Estabelecendo-se uma comparação entre os Reinos animal e humano nota-se que enquanto os animais agem e reagem de maneira idêntica sob as mesmas circunstâncias, por serem guiados por um Espírito-Grupo, o ser humano se comporta diferentemente. Cada indivíduo é uma “lei em si mesmo”. Ninguém pode predizer as ações de cada ser humano, nem como agirá sob circunstâncias análogas. Pode agir distintamente, e provavelmente o fará, diante de condições idênticas e em ocasiões diferentes.
Por esta razão, é extremamente complexo tentar definir ou elucidar devidamente um assunto como o véu do destino, pois nossas Mentes ainda têm uma capacidade limitada. Para compreender totalmente esta matéria, seria necessária a sabedoria de grandes seres como os Anjos do Destino, por exemplo, que têm a seu cargo este intrincado aspecto da vida.
Cada ato de cada indivíduo produz uma determinada vibração no universo, reagindo sobre ele e sobre outros ao seu redor. A Mente humana não tem condições de vigiar e calcular os resultados dessas ações e reações que se produzem em meses, anos ou vidas.
Porém, temos visto, graças ao quadro geral impresso em nossa Mente, quando desenvolvíamos este tema, o modo de classificar as causas engendradas no passado, segundo se nos apresentam, com seus efeitos na vida atual. No decurso deste estudo investigaram-se várias centenas de pessoas. Em alguns casos, retrocedemos três, quatro e até mais vidas, com o objetivo de chegar à raiz da questão, determinando a forma em que as condições do passado reagem para criar as atuais. Porém, ainda que fazendo conscienciosamente esse trabalho de investigação, devemos advertir o leitor: não considere nosso juízo como um ensinamento conclusivo e definitivo sobre a matéria. Considere-a um passo inicial e contamos poder ajudá-lo a solucionar determinados problemas.
Com referência ao meio ambiente parece-nos que as pessoas dotadas de uma natureza toda peculiar, difíceis de se relacionar com outras de seu meio, têm diante de si uma vida pontilhada de provações. Nascem frequentemente entre estranhos, dos quais não receberão nenhum sentimento de afeto. Seus sofrimentos não despertarão entre seus familiares nenhuma impressão de simpatia ou apreciação. Ou bem se tornam órfãos, ou são separados dos pais, quando não se ausentam de sua terra natal em tenra idade. Quando é este o caso, essa alma, amiúde, anela a um afeto, a simpatia ou carinho, sentimentos que ela recusou a dar em vidas anteriores.
Também observamos casos de indivíduos responsáveis pelos maiores ultrajes, no passado, tendo levado a desonra e a vergonha a seus entes queridos, os quais sofreram horrores, justo pelo acendrado amor nutrido pelo desafeto. Na existência em que tal alma se dispõe a emendar-se, purgando seus erros pretéritos, se encontrarão em um ambiente totalmente hostil. Sofrerá fome de amor, pois negou-o anteriormente. Se tal criatura não aprender toda a lição numa só vida, diferentes renascimentos com experiências semelhantes, lhe ensinarão a ser agradecido aos que o amam, bem como a agir correta e honestamente.
Também observamos que, muitas vezes, uma alma errou em vidas passadas devido à falta de uma influência bondosa por parte de seus familiares, que deviam ter sido fiéis, amorosos e complacentes. A carência desse ambiente de simpatia não encontrou, como é lógico, justificativa para suas faltas ante a lei, vendo-se obrigada a expiá-las em vidas posteriores. Nestes casos, todavia, as condições foram contrárias. A família que, em vidas passadas, houvera sido indiferente, agora lhe será querida, tendendo a sentir extraordinariamente todo o sofrimento que ela tiver de suportar em consequência de seu passado. Deste modo, a família também expiará a parte que lhe corresponde, pela sua responsabilidade em haver recusado carinho e simpatia.
São casos extremos, diga-se de passagem. Naturalmente, porém, podemos extrair lições dos casos pouco claros, pois quanto mais brutais e chocantes forem os fatos postos à nossa consideração, tanto mais fácil será catalogá-los. A lei que convém aos casos extremos, também se ajusta aos de menor importância, com as modificações graduais necessárias, aplicadas nas diferenças de ambiente.
Os fatos relatados indicam claramente que nós somos os guardiões de nossos irmãos, sendo conveniente lhes exteriorizarmos toda simpatia e bondade, pertençam ou não à nossa família. Olhando as coisas desde a superfície, e sob o ponto de vista do nosso estado atual, talvez não transpareça nenhuma responsabilidade que nos cabe pelas ações de nossos infelizes familiares. Se pudéssemos ver por detrás do véu, provavelmente descobriríamos que nós mesmos fomos, em grande parte, culpados de suas desditas.
Ouve-se, frequentemente, a expressão: “fulano ou sicrano são o pesadelo de certas famílias”. Mas, podemos considerar essas pobres criaturas como seres estranhos entre gente estranha, devendo viver naquele meio devido a desajustes de vidas passadas. O “sangue é mais espesso que a água” diz um velho provérbio. O certo, porém, é que o laço sanguíneo não traz consequências, a menos que os espíritos de uma família estejam unidos entre si pelo amor ou pelo ódio do passado, fatores determinantes das relações da vida atual.
Uma alma pode se envolver com determinada família em laços carnais, sentar-se à sua mesa, usufruir o direito legítimo de herança, e ser, entretanto, tão estranha quanto um mendigo que bata à porta pedindo um prato de comida.
Recordemos as palavras de Cristo: “Pois estava faminto e me destes de comer, estava sedento e me destes de beber, era um estranho e me admitistes ao vosso lado”[1]; e depois: “Tudo o que haveis feito em favor do menor de meus irmãos, a mim mesmo o haveis feito”[2]. Quando encontrarmos uma pobre alma, dessas marcadas pela desgraça e pela solidão, devemos como Cristãos imitar o exemplo de Cristo. É mister contribuir para que essa infeliz criatura se veja rodeada do calor de um lar, sentindo-se em sua casa, entre os seus. É necessário, por difícil que possa parecer, cultivar sua amizade, por amor de Cristo, sem levar em consideração suas fraquezas e excentricidades.
A humanidade é afetada por doenças e enfermidades classificadas em mentais e físicas. À incapacidade mental, quando congênita, é o resultado do abuso da força sexual criadora, com uma exceção. Pode-se incluir no caso, as afecções dos órgãos vocais e isto é lógico e compreensível. O cérebro e a laringe foram construídos por meio da metade da força sexual criadora. Assim o ser humano que era bissexual antes da aquisição desses órgãos e capaz de gerar por si mesmo perdeu esta faculdade, dependendo, agora, da colaboração de alguém de sexo ou polaridade oposta para criar um novo veículo para um Ego (que se mostrará como irmão ou irmã aqui) que precisa renascer aqui.
Quando se usa a visão espiritual para observar um indivíduo na Memória da Natureza, durante a época em que ainda estava em formação percebe-se o seguinte: onde agora existe um nervo, havia anteriormente uma corrente de desejos; e que o próprio cérebro foi feito de substância de desejos, bem como a laringe.
Foi o desejo que, primeiramente, enviou um impulso por meio do cérebro e criou tais correntes nervosas, para o Corpo Denso se mover e conseguir, para o Ego, qualquer satisfação ou anelo. À linguagem, da mesma forma, é utilizada para atingir um objetivo. Por meio dessas faculdades o ser humano alcançou certo domínio sobre o mundo, e se pudesse voar de um corpo a outro, não teria fim o abuso de seu poder para satisfazer qualquer capricho ou desejo. Porém, sob a Lei da Consequência, carrega consigo, em cada novo corpo, as faculdades e órgãos semelhantes àqueles utilizados em veículos precedentes.
Quando as paixões arruínam um veículo, em uma vida, isto fica gravado no Átomo-semente do Corpo Denso. Na “descida” para o renascimento é impossível para esse Ego juntar material puro no sentido de organizar um cérebro de estrutura estável. Nesse caso, renasce, geralmente, sob um dos Signos astrológicos Comuns[3]. Nestas circunstâncias, os quatro Signos Comuns se encontram posicionados nos quatro ângulos[4] de seu horóscopo, porque, através deles (dos Signos) o desejo passional defronta sérias dificuldades para se manifestar. Em consequência, esse poderoso impulso que anteriormente regeu seu cérebro e que poderia ser usado agora com o propósito do rejuvenescimento, acha-se ausente e o indivíduo carece de incentivo na vida. Converte-se num inválido, uma tábua sobre o oceano da existência, frequentemente alguém com algum grau de insanidade mental.
O Ego, todavia, não é insano mentalmente. Vê, conhece e alimenta um desejo ardente de utilizar seu Corpo Denso, ainda que lhe seja impossível, pois, amiúde não pode enviar sequer um impulso adequado aos seus nervos. Os músculos do rosto e do corpo não estão sob o controle de sua vontade; há falta de coordenação.
Deste modo, o Ego aprende uma das mais duras lições da vida, porquanto é muito pior do que a morte, achar-se sujeito a um Corpo Denso e não poder se expressar através dele. Isto aconteceu porque a força de desejos necessária para pensar, falar e se mover exauriu-se em uma vida depravada, no passado, deixando o Ego sem energia para manipular seu atual veículo físico.
(Por Max Heindel – Publicado na Revista Rays from the Rose Cross e Publicado na Revista Serviço Rosacruz de novembro/1977)
[1] N.T.: Mt 25:35-45
[2] N.T.: Mt 25:40
[3] N.R.: Gêmeos, Virgem, Sagitário e Peixes.
[4] N.R.: 1ª Casa, 4ª Casa, 7ª Casa e 10ª Casa
A renúncia ou renunciamento consiste num esforço de desprendimento progressivo dos laços que ligam o ser humano à vida e à experiência material, tendo em vista ampliar o domínio de sua vida moral e espiritual. É um trabalho de desmaterialização, ou ainda, de abandono dos instintos animais, empreendido para que se efetue a espiritualização, isto é, o acesso mais rápido à vida sobrenatural e feliz do Espírito. É um deslocamento do dinamismo no organismo humano, que se opera reduzindo as exigências sensuais, depois transportando e concentrando as energias vitais, o mais que é possível, sobre as operações espirituais. Pela mesma razão, criam-se relações entre o Corpo e o Espírito que têm por efeito domar a animalidade e fazer triunfar o Espírito.
O renunciamento é, pois, uma espécie de morte, progressiva e antecipada, do ser terrestre que acelera a elevação do Espírito individual e prepara sua união com Deus. “É preciso que vivamos neste mundo”, dizia S. Francisco de Sales, “como se tivéssemos o Espírito no céu e o corpo no túmulo”.
Com efeito; que é que nos pesa neste mundo e retarda o nosso progresso? É a vaga tumultuosa das satisfações concedidas aos desejos egoístas e sensuais. É o livre exercício dos prazeres do orgulho e da sensualidade, essas duas grandes raízes do sofrimento e do embrutecimento.
A vida não é, pois, de alguma forma, mais do que o aprendizado do renunciamento material que se deve realizar sob a ação combinada da Providência diretriz da vontade progressivamente clarividente do indivíduo.
O não-renunciamento cria o sofrimento, forma a doença física e a degradação moral. Não poderá existir verdadeira saúde física e moral sem renunciamento. É por isso que aquele que deseja a saúde material e o progresso espiritual deve recusar-se a entrar na via larga e fácil que o conduz ao “inferno” dos prazeres e da riqueza, do egoísmo, do orgulho e da sensualidade, mas antes procura a via estreita e rude do sacrifício, num esforço permanente de domínio das paixões e da elevação moral. “Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela. E porque estreita é a porta e apertado o caminho que leva à vida e poucos são os que entram por ele!” (Mt 7:13:14).
Antes de Cristo, a renúncia pessoal não existia em parte alguma com tanta caridade, com tanto coração, com tanto sacrifício de si mesmo pelos outros. Muitíssimas vezes contentavam-se com oferecer à divindade uma dádiva material ou a vida dos animais, pensando que a alma animal podia voltar a sua origem criadora e servir de veículo às orações. Só se podia exigir o sacrifício da posse material. Mesmo nas Religiões em que o renunciamento era prescrito, não se tinha observado que o apaziguamento do desejo pessoal deverá ser conduzido mais como obra de altruísmo ativo, isto é, de auxílio mútuo e de resgate. Em suma, não se tinha compreendido que o indivíduo devia, acima de tudo, sacrificar-se por outrem e renunciar a si mesmo pelo amor ao próximo, a fim de se comportar na Terra à imagem de Deus que, por puro amor, se sacrifica, todos os dias, dando a vida às suas criaturas, com o alimento material e espiritual.
O renunciamento pessoal, ativo, constitui, pois, o eixo da vida Cristã.
Assim sua obrigação encontra-se inscrita em termos concordantes nos Evangelhos: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-me” (Mt 16:24). “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo e tome a sua cruz e siga-me” (Mt 8:34). “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo e tome cada dia a sua cruz e siga-me” (Lc 9:23). “Assim, pois qualquer de vós que não renuncie a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo” (Lc 14:33). Se quisermos, então, manter-nos em caminho direito, seguir a verdade e conservar a saúde é necessário termos o cuidado de tomar a cruz dominando as paixões e renunciando a muitos impulsos da Personalidade. E, correlativamente, quando os tormentos morais ou os sofrimentos físicos nos afligem, o verdadeiro remédio, que destruirá o mal na sua origem, será aplicarmo-nos ao renunciamento em certos pontos determinados.
Quantos sofrimentos, na verdade, nos infligimos a nós mesmos por não termos sabido renunciar às ambições exageradas e às vantagens frágeis, por termos estimado demais as nossas capacidades físicas e intelectuais, por teremos bebido e comido em excesso, por termos gastado demasiado forças, em ocupações inúteis ou em excesso de sensualidade, por estarmos agarrados demais aos bens e às afeições deste mundo!
Em lugar, pois, de esperarmos que as pesadas sanções das crises morais e das doenças produzidas pelos pecados do orgulho e da sensualidade se apoderem de nós, quanto se é mais leve das privações voluntárias e consentirmos todos os dias em sacrificarmos um pouco a ambição e sensualidade que permitirão edificar, a pouco e pouco, em nós, os três pilares do renunciamento: a SOBRIEDADE, a HUMILDADE e a CASTIDADE.
(Publicado na Revista: Serviço Rosacruz – maio/1965 – Fraternidade Rosacruz – SP)
A Fraternidade Rosacruz foi encarregada pelos Irmãos Maiores para promulgar o Evangelho da Era de Aquário.
Muitos de nossos hábitos e costumes ainda estão sob a influência da Era de Peixes, a Era em que atualmente estamos. No entanto, já estamos na órbita de influência da Era de Aquário!
Devemos concentrar nossos esforços a fim de conquistar certas metas para a Era de Aquário. As principais são:
Publicado na Revsita Rays from the RoseCross de janeiro/1986 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz-Campinas-SP-Brasil
Alguns vislumbres sobre as condições da vida superior são gradativamente sentidos por aqueles que percorrem a senda da preparação. Cada novo passo percorrido na realização espiritual revela uma maior preparação para assumir maiores responsabilidades espirituais. Do mesmo modo, conforme a percepção do Estudante Rosacruz se expande, maiores noções da necessidade de mudanças passam a ocorrer, para que seu modo de vida fique congruente a tais vislumbres.
No entanto, a percepção de mudanças, infelizmente, não vem acompanhada das facilidades, sendo que tanto a Personalidade (eu inferior) do Estudante Rosacruz quanto seu ambiente (círculo relacional, incluindo família e círculo social) podem não acompanhar o movimento da verdade que iniciou em seu coração. No âmbito da Personalidade é fácil perceber que pensamentos e impulsos indesejáveis não o abandonam. Pelo contrário, parecem nunca terem ganhado tanta força. Se não permanecer com a arma da persistência voltada para oração e trabalho, perceberá que facilmente sucumbirá. Já em relação ao seu ambiente, bem sabemos que é difícil caminhar contra as ideias aderidas pelas massas e que é muito mais difícil levar uma vida de bondade, inofensiva e de pureza, do que uma que busca “olho por olho; dente por dente” e a gratificação da natureza inferior. Mesmos os Cristãos primitivos já sofreram devido ao seu novo modo de vida, e esse sofrimento ainda é sentido nos dias atuais (apesar de atualmente não haver sofrimentos físicos e mortes devido a isso, como ocorria naquela época).
A percepção e a consciência expandida significam maiores responsabilidades em lidar com as tormentas que o conhecimento da verdade exige. No Evangelho Segundo São Lucas, podemos encontrar uma parábola que remete às responsabilidades aqui mencionadas: “Quem é o administrador fiel e prudente que o senhor vai colocar à frente do pessoal de sua casa para dar comida a todos na hora certa? Feliz o empregado que o patrão, ao chegar, encontrar agindo assim! Em verdade eu vos digo: o senhor lhe confiará a administração de todos os seus bens. Porém, se aquele empregado pensar: ‘Meu patrão está demorando’, e começar a espancar os criados e as criadas, e a comer, a beber e a embriagar-se, o senhor daquele empregado chegará num dia inesperado e numa hora imprevista, ele o partirá ao meio e o fará participar do destino dos infiéis. Aquele empregado que, conhecendo a vontade do senhor, nada preparou, nem agiu conforme a sua vontade, será chicoteado muitas vezes. Porém, o empregado que não conhecia essa vontade e fez coisas que merecem castigo, será chicoteado poucas vezes. A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido!” (Lc 12:42-48).
Possuir responsabilidades espirituais, como as mencionadas nessa parábola, significa trabalhar com as Leis de Deus que governam a vida do Estudante Rosacruz e de todos aqueles que estão inseridos em seu círculo de ação imediata. Significa imitar o Cristo nesse círculo. A cilada de toda essa questão está exatamente na permanência da inércia expressão física que o Estudante Rosacruz pode cair. Ou seja, apesar de serem bastante nobres todos esses sentimentos e conceitos, enquanto eles são concebidos apenas no mundo das ideias, pouco efeito prático e de mudança no mundo é produzido. E a dificuldade em expressar tais elevados ideais de espiritualidade no cotidiano está exatamente na percepção do peso que é assumir uma vida verdadeiramente Cristã.
Isso é o mesmo que dizer adeus à paz, à tranquilidade e ao descanso, tão almejados e desejados pela humanidade comum. Pelo contrário, quanto mais se revelam verdades, menos paz, descanso, objetos e situações pessoais preencherão a caminhada do aspirante. “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará.” (Lc 9,23-24).
Essa responsabilidade inclui parar de profanar os recursos pessoais e alheios que temos a disposição e que são necessários para nosso desenvolvimento (incluindo nossos corpos, ambientes e as pessoas com as quais estamos relacionados) e iniciar um movimento de trabalho incessante. “Felizes são os puros de coração, porque verão a Deus.” (Mt 5:8.). Isso significa que, quando uma pessoa não mais profana todos os recursos que possui e consagra uma vida de altruísmo, paralelamente um Corpo-Alma é criado, o qual é o traje necessário para que o casamento do Espírito com o Cristo Interno ocorra.
Os vislumbres de verdade mostram que o Estudante Rosacruz é “um com todos” e que não há separatividade. Isso quer dizer que o sofrimento dos outros é seu próprio sofrimento, que o sucesso dos outros também é seu próprio sucesso, e que tanto a vítima quanto o malfeitor constituem suas próprias fraquezas, seus próprios pecados e a sua ignorância. Ignorar todos esses fatos, como se não tivéssemos parte com os males que ameaçam o atraso do desenvolvimento espiritual humano, é o mesmo que reforçar os pregos da cruz de Cristo, deixando-o cada vez mais preso à Terra.
É importante ao Estudante Rosacruz iniciar a busca pelas barreiras invisíveis que o faz andar para trás e não alcançar novas etapas de realização. Por exemplo, cada vez que o Estudante Rosacruz se depara com a incongruência entre verdade e realidade, pode sofrer a tentação de se sentir impotente. Acaba por ter pensamentos pessimistas do tipo: “não estou à altura da responsabilidade que assumi” ou “tudo isso é uma pura utopia” ou ainda, “há certos hábitos ou traços em minha Personalidade que é inútil lutar para transmutá-los”. Em outras palavras, ele percebe que para tornar realidade os vislumbres de verdade que gradativamente sente, faz-se necessário renunciar toda uma atitude referencial condicionada (ou automática) de viver, que constitui sua identidade inferior, e passar a viver com responsabilidades pessoais e coletivas.
Esse sofrimento, que envolve o estreito caminho da santidade e de consagração a uma vida de altruísmo, deveria servir de combustível para que o Estudante Rosacruz encontre forças para transmutar suas pedras brutas (seus corpos impuros e não desenvolvidos) em pedras preciosas como o ouro, o rubi e o diamante. A senda da preparação nos guarda uma vida de sofrimento, renúncia e trabalho. Apesar disso, a sensação permanente de plenitude e certeza de estar no caminho não possui comparação a qualquer gozo mundano ou conceitos de felicidades materiais que o mundo ordinário oferece.
“Quem não trabalha, não tem direito de comer”. Comer significa ter gozo ou parte com Cristo, o Pão da Vida. “Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois foi assim que perseguiram os profetas, que vieram antes de vós.” (Mt 5:12).
Que as Rosas Floresçam em vossa Cruz
Assim como as células do nosso Corpo Denso, o físico, não têm consciência de que fazem parte dele, tudo no Universo, em diferentes estados de consciência, faz parte de um mesmo corpo, porém, como células, não têm consciência disso. Quando atingirmos essa consciência, veremos que a família universal é mais que real e com que respeito nos dirigiremos a tudo e a todos, incluindo os quatro Reinos de Vida.
A menor formiga tem que ser respeitada, como parte deste todo que reverenciamos com o nome de DEUS, pois nunca será demais dizer que DEUS é tudo e em tudo está DEUS. Assim como tomamos a formiga por exemplo, poderíamos tomar a célula que compõe o nosso Corpo Denso, que, apesar de estar num estado de consciência muito aquém do da formiga, dia virá em que evoluirá e, também, buscará a luz como nós hoje o fazemos.
Não é por acaso que existem esses pequenos seres viventes. Nós, humanos, já estivemos num estado de consciência semelhante ao da formiga (não em igual forma física), como também já tivemos um estado de consciência semelhante àquele em que se encontram hoje os animais superiores.
Por isso, São Francisco de Assis se referia a tudo e a todos como irmãos, dizendo: “irmão Sol…irmã Lua…irmãs estrelas…irmão vento…irmã água…irmão fogo…irmã Terra…irmã morte corporal…irmão passarinho…irmão lobo…irmão cachorro…”
Para os que começam a despertar espiritualmente, este assunto é de grande importância e motivo de meditação, pois nada no Universo foi feito por acaso, tudo está em constante evolução, inclusive essa formiguinha que tomamos por exemplo. Por isso, devemos meditar muito quanto à nossa responsabilidade em tirar a vida desses animaizinhos que, a nossos olhos, são tão insignificantes, mas que têm um fim determinado aqui na Terra (Não somos nós, também, insignificantes em tamanho perante o infinito?).
Isso não quer dizer que não devamos nos defender deles, mas importa muito a intenção com que o façamos. Nunca devemos sacrificá-los para nosso prazer, e muito triste resulta que exterminemos a vida de qualquer espécie para alimentar nosso apetite ou nossa vaidade. Essa é uma das razões por que muitas Religiões se esforçam por ensinar a necessidade de um regime vegetariano.
Quando renunciamos à carne animal (mamíferos, aves, peixes, répteis, anfíbios e afins) por repugnância, isso já indica um estado de evolução, mas se a ela renunciamos por respeito a nossos irmãos menores, tal atitude é digna de muito louvor. E como tudo está em constante evolução, dia virá em que a humanidade reconhecerá esse fato. Desde já, entretanto, pouco custa que comecemos a considerar esses irmãos menores e, quando virmos que são sacrificados para qualquer tipo de satisfação mundana, lhes lancemos um sentimento e meditemos sobre o caso, isso é, o de impedir a evolução deles para um prazer fugaz. Talvez quem assim medite dará um passo seguro para vir a ser um verdadeiro Cristão!
(Ecos da Fraternidade Rosacruz no Rio de Janeiro – RJ)