Arquivo de categoria Método para Adquirir o Conhecimento Direto

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Assunto Fraternidade Universal: Artigos para os Cestos de Lixo

É interessante lembrar que um ano começa com um feriado, uma pausa para meditação sobre a Fraternidade Universal.

Contemplamos, hoje, uma Humanidade espiritualmente adolescente, embriagada por suas realizações epigenéticas, mas também confundida num labirinto de interesses controvertidos. Ela partiu da unidade criadora para a descoberta dos valores internos e, agora, destina-se à reintegração consciente na unidade traçada por Cristo. Essa transição é lenta e segura, como todo processo da natureza. Começou com a vinda de Cristo e o ideal de Peixes-Virgem, aos sete graus de Áries, com o Sol em Precessão dos Equinócios. Foi o período do Cristianismo Popular. Agora entramos na Órbita de Influência de Aquário e preparamos condições para uma fase mais elevada do Cristianismo, o Cristianismo Esotérico. Daí a tendência fraternal manifestada, desde meados do século XIX, nas atividades humanas (cooperativismo, ONU, internet, redes sociais, as verdadeiras ONG, as associações sem fins lucrativos de auxílios a pessoas com dificuldades físicas e mentais, etc.). Daí o anseio de iniciar um novo ano dentro de um sentimento que a razão Cristã e a dor decorrente de nossos erros passados apontam como um ideal futuro, de paz e prosperidade: a Fraternidade Universal.

Pode-se contestar que os movimentos apontados têm muitas falhas. Concordamos. Mas não é por deficiência do cooperativismo, ONU, internet, redes sociais, as verdadeiras ONG, as associações sem fins lucrativos de auxílios a pessoas com dificuldades físicas e mentais e afins, mas, sim, pelos interesses partidários e egoísmos pessoais que lhes dificultam a expansão e eficácia.

Max Heindel relatou que no decurso de suas conferências púbicas pelas cidades norte-americanas os jornais sempre se interessavam pelos assuntos que suscitavam curiosidade; mas, quando ele tocava na questão de Fraternidade Universal, os seus artigos iam para os cestos de lixo, porque a Humanidade comum não acredita muito em coisas altruístas e prefere as considerar como utopia. No entanto, para nós, Estudantes Rosacruzes ativos e leais, habituados ao estudo do Cristianismo Esotérico, convictos na visão ampla dos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, que acessam a verdadeira Memória da Natureza (no Mundo do Espírito de Vida) os atos passados dos Egos ocidentais e, com isso, determinaram com toda segurança as tendências futuras deles, a Fraternidade Universal é uma realidade que vem sendo alcançada seguramente! Isso, aliás, é predito nos Evangelhos. Acreditemos ou não, é mister que os outros “cordeiros” sejam conquistados para constituir um só rebanho. As dificuldades formadas pelo egoísmo e as diferenças naturais de condições, tendo em vista a linha evolutiva de cada um de nós e do povo terão um denominador comum, um elemento conciliador, na Fraternidade Cristã.

Nesse sentido é que surgiu a Ordem Rosacruz, na Região Etérica do Mundo Físico. O ideal Cristão já existia, desde a sua fundação, no século XIII. Mas, a sua missão era a de conferir ao sentimento de fraternidade um sentido racional, um fundamento científico, em concordância com a vida moderna, de modo a conciliar e unir numa estrutura renovadora, os princípios oficiais da Ciência, da Arte, e da Religião.

A Ordem Rosacruz não apresenta uma utopia. Ela parte do conhecido para o desconhecido, do concreto para o abstrato; ela toma as realidades presentes, expõe as raízes formadoras e revela, nas aparentes contradições, o ponto comum. E desse modo eleva a concepção humana, permitindo-nos olhar as coisas “de cima”, com um sentido global, a fim de que, ao descer de novo às particularidades jamais nos percamos nos detalhes. Só assim podemos conservar o sentido geral de tudo que nos rodeia, compreendendo melhor as diferenças. E eis o motivo da Ordem Rosacruz, no início do século XX, promover a fundação da Fraternidade Rosacruz aqui na Região Química do Mundo Físico e fornecer o Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz a quem quiser.

Esse sentido global, sublimador, muito dificilmente podemos alcançar pelos sentidos. A ciência acadêmica baseia-se no que pode perceber com os sentidos físicos e esse lado é apenas o efeito de causas invisíveis e muitas vezes remotas. Portanto, a contribuição do ocultismo científico, como preconizado pela Fraternidade Rosacruz, é precisamente oferecer o “Fio de Ariadne” para conduzir-nos no labirinto da diversidade material e, finalmente, possibilitar-nos a comprovação lógica de tudo que ensina.

Benditos, pois, os de Mente aberta, os sinceramente devotados à causa fraternal, as “crianças de cabelos brancos”, sem preconceitos, os “pobres de espírito” que humildemente estão prontos a aprender, os que têm “fome e sede de justiça”, porque todos eles, se não nesta vida, em futura existência, já na Era de Aquário, serão fartos e constituirão os pilares da obra Cristã.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de janeiro/1964-Fraternidade Rosacruz-SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Não julguemos: por que criticar, julgar, quando não, condenar?

Irmãos, se alguém for surpreendido em algum pecado, vocês, que são espirituais, deverão restaurá-lo com mansidão. Cuide-se, porém, cada um para que também não seja tentado. Levem os fardos pesados uns dos outros e, assim, cumpram a lei de Cristo” (GL 6:1-2).

Esse pedido, simples, mas grandemente significativo e cheio do fervor de um coração completamente dedicado à Causa do Cristo, apresenta uma verdade muitíssima importante para todo Estudante Rosacruz, cuja verdade é tão vital hoje como o foi quando foi escrita há mais de dois mil anos. Aqueles que a seguem porfiadamente são sábios, pois ela constitui uma pedra fundamental para o edifício espiritual. É um ideal entesourado por aqueles que seguem o Caminho de Cristo.

É prática comum, mesmo entre os que se proclamam Cristãos, criticar e julgar quando não condenar, quando um irmão ou uma irmã é “surpreendido em falta”, esquecido do fato que todos somos um em Deus, e que cada um de nós é responsável, em certa medida, pelas “faltas” dos nossos irmãos e das nossas irmãs, os quais estão indissoluvelmente ligados a nós pelos laços do Espírito. E quem de nós está sem faltas, que tenha o direito de julgar ou condenar outro?

Se ainda não desenvolvemos o “Cristo Interno” ao ponto de não compreendermos o ensinamento de S. Paulo, no verdadeiro “espírito de humildade”, faríamos bem em relembrar a similar fórmula de Cristo-Jesus: “Não julgueis para não serdes julgados, pois, com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos” (Mt 7:1-2).

Todavia, não é suficiente que apenas deixemos de julgar e/ou de condenar. Devemos tomar a iniciativa e nos esforçar no serviço amoroso e desinteressado (portanto, o mais anônimo possível), focando na divina essência oculta em cada um nós, que é a base da Fraternidade. Devemos desenvolver a humildade e a compaixão que nos habilitará a tomarmos carinhosamente a carga dos outros, e assim cumprir os Ensinamentos Cristãos.

Cumprir os Ensinamentos Cristãos! Sim, essa é a tarefa com a qual nos defrontamos hoje. A época dos Espíritos de Raça, durante a qual a separatividade e o egoísmo foram cultivados, deve ceder lugar a época de Cristo, durante a qual deverá prevalecer a Fraternidade.

Passamos agora para um período de transição entre uma e outra época. Podemos dizer que uma última oportunidade está sendo oferecida àqueles que queiram subir ao próximo degrau da escada da evolução. Este é o tempo em que uma decisão deve ser tomada: seguir o impulso espiritual promovido por Cristo, que é o desprendimento e o serviço (restaurar com mansidão), ou então ficarmos para traz. Não existe terceira escolha!

Os Estudantes Rosacruzes têm maior responsabilidade do que os outros no esforço de cumprir os Ensinamentos Cristãos, pois já possuem o conhecimento que lhes foi dado para satisfazer a Mente, no que concerne aos Mistérios da Vida. Eles compreendem o Mistério Cósmico de Cristo, isto é, que Ele, o mais elevado de todos os Arcanjos (como referenciado na terminologia Rosacruz) veio à Terra por Sua livre e espontânea vontade, para também tornar-Se o Espírito Planetário dela, a fim de que pudéssemos ser libertados do nosso egoísmo e materialismo.

E assim Ele continuará sofrendo os grilhões de Sua confinação à Terra, enquanto fornece a Sua poderosa Força de Amor, de Vida e de Luz para nos remir.

E somente vivendo de acordo com os preceitos que Ele nos ensinou é que poderemos libertá-Lo desta Sua prisão. Vale lembrar que a escolha de seguir o impulso espiritual Crístico é algo que deve brotar do interior da pessoa. Apesar de não haver uma terceira escolha para o progresso, essa mesma escolha deve ser feita livremente e com a maturidade de uma vontade espontânea. Sem essa condição, a escolha poderá ser motivada pelo medo da responsabilidade de conhecer algum mistério superior e não pelo amor. Se isso ocorrer, ações artificiais e uma vida espiritual não autêntica passarão a ocorrer. Nesse sentido, a mansidão almejada não será uma realidade e a insustentabilidade dessa decisão será uma questão de tempo, até o Estudante Rosacruz desistir de trilhar o Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – agosto/1961 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Nossos Fardos

No nosso Caminho de Evolução, como Estudantes Rosacruzes, sentimos e até mesmo pensamos que as diversas aflições que estamos enfrentando no momento não nos são devidas.

Até porque, muitas vezes, achamos que o fardo é muito grande para nós! O que muitas vezes esquecemos é que como Estudante Rosacruz e, à medida que vamos avançando nessa caminhada, aumentamos nossas responsabilidades espirituais e, portanto, se faz necessário aprender com mais rapidez certas lições e corrigir os aspectos da nossa natureza inferior, que ainda nos controla e que é muito forte.

De maneira geral, aprendemos mais lições com a experiência vivida do que com os conselhos ou exemplos (observação). É sabido que para conquistar ou sublimar a nossa natureza inferior é necessário enfrentarmos as mais variadas dificuldades até que despertamos totalmente o nosso Cristo Interno. Porém, quaisquer que sejam nossas aflições e por mais doloroso que nos pareça o nosso sofrimento físico, mental e emocional sabemos que não nos é dado um fardo maior do que aquele que possamos carregar (ICor 10:13). Todos esses “fardos” escolhemos no Terceiro Céu, antes de iniciar a nossa descida para mais um nascimento aqui (Lei de Renascimento), e com a ajuda dos Anjos do Destino que nos fazem ver que essas experiências são oportunidades ímpares para nosso crescimento espiritual na vida atual.

Portanto, o objetivo da nossa vida aqui na Terra, que é o baluarte da evolução, é a experiência e não o sofrimento. Mas, à medida que sofremos, para nos beneficiar dessas experiências, nos é dada formas adequadas de auxílio, tanto internas como externas.

Se utilizarmos bem do Exercício Esotérico Rosacruz de Observação podemos ver, ao nosso lado ou até mesmo pelos meios de comunicação, que existem pessoas cujas vidas parecem ser uma sucessão de calamidades; em que umas perdem anos com doenças, outras vivem em tragédias ou desgostos que parecem intermináveis e outras nem parecem sofrer tanto. Todos nós sabemos que a vida sempre nos reservará subidas e descidas, pois os escolhemos passar, ou melhor, escolhemos sermos tentados, em diversas situações aqui neste Mundo Físico. Se tivermos consciência e aceitarmos passar por essas dívidas de destino, mesmo sabendo que serão árduas, devemos enfrentar e sobrepor todos os medos que possamos sentir e fortalecer o desejo de limpar todos os nossos maus hábitos. Porque, apesar dessas provas terem sido escolhidas anteriormente, a nossa atitude e a nossa força de vontade em relação a elas, depende exclusivamente de nós em reconhecer e utilizar as ferramentas necessárias para passar por cada divergência que enfrentamos.

Se deixarmos nos levar por influências negativas e não procurarmos sublimá-las, numa próxima vida, estaremos ainda piores, pois a lição ainda não foi aprendida. Teremos que passar por ela até aprendermos, ou seja, “lição aprendida, ensino suspenso”. Portanto, como Estudantes Rosacruzes temos o dever de procurar nos esforçar em transmutar aquilo que é negativo em positivo.

Existem alguns passos que podem ajudar a alavancar como:

– Enfrentar todas as provas procurando sempre eliminar as emoções que nos prejudicam. Sabendo que todas as provas são bênçãos “disfarçadas” que nos darão as lições necessárias à nossa evolução. Por isso a importância de fazermos todas as noites o Exercício Esotérico noturno de Retrospeção.

-Toda doença, seja física, mental ou emocional é uma manifestação de deficiência espiritual, visibilizada por meio dos nossos desejos, emoções e sentimentos inferiores, negativos e extremamente fortes (e pasmemos: isso se torna visível para nós no nosso horóscopo! Pena é que a maioria não “quer ver” ou não estuda a Astrologia Rosacruz da maneira como se deveria – com um conhecimento profundo da Filosofia Rosacruz e com o único objetivo de identificar as causas das doenças e enfermidades).

-Outro ponto importante é a persistência e a força de vontade a ser empregada. Não importa quantas vezes caímos, mas sim quantas vezes nos levantamos por mais que isso nos doa.

-A oração é outro ponto que deve estar sempre ao alcance do Estudante Rosacruz sincero e verdadeiro. Sabemos que os Irmãos Maiores anseiam por nos ajudar a eliminar os obstáculos que impedem o nosso crescimento espiritual. E para isso, trilhar o Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz é a solução ideal e mais rápida! A ajuda virá se fizermos a nossa parte. Associado à oração podemos dizer que a gratidão e a devoção complementam essa compreensão que devemos ter para o Pai que nos criou.

Que as rosas floresçam em vossa cruz

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Exercício da Vontade no Auxílio aos Filhos Naturais ou Espirituais

Costuma-se dizer, na experiência popular, que “a virtude reside no meio termo”. É verdade.

Atualmente notamos um lamentável afrouxamento na vontade, na fibra de nossas crianças e jovens. E a causa é evidente, se bem que a maioria dos pais não a enxerguem.

A geração passada se diz sacrificada. Sua educação foi severa. Os pais eram duros, não havia quase diálogo entre eles. O método era o de imposição e obediência. Um extremo, evidentemente falho, do ponto de vista da psicologia educacional.

Por sua vez, aqueles filhos foram para o outro extremo, igualmente falho, de poupar seus filhos, de permitir-lhe intimidades exorbitadas, na presunção de estar corrigindo as falhas de educação pelas quais antes passaram. E aquilo que fazem com amor, com boa intenção, converte-se num entrave para o futuro dos pequenos, porque a educação deve prepará-los para participar positiva e eficientemente da sociedade, encontrando nos desafios da existência motivos de exteriorizar sua iniciativa, recursos internos, valor moral, persistência, discernimento e outras qualidades que um lar bem formado deve incutir na criança, nessa tarefa diária e paciente da educação.

Para acentuar essa falha, temos o concurso da técnica moderna, que veio facilitar a vida do lar. Hoje, ninguém mais corta lenha, nem carrega água, nem alimenta animais de carga. Inúmeros afazeres têm utensílios dos mais engenhosos para economizar tempo e energia, seja nas tarefas domésticas, seja nas industriais e comerciais. Até a técnica depende do uso que dela fazemos.

A lei natural é esta: “o exercício faz o órgão”. Aquilo que não se exercita, atrofia-se. Observe-se como o braço fraturado fica depois que lhe tiram o gesso: amarelo e fino, com apenas 40 dias. A mesma lei rege a inatividade mental e moral. Há muitas maneiras de desenvolvermos a fibra, o hábito da atividade, em nossos filhos. Mas, todas elas exigem exemplo. O pai indolente não tem força moral para sequer recomendar ao filho o exercício e atividade. Está provado que a higiene mental não consiste em parar, senão em fazer coisa diferente. Um intelectual deve realizar trabalho manual ou fazer caminhada em horas de folga. É a melhor terapia. Em casa há sempre algo a ser feito, conservado ou reparado.

Desgrudemo-nos da poltrona onde nos sentamos para assistir televisão, vídeo, filme e, sem falar nada aos filhos, tomemos uma latinha de tinta e uma trincha para pintar. O filho certamente nos acompanhará, desejoso de imitar, de ajudar. Aí está à oportunidade, então. Em vez de o mandarmos embora com um berro, demos-lhe uma lixa de ferro e os ensinemos como remover a ferrugem das partes oxidadas.

Façamos junto com ele. Se ele errar, não gritemos. Isso pode formar um complexo. Ao contrário, digamos que é natural errar, num principiante. Depois, ensinemos como passar o zarcão e qual o seu papel conservador. Em seguida, pintemos com ele. A confiança demonstrada, o companheirismo, o fato da criança fazer algo que apreciemos, aumenta-lhe a confiança em si próprio, desenvolve a afeição em nós e possibilita o diálogo, sem perda do respeito e preenchendo integralmente as normas de uma educação correta.

Mil e uma formas do gênero, a vida cotidiana nos oferece: ir à feira com os filhos, mostrar-lhes como comprar, como selecionar a qualidade, como encontrar os melhores preços. Só essa tarefa envolve experiência, exercício físico, gosto de ajudar os pais, etc. Mas, não deve ser forçado. Aliás, o normal é a criança desejar fazer as coisas com os pais. Se não deseja é porque houve falhas. Os pais é que, no dizer de Comenius, devem avaliar que “a medida do aprendizado está no que o aluno aprender e não no que o professor pode ensinar”. Esse respeito às limitações de idade, de compreensão deve ser tomado em conta pelo educador e pelos pais.

Porém, não residem aí às causas mais profundas, as deficiências maiores da educação. Elas estão é no mau exemplo dos pais, na indiferença afetiva ou no amor mal compreendido. Os pais não têm o direito de dar mau exemplo. Uma vez que conscientemente aceitaram a missão de educadores, perderam o direito de fazer o que bem entendem sem levar em conta se estão sendo ou não observados e imitados. E se o fazem, são irresponsáveis ou criminosos. Não tem, em verdade, capacidade moral para casar-se, pois, a finalidade precípua do casamento é a formação da família.

A indiferença afetiva é a criadora do “play boy”. O pai se ocupa com os seus negócios e diletantismos; a mãe, por outro lado, dos dela. A obrigação com os filhos – julgam eles – está cumprida com a manutenção dos estudos (verniz intelectual) e uma mesada. O problema já foi explorado e analisado por todos os ângulos. Nem cabem mais comentários.

O amor mal compreendido, já o dissemos, é, principalmente, a poupança de esforços, a intimidade exagerada, o mínimo, a insinuação de preconceitos.

Todas as falhas se refletem como consequências prejudiciais. A sociedade aí está para análise de todos. Pelos frutos se conhece a árvore. Quem tem olhos veja, mas não critique. Trate isso sim, de buscar os seus defeitos, ler, estudar o assunto, discutir, estudar o assunto por meio dos Ensinamentos Rosacruzes, a fim de se capacitar a assumir a responsabilidade que lhe cabe como pais e cidadãos com a respectiva parcela de erros, no conjunto dos erros da sociedade de que faz parte.

Afinal aprendemos na Fraternidade Rosacruz que: “pais sábios que desejam proporcionar à criança todos os benefícios, já começam antes do nascimento, antes mesmo da concepção, a voltar reverentemente seus pensamentos para a tarefa da qual vão incumbir-se. Cuidam para que a união que vai gerar novo ser se realize sob condições astrológicas apropriadas, isto é, quando a Lua estiver transitando por um Signo que possibilite a construção de um corpo forte e sadio, conservando-os, tanto quanto possível, seus próprios corpos nas melhores condições físicas, morais e mentais. Durante o período de gestação devem evocar constantemente a imagem ideal de uma vida expressiva, saudável e útil para o ser que se aproxima.”

Também aprendemos que: “os pais ou responsáveis precisam conscientizar-se de que aquilo que denominamos nascimento é apenas o nascimento do corpo físico visível, que nasce e chega ao seu presente estado com maior eficiência e em menos tempo do que os veículos invisíveis, porque teve uma evolução mais longa. Assim como o feto é resguardado dos impactos do Mundo visível pelo útero protetor da mãe durante o período de gestação, do mesmo modo os veículos mais sutis são resguardados por um envoltório de Éter e de matéria de desejos que os protegem até que estejam suficientemente amadurecidos e aptos para suportarem as condições do Mundo externo.”

Que há dois lemas que se aplicam em cada período setenário da vida do filho ou da filha: um para os pais ou responsáveis e outro para a criança:

“Dos 0 aos 7 anos: Exemplo – para os pais – e Imitação, para os filhos. Nenhuma criatura debaixo dos céus é mais imitativa do que a criança, e sua conduta nos anos futuros dependerá dos exemplos dados por seus pais na aurora de sua vida. Tudo no ambiente da criança deixa nela uma impressão para o Bem ou para o Mal. Devemos portanto compreender que os nossos mais insignificantes atos podem causar incalculável mal ou bem à vida de nossos filhos e que nunca devemos fazer nada na presença da criança que não desejemos que ela imite. É inútil ensinar-lhe moralidade ou racionar neste período. Ela ainda não possui Mente, não possui razão.

Dos 7 aos 14 anos: Autoridade – para os pais – e Aprendizado, para os filhos. Nessa época em que a criança vai aprender o significado das coisas. Se temos um filho precoce, procuremos não o estimular a cursos que exijam esforços mentais extremos. Criança-prodígio, conforme já dissemos, geralmente vêm a ser homens e mulheres de inteligência abaixo do normal. Neste particular deve-se permitir à criança seguir as suas próprias inclinações. Sua faculdade de observação precisa ser ensinada especialmente através dos exemplos. Neste período pode-se começar a prepará-lo para economizar a força que principia a despertar em si, e que vai capacitá-lo a reproduzir a espécie ao fim do segundo período de sete anos. Que ele nunca busque informar-se a esse respeito através de fontes duvidosas porque seus pais, muitas vezes, tolhidos por um falso senso de pudor, evitam esclarecê-lo devidamente. É dever do educador o esclarecimento apropriado da criança. A omissão nesse ponto equivale a deixá-la cruzar de olhos vendados uma área cheia de armadilhas, com advertência de não tropeçar nelas. Ora, ao menos tirem-lhe a venda. Ela já terá dificuldades suficientes mesmo sem ela.

Dos 14 aos 21 anos: máximo de Tolerância e de Conselhos – para os pais – e Autoafirmação, para os filhos. Chega, então, a idade crítica em que os pais ou responsáveis começam a colher o que semearam. A Mente ainda não nasceu; nada mais consegue deter a natureza de desejos; e tudo passa, pois, a depender dos exemplos ministrados por eles ao adolescente em seus primeiros anos de vida. Neste período, a fase da autoafirmação, o sentimento de “Eu sou eu” é mais forte do que em qualquer outra idade e, portanto, as ordens autoritárias devem ceder lugar a conselhos. Em nenhuma outra época o ser humano necessita tanto de simpatia quanto nos 7 anos que medeiam os 14 e os 21 anos, quando a natureza de desejos é irreprimível. Para o adolescente que foi educado desde criança segundo os princípios que esboçamos e enfatizamos atrás, este período não será tão crítico, uma vez que seus pais podem então significar o amparo que precisa para superar os obstáculos próprios desta fase até a maioridade, quando nasce a Mente. Na maioria das vezes este é um período de provas, que não chega a ser tão difícil para o jovem que aprendeu a reverenciar seus pais ou mestres, pois estes podem, então, ser para ele uma âncora de apoio contra a erupção de seus sentimentos. Se ele se habituou a confiar na palavra dos mais velhos, e estes sempre lhe deram ensinamentos sábios, ele terá desenvolvido um inerente senso da verdade que o guiará com segurança. Porém, na mesma medida, se houve falha nisso, poderá estar sujeito a situações perigosas.

Quando acompanhamos o Espírito humano através de um Ciclo de Vida, do nascimento à morte e desta ao renascimento, podemos ver quão imutável é a lei que governa cada um dos seus passos e quão rodeado ele se encontra pelo mais amoroso desvelo dos grandes e gloriosos Seres que são os ministros de Deus. Esse conhecimento é da máxima importância para os pais ou responsáveis, já que uma boa compreensão do desenvolvimento que se efetua em cada período setenário capacita-os a trabalharem inteligentemente com a Natureza, podendo conquistar mais confiança do que aqueles pais que desconhecem os Ensinamentos dos Mistérios Rosacruzes.”

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – fevereiro/1968 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Valor do Inventário Espiritual

O ano passado, com tudo o que nos proporcionou em termos de venturas e tristezas, êxitos e malogros, já faz parte do passado. É mister, entretanto, proceder-se a um inventário espiritual. O Estudante Rosacruz sincero, por certo, analisará sua atuação durante o período recém-findo, objetivando verificar a extensão de seu progresso e a estatura de seu patrimônio moral. É uma autoanálise. Seguramente evidenciará as falhas de caráter e as virtudes já conquistadas. Fará vir à tona uma série de distorções subconscientes. Mostrará, enfim, as debilidades a serem substituídas gradativamente pelas qualidades opostas, e os pontos positivos que deverão ser fortalecidos. É um dever ao qual não podemos nos eximir.

Não olvidemos o trabalho empreendido pelo Espírito de Cristo, cujo clímax é atingido pelo Natal. Estejamos cientes de nossa responsabilidade perante essa ajuda. O refrão popular “Deus ajuda a quem se ajuda” tem sua razão de ser. Não poderemos usufruir dessa infusão de energia espiritual se nos mantivermos “impermeáveis” a ela. Nosso crescimento será maior e mais rápido na medida em que agirmos consoante a Lei Cósmica.

É lógico, o ser humano mundano é também envolvido pelo Auxílio Crístico, porém em amplitude bem menor do que o espiritualista que se esforça por tornar-se não só um elemento receptível, mas também um canal a espargir as mais elevadas benções. Na proporção em que se aumenta a capacidade de dar, ampliam-se as possibilidades de receber. É uma Lei!

É importante conscientizarmo-nos de que somos canais. Mas só isso não basta. O canal necessariamente deverá estar limpo e desimpedido para que o fluxo através dele não sofra solução de continuidade. Aí encontramos o valor do inventário espiritual. Ele nos propicia o real vislumbre dos atritos a serem eliminados, dando-nos a dimensão exata do trabalho de purificação e regeneração a ser executado.

É louvável nosso desejo de ajudar a Humanidade. É compreensível e confortadora nossa ânsia de trabalhar na “Vinha do Senhor”. Contudo, nós o faremos mais eficientemente se nos libertamos pouco a pouco de nossas falhas.

Preparemo-nos convenientemente para a labuta do ano entrante, delineando alguns objetivos a serem colimados. E que um deles seja o aprimoramento de nosso caráter.

(Gilberto A V Silos – Editorial da Revista Rosacruz – janeiro/1973 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Felicidade está Onde não a Pomos

Parafraseando uma frase de um poema de Vicente de Carvalho: “A felicidade está onde nós a pomos, mas nós nunca a pomos onde nós estamos”.  Em verdade, estes dois versos resumem admiravelmente o sentido comum do viver humano. Fazemos da felicidade uma utopia, colocado distâncias no caminho, esquecidos de que, ao chegarmos ao seu encontro, de novo a empurramos para mais adiante. Com isso, a vida, chegará ao fim, e a felicidade nunca chegará ao viver da criatura.

É necessária uma alteração em nosso modo de pensar, a luz da Filosofia Rosacruz. A felicidade não pode ser procurada, tão pouco localizada no espaço ou no tempo. Ela é simplesmente – ou pelo menos deveria ser – o produto do viver momento a momento, segundo nossa voz interna. Não nos é dado penetrar de imediato nos “portais dourados”, transpostos os quais nos inundaria o éden incomensurável de paz e ventura. Se “somos deuses em formação”, não podemos fugir ao percurso do caminho que conduz a essa perfeição. Enquanto isso, toca a criatura, sobretudo, viver o papel da criatura, afrontando as limitações que a vida terrena naturalmente impõe, dentre os quais, permanentes solicitações da Mente, a chamar o ser humano para uma vida cheia de vazio, para a ilusão dos sete pecados capitais, especialmente a miragem do “acumular tesouros na Terra”. De fato, os almejados tesouros nos vêm às mãos. Mas como somos “peregrinos neste mundo” e estas aquisições pertencem ao mundo, acabamos ficando “de mãos vazias”.

Ao final de tudo, parece haver falta de compreensão mais profunda da vida, do “por que, afinal, nos achamos aqui”. A afirmação da Individualidade é imprescindível a nossa vida. Cada um de nós é único na Obra de Criação, e como único devemos viver entre os demais, a todos ligado pelo traço do amor.

Entende-se a afirmação individual como sendo a realização, por cada um de nós, de nossos pendores mais profundos, representados por energias naturais que não podem ser desconhecidas, nem reprimidas. Essas forças não são, em si, nem boas, nem más. O uso que delas fazemos é que lhes imprime esta ou aquela coloração, segundo o caráter do nosso comportamento.

É claro que essa realização pessoal implica a mais ampla liberdade de escolha pelo indivíduo. Do contrário, haveria o risco de “sermos” outrem, diferente de nós mesmos, criando-se um artificialismo pernicioso para a saúde mental. É a partir dessa importante conclusão que a Pedagogia se encaminha para o revolucionário sistema de Educação, conhecido como liberdade orientada. A criança cresce “conhecendo-se”, através do estudo e de trabalhos práticos adequados ao “despertar” de vocações, de modo que em nada se prejudique o viço da flor natural que deve desabrochar.

O bom uso da energia que a Natureza assim coloca a nossa disposição faz com que o manancial que a produz se torne cada vez mais abundante, porque “a quem mais tiver, mais ser-lhe-á dado[1]. E nós, assim disposto em uníssono com as vibrações cósmicas, poderemos experimentar um estado de íntima satisfação que muito terá de felicidade, coroada pela certeza de que “quem mais der, mais receberá[2] e “quem quiser ser o maior, deverá ser o servo de todos[3].

Para a Ciência oculta a inércia é uma ilusão. Decorre daí que “não paramos”. Ou estamos progredindo, ou regredimos, na caminhada. Conhecendo-se e realizando-se, nos encaminhamos para a comprovação das palavras de Cristo, segundo as quais “as obras que eu faço, vós as fareis, e maiores ainda[4].

A partir da certeza de que, durante um renascimento aqui, existe para nós uma necessidade interna de expressão constante, podemos vislumbrar uma possível causa de os manicômios andarem cada vez mais povoados, bem como de crescer o número de suicídios, especialmente nos países ditos mais “desenvolvidos”. Parece que o conforto trazido pela técnica se transforma em ócio para o indivíduo, tirando-lhe a oportunidade de utilizar as energias de que naturalmente dispõe. A serenidade do artesão parece que decorria do prazer de criar com as próprias mãos. Agora a máquina faz quase tudo. Pouco sobra para nós de oportunidade para autoafirmar, especialmente no trabalho. Então, a vida inconformada com a imposta “inércia”, contraria as Leis da Natureza de tudo quanto é vivo, rompe os diques e foge, ou para o hospício, ou para o suicídio, como saída para a torturante angústia em que se vai transformando o viver.

Evidentemente, a máquina tem seu lugar próprio na vida humana. Nós é que precisamos desenvolver o preparo para viver ao lado dela, não se deixando absorver, “matar”. O tempo a mais deixado para nós com o advento da máquina no trabalho, deve ser aplicado no cultivo de fatores capazes de preencher esse vazio, até que a espiritualidade criadora faça parte atuante da nossa vida humana do comum. Ou seja: cumpramos o que prometemos para nós mesmos no Terceiro Céu: desenvolvermos espiritualmente, aperfeiçoando os nossos Corpos e o veículo Mente e crescendo o nosso Corpo-Alma, se preparando para a Era de Aquário, já que estamos na Órbita de Influência dessa Nova Era. O restante? Será nos dado por acréscimo, como Cristo nos ensinou!

Em resumo, tudo quanto existe e vive, vive porque tem vida na Natureza. Se para todas as coisas existe maravilhosa harmonia, para nós, em especial, também existirá, desde que nos prontifiquemos a se integrar na posição cósmica que nos cabe e viver as leis profundas da própria vida.

Dessa forma, jamais procuraremos a felicidade, pois essa nos virá por acréscimo, nascida da compreensão de que não somos mais felizes porque não temos preocupações, mas sim, porque encaramos como próprias à vida, coloca-as no lugar devido, certo de que depois da tempestade vem a bonança, e que tempestade e bonança são igualmente partes da Criação.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – outubro/1964 – Fraternidade Rosacruz – SP)


[1] N.R.: Mt 25:29

[2] N.R.: Mt 10:30

[3] N.R.: Mt 10:44 e Mc 9:35

[4] N.R.: Jo 14:12

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Mudanças tão acentuadas como estamos passando: nosso trabalho de base para não sucumbir

Nunca, em toda a sua história, a Humanidade foi protagonista de mudanças tão acentuadas como agora. Em cada campo de atividade humana – político, social, religioso, artístico, filosófico, científico – surgem novas descobertas num espaço de tempo assombrosamente curto. Valores até ontem considerados plenamente válidos, ou são reformulados ou anacronizam-se. Afirmações até há pouco tempo admitidas como axiomáticas dão lugar a verdades mais profundas. Paralelamente a essas transformações, a Humanidade tem passado por uma fase de distúrbios e inquietações. Pessoas extremamente conservadoras atribuem às inovações todas as mazelas que afligem o mundo. Ora, isto seria uma explicação demasiadamente simplista. Incriminar o modernismo, colocando-o no banco dos réus, pura e simplesmente, sem uma análise mais acurada, é agir de forma irracional.

Nós, seres humanos, somos os propulsores do progresso e os modificadores do panorama terrestre. A natureza nos oferece um manancial de elementos suscetíveis de serem utilizados. A forma como manipulá-los depende do caráter de cada um. O elemento em si é neutro. Com tijolos pode-se construir um templo ou um prostíbulo. Quando catástrofes se abatem sobre alguns países ou regiões, resultando em um número considerável de mortos, feridos e desabrigados, esses, geralmente, recebem auxílios mediante os modernos meios de transporte. Dezenas de aviões rumam às áreas assoladas conduzindo equipes médicas e medicamentos. É o progresso salvando o ser humano! Paradoxalmente, aviões militares carregam bombas em seu bojo, semeando a morte e a destruição nas áreas oponentes. É o progresso aniquilando o ser humano!

Em 1939, Albert Einstein enviou carta ao Presidente Franklin D. Roosevelt tecendo comentários sobre os benefícios que poderiam advir do sábio emprego da energia atômica. Porém, no final de sua missiva não conseguiu esconder sua preocupação, se ocorresse justamente o contrário.

A força que impele o ser humano a novas conquistas “deve partir de dentro”. É, portanto, necessário educá-lo convenientemente, ensejando a que diferencie o ilusório do real, o relativo do absoluto, o sofisma da verdade. O justo emprego das coisas. A valorização das qualidades morais. O respeito a todos os seres da criação. O vislumbre da humanidade como um todo; ou, a indissolubilidade de suas partes. Tudo isso merece um lugar de destaque na ação educadora dos pais, no labor doutrinário das igrejas e nos programas de educação estabelecidos pelos órgãos governamentais.

Mediante esse trabalho de base, colimar-se-á o objetivo de orientar as transformações e descobertas em benefício do gênero humano.

Quando isso se tornará realidade?

(Gilberto A V Silos – Publicado na Revista Serviço Rosacruz de fevereiro/1972-Fraternidade Rosacruz-SP)

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O Método Rosacruz de Auxílio

Em realidade, a Escola Fraternidade Rosacruz não possui um método de auxílio propriamente, mas os seus Ensinamentos Rosacruzes nos conduzem a determinadas conclusões a esse respeito. E, como todos nós desejamos prestar a nossa contribuição nessa senda de luz e amor, será interessante conhecermos essas conclusões, para não nos afastarmos dos elevados Ensinamentos Rosacruzes dessa escola, que nos foram transmitidos pelos Irmãos Maiores, através do seu arauto, Max Heindel.

Sabemos que é sempre possível prestarmos o nosso auxílio, tanto direta, como indiretamente, podendo esse auxílio ser pessoal ou coletivo, por meio da entidade de que fazemos parte. Assim, não nos será difícil chegarmos ao ponto certo da questão, ou, pelo menos, ao que mais se aproxima do método mais puro, se formos nos orientar pelo exemplo de nossos Irmãos Maiores.

Nunca se ouviu notícia de que um Irmão Maior impusesse sua vontade arbitrariamente: pelo contrário, ele sempre procura prestar o seu auxílio discretamente, quase sempre de longe, nunca deixando de respeitar a liberdade de escolha de cada um de seus custodiados, e jamais interferindo na vontade deles!

Muitas vezes, mesmo, temos que chegar ao ponto de gritar por socorro em nossos corações, para que, só então, o Bom Amigo se manifeste, sem, contudo, esquecer a independência do trabalho de cada um. E só essa observação já nos dá uma ideia bem clara de como deve ser esse nosso trabalho na Fraternidade Rosacruz e no mundo. E, se esse exemplo não bastasse, teríamos ainda o apoio esclarecido de nosso lema: “Uma Mente pura, um Coração nobre, um Corpo são” que, bem observado, apresenta a chave da nossa posição espiritual em face do auxílio que devemos prestar ao próximo.

Quem possui, em verdade, um Coração terno, um Corpo isento de pecado e uma Mente sadia, objetiva, construtiva, apoiada numa vontade firme, terá forçosamente que chegar a certas conclusões na vida, muito próximas do Amor e da Verdade; estará, assim, em condições de compreender que não pode nem deve exercer qualquer coação, nem que seja para prestar auxílio a um necessitado. E, quando se fala em coação, deve-se esclarecer que o ato de pedir auxílio a uma segunda pessoa em favor de uma terceira, embora o pedido seja revestido da mais sincera piedade, não deixa de representar um ato de coação, por mais leve, mais subtil que seja.

Pode agora alguém dizer que esse tem sido o meio empregado por muitas entidades filantrópicas, com resultados positivos. Quanto a isso, não há contestação, mas, como estamos falando apoiados nos Ensinamentos Rosacruzes, temos que compreender o impulso que rege esse auxílio, de forma diferente da comum, de modo muito mais amplo e mais objetivo. Não esqueçamos que há muitos caminhos para alcançarmos o céu, e que o Caminho Rosacruz é uma escala direta ao topo da cruz, portanto não pode se apoiar em métodos que, embora satisfatórios em algum sentido, não correspondam ao ideal de liberdade, de amplitude individual que deve manter sempre vivo o Estudante Rosacruz, atualmente os mais elevados do mundo.

Assim, baseados nesses princípios de amor e de liberdade individual, podemos compreender que nunca, de modo nenhum, se deve solicitar auxílio pecuniário em prol de quem quer que seja, por mais necessitado que se nos pareça.

O método Rosacruz, sendo livre e amoroso, tende logicamente a respeitar a pessoa humana em toda a extensão, inclusive aquela a quem pretendemos incluir nas nossas solicitações.

O auxílio tem que ser sempre espontâneo para ser livre. É maravilhoso quando um irmão ou uma irmã, mais favorecido pelo destino, abre a sua bolsa espontânea e amorosamente, dando a muitos necessitados a oportunidade de serem ajudados; entretanto, não se deve esquecer que esse auxílio, tem de vir de sua própria bolsa, esteja ele em condições de prestá-lo ou o tenha feito à custa de seu próprio sacrifício, de sua própria vontade. Podemos sempre prestar o nosso auxílio e prestar a nossa cooperação em prol da Humanidade, por muitos meios, como dissemos acima, diretos ou indiretos, sem necessidade de atingir a liberdade alheia com solicitações que muitas vezes são respondidas com indisfarçável má vontade.

A dádiva, para ser verdadeira, terá que incluir o próprio dador. Temos que nos dar a nós mesmos, caso contrário nossa obra será vazia e fútil o nosso esforço. Se não possuirmos, nós mesmos, os meios para prestar algum auxílio material, seja de que proporções for, ainda assim, poderemos dar a nossa ajuda por meio de uma palavra amiga, de uma visita oportuna, uma oração piedosa, por meio de algum trabalho, tanto físico como intelectual, enfim de mil pequenas e grandes maneiras, que, se forem sinceras e dignas, cumprirão o mesmo objetivo de auxílio à Humanidade. O real auxílio está na sinceridade com que é feito, na humildade do propósito, sem intenção de engrandecimento próprio, na paciência de saber esperar, na conformidade com os percalços, na alegria de poder tomar-se um conduto divino de realização. Não é o tamanho da obra que realizamos que vai representar a justa medida do nosso entendimento espiritual, mas muito mais a amplitude amorosa do nosso gesto, qualquer que seja a extensão do auxílio.

O ideal é sempre puro e simples, modesto e paciente, e, quando concretizado em atos, já veio trilhando caminhos de luz como resultado de uma realização interna. Eis por que, quando nos ocorrer algum desejo de realizações grandiosas (e todos a temos) convém pararmos um instante e meditar nos nossos reais propósitos de auxílio, pesando e medindo bem as nossas próprias possibilidades.

Por ser a Filosofia Rosacruz realmente uma das mais elevadas do mundo, nem sempre tem sido bem compreendida e aceitada pela mentalidade humana. A tendência natural do indivíduo comum é limitar-se ao seu próprio mundo de vaidade e egoísmo, e o Estudante Rosacruz, mais esclarecido do que o vulgo, tem o dever de furtar-se a esse perigo que muitas vezes surge engalanado dos mais sutis revestimentos. Eis por que é sempre bom lembrarmo-nos da nossa posição espiritual em relação aos nossos desejos de auxílio e de cooperação, nunca esquecendo, a exemplo dos Irmãos Maiores, a liberdade de cada um e a amplitude amorosa de ter, no respeito, tanto em relação a dignidade da pessoa humana, como à consideração do ser espiritual, nosso irmão e nossa irmã em Cristo.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de fevereiro/1967-Fraternidade Rosacruz-SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Desapego

Do ponto de vista filosófico Rosacruz, desapego é a capacidade que desenvolvemos para gerir todas as coisas sem o sentimento de posse, qual o administrador ciente de que as deve utilizar, edificante e transitoriamente, como instrumento de evolução.

O desapego, aliado ao reto uso de tudo que está à nossa disposição no mundo, constituem dois importantes pilares da felicidade humana. Aliás, o uso egoísta de alguma coisa já constitui, em si, um apego. Assim, o desapego inclui o bom uso de todos os talentos. São, ambos, duas virtudes que se mesclam e mutuamente se fortificam para estabelecimento de nossa paz interna e crescimento anímico.

Muitas vezes as pessoas confundem o desapego com a indiferença. É um grave equívoco! Devemos ter interesse pela vida e por tudo que ela nos oferece. Se estamos no mundo e ele figura para nós uma autêntica escola de aplicação de nossas faculdades, de experiências e de desenvolvimento, a indiferença seria uma negação lamentável. Aqueles que possuem corpos ocidentais não devem cair na indiferença, por terem estágio de evolução e necessidades específicas diferentes de outras partes do mundo. A indiferença pode ser, para outros povos, uma necessidade, ainda hoje, mas nesses casos, outros métodos devem ser empregados que lhes são apropriados. No ocidente, a indiferença é algo inútil e embrutecedor que nos retarda e dificulta o contato com a vivência dos planos superiores. Para aqueles que já ultrapassaram a necessidade de inércia, mesmo no oriente, essa inércia tem sido responsável, em grande parcela, por atrasos na evolução espiritual de algumas raças. A prática da indiferença pode libertar a pessoa da escravidão da Lei da Causa e Efeito, porém ela não promove, sequer, “um grama” de crescimento moral ou anímico. Por outro lado, não desejamos pender para o extremo oposto, em que se encontram os povos ocidentais. Dizem-se Cristãos e não perceberam que o demasiado apego deles às coisas do mundo jamais foram ensinadas por Cristo-Jesus. A Fraternidade Rosacruz, como Escola de Mistérios Ocidentais, como Cristianismo Esotérico, propõe-se a trabalhar pelo estabelecimento de uma nova compreensão da vida, consoante a reta acepção da doutrina Cristã.

Tudo tem seu lado bom e esse aspecto positivo deve ser claramente distinguido e utilizado pelo Aspirante à Espiritualidade. Somos, essencialmente, Espíritos e trabalhamos no mundo, por meio de nossos veículos, para gerenciar e conhecer as matérias de todos os planos até conseguir descobrir todas as leis que os regem e os empregarmos nos propósitos do Espírito: serviço amoroso e desinteressado ao irmão e à irmã ao seu lado, focado na divina essência oculta em cada um de nós, que é a base da Fraternidade. O Corpo Denso que utilizamos não é nosso; foi-nos oferecido pelo concurso de nossos pais e tomado por empréstimo ao Reino Mineral, dentro do Esquema de Evolução regidos pelos Senhores da Forma, a Hierarquia de Escorpião. Devemos essa gratidão aos Minerais. Não fora o Corpo Denso seríamos fantasmas, invisíveis, sem possibilidade de atuar e manejar no plano material da Terra. Não aprenderíamos suas ricas lições. Cuidemos, pois, desse veículo, convenientemente, a fim de que se torne uma útil ferramenta de nosso Espírito. Alimentação adequada, higiene, exercício razoável. Com isso o devolvemos, pela morte, com suas partículas enriquecidas, para formação de melhores corpos futuros. Também, assim fazendo, estamos prestando um serviço à causa evolutiva dos minerais, que se elevam à interpenetração de nossa consciência vibratória. Eles são nossos pupilos. Desde agora e pelos períodos futuros trabalharemos sobre eles, servindo-nos deles para nossa evolução e a eles servindo ao mesmo tempo, dentro do maravilhoso e amoroso plano de mútuo serviço e evolução dos reinos criados.

Não há como negar as finalidades do plano material. Mas, também não devemos fugir dessa compreensão espiritual para cairmos no ridículo de nos identificarmos com o corpo e julgarmos até que ele é nós. Nada disso. Uma coisa é a casa, outra o morador. A casa mostra o que é o morador. Suas condições e aspectos contam a mentalidade de quem a habita. Ingere bebidas alcoólicas? Fuma? Consome drogas que alteram a sua consciência de vigília? Alimenta-se mal? Negligencia os hábitos de higiene? Não sabe assegurar as condições de vida saudável: ar, silêncio, árvore e espaço? Então é um mau administrador de seu próprio lar, o corpo. Não tem condições nem força moral para orientar outros. Está fadado a tornar-se enfermo. E, sem saúde, de que lhe valerão as demais coisas? A saúde influi no modo como vemos nosso exterior.

É um apego ignorante esse dos vícios, da gula, do comodismo. Os males que observamos ao nosso redor contam os desvios dessa natureza; deveríamos ter vergonha deles e decididamente tomar o rumo certo. No entanto, quantas pessoas conhecem as leis da alimentação, da higiene e da saúde, embora se alimentem várias vezes por dia? Não é um contrassenso?

E o veículo etérico, o Corpo Vital? Igualmente importante em nossa existência e plano de aprendizado, pois nos assegura o metabolismo, capacita-nos à procriação, à atividade sensorial, ao estabelecimento do calor e da circulação sanguíneos e a ele devemos a capacidade da memória; a base de todo o conhecimento material. Quão importante é? É, por assim dizer, uma contribuição vegetativa. Suas funções são exercitadas por nós, como um aluno que trabalha sobre aparelhos laboratoriais e elementos químicos, produzindo reações diversas. Justifica podermos usar mal essas funções? Isso indica mau aproveitamento dos alunos humanos. Se a assimilação e a excreção não se fazem normalmente, é sinal de abuso anterior. Devemos aprender a nos alimentar, compreendendo quais as finalidades do alimento em nossa vida e não para satisfação de apetites e gostos pervertidos. A natureza é governada por leis sábias e denota logo as transgressões, muitas vezes de forma bem dolorosa aos responsáveis. E quanto ao sexo? A força criadora é a grande fonte de energia em todos os campos: físico, emocional e mental. O uso abusivo e desvirtuado dessa força tem trazido males sem conta ao ser humano. Situemo-nos num campo de equilíbrio, conciliando os conhecimentos científicos com os espirituais, a fim de que sejamos homens e mulheres racionais e não pessoas movidas por incontroláveis impulsos instintivos. A literatura Rosacruz é rica na elucidação desse delicado assunto, que reclama compreensão e melhor expressão prática.

Neste, como nos pontos precedentes e posteriores, a chave é uma iluminada compreensão das leis regentes e a coragem de assumir a função de Espírito, governante e não escravo dos bens que administra.

E, passando as funções sensoriais, poderíamos lembrar a curiosidade mórbida, a sede constante de coisas novas, sem outra finalidade senão a de quebrar a rotina. Mesmo no espiritualismo, quantas pessoas existem que atribuem valor às coisas novas! Encantam-se com as versões originais, com os novos modos de expressão e, sobretudo, com novos conhecimentos como se nisso consistisse a evolução espiritual! Puro engano. A natureza não mudou os aspectos do céu, nem os da flora. Achamos insípida a árvore do quintal porque a vemos sempre. No entanto, ali está ela a desafiar nosso conhecimento. Bem pouco ainda conhecemos de tudo o que vemos todos os dias. Aí está a ciência para testificar, com seus avanços, aspectos nunca vistos, conhecimentos nunca imaginados, em coisas que se veem e estudam desde há muitos séculos! Curiosidade no sentido positivo de ânsia de saber estar bem; mas de “mariposear” de escola em escola, de livro em livro, é rematada tolice. Acabam os tais por sofrer a indigestão de tantos e contraditórios conhecimentos e impressões assimilados sem a necessária mastigação. Pior ainda: nesse particular, o apego é usura dos vaidosos intelectuais que se julgam riquíssimos com os muitos conhecimentos que memorizam e repetem aos maravilhados ignorantes. A lei é dar e receber. O que estaciona apodrece e contamina. Isso acontece com o avaro intelectual. Apego tolo, inconsistente. A semente que não se desfaz e não se multiplica na terra, jamais poderá produzir e saciar a sede e fome dos necessitados do Senhor.

Agora o Corpo de Desejos. Ele é relativamente recente, não tem órgãos. Simplesmente forma vórtice ou pontos de concentração de força, coincidentes com centros etéricos, cujo despertar abre os olhos do neófito ao Mundo do Desejo. O Corpo de Desejos é o incentivo para a ação. De nada valeriam os músculos e nervos do Corpo Denso nem a vitalidade infundida pelo Corpo Vital se não houvesse o incentivo do Corpo de Desejos para tirar-nos do estado de inércia. Ao mesmo tempo, o Corpo de Desejos nos permite sentir emoções e desejos, dor e alegria. Ele se compõe de uma parte inferior (desejos egoístas, paixões) e outra superior (altruísmo, filantropia e outras vivências elevadas).

O que em nós provoca repulsão, separação, distinção entre o meu e o teu, é a parte inferior do Corpo de Desejos. Nosso Corpo de Desejos foi dividido em superior e inferior no início de nosso estado humano; no fim da Época Lemúrica e início da Época Atlante. Desde então a parte superior vai sendo aumentada com nosso desenvolvimento interno, na medida em que vamos nos afastando das condições animais de outrora e definimos nossa condição de seres racionais e espirituais. Como indicam as lendas místicas antigas, a luz dominará as trevas, isto é, os instintos e impulsos irregenerados do passado irão se transubstanciando e convertendo-se em luz. Até que isso suceda, precisamos orar e vigiar atentamente, persistindo em hábitos bons, mediante orientação devida para que não subsistam insatisfações e frustrações. O Corpo de Desejos inferior é a fonte principal do egoísmo. Faz-nos sofrer muito porque incute o sentimento de posse: posse de dinheiro e bens, posse de fama, posse de amor e posse de poder. O desejo de posse é desmedido. Quer sempre mais. E quando nos conflitos de interesses com os demais perdemos algo, sofremos, porque nos separam daquilo que julgávamos nosso.

Querem exemplos? Uma mulher diz às amigas: “minha filha vai se casar muito bem; o noivo está bem de vida, tem carro e apartamento, triunfou na vida”. Por que não diz: “o moço tem excelente caráter. Já tomei informações cuidadosas a seu respeito. Mesmo que não chegue a ter grande conforto sei que fará minha filha feliz porque tem todas as qualidades para isso”. Se de um lado o êxito material é sinal de confiança própria, decisão, descortino, competência, de quem o conquistou, por outro prisma sabemos que a maioria das fortunas foi acumulada por meios ilícitos, sem lastro espiritual e, portanto, fadada ao desmoronamento e ruína moral. Por que, então, darmos tanto valor ao dinheiro, à posição, à aparência, esquecendo as legítimas conceituações de “elite” e de valor? Não se diz que a letra mata e o Espírito vivifica? Onde está a consideração à essência? Isso, no fundo, é materialismo crasso, é culto ao exterior, às vestes, à casca, que hoje é e amanhã apodrece debaixo da terra, roída pelos vermes. Que é da exortação de Cristo “acumulai riquezas no céu que são eternas e não na terra que o ladrão rouba, a ferrugem destrói e a traça rói”? Sabemos que o exterior é transitório porque vemos a ação da morte física todos os dias.

Dizemo-nos Cristãos. Então, por que essa ânsia de viver intensamente os prazeres do mundo se não nos trazem paz interior? E por que apoiarmos, inteiramente, nossas vidas num afeto para que ele caia juntamente com aquela ou aquele que é falível, que tem defeitos, que tem egoísmo também? Podemos exigir que nos deem felicidade e afetos perfeitos, quando não há perfeição entre os seres humanos? Não é razoável esperar que os outros falhem como nós? Quem se ilude é quem se desilude. O egoísmo, o apego, é que nos obscurece a razão em tudo. Quem avalia e reconhece as próprias limitações, compreende que elas existem nos outros também e não lhes exige a perfeição que lhes dá. Esse é o ponto inicial do bom relacionamento e da convivência harmoniosa. Quem tem afeto dá sem esperar retribuição. Dar com mira em retribuição é desvirtuar o afeto, condicionando-o ao egoísmo. Quem dá sempre recebe.

Finalmente, desapego do ponto de vista mental (por meio do nosso veículo Mente) é considerar que as ideias também são transitórias e valores a serem postos a juros. Se julgamos possuir a verdade, estamos mal. A verdade integral não está em nenhuma pessoa particular. Nossas ideias e conceitos do mundo, das pessoas e de nós próprios, são muito limitados e passíveis de muito aprimoramento. Se a ciência não tivesse disposta a sempre revisar seus princípios, estaria irremediavelmente estagnada. Só quem tem sua Mente fluídica, receptiva, sem apegar-se às próprias ideias, disposto a examinar tudo e escolher o melhor está em condições de evoluir mentalmente.

Tudo parte de dentro para fora e de nós para os outros. Aquele que conhece a si mesmo aprende a conhecer os semelhantes assuntos como a Deus, à cuja semelhança foi criado. Aquele que domina pode participar efetivamente de um trabalho de equipe. Todas as coisas do céu e da Terra estão dentro de nós também. Quando as conhecemos e as controlamos em nós podemos conhecê-las e compreendê-las nos outros e realmente ajudar a que também consigam os nossos resultados.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – julho/1968 – Fraternidade Rosacruz-SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Você Realmente quer Alcançar o Conhecimento Direto dos Mundos suprafísicos?

Diversos Aspirantes à vida superior chegam até a Fraternidade Rosacruz revelando grande interesse em desabrochar seus poderes espirituais. Muitos, apesar de convictos, vêm em busca de respostas aos seus anseios. Outros desejam convalidar créditos de outra Escola, isto é, relatam que já passaram por correntes espiritualistas e, por isso, acreditam que já galgaram etapas básicas do treinamento esotérico e podem iniciar etapas mais profundas. “Você pode me adiantar para o Curso Superior de Astrologia Rosacruz ou me inscrever no Probacionismo?”, dizem alguns.

Quando lhes informam que devem realizar o Curso Preliminar de Filosofia Rosacruz, antes de se inscreveram nos Cursos de Astrologia Rosacruz, e que somente podem se candidatar ao Probacionismo após um período mínimo de 24 meses recebendo semanalmente instruções espirituais do Mestre, saem desapontados. Tal atitude revela que ainda não compreenderam o que significa a busca pelo verdadeiro desabrochar espiritual.

Mas, a questão não é somente essa. Há outro fator que não parecem compreender. É o fato imperioso de possuir os requisitos básicos necessários para que o Mestre possa realmente iniciar o neófito nas tão almejadas verdades espirituais. Sem tais requisitos, essa aspiração não passa de sonho. A pergunta natural que se faz, neste ponto, é a mesma que o jovem aspirante fez ao sábio: “Senhor, o que devo fazer para me tornar um sábio?” (Introdução do Livro Conceito Rosacruz do Cosmos[1]), ou quais são esses requisitos para que o Mestre venha até mim e me inicie?

Todos concordam que para adquirir uma formação acadêmica, a consagração de tempo constitui um dos principais ingredientes para que isso se torne uma realidade. Apesar de necessária, essa consagração não é suficiente. Veja bem, sabemos que muitos jovens alcançam a formação acadêmica, todos os anos. Mas, quantos jovens saem da universidade com mais do que o título e a formação? Isto é, quantos jovens saem com umdomínio total do conhecimentoadquirido?Quantos realmente saem do nível de aprendiz e passam para o nível de mestre no assunto? Pouquíssimos! Compreendem o porquê do tempo ser necessário, mas insuficiente?

Os alunos que realmente adquiriam poder sobre algum assunto foram além do tempo. O que lhes conferiu tal poder foi o sacrifício. Pelo sacrifício, ganhamos! “É dando que recebemos; é morrendo que nascemos para vida eterna” (Trechos da Oração de S. Francisco). Entre os sacrifícios para formar um bom profissional, destacamos: lazer; período diário para não apenas assistir às aulas, mas para estudar e se aprofundar no assunto; recusar trabalhos que ajudariam no orçamento mensal, pois tem foco; horas de sono; momentos agradáveis com amigos e família; entre muitos outros interesses concorrentes. Por meio da consagração de tempo para o estudo e o Sacrifício de diversos outros hábitos ou afazeres que poderiam preencher sua vida nesse período de formação, ele obteve foco e pôde se aprofundar, adquirindo poder sobre os assuntos estudados.

“Senhor, o que devo fazer para me tornar um sábio?”. Finalmente o sábio deu-lhe ouvidos e, então, desceu a um rio próximo. Entrou na água convidando o jovem e levando-o pela mão. Quando alcançaram certa profundidade o sábio, pondo todo seu peso sobre os ombros do rapaz, submergiu-o na água, apesar dos esforços que esse fazia para livrar-se. Por fim o sábio largou-o, e quando o jovem recuperou alento perguntou-lhe: “Meu filho, quando estavas debaixo d’água o que mais desejavas?” O jovem respondeu sem hesitar: “Ar, ar! eu queria ar!” “Não terias antes preferido riquezas, prazeres, poder ou amor, meu filho? Não pensaste em nenhuma dessas coisas?” indagou o sábio. “Não, senhor! Eu desejava ar, só pensava no ar que me faltava”, foi a resposta imediata. “Então”, disse o sábio, “para te tornares sábio deves desejar a sabedoria com a mesma intensidade com que desejavas o ar. Deves lutar por ela e excluir de tua vida qualquer outro objetivo. Essa e só essa deve ser, dia e noite, tua única aspiração. Se buscares a sabedoria com esse fervor, meu filho, certamente tornar-te-ás sábio”.

Essa aspiração traduz-se em sacrifício! Muitos que chegam à Fraternidade Rosacruz possuem esse anseio sincero por sabedoria, mas poucos estão dispostos a compreender e a realizar os sacrifícios necessários para se adquirir o conhecimento direto, o poder espiritual. “Saber o caminho é diferente de percorrer o caminho”. Se essas pessoas que relatam possuir conhecimentos avançados e, por isso, querem cortar caminho (isso também vale para os Estudantes Rosacruzes antigos que, muitas vezes, acabam caindo na cilada de deixar de realizar os Exercícios Esotéricos e buscar fora algo “mais elevado”), por que ainda não conseguiram o contato consciente com o Mestre, o único capaz de lhe oferecer algo mais elevado? O leitor agora percebe o motivo por que chamamos essas pessoas de “perdidos”?

Pelo sacrifício, recebemos! Pelo sacrifício, temos graça! “(…) aniquilou-se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens. E achando-se na condição de homem, humilhou-se a Si mesmo, tornando-se obediente até à morte, a morte na Cruz. Pelo que também, Deus o exaltou soberanamente e Lhe deu um nome que está acima de todo o nome, para que ao nome de Cristo-Jesus, se dobre todo o joelho, e toda a língua confesse, que Cristo-Jesus é o Senhor, para a glória de Deus Pai” (Trechos do Ritual Rosacruz do Serviço Devocional do Templo, que repetimos todos os dias que o oficiamos). Cristo – o Caminho, a Verdade e a Vida – nos ensinou o sacrifício em seu mais alto significado. Por isso ele obteve a graça.

Abraão foi capaz de sacrificar seu filho Isaac (obras de seu Eu Superior) em favor da vontade do Senhor. Mas, foi divinamente impedido, pois Deus já tinha visto que tinha a coragem para tal. Por isso, foi agraciado, alcançou Iniciações ainda maiores. Do mesmo modo, Salomão desejou sabedoria para governar seu povo, ao invés de pedir faculdades ou regalias pessoais. Por isso, entrou em estado de graça e Jeová o tornou o ser humano mais sábio que já viveu.

Aquele que não toma a sua cruz e não me segue não é digno de mim. Aquele que acha sua vida, a perderá, mas quem perde sua vida por causa de mim, a achará.” (Mt 10:38-39). Esse constitui um dos fatores que faz o Aspirante à vida superior passar muitos anos sem contato com o Mestre. Isto é, o interesse pessoal ou egoísmo sutil e inconsciente que envolve o Aspirante à vida superior durante sua tentativa de percorrer o caminho da senda da preparação (Para mais informações sobre isso, leia o trecho da Conferencia XI do livro Cristianismo Rosacruz[2]).

Quem consegue abandonar (sacrificar) o próprio anseio de obter acesso direto às verdades espirituais, em favor de servir ao próximo? O maravilhoso poeta de Longfellow, A Lenda Formosa[3], retrata com maestria esse sacrifício em favor dos outros. S. João Batista também fornece uma das fórmulas para adquirir esse poder: “É necessário que Ele cresça e que eu diminua.” (Jo 3:30).

Estimado amigo e estimada amiga, se deseja verdadeiramente adquirir poderes espirituais, trabalhe para despertar em seu coração, a sabedoria do sacrifício equilibrado. Sem esse requisito, todos os livros e conhecimentos que adquiriu serão estéreis.

Que as rosas floresçam em vossa cruz


[1] N.R.: Trecho do Capítulo em questão: Se o leitor, que compreendeu bem essa ideia perguntar o que deve fazer para obter o conhecimento direto, terá na seguinte história a ideia fundamental do ocultismo:

Certo dia um jovem foi visitar um sábio, a quem perguntou: “Senhor, o que devo fazer para tornar-me um sábio? “. O sábio não se dignou responder. Depois de repetir a pergunta certo número de vezes sem melhor resultado, o jovem foi embora, mas voltou no dia seguinte com a mesma pergunta. Não obtendo resposta ainda, voltou pela terceira vez e novamente fez a pergunta: “Senhor, o que devo fazer para tornar-me um sábio?”.

Finalmente o sábio deu-lhe ouvidos, e então desceu a um rio próximo. Entrou na água convidando o jovem e levando-o pela mão. Quando eles alcançaram certa profundidade o sábio, pondo todo seu peso sobre os ombros do rapaz, submergiu na água, apesar dos esforços que esse fazia para livrar-se. Por fim o sábio largou-o, e quando o jovem recuperou alento perguntou-lhe:

“Meu filho, quando estavas debaixo d’água o que mais desejavas?”.

O jovem respondeu sem hesitar: “Ar, ar! Eu queria ar!”.

“Não terias antes preferido riquezas, prazeres, poder ou amor, meu filho? Não pensaste em nenhuma dessas coisas?” – Indagou o sábio.

“Não, senhor! Eu desejava ar, só pensava no ar que me faltava” – Foi a resposta imediata.

“Então”, disse o sábio, “para te tornares sábio deves desejar a sabedoria com a mesma intensidade com que desejavas o ar. Deves lutar por ela e excluir de tua vida qualquer outro objetivo. Essa e só essa deve ser, dia e noite, tua única aspiração. Se buscares a sabedoria com esse fervor, meu filho, certamente tornar-te-ás sábio”.

Esse é o primeiro e fundamental requisito que todo Aspirante ao conhecimento oculto deve possuir – um desejo firme, uma sede abrasadora de conhecimento, e um entusiasmo insuperável para conquistá-lo. No entanto, o motivo supremo para a busca desse conhecimento oculto deve ser um desejo ardente de beneficiar a Humanidade, esquecendo-se inteiramente de si mesmo, a fim de trabalhar para os outros. A não ser por essa motivação, o estudo do ocultismo é perigoso.

Sem possuir tais qualificações – especialmente a última – em certa medida, qualquer tentativa para seguir o caminho árduo do ocultismo seria um empreendimento perigoso. Outro pré-requisito para aspirar ao conhecimento direto é o estudo do ocultismo indiretamente. A investigação direta requer certos poderes ocultos que permitem estudar os assuntos relacionados com os estados pré-natal e pós-morte do ser humano, mas ninguém deve se desesperar por não ter desenvolvido ainda poderes ocultos para adquirir conhecimento direto sobre esses assuntos. Assim como uma pessoa pode conhecer a África indo lá pessoalmente ou lendo as descrições de viajantes que ali estiverem, assim também, para conhecer os Mundos suprafísicos, visita-os, se estiver habilitado para fazê-lo, ou estuda o que outros já capacitados contam como resultado de suas investigações.

[2] N.R.: Trecho referente ao assunto: Surge daí a pergunta: Como achar um instrutor autêntico e como distingui-lo de um impostor? É uma pergunta muito importante, porque quando o aspirante encontra tal mestre, pode considerar-se em perfeita segurança e protegido contra a grande maioria dos perigos que cercam aqueles que, por ignorância ou egoísmo, traçam seus próprios rumos e buscam poderes espirituais, mas sem qualquer esforço para desenvolver fibra moral.

É uma verdade axiomática que os seres humanos são conhecidos “por seus frutos” e, como o mestre esotérico exige de seu pupilo desinteresse nas motivações, infere-se justamente que o instrutor deve possuir esse atributo em grau ainda maior. Portanto, se alguém se arvora em ser instrutor e oferece seus conhecimentos em troca de dinheiro, a tanto por aula, mostra assim que está abaixo do padrão que exige de seus discípulos. Alegar que precisa de dinheiro para viver, ou apresentar outros motivos semelhantes para cobrar pelo ensino, tudo não passa de sofismas. As leis cósmicas cuidam de todo aquele que trabalha com elas. Qualquer ensino oferecido em bases comerciais não é ensino superior, porque este jamais é vendido ou envolve considerações materiais, pois, em todos os casos, chega ao recebedor como um direito em função do mérito. Assim, mesmo que o verdadeiro instrutor tentasse negar o ensino a determinada pessoa que o merecesse, pela Lei de Consequência, seria um dia compelido a ministrar-lhe o mesmo.

No entanto, tal atitude seria inconcebível porque os Irmãos Maiores sentem uma grande e indizível alegria toda vez que alguém começa a palmilhar a senda da vida eterna. Por outro lado, embora ansiosos por tal, eles a ninguém podem revelar seus segredos antes que cada um tenha dado provas de sua constância e altruísmo, pois só assim poderá alguém ser um firme guardião dos imensos poderes resultantes, que tanto podem servir ao bem como podem ser usados para o mal. Se permitimos que nossas paixões se imponham descontroladamente, e se a avareza ou a vaidade são as molas de nossas ações, apenas sustamos o progresso de nosso semelhante ao invés de ajudá-lo. E, até que aprendamos a usar apropriadamente os poderes que possuímos, não estaremos em condições de realizar o trabalho ainda maior exigido daqueles que têm sido ajudados pelos Irmãos Maiores a desenvolverem sua visão espiritual latente, e a conseguirem compreensão espiritual, que é o que torna valiosa aquela faculdade como fator de evolução.

Portanto, a “Senda da Preparação” antecede o “Caminho da Iniciação”. A perseverança, a devoção, a observação e o discernimento são os meios de alcançá-lo, porque tais qualidades sensibilizam o Corpo Vital. Através da perseverança e da devoção, os Éteres Químico e de Vida capacitam-se a cuidar das funções vitais do Corpo Denso durante o sono. E uma separação entre estes dois Éteres e os dois superiores – Éter de Luz e Éter Refletor – acontece. Quando os dois últimos se espiritualizam suficientemente mediante a observação e o discernimento, uma simples fórmula dada pelo Irmão Maior capacita o Discípulo a separá-los e a levá-los consigo, à vontade, juntamente com seus veículos superiores. Deste modo, ele fica equipado com um veículo de percepção sensorial e memória. Qualquer conhecimento que possua no mundo material pode, então, ser utilizado nos Reinos espirituais, como também pode trazer ao cérebro físico recordações das experiências por que passou enquanto esteve fora de seu Corpo Denso. Isto nos é necessário para funcionarmos separados do Corpo Denso, plenamente conscientes tanto do Mundo Físico quanto do Mundo do Desejo, pois o Corpo de Desejos ainda não está organizado e, se o Corpo Vital não transferisse suas impressões no momento da morte, não poderíamos ter consciência no Mundo do Desejo durante a existência post-mortem.

Os exercícios respiratórios indiscriminados não produzem a divisão acima descrita, mas apenas tendem a separar o Corpo Vital do Corpo Denso. Por isso, as ligações entre os centros etéricos dos sentidos e as células cerebrais rompem-se ou deformam-se em certos casos, resultando ao final em vários tipos de insanidade mental, como a loucura. Em outros casos, o rompimento ocorre entre o Éter de Vida e o Éter Químico e, como o primeiro responde pela assimilação orgânica dos alimentos e é a avenida particular para a especialização da energia solar, essa ruptura resulta em tuberculose. Somente através de exercícios apropriados pode-se efetuar a separação correta. Quando a pureza de vida permite que a força sexual, que é criadora, gerada no Éter de Vida eleve-se até o coração, essa força encarrega-se de manter a quantidade de circulação necessária ao estado de sono. Deste modo, as funções físicas e o desenvolvimento espiritual correm paralelamente ao longo de linhas harmoniosas.

[3] N.R.: Poema de James Russell Lowell (1819-1891) – poeta romântico, crítico, satírico, escritor, diplomata e abolicionista americano: “A Lenda Formosa” (The Beautiful Legend):

“Sozinho em sua cela,

No chão de pedra ajoelhado,

O monge orava em profunda contrição

Por seus pecados de indecisão.

Suplicava por maior renúncia

Na tentação e na provação;

O mostrador meio-dia já marcava

E o monge em solidão ainda orava”.

“De repente, como num relâmpago,

Algo incomum resplandeceu, afora e no âmago,

E nessa estreita cela de pedra fez abrigo;

Então, o monge teve com o Poder do Clarão

De Nosso Senhor, a Abençoada Visão.

Como um manto, O envolveu,

Como uma veste, O abrigou”.

Contudo, este não era o Salvador açoitado e penitenciado, mas o Cristo que alimenta os famintos e cura os enfermos.

“A alma em preces acalentada,

Cada mão sobre o peito cruzada,

Reverente, adorando, assombrado,

O monge, perdido em êxtase, caiu ajoelhado”.

“Depois, em meio à sua exaltação,

Retumbante o sino do convento em exortação

De seu campanário tangeu, ressoou,

Por pátios e corredores reverberou

Com persistência badalando,

Como nunca antes ousou”.

Esse era o chamado para seu dever cumprir. Como esmoler da Irmandade sua tarefa era alimentar os pobres, tal como Cristo ensinou e exemplificou.

“Profunda angústia e hesitação

Misturavam-se à sua adoração;

Deveria ir, ou deveria ficar?

Poderia os pobres deixar

Famintos no portão a esperar,

Até a Visão se dissipar?

Poderia ele seu brilhante hóspede desprezar?

Seu visitante celestial desconsiderar

Por um grupo de míseros esfarrapados,

Mendicantes no portão do convento sediados?

Será que a Visão esperaria?

Será que a Visão retornaria?

Então, dentro do seu peito uma voz

Audível e clara sussurrou,

E ele, nitidamente escutou:

Cumpre teu dever sem inquietação ou protesto,

Deixa aos cuidados do Senhor o resto!”.

“Imediatamente ergueu-se resoluto,

E com um olhar ardente, decidido e arguto

Dirigido à Abençoada Visão,

Lentamente A deixou em sua cela na solidão,

Diligentemente foi cumprir sua missão”.

“No portão, os pobres estavam esperando

Através do gradil de ferro observando,

Com terror no semblante

Que só se vê no suplicante

Que em meio a desgraças e desditas

Ouve o som das trancas lhe cerrando as portas,

Pobres, por todos desprezados,

Com o desdém, familiarizados,

Com o dissabor, acostumados,

Buscam o pão pelo qual muitos sucumbem!

Mas hoje, sem o motivo sequer saberem bem,

Tal como Portal do Paraíso no além

Abre-se a porta do convento!

E como um divino Sacramento

Parecia-lhes o pão e o vinho nesse momento!

Em seu coração o Monge estava orando,

Nos pobres sem teto pensando,

Tudo que sofrem e suportam

E vendo ou ignorando, muitos rejeitam.

Enquanto isso uma voz interna ao Monge dizia:

O que quer que faças

Ao último e menor dos meus,

A Mim o fazes!”.

“A Mim! Mas se tivesse a Visão

Se apresentado em farrapos e errante,

Como um desvalido suplicante,

Ter-me-ia ajoelhado em adoração?

Ou A receberia com escárnio e presunção

E até ter-me-ia afastado com aversão”.

“Assim questionou sua consciência,

Com insinuações e incômoda insistência,

Quando, por fim, com passo apressado

Dirigindo-se à sua cela com ânsia,

Seus olhos contemplaram o convento iluminado

Por uma luz sobrenatural inundado,

Como uma nuvem luminosa se expandindo

E sobre o chão, paredes e tetos subindo”.

“Mas, assombrado parou a extasiar,

Da porta contemplou, no limiar!

A Visão que lá permanecera,

Exatamente como antes A deixara

Na hora em que o sino do convento soou,

De seu campanário clamou, clamou,

E para os pobres alimentar o intimou.

Por longa e solitária hora esperara,

Seu regresso iminente aguardara.

O coração do Monge ardeu

Quando Sua mensagem compreendeu,

Logo que o Vulto Amado deixou esclarecido:

Eu teria desaparecido

Se tu tivesses permanecido!”.

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