Resposta: Sim, todas são Clarividentes, pelo menos durante o primeiro ano das vidas delas. O período de tempo em que elas conservarão essa faculdade dependerá, em grande parte, da espiritualidade e, também, do ambiente em que vivem, pois, a maioria das crianças comunica tudo o que veem para as pessoas com mais idade e a faculdade da Clarividência acaba sendo afetada pela atitude dessas pessoas. Muitas vezes, as crianças são ridicularizadas, mas nada disso afeta a natureza sensível desses pequeninos. Pois, logo aprendem a excluir as cenas que provocam a reprovação das pessoas com mais idade ou, pelo menos, aprendem a guardar essas experiências só para si. Quando são ouvidas, muitas vezes, revelam coisas maravilhosas e, assim, é possível traçar como foi uma vida anterior delas por meio dessas informações. Isso acontece, particularmente e com mais facilidade, se a criança morreu na vida anterior dela ainda criança, uma vez que o tempo de estada dela nos Mundos invisíveis foi de um a vinte anos, de modo que é possível verificar esta informação. Crianças que, em suas vidas anteriores, morreram na infância são muito mais aptas a lembrar do passado e a serem Clarividentes do que aquelas que, em vidas anteriores, não morreram como crianças, porque o Corpo Vital e o Corpo de Desejos não nascem na mesma época em que ocorre o nascimento do Corpo Denso da criança, mas nascem aos sete e aos quatorze anos de idade, respectivamente, e o que não foi vivificado não pode morrer, de forma que, se uma criança falece antes do nascimento do Corpo Vital ou do Corpo de Desejos, não irá para o Segundo e Terceiro Céus, mas permanecerá no Mundo do Desejo e, assim, renascerá com o mesmo Corpo de Desejos e a mesma Mente que possuía em sua vida anterior, estando, consequentemente, muito mais apta a se lembrar de tudo que aconteceu. O autor se deparou com um desses exemplos anos atrás no sul da Califórnia.
Um dia em Santa Bárbara, Califórnia, um homem chamado Roberts procurou um Clarividente treinado e teósofo e, também, conferencista, para pedir-lhe ajuda num caso muito invulgar. O Sr. Roberts passeava pela rua no dia anterior, quando uma menina de uns três anos correu para ele, abraçou-lhe os joelhos, chamando-o “papai”. O Sr. Roberts indignou-se, julgando que alguém procurava atribuir-lhe a paternidade da criança. Entretanto, a mãe da criança chegou rapidamente e, tão surpresa quanto o Sr. Roberts, tentou levá-la. Contudo, a menina não queria largá-lo, insistindo em que o Sr. Roberts era seu pai. Devido a circunstâncias que depois mencionaremos, o Sr. Roberts não pôde afastar essa cena do pensamento, resolvendo procurar o Clarividente, que o acompanhou até a casa dos pais da menina. Esta, ao vê-lo, correu novamente para ele, chamando-o outra vez de papai. O Clarividente, a quem chamaremos “X”, primeiramente conduziu a menina para perto da janela a fim de verificar se a íris do seu olho se dilatava e contraia-se conforme se afastasse ou se aproximasse da luz. Isso comprovaria se alguma outra entidade que não fosse a legítima dona estava de posse do Corpo da menina, posto que o olho é a janela da Alma e nenhuma entidade “obsessora” pode controlar essa parte do Corpo. Concluindo que a menina era normal, o Clarividente passou cuidadosamente a inquirir a pequena. Depois de paciente trabalho efetuado durante a tarde, e com intermitência para não a cansar, eis, abaixo, o que ela contou.
Vivera com seu pai, o Sr. Roberts, e outra mamãe numa casinha solitária, de onde não se via nenhuma outra casa. Próximo havia um riacho, em cuja margem cresciam algumas flores (nesse momento a menina correu para fora, trazendo na volta umas pequenas flores de salgueiro) e havia uma tábua sobre esse riacho, tendo sido advertida para não o cruzar, pois havia o perigo de cair nele. Um dia o pai abandonou-as, a ela e à mãe, para não mais voltar. Quando acabaram os alimentos sua mãe deitou-se na cama, onde ficou muito quieta. Por fim, disse singularmente: “então eu também morri, mas não morri. Eu vim para cá”.
Era a vez de o Sr. Roberts contar a sua história: há dezoito anos vivera em Londres, onde o pai era cervejeiro. Apaixonando-se pela jovem criada da casa, o pai se opôs, mas ele se casou e fugiu com ela para a Austrália. Ali rumaram para o campo, construíram uma pequena granja e edificaram uma casinha junto a um riacho, exatamente como dissera a menina. Então, eles tiveram uma filha. Um dia, quando ela tinha perto de dois anos, o pai saiu cedo com destino a uma clareira, algo distante da casa. Ali um homem armado lhe deu voz de prisão, alegando que ele fora o autor do roubo de um banco justamente na noite em que deixara a Inglaterra. O Sr. Roberts pediu, então, que lhe fosse permitido ver sua mulher e filhinha. O guarda recusou, julgando se tratar de uma armadilha para fazê-lo cair nas mãos dos confederados, e obrigou-o, de arma apontada, a caminhar até a costa. Dali foi enviado à Inglaterra e submetido a julgamento, quando pôde provar sua inocência.
Muito tempo se passou até que as autoridades atendessem seus constantes rogos para que fossem buscar sua esposa e filha, as quais já presumia quase mortas de fome naquele país selvagem e isolado. Mais tarde, uma expedição foi enviada à cabana e não encontraram mais que os esqueletos de ambas. Entrementes, o pai do Sr. Roberts havia morrido e, embora o houvesse deserdado, seus irmãos dividiram com ele a herança. Então, completamente aniquilado, viajou para a América.
O Sr. Roberts exibiu na ocasião algumas fotos suas, de sua esposa e da filha. Por sugestão do Sr. “X” foram elas misturadas com certo número de outras e mostradas à menina, que sem vacilar assinalou as fotografias de seus antigos pais, mesmo tendo o Sr. Roberts mudado bastante em seu aspecto físico.
(Pergunta 139 do Livro “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. I” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
Pergunta: Os textos astrológicos você frequentemente se refere a Júpiter como sendo o Planeta da lei, da ordem e da ética e, também, a Saturno como o Planeta do método, da justiça e da virtude. Posso perguntar quais os Astros e os Signos o sentimento de conscienciosidade está mais intimamente associado, e se há um ou outro que seja mais preeminente nesse sentimento? A conscienciosidade é, naturalmente, a base da lei, da ética, da justiça, da virtude, etc.?
Resposta: De acordo com os Ensinamentos Rosacruzes, quando o Espírito deixa a vida física por ocasião da morte, ele vê o panorama de sua vida passada se desenrolar diante de si, na ordem inversa. Naquele momento, as imagens que compõem a história de sua vida recém-finda aqui são gravadas nos veículos mais sutis, que o Ego leva consigo para os Mundos invisíveis. É a reação às imagens em que o Espírito cometeu algum ato errado que causou o sofrimento a alguém que constitui a experiência purgatorial dele. Isso erradica as imagens do panorama da vida, mas deixará um aroma — aquilo que chamamos de consciência — que advertirá o Espírito em sua próxima vida a não fazer as coisas que causaram o seu sofrimento no Purgatório. A conscienciosidade é a qualidade positiva da consciência negativa. A consciência nos previne a não fazer o que é errado; a conscienciosidade nos leva a fazer as coisas certas.
Mitologicamente, Saturno é o ceifeiro com a sua foice e ampulheta, o anjo da morte, que nos tira da vida ativa para a existência purgatorial, onde colhemos o que semeamos. Portanto, neste sentido, Saturno está na base da consciência. Ele sempre nos avisa dizendo “não, não, não”, e se ouvimos sua voz no passado, nós o teremos nessa vida numa posição em que ele possui Aspectos benéficos[1] com os outros Astros – particularmente com Júpiter, o Planeta da lei, da ordem e da ética e, também, o Sol que nos inspira os ideais mais elevados – então, seremos homens e mulheres conscienciosos, cumpridores dos nossos deveres na vida, não importando quão árdua seja a tarefa, quanta perseverança e persistência ela requeira, ou quanto autossacrifício seja exigido. Assim, a conscienciosidade não é produto de um único Astro, mas requer uma combinação das virtudes mais elevadas nos vários Astros existentes para levá-la à sua mais elevada e nobre expressão. Claro que há muitas pessoas que são conscienciosas devido à influência de configurações benéficas menores (astrologicamente falando), mas a fase mais elevada requer a cooperação do Sol, de Júpiter e de Saturno.
(Pergunta 107 do Livro “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. II” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz SP)
[1] N.T.: Sextis, Trígonos e algumas Conjunções
Max Heindel
Reunimo-nos novamente esta noite com o propósito de concentrar nossos pensamentos na segunda parte do mandamento de Cristo: “curai os enfermos”. Pois consideramos essa parte do mandamento divino tão obrigatória para seus seguidores quanto a primeira parte, que nos exorta a “pregar o Evangelho”. Mas, se entendermos bem esse mandamento, não nos contentaremos em meramente tentar aliviar a dor, a tristeza profunda, a angústia e o sofrimento de qualquer um ou de qualquer número de pessoas. Tentaremos chegar à causa de todo sofrimento humano para que, eliminando a causa principal (a causa fundamental, a causa-raiz) possamos erradicar os efeitos. Para fazer isso, para chegar a uma conclusão verdadeira sobre a origem da tristeza profunda, da angústia e do sofrimento, ao tempo em que descobrimos os meios para sua erradicação permanente, devemos voltar ao passado distante; de fato, ao início da existência física.
A Bíblia foi dada ao mundo ocidental pelos Anjos do Destino que, estando acima de todos os erros, dão a cada nação a Religião mais adequada para guiá-la no caminho da sua evolução espiritual e física; e, se buscarmos a luz nessa fonte, certamente a encontraremos. Deve-se ter em mente que o Cristo ensinou a multidão por parábolas, mas deu aos Seus Discípulos o significado dessas parábolas e as coisas mais profundas sobre os mistérios do Reino dos Céus. São Paulo também ensinou uma verdade diferente, ou melhor, mais profunda (“carne”) para aqueles que eram fortes na fé, mas deu o “leite” das doutrinas mais elementares aos bebês. Da mesma forma, devemos entender que, além do significado que a Palavra de Deus carrega em sua face, há um lado mais profundo e oculto sobre o qual faremos bem em ponderar esta noite.
Aprendemos primeiro a ideia de que a Terra nem sempre foi como é hoje; que houve um imenso período de formação e que este Planeta deve ter passado por vários estágios de desenvolvimento antes de atingir a condição atual. Vemos nas nebulosas do céu, que agora são ígneas. Podemos entender que a umidade deve ser condensada por esse fogo da fria extensão do espaço; também podemos entender que essa umidade se evapora rapidamente quando entra em contato com um vórtice tão ardente e rodopiante; que o vapor gerado sobe ao espaço para ser ali condensado novamente pelo frio, passando assim por inúmeros ciclos de evaporação e condensação até que, finalmente, forma-se uma crosta ao redor do núcleo ígneo. Essa crosta se torna mais dura quando gradualmente a umidade supérflua é evaporada como uma névoa. A névoa eventualmente se reúne e condensa em uma nuvem, caindo novamente sobre o Planeta como um dilúvio e deixando as condições climáticas como as encontramos hoje na Terra. A esses estágios os Ensinamentos Rosacruzes chamam de Épocas, denominadas Época Hiperbórea, Época Atlante e Época Ária.
Não falaremos da primeira dessas Épocas mencionadas. Mas, durante a última parte da Época Lemúrica, quando a humanidade ainda vivia em ilhas cercadas de fogo na crosta em formação, os humanos eram muito diferentes da humanidade de hoje. Eles eram, de fato, gigantes de uma forma corporal que seria repulsiva para nossas atuais noções de simetria e beleza corporal; mas, diferiam de nós particularmente neste fato: o Ego ainda não tinha aprendido a administrar o seu corpo de forma adequada e permanente. Na verdade, eles não sabiam, naquela Época, que tinham corpos; eles os usavam tão inconscientemente quanto usamos atualmente o nosso aparelho digestivo. A visão deles estava totalmente focada nos Mundo espirituais e eles viam Deus face-a-face, ou melhor, aqueles que eles pensavam ser Deus; isto é, os Mensageiros Divinos que os guiaram como as crianças são guiadas por seus pais, porque naquela época eles não tinham desenvolvido a vontade, como temos hoje.
Estando inconscientes de seus corpos, eles não conheciam o nascimento nem a morte. A perda de um veículo físico acontecia frequentemente por causa das erupções vulcânicas que eram comuns em nossa Terra em formação; mas, era como a queda de uma folha seca da árvore e não produzia diferença alguma em sua consciência. Nem era o nascimento de um novo corpo um evento de distração, porque durante o nascimento e a morte sua consciência estava focada nos Mundos Invisíveis aos olhos físicos.
Em certas épocas do ano, os Anjos, que sempre foram os precursores do nascimento, conduziam essas hostes de humanos em grandes templos em que o ato propagativo era realizado como um ato de sacrifício sob os raios astrais (Sol, Lua e Planetas) apropriados. Nesses momentos de intenso contato íntimo, a atenção do ser humano era temporariamente desviada dos Mundos espirituais para a Região Química do Mundo Físico e, assim, “Adão conheceu sua esposa”.
Assim, a tônica do corpo, então concebido, estava em perfeita sintonia com a harmonia das esferas naquele momento e, portanto, o parto era indolor, a saúde era perfeita e a morte não aterrorizava a humanidade daquela época.
Mas, os Anjos não eram todos da mesma natureza. Havia duas classes; uma sintonizada com a Água e outra, com o Fogo. É a última classe que foi interpelada por Isaías (14:12) naquela maravilhosa passagem em que ele diz:
Ó Lúcifer, filho da manhã,
Como você caiu do Céu!
Dos Espíritos da Água, ou verdadeiros Anjos, o ser humano recebeu o cérebro; mas Lúcifer (lucis + ferre = o portador da luz; no original em hebraico temos Hêlêl = o brilhante), Espírito do Fogo, é o “doador de luz”. Dos Espíritos do Fogo veio a luz da razão.
O Corpo de Desejos do ser humano foi por eles impregnado de uma nova faculdade: impulso. E como era necessário que eles usassem um instrumento físico para seu próprio desenvolvimento, embora fossem incapazes de criar tal veículo, eles ensinaram ao ser humano para que esse tivesse um Corpo Denso e o esclareceram sobre o método pelo qual ele poderia gerar um novo veículo a qualquer momento, quando o antigo morresse, independentemente das condições astrais; e o ser humano, cedendo ao impulso dos Espíritos de Lúcifer, incitado pela paixão que eles incutiram, passou a considerar o ato gerador como meio de gozo e gratificação, em vez de um Sacramento. Assim, os corpos nascidos sob tais condições estavam fora de sintonia com a Harmonia Cósmica. Portanto, o parto tornou-se doloroso, a saúde ficou prejudicada e a Morte entrou em seu reinado como o “Rei dos Terrores”.
Enquanto Adão conhecia sua esposa apenas durante o tempo em que os Anjos presidiam o ato propagativo, sua consciência estava focada durante todo o tempo restante nos Mundos espirituais. Mas, as coisas tornaram-se radicalmente diferentes quando o ser humano tomou o assunto em suas próprias mãos. Quanto mais frequentemente ele conhecia sua esposa para autogratificação, mais frequente e completamente sua consciência se concentrava no Mundo Físico e mais ele perdia de vista os reinos superiores, até que finalmente eles foram esquecidos, ou quase. Portanto, o nascimento agora parece o começo da vida. Começa com dor para mãe e bebê; a própria vida costuma ser um caminho de dor e sofrimento, porque em Espírito nos sentimos órfãos de nosso Pai; e no final está a morte, o “Rei dos Terrores”, para introduzir o Espírito no que é, para nossa consciência física, um grande desconhecido, e tudo isso por causa do impulso e da paixão que os Espíritos marciais de Lúcifer gravaram em nossa natureza de desejo. E enquanto a luz do fogo da paixão manchar nossa natureza de desejo, esse regime deve continuar.
O Antigo Testamento começa com o relato de como o ser humano foi desviado de Deus pela falsa Luz dos Espíritos de Lúcifer, dando origem a toda tristeza profunda, angústia e sofrimento do mundo; termina com a promessa de que o Sol da Justiça surgirá com a Cura em suas asas. E no Novo Testamento encontramos o Sol da Justiça, a verdadeira Luz, vindo para salvar o mundo e o primeiro fato que se afirma sobre Ele é que seja de uma Imaculada Conceição.
Agora, esse ponto deve ser totalmente compreendido e deve ficar claro a partir do que foi dito anteriormente: que é a mácula luciferiana da paixão que trouxe tristeza, pecado e sofrimento ao mundo. Antes da impregnação do Corpo de Desejos com esse princípio demoníaco, a Concepção era Imaculada e um Sacramento. O ser humano caminhava então na presença dos Anjos, puro e livre de vergonha. O ato da fertilização era tão casto quanto o da flor. Portanto, quando o mal foi feito, imediatamente o mensageiro, ou Anjo, cingiu-os com folhas para imprimir neles o ideal que eles deveriam aprender a viver; ou seja, a castidade, como a planta é casta. Sempre que somos capazes de realizar o ato gerador de maneira pura, casta e desapaixonada como a planta, ocorre uma Concepção Imaculada e nasce um Cristo capaz de curar todos os sofrimentos da humanidade, capaz de vencer a morte e estabelecer a imortalidade, uma verdadeira luz para conduzir a humanidade para longe do fogo-fátuo da paixão; isso é feito através do autossacrifício pelo companheiro.
Esse, então, é o grande ideal pelo qual estamos lutando: purificar-nos da mácula do egoísmo e da busca egoísta. E, portanto, consideramos o emblema da Rosacruz como um ideal. Pois as sete rosas vermelhas tipificam o sangue purificado; a rosa branca mostra a pureza da vida e a estrela dourada e radiante simboliza aquela inestimável influência para a saúde, utilidade e elevação espiritual que irradia de cada Servo da humanidade.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de outubro/1915 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
Resposta: A ideia mais comum sobre Iniciação é a de que é uma admissão em uma ordem secreta, geralmente tendo como contrapartida uma taxa de Iniciação, mas a Iniciação verdadeira em uma Escola Oculta é muito diferente.
Quando uma pessoa, há algum tempo, vem se dedicando com afinco a viver a vida superior, purificando, desse modo, os seus veículos por meio de esforços mentais, morais e físicos, ela emite uma luz nos Mundos invisíveis e acumula um poder interior. Com o tempo, alcança um ponto culminante, em que esse poder deve ser dado a fim de ser expresso por ela. Então aparece em sua vida um Mestre que lhe mostra o poder que ela tem cultivado, muitas vezes inconscientemente para si mesma, e como usá-lo. Essa demonstração é chamada de Iniciação. Ela pode ocorrer em um determinado templo ou não; pode ser acompanhada por uma cerimônia ou não, isso se as circunstâncias demandarem. Que fique claramente esclarecido que nenhuma cerimônia pode dar ao candidato os poderes que a Iniciação ensina a ele como usar, assim como não se pode causar uma explosão quando puxamos o gatilho de uma pistola, que não está carregada. A cerimônia de Iniciação seria inútil se não houvesse esse ponto culminante na vida do Discipulado.
Então, fica evidente que a Iniciação é o resultado inevitável do mérito. Nunca é vendida por nenhum tipo de valor financeiro, embora não faltem charlatães inescrupulosos que se oferecem para iniciar qualquer pessoa nas artes ocultas, das quais eles próprios nada sabem; não faltam pessoas crédulas ou desonestas que anseiam adquirir um poder sinistro sobre seus semelhantes por meio de vantagem comprada financeiramente. Se Simão, o feiticeiro – ou mago –, mereceu a contundente repreensão de São Pedro[1], quando ele tentou comprar um poder espiritual pagando em ouro, então, perguntamo-nos, que condenação é adequada para aqueles que os anunciam como mercadorias comerciais, especialmente quando, pela natureza das coisas, eles são incapazes de entregar as mercadorias ofertadas?
O Estudante Rosacruz, que está perguntando, se equivoca em pensar que apenas os homens são Iniciados, pelo menos no que diz respeito aos Mistérios Menores. Há mulheres Iniciadas e algumas até nos Mistérios Maiores, em que assumem um corpo feminino devido a um trabalho especial que precisam realizar. No entanto, é verdade que aqueles que atingiram um grau elevado de evolução, e que agora podem escolher em relação ao sexo, geralmente, o fazem por um corpo masculino, e a razão não é difícil de ser esclarecida. A mulher tem um Corpo Vital positivo, mas um Corpo Denso negativo e, portanto, está um pouco em desvantagem na sua atual constituição para atividades nesse Mundo. Esforçando-se pelos ideais mais elevados e vivendo a vida superior, nós espiritualizamos o Corpo Vital e o transmutamos em Alma, que é sempre positiva – um poder que pode ser usado, independentemente do sexo – e, também, quando o Iniciado usa um corpo masculino, ele é totalmente positivo no Corpo Denso e tem uma melhor chance de desenvolvimento, do que quando usa um veículo feminino.
(Pergunta nº 134 do Livro “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Volume I” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
[1] N.T.: Ora, vivia há tempo, na cidade, um homem chamado Simão, o qual, praticando a magia, excitava a admiração do povo de Samaria e pretendia ser alguém importante. Todos, do menor ao maior, lhe davam atenção, dizendo: “Este é o Poder de Deus, que se chama Grande”. Davam-lhe atenção porque ele, por muito tempo, os fascinara com suas artes mágicas. Quando, porém, acreditaram em Filipe, que lhes anunciara a Boa Nova do Reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, homens e mulheres faziam-se batizar. O próprio Simão, ele, também, acreditou. E, tendo recebido o batismo, estava constantemente com Filipe, admirando-se ao observar os sinais e grandes atos de poder que se realizavam. Os apóstolos, que estavam em Jerusalém, tendo ouvido que a Samaria acolhera a palavra de Deus, enviaram-lhes Pedro e João. Estes, descendo até lá, oraram por eles, a fim de que recebessem o Espírito Santo. Pois não tinha caído ainda sobre nenhum deles, mas somente haviam sido batizados em nome do Senhor Jesus. Então começaram a impor-lhes as mãos, e eles recebiam o Espírito Santo. Quando Simão viu que o Espírito era dado pela imposição das mãos dos apóstolos, ofereceu-lhes dinheiro, dizendo: “Dai-me, também, a mim este poder, para que receba o Espírito Santo todo aquele a quem eu impuser as mãos”. Pedro, porém, replicou: “Pereça o teu dinheiro, e tu com ele, porque julgaste poder comprar com dinheiro o dom de Deus!”. Não terás parte nem herança neste ministério, porque o teu coração não é reto diante de Deus. Arrepende-te, pois, desta maldade tua e ora ao Senhor, para que te possa ser perdoado este pensamento do teu coração; pois eu te vejo na amargura do fel e nos laços da iniquidade”. Simão respondeu: “Rogai vós por mim ao Senhor, para que não me sobrevenha nada do que acabais de dizer”. (At 8:9-24).
Resposta: Quando um braço, membro ou qualquer órgão é removido do Corpo Denso, o físico, por meio de qualquer tipo de intervenção cirúrgica, somente a parte densa[1] do órgão ou do membro, permeada pelo Éter planetário, é retirada. Os quatro Éteres[2], que constituem o Corpo Vital do homem ou da mulher, assim submetido à intervenção cirúrgica permanecem; mas há uma certa conexão magnética entre a parte que se decompõe – e que, normalmente, é enterrada – e a contraparte etérica que permanece com a pessoa. Em consequência, ele ou ela sente a dor e o sofrimento na parte removida, ainda por algum tempo após a cirurgia, até que essa se deteriore e a contraparte etérica se desintegre.
Você encontrará alguns casos interessantes demonstrando esse ponto e ensinamentos adicionais a respeito desse assunto no livro “Conceito Rosacruz do Cosmos”. Quando uma pessoa ferida (em alguma parte do Corpo Denso dela) passa para os Mundos invisíveis, ela pensa usando a Mente do mesmo jeito que usava quando estava viva aqui, e se imagina com a mesma aparência que tinha quando estava viva aqui. Consequentemente, uma cicatriz na testa ou a perda de um braço ou membro é reproduzida pelo pensamento dela na matéria do Mundo do Desejo e ela aparece lá tão desfigurada como estava aqui.
Isso foi muito observado durante a Guerra Mundial[3], pois todos os soldados que faleciam, em consequência de ferimentos visíveis no Corpo Denso, e cujos efeitos sabiam determinar, reproduziram esses ferimentos nos Corpos de Desejos deles. Eles sentiram uma dor semelhante à que sentiriam se tivessem ainda em seus Corpos Densos, porque imaginavam ou acreditavam ser real lá a dor que deveria estar relacionada com seus ferimentos. Entretanto, eles procuraram rapidamente se ajudar mutuamente e por aqueles que tinham sido auxiliados pelos Irmãos Maiores a ver a realidade, isto é, que não havia realmente dor. Assim que eles se convenceram que seus ferimentos eram nada mais do que ilusões e aprenderam que eles podiam moldar os Corpos deles para condições normais e saudáveis, eles puderam, rapidamente, remediar a situação.
(Pergunta nº 41 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. II – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
[1] N.T.: formada de material da Região Química do Mundo Físico.
[2] N.T.: Éter Químico, Éter de Vida, Éter Luminoso e Éter Refletor.
[3] N.T.: o autor se refere à Primeira Guerra Mundial.
Quando chegou ao Mount Ecclesia a notícia de que Frank English, um de nossos membros de Los Angeles, havia se livrado do corpo mortal e que o autor deveria oficiar o Ritual do Serviço de Funeral, antes da cremação do corpo, um grupo foi formado pelos trabalhadores em Mount Ecclesia e fomos para Los Angeles no domingo de manhã, ajudamos nas atividades para cremar o corpo e viajamos de volta, uma distância total de 300 quilômetros, a tempo de Max Heindel falar na reunião noturna diária na Pro-Ecclesia — um dia de trabalho bastante extenuante.
Mas, isso é apenas um incidente registrado para preparar o caminho para contarmos a nossa história e trazer à tona o fato de que as pessoas, geralmente, assistem a seus próprios funerais. Isso foi aprendido quando alguém perguntou ao autor, após a reunião: “Você viu o Frank? Ele está aqui?”.
“Eu nunca oficiei um funeral em que o chamado ‘morto’ não estivesse presente e não fosse um espectador interessado”, respondeu Max Heindel. Ele então começou a contar uma série de experiências interessantes sobre o comportamento dos “mortos”: “Na maioria das vezes”, ele disse, “eles se sentam quietos em seus assentos, observando o que acontece como qualquer uma das pessoas que nós chamamos de vivas, embora o significado do termo comum ‘os vivos e os mortos’ deva realmente ser invertido; pois nós, que estamos presos neste pesado ‘pedaço de barro’ e sujeitos a inúmeras dores e males, estamos realmente muito mais mortos do que os Espíritos desencarnados que assim designamos; enquanto aqueles, que não conhecem a doença, que não podem sentir fadiga, que se movem mais rápido que o vento sem fazer o menor esforço, devem realmente ser chamados de vivos”.
“Mas, na hora do funeral, muitos deles ainda não se encontraram, por assim dizer, pois acabaram de sair da visão e revisão sobre o panorama da vida passada, que é descortinada diante deles em ordem inversa, da morte ao nascimento, mostrando que os efeitos de suas vidas foram gerados por causas antecedentes; e como na maioria dos casos as pessoas não estudam sobre o assunto vida após a morte, elas geralmente ficam irremediavelmente confusas em todo o processo. Muitas vezes percebem que devem ter ‘morrido’, pois observam o Corpo Denso no caixão, mas se veem com uma forma semelhante, que para eles parece tão sólida e real quanto a coisa que está morta.”.
“Então eles não podem entender por que ainda estão em sua antiga casa e por que eles não viram qualquer coisa do ‘Tribunal, do Céu ou do Inferno’ — isto é, se eles acreditavam nisso. Se foram materialistas, provavelmente, começam a se perguntar como podem pensar ou continuar a existir. Encontrei apenas alguns materialistas do outro lado e não perguntei a eles sobre seus sentimentos a esse respeito, mas todos ficaram muito irritados por serem gradualmente forçados a revisar sua teoria de que a aniquilação do ser segue a morte física. Eles queriam a extinção da consciência e estavam muito infelizes”.
“As pessoas que estudaram os Ensinamentos Rosacruzes, promulgados pela Fraternidade Rosacruz, diferem radicalmente da maioria como grupo, pois instantaneamente reconhecem, ao despertar da visão e revisão do panorama da vida, os fatos essenciais do caso. Eles sabem que entraram nas Regiões inferiores do invisível Mundo do Desejo e que estão entrando em uma nova fase de evolução. A maioria deles está quieta e subjugada, sentindo a importância da mudança, e consideravelmente amedrontada por enquanto. Eles costumam ir para uma parte da sala onde os cultos estão sendo realizados, que fica o mais longe possível de todos.”
“Contudo, sempre notei que, se a conversa na sala é toma um tom de alegria, tem um efeito maravilhoso em alegrar o amigo ou a amiga recém-falecido ou recém-falecida. Várias vezes tive a satisfação de vê-los sair do seu canto e se tornar muito brilhantes, com um aumento correspondente no ânimo de todos os ‘vivos’. Em uma ocasião o ‘morto’ ficou tão interessado e tão alegre que ele quase me atropelou no meio do meu discurso.”.
“Quando entrei na sala, esse homem estava sentado em um canto, muito quieto. Ele conhecia os Ensinamentos Rosacruzes e, evidentemente, estava totalmente atento aos fatos, mas também estava claro que a situação pesava bastante sobre ele. Então, imediatamente eu fiz todos os esforços para administrar ‘consolação aos mortos’ por meio de uma conversa alegre com a viúva sobre a morte e a condição posterior, relatando uma série de experiências para ilustrar os diferentes pontos, e muito em breve o ‘morto’ apurou os ouvidos, aproximou e se sentou ao lado da sua companheira de vida.
“Durante o serviço ele permaneceu lá, sentado, atento e alerta. Ele ouviu atentamente enquanto eu explicava ao público que aquele ‘pedaço de barro” no caixão era apenas uma roupa que nosso amigo havia usado há pouco tempo e, que, com o tempo, seria substituído por um corpo novo e melhor no qual ele aprenderia novas lições na Grande Escola da Vida.”
“Enquanto isso, continuei a apontar com a mão esquerda para o corpo no caixão aberto, enquanto a direita estava suspensa no ar. Eu estava me preparando para citar o poema inimitável de Sir Edwin Arnold que começa com: ‘Nunca nasceu o Espírito! Nunca o Espírito deixará de ser!’. Comecei a dizer: ‘Como diz Sir Edwin Arnold…’”.
“Então veio um clímax que eu não esperava. De repente, o homem ‘morto’ deslizou do sofá em que estava sentado e, em linha reta, passando pela mesa em que eu estava, foi até o caixão, olhou com grande interesse para a forma descartada, evidentemente observando-a de um modo que ele nunca tinha realmente entendido antes; e ele permaneceu assim, perdido em pensamentos por vários minutos.”
“Mas dizer que fiquei surpreso com esse incidente inesperado é dizer o mínimo. Em vez de manter minha Mente no discurso, involuntariamente segui os movimentos do nosso amigo ‘morto’ para ver o que ele faria, com o resultado inevitável de que perdi o fio do meu discurso por um minuto e repeti sem jeito: ‘Como Edwin Arnold diz…’. Então, com um grande esforço, juntei meus pensamentos e continuei.”
“Houve duas coisas notáveis sobre o que ele fez. Em primeiro lugar, as pessoas costumam andar de um lugar para outro por algum tempo depois de deixarem o Corpo Denso, até que gradualmente descobrem que podem planar mais rapidamente que o vento. Elas também parecem ter um pavor instintivo de atravessar uma parede ou uma porta fechada, mesmo que saibam, por seus estudos, que isso pode ser feito. Acima de tudo, elas temem que um amigo ‘vivo’ venha e se sente na cadeira em que estão sentadas. Talvez essa seja a verdadeira razão pela qual elas costumam ficar sentadas em algum canto durante o seu funeral.”.
“Mas, nesse caso o cavalheiro deslizou pela sala, passando diretamente pela mesa e por um vaso de flores, até chegar ao caixão. Isso me mostra que ele deve ter ficado tão absorto na ideia de que seu Corpo Denso descartado era exatamente como um casaco velho e que, durante esse acesso de abstração, inconscientemente obedeceu às leis do movimento do reino invisível, em vez do habitual método físico de locomoção.”
“Ah, e sobre Frank, como ele agiu?”.
“Ora, você deve se lembrar de que ele era um membro dos graus mais elevados (do Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz), no qual foi ensinado a assimilar o panorama da vida dia a dia (por meio dos Exercícios Esotéricos diários: o noturno de Retrospecção e o matutino de Concentração), de modo que, quando ele saiu do Corpo Denso, provavelmente, havia apenas algumas pontas esparsas que precisaram ser cortadas, antes que o Cordão Prateado se rompesse e o deixasse livre, em plena posse de sua consciência. Esse trabalho o familiarizou com os Mundos invisíveis anos atrás, de modo que ele estava bem à vontade. Além disso, quatro dias se passaram desde que ele falecera então, provavelmente, ele se sentia bem, pelo menos é o que pareceu — andando entre nós e parando ora entre um grupo de amigos, ora em outro grupo de amigos. Quando ele me viu, ele acenou com a cabeça e sorriu como se nada fora do comum tivesse acontecido.”
“Eu só gostaria que todos pudessem ver os amigos e as amigas depois do falecimento deles; e é sempre uma maravilha para mim que não possam ainda, pois durante os primeiros dias e as primeiras semanas eles me parecem tão densos quanto as radiações de calor acima de um radiador de vapor. Mas, graças a Deus, esse dia está chegando.”
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de outubro/1916 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)
Dentre vários ensinamentos que lemos nas Epístolas de São Paulo há um muito interessante para entendermos a questão do título: “Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.” (Gl 6:7). Estas palavras foram escritas pelo Iniciado o Apóstolo São Paulo em uma Epístola aos Gálatas, que eram um grupo de pessoas que habitava uma província da Ásia Menor. São Paulo leva a Religião Cristã aquela gente, a quem amou de maneira muito especial, congregando-os em uma Igreja. Estando deles ausente, apareceram certos “mestres”; dentre eles três judeus e trataram de persuadir aquela gente a desprezar a Religião Cristã, que lhes tinha sido ensinada por São Paulo, e voltaram à antiga forma de adoração.
São Paulo viu claramente que para os Gálatas o retroceder depois de terem visto a luz significava atraso, em lugar de progresso, e que suas consequências seriam o incorrer em uma pesada dívida com o destino, que requeria eternidades para eles a liquidarem.
Sendo São Paulo um Iniciado, conhecia perfeitamente as Leis do Renascimento e as de Causa e Efeito e, por isso, sabia muito bem que se este povo contraísse uma tal dívida, teria de pagá-la alguma vez e em alguma parte, ao preço de grande dor e de profunda angústia. Por esta razão, São Paulo proclamou a Lei de Causa e Efeito a essa gente, dando-lhe o conhecimento dela em termos inequívocos: “Não vos enganeis: Deus não pode ser iludido; tudo o que o homem semear, isso também colherá“.
Se o Renascimento não fosse um fato, numerosas afirmações da Bíblia, semelhantes à que acabamos de citar, seriam difíceis de aceitar. De fato, seria absolutamente impossível para um homem ou uma mulher inteligente aceitar muitos fatos da vida, nem sequer em mínima parte. Por todas as partes vemos no mundo pessoas semeando sem cessar, sementes de maldade, discórdia, ódio, desonestidade, decepções, etc. e, contudo, ostentam-se prósperos e florescentes, como o verde loureiro proverbial. Aqueles cujas vidas são piores, acham-se com frequência, ocupando os mais altos cargos; entretanto vemos oprimidos, homens e mulheres de vida santa e Cristã.
E qual a resposta a esses diversos e complexos problemas que, constantemente, a vida nos está apresentando? Não têm eles respostas alguma? E a morte? Ainda os resultados da morte são incertos. Aniquila a morte a consciência?
Como resposta a tais perguntas, a maioria das pessoas dirá: “Creio nisto ou naquilo, mas nada sei”.
Há uma resposta para cada problema que a vida nos apresenta; os precursores da grande escola da vida, que avançaram e progrediram, puderam nos dar estas respostas. Eles não dizem: “creio” ou “penso”, mas dizem: “sei” -“Eu sei”. E como sabem? Porque adquiriram conhecimento de primeira mão. E de que maneira o adquiriram? Por meio da perseverança, devoção, observação e discernimento.
Antes que um homem ou uma mulher possa entender a vida, há de achar-se disposto ou disposta a aceitar como uma hipótese eficaz a de que o Renascimento é um fato e que toda a manifestação se explica pela Lei de Causa e Efeito. Uma vez que uma pessoa permita que entrem na sua consciência estes dois grandes fatos, tem já um ponto de apoio ou de partida para seus raciocínios.
Se o Renascimento é um fato, então todos nós temos vivido várias vidas anteriores à atual, e temos passado por numerosas provas. Temos sido arrogantes, cruéis, opressores, tiranos, injustos? Tem havido ocasiões em que temos sido bondosos, tolerantes, sensíveis, serviçais etc.? Pois bem, na atualidade somos a soma de nossas experiências anteriores, ou melhor, a soma de nossas reações à todas as nossas experiências passadas.
Cada criatura humana de nossa Onda de Vida tem-se iniciado na grande escola da vida, na Grande Escola de Deus, com iguais oportunidades. Durante cada vida foram-nos dadas certas lições. Quando as tivermos aprendido perfeitamente, teremos ganho em conhecimento e inteligência e teremos avançado.
Quando recusamos fazer nosso trabalho, e dissipamos nosso tempo vivendo preguiçosa ou licenciosa e desordenadamente, não só debilitamos, então, nossa estrutura moral, deixando para o lado o trabalho, senão que ao deixar para mais tarde o que devíamos ter feito hoje mesmo, deixamos para o dia seguinte uma tarefa mais dura e mais difícil de executar; e já não estaremos tão preparados para ela como estávamos ao ser-nos dada a primeira lição.
Mas esse trabalho há de ser executado alguma vez, em alguma vida, porque estamos desenvolvendo nossos próprios deuses, que absoluta e necessariamente hão de alcançar seu desenvolvimento, mercê de nossos próprios esforços.
O desenvolvimento das potencialidades latentes, dentro de cada indivíduo, não pode comprar-se, não pode achar-se ou receber-se como se fosse um gracioso donativo.
Depende de nossos próprios esforços perseverantes e resolutos, o que este crescimento progressivo encerra, e só nós estamos em possibilidade de apressá-lo ou retardá-lo. O indivíduo que diz: “Não tive nunca uma oportunidade na minha vida”, está-se enganando. Cada incidente que ocorre, e sucedem-se dezenas deles diariamente, nos subministra a oportunidade de desenvolver em alguma extensão algum poder potencial latente, em nosso interior, e as provas que sofremos, vem precisamente com esse objetivo. Não são meros acidentes com que tropeçamos, mas oportunidades dadas por Deus mesmo, para nosso crescimento, às quais devemos estudar bem e aproveitar tudo o que pudermos. Uma vez que nos dermos conta disso, cada dia de nossa vida se converte em uma grande e gloriosa aventura. Os mais humildes acontecimentos tornam-se grandes e maravilhosas experiências. O gorjeio de uma ave fere nossos ouvidos, estimula nosso sentido da audição e desenvolve nossa apreciação da verdadeira harmonia expressa em sons. Um humilde gusano, uma humilde minhoca, arrasta-se pelo solo aos nossos pés; o sentido da vista entra em ação; a cor daquela criatura se nos revela; a sua forma, a sua maneira de locomoção. Nosso poder de observação se vigoriza; o nosso interesse se estimula; a nossa Mente entra em atividade.
Começamos a estudar a vida, a verificar a nossa mentalidade e acabamos por aprender que tudo aquilo que existe é uma parte de Deus, que lenta, mas seguramente desenvolve dentro de si próprio, a Divindade.
A vida não nos aparece já como um confuso labirinto. É uma escola onde toda a criatura vivente recebe um ensino alegre e intenso. Nada há nela de opaco ou privado de interesse. São a Lei e a Ordem, trabalhando unidos, harmoniosamente. É o Amor em manifestação; é a atividade que nos revela em miríades de demonstrações.
Por que vemos ocupar altos postos aqueles que, segundo todas as aparências, carecem de algum mérito? Suas lições por um dia na Escola da Vida exigirão esse ambiente particular? Mas ai daquele que abuse de seus altos privilégios! Esse está criando uma tremenda dívida de destino, que não lhe será fácil pagar. Por que vemos sofrer opressão a uma pessoa digna? É com o objetivo de que possa aprender valiosas lições que hão de ser usadas em proveito de seus semelhantes, em vidas futuras, nas quais ocupará postos de grande influência e poderio. Tal pessoa não cometerá nunca o erro que seu irmão ou sua irmã menos adiantado ou adiantada poderia cometer ao achar-se numa posição semelhante.
O homem ou mulher que semeia sementes de discórdia, ódio, desonestidade, engano, etc. não pode ter a esperança de escapar ao castigo da Lei.
“Qualquer coisa que um homem semear, isso mesmo colherá“, seja durante sua vida atual, seja durante alguma outra vindoura, a não ser que se arrependa do seu mau comportamento.
Reformem-se enquanto puderem, reparem o mal que tenham cometido. A razão de que não vemos o malfeitor pagar suas dívidas é porque não estamos capacitados, no atual estado do nosso desenvolvimento, para segui-lo vida após vida e saber quando se vencem essas dívidas.
Algumas vezes pagam-se durante a vida em que se contraíram; outras vezes levam-se através de um ou mais Renascimentos, mas nunca ficam por saldar.
A Lei de Causa e Efeito, é ensinada pela Bíblia, ainda que expressa com diferente terminologia: “Qualquer coisa que um homem semear isso também colherá“. Nem esta Lei nem a Lei do Renascimento são realmente novas, como poderia comprovar qualquer estudante da Bíblia, cuidadoso e dotado de espírito analítico. Na atualidade, contudo, está lhe dando uma importância muito particular, por parte das escolas avançadas de preparação espiritual, devido a que um número considerável de seres humanos completou já as lições ensinadas por meio da Religião Cristã ortodoxa, e se encontram já prontos para uma etapa mais adiantada na senda do progresso. Essa etapa mais avançada lhes abrirá os Mundos invisíveis onde reside o Espírito, ou verdadeiro “EU”, durante os intervalos entre a morte e o novo renascimento, e os capacitará para seguirem as pisadas do Espírito, ainda que esse faça suas diversas viagens, da morte ao nascimento e vice-versa.
Antes que um indivíduo possa chegar a essa etapa adiantada, há de construir um veículo que lhe permita funcionar nos Mundos invisíveis. Esse veículo se constrói determinando uma separação entre os dois Éteres inferiores (o Químico e o de Vida) dos Éteres superiores (Luminoso e Refletor), que são os veículos da percepção dos sentidos e da memória; podem então usar-se como tal, o veículo a que se chama o Corpo-Alma.
Em consequência, a “Senda da Preparação” precede a capacidade de adquirir conhecimento de primeira mão, o conhecimento direto.
O amoroso e abnegado serviço aos outros, a perseverança, a devoção, a observação e o discernimento são os meios de alcançá-lo. O serviço amoroso e abnegado aos outros atrai automaticamente ao indivíduo os dois Éteres superiores, a saber; o Luminoso e o Refletor, com os quais se constrói o “Corpo-Alma”.
O Éter Químico e o Éter de Vida são capazes de se encarregar das funções vitais do Corpo Denso, durante o sono. Mais tarde tem lugar uma separação entre estes dois Éteres inferiores e os dois Éteres superiores. Quando esses dois últimos Éteres que compõem o “Corpo-Alma” já se espiritualizaram o suficiente, por meio da observação, do discernimento e do serviço, uma simples fórmula, dada por um Mestre espiritual, capacita o Aspirante à vida superior a levar consigo o “Corpo-Alma” à vontade, junto com o seu Corpo de Desejos e a sua Mente. Fica assim equipado com seus veículos de percepção sensorial e de memória.
Qualquer conhecimento que possua no Mundo Físico está, então, à sua disposição para usá-lo nos Mundos invisíveis, e quando de novo entra em seu Corpo Denso, traz consigo, ao cérebro físico, memórias de suas experiências adquiridas durante seu funcionamento longe do próprio corpo e naqueles altos lugares.
Quando o indivíduo tenha construído esse veículo no qual funciona, pode visitar os Mundos invisíveis e fica com liberdade para explorá-los a seu gosto, e aprender neles as causas que produzem todos os efeitos que se manifestam no plano físico.
Pode, então, acompanhar uma criança, da morte ao renascimento e comprovar assim que a reencarnação é um fato.
Pode então compreender a vida e seu objetivo, e trabalhar em harmonia com todas as Leis da Natureza; e dessa maneira tem já em suas mãos não só o método de acelerar sua própria evolução, senão também o de ajudar os outros a fazerem outro tanto.
Todo o nosso progresso depende de que aprendamos as lições que se nos apresentam em nossa vida diária, sem ter em conta que sejam fáceis ou difíceis. Devemos agradecer cada lição e pôr-nos prontamente a aprendê-la. E devemos agradecer especialmente às difíceis e desagradáveis, pois indicam que fizemos consideráveis progressos no passado e que, por consequência, estamos já capacitados para aprendê-las. Às almas jovens e pouco experimentadas não são dadas tarefas difíceis para executar.
Cada dia está cheio de oportunidades que, nos tornam os donos delas e se as aproveitarmos tanto quanto possível, nos permitirão avançar rapidamente pelo caminho do verdadeiro desenvolvimento.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – setembro/1979 – Fraternidade Rosacruz-SP)
Um verdadeiro Estudante Rosacruz, um Aspirante à vida superior, ao entendimento do que, como funciona e como se desenvolver para trabalhar eficientemente nos Mundos suprafísicos, nos Mundos invisíveis, busca continuamente se ligar ao Cristo Interno e está sempre ajudando o próximo, praticando fielmente o serviço amoroso e desinteressado (e, portanto, o mais anônimo possível) e focando na divina essência de cada um que ele serve.
Assim, ajuda no anonimato, é confiante em si mesmo, consegue permanecer só em todas as circunstâncias e luta em todas as condições sempre bem equilibrado (“sim, sim” e “não, não”, mas jamais morno!).
O verdadeiro Aspirante Rosacruz sabe que na Fraternidade Rosacruz não há mestres, nem instrutores, nem professores, mas amigos, irmãos e irmãs em Cristo sempre prontos a ajudar, a orientar, a mostrar o caminho reto que nos mostra por meio da obtenção do conhecimento direto, desenvolvendo em cada um de nós os veículos necessários e apropriados para funcionarmos diretamente em cada Região e Mundo suprafísicos.
Aquele que vive buscando proteção, novos autores, novos livros, correndo de uma a outra conferência, de um a outro site, de oradores que consideram ilustres, que vivem repetindo ideias alheias, não pode ser um Aspirante à vida superior, um Estudante Rosacruz, pois está sempre atendendo os anseios inferiores do seu Corpo de Desejos, e onde o Corpo de Desejos prevalece, o Corpo Vital (sede do alicerce para o desenvolvimento espiritual) não tem espaço, pois todo o seu tempo está voltado para reparar os estragos dos desejos, sentimentos e emoções que o Corpo de Desejos faz no Corpo Denso (como aprendemos nos Cursos de Filosofia Rosacruz).
Somos filhos de Deus, centelhas de Seu fogo, Espíritos feitos à Sua imagem e semelhança, tendo, dentro de nós, todos os atributos latentes à espera de desenvolvimento e potencialização. E isso a Fraternidade Rosacruz oferece ao fiel e sincero Estudante Rosacruz.
Eis o motivo dos Irmãos Maiores preconizarem o método direto para obtermos o conhecimento, sem utilizar nenhum instrumento (seja ele outra pessoa ou até artefatos físicos) para tal.
Somos criadores em formação, Cristos em desenvolvimento, portanto, firmes no nosso propósito, na nossa busca, na nossa independência, buscando sempre aprender os ensinamentos Cristãos e segui-los, colocando-os em prática na nossa vida cotidiana.
A Fraternidade Rosacruz não é obra de mestres terrenos, de literaturas rendadas, de promessas fantasiosas, de pretensas Iniciações.
Os Irmãos Maiores ditaram para Max Heindel, fundador da Fraternidade Rosacruz, aqui no Mundo Físico, a obra básica que é o Conceito Rosacruz do Cosmos, um livro de estudos permanente e de aplicação durante toda a nossa vida.
Esses Irmãos Maiores são elevados Iniciados, seres humanos como nós, muito conhecidos por seus grandes frutos.
A Fraternidade Rosacruz reúne o que há de mais atual às nossas necessidades internas, Egos, renascidos no ocidente, que somos; ela é o “alimento sólido do adulto”.
Ela desmascara ilusões e artificialismo, com seus princípios bem racionais e devocionais, em um equilíbrio perfeito entre “cabeça e coração”.
Ela se destina aos simples, aos essencialistas, aos sinceros, aos realizadores, aos servidores, aos humildes, aos corajosos, que podem e querem renunciar aos acenos do passado e buscam atingir o “Reino dos Céus por assalto” – como orientado pelo nosso Mestre, o Cristo –, por seu próprio esforço e sempre bem orientados, hoje mais ainda pelos meios aquarianos que, se bem utilizados, ajudam muito, tais como estudos on-line, site, redes sociais, e-mails e sim, quando houver um ambiente apropriado: seminários, palestras, reuniões de estudos e uma boa conversa.
Quem nela se inspira, liberta-se da sua natureza inferior, não mais se desilude porque não se ilude. Não fala de si mesmo, não se intitula “Mestre”, não conta suas “experiências”, não exibe seus recursos curadores, não busca fama, glória, nem poder, ocupa o último lugar sempre que puder, é simples, autêntico, humilde, sempre se refere à Deus em seu interior, é o que busca mais servir, desinteressadamente, anonimamente por amor aos seus semelhantes, sem pretensões ulteriores.
Pratica fielmente a máxima ocultista: “buscar o Reino de Deus e Sua justiça, que o resto vem por acréscimo”.
Quem entender isso, logo se engaja e se firma e caminha a passos largos no Caminho de Preparação para a Iniciação Rosacruz!!!
Que as rosas floresçam em vossa cruz
Por Max Heindel
Enquanto a incapacidade física causada pela cegueira é, sem dúvida, uma grande aflição, há uma cegueira que apresenta efeito mais prejudicial sobre aqueles que dela sofrem: a cegueira do coração. Um velho provérbio diz: “Ninguém é tão cego quanto aquele que não quer ver”[1]. Toda grande Religião trouxe ao povo a quem foi dada certas verdades vitais e necessárias para o seu desenvolvimento, e o próprio Cristo nos disse que a Verdade nos libertaria. Muitas das sublimes verdades contidas nos ensinamentos Cristãos foram, no entanto, obscurecidas por credos e dogmas com os quais as várias seitas e denominações se contentaram. Contrata-se um ministro ou um pastor para uma igreja protestante e o encarregam de expor a verdade da Bíblia, mas sua língua está atada ao credo de sua denominação específica; ele é proibido, sob pena de desgraça pública e dispensa, de publicar ou pregar algo que não esteja em estrito acordo com o tipo particular de Religião desejado por aqueles que lhe pagam o salário. Cada ministro ou pastor recebe “um par de óculos que são coloridos” de acordo com o credo específico que ele representa, e ai dele se ousar enxergar a Bíblia com outros óculos sobre o nariz: fazer isso significa sua ruína financeira e ostracismo social, que poucos são corajosos o suficiente para enfrentar.
Enquanto o ministro ou pastor mantiver seus óculos denominacionais, não haverá perigo; contudo, às vezes algum ministro ou pastor retira os óculos, porque planejou ou por acidente. Ele pode ser de natureza aventureira e, de alguma forma, tem a sensação de que há alguma coisa fora da sua esfera de visão particular, ou pode ter acidentalmente perdido seus óculos. Mas, em ambos os casos, se ele tropeça na verdade nua da palavra de Deus, torna-se infeliz. Esse escritor falou com vários ministros e pastores que confessaram ter a ciência de certas verdades, mas não ousavam pregá-las porque isso jogaria a fúria de sua congregação sobre eles, por perturbar as condições estabelecidas. E isso não é de se admirar; mesmo o Rei Jaime[2], um monarca e autocrata, advertiu os tradutores da Bíblia para não a traduzirem de maneira que a nova versão perturbasse as ideias estabelecidas, porque ele sabia que, no momento em que novos pontos fossem introduzidos, haveria uma controvérsia entre os defensores da antiga visão religiosa e os da nova, o que provavelmente resultaria em uma guerra civil. A maioria das pessoas sempre está pronta para sacrificar a verdade pelo bem da paz; portanto, hoje estamos presos, apesar de nossa liberdade vangloriada, e não importa o quanto seja aguçada a nossa visão física, um grande número entre nós está cego por uma escama tão opaca que quase obscurece completamente sua visão espiritual.
No entanto, apesar de tudo, a verdade surge e, às vezes, nos lugares mais inesperados, como mostra o recorte a seguir. Isso soa mais como as reflexões de um Místico do que os escritos de um ministro ou pastor presbiteriano, anotações ligadas à terrível doutrina da predestinação e ao compromisso das almas com o fogo eterno do inferno, onde torturas terríveis são suportadas pela eternidade, mesmo por bebês que foram predestinados a sofrer para sempre pelo seu criador. Foi escrito por J. R. Miller, um conhecido pastor de igreja da Filadélfia, e é apenas outra indicação do fato de que um sexto sentido está sendo desenvolvido lentamente e, frequentemente, como dito, nos lugares mais inesperados, esmagando o credo com evidências e conhecimentos Místicos. O reverendo Miller diz:
“Todos nós projetamos uma sombra. Há sobre nós uma espécie de penumbra — algo estranho e indefinível — que chamamos de influência pessoal e tem efeito em todas as outras vidas que ela toca. Vai conosco onde quer que vamos. Não é algo que possamos ter ou retirar quando quisermos, como uma roupa. É uma coisa que sempre brota da nossa vida, como a luz de uma lâmpada, o calor de uma chama, o perfume de uma flor.”.
Certa vez, quando Cristo estava sozinho com seus Discípulos, Ele lhes perguntou: “Quem dizem os homens que Eu, o Filho do Homem, sou?”. E eles responderam e disseram: “Alguns dizem que Tu és Elias; outros, Jeremias; e outros dizem que és um dos profetas”. E Cristo respondeu e disse: “Mas quem dizeis que Eu sou?”. E São Pedro disse em resposta a essa pergunta: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Ele havia descoberto a verdade, tinha visto o Cristo. E a resposta de Cristo veio rapidamente: “Bendito és tu, Simão, filho de Jonas, porque a carne e o sangue não te revelaram isso, mas meu Pai que está no Céu; a ti darei as chaves do Reino dos Céus e do Inferno”[3].
Aqui, a Religião dita Cristianismo popular, que tantas vezes desvalorizou a Arte a seu serviço, pode ver apenas uma chave material e, portanto, encontramos fotos em que São Pedro está com uma chave enorme na mão; porém o Místico descobre nesse incidente que os Discípulos receberam o ensinamento de uma grande verdade da natureza: o Renascimento! Pela chave da Iniciação, esse mistério foi descoberto, as portas do Céu e do Inferno foram abertas para mostrar a imortalidade do Espírito e nossa volta a esta esfera de ação para aprender novas e maiores lições vida após vida, como uma criança aprende suas lições na escola, dia após dia.
Se o Renascimento não fosse um fato natural, o retorno de espíritos que partiram, como Jeremias, Elias e outros, para então ocupar o corpo de Jesus, seria um absurdo e teria sido o dever de Jesus, como Mestre dos Discípulos, explicar que tais ideias fossem ridículas. Em vez disso, Ele mantém o assunto para descobrir a profundidade do seu discernimento e pergunta — “Quem então você diz que Eu sou?”. E quando a resposta chega, mostrando que eles percebem n’Ele alguém acima dos profetas e da Onda de Vida humana, o Cristo, o Filho do Deus vivo, Ele nota que estão prontos para a Iniciação que resolve, na Mente dos Discípulos, o problema do Renascimento para além de qualquer disputa. Nenhuma quantidade de leitura de livros, conversas ou explicações pode solucionar esse ponto para além de qualquer possibilidade de confusão. O candidato deve saber por si mesmo. Portanto, nas atuais Escolas de Mistérios, após a primeira Iniciação abrir-lhe os Mundos invisíveis, ele tem a oportunidade de se satisfazer com o Renascimento e lhe é mostrada uma criança que recentemente saiu do Corpo Denso. Por causa de seus poucos anos, ela renasce rapidamente, provavelmente dentro de um ano após a morte. O recém-Iniciado observa essa criança até que, finalmente, ela entra no útero da mãe para emergir como um bebê recém-nascido de novo. A razão pela qual ele assiste a uma criança e não a um adulto é porque esse fica fora da vida física aqui por aproximadamente mil anos, enquanto um bebê renasce em poucos anos; alguns chegam a encontrar um novo ambiente depois de alguns meses e renascem dentro de um ano. Durante esse período, o Iniciado também tem oportunidades de estudar a vida e as ações daqueles que estão no Purgatório e no Primeiro Céu, que são o Céu e o Inferno mencionados na Bíblia. Foi isso que Cristo ajudou seus Discípulos a fazer: ver e saber. Sobre a rocha dessa verdade a Igreja foi fundada, pois se não houvesse Renascimento, não haveria progresso evolutivo e, consequentemente, todo avanço seria uma impossibilidade.
Mas qual é o caminho para a realização? Eis a grandíssima questão e para isso há e pode haver apenas uma resposta — o desenvolvimento do sexto sentido por meio do qual o Místico descobre essa sombra imortal da qual o reverendo Miller fala. O Céu e o Inferno são relativos a nós: nossas vidas passadas e as vidas de nossos contemporâneos foram jogadas na tela do tempo e estão prontas para serem lidas a qualquer momento, mas devemos construir nossos sentidos para poder ler.
A luz elétrica, quando focada através de uma lente estereóptica, projeta a imagem brilhante de um slide, quando há escuridão; contudo, não deixa marcas visíveis quando os raios do Sol atingem a tela. Nós também, se quisermos ler o pergaminho Místico de nosso passado, devemos aprender a acalmar nossos sentidos para que o mundo externo desapareça nas trevas. Então, pela luz do espírito, veremos as imagens do passado tomarem o lugar do presente.
Tal sombra, vista pelo pastor Miller ao redor do corpo, é análoga à fotosfera, a Aura do Sol e dos Planetas. Cada um desses grandes corpos tem uma sombra invisível; ou melhor, invisível em condições normais. Vemos a fotosfera do Sol quando a esfera física é obscurecida durante um eclipse, mas em nenhum outro momento. O mesmo acontece com a sombra ou fotosfera do ser humano; quando aprendemos a controlar nosso senso de visão para que possamos observar um ser humano sem ver sua forma física, então essa fotosfera ou aura pode ser vista em todo seu esplendor, pois as cores da Terra são opacas em comparação com os fogos vivos e espirituais que envolvem e emanam de cada ser humano.
O fantástico jogo da Aurora Boreal nos dá uma noção de como essa fotosfera, ou sombra, age. Está em movimento incessante; dardos de força e chamas estão constantemente disparando de todas as suas partes, mas particularmente ativos ao redor da cabeça; e as cores e tons dessa atmosfera áurica mudam a cada pensamento ou movimento. Essa sombra é observável apenas para quem fecha os olhos a todas as visões da Terra; quem deixou de se preocupar com o louvor ou a culpa dos seres humanos, mas está concentrado apenas no Pai Celestial; quem está pronto e disposto a defender a verdade e somente ela; quem vê com o coração e no coração dos seres humanos que eles possam descobrir dentro de si mesmos o Cristo, o Filho do Deus vivo.
Tampouco é o que nos rodeia uma sombra que desaparece quando o Sol da vida deixa de brilhar no Corpo Denso. Longe disso, é o vestuário resplandecente do Espírito humano, obscurecido durante a existência material pela roupa opaca feita de carne e sangue. Quando John L. McCreery[4] escreve sobre os amigos que faleceram, que
Eles deixaram cair o manto de barro
Para colocar uma roupa brilhante,
ele está incorreto. Seu traje é realmente “brilhante”; no entanto, eles não o colocam na ocasião da morte. Seria mais correto conceber a nós mesmos como vestindo uma roupa de substância de alma que seja intensamente brilhante, porém escondida por uma “camada de pele” escura e sem brilho: um Corpo Denso. Quando o deixamos de lado, a magnífica Casa do Céu mencionada por São Paulo no quinto capítulo da Segunda Epístola aos Coríntios[5] torna-se nossa habitação normal de Luz. É o Soma Psuchicon ou Corpo-Alma, traduzido de forma incorreta como “corpo natural”, no capítulo 15 da Primeira Epístola aos Coríntios, no quadragésimo quarto versículo, onde encontraremos o Senhor em Sua vinda, mas “carne e sangue”, como usamos atualmente, não podem herdar o Reino de Deus.
Há muita diferença nessas emanações áuricas que foram observadas pelo reverendo Miller; de fato, existem tantos tipos áuricos diferentes quanto pessoas. O jogo das cores nunca é o mesmo. Se assistíssemos ao nascer e ao pôr do Sol por toda a vida, nunca encontraríamos dois exatamente iguais quanto à cor, efeito das nuvens ou tantos outros detalhes. Da mesma forma, quando observamos o jogo das emoções humanas, revelado na aura, há uma variedade incontável inclusive na mesma pessoa, quando em posições e condições idênticas, porém momentos diferentes. Em certo sentido, todos os pores do Sol são iguais; certas pessoas não percebem diferenças, mas para o artista o jogo de cores variado, às vezes, é realmente doloroso em sua intensidade. Alguns também podem não apreciar a importância dessa nuvem áurica e luminosa. Contudo, quando um Cristo vê as lutas difíceis, sofridas e intensas da pobre humanidade cega, que maravilha que Ele grite: “Jerusalém, Jerusalém, quantas vezes Eu lhe teria reunido sob minhas asas!”[6]. A menos que estejamos preparados para nos tornar “homens de dor”, não devemos desejar a extensão da visão que permite ao seu possuidor penetrar a opacidade do corpo que revela, assim, a Alma, pois a partir de então seremos obrigados a suportar, além das nossas, também as dores dos nossos irmãos e das nossas irmãs. No entanto, quem assim se tornar um “Servo” terá, ao lado de toda essa tristeza, também alegria e paz que ultrapassam qualquer entendimento.
Quando abrirmos os olhos espirituais e aprendemos a ter a visão celestial do Cristo dentro dos corações dos seres humanos, haverá outros passos que nos levarão mais adiante no caminho. Quando aprendemos a fechar nossos ouvidos à multidão que só clama e reclama, às brigas de pessoas sobre isso, aquilo ou qualquer outra coisa que não seja essencial; quando aprendemos que os credos, dogmas e todas as opiniões terrenas não tem valor e que existe apenas uma voz no universo que é digna de ouvirmos, a voz do nosso Deus-Pai que fala sempre aos que buscam o Seu rosto, então seremos capazes de ouvir a Canção das Esferas mencionada no imortal “Fausto”[7], nessas inspiradas palavras:
O Sol entoa sua velha canção,
Entre os cânticos rivais das esferas irmãs,
Seu caminho predestinado vai trilhar
Através dos anos, em retumbante marchar.
O que ocorre no caso da fotosfera do Sol, que é vista apenas durante um eclipse, quando sua esfera física é obscurecida, também acontece com a Canção das Esferas: ela não é ouvida até que todos os outros sons tenham sido silenciados, pois é a voz do Pai. Nessa sublime harmonia, as notas-chaves de Sabedoria, Força e Beleza reverberam por todo o Universo e nessas vibrações nós vivemos, nós nos movemos e temos o nosso ser. O Amor divino se derrama sobre nós em medida irrestrita através de cada acorde cósmico para animar os desanimados e instigar os retardatários. “Não se vendem dois pardais por um asse? E, no entanto, nenhum deles cai em terra sem o consentimento do vosso Pai!”[8] “Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo e eu vos darei descanso.”[9] Repousem sobre o grande coração cósmico do Pai. Sua voz confortará e fortalecerá a alma.
A cada ano e idade, esse grande Canto Cósmico muda; a cada vida aprendemos a cantar uma nova música. Deus, em todos e através de todos, opera Seus milagres na natureza e no ser humano. Geralmente, estamos surdos à mágica produzida pelo som silencioso da Palavra divina; entretanto, se pudermos aprender a “ouvir”, sentiremos a verdadeira proximidade de nosso Pai, que está mais perto do que as mãos e os pés, e saberemos que nunca estamos sozinhos, nunca fora do Seu cuidado amoroso.
Assim como o Sol e os demais Astros produzem luz e som, o ser humano também tem sua estrutura de luz e som. Na medula queima uma luz como a chama de uma vela, mas não de maneira constante, silenciosa e quieta. Ela pulsa e, ao mesmo tempo, emite um som que varia do nascimento à morte e pode-se dizer que nunca é o mesmo. À medida que muda, também mudamos, pois é a tônica do ser humano. Aí estão expressas nossas esperanças e nossos medos, nossas tristezas e alegrias como foram trabalhadas no Mundo Físico, porque esse fogo é aceso pelo Arquétipo do Corpo Denso. O Arquétipo é uma esfera vazia; contudo, ao soar uma nota específica, atrai para si todas as concreções físicas que vemos aqui como manifestação — o Corpo Denso de um ser humano. Nessa chama sonora o maior número dos nervos do corpo humano tem sua raiz e origem. Esse lugar é o ponto vital do ser humano, a sede da vida, o núcleo da sombra da qual o pastor Miller falou. Quando atingimos esse ponto, quase chegamos ao coração do ser humano.
Para alcançar esse local supremo são necessários outros passos; no entanto, geralmente estamos tão envolvidos com nossos próprios interesses, independentemente dos negócios e cuidados das outras pessoas, que somos egocêntricos. Isso deve ser superado; precisamos aprender a enterrar nossas próprias tristezas e alegrias, a sufocar nossos próprios sentimentos, porque assim como a luz do Sol esconde a fotosfera e o opaco Corpo Denso do ser humano oculta a bela atmosfera áurica, assim também nossos sentimentos, emoções pessoais e interesses nos tornam insensíveis aos sentimentos dos outros. Quando aprendemos a acalmar o sentimento dos nossos próprios corações, a pensar pouco em nossas próprias tristezas e alegrias, começamos a sentir as batidas do grande Coração Cósmico que agora está trabalhando para trazer muitos filhos à glória.
As dores do nascimento do nosso Pai-Mãe no Céu são sentidas apenas pelo Místico em seus momentos mais elevados e sublimes, quando ele sufoca inteiramente os gemidos egoístas de seu próprio coração, pois esse é o inimigo mais forte e mais difícil de superar. No entanto, quando isso é alcançado, ele sente, como foi dito, o Grande Coração do nosso Pai Celestial. Assim, passo a passo, nós nos aproximamos da Luz, até mesmo do Pai das Luzes em quem “não há sombra”. É importante que deixemos o seguinte muito claro:
Pode ser uma marca de conquista ser capaz de ver “a sombra”.
Pode marcar um passo mais alto na conquista poder ouvir “a voz no silêncio”.
Acima de tudo, porém, vamos nos esforçar para sentir as batidas do coração de nossos semelhantes, para tornar nossas as suas tristezas, regozijar-nos em suas realizações e guiá-las ao seio de nosso Pai, por paz e conforto.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de outubro/1915 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)
[1] N.T.: de Matthew Henry
[2] N.T.: Rei Jaime VI e I, Rei da Inglaterra, Escócia e Irlanda.
[3] N.T.: Mt 16:13-19
[4] N.T.: John Luckey McCreery (1835-1906) foi um poeta americano mais conhecido pelo poema “A Morte não Existe”:
A morte não existe. Os astros escondem-se
para elevarem-se sobre novas terras.
E sempre brilhando no diadema celeste
espalham seu fulgor incessantemente.
A morte não existe. As folhas do bosque
converte em vida o ar invisível;
as rochas quebram-se para alimentar
o musgo faminto que nelas nascem.
A morte não existe. O chão que pisamos
converter-se-á, pelas chuvas do verão,
em grãos dourados ou doces frutos,
ou em flores com as cores do arco-íris.
A morte não existe. As folhas caem,
as flores murcham e secam;
esperam apenas, durante as horas do inverno,
pelo hálito morno e suave da primavera.
A morte não existe; embora lamentamos
quando as lindas formas familiares
que aprendemos a amar, sejam afastadas
dos nossos braços
Embora com o coração partido,
vestido de luto e com passos silenciosos,
levemos seus restos a repousar na terra,
e digamos que eles morreram.
Eles não morreram. Apenas partiram
para além da névoa que nos cega aqui,
para nova e maior vida
dessa esfera mais serena.
Apenas despiram suas vestes de barro,
para revestirem-se com traje mais brilhante;
não foram para longe,
não foram “perdidos”, nem partiram.
Embora invisível aos nossos olhos mortais,
continuam aqui e nos amando;
nunca se esquecem
dos seres amados que deixaram.
Por vezes sentimos sobre nossa fronte febril
sua carícia, um hálito balsâmico.
Nosso espírito os vê, e nossos corações
sentem conforto e calma.
Sim, sempre junto a nós, embora invisíveis
continuam nossos queridos espíritos imortais
pois todo o universo infinito de Deus
É VIDA – A MORTE NÃO EXISTE!
[5] N.T.: IICor 5:1
[6] N.T.: Mt 23:37
[7] N.T.: Fausto é um poema trágico do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe, dividido em duas partes.
[8] N.T.: Mt 10:29
[9] N.T.: Mt 11:28
Resposta: O que uma pessoa vê depende da sensibilidade do seu olho. Algumas pessoas podem distinguir objetos a uma distância que para outras pessoas já são invisíveis. Os artistas percebem tons de cores que as pessoas comuns não conseguem distinguir e algumas pessoas são até daltônicas; há ainda aqueles que não podem ver – são os cegos.
As pessoas que podem ver mais longe ou distinguir os tons mais delicados de cores são mais Clarividentes, ou possuem uma visão mais clara do que o restante das pessoas.
A maioria de nós é capaz de ver muitas coisas em nosso ambiente, mas sabemos muito pouco sobre as coisas que vemos apenas por que as vemos. Tivemos que ser “iniciados” no uso do telefone, da bicicleta, do automóvel, do piano, etc.
Mas, embora saibamos como usar esses instrumentos em circunstâncias normais, não estamos tão familiarizados com sua construção para que possamos construí-los ou repará-los quando estiverem avariados. Antes de nos qualificarmos para esse trabalho, devemos fazer um curso de treinamento especial, e se nos aplicarmos de todo o coração, podemos nos tornar Adeptos em nossa linha especial.
Se aplicarmos essa ilustração ao problema que surge a nossa frente, podemos entender que um Clarividente é uma pessoa, cujo sentido da visão se estendeu de tal forma, que ele percebe um outro mundo, que é invisível à maioria de nós, e que ele é capaz de ver tudo lá.
Contudo, ele não “sabe tudo a respeito” das coisas que vê ali, utilizando apenas da percepção, da mesma forma que nós não sabemos tudo a respeito das coisas que vemos nesse Mundo (ou seja: na Região Química do Mundo Físico). Ele deve se aplicar para obter esse conhecimento. Assim, gradualmente, se tornará um Iniciado, que compreende as coisas que vê, e poderá manipular algumas delas sob circunstâncias normais, da mesma forma que somos capazes de tocar um piano ou andar de bicicleta quando aprendemos essas artes.
Será necessário um treinamento maior para que o Iniciado se capacite a exercer poderes sobre as coisas e sobre as forças dos Mundos invisíveis como um Adepto.
Consequentemente, o Clarividente é aquele que vê nos Mundos invisíveis; o Iniciado vê os Mundos invisíveis e compreende o que vê, enquanto o Adepto vê, conhece e tem poder sobre as coisas e forças dos Mundos invisíveis.
(Pergunta nº 131 do Livro “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Volume I” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)