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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Hora Presente e seu Significado: crise?

O mundo inicia mais um ano falando só em crise.

O ano novo sempre renova as esperanças do ser humano. No entanto, desta vez as coisas mudaram de figura. A humanidade entra temerosa, sobressaltada por perspectivas nada animadoras: agravamento em grande extensão da crise econômica internacional e ameaças de guerras.

Raras vezes o limiar de um ano foi tão pouco festejado. A preocupação é generalizada, parecendo alcançar todos os países e suas respectivas camadas sociais.

Instrumentais técnicos e políticos, os mais complexos, são acionados no afã de minimizar-se as consequências da crise. O tom de certos pronunciamentos sugere até um estertor apocalíptico.

Vã é a sabedoria humana, pretendendo encontrar soluções humanas para problemas transcendentais.

As crises atuais estão provocando transformações na vida das nações; situações se invertem, costumes se modificam, estatísticas perdem validade, etc.

Em meio à aparente confusão reinante, uma coisa parece clara aos olhos do observador mais arguto: tudo passará por uma reformulação. Inclusive, muitos conceitos terão de ser revistos.

O ocultista, buscador da verdade, analista profundo das causas geradoras de todos os efeitos, considera como ponto pacífico o seguinte: os detonadores dos fenômenos ora agitando os povos são de natureza divina. A guerra (sempre há alguma em destaque), citando um exemplo, é meramente um instrumento. Razões de “ordem superior” determinam o curso dos acontecimentos.

Um mórbido egoísmo vem regendo o relacionamento entre as nações, provando que o tão decantado ecumenismo não passa de teoria. A situação de fato ratifica nossa afirmação. Além disso, há que se considerar a estratificação de certas posições, a acomodação a certos “status quo”, fatos que irremediavelmente produzem a cristalização. O progresso – e a ele nos referimos no sentido mais amplo e abrangente – não admite cristalizações.

As Leis Naturais trabalham a favor do progresso. Quando esse é ameaçado, aquelas promovem o restabelecimento do equilíbrio. Essa reordenação das coisas provoca certos abalos, interpretados pela falibilidade humana como sendo crises. Trocando em miúdos: a ação das Leis Divinas – a exemplo de um antisséptico em ferimento – tende a produzir dores e incômodos. Seu efeito, porém, é apenas regenerador. Como bem ressalta Max Heindel em várias de suas obras: “tudo trabalha para um BEM maior”.

Outro aspecto também não deve escapar à nossa observação: no interior e não no exterior do ser humano encontram-se as raízes do bem e do mal. O ser humano projeta seus pensamentos e sentimentos em forma de atos e palavras, influenciando seu meio ambiente imediato. Quando esses atos e palavras assumem configurações coletivas, suas implicações abrangem o mundo todo, beneficiando-o ou conturbando-o. Via de regra conturbam-no.

O mundo não será melhor enquanto o ser humano não se aprimorar interiormente, pelo cultivo de suas faculdades espirituais e potencialidades divinas.

Eis porque meios exclusivamente físicos e exteriores não bastarão para transformar o panorama mundial. Nem a fria álgebra dos economistas, muito menos a eloquente e rebuscada retórica política possui força suficiente para, pelo menos, amenizar as crises que afligem a humanidade.

A despeito de tudo, não nos alarmemos. Inteligências Superiores, conhecidas como Hierarquias Criadoras, zelam amorosamente pelo nosso desenvolvimento. Se mantivermos o necessário equilíbrio, atravessaremos incólumes as dificuldades presentes. E com uma vantagem: enriquecidos por valiosas experiências.

Deixemos de lado os temores. Seja nossa única preocupação trabalhar mais eficientemente em benefício dos demais. O resto virá por acréscimo.

Construamos nosso futuro.

Vivamos o novo ano!

Que as rosas floresçam em vossa cruz

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Astrologia ao Longo do nosso Tempo aqui – Parte 4: Primeiro Milênio depois de Cristo

Sob o Império Romano, muitos astrólogos eram apenas “adivinhos”. No entanto, os imperadores tinham, em sua maioria, seu astrólogo designado.

Augusto (63 a.C.- 14 d.C.) cunhou moedas de prata com o Signo de Capricórnio sob o qual nasceu (Signo Solar ou Lunar?).

Tibério (42 a.C.- 37 d.C.) jogou no mar do topo de uma rocha os astrólogos cujas previsões lhe pareciam suspeitas.

Diocleciano (245 – 313) proibiu qualquer tipo de adivinhação.

Constantino (280-337), que o sucedeu, suavizou essa proibição condenando apenas os abusos.

O grande teórico da Astrologia foi Cláudio Ptolomeu, astrônomo-astrólogo e matemático do século II d.C., nascido em Ptolemaida no Alto Egito e que fez suas pesquisas em Alexandria. Seu trabalho, o Tetrabiblos (4 livros), é uma compilação de todo o conhecimento astrológico de seu tempo.

Escreve também um livro de Astronomia, o Almagesto, em que a Terra está fixa, no centro do mundo e o Sol e a Lua giram em torno dela em órbitas circulares.

A grande originalidade de Ptolomeu é ter conseguido explicar as principais irregularidades dos movimentos dos diferentes Planetas, vistos da Terra (Retrogradações), na sua teoria dos epiciclos, que será dogma durante 14 séculos, até Copérnico.

Adota o sistema de Casas que divide cada um dos quatro ângulos: AS-MC, MC-DS, DS-FC, FC-AS em três partes iguais (AS = Ascendente; DS = Descendente; MC = Meio do Céu; FC = Fundo do Céu).

Mas, sem dúvida, a diferença com o outro sistema antigo do qual falamos anteriormente não é muito grande, faz com que a influência de uma Casa comece cinco graus antes e termine cinco graus antes da seguinte.

É, em parte, a noção de uma Órbita de Influência de uma Casa astrológica que ainda é usada hoje.

A Religião Cristã dos primeiros séculos era totalmente contra a Astrologia?

Sabemos que há condenações de “adivinhação” no Antigo Testamento (Dt 18:10-11[1]; ISm 28:7[2]; Is 8:19[3]), mas a palavra “astrologia” é uma tradução incorreta de uma palavra hebraica que significa “conjecturador” (veja: Bíblia de Chouraqui[4]).

Além disso, os cabalistas a praticavam tão bem quanto os essênios. Referências astrológicas muito claras foram encontradas nos Manuscritos do Mar Morto (Manuscrito 4Q186).

Nossos futuristas modernos também seriam condenados?

A Religião Cristã tem usado símbolos astrológicos desde o seu início:

– A Era de Áries estava chegando ao fim, quando Jesus Cristo veio à nossa Terra. Cristo foi o “Bom Pastor” (Jo 10:11[5]).

– Ele, frequentemente, compara seus Discípulos a ovelhas e se torna Ele mesmo o Cordeiro de Deus oferecido pelos pecados do mundo.

– Mas ele também anuncia a Era de Peixes quando diz: “Eu vos farei pescadores de homens” (Lc 5:10[6]).

– O sinal de união dos primeiros Cristãos nas catacumbas era formado por dois peixes cruzados (ichthus) e a mitra dos bispos em forma de cabeça de peixe.

– O nascimento de Jesus foi colocado em 24 de dezembro à meia-noite, quando o Signo de Virgem está no Ascendente e o Sol no Solstício de Dezembro vai “nascer” para nos salvar do frio (é claro que essa data é essencialmente simbólica porque faz muito frio nessa época do ano, mesmo em Israel, para encontrar ali pastores com suas ovelhas, lá fora no meio da noite…).

– Quem são os Magos, senão astrólogos?

– A Páscoa é fixada no domingo (dia do Sol) que segue a Lua Cheia do Equinócio de Março, quando o Sol está na cruz formada pela eclíptica e pelo equador celeste.

Entre os primeiros eclesiásticos, alguns se interessaram muito pela Astrologia, tanto que três concílios sucessivos em 381, 431, 451 reiteraram a proibição de praticar a Astrologia considerada, apesar do que acabamos de ver, contrária à doutrina da Religião Cristã.

São Jerônimo (347-420) respeitou essa proibição, mas escreveu: “Sou silencioso sobre filósofos, astrônomos, astrólogos, cuja ciência, muito útil aos seres humanos, é afirmada por dogmas, é explicada pelo método, é justificada pela experiência.

Santo Agostinho (354-430) é conhecido como opositor da Astrologia, após sua conversão. Ele já havia sido atraído pelo maniqueísmo e admite, em suas Confissões, ter estudado Astrologia. Ele escreve mesmo assim: “Não seria totalmente absurdo dizer que certas influências astrais não são destituídas de poder sobre as variações do corpo, mas que as vontades da alma dependem da situação das estrelas, não vemos isso” (parece-me que Max Heindel não discordaria totalmente dessa afirmação que é sobretudo a do livre arbítrio do ser humano).

Por fim, citemos a obra do pseudo Dionísio, o Areopagita, composta por 4 tratados de teologia mística em que a Astrologia está presente e que terão uma influência grande no Ocidente a partir do século XIII, como veremos mais adiante.

Essa obra é considerada datada do século V, tanto pelo caráter neoplatônico do conteúdo quanto pelo fato de nunca ter sido mencionada antes dessa época, embora seu autor afirme em seus escritos ser o Dionísio convertido por São Paulo durante sua visita ao Areópago (At 17:16[7] a 34[8]) e que teria sido o primeiro bispo de Atenas. A partir do século V e até o século XI, o Ocidente praticamente deixou de se interessar pela Astrologia, como também por várias outras ciências, salvo alguns religiosos cultos.

Sabemos, por exemplo, que Papas como Leão III (750-816) e Silvestre II, o Papa do ano 1000 (938-1003), se interessaram por ela.

(De: Introduction: L’astrologie Selon Les Enseignements Rosicruciens : L’Astrologie Rosicrucien, da Association Rosicrucienne Max Heindel, Centre de Paris – Texte inspiré de l’enseignement rosicrucien légué à Max Heindel par les Frères Aînés de la Rose-Croix – Traduzido pelos irmãos e irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)


[1] N.T.: Que em teu meio não se encontre alguém que queime seu filho ou sua filha, nem que faça presságio, oráculo, adivinhação ou magia, ou que pratique encantamentos, que interrogue espíritos ou adivinhos, ou ainda que invoque os mortos;

[2] N.T.: Saul disse então aos seus servos: “Buscai-me uma necromante para que eu lhe fale e a consulte”. E os servos lhe responderam: “Há uma em Endor”.

[3] N.T.: Se vos disserem: “Ide consultar os espíritos e os adivinhos, cochichadores e balbuciadores”, não consultará o povo os seus deuses, e os mortos a favor dos vivos?

[4] N.T.: André Chouraqui, famoso tradutor francês.

[5] N.T.: Eu sou o bom pastor: o bom pastor dá sua vida pelas suas ovelhas.

[6] N.T.: Jesus, porém, disse a Simão: “Não tenhas medo! Doravante serás pescador de homens”.

[7] N.T.: Enquanto os esperava em Atenas, seu espírito inflamava-se dentro dele, ao ver cheia de ídolos a cidade.

[8] N.T.: Alguns homens, porém, aderiram a ele e abraçaram a fé. Entre esses achava-se Dionísio, o Areopagita.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Base Racional da Astrologia Rosacruz

Max Heindel

Um correspondente escreveu para pedir uma prova da veracidade da Astrologia Rosacruz. Por que Saturno rege os joelhos e Júpiter, os pés? Ele teve um diálogo com alguém e deseja saber o que pode ser dito sobre esse assunto.

A mera negação da verdade da Astrologia Rosacruz por alguém, porque não lhe agrada, não pode afetar a verdade ou falsidade da Astrologia Rosacruz ou de qualquer outra ciência. Tenhamos em mente que, para ser considerada válida, uma opinião sobre qualquer assunto deve ser o resultado de estudo e investigação. Podemos dizer, ainda, que ninguém merece ser convencido, se não estiver disposto a investigar, até certo ponto, o assunto que ele ousa criticar.

Pessoalmente, o escritor sempre teve como prática nunca falar espontaneamente sobre esses assuntos entre estranhos, embora sempre disposto a apresentar evidências quando a oportunidade se apresenta; pois, sempre se descobriu que “uma pessoa convencida contra a sua vontade não muda sua opinião de verdade”.

Há, no entanto, muitas provas da verdade e da base lógica da Astrologia Rosacruz. Um antigo provérbio caseiro diz que “a prova do pudim está em comê-lo” e certamente não pode haver melhor prova da verdade da Astrologia Rosacruz do que a de que ela funcione na vida diária. Muitas vezes tem sido o privilégio do escritor ver o cético sarcástico se tornar um defensor ardente dessa ciência, quando um ou dois testes provaram a ele a verdade da Astrologia Rosacruz. Ficaria, assim, tão impaciente com aqueles que ridicularizavam essa ciência ou negavam sua base racional quanto já havia ficado com aqueles que advogavam a exatidão da ciência sagrada.

Se você quiser satisfazer um cínico desdenhoso, pegue seu próprio horóscopo ou algum assunto intimamente relacionado com ele e aplique a Astrologia Rosacruz nisso. Você descobrirá então que não importa quão dura seja a cabeça dele, a Astrologia Rosacruz abrirá caminho; sim, mesmo que a cabeça dele seja tão dura que exija um trem para forçá-lo a aceitar a validade da Astrologia Rosacruz. Até isso será suprido, como mostra o caso mencionado no Conceito Rosacruz do Cosmos, em que o escritor disse a um homem para ficar em casa em dois determinados dias; para evitar principalmente os bondes e outros veículos de locomoção, sejam eles de que natureza for; pois de outra forma ele sofreria um acidente que afetaria certas partes específicas do corpo. Quando ele, descuidadamente, desconsiderou esse conselho, ficou ferido em um acidente ferroviário como consequência e foi submetido a um sofrimento severo de três meses, antes de poder escrever uma explicação sobre o seu descuido.

Ele disse na carta, que ainda temos: “Este acidente aprofundou meu respeito pela Astrologia Rosacruz”. Sim e não é de admirar; ele “comeu o pudim e o pudim provou ser verdadeiro”. Portanto, ele agora é um fervoroso defensor da Astrologia Rosacruz e faz palestras sobre esse assunto, entre outros. Algumas previsões podem se tornar realidade, se feitas um pouco antes do evento acontecer, porque a sugestão do Astrólogo Rosacruz atua como fator para o cumprimento da profecia. Mas, certamente ninguém pode explicar o caso aqui citado sobre ou qualquer hipótese semelhante. As colisões ferroviárias, geralmente, não são causadas por sugestões, nem uma determinada pessoa é enviada a tal cena para receber ferimentos de natureza grave em certas partes do corpo que foram definitivamente mencionadas na previsão.

Portanto, acreditamos sinceramente que mesmo o campeão da coincidência, o Prof. Proctor, famoso pela pirâmide, não poderia ter fornecido um comentário que explicasse com sucesso todas as diferentes fases dessa profecia e o seu cumprimento.

A predição acima foi baseada na máxima astrológica de que Gêmeos rege os ombros, Touro rege o pescoço e o cerebelo e Câncer, o peito; pois, duas dessas partes foram atingidas no acidente. Observações semelhantes realizadas por astrólogos mostram que Capricórnio, regido por Saturno, rege os joelhos, e Júpiter rege Peixes, o Signo dos pés.

Outra história ferroviária

Enquanto o acidente relatado em nosso artigo sobre “A lógica da Astrologia” foi previsto apenas três meses antes de acontecer, previmos outro acidente ferroviário mais ou menos na mesma época, ou seja, no verão de 1906. Mas, esse acidente não deveria acontecer até agosto de 1909, aproximadamente. Chamaremos o sujeito desse acidente de Sr. X. Vimos que em agosto de 1909 ele faria uma viagem de trem por prazer e que sofreria um acidente, mas escaparia ileso. Vimos também que em setembro de 1909, um mês depois, faria uma longa viagem em conexão com um importante empreendimento literário; mas, não imaginamos, na época, o quão intimamente nós mesmos estaríamos associados com o cumprimento desse assunto.

Enquanto isso, o escritor foi para a Alemanha, onde recebeu as instruções que resultaram na disseminação dos Ensinamentos Rosacruzes pelo mundo ocidental. E depois de escrever o Conceito Rosacruz do Cosmos e as Vinte Palestras (Cristianismo Rosacruz), ele foi para o oeste novamente, para Seattle, durante a Exposição do Pacífico de Yukon no Alaska, em 1909. Lá ele novamente encontrou o Sr. X. e, em agosto, quando suas palestras foram concluídas, aquele cavalheiro o convidou para dar uma corrida até o Parque Yellowstone. Depois dessa viagem de lazer e de um descanso, ele propôs que fôssemos a Chicago, para ter o Conceito Rosacruz do Cosmos publicado.

O escritor estava muito ocupado com a obra literária em mãos, no entanto, para aceitar o convite para o Parque Nacional de Yellowstone; então o Sr. X. foi sozinho. Entre Gardner Junction e o parque, seu trem descarrilou; todos os passageiros ficaram consideravelmente abalados, mas ninguém se feriu. Após o seu retorno, nós dois fomos para Chicago, onde o Conceito Rosacruz do Cosmos foi publicado e, dessa forma, a previsão feita três anos antes foi cumprida. Deve-se dizer, no entanto, que nós dois havíamos esquecido a previsão até mais tarde, quando o Sr. X. trouxe o horóscopo onde ela estava, pois ele o encontrou enquanto folheava alguns documentos.

Esse certamente é outro caso que desafiará, com sucesso, a explicação de que a sugestão causou a realização. Que humano poderia organizar um acidente ferroviário três anos antes de ele acontecer e garantir a segurança dos passageiros? O escritor sabia muito pouco sobre os Rosacruzes naquela época e não sonhava então com a boa sorte reservada para ele como seu mensageiro. Ele teve apenas uma experiência pessoal do poder da alma latente dentro dele e não desenvolveu nem pensou em desenvolver a faculdade da escrita. Ele não tinha vontade alguma de se tornar um autor e, portanto, não poderia sugerir um importante empreendimento literário que levaria o Sr. X. a Yellowstone (e depois a Chicago), em setembro de 1909. Só há uma explicação possível: as estrelas contaram a história e era verdade.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de novembro/1915 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Água Viva lhe mostra: Você sofre porque quer, teme porque quer

No Evangelho Segundo São João 4:5-10 estudamos que Cristo-Jesuschegou, então, a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto da região que Jacó tinha dado a seu filho José” e onde se achava o poço (“Ali se achava a fonte de Jacó”) de onde se tirava a água que dessedentara Jacó, sua descendência e seu gado. No versículo 6 lemos que, “fatigado da caminhada, Jesus sentou-se junto à fonte”, quando “Uma mulher da Samaria chegou para tirar água. Cristo-Jesus viu essa samaritana chegar e disse-lhe então: “Mulher, dá-me de beber”. Essa, percebendo tratar-se de um judeu, respondeu: “Como, sendo judeu, tu me pedes de beber, a mim que sou samaritana?”. Porque os judeus não se comunicam com os samaritanos. A isso respondeu Cristo-Jesus: “Se conhecesses o dom de Deus e quem é que te diz: ‘Dá-me de beber’, tu é que lhe pedirias e ele te daria água viva!”.

Preste a atenção a alguns pontos de relevante importância a respeito de sua própria vida e de toda a humanidade.

Esse foi o primeiro passo dado por Cristo em Seu Ministério, para estender fora do povo escolhido, a toda a humanidade, sua doutrina unificadora e redentora. No entanto, até hoje a maioria da humanidade abrasa na sede da insatisfação íntima e de sofrimento de toda a ordem, cuja causa única é a falta de compreensão e, sobretudo, de vivência das grandes e sempre atuais verdades contidas nas entrelinhas dos Evangelhos.

Cristo-Jesus conhecia profundamente as carências humanas quando dizia: “tendes olhos e não vedes, ouvidos e não ouvis.” (Mc 8:18). A evolução do ser humano comum é lenta. Alguns há que entram e saem da aula da vida quase no mesmo estado. Mais de dois mil anos transcorreram e se Cristo hoje voltasse ao mundo teria de dizer as mesmas coisas. Por isso afirmou que não sabia quando voltaria. Depende somente de nós…

Cumprindo a finalidade da Fraternidade Rosacruz é que vimos juntar esta exortação: “não há nada mais essencial nesta vida do que o conhecimento de nossa própria natureza e a razão de nossa existência”. A Fraternidade Rosacruz pode esclarecer integralmente, dando uma real motivação à sua vida e ajudando-o a assentar as bases da verdadeira paz e felicidade.

Quando, em 1909, foi lançado a público a obra fundamental de Max Heindel, o livro “Conceito Rosacruz do Cosmos”, foi justamente para lançar nova luz à má compreendida Religião Cristã, dando a chave para um entendimento racional das verdades evangélicas e sua conciliação com a vida moderna. A Filosofia Rosacruz ilumina a parábola e o simbolismo permitindo-nos penetrar-lhe a essência figuradamente exposta pelo Mestre “para os que a vissem, não a enxergassem, e ouvindo-a, não a escutassem”, isso é, oculta dos que buscam a beleza exterior, o encanto da forma e não a alma, vislumbrada apenas por quem tem amadurecimento interior.

Falamos de uma cidade e de um poço, ao lado do qual se sentou Cristo-Jesus. Falamos também da água viva, referida pelo Mestre à mulher samaritana.

Que significa cidade? Ao pé da letra e num sentido histórico, quase nenhum proveito e sentido trás. Porém, considerando esotericamente o termo, veremos tratar-se de uma parte da nossa natureza, cujos elementos nós, o Ego, busca incorporar a seu Reino. Ali existia um poço, a beira do qual, como Egos cansados da jornada, paramos para repousar. Realmente, nós, o Ego, nos estafamos na luta pela conquista da nossa “natureza inferior”, que se alimenta ainda do poço de suas tradições, de seus hábitos e desconhece o sabor da água viva, que satisfaz permanentemente nossas necessidades reais, pois somos Egos e não há como fugir dos nossos próprios reclamos. Enquanto continuamos a beber da água do poço, teremos necessidade de renascer. Só a água viva da espiritualidade poderá redimir e transubstanciar o que há de humano, espiritualizar o que há de material, eternizar o que há de transitório, conforme nos explica o apóstolo São Paulo em sua Epístola aos Efésios. Realmente, não encontramos tempo para alimentar nossa alma com coisas superiores. Não buscamos uma pausa para uma prece sentida. A vida do ser humano comum decorre numa competição febril e nervosa, cheia de preocupações, angústias, temores, ódio, astúcias, ambições e seu preço logo se evidencia nas mais variadas formas de enfermidades ou doenças modernas, que devastam o Corpo Denso, até muito antes dos cinquenta anos de idade aqui (!). Quem disse que a vida espiritual não tem fundamento prático? Não nos referimos à Religião, tal como é hoje praticada pela maioria. Nem a criticamos. A culpa é daqueles seres que se acomodaram às suas conveniências. Cristo continua em Seu lugar e continua a esperar pelo nosso entendimento e pela prática dos princípios que nos levarão à posteridade. Não há outro Caminho, não há outra Verdade, não há outra vida real senão essa: a água viva que Ele oferece a todos.

Você sofre porque quer, teme porque quer. Está em seu livre arbítrio escolher a solução. Um bom ano novo não pode cair das nuvens ou esperar contar com a sorte. Precisa ser conquistado por cada um de nós.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – janeiro/1967 – Fraternidade Rosacruz – SP)

(*) Pintura: -Jesus asks the Samaritan woman for a draft from the well-Gusatve Dore 1866-1870

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

São Tiago e São João – Os filhos do trovão

E subiu ao monte, e chamou para Si os que Ele quis, e os nomeou doze para que estivessem com Ele… e para que tivessem o poder de curar as doenças e enfermidades e expulsar os demônios. A Simão a quem acrescentou o nome de Pedro, e a Tiago, filho de Zebedeu, e a João, irmão de Tiago, aos quais deu o nome de Boanerges, que significa Filhos do Trovão… (Mc 8:13-17).

A jornada dos Discípulos principia quando foram ordenados por Cristo após suas Iniciações. Podemos segui-los durante os anos de ministério de seu Mestre e Salvador, prosseguindo depois o seu trabalho na Terra.

Durante esses anos todos, foram beneficiados pela presença e profundo amor do Galileu. As chacotas dos populares pouco os atingiam, em comparação com a felicidade que sentiam no trabalho do “Caminho”, na vinha do Senhor. E qual dos Discípulos era o mais próximo do Cristo, o que mais afinidade conseguiu com o Mestre, quem melhor O compreendeu?

De todos os Discípulos, João foi chamado de “amado” pelo Mestre. Em sua juventude era impulsivo, ambicioso e até vingativo. Só quando cresceu em espírito vislumbramos a sua maravilhosa essência, pelo Cristo reconhecida desde o início.

Apesar de ter sido o mais jovem de todos os Discípulos, ele, segundo a história, viveu mais do que todos. Narra a tradição que ao redor de seus noventa anos era levado à Igreja de Éfeso, onde permanecia testemunhando radiantemente a sua fé. Não dizia outra coisa que: “Meus filhinhos, amai-vos uns aos outros”. Para um mais profundo estudo da vivência Cristã desse Discípulo, observemo-lo jovem, porque houve uma marcante diferença entre as duas fases de sua vida, juventude e velhice.

A Bíblia nos diz que esse era o Discípulo amado. Porém, curiosamente Cristo Jesus chamou aos irmãos Tiago e João de “Filhos do Trovão”, literalmente significando aqueles que fazem muito barulho e são a fonte constante de perturbações.

Aparentemente os dois irmãos eram bem conhecidos do Mestre. Os dois “Boanerges” … Filhos do Trovão… (Mc 3:13-17).

Certa vez no caminho de Jerusalém, no meio de Seu pequeno grupo, o Senhor predisse as coisas terríveis que lhe aconteceriam e toda a glória que o Pai lhe reservara. Os dois irmãos, menos interessados nos pormenores da trágica profecia, e visando algo mais grandioso e atraente, qual seja a alta direção de um reinado, de imediato rogaram ao Mestre: “Concede-nos que na tua glória nos assentemos, um à tua direita e outro à tua esquerda” (Mc 10). Mas Cristo Jesus lhes respondeu: “Não sabeis o que pedis, podeis vós beber o cálice que eu bebo, e ser batizados com o batismo com que eu sou batizado?” E eles disseram: “Podemos”. Com essa resposta causaram discórdia naquele grupo ora tão harmonioso. “E os dez, tendo ouvido isso começaram a indignar-se contra Tiago e João” (Mc 10:41). E repreendeu-os Cristo Jesus: “Sabeis que os que julgam ser príncipes das gentes, delas se assenhoreiam e os seus grandes usam da autoridade sobre elas. Mas entre vós não será assim… aquele dentre vós que quiser ser o maior seja o servo de todos”.

Não é, pois, de se admirar que Cristo Jesus lhes apelidasse de “Filhos do Trovão”. Naquele dia os Discípulos aprenderam uma lição valiosa: os Filhos de Deus não exercem autoridade sobre o seu semelhante.

Quando a presença do Senhor pareceu indesejável aos moradores de uma aldeia samaritana, prontamente os dois irmãos reagiram. Movidos pelo amor para com o Mestre, mas ainda carentes de sabedoria, disseram: “Senhor, é de Tua vontade que ordenemos que chamas ardentes desçam dos céus e os consumam, como já aconteceu com Elias?”. A essa demonstração muito humana de solidariedade, que não passava, realmente, de um simples desejo de vingança, revestido de uma aparência de virtude, O Mestre respondeu: “O Filho do Homem não veio para destruir os homens, e sim para salvá-los.”. Essa atitude deve ter parecido muito curiosa aos Discípulos, porém o Caminho Superior exige o conhecimento de certas leis: a disciplina interna no relacionamento com outros seres humanos e o respeito à sua divina essência, apesar de suas manifestações inferiores, ou justamente por causa delas. Os Filhos de Deus devem representar um padrão de humanidade a ser seguido pelos semelhantes.

Escreve Max Heindel: “O Discípulo deve passar por um período de treinamento, através do qual alcança tal ponto de maturidade espiritual em que fica capacitado a viver as verdades assimiladas. Então, no tempo certo, torna-se mais fácil, para o Mestre ou Iniciador, mostrar-lhe pela primeira vez, como aplicar a verdade assimilada, como utilizar o poder acumulado, seguindo-se, realmente, a Iniciação”. Esse é, na verdade, o caminho trilhado pelos Discípulos do Cristo. Através do demorado processo da transmutação, eis que os Filhos do Trovão passaram a ser Iniciados de alto grau. O Evangelho Segundo São João, Cap. 14-17, contém informações a respeito da nova forma de Religião a substituir o Cristianismo, conhecida como Religião do Pai. Ela deverá elevar os Discípulos ao Mundo do Espírito Divino. São João diz a esse respeito: “Quem nega o Filho, não tem o Pai, porém, aquele que confessa o Filho, também tem o Pai”.

O inspirado Browning[1] escreveu estes versos e de sua atmosfera, por vezes enigmática, emerge um personagem que reconhecemos como João, o velho João, já muito cansado, falando através da pena do poeta:

“Já passou tanto tempo… tanto tempo…

Tiago e Pedro já foram libertados pela morte.

E só fiquei eu, o vosso irmão João, que tudo viu,

Que tudo ouviu e que tudo se lembra. Na Terra,

Já não há ninguém vivo que possa testemunhar  

Sobre o que viu com os seus olhos, sobre o que tocou

Com suas mãos! Lembro-me DELE, a própria Palavra da Vida,

Dizendo: “Eu sou”, desde o começo do mundo.

Ah! E como será esse Seu mundo,

Quando o último que possa dizer 

“Eu conheci”, vos terá deixado?”.

O velho Filho do Trovão… muito cansado e possivelmente só. A cada domingo é conduzido à igreja, lá em Éfeso. Não tem mais outra mensagem para a humanidade. Só diz: “Filhinhos, amai-vos uns aos outros” …

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de abril/1977-Fraternidade Rosacruz-SP)


[1] N.R.: Robert Browning (1812-1889) foi um poeta e dramaturgo inglês.

(*) Pintura: São João e São Tiago maior – El Greco 1610-1614

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O que é Consciência?

Uma bolha do infinito que se emaranhou na matéria e que lentamente está voltando à sua fonte no Espírito Eterno. Assim como a manteiga evoluiu a partir do creme, da mesma forma o universo manifesto evoluiu a partir da Substância não manifestada e Infinita. E como as bolhas de leitelho (o soro de leite coalhado) são capturadas na massa de manteiga, também na Criação universal as bolhas do Espírito Infinito são capturadas na matéria.

Como uma bolha de ar que é liberada da sua escravidão na lama no fundo de um lago sobe lenta, mas seguramente, através da lama, do lodo e da água até atingir a superfície, onde se expande, explode e se une ao seu próprio elemento, assim também é o progresso do Ego individual em sua jornada ascendente para a união final com Deus. Nos primeiros estágios da sua evolução, no Reino mineral, o Ego individual, ou consciência, é fortemente oprimido pela matéria grosseira — isso é, a matéria pressiona tão fortemente a consciência que “sua vida é completamente esmagada”; daí, o seu estado de “inconsciência”. Mas, no Reino vegetal a pressão da matéria é um tanto aliviada e o Ego torna-se semiconsciente; uma forma ainda mais elevada de consciência é aparente no Reino animal; mas a autoconsciência não se torna manifesta até que o Reino humano seja alcançado.

Mas, também no Reino humano, em vários momentos e sob diversas condições, todas as formas inferiores são encontradas. Mesmo a autoconsciência assume várias formas — como a imaginativa, a intelectual, a intuitiva, a “classe” e os estados cósmicos. O verdadeiro Ego, ou “Eu superior”, “Aquilo que em ti conhece”, é claro, nada mais é do que a consciência. É Aquilo que pensa e sente, que move e age, que tem vontade. Percebendo isso, os problemas da vida, do desenvolvimento individual e da autoevolução tornam-se simplesmente uma questão de uso ou expansão da própria consciência, sendo ilimitada a extensão de tal uso ou sua expansão.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de junho/1918 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pergunta: É absolutamente necessário viver uma vida de ascetismo para evoluir espiritualmente e desenvolver os poderes psíquicos?

Resposta: Isso depende do que a pessoa que pergunta entende por ascetismo. Algumas pessoas no Oriente se jogam dentro de um barril de pregos e se mexem todo para mortificar a carne, ou se chicoteiam e se mutilam de várias maneiras para obter os poderes espirituais. Certamente, isso não está correto. Eles podem e, às vezes, se tornam clarividentes, mas esse percurso é tão repreensível e seus resultados tão transitórios quanto os efeitos obtidos pela bola de cristal, pelo hábito de drogas e por métodos similares.

Devemos compreender que esse Corpo Denso é o nosso instrumento mais valioso e, que é nosso dever lhe fornecer todos os devidos cuidados com esmero, para que, sob essas boas condições, possa ser conduzido à saúde e ao bem-estar. Nenhum poder obtido por maltratar nosso Corpo Denso será de natureza elevada e, portanto, não é duradouro e nem totalmente eficiente.

Porém, algumas pessoas entendem que ascetismo é “viver uma vida saudável e pura”. Desejam o poder espiritual sem sacrificar as tendências animais; eles desejam voar por entre as nuvens, livremente, embora outros chafurdem na lama para reivindicar a liberdade. Querem continuar ingerindo alimentos não saudáveis ou não se preocupar com o tipo de alimento que consomem, empanturrando-se de carne animal, de bebidas alcoólicas, de tabaco e até de drogas, satisfazendo suas paixões e desejos sensuais em todos os sentidos e, ao mesmo tempo, querem ter poderes espirituais.

Isso não pode ser possível. Nossos Corpos (Corpo Denso, Corpo Vital, Corpo de Desejos) e a Mente são nossas ferramentas. Um bom trabalhador aprecia o valor de boas ferramentas e as mantém nas melhores condições – afiadas e limpas. Quando nossos sentidos estão entorpecidos pelo consumo de bebidas alcoólicas e pelo tabaco e, às vezes, até de drogas, quando o nosso organismo é forçado a empregar toda a energia para digerir ou eliminar alimentos não saudáveis, dessa maneira, pode-se esperar que o ser humano seja um sensitivo? Não podemos servir a Deus e a Mamom; a escolha é nossa. Se queremos poderes espirituais, devemos pagar o preço levando uma vida realmente saudável; isto é, fornecer ao nosso corpo alimentos saudáveis e cumprir as regras vivendo de forma simples; nos abstendo de tudo que entorpece os sentidos — bebidas alcoólicas, tabaco e abusos similares. Se isso é chamado de “uma vida de ascetismo”, então o ascetismo é absolutamente necessário.

(Pergunta nº 138 do Livro “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas Vol. I” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Causa da Tristeza Profunda, da Angústia e do Sofrimento

Max Heindel

Reunimo-nos novamente esta noite com o propósito de concentrar nossos pensamentos na segunda parte do mandamento de Cristo: “curai os enfermos”. Pois consideramos essa parte do mandamento divino tão obrigatória para seus seguidores quanto a primeira parte, que nos exorta a “pregar o Evangelho”. Mas, se entendermos bem esse mandamento, não nos contentaremos em meramente tentar aliviar a dor, a tristeza profunda, a angústia e o sofrimento de qualquer um ou de qualquer número de pessoas. Tentaremos chegar à causa de todo sofrimento humano para que, eliminando a causa principal (a causa fundamental, a causa-raiz) possamos erradicar os efeitos. Para fazer isso, para chegar a uma conclusão verdadeira sobre a origem da tristeza profunda, da angústia e do sofrimento, ao tempo em que descobrimos os meios para sua erradicação permanente, devemos voltar ao passado distante; de fato, ao início da existência física.

A Bíblia foi dada ao mundo ocidental pelos Anjos do Destino que, estando acima de todos os erros, dão a cada nação a Religião mais adequada para guiá-la no caminho da sua evolução espiritual e física; e, se buscarmos a luz nessa fonte, certamente a encontraremos. Deve-se ter em mente que o Cristo ensinou a multidão por parábolas, mas deu aos Seus Discípulos o significado dessas parábolas e as coisas mais profundas sobre os mistérios do Reino dos Céus. São Paulo também ensinou uma verdade diferente, ou melhor, mais profunda (“carne”) para aqueles que eram fortes na fé, mas deu o “leite” das doutrinas mais elementares aos bebês. Da mesma forma, devemos entender que, além do significado que a Palavra de Deus carrega em sua face, há um lado mais profundo e oculto sobre o qual faremos bem em ponderar esta noite.

Aprendemos primeiro a ideia de que a Terra nem sempre foi como é hoje; que houve um imenso período de formação e que este Planeta deve ter passado por vários estágios de desenvolvimento antes de atingir a condição atual. Vemos nas nebulosas do céu, que agora são ígneas. Podemos entender que a umidade deve ser condensada por esse fogo da fria extensão do espaço; também podemos entender que essa umidade se evapora rapidamente quando entra em contato com um vórtice tão ardente e rodopiante; que o vapor gerado sobe ao espaço para ser ali condensado novamente pelo frio, passando assim por inúmeros ciclos de evaporação e condensação até que, finalmente, forma-se uma crosta ao redor do núcleo ígneo. Essa crosta se torna mais dura quando gradualmente a umidade supérflua é evaporada como uma névoa. A névoa eventualmente se reúne e condensa em uma nuvem, caindo novamente sobre o Planeta como um dilúvio e deixando as condições climáticas como as encontramos hoje na Terra. A esses estágios os Ensinamentos Rosacruzes chamam de Épocas, denominadas Época Hiperbórea, Época Atlante e Época Ária.

Não falaremos da primeira dessas Épocas mencionadas. Mas, durante a última parte da Época Lemúrica, quando a humanidade ainda vivia em ilhas cercadas de fogo na crosta em formação, os humanos eram muito diferentes da humanidade de hoje. Eles eram, de fato, gigantes de uma forma corporal que seria repulsiva para nossas atuais noções de simetria e beleza corporal; mas, diferiam de nós particularmente neste fato: o Ego ainda não tinha aprendido a administrar o seu corpo de forma adequada e permanente. Na verdade, eles não sabiam, naquela Época, que tinham corpos; eles os usavam tão inconscientemente quanto usamos atualmente o nosso aparelho digestivo. A visão deles estava totalmente focada nos Mundo espirituais e eles viam Deus face-a-face, ou melhor, aqueles que eles pensavam ser Deus; isto é, os Mensageiros Divinos que os guiaram como as crianças são guiadas por seus pais, porque naquela época eles não tinham desenvolvido a vontade, como temos hoje.

Estando inconscientes de seus corpos, eles não conheciam o nascimento nem a morte. A perda de um veículo físico acontecia frequentemente por causa das erupções vulcânicas que eram comuns em nossa Terra em formação; mas, era como a queda de uma folha seca da árvore e não produzia diferença alguma em sua consciência. Nem era o nascimento de um novo corpo um evento de distração, porque durante o nascimento e a morte sua consciência estava focada nos Mundos Invisíveis aos olhos físicos.

Em certas épocas do ano, os Anjos, que sempre foram os precursores do nascimento, conduziam essas hostes de humanos em grandes templos em que o ato propagativo era realizado como um ato de sacrifício sob os raios astrais (Sol, Lua e Planetas) apropriados. Nesses momentos de intenso contato íntimo, a atenção do ser humano era temporariamente desviada dos Mundos espirituais para a Região Química do Mundo Físico e, assim, “Adão conheceu sua esposa”.

Assim, a tônica do corpo, então concebido, estava em perfeita sintonia com a harmonia das esferas naquele momento e, portanto, o parto era indolor, a saúde era perfeita e a morte não aterrorizava a humanidade daquela época.

Mas, os Anjos não eram todos da mesma natureza. Havia duas classes; uma sintonizada com a Água e outra, com o Fogo. É a última classe que foi interpelada por Isaías (14:12) naquela maravilhosa passagem em que ele diz:

Ó Lúcifer, filho da manhã,

Como você caiu do Céu!

Dos Espíritos da Água, ou verdadeiros Anjos, o ser humano recebeu o cérebro; mas Lúcifer (lucis + ferre = o portador da luz; no original em hebraico temos Hêlêl = o brilhante), Espírito do Fogo, é o “doador de luz”. Dos Espíritos do Fogo veio a luz da razão.

O Corpo de Desejos do ser humano foi por eles impregnado de uma nova faculdade: impulso. E como era necessário que eles usassem um instrumento físico para seu próprio desenvolvimento, embora fossem incapazes de criar tal veículo, eles ensinaram ao ser humano para que esse tivesse um Corpo Denso e o esclareceram sobre o método pelo qual ele poderia gerar um novo veículo a qualquer momento, quando o antigo morresse, independentemente das condições astrais; e o ser humano, cedendo ao impulso dos Espíritos de Lúcifer, incitado pela paixão que eles incutiram, passou a considerar o ato gerador como meio de gozo e gratificação, em vez de um Sacramento. Assim, os corpos nascidos sob tais condições estavam fora de sintonia com a Harmonia Cósmica. Portanto, o parto tornou-se doloroso, a saúde ficou prejudicada e a Morte entrou em seu reinado como o “Rei dos Terrores”.

Enquanto Adão conhecia sua esposa apenas durante o tempo em que os Anjos presidiam o ato propagativo, sua consciência estava focada durante todo o tempo restante nos Mundos espirituais. Mas, as coisas tornaram-se radicalmente diferentes quando o ser humano tomou o assunto em suas próprias mãos. Quanto mais frequentemente ele conhecia sua esposa para autogratificação, mais frequente e completamente sua consciência se concentrava no Mundo Físico e mais ele perdia de vista os reinos superiores, até que finalmente eles foram esquecidos, ou quase. Portanto, o nascimento agora parece o começo da vida. Começa com dor para mãe e bebê; a própria vida costuma ser um caminho de dor e sofrimento, porque em Espírito nos sentimos órfãos de nosso Pai; e no final está a morte, o “Rei dos Terrores”, para introduzir o Espírito no que é, para nossa consciência física, um grande desconhecido, e tudo isso por causa do impulso e da paixão que os Espíritos marciais de Lúcifer gravaram em nossa natureza de desejo. E enquanto a luz do fogo da paixão manchar nossa natureza de desejo, esse regime deve continuar.

O Antigo Testamento começa com o relato de como o ser humano foi desviado de Deus pela falsa Luz dos Espíritos de Lúcifer, dando origem a toda tristeza profunda, angústia e sofrimento do mundo; termina com a promessa de que o Sol da Justiça surgirá com a Cura em suas asas. E no Novo Testamento encontramos o Sol da Justiça, a verdadeira Luz, vindo para salvar o mundo e o primeiro fato que se afirma sobre Ele é que seja de uma Imaculada Conceição.

Agora, esse ponto deve ser totalmente compreendido e deve ficar claro a partir do que foi dito anteriormente: que é a mácula luciferiana da paixão que trouxe tristeza, pecado e sofrimento ao mundo. Antes da impregnação do Corpo de Desejos com esse princípio demoníaco, a Concepção era Imaculada e um Sacramento. O ser humano caminhava então na presença dos Anjos, puro e livre de vergonha. O ato da fertilização era tão casto quanto o da flor. Portanto, quando o mal foi feito, imediatamente o mensageiro, ou Anjo, cingiu-os com folhas para imprimir neles o ideal que eles deveriam aprender a viver; ou seja, a castidade, como a planta é casta. Sempre que somos capazes de realizar o ato gerador de maneira pura, casta e desapaixonada como a planta, ocorre uma Concepção Imaculada e nasce um Cristo capaz de curar todos os sofrimentos da humanidade, capaz de vencer a morte e estabelecer a imortalidade, uma verdadeira luz para conduzir a humanidade para longe do fogo-fátuo da paixão; isso é feito através do autossacrifício pelo companheiro.

Esse, então, é o grande ideal pelo qual estamos lutando: purificar-nos da mácula do egoísmo e da busca egoísta. E, portanto, consideramos o emblema da Rosacruz como um ideal. Pois as sete rosas vermelhas tipificam o sangue purificado; a rosa branca mostra a pureza da vida e a estrela dourada e radiante simboliza aquela inestimável influência para a saúde, utilidade e elevação espiritual que irradia de cada Servo da humanidade.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de outubro/1915 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Renúncia

A renúncia ou renunciamento consiste num esforço de desprendimento progressivo dos laços que ligam o ser humano à vida e à experiência material, tendo em vista ampliar o domínio de sua vida moral e espiritual. É um trabalho de desmaterialização, ou ainda, de abandono dos instintos animais, empreendido para que se efetue a espiritualização, isto é, o acesso mais rápido à vida sobrenatural e feliz do Espírito. É um deslocamento do dinamismo no organismo humano, que se opera reduzindo as exigências sensuais, depois transportando e concentrando as energias vitais, o mais que é possível, sobre as operações espirituais. Pela mesma razão, criam-se relações entre o Corpo e o Espírito que têm por efeito domar a animalidade e fazer triunfar o Espírito.

O renunciamento é, pois, uma espécie de morte, progressiva e antecipada, do ser terrestre que acelera a elevação do Espírito individual e prepara sua união com Deus. “É preciso que vivamos neste mundo”, dizia S. Francisco de Sales, “como se tivéssemos o Espírito no céu e o corpo no túmulo”.

Com efeito; que é que nos pesa neste mundo e retarda o nosso progresso? É a vaga tumultuosa das satisfações concedidas aos desejos egoístas e sensuais. É o livre exercício dos prazeres do orgulho e da sensualidade, essas duas grandes raízes do sofrimento e do embrutecimento.

A vida não é, pois, de alguma forma, mais do que o aprendizado do renunciamento material que se deve realizar sob a ação combinada da Providência diretriz da vontade progressivamente clarividente do indivíduo.

O não-renunciamento cria o sofrimento, forma a doença física e a degradação moral. Não poderá existir verdadeira saúde física e moral sem renunciamento. É por isso que aquele que deseja a saúde material e o progresso espiritual deve recusar-se a entrar na via larga e fácil que o conduz ao “inferno” dos prazeres e da riqueza, do egoísmo, do orgulho e da sensualidade, mas antes procura a via estreita e rude do sacrifício, num esforço permanente de domínio das paixões e da elevação moral. “Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela. E porque estreita é a porta e apertado o caminho que leva à vida e poucos são os que entram por ele!” (Mt 7:13:14).

Antes de Cristo, a renúncia pessoal não existia em parte alguma com tanta caridade, com tanto coração, com tanto sacrifício de si mesmo pelos outros. Muitíssimas vezes contentavam-se com oferecer à divindade uma dádiva material ou a vida dos animais, pensando que a alma animal podia voltar a sua origem criadora e servir de veículo às orações. Só se podia exigir o sacrifício da posse material. Mesmo nas Religiões em que o renunciamento era prescrito, não se tinha observado que o apaziguamento do desejo pessoal deverá ser conduzido mais como obra de altruísmo ativo, isto é, de auxílio mútuo e de resgate. Em suma, não se tinha compreendido que o indivíduo devia, acima de tudo, sacrificar-se por outrem e renunciar a si mesmo pelo amor ao próximo, a fim de se comportar na Terra à imagem de Deus que, por puro amor, se sacrifica, todos os dias, dando a vida às suas criaturas, com o alimento material e espiritual.

O renunciamento pessoal, ativo, constitui, pois, o eixo da vida Cristã.

Assim sua obrigação encontra-se inscrita em termos concordantes nos Evangelhos: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-me” (Mt 16:24). “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo e tome a sua cruz e siga-me” (Mt 8:34). “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo e tome cada dia a sua cruz e siga-me” (Lc 9:23). “Assim, pois qualquer de vós que não renuncie a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo” (Lc 14:33). Se quisermos, então, manter-nos em caminho direito, seguir a verdade e conservar a saúde é necessário termos o cuidado de tomar a cruz dominando as paixões e renunciando a muitos impulsos da Personalidade. E, correlativamente, quando os tormentos morais ou os sofrimentos físicos nos afligem, o verdadeiro remédio, que destruirá o mal na sua origem, será aplicarmo-nos ao renunciamento em certos pontos determinados.

Quantos sofrimentos, na verdade, nos infligimos a nós mesmos por não termos sabido renunciar às ambições exageradas e às vantagens frágeis, por termos estimado demais as nossas capacidades físicas e intelectuais, por teremos bebido e comido em excesso, por termos gastado demasiado forças, em ocupações inúteis ou em excesso de sensualidade, por estarmos agarrados demais aos bens e às afeições deste mundo!

Em lugar, pois, de esperarmos que as pesadas sanções das crises morais e das doenças produzidas pelos pecados do orgulho e da sensualidade se apoderem de nós, quanto se é mais leve das privações voluntárias e consentirmos todos os dias em sacrificarmos um pouco a ambição e sensualidade que permitirão edificar, a pouco e pouco, em nós, os três pilares do renunciamento: a SOBRIEDADE, a HUMILDADE e a CASTIDADE.

(Publicado na Revista: Serviço Rosacruz – maio/1965 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Mente no Tema Natal ou no Horóscopo Natal

Quando vamos ponderar as qualidades mentais de uma pessoa, em um tema astrológico, a primeira coisa que devemos considerar é a posição de Mercúrio. Primeiramente, notemos em que Signo está ele colocado, depois a Casa e, finalmente, os Aspectos que mantém com os outros Astros.

Para não nos estendermos demasiadamente nesta explanação, remeteremos o caro leitor ao livro “Mensagem das Estrelas” para estudar e compreender os efeitos produzidos pelo Astro da razão, nos diferentes Signos do Zodíaco.

Lá encontrará, também, as qualidades básicas de Mercúrio nos doze Signos. Tais qualidades devem ser estudadas cuidadosamente pois do proveito desse estudo dependem os fundamentos em que basearemos depois nossas conclusões. O outro Astro a considerar, no estudo da razão ou mentalidade, é a Lua. Se há um bom Aspecto entre a Lua e Mercúrio, especialmente se esses dois Astros estão colocados nos ângulos do tema e em Signos que podem expressar suas melhores qualidades, podemos confiar que o paciente cooperará com o médico em sua cura.

Todavia, Mercúrio em Conjunção com Saturno proporciona a uma pessoa uma mentalidade obstinada, teimosa, lenta e propensa à melancolia. Mas, Mercúrio em Trígono ou Sextil com Saturno, proporciona a ela uma memória retentiva, uma Mente bem equilibrada possibilitando o desenvolvimento de boas qualidades de razoamento. Marte e Urano em Conjunção com Mercúrio, proporciona ao paciente uma mentalidade impressionável, sensitiva e emocional; também lhe proporciona tendências a ser um lunático, com pouco controle sobre a Mente. Mas, Marte e Urano em Sextil ou Trígono com Mercúrio, fornecerá a ela uma tendência à sensibilidade e à acuidade mental. Mercúrio ou a Lua em Aspecto adverso (Quadratura ou Oposição) à Netuno, proporciona a ela uma Mente inclinada às condições antinaturais e doentias; propenderá às manias e ao fanatismo na prática da Religião, da mediunidade, das bebidas alcoólicas e das drogas. Observe-se a Casa e o Signo em que estão colocados esses Astros, para conhecer o modo como tendem a se manifestar.

Sendo Netuno a oitava superior de Mercúrio, tem ele influência sobre a Mente superior. Netuno em Aspecto adverso com Urano ou com a Lua proporciona tendências para indesejáveis experiências de psiquismo. Afligido por Marte, especialmente em Conjunção com esse ígneo Planeta, o nativo se vê tentado a empregar amiúde o hipnotismo ou a magia negra sobre os demais, expondo-se, por si mesmo, a ser vítima dos que, faltos de quaisquer escrúpulos, usam essas horrendas práticas sobre os outros.

Quando as aflições mentais se verificam na oitava ou décima segunda Casa têm uma influência mais sutil do que em qualquer outra posição. As aflições ou Aspectos adversos ocorrentes na oitava Casa podem resultar à Mente tendências suicidas.

Desejamos imprimir firmemente na memória do leitor que nunca e por nenhuma razão baseie seu diagnóstico somente em um ou dois Aspectos, senão que deve julgar o horóscopo como um todo. Para ilustrar o perigo em que pode se incorrer pelo exame superficial, tomemos o tema de um homem com Mercúrio em Capricórnio e na sexta Casa, formando um só Aspecto, que era uma débil Quadratura com Netuno. Julgando o horóscopo à ligeira se poderia dizer que o nativo tem a tendência a ter uma mentalidade obtusa. No entanto, quando criança foi o primeiro aluno de sua classe. Em matemática e ortografia era verdadeiramente notável. Já homem, ocupou postos relevantes em suas posições e profissão, sendo depois um diretor de uma empresa que exigia muita habilidade executiva e aguda mentalidade. Para esclarecer isso passemos ao que indicavam os outros Astros de seu tema: tinha sete Astros em Signos de Ar, cinco Astros em Signos mentais, a Lua e Netuno com Aspectos benéficos entre si e nos ângulos, o Sol e a Lua em Signos Fixos. Ao resumir o horóscopo pode-se ver claramente por que tal pessoa alcançou tão elevada posição num trabalho mental, apesar de um débil Mercúrio.

Assim, pois, cremos necessário que o leitor tenha sempre em mira, sem esquecer jamais, o conjunto do tema astrológico – o horóscopo –, empregando bem o raciocínio antes de emitir juízo sobre um horóscopo, quer se trate de qualidades mentais, quer de morais, espirituais ou físicas.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – maio/1972 – Fraternidade Rosacruz – SP)

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