A “Revelação de Jesus Cristo” mostrou aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer; e pelo seu Anjo as enviou, e as notificou a São João, evangelista, seu servo: “O qual testificou da palavra de Deus, e do testemunho de Jesus Cristo, e de tudo o que tem visto” (Apo 1:2).
“Bem-aventurado aquele que lê e os que ouvem as palavras dessa profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo“(Apo 1:3). Para encontrarmos as inestimáveis verdades contidas nas Sagradas Escrituras, particularmente no Livro da Revelação, ou o Livro do Apocalipse, devemos investigar o que se oculta sob suas “verdades”. Max Heindel nos lembra, no livro Conceito Rosacruz do Cosmos, do seguinte: “os que originalmente escreveram a Bíblia não pretenderam dar a verdade de maneira a poder tê-la quem quisesse. Nada estava mais distante de sua Mente do que a ideia de escrever ‘um livro aberto de Deus’. Os grandes ocultistas que escreveram o Zohar[1] são muito categóricos nesse ponto. Os segredos do Thorah não podem ser compreendidos por todos, como provará a citação seguinte:
‘Ai do ser humano que vê no Thorah[2] (a lei) só um simples recitativo de palavras comuns! Porque, em verdade, se fosse só isso, poderíamos escrever, ainda hoje, um Thorah muito mais digno de admiração. Contudo, não é assim. Cada palavra do Thorah tem um elevado significado e um mistério sublime…. Os versos do Thorah são como as vestes do Thorah. Ai daquele que toma essas vestes do Thorah pelo próprio Thorah! Os simples só notam os ornamentos e os versos do Thorah. Nada mais percebem. Não veem o que está encerrado nessas vestiduras. O ser humano mais esclarecido não presta atenção alguma às vestes, mas sim ao Corpo que encerram’”.
A Filosofia Oculta vem sendo ministrada por “aqueles mais instruídos dos seres humanos”, portanto, nos ensinamentos sobre a origem, evolução e futuro desenvolvimento da humanidade e do universo têm a chave dos mais profundos segredos da Bíblia. São João encontrava-se entre aqueles mais elevados Iniciados, aptos a lerem os registros imperecíveis da Memória da Natureza, onde obtém as informações impossíveis de serem alcançadas de outra forma. No Conceito Rosacruz do Cosmos encontremos a informação de que o Discípulo bem-amado, João, simboliza a Iniciação de Vênus (Iniciação Venusiana). O Apocalipse retrata em símbolos – para aqueles que têm olhos para ver – os sublimes registros do passado, do presente e do futuro da humanidade e do universo. Essa revelação diz respeito não somente às mudanças de condições dos Corpos humanos e da Terra, como também às transformações menos perceptíveis que se nos operam mais íntimos recessos do ser humano, na medida em que ele progride da matéria até Deus.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – maio/1969 – Fraternidade Rosacruz-SP)
[1] N.R.: É considerado como um dos trabalhos mais importantes da Cabalá, no misticismo judaico. E faz parte dos livros que seriam canônicos para os judeus.
[2] N.R.: Ou Torah, ou, ainda, Torá é o nome dado aos cinco primeiros livros do Antigo Testamento, o Pentateuco: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio e que constituem o texto central do judaísmo.
Palavras tão pouco difundidas e com significados tão pouco conhecidos e, muito menos, aplicadas.
Misericórdia e piedade não têm nada a ver com a lógica, a razão, em primeira instância.
A primeira ideia que surge quando nelas pensamos é a de cunho místico, devocional, onde se sente pelo coração. Muitas vezes, a prática da misericórdia se limita a nossa incapacidade de ter feito algo correto, erros que estamos sofrendo. Já a piedade se limita a um modo de conformar os outros pelo erro cometido.
Quantas vezes por dia nos tornamos perturbados – e com razão – por causa daqueles que não se importam com pessoa alguma e desconhecem o próximo?
Quando estamos dirigindo um carro e outro nos corta subitamente, qual é a nossa reação? É raiva ou desdém?
Quando, em uma reunião, palestra ou até em uma audição, ouvimos alguém fazer um comentário que para nós não é totalmente válido, por estar sendo encarado do ponto de vista terreno, condenamos esse alguém por sua ignorância ou rimos pela sua falta de compreensão?
Quando vemos um criminoso na TV, nos vídeos da internet ou lemos sobre ele nos meios de comunicação, qual é a nossa reação? Dizemos: “Bem-feito, era isso que ele merecia”, esquecendo que ele é fraco e está perdido num mundo que sensacionaliza o crime? E que mais ainda e acima de tudo: é um nosso irmão ou uma nossa irmã?
Quando alguém nos faz algum aparente mal desejamos e procuramos uma oportunidade para se vingar?
Se a qualquer uma dessas perguntas respondemos “sim”, então somos fracos, ignorantes e negligentes em relação aos outros. Não praticamos a misericórdia.
Ter misericórdia é nos conscientizarmos da fraqueza do próximo, nosso irmão ou nossa irmã. E, além disso, ajudá-lo ou ajuda-la por meio da compreensão de seus atos, enviando-lhe pensamentos positivos ao invés de negativos.
Misericórdia é a manifestação do amor quando levamos em consideração a fraqueza do próximo, nosso irmão, nossa irmã.
Misericórdia é a manifestação do Amor de Deus, de modo especial quando considera a fraqueza das criaturas.
A misericórdia de Deus é infinita e universal. Lemos no Livro dos Salmos 144:9: “Para todos é bom o Senhor e a todas as criaturas estende-se a sua misericórdia”. No Livro do Eclesiástico 18:12: “A misericórdia do homem tem por objeto o seu próximo; mas a misericórdia de Deus estende-se a toda a carne”.
Tanto o pecador como o contrito são objetos da misericórdia de Deus. Lemos no Evangelho Segundo São Lucas 1:50: “E a sua misericórdia se estende de geração a geração sobre os que o temem”. E no Livro dos Números 14:18: “O Senhor é paciente e de muita misericórdia, que tira a iniquidade e as maldades e que a nenhum culpado deixa sem castigo”. No Livro de Isaías, 55:7: “Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem iníquo os seus pensamentos, e volte-se para o Senhor e haverá dele misericórdia, e para o nosso Deus, porque Ele é de muita bondade para perdoar”.
Ora, se Deus é misericordioso tanto com o pecador quanto com o arrependido, quem somos nós para não sermos?
A prática da misericórdia é impedida pela vaidade e pelo orgulho de não admitir as muitas ignorâncias que ainda possuímos. Ou ainda, que em muitos casos sabemos e temos certeza de que estamos corretos. Por isso julgamos.
Tornamo-nos juízes. E, assim, agindo como juízes, nos colocamos numa posição de autoafirmação e utilizamos da razão para justificar. Somos “aquele que nunca agiu assim”. Ou “se fosse conosco jamais teríamos feito desse modo”.
Primeiro: “será que nunca agimos deste modo?”. Segundo: “como saber se realmente isto está errado?”.
Segundo: se você tivesse o mesmo horóscopo do irmão ou da irmã que você está julgando, com as mesmas configurações adversas e benéficas e os mesmos Signos nas cúspides de cada Casa, tem certeza de que não agiria daquele modo ou, talvez, até pior?
Como não estamos certos, com toda a certeza, de termos agido deste modo ou não, tratemos de aproveitar as situações aqui descritas, como oportunidades para servir. Por exemplo: quando alguém passa por nós e nos injuria podemos dizer: “quantas vezes já me senti culpado por isto; quantas vezes agi dessa maneira”, ao invés de praguejar, de brigar ou de revidar.
Neste contexto, qual foi um dos mais característicos traços de Cristo-Jesus na sua jornada aqui na Terra? A Sua misericórdia. Principalmente para com os abandonados e arrependidos.
Podemos ler no Evangelho Segundo São Mateus 9:36: “e olhando para aquelas gentes, se compadeceu delas: porque estavam fatigadas e quebrantadas como ovelhas sem pastor”.
Podemos vê-la facilmente expressa nas parábolas: do filho pródigo, do bom samaritano e da ovelha perdida.
A compreensão da misericórdia na doutrina de Cristo leva-nos a concebê-la como: o perdão da ignorância e do egoísmo do nosso próximo e de nós mesmos.
Aqui praticamos a lei de dar e receber. E a lei de semelhante atrai semelhante. Pois se praticarmos a misericórdia – perdão pela ignorância – recebemos misericórdia – perdão pela nossa ignorância.
Como isso, vemos que o Amor de Deus não pode estar num coração sem misericórdia. E isso se dá na conscientização de que não sabemos tudo, que erramos, blasfemamos, somos ignorantes.
A partir daí, podemos agir:
. com maior compreensão, perdoando os que nos ofendem;
. com maior tolerância, procurando criticar construtivamente algo que não
. entendemos ou que, ao nosso ver, está errado;
. com paciência, procurando argumentos lógicos e amorosos em nossas colocações; com humildade, procurando entender as limitações, as restrições e lições que devemos aprender dos e com os outros.
Portanto, a misericórdia é uma virtude que deve ser vivida com toda a intensidade pelo Aspirante à vida superior em todas as circunstâncias e situações em que a ele for apresentada.
Quantas vezes ao ver um irmão ou uma irmã sofrer viramos o nosso rosto, torcendo para que ele ou ela e ninguém nos solicitem?
Quantas vezes nos esquecemos de dirigir uma oração a esse irmão sofredor ou a essa irmã sofredora que está passando por alguma dificuldade, seja física, moral, espiritual ou psíquica.
Quantas vezes não admitimos que a dificuldade que um irmão ou uma irmã está passando é realmente uma dificuldade?
Achando que nós, em seu lugar, tiraríamos de letra e, portanto, julgamos que ele ou ela está sofrendo porque quer?
Tudo isso é a falta de compreender o que é piedade.
Na verdade, achamos que compreendemos o que é piedade e acreditamos que a aplicamos quando a dificuldade é conosco, ou com algum familiar ou, no máximo, com algum conhecido muito querido. Então, passamos a procurar uma igreja e a realizar atos tais como acender velas, ajoelhar, rezar terços, novenas, jejuns, “envio de energias”, passe espiritual entre outras coisas.
Caso contrário, no máximo chegamos a alguma frase do tipo: “que Deus o ajude”, “deve estar pagando alguma dívida passada”, “coitado”, “tome e faça essa oração todos os dias”. E nos afastamos com a certeza do dever cumprido e torcendo para que não sobre nada para nós.
Afinal piedade não é a tristeza pelo sofrimento e desgraça alheia? Pois então: já ficamos tristes! Já expressamos nosso sofrimento pela desgraça alheia e muita gente viu (temos testemunhas). Agora voltamos a ser alegres e a esquecer a desgraça alheia, certo?
Agora, para o Aspirante à vida superior piedade é o primeiro passo para a compaixão. Piedade é a capacidade de sentir a dor alheia. Piedade é uma virtude que inclina o ser humano para Deus numa filial obediência e amor reverencial.
Na maioria das vezes a piedade praticada é aquela que os fariseus praticavam no tempo de Cristo-Jesus onde eles sobrepunham de tal modo o ritualismo externo às práticas internas que a verdadeira piedade interior ficou a perigo de desaparecer.
Cristo-Jesus, porém, iluminou novamente o caminho como vemos no Evangelho Segundo São Mateus 6:1-18: “Guardai-vos não façais as vossas boas obras diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles (…). Não faças tocar a trombeta diante de ti”.
Ou: “e quando orais, não haveis de ser como os hipócritas, que gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das ruas para serem vistos”.
Ele mostrou que a verdadeira piedade consiste em fé firme, confiança filial, submissão a vontade de Deus e que se manifesta pelo amor ao próximo. E é nesse sentido que precisamos ser capazes de sentir a dor alheia.
Uma das melhores maneiras é através das nossas próprias experiências: o que sentimos em determinada situação poderá ser transmitido para outro em situação similar.
Isso é aplicável desde que aprendamos com as nossas experiências, tomando consciência da relação causa e efeito. Para isso, sem dúvida, muito contribui o processo de captação da quinta essência que é feito pelo Exercício Esotérico da Retrospecção.
Agora, e em situações que ainda não experimentamos? Como podemos sentir o quão é doloroso ou dificultoso?
Se olharmos o nosso horóscopo podemos descobrir como tenderemos a sentir tal experiência. Ou se usarmos a imaginação pode criar um modelo que facilitará enormemente compreender a dor alheia.
Uma vez entendido, compreendido e assimilado a situação do irmão sofredor ou irmã sofredora estamos prontos a sentir a compaixão e, portanto, nasce naturalmente um desejo de ajudar a minorar o seu sofrimento. Podemos ter a certeza que aí, nesse ponto, a ajuda é eficaz, bem dosada e proveitosa.
Por exemplo: quando encontramos um irmão ou uma irmã doente podemos falar-lhe: “coitadinho. Deus o ajudará” ou, após imbuir-se do seu sofrimento, sentindo a tristeza e a dor que ele está sentindo, dizer-lhe: “está bem, você está doente e precisa de ajuda, o que você pretende fazer?”.
Outro exemplo: há muitas pessoas no mundo que sentem pena dos animais, que até fundam sociedades para protegê-los contra maus tratos. Mas continuam comendo essas mesmas criaturas que elas intencionam salvar (ou será que cachorro, gato, cavalo e outros “pets” não são animais com a mesma necessidade de evolução da vaca, do boi, da galinha – enfim de todas as espécies animais e aves, dos peixes, dos crustáceos, dos anfíbios e afins?). Até certo ponto, podemos considerar isso piedade. Mas essa só será totalmente verdadeira como primeiro passo para a compaixão quando puderem dizer: “eu sinto tanto por eles que estou preparado para renunciar a comê-los”.
Portanto, vemos que a piedade nos eleva acima das dificuldades impostas pela nossa Personalidade em entender as dificuldades, sofrimentos e tristezas dos nossos irmãos ou das nossas irmãs e, com isso, entender as nossas. É o meio que nos ajudam a ser mais eficazes no nosso servir. A ser mais conscientes do que é ajudar e o que não é.
É, enfim, a compreensão de que como Deus, nosso Pai, entende as nossas dificuldades e de como ele está sempre criando meios que nos ajudam a suplantá-las.
Que as Rosas Floresçam em Vossa Cruz
Pensando sobre os “Fogos de São João”, apresentam-se vários aspectos sobre o tema, como de símbolos, de uma história verídica e, também, mística, em que a pessoa que chamamos São João, o Batista, está envolvida. A humanidade está intimamente ligada a essa pessoa, eminentemente desenvolvida, através dos milênios do passado.
Pela história bíblica sabemos que São João, o Batista, era o último dos Profetas em Israel, filho do sumo sacerdote Zacarias e de sua esposa Isabel. Isso consta nos Evangelhos. Max Heindel informa em seus estudos, como Elias, Profeta que existiu 700 anos antes da Era Cristã, como João Batista, era capacitado de dotes espirituais poderosos em vidas anteriores, por haver formado em si o Verbo Divino, a Vida Divina no ser humano.
Podemos ver essa afirmativa no segundo Capítulo 2, versículo 5, do Segundo Livro dos Reis, que diz o seguinte: “Os irmãos profetas que moravam em Jericó aproximaram-se de Eliseu e lhe disseram: ‘Sabes que hoje Iahweh vai levar teu mestre por sobre tua cabeça?’. Ele respondeu: ‘Sei; calai-vos’”.
Por essa conversa íntima entre os filhos dos Profetas (veja todo o segundo Capítulo[1]) a respeito de Elias (João Batista) com o Profeta Eliseu, podemos avaliar a sua educação espiritual. Eliseu, como discípulo de Elias, tinha conhecimentos sobre o afastamento de Elias da Terra num turbilhão de Fogo (“carro e cavalos em fogo”, versículo 11[2]) que separou o Mestre de seu Discípulo. Elias afasta-se em um redemoinho de fogo da Terra.
Os fatos acima tiveram relação fundamental na Anunciação do nascimento, vida e morte de São João Batista. A Anunciação da Concepção com Isabel foi feita em circunstâncias de ‘Fogos espirituais’, pois o Anunciador, o Anjo Gabriel, do plano do Espírito Santo, foi escolhido para essa sublime missão; foi o mesmo, que mais tarde, meses após, anunciaria a Maria a Concepção de seu filho Jesus. Zacarias e Isabel, como também José e Maria, em relação à Anunciação, ensinam que as personagens tinham Iniciações dos planos do Espírito de Vida, pois se aproximava a eles o Anjo Gabriel. Os Corpos Densos e suprafísicos deles mesmos tinham alcançado qualidades, onde a esfera Angelical os tangia.
O que nos importa nesses acontecimentos, puramente esotéricos, é sabermos a respeito de Elias em sua “ascensão fogosa” 700 anos A.C. e se manifestando mais tarde, no tempo de Cristo, como de anunciador d’Ele num fulgor de Verbo espiritual, anunciando a vinda “Daquele que havia de vir”, a quem prepararia o caminho, pregando as sábias palavras do arrependimento. Pois, clamava, que sem o arrependimento não haveria acesso do Salvador para suas almas. Disse que não haveria mais perdão por meio dos sacrifícios dos animais.
Sabemos perfeitamente, como Estudantes Rosacruzes, que o arrependimento resulta em nossos Corpos de Desejos, onde reside o fogo inferior dos desejos e da nossa Mente inferior, o limite para a ascensão aos planos de Deus. Os fogos inferiores dos Corpos de Desejos, com o meio do arrependimento, devem-se dar a purificação, resultando a ascensão para os “fogos espirituais do Espírito de Vida de Cristo, e de Seu Pai”.
Pensando sobre símbolos, mesmo tratando-se de datas, que se apresentam ao Estudante Rosacruz, no fato de Isabel concebendo João Batista (Elias), seis meses antes de Maria conceber a do Jesus, espírito que guiava o Rei Salomão, e antes de 3000 anos da Era Cristã, o guia espiritual da antiga Índia denominado Krishina, mostra por meio destes acontecimentos históricos-religiosos-espirituais, o valor que representam na evolução humana.
Colocando as datas calendários a nossa frente, dia 21 de junho para o nascimento de São João Batista, e Jesus no dia 24 de dezembro verificamos, em linha reta, a oposição dos Signos Zodiacais com os seus devidos Regentes. Encontramos o Signo de Câncer com o seu Regente, a Lua, para João Batista-Elias, e o Signo de Capricórnio, Regente de Saturno, para Jesus. Essa linha aparentemente oposta trata do equilíbrio dentro do Sistema Solar. Não é uma oposição cósmica, pelo contrário, uma harmonia perfeita, Água-Terra; sabemos que o Sol deriva do Período Saturno do Pai, e entra em seu avanço evolutivo ao Período Lunar. Mostra-se a Trindade. Havemos o perfeito equilíbrio, Sol em Câncer e em Capricórnio. Saturno-Sol-Lua. No plano Solar entra em função os Solstícios nas datas acima. As forças solares interligam-se às condições gerais da Terra.
Procurando a ligação entre os eminentes personagens em foco, Jesus-João Batista, verificamos que eles foram, pela Hierarquia, escolhidos para serem utilizados como conciliadores entre os seres humanos da Terra e os demais exaltados elementos celestiais.
Podemos também pensar, com base nos estudos, que eles não tinham mais necessidade de renascer por causa de sua Ressurreição em tempos passados, como dito, em um redemoinho de fogo. Para Jesus-Salomão seria o mesmo sentido de aplicar. Os Solstícios coincidem com seus renascimentos constantes em planos de revoluções solares, os quais incitam os tempos propícios para as Iniciações dos seres humanos da Terra.
Voltando para explicar a nossa preocupação a respeito da salvação da humanidade, verificamos, ainda, fora das palavras do arrependimento, as sábias palavras de São João Batista, que dizem, “Eu batizo com água. No meio de vós, está alguém que não conheceis, aquele que vem depois de mim, do qual não sou digno de desatar a correia da sandália” (Jo 1:26-27), e Ele batiza com fogo.
Percebemos, nisso, que a divisa seria o Batismo do Fogo e do Espírito resultante do arrependimento. Mais logo haveria o batismo da Água e do Fogo, da água da Vida-do Corpo de Cristo ligado ao Espírito Santo. Cristo bem disse à Samaritana na fonte quando solicitava água que, se Ele ofereceria água, nunca mais sentiria sede, e haveria alcançado a Vida Eterna (a longa vida dos alquímicos, a Pedra Filosofal, que é o Cristo). Por meio do arrependimento assegura-se a mutação, a transfiguração do ser humano, a sua incorruptibilidade no corpo de Cristo.
(de F. PH. Preuss – Publicado na Revista Serviço Rosacruz – setembro/1984 – Fraternidade Rosacruz – SP)
(Pintura: John Baptist Birth – de Bartolomé-Esteban Murillo)
[1] N.T.: Segundo Capítulo do Segundo Livro dos Reis: 1Eis o que aconteceu quando Iahweh arrebatou Elias ao céu no turbilhão: Elias e Eliseu partiram de Guilgal, 2e Elias disse a Eliseu: “Fica aqui, pois Iahweh me enviou até Betel”; mas Eliseu respondeu: “Tão certo como Iahweh vive e tu vives, não te deixarei!”. e desceram a Betel. 3Os irmãos profetas que moravam em Betel foram ao encontro de Eliseu e disseram-lhe: “Sabes que hoje Iahweh vai levar teu mestre por sobre tua cabeça?”. Ele respondeu: “Sei; calai-vos”. 4Elias lhe disse: “Eliseu, fica aqui, pois Iahweh me envia só até Jericó”; mas ele respondeu: “Tão certo como Iahweh vive e tu vives, não te deixarei!”. E foram para Jericó. 5Os irmãos profetas que moravam em Jericó aproximaram-se de Eliseu e lhe disseram: “Sabes que hoje Iahweh vai levar teu mestre por sobre tua cabeça?”. Ele respondeu: “Sei; calai-vos”. 6Elias lhe disse: “Fica aqui, pois Iahweh me envia só até o Jordão”; mas ele respondeu: “Tão certo como Iahweh vive e tu vives, não te deixarei!”. E partiram os dois juntos. 7Cinquenta irmãos profetas foram também e ficaram parados a distância, ao longe, enquanto eles dois se detinham à beira do Jordão. 8Então Elias tomou seu manto, enrolou-o e bateu com ele nas águas, que se dividiram de um lado e de outro, de modo que ambos passaram a pé enxuto. 9Depois que passaram, Elias disse a Eliseu: “Pede o que queres que eu faça por ti antes de ser arrebatado da tua presença”. E Eliseu respondeu: “Que me seja dada uma dupla porção do teu espírito!”. 10Elias respondeu: “Pedes uma coisa difícil: todavia, se me vires ao ser arrebatado da tua presença, isso te será concedido; caso contrário, isso não te será dado”. 11E aconteceu que, enquanto andavam e conversavam, eis que um carro de fogo e cavalos de fogo os separaram um do outro, e Elias subiu ao céu no turbilhão. 12Eliseu olhava e gritava: “Meu pai! Meu pai! Carro e cavalaria de Israel!”. Depois não mais o viu e, tomando suas vestes, rasgou-as em duas. 13Apanhou o manto de Elias, que havia caído, e voltou para a beira do Jordão, onde ficou. 14Tomou o manto de Elias e bateu com ele nas águas, dizendo: “Onde está Iahweh, o Deus de Elias?”. Bateu nas águas, que se dividiram de um lado e de outro, e Eliseu atravessou o rio. 15Os irmãos profetas viram-no a distância e disseram: “O espírito de Elias repousa sobre Eliseu!”.; vieram ao seu encontro e se prostraram por terra, diante dele. 16Disseram-lhe: “Há aqui com teus servos cinquenta homens valentes. Permite que saiam à procura de teu mestre; talvez o Espírito de Iahweh o tenha arrebatado e lançado sobre algum monte ou em algum vale”. Mas ele respondeu: “Não mandeis ninguém”. 17Mas eles o importunaram a ponto de aborrecê-lo, e, então, disse: “Mandai!”. Mandaram, pois, cinquenta homens, que procuraram Elias durante três dias, sem encontrá-lo. 18Voltaram para junto de Eliseu, que tinha ficado em Jericó, o qual lhes disse: “Não vos dissera eu que não fôsseis?” 19Os homens da cidade disseram a Eliseu: “A cidade tem um ambiente agradável, como bem pode ver, o meu senhor, mas suas águas são ruins e tornam o país estéril”. 20Disse ele: “Trazei-me um prato novo e ponde nele sal”; e eles lho trouxeram. 21Ele foi à fonte das águas, lançou-lhe sal e disse: “Assim fala Iahweh: Eu saneio estas águas e elas não mais causarão nem morte nem esterilidade”. 22E as águas se tornaram sadias até hoje, segundo a palavra que Eliseu pronunciara. 23De lá subiu a Betel; ao subir pelo caminho, uns rapazinhos que saíram da cidade zombaram dele, dizendo: “Sobe, careca! Sobe, careca!”. 24Eliseu virou-se, olhou para eles e os amaldiçoou em nome de Iahweh. Então saíram do bosque duas ursas e despedaçaram quarenta e dois deles. 25Dali foi para o monte Carmelo e depois voltou para Samaria.
[2] N.T.: “11E aconteceu que, enquanto andavam e conversavam, eis que um carro de fogo e cavalos de fogo os separaram um do outro, e Elias subiu ao céu no turbilhão.”
Tão estranha e interessante como possa parecer, existe uma força mística que é capaz de mudar a tua, as nossas vidas, tão profunda, radical e perfeitamente que, terminando o processo, teus amigos e, mesmo tu, não te conhecerás mais. Tu te perguntarás a ti mesmo: “Será que sou eu aquela mulher ou aquele homem que andou sob meu nome há seis meses ou há seis anos atrás? Será que fui eu aquela pessoa?”
A verdade é que, num certo sentido, és ainda aquela mesma pessoa, porém, noutro sentido, és alguém bem diferente. Essa força mística, absolutamente real, poderá elevar-te ainda hoje, agora, já, neste justo momento, do meio da tua desgraça, da tua angústia, da tua aflição, de toda a tua miséria, e, então, como diz São Paulo, poderás resolver os teus problemas, aplainar as tuas dificuldades, livrar-te das tuas complicações e colocar-te, com segurança, firme e feliz, no caminho da liberdade e das oportunidades de melhoramento.
Essa força mística pode levantar-te do leito da doença, pode curar-te, fortificar-te e tornar-te apto para caminhar livremente no mundo e transformar a tua vida assim como desejarias que ela fosse. Essa força poderá abrir as portas dos presídios e libertar os presidiários, possuindo um bálsamo mágico e curador, será capaz de curar qualquer coração quebrantado. Essa força mística poderá ensinar-te tudo o que devias saber, se fores suscetível e quiseres ser ensinado. Ela poderá inspirar tuas ideias e teus pensamentos e tornar a tua obra realmente original. Ela poderá dar-te uma sabedoria nova e maravilhosa, de toda espécie, se procurares realmente tal sabedoria e tais conhecimentos que nenhuma escola poderá ensinar-te e que não acharás em livro algum. Ela poderá fazer o que para ti, será o mais importante no estado atual de tua evolução.
Ela achará e te colocará em teu verdadeiro lugar na vida. Ela procurará para ti teus verdadeiros amigos, as mesmas almas que estiverem interessadas nas mesmas ideias e se esforçam para fazer o mesmo que tu fazes. Ela poderá construir teu lar ideal e verdadeiro, trazer aquela abastança que significa a liberdade de ser e de fazer o que tua alma aspira.
Essa força incomum é absolutamente real, não é uma imaginação abstrata, mas de fato, o objeto mais prático que existe. A existência dessa força é hoje em dia conhecida por milhares de pessoas em todo o mundo, e certas almas iluminadas já a conheciam há milhares de anos.
Na verdade, essa força não é nada mais senão a primeira força da existência, e o descobrimento dessa força é um direito primordial divino de todos os seres humanos. É também o teu direito e privilégio entrar em relação com essa força e permitir que Ela atue através do teu corpo, do teu espírito, das tuas propriedades, para que, no meio das dificuldades e das restrições não necessites mais rastejar no chão de tua própria ignorância, mas elevar-te, com asas de águia, para as alturas da liberdade e da alegria.
Porém, muitos poderão perguntar, onde e como se poderá entrar em contato com essa força mística, onde poderemos achá-la, como poderá ser transmutada em fatos? A resposta é bem simples. Essa força tu acharás em tua própria consciência, no último, no mais íntimo lugar, em que a maioria das pessoas não a procura. No meio de tua própria mentalidade jaz uma fonte inesgotável, mais forte e de maior força explosiva do que toda eletricidade. Para atuar em todos os teus assuntos, para conseguir os resultados mencionados, nada mais é necessário do que entrar em contato com essa força. O verdadeiro sentido da Bíblia é este: “O Reino de Deus está dentro de vós, procurai primeiro o Reino de Deus e tudo o mais recebereis por acréscimo”. Essa interna força, essa luz interna ou essa ideia espiritual, é denominada na Bíblia, de “a Criança” e através dela em toda santa Escritura, a expressão “Criança” tem sempre o mesmo sentido simbólico. Os símbolos da Bíblia têm a sua própria e bela lógica. A Bíblia simboliza a alma como mulher e, assim, a ideia espiritual nascida da alma, simboliza sempre a Criança. Assim, com a descoberta consciente de que essa força reside dentro de ti se a puseres em atividade conscientemente, nascerá em teu Íntimo a Criança. A razão desse símbolo é facilmente reconhecível no fato de pequeno ser, que deverá nascer em tua consciência, ser tão fraco e desamparado como realmente uma criança recém-nascida. Porém, dia a dia, ela crescerá, tornando-se mais forte, e, com o tempo, já não necessitará mais da ajuda e dos seus cuidados da mãe. Pelo contrário, ao se tornar adulto a situação se modificará, e será ele então, quem doravante cuidará de sua mãe, pagando assim suas dívidas e seus cuidados. Da mesma forma, ao entrares em contato com essa força mística, tuas aptidões, no início, serão fracas e desajeitadas, contudo, desenvolver-se-ão, devagar, mas firmemente, até que um dia chegarás a entregar a essa força, a tua vida, inteira.
A história da vida de Jesus, a principal figura do Novo Testamento, simboliza plenamente essa verdade. Está escrito que Ele nasceu de uma virgem, numa manjedoura miserável, e sabemos que Ele cresceu e tornou-se o Salvador do mundo. No simbolismo da Bíblia, a alma virgem significa aquela alma que está voltada só para Deus, e, nesse estado de alma, será possível nascer a ideia espiritual da criança. Se chegarmos até esse estado, seja através do sofrimento ou da sabedoria, então estaremos preparados, aconteça o que acontecer, a deixar que Deus resolva todos os nossos problemas.
O menino Jesus nasce numa estrebaria quando todo o mundo esperava que Ele nascesse num palácio. Isso significa profundamente que quando essa santa Criança nascer em nossa própria alma, nós, com a consciência de nossa própria dignidade, sentiremos bem claro e pesarosamente, que Ele, o Cristo, nasceu mais uma vez numa estrebaria. Aqui temos a inspirada indicação de que esse fato não poderá impedir que Ele, o Cristo Interno, a Criança, se torne, com o seu crescimento, o Salvador de nossa própria individualidade.
Direta e indiretamente, a Bíblia nos conta muito a respeito do nascimento e crescimento dessa Criança e o que isso significa para nós. Um enunciado importante contém o livro de Isaias, cap. 9, versículos 2, 6 e 7, e vale a pena tomá-lo em consideração. Isaias diz: “Este povo que andava em trevas, viu uma grande Luz, aos que habitavam a região da sombra da morte, nasceu-lhes o dia”. Essa predição maravilhosa acontece quando a ideia espiritual da Criança tiver nascido em nossa alma. Andar na escuridão moral e fisicamente, habitando o país da sombra e da morte, a morte da alegria e da esperança, e muitas vezes até, do respeito de si mesmo descreve muito bem o estado de muitos homens, antes que a Luz brilhe em suas vidas tristes e dolorosas. E o profeta fala entusiasmado e com palavras de louvor, expondo a salvação que essa força mística cria. “Porquanto já um pequenino se acha nascido para nós, e um filho nos foi dado, e foi posto o principado sobre o seu ombro, e o nome com que se apelidado será, ADMIRÁVEL CONSELHEIRO, DEUS FORTE, PAI DO FUTURO SÉCULO, PRÍNCIPE DA PAZ.” Essa interpretação domina com simplicidade e precisão a semente do assunto inteiro, isto é, que o domínio e o governo foram postos sobre os Seus ombros. A compreensão desse predicado confirma o próprio fato e dispensa comentários. Ela significa que, se conseguiste realmente entrar em contato com essa força mística e se lhe permitiste que tomasse conta de tuas responsabilidades, então ela dirigirá os teus assuntos, por mais insignificantes que sejam, sem qualquer engano ou dificuldade. A direção de tua vida deveria descansar nos Seus ombros! Se estás cansado, se te sentes fraco, doente, deprimido, é, porque tentaste carregar a carga sozinho. E a carga era pesada demais e tu te dobraste sob o seu peso. Mas, assim que entregares a direção de teus problemas, a tua carga de preocupação em ganhar teu pão, curar teu corpo ou apagar as tuas faltas a Ele, ao Cristo Interno, à Criança que jamais se cansa, Ele, o Onipotente, o Onisciente, o Auxiliar de todos os seres, encarregar-se-á, com alegria, da tua carga e de todos os teus problemas. E as tuas preocupações acabam quando ainda nem começaram.
O profeta vai além, e fala dos nomes dessa CRIANÇA. Se conhecermos alguma coisa da simbologia da Bíblia, percebamos que agora aprendemos algo fundamental, porque o nome de qualquer coisa na Bíblia significa o caráter e a natureza do objeto, e, assim, reconhecemos que o nome não significa somente uma denominação arbitrária, mas, na realidade, é o hieróglifo da alma. O profeta deu a essa Criança nada menos do que cinco nomes ou características. Vamos examiná-los um instante, e ver o que eles significam.
Em primeiro plano, diz Isaias que o nome dessa Criança é prodigiosa, e, de fato essa é a primeira e extraordinária denominação. A Criança é uma criança prodigiosa. A palavra prodigiosa, como é empregada aqui, necessita uma interpretação cuidadosa. Como é empregada na Bíblia, significa simples e claramente que é um Prodígio, um Milagre, precisamente isso e nada mais, e temos de levar em consideração que a Bíblia, da primeira à última página, ensina só milagres, e ocorrem mesmo. Assim, ela nos dá tantos pormenores como também descrições detalhadas de casos especiais. Muitas vezes ela repete que milagres ocorrem sempre, principalmente quando achamos isso possível e estamos com vontade de reconhecer e invocar o poder de Deus.
Nas últimas gerações foram feitas muitas tentativas para corrigir a Bíblia e destruir a crença dos milagres. Foram feitas muitas tentativas para provar que a Bíblia podia ser verdadeira e útil, contudo, quanto aos milagres, estaria enganada. Em outras palavras: a Bíblia seria uma coleção misteriosa que contém tanto a verdade como também a mentira. Um crítico afirmou aberta e categoricamente: “Não há milagres”. E assim encerrou o assunto.
A resposta acertada é a seguinte: Se não existissem milagres, então a Bíblia seria do princípio ao fim uma absurda mistura sem sentido, não seria nada mais do que mera fábula. Contudo acontecem milagres, e, como Galileu terminou sua revogação com as palavras, referindo-se à rotação da Terra: “e, contudo, ela se move”, assim também podemos dizer, em relação aos milagres, “quando todas as revogações estiverem suplantadas, de qualquer maneira, ocorrem milagres”.
A primeira característica que Isaias confere a essa criança, é dizer que ela é uma criança prodigiosa, isso é, milagrosa, que pode fazer milagres. Isso significa para ti que, logo que essa criança prodigiosa nascer em tua consciência, começam a ocorrer milagres em tua vida, milagres positivos. Medita: Isso não quer dizer que te submetas às circunstâncias atuais ou que possas enfrentar as mesmas dificuldades com maior coragem e melhor compreensão. Não. Isso se refere só ao milagre. Significa que a criança prodigiosa não atua em tua vida num sentido simbólico, ou mutável, mas certo e verdadeiro, num sentido mais compreensível, efetuando milagres. Essa criança realizará tais coisas independentemente das tuas atuais circunstâncias, sem nenhuma restrição.
O ponto principal é que a criança prodigiosa será capaz de elevar-te das tuas dificuldades, pondo-te em outras circunstâncias. A criança prodigiosa é de fato uma criança prodigiosa,
Vamos contemplar o segundo ponto que o profeta atribui a essa criança. Ele a denomina CONSELHEIRO, e sabemos que Conselheiro é alguém que dá conselhos e pode dirigir a tua conduta. Logo que a criança nascer em teu íntimo, será teu Conselheiro, que nunca falhará e te guiará sempre. Se fores indeciso e não souberes se deves dar um passo importante, aceitar ou rejeitar uma oferta, assinar um documento decisivo, aceitar uma sociedade, abandonar tua posição fazer uma viagem de importância ou preferir ficar em casa. Se podes confiar em alguém, dizer algo, ou se será melhor calar-te, a criança prodigiosa te aconselhará sempre, e podes ter certeza absoluta de que ela nunca se enganará.
No terceiro ponto, o profeta nos revela quem é em realidade essa criança prodigiosa. Ninguém mais senão Deus, o Deus Onipotente, e Isaías nos recorda que esta força mística que transforma e reorganiza, é Deus sempre presente no íntimo de cada ser, e sempre prestativo, principalmente se aceitaste e compreendeste esta grande ideia espiritual. E, por ser Deus, a atividade desta criança é independente de todas as circunstâncias externas.
O quarto nome que o profeta atribui a esta criança é PAI ETERNO. Este ponto assinala nosso parentesco com Deus em termos inequívocos. Também Jesus indicou claramente que Deus é nosso Pai, não só nosso Criador, e nós, como filhos de um Pai bom, podemos esperar que Ele nos abasteça com tudo de que o corpo e a alma necessitam. Porém, cada um tem que reconhecer, por si mesmo, em sua própria consciência, esta realidade, e, como a nossa demonstração é simplesmente a medida de nosso conhecimento, é da nossa compreensão, que esta realidade divina, vem a ser o fruto de nossa própria alma e pode ser misticamente denominado de “nossa criança”.
Enfim, no quinto ponto, a criança é denominada pelo profeta PRÍNCIPE DA PAZ. Experimente meditar o que significa esta denominação na prática. Nada menos do que ser esta criança prodigiosa, a ideia espiritual nascida na tua alma, o PRÍNCIPE DA PAZ. Medita: que significaria para ti a paz de alma perfeita se tu a tivesses já conseguido? Se a tua alma tivesse de fato encontrado a paz, será que poderias admitir que teu corpo haveria de ser vulnerável à doença? Pressupondo que tivéssemos a verdadeira paz na alma, como seria fácil ocuparmos no mundo o nosso verdadeiro lugar! Que não haveria de significar para nós a riqueza, a felicidade, o contentamento? Com quanta facilidade poderias concluir a tua obra? Trabalhos que talvez nunca tenhas feito em tua vida, poderias realizá-los pela metade do tempo usual. Deves ficar bem certo é de que, se conseguires a perfeita paz da alma, então será possível, a esta força mística, a esta criança prodigiosa ensinar-te coisas que aqui na terra ninguém esperava ter capacidade de fazer, porém, ela só te ensinará se tu assim o desejares, e estiveres disposto a fazer tais coisas. Assim, a verdadeira natureza desta criança prodigiosa é dar-te a paz da alma, e por isto denominada de PRÍNCIPE DA PAZ.
Isaias vai além disso e diz: uma vez começado o caminho, não há mais fim, e subimos às alturas mais elevadas no nosso estado de consciência até o dia esperado. O seu império se estenderá cada vez mais, e a paz não terá fim, assentar-se-ia sobre o trono de Davi, e sobre o seu reino, para o firmar e fortalecer em juízo e justiça, desde então e para sempre. “O trono de Davi” significa Jerusalém, a qual é JERUSALÉM, a cidade da paz, daquela paz da qual falamos, e Jerusalém significa simbolicamente, a consciência despertada. De fato, o progresso e o crescimento desse governo, dessa condição, não terão fim e, devido à possibilidade de as almas mais fracas, os ímpios, os desanimados e os medrosos, acharem impossível acreditar que tão boa mensagem possa ser verdadeira, reúne o profeta todo o assunto numa afirmação definitiva: “O zelo do Senhor dos exércitos fará isso”.
Essa explanação deverá remover todo o sentimento de responsabilidade pessoal, porque, teremos então percebido, através dela, que a semente está precisamente escondida nesta afirmativa: “O governo e a direção deviam descansar nos Seus ombros”, nos ombros de Deus, da Criança prodigiosa, que é o Cristo Interno, na Filosofia Rosacruz.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1969-Fraternidade Rosacruz-SP)
(*) Pintura: Detalhe de Ensinamentos no Templo-Boy Jesus in the Temple-Heinrich Hofmman (1881)
Max Heindel escreveu que o uso das palavras para expressar o pensamento é o mais alto privilégio humano. Podemos encontrar na Bíblia diversas passagens que expressam o poder da palavra.
Desde o início da criação em Gênesis 1:1 (“Deus disse: ‘Faça-se a luz’! E a luz se fez. ‘Faça-se um firmamento entre as águas, separando umas das outras’. E Deus fez o firmamento”) até no Novo Testamento com os ensinamentos de Cristo, como, por exemplo, quando Cristo-Jesus acalma a tempestade quando Ele e seus discípulos estavam num barco, em Mateus 8:24-27: “…Ele levantou-se e intimou aos ventos e ao mar e se fez grande bonança. E os homens se admiraram dizendo: ‘Quem é este, que até os ventos e o mar lhe obedecem?’”. Ou em João 1:1: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Tudo o que feito, foi feito por ele e nada do que tem sido feito foi feito sem ele”, Onde se mostra o Segundo aspecto do Ser Supremo que, por meio da palavra, trouxe a existência tudo que há.
E assim é porque a palavra é criadora. Agora, por que ela é criadora? Porque ela advém de uma parte da nossa força sexual criadora.
Tudo começou ainda quando éramos todos, hermafroditas, capazes de nos reproduzir sozinhos, mas éramos inconscientes dos nossos Corpos e, portanto, incapazes de criar e de se expressar nesse Mundo Físico.
Quando tomamos posse desses nossos Corpos (ou veículos de expressão) foi necessário construir o cérebro e a laringe para podermos criar nesse Mundo Físico. Estávamos na Época Lemúrica. Por falar nela, vale lembrar aqui, que nessa Época considerávamos a palavra como algo santo. Era empregada sobre a orientação das Hierarquias Criadoras que nos guiavam. Cada som emitido por nós lá tinha poder: sobre os semelhantes, os animais e sobre a Natureza circundante. Oras, trata-se de dois órgãos físicos criadores, portanto, necessitaram de força criadora para serem construídos!
Assim, metade da nossa força criadora sexual foi utilizada para a construção desses dois importantes órgãos. A laringe se formou em nós, quando nossos Corpos Densos ainda tinham a forma de um saco dilatado. Podemos ter a ideia de como era observando um embrião humano, quando passamos pela fase Lemúrica da gestação.
Conforme o Corpo Denso foi tomando a posição vertical, como é hoje, parte dessa força sexual criadora permaneceu com a parte inferior do Corpo Denso, nos órgãos sexuais, e parte com a parte superior convertendo-se na laringe e no cérebro. Assim, o poder da palavra é criador!
Como lemos em Gênesis: 1:26: “Façamos o homem à nossa imagem e segundo nossa semelhança”. Ou seja: a habilidade criativa de Deus está refletida em nós. Nós somos deuses em formação e, toda vez que falamos nós estamos exercitando esse poder dado por Deus. Nós estamos aprendendo, por tentativa e erro e por meio da Lei de Causa e Efeito, de tudo que nós criamos. Cristo disse: “Toda palavra que o homem falar, ele deve dar conta dela no dia do seu julgamento. Pelas suas palavras será justificado e pelas suas palavras será condenado” (Mt 12:36). Isso está se referindo ao processo da criação do nosso pessoal “Livro da Vida”. O Éter que respiramos junto com o ar está carregado com uma precisa quantidade e qualidade de todas as nossas: pensamentos, sentimentos, emoções, desejos e palavras, ações, atos e obras. Esses são transmitidos dos pulmões para o sangue que circula pelo coração a cada instante da nossa vida. Na sua passagem pelo ápice no ventrículo esquerdo do coração é gravada toda essa imagem fidedigna no Átomo-semente do Corpo Denso que lá está, e que constitui o nosso “Livro da Vida” pelo qual seremos julgados após o término de cada existência aqui na Terra. Por isso é que devemos evitar o quanto pudermos o bulício dos seres humanos no nosso ambiente ao redor.
Mas, por que razão nos atraem as falas e conversas supérfluas, a imensa maioria calcada no inferior, na fofoca, no mal? Gostamos tanto de falar porque pretendemos, com essas conversas, sermos consolados uns pelos outros e desejamos aliviar o coração fatigado por preocupações diversas que se resumem na falta de fé em Deus.
E, assim, perdemos o nosso precioso tempo sentindo prazer em falar e pensar, ora nas coisas que muito amamos e desejamos, ora nas que nos contrariam. Mas que ilusão a nossa!
Em vão buscamos esse tipo de consolação exterior que decididamente afasta a verdadeira consolação que é a interior e divina. Cumpre, portanto, de nos vigiar e orar, para que não passemos o nosso tempo ociosamente. Se for lícito e oportuno falar, que seja de coisas edificantes!
É certo que o mau costume e o descuido do nosso progresso espiritual concorrem muito para o desenfreamento de nossa língua. E o descuido do nosso progresso espiritual está com a eterna desculpa de falta de tempo.
Se nos abstivermos de conversações supérfluas como também de ouvir novidades e boatos acharemos tempo suficiente e adequado para cuidarmos do nosso progresso espiritual.
Como disse Sêneca na Epístola n.7: “Sempre que estive entre os homens, menos homem voltei”. Isso experimentamos muitas vezes, quando falamos muito. Mas fácil é calar de todo, do que não tropeçar em alguma palavra. Portanto, utilizemos o uso da nossa palavra o mais santamente que possamos.
Sabemos que a Fraternidade Rosacruz simboliza o futuro desenvolvimento do ser humano. Quando ficamos de pé, com os braços estendidos de modo que formemos uma cruz, nós encontramos que a posição da laringe corresponde a posição da rosa branca do Símbolo Rosacruz. O sangue sem paixão da planta ascende através do seu caule até o seu órgão reprodutor, o cálice da planta. Assim também, quando dirigimos toda a nossa força sexual criadora para cima, a laringe se torna espiritualizada, tornando-se o receptáculo da purificada, conservada e transmutada força sexual criadora. A voz terá o poder: da benção, da cura e da criação. A mesma cura pela palavra que vemos feita por Cristo em diversas passagens na Bíblia, como por exemplo, na cura do paralítico em Jerusalém, em João 5:8: “Ordenou-lhe Cristo-Jesus: ‘levanta-te, toma o leito e anda’. No mesmo instante aquele homem ficou curado, tomou o leito e andou”. A mesma criação que vemos feita por Cristo em diversas passagens na Bíblia, como por exemplo, na multiplicação dos pães em João 6:10-13: “Disse André a Cristo-Jesus: ‘está aqui um menino que tem cinco pães e dois peixes, mas o que é isso para tanta gente?’ Sentaram-se, pois, os homens em número de uns cinco mil. Cristo-Jesus, então, tomou os pães e, dando graças, deu aos que estavam sentados e, também, os peixes, tanto quanto quiseram. Depois de saciados, disse aos seus discípulos: ‘recolhei os pedaços que sobraram, para não se perderem’ Recolhendo, encheram doze cestos de pedaços que dos cinco pães de cevada sobraram”.
Ou seja: a laringe falará a Palavra Perdida, ou Fiat Criador no passado empregado por nós, sob a orientação das Hierarquias Criadoras na Época Lemúrica. Seremos um criador de verdade e não na forma relativa e convencional do presente. Empregando a palavra apropriada poderemos criar um corpo. Portanto, tratemos de expressar palavras unicamente quando houver oportunidades de serem construtivas. Caso contrário, guardemos em nosso silêncio. Como dizem, o silêncio é de ouro. Na verdade, através dele podemos guardar a nossa força sexual criadora expressa em nossas palavras a fim de ser utilizada quando realmente for necessário.
E como lemos nos Preceitos para o Estudante Rosacruz: “Considerando que o silêncio, em verdade, é um dos maiores auxiliares para o crescimento da alma, procuremos sempre no ambiente onde se encontramos predominar: a paz, a harmonia e a calma”.
Vamos, então, fazer cada esforço para sermos guiados pelo nosso Cristo interno, contraparte do Cristo externo, nosso guia e salvador, falando somente o que é bom e nos esforçando para exercitar nossas habilidades criativas para a glória de Deus.
Que as Rosas floresçam em Vossa Cruz
Cristo-Jesus utilizou a pedagogia das parábolas como método de comunicação de lições espirituais profundas que necessitava ser transmitida para a Mente infantil que nós, enquanto humanidade, ainda possuímos. Todas as parábolas dadas por Cristo foram construídas de modo a possuir tanto ensinamentos para almas jovens como para almas mais velhas, obedecendo à máxima compreendida por São Paulo: “dar leite aos fracos e carne para os mais fortes”. Isso também significa que os ensinamentos contidos na Bíblia obedecem ao método de “espirais dentro de espirais” e, conforme vamos progredindo, um mesmo ensinamento oculto passa a ter um novo prisma e mensagens antes obscuras, passam a ser nítidas.
Corinne Heline ensina-nos que ao estudarmos a Bíblia devemos compreender que todos os personagens e eventos nela contidos estão relacionados com nossas vidas, e cada qualidade e atributo devem ser por nós cultivados ou erradicados. Além disso, “cada lugar mencionado representa o aqui e o agora, e cada personagem mencionado é você, você mesmo”. A leitura das parábolas da Bíblia sob esse prisma permite estabelecermos uma compreensão mais condizente com a realidade da parábola. Tentaremos aplicá-lo na parábola do Filho Pródigo.
Conforme relatado no Evangelho de São Lucas, capítulo 15, versículos de 11 a 32:
“Disse ainda: ‘Um homem tinha dois filhos. O mais jovem disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, ajuntando todos os seus haveres, o filho mais jovem partiu para uma região longínqua e ali dissipou sua herança numa vida devassa. E gastou tudo. Sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a passar privações. Foi, então, empregar-se com um dos homens daquela região, que o mandou para seus campos cuidar dos porcos. Ele queria matar a fome com as bolotas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. E caindo em si, disse: ‘Quantos empregados de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome! Vou-me embora, procurar o meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um dos teus empregados’. Partiu, então, e foi ao encontro de seu pai. Ele estava ainda ao longe, quando seu pai viu-o, encheu-se de compaixão, correu e lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. O filho, então, disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho’. Mas o pai disse aos seus servos: ‘Ide depressa, trazei a melhor túnica e revesti-o com ela, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e festejemos, pois, este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi reencontrado!’ E começaram a festejar. Seu filho mais velho estava no campo. Quando voltava, já perto de casa ouviu músicas e danças. Chamando um servo, perguntou-lhe o que estava acontecendo. Este lhe disse: ‘É teu irmão que voltou e teu pai matou o novilho cevado, porque o recuperou com saúde’. Então ele ficou com muita raiva e não queria entrar. Seu pai saiu para suplicar-lhe. Ele, porém, respondeu a seu pai: ‘Há tantos anos que eu te sirvo, e jamais transgredi um só dos teus mandamentos, e nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos. Contudo, veio esse teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, e para ele matas o novilho cevado!’ Mas o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois, esse teu irmão estava morto e tornou a viver; ele estava perdido e foi reencontrado!’’”.
O filho mais jovem (que também representa você) de um homem poderoso (que representa Deus) diz a seu pai: “Pai, dá-me a parte da herança que me cabe”. Cheio de vida e bens, esse filho sai para o mundo, não mais se importando com sua origem, com sua herança ou com seu Pai. Apenas era-lhe importante sua própria vida e seus interesses. Nós também, enquanto jovens e/ou cheios de vida, pouco importamos com nossa origem, ou com a origem das dádivas que recebemos diariamente. Em verdade, pouco importa questões como estas. Estamos tão ocupados com nossos interesses pessoais que questões espirituais ou são deixadas de lado ou a tratamos da maneira mais passiva possível, mormente, baseada no medo ou na mínima obrigação. Enquanto nossas riquezas de juventude e vida durarem, aproveitar a vida parece ser a melhor solução.
O fato é que, conforme os anos vão passando, acabamos por gastar tudo o que temos. Não necessariamente riquezas materiais, mas riquezas como saúde, tempo, relacionamentos, oportunidades e energia, e acabamos cheios de doenças, ociosidade, retraimentos, medos e vícios. Em verdade gastamos toda nossa real riqueza com o egoísmo e individualismo. Com efeito, acumulamos diversas dívidas de destino. Quando percebemos o que fizemos e a condição precária que construímos (e isso normalmente ocorre quando estamos enfermos em uma cama), lembramos de nossa origem e dos bens de nosso Pai. Então dizemos como o filho pródigo: “vou-me embora (dos interesses materiais), vou procurar meu pai e dizer-lhe: Pai pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado de filho. Trata-me como um dos teus empregados”. E partimos de volta ao encontro de Deus, ou da parte espiritual.
O filho pródigo, quando estava voltando, arrependido para a casa de seu pai foi avistado. O Pai de longe o viu e encheu-se de compaixão, correu e lançou-se ao pescoço de seu filho e cobriu-lhe de beijos. Cristo Jesus disse: “Deveis ser perfeitos como o vosso pai celeste é perfeito” (Mt 5:48). “Aquele que procura limitar e enevoar nossa Mente, com ameaças do inferno (ou da Lei de Consequência), não compreendeu ainda nossa meta final”. Muitas vezes, esse medo enche nossa alma com sentimentos de tristezas e desânimos. Ficamos perturbados com a consciência que nos acusa dos erros que cometemos no passado e continuamos a acometer no presente. Deus, representado pelo Pai na parábola do Filho Pródigo, no entanto, ao verificar que estamos caminhando de volta para Ele, não se preocupa com a Lei de Causa e Efeito e com as punições que somos dignos de receber. Ao contrário, nos cobre de beijos, “manda trazer a melhor túnica, coloca-nos um anel no dedo, sandálias em nossos pés e faz uma festa com o melhor novilho da fazenda”. Cobre-nos com amor. Em verdade, Ele nos ama tanto, que foi capaz de enviar (e envia todos os anos) Cristo (o Filho) ao encontro da humanidade pecadora e errante, para que possamos a cada ano termos a disposição materiais de expressão de amor universal e, deste modo, termos condições de deixarmos o pecado.
Um outro personagem que também representa uma faceta de nossa Personalidade está na parábola: o irmão mais velho. Esse irmão, ao ver que o Pai estava comemorando a volta do filho pródigo, diz: “Pai, há tantos anos te sirvo e jamais transgredi uma só lei e nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos. Contudo, veio esse seu filho que devorou teus bens com prostitutas e para ele, mata um novilho cevado!”. Expressamos essa faceta muitas vezes, quando guardamos os mandamentos e praticamos nossos ideais. Quando somos justos. Então, verificamos que pessoas indignas também recebem graças ou novas oportunidades divinas e sentimo-nos ofendidos com essa injustiça. O Pai, no entanto, diz: “Filho, tu estás sempre comigo, e tudo que é meu é teu. É certo festejarmos (…). Seu irmão estava morto e tornou a viver; ele estava perdido e foi reencontrado”. Cada personagem mencionado na Bíblia é você, você mesmo: “Deveis ser perfeitos como o vosso pai celeste é perfeito” e bem-aventurados são os misericordiosos, porque estes encontrarão misericórdia. Estamos agindo com nossos irmãos e nossas irmãs do mesmo modo como o Pai do Filho Pródigo agiu com seu filho errante?
É importante que aprendamos a comemorar o retorno de nossos irmãos e de nossas irmãs errantes. Também é importante que saibamos acolher esse irmão ou essa irmã, assim como o Pai acolheu o filho pródigo. Mais importante ainda, devemos, de uma vez por todas, tomar a decisão de voltar para a casa do Pai, antes que a miséria tome parte de nossas vidas. A acolhida é certa se o arrependimento e a reforma íntima forem sinceros. Que sejamos corajosos e praticantes dessas qualidades e atributos ensinados na parábola do Filho Pródigo.
Que as rosas floresçam em vossa cruz
“Igualmente o Reino dos Céus é semelhante a uma rede lançada ao mar, que recolhe toda a qualidade de peixe. E estando cheia, os pescadores arrastam-na para a praia, sentam-se e juntam os peixes bons nas cestas, e jogam fora os maus. Assim será na consumação dos séculos: virão os anjos e separarão os maus dentre os justos. E lançá-los-ão na fornalha de fogo, ali haverá pranto e ranger dos dentes. E disse-lhes Cristo Jesus: ‘Entendestes todas estas coisas?’. Disseram-lhe eles: ‘Sim, Senhor’. E Cristo Jesus disse-lhes: ‘Por isso, todo o escriba instruído acerca do reino dos céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas’.” (Mt 13:47 a 52).
A palavra “rede” usada frequentemente nos Evangelhos como um meio de apanhar “peixe” simboliza os veículos superiores (principalmente o Corpo de Desejos) que formam a parte invisível, mas extremamente importante no desempenho das funções complexas do organismo humano e que conduz ao Ego (o “Eu superior”) as experiências (peixes) que são transmutadas em Alma ou alimento para o Espírito.
Como está estabelecido no livro Conceito Rosacruz do Cosmos, o ser humano é Tríplice Espírito, possuindo uma Mente por meio da qual governa um Tríplice Corpo, que ele emanou de si mesmo para ganhar experiência. Transmuta o Tríplice Corpo em Tríplice Alma, por meio do qual ele se alimenta passando da impotência à onipotência.
O “mar” representa o Mundo do Desejo, que interpenetra a Terra e se estende além da sua superfície e com o qual cada pessoa tem contato por meio do seu próprio Corpo de Desejos individual.
Quando a “rede” fica cheia, isto é, quando no fim de uma vida terrestre o Corpo de Desejos fica cheio de experiências, o Corpo Denso é abandonado. Começa então, um período de separação, “juntando os bons num cesto e lançando os maus ao mar”. Vem, inicialmente, a experiência purgatorial, como Max Heindel nos ensina em sua obra básica. Há duas atividades distintas no Purgatório. Primeiro, há a erradicação dos maus hábitos. Por exemplo, o beberrão (aqueles que abusaram indiscriminadamente das bebidas alcoólicas) continua a desejar a bebida da mesma maneira que desejava antes de morrer, mas agora não tem aparelho digestivo que possa (metabolizar o álcool) conter o álcool. De forma que, embora possa frequentar todos os lugares onde é possível tomar bebidas alcoólicas ou possa meter-se num barril de vinho penetrando no líquido, não conseguirá se satisfizer, como antes, enquanto encarnado, poderia. Não se produzem os vapores que são produzidos quando tem lugar a combustão no estômago.
Mas, como o desejo aqui, quando como estamos renascido, morre quando verificamos que ele não pode ser gratificado, com o tempo o beberrão fica curado do seu desejo de tomar bebidas alcoólicas, porque ele não pode ingerir a bebida, e assim, no próximo renascimento nasce inocente deste vício. Todavia, ele deve sobrepor-se ao vício “conscientemente”, e assim, em certa ocasião, vem a tentação para prová-lo. Dependerá de ele sucumbir ou se sobrepor a essa tentação. Se ceder à tentação, peca novamente e de novo deverá ser purgado, até que por fim, as penas acumuladas nas repetidas existências purgatoriais, farão com que despreze a bebida alcoólica. Então, ele se sobreporá conscientemente à tentação e não mais terá sofrimentos provenientes dessa fonte.
Nas experiências seguintes, no Mundo celeste, os bons desejos e atos de desprendimento constituem a base dos sentimentos e desejos amalgamados no Ego pelas forças alquímicas espirituais geradas durante as experiências no Primeiro Céu que transformam essas experiências em faculdades utilizáveis em futuros renascimentos.
Publicado na Revista Serviço Rosacruz de 1958 – Fraternidade Rosacruz – SP
Não é estranho que poucas pessoas possuam uma fé real e viva em Deus? Mesmo entre os Cristãos assumidos há comparativamente poucos que tenham confiança real no Pai Celestial. Fé não significa simplesmente a crença na existência de Deus; fé significa confiança — é nos colocar em Suas mãos. A fé, como todas as outras qualidades e virtudes, cresce apenas pelo exercício. Aprenda a confiar no Pai em tudo, nas menores e nas maiores coisas da sua vida.
Isso significa a libertação das preocupações, medos e inquietações das quais o mundo está tão cheio. Abra a Mente e o Coração para receber a verdade de qualquer fonte que ela venha, acreditando que o bom Deus o tenha sob Sua guarda. Pois quando colocamos nossa confiança em Deus, fazemos uso de uma Lei Divina que nos sustenta em todas as provações e problemas da vida. É como se tivéssemos agarrado a Mão Todo-poderosa que é capaz de fazer tudo e vencer todas as coisas por nós. Fazemos a conexão entre nossa fraqueza e Sua força, que é maior que todas.
A fé é fraca no início e, às vezes, é necessário estarmos em situações extremas antes de podermos buscar a ajuda de Deus; então, mesmo o menor grau de fé fará com que o Pai Celestial venha em nosso auxílio. “A nossa fraqueza é a oportunidade de Deus”. Ele é o sempre fiel. Lembre-se de que Ele diz: “Nunca te deixarei, nem te desampararei”.
A simplicidade dessa maneira de se confiar em Deus faz com que pareça fácil demais para a maioria dos das pessoas. Requer uma certa simplicidade da natureza, uma Mente infantil. Você se lembra que Cristo disse que devemos nos tornar como criancinhas? Mas a maioria de nós procura grandes dificuldades para superar, objetivando estabelecer uma conexão com o Pai Celestial. É em grande parte uma questão de relaxar, deixar ir, jogar fora da Mente e do Coração qualquer fardo ou problema que vier, olhando simplesmente para Ele e aceitando como vindo de Sua Mão tudo o que surgir. E não podemos fazer nada mais agradável a Ele, ou mais útil a nós mesmos, do que exercer confiança em todas as condições. E nossa capacidade de fé cresce com seu exercício. Quanto mais usamos, mais temos.
Chega um momento, em nosso crescimento, em que não tememos mais nada — neste Mundo visível ou em qualquer outro dos Mundos Invisíveis. Alcançamos um equilíbrio, uma paz de espírito e serenidade de alma, uma tranquilidade de Coração que deve ser uma antecipação da bem-aventurança celestial. Compreendemos a suprema sabedoria de deixar todas as coisas serem ordenadas pela Perfeita Sabedoria e Perfeito Amor e entendemos que nossas próprias vontades, devido ao nosso entendimento imperfeito, estão propensas a contrariar Sua Vontade, que é sempre para nossa perfeição e felicidade.
“O Senhor é bom, uma fortaleza no dia da angústia, e conhece os que n’Ele confiam.”
“Eu, o Senhor, seguro-te pela mão direita e digo: ‘Não temas; Eu te ajudarei’.”
“Em todos os teus caminhos, reconheça-O e Ele endireitará os teus caminhos.”
“Quem assim confia no Senhor, feliz é ele.”
“Ainda que Ele me mate, ainda assim confiarei Nele.”
“Tu manterás em perfeita paz aquele cuja Mente está firme em Ti, porque ele confia em Ti.”
Há muitas, muitas passagens na Bíblia que nos suplicam a confiar n’Ele. Uma sugestão: leia o Salmo 23 e o Salmo 91. Acredite que tal confiança é o remédio soberano para todo problema ou perigo, oculto ou não, e que nos apegando a Ele somos mantidos seguros até o fim.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de julho-agosto/1995 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)
Que as rosas floresçam em vossa cruz
Todos sempre dizemos que temos “uma cruz” para carregar, mas isso é apenas um ditado popular; o que temos são nossas dívidas – contraídas em vidas passadas, devido as nossas transgressões às Leis Divinas e, muitas vezes, a nossa insistência em atrapalhar esse perfeito Esquema de Evolução – que escolhemos pagar nessa vida (quando estamos nos preparativos para esse renascimento no Terceiro Céu e escolhemos dentre os Panoramas que nos são apresentados), nessa grande escola da vida, aqui renascidos nesse Mundo Físico.
Essa “cruz” é exatamente o que podemos suportar. Nunca nos é dado “um fardo maior do que podemos carregar”.
Então, arregacemos as mangas e com toda a disposição, toda vontade, vamos torná-la a menos pesada possível.
Carregue-a sem dureza, inteligentemente, mostrando a superioridade da boa vontade e a elegância do consentimento.
Carregue-a devagar, sem pressa nenhuma, sabendo que nunca lhe será fácil andar assim a dois: você e sua cruz.
Carregue sua cruz, em silêncio, sem espalhar pelos quatro ventos o tamanho do seu peso, a profundidade da sua chaga, a conta exata dos meses e anos, que tem cruz nos ombros.
Carregue sua cruz, sabendo que todos a têm e que a sua nem sempre é a mais pesada, mais dura e duradora.
Carregue sua cruz, elegantemente, sem aumentar a dos outros com a propaganda da sua como se todo mundo tivesse de ser seu Cirineu, outro ofício não tendo na vida, a não ser na sua cruz.
Carregue sua cruz, aceitando o grande ritmo da vida humana, que é o dia a dia, sem implicância com o amanhã, sem aderências com o ontem, firme, fiel, feliz, como o dia que nasce e a fonte que mana.
Carregue sua cruz, lado a lado com seu irmão, carregador de cruz também, sentindo-se bem em pertencer ao mesmo exército de luta.
Carregue sua cruz, indo contra alergias, deitando por terra antipatias surdas, chegando a dialogar com o madeiro carregado.
Carregue sua cruz, crendo que ela vale, que ela promove, descobrindo que só ela vale, na vida: só ela promove os vivos.
Carregue sua cruz, retomando-a, logo que acordam as primeiras barras do dia, antes que o desgosto traga suas alergias.
Carregue sua cruz, tomando parte na imensa procissão dos vivos, no mais idoso cerimonial da mais anciã das liturgias.
Carregue sua cruz, de rosto manso, de alma lisa, de coração inteligentemente alerta, como ofício de base, gesto natural.
Carregue sua cruz, mostrando que deu uma batalha e levantou a palma de uma vitória, uma das que mais importam na vida.
Carregue sua cruz na dificuldade que encontrou, purificando-se no fogo que tocou, pulando o abismo que viu.
Carregue sua cruz, acreditando nas vantagens que lhe trará, certo da promoção que esconde, buscando a lição que contém.
Carregue sua cruz, distraidamente sem passar os dias e as horas, na parada contemplação da dor, que lhe visita a vida.
Carregue sua cruz, como quem leva uma pedra fundamental de construção, finca um pilar de ponte, passa num exame, sobe um degrau.
Carregue sua cruz, de pé, como as árvores, como os faróis da barra, como os montes que peregrinam para cima.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de outubro de 1969-Fraternidade Rosacruz-SP)