A Arte — Expressão Criadora do Ser Humano

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Arte — Expressão Criadora do Ser Humano

Que é o ser humano mortal para que te lembres dele? E o filho do ser humano para que o visites? Contudo, pouco menor o fizeste do que os Anjos, e de glória e de honra o coroaste.” (Sl 8:4)

A arte, conforme permite sua habilidade, segue a natureza como um aluno segue o seu Mestre. De modo que a arte deve ser, por assim dizer, algo que deriva de Deus.[1] (Dante)

Todas as atividades do ser humano podem ser divididas em três categorias, a saber: Ciência, Religião e Arte. A mais alta consecução do ser humano é conseguir florescê-las. Na escala da evolução o ser humano está situado entre a Onda de Vida dos Anjos e a Onda de Vida dos animais. Deus fez o ser humano “um pouco menor que os Anjos” e lhe concedeu o domínio sobre o Reino animal. Considerando a existência desses três fatores, Ciência, Religião e Arte, podemos compreender a diferença principal existente entre o ser humano e o animal. Nem a Ciência nem a Arte são necessárias para os animais, na presente fase do desenvolvimento deles.

No presente, a Ciência, com suas descobertas, assumiu posição destacada. A Religião também está despertando. Porém, aqui desejamos considerar as Artes. Não nos é possível traçar linhas claras de demarcação ao classificar as atividades do ser humano dessa maneira, porque a Ciência ajuda a compreender a Arte. E a Arte segue de mãos dadas com a Religião, quando trata de revelar a divindade do nosso ser. Max Heindel chama a Ciência, a Arte e a Religião de “uma trindade na unidade”. Sabemos que a separação em classificações diferentes é temporária. Num estado posterior do nosso desenvolvimento, as três tornarão a ser “um”

A verdadeira Religião inclui tanto a Arte como a Ciência, pois ensina uma vida formosa em harmonia com as leis da natureza.

A verdadeira Ciência é artística e religiosa no sentido mais amplo, porque nos ensina a reverenciar as leis que governam nosso bem-estar e a nos conformar com essas leis, explicando, além disso, por que a vida religiosa conduz à saúde e à beleza.

A verdadeira Arte é tão educacional como a Ciência e tão edificante como a Religião. Na arquitetura temos uma sublime apresentação de linhas cósmicas de força no universo.

Para muitos a vida sem a Arte verdadeira seria intolerável, porque a imaginação do ser humano requer alimento assim como o corpo necessita de nutrição. E é “imaginando” que se nutrem as almas. Existem três elementos necessários, quando se considera a Arte real: a música, a pintura, a poesia e a arquitetura. Esses três elementos indispensáveis são: emoção, expressão e ritmo.

A Arte pode ter por objeto a apresentação da forma exterior ou pode mostrar o espírito interno de um objeto; porém sempre é possuída por um crescente impulso emocional.

Para o artista dedicado é possível interpretar as realidades profundamente ocultas da natureza interna do ser humano. Essa revelação do espírito do ser humano é a sua mais elevada missão. Cada época produz escultores, pintores e músicos capazes de produzir verdades criadoras ao contemplar as obras de Deus. Porém, sempre essas criações contêm a concepção própria e individual do ser humano e a sua própria interpretação, posto que conservam sua “maneira de refletir a natureza”. Essa concepção individual do universo de Deus é o que promove as diferenças existentes no mundo da arte criadora. Sem dúvida, há somente uns poucos em cada época que podem pretender expressar uma originalidade verdadeira. Em geral o artista copia e recopia, sem ser capaz de revelar sua própria concepção individual do tema ou objeto.

Quando um artista se torna verdadeiramente criador, é capaz de influenciar a vida de uma nação inteira. O rumo que um povo segue delineia-se, em primeiro lugar, no trabalho e na expressão daqueles que têm sentimentos fortes, internos, e que são sensíveis aos impulsos ocultos do ser humano. Eles devem refletir as impressões que são capazes de receber para que os demais também se beneficiem delas.

O domínio de qualquer Arte requer disciplina. E isso significa que o aspirante tem que aprender a dominar a forma, seja essa de linguagem, cor, tom, etc. Unicamente por meio da meditação e da concentração intensa é que se conquista a habilidade em uma Arte. Por conseguinte, é compreensível que em algumas Escolas de Mistérios da Grécia, o Mestre-Artista fosse admitido ao Templo sem que executasse os exercícios preliminares. A faculdade de dominar uma arte-forma era considerada suficiente para entrar diretamente nos mais internos ensinamentos.

A história se converte em uma realidade para nós através da Arte. Os arquitetos e escultores do Egito, Assíria, Grécia e Roma deram-nos uma demonstração gráfica da civilização desses países. Temos acesso aos restos sublimes das figuras de barro e mármore. Sem podermos examinar o que há nos muros e pirâmides nas margens do Nilo e sem o nosso presente conhecimento dos edifícios e estátuas da Grécia e de Roma nossas ideias sobre a vida desses povos seriam, em verdade, confusas e irreais.

A arte do ser humano dá testemunho do seu ser interno. Nada indicará o rumo dos tempos tão precocemente como a música, a pintura, a arquitetura ou a poesia de um povo. Até parece que o artista criador pressente as sombras arrojadas pelos acontecimentos futuros. Os anseios e temores, as elevadas aspirações, assim como os sentimentos de incerteza de um povo podem ser percebidos nas obras daqueles que dedicam suas vidas à expressão de suas próprias capacidades criativas. O artista mesmo, com poucas exceções, em geral não é consciente de que suas criações são uma parte necessária e valiosa do desenvolvimento de toda a humanidade. Vive e trabalha à ordem da sua fantasia. Está satisfeito enquanto pode seguir o impulso interno que o conduz à expressão.

Quando observamos o rumo ou tendência da arquitetura moderna, da pintura e da música moderna, das diferentes nações do nosso globo terrestre, ficaremos impressionados com a similaridade dessas tendências. Nós nos veremos obrigados a admitir que universalmente o harmônico e o grotesco se revelam a si mesmos. De um modo geral podemos dizer que todas essas tendências têm muito em comum. A Arte mais moderna demonstra que as fontes profundas, ocultas, estão perturbadas e que as imagens do bom, do verdadeiro e do belo não são claramente concebidas e transmitidas.

Temos que chegar à conclusão de que, no esforço de um ser humano para criar algo e sensacional, ele exibe sua própria imagem interna, estranha e pessoal, em vez de usar as verdades espirituais que estão à sua disposição, em seus esforços de criação.

Em nossas próprias atividades devemos ser capazes de seguir as tendências originais, próprias, sempre que isso seja possível. Em nossos jardins, na ordem das nossas casas, ao servir nossas refeições ou até na seleção dos nossos quadros, nas cores das nossas roupas; em todas essas coisas devemos seguir nosso gosto individual. Existem bons livros sobre a apreciação da Arte. Devemos dedicar tempo e meditação a estudá-los.

Ao tecer os fios confusos das nossas vidas temos não somente a Lei de Causa e Efeito à nossa disposição, mas podemos sempre, dentro de certos limites, usar a Epigênese para realizar alguma obra original, alguma expressão singular. A possibilidade de originalidade é a espinha dorsal da evolução do ser humano.

Nos Ensinamentos Rosacruzes aprendemos que existe uma força dentro do ser humano em evolução que é o que torna possível o desenvolvimento. Essa força subministra algum campo para nossa capacidade criadora.

Como o expressa tão bem o poeta: “O problema maior de toda arte é produzir, por meio das aparências, a ilusão de uma realidade mais sublime” (Goethe).

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – março/1974 – Fraternidade Rosacruz – SP)


[1] N.T.: Inferno: notas Canto XIV – da obra A Divina Comédia de Dante Alighieri

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