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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Astrologia ao Longo do nosso Tempo aqui – Parte 6: A Astrologia na Idade Média

É o mundo árabe que assume a tocha da Astrologia-Astronomia e da matemática (que lhe estão associadas).

O advento da Religião Muçulmana no século VII não interrompeu essa pesquisa, o Alcorão não proibindo a Astrologia. Ao contrário, na Sura III, podemos ler: “Na criação dos céus e da terra, na alternância dos dias e das noites, há indubitavelmente sinais para os homens dotados de inteligência”.

Ao príncipe árabe Albategni (850-929) é creditado o primeiro processo de construção de casas usando trigonometria esférica (um processo bastante próximo ao usado ainda hoje).

Os árabes constroem Astrolábios que permitem ler diretamente os pontos dessas casas.

A partir do século XII, o conhecimento preservado e desenvolvido no mundo árabe começou a penetrar nos círculos intelectuais ocidentais. Citemos na confluência da corrente cabalista judaica com o conhecimento árabe, a obra de Abraham Ibn Ezra, nascido em Toledo, em 1089, autor de uma enciclopédia Astrológica escrita em Béziers, na qual tenta conciliar as influências cósmicas e o livre arbítrio.

Essa é, aliás, ainda uma questão que embaraça aqueles que não reconhecem a existência das Leis gêmeas de Renascimento e de Consequência.

No século XIII, o teólogo Albert-Le-Grand (1206-1280), fortemente influenciado pela obra de Aristóteles e de Dénys L’Aréopagita, interessou-se pela alquimia e pela Astrologia. Ele reconhece a influência dos Astros, mas considera que é o instrumento da vontade divina e que por seu livre arbítrio o ser humano permanece senhor de seu destino.

No entanto, sua obra deve ter “cheirado um pouco a enxofre”, aos olhos da Igreja, já que demorou mais de seis séculos para sua canonização (1931).

Seu discípulo, São Tomás de Aquino (1225-1274), Doutor da Igreja, revisando a posição de Santo Agostinho, produzirá a obra mais explícita, entre os teólogos católicos, a respeito da crença na ação dos Astros.

Em sua Summa, ele escreve: “As impressões produzidas pelos corpos celestes podem se estender indiretamente às faculdades intelectuais e à força volitiva, assim como essas permanecem sob a influência das funções orgânicas”. Mas, acrescenta: “O homem sempre pode agir, sob a influência da razão, contra a inclinação produzida pelos corpos celestes”. É precisamente a partir do século XIII que Universidades como as de Paris, Montpellier, Bolonha, Oxford ensinam Astrologia.

A Universidade de Paris, naquela época, tinha de 15.000 a 20.000 alunos divididos em quatro Faculdades: Teologia, Direito Canônico, Medicina, Letras.

As Artes incluem:

• o Trivium (Gramática, Retórica, Filosofia);

• o Quadrivium (Aritmética, Geometria, Música, Astronomia-Astrologia).

Naquela época, a ciência das estrelas formava um todo:

• sciencia motus é a ciência do movimento das estrelas (= Astronomia):

• sciencia judiciorum, a ciência dos julgamentos (= Astrologia).

Max Heindel, para ilustrar isso, faz uma comparação interessante com a área médica: “A Astronomia tem com a Astrologia a mesma relação que a Anatomia com a Fisiologia. A Anatomia explica a posição e a estrutura dos órgãos do corpo; A Astronomia fornece os mesmos dados sobre os corpos celestes. É reservado à Fisiologia afirmar o funcionamento e a utilidade dos órgãos do corpo, assim como é à Astrologia interpretar as posições relativas dos corpos celestes, em relação à humanidade” (do Livro “Cristianismo Rosacruz” – Conferência X – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz).

Um médico dessa época só é realmente considerado se for capaz de determinar os períodos favoráveis ​​aos tratamentos (sangramento, laxantes) de acordo com as posições da Lua, de Saturno e Marte.

Sem ser exaustivo, vamos, no entanto, apontar quatro figuras importantes do século XIII:

• Roger Bacon (1214-1294), monge franciscano inglês que é um dos mais famosos seguidores da Astrologia.

Considera que as três bases das ciências naturais são a alquimia, a Astrologia e a magia, e recomenda a experimentação como verdadeira fonte de conhecimento (o que é revolucionário para a época).

Roger Bacon não deve ser confundido com seu homônimo filósofo do século XVI, Francis Bacon (1561-1626), de quem Max Heindel nos diz: “alguns acreditam que ele não seria estranho aos escritos Rosacruzes: Fama e Confessio”. Francis Bacon escreveu “a Nova Atlântida” que descreve uma sociedade cujas ideias são próximas às dos manifestos Rosacruzes; também é dito que ele seria o autor das obras de Shakespeare…

• Raymond Lully (1235-1315), teólogo espanhol que também estudou alquimia e Astrologia (foi beatificado).

• O rei Afonso X de Castela (1221-1284) apelidado de Sábio ou “o Astrólogo”, que mandou elaborar tabelas para a dupla utilização dos Astronômicos e Astrologia chamada “tabelas alfonsinas”.

• Campanus de Novara (1232-1296), astrólogo e matemático italiano que desenvolveu um sistema de casas que leva o seu nome e sobre o qual direi uma palavra.

Sendo o plano do horizonte e o plano do meridiano perpendiculares, Campanus teve a ideia de dividir cada um dos quatro ângulos retos em três setores de 30° cada, determinando então os pontos correspondentes na Eclíptica. Sendo a Eclíptica, em geral, “em ângulo” em relação ao horizonte, as Casas já não medem 30° cada.

No século XIV, citemos o Papa Urbano V (1310-1370), conhecido por ter praticado a Astrologia.

Os reis da França, Carlos V (conhecido como o Sábio) (1338-1380) e Carlos VI (conhecido como o Amado) (1368-1422) tinham astrólogos em sua corte (assim como outros soberanos da Europa).

No século XV, um acontecimento importante facilitou a expansão da Astrologia: a imprensa desenvolvida por Gutenberg em 1453.

As primeiras Efemérides foram impressas por Johann Müller de Königsberg (1436-1475), mais conhecido como Regiomontanus; foi astrólogo na corte da Hungria durante o reinado de Mathias I (1440-1490).

Diz-se que ele previu um grande terror para 1788 (dentro de um ano…).

Ele aperfeiçoou um novo sistema de Casas que leva seu nome, consistindo em dividir o equador em doze setores de 30° cada a partir do ponto leste e, como Campanus, deduziu disso na Eclíptica, os pontos de Casas. O ponto leste é um dos dois pontos de interseção do horizonte celeste com o Equador (sendo o outro o ponto oeste).

Este ponto não deve ser confundido com o Ascendente, que é um dos dois pontos de interseção do horizonte celeste com a Eclíptica.

Observe que o ponto leste e o Ascendente estão bastante próximos um do outro (e até mesmo coincidentes quando o Ascendente está a 0° do Signo de Áries ou Libra).

Acrescentemos que a Astrologia contribuiu (indiretamente) para as grandes descobertas geográficas desse período, uma vez que Cristóvão Colombo (1451-1506), Vasco da Gama (1469-1524) e Magalhães (1480-1521) levaram Efemérides nas suas viagens.

Nesse século, pode-se notar que os Papas Paulo II (1417-1471) e Inocêncio VIII (1432-1492) praticaram a Astrologia.

Conta-se que Luís XI (1423-1483), insatisfeito com seu astrólogo Galeoti, quis que fosse executado e lhe disse: “Você que lê tão bem o futuro, poderia me dizer quando morrerá”. Esse teria respondido: “Senhor, não posso lhe dar a data exata, mas sei que morrerei três dias antes de Vossa Majestade”. Teria, assim, salvado a cabeça com um: “Vá em paz”.

Os astrólogos dessa época aperfeiçoaram as técnicas de previsões (direções secundárias e revoluções solares).

(de: Introduction: L’Astrologie Selon Les Enseignements Rosicruciens : L’Astrologie Rosicrucien, da Association Rosicrucienne Max Heindel, Centre de Paris – Texte inspiré de l’enseignement rosicrucien légué à Max Heindel par les Frères Aînés de la Rose-Croix – Traduzido pelos irmãos e irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

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A Astrologia ao Longo do nosso Tempo aqui – Parte 4: Primeiro Milênio depois de Cristo

Sob o Império Romano, muitos astrólogos eram apenas “adivinhos”. No entanto, os imperadores tinham, em sua maioria, seu astrólogo designado.

Augusto (63 a.C.- 14 d.C.) cunhou moedas de prata com o Signo de Capricórnio sob o qual nasceu (Signo Solar ou Lunar?).

Tibério (42 a.C.- 37 d.C.) jogou no mar do topo de uma rocha os astrólogos cujas previsões lhe pareciam suspeitas.

Diocleciano (245 – 313) proibiu qualquer tipo de adivinhação.

Constantino (280-337), que o sucedeu, suavizou essa proibição condenando apenas os abusos.

O grande teórico da Astrologia foi Cláudio Ptolomeu, astrônomo-astrólogo e matemático do século II d.C., nascido em Ptolemaida no Alto Egito e que fez suas pesquisas em Alexandria. Seu trabalho, o Tetrabiblos (4 livros), é uma compilação de todo o conhecimento astrológico de seu tempo.

Escreve também um livro de Astronomia, o Almagesto, em que a Terra está fixa, no centro do mundo e o Sol e a Lua giram em torno dela em órbitas circulares.

A grande originalidade de Ptolomeu é ter conseguido explicar as principais irregularidades dos movimentos dos diferentes Planetas, vistos da Terra (Retrogradações), na sua teoria dos epiciclos, que será dogma durante 14 séculos, até Copérnico.

Adota o sistema de Casas que divide cada um dos quatro ângulos: AS-MC, MC-DS, DS-FC, FC-AS em três partes iguais (AS = Ascendente; DS = Descendente; MC = Meio do Céu; FC = Fundo do Céu).

Mas, sem dúvida, a diferença com o outro sistema antigo do qual falamos anteriormente não é muito grande, faz com que a influência de uma Casa comece cinco graus antes e termine cinco graus antes da seguinte.

É, em parte, a noção de uma Órbita de Influência de uma Casa astrológica que ainda é usada hoje.

A Religião Cristã dos primeiros séculos era totalmente contra a Astrologia?

Sabemos que há condenações de “adivinhação” no Antigo Testamento (Dt 18:10-11[1]; ISm 28:7[2]; Is 8:19[3]), mas a palavra “astrologia” é uma tradução incorreta de uma palavra hebraica que significa “conjecturador” (veja: Bíblia de Chouraqui[4]).

Além disso, os cabalistas a praticavam tão bem quanto os essênios. Referências astrológicas muito claras foram encontradas nos Manuscritos do Mar Morto (Manuscrito 4Q186).

Nossos futuristas modernos também seriam condenados?

A Religião Cristã tem usado símbolos astrológicos desde o seu início:

– A Era de Áries estava chegando ao fim, quando Jesus Cristo veio à nossa Terra. Cristo foi o “Bom Pastor” (Jo 10:11[5]).

– Ele, frequentemente, compara seus Discípulos a ovelhas e se torna Ele mesmo o Cordeiro de Deus oferecido pelos pecados do mundo.

– Mas ele também anuncia a Era de Peixes quando diz: “Eu vos farei pescadores de homens” (Lc 5:10[6]).

– O sinal de união dos primeiros Cristãos nas catacumbas era formado por dois peixes cruzados (ichthus) e a mitra dos bispos em forma de cabeça de peixe.

– O nascimento de Jesus foi colocado em 24 de dezembro à meia-noite, quando o Signo de Virgem está no Ascendente e o Sol no Solstício de Dezembro vai “nascer” para nos salvar do frio (é claro que essa data é essencialmente simbólica porque faz muito frio nessa época do ano, mesmo em Israel, para encontrar ali pastores com suas ovelhas, lá fora no meio da noite…).

– Quem são os Magos, senão astrólogos?

– A Páscoa é fixada no domingo (dia do Sol) que segue a Lua Cheia do Equinócio de Março, quando o Sol está na cruz formada pela eclíptica e pelo equador celeste.

Entre os primeiros eclesiásticos, alguns se interessaram muito pela Astrologia, tanto que três concílios sucessivos em 381, 431, 451 reiteraram a proibição de praticar a Astrologia considerada, apesar do que acabamos de ver, contrária à doutrina da Religião Cristã.

São Jerônimo (347-420) respeitou essa proibição, mas escreveu: “Sou silencioso sobre filósofos, astrônomos, astrólogos, cuja ciência, muito útil aos seres humanos, é afirmada por dogmas, é explicada pelo método, é justificada pela experiência.

Santo Agostinho (354-430) é conhecido como opositor da Astrologia, após sua conversão. Ele já havia sido atraído pelo maniqueísmo e admite, em suas Confissões, ter estudado Astrologia. Ele escreve mesmo assim: “Não seria totalmente absurdo dizer que certas influências astrais não são destituídas de poder sobre as variações do corpo, mas que as vontades da alma dependem da situação das estrelas, não vemos isso” (parece-me que Max Heindel não discordaria totalmente dessa afirmação que é sobretudo a do livre arbítrio do ser humano).

Por fim, citemos a obra do pseudo Dionísio, o Areopagita, composta por 4 tratados de teologia mística em que a Astrologia está presente e que terão uma influência grande no Ocidente a partir do século XIII, como veremos mais adiante.

Essa obra é considerada datada do século V, tanto pelo caráter neoplatônico do conteúdo quanto pelo fato de nunca ter sido mencionada antes dessa época, embora seu autor afirme em seus escritos ser o Dionísio convertido por São Paulo durante sua visita ao Areópago (At 17:16[7] a 34[8]) e que teria sido o primeiro bispo de Atenas. A partir do século V e até o século XI, o Ocidente praticamente deixou de se interessar pela Astrologia, como também por várias outras ciências, salvo alguns religiosos cultos.

Sabemos, por exemplo, que Papas como Leão III (750-816) e Silvestre II, o Papa do ano 1000 (938-1003), se interessaram por ela.

(De: Introduction: L’astrologie Selon Les Enseignements Rosicruciens : L’Astrologie Rosicrucien, da Association Rosicrucienne Max Heindel, Centre de Paris – Texte inspiré de l’enseignement rosicrucien légué à Max Heindel par les Frères Aînés de la Rose-Croix – Traduzido pelos irmãos e irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)


[1] N.T.: Que em teu meio não se encontre alguém que queime seu filho ou sua filha, nem que faça presságio, oráculo, adivinhação ou magia, ou que pratique encantamentos, que interrogue espíritos ou adivinhos, ou ainda que invoque os mortos;

[2] N.T.: Saul disse então aos seus servos: “Buscai-me uma necromante para que eu lhe fale e a consulte”. E os servos lhe responderam: “Há uma em Endor”.

[3] N.T.: Se vos disserem: “Ide consultar os espíritos e os adivinhos, cochichadores e balbuciadores”, não consultará o povo os seus deuses, e os mortos a favor dos vivos?

[4] N.T.: André Chouraqui, famoso tradutor francês.

[5] N.T.: Eu sou o bom pastor: o bom pastor dá sua vida pelas suas ovelhas.

[6] N.T.: Jesus, porém, disse a Simão: “Não tenhas medo! Doravante serás pescador de homens”.

[7] N.T.: Enquanto os esperava em Atenas, seu espírito inflamava-se dentro dele, ao ver cheia de ídolos a cidade.

[8] N.T.: Alguns homens, porém, aderiram a ele e abraçaram a fé. Entre esses achava-se Dionísio, o Areopagita.

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“Amor e Simpatia” – O Único Remédio Para os Males do Mundo

Amor e Simpatia” – O Único Remédio Para os Males do Mundo

“Estamos vivendo um momento crítico da história da humanidade”; “a decisão tem que ser tomada”, “qual o caminho?”, “estamos numa encruzilhada”; etc. etc., dizem-nos de todos os lados as várias escolas filosóficas, e as várias igrejas. Acreditamos que Max Heindel, o mensageiro dos Ensinamentos Rosacruzes, nos dá o mais sábio conselho: amor e simpatia. Aqueles que desenvolverem e cultivarem ao máximo esses sentimentos, ajudarão a equilibrar o mundo, porque estarão fortalecendo uma corrente de forças positivas, única couraça para protegê-los, e aqueles com quem comunguem, das forças negativas de desarmonia e ferocidade.

Quem cultiva em seu coração a simpatia e desenvolve a capacidade de amar, está ajudando a equilibrar o mundo. Quem dinamiza a capacidade de amar, tem encontro com a verdade.

A única e verdadeira felicidade neste mundo vem do amor. Mas do amor dinamizado, partindo que seja de um amor pessoal, particular, até atingir as proporções totais de um amor universal generalizado a todos e a tudo que nos cerca. Assim, quem tenha a felicidade de ter filhos, família numerosa, deveria tomar consciência da grata oportunidade que lhe foi dada de poder desenvolver e aperfeiçoar sua capacidade de amar, amparar, esclarecer, sacrificar-se, ser útil, com aqueles que lhe são mais chegados, mais queridos, o que lhe tornará mais fácil a tarefa. E quantos sacrifícios exige por vezes criar um filho, amparar pais, irmãos, parentes ou amigos, dar-lhes assistência numa doença, numa prova dura da vida! Agindo sem exclusivismos nem egoísmos, verificará que serão círculos e círculos de amor que se irão multiplicando geometricamente.

Lembremo-nos de uma frase de Max Heindel que constitui um aviso sensato: “nem todos podemos ser grandes luzes para o mundo, mas seja cada um a pequena luz que brilha no lugar em que foi posto”.

Épocas houve em que anseios espirituais nos levaram a uma certa ansiedade no desejo de procurar realizar obras altruístas, de auxílio e assistência. E quando corríamos de cá para lá na busca de campo de ação, sempre se manifestava a falta de oportunidade, até a inutilidade, por vezes, daqueles esforços que nos levará aqui e ali. Numa palavra, as portas não se abriam – se bem que seja válido o esforço que se faça em ser de algum modo útil. Parece que a própria vida se encarregava de lembrar-nos o velho ditado: a caridade bem ordenada em casa deve ser começada.

Contentemo-nos em ser “a pequena luz que brilha no lugar em que foi posta”. É sem dúvida a família que construímos, é o lugar em que fomos postos.

E pensar que estamos ajudando a construir núcleos de paz e amor para o mundo dando assistência e dedicação aos nossos lares e aos nossos filhos, parentes ou amigos, onde o amor, bondade, o equilíbrio, sedimentam-se dia após dia. Isto traz-nos imensa paz e felicidade. Estaremos colaborando na construção de focos de luz que irradiarão para o mundo.

Para isso há que procurar cada um tomar consciência de si próprio, de sua realidade interna sem cobri-la com falsos véus, ser autêntico, analisar suas falhas e qualidades, conquistar o necessário domínio próprio pela força de vontade em aspirar a corrigir falhas e fortalecer qualidades, melhorar-se cada vez mais para desenvolver os dons que potencialmente todos possuímos. O valor dessa conquista está no anseio e esforço que inquebrantavelmente empregamos para ela. Gandhi, o pacífico e bondoso apologista da resistência passiva, com que conquistou muitas melhorias para seu povo, dizia não achar valor algum nessa sua qualidade que apenas tinha nascido com ele – não era uma conquista de sua aspiração ou esforço.

Isso pode chegar a parecer um exagerado anseio de perfeição, mas o que revela é uma adorável humildade. Há outra qualidade tão necessária a quem quer viver uma vida superior, uma vida de amor. Na “Imitação de Cristo” nos é lembrado: e porque os seres humanos aspiraram em sua vaidade a um estado mais elevado que aquele onde Deus os queria, perderam rapidamente a graça. Pela falta de humildade quantos seres humanos de valor se desviam pelas veredas da vida, perdendo assim maravilhosas oportunidades de serem úteis a si próprios e a seus semelhantes.

Na reforma do caráter, na busca do aperfeiçoamento, é fundamental conquistar a necessária humildade de reconhecer seus erros e enganos e tentar corrigi-los.

Creio que o domínio e equilíbrio próprio são algumas das maiores conquistas que o ser humano deve perseguir, sem a qual não poderá expandir seus íntimos valores.

Observa-se na vida que, no meio termo, encontra-se o equilíbrio, exceto no amor, onde não há perigos de extremos: quanto maior mais equilibra.

O verdadeiro amor não fanatiza porque já não se apega a verdades temporais, a mestres, escolas ou igrejas. Não lhe interessam nomes, mas o AMOR CRISTÃO e saberá respeitar a visão e grau de evolução de quem quer que seja. Fará sentir a Verdade, que é uma só, em todos os lugares em todas as religiões, em todas as filosofias: bondade, justiça, lealdade, abnegação, sinceridade, o que forma os caracteres íntegros.

O amor universal reveste-se de todas as características do amor de pais, filhos, esposos e amigos: é aquele de que nos diz São Paulo na Bíblia “tudo crê, tudo espera, tudo suporta, nunca falha”.

Quando alcançado esse grau de amor, podem suceder desgraças, podem os seres humanos trazerem-nos os maiores desenganos e dores, que um coração infenso a rancores e ressentimentos permanecerá sereno.

O amor constrói; o ódio destrói. Santo Agostinho, em suas famosas “Confissões”, delineia numa frase, a síntese do que é a falta do amor: “como se houvesse maior inimigo do ser humano do que o próprio ódio que ele tem em seu coração”. O que pesa, o que realmente importa para a evolução, equilíbrio e felicidade do ser humano, é o que ele pensa e sente, não o que outros pensem ou sintam a seu respeito. A felicidade vem de dentro para fora, do AMOR que haja nos corações. Os que o têm, quando alvo no mundo de injustiças, ingratidões, injúrias, ataques ou abandonos, chegarão a poder sentir em seu coração muito embora a dor irreprimível dos erros de que foi alvo – uma imensa mágoa pelos erros que outros estejam cometendo, acarretando para si próprios inevitáveis sofrimentos, conscientes de que o verdadeiro mal está em quem os pratica, seguirão tranquilos sua caminhada.
Pondo em ordem seus pensamentos e sentimentos, projetando para aqueles que o rodeiam, simpatia e desejo de ser útil, justo e correto, o ser humano encontra a paz que o equilibrará neste mundo conturbado. Não serão as grandes obras, os grandes feitos, as grandes conquistas materiais que lhe trarão, mas os pequenos gestos de bondade, os pensamentos puros de tolerância e compreensão para com falhas e grandezas dos outros, a disposição constante de auxiliar de algum modo, com trabalho, companhia, palavras amigas de encorajamento e alegria.

Grandes pensadores, grandes inteligências que nos legaram quase sempre fruto de seus íntimos anseios e sofrimentos – obras famosas, tais como Schopenhauer, Kierkegaard, Kafka, tendo aguda e clara visão de muitos problemas da alma humana, não encontraram paz e equilíbrio. Andaram perto da Verdade e não a tocaram, porque não encontraram o Amor que os libertaria da angústia. O Amor é como um foco de luz, que mal o buscamos tudo ilumina e aquece. “Quem vive em amor vive em Deus, e Deus nele” – esta afirmação de São Paulo nos dá a verdadeira dimensão do amor. É uma chave da porta da paz, uma chave universal, pois serve a crentes ou ateus, católicos ou judeus, protestantes ou budistas. Deus ou o que queiramos chamar-lhe, esse algo desconhecido de quem emanamos, que tudo criou, dita-nos claramente, através da consciência, que para termos paz e harmonia neste mundo só vivendo no bem e no amor. E só quando haja o amor cristão em seus corações, os homens terão paz e harmonia, quando, ainda que ignorando o Cristo, sintam despertar em seu íntimo os atributos que o caracterizam: a doutrina do amor ao próximo, a única que poderá unificar os seres humanos.

Durante muito tempo não achava a forma de orar ou pedir algo por meus filhos, certa de que cada um tem o seu caminho próprio (que desconhecemos) a percorrer, sua colheita daquilo que semeia. Mas um dia achei a fórmula mágica. Envolvendo-os em amor, elevo o pensamento às forças superiores que regem o mundo num intenso anseio de que eles se mantenham sempre pela vida afora no caminho do Bem e do Amor. Não se afastando desses princípios, estarão protegidos, serão certamente úteis e felizes. Prova alguma os derrubará na vida.

Dar amor é como uma sementeira de belas flores, que a seu tempo brotarão e desabrocharão, encantando-nos.
Quando ouvi de uma de minhas filhas que umas palavras escritas por mim em seu álbum de juventude a tinha feito chorar de emoção, quando um filho me conta que esta ou aquela frase ou atitude minha o comovera em silêncio até às lágrimas, 20 anos atrás, quem se comove agora profundamente sou eu, ao constatar a sensibilidade de seus corações, a receptividade ao amor e carinho que lhes dava.

É o amor que nos permite construir sólidas amizades que nos enriquecem e confortam a vida. É no intercâmbio de ideias, conhecimentos, dedicações, sacrifícios, alegrias e sofrimentos que pomos em atividade os íntimos valores, descristalizando-os, adaptando-nos a novas experiências e renovações.

Procurar desvendar os mistérios da nossa origem, de onde viemos, para onde vamos, para que vivemos, através dos muitos caminhos da espiritualidade, é cativante e útil. Mas a observação dos seres humanos nos mostra que a principal e básica procura deverá ser a do íntimo conhecimento e equilíbrio próprio, a formação de um caráter íntegro sem o qual todos os conhecimentos podem tornar-se absolutamente inúteis. Pessoas há que depois de passarem longos anos ligadas, integradas, numa Igreja ou Escola, caem nos mesmos erros e enganos dos seres humanos comuns que nunca se vincularam a qualquer caminho espiritual – porque lhes faltou a reforma básica que os tornassem caracteres íntegros. Não tiveram a coragem de se olhar intimamente, de encarar suas próprias falhas. Durante anos enganaram-se a si próprios e aos outros. Mas chega fatalmente dia em que surgirá qualquer prova colocando em evidência seu verdadeiro caráter, aquilo que não foi corrigido.

Que valor tem um profundo conhecedor de filosofias – e todas elas pregam o amor, a bondade, a justiça – se na vida não souber agir equilibradamente, dominando seus pensamentos, sentimentos e ações, com amor, bondade e justiça?

“De que servirá uma filosofia ou religião que não nos torne melhores seres humanos, melhores maridos e pais?”. Esta é na verdade uma pergunta de Max Heindel a ser meditada!

Em compensação, quem não tenha estudado filosofia ou religiões, mas tenha em si o dom de saber amar, esse assistirá sereno aos erros e enganos, injustiças e falhas que campeiam pelo mundo, com amor, bondade e tolerância.

Viver é uma arte. Já que desconhecemos o porquê, o para quê, nos foi dada a vida, procuremos dar-lhe um sentido, torná-la útil, vivendo numa atitude não de egoísta procura de meras satisfações pessoais – o que, aliás, gera afinal a insatisfação! – mas voltada para o interesse pelos que nos rodeiam. Muitos apagariam suas íntimas angústias se, por uma atividade de interesse pelas dos outros, deixassem de focalizar as suas! A frase bíblica “viver no mundo sem pertencer ao mundo” é um desafio ao aspirante a uma vida equilibrada. Na verdade, deve-se participar ativamente da vida material que nos rodeia neste mundo em que vivemos, tão cheio de belezas. Mas, ao se vislumbrar que há em nós um outro mundo, o mundo espiritual, cujos valores são muito mais importantes que os do mundo externo, tão falíveis, tão perecíveis, começa-se a ter melhor consciência do valor relativo deste plano.

Participando equilibradamente de todas as atividades possíveis na vida, sem excessos nem exageros, colhe-se a necessária experiência por meio da qual a vida do espírito vai manifestar-se melhor.

Então chegaremos a amar o mundo sem a ele nos prendermos, sentindo que há outro mundo dentro de nós, aquele que nos permite amar melhor o externo, porque nos deixa livres de apegos, preconceitos, ilusões.

Há que participar ativamente do mundo em que vivemos, e o podemos fazer intensamente e com alegria se, aprendendo a dominar sentimentos, soubermos agir equilibradamente. A rainha-mãe da Inglaterra mostrou muito bom-senso e conhecimento do valor da vida quando, recusando o retrato que um pintor lhe havia feito, disse: está muito bonito mas dir-se-ia que passei pela vida sem dela ter participado!

Vida espiritual não tem que ser isolamento do mundo.

Quando a consciência espiritual desperta no ser humano, ela deverá refletir-se em integridade de caráter, no seu comportamento externo, no modo como age e participa do mundo. Acredito que essa atitude externa de ativa e equilibrada participação será o que mais estimulará e desenvolverá a parte espiritual da humanidade.

Haverá assim um movimento de duas forças ativas que se fortalecem e equilibram, uma demonstrando a outra.
O mundo está cheio de injustiças, egoísmos, vaidades, ferocidade, mil aspectos que nos entristecem. Mas sendo cuidadosos em não participar desses fatos negativos, antes cultivando ao máximo o Bem e o Amor, além de formarmos uma corrente positiva que ajudará a equilibrar o mundo, poderemos desfrutar das coisas belas que nos rodeiam. Quem tenha uma certa sensibilidade, e cultive as superiores qualidades de caráter, sente que correm no mundo as correntes construtivas e destrutivas, do bem e do mal. Distingue facilmente onde se expressa uma mensagem de amor e onde há apenas especulações intelectuais, muitas vezes camuflando egoísmos e vaidades.
Afinal, para se viver em paz e com alegria no coração não é essencial penetrar nas especulações metafísicas, religiosas – e sempre no infinito das nossas especulações haverá pontos de interrogação. Deixemos isso para depois de termos aprendido a dar amor e simpatia, base das maiores alegrias, confortos espirituais e materiais, e a forma mais fácil de chegar perto da Verdade.

No decorrer dos anos, ao longo da vida, vão surgindo momentos marcantes de grande íntima alegria ou mágoa profunda, pelos acontecimentos da vida: a leitura de um autor cujo pensamento ilumine o nosso, um gesto de amizade, um ato de bondade, um belo espetáculo da natureza ou criado pelos seres humanos– a maldade deles, os horrores das guerras, etc. etc. São momentos de emoção que nos fazem parar na caminhada para uma tomada de consciência. Algo de novo foi acrescentado à nossa experiência, enriquecendo a nossa vida. E essas sucessivas tomadas de consciência vão formando como que degraus que nos vão traçando caminho. Se ele for o caminho do Bem e do Amor atingiremos uma plataforma estável onde nos fixaremos tranquilamente, de onde teremos uma visão mais ampla, uma nova dimensão do mundo que nos cerca.

Essa plataforma é conquista de cada um. É trabalho e esforço de cada um. Não se pode ensinar aos outros a fé em algo superior, como não se pode dar aos outros a chave do seu caminho. Cada um vai colhendo daqui e dali, das mais variadas fontes, as pedras e pedrinhas com que formará a sua estrada, que o levará ou não à plataforma da paz. Mas é preciso ter a aspiração de construir a estrada.

Creio que as mais úteis chaves que um pode dar a outro são Amor e Simpatia.

(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 10/75 – Fraternidade Rosacruz)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pergunta: Quem foram os Maniqueus e Santo Agostinho foi um deles?

Resposta: Mani ou Manes ou, ainda, Maniqueus nasceu próximo a Otesiphon na Mesopotâmia, mais ou menos pelo ano 227 da Era Cristã, morrendo por volta de 277. Com referência a seu pai, supõe-se ter sido membro da seita dos “Batistas”. Os ortodoxos negam seu sentimento Cristão, entretanto, cremos que fosse Cristão gnóstico.

Mani chamou a si mesmo “Eu, Mani, o Apóstolo de Jesus Cristo”; afirmando que vinha para dar cumprimento à profecia de Cristo. Reuniu os ensinamentos de Zoroastro com as de Buda e, provavelmente com os princípios do Taoísmo com os do Novo Testamento. Uma vez que o Maniqueísmo relacionava-se pouco com o Velho Testamento, Mani, sendo persa, considerou desnecessário integrar-se primeiramente no Judaísmo, para depois converter-se ao Cristianismo.

A ortodoxia recusa aceitar como Cristão quem não aceite o Velho Testamento conjuntamente com o Novo. Evidentemente, Mani julgou haver solucionado o problema do Bem e do Mal, bem como da realidade da natureza, o que se conclui, após um estudo do que se encontra em seu sistema básico, idêntico ao que está exposto no Evangelho da Verdade, descoberto há alguns anos em Nag Hamadi, no Egito.

O aramaico foi o idioma oficial do Império Persa Ocidental, bem como foi o dialeto oriental, assim como o hebreu é o dialeto do ocidente. Em outras palavras, os persas tinham as mesmas palavras sagradas tal como os hebreus, mas em aramaico que foi o idioma falado por Jesus. Mani escreveu em siríaco e persa e em “código” ou cifrado. Muitos livros maniqueus foram descobertos em 1930.

A lenda dos Duendes Luminosos e dos Duendes Sombrios mencionada no Conceito Rosacruz do Cosmos, demonstra que os Maniqueus atribuíram a si a prerrogativa de solucionar o problema da conquista do Mal, da mesma forma que Max Heindel descreve. Entretanto os chamados escritos Maniqueus sobre a natureza da Verdade e da Realidade não pertencem à época de Mani, pois, como já foi dito, eles foram encontrados no Evangelho da Verdade, escrito em algum lugar por volta da metade do segundo século, ao passe que Mani viveu no terceiro século da Era Cristã.

A Angeologia Zoroastriana é, naturalmente, uma parte real do Cristianismo e do Judaísmo Esotérico. Não há dúvida, que, durante o exílio, profetas hebreus e mestres zoroástricos trabalharam em conjunto, o que até a Bíblia demonstra.

Os maniqueus exotéricos, contudo, não formam a Escola Interna de Mistério, a respeito da qual Max Heindel fala, a qual trabalha atualmente para a solução do problema primordial do Período de Júpiter.

Tal como a Fraternidade Rosacruz é uma escola preparatória exotérica, para a Ordem da Rosacruz, assim o movimento maniqueu, incluindo os cataristas e albigensis do sul da França, são a representação externa da Grande Escola de Mistérios nos Planos Internos.

Porém, todos os conceitos básicos espirituais do Maniqueísmo são, também, encontrados no Rosacrucianismo, porque são, naturalmente, universais, construídos sobre verdades eternas. Onde quer que haja mentes abertas à verdade, esses conceitos estarão em evidência, pois somente o fanatismo e a intolerância vivem divorciados dos mesmos.

Até certo ponto a Cosmogonia maniquena é um tema da ciência, parcialmente baseada na “Revelação” (lida na Memória da Natureza) e parcialmente nas descobertas científicas externas. Os cientistas modernos estão reelaborando a sua Cosmogonia, modificando a Hipótese Nebular, descobrindo novos aspectos da evolução, da natureza, da matéria, etc. e todas essas mudanças serão, eventualmente, incorporadas à Religião da Era de Aquário, a qual terá uma nova Cosmogonia.

Santo Agostinho foi um membro, sem, contudo ingressar na escola esotérica. No maniqueísmo existia um conjunto de ensinamentos internos, aos quais Agostinho não teve acesso, atendo-se exclusivamente à escola externa. Sua mãe, Mônica foi uma devota católica, orando continuamente para que ele se reintegrasse ao catolicismo.

Em virtude de tenaz perseguição que sofreu – perseguição essa vinda de todos os lados – a Ordem exotérica de Mani foi impelida a se esconder. Entretanto, os maniqueus se disfarçaram e começaram a trabalhar de dentro dos agrupamentos de seus inimigos.

Mani foi crucificado pelo sacerdotismo pérsico, pelos fanáticos e perseguidores que não admitiam seu Cristianismo. A Ordem de Mani existiu na Europa e na Ásia, podendo ser restaurada de alguma forma dentro de alguns séculos.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz março/1967 – Fraternidade Rosacruz SP)

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