Arquivo de categoria Método e Leis cósmicas que regem a evolução

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Devemos Desenvolver o Equilíbrio, se quisermos progredir

Autoridades têm dito que, de todas as leis físicas e espirituais, a Lei do Equilíbrio é a mais importante – é a lei fundamental da Criação. Dela depende a continuidade do Universo. Atuando tanto no microcosmo (o ser humano), como no macrocosmo (o nosso Universo) é absolutamente sábia e ampla; dela depende a estabilidade de toda a vida em manifestação.

É a causa fundamental e o efeito final da Lei dos Opostos, da Lei da Polaridade, da Lei da Periodicidade ou dos Ciclos, de todas as forças em oposição. Não poderia haver vida material, espiritual nem psíquica na forma, não fora a ação da Lei do Equilíbrio. As violações dessa lei, seja pelo ser humano ou pela Natureza, resultarão, inevitavelmente, em maiores ou menores catástrofes.

A Filosofia Rosacruz ensina que a evolução “é a história do progresso do Espírito no tempo”. Observando a evolução tal como se manifesta nos diversos fenômenos do nosso Universo, verificamos que seu caminho é espiral, sendo cada volta da espiral um ciclo para a obtenção do estado de equilíbrio.

Em maior escala, os ciclos ocorrem quando o Sol se move para trás, entre as 12 constelações, pelo movimento que chamamos de Precessão dos Equinócios. O clima, a flora e a fauna da Terra mudam lentamente, produzindo, essa mudança, um ambiente diferente para a Onda de Vida humana em cada época sucessiva, à medida que caminha para a Unidade com Deus, o Criador. Existe também o caminho cíclico do Planeta, cujos pontos de retorno são os Equinócios e os Solstícios. Daí o ocultista observar o Solstício de Junho e o Equinócio de Setembro, bem como o Natal e a Páscoa. Eles indicam o fluxo periódico das forças invisíveis que revestem nossa Terra, as quais, agindo em obediência à Lei do Equilíbrio, produzem no nosso globo as atividades físicas, morais e mentais.

Em menor escala, é por meio da ação da Lei do Equilíbrio que o ser humano “nasce e morre” atingindo, por fim, a síntese, a unificação final de todas as vidas passadas. O Espírito humano vence finalmente tudo o que tem obstruído o seu progresso na evolução; os desejos são postos sob o controle do Espírito por meio da vontade e da Mente; desaparece o sexo na assexualidade do Adepto. Quem se tornou responsável pela ação da Lei do Equilíbrio em si mesmo não é mais dominado pelas opiniões, pelos desejos ou experiências de qualquer outro ser – no Corpo Denso ou fora dele. Sua vida é dedicada ao propósito de conhecer e obedecer às leis oniscientes de Deus e caminha sempre para esse fim com harmonia interior e eficiência.

Os muitos alvos que hoje nos cercam são ofuscantes lembretes de que há premente necessidade de equilíbrio em nossas vidas e nos negócios do nosso mundo, se esse há de ser verdadeiramente uma grande sociedade. A facilidade com que as massas  populares caem na histeria da adoração de um herói ou de uma atitude condenatória: de ficar possuída do medo da possibilidade de um ataque atômico (ou pior) ou da inflação monetária; de seguir um rumo à intolerância e de perseguição à raça e à religião; de enfatizar desordenadamente o sexo; de sucumbir à vida falsa dos narcóticos; de acentuar demasiado o lado material da vida em detrimento do lado espiritual – tudo isso são os sintomas bem como os resultados da falta de equilíbrio no interior dos seres humanos, desencadeando as forças de destruição. Muitos poucos existem que mantêm o equilíbrio tornando possível o verdadeiro progresso.

A história está repleta de relatos de clímax nacionais e internacionais que têm surgido periodicamente pela Lei dos Ciclos, em obediência à mais sábia Lei do Equilíbrio. Nessas ocasiões, os homens e mulheres que fazem surgir do caos a ordem e o progresso, são aqueles que conseguiram o equilíbrio dentro de si mesmos.

Durante os anos cruciais em que estamos atingindo novos e mais elevados valores e padrões, os homens e as mulheres que usam tanto as qualidades da Mente como as do Coração bem merecem nossa gratidão pelo serviço que prestam em ajudar a conservar nosso mundo em condição estável e a livrar-nos de possíveis catástrofes. Onde quer que estejam – e são encontrados praticamente em todos os caminhos da vida – estão servindo como canais autoconscientes aos nossos Irmãos Maiores, a quem tanto devemos.

“Vem, raciocinemos juntos”, é um aviso que indica a nota-chave para um processo de recondicionar nossos mundos menores e maiores, porém, já que a razão é, de fato, o produto do egoísmo, deve, se queremos obter resultados mais satisfatórios, ser combinada com o amor e o reconhecimento da unidade de todas as criaturas. Com o tempo, a razão, que está sendo desenvolvida pelo Espírito Humano, terá levado o desejo por caminhos que conduzem à obtenção da perfeição espiritual; a natureza do desejo terá sido conquistada e a Mente seja emancipada, pelo amor, da sua escravidão ao desejo. Então a intuição, a faculdade do Espírito de Vida, será soberana. Hoje, no nosso mundo existem incontáveis oportunidades de obtenção do equilíbrio – Mente pura, um Coração nobre e um Corpo são; e existem, ao mesmo tempo, muitas oportunidades para render-se aos desejos inferiores e obstruir o progresso próprio, bem como o dos outros. Cada indivíduo deve, afinal, fazer sua própria escolha do caminho que quer seguir: ou o caminho equilibrado da harmonia e do progresso, ou o caminho desequilibrado da discórdia e da disputa. Certamente nunca houve maior necessidade de pessoas equilibradas bem integradas. A compreensão da natureza real do ser humano e do seu propósito aqui na Terra fornece o mais poderoso incentivo para o caminho positivo.

A energia criadora do Espírito humano – uma centelha no interior da Chama Divina – é bipolar; a vontade é a qualidade masculina; a imaginação é a feminina. Como, regra geral, nascemos alternadamente em Corpos Densos masculino e feminino, dentro de cada um de nós, não importa o sexo que tenha o Corpo Denso, há a energia bipolar que por fim conduzirá a um equilíbrio perfeito! Desde o momento em que o onisciente Espírito Virginal foi diferenciado em Deus e enviado na longa jornada dentro e fora da matéria para obter a consciência própria e a onisciência divina, até o fim da sua peregrinação setenária, há um contínuo desenvolvimento para o equilíbrio espiritual que atinge seu clímax na Unidade com o Criador. Então, terá sido satisfeito o propósito da manifestação do Espírito diferenciado e ele estará pronto para posteriores glória e esplendor evolucionários.

Em algumas pessoas, tanto homens como mulheres, a qualidade imaginativa ou do coração é a mais forte, sendo tais pessoas grandemente devotadas e emocionais. Em outras, o intelecto governa, sendo tais indivíduos predominantemente frios e mentalistas. Em seus escritos, Max Heindel insiste na necessidade de desenvolvermos tanto a Mente quanto o Coração – de lutar pelo equilíbrio. Diz ele: “O Conceito Rosacruz do Cosmos teve grande aceitação devido a esse apelo ao intelecto e à satisfação que proporciona à Mente inquiridora.  Poucos, entretanto, parecem aptos a transcender a concepção intelectual, e a menos que esse livro dê ao Estudante Rosacruz um ardente desejo de passar além do caminho do conhecimento e seguir o da devoção, é, no meu entender, um fracasso. O ocultista intelectual pode terminar na magia negra se segue o caminho do conhecimento só pelo conhecimento e não para servir. Na fusão do intelecto com a devoção está o verdadeiro equilíbrio, a única esperança real”.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – julho/1972 – Fraternidade Rosacruz – SP).

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Lei do Renascimento para você se perguntar: é lhe dado tarefas fáceis ou difíceis?

Dentre vários ensinamentos que lemos nas Epístolas de São Paulo há um muito interessante para entendermos a questão do título: “Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.” (Gl 6:7). Estas palavras foram escritas pelo Iniciado o Apóstolo São Paulo em uma Epístola aos Gálatas, que eram um grupo de pessoas que habitava uma província da Ásia Menor. São Paulo leva a Religião Cristã aquela gente, a quem amou de maneira muito especial, congregando-os em uma Igreja. Estando deles ausente, apareceram certos “mestres”; dentre eles três judeus e trataram de persuadir aquela gente a desprezar a Religião Cristã, que lhes tinha sido ensinada por São Paulo, e voltaram à antiga forma de adoração.

São Paulo viu claramente que para os Gálatas o retroceder depois de terem visto a luz significava atraso, em lugar de progresso, e que suas consequências seriam o incorrer em uma pesada dívida com o destino, que requeria eternidades para eles a liquidarem.

Sendo São Paulo um Iniciado, conhecia perfeitamente as Leis do Renascimento e as de Causa e Efeito e, por isso, sabia muito bem que se este povo contraísse uma tal dívida, teria de pagá-la alguma vez e em alguma parte, ao preço de grande dor e de profunda angústia. Por esta razão, São Paulo proclamou a Lei de Causa e Efeito a essa gente, dando-lhe o conhecimento dela em termos inequívocos: “Não vos enganeis: Deus não pode ser iludido; tudo o que o homem semear, isso também colherá“.

Se o Renascimento não fosse um fato, numerosas afirmações da Bíblia, semelhantes à que acabamos de citar, seriam difíceis de aceitar. De fato, seria absolutamente impossível para um homem ou uma mulher inteligente aceitar muitos fatos da vida, nem sequer em mínima parte. Por todas as partes vemos no mundo pessoas semeando sem cessar, sementes de maldade, discórdia, ódio, desonestidade, decepções, etc. e, contudo, ostentam-se prósperos e florescentes, como o verde loureiro proverbial. Aqueles cujas vidas são piores, acham-se com frequência, ocupando os mais altos cargos; entretanto vemos oprimidos, homens e mulheres de vida santa e Cristã.

E qual a resposta a esses diversos e complexos problemas que, constantemente, a vida nos está apresentando? Não têm eles respostas alguma? E a morte? Ainda os resultados da morte são incertos. Aniquila a morte a consciência?

Como resposta a tais perguntas, a maioria das pessoas dirá: “Creio nisto ou naquilo, mas nada sei”.

Há uma resposta para cada problema que a vida nos apresenta; os precursores da grande escola da vida, que avançaram e progrediram, puderam nos dar estas respostas. Eles não dizem: “creio” ou “penso”, mas dizem: “sei” -“Eu sei”. E como sabem? Porque adquiriram conhecimento de primeira mão. E de que maneira o adquiriram? Por meio da perseverança, devoção, observação e discernimento.

Antes que um homem ou uma mulher possa entender a vida, há de achar-se disposto ou disposta a aceitar como uma hipótese eficaz a de que o Renascimento é um fato e que toda a manifestação se explica pela Lei de Causa e Efeito. Uma vez que uma pessoa permita que entrem na sua consciência estes dois grandes fatos, tem já um ponto de apoio ou de partida para seus raciocínios.

Se o Renascimento é um fato, então todos nós temos vivido várias vidas anteriores à atual, e temos passado por numerosas provas. Temos sido arrogantes, cruéis, opressores, tiranos, injustos? Tem havido ocasiões em que temos sido bondosos, tolerantes, sensíveis, serviçais etc.? Pois bem, na atualidade somos a soma de nossas experiências anteriores, ou melhor, a soma de nossas reações à todas as nossas experiências passadas.

Cada criatura humana de nossa Onda de Vida tem-se iniciado na grande escola da vida, na Grande Escola de Deus, com iguais oportunidades. Durante cada vida foram-nos dadas certas lições. Quando as tivermos aprendido perfeitamente, teremos ganho em conhecimento e inteligência e teremos avançado.

Quando recusamos fazer nosso trabalho, e dissipamos nosso tempo vivendo preguiçosa ou licenciosa e desordenadamente, não só debilitamos, então, nossa estrutura moral, deixando para o lado o trabalho, senão que ao deixar para mais tarde o que devíamos ter feito hoje mesmo, deixamos para o dia seguinte uma tarefa mais dura e mais difícil de executar; e já não estaremos tão preparados para ela como estávamos ao ser-nos dada a primeira lição.

Mas esse trabalho há de ser executado alguma vez, em alguma vida, porque estamos desenvolvendo nossos próprios deuses, que absoluta e necessariamente hão de alcançar seu desenvolvimento, mercê de nossos próprios esforços.

O desenvolvimento das potencialidades latentes, dentro de cada indivíduo, não pode comprar-se, não pode achar-se ou receber-se como se fosse um gracioso donativo.

Depende de nossos próprios esforços perseverantes e resolutos, o que este crescimento progressivo encerra, e só nós estamos em possibilidade de apressá-lo ou retardá-lo. O indivíduo que diz: “Não tive nunca uma oportunidade na minha vida”, está-se enganando. Cada incidente que ocorre, e sucedem-se dezenas deles diariamente, nos subministra a oportunidade de desenvolver em alguma extensão algum poder potencial latente, em nosso interior, e as provas que sofremos, vem precisamente com esse objetivo. Não são meros acidentes com que tropeçamos, mas oportunidades dadas por Deus mesmo, para nosso crescimento, às quais devemos estudar bem e aproveitar tudo o que pudermos. Uma vez que nos dermos conta disso, cada dia de nossa vida se converte em uma grande e gloriosa aventura. Os mais humildes acontecimentos tornam-se grandes e maravilhosas experiências. O gorjeio de uma ave fere nossos ouvidos, estimula nosso sentido da audição e desenvolve nossa apreciação da verdadeira harmonia expressa em sons. Um humilde gusano, uma humilde minhoca, arrasta-se pelo solo aos nossos pés; o sentido da vista entra em ação; a cor daquela criatura se nos revela; a sua forma, a sua maneira de locomoção. Nosso poder de observação se vigoriza; o nosso interesse se estimula; a nossa Mente entra em atividade.

Começamos a estudar a vida, a verificar a nossa mentalidade e acabamos por aprender que tudo aquilo que existe é uma parte de Deus, que lenta, mas seguramente desenvolve dentro de si próprio, a Divindade.

A vida não nos aparece já como um confuso labirinto. É uma escola onde toda a criatura vivente recebe um ensino alegre e intenso. Nada há nela de opaco ou privado de interesse. São a Lei e a Ordem, trabalhando unidos, harmoniosamente. É o Amor em manifestação; é a atividade que nos revela em miríades de demonstrações.

Por que vemos ocupar altos postos aqueles que, segundo todas as aparências, carecem de algum mérito? Suas lições por um dia na Escola da Vida exigirão esse ambiente particular? Mas ai daquele que abuse de seus altos privilégios! Esse está criando uma tremenda dívida de destino, que não lhe será fácil pagar. Por que vemos sofrer opressão a uma pessoa digna? É com o objetivo de que possa aprender valiosas lições que hão de ser usadas em proveito de seus semelhantes, em vidas futuras, nas quais ocupará postos de grande influência e poderio. Tal pessoa não cometerá nunca o erro que seu irmão ou sua irmã menos adiantado ou adiantada poderia cometer ao achar-se numa posição semelhante.

O homem ou mulher que semeia sementes de discórdia, ódio, desonestidade, engano, etc. não pode ter a esperança de escapar ao castigo da Lei.

Qualquer coisa que um homem semear, isso mesmo colherá“, seja durante sua vida atual, seja durante alguma outra vindoura, a não ser que se arrependa do seu mau comportamento.

Reformem-se enquanto puderem, reparem o mal que tenham cometido. A razão de que não vemos o malfeitor pagar suas dívidas é porque não estamos capacitados, no atual estado do nosso desenvolvimento, para segui-lo vida após vida e saber quando se vencem essas dívidas.

Algumas vezes pagam-se durante a vida em que se contraíram; outras vezes levam-se através de um ou mais Renascimentos, mas nunca ficam por saldar.

A Lei de Causa e Efeito, é ensinada pela Bíblia, ainda que expressa com diferente terminologia: “Qualquer coisa que um homem semear isso também colherá“. Nem esta Lei nem a Lei do Renascimento são realmente novas, como poderia comprovar qualquer estudante da Bíblia, cuidadoso e dotado de espírito analítico. Na atualidade, contudo, está lhe dando uma importância muito particular, por parte das escolas avançadas de preparação espiritual, devido a que um número considerável de seres humanos completou já as lições ensinadas por meio da Religião Cristã ortodoxa, e se encontram já prontos para uma etapa mais adiantada na senda do progresso. Essa etapa mais avançada lhes abrirá os Mundos invisíveis onde reside o Espírito, ou verdadeiro “EU”, durante os intervalos entre a morte e o novo renascimento, e os capacitará para seguirem as pisadas do Espírito, ainda que esse faça suas diversas viagens, da morte ao nascimento e vice-versa.

Antes que um indivíduo possa chegar a essa etapa adiantada, há de construir um veículo que lhe permita funcionar nos Mundos invisíveis. Esse veículo se constrói determinando uma separação entre os dois Éteres inferiores (o Químico e o de Vida) dos Éteres superiores (Luminoso e Refletor), que são os veículos da percepção dos sentidos e da memória; podem então usar-se como tal, o veículo a que se chama o Corpo-Alma.

Em consequência, a “Senda da Preparação” precede a capacidade de adquirir conhecimento de primeira mão, o conhecimento direto.

O amoroso e abnegado serviço aos outros, a perseverança, a devoção, a observação e o discernimento são os meios de alcançá-lo. O serviço amoroso e abnegado aos outros atrai automaticamente ao indivíduo os dois Éteres superiores, a saber; o Luminoso e o Refletor, com os quais se constrói o “Corpo-Alma”.

O Éter Químico e o Éter de Vida são capazes de se encarregar das funções vitais do Corpo Denso, durante o sono. Mais tarde tem lugar uma separação entre estes dois Éteres inferiores e os dois Éteres superiores. Quando esses dois últimos Éteres que compõem o “Corpo-Alma” já se espiritualizaram o suficiente, por meio da observação, do discernimento e do serviço, uma simples fórmula, dada por um Mestre espiritual, capacita o Aspirante à vida superior a levar consigo o “Corpo-Alma” à vontade, junto com o seu Corpo de Desejos e a sua Mente. Fica assim equipado com seus veículos de percepção sensorial e de memória.

Qualquer conhecimento que possua no Mundo Físico está, então, à sua disposição para usá-lo nos Mundos invisíveis, e quando de novo entra em seu Corpo Denso, traz consigo, ao cérebro físico, memórias de suas experiências adquiridas durante seu funcionamento longe do próprio corpo e naqueles altos lugares.

Quando o indivíduo tenha construído esse veículo no qual funciona, pode visitar os Mundos invisíveis e fica com liberdade para explorá-los a seu gosto, e aprender neles as causas que produzem todos os efeitos que se manifestam no plano físico.

Pode, então, acompanhar uma criança, da morte ao renascimento e comprovar assim que a reencarnação é um fato.

Pode então compreender a vida e seu objetivo, e trabalhar em harmonia com todas as Leis da Natureza; e dessa maneira tem já em suas mãos não só o método de acelerar sua própria evolução, senão também o de ajudar os outros a fazerem outro tanto.

Todo o nosso progresso depende de que aprendamos as lições que se nos apresentam em nossa vida diária, sem ter em conta que sejam fáceis ou difíceis. Devemos agradecer cada lição e pôr-nos prontamente a aprendê-la. E devemos agradecer especialmente às difíceis e desagradáveis, pois indicam que fizemos consideráveis progressos no passado e que, por consequência, estamos já capacitados para aprendê-las. Às almas jovens e pouco experimentadas não são dadas tarefas difíceis para executar.

Cada dia está cheio de oportunidades que, nos tornam os donos delas e se as aproveitarmos tanto quanto possível, nos permitirão avançar rapidamente pelo caminho do verdadeiro desenvolvimento.

(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – setembro/1979 – Fraternidade Rosacruz-SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Dois Métodos Diferentes: só devemos seguir a um; não um pouco de cada

A Filosofia Rosacruz é o Cristianismo Esotérico. Na literatura rosacruciana é fácil notar a preocupação em ressaltar a Fraternidade Rosacruz como a escola preparatória aos Mistérios (ou Iniciações) ocidentais, uma Escola preparatória para a Ordem Rosacruz. Isso não contradiz o sentido de universalização para que tende o Cristianismo Esotérico.

Tal como o Sol aparenta caminhar de leste a oeste, a luz da espiritualidade percorre o mesmo caminho, ao longo da evolução humana. Confúcio na China, Buda na Índia, Pitágoras na Grécia constituíram marcos da trajetória brilhante do Sol da espiritualidade, dirigindo a evolução cada vez mais para oeste.

Há dois mil anos surgiu o Cristo, trazendo um novo ideal, abrindo amplas perspectivas de progresso anímico para a humanidade. Sua influência, contudo, ainda predomina apenas no Ocidente. Mas, tempo virá em que os demais seres se universalizarão, libertando-se dos restritivos laços da tradição, dos costumes arraigados desde milênios, engendrados pelos Espíritos de Raça por meio das Religiões de Raça. Haverá, então, um consenso quanto à aceitação do Cristianismo, mormente do Cristianismo Esotérico.

No momento, todavia, por circunstâncias evolutivas, isso não ocorre. No Ocidente encontram-se renascidos os seres mais evoluídos da Terra, em sentido geral. Em outras existências já viveram no Oriente. Agora, renascem nessa parte do globo, a fim de receber ensinamentos correspondentes aos seus presentes estágios evolutivos.

Pode parecer, aos menos avisados, que o Oriente, em questão espiritual, esteja na vanguarda da evolução. Aliás, os orientais, valendo-se de uma imensa variedade de obras à venda por aí, deixam transparecer semelhante ideia. Puro engano. A maior parte dos Egos que ocupam os corpos orientais encontra-se na curva descendente desse Esquema de Evolução (cuja denominação rosacruciana para essa parte do Esquema de Evolução é chamada de Involução), prestes a atingir o nadir da materialidade, pelo que já passaram os ocidentais.

Os povos do Oriente não têm a mesma sensibilidade dos seres que vivem do outro lado do globo. Suas pretensas faculdades espirituais são, muitas vezes, um psiquismo negativo.

Os Ocidentais, subindo o arco evolutivo ascendente desse Esquema de Evolução (cuja denominação rosacruciana para essa parte do Esquema de Evolução é chamada de Evolução), estão alcançando condições cada vez mais espirituais: Corpos Densos mais refinados e Mentes mais dinâmicas.

E, como não poderia deixar de ser, os métodos de desenvolvimento, para um e outro povo, apresentam radicais diferenças, se bem tenham em comum alguns princípios doutrinários, como a Teoria do Renascimento, Lei de Consequência etc.

No método oriental, o neófito submete-se ao arbítrio do guru, mestre, instrutor, condicionando seu desenvolvimento à total aceitação do que lhe é ensinado. Trocando em miúdos: o neófito deve obedecer sem vacilar às determinações de seu “mestre”, transferindo-lhe toda a responsabilidade. Deve praticar certos exercícios e adotar determinadas posturas físicas para lograr domínio sobre seu corpo. Alguns desses exercícios – respiratórios, por sinal – são completamente inadequados à constituição do ser humano ocidental, podendo levá-lo, se praticados, a mais lamentável ruína física e mental.

O método indicado para o neófito do Ocidente respeita-lhe o acervo individual de experiências passadas que lhe formaram a natureza, a índole etc. Procura, desde o início, libertá-lo de toda influência externa (seja de outras pessoas, seja por meio de instrumentos físicos como: pêndulo, bola de cristal, tarô, cartas de baralho, runas, búzios e outros afins que estão sempre sendo apresentados com “nomes modernizados”), tornando-o confiante em si mesmo no mais alto grau. Propicia-lhe os meios de realização, deixando seu desenvolvimento na dependência exclusiva de sua iniciativa, do seus esforço e da sua perseverança.

Reconhecemos e respeitamos o valor do método oriental, porém, com uma importante ressalva: serve apenas e tão somente aos neófitos do Oriente, aos irmãos e irmãs que renascem naquela parte do globo terrestre.

É importante que saibamos distinguir, para nossa orientação e dos demais, os dois métodos de desenvolvimento. Como afirmou Max Heindel: “Buda pode ter sido a luz da Ásia, mas Cristo é a luz do mundo. Assim como a luz do Sol ofusca o brilho das mais radiantes estrelas, tempo chegará em que o verdadeiro Cristianismo, o Cristianismo Esotérico, ofuscará e anulará todas as demais Religiões, para inteiro benefício da humanidade”.

(Por Gilberto A V Silos – Editorial da Revista Serviço Rosacruz de janeiro/1976)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Arte — Expressão Criadora do Ser Humano

Que é o ser humano mortal para que te lembres dele? E o filho do ser humano para que o visites? Contudo, pouco menor o fizeste do que os Anjos, e de glória e de honra o coroaste.” (Sl 8:4)

A arte, conforme permite sua habilidade, segue a natureza como um aluno segue o seu Mestre. De modo que a arte deve ser, por assim dizer, algo que deriva de Deus.[1] (Dante)

Todas as atividades do ser humano podem ser divididas em três categorias, a saber: Ciência, Religião e Arte. A mais alta consecução do ser humano é conseguir florescê-las. Na escala da evolução o ser humano está situado entre a Onda de Vida dos Anjos e a Onda de Vida dos animais. Deus fez o ser humano “um pouco menor que os Anjos” e lhe concedeu o domínio sobre o Reino animal. Considerando a existência desses três fatores, Ciência, Religião e Arte, podemos compreender a diferença principal existente entre o ser humano e o animal. Nem a Ciência nem a Arte são necessárias para os animais, na presente fase do desenvolvimento deles.

No presente, a Ciência, com suas descobertas, assumiu posição destacada. A Religião também está despertando. Porém, aqui desejamos considerar as Artes. Não nos é possível traçar linhas claras de demarcação ao classificar as atividades do ser humano dessa maneira, porque a Ciência ajuda a compreender a Arte. E a Arte segue de mãos dadas com a Religião, quando trata de revelar a divindade do nosso ser. Max Heindel chama a Ciência, a Arte e a Religião de “uma trindade na unidade”. Sabemos que a separação em classificações diferentes é temporária. Num estado posterior do nosso desenvolvimento, as três tornarão a ser “um”

A verdadeira Religião inclui tanto a Arte como a Ciência, pois ensina uma vida formosa em harmonia com as leis da natureza.

A verdadeira Ciência é artística e religiosa no sentido mais amplo, porque nos ensina a reverenciar as leis que governam nosso bem-estar e a nos conformar com essas leis, explicando, além disso, por que a vida religiosa conduz à saúde e à beleza.

A verdadeira Arte é tão educacional como a Ciência e tão edificante como a Religião. Na arquitetura temos uma sublime apresentação de linhas cósmicas de força no universo.

Para muitos a vida sem a Arte verdadeira seria intolerável, porque a imaginação do ser humano requer alimento assim como o corpo necessita de nutrição. E é “imaginando” que se nutrem as almas. Existem três elementos necessários, quando se considera a Arte real: a música, a pintura, a poesia e a arquitetura. Esses três elementos indispensáveis são: emoção, expressão e ritmo.

A Arte pode ter por objeto a apresentação da forma exterior ou pode mostrar o espírito interno de um objeto; porém sempre é possuída por um crescente impulso emocional.

Para o artista dedicado é possível interpretar as realidades profundamente ocultas da natureza interna do ser humano. Essa revelação do espírito do ser humano é a sua mais elevada missão. Cada época produz escultores, pintores e músicos capazes de produzir verdades criadoras ao contemplar as obras de Deus. Porém, sempre essas criações contêm a concepção própria e individual do ser humano e a sua própria interpretação, posto que conservam sua “maneira de refletir a natureza”. Essa concepção individual do universo de Deus é o que promove as diferenças existentes no mundo da arte criadora. Sem dúvida, há somente uns poucos em cada época que podem pretender expressar uma originalidade verdadeira. Em geral o artista copia e recopia, sem ser capaz de revelar sua própria concepção individual do tema ou objeto.

Quando um artista se torna verdadeiramente criador, é capaz de influenciar a vida de uma nação inteira. O rumo que um povo segue delineia-se, em primeiro lugar, no trabalho e na expressão daqueles que têm sentimentos fortes, internos, e que são sensíveis aos impulsos ocultos do ser humano. Eles devem refletir as impressões que são capazes de receber para que os demais também se beneficiem delas.

O domínio de qualquer Arte requer disciplina. E isso significa que o aspirante tem que aprender a dominar a forma, seja essa de linguagem, cor, tom, etc. Unicamente por meio da meditação e da concentração intensa é que se conquista a habilidade em uma Arte. Por conseguinte, é compreensível que em algumas Escolas de Mistérios da Grécia, o Mestre-Artista fosse admitido ao Templo sem que executasse os exercícios preliminares. A faculdade de dominar uma arte-forma era considerada suficiente para entrar diretamente nos mais internos ensinamentos.

A história se converte em uma realidade para nós através da Arte. Os arquitetos e escultores do Egito, Assíria, Grécia e Roma deram-nos uma demonstração gráfica da civilização desses países. Temos acesso aos restos sublimes das figuras de barro e mármore. Sem podermos examinar o que há nos muros e pirâmides nas margens do Nilo e sem o nosso presente conhecimento dos edifícios e estátuas da Grécia e de Roma nossas ideias sobre a vida desses povos seriam, em verdade, confusas e irreais.

A arte do ser humano dá testemunho do seu ser interno. Nada indicará o rumo dos tempos tão precocemente como a música, a pintura, a arquitetura ou a poesia de um povo. Até parece que o artista criador pressente as sombras arrojadas pelos acontecimentos futuros. Os anseios e temores, as elevadas aspirações, assim como os sentimentos de incerteza de um povo podem ser percebidos nas obras daqueles que dedicam suas vidas à expressão de suas próprias capacidades criativas. O artista mesmo, com poucas exceções, em geral não é consciente de que suas criações são uma parte necessária e valiosa do desenvolvimento de toda a humanidade. Vive e trabalha à ordem da sua fantasia. Está satisfeito enquanto pode seguir o impulso interno que o conduz à expressão.

Quando observamos o rumo ou tendência da arquitetura moderna, da pintura e da música moderna, das diferentes nações do nosso globo terrestre, ficaremos impressionados com a similaridade dessas tendências. Nós nos veremos obrigados a admitir que universalmente o harmônico e o grotesco se revelam a si mesmos. De um modo geral podemos dizer que todas essas tendências têm muito em comum. A Arte mais moderna demonstra que as fontes profundas, ocultas, estão perturbadas e que as imagens do bom, do verdadeiro e do belo não são claramente concebidas e transmitidas.

Temos que chegar à conclusão de que, no esforço de um ser humano para criar algo e sensacional, ele exibe sua própria imagem interna, estranha e pessoal, em vez de usar as verdades espirituais que estão à sua disposição, em seus esforços de criação.

Em nossas próprias atividades devemos ser capazes de seguir as tendências originais, próprias, sempre que isso seja possível. Em nossos jardins, na ordem das nossas casas, ao servir nossas refeições ou até na seleção dos nossos quadros, nas cores das nossas roupas; em todas essas coisas devemos seguir nosso gosto individual. Existem bons livros sobre a apreciação da Arte. Devemos dedicar tempo e meditação a estudá-los.

Ao tecer os fios confusos das nossas vidas temos não somente a Lei de Causa e Efeito à nossa disposição, mas podemos sempre, dentro de certos limites, usar a Epigênese para realizar alguma obra original, alguma expressão singular. A possibilidade de originalidade é a espinha dorsal da evolução do ser humano.

Nos Ensinamentos Rosacruzes aprendemos que existe uma força dentro do ser humano em evolução que é o que torna possível o desenvolvimento. Essa força subministra algum campo para nossa capacidade criadora.

Como o expressa tão bem o poeta: “O problema maior de toda arte é produzir, por meio das aparências, a ilusão de uma realidade mais sublime” (Goethe).

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – março/1974 – Fraternidade Rosacruz – SP)


[1] N.T.: Inferno: notas Canto XIV – da obra A Divina Comédia de Dante Alighieri

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Superando a Morte

Por Max Heindel

Algum tempo atrás eu tive o privilégio de falar com vocês sobre o assunto “a nota-chave do Cristianismo” e no decorrer dessa palestra trouxemos à nossa Mente o encontro de Pilatos com Cristo, em que a grande e importante pergunta foi feita: “O que é a verdade?”. Vamos olhar para essa imagem mais uma vez. Lá está Pilatos, o representante de César e, em virtude desse fato, uma encarnação do mais alto poder temporal, um governante de todo o mundo com poder sobre a vida e a morte, um homem diante de quem todos tremem. Diante dele está o Cristo, manso e humilde, mas muito maior, pois enquanto esse homem, Pilatos, tem poder sobre o mundo presente, que é evanescente e temporal, ele mesmo está sujeito à morte. Mas Cristo é o Senhor da Vida, o Príncipe de um Reino espiritual que não passa. Ele não responde à pergunta de Pilatos, “O que é a verdade?”, mas em outra ocasião, ele disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida[1]; e “A Verdade vos libertará[2].

Não se pode negar que estamos agora sob a lei do pecado e sujeitos à morte. A grande questão é, portanto: como encontrar a verdade que nos libertará real e verdadeiramente? Com o propósito de encontrar o caminho, vamos dar uma olhada na aurora dos tempos, quando a humanidade infantil veio pela primeira vez à Terra. De acordo com a Bíblia, uma névoa subiu da Terra quando a crosta do Planeta, que esfriava, secou; quando olhamos para essa Época na Memória da Natureza, encontramos um maravilhoso crescimento tropical de tamanho gigantesco cobrindo a bacia da Terra onde agora está o Oceano Atlântico. Realmente, era um verdadeiro jardim, mas a névoa era tão densa que a luz do Sol nunca poderia penetrá-la; então a humanidade infantil vivia nesse paraíso como filhos do Grande Pai. Eles tinham corpos nessa Época como têm agora, mas não tinham consciência deles, embora pudessem usá-los, assim como usamos nosso aparelho digestivo sem estarmos conscientes disso. E embora eles fossem incapazes de ver fisicamente, a visão espiritual era uma faculdade ainda possuída por todos. Assim eles se viam alma-a-alma; não havia malícia nem hipocrisia, mas a verdade estava com todos.

Gradualmente, no entanto, a névoa clareou e se tornou uma enorme nuvem, envolvendo o Planeta. Simultaneamente, esses “filhos da névoa”, os Niebelungos, começaram a se ver vagamente; tornaram-se cada vez mais “internalizados” em seus Corpos Densos e perceberam finalmente que esse veículo é uma parte do ser humano. Contudo, ao mesmo tempo, eles gradualmente perderam contato com os Mundos espirituais; já não viam a alma com clareza e até mesmo a voz das Hierarquias espirituais, que antes os guiavam como um pai guia seus filhos, tornou-se fraca e vaga. Com o passar do tempo, a nuvem que pairava sobre esse vale havia se condensado o suficiente na atmosfera fria, de um tão denso que se liquefez e caiu sobre a Terra em diversos dilúvios que levou esses “filhos da névoa” até as terras altas, onde, na atmosfera clara e sob arco-íris, eles se viram cara-a-cara pela primeira vez. Gradualmente a grande ilusão de que “somos corpos” tomou conta de tudo; a alma não era mais vista, nem podiam eles ouvir a voz do Grande Pai que cuidou deles durante sua infância, naquele estado paradisíaco. A humanidade ficou órfã, à deriva no deserto do mundo. A vida tornou-se uma luta contra a Morte.

Logo, a maioria da humanidade parecia esquecer que havia um estado tão feliz, embora a história vivesse em canções, em lendas, e houvesse, como ainda há, em cada peito humano um profundo e inerente reconhecimento dessa verdade, uma memória de algo que se perdeu, algo mais precioso do que qualquer coisa que o mundo possa dar. E há, portanto, em cada peito humano um profundo anseio por aquela companhia espiritual que perdemos pela identificação com nossas naturezas inferiores. Encontramos uma encarnação desse anseio no Tannhauser[3], que entrou no Monte de Vênus para satisfazer seu desejo inferior. Depois de algum tempo, ele anseia pelo mundo que deixou e implora a Vênus que permita que ele parta para que possa desfrutar novamente do sofrimento, das torturas de um amor não correspondido, pois ele se cansou do que ela lhe deu gratuitamente. Como ele diz:

Um Deus pode amar sem cessar,

Mas sob as leis do alternar,

Nós, mortais, precisamos em medida ter

Nossa parcela de dor, assim como de prazer.

Esse foi o propósito quando a humanidade foi conduzida da Atlântida[4] para a presente Era do arco-íris[5]; a Lei da Alternância foi dada para que possamos colher como semeamos (Gl 6:7), para que a tristeza e a alegria mudem conforme as estações se sucedem em uma sequência ininterrupta; e, assim, deve continuar até que o sofrimento gerado por nossas transgressões tenha demolido a crisálida que agora mantém a alma agrilhoada, enquanto a natureza inferior se alimenta das cascas da materialidade. A princípio, a humanidade se deleitou com o poder sobre o mundo e nasceu o orgulho da vida; a luxúria dos olhos era grande, mas, embora “os moinhos dos Deuses moam lentamente, eles moem extremamente bem”[6]; mesmo que possamos alcançar o poder, embora a saúde e a prosperidade possam ser nossos servos hoje, chegará um dia em que, como Fausto[7], sentiremos que a vida não tem valor. Então começa a luta de que Fausto fala a seu amigo Wagner com as seguintes palavras:

Tu, por um único impulso, és possuído;

Inconsciente do outro ainda permanece.

Duas almas estão lutando em meu peito

E batalham lá pelo reinado indiviso.

Uma pela terra, com desejo apaixonado,

E a roupa bem colada ainda adere;

Acima da névoa a outra aspira

Com ardor sagrado a esferas mais puras.

São Paulo também descobre que há dentro dele uma natureza inferior, “os desejos da carne[8], que luta contra as ânsias e os desejos do espírito, mas Goethe, com a maravilhosa penetração do Místico, resolve o grande problema para nós. À pergunta “O que devemos fazer para que possamos alcançar a libertação?”, ele responde:

De todo poder que mantém a alma acorrentada,

O homem se liberta quando o autocontrole ele ganha na sua Jornada.

Podemos, como Pilatos, ter autoridade, talvez não tão grande autoridade. Mas, mesmo supondo que fosse possível a qualquer um de nós se tornar um “governante do mundo” e exercer autoridade sobre a vida e a morte de toda a humanidade, de que isso nos serviria, se não fôssemos capazes de conquistar e controlar a nós mesmos? Por meio de agressão física, César, o mestre de Pilatos (a quem ele representa) conquistou o mundo e todos lhe prestaram homenagens; mesmo assim o seu reino durou apenas alguns anos. Então, o sombrio espectro da morte veio para acabar com sua vida e seu domínio no Mundo Físico. Olhe para o outro, o Cristo, que permaneceu manso e humilde, mas capaz de dizer: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; (…) todo aquele que crê em Mim não perecerá, mas terá a vida eterna[9]. O governante do mundo, apesar de todo o seu poder e pompa aparentes, ainda está sujeito à morte, mas Aquele que aprendeu a ter poder sobre si mesmo, Aquele que conquistou sua natureza inferior, o corpo de morte, assim se fez ele mesmo o Senhor da Vida, com um reino que é eterno nos Céus. E é dever de cada um de nós seguir Seus passos, pois Ele disse: “estas coisas que eu faço vós também as fareis e maiores[10]. Cada um de nós é um Cristo em formação, um vencedor no sinal da cruz.

E quando será isso? Quando o sentimento do egoísmo aprisionou o espírito no corpo, perdemos a alma de vista e a morte se tornou nossa porção. Assim que superarmos esse sentimento de egoísmo pelo altruísmo, assim que abandonarmos e esquecermos de nós mesmos e formos iluminados pelo Espírito Universal, teremos vencido o grande inimigo. Então, estaremos prontos para subir na cruz e voar para as esferas mais altas com aquele glorioso grito de triunfo: “Consummatum est” — foi realizado.

O Caminho é pelo Serviço. A verdade é que pelo serviço servimos a nós mesmos, pois todos somos um em Cristo. A Vida é a Vida do Pai, em Quem nós vivemos, nós nos movemos e existimos, e em Quem, consequentemente, não pode haver morte.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de agosto/1917 e traduzido pelos irmãos e irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)


[1] N.T.: Jo 14:6

[2] N.T.: Jo 8:32

[3] N.T.: Tannhäuser und der Sängerkrieg aus Wartburg (Tannhäuser e o torneio de trovadores de Wartburg, em alemão) é uma ópera em três atos com a música de Richard Wagner, e com o libreto do próprio compositor, de 1845. A ação decorre ao pé de Wartburg, terra de grandes cavaleiros trovadores, onde se realizavam pacíficos concursos de canto, no século XIII. Reza a lenda que ao pé de Wartburg existia o monte de Vênus onde a bela deusa atraía e mantinha cativos no puro deleite, os cavaleiros trovadores. Tannhäuser caiu na quentes garras de Vênus. Essa obra é estudada no Curso Suplementar de Filosofia Rosacruz.

[4] N.T.: na Época Atlante

[5] N.T.: a presente Época Ária

[6] N.T.: antigo provérbio alemão

[7] N.T.: Fausto (em alemão: Faust) é um poema trágico do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe, dividido em duas partes. Está redigido como uma peça de teatro com diálogos rimados, pensado mais para ser lido que para ser encenado. É considerado uma das grandes obras-primas da literatura alemã. Essa obra é estudada no Curso Suplementar de Filosofia Rosacruz.

[8] N.T. Rm 13:14

[9] N.T.: Jo 14:6 e 11:25

[10] N.T.: Jo 14:12

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Ritual do Serviço

Saibamos ou não, a repetição é uma constante em nossas vidas. Consideremos tanto os permanentes ciclos anuais de nascentes e poentes do Sol, quanto as nossas próprias rotinas diárias, sempre seguindo o mesmo programa: acordar executar um número de tarefas numa certa correlação e dormir.

Algumas pessoas fazem alusão à palavra “ritual” ou, respectivamente “rotina”, como atos repetitivos, maçantes, cerimoniais sem sentido, ou mesmo tarefas rotineiras monótonas, que devem ser “suportadas” e não obrigatoriamente executadas com um certo grau de boa vontade. Nossa interpretação da palavra “ritual” pode, certamente, ter esse tipo de conotação, se assim desejamos. Porém, se em nosso modo de ver, “ritual” equivale à “coisa monótona” não percebemos, infelizmente, o ritual em sua luz real e verdadeira, e afastamos uma poderosa ferramenta, que nos ajudará a construir o nosso progresso.

Os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental são claros e enfáticos a respeito da essencialidade da repetição para o desenvolvimento e espiritualização do Corpo Vital. Assim escreve Max Heindel: “A nota-chave do Corpo Vital é a repetição. Isso é fácil entender, quando levamos em conta que apesar de o Corpo Vital ter a faculdade de movimentar o Corpo Denso, só poderá conseguir movimentos satisfatórios mediante impulsos similares e repetidos. O Corpo Vital aprende a adaptar-se à coordenação dos movimentos do Corpo Denso, sob comando do espírito”. O bebê não caminha com perfeição, na sua primeira tentativa, e nem o músico chega a ser um instrumentista perfeito, após suas primeiras aulas de música. A repetição é indispensável para que os dedos do instrumentista e os pezinhos do bebê possam se movimentar como o Ego deseja. Nossos Ensinamentos Rosacruzes ainda dizem: “As escolas Ocultistas de todas as idades têm estabelecido como alvo a possibilidade de treinamento do Corpo Vital, por meio do trabalho com a sua nota-chave: a repetição”. Para essa finalidade, foram elaborados vários rituais correspondendo aos vários estágios evolutivos da humanidade. Dessa maneira conseguiu-se um progresso espiritual lento, porém seguro, independentemente da percepção, ou não, do ser humano, de que estava sendo “esmerilhado”. Os Serviços Devocionais do Templo e de Cura da Fraternidade Rosacruz são também conduzidos por cerimoniais ritualísticos.

Há quem se queixe de que uma estrutura formal, em constante repetição, torna qualquer serviço divino monótono, e que o fato de ter de falar e ouvir sempre a mesma coisa não estimula os participantes. Essas pessoas não entendem, porém, que realmente o nosso Corpo de Desejos, que nós sentimos como a nossa “natureza emocional”, está sempre à “procura de novidades”. A inconstante natureza de desejos é facilmente atraída de uma emoção à outra, sendo assim potencialmente destrutiva, se não estiver devidamente controlada. Os serviços religiosos em que são utilizados tanto a oratória de grandes efeitos emocionais ou hipnóticos, quanto outros detalhes, nas respectivas liturgias, são particularmente atraentes aos Corpos de Desejos dos participantes. “Eles reagem ao teor emocional do serviço religioso, sentindo-se praticamente em levitação. O efeito, porém, é puramente temporário, e um novo contato com essa liturgia emocional causará mesmo arroubo religioso, arrependimento, ou qualquer outro sentimento que estava sendo induzido no grupo. Assim, o serviço ‘cheio de novidades’, não teve efeito duradouro nos participantes. Por outro lado, o efeito repetitivo da cerimônia ritualística é sentido no Corpo Vital que é de natureza mais estável, apesar de não se obter resultados tão dramáticos em termos de impressões recebidas pelo participante.”

Muitos se revoltaram contra a disciplina da rotina do trabalho diário. “Ah se eu pudesse não trabalhar hoje”, dizem, “Há tanta coisa por fazer aqui em casa”, ou “Há tanta coisa que eu faria para me realizar, em vez dessa droga de emprego” ou “como gostaria de ficar em casa e não fazer NADA!”. Não há dúvida, uma mudança de vez em quando é necessária e é perfeitamente lícito “não fazer nada” por um curto espaço de tempo num merecido descanso. Necessitamos da disciplina de um dia de trabalho, para nos manter, por assim dizer, dentro dos nossos “eixos” de produtividade, apesar de não pensarmos assim. Somos, realmente, extremamente criativos com que “poderíamos fazer se tivéssemos tempo à nossa disposição”. Porém muitos de nós verificariam que se não fôssemos obrigados a trabalhar para viver, ou cuidar de nossos lares, ficaríamos anestesiados por uma preguiça aguda. Há poucos dentre nós que têm bastante autodisciplina e força de vontade para permanecer em altos níveis de produtividade e aspiração, faltando o estímulo do dever. A tentação de “diminuir o ritmo” ou sair na perseguição de “passatempos” é, geralmente, grande demais para poder ser vencida com êxito, por uma certa duração de tempo. Assim sendo, mesmo se as férias e dias feriados são justos, é também uma boa coisa muitos serem forçados pelas circunstâncias a trabalhar para viver, ou tomar conta dos afazeres domésticos seguindo assim um ritual do trabalho.

Da mesma forma, deveríamos fazer um esforço para instituir o que chamamos de “ritual do serviço” dentro da rotina de nossas vidas diárias. Muitas pessoas partidárias entusiastas da ideia do serviço, ficam devendo o que se esperaria delas em termos de “obras” de serviço. Gostariam de ajudar o seu semelhante de uma ou outra maneira; quando chega a hora da implementação desse objetivo, acabam por achar que “não dispõem de tempo necessário”. Mediante uma observação mais criteriosa, porém, poderá se verificar que teriam tempo, se soubessem dividi-lo de maneira mais criteriosa.

Poucos são, realmente, tão ocupados com responsabilidades para com suas famílias, ou para com eles mesmos, que não possam doar, pelo menos algumas horas da semana para o serviço em benefício da humanidade. Não que as nossas responsabilidades para com as famílias que constituímos não sejam uma forma de serviço. Pelo contrário, servimos no seio da família. Há, porém, uma diferença, entre providenciar por meio do trabalho o sustento físico da família, ou trabalhar longas horas simplesmente para alcançar um mais “alto padrão de status social”, acomodações mais luxuosas, aumentar o poder e o prestígio no mundo, etc.

Da mesma forma, nossas responsabilidades legítimas para com a nossa pessoa são, de direito, somente aquelas que dizem respeito ao crescimento anímico, ao progresso evolutivo e à manutenção das necessidades básicas de nossa existência física. Não são consideradas nessa categoria de legitimidade muitas das atividades egoístas para as quais devotamos tanto tempo e energias. De fato, o crescimento anímico é uma de nossas responsabilidades legítimas, e visto que tal crescimento anímico é adquirido mediante o serviço para com os outros, é nosso dever incorporá-lo na rotina de nossas atividades como não olvidamos de alimentar-nos, dormir, trabalhar por dinheiro e do nunca esquecido lazer.

O ritual do serviço, mesmo tendo certas características repetitivas, não requer em absoluto a execução do mesmíssimo serviço, sempre de forma semelhante e a mesma hora do dia. Pelo contrário, o serviço, para ser realmente de primeira ordem deve ser executado quando e onde for verificada a necessidade, sem planejamentos prévios ou programações. Lógico, é excelente devotar um dia particular de cada semana para trabalhar no hospital mais próximo, creche ou instituição parecida. No resto da semana, porém, não temos o direito de ignorar tais ocasiões de servir dando preferência sempre aos nossos interesses pessoais.

Se sabemos que “teremos que servir” como sabemos que “teremos de “comer” ou “dormir”, estaremos mais alertas a discernir as oportunidades para o serviço, conforme apareçam.  Incorporadas ficarão, então, às nossas vidas, tal um verdadeiro “ritual do serviço”, a ser repetido muitas vezes. Se determinarmos não deixar um dia passar sem, de alguma forma ter servido alguém, e seguramos esse propósito firmemente em nossas Mentes, ao despertarmos veremos como nossa atenção se voltará automaticamente para as oportunidades de servir que nos foram dadas. Depois de certo tempo, quando nosso campo de ação ficar maior, quando servirmos automaticamente, dia a dia, em cada ocasião que nos for apresentada, então o fato e não a ideia de serviço nos será como um reflexo, espontâneo e natural.

Como já foi mencionado, o ritual do serviço é, ou deveria ser caracterizado por certas qualidades indispensáveis. Como ideal deveria ser encarado o elemento da espontaneidade, que permite o pleno uso de cada oportunidade de serviço. O nosso “olhar do outro lado”, as nossas racionalizações, ou escusas “justificadas” por atividades, aparentemente urgentes, mas atualmente egoístas, não entrarão mais em nosso esquema de serviço. Faremos o máximo de cada oportunidade recebida pelo simples motivo que ela existe e, também, nos encontramos no mesmo lugar, sendo esse o tempo certo e o lugar certo para servir. Poderemos não julgar o trabalho envolvido particularmente atraente e talvez seja até necessário deixarmos de lado umas férias planejadas com muito carinho, a fim de que a tarefa seja executada. Já que a necessidade para o serviço existe e veio ao nosso encontro, faremos o melhor possível para remediá-la com o máximo de naturalidade.

A segunda qualidade, ideal para o ritual de serviço, é a alegria. Um serviço efetuado quando resmungamos por fora e estamos eivados de ressentimentos por dentro só tem um efeito parcial. O beneficiário sente nosso estado negativo e o seu alívio é diminuído pelas nossas reações indesejáveis. Igualmente, o servidor de má vontade não tem a atenção completamente voltada para a tarefa, uma parte dele está em desacordo, em conflito, parte dos pensamentos que deveria se voltar ao caso em pauta, redemoinha ao redor dos seus sentimentos menos desejáveis. Aquele que serve alegremente, dá o que tem de mais elevado em termos de potencialidades. Cada fibra de seu ser contribui à boa execução e os resultados são esplêndidos. Ele serve porque quer, não porque é empurrado pela sua consciência. As correntes, em seu Corpo de Desejos, não são cortadas pelo efeito congelador dos sentimentos negativos, permitindo que a pessoa produza o máximo em termos de Epigênese e ação. Sua qualidade de serviço é, portanto, infinitamente superior, à qualidade produzida pelo colega de pouca boa vontade.

A alegria, como a espontaneidade, são qualidades que não podem florescer no Estudante Rosacruz da noite para o dia. É muito humano o ser incomodado pelo apelo da consciência, mesmo se a pessoa procura atendê-lo. É tão humano ficar irritado quando os próprios os planos vão por água abaixo por causa das necessidades de um outro ser humano. É tão humano, também, o fato de se permitir que o cansaço ou os problemas pessoais oprimam o otimismo. Uma atitude alegre, em tempo integral, não se obtém, como já foi mencionado, da noite para o dia. Contudo, na medida em que o Aspirante à vida superior desenvolva a terceira qualidade necessária para o ritual do serviço, aprenderá a manter seu otimismo em níveis sempre mais elevados.

A terceira qualidade é o sentimento e a expressão do amor. Fala-se muito em nossos Ensinamentos Rosacruzes a respeito do serviço amoroso, que é a mais pura e aceitável forma de agir. O mandamento de amor, o Mandamento do Cristo, é o mais elevado pináculo evolutivo que pode ser atingido pela humanidade de nossos tempos. Definimos como “amor” o sentimento fraterno harmonizado com o amor universal, reconhecedor de que toda Vida procede de Deus e que todos somos parte desse glorioso Uno. Esse amor, levado às suas mais elevadas expressões, nos incentivaria um dia a dar até nossas vidas pelos nossos semelhantes. Esse amor que engendra o altruísmo, dá mais valor aos problemas do seu irmão e da sua irmã do que aos próprios problemas.  Essa é, portanto, a qualidade que nos encoraja a tirar o máximo de resultados na hora de auxiliarmos o nosso irmão e a nossa irmã, e oferecer a nossa vida para o seu bem-estar.

Quando esse sentimento cria certa força dentro de nós, tanto a espontaneidade, quanto a alegria ficarão, automaticamente, integradas em nosso ritual de serviço. Se realmente amamos aos nossos irmãos e as nossas irmãs, no sentido expressado por Cristo-Jesus, nossas vidas serão marcadas por uma maneira de ser alegre, espontânea e serviçal, sem outras digressões.

É essa a meta final, porque sabemos que “o serviço amoroso e desinteressado é o caminho mais curto, mais seguro e mais alegre que nos conduz a Deus”. Quando aprendemos a palmilhar esse caminho exclusivamente, sem digressões e alterações de um lado ou de outro, o ritual do serviço será a nossa segunda natureza. Dará sentido às nossas vidas, contentamento íntimo, produzirá crescimento anímico e será a nossa mais importante atividade dentre todas as nossas atividades terrenas. Então, e somente então, os nossos Corpos Vitais ficarão gloriosamente espiritualizados, e nossos Corpos-Alma, formados pelos dois Éteres superiores de nosso Corpo Vital, serão poderosos e radiantes, de fato. Os nossos Corpos de Desejos, hoje tão afinados com tudo que é “diferente” “sensacional”, ou simplesmente novo, serão vistos como uma ferramenta útil e bela pelo sincero Aspirante à vida superior.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de outubro/1974 – Fraternidade Rosacruz-SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Renascimento: a Chave Mestra

Você já pensou no porquê de algumas pessoas serem pobres e outras serem ricas; alguns serem deformados, outros serem bonitos; alguns serem azarados, outros serem muito sortudos; alguns serem doentes e outros serem dotados de boa saúde?  Você já tentou encontrar uma razão para essa falta de igualdade que se manifesta no mundo?  Surpreende você o fato de alguns membros da família humana estarem habitando em corpos negros, outros, em corpos marrons e ainda outros, em corpos brancos?  Você já levou em conta a existência dos homens da floresta da Austrália, os pigmeus da África, os esquimós da Groenlândia ou os índios primitivos selvagens da Patagônia?

Esses quebra-cabeças e inúmeros outros foram apresentados a você para solução?  Caso sim, qual é a sua resposta?

Por que existem alguns pobres e outros ricos? Alguns doentes e outros em plena saúde? Alguns com Mentes comuns e outros com mentalidades brilhantes?  E então? Você já parou para pensar por que estamos todos aqui, qual é o significado da própria vida fugaz?  Suponha que você faça essas perguntas a seus amigos, tabule suas respostas e compare-as.  Seria um experimento interessante.  Alguns diriam que os pobres são pessoas indigentes e os ricos são pessoas econômicas.  Outros lhe responderiam que os pobres são natural e justamente azarados e os ricos são sortudos.

Outros lhe dirão que é errado perguntar sobre as condições do mundo de Deus; que o Criador, em sabedoria, ordenou tais coisas e que, por natureza elas devem ser corretas; e ainda outra explicação poderia ser dada, que Deus é responsável por tudo o que é bom, e um ser repreensível comumente conhecido como o diabo é a causa de tudo o que é mau.  Há muitos que olhariam para você com olhos cansados ​​e diriam que nada sabem; que os problemas da vida são muito profundos e complicados para serem resolvidos; que os cristãos ortodoxos não satisfazem seu senso de razão; que as conclusões dos ateus os deixaram horrorizados; e, consequentemente, devem ser lançados ao mar, sem saber para onde ir. Se Deus é justo, por que Ele favorece alguns de Sua criação e não outros?  Se ele não é justo, então ele certamente não é Deus.  Por outro lado, se Deus não existe, então como o mundo veio à existência e tudo o que nele há?

Existe uma resposta para esses vários problemas que se apresentam às Mentes dos homens pensantes, bem como às mulheres de hoje, uma resposta que seja lógica, que resista ao teste da razão?  Certamente há uma resposta.

A teoria materialista como postulada pelos ateus nunca pode ser satisfatória para a humanidade.  Quando a Mente humana exauriu a ciência, o laboratório e a química retruca em seu desejo de buscar aquele algo intangível que anima a forma humana, e não o tendo descoberto, por despeito declara que o que se busca tão diligentemente é algo ilusório e que nada mais é do que certas correlações da matéria, designadas como Mente, e que perece quando o corpo se desintegra.  Porque alguns indivíduos possuem uma qualidade melhor dessas “certas correlações” (Mente) do que outros, essa teoria não tenta explicar.

A teoria postulada pelos teólogos ortodoxos é um pouco melhor.  Afirma que todas as coisas vivas foram criadas por Deus e têm apenas uma vida terrena para viver e que somente o ser humano foi dotado de um Espírito que é imortal; que, independentemente da condição em que nasceu, ele é responsável pelas dívidas contraídas durante a vida, e que sua felicidade ou miséria, após a morte, por toda a eternidade, é determinada por suas ações durante o curto período de vida que ocorre entre o nascimento e a morte.  Os animais, as plantas, em suma, tudo o que existe, supostamente foi criado para sua conveniência e uso expressos.

É de admirar que a pessoa que realmente pensa agora também rejeite essa teoria e, finalmente, decida se entregar por enquanto a todas as coisas prazerosas que o ajudam a esquecer que um dia terá que enfrentar a morte, que na melhor das hipóteses é um mergulho no escuro?

Felizmente, há outra teoria, uma teoria que se baseia na verdade.  É conhecida pelo nome de Renascimento.  A doutrina do Renascimento postula um processo lento de desenvolvimento alcançado com persistência constante por meio de repetidas encarnações em formas ou corpos mais eficientes.  Por meio desses processos, todos os seres criados, com o tempo, desenvolverão suas potencialidades latentes em poderes divinos.

O Deus do nosso universo criou Ondas de Vida, e os seres pertencentes a cada onda particular de vida não se cruzam com os dos outros.  As Ondas de Vida com a qual estamos mais familiarizados são a mineral, a vegetal, a animal e a humana.  Cada Onda de Vida é composta de muitos Espíritos Virginais potencialmente dotados de todos os poderes de seu divino Criador, e os seres de cada Onda de Vida finalmente alcançarão a divindade.  Cada Onda de Vida se desenvolverá de acordo com sua natureza inerente.  Os seres que pertencem à Onda de Vida dos Anjos nunca se tornarão Arcanjos.  Eles alcançarão a divindade trabalhando em uma linha diferente de desenvolvimento.  Nós nunca nos tornaremos Anjos; nosso desenvolvimento será totalmente diferente.  Os animais nunca serão seres humanos como nós, embora passem por um estado que chamamos de “humanidade”, aqui conceituado como o ponto mais denso pelo qual uma Onda de Vida passa durante esse Esquema de Evolução.

Nunca fomos animais e, no entanto, passamos por um estado chamado de “animal”.  Da mesma forma, as plantas passarão por um estado “animal” em um período posterior e os minerais atingirão o estado “vegetal”.  Em nenhum caso, porém, serão do mesmo tipo que nossos animais e plantas de hoje.  Cada Onda de Vida tem seu método de desenvolvimento separado e distinto; porém, no final, os Espíritos Virginais que compõem esta onda alcançarão a perfeição, pois este é o único objetivo da evolução.

Agora vejamos como a teoria do Renascimento responde aos problemas da vida.

Por que algumas pessoas são ricas e outras pobres?  Cada vida é um dia na grande escola de Deus.  Alguns de nós estão aprendendo um tipo de lição e alguns de nós estão aprendendo outras.  Aqueles que são pobres em uma vida estão aprendendo lições sobre o valor real de certos confortos; lições inventivas que ensinam da melhor maneira como obter o máximo benefício com o mínimo de esforço.  Eles estão aprendendo a planejar e apreciar tudo o que possuem.

Aqueles que têm riquezas estão aprendendo qual é o real valor delas.  Eles estão aprendendo seu real poder de compra; se isso pode trazer felicidade ou dor, bem como exaltá-los ou degradá-los; seja isso uma benção ou uma maldição.  Eles estão aprendendo que as riquezas às vezes podem comprar a honra dos homens e a virtude das mulheres; que possam resultar em sua própria queda, mas que as coisas que são realmente valiosas para o Espírito nunca podem ser compradas.  Em última análise, todas as pessoas confiantes no valor do dinheiro devem aprender a lição de que são apenas administradores de suas posses e que cabe a elas usar sabiamente e bem o que lhes foi confiado.

Por que alguns têm Corpos Densos deformados?  De um modo geral, nenhum Espírito pode habitar um corpo melhor do que aquele que aprendeu a construir em suas vidas anteriores; mas o seguinte é a exceção à regra; no que diz respeito às anormalidades e deformidades físicas, a regra parece ser que a indulgência nas paixões durante uma vida reage sobre o estado de espírito em uma existência posterior; e o abuso de poderes mentais durante uma vida leva a deficiências em vidas subsequentes.  Por outro lado, uma bela forma denota que seu dono fez um trabalho especializado na construção do corpo em vidas anteriores; às vezes em detrimento dos processos mentais as pessoas que aqui apresentam problemas são aquelas que deliberadamente negligenciaram suas oportunidades em vidas anteriores.  Eles agora são privados de todas as coisas que uma vez obtiveram facilmente, para ensiná-los a apreciar as vantagens quando vierem novamente.  O ser humano tido como “sortudo” em uma vida aprendeu que o que parece ter sido tão fácil para ele nesta vida é na verdade um prêmio de mérito.

O indivíduo cujo Corpo Denso está doente quebrou as Leis da Natureza nesta vida ou em qualquer vida passada e está pagando a penalidade.  O ser humano saudável prestou muita atenção à formação perfeita de seus órgãos no passado.

O Renascimento responde inteligentemente a todas as desigualdades na vida.  As condições em que encontramos muitos são o resultado composto de nossos esforços passados ​​ou da falta deles.  Cada ser humano é uma soma exata de todas as suas atividades passadas e não a vítima de um Deus caprichoso ou um planejador do mal.  Não temos ninguém para culpar, a não ser nós mesmos, se estragamos as coisas.  Se não estamos satisfeitos com a vida que encontramos, agora é a hora de começar a preparar um ambiente melhor para as vidas futuras; e se estivermos realmente bem despertos e sinceramente desejando o final, será possível modificar nosso ambiente na presente encarnação.

O ser humano inteligente hoje não se satisfaz mais com trivialidades na busca da verdade em relação à vida.  Por isso, pedimos a cada leitor que procure uma solução para os muitos problemas que a vida nos apresenta.  Aplique esta chave mestra, Renascimento, e prove por si mesmo a eficácia de sua verdade.

Que as rosas floresçam em vossa cruz

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Bênção da Imaginação

Você já leu ou estudou a Ode à Imortalidade de William Wordsworth[1]? É maravilhoso como experiência da alma. Esse poema foi escrito parcialmente em 1803 e concluído em 1806, há mais de dois séculos; mas, como todas as coisas que valem a pena é sempre novo e aplicável. Sobre os sentimentos que o levaram a escrevê-lo, o autor diz: “Nada foi mais difícil para mim na infância do que admitir a noção da morte como um estado aplicável ao meu próprio ser”.

… Uma criança

Que apenas respire forte,

Enchendo-se de vigor,

Que sabe ela sobre a morte?

“Mas não foi tanto de sentimentos de vivacidade animal que a minha dificuldade veio, mas de uma sensação de indomabilidade do espírito dentro de mim… Muitas vezes era incapaz de pensar nas coisas externas como tendo uma existência externa e comungava com tudo o que via como algo não separado, mas inerente à minha própria natureza imaterial” …

“Aquela vivacidade e esplendor de sonho que investem os objetos e as vistas na infância, cada um, creio eu, se olhar para trás poderá testemunhar”.

“Nos últimos anos deplorei como todos nós temos razão para fazer uma subjugação de caráter oposto e me regozijei com as lembranças expressas nestas linhas”:

IX

(…) Mas, pelas questões obstinadas

De senso e coisas externadas

Distantes de nós, sublimadas;

Vagos temores da Criatura

Nos seguintes versos o autor dá suas ideias sobre a infância, a respeito dessa natureza agindo sobre ele.

I

Houve um tempo em que a relva, a fonte, o rio, a mata

E o horizonte se vestiam

De uma luz grata,

— Visto que assim me pareciam —,

E da opulência que nos sonhos é inata.

Hoje está sendo tal como foi outrora; —

Seja o que for, eu,

Na luz ou breu,

Eu não verei jamais o que se foi embora.

II

O arco-íris vai, vem,

E a rosa nos faz bem;

Alegre, a lua nota

Que o céu está completamente nu; à luz

De estrelas, a água brota

E é belo o que ela reproduz;

A aurora é sempre um nascimento;

E contudo, eu sei muito bem

Que a glória passou por nós em algum momento.

IV

(…), Mas uma, uma Árvore existe,

Uma Planície que em minh’alma inda persiste,

Lembrando o que se foi e hoje e me deixa triste:

E o Amor-Perfeito

Diz: Que foi feito

Do vislumbre visionário?

Dos sonhos? Do esplendor vário??

Acima estão os fatos que perturbam o poeta e as questões que as contemplações desses fatos geram. Com a verdadeira intuição de poeta, ele passa a explicar o assunto (versos 59 a 72):

V

Nosso nascer não passa de sono e de oblívio:

A Alma que nasce com nós, nosso Astro Vital,

Vive longe de onde vive o

Trajeto de seu fanal;

Não no esquecimento inteiro

Nem na nudez por inteiro,

Mas, arrastando nuvens de glória, viemos

De Deus — nele vivemos —:

É o Céu que a nós circunda e a nossa meninice!

As sombras da prisão começam a cobrir

O Menino que cresce;

Mas ele vê a luz, sabe aonde ela vai ir

E sabe que ela o acresce;

A Juventude, em sacerdócio à Natureza,

Viaja ao Leste numa empresa

Guiada pela

Visão mais bela;

E ao largo o Homem vê que sua vida acaba

E que na luz do hábito ela enfim desaba.

VI

A Terra enche o colo com prazeres seus;

A Terra possui ânsias que ela mesma mantém,

E, possuindo um algo maternal também,

E honesta em seu intuito,

A Terra, ama-de-leite, empenha-se

P’ra que o filho adotivo, a Humanidade, abstenha-se

De todos seus apogeus

E do que nele for trajetória e for muito.

VIII

Você, cujo semblante exterior desmente

Teu valor inerente;

Você, grande Filósofo, que mantém ainda

A herança; você, que é a Visão entre a cegueira,

Que, surdo e mudo, lê a profundeza infinda

Sempre assombrada pela mente altaneira, —

Ó Vidente! Ó Profeta!

Que a verdade afeta

E a quem nós procuramos de qualquer maneira,

Por toda a vida, presos no escuro da cova;

Você, sobre quem flui a Fonte da Existência

Que escraviza ao mesmo tempo que renova,

Algo impossível de se ignorar a presença;

A quem a cova

É cama solitária sem sentido ou luz

Do que lá fora luz,

Um lugar onde se descansa e onde se pensa;

Você, Criança, ainda ilustre na amplitude

Da aérea liberdade de tua atitude,

P’ra quê, com dores tão solenes, provocar

Os anos a te darem o que eles vão te dar,

Assim tão cega e santa imersa na batalha?

Não tarda e teu espírito cai no retardo

De uma rotina que imporá a ti um fardo

Que pese e quase como a vida se equivalha!

Não é de se admirar que Cristo disse: “a menos que se tornem como uma criança, de maneira nenhuma entrareis no Reino dos Céus”. Na verdade, as criancinhas ao nosso redor, que recentemente deixaram o Mundo Celeste, ainda têm esse estado agarrado a elas; elas estão real e verdadeiramente parcialmente no Céu. Para elas, toda a natureza externa parece fazer parte do seu próprio ser; não há uma compreensão nelas deste mundo e do que tudo isso significa. Sua gloriosa imaginação torna real tudo o que elas veem a seu respeito, da maneira que desejam.

Aqui em Mount Ecclesia esses fatos são apresentados a nós todos os dias por nosso pequeno e maravilhoso mascote, Herman Miller. “Poderoso Profeta! Vidente abençoado!” se aplica a ele em todos os detalhes; há para ele uma luz no mundo que não brilha para nenhum de nós e ele é uma fonte constante de admiração para todos aqui. De acordo com nosso conhecimento do fato de que o seu Corpo Vital ainda não foi formado e não será concluído até o sétimo ano de vida, não nos esforçamos para lhe ensinar coisa alguma, mas ele se interessa por muitas coisas curiosas, que lhe dão experiência e ensino; isso é mais do que poderia ser transmitido pelo esforço de enchê-lo com algo que já preparamos e que estamos fadados a enfiar em sua garganta, seja ele capaz de engolir ou não.

Esse método de enfiar informação nas crianças para torná-las precoces infelizmente resulta, muitas vezes, em atrofiamento para o resto da vida. Durante aqueles primeiros sete anos, a contraparte do Corpo Vital, que está, então, em processo de gestação (a saber, o Espírito de Vida), atua através da criança como uma imaginação poderosa e ensina pela intuição o que ela deve saber, de um modo muito mais eficiente do que nosso melhor currículo poderia ser.

Herman tem uma pequena carroça de quatro rodas com pedais que ele empurra e por vários meses ele a chamou de seu Ford; mas em agosto passado, quando uma família veio de North Yakima para Mount Ecclesia, Herman começou a ter novas ideias, observando o automóvel Overland do Sr. Swigart e andando nele, além de ter observado como se lubrificava e cuidava daquele automóvel. A primeira coisa que notou foi que era preciso encher os pneus. Imediatamente ele pegou de um dos jardineiros uma velha bomba que tinha sido usada para borrifar água nas flores do jardim. Seu “Ford” havia adquirido pneus imediatamente e agora era necessário enchê-los com frequência para que o “Ford” andasse melhor.

Ele tem a qualidade de “tempo musical” com perfeição e pode imitar quase qualquer som mecânico, entre outros o barulho de um motor à gasolina e é um verdadeiro prazer ouvi-lo ligar o motor. Primeiro, os ruídos espasmódicos e separados que imitam as primeiras explosões; depois, o estágio laborioso e lento da explosão; finalmente, conforme o motor ganha velocidade, as explosões tornam-se mais regulares, frequentes e menos trabalhosas; ele faz tudo com perfeição, de modo que quase se acreditaria que ele deu partida em um motor de verdade.

O automóvel Overland do Sr. Swigart tinha um arranque automático e luzes elétricas. Imediatamente Herman foi até Roy, nosso impressor e eletricista, e lhe pediu uma velha bateria elétrica. Isso ele instalou em seu “Ford”; além disso, ganhou uma lâmpada velha e queimada para fazer a luz elétrica, mais um fusível que seria a chave. Em seguida, seu “Ford” foi equipado com as melhorias mais recentes. Mas, aconteceu que o Sr. Swigart queimou o interruptor em uma viagem e imediatamente o “Ford” de Herman desenvolveu os mesmos sintomas. Ele começou a queimar o interruptor de sua partida elétrica regularmente; ele sempre foi, no entanto, capaz de consertar e fazer funcionar. Para todos os efeitos, no que lhe diz respeito, aquela pequena carroça é um carro moderno e de primeira classe, equipado com todas as melhorias modernas, no qual ele anda todos os dias. De manhã, ele sai apressado e pega seu “Ford” na garagem; então ele caminha para o refeitório; ali ele para e toma seu café da manhã; em seguida, ele dá uma volta pelo terreno e, às vezes, o usa como um caminhão para recolher pedras para a Sra. Heindel, que ele então deposita em pilhas na esquina das estradas. Ao meio-dia ou à noite ele é sempre visto no refeitório com seu “Ford”, que fica do lado de fora, esperando por ele até que ele termine sua refeição.

Há apenas um problema em seu “Ford”; apenas um detalhe em que é inferior: não sobe colinas ou ladeiras. Outro dia ele conheceu o homem da garagem, que vinha levar alguns passageiros para o depósito. Esse homem estava intensamente interessado em sua ideia mecânica e deu-lhe um livro com fotos, mostrando as várias partes do motor. Ficamos muito surpresos outro dia, quando Herman apareceu e nos disse que agora ele conhecia tudo sobre motores; sabia como iniciá-los e gerenciá-los. Ele então nos mostrou na foto o que era a embreagem, o freio, o botão de arranque e o botão magneto. Em seguida, foi questionado sobre como ligaria a máquina; imediatamente disse que pressionaria o botão do magneto (ele sabia a diferença entre este botão e o da lâmpada), o botão de arranque, tiraria o pé do freio e soltaria a embreagem. Ele havia estudado todo o problema sozinho e certamente ficamos mais do que surpresos, pois ele estava certo em todos os detalhes.

Bem, é uma velha história a de que toda mãe pense que seu ganso seja um cisne. Nós, em Mount Ecclesia, certamente desejamos algo de Herman, quando ele crescer, e acreditamos que, ao deixá-lo passear pelos primeiros anos da sua vida sem treinamento sistemático algum, ao mesmo tempo respondendo a todas as suas muitas perguntas como responderíamos a uma pessoa adulta, tratando seus problemas com a mesma consideração séria que daríamos a um adulto, ele aprenderá a recorrer a essa maravilhosa fonte de imaginação e intuição, a contraparte do Corpo Vital, o Espírito de Vida, a imaginação e intuição agora cultivadas não o deixarão nos anos posteriores, mas o capacitarão a visualizar as coisas que ainda estão nos Mundo espirituais e trazê-las para o reino material, como fazem todos os inventores.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de fevereiro de 1916 e traduzido pelos irmãos e irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)


[1] N.T.: William Wordsworth (1770 – 1850) foi um dos maiores poetas e escritores do Romantismo inglês. Os trechos abaixo é do poema Ode: Intimations of Immortality. Uma das obras-primas de Wordsworth, a ode canta a compreensão comovente do narrador maduro de que a relação especial da infância com a natureza e a experiência se perdeu para sempre, embora a memória inconsciente desse estado de ser permanece uma fonte de sabedoria no mundo. O poema de 11 estrofes foi escrito no estilo da ode Pindárica irregular.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Por que jornais como Wall Street Journal valoriza a Religião?

Em 3 de novembro de 1906, The Wall Street Journal publicou um editorial sobre esta questão: “Existe um declínio de fé?”. Ele mostra que o efeito da Religião é um fator de longo alcance na vida empresarial do mundo e levou a certos pensamentos que apresentaremos após o leitor ter lido o artigo que, abaixo, reimprimimos.

Existe um declínio de fé?

“Quem acredita em uma vida futura é um cidadão de dois mundos. Ele se move neste mundo, mas seus pensamentos e inspirações mais elevadas estão fixas no futuro. Para tal pessoa o que acontece aqui e agora não é sem importância, mas é infinitamente menos importante do que o que acontecerá no futuro. Ele considera sua vida aqui apenas uma preparação para a vida futura. Suas experiências aqui, sejam de alegria ou tristeza, são de valor para ele apenas porque o capacitam a atender melhor às demandas eternas da vida após a morte. Ele não é indiferente às recompensas que podem advir, neste mundo, para a indústria, o esforço e a oportunidade; mas, fracasso, doença, pobreza, abuso — o que isso significa para uma pessoa que acredita que vai desfrutar dos privilégios sublimes da eternidade? Ele mede tudo pelo infinito. Riqueza, luxo, poder, distinção — ele pode não desprezar isso, mas os considera apenas temporários — meros deleites que são dados como testes para o seu caráter.”

“A fé na vida eterna aplaina todas as desigualdades e injustiças da vida presente, sob o grande peso do infinito. Faz com que os pobres se sintam ricos e dá aos desafortunados uma sensação de herança do Todo-Poderoso. Isso faz com que os ricos tenham um senso de grande responsabilidade e tutela.”

“Mas não é necessário para esta discussão considerar se tal fé é razoável ou não. The Wall Street Journal não se preocupa com discussões teológicas. Não está a favor de, ou contra, credo algum, porém bastante interessado nos efeitos econômicos e políticos de qualquer mudança no pensamento, nos hábitos e na vida dos seres humanos. Se houve um declínio acentuado na fé religiosa, esse fato deve ter um significado profundo e de longo alcance, porque altera as condições básicas da civilização e torna-se um fator nos mercados. Ele muda os padrões e afeta os valores das coisas que são compradas e vendidas, dizendo respeito aos interesses imediatos daqueles que nunca tiveram tal fé, quase tanto quanto diz respeito à vida daqueles que tiveram fé e a perderam.”

“A questão, portanto, é de importância prática, imediata e tremenda para Wall Street, tanto quanto para qualquer outra parte do mundo. Houve um declínio na fé e na vida futura? Em caso afirmativo, em que medida isso é responsável pelos fenômenos especiais de nossos tempos? A busca ávida por riqueza repentina; o luxo e a ostentação desavergonhados; a extravagância grosseira e corruptora; “o mau uso de grandes fortunas”; a indiferença à lei; o crescimento da corrupção; os abusos do grande poder corporativo; a agitação social; a disseminação da demagogia; os avanços do socialismo; os apelos ao amargo ódio de classe… Para descobrir que conexão existe entre a decadência na fé religiosa e a agitação social do nosso tempo, devido, por um lado, ao uso opressor do poder financeiro e, por outro, à agitação das classes, pode ser proveitosa a investigação por uma comissão de especialistas do Governo, se for possível para ele entrar em tal empreendimento.”

“Quaisquer que sejam as crenças pessoais de um ser humano, ninguém prefere fazer negócios com uma pessoa que realmente não acredita em uma vida futura. Se houver menos pessoas com essa fé no mundo, isso fará uma grande diferença; e se a fé deve continuar a declinar, isso exigirá ajustes. Certamente existem, na superfície, muitos sinais desse declínio. Talvez, se for possível sondar profundamente o assunto, possamos descobrir que a fé ainda seja grande, mas não se expresse mais da maneira antiga. Mas, somos obrigados a aceitar as indicações superficiais. Essas incluem uma queda na frequência à igreja; o abandono do culto familiar; a entrega do domingo, cada vez mais, ao prazer e ao trabalho; a separação dos religiosos da educação secular sob as severas exigências do não-sectarismo; o crescimento de uma geração não instruída, ao contrário dos nossos pais, no estudo da Bíblia; a secularização de uma parte da própria igreja; e sua incapacidade de ganhar a confiança do povo trabalhador. Se esses são realmente sinais de decadência da fé religiosa, então, de fato, não há problema mais importante diante de nós do que descobrir algum substituto adequado para a fé ou tomar medidas imediatas para conter um declínio que contém em si as sementes de desastre nacional.”

Agora, à luz dos Ensinamentos Rosacruzes vamos tentar compreender os métodos ocultos que promovem a fé.

Sim, há uma razão oculta para o declínio da fé e é inútil falar sobre remédio antes que a causa seja encontrada, pois nenhuma medida aleatória levará a humanidade de volta e permanentemente ao caminho da retidão. Vamos primeiro considerar algumas das causas comumente dadas e depois entenderemos melhor aquela que é científica e oculta.

Frequentemente, ouvimos dizer com desprezo que a razão pela qual as igrejas permanecem vazias é que o padre, o pastor ou o ministro não tem uma mensagem nova, mas está continuamente revisando as velhas histórias da Bíblia. A censura perde força quando se pergunta: “Aprendemos a Bíblia de cor?”. Esperamos que uma criança repita a tabuada indefinidamente até que saiba e possa aplicá-la. É mais importante que conheçamos a Bíblia completamente do que a criança se lembre da tabuada; portanto, a repetição é necessária.

Os atenienses, na Colina de Marte, sempre procuravam alguma coisa nova que lhes desse o que discutir, mas algo mais é necessário para o crescimento da alma. São Paulo especificamente nos informa que embora possamos conhecer todos os mistérios e todo o conhecimento, se não tivermos amor, isso vale nada para nós.

A reprovação dos bancos vazios repousa particularmente sobre as igrejas católicas e as protestantes de todas as denominações e pode não ser impróprio, portanto, fazer uma comparação entre o seu método e o método da igreja Cristã primitiva, lá no início do Cristianismo, como comunicado por Cristo Jesus. Se estamos ansiosos para aprender, devemos colocar o preconceito de lado e nos esforçar para ver os méritos e deméritos de cada um, de maneira imparcial.

Vamos, primeiro, olhar para a igreja católica ou protestante comum ou tradicional, em que o padre, pastor ou ministro se esforça para levar o Evangelho ao povo. Quase todos os bancos estão vazios e entre os presentes as mulheres superam os homens em seis para um ou mais. O padre, pastor ou ministro geralmente é sincero e se esforça para ser eloquente, quando se dirige à Deidade em oração. Mas ele ouviu a reprovação da repetição tantas vezes que teme que um serviço se assemelhe a outro, ainda que seja no mínimo grau. Uma nova oração, um novo sermão, uma nova canção do coro, tudo o mais novo possível para escapar daquela censura terrível. Ele quase se torna uma pilha de nervos por causa do pensamento assustador de que seu povo pode considerá-lo “velho”.

A seguir, vamos a uma igreja católica ou protestante “popular” para ver quais métodos ela usa. O padre, pastor ou ministro nessas igrejas é sempre “progressivo” e “atualizado”. Algumas vezes, há um salão, um ginásio ou alguma coisa que promova atividades físicas, de dança, de entretenimento anexado ao estabelecimento. Todas as noites da semana há uma reunião ligada a algum entretenimento. Há piqueniques, festas, bailes e jantares na igreja. Algumas vezes pode haver reuniões para homens e reuniões para mulheres, encontros de jovens e até para crianças geralmente são combinadas, de modo que o todo seja uma fantasmagoria deslumbrante, sem momento algum de tédio durante a semana — e no domingo, ah! esse é o verdadeiro mimo, a grande atração, então o padre, pastor ou ministro se diverte como só ele sabe. Ele é auxiliado por um coral alegre e feliz, às vezes acompanhado dos mais diversos instrumentos (de preferência os mais modernos), treinados por um regente ou um animador de festas. A música não é particularmente religiosa (muitas vezes “adaptadas” e com ritmos que “agitem”), pois toda boa música recém-vinda do mundo celestial fala ao ser espiritual e desperta as memórias do nosso lar eterno; mas é um prazer para o amante da música e atrai centenas.

Entre a abertura e o encerramento do programa musical vem o chamado “sermão”. Como exemplo relatamos um fato em que certa vez uma pessoa ficou horrorizada ao entrar em uma igreja e ver no púlpito esta inscrição: “Não prego o evangelho”. As outras palavras da frase, “Ai de mim, se”, estavam escondidas do outro lado do púlpito e o efeito deve ter sido surpreendente, para dizer o mínimo.

Mas é um lema que pode estar no púlpito de mais de uma Igreja “popular” ou “progressista”, pois embora o “sermão” possa começar com uma citação da Bíblia, geralmente essa é a única referência à palavra de Deus. O resto é uma excelente oratória sobre qualquer tópico relativo a uma questão local ou nacional que seja vívida; ou, se houver escassez de fontes sociais e políticas, há sempre os problemas de temperança e pureza. É verdade que estão velhos e gastos, “como os Evangelhos”, mas promovendo um show, enlouquecendo e estimulando a ações no mínimo de gosto duvidoso, ainda é possível apelar para o cansado gosto por sensacionalismo que é, em última instância, desenvolvido pela maioria dos seus ouvintes. Mas a essa altura, o padre, pastor ou ministro “progressista” recebe um chamado para construir outra igreja, em outro lugar.

Isso é universalmente admitido: sob o pastorado contínuo de uma pessoa, os frequentadores da igreja perdem o interesse. Não porque seus padres, pastores ou ministros não sejam sinceros e trabalhadores, a grande maioria é exemplar em todos os sentidos, mas de alguma forma eles não conseguem manter seu controle sobre o povo. Algumas denominações atribuem as igrejas sob sua jurisdição a seus padres, pastores ou ministros por determinado período e, ao final desse tempo, transferem-nos a outra seção para trabalhar lá por algum tempo.

Muito pode ser dito a favor e contra esses vários esquemas, mas isso está além da presente discussão. Apenas um remédio para a falta de interesse parece ter potência suficiente para encontrar a aprovação geral como produtor de entusiasmo pelo menos temporário: shows, o avivamentos.

Lá, as pessoas se aglomeram para ouvir um estranho, sempre de personalidade forte, dominante e agressiva, com uma voz que pode falar em oitavas, desde um baixo chamado de súplica, pegando o pecador esmagado, até o grito de clarim que soa como o estalar da desgraça para os recalcitrantes. Como o padre, pastor ou ministro “progressista”, ele é habilmente auxiliado por uma equipe treinada, coro e conjunto musical, todos arranjados para fazer um poderoso apelo às sensações, desejos e emoções. As pessoas são “convertidas” aos milhares e a Religião (?) ganha uma nova vida naquela comunidade.

Mas, infelizmente, apenas por um tempo. É um fato que não precisa mais do que uma simples declaração: depois de pouco tempo, apenas uma pequena e lastimável porcentagem dos convertidos permanecem e o pobre padre, pastor ou ministro deve continuar trabalhando para manter a aparência de Religião em uma comunidade cada vez mais negligente com os assuntos espirituais.

Esse estado de coisas tornou-se tão notório que relativamente e cada vez mais menos pessoas entram para seminários ou escolas de preparação para pastores e ministros. Há, portanto, um declínio de frequentadores na igreja e de padres, pastores ou ministros que, se continuar, pode ter apenas um fim: a extinção da igreja católica ou protestante “desse tipo”. Não olhe somente no seu país, mas observem outros países.

Quando investigamos os métodos da igreja católica tradicional – deixando de lado a questão dos dogmas e outras particularidades que são corretas para o Cristianismo popular e que trabalham muito mais pelo coração do que pela Mente –, para fins de comparação e para chegar à conclusão correta a respeito do seu poder de atração, devemos primeiro notar o contraste absoluto entre o serviço ali e aquele nas igrejas protestantes “populares”. Se ouvirmos por um momento o que é dito nas denominações protestantes “populares”, descobriremos que cada pastor ou ministro tem um tema diferente; mas podemos ir a qualquer igreja católica tradicional, em qualquer parte do mundo, e descobriremos que todos estão usando o mesmo ritual no altar, em determinado dia.

O que o padre pode dizer do púlpito é insignificante perto de todo esse fato importante, pois as palavras são vibrações e elas são criativas, como demonstrado quando areia e esporos formam figuras geométricas em resposta à voz de um cantor. A missa cantada em inúmeras igrejas católicas tradicionais espalhadas pelo mundo reverbera com poder cumulativo por todo o universo como um poderoso hino, afetando todos os que estão em sintonia com ela, aumentando seu fervor religioso e lealdade à sua igreja de maneira inacessível aos isolados e casuais esforços de indivíduos, por mais sinceros que sejam.

O ritual tem um poder cumulativo. Há um efeito oculto do esforço concentrado e obtido pelo uso de leituras idênticas em todas as igrejas católicas no mundo, de modo que o efeito cumulativo pode ser sentido por cada católico que está sintonizado com elas. Esse efeito seria muito mais forte, se o serviço fosse realmente oculto e cantado com certa intensidade, como é na missa.

Assim, para resumir esta fase do assunto, as tentativas individuais e persistentemente contínuas de pregadores protestantes “populares” para guiar seu povo mediante sermões novos e originais são um fracasso, enquanto esforços centrados em rituais uniformes, repetidos ano após ano, conforme apresentado, por exemplo, pela igreja católica tradicional, mantêm um mínimo do Cristianismo Popular, a terceira das quatro Dispensações.

Para compreender esse mistério e aplicar o remédio com inteligência, é necessário compreender a constituição de uma pessoa, tanto durante os anos de crescimento como na idade adulta.

Além do corpo visível da pessoa, que vemos com nossos olhos físicos, existem outros veículos, mais refinados, que não são vistos pela grande maioria da humanidade; no entanto, eles não são apêndices supérfluos do corpo físico, mas, na verdade, muito mais importantes pelo fato de serem as fontes de toda ação. Sem esses veículos mais refinados, o corpo físico – o Corpo Denso – seria inerte, sem sentido e morto.

O primeiro desses veículos chamamos de Corpo Vital, porque é a avenida da vitalidade que fermenta a massa inerte do corpo mortal nos anos de vida e nos dá força para nos mover.

O segundo é o Corpo de Desejos, a base das nossas emoções e sentimentos, o corpo que estimula o corpo visível a agir. Esses três veículos, juntamente com a Mente, constituem a Personalidade, que é então percebida pelo espírito.

Cada um dos Corpos que nomeamos tem sua própria natureza essencial e podemos dizer que a palavra-chave do Corpo Denso é “Inércia”, pois ele nunca se move, a menos que seja impelido por esses corpos invisíveis e mais sutis. A palavra-chave do Corpo Vital é “Repetição”. Isso é facilmente compreendido, quando consideramos que, embora ele tenha o poder de mover o corpo, é apenas por impulsos repetidos e do mesmo tipo que aprendemos a coordenar os movimentos do corpo conforme nós, o Ego – o Espírito Virginal da Onda de Vida Humana manifestado –, desejamos. Se formos a um instrumento musical como um órgão pela primeira vez e nos esforçarmos para tocar, não seremos imediatamente capazes de mover os dedos da maneira desejada para produzir os tons adequados; executar até os mais simples movimentos coordenados dos dedos, necessários para fazer a harmonia apropriada, requer nossos esforços repetidos. Por causa dessa necessidade de repetição, é uma máxima oculta que todo desenvolvimento oculto começa com o treinamento do Corpo Vital.

O Corpo de Desejos, que sentimos como nossa natureza emocional, por outro lado, está sempre buscando algo novo. Esse desejo de mudança de condição, mudança de cenário, mudança de humor, o amor pela emoção e sensação ocorre devido às atividades do Corpo de Desejos, que se assemelha ao mar durante uma tempestade, cheio de ondas, sacudindo-se para cá e para lá, ao acaso e sem desígnio, onde cada onda é poderosa e destrutiva, porque é desenfreada e sem fidelidade ao poder dirigente e central.

A Mente, na verdade, é o foco através do qual o Ego se esforça para subjugar a Personalidade e guiá-la de acordo com a habilidade adquirida durante seu período evolutivo. Mas, atualmente, apenas uma quantidade muito pequena de pessoas pode fazer isso; a maioria é, portanto, guiada principalmente por seus sentimentos, desejos e emoções, sem muita receptividade à razão ou ao pensamento racional.

Reconhecendo o grande e maravilhoso poder das emoções, dos desejos e sentimentos e sua receptividade ao “ritmo”, que pode ser aceito como sua palavra-chave, a teologia progressiva, também chamada de “moderna”, se dirigiu ao Corpo de Desejos, e concentrou seus esforços em apelos a esse veículo. É essa parte da nossa natureza que gosta das diversões do sensacional pastor, ministro ou padre do “teatro de variedades”. É esse veículo que balança e geme sob o discurso rítmico do revivalista, ele próprio vibrante de emoção. Subindo e descendo na medida bem calculada da voz do falante, a unidade de tom é logo estabelecida, um estado de hipnose real em que a vítima não pode evitar de se converter, “se arrependendo do caminho do pecado que, até então, trilhou,” do mesmo jeito que a água não pode evitar correr morro abaixo. Eles percebem de forma poderosa, mas breve, a enormidade dos seus pecados e estão igualmente ansiosos para começar uma vida melhor; contudo, infelizmente a próxima onda de atração em sua natureza emocional lava tudo o que o pregador disse, todas as suas resoluções, e eles ficam exatamente onde estavam antes, para grande desgosto e tristeza desse mesmo pregador, seja pastor, padre ou ministro.

Assim, todos os esforços para elevar a humanidade pelo trabalho sobre o instável Corpo de Desejos são, e sempre devem se mostrar, fúteis. Isso, as Escolas de Mistérios, como o é a Fraternidade Rosacruz, de todas as épocas reconheceram e, portanto, dedicaram-se à mudança no Corpo Vital, trabalhando em sua natureza, que é a repetição. Para esse propósito, todas as verdadeiras Escolas de Mistérios escreveram vários rituais adequados à humanidade em diferentes estágios do desenvolvimento dela e, dessa forma, promoveram o crescimento da alma de modo lento, mas seguro, independentemente do ser humano estar ciente de que estivesse sendo estimulado internamente dessa maneira. Por exemplo, o Antigo Templo de Mistérios dos Atlantes, que chamamos de Tabernáculo no Deserto – e que tanto estudamos na Fraternidade Rosacruz –, tinha certos ritos que foram prescritos no monte, pela Hierarquia Divina ou Criadora que era o mestre deles naquele momento. Certos ritos eram realizados durante os dias da semana; outros eram, especificamente, usados no Sabbath e, afinal, mais alguns eram praticados nos festivais nos dias da Lua Nova e no grande festival solar. Não era permitido a pessoa alguma, incluindo o Sumo Sacerdote, alterar esse ritual, que poderia resultar ao transgressor dores, sofrimentos e até pena de morte.

Também entre outros povos antigos encontramos evidências de um ritual — os hindus, os caldeus e os egípcios o usavam em seus serviços religiosos; entre os últimos temos, por exemplo, o chamado Livro dos Mortos como uma evidência do valor oculto e do escopo de tais serviços ritualísticos. Mesmo entre os gregos, embora fossem notoriamente individualistas e ansiosos por dar expressão à sua própria concepção, encontramos o ritual nos mistérios. Mais tarde, durante a chamada Era Cristã, temos o mesmo ritual de inspiração ocultista na igreja católica como meio de promover o crescimento anímico por meio do trabalho no Corpo Vital.

Tudo isso não quer dizer que não houve abusos dentro desses vários sistemas de Religião, nem que os Sacerdotes sempre foram homens Santos e que suas mãos estiveram limpas e imaculadas, quando ministravam o Sacrifício ou o ritual. É fato que os abusos, às vezes, se tornavam tão grandes que fossem necessárias reorganizações. O movimento protestante foi inaugurado por Martinho Lutero para fugir dos abusos que surgiram dentro da igreja católica. Mas, todos esses sistemas tinham em si o cerne da verdade e do poder no fato de trabalharem para o desenvolvimento do Corpo Vital e, portanto, por mais corruptos que fossem os Sacerdotes, o ritual sempre reteve seu grande poder. Consequentemente, quando os “reformadores” abandonaram o ritual, eles estavam exatamente na mesma posição que os atenienses da Colina de Marte, sendo forçados a buscar continuamente algo novo. Em cada denominação há um desejo pela verdade; cada uma das seitas hoje luta para resolver o problema da vida à sua própria maneira, no entanto, cada uma toca uma nova nota de maneira aleatória e, portanto, todas estão falhando, enquanto, por exemplo, a igreja católica, com todos os seus abusos, ainda exerce uma influência maravilhosa sobre seus adeptos, por causa do poder do ritual.

É de conhecimento oculto que o nascimento é um evento quádruplo e que o nascimento do Corpo Denso é apenas uma etapa desse processo. O Corpo Vital também passa por um desenvolvimento análogo ao crescimento intrauterino do Corpo Denso; ele nasce por volta do sétimo ano de vida. Durante os próximos sete anos, o Corpo de Desejos amadurece e nasce por volta do décimo quarto ano, quando chega a adolescência. A Mente nasce por volta dos vinte e um, quando começa a idade da responsabilidade do homem e da mulher. Esses fatos ocultos são bem conhecidos, de uma forma ou de outra, pela igreja católica.

Enquanto os padres, pastores ou ministros dessas igrejas “progressivas”, “modernas” ou “atualizadas” trabalham sobre a natureza emocional, que está sempre em busca de algo novo e sensacional, sem perceber a futilidade da luta e o fato de que esse veículo é o mais desenfreado, o que leva as pessoas dessas igrejas a buscar algo novo e sensacional, a igreja católica, de alguma forma ocultamente informada, concentra seus esforços nas crianças. “Dê-nos a criança até o sétimo ano e ela será nossa para sempre”, dizem eles, e estão certos, focando na catequese.

Durante esses sete anos importantes, eles impregnam os flexíveis Corpos Vitais pela repetição. As muitas orações repetidas, os rituais, o tempo e a melodia dos vários cantos, tudo isso têm efeito poderoso no Corpo Vital que está em crescimento. Tampouco importa que o ritual esteja em língua desconhecida, pois para o Ego essa mensagem vibratória é um cântico de cor divina, inteligível a todos os espíritos. Nem importa que a criança repita isso como um papagaio, sem entender, desde que repita o que lhe é dado. Quanto mais, melhor, pois essas vibrações ocultas são, assim, incorporadas ao seu Corpo Vital, antes de ele se estabelecer, e aí permanecerão por toda a vida. Cada vez que uma missa é entoada pelos servos da igreja, em qualquer parte do mundo, o poder vibratório e cumulativo do seu esforço agita aqueles que têm as linhas de força afins em seus Corpos Vitais de tal maneira que são atraídos para a igreja com uma força, geralmente, irresistível. Isso segue o mesmo princípio de que, quando um diapasão é tocado, outros de afinação idêntica começam a cantar.

Alguns católicos se voltaram contra a igreja católica, mas subconscientemente e no íntimo permaneceram católicos até o dia da morte, pois o Corpo Vital é extremamente difícil de mudar e as linhas de força embutidas nele, durante seu período de gestação, são praticamente mais fortes do que a vontade de qualquer indivíduo.

Segue-se, portanto, que se mudássemos a tendência do mundo, de buscar o prazer e a gratificação dos sentidos, excluindo a Religião, faríamos bem em começar com as crianças pequenas. Se as reunirmos no altar, ensinarmos a amar a casa de Deus, agregarmos certas orações universais e partes do ritual na formação de seus Corpos Vitais, cultivando em todos o ideal de reverência por um lugar sagrado, então, aos poucos construiremos em torno da estrutura de pedra física um templo invisível de Luz e Vida; (isso tem significado literal, porque tais templos são visíveis à visão espiritual), como descreve Manson, no livro “The Servant in The House” de Charles Rann Kennedy, nas seguintes palavras:

“Temo que você não considere isso uma preocupação totalmente substancial. Tem que ser visto de certa maneira sob certas condições. Algumas pessoas nunca veem isso… Você deve entender que esta não seja uma pilha de pedras e madeira morta ou sem sentido. É uma coisa viva. Ao entrar, você ouve um som, o som de um poderoso poema entoado. Ouça por bastante tempo e você aprenderá que é feito de batidas de corações humanos. Da música sem nome das almas dos seres humanos; isto é, se você tiver ouvidos. Se você tiver olhos, verá a própria igreja, um mistério iminente de formas e sombras que saltam do chão à cúpula. O trabalho de um construtor incomum”.

“Seus pilares sobem como troncos musculosos de heróis e a doce carne humana de homens e mulheres é moldada em torno de seus baluartes, forte, inexpugnável. Os rostos das crianças riem de cada pedra angular; seus admiráveis vãos e arcos são as mãos unidas de companheiros; nas alturas e nos espaços estão inscritas as inúmeras reflexões de todos os sonhadores do mundo. Ainda está sendo construído, sendo construído… Às vezes, a obra avança em trevas profundas; às vezes, em luz ofuscante. Agora sob o peso de uma angústia indescritível; aqui, ao som de grandes risos e gritos heroicos como o brado de um trovão. Às vezes, durante a noite pode-se ouvir as pequenas marteladas dos companheiros trabalhando na cúpula, os companheiros que subiram”.

Quando tivermos construído tal igreja, descobriremos que qualquer um que entre estará mais do que ansioso para permanecer “em sintonia com o infinito”.

Lembremos que como Estudantes Rosacruzes é sumamente importante termos um coração nobre, pois se formos só pelo conhecimento intelectual, estaremos deixando de praticar uma das máximas que São Paulo nos ensina na Bíblia, qual seja: o conhecimento ensoberbece, mas o amor edifica (e o amor só se sente com um coração nobre, e jamais com um coração duro). Normalmente quem caminha só pelo intelecto deprecia a Religião Cristã (aqui hoje entendida como Cristianismo Popular, já que com seu coração duro nem consegue conceber o que seria, de fato, o Cristianismo Esotérico), porque acham que falta a ela uma concepção intelectual do Universo.

Afinal: “ainda que eu conheça todos os mistérios e toda a ciência, se não tiver Amor, serei como o metal que soa ou como o sino que tine” e este amor deve ser utilizado no serviço e no auxílio aos nossos semelhantes.

Por fim, como lemos, relemos e estudamos no livro de Max Heindel Carta aos Estudantes: “Espero que todos os Estudantes Rosacruzes compreendam que vivemos numa terra Cristã e, assim, somos Cristãos de coração. Todos somos Cristos em formação. A natureza do amor está desabrochando em todos nós, portanto, por que não nos identificarmos com uma ou outra das igrejas cristãs que acalentam o ideal de Cristo? Alguns dos melhores Estudantes Rosacruzes da Fraternidade Rosacruzes são membros ativos de igrejas Cristãs. Muitos estão famintos pelo alimento que temos para lhes dar. Não podemos compartilhar desse alimento com eles mantendo-nos afastados. Prejudicamo-nos pela negligência em não aproveitar a grande oportunidade de ajudar na elevação da igreja cristã.

Naturalmente, não há coação nisto. Não pedimos que se unam ou cuidem da igreja, mas se formos até ela com espírito de ajuda, afirmo-lhes que experimentarão um maravilhoso crescimento de alma em um curto espaço de tempo. Os Anjos do Destino, que dão a cada nação e povo a Religião mais apropriada às suas necessidades, nos colocaram em uma terra Cristã, porque a Religião Cristã favorece um amplo crescimento anímico. Mesmo admitindo que a igreja tenha sido obscurecida pelo credo a pelo dogma, não devemos permitir que isto nos impeça de aceitar os ensinamentos que são bons, porque isso seria tão infrutífero como centralizar a nossa atenção sobre as manchas do Sol recusando ver a sua luz gloriosa. Medite sobre este assunto, querido amigo e amiga, a tomemos por lema deste mês; Maior Utilidade, para que possamos crescer, empenhando-nos sempre no aperfeiçoamento das oportunidades surgidas.”

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de fevereiro/1916 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Consciente ou inconscientemente estamos construindo um novo Corpo: para que, para quando e por quê?

A parte do Corpo Vital formada pelos dois Éteres superiores, o Éter Luminoso e o Éter Refletor, é a que podemos chamar de Corpo-Alma; quer dizer, ela é a que está mais intimamente ligada ao Corpo de Desejos e a Mente e, também, a mais receptiva ao toque do Espírito do que se acha a parte formada pelos dois Éteres inferiores.

O Corpo-Alma é o veículo do intelecto, e responsável por tudo que faz do indivíduo, um ser humano.

Nossas observações, nossas aspirações, nosso caráter, etc., são devidos ao trabalho do Espírito nesses dois Éteres superiores, que se tornam mais ou menos luminosos de acordo com a natureza de nosso caráter e hábitos.

Outrossim, do mesmo modo que o Corpo Denso assimila partículas de alimento e assim adquire carne, os dois Éteres superiores assimilam nosso bem agir durante a vida e assim também crescem em volume.

De acordo com nossos feitos nessa vida atual, aumentamos ou diminuímos desse modo à bagagem que trouxemos ao nascer.

Se nascermos com um bom caráter, expresso nesses dois Éteres superiores, não nos será fácil mudá-lo porque o Corpo Vital tornou-se muito, muito firme durante as miríades de anos em que o desenvolvemos.

Por outro lado, se fomos frouxos, negligentes e indulgentes em relação aos hábitos que consideramos maus, se formamos um mau caráter em vidas anteriores, aí vai ser difícil superá-los porque isso estabeleceu a natureza do Corpo Vital, e anos de constante esforço serão precisos para mudar sua estrutura.

É por isso que os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental afirmam que todo desenvolvimento místico tem início no Corpo Vital.

Cada vez que prestamos serviço a alguém nós aumentamos o brilho de nosso Corpo-Alma.

É o Éter de Cristo que atualmente movimenta o nosso globo, e é bom lembrar que se desejamos um dia trabalhar pela Sua libertação, precisamos que um número suficiente desenvolva seus Corpos-Alma ao ponto em que eles possam fazer a Terra flutuar. Então, poderemos carregar Seu fardo e libertá-Lo da dor da existência física.

A Parábola do Banquete Nupcial é muito bem aplicada nesse contexto:

O Reino dos Céus é semelhante a um rei que celebrou as núpcias do seu filho. Enviou seus servos para chamar os convidados para as núpcias, mas estes não quiseram vir. Tornou a enviar outros servos, recomendando: ‘Dizei aos convidados: eis que preparei meu banquete, meus touros e cevados já foram degolados e tudo está pronto. Vinde às núpcias’. Eles, porém, sem darem a menor atenção, foram-se, um para o seu campo, outro para o seu negócio, e os restantes, agarrando os servos, os maltrataram e os mataram. Diante disso, o rei ficou com muita raiva e, mandando as suas tropas, destruiu aqueles homicidas e incendiou a cidade. Em seguida, disse aos servos: ‘As núpcias estão prontas, mas os convidados não eram dignos. Ide, pois, às encruzilhadas e convidai para as núpcias todos os que encontrardes’. E esses servos, saindo pelos caminhos, reuniram todos os que encontraram, maus e bons, de modo que a sala nupcial ficou cheia de convivas. Quando o rei entrou para examinar os convivas, viu ali um homem sem a veste nupcial e disse-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui sem a veste nupcial?’ Ele, porém, ficou calado. Então disse o rei aos que serviam: ‘Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o fora, nas trevas exteriores. Ali haverá choro e ranger de dentes’. Com efeito, muitos são chamados, mas poucos escolhidos”. (Mt 22:2-14 Lc 14:20-24)

Que as Rosas floresçam em vossa cruz

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