Uma recente visitante de Mount Ecclesia assistiu, pela primeira vez, a oficiação do Ritual de Serviço Devocional do Templo, na Pro-Ecclesia, também chamada de “Capela”. Ela ficou muito impressionada com a legenda na parede: “DEUS É LUZ” e, também com o tempo dedicado à “Concentração sobre o Serviço”, que é dedicado após à leitura do texto do Ritual e antes de começarmos a parte final com a Oração Rosacruz. Ela observou que a luz enchia literalmente a Capela e que esse sentimento de “estar” na luz a acompanhou por muito tempo.
E não é verdade? Essa “é” uma “capela de luz”. É reverenciada ao longo dos anos pela prece, pelo amor, pelos pensamentos focados na cura, paz, adoração e os anseios e as lutas daqueles que prestaram ao ofício do Ritual. Na verdade, o lugar em que oficiamos os Rituais é um local “sagrado”, e é a esse local que vimos “procurar a luz”.
Max Heindel menciona no livro Coletâneas de um Místico – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz que “o inspirado Apóstolo São João quando ele escreveu: ‘Deus é Luz’[1]”. E Max Heindel continua dizendo: “Qualquer um que use essa passagem como assunto de Meditação encontrará, seguramente, uma maravilhosa recompensa à sua espera, pois não importa quantas vezes tomemos esse assunto, nosso próprio desenvolvimento, conforme os anos passam, nos assegura uma compreensão cada vez mais completa e melhor. Cada vez que mergulhamos nessas três palavras, sentimo-nos banhados por uma fonte espiritual de inesgotável profundidade e, a cada vez, sondamos mais minuciosamente as profundezas divinas e nos aproximamos mais do nosso Pai celestial”.
Quando começamos a estudar este assunto, surge naturalmente a pergunta: “De onde vem a luz?”. No primeiro capítulo do Livro do Gênesis dizem-nos que: “O Espírito de Deus movia-se sobre as águas”[2]. E Deus disse: “Faça-se a luz”[3], e fez-se a luz. E Deus viu a luz, e viu que era boa; e Deus separou a luz da escuridão. E Deus chamou à luz dia, e à escuridão noite… Assim, Deus criou o “homem à sua própria imagem”[4]; à imagem de Deus o criou a ele.
Aprendemos pelos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental que a luz passou a “existir” no segundo Período, o Período Solar, do nosso setenário Esquema de Evolução, quando a nebulosa, que continha o nosso Sol e os Planetas, havia alcançado um estado de incandescência. Esse Período, o Solar, vem descrito no terceiro versículo do primeiro capítulo do Livro do Gênesis: “Faça-se a luz”[5].
Mas ainda não éramos um Ego totalmente individualizado e para saber quando nós, como Ego, pela primeira vez tivemos contato com a luz, aprendemos na Fraternidade Rosacruz: “A primeira vez que nossa consciência se dirigiu para a Luz, foi logo após sermos dotados da Mente. Quando entramos definitivamente em nossa evolução como seres humanos na Atlântida – a terra da névoa – nas profundezas das bacias de nosso planeta, a neblina quente, emitida da terra que se resfriava, pairava como um denso nevoeiro sobre a Terra. Nessa época, as estrelas nas grandes alturas do universo nunca eram vistas, e nem a luz prateada da Lua podia penetrar a atmosfera densa e nebulosa que pairava sobre aquela antiga Terra. Mesmo o esplendor ígneo do Sol estava quase totalmente extinto, e quando estudamos a Memória da Natureza daquela época, vemos que ele se assemelhava a um lampião colocado num poste num dia enevoado. Era bastante obscuro e tinha uma aura de variadas cores, muito similar àquelas observadas ao redor de um arco de luz.
Mas, essa luz tinha um fascínio. Os antigos Atlantes foram instruídos pelas Hierarquias Divinas, que os acompanhavam, que aspirassem a luz e, como a visão espiritual já estava, então, em declínio (até mesmo os mensageiros, ou Elohim, eram percebidos com dificuldade pela maioria) eles aspiravam cada vez mais ardentemente à nova luz, pois temiam as trevas das quais se tornaram conscientes por meio da dádiva da Mente.
Então, ocorreu o inevitável dilúvio, quando a neblina esfriou e se condensou. A atmosfera clareou e o “povo escolhido” foi salvo. Aqueles que trabalharam internamente e aprenderam a construir os órgãos necessários para respirar numa atmosfera semelhante à atual, sobreviveram e vieram para a luz. Não foi uma escolha arbitrária; o trabalho do passado consistiu na construção do corpo. Aqueles que só possuíam fendas parecidas com brânquias, tal como o embrião humano que ainda as tem em seu desenvolvimento pré-natal[6], não estavam preparados fisiologicamente para entrar na nova Era[7], como não estaria o embrião humano se nascesse antes de construir os pulmões. O embrião humano morreria como morreram aqueles povos antigos quando a atmosfera rarefeita tornou inúteis as fendas parecidas com brânquias.
Desde o dia que saímos da antiga Atlântida, nossos corpos estão praticamente completos, isto é, não tivemos o acréscimo de novos veículos; mas, desde aqueles tempos e de agora em diante, os que desejam seguir a luz precisam se esforçar para obter o crescimento anímico. Os corpos que cristalizamos ao nosso redor precisam ser dissolvidos, e a quintessência da experiência extraída, que como “alma” pode ser amalgamada com o Espírito, para fomentá-lo da impotência à onipotência. Por isso, o Tabernáculo no Deserto foi proporcionado aos antigos e a luz de Deus desceu sobre o Altar dos Sacrifícios. Isso tem uma grande significância: o Ego tinha acabado de descer para dentro do seu tabernáculo, o corpo. Todos nós conhecemos a tendência do instinto primitivo para o egoísmo e, se tivéssemos estudado as éticas superiores, saberíamos quão subversiva do bem é a indulgência às tendências egoístas; portanto, Deus imediatamente colocou ante a Humanidade, a Luz Divina sobre o Altar dos Sacrifícios.”[8].
Isso foi de grande significação, pois indicou que o Ego havia descido até seu próprio Tabernáculo, o Corpo Denso.
Talvez nesta altura seja bom recordar que o século anterior ao nascimento de Jesus viu o mundo civilizado mergulhado numa orgia de imoralidade, traição e maldade. Roma, o maior poder desse tempo, era o centro do deboche e perversa intriga. Roma havia conquistado a Palestina no ano 63 A.C. Na década seguinte veio a rápida ascensão de Júlio César ao poder. A depravação e corrupção da corte e do governo eram disfarçadas sob a mais magnífica ostentação de fausto e opulência que o mundo jamais havia visto. Nesse tempo Herodes foi nomeado governador da Galileia e de Jerusalém. Foi sucedido pelo seu filho, que continuou a sua perseguição ao povo e exterminou todas as coisas virtuosas e puras. A evolução humana havia quase chegado a um ponto morto. A vida espiritual do mundo estava em decadência. Foi esse reinado de perversidade que precedeu a vinda de Cristo.
Por conseguinte, o advento do Cristo assinala o mais importante acontecimento da evolução humana. A sua significação e seu objetivo formam o enigma dos Mistérios Cristãos, porque esta encarnação de um Raio do Cristo Cósmico na Terra tornou possível a nós avançarmos na senda espiritual. O Corpo de Desejos da Terra foi purificado, e o Princípio de Cristo, que se encontra dentro de cada um de nós, foi consequentemente levado a se expandir.
O Cristo Cósmico é representado, no Evangelho Segundo S. João, pela Palavra, o Verbo, sem o qual nada do que foi feito se fez[9]. É esse segundo Princípio do Deus Trino e Uno do nosso Sistema Solar. E uma vez que fomos feitos à imagem do nosso Criador, também somos Trinos e Unos e temos latente o Poder de Cristo dentro de nós. Nós somos todos Cristos em essência, e só podemos cumprir o nosso elevado destino mediante os novos ensinamentos de Cristo: o Evangelho do Amor.
Buscando a luz na Escola dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental sabemos que Amor e Serviço, como foi exemplificado por Cristo Jesus, devem ser o nosso lema. Amando e servindo amorosa e desinteressadamente (portanto, o mais anônimo possível) o irmão e a irmã – focando na divina essência oculta que existe em cada um de nós, e que é a base da Fraternidade – atraímos a nós os dois mais elevados Éteres que formam o Corpo-Alma[10], o radioso traje de luz usado por toda pessoa Cristã verdadeiramente espiritualizada.
Aprendemos algo sobre o que o poder da luz espiritual e do amor Crístico podem nas nossas vidas. Alguns acariciaram vislumbres dessa luz, lampejos momentâneos de qualquer coisa dentro de si, deixando um brilho na sua consciência. Uma vez que somos abençoados com tal sensação, sabemos que temos tocado as orlas exteriores de algo que não é físico, emocional ou mesmo mental, mas sim qualquer coisa profunda, real e verdadeiramente espiritual. Experimentamos um sentimento nascente de companhia, talvez a razão pela qual algumas pessoas nunca se sentem sós, nunca necessitam de prazeres exteriores para se sentirem felizes.
Que devemos fazer para que a luz se manifeste através de nós em toda a sua glória? Amar e servir (por meio do amor Crístico e do serviço amoroso e desinteressado (portanto, o mais anônimo possível) ao irmão e a irmã – focando na divina essência oculta que existe em cada um de nós, e que é a base da Fraternidade, respectivamente), sim – após haver erradicado da nossa Mente todos os pensamentos de raiva, ódio, egoísmo, cólera, inveja, ciúmes, preguiça, desgraça, medo, temor e afins. Se usarmos nossa força de vontade para fazer isso repetidas vezes, uma modificação alquímica se realizará gradualmente. Certos átomos do nosso Corpo Denso se transmutam, de forma a podermos ser sensíveis às vibrações mais elevadas de abnegação, paciência, tolerância e amor. Morremos para a antiga vida, porque estamos “caminhando na luz”.
(Traduzido da Revista Rays from the Rose Cross e Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – dezembro/1976-Fraternidade Rosacruz-SP)
[1] N.T.: IJo 1:5
[2] N.T.: Gn 1:2
[3] N.T.: Gn 1:3
[4] N.T. Gn1:26
[5] N.T.: Gn 1:3
[6] N.T.: são fendas e arcos nos seus pescoços que são idênticos as fendas e arcos branquiais dos peixes atuais.
[7] N.T.: se refere à Era de Áries.
[8] N.T.: do capítulo XII – Um Sacrifício Vivente do livro: Coletâneas de um Místico – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz
[9] N.T.: Jo 1:3
[10] N.T.: O Éter Luminoso (ou de Luz) e o Éter Refletor.
A diretriz básica de todo Centro Rosacruz ou Grupo de Estudo Rosacruz da Fraternidade Rosacruz é: “Os nossos serviços se destinam a DAR e não a receber: a ajudar os outros através do poder espiritual. É claro que quem dá dessa maneira, também recebe. No entanto, a ideia principal deverá sempre ser a de servir, ao nível espiritual. Este é o princípio básico do Trabalho da Fraternidade Rosacruz e constitui uma das razões mais importantes para participarmos desses serviços, tanto nos Centros Rosacruzes como Grupos de Estudo Rosacruz.”
“Servir amorosa e desinteressadamente (portanto, o mais anônimo possível), focando na divina essência oculta em cada um de nós – que é a base da Fraternidade –, ao nosso irmão e a nossa irmã que estão do nosso lado é o desejo mais premente e elevado que se apresenta à consciência de um Estudante Rosacruz ativo e sincero, quando participa de um serviço ou medita a sós. A Luz e o Poder Espirituais irradiados de Mount Ecclesia e dos Centros Rosacruzes refletem a aspiração e as preces (que é uma concentração imbuída da força do amor) de todos os colaboradores nesses trabalhos.”.
Do acima exposto depreende-se que o grande objetivo da Escola – sim uma Escola e não uma Religião! – Fraternidade Rosacruz é ajudar a Humanidade em seus passos nesse Esquema de Evolução. O método de desenvolvimento preconizado pelos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz conduz o Aspirante à vida superior, com toda segurança e à realização espiritual, ao reconhecimento e a vivência de sua própria divindade.
Sendo assim, somente aqueles homens e mulheres predispostos internamente a dar e não a receber, sintonizam-se harmoniosamente com a corrente espiritual da Fraternidade Rosacruz. Sabemos quão difícil é proceder dessa maneira, ainda mais na época em que vivemos. Entretanto, só há essa via de acesso ao portal da Iniciação na Ordem Rosacruz.
“Muitos são os chamados, mas poucos dos escolhidos.” (Mt 22:14). Estas palavras de Cristo servem também “como uma luva” para os Estudantes Rosacruzes. Muitas pessoas, representando todas as camadas sociais e culturais da sociedade, já tiveram algum contato com os Ensinamentos Rosacruzes, tais como preconizados pela Fraternidade Rosacruz; alguns até se inscrevendo no Curso Preliminar de Filosofia Rosacruz, o primeiro nível como Estudante Preliminar no trilhar do Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz. Nesse sentido, vira e mexe surgem algumas perguntas bem curiosas: Por que alguns nem sequer chegam a quinta lição desse facílimo Curso? Outros, por que desistem, estando já bem adiantados no Curso Suplementar de Filosofia Rosacruz?
Isso intriga muita gente. Contudo, é possível encontrar uma ou várias das razões pelas quais isso ocorre. Se uma pessoa ingressa na Escola Fraternidade Rosacruz com intuito exclusivo de resolver seus problemas, ou seja, de receber apenas, por certo, com o passar do tempo deverá revisar sua atitude, passando também a dar. Se tal não ocorrer, encontrará dificuldades em prosseguir, porque não está devidamente harmonizado com a dinâmica da Grande Obra da Fraternidade Rosacruz. O próprio Aspirante à vida superior acabará por se excluir da Escola Fraternidade Rosacruz.
É certo que todos, ou quase todos, trazem suas cargas de problemas, carências ou limitações. São frutos de erros passados. Mas sempre é tempo de corrigir antigos desvios, de iniciar uma reforma interior.
Também é certo que essas dificuldades absorvem grande parte do tempo e dos esforços do Estudante Rosacruz, sendo justo procurar resolvê-las. Tenhamos sempre conosco, entretanto, que a realização espiritual implica, primeiramente, no sacrifício de interesses pessoais no Altar do Serviço. É condição sine qua non, pois é necessário grande desprendimento para trabalhar em prol de um ideal superior.
É conveniente esclarecer: essa atitude de abnegação não significa o abandono das obrigações familiares e profissionais. Pelo contrário, exige maior zelo no cumprimento de todos os deveres (afinal, nós mesmos os escolhemos lá no Terceiro Céu, na nossa última preparação para essa mais uma vida aqui!). Mas, e as horas que sobram, muitas vezes desperdiçadas em entretenimentos e conversas inúteis? Por que não as aproveitar, por escassas que sejam, em servir amorosa e desinteressadamente (portanto, o mais anônimo possível), focando na divina essência oculta em cada um de nós – que é a base da Fraternidade –, ao nosso irmão e a nossa irmã que estão do nosso lado?
Muitas pessoas afirmam não terem condição de ajudar a outrem, porquanto se veem as voltas com problemas insolúveis. Será verdade? Tomamos a liberdade de sugerir a você – se você está nesta condição – o seguinte:
Passado algum tempo você acabará sentindo uma indescritível paz interior, uma satisfação íntima capaz de lhe infundi mais coragem e decisão diante dos desafios. E, ficará surpreso quando notarem que seus problemas, aqueles que o atormentavam e amarguravam, foram solucionados naturalmente!
Todo esforço empregado em benefício do semelhante, será ressarcido ao seu devido tempo pela Lei do Dar e Receber. Todavia, nem cogite em se esforçar na caridade com intuito de retribuição. Se o fizer, automaticamente se excluirá.
A Fraternidade Rosacruz e uma obra de Amor. É uma Associação de Serviço, ao nível espiritual. Ninguém se iluda julgando ser passível atingir a meta apenas pela aquisição de conhecimento. Este é apenas o passo inicial. O Estudante Rosacruz ativo há que se exercitar no amor, pelo serviço amoroso e desinteressado (portanto, o mais anônimo possível), focado na divina essência oculta em cada um de nós – que é a base da Fraternidade –, ao nosso irmão e a nossa irmã que estão do nosso lado. Não há outra via de progresso espiritual pelo Método Rosacruz, como preconizado pela Fraternidade Rosacruz.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – setembro/1979 – Fraternidade Rosacruz em São Paulo – SP)
“O Serviço de Páscoa em Mount Ecclesia foi realizado, como de costume, ao nascer do Sol, ao redor da Cruz colocada na estrela de flores douradas, localizada no centro do gramado circular, em frente ao prédio da biblioteca. Em nenhum momento emitimos convites especiais ou nos esforçamos para ter um número específico de pessoas presentes, mas vale ressaltar que, como de costume em todos os eventos importantes, o número de presentes, multiplicado ou somado, fez o número 9, que é o “Número do Homem” e o número de graus dos mistérios menores para os quais a Fraternidade Rosacruz é uma escola preparatória. Nesta ocasião estiveram presentes 33 pessoas.
Às cinco e meia Max Heindel, como de costume no Serviço de Páscoa, tomou seu lugar ao lado da Cruz e dirigiu-se aos presentes. Ele disse, em parte, o seguinte:
‘Se entrássemos em uma igreja ortodoxa ou assistíssemos aos cultos feitos ao ar livre da manhã de Páscoa, realizados em muitos lugares por todo o país, provavelmente ouviríamos a história da ressurreição de um indivíduo chamado Jesus, que morreu por nossos pecados na Sexta-feira Santa e ressuscitou dos mortos no Domingo de Páscoa. Embora a história da vida de Jesus, conforme registrada nos Evangelhos, seja praticamente verdadeira e nós O amemos e veneremos pelo nobre trabalho que Ele fez e está fazendo pela humanidade, olhamos além: para a importância e o significado esotérico da Páscoa’.
‘Se esta fosse simplesmente uma festa para comemorar a morte de um indivíduo, então seria, à primeira vista, uma tolice fazer dela uma festa móvel; não fixamos a morte de Lincoln pelo Sol, como sabemos que é o caso da Páscoa em relação ao Cristo, como comumente se supõe; pois esse evento é sempre determinado pelas Conjunção do Sol e da Lua no Signo de Áries, o carneiro ou cordeiro. Primeiro, o Sol e a Lua devem chegar a uma Conjunção, que é a Lua Nova; depois a Lua deve seguir seu curso no meio do círculo do Zodíaco até que se torne uma Lua Cheia; então, o primeiro domingo seguinte a esse evento é o Domingo de Páscoa”.
‘Isso mostra claramente que não estamos comemorando a morte de um indivíduo, mas que este é um festival solar. No entanto, não adoramos o Sol, a Lua e as Estrelas. Fazer isso seria idolatria. No entanto, sabemos que o Sol é o veículo físico da Divindade, assim como os Planetas são os veículos dos Sete Espíritos diante do Trono. Portanto, percebemos que o Espírito de Cristo que iluminou o corpo de Jesus e entrou na Terra no Gólgota não completou o sacrifício de uma vez por todas, assim como o Sol, ao brilhar sobre a superfície da Terra apenas uma vez não pode fazer as plantas crescerem para sempre nem envolver a Terra com o seu calor continuamente. Mas a cada ano, quando o Sol desce em direção ao nodo ocidental, no Equinócio de Setembro, o raio vitalizante de Cristo entra na superfície da Terra e permeia nosso globo até o centro, que atinge quando o Sol está em seu ponto mais baixo de declinação e quando falamos do nascimento do Salvador, no Natal’.
‘Então, quando o Sol começa a ascender em direção ao Equinócio de Março, essa grande onda vitalizadora de força dinâmica volta a ascender à periferia da Terra, fertilizando os milhões de sementes adormecidas no solo. Ele impulsiona a seiva nas árvores e as faz brotar, de modo que a floresta se torna um abrigo nupcial para o acasalamento de animais e pássaros. Esta força cósmica de Cristo é libertada da escravidão da Terra na Páscoa, quando ela se esgota, depois de dar sua vida pelo mundo’.
‘Assim, há uma inspiração e uma expiração na natureza e o mundo não poderia existir sem essa impregnação anual pela força cósmica do Cristo, assim como não podemos existir sem respirar continuamente o ar oxigenado em que vivemos. Logo, de fato, o Cristo nos dá anualmente o pão da vida; mas não apenas em sentido físico. Há, além disso, uma efusão espiritual durante os meses de junho, julho, agosto e meados de setembro da qual podemos nos beneficiar muito, se estivermos dispostos a nos sintonizar com suas vibrações. Esse é o verdadeiro pão da vida no sentido mais elevado da palavra e sem ele nossas almas morreriam de fome; daí a nossa grande gratidão ao Cristo pelo seu sacrifício anual’.
Naquele momento, quando a borda superior do Sol se tornou visível apenas sobre as montanhas do Leste, Max Heindel solicitou aos reunidos: ‘Vejam o nascer do Sol’, enquanto agradecia silenciosamente e oferecia orações e louvores.
Quando o Sol nasceu completamente e a região circundante, verde e alegre com uma profusão de flores, estava banhada pelo Sol brilhante, Max Heindel proferiu aos reunidos a antiga Saudação de Páscoa, ‘O Senhor ressuscitou’, para a qual a resposta é: ‘Sim, Ele verdadeiramente ressuscitou’.
Isso concluiu os cultos na Cruz e o grupo se dirigiu à Pro-Ecclesia, onde foi realizado o tradicional culto de domingo de manhã.”
(Relato de Augusta Foss Heindel, publicado na Revista Rays from the Rose Cross de maio/1918 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)
Janeiro de 1913
Faz frio no hemisfério norte – o vento boreal mantém gelados a terra e o mar – mas, em nenhum outro momento do ano o coração do ser humano fica tão acolhedor. “Um Feliz Natal” e “Um Feliz Ano Novo” são as palavras de saudação e as manifestações de boa vontade que mais se ouvem por todos os lados. Para a maioria das pessoas são somente palavras atiradas ao vento, mesmo assim criam uma atmosfera de bondade que é muito mais importante do que normalmente possamos perceber. O mundo seria muito mais harmonioso se esses cordiais votos fossem constantes durante todo o ano, em vez de ficarem restritos a essa época. Mas, “querer não é poder”, diz o provérbio e, a menos que os nossos atos sejam dirigidos para a realização de nossas aspirações, o benefício será nulo. Diz-se que uma certa região do inferno está repleta de boas intenções, como as formulam os “indivíduos bem-intencionados”, mas, o mundo precisa mais de trabalho do que de simples desejos.
O mês passado eu lhes pedi que se unissem a mim em oração para o êxito da Fraternidade Rosacruz na elevação do mundo, e recebi muitas cartas me assegurando que os trabalhadores em Mount Ecclesia contam com as constantes preces dos Estudantes Rosacruzes. Nós conhecemos a força da oração; sem esse apoio amoroso não poderíamos ter suportado o enorme esforço físico e mental correspondente ao nosso extraordinário desenvolvimento. Mas, alguns milhares de colaboradores são como gotas num copo, em comparação aos milhões que estão buscando a luz.
Cristo disse: “Aquele que for o maior dentre vós, seja o servo de todos”[1]. O valor de um ser humano é medido pelos seus serviços à comunidade. A mesma coisa é verdade em uma associação[2]; mas, uma associação sendo um corpo composto, sua eficiência como um todo depende do interesse e do entusiasmo de cada membro, individualmente. Nós todos temos um compromisso para como os Irmãos Maiores pela luz que temos recebido. É nosso dever sagrado fazer com que essa luz brilhe para que outros possam desfrutar do nosso grande privilégio (não negligenciando outros deveres) e, portanto, eu peço a sua ajuda pessoal para elaborar uma campanha sistemática que promulgue, mais intensamente, os Ensinamentos Rosacruzes durante o próximo ano.
No entanto, essa campanha deve ser feita com a máxima discrição. Tomemos cuidado para não perturbar ou alterar as convicções daqueles que estão satisfeitos com o seu modo de pensar, mas se você souber de alguém que está procurando uma solução para o problema do Mistério da Vida, por favor, nos informe o nome dele ou dela e nós lhe enviaremos um material que ajuda no esclarecimento. Seu nome não será mencionado até que sejamos autorizados a fazê-lo.
Nós teremos imenso prazer em fornecer a você folhetos, panfletos e muito material contendo informações sobre a Fraternidade Rosacruz. Dessa forma, você pode gerar interesse no seu círculo de relacionamento e abrir caminho para novas indagações e, então, ter êxito ao levar a luz para aqueles que a procuram, e isso reverterá em benefício eterno. Ajudando nossos irmãos e nossas irmãs a desenvolverem-se, ajudamo-nos igualmente.
Possam o progresso espiritual e o crescimento da alma marcar cada dia do seu Ano Novo.
(Carta nº 26 do Livro “Cartas aos Estudantes” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
[1] N.T.: Mt 23:11
[2] N.T.: como o é a Fraternidade Rosacruz: uma Associação de Cristãos Místicos.
Querido amigo e querida amiga:
Eu, Augusta Foss Heindel, estando no ano oitenta e quatro de minha vida e, tendo em conta que, de acordo com as leis físicas, deverei, a qualquer momento, deixar o plano terreno, estou profundamente interessada e preocupada com o bom andamento desta obra, cuja continuidade nos foi confiada pelo meu esposo, inspirado pelo Mestre. Sinto-me no dever de escrever a cada um pessoalmente sobre assuntos de capital importância, relacionados com os ensinamentos Rosacruzes.
Como você já sabe, em 1898 eu me encontrei pela primeira vez com Max Heindel. Isso se deu em uma conferencia teosófica na cidade de Los Angeles. Atendi solicitação dele, emprestando-lhe e facilitando-lhe livros que o ajudaram muito em sua busca de um maior conhecimento das verdades espirituais. Fui sua companheira infatigável, e todos os dias ele ia à casa de minha mãe para que eu lhe ministrasse aulas de astrologia.
Anelando verdades mais profundas, Max Heindel esteve, em 1907, na Alemanha, onde esperava encontrar a ajuda de um mestre. Desiludido com o que encontrou, decidiu providenciar seu regresso aos Estados Unidos. Enquanto aguardava a partida do navio, recebeu a visita de um ser misterioso, que mais tarde reconheceu como sendo o “Mestre” (da Ordem Rosacruz) oferecendo-lhe conhecimentos de grande elevação.
Tais conhecimentos ser-lhe-iam ministrados sob a condição de não os divulgar a outrem. Deveriam permanecer em segredo. Como Max Heindel desejava compartilhá-los com outros buscadores da verdade, não aceitou a proposta. O “Mestre” se foi deixando-o só.
Novamente deparou com o “Mestre” em seus aposentos. O misterioso ser afirmou tê-lo submetido a uma prova, por sinal, vencida com muita segurança. Se tivesse aceitado à proposta de manter em sigilo aqueles ensinamentos, o Irmão Maior não mais teria voltado. Os Ensinamentos Rosacruzes deveriam ser condensados em um livro (“CONCEITO ROSACRUZ DO COSMOS”) e levados a público antes do encerramento da primeira década do século, isto é, até dezembro de 1909.
O primeiro bosquejo do livro foi feito no Templo, na Europa. Posteriormente, foi ampliado e enriquecido na atmosfera elétrica dos Estados Unidos, para onde Max Heindel voltou na primavera de 1908. O “Conceito” foi novamente revisado no verão de 1908 e completado em setembro do mesmo ano.
Logo em seguida iniciou-se a luta, renhida, diga-se de passagem, para editá-lo. Não se logrou êxito até o final do ano de 1909. Ao findar-se o outono de 1908, Max Heindel proferia conferências em Columbus, Ohio, fundando ali o primeiro Centro da Fraternidade. Dirigiu-se depois a Seattle e em agosto de 1909 organizou o primeiro Centro naquela cidade.
Em 10 de agosto de 1910, Max Heindel e Augusta contraíram matrimônio na cidade de Santa Ana, Califórnia. No dia seguinte ele encetou viagem a diversas cidades como Seattle, Portland e outras, com o intuito de realizar uma série de conferências. Durante essa viagem ele escreveu para a Sra. Augusta: “14 de agosto de 1910… Eu sempre lhe desejei falar sobre a orientação espiritual dos Irmãos Maiores. Devemos agir sempre segundo os ditames do nosso ‘Ser Interno’, até onde seja possível, independentemente dos conselhos dos demais, não importando quanto os admiremos e respeitemos. Somos responsáveis pelos nossos atos, ainda que outros nos induzam a praticá-los. Por isso temos de analisar os conselhos e sugestões recebidos para verificar se coincidem com nossa apreciação do reto e do justo. Uma noite você defendia o justo ainda que isso pudesse custar a sua felicidade. Eu não posso nem lhe contar como senti profundamente quando você me revelou. Esteja sempre firme em defesa da justiça e da retidão tal como as compreende, ainda que contra mim mesmo ou o Mestre quando encontrá-lo, ou contra as leis que você julga emanarem de Deus, porque o justo é o justo, não importa quem diga o contrário. É preferível cometer um erro por iniciativa própria do que por deferência a alguém. Temos de desenvolver a capacidade de manejar nossos veículos, mas, simultaneamente, devemos fazer o mesmo com nossa autoconfiança, guiando-a por meio do conhecimento do Eu Superior”.
“21 de agosto de 1910… O Mestre felicitou-me, dizendo ter esperança de algum dia poder recebê-la no Templo como uma filha e chamou-me de ‘filho’, coisa que não havia feito até então. Ademais eu o notei mais afetuoso do que nunca”.
“setembro de 1910… Senti-me feliz quando o Mestre anunciou esperar algum dia dar-lhe as boas-vindas como filha no Templo. Este é meu grande e sincero desejo: ver o dia em que juntos entraremos para receber a benção dos IRMÃOS”.
“12 de novembro de 1910… Meus amigos disseram às autoridades eclesiásticas que sou um verdadeiro e devoto cristão. Eu não teci comentários a respeito, mas sustento minhas palavras, fazendo referências sobre passagens bíblicas, coisa a que me habituei, ainda que em outras ocasiões eu o faça com maior frequência, porque nossos ensinamentos são cristãos por excelência”.
Algum tempo antes do Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos, Max Heindel regressou a Los Angeles, chegando em casa muito enfermo, pois sofria de uma debilidade cardíaca. Vivíamos em uma pequena moradia em Ocean Park, Califórnia, onde mesmo acamado escreveu sua carta aos Probacionistas. A Sra. Heindel imprimiu-a em uma antiga impressora manual, remetendo-a em envelopes personalizados. Isso aconteceu em dezembro de 1910. A elaboração das cartas aos Probacionistas prosseguiu à custa de ingentes esforços, ao longo dos doze meses subsequentes. Naquela época a Fraternidade foi denominada “ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE CRISTÃOS MÍSTICOS”, estabelecendo-se o lema: “UMA MENTE PURA, UM CORAÇÃO NOBRE E UM CORPO SÃO”.
Muitas vezes, tanto verbalmente como por escrito, Max Heindel referia-se a Sra. Augusta como “sua querida companheira na obra”. Consideravam-se insignificantes demais para executar uma tarefa de tamanha envergadura como a de difundir a Filosofia Rosacruz: “Nós temos orado muito, pedindo ajuda, contudo, quando olhamos para trás, constatamos quão benéficas tem sido as lições aprendidas em meio às lutas”.
“O que o ser humano aprende isso ele pode fazer. Eu e Augusta temos obtido conhecimento à custa de muito esforço. E outros que também estão trabalhando amorosa e tenazmente pelos mesmos ideais, ajudando e tratando de elevar a humanidade, também encontram uma ILUMINAÇÃO inaccessível àqueles que buscam somente vantagens materiais.”
Em 1911, Max Heindel e Augusta Foss Heindel adquiriram a área onde hoje encontra-se instalada a Sede Mundial e que ela chamava de “Mount Ecclesia”. Augusta vendeu propriedades e valores recebidos por herança e prazerosamente aplicou-os na ereção dos prédios de Mount Ecclesia.
Em janeiro de 1913, foram elaborados os estatutos conforme a lei, constituindo-se legalmente um órgão depositário das propriedades e administrador de Mount Ecclesia. Os estatutos foram registrados pelo Sr. e Sra. Heindel, os únicos conectados com a Fraternidade, e outros três desconhecidos, amigos do advogado contratado para tal fim.
Do livro “ENSINAMENTOS DE UM INICIADO”, no capítulo intitulado “Nosso Trabalho no Mundo”, extraímos o seguinte: “Quando adentramos ao Templo, bom espaço de tempo foi empregado em uma entrevista com meu Instrutor e nela foi delineado o trabalho da Fraternidade, tal como os Irmãos queriam que se levasse a cabo. A característica principal da ação era a de evitar até onde fosse possível uma organização excessivamente formal ou ao menos torná-la mais aberta, porque segundo as palavras de meu interlocutor, por boas que sejam as intenções, enquanto se institua cargos e consequente poder capaz de despertar a vaidade humana, a tentação surge muito atrativa para a maioria, anulando o nobre objetivo de fomentar a individualidade e autoconfiança a serviço de ideais superiores. As leis e regulamentos implicam limitações e por essa razão devem ser instituídas o menos que se puder. O Mestre ainda julgava possível permanecer a Fraternidade livre de toda a regulamentação,
Depois de 6 de janeiro de 1919, quando Max Heindel passou para o além, a Sra. Heindel, com o auxílio de alguns poucos e leais Probacionistas, continuou a dirigir todas as atividades esotéricas da Fraternidade Rosacruz sob a denominação de THE ROSICRUCIAN FELLOWSHIP, estabelecida por seu fundador em 1908.
Desafortunadamente, em 1943, alguns Probacionistas mal orientados, débeis ante a tentação do poder pessoal, fizeram menção de dominar e tomar em suas mãos os trabalhos esotéricos da Fraternidade, reivindicando todo o patrimônio em nome de sua organização temporal.
Os acontecimentos tomaram tal rumo a ponto de obrigar a Sra. Heindel, apoiada por um grupo de leais Probacionistas, a estruturar a entidade sob a égide das leis que protegem as igrejas e organizações religiosas no Estado da Califórnia. Isso tanto para assegurar o direito de todos como membros, como para usar as propriedades no serviço esotérico. Estabeleceu-se, então, uma forma democrática de governo eclesiástico.
Em nossa revista “ECOS” de 10 de outubro de 1913, destacamos o seguinte trecho da mensagem de M. Heindel: “Por nada, o Sr. e a Sra. Heindel devem ser colocados em um pedestal, pois não lhes compete tal lugar e nem alimentam pretensões dessa natureza. Todos têm a mesma oportunidade de servir e o serviço é o único caminho conducente à elevação. Não importa quão eficientes sejamos em servir, se nos vangloriamos de nossas obras, o único galardão será nossa efêmera glória pessoal. Não devemos reconhecer outra direção que a de Cristo, nem sequer a direção dos Irmãos Maiores, porque eles não determinam, mas aconselham como amigos. Devemos trabalhar incansavelmente para remover os blocos de pedra, obstrutores do caminho da humanidade. Isso pode ser feito da melhor maneira, seguindo a obra iniciada pelos Irmãos Maiores”.
No livro “ENSINAMENTOS DE UM INICIADO” lemos: “… e a Sra. Heindel está comigo nisto, como nos demais trabalhos”.
Na lição de julho de 1912, destacamos o seguinte trecho: “… mesmo com as facilidades atuais, não podemos fazer muito mais do que estamos fazendo no serviço de Cura. Eu e a Sra. Heindel temos somente quatro mãos e essas já se encontram ocupadíssimas. Uma poderosa plêiade de ajudantes espirituais nos fornece cobertura, todavia, somos o foco através do qual se dá o contato físico, e a verdadeira ajuda física constitui necessidade premente ao prosseguimento da obra”.
O futuro desta obra está em sua própria maneira de manter-se firme. E, somente pelos seus esforços e sacrifícios pessoais você poderá colaborar na consolidação da “ASSOCIAÇÃO DE CRISTÃOS MÍSTICOS”, a verdadeira Fraternidade Rosacruz. A força tremenda assim gerada levará nossos ensinamentos ao mundo inteiro.
Meu querido amigo e minha querida amiga: Agora você entenderá por que eu, sobrecarregada com tanta responsabilidade, necessito de assegurar-me por meio desta mensagem que depois de minha passagem, está grande obra cumprirá o destino previsto pelo Mestre, o Irmão Maior e Max Heindel.
Ponderei e concluí que a continuidade e a segurança de todas as atividades esotéricas devem ser confiadas somente aos Probacionistas e Discípulos que, eleitos pela Assembleia, possam efetuar o trabalho essencial na Sede Mundial e nos Centros localizados nas diferentes partes do mundo.
Para colaborar de acordo com sua eleição sob um sistema democrático, conduzindo o trabalho desta Sede, objetivando a divulgação desta Filosofia como tem sido feito até agora, tenho que designar desde este momento a Jorge Schwenk, Srta. Joyce Junsfor, Sra. Helena de Cash, Sr. Frank Bowman e o magistrado James R. Armstrong. Desejo que você continue a trabalhar leal e desinteressadamente com nossos representantes eleitos, os quais, ajudados por Deus, continuarão o trabalho da Fraternidade Rosacruz.
Desejo ansiosamente que todos os Estudantes Rosacruzes continuem seus estudos esotéricos e devocionais sob a orientação dos acima mencionados representantes, dos Probacionistas e que esses mesmos Estudantes possam, no devido tempo, tomar parte no trabalho e responsabilidade de difundir os Ensinamentos Rosacruzes.
AUGUSTA FOSS HEINDEL
Oceanside, 23 de janeiro de 1948
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de janeiro/1972-Fraternidade Rosacruz-SP)
Estava um lindo dia e às onze horas todos nós nos reunimos em frente ao novo refeitório prontos para içar a bandeira da Fraternidade Rosacruz; Max Heindel então tomou a palavra:
“Embora numericamente sejamos poucos, os olhos que estão sobre este lugar nesta manhã são muitos e um evento que marcará época está prestes a acontecer. Seiscentos anos antes do início da era Cristã, uma onda de esforço espiritual foi iniciada nas costas orientais da Ásia; o Confucionismo começou então a lançar sua luz sobre os problemas das pessoas que viviam lá naquela época. Tornou-se para elas um trampolim para maiores realizações, pois era adequado àquela raça e de lá, em outra forma, foi para o oeste através do Índia e da Pérsia, até a Galileia, onde assumiu a atual roupagem da Religião Cristã e, como tal, foi promulgada em todo o mundo ocidental.”
“Mas, sempre houve um lado oculto em todas as Religiões: ‘leite para os bebês e carne para os fortes’ sempre foi a regra em todos os lugares, tanto nos tempos antigos como nos modernos, e os símbolos místicos que deram esse ensinamento mais profundo moveram-se junto à onda em seu caminho para o oeste. Seiscentos anos atrás, o avançado posto de mistérios ocidentais foi fixado na Alemanha e a Ordem Rosacruz começou a ensinar os poucos que estavam, então, prontos. Hoje, aquele posto quase completou seu trabalho, tanto quanto é possível naquele lugar. Está agora enviando outro posto avançado para as costas do Oceano Pacífico; aqui, na extremidade ocidental do nosso continente, a Fraternidade Rosacruz foi estabelecida como um centro Esotérico para preparar o caminho para a Ordem Rosacruz e algum dia, nós não sabemos quando, mas provavelmente na época em que o Sol entrar em Aquário, a própria Fraternidade Rosacruz surgirá e estará localizada em algum lugar nesta vizinhança.”
“Esta, então, é a última mudança nos continentes atuais e quaisquer futuros movimentos espirituais que possam surgir terão seu início em um novo ciclo em outros continentes, a ser elevado ao oeste e ao sul desta localização; portanto, estamos agora no final de um ciclo e no início de um novo. Estamos prestes a hastear a bandeira da Fraternidade Rosacruz, que é o símbolo espiritual mais elevado da Terra: a bela cruz branca com suas rosas vermelhas, a sua estrela dourada e um fundo azul-celeste. As cores primárias, em sua relação única e significando o Pai, o Filho e o Espírito Santo, flutuarão sobre este lugar doravante até que a sua missão esteja cumprida, possibilitando a criação de veículos mais elevados. Queira Deus que uma multidão possa se unirem torno desta bandeira para guerrear contra a natureza inferior, para exaltar a vida superior, para trazer luz e cura ao mundo que agora geme de dor e sofrimento.”
A bandeira foi então hasteada e o Max Heindel continuou:
“Mas, enquanto tivermos fé, no devido tempo as trevas, a tristeza e o sofrimento cessarão e o glorioso Milênio, o Reino de Cristo mencionado na Bíblia, vai se tornar uma realidade; a ‘fé sem obras é morta’ e cabe a todos os verdadeiros construtores de Templos fazer o seu trabalho para que possamos tornar realidade esses ideais que esperamos. Portanto, nos reunimos hoje com o importante propósito de colocar a pedra fundamental, o primeiro bloco de concreto para o último Templo material a ser erguido no continente agora habitado por seres humanos. Notem, eu digo ‘o último Templo material’, pois é necessário para a nossa presente condição subdesenvolvida ter o edifício de concreto, antes de podermos construir sobre ele o verdadeiro Templo feito de corações humanos, do qual já falamos tantas vezes.”
“Em algum momento, como foi afirmado anteriormente, numa data futura, provavelmente quando o Sol entrar em Aquário, a Ordem Rosacruz se manifestará em toda a sua plenitude. Seus membros também construirão um Templo aqui, um Templo de potência muito maior do que jamais poderemos esperar para o nosso Templo ‘de concreto’; e nele será continuado o trabalho agora realizado no Templo da Ordem Rosacruz que hoje se encontra na Região Etérica do Mundo Físico, na posição referencial onde hoje está a Alemanha; talvez esse Templo possa inclusive ser transferido de lá. O autor não sabe ao certo, mas essa estrutura é inteiramente etérica. Nós, que somos incapazes de ver o Templo tal como ele aparece à visão espiritual, somos, naturalmente, obrigados a primeiro construir uma estrutura física como um tipo de esqueleto de um edifício verdadeiramente espiritual, que então se torna uma força no mundo. E se tornarmos este edifício material concreto bonito e inspirador, a inspiração que obtemos deste edifício visível se refletirá no nosso Templo espiritual invisível. Assim, a estrutura concreta é a ‘serva’ do trabalho espiritual.”
“Se compreendêssemos as linhas da força Cósmica, se pudéssemos ver como os Irmãos Maiores são, não teríamos a necessidade de construir assim uma estrutura de ‘concreto’, também não teríamos a necessidade de esperar muito tempo até que os materiais fossem colocados em suas devidas posições, mas nós poderíamos começar o trabalho de construção imediatamente; seríamos de uma vez por toda uma força para um grande bem no mundo, para a rápida libertação de Cristo; agora, porém, que não somos, devemos fazer o melhor que pudermos, isto é, criar uma estrutura material, incorporando linhas e princípios cósmicos, para que todos que entrarem em seus portais possam ser inspirados, e assim poderemos ajudar a todos para construir o Templo vivo invisível, que é a verdadeira assembleia de Cristãos, ligada pelos mesmos laços de doutrina de fé e sob a liderança de Cristo.”
“Esta manhã nos reunimos com o propósito de colocar a primeira pedra, a pedra que conterá todas as cartas e todos os documentos, juntamente com os escritos e a literatura tal como os temos atualmente na Fraternidade Rosacruz; isto proporcionará as idades futuras a razão sobre o motivo da construção desta estrutura e porque ela perdurou. Que Deus conceda que esta primeira pedra possa ser rapidamente seguida por outras pedras e que em breve possamos iniciar o trabalho e estar prontos para estabelecer a verdadeira Sede em Mount Ecclesia.”
“A Bíblia relata a visita dos Reis Magos no nascimento do nosso Salvador e a lenda completa a história contando-nos que Gaspar, Melchior e Baltazar, que eram os nomes destes sábios, pertenciam às três Raças na Terra, naquela época. É muito peculiar, para dizer o mínimo, que nesta importante ocasião também estejam presentes em Mount Ecclesia os representantes das Raças da Época Lemúrica, da Época Atlante e da Época Ária. Para uma Mente aberta, a presença de representantes das diferentes Raças no nascimento de Cristo esclarece o fato de que a Religião que Ele veio estabelecer é universal. Da mesma forma, a presença presente, inesperada e até o momento despercebida, de representantes das três grandes Raças em Mount Ecclesia parece um augúrio de que este grande movimento irá, também, se tornar um veículo universal de boas novas, de compreensão mais profunda e de um verdadeiro sentimento de companheirismo para todos os que vivem na Terra.”
Os presentes se dirigiram, então, para o local onde haviam sido empilhados areia e cimento e cada um, senhoras e senhores, participou da mistura do cimento, do transporte até a sala de espera decorada com folhas de palmeira e da confecção da pedra que formará o canto da Ecclesia, quando esta for iniciada.
(Publicado na Revista Rays from the Rosecross de dezembro de 1914 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
Relato de Augusta Foss Heindel na data inaugural de Mount Ecclesia (Fraternidade Rosacruz em sua Sede Mundial em Oceanside, CA) em 28 de outubro de 1911:
“O trem chegou ao meio-dia e trouxe com ele 5 de nossos membros leais:
Sr. William Patterson, de Seattle, Washington;
George Cramer, de Pittsburgh, Pennsylvania;
John Adams
e Rudolph Miller, membros ativos do Centro da Fraternidade em Los Angeles;
e a Sra. Anne R. Attwood, de San Diego.
A esses cinco se juntou o nosso grupo que era composto:
da Sra. Ruth Beach,
da Rachel Cunningham e
nós mesmos,
perfazendo um total de 9 almas.
Dirigimo-nos ao terreno lamacento em duas carruagens pois Oceanside era uma pequena vila, com apenas uns seiscentos habitantes, com cocheiras muito antigas. Carros, lá, eram uma raridade.
Assim, o grupo prosseguiu de carruagem para realizar o que posteriormente veio a ser conhecida como a mais importante cerimônia — cavar a primeira pá de terra, erguer a cruz, e plantar uma roseira no local que se tornaria o ponto central de uma grande obra.
A Sede Mundial da Fraternidade Rosacruz, que era para crescer e se expandir no mundo foi iniciada.
Mount Ecclesia veio à existência num terreno baldio e poeirento onde não se via nenhum arbusto ou raminho verde.
Tanto a cruz negra, com as iniciais C.R.C. nos três braços, quanto a pá com que se cavou a primeira terra, vieram da cidade de Ocean Park.
O seguinte discurso foi proferido, por Max Heindel, aos 9 irmãos presentes em Corpo Densos e a 3 Irmãos Maiores presentes nos seus Corpos Vitais:
Cristo disse:
“Onde dois ou três estiverem reunidos em Meu nome, Eu estarei no meio deles” e como tudo que Ele disse essa declaração era a expressão da mais profunda sabedoria divina.
Ela se apoia sobre uma lei da natureza tão imutável como o próprio Deus.
Quando os pensamentos de dois ou três focalizam-se sobre qualquer objeto ou pessoa determinada, gera-se uma forma poderosa de pensamento como uma expressão definida de suas Mentes imediatamente projetada para seu objetivo.
Seus efeitos ulteriores dependerão da afinidade entre o pensamento e a quem ele é endereçado, pois para conseguir gerar uma correspondência vibratória, sobre a nota soada pelo diapasão, é necessário outro diapasão afinado no mesmo tom.
Se forem projetados pensamentos e orações de natureza inferior e egoísta, apenas criaturas inferiores e egoístas responderão a eles.
Essa espécie de oração nunca chegará até Cristo, como a água não pode correr montanha acima. Gravita para os demônios ou Elementais, que são totalmente indiferentes às sublimes aspirações manifestadas pelos que estão reunidos em nome de Cristo.
Como estamos reunidos hoje neste lugar a fim de assentar a pedra fundamental para a construção da Sede de uma Associação Cristã Mística, estamos confiantes em que, tão certo como a gravidade atrai uma pedra em direção ao centro da Terra, o fervor de nossas aspirações unidas atrairá a atenção do Fundador de nossa fé (Cristo) que, assim, estará entre nós.
Tão certamente como diapasões com a mesma afinação vibram em uníssono, também o augusto “Cabeça” da Ordem Rosacruz (Christian Rosenkreuz) faz sentir sua presença nesta ocasião quando a sede da Fraternidade Rosacruz está tendo início.
O Irmão Maior que inspirou este movimento está presente e visível, pelo menos para alguns de nós.
Estão presentes nesta maravilhosa ocasião e diretamente interessados nos acontecimentos formando o número perfeito — 12.
Isto é, há três seres humanos invisíveis que estão além do estágio da Humanidade comum, e nove membros da Fraternidade Rosacruz.
Nove é o número de Adão, ou ser humano.
Destes, cinco — número ímpar masculino — são homens, e quatro — número par feminino — são mulheres.
Por sua vez, o número dos seres humanos invisíveis, três, apropriadamente representa a Divindade assexuada.
O número dos que atenderam ao convite não foi programado pelo orador. Os convites para tomar parte nesta cerimônia foram enviados a muitas pessoas, mas apenas nove aceitaram. E, como não acreditamos no acaso, o comparecimento deve ter sido conduzido de acordo com os desígnios de nossos líderes invisíveis.
Pode ser entendido também como a expressão da força espiritual por trás deste movimento, e não é necessária maior prova do que observarmos a extraordinária expansão dos Ensinamentos Rosacruzes, que se disseminaram por todas as nações da Terra nos últimos anos, despertando aprovação, admiração e amor nos corações de todas as classes e condições de pessoas, especialmente entre os seres humanos.
Enfatizamos isso como um fato notável, pois enquanto todas as outras organizações religiosas compõem-se em sua maioria de mulheres, os homens são maioria entre os membros da Fraternidade Rosacruz.
Também é significativo que nossos membros profissionais da saúde sejam mais numerosos que os de outras profissões e que, em seguida, estejam as pessoas que exercem alguma posição nas Religiões Cristãs exotéricas.
Isso prova que aqueles que têm a prerrogativa de cuidar do corpo enfermo estão conscientes que causas espirituais geram fraqueza física, e estão tentando compreendê-las para melhor ajudar os enfermos e doentes.
Demonstra também que aqueles cujo trabalho é cuidar das pessoas doentes estão tentando socorrer Mentes inquisidoras com explicações razoáveis sobre os mistérios espirituais.
Reforçam, assim, sua fé esmorecida e tentam firmar seus laços com a Religião Cristã exotérica, em vez de responder com máximas e dogmas não sustentadas pela razão, o que abriria totalmente as comportas para o mar agitado do ceticismo, afastando aqueles que procuram a luz através do porto seguro da Religião Cristã exotérica, e levando-os para a escuridão do desespero materialista.
É um abençoado privilégio da Fraternidade Rosacruz socorrer a muitos que buscam, sinceramente, a verdade e que, embora ansiosos, são incapazes de acreditar no que lhes parece contrário à razão.
Recebendo explicações razoáveis sobre a fundamental harmonia entre os dogmas e doutrinas apresentadas pela Religião Cristã exotérica e as Leis da Natureza, muitos retornaram à sua congregação, regozijando-se com os companheiros, tornando-se mais fortes e melhores membros do que antes de se afastarem.
Qualquer movimento para perdurar deve possuir três qualidades divinas: Sabedoria, Beleza e Força.
Ciência, Arte e Religião, cada uma possui, de certa forma, uma dessas qualidades.
O objetivo da Fraternidade Rosacruz é unir e harmonizar umas com as outras, ensinando uma Religião que é tanto cientifica como artística, e reunir todas as Igrejas numa só grande Irmandade Cristã. Presentemente, o relógio do destino marca um momento auspicioso para o início das atividades da construção, erigindo um centro visível de onde os Ensinamentos Rosacruzes possam irradiar sua benéfica influência para aumentar o bem-estar de todos que estão fisicamente, mentalmente ou moralmente enfermos ou doentes.
Portanto, agora ergamos a primeira pá de terra no local da construção com uma prece pela Sabedoria, para guiar esta grande escola no caminho certo.
Cavemos o solo, uma segunda vez, com uma súplica ao Mestre Artista pelo direito de introduzir aqui a Beleza da vida superior, de tal maneira a torná-la atrativa para a humanidade.
Cavemos, pela terceira e última vez, com relação a esta cerimônia, murmurando uma prece pela Força, para que, paciente e diligentemente, possamos continuar o bom trabalho em perseverar e tornar este lugar um maior fator de elevação espiritual do que qualquer dos que nos antecederam.
Cavado o local do primeiro prédio, continuaremos, agora, plantando o símbolo maravilhoso da vida e do ser, o emblema da Escola de Mistérios ocidentais.
O emblema consiste na cruz, representando a matéria, e nas rosas, que envolvem e rodeiam o tronco, representando a vida em evolução subindo cada vez mais alto pela crucificação.
Cada um de nós, os nove membros, participará deste trabalho de escavação para este primeiro e maior ornamento de Mount Ecclesia.
Vamos fixá-lo numa posição em que os braços apontem um para Leste e outro para Oeste, enquanto o Sol do meridiano projeta-o inteiramente em direção ao Norte. Assim, ele estará diretamente no caminho das correntes espirituais que vitalizam as formas dos quatro Reinos da vida: Mineral, Vegetal, Animal e Humano.
Sobre os braços e a parte superior desta cruz podemos ver três letras douradas, “C.R.C”, Christian Rosenkreuz, ou Christian Rosecross, as iniciais do Líder Augusto da Ordem.
O simbolismo desta cruz está parcialmente explicado aqui e também em nossa literatura, mas seriam necessários volumes para dar uma explicação completa. Vamos olhar um pouco mais longe sobre o significado da lição que nos oferece este maravilhoso símbolo.
Quando vivíamos na densa atmosfera aquosa da antiga Atlântida, estávamos sob leis completamente diferentes das que nos regem hoje. Quando deixávamos o corpo, não o percebíamos, pois nossa consciência estava focalizada mais nos Mundos espirituais do que nas densas condições da matéria. Nossa vida era uma existência contínua; não percebíamos nem o nascimento nem a morte.
Ao emergirmos para as condições aéreas da Época Ária, o mundo de hoje, nossa consciência dos Mundos espirituais desvaneceu-se e a forma tornou-se mais proeminente. Então, começou uma existência dupla, cada fase definidamente diferenciada da outra pelos eventos do nascimento e da morte. Uma dessas fases é a vida do espírito livre no reino celestial: a outra, um aprisionamento num corpo terrestre, que é virtualmente a “morte do espírito”, como está simbolizado na mitologia grega de Castor e Pólux, os gêmeos celestiais.
Já foi elucidado, em diversos pontos de nossa literatura, como o espírito livre ficou emaranhado na matéria pelas maquinações dos espíritos de Lúcifer, aos quais, Cristo se referiu como as falsas luzes. Isso ocorreu na ígnea Lemúria. Portanto, Lúcifer pode ser chamado o Gênio da Lemúria.
O efeito de seu erro não ficou totalmente aparente até a Época de Noé, compreendendo o período final Atlante e o início da nossa presente Época Ária. O arco-íris, que não poderia existir sob as condições atmosféricas anteriores, pairou com suas cores sobre as nuvens como uma inscrição mística quando a humanidade entrou na Época de Noé, onde a lei dos ciclos alternantes trouxe enchente e vazante, verão e inverno, nascimento e morte. Durante essa Época, o espírito não pôde fugir permanentemente do corpo mortal gerado pela paixão satânica primeiramente inculcada por Lúcifer. Suas repetidas tentativas de fugir para seu lar celestial são frustradas pela lei da periodicidade, pois, ao livrar-se de um corpo pela morte, será trazido para renascer quando o ciclo se completar.
Engano e ilusão não podem perdurar eternamente. Surgiu, portanto, o Redentor para purificar o sangue cheio de paixão, para pregar a verdade que nos libertará deste corpo de morte. Surgiu para inaugurar a Imaculada Concepção ao longo das linhas grosseiramente indicadas na ciência da eugenia, para profetizar uma nova Era, ‘um novo céu e uma nova terra’, onde Ele, a verdadeira Luz, será o Gênio; uma Era em que florescerão a virtude e o amor, pelos quais toda a humanidade suspira e procura.
Tudo isso e a maneira de evoluir estão simbolizados na cruz de rosas que temos em frente. A rosa, na qual a seiva da vida está inativa no inverno e ativa no verão, ilustra com clareza o efeito da lei dos ciclos alternantes. A tonalidade da flor e seus órgãos reprodutores lembram o nosso sangue. No entanto, a seiva que flui é pura, e a semente é gerada imaculadamente, sem paixão.
Quando alcançarmos a pureza de vida assim simbolizada, estaremos libertos da cruz da matéria, e as condições etéricas do milênio estarão presentes.
A aspiração da Fraternidade Rosacruz é apressar esse dia feliz, quando a tristeza, a dor, o pecado e a morte desapareçam e nós sejamos redimidos das fascinantes, mas escravizantes ilusões da matéria, e despertados para a suprema verdade da realidade do Espírito.
Que Deus apresse e frutifique nossos esforços.”
Como de costume, o tempo estava ótimo no sul da Califórnia após a cerimônia, os cinco homens e as quatro mulheres retornaram à pequena casa em Oceanside, que serviria de lar para o casal Max Heindel e Augusta Foss Heindel e duas mulheres que estavam ajudando nas atividades diárias, durante o período de construção do primeiro prédio. Compartilhamos um ligeiro almoço, e os visitantes regressaram aos seus lares, deixando estas quatro almas esperançosas exaustas para repousarem um pouco, após a batalha com as pulgas e camundongos.
(Do Livro Memórias sobre Max Heindel e a Fraternidade Rosacruz – Por Augusta Foss Heindel – Fraternidade Rosacruz)
Nesses anos transcorridos desde a passagem de Max Heindel, muito se falou a respeito de sua notável obra. A cada 23 de julho — data do seu nascimento — os Grupos e Centros Rosacruzes em atividade pelo mundo lhe rendem uma linda homenagem. Relembram as dificuldades com que se defrontou para iniciar o trabalho. Recordam certas passagens marcantes de sua vida, como o primeiro encontro com o Irmão Maior – que ele chamava de “Mestre” –, na Alemanha, ou o lançamento da pedra fundamental em Mount Ecclesia, evento que prenunciou o grande porvir da Fraternidade. Ressaltam também a grande odisseia vivida na elaboração e impressão do livro Conceito Rosacruz do Cosmos.
Há, porém, na figura de Max Heindel um aspecto pouco abordado, conquanto importantíssimo na consolidação de sua obra: sua capacidade de aglutinar pessoas em torno do Ideal Rosacruz.
A Fraternidade Rosacruz, embora inspirada desde os Planos internos pelos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, que lhe emprestam o nome, começou do nada, do chão. À frente, apenas Max Heindel.
Sozinho, desprovido de recursos e com a saúde abalada, embora tendo em mãos o tesouro dos tesouros — a Filosofia Rosacruz — onde poderia ele chegar?
Que força misteriosa impelia esse homem aos maiores sacrifícios, convertendo-o em um polo de atração, uma fonte viva de magnetismo?
Somente alguém dotado de um acentuado poder de aglutinação poderia inspirar outras pessoas, indicando-lhes o Ideal Rosacruz e a necessidade de se trabalhar por esse Ideal.
Ao ensejo de mais um aniversário de nascimento de Max Heindel, transcrevemos abaixo o depoimento de Bessie Boyle Campbell, publicado há muitos anos em Rays from The Rose Cross de outubro de 1955. Essa Estudante Rosacruz e contemporânea de Max Heindel, deixa entrever em suas linhas as razões de o fundador da The Rosicrucian Fellowship ser um aglutinador por excelência.
“Meu primeiro encontro com Max Heindel foi em uma noite de 1908, em Yakima, Washington, à entrada de um salão de conferências. Eu havia lido no diário local o anúncio de sua conferência sobre “A vida depois da morte”, franqueada ao público. Ora, eu havia sido criada e educada em um ambiente estritamente episcopal e os assuntos dessa natureza espiritual eram incompreensíveis para meus pais e imediatamente rechaçados por eles. Perguntei à minha irmã e mãe se podiam me acompanhar para assistir à conferência, pois o salão em que conferência se realizaria ficava em uma rua pouco recomendável para uma moça andar sozinha… Não é demais dizer que não me deixaram ir. Mas ao forte impulso interno que me impelia tomei a resolução de ir só. Quando cheguei à entrada do salão, defrontei-me com três pessoas e logo reconheci o casal Swigart e o próprio Max Heindel. Ao contemplar o rosto e a figura de Max Heindel, tive a sensação momentânea de me achar diante de um padre, embora ele estivesse trajado como qualquer homem de negócios. Pensei, depois, que essa impressão talvez se originasse da grande reverência que me despertava sua pessoa e isso me fizera associá-lo a um padre. Muito tempo depois, durante uma de suas aulas, ele nos contou que em seu renascimento anterior, há trezentos anos, havia sido um padre católico na França. Fiquei satisfeita ao ver confirmada minha intuição (…). “Observando o auditório daquele velho salão, onde Max Heindel proferiu a primeira de dez conferências, notei que, em sua maioria, era composto de mendigos e vagabundos que tinham ido ali mais para se proteger do frio e da neve do que propriamente para ouvi-lo. O conteúdo de sua dissertação estava além do meu alcance e entendimento; não obstante, seu forte magnetismo pessoal e sua grande eloquência me levavam a crer firmemente em cada palavra que dizia, como se fosse uma grande verdade”. (…) “Compreendi que eu tivesse ouvido um grande homem, abordando assuntos transcendentais”. (…) “Senti que nesses ensinamentos houvesse encontrado o que há tempo buscava”. (…) “Muito depois eu lhe perguntei o que era isto: magnetismo pessoal. Ele me respondeu que foi um poder obtido mediante atos de bondade, nesta vida e nas anteriores. Explicou-me que isso é visto pelo Cristão Místico como uma aura dourada que os grandes mestres costumam pintar ao redor da cabeça dos Santos, em suas obras clássicas. Assisti a suas conferências e lições, nessa ocasião, durante seis semanas, recomeçando tempos depois. Ele não havia publicado ainda a grande obra ‘Conceito Rosacruz do Cosmos’, pois não havia chegado o ano de 1909. Suas conferências e lições eram mimeografadas. Em 1910, assisti novamente a suas dissertações, já com público numeroso, em Los Angeles. De vez em quando, Max Heindel costumava entremear suas palestras com observações engraçadas, alegres, simpáticas. Outras vezes, permanecia muito sério e circunspecto. Ele sentia uma grande compaixão por todas as almas que sofriam. Em 1911 recebi dele uma carta em que me comunicava haver iniciado os trabalhos de Cura Rosacruz. Nessa oportunidade eu passava por um precário estado de saúde, internada em um hospital de Pasadena-CA, com febre altíssima. Depois de ler sua amável carta, meu quarto se inundou de luz e senti tal exaltação que não posso descrever. Eu vinha orando intensa e incessantemente quando isso aconteceu. Na manhã seguinte minha febre havia desaparecido por completo e, depois de alguns dias, achava-me em minha residência completamente restabelecida”. (…) “Minha mãe, que também chegou a ser Probacionista, faleceu em 1915. Max Heindel veio ao funeral e usou da palavra. Em certo momento ele me disse: ‘Bessie, coloque uma cadeira junto ao ataúde para que sua mãe possa se sentar-se’. Ele sorriu diante da cadeira, para nós vazia, e então lhe perguntei se mamãe se sentia feliz. Ele me respondeu: ‘Ela está muito séria e impressionada com a mudança’. Os trinta amigos que se achavam presentes ficaram muito impressionados ao ouvir suas palavras. Max Heindel sempre irradiava uma dulcíssima simpatia e bondade, em sua habitual humildade. Sinto que, pela oportunidade de haver conhecido esta grande alma, recebi a maior bênção deste mundo, além do conhecimento da verdadeira Religião Cristã que me veio à Mente e ao Coração por seu intermédio”.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de julho de 1975-Fraternidade Rosacruz-SP)
Em 23 de julho de 1865, a fria e loira Copenhagen via nascer um menino de nobre ascendência. Era um Von Grasshoff, nome cuja origem remontava à velha Prússia. No entanto, ele não viria desfrutar os privilégios inerentes à nobreza. Era um ser diferente dos demais. Não buscava o que a maioria almejava. Seus ideais, talvez para o vulgo, pareciam utópicos ou fantasiosos; mas constituíam sua força motriz. Em tenra idade deixou o lar e a terra natal: procurou a Escócia. Lá, sob as brisas gélidas do Mar do Norte, trabalhava num estaleiro e cursava a Faculdade de Engenharia Naval. Formou-se, trabalhando mais tarde como engenheiro-chefe em um navio, percorreu diversos países. Conheceu muitos povos. Observou os usos e costumes mais bizarros. Aumentou sensivelmente o seu já considerável cabedal de bens culturais. Sensibilizou-se diante do sofrimento humano. Isso lhe causava inquietação e pontilhava a alma de indagações: “Por que as pessoas sofrem? Como dissipar essas agruras?”. Procurava incessantemente respostas para tais dúvidas.
Mais tarde radicou-se nos Estados Unidos. Lá, movido pela ânsia de conhecimentos espirituais, ingressou em uma organização espiritualista da qual veio a se tornar mais tarde o vice-presidente. Sua atuação era destacada. Era um membro de escol. Contudo, ainda permanecia insatisfeito. A filosofia divulgada por essa Sociedade era a mescla de ensinamentos ocidentais e orientais, porém sem uma clara definição do que se ajustasse mais a uns ou aos outros. Max Heindel percebeu a diferença entre os ocidentais e os orientais. Admitia serem os primeiros eminentemente racionalistas, imediatistas, objetivos; dissemelhando, portanto, daqueles que habitavam a parte oposta do globo. Reconhecia conter o Cristianismo os ensinamentos mais apropriados à índole e natureza dos povos do ocidente. Mas como apresentar logicamente esses ensinamentos? Como projetar luz científica sobre a Bíblia? Como aqueles que não aceitavam o Cristo pela fé poderiam aceitá-lo pela razão?
Alguém lhe sugeriu procurar um grande ocultista na Alemanha, dando-lhe esperanças de dirimir suas dúvidas e aquietar sua alma, desejosa de respostas convincentes. Motivado pelo nobre desejo de servir ao gênero humano, Max Heindel não mediu esforços e na primeira oportunidade dirigiu-se às plagas germânicas. Lá, não vacilou em procurar a pessoa indicada. Localizou-a e entrevistou-se com ela; no entanto, longe de ficar satisfeito, decepcionou-se por completo.
Desiludido e frustrado, resolveu encetar a viagem de regresso ao Estados Unidos. Nesse ínterim, enquanto aguardava a chegada de um navio, passou por uma experiência que veio imprimir novos rumos à sua já tão sofrida existência. Recebeu em seus aposentos a visita de um ser misterioso homem que se intitulava membro de uma Ordem oculta possuidora de ensinamentos tão profundos que trariam as respostas tão ansiadas. Porém, tais conhecimentos lhe seriam franqueados sob a condição de serem mantidos em sigilo absoluto; isto é, de não serem revelados a quem quer que fosse, por motivo algum.
Max Heindel repeliu acerbamente essa proposta, afirmando que se algo semelhante lhe fosse benéfico, beneficiaria também aos outros. Reiteradas vezes ouviu a proposta e em todas manifestou sua absoluta desaprovação, até que a verdade veio à tona. Verificou, então, que durante esse tempo fora submetido a uma prova. Conseguindo superá-la com galhardia, credenciou-se a cumprir uma missão importante e nobilitante: divulgar publicamente os Ensinamentos Rosacruzes, até então acessíveis a uns poucos que, em virtude de méritos incontestes, constituíam-se a elite espiritual da humanidade. Mas dentre os ocidentais, muitos já se faziam dignos de receber tão profundos Ensinamentos. Além disso, os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz sabiam que o ano de 1910 marcaria uma nova fase na história e que conhecimentos transcendentais deveriam ser levados a público. Max Heindel foi incumbido de realizar o trabalho. Entrou em contato com a Ordem Rosacruz e foi Iniciado em seus Mistérios, via as Iniciações Rosacruzes. Voltou aos Estados Unidos e condensou os Ensinamentos Rosacruzes que recebeu em um livro: Conceito Rosacruz do Cosmos. Embora estivesse em precaríssimo estado de saúde, não se furtou ao trabalho. Não obstante lutasse contra a carência de recursos materiais para imprimir o livro, jamais desanimou. Cônscio da importância de sua missão, não mediu esforços para concluir a obra até os fins de 1909. E ele conseguiu! Pronto o Conceito Rosacruz do Cosmos, novos horizontes se abriram, novas perspectivas de uma maior difusão da Filosofia Rosacruz foram surgindo. Mesmo acometido por uma séria moléstia cardíaca, Max Heindel intensificava suas atividades. Um espírito forte e indômito animava aquele corpo débil. Promovia conferências, escrevia, orientava a formação dos grupos de estudos Rosacruzes.
A década seguinte foi decisiva para o movimento. Max Heindel contraiu núpcias com Augusta Foss, sua companheira de ideal e, mais tarde, o seu braço direito. Juntos empreenderam uma viagem para a Califórnia à procura de um local que reunisse condições ideais para a instalação da Sede Central da Fraternidade Rosacruz. A missão logrou êxito! Foi adquirida uma gleba e pouco tempo depois era assentada a pedra fundamental com Max Heindel proferindo um discurso memorável[1]. Daí por diante, o lugar, chamado Mount Ecclesia, tornou-se o foco de irradiação dos Ensinamentos Rosacruzes para todo o mundo.
Max Heindel continuou trabalhando devotada, ininterrupta e incansavelmente até janeiro de 1919, quando seu corpo não mais resistiu aos constantes esforços. Esse grande espírito foi então para o Além, deixando uma obra de gigante.
Em síntese, eis alguns traços biográficos do insigne fundador da Fraternidade Rosacruz, um espírito devotado ao bem comum, um denotado buscador da verdade.
Que sua vida seja o nosso exemplo mais grato!
Que o imitemos em nossa luta pela difusão do Cristianismo Esotérico!
Mesmo enfrentando a incompreensão e a ingratidão, que tenhamos paciência e humildade para perseverar!
Que, diante das maiores dificuldades, tenhamos a fibra necessária para lutar a boa luta, oferecendo o incenso de nossa alma ao Cristo, o inspirador do movimento Rosacruz!
Que nossa querida Fraternidade Rosacruz possa contar sempre conosco, aconteça o que acontecer!
Que o nosso entusiasmo pelo ideal seja grandioso e contagiante!
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de julho de 1970-Fraternidade Rosacruz-SP)
[1] N.R.: O seguinte discurso foi proferido por Max Heindel aos nove irmãos presentes em Corpo Densos e a três Irmãos Maiores presentes nos seus Corpos Vitais, na ocasião da fundação da Fraternidade Rosacruz em Mount Ecclesia: Cristo disse: “Onde dois ou três estiverem reunidos em Meu nome, Eu estarei no meio deles” e como tudo que Ele disse essa declaração era a expressão da mais profunda sabedoria divina. Ela se apoia sobre uma lei da natureza tão imutável como o próprio Deus. Quando os pensamentos de dois ou três focalizam-se sobre qualquer objeto ou pessoa determinada, gera-se uma forma poderosa de pensamento como uma expressão definida de suas Mentes imediatamente projetada para seu objetivo. Seus efeitos ulteriores dependerão da afinidade entre o pensamento e a quem ele é endereçado, pois para conseguir gerar uma correspondência vibratória, sobre a nota soada pelo diapasão, é necessário outro diapasão afinado no mesmo tom.
Se forem projetados pensamentos e orações de natureza inferior e egoísta, apenas criaturas inferiores e egoístas responderão a eles. Essa espécie de oração nunca chegará até Cristo, como a água não pode correr montanha acima. Gravita para os demônios ou Elementais, que são totalmente indiferentes às sublimes aspirações manifestadas pelos que estão reunidos em nome de Cristo.
Como estamos reunidos hoje neste lugar a fim de assentar a pedra fundamental para a construção da Sede de uma Associação Cristã Mística, estamos confiantes em que, tão certo como a gravidade atrai uma pedra em direção ao centro da Terra, o fervor de nossas aspirações unidas atrairá a atenção do Fundador de nossa fé (Cristo) que, assim, estará entre nós. Tão certamente como diapasões com a mesma afinação vibram em uníssono, também o augusto “Cabeça” da Ordem Rosacruz (Christian Rosecross) faz sentir sua presença nesta ocasião quando a sede da Fraternidade Rosacruz está tendo início. O Irmão Maior que inspirou este movimento está presente e visível, pelo menos para alguns de nós. Estão presentes nesta maravilhosa ocasião e diretamente interessados nos acontecimentos formando o número perfeito — 12. Isto é, há três seres humanos invisíveis que estão além do estágio da humanidade comum, e nove membros da Fraternidade Rosacruz. Nove é o número de Adão, ou ser humano. Destes, cinco — número ímpar masculino — são homens, e quatro — número par feminino — são mulheres. Por sua vez, o número dos seres humanos invisíveis, três, apropriadamente representa a Divindade assexuada. O número dos que atenderam ao convite não foi programado pelo orador. Os convites para tomar parte nesta cerimônia foram enviados a muitas pessoas, mas apenas nove aceitaram. E, como não acreditamos no acaso, o comparecimento deve ter sido conduzido de acordo com os desígnios de nossos líderes invisíveis. Pode ser entendido também como a expressão da força espiritual por trás deste movimento, e não é necessária maior prova do que observarmos a extraordinária expansão dos Ensinamentos Rosacruzes, que se disseminaram por todas as nações da Terra nos últimos anos, despertando aprovação, admiração e amor nos corações de todas as classes e condições de pessoas, especialmente entre os seres humanos.
Enfatizamos isso como um fato notável, pois enquanto todas as outras organizações religiosas compõem-se em sua maioria de mulheres, os homens são maioria entre os membros da Fraternidade Rosacruz. Também é significativo que nossos membros profissionais da saúde sejam mais numerosos que os de outras profissões e que, em seguida, estejam as pessoas que exercem alguma posição nas igrejas Cristãs. Isso prova que aqueles que têm a prerrogativa de cuidar do corpo enfermo estão conscientes que causas espirituais geram fraqueza física, e estão tentando compreendê-las para melhor ajudar os enfermos e doentes. Demonstra também que aqueles cujo trabalho é cuidar das pessoas doentes estão tentando socorrer Mentes inquisidoras com explicações razoáveis sobre os mistérios espirituais. Reforçam, assim, sua fé esmorecida e tentam firmar seus laços com a Igreja, em vez de responder com máximas e dogmas não sustentadas pela razão, o que abriria totalmente as comportas para o mar agitado do ceticismo, afastando aqueles que procuram a luz através do porto seguro da Igreja, e levando-os para a escuridão do desespero materialista.
É um abençoado privilégio da Fraternidade Rosacruz socorrer a muitos que buscam, sinceramente, a verdade e que, embora ansiosos, são incapazes de acreditar no que lhes parece contrário à razão. Recebendo explicações razoáveis sobre a fundamental harmonia entre os dogmas e doutrinas apresentadas pela Igreja e as leis da natureza, muitos retornaram à sua congregação, regozijando-se com os companheiros, tornando-se mais fortes e melhores membros do que antes de se afastarem.
Qualquer movimento para perdurar deve possuir três qualidades divinas: Sabedoria, Beleza e Força. Ciência, Arte e Religião, cada uma possui, de certa forma, uma dessas qualidades. O objetivo da Fraternidade Rosacruz é unir e harmonizar umas com as outras, ensinando uma Religião que é tanto cientifica como artística, e reunir todas as Igrejas numa só grande Irmandade Cristã. Presentemente, o relógio do destino marca um momento auspicioso para o início das atividades da construção, erigindo um centro visível de onde os Ensinamentos Rosacruzes possam irradiar sua benéfica influência para aumentar o bem-estar de todos que estão fisicamente, mentalmente ou moralmente enfermos ou doentes.
Portanto, agora ergamos a primeira pá de terra no local da construção com uma prece pela Sabedoria, para guiar esta grande escola no caminho certo. Cavemos o solo, uma segunda vez, com uma súplica ao Mestre Artista pelo direito de introduzir aqui a Beleza da vida superior, de tal maneira a torná-la atrativa para a humanidade. Cavemos, pela terceira e última vez, com relação a esta cerimônia, murmurando uma prece pela Força, para que, paciente e diligentemente, possamos continuar o bom trabalho em perseverar e tornar este lugar um maior fator de elevação espiritual do que qualquer dos que nos antecederam.
Cavado o local do primeiro prédio, continuaremos, agora, plantando o símbolo maravilhoso da vida e do ser, o emblema da Escola de Mistérios ocidentais. O emblema consiste na cruz, representando a matéria, e nas rosas, que envolvem e rodeiam o tronco, representando a vida em evolução subindo cada vez mais alto pela crucificação. Cada um de nós, os nove membros, participará deste trabalho de escavação para este primeiro e maior ornamento de Mount Ecclesia. Vamos fixá-lo numa posição em que os braços apontem um para Leste e outro para Oeste, enquanto o Sol do meridiano projeta-o inteiramente em direção ao Norte. Assim, ele estará diretamente no caminho das correntes espirituais que vitalizam as formas dos quatro Reinos da vida: Mineral, Vegetal, Animal e Humano.
Sobre os braços e a parte superior desta cruz podemos ver três letras douradas, “C.R.C”, Christian Rosenkreuz, ou Christian Rosecross, as iniciais do Líder Augusto da Ordem. O simbolismo desta cruz está parcialmente explicado aqui e, também, em nossa literatura, mas seriam necessários volumes para dar uma explicação completa. Vamos olhar um pouco mais longe sobre o significado da lição que nos oferece este maravilhoso emblema.
Quando vivíamos na densa atmosfera aquosa da antiga Atlântida, estávamos sob leis completamente diferentes das que nos regem hoje. Quando deixávamos o corpo, não o percebíamos, pois nossa consciência estava focalizada mais nos Mundos espirituais do que nas densas condições da matéria. Nossa vida era uma existência contínua; não percebíamos nem o nascimento nem a morte.
Ao emergirmos para as condições aéreas da Época Ária, o mundo de hoje, nossa consciência dos Mundos espirituais desvaneceu-se e a forma tornou-se mais proeminente. Então, começou uma existência dupla, cada fase definidamente diferenciada da outra pelos eventos do nascimento e da morte. Uma dessas fases é a vida do espírito livre no reino celestial: a outra, um aprisionamento num corpo terrestre, que é virtualmente a “morte do espírito”, como está simbolizado na mitologia grega de Castor e Pólux, os gêmeos celestiais.
Já foi elucidado, em diversos pontos de nossa literatura, como o espírito livre ficou emaranhado na matéria pelas maquinações dos espíritos de Lúcifer, aos quais, Cristo se referiu como as falsas luzes. Isso ocorreu na ígnea Lemúria. Portanto, Lúcifer pode ser chamado o Gênio da Lemúria.
O efeito de seu erro não ficou totalmente aparente até a Época de Noé, compreendendo o período final Atlante e o início da nossa presente Época Ária. O arco-íris, que não poderia existir sob as condições atmosféricas anteriores, pairou com suas cores sobre as nuvens como uma inscrição mística quando a humanidade entrou na Época de Noé, onde a lei dos ciclos alternantes trouxe enchente e vazante, verão e inverno, nascimento e morte. Durante essa Época, o espírito não pôde fugir permanentemente do corpo mortal gerado pela paixão satânica primeiramente inculcada por Lúcifer. Suas repetidas tentativas de fugir para seu lar celestial são frustradas pela lei da periodicidade, pois, ao livrar-se de um corpo pela morte, será trazido para renascer quando o ciclo se completar.
Engano e ilusão não podem perdurar eternamente. Surgiu, portanto, o Redentor para purificar o sangue cheio de paixão, para pregar a verdade que nos libertará deste corpo de morte. Surgiu para inaugurar a Imaculada Concepção ao longo das linhas grosseiramente indicadas na ciência da eugenia, para profetizar uma nova Era, ‘um novo céu e uma nova terra’, onde Ele, a verdadeira Luz, será o Gênio; uma era em que florescerão a virtude e o amor, pelos quais toda a humanidade suspira e procura.
Tudo isso e a maneira de evoluir estão simbolizados na cruz de rosas que temos em frente. A rosa, na qual a seiva da vida está inativa no inverno e ativa no verão, ilustra com clareza o efeito da lei dos ciclos alternantes. A tonalidade da flor e seus órgãos reprodutores lembram o nosso sangue. No entanto, a seiva que flui é pura, e a semente é gerada imaculadamente, sem paixão.
Quando alcançarmos a pureza de vida assim simbolizada, estaremos libertos da cruz da matéria, e as condições etéricas do milênio estarão presentes. A aspiração da Fraternidade Rosacruz é apressar esse dia feliz, quando a tristeza, a dor, o pecado e a morte desapareçam e nós sejamos redimidos das fascinantes, mas escravizantes ilusões da matéria, e despertados para a suprema verdade da realidade do Espírito. Que Deus apresse e frutifique nossos esforços.
Junho de 1911
Cristo deu dois mandamentos a Seus Discípulos quando Ele disse: “Pregai o Evangelho e Curai o enfermo”[1]. Vimos, na lição do mês passado[2], como o ofício de um conselheiro espiritual está estreitamente ligado à cura das doenças físicas, pois, ainda que a causa imediata e aparente da doença possa ser física, numa análise final, todas as doenças são devidas à transgressão das Leis de Deus, que costumamos chamar de “Leis da Natureza”, em nossos intentos materialistas de eliminar o Divino. Bacon[3], com rara percepção espiritual, disse: “Deus e a Natureza diferem entre si como o sinete[4] e a impressão”[5]. Assim como o lacre flexível é moldado pelas linhas rígidas do sinete, assim também a natureza se ajusta, passivamente, às Leis imutáveis do seu Divino Criador e, assim, a saúde e uma condição de despreocupação são a regra entre os Reinos de Vida inferiores[6]. Mas quando o estágio humano de um Reino é alcançado, quando a Individualidade é desenvolvida e começamos a ter escolhas, prerrogativas e emancipações, nós nos tornamos capazes de transgredir as Leis de Deus e, invariavelmente, o sofrimento é o efeito dessa transgressão.
Há um lado da Lua que nunca vemos[7], mas sabemos que está lá, e esse lado oculto da Lua é um fator tão importante para a formação das marés, quanto a parte da Lua que está mais próxima de nós e visível. Do mesmo modo, também há no ser humano um lado oculto que é tão ativo quanto o ser físico[8] que contemplamos. As transgressões às Leis divinas, nos planos de ação mental e moral, são tão responsáveis pelos transtornos físicos, como o é o lado oculto da Lua na formação das marés.
Se o que foi dito fosse compreendido, os profissionais de saúde[9] não ficariam mais intrigados com o fato irritante de que, embora um certo tipo e quantidade de um remédio produza a cura em um caso, pode ser absolutamente impotente em outros. Um grande e crescente número de profissionais da saúde está agora convencido que a Lei do Destino é um fator importante no aparecimento da doença e na demora da sua extinção ou do restabelecimento à saúde ou, ainda, da cura superficial, embora não acreditarem na falácia de um destino inexorável. Eles reconhecem que Deus, pela vontade d’Ele, não nos aflige, nem pretende se vingar do transgressor;eles compreendem que toda a angústia profunda, tristeza e todo sofrimento são destinados a nos ensinar lições que não aprenderíamos ou não poderíamos aprender por qualquer outro meio. As estrelas[10] mostram o período estimado como requisito para nos fazer conhecer as consequências desagradáveis de alguma ação por meio de lições, mas nem mesmo Deus pode determinar o tempo exato, nem a quantidade de sofrimento necessária; nós mesmos temos essa prerrogativa, pois nós somos divinos. Se nos tornarmos conscientes das nossas transgressões e começarmos a obedecer às Leis antes que a aflição astral[11] cesse, estaremos curados da nossa desordem no Corpo, ou seja, da doença mental, física ou moral; se persistirmos até o fim de uma aflição astral, sem termos aprendido a nossa lição, mais tarde, uma configuração astrológica mais adversa e intensa nos forçará à obediência para aprender o que devemos.
É nessa conexão que um curador dotado de uma Mente espiritual pode prestar, frequentemente, serviços eficazes e encurtar o período de sofrimento do paciente ao lhe indicar a causa de sua aflição. Mesmo quando o curador se sinta incapaz de lidar com a doença, muitas vezes, ele pode encorajar o paciente durante uma crise de inevitável angústia, informando-lhe sobre as esperanças de alívio para quando essa determinada fase passar. Nos meus cuidados aos doentes, nesses últimos anos, tem sido frequente o privilégio de apontar a Estrela da Esperança e, até onde eu me lembre, as minhas previsões de recuperação, em um prazo determinado, se realizaram sempre e, algumas vezes, quase de maneira milagrosa, pois as estrelas são o relógio do destino e são sempre corretas.
Pelo que expusemos acima, você tem o grande motivo pelo qual nós devemos estudar Astrologia do ponto de vista espiritual. Na Carta aos Estudantes do próximo mês, espero expor algo mais definitivo quanto à Panaceia Espiritual, mas, enquanto isso, tenho a certeza de que você ficará feliz em saber que compramos o terreno ao qual nos referimos anteriormente. É um dos pontos mais agradáveis aos olhos no belo sul da Califórnia; na verdade, embora eu já tenha viajado por quase todo o mundo, nunca deparei com uma vista que se possa comparar com a do local da nossa futura Sede[12]. Está situado sobre um elevado planalto que permite uma visão que se estende por uns sessenta quilômetros ou mais em todas as direções. Ao Norte, as Montanhas Santa Ana (uma pequena cordilheira) protegem dos ventos frios do norte, fazendo com que, praticamente, o clima seja livre de geadas durante todo o ano. Abaixo, para o leste, está o lindo Vale São Luiz Rey, com seu rio que parece uma faixa prateada serpenteando por campos férteis, passando pela antiga e histórica Missão Espanhola, onde os padres franciscanos ensinaram os indígenas durante séculos. Mais para o leste, a Montanha São Jacinto ergue seu pico coberto de neve contra um céu do mais intenso azul. No sul, o promontório de La Jolla, com suas cavernas pitorescas, encobre o grande porto natural da cidade, situado mais ao sul da cidade mais a sudoeste do Tio Sam, que é San Diego. Em direção ao sol poente, contemplamos a plácida enseada do Oceano Pacífico, as ilhas São Clemente e Santa Catarina com seus maravilhosos jardins submarinos – uma imagem composta de glória e inspiração, suficiente, por si só, para evocar tudo o que há de melhor e mais puro em qualquer pessoa que seja inclinada à espiritualidade.
Demos o nome de “Mount Ecclesia” a esse belo local da natureza, e uma verba já foi designada para a construção das edificações necessárias: uma Escola de Cura, um Sanitarium[13] e, por último, mas não menos importante, um lugar de culto – uma Ecclesia– onde possa ser preparada a Panaceia Espiritual e enviada para todo o mundo e, posteriormente, utilizada pelos Auxiliares devidamente qualificados.
(Carta nº 6 do Livro “Cartas aos Estudantes” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
[1] N.T.: Mt 10:7-8
[2] N.T.: Carta nº 5: O Valor dos Sentimentos Retos
[3] N.T.: Francis Bacon, 1°. Visconde de Alban, também referido como Bacon de Verulâmio (1561-1626) foi um político, filósofo empirista, cientista, ensaísta inglês, barão de Verulam (ou Verulamo ou ainda Verulâmio) e visconde de Saint Alban. É considerado como um dos fundadores da Revolução Científica.
[4] N.T.: É um pequeno objeto de metal como ouro ou prata (placa, coluna e até anel) usados como assinatura do proprietário e/ou responsável por uma organização, para selar e autenticar documentos e cartas.
[5] N.T.: Trecho do livro “The First Book Of Francis Bacon” – Of The Proficience And Advancement Of Learning, Divine And Human – Volume VIII
[6] N.T.: Por exemplo: Animal, Vegetal e Mineral.
[7] N.T.: Também chamado de lado oculto da Lua (também chamado de lado negro da Lua ou lado escuro da Lua) é o hemisfério lunar que não pode ser visto da Terra em decorrência da Lua estar em rotação sincronizada com a Terra.
[8] N.T.: o Corpo Denso
[9] N.T.: médico (a), enfermeiro (a), psicólogo (a), psiquiatra, farmacêutico (a), fisioterapeuta, nutricionista, odontólogo (a), biomédico (a), biólogo (a), osteopata, fonoaudiólogo (a), terapeutas, quiroprata e afins.
[10] N.T.: Signos astrológicos, Sol, Lua e Planetas
[11] N.T.: apontada pelos Signos astrológicos, Sol, Lua e Planetas
[12] N.T.: Onde hoje temos Mount Ecclesia, sede mundial da The Rosicrucian Fellowship.
[13] N.T.: Ou Sanatorium: se refere a um centro médico para tratamento de doenças diversas não contagiosas.