se dissipando e eles viram um portão de prata, brilhante. Os pilares altos na lateral eram duas velas de prata e o portão no centro era circular; no centro do portão, um gigantesco caranguejo sustinha entre suas garras uma lua crescente que brilhava como a própria Lua. Na carapaça do caranguejo havia dois sinais, como notas musicais, lado a lado.
Em torno do portão havia palavras escritas, difíceis de ler porque o portão girava sem parar. Num determinado momento, a Lua crescente estava na parte superior do portão, para pouco tempo depois aparecer a Lua decrescente na parte inferior. No lugar das dobradiças, existiam estranhas peças de prata parecidas com as garras do caranguejo. Havia um sulco nas garras, onde o portão estava encaixado e onde deslizava, girando, girando. Em cada metade do portão havia uma fechadura e as crianças ficaram embaraçados, sem saber qual das duas servia para abri-lo, mas primeiro eles precisavam encontrar a chave.
Zendah foi a primeira a ver uma portinha num dos pilares, esculpida em formato de caranguejo: tocando-a com seus dedos, ela abriu-se. Dentro, encontrou uma chave de prata.
Rex tentou abrir a fechadura do lado direito do portão. Introduziu a chave e virou deste lado e depois do outro. Ouviu o ruído característico de fechadura que se abre, mas o portão não se abriu. Concluiu então que também não abriria a outra fechadura, sobre a qual se lia a palavra “TENTE”.
Subitamente, Zendah exclamou:
– “Olhe! É uma das palavras que havia no portão de Capricórnio!”
Tirando do seu bolso a chave de chumbo que havia achado naquela Terra, ela introduziu-a na fechadura da esquerda e viu que servia.
De repente o portão parou de mover-se, com a Lua crescente na parte superior, e então puderam ler as palavras que não conseguiram ler enquanto ele se movia.
Lá estava escrito:
– “Para Leste ou para Oeste, o lar é melhor!”
Ao longe, ouviram uma voz suave dizendo:
– “Queridas crianças, sabem a palavra de passe? “
Ouvindo isso ficaram espantados, pois reconheceram a voz de sua mãe. Mas responderam:
– “Paciência”.
Mais surpreendidos ainda ficaram quando o caranguejo, se desprendendo do portão e batendo suas garras, mostrou-lhes o caminho no lugar que ele havia ocupado. Depois que pularam, o caranguejo voltou ao seu lugar e disse:
– “Torna a girar, ó círculo da lua noturna!”
Querendo ver o que sucedia, olharam para trás e viram recomeçar a dança do caranguejo e da lua.
Não viram ninguém na entrada dessa Terra. Era noite e havia muito nevoeiro e, espantados, ouviram murmurarem:
– “Sim é”. – “Não, vai primeiro e vê”. – “Não há pressa”. Até que se admiraram do que era aquilo e se perguntaram quem estaria lá.
Aos poucos seus olhos se acostumaram à névoa e viram à sua frente um caminho que seguia por uma floresta de grandes árvores; pequenos riachos faziam ruído ao passarem sobre as pedras, como uma miniatura de cachoeira. Uma grande lua amarelada surgiu aos poucos por trás das árvores e, afinal, eles puderam distinguir as coisas como se estivessem iluminadas pela luz do dia. As vozes se aproximavam, Zendah virou-se para Rex e disse baixinho:
– “Estou certa de ter visto algumas crianças escondidas atrás das árvores”.
Sim, elas estavam. Um rosto brejeiro apareceu por trás de um tronco desaparecendo em seguida. O mesmo aconteceu com outros.
Rex impacientou-se.
– “Saiam e sejamos amigos”, gritou ele. – “Não tenham medo pois não lhes faremos mal”.
Em um ou dois minutos, estavam cercados de inúmeras crianças, algumas vestidas com roupas que brilhavam como prata e outras com roupas verde e violeta. Quase todas eram pálidas, de cabelos brancos e moviam-se muito devagar. O chefe, uma menina, disse a Zendah:
– “Desculpem-nos sermos tão lentos. Temos tão poucas visitas aqui e não sabíamos que eram vocês. Somos muito medrosos até conhecermos bem as pessoas”.
Dando-lhes as mãos, foram pelo caminho até onde havia duas grandes pedras e uma terceira por cima que Rex ficou espantado, pensando quem teria tido tanta força para colocá-la onde estava.
Todos dançaram em torno das pedras, cantando linda canção que dizia algo acerca do sagrado fogo da lareira, conforme Rex e Zendah conseguiam pegar das palavras que entendiam.
Os dois estavam tão interessados em descobrir o que é que eles cantavam que não perceberam a chegada de uma figura alta que permaneceu sorrindo no meio do círculo, observando os arredores. Subitamente repararam naquela figura e atravessando a roda, penduraram-se no pescoço da senhora, exclamando:
– “Mamãe, mamãe, como veio até aqui! Jamais pensamos encontrá-la aqui entre as estrelas!”.
As outras crianças olharam atônitas. – “É sua mãe?”, perguntaram as crianças. “Ela é a senhora Maria que vem aqui quase todas as noites contar-nos histórias”.
Mamãe balançou a cabeça.
– “Sim esta é a minha terra, como a Terra do Arqueiro é a sua Zendah, mas vocês devem ficar muito quietinhos porque esta noite é uma noite especial. É a noite da véspera de Solstício de Verão e todas as fadas se reúnem para sua festa que principia antes da Lua Cheia”.
Muito quietos, nas pontas dos pés, todos se dirigiam para uma moita de salgueiro onde havia um gramado. Sentaram-se por trás de seus arbustos.
Ouviram uma nota clara, límpida, saída por clarins da fada e logo quatro morcegos passaram voando à luz do luar, cada um conduzindo uma pequena fada às costas. Voando em círculos, baixando até que as fadas puderam pular para o chão. Depois que as fadas desceram, os morcegos foram se dependurar nas árvores próximas, usando para isso os ganchos que possuem nas asas.
De um botão de rosa silvestre, um pequeno pássaro castanho iniciou um belo cântico cheio de trinados. Ao som dessa música as quatro fadas puseram-se a dançar agitando suas varinhas mágicas. Por onde as varinhas passavam nasciam centenas de cogumelos e de fungos.
Ouviram-se de novo os clarins das fadas e as árvores se afastaram abrindo uma clareira e as ninfas verdes e marrons saíram da floresta e tomaram lugar sobre a grama, embaixo das árvores.
Aproximando-se, viam-se, ao longe, centenas de fadas tendo à sua frente a Rainha Titânia e o Rei Oberam precedidos por estranha procissão de caranguejo e de lagostas, caminhando sobre suas patinhas traseiras.
Quando todos entraram na clareira, sentaram-se. As quatro fadas menores ficaram ao centro e tocaram estranhos instrumentos musicais feitos de conchas e caramujos, com cordas de teia de aranha. Rex e Zendah estavam certos de já terem ouvido antes essa música quando estiveram no bosque perto de sua casa, mas nessa ocasião não sabiam que era a música das fadas. Tinham de prestar muita atenção às fadas que dançavam ao som daquela estranha música, pois não conservava a mesma figura por mais de dois minutos seguidos; às vezes eram grandes, outras vezes menores; às vezes se pareciam com flores, outras vezes com caranguejos.
No fundo da clareira havia um banco de musgos, de cada lado do banco cresciam botões de rosas brancas e centenas de margaridas. Defronte do banco havia um pequeno banhado onde cresciam violetas aquáticas e lírios brancos.
Ao anoitecer a Lua surgia por trás dos salgueiros, a esquerda do banhado. Subiu aos poucos até que parou exatamente por cima do banhado, refletindo-se nas suas águas. Nesse preciso instante, parecia que a lua despedia raios que batiam na água e voltavam, tecendo um gigantesco véu de luar mostrando todas as cores do arco-íris, só que mais pálidas, com menos brilho do que quando se vê durante o dia.
Quando ficou pronto, apareceu um oval de espessa névoa no centro. Aos poucos o oval foi-se tornando maior até que apareceu linda mulher com uma coroa de prata, em pé sobre a superfície do banhado. Tinha cabelos da cor de buganvília e olhos azuis claro. Todas as fadas se voltaram para ela e quando ela subiu no banco de musgos cantaram linda canção de saudação:
Salve a senhora Lua!
Salve a Rainha da Noite!
Se a Lua e Câncer (Caranguejo) aparecem juntos.
As fadas saúdam-na!
Com voz que mais parecia um murmúrio de brisa de verão passando pelas árvores, o Espírito da Lua falou.
– “Salve, filhos dos bosques, das árvores e dos arroios! Passaram bem desde o nosso último encontro? Tens algo a pedir?”
– “Tudo bem, grande Rainha”, responderam inúmeras vozes. A Rainha continuou: – “Apareçam, crianças humanas, vocês viram minha terra; agora venham receber os presentes de recordação que temos para dar àqueles que nos visitam”.
Muito espantados, por não saberem que tinham sido vistos, Rex e Zendah vieram para a Luz do Luar, segurando as mãos de sua mãe.
– “Não preciso lembrar-lhes, pois vocês têm em casa uma excelente mestra”, disse a Lua sorrindo, “o que essa Terra significa para todos os que amam o lar, mas lembrem-se que bondade e paciência o tornam muito mais bonito, portanto dou a você, Rex, uma couraça de prata para proteger todos aqueles mais fracos que você, e lembre-se que o núcleo mais suave tem a couraça mais forte.
“Para você, Zendah, dou o conjunto de pulseiras de prata com muitas pedras de lua. Uma vez a cada ano, você poderá assistir as fadas e aprender o que elas e a Lua podem ensinar a você”. Agitando sua varinha de prata, um caranguejo grande e verde-roxo se curvou na frente deles e lhes mostrou uma pequena carruagem, puxado por gatos brancos, apenas grande o suficiente para os dois. Sua mãe os beijou e sussurrou: “Eu vou ver vocês presentemente”, e eles voltaram para a entrada. Mais uma vez, o portão parou de girar e o caranguejo de prata desceu da Lua crescente para deixá-los passar. Eles estavam apenas se preparando para saltar, quando uma risada alegre os cumprimentou e o rei Júpiter entrou. “Então vocês terminaram sua visita à Terra do Caranguejo”, disse ele. “Estou um pouco atrasado, mas vou ver o último dos deleites.” E ele ficou de um lado e acenou sua mão para eles enquanto passavam o portão. O caranguejo retomou sua postura de segurar a lua crescente, e o portão começou a girar mais uma vez.
“Quem pensou em ver a mãe na Terra do Caranguejo?”, Disse Zendah. “Eu me pergunto: ela vai se lembrar quando chegarmos em casa?”. “Eu suspeito que ela vai”, respondeu Rex, “ela sempre parece lembrar de tudo”.
O portão da terra dos Gêmeos era delicado e arejado, quase tão fino quanto uma teia de aranha. Dava a impressão que se poderia passar por ele, mas ao mesmo tempo se sentia que ele barrava a passagem. Sua principal característica é que se movia de leve, constantemente, de modo que nunca se sabia para qual parte dele se estava olhando.
Bem no centro havia um ponto de interrogação cercado por borboletas de metal cujas asas eram extraordinariamente lindas, como nunca se viu em borboletas reais. Os pilares do portão eram estranhos. Um era preto, tendo em cima a cabeça de uma criança carrancuda; o outro era dourado e encimado por uma cabeça de uma criança sorridente.
Rex e Zendah observaram atentamente o portão, embora seu movimento constante dificultasse a observação, procurando um modo de entrar. Estavam ansiosos para entrar pois parecia uma terra alegre.
– “Não vejo nada que nos ajude”, disse Rex, “acho melhor vermos no livro de Hermes”.
Abriram o rolo e onde havia o símbolo da Terra dos Gêmeos, leram: “Observe o lado direito do portão; lá você verá um canudo de prata. No lado esquerdo você achará uma taça dourada, cheia com um líquido. Rex deverá fazer com o canudo uma bolha perfeita e Zendah deverá soprá-la até levá-la exatamente em cima do ponto de interrogação que há no portão; nessa ocasião os Guardiães irão ver o sinal e pedirão a palavra de passe”.
– “Que beleza!” exclamou Rex, “temos de fazer bolhas de sabão e isso é fácil”.
– “Eu não acho que será tão fácil quanto parece”, replicou Zendah, balançando a cabeça.
Logo encontraram o canudo e a taça dourada e Rex sentou-se no chão, próximo ao portão, enquanto Zendah ficou de pé, perto, para tentar soprar as bolhas na direção ordenada, logo que Rex as fizesse.
Não foi fácil. Primeiramente nenhuma das bolhas era perfeita e quando Rex conseguiu fazer uma, ela, ao soltar-se do canudo, desceu até ao chão e eles não conseguiram fazer com que subisse antes de arrebentar. Tentaram inúmeras vezes até que uma bolha perfeita subiu lentamente mas arrebentou quando atingiu o lado esquerdo do portão. Outra bolha perfeita foi soprada contra o lado direito do portão onde arrebentou. Somente na terceira tentativa Zendah conseguiu soprar a bolha na direção certa. A bolha foi subindo, subindo, brilhando com as cores do arco-íris. As crianças esperavam ansiosamente até que ela atingiu a parte de cima do ponto de interrogação onde “bang”, arrebentou. No mesmo instante ouviram um riso e duas vozes gritaram:
– “Digam-nos os nomes deste portão”.
– “Alegria e Vivacidade”, responderam as crianças.
As vozes disseram:
– “Entre Zendah com alegria e Rex com vivacidade”.
O portão dividiu-se ao meio e abriu-se rapidamente com um movimento súbito.
Uma multidão de meninos e meninas correram para eles e puxaram-nos para dentro, todos falando ao mesmo tempo.
– “Venham comigo.” “De onde vieram?” “Como se chamam?” “Vou mostrar-lhes nossa escola”. “Não, deixem-me levá-los à nossa”, disseram várias crianças.
Rex e Zendah foram puxados de um lado para outro, ficando sem saber para onde ir. Era certo que nenhuma daquelas crianças era tímida!
Afinal, um jovem alto e magro, com um alegre piscar de olhos empurrou os outros para o lado e tomando Rex e Zendah pelas mãos gritou:
– “Que vergonha, crianças! Vocês estão desconcertando nossos visitantes e dando-lhes a impressão que não sabemos o que queremos, embora seja verdade que qualquer um, nesta terra, tenham dificuldade em decidir-se”.
Voltando-se para Rex e Zendah, perguntou;
– “Estão com suas asas?”
Balançando a cabeça negativamente, perguntaram:
– “Que asas?”
– “Oh! Penso que vocês tenham de esperar até que Hermes chegue”, disse o jovem, “mas até lá pedirei às borboletas que lhes emprestem umas”.
O jovem segurava uma vara de aveleira que girou duas vezes sobre sua cabeça. Imediatamente centenas de borboletas amarelas e azuis e de libélulas circundaram-nos. A maior das libélulas, grande como um passarinho, trazia em sua boca dois pares de asas sobressalentes, o jovem apanhou-as e amarrou-as aos pés das crianças.
– “Agora vocês já podem viajar para qualquer parte da Terra dos Gêmeos, com rapidez, tanto pra frente como pra trás. Que querem conhecer primeiro?”, perguntou ele, pois via que ambos estavam ansiosos para fazer perguntas.
– “Por que parece não haver pessoas idosas aqui?”, perguntou Rex. O rapaz sorriu e disse:
– “Por uma razão. Não nos inquietamos e somos tão felizes que sempre permanecemos jovens, e qualquer um que venha viver aqui, mesmo por pouco tempo, se banha na fonte da juventude. Venham ver”.
Foram suavemente pelo ar, passando sobre belas florestas onde cresciam campânulas azuis e buganvílias sobre as quais esvoaçavam milhares de borboletas de todas as cores. Chegaram por fim a um bosque de aveleiras, dentro do qual havia uma fonte de um líquido que brilhava feito prata. O líquido movia-se devagar para a frente e para trás em ondas largas, embora não soprasse nem a mais ligeira brisa. O ar estava perfeitamente parado, mas no bosque de aveleiras parecia ventar. O guia convidou-os a sentarem-se e observar.
Logo surgiram voando duas crianças trazendo consigo uma senhora idosa que não tinha asas nos pés. As crianças desceram-na gentilmente num dos lados da fonte segurando-a pelas mãos enquanto a senhora atravessava a fonte.
Para surpresa de Rex e Zendah, quanto mais a senhora penetrava na fonte, mais jovem se tornava; quando chegou ao outro lado já estava completamente rejuvenescida e em seus pés haviam crescido asas. Quando ela viu o que lhe sucedera, elevou-se no ar com um grito de alegria e juntou-se aos outros jovens que a esperavam na margem da fonte.
– “Realmente não há velhos aqui”, disse-lhes o guia levantando-se para reiniciar sua viagem. “Todos os habitantes daqui passam pela fonte da juventude e enquanto aqui viverem, permanecerão jovens. Só que muitas vezes esquecem quando vão morar em outras terras”.
Saindo da floresta, voaram para a Cidade de Hermes, onde viram os moradores ocupados em diversos afazeres, sempre ocupados, como se tivessem o cérebro nas mãos. Como na Terra do Homem do Jarro (Aquário), encontraram hábeis escultores, outros pintavam quadros ou tocavam com perícia instrumentos de música. Outros escreviam ou iluminavam manuscrito ou gravavam em cobre. Mas o que quer que fizessem, todos pareciam que poderiam deixar seus trabalhos para fazerem os trabalhos dos outros e tão bem quanto os seus próprios.
Por toda a parte os trabalhos eram diferentes. Em uma sala um jovem falava a respeito de suas viagens pelas estrelas. Disseram a Rex e Zendah que aquela era uma terra de conferencistas e que qualquer um podia falar bem, embora os habitantes das outras terras dissessem que eles falavam demais.
Por onde quer que andassem, viam centenas de bolhinhas flutuando no ar. No salão de conferências viram luzes coloridas e de formas bizarras, triângulos, cubos etc. Seu guia explicava que essas figuras luminosas eram pensamentos que se viam mais facilmente ali do que em outras partes, porque lá tudo era muito vivaz e o ar claro.
Por fim chegaram ao palácio de Hermes. Foi bom que tivessem asas nos pés pois não poderiam atingir o castelo de outra forma.
O castelo consistia de duas torres circulares, muito altas e estreitas ligadas por magnífica ponte pênsil que balançava ao sopro da brisa. A entrada principal ficava no meio da ponte.
Todo castelo assentava em um mar de mercúrio e se movia neste mar, incessantemente. Unicamente ao meio dia e à meia noite em ponto, o castelo estava no meio e essa era a ocasião em que se podia voar para a entrada. Você nunca conseguiria andar até lá.
– “Agora”, disse-lhe o guia, observem atentamente e sigam-me no momento em que o castelo estiver no meio, pois de outra forma vocês não poderão ver Hermes enquanto estiverem nesta terra”.
Ouviram-se badalar de sinos do alto da torre da esquerda. Quando pararam de soar, duas notas profundas saíram dos sinos da torre da direita. Chegara o momento. Eles tinham que voar para a entrada com a velocidade do pensamento e estavam sem fôlego quando chegaram aos degraus da escadaria. Imediatamente o castelo pôs-se a mover, novamente, mas de onde eles estavam parecia-lhes que a terra é que se movia e não o castelo.
No pórtico, dois pagens, um menino e uma menina, puxaram as cortinas. Eram tão parecidas que Rex e Zendah exclamaram:
– “Mas vocês parecem gêmeos!”
Os dois se entreolharam e sorriram;
– “Só os gêmeos são empregados no palácio de Mercúrio”.
Tudo era em pares, até as paredes de onde pendiam espelhos coloridos de tal maneira que se você parasse um instante, veria dois de você. Atravessando a ponte e subindo ao topo das torres, entraram na sala do trono que estava suspenso e ladeado por cortinas amarelas amarradas a báculos lá em cima, nas paredes.
Os pagens disseram que essas cortinas eram mudadas constantemente, havendo um modelo diferente para cada dia, pois, quem naquela terra desejaria ver sempre a mesma coisa?
No meio da sala havia espelhos, como nos corredores, e também estátuas de homens correndo ou voando. Em cima pendiam inúmeras fileiras de sinos de prata. No fim da sala, erguiam-se duas plataformas, cada uma com um trono: um amarelo e o outro, púrpura. Hermes estava sentado no amarelo. Sorriu e deu-lhes as boas-vindas.
– “Imagino que vocês querem saber o porquê tenho dois tronos, não? Quando todos, nesta terra, fazem tudo direito, uso o trono amarelo, mas quando encontro algo errado, o que acontece às vezes, uso o trono cor de púrpura”.
– “Toquem os sinos de boas-vindas”, gritou ele elevando seu cetro. Os sinos executaram alegre canção.
– “Tudo aqui é juventude, atividade e prazeres, mas há também uma lição a aprender”.
Dizendo isto, Hermes levou-os a um pequeno quarto situado ao lado da sala. Aí viram uma caixa sobre a mesa, cercada de estranhos instrumentos. Sobre as paredes liam-se as palavras:
“Não calunies, nem dês ouvidos às calúnias”
A caixa é a de Pandora. Faz muito tempo, os deuses deram uma caixa aos seres humanos dizendo-lhes que ela lhes traria felicidade enquanto não a abrissem. Mas Pandora era muito curiosa e abriu-a. Imediatamente saíram da caixa todos os males e doenças que os deuses aí haviam encerrado. Só a esperança permaneceu dentro da caixa.
– “Quando as nossas crianças ficam muito faladoras, muito curiosas ou turbulentas, são trazidas para cá a fim de se lembrarem da velha história”.
– “Veem esses instrumentos? Os seres humanos os fizeram na terra para com eles fecharem a boca dos que falam muito. Nós conservamos cópias deles aqui como um aviso contra o falar demasiado”.
Voltaram ao salão do trono. Os pagens vinham constantemente trazer cartas e mensagens a Hermes. Era difícil compreender como Hermes podia atender a todos eles. Finalmente um pagem trouxe lindos pares de asas, semelhantes às que Hermes usava nos pés, e deu-os a ambos, para substituírem as asas da libélula que haviam usado até então.
– “Agora vocês possuem os sapatos da ligeireza. Eles servem para muitos fins, como vocês verão, mas usem apenas no serviço aos outros. As asas da libélula não servem para trabalhos pesados. Algumas de minhas crianças acham que servem, mas logo verificam que não podem voar longe. A joia que lhes dou é a calcedônia; ela é a palavra de passe desta terra, lembrarão a vocês para serem os verdadeiros mensageiros dos deuses, levando a esperança e a alegria onde vocês forem. Tornarei a encontrá-los no último portão para levá-los de volta à casa. Agora não posso mais ficar porque nosso Senhor, o Sol, mandou-me chamar”.
Voltando, passaram pela ponte pênsil e pelo lago de mercúrio. Passaram pela cidade de Hermes onde algumas crianças entravam em edifícios que pareciam escolas. Passaram pelo bosque de borboletas e pela fonte da juventude. Chegaram ao portão de entrada e o mesmo grupo de crianças que os recebeu gritou-lhes, enquanto os portões se fechavam:
– “Não se esqueçam de como se fazem bolhas de alegria!
Uma muralha de pedra, sólida e preta apareceu aos olhos de Rex e Zendah quando se aproximaram da terra do touro. Levantava-se reta e lisa; não se via uma falha. Mais ou menos a seis pés de altura do chão havia muitas esculturas; rostos pequenos, pássaros e animais semelhantes aos que foram descobertos nas escavações feitas nos desertos do Egito. Os rostos eram esculpidos, sobressaindo ligeiramente da superfície da muralha e o conjunto escultural tinha por fundo linda pedra azul para fazer com que as esculturas sobressaíssem.
Defronte da muralha o chão era arenoso; tão seco que a cada passo que se dava erguia-se uma nuvem de poeira. Elas sabiam que era difícil encontrar o Portão do touro, pois estava escondido, e por isso começaram a examinar cuidadosamente toda a muralha. De súbito, Zendah tropeçou em alguma coisa no chão. Afastou a areia com as mãos e encontrou um alçapão de pedra, quadrado, tendo no meio uma argola de cobre que repousava num cavado feito de pedra. Rex pegou a argola e deu-lhe um puxão, mas a argola não se moveu. Zendah também tentou, mas nada conseguiu.
Súbito, Zendah lembrou: “Espera Rex, temos de botar no cavado em que está a argola, o pó azul que Hermes nos deu, e colocar as joais que ganhamos na Terra do Escorpião-Águia e na do Homem do Jarro, nos dois chifres, e a joia do Leão por baixo. Depois disso esperar para ver o que acontece”.
Olharam para as instruções que Hermes lhes dera para se certificarem se era isso que deveriam fazer. Era isso mesmo. Zendah ajoelhou-se e pôs o pó no cavado e arrumou as joais da maneira ordenada. Um minuto depois, subiu uma espiral de fumaça do pó e a terra tremeu tão forte que Rex e Zendah caíram um de cada lado do alçapão.
Ao se levantarem constataram estar ao lado de uma abertura feita no chão. O alçapão estava suspenso de um lado como uma tampa de caixa. As joias enfileiradas adiante, prontas para eles apanharem-nas de novo. A abertura do alçapão era o princípio de uma escada de pedra. Juntos pensaram que ali estava a entrada da Terra do Touro. Desceram a escada até o fundo onde viram um arco com uma porta de pedra na qual havia uma aldrava para bater, em forma de cabeça de touro. Rex deu duas pancadas e ouviu-se uma voz:
– “Quem é?”
– “Rex e Zendah”.
– “A palavra chave?”, perguntou de novo a voz.
– “Força”.
A porta caiu para trás e eles tiveram de pisar nela para poderem entrar. O Guardião do portão era uma figura grande e usava um capacete semelhante a cabeça de um touro. Que figura esquisita!
À entrada estava parada uma robusta mulher usando vestido branco com cinto azul. Seus ombros estavam encobertos completamente por um colar chato, de pedras azuis. Uma bandana de cobre mantinha seus cabelos castanhos-escuros em ordem. Na frente da bandana havia um ornamento feito de chifre.
– “Sejam bem-vindos à Terra do Touro”, disse ela. “Possa nossa amizade durar tanto quanto são fortes e duradouros os nossos alicerces”. Afastando-se para um lado, conduziu-as para dentro onde estava parado um carro puxado por dois bois brancos com uma coroa de flores nos chifres. Depois das crianças subirem no carro, ela subiu na frente e dirigiu a carruagem.
As estradas eram largas e lisas, muito bem conservadas. Não viajaram rápido, mas assim tiveram tempo para olhar os arredores. A primeira parte da terra pela qual passaram era campo; por toda parte viram homens e mulheres atarefados em arar e plantar. Todos pareciam saudáveis e vigorosos. A maioria possuía esplêndida cabeleira castanho escuros e grandes olhos também dessa cor. Todos cantavam enquanto trabalhavam. Onde havia muitos juntos, podia-se ouvir quase que um concerto. Em alguns lugares as sementes já germinavam. Parecia não haver lugar que não fosse cultivado.
Pouco adiante viram homens abrindo novas estradas e fazendo as fundações de edifícios. Os edifícios eram fortes e bem feitos. As paredes muito grossas e feitas de pesados blocos de pedra. Parecia que durariam para sempre depois de prontos.
Nas casas já habitadas, verificaram que cada uma tinha um pequeno campo onde um touro ou uma vaca pastava ou estava deitado, aquecendo-se ao sol. De fato, havia, tanto gado nessa terra quanto cavalos na Terra do Arqueiro.
Logo chegaram à Cidade do Touro. Era um quadrado perfeito, tendo aos lados altas e maciças paredes nas quais havia entradas frente ao norte, ao sul, a leste e a oeste. A carruagem parou no portão norte e eles seguiram seu guia a pé pela cidade. As ruas estavam cheias de pessoas; e como trabalhavam! Parecia que tinham tudo que você possa imaginar para vender. Havia mercadores de todas as parte do mundo tentando vender suas mercadorias ou barganhando com os donos de lojas.
Em algumas lojas havia nas vitrines toda a sorte de coisas boas para comer. Só de olhá-las, ficava-se com fome. As crianças pararam na entrada de uma joalheria pois nunca viram, em parte alguma, tanta joia de ouro, nem pedras tão bonitas. Zendah quis comprar algumas para levar para casa, mas… não encontrou dinheiro nos bolsos de sua “roupa estelar”.
Estava difícil afastá-los dali porque havia muitas coisas bonitas para se ver; mas afinal, foram para a parte central do mercado, onde se erguia o edifício principal da terra. Havia uma fonte em cada canto, surgindo das costas de quatro touros de mármore, pois este grande edifício, como toda a cidade, era um quadrado perfeito. O portão de entrada estava guardado por homens com capacetes semelhantes ao que usava o Guardião da entrada da Terra. Suas túnicas curtas eram azuis e seus escudos brancos, com um touro preto como ornamento.
Rex e Zendah estavam certos de que esse palácio não poderia sair dali; era tão sólido e tão estável quanto era móvel e aéreo o palácio de Hermes. Já no seu interior, ficaram embasbacados; estavam na parte mais bonita do edifício; cada parede, soalho ou corredor era de desenho diferente feito de pedra de várias cores e feitios. Para poderem entrar na sala principal tiveram de afastar as cortinas de cor azul celeste. O teto da sala estava pintando de forma a parecer o céu estrelado. Ao redor havia grandes pilares com figuras pintadas semelhantes àquelas da entrada da terra.
O trono tinha por braços touros entalhados e em cima, na parede que ficava por trás, havia grande janela em forma de Lua crescente.
Uma mulher que estava sentada no trono sorriu-lhes e pouco depois viram que ela era a Rainha Vênus, embora parecesse bem diferente, o que fez com que não a reconhecessem imediatamente. Seu vestido estava todo dobrado ao seu redor, em tantas dobras que ela estava quase escondida, mas seu pescoço e seus braços estavam nus. Usava magnífico colar de esmalte azul com correntes de esmeraldas pendentes e em sua cabeça tinha uma coroa feita de estreita tira de cobre com dois chifres curvados e entre eles brilhava um círculo de prata.
Já era tarde porque a noite começara a cair enquanto eles chegaram ao palácio. A lua cheia apareceu brilhando através da janela bem por cima da cabeça da Rainha. Nesse preciso instante um órgão, no fundo do salão, começou a tocar suavemente e vozes em coro cantaram uma canção de boas vindas que, em constante crescente, terminou fortíssimo.
No momento de silêncio que se seguiu, Rex e Zendah viram a figura do quarto grande Anjo, com uma estrela na fronte, muito semelhante aos outros Anjos que haviam visto, com a única diferença que este possuía asas azuis.
Abriram-se as cortinas e uma procissão de pagens apareceu conduzindo bandejas de cobre. Era o festival das Ofertas da Terra. Essas ofertas consistiam em sedas, sementes, buquês de violetas, ornamentos de ouro e de prata, tudo tão bonito! No fim de tudo apareciam vasilhas cheias de moedas de ouro e de prata.
Mercadores de todas as cores e raças davam suas graças. Arquitetos trouxeram seus planos. Durante todo o tempo que durou a procissão de dádivas, o coro entoou a canção da Abundância da Terra.
Cada pagem, à medida que entrava, ocupava determinado lugar a direita ou à esquerda do trono. Depois de terem entrado todos os pagens, Rex e Zendah viram que estavam esperando por eles, para se apresentarem diante do trono.
Ficaram muito encabulados pois nada tinham para oferecer.
A Rainha Vênus sorriu e disse:
– “Não esperamos que nossas visitas nos façam ofertas; ao contrário, somos nós que lhes damos algo, para levarem consigo. Por certo já perceberam que nesta terra há abundância de tudo o que proporciona conforto e bem estar. Eis aqui a bolsa mágica que nunca se esvazia desde que você dê um pouco do seu conteúdo a outro que dele precise, toda vez que você gastar algum dinheiro com você. Ela lhe dará riqueza, Rex, mas use-a com sabedoria. A você Zendah, concedo o Dom da voz, Dom mais precioso do que o ouro”.
Tendo tocado a garganta da menina com sua varinha ornada com violetas, Vênus colocou-lhe em torno do pescoço um colar de esmeraldas. Zendah sentiu vontade de cantar.
Vênus acenou com a cabeça, dando sinal aos músicos, e antes que pudesse perceber o que fazia, Zendah estava cantando sozinha.
Rex ficou admirado, pois nunca ouvira a irmã cantar, antes. Quando Zendah terminou a canção, a Rainha Vênus acenou-lhes e ambos subiram os degraus do trono rapidamente. Vênus abraçou-os e beijou-os.
– “Agora, sentem-se aí defronte, nessas almofadas, para vocês serem transportados ao portão da próxima Terra”.
O órgão tocou um acorde lento e de novo as vozes do coro entoaram algumas palavras que não compreenderam. Ao final, a própria Rainha Vênus juntou-se ao coro.
As luzes como que se apagaram e eles foram descendo, descendo, como se estivessem penetrando na terra e, de repente, um súbito barulho como se fechasse uma porta e mais uma vez, com o quarto terremoto, estavam do lado de fora do Portão do Touro.
Rex e Zendah logo perceberam estar próximos do último portão, o do carneiro, porque começou a ficar tão quente que rapidamente se viraram para olhar.
Pela primeira vez em todas as suas aventuras, Rex e Zendah estavam realmente assustados. Por um momento, chegaram a ter medo. Onde esperavam encontrar um portão, havia uma muralha de chamas cintilantes, impetuosas, crepitantes, tão alta que parecia tocar o céu. Pararam para olhar e viram todas as tonalidades de uma floresta queimando: verde, azul, vermelho e lilás, onde, antes viam somente amarelo. Cada cor parecia emitir uma nota musical, sendo fascinante vê-las e agradável ouvi-las.
– “O último portão!” disse Rex após alguns minutos. “E parece ser o mais difícil de transpor. Veja, entre as chamas há uma buzina, mas como faremos para atingi-la e fazer soar o alarme?”
– “Bem”, replicou Zendah, “CORAGEM é a palavra chave desta terra. Será melhor vermos se podemos chegar perto dela”.
De mãos dadas, pouco a pouco eles foram se aproximando. Estranho como possa parecer, o calor não aumentava à medida que eles se aproximavam do portão. Afinal chegaram bem perto das chamas. Rex, ousadamente esticou seu braço e verificou que podia pôr a mão na buzina sem se queimar. Tocou-a; houve um outro som do outro lado do portão. As chamas dividiam-se, formando dois pilares recurvados e enrolados na parte superior, como chifres.
Unia-os uma espécie de corrente de fogo vermelho, da qual pendia uma cortina de chamas de cor rosada. Os pilares eram dourados e muito brilhantes. A buzina de dentro tornou a soar, vindo após, a pergunta: – “Quem ousa chegar a este portão?”
As crianças responderam conforme estava nas instruções:
– “Rex e Zendah, com coragem, ousam penetrar na Terra do Carneiro”.
– “Atravessem o fogo”, mandou a voz.
Isso parecia difícil. As crianças entreolharam-se por um ou dois minutos, mas nenhum deles disse ao outro que estava com medo. Aproximaram-se mais do portão e viram que a cortina de chamas abriu-se pelo meio, possibilitando a entrada sem que se queimassem, embora as chamas fossem ameaçadoras. Atravessando a cortina de chamas, chegaram a uma terra de sol ardente. O ar era tão brilhante que eles sentiram vontade de pular e cantar de entusiasmo.
Ninguém os esperava como acontecera em algumas outras terras. À sua frente estendia-se grande campo silvestre com florestas enormes, selvagens, mas bonitas. Não se via nenhuma estrada. Perto, encontraram duas machadinhas que, evidentemente, eles deviam apanhar, pois havia um cartaz no qual se lia:
“Usem-me; servirei para desbravar caminhos difíceis”.
– “Não parece haver nenhum caminho”, disse Rex, apanhando as machadinhas e dando uma a Zendah. “Gostaria de saber que direção devemos tomar”.
– “Sigamos o Sol”, propôs Zendah. “Devemos chegar a algum lugar”.
Partiram por aquela terra selvagem, trepando pedras, atravessando bosques onde tiveram de abrir caminho usando as machadinhas. Isso era mais divertido do que enfadonho. Afinal, depois de algum tempo, chegaram a campos cultivados e viram algumas casas. Ao saírem do bosque, depararam com enorme carneiro branco. Dos chifres enfeitados do carneiro pendiam campainhas. Os campos estavam cheios de ovelhas, mas o carneiro, de alguma maneira, fez Rex e Zendah compreenderem que o deviam seguir. Era por certo, um carneiro sábio!
Lá se foram eles atrás do carneiro.
O sol estava muito quente e a brisa era forte, mas eles sentiam-se vigorosos e podiam caminhar sem cansaço. Afinal chegaram a uma estrada cheia de casas. Da maior delas saía barulho de máquinas e de pancadas de martelo. Pararam para olhar, pois todas as portas e janelas desta casa estavam abertas. Dentro, vários homens trabalhavam com ferramentas, máquinas e forjas, alguns malhando o ferro aquecido ao rubro.
– “Que estão fazendo?” perguntaram a um homem que saía da casa.
– “Tudo o que se pode fazer com o ferro”, respondeu o homem. “Todas as ferramentas que se usam no campo para arar e colher, e agora, triste é dizê-lo, fazem também espadas e canhões e todas as coisas que os seres humanos precisam na guerra. Teremos de fazer essas coisas até que os seres humanos acabem de combater. Então, a energia do carneiro será utilizada somente para fazer ferramentas úteis”.
Durante alguns minutos ficaram observando aquela afanosa colmeia humana, vendo as centelhas pular do ferro, de quando em quando. Por fim, recomeçaram a seguir o carneiro. Pela estrada vinha ruidoso grupo de cavaleiros que resplandeciam ao sol. Parando seus cavalos perto, Rex e Zendah verificaram que eram cavaleiros vestidos com armadura real. O chefe saudou-os com sua espada.
– “O Rei quer vê-los imediatamente”, disse ele, “e mandou buscá-los. Montem ligeiro e sigam-nos”.
Deram um cavalo a cada um. As crianças radiantes reconheceram que aqueles eram os mesmos cavalos que montaram na Terra do Arqueiro. Também já haviam-se encontrado com o chefe dos cavaleiros antes, na Terra do Leão e assim sentiram-se à vontade.
Rex foi convidado a encabeçar a tropa por ser uma visita especial, já que estava visitando sua própria terra. Cavalgaram depressa, o vento revolvia seus cabelos, tal a velocidade com que iam. Atravessaram clareiras onde havia cabanas; passaram por cidades que pareciam ter sido acabadas de edificar, até que por fim chegaram à Cidade de Marte.
O palácio estava numa elevação. Era todo construído de mármore vermelho polido. Era esplendoroso e brilhava como fogo sob os raios do sol. Não pararam um momento, subiram logo as escadas que conduziam à entrada do palácio, onde os outros cavaleiros vieram ao seu encontro. Estes últimos traziam túnicas brancas sobre suas armaduras, com o emblema da cruz e do carneiro bordado a ouro e vermelho. Alguns deles – não muitos – tinham túnicas vermelhas e cruzes brancas. Cada cavaleiro tinha um pagem, um rapazinho de cabelos ruivos que ia a frente, carregando a espada e o elmo do cavaleiro, que estavam todos esplendidos, feitos também de aço forjado.
Rex e Zendah foram escoltados através das passagens e da longa escadaria de degraus de pedra verde-escuro até em cima, onde encontraram um homem idoso vestindo hábito de monge.
– “Vocês têm algo muito importante a fazer”, disse ele. “Nesta sua visita, que é a última, recebemos ordens de sagrá-los Cavaleiros do Sol, se prestarem juramento. O fogo pelo qual passaram no portão de entrada foi a primeira prova. Vocês prometem, Rex e Zendah, falar sempre a verdade, não terem medo, combater pelos fracos e serem leais ao nosso Rei?”
Os meninos responderam: – “Sim”.
O senhor idoso colocou-lhes então sobre os ombros uma longa capa com uma cruz vermelha na parte posterior e mandou que o seguissem até a sala e que não falassem até receber ordem para isso. Era uma sala muito bonita, tão alta que não se via o teto. As paredes eram de cor-de-rosa pálido; os pilares de magnífico vermelho, como uma papoula. Cavaleiros, em suas armaduras brilhantes, permaneciam em “sentido” ao longo das paredes que tinham bandeiras de todos os países espalhadas, algumas novas, outras gastas ou rasgadas. O trono não estava no lugar habitual, mas no centro da sala. Frente a ele, no fundo da sala, havia um altar. A janela por trás do altar tinha a forma curiosa de uma espada, indo do chão ao teto. O punho da espada formava o diâmetro de uma estreita janela circular com doze divisões, cada uma com vidro de cor diferente.
Devagar, seguiram o senhor idoso até o trono onde estava o Rei Marte sentado, vestido com maravilhosa roupagem vermelha e dourada, tendo à cabeça uma coroa de aço polido. Marte cumprimentou-os e disse-lhes:
– “Fui comissionado por nosso Senhor, o Sol, para sagrá-los seus cavaleiros, esta é grande honra. Vocês prometeram obedecer as leis dos cavaleiros e assim, quando chegar o momento oportuno, vocês me seguirão até as almofadas que estão diante do altar. Vejam que o fogo do altar não está aceso; somente uma vez por ano o sol acende o Fogo Sagrado para mostrar que a Terra despertou para seu trabalho anual com seu auxílio. É nessa ocasião que são admitidos aqueles que se qualificam para serem sagrados Cavaleiros do Sol”.
Defronte do altar, do lado direito, estava em pé um arauto com uma trombeta. De cada lado, sentados, seis tambores. Os tambores rufaram. Marte deixou seu trono e caminhou até defronte do altar. Rex e Zendah seguiram-no e ajoelharam-se nas almofadas. Ouviu-se uma nota clara, tocada na trombeta e nesse momento um grande facho de luz solar brilhou através da janela em forma de espada, atingiu o altar em seu percurso, brilhando sobre Marte e as crianças ajoelhadas aos seus pés.
A madeira aromática incendiou-se e nuvens de fumaça ergueram-se no ar. Nas nuvens de fumaça viram o rosto do senhor Sol sorrindo para eles, desaparecendo a seguir. Enquanto eles estavam banhados pela luz do sol, Marte retirou sua espada e batendo com ela levemente no ombro de cada uma das crianças, exclamou:
– “Levanta-te, Cavaleiro do Sol, toma tua Espada de Luz semelhante à do Rei Artur e, com coragem e destemor, combate o Dragão do Egoísmo no mundo, sem jamais desesperar, seja qual for a dificuldade da tarefa”.
As crianças levantaram-se. Os pagens cingiram-nos com cintos vermelhos e entregaram-lhes espadas luzidias em cujas copas seus nomes apareciam feito diamantes brilhantes. Todos os cavaleiros que estavam na sala desembainharam as espadas e saudaram-nos. Foi um lindo espetáculo ver tantas espadas brilhando no ar.
Logo depois, os dois tomaram seus lugares, já como cavaleiros, ao lado de Marte e esperaram que este assinasse os passaportes, para que os cavaleiros pudessem, durante o próximo ano, seguir para terras estrangeiras onde combateriam a favor dos oprimidos.
Marte disse a cada um deles, enquanto apunha seu selo vermelho sobre o passaporte:
– “Segue com coragem, irmão, e vence todas as dificuldades”.
Aos poucos o facho de luz solar foi-se extinguindo. Marte virou para as crianças e disse-lhes que era hora de partirem. Saudando-o com suas espadas novas, fizeram meia volta e saíram do palácio, tomando de novo seus cavalos que os esperavam na entrada.
Os cavaleiros os seguiram até o portão de entrada e depois de saudá-los com suas espadas, as crianças logo estavam do lado de fora do portão.
– “Nossas aventuras terminaram, Zendah”, suspirou Rex; “agora voltemos para casa”.
– “E vocês verão que isso não é fácil sem mim”, gritou uma voz. Voltando-se viram Hermes.
– “Bem, vamos rápido. Quando chegarem em casa, ajudarei vocês a se lembrarem de tudo o que viram e ouviram. Estão ansiosos para usar os talismãs? Então, cada mês, pensem na palavra de passe corresponde e logo verão que poderão usar o talismã durante todo o mês. O uso que vocês poderão fazer deles, depende da prática. Vejam: aqui estão as outras chaves para abrir o Livro da Sabedoria; estas chaves vocês poderão usar quando forem mais velhos”.
Hermes segurou-os pelas mãos e voou de volta para a terra, tão depressa que não tiveram tempo de contar até dois e já estavam no seu quarto.
– “Agora”, disse Hermes, “saiam bem devagar dos seus trajes estelares para se lembrarem de tudo pela manhã”. Tocou-os com seu báculo e a primeira coisa que eles lembraram é que estavam sentados na cama, o sol alto, brilhando pela janela e sua mãe dizendo:
– “Vocês demoraram a levantar hoje”.
Eles pularam juntos da cama – “Oh! Mamãe, passamos momentos deliciosos. Estivemos na Terra das Estrelas com Hermes. Você se lembra de nos ter encontrado na Terra do caranguejo?”
Mamãe sorriu – ‘Então vocês também se lembraram? Vocês estão de parabéns, pois não são todas as crianças que Hermes leva às Terras do Zodíaco”.
AS AVENTURAS CHEGARAM AO FIM. Mas vocês poderão encontrar as portas da entrada das Terras do Zodíaco se por elas procurarem. Vocês verão que será mais fácil visitar umas terras do que outras. De certo isso depende de qual fada tenha sorrido sobre o berço de cada um, quando nasceu, dando-lhe o talismã e a palavra de passe do seu signo natalício. Se foi o Rei Netuno quem sorriu para você ou se foi a Senhora Lua, você terá para contar, quando acordar, aventuras ainda mais excitantes do que as de Rex e Zendah. E então você poderá escrevê-las para outras crianças lerem.
Melhor que tudo, se você conseguir persuadir Hermes, o mensageiro dos Deuses, a tocá-lo com seu báculo mágico e a dar-lhes seus sapatos alados, eles serão seu passaporte para todas as Terras das Estrelas.
F I M
[1] N.T.: minério de cor negra