São João, durante as viagens que realizava de Juta a Jerusalém, presenciava os atos de extrema crueldade dos soldados romanos e a afrontosa cobrança de impostos. Os serviços do Templo se revestiam de um caráter mundano e o povo vivia debaixo de uma execrável opressão. São João indignou-se contra esse estado de coisas e sua índole, totalmente avessa a tais injustiças, impeliu-o mais tarde a censurar acerbamente o Estado e a Igreja.
Desde a infância mostrava-se diferente dos de sua geração. As outras crianças olhavam-no como se ele pertencesse a outro mundo. O convívio com seus elevados pais, e as instruções que recebia, tornavam-no apto a cumprir uma missão de destaque.
Embora tivesse passado pelas provas que o habilitavam ao noviciado no Templo, seu Espírito encontrava-se além. Não lhe estava destinada uma vida de mera rotina. Uma grande missão o esperava.
Depois da morte de seus pais, São João defrontou-se com o problema comum a todos os Aspirantes que procuram se dedicar de corpo e alma à Vida espiritual, isto é, manter-se equilibrado entre as coisas do Espírito e as do mundo. Como sacerdote teria pela frente uma Vida relativamente tranquila. Seus deveres para com o Templo restringiam-se a umas poucas semanas durante o ano. Isso lhe desagradava profundamente. Jamais se conformaria em servir a uma Religião formal, em que os ritos purificadores eram celebrados por pessoas devotas ao “príncipe do mundo”. Tudo ao seu redor lembrava os rogos das viúvas e os choros dos órfãos, enquanto os publicanos ofereciam as suas infindáveis orações, sem vestígio algum de espiritualidade.
São João ponderou sobre essas coisas e acabou retirando-se para o deserto. Viveu durante quase vinte anos na solidão, a que já se habituara desde sua existência passada quando renasceu como o rude profeta Elias. Nesse isolamento, encontrou todas as condições para preparar-se devidamente como o precursor da Nova Dispensação.
A Galileia, no tempo de São João, era a encruzilhada do mundo, povoada por uma mistura de raças de natureza arrojada, movidas pelo espírito de aventura. Esse trecho do território palestiniano caracterizava-se pela sua grande densidade demográfica, e pela sua população cosmopolita. Fenícios, gregos e pessoas do extremo leste eram figuras familiares nas cidades da Galileia. São João, em contato com esses povos, adquiriu um sentimento de liberalismo, desprendendo-se das convenções tão naturais ao seu povo. Os galileus eram detestados de forma particular pelos saduceus, a mais ortodoxa das castas sacerdotais. Ponderavam sobre o atroz sofrimento em que viviam sob o jugo romano e alimentavam sólidas esperanças quanto à vinda do Messias profetizada pelos livros ocultos. Ressalte-se que todos os Apóstolos, com exceção de Judas Iscariotes, eram originários da Galileia.
Depois de longo período de provas no deserto, São João iniciou a grande missão de arauto da Era de Peixes. O íntimo contato travado com a natureza e com seres superiores facultou-lhe distinguir instantaneamente o falso do verdadeiro, o real do irreal. Sua voz desafiadora e vibrante marcou-o realmente como a “Voz que Clama no Deserto”. Organizou uma escola preparatória em que seus Discípulos recebiam profunda orientação e ensinamentos alusivos à vinda do Messias (o Cristo). Um dos passos iniciáticos dessa Escola era o Batismo que, no Cristianismo Esotérico não consiste apenas na imersão, mas trata-se de um ritual conferindo poderes de Clarividência.
Cristo dirigiu-se a São João para submeter-se ao ritual do Batismo às margens do Jordão, inaugurando, assim, o seu Ministério.
São João preparou-se durante anos para uma missão que, embora durasse apenas seis meses, revestiu-se de grande importância como movimento preparatório à vinda d’Aquele a quem a seu devido tempo “todo joelho se dobrará e toda língua confessará”.
(Publicado na Revista Rosacruz – agosto/1968-Fraternidade Rosacruz-SP)
Mais revelações espirituais são oferecidas ao Estudante Rosacruz, conforme ele gradativamente fornece provas de que está, fortemente, percorrendo o Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz. Caberá a ele estar atento para observar e compreender os Ensinamentos Rosacruzes oferecidos.
Qualquer comportamento humano consciente e direcionado necessita de um propósito subjacente que guie ou forneça sentido para as ações. Por exemplo, um empresário que objetiva tornar seus negócios bem-sucedidos poderá permanecer meses, anos, até mesmo a vida toda, com esse objetivo que fornece sentido para todas as demais ações. O fato desse empresário ficar todos os dias até tarde no escritório, passar finais de semana planejando e executar ações para melhorar os rendimentos da empresa, terá sua explicação se conseguirmos enxergar o propósito que ele acredita ser o correto de buscar. Outro exemplo seria a pessoa que deseja fazer uma aquisição material qualquer, mas não possui o dinheiro imediato para comprar. Ela procurará um segundo emprego ou realizará horas extras no trabalho para conseguir o dinheiro. Com o tempo e sacrifício, conseguirá acumular o dinheiro e concretizará seu desejo.
Desse modo, verifica-se que é o propósito subjacente que faz uma pessoa elaborar diversas estratégias e ações para concretização dele. Sem o propósito, não haverá sentido para as ações. Caso o propósito esteja ausente na consciência, não haverá motivação necessária para a pessoa agir em uma determinada direção, mas apenas respostas automáticas a estímulos ambientais.
O maior propósito que um Aspirante sincero à vida superior, um Estudante Rosacruz, tem é aquele de cumprir os preceitos do Cristianismo Esotérico em sua vida diária. É exatamente esse propósito que fornece sentido às ações que normalmente pratica em seu cotidiano. Dentre as ações, destacamos aquelas relacionadas a sacrifício do “eu inferior”, a retidão, ao perdão, ao serviço amoroso e desinteressado focado na divina essência do próximo, a vigília e a oração. Ele não se preocupa com a redenção particular ou seu desenvolvimento pessoal, pois seu objetivo prioritário é o auxílio ao alheio, aos que estão em torno dele. Se um terceiro conseguir enxergar esse propósito subjacente, compreenderá o sentido pelo qual um Estudante Rosacruz realiza todos esses atos tão “sem sentidos”, de acordo com os parâmetros materialistas e individualistas comumente observados no atual contexto que vivemos.
É exatamente a não observação ou compreensão desse propósito, pelas pessoas que não estão percorrendo Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz, que gera o julgamento equivocado e que contribui para o Estudante Rosacruz caminhar cada vez mais sozinho. Apesar de aparentemente sozinho, conforme se torna uma “fonte de água da vida” (que jorra sem parar, não importando quem se aproxima para dela beber), novos horizontes e novas companhias de propósito lhe aparecem automaticamente.
Cada evento vivenciado é, então, observado cuidadosamente sob a direção dos propósitos espirituais que escolheu para sua vida. O Estudante Rosacruz deverá, então, utilizar suas faculdades tais como: percepção, atenção, inteligência, aprendizado vicário (aprendizado por observação) e sua experiência prévia, para praticar e realizar o Exercício Esotérico de Discernimento necessário para agir. Além disso, deve também contar com sua força de vontade para conseguir concretizar, no Mundo Físico, aquilo que julga ser correto. Desse processo, ocorre a evolução ou a transformação de seus poderes anímicos latentes em dinâmicos.
Além de sua vontade e do seu propósito espiritual, há, durante o todo o ano, condições propícias para que o Estudante Rosacruz consiga amalgamar poderes dinâmicos ao seu Espírito.
De modo a concentrar forças e ter uma maior eficácia no processo de produção de poderes anímicos, os Estudantes Rosacruzes de todo o mundo da Fraternidade Rosacruz se reúnem, todos os dias, atendendo suas aspirações espirituais e oficiam o Ritual Devocional do Serviço do Templo. Essa reunião tem o objetivo de gerar pensamentos-formas de amor, de fraternidade e de cura. Os pensamentos-formas gerados são concomitantemente envolvidos com sentimentos de igual natureza, que fornecem a força necessária para que os pensamentos-formas cheguem ao seu propósito. Essa é a primeira condição favorável que o Estudante Rosacruz pode unir aos seus propósitos espirituais, para conseguir maior eficácia em seu trabalho no mundo.
Uma segunda condição favorável ocorre quando a órbita da Lua atravessa o raio de vibração de uma Hierarquia Criadora Cardinal (Signos Zodiacais Cardinais ou Cardeais). Nessa situação, há favorecimento de produção de pensamentos-formas e sentimentos direcionados à Cura Rosacruz e é o dia para oficiar o Ritual Devocional do Serviço de Cura. É como se houvesse um forte vento a favor, e se aproveitarmos esse vento que sopra para a direção da cura, nossas orações serão muito mais eficazes e, consequentemente, a produção anímica também. Todo aquele que quiser contribuir para esse serviço, automaticamente também recebe a cura que necessita, seja física ou mental. Mas a recompensa particular desse trabalho não deve ser prioridade para o Estudante Rosacruz, mas sim, a certeza de que irmãos e irmãs que buscam esse auxílio estão recebendo essas bênçãos.
Juntamente a esses serviços, o Estudante Rosacruz busca, onde quer que esteja, ser útil como uma canal de amor e de trabalho. Por mais trabalhoso e árduo que esse tipo de vida parece ser, ele o faz porque compreendeu que os demais propósitos oferecidos pela vida material são estéreis – “…Senhor, para quem iremos? Só tu tens as palavras de vida eterna” (Jo 6:68). Cada trabalho que consegue realizar nesse sentido produz materiais invisíveis que alimentam três pessoas diferentes: a (as) pessoa (as) envolvida (as) que recebeu (eram) o produto desse trabalho; a si próprio (pois esse material invisível para seus olhos fará parte do radiante Dourado Manto Nupcial, seu Corpo-Alma) e, finalmente, o Cristo, que aguarda pelo dia de Sua Libertação (Segunda Vinda) – “Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes.” (Mt 25:40).
Como sabemos, o Exercício Esotérico noturno de Retrospecção representa o momento do dia em que realizamos nosso Purgatório e Primeiro Céu. Esse Exercício Esotérico é mais valioso do que qualquer outro método para adiantar o Estudante Rosacruz no Caminho da Preparação e Iniciação Rosacruz. Seu efeito é tão profundo que capacita a quem o pratica a aprender presentemente, não apenas as lições dessa vida, mas também lições que normalmente lhe estariam reservadas para vidas futuras.
Já o Exercício Esotérico matutino da Concentração oferece ao Estudante Rosacruz, depois de algum tempo, quando ele tenha aprendido a manter diante de si por uns cinco minutos ininterruptos o assunto em que se concentra, a visão do Mundo do Desejo.
Se o Estudante Rosacruz for fiel, disciplinado e criar o hábito de fazer os Exercícios Esotéricos diários propostos que estão ao seu alcance (Concentração, Meditação, Observação e Discernimento), evitando considerá-los como uma tarefa enfadonha e os reputando em seu verdadeiro valor – afinal eles são os nossos mais elevados privilégios – deles colherá os mais amplos benefícios que o ajudará a dar passos largos no Caminho da Preparação e Iniciação Rosacruz.
Vê-se, portanto, que há muitas oportunidades dadas para que o Estudante Rosacruz possa se desenvolver com maior eficácia. Mas, como já mencionado no início, deve estar atento para observar e compreender os ensinamentos oferecidos e as condições mais favoráveis.
Possa o Estudante Rosacruz aproveitar todas essas oportunidades que lhe são constantemente apresentadas.
Que as Rosas Floresçam em Vossa Cruz
Nesse Esquema de Evolução traçado para todos, nós, os Espíritos Virginais, passamos por quatro grandes etapas de educação e de percepção de Deus, nosso criador:
A primeira, Seres muito mais evoluídos (chamados de Hierarquias Criadoras ou Hierarquias Divinas ou, ainda, Hierarquias Zodiacais) agem sobre nós, de fora, dando-nos auxílio externo, ajudando-nos a construirmos nossos corpos: o Denso, o Vital, o de Desejos e o veículo Mente (os nossos veículos de evolução) – enquanto permanecemos inconscientes do Mundo Físico ao nosso redor. Nessa etapa, adorávamos a Deus por meio do medo, a Quem começamos a perceber a existência. Fazíamos sacrifícios para agradá-lo. Passamos a fase do fetichismo.
A segunda etapa, com os veículos já construídos, somos colocados sob a direção dos chamados Mensageiros Divinos e Reis, a quem nós vemos, e a cujas ordens tínhamos que obedecer. Esses Mensageiros Divinos ficaram conhecidos como:
Quase no final desta etapa, após o trabalho destes Mensageiros Divinos, com quem convivíamos no cotidiano, e o chamávamos de deuses, fomos ensinados a adorar somente um único Deus invisível, criador de todas as coisas.
Assim, nessa etapa, aprendemos a olhar a Deus como um doador de todas as coisas e a esperar d’Ele benefícios materiais, agora e sempre. Fazíamos sacrifícios externos por avareza, esperando que Deus nos dê cem por um, ou para livrar-nos do castigo imediato, como: pragas, guerras, doenças, etc.
A terceira etapa somos ensinados a reverenciar as ordens de um Deus a Quem não vemos. Aprendemos a adorar a Deus com orações e a viver em boa vida, a cultivar a fé num Céu onde obteremos recompensa no futuro, e a abster-nos do mal, para que possamos nos livrar do castigo futuro no Inferno.
A quarta e última etapa, aprendemos – e muitos ainda aprenderão – a elevar-nos sobre toda a ordem, a converter-nos em uma lei em nós mesmos. Conquistamo-nos a nós mesmos, aprendemos a viver voluntariamente, em harmonia com a Ordem da Natureza, que é a Lei de Deus. Nessa etapa chegamos a um ponto em que podemos agir bem sem pensar na recompensa ou no castigo, simplesmente porque “é justo agir retamente”. Amamos o bem por ser o bem e procuramos ordenar nossa conduta de acordo com este princípio, sem ter em conta seu benefício ou desgraça presente, ou os resultados dolorosos em algum tempo futuro.
Durante a nossa evolução passamos por todas essas etapas. Ainda hoje, todos nós, seres humanos, estamos distribuídos por elas. Alguns ainda permaneceram na primeira etapa, outros na segunda, na terceira e na quarta. Isso ocorre devido ao grau de evolução da pessoa.
Considerando a nossa história aqui na Terra, experimentamos pela primeira vez a primeira etapa há muito tempo atrás, numa Época chamada Lemúrica. Nessa Época fomos treinados a ver e gerar fenômenos físicos.
Práticas de como fazer acontecer e aparecer coisas nesse Mundo Físico. Isso porque estávamos muito focados nos Mundos espirituais, os Mundos invisíveis aos olhos físicos. Não víamos com clareza o Mundo Físico. Então tudo que fazíamos acontecer nesse Mundo nos impressionava.
Adorávamos o desconhecido por meio de qualquer peça constituída de matéria física. Buscávamos “ver” a Deus nesse Mundo Físico associando-O a alguma peça material. O fetichismo era necessário e próprio para essa etapa de evolução. Os seres humanos, naquela Época, que conseguiam praticar tais intentos eram os seres humanos mais adiantados.
Assim, tudo que se relaciona com fenômenos expressos nesse Mundo Físico, e obviamente o fetichismo, são reminiscências da nossa passagem na Época Lemúrica, há muito tempo atrás. Se hoje, alguém utiliza, é porque está revivendo a reminiscência daquela longínqua Época. Assim, os que praticam atualmente o fetichismo estão muito atrasados e como que vivendo ainda naquela longínqua Época.
Àqueles a quem o fenômeno no Mundo Físico ainda o impressiona, o faz temer e o fascina, possui fortes reminiscências daquela Época longínqua. Por meio do destino, terão lições que os ajudarão a se libertarem dessas reminiscências, a fim de poderem aprender lições mais avançadas.
Já na segunda etapa experimentamos nossas lições pela primeira vez, também há muito tempo, numa Época chamada Atlante. Mais especificamente, quando fizemos parte de uma das sete Raças que construímos lá, uma Raça conhecida como Semitas Originais. Então, fomos ensinados a esquecer dos fenômenos e fetiches – afinal, já estávamos suficientemente voltados para o Mundo Físico! Então, fomos ensinados a adorar um Deus invisível e a esperar recompensas em benefícios materiais ou castigos em aflições e dores. Os seres humanos, naquela Época, que conseguiam praticar tais intentos eram os seres humanos mais adiantados.
Temos muitos exemplos de ensinamentos dessa fase lendo o Antigo Testamento. Como passagem que mostra a nova orientação de adoração de vários deuses para adoração de um único Deus vemos no Livro do Êxodo 20:3: “Não terás outros deuses além de mim“.
E ainda, no Livro do Êxodo 20:5-6: “Eu sou um Deus ciumento que puno a iniquidade dos pais sobre os filhos até a terceira geração dos que me odeiam, mas que também ajo com amor até a milésima geração para aqueles que me amam e guardam os meus mandamentos“.
Com esse recado, fomos ensinados a: se seguíssemos o preceito de Deus, seríamos abençoados e cobertos de bens materiais, no entanto, se nos afastássemos dos caminhos orientados por Ele, sofreríamos todos os males. A escolha era nossa. Éramos livres para escolher, mas sofreríamos as consequências dos nossos próprios atos.
Nasciam as Religiões de Raça, a Religião do Espírito Santo, as Religiões de Jeová, que muito nos ensinaram, e o livre arbítrio, que muito nos ensina. Assim, os que ainda vivem olhando a Deus como um doador de todas as coisas e a esperar d’Ele benefícios materiais, agora e sempre; os que ainda vivem sacrificando por avareza, esperando que Deus lhe dê cem por um, ou para livrar-se do castigo imediato, como doenças, guerras, pragas, pobreza, estão atrasados e vivendo como ainda estivessem naquela longínqua Época.
Àqueles a quem de Deus deve-se esperar recompensas em benefícios materiais ou castigos em aflições e dores possuem fortes reminiscências daquela Época longínqua. Por meio do destino, terão lições que o ajudarão a se libertar dessas reminiscências a fim de poderem aprender lições mais atuais.
Já a terceira etapa, experimentamos, pela primeira vez, somente nessa Época conhecida como Época Ária. Mais especificamente com o advindo do Cristianismo Popular através da Religião Cristã, a Religião do Filho.
Por meio dele, foi nos dada a Doutrina Cristã: a vinda do Cristo, a Trindade, a Imaculada Concepção, a Crucificação, a Salvação, a Condenação Eterna, a Conversão, a Confissão e Absolvição, o Perdão dos Pecados, à espera da segunda vinda do Cristo.
Aqui somos ensinados a adorar a Deus com orações e a viver em boa vida, a cultivar a fé num Céu onde obteremos recompensa no futuro, e a abster-nos do mal, para que possamos nos livrar do castigo futuro do Inferno. Todo o Novo Testamento nos orienta para o Cristianismo. Indica como não devemos ser hipócritas, nem idólatras, nem buscar recompensas em benefícios materiais quando adoramos a Deus. Por exemplo, lemos no Evangelho Segundo São Mateus 6:1: “Evitai praticar a justiça diante dos homens para serdes vistos. Do contrário, não tereis recompensa do Pai, que estás nos céus“. Quando orarmos a Deus, temos a seguinte orientação, no Evangelho Segundo São Mateus 6:5-8: “E quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar em pé nas sinagogas e nas esquinas das praças para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a recompensa (a recompensa humana de serem cortejados). Mas quando rezares, entra no quarto, fecha a porta e reza ao Pai que vê no oculto. E o Pai, que vê no oculto, te dará a recompensa. E nas orações não faleis muitas palavras como os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por causa das muitas palavras. Não os imiteis; pois o Pai já sabe de vossas necessidades antes mesmo de pedirdes“.
Várias são as passagens em que Cristo nos ensina que não é mais para ofereceremos sacrifícios externos: Eis uma no Evangelho Segundo São Mateus: “Ide, pois, e aprendei o que significa: Misericórdia é que eu quero, e não sacrifício.” (Mt 9:13).
O modelo de oração que o Cristão deve fazer é dado no Evangelho Segundo São Mateus (Mt 6:7-13), conhecida como a Oração do Senhor ou “Pai Nosso”: “Nas vossas orações não useis de vãs repetições, como os gentios, porque imaginam que é pelo palavreado excessivo que serão ouvidos. Não sejais como eles, porque o vosso Pai sabe do que tendes necessidade antes de lho pedirdes. Portanto, orai desta maneira: ‘Pai nosso que estais nos céus, santificado seja o Vosso Nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a vossa Vontade, assim na Terra, como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje. Perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal’”.
Há nela sete orações distintas e separadas, uma para cada um dos sete princípios do Ser Humano: o Tríplice Corpo, o Tríplice Espírito e o para o veículo Mente. Nessa etapa, já não devemos mais nos preocupar em acumular bens aqui na Terra. Afinal, o trabalho que tínhamos que fazer aqui já bem o fizemos!
Conquistamos a Região Química do Mundo Físico, transformando-a num paraíso para a evolução. Agora, nosso propósito é somente fornecer condições para utilizarmos as oportunidades para construir o Corpo que utilizaremos na próxima fase da nossa evolução: o Corpo-Alma. Assim, todo trabalho que envolve a conquista dessa Região Química deve ser substituído por tarefas que ajudem na conquista da próxima Região, ou seja: a Região Etérica do Mundo Físico.
Por isso que no Evangelho Segundo São Mateus 6:19-21, lemos: “Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e o caruncho os corroem e onde os ladrões arrombam e roubam, mas ajuntai para vós tesouros nos céus, onde nem a traça, nem o caruncho corroem e onde os ladrões não arrombam nem roubam; pois onde está o teu tesouro aí estará também teu coração“.
E, complementando, no versículo 24: “Ninguém pode servir a dois senhores. Com efeito, ou odiará um e amará o outro, ou se apegará ao primeiro e desprezará o segundo. Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro“.
E para aqueles que vivem apenas se preocupando com as aparências, com o supérfluo, com o que um se veste ou outro deveria vestir, com o que os que estão ao seu redor fazem ou não fazem, ou com os prazeres da vida, quem sabe se lessem, compreendessem e vivessem o que o Evangelho Segundo São Mateus nos fala em 6:25-30 acordariam dessa ilusão e aproveitariam melhor a sua curta passagem nessa Terra:
“Por isso vos digo: não vos preocupeis com a vossa vida quanto ao que haveis de comer, nem com o vosso corpo quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que a roupa? Olhai as aves do céu: não semeiam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros. E, no entanto, vosso Pai celeste as alimenta. Ora, não valeis vós mais do que elas? Quem dentre vós, com as suas preocupações, pode acrescentar um só côvado à duração da sua vida? E com a roupa, por que andais preocupados? Aprendei dos lírios do campo, como crescem, e não trabalham e nem fiam. E, no entanto, eu vos asseguro que nem Salomão, em toda sua glória, se vestiu como um deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que existe hoje e amanhã será lançada ao forno, não fará ele muito mais por vós, homens fracos na fé?“.
Finalmente, a última etapa de educação e de percepção de Deus, nosso criador, é a etapa que representa o ponto em que podemos agir bem e sem pensar em recompensas ou em castigos, mas simplesmente porque “é justo agir retamente”.
Fazemos o bem pelo simples prazer de fazer o bem. Amamos o bem por ser o bem e procuramos ordenar nossa conduta de acordo com esse princípio, sem ter em conta seu benefício ou desgraça presente, ou os resultados dolorosos em algum tempo futuro.
Esta etapa experimentamos, pela primeira vez, também nessa Época conhecida como Época Ária. Mais especificamente com o advindo do Cristianismo Esotérico, trazido por Cristo, também pela Religião Cristã, a Religião do Filho.
Em particular, todos os Estudantes de todas as Escolas de Mistérios ocidentais – que preparam o Aspirante à vida superior para se desenvolver a fim de se candidatar às Iniciações Menores e as Iniciações Maiores ou Cristãs –, como o é a Fraternidade Rosacruz, estão procurando alcançar essa etapa. De modo geral, será alcançada na Sexta Época, a Nova Galileia, quando a Religião Cristã unificadora abrirá os corações dos seres humanos que estiverem aptos para isso.
Então, os seres humanos formarão novamente uma fraternidade, tendo Cristo como o Grande Guia Unificador.
A ideia de Raça será sobrepassada e a lei de unificação dada por Cristo no Novo Testamento e pouco compreendida: “Se alguém vem a mim e não odeia seu próprio pai e mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs e até a própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não carrega sua cruz e não vem após mim, não pode ser meu discípulo.” (Lc 14:26-27), que agora tentamos viver um pouquinho – muitas vezes a vivemos empurrados pelas lições do destino – será o nosso cotidiano e viveremos felizes, porque formaremos uma grande fraternidade, independente da raça, nação, família, posição social, sexo, simpatia, tamanho, aparência e de todas as ilusões impostas pela nossa Personalidade.
Por enquanto, tentemos colocar em prática os Ensinamentos Rosacruzes – conhecidos como Ensinamentos da Sabedoria Ocidental – que não são nada mais, nada menos do que os ensinamentos Cristãos e bíblicos trocados em miúdos, adiantando-nos para a próxima etapa a fim de sermos os vanguardeiros, os indicadores do caminho, os servidores para os nossos irmãos e para as nossas irmãs que vem atrás, no trabalho de ajudá-los a chegarem lá e, juntos, formarmos a Fraternidade Universal que é o grande destino coletivo de todos nós.
Enquanto isso, a fim de aproveitarmos cada pequeno momento de mais uma passagem aqui na Terra, retirando a quintessência de cada pequena lição que passamos, gravemos os versículos 33 a 34 do capítulo 6 do Evangelho Segundo São Mateus: “Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas. Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã se preocupará consigo mesmo. A cada dia basta o seu fardo.“.
Que as rosas floresçam em vossa cruz
A Filosofia Rosacruz é o Cristianismo Esotérico. Na literatura rosacruciana é fácil notar a preocupação em ressaltar a Fraternidade Rosacruz como a escola preparatória aos Mistérios (ou Iniciações) ocidentais, uma Escola preparatória para a Ordem Rosacruz. Isso não contradiz o sentido de universalização para que tende o Cristianismo Esotérico.
Tal como o Sol aparenta caminhar de leste a oeste, a luz da espiritualidade percorre o mesmo caminho, ao longo da evolução humana. Confúcio na China, Buda na Índia, Pitágoras na Grécia constituíram marcos da trajetória brilhante do Sol da espiritualidade, dirigindo a evolução cada vez mais para oeste.
Há dois mil anos surgiu o Cristo, trazendo um novo ideal, abrindo amplas perspectivas de progresso anímico para a humanidade. Sua influência, contudo, ainda predomina apenas no Ocidente. Mas, tempo virá em que os demais seres se universalizarão, libertando-se dos restritivos laços da tradição, dos costumes arraigados desde milênios, engendrados pelos Espíritos de Raça por meio das Religiões de Raça. Haverá, então, um consenso quanto à aceitação do Cristianismo, mormente do Cristianismo Esotérico.
No momento, todavia, por circunstâncias evolutivas, isso não ocorre. No Ocidente encontram-se renascidos os seres mais evoluídos da Terra, em sentido geral. Em outras existências já viveram no Oriente. Agora, renascem nessa parte do globo, a fim de receber ensinamentos correspondentes aos seus presentes estágios evolutivos.
Pode parecer, aos menos avisados, que o Oriente, em questão espiritual, esteja na vanguarda da evolução. Aliás, os orientais, valendo-se de uma imensa variedade de obras à venda por aí, deixam transparecer semelhante ideia. Puro engano. A maior parte dos Egos que ocupam os corpos orientais encontra-se na curva descendente desse Esquema de Evolução (cuja denominação rosacruciana para essa parte do Esquema de Evolução é chamada de Involução), prestes a atingir o nadir da materialidade, pelo que já passaram os ocidentais.
Os povos do Oriente não têm a mesma sensibilidade dos seres que vivem do outro lado do globo. Suas pretensas faculdades espirituais são, muitas vezes, um psiquismo negativo.
Os Ocidentais, subindo o arco evolutivo ascendente desse Esquema de Evolução (cuja denominação rosacruciana para essa parte do Esquema de Evolução é chamada de Evolução), estão alcançando condições cada vez mais espirituais: Corpos Densos mais refinados e Mentes mais dinâmicas.
E, como não poderia deixar de ser, os métodos de desenvolvimento, para um e outro povo, apresentam radicais diferenças, se bem tenham em comum alguns princípios doutrinários, como a Teoria do Renascimento, Lei de Consequência etc.
No método oriental, o neófito submete-se ao arbítrio do guru, mestre, instrutor, condicionando seu desenvolvimento à total aceitação do que lhe é ensinado. Trocando em miúdos: o neófito deve obedecer sem vacilar às determinações de seu “mestre”, transferindo-lhe toda a responsabilidade. Deve praticar certos exercícios e adotar determinadas posturas físicas para lograr domínio sobre seu corpo. Alguns desses exercícios – respiratórios, por sinal – são completamente inadequados à constituição do ser humano ocidental, podendo levá-lo, se praticados, a mais lamentável ruína física e mental.
O método indicado para o neófito do Ocidente respeita-lhe o acervo individual de experiências passadas que lhe formaram a natureza, a índole etc. Procura, desde o início, libertá-lo de toda influência externa (seja de outras pessoas, seja por meio de instrumentos físicos como: pêndulo, bola de cristal, tarô, cartas de baralho, runas, búzios e outros afins que estão sempre sendo apresentados com “nomes modernizados”), tornando-o confiante em si mesmo no mais alto grau. Propicia-lhe os meios de realização, deixando seu desenvolvimento na dependência exclusiva de sua iniciativa, do seus esforço e da sua perseverança.
Reconhecemos e respeitamos o valor do método oriental, porém, com uma importante ressalva: serve apenas e tão somente aos neófitos do Oriente, aos irmãos e irmãs que renascem naquela parte do globo terrestre.
É importante que saibamos distinguir, para nossa orientação e dos demais, os dois métodos de desenvolvimento. Como afirmou Max Heindel: “Buda pode ter sido a luz da Ásia, mas Cristo é a luz do mundo. Assim como a luz do Sol ofusca o brilho das mais radiantes estrelas, tempo chegará em que o verdadeiro Cristianismo, o Cristianismo Esotérico, ofuscará e anulará todas as demais Religiões, para inteiro benefício da humanidade”.
(Por Gilberto A V Silos – Editorial da Revista Serviço Rosacruz de janeiro/1976)
Há nove degraus definidos na Iniciação Cristã Mística, começando com o Batismo, que é introdutório. A Anunciação e a Imaculada Concepção precedem como temas de curso por razões que serão dadas posteriormente.
Vamos considerar, resumidamente, cada estágio separadamente, nesse glorioso processo de desenvolvimento espiritual, afinal a vida de Cristo, como está delineada nos Evangelhos, corresponde ao padrão cósmico para todos os processos que abrangem a evolução espiritual.
O primeiro grau é o Batismo. Só que quando dizemos Batismo, necessariamente, não estamos nos referindo ao Batismo físico, onde o candidato é aspergido ou imerso e onde ele faz certas promessas àquele que o batiza. O Batismo Místico pode ocorrer tanto em um deserto quanto facilmente em uma ilha, porque é um processo espiritual com o objetivo de atingir um propósito espiritual. Pode ocorrer a qualquer hora da noite ou do dia, no verão ou no inverno; assim, ele ocorre no momento em que o candidato sente, com suficiente intensidade, um intenso desejo, quase uma ansiedade, de conhecer a causa da angústia profunda, tristeza ou do arrependimento alheio e aliviá-la. Então, o Espírito é conduzido sob as águas da Atlântida, onde vê a condição primordial do amor fraternal e da afeição; onde percebe Deus como o grande Pai de Seus filhos, que estão ali envolvidos por Seu maravilhoso amor. E, pelo retorno consciente a esse Oceano de Amor, o candidato se torna tão completamente imbuído com o sentimento de natureza ou caráter semelhante, que o espírito de egoísmo é banido dele para sempre. É por causa dessa saturação com o Espírito Universal que ele, mais tarde, é capaz de dizer: “àquele que quer pleitear contigo, para tomar-te a túnica, deixa-lhe também a veste; e se alguém te obriga a andar uma milha, caminha com ele duas.” (Mt 5:40-41). Sentindo-se um com todos, o candidato nem mesmo considera o seu assassinato como maus-tratos, mas pode dizer: “Pai, perdoai-os”[1]. Eles são idênticos a si mesmo, que sofrem com sua ação; ele é tanto o agressor quanto a vítima. Esse é o verdadeiro Batismo Espiritual do Cristão Místico, e qualquer outro batismo que não produza esse sentimento fraterno universal não é digno de ter esse nome.
Ainda estamos na Era do Arco-Íris, sujeitos à sua lei, então podemos perceber que como o “Batismo” do Cristão Místico ocorre num momento de exaltação espiritual, esse deve ser necessariamente seguido por uma reação. A enorme magnitude da revelação o sobrepõe, e ele não pode percebê-la ou contê-la em seu veículo carnal, então, ele foge frequentemente de lugares onde há pessoas e se refugia na solidão, alegoricamente representada como um deserto. Ele fica tão arrebatado em sua sublime descoberta que, durante o tempo em que está em seu êxtase, ele vê o Tear da Vida, em que são construídos todos os corpos de todos os que vivem, do menor ao maior, do rato e do ser humano, do caçador e de sua presa, do guerreiro e de sua vítima. Mas, para ele, eles não estão separados e à parte, pois, também contempla o único divino halo dourado da luz da vida “que atravessa tudo e que a todos une.” (Lc 23:34). Mais ainda, ele ouve em cada um a nota-chave flamejante soando suas aspirações e expressando suas esperanças e seus temores, e ele percebe esse som composto de cores cromáticas como uma canção ou hino de louvor ou alegria mundial de Deus que se fez carne. A princípio, tudo isso está além de sua compreensão, a enorme magnitude da descoberta esconde isso dele, e não pode conceber o que vê e o que sente, pois não há palavras para descrevê-lo e nenhum conceito pode explicá-lo. Mas, aos poucos, se dá conta que está na própria Fonte da Vida, não mais contemplando-a, mas com o SENTIMENTO de cada pulsação dela, e com essa compreensão atinge o clímax de seu êxtase.
Pelos processos místicos do verdadeiro Batismo Espiritual, o Aspirante se torna tão completamente saturado com o Espírito Universal que, de fato, pelo sentimento e pela experiência, ele se torna um com tudo o que vive, o que se move e tem o seu ser, um com a pulsante Vida divina que surge em uma cadência rítmica, através do menor e do maior; e tendo captado a nota-chave da canção celestial, ele então é dotado de um poder de tremenda magnitude, que poderá ser usado para o bem ou para o mal. Devemos compreender e recordar que, embora a pólvora e a dinamite possam ser utilizada para fazer o bem na agricultura, quando usadas para explodir tocos de árvores que, de outra forma, exigiriam grande trabalho manual para serem extraídos, também podem ser usadas para fazer o mal, como na Primeira Guerra Mundial. Os poderes espirituais também podem ser usados para o bem ou para o mal, dependendo do motivo e do caráter de quem os exerce. Entretanto, aquele que passou com êxito pelo ritual do Batismo e, assim, adquiriu o poder espiritual é imediatamente tentado para que possa decidir definitivamente se ele ficará do lado do bem ou do mal. Nesse ponto, ele se tornará um futuro “Parsifal”, um “Cristo”, um “Herodes” ou um “Klingsor”, que combateu os Cavaleiros do Santo Graal com todos os poderes e recursos da Fraternidade das Trevas.
O segundo grau é a Tentação. Tão arrebatado fica o Cristão Místico em sua belíssima aventura, que as necessidades físicas são completamente esquecidas, enquanto durar o êxtase e, portanto, é natural que a sensação de fome seja sua primeira necessidade consciente ao retornar ao estado normal de consciência de vigília e, naturalmente, também chega a voz da tentação: “manda que estas pedras se transformem em pães.” (Mt 4:3).
Poucas passagens das Sagradas Escrituras são mais sombrias do que os versículos iniciais do Evangelho Segundo São João: “No princípio era o Verbo. . . e nada do que foi feito, foi feito sem Ele”. Um pequeno estudo da ciência do som nos familiariza com o fato de que som é vibração e que os diferentes sons moldarão a areia ou outros materiais leves em figuras de variadas formas. O Cristão Místico pode ignorar completamente esse fato, do ponto de vista científico, mas ele aprendeu na Fonte da Vida a cantar a Canção do Ser, que impulsiona de modo protetor e intimamente para uma criação tudo o que um mestre na arte musical deseja. Há uma nota-chave para a pedra mineral indigesta, porém, uma modificação irá transformá-la em ouro, com o que irá adquirir os meios de subsistência, e outra nota-chave peculiar ao reino vegetal a transformará em alimento, um fato conhecido por todos os ocultistas avançados que praticam legitimamente encantamentos para propósitos espirituais, porém, nunca por ganho material.
Mas o Cristão Místico, que acabou de emergir de seu Batismo na Fonte da Vida, imediatamente se contorce horrorizado com a sugestão de usar seu poder recém-descoberto para um propósito egoísta. Foi a própria qualidade altruística da alma que o conduziu às águas da consagração na Fonte da Vida, e ele preferiria sacrificar tudo, até a própria Vida, do que usar esse poder recém-descoberto para se poupar de um sofrimento doloroso. Ele não viu também a condição de profundo sofrimento por infortúnios, aflições e tristezas do mundo? E não sente isso em seu Grandioso Coração, com tal intensidade que a fome imediatamente desaparece e é esquecida? Ele pode, deseja e usa livremente esse maravilhoso poder para saciar os milhares que se reúnem para ouvi-lo, contudo, nunca para propósitos egoístas, pois, se assim o fizer, ele perturbaria o equilíbrio do mundo.
Entretanto, o Cristão Místico não raciocina assim. Conforme escrito acima, ele não tem nenhuma razão, pois, existe uma orientação muito mais segura, uma voz interior que sempre lhe fala, nos momentos em que se deve tomar uma decisão. “…Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus.” (Mt 4:4) – outro mistério. Não há nenhuma necessidade de partilhar o Pão terreno, quando se tem acesso à Fonte da Vida. Quanto mais nossos pensamentos estiverem centrados em Deus, menos procuraremos os chamados “prazeres da mesa”, e alimentando o nosso Corpo Denso com moderação e alimentos simples e selecionados, adquiriremos uma iluminação espiritual impossível àqueles que se deleitem a uma dieta excessiva de alimentos grosseiros que nutrem a natureza inferior. Alguns santos usaram o jejum e a flagelação como meio de crescimento da alma, mas esse é um método incorreto por razões explicadas em um artigo sobre “Jejum como um fator no crescimento anímico” publicado na Revista “Rays from the Rose Cross de dezembro de 1915”. Os Irmãos Maiores da humanidade, que compreendem a Lei e vivem de acordo com ela, utilizam os alimentos apenas em intervalos calculados durante o ano. A palavra de Deus é para eles um “pão vivo”. A mesma coisa é válida para o Cristão Místico e a tentação, ao invés de trabalhar para sua queda, o leva a alturas cada vez mais elevadas.
É uma força maravilhosa que está centrada no Cristão Místico no momento do seu Batismo, devido ao processo descendente e de concentração em si mesmo do Espírito Universal, e quando ele recusa durante o período de tentação, a profaná-lo em proveito próprio ou poder para si mesmo, ele tem que, necessariamente aspirar por outra direção, pois está impelido por um estímulo interior irresistível que não permitirá que ele se acomode numa vida sem a disposição para até se mover e inativa de oração e meditação. O poder de Deus está sobre ele para que pregue as boas novas à humanidade para ajudar e curar. Sabemos que uma lareira que está cheia, queimando lenha, não pode deixar de aquecer o ambiente ao redor; do mesmo modo o Cristão Místico não pode deixar de ajudar a irradiar a compaixão divina que transborda de seu Coração, não tendo dúvidas sobre a quem amar, a quem servir ou onde buscar a oportunidade para tal. Assim como o fogão cheio aceso irradia calor para todos os que estão dentro de sua esfera de radiação, da mesma forma o Cristão Místico sente o amor de Deus queimando em seu Coração e o irradia continuamente para todos com quem se põe em contato. Assim como a fogão aquecido atrai para si com seu calor aconchegante aqueles que sofrem com o frio físico, também os raios calorosos do amor do Cristão Místico são um ímã para todos aqueles corações que estejam gelados pela crueldade do mundo, ou seja, pela desumanidade do ser humano para com o ser humano.
Se o fogão estivesse vazio, mas dotado da faculdade da fala, poderia pregar para sempre o evangelho caloroso àqueles que se sentem fisicamente frios, mas, mesmo a melhor oratória jamais satisfaria seu público. Quando se está cheio de conteúdo e irradiando calor, o sermão se torna desnecessário. Todos se aproximarão e ficarão satisfeitos. Da mesma forma, um sermão sobre fraternidade feito por alguém que não tenha se banhado na “Fonte da Vida” parecerá sem valor real, sem substância e insincero. O verdadeiro Místico não precisa pregar. Cada ato seu, mesmo com sua presença silenciosa, é mais poderoso do que todos os mais profundos discursos elaborados por doutores em filosofia.
O terceiro grau é a Transfiguração. O verdadeiro Cristão Místico é facilmente distinguido. Ele jamais ocupa os seis dias da semana para se preparar para uma grande alocução para emocionar seus ouvintes no domingo, mas gasta, igualmente, todos os dias num humilde esforço de cumprir a vontade do Mestre, independentemente dos aplausos externos. Assim, inconscientemente, ele trabalha sempre em direção ao grande clímax que, na história dos mais nobres de todos os que percorreram esse caminho, é conhecido como “Transfiguração”.
A Transfiguração é um processo alquímico pelo qual o Corpo Denso, formado pela química dos processos fisiológicos, se converte na pedra viva, tal como é mencionado na Bíblia. Os alquimistas medievais, que buscavam a Pedra Filosofal, não estavam preocupados na transmutação de tais impurezas em ouro significativo, mas visavam o objetivo maior conforme narramos acima.
A umidade concentrada nas nuvens cai na terra em forma de chuva, quando suficientemente condensada e é novamente evaporada pelo calor do Sol em novas nuvens. Essa é a fórmula cósmica original.
O espírito também se condensa em matéria e se torna mineral, mas, embora seja cristalizado numa forma tão dura quanto a pedra, a vida ainda permanece, e pela alquimia da natureza, trabalhando por meio de outra corrente de vida, os constituintes minerais densos do solo são transmutados numa estrutura mais flexível no vegetal, que serve como alimento ao animal e ao ser humano. Essas substâncias se tornam corpos sencientes pela alquimia da assimilação. Quando notamos as mudanças na estrutura do corpo humano, evidenciadas pela comparação dos sãs (ou bushmen são membros de várias etnias de caçadores-coletores da África Austral, cujos territórios abrangem Botsuana, Namíbia, Angola, Zâmbia, Zimbábue e África do Sul), chineses, indianos, latinos, celtas e anglo-saxões, evidentemente está claro que o Corpo Denso do ser humano está, atualmente, passando por um processo de refinamento com a erradicação das substâncias mais rudimentares e grosseiras. Com o tempo, pela evolução, esse processo de espiritualização tornará nosso corpo radiante e transparente pela Luz que brilhará internamente, radiante como o rosto de Moisés, como o corpo de Buda e o de Cristo na Transfiguração. Presentemente, a luz do Espírito interno residente está efetivamente obscurecida por nosso Corpo Denso, mas podemos ter esperanças advindas da ciência da química. Não há nada na terra tão raro e precioso quanto o elemento químico rádio, o extrato luminoso do denso mineral negro chamado pechblenda; e nada há mais precioso e tão raro como o extrato do corpo humano, o Cristo radiante. Presentemente, estamos trabalhando para desenvolver o Cristo interno, mas quando o Cristo dentro de nós estiver plenamente desenvolvido, Ele brilhará através do corpo transparente como a Luz do Mundo.
É um fato anatômico, comumente conhecido, que a medula espinhal está dividida em três seções, através das quais os nervos motor, sensorial e simpático são controlados. Astrologicamente, são regidos por Marte, Mercúrio e a Lua, respectivamente, que são Hierarquias divinas que desempenham papel importante na evolução humana através dos sistemas nervosos citados. Entre os antigos alquimistas, esses eram designados pelos três elementos alquímicos: sal, enxofre e mercúrio. Entre eles, e acima deles, está colocado o Fogo Espiritual espinhal de Netuno. Ele ascende na coluna serpentina através da medula espinhal até os ventrículos do cérebro. Na grande maioria da humanidade, o Fogo Espiritual ainda é extremamente fraco. Porém, quando ocorre um despertar espiritual em alguém é como uma conversão genuína, ou melhor ainda, pelo Batismo do Cristão Místico, como uma queda constante e intensa do Espírito vindo dos céus, que é um fato real, intensifica o Fogo Espiritual espinhal numa extensão quase inacreditável e, imediatamente, inicia um processo de regeneração, em que as substâncias grosseiras do Tríplice Corpo do ser humano são gradualmente eliminadas, tornando os veículos mais permeáveis e prontamente adaptáveis aos impulsos espirituais. Quanto mais desenvolvido o processo, mais eficientes eles se tornam na “vinha do Mestre”.
O despertar espiritual que inicia esse processo de regeneração no Cristão Místico, que se purifica pela oração e pelo serviço, evidentemente, chega também para aqueles que buscam Deus por meio do conhecimento e do serviço, mas atua de forma diferente, o que é observado pelo investigador espiritual. No Cristão Místico, o Fogo Espiritual espinhal regenerador está concentrado, principalmente, no segmento lunar da medula espinhal, que governa os nervos simpáticos sob a regência de Jeová. Portanto, seu crescimento espiritual é alcançado pela fé, tão simples, infantil e inquestionável como nos dias da primitiva Atlântida, quando os seres humanos ainda não tinham Mentes. Assim, ele atrai a grande Luz da Deidade branca refletida por meio de Jeová, o Espírito Santo, e adquire toda a sabedoria do mundo, sem necessidade de trabalhar por ela intelectualmente. Isso, gradualmente, transmuta seu corpo na branca Pedra Filosofal, a Alma Diamante.
Por outro lado, aqueles cujas Mentes são fortes e insistentes em saber a razão do porquê de cada sentença e dogma, o Fogo Espinhal da regeneração atuará sobre os segmentos do vermelho Marte e do incolor Mercúrio, buscando infundir o desejo com a razão para purificar a antiga paixão primordial, para que se torne casta como a rosa e, assim, transmuta o corpo na Alma Rubi, a vermelha Pedra Filosofal, provada pelo Fogo, purificada, uma individualidade criativa em desenvolvimento.
Todos os que estão buscando o Caminho, seja pelo caminho do ocultista ou pelo do misticismo, estão tecendo o “Dourado Manto Nupcial” por esse trabalho por dentro e por fora. Em alguns, o ouro é extremamente pálido e em outros é profundamente vermelho. Mas, finalmente, quando o processo da Transfiguração tiver sido concluído, ou melhor, quando estiver próximo a isso, os extremos se fundirão e os corpos transfigurados terão uma cor equilibrada, pois o ocultista deve aprender a lição com profunda devoção, e o Cristão Místico deve aprender como adquirir conhecimento por seus próprios esforços, sem a necessidade de recorrer à fonte universal de toda a sabedoria.
Essa perspectiva nos fornece uma visão mais profunda da Transfiguração relatada nos Evangelhos. Devemos nos lembrar claramente que os veículos de Jesus foram transfigurados, temporariamente, pelo residente Espírito de Cristo. Mas, mesmo considerando a enorme potencialidade do Espírito de Cristo em efetuar a Transfiguração, é evidente que Jesus devia ser de um sublime caráter, sem igual. A Transfiguração como é vista na Memória da Natureza revela o Seu corpo com uma brancura deslumbrante, assim evidenciando a sua comunhão com o Pai, o Espírito Universal. Há uma grande diversidade em como tais resultados atualmente são alcançados, porém, no reino de Cristo, essas diferenças desaparecerão gradualmente, e uma cor uniforme, indicando tanto o conhecimento como a devoção, será alcançada por todos. Essa cor corresponderá à cor rosa, vista pelos ocultistas como o Sol Espiritual, o veículo do Pai. Quando isso for alcançado, a Transfiguração da humanidade estará completa. Então, seremos um com nosso Pai, e Seu reino terá chegado.
O quarto grau é a Última Ceia e o Lavapés. Lemos nos Evangelhos, que relatam a história da Iniciação Cristã Mística, como na noite quando Cristo compartilhou da experiência na Última Ceia com Seus Discípulos, foi mostrando que seu ministério estava terminando naquele momento, e como Ele se levantou da mesa, se cingiu com uma toalha e, em seguida, despejou água numa bacia e começou a lavar os pés de Seus Discípulos, um ato do mais humilde serviço, mas, motivado por uma importante consideração oculta.
Quando ascendemos na escala da evolução, comparativamente, poucos percebem que fazemos isso pisando, ferindo e até destruindo os corpos de nossos irmãos e imãs mais fracos, consciente ou inconscientemente, esmagando-os e usando-os como degraus para atingir nossos próprios objetivos. Essa afirmação é válida para todos os Reinos da natureza. Quando uma onda de vida é conduzida ao nadir da involução e encrustada na forma mineral, é imediatamente aproveitada por outra onda de vida ligeiramente superior, que recebe o desintegrante cristal mineral, adequando-o a seus próprios objetivos como cristaloide e assimila-o como parte de uma forma vegetal. Se não houvesse minerais desintegrados que pudessem ser aproveitados e transformados, a vida vegetal não seria possível. Da mesma maneira, as formas dos vegetais são absorvidas por várias classes de animais, quando são devoradas e trituradas até virar uma pasta e servidas de nutrição para esse reino superior. Se não houvesse plantas, os animais não existiriam e o mesmo princípio é válido na evolução espiritual, pois se não houvesse aspirantes no degrau mais baixo da escada do conhecimento em busca de instrução, não haveria necessidade de um professor. Todavia, existe uma diferença importantíssima. O professor cresce ao doar aos seus alunos e servindo-os. Ascende, dos ombros deles, um degrau mais alto na escada do conhecimento. Ele ascende elevando os demais, no entanto, tem uma dívida de gratidão para com eles, que é simbolicamente reconhecida e extinta com o Lavapés – um ato de serviço humilde com aqueles que o serviram.
Quando percebemos que a natureza, que é a expressão de Deus, está continuamente se esforçando ao máximo para criar e produzir, também devemos compreender que quem mate alguma coisa, mesmo que seja tão pequena e aparentemente insignificante, está frustrando e se opondo ao propósito de Deus. Isso se aplica particularmente ao Aspirante à vida superior e, para tanto, o Cristo exortou os Seus Discípulos a “serem prudentes como as serpentes, mas sem malícia como as pombas.” (Mt 10:16). Porém, não importa o quão sério e intenso é o nosso desejo de seguir o preceito de não ferir, não machucar ou não destruir, as nossas tendências e necessidades relacionadas com a constituição dos nossos Corpos e veículos nos obrigam a matar em determinados momentos de nossas vidas, e não são somente nos grandes feitos que, constantemente, cometemos assassinatos. Era comparativamente fácil para a alma que busca o desenvolvimento espiritual, simbolizada por Parsifal, quebrar o arco com o qual ele havia atirado uma flecha no cisne dos cavaleiros do Graal, quando lhe explicaram do erro que ele havia cometido. A partir daquele momento, Parsifal estava comprometido com uma vida sem ferir, machucar ou destruir, no que diz respeito aos grandes feitos. Todos os Aspirantes sinceros concordam piamente com ele nesse quesito, uma vez que tenham compreendido quão subversiva é, para o crescimento da alma, essa prática de compartilhar alimentos que requerem a morte de um animal.
Contudo, mesmo a pessoa mais nobre e gentil entre a humanidade está, em cada respiração, envenenando aqueles ao seu redor e, que por sua vez, está sendo envenenada por eles, uma vez que todos exalam o dióxido de carbono e, por isso, somos uma ameaça uns aos outros. Não se trata de uma ideia improvável, porém, é um perigo real que se tornará muito mais manifesto no decorrer do tempo, quando a humanidade se tornar mais sensível.
O mesmo princípio é demonstrado no antigo Templo de Mistérios Atlante, o Tabernáculo no Deserto, onde encontramos um odor nauseante e uma fumaça sufocante subindo do Altar dos Sacrifícios, onde os corpos carregados de veneno das vítimas involuntariamente sacrificadas para pagar os pecados foram consumidos, e onde a luz brilhava fracamente através da fumaça envolvente. Isso nós podemos contrastar com a luz clara e brilhante emanada do Candelabro de Sete Braços, alimentado com o puro azeite extraído a partir da planta casta e onde o incenso, simbolizado pelo serviço voluntário de sacerdotes devotados, elevava-se ao céu como um suave aroma. Como já dito em outras ocasiões, isso era agradável à Divindade, enquanto o sangue das vítimas relutantes, os bovinos e os caprinos, eram uma fonte de dor e pesar para Deus, que se deleita mais com o sacrifício da oração, que auxilia o devoto e a ninguém prejudica.
Tem sido explicitamente declarado sobre o fato de alguns dos santos exalarem um suave odor e, como muitas vezes tivemos a oportunidade de dizer, essa não é uma mera história fantasiosa – é um fato oculto. A grande maioria da humanidade inala, durante toda a vida aqui, o oxigênio vitalizante contido na atmosfera circundante. A cada expiração exalamos uma carga de dióxido de carbono que é um veneno mortal e que, certamente e com o tempo, contaminaria todo o ar, se a planta pura e casta não inalasse esse veneno, usando parte dele para construir corpos que, algumas vezes, permanecem por séculos ou até milênios, como exemplificado nas sequoias da Califórnia, devolvendo-nos o restante em forma do oxigênio puro que necessitamos para a nossa vida aqui. Esses corpos carboníferos das plantas, por processos contínuos da natureza, se tornaram mineralizados no passado e se transformaram nas pedras, ao invés de se desintegrarem. Hoje nós os encontramos como carvão, a Pedra Filosofal perecível elaborada por meios naturais no laboratório da natureza. Mas, a Pedra Filosofal também pode ser construída artificialmente pelo ser humano a partir do seu próprio corpo. Isso deve ser compreendido definitivamente: a Pedra Filosofal não é elaborada num laboratório químico externo, mas que o próprio corpo é o laboratório do Espírito, que contém todos os elementos necessários para produzir esse Elixir da Vida, e que a Pedra Filosofal não está fora do corpo, mas ele é o próprio alquimista que se torna a Pedra Filosofal. O sal, o enxofre e o mercúrio, emblematicamente contidos nos três segmentos da coluna espinhal e que controlam os nervos simpático, motor e sensorial são acionados pelo Fogo Espiritual Netuniano espinhal, e constituem os elementos essenciais no processo alquímico.
Não há necessidade alguma de argumentos para demostrar que a indulgência com a sensualidade, a brutalidade e a bestialidade tornam o corpo não refinado em gostos, maneiras e linguagem. Por outro lado, a devoção à Deidade, uma atitude constante de prece, um sentimento de amor e compaixão por tudo que vive e se move, pensamentos de amor enviados a todos os seres e aqueles, inevitavelmente, recebidos em troca, invariavelmente todos têm o efeito de purificar e espiritualizar a nossa natureza. Referimo-nos a uma pessoa desse tipo como respirando ou irradiando amor, uma expressão que descreve muito mais próximo o fato do que a maioria das pessoas imaginam, pois, é uma questão real de se observar que a quantidade de veneno contida na respiração de um indivíduo está na proporção exata do mal existente na sua natureza, na sua vida interior e nos pensamentos que emite. A ioga hindu consiste em uma prática de encerrar o candidato a um certo grau de Iniciação em uma caverna que tem o tamanho não muito maior do que o corpo dele. Lá deverá viver por várias semanas respirando, repetidamente, o mesmo ar para demonstrar na prática que ele cessou de exalar o mortífero dióxido de carbono e que, assim, está começando a construir seu corpo. Então, esse não é um corpo da mesma natureza da planta, embora seja puro e casto, mas é um corpo celestial, como aquele de que São Paulo se refere na Segunda Epístola aos Coríntios, capítulo 5, um corpo que se torna imortal como um diamante ou uma pedra de rubi. Não é duro e inflexível como o mineral; é um diamante macio (ou rubi) e por cada ato executado na natureza, o Cristão Místico está construindo esse corpo, embora provavelmente ele esteja inconsciente disso por um longo tempo. Quando ele atinge esse grau de Santidade, não é necessário para ele executar o ritual do Lavapés, como o é para o aluno que ainda não construiu tal corpo e que o auxilia a se elevar, porém, terá sempre o sentimento de gratidão, simbolizado por aquele ato, para com aqueles a quem teve o privilégio de atrair para si como Discípulos e a quem pode dar o pão vivo que nutre até à imortalidade.
Os Estudantes perceberão que isso é parte do processo que culmina na Transfiguração, mas também devem perceber que na Iniciação Cristã Mística não há graus fixados e definidos. O candidato vê o Cristo como o autor e finalizador da sua fé, procurando imitá-Lo e seguir os Seus passos em todos os momentos de sua existência. Assim, os vários estágios que estamos considerando são alcançados por processos de crescimento da alma que, simultaneamente, o levam a aspectos mais elevados de todas essas etapas que agora estamos analisando. A esse respeito, a Iniciação Cristã Mística difere radicalmente dos processos em voga dos Rosacruzes, em que a compreensão por parte do candidato do que está para acontecer é considerada indispensável. Mas chega o momento em que o Cristão Místico precisa percorrer o caminho que tem pela frente, e é isso que constitui o Getsemani.
O quinto grau é o Getsemani. Na narrativa do Evangelho sobre o Getsemani (Mc 14:26-38) temos uma das mais tristes e difíceis experiências do Cristão Místico, delineada de forma espiritual. Durante toda a sua experiência anterior, ele vagueou cegamente, isto é, cego para o fato de que ele está no caminho, que se consistentemente seguido, o conduzirá a um objetivo definido, embora também se sinta intensamente prevenido ao menor suspiro de cada alma sofredora. Ele concentrou todos os seus esforços em aliviar a dor física, moral ou mental de cada alma sofredora. Ele serviu a cada alma sofredora com toda a sua capacidade e ensinou a cada uma o evangelho do amor: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Lc 1:27)”; e ele foi sempre um exemplo vivo para todos por meio da sua prática. Por isso, atraiu para si um pequeno grupo de amigos, aos quais amou com a mais terna afeição. A eles também ensinou e serviu sem restrições, até mesmo no lava-pés. Entretanto, durante esse período de serviço, ele ficou tão exaurido com as aflições e tristezas profundas do mundo, que ele de fato se tornou um Homem das Aflições e Tristezas Profundas e familiarizado tanto com a aflição, mais do que qualquer outra pessoa.
Essa é uma experiência muito definida do Cristão Místico, e é o fator mais importante para intensificar o seu progresso espiritual. Enquanto nos sentirmos entediados quando as pessoas que vêm até nós e nos contam seus problemas, enquanto fugirmos delas e procurarmos escapar de ouvir suas histórias de tristezas, arrependimentos e angústias, estaremos bem longe do Caminho. Mesmo quando as ouvimos e nos disciplinamos para não demonstrar que estamos entediados, mesmo quando verbalizamos algumas poucas palavras simpáticas que chegam ao ouvido do sofredor, nada ganharemos em crescimento espiritual. É absolutamente essencial para o Cristão Místico que se torne tão sintonizado com os sofrimentos, as aflições e as tristezas do mundo, que sinta cada ataque agudo de dor ou ansiedade extrema como se fosse o seu próprio e o guarde dentro do seu Coração.
O Cristão Místico deve beber abundantemente do cálice da angústia e da tristeza profundas, ele deve bebê-lo até a última gota, de modo que pela dor cumulativa que ameaça explodir seu Coração, ele possa se derramar sem reservas e sem restrições para curar e auxiliar o mundo. Então Getsemani, o Horto da Aflição, se torna um lugar familiar para ele, regado com as lágrimas nascidas das angústias, das tristezas e dos sofrimentos da humanidade.
Porém, durante todos os seus anos de autossacrifício, aquele pequeno grupo de amigos tinha sido seu consolo. Ele já havia aprendido a renunciar aos laços de sangue. “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? Aqueles que fazem a vontade de meu Pai.” (Mt 12:48-50). Embora nenhum verdadeiro Cristão negligencie suas obrigações sociais ou negue o amor a seus familiares, os laços espirituais são, entretanto, os mais fortes, e por meio deles vem a coroa das aflições e, através da deserção de seus amigos espirituais ele aprende a beber até a última gota do cálice das angústias e das tristezas profundas. Ele não os culpa pela deserção deles, mas desculpa-os com as palavras: “O Espírito realmente está pronto, mas a carne é fraca.” (Mt 26:41) pois sabe, por experiência própria, como isso é verdade. Mas ele descobre que na suprema angústia e tristeza profundas eles não podem confortá-lo e, portanto, se volta para a única fonte de conforto, o Pai Celestial. Ele chegou ao ponto em que a resistência humana parece ter atingido o seu limite e ora para ser poupado de uma provação maior, porém, com uma confiança cega no Pai, ele se curva à Sua vontade, oferecendo-se inteiramente, sem reservas.
Esse é o momento da realização. Tendo bebido completamente do cálice da angústia e da tristeza profundas até a última gota e sendo abandonado por todos, ele experimenta o temporário temor terrível de estar absolutamente só, sendo essa uma das piores experiências, senão a mais terrível, que pode ocorrer na vida de um ser humano. O mundo todo parece envolvido em trevas. Ele sabe que, apesar de todo o bem que fez ou tentou fazer, os poderes das trevas estão tentando dizimá-lo. Ele sabe que a turba, que alguns dias antes o havia acenado com “Hosana”, amanhã estará pronta para gritar “Crucifica-o! Crucifica-o!”. Seus familiares e, agora, seus poucos amigos desapareceram e, também, estavam prontos a negá-lo.
Entretanto, quando nos encontramos no pináculo da aflição, é que estamos mais próximos do trono da graça. A agonia, a aflição, a tristeza profunda e o sofrimento acolhidos no peito do Cristão Místico são mais valiosos e preciosos do que todo o dinheiro do mundo, pois quando ele perde toda a companhia humana e se entrega sem reservas ao Pai, uma transmutação ocorrerá: a aflição se transforma em compaixão, o único poder no mundo capaz de fortalecer o ser humano que está prestes a subir até o Gólgota e dar sua vida pela humanidade, não como um sacrifício mortal, mas como um sacrifício vivente, elevando-se na medida em que eleva os outros.
O sexto grau é o Estigmata ou os Estigmas. Pela união da Mente e do Coração, o Cristão Místico está pronto para a próxima etapa, que envolve o desenvolvimento dos estigmas, uma preparação necessária para a morte e ressurreição místicas. A narrativa do Evangelho relata a história dos estigmas nas seguintes palavras, desenrolando-se a cena de abertura no Horto do Getsemani, que podemos encontrar nos Evangelhos.
Temos aqui o relato de como os estigmas ou as punções foram produzidas no Herói dos Evangelhos, embora as suas localizações não estejam descritas corretamente, e o processo é representado em uma forma narrativa, diferindo amplamente da maneira como essas coisas realmente acontecem. Mas, nós estamos diante de um dos Mistérios que devem permanecer selados para o profano, embora os fatos místicos subsequentes sejam tão claros como o é a luz do dia para aqueles que os conhecem. O corpo físico não é de forma alguma o ser humano real. Tangível, sólido e pulsante de vida como o vemos é, na verdade, a parte mais morta do ser humano, cristalizado dentro de uma matriz de veículos mais sutis que são invisíveis à nossa visão física atual. Se colocarmos uma bacia de água numa temperatura suficientemente baixa, a água logo se converte em gelo, e quando examinamos esse gelo, descobrimos que ele é feito de inúmeros pequenos cristais com variadas formas geométricas e linhas de demarcação. Existem linhas etéricas de forças que estavam presentes na água antes de congelar. Assim como a água congelou e modelou ao longo dessas linhas, nossos corpos físicos se congelaram e se solidificaram ao longo das linhas etéricas de força do nosso Corpo Vital invisível, que está, portanto, no curso normal da vida inextricavelmente ligado ao Corpo Denso, ele esteja desperto ou adormecido, até que a morte traga a dissolução dessa ligação. Mas como a Iniciação implica na libertação do ser humano verdadeiro do corpo do pecado e da morte para que ele possa deslizar para as esferas mais sutis à vontade e retornar ao corpo quando desejar, é óbvio que antes que isso possa ser alcançado, antes que o objetivo da Iniciação se realize, o vigoroso entrelaçamento entre o corpo físico e o veículo etérico, que é acentuadamente mais forte e rígido na humanidade comum, deve ser desfeito. Como essa união é mais forte nas palmas das mãos, nos arcos dos pés e na cabeça, as escolas ocultas concentram seus esforços para romper a conexão em tais pontos e produzir os estigmas invisivelmente.
O Cristão Místico necessita do conhecimento de como realizar o ato sem produzir uma manifestação exterior. Os estigmas se desenvolvem nele espontaneamente pela constante contemplação de Cristo e por seus esforços incessantes em imitá-Lo em todas os momentos. Esses estigmas exteriores não compreendem somente as chagas nas mãos, nos pés e aquela no lado do corpo, mas também as marcadas na cabeça pela coroa de espinhos e pela flagelação. O exemplo mais notável de estigmatização é aquele que ocorreu, em 1224, a São Francisco de Assis na montanha de Alverno. Absorto na contemplação da Paixão, viu um Serafim se aproximar, resplandecente em fogo e tendo entre as asas a figura do Crucificado. São Francisco percebeu que nas mãos, nos pés e no lado ele recebeu externamente as marcas da crucificação. Essas marcas permaneceram durante os dois anos até a sua morte, e muitas testemunhas oculares dizem que as viram, incluindo o Papa Alexandre IV.
Os Dominicanos polemizaram o acontecimento, no entanto; fizeram a mesma reclamação de credibilidade em relação a Santa Catarina de Siena, cujos estigmas foram explicados, por ela mesma, como tendo se tornado invisíveis para os outros. Os Franciscanos apelaram a Sisto IV para que proibisse a apresentação em público dos estigmas de Santa Catarina de Siena. Ainda mais, o acontecimento dos estigmas consta no Gabinete do Breviário, e Benedito XIII concedeu aos Dominicanos uma Festa em homenagem à Santa Catarina de Siena para comemorar esse fato. Outras pessoas, especialmente mulheres, que têm Corpo Vital positivo, afirmam ter recebido alguns ou todos os estigmas. A última a ser canonizada pela Igreja Católica, por essa razão, foi Santa Veronica Giuliani (1831). Há casos mais recentes como os de Anna Catherine Emmerich, que se tornou uma freira em Agnetenberg; A “Extática” Maria Von Mörl de Kaltern; Anne-Louise Lateau, cujos estigmas sangravam todas as sextas-feiras; e a Sra. Girling da comunidade Newport Shaker.
No entanto, sejam os estigmas visíveis ou invisíveis, o efeito é o mesmo. As correntes espirituais geradas no Corpo Vital da pessoa são tão poderosas que é como se o corpo fosse flagelado por elas, especialmente, na região da cabeça, em que elas produzem uma sensação essencialmente similar à da coroa de espinhos. Com isso, finalmente desperta na pessoa uma plena compreensão de que o corpo físico é uma cruz que ela suporta, uma prisão e não o ser humano real. Isso o conduz ao próximo passo da sua Iniciação, a saber, a crucificação, que é experimentada pelo desenvolvimento de outros centros em suas mãos e em seus pés, pontos em que o Corpo Vital é, então, separado do Corpo Denso.
O sétimo grau é a Crucificação. Consta, na narração retirada do Evangelho, que Pilatos colocou um letreiro na cruz de Cristo com as palavras: “Jesus Nazarenus Rex Judaeorum” e isso é traduzido, na versão mais utilizada da Bíblia, como “Jesus de Nazaré, o Rei dos Judeus”. Mas as iniciais INRI colocadas na cruz representam os nomes dos quatro elementos em hebraico: Iam, água; Nour, fogo; Ruach, espírito ou ar vital; e Iabeshah, terra. Essa é a chave oculta do mistério da crucificação, pois simboliza, em primeiro lugar, o sal, enxofre, mercúrio e azoth que foram usados pelos antigos alquimistas para fazer a Pedra Filosofal, o solvente universal, o elixir-vitae. Os dois “Is” (Iam e Iabeshah) representam a água lunar salina: a) em um estado fluídico contendo sal em solução e b) o extrato coagulado dessa água, o “sal da terra”; em outras palavras, os veículos fluídicos mais sutis do ser humano e seu Corpo Denso, respectivamente. N (Nour) representa, em hebraico, o fogo e os elementos combustíveis, entre os principais o enxofre e o fósforo tão necessários à oxidação, sem os quais o sangue quente seria uma impossibilidade. O Ego sob essa condição não poderia funcionar no corpo, nem o pensamento poderia encontrar uma expressão material. R (Ruach) é o equivalente a espírito em hebraico, isto é, o Azoth, funcionando na Mente mercurial. Assim, as quatro letras -INRI – colocadas sobre a cruz de Cristo, de acordo com o relato na história do Evangelho, representam o ser humano composto, o Pensador, no ponto de seu desenvolvimento espiritual em que se prepara para a libertação da cruz de seu veículo denso.
Prosseguindo na mesma linha de elucidação, podemos notar que INRI é o símbolo do candidato crucificado pelas seguintes razões adicionais:
Iam é a palavra hebraica que significa água, o fluídico ou elemento lunar, que constitui a parte principal do corpo humano (cerca de 57 por cento). Essa palavra também é o símbolo dos veículos fluídicos mais sutis do desejo e da emoção.
Nour, a palavra hebraica que significa fogo, é uma representação simbólica do sangue vermelho quente, carregado do ferro marcial, do fogo e da energia de Marte, que é visto pelo ocultista circulando como um gás nas veias e artérias do corpo humano, infundindo-lhe a energia e o desejo para agir, para se esforçar, sem os quais não poderia haver progresso, nem material nem espiritual. Também representa o enxofre e o fósforo necessários para a manifestação material do pensamento, conforme já mencionado. Ruach, a palavra hebraica para indicar espírito ou ar vital é um excelente símbolo do Ego revestido pela Mente mercurial, que torna o ser humano em um indivíduo e o capacita a controlar e dirigir seus veículos corporais e suas atividades de uma maneira racional.
Iabeshah é a palavra hebraica para terra, representando a parte carnal sólida que constitui o corpo terrestre cruciforme, cristalizado dentro dos veículos mais sutis no nascimento e separado deles ao morrer, no curso normal das coisas, ou em um acontecimento extraordinário, pelo qual aprendemos a morrer misticamente e ascender às gloriosas esferas superiores, durante um curto período.
Esse estágio do desenvolvimento espiritual do Cristão Místico envolve, portanto, uma reversão da força criadora de seu curso normal para baixo, onde é desperdiçada na geração para satisfazer as paixões, para um curso ascendente através da medula espinhal tripartida, cujos três segmentos são regidos pela Lua, por Marte e Mercúrio, respectivamente, e onde o raio de Netuno acende o fogo espiritual espinhal regenerativo. Essa ascensão provoca o início da vibração do Corpo Pituitário e da Glândula Pineal, abrindo a visão espiritual; e atingindo o seio frontal, ele inicia a coroa de espinhos latejando de dor, enquanto o vínculo com o corpo físico é queimado pelo Fogo Espiritual sagrado, que desperta esse centro de seu sono de letargia, para uma vida ritmicamente vibrante e pulsante que se estende para os outros centros na estrela estigmatizada de cinco pontas. Esses centros também são vitalizados, e todo o veículo se torna brilhante com uma glória dourada. Então, com um movimento final de torção, o grande vórtice do Corpo de Desejos, localizado no fígado, é liberado e a energia marciana contida nesse veículo impulsiona para cima o veículo sideral (assim chamado, porque os estigmas na cabeça, nas mãos e nos pés estão localizados nas mesmas posições relativas entre si que as pontas de uma estrela de cinco pontas), que ascende através do crânio (Gólgota), enquanto o Cristão crucificado emite seu grito triunfante, “Consummatum est” (está consumado), e desliza para as esferas mais sutis ao encontro de Jesus, cuja vida ele imitou com pleno êxito e de quem, desde então, ele é inseparável. Ele é seu Mestre e seu guia para o Reino de Cristo, onde todos estaremos unidos em um só corpo para aprender e praticar a Religião do Pai, para quem o Reino acabará revertendo, para que Ele possa ser Tudo em Todos.
O oitavo grau é a Ressurreição. Estudamos na Bíblia que o Corpo de Cristo ficou na tumba por toda a sexta-feira, durante todo o sábado e uma parte do domingo. Deste modo, delinearam-se os “três dias místicos” da grande fórmula iniciadora, segundo o qual, o Discípulo é anunciado como renascido, ou ressuscitado para uma nova vida, ou vida superior, o grau mais elevado de consciência e poder espiritual.
Este sublime capítulo do Evangelho de São João pode ser mais bem denominado como a exaltação do feminino que aponta para o futuro, quando o grande trabalho estará completamente realizado.
Saulo de Tarso e Maria Madalena podem ser considerados como exemplos idênticos no que se refere ao poder de transmutação que reside na consciência Crística. São João, entre os Discípulos, representa o poder feminino completo e desabrochado, misticamente indicado na gentileza e beleza de seu semblante. Tais poderes fizeram-no o Discípulo mais espiritualizado de todos, como o Discípulo mais amado do Mestre e, foi natural o fato de ele ter sido o primeiro a compreender e aceitar a verdade sobre a Ressurreição.
Toda a humanidade espera por este evento, a Ressurreição, que é a culminação da evolução na Terra. Para o neófito, a Ressurreição para os reinos elevados significa o poder de funcionar, conscientemente, fora do Corpo Denso, sem a presença da morte física. Todo Aspirante vitorioso, em que se produz a Ressurreição, ouve a proclamação do Anjo do Senhor (Lei Espiritual): “Ele não está aqui, pois ressuscitou” (Mt 28:6) (Mc 16:6) (Lc 24:6).
Tal como São Paulo disse, verdadeiramente: “Tu és o herdeiro e todos somos Seus co-herdeiros” (Rm 8:17). Mas a mais abençoada de todas as suas promessas é essa: “Não apenas essas coisas, mas coisas ainda maiores do que estas vocês poderão fazer” (Jo 14:12).
Durante a experiência da Morte Mística, o Cristão Místico se conscientiza das ilusões da matéria e das limitações da vida finita. A consciência da Ressurreição produz a comprovação da unidade de toda a vida em Deus. A pedra da separação foi removida. Por isso, quem passou por essa sublime experiência sabe que nenhum dano pode afetar a uma parte sem ferir o todo, e que nada bom pode suceder a alguém sem que, ao mesmo tempo, beneficie a todos.
Quem chega a conhecer a glória da Ressurreição não pode mais ferir e nem matar, nem sequer a seus irmãos menores do reino animal, posto que eles são expressões viventes da mesma vida que vive e se move e tem seu ser no ser humano. Com a consciência da Ressurreição a paixão do Corpo de Desejos não regenerado se converte na compaixão do espírito, que tudo abarca. O recém-nascido é banhado na dourada refulgência do Cristo Ressuscitado, e se faz um com Ele, na comprovação de que a morte se converteu na vitória da vida eterna.
A meditação sobre a experiência transcendental da Ressurreição proporciona uma compreensão e reverência maiores pelo significado interno daquela saudação que os Cristãos esotéricos se dirigiam, durante a radiação do amanhecer da Páscoa, à luz de sua própria iluminação interior: “Cristo é nossa Luz”.
O nono grau é a Ascensão. O Cristão Místico sabe que o Jardim da Aflição e da Crucificação deve sempre preceder a jubilosa hora do amanhecer da Ressurreição e a branca glória do dia da Ascensão.
Estudamos na Bíblia que Cristo disse: “Todo o poder é dado para Mim no Céu e na Terra”(Mt 28:18), foram as palavras da Sua saudação aos seus Discípulos quando Ele estava no cenáculo superior sagrado, após a Ressurreição. Isto significa que por meio do Seu sacrifício no Calvário, Ele agora tinha se tornado o verdadeiro Senhor e Espírito Planetário da Terra.
O Cristianismo Esotérico ensina que o Gólgota não foi o fim. Na verdade, foi o início do sacrifício redentor anual de Cristo para todo o nosso Planeta.
Durante o intervalo sagrado que constitui os “quarenta dias” místicos entre a Ressurreição e a Ascensão, Cristo se ocupou de muitas obras relacionadas não somente com a raça humana, mas com todas as ondas de vida que vivem na Terra. Este trabalho incluiu as várias raças e Espíritos-Grupo que são os guias das várias ondas de vida em evolução. Para cada um, Ele deu um novo ímpeto de altruísmo e unidade, e Ele também acelerou o tom vibratório de cada um, que vibra no padrão cósmico ou arquétipo. Na realidade, com Sua vinda, toda a Terra canta uma nova canção.
“Vão para a Galileia e Eu encontrarei vocês lá”(Mt 28:16). Cada aparição aos Discípulos sustenta um significado profundo e uma promessa de maiores poderes espirituais.
“E, levantando as suas mãos, os abençoou, e quando Ele os abençoou, Ele estava à frente deles e foi levado para o céu”(At 1:10).
Na “ressurreição dos mortos”, a cerimônia mística ensina que a morte não existe, e pela “Ascensão” ensina-se que a vida eterna é a herança do Iniciado. “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Irei preparar um lugar para vocês” (Jo 14:2).
Na Ascensão, o Cristo abriu o caminho, deste modo, qualquer pessoa pode ascender com Ele e compartilhar a elevada comunhão dos reinos espirituais.
Na data de 16-7-69, às 10h32 (hora de Brasília), a cosmonave Apolo 11 subiu do Cabo Kennedy com destino à Lua, levando os astronautas americanos na mais perigosa conquista já tentada pelo ser humano. Após dar uma volta em torno da Terra, a Apolo 11 arrancará em direção à Lua a uma velocidade de 40.000 km/h que à libertará do campo de atração terrestre. O trem espacial entrará em órbita lunar na madrugada do dia 20, domingo. O pouso na Lua está previsto para as 17h21. O local será o “Mar da Tranquilidade”. Dia 21, Armstrong e Aldrin despressurizam a cabina do módulo e abrem a porta. Armstrong sai da nave e começa a descer a escada. Puxa um anel do exterior do módulo abrindo uma escotilha de onde uma câmera de televisão filma a superfície da Lua e os últimos degrau da escada. Armstrong pisa na superfície lunar. Aldrin começa, também, a descer a escada. Os dois recolhem material da superfície lunar. Colocam aparelhos científicos na superfície. Retornam. Às 14h55 ligam o motor de subida do módulo. As 15h02 entram em órbita lunar. As 22h25 abandonam a órbita lunar. Dia 24, às 13h37, entram na atmosfera terrestre sobre o Pacífico Sul. As 13h51 descem, submetendo-se os astronautas ao período de quarentena que terminará em 12 de agosto.
Como veem, tudo matematicamente previsto. A resenha acima não mostra todos os pormenores do programa. Admirável realização da ciência moderna. Tudo isso havia sido previsto por Max Heindel, segundo se pode ver por seus livros, escritos nos inícios deste século.
É o impulso de Aquário, o Signo de Ar, onde estamos sob a Órbita de Influência, por meio do movimento de Precessão dos Equinócios. Embora o pleno desenvolvimento ocorra quando, de fato, o Sol entrar em Aquário por Precessão dos Equinócios, a influência aquariana já se iniciou com os inventos relacionados com o ar (telégrafo, telégrafo sem fios, rádio, televisão, aviação, radar, utilização do vapor e dos raios solares, naves espaciais, etc.), num ritmo galopante e mostrando o desencadeamento de uma nova era para a qual devemos estar preparados.
Tudo muito bem no lado material. Mas a matéria é consequência. Matéria é espírito cristalizado. A causa está nos planos espirituais. A influência de Aquário tem sua maior importância nos planos mais sutis, conforme nos mostram os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental.
Urano rege o Éter que, embora de natureza física mais refinada, não foi conquistado pela ciência material, que não pode confiná-lo, em seus atuais aparelhos, para estudo. Sabe apenas que ele é responsável como transmissor de vibrações. Mas, a Filosofia Rosacruz, mercê das capacidades supra-humanas do Iniciado Max Heindel (seu fundador e expositor) revela pormenores e funções, cujo conhecimento e influência em nossa vida merecem de todos um estudo interessado. Realmente, nesse conhecimento e sua aplicação fundamentam-se as condições futuras que hoje devemos edificar, sob risco de sofrermos as consequências psíquicas dos desafios que se anunciam. O Éter não é, como ainda supõe a ciência, uniforme, ele pode ser estudado em quatro densidades vibratórias diversas. Cada uma delas recebeu denominação especial, consoante suas funções. Do mais denso ao mais refinado, são: Éter Químico, Éter de Vida, Éter Luminoso e Éter Refletor.
O impulso evolutivo promovido por Cristo, do interior de nosso globo terrestre, realiza-se pelo plano etérico, pois somos constituídos corporalmente à semelhança da Terra (“como é em cima é em baixo”). Pelo Corpo Vital é que se realiza a tarefa de transubstanciação e regeneração do ser humano, transformando-o, no dizer de São Paulo apóstolo, “de homem velho em novo, de corruptível em incorruptível”. Seu detido estudo constitui, portanto, assunto dos mais atuais e importantes à nossa evolução. Ele é a chave da filosofia Cristã mais avançada, a que Max Heindel chamou “Cristianismo Esotérico”, a Religião do futuro.
Mercê do exposto, a conquista espacial, de caráter meramente material, sem subestima da admiração que nos merece, representa uma pequena amostra do que virá. Se realizamos apenas o aspecto material, sofreremos os desequilíbrios resultantes dos aspectos internos, mais importantes, atrofiados, por desleixo e descrença. As neuroses, as psicoses e desequilíbrios, com suas mil e uma formas de manifestação mórbidas, estão a reclamar, a cada dia que passa, mais hospitais. O cientista materialista não se apercebendo de seu erro milenar, investiga, estuda, classifica, os astros longínquos, e desconhece o solo que pisa; a geologia é matéria muito nova. Pouco sabe o ser humano da camada sólida que pisa. Quanto mais dos outros Estratos da Terra, progressivamente mais sutis. Há uma correspondência, o ser humano parte para a conquista da Lua sem haver conquistado nem conhecido a si mesmo. Os desequilíbrios e as enfermidades decorrentes estão a desafiá-lo, sem solução próxima.
O Cristão Ocultista sabe que no conhecimento e cultivo de sua natureza etérica está todo um programa, cuja realização lhe reverte em paz interna, em iluminação e em saúde, numa só palavra, na real felicidade humana.
O Corpo Vital é um veículo de hábitos. Sua chave, pois, é a repetição. Pela repetição se gravam e automatizam os impulsos bons e maus. Mas o seu conhecimento, aliado à disciplina e à vontade, possibilitam-nos a reforma de hábitos e, com isso, à regeneração em todos os sentidos, pois é indiscutível, à luz da ciência oculta, como da acadêmica que a saúde global abrange os aspectos mental, emocional, psíquico e físico.
A psicologia profunda progrediu muito em direção às realidades ocultas, de há muito enunciadas. Mas, ainda ignora muita coisa. Por exemplo: a Memória ou Mente inconsciente, mais conhecida como Subconsciente, é formada automaticamente pelo Éter do ar aspirado. Estamos continuamente gravando internamente, em nosso Corpo Vital, as impressões do que se passa a nosso redor, com a mesma fidelidade de uma máquina fotográfica em relação à cena focalizada, quer o fotógrafo observe quer não, seus pormenores. Eis a explicação de uma criança de alguns dias gravar impressões mentais, emocionais, psíquicas e físicas do meio ambiente imediato, que mais tarde, muitas vezes, lhe provocam complexos e desajustes. Esse conhecimento alerta os ocultistas para viverem mais atentamente, observando e discernindo com toda consciência possível os fatos da vida diária, a fim de que os registros de sua memória consciente coincidam com os da subconsciente. Está provado que os desajustes, discordâncias entre as gravações consciente e subconsciente, geram mal-estar, insatisfações, angústias e muitas outras manifestações do gênero. Ao contrário, uma vida atenta, conscienciosa, gera, paz e equilíbrio. Quando o ocultista sente haver agido mal, sua sensibilidade logo o acusa. E no exercício de Retrospecção noturno ele o purga pelo sincero arrependimento e propósito de não reincidir. Esse o real sentido psicológico de “orar e vigiar”. Voltando à natureza dos Éteres e suas funções, lembramos:
1 – ÉTER QUÍMICO: Responde pelo metabolismo. Pelo polo positivo, assegura a assimilação. Pelo negativo, a excreção.
2 – ÉTER DE VIDA: Procriação. Pelo polo positivo capacita o sexo feminino a gerar e formar um novo ser. Pelo negativo, capacita o sexo masculino a fecundar.
3 – ÉTER LUMINOSO: Sensação, circulação, vibração. Pelo polo positivo assegura calor sanguíneo e circulação do sangue, das correntes nervosas e vitais. Pelo polo negativo constrói e sustenta os órgãos dos sentidos e deposita as cores da natureza.
4 – ÉTER REFLETOR: Todo acontecimento deixa, depois de si, sua imagem indelével nesse Éter. Também o meio pelo qual o pensamento impressiona o cérebro humano.
Um regime alimentar sadio, racional, equilibrado, à base de cereais integrais, frutas, legumes, harmonia e prece à mesa, mastigação perfeita, higiene, repouso, seriam, em resumo, as normas de disciplina do Éter Químico.
A disciplina da imaginação, o domínio próprio, a seleção das recreações, o preenchimento do tempo com leituras elevadas, preces, meditações, música pura, esportes, seriam os meios de uma vida mais casta, para conservação da força sexual criadora.
O primeiro Éter, o Químico, reflete sobre o terceiro, o Luminoso. Sua disciplina, pois, favoreceria uma capacidade maior dos sentidos, das circulações sanguínea, vital e nervosa, o calor do corpo, sua resistência etc. Aliando-se a isso o hábito de observar atentamente tudo, de buscar discernir claramente as coisas, não se contentando em comodamente as deixar nebulosas, de evitar as curiosidades e novidades tolas, seriam os meios de refinamento e eficiência do Éter Luminoso e de suas funções.
O segundo Éter, o de Vida, reflete sobre o quarto, o Refletor. Isso quer dizer que a disciplina sexual, a pureza de pensamento e de emoção, seriam hábitos benéficos para tornar nossa memória robusta. E como o conhecimento, sem memória, é inútil, podemos ver as vantagens que teríamos, quer na vida material, quer nas atividades suprafísicas, com essa conquista. Além disso, a memória se fortalece pelo exercício. Muita gente pensa que não convém cansar a memória. Não devemos, isto sim, é manter atitude nervosa, tensão interior. Mas o exercício equilibrado da memória, sem preocupação, é um meio de robustecê-la. Lembremos, a propósito, que os grandes pensadores tinham muito fósforo e os idiotas muito pouco. Os ocultistas sabem que o fósforo é especialmente usado pelo cérebro. Porém, sua assimilação depende de nossa condição anímica. Quanto mais elevados somos, tanto mais necessidade criamos para o Ego, o Pensador, assimilar mais fósforo e utilizá-lo no exercício criador do pensamento e da laringe.
Essas, em resumo, as linhas dos hábitos que devemos formar, para nossa racional e rápida regeneração, segundo os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental. Os detalhes desse importante programa estão nas obras de Max Heindel, principalmente a básica: “Conceito Rosacruz do Cosmos”.
E o que foi exposto, precioso como é, não teria valor nenhum, sem o fundamento Cristão: “Amor fraternal e serviço amoroso e desinteressado aos demais”. Espíritos que somos feitos à imagem e semelhança de Deus, não O amaríamos se negássemos servi-Lo através de sua Essência, oculta em cada semelhante. O amor fraternal é o fogo que funde, consolida e assimila, todos os esforços de regeneração, convertendo-os em força anímica. O amor é que nos capacita, perante os Mestres, a transpor as limitações do corpo e servir em mais amplas esferas, ele é que nos credencia à confiança das Forças de Luz, para um emprego justo dos poderes que a Vida Espiritual implica.
Amadurecidos pela disciplina e amor provado na prática, teremos não só a sensibilidade como tornaremos mais frouxa, mais tênue, a ligação entre os dois Éteres inferiores (Químico e de Vida), dos dois superiores (Luminoso e Refletor). Então atraímos, com o brilho de nossa aura, a atenção do Mestre. E Ele nos ensina como separar os Éteres de uma maneira segura, perfeita para o que será utilizado e de acordo com o Cristianismo Esotérico: os dois Éteres inferiores ficam atendendo às funções biológicas do corpo adormecido; e os Éteres superiores se desprendem daqueles e acompanham os veículos superiores nos voos fora do corpo, servindo como veículos de percepção (Éter Luminoso) e de memória (Éter Refletor), para que possamos trazer, de volta ao corpo, a recordação e a vivência das experiências anímicas. Eis o Corpo-Alma! Estaremos, então, em condições superiores às dos astronautas. Poderemos viajar livremente, sem perigos, com a velocidade do pensamento, em tarefa bem mais elevada, a de servir a humanidade.
Daí por diante se desdobram horizontes cada vez mais amplos ao iniciado, na medida da expansão de sua consciência e do serviço prestado. E ele irá penetrando simultaneamente os arcanos de sua natureza interna e de nosso Globo e mais além ainda, rumo ao infinito Cosmos, consoante as promessas bíblicas: “Sois deuses tudo o que faço, vós os fareis e obras maiores ainda”.
Afinal: “A maior aventura é aquela que o homem de boa vontade empreende, paciente e perseverantemente, no domínio e aprimoramento de si mesmo, ela é bem mais difícil, porém mais apreciada por Deus do que um grande e eventual ato de heroísmo. Tais homens são, a meu ver, os verdadeiros heróis, anônimos para o mundo, coroados por Deus”, como nos ensina Max Heindel.
(publicado na Revista Serviço Rosacruz de setembro/1969 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Quer nos apercebamos ou não, rituais são fatores constante em nossas vidas. Basta considerarmos o ciclo anual do amanhecer, do pôr-do-sol, de nossos hábitos pessoais, do despertar, do dormir, de nossas tarefas diárias.
Para alguns a palavra ” ritual” está ligada a cerimônia sem significado ou a monótonas atividades de rotina que precisam ser suportadas, mas não apreciadas.
Um ritual pode possuir tais conotações se assim o quisermos, isto é, se só o olharmos por esse prisma. Contudo, se avaliarmos um ritual sob sua luz verdadeira, como um instrumento espiritual, estaremos reconhecendo uma força valiosa para nosso próprio progresso.
Os Ensinamentos Rosacruzes nos ensinam que a repetição é essencial para o desenvolvimento e a espiritualização do Corpo Vital. Max Heindel disse: “A palavra-chave do Corpo Vital é a repetição”. Isto é facilmente compreendido quando consideramos que, embora o Corpo Vital tenha força para movimentar o Corpo Denso, tais movimentos são resultados de repetidos impulsos do mesmo tipo.
O Corpo Vital é ensinado a coordenar os movimentos do Corpo Denso de acordo com a vontade do Espírito. A criança não nada de maneira correta após seu primeiro esforço, nem o músico toca perfeitamente seu instrumento depois de uma aula. A repetição é necessária antes que os pés ou os dedos possam ser movimentados de acordo com a vontade do Espírito.
Max Heindel disse: “As escolas de ocultismo de todas as épocas relacionaram a mudança do Corpo Vital pelo trabalho de sua palavra-chave, que é a repetição. Por isto escreveram vários rituais que serviram à humanidade em estágios diferentes de seu desenvolvimento, cultivando assim o crescimento da alma, lentamente, mas com segurança.”.
Há os que reclamam que uma estrutura formalizada, continuamente repetida de qualquer serviço de culto e monótona e que ouvir ou dizer a mesma coisa, vezes seguidas, não estimula os participantes.
Estes não compreenderam que o Corpo de Desejos, a nossa natureza emocional, é que sempre procura algo novo.
A inconstante natureza de desejos oscila facilmente entre uma emoção e outra e, assim, é potencialmente destrutiva quando não controlada.
Os serviços de culto nos quais a oratória extravagante e hipnótica ou outros atrativos a natureza de desejos de muitos participantes que reagem ao emocionalismo do serviço e, momentaneamente, são levados pelo que acreditam ser as asas de um fervor religioso.
O efeito é, porém, puramente temporário e suas naturezas emocionais se renderão ao próximo atrativo que substituirá o estado de devoção com sentimentos completamente diferentes. Assim e que os serviços de culto não ritualizados, apesar de toda sua “inovação” ou “originalidade” não tem efeito duradouro sobre os participantes.
O efeito repetitivo da forma ritual do serviço devocional, trabalhando sobre o Corpo Vital, é duradouro, embora não cause uma impressão exterior tão dramática sobre o praticante.
Os Serviços do Templo e de Cura da Fraternidade Rosacruz são verdadeiros Exercícios Esotéricos e também são organizados seguindo linhas ritualísticas.
Aqui, também, formas distintas de trabalho devocional são observadas nos rituais diários, aos Domingos, nas datas de Lunação, nos rituais solares e, ainda, um ritual determinado para o Serviço de Cura, uma vez por semana, quando a Lua está em um Signo Cardeal ou Cardinal (Áries, Câncer, Libra e Capricórnio).
O ato de descobrir o Símbolo Rosacruz – o que tem a rosa branca no centro e que é feito sempre depois do Hino de Abertura Rosacruz ou do Hino Astrológico e coberto antes do Hino de Encerramento Rosacruz – é uma das partes mais importantes do Ritual dos Serviços Devocionais, no Serviço do Templo e de Cura, e em todos outros Rituais dos Serviços (dos Equinócios e Solstícios e da Véspera de Natal) desde seu princípio.
O Símbolo incorpora, simbolicamente, todos os aspectos do “Eu superior” que o Aspirante espiritual está tentando desenvolver. A estrela dourada representa a vestimenta nupcial dourada, ou o Corpo-Alma que estamos tentando construir através de uma vida correta e de serviço altruísta. A cruz branca representa o Corpo Denso purificado. As sete rosas vermelhas representam o sangue limpo que é purificado através da alimentação, dos sentimentos, dos pensamentos e das ações corretas.
As repetidas oficiações dos Rituais dos Serviços – enquanto o Símbolo Rosacruz é descoberto e iluminado – têm um significado espiritual muito profundo.
Este belo e completo Símbolo, em todo o seu abrangente significado, “fala” ao Aspirante que sinceramente medita sobre ele e dele recebe um impulso encorajador e inspirador.
Uma força é gerada como uma tênue nevoa azul que emana do Símbolo e esta força emitida e observada é sentida por aqueles cujos olhos espirituais já se tenham aberto.
Os membros que não possam estar presentes a reuniões nas Sedes, podem, na privacidade de seus lares, oficiar a leitura dos Rituais dos Serviços, seguindo o ritual, na presença do Símbolo e gerarem força, numa união espiritual de vários carvões.
Sabemos de casos de cura conseguidos desta maneira, assim como sentimentos de consolo, harmonia e calma que foram restabelecidos através dos Rituais do Serviço do Templo e do Serviço de Cura realizados na privacidade de um lar.
A mensagem essencial do Serviço e Amor Divino, impessoal, o Amor, que pela primeira vez na Terra, foi pregado por Jesus Cristo – o Amor que é a nota chave do Cristianismo Esotérico é a meta de todo Aspirante espiritual.
Trechos da Bíblia, do Novo Testamento, de grande força como a Primeira Epístola de São João e a Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios (13:1-13) fazem parte do texto do Serviço.
O participante atento ao Ritual fica imbuído, pela repetição, desse impulso de amor verdadeiro, que fortificando seu Corpo Vital aumenta sua capacidade de servir.
Max Heindel disse: “para que o Ritual atinja seu efeito máximo e possamos crescer por meio dele é necessário estarmos em harmonia com ele”.
Unamos nossas preces. Formemos uma grande chama de amor, a chama da Verdadeira Comunhão Espiritual. Sirvamos amorosamente, desenvolvendo as nossas potencialidades divinas internas.
Que cada Aspirante à vida espiritual irradie de seu coração as qualidades divinas de Luz, Vida e Amor para que possa ouvir, através do próprio trabalho e esforço pessoal, a voz Silenciosa do Cristo Interno, sentindo, dentro de si, a Rosa Branca alcançada!
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – 11/85 – Fraternidade Rosacruz São Paulo – SP)
A Finalidade da Vida Humana aqui
Ensina, a Sabedoria Ocidental, que a vida é um constante “vir a ser”. São Paulo afirmava que “morria todos os dias”. Concluímos que o ser humano de hoje não é o mesmo de ontem, e o de hoje não será o mesmo de amanhã, porque esse já o terá ultrapassado, apesar de todas as aparências em contrário.
Há um princípio ativo na vida que determina: “nada se perde e tudo tende para melhor”. Esse princípio tem dois aspectos que designamos como evolução e transfiguração. Evolução, (do Latim “Evolutio” = abrir) é o processo de pôr para fora aquilo que está contido ou implícito em alguma coisa. Transfiguração (ato de transfigurar) significa mudar a forma, modificar para melhor a figura ou a aparência, tal como se deu com Cristo-Jesus no “Monte”.
Podemos admitir que a Evolução leva à Transfiguração gradativa, para a mudança de condições requeridas ao final de cada Época, Revolução e Período, capacitando-nos a ingressar e viver sob novas e futuras condições.
Até a primeira metade do Período Terrestre, em que atualmente evoluímos, o ser humano era guiado, ou levado ao desenvolvimento, pelas mãos e orientação de Grandes Hierarquias, delas recebendo os germes dos vários veículos que deveria formar e aperfeiçoar, em seu esforço de expressão nos vários mundos ou planos.
No primeiro Período, o de Saturno, o ser humano, Ego, encerrado em condições que lhe toldavam completamente a consciência de sua origem divina, recebeu o germe de seu corpo químico, o Corpo Denso. No segundo Período, o Solar, envolvido ainda mais em véus de veículos que obscureciam sua consciência espiritual, recebeu o germe de seu corpo etérico ou Corpo Vital. No terceiro Período, o Lunar, envolto em mais uma capa, a do corpo emocional ou Corpo de Desejos, cujo germe então recebeu, se distanciou ainda mais de sua origem divina. Nesse processo de aquisição e envoltura dos germes dos veículos o ser humano foi desenvolvendo sua consciência exterior. Assim, paralelamente, foram sendo despertados nos Egos determinados graus de consciência correspondentes aos que hoje possuem três Reinos inferiores de vida em evolução na Terra:
Lembramos que no decorrer de toda essa trajetória, tais germes foram sendo trabalhados, adaptados e desenvolvidos, de modo a poderem suportar novas e diferentes condições e tornarem-se melhores no período seguinte. Assim, o germe do Corpo Denso, dado ao Ego no Período de Saturno, como germe, foi por ele melhorado inconscientemente, com ajuda das Hierarquias, através desse Período e dos posteriores, já citados, o mesmo acontecendo com os demais germes. Presentemente, vemos o fruto desse trabalho, expresso num Corpo cuja perfeição maravilha nossos cientistas. Igualmente temos defesas e recursos vitais e sensoriais (Corpo Vital) notáveis, a ponto de os médicos reconhecerem que eles apenas ajudam, mas que o organismo é que realmente realiza tudo numa cura ou recuperação. Temos sentimentos elevados; o altruísmo, graças a Deus vai crescendo no mundo. Eis a revelação incontestável da evolução germinal de nossos veículos. O Corpo Denso por ser o mais antigo, é o mais aperfeiçoado, seguindo-se, em ordem, o Corpo Vital e o Corpo de Desejos.
A Fraternidade Rosacruz dedica especial atenção ao desenvolvimento dos diferentes veículos notadamente do Corpo Vital, porque o ser humano deve aprender a espiritualizar seus corpos, através dos diversos renascimentos, em corpos gradualmente mais refinados, até abandoná-los definitivamente, levando a capacidade de criar e de funcionar nesses veículos e planos.
Até meados da Época Atlante, no presente Período, o Ego se veio envolvendo em graus de consciência cada vez mais densas, culminando com a matéria física. Esse envolvimento é designado, na Filosofia Rosacruz, como involução, envolvimento ou enrolamento. Tudo que é envolvido por alguma coisa não demonstra sua forma ou natureza original. À medida que vamos tirando os vários envoltórios começamos a ter uma concepção de sua real natureza, até que, ao tirar-lhe o último dos envoltórios, ficamos sabendo de sua origem. Assim é o Ego ou o ser humano real. Como Ego, veio se envolvendo, inconscientemente, com ajuda de exaltados Seres, em sua Involução. Chegou o tempo em que, com ajuda de seu último instrumento, a Mente, cujo germe lhe foi dado na Época Atlante, ele atingiu a consciência de si mesmo e passou a trabalhar, sozinho, na evolução de seus corpos, para sua transubstanciação, espiritualização e retirada gradual desses envoltórios que obscurecem a Luz e a Consciência. A Filosofia Rosacruz mostra que chegou o momento da luz interna brilhar um pouco mais. O ser humano deve expandir sua consciência. E essa expansão será possível por meio de um trabalho definido, que atua sobre o Corpo Vital. Note-se bem: um trabalho definido, peculiar, que atua sobre o Corpo Vital. Quer dizer que essa tarefa não deverá ser feita diretamente sobre o Corpo Vital, senão indiretamente. Ainda mais: a pessoa que a executar definidamente, não deve pensar em seu autoaperfeiçoamento, isto é, um particular esforço de melhorar seu Corpo Vital. Não! Ele é ensinado a fazer essa tarefa sem esperar recompensas e mediante o serviço ao próximo. A Sabedoria Ocidental, exposta por Max Heindel (fundador da Fraternidade Rosacruz) em a obra básica “O Conceito Rosacruz do Cosmos”, como nas demais obras complementares, diz que o Aspirante à vida superior deve executar o “Serviço sincero, amoroso e desinteressado aos demais”. E por “demais” quis ele significar não apenas os “semelhantes”, os “seres humanos”, senão os demais reinos da Natureza. É o mesmo sentido dado nos Evangelhos ao “amar o próximo como a nós mesmos”.
Até os estágios de consciência de sono profundo e de sono sem sonhos, não houve uma palavra-chave para superar os obstáculos que se interpunham ao ser humano, a fim de facilitar-lhe a passagem de um a outro Período. Foi somente nas Épocas que precederam a atual para o conseguimento de uma condição que lhe possibilitaria passar para o Período seguinte.
Este Período, o Período Terrestre, está dividido em Épocas, que são reproduções ou recapitulações melhoradas do trabalho executado pelo ser humano em Períodos anteriores, sob orientação das Grandes Hierarquias. Diríamos, comparativamente, que os períodos equivalem a um ano de trabalho e as Épocas a 24 horas ou um mês de trabalho.
A Época Polar (a primeira) equivale, em ponto menor, ao Período de Saturno;
A Época Hiperbórea (a segunda) equivale, em ponto menor, ao Período Solar;
A Época Lemúrica (a terceira) equivale, em ponto menor, ao Período Lunar;
Nessas Épocas recapitulamos o trabalho dos Períodos correspondentes. Somente na quarta Época, a Atlante e a subsequente, a Época Ária atual, é que realmente começou o trabalho propriamente dito, do Período Terrestre.
Voltando à questão das palavras-chave, a Filosofia Rosacruz nos ensina que nas primeiras Épocas (a Polar e a Hiperbórea) predominava a inconsciência e, por isso, não houve palavras-chaves. A partir da Época Lemúrica, passou a humanidade a desenvolver a consciência onírica ou subconsciente. As Hierarquias Criadoras iniciaram, então, o processo de nos dar uma palavra-chave, ou seja, uma Religião ou meio de desenvolvimento, uma condição que nos auxiliasse na caminhada para a perfeição. Essa palavra-chave que nos auxiliaria a transpor a Época Lemúrica para a Atlante nos foi ensinada pelos Líderes da humanidade por meio de quando renascíamos como mulheres de então, mais receptivas. Eis como foi ensinada: “Você tem um corpo”. Chamava, pois, nossa atenção, para a existência de um Corpo Denso, tangível, do qual não tínhamos consciência, porque estávamos focalizados nas esferas da vida subjetiva. Essa frase nos foi repetida milhões de anos, seguidamente, até passarmos para a quarta Época, a Atlante. Nessa Época, a palavra-chave ensinada pelas Hierarquias Criadoras tinha dois sentidos: um esotérico (oculto) e o outro exotérico (exterior material). A palavra-chave era: “Aspire a Luz”. O sentido exotérico correspondia ao interesse que começava a delinear-se em nós: o desejo de mais luz, pois habitávamos as profundidades da Terra, os vales, as cavernas, os grotões, onde a neblina espessa, quase água, a tudo e a todos envolvia num triste véu cinzento sob o qual o sol nos aparecia como um foco indefinido e nebuloso, semelhante à lâmpada da rua em dia de forte neblina. Pelo interno desejo de mais luz, ouvíamos, então, interessados, a palavra-chave, pronunciada pelos Líderes da Humanidade. À medida que aspirávamos a luz, íamos subindo em direção aos altiplanos e mesetas da Terra, onde a luz solar era mais visível. Nesse esforço de ascensão fomos gradativamente mudando nossas condições respiratórias, das primitivas, por guelras ou brônquios semelhantes às dos peixes e desenvolvendo pulmões. Essa é a razão porque a ciência supõe que a vida humana evoluiu da água. Notemos também: o desenvolvimento dos pulmões e a construção das costelas, apoiadas no osso externo é o significado do símbolo “arca de Noé”, na qual os mais adiantados puderam passar para a atual Época Ária.
É racional e lógico: atualmente não podemos fugir à regra sobre a necessidade de uma palavra-chave indicativa do exercício ou método para enfrentarmos a sexta Época, chamada na nomenclatura Rosacruz de a Nova Galileia. A Filosofia Rosacruz nos ensina que os Líderes da Humanidade, embora agora trabalhando indiretamente, chegaram à conclusão de que, para vencer este ponto perigoso de cristalização e existência material, só poderíamos evoluir com interferência direta, com uma ajuda especial. Essa ajuda tornou-se efetiva pela vinda de Cristo, encarnado no corpo de Jesus de Nazareth por três anos. Somente após os efeitos da purificação levada a efeito por Cristo no Planeta Terra nos foi possível atingir condições internas para aspirar e praticar a nova palavra-chave salvadora. Cristo é realmente o salvador da humanidade. Ele nos mostrou que o trabalho de Transfiguração, correlato do processo evolutivo, começou após as mudanças internas que sua vinda processou na Terra e em nós.
A palavra-chave está contida no Cristianismo Esotérico, particularmente no Cristianismo Rosacruz, para todo aquele que desejar praticá-la. Hoje, o êxito não depende do pronunciamento, isto é, do fato de ouvir-se ou de pronunciar-se passivamente determinada frase, como em Épocas anteriores. Antigamente era assim, em razão de nossa vivência subconsciente. Agora são-nos dados métodos ou disciplinas que deverão ser por nós vividos. Daí o dizermos ao Estudante Rosacruz que ele deverá ser um “sacrifício vivente”, que deverá realmente “viver a vida”, a fim de que as capas que envolvem sua Luz possam pouco a pouco serem removidas, ou melhor, transfiguradas, para formação de um novo veículo.
Conforme dissemos atrás, a palavra-chave a ser vivida neste fim de Época e início de idade preparatória da futura Sexta Época, está contida no “Novo Testamento”, sob a forma inédita de um conjunto de regras ou disciplinas, ensinadas e vividas por Cristo, fundamentadas no Amor. Essas regras ou disciplinas fundamentadas no amor impessoal são, em síntese: “Amai ao próximo como a vós mesmos”, isto é, com o mesmo interesse que temos por tudo que nos possa beneficiar ou agradar. Amar é uma ação, uma atividade. Portanto, a palavra-chave para Época atual não é uma fórmula mágica a ser recitada, senão uma atividade a ser executada com renúncia e amoroso interesse, para benefício do próximo.
Tal atividade tem dois polos: subjetivo, oculto, invisível e o objetivo, visível, externo. Na esfera subjetiva e oculta, processa-se o desenvolvimento silencioso por meio da meditação, da atenção, da vigilância interna, mental e sentimental, no aperfeiçoamento da capacidade de serviço ao próximo. Em resumo, é a prática do domínio próprio, por amor, isto é, para melhor servir, pois estamos aprendendo a nos dominar, não para tirar vantagens pessoais de engrandecimento ou poder, mas para adquirir mais qualidade no serviço ao semelhante. A prática dessa ação amorosa e subjetiva é fundamental. Sem ela, o polo objetivo, externo, se inutiliza porque ficará restringido, limitado, às expressões puramente humanas e sujeito quase sempre aos juízos antecipados, à impaciência, aos temperamentos, gostos, preferências, tendências e comodismo. Realizada a ação subjetiva, então, o verdadeiro “Eu”, o “Superior”, poderá espelhar-se, expressar-se numa ação externa eficiente, justa e amorosa. De fato, como pode o Aspirante à vida superior servir objetivamente ou praticar a caridade se ainda está sujeito às fraquezas humanas? É o caso do cego dirigindo outro cego. Por isso insistimos na necessidade da ação subjetiva fundamental. Sem ela a ação externa e objetiva não pode ser positiva, constante, bem orientada. Ademais, esse preparo interior, representado pelo domínio próprio, em última análise é o processo do conhecimento próprio.
Para amar, cristãmente falando, é necessário um aprendizado. Isso pode causar estranheza e suscitar uma pergunta: “para amar é necessário preparo?”. Respondemos: sim. No ato ou atividade amorosa, o executante não escapa, por força da lei, ao fator responsabilidade. As consequências de um relacionamento imperfeito resultam sempre em desagradáveis e até funestos.
Por isso, como qualquer outra atividade, a amorosa requer um aprendizado, perfeitamente delineado pelo Mestre, que afirmou: “Buscai, primeiramente, o Reino de Deus e Sua Justiça, e tudo o mais te será dado por acréscimo”. Esse acréscimo quer dizer: todos os nossos desejos, intenções se realizarão, inclusive a aspiração de bem Servir, segundo a disciplina de “Buscai o Reino de Deus…”. Mas, pergunta-se: “onde está o Reino de Deus?”. Novamente o Mestre responde (pois nada ele deixou em lacuna): “O Reino de Deus está dentro de vós”. Essa frase do Senhor equivale ao dito que lhe foi anterior: “Homem, conhece-te a ti mesmo”. É também correlata ao domínio próprio, à atividade subjetiva a que o Aspirante deve submeter-se para que, amando sabiamente, possa realmente servir aos semelhantes. Concomitantemente, pois, à prática do serviço amoroso e desinteressado, deve o Aspirante exercitar o serviço de introspecção, de análise de suas razões, de seus motivos, de seus impulsos, de seu temperamento, de suas tendências, a fim de que adquira eficácia e firmeza em seu modo de agir. Um médico não pode curar sem primeiramente submeter-se a longo preparo teórico e prático. Da mesma forma porque a lei é a mesma em qualquer atividade – deve o Aspirante Rosacruz exercitar-se longa, paciente, perseverante e cuidadosamente, para conquistar uma visão mais ampla e clara do objeto de seu amor: isso remete-o ao conhecimento próprio.
Portanto, a palavra-chave, para estes tempos prestes a findar-se, é: Serviço amoroso e desinteressado aos demais. Por meio dessa prática, tal como aconteceu nos dias de Noé, quando a humanidade desenvolveu pulmões para poder viver num ambiente em que predominava a adversidade, a luz solar e o oxigênio, pondo plenamente em prática uma aspiração com características materiais, assim também nós, a atual humanidade, deveremos formar uma réplica luminosa, etérica, de nosso Corpo Denso; uma forma bem mais sutil, mais perfeita, um “glorioso refúgio”, que será a “soma psuchicon” mencionado por São Paulo Apóstolo, o Corpo-Alma, o dourado manto nupcial da união do “eu inferior” com o “Eu Superior”, dentro do ser humano.
(De José Gonçalves Siqueira, publicado na Revista Serviço Rosacruz de fevereiro de 1968)
Liberdade e Felicidade
“É em vão que o homem procure ao longe a sua felicidade, descuidando de cultivá-la em si mesmo, pois ainda que ela viesse de fora, não poderia fazer-se sensível enquanto não encontrasse uma alma aparelhada para gozá-la”.
Essas sábias palavras de Rousseau coadunam-se perfeitamente com os princípios básicos do Cristianismo Esotérico no que diz respeito à felicidade. Essa, para ser real e perdurável, deve alicerçar-se em algo imorredouro, espiritual, interno. Se a fundamentamos em objetos transitórios, ela não se manifestará e, em vão, persegui-la-emos durante toda a vida.
Há estreita correlação entre liberdade e felicidade. Uma não subsiste sem a outra. Via de regra, muitos de nós configuram a felicidade como sendo a posse de bens externos. Olvidam que, dependendo do nosso conceito de posse, os bens externos constituem verdadeiros grilhões, atando-nos de pés e mãos a transitoriedade dessa existência concreta.
Se colocarmo-nos na posição de administradores, ao invés de possuidores, multiplicando e empregando altruisticamente aquilo que nos vem às mãos, concorrendo para a manutenção do bem-estar e equilíbrio sociais, sentiremos interiormente uma paz inefável, fruto da verdadeira felicidade. Para nós, a vida será um fluxo constante de bênçãos.
Se por outro lado, a avidez de posse nos alucina, fatal e desgraçadamente arruinaremos nossa vida e a dos outros. Seremos escravos daquilo que temos ou almejamos, arrastando pesados grilhões pelo restante dos nossos dias.
Gandhi, “o pai da libertação da Índia”, tinha por filosofia de vida manter consigo apenas aquilo de que necessitava para viver. O resto, dizia ele, “não passava de superfluidade”. Esse homem simples e franzino, assemelhando-se mais a um mendigo do que a um líder de milhões de seres humanos, logrou abalar um poderoso império.
O importante não é possuirmos ou não possuirmos bens externos. O essencial é não sermos possuídos por eles. Muitos têm posses e não são cativos delas. Outros não possuem e são agrilhoados pelo que almejam possuir. Nossa liberdade e felicidade correspondem à medida do nosso desapego. É um bom tema para meditação, nesses agitados dias de competição em que vivemos.
(Gilberto A V Silos – Editorial da Revista Serviço Rosacruz de março/1969)
Os Verdadeiros Presentes de Natal, Seus Símbolos e o maior Presente de todos
Os verdadeiros presentes de Natal são mais profundos que aqueles que os seres humanos comuns dão, por ensejo tradicional. O caminho da iluminação começa em dar de si. Não se trata de dar presentes, mas dar de si mesmo, nas menores coisas e manifestações (pelos pensar, sentir, falar e agir). Tal é o caminho mais curto, o mais seguro e mais agradável que conduz à religação consciente com o “Eu superior”. O Natal é o símbolo da culminância de um estado de transição, do humano para o Espírito. Para chegar a esse portal e ser admitido como “novo nascido” é mister aprender a lição do serviço amoroso e altruísta, em cada minuto do ano.
Cristo é o divino presente a que todos devemos almejar: é o coração e o sapato que colocamos para recebê-lo; é a consciência despojada de valores negativos que pode conceber o Messias interno. Devemos preparar-nos, “Somos Cristos em formação”. Que Deus fortaleça nossas aspirações!
Vamos falar do símbolo que há no pinheirinho de Natal. O pinheirinho é árvore de folhas perenes. No auge do inverno, quando a neve se vai acumulando, pesando e crestando suas folhas, ele permanece firme, à espera do hálito quente da primavera que vem reanimá-lo. Daí haver sido tomado como símbolo da vida eterna, que transita pelas estações do ano, inalterável aos desafios dos renascimentos, ereto, olhando para o céu e levantando os braços em oração.
A silhueta do pinheiro é triangular. O triângulo com a ponta para cima é o símbolo da Trindade Divina, em que reside a vida eterna. Seu verde constante é o símbolo da esperança que não se abate nas vicissitudes.
Assim, não importa que aqui no hemisfério Sul não haja neve. Pense no símbolo e ponha uns flocos de algodão sobre as folhas de seu pinheirinho. E as lampadazinhas lembrarão o significada da vida, que por si só ele exprime.
Agora, vamos falar sobre a simbologia que há nas velas natalinas. As velas que se acendem ou que figuram nos adornos natalinos, representam a luz do Aspirante Cristão. Nosso estado atual de consciência ainda não pode libertar a luz total do Espírito interno. É apenas uma fresta, uma pequenina luz. No entanto, todas as trevas do mundo não podem esconder a luz de uma pequenina vela. Ao contrário, quanto mais profunda as trevas, mais ressalta a luz, por pequena que seja. Se não podemos ser uma estrela, sejamos uma lâmpada que alumia a todos e a nós mesmos. Se não podemos ser uma lâmpada, sejamos, pelo menos uma pequena vela. Dizendo melhor, não é que humanamente possamos ser alguma coisa. Em verdade depende de compreendermos que o Divino, em nós, é quem faz. “Deus é luz”. Somos feitos à Sua imagem e semelhança. Basta, pois, que deixemos a luz interna brilhar, na medida em que removemos os condicionamentos da personalidade egoísta, como as nuvens desfeitas revelam o Sol. Acenda as velas de Natal e pense nisso.
Será que o verdadeiro Papai Noel – não esse que temos nos comerciais – também é um símbolo natalino? Vejamos! A figura simpática, sempre esperada, de Papai Noel ou São Nicolau (conforme a tradição) está ligada a Júpiter, governante de Sagitário: alto, forte, rosado, risonho, dadivoso – as características físicas e internas de Júpiter, governante de Sagitário, que precede e anuncia o Natal.
E por falar em presentes, não podíamos deixar de citar os três Reis Magos e seus presentes. Vamos ver a simbologia que aqui há: a narrativa da visita dos Reis Magos está no Evangelho segundo São Mateus. Nesse trecho se fala indeterminadamente de alguns magos que vieram do oriente. A tradição designou três representantes das raças: branca, amarela e negra. Beda, um escritor inglês (673-735) foi quem os batizou de Gaspar, Melchior e Baltazar. A palavra “mago” vem do hebraico “magh”, em sânscrito “mahat”, que significa “grande”.
A simbologia é clara: a realização do verdadeiro Cristianismo há de abraçar a humanidade inteira e dissolver todo o conceito de raças na unidade espiritual. Mas, isso acontecerá quando cada ser humano se tornar um “mago”, isto é, grande (por dentro), um rei (que governa a si mesmo), ao alcançar a união com o “Eu verdadeiro” – o “Eu superior” – e servir à divina essência em todos os seus irmãos e irmãs, acima de todos os preconceitos que são as divisórias atuais.
Os presentes que deram, de ouro, incenso e mirra, são alegorias do Espírito, Corpo e Alma. O Ego que está evoluindo, quando iluminado pela consciência é o ouro depositado das escórias. A mirra é uma erva amarga (resina de Balemodendron) procedente da Arábia e alude às dores e dificuldades com que o Espírito que evolui acumula suas experiências através dos Renascimentos. O incenso é utilizado nos ofícios religiosos para incorporação de elementais que trabalham, sob as ordens dos Anjos, pela respectiva comunidade. A Fraternidade Rosacruz desaconselha o seu uso e prefere meios internos, já que é um recurso de incorporação. Daí estar ligado com o “corpo”.
Conjuntamente, os presentes dos magos representam a dedicação integral do Aspirante a seu Cristo Interno, quando Ele nasce. É claro que o “Eu verdadeiro” sempre esteve em nós, mas somente quando a consciência desperta para Ele se diz que lhe nasceu.
O Cristo definiu essa dedicação integral como o maior mandamento Cristão: “Amar a Deus (o Divino em si, nos semelhantes e no Universo) de todo o coração, de todo o entendimento, com todas as forças, de toda alma“.
Agora, vamos ver o símbolo que há oculto no presépio natalino. Segundo a história, o presépio foi instituído por São Francisco de Assis, para representar a cena da manjedoura, descrita pelo Evangelho místico de São Lucas. Seria ideal que nossos filhos aprendessem a modelar as figurinhas de massinha, para representar essa cena. Uma caixa de areia, com o auxílio de uns pedaços de plástico para imitar os rios, pontilhões de papelão, manjedoura com palhinha e pauzinhos, detritos de madeira serrada e pintados de verde, para imitar a grama etc. fixam vivamente, no íntimo da criança, o cenário natalino, de tão formosos símbolos. O presépio enseja-nos ocasião de explicar às crianças, com palavras simples, “aquilo que Cristo pede a cada um de nós”. José e Maria não encontram lugar para Jesus nascer e tiveram que se ajeitar em uma manjedoura (lugar anexo à casa onde pernoitam e se alimentam os animais, principalmente no inverno). Pergunta: Você tem um lugarzinho em seu coração, para nascer Jesus?
A cidade se chamava Belém, que significa “casa do pão”. Essa casa de pão é o coração humano, quando aprendemos a viver bem, isto é, quando aproveitamos as oportunidades de cada dia, como grãozinhos de trigo, e vamos moendo, cozendo, com bons pensamentos, palavras verdadeiras e amorosas, atos bons, o pão vivo, a hóstia sagrada.
Belém ficava na região da Galileia, que significa “Jardim fechado”; quer dizer o nosso íntimo, o lugar secreto do Altíssimo mencionado no Salmo 91. Ali é que tem que nascer nosso Cristo, como nasceu o Outro, o externo. O Outro nos ensina que deve haver um Natal interno. Um poeta ensinou isso: “Ainda que o Cristo nascesse mil vezes em Belém, se não nascer dentro de ti, tua alma continuará extraviada… Olharás em vão a cruz do Gólgota, a menos que ela seja erguida em teu próprio coração”. (Angelus Silésius).
José conduziu Maria grávida, para lá. Também nós devemos estar cheios de luz, de bem, de amor, de entendimento da verdade espiritual, para que nasça o Cristo Interno. A gestação é de tempo variável: depende do nosso preparo. Podemos abreviá-lo ou retardá-lo. Os incômodos da gravidez são altamente compensados pela alegria do nascimento.
O menino se chamou Jesus. Jesus significa “aquele que é salvo por Deus”. Salvo de quê? De quem? De você mesmo, de sua falsa persona, egoísta, que é o anticristo. Só a graça de Deus pode conseguir isso, bem como disse o salmista: “A batalha não é vossa, mas de Deus”. Então você poderá se chamar também Jesus-aquele que é salvo por Deus.
A mesma Trindade (pai, mãe e filho, aqui representada por José, Maria e Jesus) aparece igualmente na tradição filosófica de outros países. Sempre um iluminado ser nascia de uma “virgem” e esses Iniciados estavam relacionados com o Sol. Entre os persas foi Mitras; entre caldeus foi Tamuz; entre os egípcios foi Horus, filho de Osíris e Isis. Os antigos deuses do norte previam a aproximação da “luz-dos-Deuses” como a chegada de Surt, o brilhante Sol-Espiritual desses deuses e inaugurar harmonia em “”Gimie”, a terra regenerada.
Só o Cristianismo fala de Alguém que veio e que voltará.
No ponto de vista externo, exotérico, essas crenças criaram a adoração do Sol, como fonte de espiritualidade, de luz e de vida. Em todas as partes se construíram os Templos com as portas em direção ao Leste, onde “nasce o Sol”.
Do ponto de vista interno, esotérico, o “místico Sol da meia-noite” há de brilhar na escuridão da inconsciência humana atual, com o irromper da Luz interna, do Cristo Interno, que vem estabelecer definitiva harmonia em nosso ser, quando estejamos preparados, em condição de uma “terra regenerada”, isto é, uma personalidade transformada para servir de canal ao “Eu superior”. Isso pressupõe uma personalidade humilde (a manjedoura) e a parte instintiva, animal, domesticada (o boi e o burrico) que São Francisco de Assis colocou ali inspirado pelo livro de Habacuque.
De um prisma cósmico, mais amplo, Cristo veio efetivamente do Sol, pois é o mais alto Iniciado entre os Arcanjos. O que possibilitou sua vinda foi o preparo de Jesus, que lhe cedeu os veículos Corpo Denso e Corpo Vital, para que se manifestasse entre nós como um homem. “Como é em cima é em baixo” e, assim, para manifestação do Cristo Interno é necessário que a personalidade se regenere. Então, se cumpre a profecia da vinda do Messias o “Himmanu-El”, “o Deus convosco” – Aquele que nascerá no íntimo de cada criatura transformada e libertada.
O nascimento de Jesus foi narrado por São Mateus e São Lucas. Cada um deles fez a narrativa de forma diversa, porque os Evangelhos são métodos de Iniciação. São Mateus é o método masculino, positivo, do fator vontade. Sua narrativa é marcada de aventuras e perigos. José é avisado pelo Anjo para receber Maria, que concebeu do Espírito Santo, o que mostra que da vontade humana não pode vir a realização espiritual, mas de uma fonte mais alta, pois é o Pai em mim quem faz as obras; eu, de mim mesmo, nada posso. Receber a visita dos Reis Magos seus presentes (dedicação consciente ao Cristo interno. Prevalece o fator masculino). José é avisado novamente para deixar Belém, antes do ataque de Herodes (o egoísmo, natureza inferior enciumada), refugiando-se no Egito, a Terra do Silêncio (o preparo interno e silencioso). Já em São Lucas é o método místico na cena da manjedoura, em humildade e recolhimento, mostrando que o processo de preparo é interno, reservado. É sempre Maria (o fator feminino, coração) que é avisada pelo Anjo. Ela deve ser virgem (ser humano despojado de impurezas internas, em sua imaginação, o lado feminino), desposada com José, um viúvo, segundo a tradição, ou seja, a vontade humana a serviço do justo, desligada da esposa, do mundo, do vício.
Na Fraternidade Rosacruz aprendemos que os dois lados são necessários: o ocultista (intelecto) e o místico (coração, a devoção). Por isso, ela adota os emblemas de uma lâmpada (a razão) e de um coração (a devoção), que são os dois polos do Ser. Quando esses dois polos se aperfeiçoam, de seu encontro nasce a luz, a sabedoria interna, decorrente da união do amor e do conhecimento, para tornar a Mente amorosa e o Coração sábio.
O fato histórico existiu e persiste como tradição, porque esotericamente a vida de Jesus-Cristo é um convite à realização interna. À nossa maneira, todos devemos realizar, individualmente, as fases daquele que nos serviu de modelo.
Agora, vamos ver como é o verdadeiro presente natalino que todos, pobres e ricos, bons e maus, crianças e idosos, homens e mulheres e quaisquer outras “duplas” que podemos segmentar recebem na época do Natal. Do ponto de vista cósmico é o que anuncia o presente do céu: o Cristo do Ano Novo – a vida que vem dar novo alento à Terra, na noite mais longa e escura do Ano – física, em uma boa parte da Terra e espiritual em toda à Terra –; o Cristo é a promessa da nova vida, com a beleza de cores e perfumes, com as sementes que se converterão em alimento físico e espiritual, para que a humanidade não pereça.
Do ponto de vista coletivo, Cristo é o presente celeste, confortando pelo novo impulso de altruísmo e luz que dá ao globo terrestre, para nos assegurar a evolução e nos livrar da “queda do homem”. É um eterno presente, já que Ele voluntariamente se encadeou a cruz do mundo, até que sejamos salvos: “Estarei convosco até a consumação dos séculos”.
Do ponto de vista individual, é a promessa do fruto espiritual, já que todos somos “Cristos em formação” e Ele é o modelo, o exemplo que todos devemos imitar, a nosso modo, internamente. É o convite de um Natal interno, pela religação consciente com o “Eu verdadeiro” ou o “Eu superior”.
Assim, de modo geral, os presentes natalinos e o coração generoso que os oferece, representam as dádivas divinas, em todos os sentidos, já que “Deus é Amor”. É o Espírito de Natal expresso em todos os minutos do ano, mas que assumiu sua mais significativa expressão pela vinda do Cristo, o excelso presente.
Oxalá que esta orientação do Cristianismo Esotérico da Filosofia Rosacruz lhe traga uma nova abertura e um firme propósito para alcançar essa meta sublime.
(Publicado na Revista O Encontro Rosacruz de dezembro/1982 – Fraternidade Rosacruz de Santo André-SP)