Por Max Heindel
Há alguns anos, o escritor visitou Minneapolis para dar um curso em forma de palestras; lá, conheceu a Srta. Margaret S — uma fotógrafa comercial que fez nossos slides (para usar no estereóptico[1]) para “Parsifal”, “O Anel dos Niebelungos”, etc. Nós nos tornamos bem conhecidos e no decorrer das conversas sobre certos gráficos, também sendo feitos em forma de slides, o assunto “Renascimento” entrou em discussão.
A Srta. S. tinha apenas uma vaga ideia do ensino. Parecia mais uma ideia nova de que a vida é uma Grande Escola e que voltamos a ela, vida após vida, para aprender novas lições, como uma criança volta para uma escola terrena, dia após dia, com o mesmo propósito.
Mas, parecia lançar luz sobre um problema que a intrigava há anos. Ela tinha uma irmã mais nova, Anne, que era uma criança muito diferente e “imaginava” coisas muito estranhas; isso era quase angustiante para os outros membros da família. Ela insistiu que já tinha vivido antes e da última vez foi no Canadá, onde, segundo ela, “derrubei os portões”.
Ela era apenas um bebê e não poderia ter ouvido isso de alguém da família, pois ninguém entendia ou acreditava no Renascimento. Portanto, há apenas uma hipótese razoável, a saber, que ela carregou a consciência do passado.
A Srta. S. não sabia, na época, o que significava a expressão “derrubei os portões”, mas um artigo na revista American Magazine, de julho, apresenta a história da “imaginação” da pequena Anne, que ganhou o primeiro prêmio. Reimprimimos o artigo conforme publicado.
“Anne, minha meia-irmã mais nova, quinze anos mais jovem, era uma criança estranha desde o início. Ela nem mesmo se parecia com algum membro da família de quem já ouvimos falar, pois era escura, quase morena, enquanto o restante de nós éramos claros, mostrando nossa ancestralidade escocesa-irlandesa inconfundivelmente.”
“Assim que ela conseguiu falar usando frases conectadas, ela contava histórias de Fadas para si mesma e, apenas para se divertir, eu anotava seus murmúrios com meu lápis em meu antigo diário. Ela era minha responsabilidade especial — minha mãe era uma mulher muito ocupada — e eu estava muito orgulhosa dela. Essas tramas de fantasia nunca foram do tipo usual dos Contos de Fadas infantis, porque, além da imaginação infantil, havia neles fragmentos de conhecimento que um bebê não poderia ter absorvido de forma alguma.
“Outra coisa notável sobre ela era que tudo o que fazia parecia fazer por hábito e, de fato, tal era sua insistência, embora nunca soubesse explicar o que queria dizer com isso. Se você pudesse ver o modo turbulento com que ela levantava sua caneca de leite, quando tinha apenas três anos, e engolia o leite de uma vez, você teria estremecido de tanto rir. Isso deixava minha mãe particularmente constrangida e ela reprovava Anne repetidamente.”
“O bebê era uma boa e pequena alma; parecia tentar obedecer e, então, em um momento de distração, trazia outra ocasião de mortificação. ‘Eu não posso evitar, mãe’, ela dizia repetidamente com lágrimas em sua voz de bebê. ‘Eu sempre fiz assim!’.
“Tantos foram os pequenos incidentes em seus ‘hábitos’ de fala, pensamento, comportamento e memória que, finalmente, paramos de pensar sobre eles e ela própria estava completamente inconsciente de que era diferente das outras crianças.”
“Um dia, quando ela tinha quatro anos, ficou muito indignada com papai sobre algum assunto e, enquanto se sentava no chão, à nossa frente, anunciou sua intenção de ir embora para sempre.”
“‘De volta ao céu, de onde você veio?’, perguntou meu pai com falsa seriedade. Ela balançou a cabeça.”
“‘Eu não vim do céu para você’, ela afirmou com aquela convicção serena a que estávamos bastante acostumados agora. ‘Eu fui para a Lua primeiro, mas — você sabe sobre a Lua, não é? Costumava ter gente nela, mas ficou tão difícil que tivemos que ir embora.’”
“Isso parecia ser um Conto de Fadas, então peguei meu lápis e meu diário.”
“‘Então’, meu pai a conduziu, ‘você veio da Lua para nós, não é?’”
“‘Oh, não’, ela disse a ele de forma casual. ‘Eu estive aqui muitas vezes — às vezes eu era um homem e às vezes eu era uma mulher!’”.
“Ela foi tão serena em seu anúncio que meu pai riu muito, o que enfureceu a criança, pois ela não gostava de ser ridicularizada de forma alguma.”
“‘Eu era! Eu era!’, ela se mantinha indignada. ‘Uma vez eu estive no Canadá, quando era homem! Eu me lembro do meu nome, até’”.
“‘Oh!’, ele zombou, ‘as garotinhas dos Estados Unidos não podem ser homens no Canadá! Qual era o seu nome, de que você se lembra tão bem?’”
“Ela esperou um minuto. ‘Era Lishus Faber’, arriscou-se ela; depois repetiu com mais segurança, ‘é isso — Lishus Faber’. Ela combinou os sons para que isso fosse tudo que eu pudesse entender — e o nome assim permanece no meu diário até hoje, ‘Lishus Faber’”.
“‘E o que você fazia para viver, Lishus Faber, naqueles dias?’. Meu pai então a tratou com a falsa solenidade condizente com sua segurança e acalmou seu corpinho nervoso”.
“‘Eu era um soldado’ — ela concedeu a informação triunfantemente — ‘e eu derrubei os portões!’”.
“Isso é tudo o que está registrado lá. Repetidamente, eu me lembro, tentamos fazer com que ela explicasse o que queria dizer com a frase estranha, mas ela apenas repetiu as palavras e ficou indignada conosco por não entender. Sua imaginação parou nas explicações. Vivíamos em uma comunidade culta, mas, embora eu tivesse repetido a história para perguntar sobre a frase — como se conta histórias de filhos amados, você sabe —, ninguém podia fazer mais do que conjeturar seu significado”.
“Alguém me encorajou a realmente ir mais longe no assunto e, por um ano, estudei todas as histórias do Canadá em que pude ter acesso, histórias sobre uma batalha na qual alguém ‘derrubou os portões’. Tudo em vão. Finalmente, fui dirigido por um bibliotecário a uma história de ‘documentário’, suponho que seja isso — um livro antigo e engraçado no qual a letra “s” é parecida com “f”, você sabe. Isso aconteceu mais de um ano depois, quando eu já havia perdido as esperanças. Era um livro antigo e curioso, curiosamente pitoresco em muitos de seus contos, mas descobri um que tirou todos os outros da minha cabeça por um tempo. Foi um breve relato da tomada de uma pequena cidade murada por uma pequena companhia de soldados; um feito notável, de certa forma, porém sem importância geral. Um jovem tenente, com seu pequeno bando — e a frase saltou aos meus olhos — ‘derrubou os portões’… O nome do jovem tenente era ‘Aloysius Le Febre’”.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de janeiro/1916 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
[1] N.T.: um projetor de slides (tem 2 lentes, normalmente uma em cima da outra) ou uma “lanterna mágica” relativamente poderosa, que possui duas lentes, geralmente uma acima da outra, e tem sido usada principalmente para projetar imagens fotográficas.
Você sabia que, quando os Estados Unidos da América eram um jovem país, acreditava-se que os tomates fossem venenosos? Que, se as pessoas viajassem em trens com velocidade superior a 38 quilômetros por hora, teriam ataques cardíacos e morreriam? E que ninguém seria capaz de voar? É uma pena, porque a vida sempre fica melhor quando a verdade é revelada. É por isso que algumas das maiores pessoas de todos os tempos dedicaram suas vidas ao estudo da verdade.
Um dos mais famosos deles nasceu em 1564, em Florença, uma bela cidade da Itália. Seu nome era Galileu. Mesmo quando menino, ele se interessava por muitas coisas e pelo modo como elas funcionavam. Acima de tudo, ele acreditava que tudo devesse fazer sentido. Não se deve acreditar em algo só porque alguém disse — nem mesmo se foi um homem chamado Aristóteles. Aristóteles foi um estudioso famoso que viveu cerca de dois mil anos antes de Galileu. Por ter descoberto muitas coisas maravilhosas, as pessoas passaram a acreditar que tudo o que ele havia dito e escrito era verdade. Na verdade, nos dias de Galileu, quando alguém declarava que Aristóteles tivesse dito algo, essa era a última palavra; ninguém deveria discutir.
Mas, Galileu achou que isso estivesse errado. Ele sabia que as pessoas cometem erros; provavelmente isso incluía Aristóteles. Ele disse isso ao seu professor na escola, que ficou muito zangado com o que ouviu; por isso ele repreendeu Galileu: “Como você ousa duvidar de Aristóteles!”, gritou com o garoto um dia.
Você não consegue imaginar como Galileu deve ter se sentido? Afinal, ele era apenas um menino. Quem era ele para desafiar aquilo em que os estudiosos acreditavam por quase dois mil anos? Mas ele tinha que provar que Aristóteles cometeu erros. Essa era a única maneira de convencer os outros. Então ele teve que manter os olhos bem abertos para encontrar algo, em algum lugar, que mostrasse que Aristóteles realmente houvesse cometido um erro. Eventualmente, sua oportunidade apareceu.
Como você sabe, naquela época não havia luz elétrica. As pessoas usavam velas ou tochas que tinham que ser acesas; às vezes, elas pendiam do teto. Ocasionalmente, no processo de acender, elas começavam a balançar um pouco. Galileu uma vez assistiu a isso. Ele imediatamente se lembrou do que Aristóteles havia escrito — coisas grandes e pesadas caem mais rápido do que as pequenas e leves. Galileu agora acreditava, depois de ver tochas e velas de vários tamanhos balançando da mesma maneira, que Aristóteles estivesse errado.
Sua grande chance de provar isso veio quando era professor na Universidade de Pisa. Talvez você já tenha ouvido falar dessa cidade; é famosa porque tem uma torre inclinada. Qual a melhor maneira de provar que coisas com pesos diferentes caem igualmente rápido do que derrubar dois desses objetos do topo da torre?
Naturalmente, Galileu não poderia simplesmente subir até lá e deixá-los cair. Ele precisava obter permissão e definir um horário para o que havia planejado — alguém, em baixo, poderia se machucar, caso estivesse lá na hora errada!
Não foi fácil para Galileu obter a permissão. Afinal, a própria ideia de questionar Aristóteles era algo inédito. Ele não deveria estar sempre certo? Contudo, finalmente Galileu obteve permissão. A hora foi definida, e as pessoas iriam para assistir.
Dois objetos deveriam ser soltos simultaneamente, um pesando cerca de cinco quilos e o outro de apenas meio quilo. Os dois alcançaram o solo exatamente ao mesmo tempo. Galileu provou que estava certo! Mas você pensa que as pessoas o aplaudiram? Apenas algumas ficaram para apertar sua mão; a maioria simplesmente foi embora. Elas não sabiam o que fazer com isso. Deveriam manter o que aprenderam durante toda a vida ou acreditar no que viram?
Os dirigentes da Universidade sabiam o que fazer: mandaram Galileu sair. Eles não deveriam tê-lo recompensado? Não, eles disseram que ele tinha sido contratado para ensinar conhecimentos antigos, não para desafiá-los. Disseram ainda que ele tinha perturbado a mente de seus alunos e isso não era uma coisa muito legal de se fazer.
Então, Galileu teve que procurar outros lugares para ensinar, como Pádua e Florença. Mais importante, ele agora tinha mais certeza do que nunca de que Aristóteles nem sempre estivera certo. Isso despertou nele o interesse por um livro que encontrou, escrito por um homem chamado Nicolau Copérnico, ex-aluno de Pádua, onde, por acaso, ele ministrava as aulas dele, na época.
Nesse livro, leu que Aristóteles errou ao acreditar que o Sol se movia ao redor da Terra; o contrário era verdade, mas não podia ser provado. Fazia todo sentido para Galileu e o ajudou a compreender muitas outras coisas. Entretanto, ele não podia provar.
Isto é, não até 1609, quando ouviu o viajante de um país distante contar uma história incrível. Alguém nos Países Baixos (atualmente conhecidos como Bélgica e Holanda) inventara algo para fazer objetos distantes parecerem se aproximar e ficarem muito maiores, aparentemente. Isso, é claro, você conhece como telescópio.
Contudo, havia algo de errado com o telescópio inventado: quando se olhava por ele, as coisas pareciam de cabeça para baixo. Isso era confuso. Galileu começou a corrigir esse defeito. Agora, quando alguém olhava através dele, objetos distantes podiam ser ampliados quase mil vezes e estavam com o lado certo para cima. Galileu recebeu muita honra e fama por fazer seu progresso; mas é claro que seu verdadeiro interesse ainda era descobrir se o Sol se movia ao redor da Terra ou se o contrário era correto.
Ele foi muito encorajado por um fato: pouco antes, uma bela e brilhante nova estrela apareceu no céu. Mas, Aristóteles, 2.000 anos antes, havia dito que nenhuma nova estrela apareceria. Visto que ele se enganou quanto a esse fato sobre os céus, não poderia ele também estar errado ao afirmar que o Sol se movia em torno da Terra? Não poderia ser o inverso, a Terra se movendo em redor do Sol?
Galileu agora passava praticamente todo o tempo olhando pelo telescópio. Às vezes, ele se esquecia de comer e dormir. Porém, mesmo que sua saúde não fosse das melhores, ele continuou se esforçando, com medo de não viver o suficiente para aprender a verdade sobre o que está no centro, o Sol ou a Terra.
Ele fez isso. Como? Ele sabia que, se Vênus e Marte se moviam em torno do Sol, a Terra também o fazia. Ele também sabia que, se o fizessem, pareceriam ficar menores, algumas vezes, e, outras, maiores, como a Lua fica quando se torna Lua Nova e, depois, Lua Cheia. E foi isso exatamente o que ele viu Vênus e Marte fazer. Eles pareciam mudar de tamanho.
Galileu também descobriu “manchas” no Sol, embora não devesse haver nenhuma. Quanto mais ele estudava os céus com seu telescópio, mais ele percebia que boatos muitas vezes são apenas isso — boatos.
Galileu escreveu tudo em um livro para que o maior número possível de pessoas pudesse ler sobre o assunto. Hoje em dia, algumas pessoas ficam ricas e famosas após escreverem livros. Não Galileu. Ele foi jogado na prisão. As autoridades tentaram fazer com que ele “se retratasse”; isto é, que anulasse o que havia dito e escrito, prometendo que não acreditasse mais nisso.
Mas como ele poderia? Só porque a maioria das pessoas havia acreditado por muito tempo no conhecimento antigo, isso não o tornava certo. E, se as pessoas algum dia lhe disserem para acreditar em algo só porque muitos acreditaram por muito tempo, você saberá o que dizer a eles, não é? Você vai apenas contar a eles sobre Galileu: e nada mais!
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de setembro-outubro/1995 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
A natureza da tragédia é tal que pode realizar, e frequentemente realiza, uma purgação drástica e poderosa. Os antigos gregos entenderam bem que isso fosse assim. Foi com esse propósito que surgiram as tragédias imortais de Ésquilo, Sófocles e Eurípides. Eles foram espiritualmente gerados pelos Mistérios de Elêusis e compostos à luz da Sabedoria do Iniciado. Em forma de arte nunca antes superada, essas obras foram inspiradas e transmitidas ao público em geral nos teatros abertos aos céus, reflexos da ciência espiritual ensinada a poucos qualificados nos recintos sagrados dos Templos de Mistérios.
Acima de tudo, o objetivo dessas tragédias era a edificação e a purificação. Seu conteúdo e estrutura dramáticos foram projetados para afetar o público de tal forma que ele experimentasse uma espécie de catarse por meio da sublimação das emoções que brotam das profundezas, quando a atenção é fixada intensamente na encenação de situações emocionantes, dolorosas e trágicas. A arte em suas formas mais elevadas pode fazer exatamente isso, pois a beleza é redentora.
Que grande tragédia encenada no teatro do faz-de-conta pode representar para o desenvolvimento espiritual do ser humano, que também ocorre quando acontece na realidade, no palco aberto e expansivo do mundo?
Um exemplo que podemos estudar é o que foi feito com um impacto sem precedentes, em Dallas, TX, EUA, com o assassinato do presidente John Fitzgerald Kennedy e a conclusão no cemitério nacional em Arlington, Washington, D.C., durante o pronunciamento final das solenidades, ao lado do túmulo.
Algo de profundo significado estava acontecendo na vida daquele país durante esse período emocionalmente tenso. Isso penetrou nas profundezas da alma. Impressões de natureza transcendente estavam sendo gravadas profundamente no ser coletivo daquele país. Lá estava e lá permanecerá. Embora já esteja sendo recoberto por impressões e experiências mais superficiais, nada poderá jogar completamente no esquecimento as insinuações que surgiram à medida que os pensamentos despencaram para profundezas desconhecidas, durante a vigília nacional de três dias.
O clima durante esse período inesquecível era de espanto e admiração, de reverência e questionamentos: como o de Jó. Raramente as condições são tão propícias para um diálogo significativo e esclarecedor entre o buscador humano e o divino informador. Quando ocorrem, não é por acidente, mas pela cooperação de inteligências nos planos interno e externo da vida universal.
Esses tempos são de grande importância. Propósitos elevados são servidos. Embora tenha sido apenas por um breve momento histórico, aquele país foi trazido ao seu melhor estado. O clamor exterior cessou. A ocupação usual praticamente parou. Houve um grande silêncio. A voz interior, tão raramente ouvida, era quase audível. A contemplação centrada no mistério da vida, que por um estranho paradoxo, nunca é tão pronunciada como quando estamos na presença da morte. Milhões oraram. Mesmo entre os não religiosos, um grito instintivo se ergueu por luz e orientação, por piedade e perdão. Foi a reação espontânea da alma, expressa antes que a Mente, o membro incrédulo do ser humano, tivesse tempo para reprimir a ação do seu “eu” espiritual e verdadeiramente racional.
Tais eram as condições, o estado de espírito e de coração que tornavam a comunicação entre a hierarquia orientadora, acima, e o nosso ser racional, abaixo, não apenas mais clara e mais forte do que em tempos normais, porém unida e concentrada em objetivos espirituais devido à uma realização e expressão mais amplas nos dias vindouros.
As circunstâncias relacionadas ao assassinato do presidente combinaram-se para criar uma tragédia em sua cúpula. Um portador de poder terreno e aclamação foi silenciado. Um ato de violência foi cometido. Júpiter havia lançado um raio que atingiu a Terra com uma violência que fez o mundo tremer.
Em seu significado mais universal, a estrutura em ruínas, a Torre de Babel bíblica, representa a “queda do homem”, o declínio de uma civilização, o fim de uma era. É também um lembrete pictórico de que orgulho, arrogância, egocentrismo e confiança indevida em realizações materiais de segurança, contentamento e avanço no caminho que a alma deve seguir, conduzem apenas à queda. Nas palavras do salmista, com as quais o presidente deveria ter concluído seu discurso ao povo de Dallas e ao povo americano em geral, no dia fatídico de seu falecimento: “A menos que o Senhor construa a casa, trabalharão em vão para construí-la”.
O choque do relâmpago que atingiu aquele país no dia vinte e dois de novembro estilhaçou uma cobertura que escondia erros, injustiças e males, expondo-os à luz. A condenação lançada ao assassino acusado foi temperada por um sentimento de culpa distribuída. Assim, tornou-se um despertador, dando origem a impulsos de natureza curativa. Isso aconteceu em grande escala. Nenhuma parte do mundo foi deixada totalmente inalterada. Mesmo dos russos veio uma onda de simpatia genuína e amigável em todas as camadas da sociedade soviética. William Walton, da Comissão de Belas Artes dos EUA, chegou a Moscou apenas oito dias após o assassinato de Kennedy. “Todas as reuniões que tive”, disse ele em seu retorno a Washington, “começaram com palavras de horror e tristeza”. Era evidente, continuou ele, que nosso presidente “os havia afetado de maneira surpreendente, como um homem de paz. Eles acreditaram nele… e não são um povo que esconde sua dor. Eles choravam enquanto falavam sobre ele”. Disse ainda o Sr. Walton que eles ficaram horrorizados com as tendências marxistas de Oswald e “lamentaram que ele já tivesse estado na Rússia”.
O coração do mundo foi tocado. Foi tocado por um ato redentor. Todos os ingredientes necessários para isso estiveram presentes na tragédia de Dallas. Houve a morte sacrificial de uma figura mundial e eminente, um cenário dramático e arrebatador, um tempo cosmicamente marcado e o compromisso de um ato diabólico, todos combinados para dar ao mundo o choque de que precisava para detê-lo bruscamente, seguido de uma pausa prolongada para refletir sobre os significados mais profundos da vida. Uma tragédia de partir o coração que havia ocorrido estava acelerando as latências da alma em maior ou menor grau, dependendo da receptividade daqueles que estavam sob a influência do evento.
O que então aconteceu foi a entrega da própria vida, por um único indivíduo, num único golpe e de maneira que serviu para trazer uma medida adicional de luz a todos os seres humanos, em todos os lugares. Foi o que aconteceu em nível divino-humano no Gólgota. É o que acontece periodicamente, em nível humano e inferior, dentro da escala histórica, em tempos de grande crise e alta tensão. Com cada ocorrência desse tipo a humanidade recebe um acréscimo de consciência do seu ser imortal que está em desenvolvimento.
E assim, da escuridão vem a luz; da tristeza e da angústia, a simpatia e a compaixão; da malícia e do ódio, caridade e compreensão. De um ato que brotou de elementos que dividiam os povos, surgiram forças que fizeram sua unidade maior.
O efeito da morte de Kennedy foi, portanto, não apenas de alcance nacional, mas global. Em seu aspecto austero, feio e trágico, transcendeu as barreiras que tendem a manter os seres humanos separados. Por um breve momento histórico, ocorreu uma fusão massiva da humanidade básica de todos os membros da coletividade nacional. O evento atingiu o país com tanto imprevisto e força que retirou o ser humano das massas de dentro do seu pensamento cotidiano a tal ponto que, por pelo menos um tempo, varreu o sentimento de separação — racial, social, política ou religiosa — e o tornou consciente da sua natureza mais profunda e da sua unidade essencial com o todo. Houve um reconhecimento instantâneo e instintivo de uma realidade da qual ele normalmente não tem consciência. Expresso ou não expresso, um grito e uma oração subiram de um corpo unido. Seres humanos de crosta dura, lutando na dura frente da nossa vida política e econômica, choraram sem qualquer vergonha. Os comentaristas falaram em um tom reverencial e não habituado. Igrejas e sinagogas abriram suas portas para acomodar os muitos que buscavam os santuários sagrados para contemplar as profundezas de sua própria natureza e a comunhão com o Divino. O país estava de joelhos.
O que acontece em condições como essas? Os céus se abrem. O ser humano se estende para cima e os deuses, para baixo. Eles se dão as mãos. É um arremate de reconhecimento, de reciprocidade. Há uma aceleração das correntes de vida que conectam a centelha humana com a chama divina. Intimações da identidade divina brilham na consciência. É por meio de experiências desse tipo que o ser humano avança em seu caminho ascendente.
Existem muitos passos na longa jornada evolutiva que leva a Deus. Pouco a pouco, as forças da evolução nos levam adiante, mas quando um país ou um indivíduo chega ao lugar onde a cooperação consciente é oferecida, o progresso é tremendamente acelerado.
Como entidades coletivas, as nações, assim como os indivíduos, são discípulas no Caminho. Da mesma forma, elas dão passos sucessivos de Iniciação, nesse Caminho. Esses são em graus maiores e menores.
Vejamos um exemplo nos Estados Unidos: experimentaram três desses pontos de significado espiritual e inesquecível. O primeiro deles ocorreu com o assassinato de Abraham Lincoln; o segundo, no momento do falecimento de Franklin Roosevelt; e o terceiro, com a retirada, por assassinato, de John Kennedy da vida mortal. Cada um desses eventos trouxe àquele país um período de silêncio relativo de três dias. Pensamentos e sentimentos se uniram em uma dor comum e a consciência penetrou em profundezas incomuns. A intercomunicação entre os planos interno e externo da natureza era, portanto, extraordinariamente favorável.
É nessas horas que os guardiães do destino humano podem derramar mais abundantemente as águas da vida do seu reservatório espiritual sobre um povo momentaneamente mais necessitado e receptivo do que em tempos normais. É então que eles podem imprimir de forma mais eficaz na Mente das massas o plano e o propósito que Deus tem para o desenvolvimento progressivo e o cumprimento do verdadeiro destino da humanidade. É isso que dá a essas ocasiões o impulso para a frente, o novo impulso, o esforço renovado. Essa é a natureza essencial do que se denomina experiência iniciática.
Um governo invisível preside os assuntos das nações. Os fundadores da república dos EUA dirigiram-se a esse “centro superior de direção” e hauriram dele a força, a coragem e a inspiração que tornaram possível o estabelecimento de uma nova nação em uma nova terra dedicada à proposição de que todos os “homens são criados iguais”.
Lincoln estava profundamente consciente desse corpo governante. Ele se referiu a Ele como o “Gabinete Superior”. Com Ele comungou e, a partir daí, recebeu interiormente as impressões que o capacitaram a guiar o curso daquele país através dos perigos que então dividiram aquela nação em um estado de unidade restaurada e a abolição tardia da escravidão.
Em tempos de grande crise, como o presente, os membros do governo invisível aproximam-se muito das preocupações terrenas e exercem sua influência ao máximo para orientar os desenvolvimentos para o resultado mais elevado possível. A influência que exercem nunca pode infringir o sagrado livre arbítrio de uma nação ou de um indivíduo. Mas, com pessoas ocupando posições de influência e buscando orientação superior, gente que desenvolveu uma sensibilidade interior às impressões da alma, o governo interno pode exercer uma poderosa mão orientadora para mover os eventos na direção da intenção divina.
Os líderes que respondem a tal orientação são caracterizados por uma forte consciência do destino. Eles são destemidos. Eles se sentem seguros diante dos desafios mais opressores. Eles têm uma confiança inquestionável nos recursos disponíveis, internos e externos, para realizar a tarefa que escolheram realizar. E assim, por mais pesados que sejam seus fardos, eles os carregam com leveza. Lincoln, com o peso dos anos de guerra sobre os ombros, ainda era capaz de dizer que nenhum dia deveria passar sem uma risada. E a imagem de Kennedy era a de um homem com um sorriso.
E não o fez Cristo Jesus, enquanto pedia a Seus seguidores que pegassem a cruz e O seguissem, para ter “bom ânimo” e não permitir que seus corações se perturbassem? Isso é possível quando o sacrifício resulta não de compulsão ou senso de dever, mas de escolha. Quando a consciência espiritual atinge o nível em que passa a experimentar a doação de si mesma no serviço amoroso e desinteressado aos outros, independentemente do custo para a natureza inferior, o sacrifício torna-se a maior alegria que a alma pode conhecer.
Coragem, também, o presidente havia demonstrado em seu encontro físico com o inimigo, na Segunda Guerra Mundial. E a autoconfiança inconfundível que exibia, a confiança que irradiava, a ausência de qualquer sinal de tensão indevida quando aparecia diante de audiências de televisão, nos debates de campanha com seu oponente, foi um fator importante, senão decisivo, para ganhar a Presidência.
Além disso, quando o ex-presidente Truman implorou a ele para não buscar a indicação presidencial de 1960 em razão da juventude dele, deu uma resposta eloquente que será lembrada pelo espírito amigável e pela autoconfiança com que ele se declarou “pronto”.
Ele rejeitou o chamado teste de maturidade. Disse ele, em parte, “excluir de cargos de confiança e comando todos aqueles com menos de quarenta e quatro anos teria impedido Jefferson de escrever a Declaração da Independência; Washington, de comandar o Exército Continental; Madison, de criar a Constituição; Hamilton, de servir como Secretário do Tesouro; Clay, de ser elevado à Câmara; e Cristóvão Colombo, de descobrir a América”. Kennedy continuou dizendo que não acreditava que o povo americano estivesse disposto a impor tal teste, já que o país ainda fosse jovem, fundado por homens e mulheres jovens e ainda jovem de coração e espírito.
“É hora”, continuou ele, com toda a força do seu ser, “para uma nova geração de liderança administrar os novos problemas e as novas oportunidades. Pois há um novo mundo a ser conquistado — um mundo de paz e boa vontade; um mundo de esperança e abundância. E eu quero que os EUA liderem o caminho para esse mundo”.
Em resposta à pergunta feita por um estadista mais velho, ele declarou que não estava “comprometido levianamente a buscar a presidência; que não era um prêmio ou um objeto normal de ambição… Hoje, digo a vocês e com pleno conhecimento da responsabilidade daquele alto cargo que, se o povo da nação me escolher para ser seu presidente, estou pronto”.
Em frases sonoras, o que ele estava dizendo a seu questionador, que duvidava de suas qualificações para o mais alto cargo do país, por motivo de imaturidade, e para as pessoas cujo apoio ele estava buscando, na verdade era para não julgar a idade da alma pela idade de corpo e reconhecer que, embora os dois estivessem temporariamente ligados um ao outro, eles eram de dimensões diferentes.
E o que poderia ter sido, senão a confiança nascida da consciência interior do caminho do destino que estava percorrendo e que o levou, como católico, a inclusive aspirar à presidência? Essa dificuldade passou a ser considerada virtualmente intransponível. Como cidadão americano, leal e dedicado, Kennedy recusou-se a considerá-lo assim. Com tremenda energia e determinação, ele começou a remover a barreira histórica. Nisso ele teve sucesso. Uma assembleia de ministros protestantes e ortodoxos, reunidos na Filadélfia na época da tragédia de Kennedy, prestou ao presidente martirizado uma homenagem brilhante. Daí em diante, para sempre, declarou com efeito que o caminho para a presidência não estava mais proibido aos católicos por motivos religiosos. Também pode ser notado a esse respeito que foi com uma serena segurança interior que ele estava enfrentando o desafio religioso, quando pediu o privilégio, que lhe foi concedido, de se dirigir a uma assembleia de clérigos em uma cidade do sul, que se opunham veementemente à sua eleição. Sem qualquer traço de amargura ou irritação, mas com espírito de boa vontade, ele declarou sua posição sobre todos os assuntos em controvérsia, sem equívocos, e sua fé religiosa, sem desculpas, em um esforço honesto para trazer o melhor entendimento entre ele, seus compatriotas americanos e seus “irmãos separados” de religião. Após seu discurso, um dos ministros presentes teria observado que parecia que eram eles, e não ele que, naquela ocasião, foram colocados “no local”.
Finalmente, a consciência do destino estava em alta naquele fatídico dia de novembro, em Dallas. Ele estava em território inimigo, uma cidade que pouco antes havia feito ataques horríveis ao nosso embaixador da ONU, Adiai Stevenson, e tratou Lyndon Johnson de forma tão vergonhosa em sua visita, durante a campanha presidencial de 1960.
E Dallas ainda estava com disposição para uma violência ainda maior. Havia ódio e veneno na imprensa local. Cartazes proclamavam Kennedy um traidor e Washington, um centro de poder sinistro. Obviamente, o presidente estava enfrentando o perigo mais grave. Ninguém poderia saber disso melhor do que ele. Conselheiros de confiança o incentivaram a não ir para o Texas e, definitivamente, para Dallas.
Então o presidente foi. Claramente arriscando a própria vida, ele partiu na esperança de injetar na situação inflamatória um espírito de razoabilidade e boa vontade. Sem dúvida, ele o fez, pelo menos em certa medida, mas não como planejado. Não veio de uma mensagem falada, mas através de um choque terrível, uma tragédia preocupante. As medidas de segurança foram inúteis. Quão proféticas foram as palavras de Davi com as quais ele encerrou seu discurso que não foi proferido: “Se o Senhor não guardar a cidade, o vigia acorda, mas em vão”.
John Kennedy estava novamente “pronto” para qualquer eventualidade que o destino reservasse para ele. Ele teve insinuações do fim que iria conhecer devido a um incidente ocorrido no verão anterior, quando os motins raciais estavam no auge e as paixões explodiram perigosamente, quase gerando uma erupção violenta ainda maior. Ele estava falando a um grupo de representantes de organizações nacionais sobre os muitos problemas enfrentados pela nação em casa e no exterior, quando a certa altura tirou do bolso um papel de onde leu o famoso discurso de Blanch da Espanha, no Rei João (King John) de Shakespeare:
“O sol está escaldante com sangue: belo dia, adeus!
Qual é o lado que devo seguir?
Eu estou com ambos: cada exército tem uma mão;
E em sua fúria, eu tendo os dois;
Eles rodopiam em pedaços e me desmembram”.
No dia da visita a Dallas, sua hora havia chegado. O mesmo ocorreu no momento culminante de um drama encenado no cenário mundial, em que a trágica morte do ator principal afetou tanto o público que, de luto pelo que foi amplamente sentido como uma perda muito pessoal, brotou inesperadamente da alma coletiva da nação, e no mundo em geral, novas fontes de vida espiritual. Assim, de uma perda tridimensional surgiu um ganho quadridimensional. Isso revelou a verdadeira natureza redentora do sacrifício como o preço da realização e a lei básica do progresso evolucionário.
John Kennedy estava se movendo fielmente rumo ao propósito mais elevado que sua alma havia decidido seguir antes mesmo de entrar em seu renascimento atual. Esse propósito era levar o maior bem possível ao seu país e ao mundo, mesmo à custa do martírio. A autoridade para essas declarações está no mapa dos céus no momento do seu nascimento.
Embora a Mente consciente raramente tenha plena lembrança da rota que a alma escolheu seguir antes do renascimento, o “Eu Superior” não se esquece. Pela intuição do coração, ele pode comunicar ao cérebro físico o caminho que escolheu seguir.
E assim, ao ir para Dallas, onde o perigo espreitava, o presidente estava se movendo com uma consciência idêntica àquela a partir da qual falava quando declarou com confiança que estava pronto para assumir a presidência. Foi assim quando ele se aventurou em uma zona de perigo político. Novamente, ele estava interiormente pronto para qualquer eventualidade.
O mesmo aconteceu com Lincoln, quando se aproximou do seu Gólgota. Ainda não era presidente, mas já sob fogo, ele escreveu: “Vejo a tempestade chegando e sei que Sua mão está nela. Se Ele tem lugar e trabalho para mim, acredito que estou pronto”.
Nem poderia o presidente Kennedy ter esquecido o ciclo de vinte anos que começou em 1840, durante o qual nenhum presidente viveu para cumprir seu mandato. William Henry Harrison assumiu a presidência em 1840 e morreu logo depois. O próximo, na linha da sucessão de vinte anos, foi Lincoln, 1860; Garfield, 1880; McKinley, 1880, todos os três destituídos do cargo por assassinato. Em seguida, veio “A Estranha Morte de William Harding”, 1920; Franklin Roosevelt, 1940; e agora, por último, John Kennedy, 1960, o quarto a morrer nas mãos de um assassino.
Certa configuração astrológica se repete nesses intervalos de vinte anos, o que aparentemente entrava nesse padrão presidencial, embora possa haver mais coisas envolvidas que não foram determinadas.
Ciente ou não do que esse ciclo podia haver pressagiado para ele, Kennedy, aparentemente, não fez coisa alguma para restringir sua liberdade de movimento em todos os momentos. Sorridente, ele saiu para encontrar o que quer que o destino reservasse para ele. Subconscientemente, senão conscientemente, ele deve ter tido o pensamento que Hamlet expressou quando se aproximava da sua hora final e fatal: “Se for agora, não virá; se não for para vir, será agora; se não for agora, ainda virá: a prontidão é tudo”.
E assim, misericordiosamente escondido da Mente presa ao cérebro, mas conhecido do “Eu” superconsciente, Kennedy saiu no dia de sua morte para dar sua vida pela terra que amava e pelas pessoas que viera para servir. De acordo com o testemunho estelar, foi um ato de sacrifício que ele escolheu fazer antes de entrar no presente renascimento. Ao longo dos tempos, a exploração e o estabelecimento de novas fronteiras são fortalecidos e alimentados pelo sangue dos mártires.
(Publicado na Revista New Age Interpreter – Corinne Heline – first quarter, 1963 – traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
Muitas vezes tenho-me perguntado em minhas meditações porque, sendo a Filosofia Rosacruz, tão obviamente um método de libertação espiritual, de elevação moral, de vivência amável e confortadora não atrai para si verdadeiras multidões.
“Exatamente por esses mesmos motivos”, segreda-me uma vozinha suave.
Não é fácil libertarmo-nos dos tabus que orientaram toda a nossa vida pregressa. Tampouco é fácil aprendermos a andar com os nossos trôpegos pés, sem “muletas morais”, sobre as quais possamos jogar o peso da culpa de nossas fraquezas e às quais possamos voltar arrependidos, para logo em seguida incidirmo-nos mesmos erros.
Aprendemos com a Filosofia Rosacruz a nos responsabilizarmos por nossas próprias ações, na conscientização de nossa própria individualidade Cristã; aprendemos a observar e discernir, e tirar o máximo proveito das lições que a própria vida nos ensina. O preceito “orai e vigiai” está sempre vivo. Ainda assim, quando, por força dos velhos hábitos, reagimos em desacordo com as normas que passaram a se constituir em vivência Cristã, recolhemo-nos em nossa alma e, do solo pedregoso onde fomos lançados pela força avassaladora de nossa Personalidade ainda deseducada e viciosa, levantamo-nos novamente, humildes, mas esperançosos e continuamos, corajosamente, nossa caminhada por sabermos, embora falíveis e fracos, que estando sintonizados na luz de Cristo, que nos ampara, teremos novas oportunidades para servir.
Embora continuemos, aparentemente, a viver uma vida comum, damo-nos conta de uma mudança sutil em nossos velhos hábitos e temos a coragem de assumir nossa nova roupagem perante aqueles que nos rodeiam. O fumo, a bebida alcoólica e os alimentos à base de carne animal de nossos irmãos menores são coisas do passado e não nos deixam saudades. E a causa é porque estamos conscientes da presença de Deus, afastamo-nos discretamente de toda conversa picante; porque é nossa obrigação mantermos a Mente, a via de comunicação do Cristo Interno, sempre aberta e desimpedida, esforçamo-nos (embora nem sempre com sucesso) para expulsar os pensamentos capciosos sugeridos pelo nosso Corpo de Desejos indisciplinado.
Passamos a construir a nossa volta, uma amável carapaça contra as críticas ditas em tom brejeiro, suscitadas pelos nossos novos hábitos, por sabermos que tudo que foge à regra geral causa estranheza.
Mesmo sabendo que conseguimos galgar um degrau na escada do desenvolvimento espiritual não nos orgulhamos, pois sabemos que a ascensão à nossa frente é infinita e é nossa obrigação ajudarmos aqueles que encontramos no caminho a subir em direção à Luz que vislumbramos no horizonte distante.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – 02/1980 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Aprendemos na Fraternidade Rosacruz que nós, Ego, funcionamos diretamente na substância sutil da Região do Pensamento Abstrato. Aqui especializamos dentro da periferia da nossa aura individual o material que precisamos para criarmos as ideias.
Dessa Região nós observamos, através dos cinco sentidos, as impressões produzidas pelo mundo exterior sobre o nosso Corpo Vital, como também os sentimentos e emoções gerados por elas no nosso Corpo de Desejos e refletidos na nossa Mente.
Dessas imagens mentais formamos as nossas conclusões na substância da Região do Pensamento Abstrato relativas aos assuntos a que se referem.
Tais conclusões são ideias.
Pelo poder da vontade as projetamos através da Mente quando então, revestindo-se de matéria mental da Região do Pensamento Concreto, concretizam-se como pensamento-forma.
Dentre as direções possíveis, que de acordo com a nossa vontade anima o pensamento-forma e envolvido pelo sentimento do Interesse, uma delas é o despertar da Força da Atração, a força centrípeta, no Mundo do Desejo.
Assim, essa força toma o pensamento, impele-o para o nosso Corpo de Desejos, acrescenta vida à imagem e a envolve em matéria de desejos.
Então o pensamento (agora já envolvo de material de desejos, ou seja, uma forma de desejos) está apto a atuar sobre o cérebro etérico impelindo, através dos centros cerebrais apropriados e dos nervos, força vital aos músculos voluntários, os quais executarão a ação necessária.
Deste modo se consome a força do pensamento, mas sua imagem fica impressa no Éter do Corpo Vital como memória do ato e do sentimento que o causou.
Dentre as direções possíveis, que de acordo com a nossa vontade anima o pensamento-forma e envolvido pelo sentimento do Interesse, uma delas é o despertar da Força da Repulsão, a força centrífuga, do Mundo do Desejo.
Se essa é a força despertada pelo pensamento, então haverá uma luta entre a força espiritual (a nossa vontade) dentro do pensamento-forma e o Corpo de Desejos.
Essa é a batalha entre a consciência e o desejo, entre a natureza superior e a inferior.
Apesar da resistência, a força espiritual (a nossa vontade) pode procurar envolver o pensamento-forma na matéria de desejos necessária para manipular o cérebro e os músculos.
A força de Repulsão tentará dispersar essa matéria e expulsar o pensamento.
Mas se a energia espiritual (a nossa vontade) é forte, pode romper caminho através dos centros cerebrais e envolver o pensamento-forma em matéria de desejos enquanto põe em movimento a força vital, compelindo-a desse modo à ação.
Então deixará na memória uma impressão bem vivida da batalha e da vitória.
Se a energia espiritual se esgotar antes de produzir a ação, a força de Repulsão prevalecerá. Se ela vencer, naturalmente leva-nos a cortar, de nossas vidas, qualquer conexão com esse objeto ou ideia que a despertou.
De qualquer modo será arquivada na memória, como todos os demais pensamentos-forma quando esgotam sua energia.
Que as rosas floresçam em vossa cruz
A humanidade ainda não está pronta para ser fundida em uma única Igreja com um serviço comum e duvidamos que algum dia estará. É fato e incontestável que a comida que alimenta um ser humano é veneno para outro e o mesmo se aplica à nossa comida espiritual. Cada um é constituído de forma diferente — mental, moral e espiritualmente, bem como fisicamente. Logo, olhamos para as mesmas coisas de diferentes pontos de vista. No campo político, as diferentes facções são chamadas de partidos e cada uma luta pela supremacia, com a firme convicção de que em seu credo particular esteja a salvação nacional: eis a utopia política e industrial. No reino da Religião, os vários grandes sistemas como Cristianismo, Islamismo, Budismo, Judaísmo ou outros têm seitas e cada uma delas luta pela aceitação nacional e internacional, acreditando que seu credo particular seja o único caminho seguro para a bem-aventurança eterna.
No entanto, Deus, a Verdade, ou qualquer outro nome que desejemos dar ao grande Poder abrangente que todos nós sentimos mais intensamente ou menos, pode ser comparado a uma montanha que é abordada de todas as direções por uma multidão de viajantes que estão todos atentos ao escalar. Como vêem de vários ângulos, a montanha (Deus) parece diferente para cada um e o caminho (Religião) que estão trilhando parece o mais reto e melhor. Cada um pensa que sua visão é inigualável e seu caminho, o mais seguro. Mas isso, enquanto estão nas partes baixas da montanha. Ao subir, verá que há muitos caminhos que levam para cima e, quando chegar ao topo, descobrirá que todos os caminhos convergem para uma única realidade, DEUS.
Então, todos também verão que não importa tanto em que acreditamos, mas, sim, o quanto escalamos; então gritarão para os que estão abaixo: “Não se preocupem com os católicos, batistas, metodistas, cientistas, budistas, mormons ou salvacionistas ou, ainda, todos os outros; o caminho deles os traz aqui para cima do mesmo jeito que o seu. Não gaste seu tempo fazendo proselitismo. Eles estão escalando assim como você. Chame todos os seus missionários para casa e cuide de sua escalada. Dedique toda a sua energia para ajudar aqueles que estão em seu próprio caminho e deixe os outros fazerem o mesmo. Assim, todos vocês farão mais progresso e serão melhores amigos. Cuidando da sua vida e respeitando os pontos de vista religiosos dos outros, dando-lhes crédito pela sanidade e sinceridade em que diferem de você e acelerando-os em seu caminho escolhido com sua bênção, você ajudará a si mesmo e a eles a alcançar o Reino de Deus, que é a meta de todos”.
Se a atitude das Igrejas pode, assim, ser transformada de desconfiança mútua em apreciação e ajuda mútuas; se as diferenças podem ser esquecidas e o objetivo comum mantido em vista, em breve veremos um renascimento do sentimento religioso em uma escala tal que ultrapassará até mesmo as esperanças dos mais otimistas, porque não é a visão sectária de Deus que impede o crescimento da alma do ser humano; mas, isto sim, a visão sectária das suas seitas.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de setembro de 1918 e traduzido pelos irmãos e irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
Em tempo remoto, o simbolismo foi tão usado que os historiadores modernos falam dele como se fora a “linguagem do homem primitivo”. Não obstante, nós continuamos a encontrar nos símbolos extrema utilidade, porque algumas vezes, por meio de uma simples figura ou emblema, comunicamos às nossas Mentes uma compreensão maior sobre os profundos princípios e leis cósmicas, como não poderíamos fazer por meio de palavras. O valor educacional dos símbolos expressa-se também nesta máxima: “Um quadro ou imagem é melhor do que mil palavras”.
A palavra é o símbolo da ideia. Assim também, na música, na arte, na literatura, na dança, no drama e em muitos outras formas de expressão o simbolismo é usado para transmitir as mensagens dos seus criadores.
Os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, também chamados de Mestres, há muito esperam o florescimento das rosas da humanidade e dão a todos os Aspirantes ao conhecimento espiritual esta saudação: “Que as rosas floresçam em vossa Cruz!”.
Assim também, em todas as reuniões da Fraternidade Rosacruz, em todo o mundo, os Estudantes, Probacionistas e Discípulos são saudados e se saúdam de igual maneira e todos lhe respondem: “Na vossa também”.
Das doze Hierarquias Criadoras que ajudaram o ser humano na sua evolução, cinco já se libertaram dessa missão sublime; as outras sete continuam na Sua nobilíssima tarefa de amparar e guiar o ser humano na sua jornada, estando simbolizadas nas sete rosas sobre a Cruz. E assim como as referidas Hierarquias são a expressão do Macrocosmos, assim também o Microcosmo está simbolizado por nós, o Ego, dirigindo as nossas atividades para fora, através dos sete orifícios visíveis do Corpo Denso. As cinco Hierarquias que terminaram a Sua missão e retiraram-Se estão simbolizadas na estrela dourada de cinco pontas e nos cinco orifícios parcialmente cerrados do nosso Corpo Denso: os mamilos, o umbigo e os canais de excreção.
A CRUZ BRANCA simboliza a vida dedicada do servidor da humanidade. Na forma em que tem uma rosa apenas, no centro, simboliza o Espírito irradiando de Si mesmo o quádruplo corpo, isto é, o Corpo Denso ou de carne e ossos, o Corpo Vital, o Corpo de Desejos e a Mente, de onde o Ego, o Espírito, fiscaliza os Seus instrumentos e chega a ser o Espírito humano que mora internamente. Em Épocas anteriores não existia essa condição.
O Tríplice Espírito então flutuava sobre os seus veículos, nos quais não podia entrar. Quando a Cruz se erguia sozinha, simbolizava a condição existente no primeiro terço da Época Atlante. Houve ainda um tempo no qual o madeiro superior da Cruz faltava e a constituição humana era representada pela letra hebraica Tau (T), que sucedeu no tempo da Época Lemúrica, quando o ser humano tinha apenas o Corpo Denso, Corpo Vital e Corpo de Desejos, faltando-lhe a Mente.
A natureza animal predominava nessa Época. Em Época ainda mais remota, a Hiperbórea, faltava o Corpo de Desejos e o ser humano possuía unicamente o Corpo Denso e o Corpo Vital. Então o ser humano, em potência, era como as plantas: casto e sem desejos. Não podia ser representado por uma Cruz e por esse motivo o símbolo era um pilar ou coluna, como a letra “I”.
Esse símbolo foi considerado fálico, um emblema da geração. Esse pilar é hoje representado pelo madeiro inferior da Cruz, emblemático do ser humano em potência, quando era semelhante a uma planta. A planta não tem paixão nem desejos e, por conseguinte, é inocente. O falus e o lone, imagens dos órgãos masculino e feminino, usados nos templos de mistérios da Grécia, foram dados pelos hierofantes; nesse sentido e sobre os pórticos dos templos, foram colocadas as palavras: “HOMEM, CONHECE A TI MESMO”. Palavras que, quando bem compreendidas, são semelhantes aos Ensinamentos Rosacruzes e mostram a razão da “queda do homem” no desejo e no pecado, dando a chave da sua liberação da mesma forma que as rosas sobre a Cruz indicam o caminho da emancipação. Através do “conhecimento” de Eva, Adão “caiu” e perdeu a sua consciência dos Mundos invisíveis. Não achará outra vez essa interna percepção das esferas celestes até que tenha aprendido de novo, em uma espiral mais elevada, como criar de si mesmo usando a sua força criadora e total à vontade. Então se conhecerá outra vez.
Através dos tempos o ser humano usou várias cruzes: a cruz latina, a TAT ou cruz grega, a TAU ou cruz hebraica, a cruz ANSATA ou egípcia (cruz com asa ou círculo por cima), a cruz céltica, a cruz de Lorena, a cruz papal, a cruz do Calvário, a cruz Suástica ou gamada, a cruz de Santo André, a Cruz de Malta, a cruz em forma de trevo. A cruz Ansata foi o mais antigo símbolo da Maçonaria egípcia, instituída pelo Conde Cagliostro, e significava imortalidade. A asa colocada no topo superior da cruz Ansata apresenta duplo significado: como símbolo mundano era um atributo de ISIS, uma imagem da Lei; como símbolo da imortalidade era usado sobre o peito das múmias; uma eternidade sem princípio nem fim que desce sobre o plano da natureza material e, logo, emerge dele.
A cruz do Calvário encontra-se sobre três degraus, sendo o maior a base; o segundo, ligeiramente mais estreito; e o terceiro, sobre o qual descansa a cruz, menor ainda. Esses três degraus representam os três primeiros graus da Maçonaria, os passos necessários para se chegar a ser um Mestre Maçon. Recordam-nos os três dias entre a crucificação e a ressurreição de Jesus Cristo, aqueles três dias que significaram setenta e duas horas, que representam o número nove, do qual é dito que representa a humanidade atual. Os três degraus também simbolizam o Deus Trino: Pai, Filho, Espírito Santo, além dos três aspectos da Divindade: Vontade, Sabedoria, Atividade.
A Cruz em forma de folha de trevo é a base do emblema Rosacruz. É uma cruz branca e brilhante, tendo três semicírculos nos extremos de cada madeiro. Esses doze semicírculos no emblema Rosacruz simbolizam as doze Hierarquias que Se manifestaram no início da Criação, têm os mesmos nomes dos Signos do Zodíaco e ajudaram o ser humano em seus esforços para governar o seu quádruplo veículo. No centro da cruz está a Rosa pura e branca, simbolizando o coração do Auxiliar Invisível. É o sinal da PURIFICAÇÃO.
No serviço que se lê à tarde no Templo de Cura, exceto por ocasião da Lua Nova e da Lua Cheia, dão-se os passos mais diretos para se alcançar essa realização: “O amor (…) não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não busca os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a Verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.
Suspensa na cruz está uma coroa de sete rosas vermelho-sangue, imaculados receptáculos da semente da roseira e livres de paixão, emblemas da força geradora, purificada e elevada. Como a vida do ser humano está no sangue, vivendo uma vida de Serviço, dedicado, e ao mesmo tempo desinteressado, aos outros, cada um de nós pode transmutar as forças vitais e impuras em força criadora e pura do Espírito de Vida, alcançando assim o mais elevado estado humano. As sete Rosas sobre a cruz também significam os sete passos que deve dar o Aspirante no caminho estreito.
A primeira rosa significa a Clarividência e a Clariaudiência; no desenvolvimento dessas faculdades é essencial o poder de observação. Essas duas Faculdades desenvolvem-se na ação positiva, na qual o Aspirante quer “ver e ouvir claramente”.
A segunda rosa significa a Profecia e para desenvolver essa última usa-se o discernimento. Cristo disse: “E muitos falsos Profetas se levantarão e enganarão a muitos”[1]; “Porque se levantarão falsos Cristos e falsos Profetas e darão grandes sinais de prodígios, tais que, se fora possível, até enganariam os escolhidos”; “E então aparecerá o sinal do Filho do Homem que virá sobre as nuvens com toda a pompa e glória”[2].
A terceira rosa é a da Pregação e do Ensino da Verdade. Esse é o primeiro dos mandamentos do Senhor: “Pregai o Evangelho”[3]. Ou seja, “pregai a verdade por Mim ensinada”. A maneira mais direta de pregar a verdade é deixar que a nossa vida seja um exemplo constante dessa Verdade.
A quarta rosa é a Rosa da Cura. Este é o segundo mandamento: “Curai os enfermos”[4]. Antes que possamos chegar a ser um Auxiliar Invisível e ajudar na cura dos enfermos, devemos mostrar merecimento, manifestando-nos como auxiliares visíveis.
A quinta rosa é a da Expulsão dos Demônios. Há numerosas passagens nas Escrituras Sagradas que mencionam esse fato. No Livro Conceito Rosacruz do Cosmos o leitor é advertido de que deve ter muito cuidado com a maneira de prestar esse serviço. Cada um dos que se prestam a expulsar os demônios deve estar bem armado em nome de Cristo, antes de se aventurar a fazer esse melindroso trabalho. Alguns historiadores profanos disseram que Maria Madalena estava possuída por sete demônios e que, depois que esses sete diabos foram lançados para fora dela, deixando-a novamente livre, ela voltou a ser uma nobre mulher.
A sexta rosa é a da Pronunciação da Palavra de Poder, expressando os três aspectos da Divindade, falando (ação) com o poder (vontade) da palavra (sabedoria). Quando o Aspirante alcança esse ponto de desenvolvimento no caminho da Iniciação, ele aprende a invocar a manifestação da Divindade e a falar em seu NOME.
A sétima rosa é a do Poder de Ressuscitar os mortos, isto é, os adormecidos no esquecimento da Divindade. Cristo afirmou: “Em verdade vos digo que aquele que crê em Mim fará as obras que eu faço e ainda maiores, porque Eu vou a meu Pai”[5].
Na História Sagrada, é São Pedro o único depois de Cristo de quem se diz que ressuscitou mortos: “Havia em Jope uma discípula chamada Tabita, ou Dorcas. Esta estava cheia de boas obras e de esmolas que fazia. Mas Pedro, lançando fora a todos, pôs-se de joelhos e orou; voltando-se para o corpo disse: ‘Tabita, levanta-te!’. Ela abriu os seus olhos e, vendo Pedro, assentou-se. Fez-se isto notório em Jope; e creram muitos no Senhor”[6].
O Aspirante sabe também que pode ser ressuscitado da morte da sua antiga vida para se levantar e viver uma vida nova, na consciência da sua unidade com Deus, em Quem vivemos, movemo-nos e temos o nosso ser. O centro da cruz irradia a estrela dourada de cinco pontas, uma das quais se dirige para cima. Essa estrela simboliza o Manto Dourado Nupcial – o Corpo-Alma – que todos nós, seres humanos, estamos tecendo para nós mesmos, com os nossos pensamentos amorosos e ações bondosas.
A Estrela é dourada por ser essa a cor do ouro, a mais parecida com a irradiada pelo Amor Crístico, O qual deve ser o motivo das nossas ações. O amarelo é símbolo do segundo aspecto da Divindade, o Filho ou Cristo; no entanto, dado que o ser humano de hoje não pode manifestar o amarelo puro do Amor de Cristo, esse se expressa no alaranjado do ouro. O Corpo-Alma ou Veste Dourada de Bodas deve ser desenvolvido antes que o Cristo interno possa nascer.
Por detrás da Estrela e da Cruz está o campo azul, símbolo do Espírito Puro, assim como o céu azul é um símbolo do Caos do qual procedeu a Manifestação. Essa cor simboliza o primeiro aspecto da Divindade, o Pai. Cristo disse que devia atrair todas as coisas para Si e que podia, então, entregar o Reino ao Pai.
Quase nada sabemos a respeito desse Reino e, como o pouco que sabemos vem por meio dos Seus ensinamentos, o azul está mesclado de amarelo, não sendo azul puro, mas azul-turquesa, altamente translúcido e vibrante de vida. O vermelho das rosas é o símbolo do Terceiro aspecto da Divindade e é a única cor pura que é mostrada no símbolo Rosacruz.
Portanto, o Símbolo Rosacruz é um símbolo da nossa evolução passada, da nossa presente constituição e do nosso futuro desenvolvimento, junto ao método de realização.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross; traduzido e publicado na Revista Serviço Rosacruz de janeiro/1969)
[1] N.T.: Mt 24:11
[2] N.T.: Mt 24:30
[3] N.T.: Mt 16:15 e Mc 16:15
[4] N.T.: Mt 10:8
[5] N.T.: Jo14:12
[6] N.T.: At 9:36-42
A Lua na Tradição Oculta – Parte II – A Significância Espiritual da Lua Cheia
Corinne Heline
Como a Lua Nova marca o tempo de novos começos, da nova Dedicação e nova Consagração aos mais elevados ideais aos quais alguém pode aspirar, então a Lua Cheia marca o tempo de Realização, Consecução e Cumprimento, as três palavras que expressam a nota-chave espiritual dela. E como o Batismo, que foi geralmente observado na época da Lua Nova como o cerimonial da nova dedicação e nova consagração do Ego àquilo que é mais elevado no ser humano, o Deus Interior, assim também o aprofundamento, o aumento e a glória da realização sublime estão incluídos no belo cerimonial da Festa do Amor Místico ou Eucaristia que, nos Templos de Mistério, era celebrado em noites de Lua Cheia.
A elevada realização do mistério da Eucaristia não pode ser adquirida em poucos meses ou mesmo anos; mas requer um período de muitas vidas. No entanto, um antegozo dessa glória toca a consciência de cada Aspirante à vida superior sincero, em qualquer parte do Caminho onde estiver, por mais humilde que seja. Participar do Rito da Realização significa que a personalidade se tornou a serva obediente, em todos os momentos, dos ditames do Espírito. Significa que alcançou a conquista suprema, a do “eu”. Na vida de Dante, isso foi alcançado quando ele chegou ao topo do Monte do Purgatório e Virgílio, seu mestre e guia espiritual, disse a ele: “Com coroa e mitra eu te nomeio soberano sobre ti mesmo!”. Quando nos voltamos para a Bíblia, aquele supremo Livro da Vida, encontramos entre seus personagens mais importantes aqueles que alcançaram esse alto nível de desenvolvimento.
No décimo quinto capítulo do Êxodo, Moisés canta sua canção triunfal da autorrealização. Ele declara: “O Senhor é minha força e meu cântico. O Senhor é minha salvação. Por causa Dele triunfei”. Com essas palavras, ele descreve sua passagem milagrosa pelo Mar Vermelho. Esotericamente, esse mar é apropriadamente chamado de Vermelho porque simboliza a cor marciana da paixão física à qual a natureza emocional está sujeita. As hostes do Faraó, que perseguiam os israelitas e foram engolfadas e afogadas pelas águas do Mar Vermelho, representam aqueles que não superaram suas propensões emocionais, inferiores e, consequentemente, são engolfados pelas águas da paixão e do desejo. Moisés e os israelitas, por outro lado, representam aqueles que dominaram sua natureza inferior e se tornaram obedientes aos conselhos e orientação do seu eu superior. Para eles, as inundações emocionais retrocedem e caminham a seco para as vistas gloriosas da Terra Prometida. Pela autorrealização, todo obstáculo que barraria o caminho para o autodomínio e a iluminação é infalivelmente removido.
Os Salmos de Davi são hinos de vários graus de Iniciação. Alguns são dirigidos ao iniciante ou neófito; outros foram compostos para aqueles que avançaram mais no Caminho; e ainda há os que expressam o estado exaltado de almas que alcançaram a consciência cósmica. No Salmo 24, por exemplo, ouvimos os acordes triunfantes de uma canção de Iniciado: “Abri, ó portas, ó portas eternas, para que o Rei da Glória possa entrar”. Esse Rei da Glória não é apenas o Senhor Deus dos Exércitos. Ele também é o Ser luminoso que chega à consciência e expressão na alma que alcançou o lugar de onde pode abrir as portas para os mundos espirituais e entrar e sair à vontade. Com essa conquista, vem a capacidade de estudar, ensinar e servir conscientemente nos planos interno e externo, conforme as condições e circunstâncias exigirem.
Em suas Epístolas, São Paulo delineou o caminho do Iniciado tal como ele próprio o havia vivido. Por isso, foi capaz de pronunciar aquelas palavras comoventes que incontáveis “atletas de Deus” proclamaram depois dele: “Eu combati o bom combate. Eu mantive a fé. Eu terminei a corrida”.
O Senhor Cristo reteve Seu ensino mais avançado até o final do Seu ministério terreno. Os mistérios mais profundos que Ele veio a revelar foram transmitidos aos Seus Discípulos mais avançados quando eles se reuniram no “Cenáculo” e compartilharam a “Última Ceia”. Essa observância perpetuou os cerimoniais anteriores do Templo, conhecidos como Festa do Amor Místico, e santificou-os como os mais sagrados dos sacramentos cristãos. A Eucaristia, ou Sagrada Comunhão, conforme observada pela Igreja, está no próprio cerne da fé e da prática cristã.
Em nosso volume O Mistério dos Cristos citamos: “A Última Ceia ou Rito da Eucaristia fez parte de todo ensinamento iniciático que já foi dado ao ser humano. No Egito, o pão e o vinho místicos significavam as bênçãos do Deus Sol, Rá. Na Pérsia, a Eucaristia fazia parte dos Mistérios Mitraicos. Na Grécia, o pão era sagrado para Perséfone e o vinho, para Adônis. O Rito também é referido em um fragmento antigo do Rigueveda, na Índia. – “Você bebeu soma”, diz uma passagem, “nos tornamos imortais; entramos na luz; nós conhecemos os deuses”.
Todas as épocas, pessoas e Religiões receberam esse ritual sagrado do “pão e do vinho” e ele sempre é visto como o cerimonial que carrega os mais elevados ensinamentos espirituais que podem ser ministrados à época. Em cada época e religião sucessivas, à medida que a revelação divina se estende, o ritual da Eucaristia assume significados mais profundos, alcançando seu mais alto significado espiritual quando o Cristo, o supremo Instrutor do Mundo, celebra o rito com Seus Discípulos no Cenáculo, à meia-noite da Quinta-feira Santa, imediatamente antes da Sexta-Feira Santa ou Dia da Paixão.
Na hora da Última Ceia, esse serviço sagrado foi dividido em três partes. A primeiro consistia principalmente de orações e hinos com o objetivo de criar um espírito de pura comunhão entre os reunidos, porque somente em um estado de harmonia um eficaz trabalho espiritual pode ser realizado.
A segunda parte do Serviço consistia dos ensinamentos que Cristo deu a estes, Seus Discípulos mais avançados, relativos à doutrina do balanço, ou equilíbrio, entre as forças masculina e feminina da mente e do coração. O pão personificava a força positiva, ou masculina (a mental), e o vinho, a força negativa ou feminina (o coração). Enquanto o Cristo administrava aos Discípulos o pão e o vinho, ao mesmo tempo derramava do Seu próprio Ser esses poderes duais que possuía em um estado perfeito de equilíbrio. Essas duas forças também são representadas como o Maná do Céu, ou Pão da Verdade, e o Vinho do Amor.
Astrologicamente, o pão se correlaciona com o Signo terrestre de Virgem, a virgem do céu, que carrega um feixe de trigo; enquanto o fruto da videira, o poder do amor feminino, relaciona-se ao Signo ígneo e masculino de Leão, o rei leão. Nessas relações estelares, descobrimos como a mistura dos opostos é tecida na própria estrutura do Universo. Assim, a Hierarquia feminina de Virgem carrega consigo poderes masculinos ocultos e a Hierarquia masculina de Leão, as potências femininas. A interação harmoniosa entre esses poderes, seja na abóbada dos céus ou nos interiores da alma humana, é o estado que leva à totalidade ou santidade.
De muitos pontos de vista, o registro bíblico indica a necessidade que o ser humano tem de atingir o estado de consciência no qual é justo dizer-se que ele pode pensar com o coração e amar com a mente. Com tal realização, vem a Iluminação. O ser humano pode então andar na Luz como Ele está na Luz.
No terceiro e último estágio do cerimonial da Eucaristia, aberto apenas aos “Poucos” ou “Remanescentes”, o Mestre ensinou a Seus Discípulos como derramar os poderes espirituais da polaridade Amor-Sabedoria nas substâncias físicas, resultando que, assim magnificados – engrandecidos com louvor –, irradiaram poderes de cura. Que as potências vivas e energizantes são transmitidas a objetos tocados por um Mestre foi intuitivamente reconhecido em todas as religiões, desde os primeiros tempos e, embora isso tenha dado origem a muitas práticas supersticiosas em relação a talismãs e relíquias, ainda existe uma realidade espiritual e subjacente a elas.
Depois da Ascensão e da partida do Mestre, os Discípulos se reuniam todas as noites naquele Cenáculo, que era sagrado para a memória do Banquete Místico. A ocorrência mais importante do dia para eles foi a celebração da sagrada Festa do Amor. Depois que os elementos do pão e do vinho eram energizados com a vital força cósmica, os Discípulos os levavam para os enfermos e aflitos; tão poderosas eram suas emanações magnéticas que muitos eram curados simplesmente tocando ou mesmo olhando para eles.
Na tarde da Páscoa, durante a festa e a caminho de Emaús, dois Discípulos convidaram um estranho que passava para entrar e jantar com eles. Eles não O reconheceram como o Mestre até que, à mesa, Ele colocou as mãos sobre o pão, o qual, de repente, tornou-se luminoso como ouro fundido. Foi então que eles souberam que o Cristo ressuscitado estava no meio deles. Quando, mais tarde, Ele desapareceu de suas vistas, eles saíram com alegria, proclamando que o Mestre ressuscitado havia retornado para eles.
Em uma de suas interpretações mais importantes, a Bíblia pode ser verdadeiramente denominada “O Livro da Angelologia”. Muitos dos seus ilustres personagens foram acompanhados, dirigidos e iluminados por visitantes angelicais. Alguns dos eventos mais maravilhosos da Bíblia acontecem por meio da intercessão angelical. Há apenas um ligeiro reconhecimento desse ministério celestial em nossos dias, devido à luz ofuscante do materialismo. Mesmo nas igrejas, onde se esperaria que fosse um ensino muito proeminente, ele falhou em receber a ênfase que merece. E, no entanto, para aqueles que têm olhos para ver e ouvidos para ouvir, o ministério angélico continua a ser tão essencial e eficaz para a vida humana como sempre foi.
Durante as horas da noite, hostes de Anjos se reúnem acima das cidades do mundo, dissipando as escuras nuvens astrais que pairam sobre elas. Essa névoa cancerígena é composta pela combinação dos pensamentos negativos e sentimentos malignos da população. O medo, o desânimo, a crueldade, o ódio, a luxúria e os elementos discordantes e destrutivos de todo tipo escurecem e sobrecarregam a atmosfera psíquica. Para neutralizar essa condição, que surge no curso das atividades diárias, o ministério angélico trabalha durante a noite com o fim de dissipar a nuvem e limpar a atmosfera, de modo que melhores condições prevaleçam na madrugada do próximo dia para o progresso do ser humano.
Embora o ministério angélico seja incessante, é à noite, quando os humanos estão dormindo e suas mentes quietas, que eles respondem melhor às influências espirituais desse ministério.
Onde quer que haja problemas, tristeza e sofrimento, mensageiros angélicos estão sempre presentes para prestar Serviço amoroso e útil. Eles se reúnem em grande número nos campos de batalha, onde trazem paz aos recém-mortos e confortam os que sofrem. Os Anjos também visitam casas, hospitais e instituições psiquiátricas durante o dia e a noite. Eles trazem luz a lugares escuros, força aos fracos, esperança aos desanimados, conforto aos enlutados e paz de espírito às mentes perturbadas e alienadas. Embora não façam acepção de pessoas, sendo ministros de acordo com a necessidade e não o mérito, eles são mais felizes no ambiente daquelas cujas vidas estão em sintonia com os níveis superiores de consciência e expressão. Eles também se reúnem em grande número dentro, e ao redor, de lugares sagrados; por exemplo, os Templos de Mistério no plano etérico e onde quer que os devotos se reúnam na observância do Santo Sacramento da Eucaristia. Sua presença e participação são sentidas interiormente pelos devotos adoradores e são claramente vistas por aqueles que possuem uma segunda visão. Em ambos os casos, as bênçãos de suas emanações áuricas são inconfundíveis.
Nas lendas do Rei Arthur e dos Cavaleiros da Távola Redonda, que na verdade são descrições veladas das atividades do Templo que ocorriam na época medieval, cada cavaleiro recebia uma cadeira específica na qual sempre se sentava. Acima de cada cadeira e sobre a cabeça de cada cavaleiro via-se uma forma angelical. Pois foi dito que Deus designou a cada cavaleiro um Anjo que o acompanhava em todas as suas aventuras, ou testes, para sustentá-lo no fracasso e ampará-lo na justiça, regozijando-se com ele em sua realização espiritual, enquanto progredia em seu Caminho de Iniciação.
Realização, Consecução e a grande glória da Consumação — essas são as bases espirituais que transmitem o verdadeiro significado da noite de Lua Cheia. As lendas nos contam que, depois que Pedro negou seu Senhor, ele sofreu terríveis agonias de contrição e humilhação que foi literalmente reformado e sua natureza inferior passou por uma transmutação completa. Foi então que ele se tornou de fato e de verdade São Pedro, o Iniciado; foi a Iniciação de Pedro a que o Senhor Cristo Se referiu por estas palavras: “Sobre esta pedra fundamental edificarei a minha igreja”. Foi assim que, de acordo com a lenda, Pedro atingiu tal santidade que, enquanto caminhava, onde quer que sua sombra caísse nos enfermos, eles eram curados e, ao se levantarem, com alegria e exultação proclamavam o Santo Nome e seu poder transformador.
“Eu combati o bom combate. Eu mantive a fé. Eu terminei a corrida”. Esse é o glorioso ideal defendido por aqueles grandes Discípulos espirituais, São Pedro e São Paulo. E, à medida que avançamos no Caminho da Luz, também aprenderemos a superar as turbulentas águas do Mar Vermelho. Nós também estaremos em terra seca e teremos um vislumbre daquela Terra Prometida, que é a aurora dourada da Nova Era, agora se aproximando tão rapidamente… Aquela Era em que a “Paternidade de Deus” e a “Fraternidade do Homem” se tornarão uma realização viva em todo o mundo.
(Publicado na Revista New Age Interpreter – Corinne Heline second quarter, 1964 – traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
A Lua na Tradição Oculta – Parte I – A Significância Espiritual da Lua Nova
Corinne Heline
Os primeiros ensinamentos do Templo foram dados quase no início da civilização. Nenhum desses ensinamento está perdido; mas, através dos tempos foram endereçados aos cuidados das Escolas de Mistérios e ainda estão disponíveis aos “poucos” que estão prontos para recebê-los. Muitos dos belos cerimoniais simbólicos e pertencentes aos antigos Templos de Mistérios foram incorporados às várias Religiões do mundo. Talvez os dois mais importantes desses cerimoniais, levados à primitiva Igreja Cristã, sejam o cerimonial do Batismo e o da Festa do Amor Místico que, na terminologia da igreja, é chamado de Eucaristia ou Sagrada Comunhão.
Esses dois cerimoniais, como observados nos antigos Templos de Mistérios, geralmente eram comemorados nas noites de Lua Nova e Lua Cheia. Os neófitos do Templo eram ensinados que esses são os pontos espirituais elevados de cada mês, porque nas noites de Lua Nova e Lua Cheia há uma liberação adicional de energias espirituais em todo o Planeta Terra, exterior e interiormente.
É significativo que em vários livros do Antigo Testamento o leitor seja advertido contra a participação nos festivais da Lua, e eles são o objeto de muitas repreensões veementes de vários profetas. A razão para isso é que os cerimoniais religiosos pertencentes à Era de Touro, embora belos e puros em suas concepções originais, no tempo do Antigo Testamento degeneraram em feitiçaria e sensualismo do tipo mais degradante. As assembleias da Lua Nova haviam se tornado conclaves sombrios e sinistros, sob a égide dos deuses e deusas da feitiçaria, enquanto as festas da Lua Cheia eram tempos de folia licenciosa, descritos no Antigo Testamento como a adoração ao bezerro de ouro. À parte desses festivais degenerativos, no entanto, havia verdadeiros Mistérios da Lua que eram celebrados nos santuários mais internos do Templo, que sempre foram uma forma da ordem celestial mais elevada e sagrada.
Para o Aspirante no Templo do Mistério, a Lua Nova é uma época de novos começos. É tempo de consagração e dedicação aos mais exaltados ideais aos quais ele aspira. No final de cada mês lunar, portanto, ele examina cuidadosamente, em retrospecto, todas as obras do mês que acabou de terminar e observa em que falhou em viver fiel a esses ideais, tentando descobrir o motivo dessas falhas.
Um dos mais notáveis videntes modernos disse que o único e verdadeiro fracasso que alguém pode conhecer é deixar de tentar; e, assim, o Discípulo do Templo de Mistério tem a oportunidade de rever suas falhas. Por mais lamentáveis que sejam, ele sabe que não são irremediáveis, porque não parou de tentar.
Logo após o festival da Lua Nova e a cada mês, o Discípulo é instruído a se doar a um ideal pessoal ou de um movimento que contribuirá, por menor que seja, para a elevação da humanidade e o aprimoramento do mundo. Isso é feito para provar sua abnegação total e irrestrita, em harmonia com o belo mantra Rosacruz: “O serviço amoroso e desinteressado é o caminho mais curto, mais seguro e mais agradável que conduz a Deus”.
Nos ensinamentos do Templo, o cerimonial batismal era, geralmente, observado nas noites de Lua Nova e a Festa do Amor Místico, ou Eucaristia, nas noites de Lua Cheia.
O serviço batismal que foi organizado para se harmonizar com a lei esotérica está disponível hoje. Simples na forma, ainda que rico em substância espiritual e poderoso em invocação da torrente cósmica.
Os Quatro Elementos são usados nesse cerimonial e cada um é dedicado ao serviço do Aspirante. Eles são: Sal, Óleo, Água e Fogo (Luz). O sinal da Cruz também é usado, como na igreja. A Cruz é um símbolo pertencente aos primeiros ensinamentos do Templo e sua assinatura é um ato litúrgico de “magia” espiritual que sela a unidade do ser humano com o cosmos. É um símbolo cósmico em ação. Ele invoca as bênçãos de Câncer, a Hierarquia do Norte; Capricórnio, a Hierarquia do Sul; Leão, a Hierarquia do Oriente; Aquário, a Hierarquia do Ocidente. Câncer representa os Elementos da Água; Capricórnio, os da Terra; Leão, o do Fogo e Aquário, o do Ar.
Uma bênção é pedida aos quatro grandes Seres que operam através dos Quatro Elementos Cósmicos que são tão importantes no trabalho evolucionário do nosso Planeta Terra e dos seres residentes nele.
Na bênção dos Quatro Elementos, o sinal da Cruz é feito primeiro no Coração e depois na testa; sendo o Coração o núcleo de amor do corpo e a cabeça, o centro da Mente. O ponto crucial dos ensinamentos do Templo sempre foi a unificação das forças da Mente com as do Coração. A Bíblia nos mostra que devemos aprender a pensar com o Coração e a amar com a Mente. Quando essas duas forças são estabelecidas em equilíbrio dentro do ser humano, ele “nasce” como um Iniciado. É a união das duas forças cósmicas que a Bíblia retrata simbolicamente como uma Festa do Casamento Místico. É com uma Festa do Casamento Místico que o Evangelho Segundo São João começa. São João foi o mais avançado dos Discípulos de Cristo e, por isso, seu Evangelho contém os ensinamentos do Templo mais exaltados já dados ao mundo.
Um por um, os Quatro Elementos Sagrados são abençoados para o serviço do Aspirante. Em primeiro lugar, o Elemento Sal, símbolo de pureza: a pureza do alimento que sustenta e nutre o Corpo Denso; a pureza do amor que desperta o Coração; a pureza do pensamento que ilumina a Mente; a pureza da ação que embeleza a vida. Aquele que realiza o rito batismal coloca suas mãos sobre o Sal em bênção e, então, faz o sinal da Cruz no Coração do Aspirante, dizendo: “Cristo ensina que somente os puros de Coração verão a Deus”. Em seguida, o sinal da Cruz é feito na testa, com as palavras: “Quando a pureza é alcançada na consciência do ser humano, isso é conhecido como um grande poder espiritual. Do servo de Deus é dito que sua força é como a força de dez, cujo Coração é puro”.
Então as mãos são colocadas em bênção sobre o Óleo, que é o símbolo da harmonia, unidade, cooperação, da cura, do companheirismo, da fraternidade. Novamente o sinal da Cruz é feito no Coração, com as palavras: “Se andarmos na Luz como Ele está na Luz, seremos fraternais uns com os outros”. E novamente o sinal da Cruz é feito na testa, com as palavras: “Que a aspiração do seu pensamento o eleve sempre à realização harmoniosa com o ideal da Paternidade de Deus e da Fraternidade do Homem”.
Em seguida, as mãos são colocadas em bênção acima da vela acesa, pois o Fogo é o símbolo da fé e a fé tem sua casa no Coração. O sinal da Cruz é feito no Coração e as palavras são pronunciadas: “Que a bela fé de uma criança viva sempre e floresça em seu Coração”. O sinal da Cruz é, então, feito na testa, junto às palavras: “Cristo disse: se tiverdes fé como um grão de mostarda, tudo quanto pedirdes será feito a vós”.
Em seguida, as mãos são abençoadas acima da vela acesa. São João deu a única descrição perfeita da Luz quando disse: “Deus é Luz”. Ao que acrescentou: “Deus é Amor”. Mais uma vez o sinal da Cruz é feito acima do Coração: “Que este Amor-Luz celestial sempre brilhe em seu Coração e ilumine sua vida e a vida de todos aqueles que você encontrar”. Novamente o sinal da Cruz é feito na testa e as palavras de São Paulo são ditas: “Que esteja em vós aquela Mente que também estava em Cristo Jesus”.
Agora, as mãos são colocadas na Água; mais uma vez é abençoada e algumas gotas são colocadas sobre a cabeça do aspirante no encerramento da bênção: “Que você ande sempre na Luz como Ele está na Luz e que você sempre viva, mova-se e tenha seu ser n’Ele. Amém”.
O cerimonial do batismo ocupou um lugar de destaque na vida da primitiva comunidade Cristã. Foi observado em muitas estações; talvez a mais importante delas sendo o Sábado Santo, à noite, imediatamente antes do amanhecer da Páscoa. Foi nessa época que os recém-batizados foram encontrados esperando para tomar parte naquela gloriosa procissão da Páscoa, que ocorre nas altas esferas espirituais e que é conduzida por nosso bendito Senhor, o Cristo.
(Publicado na Revista New Age Interpreter – Corinne Heline – first quarter, 1963 – traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
A Questão do Hábito
O lema Rosacruz “Uma Mente pura, um Coração nobre e um Corpo São” suscita a ideia de um conjunto harmonioso de hábitos físicos, morais e mentais. Muitos dos que anelam o desenvolvimento espiritual veem-se na contingência de travar uma luta terrível contra uma séria de obstáculos que se antepõem ao objetivo colimado. Muitos desses entraves traduzem-se numa série de maus hábitos, adquiridos desde tenra idade, produtos de uma educação bem intencionada, porém, eivada de falhas.
Tudo evolui no Universo e o que não acompanha essa marcha, desajusta-se inexoravelmente. Cada idade dentro da Época Ária se caracteriza por transformações, inovações, novas descobertas, etc. Uma passada de olhos em um bom compêndio da História da Civilização, confirmará tal asserção. A Filosofia, a Arte, a Religião e a Educação devem seguir suas linhas, caso contrário tornar-se-ão anacrônicas, provocando uma série de desajustamentos. Por exemplo, causará uma espécie de estranheza, de assombro, hodiernamente, se um pai educar seus filhos dentro de um sistema espartano medieval, isto é, propugnando pela adoção da força física em vez de empregar a inteligência. Constituir-se-á um caso muito estranho, um pai conceder à sua filha aquela alternativa tão peculiar aos “senhores do engenho” do Brasil colonial: casar-se com alguém previamente escolhido pela própria família, ou então internar-se num convento. Uma educação não condizente com as exigências da época implica complexos, fobias, inibições, e outros problemas psíquicos. Contudo alguém pode perguntar se devemos nos integrar a tudo o que se nos depara modernamente, quando observamos que múltiplos problemas afligem atualmente os seres humanos, problemas estes, em grande parte, advindos das próprias condições da época. Há resposta para tal indagação. Primeiramente, somos seres racionais, pensadores, podemos aceitar ou rejeitar tudo quanto vier ao nosso encontro. São Paulo afirmou: “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”.
Devemos adotar um critério seletivo a fim de podermos caminhar sem entrarmos em choque com as Leis da Natureza. Podemos, deixando de lado as mazelas e as distorções da época. Procurando vislumbrar o Bem em todas as coisas, superaremos muitos obstáculos e erradicaremos muitos males. Os verdadeiros espiritualistas procedem assim, e esse é um dos fatores determinantes de seu progresso anímico. Em última análise, o mal é sempre produto da ignorância.
Caminhamos gradualmente para a afirmação total do ser humano como um indivíduo, uma lei em si mesmo. Quando essa individualidade, dentro do bom sentido, manifesta-se em toda plenitude, há uma perfeita adaptação aos padrões da época sem quaisquer prejuízos morais ou físicos. Isso, entretanto, se processa em um número irrisório de pessoas, visto que, de um modo geral, a maioria, além de sofrer a influência de um “modus vivendi” muito imperfeito, ainda vive agrilhoado a preconceitos obsoletos. É mister, contudo, que cada um procure dissipar aos poucos essas limitações. O ser humano necessita renovar-se constantemente, mas sempre para melhor. É necessário que cada um procure diariamente ponderar sobre suas próprias condições, analisando-se, averiguando quais os pontos a serem sanados e quais os que devem ser fortalecidos. Ante o tribunal de nossa consciência devemos nos revelar como realmente somos, aí então virão à tona aqueles hábitos nocivos, sedimentados já há muito tempo e que como um peso tornam a nossa caminhada muito lenta. Em tais circunstâncias, para que esse autojulgamento se efetive de fato, é necessário que sejamos rigorosos conosco mesmo, porém justos. O exercício de Retrospecção preceituado pelo Filosofia Rosacruz é o meio mais eficiente que conhecemos para a perfeita realização desse processo de autoanálise, contudo, para que esse trabalho se complete devemos manter uma firme resolução de efetuar uma limpeza interna que se reflita também numa transformação externa, eliminando os hábitos nocivos, substituindo-os pelos opostos.
Muitos podem objetar, afirmando que se esses preceitos espelham a realidade, por que poucos os seguem? Inicialmente devemos salientar que o fato de que algo seja verdadeiro não significa que goze do consenso geral. Pelo contrário, muitas vezes não é aceito pela maioria justamente por expressar a verdade. Devemos considerar também o fato de que muitos não põem em prática esses preceitos porque a adoção deles implica inevitavelmente expurgo de uma porção de hábitos errados, mas hábitos que são agradáveis para quem os têm, porquanto já se constituem numa segunda natureza. É peculiar à natureza humana descrer no que lhe é desagradável; como exemplo, podemos apontar o caso de pessoas que embora sob suspeita de que tenham contraído alguma moléstia grave, recusam-se obstinadamente a consultar um médico, temendo tomar conhecimento de uma verdade aflitiva.
Grande parte dos seres humanos resiste psicologicamente a qualquer modificação de seus hábitos. Muitos procuram encontrar razões e argumentos para não aceitar certas verdades, por mais evidentes que sejam unicamente porque não lhes convém, ou não lhes é agradável.
Às vezes, o problema não se restringe somente a hábitos, mas estende-se a preconceitos, e estes, ainda em nossos dias possuem uma força considerável. A verdade, contudo, sobrepõe-se a tudo isso, simplesmente porque é verdade, e o seu reconhecimento é questão de tempo. No século XVII, Galileo Galilei, italiano natural de Pisa, resolveu defender e propagar a tese do polonês Nicolau Copérnico, segundo a qual – ao contrário do que era tido e havido como certo – a Terra é que girava ao redor do Sol. No entanto, o Santo Ofício reagiu obrigando-o a abjurar tal ideia, simplesmente porque ela colidia com um preconceito vigente na época, considerado como sendo uma verdade indiscutível. Hoje a opinião é outra, porém não foi a Terra que passou por girar em torno do Sol, e sim os seres humanos que reconheceram a verdade. A opinião da maioria não modifica os fatos, eis outra verdade.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de janeiro de 1968)