Arquivo de categoria Método e Leis cósmicas que regem a evolução

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Na Órbita de Influência da Era de Aquário a confusão: se desenvolver espiritualmente “de fora para dentro” ou “de dentro para fora”

Atualmente, vivemos com a tendência de repetir o mal das vidas passadas, mas devemos aprender a agir com retidão, conscientemente, e por vontade própria.

Tais tendências tentam-nos eventualmente, proporcionando-nos oportunidades de autodomínio e de inclinação para a virtude e a compaixão, opondo-nos à crueldade e ao vício.

Mas, para indicar a ação reta e ajudar-nos a resistir às ciladas e aos ardis da tentação, temos o sentimento resultante da purificação dos maus hábitos e da expiação dos maus atos das vidas passadas. Se ouvimos e atendemos sua voz e evitamos o mal que nos incita, a tentação cessa. Então, nos libertamos dela para sempre. Se caímos, experimentamos um sofrimento mais agudo do que o anterior, porque o destino do transgressor é muito duro até que aprenda a viver pela regra de ouro.

O exercício noturno da Retrospecção, um dos exercícios para o nosso treinamento esotérico, tem como objetivo a purificação, como ajuda ao desenvolvimento da visão espiritual.

Por outro lado, devemos sempre nos lembrar que Cristo limpou os “pecados do mundo” e não de cada um de nós (ninguém tem essa capacidade, a não ser cada um de nós para com os nossos pecados) e ao fazer essa purificação, devemos a Ele a possibilidade de atrair para os nossos Corpos de Desejos matéria emocional mais pura do que antes (e é por aqui que começamos a nos purificar: não pecando mais!).

Tenha sempre consigo a seguinte verdade Crística: “a Religião Cristã é a única que tem a finalidade da união com Cristo, pela purificação e governo do nosso Corpo Vital”.

Outro exercício esotérico muito importante para o Estudante Rosacruz fazer é a Oração do Senhor (Pai Nosso) que é como uma fórmula abstrata ao melhoramento e purificação de todos os seus veículos. Ela é uma das ajudas espirituais no progresso humano.

Ao falar de sua purificação, São João (IJo 3:9) diz que aquele que nasce de Deus não pode pecar, porque guarda dentro de si a sua semente.

Também, nunca esqueçamos: as tentações são colocadas em nosso caminho para avaliarmos se a purificação foi suficiente para ensinar-nos as lições necessárias, e só dependerá de nós entregarmo-nos às tentações ou permanecer firmes e fortes na prática do bem!

A Parábola da pérola preciosa ilustra muito bem o que realmente purifica e o que não purifica o ser humano sob a nova Dispensação, o Cristianismo: não são as circunstâncias, mas a substância, ou seja, a pureza do ser humano vem de dentro.

“Em seguida, chamando para junto de si a multidão, disse-lhes: “Ouvi e entendei! “Não é o que entra pela boca que torna o homem impuro, mas o que sai da boca, isto sim o torna impuro”. Então os discípulos, acercando-se dele, disseram-lhe: “Sabes que os fariseus, ao ouvirem o que disseste, ficaram escandalizados?”. Ele respondeu-lhes: “Toda planta que não foi plantada por meu Pai celeste será arrancada. Deixai-os. São cegos conduzindo cegos! Ora, se um cego conduz outro cego, ambos acabarão caindo num buraco”.

São Pedro, interpelando-o, pediu-lhe: “Explica-nos a parábola”. Disse Jesus: “Nem mesmo vós tendes inteligência? Não entendeis que tudo o que entra pela boca vai para o ventre e daí para a fossa? Mas o que sai da boca procede do coração e é isto que torna o homem impuro. Com efeito, é do coração que procedem más intenções, assassínios, adultérios, prostituições, roubos, falsos testemunhos e difamações. São essas coisas que tornam o homem impuro, mas o comer sem lavar as mãos não o torna impuro”. (Mt 15: 10-20)

Que as Rosas floresçam em vossa cruz

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Nossas Dificuldades para Viver Bem e, ao mesmo tempo, estar Preparado para Morrer a Qualquer Momento

Vivendo uma boa vida, aqui e agora, e evitando os diversos perigos de nossa Terra, podemos preparar-nos para o Céu e evitar uma perda de tempo no Purgatório.

Então, quando renascermos, o faremos em melhores circunstâncias, poderemos continuar no caminho, fazer mais rápidos progressos e situar-nos para melhor servir a Deus, onde quer que estejamos. Não podemos avançar sozinhos. Precisamos ser ajudados pelos mais avançados no Caminho, mas nós também devemos ajudar aos outros na senda e socorrê-los em seu avanço.

A vida é uma jornada desde o berço até a tumba e mais além e de novo ao berço; e assim, de vida em vida. Cada vida é como um dia na escola.

Aprendemos umas poucas lições da vida, cada vez que regressamos à Terra e, a seu tempo, devemos tê-las aprendido todas; então estaremos preparados para conhecer a Deus.

Deveríamos nos preparar para o encontro com a morte enquanto gozamos de boa saúde. Se esperarmos até que nos surpreenda alguma enfermidade, pode ser muito tarde para fazer a necessária preparação.

A morte pode vir de repente.

Em nossos dias, milhares de pessoas morrem todo ano em acidentes de automóvel ou de outro tipo. Em tais casos, não há tempo para se preparar para a morte.

Vamo-nos tal como somos, tanto se estamos prontos, como se não.

O Purgatório é um lugar muito real e todos serão julgados depois da morte.

Será fácil, para qualquer um que esteja presente, ver se vivemos vidas boas ou não, pois nossos Corpos de Desejos assim o revelarão.

Cada um de nós deveria se esforçar por construir um bonito Corpo de Desejos sem mancha nem defeito.

Um Corpo de Desejos composto de delicados matizes de ouro, azul, rosa, verde claro, azul claro com traços de lilás e branco brilhante indica um Ego avançado, que viveu uma vida útil, como um auxiliar da humanidade.

Consideremos a história do homem rico e de Lázaro:

Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e cada dia se banqueteava com requinte. Um pobre, chamado Lázaro, jazia à sua porta, coberto de úlceras. Desejava saciar-se do que caía da mesa do rico… E até os cães vinham lamber-lhe as úlceras. Aconteceu que o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. Na mansão dos mortos, em meio a tormentos, levantou os olhos e viu ao longe Abraão e Lázaro em seu seio. Então exclamou: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo para me refrescar a língua, pois estou torturado nesta chama’. Abraão respondeu: ‘Filho, lembra-te de que recebeste teus bens durante tua vida, e Lázaro por sua vez os males; agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado. E além do mais, entre nós e vós existe um grande abismo, a fim de que aqueles que quiserem passar daqui para junto de vós não o possam, nem tampouco atravessem de lá até nós’. Ele replicou: ‘Pai, eu te suplico, envia então Lázaro até à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos; que leve a eles seu testemunho, para que não venham eles também para este lugar de tormento’. Abraão, porém, respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam’. Disse ele: ‘Não, pai Abraão, mas se alguém dentre os mortos for procurá-los, eles se arrependerão’. Mas Abraão lhe disse: ‘Se não escutam nem a Moisés nem aos Profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não se convencerão’”.” (Lc 16:19-31).

O rico não estava preparado para conhecer a Deus, mas Lázaro sim. Isto nos mostra a vantagem de viver uma vida boa e estar pronto para ir ao Céu em vez de ao Purgatório.

Aqui uma linda passagem da Bíblia que nos faz refletir sobre tudo isso:

Precavei-vos cuidadosamente de qualquer cupidez, pois, mesmo na abundância, a vida do homem não é assegurada por seus bens”.

E contou-lhes uma parábola: “A terra de um rico produziu muito. Ele, então, refletia: ‘Que hei de fazer? Não tenho onde guardar minha colheita’. Depois pensou: ‘Eis o que vou fazer: vou demolir meus celeiros, construir maiores, e lá hei de recolher todo o meu trigo e os meus bens. E direi à minha alma: Minha alma, tens uma quantidade de bens em reserva para muitos anos; repousa, come, bebe, regala-te’. Mas Deus lhe diz: ‘Insensato, nessa mesma noite ser-te-á reclamada a alma. E as coisas que acumulaste, de quem serão?’ Assim acontece àquele que ajunta tesouros para si mesmo, e não é rico para Deus.” (Lc 12:15-21).

Que as rosas floresçam em vossa cruz

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Nossa Maior Capacidade de Realizar qualquer coisa Via o Livre Arbítrio

Livre arbítrio e determinismo: em quais proporções cada um destes elementos entra no destino do ser humano?

A definição mais simples é dada pelas Religiões que admitem que Deus criou uma alma virginal à cada nascimento; a partir do momento em que ela é criada, esta alma é livre para escolher entre o bem e o mau; essa escolha determina a vida da alma por toda a eternidade.

Aquele que raciocina constata, imediatamente, que os seres humanos não são iguais desde o nascimento; o meio onde a criança nasceu age profundamente sobre o destino dela. Como consequência, todas as crianças não partem do mesmo ponto; a fortuna dos pais, o ambiente no qual aquela criança cresceu, e outras considerações ainda fazem com que o meio tenha uma influência considerável; a luta pela vida não é a mesma para todos; alguns parecem favorecidos e outros parecem sacrificados.

Nós estimamos que haja uma causa para tal diferença, dado que a ciência materialista admite que isso esteja ligado à evolução da vida nas formas, que é um efeito biológico dado ao acaso.

O Princípio da Causa e Efeito indica que a sorte não é nada além de um nome dado à uma lei pouco conhecida.

A Lei de Causa e Efeito é absoluta; ela é aplicada em tudo. É necessário refletir frequentemente, meditá-la por bastante tempo e admiti-la completamente. Nada escapa a essa Lei. Aplicando o princípio de tal Lei, nós consideramos o nascimento como um Efeito; nós concluímos que deve haver uma Causa pré-existente e que o acaso – inexistente por si só – não pode ser levado em conta.

No entanto, a cadeia de causas e efeitos não é uma repetição monótona. Há sempre um influxo contínuo de causas novas e originais. Esta é a espinha dorsal da evolução – a única realidade que lhe dá sentido e a converte em algo mais que a simples expansão de qualidades latentes. Este importante fator é o único que pode explicar de modo satisfatório o sistema a que pertencemos.

Com a divina prerrogativa do livre-arbítrio, temos o poder da iniciativa, de forma que podemos adotar uma nova linha de conduta a qualquer momento que queiramos!

Lembremo-nos que por muito degradado que seja um ser humano, tem sempre o poder de semear o bem, mas deve esperar até que essa semente possa florescer num ambiente propício. Cada um de nós, ainda que sujeito aos dias passados, é livre no que diz respeito ao amanhã. 

Há uma Parábola na Bíblia que nos auxilia a compreender e a aplicar melhor esse conceito:

Pois será como um homem que, viajando para o estrangeiro, chamou os seus próprios servos e entregou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois, a outro um. A cada um de acordo com a sua capacidade. E partiu. Imediatamente, o que recebera cinco talentos saiu a trabalhar com eles e ganhou outros cinco. Da mesma maneira, o que recebera dois ganhou outros dois. Mas aquele que recebera um só o tomou e foi abrir uma cova no chão. E enterrou o dinheiro do seu senhor. Depois de muito tempo, o senhor daqueles servos voltou e pôs-se a ajustar contas com eles. Chegando aquele que recebera cinco talentos, entregou-lhe outros cinco, dizendo: ‘Senhor, tu me confiaste cinco talentos. Aqui estão outros cinco que ganhei’. Disse-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor!’ “Chegando também o dos dois talentos, disse: ‘Senhor, tu me confiaste dois talentos. Aqui estão outros dois talentos que ganhei’. Disse-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor!’ Por fim, chegando o que recebera um talento, disse: ‘Senhor, eu sabia que és um homem severo, que colhes onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste. Assim, amedrontado, fui enterrar o teu talento no chão. Aqui tens o que é teu’. A isso respondeu-lhe o senhor: ‘Servo mau e preguiçoso, sabias que eu colho onde não semeei e que ajunto onde não espalhei? Pois então devias ter depositado o meu dinheiro com os banqueiros e, ao voltar, eu receberia com juros o que é meu. Tirai-lhe o talento que tem e dai-o àquele que tem dez, porque a todo aquele que tem será dado e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem será tirado. Quanto ao servo inútil, lançai-o fora nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes!‘”  (Mt 25:14-30).

Que as rosas floresçam em vossa cruz

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Lei de Analogia

Todo Estudante Rosacruz que busca aprofundar-se nos Ensinamentos Rosacruzes deve esforçar-se por cultivar uma Mente aberta. Também compreender que o ser humano é uma miniatura do Universo e tudo o que procura externamente, não poderá encontrar fora de seu interior. Neste sentido, ele pode concluir que todos os problemas de sua existência tiveram iniciou nos planos espirituais ou internos e somente lá poderá ter fim.

Todo aquele que desejar compreender as coisas maiores da vida, deverá primeiro esforçar-se por compreender as coisas menores, sabendo que ambas fazem parte de um Todo (Deus). O axioma Hermético “assim como é em cima é em baixo; e assim como é em baixo é em cima” nos dá a fórmula para chegarmos a uma conclusão a respeito das coisas menores. Esta fórmula pode ser encontrada na Escola dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental que é a Fraternidade Rosacruz, que também compreende a Lei de Analogia. Ela é a chave mestra para investigarmos a vida e seus enigmas, e seu propósito é ajudar todo aquele que busca se familiarizar com o mundo macrocosmo em um trabalho harmonioso com mundo microcosmo.

Uma das aplicações cotidianas da Lei de Analogia está relacionada ao mistério da morte. Para o Cristão místico a morte não existe, ao contrário, ele afirma que a morte física é um nascimento para os Mundos espirituais; assim como o nascimento físico é uma morte para os Mundos espirituais. Desta maneira, podemos observar que o Ego está em constante evolução; lembrando que a evolução do ser humano se processa em espiral, sempre para cima e para frente e tem como propósito a busca pela perfeição dos Corpos Denso, Vital, de Desejos e da Mente.

Para muitos, a morte ainda constitui um mistério, pois enxergam apenas um Corpo Denso inerte e sem vida. Outros ainda não acreditam em vida após a morte. Já para o ocultista, que aplica a Lei de Analogia, descobre que se faz necessária diariamente adotar uma atitude altruísta acerca da morte, tão necessária ao desenvolvimento anímico.

É um dever de todo Estudante Rosacruz procurar aplicar a Lei de Analogia sobre a morte e disseminar tais conhecimentos entre aqueles que ainda vivem nas trevas em relação a ela, respeitando o livre arbítrio desses irmãos e irmãs. Como é dever de todos, recorrer aos próprios meios investigativos para resolver as dificuldades do dia a dia, mesmo que às vezes aparenta ser difícil.

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Um Médico Testemunha uma Passagem

Fui educado nos comuns métodos materialistas da medicina: tratar doentes e prestar atenção meramente à saúde física. Mas, apesar desse treinamento que atrofiou e inibiu a mais apurada sensibilidade da minha contraparte espiritual, eu ansiava por um conhecimento e uma felicidade que nenhum meio material ou método de vida tivessem oferecido.

O incidente narrado a seguir mudou toda a minha linha de raciocínio e conhecimento de vida, pois agora eu sei que a nossa limitada vida aqui na Terra, no Corpo Denso, não dura mais que um momento, quando comparada a todo o tempo que temos para desenvolver esta parte de nós que é indestrutível: a alma.

Recebi, profissionalmente, um chamado para ver minha tia na noite que se tornou para mim a mais importante da minha vida. Quando eu primeiro apareci para vê-la, ela parecia lúcida e forte. Seu coração batia de forma ritmada e normal. Ela aparentava boas condições. Contudo, após ter lá permanecido certo tempo, pareceu-me, intuitivamente, notar uma mudança em suas condições físicas. Percebi que sua partida aconteceria em poucas horas. Estou feliz em ver, agora, que a minha percepção espiritual é mais aguçada do que pensei e que eu soube primeiro, sem raciocínio intelectual, que seu tempo de vida havia terminado.

Os primeiros sinais de morte aconteceram às dez da noite. Os últimos sinais de vida do Corpo Denso não cessaram antes das sete da manhã seguinte. Assim, toda aquela noite se passou no limiar entre o físico e o espiritual, tempo em que eu passei por uma das mais fantásticas experiências da minha vida, porque eu vi a separação do elemento espiritual do corpo do seu invólucro físico. Eu vi a formação do Cordão Prateado que une o Corpo Vital ao Corpo Denso. Eu vi como um corpo espiritual de indistinta substância nebulosa se tornou um corpo angelical vivo e lindo: o corpo da minha tia no vigor da sua vida. Eu vi as ondas pulsantes do espírito através do Cordão Prateado espiritual que conectava os dois Corpos, o Corpo Denso e o Corpo Vital.

Então, no momento preciso do nascimento da alma no plano espiritual, o Cordão Prateado partiu-se e a nova vida no novo mundo espiritual teve início, exatamente quando a morte no plano físico reivindicou o Corpo Denso.

A primeira coisa que detectei com a minha visão espiritual, ao me sentar ao lado da cama dessa pessoa querida, foi a gradual formação do Corpo Vital, independente e separado do Corpo Denso. Imediatamente acima do Corpo Denso, arruinado pela dor, percebi o contorno vago e nebuloso de uma substância brumosa e semelhante, no plano físico, à neblina ou vapor em condensação. Contemplei essa forma com interesse e deslumbramento, pois parecia ter uma vida que a diferenciava de qualquer outra forma de névoa que eu tivesse testemunhado antes.

Essa substância pareceu formar-se a uns setenta centímetros acima da cama, sobre a contraparte física. Pareceu alongar-se até o comprimento do Corpo Denso. Então começou a se moldar em seus contornos definitivos. Vi primeiro as vagas linhas gerais de um corpo. Vi o crescimento da roupagem espiritual. Depois eu vi iniciar-se a definição do contorno da expressão facial. Eu contemplava a reprodução, como em um espelho, do Corpo Denso da minha tia, mas com uma diferença: agora, a expressão era de juventude, beleza, paz e contentamento. Os olhos estavam fechados em um sono fora da Terra. Nada me era transmitido, a não ser paz e repouso.

Enquanto eu observava o surgimento desse corpo espiritual, tudo parecia natural, como se não houvesse um único traço da luta e da dor que eu havia visto antes desse processo ter iniciado. Meus olhos se arregalaram maravilhados, enquanto a forma espiritual ganhava mais vida. Foi quando a minha visão espiritual pareceu se transferir, sem a minha vontade, para o Corpo Denso. Vi, então, o “Cordão Prateado”, que estava ainda conectado aos dois Corpos, dando vida a cada um e fornecendo os meios para a transferência da vida do físico para o espiritual. O Cordão Prateado tinha cerca de setenta centímetros de comprimento, composto de uma radiação suave, brilhante e prateada, que era quase luminosa e tão brilhante que resplandecia diante de mim. Ele se projetava do Corpo Denso na base do crânio, na protuberância occipital. Então, se elevou acima e além do corpo, onde se uniu à contraparte espiritual, no mesmo lugar, na base da cabeça do corpo espiritual.

Então, eu abri mais completamente meus olhos à vida espiritual diante de mim, à minha volta. Em um lampejo, percebi a atual condição espiritual da minha mãe, que anos antes tinha feito sua transição do Mundo Físico para os Mundos espirituais. Vi a seguir a figura do meu tio, o esposo da tia que estava partindo para encontrar seus entes queridos. Vi também o filho dela, meu primo, que há muito já havia partido para novas aventuras. Percebi outros também à minha volta, reunidos naquele pequeno quarto que subitamente se tornara para mim um santuário, um lugar sagrado onde pude, de forma ínfima, achar-me na presença da vida eterna. A contraparte espiritual estava agora mais real do que a física. Uma radiação pairava sobre o Corpo Vital e a vida estava mais definidamente manifestada nele. As cortinas brilhavam à luz suave do astral. O Cordão Prateado ligado aos dois Corpos brilhava com mais intensidade. Eu sabia que a passagem estava quase completa.

Novamente tive a atenção voltada para o Cordão Prateado. Percebi os fios que o formavam. Vi o primeiro fio se romper e enrolar, exatamente na conexão com o Corpo Denso, na base do cérebro. Então outro fio se rompeu e enrolou, conforme acontece quando um fio retesado é cortado do seu suporte. Assim, durante aqueles longos minutos, foi feita a preparação para o rompimento final da conexão terrena com o libertado Corpo Vital.

Vi, então, o rompimento do último fio do Cordão Prateado que conectava a alma da pessoa que eu amava a qualquer vestígio de sua origem terrena. Apareceu diante dos meus olhos, simbolicamente, uma tesoura dourada. Essa tesoura se abriu e fechou; então o corpo espiritual estava livre.

O corpo espiritual endireitou-se vagarosamente e flutuou em posição vertical, ganhando uma aparência de consciência e animação. Os olhos abriram-se lentamente e brilharam com vida e amor. O rosto estava agora transfigurado de alegria e radiante felicidade. As vestimentas do espírito se estenderam suavemente sobre o corpo espiritual recentemente libertado.

Em seguida, a verdadeira espiritualidade começou a se apresentar. Onde anteriormente havia alguma aparência de velhice e preocupação, agora não existia mais. Eu estava contemplando uma alma na majestade da sua plenitude. Estava contemplando juventude e, ao mesmo tempo, a completa maturidade da experiência. Estava vendo o zênite da alma que havia completado uma vida de serviço e abnegação. Eu estava vendo a recompensa espiritual por uma vida bem vivida.

(Resumido da revista “Rays from the Rose Cross”, julho/agosto de 1998)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pela Paz: que Paz? A falsa Paz, a que o mundo dá aos seus devotos?

Estamos orando pela paz; estamos pensando na paz; esperando por paz e por alguns momentos consideraremos a paz em seu significado mais amplo e completo. Qual é a paz pela qual estamos orando com todos os nossos corações, enquanto lá longe o barulho e o horror da luta fratricida enchem a aura da Terra com seu vermelho lúgubre?

No ano passado, foram realizados mais de cento e cinquenta Congressos, Convenções e Conferências Internacionais de Paz. Acreditava-se que isso pressagiasse a aproximação da tão esperada unidade mundial pela qual a humanidade estava orando. Foi declarado, com certeza enfática, que a guerra era coisa do passado. Hoje, estamos em meio a condições que podem fazer os Anjos chorarem — a Europa está mergulhada na mais terrível luta fratricida já registrada na história[1]. Disso somos forçados a tirar várias conclusões — uma das quais é que o nosso otimismo anterior repousava sobre uma base muito insegura e que a nossa “paz” se empoleirava sobre uma crosta fina, em cima de fogos internos e fervilhantes.

O grande Mestre — Cristo Jesus — pronunciou estas palavras maravilhosas em seu significado profundo e místico: “Minha paz vos dou — não como a dá o mundo”. Observe que elas foram faladas apenas aos Discípulos; para aqueles que O amavam e foram consagrados ao Seu serviço. Além disso, elas implicam dois tipos de paz. A analogia humana confirma a inferência. A paz que o mundo dá é a falsa segurança que nos embala em um cochilo temporário, enquanto a tempestade se forma.

A paz de Cristo pela qual oramos é mais do que a calma externa. É mais do que a imobilidade exterior sobre profundezas agitadas e fervilhantes. No microcosmo, é mais do que a emoção embalada por um descanso momentâneo. É mais do que os sentidos paralisados de uma criança quieta que, por um breve intervalo, não veem, não sentem, não ouvem. No microcosmo, é mais do que a cessação do movimento marcial, quando as forças elementais são silenciadas pela vontade de um Mestre. A paz mundial pela qual ansiamos e esperamos não é a quietude sinistra da miséria oprimida e sufocada — sufocada sob a tirania esmagadora. Não é a patética indiferença ao destino que as massas submersas mostram sob a mão de ferro da ganância e da avareza. Não é a aceitação monótona de condições implacáveis — uma submissão que impede a guerra aberta por causa das condições. Tal submissão paralisa todos os esforços de longo alcance ou alimenta um fogo fervente de ódio interior que, eventualmente, irá estourar todos os limites.

Essas têm sido as condições de paz dos últimos séculos entre as nações do mundo. Murmúrios agourentos da tempestade que se aproxima foram ouvidos de vez em quando através do silêncio abafado. Os erros clamam por reparação, mas foram silenciados pela mão erguida da tirania, tingida de vermelho com o sangue da humanidade. Chamamos isso de “paz” porque havia uma submissão entorpecida a condições inevitáveis. Os erros foram vestidos com roupas de dignidade oficial, a injustiça foi vestida de púrpura com arminho e a crueldade ocupou os tronos do poder.

Portanto, houve “paz”. Paz? Ah, amigos! Vamos olhar para baixo, para o coração, o âmago de tudo isso. Mais uma vez, voltemos às palavras do nosso grande exemplo, o Cristo. Ele faz uma distinção significativa entre a paz que o mundo dá e a que Ele concede àqueles que O amam. Vimos os efeitos da primeira. Vivemos sob a falsa segurança dela e sofremos com suas consequências de longo alcance. Essa paz é como a de uma tarde abafada de verão, quando toda a natureza está consciente de distúrbios elétricos em algum lugar. Os centros dos sentidos e os centros emocionais percebem as vibrações sutis das agitadas correntes atmosféricas. Atualmente, há um movimento de ar, uma energia correndo, um suspiro de florestas curvadas e uma batalha feroz, elementar está acontecendo…

Outra analogia para a falsa paz pode ser encontrada na lagoa tranquila em cujas profundezas escuras o veneno se esconde. Uma falsa paz, queridos amigos, não repousa sobre um fundamento real. A qualquer momento, impulsos vindos de baixo podem penetrar em sua casca fina, causando perturbações gigantescas. É evidente, assim, que desejamos outra forma de paz — algo duradouro e potencial. Essa paz só pode ser encontrada no princípio do Cristo: o Espírito do Cristo deve prevalecer e guiar. Essa paz difere daquela que o mundo oferece em sua política de contemporização, pois energia radiante é diferente de letargia. A paz de Cristo é energia radiante, vida brilhante, chama movente de um centro puro de Luz; Seu altruísmo brilhante envolve e abençoa o coração da humanidade — a alma do mundo. Quando essa paz chegar ao coração da humanidade, as nações não estarão mais em guerra. Não haverá espírito racial, nenhum desejo de poder para usar no monopólio egoísta; nenhum tentáculo de avareza para agarrar vítimas infelizes. Esta, então, é a paz pela qual oramos esta noite, amanhã e todos os dias que virão: A paz de Cristo! Dizem que isso excede o entendimento. Ela ultrapassa os limites do intelecto. A Mente não pode entendê-la. Somente o Espírito pode reconhecê-la e abraçá-la. Mesmo assim, daquele centro radiante sentimos sua calma benevolente e alta bem-aventurança por toda a vida. Ela toca e eletrifica todos os sentidos e todos os centros emocionais. Ela realmente irradia bênçãos por todas as vias da consciência. Não pode ser expressa. Não pode ser entendida por aqueles que não a conhecem.

Torna-se evidente que o mundo não está totalmente pronto para a bem-aventurança divina da paz de Cristo. Qualquer coisa menos do que isso não é paz, mas apenas ausência de movimento marcial. É uma das grandes tragédias da nossa “Estrela das Dores” que lágrimas e derramamento de sangue, destroços e ruína devem preceder a harmonia reconciliadora — a harmonia que brota da paz perfeita e a inclui. O espírito de Marte torna esta era uma época de inquietação. Isso é sentido não só no campo de batalha, mas em cada caminhada na vida, em cada avenida do progresso do mundo. É bom, portanto, enviar pensamentos de paz continuamente; concentrar-se na paz, trabalhar e orar por ela; mas devemos fazer mais do que isso.

Devemos analisar com a visão do filósofo e encontrar as causas subjacentes das condições caóticas que encontramos em toda parte. Então, devemos reconhecer todos os elementos da discórdia e encontrar uma verdadeira base para a paz. Porque isso só pode ser encontrado no altruísmo — o amor universal —, no reconhecimento da unidade fundamental. É claro, então, que devamos trabalhar para isso; em outras palavras, para Cristo e Seu Reino. Para fazer o máximo, não pare no meio do caminho nem sonhe com condições disfarçadas que são más no centro, mas “justas” por fora — como sepulcros caiados. São essas condições que produziram as guerras e misérias. Tais guerras e misérias devem prevalecer até que o fluxo da vida humana seja purificado em sua fonte. Muito do “elemento animal” no ser humano está agora misturado com a essência pura dele que, às vezes, fica difícil separar os dois. No entanto, devemos nos tornar puros antes que possamos ter paz — a paz duradoura — tanto na vida coletiva com os demais como na individual. Enquanto tudo o que é falso ou mau está oculto, encoberto ou dissimulado, o máximo de paz que podemos conhecer é aquela que o mundo dá — uma calmaria temporária na tempestade — um armistício durante o qual podemos enterrar nossos mortos.

A verdadeira paz é branca e luminosa como um raio de luz de Deus. É a flor perfeita que coroa a vida harmonizada. É a verdadeira sinfonia da vida humana cuja análise qualitativa pode ser resumida nestas palavras do grande músico, Beethoven: “Nada pode ser mais sublime do que se aproximar da Divindade e difundir aqui na Terra Seus raios divinos entre os mortais”.

Durante o processo de desenvolvimento, de ajuste, de utilidade construtiva e beleza, a vida é cheia de discórdia e contenda. Tanto com as nações como com os indivíduos — no macrocósmico e no microcósmico. Enquanto os destroços de uma estrutura demolida estão sendo liberados para dar lugar ao novo, a visão não é agradável. Todos os sentidos ficam ofendidos com o lixo e a confusão. Só a alma do artista pode ver, na imaginação, a nova estrutura que surgirá em graça arejada, em beleza nobre sobre os destroços e ruínas. Em nossa antiga terminologia, precisamos falar das vidas humanas que foram “apagadas no campo de batalha”, como a chama de uma vela. Sabemos agora que sua vida não se extinguiu — a chama ainda vive. As velhas condições cristalizadas serão rompidas por essa terrível reviravolta e sentiremos a agitação de correntes etéricas mais sutis.

Vamos, então, continuar a enviar pensamentos de paz e mais do que isso para torná-los poderosos, potentes, onipotentes — carregados da corrente elétrica do amor do Centro Divino. Assim, poderemos ajudar no movimento pela paz, a verdadeira paz, a paz do Cristo. O trabalho preparatório deve ser feito, no entanto. Os destroços do pensamento inútil, da fantasia ociosa e dos interesses egoístas devem ser eliminados. A necessidade do ser humano em ser orientado por um Espírito de Raça deve se extinguir. As distinções de classe, exceto os graus de realização espiritual, devem ser abolidas. O único padrão de excelência deve ser baseado no desenvolvimento espiritual. Todas as distinções arbitrárias da nossa “civilização” tola e moderna devem ser dissolvidas na luz branca da Verdade que brilha nos mundos espirituais. Todos os nossos conceitos baseados nos falsos padrões da Terra devem ser revertidos e devemos permanecer como uma unidade infinitamente multiplicada, como um de forma radical e fundamental, manifestando-se em diferentes graus; mas juntos, formando a humanidade perfeita.

Para usar o antigo comparativo musical: cada inteligência humana emite sua nota-chave e um certo número dessas notas harmoniosamente mescladas compõem o acorde perfeito. Todos esses acordes, com seus tons e sobretons, seu equilíbrio e ritmo, formam a grande sinfonia da vida. Nenhuma nota pode ser dispensada: nenhum acorde pode ser ignorado. Mesmo aqueles que entram com uma dissonância estranha em ouvidos destreinados, sob a habilidade do Mestre ajudam a produzir a música mais verdadeira — a harmonia mais perfeita. Nenhum de nós que viajamos juntos nesta “Estrela triste” pode entrar em harmonia perfeita até que a última nota individual e falsa soe sua nota completa e verdadeira. Na grande alma do mundo existem muitos tons. Alguns soam muito discordantes para ouvidos sensíveis, mas devem ser transformados em esferas verdadeiras e claras como um fato vívido, em vez de um sonho de poeta. Então saberemos o significado da paz e perceberemos o quão completamente somos um. Neste exato momento, a nota marcial prevalece; mas, do estrondo de trompas e tambores surgirá a melodia clara e pura das cordas de violino e violoncelo da alma superior do ser humano: o reinado da paz começará.

Em um sentido muito real, somos os guardiões de nossos irmãos, em um sentido místico e profundo, pois no cerne das coisas somos um. Nossas almas, formadas a partir da alma do mundo, embora estejam separadas agora, estando cada uma envolta em sua minúscula concha, quando purificadas e unidas à Inteligência espiritual, serão uma só em grande poder e bem-aventurança.

Um último pensamento: o altruísmo deve ter suas raízes dentro, no centro sagrado do Amor e da Luz, em que o verdadeiro Eu habita. As sementes da verdade devem cair no silêncio do coração e germinar ali, na quietude profunda. Não sabemos o que perdemos quando as deixamos cair na turbulenta e agitada correnteza da vida exterior, em suas inquietas correntes. Seus impulsos são sempre externos e, se as verdades divinas, que o Mestre fala ao ouvido interno, não puderem fruir plenamente por dentro, antes de serem levadas para fora, elas falharão em seu alto propósito. Uma verdade profunda está oculta nisso — uma verdade digna de sua reflexão séria.

O Coração do Cristo é amor e luz. Quando Sua lei governa a vida, o resultado é a paz. A inquietação é um sinal de centros perturbados e mostra que as energias estão fluindo em canais de parto — dissipadas em linhas que não são essenciais.

A falsa paz, a que o mundo dá aos seus devotos, desune, segrega, perturba. À sua maneira, é quase tão prejudicial quanto as forças marciais. Para entrar na grande e duradoura paz, queridos amigos, a alma da humanidade deve se voltar para o Divino, a Luz central, para longe do mundo da forma e da fantasia. É a tentativa de enfrentar os dois lados que traz toda a nossa miséria.

Tudo é muito simples — o problema da vida, tanto no nível individual quanto no cósmico —, quando encontramos a chave. Essa chave está ao alcance de todos, quando olhamos para dentro, para o centro do nosso ser — na imobilidade profunda, encontramos nosso verdadeiro Eu: nosso Eu superior, nosso Deus.

Que o pensamento final de paz que levaremos conosco seja expresso nas palavras de um hino escrito por um místico e santo da Abadia Galesa de Llanthony.

Silêncio — que uma quietude profunda

Paire sobre cada coração!

Que cada pensamento terreno

Agora parta totalmente.

Mestre, diga: “Fique quieto”.

Pois você está certamente aqui.

Mestre — que Tua grande calma

Faça-nos Te sentir por perto!

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de junho/1915 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)


[1] N.T.: refere-se à Primeira Guerra Mundial

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Paciência que é Muito Necessária à Você, Estudante

Tendes necessidade de paciência para que, depois de haverdes feito a Vontade de Deus, recebais a recompensa.”

Sem dúvida, São Paulo viu a impaciência dos “Pequenos”, como os Estudantes Rosacruzes de hoje, ansiosos por “colher onde não haviam semeado” e reclamando de seu lento progresso. Primeiro o Natural, depois o Espiritual; o crescimento do primeiro e a analogia do superior. Em torno de Vinte e cinco anos de vida terrena leva a Natureza para fazer um ser humano a partir do bebê; isto é, um ser humano físico, maduro e sólido. É provável que o Ser eterno e imortal possa desenvolver um sólido caráter estabelecido e uma profunda raiz espiritual em poucos anos?

O Espiritual só pode se desenvolver quando o Natural cede; como em um jardim, a planta escolhida florescerá na proporção em que as ervas daninhas forem arrancadas e o cultivo completo for concedido a ela.

Nosso Salvador, Cristo, não prometeu transformar um ser humano. Ele prometeu “Poder” para se tornar Filho de Deus quem “acreditar em Seu nome”. O poder de se tornar uma árvore ou flor perfeita está em uma semente e o pequeno começo do crescimento espiritual está na “crença Nele”.

O jardineiro tem trabalho de afastar todas as ervas daninhas e cultivar a terra. A vida na semente realiza o crescimento.

Quando alguém aceita a Cristo com o coração, tem a vida que crescerá até a perfeição espiritual pelo cultivo. Os frutos do Espírito são todas as belas qualidades da alma que tornam uma vida nobre e útil, mas não são imediatamente produzidas em sua plenitude. A aparente mudança pode ser grande em relação a um mundano — egoísta, mercenário, vaidoso e impuro —; porém, leva tempo para arrancar as velhas raízes e ervas daninhas, cujas sementes tendem a aparecer de forma periódica. Muitos que se julgam firmemente fixados em fazer o bem são, pela falta de vigilância, flagrados cochilando e sendo derrubados por alguma falha do passado. A espiritualidade, em seus estágios iniciais, é facilmente desviada do Coração por influências mundanas; nada precisa de cuidados mais ternos para preservar seu domínio sobre as afeições. O cérebro é a ligação entre a Mente e o Corpo Denso e os pensamentos da Mente devem estar fixos numa estrela, ao atingir o seu ideal, a fim de se afastar das inúmeras tentações que o mundo oferece, principalmente aos jovens.

Os Ensinamentos Rosacruzes apelam aos Cristãos, um tanto afastados dos desejos naturais, que talvez tendo sido plenamente experimentados e provados, carecendo de qualidades anímicas, satisfaçam a alma; no entanto, o Natural morre lentamente, as exigências de santidade são difíceis e, especialmente em Cristãos mais velhos, a apostasia não é incomum. Muitos vêm a qualquer novo ensino pelos “pães e peixes”, já que um grande número se juntou a uma igreja muito popular para a cura de suas doenças corporais e permanecem para a continuação das bênçãos da saúde. Esse motivo pode parecer depreciativo para o crescimento da alma, mas não se pode entrar em contato com a espiritualidade sem sentir sua influência para elevação e, assim, com o tempo, aqueles que vêm por motivos egoístas podem se tornar seguidores sinceros da fé. Há muitas almas vacilantes que vão de um culto a outro em busca de descanso para as solas de seus pés e onde a Verdade for encontrada em maior medida a grande multidão irá pelo pão da vida. Eles podem ser muito sérios e sinceros, mas de nenhuma forma estão prontos para a Iniciação. As plantas que vão produzir abundância de flores e frutos devem, às vezes, ser transplantadas várias vezes antes de mostrarem verdadeiro vigor e, quando finalmente chegam ao seu lar permanente, ainda têm de esperar longos meses ou até anos de desenvolvimento, antes que os frutos apareçam. Somente a maturidade do tempo traz produtividade total.

Leia sobre as lágrimas de qualquer um dos pais ou mães da Igreja, os Santos que mantiveram a fé e terminaram seu curso até Deus; o caminho deles não foi de rosas. Morrer diariamente para si, para as paixões naturais, para os destruidores da carne; os sacrifícios diários na cruz do Corpo Denso, com os olhos fixos no Senhor, com Cristo conduzido ao coração, com todos os dons no altar, em consagração à humanidade.

Os Cristãos são de tantos tipos e qualidades quanto as embarcações: alguns são apenas barcos a remo que estão amarrados à costa, com medo de se aventurar sozinhos; outros, mais ousados, porém com medo de águas profundas; finalmente temos um grande navio de longo curso movido por velas ou motores, preparado para a viagem, bem guarnecido, tendo o capitão em seu posto, de olho na bússola. Entretanto, mesmo assim, às vezes bate em uma rocha ou não resiste a um vendaval e afunda. Existem outros — submarinos que exploram os segredos das profundezas.

Esses são os nossos pioneiros da Fraternidade Rosacruz, talvez profundos nos segredos do governo, em missões importantes, guardas avançados de pesquisa, difíceis de encontrar, difíceis de destruir, vencedores do inimigo das almas. Afinal, há dirigíveis; esses são símbolos dos Irmãos Maiores, que navegam em outro elemento. Eles estão no alto, na atmosfera límpida de um ar rarefeito e veem além das brumas que escondem o passado e o futuro da nossa visão limitada. Esses tipos não surgiram em um dia. Existem eras de desenvolvimento entre o frágil barco a remo e o submarino ou dirigível.

A paciência deve realizar seu trabalho perfeito — a alma deve crescer de maneira ordenada; primeiro a folha, depois a espiga, depois o grão inteiro na espiga.

Um dia de cada vez, uma falha superada, um ato altruísta, um pensamento de amor verdadeiramente universal, por meio de cada um de nossos passos no “Caminho”. Não adianta se preocupar, não adianta se apressar; é um caso de “mais pressa menos velocidade”. Só o tempo e a paciência podem curar a alma da sua incapacidade e trazê-la à estatura completa de “um ser humano em Cristo Jesus”. Uma sequoia, a maior árvore da Terra, leva milhares de anos para atingir sua altura elevada, mas outras árvores, de centenas de anos, parecem insignificantes em comparação.

Estruturas fortes e permanentes avançam lenta e deliberadamente, mas são construídas para durar, para suportar os vendavais, o estresse da vida. Os Estudantes da Fraternidade Rosacruz fariam bem em manter essas verdades na Mente de forma constante e não aumentar as muitas preocupações, pensando, falando e mantendo um espírito de crítica ou impaciência, ao invés de viver o pouco que aprenderam nas suas vidas cotidianas.

Os meios de crescimento, de cultivo e poder da alma estão em nossas próprias mãos, em nossas casas, em nossos lares e no ambiente imediato, no nosso entorno. Aqui e agora é o nosso lugar e a hora de começar de novo, sendo cada dia abençoado para fazer crescer um corpo espiritual – o seu Corpo-Alma –, para nos prepararmos para as glórias prometidas àqueles que são fiéis até o fim: “Tereis pouca força, se cairdes no dia da adversidade.”.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de janeiro/1916 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Vislumbres de uma Vida Passada

Por Max Heindel

Há alguns anos, o escritor visitou Minneapolis para dar um curso em forma de palestras; lá, conheceu a Srta. Margaret S — uma fotógrafa comercial que fez nossos slides (para usar no estereóptico[1]) para “Parsifal”, “O Anel dos Niebelungos”, etc. Nós nos tornamos bem conhecidos e no decorrer das conversas sobre certos gráficos, também sendo feitos em forma de slides, o assunto “Renascimento” entrou em discussão.

A Srta. S. tinha apenas uma vaga ideia do ensino. Parecia mais uma ideia nova de que a vida é uma Grande Escola e que voltamos a ela, vida após vida, para aprender novas lições, como uma criança volta para uma escola terrena, dia após dia, com o mesmo propósito.

Mas, parecia lançar luz sobre um problema que a intrigava há anos. Ela tinha uma irmã mais nova, Anne, que era uma criança muito diferente e “imaginava” coisas muito estranhas; isso era quase angustiante para os outros membros da família. Ela insistiu que já tinha vivido antes e da última vez foi no Canadá, onde, segundo ela, “derrubei os portões”.

Ela era apenas um bebê e não poderia ter ouvido isso de alguém da família, pois ninguém entendia ou acreditava no Renascimento. Portanto, há apenas uma hipótese razoável, a saber, que ela carregou a consciência do passado.

A Srta. S. não sabia, na época, o que significava a expressão “derrubei os portões”, mas um artigo na revista American Magazine, de julho, apresenta a história da “imaginação” da pequena Anne, que ganhou o primeiro prêmio. Reimprimimos o artigo conforme publicado.

“Anne, minha meia-irmã mais nova, quinze anos mais jovem, era uma criança estranha desde o início. Ela nem mesmo se parecia com algum membro da família de quem já ouvimos falar, pois era escura, quase morena, enquanto o restante de nós éramos claros, mostrando nossa ancestralidade escocesa-irlandesa inconfundivelmente.”

“Assim que ela conseguiu falar usando frases conectadas, ela contava histórias de Fadas para si mesma e, apenas para se divertir, eu anotava seus murmúrios com meu lápis em meu antigo diário. Ela era minha responsabilidade especial — minha mãe era uma mulher muito ocupada — e eu estava muito orgulhosa dela. Essas tramas de fantasia nunca foram do tipo usual dos Contos de Fadas infantis, porque, além da imaginação infantil, havia neles fragmentos de conhecimento que um bebê não poderia ter absorvido de forma alguma.

“Outra coisa notável sobre ela era que tudo o que fazia parecia fazer por hábito e, de fato, tal era sua insistência, embora nunca soubesse explicar o que queria dizer com isso. Se você pudesse ver o modo turbulento com que ela levantava sua caneca de leite, quando tinha apenas três anos, e engolia o leite de uma vez, você teria estremecido de tanto rir. Isso deixava minha mãe particularmente constrangida e ela reprovava Anne repetidamente.”

“O bebê era uma boa e pequena alma; parecia tentar obedecer e, então, em um momento de distração, trazia outra ocasião de mortificação. ‘Eu não posso evitar, mãe’, ela dizia repetidamente com lágrimas em sua voz de bebê. ‘Eu sempre fiz assim!’.

“Tantos foram os pequenos incidentes em seus ‘hábitos’ de fala, pensamento, comportamento e memória que, finalmente, paramos de pensar sobre eles e ela própria estava completamente inconsciente de que era diferente das outras crianças.”

“Um dia, quando ela tinha quatro anos, ficou muito indignada com papai sobre algum assunto e, enquanto se sentava no chão, à nossa frente, anunciou sua intenção de ir embora para sempre.”

“‘De volta ao céu, de onde você veio?’, perguntou meu pai com falsa seriedade. Ela balançou a cabeça.”

“‘Eu não vim do céu para você’, ela afirmou com aquela convicção serena a que estávamos bastante acostumados agora. ‘Eu fui para a Lua primeiro, mas — você sabe sobre a Lua, não é? Costumava ter gente nela, mas ficou tão difícil que tivemos que ir embora.’”

“Isso parecia ser um Conto de Fadas, então peguei meu lápis e meu diário.”

“‘Então’, meu pai a conduziu, ‘você veio da Lua para nós, não é?’”

“‘Oh, não’, ela disse a ele de forma casual. ‘Eu estive aqui muitas vezes — às vezes eu era um homem e às vezes eu era uma mulher!’”.

“Ela foi tão serena em seu anúncio que meu pai riu muito, o que enfureceu a criança, pois ela não gostava de ser ridicularizada de forma alguma.”

“‘Eu era! Eu era!’, ela se mantinha indignada. ‘Uma vez eu estive no Canadá, quando era homem! Eu me lembro do meu nome, até’”.

“‘Oh!’, ele zombou, ‘as garotinhas dos Estados Unidos não podem ser homens no Canadá! Qual era o seu nome, de que você se lembra tão bem?’”

“Ela esperou um minuto. ‘Era Lishus Faber’, arriscou-se ela; depois repetiu com mais segurança, ‘é isso — Lishus Faber’. Ela combinou os sons para que isso fosse tudo que eu pudesse entender — e o nome assim permanece no meu diário até hoje, ‘Lishus Faber’”.

“‘E o que você fazia para viver, Lishus Faber, naqueles dias?’. Meu pai então a tratou com a falsa solenidade condizente com sua segurança e acalmou seu corpinho nervoso”.

“‘Eu era um soldado’ — ela concedeu a informação triunfantemente — ‘e eu derrubei os portões!’”.

“Isso é tudo o que está registrado lá. Repetidamente, eu me lembro, tentamos fazer com que ela explicasse o que queria dizer com a frase estranha, mas ela apenas repetiu as palavras e ficou indignada conosco por não entender. Sua imaginação parou nas explicações. Vivíamos em uma comunidade culta, mas, embora eu tivesse repetido a história para perguntar sobre a frase — como se conta histórias de filhos amados, você sabe —, ninguém podia fazer mais do que conjeturar seu significado”.

“Alguém me encorajou a realmente ir mais longe no assunto e, por um ano, estudei todas as histórias do Canadá em que pude ter acesso, histórias sobre uma batalha na qual alguém ‘derrubou os portões’. Tudo em vão. Finalmente, fui dirigido por um bibliotecário a uma história de ‘documentário’, suponho que seja isso — um livro antigo e engraçado no qual a letra “s” é parecida com “f”, você sabe. Isso aconteceu mais de um ano depois, quando eu já havia perdido as esperanças. Era um livro antigo e curioso, curiosamente pitoresco em muitos de seus contos, mas descobri um que tirou todos os outros da minha cabeça por um tempo. Foi um breve relato da tomada de uma pequena cidade murada por uma pequena companhia de soldados; um feito notável, de certa forma, porém sem importância geral. Um jovem tenente, com seu pequeno bando — e a frase saltou aos meus olhos — ‘derrubou os portões’… O nome do jovem tenente era ‘Aloysius Le Febre’”.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de janeiro/1916 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)


[1] N.T.: um projetor de slides (tem 2 lentes, normalmente uma em cima da outra) ou uma “lanterna mágica” relativamente poderosa, que possui duas lentes, geralmente uma acima da outra, e tem sido usada principalmente para projetar imagens fotográficas.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Garoto que provou que Seus Professores estavam Errados

Você sabia que, quando os Estados Unidos da América eram um jovem país, acreditava-se que os tomates fossem venenosos? Que, se as pessoas viajassem em trens com velocidade superior a 38 quilômetros por hora, teriam ataques cardíacos e morreriam? E que ninguém seria capaz de voar? É uma pena, porque a vida sempre fica melhor quando a verdade é revelada. É por isso que algumas das maiores pessoas de todos os tempos dedicaram suas vidas ao estudo da verdade.

Um dos mais famosos deles nasceu em 1564, em Florença, uma bela cidade da Itália. Seu nome era Galileu. Mesmo quando menino, ele se interessava por muitas coisas e pelo modo como elas funcionavam. Acima de tudo, ele acreditava que tudo devesse fazer sentido. Não se deve acreditar em algo só porque alguém disse — nem mesmo se foi um homem chamado Aristóteles. Aristóteles foi um estudioso famoso que viveu cerca de dois mil anos antes de Galileu. Por ter descoberto muitas coisas maravilhosas, as pessoas passaram a acreditar que tudo o que ele havia dito e escrito era verdade. Na verdade, nos dias de Galileu, quando alguém declarava que Aristóteles tivesse dito algo, essa era a última palavra; ninguém deveria discutir.

Mas, Galileu achou que isso estivesse errado. Ele sabia que as pessoas cometem erros; provavelmente isso incluía Aristóteles. Ele disse isso ao seu professor na escola, que ficou muito zangado com o que ouviu; por isso ele repreendeu Galileu: “Como você ousa duvidar de Aristóteles!”, gritou com o garoto um dia.

Você não consegue imaginar como Galileu deve ter se sentido? Afinal, ele era apenas um menino. Quem era ele para desafiar aquilo em que os estudiosos acreditavam por quase dois mil anos? Mas ele tinha que provar que Aristóteles cometeu erros. Essa era a única maneira de convencer os outros. Então ele teve que manter os olhos bem abertos para encontrar algo, em algum lugar, que mostrasse que Aristóteles realmente houvesse cometido um erro. Eventualmente, sua oportunidade apareceu.

Como você sabe, naquela época não havia luz elétrica. As pessoas usavam velas ou tochas que tinham que ser acesas; às vezes, elas pendiam do teto. Ocasionalmente, no processo de acender, elas começavam a balançar um pouco. Galileu uma vez assistiu a isso. Ele imediatamente se lembrou do que Aristóteles havia escrito — coisas grandes e pesadas caem mais rápido do que as pequenas e leves. Galileu agora acreditava, depois de ver tochas e velas de vários tamanhos balançando da mesma maneira, que Aristóteles estivesse errado.

Sua grande chance de provar isso veio quando era professor na Universidade de Pisa. Talvez você já tenha ouvido falar dessa cidade; é famosa porque tem uma torre inclinada. Qual a melhor maneira de provar que coisas com pesos diferentes caem igualmente rápido do que derrubar dois desses objetos do topo da torre?

Naturalmente, Galileu não poderia simplesmente subir até lá e deixá-los cair. Ele precisava obter permissão e definir um horário para o que havia planejado — alguém, em baixo, poderia se machucar, caso estivesse lá na hora errada!

Não foi fácil para Galileu obter a permissão. Afinal, a própria ideia de questionar Aristóteles era algo inédito. Ele não deveria estar sempre certo? Contudo, finalmente Galileu obteve permissão. A hora foi definida, e as pessoas iriam para assistir.

Dois objetos deveriam ser soltos simultaneamente, um pesando cerca de cinco quilos e o outro de apenas meio quilo. Os dois alcançaram o solo exatamente ao mesmo tempo. Galileu provou que estava certo! Mas você pensa que as pessoas o aplaudiram? Apenas algumas ficaram para apertar sua mão; a maioria simplesmente foi embora. Elas não sabiam o que fazer com isso. Deveriam manter o que aprenderam durante toda a vida ou acreditar no que viram?

Os dirigentes da Universidade sabiam o que fazer: mandaram Galileu sair. Eles não deveriam tê-lo recompensado? Não, eles disseram que ele tinha sido contratado para ensinar conhecimentos antigos, não para desafiá-los. Disseram ainda que ele tinha perturbado a mente de seus alunos e isso não era uma coisa muito legal de se fazer.

Então, Galileu teve que procurar outros lugares para ensinar, como Pádua e Florença. Mais importante, ele agora tinha mais certeza do que nunca de que Aristóteles nem sempre estivera certo. Isso despertou nele o interesse por um livro que encontrou, escrito por um homem chamado Nicolau Copérnico, ex-aluno de Pádua, onde, por acaso, ele ministrava as aulas dele, na época.

Nesse livro, leu que Aristóteles errou ao acreditar que o Sol se movia ao redor da Terra; o contrário era verdade, mas não podia ser provado. Fazia todo sentido para Galileu e o ajudou a compreender muitas outras coisas. Entretanto, ele não podia provar.

Isto é, não até 1609, quando ouviu o viajante de um país distante contar uma história incrível. Alguém nos Países Baixos (atualmente conhecidos como Bélgica e Holanda) inventara algo para fazer objetos distantes parecerem se aproximar e ficarem muito maiores, aparentemente. Isso, é claro, você conhece como telescópio.

Contudo, havia algo de errado com o telescópio inventado: quando se olhava por ele, as coisas pareciam de cabeça para baixo. Isso era confuso. Galileu começou a corrigir esse defeito. Agora, quando alguém olhava através dele, objetos distantes podiam ser ampliados quase mil vezes e estavam com o lado certo para cima. Galileu recebeu muita honra e fama por fazer seu progresso; mas é claro que seu verdadeiro interesse ainda era descobrir se o Sol se movia ao redor da Terra ou se o contrário era correto.

Ele foi muito encorajado por um fato: pouco antes, uma bela e brilhante nova estrela apareceu no céu. Mas, Aristóteles, 2.000 anos antes, havia dito que nenhuma nova estrela apareceria. Visto que ele se enganou quanto a esse fato sobre os céus, não poderia ele também estar errado ao afirmar que o Sol se movia em torno da Terra? Não poderia ser o inverso, a Terra se movendo em redor do Sol?

Galileu agora passava praticamente todo o tempo olhando pelo telescópio. Às vezes, ele se esquecia de comer e dormir. Porém, mesmo que sua saúde não fosse das melhores, ele continuou se esforçando, com medo de não viver o suficiente para aprender a verdade sobre o que está no centro, o Sol ou a Terra.

Ele fez isso. Como? Ele sabia que, se Vênus e Marte se moviam em torno do Sol, a Terra também o fazia. Ele também sabia que, se o fizessem, pareceriam ficar menores, algumas vezes, e, outras, maiores, como a Lua fica quando se torna Lua Nova e, depois, Lua Cheia. E foi isso exatamente o que ele viu Vênus e Marte fazer. Eles pareciam mudar de tamanho.

Galileu também descobriu “manchas” no Sol, embora não devesse haver nenhuma. Quanto mais ele estudava os céus com seu telescópio, mais ele percebia que boatos muitas vezes são apenas isso — boatos.

Galileu escreveu tudo em um livro para que o maior número possível de pessoas pudesse ler sobre o assunto. Hoje em dia, algumas pessoas ficam ricas e famosas após escreverem livros. Não Galileu. Ele foi jogado na prisão. As autoridades tentaram fazer com que ele “se retratasse”; isto é, que anulasse o que havia dito e escrito, prometendo que não acreditasse mais nisso.

Mas como ele poderia? Só porque a maioria das pessoas havia acreditado por muito tempo no conhecimento antigo, isso não o tornava certo. E, se as pessoas algum dia lhe disserem para acreditar em algo só porque muitos acreditaram por muito tempo, você saberá o que dizer a eles, não é? Você vai apenas contar a eles sobre Galileu: e nada mais!

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de setembro-outubro/1995 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Purgação por meio da Tragédia

A natureza da tragédia é tal que pode realizar, e frequentemente realiza, uma purgação drástica e poderosa. Os antigos gregos entenderam bem que isso fosse assim. Foi com esse propósito que surgiram as tragédias imortais de Ésquilo, Sófocles e Eurípides. Eles foram espiritualmente gerados pelos Mistérios de Elêusis e compostos à luz da Sabedoria do Iniciado. Em forma de arte nunca antes superada, essas obras foram inspiradas e transmitidas ao público em geral nos teatros abertos aos céus, reflexos da ciência espiritual ensinada a poucos qualificados nos recintos sagrados dos Templos de Mistérios.

Acima de tudo, o objetivo dessas tragédias era a edificação e a purificação. Seu conteúdo e estrutura dramáticos foram projetados para afetar o público de tal forma que ele experimentasse uma espécie de catarse por meio da sublimação das emoções que brotam das profundezas, quando a atenção é fixada intensamente na encenação de situações emocionantes, dolorosas e trágicas. A arte em suas formas mais elevadas pode fazer exatamente isso, pois a beleza é redentora.

Que grande tragédia encenada no teatro do faz-de-conta pode representar para o desenvolvimento espiritual do ser humano, que também ocorre quando acontece na realidade, no palco aberto e expansivo do mundo?

Um exemplo que podemos estudar é o que foi feito com um impacto sem precedentes, em Dallas, TX, EUA, com o assassinato do presidente John Fitzgerald Kennedy e a conclusão no cemitério nacional em Arlington, Washington, D.C., durante o pronunciamento final das solenidades, ao lado do túmulo.

Algo de profundo significado estava acontecendo na vida daquele país durante esse período emocionalmente tenso. Isso penetrou nas profundezas da alma. Impressões de natureza transcendente estavam sendo gravadas profundamente no ser coletivo daquele país. Lá estava e lá permanecerá. Embora já esteja sendo recoberto por impressões e experiências mais superficiais, nada poderá jogar completamente no esquecimento as insinuações que surgiram à medida que os pensamentos despencaram para profundezas desconhecidas, durante a vigília nacional de três dias.

O clima durante esse período inesquecível era de espanto e admiração, de reverência e questionamentos: como o de Jó. Raramente as condições são tão propícias para um diálogo significativo e esclarecedor entre o buscador humano e o divino informador. Quando ocorrem, não é por acidente, mas pela cooperação de inteligências nos planos interno e externo da vida universal.

Esses tempos são de grande importância. Propósitos elevados são servidos. Embora tenha sido apenas por um breve momento histórico, aquele país foi trazido ao seu melhor estado. O clamor exterior cessou. A ocupação usual praticamente parou. Houve um grande silêncio. A voz interior, tão raramente ouvida, era quase audível. A contemplação centrada no mistério da vida, que por um estranho paradoxo, nunca é tão pronunciada como quando estamos na presença da morte. Milhões oraram. Mesmo entre os não religiosos, um grito instintivo se ergueu por luz e orientação, por piedade e perdão. Foi a reação espontânea da alma, expressa antes que a Mente, o membro incrédulo do ser humano, tivesse tempo para reprimir a ação do seu “eu” espiritual e verdadeiramente racional.

Tais eram as condições, o estado de espírito e de coração que tornavam a comunicação entre a hierarquia orientadora, acima, e o nosso ser racional, abaixo, não apenas mais clara e mais forte do que em tempos normais, porém unida e concentrada em objetivos espirituais devido à uma realização e expressão mais amplas nos dias vindouros.

As circunstâncias relacionadas ao assassinato do presidente combinaram-se para criar uma tragédia em sua cúpula. Um portador de poder terreno e aclamação foi silenciado. Um ato de violência foi cometido. Júpiter havia lançado um raio que atingiu a Terra com uma violência que fez o mundo tremer.

Em seu significado mais universal, a estrutura em ruínas, a Torre de Babel bíblica, representa a “queda do homem”, o declínio de uma civilização, o fim de uma era. É também um lembrete pictórico de que orgulho, arrogância, egocentrismo e confiança indevida em realizações materiais de segurança, contentamento e avanço no caminho que a alma deve seguir, conduzem apenas à queda. Nas palavras do salmista, com as quais o presidente deveria ter concluído seu discurso ao povo de Dallas e ao povo americano em geral, no dia fatídico de seu falecimento: “A menos que o Senhor construa a casa, trabalharão em vão para construí-la”.

O choque do relâmpago que atingiu aquele país no dia vinte e dois de novembro estilhaçou uma cobertura que escondia erros, injustiças e males, expondo-os à luz. A condenação lançada ao assassino acusado foi temperada por um sentimento de culpa distribuída. Assim, tornou-se um despertador, dando origem a impulsos de natureza curativa. Isso aconteceu em grande escala. Nenhuma parte do mundo foi deixada totalmente inalterada. Mesmo dos russos veio uma onda de simpatia genuína e amigável em todas as camadas da sociedade soviética. William Walton, da Comissão de Belas Artes dos EUA, chegou a Moscou apenas oito dias após o assassinato de Kennedy. “Todas as reuniões que tive”, disse ele em seu retorno a Washington, “começaram com palavras de horror e tristeza”. Era evidente, continuou ele, que nosso presidente “os havia afetado de maneira surpreendente, como um homem de paz. Eles acreditaram nele… e não são um povo que esconde sua dor. Eles choravam enquanto falavam sobre ele”. Disse ainda o Sr. Walton que eles ficaram horrorizados com as tendências marxistas de Oswald e “lamentaram que ele já tivesse estado na Rússia”.

O coração do mundo foi tocado. Foi tocado por um ato redentor. Todos os ingredientes necessários para isso estiveram presentes na tragédia de Dallas. Houve a morte sacrificial de uma figura mundial e eminente, um cenário dramático e arrebatador, um tempo cosmicamente marcado e o compromisso de um ato diabólico, todos combinados para dar ao mundo o choque de que precisava para detê-lo bruscamente, seguido de uma pausa prolongada para refletir sobre os significados mais profundos da vida. Uma tragédia de partir o coração que havia ocorrido estava acelerando as latências da alma em maior ou menor grau, dependendo da receptividade daqueles que estavam sob a influência do evento.

O que então aconteceu foi a entrega da própria vida, por um único indivíduo, num único golpe e de maneira que serviu para trazer uma medida adicional de luz a todos os seres humanos, em todos os lugares. Foi o que aconteceu em nível divino-humano no Gólgota. É o que acontece periodicamente, em nível humano e inferior, dentro da escala histórica, em tempos de grande crise e alta tensão. Com cada ocorrência desse tipo a humanidade recebe um acréscimo de consciência do seu ser imortal que está em desenvolvimento.

E assim, da escuridão vem a luz; da tristeza e da angústia, a simpatia e a compaixão; da malícia e do ódio, caridade e compreensão. De um ato que brotou de elementos que dividiam os povos, surgiram forças que fizeram sua unidade maior.

O efeito da morte de Kennedy foi, portanto, não apenas de alcance nacional, mas global. Em seu aspecto austero, feio e trágico, transcendeu as barreiras que tendem a manter os seres humanos separados. Por um breve momento histórico, ocorreu uma fusão massiva da humanidade básica de todos os membros da coletividade nacional. O evento atingiu o país com tanto imprevisto e força que retirou o ser humano das massas de dentro do seu pensamento cotidiano a tal ponto que, por pelo menos um tempo, varreu o sentimento de separação — racial, social, política ou religiosa — e o tornou consciente da sua natureza mais profunda e da sua unidade essencial com o todo. Houve um reconhecimento instantâneo e instintivo de uma realidade da qual ele normalmente não tem consciência. Expresso ou não expresso, um grito e uma oração subiram de um corpo unido. Seres humanos de crosta dura, lutando na dura frente da nossa vida política e econômica, choraram sem qualquer vergonha. Os comentaristas falaram em um tom reverencial e não habituado. Igrejas e sinagogas abriram suas portas para acomodar os muitos que buscavam os santuários sagrados para contemplar as profundezas de sua própria natureza e a comunhão com o Divino. O país estava de joelhos.

O que acontece em condições como essas? Os céus se abrem. O ser humano se estende para cima e os deuses, para baixo. Eles se dão as mãos. É um arremate de reconhecimento, de reciprocidade. Há uma aceleração das correntes de vida que conectam a centelha humana com a chama divina. Intimações da identidade divina brilham na consciência. É por meio de experiências desse tipo que o ser humano avança em seu caminho ascendente.

Existem muitos passos na longa jornada evolutiva que leva a Deus. Pouco a pouco, as forças da evolução nos levam adiante, mas quando um país ou um indivíduo chega ao lugar onde a cooperação consciente é oferecida, o progresso é tremendamente acelerado.

Como entidades coletivas, as nações, assim como os indivíduos, são discípulas no Caminho. Da mesma forma, elas dão passos sucessivos de Iniciação, nesse Caminho. Esses são em graus maiores e menores.

Vejamos um exemplo nos Estados Unidos: experimentaram três desses pontos de significado espiritual e inesquecível. O primeiro deles ocorreu com o assassinato de Abraham Lincoln; o segundo, no momento do falecimento de Franklin Roosevelt; e o terceiro, com a retirada, por assassinato, de John Kennedy da vida mortal. Cada um desses eventos trouxe àquele país um período de silêncio relativo de três dias. Pensamentos e sentimentos se uniram em uma dor comum e a consciência penetrou em profundezas incomuns. A intercomunicação entre os planos interno e externo da natureza era, portanto, extraordinariamente favorável.

É nessas horas que os guardiães do destino humano podem derramar mais abundantemente as águas da vida do seu reservatório espiritual sobre um povo momentaneamente mais necessitado e receptivo do que em tempos normais. É então que eles podem imprimir de forma mais eficaz na Mente das massas o plano e o propósito que Deus tem para o desenvolvimento progressivo e o cumprimento do verdadeiro destino da humanidade. É isso que dá a essas ocasiões o impulso para a frente, o novo impulso, o esforço renovado. Essa é a natureza essencial do que se denomina experiência iniciática.

Um governo invisível preside os assuntos das nações. Os fundadores da república dos EUA dirigiram-se a esse “centro superior de direção” e hauriram dele a força, a coragem e a inspiração que tornaram possível o estabelecimento de uma nova nação em uma nova terra dedicada à proposição de que todos os “homens são criados iguais”.

Lincoln estava profundamente consciente desse corpo governante. Ele se referiu a Ele como o “Gabinete Superior”. Com Ele comungou e, a partir daí, recebeu interiormente as impressões que o capacitaram a guiar o curso daquele país através dos perigos que então dividiram aquela nação em um estado de unidade restaurada e a abolição tardia da escravidão.

Em tempos de grande crise, como o presente, os membros do governo invisível aproximam-se muito das preocupações terrenas e exercem sua influência ao máximo para orientar os desenvolvimentos para o resultado mais elevado possível. A influência que exercem nunca pode infringir o sagrado livre arbítrio de uma nação ou de um indivíduo. Mas, com pessoas ocupando posições de influência e buscando orientação superior, gente que desenvolveu uma sensibilidade interior às impressões da alma, o governo interno pode exercer uma poderosa mão orientadora para mover os eventos na direção da intenção divina.

Os líderes que respondem a tal orientação são caracterizados por uma forte consciência do destino. Eles são destemidos. Eles se sentem seguros diante dos desafios mais opressores. Eles têm uma confiança inquestionável nos recursos disponíveis, internos e externos, para realizar a tarefa que escolheram realizar. E assim, por mais pesados que sejam seus fardos, eles os carregam com leveza. Lincoln, com o peso dos anos de guerra sobre os ombros, ainda era capaz de dizer que nenhum dia deveria passar sem uma risada. E a imagem de Kennedy era a de um homem com um sorriso.

E não o fez Cristo Jesus, enquanto pedia a Seus seguidores que pegassem a cruz e O seguissem, para ter “bom ânimo” e não permitir que seus corações se perturbassem? Isso é possível quando o sacrifício resulta não de compulsão ou senso de dever, mas de escolha. Quando a consciência espiritual atinge o nível em que passa a experimentar a doação de si mesma no serviço amoroso e desinteressado aos outros, independentemente do custo para a natureza inferior, o sacrifício torna-se a maior alegria que a alma pode conhecer.

Coragem, também, o presidente havia demonstrado em seu encontro físico com o inimigo, na Segunda Guerra Mundial. E a autoconfiança inconfundível que exibia, a confiança que irradiava, a ausência de qualquer sinal de tensão indevida quando aparecia diante de audiências de televisão, nos debates de campanha com seu oponente, foi um fator importante, senão decisivo, para ganhar a Presidência.

Além disso, quando o ex-presidente Truman implorou a ele para não buscar a indicação presidencial de 1960 em razão da juventude dele, deu uma resposta eloquente que será lembrada pelo espírito amigável e pela autoconfiança com que ele se declarou “pronto”.

Ele rejeitou o chamado teste de maturidade. Disse ele, em parte, “excluir de cargos de confiança e comando todos aqueles com menos de quarenta e quatro anos teria impedido Jefferson de escrever a Declaração da Independência; Washington, de comandar o Exército Continental; Madison, de criar a Constituição; Hamilton, de servir como Secretário do Tesouro; Clay, de ser elevado à Câmara; e Cristóvão Colombo, de descobrir a América”. Kennedy continuou dizendo que não acreditava que o povo americano estivesse disposto a impor tal teste, já que o país ainda fosse jovem, fundado por homens e mulheres jovens e ainda jovem de coração e espírito.

“É hora”, continuou ele, com toda a força do seu ser, “para uma nova geração de liderança administrar os novos problemas e as novas oportunidades. Pois há um novo mundo a ser conquistado — um mundo de paz e boa vontade; um mundo de esperança e abundância. E eu quero que os EUA liderem o caminho para esse mundo”.

Em resposta à pergunta feita por um estadista mais velho, ele declarou que não estava “comprometido levianamente a buscar a presidência; que não era um prêmio ou um objeto normal de ambição… Hoje, digo a vocês e com pleno conhecimento da responsabilidade daquele alto cargo que, se o povo da nação me escolher para ser seu presidente, estou pronto”.

Em frases sonoras, o que ele estava dizendo a seu questionador, que duvidava de suas qualificações para o mais alto cargo do país, por motivo de imaturidade, e para as pessoas cujo apoio ele estava buscando, na verdade era para não julgar a idade da alma pela idade de corpo e reconhecer que, embora os dois estivessem temporariamente ligados um ao outro, eles eram de dimensões diferentes.

E o que poderia ter sido, senão a confiança nascida da consciência interior do caminho do destino que estava percorrendo e que o levou, como católico, a inclusive aspirar à presidência? Essa dificuldade passou a ser considerada virtualmente intransponível. Como cidadão americano, leal e dedicado, Kennedy recusou-se a considerá-lo assim. Com tremenda energia e determinação, ele começou a remover a barreira histórica. Nisso ele teve sucesso. Uma assembleia de ministros protestantes e ortodoxos, reunidos na Filadélfia na época da tragédia de Kennedy, prestou ao presidente martirizado uma homenagem brilhante. Daí em diante, para sempre, declarou com efeito que o caminho para a presidência não estava mais proibido aos católicos por motivos religiosos. Também pode ser notado a esse respeito que foi com uma serena segurança interior que ele estava enfrentando o desafio religioso, quando pediu o privilégio, que lhe foi concedido, de se dirigir a uma assembleia de clérigos em uma cidade do sul, que se opunham veementemente à sua eleição. Sem qualquer traço de amargura ou irritação, mas com espírito de boa vontade, ele declarou sua posição sobre todos os assuntos em controvérsia, sem equívocos, e sua fé religiosa, sem desculpas, em um esforço honesto para trazer o melhor entendimento entre ele, seus compatriotas americanos e seus “irmãos separados” de religião. Após seu discurso, um dos ministros presentes teria observado que parecia que eram eles, e não ele que, naquela ocasião, foram colocados “no local”.

Finalmente, a consciência do destino estava em alta naquele fatídico dia de novembro, em Dallas. Ele estava em território inimigo, uma cidade que pouco antes havia feito ataques horríveis ao nosso embaixador da ONU, Adiai Stevenson, e tratou Lyndon Johnson de forma tão vergonhosa em sua visita, durante a campanha presidencial de 1960.

E Dallas ainda estava com disposição para uma violência ainda maior. Havia ódio e veneno na imprensa local. Cartazes proclamavam Kennedy um traidor e Washington, um centro de poder sinistro. Obviamente, o presidente estava enfrentando o perigo mais grave. Ninguém poderia saber disso melhor do que ele. Conselheiros de confiança o incentivaram a não ir para o Texas e, definitivamente, para Dallas.

Então o presidente foi. Claramente arriscando a própria vida, ele partiu na esperança de injetar na situação inflamatória um espírito de razoabilidade e boa vontade. Sem dúvida, ele o fez, pelo menos em certa medida, mas não como planejado. Não veio de uma mensagem falada, mas através de um choque terrível, uma tragédia preocupante. As medidas de segurança foram inúteis. Quão proféticas foram as palavras de Davi com as quais ele encerrou seu discurso que não foi proferido: “Se o Senhor não guardar a cidade, o vigia acorda, mas em vão”.

John Kennedy estava novamente “pronto” para qualquer eventualidade que o destino reservasse para ele. Ele teve insinuações do fim que iria conhecer devido a um incidente ocorrido no verão anterior, quando os motins raciais estavam no auge e as paixões explodiram perigosamente, quase gerando uma erupção violenta ainda maior. Ele estava falando a um grupo de representantes de organizações nacionais sobre os muitos problemas enfrentados pela nação em casa e no exterior, quando a certa altura tirou do bolso um papel de onde leu o famoso discurso de Blanch da Espanha, no Rei João (King John) de Shakespeare:

“O sol está escaldante com sangue: belo dia, adeus!

Qual é o lado que devo seguir?

Eu estou com ambos: cada exército tem uma mão;

E em sua fúria, eu tendo os dois;

Eles rodopiam em pedaços e me desmembram”.

No dia da visita a Dallas, sua hora havia chegado. O mesmo ocorreu no momento culminante de um drama encenado no cenário mundial, em que a trágica morte do ator principal afetou tanto o público que, de luto pelo que foi amplamente sentido como uma perda muito pessoal, brotou inesperadamente da alma coletiva da nação, e no mundo em geral, novas fontes de vida espiritual. Assim, de uma perda tridimensional surgiu um ganho quadridimensional. Isso revelou a verdadeira natureza redentora do sacrifício como o preço da realização e a lei básica do progresso evolucionário.

John Kennedy estava se movendo fielmente rumo ao propósito mais elevado que sua alma havia decidido seguir antes mesmo de entrar em seu renascimento atual. Esse propósito era levar o maior bem possível ao seu país e ao mundo, mesmo à custa do martírio. A autoridade para essas declarações está no mapa dos céus no momento do seu nascimento.

Embora a Mente consciente raramente tenha plena lembrança da rota que a alma escolheu seguir antes do renascimento, o “Eu Superior” não se esquece. Pela intuição do coração, ele pode comunicar ao cérebro físico o caminho que escolheu seguir.

E assim, ao ir para Dallas, onde o perigo espreitava, o presidente estava se movendo com uma consciência idêntica àquela a partir da qual falava quando declarou com confiança que estava pronto para assumir a presidência. Foi assim quando ele se aventurou em uma zona de perigo político. Novamente, ele estava interiormente pronto para qualquer eventualidade.

O mesmo aconteceu com Lincoln, quando se aproximou do seu Gólgota. Ainda não era presidente, mas já sob fogo, ele escreveu: “Vejo a tempestade chegando e sei que Sua mão está nela. Se Ele tem lugar e trabalho para mim, acredito que estou pronto”.

Nem poderia o presidente Kennedy ter esquecido o ciclo de vinte anos que começou em 1840, durante o qual nenhum presidente viveu para cumprir seu mandato. William Henry Harrison assumiu a presidência em 1840 e morreu logo depois. O próximo, na linha da sucessão de vinte anos, foi Lincoln, 1860; Garfield, 1880; McKinley, 1880, todos os três destituídos do cargo por assassinato. Em seguida, veio “A Estranha Morte de William Harding”, 1920; Franklin Roosevelt, 1940; e agora, por último, John Kennedy, 1960, o quarto a morrer nas mãos de um assassino.

Certa configuração astrológica se repete nesses intervalos de vinte anos, o que aparentemente entrava nesse padrão presidencial, embora possa haver mais coisas envolvidas que não foram determinadas.

Ciente ou não do que esse ciclo podia haver pressagiado para ele, Kennedy, aparentemente, não fez coisa alguma para restringir sua liberdade de movimento em todos os momentos. Sorridente, ele saiu para encontrar o que quer que o destino reservasse para ele. Subconscientemente, senão conscientemente, ele deve ter tido o pensamento que Hamlet expressou quando se aproximava da sua hora final e fatal: “Se for agora, não virá; se não for para vir, será agora; se não for agora, ainda virá: a prontidão é tudo”.

E assim, misericordiosamente escondido da Mente presa ao cérebro, mas conhecido do “Eu” superconsciente, Kennedy saiu no dia de sua morte para dar sua vida pela terra que amava e pelas pessoas que viera para servir. De acordo com o testemunho estelar, foi um ato de sacrifício que ele escolheu fazer antes de entrar no presente renascimento. Ao longo dos tempos, a exploração e o estabelecimento de novas fronteiras são fortalecidos e alimentados pelo sangue dos mártires.

(Publicado na Revista New Age Interpreter – Corinne Heline – first quarter, 1963 – traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

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