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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O verdadeiro Cristão: o que busca a experiência, não a felicidade

Segundo Max Heindel, o propósito da vida é a aquisição de experiência, e não a busca da felicidade, porém, essa tem sido o alvo comum da humanidade durante os tempos. O viver em função de algo que geralmente se circunscreve às posses materiais, às posições transitórias, às sensações fugazes, acentua muito bem as causas dos problemas que afligem os seres humanos. É em vão que o ser humano almeja ser feliz, desconhecendo o que venha a ser a verdadeira felicidade, ignorando que ela seja antes de tudo um estado de alma. Balzac a define de uma maneira assaz sutil, afirmando que “toda felicidade é um misto de coragem e de trabalho”. Ela não é o objetivo que se atinge por meio da coragem e do trabalho, mas sim, a condição interna que se alcança quando se labuta corajosamente em prol de uma causa nobre. Ser feliz segundo o prisma espiritual é atingir uma condição transcendental a tudo aquilo que se restringe a concepções puramente materiais, decorrentes de impressões captadas pelos nossos sentidos físicos. A felicidade situa-se no campo das conquistas do espírito. É a consequência natural do aprimoramento interno, do contato com a Fonte de Vida, donde provém o amor, pedra basilar das conquistas imortais do ser humano. Que seria de nós sem esse amor?

O amor verdadeiro, irrestrito, universal, foi o princípio mais grandioso que Cristo nos legou, e somente por meio desse princípio é que poderemos atingir a cristificação. O amor, assim compreendido, pode ser manifestado de diversas maneiras, e uma delas é o serviço amoroso e desinteressado para com os demais.

O servir desinteressadamente, o labor canalizado a fins altruístas, é a máxima expressão do ideal Cristão, é a realização da felicidade. O trabalho assim dirigido aumenta o fulgor da Divina Essência inerente a todo ser humano, ao passo que a ação egoísta a ofusca. Os frutos do primeiro são perenais, ao passo que as condições obtidas por meio do agir egoísta são temporais. Altruísmo é amor, e esse é algo intrínseco ao ser humano cristificado. Ser altruísta é conservar-se fiel e alimentar-se da Divina Fonte do Amor.

Num mundo como este em que vivemos atualmente, em que o utilitarismo prevalece como denominador comum na soma das atividades humanas, ser altruísta, agir com isenção de interesses, ser como São Paulo, um apologista da suprema excelência da caridade, cultivar a virtude, é contrastar, muitas vezes, a inércia (status quo) vigente, é desajustar-se ante “a sociedade dos homens práticos”. Preceitos de “ética e moral são adaptados às exigências da sociedade da competição”, liberando e justificando as ações daqueles que anseiam atingir os píncaros do sucesso, por meio de manobras escusas, via de regra, em detrimento de outrem. Muitos anestesiam a própria consciência para poderem sobreviver nesta comunidade. São os que se ajustam a conveniência e convenções exteriores, despidas de imortalidade, meros pântanos que findam esperanças de uma felicidade.

O ser humano verdadeiramente cristificado luta, tenazmente, por romper todas essas barreiras. Procura expressar discreta e inteligentemente todas as suas qualidades por meio de seus atos. Age coerentemente com suas próprias convicções, procurando sempre harmonizar, almejando não tanto ser compreendido, mas compreender. Reconhecer-se como espírito, imuniza-se e permanece incólume a toda crítica ferina que lhe dirijam, pois sabe que essas distorções dos sentimentos humanos não podem atingir sua Essência.

O ser humano cristificado procura viver retamente dentro da sociedade moderna, embora muitas vezes sua filosofia de vida seja considerada obsoleta. Crê firmemente no valor da virtude e no poder que a coloca acima dos limitados conceitos humanos. Identifica-se com os preceitos Cristãos, não competindo, mas cooperando com todo e qualquer empreendimento que vise ao bem geral. Sabe discernir, sabe transigir, conhece-se e trata de extirpar gradativamente as próprias falhas, não as evidenciando nos demais, mas salientando-lhes as qualidades, para que essas se fortifiquem. Vislumbra a harmonia na bondade, a perfeição no amor e a beleza na simplicidade. Sua humildade, longe de confundir-se com subserviência, é antes de tudo uma mescla de ternura, energia e justiça.

Seu semblante espelha sempre a tolerância e a compreensão, pois reconhece que toda manifestação contrária ao bem e a justiça é fruto da ignorância.

Pensa sempre no melhor, almeja sempre o melhor, procura sempre tornar-se melhor e dá aos outros sempre o melhor. Seu amor não encontra limites, espargindo-se em todas as direções e a todos os seres da Criação. O ser humano que alcançou esse estágio evolutivo sabe perfeitamente que ninguém poderá ser excluído de ser amor, pois o ideal Cristão é, por excelência, unificador. Radicalismo, segregacionismo, divisionismo, sectarismo extremado, não se coadunam com o Cristianismo.

Quando alguém atinge essa condição, sua vida torna-se uma ardente e sublime oração. É um ser feliz, autêntico servidor de Cristo e da humanidade.

(Publicada Revista Serviço Rosacruz – julho/1967 – Fraternidade Rosacruz – SP)

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Carta de Max Heindel: A Desvantagem em Dispersar as Nossas Forças

Maio de 1915

Na Carta de Março[1], como você deve se lembrar, sugeri a concentração da energia numa só direção, aconselhando, como já tinha feito anteriormente, que os Estudantes Rosacruzes dediquem todo o tempo livre deles para trabalhar numa única sociedade religiosa[2], em vez de dissipar e distribuir as energias deles pertencendo à várias dessas sociedades, pois é impossível fazer um trabalho eficaz dessa maneira.

Desde então, recebemos alguns pedidos de desistência de Estudantes na Fraternidade Rosacruz, o que não foi inesperado. Entre os membros de uma associação tão grande como a Fraternidade Rosacruz, alguns dos que pertencem simultaneamente a outros grupos, naturalmente, teriam uma preferência maior por algum outro lugar e, em consequência dessa sugestão dada no parágrafo anterior, seguiriam essa tendência. No entanto, é surpreendente que tenha havido tão poucas desistências. De fato, a surpresa é que houve poucas desistências, mas isso, sem dúvida, se deve ao fato de que a Fraternidade Rosacruz retira, periodicamente, da sua lista aqueles que mostram pouco interesse e, assim, mantém apenas os Estudantes Rosacruzes ativos.

Mas o tom dessas desistências é que nos entristece. Alguém nos escreveu: “Sou membro da Igreja Episcopal e pago lá a minha contribuição periódica, etc., etc.”. Parece estranho que alguns não compreendam que a Fraternidade Rosacruz não é antagônica a nenhuma organização religiosa (seja qual for) ou sociedade e, nesse particular, não as que professam o Cristianismo. Temos afirmado, repetidamente, que apoiamos qualquer pessoa que se associe a uma Igreja Cristã. O que a Carta se refere não foi sobre Religião, mas sobre “sociedades religiosas”; e, como disse, não é porque temos algo contra as sociedades que trabalham seguindo as linhas Cristãs. Há, por exemplo, a Sociedade da Unidade de Kansas City[3], uma organização honesta e com boa moral, sob direção de uma nobre liderança, tanto quanto podemos depreender de todas as informações que temos recebido. Mas, para bem obrar nesta ou noutra sociedade religiosa, toda a sua energia durante o tempo livre deve ser dada apenas a essa sociedade; e se um membro da Fraternidade Rosacruz, que pertença igualmente a essa outra organização, decide se dedicar somente a essa última, age corretamente, não só com essa organização como também com a Fraternidade Rosacruz, muito melhor do que se prosseguisse a sua ligação com ambas. Por outro lado, se por suas afinidades, resolve permanecer com a Fraternidade Rosacruz, então é melhor para ele, melhor inclusive para a Sociedade da Unidade e para a Fraternidade Rosacruz, que ele se dedique exclusivamente a nossa Associação.

Como já dissemos muitas vezes, muitos caminhos conduzem a Roma, mas não podemos seguir dois caminhos ao mesmo tempo. Devemos seguir só um para chegar lá. Ziguezaguear de um para o outro é um desperdício de esforço. Se cumprirmos efetivamente com os nossos deveres no mundo, muito pouco tempo livre nos restará para que possamos trabalhar legitimamente em nosso próprio benefício nas linhas espirituais. Portanto, devemos focar para concentrar os nossos esforços no que nos seja mais proveitoso, em vez de dissipar as energias e obter pouco crescimento da alma.

Além disso, convém deixar bem claro que, se em algum momento as condutas políticas da Fraternidade Rosacruz não merecer a aprovação de alguém, esse não age bem se simplesmente desertar e passar a protestar contra nós já do lado de fora. Se permanecer conosco, nós o escutamos como um irmão ouve outro irmão ou outra irmã, e ponderamos os seus argumentos de um ponto de vista muito diferente da que ocorre quando ele deserta, mostra-se hostil e se transforma em um oponente. Então, os mesmos argumentos perderiam boa parte do seu peso. Estamos todos de acordo com os pontos principais dos nossos Ensinamentos Rosacruzes. Cada um de nós, certamente, aprecia o benefício que colhemos dessa Filosofia Rosacruz que estamos empenhados em promulgar. Não é adequado, então, sermos tolerantes em questões de políticas, para que possamos dedicar toda nossa atenção aos ideais?

(Carta nº 54 do Livro “Cartas aos Estudantes” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)


[1] N.T.: Refere-se à Carta aos Estudantes de março de 1915, aqui transcrita: “Concentração no Trabalho Rosacruz

Meditando sobre a utilidade da Fraternidade Rosacruz, surgiu-me a pergunta: “Qual o obstáculo mais comum que impede o nosso progresso no trabalho espiritual?”. E a resposta foi: “A falta de concentração”.

Todos temos uma família que depende de nós e que tem direito a uma parte da nossa atenção. Nosso trabalho no mundo não deve ser negligenciado sob pretexto algum. Estamos aqui para executar certas tarefas e aprender por meio delas. Depois de atender a esses deveres, vejamos se ainda nos sobra algum tempo para aplicá-lo, justa e apropriadamente, no nosso próprio desenvolvimento.

Na vida cotidiana, não tentamos ser médicos hoje, trabalhar numa indústria amanhã e, no dia seguinte, começar uma nova atividade. Sabemos que tal procedimento não nos levaria a lugar algum. Devemos, portanto, seguir uma linha de trabalho no mundo.

Por que não aplicar o mesmo bom senso em nossos esforços espirituais? Sabemos que tanto o progresso social e como profissional dependem da soma de concentração, planejamento e perseverança que tivermos. Então, se nos mostramos tão sábios e prudentes no que diz respeito às coisas do mundo, que duram apenas os poucos anos de nossa vida terrena, por que não nos empenhamos em usar o mesmo bom senso, aplicando-o de corpo e alma às coisas espirituais que são eternas?

Aqueles que perambulam de seita em seita ou em várias escolas filosóficas e que pensam ser conhecedores das mais variadas práticas espiritualistas falham ao ver sua falta de profundidade. Eles se vangloriam de seu conhecimento de livros e palestras até ficarem doentes com indigestão mental. Ouvem e leem muito, mas praticam pouco.

Para nossas atividades terrenas necessitamos de trabalhadores experientes, hábeis e dedicados. No Reino Celestial, a lealdade e a devoção são também fatores primordiais.

Nossa contínua presença faz com que o carvão latente em cada um de nós se transforme em chama e emita luz e calor, unindo e fortalecendo nosso ideal no caminho da espiritualidade.”

[2] N.T.: Vamos definir aqui o que é uma “sociedade religiosa” ou “associação religiosa” para não confundirmos com Religião: uma sociedade religiosa ou associação religiosa é a congregação incorporada de um grupo religioso. Uma congregação incorporada ou grupo religioso atua como uma ‘pessoa jurídica’ legal que existe separada e separada de seus membros. Nesse sentido pode desenvolver, também, outras atividades, de caráter econômico, como instituições educacionais ou empresariais.

[3] N.T.: Era uma sociedade fundada pelo casal Charles e Myrtle Filmore: Aos 40 anos, Myrtle Fillmore ficou muito doente. Foi-lhe dito que ela tinha tuberculose e tinha menos de 6 meses de vida. Quando a medicina tradicional e os médicos deixaram de dar alívio, ela começou a pesquisar meios alternativos de cura. Ela assistiu a palestras de praticantes que estavam na vanguarda da cura espiritual. Myrtle teve uma epifania. Ela despertou para a verdade de que ela era uma expressão do espírito divino e era por meio desse mesmo espírito que ela poderia ser curada. Ela descobriu a Oração Afirmativa. Em vez de implorar a Deus para lhe dar algo ou fazer algo acontecer, Myrtle afirmou que o que ela pediu já estava acontecendo. Ela orou e meditou diariamente por mais de dois anos. Ela comunicou pensamentos positivos e curativos às células de seu corpo. A fé de Myrtle nunca vacilou e ela viveu mais 46 anos. Inspirados pela saúde renovada, os Fillmores se interessaram em dar às pessoas ferramentas práticas no Cristianismo para melhorar suas vidas. Charles estudou Religiões e filosofias mundiais. Ele também estudou a ligação entre Religião e Ciência. Em 1889, Charles e Myrtle começam a escrever sobre suas crenças e, pouco depois, nasce a Unidade (Sociedade da Unidade de Kansas City). Em abril de 1889, os Fillmores publicam a primeira edição de Modern Thought, uma revista nacional mensal dedicada a questões espirituais. O nome da revista foi mudado para Unity Magazine em junho de 1891. Eles usaram sua revista para contar às pessoas sobre a Society of Silent Help, renomeada Society of Silent Unity em 1891. Myrtle diz aos leitores que o trabalho da Society of Silent Help é “aberto para todos.” Em 1891, Charles escolhe ‘Unidade’ como o nome do movimento que estão fundando.

Myrtle inicia a Wee Wisdom em 1893, uma revista mensal para crianças, e permanece como editora por muitos anos. Quando foi descontinuada em 1991, Wee Wisdom era a mais antiga revista infantil publicada continuamente no país.

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Pergunta: A Fraternidade Rosacruz fala de Escolas de Ocultismo Orientais e Ocidentais. As Escolas Ocidentais são mais avançadas? Por quê?

Resposta: Atualmente, existem diferentes tipos de Corpos – graduados por sensibilidade às vibrações espirituais – que o Ego utiliza para viver sobre a Terra. Por exemplo: os indianos constituem um dos primeiros Corpos que construímos na Época Ária e os corpos ocidentais constituem um dos últimos Corpos que aprendemos a construir. Naturalmente, os últimos ensinamentos foram dirigidos aos Egos que conseguem construir Corpos mais avançados. Por conseguinte, a Religião ocidental, o Cristianismo, é muito superior ao Hinduísmo e ao Budismo, tipicamente orientais, pois possuem métodos especiais para Egos que habitam Corpos ocidentais.

Os ensinamentos dos mistérios do Oriente não são tão avançados como os do Ocidente. No Oriente despende-se grande esforço no sentido de sujeitar e subjugar o Corpo, com a finalidade de cultivar qualidades espirituais. Seu método exige certas posturas corporais enquanto se praticam difíceis exercícios físicos. Tais exercícios são necessários para uma parte de nossos irmãos, que necessitam exatamente desse tipo de pedagogia espiritual para avançarem no caminho, mas isso não faz parte do método ocidental.

Em realidade, o Corpo do ocidental não responde a esses métodos. Ademais, o discípulo oriental coloca-se sob a rígida orientação de seu instrutor, o qual chama de “mestre”, obedecendo-o cegamente nos mínimos detalhes, sem questionar determinadas práticas.

No Ocidente, seguem-se os ensinamentos de Cristo, o qual afirmou aos Seus discípulos: “De agora em diante eu vos chamo de amigos, porque o servo não compreendia o que o mestre fazia, mas eu vos ensino todas as coisas que aprendi de Meu Pai” (Jo 15:15).

Por conseguinte, o instrutor ocidental conserva estreita amizade com seu discípulo e está sempre disposto a responder às suas perguntas, desde que compatíveis com o seu desenvolvimento.

Há, por suposto, seres humanos muito evoluídos no Oriente, seres humanos adiantadíssimos nos ensinamentos de sua escola. Mas, o estágio correspondente pode ser logrado com os métodos ocidentais, em tempo e esforços menores!

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz em novembro/1977 – Fraternidade Rosacruz-SP) 

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O Livro sem Prefácio

Desde o seu início, o Cristianismo vem sendo deturpado por interpretadores levianos, por entidades dogmáticas, por pretensiosos e pseudomestres, desavisados transmissores dos seus ensinamentos, os ensinamentos de Cristo, os ensinamentos Cristãos.

Vem sendo erroneamente ou mesmo inconscientemente confundido nos seus ensinamentos. Confundidos, sim, por aqueles que apenas o leram, sem entendimento e conhecimento de seu profundo significado oculto.

Essa verdade aqui exposta, sem nenhum sentimento ou propósito não fraternal, nós a encontramos se nos transportarmos aos textos do próprio Livro sem prefácio, a Bíblia. Esse livro que se constitui num verdadeiro manancial de ensinamentos revividos pelos apóstolos de Cristo e seguidos, retamente, por aqueles que possuem internamente a sua chave de interpretação.

Até mesmo nas suas traduções, esse fenômeno de deturpação se generalizou, se anotou de maneira muitas vezes grosseira, pois quase que a totalidade dos seus tradutores se julgaram privilegiados portadores da verdade, ao traduzi-la e entregá-la ao sabor de interpretadores menos capacitados.

Entretanto, nós sabemos que nenhum deles, ou melhor, a maioria deles não nos apresentou uma tradução do texto original, havendo, consequentemente, uma disparidade nas suas variadas traduções, encontrando-se, na maioria delas, a marca das funestas e nefastas influências de poderosos grupos da época de escribas, de fariseus interessados numa versão ajustada às conveniências e interesses desses mesmos grupos predominantes e, não raras vezes, fugindo à lógica da sua cristalina interpretação.

Dessa confusão e dessa disparidade caracterizada nas suas traduções surgiu o catolicismo, o protestantismo, enfim, a divisão de centenas de grupos e seitas religiosas, todas elas, porém, mantendo o sufixo “ismo”, o que, vale dizer, sem se afastarem do Cristianismo.

O movimento Rosacruz (cabendo aqui salientar: que não é uma seita ou organização religiosa, mas sim uma grande Escola de Pensamento Filosófica Cristã, também conhecida como a Escola dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental), no entanto, sem se preocupar com tais disparidades de traduções, sem pretender dar novas formas aos seus textos, vem procurando interpretar e “prefaciar” a Bíblia dentro da sua não deturpável realidade oculta, buscando, nas suas entrelinhas, a sua real e efetiva significação esotérico-espiritual, sem se preocupar com as razões ou interesses de variados grupos guiados por preconceitos egoísticos, finalidades não definidas e por vezes danosas aos superiores interesses do Cristianismo, corretamente aplicado.

Com a segurança dessa interpretação, com a convicção das verdades existentes no texto oculto da Bíblia, vem a Fraternidade Rosacruz, com seus respectivos Centros e Grupos de Estudos, conquistando a aprimoração e difusão dos seus ensinamentos, que muito vêm ajudando os nossos irmãos, as nossas irmãs, as nossas amigas e os nossos amigos nessa preocupação constante de sobreviverem na verdade, unicamente na verdade, no desejo de constituir uma humanidade mais Cristã, mais Fraternal, mais humana.

A trajetória percorrida pela Fraternidade Rosacruz, nessa espiral de evolução, vem se pontilhando e se purificando no grande sacrifício de uma luta constante, difícil e, muitas vezes, incompreendida, porém profundamente gloriosa.

Nessas circunstâncias, aos Estudantes Rosacruzes não recomendamos a leitura pura e simples do livro sem prefácio, a Bíblia, porém, que cada um procure estudá-la sem interesses outros que não sejam aqueles de, constantemente, aprender a interpretá-la na imperativa missão de fazer prevalecer a verdade dos seus ensinamentos e nunca as conveniências de grupos que consciente ou inconscientemente vêm contribuindo para dificultar o estabelecimento da tão aspirada Fraternidade humana.

Afinal, não nos esquecemos do que repetimos todas as vezes que oficiamos o Ritual do Serviço Devocional do Templo: “A Bíblia foi dada pelos Anjos do Destino que estando acima de todos os erros dão a cada um e a todos exatamente o que necessitam para o seu desenvolvimento”.

E, mais, como estudamos no Conceito Rosacruz do Cosmos: “Há muito boas razões para que a Bíblia – que contém não uma, mas duas Religiões, a Cristã e a Judaica – fosse dada ao Ocidente. Se procurarmos a luz diligentemente veremos a Suprema Sabedoria oferecida por esta dupla Religião, apropriada como nenhuma outra Religião atual, às nossas necessidades especiais. Esclarecendo melhor esse assunto tratemos, nesse capítulo, de alguns pontos já examinados em outras partes desse livro.”

“A Bíblia, portanto, contém os ensinamentos de que necessitam, especialmente, os povos ocidentais.”

“Não pretendemos defendê-la (na forma atual comumente conhecida) como a única, verdadeira e inspirada Palavra de Deus, não obstante, ser verdade que ela contém muitos conhecimentos ocultos inestimáveis. Isso é, em grande extensão, escondidos sob interpolações e obscurecidos pela supressão arbitrária de certas partes julgadas “apócrifas”. O ocultista cientista que, claro, sabe o que se quis expressar pode ver facilmente quais as partes originais e quais as que foram interpoladas.”

“Antes de proceder com uma análise, é necessário dizer que as palavras da língua hebraica, especialmente no estilo antigo, sucedem-se umas às outras sem a separação ou a divisão que é de uso em nossa língua. Acrescentando a isso, havia o costume de retirar as vogais da escrita, de maneira que sua leitura dependia muito donde fossem colocadas, se verá quão grandes são as dificuldades a vencer para apurar o significado original. Uma ligeiríssima mudança pode alterar inteiramente o significado de qualquer sentença.

Além dessas grandes dificuldades, devemos também saber que dos quarenta e sete tradutores da versão do Rei Jaime  (a mais comumente usada na Inglaterra e América) unicamente três conheciam bem o hebraico e, desses três, dois morreram antes da tradução dos Salmos. A ata que autorizava a tradução, tenhamos também em atenção, proibia aos tradutores todo o parágrafo que pudesse desviar grandemente ou perturbar as crenças já existentes. É evidente, portanto, que as probabilidades de se conseguir uma tradução correta eram bem escassas.

Tampouco foram mais favoráveis as condições na Alemanha. Lá, Martin Lutero , o único tradutor, mesmo ele não a traduziu do texto original hebraico, mas tão só de um texto latino. A maioria das versões empregadas pelos protestantes dos diversos países é simples traduções em diferentes idiomas da tradução de Lutero.

Certamente tem havido revisões, mas não tem melhorado grandemente a matéria. Além disso, há grande número de pessoas que insiste em considerar o texto inglês da tradução do Rei Jaime como absolutamente exata, da primeira à última letra, como se a Bíblia tivesse sido escrita originalmente em inglês e a versão do Rei Jaime fosse uma cópia fidedigna do manuscrito original. Assim, os erros subsistem apesar dos esforços que se têm feito para eliminá-los.

Deve-se também notar que os que originalmente escreveram a Bíblia não pretenderam dar a verdade de maneira a poder tê-la quem quisesse. Nada estava mais distante de sua Mente do que a ideia de escrever ‘um livro aberto de Deus’.”

“Originalmente, a Bíblia Judaica foi escrita em hebraico, mas não possuímos nem uma só linha da escritura original. No ano 280 antes de Cristo fez-se uma tradução para o grego, a ‘Septuaginta’. Ainda em tempos de Cristo, havia já uma confusão tremenda e diversidade de opiniões relativas ao que se devia admitir como original e ao que tinha sido interpolado.

Só depois da volta do desterro da Babilônia, começaram os escribas a compendiar as diferentes escrituras. Pelo ano 500 D.C. apareceu o Talmud (um livro sagrado dos judeus, um registro das discussões rabínicas que pertencem à lei, ética, costumes e história do judaísmo. É um texto central para o judaísmo rabínico), com o primeiro texto semelhante ao atual. Em vista dos fatos mencionados, não pode ser perfeito.

O Talmud esteve em mãos da escola Massorética que, desde o ano 590 até 800 D.C., permaneceu, principalmente, em Tiberíades. Depois de enorme e pacientíssimo trabalho, escreveu-se um Antigo Testamento Hebreu, o mais próximo ao original que temos atualmente.

Esse texto massorético será utilizado na elucidação seguinte sobre o Gênesis e, não confiando no trabalho de um único tradutor, será suplementado por uma tradução alemã de três eminentes estudiosos do hebreu: H. Arnheim, M. Sachs e Jul. Furst que cooperou com um quarto, Dr. Zunz, sendo esse último também o editor.”[1]

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – fevereiro/1965 – Fraternidade Rosacruz – SP)


[1] N.E.: atualmente, em português, temos uma versão que atende à fidelidade descrita nesse parágrafo por Max Heindel em uma versão da “Bíblia de Jerusalém, edição brasileira (1981, com revisão e atualização na edição de 2002) da edição francesa Bible de Jérusalem, que é assim chamada por ser fruto de estudos feitos pela Escola Bíblica de Jerusalém, em francês: École Biblique de Jérusalem. De acordo com os informativos da Paulus Editora, a edição “revista e ampliada inclui as mais recentes atribuições das ciências bíblicas. A tradução segue rigorosamente os originais, com a vantagem das introduções e notas científicas.” Essas notas diferenciais em relação às outras traduções prestam-se a ajudar o leitor nas referências geográficas, históricas, literárias etc. Suas introduções, notas, referências marginais, mapas e cronologia — traduções de material elaborado pela Escola Bíblica de Jerusalém — fazem dela uma ferramenta útil como livro de consulta, para quem precisa usar passagens bíblicas como referência literária ou de citações. A Bíblia de Jerusalém é considerada atualmente, pela grande maioria dos linguistas, como uma das melhores bíblias para o estudo, aplicável não apenas ao trabalho de teólogos, religiosos e fiéis, mas também para tradutores, pesquisadores, jornalistas e cientistas sociais, independentemente de serem católicos, protestantes, ortodoxos ou judeus, ou mesmo de qualquer outra religião ou crença e ateus.

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Pergunta: Vocês falam das Escolas Ocidentais e Orientais de Ocultismo. A Escola Ocidental é a melhor e, se for, por quê?

Resposta: Atualmente, há várias categorias raciais e étnicas diferentes na Terra. As categorias raciais e étnicas que mais avançaram nesse atual Esquema de Evolução estão no Ocidente desse Campo de Evolução que chamamos de Planeta Terra e as que ainda não avançaram tanto nesse atual Esquema de Evolução estão no Oriente desse Campo de Evolução que chamamos de Planeta Terra. Naturalmente, os ensinamentos mais recentes são fornecidos aos povos mais adiantados. Portanto, a Religião ocidental, o Cristianismo, é muito superior ao Hinduísmo e ao Budismo do Oriente. Os ensinamentos de mistérios do Oriente não são tão adiantados quanto os do Ocidente. No Oriente, dá-se uma grande ênfase em subjugar o corpo a fim de cultivar as faculdades espirituais. Os orientais colocam o corpo em certas posições, enquanto realizam árduos exercícios respiratórios e físicos, que não necessários no método ocidental. De fato, o corpo ocidental não é tão receptivo àqueles métodos. Além disso, o aluno no Oriente está sob o controle absoluto do professor dele, a quem ele chama de “Mestre”, e cujas ordens ele deve obedecer nos mínimos detalhes, sem perguntar por quê. No Ocidente, seguimos os Ensinamentos Cristãos, que o mesmo Cristo afirma aos seus Discípulos: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que seu senhor faz; mas eu vos chamo amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu vos dei a conhecer.” (Jo 15:15). Assim, o professor no Ocidente mantém a mais estreita amizade com o aluno e está sempre pronto para responder às perguntas dele, na medida em que seja compatível com o estágio de desenvolvimento dele.

Certamente, que há algumas pessoas mais evoluídas no Oriente, pessoas que estão muito além nos ensinamentos da escola de ensinamentos Oriental, mas um estágio correspondente é, geralmente, alcançado pelo método ocidental num tempo mais curto e com menos esforço.

(Pergunta nº 141 do Livro “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas Vol. I – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)

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Os Frutos da União entre os nossos Polos Masculino e Feminino

A Sabedoria descrita nesse versículo dos Provérbios (“Obtenha sabedoria e compreensão” (Pr 1:2)) representa o princípio feminino de Deus, o fluir da revelação cósmica, enquanto a Compreensão representa o princípio masculino, que é alcançado pelo emprego da Vontade e da Razão (Logos). A temática do presente artigo aborda esses dois polos básicos que fundamentam qualquer desenvolvimento humano – até mesmo o desenvolvimento inconsciente que, mesmo sendo respeitado, não é sugerido aos Estudantes Rosacruzes, pois somente pelo emprego correto desses polos é que coisas originais podem ocorrer, de fato. Lembrando que a originalidade aqui mencionada, sempre será fundamentada no Amor, que também é o propósito de toda Ação, de todo o Poder e de toda a Sabedoria. Qualquer criação fundamentada fora do Amor é vaidade.

Duas figuras representam, em seu mais elevado grau, os polos feminino e masculino: a Virgem Maria que personifica o polo feminino e Hiram Abiff – o Construtor do Templo de Salomão – que representa o polo masculino. Lázaro, por sua vez, representa o fruto dessa união, ou o ser andrógeno ressuscitado pelo Leão de Judá, o Cristo. Ele, junto a Jesus, alcançou a vida eterna pela união dos dois polos. Essa androgenia foi majestosamente representada por Leonardo da Vinci na obra ‘A Última Ceia’, em que São João Evangelista é representado como um ser andrógeno.

Originalmente, o mundo foi concebido em equilíbrio e cooperação perfeita entre os polos masculino e feminino. Aqui todos os elementos da Natureza operam em consonância para a benignidade e para a vida. Condição conhecida na Bíblia como Jardim do Éden. Com o evento conhecido por “Queda do Homem” tanto o ser humano como a Natureza passaram a ser divididos: ao mesmo tempo em que a Natureza nos fornece a vida e o alimento de cada dia, há vírus, micróbios, vermes, infectuosos, animais e plantas que sugam, parasitam, lutam e matam. Catástrofes e desgraças provindos da Natureza, passaram a ocorrer após a “Queda do Homem”. Esse fenômeno é ilustrado por Ezequiel no Capítulo 31, versículos 16-17: “Ao som da sua queda fiz tremer as nações, quando o fiz descer ao inferno, com os que descem à cova; e todas as árvores do Éden, a flor e o melhor do Líbano, todas as árvores que bebem águas, se consolavam nas partes mais baixas da terra. Também estes com ele descerão ao inferno a juntar-se aos que foram traspassados à espada, sim, aos que foram seu braço, e que habitavam à sombra no meio dos gentios”.

Do mesmo modo, passamos a ter duas Naturezas pós-queda: uma superior (Imagem de Deus) e outra inferior (que atualmente é dessemelhante a Deus). A busca pelo reestabelecimento da condição antiga é meta do Aspirante a vida superior – o Estudante Rosacruz – e a Nova Jerusalém só poderá ser uma verdade quando essa condição for alcançada por nós.

O principal motivo pelo qual não atingimos esse estágio ocorre pelo fato de não compreendermos o Mistério do Divino Feminino e da não aplicação desse saber em nossa vida. A pureza é o elemento fundamental que transcende a experiência humana para além da representação ou do conhecimento cerebral (sombra da real essência pensante do Ego). Ao se buscar a pureza, alimenta-se a Virgem Maria interior, que desperta um saber acima do intelecto e permite a experiência da verdadeira Vida.

A quinta essência do polo masculino, conhecida na Fraternidade Rosacruz como quintessência da linhagem de Caim, se alimentada isoladamente, deslocada da pureza, seduzirá a pessoa ao ponto de acreditar ser detentora de grande poder e que pode bastar em si mesma.

O polo masculino isolado, então, jamais produzirá um poder epigenético (originalidade) colaborativo à Grande Obra. A originalidade sem pureza é muito perigosa, sendo sua expressão máxima manifestada em alguns sistemas econômicos atuais. Por exemplo, o capitalismo, que tem foco na produção e no lucro, induz seus adeptos (ainda que inconscientes em sua maioria) para a necessidade de ambição e originalidade. Estabelece, assim, a competição entre as pessoas. Pelo modo como esse sistema é aplicado hoje (sem pureza), aquele que tiver a melhor ideia (ou a ideia mais lucrativa) ganhará sua promoção ou recompensa. Por ser unilateral, possui efeitos colaterais como a exacerbação do individualismo, da vaidade e a periferia econômica-social.

Obviamente que os conceitos de: dinheiro, poder, amor e fama são os elementos colocados pelos Grandes Líderes da humanidade como fonte motivacional para que saíamos da inércia e dinamizamos nossos poderes latentes, por meio da obtenção de experiências e aprendizagem (ainda que isso pareça um absurdo quando se contempla a miséria que um sistema unilateral, como o acima mencionado, promove).

Lembrando o que estudamos no Conceito Rosacruz do Cosmos: “O Amor, a Fortuna, o Poder, a Fama! Eis os quatro grandes motivos de toda ação humana. O desejo de alguma ou várias destas coisas é o motivo por que o ser humano faz ou deixa de fazer algo. Os grandes Líderes da humanidade agiram sabiamente quando lhe deram tais incentivos para a ação, a fim de obter experiências e aprender. O Aspirante à vida superior deve continuar usando-os como motivos de ação, firmemente, mas deve transmutá-los em algo superior. Por meio de nobres aspirações, deve saber transcender o amor egoísta que busca a posse de outro Corpo, e todos os desejos de fortuna, poder e fama fundamentados em razões pessoais egoísticas. O Amor pelo qual se deve aspirar é unicamente o da Alma; que abarca todos os seres, elevados e inferiores e que aumenta em proporção direta às necessidades daquele que recebe. A Fortuna pela qual se deve lutar é somente a abundância de oportunidades para servir os semelhantes. O Poder que se deve desejar é o que atua melhorando a humanidade. A Fama pela qual se deve aspirar é a que possa aumentar nossa capacidade de transmitir a boa nova, a fim de os sofredores poderem encontrar o descanso para a dor do seu coração.”

No entanto, a questão que fica é o modo como utilizar os conceitos de fortuna, poder, amor e fama: se houver correspondência aos raios inferiores de Marte e Vênus, tem-se uma vida comum e materialista; por e outro lado, se houver preenchimento destes conceitos com coragem, bravura, intrepidez, simetria, simpatia e Amor, pode-se despertar o raio universal de Urano e concretizar, aqui e agora, a Nova Jerusalém.

Atualmente, o polo masculino impera de modo invertido na grande maioria das pessoas, principalmente nas pessoas que possuem Mentes com poder material e que determinam aquilo que seguramente as massas aderirão. Aqui existem dois problemas:

O foco unilateral no polo feminino (linhagem de Água) também possui seus efeitos colaterais: mesmo que promova a experiência de fidelidade e pureza, induz o ser humano a mergulhar no “Eu verdadeiro” – o Ego, a Individualidade – e suspender todas as suas faculdades pessoais. Quem busca o “Eu verdadeiro” suprimirá o centro falso que é o “Eu inferior” (alimentado isoladamente pelo polo masculino isolado). Nessa libertação radical se atinge o estado de consciência sem sopro e sem reflexão. Aqui se alcança a transcendência do fenômeno de existir no “Eu inferior”; de qualquer senso de consciência do tempo, espaço e causa. Chega-se na dissolução do senso do ser individual. Em outras palavras, mata-se a Personalidade!

Entretanto, o método inaugurado por Cristo-Jesus – o Cristianismo – é o mais eficaz no propósito de reequilibrar a Natureza e o ser humano. Nele, o Fogo se encontra com o Água e nada se extingue na Personalidade humana. Ao contrário, tudo nela se abrasa. Esta é, de fato, a experiência do binário legítimo ou a união das duas substâncias separadas na essência única (Deus). Em outras palavras, as substâncias continuam separadas (Espírito e Corpo – Binário) para não serem privadas daquilo que é o mais precioso em toda a existência: a aliança livre no amor. Por isso no Cristianismo se diz sobre o dom das lágrimas, pois a Personalidade permanece. O próprio Cristo Jesus chorou na ressureição de Lázaro, que é a personificação da união perfeita entre os polos masculino e feminino.

Neste sentido, o Amor, que é a base do ensinamento do Cristo, só pode se manifestar se houver um binário; se houver um Amante e um Amado; se houver um “Eu” e um “Tu”; se houver Sopro (Espírito, Fogo) e Reflexão (Corpos, Água). Este é o motivo pelo qual Cristo sempre dizia, “Em verdade, em verdade”, referenciando a consonância entre o Espírito (primeiro “em verdade”) e o Corpo (segundo “em verdade”), e que dessa fecundação, nascerá a Alma, que são os poderes anímicos, como aprendemos na Fraternidade Rosacruz, que é a Tríplice Alma: Alma Consciente, Alma Intelectual e Alma Emocional. Também este é o verdadeiro motivo pelo qual Ele curou um doente (fruto do círculo fechado) num Sábado, reabrindo a espiral em que Deus vem até o ser humano e o ser humano vai até Deus.

O principal meio para alcançarmos a união verdadeira entre os polos masculino e feminino (Originalidade-Pureza) é o Amor. Não é possível amar unilateralmente. Para o Amor se manifestar, deve haver os dois polos, em relação. Um alimenta o outro, sendo a Cristificação o fruto deste casamento. Somente assim a Nova Jerusalém se tornará uma realidade.

Do ponto de vista prático ou do cotidiano, dois são os meios que se pode atingir da união de complementares (Masculino-Feminino; Eu-Tu; Hiram-Rainha de Sabá; Espírito-Corpo; Sopro-Reflexão; Originalidade-Pureza): no nível pessoal (regeneração da Personalidade) e no nível coletivo (serviço amoroso e desinteressado aos outros), sendo que um aprimoramento não pode existir sem o outro. Isso está de acordo com a lógica de “espirais dentro de espirais” ou “de como é em cima, é embaixo”. Em ambos os níveis, a Imaculada Concepção e a Glória de Shekinah são alcançadas.

Os alquimistas revelaram uma grande verdade quando declararam que a Pedra Viva (o corpo da Nova Era) era formada pela união do Sol (polo masculino) e da Lua (polo feminino), e o percurso dos Astros no Sistema Solar, o Corpo-Templo de Deus, possui um correlato similar do Corpo-Templo do ser humano. Este é um dos maiores simbolismos do Corpo Humano.

A Semente Sol e a Semente Lua, conforme o Estudante Rosacruz se torna dedicado na busca espiritual, a cada ano, imediatamente após o Solstício de Junho, a Semente-Sol, ou semente masculina, inicia seu circuito anual através do corpo, simulando o caminho do Sol em seu curso pelo céu. As correntes vitais no ser humano e na Natureza estão sempre em sincronia, a menos que atrapalhemos esta harmonia. No Equinócio de Setembro a Semente-Sol alcança o centro do coração e no Solstício de Dezembro, o Sol alcança sua maior declinação, no Sul. Na humanidade comum, este ponto é onde fica o Plexo Celíaco. No Equinócio de Março, toca novamente o coração e, finalmente, no Solstício de Junho a semente-Sol toca a sua “Casa” que é a Glândula Pineal. Mas neste caso, temos as correntes vitais de um Adepto (um ser humano que já possui as Nove Iniciações Menores e uma Maior). Podemos utilizar a figura de uma lemniscata para ilustrar esse ponto: aqui, o ponto de maior declinação sul é na base do coração, enquanto em nós, humanidade comum, o ponto mais baixo é na região do Plexo Celíaco. Do mesmo modo, o ponto onde há o cruzamento do fluxo da energia vital, no Adepto ocorre na Laringe, seu novo órgão criador, enquanto em nós, ocorre no coração. Concomitante ao ciclo do Sol ocorre o ciclo da Lua.

A Semente-Lua (princípio feminino) segue o caminho da Lua. Na Lua Cheia, temos a ativação do centro da geração (Plexo Celíaco) – se a força sexual permanecer na pessoa, então ela subirá: “Qualquer um que é nascido de Deus não comete pecado; porque a sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus.” (1Jo: 3-9). Quando ocorre a Lua Cheia, a ativação da força de vida é sempre abundante, mas, a maior parte de nós acaba por derramá-la no robustecimento da incongruência entre Espírito, Alma e Corpo. Para aqueles que buscam uma vida casta, que é o esforço consciente para manter a sincronia entre Espírito (Céu), Alma (Purgatório) e Corpo (Terra), a semente permanecerá nele. Assim, o fluxo de energia de vida seguirá sua ascensão, a cada mês e, na Lua Nova, tem-se a ativação da Glândula Pituitária ou Corpo Pituitário. Se o Estudante Rosacruz for capaz de, a cada mês, trilhar o caminho da santidade, que é a mais solene preparação e com a maior reverência e devoção, então a semente permanecerá nele (12 sementes a cada ano, uma a cada ciclo da Lua em um Signo do Zodíaco). Assim, quando ocorrer o Solstício de Junho, as 12 sementes Lunares (polo feminino) serão unificadas a uma semente Solar (polo masculino). A fusão entre as sementes ocorre no terceiro ventrículo cerebral, que é a ponte entre as Glândulas Pituitária e Pineal. Por isso o terceiro ventrículo chamado de a cama da lua de mel, em que a Criança Santa (a união entre as sementes Lunar e Solar) é concebida e nascida. Também é chamado de “manjedoura” e as Glândulas Pituitária e Pineal denominadas: Pai e Mãe. O desequilíbrio desse processo, fruto da “Queda do Homem” no Jardim do Éden, causou a perturbação da sincronia entre as correntes de força cósmica e as correntes de força humana, que têm a mesma origem (“como em cima, é embaixo”). Este foi o nosso pecado, quando vivemos na antiga Lemúria (na Época Lemúrica), desperdiçamos nossas sementes sem levar em conta a lei e sem considerar o amor. Mas é nosso privilégio, enquanto Cristãos, nos redimir, pela pureza de nossa vida, em memória do Senhor. São João diz: “Sua semente permanece n’Ele” e este é o significado oculto “do pão e do vinho”. Vale lembrar que santidade é algo muito maior do que ter ou não ter relação sexual. “Não é o uso, mas o abuso que produz todas as perturbações e que interfere com a vida espiritual. Não há necessidade alguma de abandonar a vida superior quando não se possa ser casto, nem é necessário ser estritamente casto para passar pelas Iniciações Menores” (Max Heindel). A força sexual deve ser direcionada para outros propósitos, de modo a, gradativamente, sublimarmos a tendência passional e egoísta de satisfação pessoal, e a empregarmos em fins espirituais. Astrologicamente, isso é feito pela transmutação da paixão de Marte e do amor de Vênus (sensual e pessoal) no altruísmo de Urano exaltado em Escorpião, o Signo da regeneração.

“A Sala Oeste do Tabernáculo era tão escura como os céus o são quando a luz menor – a Lua – encontra-se na parte oeste do céu em oposição ao Sol, isto é, na Lua Nova, quando começa um novo ciclo num novo Signo do Zodíaco. Na parte mais ocidental deste escuro santuário ficava a Arca da Aliança com os Querubins pairando acima dela, e, também, a ardente Glória de Shekinah, da qual saía a Luz do Pai que comungava com Seus adoradores, mas que para a visão física era invisível, portanto, escura” (Max Heindel em Iniciação Antiga e Moderna). Para a compreensão do que é a Glória de Shekinah, devemos ter em mente que o elemento Fogo está presente em todo o universo. Não há nada que exista que não esteja envolvido por tal elemento. Talvez seja difícil compreendermos este fato, pois associamos fogo com chama. Mas bem sabemos que o fogo guarda a mesma relação com a chama que o Espírito tem com o Corpo; o Espírito é invisível assim como o fogo, e o corpo representa a chama, que é o fogo manifestado. Assim como a Árvore da Vida possui seu correlato no corpo do ser humano, assim também as partes do Tabernáculo do Deserto possuem correlatos anatômicos e funcionais com nosso Corpo-Templo. “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (ICor 3:16). A cabeça é o correlato anatômico da Sala Oeste do Tabernáculo do Deserto. Essa Sala é também conhecida como o Santo dos Santos ou Sanctum Sanctorum. Nenhum mortal poderia passar o véu que separava a Sala Leste da Sala Oeste, somente o Sumo Sacerdote em uma ocasião especial do ano, chamado Yom Kippur, o Dia da Expiação, é que podia ali adentrar. O Tabernáculo inteiro era o santuário de Deus, mas, neste lugar, sentia-se o imponente poder de Sua presença, a morada excepcional da Glória de Shekinah, e qualquer mortal tremeria dentro deste recinto sagrado, como devia acontecer ao Sumo Sacerdote no dia da Expiação (Max Heindel). Mesmo assim, essa entrada pelo Sumo Sacerdote, era feita após a mais solene preparação e com a maior reverência e devoção. É justamente sobre esta preparação que a Imaculada Concepção possui sua importância, pois somente “os puros verão a Deus”. No mundo existe matéria-prima dada por Deus, que é simbolizada pelo trigo. Ora, do mesmo modo que o trigo é a matéria-prima para elaboração e consumo do pão, os eventos de cada dia se apresentam como oportunidades de trabalho (originalidade) com a matéria-prima (gratidão, devoção e pureza), dadas por Deus, para elaboramos o “Pão da Vida”, que alimenta o Espírito. Note que a cada evento que nos deparamos, todos os dias, podemos enfocar nossa Mente sobre ele, e aqui trabalharemos com a matéria-prima do Mundo do Pensamento. Transformando o trigo em pão pelo emprego da duplicidade Originalidade-Pureza. O mesmo para os sentimentos que são despertados em nós na vivência dos fatos da vida. Se deixarmos que a nossa Natureza emocional degenerada sempre permaneça, sairemos da vida com o mesmo temperamento que entramos. Isso significa que não trabalhamos com a matéria-prima (trigo) do Mundo do Desejo que nos foi dada e, por isso, não produzimos nenhum pão. “Porque a qualquer que tiver será dado, e terá em abundância; mas ao que não tiver até o que tem ser-lhe-á tirado.” (Mt 25:29). O mesmo para os hábitos que são o resultado que fazemos com o Corpo Vital. Se adquirirmos vícios e maus hábitos nesta vida, significa que estamos destruindo nosso Corpo-Templo que Deus habita e, nas próximas vidas, teremos mais doenças e morte. Finalmente, se não cuidamos de nosso Corpo Denso e do ambiente que vivemos (nossos lares e todos os locais que passamos), também deixamos de construir o “Pão da Vida”. Aqueles que já desenvolveram suas capacidades estão envolvidos nos sistemas acadêmicos, religiosos, políticos e artísticos, promovendo melhorias em nível coletivo, alcançaram consciência e capacidade que permitiram que seu círculo de ação fosse expandido. Veja que a vida se torna muito mais do que ter de trabalhar, comer, beber, nos momentos livres dedicar-se as distrações, prazeres e descansar. Se não criarmos vias originais para que a energia sexual floresça, com certeza ela fluirá para os órgãos sexuais e jamais a Imaculada Concepção permitirá a abertura dos olhos para ver o Fogo Invisível ou a Glória de Shekinah. O contato com o Altíssimo jamais ocorrerá, pois “somente os puros verão a Deus”. Com os “olhos abertos”, vendo face a face, um maior alcance de serviço amoroso nos será inaugurado e poderemos servir lá, como aqui procuramos servir. A Nova Jerusalém será, então, uma verdade. “E serás uma coroa de glória na mão do Senhor, e um diadema real na mão do teu Deus. Nunca mais te chamarão: Desamparada, nem a tua terra se denominará jamais: Assolada; mas chamar-te-ão: O meu prazer está nela, e à tua terra: A casada; porque o Senhor se agrada de ti, e a tua terra se casará. Porque, como o jovem se casa com a virgem, assim teus filhos se casarão contigo; e como o noivo se alegra da noiva, assim se alegrará de ti o teu Deus” (Is 62:3-5).

(Trecho do Livro The Life and Mission of the Blessed Virgin – Corinne Heline – traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz-Campinas-SP-Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Dos Mitos e das Suas Profundezas

No decurso dos passados milênios, as sublimes Hierarquias Criadoras lançaram mão de vários elementos para educar a humanidade, visando conduzi-la, com segurança, à superação das etapas de seu desenvolvimento. Um desses elementos, por sinal dos mais notáveis, é o mito. Os mitos, através de narrativas, aparentemente inocentes ou fantasiosas, projetam ideias ou imagens arquetípicas de verdades espirituais na mente humana. Revelam, de uma forma sutil e simbólica, as multifaces do caráter humano, suas falhas e virtudes, seus ideais legítimos e os obstáculos que impedem sua concretização. Indicam também os passos a serem dados para que sejam atingidas as metas elegidas pelas aspirações da humanidade.

O conhecimento da mitologia é, assim, conhecimento do próprio ser humano. Os Estudantes Rosacruzes que completaram o Curso Suplementar de Filosofia Rosacruz, familiarizaram-se com alguns mitos e lendas do norte da Europa. Puderam constatar em Lohengrin, Parsifal, Siegfried e outros, as suas próprias lutas, quedas e aspirações.

Outras narrativas, não menos importantes, oferecem-nos profundos ensinamentos. Uma delas, por exemplo, a de Ulisses, imortalizou a “Odisseia” de Homero.

A epopeia de Ulisses constitui o símbolo do ser humano que procura a verdade em si mesmo. O personagem deixa seu lar, onde é feliz com Penélope e o filho Telêmaco, seguindo para Tróia. O rapto de Helena e a guerra não passam de pretexto. Ulisses aceita o desafio imposto naturalmente pela vida. Percebe um mundo de ilusões à sua frente e renuncia a tudo — comodidade e segurança — para romper esse véu de aparências.

Tróia foi derrotada, mas, era apenas o começo da grande jornada. O primeiro obstáculo foi ultrapassado. Porém, o que viria pela frente? Eis a sempre presente indagação, inseparável companheira dos buscadores da verdade.

O que aparentava ser o regresso triunfal, consistia, de fato, na fase mais difícil dos desafios. Os deuses decidiram que nenhum grego vitorioso regressaria ao lar, a menos que arrostasse todos os obstáculos da viagem, ou via interior.

Ulisses depara com a ninfa Calipso, sedutora, mas possessiva; com princesa Nausicaa, e, finalmente, com a feiticeira Circe, com quem teve quatro filhos, embora a odiasse. Mil perigos o espreitam e atormentam, na tentativa de impedir seu retorno a Ítaca. Tentações as mais sutis procuram envolvê-lo. A caminhada é árdua, exigindo, às vezes, do viajante, que não confie nem na sua própria vontade. O canto das sereias costuma ser irresistível.

A crueza das provações parece tornar impossível o prosseguimento. Isso, todavia, é parte dos desafios.

Depois de 20 anos Ulisses retorna à bela Ítaca, encontrando Telêmaco já ser humano feito e Penélope mais formosa do que nunca. Isso significa que, vencidas as dificuldades, desmascaradas todas as sutilezas e falsas aparências, superando digna e estoicamente o sofrimento, o ser humano se renova interiormente, imprimindo mais ampla dimensão ao seu mundo interno. Observa, a partir de então, um sentido superior em todas as coisas. Aprende a contemplá-las em sua formosura e harmonia. Recordemos que Max Heindel sempre nos exortou a fortalecer o bem através de nossos pensamentos e sentimentos.

Assim, uma transformação se opera no ser humano. As agruras da jornada, a dor miraculosa, afastaram-no definitivamente da irrealidade, do superficialismo, da vulgaridade. Não acalenta mais sonhos banais, nem ilusões, nem utopias. Amadurecido internamente, sente o indizível gozo de saborear a verdade em tudo, porque soube encontrá-la em si mesmo. É sempre assim: o mundo exterior é um reflexo do interior. Os mitos também nos ensinam essa verdade.

Com a primeira vinda de Cristo e todo o Ensinamento Cristão que ele nos deixou, a aprendizagem por meio de mitos ficou ultrapassado, por oferecer um ensinamento referencial e, para quem é Cristão, um tanto superficial de quem somos, porque estamos aqui e para onde vamos. É importante conhecer para até compreendermos como o jeito de nos ensinar é trabalhado pelas Hierarquias Criadoras e perfeito para cada estágio que nos encontramos – e, também, para eliminarmos alguma parte de algumas lições que não aprendemos, quando o método de aprendizagem eram por meio de mitos. Sem dúvida, como a escala de evolução é constante e deve abranger a todas as necessidades de todos os irmãos e de todas as irmãs sempre, há irmãos e irmãs que ainda necessitam desse método de aprendizagem para compreender que somos muito mais do que somente esse Corpo Denso, o físico. Mas, todos esses irmãos e todas essas irmãs, um dia, abraçarão o Cristianismo e por meio dele aprenderá tudo o que precisa para caminhar nesse Esquema de Evolução.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de agosto/1977-Fraternidade Rosacruz-SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Superando a Morte

Por Max Heindel

Algum tempo atrás eu tive o privilégio de falar com vocês sobre o assunto “a nota-chave do Cristianismo” e no decorrer dessa palestra trouxemos à nossa Mente o encontro de Pilatos com Cristo, em que a grande e importante pergunta foi feita: “O que é a verdade?”. Vamos olhar para essa imagem mais uma vez. Lá está Pilatos, o representante de César e, em virtude desse fato, uma encarnação do mais alto poder temporal, um governante de todo o mundo com poder sobre a vida e a morte, um homem diante de quem todos tremem. Diante dele está o Cristo, manso e humilde, mas muito maior, pois enquanto esse homem, Pilatos, tem poder sobre o mundo presente, que é evanescente e temporal, ele mesmo está sujeito à morte. Mas Cristo é o Senhor da Vida, o Príncipe de um Reino espiritual que não passa. Ele não responde à pergunta de Pilatos, “O que é a verdade?”, mas em outra ocasião, ele disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida[1]; e “A Verdade vos libertará[2].

Não se pode negar que estamos agora sob a lei do pecado e sujeitos à morte. A grande questão é, portanto: como encontrar a verdade que nos libertará real e verdadeiramente? Com o propósito de encontrar o caminho, vamos dar uma olhada na aurora dos tempos, quando a humanidade infantil veio pela primeira vez à Terra. De acordo com a Bíblia, uma névoa subiu da Terra quando a crosta do Planeta, que esfriava, secou; quando olhamos para essa Época na Memória da Natureza, encontramos um maravilhoso crescimento tropical de tamanho gigantesco cobrindo a bacia da Terra onde agora está o Oceano Atlântico. Realmente, era um verdadeiro jardim, mas a névoa era tão densa que a luz do Sol nunca poderia penetrá-la; então a humanidade infantil vivia nesse paraíso como filhos do Grande Pai. Eles tinham corpos nessa Época como têm agora, mas não tinham consciência deles, embora pudessem usá-los, assim como usamos nosso aparelho digestivo sem estarmos conscientes disso. E embora eles fossem incapazes de ver fisicamente, a visão espiritual era uma faculdade ainda possuída por todos. Assim eles se viam alma-a-alma; não havia malícia nem hipocrisia, mas a verdade estava com todos.

Gradualmente, no entanto, a névoa clareou e se tornou uma enorme nuvem, envolvendo o Planeta. Simultaneamente, esses “filhos da névoa”, os Niebelungos, começaram a se ver vagamente; tornaram-se cada vez mais “internalizados” em seus Corpos Densos e perceberam finalmente que esse veículo é uma parte do ser humano. Contudo, ao mesmo tempo, eles gradualmente perderam contato com os Mundos espirituais; já não viam a alma com clareza e até mesmo a voz das Hierarquias espirituais, que antes os guiavam como um pai guia seus filhos, tornou-se fraca e vaga. Com o passar do tempo, a nuvem que pairava sobre esse vale havia se condensado o suficiente na atmosfera fria, de um tão denso que se liquefez e caiu sobre a Terra em diversos dilúvios que levou esses “filhos da névoa” até as terras altas, onde, na atmosfera clara e sob arco-íris, eles se viram cara-a-cara pela primeira vez. Gradualmente a grande ilusão de que “somos corpos” tomou conta de tudo; a alma não era mais vista, nem podiam eles ouvir a voz do Grande Pai que cuidou deles durante sua infância, naquele estado paradisíaco. A humanidade ficou órfã, à deriva no deserto do mundo. A vida tornou-se uma luta contra a Morte.

Logo, a maioria da humanidade parecia esquecer que havia um estado tão feliz, embora a história vivesse em canções, em lendas, e houvesse, como ainda há, em cada peito humano um profundo e inerente reconhecimento dessa verdade, uma memória de algo que se perdeu, algo mais precioso do que qualquer coisa que o mundo possa dar. E há, portanto, em cada peito humano um profundo anseio por aquela companhia espiritual que perdemos pela identificação com nossas naturezas inferiores. Encontramos uma encarnação desse anseio no Tannhauser[3], que entrou no Monte de Vênus para satisfazer seu desejo inferior. Depois de algum tempo, ele anseia pelo mundo que deixou e implora a Vênus que permita que ele parta para que possa desfrutar novamente do sofrimento, das torturas de um amor não correspondido, pois ele se cansou do que ela lhe deu gratuitamente. Como ele diz:

Um Deus pode amar sem cessar,

Mas sob as leis do alternar,

Nós, mortais, precisamos em medida ter

Nossa parcela de dor, assim como de prazer.

Esse foi o propósito quando a humanidade foi conduzida da Atlântida[4] para a presente Era do arco-íris[5]; a Lei da Alternância foi dada para que possamos colher como semeamos (Gl 6:7), para que a tristeza e a alegria mudem conforme as estações se sucedem em uma sequência ininterrupta; e, assim, deve continuar até que o sofrimento gerado por nossas transgressões tenha demolido a crisálida que agora mantém a alma agrilhoada, enquanto a natureza inferior se alimenta das cascas da materialidade. A princípio, a humanidade se deleitou com o poder sobre o mundo e nasceu o orgulho da vida; a luxúria dos olhos era grande, mas, embora “os moinhos dos Deuses moam lentamente, eles moem extremamente bem”[6]; mesmo que possamos alcançar o poder, embora a saúde e a prosperidade possam ser nossos servos hoje, chegará um dia em que, como Fausto[7], sentiremos que a vida não tem valor. Então começa a luta de que Fausto fala a seu amigo Wagner com as seguintes palavras:

Tu, por um único impulso, és possuído;

Inconsciente do outro ainda permanece.

Duas almas estão lutando em meu peito

E batalham lá pelo reinado indiviso.

Uma pela terra, com desejo apaixonado,

E a roupa bem colada ainda adere;

Acima da névoa a outra aspira

Com ardor sagrado a esferas mais puras.

São Paulo também descobre que há dentro dele uma natureza inferior, “os desejos da carne[8], que luta contra as ânsias e os desejos do espírito, mas Goethe, com a maravilhosa penetração do Místico, resolve o grande problema para nós. À pergunta “O que devemos fazer para que possamos alcançar a libertação?”, ele responde:

De todo poder que mantém a alma acorrentada,

O homem se liberta quando o autocontrole ele ganha na sua Jornada.

Podemos, como Pilatos, ter autoridade, talvez não tão grande autoridade. Mas, mesmo supondo que fosse possível a qualquer um de nós se tornar um “governante do mundo” e exercer autoridade sobre a vida e a morte de toda a humanidade, de que isso nos serviria, se não fôssemos capazes de conquistar e controlar a nós mesmos? Por meio de agressão física, César, o mestre de Pilatos (a quem ele representa) conquistou o mundo e todos lhe prestaram homenagens; mesmo assim o seu reino durou apenas alguns anos. Então, o sombrio espectro da morte veio para acabar com sua vida e seu domínio no Mundo Físico. Olhe para o outro, o Cristo, que permaneceu manso e humilde, mas capaz de dizer: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; (…) todo aquele que crê em Mim não perecerá, mas terá a vida eterna[9]. O governante do mundo, apesar de todo o seu poder e pompa aparentes, ainda está sujeito à morte, mas Aquele que aprendeu a ter poder sobre si mesmo, Aquele que conquistou sua natureza inferior, o corpo de morte, assim se fez ele mesmo o Senhor da Vida, com um reino que é eterno nos Céus. E é dever de cada um de nós seguir Seus passos, pois Ele disse: “estas coisas que eu faço vós também as fareis e maiores[10]. Cada um de nós é um Cristo em formação, um vencedor no sinal da cruz.

E quando será isso? Quando o sentimento do egoísmo aprisionou o espírito no corpo, perdemos a alma de vista e a morte se tornou nossa porção. Assim que superarmos esse sentimento de egoísmo pelo altruísmo, assim que abandonarmos e esquecermos de nós mesmos e formos iluminados pelo Espírito Universal, teremos vencido o grande inimigo. Então, estaremos prontos para subir na cruz e voar para as esferas mais altas com aquele glorioso grito de triunfo: “Consummatum est” — foi realizado.

O Caminho é pelo Serviço. A verdade é que pelo serviço servimos a nós mesmos, pois todos somos um em Cristo. A Vida é a Vida do Pai, em Quem nós vivemos, nós nos movemos e existimos, e em Quem, consequentemente, não pode haver morte.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de agosto/1917 e traduzido pelos irmãos e irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)


[1] N.T.: Jo 14:6

[2] N.T.: Jo 8:32

[3] N.T.: Tannhäuser und der Sängerkrieg aus Wartburg (Tannhäuser e o torneio de trovadores de Wartburg, em alemão) é uma ópera em três atos com a música de Richard Wagner, e com o libreto do próprio compositor, de 1845. A ação decorre ao pé de Wartburg, terra de grandes cavaleiros trovadores, onde se realizavam pacíficos concursos de canto, no século XIII. Reza a lenda que ao pé de Wartburg existia o monte de Vênus onde a bela deusa atraía e mantinha cativos no puro deleite, os cavaleiros trovadores. Tannhäuser caiu na quentes garras de Vênus. Essa obra é estudada no Curso Suplementar de Filosofia Rosacruz.

[4] N.T.: na Época Atlante

[5] N.T.: a presente Época Ária

[6] N.T.: antigo provérbio alemão

[7] N.T.: Fausto (em alemão: Faust) é um poema trágico do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe, dividido em duas partes. Está redigido como uma peça de teatro com diálogos rimados, pensado mais para ser lido que para ser encenado. É considerado uma das grandes obras-primas da literatura alemã. Essa obra é estudada no Curso Suplementar de Filosofia Rosacruz.

[8] N.T. Rm 13:14

[9] N.T.: Jo 14:6 e 11:25

[10] N.T.: Jo 14:12

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Pergunta: Quando e como será a Era de Aquário?

Resposta: A Era de Aquário ainda não chegou, embora sua influência já comece a ser sentida, mas não estará integralmente conosco a não ser daqui a aproximadamente 600 anos. A Era de Aquário é resultante de um movimento do eixo da Terra, similar ao movimento de um pião que está perdendo sua velocidade de rotação, que é chamado de Precessão dos Equinócios. O Equinócio é o momento em que o Sol, em seu o movimento aparente em torno da Terra, cruza o equador celeste. Seria, portanto, a intersecção da eclíptica com o equador celeste. O Equinócio se dá em dois momentos: um na primavera e outro no outono. O Equinócio de Março é o momento em que o Sol cruza o equador celeste no sentido sul-norte. Nesse momento, o Sol está em conjunção (ou aponta) para um grau de um determinado Signo em um dado grau. Devido ao movimento de Precessão dos Equinócios, a cada ano, o Sol aponta para um grau do Zodíaco que precede o do ano anterior. Assim, se em um ano o Sol cruza o primeiro grau de Áries, no ano seguinte, cruza em um grau dentro do Signo de Peixes (o movimento é no sentido inverso ao movimento aparente anual do Sol ao longo do Zodíaco). Esse movimento retrógrado é muito lento, cerca de 25950 anos para dar uma volta completa no Zodíaco e cerca de 2160 anos para cada Signo. A última vez que o Sol apontou para o primeiro grau de Áries foi em torno do ano 500 DC. Atualmente, está em torno dos 8 graus de Peixes, alcançando o 30º grau de Aquário (início da Era de Aquário) em torno de 2600 DC.

Podemos reconhecer a influência pisciana ao longo dos últimos dois mil anos. A superstição, a censura intelectual e a fé cega são bem conhecidas da história da humanidade. Por outro lado, os ensinamentos de amor e altruísmo deixados por Cristo dificilmente seriam internalizados sem a força da fé, mesmo sendo uma fé cega. A Era de Peixes pode ser, portanto, lembrada como a Era da , em oposição ao que será a Era de Aquário, a Era da Razão, mas é durante a Era de Peixes que estão sendo lançados os pilares do Cristianismo — amor e altruísmo – a um círculo crescente de crentes. Aquário tem uma influência intelectual que é original, inovadora, mística, cientifica, altruísta e religiosa.

Durante a Era de Aquário, veremos a mistura da Religião com a Ciência a tal grau que dela resultarão uma Ciência religiosa e uma Religião científica, cada uma aprendendo com as experiências e descobertas da outra.

(Publicado no Ecos da Fraternidade Rosacruz no Rio de Janeiro-RJ-janeiro/fevereiro/março/2001)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Os Essênios, Aqueles que Transformaram a Religiosidade

Séculos antes da era Cristã, os essênios, em sua grande ordem mística com ramos em muitas partes do mundo então conhecido, desejavam, como principal objetivo na vida, alcançar o aperfeiçoamento de seus membros em toda a justiça para que pudessem ser dignos de Deus e trazer ao mundo o Grande Messias. De acordo com os registros, tanto esotéricos e exotéricos, Jesus nasceu dentro dessa Ordem e foi treinado por eles durante os “anos ocultos da sua vida”, em seus vários ramos e centros; finalmente, depois foi enviado “para efetuar uma revolução moral e religiosa”.

Assim, com o passar do tempo, veio a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, que marcou época, nas cavernas do distrito de Kirbet Qumran, apresentando esses fatos. De acordo com a sabedoria dos essênios, não existe acaso no universo de Deus — todas os eventos são determinados por um plano ou destino e tudo acontece no tempo normal para eles, nada ocorrendo que não tenha sido predeterminado. Assim declaram os mestres da arte de viver, mestres que produziram um grupo de pessoas que se destacaram na retidão e no desenvolvimento dos “dons do espírito” e na obtenção da consciência cósmica mais do que qualquer um de seus sucessores.

Está registrado que nenhuma profecia deles falhou. Essa precisão significava sua sobrevivência nos dias de Herodes, o Grande, e sua dispensa de fazer os odiados juramentos, até mesmo o de fidelidade. A história nos conta que um essênio, um tal de Menahem, famoso não apenas por sua retidão, mas por sua presciência do futuro, conheceu Herodes quando ele era um menino de escola e se dirigiu a ele como “Rei dos Judeus”. Herodes pensou que Menahem não o conhecesse e estivesse brincando. Mas Menahem sorriu, deu-lhe um tapinha nas costas e disse: “Tu, no entanto, serás rei e começarás teu reinado feliz, pois Deus te achou digno disso. Lembre-se das palavras de Menahem. Essa garantia será salutar para você quando amar a justiça e a piedade para com Deus e a igualdade para com os seus cidadãos. No entanto, eu sei que você não será assim, pois posso enxergar tudo. Você obterá uma reputação eterna, porém se esquecerá da piedade e da justiça, que não serão ocultadas de Deus, e Ele, por isso, vai te visitar em Sua ira até o fim da sua vida”. Herodes deu pouca atenção à profecia do essênio na época, pois ele era um plebeu e não tinha qualquer ideia de que pudesse ser feito rei; mas tudo isso ocorreu, como previsto.

Mais uma vez, outro essênio, certo dia no templo, cercado por seus alunos, que ele havia iniciado na arte apocalíptica de predizer o futuro, um certo Judas, a história nos conta, viu Antígono passar. Judas profetizou uma morte súbita para ele, na hora definida de um dia definido, em um lugar muito especial — tudo ocorreu como previsto.

O grande historiador e judeu Josefo, que viveu no primeiro século d.C., esteve entre os essênios por um ano ou mais, deu os detalhes intrincados de suas vidas e trabalhos, da sua crença na reencarnação, na ressurreição e na comunicação com os Anjos. Ele sabia que estudassem assuntos como astrologia, numerologia, frenologia, profecia, vegetarianismo e saúde, cura, oração, meditação e muitos outros. Os essênios acreditavam que o ser humano devesse estudar os grandes livros sagrados da humanidade, todas as grandes contribuições para a cultura, porque sabiam que todos ensinavam a “mesma sabedoria eterna” e que as únicas contradições aparentes viriam da unilateralidade dos seguidores que tentavam interpretá-los. O objetivo do conhecimento não era fornecer alguns fatos ao indivíduo, mas abrir-lhe as fontes da verdade universal. À medida que o aluno lê, as palavras da verdade criam em seu corpo pensante poderosas vibrações e correntes de pensamento que entram em contato com o corpo pensante do grande Mestre que os deu à luz — tudo isso era bem conhecido por esses místicos.

Estranho narrar como uma profecia de Josefo, o historiador, salvou sua vida na época do levante judeu contra os romanos, quando ele nomeou governador da Galileia o general romano Vespasiano, retirando da resistência judaica a esperança. Josefo fugiu, mas foi levado até Vespasiano, que o teria enviado a Nero para ser destruído, caso o historiador não tivesse profetizado que seu captor, Vespasiano, iria se tornar imperador de Roma — o que se cumpriu conforme previsto.

A razão pela qual o grande historiador Plínio diz que os essênios são “eternos, de antiguidade sem data” e afirma que “eles existiam milhares de anos antes” de sua época é que os essênios não apenas reivindicam origem mosaica para sua Fraternidade, mas afirmam que alguns deles tiveram um começo ainda mais antigo, voltando ao tempo de Abraão e até antes. Alguns historiadores os identificam com os místicos Reis Pastores que governaram o Egito por volta de 2.000 anos a.C. Posteriormente, eles passaram pelo deserto para a Síria e depois para um país conhecido como Judeia, onde entraram em uma cidade chamada Salém, lugar em que, muito mais tarde, Melquisedec concedeu a Abraão os ritos místicos da Ordem a ser conhecida como a ordem dos Essênios. A história judaica de Ewald, entre outras, observa que “os essênios, ou pessoas que deixaram a grande comunidade para viver a vida santa, eram encontrados em Israel desde os tempos mais remotos e eram anteriormente conhecidos como nazireus (ou nazarenos)”. Assim, eles eram conhecidos no Livro dos Juízes e no Livro dos Reis como a “Escola dos Profetas” e nos tempos dos Macabeus como “Hasidees”. A Ordem não se autodenominava “Essênios”, o que significava “aqueles que aguardam” — esse era um nome dado por outros. Eles também eram chamados de “Amigos”, “Os Puros e Silenciosos”, “Os Trabalhadores Milagrosos”, “Campeões da Virtude”, “Nazarenos”, “Terapeutas”, “Aqueles que curam”, “Os Místicos da Roupa Branca”, o terceiro grupo de judeus cuja saudação foi “a Paz seja convosco”.

O historiador Filo concorda com Plínio quanto ao fato de os essênios serem eternos, “sendo um povo único, mais admirável do que qualquer outro no mundo”, e diz que “os membros da irmandade eram chamados de Campeões da Virtude”. Estrabão menciona os essênios em Heliópolis, Egito, “com quem Platão e Eudoxo se consultaram”. Solinus afirma que “os essênios diferem de todos os outros povos em sua constituição maravilhosa (sendo vegetarianos e vivendo, muitos deles, mais de 120 anos) e, segundo minha opinião, foram nomeados pela Providência divina para esse modo de vida. Eles renunciam ao dinheiro, aos prazeres conjugais e, ainda assim, são os mais ricos de todos os homens”.

Deve-se notar que, enquanto muitos dos essênios eram celibatários, homens e mulheres, e que alguns dos assentamentos fossem apenas para homens (os mosteiros), outros eram comunidades onde cada família tinha sua própria casa e jardim, fazia suas contribuições para a comunidade e iam para os edifícios da assembleia geral para certos ritos e cerimônias. Mulheres eram membros associados. Aqueles que não se casavam criavam órfãos para a comunidade essênia. As crianças estudavam de forma prescrita durante dez anos. Com a idade de vinte anos elas se tornavam elegíveis para membros, ocorrendo a admissão depois da aprovação satisfatória em um exame público com base nas disciplinas obrigatórias e em provas aceitáveis de caráter moral e sólido.

Epifânio, famoso historiador da igreja do século IV, ao falar dos essênios e de suas contribuições para a humanidade, declarou que “Jesus se juntou aos essênios” e que a Ordem, em conexão com suas curas, às vezes usava um Livro de Remédios atribuído ao Rei Salomão. Historiadores (ou obras) como Eusébio, Porfírio, Orígenes, Jerônimo, o Talmud, Midrashismo (estudo hermenêutico do Antigo Testamento) e a Bíblia, entre numerosos e diversos relatos, falam dos essênios.

Entre os historiadores modernos e representativos está Dean Humphrey Prideaux, que declara em seu livro sobre os descendentes dos essênios, Antigo e Novo Testamentos Conectados, que os essênios antecederam as Sagradas Escrituras e condenaram a escravidão, os líquidos fermentados, todos os alimentos à base de carne, a guerra e fabricação de instrumentos bélicos; também anteciparam o verdadeiro espírito do Cristianismo e da filosofia superior do século XX.

O Dr. Graetz, em seu livro A História dos Judeus, diz que “os essênios foram os que primeiro proclamaram o Reino dos Céus”, que João Batista viveu a vida de um nazireu, pertencente aos essênios, e passou a morar com outros essênios, próximo às águas do Jordão, aguardando penitentes que, ao serem batizados, ingressavam na Ordem dos Essênios.

Da mesma forma, uma pesquisa histórica mais meticulosa, a de A. A. Schultz sobre os essênios, compilada a partir de numerosos registros da Sociedade Literária e Filosófica de Liverpool, em 1896, encontra as afirmações acima em documentos escritos em hebraico, aramaico e grego.

A Maçonaria Mística, quando ainda era uma Escola iniciática, localiza o Cristianismo puro na doutrina dos essênios e consideram os “Irmãos do Manto Branco e Sem Costura, ou Ordem Mística dos Essênios, a fraternidade mais importante do mundo”.

Entre muitos dos relatos modernos que afirmam que Jesus e muitos dos personagens do Novo Testamento fossem essênios está o de Frederico II em uma carta a d’Alembert, datada de 17 de outubro de 1770. O rei-filósofo escreveu: “Jesus era claramente um essênio; ele estava imbuído da moralidade dos essênios, grande parte da qual vem de Zenão”.

Os Estudantes Rosacruzes sempre souberam que José e Maria, pais de Jesus, e Isabel e Zacarias, pais de João Batista, estivam associados à Comunidade da nova Aliança, às vezes chamada de “A Aliança”, e sob a influência de “Os Eleitos”, como os essênios se consideravam em virtude do que eles realmente sabiam ser sua missão histórica e divina. Eles transcenderam barreiras que dividiam classes, raças e religiões para incorporar o melhor de muitas religiões dentro de sua própria Ordem. Algo do Zoroastrismo poderia ser encontrado na saudação diária dos essênios ao Sol, possivelmente o Grande Espírito do Sol, o Ser Cósmico que brilhava dentro do Sol físico e radiante, o Ser de Luz, pois chegaria o tempo em que essa Individualidade cósmica tomaria a forma humana para Se tornar a Luz do Mundo. Além disso, o Evangelho Essênio de João dá testemunho do Logos Solar, a Luz do Mundo.

Então, em 1945, 1947 e anos posteriores, quando os Manuscritos do Mar Morto, parte da biblioteca dos essênios, foram descobertos nas cavernas perto do seu monastério, enterrados no distrito de Kirbet Qumran, confirmando muito do que apenas esotericamente era conhecido por alguns, a descoberta foi considerada por grandes estudiosos como marcante de uma época, o achado mais importante e notável dos últimos 2.000 anos. Esses pergaminhos tentam transformar o que se entende por religiosidade ou ortodoxia desde a época de Constantino e do Concílio de Nicéia, em 325 d.C. e as datas posteriores dos vários credos feitos pelo ser humano e acrescentados à doutrina da igreja. Os pergaminhos restaurarão a Religião do Mestre Jesus para a sua forma original, que foi temporariamente.

Um grande dia foi para a Religião do Ocidente, quando o menino beduíno chamado de “Maomé, o Lobo” estava cuidando de algumas cabras perto de um penhasco na costa oeste do Mar Morto e, escalando atrás de uma que havia se desviado, notou uma caverna que ele não tivesse visto antes; então, de forma preguiçosa, jogou uma pedra dentro dela. Houve um som desconhecido de algo sendo quebrado. Assustado, o menino fugiu; mas apenas para voltar um pouco depois com outro rapaz. Juntos, eles exploraram a caverna. Dentro, encontraram vários potes altos de barro, entre fragmentos de outros potes. Quando tiraram as tampas em forma de tigela, surgiu um cheiro muito ruim que vinha de protuberâncias oblongas e escuras que foram encontradas dentro de todos os frascos. Quando as retiraram da caverna, viram que estavam embrulhadas em pedaços de linho e revestidos com uma espessa camada de piche preto ou cera. Eles as desenrolaram e encontraram longos manuscritos, inscritos em colunas paralelas de folhas finas que haviam sido costuradas. Eles se maravilharam com os pergaminhos e os carregaram enquanto se moviam, finalmente contrabandeando-os, junto a outros bens, da Transjordânia para a Palestina, até Belém, onde foram vendidos e, finalmente, chegaram às mãos de estudiosos. Mais e mais cavernas com pergaminhos foram descobertas e os manuscritos foram vendidos, até que, em 1949, os beduínos receberam mais de US$ 87.000 pelo que encontraram. Desde então, eles vinham cortando os pergaminhos e vendendo por US$ 7,00, a polegada quadrada, até que finalmente os estudiosos garantiram algum policiamento e controle sobre esses valiosos manuscritos.

Os estudiosos fizeram vários relatórios sobre o grande significado dos pergaminhos. Quando o Dr. Trevor enviou cópias das colunas do rolo de Isaías para o Dr. W. F. Albright, de John Hopkins, um dos maiores arqueólogos vivos, ele escreveu de volta: “Meus parabéns por uma das maiores descobertas de manuscritos de todos os tempos”. Fixando a data da escrita deles por volta de 100 a.C., ele disse: “Felizmente, não pode haver a menor dúvida sobre a autenticidade do manuscrito. Os pergaminhos querem revolucionar nossa abordagem ao cristianismo”.

O grande erudito franco-hebraico Andre Dupont Sommer, professor de línguas semitas na Sorbonne, em Paris, foi ao Museu Palestino em Jerusalém, manipulou e examinou os pergaminhos que tinham 2.000 anos e, então, disse: “Esses textos nos dão conhecimento direto e imediato das crenças históricas e dos ritos da seita essênia; eles revelam numerosas e precisas semelhanças entre ela e a primitiva igreja Cristã. O essenismo, conforme revelado nos pergaminhos, mais do que qualquer outro movimento judaico, abriu caminho para o cristianismo. Os rolos, portanto, esclareceram um dos problemas mais cativantes da história das religiões, o da origem do Cristianismo”.

Mais tarde, sua observação de que “os rolos fizeram Jesus parecer uma reencarnação do grande Mestre Essênio da Justiça, que viveu por volta de 100 anos a.C.” despertou muita controvérsia na França. Essa ideia foi sugerida por outros e parece provável segundo as circunstâncias. Os essênios seguiram os ensinamentos de Melquisedeque, o Príncipe da Paz com quem Abraão conversou e a quem muitos consideram uma encarnação de Jesus, que disse: “Antes de Abraão, Eu sou; seu pai Abraão viu meu dia e se alegrou em vê-lo”. Portanto, se o Mestre foi Melquisedeque, há razão para acreditar que ele tenha sido uma encarnação posterior, conhecida como Mestre da Justiça, antes de finalmente aparecer como Mestre Jesus. (A única encarnação anterior de Jesus mencionada nos Ensinamentos da Bíblia da Sabedoria Ocidental é Salomão).

Marie Harlowe, escrevendo na Progressive World em 1957, diz: “A singularidade de Jesus é desafiada pela descoberta, nos pergaminhos essênios, de um indivíduo anterior e de caráter semelhante. O Mestre da Justiça estava em notável paralelo com a vida e os ensinamentos de Jesus, conforme relatados nas Escrituras Cristãs. Ele era um líder da comunidade e havia experimentado revelações especiais. Seus seguidores eram os pobres, que se autodenominavam ‘Eleitos de Deus’”.

Além disso, esse Mestre estava em desacordo com os sacerdotes e foi muito perseguido por eles. Sua doutrina dizia respeito ao Céu e ao Inferno e seu ritual mais importante era uma festa ou refeição sagrada. Ele foi condenado e executado entre 65-53 a.C.

Os pergaminhos essênios, escondidos em cavernas — alguns deles, sem dúvida, nos últimos dias antes da destruição de Jerusalém pelos romanos, sob Tito, em 70 d.C. — para serem preservados, possivelmente no intuito de, mais tarde, serem removidos para um lugar seguro, foram, alguns deles, mencionados em nossa Bíblia, como em “A Assunção de Moisés” ou um livro que menciona um Enoque, o sétimo a partir de Adão, que profetizava — entre outros registros que as autoridades da igreja ortodoxa descartaram como espúrios e não-canônicos. Também havia livros em que personagens similares a Jesus ensinavam de forma parecida com ele, fornecendo as fontes de suas informações e aprendizados que, junto de todas as referências feitas a eles, a igreja se esforçou para destruir totalmente. Mas,  em algumas ocasiões ela se atrapalhou. Agora, com a descoberta dos Manuscritos Essênios, tudo veio à luz.

Novamente, por causa das autoridades das igrejas ortodoxas, a quem certos estudiosos consultaram sobre a forma em que esse conhecimento da Religião revolucionária deveria ser apresentado ao público, tem havido muito atraso na América em relação à publicação desse conhecimento. Algumas das autoridades da igreja sugeriram, depois de tentar desacreditar os fatos, que se esperasse cinquenta anos ou mais e deixasse as coisas se ajustarem lentamente. Mas, os leigos estão vitalmente interessados e exigem mais verdade — eles encontraram um pouco dela em algum lugar. Eles aprenderam que os originais de muitos dos livros da Bíblia são diferentes dos que temos.

Entre os rolos importantes encontrados nas várias cavernas estão dois de Isaías, O Testamento de Levi, Os Testamentos dos Doze Patriarcas, muitos livros de Enoque, O Documento Zadoquita, o Manual de Disciplina, o Documento de Damasco, o Apocalipse de Lameque (a seção do Gênesis), Os Salmos de Ação de Graças, Hinos, o Comentário Habacuque, Os Apócrifos do Gênesis, Targum de Jó, As Guerras dos Filhos da Luz, um Apocalipse Essênio, entre outros. Os documentos descobertos em 1947 pertencem ao Estado de Israel; os coletados desde 1949 pertencem ao Estado da Jordânia e estão no Museu Palestino, em Jerusalém. Dez outras cavernas e centenas de outros documentos ou fragmentos foram descobertos recentemente.

Muitos dos pergaminhos essênios são escritos em aramaico, a mais antiga de todas as línguas, de acordo com o famoso estudioso sírio, Dr. George M. Lamsa. Ela remonta à planície de Shinar e o nome é derivado de Aram, o filho mais novo de Shem. Será lembrado que o Dr. Lamsa deu ao mundo ocidental a Bíblia dos originais manuscritos aramaicos, os textos da Peshitta — em 1940, o Novo Testamento e em 1957, o Velho Testamento. Essa foi uma tarefa monumental das mais antigas fontes sobreviventes da Bíblia, que foram preservadas na Turquia e no Irã pelos antigos Cristãos chamados de nestorianos. Eles introduziram o Cristianismo na China sob o nome de Doutrina Luminosa em 631, em memória da qual o Monumento Nestoriano foi erguido em Sianfu; da mesma forma, antes, os Cristãos de São Tomé, o discípulo do Mestre, foram os Nestorianos da Índia, sustentando verdades que agora estão sendo descobertas nos pergaminhos essênios.

Em todos os pergaminhos, especialmente no Comentário de Habacuque e no Manual de Disciplina, a pessoa mais importante é o Mestre da Justiça, que entrou em conflito com um rei-sacerdote perverso por quem provavelmente perdeu a vida. Os detalhes ainda não foram encontrados, então a polêmica continua. Muitos estudiosos, usando um fragmento do Comentário de Nahum, que fala do Leão da Ira, em suas suposições, referem-se a Alexander Jannaeus, filho de John Hyrcanus, como o mais provável rei-sacerdote perverso, vivendo como vivia, de 104 a.C. a 78 d.C. Josefo fala dele, indicando a crueldade bárbara usada por esse ímpio — era tão terrível que “ultrajava a sensibilidade dos judeus piedosos, que o viam como uma profanação total da sua Religião, seu templo e a lei”.

O historiador fala sobre o incidente mais interessante e quase inacreditável do arremessos de limão, quando Jannaeus estava celebrando a Festa dos Tabernáculos. Ele estava de pé no altar alto, o lugar mais sagrado em todo o Israel, exceto pelo Santo dos Santos, e estava empenhado em oferecer sacrifícios a Yahweh, em um dos atos mais sagrados de Israel. O sentimento reprimido da população se demonstrou no arremesso de limões contra o perverso rei-sacerdote. O povo tinha limões consigo como parte de suas ofertas votivas. O “sacerdote perverso” dos pergaminhos, no entanto, retaliou matando 6.000 dos mais piedosos do seu próprio povo como vingança, para enfatizar a importância da sua dignidade e autoridade sobre eles. O Mestre da Justiça denunciou tal pessoa. Ele pode ter incitado o incidente do lançamento de limão e, sem dúvida, pagou por isso com sua vida, já que teria exigido abertamente que o rei e sumo-sacerdote de Israel vivesse de acordo com o seu cargo. Nesse e em muitos outros aspectos ele se assemelha ao Mestre Jesus, que agora, em espírito e verdade, em uma espécie de segunda vinda, está retornando para nós em seu eu original e ensinamentos através dos Manuscritos Essênios, após séculos de deturpação e distorção por interesses mundanos e credos feitos pelo ser humano.

Jesus foi educado pelos essênios e atingiu um alto estado de desenvolvimento espiritual durante os trinta anos em que usou seu corpo. Pode-se dizer aqui, entre parênteses, que os essênios fossem a terceira seita que existia na Palestina, além das duas mencionadas no Novo Testamento — os fariseus e os saduceus. Os essênios eram uma ordem extremamente devota, muito diferente dos saduceus materialistas e inteiramente oposta aos fariseus hipócritas, que buscavam publicidade. Eles evitavam qualquer menção a si mesmos e seus métodos de estudo e adoração. A essa última peculiaridade se deve o fato de que quase nada se sabe sobre eles e de não serem mencionados no Novo Testamento”.

(Publicado na Rays from the Rose Cross de dezembro/1956 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

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