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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Significância Esotérica de que o Tabernáculo no Deserto era uma sombra das coisas boas que viriam

Aprendemos por meio dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental que o Apóstolo S. Paulo estava certo quando disse que o Tabernáculo no Deserto (nossa primeira Igreja) era uma sombra das coisas boas que viriam[1]. Vamos ver como mais detalhes a questão da sombra da Cruz no Tabernáculo do Deserto.

Nos nossos Estudos Bíblicos Rosacruzes aprendemos que na Epístola de S. Paulo aos Hebreus, há uma descrição do Tabernáculo no Deserto com muitas informações sobre os costumes usados ​​ali, que beneficiam muito o Estudante Rosacruz saber. No Tabernáculo no deserto há uma promessa que foi dada nesse passado longínquo e que ainda não foi cumprida, uma promessa que se mantém válida hoje tão bem quanto no dia em que foi dada. Pois, se prestarmos a atenção devida conseguimos visualizar o arranjo das coisas dentro do Tabernáculo no Deserto formando a sombra da Cruz.

Vamos detalhar aqui para ficar mais fácil: começando no portão oriental – por onde se adentra ao Átrio do Tabernáculo no Deserto –, havia o Altar dos Sacrifícios (também chamado do Altar dos Holocaustos); um pouco mais adiante no caminho direto para o próprio Tabernáculo no Deserto, encontramos o Lavabo de Bronze, onde os Sacerdotes (que prestavam serviço no Tabernáculo) se lavavam. Entrando no Tabernáculo propriamente dito, na Sala Leste do Templo, encontramos um primeiro artigo de mobília, o Candelabro de Sete Braços – também chamado de Candelabro Dourado – na extrema esquerda dessa Sala; já na extrema direita tínhamos a Mesa dos Pães da Proposição, formando uma cruz com o caminho que temos seguido em direção ao Tabernáculo no Deserto. Bem a nossa frente, no centro, em frente ao segundo Véu, encontramos o Altar de Incenso, que forma o centro da cruz; e já na Sala Oeste – chamado o Santo dos Santos –, na parte mais ocidental do Tabernáculo no Deserto, temos a Arca da Aliança, que representa a parte mais curta ou superior da cruz.

Note, então, que o nosso atual símbolo do desenvolvimento espiritual, o nosso ideal particular de hoje, foi sombreado no antigo Templo de Mistério (o Tabernáculo no Deserto). Perceba que aquela consumação, que é alcançada no final da cruz, ou seja, a realização de obter a Lei dentro de nós mesmos, assim como estava dentro da própria Arca da Aliança, justamente é aquela com a qual todos nós devemos nos ocupar no momento presente.

(Publicado na Revista Rays from The Rose Cross de setembro/1916 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)


[1] N.T. Hb 10:1 e Cl 2:17

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Natal, uma Lição de Amor

O Natal é a época Santa do ano, ocasião em que o Raio Crístico retorna esplendoroso ao nosso Planeta. Sem a aura rejuvenescedora, curadora e fortalecedora do Cristo, penetrando anualmente em nosso globo terrestre, grande parte da Onda de Vida humana estaria inexoravelmente perdida. Esse grande presente Natalino que recebemos é a mais profunda manifestação do amor nascido eternamente de Deus-Pai.

Max Heindel, o grande místico ocultista, descreve de forma divinamente inspirada (no livro Coletâneas de um Místico – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz) a natureza do Amor Cósmico, com estas palavras: “o Espírito do Amor nasce eternamente do Pai, dia após dia, hora após hora, para o universo solar para nos redimir do mundo da matéria que nos envolve em suas garras mortais”. Este tema é particularmente oportuno para meditarmos durante esta época.

Por outro lado, causa-nos compaixão a ideia de que a maioria das pessoas faz do Natal, tornando-o um evento mais social e comercial do que místico. É verdade que o relacionamento entre nós se torna mais ameno e que há uma tendência geral à confraternização. Falta, porém, uma vivência mais mística: as pessoas acabam por se preocupar mais com presentes, ceias e coisas do gênero.

Falta um aprofundamento no significado desta festividade religiosa que se revestiu de um caráter mundano. Falta, enfim, o verdadeiro espírito do Natal!

Nós, Estudantes Rosacruzes, ou Estudantes dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, não podemos transigir com nossos princípios e valores. Devemos vivenciar os conhecimentos que recebemos. Se as circunstâncias nos obrigam ao cumprimento dos nossos deveres sociais, participando da ceia natalina em companhia dos nossos familiares, façamo-lo digna e moralmente, mostrando os nossos valores Cristãos. Abstenhamo-nos de carne animal (mamíferos, aves, peixes, crustáceos, anfíbios, frutos do mar e afins), de bebidas alcoólicas, do uso de quaisquer materiais advindos de partes dos corpos de quaisquer tipos de animais e quaisquer outros excessos. Guardemo-nos contra a pusilanimidade de violentar nossos princípios, apenas para não desagradar alguém (lembremos do ensinamento do Cristo: “sim, sim…não, não”). Sejamos firmes e coerentes em nossas convicções e estaremos contribuindo, com esse exemplo, para o estabelecimento do Reino de Deus aqui na Terra.

Não nos esqueçamos de oficiar o lindo e profundo Ritual do Serviço de Véspera de Natal – Noite Santa  que nos ajudará e muito em nos manter firmes e a criar um ambiente mais voltado para a significância real do Natal.

Se a tradição nos aconselha a dar presentes materiais, façamo-lo consoante nossas posses e com dignidade. Nada de presentes luxuosos ou fúteis. Porque não dar algo edificante? Dar presentes úteis e que reconhecidamente podem preencher uma necessidade justa de um amigo, de uma amiga ou de um parente é uma postura sensata.

Porém, o Natal verdadeiro se constitui de presentes espirituais. São aquelas dádivas que revelam a presença do Cristo em nossas vidas. E a maior dessas dádivas é o amor!

O amor deve fluir espontaneamente do nosso coração ao coração das pessoas. Deus é Amor! Somos parte de Deus e o amor que d’Ele se irradia em ilimitada medida também existe dentro de nós, aguardando apenas oportunidade de liberar. Que este Natal nos seja mais intenso em amorosidade.

(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – novembro/dezembro/1988 – Fraternidade Rosacruz-SP)

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Pergunta: Por que se diz que as Provações são Grandes Bênçãos?

Resposta: As adversidades são mais benéficas que os fatos agradáveis que nos sucedem. O indivíduo comum – mormente o que não se dedica aos estudos espirituais esotéricos dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental – dificilmente aceitará ou compreenderá esta afirmação, mas o Aspirante à vida superior, por certo, reconhecerá a verdade subjacente nestas palavras.

Em uma de suas “Cartas aos Estudantes”, Max Heindel afirma categoricamente: ” As provas são um sinal de progresso e uma causa de grande regozijo”[1]. E segue explicando que, uma vez alguém reconheça suas responsabilidades espirituais e enverede pelo caminho da espiritualidade, passa a receber contínuas oportunidades de expiar as “dívidas morais” contraídas em vidas passadas sob a Lei de Causa e Efeito.

Todo ato perverso cometido e todo pensamento desarmonioso emitido devem ser compensados. Deve haver restituição, seja diretamente a pessoa atingida, seja por meio de serviço altruísta prestado a outrem. Se o indivíduo sofre, é porque violou as Leis da Natureza – que são as Leis de Deus – e não pela vontade de um “Deus caprichoso”.

As adversidades que se manifestam como privações e sofrimento, em realidade, são oportunidades de aprendermos nossas lições – lembrando: que nós mesmo escolhemos! – e, consequentemente, crescer moral, mental e espiritualmente. Devemos expiar, aprender e crescer. Cabe-nos superar todos os resíduos de destino. Isso é imprescindível se desejamos ser suficientemente puros para conquistar o elevado grau de espiritualidade, exigível na culminação de nossos esforços para o despertamento do Cristo interno. Naturalmente, quanto mais rápido isso acontecer, mais aptos estaremos para assumir nossa responsabilidade de servir à Humanidade.

Mais capacitados, ainda, estaremos para ajudar nossos semelhantes a trilharem o mesmo Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz que agora estamos percorrendo.

Cada prova a nos atormentar, cada dilema a nos confundir, cada sensação de dor ou conflito – seja existencial ou espiritual – a nos abalar, representam oportunidades de crescimento. O recebimento dessas oportunidades é, em si mesmo, um sinal de progresso.

As Potestades Superiores estão conscientes de nossos primeiros esforços no Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz. Reconhecendo nosso empenho sincero, imediatamente fazem com que as provas se interponham em nossa caminhada.

Entendidos dessa forma, esses obstáculos são, inquestionavelmente, grandes bênçãos em nossas vidas!

Os benefícios que as provações nos trazem dependem de nossa atitude em relação a elas. Se deploremos nosso destino, só nos preocupamos; se, de alguma forma, reagimos negativamente, fazendo concessões à natureza inferior, perderemos a oportunidade de progredir. Se não aprendermos a lição da primeira vez, podemos estar seguros de que outra oportunidade se oferecerá e, provavelmente bem mais desagradável.

Não podemos fugir indefinidamente. O fracasso da primeira vez significa uma segunda prova ou quantas mais forem necessárias. Neste caso, a adversidade já deixou de ser uma benção para se converter num obstáculo ao nosso progresso.

Se reconhecermos em cada prova a sua verdadeira natureza; se encararmos o problema de frente, com alegria e otimismo, convictos de que no final tudo se resolverá satisfatoriamente, então, veremos como as coisas não são tão amargas como imaginávamos. Se reagimos a cada dificuldade, inspirados nos Ensinamentos Cristãos – como preconizados pela Fraternidade Rosacruz –, nos cuidando de, sob a mais extrema provação, agir compassivamente, fazendo o possível para promover a harmonia, daremos um grande passo em direção a nossa meta espiritual. Aprenderemos importantes lições de uma forma menos dolorosa e seremos beneficiados com um crescimento anímico inimaginável. Então, certamente, a adversidade terá sido um privilégio.

As provas, como bem o sabemos, assumem formas diversas. Vão desde o mais evidente até o incrivelmente sutil. Chegam a nos desafiar em assuntos de bem-estar físico e estabilidade emocional. Entram em nossas relações com a família, os amigos e conhecidos. Importuna-nos no trabalho e perturbam nosso descanso. Frustram nossos planos e interferem com nossas esperanças e nossos ideais.

Em certo sentido, é correto afirmar que estamos sendo constantemente provados. E se vivermos cada minuto de nossas vidas como sabemos que Cristo desejaria que o vivêssemos, então passaremos todas nossas provas gloriosamente.

Considere por um momento o significado desta afirmação: “Se vivermos cada minuto de nossas vidas como sabemos que Cristo desejaria que o vivêssemos”. Há, dentro de nós, uma pequena voz chamada consciência, dizendo como nos portar em qualquer eventualidade.

Devemos responder com paciência e amor, não importa que injustamente pareçamos ser tratados por outro indivíduo. Sabemos que se alguém necessita de ajuda, devemos prestá-la, deixando de lado nossos interesses pessoais. Sabemos, também, que em momentos de dificuldades econômicas, aparentemente sem solução, se apresentam, por si mesmas, saídas alternativas, quando recorremos a meditação e oração – como nos ensinam a Filosofia Rosacruz. E sabemos, ainda, que nossas aparentes tribulações perdem importância quando, observando o mundo ao redor, constatamos a situação muito mais desesperadora de outras pessoas. Aí, então, nos sentimos impelidos a aliviar seus sofrimentos.

Se, depois de estudarmos os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, nos perguntarmos como agiria o Cristo em uma determinada situação, logo o saberíamos. O Cristo em todas as circunstâncias seria compassivo, paciente, compreensivo e amoroso. E nós podemos agir dessa forma… se o quisermos. Afirmar tudo isso é fácil, e crer também. Difícil é fazê-lo! Mas, podemos manifestar essas elevadas virtudes… se o quisermos. Isso, claro, é difícil, porque via de regra “não o queremos”. Nossa natureza de desejos predomina sobre a razão e obtém o melhor do nosso Eu Superior. Os sentimentos de altruísmo sucumbem ante a tirania da Personalidade e o amor fraternal é vencido pela satisfação de si mesmo.

Quando fracassamos em uma de nossas provas podemos estar certos de que isso aconteceu por uma razão egoísta. É muito mais cômodo retribuir com a mesma moeda e tratar com agressividade alguém que nos tenha acusado injustamente, ou agindo de má fé.  Requer-se um caráter altamente evoluído para “caminhar o outro quilômetro”[2], procurar a “divina essência oculta” dentro de tal pessoa e se sobrepor as suas palavras vilipendiosas.

É egoísmo fugir de uma situação, porque a fuga, naquele momento, parece ser o caminho mais fácil, uma forma de alívio ou a saída para não encarar o problema de frente.

É egoísmo nos preocupar, nos impacientar, alimentar temores, porque isso é desperdiçar tempo valioso que melhor seria empregado em propósitos construtivos.

Em realidade, é egoísmo fazer coisa que nos impeça de passar por uma prova, porquanto consiste numa recusa em progredir. O crescimento de um indivíduo acrescenta muito à evolução da Onda de Vida humana. Caso uma só pessoa relute em fazer sua parte, impedirá que nossa Onda de Vida avance um pouco mais.

Se alguém considera exagerada esta afirmação lembre-se de que “uma corrente e tão forte como seu elo mais fraco”. Qualquer pessoa incapaz de assumir sua responsabilidade e se empenhar no seu fortalecimento mental, moral e espiritual, está debilitando a corrente que é a nossa Onda de Vida.

Não esqueçamos: esta mesma Onda de Vida está destinada a evoluir até o ponto de, vestida com o Dourado Traje de Bodas – o Corpo-Alma-, se tornar capaz de fazer a Terra levitar no espaço, liberando o Espírito de Cristo dos grilhões que o prendem ao nosso Planeta.

Se pensarmos como fracasso em passar por uma prova constitui um obstáculo à consumação desse glorioso dia, talvez sejamos mais persistentes e escrupulosos em nossos esforços.

Então, aprendamos a aceitar nossas adversidades como bênçãos, recordando que procedendo assim ajudaremos a nós mesmos, a nossos semelhantes e ao Espírito de Cristo.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz fevereiro/1986 – Fraternidade Rosacruz-SP)


[1] N.R.: Carta ao Estudante nº 72 do Livro Cartas aos Estudantes – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz

[2] N.R.: Mt 5:39

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Procurando a Luz

Uma recente visitante de Mount Ecclesia assistiu, pela primeira vez, a oficiação do Ritual de Serviço Devocional do Templo, na Pro-Ecclesia, também chamada de “Capela”. Ela ficou muito impressionada com a legenda na parede: “DEUS É LUZ” e, também com o tempo dedicado à “Concentração sobre o Serviço”, que é dedicado após à leitura do texto do Ritual e antes de começarmos a parte final com a Oração Rosacruz. Ela observou que a luz enchia literalmente a Capela e que esse sentimento de “estar” na luz a acompanhou por muito tempo.

E não é verdade? Essa “é” uma “capela de luz”. É reverenciada ao longo dos anos pela prece, pelo amor, pelos pensamentos focados na cura, paz, adoração e os anseios e as lutas daqueles que prestaram ao ofício do Ritual. Na verdade, o lugar em que oficiamos os Rituais é um local “sagrado”, e é a esse local que vimos “procurar a luz”.

Max Heindel menciona no livro Coletâneas de um Místico – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz que “o inspirado Apóstolo São João quando ele escreveu: ‘Deus é Luz’[1]”. E Max Heindel continua dizendo: “Qualquer um que use essa passagem como assunto de Meditação encontrará, seguramente, uma maravilhosa recompensa à sua espera, pois não importa quantas vezes tomemos esse assunto, nosso próprio desenvolvimento, conforme os anos passam, nos assegura uma compreensão cada vez mais completa e melhor. Cada vez que mergulhamos nessas três palavras, sentimo-nos banhados por uma fonte espiritual de inesgotável profundidade e, a cada vez, sondamos mais minuciosamente as profundezas divinas e nos aproximamos mais do nosso Pai celestial”.

Quando começamos a estudar este assunto, surge naturalmente a pergunta: “De onde vem a luz?”. No primeiro capítulo do Livro do Gênesis dizem-nos que: “O Espírito de Deus movia-se sobre as águas[2]. E Deus disse: “Faça-se a luz[3], e fez-se a luz. E Deus viu a luz, e viu que era boa; e Deus separou a luz da escuridão. E Deus chamou à luz dia, e à escuridão noite… Assim, Deus criou o “homem à sua própria imagem[4]; à imagem de Deus o criou a ele.

Aprendemos pelos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental que a luz passou a “existir” no segundo Período, o Período Solar, do nosso setenário Esquema de Evolução, quando a nebulosa, que continha o nosso Sol e os Planetas, havia alcançado um estado de incandescência. Esse Período, o Solar, vem descrito no terceiro versículo do primeiro capítulo do Livro do Gênesis: “Faça-se a luz[5].

Mas ainda não éramos um Ego totalmente individualizado e para saber quando nós, como Ego, pela primeira vez tivemos contato com a luz, aprendemos na Fraternidade Rosacruz: “A primeira vez que nossa consciência se dirigiu para a Luz, foi logo após sermos dotados da Mente. Quando entramos definitivamente em nossa evolução como seres humanos na Atlântida – a terra da névoa – nas profundezas das bacias de nosso planeta, a neblina quente, emitida da terra que se resfriava, pairava como um denso nevoeiro sobre a Terra. Nessa época, as estrelas nas grandes alturas do universo nunca eram vistas, e nem a luz prateada da Lua podia penetrar a atmosfera densa e nebulosa que pairava sobre aquela antiga Terra. Mesmo o esplendor ígneo do Sol estava quase totalmente extinto, e quando estudamos a Memória da Natureza daquela época, vemos que ele se assemelhava a um lampião colocado num poste num dia enevoado. Era bastante obscuro e tinha uma aura de variadas cores, muito similar àquelas observadas ao redor de um arco de luz.

Mas, essa luz tinha um fascínio. Os antigos Atlantes foram instruídos pelas Hierarquias Divinas, que os acompanhavam, que aspirassem a luz e, como a visão espiritual já estava, então, em declínio (até mesmo os mensageiros, ou Elohim, eram percebidos com dificuldade pela maioria) eles aspiravam cada vez mais ardentemente à nova luz, pois temiam as trevas das quais se tornaram conscientes por meio da dádiva da Mente.

Então, ocorreu o inevitável dilúvio, quando a neblina esfriou e se condensou. A atmosfera clareou e o “povo escolhido” foi salvo. Aqueles que trabalharam internamente e aprenderam a construir os órgãos necessários para respirar numa atmosfera semelhante à atual, sobreviveram e vieram para a luz. Não foi uma escolha arbitrária; o trabalho do passado consistiu na construção do corpo. Aqueles que só possuíam fendas parecidas com brânquias, tal como o embrião humano que ainda as tem em seu desenvolvimento pré-natal[6], não estavam preparados fisiologicamente para entrar na nova Era[7], como não estaria o embrião humano se nascesse antes de construir os pulmões. O embrião humano morreria como morreram aqueles povos antigos quando a atmosfera rarefeita tornou inúteis as fendas parecidas com brânquias.

Desde o dia que saímos da antiga Atlântida, nossos corpos estão praticamente completos, isto é, não tivemos o acréscimo de novos veículos; mas, desde aqueles tempos e de agora em diante, os que desejam seguir a luz precisam se esforçar para obter o crescimento anímico. Os corpos que cristalizamos ao nosso redor precisam ser dissolvidos, e a quintessência da experiência extraída, que como “alma” pode ser amalgamada com o Espírito, para fomentá-lo da impotência à onipotência. Por isso, o Tabernáculo no Deserto foi proporcionado aos antigos e a luz de Deus desceu sobre o Altar dos Sacrifícios. Isso tem uma grande significância: o Ego tinha acabado de descer para dentro do seu tabernáculo, o corpo. Todos nós conhecemos a tendência do instinto primitivo para o egoísmo e, se tivéssemos estudado as éticas superiores, saberíamos quão subversiva do bem é a indulgência às tendências egoístas; portanto, Deus imediatamente colocou ante a Humanidade, a Luz Divina sobre o Altar dos Sacrifícios.”[8].

Isso foi de grande significação, pois indicou que o Ego havia descido até seu próprio Tabernáculo, o Corpo Denso.

Talvez nesta altura seja bom recordar que o século anterior ao nascimento de Jesus viu o mundo civilizado mergulhado numa orgia de imoralidade, traição e maldade. Roma, o maior poder desse tempo, era o centro do deboche e perversa intriga. Roma havia conquistado a Palestina no ano 63 A.C. Na década seguinte veio a rápida ascensão de Júlio César ao poder. A depravação e corrupção da corte e do governo eram disfarçadas sob a mais magnífica ostentação de fausto e opulência que o mundo jamais havia visto. Nesse tempo Herodes foi nomeado governador da Galileia e de Jerusalém. Foi sucedido pelo seu filho, que continuou a sua perseguição ao povo e exterminou todas as coisas virtuosas e puras. A evolução humana havia quase chegado a um ponto morto. A vida espiritual do mundo estava em decadência. Foi esse reinado de perversidade que precedeu a vinda de Cristo.

Por conseguinte, o advento do Cristo assinala o mais importante acontecimento da evolução humana. A sua significação e seu objetivo formam o enigma dos Mistérios Cristãos, porque esta encarnação de um Raio do Cristo Cósmico na Terra tornou possível a nós avançarmos na senda espiritual. O Corpo de Desejos da Terra foi purificado, e o Princípio de Cristo, que se encontra dentro de cada um de nós, foi consequentemente levado a se expandir.

O Cristo Cósmico é representado, no Evangelho Segundo S. João, pela Palavra, o Verbo, sem o qual nada do que foi feito se fez[9]. É esse segundo Princípio do Deus Trino e Uno do nosso Sistema Solar. E uma vez que fomos feitos à imagem do nosso Criador, também somos Trinos e Unos e temos latente o Poder de Cristo dentro de nós. Nós somos todos Cristos em essência, e só podemos cumprir o nosso elevado destino mediante os novos ensinamentos de Cristo: o Evangelho do Amor.

Buscando a luz na Escola dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental sabemos que Amor e Serviço, como foi exemplificado por Cristo Jesus, devem ser o nosso lema. Amando e servindo amorosa e desinteressadamente (portanto, o mais anônimo possível) o irmão e a irmã – focando na divina essência oculta que existe em cada um de nós, e que é a base da Fraternidade – atraímos a nós os dois mais elevados Éteres que formam o Corpo-Alma[10], o radioso traje de luz usado por toda pessoa Cristã verdadeiramente espiritualizada.

Aprendemos algo sobre o que o poder da luz espiritual e do amor Crístico podem nas nossas vidas. Alguns acariciaram vislumbres dessa luz, lampejos momentâneos de qualquer coisa dentro de si, deixando um brilho na sua consciência. Uma vez que somos abençoados com tal sensação, sabemos que temos tocado as orlas exteriores de algo que não é físico, emocional ou mesmo mental, mas sim qualquer coisa profunda, real e verdadeiramente espiritual. Experimentamos um sentimento nascente de companhia, talvez a razão pela qual algumas pessoas nunca se sentem sós, nunca necessitam de prazeres exteriores para se sentirem felizes.

Que devemos fazer para que a luz se manifeste através de nós em toda a sua glória? Amar e servir (por meio do amor Crístico e do serviço amoroso e desinteressado (portanto, o mais anônimo possível) ao irmão e a irmã – focando na divina essência oculta que existe em cada um de nós, e que é a base da Fraternidade, respectivamente), sim – após haver erradicado da nossa Mente todos os pensamentos de raiva, ódio, egoísmo, cólera, inveja, ciúmes, preguiça, desgraça, medo, temor e afins. Se usarmos nossa força de vontade para fazer isso repetidas vezes, uma modificação alquímica se realizará gradualmente. Certos átomos do nosso Corpo Denso se transmutam, de forma a podermos ser sensíveis às vibrações mais elevadas de abnegação, paciência, tolerância e amor. Morremos para a antiga vida, porque estamos “caminhando na luz”.

(Traduzido da Revista Rays from the Rose Cross e Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – dezembro/1976-Fraternidade Rosacruz-SP)


[1] N.T.: IJo 1:5

[2] N.T.: Gn 1:2

[3] N.T.: Gn 1:3

[4] N.T. Gn1:26

[5] N.T.: Gn 1:3

[6] N.T.: são fendas e arcos nos seus pescoços que são idênticos as fendas e arcos branquiais dos peixes atuais.

[7] N.T.: se refere à Era de Áries.

[8] N.T.: do capítulo XII – Um Sacrifício Vivente do livro:  Coletâneas de um Místico – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz

[9] N.T.: Jo 1:3

[10] N.T.: O Éter Luminoso (ou de Luz) e o Éter Refletor.

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Pergunta: O que Significa “Espaço” para a Filosofia Rosacruz? Qual é a sua constituição e sua finalidade?

Resposta: Segundo os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, neste período de materialismo, perdemos, lamentavelmente, a ideia de tudo o que se oculta por detrás da palavra “Espaço”. Habituamo-nos a falar do espaço vazio ou do grande vácuo de tal maneira a desconhecermos o significado real de tais palavras. Somos, desta maneira, incapazes de sentir a reverência que a ideia de Espaço e Caos deveria nos inspirar interiormente.

Para os Estudantes Rosacruzes “não há vácuo ou espaço vazio“. Espaço é Espírito em forma refinada ou sutil. O Espírito é dual em sua manifestação. Aquilo que observamos e conceituamos como sendo Forma, é a manifestação do polo negativo do Espírito, cristalizada e inerte. O polo positivo se expressa como Vida, transformando a Forma em ação. Ambas, porém, Vida e Forma foram emanadas do Espírito, Espaço, Caos!

Como aprendemos quando estudamos o livro Conceito Rosacruz do Cosmos – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz: “… O Espírito encontra-se em permanente atividade em um aspecto durante a Manifestação, e em outra durante o Caos” (…) “A Vida pode existir independentemente da Forma Concreta. Pode haver Formas imperceptíveis aos nossos limitados sentidos físicos e inclusive, não sujeitas a nenhuma das leis que vigoram no presente estado concreto de matéria” (…) “… A nebulosa ígnea (da Teoria Nebular) é Espírito… a atmosfera ao nosso redor, o espaço entre os mundos é Espírito e … há uma constante permuta: Forma dissolvendo-se em Espaço, e Espaço cristalizando-se em Forma”.

Caos” não é o estado daquilo que tendo existido no passado e se encontra, agora, totalmente desaparecido. Encontra-se, isto sim, ao nosso redor presentemente! Não constitui aquelas velhas formas que, tendo sobrevivido à sua utilidade, retornam, constantemente, ao Caos. Está sim continuamente dando origem a novas Formas, sem a que não haveria progresso, ou seja: o trabalho da evolução cessaria e a estagnação impediria toda possibilidade de desenvolvimento.

É axiomático: “quanto mais amiúde morremos, melhor nos vivemos”. Goethe, o poeta Iniciado escreveu:

“Quem não passou por isto,

Alguma vez, moribundo, retornando à origem

Sempre permanecerá miserável e pesaroso,

Nesta terra sombria”.

E São Paulo apóstolo afirmou: “Eu morro todos os dias”.

O Caos é a base de todo progresso. Nessa vida, durante esta fase, decorre de nossa existência quando do dia de Manifestação e vice-versa. A habilidade para progredir resulta da permanência temporária no Caos.

O intervalo entre os Períodos e Revoluções é, em realidade, muito mais importante para o avanço do Espírito do que a existência concreta, ainda que a última seja a base da anterior e, por conseguinte, possa ser dispensada.

A importância do intervalo (no Caos) é de natureza transcendental, pois durante aquele período de desenvolvimento os seres encontram-se estreitamente unidos e são realmente “UM”. Consequentemente, os menos desenvolvidos durante a manifestação estão em mais íntimo contato com os mais altamente evoluídos. Assim, adquirem experiência e se beneficiam com uma vibração mais elevada.

Quando a nossa consciência se enfocar mais na região das causas (nos Mundos espirituais), compreenderemos o significado da palavra “Espaço” no seu legítimo sentido.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz março/1972 – Fraternidade Rosacruz-SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Shakespeare à Luz dos Ensinamentos Rosacruzes

As obras de Shakespeare, assim como os dramas musicais de Wagner, o Fausto de Goethe, a Divina Comédia de Dante e muitos outros livros de igual valor são designados Esotéricos, embora de leitura Exotérica. Eles são comunicações diretas dos centros planetários da Divina Sabedoria.

Podemos dizer que a literatura que lida com a vida espiritual e é construída em torno de Mestre e Salvadores do mundo e, além disso, se revestem de uma estrutura baseada nos mistérios, torna-se, em virtude destes vários atributos e elementos, escrituras sagradas. Todas as outras literaturas têm menor classificação.

Voltando à análise da literatura não sagrada, encontraremos, por sua vez, que ela se divide em duas. Na primeira, temos a literatura que é possuidora de um sentido “interno”; na segunda, o “externo” somente. A primeira, como as escrituras sagradas, está fundamentada nos Mistérios e contém, na sua forma externa, um véu de Sabedoria Arcana claramente organizada, enquanto na outra classe tal esoterismo não está presente. Há trabalhos sobre assuntos espirituais, experiência religiosa e mesmo sobre os Mistérios que não possuem este sentido interno. Eles podem ser trabalhos altamente inspirados, contudo somente simplesmente estruturados. Por outro lado, temos trabalhos como os dramas de Shakespeare que o mundo não reconhece como literatura “espiritual”, mas que, em virtude de sua dupla estrutura, cultuam um compêndio de Sabedoria Iniciática só comparável a das sagradas escrituras.

No caso de Shakespeare, a fonte foi os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental. Para o esoterista, nenhuma outra evidência disto é necessária senão os trabalhos mesmos. Mas, sinais específicos, ocultamente transmitidos, estão também presentes nos dramas.

Max Heindel é a autoridade para a citação de que as obras que trazem o nome de Shakespeare e aquelas que trazem o nome de Bacon foram influenciadas pelo mesmo Iniciado Rosacruz.

Há 2 meios de você acessar esse Livro:

1.Em formato PDF (para download):

Shakespeare à Luz dos Ensinamentos Rosacruzes – Por um Estudante – Fraternidade Rosacruz

2.Para ler no próprio site (OBSERVAÇÃO: nesse caso para você ter acesso aos ANEXOS, que são a íntegra de cada Obra citada, baixe a versão acima em PDF):

SHAKESPEARE À LUZ DOS ENSINAMENTOS ROSACRUZES

Por

Um Estudante

Fraternidade Rosacruz

Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82

Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil

Revisado de acordo com:

1ª Edição em Inglês, 1919, Shakespeare in the Light of the Rosicrucian Teaching, editada por The Rosicrucian Fellowship in Rays from The Rose Cross Magazine

Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

www.fraternidaderosacruz.com

contato@fraternidaderosacruz.com

fraternidade@fraternidaderosacruz.com

PREFÁCIO

Esses textos foram originalmente utilizados como material de uma séria de Reuniões de Estudos sobre Shakespeare, em Mount Ecclesia, e são o resultado de uma cooperação verdadeiramente harmoniosa e inspiradora entre os participantes dessas Reuniões.

As obras de Shakespeare são designadas esotéricas, embora de leitura exotérica. Elas são comunicações diretas dos centros planetários da Divina Sabedoria. A fonte das obras de Shakespeare os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental – os Ensinamentos Rosacruzes. Para o esoterista, nenhuma outra evidência disto é necessário senão os trabalhos mesmos. Mas, sinais específicos, ocultamente transmitidos, estão também presentes nos dramas.

Shakespeare foi chamado de “A Máscara Rosacruciana”. Max Heindel é a autoridade para a citação de que as obras que trazem o nome de Shakespeare foram influenciadas pelo mesmo Iniciado Rosacruz.

ÍNDICE

PREFÁCIO.. 3

PARTE I – INTRODUÇÃO À OBRA DE SHAKESPEARE: SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO.. 5

PARTE II – SHAKESPEARE E O CASAMENTO CÓSMICO.. 9

PARTE III – SHAKESPEARE E A LEI DO RENASCIMENTO.. 16

PARTE 4 – SHAKESPEARE E A ORDEM ROSACRUZ.. 23

PARTE 5 – LEONATUS: UMA PROFECIA DA ERA VINDOURA.. 29

PARTE 6 – LEONATUS: UMA PROFECIA DA ERA VINDOURA – MARGARIDA WOLFF. 37

PARTE 7 – LEONATUS: O ABANDONO IMINENTE DO CORPO DENSO.. 47

ANEXO 1 – SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO.. 56

ANEXO 2 – OTELO – O MOURO DE VENEZA.. 90

ANEXO 3 – A TRÁGICA HISTÓRIA DE HAMLET – PRINCÍPE DA DINAMARCA (1603) 146

ANEXO 4 – ANTÔNIO E CLEÓPATRA.. 199

ANEXO 5 – O MERCADOR DE VENEZA.. 253

ANEXO 6 – REI LEAR.. 291

PARTE I – INTRODUÇÃO À OBRA DE SHAKESPEARE: SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO

É bem conhecido o ditado “não havia Fadas na Inglaterra antes de Shakespeare”.

No entanto, mesmo antes que o puritanismo tivesse extinguido a alegria da velha Inglaterra, essa era o próprio recreio das “pessoas pequenas”. Apareciam das sebes e provocavam os viandantes, faziam travessuras com os jovens e as donzelas nos caminhos dos amantes; todos os bosques e prados mostravam “anéis de Fadas” onde realizavam os seus bailes; tinham pontos de encontro nos pântanos de Yorkshire e nas planícies de Devon; as sereias penteavam-se nas falésias de Dover; e o alegre e brincalhão Robin Bom-camarada era uma palavra corrente em todo o país.

Sim, os contos de Fadas existiam, mas a crença neles era irregular e casual. Para algumas pessoas, eram realidades que faziam parte do seu quotidiano; para outras, eram apenas histórias bonitas ou assustadoras que se contava nas noites de verão ao luar ou à volta da lareira nas longas noites de inverno. Foi necessária a mão divinamente guiada do poeta para reunir todos os fios confusos, tecê-los em uma obra-prima e apresentá-la à Humanidade: aqui está o Mundo das Fadas das vossas chamadas “fantasias”; ele está vivo, é verdadeiro e real; é uma parte muito importante da vida no nosso globo!

No entanto, a grande lei da evolução funciona em espiral por toda parte. Há mais de 300 anos que os críticos tentam rebaixar o nível do Um Sonho de uma Noite de Verão de Shakespeare (Veja a obra no ANEXO 1) mediante interpretações tão cheias de equívocos que chegam a ser um sacrilégio. Essa obra foi escrita em 1590, aproximadamente. Mas só por volta de 1910 ela foi erguida na espiral do pensamento avançado. Não havia Fadas antes da obra Um Sonho de uma Noite de Verão. Shakespeare nos deu o Mundo das Fadas; no entanto, apenas quando a grande Luz Branca dos Ensinamentos Rosacruzes foi derramada sobre ele é que esse Mundo das Fadas apareceu na sua pureza e dignidade como parte integrante e sagrada da casa de Deus na Terra. Que a palavra sagrada penetre profundamente nos nossos corações. Um Sonho de uma Noite de Verão, apesar de borbulhar de riso, alegria, diversão, travessuras e truques, é uma peça sagrada e como tal foi citada por Max Heindel no texto do Ritual do Serviço Devocional do Solstício de Junho e em outros livros da Fraternidade Rosacruz.

A Noite de Natal e a Noite do Solstício de Junho são os dois polos da atividade divina que se manifesta na Terra durante o ciclo do ano. No meio do inverno (em dezembro para o hemisfério norte), sob os raios oblíquos do Sol, a atividade espiritual atinge o seu pico, a Natureza é abafada em uma grande quietude, uma expetativa de escuta, e na noite mais longa, a noite mais escura, a Estrela do Espírito brilha mais intensamente e o Cristo nasce na Terra.

Mas, como lemos no livro “Conceito Rosacruz do Cosmos”: “A evolução é a história da progressão do Espírito no tempo”. E o tempo está indissoluvelmente ligado à matéria. Enquanto a nossa Onda de Vida passa por esta Terra em Involução e Evolução, a existência material, a forma corporal e a manifestação física são necessárias e, a menos que o polo oposto, o da atividade física, seja mantido, o Espírito não pode continuar o seu caminho de “progressão no tempo”. Todos nós, o nosso Planeta e tudo o que nele existe de vida mineral, vegetal, animal e humana, temos de recolher essa experiência da existência física para podermos evoluir de centelhas Divinas a seres Divinos autoconscientes, cocriadores junto às Hierarquias Criadoras e copossuidores da Glória de Deus. Assim, no Solstício de Junho, sob os raios perpendiculares do Sol, as atividades físicas atingem o seu auge e, durante a noite mais curta e luminosa do ano, a de 24 de junho, as mil vozes da Natureza juntam-se em cânticos, risos e murmúrios alegres e os Espíritos da Natureza realizam o seu festival anual, uma festa de regozijo porque fizeram bem o seu trabalho e a vida física na Terra está assegurada por mais um ano.

O Mundo das Fadas de Shakespeare inclui todos os Espíritos da Natureza mencionados nos Ensinamentos Rosacruzes; esses Espíritos — sejamos muito claros sobre isso — são servos de Deus, agentes de Deus, que trabalham sob a direção das Hierarquias Criadoras que guiam nossa evolução. As ações dos Espíritos da Natureza, muitas vezes, parecem incoerentes e irresponsáveis para nós. Por quê? Porque ainda compreendemos mal o funcionamento das Leis da Natureza. Quando o ser humano está em harmonia com as Leis da Natureza e os Espíritos da Natureza lhe são simpáticos, ele os chama de “bons”. Quando ele está em desarmonia com as Leis da Natureza e elas parecem antagonizá-lo, ele as chama de “más”. Porém, todos trabalham juntos para o bem, a serviço da evolução. Os Espíritos precisam de corpos para adquirir experiência. Os Espíritos da Natureza são trabalhadores que constroem corpos, são criadores de forma. É por isso que no Fausto, de Goethe, eles aparecem à chamada de Mefistófeles que, em um dos seus muitos aspectos, é Satanás ou Saturno, o construtor da forma.

Ora, “Um Sonho de uma Noite de Verão” não é apenas o relato da Festival das Fadas no auge das suas atividades bem-sucedidas, mas também se preocupa muito com os males e as provações dos amantes e com a sua feliz união no final. Alguns críticos interpretam a peça como um espetáculo de amor inspirado nos perfumes de uma noite de verão, “Maluquice de uma noite de verão”. Essa é a interpretação mais triste de todas. E aqui, em particular, recordemos que Um Sonho de uma Noite de Verão é uma peça sagrada, apesar de muitos absurdos que são aparentes. Uma “peça” sim, mas apresentada para nós por um grande Iniciado para que possamos ver com ele as Forças da Natureza “brincando” no mundo.

Os Espíritos da Natureza estão sempre e particularmente interessados nos amantes e nos seus assuntos; eles gostam de provocar o jovem e a donzela enamorados, mas apenas durante algum tempo; depois, esses Espíritos os consolam e aproximam; ao final, eles pedem para serem convidados para o casamento e concedem ao casal feliz três desejos no dia do casamento. Os Espíritos da Natureza são construtores da forma e, como tal, precisam da atração entre os sexos para providenciar corpos para as almas que chegam. Um Sonho de uma Noite de Verão é uma Festa de Casamento regida por uma grande característica cósmica: a atração entre os sexos é um fator necessário em certos estágios da evolução em que o Espírito precisa de veículos físicos e densos para acumular experiência e, por isso, devido à sua missão Criadora ao Serviço do plano divino, o Amor entre homem e mulher é sagrado e o Matrimônio é um Sacramento; assim, temos que ter pena das almas mais jovens que o olham de maneira frívola e interpretam Um Sonho de uma Noite de Verão como uma graciosa e espirituosa brincadeira de fazer amor, quando ele é uma Peça Misteriosa realizada nos recintos sagrados do santuário da vida.

PARTE II – SHAKESPEARE E O CASAMENTO CÓSMICO

Quando o Poeta Iniciado, Goethe, terminou o seu drama místico, Fausto, disse sorrindo: “Nesta peça eu escondi muitos mistérios que manterão os críticos ocupados durante pelo menos cinquenta anos”. A obra “Sonho de uma Noite de Verão”, de Shakespeare, manteve-os assim ocupados durante mais de trezentos anos e não estão agora mais perto da solução dos problemas ocultos dessa magistral obra do que em 1° de maio de 1594, quando foi apresentada pela primeira vez nas festividades do casamento de um dos patronos aristocráticos de Shakespeare, na corte da Rainha Isabel; então as pessoas se perguntavam por que uma peça de maio[1] se chamava “Sonho de uma Noite de Verão”.

Muitos diziam naquela época, como dizem hoje, que as passagens que se referem ao primeiro de maio como a data do casamento do Duque Teseu foram inseridas na peça escrita por volta de 1590 como um elogio ao casal recém-casado perto do trono de Isabel. Essa é a forma mais fácil de evitar o fato embaraçoso de o poeta, no seu grande e misterioso drama nupcial, identificar o 1° de maio com o 25 de junho. A maioria dos expoentes ainda se contenta com essa solução, embora ela pareça bastante incompatível com a dignidade de um Shakespeare.

Alguns o desculpam com base em “erros ortográficos”; outros ainda o acusam de ter feito malabarismos com as datas, assim como o acusam frequentemente de ignorância ou de descuido em relação a fatos históricos, mitológicos ou geográficos. Ele, o Iniciado que sabia tudo o que aqueles que tentam em vão minimizar a sua grandeza não sabem! Gostam de acentuar a sua ignorância em geografia, por exemplo, porque na sua outra peça de mistério, a Tempestade, os navios singram para a Boêmia, que fica longe do oceano.

Sim, hoje em dia! Mas, no século XII, a Boêmia era um poderoso império que se estendia até ao Mar Adriático. Shakespeare, como é óbvio, conhecia esse fato e sabia bem “do que se tratava”, ao nos dizer que, quando o Duque Teseu de Atenas se casou com Hipólita, a sábia rainha das Amazonas, a data do Dia de Solstício de Verão era 1° de maio.

Vemos o grande Iniciado sorrindo com o seu sorriso gentil, como um pai sorri para os filhos que não podem ferir a sua dignidade quando, com razões superficiais e infantis, explicam seus ditos e feitos que ultrapassam a sua compreensão.

Não se confia às crianças a guarda da chama luminosa; — só quando um número suficiente de pessoas que vivem no ocidente atingiu a fase adulta é que se acenderam para elas as velas tão poderosas como temos, por exemplo, nos livros “Conceito Rosacruz do Cosmos – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz” e “A Mensagem das Estrelas – Max Heindel e Augusta Foss Heindel – Fraternidade Rosacruz” – só para citar dois exemplos –, ambos do Iniciado Max Heindel. Esses livros não são meros manuais da Filosofia Rosacruz ou Astrologia Rosacruz, mas poderosos portadores de luz que levam a iluminação para todos os caminhos da vida. Não podemos compreender as obras dos grandes poetas, músicos, pintores e escultores sem a sua ajuda; e a razão para isso é facilmente encontrada. As pessoas que conhecemos como gênias que estavam muito à frente do seu tempo e, em muitos casos, foram iniciados da Ordem Rosacruz, nos deram a Religião Cristã Esotérica por meio de símbolos e parábolas, pois toda grande Arte é basicamente religiosa e a sua missão evolutiva é afirmada naquelas famosas palavras de Richard Wagner, frequentemente citadas por Max Heindel: “Onde a Religião se torna artificial está reservado à Arte salvar o espírito da Religião”. Max Heindel, como porta-voz dos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, deu à Humanidade o conhecer a Religião Cristã Esotérica em uma linguagem simples e por meio dos livros que contêm os Ensinamentos Rosacruzes que são lições completas que temos que consultar e estudar a fundo, se quisermos compreender a beleza misteriosa dos roteiros imortais escritos pelos nossos mestres-artistas em cores, palavras ou tons.

Uma biblioteca inteira de obras eruditas sobre Shakespeare não pode ajudar a resolver o problema do “Sonho de uma Noite de Verão”, pois a informação valiosa que contêm é exotérica e ignora o potente fator da Astrologia Rosacruz. Mas se, com ajuda dos Ensinamentos Rosacruzes focarmos nossa atenção no fato de o “Sonho de uma Noite de Verão” ser um grande desfile do Sol e depois seguirmos a pista dada na sua explicação dos ciclos evolutivos ligados à Precessão dos Equinócios, a perplexidade se transforma em compreensão e a discrepância, em concórdia.

Como vimos anteriormente, o “Sonho de uma Noite de Verão” é uma apoteose das Forças da Natureza no auge das suas atividades, o grande “Festival das Fadas”, ou dos construtores da forma, que se regozijam porque fizeram bem o seu trabalho e asseguraram a vida física na Terra por mais um ano, para que o Espírito, em seu Caminho de Evolução, possa se manifestar através dos Corpos e dos veículos. Esse ponto culminante das forças físicas estimuladas pelo Sol ocorre todo ano entre 21 e 25 de junho, no polo oposto ao ponto culminante das forças espirituais, que ocorre entre 21 e 25 de dezembro, também todo ano.

Se a data do casamento na peça foi 1° de maio, o drama está aparentemente desequilibrado em relação ao Natal, afastado do caminho do Sol. — Sabemos que decorrem exatamente quatro dias entre o início da peça e o triplo casamento no final, pois o Duque Teseu abre-a com as palavras “Quatro dias felizes trazem outra Lua[2] e a Rainha Hipólita acrescenta:

Mergulharão depressa quatro dias na negra noite;

Quatro noites, presto, farão escoar o tempo como em sonhos.

E então a lua que, como arco argênteo,

no céu ora se encurva, verá a noite solene do esposório.

Depois, no final do Ato IV, na Cena I, nesse maravilhoso discurso referente aos seus cães de caça, que soa como uma marcha triunfante composta por harmonias majestosas, informa os seus ouvintes de que “agora a nossa observação está feita” e elucida a ocasião para essa observação, que se realizou em bosques e florestas e não no templo, acrescentando a respeito dos amantes: “Decerto madrugaram, para os ritos observarem de maio”. Esse Dia de Maio é o dia do casamento.

Ouvimos de novo o duque Teseu:

no templo, agora mesmo,

estes dois pares vão se unir para sempre.

Mais tarde, os bons artesãos não-gramaticais dizem: “Mestres, o duque vem vindo do templo, onde se casaram, juntamente com ele, mais três senhores e três senhoras.[3]. Depois, a companhia festiva será recebida no palácio, até que Teseu lembra:

Com a língua de ferro a meia-noite já deu doze batidas.

Para a cama, namorados! É quase hora das Fadas.

E agora a cena é inteiramente entregue às Fadas que cumprem o que no dia anterior Oberon, o rei das Fadas, anunciou à sua rainha, Titânia:

Já que nossa discórdia mal sofrida em harmonia se mudou garrida,

iremos amanhã, solenemente, dançar, à meia-noite,

bem em frente do quarto de Teseu.

…no Solstício de Junho (estação de verão para o hemisfério norte), — o Festival das Fadas! — para as fiéis Forças da Natureza, a grande, alegre e solene ocasião do ano! Os discursos de Titânia estão repletos de alusões ao Solstício de Junho. Mas não precisamos citá-las, pois o espírito do drama fala por si só. A peça está impregnada de Solstício de Junho, respira Solstício de Junho, canta e dança Solstício de Junho…, mas é mais rica em mistério e mais profunda em promessa do que um simples Solstício de Junho possa dar. Lembremo-nos do que Max Heindel ensina sobre os ciclos menores contidos nos maiores. Os ciclos diurno, anual e precessional são os ciclos do Sol. Uma nova vida é prometida a nós no Solstício de Junho através de Hermia e Lysander, Helena e Demetrius, os dois casais humanos cujo amor é abençoado pelas Fadas; vida abundante é prometida a toda a natureza pela reunião de Titânia e Oberon, o rei e a rainha das Fadas que, após um período de discórdia, celebram de novo o seu casamento e prometem abençoar a Terra com fecundidade. Mas, uma nova vida de um significado muito mais elevado e ampliado é prometida por meio do casamento de Teseu e Hipólita, esses dois seres exaltados que não são humanos nem Fadas, mas representantes cósmicos.

Shakespeare conhecia a mitologia e o seu simbolismo cósmico! Não acidentalmente, mas de forma muito deliberada, escolheu a Grécia como cenário para o seu drama. As Fadas, tipicamente do noroeste, em seu aspeto cosmopolita de Forças da Natureza, podiam ser facilmente transferidas para a Grécia; a sua rainha e o seu rei, Titânia e Oberon, são originários da Índia; assim, os arianos orientais e ocidentais contribuem a partir da sua tradição. Mas, nos mitos gregos foi encontrado o maravilhoso simbolismo dos “cães do céu” — a hoste estrelada — que acompanham a carruagem do deus Sol em uma corrida alegre “com a boca cheia de sinos, um debaixo do outro” e o saúdam com “gritos afináveis” — a música das esferas — aos quais a Terra ecoante responde.

…vai minha amada apreciar a orquestra de meus fortes lebréis. (…)

Tão galante barulheira jamais havia ouvido;

o bosque, o céu, as fontes, tudo, tudo, era em torno uma crebra gritaria.

Em parte alguma nunca ouvira música tão discorde, trovão tão agradável.

Ouvimos uma voz calma no livro “Conceito Rosacruz do Cosmos – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz” confirmando as rapsódias do mito e da poesia: “Pitágoras não fantasiava quando falou da música das esferas, porque cada um dos Corpos celestiais tem seu tom definido e, juntos, formam a sinfonia celestial”[4].

Finalmente, na mitologia grega este deus Sol, em uma de suas fases de Precessão, é representado por Teseu, o herói forte que matou o touro “devorador de homens”, o Minotauro. Esse terrível monstro tinha a sua fortaleza no Labirinto da ilha de Creta. Os atenienses tinham de oferecer todos os anos sete jovens e sete donzelas às mandíbulas cruéis desse touro. Ele representa o espírito do Ciclo Taurino e da Era de adoração ao touro[5] — o espírito da mais extrema crueldade e do mais cru materialismo ao qual os filhos e filhas da Humanidade eram sacrificados.

O espírito da Era de Touro foi morto por Teseu, o Sol. Isso significa que a Era de Touro terminou porque o Sol, por Precessão dos Equinócios, estava prestes a deixar a constelação de Touro e entrar em Áries. Max Heindel nos informa que em 498 d.C. o Sol cruzou o equador celeste no Equinócio de Março em 21 de março, a 0 grau de Áries. O Sol leva em torno de 2.156 anos para percorrer, pelo movimento da Terra Precessão dos Equinócios, os 30 graus de uma constelação. Ele entrou no 30° grau de Áries, o carneiro ou cordeiro, em 1658 a.C. e, portanto, 1659 a.C. é o último ano da Era de Touro.

Para nós, Áries é um Signo masculino; na astrologia grega era considerado um Signo feminino e o seu regente, o Planeta Marte, era representado não por um deus, mas por uma deusa, nomeadamente Palas Athena, a deusa da guerra e da sabedoria. A analogia entre Palas Athena e Hipolyta, a sábia rainha-guerreira, é evidente. Assim, 1659 a.C., o último ano da Era antiga ou de Touro, é o ano do casamento de Teseu, o Sol, com Hipólita, o Espírito Guardião da nova Era ou a Era de Áries, para que no próximo Equinócio de Março, 1658 a.C., ele pudesse entrar em sua nova casa, Áries, junto à parceira da sua exaltação.

Assim temos o ano; como é que obtemos a data? No que diz respeito à contagem do calendário, as nações antigas seguiam o exemplo da Babilônia ou da Caldeia, que eram seus mestres em todos os assuntos relacionados com a astrologia e a astronomia.

O calendário de Caldeia, que os egípcios, os gregos e os romanos, até ao tempo de César, copiaram, seguia de perto a trajetória do Sol e baseava-se em dois acontecimentos cíclicos: o menor e relativo ao Equinócio de Março e o maior, relativo à Precessão dos Equinócios. Assim, em 1659 a. C. o mês do “Equinócio de Março” foi janeiro e o mês do “Solstício de Junho” foi abril.

A Era de Touro dominou de 3814 a 1659 a.C. Na nossa Era de Peixes – em que nos encontramos atualmente –, estamos afastados de Touro por duas constelações e cada constelação através da qual o Sol passa por Precessão dos Equinócios coloca o ponto do Equinócio de Março um mês à frente. Os caldeus tinham meses lunares de 29 dias e, em certos intervalos, um mês bissexto, em vez do nosso ano bissexto. Se contarmos 91 dias entre o Equinócio de Março e o “Solstício de Junho” e tivermos em conta os meses mais curtos, então veremos que o 23 de abril do nosso calendário equivale ao 26 de abril do calendário caldeu da Era de Touro. Assim, o “Solstício de Junho” na Era de Touro aconteceu entre 26 de abril e 1° de maio; o Casamento Cósmico teve lugar em um dia de “Solstício de Junho”, 1° de maio de 1659 a.C.

PARTE III – SHAKESPEARE E A LEI DO RENASCIMENTO

Não faz muito tempo um Estudante Rosacruz enviou uma pergunta para aqui, em Mount Ecclesia. Ele perguntou se uma pessoa que deseje, no seu íntimo, não renascer na Terra, jamais renascerá.

Os Ensinamentos Rosacruzes afirmam que uma das principais Leis que guiam a evolução é a Lei do Renascimento, auxiliada pela sua irmã gêmea, a Lei de Consequência. Essas duas grandes Leis devem satisfazer o coração, o intelecto e a vontade. Elas são absolutamente justas e lógicas, mas cheias de esperança e promessa; elas dão um amplo espaço à vontade impetuosa e magistral dos filhos e filhas de Caim, que se recusam a seguir docilmente os líderes e querem trabalhar ativamente em sua própria evolução. Mesmo assim, o coração tenta dobrar a Lei de acordo com a sua impaciência, o intelecto gosta de fazer dela uma base de especulações e a vontade está ansiosa por afirmar a sua superioridade sobre ela. Quando eu me libertarei da Roda de Nascimentos e Mortes? Assim questiona o coração que acredita que a repetição da existência terrena, com as suas tristezas, seus sofrimentos e suas separações dolorosas seja demasiado difícil de suportar e anseia pela felicidade celestial e ininterrupta. Quantas vezes tenho de renascer e em que intervalos cíclicos ou rotações? Em que período da evolução a Lei do Renascimento será substituída por outra mais elevada? Assim pergunta o intelecto que gostaria de reduzir a Lei de Deus a um calendário ou fórmula matemática. E a vontade grita triunfante: assim que eu me recuso a renascer, a Lei deixa de funcionar.

A vontade, como a mais elevada faculdade do ser humano, é o seu direito. Max Heindel ensina no livro “Conceito Rosacruz do Cosmos” que o renascimento depende da vontade do Ego. Quando ele já não quer renascer, está livre. Só que esse direito é constituído de tal forma que não pode se recusar a renascer até ter atingido um certo grau no Caminho de Iniciação Rosacruz. Aqui, como nos casos anteriores, ouvimos um grande poeta acompanhando harmoniosamente esse processo. O problema parece complexo e intrincado. Mas o poeta-iniciado, Shakespeare, resolve em 16 palavras: “Os homens devem suportar tanto a sua partida quanto a sua vinda — a maturidade é tudo”. Essas palavras, que se encontram no drama Rei Lear – Veja no ANEXO 6 –, parecem ao mundo as mais enigmáticas das afirmações de Shakespeare, mas para nós, que as lemos sob a luz dos Ensinamentos Rosacruzes, estão entre as suas maiores verdades!

“Os homens devem suportar tanto a sua partida quanto a sua chegada”. O próprio ritmo das palavras parece transmitir a sequência rítmica de nascimento e morte, morte e nascimento em uma alternância constante e inquieta. Para cima e para baixo, para baixo e para cima o Ego viaja em um movimento cíclico e incessante, descendo à matéria para um período escolar sob a disciplina rigorosa da vida terrena e subindo aos Mundos celestes para um período de férias felizes e atividade intensa. Assimilar a experiência da vida terrena e preparar as condições para a próxima vida — eis o trabalho do Ego nos Mundos celestiais. Depois outro nascimento, mais um dia de escola com mais experiências. E isso se repete em intervalos cíclicos de 1.000 anos, geralmente. Não importa quantas vezes estivemos aqui, pecamos, sofremos e aprendemos, precisamos continuar, continuar… A lei é imutável. “Os homens precisam suportar a sua partida e a sua vinda”. Precisam porque eles próprios assim desejam. A imutabilidade da Lei atua a partir do interior, não do exterior.

No livro Conceito Rosacruz do Cosmos lemos que: “Depois de um tempo (de permanência no Terceiro Céu) vem ao Ego o desejo de novas experiências e a contemplação de um novo nascimento”. Nenhuma força externa o estimula isso, o próprio desejo do Ego confere o estímulo para o renascimento. Pois o Ego, na Região do Pensamento Abstrato, onde fica o Terceiro Céu, onde nenhuma matéria turva a sua percepção, é muito sábio e sabe que um novo mergulho na matéria física, outro período escolar na Terra, é absolutamente necessário para o seu desenvolvimento em direção ao objetivo final, que é a onisciência divina. A consciência total inclui todos os planos de consciência, tanto os mais baixos como os mais elevados, e o Ego compreende a necessidade de acumular experiência nos graus escolares mais baixos na Terra, de modo a estar apto para os mais avançados nos Mundos superiores. O coração insensato, enquanto palpita com a dor e a desilusão da vida terrena, anseia pela felicidade, mas o Ego, que é sábio, prepara-se deliberadamente para deixar a sua morada feliz no Céu e procurar de novo esta mesma existência terrena da qual o coração se ressente, pois ele sabe que “o propósito da vida não é a felicidade, mas sim a experiência” (livro Conceito Rosacruz do Cosmos). Ele deseja voltar até que todas as experiências, que a vida terrena proporciona, sejam reunidas e todas as lições que a vida terrena ensina sejam aprendidas. Só então o Ego estará pronto para experiências e lições em estágios mais elevados da existência. Amadurecimento é tudo!

Mas qual é a prova dessa maturidade, qual é a sua expressão? Como ela se manifesta? — Não é uma maturidade do intelecto que possa ser provada diante de uma banca de examinadores. A bela palavra “amadurecimento” indica um estado de Ser; vemos o grão dourado e o fruto doce, uma perfeição alcançada pelo crescimento natural que expande, suaviza e amacia cada átomo. Desaparecem então a dureza e a aspereza, que são atributos da falta de maturidade, e ganha-se uma bela suavidade! A dureza vem do “eu” que não tem consideração pelo outro; a aspereza surge da paixão que afasta os outros; a suavidade emerge do amor desinteressado. Não há outro teste, não há outra prova. Se o nosso estado de ser se manifesta como amor-próprio e paixão, então não estamos maduros; se ele se manifesta como Serviço amoroso e compaixão, então atingimos a maturidade.

Existem almas mais jovens que julgam demonstrar amadurecimento ao manifestarem desprezo e cansaço pela vida terrena, afirmando que a Terra já não exerce qualquer atração sobre elas, que esperam encontrar em outras esferas a felicidade que aqui não é possível. Felicidade! Aqui está novamente o “eu”, embora disfarçado de saudade dos Mundos celestes. O ser humano aparentemente espiritualizado que denuncia a Terra e deseja o Céu em nome da felicidade está tão enredado nas malhas do “eu” quanto o franco materialista que se agarra à Terra como o campo de caça para suas paixões e não pensa no Além. Os que se rebelam contra as lições da vida terrena amam tanto a si mesmos que não querem amar o outro e o sábio poeta balança tristemente a cabeça para eles: “Como são pobres os que não têm paciência” (Otelo – veja no ANEXO 2). Porque a derradeira lição a ser aprendida aqui na Terra é perder o “eu” e encontrar o outro. A essência de todas as experiências a serem acumuladas aqui é o amor compassivo. Com o objetivo de ganhar a consciência total, nós temos que carregar cada criatura viva, com suas riquezas e tristezas, para a nossa consciência; isso só pode ser feito através da compaixão.

“Ser ou não ser, eis a questão!” (Hamlet) – Veja no ANEXO 3. Quando é que a vontade do Ego decretará que nunca mais precisará “ser” em um Corpo Denso? Quando soubermos preservar a estabilidade da paciência, tanto nas alegrias como nas tristezas da vida, quando a alegria não nos levar ao êxtase nem a tristeza, ao desespero; quando não tivermos tempo a perder com os nossos desejos nem força para as nossas emoções, porque todas as nossas atividades estarão ocupadas de outra forma. O Aspirante à vida superior verdadeiramente maduro, aquele que se aproxima da libertação do nascimento e da morte, não fala nem discute sobre felicidade ou infelicidade, nem usa seu tempo para pensar nisso. Pacientemente, ele faz o seu trabalho diário como Auxiliar Visível ou Invisível, construindo, construindo o tempo todo, construindo estradas que levam para longe de si mesmo, para o fundo do coração, da vida, da necessidade do seu irmão e da sua irmã. E eis como é maravilhosa a lei do amadurecimento! Esse paciente construtor, que ajuda os outros infalivelmente, constrói e amadurece dentro de si mesmo aquilo que o pobre anseia em vão: o Corpo-Alma indestrutível que não pode ser prejudicado pela morte e, portanto, não precisa ser renovado pelo nascimento. — Pois o Ego, quando finalmente se desfizer do Corpo Denso, deverá ter um veículo pronto para funcionar, uma roupa com a qual se vestir.

A morte e o renascimento significam uma interrupção do contato entre este Plano de existência (Região Química do Mundo Físico) e os superiores (Mundos invisíveis à visão física). Enquanto estou nos Céus, estou morto para a Terra. Enquanto estou na Terra, estou morto para os Mundos Celestes. De eras em eras, a beleza celestial brilha, a música celestial soa e as almas vibram umas com as outras em perfeita harmonia.

Mesmo o menor globo que tu possas contemplar,

No seu movimento canta como um anjo,

Um quieto coro para os querubins de olhos jovens.

Tal harmonia existe nas almas imortais,

Mas enquanto estas vestes decadentes e enlameadas

Grosseiramente as encerrarem, não podemos ouvir”.

(O Mercador de Veneza) – Veja no ANEXO 5

Max Heindel nos diz que “Adão” significa “terra vermelha” e qualifica a matéria terrosa da qual, nos dias lemurianos, o corpo do primeiro Adão foi feito com “lama vulcânica, vermelha e quente”[6]. A Bíblia chama essa “veste lamacenta de decomposição”, pertencente ao primeiro Adão, de “o corpo da nossa humilhação”; mas nos assegura que ela será transformada até se assemelhar ao corpo glorioso do segundo Adão, que é o Cristo. Quando deixarmos de lado, pela última vez, essa veste de lama e imperfeição, então, em nosso Corpo-Alma amadurecido, um corpo de glória e perfeição, teremos um veículo que nos unirá a Terra e ao Céu. Nas asas da nossa dourada veste nupcial nós contataremos tanto o Céu como a Terra, porque seremos capazes de nos mover e funcionar em perfeita liberdade e consciência em Planos que, para nós, estão atual e tristemente separados uns dos outros pelo nascimento e pela morte. Max Heindel diz: “O Reino dos Céus foi invadido (Mt 11:12), há homens e mulheres que já aprenderam, através de uma vida santa e útil, a deixar de lado o corpo de carne e osso, intermitente ou permanentemente, e a caminhar pelos Céus com pés alados, empenhados nos negócios do seu Senhor e vestidos com as etéreas vestes nupciais da nova dispensação”1.

As tendências do “eu” são de contração, de endurecimento, de atração para baixo, de fechamento e de isolamento, correspondendo às qualidades dos dois Éteres inferiores que mantêm o Corpo Denso. A tendência do amor é expandir-se, suavizar-se, unir-se, elevar-nos, em correspondência com as qualidades dos dois Éteres superiores que estão incorporados no Corpo-Alma. O “eu”, junto dos dois Éteres inferiores, é responsável pela cristalização; o amor, junto dos dois Éteres superiores, produz a rarefação. Na linguagem dos alquimistas, os dois Éteres superiores eram chamados de “fogo” e “ar”, enquanto os dois Éteres inferiores eram comparados à “terra” e à “água”. Quando uma vida de serviço amoroso e desinteressado (portanto, o mais anônimo possível), esquecendo os defeitos do irmão ou da irmã ao seu entorno, focado na divina essência oculta em cada um de nós, que é a base da Fraternidade tiver amadurecido, soltado e moldado os dois Éteres superiores, então o Ego, revestido do seu Corpo-Alma, que é rarefeito, glorificado e etéreo, será elevado para sempre acima da necessidade da existência física e, liberto da Lei do Renascimento, poderá exclamar com o poeta: “Eu sou fogo e ar, os meus outros elementos, eu os dou à vida inferior.” (Antônio e Cleópatra) – Veja no ANEXO 4.

“O amor será a palavra-chave da próxima Era, do mesmo modo que a Lei é a palavra-chave da presente ordem. A expressão intensa das qualidades mencionadas acima aumenta a luminosidade fosforescente é a densidade dos Éteres em nossos Corpos Vitais; as correntes ígneas cortam a ligação com os cuidados e as preocupações do dia a dia, e o ser humano, uma vez nascido da água em sua emersão da Atlântida (Hamlet) (tal como na Lemúria era nascido da terra), agora nasce do espírito, para o Reino de Deus1.

PARTE 4 – SHAKESPEARE E A ORDEM ROSACRUZ

A infeliz “teoria baconiana” ainda tem alguns seguidores, especialmente nos Estados Unidos, onde as pessoas estão longe da atmosfera convincente de Stratford. Essa pequena cidade no coração da Inglaterra, onde Shakespeare passou a maior parte da sua vida, ainda sonha entre suas sebes e rosas tal como sonhava no tempo de Shakespeare, mas todos os seus sonhos agora estão com ele, cuja grande personalidade deixou a sua poderosa marca na Memória da Natureza e ninguém minimamente sensível a essas vibrações pode ficar diante da velha igreja que narra o seu batismo e o seu enterro, ou passear entre as flores do seu jardim, ou ver as brumas a subir e descer sobre o rio, sem saber, com alegria, não só que William Shakespeare foi um habitante de Stratford, mas que um grande espírito viveu, moveu-se e teve o seu ser ali. “Os passos de um grande homem santificam o solo.” Não se fala de um William Shakespeare que foi um obscuro ator do qual se diz ter vendido o próprio nome para ser usado como máscara por Francis Bacon, “um nobre sem escrúpulos”, como se diz na atmosfera sagrada de Stratford; mas, de William Shakespeare, o poeta imortal, ele próprio um nobre em virtude do seu gênio e amigo próximo de Francis Bacon, o grande cientista e verdadeiro aristocrata do espírito.

Terá Shakespeare pressentido o que a calúnia tentaria fazer com ele, quando escreveu estas linhas em Otelo?

O bom nome no homem e na mulher, meu caro senhor,

É a joia imediata das suas almas:

Quem rouba a minha bolsa, rouba lixo;

É algo que é nada;

Era minha, é dele e foi escrava de milhares;

Mas aquele que me rouba o meu bom nome

Rouba-me o que não o enriquece

E me faz pobre de fato”.

Ele possui também um aspecto no seu horóscopo, desde que o mapa natal esteja correto, que é tanto mais notável quanto, passados trezentos anos, ainda esteja ativo na perseguição da personalidade de William Shakespeare, embora se possa supor com segurança que o grande espírito renasceu mais do que uma vez, talvez desde 1614, para desempenhar importantes missões a serviço da Humanidade. O Aspecto astrológico é o de Netuno em Oposição a Urano, que proporciona influências para a vida que visam a minar a reputação e fazer com que a pessoa sofra escândalo e prejuízo público.

Quem já passeou por Stratford, não junto da multidão tagarela dos turistas, mas com a memória do gênio por companhia sagrada, sente uma profunda gratidão por Max Heindel, ele que, com a voz da autoridade, explica a natureza da ligação entre William Shakespeare e Francis Bacon, refutando de uma vez por todas as invenções tão irreverentes para a memória e a missão desses dois grandes homens.

No livro “Conceito Rosacruz do Cosmos, lemos que “Rosacruzes como Paracelso, Commenius, Bacon, Hellmond e outros deram pistas em suas obras e influenciaram outros. A grande controvérsia sobre a autoria de Shakespeare (que em vão usou tantas penas de ganso e desperdiçou muita tinta boa que poderia servir para fins úteis) nunca teria surgido se os especuladores soubessem que a semelhança entre Shakespeare e Bacon se deve ao fato de ambos terem sido influenciados pelo mesmo Iniciado, que também influenciou Jacob Boehme e um pastor de Ingolstadt, Jacobus Baldus, que viveu depois da morte do Bardo de Avon, e escreveu versos líricos em latim. Se o primeiro poema de Jacobus Baldus for lido com uma determinada chave vamos verificar que, lendo as linhas para baixo e para cima, aparecerá a seguinte frase: ‘Até agora falei aqui, do outro lado do mar, e por meio do drama; agora vou me exprimir através das letras’”.

A controvérsia baconiana foi principalmente suscitada pela presença de uma certa palavra-chave na Cena I do Ato V, na comédia de Shakespeare chamada de Trabalho de Amor Perdido. Essa palavra, que é reivindicada pelos baconianos como o suporte mais forte da sua teoria, é composta por 27 letras: Honorificabilitudinitatibus. A forma como tem sido explorada para provar que Francis Bacon foi o autor das peças de William Shakespeare é um exemplo de alerta para a falácia de um método de investigação que ignora a existência do ocultismo e dos seus guardiões, os Iniciados das Escolas de Mistérios.

A palavra que os baconianos consideram sua propriedade exclusiva era bem conhecida nos tempos medievais e renascentistas, muito antes de Bacon e Shakespeare, entre os Místicos e Alquimistas que estavam ligados à Ordem Rosacruz. Quando ocorria em um livro ou manuscrito, revelava o fato do seu autor ser um Iniciado dessa Ordem ou, pelo menos, o aluno de um Iniciado. Mediante a alteração de uma ou duas letras, o grau de Iniciação podia ser indicado e eram dadas dicas valiosas que ninguém, exceto os Rosacruzes, podia compreender, pois somente eles sabiam da existência da palavra-chave acima mencionada.

O seu segredo tinha que ser cuidadosamente guardado devido às perseguições da igreja exotérica que punia com tortura e morte na fogueira os “hereges” que acreditavam no Cristianismo esotérico. Mesmo nos tempos de Shakespeare, a inquisição ainda era desenfreada, as “bruxas” e os “feiticeiros” eram queimados, o veneno e o punhal espreitavam por todo lado aquele que não aderisse à letra da Igreja, fosse ela romana ou anglicana, papista, puritana ou protestante; e o filho ilustre de uma Ordem muito mais poderosa do que a Igreja, mais poderosa em espírito, precisava usar uma escrita secreta se quisesse revelar a sua filiação aos contemporâneos e à posteridade. Para tornar o método duplamente seguro, colocava as palavras identificadoras na boca de bobos e palhaços em que, no meio de trocadilhos aparentemente sem sentido, malabarismos com o mau latim e restos mutilados de outras línguas, Honorificabilitudinitatibus não parece mais do que o produto bizarro da fantasia de um tolo, um tilintar dos sinos do bobo.

Para os seus irmãos e suas irmãs Iniciados a presença da palavra por si só já era suficiente, sem qualquer pista ou chave, porque, como já foi dito, era a palavra-chave aceita. Mas, aproximava-se o tempo em que o poder da igreja deveria diminuir e a existência da Ordem que guarda o bem-estar espiritual dos povos que vivem no ocidente deveria ser manifestada. William Shakespeare quis que a posteridade conhecesse a sua ligação com esse grêmio do espírito para que os seus Dramas pudessem ser lidos e compreendidos esotericamente, por isso insere, na conversa dos bobos, algumas dicas que nos chamam a atenção para a palavra e nos permitem lê-la, mesmo que não saibamos que seja uma antiga senha. Mas, aqueles que ignoram a existência das Escolas de Mistério nunca poderão decifrá-la. Um Sr. Dull (“Chato”) que testemunha a conversa é abordado assim no final: “Bom homem Dull, não disse uma única palavra”. Ao que ele responde: “Nem compreendi palavra alguma, senhor”. Este Sr. Dull é um policial. Assim, as revelações do poeta aos que entenderam estão perfeitamente seguras sob os olhos da lei estabelecida pela burrice exotérica, e o seu sentido de humor deleita-se evidentemente com esse fato, que é o pivô da Comédia para nós, os conhecedores. Os críticos exotéricos são unânimes em declarar que Trabalho de Amor Perdido é a mais pobre e “mais chata” das obras de Shakespeare.

A palavra longa representa um criptograma e as palavras escondidas dentro dele são latinas, pois essa era a língua da Religião, da Ciência e do Misticismo durante toda a Idade Média. Mas, o latim clássico foi degenerado, o “latim dos monges” se tornou proverbial e o dos alquimistas, embora bem adaptado aos seus objetivos, não era do melhor tipo. Diz Holofernes, o Pedagogo: “Isso tem cheiro de latim falso”. Fala também dos “patifes da ortografia” que “abreviam” ou introduzem “fantasias fanáticas” na ortografia das palavras. Isso é um indício de que temos de reorganizar as letras e repor as abreviaturas no lugar necessário. O autor menciona ainda “o cesto de esmolas das palavras”, “restos” do “banquete das línguas”. Isto é, fragmentos de palavras foram reunidos sem ordem e é nosso dever juntá-los e desfrutar o nosso achado. A nossa atenção é chamada para a “boa nova”, para a notícia do “homem novo”, o “homem de paz” e o “Cristão” — esse último a ser construído a partir de “Priscian, um pouco riscado, vai servir” e Chirra em vez da saudação habitual: Sirra. A vogal é I e a consoante é S; as duas letras simbolizam a Iniciação e constituem o caduceu ou bastão do Iniciado. Em Holofernes, o pedagogo ou professor, um Iniciado nos fala, pois ele “ensina a partir do livro do chifre”, que é o livro da Iniciação, e é dito que aqueles que recebem esses ensinamentos são os “escolhidos entre os bárbaros”.

Michelangelo, na sua sublime estátua de Moisés, representa o legislador com o atributo dos cornos de carneiro. Desde tempos imemoriais que esses simbolizam a Iniciação do Cordeiro, a Nova Dispensação que começa com a vinda do Cordeiro quando o Sol, por Precessão dos Equinócios, passa pelo Signo de Áries. Os bobos da corte se referem ao Cordeiro e a Áries mencionando o “carneiro” e os “chifres” com a forma do Signo de Áries, um ♈︎. Falam também da “ovelha, o Signo de Áries, com um corno acrescentado”. Chifre em latim é cornu. Se juntarmos essa palavra, ou um traço que a represente, ao ♈︎, o símbolo do Carneiro, obtemos o ♑︎, símbolo de Capricórnio — que é o Signo da porta do Castelo do Graal ou do Templo no cimo da montanha (mons), onde ocorre a Iniciação. Mais adiante, ouvimos falar dos “Nove Dignos” — as Nove Iniciações nos Mistérios Menores, e depois da “Princesa” a quem os “Nove Dignos” devem ser apresentados no “posterior do dia”; ou seja, no final da tarde, período presidido pelo Signo de Libra, o Signo natural da 7ª Casa. A Princesa que vive na 7ª Casa é Vênus, o Regente de Libra, em cujo Signo também está Exaltado o grande iniciador Saturno, o Regente de Capricórnio.

Essa é uma alusão à Iniciação de Vênus, a terceira das quatro Grandes Iniciações – ou Iniciações Maiores ou, ainda, Iniciações Cristãs – para as quais as Iniciações Menores nos preparam. Com a ajuda das alusões que precedem e sucedem a grande palavra, não é difícil encontrar as 7 palavras que ela contém. O primeiro e o último desses sete honorabili e initiatus são quase claros, também ordoni; filius e bis são facilmente encontrados, especialmente se organizarmos as letras em pares. Foi dito que deveríamos encontrar “Christian” e, finalmente, no caso de não termos encontrado Rosicrucis ao agruparmos as letras, a nossa atenção é cuidadosamente chamada para ela, que contém as vogais o e u, além do “repetido” I e S, que precisa ser repetido para representar o caminho em espiral da Involução e da Evolução, em contraste com o caminho reto da Iniciação. O bastão do Iniciado é referido quando ouvimos falar da “entrada” de Hércules (Involução), da sua “saída” (Evolução) e do seu “esmagamento da serpente” (Iniciação). Através da Iniciação, o caminho da espiral, ou serpente, é transformado no caminho reto e estreito — “embora poucos tenham a graça de o percorrer”.

Três das sete palavras terminam em I e quatro, em S, em correspondência com os três veículos superiores e quatro inferiores do homem: “Honorabili Ordoni Christiani Rosicrucis Filius Bis Ininiatus”; ou seja, “Um filho duas vezes Iniciado da honorável Ordem de Christian Rosenkreuz”. As sete palavras contêm 54 letras, o dobro das que formam a palavra grande; mas o valor de 54 corresponde a 27, ou seja, 9 [2 + 7 = 9, 5 + 4 = 9], que é, segundo Max Heindel, “o número-raiz do nosso atual estágio de evolução”.

PARTE 5 – LEONATUS: UMA PROFECIA DA ERA VINDOURA

No drama romântico de Shakespeare, “Cimbelino”[7], ocorre uma estranha profecia: –

“Quando um filhote de leão de si mesmo desconhecido, encontrado sem ser procurado, for abraçado por um pouco de ar fagueiro, e quando de um cedro imponente os ramos amputados reviverem depois de estarem mortos muitos anos e, reunidos ao velho tronco, crescerem com frescor, as misérias de Póstumo chegarão ao seu termo, a Bretanha será feliz e florescerá na paz e na abundância”.

Há uma grande beleza nessas palavras, e um mistério que é reforçado pelo fato de terem sido dadas a Posthumus Leonatus, o herói da peça, pelo próprio Júpiter.

Leonatus está preso, condenado a morrer na madrugada, aparentemente abandonado por todo mundo. Ele cai em um breve sono de exaustão, no qual seus pais e seus dois irmãos, todos mortos há muito tempo, aparecem para ele. Eles vieram de “lugares silenciosos”, de “elevados jardins floridos que nunca murcham”, para confortá-lo e salvá-lo. Numa oração estranha, rítmica e vibrante, eles enviam suas súplicas por seu filho e irmão sofredor até ao trono de Júpiter. “Em trovões e relâmpagos, sentado sobre uma águia”, o deus desce e coloca uma tábua com a inscrição profética no peito de Leonatus que, após sua feliz libertação no final, relata ao Rei Cymbeline como “a chance de ouro” chegou até ele.

Vosso servo, príncipes.

Vós, meu bom senhor romano, chamai nosso adivinho.

Pareceu-me, quando a dormir estava,

que baixara do céu sentado na águia, o grande Júpiter,

cercado de espectros dos meus mortos.

Ao despertar, no peito deparou-se-me esta pequena placa,

cujo escrito de tal dificuldade é para o espírito, que não posso explicá-la.

Ele que a prova nos dê de sua habilidade nisso”.

“Considerando que um filhote de leão de si mesmo desconhecido, encontrado sem ser procurado, for abraçado por um pouco de ar fagueiro, – há uma promessa de amor nessas poucas palavras, um doce conforto, uma gentileza reconfortante que faz o coração se alegrar antes que o intelecto chegue a uma interpretação da profecia. O Adivinho, como veremos mais adiante, insinua o belo significado dos primeiros versos, mas sua interpretação mística como um todo permanece exotérica e local, confinada aos personagens da peça e da Bretanha na época da invasão Romana. Cabe à posteridade e àqueles que confiam no poeta, por meio dos Ensinamentos Rosacruzes, levantar o véu e olhar para o santuário esotérico que está no centro de cada drama shakespeariano.

Cada uma das suas peças é fiel à missão original do drama, tão tristemente esquecida nestes tempos de vaudeville[8] e comédia musical, que é nomeadamente dar uma “versão do mundo”, como expressa Richard Wagner; isto é, representar de forma simbólica uma fase da evolução humana ou cósmica.

“O passado ficou para trás, – eis que tudo se fez novo!” – O drama Cimbelino não contém apenas uma profecia com um ponto central elevado, e sim uma peça profética da primeira à última cena, representados pelos personagens Leonatus, o herói e a Imogem, a heroína, os quais encenam as novas fases do desenvolvimento individual, nacional e cósmico, mostrando a preparação e a culminação no advento da Era de Aquário. Embora a época marque o início da era Cristã, mesmo antes de os britânicos serem batizados em nome de Cristo, a visão de longo alcance do poeta alcança profundamente os séculos vindouros e, como a linguagem de um profeta, ele revela o futuro homem e a futura mulher.

Shakespeare foi um Mestre Astrólogo. Embora, tivesse que ocultar seu conhecimento da Ciência Divina, a fim de evitar suspeitas de bruxaria e magia negra, suas obras não apenas estão repletas de alusões astrológicas, como cheias de profunda sabedoria procedentes da escrita estrelar. Na juventude de Shakespeare há vários anos que não podem ser contabilizados. Ele trocou sua cidade natal, Stratford-on-Avon, por Londres e, depois de uma curta estada por lá, desapareceu por, aproximadamente, três ou quatro anos. E nesses anos se dedicou ao estudo das ciências ocultas, entre elas a Astrologia e, muito provavelmente na Itália, onde nas Universidades de Bolonha e Pádua as antigas tradições ocultas foram cuidadosamente preservadas. Como Iniciado da Ordem Rosacruz, mais tarde teve acesso a informações astrológicas muito além do alcance do astrólogo mediano de seu tempo, cujos prognósticos eram mais voltados para a adivinhação, e Shakespeare leu nas estrelas os desenvolvimentos nacionais e raciais pertencentes a um futuro distante; ou melhor, ele leu nas estrelas possibilidades de desenvolvimentos! Pois, nas Nações e nas Raças, assim como nas pessoas, o livre arbítrio é mais poderoso que as Leis do Zodíaco.

Na simbologia nacional, o Britânico é representado pelo Leão. Os Leonati são os filhos da Raça Anglo-Saxônica que, seguindo a águia de Júpiter em seu voo em direção ao Ocidente, conquistaram novas terras, fundaram novas nações e deram vida a uma nova Raça. Leonatus significa: Aquele que nasceu de um leão.

Tu Leonatus és o Filhote do Leão;

A construção provável e adequada do teu nome

Sendo Leo-Natus, por ventura isto importa tanto”.

Posthumus significa, “Aquele que vem depois”. Na época da invasão romana, a Grã-Bretanha estava povoado pelos Celtas; mas, Posthumus é o Anglo-Saxão que “vem depois” do Celta; é a nova Raça Leonina-Aquariana que “vem depois” da Anglo-Saxônica; está ascendendo a Humanidade. A história da evolução humana é a epopeia daquele que “vem depois”.

Veio a Sugestão, veio a Visão, veio o Poder com a Necessidade,

Até que a Alma que não é a alma do ser humano nos foi emprestada para liderar.

Assim como o cervo se afasta – à medida que o novilho se afasta – do rebanho onde pastam,

Na fé das criancinhas seguimos nossos caminhos,

Siga depois – siga depois! Regamos a raiz,

E o botão floresceu e amadureceu para dar frutos!

Tal como descrito por Kipling[9], no seu grandioso poema “A Canção dos Mortos”[10], os Leonati ou Anglo-Saxões são construtores de impérios. A missão deles era obedecer ao impulso sempre urgente do Signo errante jupteriano, Sagitário, e preparar a Terra para aqueles que virão depois, incluindo novos países no império da Civilização e do Cristianismo, de modo que, num solo mais puro e numa atmosfera mais rarefeita, novas Raças poderiam desenvolver as qualidades mais refinadas e superiores, necessárias para sustentar o império do Espírito em evolução. E a Raça que, embora os seus progenitores tenham surgido do Leão e, apesar de carregar a marca Anglo-Saxónica na sua civilização e fale a língua anglo-saxónica, ainda assim, abrange todas as nações – a Raça escolhida através da qual o princípio Crístico da Unidade se manifestará na Era da Fraternidade Universal, está nascendo naquela nação onde o “filhote de Leão é abraçado por uma atmosfera de ar rarefeito”, nomeadamente nos Estados Unidos da América onde o Signo de Ar, Gêmeos, reina supremo e envolve os filhos do Leão.

A nova Raça na qual a Fraternidade Universal será aperfeiçoada está apenas começando a se formar, mas a Era da Unidade está sendo prenunciada pela participação da América na guerra pelo fim das guerras, e pela orientação da América no movimento para a formação da Liga das Nações[11]. Entre os obstáculos no caminho desta Liga estão dois ramos mortos que foram “cortados” de um “cedro majestoso”. A Humanidade da Época Ária é representada por esta árvore de cedro sempre verde; as nações são os ramos. Há duas nações na Europa intimamente relacionadas com os anglo-saxões e anteriormente seus colegas de trabalho ao serviço da civilização. Os pensamentos de militarismo violento sustentados pelos seus líderes, moldaram um machado para cortar seus ramos irmãos, para que os dois pudessem crescer e verdejar abundantemente. O machado se tornou o machado do destino e se voltou contra os próprios dois ramos em que a seiva secou, ​​a vida murchou. Essas duas grandes Nações Ocidentais dessa Época Ária se tornaram “mortas”, porque o Espírito foi expulso delas, e os esforços para forçá-las a prosperar pela força da matéria permaneceram em vão. Mas, eles voltarão à vida, os ramos regados com muitas lágrimas voltarão a verdejar – o rei Cimbelino tem dois filhos “perdidos”, irmãos de Imogen, cunhados de Leonatus; em sua infância, eles foram roubados por Belarius, cujo nome significa ‘o Guerreiro’, separados de sua espécie e escondidos por muitos anos na escuridão de cavernas e florestas. A família deles pensa que estão mortos; e estranhos se perguntam que “os filhos de um rei deveriam ser tão desprotegidos” a ponto de serem “perdidos”. Mas, pelo fato de serem “filhos de um rei”, não permanecem perdidos; seu sangue real se afirma; depois de anos de isolamento e privação, simplicidade e frugalidade, durante os quais crescem fortes de Corpo, nobres de Mente e puros de Alma e, finalmente saem, voluntariamente, para oferecer suas vidas a serviço da Humanidade, cuja causa ouviu estar em perigo, uma vez que a Grã-Bretanha – o futuro – está envolvida com Roma – o passado – numa luta de vida ou morte. A família dela os reconhece pelo seu valor; “os ramos unidos ao tronco antigo crescem de novo”; e a árvore não apenas está perfeita novamente, mas evoluiu de uma árvore de cedro “imponente” para um cedro “majestoso”.

Só quando a árvore das Nações voltar a ficar verde em todos os seus ramos poderá reinar a paz final e duradoura que “acaba com as misérias de Póstumus”, inaugurando a era da cooperação e da Fraternidade Universal. A batalha em que os parentes perdidos de Leonatus lutam, lado a lado com ele, é travada entre princípios; Roma simbolizando o princípio do passado, ou seja, o poder que separa; a Grã-Bretanha representa o princípio do futuro, nomeadamente, o serviço que une. Os dois irmãos prestam ajuda valente e valiosa, mas a batalha é decidida em favor dos britânicos pelo próprio Leonatus que, após uma longa ausência da Grã-Bretanha, reaparece em trajes humildes de camponês e luta com tal “fúria nobre” que seus “feitos preciosos” inclinam a balança do destino. Não como um “cavaleiro de armadura”, mas como um “homem do povo”, ele luta e vence. As nações da Europa não podem superar a velha ordem das coisas e estabelecer a nova ordem sem a ajuda do povo da América. O país do Ocidente sobre o qual a águia de Júpiter voa “com asas elevadas”, até “desaparecer nos raios do sol”, o país do Ocidente onde o “filhote do Leão” está casado com uma “atmosfera rarefeita” deve liderar as suas Nações irmãs para a Nova Era.

Não somos irmãos? –

Assim deveriam ser todos!

Assim fala a gentil Senhora Imogen, como no humilde disfarce de um criado sob o comando de nome Fidele, o Fiel, ela encontra os dois “perdidos” na floresta. Imogen é a esposa de Leonatus, sua companheira e complemento e, como tal, a “atmosfera mais rarefeita?” que o envolve. Ela, ainda, é a representante do Signo nacional da América, Gêmeos, o Signo de Ar que envolve Póstumus em sua terra ocidental. Gêmeos é o Signo dos irmãos e das irmãs. Os Estados Unidos da América admitem homens e mulheres de todos os países na família nacional e, ao lhes conceder a cidadania, os reconhecem- como irmãos e irmãs. A cidadania os torna estrangeiros antes dos membros da família. Imogen fala lindas palavras sobre Fraternidade. E lindo é esse acolhimento familiar, estendido a estranhos por meio da cidadania. Mas, é apenas um preparativo para uma beleza maior que surgirá, um ideal mais elevado que será realizado sob outro Signo de Ar. A Fraternidade expressa por Gêmeos na América ainda está confinada à família nacional e depende do nascimento na pátria nacional ou da adoção nela. Não está muito distante o tempo em que o amor fraternal, que estamos aprendendo com Gêmeos e que gradualmente amplia seus limites, se tornará ilimitado; e a Nova Raça que se desenvolve sob Gêmeos será suficientemente aperfeiçoada para responder ao abraço do novo sinal que nos levará para cima, para a “atmosfera mais rarefeita” da Fraternidade Universal.

Imogen, como “a atmosfera rarefeita (ou tênue)”, tem uma simbologia tripla, assim como a profecia tem um aspecto triplo: individual, nacional, cósmico. Indivíduos e Nações têm propensões cósmicas e, ao progredirem no caminho espiral da sua própria evolução, elevam a Terra a um ponto mais elevado do caminho espiral planetário. A espiral individual, a espiral nacional e a espiral cósmica estão mais intimamente interligadas.

“Atmosfera rarefeita”, como explica o vidente, é “brisa suave” em latim. “E brisa suave nós a chamamos de mulier” – Mulher em Latim – “que mulher mais sublime é esta esposa mais constante”. Imogen, a fiel, a casta, a terna, é a Mulher, é o princípio feminino no Homem que nos seus aspectos de intuição e compaixão deve ser desenvolvido, para que a Era de Aquário, a Era da Mulher, possa começar quando toda a Humanidade, unida numa só família, seja envolvida por uma “atmosfera rarefeita”, nomeadamente o Signo de Ar, Aquário.     

PARTE 6 – LEONATUS: UMA PROFECIA DA ERA VINDOURA – MARGARIDA WOLFF

No livro de Max Heindel a Mensagem das Estrelas – Fraternidade Rosacruz, lemos que na Nova Dispensação, que começou com a vinda do Cristo e que foi fornecida para os povos ocidentais, tem três fases em correspondência com o caminho que Sol faz pelo evento chamado Precessão dos Equinócios, e que são a Era de Áries, Era de Peixes e Era de Aquário[12]. Quando, pela Precessão dos Equinócios, o Sol estava em Áries indicou o início de um novo ciclo de vida com a vinda do maior Espírito do Sol à nossa Terra, que se preparara com expectativa para o Seu advento, desde que o impulso para essa preparação foi recebido através de Libra (Signo oposto a Áries) a, aproximadamente, 13.000 anos antes. Sem dúvida era uma notícia excelente, mas isso ocorreu em Áries e encontrou o povo ocidental pronta para recebê-la, no entanto toda a Humanidade não poderá viver o ideal, do qual o Cristo é o Mestre e o exemplo, senão até que pela Precessão dos Equinócios o Sol tenha passado por Peixes. As lições a serem ensinadas por meio desse Signo de lágrimas, de tristeza e angústias profundas, de escravidão e de compaixão têm que ser aprendidas muito bem, pela repetição e mais repetição, por meio de Júpiter, o Regente de Peixes, antes que uma Humanidade, verdadeiramente Cristã, possa ascender ao “terno Signo de Ar” de Aquário.

Júpiter, o benevolente, gentilmente sorri para seus filhos e os abençoa abundantemente, ainda assim, empunha o método de aprendizagem duro, insistente, repetitivo – da dor, sob cujos golpes poderosos a armadura do “eu”[13] é quebrada na forja da tristeza e angústia profundas, e a Alma (a quintessência dessa aprendizagem) é “forjada em ouro vivo”. Quando os pais de Leonatus chamam Júpiter para libertar seu filho aprisionado, o “deus” fala:

“Seu filho humilde, nossa divindade será elevada,

Seu conforto prosperará, suas provações são bem aproveitadas,

Ele será o protetor de Lady Imogen,

E muito mais feliz por sua aflição causada”.

Os críticos que professam o Cristianismo Exotérico ficam intrigados com o fato de o “deus” greco-romano Júpiter ser invocado na Grã-Bretanha celta; e eles acusam Shakespeare de confundir os “deuses” do Olimpo grego com aqueles que eram adorados nos bosques druidas, e o desculpam alegando que ele não teve uma educação clássica. Mas, como vimos antes, o drama Cimbelino é uma exposição da Astrologia Esotérica e de sua referência profética à evolução humana. Somente através da mediação da Ciência Divina podemos compreender as muitas alusões a Júpiter, contidas na peça. Leonatus, o indivíduo, é libertado da prisão, salvo da morte, reintegrado com honra, reunido com sua esposa, por meio da proteção de sua estrela vital, Júpiter. “Nossa estrela jovial reinou em seu nascimento” – assim o “deus” apazigua a ansiedade dos pais. Na linguagem astrológica, deveríamos dizer que Júpiter era o Planeta que estava no Ascendente no horóscopo de Leonatus Posthumus, e que a influência protetora do grande Planeta da benevolência deve, finalmente, salvá-lo de todas as vicissitudes. Um Júpiter com Aspectos benéficos na 12ª Casa indica que o nativo triunfará sobre todos os seus inimigos. Portanto, parece que a “estrela jovial” no Ascendente de Leonatus está posicionada na 12ª Casa, próximo da cúspide da 1ª Casa.

Estamos tão acostumados a considerar Júpiter como o grande benfeitor, que irradia seus filhos e os abençoa com abundância, que tendemos a esquecer sua regência sobre Peixes, o Signo das lágrimas e da tristeza e angústia profundas. Júpiter é o grande benfeitor e, não só por isso, mas por ser o grande disciplinador, o que corrige tenazmente. “A quem mais amo, eu crucifico”[14]. Os golpes do método de Júpiter são terríveis, mas as correntes do “eu”, que nos mantêm em cativeiro, são tão fortes, que só golpes poderosos podem quebrá-las. Somente quando nossos olhos forem lavados em lágrimas é que eles poderão ver o sorriso paternal no semblante do “deus”. Júpiter é o Planeta da opulência, e não apenas para o indivíduo Leonatus Posthumus, mas também para todo povo ocidental, ou seja, para a Humanidade leonina-aquariana, ele promete “paz e abundância”. Contudo, isso não é uma opulência de coisas materiais: Júpiter, o magnânimo, torna o coração grande e amplo para que ele possa conter uma medida plena de compaixão, a força mágica por meio da qual somente a regeneração pode ser operada; pois o benevolente governante do profundamente triste e angustiado Signo de Peixes castiga seus filhos a fim de regenerá-los. O ser humano não pode atender aos requisitos evolutivos da terceira fase ou Era de Aquário dessa Dispensação que ocorre na Época Ária, pois o Evangelho do amor universal fraterno não deve ser somente pregado, mas vivido; a exceção é se o ser humano se purificar e se regenerar, de acordo com os ideais expostos no Signo de Peixes e no seu oposto, o Signo de Virgem.

Virgem é o Signo da Mãe Divina, da Imaculada Concepção e do Serviço. Por meio do serviço amoroso e desinteressado (portanto, o mais anônimo possível) focado na divina essência oculta no irmão e na irmã – que é a base da Fraternidade – a Humanidade aquariana deve expressar a sua evolução; tal qual o amor de uma mãe, que é todo abrangente, todo compreensivo e que tudo suporta, o amor de cada um deve abranger a todos, puro e altruísta. “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus[15]. A Mãe Divina é uma mãe virgem, aquela pureza de coração da qual brota um amor tão altruísta que não é possível abrir a visão espiritual para a percepção de Deus, enquanto a guerra dos sexos continua; enquanto um padrão estabelecido pelo ser humano sob Touro-Escorpião justifica a conduta do homem, naquilo que condena na mulher; e enquanto a santa palavra do amor é usada com sacrilégio para a emoção inferior da paixão sexual. As lágrimas derramadas na escuridão e na escravidão de Peixes são para purificar a alma das manchas causadas pelos erros cometidos pelo homem à mulher e pela mulher ao homem por meio do abuso da força sexual. Na obra “Sonho de uma Noite de Verão”, é-nos mostrado como é sagrado o uso correto dessa força sexual, de acordo com os ditames do verdadeiro amor e com o propósito de fornecer Corpos para as Almas que chegam; como o casamento, como um Sacramento – o do Matrimônio –, é favorecido e protegido tanto pelas Forças da Natureza quanto pelos “deuses”. Em Cimbelino, o homem Jachimo, que tenta em vão seduzir a pura Imogen à infidelidade contra seu marido Leonatus, é forçado a reconhecer ao rei:

Fui ensinado

Da sua filha casta

A grande diferença

Entre amoroso e o vilão”.

Shakespeare usa a palavra “amoroso” em seu sentido original, que é “sentindo ou demonstrando amor” ou “fortemente movido pelo amor”. Quando motivada pelo amor entre um homem e uma mulher, e prometendo amor à Alma que precisar renascer aqui, a união sexual é um mistério muito sagrado, mantido diante do próprio altar da Mãe Divina, a própria Virgem Imaculada. Aquele que é concebido com amor, e não com paixão, é concebido imaculadamente. Tal como nos dias anteriores à “Queda do Homem”, quando os Anjos dirigiam o ato sagrado da procriação, o homem e a mulher que amorosamente oferecem ao Ego que espera a oportunidade de renascer aqui, prestam um serviço aos guardiões da evolução humana, servindo no templo da Virgem Mãe. A virgindade encontra a sua máxima expressão no Regozijo arrebatador de dar – um sentimento inestimável que leva as pessoas a perceberem o verdadeiro sentido da vida e o seu impacto na vida dos outros –, para que o grande propósito da vida criadora possa ser servido. “Quando dou algo, dou-me por inteiro!”[16]Júpiter, que em Exaltação quando está em Câncer é, também, o guardião da fecundidade. Na mitologia grega ele é o deus-criador e Ceres-Virgem, a Mãe Divina, é sua irmã. Apertada no seu coração, Ceres segura uma criança ou um feixe de trigo; coelhos brincam na bainha de sua roupa; ela está profundamente conectada com a terra; seu amor envolve e irradia todas as coisas vivas. Ela é a Mãe-Terra, ao mesmo tempo que é a Mãe universal, a Mãe celestial. Seus servos devem ser virgens, “puros de coração”; sua flor é o narciso branco, em forma de estrela com um centro dourado. Virgem é um Signo de Terra, mas simboliza a pureza da Imaculada Conceição sob o ideal do serviço amoroso, e Maria, a Virgem Mãe do Salvador, se autodenominava de “uma serva do Senhor[17].

O Signo de Peixes, por onde o amor paterno de Júpiter zela pelo processo de regeneração por meio do sofrimento, e onde ocorre a transmutação da paixão em compaixão, está indissoluvelmente ligado a Virgem, onde a Mãe Divina ensina como se purificar por meio do serviço. A paixão separa; provoca a guerra dos sexos entre si; causa guerras entre as nações. A compaixão unifica. A autogratificação destrói; o serviço constrói e desenvolve. O ideal de Cristo é a unidade. A consequência mais grave da separação por meio do sexo é a separação através da morte. Mediante a compaixão e o serviço (amoroso e desinteressado, focado na divina essência oculta em cada um de nós – que é a base da Fraternidade –, ao irmão e à irmã) aprendidos em Peixes-Virgem formamos o Corpo-Alma, assexuado e imortal, que nos elevará ao “ar”[18] de Aquário.

Ele veio como um trovão; sua respiração celestial

Tinha cheiro sulfuroso; a águia sagrada

Inclinou-se para nos acompanhar: sua ascensão é

Mais doce que nossos campos abençoados; seu pássaro real

Poda a asa do Imortal e sacia seu bico,

Como quando seu deus está satisfeito”.

O deus-criador, Júpiter, se revela aos seus servos, os amantes virgens, e os eleva da tristeza e angústia profundas da carne e da escravidão nas paixões do Corpo Denso para o “teto radiante” de um Novo Céu sobre uma Nova Terra. Lá está o “ar terno” de Aquário, doce como o sopro de mil flores, na glória iridescente do céu uraniano, luminoso com o brilho suave de uma luz que nunca se apaga, uma Humanidade regenerada abrirá as asas da imortalidade: não mais vestida em peles vis e perecíveis, mas em Corpos-Alma etéricos e imortais, a Humanidade será libertada da “busca do homem e da mulher”; e seres sempre jovens, alados e adoráveis em suas vestes nupciais douradas, viverão em paz além da compreensão e em abundância além dos limites.

A ave real da ascensão, cujas “asas imortais” transporta o “deus” e aqueles que o servem para o “palácio cristalino”, é a águia de Escorpião. Através da geração Escorpião trata a morte; através da regeneração de Escorpião se dá a imortalidade, e Urano, o Planeta alado, o Regente do Signo de Aquário e da Era de Aquário, quando nossos Corpos se elevam para além da “humilhação” do sexo, será semelhante ao “corpo glorioso” de Cristo – Urano está em Exaltação, quando em Escorpião. A paixão sexual causou a “Queda do Homem”; é “vil”, pois persegue o outro para fins egoístas. A mulher deveria ser a guardiã de seu irmão, o homem deveria ser o guardião do santuário de sua irmã; em vez disso, o homem e a mulher caçam um ao outro, traem um ao outro, mancham um ao outro e usam um ao outro para a gratificação do “eu inferior”. Antes que a ascensão se torne possível, a paixão deve ser transmutada em amor Crístico com virgem pureza e estar liberta dessa condição. “Amoroso” significa “sentindo ou demonstrando amor” ou “fortemente movido pelo amor”. Na plenitude do seu amor altruísta, Imogen, a casta, e Leonatus, o compassivo, servem não apenas um ao outro, mas também ao propósito cósmico do deus-criador em cujo “templo eles se casaram”.

Escorpião, rastejando na lama, tem um ferrão que mata; Escorpião, regenerado na águia, tem asas que se elevam para a imortalidade. Antes que o ideal Crístico de perfeita unidade possa ser vivido na Terra, o último e maior inimigo separatista, que é a morte, tem que ser vencido. A morte está ligada ao sexo e, para vencê-la a Humanidade deve superar pelo poder mental ou moral o sexo. A virgindade é uma atitude mental, mas ao que tudo indica, é um estado mental mais difícil de adquirir do que qualquer outro, pela principal razão de que a Humanidade não compreenderá a santidade da função procriadora e de tudo o que lhe diz respeito. Nos tempos anteriores à “Queda do Homem” o acasalamento acontecia nos Templos. E no Templo da nossa consciência interior deveríamos considerar sagrado o amor entre o homem e a mulher, como uma capacidade, uma condição ou um estado de agir ou de exercer poder como o das Hierarquias Criadoras. Jachimo não é mau; ele é meramente frívolo e faz como todo mundo faz. No entanto, o maior mal em todo o mundo é causado por essa frivolidade nas questões sexuais. Ele se considera um cavalheiro irrepreensível, em seu cavalheirismo para com as mulheres; ele ficaria horrorizado diante de roubo ou assassinato, mas não percebe que toda vez que usa a força sexual para o prazer e sem amor, ele oferece um insulto mortal a sua esposa-irmã e comete um pecado, cuja consequência é a morte. A união como um Sacramento entre um homem e uma mulher, para que os dois se devam manter puros e imaculados: é isso que Jachimo não sabe.

Ele gosta de se divertir na companhia de mulheres, vaidosas e fracas ou confiantes e equivocadas por seus modos polidos; na companhia de homens, ele se refere com desprezo àquilo que deveria ser considerado sagrado e debocha, abertamente, em alusões a assuntos que deveriam ser tratados por uma dignidade muito acima humor cínico. Ele é tipicamente uma pessoa comum. Mas ele se interessa pela castidade de Imogem e pela fidelidade de Leonatus e aprende com esse a reconhecer a santidade do amor entre homem e mulher e a dignidade da função criadora. Ele muda sua atitude mental e, assim, ele dá o primeiro passo para a regeneração. Mercúrio, o Planeta da Mente, está em Exaltação quando em Virgem, o Signo da pureza, do serviço e da Imaculada Concepção. Quando a Mente tiver compreendido, definitivamente, a santidade do ato criador, então, começa a transmutação do Corpo; e não está longe o tempo em que o sexo cessará e a criação por meio da “palavra” será um processo apenas da vontade da Mente.

Leonatus Posthumus que, junto com Imogen, muda toda a perspectiva mental do cínico Jachimo, é descrito como um ser de uma nova ordem. Jachimo diz dele:

Ele se senta entre os homens como um deus descendente;

Ele tem uma espécie de honra que o destaca

Mais do que uma aparência mortal.

Ele tem uma nobreza natural de porte e caráter, em comparação com a qual Jachimo renuncia a qualquer pretensão à aristocracia.

Cavalaria e honras recebidas

Enquanto eu uso os meus títulos, mas de desdém.

Leonatus – nascido de um leão – natural de Leco! Com o selo radiante de Júpiter na testa! Pois nos lembramos das palavras do “deus”:

“Nossa estrela Jovial reinou em seu nascimento”.

Imogen fala de seu “rosto Jovial” e, novamente, ouvimos Jachimo:

Um senhor mais nobre nunca viveu

Entre o Céu e Terra

* * *

Ele é bom demais para estar

Onde estão os homens doentes, e é o melhor de todos

Entre os mais raros dos bons.

Ele tem o Signo de Leão no Ascendente e o Planeta Júpiter no Ascendente e expressa as melhores e mais nobres qualidades, que é possível desenvolver sob a influência da estrela e do Signo real, e num laço mais elevado da espiral do que o mero humano; ele atingiu tal perfeição que não é mais humano, mas super-humano, e cresce além do Leonatus individual, até se tornar o representante de um tipo novo e superior, o Leonati da Era de Aquário.

Estes Leonati, como verdadeiros seguidores de seu Mestre – o Leão, da tribo de Judá – viveram a vida de Cristo porque, por meio da pureza, da compaixão e do serviço, eles desenvolveram o poder de Cristo Interior. Nenhuma manifestação maior desse poder é possível do que por meio da obediência ao mandamento “ama os teus inimigos[19], que o ser humano considera impossível de cumprir até que o seu coração bata em sintonia com o Coração do Sistema Solar, de onde veio o Cristo. Para o inimigo que mais o prejudicou, Leonatus não tem censura, apenas essas palavras:

Não se ajoelhe diante de mim.

O poder que tenho sobre você é de poupá-lo,

A malícia para com você é de perdoá-lo: – viva

E trate melhor os outros.

Seu exemplo, o do verdadeiro pioneiro em Mente e Espírito, é tão poderoso que o Rei Cimbelino liberta todos os prisioneiros com essas palavras:

Aprendemos nossa liberdade

De um genro.

Perdão é a palavra para todos.

Leonatus é libertado da escravidão da Era de Peixes e conduz seus irmãos à liberdade e à unidade. Ele impressiona até mesmo seu carcereiro, que o dispensa, com as palavras:

Eu gostaria

Que todos tivessem a mesma opinião,

E uma Mente boa.

Palavras notáveis em um carcereiro e expressivas do grande anseio espiritual predominante no final da Era de Peixes. Leonatus e Imogen estão entre os primeiros frutos amadurecidos no Sol de Aquário-Leão, que começou a brilhar dentro deles muito antes de seus raios atingirem a Humanidade comum.

Deuses, coloquem a força

Dos Leonati em mim!

Para envergonhar a aparência do mundo, começarei

A moda, – menos fora e mais dentro.”

Assim vai Leonatus, consciente de sua missão, na batalha contra os principados da velha ordem, simbolizada pelo declínio do Império Romano. A força dos Leonati é o poder de Cristo nascido nos corações dos Filhos de Leão.

PARTE 7 – LEONATUS: O ABANDONO IMINENTE DO CORPO DENSO

Como “as espirais dentro de espirais” são os aspectos simbólicos assumidos pela personagem de Leonatus! O poeta faz dele, juntamente de sua contraparte feminina, a casta Imogen, o portador e representante de grandes verdades evolutivas e a principal delas conduz ao próprio centro da nossa Religião Cristã.

Shakespeare, como Iniciado da Ordem Rosacruz, sabia que “A Bíblia foi dada ao Mundo Ocidental pelos Anjos do Destino” e que ela contém todo o conhecimento necessário para o nosso desenvolvimento em conformidade com as leis da nossa evolução.

Como já foi dito, Leonatus significa “Aquele que nasceu de um Leão” e ouvimos um verdadeiro eco da Bíblia quando lhe dirigimos estas palavras: “Tu, Leonatus, és o filho do Leão”. No capítulo 49 do Livro do Gênesis, Jacó abençoa os seus doze filhos, os progenitores das doze tribos de Israel e, dirigindo-se a Judá, diz: “Judá é um filho de Leão”. Devemos lembrar que a Bíblia, tanto na sua história como nas suas partes proféticas, está majoritariamente escrita na linguagem do simbolismo astrológico.

A história e a profecia bíblicas são os relatos das fases pelas quais a evolução humana passou no passado e deve, para alcançar a perfeição, passar no futuro. A evolução humana segue o caminho precessional do Sol e depende, no seu progresso, do desenvolvimento sucessivo de certas qualidades que são governadas e, simbolicamente, representadas por certos Signos do Zodíaco e seus Regentes planetários.

O Sol, por Precessão dos Equinócios, se aproxima do “Signo do Homem nas nuvens”, ou seja, Aquário, e já está dentro da sua Órbita de Influência; o complemento de Aquário é Leão; as faculdades leoninas-aquarianas misturam-se e são inseparáveis umas das outras, como vimos em relação às propriedades piscianas de Virgem e como é o caso de Touro-Escorpião e de todos os Signos que nunca desempenham a sua missão evolutiva isoladamente, mas sempre em pares de opostos ou complementos, oferecendo os aspectos masculino e feminino, os polos positivo e negativo de um mesmo princípio. Leonatus e “o pedaço de ar tenro”!

Não pretendemos ter qualquer conhecimento das miríades de Sistemas Solares fora do nosso, mas sabemos que no nosso Sistema Solar prevalece esta lei: Como em cima, assim é em baixo. O microcosmo, o pequeno mundo do ser humano, corresponde ao macrocosmo, que é o grande mundo das nossas estrelas. O Sol é o coração do nosso Sistema Solar, cujas forças pulsantes e correntes circulantes de vida são reguladas por este Grande Coração, distribuídas por ele, alimentadas através dele, chamadas de volta para ele e enviadas dele novamente para todas as partes.

O ser humano sente as batidas do seu coração no seu pulso; e no pulso da vida que palpita através da nossa Terra bate o coração cósmico, o Sol. O Zodíaco é chamado de o Grande Ser humano do nosso Universo e este Grande Ser humano tem o seu coração em Leão; isso significa que as funções do Sol, como Coração cósmico, estão em correspondência com as forças da vida cósmica que trabalham através do Signo de Leão. Da mesma forma, o nosso coração humano, como representante microcósmico do Sol, não pode deixar de estar ligado a Leão.

O Sol, ou coração macrocósmico, e o coração humano, ou microcósmico, e o Signo de Leão formam uma trindade; o princípio espiritual que subjaz a cada um dos três aspectos é o amor unificador. O Espírito do Sol é o Cristo e a estrutura do Cristo é o amor; portanto, quando o Sol, por Precessão dos Equinócios, passar por Aquário-Leão, devemos sintonizar os nossos corações com o amor Crístico e a tremenda velocidade das vibrações de amor geradas no coração humano vai libertá-lo da sujeição à matéria, convertê-lo em um músculo voluntário e torná-lo o mestre do Corpo Denso aperfeiçoado.

Cada uma das doze tribos israelitas representa um Signo do Zodíaco e as propriedades evolutivas específicas a serem desenvolvidas através dele. No centro está Judá, o Leão, que recebe uma promessa além da bênção que o Pai, Jacó, concede a todos os seus filhos. Cada um dos doze é abençoado; ou seja, cada Signo tem sua importância particular no processo de evolução, mas para a Humanidade esse processo culmina em Judá, o Leão, o Signo do coração.

E Jacó chamou seus (doze) filhos e disse: ‘ajuntai-vos para que eu vos diga o que vos acontecerá nos últimos dias. Judá, os teus inimigos te louvarão, os filhos de teu pai se curvarão diante de ti; (…) Judá é um filhote de leão e ele se abaixou, ele se agachou como um leão e como uma leoa o cetro não se afastará de Judá, nem o cajado de governante deixará seus pés até que o Príncipe da Paz (Siló) venha, e a Ele o povo obedecerá” (Gen 49:1-28). Essas palavras, frequentemente citadas e raramente compreendidas, são as maiores entre as chamadas profecias messiânicas; a saber, aquelas passagens do Antigo Testamento que se referem à vinda de Cristo Jesus e à Era de Aquário-Leão.

A tarefa evolutiva da Humanidade durante esta Era em que entraremos em breve é aperfeiçoar o Corpo Denso e sublimá-lo para que o Ego possa deixá-lo de lado para sempre e funcionar no Corpo Vital. Aperfeiçoar uma coisa significa terminá-la, completá-la. Nosso Corpo Denso ainda não está concluído; o feito máximo em seu desenvolvimento ainda precisa ser realizado e o requisito para que sua perfeição seja alcançada sob Leão-Aquário é a conversão do coração, de músculo involuntário em músculo voluntário.

Sabemos que a nossa constituição é sétupla, consistindo no Tríplice EspíritoEspírito Humano, Espírito de Vida e Espírito Divino —, no Tríplice Corpo (Corpo Denso, Corpo Vital e Corpo de Desejos) e na conexão entre todos eles, que é a Mente. O Tríplice Espírito somos nós, o Ego (o Espírito Virginal da Onda de Vida humana manifestado aqui) e controla, ou deveria controlar, o Tríplice Corpo através da Mente; mas infelizmente o Corpo de Desejos tem uma vontade própria que afirmou pela “Queda do Homem” e essa vontade, inferior ou de desejo, que está centrada no próprio Corpo de Desejos, sobrepôs-se à vontade superior da Mente. Como estudamos no Conceito Rosacruz do Cosmos, “a Mente está limitada pelos desejos, submersa na egoísta natureza inferior, o que torna difícil ao Espírito o governo do Corpo. A Mente, o foco – que deveria se aliar à natureza superior, se afastou e está unida e secretamente trabalhando com a natureza inferior – escrava do desejo.”.

Se nós, o Ego, quiséssemos tornarmos o senhor dos nossos Corpos e assegurar a cooperação voluntária deles, teríamos de encontrar no Corpo Denso um ponto de vantagem que não estivesse sob a influência da natureza do desejo. Todos os músculos voluntários são expressões de Corpo de Desejos; portanto, o Ego deve controlar um músculo que seja involuntário e ainda assim conectado com o sistema nervoso voluntário. Tal músculo é o coração. Os músculos involuntários são formados por estrias longitudinais e estão conectados com funções que não estão sob o controle da vontade, como a digestão, a respiração e outras. Os músculos voluntários são aqueles que são controlados pela vontade através do Sistema Nervoso voluntário, como os músculos da mão e do braço. Eles são listrados tanto longitudinalmente quanto transversalmente. Isso é verdade para todos os músculos do corpo, exceto o coração, que é um músculo involuntário. Normalmente, não podemos controlar a circulação. Em condições normais, o batimento cardíaco é uma quantidade fixa, mas, para perplexidade dos fisiologistas, o coração é cruzado-listrado como um músculo voluntário.

O cientista ocultista sabe que, quando o Ego procurou pela primeira vez uma fortaleza no coração, este último era listrado apenas longitudinalmente, como qualquer outro músculo involuntário; mas à medida que o Ego ganhou mais e mais controle sobre o coração, as listras transversais foram gradualmente desenvolvidas. Elas não são tão numerosas nem bem definidas como nos músculos sob o controle total do Corpo de Desejos, mas à medida que os princípios altruístas de amor e fraternidade aumentam em força e gradualmente dominam o desejo, essas listras cruzadas também se tornarão mais numerosas e marcadas, até que prevaleçam e o coração, livre do desejo-emoção-sentimento egoísta, agirá inteiramente de acordo com os ditames da amorosa Vontade de Cristo.

O trabalho ativo do Ego está no sangue. Agora, se excluirmos os pulmões, o coração é o único órgão por onde passa todo o sangue. O coração é a porta de entrada do sangue que nutre todas as partes do corpo. E este sangue nutritivo que alimenta e sustenta a vida de todo o organismo físico é, nas palavras de Max Heindel, “a expressão mais elevada do Corpo Vital”. Espírito de Vida e Corpo Vital! Seus nomes são indicativos. O Corpo Vital, governado pelo Espírito de Vida, é o meio para o funcionamento da vida no organismo humano. À medida que o sangue passa pelo coração, a morada do Espírito de Vida, ciclo após ciclo, hora após hora, durante toda a vida, ele entra em contato mais próximo com o Espírito de Vida, o Espírito de Amor e Unidade; portanto, o coração é a morada do amor altruísta que, por meio do sangue, é transmitido gradualmente a cada célula do nosso Corpo Denso.

Max Heindel diz: “Os fisiólogos notam que certas áreas do cérebro estão dedicadas a determinadas atividades mentais. Os frenólogos levaram esse ramo da ciência ainda mais além. Sabe-se também que o pensamento destrói o tecido nervoso e que esse desgaste do Corpo, como qualquer outro, é restaurado pelo sangue. Quando o coração se converter em músculo voluntário, a circulação do sangue ficará completamente sob o domínio do unificante Espírito de Vida, o Espírito do Amor. Então, terá o poder de impedir que o sangue flua a essas partes do cérebro dedicadas a propósitos egoístas. Esses centros mentais irão se atrofiando gradualmente.”.

“Por outro lado, ser-lhe-á possível ativar o sangue quando as elaborações mentais foram altruístas, o que restaurará e vigorizará esses centros. A natureza passional será conquistada e, pelo Amor, a Mente será emancipada da escravidão do desejo. Só se emancipando completamente pelo Amor, o ser humano poderá se elevar além da lei e se converter, ele mesmo, numa lei. Tendo-se conquistado a si, conquistará então todo o mundo.”. E logo que se torna o conquistador do Mundo Físico, pelo domínio do Corpo Denso, já não precisa do Mundo Físico como Campo de Evolução, nem do Corpo Denso como instrumento de experiência evolutiva.

A perfeição das qualidades do coração em Leão-Aquário está correlacionada com a elevação dos nossos Corpos para o ar, onde nos encontraremos com Cristo na Sua segunda vinda. Aperfeiçoar e abandonar um Corpo é o mesmo fato evolutivo apresentado em duas fases. Logo que um dos nossos veículos é aperfeiçoado, é também abandonado; isto é, destruído para sempre na sua forma; e sua essência é incorporada no veículo seguinte. Quando a Humanidade tiver aperfeiçoado os seus Corpos Densos, eles serão postos de lado para sempre; terão então servido ao seu objetivo evolutivo e não serão mais necessários. Essa perfeição deve ser alcançada durante a chamada Metade Mercurial do Período Terrestre, que é onde nos encontramos agora; no próximo Período, o de Júpiter, funcionaremos então em Corpos Vitais.

A evolução do Período de Júpiter tem seu campo na Região Etérica do Mundo Físico. Por conseguinte, não é possível utilizar aí o Corpo Denso, pois na Região Etérica só pode ser utilizado um Corpo Vital. “A Natureza nada desperdiça. No Período de Júpiter, as forças do Corpo Denso, por adição, completarão as do Corpo Vital. Esse veículo possuirá, além das próprias faculdades, os poderes do Corpo Denso. Será um instrumento muito mais útil para expressão do Tríplice Espírito do que limitado somente às próprias forças do veículo”.

Essa transmutação do Corpo Denso em Corpo Vital será realizada através da libertação do coração durante a era precessional de Leão-Aquário e, embora não seja dada qualquer informação definitiva, é sugerido que entraremos no Período de Júpiter por meio das portas de Capricórnio-Câncer.

Como as leis da evolução operam maravilhosamente! Enquanto aperfeiçoamos um veículo, ao mesmo tempo preparamos o próximo e superior para uso do Ego. Pureza, temperança, abnegação e serviço amoroso e desinteressado – portanto, o mais anônimo possível – focado na divina essência oculta em cada um de nós (que é a base da Fraternidade) e para com o irmão ou a irmã que está ao nosso lado refinam o nosso Corpo Denso e trabalham para a libertação do coração; simultaneamente constroem o Corpo Vital, de modo que, quando deixarmos o Corpo Denso pela última vez possamos ter a nova vestimenta pronta para nos vestir. Isso explica como são inúteis todos os preceitos que ensinam a desenvolver o Corpo Vital e seus centros de consciência, enquanto pecam gravemente contra as Leis de Pureza e Serviço (amoroso e desinteressado – portanto, o mais anônimo possível – focado na divina essência oculta em cada um de nós (que é a base da Fraternidade) e para com o irmão ou a irmã que está ao nosso lado) que governam a perfeição do Corpo Denso.

Quando formos capazes de, por imposição do coração liberto, enviar o amor de Cristo para todas as células do corpo e, através dessa faculdade de Cristo, transmutar todas as células do Corpo Denso, então teremos de fato o Cristo dentro de nós – o Cristo Interno! O primeiro Corpo Denso que realizou a façanha da ação voluntária do coração foi o de Jesus, chamado pelo apóstolo de primícias. Seu pai e sua mãe eram “o leão e a leoa da tribo de Judá”, a tribo que representa o Signo de Leão. José, o homem puro e evoluído pela influência de Leão, uniu-se a Maria, a mulher pura e evoluída pela influência de Aquário. Livres da paixão sexual, entregaram-se castamente em espírito de serviço e sacrifício para que o grande Ego chamado Jesus pudesse ter material para modelar o seu Corpo Denso e seu Corpo Vital perfeitos. Daí surgiu o filhote de Leão, o verdadeiro “Leo-Natus”, o jovem leão de quem o salmista canta.

Jovem com a juventude de uma nova época, forte com o amor que preenchia cada fibra do seu Corpo radiante, assim Jesus triunfou! E, triunfante, rompeu os sete selos de que fala o Apocalipse. Os sete selos são os nossos sete veículos. A menos que o primeiro selo fosse rompido — isto é, que o Corpo Denso fosse expulso —, a evolução humana teria de permanecer um livro fechado. A evolução humana ascendente e simbolizada na quebra dos sete selos é o sucessivo aperfeiçoamento e abandono dos sete veículos, até que a essência de cada um seja atraída para o Espírito e o Espírito seja atraído para Deus. A profecia do Gênesis encontra o seu cumprimento no Apocalipse, onde lemos no capítulo quinto: “Eis que o Leão pertencente à tribo de Judá triunfou, abrirá o livro e romperá os seus sete selos.” (Apo 5:5).

“Como em cima, assim é em baixo” — Cristo, o Espírito do Sol que veio do coração do nosso Universo, tinha que funcionar em um Corpo Denso, se quisesse cumprir a Sua missão redentora na Terra; mas o Corpo Denso, para poder conter este grande Espírito e se manter sob as Suas poderosas vibrações, precisaria estar sintonizado com elas. Isso só seria possível no seu mais alto grau de perfeição, que é representado pelo controle total da ação do coração e da circulação do sangue.

O coração de Jesus tinha que bater em sintonia com o Espírito do Sol para continuar pulsando sob os impactos da tremenda taxa de vibração peculiar ao Cristo. As vibrações internas que encontraram o Espírito do Cristo tinham que ser do mesmo tom das vibrações externas que o Espírito do Cristo trouxe, senão o Corpo Denso de Jesus, em vez de receber o Cristo no batismo, teria sido desfeito ao contato com Ele, como as muralhas de Jericó. Como é que Jesus atingiu essa perfeição absoluta? Como é que ele libertou o seu coração? Não foi concentrando-se na perfeição do seu Corpo Denso, mas renunciando a ele em uma disponibilidade suprema para o serviço e o sacrifício. E o Espírito de Cristo, que veio habitar o Corpo Denso de Jesus, Corpo que, embora perfeito para os humanos, foi uma prisão para Ele, deixou, por sua vez, mundos de felicidade indescritível e caminhos de glória espantosa para nos servir e salvar.

Tanto o Espírito Solar, o Cristo, quanto o homem Jesus tinham a mesma estrutura; em um vibrava o coração do Sistema Solar, no outro, o coração do ser humano; nos dois temos o serviço amoroso e desinteressado – portanto, o mais anônimo possível – focado na divina essência oculta em cada um de nós (que é a base da Fraternidade) e para com o irmão ou a irmã que está ao nosso lado. A pureza e a compaixão, o serviço e o autossacrifício devem ser aprendidos através de Virgem-Peixes como os únicos fatores que podem realizar a libertação do coração. Jesus não foi Cristo, mas foi semelhante a Ele e por isso atraiu o Espírito de Cristo para si.

Sejamos muito claros sobre estes pontos importantes! A tarefa evolutiva da Nova Era é a perfeição do Corpo Denso; a exigência evolutiva é a libertação do coração; o método evolutivo é o Serviço caracterizado indistintamente como o amoroso e desinteressado – portanto, o mais anônimo possível – focado na divina essência oculta em cada um de nós (que é a base da Fraternidade) e para com o irmão ou a irmã que está ao nosso lado. FIM


[1] N.T.: já que a estação de verão do hemisfério norte se inicia em junho.

[2] N.T.: Ato I – Cena I

[3] N.T.: Ato IV – Cena II

[4] N.T.: Capítulo III – O Ser Humano e o Método de Evolução – O Primeiro Céu

[5] N.T.: A Era de Touro na Época Atlante.

[6] N.T.: Capítulo X do Livro Coletâneas de um Místico – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz: CAPÍTULO X – A PRÓXIMA ERA

Quando falamos da “Próxima Era”, “do Novo Céu e da Nova Terra” mencionados na Bíblia e, também, da “Era de Aquário”, as diferenças entre elas podem não ser claras nas Mentes dos nossos Estudantes Rosacruzes. A confusão dos conceitos é um dos campos mais férteis para a falácia, e os Ensinamentos Rosacruzes procuram evitar isso usando uma nomenclatura ou um conceito particularmente definido. Algumas vezes, um esforço extra se faz necessário para dissipar a confusão ou a distorção gerada por concepções nebulosas engendradas por outros, tão sinceros como o presente escritor, porém, não tão afortunados em ter acesso aos incomparáveis Ensinamentos da Sabedoria Ocidental.

Em nossa literatura aprendemos que quatro grandes Épocas de desenvolvimento gradual precederam a atual ordem das coisas; que a densidade da Terra, suas condições atmosféricas e as Leis da Natureza que prevaleciam numa Época eram tão diferentes das de outras Épocas, como a correspondente constituição fisiológica da Humanidade em uma Época era bem diferente das de outras Épocas.

Os corpos de ADM (o nome significa terra vermelha), a Humanidade da ígnea Lemúria, foram formados do “pó da terra”, da lama vermelha, quente e vulcânica, e estavam adaptados ao meio ambiente deles. A carne e o sangue teriam se atrofiado e se enrugado, especialmente pela perda de umidade, no calor intenso daqueles dias e, embora adaptados às condições presentes, São Paulo nos diz que “eles não podem herdar o Reino de Deus” (ICor 15:50). É evidente, portanto, que antes que uma nova ordem de coisas possa ser inaugurada, a constituição fisiológica da Humanidade precisa ser radicalmente alterada, isto sem mencionar a atitude espiritual. Serão necessários milhões de anos para regenerar toda a Onda de Vida humana e torná-la apta a viver em corpos etéricos (Corpos Vitais).

Por outro lado, nem mesmo um novo ambiente surge de um momento para o outro, mas a terra e os povos vêm evoluindo juntos, desde os menores e mais primitivos primórdios. Quando a neblina da Atlântida começou a assentar, alguns dos nossos antepassados já haviam desenvolvido pulmões embrionários, e foram compelidos a subir para as montanhas muito antes de seus pares ou companheiros. Eles vagaram pelo “deserto” enquanto a “Terra Prometida” estava emergindo das névoas mais tênues e, ao mesmo tempo, seus pulmões em crescimento estavam os preparando e os ajustando para viverem sob as condições atmosféricas atuais.

Mais duas Raças nasceram nas bacias da Terra, antes que uma sucessão de inundações os forçasse a ir para as montanhas; a última inundação aconteceu no momento quando o Sol entrou no Signo aquoso de Câncer, há cerca de dez mil anos atrás, como disseram os sacerdotes egípcios a Platão. Como vimos, não há uma mudança súbita no organismo humano ou no meio-ambiente para toda a Onda de Vida humana, quando uma nova Época é introduzida, mas uma sobreposição de condições que tornam isso possível para a maioria dos seres da Onda de Vida humana, por meio de um ajustamento gradual para entrar na nova condição, embora a mudança possa parecer súbita ao indivíduo que fez toda a mudança preparatória inconscientemente. A metamorfose do girino, de um habitante do elemento aquoso para um habitante do elemento aéreo, fornece uma analogia do passado, e a transformação de uma lagarta em uma borboleta se elevando pelo ar é uma ilustração apropriada da próxima Era. Quando o celestial marcador do tempo entrou em Áries, por Precessão (Movimento de Precessão dos Equinócios), um novo ciclo se iniciou e as “boas-novas” foram pregadas por Cristo. Ele enfatizou que o Novo Céu e a Nova Terra não estavam ainda prontos, quando disse a Seus discípulos: “Não podes seguir-me agora aonde vou, mas me seguirás mais tarde” (..) (Jo 13:36) “vou preparar-vos um lugar, e quando eu me for e vos tiver preparado um lugar, virei novamente e vos levarei comigo” (Jo 14:2-3).

Mais tarde São João viu, numa visão, a Nova Jerusalém procedendo do Céu e São Paulo exortou os Tessalonicenses “pela palavra do Senhor” (ITess 4:15) que aqueles que vivem em Cristo, na Sua próxima vinda, deverão ser arrebatados no ar para se encontrarem com Ele e estar com Ele para a Nova Era.

Porém, durante essa mudança, há pioneiros que entram no Reino de Deus antes de seus irmãos e de suas irmãs em Cristo. Cristo disse, no Evangelho Segundo São Mateus 11:12: “Desde os dias de João Batista até agora, o Reino dos Céus sofre violência, e violentos se apoderam dele”. Essa não é uma tradução correta. A tradução deve ser: “O Reino dos Céus foi invadido (biaxetai) e os invasores se apoderaram dele”. Homens e mulheres já aprenderam, por meio de vidas santas e baseadas na prestação de serviços e auxílios, a deixar de lado o corpo de carne e de sangue, seja intermitente ou permanentemente, e caminhar pelos céus com pés alados, atentos aos assuntos do Senhor deles, vestidos do etérico “Manto Nupcial” (Corpo-Alma) da Nova Dispensação. Essa mudança pode ser conseguida por meio de uma vida de simples serviço, de ajuda, de auxílio e de oração e prece, como a praticada pelos Cristãos devotos, não importando a que igreja estejam afiliados, assim como por meio dos Exercícios Esotéricos específicos fornecidos pela Fraternidade Rosacruz. Esses Exercícios Esotéricos não trarão nenhum resultado, a não ser que sejam acompanhados por frequentes atos de amor, pois o amor será a palavra-chave da próxima Era, do mesmo modo que a Lei é a palavra-chave da presente ordem. A expressão intensa das qualidades mencionadas acima aumenta a luminosidade fosforescente é a densidade dos Éteres em nossos Corpos Vitais; as correntes ígneas cortam a ligação com os cuidados e as preocupações do dia a dia, e o ser humano, uma vez nascido da água em sua emersão da Atlântida, agora nasce do espírito, para o Reino de Deus. A força dinâmica do seu amor abriu um caminho para a terra do amor, e é indescritível o regozijo daqueles que já se encontram lá quando novos invasores chegam, pois cada um que chega apressa a vinda do Senhor e o estabelecimento definitivo do Reino.

Entre os religiosamente inclinados há um clamor definido e incessante: “Quanto tempo, Oh Senhor, quanto tempo?”. E, apesar da afirmação enfática de Cristo de que o dia e a hora são desconhecidos, mesmo para Ele, profetas continuam ganhando credibilidade quando predizem Sua volta para uma determinada data, embora cada um se frustra quando o dia passa e nada acontece. A questão também tem sido debatida entre nossos Estudantes Rosacruzes, e esse capítulo é uma tentativa de mostrar a falsa ou errada ideia de esperarmos pelo Segundo Advento no próximo ano, nos próximos cinquenta ou nos próximos quinhentos anos. Os Irmãos Maiores se recusam a expressar uma opinião e assinalam só o que deve ser realizado primeiramente.

Nos dias de Cristo, o Sol estava ao redor dos sete graus de Áries. Foram necessários quinhentos anos para, por Precessão, chegar ao décimo terceiro grau de Peixes. Durante este tempo, a nova igreja viveu fases de violência ofensiva e defensiva, justificando bem as palavras de Cristo: “Eu não vim trazer a paz, mas uma espada” (Mt 10:34). Passaram-se mais mil e quatrocentos anos sob a influência negativa de Peixes, que tem fomentado o poder da igreja e sujeitado o povo pelo credo e pelo dogma.

Em meados do último século (Século XIX), o Sol entrou na Órbita de Influência do Signo científico de Aquário e, embora ainda leve cerca de seiscentos anos para que a Era de Aquário comece, é altamente instrutivo notar que mudanças o mero contato com esse Signo tem acontecido e disponibilizadas para o uso no mundo. Nosso limitado espaço nos impede de enumerar os maravilhosos avanços realizados desde então; mas não demais dizer que a ciência, as invenções e a indústria decorrente desse desenvolvimento, tem mudado o mundo completamente, tanto na vida social como nas condições econômicas. Os grandes progressos realizados por meio da comunicação, têm contribuído muito para quebrar as barreiras do preconceito racial, nos preparando para as condições da Fraternidade Universal. Os instrumentos de destruição têm sido elaborados tão assustadoramente eficientes, que as nações militantes serão forçadas, dentro de pouco tempo, a “quebrar as suas espadas, transformando-as em arados, e as suas lanças, a fim de fazerem podadeiras” (Is 2:4). A espada tem tido seu reinado durante a Era de Peixes, mas a ciência governará na Era de Aquário.

Na terra do sol poente podemos esperar vislumbrar as condições ideais da Era de Aquário: uma mescla de Religião e ciência, formando uma ciência religiosa e uma Religião científica, que proporcionarão a saúde, a felicidade e o regozijo de uma vida vivida em sua plenitude.

[7] N.T.: também conhecida como A Tragédia de Cimbelino ou Cimbelino, Rei da Grã-Bretanha, é uma peça de William Shakespeare ambientada na Grã-Bretanha Antiga (sec. 10-14 DC) e baseada em lendas que faziam parte da Matéria da Grã-Bretanha a respeito do início histórico rei celta britânico Cunobeline. Embora seja listado como uma tragédia no Primeiro Fólio, os críticos modernos costumam classificar Cimbelino como um romance ou mesmo uma comédia. Assim como Otelo e The Winter’s Tale, trata dos temas da inocência e do ciúme. Embora a data precisa da composição permaneça desconhecida, a peça certamente foi produzida já em 1611.

[8] N.T.: Vaudeville, uma farsa com música. Nos Estados Unidos, o termo conota um entretenimento leve popular de meados da década de 1890 até o início da década de 1930, que consistia em 10 a 15 atos individuais não relacionados, apresentando mágicos, acrobatas, comediantes, animais treinados, malabaristas, cantores e dançarinos. É a contrapartida do music hall e da variedade na Inglaterra.

O termo vaudeville, adotado nos Estados Unidos a partir do teatro boulevard parisiense, é provavelmente uma corruptela de vaux-de-vire, canções satíricas em dísticos, cantadas em árias populares no século 15 no Val-de-Vire (Vau-de -Vire), Normandia, França. Passou ao uso teatral no início do século XVIII para descrever um dispositivo empregado por atores profissionais para contornar o monopólio dramático detido pela Comédie-Française. Proibidos de representar dramas legítimos, apresentavam suas peças em pantomima, interpretando a ação com letras e refrões de músicas populares. Acabou se desenvolvendo em uma forma de drama musical leve, com diálogos falados intercalados com canções, que era popular em toda a Europa.

[9] N.T.: Joseph Rudyard Kipling (1865-1936) foi um autor e poeta britânico

[10] N.T.: A Canção dos Mortos

Ouça agora a Canção dos Mortos – no Norte, pelas bordas rasgadas do iceberg –

Aqueles que ainda olham para o Polo, adormecidos em seus trenós despidos de couro.

Canção dos Mortos no Sul – ao sol ao lado de seus cavalos esqueletos,

Onde o warrigal choraminga e uiva através da poeira dos cursos dos rios escaldantes.

Canção dos Mortos no Leste – nas cavidades da selva apodrecidas pelo calor,

Onde o macaco-cão late no kloof – no freio dos búfalos.

Canção dos Mortos no Oeste – nos Sertões, o deserto que os traiu,

Onde o carcaju derruba suas mochilas do acampamento e do túmulo que eles fizeram;

 Ouça agora a Canção dos Mortos!

 EU

 Éramos sonhadores, sonhando muito, na cidade sufocada pelo homem;

 Ansiamos além da linha do horizonte, onde as estradas estranhas descem.

 Veio o Sussurro, veio a Visão, veio o Poder com a Necessidade,

 Até que a Alma que não é a alma do homem nos foi emprestada para liderar.

 Assim como o cervo se afasta – como o boi se separa – do rebanho onde pastam,

 Na fé das crianças seguimos o nosso caminho.

 Então a madeira falhou — então a comida falhou — então a última água secou—

 Na fé das crianças, deitamos e morremos.

 Na areia – no lado da savana – no matagal de samambaias nos deitamos,

 Para que nossos filhos possam segui-los pelos ossos no caminho.

 Siga depois – siga depois! Regamos a raiz,

 E o botão floresceu e amadureceu para dar fruto!

 Siga depois – estamos esperando, pelas trilhas que perdemos,

 Pelo som de muitos passos, pelos passos de uma hoste.

 Siga depois – siga depois – pois a colheita está semeada:

 Pelos ossos à beira do caminho, vocês chegarão aos seus!

 Quando Drake desceu para o Horn

 E a Inglaterra foi coroada assim,

 ‘Twixt mares não navegados e costas não exploradas

 Nossa Loja – nossa Loja nasceu

 (E a Inglaterra foi coroada assim!)

 Que nunca mais fechará

 De dia nem de noite,

 Enquanto o homem arriscará sua vida

 Em risco de cardume ou principal

 (De dia nem de noite).

 Mas permanece mesmo assim

 Como agora testemunhamos aqui,

 Enquanto os homens partem, de coração alegre,

 Aventura para conhecer

 (Como agora testemunhe aqui!)

 II

 Alimentamos nosso mar por mil anos

 E ela nos liga, ainda sem comida,

 Embora nunca haja uma onda de todas as suas ondas

 Mas marca nossos ingleses mortos:

 Nós demos o nosso melhor para a agitação da erva daninha

 Ao tubarão e à gaivota.

 Se o sangue for o preço do almirantado,

 Senhor Deus, pagamos integralmente!

 Nunca há uma inundação indo para a costa agora

 Mas levanta uma quilha que tripulamos;

 Nunca há um refluxo em direção ao mar agora

 Mas deixa cair nossos mortos na areia—

 Mas esgueira nossos mortos nas areias,

 Dos Ducados ao Swin.

 Se o sangue for o preço do almirantado,

 Se o sangue for o preço do almirantado,

 Senhor Deus, nós pagamos!

 Devemos alimentar o nosso mar durante mil anos,

 Pois essa é a nossa desgraça e orgulho,

 Como foi quando navegaram com o Golden Hind,

 Ou os destroços que atingiram a última maré—

 Ou os destroços que jazem no recife jorrando

 Onde as horríveis luzes azuis brilham.

 Se o sangue for o preço do almirantado,

 Se o sangue for o preço do almirantado,

 Se o sangue for o preço do almirantado,

 Senhor Deus, compramos justo!

[11] N.T.: semente do que se tornou, depois, a ONU.

[12] N.T.: Atualmente, estamos nos últimos graus da Era de Peixes.

[13] N.T.: a que se refere ao “eu inferior” e não ao “Eu superior”.

[14] N.T.: Apo 3:19

[15] N.T.: Mt 5:8

[16] N.T.: do poema Song of Myself, part 40 de Walt Whitman (1819-1892) – poeta, ensaísta e jornalista americano.

[17] N.T.: Lc 1:38

[18] N.T.: Região Etérica do Mundo Físico

[19] N.T.: Mt 5:44

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz

Investigar a origem desses seres elevados é tão difícil quanto encontrar provas do início da primeira manifestação de Deus. Considerando que o trabalho deles visa estimular a evolução da Humanidade, eles têm trabalhado desde há muito tempo na antiguidade de uma forma única. Temos provas históricas, contudo, do aparecimento, no século XIII, de Ensinamentos avançados promulgados por eles. Esses Mestres ou Adeptos são aqueles Seres Compassivos que, ao longo de muitas vidas, desenvolveram, em alto grau, suas faculdades latentes internas, passando pela Escola de Mistérios Menores e Maiores, tendo assim alcançado um estado evolutivo que os liberta de todos os laços da Terra. No entanto, fizeram a escolha de permanecer na mesma posição dos Auxiliares Invisíveis, atribuindo a cada um o específico trabalho, em harmonia com os seus interesses e inclinações particulares. Esses Hierofantes dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental desenvolveram uma segunda medula espinhal, atraindo para cima o raio inferior do amor de Vênus e transmutando-o em altruísmo, conquistando assim o domínio sobre o segmento simpático da primeira medula espinhal e o hemisfério cerebral esquerdo, atualmente governado pela Hierarquia apaixonada de Marte, os Espíritos de Lúcifer.

Dessa forma, cada Irmão Maior é uma unidade criadora completa tanto no plano físico como no plano espiritual, capaz de utilizar a força bipolar (masculina e feminina) ao longo da dupla medula espinhal, iluminada e elevada em sua energia potencial através dos fogos espinhais espirituais de Netuno (Vontade) e Urano (Amor e Imaginação). Essa energia criadora concebe nos hemisférios gêmeos do cérebro, governados por Marte e Mercúrio, um veículo adequado para a expressão do Espírito, um veículo que é então objetivado e materializado no mundo mediante a Palavra Criadora falada.

Graças a esse poder eles são capazes de perpetuar a existência física deles e criar novos Corpo Denso, Corpo Vital e Corpo de Desejos, antes de abandonar os antigos, respectivamente. Por outro lado, ao saberem controlar as suas ações e emoções, os Irmãos Maiores evitam todos os esforços desnecessários nos seus veículos e, conhecendo os elementos exatos necessários para os preservar, garantem assim a máxima nutrição e o mínimo de desgaste. Por essa razão, podem manter os seus corpos num estado de preservação juvenil e saúde vigorosa durante centenas de anos. Os Irmãos Leigos e as Irmãs Leigas, que estiveram em conexão com o Templo da Ordem Rosacruz durante vinte ou quarenta anos desta vida, declararam que os Irmãos Maiores parecem ser os mesmos hoje como eram há trinta ou quarenta anos. A julgar pelos padrões dos seres humanos comuns, agora eles parecem ter cerca de quarenta anos de idade. Todos os Irmãos Maiores têm corpo material e residem em uma casa que parece ser o lar de pessoas de vida tranquila, mas não ostentosas. Eles ocupam posições de distinção na comunidade em que vivem, mas essas posições têm apenas o propósito de dar uma razão para a presença deles. Dessa forma, evitam perguntas e suposições sobre quem são e o que estão fazendo. Fora e através de sua casa está o que pode ser chamado de Templo da Ordem Rosacruz. É etérico e diferente dos nossos edifícios comuns aqui na Terra, mas a sua atmosfera áurica pode ser comparada àquela que existe em estruturas como Igrejas e outros edifícios de natureza espiritual, onde há uma egrégora construída por meio de orações e ofícios de rituais Cristãos.

O Templo da Ordem Rosacruz é superlativo em todos os sentidos. As vibrações dele permeiam de tal forma a casa onde vivem os Irmãos Maiores, que nem todas as pessoas se sentiriam muito confortáveis ​​ali. Sete dos doze Irmãos Maiores agem no mundo, quando a ocasião exige, aparecendo como um ser humano entre os seres humanos, ou trabalhando em seus veículos invisíveis com ou sobre outros, conforme necessário. No entanto, deve-se ter em mente que eles nunca influenciam as pessoas contra a vontade ou desejo delas, e que apenas fortalecem o Bem onde quer que o encontrem. Os outros cinco Irmãos Maiores nunca saem do Templo etérico da Ordem Rosacruz e, embora possuam Corpos Densos, todo o trabalho deles é feito a partir dos Mundos internos. O décimo terceiro da Ordem Rosacruz é o Líder, Christian Rosenkreuz, o elo que o liga a um Conselho Central superior composto por Hierofantes dos Mistérios Maiores, que não lidam de forma alguma com a Humanidade comum, mas apenas com os graduados dos Mistérios Menores (de Irmãos ou Irmãs Leigas para cima). Está oculto da Região Química do Mundo Físico pelos doze Irmãos Maiores. Foi dito por alguns dos Irmãos Leigos que Christian Rosenkreuz está atualmente usando um corpo que foi preservado por vários séculos.

Isso pode ou não ser verdade, mas nosso augusto líder nunca foi visto pelos Irmãos Leigos que frequentam o Templo Etérico durante o culto da meia-noite. A presença dele é apenas sentida, é o sinal para que o trabalho comece. Durante os últimos séculos os Irmãos trabalharam em segredo pela Humanidade. Todas as noites os Irmãos Maiores, auxiliados pelos Irmãos Leigos e Irmãs Leigas que podem deixar seus Corpos densos e agir em seus Corpos-Alma, atraem de todas as partes do mundo ocidental pensamentos de sensualidade, ganância, egoísmo e materialismo, e depois os transmutam em puro amor, benevolência, altruísmo e aspirações espirituais, enviando-os de volta ao mundo para elevar e promover o Bem. Durante esse serviço a presença do Líder da Ordem Rosacruz é inteiramente espiritual. No entanto, ele está sempre ativo nos assuntos do mundo, trabalhando com os governos das nações do Ocidente para guiá-los no caminho adequado da evolução deles. Para esse fim ele aparece num Corpo Denso, pelo menos parte do tempo.

Todos os Irmãos Maiores possuem a consciência pictórica externa do Período de Júpiter, que usam para iniciar seus discípulos na Ordem Rosacruz. O Iniciador concentra sua atenção em certos fatos cósmicos, e o candidato que se preparou desenvolvendo certos poderes internos é como um diapasão do mesmo tom que vibra com as ideias enviadas pelo Iniciador em forma de imagens. Portanto, ele não apenas vê as imagens, mas é capaz de responder à vibração, e o poder latente que existe dentro dele é convertido em energia dinâmica e sua consciência é elevada ao próximo degrau na escada da Iniciação.

O método de desenvolvimento espiritual ensinado pelos Irmãos Maiores visa beneficiar quem o pratica e não pode, em hipótese alguma, causar dano a ninguém.

Que as Rosas floresçam em vossa Cruz

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Carta de Max Heindel: Cristo e Sua Segunda Vinda

Junho de 1913

Um dos pontos de maior importância nessa lição mensal, e sobre o qual existe um mal-entendido generalizado, tem a ver com a vinda de Cristo e ao veículo que Ele usará. A Bíblia fornece esse ensinamento muito claramente e os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental dos Rosacruzes estão em total acordo com ela; daí difere radicalmente da concepção atual e comum sobre esse assunto, tanto a da maioria dos Cristãos como entre aqueles que, involuntariamente ou por outras razões, apresentam falsos Cristos para enganar os incautos. É, portanto, de vital importância que os Estudantes da Escola Ocidental devem compreender este assunto completa e inteiramente, por isso, nós reiteraremos, resumidamente, os pontos de fundamental importância dos Ensinamentos Rosacruzes contidos no livro “Conceito Rosacruz do Cosmos” e em alguns outros livros da Fraternidade Rosacruz.

Cristo é o mais elevado Iniciado do Período Solar; a Terra era, então, formada de matéria de desejos e o Corpo mais denso do Arcanjo Cristo era formado deste material.

Ninguém pode formar um veículo de material que ele não tenha aprendido a moldar; por isso, o Espírito Cristo trabalhou com a nossa Humanidade de fora da Terra, da mesma forma que os Espíritos-Grupo guiam os animais, até que Jesus, voluntariamente, cedeu o seu Corpo Denso e seu Corpo Vital no Batismo. O Espírito Cristo, então, desceu e entrou nesses dois veículos e, usando esses dois Corpos para viver no Mundo Físico, forneceu o Seu ministério aos seres humanos, até que o Corpo Denso foi destruído no Gólgota, quando Ele se tornou o Espírito Interno e permanentemente presente da Terra. O Corpo Vital de Jesus foi guardado para o uso especial, para esperar o segundo advento de Cristo.

Cristo nos advertiu contra os imitadores, e surge a questão: “Como podemos distinguir o falso do verdadeiro?”. S. Paulo nos fornece informações bem definidas que, se prestarmos bem atenção nelas, estaremos salvos totalmente de enganos.

S. Paulo nos ensina (ICor 15:50): “Digo-vos, irmãos: a carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus”. Ele insiste que esse Corpo será mudado à imagem do próprio veículo de Cristo (Fp 3:21[1]), e em (IJo 3:2[2]) encontramos o mesmo testemunho.

Assim, é evidente que qualquer pessoa que venha em Corpo Denso, se proclamando que é Cristo, é ou um demente, e digno de compaixão, ou um impostor, que merece desprezo e reprovação. Nem ficamos incertos quanto à natureza do veículo no qual encontraremos Cristo e seremos semelhantes a Ele. Na Primeira Epístola de S. Paulo aos Tessalonicenses (4:17[3]) é-nos dito que encontraremos o Senhor no ar. Portanto, necessariamente devemos ter um veículo de textura mais delicada do que a do nosso Corpo Denso atual. A transformação exigirá séculos, no que diz respeito à maioria das pessoas.

Na Primeira Epístola de S. Paulo aos Tessalonicenses (5:23[4]), São Paulo diz que o ser completo humano consiste de Espírito, Alma e Corpo. Quando finalmente abandonarmos o Corpo Denso, como Cristo o fez, nós funcionaremos num corpo chamado soma psuchicon (Corpo-Alma), como dito na Primeira Epístola de S. Paulo aos Coríntios 15:44[5]. Em nossa literatura, esse é o Corpo Vital, um veículo feito de Éter, capaz de levitação e da mesma natureza do Corpo usado por Cristo depois da Crucificação. Esse veículo não está sujeito à morte, como o nosso Corpo Denso e é, finalmente, transmutado em Espírito, como aprendemos em nossa literatura e é confirmado na Primeira Epístola de S. Paulo aos Coríntios, no Capítulo 15.

Por conseguinte, os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental estão em perfeita concordância com a Bíblia quando afirmam, mais enfaticamente, que Cristo nunca voltará “na carne” (isto seria um retrocesso para Ele). Da mesma maneira que a larva rompe o seu casulo que a aprisiona e se transforma em uma borboleta que voa entre as flores – processo deslumbrante de animada beleza – assim algum dia nós nos livraremos desse invólucro mortal que nos prende à Terra e ascenderemos ao céu como almas viventes, radiantes de glória, ansiosas por encontrar o nosso Salvador na “terra das almas”, o Novo Céu e a Nova Terra. Este é um dos pontos principais da doutrina da Escola Rosacruz, e nós confiamos que nossos Estudantes se esforçarão por assimilar totalmente este assunto, para que possam “dar uma razão” à fé deles.

(Cartas aos Estudantes – nº 31 – do Livro Cartas aos Estudantes – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)


[1] N.T.: “…que transfigurará o nosso corpo humilhado, conformando-o ao seu corpo glorioso, pela força que lhe dá poder de submeter a si todas as coisas”.

[2] N.T.: “Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas o que nós seremos ainda não se manifestou. Sabemos que por ocasião desta manifestação seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é.

[3] N.T.: “em seguida nós, os vivos que estivermos lá, seremos arrebatados com eles nas nuvens para o encontro com o Senhor, nos ares.

[4] N.T.: “O Deus da paz vos conceda santidade perfeita; e que o vosso ser inteiro, o espírito, a alma e o corpo sejam guardados de modo irrepreensível para o dia da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.”

[5] N.T.: “…semeado corpo psíquico, ressuscita corpo espiritual. Se há um corpo psíquico, há também um corpo espiritual.”. Na versão inglesa, o versículo 44 diz: “Existe um Corpo natural e um Corpo espiritual”; mas o Novo Testamento não foi escrito em inglês e, como os tradutores nada sabiam dos ensinamentos internos, não tinham ideia de como traduzir a palavra grega que para eles parecia sem sentido, por isso, a traduziram como a compreenderam. A palavra que é usada e traduzida como “corpo natural” é soma psuchicon. Soma é uma palavra grega que, todos concordam, é Corpo – não há dúvidas quanto a isto. Mas Psuchicon – psuche – (psyche) – a alma – um Corpo-Alma do qual nunca ouviram falar; provavelmente pareceu-lhes tolice, de maneira que traduziram a palavra como “Corpo natural”. É verdade que S. Paulo diz na 1ª Epístola aos Tessalonicenses, 5:23, que o ser de todo ser humano é Espírito, Alma e Corpo, mas, provavelmente, eles interpretaram Alma e Espírito como sinônimos. Existe, porém, uma grande diferença, como é explicado nos Mistérios Rosacruzes: este Corpo-Alma é o veículo a que S. Paulo se refere e no qual encontraremos Cristo. É composto de Éter e, portanto, capaz de levitação e de passar por paredes, uma vez que toda matéria densa é permeada com Éter. Os Auxiliares Invisíveis o usam hoje, como Cristo o fez.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A História de um caso contado por um Auxiliar Invisível

Geralmente, não é permitido e nem adequado que os Auxiliares Invisíveis falem de suas façanhas, porque isso possibilita a indesejável propagação de fenômenos; no entanto, há momentos em que a modéstia deva ser deixada de lado, em certa medida, pelo bem da causa e a seguinte história, do médico Dr. Stuart Leech, M. D., um de nossos Probacionistas, ilustra o método usado e os resultados obtidos em um caso. Poderíamos falar sobre centenas de casos semelhantes, em que outros órgãos foram restaurados, colunas foram endireitadas e membros paralisados voltaram a responder à vontade do paciente.

No caso relatado pelo Dr. Leech, ele não menciona se o paciente sentiu as manipulações. Isso é frequentemente o que ocorre, pois, as mãos invisíveis são poderosas, quando materializadas dentro do corpo do paciente. Também acontece com frequência que o paciente veja os Auxiliares Invisíveis no momento em que acorda.

O relatório foi originalmente escrito para publicação na Revista Médica. O Dr. Leech dá a seus médicos, confrades ortodoxos, alguns problemas difíceis de tempos em tempos: mas e se eles zombarem? Ontem, zombou-se de ideias que hoje são “estritamente científicas” e amanhã eles aprenderão isto, parafraseando Shakespeare: Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha sua patologia.

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Relatório clínico de um caso

Foi nos primeiros dias de janeiro de 1914 que eu atendi um menino de quatorze anos que estava com problemas abdominais e muito extenuado. Ele tinha cabelos escuros, olhos castanhos, ossos grandes, corpo esbelto e uma boa quantidade de inteligência. Quatro anos antes do problema atual, ele havia sofrido um grave acometimento de apendicite do qual, aparentemente, se recuperara. Ultimamente, ele estava comendo mais do que devia e no dia anterior à crise, ele estava mexendo com o feno quando sentiu uma dor, ao escorregar o pé.

Depois de um ou dois dias de sofrimento, fui chamado e encontrei todos os sintomas clássicos de um apêndice com formação de pus. A comida foi interrompida por oito ou dez dias, o proverbial saco de gelo foi usado, como manda o procedimento médico, e um enema (uma lavagem intestinal) providencial foi empregado. A temperatura dele variava de 37,2°C — 39,1ºC e no sétimo ou oitavo dia os sintomas se tornaram tão alarmantes que convenci a família a permitir que eu tivesse o auxílio do Dr. North, na próxima manhã.

O Dr. Unus, da mesma cidade, havia participado do caso quatro anos antes e, na época, havia insistido em uma cirurgia. Pessoalmente, eu já tinha realizado várias cirurgias abdominais, mas geralmente as faço como último recurso e agora parecia que havia mais um caso em que precisaria recorrer a esse procedimento. Esse modus operandi (maneira de agir), especialmente no meio de uma crise, não é do meu agrado. Estando na classe neófita da Escola dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, tentei usar meios incomuns, em conjunto com os físicos, para promover a recuperação do garoto, como já fiz em outros casos. O incomum é a aplicação de Leis da Natureza de um ou mais dos Mundos superiores.

Para explicar, direi que a Escola de Ciências Naturais dos Rosacruzes nos informa sobre a existência real de um número de Mundos concêntricos, talvez mais reais do que o Mundo Físico, todos interpenetrando-se, ocupando o mesmo espaço, por assim dizer, tomando nada menos do que sete dimensões do espaço, cada uma sob uma condição vibratória consistente com seu ambiente harmonioso. A Ciência Física relutantemente reconhece e sugere as vibrações mais altas do Éter invisível. A Ciência Médica faz o possível para ignorar esses Mundos mais elevados, porém ela usa de modo persistente, empírico e diário os poderosos alcaloides (substâncias naturais retiradas sobretudo de plantas e muito usadas no contexto terapêutico). Há vários comprimentos de onda entre a vibração que causa o som e a que causa a luz; embora sejam desconhecidas para nós, produzem coisas tão poderosas quanto luz ou som; é assim no trilhão e quintilhão de vibrações. A maioria dessas ignora nossos Corpos Densos, vibrando através deles como se tais Corpos nunca tivessem existido. Essas vibrações são harmonizadas em divisões: a Região mais próxima do Mundo Físico é a Região Etérica desse mesmo Mundo e podemos concebê-la como uma extensão dessa Região que conhecemos como Plano físico e que podemos denominar como Região Química; a Região Etérica sendo mais refinada está, naturalmente, sujeita às Leis mais superiores e apuradas.

No entanto, para poder funcionar nessa Região ou no Mundo do Desejo é necessário um veículo feito da mesma substância. Todo ser humano possui, em sua composição física, a estrutura dessa substância e há certa Palavra ou Fórmula que, se usada com sabedoria, desenvolverá esse instrumento. Anatomicamente falando, cria-se um vínculo ou conexão fisiológica entre o Corpo Pituitário (uma Glândula Endócrina, também chamada de Hipófise ou Glândula Pituitária) e a Glândula Pineal (outra Glândula Endócrina, também Conarium, Epífise cerebral ou simplesmente Pineal), os quais governam e harmonizam, respectivamente, o Corpo de Desejos com o Corpo Denso. Quando esse abismo é superado, o Corpo-Alma (formado pelos dois Éteres superiores – Luminoso e Refletor – do Corpo Vital), de vibração superior, pode se retirar do Corpo Denso e percorrer qualquer distância no Mundo do Desejo.

Na noite anterior à realização da consulta física com o Dr. North, esse, o Dr. Unus e eu fomos ao Mundo do Desejo, a “Terra dos Sonhos”, e nos encontramos ao lado do menino doente sem o seu conhecimento ou de seus pais, que observavam o Corpo Denso do menino com ansiedade. Naturalmente, éramos invisíveis às suas percepções físicas.

Durante essa consulta, no Mundo do Desejo, o Dr. Unus deu um passo à frente, quase atingiu violentamente uma parte do órgão afetado e o jogou fora: sua mão etérica passou direto pelo Corpo Denso do garoto. Então, fui até a cabeceira da cama e, usando as duas mãos, levantei a extremidade do ângulo do cólon para afagar gentilmente a substância irritante e indesejável. Dr. North atuou como espectador e, aparentemente, me deu o seu consentimento. Saiba, leitor, que a substância física não impede o trabalho da mão etérica, mas não é incomum que um paciente acorde, enquanto a mão invisível esteja sendo retirada.

Na manhã seguinte, depois da consulta nos Mundos invisíveis, como havia prometido liguei para o consultório do Dr. North e pedi que ele fizesse comigo a consulta física, que havia sido combinada com a família no dia anterior. Para grande surpresa da família, e para minha própria satisfação, o menino estava livre da dor, fragilidade, febre e rigidez muscular e, conforme o relato dos pais, sua rápida recuperação começara à noite. Já se passaram seis meses e o menino está desfrutando o melhor da saúde.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de 09/1915 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pergunta: O que Significa dizer que a Filosofia Rosacruz é o Cristianismo Esotérico?

Como o leitor afirma, os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental estão compreendidos na Filosofia Rosacruz que, adicionalmente, inclui grande quantidade de informações sobre os planos invisíveis e suas leis, onde nós, entre renascimentos, vivemos.

O Cristianismo Esotérico fornece, sem sombra de dúvida, significado oculto ou esotérico à doutrina Cristã. Os fatos esotéricos são verdades eternas, cuja interpretação varia segundo os diversos movimentos Cristãos.

O Cristianismo popular, na sua forma de uma casca de noz, diz que Cristo, o Filho de Deus, veio à Terra há quase dois mil anos, para se tornar o salvador espiritual da Onda de Vida humana, por meio da crença das doutrinas que enunciou e por viver uma vida de acordo com elas. Também afirma que os nossos pecados contra as leis de Cristo são perdoados e apagados sob certas condições as quais são promulgadas desde tempo considerável, sob diferentes denominações.

A interpretação esotérica do Cristianismo, em seu aspecto global, não contradiz as doutrinas básicas preconizadas pelo Cristianismo popular, porém mostra mais exatamente o que realmente sucede. Cristo é um grande Ser, de elevado desenvolvimento espiritual, a mais alta expressão arcangélica, isto é, o mais elevado iniciado da Onda de Vida que evolucionava como a “humanidade” no longínquo Período Solar, há muitos e muitos milhões de anos. Cristo veio à Terra a fim de nos influenciar espiritualmente, irradiando Suas vibrações de luz e de amor, do interior do Globo terrestre. Desde então, continuamente nos envolve das mais altas influências espirituais.

Esse constante influxo da espiritualidade de Cristo à Terra e a nós está transmutando pouco e pouco, o nosso caráter. Nós já não somos tão bárbaros e cruéis como há dois ou três milênios atrás. O objetivo mais elevado e derradeiro de Cristo é o de nos espiritualizar a tal grau, que adquiramos o senso de unidade de cada um com todos, nos tornando uma família mundial, onde cada um de nós se identifique perfeitamente com o nosso semelhante, com eliminação de toda separatividade, preconceito e egoísmo, geradores de conflitos, guerras e crimes. Assim poderemos admitir que o bem-estar de um, será o bem-estar de todos, uma vez que somos parte integrante e sentida, do todo. Qual uma dura vida escolar, teremos que passar muitas vezes por este Mundo material, até que possamos compreender e empreender esforços no sentido de sublimar nosso caráter egoísta e brutal, nos tornando em virtudes Cristas conducentes a confraternização universal. Porém, a felicidade e alegria que experimentaremos no futuro, quando a influência de Cristo haja colimado seus objetivos, serão tão grandes, tão profundas, que Sua vivência jamais poderia ser avaliada em nossas condições atuais, tão grande é o contraste com nossa forma de sentir de hoje!

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz janeiro/1971 – Fraternidade Rosacruz-SP)

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