Dissemos que o tripé em que fundamos a verdadeira renúncia é a: sobriedade, humildade e castidade. Abordemos a questão da humildade que, por associação, atrai seu antônimo: o orgulho.
Paralelamente à gula, o que mais é de recear em nós é o orgulho e a sede das riquezas. Nada nos torna mais duros e mais cegos do que exagerar em nosso valor pessoal. Nada nos é mais funesto ao nosso progresso espiritual e à saúde do que estar de posse de grandes riquezas, a menos que seja um caráter excepcional, capaz de usá-las como quem administra os “bens do Senhor”.
Nada torna mais impróprio de triunfar numa provação do que viver no luxo e na adulação. Os grandes que possuem riquezas materiais deste mundo não imaginam quanto mais perto estão do abismo do que os humildes. O poder mundano e terrestre deles os embriaga. Uma vez nas alturas, eles não procuram mais do que aumentar o seu campo de domínio, em lugar de se esforçarem unicamente em praticar o bem em face dos pequenos. Mas que quedas estrondosas, quando se realiza a palavra da Escritura: “Depôs do trono os poderosos e elevou os humildes” (Lc 1:52).
“Quem julgas tu que é o maior no Reino dos Céus? “, perguntava a Cristo-Jesus os seus Discípulos. E, chamando um menino, o pôs no meio deles e disse: “Na verdade vos digo, que, se vos não converterdes, e vos não fizerdes como meninos, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 18:1-3).
“Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas… Ai de vós condutores cegos, porque sois semelhantes aos sepulcros branqueados que, parecem por fora formosos aos homens, e por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda a espécie de podridão… Aquele que se elevar, será humilhado e aquele que se humilhar, será elevado” (Mt 23:27).
“Aquele que quiser ser o maior entre vós esse seja o que vos sirva. E o que entre vós quiser ser o primeiro seja esse vosso servo. Assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir.” (Mt 20:26-28).
“Mas ai de vós, os que sois ricos, porque tendes a vossa consolação. Ai de vós, os que estais fartos, porque vireis a ter fome. Ai de vós, os que rides, porque gemereis e chorareis” (Lc 4:24-25).
“É mais fácil passar um camelo pelo fundo duma agulha do que entrar um rico no Reino dos Céus” (Mt 19:24).
“De que serve ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma?” (Mt 16:26).
“Amontoai para vós tesouros no céu, onde não os consome a ferrugem nem a traça e onde os ladrões não os desenterram nem roubam. Porque onde estiver o teu tesouro, estará também o teu coração.” (Mt 6:20-21).
E para que seus Discípulos compreendessem bem a onipotência da pobreza e o exemplo divino que se deve dar, Cristo Jesus dizia-lhe: “As raposas têm covis e as aves do céu ninhos, mas o Filho do homem não tem onde pousar a cabeça” (Mt 8:20).
Depois, quando Ele os enviou a cumprir a sua missão evangélica, fez-lhes a seguinte recomendação: “Dai de graça o que de graça recebestes. Não possuais ouro, nem prata, nem dinheiro nos vossos cintos. Nem alforjes para o caminho, nem duas túnicas, nem calçado, nem bordão; porque digno é o trabalhador do seu alimento” (Mt 10:9-10).
Aqueles que erram por orgulho, os que gozam egoisticamente as suas riquezas mundanas, preparam para si as piores atribulações e os mais duros sofrimentos.
E quando se trata para eles de vencer uma provação, raro percebem o remédio, isto é, o renunciamento a aplicar, porque o orgulho com os seus satélites: a vaidade, a sede de consideração, a pretensão, o desdém se introduzem no mais profundo do ser e a cegueira sobre as suas taras de caráter, as suas responsabilidades e os seus erros. Quantas pessoas caem no insucesso e na desgraça, porque entende não deverem reduzir, em coisa alguma as suas ambições e os seus gozos! Como são raras as pessoas, suficientemente esclarecidas na espiritualidade, que se tornam pequenas diante da provação, que examinam a extensão das suas ignorâncias, de suas incapacidades, numa palavra: que façam ato de humildade!
Depois do amor ao próximo, a humildade é a virtude Cristã fundamental.
Assim não nos devemos admirar de ver que a humilhação é o grande remédio que a providência emprega para pôr à prova os orgulhosos e os ricos, demonstrando-lhes a vaidade de suas vantagens e de seus bens materiais, para conservar a saúde do Corpo e a paz da Alma. Com efeito, para que servem o dinheiro e a celebridade, quando se avilta o organismo humano e conspurca o Espírito?
“O Senhor guarda aqueles que são simples: fui humilhado, por ele fui salvo” (Sl 114). “Foi bom para mim que vós me tivésseis humilhado para assim conhecer a Vossa justiça.” (Sl 118).
A humildade é grande fonte de felicidade, poderoso meio de progresso, remédio heroico contra todos os sofrimentos corporais e as feridas de amor-próprio. A humildade é o unguento que faz fechar todas as feridas. A humildade é, juntamente com a oração, o meio mais firme de ser exaltado.
Ser humilde é primeiramente nos tornarmos muito pequenos, até chegarmos a zero, considerando a insuficiência da nossa inteligência, as lacunas de nosso saber, as faltas que cometemos. É darmos conta em seguida que tudo a que podemos realizar de bem, foi Deus que o realizou por nós e que o nosso papel está limitado a nos apresentarmos no estado de dóceis instrumentos, porque nada temos de bom que seja nosso e nenhum bem praticamos que o não tenhamos recebido de Deus! Sim, é uma grande verdade que nada temos de bom que seja nosso, e que a miséria, o nada, são o nosso quinhão. Aquele que isto ignora, caminha na mentira.
Ser humilde é não procurar quaisquer honras deste mundo, é se esforçar por passar despercebido, é ficar em último lugar, é se conduzir como Cristo pediu: “Quando fores convidado para alguma boda, não vás ocupar o primeiro lugar, porque pode ser que esteja ali outra pessoa mais considerada do que tu, convidada pelo dono da casa. E que, vindo este, que te convidou a ti e a ele, te diga: ‘Dá o teu lugar a este’; e tu envergonhado vás ocupar o último lugar. Mas, quando fores convidado, ocupa o último lugar, para que, quando vier o que te convidou, te diga: ‘Amigo, assenta-te mais acima’. Servir-te-á isto, então, de glória na presença dos que estiverem juntamente assentados a mesa. Porque todo o que se exalta será humilhado, e todo aquele se humilha será exaltado” (Lc 14:8-12).
Ser humilde é se abster de enumerar os seus méritos e não pensar senão em se colocar na atitude do pobre pecador: “subiram dois homens ao templo para orar, um fariseu e o outro publicano. O fariseu, de pé, orava assim: ‘Graças te dou, meu Deus, porque não sou como os outros homens, que são uns ladrões, uns injustos, uns adúlteros, como é também este publicano. Jejuo duas vezes por semana; pago o dízimo de tudo o que possuo’. E o publicano, pelo contrário conservando-se afastado, não ousava mesmo levantar os olhos para o Céu; mas batia no peito dizendo: ‘Ó Deus, tende piedade de mim, que sou um pecador’. Digo-vos que este voltou para casa justificado e não o outro; porque todo o que se exalta será humilhado, e todo aquele que se humilha será exaltado.” (Lc 18:10-15).
Ser humilde é cumprir o seu dever, sem esperança de recompensa, é ajudar os fracos, os ingratos, os pobres, numa palavra: todas as pessoas que são incapazes de dar-vos valor, de recompensar-vos ou de agradecer-vos. “Evitai fazer as vossas boas obras diante dos homens com o fim de serdes vistos por eles; doutro modo, não tereis recompensa de vosso Pai, que está nos Céus.” (Mt 6:1). “Quando deres algum banquete, convide os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. E serás bem-aventurado porque esses não têm com que te retribuir, mas ser-te-á retribuído na ressurreição dos justos.” (Lc 14:13-14).
Ser humilde é tratar de se contentar com coisas simples, no que diz respeito a conforto, a alimentação e a vestuário. Por amor de Nosso Senhor, eu vos suplico, minhas irmãs e meus irmãos, evitai sempre as casas grandes e suntuosas. Como é comovente construir grandes casas, com os bens dos pobres. Procure sempre se contentar com o que há de mais simples, tanto para o vestuário como para a alimentação. De outra forma, teremos muito que sofrer, porque Deus não proveria as nossas necessidades e perderíamos a alegria do coração. E nos tornamos senhores de todos os bens deste mundo, desprezando-os.
Ser humilde é se recusar a submeter à justiça dos seres humanos aqueles que vos perseguem. Se nos humilhamos e se renunciamos a nós mesmos, fazendo o sacrifício da reparação terrestre – ou seja, praticamos o arrependimento e a reforma íntima, base de um Exercício Esotérico noturno de Retrospecção para quando fazemos o mal durante um dia recém-finco –, maior será a reparação espiritual e mais eficaz será a proteção de que se beneficiará, porque Deus pune duramente os ataques de que os justos são o objeto. “Se for possível e se isso depender de vós, conservai-vos em paz com todos os seres humanos. Não vos vingueis vós mesmos, meus muito amados, mas deixai atuar a justiça de Deus, porque está escrito: ‘Para mim o julgamento; sou eu quem retribuirá’, disse o Senhor. Mas, se o teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer; e se tiver sede, dá-lhe de beber; porque procedendo assim são carvões ardentes que tu amontoarás sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.” (Rm 12:18-21).
Ser humilde é, numa palavra, matar dentro de nós mesmos todo o germe de satisfação orgulhosa e sensual, de forma a chegar a uma perfeita indiferença perante os elogios ou as calúnias. É assim que adquirimos a liberdade interior e que não nos importamos mais ouvir falar de nós, tanto em mal como em bem, como se tal coisa não nos dissesse respeito. Um ponto pode nos aborrecer muito, se não nos acautelamos. É o dos louvores, elogios, fama mundana. Nesse caso, nos dizem que somos santos, beneméritos e até filantropos, e se servem de expressões exageradas, que se diriam sugeridas por um tentador. Nunca nos deixemos passar semelhantes palavras sem declarar a nós mesmos uma guerra interna. Lembremo-nos de que maneira o mundo tratou Cristo-Jesus, Nosso Senhor, depois de tanto O terem exaltado no conhecido como “Dia de Ramos” ou, popularmente, “Domingo de Ramos”. Pensemos na estima que se concedia a S. João Batista, a ponto de considerá-lo o Messias e vejamos, em seguida, como e por que motivo lhe cortaram a cabeça. O mundo nunca exalta, senão para rebaixar, quando aqueles que exaltam são “filhos de Deus”. Lembremo-nos dos nossos pecados e supondo que sobre qualquer ponto de vista se diz verdadeiro, pensemos que é um bem que não nos pertence, e que somos obrigados a muito mais. Excitamo-nos o receio em nosso interior, a fim de impedirmos de receber com tranquilidade este “beijo de falsa paz” que o mundo constantemente nos oferece.
Quando somos humildes, sofremos por ouvir o nosso próprio elogio. Para sermos verdadeiramente humildes, é necessário ainda destruir em nós qualquer ambição, limitando-nos ao cumprimento rigoroso do dever presente, e abandonando o resto aos cuidados da Providência, de Deus. É Ele quem decidirá da utilidade do nosso bom êxito presente e quem fixará a hora da nossa recompensa aqui ou nos Céus. E graças a este estado de espírito intimamente vivido que tantas pessoas realizaram e realizam obras prodigiosas antes e depois da morte delas. Assim, não devemos ficar surpreendidos em ver os grandes Místicos e Ocultistas serem atormentados pela necessidade de humilhação e a paixão do renunciamento. Desprezemo-nos a nós mesmos e desejemo-nos que os outros nos desprezem. Não foquemos na fama mundana. Para chegarmos a possuir tudo, tratemos de nada possuirmos. Administremos, somente. Para chegarmos a ser tudo, procuremos nada sermos. Já que ser aqui é aparência, é ilusão, é a Personalidade. Porque para alcançar o Todo devemos renunciar completamente a tudo. Para que possamos construir o Corpo-Alma. Neste desprendimento encontramos a nossa tranquilidade e o nosso repouso, para nos dedicarmos dia a dia ao nosso desenvolvimento espiritual. Profundamente estabelecido no centro do nosso nada, não poderíamos ser oprimidos por aquilo que vem debaixo e, nada mais desejando, o que vem de cima não nos fatigará; porque os nossos desejos, sentimentos e emoções que construímos e insistimos em manter baseados nas matérias das três Regiões inferiores do Mundo do Desejo são a única causa dos nossos sofrimentos.
Na prática, a extinção de todo desejo, sentimento e toda emoção que construímos e insistimos em manter baseados nas matérias das três Regiões inferiores do Mundo do Desejo deve se compreender como a restrição do esforço ao cumprimento do dever cotidiano. Passar uma vida regrada, simples, reta e útil sem se preocupar nem com o passado, nem tão pouco com o futuro; abandonando-se humildemente a direção de Deus quanto ao restante, tal é a verdadeira concepção mística da vida.
A humildade, na vida presente, poderá ser exercida suportando com paciência as desavenças, as injúrias e os sofrimentos, se comportando a respeito de todos com benevolência e doçura sem limites. Esforcemo-nos para realizar o melhor que podemos, seguindo o grande exemplo de Cristo. “Pois eu estou no meio de vós outros assim como o que serve.” (Lc 22:27). “Eu sou manso e humilde de coração.” (Mt 11:28).
Da humildade decorre ainda outro renunciamento: é aquele que consiste em nos recusarmos a julgar os outros. O melhor meio de nos exercitarmos é, primeiramente, nos obrigarmos a nunca falar mal do próximo. “Não julgueis, e não sereis julgados; nada condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. Dai e dar-se-vos-á; no vosso seio vos meterão uma boa medida de que vós vos servirdes para os outros, tal será a que servirá para nós.” (Lc 5:37-38).
Depois, em presença da nossa indignidade, das nossas fraquezas pessoais e da infinita bondade de Deus, é preciso subjugar a nossa Personalidade e destruirmos em nós todo o germe de ódio, rancor, vingança. Para obtermos o próprio perdão, é necessário começarmos por concedê-lo aos outros. Todas as vezes que a nossa vida está em perigo duma maneira assustadora, é preciso deixarmos a Deus o cuidado de nos proteger e orarmos pelos perseguidores, porque a injúria feita a um justo é sempre motivo para terríveis sanções. Todas as vezes que cometemos um erro, é preciso repará-lo e nos impormos a humilhação de o pagarmos. Todas as vezes que quem ofende sinceramente se arrepende, devemos lhe perdoar sem hesitar.
“Vós tendes ouvido o que se disse: olho por olho, e dente por dente. EU, porém, digo-vos que não resistais ao que vos fizer mal… E ao que quer demandar-te em juízo e tirar-te a túnica, larga também a tua capa. Dá a quem te pede… Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos têm ódio, e orai pelos que vos perseguem e vos caluniam. Para serdes filhos de vosso Pai que estais nos Céu, que faz nascer o Sol sobre os bons e maus. Sede, então, perfeitos, como também o vosso Pai celestial é perfeito.” (Mt 5:38-48).
“Mas quando vos levantardes para orar, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe, para que também vosso Pai, que estais nos Céus, vos perdoe vossos pecados.” (Mc 11:25).
“Se teu irmão pecou contra ti, repreende-o; e se ele se arrepender perdoa-lhe. Se ele pecar sete vezes no dia contra ti, e que sete vezes no dia te vier buscar dizendo: eu me arrependo; perdoa-lhe.” (Lc17:3-4).
A subjugação da nossa Personalidade destrói em nós não só o egoísmo, mas nos faz ainda conhecer melhor a fragilidade dos laços que nos ligam neste mundo a todos aqueles a quem amamos. O perfeito desprendimento, com efeito, não dá mais lugar em nós do que a um pensamento dominante; cumprir a vontade de Deus. Isso não significa, de forma alguma, que seja preciso nos confinarmos numa reserva egoísta, nem numa insensível frieza. Pelo contrário, devemos trabalhar com a melhor das vontades por todos, amarmos o próximo de todo o coração e prestarmos a melhor das atenções aos que estão ao nosso redor e com os quais nos relacionamos; com a ideia sempre presente que a afeição, a estima e a vida de todos nos podem ser retiradas a todo o momento. Ou seja, a ninguém se apegar. É preciso chegar, pois, a destruir em nós toda a raiz egoísta de afeição terrestre e aprendermos a amar profundamente com o estado de espírito de renunciamento completo que faz passar os deveres dos Céus, à frente das preocupações terrestres. Foi o que Cristo-Jesus claramente significou quando deixou seus pais para ficar em Jerusalém no Templo, no meio dos doutores, e quando respondeu a sua mãe que se afligia com a sua ausência: “Por que me procurais? Não sabeis que importa ocupar-me das coisas que são do serviço de meu Pai?” (Lc 2:49).
Quando estamos bem compenetrados desta obrigação do sacrifício de todas as afeições terrestres, a perda das consolações mais ternas e dos seres mais caros não causa tanto as crises de abatimento profundo e de violento desespero que tão facilmente nos desequilibram quando estamos presos aos bens deste mundo. Quando se sabe que a morte não é mais do que uma etapa normal para a vida sobrenatural; que a comunhão imaterial dos vivos e dos mortos é uma realidade; que Deus, na sua paternal bondade, nunca nos abandona; que o renascimento aqui, para uma vida nova, é uma certeza, então compreendemos que o melhor meio de honrar os que chamamos de mortos (pois estão mais vivos do que nunca!), de os ajudar ou ainda de receber úteis inspirações, não é passar o tempo em estéreis lamentações; mas, unicamente, orar por eles e, sobretudo trabalhar por realizar em nós e à volta de nós o Reino de Deus. E para alcançarmos o Reino de Deus, não há outra coisa a fazer senão aceitarmos com fé os renunciamento diários e nos ligarmos, sem demora, à execução dos deveres presentes de correção, de bondade e de trabalho, colocando em prática tudo que nós mesmos escolhemos no Terceiro Céu. Nenhuma coisa faz nos desviar desta estrita obrigação de prepararmos o futuro, sem nos demorarmos no passado. Ao discípulo que lhe dizia: “Senhor, permite-me ir primeiramente sepultar meu pai“, Cristo Jesus respondeu: “Segue-me, e deixa que os mortos sepultem os seus mortos.” (Mt 8:21-22).
“E tu, vais, e anuncia o Reino de Deus.” (Lc 9:60). Outro lhe disse: “Eu Senhor seguir-te-ei, mas, permite-me, primeiramente, dispor dos bens que tenho em minha casa.”. Cristo-Jesus respondeu-lhe: “Todo aquele que põe a mão ao arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus.” (Lc 9:61-62).
Então, quando se realizar em nós estas necessárias subjugações da nossa Personalidade, Deus nos poupará as provações e nos acumulará com os seus favores, muitas vezes mesmo já neste Mundo terrestre. Além disso, nos tornamos poderosamente fortes, desde que tomamos o nosso único ponto de apoio em Deus e o nosso único auxílio n’Ele, aceitando o pensamento de ficarmos privados, na desgraça do socorro e das afeições de todos os nossos. Foi por isso que Cristo-Jesus disse ainda: “Aquele que ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim; e aquele que ama seu filho ou sua filha mais do que a mim, não é digno de mim. Aquele que não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. O que acha a sua Alma perdê-la-á e o que a perder por mim, achá-la-á,” (Mt 10:37).
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de abril/1965 – Fraternidade Rosacruz-SP)
Resposta: Essa pergunta é uma daquelas que ocorrem com muita frequência. Já foi respondida anteriormente, mas como tantas pessoas a repetem sempre, parece que é melhor elucidá-la novamente. Como o autor nunca se refere a números anteriores, ele abordará essa questão de um ângulo diferente a cada vez, o que pode fornecer novos aspectos e peculiaridade até mesmo para aqueles que já obtiveram uma resposta antes e, portanto, acrescentará a todos algum benefício.
Nossas últimas investigações mais recentes indicam que quando um ser humano espiritualiza os seus veículos, a constituição do Corpo Vital, composto de Éter, muda bastante, do ponto de vista material. No ser humano comum, há sempre uma preponderância dos dois Éteres inferiores – o Éter Químico e Éter de Vida – que se relacionam com o desenvolvimento e a reprodução do Corpo Denso, e uma quantidade mínima dos Éteres Superiores – o Éter Luminoso e Éter Refletor – que se relacionam com a percepção sensorial e as qualidades espirituais mais elevadas. Após a morte, o Corpo Denso do ser humano comum é sepultado e o Corpo Vital paira no a uns sessenta centímetros acima do túmulo, desintegrando-se gradualmente. O Corpo Denso se desintegra simultaneamente. No entanto, quando dizemos que ele se decompõe, o que realmente queremos dizer é que ele se torna muito mais vivo do que quando o ser humano o habitava, pois, cada pequena molécula agora é controlada por uma vida separada e individual. Ela começa a se associar com as suas vizinhas; a unidade de uma vida individual é substituída por uma comunidade de muitas vidas. Por isso, dizemos que tais cadáveres em decomposição como se estivessem cheios de vermes. Quanto mais denso e cristalizado for esse veículo, maior será o tempo para se desintegrar, pois o Corpo Vital, pairando acima do túmulo, possui um forte magnetismo que mantém as moléculas densas sob controle. Os dois Éteres superiores vibram a uma frequência (ou taxa vibratória) muito mais rápida que os Éteres inferiores, e quando um ser humano, por meio de pensamentos espirituais, acumula em volta de si grande quantidade desses Éteres superiores, que então compõe o seu Corpo Vital, as vibrações do Corpo Denso também se tornam mais intensas. Consequentemente, quando esse ser humano abandona o seu Corpo Denso na hora da morte, há muito pouco ou quase nada do Corpo Vital para manter os componentes do Corpo Denso sob controle. A desintegração é, portanto, muito rápida. Isto não podemos provar facilmente, pois há pouquíssimas pessoas suficientemente espiritualizadas para tornar a diferença perceptível, mas você se lembrará de que na Bíblia se diz que certos personagens que foram transladados. Também, que o Corpo de Moisés vibrava tanto que resplandecia, e que seu Corpo nunca foi encontrado e outros casos afins.
Esses eram casos em que o Corpo retornou rapidamente aos Elementos, e quando o Corpo de Cristo foi colocado na sepultura, a desintegração desse Corpo ocorreu quase instantaneamente.
Entretanto, enquanto o Arquétipo do Corpo Denso persiste, ele se empenha em atrair para si matéria física, as quais molda de acordo com a forma do Corpo Vital. Por esse motivo, é difícil para o Auxiliar Invisível, que sai do seu Corpo, deixar de se materializar. A partir do momento em que diminui sua vontade de se conservar livre de todos os empecilhos físicos, materiais da atmosfera circundante aderem a ele, tal como limalhas de ferro são atraídas por um imã, e ele se torna tão visível e tangível quanto o desejar. Assim, o Auxiliar Invisível é capaz de realizar um trabalho físico efetivo onde quer que seja necessário, mesmo que se encontre a milhares de quilômetros distante de seu Corpo. Por outro lado, o que realmente causa a morte é o colapso do Arquétipo do Corpo Denso. Portanto, os Espíritos que deixam essa vida terrena são incapazes de se materializar, a menos que o façam através de um Clarividente involuntário (como, por exemplo, um médium), de onde extraem o Corpo Vital vivo desse com o qual se revestirão e, assim, atraem substâncias físicas necessárias para se tornarem visíveis aos presentes.
Há uma terceira classe, a saber, os Auxiliares Invisíveis Iniciados que já partiram dessa mais uma vida terrestre. Eles aprendem a atrair ou repelir a matéria física por meio da vontade deles, como já foi mencionado anteriormente e, portanto, são capazes de se materializar, apesar do Arquétipo do Corpo já ter entrado em colapso.
O Cristo, naturalmente, liderava essa classe e, consequentemente, era capaz de atravessar uma parede em Seu Corpo Vital, pois, da mesma forma que o Éter interpenetra cada molécula física, também o Corpo Vital, composto de Éter, pode atravessar obstáculos físicos. Uma vez dentro do recinto com Seus Discípulos, Ele atraiu para Si, pelo poder da vontade, matéria física suficiente para Se revestir em um Corpo Denso. Por essa razão, foi possível a Seus Discípulos tocá-Lo e apalpá-Lo, como consta nos Evangelhos.
Quanto à ingestão de peixe e mel, há nisso um significado místico que será explicado mais tarde, quando tratarmos de Raios Astrais. Você notará que o “peixe” tem um lugar de destaque em todos os Evangelhos. Os Discípulos eram pescadores e efetuavam pescas milagrosas. Há várias parábolas a esse respeito, onde as pessoas foram alimentadas com pães e peixes. A história de Jonas e da baleia e tantas outras narrações semelhantes têm um significado esotérico e astrológico que será apresentado nos artigos referentes ao assunto, portanto, não entraremos nessa parte da questão nesse momento. Responderemos apenas à última parte da pergunta: “É possível a um Espírito, sem um Corpo Denso, comer, beber e ser tocado?”. Nas Regiões inferiores do Mundo do Desejo, que interpenetram a Região Etérica do Mundo Físico, há classes de Espíritos dos quais muito se fala na literatura espiritualista. Eles vivem em casas, comem e bebem. Eles têm, de fato, um modo de vida semelhante ao nosso, e continuam a viver, até certo ponto, como quando estavam entre nós no Mundo visível. Também é possível para um Espírito materializado ou para um Iniciado, que se materializa, comer e beber, mas, nesse caso, seria necessário dispor dos materiais introduzidos ao Corpo por um método diferente do processo comum de assimilação.
(Pergunta número 105 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. II – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
(*) Pintura: São Tomé-Thomas- c. 1601-1602 Michelangelo Merisi, Caravaggio
Para bem compreender o procedimento de Cristo-Jesus, dando a Pedro as chaves do Reino dos Céus (Mt 16:17-19)[1], primeiramente torna-se necessário ter uma ideia lógica do significado do termo “Reino dos Céus”. Em vez de admitir o Céu como um lugar para o qual iremos para eterno descanso, depois de termos perdido a nossa “capa mortal”, atentemos para as Escrituras e consideremo-lo como um estado de consciência. “O Reino dos Céus está dentro de vós”[2], nos é ensinado, daí porque devemos admitir a expressão literalmente e aplicá-la cientificamente em nossas vidas diárias, a fim de que possamos desenvolver o poder espiritual interno que nos fornece a possibilidade de contato e de funcionamento nos Mundos superiores.
Existem sete Mundos. Para penetrar e funcionar neles, conscientemente, devemos possuir as “chaves espirituais” correspondentes a cada um. São as “chaves” a que Cristo-Jesus se referia e que, por sua vez, Max Heindel nos ensina como sendo realmente as “chaves musicais” ou fórmulas mágicas adotadas na Ordem Rosacruz. Na Ordem Rosacruz há palavras-chaves formuladas para cada grau diferente entre si, de forma que todo aquele que não tiver a chave é incapaz de tonalizar-se, ficando impedido, por assim dizer, por uma parede invisível, de penetrar no Templo da Ordem Rosacruz.
Nas Regiões inferiores do Mundo do Desejo há uma vibração diferente, muito mais baixa do que as outras Regiões dos outros Mundos suprafísicos. É o que constitui o que popularmente se chama de “inferno”. As vibrações que nas Regiões superiores do Mundo do Desejo e na Região do Pensamento Concreto são mais elevadas e para se trabalhar nelas há que ter a “chave”. Essa gama de vibração difere do tom dos estados de matéria que se encontram no interior da Terra, isto é, em cada um dos nove Estratos da Terra, subterrâneos. Portanto, cada uma dessas divisões dos Mundo invisíveis tem a sua nota-chave ou palavra-chave, que gradualmente é revelada aos Iniciados, na medida em que progridem no caminho do Adeptado. A S. Pedro foi dada uma ou mais notas-chaves desses vários Reinos, bem como a outros, por Cristo, que, nesse caso, foi o Iniciador. Atualmente, as mesmas “chaves” são fornecidas aos seguidores de Cristo, dignos de conhecer os mistérios para assim servirem a seus semelhantes numa maior esfera de ação.
(Publicado na Revista “Serviço Rosacruz” – agosto/1971 – Fraternidade Rosacruz-SP)
[1] N.R.: 17Jesus respondeu-lhe: “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne ou sangue que te revelaram isso, e sim o meu Pai que está nos céus. 18Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela. 19Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus.”
[2] N.R.: Lc 17:21
Resposta: A Força de Atração domina soberana as substâncias mais sutis das três Regiões superiores do Mundo do Desejo. Mas ela também está presente, até certo ponto, na matéria mais densa das três Regiões inferiores, onde age contra a Força de Repulsão, ali dominante. A desintegradora Força de Repulsão destruiria imediatamente todas as formas que penetrassem nessas Regiões inferiores, se não fosse contrabalanceada. Nas Regiões inferiores, onde o poder da Força de Repulsão é enorme, ela dilacera as formas ali construídas de maneira terrível. Ela não é, contudo, uma forçavandálica. Nada na natureza é vandálico. Tudo o que assim parecer está apenas trabalhando para o bem, como acontece com a Força de Repulsão em seu trabalho nas Regiões inferiores do Mundo do Desejo. As formas ali existentes são criações demoníacas, construídas pelas nossas paixões e nossos desejos mais grosseiros.
A tendência de todas as formas existentes no Mundo do Desejo é crescer, e para isso atraem a si tudo o que lhes é de natureza semelhante. Se esta tendência para a atração predominasse nas Regiões inferiores, o mal desenvolveria como erva daninha. Haveria, pois, anarquia em lugar de ordem no Cosmos. Isto é obstado pelo poder preponderante da Força de Repulsão. Quando uma forma de desejo grosseiro está sendo atraída por outra de mesma natureza, há uma desarmonia em suas vibrações, ocorrendo um efeito mútuo desintegrador. Assim, pois, em lugar de unir e amalgamar mal com mal, elas agem com mútua destrutividade. Dessa maneira o mal no mundo é conservado dentro de limites razoáveis. Quando entendermos a obra dessas forças gêmeas poderemos compreender a máxima oculta: “Uma mentira é assassina e suicida no Mundo do Desejo”. Os alcóolatras, que estão no Mundo do Desejo após morrerem mais uma vez aqui, tentam, na realidade, elaborar as bebidas alcoólicas de que necessitam, pois sabem que é possível plasmar a matéria de desejos naquilo que eles queiram. Mas, todos declaram unanimamente, que as bebidas alcoólicas que fabricam dessa maneira não lhes dão satisfação.
Tais bebidas alcoólicas podem imitar perfeitamente o gosto, mas não tem o poder de deixá-los bêbados. O máximo que podem fazer, a fim de terem a sensação de estarem embriagados, é induzirem nos Corpos de Desejos de irmãos e de irmãs que tomam bebidas alcoólicas e que ainda estão no Mundo Físico. Estão, pois, frequentemente visitando bares, botequins e quaisquer lugares em que se consomem bebidas alcoólicas, e se esforçando por induzir os frequentadores desses lugares a consumirem doses excessivas de bebidas alcóolicas.
Eles também dizem sentir grande satisfação ao aspirar os odores dos Corpos Densos dos irmãos e das irmãs alcoólatras. E quanto mais pesada e acre for a atmosfera dos lugares em que se consomem bebidas alcoólicas, tanto mais satisfação eles obtêm. Se os pobres coitados que visitam tais lugares pudessem ver a tática repugnante dos réprobos invisíveis que os rondam, certamente despertariam, e isso seria um auxílio para todos os que não tivessem ido demasiadamente longe. Mas, graças a Deus (tanto pelos irmãos e pelas irmãs alcóolatras visíveis quanto pelos invisíveis) é impossível criar um antro de vício usando a matéria de desejos, pois a Força de Repulsão a destruiria tão logo fosse criada.
(Publicado na Revista Rosacruz – novembro/1974 – Fraternidade Rosacruz-SP)
A morte é a passagem do indivíduo de um Mundo para outro, uma remoção para outro plano onde vivemos sem qualquer alteração, pois apenas o nosso ambiente e as condições exteriores são alterados. Essa ida de um Mundo para outro é, geralmente, acompanhada por mais inconsciência ou menos. Quando despertamos no Mundo do Desejo, nós somos, com uma exceção, a mesma pessoa com todos os aspectos que tínhamos antes da morte. Qualquer um que nos visse lá iria nos reconhecer, se nos conheceu aqui, na Região Química do Mundo Físico.
Não há poder transformador na morte; o nosso caráter não muda! O ser humano perverso e o bêbado continuam perverso e bêbado; o avarento ainda é um avarento; o ladrão é tão desonesto como antes. Mas há uma grande e importante mudança em todos eles: todos perderam seu Corpo Denso e isso faz toda a diferença em relação à satisfação de seus vários desejos. O bêbado não pode beber nada, pois ele não tem estômago (nem físico e nem vital) e embora tente de todas as maneiras possíveis satisfazer o seu desejo de bebida alcoólica, é estritamente impossível e em consequência disso ele sofre as torturas de Tântalo[1] até que, finalmente, o desejo se queima por falta de satisfação, como acontece com todos os desejos, sentimentos e emoções, inclusive na nossa vida física aqui.
Note que não é uma Divindade vingadora que mede o sofrimento no Purgatório, nem um demônio que executa o julgamento; mas os desejos, sentimentos e as emoções malignos, cultivados em cada vida terrena por nós e incapazes de gratificação no Mundo do Desejo, é que causam o sofrimento, até que, com o tempo, eles são dissipados. Assim, o sofrimento é estritamente proporcional à força de cada hábito maligno praticado na vida recém-finda.
Enquanto nossos maus hábitos são tratados dessa maneira geral, nossas ações más e específicas são tratadas da seguinte maneira: no momento da morte, antes que nós, o Espírito ou Ego humano, vestido com a bainha da Mente e do Corpo de Desejos, seja inteiramente retirado da forma física, um Panorama da Vida prestes a terminar é gravado no Corpo de Desejos e esse panorama começa a se desdobrar para trás da morte ao nascimento, após nossa entrada no Purgatório, que está localizado nas três Regiões inferiores do Mundo do Desejo. No Corpo de Desejos de alguns existe uma preponderância de matéria de desejo grosseira ou inferior e, em outros, de matéria de desejo fina ou superior; isso faz a diferença no nosso ambiente e status quando entramos no Mundo do Desejo após a morte, pois então a matéria do Corpo de Desejos, enquanto assume o aspecto e a forma do Corpo Denso que foi descartado, ao mesmo tempo se organiza de modo que a matéria mais sutil e pertencente às Regiões superiores do Mundo do Desejo forma o centro do veículo, enquanto a matéria das três Regiões inferior fica na periferia desse Corpo.
Quando mais uma vida terrena nossa termina, nós exercemos uma força centrífuga para nos libertarmos do nossos Corpos. Seguindo a mesma lei que faz um Planeta lançar ao espaço a parte de si mesmo que é mais densa e cristalizada, primeiramente descartamos o nosso Corpo Denso. E isso nós chamamos de “morte”. Esse é o momento em que o Panorama da Vida é gravado no nosso Corpo de Desejos. Quando entramos no Mundo do Desejo, essa força centrífuga continua a agir de modo a lançar a matéria mais grosseira ou inferior desse Corpo de Desejos para fora; assim somos forçados a permanecer nas Regiões inferiores do Mundo do Desejo, o Purgatório, até ser purgado dos desejos, sentimentos e emoções mais grosseiros que foram incorporados à nossa matéria de desejo. A matéria de desejo mais grosseira ou inferior está, portanto, sempre na periferia do nosso Corpo de Desejos, enquanto passamos pelo Purgatório, sendo gradualmente eliminada pela força centrífuga.
Durante esse tempo, o Panorama da Vida é, gradualmente, desdobrado para trás, da morte ao nascimento, como dito acima, a uma taxa de, aproximadamente, três vezes a velocidade da nossa vida física, de modo que alguém que tivesse sessenta anos no momento da morte viveria sua vida no Mundo do Desejo em vinte anos. No Purgatório, enquanto o Panorama da Vida que acabou se desenvolve, o bem contido nele não causa qualquer impressão em nós, mas todo o mal reage sobre nós de tal forma que, nas cenas em que nós fizemos outro ser sofrer, nós próprios nos sentimos sofrendo como o ser que fizemos sofrer sofreu. Sofremos toda a dor e angústia que nossa vítima sentiu; como a velocidade da vida é triplicada aqui, o sofrimento também é! E ainda mais agudo, pois o Corpo Denso tem uma vibração tão lenta que diminui até mesmo o sofrimento, mas no Mundo do Desejo, quando estamos sem o veículo físico, o sofrimento é muito mais intenso e quanto mais nítida a impressão panorâmica da vida passada for gravada no Corpo de Desejos no momento da morte, mais sofreremos e mais claramente sentiremos em nossas vidas futuras que a transgressão deve ser evitada, ou que “vida do transgressor é dura e sofrida” (Pb 13:15).
Assim, somos purgados de todo tipo de mal, pois a missão do Purgatório é erradicar os nossos hábitos prejudiciais, tornando nossa gratificação impossível. É por causa do nosso sofrimento lá que aprendemos a agir gentilmente, honestamente e com tolerância para com os outros aqui. Quando nascemos de novo, estamos livres dos maus hábitos e nova obra, ação ou todo novo ato malignos que cometemos vem do livre-arbítrio. Às vezes, essas tendências nos tentam, proporcionando-nos uma oportunidade de nos posicionar do lado da misericórdia, da compaixão, da paciência e da virtude, contra o vício e a crueldade.
Mas para indicar o ato, a ação ou a obra correta e nos ajudar a resistir às armadilhas e artimanhas da tentação, temos o sentimento resultante da expurgação de hábitos malignos e da expiação dos atos errados de vidas passadas: a consciência moral produzida pelo sofrimento purgatorial. Se dermos atenção a esse sentimento e nos abstermos do mal a tentação cessará: nós nos libertaremos dela para sempre. Se cedermos, porém, experimentaremos um sofrimento mais agudo do que antes até que finalmente tenhamos aprendido a viver pela Regra de Ouro (Mt 7:12), porque o “caminho do transgressor é muito difícil”. Logo, o Purgatório tem influência fundamental no Crescimento da Alma.
Entretanto aprendemos na Fraternidade Rosacruz que há um benefício inestimável em conhecer o método e o objetivo dessa purgação, porque assim somos capazes de evitá-la, vivendo nosso Purgatório aqui e agora, dia a dia, avançando muito mais rápido do que seria possível de outra forma. Um exercício é fornecido na última parte do livro Conceito Rosacruz do Cosmos – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz, cuja intenção é a purificação como ajuda para o desenvolvimento da visão espiritual. Consiste em refletir sobre os acontecimentos do dia após se retirar para dormir, à noite, e julgar cada incidente para verificar se agimos corretamente ou não. Se dessa maneira superarmos conscientemente nossas fraquezas, também faremos um avanço muito objetivo na Escola da Evolução. Mesmo se falharmos em corrigir nossas ações, teremos um imenso benefício ao julgar a nós mesmos, gerando assim aspirações para o bem que, com o tempo, certamente darão frutos em forma de ações corretas.
Arrependimento e reforma íntima também são fatores poderosos para encurtar a existência purgatorial, pois a natureza nunca desperdiça esforços em processos inúteis. Quando percebemos o erro de certos hábitos ou atos em nossa vida e determinamos erradicar esse hábito e compensar o erro, nós drenamos suas imagens da Memória ou Mente Subconsciente e eles não estarão no Purgatório para nos julgar após a morte. Mesmo que não sejamos capazes de fazer a restituição por um erro cometido, a sinceridade do nosso arrependimento será suficiente. A indenização pode ser oferecida à nossa vítima de outras maneiras.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de maio de 1916, e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)
[1] N.T.: Em sua história, conta-se que, ousando testar a omnisciência dos deuses, roubou os manjares divinos e serviu-lhes a carne do próprio filho Pélope num festim. Como castigo foi lançado ao Tártaro, onde, em um vale abundante em vegetação e água, foi sentenciado a não poder saciar sua fome e sede, visto que, ao aproximar-se da água essa escoava e ao erguer-se para colher os frutos das árvores, os ramos moviam-se para longe de seu alcance sob a força do vento. A expressão suplício de Tântalo refere-se ao sofrimento daquele que deseja algo aparentemente próximo, porém, inalcançável, a exemplo do ditado popular “Tão perto e, ainda assim, tão longe”.
Há uma classe de sensitivos com caracteres fortes positivos por seu poder interno, de acordo com os ditados de sua própria vontade. Esses caracteres podem ser treinados para se converter em Clarividentes voluntários e serem seus próprios senhores em lugar de serem escravos de um Espírito desencarnado (de um irmão ou de uma irmã que morreu e não entrou no Purgatório, ou seja: um “Espírito apegado à Terra”, vivendo nas três Regiões inferiores do Mundo do Desejo por meio do seu Corpo de Desejos).
Em alguns sensitivos é possível extrair parte do Éter que forma o Corpo Vital. Quando um Espírito desencarnado obtém acesso a um sujeito de tal natureza, desenvolve esse sensitivo como um Clarividente involuntário, chamado de “médium materializante”.
O ser humano que é capaz de extrair os dois Éteres superiores do seu Corpo Vital por um ato volitivo se converte em um cidadão de dois Mundos, consciente, independente e livre. São conhecidos, geralmente, como Auxiliares Invisíveis Conscientes. Por meio dos Exercícios Esotéricos fornecidos pela Escola dos Ensinamentos Ocidentais, a Fraternidade Rosacruz, pode-se lograr, com o tempo, separar os dois Éteres Superiores do dois Éteres inferiores do Corpo Vital – que chamamos de Corpo-Alma –, então, pode sair de seu Corpo Denso, o físico, deixando-o abandonado momentaneamente, rodeado e vitalizado somente pelos dois Éteres Inferiores do seu Corpo Vital. Com esse Corpo-Alma ele pode sair levando o seu Corpo de Desejos e a sua Mente para quaisquer distâncias, mantendo-se ligado ao Corpo Denso por meio do Cordão Prateado.
Os Auxiliares Invisíveis são seres humanos que chegaram a um grau de evolução tal, que, ao mesmo tempo que observam durante o dia, em seu Corpo Denso, uma vida consagrada ao serviço amoroso e desinteressado (portanto, o mais anônimo possível) ao seu irmão e a sua irmã, focando na divina essência oculta que há dentro de nós – e que é a base da Fraternidade, têm merecido o privilégio de ser, durante a noite, os colaboradores assíduos dos Irmãos Maiores. Os Auxiliares Invisíveis podem dirigir correntes de força vital solar para fins de cura para os irmãos e as irmãs doentes e, também, podem materializar mãos para manipular a parte enferma do Corpo Vital desses irmãos e dessas irmãs. Todos eles trabalham sob a direção dos Irmãos Maiores, que são os geradores da Panaceia Espiritual Curativa.
Contudo, para se converter em um Auxiliar Invisível é necessário, primeiramente, ser um Auxiliar Visível, ou seja, levar uma vida durante o dia voltada: a ajudar os nossos irmãos e as nossas irmãs; a fazer os Exercícios Esotéricos Rosacruzes; a oficiar diariamente os Rituais dos Serviços Devocionais; a trilhar o Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz e, importantíssimo voltada a prática do serviço amoroso e desinteressado (portanto, o mais anônimo possível) ao seu irmão e a sua irmã que estão ao seu lado, focando na divina essência oculta que há dentro de nós – e que é a base da Fraternidade.
(Publicado no O Encontro Rosacruz – Fraternidade Rosacruz de Santo André – SP – abril/1982)
Resposta: Indubitavelmente Cristo deu-as a S. Pedro, bem como a outros, mas não eram chaves semelhantes as que usamos para abrir as portas. Contudo, nenhum ser humano pode entrar em certos lugares a menos que tenha essas “chaves”. São “chaves” musicais ou encantações, tais como são usadas em todas as ordens ocultas para todos os fins ocultos.
Nas ordens ocultas, como a Ordem Rosacruz, a nota tônica ou “chave mestra” da encantação para cada grau, é de medida vibratória diferente de todos os outros graus, e uma pessoa que não possua esta nota chave e não seja, portanto, capaz de se harmonizar a ela, é detido como se houvesse um muro invisível vibratório ao redor do Templo. Na substância das três Regiões inferiores do Mundo do Desejo, que rodeia a Terra e onde está localizado o Purgatório, há uma vibração diferente da que existe na parte de nossa atmosfera onde se localizam as três Regiões superiores do Mundo do Desejo (onde se localiza o Primeiro Céu) e a Região do Pensamento Concreto (onde se localiza do Segundo Céu).
Esta frequência vibratória, por sua vez, difere daquela que existe nos estados da matéria que está no interior da Terra, em cada um dos nove Estratos subterrâneas. Portanto, cada uma dessas divisões dos Mundos invisíveis também exige uma nota tônica ou “chave” mestra diferente, que são ensinadas gradualmente aos Iniciados, à medida que eles progridem no Caminho de Iniciação Rosacruz à qualidade de Adeptos. Foi a nota tônica ou “chave” mestra de um ou mais de um desses reinos, que foi fornecida a S. Pedro e a outros, por Cristo, que era a Iniciador em seus casos. As mesmas “chaves” são dadas atualmente a Seus seguidores por Seus sucessores, que iniciam os que são dignos das Iniciações, a fim de que eles possam servir a Humanidade melhor e mais diligentemente.
Assim, vemos que a música tem, pois, uma missão mais sublime que nos servir de simples deleite. De fato, a harmonia das esferas é a base de toda a evolução. Sem ela não haveria progresso, e uma vez nossos ouvidos harmonizados a ela, teremos a “chave” de todo o adiantamento.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz julho/1972 – Fraternidade Rosacruz-SP)
Resposta: Infelizmente, tal como é comumente praticada, é muitas vezes um pedido a Deus para interferir a favor do suplicante e lhe permitir alcançar um objetivo egoísta. É certamente uma vergonha que pessoas empenhadas em violar os mandamentos de Deus, como “Não matarás”, rezem pela vitória sobre os seus inimigos; se medirmos a maioria das orações oferecidas hoje, pelo padrão estabelecido por Cristo na Oração do Senhor, elas certamente não merecerão o nome de oração. São blasfêmias e seria mil vezes melhor que nunca tivessem sido proferidas.
A Oração do Pai-Nosso nos foi dado como modelo e faremos bem em analisá-la, se quisermos chegar a uma conclusão adequada. Se o fizermos, verificaremos que três das sete orações que o compõem dizem respeito à adoração do Divino: “Santificado seja o Vosso nome; venha a nós o Seu Reino; seja feita a Sua vontade”. Depois vem a petição do pão diário e necessário para manter o nosso Corpo Denso vivo; as três orações restantes são para a libertação do mal e o perdão das nossas dívidas. A partir desses fatos, é evidente que toda oração digna deve conter uma medida esmagadora de adoração, louvor e reconhecimento da nossa indignidade, junto de uma firme resolução de nos esforçarmos para sermos mais agradáveis ao nosso Pai Celestial. O objetivo principal da oração é, portanto, entrar em comunhão com Deus o mais rápido possível objetivando que a Vida e a Luz divinas possam fluir para dentro de nós e nos iluminar para que possamos crescer à Sua imagem e semelhança.
Trata-se de um ponto de vista diametralmente oposto à ideia comum de oração, que considera que, sendo Deus o nosso Pai, podemos nos dirigir a Ele em oração e Ele é obrigado a realizar o desejo do nosso coração. Se não conseguirmos na primeira tentativa, basta continuar rezando e, devido à nossa importunação, o nosso desejo será satisfeito. Tal visão é repelente para o Místico iluminado e, se trouxermos o assunto para uma base prática, é evidente que um pai sábio, tendo um filho capaz de se sustentar, naturalmente se ressentiria se esse filho aparecesse diante dele várias vezes por dia com pedidos importunos para ganhar isso, aquilo ou outra coisa que ele possa facilmente obter pelo trabalho, ganhando os meios para isso.
A oração, por mais séria e sincera que seja, nunca pode tomar o lugar do trabalho. Se trabalharmos para realizar um bom objetivo com todo o nosso coração, a nossa alma, o nosso corpo e, ao mesmo tempo, pedirmos a Deus que abençoe o nosso trabalho, não há dúvida de que o pedido será sempre atendido; mas se não pusermos a mão na massa, não teremos o direito de pedir ajuda à Divindade.
Como foi dito anteriormente, o peso das nossas orações deve ser o louvor a Deus, de Quem todas as bênçãos fluem, porque os nossos Corpos de Desejos são formados de materiais de todas as sete Regiões do Mundo do Desejo na proporção das nossas necessidades, conforme determinado pela natureza dos nossos pensamentos. Cada pensamento se reveste de material de desejo congruente com a sua natureza. Isso também se aplica aos pensamentos formados e expressos na oração. Se forem egoístas, atraem para si um invólucro composto pelas Regiões inferiores do Mundo do Desejo; mas se forem nobres, altruístas e generosos, vibram no tom mais elevado das Regiões da Luz Anímica, da Vida Anímica e do Poder Anímico. Eles, então, se vestem com esse material, dando mais vida e luz à nossa natureza espiritual.
Mesmo quando rezamos pelos outros é prejudicial pedir qualquer coisa material ou mundana; é permitido pedir saúde, mas não prosperidade econômica. “Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça”[1] é o mandamento. Quando cumprimos esse mandamento, podemos ter a certeza de que “todas essas coisas”[2] também nos serão dadas. Portanto, quando orarmos por um amigo, coloquemos todo o nosso coração e toda a nossa alma na petição para que ele possa buscar permanentemente o caminho, a verdade e a vida, pois uma vez encontrado o maior de todos os tesouros, nenhuma necessidade real será negada. Isso também não é teoria. Milhares de pessoas, incluindo o escritor, descobriram que o “Pai nosso que estais no Céus” cuidará de nossas necessidades materiais, quando nos esforçarmos para viver a vida espiritual. No entanto, em última análise, não é a oração falada que ajuda. Há pessoas que podem conduzir uma congregação em oração que é, ambas, perfeita em linguagem e sentimento poético. Elas podem até adequar suas orações aos princípios estabelecidos pelo Senhor, tal como enunciado nos nossos parágrafos iniciais e, no entanto, essa oração pode ser uma abominação porque lhe falta um requisito essencial. Se toda a nossa vida não for uma oração, não poderemos ser agradáveis a Deus, por mais belas que sejam as nossas petições. Por outro lado, se nos esforçarmos no dia-a-dia para viver de acordo com a Sua vontade, então, mesmo que nós próprios saibamos que estejamos muito aquém do nosso ideal e mesmo que, tal como o publicano no Templo[3], sejamos de fala hesitante e só consigamos bater no peito e dizer “Deus, tem piedade de mim, sou pecador”, mesmo assim descobriremos que o Espírito, conhecendo nossas necessidades, intercede por nós com gemidos indizíveis e que nossa modesta súplica diante do trono da Graça valerá mais que todos os discursos floridos que possamos fazer.
Você também pergunta: “a oração é equivalente à concentração e à meditação?”.
Concentração consiste em focalizar o pensamento em um único ponto, tal como os raios do Sol são focalizados por meio de um vidro. Quando difundidos sobre a superfície de toda a Terra, eles fornecem apenas um calor moderado, mas mesmo alguns raios de Sol, quando focalizados por uma lente comum de óculos, incendeiam o material inflamável no qual são focalizados. Da mesma forma, o pensamento que se move doce e iluminadamente através do cérebro, como a água escorre através de uma peneira, não tem valor, mas quando concentrado em um determinado objeto, ele ganha intensidade e atingirá o objetivo, seja para o bem ou para o mal. Os membros de uma ordem praticaram a concentração contra seus inimigos durante séculos e foi verificado que o infortúnio ou a morte atingiam sempre o objeto do seu desfavor. Nós ouvimos falar, entre certos grupos, atualmente de “magnetismo malicioso” aplicado pela concentração do pensamento. Por outro lado, a concentração do poder do pensamento também pode, também, ser usada para curar e ajudar; não faltam exemplos para fundamentar essa afirmação. Podemos, assim, dizer que a concentração seja a aplicação direta do poder do pensamento para alcançar um determinado objeto, que pode ser bom ou mau de acordo com o carácter da pessoa que o pratica e o propósito para o qual deseja usá-lo.
A oração é semelhante à concentração em certos pontos, mas difere radicalmente em outros. Enquanto a eficácia da oração depende da intensidade da concentração alcançada pelo devoto, ela é acompanhada por sentimentos de amor e devoção de igual intensidade à profundidade da concentração, o que torna a oração muito mais eficaz do que a concentração fria pode ser. Além disso, é extremamente difícil, para a grande maioria das pessoas, concentrar os seus pensamentos de forma fria, calma e sem a menor emoção e, ainda, excluir todas as outras considerações da sua consciência. A atitude devocional é mais facilmente cultivada, pois a Mente é, então, centrada na Divindade.
A meditação é o método de, pelo poder espiritual, obter conhecimento de coisas com as quais não estamos normalmente familiarizados.
No livro Conceito Rosacruz do Cosmos há um capítulo que apresenta minuciosamente o método de aquisição de Conhecimento Direto, o qual elucida longamente esses pontos, e nós aconselhamos um estudo minucioso daquela parte detalhada nesse livro.
(Pergunta 135 do Livro Filosofia Rosacruz por Perguntas e Respostas vol. II, de Max Heindel-Fraternidade Rosacruz)
[1] N.T.: Mt 6:33
[2] N.T.: Mt 6:33
[3] N.T.: O fariseu e o publicano: Contou ainda esta parábola para alguns que, convencidos de serem justos, desprezavam os outros: “Dois homens subiram ao Templo para orar; um era fariseu e o outro publicano. O fariseu, de pé, orava interiormente deste modo: ‘Ó Deus, eu te dou graças porque não sou como o resto dos homens, ladrões, injustos, adúlteros, nem como este publicano; jejuo duas vezes por semana, pago o dízimo de todos os meus rendimentos’. O publicano, mantendo-se à distância, não ousava sequer levantar os olhos para o céu, mas batia no peito dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim, pecador!’ Eu vos digo que este último desceu para casa justificado, o outro não. Pois todo o que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.” (Lc 18:9-14).
Nossa vida aqui é de curta duração (quiçá 70, 80 anos contra, em torno, de 1000 anos de vida celeste!). Deveríamos perguntar-nos: Que uso posso fazer de minhas forças para delas tirar o melhor partido possível enquanto estou peregrinando nessa vida terrestre? Como posso contribuir mais para a glória de Deus e o bem-estar dos meus semelhantes aqui e agora? Pois é isso somente que dá valor à vida aqui!
Nosso desenvolvimento físico depende da nutrição de nosso organismo – do nosso Corpo Denso –, consequentemente, de nossa alimentação. É de admirar que muitos de nós, possuidor de poderosa inteligência, menosprezemos a influência da alimentação sobre a preservação da nossa própria saúde. Não temos o direito de prejudicar nenhuma das funções do nosso Corpo Denso, seja ela qual for. Se o fizermos, sofremos seguramente as consequências, pois a Lei de Causa e Efeito é inexorável, pois é uma das Leis de Deus.
Está nas mãos de cada um de nós ser o que devemos ser. As bênçãos da vida presente e as da vida futura nos são sempre acessíveis. Uma Personalidade de elite ou uma vida infeliz dependem do nosso procedimento. A alimentação tem influência decisiva na nossa formação física, emocional e mental.
Apesar de todas as evidências dessa verdade, muitos de nós comem e bebem desordenadamente, sem se preocupar com as consequências decorrentes da escolha dos alimentos. Como efeito disso, como consequência disso, os desejos, as emoções e os sentimentos inferiores (que é o que conseguimos coletar das três Regiões inferiores do Mundo do Desejo e expressar por meio do nosso Corpo de Desejos) dominam e as inclinações para a autodestruição destroem tais irmãos e irmãs.
Se caprichamos na escolha dos nossos alimentos (se precisar, gastando até mais do que roupas, divertimento, automóveis e outros bens materiais), temos como efeito disso, como consequência disso, os desejos, as emoções e os sentimentos superiores (que é o que conseguimos coletar das três Regiões superiores do Mundo do Desejo e expressar por meio do nosso Corpo de Desejos), o que se traduz em ideais nobres e elevadas aspirações. Como aprendemos quando nos dedicamos a assimilar os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, aqueles irmãos e aquelas irmãs que fazem uso de alimentos animais (mamíferos, aves, peixes, crustáceos, anfíbios, frutos do mar e afins) nem sempre têm lúcido o cérebro nem bem ativa a inteligência, porque o uso da carne animal tende a tornar impuros os tecidos, em detrimento das faculdades intelectuais, predispondo, igualmente, para as doenças e enfermidades (muitas delas a própria Ciência material já chegou a essa conclusão, comprovando com testes e mais testes). A carne animal não é indispensável para a manutenção da força e saúde, como muitos ainda advogam. Um exemplo disso nos vem dos cocheiros noruegueses, que não conhecem o uso da carne animal, acompanham seus carros que transportam turistas, por estes guiados, correndo três ou quatro léguas ao lado deles.
Desde o século XIX, o vegetarismo vem sendo considerado, pelos investigadores insuspeitos e imparciais, como regime capaz de proporcionar saúde e força física, bem como acuidade mental e firmeza de caráter.
Apesar de que muitas pessoas praticavam o regime, foi Jean-Antoine Gleizes (1773-1843, um escritor francês e defensor do vegetarianismo, extremamente popular e influente na sua época, com estudos e argumentos muito interessantes no seu livro: Thalysie: ou La Nouvelle Existence, em 1840) o grande apóstolo do vegetarianismo daquele século. Estudando o assunto, do ponto de vista fisiológico e científico, em seu livro Thalysie, assentou as bases do vegetarianismo. Sob sua inspiração formaram-se sociedades vegetarianas na Inglaterra, onde os adeptos do novo regime se tornaram numerosos; editaram-se revistas, fizeram-se conferências e usaram-se outros meios de divulgação, tendo o Governo inglês publicado um livro de cozinha vegetariana, com o objetivo de proporcionar à população uma alimentação mais saudável e mais barata. O proselitismo alcançou a indústria. M. Hills, dirigente de vastas oficinas de construções navais em Blackwall, fundou a London Vegetariana Association. A grande maioria do pessoal dessas usinas, tanto operários como intelectuais, seguiram o regime vegetariano, abandonaram o uso do vinho, da cerveja, dos aperitivos, do uísque e afins, com grande aproveitamento para a saúde e a eficiência.
Hill montou uma fazenda com o objetivo de dar trabalho aos desempregados, em Wickford Essex, a cerca de vinte e cinco quilômetros de Londres. Muitos pobres aí chegaram em estado de grande miséria. Depois de três ou quatro dias, dormindo na fazenda e nutridos sob regime vegetariano, passaram a ganhar bom salário.
Em relatório ao Congresso Vegetariano, o secretário da Sociedade concluiu, nos seguintes termos: “Temos, portanto, em nossas fileiras, operários praticando os mais rudes trabalhos de forja, laminação, altos fornos, funcionários de escritório, homens velhos e enfraquecidos por privações que, graças ao nosso regime, chegam a recuperar sua atividade e a ganhar a vida facilmente no trabalho da fazenda e das oficinas”.
Muitas sociedades vegetarianas se fundaram em várias cidades inglesas. Um restaurante vegetariano fornecia uma refeição por preço duas e meia vezes menor que o preço de uma refeição que contivesse carne animal.
Logo, na Alemanha, surgiram sociedades para o estudo e divulgação do vegetarismo. Entre elas se destaca a Deutscher Vegetarier Band que afinal se tornou “pangermânica” e publicou um jornal — o Vegetarische Warte.
Na Áustria e na Hungria os restaurantes vegetarianos tiveram grande popularidade.
Nos Estados Unidos o vegetarismo se instalou, independentemente da influência de Jean-Antoine Gleizes.
Os adeptos do regime que preconizava o uso do pão integral e arroz integral foram denominados de “papa-farelo”, e ridicularizados. A Ciência, pouco tempo depois, sancionou a prática. Hoje, há em todo o mundo centenas de fábricas de alimentos não refinados, de base vegetarista, que proporcionam nutrimento saudável. Em todo o mundo milhões de pessoas doentes se recuperam com o uso da dieta vegetariana bem orientada. Com base na mesma orientação, há, no Brasil, hospitais, clínicas e sociedades que difundem esses conhecimentos e os praticam, visando ao aperfeiçoamento da Humanidade, tanto do ponto de vista pessoal como coletivo, buscando contribuir para a glória de Deus e o bem-estar de seus semelhantes.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de julho/1967-Fraternidade Rosacruz-SP)
Que o Delirium Tremens é o resultado direto do excesso de álcool é algo bem conhecido. Mas, como age esse excesso de indulgência? E por que alguns bebedores e algumas bebedoras (que tomam bebidas alcoólicas) inveterados nunca “viram cobras”, enquanto outras vítimas, bem mais brandas, viram de tal forma que isso resultou até em perdas de vidas? De acordo com um editor do The Journal of the American Medical Association (O Jornal da Associação Médica Americana) isso ainda é um mistério. Não faltam teorias sobre o Delirium Tremens; porém, muitas indicam que a verdade ainda não foi descoberta em sua totalidade.
Parece haver um motivo interessante, embora inquietante, para o renascimento da pesquisa sobre o assunto, agora. O escritor nos conta que, desde que a Lei de Entorpecentes Harrison entrou em vigor, muitos usuários de droga, tendo esgotado seu estoque e não conseguindo obter mais, recorreram ao álcool como substituto. Em alguns, que já bebiam há anos, o aumento repentino e marcante na quantidade de bebida alcoólica que foi consumida causou ocorrência frequente de Delirium Tremens. Depois de observar que “o envenenamento crônico por álcool produz alterações conhecidas no sistema nervoso central e periférico”, acrescenta, “até o momento, porém, não foram encontradas alterações no cérebro que expliquem por que um ser humano que bebe há anos subitamente desenvolve um delírio que dura um curso definido de três a cinco dias, ou até mais”.
“Pensa-se que o Delirium Tremens seja uma infecção aguda que ocorre em alcoólicos que são crônicos. No entanto, muitos casos seguem todo o seu curso sem febre e Nonne encontrou hemoculturas negativas em quinze casos consecutivos examinados por ele. Dolken acredita que o consumo contínuo de álcool resulta no surgimento de uma substância venenosa dentro do próprio cérebro e que um acúmulo ou concentração dessa substância produz o Delirium Tremens. Jacobson explica o delírio como autointoxicação. Toxinas provenientes do pneumococo, que entram no fígado, rins ou no trato intestinal e atuam no cérebro, que foi envenenado por um longo período pelo álcool. A visão de Hertz difere dessa porque o suposto veneno que precipita o delírio provém de uma insuficiência renal. Segundo Bonhoeffer, a alteração crônica do trato intestinal é responsável pela elaboração de um veneno que normalmente é excretado pelos pulmões. Wagner von Jauregg acredita que o fígado, e não os pulmões, seja o órgão que não consegue eliminar o veneno, supondo que essa falha aconteça pelas alterações que ocorrem no fígado do alcoólatra crônico. Kauffman afirmou que esse veneno é um derivado do carbono, que atua na medula alterada como efeito do alcoolismo crônico. Ele acredita que o delírio persistirá até que a formação desse derivado de carbono pare.
Todas essas teorias pressupõem um sistema nervoso central que esteja envenenado. Objetou-se, entretanto, que muitos bebedores e muitas bebedoras crônicos nunca sofram delírio. Foi sugerido que diferentes venenos podem resultar do excesso de bebida e apenas um deles causa Delirium Tremens. Há, no entanto, mais teorias.
“A possibilidade de que o delírio ocorra devido ao aumento na pressão e na quantidade de fluido espinhal foi recentemente considerada. Jauregg, de Viena, assume que o corpo dos alcoólatras crônicos se protege pela produção de um antiálcool que tem a natureza de uma antitoxina. Quando um bebedor inveterado ou uma bebedora inveterada para repentinamente de ingerir álcool, essa substância antialcoólica, sem álcool ao qual se fixar, atua sobre o estômago de maneira a produzir o Delirium Tremens. Hare afirma que o desenvolvimento do delírio acontece por uma queda repentina na quantidade de álcool que circula no sangue dos alcoólatras. Sua evidência é extraída de um estudo de setenta e cinco casos em que, em quase todos, houve grande redução na quantidade de álcool absorvida, antes do início do delírio”.
Um número cada vez maior de médicos está percebendo que muitas, senão a maioria, das doenças às quais a Humanidade está sujeita nascem do estado da Mente e das emoções, dos desejos e sentimentos que nutrimos. Eles sabem que alegria, tristeza e otimismo são determinantes no que diz respeito à saúde ou doença. Também notaram o efeito curativo da fé e da esperança, bem como a debilitação causada pelo medo ou preocupação, no pertinente ao avanço ou retardo da convalescença. Os exemplos não mostram que o medo pode matar e que a esperança pode ressuscitar alguém que está à beira da sepultura ou quase morto. No entanto, em muitos casos, eles se agarram furiosa e tenazmente às explicações materialistas, em vez de buscar uma fonte psicológica para a doença. Esse é o caso do Delirium Tremens. Sobre as teorias a respeito dessa doença, que foram registradas anteriormente, curiosamente várias chegaram perto da causa espiritual, mas não conseguiram encontrar a solução para o problema porque não foram longe o suficiente.
O álcool é um espírito e somente o espírito pode agir sobre espírito; portanto, quando é ingerido, tem efeito direto sobre o espírito do ser humano. A ideia de que o delírio seja motivado pelo aumento da pressão e quantidade de fluido espinhal é parcialmente correta, mas devemos lembrar que o chamado fluido espinhal não é um fluido durante a vida do ser humano. Essa afirmação é feita com pleno conhecimento do fato de que os cirurgiões têm repetidamente drenado o canal espinhal e extraído fluido espinhal dele.
Entretanto, também pode ser dito que o vapor é um fluido, porque o engenheiro pode tirar água de uma caldeira em que ele é gerado. Com o auxílio da visão espiritual é fácil observar que o fluido espinhal, quando o ser humano está vivo e com saúde normal, é uma substância gasosa ou mesmo etérea, sendo regida pelo místico Planeta Netuno, que detém a chave dos Mundos invisíveis. No curso da evolução humana, através de uma vida pura, o fogo espinhal é aceso e posto em vibração a tal ponto que faz vibrar também a Glândula Pituitária (ou Corpo Pituitário) e a Glândula Pineal, dois órgãos místicos cujas funções os cientistas ainda não conseguem determinar. Um é governado por Urano, o Planeta da intuição; o outro, por Netuno, o Planeta da divindade. Assim, como o arco elétrico atua entre os eletrodos positivos e negativos do carbono, em uma lâmpada de arco, produzindo uma luz brilhante que ilumina todos os arredores, também quando esse fogo espiritual da espinha atua entre esses dois pequenos órgãos, eles são iluminados e o ser humano, habilitado a ver o que era até então invisível, porque sabemos que a visão depende da taxa de vibração e a taxa vibratória estabelecida entre esses órgãos é do mesmo nível que aquele que prevalece nos Mundos invisíveis (Região Etérica do Mundo Físico, Mundo do Desejo e Mundo do Pensamento).
Da mesma forma, quando um ser humano coloca o “espírito do álcool” em seu corpo, toda a estrutura começa a vibrar em uma taxa diferente daquela que prevalecia. Uma alta pressão é criada no canal medular pelas vibrações do espírito alcoólico e, em alguns casos, ela se instala entre o Corpo Pituitário e a Glândula Pineal do bêbado ou da bêbada, de modo que ele também se sintoniza com os Mundos invisíveis. No entanto, fique claro que, assim como há uma série de vibrações no espectro solar determinando o que vemos como as várias cores, também nos Mundos invisíveis existem diferentes estratos, cada um com sua própria taxa vibratória, sendo habitado pelos seres que vibram nessa condição. Assim, o fogo espinhal do espírito gerado pelos meios legítimos de ideais elevados e nobres, uma vida pura e nobre, gera uma vibração que correlaciona o espírito ao que podemos chamar de regiões angélicas; no entanto, as vibrações baixas e bestiais produzidas pelo espírito alcoólico leva seu devoto às regiões bestiais em que os desejos, sentimentos e as emoções inferiores e sensuais (gerados a partir da manipulação das três Regiões inferiores do Mundo do Desejo) da Humanidade — paixão, luxúria, ódio, ganância, malícia, astúcia, violência e afins — incorporam-se nas formas demoníacas que são vistas pela vítima do alcoolismo.
Nem nos deveria causar surpresa que, como dito no artigo citado, alguns bebedores e algumas bebedoras contundentes nunca se tornaram vítimas do Delirium Tremens, enquanto outros, que não bebem tanto, são acometidos pela doença. Tudo depende da sua natureza — seja sensível ou insensível, emocional ou de sangue frio. Nenhuma outra droga afeta todas as pessoas da mesma forma; portanto, não deve causar surpresa que o álcool também atue de maneira diferente em pessoas diferentes.
(Publicado na revista Rays from the Rose Cross Setembro/1918 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)