Qual é a visão que devemos escrever em letras grandes para que uma pessoa possa correr enquanto a lê e como devemos escrever o que vemos? Tenho a certeza de que, em um sentido menor, também recebemos a visão de nosso líder — a visão de um mundo redimido — uma visão na qual Mt. Ecclesia é o foco: Mt. Ecclesia, o lugar de encontros de almas ardentes com o desejo ansioso de fazer o serviço de Deus — almas que podem dizer como os Discípulos do passado: “Eis que deixamos tudo para seguir-Te, pois Cristo é nosso Modelo e Cristo é o nosso Guia”.
Isso não significa que negligenciamos nosso trabalho doméstico e dever dados por Deus, mas que ouvimos em nossa Vigília, enquanto estávamos na Torre Alta, a Voz que diz agora como então: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com todas as tuas forças, e amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Estamos alcançando aquela consciência Crística que verdadeiramente dirá: “Eis minha mãe e meus irmãos!”.
De Mt. Ecclesia vemos o movimento maior, os fluxos de poder e utilidade sempre crescentes, movendo-se incessantemente para a frente, dividindo-se e subdividindo, levando saúde, força e poder dados por Deus. Veremos o Cristo em cada indivíduo, por mais humilde ou aparentemente depravado, assim como Cristo viu o apóstolo no desprezado Mateus sentado no recebimento da alfândega; o esperançoso Zaqueu no mesquinho cobrador de impostos; as possibilidades divinas do amor na errante Madalena; no vacilante Simão Pedro, a rocha sobre a qual a igreja deveria ser construída; nos filhos de Zebedeu, os filhos do Trovão, que teriam feito seu Mestre invocar fogo do céu para consumir seus adversários, os apóstolos da não-resistência, os apóstolos do amor que não pensam mal do seu próximo.
Não posso fazer melhor do que citar novamente as palavras de William Penn, adaptando-as ao Mt. Ecclesia. “E tu”, Mt. Ecclesia, “nomeado antes de nasceres, que amor, que cuidado, que serviço e que trabalho houve para te dar à luz e para te preservar. Minha alma ora a Deus por ti, para que possas resistir no dia da provação, para que teus filhos sejam abençoados pelo Senhor e teu povo seja salvo por Seu poder.”.
(Publicado no Echoes de Mount Ecclesia de abril de 1914 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)
No dia 12 de setembro de 1917 tivemos o prazer de solenizar o primeiro casamento na Pro Ecclesia em Mount Ecclesia, quando dois membros do Centro Rosacruz de Los Angeles, EUA deram as mãos para uma parceria de vida.
Embora essa seja a época do ano em que o sul da Califórnia é mais árido de flores, várias pessoas em Mount Ecclesia conseguiram reunir o suficiente para decorar a Pro Ecclesia da maneira mais bonita, e na hora marcada fechamos os escritórios e gráficas para que todos pudessem estar presentes na cerimônia. Quando todos estavam sentados, os acordes inspiradores da Marcha Nupcial ressoaram do órgão com acompanhamento de violino, enquanto Max Heindel conduzia os noivos pelo corredor central até a frente, onde os noivos se sentaram, enquanto Max Heindel tomava seu lugar em um ambão. Depois que as tensões comoventes da Marcha Nupcial diminuíram, ele fez substancialmente o seguinte discurso:
Minhas queridos Irmãos, Irmãs e Amigos,
Nós nos reunimos aqui, hoje, para testemunhar uma cerimônia muito importante que unirá em casamento de dois de nossos amigos. É para eles uma ocasião muito importante e, de fato, para todos nós, pois a vida ou vidas vividas por indivíduos se refletem na comunidade; a vida doméstica é o pano de fundo e a base da vida pública. Se os nossos jovens amigos, que agora começam juntos a vida matrimonial, estiverem dispostos a se sacrificar um pelo outro, cada um procurando sempre o bem do outro e tentando se conformar ao outro, como nós sinceramente esperamos e oramos para que eles façam, isso resultará uma vida de companheirismo ideal que é, de fato, uma antecipação do Céu na Terra; então cada um deles será abençoado por isso e, juntos, eles irradiarão do lar que eles fizeram uma influência do maior benefício possível para a comunidade. Por outro lado, se cada um persistir em seguir seu próprio caminho, independentemente do conforto e da felicidade do outro, eles terão diante de si uma vida de tal miséria que será realmente um inferno na Terra; a influência irradiada de tal casa só poderá ser prejudicial para a comunidade em que vivem. Todos devemos orar fervorosamente para que eles tomem cuidado com as rochas e os baixios do egoísmo, que certamente destruirão a felicidade da vida, e cultivem aquela solicitude conjugal pelo bem-estar um do outro, o que levará a uma vida de bem-aventurança celestial.
O casamento, então, é um perigo e para entender por que uma condição tão perigosa, que é, infelizmente, muitas vezes fonte de tristeza, foi imposta à humanidade é necessário examinar os registros ocultos e tomar uma visão mais ampla da jornada evolutiva da humanidade, mais ampla do que a geralmente aberta à grande maioria das pessoas. Houve um tempo, chamado pelos ocultistas da Escola de Sabedoria Ocidental, de Época Hiperbórea, quando o ser humano-em-formação era como uma planta em sua constituição e, assim, macho-fêmea, conforme registrado pela Bíblia. Portanto, ele podia, naquela época, como muitas plantas hoje, fertilizar-se e reproduzir sua espécie sem cooperação externa. Com o tempo, o corpo humano endureceu e se tornou como o dos animais em sua construção. Mas o Ego humano, o ser humano real, é uma inteligência criadora e divina, aprendendo na escola da vida; somos todos deuses-em-formação e a criação de coisas físicas por meios físicos é apenas uma lição elementar. Eventualmente, devemos aprender a imitar os métodos criadores de Deus, o Grande Arquiteto do Universo, que por Sua Palavra falada trouxe todas as coisas à existência, como tão maravilhosamente ensinado naquela joia de misticismo, o primeiro capítulo do Evangelho Segundo São João, em que se diz: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Tudo o que foi feito foi feito por Ele e nada do que tem sido feito foi feito sem Ele. N’Ele estava a vida e a vida era a luz do homens; a luz resplandece nas trevas e as trevas não a compreenderam”.
Expressar o pensamento criador aqui, no entanto, requer um cérebro no Mundo Físico e falar o Fiat Criador requer uma laringe; portanto, era necessário que esses órgãos fossem fornecidos ao ser humano-em-formação para que ele pudesse crescer gradualmente até a estatura divina. Portanto, as grandes Hierarquias Criadoras, que guiaram e alguns continuando guiando a nossa evolução, desviaram uma parte da força criadora do ser humano-em-formação para cima, para que pudesse construir esses órgãos. Em alguns, expressaram o polo negativo (passivo) dessa força criadora e surgiu a fêmea; nos outros, expressaram o polo positivo (ativo) da força criadora e surgiu o macho. Mas, isso deixou apenas metade da força criadora disponível para a reprodução da Onda de Vida humana aqui e, assim, a partir de então, a humanidade foi dividida em sexos, como os vemos hoje, e se tornou necessário que cada um busque seu complemento para que a dupla força criadora, masculina e feminina, possa ser combinada para perpetuar a espécie humana e possa fornecer novos veículos para os Egos que perdem os seus devido à morte aqui. Naqueles primeiros dias, quando os Anjos da Guarda estavam encarregados da humanidade infantil, eles reuniam seus protegidos em grandes templos, em certas épocas do ano, quando as linhas de força interplanetárias eram propícias à procriação, e a geração era realizada como um sacramento, um sagrado rito religioso.
Se essa condição continuasse, a humanidade também permaneceria até hoje infantil e inocente, dócil e feliz, como as crianças. Mas à medida que o cérebro foi gradualmente formado, os Anjos caídos, chamados na Bíblia de Espíritos de Lúcifer, ensinaram à humanidade o uso desenfreado, ou melhor, o abuso, da função criadora para a satisfação dos sentidos físicos, independentemente das condições astrais. Assim, o amor deu lugar à luxúria, o parto tornou-se doloroso e a morte, mais frequente. O ser humano caiu de um estado santificado para um estado pecaminoso e desde então uma era de angústia, tristeza profunda, sofrimento, luta e conflito tem ocorrido na Terra; se analisarmos as condições ao máximo, hoje, descobriremos que toda forma de tristeza e doença é devida a essa relação sexual anormal. Portanto, aguardamos ansiosamente o tempo da vinda de Cristo para o estabelecimento do Reino de Deus, quando não haverá casamento nem entrega em casamento, porque cada um terá o poder dentro de si para falar a palavra criadora e a morte será engolida pela imortalidade.
No entanto, enquanto mantemos esses ideais em relação à condição futura, devemos lidar com os fatos como os encontramos hoje e há grandes e maravilhosas lições a serem aprendidas dentro do estado do matrimônio. Portanto, devemos fazer o nosso melhor para torná-lo frutífero — tanto fisicamente como mental, moral e espiritualmente. Sempre devemos lembrar que é um esforço para a unidade que só pode ser alcançado pelo esquecimento de si mesmo. Deve haver no lar apenas um pensamento, uma voz e um objetivo na vida, mas esses devem ser um pensamento, uma voz e um objetivo compostos. Ambas as partes devem se esforçar para combinar suas ideias para o bem comum; e se for descoberto, como indubitavelmente será, que nenhum acordo pode ser alcançado em alguns pontos, então deve-se evitar tais assuntos com tato até que o tempo tenha mudado um, o outro ou ambos. Deve haver um respeito mútuo pelos direitos de cada um e o naufrágio do interesse próprio pelo bem comum. Rezamos fervorosamente para que nossos jovens amigos aqui, que estão entrando nesta grande aventura, esforcem-se desde o início para viver a vida amorosa, que é tão essencial para criar um adequado ambiente doméstico para a criação dos filhos, que será um crédito para a comunidade.
Um deve carregar os fardos do outro. Jovem esposo, não limite seu interesse aos negócios ou ao escritório e implore para ser dispensado de compartilhar as preocupações inerentes ao cuidado de uma casa e dos filhos. Jovem esposa, não alimente a ideia de que seus problemas e provações no lar sejam primordiais e que seu marido não tenha preocupações em comparação com as suas. Lembre-se: esta é uma parceria em tudo e qualquer coisa. Tenha interesse inteligente no negócio dele; encoraje-o em suas ambições e o incentive a maiores esforços por meio da apreciação inteligente. Quanto mais vocês souberem dos assuntos um do outro, mais próxima será sua parceria, mais fácil vocês suportarão os fardos da vida e conseguirão fazer com que seu empreendimento matrimonial seja valioso. E todos nós oramos para que Deus possa dar Sua maior bênção a vocês dois e que essa união possa estar cheia de lições que os elevarão tanto fisicamente como moral, mental e espiritualmente na grande escola da vida.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de novembro/1917 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)
Já se escreveu e falou sobre a natureza autossacrificadora do serviço amoroso à humanidade que os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental expõem. Sacrifício de interesses, desejos, objetivos, tempo e, às vezes, até da saúde pessoal são requisitos para o desempenho de tal serviço.
Entretanto, quem de nós considerou alguma vez o sacrifício do medo a esse respeito? Na verdade, percebemos que devemos aprender a superar o medo físico — medo do fogo, das alturas, de doenças e outros desse tipo. Isso é bastante simples de se compreender e certamente necessário, se o nosso serviço a outra pessoa tiver que ser aperfeiçoado.
De fato, o medo é o maior obstáculo que o Auxiliar Invisível consciente (aquele ser humano que já possui um Corpo-Alma suficientemente desenvolvido que lhe fornece a capacidade de trabalhar, fora do seu Corpo Denso e normalmente à noite, conscientemente nos Mundos suprafísicos) deve aprender a suplantar. Antes que ele possa trabalhar e ser bem-sucedido no Mundo do Desejo, deve estar plenamente convencido de que nem o fogo, nem a água, nem quaisquer outros objetos ou entidades têm força para molestá-lo. Destarte, a vitória sobre esse tipo de medo, no plano físico, é um prelúdio importante para que consigamos nos tornar um Auxiliar Invisível consciente.
Existe outra espécie de medo, contudo, muitas vezes não reconhecido como tal. Trata-se do medo de nos projetar diante dos outros ou nos expormos às suas apreciações críticas, medo esse talvez mais conhecido como acanhamento ou timidez. Existem, certamente, graus de timidez, e a maior parte das pessoas tem momentos nos quais preferiria que ninguém se apercebesse delas ou que pudessem evitá-las, desempenhando uma tarefa que não as expusesse diante dos olhos do público.
Existem algumas pessoas, todavia — e talvez em maior número do que geralmente se crê —, as quais o exame por parte do público, seja ele em relação ao que for, tanto por parte de três pessoas sentadas em uma sala quando nela se adentra ou da parte de um auditório completamente tomado por espectadores ansiosos, consiste em uma agonia completa. Essas pessoas, muitas das quais talentosas e que poderiam trazer contribuições construtivas à melhoria do gênero humano, fogem das oportunidades de “deixar as suas luzes brilharem”, simplesmente porque são muito temerosas de se erguerem diante de outras e tornar conhecidos os seus pontos de vista ou, por seus próprios meios, tornar os seus talentos conhecidos.
A timidez nada mais é do que a falta de autoconfiança. “O que eles estão pensando a meu respeito?” ou “O que eles irão dizer?” é o tipo de pensamento que, consciente ou inconscientemente, predomina na Mente de uma pessoa tímida. Todo ato público seu é cercado por uma muralha de autodúvida, hesitação e desejo de terminar o quanto antes o serviço e desaparecer. Como resultado, muitas vezes o trabalho é mal executado e os circunstantes de fato pensam coisas negativas sobre o seu realizador. Caso ele estivesse à vontade e trabalhasse bem, aconteceria justamente o oposto. E todo o episódio consiste em uma perda de tempo e de energia e serve apenas para criar vibrações desagradáveis que perpetuarão aquilo que teria sido melhor não fazer.
Por quê? Tudo porque a essa pessoa faltou confiança em si mesma.
Como sabemos muito bem, cada um de nós tem a centelha do Divino dentro de si. Quanto mais permitirmos que essa centelha nos penetre e governe as nossas ações, tanto mais razão teremos para termos autoconfiança. De certa forma, pode-se até mesmo dizer que a timidez consiste em uma blasfêmia porque nega essa centelha Divina, a qual, se lhe fosse dada uma oportunidade, melhoraria nossas ações e nossas imagens.
Vista de outro ângulo, a timidez consiste em uma forma pervertida de autoindulgência e presunção. A maior parte de nós concordaria que os que não tenham paciência com os pontos de vista ou paixões de outras pessoas são egocêntricos. O extremo oposto, a timidez, é outra forma desse mesmo egocentrismo. Ao invés de se concentrar no que poderia fazer em proveito de outrem, de quem tanto receia, a pessoa tímida concentra-se muitas vezes no que poderia fazer para evitar a execução de algo, escapando assim de ser notada. Pensa totalmente em si própria da mesma maneira com que um presunçoso faz.
A pessoa tímida, portanto, deplora o dedicar-se ao serviço amoroso não menos do que a egocêntrica e egoísta o faz, embora possa não perceber isso e mais do que provavelmente não tencione isso. Frequentemente, uma pessoa tímida tem um desejo ardente de se mostrar prestativa, mas é muito receosa das opiniões de outras pessoas, do mesmo modo que muitas que experimentam um medo físico se ofereceriam em momentos de perigo, caso não fossem tão medrosas em relação ao próprio perigo.
Conta-se que Max Heindel estava caminhando pela área de Mount Ecclesia, a alguns passos de uma jovem que fora destacada para fazer uma apresentação em um serviço da Pro-Ecclesia. Ela se queixava a seu amigo de que não desejasse apresentar — porque se sentia tímida para isso. Max Heindel, tendo ouvido isso casualmente, disse-lhe: “Minha cara, caso você não deseje apresentar na Pro-Ecclesia, não o faça. Esse tipo de serviço você não faria bem com semelhante estado de ânimo”.
Isso ilustra o ponto verdadeiramente importante de que o “serviço” que for relutado de um modo ou outro, até mesmo em virtude de timidez, não será um serviço na acepção dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental. Seria, entretanto, um exercício fútil, em maior ou menor grau que, na melhor das hipóteses, permitiria obter uma fração do que poderia ser obtido e, no pior dos casos, criaria uma condição completamente oposta àquela visada de início.
Realmente, é muito fácil dizer que a pessoa tímida necessita unicamente esquecer o seu medo de outras, concentrar-se na centelha Divina dentro de si e usá-la da maneira melhor em aplicações de benemerência; a timidez, então, se desvaneceria na alegria do serviço “auto-esquecedor”.
É o que realmente acontece. Mas, não é coisa fácil de se realizar. Não é mais fácil conquistar a timidez do que conquistar o medo do fogo, a claustrofobia ou quaisquer medos físicos que dominam nas vidas de qualquer um de nós.
Todavia, aqueles que forem tímidos devem vencer esse temor e, do mesmo modo que muitos outros anteriormente, poderão juntar-se às fileiras dos serviçais altruístas, os trabalhadores do Reino de Cristo. A conquista da autoconfiança demanda tempo e é feita em pequenas etapas; para isso, haverá muitos momentos de “exposição pública” tão amedrontadoras à pessoa tímida como uma exposição a um perigo físico. Ela muitas vezes cometerá erros — e quem não os comete? — e poderá, sem dúvida, passar por momentos nos quais todos os seus temores de ser ridicularizada ou escarnecida serão justificados. Mas, conhecerá também momentos de extrema satisfação, quando descobrir que poderá atuar diante da apreciação do público de modo tão satisfatório quanto outra pessoa qualquer e terá tanta possibilidade de ser ouvida e respeitada quanto aqueles indivíduos salientes os quais vinha até então invejando.
Em tempo e com persistência, perceberá com alegria que superou — sacrificou — o seu medo e pode, a partir daí, utilizar inteiramente as suas capacidades de servir.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de abril/1974-Fraternidade Rosacruz-SP)
Existem algumas palavras-chave nos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental – os Ensinamentos Rosacruzes –, de função bem definida em relação às aspirações do Mundo Ocidental, tais como: panaceia, cosmos, arquétipo, Ecclesia, Epigênese, hierofante, neófito, mistério, misticismo, etc.
A filosofia e mitologia grega, pré-cristã, criaram estas palavras para atender ao significado mais profundo de certas atividades e realizações em suas escolas de mistérios, durante um dos períodos mais gloriosos da História humana – que fora a Idade Áurea. Os criadores destes termos simbólicos foram: Sócrates, Platão, Aristóteles, Pitágoras, Hipócrates e outros iluminados da Grécia antiga.
O Estudante Rosacruz está familiarizado com esses vocábulos, mas, frequentemente, passa por cima do significado mais profundo ou porque não presta a devida atenção, ou porque não compreendeu, ainda, a diferença que isso faz para a perfeita assimilação dos seus estudos.
Ao compulsar o sentido etimológico podemos desvelar significados mais sutis, convertendo-os em símbolos vivos e imagens pulsantes do pensamento ocidental.
Deles, o que, talvez, encerre maior significado é a palavra – e o conceito que há no seus significado – PANACEIA aplicada nos Ensinamentos Rosacruzes.
Na Filosofia Rosacruz há três pedras angulares: curar, servir e propagar. Sobre elas os Irmãos Maiores edificaram seu trabalho em benefício do mundo. Ora, panaceia exprime a atividade de cura!
Em seu simbolismo, panaceia expressa a aspiração e o desvelo da Fraternidade Rosacruz no desenvolvimento da arte de curar pelo Método Rosacruz, a Cura Rosacruz.
O dicionário define panaceia como um remédio universal, pois pode curar todas as enfermidades e doenças.
No grego, panakeias é um vocábulo composto: Pana (todo ou pão) e o verbo akeistar (curar). Literalmente: o “pão da cura”, ou seja, o remédio com a fórmula para tudo curar: mental, moral ou fisicamente.
Na mitologia grega Panaceia e Higéia (saúde) eram irmãs, filhas de Asklêpios (em latim Asculapius, em português Esculápio) – o deus da cura. Por sua vez, Esculápio era filho de Apolo (Sol, vitalidade, luz) – o grande médico.
Desde tempos imemoriais havia Templos de Cura. Na Grécia eram dedicados a Asclépio, o deus da cura. Seus sacerdotes compunham grupos de curadores especializados, devotos e espirituais. Praticavam a medicina em o sagrado recinto de cura (asklepión).
Sob configurações astrais favoráveis (pois aliavam os conhecimentos de Astrologia), os enfermos eram levados a esse lugar santo (asklepión) onde, em cerimônia religiosa, tomavam tabletes, espécie de hóstia sagrada deixada pelos ex-pacientes agradecidos, após sua cura, na elevação de sua fé ao deus da cura.
Depois deste serviço religioso, os enfermos eram deixados no recinto sagrado a dormir. Durante o sono, os sacerdotes lhes ministravam os remédios – a panaceia – por meios conjuros (ritual especial) e encantamento, regidos por Higéia e Asclépio. Por este meio de cura, muitos pacientes ao despertar na manhã seguinte estavam completamente curados, tal como relatam os manuscritos da época.
Esse ritual é tecnicamente conhecido como “incubação” (em grego epoas, que quer dizer empolar ou deitar-se sobre ovos).
Há grande semelhança entre o templo grego de cura (asklépión) e a arte de Cura Rosacruz. Os dois empregam o método de ajuda espiritual, da Escola Ocidental de Mistérios; ambos ajudam a humanidade a alcançar a saúde do corpo pela combinação da panaceia espiritual e dos meios físicos. É a ação do Grande Curador, aproveitada pelos conhecimentos de Astroterapia e auxiliada pela dieta alimentar adequada, exercícios, preparo mental e emocional, etc.
Quando aprofundamos o significado de Higéia (saúde) e Astroterapia, do ponto de vista Rosacruz, compreendemos por que Max Heindel definiu: “há saúde física apenas quando os órgãos trabalham em perfeita ordem e harmonia”. Quando um órgão diminui sua função, provoca desequilíbrio na harmonia do conjunto e surge a enfermidade ou a doença.
A enfermidade ou a doença se prolonga por causa dos abusos e da ignorância. Se o paciente sabe aproveitar as configurações astrais favoráveis e colabora com o Departamento de Cura de um Centro Rosacruz que o possua, cumprindo sinceramente sua parte, então a panaceia lhe é aplicada, coroando seus esforços de viver segundo as Leis da Natureza, que são as Leis de Deus. Diz Max Heindel: “A panaceia faz com que a substância concentrada da Vida de Cristo flua através do Corpo Denso e do Corpo Vital do paciente, dando a cada célula um ritmo que desperta o Ego preso em sua letargia, devolvendo-lhe vigor e saúde”.
Em que consiste essa panaceia? Como pode ela nos beneficiar?
Max Heindel nos relata o que pôde constatar, quando visitou pela primeira vez o Centro Espiritual da Ordem Rosacruz: “É uma visão inolvidável! Ao penetrar no Templo, vi três esferas suspensas no teto, no meio do salão. Na esfera superior observei um pequeno recipiente com vários pacotes cheios de substância do Espírito Universal. Os Irmãos sentaram-se numa certa posição, enquanto a música preparava o ambiente”.
Inesperadamente as três esferas começaram a brilhar com as três cores primárias: a de cima, azul; a do meio, amarelo; a de baixo, vermelho.
Durante esse encantamento, cheio de beleza, reparei que o recipiente dos pacotes se iluminou de uma essência espiritual. Vi como os Irmãos tomaram essa substância, aplicando-a aos pacientes adormecidos, à medida que os visitavam à noite”.
Continua Max Heindel: “Quanto ao efeito da panaceia, é maravilhoso! Quando aquela substância dos pacotes (panaceia) era aplicada, irradiava-se pelo Corpo do paciente como uma luz mágica, destruindo toda matéria cristalizada que cobria os centros espirituais do Corpo enfermo. A cura era instantânea e o paciente despertava são na manhã seguinte”.
A Astroterapia, à parte da Astrodiagnose e do prognóstico pelos Astros, tem sido de grande importância na medicina de todos os tempos. Pelas Progressões e pelos Trânsitos dos Astros, aplicados a cada enfermo, o profissional de saúde, que utiliza a Astroterapia, pode chegar a conclusões importantes e prevenir crises que se anunciam. Talvez não haja ciência mais estreitamente unida a medicina que a Astroterapia.
A Astrodiagnose, por exemplo, tem sido de uma importância capital na arte de curar. Era o método de diagnóstico que os profissionais da saúde da antiguidade utilizava e constitui um auxiliar precioso aos profissionais da saúde de hoje. No Departamento de Cura de um Centro Rosacruz que o possua é o método básico de diagnóstico. Max Heindel considerava a Astrologia mais importante que a clarividência, porque, baseada na Lei Cósmica, é muito mais rápida, exata e ampla.
Voltando à palavra panaceia, observemos que ela esteve presente no juramento hipocrático, que se estendeu por quase vinte e cinco séculos como guia de ética na profissão “médica”. Tal juramento se inicia com essa invocação: “Juro, pelo médico Apolo, por Asklépios, por Higéia e por Panaceia, etc. etc.”. Hipócrates viveu no século quinto A.C. e é conhecido como o “Pai da Medicina”. Era um Ego avançado, devotado à arte de curar, com grande amor à humanidade. Ele combinava os esforços e contribuições da medicina e da física com poderes espirituais em suas práticas de cura, porque sabia que a enfermidade é, ao mesmo tempo, física e mental. Daí tratar do paciente como um todo: Corpo, Mente e Espírito. Seu tratamento incluía medicina, dieta, massagens, exercícios, estudos e práticas espirituais. Só mesmo quando tudo isto não resultava eficaz recorria à cirurgia.
Hipócrates fez da medicina uma ciência. Não só definiu as funções do “Sacerdote” e do “Médico”, combinando sua contribuição, como também destacou a medicina da filosofia.
Atribuem-lhe muitos aforismos famosos, tais como:
“Onde há amor, há humanidade”. “Não há arte de cura sem amor”.
“Nenhuma enfermidade é só divina ou só humana; todas têm sua própria natureza; cada pessoa apresenta sua própria causa. Assim, nenhuma enfermidade se produz sem causa natural”.
Deste último a medicina moderna adaptou o asserto: “Não há doenças; há doentes”.
Hipócrates ensinou que a natureza é a grande curadora.
Antes de Hipócrates, os métodos gregos de cura estavam em sua infância e tinham caráter mágico-religioso. No tempo de Hipócrates assumiram feição médico-filosófica, levando em conta todos os fatores que pudessem favorecer a cura. Com o tempo, reduziram-se a uma ciência natural, mais especulativa, limitada aos próprios recursos e reduzida em sua eficácia.
Notem no método de Cura Rosacruz: muitas pessoas podem testemunhar a eficiência da panaceia espiritual; seus efeitos são evidentes, mas não podem ser confirmados cientificamente, senão por comparação entre o estado anterior e posterior do paciente. Quer dizer: não se pode explicar praticamente.
A medicina, ao contrário, dá explicações teóricas para quase tudo, sendo mais facilmente aceita por aqueles que desejam evidências.
No entanto, o que vale é o resultado, mais completo e eficaz, de vez que abrange o ser humano integral, consolidando a harmonia física, emocional e mental sem os inconvenientes tóxicos.
O método de Cura Rosacruz foi transmitido a Max Heindel pelos Irmãos Maiores e se baseia nos mais puros princípios da medicina natural, combinados com métodos espirituais de harmonização emocional e mental. Concilia, pois, os diversos aspectos: panaceia espiritual, Astroterapia, dieta, homeopatia, osteopatia, tratamento quiroprático, etc.
O conceito Rosacruz de enfermidade e doença, tal como se depreende da filosofia exposta por Max Heindel, deseja contribuir para que a medicina seja restituída a seu lugar exato, deixando seu limitado campo de experiência e combine todos os fatores solicitados pelo ser integral.
Em tal sentido, Max Heindel construiu, em Mount Ecclesia, um Sanatorium ou Sanitarium (“casa para curar”), onde aplicava todos os recursos na recuperação completa dos enfermos.
Em seu livro “Cartas aos Estudantes”, Carta nº 6, de junho de 1911, último parágrafo, diz Max Heindel: “Denominamos Mount Ecclesia a este maravilhoso recanto da natureza. Iniciamos um fundo para construção de um edifício adequado, uma Escola de Cura, um Sanatorium ou Sanitarium e, por fim, um Templo de Cura, uma Ecclesia onde seja possível preparar a panaceia espiritual, que será aplicada pelos auxiliares devidamente capacitados, aos enfermos que, no mundo inteiro, nos solicitar ajuda”.
Não pode realizar esse objetivo. Durante toda a sua vida o desejou, lamentando não haver encontrado meios para realizá-lo, conforme exprime na Carta n.º 24, de novembro de 1912.
No entanto, formou-se um competente Departamento de Cura, com recursos astrológicos utilizando a Astrologia Rosacruz, orientação sobre medicina natural (higiene, alimentação, tratamento, etc.) que tem atendido eficazmente a todo o mundo, membro ou não, logrando resultados auspiciosos.
O sonho de Max Heindel permanece como ideal embrionário, uma aspiração germinal. O que se realiza apenas no Templo etérico da Ordem Rosacruz será realidade em muitos núcleos futuros, quando houver pessoas devidamente preparadas.
Os gritos de dor e angústia da humanidade carente, chegam à Mount Ecclesia, pelas milhares de cartas endereçadas ao Departamento de Cura e em todos os Centros Rosacruzes no mundo que também possuem um Departamento de Cura. De toda maneira, a ânsia concentrada dos enfermos, sua esperança em um método mais completo, estão criando condições para que os Irmãos Maiores realizem seu ideal de cura, por meio dos homens e das mulheres de boa vontade, sensíveis a esse sofrimento.
Max Heindel estava seguro de que um dia os Centros de Cura se estabelecerão sobre linhas científicas, explicando os recursos espirituais que emprega. Em um futuro não muito distante teremos Discípulos bem qualificados, movidos pelo amor altruísta, dignos de receberem e encaminharem a panaceia, aos lugares de cura estabelecidos com esse propósito.
Ele nos encarece fazermos todo o possível para manter a unidade de esforço, no intento de curar. Insiste sobre a importância de realizarmos, com todo o amor, as Reuniões semanais de Cura, apesar de não podermos contar o mecanismo de ação. Aconselha o estudo dos recursos naturais e da Astrologia Rosacruz médica, para sermos úteis a nossos semelhantes. Sobretudo nas Reuniões de Cura geram a panaceia, para os Auxiliares Invisíveis realizarem amplamente sua tarefa.
Era firme crença de Max Heindel: “Qualquer movimento, incluindo a Fraternidade Rosacruz, deve reunir os três atributos divinos: ‘Sabedoria, Fortaleza e Beleza’, para que cresça e perdure. Esses três atributos geraram a Ciência, a Religião e a Arte. Igualmente, cada Estudante Rosacruz deve empenhar-se para conquistar e desenvolver em si estes três atributos, até certo grau, aplicando-os no trabalho de conjunto, para que a Fraternidade Rosacruz realize o que os Irmãos Maiores planejaram. Estudantes que são profissionais de saúde devem procurar a conciliação dos recursos espirituais de cura (panaceia e recursos auxiliares, que atendam ao ser integral) com os descobrimentos da ciência moderna, que dê um caráter científico-espiritual ao Serviço de Cura, tal como está previsto para a Era de Aquário”.
A tarefa é extremamente difícil, tendo em vista a resistência acadêmica, o materialismo e os interesses em jogo. Entretanto, cabe a cada um de nós realizar aos poucos esta sublime aspiração.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de novembro/1976-Fraternidade Rosacruz-SP)
Os Planetas giram ao redor do Sol ano após ano, século após século, com precisão invariável, mas eles têm alguma variação. Dentro do curso prescrito, cada um pode variar um certo número de graus no espaço e o mesmo acontece na vida do ser humano. Os grandes eventos, o nascimento e a morte, são incidentes inevitáveis na vida aqui de cada um de nós, vida que nunca acaba e nunca começa. Como Sir Edwin Arnold diz.
Nunca o Espírito nasceu,
Nunca o Espírito deixará de existir.
Nunca houve tempo em que não existisse.
Fim e começo são sonhos.
Sem nascimento e sem morte
Permanece o Espírito para sempre.
A morte não o tocou em coisa alguma.
Embora a casa pareça morta…
Não! Ele apenas deita
Seu manto gasto
E tomando um novo diz:
Este eu vou usar hoje!
Então coloca o Espírito
Sua vestimenta de carne
E principia a herdar
Outra residência.
Embora certos eventos devam acontecer a todos os seres humanos, há alguma variação na vida, um livre-arbítrio que podemos exercer a fim de moldar nossas vidas como desejamos e trabalhar o destino para nós mesmos à nossa própria maneira. Isso é bem afirmado, como podemos ver nos versos abaixo:
Um navio navega para o leste e outro, para o oeste,
Com o mesmo vento que sopra.
É o sistema de velas e não o vento,
Isso é o que determina o caminho que segue o navio.
Como os ventos do mar são os caminhos do destino
Enquanto viajamos pela vida,
É o ato da alma que determina o objetivo
E não a calma ou o conflito.
Existe um propósito geral na vida e somos guiados por um caminho amplo e determinado que é denominado Caminho da Evolução pelas Hierarquias Criadoras, também chamadas de Hierarquias Zodiacais. Temos a liberdade de escolher nossos cursos individuais nessa estrada larga e não é por acaso, portanto, que alguns de nós conhecem, estudam, vivenciam, desenvolvem-se e promovem os Ensinamentos Rosacruzes como preconizados pela Fraternidade Rosacruz. O Sol, pelo seu movimento de Precessão dos Equinócios, agora está se aproximando da cúspide de Aquário e uma Nova Era começará em breve. Novas características nas pessoas estão para aflorar em seus novos Renascimentos.
É nossa missão guiar o trabalho do mundo ao longo de caminhos novos e mais elevados — para promover novos ideais, para que possamos entrar na próxima espiral da evolução. Afinal, a Fraternidade Rosacruz é o arauto da Era de Aquário.
Na antiga Época Atlante, quando a Época Ária ainda não tinha chegada, Deus, por meio de Seus profetas, falou ao povo em quem viu certas qualidades que poderiam ser aproveitadas: “Saia do meio deles e seja meu povo; Eu serei o seu Deus e lhe darei uma terra onde transborda leite e mel; a sua semente será tão numerosa como as areias da praia”[1].
Essa chamada soa hoje, mas dentro do peito de cada indivíduo. Muitas pessoas estão elaborando seus destinos como desejado pelas Hierarquias Criadoras, pela atração causada pela ilusão do ouro que concebem ser uma recompensa por seu trabalho. Há um número crescente de pessoas, no entanto, cujo discernimento interior tornou claro para elas que trabalhar por uma recompensa material, na forma de ouro é loucura. Essas pessoas agora ouvem o chamado em seus corações: “Saia do meio deles e seja meu povo; Eu serei o seu Deus”. Embora ainda possam continuar a cumprir seus deveres no mundo, doravante não será por causa do ouro material, que eles sabem ser verdadeiramente inútil, mas por Deus, independentemente de uma recompensa material que esteja além das necessidades com as quais manter o corpo e a alma juntos. Assim, eles servem na “vinha do Cristo” e acumulam, quer pensem nisso ou não, uma recompensa espiritual, um tesouro no Céu que é maior do que o ouro terreno.
É com esse propósito que nos reunimos em Mount Ecclesia, na Fraternidade Rosacruz. Não estamos aqui para viver uma vida de ociosidade, sonhando, mas para preparar e endireitar o caminho da Era de Aquário, que está despontando no mundo. Para fazer isso com eficiência devemos trabalhar como uma unidade, em paz e harmonia.
Você já viu o cadinho em que um profissional derrete o metal, como por exemplo, o chumbo? Vários pedaços de chumbo são colocados no cadinho, mas gradualmente perdem sua forma distinta e separada para se fundir em uníssono com os outros, até que todos se tornem um. Ainda assim, há em cada peça alguma escória que não derrete nem é incorporada ao metal; é jogada para cima pelo calor e o profissional a remove até que o metal esteja limpo — tão claro que ele possa ver seu próprio rosto ali. Da mesma forma, na Fraternidade Rosacruz somos muitas formas distintas e separadas, cada uma com suas próprias características e idiossincrasias. Fomos jogados no caldeirão. Todos devem “afundar” sua Personalidade na causa comum, se quisermos ter sucesso em nosso trabalho de divulgação dos Ensinamentos dos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz e na preparação do caminho para a Nova Era. Pode não ser fácil para nenhum de nós esquecer-se de si mesmo, mas pelo calor e fricção que são gerados nesse processo de amálgama as arestas agudas são arredondadas e derretidas para que nos ajustemos a nossos irmãos e a nossas irmãs.
Adaptabilidade é a grande palavra de ordem; sem isso não podemos amalgamar; contudo, devemos esperar ser descartados como a escória do caldeirão; enquanto os nossos corações não forem perfeitamente purificados para que a face de Deus seja vista neles, Ele não poderá fazer o melhor uso de nós em Sua obra.
Portanto, que nos esforcemos dia a dia para trabalhar seriamente e honestamente na “vinha do Cristo”, onde quer que estejamos colocados, lembrando o grande e glorioso destino que está diante de nós. Vamos considerar todas as tribulações atuais como indignas de serem mencionadas. Embora possamos ser mal compreendidos pelos amados que estão próximos a nós e até ser desprezados por quem pensa unicamente em acumular o ouro que se deve largar às portas da morte, voltemos os nossos rostos para a meta do nosso chamado e trabalhemos fielmente pelos tesouros espirituais, que perduram para sempre.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de April/1916 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)
[1] N.T.: Gn 24:6
Resposta: No que se refere aos Irmãos Maiores, eles possuem um corpo material exatamente como você e eu, e vivem numa casa que pode ser descrita como uma casa que pertence a uma pessoa próspera, mas não exibicionista. Parecem ocupar funções de destaque na comunidade onde vivem, mas essas posições são apenas um pretexto para justificar sua presença e não criar dúvidas quanto ao que eles representam ou quem são ou, ainda, para que não se note nada de extraordinário a seu respeito. Externa, internamente e através desta casa há o que pode ser chamado o Templo. Ele é etérico e é diferente das nossas construções comuns. Pode ser comparado à atmosfera áurica que circunda nossa Pro-Ecclesia em Mount Ecclesia, que é etérica e muito maior que a construção física.
A descrição oral de Manson[1] a respeito da igreja espiritual construída por ele, fornece uma ideia do que são tais estruturas. Elas envolvem totalmente os edifícios e as igrejas onde se reúnem pessoas de grande espiritualidade e, naturalmente, diferem em cores. Esse Templo Rosacruz é superlativo e não pode ser comparado a nenhum outro e a nenhuma outra coisa; ele envolve e permeia a casa onde vivem os Irmãos Maiores. A casa é tão permeada de espiritualidade que a maioria das pessoas não se sentiria muito confortável lá. E os Irmãos Leigos e as Irmãs Leigas têm um corpo material? Certamente. O autor[2] não é muito etérico e pode servir como uma ilustração da média.
(Pergunta nº 134 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. II – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
[1] N.T.: É um personagem do Livro The Servant in the House (1908), do escritor anglo-americano Charles Rann Kennedy (1871-1950).
[2] N.T.: Lembrando: Max Heindel é um Irmão Leigo, que alcançou a 5ª Iniciação Menor.
Novembro de 1912
Fez um ano em 28 de outubro de 1912 que começamos a obra para a construção do primeiro edifício em Mount Ecclesia. Foi um glorioso e ensolarado dia típico na California, com um céu sem nuvens e cujo azul intenso rivalizava com o azul marinho do Oceano Pacífico que, dos terrenos da Sede Central onde estávamos, podia ser visto além de cento e cinquenta quilômetros. Éramos um pequeno grupo de nove, a maioria visitantes. Ao olharmos a leste, para o encantador vale verde de San Luis Rey[1] em direção às grandes montanhas cobertas de neve, e ao contemplarmos as paredes brancas, os telhados vermelhos e a cúpula dourada da Missão Católica de São Luis Rey[2], onde os padres franciscanos tanto trabalharam e ensinaram mexicanos e indígenas durante séculos, pareceu-nos de bom augúrio.
Aqui estávamos nós, uns poucos entusiastas, sobre um pedaço de terra baldia onde aspirávamos fundar um Centro Espiritual. Aqueles antigos padres tinham se encontrado em uma situação parecida, melhor em alguns casos e pior noutros. Os meios de locomoção e transportes modernos nos permitem chegar hoje a todas as partes do mundo, enquanto o campo de ação deles se achava, naquela época, limitado às proximidades imediatas. Viram-se obrigados a lavrar a terra, bem como a cuidar das almas do seu rebanho, para obter a sua subsistência. Pediram ajuda para o trabalho físico, enquanto planejavam, e por seus esforços conjuntos foi erguido um templo onde todos puderam orar e celebrar. Neste aspecto eles estiveram em melhores condições do que nós; todos os seus membros estavam presentes no local, prontos para ajudar fisicamente na edificação da Missão, que para eles era o que nossa Sede será para a Fraternidade Rosacruz. Mas, nós não temos pessoas a nossa disposição, não reivindicamos nenhuma autoridade e repudiamos a interferência na liberdade individual, pois tal interferência é diametralmente oposta aos Ensinamentos Rosacruzes, que são os mais elevados do mundo. “Se queres ser Cristo, ajuda-te a ti mesmo”, é o que se propõe desafiadoramente ao candidato que se submete à Iniciação quando ele geme ao peso da prova. Ninguém que for capaz de caminhar sem apoio ou consolação pode ser ao mesmo tempo um auxiliar; cada um deve aprender a caminhar sozinho.
A quantidade dos nossos Estudantes são hoje quatro vezes maior do que há um ano atrás e, claro, o trabalho é muito mais pesado – embora os procedimentos padronizados e a maquinaria possibilitem a três de nós, que trabalhamos nos escritórios, fazer o trabalho que exigiria muitos colaboradores, sendo que as tarefas caseiras e as de jardinagem são feitas por pessoas que pagamos. No entanto, o trabalho rotineiro constando da preparação das aulas e cartas dos vários cursos[3], a correção das lições desses cursos, o envio mensal de cerca de 1500 cartas individuais para ajudar nossos Estudantes Rosacruzes nas suas dificuldades, além das lições desses cursos, às vezes, nos sobrecarregam demais. Chega ao ponto de parecer que não poderíamos atender outro pedido por falta de ajuda para fazer a parte mecânica do trabalho. Mas, milagrosamente, parece que o céu de repente se abre, inventamos um novo método para realizar uma certa parte do trabalho com maior rapidez ou menor esforço; e estamos prontos para um novo crescimento; como dissemos, nós temos hoje quatro vezes mais trabalho do que há um ano, com menos ajuda e menos esforço.
Mas, enquanto a Fraternidade Rosacruz, em geral, está bem cuidada, a própria Sede foi um tanto descuidada. A pretendida Escola de Cura, o Estabelecimento que serviria para a preservação ou a recuperação da saúde – o nosso “Sanitarium” –, e o mais importante de tudo, a Ecclesia – onde a Panaceia deve ser preparada e onde os potentes e fervorosos Serviços de Cura devem espalhar a saúde moral e física por todo o mundo – tudo isso são apenas e ainda ideias germinais. À medida que o clamor da humanidade nos chega por meio de milhares de cartas, o nosso desejo pela realização dos planos dos Irmãos Maiores se torna mais intenso e, de fato, tão intenso que parece incorporar o anseio concentrado de todos os que apelam para nós por se encontrarem profundamente tristes, pesarosos e sofrendo.
A nossa Fraternidade Rosacruz já está espalhada por todo o mundo. Não podemos seguir o exemplo dos padres espanhóis e pedir aos nossos Estudantes Rosacruzes que façam tijolos físicos e os venham colocar, tijolo por tijolo, como um trabalho amoroso. Eu nunca pedi um centavo a ninguém – o trabalho da Fraternidade Rosacruz vem sendo inteiramente mantido por donativos voluntários e pela modesta receita financeira da venda dos meus livros. Nem posso, agora, fazer um apelo para obter fundos para a construção de um edifício; isto deve vir do coração dos amigos, se é que deve vir. Mas, sentindo, como estamos aqui na Sede, o intenso pulsar de dor no mundo, sou impelido a procurar os meios para realizar o plano de tornar a Sede da Fraternidade Rosacruz um Centro Espiritual mais eficiente.
Há um ano escrevi aos Estudantes Rosacruzes informando-os o momento exato em que iríamos começar a primeira construção em Mount Ecclesia, e pedi a cada um que entrasse nos seus aposentos e estivesse conosco em oração, se não pudesse estar conosco pessoalmente. É maravilhoso a elevação que sentimos como resultado desse esforço espiritual coletivo; o impulso inicial promoveu o trabalho em um grau inestimável durante o ano passado e, novamente, me sinto impelido a invocar a sua ajuda em linhas semelhantes.
O movimento Cientista Cristão[4] “demonstra” que quando deseja construir edifícios, e o dinheiro jorra em seus cofres; os Novo Pensador envia um “pedido” e Cristãos de todas as denominações “rezam” por fundos. Todos eles usam o mesmo método, mas empregam nomes diferentes. Todos querem colunas magníficas de pedras e vidros, e conseguem obtê-las. Eu sei que é necessário um lugar e um edifício apropriados à dignidade do nosso trabalho, mas, por mais que precisamos deles, não posso rezar por paus e pedras, nem posso pedir a vocês que o façam; mas posso, quero e peço a todos vocês que se unam comigo em oração para que a Sede da Fraternidade Rosacruz se torne um Centro Espiritual mais eficiente e poderoso. Orem, com toda a sua alma, para que os que trabalham na Sede alcancem a graça de levar esse trabalho adiante; torne-os um foco em seus pensamentos amorosos, para que possamos irradiar essa graça de volta ao mundo faminto por esse amor. Nós mesmos somos frágeis, mas por meio das suas orações e da Graça de Deus seremos uma força poderosa no mundo; e, se buscarmos primeiro o Reino de Deus, o restante, como os edifícios necessários ao nosso trabalho surgirão naturalmente, sem degradar a oração, tornando-a um meio para adquirir as posses materiais necessárias.
(Carta nº 24 do Livro Cartas aos Estudantes – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
[1] N.T.: Localizado na região hidrológica da costa sul da Califórnia, o Upper San Luis Rey Valley (anteriormente chamado San Luis Rey Valley) tem em torno de 8000 quilômetros quadrados de tamanho.
[2] N.T.: A Missão San Luis Rey de Francia (espanhol: Misión San Luis Rey de Francia), fundada em 1798, é uma antiga missão espanhola em San Luis Rey, um bairro de Oceanside, Califórnia. Foi a maior das missões californianas, juntamente com suas terras agrícolas circundantes.
[3] N.T.: Curso Preliminar de Filosofia Rosacruz, Curso Suplementar de Filosofia Rosacruz, Curso Elementar de Astrologia Rosacruz, Curso Superior de Astrologia Rosacruz, Curso Superior Suplementar de Astrologia Rosacruz e Curso dos Ensinamentos Bíblicos Rosacruz.
[4] N.T.: A Ciência Cristã é um conjunto de crenças e práticas associadas aos membros da Primeira Igreja de Cristo, Cientista. Os adeptos são comumente conhecidos como Cientistas Cristãos ou estudantes da Ciência Cristã, e a igreja às vezes é informalmente conhecida como a igreja da Ciência Cristã.
Agosto de 1915
Você já percebeu a razão pela qual Cristo determinou que deveríamos curar os doentes? Certamente, uma das razões foi que quando você tiver demonstrado que pode curar o corpo, aqueles que foram aliviados terão mais fé em sua capacidade de ajudar também a alma. Quando tivermos alcançado a elevada estatura de Cristo para que possamos ver ao mesmo tempo o passado e o presente; quando formos capazes de determinar, de relance, as causas, crises e o estágio atual de uma doença, não precisaremos de nenhuma outra ajuda tanto no diagnóstico como no aconselhamento. Porém, até lá devemos utilizar as muletas que temos, e a principal, entre elas, é a Astrologia.
Muitas pessoas que foram relutantes em trabalhar por resultados vieram para a Sede Central em Mount Ecclesia esperando obter iluminação espiritual, criar asas e retornar ao mundo como trabalhadores maravilhosos, depois de passar alguns dias aqui na Sede Central. E, naturalmente, eles ficaram desapontados. Mas, todas as vezes que alguém se aplicou honesta e seriamente ao trabalho real, não aos cursos, por um tempo razoável, obteve sempre bons resultados. Temos em mãos aqui uma carta de um amigo que ficou em Mount Ecclesia e que se dedicou com seriedade e honestidade aos seus estudos. Segue a sua experiência como estímulo para que outros possam fazer o mesmo:
“Queridos amigos: a proposição que eu esperava assumir, depois de minha estada em Mt. Ecclesia, acabou sendo um logro para as pessoas e nada consistente com nossos ideais e, por isso, apresentei meu desligamento. Tão logo desisti desse método, recebi um convite de um médico proeminente de Kansas City para trabalharmos juntos. Ele me encantou com a proposta como se estivesse tudo bem. Fomos literalmente atacados pelos pacientes. Sra. Heindel, é maravilhoso como as pessoas anseiam por algo dessa natureza; eles procuram alguém que lhes possa dar sentido a suas vidas, e eles tentam buscar estímulos de fontes que são mais dignas e confiáveis do que o duro e seco materialismo que é destruidor da vida.
“A Astrologia me ajudou extraordinariamente em obter a confiança deles; e graças ao auxílio de Deus, pelo fato de ter me enviado para cá, eu consegui diagnosticar corretamente as enfermidades deles e pude enviá-los para o tratamento. E o mais surpreendente é que nenhum deles me revelou sintoma algum. Localizei tanto a doença quanto os sintomas, e quase todos concordaram que eu estava certo e resolveram viver de acordo com os elevados princípios de masculinidade e feminilidade que lhes enunciei.
“Espero ter muito trabalho por aqui e quero agradecer a você o auxílio que recebi nesse sentido durante o ano que vivi em Mt. Ecclesia. Certamente, estou imensamente grato pela minha estada com você e estou muito ansioso em prestar um bom trabalho por aqui; só sinto não ter conseguido ficar mais tempo aí.”
O que uma pessoa faz, a outra também pode fazer. Sra. Heindel e eu não adquirimos nosso conhecimento nessa assunto sem esforço. Tivemos que trabalhar duramente para consegui-lo; e todos os demais que trabalharam tão arduamente com os mesmos ideais espirituais, a saber, ajudando na elevação da humanidade, também encontraram uma iluminação que não é dada àqueles que buscam as recompensas materiais da vida e o seu próprio engrandecimento. Parece-me que é tempo da Fraternidade Rosacruz despertar e divulgar este estudo seriamente, para que possam estabelecer Centros de Cura em todas as cidades do mundo.
Iniciamos um setor na revista[1] em que delineamos os horóscopos das crianças a fim de ajudar os pais a conhecer as características latentes de seus filhos. Existe, também, um curso por correspondência para principiantes, além do curso de Astrodiagnose e Astroterapia para Probacionistas, e aconselhamos a todos os que ainda não começaram tais cursos, que o façam.
(Carta nº 57 – do Livro “Cartas aos Estudantes” – Max Heindel-Fraternidade Rosacruz)
[1] N.T. Rays from the Rose Cross
Você já leu ou estudou a Ode à Imortalidade de William Wordsworth[1]? É maravilhoso como experiência da alma. Esse poema foi escrito parcialmente em 1803 e concluído em 1806, há mais de dois séculos; mas, como todas as coisas que valem a pena é sempre novo e aplicável. Sobre os sentimentos que o levaram a escrevê-lo, o autor diz: “Nada foi mais difícil para mim na infância do que admitir a noção da morte como um estado aplicável ao meu próprio ser”.
… Uma criança
Que apenas respire forte,
Enchendo-se de vigor,
Que sabe ela sobre a morte?
“Mas não foi tanto de sentimentos de vivacidade animal que a minha dificuldade veio, mas de uma sensação de indomabilidade do espírito dentro de mim… Muitas vezes era incapaz de pensar nas coisas externas como tendo uma existência externa e comungava com tudo o que via como algo não separado, mas inerente à minha própria natureza imaterial” …
“Aquela vivacidade e esplendor de sonho que investem os objetos e as vistas na infância, cada um, creio eu, se olhar para trás poderá testemunhar”.
“Nos últimos anos deplorei como todos nós temos razão para fazer uma subjugação de caráter oposto e me regozijei com as lembranças expressas nestas linhas”:
IX
(…) Mas, pelas questões obstinadas
De senso e coisas externadas
Distantes de nós, sublimadas;
Vagos temores da Criatura
Nos seguintes versos o autor dá suas ideias sobre a infância, a respeito dessa natureza agindo sobre ele.
I
Houve um tempo em que a relva, a fonte, o rio, a mata
E o horizonte se vestiam
De uma luz grata,
— Visto que assim me pareciam —,
E da opulência que nos sonhos é inata.
Hoje está sendo tal como foi outrora; —
Seja o que for, eu,
Na luz ou breu,
Eu não verei jamais o que se foi embora.
II
O arco-íris vai, vem,
E a rosa nos faz bem;
Alegre, a lua nota
Que o céu está completamente nu; à luz
De estrelas, a água brota
E é belo o que ela reproduz;
A aurora é sempre um nascimento;
E contudo, eu sei muito bem
Que a glória passou por nós em algum momento.
IV
(…), Mas uma, uma Árvore existe,
Uma Planície que em minh’alma inda persiste,
Lembrando o que se foi e hoje e me deixa triste:
E o Amor-Perfeito
Diz: Que foi feito
Do vislumbre visionário?
Dos sonhos? Do esplendor vário??
Acima estão os fatos que perturbam o poeta e as questões que as contemplações desses fatos geram. Com a verdadeira intuição de poeta, ele passa a explicar o assunto (versos 59 a 72):
V
Nosso nascer não passa de sono e de oblívio:
A Alma que nasce com nós, nosso Astro Vital,
Vive longe de onde vive o
Trajeto de seu fanal;
Não no esquecimento inteiro
Nem na nudez por inteiro,
Mas, arrastando nuvens de glória, viemos
De Deus — nele vivemos —:
É o Céu que a nós circunda e a nossa meninice!
As sombras da prisão começam a cobrir
O Menino que cresce;
Mas ele vê a luz, sabe aonde ela vai ir
E sabe que ela o acresce;
A Juventude, em sacerdócio à Natureza,
Viaja ao Leste numa empresa
Guiada pela
Visão mais bela;
E ao largo o Homem vê que sua vida acaba
E que na luz do hábito ela enfim desaba.
VI
A Terra enche o colo com prazeres seus;
A Terra possui ânsias que ela mesma mantém,
E, possuindo um algo maternal também,
E honesta em seu intuito,
A Terra, ama-de-leite, empenha-se
P’ra que o filho adotivo, a Humanidade, abstenha-se
De todos seus apogeus
E do que nele for trajetória e for muito.
VIII
Você, cujo semblante exterior desmente
Teu valor inerente;
Você, grande Filósofo, que mantém ainda
A herança; você, que é a Visão entre a cegueira,
Que, surdo e mudo, lê a profundeza infinda
Sempre assombrada pela mente altaneira, —
Ó Vidente! Ó Profeta!
Que a verdade afeta
E a quem nós procuramos de qualquer maneira,
Por toda a vida, presos no escuro da cova;
Você, sobre quem flui a Fonte da Existência
Que escraviza ao mesmo tempo que renova,
Algo impossível de se ignorar a presença;
A quem a cova
É cama solitária sem sentido ou luz
Do que lá fora luz,
Um lugar onde se descansa e onde se pensa;
Você, Criança, ainda ilustre na amplitude
Da aérea liberdade de tua atitude,
P’ra quê, com dores tão solenes, provocar
Os anos a te darem o que eles vão te dar,
Assim tão cega e santa imersa na batalha?
Não tarda e teu espírito cai no retardo
De uma rotina que imporá a ti um fardo
Que pese e quase como a vida se equivalha!
Não é de se admirar que Cristo disse: “a menos que se tornem como uma criança, de maneira nenhuma entrareis no Reino dos Céus”. Na verdade, as criancinhas ao nosso redor, que recentemente deixaram o Mundo Celeste, ainda têm esse estado agarrado a elas; elas estão real e verdadeiramente parcialmente no Céu. Para elas, toda a natureza externa parece fazer parte do seu próprio ser; não há uma compreensão nelas deste mundo e do que tudo isso significa. Sua gloriosa imaginação torna real tudo o que elas veem a seu respeito, da maneira que desejam.
Aqui em Mount Ecclesia esses fatos são apresentados a nós todos os dias por nosso pequeno e maravilhoso mascote, Herman Miller. “Poderoso Profeta! Vidente abençoado!” se aplica a ele em todos os detalhes; há para ele uma luz no mundo que não brilha para nenhum de nós e ele é uma fonte constante de admiração para todos aqui. De acordo com nosso conhecimento do fato de que o seu Corpo Vital ainda não foi formado e não será concluído até o sétimo ano de vida, não nos esforçamos para lhe ensinar coisa alguma, mas ele se interessa por muitas coisas curiosas, que lhe dão experiência e ensino; isso é mais do que poderia ser transmitido pelo esforço de enchê-lo com algo que já preparamos e que estamos fadados a enfiar em sua garganta, seja ele capaz de engolir ou não.
Esse método de enfiar informação nas crianças para torná-las precoces infelizmente resulta, muitas vezes, em atrofiamento para o resto da vida. Durante aqueles primeiros sete anos, a contraparte do Corpo Vital, que está, então, em processo de gestação (a saber, o Espírito de Vida), atua através da criança como uma imaginação poderosa e ensina pela intuição o que ela deve saber, de um modo muito mais eficiente do que nosso melhor currículo poderia ser.
Herman tem uma pequena carroça de quatro rodas com pedais que ele empurra e por vários meses ele a chamou de seu Ford; mas em agosto passado, quando uma família veio de North Yakima para Mount Ecclesia, Herman começou a ter novas ideias, observando o automóvel Overland do Sr. Swigart e andando nele, além de ter observado como se lubrificava e cuidava daquele automóvel. A primeira coisa que notou foi que era preciso encher os pneus. Imediatamente ele pegou de um dos jardineiros uma velha bomba que tinha sido usada para borrifar água nas flores do jardim. Seu “Ford” havia adquirido pneus imediatamente e agora era necessário enchê-los com frequência para que o “Ford” andasse melhor.
Ele tem a qualidade de “tempo musical” com perfeição e pode imitar quase qualquer som mecânico, entre outros o barulho de um motor à gasolina e é um verdadeiro prazer ouvi-lo ligar o motor. Primeiro, os ruídos espasmódicos e separados que imitam as primeiras explosões; depois, o estágio laborioso e lento da explosão; finalmente, conforme o motor ganha velocidade, as explosões tornam-se mais regulares, frequentes e menos trabalhosas; ele faz tudo com perfeição, de modo que quase se acreditaria que ele deu partida em um motor de verdade.
O automóvel Overland do Sr. Swigart tinha um arranque automático e luzes elétricas. Imediatamente Herman foi até Roy, nosso impressor e eletricista, e lhe pediu uma velha bateria elétrica. Isso ele instalou em seu “Ford”; além disso, ganhou uma lâmpada velha e queimada para fazer a luz elétrica, mais um fusível que seria a chave. Em seguida, seu “Ford” foi equipado com as melhorias mais recentes. Mas, aconteceu que o Sr. Swigart queimou o interruptor em uma viagem e imediatamente o “Ford” de Herman desenvolveu os mesmos sintomas. Ele começou a queimar o interruptor de sua partida elétrica regularmente; ele sempre foi, no entanto, capaz de consertar e fazer funcionar. Para todos os efeitos, no que lhe diz respeito, aquela pequena carroça é um carro moderno e de primeira classe, equipado com todas as melhorias modernas, no qual ele anda todos os dias. De manhã, ele sai apressado e pega seu “Ford” na garagem; então ele caminha para o refeitório; ali ele para e toma seu café da manhã; em seguida, ele dá uma volta pelo terreno e, às vezes, o usa como um caminhão para recolher pedras para a Sra. Heindel, que ele então deposita em pilhas na esquina das estradas. Ao meio-dia ou à noite ele é sempre visto no refeitório com seu “Ford”, que fica do lado de fora, esperando por ele até que ele termine sua refeição.
Há apenas um problema em seu “Ford”; apenas um detalhe em que é inferior: não sobe colinas ou ladeiras. Outro dia ele conheceu o homem da garagem, que vinha levar alguns passageiros para o depósito. Esse homem estava intensamente interessado em sua ideia mecânica e deu-lhe um livro com fotos, mostrando as várias partes do motor. Ficamos muito surpresos outro dia, quando Herman apareceu e nos disse que agora ele conhecia tudo sobre motores; sabia como iniciá-los e gerenciá-los. Ele então nos mostrou na foto o que era a embreagem, o freio, o botão de arranque e o botão magneto. Em seguida, foi questionado sobre como ligaria a máquina; imediatamente disse que pressionaria o botão do magneto (ele sabia a diferença entre este botão e o da lâmpada), o botão de arranque, tiraria o pé do freio e soltaria a embreagem. Ele havia estudado todo o problema sozinho e certamente ficamos mais do que surpresos, pois ele estava certo em todos os detalhes.
Bem, é uma velha história a de que toda mãe pense que seu ganso seja um cisne. Nós, em Mount Ecclesia, certamente desejamos algo de Herman, quando ele crescer, e acreditamos que, ao deixá-lo passear pelos primeiros anos da sua vida sem treinamento sistemático algum, ao mesmo tempo respondendo a todas as suas muitas perguntas como responderíamos a uma pessoa adulta, tratando seus problemas com a mesma consideração séria que daríamos a um adulto, ele aprenderá a recorrer a essa maravilhosa fonte de imaginação e intuição, a contraparte do Corpo Vital, o Espírito de Vida, a imaginação e intuição agora cultivadas não o deixarão nos anos posteriores, mas o capacitarão a visualizar as coisas que ainda estão nos Mundo espirituais e trazê-las para o reino material, como fazem todos os inventores.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de fevereiro de 1916 e traduzido pelos irmãos e irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)
[1] N.T.: William Wordsworth (1770 – 1850) foi um dos maiores poetas e escritores do Romantismo inglês. Os trechos abaixo é do poema Ode: Intimations of Immortality. Uma das obras-primas de Wordsworth, a ode canta a compreensão comovente do narrador maduro de que a relação especial da infância com a natureza e a experiência se perdeu para sempre, embora a memória inconsciente desse estado de ser permanece uma fonte de sabedoria no mundo. O poema de 11 estrofes foi escrito no estilo da ode Pindárica irregular.
Segunda-feira, 6 de janeiro, às 8:25 da noite, o Sr. Max Heindel foi chamado para o além. Ele estava se sentindo muito bem até algumas horas antes, estava de pé em frente à mesa da Sra. Heindel esperando uma sugestão dela sobre uma carta que havia escrito. Ele caiu lentamente no chão com um golpe de apoplexia, enquanto sorria para ela, e não recuperou a consciência completa.
Seu falecimento não foi totalmente inesperado para a Sra. Heindel, conhecendo sua condição física há anos, e que sua grande persistência e vida pura possibilitaram que ele prolongasse sua permanência em um corpo que era pequeno demais para o grande espírito que havia sofrido por anos por causa de um ferimento no pé esquerdo quando criança, e maus-tratos dos médicos que retiraram todas as artérias principais e mutilaram o osso, atrapalhando a circulação perfeita. Mas ele estava sempre sorrindo, nunca reclamando, embora raramente estivesse livre da dor.
Ele estava muito feliz em sentir que agora o trabalho havia alcançado o estágio em que ele e a Sra. Heindel poderiam deixar Mount Ecclesia, que havia membros e trabalhadores fiéis à Fraternidade Rosacruz e eficientes que agora podiam cuidar do movimento Rosacruz em rápido crescimento, poderiam atender às solicitações de livros, também poderia cuidar das correspondências, etc. Enquanto muitos Probacionistas e Discípulos já estavam espalhando a mensagem dos Irmãos Maiores por meio das palestras e conferências, ele estava pensando em começar, no início de abril, uma viagem para o leste e para a Inglaterra, mas Deus tinha um trabalho maior para ele fazer.
(Publicado na Revista Rays from the Rosecross de março de 1919 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
O passamento de Max Heindel
Relato de Augusta Foss Heindel
“Sábado à tarde, dia 4 de janeiro, tínhamos a nossa celebração retardada de Ano Novo. Alguns de nossos amigos das cidades vizinhas estiveram presentes para celebrar conosco e a biblioteca estava cheia de rostos alegres. Nesta noite, Max Heindel era o mais animado de todos e cantou várias canções com sua profunda e melodiosa voz. Uma canção de que ele gostava muito era “Ben Bolt”. No domingo e na segunda-feira ele estava muito quieto e pensativo, trabalhando para organizar os seus papéis. Estava desejoso que a autora lhe fizesse companhia no seu escritório. No seu último dia de vida (6 de janeiro de 1919), por várias vezes pediu à autora, que se sentasse ao seu lado para conversar. Quando ela lhe respondia que não desejava atrapalhar o seu trabalho, ele respondia: “Mas eu gosto muito de tê-la por perto, adoro suas visitas.”. Alguns minutos depois das 16 horas ele entrou no escritório dela com uma carta que havia escrito ao agente postal. Tratava-se de um requerimento para o correio organizar um sistema de entrega diária para Mount Ecclesia. Ele sempre fazia questão de ouvir a opinião da autora sobre qualquer coisa que lhe ocupava a atenção.
Enquanto a Sra. Heindel lia aquela carta, ele permaneceu próximo a ela apoiando a mão na escrivaninha. De repente ele deslizou para o solo, caindo ao seu lado. Era uma queda estranha, pois parecia que mãos invisíveis cuidavam da sua queda, permitindo que deslizasse suavemente. Quando ela se debruçou sobre ele, suas últimas palavras foram: “Estou bem, querida”. Em seguida perdeu a consciência, sendo carregado para o quarto dele, adjacente aos escritórios. Os funcionários fizeram na Pró-Eclésia (capela) uma reunião de cura por ele. A autora permaneceu ao seu lado, e em torno das oito horas ele abriu os olhos, sorriu para ela, e partiu da sua morada terrestre para outra morada no lar de Deus.
O mais notável em torno da sua passagem foi que o seu veículo físico manteve sua aparência perfeita mesmo sem estar refrigerado (e naturalmente sem líquido de embalsamamento). Permaneceu tão natural durante três dias e meio que alguns amigos recearam que ele não estivesse morto. Suas bochechas mantiveram a cor que tinham quando ele ainda vivia. A autora havia decidido que, se não houvesse nenhuma mudança no estado do corpo até chegar ao crematório de San Diego, eles o guardariam por vários dias; mas isso não foi preciso, pois enquanto na Capela liam o ritual, Max Heindel apareceu à autora, para assegurar-lhe que tudo estava em ordem. O corpo foi então cremado e as cinzas jogadas nas raízes da roseira e nos pés da Cruz do Símbolo Rosacruz.
Alguns amigos levantaram a questão: “Não seria possível que Max Heindel estivesse ciente da sua morte próxima?” Durante várias semanas antes do acontecido, calculávamos juntos as Efemérides para o ano de 1920 e dividíamos os trabalhos: ele, calculando as longitudes e a autora as declinações. Porém, desta vez, Max Heindel começou a insistir com a autora para ela calculasse as Efemérides inteira. Um dia ela perguntou: “Querido, por que motivo você me está pedindo para fazer este trabalho sozinha? Você pensa que vai me deixar?”. E ele respondeu: “Não querida, eu só quero poder dizer às pessoas que você fez sozinha estas Efemérides toda. Quero que elas se orgulhem de você.”. Esta solicitude e a preparação cuidadosa continuou por várias semanas antes que fosse chamado. Todos os seus papeis estavam cuidadosamente ordenados. Dois meses antes de morrer, ele encontrou-se com seu advogado em San Diego para tratar de alguns documentos. Lá, sem mencionar que tinha essa intenção transferiu como doação, todos os direitos autorais, incluindo as gravuras, para o nome da autora. Em anos posteriores, este gesto foi de grande valia, pois significou a salvação de Mount Ecclesia e a continuidade do trabalho da Fraternidade Rosacruz.
Quando seu testamento foi analisado, constatou-se que o terreno tinha sido adquirido por ele antes que a Fraternidade fosse incorporada. Na escritura ele afirmou que tinha adquirido este terreno para a Fraternidade na condição de curador. Quando a escritura foi discutida e o testamento autenticado, o Juiz decidiu que, como não tinha havido incorporação na ocasião de autenticação do testamento, o terreno pertencia a Sra. Heindel e seus herdeiros.
O testamento foi aprovado em 1919, e em 1920 a autora doou as terras para a Fraternidade Rosacruz. Hoje a Fraternidade tem a posse legal de todos os cinquenta acres que compõem a Sede Central (Mount Ecclesia).
Sempre houve muita especulação em torno da continuidade dos trabalhos depois que Max Heindel e Augusta Heindel fossem para o grande além. Numerosos esforços foram feitos, com Max Heindel ainda vivo, para se ter o controle de todas as publicações como também da Fraternidade. E quando se perguntava a Max Heindel quem seria o líder em Mount Ecclesia quando o casal Heindel tivesse partido, a resposta dele sempre era a mesma: aqui não haverá líderes; o Conselho Diretor se encarregaria da direção de todo o trabalho que então estaria sob a sua responsabilidade direta.”.
Memoirs about Max Heindel and The Rosicrucian Fellowship