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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Nosso Próprio Reflexo

O nosso mundo interior é refletido por nossos pensamentos, sentimentos, nossas emoções, palavras, ações, obras e nossos atos. O observador perspicaz sabe disso. Nos Evangelhos encontramos a evidência dessa verdade na citação: “Pois a boca fala do que está cheio o coração” (Mt 12:34).

Frequentemente, agimos de modo ambíguo, por isso somos incoerentes, semelhantes aos fariseus que se amoldavam à conveniência das circunstâncias: “Pode jorrar, de uma mesma fonte, água doce e amarga?” (Tg 3:11).

Curioso é observar que não suportamos nossos próprios defeitos e os projetamos sobre os outros. Geralmente, o mais malicioso é que vê e critica a malícia no semelhante; o desonesto (em algum âmbito obscuro para ele) é o que mais condena o roubo. É um grito estrangulado da consciência que está sempre em busca de apontar a verdade que também está no nosso interior. Quando tentaram o Cristo, com a mulher adúltera (e os fariseus trouxeram apenas a mulher, quando a Lei prescrevia o mesmo castigo ao homem que adulterava com ela), Ele os desconcertou com o conhecimento que tinha da natureza humana. “Aquele que estiver isento de pecado, seja o primeiro a atirar a pedra” (Jo 8:7) . E diz a tradição que o Mestre, tranquilamente reclinado sobre o solo, escrevia com uma vara sobre a areia, em que cada fariseu via escritos seus defeitos pessoais. Certamente é um símbolo da consciência que, dentro de cada um, ia clamando seus defeitos para arrasar a pretensão de juiz daquela mulher.

Qualquer pessoa que estudou um pouco a Filosofia Rosacruz compreende o quão necessário se torna o autoconhecimento. Nenhuma elevação espiritual é possível sem essa condição. À medida que vamos nos conhecendo, pela prática dos Exercícios Esotéricos Rosacruzes de Observação e de Discernimento e do Exercício Esotérico noturno de Retrospecção, prescritos pela Fraternidade Rosacruz, vamos consolidando e fortalecendo aquilo que aprendemos. Consideramos esse conhecimento e, subsequentemente, o domínio de si mesmo, como a pedra fundamental do progresso interno e da felicidade. Goethe, o grande Iniciado, criador de “Fausto” o definiu bem: “O homem se liberta de todas as limitações que o encandeiam, apenas quando alcança o domínio de si mesmo”. E Cristo mostra o caminho: “Conhecereis a verdade e a Verdade vos libertará” (Jo 8:32).  Essa máxima representa a Verdade que está dentro de nós, pela sujeição de tudo a nós, o Ego, o “Eu Superior”. Nenhuma ciência, nenhum conhecimento, nenhuma arte ou posse representa uma finalidade na vida. Tudo tem valor, na medida em que se incorpore e expresse o que há de espiritual em nós.

Em síntese e reproduzindo S. Paulo: temos uma Mente carnal e uma Mente espiritual, um Corpo de Desejos, dividido em uma parte inferior e outra parte superior. Aqui residem as origens de nossas controvertidas expressões. Nós, o Ego, concebemos a ideia, mas quando ela se reveste de uma forma na Região do Pensamento Concreto, sofre a influência escravizante do Corpo de Desejos, que se unindo à Mente, desde a Época Atlante, formou em nós uma espécie de “alma animal”.

Mas, não basta conhecer a Verdade. Ela apresenta a solução, mas, é mister alcançá-la. Como nos libertar e nos regenerar, nos tornando, de novo, à condição de ser espiritual, filho e herdeiro de Deus?

O livro “Conceito Rosacruz do Cosmos” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz, em sua última parte expõe magistralmente essa questão. Tudo se resume na prática dos Exercícios Esotéricos Rosacruzes recomendados e num persistente esforço de repetir o bem na vida diária. Em verdade, aquilo que em nós vê o defeito e o mal nos outros, é o lado inferior. O lado superior possui apenas a Força de Atração, simpatia, o amor, a filantropia, o Poder Anímico, a Força Anímica, a Vida Anímica e de todas as demais qualidades superiores da vida. Por isso vê apenas o bem, o amigo, o semelhante, o espírito e a essência que, unido a nós e a todos, forma a Onda de Vida humana ou Hierarquia Criadora de Peixes (aos Espíritos Virginais da Onda de Vida humana em evolução), Filhos de Deus, transitoriamente diferenciados na cor da pele e nas condições externas.

O Aspirante à vida superior deve se esforçar diariamente para sublimar seu “eu inferior”. Se for permissivo a ponto de deixar suas condutas ditadas pelo lado inferior, poderá ser comparado a um animal irracional. Em verdade, o ser humano dominado por sua Personalidade se torna inferior aos próprios animais.

A Onda de Vida humana é racional e detentora de uma Mente. Essa deve ser exercitada e espiritualizada. O Estudante Rosacruz está vigilante para essa verdade. Não se expõe à insensatez pela imposição, aos outros, de suas ideias. Tão pouco sofre sem proteções a insensatez dos outros. Em todas as suas ações procura ser prudente, sábio, amoroso e justo, expressando o que tem de superior. Apenas assim, poderá se elevar e, ao mesmo tempo, elevará os demais, edificando e perfumando todos os ambientes em que passar

(Publicado na Revista Rosacruz – janeiro/1966 – Fraternidade Rosacruz-SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Cura e as Vibrações Astrais

A Astrologia Rosacruz nos informa que a sexta Casa de um horóscopo está associada à doenças, enfermidades e à saúde, e o Regente natural desse departamento da vida é o Signo de Virgem, o símbolo da pureza e do serviço.

O maior de todos os curadores, Cristo, nasceu de uma virgem (pureza e serviço), e toda a vida d’Ele foi trilhada por esses preceitos.

Observemos agora outro Signo que está relacionado com a cura: Escorpião.

Vemos esse Signo representado por um escorpião (animal rastejante) e pela águia (animal que voa), ou mesmo pela fênix (ave que, mitologicamente, consegue ressurgir das próprias cinzas) e devemos nos esforçar e trabalhar internamente para que possamos elevar “nosso escorpião” (pois todos nós o temos em nosso horóscopo, em alguma Casa em particular) do nível rastejante à águia ou fênix, que sulca os céus cheia de majestade, alcançando a regeneração, palavra essa, intimamente associada à Hierarquia Planetária de Escorpião.

Dessa forma, trabalharemos espiritualmente para que nossa sexta Casa, a Casa da saúde (Virgem) seja regenerada (Escorpião).

É interessante notar que entre os Signos de Virgem (pureza e serviço) e Escorpião (regeneração) encontra-se Libra, como que formando uma ponte celestial, unindo-os. O Signo de Libra está associado ao equilíbrio e à justiça, atributos esses que devemos cultivar em nosso íntimo.

Interessante também notar como está sendo difundido entre a classe médica o axioma hermético: “a cura está intimamente associada à mudança de hábito”.

É inquestionável que determinados hábitos trarão consequências nocivas à nossa saúde: bebidas alcoólicas, tabaco (qualquer que seja o tipo, inclusive as drogas), vida sedentária, alimentação inadequada e outros conhecidos maus hábitos.

Contudo há outra mudança de hábito que não deve ser descuidada, a que diz respeito aos nossos desejos, emoções, sentimentos e, dado a nossa Mente estar “contaminada” pelo Corpo Desejos, os nossos pensamentos. A medicina já comprovou que pessoas pessimistas, tristes, magoadas, tensas, nervosas, invejosas, mentirosas, orgulhosas, raivosas, impacientes, intolerantes, gulosas, avarentas, sovinas, coléricas, egoístas e afins possuem uma tendência à queda do sistema imunológico e, consequentemente, tendência a ficarem enfermas ou doentes.

Servindo amorosa e desinteressadamente – portanto o mais anonimamente possível – o irmão e a irmã ao seu lado, esquecendo os defeitos deles e buscando servir a divina essência que está oculta em cada um de nós, e que é a base da Fraternidade (Aspectos benéficos do Signo de Virgem) e vivendo uma vida equilibrada (Aspectos benéficos do Signo de Libra) alcançaremos nossa regeneração (Aspectos benéficos do Signo de Escorpião). Essa é a receita!

(Publicado no Ecos da Fraternidade Rosacruz-SP de maio-junho/2002-Colaboração do Centro Rosacruz de Santo André-SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Atividade, a Essência da Saúde

Indolência é uma palavra feia. Está intimamente associada à estagnação e à decadência e essas são palavras repulsivas para a Mente saudável. A indolência é a precursora da decadência e da morte. A atividade é o promotor do crescimento, do desenvolvimento e da força. Isso é verdade para o sistema muscular, para todos os órgãos do Corpo Denso e para o sangue, que é a vida. Também é verdade para o cérebro; um cérebro não pode ser alimentado com sono e ser saudável e forte; para triunfar, requer ainda mais exercício do que o Corpo Denso. A inatividade causa a degeneração do Ego e do Corpo Denso.

O Corpo Denso foi feito para ser ativo e o bem-estar do corpo exige isso. A natureza é o melhor exemplo de atividade. A natureza nunca adormece no sentido de desperdício ou improdutividade. Nos meses frios, ela está ocupada armazenando energia para os meses produtivos.

As grandes e pequenas criaturas vivem vidas ativas, ensinando a nós o valor do tempo e a brevidade da vida. Quem não observou os pássaros quando chegam a primavera? Começam a construir os seus ninhos, porque a Terra continua a se mover, sem perder um único segundo de tempo e, assim, e em breve, chegarão os dias em que terão de procurar climas mais quentes. A abelha há muito que é vista nós como uma criatura de atividade e indústria. A abelha é a própria encarnação da atividade e não tolera a indolência. Ela segue o ditado bíblico: “Quem não trabalhar também não comerá”; mas, no caso da abelha temos: “Quem não trabalhar também não viverá”.

Mas, há outro lado da vida ativa e completa. Tal como a saúde do Corpo Denso e do Ego não pode ser saboreada na ausência de uma vida ativa, também a felicidade e o contentamento não podem existir num ambiente de ociosidade. Parece que a inatividade enche o Corpo Denso com uma matéria estranha que envenena a felicidade, pois se somos ociosos não podemos ser felizes. Vemos outro exemplo disso novamente na Natureza. As aves na época do acasalamento, quando estão mais ativas, são felizes e cheias de canto. A miséria e a ociosidade caminham juntas, enquanto a felicidade e o contentamento acompanham uma vida ativa. Se todos os que estão cansados da monotonia da existência saíssem da luxuosa ociosidade, a vida teria um encanto e os dias seriam muito curtos em vez de ser muito longos.

A ociosidade tem sanções que afetam a nossa própria existência. A ação é a lei do nosso ser, é a lei do crescimento. A ociosidade é fraqueza; a ação é tão favorável ao crescimento físico e mental como o simples fato de dormir em um ginásio o é para a força de um atleta. O trabalho gera força, enquanto a ociosidade é perda de força. Até o menor talento se desvanecerá se não for utilizado. O poder de fazer as coisas deserda a pessoa, quando ela não age. Quando a energia é desligada, a máquina para; quando ficamos ociosos e nos esquivamos da nossa responsabilidade de trabalhar, a energia nos abandona. Nunca se deve permitir que o poder mental diminua. A perda de energia, a falta de confiança e uma capacidade executiva deficiente são os castigos.

O ocioso é um inadaptado, porque fica estacionário em um mundo ativo e se torna impotente, porque a Natureza lhe retira o talento que possuía. Aquele que abandona a vida ativa pela aposentadoria – por exemplo – apresenta um triste espetáculo, porque a infelicidade e não o prazer é o resultado inevitável. A classe ociosa apresenta uma vista infeliz. O trabalhador pode ser pobre, mas feliz; o ocioso pode ser rico, mas miserável. Ele não se encaixa na Natureza; está fora de harmonia com Deus e com o ser humano. O segredo da saúde e da felicidade é a atividade.

Todo o nosso ambiente, ao nosso redor, fala de atividade, de desenvolvimento, de utilidade; ensina-nos que devemos utilizar o tempo, devemos prestar atenção e respondermos aos monitores e às sirenes da atividade que nos rodeiam. A indolência é um crime que a Natureza não perdoa. Devemos trazer no nosso Corpo Denso as marcas da inatividade. Porque, com isso, rouba o nosso Corpo Denso e o nosso cérebro; nosso Corpo Denso não pode ser forte e saudável nem o nosso cérebro, desenvolvido. O Corpo Denso se fortalece com exercício, assim como o cérebro se fortalece e expande com a expressão do pensamento que criamos, como Egos.

Será que a Natureza perdoa esse crime de indolência? Não! Temos que confessar os nossos pecados; temos que ser obedientes; temos que limpar o nosso “Templo de Deus”, porque a Doutora Natureza sabe o que é melhor. A Natureza é o único “médico” verdadeiro; devemos então obedecê-la e começar a trabalhar.

O exercício mantém o Corpo Denso jovem ao promover a flexibilidade de todos os músculos e articulações. O exercício mantém o Corpo Denso saudável ao evitar a estagnação e expulsar as matérias estranhas do Corpo. Para saborear o maior grau de saúde, todos os órgãos, músculos e ligamentos do Corpo Denso devem ser exercitados, não só os membros, mas também a maquinaria interna. É aqui que o verdadeiro exercício tem valor. Quando deixamos de nos exercitar, a “idade se faz sentir”: músculos flácidos e articulações rígidas são alguns dos resultados e dos castigos.

O cérebro deve ser exercitado regularmente para se desenvolver e se manter jovem. Em pouco tempo o Corpo Denso e o cérebro enfraquecem, se forem negligenciados. Certamente é um crime matar o cérebro de fome, enfraquecer esse órgão maravilhoso com o qual Deus tanto nos abençoou. Tal como o Corpo Denso enfraquece sem exercício, também o cérebro enfraquece, caso não seja mantido ativo. Tão importante é o exercício e o uso adequado do cérebro, que cada um de nós deve prestar contas no grande julgamento pelo uso do tempo e do talento. Seremos obrigados a prestar contas rigorosas pela condição do “Templo de Deus”, o Corpo. Uma recompensa só pode ser concedida a um Templo limpo, incluindo o Corpo Denso e o cérebro.

O caminho que leva para cima é difícil de escalar. Significa trabalho árduo; mas, na escalada, ganha-se força, energia, coragem, persistência e consistência; o sucesso nos espera e o prazer na escalada é o companheiro diário. “Tudo que a tua mão encontrar para fazer, faça com a tua força” (Ecl 9:10). Há poder no trabalho. Aquele que não trabalha com o coração no seu trabalho não trabalha bem nem age bem.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de outubro/1920 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Carta de Max Heindel: O que o Discípulo pode esperar do Mestre

Janeiro de 1914

Cristo disse: “Pelos seus frutos os conhecereis”[1]. Suponhamos que ervas daninhas pudessem falar. Acreditaríamos em suas pretensões se elas declarassem serem parreiras? Certamente não; nós procuraríamos os seus frutos. E, a menos que elas fossem capazes de produzirem uvas, os protestos delas – não importa quão vociferantemente os pudessem fazer – não nos causariam impressão. Nós somos suficientemente sensatos em assuntos materiais para nos precavermos contra decepções; então, por que não aplicamos o mesmo princípio para outros departamentos da vida? Por que não usar sempre o bom senso? Se assim fizéssemos, ninguém nos poderia impor os seus pontos de vista em assuntos espirituais, pois cada reino da natureza é governado por uma lei natural, e a analogia é a chave mestra para todos os mistérios e uma proteção contra as decepções.

A Bíblia nos ensina muito, mas muito claramente, que nós devemos testar e provar os espíritos e julgá-los de acordo[2]. Se fizermos isso, nunca seremos enganados por pretensos mestres; e salvaremos a nós mesmos, aos nossos familiares e aos conhecidos – inclusive da Fraternidade Rosacruz – de muita tristeza, muita angústia, muita dor e de muita ansiedade, inquietação e aflição.

Vamos, então, analisar a questão e vejamos o que temos o direito de esperar de quem pretende ser um mestre. Para isso, devemos, primeiramente, nos fazer a pergunta: “Qual é o propósito da existência no universo material?”. E podemos responder a essa pergunta dizendo que é a evolução da consciência. Durante o Período de Saturno, quando a nossa constituição era semelhante à dos minerais, a nossa consciência era como a de um médium expulso do seu corpo por Espírito de Controle em uma reunião se evoca espíritos desencarnados para se materializar, onde uma grande parte dos Éteres, que compõem o Corpo Vital, foi removida. Então, o Corpo Denso está em um transe muito profundo. No Período Solar, quando a nossa constituição era semelhante à das plantas, a nossa consciência permanecia como no estado de sono sem sonhos, no qual o Corpo de Desejos, a Mente e o Espírito estão do lado de fora, deixando o Corpo Denso e o Corpo Vital em um leito ou em um lugar dormindo. No Período Lunar, tivemos uma consciência pictórica, correspondente ao sono com sonhos, quando o Corpo de Desejos está apenas parcialmente removido do Corpo Denso e do Corpo Vital. Agora, aqui no Período Terrestre, a nossa consciência foi ampliada para abarcar objetos fora de nós próprios, mediante uma posição concêntrica de todos os nossos veículos, como acontece quando estamos acordados.

Durante o Período de Júpiter, os Globos sobre os quais progrediremos estarão situados de forma semelhante ao que estavam no Período Lunar. E a consciência pictórica interna que, então, possuiremos será exteriorizada, pois o Período de Júpiter está no arco ascendente desse Esquema de Evolução. Assim, em vez de ver as imagens dentro de nós mesmos, poderemos, quando falarmos, projetá-las sobre a consciência daqueles a quem nos dirigimos.

Por conseguinte, quando alguém se intitula um Mestre, ele deve ser capaz de fundamentar sua afirmação dessa maneira, pois os Mestres verdadeiros, os Irmãos Maiores, que estão agora preparando as condições de evolução que devem ser obtidas durante o Período de Júpiter, têm a consciência pertinente àquele Período. Portanto, eles são capazes, e sem esforço algum, de utilizar essa linguagem pictórica externa e, assim, imediatamente dão evidências claras de sua identidade. Somente eles são capazes de guiar outros com segurança. Aqueles que não se desenvolveram a tal ponto, mesmo que possam estar até iludidos a seu próprio respeito e até imbuídos de boas intenções, não são dignos de confiança, e não devemos lhes dar crédito. Esta é uma aferição absolutamente infalível; e as pretensões de quem não pode mostrar seus frutos não tem maior valor do que a erva daninha mencionada daninhas mencionadas no nosso parágrafo inicial.

Todos os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz possuem esse atributo; e eu confio que nenhum dos nossos Estudantes, no futuro, se deixará enganar em seguir exercícios ou passar por cerimônias planejadas por qualquer pessoa que não seja capaz de produzir o fruto, e evocar imagens vivas na consciência daqueles com quem ele fala.

(Carta nº 38 do livro “Cartas aos Estudantes” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)


[1] N.T.: Mt 7:16

[2] N.T.: IJo 4:1

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Poder do Amor

“O Amor nasce do Pai eternamente, dia a dia, hora a hora, impregnando constantemente o Universo Solar para nos redimir do mundo da matéria que nos mantém presos à morte. É impelido do Sol, onda a onda para todos os Planetas, estimulando ritmicamente todas as criaturas que neles evoluem” (Livro “Coletâneas de um Místico” – Max Heindel-Fraternidade Rosacruz)).

Tal é a natureza do Amor Cósmico que nos faz estremecer, e que um dia, eventualmente, todos nós seremos capazes de emanar também; temos plena consciência desse Amor Cósmico, a mais sublime das emoções, que nos é oferecida por meio do Cristo recém-nascido no Natal de cada ano.

O nascimento místico de Cristo, repleto da nova vida e do Amor do Pai, é nos dados para nos salvar da fome física e espiritual que nos destruiria se não fosse essa dádiva anual de Amor.

O Amor que faz pulsar os corações de todos os sistemas religiosos, independentemente das divergências que possam aparentar, é a pedra de toque de toda a criação.

A maneira como cada um de nós, participante do processo evolutivo, é receptivo e responde ao Amor, e aprende eventualmente a transmiti-lo, determina o nosso grau e nível de ascensão na escada do desenvolvimento (desde a completa ignorância até a total consciência; depende de nós). A maioria de nós conhece o que considera “amor” sob três formas.

Primeiro, a paixão marciana, a luxúria que não tem nada a ver com a faceta espiritual do Amor.

Segundo, o amor pessoal de Vênus, a que a maior parte de nós responde. É uma forma de amor egoísta, separatista e exclusivista.

Finalmente, o altruísmo uraniano – o amor que engloba todos os seres igualmente e que Cristo veio nos ensinar, como a palavra-chave do Seu reino, que ultrapassa a concepção ou os limites da compreensão de grande parte de nós.

O amor ao nosso “semelhante”, ou seja, o amor a todos os nossos irmãos e nossas irmãs, é o mandamento supremo e ultrapassa todas as leis do passado. Cristo-Jesus foi claro ao nos deixar a mensagem de que as Leis da Religião de Raça haviam servido a seu objetivo, mas que, a partir de então, todas as Leis passariam a ser subordinadas ao Amor. Atingimos um ponto da sua evolução em que nos foi pedido que aprendêssemos a fazer o bem por amor ao bem, e não por receio das consequências dos nossos erros. “O Amor perfeito elimina todo o medo.” (IJo 4:18) – quando aprendermos a irradiá-lo, de nós próprios, fará bem a nós e ao nosso semelhante, automaticamente.

O Amor é a força criadora que emanamos a fim de criar outro ser. Os Anjos projetam todo o seu amor, sem desejo ou egoísmo, e são banhados em troca pela corrente da Sabedoria Cósmica. Projetamos apenas uma parte do nosso amor e guardamos o resto, utilizando-o na construção dos nossos órgãos de expressão interno e no nosso próprio aperfeiçoamento. Desse modo o amor que conseguimos expressar se tornou egoísta e sensual. Usando parte do poder criador da nossa alma, amamos egoisticamente, porque necessitamos de outra pessoa para colaborar no processo de propagação da espécie humana (se todos resolvessem não ter mais filhos – o que é impossível, pois “os Anjos do Destino estão acima de todos os erros e dão a cada um e a todos exatamente o necessitam para o seu desenvolvimento” – não teríamos mais a espécie humana nesse Planeta.). E com a outra parte do poder criador usamos para expressar nossos pensamentos aqui na Região Química do Mundo Físico, embora também por razões egoístas, pois a nossa ambição é obter mais conhecimentos.

Temos agora a responsabilidade de nos purificar do pecado, do egoísmo. Só quando o fizermos é que compreenderemos e seremos capazes de exprimir o Amor Altruísta e Espiritual – o Amor Crístico.

A vida é o que temos de mais precioso, pois “Não há Amor maior do que o do ser humano que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15:13). Ao cultivarmos o altruísmo, aprendemos, figurativamente, a dar a nossa vida, a sacrificar o “Eu pessoal” – “eu inferior” – pelo nosso semelhante, atingindo o estado do Amor Crístico.

Atualmente, a razão nos controla, aliando-se à causa da natureza de desejos, emoções e sentimentos. Essa soberania terá de ser sucedida pela do amor que, presentemente, age independentemente (e por vezes, contrariamente) aos ditames da razão. Na Sexta Época (a próxima), na Nova Galileia, o que chamamos de Amor não será egoísta e a razão servirá à causa da Fraternidade Universal, e aprovará o que o Amor lhe ditar. Todos trabalharão para o bem comum, pois o interesse egoísta terá desaparecido para sempre.

Assim, o Estudante Rosacruz que procura acelerar a sua evolução deve aprender, desde agora, a ambicionar apenas aquele amor “que é da alma e que envolve todos os seres vivos, superiores e inferiores, e que aumenta em proporção direta às necessidades daquele que recebe” (como estudamos no Conceito Rosacruz do Cosmos – Max Heindel-Fraternidade Rosacruz). O amor de indivíduos, que exclui outros, terá pouco a pouco de ser substituído pelo amor do todo. Os ensinamentos espirituais do passado requeriam que amássemos nossos familiares e, embora essa exortação continue sendo válida ainda hoje, os ensinamentos mais recentes nos dizem que ampliemos esse amor partilhando-o com toda a “família humana”.

Infelizmente, é vulgar que a Mente humana confunda o “amor” com a “paixão”. O primeiro, porém, nada tem a ver com a segunda, como se pode claramente depreender da ópera “Parsifal” (ópera de três atos do com a música e libreto do compositor alemão Richard Wagner, muito estudada no Curso Suplementar de Filosofia Rosacruz), em que esse diz a Kundry que representa o Corpo Denso: “perderíamos a eternidade se cedesse a ti, nem que fosse só por uma hora… assim, vou salvar-te e libertar-te da maldição da paixão, pois a amor que te consome é sensual, apenas; entre ele e o amor verdadeiro dos corações puros existe um abismo tão grande como entre o céu e o inferno”.

Sabemos, também, que as crianças geradas num momento de paixão ardente e sem amor, ou sob a ira ou a embriaguez, têm probabilidades de nascer com veículos mais fracos e uma vida mais curta do que aquelas geradas em condições de harmonia e de verdadeiro amor. O Corpo Vital, que é o veículo do amor, determina o desenvolvimento e a formação do Corpo Denso.

É infinitamente melhor ser capaz de sentir e exprimir o amor do que o definir. Podemos pregar e exortar outros a amar, mas, enquanto não tivermos aprendido verdadeiramente a arte de amar como Cristo amou, não nos encontraremos mais perto de sua realização do que agora. Podemos fazer os nossos Exercícios Esotéricos Rosacruzes fielmente; podemos oficiar todos os Rituais Rosacruzes, mas os resultados serão nulos se não forem constantemente acompanhados de atos de amor Crístico! A expressão intensa do amor na sua forma de serviço amoroso e desinteressado (portanto, o mais anônimo possível), esquecendo os defeitos dos outros, e focando na divina essência oculta – que é a base da Fraternidade – aumenta a densidade fosforescente dos dois Éteres superiores do nosso Corpo Vital. Assim construímos o nosso Corpo-Alma.

A sabedoria, a expressão do princípio Crístico, só é possível quando o conhecimento estiver aliado ao amor. E só quando essa união for consumada é que teremos a certeza de que as nossas ações terão o único fim de promover o bem comum e não (muito embora apenas inadvertidamente) os nossos fins egoístas.

O Poder do Amor é bem conhecido de todos. Não se opõe nunca aos planos de Deus; e consegue inspirar pessoas a fazer esforços para os quais nunca se supuseram capazes. É uma força que age tão perfeitamente por meio da expressão de objetivos criadores humanos, como de criações cósmicas. É um agente de transformação que, quando encontra a sua forma de expressão adequada, ultrapassa todas as formas do mal e transmuta o próprio ódio em Amor.

Deus é Amor, e se amamos uns aos outros, Deus está em nós e nós n’Ele” (IJo 4:12).

O verdadeiro Amor é divino e descreve a solidariedade de “Espíritos livres”. A paixão é diabólica e o que a ela cede se torna escravo do pecado. Eis o princípio em que se baseia a exortação de amar segundo o Espírito (o Ego) e não segundo a “carne”.

Temos, pois, de aprender a elevar o amor do âmbito passional ao Reino Espiritual, a fim de permitir a igualdade entre o homem e a mulher. Embora a “supremacia masculina” não represente o peso social que foi no passado (apesar de ainda existir e em muitos lugares e situações com a tal supremacia do passado), é necessário que nos lembremos de que os opressores de uma época serão os oprimidos da época seguinte (pois renascemos alternadamente: uma vez homem, outra vez mulher) e que, portanto, só nos elevaremos quando a igualdade total dos sexos deixar de ser um conceito hipotético e se tornar um fato real e concreto.

Atualmente, a ciência médica considera o coração como um músculo involuntário, constituído ao longo do comprimento, pelas fibras que se encontram geralmente nesse tipo de músculo. Contudo, o aparecimento de fibras horizontais tem deixado os cientistas perplexos, pois desconhecem que elas significam o controle que o Ego eventualmente terá sobre o coração. Ao manifestar-se cada vez mais o princípio do amor altruísta essas fibras horizontais se tornarão mais numerosas e nós, Ego, poderemos, então, atingir a soberania do coração com maior facilidade, e um dia saberemos regular a quantidade de sangue necessária ao cérebro, alimentando o lado dedicado a atividades altruístas e filantrópicas e deixando “à mingua” o outro, que se dedica a fins meramente egoístas. Assim, a circulação sanguínea passará eventualmente a ser controlada unicamente pelo unificante Espírito de Vida – um dos nossos três veículos superiores –, o Espírito do Amor, enquanto os centros de expressões dos pensamentos egoístas, que usamos hoje, serão atrofiados.

(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – março/1985 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Não se detenha na Comemoração Histórica do Natal

Além das luzes que feericamente enfeitam as ruas, as vitrines e as casas; além dos enfeites variados, haja a luz de uma compreensão maior em você, que o (a) capacite ao viver fraternal.

Além dos cânticos de louvor, entoe seu coração um hino de gratidão a Deus e ao Cristo, por todos os dons maiores e menores que lhe proporcionaram no ano que passou.

Além da leitura dos Evangelhos Segundo São Mateus[1] e Segundo São Lucas[2], respectivamente, acerca do Nascimento de Jesus, na Noite Santa, compreenda que somos Cristos em formação. Portanto, abençoe todas as vicissitudes e êxitos, as alegrias e tristezas, discernindo as causas para decididamente agir melhor no futuro.

Faça um inventário do ano e liberte seu passado, extraindo-lhe a experiência, para utilizá-la, aqui e agora mesmo, em seu crescimento de consciência.

Além dos presentes, haja, sobretudo, o propósito de dar de si mesmo (a) em cada coisa que oferece ou faz, tudo atribuindo ao seu Cristo interno. Com isso, as tarefas mais simples se tornarão riquezas celestiais.

Aja e cante de sua própria consciência, advertindo-o (a) de todas as fraquezas para com Ele.

Além do presépio, haja a humilde receptividade, de seu íntimo, à manifestação do Cristo que deseja nascer em você, quando já estiverem domesticados os animaizinhos de seus instintos.

Além de uma mesa farta e festiva, haja em você o sincero intuito de abster-se, na Noite Santa, de tudo o que fira o espírito de Natal: troque a alegria ruidosa do efeito alcoólico, pelo júbilo puro dessa comemoração; troque os holocaustos sangrentos – como dos tempos pré-cristãos – por pratos sadios, lembrando a recomendação bíblica “quero misericórdia e não sacrifícios”.

Procure manter a Mente e o Coração sintonizados com o Cristo que nos visita, em vez de entreter-se com conversas vazias. No entanto, respeite os outros. A mera abstenção dessas coisas não santifica a mesa Natalina. Há mesas com bebidas alcoólicas e carne animal mais harmoniosas do que mesas sem eles. Essa abstenção tem valor como complemento de um íntimo devoto.

Compreenda igualmente os que cantam: “Adeus ano velho, feliz ano novo, muito dinheiro no bolso, saúde para dar e vender”. De sua parte, você saberá que todas as coisas são consequências do íntimo e, por isso, tratará de formar uma consciência digna de uma vida mais ampla, de justo uso das coisas.

Realize o espírito de Natal para estar realmente NOVO. Então poderá começar outro ano em nível de consciência mais elevado. Só assim o próximo ano lhe será um ano realmente NOVO!

Para terminar: recolha, pelo íntimo receptivo e puro, as bênçãos do Natal, para distribuí-las em cada dia do ano que vem, numa profícua sementeira, a fim de oferecer, no próximo Natal, as primícias de seu espírito Natalino.

Desejamos que o Cristo nasça em você!

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – dezembro/1976 – Fraternidade Rosacruz-SP)


[1] N.R.: Mt (1:19-25): 18A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, comprometida em casamento com José, antes que coabitassem, achou-se grávida pelo Espírito Santo. 19José, seu esposo, sendo justo e não querendo denunciá-la publicamente, resolveu repudiá-la em segredo. 20Enquanto assim decidia, eis que o Anjo do Senhor manifestou- se a ele em sonho, dizendo: “José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. 21Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo dos seus pecados”. 22Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor havia dito pelo profeta: 23Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e o chamarão com o nome de Emanuel, o que traduzido significa: “Deus está conosco”. 24José, ao despertar do sono, agiu conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em casa sua mulher. 25Mas não a conheceu até o dia em que ela deu à luz um filho. E ele o chamou com o nome de Jesus.

[2] N.R.: Lc (2:1-20): 1Naqueles dias, apareceu um edito de César Augusto, ordenando o recenseamento de todo o mundo habitado. 2Esse recenseamento foi o primeiro enquanto Quirino era governador da Síria. 3E todos iam se alistar, cada um na própria cidade. 4Também José subiu da cidade de Nazaré, na Galileia, para a Judéia, na cidade de Davi, chamada Belém, por ser da casa e da família de Davi, 5para se inscrever com Maria, sua mulher, que estava grávida. 6Enquanto lá estavam, completaram-se os dias para o parto, 7e ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o com faixas e reclinou-o numa manjedoura, porque não havia um lugar para eles na sala. 8Na mesma região havia uns pastores que estavam nos campos e que durante as vigílias da noite montavam guarda a seu rebanho. 9O Anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor envolveu-os de luz; e ficaram tomados de grande temor. 10O anjo, porém, disse-lhes: “Não temais! Eis que eu vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo: 11Nasceu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo-Senhor, na cidade de Davi. 12Isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido envolto em faixas deitado numa manjedoura”. 13E de repente juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste a louvar a Deus dizendo:14“Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele ama!”.15Quando os anjos os deixaram, em direção ao céu, os pastores disseram entre si: “Vamos já a Belém e vejamos o que aconteceu, o que o Senhor nos deu a conhecer”. 16Foram então às pressas, e encontraram Maria, José e o recém-nascido deitado na manjedoura. 17Vendo-o, contaram o que lhes fora dito a respeito do menino; 18e todos os que os ouviam ficavam maravilhados com as palavras dos pastores. 19Maria, contudo, conservava cuidadosamente todos esses acontecimentos e os meditava em seu coração. 20E os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, conforme lhes fora dito.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Símbolos e Emblemas: qual a diferença entre eles e para que servem

Em todas as atividades filosóficas religiosas aparecem, frequentemente, os símbolos. O esoterista conhece um bom número deles e, por isso, pode interpretar logicamente os mitos. O Cristão esoterista sabe que a Bíblia não é um “livro aberto”. Ao contrário, é um compêndio riquíssimo, composto pelos Anjos do Destino, com tal Sabedoria que pode ser interpretada validamente por muitos modos. Podemos fazer uma ideia disso, pela citação de S. Paulo apóstolo, em uma de suas Epístolas: “a história de Sara e Agar é simbólica[1]. “Cristo-Jesus dizia falar por meio de parábolas, a fim de que, ouvindo-o, não o entendessem”. Em outra passagem, S. Paulo, pedagogicamente, afirma: “aos pequeninos na doutrina damos leite; aos adultos, alimento sólido[2]. Pelo exposto vemos que os livros mais profundos se constituem de “chaves” ou “mistérios” que vão sendo desvelados pelos seres humanos, na medida de sua iluminação interna.

Realmente, todas as coisas criadas devem ser consideradas de um duplo ponto de vista: espiritual e material. O Cristão-cientista leva evidente vantagem na compreensão de tudo, porque tem essa visão global. Ele sabe que o plano espiritual é o mundo das causas e o material, o dos efeitos. A visão do materialista é parcial e defeituosa, sendo amiúde induzido a erros. Também o Cristão místico muitas vezes se engana, porque dedica pouca atenção às leis da matéria. O ideal é a fusão da Ciência, Religião e Arte, ensinada pela Fraternidade Rosacruz e conducente a uma compreensão integral, una, coerente, dos aspectos externo e interno, do micro e do macrocosmo.

Que os Mundos espirituais são os das causas e o Mundo material, o dos efeitos, não há dúvida. Podemos comprová-lo a cada passo. O ser humano, racional que é, nada faz que não seja precedido pelo pensamento, pelo planejamento. Tudo o que existe ao nosso redor nasceu primeiramente de um pensamento, que era invisível a todos, menos a seu criador. O início do Evangelho de S. João, o mais profundo e misterioso dos quatro, afirma que “tudo nasceu do Verbo[3] e tudo o que vemos manifesto, inclusive nós, é carne provinda do Verbo.

No mundo mental, a Hierarquia Zodiacal de Sagitário, os Senhores da Mente, já em estado criador são os responsáveis pela formação dos quatro Reinos em evolução. Eles nos deram o germe da Mente e nos ajudam a desenvolvê-la. Nesse plano, consideram nossa evolução e Epigênese admitindo nossa interferência na formação de nossos futuros corpos e do ambiente em que vamos renascer, quando ainda estamos na vida antenatal.

De cada coisa criada – nossos veículos, os de um determinado animal, vegetal, um continente – há naquele plano mental um molde vivente, chamado Arquétipo, que é a origem vibratória que modela e sustenta as coisas manifestadas. Tais Arquétipos têm, cada um, determinado tempo de vibração, durante o qual a forma se mantém. Vencido esse prazo, deixa de vibrar e a forma se desfaz, porque a energia que a mantinha coesa se afasta, voltando à sua origem para formação de novos Arquétipos. É a morte física. Fica, todavia, na Memória da Natureza, uma gravação da forma criada, permitindo que, em qualquer tempo futuro, um Iniciado de quarto grau, como foi Max Heindel, possa verificar, na Região arquetípica do Mundo do Pensamento, os sucessos do passado, tais como foram e não como a história os relata.

Muitas vezes ocorre que uma coisa criada seja a combinação de vários Arquétipos. E muitas vezes um Arquétipo é modificado para que a forma, neste Mundo material, também o seja. É o caso, por exemplo, de certa região que sofra modificações, em virtude de uma erupção vulcânica. É o caso de todas as mudanças havidas através dos tempos no globo terrestre. Mas, as modificações, primeiramente, ocorrem no plano mental e depois no físico. É o mesmo que um indivíduo que, anos após haver construído sua casa, faz uma reforma e a modifica. Para isso ele modificou o primeiro planejamento, em sua Mente, atendendo a certas conveniências. Isso nos mostra como realmente “o que é em cima é como o que está embaixo”.

Esse preâmbulo é importante fundamento para o tema que nos propomos, sobre símbolos e emblemas.

Que é um símbolo? É a representação de uma verdade espiritual. É bem diferente de emblema.

Que é um emblema? É a combinação de certas ideias e coisas, de um ponto de vista material ou filosófico.

Nesta época de conquistas espaciais tem se falado como poderíamos fazer-nos compreender por habitantes de outros Astros ou de outros Sistemas Solares. Pois nós respondemos: através dos símbolos. Se projetarmos, por exemplo, um triângulo perfeito, damos imediatamente, a qualquer ser racional, deste ou de outros Sistemas Solares, a ideia de uma trindade em um. E por que entenderão? Porque somos todos, nós e eles, essencialmente Espíritos e o íntimo nos revela a significação do símbolo, não importa quão diferente seja nosso exterior do deles. Já o emblema, não; ele é o resultado do mundo fenomênico. Um brasão que represente um município, combinando ideias e coisas caracterizadoras dessa região, nada ou pouco dirá a um habitante de terras distantes, necessitando ser interpretado.

É verdade que também o símbolo, para ser compreendido com certa profundidade, deverá ser interpretado por pessoa competente. Mas, os significados do símbolo encontram eco em nosso interior, provocam certas vivências internas, reações espirituais, porque nosso íntimo reconhece algo familiar, que está sendo gravado em nossa persona ou natureza humana. O emblema já não provoca essa correspondência interna. No máximo, atende a certa correlação lógica de coisas e fatos. Às vezes, nem isso, como é o caso da pintura moderna, em que as representações exprimem uma indefinida vivência de seu criador.

A cruz é um símbolo. Ela corresponde a um conjunto de Arquétipos e de verdades pré-existentes. O madeiro inferior, partindo de baixo para cima, é uma expressão do reino de vida vegetal, porque as forças vitais mantenedoras do reino vegetal se exteriorizam, de dentro do Globo para a periferia, das raízes para as copas. O madeiro horizontal simboliza o Reino de vida animal, porque as forças espirituais mantenedoras desse Reino transitam pela superfície da Terra, passando pela espinha dorsal dos animais. Nenhum deles, por isso, pode manter-se durante muito tempo em posição vertical, pois morreria por falta desse influxo do Espírito-Grupo. O madeiro superior corresponde ao Reino de vida humano, porque as forças espirituais que se infundem em nós, vêm de cima para baixo. Assim, a cruz, fixada no solo mineral, é um conjunto de Arquétipos correspondentes aos quatro Reinos atualmente em evolução na Terra. Representa, igualmente, o conjunto instrumental do ser humano, a série de Corpos pelos quais atualmente se expressa: o Corpo Denso (o solo em que se fixa a cruz, o mundo em que evolucionam os elementos de que ele se formou), o Corpo Vital (o madeiro inferior, a capacidade etérica de metabolismo, procriação, capacidade sensorial, calor e circulação sanguíneos, memória), o Corpo de Desejos ou emocional (madeiro horizontal, capacidade de movimento, instintos, desejos e emoções) e veículo Mente (madeiro superior, laringe em vertical, influxo espiritual de cima para baixo, capacidade racional).

Dentre os materiais que Max Heindel recebeu dos Irmãos Maiores, para fundação da Fraternidade Rosacruz, está o símbolo da Cruz e das Rosas. Consiste numa Cruz trilobada e branca sobreposta a uma Estrela Dourada de cinco pontas. No centro da Cruz há uma rosa branca, rodeada por uma quase coroa de sete rosas vermelhas.

Já vimos o simbolismo da Cruz. É uma realidade arquetípica ter uma correspondência no Mundo do Pensamento Concreto. A cruz representa a cadeia completa de veículos pelos quais se expressa o gênero humano. Representa, igualmente, os quatro Reinos em evolução na Terra. As razões já foram explicadas.

As rosas simbolizam os Centros sensoriais do Corpo de Desejos, os pontos de percepção que devem ser despertados em nosso Corpo de Desejos. São faculdades latentes adormecidas, cujo despertar corresponde ao desabrochar das rosas das virtudes. O ser humano é uma planta invertida. A planta recebe o alimento pelas raízes e o encaminha para cima. O ser humano o toma em cima, pela boca, e o dirige para baixo. Os órgãos geradores da planta são a flor, coisa bela que deleita a quem a vê; que inspira o artista. A geração é feita castamente, sem paixão. O ser humano tem seus órgãos geradores em baixo e os esconde com vergonha. Seu ato gerador é mesclado de paixão. Desse modo, a flor simboliza um ideal de pureza que o ser humano deve alcançar um dia, quando haja sublimado seus instintos e dirija a força sexual criadora à cabeça, para despertar os dois centros sensoriais situados no crâneo.

Surge, então, a Clarividência, a iluminação, e a cabeça se converte numa auréola de luz, cuja haste etérica desce pela laringe, como autêntica flor espiritual. Nos trabalhos da Fraternidade Rosacruz, o Oficiante (o Estudante Rosacruz que está oficiando o Ritual do Serviço Devocional) sempre se dirige aos presentes com a saudação “que as rosas floresçam em vossa cruz”. É o desejo que ele expressa de que essa iluminação interna se realize em cada Aspirante à vida superior. Os ouvintes retribuem dizendo: “E na vossa também!”. As rosas são vermelhas, não o vermelho da paixão do sangue venoso, senão a expressão de energia pura. A rosa branca do centro é a súmula, a síntese das cores, o símbolo da Unidade de nossas virtudes.

Quando Max Heindel concebeu esse símbolo sob orientação dos Irmãos Maiores, sendo um Iniciado que havia atingido a Região Arquetípica do Mundo do Pensamento Concreto, sabia que ele correspondia a uma realidade espiritual com força interna para suscitar, no íntimo de quem o vê, uma mensagem de regeneração, um convite à elevação, algo que faz bem a nossa Alma. Não deve, pois, ser alterado em nenhum de seus detalhes, porque a forma mental de um emblema (pois não seria um símbolo) semelhante seria atraída ao Arquétipo verdadeiro, pela similitude vibratória da forma, provocando desarmonias no ideal de quem o criou.

Pelo exposto podemos compreender que os verdadeiros símbolos têm raiz espiritual e só podem ser transmitidos por um Iniciado. Aquilo que os neófitos criam para representar a mensagem que desejam transmitir a seus companheiros é apenas emblema, sem força de gerar em nossa alma os impulsos vibratórios induzidos dos Mundos internos. É por isso que os Evangelhos dizem: “Não temos outra autoridade senão a que recebemos dos céus; não precisamos combater nada; o que vem de Deus subsiste; o que vem do ser humano, logo passa”. “Mas, buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6; 33).

Dessa fonte interna, quando começa a jorrar, é que provém a inspiração, a intuição, o magnetismo que atrai o poder de comunicar a ideia, a capacidade de congregar seres humanos e esforços.

A força comunicada pelos símbolos é que tem eternizado o Cristianismo. A força da Religião antiga judaica, transmitida por Moisés, igualmente residia nas coisas ocultas. O Tabernáculo no Deserto com suas dimensões, formas e finalidades era um símbolo do universo, do mundo e do ser humano. Por isso ainda se conserva o Antigo Testamento, que, junto ao Novo Testamento, constitui o mais completo documento evolucionário jamais dado à Humanidade.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – junho/1968 – Fraternidade Rosacruz – SP)


[1] N.R.: Gl 4:24

[2] N.R.: ICor 3:1-3

[3] N.R.: Jo 1:1

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Mistério da Imaculada Conceição ou Concepção

O mistério mais profundo ligado à evolução humana é o da Imaculada Conceição. Sua verdade foi velada, propositadamente, da Mente da Humanidade comum que é inteiramente incapaz de compreendê-la. O Rito da Imaculada Conceição sempre foi uma parte dos Mistérios, mas à medida que o materialismo cresceu, uma a uma, as portas das Escolas de Mistérios foram se fechando, assim também o termo Imaculada Conceição chegou a não ter significado especial.

Como um exercício preparatório durante essa época do ano – a mais Santa – é recomendado ao Estudante Rosacruz estudar sobre a Anunciação no Evangelho de S. Lucas 1:26-38[1]. Ajudará muito abrir a compreensão do Estudante Rosacruz ao significado espiritual do que segue:

A Imaculada Conceição representa a maior conquista da feminilidade. Significa uma conquista tão maravilhosa, misteriosa e sagradamente bela que meras palavras são inadequadas para revelar seu verdadeiro significado. Podemos conhecê-lo plenamente no profundo silêncio da alma.

Maria, a mãe de Jesus, simboliza o Eterno Feminino, o princípio do amor. Eva, a Mãe Universal, em quem a “Queda” deste princípio torna-se Maria, a mãe do imaculadamente concebido, quando este princípio amoroso, que tinha sofrido a “Queda”, é erguido e redimido.

Maria era uma mulher terrena, mas perceba um mistério: “Ela purificou sua natureza de tal modo, que a criança que ela concebeu e a quem ela deu à luz era de tal pureza e perfeição que Ele se tornaria um veículo para o Cristo. A vida e as obras de Maria, de José e de Jesus são proféticas da Nova Era – a Era de Aquário –, quando todo Ego será bem-nascido, tendo seus Corpos gerados em amor por pais puros e castos. Só então um novo tipo de seres humanos, unidos em comunhão e bondade fraterna, desdobrará as asas da imortalidade e manifestará um mundo em que habitarão paz, alegria, saúde e abundância. Isso, verdadeiramente, mostrará a “Santidade ao Senhor”.

A Santíssima Virgem Maria é a mais elevada Iniciada que jamais veio à Terra vestindo um corpo feminino. Há uma dupla razão para isso. Ela veio como um perfeito tipo-padrão para o aperfeiçoamento de todas as mulheres. Ela também veio para dar ao ser humano um dos maiores dons do céu, ou seja, o Santo Mistério da Imaculada Conceição.

Os primeiros alquimistas pronunciaram uma verdade profunda quando declararam que a Pedra Viva (Corpo da Nova Era) seria formada pela união do Sol e da Lua. É dentro das duas joias da coroa que adornam a cabeça (a Glândula Pineal e a Glândula Pituitária) que este trabalho divino é principalmente consumado. Um verdadeiro princípio de luz, uma semente solar, forma-se na Glândula Pineal de cada ser humano. É uma parte de sua herança Cristã. No entanto, essa semente de luz permanece adormecida – permanece latente – até que uma pessoa seja sábia o suficiente para entender como usá-la. À medida que o Aspirante à vida superior se torna suficientemente dedicado e espiritualizado, cada ano, imediatamente após o Solstício de Junho, essa semente solar inicia um circuito anual através do corpo, simulando o caminho do Sol em seu curso pelos céus (as correntes da vida no ser humano e na natureza estão sempre de acordo, a menos que o próprio ser humano perturbe essa harmonia). Pelo Equinócio de Setembro, a semente solar chega ao centro do coração, e no Solstício de Dezembro, quando o Sol chega à sua declinação mais ao sul, toca o Plexo Celíaco (ou Plexo Solar). É por esta razão que nos antigos Mistérios o centro do Plexo Celíaco foi denominado o “Padroeiro do templo do corpo humano”. Após a ascensão do Sol, o princípio de luz novamente toca o centro do coração no momento do Equinócio de Março, e no Solstício de Junho é levado para sua casa na Glândula Pineal quando, mais uma vez, o Sol atinge sua posição mais setentrional.

Durante este circuito anual da semente do Sol, o Corpo é eletrificado com nova vida, novo esplendor e os poderes que fazem para a eterna juventude; daqui aqueles que percorrem o caminho para o conhecimento direto são iluminados sempre com uma luz de brilho muito raro. Eles se tornaram um com a glória daquela luz interior que nunca se encontra na terra ou no mar.

Enquanto isso, concomitante ao ciclo solar, a cada mês na Lua Nova forma na Glândula Pituitária um princípio lunar.

Esta semente lunar segue o caminho da Lua. Até a Lua Cheia a semente chega ao centro da geração. A Lua Cheia, portanto, marca o momento crucial do mês. No Corpo de uma pessoa que vive a vida ordinária do mundo, o princípio lunar é dissipado e seus poderes de vida perdidos. No Aspirante à vida superior consagrado, entretanto, o princípio lunar é conservado e erguido, outra vez, do seu repouso na Glândula Pituitária à altura da Lua Nova, onde suas forças se fundem com as do princípio lunar recém-formado. Agora, no Solstício de Junho, para quem percorre o caminho da santidade, uma verdadeira Missa de Cristo é celebrada no templo-Corpo purificado, pois é então que os doze princípios lunares, conservados ao longo do ano, se unem ao princípio solar. Seu lugar de fusão é o terceiro ventrículo, que é a ponte entre a Glândula Pineal e a Glândula Pituitária.

O terceiro ventrículo torna-se, assim, o leito matrimonial sobre o qual a “Criança” Sagrada (união das sementes Solar e Lunar) é concebida e nascida. É também chamado de “manjedoura”, sendo a Glândula Pineal e a Glândula Pituitária os “santos Pais” que participam na união alquímica.

Assim, isso é um breve esboço do processo oculto fundamental que está subjacente ao Rito da Imaculada Conceição.

(Traduzido do livro: The Life and Mission of the Blessed Virgin – Corinne Heline, pelos irmãos e irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)


[1] N.T.: 26No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, 27a uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria. 28Entrando onde ela estava, disse-lhe: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!”. 29Ela ficou intrigada com essa palavra e pôs-se a pensar qual seria o significado da saudação. 30O Anjo, porém, acrescentou: “Não temas, Maria! Encontraste graça junto de Deus. 31Eis que conceberás no teu seio e darás à luz um filho, e tu o chamarás com o nome de Jesus. 32Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; 33ele reinará na casa de Jacó para sempre, e o seu reinado não terá fim”. 34Maria, porém, disse ao Anjo: “Como é que vai ser isso, se eu não conheço homem algum?”.35O Anjo lhe respondeu: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra; por isso o Santo que nascer será chamado Filho de Deus. 36Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice, e este é o sexto mês para aquela que chamavam de estéril.37Para Deus, com efeito, nada é impossível”. 38Disse, então, Maria: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!”. E o Anjo a deixou.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Felicidade está Onde não a Pomos

Parafraseando uma frase de um poema de Vicente de Carvalho: “A felicidade está onde nós a pomos, mas nós nunca a pomos onde nós estamos”.  Em verdade, estes dois versos resumem admiravelmente o sentido comum do viver humano. Fazemos da felicidade uma utopia, colocado distâncias no caminho, esquecidos de que, ao chegarmos ao seu encontro, de novo a empurramos para mais adiante. Com isso, a vida, chegará ao fim, e a felicidade nunca chegará ao viver da criatura.

É necessária uma alteração em nosso modo de pensar, a luz da Filosofia Rosacruz. A felicidade não pode ser procurada, tão pouco localizada no espaço ou no tempo. Ela é simplesmente – ou pelo menos deveria ser – o produto do viver momento a momento, segundo nossa voz interna. Não nos é dado penetrar de imediato nos “portais dourados”, transpostos os quais nos inundaria o éden incomensurável de paz e ventura. Se “somos deuses em formação”, não podemos fugir ao percurso do caminho que conduz a essa perfeição. Enquanto isso, toca a criatura, sobretudo, viver o papel da criatura, afrontando as limitações que a vida terrena naturalmente impõe, dentre os quais, permanentes solicitações da Mente, a chamar o ser humano para uma vida cheia de vazio, para a ilusão dos sete pecados capitais, especialmente a miragem do “acumular tesouros na Terra”. De fato, os almejados tesouros nos vêm às mãos. Mas como somos “peregrinos neste mundo” e estas aquisições pertencem ao mundo, acabamos ficando “de mãos vazias”.

Ao final de tudo, parece haver falta de compreensão mais profunda da vida, do “por que, afinal, nos achamos aqui”. A afirmação da Individualidade é imprescindível a nossa vida. Cada um de nós é único na Obra de Criação, e como único devemos viver entre os demais, a todos ligado pelo traço do amor.

Entende-se a afirmação individual como sendo a realização, por cada um de nós, de nossos pendores mais profundos, representados por energias naturais que não podem ser desconhecidas, nem reprimidas. Essas forças não são, em si, nem boas, nem más. O uso que delas fazemos é que lhes imprime esta ou aquela coloração, segundo o caráter do nosso comportamento.

É claro que essa realização pessoal implica a mais ampla liberdade de escolha pelo indivíduo. Do contrário, haveria o risco de “sermos” outrem, diferente de nós mesmos, criando-se um artificialismo pernicioso para a saúde mental. É a partir dessa importante conclusão que a Pedagogia se encaminha para o revolucionário sistema de Educação, conhecido como liberdade orientada. A criança cresce “conhecendo-se”, através do estudo e de trabalhos práticos adequados ao “despertar” de vocações, de modo que em nada se prejudique o viço da flor natural que deve desabrochar.

O bom uso da energia que a Natureza assim coloca a nossa disposição faz com que o manancial que a produz se torne cada vez mais abundante, porque “a quem mais tiver, mais ser-lhe-á dado[1]. E nós, assim disposto em uníssono com as vibrações cósmicas, poderemos experimentar um estado de íntima satisfação que muito terá de felicidade, coroada pela certeza de que “quem mais der, mais receberá[2] e “quem quiser ser o maior, deverá ser o servo de todos[3].

Para a Ciência oculta a inércia é uma ilusão. Decorre daí que “não paramos”. Ou estamos progredindo, ou regredimos, na caminhada. Conhecendo-se e realizando-se, nos encaminhamos para a comprovação das palavras de Cristo, segundo as quais “as obras que eu faço, vós as fareis, e maiores ainda[4].

A partir da certeza de que, durante um renascimento aqui, existe para nós uma necessidade interna de expressão constante, podemos vislumbrar uma possível causa de os manicômios andarem cada vez mais povoados, bem como de crescer o número de suicídios, especialmente nos países ditos mais “desenvolvidos”. Parece que o conforto trazido pela técnica se transforma em ócio para o indivíduo, tirando-lhe a oportunidade de utilizar as energias de que naturalmente dispõe. A serenidade do artesão parece que decorria do prazer de criar com as próprias mãos. Agora a máquina faz quase tudo. Pouco sobra para nós de oportunidade para autoafirmar, especialmente no trabalho. Então, a vida inconformada com a imposta “inércia”, contraria as Leis da Natureza de tudo quanto é vivo, rompe os diques e foge, ou para o hospício, ou para o suicídio, como saída para a torturante angústia em que se vai transformando o viver.

Evidentemente, a máquina tem seu lugar próprio na vida humana. Nós é que precisamos desenvolver o preparo para viver ao lado dela, não se deixando absorver, “matar”. O tempo a mais deixado para nós com o advento da máquina no trabalho, deve ser aplicado no cultivo de fatores capazes de preencher esse vazio, até que a espiritualidade criadora faça parte atuante da nossa vida humana do comum. Ou seja: cumpramos o que prometemos para nós mesmos no Terceiro Céu: desenvolvermos espiritualmente, aperfeiçoando os nossos Corpos e o veículo Mente e crescendo o nosso Corpo-Alma, se preparando para a Era de Aquário, já que estamos na Órbita de Influência dessa Nova Era. O restante? Será nos dado por acréscimo, como Cristo nos ensinou!

Em resumo, tudo quanto existe e vive, vive porque tem vida na Natureza. Se para todas as coisas existe maravilhosa harmonia, para nós, em especial, também existirá, desde que nos prontifiquemos a se integrar na posição cósmica que nos cabe e viver as leis profundas da própria vida.

Dessa forma, jamais procuraremos a felicidade, pois essa nos virá por acréscimo, nascida da compreensão de que não somos mais felizes porque não temos preocupações, mas sim, porque encaramos como próprias à vida, coloca-as no lugar devido, certo de que depois da tempestade vem a bonança, e que tempestade e bonança são igualmente partes da Criação.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – outubro/1964 – Fraternidade Rosacruz – SP)


[1] N.R.: Mt 25:29

[2] N.R.: Mt 10:30

[3] N.R.: Mt 10:44 e Mc 9:35

[4] N.R.: Jo 14:12

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Argumento e a Intuição no Aprendizado dos Ensinamentos Rosacruzes

Quando uma pessoa estuda determinado assunto por algum tempo, gradualmente ela se torna consciente desse tempo e, aos poucos, conscientiza-se de que o assunto tem um certo valor em sua Mente. Ela forma uma opinião sobre aquele assunto, sendo essa opinião a concentração de muitos pequenos detalhes que ela aprendeu. Os detalhes reais não estão presentes na opinião, mas ajudaram a moldá-la e a criá-la. Tal pessoa estudou cuidadosa e minuciosamente esse assunto e pode-se dizer que, devido à sua longa aplicação, ela compreendeu o assunto estudado. Sempre que esse assunto for discutido, ela julgará o valor das opiniões de quem está expondo tal assunto baseado em sua própria intuição. E ela saberá, intuitivamente, se quem está expondo está correto.

Então, a atitude dessa pessoa em relação àquelas que debatem o assunto, que ela conhece extraordinariamente bem, deve ser de tolerância e de paciência. Assim, o que é dito sobre o assunto seria julgado de maneira justa.

Agora, suponhamos que alguém com um conhecimento, obviamente, superficial do assunto a contradiga e apresente numerosos argumentos contra suas opiniões. Esses argumentos não terão peso sobre a pessoa, porque a intuição dela vai declará-los falsos.

E assim, parece-me, deveria ser a atitude mental de quem estudou os Ensinamentos Rosacruzes, em relação às pessoas que conhecem só a fase material da vida. A em si mesmo é forte, porém a unida à Razão é duplamente forte. Nenhum argumento ou sofisma mundano poderia abalar a firmeza da crença da pessoa.

De fato, há pouca verdade a ser obtida por meio de argumentos. O aprimoramento das faculdades mentais e o aumento no conhecimento dos fatos resultam mais decididamente, do que os argumentos. Por meio de argumentos as pessoas não conseguem chegar ao conhecimento interno das coisas, que é superior a um mero agrupamento de ocorrências e fatos. Não é durante uma troca de farpas por meio de palavras ou uma dura discordância de duas Mentes com propósitos contraditórios que a “voz mansa e delicada” da intuição pode ser ouvida. Somente no silêncio pode se tornar aparente; ela desaparece, como o tesouro mágico, quando uma palavra é falada.

Por meio de Exercícios Esotéricos Rosacruzes, como por exemplo, a Meditação, nós nos tornamos intuitivos, recorrendo à fonte da verdade, vendo e compreendendo o significado interno das coisas. Quão grosseira, flagrante e áspera se torna a ideia de argumentação, quando comparada a um processo tão sublime como o da intuição!

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross em 05/1915 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas–SP–Brasil)

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