Já se escreveu e falou sobre a natureza autossacrificadora do serviço amoroso à humanidade que os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental expõem. Sacrifício de interesses, desejos, objetivos, tempo e, às vezes, até da saúde pessoal são requisitos para o desempenho de tal serviço.
Entretanto, quem de nós considerou alguma vez o sacrifício do medo a esse respeito? Na verdade, percebemos que devemos aprender a superar o medo físico — medo do fogo, das alturas, de doenças e outros desse tipo. Isso é bastante simples de se compreender e certamente necessário, se o nosso serviço a outra pessoa tiver que ser aperfeiçoado.
De fato, o medo é o maior obstáculo que o Auxiliar Invisível consciente (aquele ser humano que já possui um Corpo-Alma suficientemente desenvolvido que lhe fornece a capacidade de trabalhar, fora do seu Corpo Denso e normalmente à noite, conscientemente nos Mundos suprafísicos) deve aprender a suplantar. Antes que ele possa trabalhar e ser bem-sucedido no Mundo do Desejo, deve estar plenamente convencido de que nem o fogo, nem a água, nem quaisquer outros objetos ou entidades têm força para molestá-lo. Destarte, a vitória sobre esse tipo de medo, no plano físico, é um prelúdio importante para que consigamos nos tornar um Auxiliar Invisível consciente.
Existe outra espécie de medo, contudo, muitas vezes não reconhecido como tal. Trata-se do medo de nos projetar diante dos outros ou nos expormos às suas apreciações críticas, medo esse talvez mais conhecido como acanhamento ou timidez. Existem, certamente, graus de timidez, e a maior parte das pessoas tem momentos nos quais preferiria que ninguém se apercebesse delas ou que pudessem evitá-las, desempenhando uma tarefa que não as expusesse diante dos olhos do público.
Existem algumas pessoas, todavia — e talvez em maior número do que geralmente se crê —, as quais o exame por parte do público, seja ele em relação ao que for, tanto por parte de três pessoas sentadas em uma sala quando nela se adentra ou da parte de um auditório completamente tomado por espectadores ansiosos, consiste em uma agonia completa. Essas pessoas, muitas das quais talentosas e que poderiam trazer contribuições construtivas à melhoria do gênero humano, fogem das oportunidades de “deixar as suas luzes brilharem”, simplesmente porque são muito temerosas de se erguerem diante de outras e tornar conhecidos os seus pontos de vista ou, por seus próprios meios, tornar os seus talentos conhecidos.
A timidez nada mais é do que a falta de autoconfiança. “O que eles estão pensando a meu respeito?” ou “O que eles irão dizer?” é o tipo de pensamento que, consciente ou inconscientemente, predomina na Mente de uma pessoa tímida. Todo ato público seu é cercado por uma muralha de autodúvida, hesitação e desejo de terminar o quanto antes o serviço e desaparecer. Como resultado, muitas vezes o trabalho é mal executado e os circunstantes de fato pensam coisas negativas sobre o seu realizador. Caso ele estivesse à vontade e trabalhasse bem, aconteceria justamente o oposto. E todo o episódio consiste em uma perda de tempo e de energia e serve apenas para criar vibrações desagradáveis que perpetuarão aquilo que teria sido melhor não fazer.
Por quê? Tudo porque a essa pessoa faltou confiança em si mesma.
Como sabemos muito bem, cada um de nós tem a centelha do Divino dentro de si. Quanto mais permitirmos que essa centelha nos penetre e governe as nossas ações, tanto mais razão teremos para termos autoconfiança. De certa forma, pode-se até mesmo dizer que a timidez consiste em uma blasfêmia porque nega essa centelha Divina, a qual, se lhe fosse dada uma oportunidade, melhoraria nossas ações e nossas imagens.
Vista de outro ângulo, a timidez consiste em uma forma pervertida de autoindulgência e presunção. A maior parte de nós concordaria que os que não tenham paciência com os pontos de vista ou paixões de outras pessoas são egocêntricos. O extremo oposto, a timidez, é outra forma desse mesmo egocentrismo. Ao invés de se concentrar no que poderia fazer em proveito de outrem, de quem tanto receia, a pessoa tímida concentra-se muitas vezes no que poderia fazer para evitar a execução de algo, escapando assim de ser notada. Pensa totalmente em si própria da mesma maneira com que um presunçoso faz.
A pessoa tímida, portanto, deplora o dedicar-se ao serviço amoroso não menos do que a egocêntrica e egoísta o faz, embora possa não perceber isso e mais do que provavelmente não tencione isso. Frequentemente, uma pessoa tímida tem um desejo ardente de se mostrar prestativa, mas é muito receosa das opiniões de outras pessoas, do mesmo modo que muitas que experimentam um medo físico se ofereceriam em momentos de perigo, caso não fossem tão medrosas em relação ao próprio perigo.
Conta-se que Max Heindel estava caminhando pela área de Mount Ecclesia, a alguns passos de uma jovem que fora destacada para fazer uma apresentação em um serviço da Pro-Ecclesia. Ela se queixava a seu amigo de que não desejasse apresentar — porque se sentia tímida para isso. Max Heindel, tendo ouvido isso casualmente, disse-lhe: “Minha cara, caso você não deseje apresentar na Pro-Ecclesia, não o faça. Esse tipo de serviço você não faria bem com semelhante estado de ânimo”.
Isso ilustra o ponto verdadeiramente importante de que o “serviço” que for relutado de um modo ou outro, até mesmo em virtude de timidez, não será um serviço na acepção dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental. Seria, entretanto, um exercício fútil, em maior ou menor grau que, na melhor das hipóteses, permitiria obter uma fração do que poderia ser obtido e, no pior dos casos, criaria uma condição completamente oposta àquela visada de início.
Realmente, é muito fácil dizer que a pessoa tímida necessita unicamente esquecer o seu medo de outras, concentrar-se na centelha Divina dentro de si e usá-la da maneira melhor em aplicações de benemerência; a timidez, então, se desvaneceria na alegria do serviço “auto-esquecedor”.
É o que realmente acontece. Mas, não é coisa fácil de se realizar. Não é mais fácil conquistar a timidez do que conquistar o medo do fogo, a claustrofobia ou quaisquer medos físicos que dominam nas vidas de qualquer um de nós.
Todavia, aqueles que forem tímidos devem vencer esse temor e, do mesmo modo que muitos outros anteriormente, poderão juntar-se às fileiras dos serviçais altruístas, os trabalhadores do Reino de Cristo. A conquista da autoconfiança demanda tempo e é feita em pequenas etapas; para isso, haverá muitos momentos de “exposição pública” tão amedrontadoras à pessoa tímida como uma exposição a um perigo físico. Ela muitas vezes cometerá erros — e quem não os comete? — e poderá, sem dúvida, passar por momentos nos quais todos os seus temores de ser ridicularizada ou escarnecida serão justificados. Mas, conhecerá também momentos de extrema satisfação, quando descobrir que poderá atuar diante da apreciação do público de modo tão satisfatório quanto outra pessoa qualquer e terá tanta possibilidade de ser ouvida e respeitada quanto aqueles indivíduos salientes os quais vinha até então invejando.
Em tempo e com persistência, perceberá com alegria que superou — sacrificou — o seu medo e pode, a partir daí, utilizar inteiramente as suas capacidades de servir.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de abril/1974-Fraternidade Rosacruz-SP)
INTRODUÇÃO
Vamos conceituar, primeiro, o que é um Audiobook ou Audiolivro: nada mais é do que a transcrição em áudio de um livro impresso digital ou fisicamente.
Basicamente, é a gravação de um narrador lendo o livro de forma pausada e o arquivo é disponibilizado para o público por meio de sites. Assim, ao invés de ler, o interessado pode escolher ouvi-lo.
Um audiobook que obedece ao conceito de “livro-falado” tenta ser uma versão a mais aproximada possível do “livro em tinta” (livro impresso), a chamada “leitura branca”, que, mesmo desprovida de recursos artísticos e de sonoplastia, obedece às regras da boa impostação de voz e pontuação, pois parte do princípio de que quem tem de construir o sentido do que está sendo lido é o leitor e não o ledor (pessoas que utilizam a voz para mediar o acesso ao texto impresso em tinta para pessoas visualmente limitadas).
Para que serve audiolivro?
O audiolivro é um importante recurso, na inserção do no ecossistema da leitura, para:
O audiolivro é apreciado por um público de diversas idades, que ouve tanto para aprendizado como para entretenimento.
************************************************************************************************************
FIM
Saibamos ou não, a repetição é uma constante em nossas vidas. Consideremos tanto os permanentes ciclos anuais de nascentes e poentes do Sol, quanto as nossas próprias rotinas diárias, sempre seguindo o mesmo programa: acordar executar um número de tarefas numa certa correlação e dormir.
Algumas pessoas fazem alusão à palavra “ritual” ou, respectivamente “rotina”, como atos repetitivos, maçantes, cerimoniais sem sentido, ou mesmo tarefas rotineiras monótonas, que devem ser “suportadas” e não obrigatoriamente executadas com um certo grau de boa vontade. Nossa interpretação da palavra “ritual” pode, certamente, ter esse tipo de conotação, se assim desejamos. Porém, se em nosso modo de ver, “ritual” equivale à “coisa monótona” não percebemos, infelizmente, o ritual em sua luz real e verdadeira, e afastamos uma poderosa ferramenta, que nos ajudará a construir o nosso progresso.
Os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental são claros e enfáticos a respeito da essencialidade da repetição para o desenvolvimento e espiritualização do Corpo Vital. Assim escreve Max Heindel: “A nota-chave do Corpo Vital é a repetição. Isso é fácil entender, quando levamos em conta que apesar de o Corpo Vital ter a faculdade de movimentar o Corpo Denso, só poderá conseguir movimentos satisfatórios mediante impulsos similares e repetidos. O Corpo Vital aprende a adaptar-se à coordenação dos movimentos do Corpo Denso, sob comando do espírito”. O bebê não caminha com perfeição, na sua primeira tentativa, e nem o músico chega a ser um instrumentista perfeito, após suas primeiras aulas de música. A repetição é indispensável para que os dedos do instrumentista e os pezinhos do bebê possam se movimentar como o Ego deseja. Nossos Ensinamentos Rosacruzes ainda dizem: “As escolas Ocultistas de todas as idades têm estabelecido como alvo a possibilidade de treinamento do Corpo Vital, por meio do trabalho com a sua nota-chave: a repetição”. Para essa finalidade, foram elaborados vários rituais correspondendo aos vários estágios evolutivos da humanidade. Dessa maneira conseguiu-se um progresso espiritual lento, porém seguro, independentemente da percepção, ou não, do ser humano, de que estava sendo “esmerilhado”. Os Serviços Devocionais do Templo e de Cura da Fraternidade Rosacruz são também conduzidos por cerimoniais ritualísticos.
Há quem se queixe de que uma estrutura formal, em constante repetição, torna qualquer serviço divino monótono, e que o fato de ter de falar e ouvir sempre a mesma coisa não estimula os participantes. Essas pessoas não entendem, porém, que realmente o nosso Corpo de Desejos, que nós sentimos como a nossa “natureza emocional”, está sempre à “procura de novidades”. A inconstante natureza de desejos é facilmente atraída de uma emoção à outra, sendo assim potencialmente destrutiva, se não estiver devidamente controlada. Os serviços religiosos em que são utilizados tanto a oratória de grandes efeitos emocionais ou hipnóticos, quanto outros detalhes, nas respectivas liturgias, são particularmente atraentes aos Corpos de Desejos dos participantes. “Eles reagem ao teor emocional do serviço religioso, sentindo-se praticamente em levitação. O efeito, porém, é puramente temporário, e um novo contato com essa liturgia emocional causará mesmo arroubo religioso, arrependimento, ou qualquer outro sentimento que estava sendo induzido no grupo. Assim, o serviço ‘cheio de novidades’, não teve efeito duradouro nos participantes. Por outro lado, o efeito repetitivo da cerimônia ritualística é sentido no Corpo Vital que é de natureza mais estável, apesar de não se obter resultados tão dramáticos em termos de impressões recebidas pelo participante.”
Muitos se revoltaram contra a disciplina da rotina do trabalho diário. “Ah se eu pudesse não trabalhar hoje”, dizem, “Há tanta coisa por fazer aqui em casa”, ou “Há tanta coisa que eu faria para me realizar, em vez dessa droga de emprego” ou “como gostaria de ficar em casa e não fazer NADA!”. Não há dúvida, uma mudança de vez em quando é necessária e é perfeitamente lícito “não fazer nada” por um curto espaço de tempo num merecido descanso. Necessitamos da disciplina de um dia de trabalho, para nos manter, por assim dizer, dentro dos nossos “eixos” de produtividade, apesar de não pensarmos assim. Somos, realmente, extremamente criativos com que “poderíamos fazer se tivéssemos tempo à nossa disposição”. Porém muitos de nós verificariam que se não fôssemos obrigados a trabalhar para viver, ou cuidar de nossos lares, ficaríamos anestesiados por uma preguiça aguda. Há poucos dentre nós que têm bastante autodisciplina e força de vontade para permanecer em altos níveis de produtividade e aspiração, faltando o estímulo do dever. A tentação de “diminuir o ritmo” ou sair na perseguição de “passatempos” é, geralmente, grande demais para poder ser vencida com êxito, por uma certa duração de tempo. Assim sendo, mesmo se as férias e dias feriados são justos, é também uma boa coisa muitos serem forçados pelas circunstâncias a trabalhar para viver, ou tomar conta dos afazeres domésticos seguindo assim um ritual do trabalho.
Da mesma forma, deveríamos fazer um esforço para instituir o que chamamos de “ritual do serviço” dentro da rotina de nossas vidas diárias. Muitas pessoas partidárias entusiastas da ideia do serviço, ficam devendo o que se esperaria delas em termos de “obras” de serviço. Gostariam de ajudar o seu semelhante de uma ou outra maneira; quando chega a hora da implementação desse objetivo, acabam por achar que “não dispõem de tempo necessário”. Mediante uma observação mais criteriosa, porém, poderá se verificar que teriam tempo, se soubessem dividi-lo de maneira mais criteriosa.
Poucos são, realmente, tão ocupados com responsabilidades para com suas famílias, ou para com eles mesmos, que não possam doar, pelo menos algumas horas da semana para o serviço em benefício da humanidade. Não que as nossas responsabilidades para com as famílias que constituímos não sejam uma forma de serviço. Pelo contrário, servimos no seio da família. Há, porém, uma diferença, entre providenciar por meio do trabalho o sustento físico da família, ou trabalhar longas horas simplesmente para alcançar um mais “alto padrão de status social”, acomodações mais luxuosas, aumentar o poder e o prestígio no mundo, etc.
Da mesma forma, nossas responsabilidades legítimas para com a nossa pessoa são, de direito, somente aquelas que dizem respeito ao crescimento anímico, ao progresso evolutivo e à manutenção das necessidades básicas de nossa existência física. Não são consideradas nessa categoria de legitimidade muitas das atividades egoístas para as quais devotamos tanto tempo e energias. De fato, o crescimento anímico é uma de nossas responsabilidades legítimas, e visto que tal crescimento anímico é adquirido mediante o serviço para com os outros, é nosso dever incorporá-lo na rotina de nossas atividades como não olvidamos de alimentar-nos, dormir, trabalhar por dinheiro e do nunca esquecido lazer.
O ritual do serviço, mesmo tendo certas características repetitivas, não requer em absoluto a execução do mesmíssimo serviço, sempre de forma semelhante e a mesma hora do dia. Pelo contrário, o serviço, para ser realmente de primeira ordem deve ser executado quando e onde for verificada a necessidade, sem planejamentos prévios ou programações. Lógico, é excelente devotar um dia particular de cada semana para trabalhar no hospital mais próximo, creche ou instituição parecida. No resto da semana, porém, não temos o direito de ignorar tais ocasiões de servir dando preferência sempre aos nossos interesses pessoais.
Se sabemos que “teremos que servir” como sabemos que “teremos de “comer” ou “dormir”, estaremos mais alertas a discernir as oportunidades para o serviço, conforme apareçam. Incorporadas ficarão, então, às nossas vidas, tal um verdadeiro “ritual do serviço”, a ser repetido muitas vezes. Se determinarmos não deixar um dia passar sem, de alguma forma ter servido alguém, e seguramos esse propósito firmemente em nossas Mentes, ao despertarmos veremos como nossa atenção se voltará automaticamente para as oportunidades de servir que nos foram dadas. Depois de certo tempo, quando nosso campo de ação ficar maior, quando servirmos automaticamente, dia a dia, em cada ocasião que nos for apresentada, então o fato e não a ideia de serviço nos será como um reflexo, espontâneo e natural.
Como já foi mencionado, o ritual do serviço é, ou deveria ser caracterizado por certas qualidades indispensáveis. Como ideal deveria ser encarado o elemento da espontaneidade, que permite o pleno uso de cada oportunidade de serviço. O nosso “olhar do outro lado”, as nossas racionalizações, ou escusas “justificadas” por atividades, aparentemente urgentes, mas atualmente egoístas, não entrarão mais em nosso esquema de serviço. Faremos o máximo de cada oportunidade recebida pelo simples motivo que ela existe e, também, nos encontramos no mesmo lugar, sendo esse o tempo certo e o lugar certo para servir. Poderemos não julgar o trabalho envolvido particularmente atraente e talvez seja até necessário deixarmos de lado umas férias planejadas com muito carinho, a fim de que a tarefa seja executada. Já que a necessidade para o serviço existe e veio ao nosso encontro, faremos o melhor possível para remediá-la com o máximo de naturalidade.
A segunda qualidade, ideal para o ritual de serviço, é a alegria. Um serviço efetuado quando resmungamos por fora e estamos eivados de ressentimentos por dentro só tem um efeito parcial. O beneficiário sente nosso estado negativo e o seu alívio é diminuído pelas nossas reações indesejáveis. Igualmente, o servidor de má vontade não tem a atenção completamente voltada para a tarefa, uma parte dele está em desacordo, em conflito, parte dos pensamentos que deveria se voltar ao caso em pauta, redemoinha ao redor dos seus sentimentos menos desejáveis. Aquele que serve alegremente, dá o que tem de mais elevado em termos de potencialidades. Cada fibra de seu ser contribui à boa execução e os resultados são esplêndidos. Ele serve porque quer, não porque é empurrado pela sua consciência. As correntes, em seu Corpo de Desejos, não são cortadas pelo efeito congelador dos sentimentos negativos, permitindo que a pessoa produza o máximo em termos de Epigênese e ação. Sua qualidade de serviço é, portanto, infinitamente superior, à qualidade produzida pelo colega de pouca boa vontade.
A alegria, como a espontaneidade, são qualidades que não podem florescer no Estudante Rosacruz da noite para o dia. É muito humano o ser incomodado pelo apelo da consciência, mesmo se a pessoa procura atendê-lo. É tão humano ficar irritado quando os próprios os planos vão por água abaixo por causa das necessidades de um outro ser humano. É tão humano, também, o fato de se permitir que o cansaço ou os problemas pessoais oprimam o otimismo. Uma atitude alegre, em tempo integral, não se obtém, como já foi mencionado, da noite para o dia. Contudo, na medida em que o Aspirante à vida superior desenvolva a terceira qualidade necessária para o ritual do serviço, aprenderá a manter seu otimismo em níveis sempre mais elevados.
A terceira qualidade é o sentimento e a expressão do amor. Fala-se muito em nossos Ensinamentos Rosacruzes a respeito do serviço amoroso, que é a mais pura e aceitável forma de agir. O mandamento de amor, o Mandamento do Cristo, é o mais elevado pináculo evolutivo que pode ser atingido pela humanidade de nossos tempos. Definimos como “amor” o sentimento fraterno harmonizado com o amor universal, reconhecedor de que toda Vida procede de Deus e que todos somos parte desse glorioso Uno. Esse amor, levado às suas mais elevadas expressões, nos incentivaria um dia a dar até nossas vidas pelos nossos semelhantes. Esse amor que engendra o altruísmo, dá mais valor aos problemas do seu irmão e da sua irmã do que aos próprios problemas. Essa é, portanto, a qualidade que nos encoraja a tirar o máximo de resultados na hora de auxiliarmos o nosso irmão e a nossa irmã, e oferecer a nossa vida para o seu bem-estar.
Quando esse sentimento cria certa força dentro de nós, tanto a espontaneidade, quanto a alegria ficarão, automaticamente, integradas em nosso ritual de serviço. Se realmente amamos aos nossos irmãos e as nossas irmãs, no sentido expressado por Cristo-Jesus, nossas vidas serão marcadas por uma maneira de ser alegre, espontânea e serviçal, sem outras digressões.
É essa a meta final, porque sabemos que “o serviço amoroso e desinteressado é o caminho mais curto, mais seguro e mais alegre que nos conduz a Deus”. Quando aprendemos a palmilhar esse caminho exclusivamente, sem digressões e alterações de um lado ou de outro, o ritual do serviço será a nossa segunda natureza. Dará sentido às nossas vidas, contentamento íntimo, produzirá crescimento anímico e será a nossa mais importante atividade dentre todas as nossas atividades terrenas. Então, e somente então, os nossos Corpos Vitais ficarão gloriosamente espiritualizados, e nossos Corpos-Alma, formados pelos dois Éteres superiores de nosso Corpo Vital, serão poderosos e radiantes, de fato. Os nossos Corpos de Desejos, hoje tão afinados com tudo que é “diferente” “sensacional”, ou simplesmente novo, serão vistos como uma ferramenta útil e bela pelo sincero Aspirante à vida superior.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de outubro/1974 – Fraternidade Rosacruz-SP)
A antiga Fraternidade Rosacruz consistia de seres altamente espiritualizados, puros e de incomensurável sabedoria. Eram alquimistas médicos e matemáticos, doze indivíduos do século XIV, que foram orientados por um ser conhecido como “Cristão Rosa Cruz”.
Esses seres trabalharam secretamente e formaram uma fraternidade conhecida como “Ordem Rosacruz”.
Os conhecimentos de tal Ordem foram ministrados à apenas alguns sábios, sendo que nada foi revelado até o ano de 1614, data da publicação da Fama Fraternitatis, o primeiro manifesto Rosacruz. Essa sociedade secreta ainda existe e ainda trabalha pela elevação da humanidade. Somente aqueles que possuem um amplo desenvolvimento espiritual são admitidos como membros no círculo interno do movimento Rosacruz.
Tais “médicos da alma” engajados no controle interno deste grande movimento estão intimamente associados à evolução do mundo. Esses irmãos trabalham de forma secreta, incansável e abnegadamente pelo bem da humanidade.
Em 1908, Max Heindel, que era de origem dinamarquesa, após ser testado em sinceridade de propósitos e desejo desinteressado em ajudar seus semelhantes, foi escolhido como o mensageiro dos Irmãos Maiores, para transmitir os ensinamentos Rosacruzes ao Ocidente, preparando a humanidade para a futura Era de Fraternidade Universal. Por meio de intensa autodisciplina e devoção ao serviço ele conquistou o grau de Irmão Leigo no Caminho para a Iniciações na exaltada Ordem Rosacruz.
Sob a direção dos Irmãos Maiores da Rosacruz, gigantes espirituais da raça humana, Max Heindel escreveu o Conceito Rosacruz do Cosmos, um livro que marcou época se tornando uma referência marcante para todos os pesquisadores da tradição ocultista ocidental e aspirantes à espiritualidade.
Por meio de seu próprio desenvolvimento ele foi capaz de verificar por si mesmo muitos aspectos dos ensinamentos recebidos dos Irmãos Maiores, sintetizados no Conceito Rosacruz do Cosmos, fornecendo um conhecimento adicional mais tarde corporificado em seus numerosos livros.
Uma das condições básicas na qual os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental foram dados a Max Heindel era que nenhum preço poderia ser estabelecido para eles. Tal condição foi fielmente observada por ele até o fim de sua vida terrestre e tem sido cuidadosamente cumprida pelos dirigentes da Fraternidade Rosacruz (The Rosicrucian Fellowship). Ainda que os livros da Fraternidade sejam vendidos a preços acessíveis, que garantam a continuidade de suas publicações, os cursos por correspondência e os serviços devocionais e de cura são inteiramente gratuitos. A Fraternidade Rosacruz é mantida através de doações voluntárias de seus Estudantes Rosacruzes e simpatizantes, não havendo taxas ou mensalidades obrigatórias.
Passado um determinado tempo e estando ainda tais ensinamentos sob a sua responsabilidade, foi instruído a retornar à América e revelar ao público tais ensinamentos, até então secretos. Nessa época, a humanidade tinha alcançado o estágio mais avançado da Religião Cristã, quando os mistérios (que Cristo menciona no Evangelho Segundo São Mateus 13:11 e Evangelho Segundo São Lucas em 8:10) tinham que ser ministrados a muitos e não apenas para alguns.
Quando Max Heindel chegou à América, ele publicou esses elevados conhecimentos em seu livro “Conceito Rosacruz do Cosmos” que foi traduzido em diversas línguas e continua a ser editado em várias partes do mundo. Também estabeleceu a Fraternidade Rosacruz como uma Escola Preparatória para a verdadeira, eterna e invisível (pois está na Região Etérica do Mundo Físico) Ordem Rosacruz, a Escola de Mistérios do Mundo Ocidental.
Ainda que a palavra “Rosacruz” seja usada por várias organizações, a Fraternidade Rosacruz não tem nenhuma conexão com estas.
Que as rosas floresçam em vossa cruz
Segundo os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, o verdadeiro propósito da existência não é a felicidade, mas a experiência pela qual nos é possível desenvolver os poderes espirituais latentes e transformá-los em faculdades ativas, servindo ao Plano Divino da evolução.
A frase acima encerra essencialmente, ou nas entrelinhas, uma ideia em torno da qual gravitam várias outras correlatas que a complementam.
Reiteramos: a finalidade da vida não é lograr a felicidade, mesmo porque essa ainda não foi claramente conceituada pelos seres humanos. O que vem a ser realmente a felicidade? Cada um a configura à sua maneira. A seu respeito temos tantas definições quantas são as criaturas que a almejam. Para o ser humano comum, em linhas gerais, significa um estado ideal.
Quem, afinal, obteve esse dom divino, essa graça suprema de alcançar um estado ideal? Falando em termos práticos e objetivos, esse estado, para ser ideal, deverá ser duradouro, inabalável e indestrutível. Caso contrário, não valerá a pena lutar para concretizá-lo. É vão o esforço despendido para desfrutar momentos fugazes e fugidios.
Examinemos agora o panorama do mundo em que vivemos. São perenes os momentos de segurança? As posições, sejam humildes ou elevadas, são absolutamente estáveis? Os seres humanos vivem e trabalham com inabalável fé no amanhã? Por que os conflitos? Por que as fugas? Há paz em todos os quadrantes da Terra?
Cada um responda, se quiser, a essas indagações, e em seguida passe a alinhavá-Ias. Temos a certeza de uma coisa: muitos chegarão às mesmas conclusões.
Quão objetivos e paradoxalmente subjetivos são os conceitos de felicidade. Como divergem, entrechocam-se e distanciam-se os pontos de vista a respeito.
Uma coisa é certa: não podem consubstanciar-se em fatos ou condições transitórias, caso contrário suas bases serão frágeis e enganadoras.
A admirável sabedoria dos Rosacruzes proporciona uma visão ampla e profunda do problema.
O ser humano, face sua ignorância, inverteu não só o seu papel no mundo, mas também a finalidade das coisas. O que deveria ser um fim passou a ser um meio e vice-versa.
O ser humano real é um espírito imortal, célula do corpo cósmico de Deus. Possui todos os atributos divinos. É intrinsecamente divino. Assim como uma gigantesca árvore encontra-se potencialmente em uma minúscula semente, de maneira análoga, o espírito e dotado, em forma latente, de todos os poderes comuns à Divindade. Para que a árvore cresça e de frutos, a semente deverá ser lançada à terra em condições especiais. Deverá ser objeto de determinados cuidados. Para o florescimento de todas as suas potencialidades anímicas, o Espírito também deve ser convenientemente trabalhado. Presentemente, a existência material constitui esse processo. O mundo é literalmente uma grande escola. É a fonte de todos os impactos, de todas as experiências que lapidam o ser real, predispondo-o, através da evolução, a galgar esferas de ação superiores.
O ciclo de Renascimento e mortes provê o ser humano de meios para se elevar acima de todas as limitações. Diariamente, vê-se as voltas com lições as mais variadas, cujo valor educativo, se conveniente assimilado, desperta-lhe, gradativamente, as faculdades espirituais.
O mundo, os acontecimentos, as conquistas, as descobertas e os bens materiais, os veículos utilizados pelo espírito constituem um meio e não um fim em si mesmo.
A inversão de tal princípio representa a busca infrutífera do mirífico estado ideal. É uma ilusão. Os seres humanos, em sua grande maioria, vivem abatidos por uma terrível frustração. E não é para menos. São como que viajantes extraviados e atordoados pelo sol causticante do deserto material. Correm, desesperadamente, atrás de miragens.
No fundo, mas no fundo mesmo, a felicidade desejada pela maioria não passa disso aí: miragem. Mas, existe uma condição ideal possível, razoável, acessível. Não se reveste de sensações exteriores. É absolutamente imaterial. Consiste, harmoniosamente, em paz de consciência, equilíbrio interior, limpidez mental. É a consciência da própria identidade divina. É aspiração superior. É amor puro a todos os seres da criação. É uma imersão total e incondicional na UNIDADE DA VIDA.
Preferimos não rotular de felicidade esse indescritível estado de alma. Outro termo, talvez, seja mais próprio: PLENITUDE!
(por Gilberto A V Silos – Editorial da Revista Serviço Rosacruz da Fraternidade Rosacruz São Paulo – SP – de março/1974)