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Cristo Interno: o entendimento dessa verdade nos torna imperturbáveis aos embates do Mundo

Cristo Interno: o entendimento dessa verdade nos torna imperturbáveis aos embates do Mundo

Geralmente temos certas dificuldades, o que é natural, de entendermos as coisas exteriores em todos os seus detalhes. E, quando nos dirigimos para o interior delas, as dificuldades crescem em virtude da subtileza, pois caminhamos em busca da essência delas.

Na parte externa de uma semente, por exemplo, encontramos, apenas, uma casca mais ou menos espessa, que pode ser mole ou dura. É, porém, em sua parte interna que está a vida. Ali, portanto, é que está condensado no germe o potencial que gera, como todos sabemos, uma planta, desde as menores até as frondosas árvores. Localizam-se, estas, como acabamos de verificar, no interior da semente. A superfície da semente é como se fosse um véu, encobrindo ou tornando misteriosa a própria vida existente na semente.

Melhormente, entretanto, ocorre com o ser humano que, dentro da condição terrena, em escala ascendente, pertence, evolutivamente, ao quarto reino da Natureza. Olhando-o, o que vemos é seu veículo físico. Mesmo esse veículo, nossa visão o apanha externamente, de maneira superficial. Há órgãos no Corpo Denso ou físico que, para serem vistos, só por meio da cirurgia ou qualquer outro meio que os tornam visíveis. Mas, esse veículo é sólido, consistente, materialmente tocável, portanto. Por essa razão, pode a ciência oficial examiná-lo, diagnosticando algo. Porém, passando ao segundo veículo do ser humano, o Corpo Vital, que interpenetra o veículo físico, vitalizando-o, a referida ciência oficial pouco sabe. Desconhece, por exemplo, que o Éter é heterogêneo. A seguir, defrontamo-nos com o terceiro veículo do ser humano, o chamado Corpo de Desejos, que está muito além do campo de estudo da ciência oficial. Uma das disciplinas da filosofia, a psicologia, é que está ensaiando os primeiros passos. Por fim, temos a capacidade pensante do ser humano, a Mente, que nos dá a possibilidade de expressar o pensamento, analisar, deduzir, comparar, tirar conclusões. Embora tenhamos falado, até aqui, apenas nos veículos do ser humano, dá para perceber-se com nitidez, como é cheia de subtilezas a vida, misteriosa mesmo.

Esses veículos são, portanto, semelhantemente ao músico, os instrumentos que o Ego utiliza para executar a sinfonia da vida. Mas, o que vem a ser o Ego? É o Espírito Virginal com todos os atributos divinos, que, por entrosamento com as Hierarquias Criadoras, recebeu o despertar dos Espíritos Divino, de Vida e Humano, o tríplice aspecto de Deus, em si. E, assim, pode realizar a sua peregrinação através dos Mundos. Entretanto, atingindo o Mundo Físico chegou um ponto em que a humanidade tinha imprescindível necessidade de uma ajuda extra. Basta dizer que o número dos que conseguiam alcançar a Iniciação era reduzidíssimo. E, lembremos bem ter dito Cristo-Jesus que veio para salvar os perdidos. Disse ainda: “Estarei convosco até a consumação dos séculos“. Iniciou, então, no ano 33 da nossa era, o impulso evolutivo do interior para o exterior.

Cristo se tornou, desde então, o Regente da Terra, trabalhando dentro dela e espargindo para sua periferia, em todas as direções, Seu poderoso impulso de vida, altruísmo e amor a contagiar a flora, a fauna e, principalmente, os seres humanos. Antes de Seu advento, estávamos sob a influência de Jeová, que refletia, de forma indireta, de nossa Lua, o impulso espiritual que nos vinha do Sol. Cristo veio substituí-lo, dando-nos diretamente a Sua influência Solar

Trabalhando dentro do ser humano, em sua estada anual na Terra, durante todos os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, Ele vai estabelecendo o Reino do Amor e desenvolvendo, pelo altruísmo, no interior de cada ser humano, o segundo princípio de Ego dele, o Espírito de Vida, semelhante em natureza a Ele, Cristo. Desse modo, o Cristo Interno da Terra é uma Chispa do Cristo Cósmico, nosso Salvador. E o Cristo Interno do ser humano é o que se está formando com auxílio d’Ele.

Feliz de quem isso entende, pois, além de revelar ter compreendido a transformação evolutiva operada por Cristo em nosso Planeta, sente, dentro de si, o impulso de Sua Luz e Vida. E, como disse o evangelista São João, “A vida é a luz dos homens“.

O entendimento dessa verdade nos torna imperturbáveis aos embates do Mundo e já não nos deixamos afetar com as exterioridades.

(de Hélio de Paula Coimbra; publicado pela Revista Serviço Rosacruz de fevereiro de 1966)

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Pergunta: Como um Estudante Rosacruz estuda a Bíblia?

Como um Estudante Rosacruz estuda a Bíblia

A princípio, sempre nos lembremos que a “Bíblia foi nos dada pelos Anjos do Destino, que estando acima de todos os erros, dão a cada um e a todos o que necessitam para o seu desenvolvimento. Por conseguinte, se procurarmos a Luz, encontrá-la-emos na Bíblia”.

Quando se fala dos Mistérios Cristãos deve-se compreender que os quatro Evangelhos que encontramos na Bíblia não são exclusivamente relatos da vida de um único indivíduo, escritos por quatro pessoas diferentes, mas sim que são símbolos de Iniciações distintas. Cada um de nós atravessará algum dia os quatro períodos descritos nos quatro Evangelhos, porque cada um está desenvolvendo o espírito de Cristo no seu interior, o Cristo Interno. E ao dizer isso dos quatro Evangelhos, podemos aplicá-lo também a uma grande parte do Antigo Testamento que é, também, um maravilhoso livro de ocultismo, pois nos relembra o que fizemos naqueles tempos, bem como quantos irmãos e irmãs anteciparam o conhecimento que iria nos ser fornecido na plenitude via o Novo Testamento.

Quando colhemos batatas não esperamos encontrar somente batatas e nenhuma terra; tampouco, devemos esperar, ao nos aprofundarmos no livro chamado Bíblia, que cada palavra seja uma verdade oculta, porque como deve haver terra entre as batatas, assim também deve haver escória entre as verdades ocultas da Bíblia. Os quatro Evangelhos foram escritos de tal maneira que somente aqueles que têm o direito de saber podem descobrir o verdadeiro significado e compreender os fatos subjacentes. Do mesmo modo, no Antigo Testamento encontramos grandes verdades ocultas que se tornam lúcidas quando podemos olhar por detrás do véu.

Deve-se notar que as pessoas que originalmente escreveram a Bíblia não intentaram dar a verdade de uma maneira que todo aquele que quisesse, pudesse lê-la. Nada estava mais afastado de suas Mentes que escrever “um livro aberto sobre Deus”. Os grandes ocultistas que escreveram o Thorah são muito categóricos a esse respeito. Os segredos do Thorah não podiam ser compreendidos por todos. Cada palavra do Thorah tem um significado elevado e um mistério sublime. Muitas passagens estão veladas; outras devem ser entendidas literalmente; e ninguém que não possua a chave oculta pode decifrar as profundas verdades veladas naquilo que, amiúde, apresenta um feio revestimento.

(Publicado na Revista O Encontro Rosacruz – dezembro/1982)

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O Natal e Nós

O Natal e Nós

Novamente o Natal. Sempre os mesmos enfeites coloridos, as músicas, o movimento de compras, os presentes, as ceias, os sinos, os cumprimentos…

Porém, jamais nos encontramos iguais. O desenvolvimento e os frutos da última colheita nos acrescentaram “algo” ao íntimo, tornaram-nos um pouco mais amadurecidos animicamente. Portanto, o íntimo que vê, que discerne, que sente, que avalia, concebe um Natal um pouco mais profundo e ora até às lágrimas para que o doloroso parto se complete: o nascimento do Cristo Interno.

Quanta resistência ainda existe no mundo exterior e interior para o Reino prometido!

Herodes reage enciumado. Ele compreende que o Reino do Príncipe Salvador não é deste mundo, mas também não ignora que não pode servir e ser servido. Um será o regente e o outro, o servidor. E como São Paulo, nos embates da Iniciação, sente aumentar o conflito entre a matéria e o espírito, entre as trevas e a luz.

Procura-nos o ponto sensível, o “calcanhar de Aquiles”, o ponto fraco nas costas de Siegfried, para que sucumbamos uma vez mais, anestesiados pelo ardil de Loges. A verdade, chorosa, adiará uma vez mais a ansiada união.

Enquanto os sinos tocam, parece que ouvimos um galo cantar, o que nos lança na consciência o apelo do Senhor rejeitado. Quantas aspirações mortas em pleno florescimento! Contudo, mesmo assim, graças elevamos porque, no silêncio do mais íntimo recôndito, ainda vive nosso Salvador, prudentemente aguardando que envelheça e morra nosso egoísmo e lhe suceda, pouco a pouco, algo menos ruim.

Natal! Quanto mais te compreendo, mais almejo que te realizes em mim!

Natal! Ainda temo falhar como São Pedro. Ainda urdo as manhas de Judas; ainda falho na resolução de São Paulo; ainda estou precisando de forças para renunciar às três tentações do meu deserto; ainda tenho de fazer esperar o meu Senhor!

Natal! O exterior canta em movimentos, em cores e sons; mas o interior chora no entendimento cada vez mais agudo de uma realização que se protela!

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de 12/1968)

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Fraternidade Rosacruz ligando o Estudante à Ordem Rosacruz

Fraternidade Rosacruz ligando o Estudante à Ordem Rosacruz

É, como diz “O Conceito Rosacruz do Cosmos”, a Fraternidade Rosacruz que, cuidando de orientar o preparo dos Estudantes, vai ligá-los à Ordem Rosacruz. É nela que todo Estudante encontra o que necessita a fim de que possa chegar oportunamente à Ordem. Felizes, pois, os que assim trilham a senda. Encurtam de maneira extraordinária o caminho a percorrer. Contudo, além de encurtar, tornam o jugo suave e o fardo, leve. Foi, como todos sabem, a Escola Rosacruz fundada pelo mensageiro da Ordem, Max Heindel, nos Estados Unidos da América do Norte, em Oceanside, em 1909. Destina-se ela especificamente ao Mundo Ocidental, em virtude do adiantamento dos habitantes desta parte do globo terrestre. O alto grau de individualização do ser humano ocidental revela seguramente o seu nível de amadurecimento interno. E por causa desse nível ser bom é que o ser humano ocidental tem, indiscutivelmente, dificuldade de se adaptar ao preparo coletivo, para Iniciação Coletiva usada pelos orientais. Por isso, os exercícios dados por esses não servem para os ocidentais. Quem desejar inteirar-se profundamente sobre o que acabamos de falar, que leia a obra básica dos ensinamentos Rosacruzes, à que já nos referimos, intitulada “O Conceito Rosacruz do Cosmos”.

Como é do conhecimento de todos, não há escola que não tenha o seu regulamento ou método. E, nesse particular, a Escola Rosacruz nos apresenta um Método que é diferente, em um ponto capital, dos métodos adotados pelas demais escolas — objetiva ele partir dos primeiros passos do Estudante e emancipá-lo gradativamente de toda e qualquer dependência dos outros até atingir o mais alto grau de confiança em si mesmo, o que lhe possibilita permanecer só, não importando as circunstâncias e más condições para lutar. Nesta altura, é claro, a segurança do Estudante é total; portanto, não mais está sujeito a entusiasmar-se de tal forma que venha a cometer deslize de equilíbrio. Permanece tranquilo e firmemente como se fosse uma rocha. Considera as pessoas e coisas em seus devidos lugares: não comete excessos. Não vê líder ou mestre, a não ser no Cristo Interno. Seu único ideal e guia é, então, Cristo-Jesus. Assim, libertou-se das vozes enganosas, vindas do exterior, partam de onde partir.

Como se vê, o Método Rosacruz de Desenvolvimento conduz o Discípulo, que rigorosamente o observa, à Iniciação real cujo valor é também real em qualquer plano ou mundo do Universo onde se apresentar o portador dela. É tão diferente das chamadas iniciações coletivas ou dependentes de guru como a água o é do vinho. Basta dizer que esse tipo de preparação e Iniciação dão ao ser humano uma realização parcial, apenas. Pelo Método Rosacruz, ao contrário, a realização do ser humano é completa e total, portanto, alcança-se, deste modo, tal sublimidade que é difícil descrever, dado a pobreza de vocabulário. É necessário que se experimente para poder compreender plenamente a amplitude da coisa. Diz Max Heindel, na obra citada, que se fosse possível obter com dinheiro, ninguém veria problema em gastar soma abundante. Entretanto, a impossibilidade é total de se obtê-la assim e por qualquer outro meio que não seja o mérito. Só esse vale. É o único caminho que existe. Percorramo-lo, pois, trabalhando incansavelmente. Só assim iremos galgando os degraus. É uma conquista sublime! Desdobra-se vitória sobre vitória e, por outro lado, descortinam-se horizontes. Sente-se, de perto, não só a grandiosidade de Deus, mas especialmente a Sua presença em tudo que existe na Natureza. Percebe-se agora que o espírito deve buscar exercer, de maneira crescente, o mais completo domínio sobre os seus veículos, conhecidos também como suas ferramentas. Essas são transitórias, enquanto ele é eterno.

Poderá o prezado leitor que pretenda conhecer bem o Método Rosacruz de Desenvolvimento ler o referido “Conceito Rosacruz do Cosmos”. É, portanto, de fácil consulta. É obra importante não apenas para os Estudantes Rosacruzes, mas interessa a todos os estudiosos, sem excetuar os mestres; ou melhor, os que se consideram assim, porque Mestre mesmo é somente Cristo-Jesus. Os outros, quando portadores de bons conhecimentos, não passam de companheiros mais experimentados que, sendo modestos, poderão prestar valiosa ajuda com a sua experiência.

(Por Hélio de Paula Coimbra publicado na Revista Serviço Rosacruz de outubro/1964)

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Livro: Imitação de Cristo

É um livro muito mencionado por Max Heindel em vários dos seus escritos como um dos melhores livros “de natureza puramente devocional” que deveríamos estudar e estudar e estudar.

Um exemplo: “Não importa se a vida tem longa ou curta duração. Muitas pessoas, como diz Thomas de Kempis[1], preocupam-se em garantir uma vida longa. Não importa a quantidade dos dias e sim a qualidade dos dias vividos. Devemos dirigir nossos esforços no cumprimento do dever diário. Então, certamente estaremos qualificados para receber o conhecimento superior e o exaltado poder que o acompanha.

Há sempre espaço para praticarmos o conhecimento, adquirido, não importa onde. Não se trata de pregar sermões nem de extasiar plateias. Declamar, desde manhã até a noite, as maravilhas que conhecemos para angariar admiradores. Ao contrário, devemos servir com humildade, vivendo a verdadeira vida espiritual.  Dando exemplos vivos e coerentes com nossos ensinamentos. A oportunidade para servir existe para todos nós. Não precisamos procurá-la muito longe, ela está precisamente aqui. Thomas de Kempis expressou tudo isso da maneira singela, própria de um místico inspirado. Com lindas palavras abordou o mesmo tema na “Imitação de Cristo”.”


[1] N.R.: Também conhecido como Tomás de Kempis, Tomás de Kempen, Thomas Hemerken, Thomas à Kempis, ou Thomas von Kempen (1379 ou 1380-1471) foi Monge e escritor alemão.

1. Para fazer download ou imprimir:

Tomás de Kempis – Imitação de Cristo

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O Evangelho de São João: os 5 primeiros versículos

O Evangelho de São João: os 5 primeiros versículos

Lendo atentamente o Evangelho de São João, o Evangelista, que foi Discípulo de São João, o Batista, somos gradativamente absorvidos pela admiração da desenvoltura e sublimidade do seu trabalho. Ao iniciá-lo, coloca como primeiro título a grande boa nova, já na expressiva frase: “A Encarnação do Verbo”. Essa Encarnação, prezados leitores e leitoras, representa o ponto de intercessão entre duas Eras. A primeira delas, em que vigorava a lei — o olho por olho e dente por dente -, representada por Moisés. A segunda é representada por Cristo-Jesus, o Cordeiro que tirou o pecado do mundo e purificou o Corpo de Desejos da Terra. Ademais, pôs ao alcance da humanidade todos os meios de que ela necessitava para sua salvação; vejam, então, prezados leitores e leitoras, a extraordinária importância que tem esse glorioso Ser para todos nós. É de tal autoridade, como bem salienta São João, o Evangelista, que se sentirmos por Ele uma profunda gratidão durante as 24 horas do dia, ainda será pouco. Aliás, a melhor maneira de manifestarmos nossa gratidão é servirmos diligentemente, colaborando de coração no formoso trabalho iniciado pelos Irmãos Maiores.

Durante a primeira dessas Eras, consubstanciada no Velho Testamento, sobretudo no último livro do Pentateuco, quem errasse seria punido, pois não havia perdão e tudo se acertava com a espada da justiça. O Cristo, ao contrário, embora cumprindo a lei, é a tônica do amor através do qual une tudo o que existe ou venha a existir, e não só aqui no Planeta Terra, mas também nos demais do nosso Sistema Solar, sem excetuar outros Sistemas Solares no Universo. Ele é o Amor que tudo liga, transforma e vivifica.

Lá, no primeiro capítulo, no primeiro versículo, diz-nos São João: “No princípio era o Verbo, o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus”. Notem bem, estimados amigos, como ele mostra, entre outras coisas, de maneira concisa, cujo vigor ultrapassa toda expectativa, a nossa origem Divina. Ele transformou o Verbo na Causa primeira de tudo. D’Ele é que saiu tudo aquilo que veio ou vem à existência e, para Ele, tudo volta, como disse bem Santo Agostinho, que assim se expressou: “Viemos da Divindade e para Ela voltaremos”.

Prosseguindo, afirma São João, o Evangelista, no versículo 2°: “Ele estava, no princípio, com Deus”. São João, para facilitar nosso entendimento, reforça aqui o que disse no versículo anterior. Vindo de Deus, Cristo-Jesus é, evidentemente, Deus feito homem.

Referindo-se ao Verbo, comenta São João, no 3° versículo: “Tudo foi feito por Ele e nada do que foi feito se fez sem Ele”. Vemos aqui, mais uma vez, São João, o Evangelista, mostrar, com extraordinária exuberância, nossa origem Divina. Insiste ele e com toda a razão ser o Verbo a gênese de tudo aquilo que existe. Vivendo o amor permanentemente e conhecendo bem a natureza humana é que São João supunha conveniente insistir nesse e em outros pontos.

Continuando a leitura, vamos para o 4° versículo que, reportando-se ao Verbo, esclarece: “A vida estava Nele e a vida era a Luz dos homens”. De fato, aquela vida que estava Nele é a nossa Luz, o Cristo interno que habita em cada um de nós. É a Centelha divina que nos impulsiona constantemente às coisas superiores, os eventos do espírito. Com isso realizamos também uma sutilização de nossos veículos, as ferramentas do Ego, ampliando o seu campo de atividade.

Dando continuidade à leitura do Evangelho de São João, encontramos no versículo 5°, ainda no capítulo l°, que se tornou nosso, o seguinte: “A Luz resplandeceu nas trevas e as trevas não prevaleceram contra Ela”. Realmente, porque essa Luz infinita espanca as trevas.

Trevas da ignorância e más qualidades que são desfeitas pelo amor, sabedoria e atividade nas boas coisas. A propósito, certa vez um Discípulo de Hermes Trismegisto lhe perguntou: “Mestre, qual é o pior mal do mundo?”. Ao que Hermes prontamente respondeu: “A ignorância”.

É por ela, na verdade, que surgem os desentendimentos, malquerenças e inimizades. Max Heindel, o fiel mensageiro da Ordem Rosacruz, afirma, logo na introdução do Conceito Rosacruz do Cosmos: “Se Buda, grande e sublime, foi a Luz da Ásia, pode-se afirmar que Cristo seja a Luz do Mundo”.

(Pulicado na Revista Serviço Rosacruz de julho/1970)

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A Autossuficiência do Método Ocidental Rosacruz

A Autossuficiência do Método Ocidental Rosacruz

“O método Rosacruz difere de todos os outros num ponto especial: procura, desde o princípio, emancipar o Aspirante de todas as dependências externas e orienta-o a cultivar a confiança em si próprio ao máximo grau, a fim de que se torne num ponto de apoio e de ajuda aos demais — levando-os a alcançar a mesma desejável condição” (Max Heindel, em O Conceito Rosacruz do Cosmos).

A presença e ação de um orientador espiritual autêntico, longe de impor dependência, promove uma relação essencial do Aspirante consigo próprio. Sua ajuda, como fator externo e relativo, devolve a pessoa a uma mais alta consciência de seu próprio ser. Leva o estudante a desvendar em seu íntimo uma necessidade até ali insuspeitada por ele, libertando-lhe energias e capacidades que, sem esse suscitar, não teriam encontrado aplicação, continuando adormecidas dentro dele.

O orientador Rosacruz guarda-se de ser endeusado. Ele conhece a verdade ensinada pela doutrina psicanalítica: “o indivíduo, uma vez desligado da constelação familiar, esforça-se por estabelecer nos novos meios de relacionamento (a Fraternidade, por exemplo) ligações da mesma ordem. Ele está essencialmente desejoso de reencontrar uma mãe, um pai, irmãos, por causa de uma necessidade regressiva que lhe dá segurança”. De fato, há no neófito inexperiente a tendência de superestimar os dirigentes de um movimento espiritual.

Quando se desiludem, muitas vezes, se afastam e nunca mais voltam a outro esforço dessa ordem. É preciso, pois, que saibam: todos, num movimento espiritual, são estudantes da verdade. Todos objetivam o mesmo fim de realização individual. Se alguns se põem no difícil papel de expositor e orientador é porque não se podem negar à necessidade da difusão e do serviço amoroso e altruísta ao próximo.

O orientador esclarece, desde logo e sempre, que a verdade pertence ao Divino interno. O Cristo Interno é que pode apropriar-se das experiências e ensinos externos, adaptando-os ao grau particular de consciência evolutiva da personalidade pela qual atua. Só o Verbo interno pode instruir. Como disse Descartes: “É preciso tornar as pessoas discípulas da verdade e não sectárias obstinadas do que o expositor ensina”. Há sempre o risco de se corromper essa pura busca da verdade, quando o Aspirante tende a venerar a personalidade do instrutor, em vez de buscar, além da pessoa, a revelação de que ele é simples mensageiro. Se buscássemos a verdade além da pessoa, poderíamos aproveitar o que diz qualquer orador, além das simpatias e antipatias exteriores. O ser humano aberto à verdade, aprende de tudo e de todos, porque a reconhece, independentemente de sua fonte. O Divino sempre traz à nossa experiência aquilo que devemos aprender, mas isso requer que estejamos descondicionados.

Assim, colocamo-nos na vida como aprendizes e mestres, uns dos outros, cada qual contribuindo animicamente pela edificação de todos. A presença, embora necessária do orientador, é ocasional, para provocar relação com a verdade que ele já atingiu em alguma medida. Ninguém nos dá a verdade porque ela já está repousando, em potencial, dentro de nós. No entanto, ela precisa ser suscitada e isso subentende a presença de um intercessor que tenha realizado boa dose da verdade. Contudo, isso não o converte em mestre. Ele, por sua vez, recebeu essa verdade universal dos verdadeiros Mestres da humanidade, aqueles altos Iniciados que, por seu esforço individual, abriram caminho à frente, tornaram-se os vanguardeiros da evolução e alcançaram uma ampla visão da verdade. Por amor, voltaram e no-la revelaram, através de Iniciados menores, como foi o caso de Max Heindel. Tal é a garantia da verdade que recebemos, inicialmente. Depois devemos experienciar essa verdade e torná-la nossa, pela adequação ao nosso nível de ser. Todo orientador aprende dos Mestres que os caminhos são individuais e diferentes, por causa da Epigênese – a chispa criadora interna. Assim, a orientação legítima é encaminhar cada pessoa para que ela seja autenticamente ela mesma.

É um triste exemplo o do orientador que impõe pontos de vista e se compraz na imitação do neófito. O estudante que se esforça em alcançar o favoritismo pela imitação do orientador, amesquinha a si mesmo; e o orientador que o permite, comete deturpação pedagógica, lesa o livre arbítrio do aluno, lhe anestesia a Epigênese e assume uma dívida de destino. Ambos se iludem e se prejudicam.

Max Heindel relata sua experiência com o Irmão Maior e Mestre: sempre que ia procurá-lo em busca de uma solução difícil, Ele apenas lhe indicava o caminho e nada dizia. Os Irmãos Maiores desencorajam toda e qualquer dependência.

Tal é o método cristão-esotérico. Cristo disse: “Se alguém quer ser meu Discípulo, tome sobre si mesmo sua cruz e siga-me”. É o mesmo que dizer: “Eu te mostro a direção, mas deves assumir o teu destino, arrostando tuas dificuldades e realizando tua obra evolutiva a teu modo”.

No seu último dia de vida, Sócrates dirige a seus discípulos uma solene advertência: “Não façais grande caso de Sócrates. Acreditai-me nisto. Levai em conta a verdade de que não apenas eu sou portador”.

Sócrates tinha razão ao esclarecer seus discípulos na hora derradeira. Sua ausência não seria a ausência da verdade, pois ele sabia ser apenas uma interposta pessoa nesse solilóquio de cada um consigo próprio, desvelando o íntimo, que é a terra natal da verdade. Ele nos ensinou que todo o verdadeiro instrutor é um medianeiro de consciência. Por isso permanecia como um parteiro de almas. Ele suscitava e trazia à luz, o conhecimento potencial, pré-existente em cada indivíduo. Por isso reduzia-se, humildemente, à função de um parteiro espiritual, convicto da presença antecipada da verdade do Cristo interno, que deve nascer e crescer. Ele mostrou que a suprema relação é a do ser humano para consigo mesmo; ele revelou que o ser humano não tem outro centro que não seja ele mesmo. O mundo inteiro se concentra nele (no profundo sentido e não egoístico). Desse modo, conhecer-se a si próprio é conhecer a Deus

Contudo, não se entenda que devamos permanecer na verdade que recebemos; comprazendo-nos em ser discípulos para sempre. Bem disse Kant: “o estudante não deve aprender pensamentos, e sim, aprender a pensar, para que não seja carregado em dependência, mas guiado e, no futuro, seja capaz de dirigir-se por seus próprios meios”.

É claro que o instrutor ajuda muito na abertura, despertar e evolução da consciência, estimulando e suscitando a verdade interna potencial. A evolução humana é uma cadeia de amor. Sempre alguém ajudou outro a subir. Nosso nível evolutivo atual foi ajudado por outros que nos precederam. Há um patrimônio de cultura e de consciência que os mais adiantados vão deixando aos detrás, se bem que a assimilação da verdade é individual e cada um de nós enriquece esse patrimônio com algo de original que os outros não têm.

O importante é que cada um procure superar-se continuamente. Permanecer numa verdade relativa, sem ultrapassá-la para atingir outra mais alta, é retardante. Na escada de Jacó, aquele que não tira o pé do degrau de baixo não pode levá-lo ao de cima, no esforço de constante ascensão.

Só o fanatismo ignorante se detém em alguma coisa, considerando-a como a última palavra. Max Heindel nos adverte continuamente contra isso. Em o Conceito Rosacruz do Cosmos ele diz: “esta obra não é a última verdade. O autor reconhece a possibilidade de haver-se enganado em alguns pontos, motivo por que, quaisquer eventuais falhas não devem ser imputadas aos Irmãos Maiores”. Os próprios Irmãos Maiores — Altos Iniciados — admitem que algumas vezes se enganam. Eles sabem que, em relação à verdade absoluta, todos somos discípulos. Por mais que, espirais muito maiores, Eles busquem assenhorear-se da Verdade, sempre há algo a atingir, porque a verdade é infinita. Daí que a relação deles com a verdade seja uma relação de humildade.

Uma escola é autêntica quando tem por alicerces mestres dessa natureza, que através de suas mensagens buscam orientar os estudantes à própria realização. Todos temos direito de despertar para uma verdade maior, sem dependências. Buscar segurança na tutela de um mestre, não é da Escola Ocidental de Mistérios. Seria um parasita o estudante que permanecesse na mesma linguagem recebida do Mestre, repetindo indefinidamente a tradição, receoso de errar, de faltar à fidelidade; incapaz de recriar, como lhe reclama o dom epigenético. Aprender a meditar, a pensar, é saber desmembrar uma verdade básica em todas as infinitas consequências. Se o Conceito Rosacruz do Cosmos é uma exposição elementar da verdade Rosacruz, isto significa: é um mundo de verdades ocultas, manifestado simplesmente no que se lê. Existem abismos de decorrências nas entrelinhas.

Apesar de seu imenso amor, os Mestres ocidentais estão prevenidos para não se apegarem aos discípulos. Só os falsos mestres submetem os incautos alunos à sua tutela, como pais que relutam em compreender e aceitar que os filhos devem ter vida própria quando se tornam adultos. A psicologia fala do “complexo de desmame” e das perturbações que ele produz na família. O mesmo sucede na família espiritual, entre mal preparados instrutores e seus alunos, que se deixam enredar nessas interferências subconscientes, em prejuízo da mútua edificação. Assim como os pais não devem submeter à escravidão os filhos que põem no mundo, também o mestre não deve prender o discípulo que formou — senão ajudá-lo a alcançar a autenticidade e consciência plena de si próprio. Por isso lhe facilita a libertação e compreende quando o discípulo, no esforço de autoafirmação, se volta contra ele, como os rapazes em relação ao pai “quadrado”.

Não se trata de escolher entre o mestre e a verdade. Foi ele quem nos introduziu à verdade. A amizade e gratidão pelo mestre é a mesma amizade e gratidão pela verdade. Somos gratos ao mestre, não pela pessoa dele senão pelo papel de intercessor que exerceu, para desperta-nos a verdade. Não significa que não tenhamos o direito de contradizer e tentar ultrapassar o mestre.

Esse esforço de autorrealização não é contrário à amizade, senão o fruto dela, porque recebemos do mestre a procuração para prosseguir a tarefa de investigação à nossa maneira. O que se passa é que, no esforço de autorrealização, quase sempre o discípulo se envolve na vaidade. Na tradição filosófica da Grécia há trechos lindíssimos de discípulos que se voltaram contra seus mestres, no esforço de serem eles mesmos. É como se cometessem um patricídio, ao consumar o simbólico crime de eliminar a dependência ao mestre, no rito de passagem à própria autonomia.

Mais tarde compreendem que não mataram nada porque a verdade é imortal e só ela é quem esteve presente, relacionando-os, englobando-os e tornando sublimes os seus diálogos. Só então se tornam cônscios da função do mestre e do discípulo. Só então podem atuar corretamente, em relação àqueles a quem, por sua vez, toca ajudar.

Orientador e aluno, cada um desempenha um papel essencial, um em relação ao outro, provisoriamente. É apenas uma fase na vida de cada um deles, na qual o desenvolvimento se cumpre pela verdade em diálogo, cada um exercendo o seu entendimento e buscando o outro, num confronto e desejo de mútua edificação.

Finalizamos com um pensamento de Leonardo da Vinci: “Triste é o discípulo que não se esforça por ultrapassar seu orientador. Triste é o orientador que se indigna por ver os seus discípulos esforçando-se por ultrapassá-lo”.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1976)

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Diálogo entre o Místico e o Cristo Interno

Diálogo entre o Místico e o Cristo Interno

Há dois caminhos: o ocultista (mental) e o místico (do coração). Cada pessoa tem predominância de uma dessas tendências. Contudo, no fim de um deles há de encontrar e desenvolver o outro. O místico chega a um ponto de iluminação quando está empenhado no labor espiritual. Ele se retira em meditação para inebriar-se nas vivências internas. Está vigilante quando sente internamente o Cristo se lhe manifestar:

Cristo Interno: “Dá-me de beber de teu amor, para que eu possa saciar minha sede”.

Místico (saindo de sua admiração): “Quem és tu?” (Pois até aquele momento não tivera experiência desse gênero).

Cristo Interno: “Sou aquele de quem estás separado há muito tempo. Se tivesses sabido quantas vezes te pedi amor, que me servisses. Então me poderias pedir da água viva que só eu te posso oferecer”.

Místico: “Podes, acaso, oferecer-me algo superior ao que tenho recebido?”

Cristo Interno: “Tua vivência é humana, incompleta e instável. Posso dar-te algo muito mais elevado, completo e permanente, que te levará à união comigo”.

Místico: “Sacia-me, então, de vez, para que eu não precise mais da penosa aprendizagem tradicional”.

Cristo Interno: “Não. Deves continuar no mundo, servindo e aprendendo. A intervalos deves voltar a mim”.

Místico: “Já não tenho apegos, nem ligações mundanas”.

Cristo Interno: “Sei de tua aprendizagem em vidas anteriores. Já ultrapassaste o estágio comum, mas ainda não estás preparado para o próximo”.

Místico: “Vejo que me penetras n’alma. Preparei-me pela senda mística e tu dizes que devo cultivar também a senda ocultista, para alcançar a paz (Jerusalém)”.

Cristo Interno: “Em verdade, esses dois caminhos apenas conduzem a uma meta maior. O místico sente a verdade, mas por falta de desenvolvimento da razão, está sujeito a enganos. Vim trazer a Luz da Verdade libertadora. Chegou a hora em que o ideal há de ser Amor-Sabedoria, unindo Coração e Mente, para amarmos e concebermos Deus como verdadeiro espírito. Procuro aqueles que possam adorar-me desse modo”.

Místico: “Sei que o Cristo (Cósmico) há de voltar e estabelecer esse ideal”.

Cristo Interno: “Pois sabe: esse ideal se realiza internamente em cada alma preparada. Para ti já voltei. Eu sou o Cristo: o que fala contigo”.

(Publicada na Revista Serviço Rosacruz – 02/1978)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Divina presença que existe dentro de você e o que fazer com ela

A Divina presença que existe dentro de você e o que fazer com ela

Na Primeira Epístola aos Coríntios, Capítulo 3, Versículos 16 e 17 lemos: “Não sabeis que sois o santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá, porque o santuário de Deus que sois vós é sagrado”.

Parece incrível, mas essas palavras tão coerentemente claras produzem confusão e dúvida no espírito das pessoas. Para um cristão afeito à ortodoxia religiosa tentar entender o que São Paulo quis dizer nesses versículos constitui um exercício perigoso, uma aventura capaz de abalar-lhe a fé. Aprofundar-se na ideia de que o “Espírito de Deus habita em nós” é algo temerário. Afinal, o Espírito de Deus só pode ser o próprio Deus. Deus no ser humano, dando vida ao seu santuário? Por que ir além? Mas, para o próprio estudante esoterista sobrevém, a princípio, grande dificuldade em aceitar a realidade do Deus Interno. Ora, durante toda sua vida habituou-se a venerar e recorrer a uma Inteligência Superior, abstrata, permeando o espaço cósmico. A certeza da existência de um Deus externo trouxe-lhe, sempre, uma certa segurança, ainda mais que esta Divindade lhe oferece seu Filho Unigênito — o Cristo — para redimi-lo de suas transgressões.

A ideia de que Cristo é um ser interno, um princípio inerente à nossa condição de espíritos, que desabrocha e evolui através de várias existências de pureza e serviço não é fácil de se aceitar. A ideia de que é esse Cristo interno que salva e não o Cristo exterior pode ser assustadora, pois revela, e como isso é duro, que a salvação é um problema individual, interno e intransferível.

É responsabilidade exclusiva de cada um. Logicamente ninguém está só, no desenvolvimento desse processo. Pode-se recorrer à oração científica que, quando acompanhada de esforços sinceros e serviço altruísta atrairá a ajuda dos Seres Iluminados.

A centelha divina tem em si as mesmas sementes de perfeição do Deus Macrocósmico. Quanto mais ampla for a nossa consciência de que esta Divindade habita em nós, maiores serão seus canais de manifestação.

O ser humano comum, aquele que alardeia seu agnosticismo ou vive condicionado a uma crença num ente exterior, pode se abalar com as crises desta época. Pode padecer de todas as desesperanças, apavorar-se com todas as mudanças, porque falta-lhe a energia positiva de quem admite a presença de Deus dentro de si mesmo.

O esoterista cristão sobrepõe-se espiritual, mental, emocional, fisicamente e a todas as condições transitórias desse mundo. Nada teme, porque está convencido de que a única realidade possível é o Deus Interno.

(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – mar./abr./1988)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

“Vós Sois Meus Amigos”: fomos ensinados a praticar essa frase no nosso cotidiano

“Vós Sois Meus Amigos”: fomos ensinados a praticar essa frase no nosso cotidiano

“Vós sois meus amigos”. Frase simples, que se dilui no contexto grandioso dos Evangelhos. Não raro, passa despercebida a profundidade de seu significado.

O fato de o Cristo nos considerar amigos transcende qualquer possibilidade do conhecimento humano. Mas, a transcendentalidade do fato não nos impede de meditar e de lhe extrair lições.

O Cristo, quanto à evolução, encontra-se muito acima da nossa onda de vida. Não obstante a distância evolutiva que nos separa, Ele desceu ao nosso plano, isto é, o Verbo se fez carne e habitou entre nós e nos considera amigos. Se esse glorioso Ser pode assim considerar-nos, seguramente não poderemos ser menos que amigos entre nós mesmos.

Na Bíblia, à frase “Vós sois meus amigos” segue-se: “se fizerdes as coisas que Eu mando”. O que Ele mandou fazer, por suposto, é praticar Seus ensinamentos na vida diária, para o despertamento do Cristo Interno. É a única maneira de chegarmos a ser como Ele, fazendo o que Ele fez e coisas maiores ainda. Se nos empenharmos em assim proceder, seremos Seus discípulos e mais do que isso, Seus amigos.

Nesse particular, o conceito de amizade transcende a ideia geralmente aceita de estima e afeto entre um grupo de indivíduos intimamente relacionados e ascende a um nível indiscutivelmente superior, ao plano da amizade universal, na qual todos se incluem.

Se fizermos o que Ele nos mandou seremos Seus amigos no sentido mais elevado do termo. Também alcançaremos o nível de amizade ideal com nossos semelhantes, não só com aqueles que estão buscando a iluminação espiritual ao longo do caminho que estamos trilhando, mas com todos os viajores de outras rotas.

A definição de amizade varia de acordo com a época. Aristóteles a definiu como um “caminho”, enquanto Coleridge a ela se referiu como “uma árvore de refúgio”. Emerson falou em “ordem de nobreza”; seu incomparável ensaio sobre a amizade não encontrou paralelos em quaisquer outras literaturas. Em Thoreau, encontramos, talvez, a mais perfeita compreensão do que seja esse sentimento, nestas palavras: “Inspiramos amizade aos homens quando já a temos com os deuses”. Quando chegamos a ser amigos de Cristo, certamente inspiraremos amizade aos indivíduos por força de nossa conduta profundamente compassiva.

O melhor que pudermos fazer pela humanidade, seja individual seja coletivamente, como membros da Fraternidade Rosacruz, será realizado por meio da amizade. Podemos ajudar uma pessoa porque a consciência nos obriga a fazê-lo; ou porque nos apiedarmos dele; ou porque isso pode nos trazer alguma vantagem pessoal. Sob quaisquer dessas circunstâncias poderemos ser úteis. Porém, somente quando nos consideramos seus amigos, ligados por sentimentos de estima e compreensão, sobrepondo-nos aos nossos interesses pessoais, é que lhe seremos verdadeiramente úteis.

Quando trabalharem juntos, unidos e inspirados pelos laços de amizade, os seres humanos podem realizar algo realmente duradouro. A esse respeito Thomaz Carlyle assim se manifestou: “Como é possível a amizade? Por meio da mútua devoção ao bom e verdadeiro… um homem é suficiente para si mesmo: dez homens unidos pelo amor são capazes de fazer o que dez mil individualmente não poderiam. Infinita é a ajuda que o homem pode proporcionar ao homem”.

(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – nov/dez/87)

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