Agosto de 1915
Você já percebeu a razão pela qual Cristo determinou que deveríamos curar os doentes? Certamente, uma das razões foi que quando você tiver demonstrado que pode curar o corpo, aqueles que foram aliviados terão mais fé em sua capacidade de ajudar também a alma. Quando tivermos alcançado a elevada estatura de Cristo para que possamos ver ao mesmo tempo o passado e o presente; quando formos capazes de determinar, de relance, as causas, crises e o estágio atual de uma doença, não precisaremos de nenhuma outra ajuda tanto no diagnóstico como no aconselhamento. Porém, até lá devemos utilizar as muletas que temos, e a principal, entre elas, é a Astrologia.
Muitas pessoas que foram relutantes em trabalhar por resultados vieram para a Sede Central em Mount Ecclesia esperando obter iluminação espiritual, criar asas e retornar ao mundo como trabalhadores maravilhosos, depois de passar alguns dias aqui na Sede Central. E, naturalmente, eles ficaram desapontados. Mas, todas as vezes que alguém se aplicou honesta e seriamente ao trabalho real, não aos cursos, por um tempo razoável, obteve sempre bons resultados. Temos em mãos aqui uma carta de um amigo que ficou em Mount Ecclesia e que se dedicou com seriedade e honestidade aos seus estudos. Segue a sua experiência como estímulo para que outros possam fazer o mesmo:
“Queridos amigos: a proposição que eu esperava assumir, depois de minha estada em Mt. Ecclesia, acabou sendo um logro para as pessoas e nada consistente com nossos ideais e, por isso, apresentei meu desligamento. Tão logo desisti desse método, recebi um convite de um médico proeminente de Kansas City para trabalharmos juntos. Ele me encantou com a proposta como se estivesse tudo bem. Fomos literalmente atacados pelos pacientes. Sra. Heindel, é maravilhoso como as pessoas anseiam por algo dessa natureza; eles procuram alguém que lhes possa dar sentido a suas vidas, e eles tentam buscar estímulos de fontes que são mais dignas e confiáveis do que o duro e seco materialismo que é destruidor da vida.
“A Astrologia me ajudou extraordinariamente em obter a confiança deles; e graças ao auxílio de Deus, pelo fato de ter me enviado para cá, eu consegui diagnosticar corretamente as enfermidades deles e pude enviá-los para o tratamento. E o mais surpreendente é que nenhum deles me revelou sintoma algum. Localizei tanto a doença quanto os sintomas, e quase todos concordaram que eu estava certo e resolveram viver de acordo com os elevados princípios de masculinidade e feminilidade que lhes enunciei.
“Espero ter muito trabalho por aqui e quero agradecer a você o auxílio que recebi nesse sentido durante o ano que vivi em Mt. Ecclesia. Certamente, estou imensamente grato pela minha estada com você e estou muito ansioso em prestar um bom trabalho por aqui; só sinto não ter conseguido ficar mais tempo aí.”
O que uma pessoa faz, a outra também pode fazer. Sra. Heindel e eu não adquirimos nosso conhecimento nessa assunto sem esforço. Tivemos que trabalhar duramente para consegui-lo; e todos os demais que trabalharam tão arduamente com os mesmos ideais espirituais, a saber, ajudando na elevação da humanidade, também encontraram uma iluminação que não é dada àqueles que buscam as recompensas materiais da vida e o seu próprio engrandecimento. Parece-me que é tempo da Fraternidade Rosacruz despertar e divulgar este estudo seriamente, para que possam estabelecer Centros de Cura em todas as cidades do mundo.
Iniciamos um setor na revista[1] em que delineamos os horóscopos das crianças a fim de ajudar os pais a conhecer as características latentes de seus filhos. Existe, também, um curso por correspondência para principiantes, além do curso de Astrodiagnose e Astroterapia para Probacionistas, e aconselhamos a todos os que ainda não começaram tais cursos, que o façam.
(Carta nº 57 – do Livro “Cartas aos Estudantes” – Max Heindel-Fraternidade Rosacruz)
[1] N.T. Rays from the Rose Cross
Janeiro de 1918
Novamente nos encontramos no começo de um Ano Novo, e existe um costume nessa época de transformarmos as nossas aspirações em resoluções. E como Estudantes dos Ensinamentos Rosacruzes necessariamente interessados no assunto sobre o crescimento espiritual, pensei que as seguintes considerações, talvez, possam ser muito proveitosas neste momento.
Na Mente de muitas pessoas a palavra “santidade” se tornou associada a uma expressão facial de tristeza ou melancolia e a uma atitude mental hipócrita, de modo que as pessoas no mundo, geralmente, são muito reservadas em relação àqueles que fazem profissões de santidade. Mas, é claro que essa não é a verdadeira realidade. O ser humano realmente santo não é um desmancha-prazeres; ele não é indolente no mundo dos negócios; ele cumpre plenamente com seu dever, em casa ou no trabalho, coloca seu coração em tudo que faz; ele é um exemplo digno de fidelidade e, geralmente, é respeitado por todos que o conhecem, porque suas ações valem mais do que palavras e do que elogios. Ele é cuidadoso ao lidar com seus semelhantes, se esforçando para não dever nada a ninguém, a não ser amor; sempre pronto e ansioso em ajudar os outros – ele é, de fato, um bom exemplo de pessoa em todos os relacionamentos da vida.
Mas essa vida de retidão mundana não é, por si só, uma prova de santidade. Existem muitas pessoas esplêndidas no mundo que são modelos vivos por razões de ética e se comportam de maneira que exige o respeito de todos os que as conhecem. Também são solidários e se destacam, de acordo com a sua posição, em todas as boas obras. No entanto, repetimos, não é essa a prova. A prova que mostra a diferença entre o homem ou mulher que é meramente modelo e o santo é encontrado nas horas de lazer, quando o que chamamos de dever foi totalmente cumprido no devido tempo. Nesse momento é que descobriremos os caminhos da parte mundana e os da parte sagrada. O ser humano de Mente mundana, nessas ocasiões se voltará para a recreação, diversão e para os prazeres a fim de dar vazão à sua energia ou, talvez, buscará algum passatempo favorito, de acordo com a inclinação da sua Mente e com seus próprios meios. Podem ser simples jogos, esportes, canto e música, teatros, festas ou qualquer outro meio que ele possa encontrar para lhe proporcionar um agradável passatempo.
Contudo, o ser humano santo é como o aço tocado pelo ímã e desviado, pela força, de apontar para o polo. Quando o coração tenha sido tocado pelo imã do amor de Deus, o dever pode e o desvia para as obrigações mundanas, a qual demanda todos os cuidados legítimos. O ser humano santo não se descuida de sua obrigação mundana, mas cumpre seu dever, fazendo-o melhor e mais conscientemente do que antes de se entregar a Deus. Ao mesmo tempo, inconscientemente, ele sente o desejo de voltar à comunhão com o Pai, de maneira análoga à agulha de aço imantada que, desviada do norte, exerce uma pressão na direção ao polo. No momento em que o chamado do dever foi perfeitamente cumprido e removida a pressão com o passar do tempo, os pensamentos do ser humano santo, automaticamente, se voltam para o Divino. O trajeto de ida e volta do trabalho nada mais é do que uma oportunidade para meditação. O tempo que emprega quando espera por alguém, também é utilizado da mesma forma. Em resumo, para o ser humano santo não há um só momento de relaxamento para os assuntos mundanos, pois seus pensamentos estão a todo instante voltado para sua fonte e objetivo – Deus.
Ouvimos falar de pessoas que estudaram leis, enquanto se deslocavam para ir e voltar do trabalho; outros aprenderam idiomas utilizando os momentos livres, quando a maioria das pessoas desperdiçam com pensamentos inúteis, vagos e sem objetivos. Aprendamos uma lição com eles e, durante o próximo ano, pratiquemos o hábito de direcionar os nossos pensamentos para Deus, enquanto estivermos nos momentos de folga. Se praticarmos isso fielmente, nos encontraremos muito mais avançados no caminho do crescimento anímico.
(Carta nº 86 – do Livro “Cartas aos Estudantes” – Max Heindel-Fraternidade Rosacruz)
Janeiro de 1916
Estamos, agora, no encerrar de mais um ano das nossas vidas e no começo de um novo ano, e me ocorreram alguns pensamentos em relação a essas divisões de nossas vidas terrestres.
Quando Cristo, no final de Seu ministério, participou da última ceia com Seus Discípulos, lavou os pés deles apesar dos protestos de alguns que achavam isso humilhante para o Mestre. No entanto, esse gesto foi o símbolo de uma atitude da Mente que é de grande significância como um fator para o crescimento anímico. Se não existisse o solo mineral, o Reino Vegetal seria uma impossibilidade, assim como o Reino Animal não poderia existir se as plantas não lhe dessem os recursos necessários. Então, vemos que na natureza o superior se alimenta e é dependente do inferior para o seu desenvolvimento e a consequente evolução. Embora seja um fato que os Discípulos eram instruídos e ajudados por Cristo, assim também é um fato que eles eram um meio para o progresso e o avanço evolutivo do próprio Cristo; e era em reconhecimento a esse fato que Ele humilhou a Si mesmo reconhecendo a Sua dívida para com eles, servindo-os da maneira mais humilde que se possa imaginar.
Foi um grande privilégio para o autor transmitir a vocês, assim como a milhares de outras pessoas, as instruções esotéricas dos Irmãos Maiores durante o ano que terminou, e nisso foi ajudado, direta ou indiretamente, por todos os que trabalham em Mount Ecclesia. Aqueles que colaboraram na imprensa, nos escritórios ou em qualquer dos nossos departamentos compartilham também desse privilégio, e agradecemos a todos que nos proporcionam essas oportunidades para o crescimento anímico e que vieram a nós para que pudéssemos ajudá-los e servi-los.
Nós acreditamos que tenhamos sido de alguma serventia a esse respeito, e pedimos as suas orações para que possamos ser servidores mais eficazes no próximo ano que se inicia.
E sobre vocês, querido amigo e querida amiga? Durante o ano que se finda tiveram, também, oportunidades para servir os outros a sua volta de uma maneira similar à que tivemos? Vocês utilizaram o que conseguiram obter como conhecimentos que lhes transmitimos para iluminar os que estiveram em contato com vocês? Não é necessário subirmos a um púlpito, literal ou metaforicamente, em nenhum momento para falar ao coração dos outros. Frequentemente é muito mais eficaz fazê-lo de formas mais silenciosas, para que as pessoas não suspeitem que estamos tentando mostrar algo a elas. Confiamos que tenham aproveitado as suas oportunidades o melhor possível no ano que passou, e oramos para que possam entrar no ano novo com um espírito de serviço ainda maior, e que isso possa provar a si mesmos ser muito mais frutífero para o crescimento da alma do que o conseguido no ano ora findo.
(Do Livro: Carta nº 62 do Livro “Cartas aos Estudantes”-Max Heindel-Fraternidade Rosacruz)
Dezembro de 1912
Sinos de Natal! Quem já não sentiu a magia deles nos dias da sua infância, antes que a dúvida se insinuasse em seu coração e abalasse os ideais inculcados pela igreja? O mesmo sino repicava na Igreja aos domingos e chamava para a oração em todos os dias da semana, mas havia no dia de Natal um timbre diferente, algo excepcionalmente festivo, algo que nós, agora, atribuímos à imaginação relacionada às crianças ou à infância. Nós sentimos falta disso, por mais que possamos nos congratular com a emancipação daquilo que temos o prazer de denominar “as cerimônias ou performance ridículas, hipócritas ou pretensiosas da igreja”. Wordsworth[1], na sua “Ode à imortalidade”, expressou o intenso arrependimento pela perda dos ideais relacionados com a infância ou com a criança, e nada que o mundo tenha a dar pode ocupar o lugar deles e, embora possamos ser abençoados com os recursos materiais, somos realmente pobres quando o “glamour” da juventude se desvanece e as concepções intelectuais sufocam as chamadas “superstições”.
São Paulo nos exortou a estarmos sempre preparados para dar uma razão à nossa fé, e há uma razão mística para as muitas práticas da igreja, as quais são transmitidas às gerações, desde a mais remota antiguidade. O soar do sino quando a vela acende sobre o altar foi inaugurado por videntes espiritualmente iluminados para ensinar a unidade cósmica da luz e do som. O badalo metálico do sino traz a mensagem mística de Cristo à humanidade, tão claramente hoje como da primeira vez que Ele anunciou o amoroso convite: “Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo e eu vos darei descanso”[2]. Assim, o sino é um símbolo de Cristo. “A Palavra”, quando nos chama do trabalho para a adoração ante o altar iluminado, quando Ele nos encontra como “A Luz do Mundo”.
Também, o sentimento particularmente festivo despertado pelos sinos de Natal é produzido por causas cósmicas ativas nessa época do ano, e a estação atual é verdadeiramente santa, como agora veremos. Os que estudam a “ciência das estrelas” compreendem os Signos do Zodíaco como um conjunto sonoro cósmico, cada Signo vibrando com um atributo particular; e como as órbitas em marcha viajam em procissão caleidoscópica, de Signo em Signo, numa combinação sempre variável, os acordes da harmonia cósmica, conhecidos pelos místicos como a “música das esferas”, emitem um eterno hino de oração e glorificação ao Criador. Essa não é uma ideia fantasiosa, mas um fato real, perceptível ao vidente e capaz de ser demonstradas aos pensadores pelos seus efeitos. E a harmonia das esferas não é um som de um tom único; varia dia a dia e mês a mês, conforme o Sol e os Planetas cruzam Signo após Signo em suas órbitas. Há, também, épocas de variações anuais devido à Precessão dos Equinócios. Então, há uma infinita variedade na “música das esferas”, como de fato deve ser, pois esta constante mudança de vibrações espirituais é a base da evolução física e espiritual. Se cessasse por um só instante, o Cosmos se converteria em Caos.
Como demonstração, observemos a Natureza e a qualidade da vida de amor que derrama por meio do Cristo-estelar, o Sol, quando ele transita pelo beligerante Signo de Áries, o Carneiro, durante desde a metade do mês de março até metade do mês de abril. O amor sexual é a nota-chave da natureza; todas as energias são aplicadas na geração; então, predominam as inclinações passionais. Compare isso como o efeito do Sol em dezembro, quando se acha focalizado através do benevolente Sagitário, regido pelo Planeta Júpiter. Seus raios, então, conduzem à religião e à filantropia; o ar é vibrante com a generosidade, e a vida de amor do Cristo-estelar encontra a sua mais alta expressão nesse Signo que tem a mesma natureza. Externamente reina uma atmosfera de espera ansiosa que beira a angústia, pois o símbolo visível da “Luz do Mundo” se obscureceu, mas na noite mais escura do ano, o conjunto dos sinos de Natal evocam uma pronta resposta aos sentimentos do Natal, que torna o mundo inteiro semelhante, filhos do nosso Pai que está nos Céus.
Que a música mística dos sinos do Natal desperte o mais terno acorde em seu coração, e que a tônica do regozijo seja predominante em seu ser durante o próximo ano – esse é o desejo natalino dos trabalhadores de Mount Ecclesia.
(Carta nº 25 do Livro “Cartas aos Estudantes” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
[1] N.T.: William Wordsworth (1770-1850) foi o maior poeta romântico inglês.
[2] N.T.: Mt 11-28
Novembro de 1911
Esse mês me afasto da minha prática habitual de dedicar exclusivamente a revisão da Carta ao Estudante da lição do mês anterior, para que possa lhes contar sobre a cerimônia que tivemos em Mt. Ecclesia no dia 28, quando iniciamos as obras da primeira construção no terreno da nossa Sede permanente. Tenho certeza de que todos estavam conosco em espírito, que estão ansiosos por saber notícias a este respeito, e sei que o discurso que faremos nos proporcionará um contato mais próximo.
Nossa primeira ideia era abdicar de qualquer exposição ou cerimônia externa. Queríamos evitar todas as despesas desnecessárias, pois, os nossos recursos atuais não são suficientes para terminar construção interna do edifício, e teremos que ser parcimoniosos, por algum tempo, até que as circunstâncias nos sejam mais favoráveis.
A minha intenção era ir lá sozinho e realizar o serviço mentalmente, mas me pareceu um tanto frio, apático, desanimado e desolador não ter um amigo presente para se regozijar comigo naquela ocasião importantíssima, nem sequer a minha querida companheira de trabalho – Sra. Augusta Foss Heindel. Além disso, como esse é um assunto muito importante da Fraternidade Rosacruz e não um assunto pessoal, senti que a oportunidade de participar deveria ser dada aos membros. O pensamento cresceu em mim até que decidi submeter ao conselho do Mestre; e que cordialmente o aprovou, e então, fizemos uma celebração de maneira simples, mas apropriada, e enviamos convites aos amigos que estavam mais próximos.
Erigimos uma grande cruz do mesmo estilo do nosso Símbolo, e nos três extremos superiores pintamos, em letras douradas, as iniciais: C R C. Como sabem, essas letras representam o nome simbólico de nosso grande Líder, definido em nosso Símbolo como Christian Rosenkreuz, que transmite uma ideia de beleza e de uma vida superior, muito diferente da escuridão ou do lugar sombrio da morte, geralmente associada à cruz negra.
Ao mesmo tempo que escavávamos o terreno para o início da construção, decidimos fixar essa cruz e plantar uma roseira trepadeira, para que simbolizassem a vida verdejante dos diferentes Reinos de vida viajando para esferas superiores ao longo do caminho em espiral da evolução.
No dia 27, a Sra. Augusta Foss Heindel e eu partimos para Oceanside, já próximos à exaustão pelo esforço em nos locomover para empacotar tudo. Caíram as primeiras chuvas da estação e, por isso, ficamos apreensivos sobre o efeito dela na cerimônia; mas, ao olharmos para as montanhas quase escondidas pelas nuvens no leste, vimos o maior e mais glorioso arco-íris que jamais tínhamos visto – na verdade, um duplo arco-íris – cuja sua base meridional parecia estar diretamente sobre Mt. Ecclesia.
Nossa responsabilidade em ajudar milhares de corações cansados para que possam suportar seus fardos com bravura tem, frequentemente, parecida estar além das nossas forças; no entanto, sempre encontramos nossas forças renovadas, quando olhando para dentro; e dessa vez parecia que toda a Natureza queria nos alentar, dizendo: “Coragem, lembrem-se que o Trabalho não é vosso, mas de Deus; confiai inteiramente n’Ele; Ele apontará o caminho”. Assim, nos demos as mãos e tomamos um novo ânimo com as novas forças para continuarmos com a bela obra, da qual Mt. Ecclesia há de ser o centro.
O dia da cerimônia foi um dia perfeito na Califórnia; o Sol brilhava num céu sem nuvens. Para onde quer que dirigíssemos o olhar a partir de Mount Ecclesia, oceanos, vales e montanhas pareciam sorrir. Tanto os trabalhadores quanto os membros visitantes estavam extasiados ante a beleza incomparável do local da Sede. Aqueles que estão presentes foram: Annie R. Atwood, de San Diego; Ruth E. Beach, de Portland, OR; Rachel M. Cunningham, Rudolf Miller e John Adams, de Los Angeles; George Kramer, de Pittsburgh, PA; Wm. M. Patterson, de Seattle, WA; Sra. Heindel e eu.
Na hora marcada, iniciei a escavação no terreno para construir a Sede. Todos ajudaram a escavar para colocar a cruz, que foi fixada por Wm. Patterson. A Sra. Augusta Foss Heindel plantou a roseira, que depois foi regada por todos os presentes. Que ela cresça e que floresça para adornar o despojar da cruz e ser a inspiração para a pureza de vida que apagará todos os pecados passados, não importa quão escura possa ter sido a vida. A alocução – como deveria ter sido feito – constitui a lição desse mês. As circunstâncias ocasionaram algumas modificações.
(Carta nº 12 do Livro “Cartas aos Estudantes” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
Agosto de 1918
Muitos anos atrás, passei algumas semanas em uma fazenda no Maine[1], na época em que estavam colhendo batatas. Enquanto as carroças, onde se carregavam as batatas colhidas, passavam perto de mim, notei que as batatas eram todas grandes e de tamanho quase uniforme. Então, um dia, parabenizei o fazendeiro por ter uma colheita de batatas de tão alta qualidade. Ele foi até uma carroça – que traziam as batatas até o celeiro – e me mostrou que o fundo da carroça estava cheio de batatas pequenas. Também disse que elas não haviam sido separadas no campo; porém, quando a carroça seguia pela estrada acidentada do campo ao celeiro, as batatas grandes subiam ao topo, enquanto as pequenas ficavam para o fundo. “Se você colocar as grandes no fundo”, ele disse, “elas subirão ao topo e as pequenas ficarão no fundo”.
E é isso que acontece na vida! Pessoas de aparência representativa, de amplas qualidades, se destacam facilmente, enquanto nos acotovelamos pelas posições mais acidentadas, enquanto percorremos a estrada da vida. “Você não pode manter um homem bom para baixo”[2], é um velho ditado. Ele se destacará, apesar de tudo, em virtude do poder edificante que há dentro dele. E, da mesma forma, não importa quantas vezes coloquemos um ser humano sem preparo em posição de destaque, ele cairá, porque lhe falta o poder interior. Podemos construir uma casa do tamanho que desejamos e erguê-la até mais alta que todas as outras estruturas que existam se tivermos material e mão-de-obra em quantidades suficientes, mas, no caso do crescimento espiritual do ser humano esse vem de dentro, e ninguém pode acrescentar um fio de cabelo à estatura do outro, seja moral, mental ou fisicamente. Cada um deve trabalhar para sua própria salvação; somente ele sozinho pode determinar se permanecerá nos níveis inferiores ou ascenderá ao topo do seu desenvolvimento.
O fazendeiro descobriu que quando suas batatas eram transportadas por uma estrada sem buracos ou irregularidades, elas permaneciam misturadas; mas quanto mais irregular era a estrada, mais rápido as batatas grandes subiam ao topo e as menores permaneciam no fundo. Nas grandes emergências da vida, grandes oportunidades aguardam aqueles que estão prontos para assumir responsabilidades e para seguir a frente das batalhas.
Nós estamos vivendo em uma que época tal que se aspiramos nos elevar espiritualmente, agora é a nossa maior oportunidade. O mundo todo agora está solicitando uma resposta para o enigma da vida; indagando para onde o navio da humanidade está indo. E nós temos a resposta. Portanto, sobre nós repousa a responsabilidade de viver os Ensinamentos dos Irmãos Maiores e levando esses Ensinamentos aos outros por meio do exemplo nas nossas vidas. Muitos de nossos irmãos e irmãs estão levando os Ensinamentos dos Irmãos Maiores para as próprias trincheiras e iluminando aqueles que estão interessados em aprendê-los. Aqueles de nós, que percebem o seu entorno, encontrarão pontos de interrogação em muitos que, até agora, não se interessavam. Portanto, vamos procurar, diligentemente, as oportunidades e as aproveitemos, pois “a quem muito é dado, muito será exigido”[3].
Eu sugeriria aos Estudantes Rosacruzes que agora é a hora de garantir que o Livro O Conceito Rosacruz do Cosmos e toda a nossa literatura, na medida do possível, estejam nas bibliotecas de suas cidades; também que estejam em um local onde seja acessível e que possa ser utilizado. Se várias pessoas perguntarem sobre o assunto, de tempos em tempos, mesmo o bibliotecário não sabendo nada a respeito, e talvez até sendo hostil em sua resposta, a certeza é que, sendo constante apelo a um determinado livro, finalmente o forçará a prestar atenção. Não há dúvida de que os ensinamentos da Fraternidade têm, em si, um poder interior que, certamente, criará um ambiente propício para eles no mundo, porém, só adquiriremos mérito na proporcionalidade que ajudemos a levar esses Ensinamentos dos Irmãos Maiores para o conhecimento da humanidade em geral. A época das férias é uma temporada especialmente propícia para a disseminação de nossa filosofia que auxilia a satisfação da alma. Portanto, todos devemos fazer um esforço extra nesse momento. Afinal, isso beneficiará aos outros e também a nós mesmos.
(Cartas aos Estudantes – nº 93 – do Livro Cartas aos Estudantes – Max Heindel)
[1] N.T.: Estado no extremo nordeste dos EUA.
[2] N.T.: é um ditado popular que significa que uma pessoa boa perseverará e triunfará sobre as adversidades. O ditado data da década de 1880.
[3] N.T.: Lc 12:48
Março de 1916
Frequentemente recebemos cartas de Estudantes Rosacruzes domiciliados em países beligerantes, censurando-nos por não tomarmos partido a seu favor. Não há um só dia, desde que se iniciou este amargo conflito, que não tenhamos lamentado profundamente esta pavorosa mortandade, embora reconfortados pelo conhecimento de que, como nenhuma outra coisa o poderia fazer; isto está ajudando a destruir a barreira entre os vivos e os mortos. Assim, a guerra apressará a abolição do pesar que agora as pessoas experimentem quando se veem separadas dos seus seres amados. Também o sofrimento atual está sendo utilizado para desviar os povos ocidentais dos prazeres do mundo, reconduzindo-os à devoção a Deus. Não houve uma só noite em que não tivéssemos trabalhado diligentemente com os mortos e os feridos, aliviando suas angústias mentais e suas dores físicas.
O patriotismo foi muito bom em outros tempos, mas Cristo disse: “Antes de Abraão, Eu sou“1 (Ego sum). As raças e as nações incluídas no termo “Abraão” são fatos evanescentes, mas o “Ego”, que existiu antes de Abraão, o pai da raça, ainda existirá quando as nações forem uma coisa do passado. Por conseguinte, a Fraternidade prescinde das diferenças nacionais e raciais, esforçando-se por unir todos os seres humanos com um laço de amor para que travem a grande guerra contra a sua natureza inferior; a única guerra em que, inflexivelmente e sem quartel, se devem empenhar os verdadeiros Cristãos. São Paulo disse: “Porque eu sei que em mim (isto é, na minha carne) não habita coisa boa. Pois, o bem que deveria fazer, não o faço; mas o mal que não queria fazer, esse eu o faço. Alegro-me com a Lei de Deus no meu eu interno, mas sinto outra lei em meus membros que luta contra a lei da minha mente e que conduz cativo à lei do pecado que está em meus membros. Oh! Que desgraçado sou! Quem me livrará deste corpo de morte?“2.
Não descreve São Paulo e da maneira mais acertada, o estado de toda alma aspirante? Não sofremos todos nós espiritualmente por causa do conflito que se desenrola em nosso íntimo? Eu espero que haja uma só resposta a estas perguntas, isto é, que esta batalha interna seja travada violenta e incansavelmente por cada estudante da Fraternidade, pois onde não há luta, há uma indicação certa de coma espiritual. E o Corpo de Pecado pode sair vitorioso. Mas, quanto mais dura for à batalha, mais gratificante será nosso progresso espiritual.
Nos Estados Unidos da América ouvimos falar muito sobre “neutralidade”, “preparação” com fins “defensivos”. Na mais nobre guerra que devemos travar “neutralidade” não pode existir, ou há paz e “a carne” nos rege e nos mantém em abjeta dependência, ou há guerra agressivamente travada entre a carne e o espírito. E enquanto continuarmos vivendo neste “corpo de morte”, esta guerra prosseguirá, pois até Cristo foi tentado e estamos conscientes que, como Ele, temos que enfrentar essas tentações.
“Preparação” é um ato edificante. Cada dia torna-se mais necessário preparar-nos, pois, da mesma maneira que um inimigo físico tenta enganar e armar emboscadas para um adversário mais poderoso antes de se arriscar em uma batalha aberta, assim também as tentações que nos são apresentadas “no caminho” são mais sutis a cada ano que passa.
Escritores, como Tomás de Kempis3, consideraram-se “vermes vis” e usaram termos como “humilhação própria”, porque conheciam o sutil e imenso perigo da autoaprovação. Mesmo que possamos sentir que somos “bons, muito bons” e até “mais santos” que os demais, na verdade, enganamo-nos totalmente. Devemos admitir que as armadilhas do Corpo de Desejos são ardilosas.
Há um caminho seguro para ser trilhado: “Olhar para Cristo” e conservar a Mente ocupada em todos os momentos em que estivermos despertos. Quando o trabalho diário dificultar essa devoção, mesmo assim devemos pensar na forma de servi-Lo. Esforcemo-nos, por todos os meios possíveis, em dar continuidade e de maneira prática, às ideias e aos ideais assim concebidos. Quanto mais imitarmos Cristo, mais seguiremos os ditames do Eu Superior e mais seguramente venceremos a natureza inferior, ganhando a única batalha digna de sair vitoriosa.
(Carta nº 64 do Livro Cartas aos Estudantes – Por Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
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[1] N.R.: Jo 8,58
[2] N.R. Rm 7:18-24
[3] N.R.: também conhecido como Tomás de Kempen, Thomas Hemerken, Thomas à Kempis, ou Thomas von Kempen (1380-1471), Monge e escritor alemão. Tomás de Kempis produziu cerca de quarenta obras representantes da literatura devocional moderna. Destaca-se o seu livro mais célebre, Imitação de Cristo, composto por quatro volumes, no qual apela a uma vida seguida no exemplo de Cristo, valorizando a comunhão como forma de reforçar a fé.
Julho de 1917
Recentemente, recebemos uma carta de Seattle contendo uma ótima sugestão, que vocês poderão gostar de utilizar. Nosso amigo escreveu: “Outro dia, enquanto estava em Ballard[1], entrei na biblioteca e pedi o livro Conceito Rosacruz do Cosmos. Quando estava já para sair da biblioteca folheando o livro, me deparei com a tabela de valores alimentares e levei o livro aberto nessa página à mesa da bibliotecária. Mostrei-lhe essa tabela e lhe disse: ‘Essa é uma tabela valiosa’. Depois de examiná-la, ela me disse: ‘Oras, por várias vezes me pediram uma tabela como essa’. Então me ocorreu que, quando outros Estudantes Rosacruzes ao se dirigirem a uma biblioteca e pedirem o Conceito Rosacruz do Cosmos, eles podem fazer o mesmo que eu fiz. Dessa forma, o bibliotecário ou a bibliotecária pode catalogar esse livro como contendo dicas sobre saúde e alimentação e, assim, chegaria às mãos daqueles que buscam justamente a luz que ele contém”.
Isso é muito mais assertivo do que normalmente imaginamos. Maravilhosos são os caminhos, os meios e os lugares em que a Luz nos impressiona, não só quando não a procuramos conscientemente, mas mesmo quando afirmamos que não existe luz no sentido espiritual e censuramos como fraudulentos aqueles que a seguem. Para mim, muitas vezes tem sido uma inspiração e uma fonte de grande encorajamento pensar na viagem de São Paulo a Damasco[2]. Ele foi um homem que se gloriava no zelo com que perseguia os santos. Ninguém foi mais diligente do que ele em esmagar o que acreditava ser uma heresia condenável. Mas, as almas fortes são as preferidas dos deuses, quer trabalhem para o bem ou para o mal, porque aquela energia indomável e irresistível que os impulsionava à ação, mesmo que temporariamente usada para os maus propósitos, também será do mesmo modo tão forte quando dirigida para os canais do bem. Assim, São Paulo se tornou um favorito especial dos deuses e, portanto, recebeu uma luz tão poderosa que o cegou, mesmo não procurando por tal coisa, ou seja, enquanto estava na estrada para Damasco. Naquele momento, a ele foi fornecida uma compreensão e um conhecimento muito superior ao de qualquer outro Apóstolo. Ele foi escolhido para uma missão especial e lhe foi fornecido um dom particular em forma de visão espiritual e a capacidade de ser tudo para todas as pessoas.
Com frequência, nossos Estudantes Rosacruzes se queixam que não conseguem fazer com que as pessoas com quem se relacionam ou até familiares compreendam os Ensinamentos Rosacruzes. Como ilustração, lembrei de que outro dia quando eu estava olhando para a caixa de ferramentas em Mt. Ecclesia. Havia muitos chaves inglesas, algumas maiores e outras menores, porém, cada uma apropriada para trabalhar apenas num determinado tamanho de parafuso; também havia algumas que eram ajustáveis dentro de certos limites. Neste momento, me ocorreu que às vezes uma chave inglesa muito pequena pode ser muito mais valiosa do que uma de maiores dimensões; tudo depende do tamanho do parafuso. Para um parafuso pequeno, você precisa da chave inglesa pequena e, para um parafuso grande, da chave inglesa maior. O mesmo acontece ao nos encontramos no mundo com outras pessoas, devemos avaliar e ver o que precisam. Muitos de nós, estudamos profundamente os Ensinamentos Rosacruzes e adquirimos um conhecimento profundo desses assuntos. Somos como grandes chaves inglesas, mas absolutamente inúteis para apertar os pequenos parafusos que não foram tocados com todo esse conhecimento. Em tais casos, não devemos tentar transmitir nosso profundo conhecimento e falar sobre coisas que tal pessoa não consegue seguir, entender ou compreender, mas devemos nos esforçar em descer ao nível delas e explicar as coisas exatamente da mesma maneira elementar que nos foram explicadas quando principiamos.
Em outras palavras, devemos ser ajustáveis como algumas das chaves inglesas da caixa de ferramentas. Ao encontramos um público desconhecido, procuremos falar diretamente no nível dele e usar uma linguagem o mais simples possível. Então, novamente, quando encontrarmos Estudantes Rosacruzes com mais tempo dedicado aos Ensinamentos Rosacruzes e estivermos em uma classe em que eles sejam capazes de compreender os problemas mais profundos, podemos expandir ao máximo nossa capacidade, com considerável proveito e benefício para nós mesmos e para todos os outros interessados. Mas, acima de tudo, devemos aprender com São Paulo, a “se tornar tudo para todos”[3], ou perderemos o objetivo que temos em vista de trazer luz às almas que estão buscando.
(Carta nº 80 do Livro “Cartas aos Estudantes” – de Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
[1] N.T.: trata-se de um bairro na cidade de Seattle, Washington, EUA
[2] N.T.: De acordo com as escrituras, Saulo segue a caminho da cidade e, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu, a ponto de fazê-lo cair com o rosto em terra e ouvir uma voz que vinha do alto dizendo “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 9:4).
[3] N.T.: ICor 9:22
Março de 1912
Como o assunto do matrimônio, que tratamos na nossa lição do mês passado, recebeu um tratamento adicional mais completo, creio que a Carta aos Estudantes deste mês pode, talvez, ser mais proveitosamente dedicada a um tema sobre o qual tenho desejado discorrer há muito tempo.
O livro “Conceito Rosacruz do Cosmos” teve um sucesso tão fenomenal e fez brotar tanta gratidão e admiração em todo o mundo, que eu deveria estar lisonjeado pela atenção que lhe foi concedida em todos os lugares. Mas, ao contrário, começo a sentir cada vez maior receio de que o livro possa perder o objetivo ao qual os Irmãos Maiores aspiram. Seu propósito, como é dito no livro, é o de satisfazer a Mente mediante a explanação intelectual do mistério do mundo, de forma que o lado devocional da natureza do Estudante Rosacruz possa se desenvolver por conceitos que seu intelecto tenha aprovado. O “Conceito Rosacruz do Cosmos”, acredito, abriu caminho devido a esse apelo ao intelecto e a satisfação que ele forneceu à Mente inquiridora. Centenas, talvez milhares, de cartas têm testemunhado que os Estudantes Rosacruzes, que estavam buscando em vão por anos e anos, encontraram nele o que procuravam. Mas, poucos parecem ter sido capazes, até então, em transcender a concepção intelectual e, a menos que o livro forneça ao Estudante Rosacruz um desejo sério e sincero de transcender o caminho do conhecimento e prosseguir pelo caminho da devoção, em minha opinião, ele é um fracasso.
Em outra sociedade, formada sob essas mesmas linhas, conheci grupos que debateram durante anos um plano sobre o átomo, examinando profundamente as minúcias das espirais e de bactérias em forma espiralada, mas frios e indiferentes para com os sofrimentos, as tristezas e aflições do mundo à volta deles; e é com grande pesar e profunda apreensão que noto o desenvolvimento de uma tendência nessa direção entre alguns dos nossos Estudantes, uma tendência que espero possa ser controlada antes que mate o coração. O “conhecimento ensoberbece, mas o amor edifica”[1], disse São Paulo, e isso é bem exemplificado na atitude dos membros daquela sociedade que me referi, os quais, com frequência, menosprezam a Religião Cristã na tribuna e na imprensa, porque acham que falta a ela uma concepção intelectual do Universo.
Deixe-me recordar a você a advertência feita por nosso Mestre no “Conceito Rosacruz do Cosmos” e que se refere aos diagramas: “No melhor dos casos são somente muletas para ajudar as nossas limitadas faculdades; quando fazemos um diagrama para explicar os mistérios espirituais, é como se tirássemos todas as peças de um relógio e as espalhássemos para mostrar como o relógio indica as horas”. Ainda que os diagramas possam ser uma valiosa ajuda em certo estágio do nosso desenvolvimento, cumpre-nos sempre recordar as suas limitações, e devemos nos esforçar para obter, através da nossa intuição, a verdadeira concepção espiritual. Também julgo que é da maior importância que os Estudantes mantenham o verdadeiro propósito do “Conceito Rosacruz do Cosmos”, seu objetivo e seu fim, sempre da maneira mais clara e precisa. Recomendo intensamente que escrevam em algum lugar em que possam sempre ler, quiçá no próprio “Conceito Rosacruz do Cosmos”, que embora tenhamos todos os conhecimentos e possamos resolver todos os mistérios, somos apenas sinos que tinem, a menos que tenhamos amor e o utilizemos para ajudar nossos semelhantes.
(Carta nº 16 do Livro “Cartas aos Estudantes” – de Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
[1] N.T.: Icor 8:1
Maio de 1918
Um Estudante que confessou que ainda continua, às vezes, comendo carne animal tem, ocasionalmente, uma disposição para falar com os outros sobre os Ensinamentos Rosacruzes, mas sempre se sente um hipócrita toda vez que preconiza o vegetarianismo. Ele nos pergunta como pode superar esse hábito e se deveria desistir de ensinar aos outros até que consiga parar de comer carne animal.
Essa pergunta tem um interesse geral, pois embora os Estudantes dos Ensinamentos Rosacruzes sejam sinceros e sérios, eles têm as mesmas imperfeições que todos os outros seres humanos, ou não estariam aqui; dessa forma, uma carta sobre esse assunto pode ser muito útil para muitos.
Não precisamos de argumentos para provar que você não pode efetivamente discorrer sobre espiritualidade, enquanto toma um coquetel com bebidas alcóolicas, nem defender uma vida inofensiva, enquanto come um bife de carne animal. Além disso, aqueles que conhecem nossos hábitos na vida quotidiana, são sempre rápidos em perceber a diferença entre o que você prega e o que você vive. Portanto, é muito bem melhor ser capaz de viver de acordo com os Ensinamentos Rosacruzes antes de começar a converter os outros. Ao mesmo tempo, chamar alguém de hipócrita é muito ofensivo, só porque ele defende um ideal que ainda não alcançou. Enquanto houver alguém que creia, sinceramente, que a dieta isenta de carne animal é a correta e que tenta viver de acordo, ele está justificado a pregá-la, ainda que, ocasionalmente, infrinja a regra. A Estrela Polar guia o marinheiro com segurança até o refúgio desejado, embora ele nunca alcance a própria estrela. Da mesma forma, se elevarmos os nossos ideais tão altos quanto as estrelas, podemos não os alcançar nesta vida, mas seremos sempre melhores caso possamos realizá-los.
Ao mesmo tempo, parece que exercendo um pouco de força de vontade não seria muito difícil para alguém se abster do tabaco, da bebida alcoólica e da carne animal. Certamente, o pensamento do sofrimento que é causado aos pobres animais nos transportes a caminho do matadouro, e a agonia que precede o momento final do golpe que acaba com a vida deles, ou o momento em que a faca é passada na garganta deles, deveria comover qualquer um que aspire à uma vida mais elevada e encher esse aspirante de compaixão por essas pobres criaturas que não podem se defender. Por razões semelhantes, o uso de peles e plumas, como vestimentas, deveria ser totalmente evitado. É igualmente inconsistente e causaria comentários desfavoráveis se alguém pregasse o evangelho da inofensividade, enquanto se adorna com peles ou couro de animais.
Infelizmente, a complexidade da nossa civilização nos obriga a usar parte dos animais para muitas coisas, devido à inexistência, no mercado, de substitutos adequados. Mesmo assim, devemos fazer todo o possível para evitar o uso de qualquer material proveniente do corpo de um animal que requeira sua morte. Uma das bênçãos dessa guerra atual[1] é que o ser humano está percebendo que a carne animal não é um alimento essencial da dieta, e que vivemos muito melhor sem a ingestão de bebidas alcóolicas. Temos a esperança de que isso seja apenas o princípio do fim, e que o ser humano em breve pare de criar ou caçar animais para aproveitar a carne e o couro deles. Enquanto isso, vamos todos dar o exemplo e nos empenharmos com toda a nossa força de vontade para conseguir esse fim.
(Carta nº 90 do Livro “Cartas aos Estudantes” – de Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
[1] N.T.: Refere-se à Primeira Guerra Mundial.