Como Chispas Divinas criadas por Deus, devemos percorrer o caminho de desenvolvimento que parte da impotência até a onipotência. Este caminho iniciou no Período de Saturno quando, pelo emprego da inerente força criadora que possuímos, começamos a construção e integração de nossos corpos. Isso ocorreu sob a orientação das Hierarquias Divinas ou Hierarquias Criadoras (veja mais informações no artigo “Arco Descendente: de onde viemos?” disponível no endereço eletrônico: https://www.fraternidaderosacruz.com/estudos-de-filosofia/arco-descendente-da-evolucao-de-onde-viemos).
O mecanismo da nossa evolução humana, que nos permitirá nos tornarmos um Deus, funciona do seguinte modo:
(1) todo o trabalho que realizamos com nosso Corpo Denso se converte em uma experiência (quintessência) ou Poder Anímico, que conhecemos como Alma Consciente e que deverá se amalgamar ao Espírito Divino ou a primeira faceta, ou o primeiro aspecto, do Ego;
(2) todo o trabalho que realizamos com o Corpo Vital se converte em uma experiência (quintessência) que conhecemos como Alma Intelectual. Essa se amalgamará ao Espírito de Vida ou segunda faceta, ou segundo aspecto, do Ego, e finalmente;
(3) todo o trabalho realizado com o Corpo de Desejos se converte em Alma Emocional que se amalgamará ao Espírito Humano ou segunda faceta, ou terceiro aspecto, do Ego.
O germe da Mente foi nos fornecido mais tarde e o trabalho feito com ela não será amalgamado de modo específico a algum aspecto de nós, o Ego humano, mas como um todo, afinal, sua função é servir como um elo ou meio pelo qual nós podemos transmitir nossos comandos para todos os nossos três Corpos. Façamos a importante observação de que o objetivo da evolução não é desenvolver corpos, mas experiências que promovem poder de expressão a nós, o Ego. O aperfeiçoamento dos Corpos é uma mera consequência da necessidade de novas experiências mais profundas que geram Alma ou Poder Anímico para nós, o Ego. Essa noção pode nos auxiliar na percepção da nossa real natureza, considerando o forte apego que possuímos para com o nosso Corpo Denso que naturalmente morrerá, pois chegamos ao ponto de confundir nossa identidade com o próprio Corpo Denso. Conclui-se, então, que a vida deve se resumir na busca por experiências que se convertem em Poderes Anímicos para nós, o Ego. O resto é pura ilusão.
No entanto, alguém pode se perguntar: este plano parece não justiçar as condições de misérias físicas que muitos de nós vivemos atualmente. Por que temos doenças, por que sofremos e por que morremos? Vamos tentar responder essas questões:
A doença, o sofrimento e a morte deram origem exatamente quando decidimos tomar as rédeas da nossa própria evolução, no episódio conhecido como a “Queda do Homem”. Antes da Queda, estávamos vivendo no Jardim do Éden, que é a Região Etérica do Mundo Físico. Lá, funcionávamos em um Corpo Vital que não morria bem diferente do Corpo Denso. Nessa época, éramos ingênuos e não possuíamos qualquer percepção do Mundo Físico e do Corpo Denso. Contávamos com a ajuda de Hierarquias Criadoras que neutralizavam nossos Corpos de Desejos e nos colocavam em condições difíceis de gerar dor. Mas essa dor não possuía a mesma natureza da dor que conhecemos atualmente, provocada pela desarmonia da Lei de Causa e Efeito. Aquela dor era positiva e estimulante, e tinha o objetivo de despertar a vontade, quando lá renascíamos como homens, e a imaginação, quando lá renascíamos como mulher. Ambos os métodos objetivavam fazer o despertar da consciência material (veja mais detalhes no Livro O Conceito Rosacruz do Cosmos, Capítulo XII – Época Lemúrica). Mas tal processo era demasiadamente lento.
Nós poderíamos adiantar este processo se desejássemos, bastava respondermos ao incentivo dado pelos Espíritos Lucíferos (“serpente”) que sugeriu a Eva que comesse da fruta do conhecimento e disse: “Certamente não morrereis” (Gn 3:4) se comerdes do fruto da árvore proibida. “Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos (para o Mundo Físico), e sereis como Deus (Objetivo da Evolução), sabendo o bem e o mal” (Gn 3:5). “Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus (virão seus Corpos Densos). No suor do teu rosto comerás o teu pão (isto é, deverão seguir independentes e produzir poder anímico por conta), até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás” (Gn 3:19).
A decisão de tomar as rédeas da evolução significou abrir mão de toda ajuda divina, inclusive à ajuda que neutralizava nossos Corpos de Desejos e que evitava que tivéssemos desejos desenfreados. Perdemos a instrução de procriar apenas nas épocas propícias e o ensino dado pelas Hierarquias Criadoras, que tinham por objetivo nos ajudar a focarmos a consciência no Mundo Físico. “Adão conheceu Eva”, em verdade, começamos a estabelecer relacionamentos sexuais de modo independente e demasiadamente, conhecendo o sexo oposto. Deste contato físico, fomos percebendo que muitas outras coisas físicas também ocorriam além da percepção do outro corpo pelo qual nos relacionávamos (foram abertos os olhos de ambos). Assim, adiantamos todo o processo.
O problema é que a força gasta com o sexo é exatamente a mesma força que nos faz desenvolver ações efetivas para produzir o nosso alimento (Almas ou poder anímico). Tínhamos três problemas:
(1) um Corpo de Desejos desneutralizado e com materiais das regiões inferiores;
(2) pouca força de vontade ou poder anímico desenvolvido;
(3) uma Mente totalmente nova (que foi nos dada no Período Terrestre), que pouco conseguia refrear os impulsos do Corpo de Desejos.
Deste modo, a natureza corpórea (ou Personalidade) ganhou a cena e fez com que “sua vontade desenfreada” ficasse mais proeminente do que a nossa vontade pouco desenvolvida (nós, Ego): “Todo o bem que quero fazer não faço, e todo mal que não quero fazer, esse sim, faço” (Rm 7:15). Apesar da condição corajosa de assumirmos as rédeas da evolução, estávamos sem qualquer preparo para tal, e a forte tendência de gastarmos indiscriminadamente a força criadora nos fez gerar desequilíbrios importantes na natureza. As consequências sempre geraram dor, e pela dor fomos, gradativamente, perdendo nossa percepção espiritual e ganhando consciência na Região Química do Mundo Físico, onde a separatividade e o egoísmo reinam. Conhecemos a fome, o frio e a morte (fatores desta Região). Mas não apenas os fatores inerentes desta região de morte, mas também os desequilíbrios gerados fizeram com que houvesse doenças e corpos de morte. A perda da percepção etérica (do jardim do Éden) nos fez acreditar que somos apenas um Corpo Denso e não há vida após a morte.
Depois de focar totalmente nossa consciência aqui, conquistamos a Região Química do Mundo Físico (ainda na Época Atlante). Deveríamos, portanto, abandoná-la e partir de volta ao Jardim do Éden (agora conhecida como Nova Jerusalém) com toda a experiência produzida ali. Infelizmente, muitos de nós, ainda permanecem com o resquício enraizado e direcionam todos seus esforços para gratificar suas paixões sensualistas. Se não forem direcionados ao sexo, são direcionados aos negócios do mundo ou para o ser no mundo (como carreiras, cargos ou posição social). Chegamos ao ponto de necessitarmos de doenças e enfermidades para que haja o despertar de nossa consciência de volta a vida (para as coisas espirituais). Insistimos em agir como se não tivéssemos conquistado as experiências deste mundo. Por isso, continuamos a morrer, sofrer e “a comer o pão com nosso suor”.
Se aspiramos em ser arautos da Nova Jerusalém, nós, como aspirantes a vida superior, devemos compreender que nossos esforços criadores devem, agora, ser direcionados para um “corpo de vida”, onde não há morte, fome e sofrimento. O modo pelo qual podemos deixar a Região Química do Mundo Físico, interromper a morte e iniciar o processo de vida eterna se dá pelo caminho que permite tecermos o Dourado Manto Nupcial ou Corpo-Alma. Este é o “corpo de vida” que não conhece a morte. Este caminho foi ensinado por ninguém menos que Cristo Jesus, em seus três anos de Ministério na Terra, na Sua primeira vinda.
Devemos compreender que o maior mandamento Cristão consiste em “amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei.” (Jo 15:12-17); que devemos deixar os resquícios de separatividade do passado e buscar o amor universal, afinal “Quem é minha mãe e meus irmãos? E, olhando em redor para os que estavam assentados junto dele, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos” (Mc 3:33-34); compreende que o foco atual não é conquistar coisas da Terra, pois: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem (afinal, está região é a região da morte e tudo é passageiro), e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração (foco de sua consciência e propósito de vida)”. (Mt 6:19-21).
Qualquer pessoa sabe que não mais devemos fazer uso de bebidas alcoólicas que nos faz focar, ainda mais, a consciência no Mundo Físico, e isto é ensinado aqui: “Pois vos digo que desde agora não beberei o fruto da videira até que venha o Reino de Deus” (Lc 22:16), aqui: “Mas digo-vos que desta hora em diante não beberei deste fruto da videira, até aquele dia em que hei de beber de novo convosco no reino do meu Pai” (Mt 26:29), e aqui “Em verdade vos digo que nunca mais beberei do fruto da videira, até aquele dia em que hei de beber de novo no Reino de Deus” (Mc 16:25).
Qualquer um compreende que devemos deixar o adultério e o gasto da força criadora sexual desenfreada, sendo puros já em nossos veículos internos: “Qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura; no coração já cometeu adultério com ela.” (Mt 5:28), e que o serviço amoroso e desinteressado é o caminho mais curto, mais seguro e maia agradável que nos conduz a Deus: “Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me. Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.” (Mt 25:35-40); “Aquele que quiser o maior entre vós, seja o servo de todos.” (Lc 22:26).
Todas estas práticas são diferentes daquelas que estamos habituados com o propósito de crescermos materialmente, de acumularmos fortuna e subirmos de posição social. Muitas das práticas que nos levam a Nova Jerusalém, onde não há doenças, sofrimentos e morte, parecem ser irracionais do ponto de vista material, e são impossíveis de serem colocadas em prática. No entanto, não podemos reproduzir o erro que já executamos no passado, “pois assim como foi nos dias de Noé, também será a vinda do Filho do homem. Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio, comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento (foco na Região Química do Mundo Físico já naquela época), até ao dia em que Noé entrou na arca (final da Época Atlante), e não o perceberam, senão quando veio o dilúvio e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do homem” (Mt24:36-39). “Irmãos, relativamente aos tempos e às épocas, não há necessidade de que eu vos escreva; pois vós mesmos estais inteirados com precisão de que o Dia do Senhor vem como ladrão de noite. Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição, como vêm as dores de parto à que está para dar à luz; e de nenhum modo escaparão” (ITss 5:1-3).
Um novo dilúvio está por vir, não pela condensação da atmosfera gasosa em água, como ocorreu no passado, mas pela eterificação do ar que respiramos. A Nova Jerusalém está próxima e se não estivermos preparados para entrar e viver lá, o “dilúvio” nos consumirá novamente. Possamos mudar nossos hábitos materiais de morte, que produzem mais e mais sofrimento no mundo, para objetivos espirituais conforme ensinados pelo Cristo. Somente assim estaremos:
(1) aprimorando cada um dos corpos que possuímos;
(2) produzindo mais e mais poder anímico para o Ego;
(3) não mais nos perdendo com afazeres inúteis que atrasam nossa evolução; e
(4) finalmente livres da doença, sofrimento e da morte.
Que as rosas floresçam em vossa cruz
Os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, promulgados pela Fraternidade Rosacruz, são dirigidos especialmente àqueles que não aceitam o Cristo exclusivamente pela fé. Tais pessoas, amadurecidas, mas caracteristicamente intelectuais, correm o risco de perigosamente se enlearem nas teias retardadoras do materialismo. Por meio de uma explicação lógica e profunda do Cristianismo – somente propiciada pelo Cristianismo Esotérico – poderão, uma vez satisfeita a Mente, atender aos reclamos do Coração.
O embasamento do nosso crescimento anímico não poderá ser unilateral, pois caso contrário “haverá fome em alguma parte” do nosso ser. A segurança do nosso desenvolvimento depende de um método equilibrado e equilibrador. Tal equilíbrio compreende o desenvolvimento paralelo de nossas naturezas ocultista e mística, isto é, no cultivo da razão (simbolizada pela lamparina) e do sentimento (simbolizado pelo coração). Daí resultará um corpo são e melhor serviço à humanidade. Segundo Platão, devemos ser “sábios, santos e atletas”. E o lema Rosacruz o parafraseia: “Mente pura, Coração nobre, Corpo São”.
Com o propósito de realizar essas duas finalidades, a Fraternidade Rosacruz promove a publicação de artigos, de materiais, dos textos dos Rituais, de vídeos fiéis aos Ensinamentos Rosacruzes, de livros da biblioteca Rosacruz, a execução de Reuniões de Estudos, Palestras, Oficinas e Seminários e a promoção de Cursos que ajudam a orientar, a percorrer, a avançar nos graus e a se aprofundar no Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz.
Isso tem maior importância do que podemos imaginar. Se realmente levamos a sério nosso ideal, na medida do possível devemos estudar esse material, fazer os Cursos, participar dos eventos e ajudar naquilo que mais se precisa em cada caso por meio de um Centro Rosacruz.
Quando de palestras ou eventos que durem, no máximo duas horas, procedemos de uma de duas maneiras: a primeira, em palestra ou evento o terminamos com o ofício do Ritual Devocional de Serviço próprio do dia. A segunda maneira, antecedendo a palestra ou o evento, começamos a oficiar o Ritual Devocional de Serviço próprio do dia até após o momento da Concentração; ao terminá-la fazemos a palestra ou o evento e depois terminamos o ofício com as partes próprias de cada Ritual Devocional de Serviço. A repetição das mesmas palavras ritualísticas a cada encontro grava em nosso íntimo preceitos básicos para nossa formação Cristã-esotérica. Essa, devidamente sedimentada e sinceramente expressa em obras na vida diária, constrói o “templo sem ruído de martelos”.
Cultivar os dois polos de nossa divindade interna é condição essencial para um crescimento harmonioso. O potencial equilibrado desses dois polos é que nos tornará, gradativamente, uma “usina de força”, uma fonte de luz. Deus é Luz. Somos feitos a imagem e semelhança d’Ele. Essa Luz encontra-se em toda parte, principalmente em nós. Como manifestá-la? Por meio do despertamento dos divinos atributos latentes em nós, objetivo maior do método Rosacruz de desenvolvimento.
Devorar ansiosamente os livros, correr de palestra em palestra, de evento em evento atrás de novidades intelectuais, percorrer diletantemente várias escolas filosóficas, vários movimentos cristãos ou não, ao mesmo tempo, não conduz a nenhum resultado positivo. O intelectual é presa fácil da vaidade e do personalismo. Igualmente, o místico, por falta de discernimento, pode ser enganado nas suas experiências internas, confundindo os meros reflexos de seu subconsciente com os raios da intuição, essa sim originária do Espírito de Vida.
As razões apresentadas justificam, sobejamente, a natureza equilibradora do método Rosacruz, conduzindo o Aspirante à vida superior com segurança pelo, geralmente íngreme, caminho da realização espiritual. Daí a simbologia maravilhosa da lamparina e do Coração.
(Gilberto A V Silos – Editorial da Revista Serviço Rosacruz de março/1975-Fraternidade Rosacruz-SP)
É possível transmutar ferro em ouro! Essa, na realidade, magna verdade alquímica, foi explorada jocosamente num recente comercial da TV norte-americana, agrupada, sem muito critério, com crendices antigas como: “Se o destino do ser humano fosse voar, teria asas”, “A superfície da Terra é plana” e, por último, “Todas as ‘aspirinas’ são iguais”. O patrocinador finaliza, logicamente, decantando as qualidades de sua ‘aspirina’ “especial”. A química ensejou, naturalmente, verdadeiros milagres em nossa vida diária, porém, a alquimia é a verdadeira chave para os mistérios internos, esclarecendo o propósito da vida. Somente quando essas duas ciências se encontrarem, eclodirão descobertas definitivas no campo da química. Quando existir maior conhecimento do público a esse respeito, dando conta de que os problemas que afligem o Mundo Físico têm sua origem na desarmonia implantada nos Corpos invisíveis (aos olhos físicos), certamente teremos anúncios nos meios de comunicação com mais ou menos este teor: “Amigo, seu Corpo Vital anda esgotado e o seu Corpo de Desejos o impele para a destruição? Prove a Alquimia! Conheça o propósito da vida! Receba a sua herança espiritual! Use a Alquimia!”.
A Ciência, ou a Arte da Alquimia trata dos seguintes pontos do Grande Trabalho: 1. Encontrar o Elixir da Juventude; 2. Encontrar a Pedra Filosofal; e 3. Transmutar os metais inferiores em ouro.
Perseguidos, por reis e clérigos, em sua ânsia de glória, os alquimistas da Idade Média foram alvos do fogo da Inquisição, da prisão e da tortura. Quando as suas descobertas contrariavam ideias da época e sabendo que o conhecimento é uma arma perigosa, nas mãos daqueles cujos Corações e Mentes não são temperados com a pureza, sabedoria e compaixão, os alquimistas enterraram os seus segredos em lendas e mistérios.
O tesouro está agora à espera de todos aqueles que o desejam descobrir, através de uma vida pura, plena de devoção, trabalho, meditação e aplicação da Lei da Analogia, mencionada no axioma hermético: “Como é em cima assim é embaixo”.
O propósito de Deus e da Natureza é a perfeição. Todos os metais são, realmente, ouro em formação. Todos os seres humanos são, realmente, deuses em formação. Como alquimistas espirituais percebemos que é essa a nossa herança e aspiramos a servir. Porém, para servir eficientemente devemos, antes de mais nada, aperfeiçoar-nos através da transmutação da “natureza inferior” (metais comuns) em “natureza superior” (ouro).
Nós (o microcosmo) somos o Grande Trabalho (realizado pelos padrões do macrocosmo). Constituímo-nos, ao mesmo tempo, no próprio laboratório no qual o Trabalho está sendo efetuado. Nossas ferramentas são as nossas habilidades e os veículos aperfeiçoados em vidas passadas que trouxemos para essa existência. Nosso minério é formado das experiências da presente vida. NOTEM: as nossas reações a essas experiências e a utilização das oportunidades apresentadas determinam a quantidade de ouro extraído (imortal) do nosso minério, e a escória que sobra (o transitório). Temos uma abundância de minério à nossa disposição cuja diversificação é maravilhosa. Como a luz branca se refrata, quando entra na atmosfera, em sete raios e cores diferentes, há muitas oportunidades à nossa disposição! É claro que no Mundo Físico preferimos a alegria, riqueza, saúde e popularidade à dor, pobreza, sofrimento, doença e ostracismo. Porém, do ponto de vista espiritual, todas oferecem experiências de grande valor para a nossa alma. Um bastão parece torto quando colocado na água. Nós também quando mergulhados no materialismo temos de acautelar-nos a fim de que as nossas motivações na aquisição de conhecimentos e de experiência não sejam pervertidas como no exemplo do bastão refratado na água. Os escritos de Max Heindel nos ensinam que os quatro grandes motivos de toda ação humana são: Amor, a Fortuna, o Poder, a Fama. Ou seja, o desejo de alguma ou várias destas coisas é o motivo por que o ser humano faz ou deixa de fazer algo Contudo, devem ser usados na seguinte exaltada escala de valores: “o Amor pelo qual se deve aspirar é unicamente o da Alma; que abarca todos os seres, elevados e inferiores e que aumenta em proporção direta às necessidades daquele que recebe; a Fortuna pela qual se deve lutar é somente a abundância de oportunidades para servir os semelhantes; o Poder que se deve desejar é o que atua melhorando a humanidade, e a Fama pela qual se deve aspirar é a que possa aumentar nossa capacidade de transmitir a boa nova, a fim de os sofredores poderem encontrar o descanso para a dor do seu coração”. Tanto chamemos a experiência de dor ou de júbilo, monotonia, medo ou felicidade, saibamos que se trata do minério do qual nós, seres imortais, extraímos o nosso ouro. E para se conseguir ouro requer-se a presença de todos os sete metais espirituais, conforme abaixo.
O CHUMBO
Esse é considerado o metal mais inferior. Com sua grande densidade, tem afinidade com o Planeta Saturno, e é pesado, como pesados são o trabalho, as lições e as responsabilidades advindas do Destino Maduro designadas por Saturno. O interesse exclusivo nas posses e na gratificação dos sentidos nos torna escravos do meio ambiente e assim, sujeitos às suas vicissitudes. Somos obrigados a fazer meia-volta, por meio do medo, da pobreza, da perda de entes queridos, das enfermidades, cristalização e morte. Como escreveu Goethe: “Quem nunca comeu seu pão abatido pela tristeza, quem nunca passou noites em claro esperando pelo amanhecer, esse não conhece ainda os poderes celestiais”.
Saturno é o grande mestre nesta escola da vida e, quando, finalmente, aprendermos a lição, não haverá mais repetição do sofrimento. Suportar a cruz com dignidade, exercitando o tato, a vigilância e a consideração, com disciplina e perseverança durante a adversidade constrói o caráter e, certamente, ajudará na purificação do chumbo espiritual.
O ESTANHO
Esse metal se encontra sob a influência da grande fortuna astral: Júpiter. Tratando-se de um Planeta dinâmico, encontramos grande dificuldade na assimilação de suas lições, como há dificuldade na assimilação das lições de Saturno. As ligas de estanho, os minérios com os quais devemos trabalhar, são: boa saúde, riqueza, prosperidade, popularidade e êxito na vida, aspectos altamente desejáveis do ponto de vista físico, porém, extremamente perigosos para a alma que pode morrer de inanição, caso um correto critério espiritual não seja aplicado pelo ser humano.
A riqueza acarreta grandes responsabilidades: dependendo de seu emprego tanto eleva, como corrompe. O estanho (abundância) sem o tempero de Mercúrio (intelecto) pode armar ciladas mortais. A extravagância, a arrogância e a indolência são sinais de estanho misturado com escórias. Até a partilha dos bens exige grande discernimento: é extremamente errado oferecer uma vida despreocupada à outrem, usurpando-lhe o direito às suas experiências dolorosas, que ajudam a construir o caráter.
O que auxilia a purificação do estanho espiritual é esse conjunto de qualidades: gratidão para tudo o que se possui, e um sincero e sábio dividir para o bem espiritual de todas as pessoas envolvidas.
O FERRO
Esse metal é forte, firme e inflexível, sendo um dos mais úteis pelo fato de fortalecer os outros, com os quais se encontra combinado. A ferramenta construtiva do operário e a arma destrutiva do criminoso são feitas de ferro. Isso nos indica que a qualidade é obtida pela direção em que é usada essa energia. O ferro vibra harmonicamente com o Planeta Marte, o Planeta da energia dinâmica e da ação. Esse Planeta é o Regente do Corpo de Desejos e dos Signos Zodiacais Áries e Escorpião, cujos centros de energia são, respectivamente, “EU SOU” e “EU DESEJO”. Mal dirigida, essa energia se expressa por meio da cólera, do temperamento explosivo, da beligerância, das cabeçadas impulsivas, da concupiscência, vingança e do egoísmo voraz que tentará lograr as suas finalidades, sem levar em consideração os danos e a dor provocadas aos outros. Porém, o ser “egoísta”, na atualidade é “Ego-destruidor” porque “com a mesma medida com que medirdes, também sereis medidos.” (Lc 6:38).
Não podemos nos deixar levar por essa energia, tampouco tentar sufocá-la, já que sem ela não teríamos energia, seríamos temerosos e carentes de iniciativa. Os maiores pecadores podem transformar-se nos maiores santos, quando essa energia é redirecionada por meio da purificação dos desejos, do cultivo do equilíbrio, da coragem, e da superação firme e constante dos obstáculos que se encontram no caminho. Para a obtenção da Pedra Filosofal há grande necessidade de ferro espiritual, porquanto o trabalho requer dedicação positiva na conquista da natureza inferior, a dedicação enérgica e altruísta às necessidades dos outros, para que o Estudante Rosacrfuz seja um soldado das Forças da Luz e um operário diligente na Nova Jerusalém.
O COBRE
Esse metal tem afinidade vibratória com o Planeta Vênus, regente da atração, coalisão e harmonia. Às vezes, encontramos dificuldades extremas em tolerar alguma pessoa; a sua mera presença nos causa irritação. Isso é ainda mais desconcertante quando essa pessoa nos é estreitamente vinculada. Tal acontecerá até nos conscientizarmos de que essa pessoa é, realmente, o nosso “Professor”! Assim como um diapasão faz vibrar outro diapasão afinado em tom idêntico, haverá despertamento, em nosso caráter, de partes negativas, ao simples encontro dessa pessoa que nos enerva. Essa é a lei: o negativo deve ser eliminado e substituído pela compreensão e harmonia.
Vênus é também o Planeta da beleza e do amor. A sua energia não regenerada, ou seja, a escória do cobre, são manifestações de sensualidade, preguiça, dominação possesiva e egoísta de um outro ser. A oitava superior do amor se externa pela estética faculdade que reconhece o divino em toda a Criação, incluindo em seu amor a todos, formando uma Fraternidade Universal.
A admirável apologia de São Paulo à caridade (ICor 13[1]) representa, com perfeição, o amor transmutado, ou seja, o cobre purificado: “A caridade é paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”.
O MERCÚRIO
Esse metal vibra em uníssono com o Planeta Mercúrio, o Planeta da Mente. Gotas dele (tão fugidio como os próprios pensamentos) podem penetrar substâncias impermeáveis a outros metais, unindo-as, da mesma forma que muitos de nossos pensamentos isolados podem formar um conceito organizado através dos processos mentais. Porém, devemos estar atentos à qualidade desses pensamentos, bem como, ao seu efeito sobre a nossa Alma!
A Mente, elo entre o Ego e o seu Tríplice Corpo, permite a percepção dele no mundo material, tirando proveito, dessa forma, das muitas e variadas lições à sua disposição, isso no caso de seu funcionamento normal. Como diz Max Heindel, no livro Conceito Rosacruz do Cosmos: “Nós mesmos, como Egos, funcionamos diretamente na substância sutil da Região do Pensamento Abstrato, que especializamos dentro da periferia da nossa aura individual. Dessa Região nós observamos, através dos sentidos, as impressões produzidas pelo mundo exterior sobre o Corpo Vital, como também os sentimentos e emoções gerados por elas no Corpo de Desejos e refletidos na Mente. Dessas imagens mentais formamos as nossas conclusões na substância da Região do Pensamento Abstrato relativas aos assuntos a que se referem. Tais conclusões são ideias.”.
A Mente, esse veículo de recente aquisição, encontra-se numa necessidade premente de exercício e de disciplina. O estudo da matemática, da Astrologia Rosacruz, do Esquema, Obra e Caminho da Evolução e da música elevada (que tenha harmonia, ritmo e melodia que nos eleve às Regiões superiores do Mundo do Pensamento) são formas construtivas de ginástica mental de alto nível.
Os Exercícios Esotéricos matutino de Concentração e noturno de Retrospecção, recomendados pelos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, são de inestimável valor para a aquisição de disciplina mental, pois empregam a faculdade de penetração do mercúrio. Passado algum tempo, a Mente consegue transpassar a parte exterior e contemplar o que há de mais íntimo no objeto estudado. O Exercício Esotérico de Retrospecção emprega a qualidade altamente refletora do mercúrio: quando corretamente executado, revela a escória de mercúrio, formada por razões pervertidas, falsas e egoístas de cada uma de nossos pensamentos, desejos, sentimentos, nossas emoções, palavras, nossos atos, nossas ações e obras. É mister que haja purificação dos minérios de mercúrio, como os nossos pensamentos, desejos, sentimentos, as nossas emoções, palavras, os nossos atos, as nossas ações e obras, visto que o incorreto uso da Mente dispersa a fonte da juventude, ou força vital ascendente.
A Tríplice Alma é afetada pela nossa reação às situações vividas. Devemos admitir o fato, uma vez constatado o erro, procurando, em seguida fazer a devida correção em todos os planos, por meio do arrependimento e da reforma íntima. Numa conclusão apressada, não percebemos os fatos, devido ao bloqueio exercido pelos nossos conceitos errados que obscurecem a luz da verdade.
A escória do mercúrio espiritual é removida por meio de exercícios mentais construtivos, do Exercício Esotérico do Discernimento e do uso correto das faculdades da comunicação.
A PRATA
Esse metal nobre sintoniza-se com a Lua, regente da natureza emocional, a qual, se purificada, transforma-se na “água viva” mencionada pelo Cristo, ou na “prata viva” dos alquimistas — o ELIXIR VITAE.
A Lua rege também a fecundação e o princípio da maternidade. O zelo para com um outro ser humano é um trabalho sagrado e que prepara o Estudante Rosacruz para trabalhos maiores. Os minérios da prata são formados pelas experiências domésticas do Estudante Rosacruz, no papel paterno ou materno, e dependem estritamente da harmonia ou não, desses relacionamentos. Quando há resistência, ou má vontade para com essas responsabilidades, ou preferências egoístas, ou emocionais, a prata carece de pureza.
Aqueles que temperam com o amor os alimentos para a sua família; cuidam dos pequeninos com luminosa alegria; exercitam a inteligência; promovem a harmonia doméstica e preenchem as necessidades dos seus dependentes por motivos altruístas e afeição sincera, estão juntando prata pura.
O OURO
Esse metal é o doador de vida da economia, indústria e comércio das nações; é regido pelo dador da vida: o Sol. O despotismo é uma forma de ouro alquímico impuro. Aquele em cujas mãos se encontra o poder, deverá preocupar-se com o seu sábio exercício, para a elevação de todos. Quando uma honra, ou uma posição elevada são negadas, a experiência deve ser vivida com dignidade e entendimento, a fim de purificar o ouro espiritual.
O nosso ouro é o Ego, a imperecível chispa da Divina Chama. O ouro transmutado (o Corpo-Alma, que nos oferece a imortalidade consciente) é um ouro mais refinado, porquanto a virtude tem mais valor que a inocência.
Quando todos os metais estão presentes, deve haver equilíbrio: quantidades iguais de prata e ferro, tornam os desejos altruístas e dão energia ao serviço. A fulgurante alegria e a beleza do cobre aliviam a pesada labuta do chumbo. Por sua vez, o chumbo equilibra a frivolidade do cobre, quando em excesso. O mercúrio tempera a abundância do estanho jupiteriano pelo Exercício Esotérico do Discernimento; uma quantidade correspondente de estanho neutraliza um excesso de mercúrio (orgulho intelectual), por intermédio de orações e obediência, aspirações elevadas e FILANTROPIA.
Após conseguido o equilíbrio entre os metais, eles resistirão à transmutação, a menos que haja remoção das respectivas características separadoras: isso se faz reduzindo todos os metais à Matéria Primordial, que é a substância primária da qual os Elohim formaram o Universo.
A PEDRA FILOSOFAL
Os alquimistas concordaram com os princípios básicos do trabalho a ser realizado, porém os seus métodos diferem. Segundo Max Heindel, “cada pedra tem sua individualidade própria, correspondendo à Individualidade do filósofo que a produziu. Por esse motivo, é difícil produzir uma fórmula generalizando o trabalho, sendo aconselhável dar indicações individuais àqueles que adquiriram, pelo menos, o direito à sua elaboração.”.
A arte da Alquimia Espiritual pode ser aprendida, mais não ensinada. Deve ser uma experiência pessoal e mística. Os seguintes degraus, enunciados por Paracelso, contêm farto material para meditação:
Obtém-se, dessa maneira a pedra que transforma em ouro tudo que por ela é atingido, e todo o corpo é impregnado com a iluminação do Cristo Interno, a Pedra Filosofal viva, que os alquimistas chamam de estado de “tinctura”.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de março/1977-Fraternidade Rosacruz-SP)
[1] N.T.: ICor 13: 1Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse a caridade, seria como um bronze que soa ou como um címbalo que tine.2Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência, ainda que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse a caridade, eu nada seria. 3Ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos, ainda que entregasse o meu corpo às chamas, se não tivesse a caridade, isso nada me adiantaria. 4A caridade é paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho. 5Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. 6Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. 7Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. 8A caridade jamais passará. Quanto às profecias, desaparecerão. Quanto às línguas, cessarão. Quanto à ciência, também desaparecerá.9Pois o nosso conhecimento é limitado, e limitada é a nossa profecia. 10Mas, quando vier a perfeição, o que é limitado desaparecerá. 11Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Depois que me tornei homem, fiz desaparecer o que era próprio da criança. 12Agora vemos em espelho e de maneira confusa, mas, depois, veremos face a face. Agora o meu conhecimento é limitado, mas, depois, conhecerei como sou conhecido. 13Agora, portanto, permanecem fé, esperança, caridade, estas três coisas. A maior delas, porém, é a caridade.
Autoridades têm dito que, de todas as leis físicas e espirituais, a Lei do Equilíbrio é a mais importante – é a lei fundamental da Criação. Dela depende a continuidade do Universo. Atuando tanto no microcosmo (o ser humano), como no macrocosmo (o nosso Universo) é absolutamente sábia e ampla; dela depende a estabilidade de toda a vida em manifestação.
É a causa fundamental e o efeito final da Lei dos Opostos, da Lei da Polaridade, da Lei da Periodicidade ou dos Ciclos, de todas as forças em oposição. Não poderia haver vida material, espiritual nem psíquica na forma, não fora a ação da Lei do Equilíbrio. As violações dessa lei, seja pelo ser humano ou pela Natureza, resultarão, inevitavelmente, em maiores ou menores catástrofes.
A Filosofia Rosacruz ensina que a evolução “é a história do progresso do Espírito no tempo”. Observando a evolução tal como se manifesta nos diversos fenômenos do nosso Universo, verificamos que seu caminho é espiral, sendo cada volta da espiral um ciclo para a obtenção do estado de equilíbrio.
Em maior escala, os ciclos ocorrem quando o Sol se move para trás, entre as 12 constelações, pelo movimento que chamamos de Precessão dos Equinócios. O clima, a flora e a fauna da Terra mudam lentamente, produzindo, essa mudança, um ambiente diferente para a Onda de Vida humana em cada época sucessiva, à medida que caminha para a Unidade com Deus, o Criador. Existe também o caminho cíclico do Planeta, cujos pontos de retorno são os Equinócios e os Solstícios. Daí o ocultista observar o Solstício de Junho e o Equinócio de Setembro, bem como o Natal e a Páscoa. Eles indicam o fluxo periódico das forças invisíveis que revestem nossa Terra, as quais, agindo em obediência à Lei do Equilíbrio, produzem no nosso globo as atividades físicas, morais e mentais.
Em menor escala, é por meio da ação da Lei do Equilíbrio que o ser humano “nasce e morre” atingindo, por fim, a síntese, a unificação final de todas as vidas passadas. O Espírito humano vence finalmente tudo o que tem obstruído o seu progresso na evolução; os desejos são postos sob o controle do Espírito por meio da vontade e da Mente; desaparece o sexo na assexualidade do Adepto. Quem se tornou responsável pela ação da Lei do Equilíbrio em si mesmo não é mais dominado pelas opiniões, pelos desejos ou experiências de qualquer outro ser – no Corpo Denso ou fora dele. Sua vida é dedicada ao propósito de conhecer e obedecer às leis oniscientes de Deus e caminha sempre para esse fim com harmonia interior e eficiência.
Os muitos alvos que hoje nos cercam são ofuscantes lembretes de que há premente necessidade de equilíbrio em nossas vidas e nos negócios do nosso mundo, se esse há de ser verdadeiramente uma grande sociedade. A facilidade com que as massas populares caem na histeria da adoração de um herói ou de uma atitude condenatória: de ficar possuída do medo da possibilidade de um ataque atômico (ou pior) ou da inflação monetária; de seguir um rumo à intolerância e de perseguição à raça e à religião; de enfatizar desordenadamente o sexo; de sucumbir à vida falsa dos narcóticos; de acentuar demasiado o lado material da vida em detrimento do lado espiritual – tudo isso são os sintomas bem como os resultados da falta de equilíbrio no interior dos seres humanos, desencadeando as forças de destruição. Muitos poucos existem que mantêm o equilíbrio tornando possível o verdadeiro progresso.
A história está repleta de relatos de clímax nacionais e internacionais que têm surgido periodicamente pela Lei dos Ciclos, em obediência à mais sábia Lei do Equilíbrio. Nessas ocasiões, os homens e mulheres que fazem surgir do caos a ordem e o progresso, são aqueles que conseguiram o equilíbrio dentro de si mesmos.
Durante os anos cruciais em que estamos atingindo novos e mais elevados valores e padrões, os homens e as mulheres que usam tanto as qualidades da Mente como as do Coração bem merecem nossa gratidão pelo serviço que prestam em ajudar a conservar nosso mundo em condição estável e a livrar-nos de possíveis catástrofes. Onde quer que estejam – e são encontrados praticamente em todos os caminhos da vida – estão servindo como canais autoconscientes aos nossos Irmãos Maiores, a quem tanto devemos.
“Vem, raciocinemos juntos”, é um aviso que indica a nota-chave para um processo de recondicionar nossos mundos menores e maiores, porém, já que a razão é, de fato, o produto do egoísmo, deve, se queremos obter resultados mais satisfatórios, ser combinada com o amor e o reconhecimento da unidade de todas as criaturas. Com o tempo, a razão, que está sendo desenvolvida pelo Espírito Humano, terá levado o desejo por caminhos que conduzem à obtenção da perfeição espiritual; a natureza do desejo terá sido conquistada e a Mente seja emancipada, pelo amor, da sua escravidão ao desejo. Então a intuição, a faculdade do Espírito de Vida, será soberana. Hoje, no nosso mundo existem incontáveis oportunidades de obtenção do equilíbrio – Mente pura, um Coração nobre e um Corpo são; e existem, ao mesmo tempo, muitas oportunidades para render-se aos desejos inferiores e obstruir o progresso próprio, bem como o dos outros. Cada indivíduo deve, afinal, fazer sua própria escolha do caminho que quer seguir: ou o caminho equilibrado da harmonia e do progresso, ou o caminho desequilibrado da discórdia e da disputa. Certamente nunca houve maior necessidade de pessoas equilibradas bem integradas. A compreensão da natureza real do ser humano e do seu propósito aqui na Terra fornece o mais poderoso incentivo para o caminho positivo.
A energia criadora do Espírito humano – uma centelha no interior da Chama Divina – é bipolar; a vontade é a qualidade masculina; a imaginação é a feminina. Como, regra geral, nascemos alternadamente em Corpos Densos masculino e feminino, dentro de cada um de nós, não importa o sexo que tenha o Corpo Denso, há a energia bipolar que por fim conduzirá a um equilíbrio perfeito! Desde o momento em que o onisciente Espírito Virginal foi diferenciado em Deus e enviado na longa jornada dentro e fora da matéria para obter a consciência própria e a onisciência divina, até o fim da sua peregrinação setenária, há um contínuo desenvolvimento para o equilíbrio espiritual que atinge seu clímax na Unidade com o Criador. Então, terá sido satisfeito o propósito da manifestação do Espírito diferenciado e ele estará pronto para posteriores glória e esplendor evolucionários.
Em algumas pessoas, tanto homens como mulheres, a qualidade imaginativa ou do coração é a mais forte, sendo tais pessoas grandemente devotadas e emocionais. Em outras, o intelecto governa, sendo tais indivíduos predominantemente frios e mentalistas. Em seus escritos, Max Heindel insiste na necessidade de desenvolvermos tanto a Mente quanto o Coração – de lutar pelo equilíbrio. Diz ele: “O Conceito Rosacruz do Cosmos teve grande aceitação devido a esse apelo ao intelecto e à satisfação que proporciona à Mente inquiridora. Poucos, entretanto, parecem aptos a transcender a concepção intelectual, e a menos que esse livro dê ao Estudante Rosacruz um ardente desejo de passar além do caminho do conhecimento e seguir o da devoção, é, no meu entender, um fracasso. O ocultista intelectual pode terminar na magia negra se segue o caminho do conhecimento só pelo conhecimento e não para servir. Na fusão do intelecto com a devoção está o verdadeiro equilíbrio, a única esperança real”.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – julho/1972 – Fraternidade Rosacruz – SP).
Dentre vários ensinamentos que lemos nas Epístolas de São Paulo há um muito interessante para entendermos a questão do título: “Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.” (Gl 6:7). Estas palavras foram escritas pelo Iniciado o Apóstolo São Paulo em uma Epístola aos Gálatas, que eram um grupo de pessoas que habitava uma província da Ásia Menor. São Paulo leva a Religião Cristã aquela gente, a quem amou de maneira muito especial, congregando-os em uma Igreja. Estando deles ausente, apareceram certos “mestres”; dentre eles três judeus e trataram de persuadir aquela gente a desprezar a Religião Cristã, que lhes tinha sido ensinada por São Paulo, e voltaram à antiga forma de adoração.
São Paulo viu claramente que para os Gálatas o retroceder depois de terem visto a luz significava atraso, em lugar de progresso, e que suas consequências seriam o incorrer em uma pesada dívida com o destino, que requeria eternidades para eles a liquidarem.
Sendo São Paulo um Iniciado, conhecia perfeitamente as Leis do Renascimento e as de Causa e Efeito e, por isso, sabia muito bem que se este povo contraísse uma tal dívida, teria de pagá-la alguma vez e em alguma parte, ao preço de grande dor e de profunda angústia. Por esta razão, São Paulo proclamou a Lei de Causa e Efeito a essa gente, dando-lhe o conhecimento dela em termos inequívocos: “Não vos enganeis: Deus não pode ser iludido; tudo o que o homem semear, isso também colherá“.
Se o Renascimento não fosse um fato, numerosas afirmações da Bíblia, semelhantes à que acabamos de citar, seriam difíceis de aceitar. De fato, seria absolutamente impossível para um homem ou uma mulher inteligente aceitar muitos fatos da vida, nem sequer em mínima parte. Por todas as partes vemos no mundo pessoas semeando sem cessar, sementes de maldade, discórdia, ódio, desonestidade, decepções, etc. e, contudo, ostentam-se prósperos e florescentes, como o verde loureiro proverbial. Aqueles cujas vidas são piores, acham-se com frequência, ocupando os mais altos cargos; entretanto vemos oprimidos, homens e mulheres de vida santa e Cristã.
E qual a resposta a esses diversos e complexos problemas que, constantemente, a vida nos está apresentando? Não têm eles respostas alguma? E a morte? Ainda os resultados da morte são incertos. Aniquila a morte a consciência?
Como resposta a tais perguntas, a maioria das pessoas dirá: “Creio nisto ou naquilo, mas nada sei”.
Há uma resposta para cada problema que a vida nos apresenta; os precursores da grande escola da vida, que avançaram e progrediram, puderam nos dar estas respostas. Eles não dizem: “creio” ou “penso”, mas dizem: “sei” -“Eu sei”. E como sabem? Porque adquiriram conhecimento de primeira mão. E de que maneira o adquiriram? Por meio da perseverança, devoção, observação e discernimento.
Antes que um homem ou uma mulher possa entender a vida, há de achar-se disposto ou disposta a aceitar como uma hipótese eficaz a de que o Renascimento é um fato e que toda a manifestação se explica pela Lei de Causa e Efeito. Uma vez que uma pessoa permita que entrem na sua consciência estes dois grandes fatos, tem já um ponto de apoio ou de partida para seus raciocínios.
Se o Renascimento é um fato, então todos nós temos vivido várias vidas anteriores à atual, e temos passado por numerosas provas. Temos sido arrogantes, cruéis, opressores, tiranos, injustos? Tem havido ocasiões em que temos sido bondosos, tolerantes, sensíveis, serviçais etc.? Pois bem, na atualidade somos a soma de nossas experiências anteriores, ou melhor, a soma de nossas reações à todas as nossas experiências passadas.
Cada criatura humana de nossa Onda de Vida tem-se iniciado na grande escola da vida, na Grande Escola de Deus, com iguais oportunidades. Durante cada vida foram-nos dadas certas lições. Quando as tivermos aprendido perfeitamente, teremos ganho em conhecimento e inteligência e teremos avançado.
Quando recusamos fazer nosso trabalho, e dissipamos nosso tempo vivendo preguiçosa ou licenciosa e desordenadamente, não só debilitamos, então, nossa estrutura moral, deixando para o lado o trabalho, senão que ao deixar para mais tarde o que devíamos ter feito hoje mesmo, deixamos para o dia seguinte uma tarefa mais dura e mais difícil de executar; e já não estaremos tão preparados para ela como estávamos ao ser-nos dada a primeira lição.
Mas esse trabalho há de ser executado alguma vez, em alguma vida, porque estamos desenvolvendo nossos próprios deuses, que absoluta e necessariamente hão de alcançar seu desenvolvimento, mercê de nossos próprios esforços.
O desenvolvimento das potencialidades latentes, dentro de cada indivíduo, não pode comprar-se, não pode achar-se ou receber-se como se fosse um gracioso donativo.
Depende de nossos próprios esforços perseverantes e resolutos, o que este crescimento progressivo encerra, e só nós estamos em possibilidade de apressá-lo ou retardá-lo. O indivíduo que diz: “Não tive nunca uma oportunidade na minha vida”, está-se enganando. Cada incidente que ocorre, e sucedem-se dezenas deles diariamente, nos subministra a oportunidade de desenvolver em alguma extensão algum poder potencial latente, em nosso interior, e as provas que sofremos, vem precisamente com esse objetivo. Não são meros acidentes com que tropeçamos, mas oportunidades dadas por Deus mesmo, para nosso crescimento, às quais devemos estudar bem e aproveitar tudo o que pudermos. Uma vez que nos dermos conta disso, cada dia de nossa vida se converte em uma grande e gloriosa aventura. Os mais humildes acontecimentos tornam-se grandes e maravilhosas experiências. O gorjeio de uma ave fere nossos ouvidos, estimula nosso sentido da audição e desenvolve nossa apreciação da verdadeira harmonia expressa em sons. Um humilde gusano, uma humilde minhoca, arrasta-se pelo solo aos nossos pés; o sentido da vista entra em ação; a cor daquela criatura se nos revela; a sua forma, a sua maneira de locomoção. Nosso poder de observação se vigoriza; o nosso interesse se estimula; a nossa Mente entra em atividade.
Começamos a estudar a vida, a verificar a nossa mentalidade e acabamos por aprender que tudo aquilo que existe é uma parte de Deus, que lenta, mas seguramente desenvolve dentro de si próprio, a Divindade.
A vida não nos aparece já como um confuso labirinto. É uma escola onde toda a criatura vivente recebe um ensino alegre e intenso. Nada há nela de opaco ou privado de interesse. São a Lei e a Ordem, trabalhando unidos, harmoniosamente. É o Amor em manifestação; é a atividade que nos revela em miríades de demonstrações.
Por que vemos ocupar altos postos aqueles que, segundo todas as aparências, carecem de algum mérito? Suas lições por um dia na Escola da Vida exigirão esse ambiente particular? Mas ai daquele que abuse de seus altos privilégios! Esse está criando uma tremenda dívida de destino, que não lhe será fácil pagar. Por que vemos sofrer opressão a uma pessoa digna? É com o objetivo de que possa aprender valiosas lições que hão de ser usadas em proveito de seus semelhantes, em vidas futuras, nas quais ocupará postos de grande influência e poderio. Tal pessoa não cometerá nunca o erro que seu irmão ou sua irmã menos adiantado ou adiantada poderia cometer ao achar-se numa posição semelhante.
O homem ou mulher que semeia sementes de discórdia, ódio, desonestidade, engano, etc. não pode ter a esperança de escapar ao castigo da Lei.
“Qualquer coisa que um homem semear, isso mesmo colherá“, seja durante sua vida atual, seja durante alguma outra vindoura, a não ser que se arrependa do seu mau comportamento.
Reformem-se enquanto puderem, reparem o mal que tenham cometido. A razão de que não vemos o malfeitor pagar suas dívidas é porque não estamos capacitados, no atual estado do nosso desenvolvimento, para segui-lo vida após vida e saber quando se vencem essas dívidas.
Algumas vezes pagam-se durante a vida em que se contraíram; outras vezes levam-se através de um ou mais Renascimentos, mas nunca ficam por saldar.
A Lei de Causa e Efeito, é ensinada pela Bíblia, ainda que expressa com diferente terminologia: “Qualquer coisa que um homem semear isso também colherá“. Nem esta Lei nem a Lei do Renascimento são realmente novas, como poderia comprovar qualquer estudante da Bíblia, cuidadoso e dotado de espírito analítico. Na atualidade, contudo, está lhe dando uma importância muito particular, por parte das escolas avançadas de preparação espiritual, devido a que um número considerável de seres humanos completou já as lições ensinadas por meio da Religião Cristã ortodoxa, e se encontram já prontos para uma etapa mais adiantada na senda do progresso. Essa etapa mais avançada lhes abrirá os Mundos invisíveis onde reside o Espírito, ou verdadeiro “EU”, durante os intervalos entre a morte e o novo renascimento, e os capacitará para seguirem as pisadas do Espírito, ainda que esse faça suas diversas viagens, da morte ao nascimento e vice-versa.
Antes que um indivíduo possa chegar a essa etapa adiantada, há de construir um veículo que lhe permita funcionar nos Mundos invisíveis. Esse veículo se constrói determinando uma separação entre os dois Éteres inferiores (o Químico e o de Vida) dos Éteres superiores (Luminoso e Refletor), que são os veículos da percepção dos sentidos e da memória; podem então usar-se como tal, o veículo a que se chama o Corpo-Alma.
Em consequência, a “Senda da Preparação” precede a capacidade de adquirir conhecimento de primeira mão, o conhecimento direto.
O amoroso e abnegado serviço aos outros, a perseverança, a devoção, a observação e o discernimento são os meios de alcançá-lo. O serviço amoroso e abnegado aos outros atrai automaticamente ao indivíduo os dois Éteres superiores, a saber; o Luminoso e o Refletor, com os quais se constrói o “Corpo-Alma”.
O Éter Químico e o Éter de Vida são capazes de se encarregar das funções vitais do Corpo Denso, durante o sono. Mais tarde tem lugar uma separação entre estes dois Éteres inferiores e os dois Éteres superiores. Quando esses dois últimos Éteres que compõem o “Corpo-Alma” já se espiritualizaram o suficiente, por meio da observação, do discernimento e do serviço, uma simples fórmula, dada por um Mestre espiritual, capacita o Aspirante à vida superior a levar consigo o “Corpo-Alma” à vontade, junto com o seu Corpo de Desejos e a sua Mente. Fica assim equipado com seus veículos de percepção sensorial e de memória.
Qualquer conhecimento que possua no Mundo Físico está, então, à sua disposição para usá-lo nos Mundos invisíveis, e quando de novo entra em seu Corpo Denso, traz consigo, ao cérebro físico, memórias de suas experiências adquiridas durante seu funcionamento longe do próprio corpo e naqueles altos lugares.
Quando o indivíduo tenha construído esse veículo no qual funciona, pode visitar os Mundos invisíveis e fica com liberdade para explorá-los a seu gosto, e aprender neles as causas que produzem todos os efeitos que se manifestam no plano físico.
Pode, então, acompanhar uma criança, da morte ao renascimento e comprovar assim que a reencarnação é um fato.
Pode então compreender a vida e seu objetivo, e trabalhar em harmonia com todas as Leis da Natureza; e dessa maneira tem já em suas mãos não só o método de acelerar sua própria evolução, senão também o de ajudar os outros a fazerem outro tanto.
Todo o nosso progresso depende de que aprendamos as lições que se nos apresentam em nossa vida diária, sem ter em conta que sejam fáceis ou difíceis. Devemos agradecer cada lição e pôr-nos prontamente a aprendê-la. E devemos agradecer especialmente às difíceis e desagradáveis, pois indicam que fizemos consideráveis progressos no passado e que, por consequência, estamos já capacitados para aprendê-las. Às almas jovens e pouco experimentadas não são dadas tarefas difíceis para executar.
Cada dia está cheio de oportunidades que, nos tornam os donos delas e se as aproveitarmos tanto quanto possível, nos permitirão avançar rapidamente pelo caminho do verdadeiro desenvolvimento.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – setembro/1979 – Fraternidade Rosacruz-SP)
A Filosofia Rosacruz é o Cristianismo Esotérico. Na literatura rosacruciana é fácil notar a preocupação em ressaltar a Fraternidade Rosacruz como a escola preparatória aos Mistérios (ou Iniciações) ocidentais, uma Escola preparatória para a Ordem Rosacruz. Isso não contradiz o sentido de universalização para que tende o Cristianismo Esotérico.
Tal como o Sol aparenta caminhar de leste a oeste, a luz da espiritualidade percorre o mesmo caminho, ao longo da evolução humana. Confúcio na China, Buda na Índia, Pitágoras na Grécia constituíram marcos da trajetória brilhante do Sol da espiritualidade, dirigindo a evolução cada vez mais para oeste.
Há dois mil anos surgiu o Cristo, trazendo um novo ideal, abrindo amplas perspectivas de progresso anímico para a humanidade. Sua influência, contudo, ainda predomina apenas no Ocidente. Mas, tempo virá em que os demais seres se universalizarão, libertando-se dos restritivos laços da tradição, dos costumes arraigados desde milênios, engendrados pelos Espíritos de Raça por meio das Religiões de Raça. Haverá, então, um consenso quanto à aceitação do Cristianismo, mormente do Cristianismo Esotérico.
No momento, todavia, por circunstâncias evolutivas, isso não ocorre. No Ocidente encontram-se renascidos os seres mais evoluídos da Terra, em sentido geral. Em outras existências já viveram no Oriente. Agora, renascem nessa parte do globo, a fim de receber ensinamentos correspondentes aos seus presentes estágios evolutivos.
Pode parecer, aos menos avisados, que o Oriente, em questão espiritual, esteja na vanguarda da evolução. Aliás, os orientais, valendo-se de uma imensa variedade de obras à venda por aí, deixam transparecer semelhante ideia. Puro engano. A maior parte dos Egos que ocupam os corpos orientais encontra-se na curva descendente desse Esquema de Evolução (cuja denominação rosacruciana para essa parte do Esquema de Evolução é chamada de Involução), prestes a atingir o nadir da materialidade, pelo que já passaram os ocidentais.
Os povos do Oriente não têm a mesma sensibilidade dos seres que vivem do outro lado do globo. Suas pretensas faculdades espirituais são, muitas vezes, um psiquismo negativo.
Os Ocidentais, subindo o arco evolutivo ascendente desse Esquema de Evolução (cuja denominação rosacruciana para essa parte do Esquema de Evolução é chamada de Evolução), estão alcançando condições cada vez mais espirituais: Corpos Densos mais refinados e Mentes mais dinâmicas.
E, como não poderia deixar de ser, os métodos de desenvolvimento, para um e outro povo, apresentam radicais diferenças, se bem tenham em comum alguns princípios doutrinários, como a Teoria do Renascimento, Lei de Consequência etc.
No método oriental, o neófito submete-se ao arbítrio do guru, mestre, instrutor, condicionando seu desenvolvimento à total aceitação do que lhe é ensinado. Trocando em miúdos: o neófito deve obedecer sem vacilar às determinações de seu “mestre”, transferindo-lhe toda a responsabilidade. Deve praticar certos exercícios e adotar determinadas posturas físicas para lograr domínio sobre seu corpo. Alguns desses exercícios – respiratórios, por sinal – são completamente inadequados à constituição do ser humano ocidental, podendo levá-lo, se praticados, a mais lamentável ruína física e mental.
O método indicado para o neófito do Ocidente respeita-lhe o acervo individual de experiências passadas que lhe formaram a natureza, a índole etc. Procura, desde o início, libertá-lo de toda influência externa (seja de outras pessoas, seja por meio de instrumentos físicos como: pêndulo, bola de cristal, tarô, cartas de baralho, runas, búzios e outros afins que estão sempre sendo apresentados com “nomes modernizados”), tornando-o confiante em si mesmo no mais alto grau. Propicia-lhe os meios de realização, deixando seu desenvolvimento na dependência exclusiva de sua iniciativa, do seus esforço e da sua perseverança.
Reconhecemos e respeitamos o valor do método oriental, porém, com uma importante ressalva: serve apenas e tão somente aos neófitos do Oriente, aos irmãos e irmãs que renascem naquela parte do globo terrestre.
É importante que saibamos distinguir, para nossa orientação e dos demais, os dois métodos de desenvolvimento. Como afirmou Max Heindel: “Buda pode ter sido a luz da Ásia, mas Cristo é a luz do mundo. Assim como a luz do Sol ofusca o brilho das mais radiantes estrelas, tempo chegará em que o verdadeiro Cristianismo, o Cristianismo Esotérico, ofuscará e anulará todas as demais Religiões, para inteiro benefício da humanidade”.
(Por Gilberto A V Silos – Editorial da Revista Serviço Rosacruz de janeiro/1976)
“Que é o ser humano mortal para que te lembres dele? E o filho do ser humano para que o visites? Contudo, pouco menor o fizeste do que os Anjos, e de glória e de honra o coroaste.” (Sl 8:4)
“A arte, conforme permite sua habilidade, segue a natureza como um aluno segue o seu Mestre. De modo que a arte deve ser, por assim dizer, algo que deriva de Deus.”[1] (Dante)
Todas as atividades do ser humano podem ser divididas em três categorias, a saber: Ciência, Religião e Arte. A mais alta consecução do ser humano é conseguir florescê-las. Na escala da evolução o ser humano está situado entre a Onda de Vida dos Anjos e a Onda de Vida dos animais. Deus fez o ser humano “um pouco menor que os Anjos” e lhe concedeu o domínio sobre o Reino animal. Considerando a existência desses três fatores, Ciência, Religião e Arte, podemos compreender a diferença principal existente entre o ser humano e o animal. Nem a Ciência nem a Arte são necessárias para os animais, na presente fase do desenvolvimento deles.
No presente, a Ciência, com suas descobertas, assumiu posição destacada. A Religião também está despertando. Porém, aqui desejamos considerar as Artes. Não nos é possível traçar linhas claras de demarcação ao classificar as atividades do ser humano dessa maneira, porque a Ciência ajuda a compreender a Arte. E a Arte segue de mãos dadas com a Religião, quando trata de revelar a divindade do nosso ser. Max Heindel chama a Ciência, a Arte e a Religião de “uma trindade na unidade”. Sabemos que a separação em classificações diferentes é temporária. Num estado posterior do nosso desenvolvimento, as três tornarão a ser “um”
A verdadeira Religião inclui tanto a Arte como a Ciência, pois ensina uma vida formosa em harmonia com as leis da natureza.
A verdadeira Ciência é artística e religiosa no sentido mais amplo, porque nos ensina a reverenciar as leis que governam nosso bem-estar e a nos conformar com essas leis, explicando, além disso, por que a vida religiosa conduz à saúde e à beleza.
A verdadeira Arte é tão educacional como a Ciência e tão edificante como a Religião. Na arquitetura temos uma sublime apresentação de linhas cósmicas de força no universo.
Para muitos a vida sem a Arte verdadeira seria intolerável, porque a imaginação do ser humano requer alimento assim como o corpo necessita de nutrição. E é “imaginando” que se nutrem as almas. Existem três elementos necessários, quando se considera a Arte real: a música, a pintura, a poesia e a arquitetura. Esses três elementos indispensáveis são: emoção, expressão e ritmo.
A Arte pode ter por objeto a apresentação da forma exterior ou pode mostrar o espírito interno de um objeto; porém sempre é possuída por um crescente impulso emocional.
Para o artista dedicado é possível interpretar as realidades profundamente ocultas da natureza interna do ser humano. Essa revelação do espírito do ser humano é a sua mais elevada missão. Cada época produz escultores, pintores e músicos capazes de produzir verdades criadoras ao contemplar as obras de Deus. Porém, sempre essas criações contêm a concepção própria e individual do ser humano e a sua própria interpretação, posto que conservam sua “maneira de refletir a natureza”. Essa concepção individual do universo de Deus é o que promove as diferenças existentes no mundo da arte criadora. Sem dúvida, há somente uns poucos em cada época que podem pretender expressar uma originalidade verdadeira. Em geral o artista copia e recopia, sem ser capaz de revelar sua própria concepção individual do tema ou objeto.
Quando um artista se torna verdadeiramente criador, é capaz de influenciar a vida de uma nação inteira. O rumo que um povo segue delineia-se, em primeiro lugar, no trabalho e na expressão daqueles que têm sentimentos fortes, internos, e que são sensíveis aos impulsos ocultos do ser humano. Eles devem refletir as impressões que são capazes de receber para que os demais também se beneficiem delas.
O domínio de qualquer Arte requer disciplina. E isso significa que o aspirante tem que aprender a dominar a forma, seja essa de linguagem, cor, tom, etc. Unicamente por meio da meditação e da concentração intensa é que se conquista a habilidade em uma Arte. Por conseguinte, é compreensível que em algumas Escolas de Mistérios da Grécia, o Mestre-Artista fosse admitido ao Templo sem que executasse os exercícios preliminares. A faculdade de dominar uma arte-forma era considerada suficiente para entrar diretamente nos mais internos ensinamentos.
A história se converte em uma realidade para nós através da Arte. Os arquitetos e escultores do Egito, Assíria, Grécia e Roma deram-nos uma demonstração gráfica da civilização desses países. Temos acesso aos restos sublimes das figuras de barro e mármore. Sem podermos examinar o que há nos muros e pirâmides nas margens do Nilo e sem o nosso presente conhecimento dos edifícios e estátuas da Grécia e de Roma nossas ideias sobre a vida desses povos seriam, em verdade, confusas e irreais.
A arte do ser humano dá testemunho do seu ser interno. Nada indicará o rumo dos tempos tão precocemente como a música, a pintura, a arquitetura ou a poesia de um povo. Até parece que o artista criador pressente as sombras arrojadas pelos acontecimentos futuros. Os anseios e temores, as elevadas aspirações, assim como os sentimentos de incerteza de um povo podem ser percebidos nas obras daqueles que dedicam suas vidas à expressão de suas próprias capacidades criativas. O artista mesmo, com poucas exceções, em geral não é consciente de que suas criações são uma parte necessária e valiosa do desenvolvimento de toda a humanidade. Vive e trabalha à ordem da sua fantasia. Está satisfeito enquanto pode seguir o impulso interno que o conduz à expressão.
Quando observamos o rumo ou tendência da arquitetura moderna, da pintura e da música moderna, das diferentes nações do nosso globo terrestre, ficaremos impressionados com a similaridade dessas tendências. Nós nos veremos obrigados a admitir que universalmente o harmônico e o grotesco se revelam a si mesmos. De um modo geral podemos dizer que todas essas tendências têm muito em comum. A Arte mais moderna demonstra que as fontes profundas, ocultas, estão perturbadas e que as imagens do bom, do verdadeiro e do belo não são claramente concebidas e transmitidas.
Temos que chegar à conclusão de que, no esforço de um ser humano para criar algo e sensacional, ele exibe sua própria imagem interna, estranha e pessoal, em vez de usar as verdades espirituais que estão à sua disposição, em seus esforços de criação.
Em nossas próprias atividades devemos ser capazes de seguir as tendências originais, próprias, sempre que isso seja possível. Em nossos jardins, na ordem das nossas casas, ao servir nossas refeições ou até na seleção dos nossos quadros, nas cores das nossas roupas; em todas essas coisas devemos seguir nosso gosto individual. Existem bons livros sobre a apreciação da Arte. Devemos dedicar tempo e meditação a estudá-los.
Ao tecer os fios confusos das nossas vidas temos não somente a Lei de Causa e Efeito à nossa disposição, mas podemos sempre, dentro de certos limites, usar a Epigênese para realizar alguma obra original, alguma expressão singular. A possibilidade de originalidade é a espinha dorsal da evolução do ser humano.
Nos Ensinamentos Rosacruzes aprendemos que existe uma força dentro do ser humano em evolução que é o que torna possível o desenvolvimento. Essa força subministra algum campo para nossa capacidade criadora.
Como o expressa tão bem o poeta: “O problema maior de toda arte é produzir, por meio das aparências, a ilusão de uma realidade mais sublime” (Goethe).
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – março/1974 – Fraternidade Rosacruz – SP)
[1] N.T.: Inferno: notas Canto XIV – da obra A Divina Comédia de Dante Alighieri
Por Max Heindel
Algum tempo atrás eu tive o privilégio de falar com vocês sobre o assunto “a nota-chave do Cristianismo” e no decorrer dessa palestra trouxemos à nossa Mente o encontro de Pilatos com Cristo, em que a grande e importante pergunta foi feita: “O que é a verdade?”. Vamos olhar para essa imagem mais uma vez. Lá está Pilatos, o representante de César e, em virtude desse fato, uma encarnação do mais alto poder temporal, um governante de todo o mundo com poder sobre a vida e a morte, um homem diante de quem todos tremem. Diante dele está o Cristo, manso e humilde, mas muito maior, pois enquanto esse homem, Pilatos, tem poder sobre o mundo presente, que é evanescente e temporal, ele mesmo está sujeito à morte. Mas Cristo é o Senhor da Vida, o Príncipe de um Reino espiritual que não passa. Ele não responde à pergunta de Pilatos, “O que é a verdade?”, mas em outra ocasião, ele disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”[1]; e “A Verdade vos libertará”[2].
Não se pode negar que estamos agora sob a lei do pecado e sujeitos à morte. A grande questão é, portanto: como encontrar a verdade que nos libertará real e verdadeiramente? Com o propósito de encontrar o caminho, vamos dar uma olhada na aurora dos tempos, quando a humanidade infantil veio pela primeira vez à Terra. De acordo com a Bíblia, uma névoa subiu da Terra quando a crosta do Planeta, que esfriava, secou; quando olhamos para essa Época na Memória da Natureza, encontramos um maravilhoso crescimento tropical de tamanho gigantesco cobrindo a bacia da Terra onde agora está o Oceano Atlântico. Realmente, era um verdadeiro jardim, mas a névoa era tão densa que a luz do Sol nunca poderia penetrá-la; então a humanidade infantil vivia nesse paraíso como filhos do Grande Pai. Eles tinham corpos nessa Época como têm agora, mas não tinham consciência deles, embora pudessem usá-los, assim como usamos nosso aparelho digestivo sem estarmos conscientes disso. E embora eles fossem incapazes de ver fisicamente, a visão espiritual era uma faculdade ainda possuída por todos. Assim eles se viam alma-a-alma; não havia malícia nem hipocrisia, mas a verdade estava com todos.
Gradualmente, no entanto, a névoa clareou e se tornou uma enorme nuvem, envolvendo o Planeta. Simultaneamente, esses “filhos da névoa”, os Niebelungos, começaram a se ver vagamente; tornaram-se cada vez mais “internalizados” em seus Corpos Densos e perceberam finalmente que esse veículo é uma parte do ser humano. Contudo, ao mesmo tempo, eles gradualmente perderam contato com os Mundos espirituais; já não viam a alma com clareza e até mesmo a voz das Hierarquias espirituais, que antes os guiavam como um pai guia seus filhos, tornou-se fraca e vaga. Com o passar do tempo, a nuvem que pairava sobre esse vale havia se condensado o suficiente na atmosfera fria, de um tão denso que se liquefez e caiu sobre a Terra em diversos dilúvios que levou esses “filhos da névoa” até as terras altas, onde, na atmosfera clara e sob arco-íris, eles se viram cara-a-cara pela primeira vez. Gradualmente a grande ilusão de que “somos corpos” tomou conta de tudo; a alma não era mais vista, nem podiam eles ouvir a voz do Grande Pai que cuidou deles durante sua infância, naquele estado paradisíaco. A humanidade ficou órfã, à deriva no deserto do mundo. A vida tornou-se uma luta contra a Morte.
Logo, a maioria da humanidade parecia esquecer que havia um estado tão feliz, embora a história vivesse em canções, em lendas, e houvesse, como ainda há, em cada peito humano um profundo e inerente reconhecimento dessa verdade, uma memória de algo que se perdeu, algo mais precioso do que qualquer coisa que o mundo possa dar. E há, portanto, em cada peito humano um profundo anseio por aquela companhia espiritual que perdemos pela identificação com nossas naturezas inferiores. Encontramos uma encarnação desse anseio no Tannhauser[3], que entrou no Monte de Vênus para satisfazer seu desejo inferior. Depois de algum tempo, ele anseia pelo mundo que deixou e implora a Vênus que permita que ele parta para que possa desfrutar novamente do sofrimento, das torturas de um amor não correspondido, pois ele se cansou do que ela lhe deu gratuitamente. Como ele diz:
Um Deus pode amar sem cessar,
Mas sob as leis do alternar,
Nós, mortais, precisamos em medida ter
Nossa parcela de dor, assim como de prazer.
Esse foi o propósito quando a humanidade foi conduzida da Atlântida[4] para a presente Era do arco-íris[5]; a Lei da Alternância foi dada para que possamos colher como semeamos (Gl 6:7), para que a tristeza e a alegria mudem conforme as estações se sucedem em uma sequência ininterrupta; e, assim, deve continuar até que o sofrimento gerado por nossas transgressões tenha demolido a crisálida que agora mantém a alma agrilhoada, enquanto a natureza inferior se alimenta das cascas da materialidade. A princípio, a humanidade se deleitou com o poder sobre o mundo e nasceu o orgulho da vida; a luxúria dos olhos era grande, mas, embora “os moinhos dos Deuses moam lentamente, eles moem extremamente bem”[6]; mesmo que possamos alcançar o poder, embora a saúde e a prosperidade possam ser nossos servos hoje, chegará um dia em que, como Fausto[7], sentiremos que a vida não tem valor. Então começa a luta de que Fausto fala a seu amigo Wagner com as seguintes palavras:
Tu, por um único impulso, és possuído;
Inconsciente do outro ainda permanece.
Duas almas estão lutando em meu peito
E batalham lá pelo reinado indiviso.
Uma pela terra, com desejo apaixonado,
E a roupa bem colada ainda adere;
Acima da névoa a outra aspira
Com ardor sagrado a esferas mais puras.
São Paulo também descobre que há dentro dele uma natureza inferior, “os desejos da carne”[8], que luta contra as ânsias e os desejos do espírito, mas Goethe, com a maravilhosa penetração do Místico, resolve o grande problema para nós. À pergunta “O que devemos fazer para que possamos alcançar a libertação?”, ele responde:
De todo poder que mantém a alma acorrentada,
O homem se liberta quando o autocontrole ele ganha na sua Jornada.
Podemos, como Pilatos, ter autoridade, talvez não tão grande autoridade. Mas, mesmo supondo que fosse possível a qualquer um de nós se tornar um “governante do mundo” e exercer autoridade sobre a vida e a morte de toda a humanidade, de que isso nos serviria, se não fôssemos capazes de conquistar e controlar a nós mesmos? Por meio de agressão física, César, o mestre de Pilatos (a quem ele representa) conquistou o mundo e todos lhe prestaram homenagens; mesmo assim o seu reino durou apenas alguns anos. Então, o sombrio espectro da morte veio para acabar com sua vida e seu domínio no Mundo Físico. Olhe para o outro, o Cristo, que permaneceu manso e humilde, mas capaz de dizer: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; (…) todo aquele que crê em Mim não perecerá, mas terá a vida eterna”[9]. O governante do mundo, apesar de todo o seu poder e pompa aparentes, ainda está sujeito à morte, mas Aquele que aprendeu a ter poder sobre si mesmo, Aquele que conquistou sua natureza inferior, o corpo de morte, assim se fez ele mesmo o Senhor da Vida, com um reino que é eterno nos Céus. E é dever de cada um de nós seguir Seus passos, pois Ele disse: “estas coisas que eu faço vós também as fareis e maiores”[10]. Cada um de nós é um Cristo em formação, um vencedor no sinal da cruz.
E quando será isso? Quando o sentimento do egoísmo aprisionou o espírito no corpo, perdemos a alma de vista e a morte se tornou nossa porção. Assim que superarmos esse sentimento de egoísmo pelo altruísmo, assim que abandonarmos e esquecermos de nós mesmos e formos iluminados pelo Espírito Universal, teremos vencido o grande inimigo. Então, estaremos prontos para subir na cruz e voar para as esferas mais altas com aquele glorioso grito de triunfo: “Consummatum est” — foi realizado.
O Caminho é pelo Serviço. A verdade é que pelo serviço servimos a nós mesmos, pois todos somos um em Cristo. A Vida é a Vida do Pai, em Quem nós vivemos, nós nos movemos e existimos, e em Quem, consequentemente, não pode haver morte.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de agosto/1917 e traduzido pelos irmãos e irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
[1] N.T.: Jo 14:6
[2] N.T.: Jo 8:32
[3] N.T.: Tannhäuser und der Sängerkrieg aus Wartburg (Tannhäuser e o torneio de trovadores de Wartburg, em alemão) é uma ópera em três atos com a música de Richard Wagner, e com o libreto do próprio compositor, de 1845. A ação decorre ao pé de Wartburg, terra de grandes cavaleiros trovadores, onde se realizavam pacíficos concursos de canto, no século XIII. Reza a lenda que ao pé de Wartburg existia o monte de Vênus onde a bela deusa atraía e mantinha cativos no puro deleite, os cavaleiros trovadores. Tannhäuser caiu na quentes garras de Vênus. Essa obra é estudada no Curso Suplementar de Filosofia Rosacruz.
[4] N.T.: na Época Atlante
[5] N.T.: a presente Época Ária
[6] N.T.: antigo provérbio alemão
[7] N.T.: Fausto (em alemão: Faust) é um poema trágico do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe, dividido em duas partes. Está redigido como uma peça de teatro com diálogos rimados, pensado mais para ser lido que para ser encenado. É considerado uma das grandes obras-primas da literatura alemã. Essa obra é estudada no Curso Suplementar de Filosofia Rosacruz.
[8] N.T. Rm 13:14
[9] N.T.: Jo 14:6 e 11:25
[10] N.T.: Jo 14:12
Saibamos ou não, a repetição é uma constante em nossas vidas. Consideremos tanto os permanentes ciclos anuais de nascentes e poentes do Sol, quanto as nossas próprias rotinas diárias, sempre seguindo o mesmo programa: acordar executar um número de tarefas numa certa correlação e dormir.
Algumas pessoas fazem alusão à palavra “ritual” ou, respectivamente “rotina”, como atos repetitivos, maçantes, cerimoniais sem sentido, ou mesmo tarefas rotineiras monótonas, que devem ser “suportadas” e não obrigatoriamente executadas com um certo grau de boa vontade. Nossa interpretação da palavra “ritual” pode, certamente, ter esse tipo de conotação, se assim desejamos. Porém, se em nosso modo de ver, “ritual” equivale à “coisa monótona” não percebemos, infelizmente, o ritual em sua luz real e verdadeira, e afastamos uma poderosa ferramenta, que nos ajudará a construir o nosso progresso.
Os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental são claros e enfáticos a respeito da essencialidade da repetição para o desenvolvimento e espiritualização do Corpo Vital. Assim escreve Max Heindel: “A nota-chave do Corpo Vital é a repetição. Isso é fácil entender, quando levamos em conta que apesar de o Corpo Vital ter a faculdade de movimentar o Corpo Denso, só poderá conseguir movimentos satisfatórios mediante impulsos similares e repetidos. O Corpo Vital aprende a adaptar-se à coordenação dos movimentos do Corpo Denso, sob comando do espírito”. O bebê não caminha com perfeição, na sua primeira tentativa, e nem o músico chega a ser um instrumentista perfeito, após suas primeiras aulas de música. A repetição é indispensável para que os dedos do instrumentista e os pezinhos do bebê possam se movimentar como o Ego deseja. Nossos Ensinamentos Rosacruzes ainda dizem: “As escolas Ocultistas de todas as idades têm estabelecido como alvo a possibilidade de treinamento do Corpo Vital, por meio do trabalho com a sua nota-chave: a repetição”. Para essa finalidade, foram elaborados vários rituais correspondendo aos vários estágios evolutivos da humanidade. Dessa maneira conseguiu-se um progresso espiritual lento, porém seguro, independentemente da percepção, ou não, do ser humano, de que estava sendo “esmerilhado”. Os Serviços Devocionais do Templo e de Cura da Fraternidade Rosacruz são também conduzidos por cerimoniais ritualísticos.
Há quem se queixe de que uma estrutura formal, em constante repetição, torna qualquer serviço divino monótono, e que o fato de ter de falar e ouvir sempre a mesma coisa não estimula os participantes. Essas pessoas não entendem, porém, que realmente o nosso Corpo de Desejos, que nós sentimos como a nossa “natureza emocional”, está sempre à “procura de novidades”. A inconstante natureza de desejos é facilmente atraída de uma emoção à outra, sendo assim potencialmente destrutiva, se não estiver devidamente controlada. Os serviços religiosos em que são utilizados tanto a oratória de grandes efeitos emocionais ou hipnóticos, quanto outros detalhes, nas respectivas liturgias, são particularmente atraentes aos Corpos de Desejos dos participantes. “Eles reagem ao teor emocional do serviço religioso, sentindo-se praticamente em levitação. O efeito, porém, é puramente temporário, e um novo contato com essa liturgia emocional causará mesmo arroubo religioso, arrependimento, ou qualquer outro sentimento que estava sendo induzido no grupo. Assim, o serviço ‘cheio de novidades’, não teve efeito duradouro nos participantes. Por outro lado, o efeito repetitivo da cerimônia ritualística é sentido no Corpo Vital que é de natureza mais estável, apesar de não se obter resultados tão dramáticos em termos de impressões recebidas pelo participante.”
Muitos se revoltaram contra a disciplina da rotina do trabalho diário. “Ah se eu pudesse não trabalhar hoje”, dizem, “Há tanta coisa por fazer aqui em casa”, ou “Há tanta coisa que eu faria para me realizar, em vez dessa droga de emprego” ou “como gostaria de ficar em casa e não fazer NADA!”. Não há dúvida, uma mudança de vez em quando é necessária e é perfeitamente lícito “não fazer nada” por um curto espaço de tempo num merecido descanso. Necessitamos da disciplina de um dia de trabalho, para nos manter, por assim dizer, dentro dos nossos “eixos” de produtividade, apesar de não pensarmos assim. Somos, realmente, extremamente criativos com que “poderíamos fazer se tivéssemos tempo à nossa disposição”. Porém muitos de nós verificariam que se não fôssemos obrigados a trabalhar para viver, ou cuidar de nossos lares, ficaríamos anestesiados por uma preguiça aguda. Há poucos dentre nós que têm bastante autodisciplina e força de vontade para permanecer em altos níveis de produtividade e aspiração, faltando o estímulo do dever. A tentação de “diminuir o ritmo” ou sair na perseguição de “passatempos” é, geralmente, grande demais para poder ser vencida com êxito, por uma certa duração de tempo. Assim sendo, mesmo se as férias e dias feriados são justos, é também uma boa coisa muitos serem forçados pelas circunstâncias a trabalhar para viver, ou tomar conta dos afazeres domésticos seguindo assim um ritual do trabalho.
Da mesma forma, deveríamos fazer um esforço para instituir o que chamamos de “ritual do serviço” dentro da rotina de nossas vidas diárias. Muitas pessoas partidárias entusiastas da ideia do serviço, ficam devendo o que se esperaria delas em termos de “obras” de serviço. Gostariam de ajudar o seu semelhante de uma ou outra maneira; quando chega a hora da implementação desse objetivo, acabam por achar que “não dispõem de tempo necessário”. Mediante uma observação mais criteriosa, porém, poderá se verificar que teriam tempo, se soubessem dividi-lo de maneira mais criteriosa.
Poucos são, realmente, tão ocupados com responsabilidades para com suas famílias, ou para com eles mesmos, que não possam doar, pelo menos algumas horas da semana para o serviço em benefício da humanidade. Não que as nossas responsabilidades para com as famílias que constituímos não sejam uma forma de serviço. Pelo contrário, servimos no seio da família. Há, porém, uma diferença, entre providenciar por meio do trabalho o sustento físico da família, ou trabalhar longas horas simplesmente para alcançar um mais “alto padrão de status social”, acomodações mais luxuosas, aumentar o poder e o prestígio no mundo, etc.
Da mesma forma, nossas responsabilidades legítimas para com a nossa pessoa são, de direito, somente aquelas que dizem respeito ao crescimento anímico, ao progresso evolutivo e à manutenção das necessidades básicas de nossa existência física. Não são consideradas nessa categoria de legitimidade muitas das atividades egoístas para as quais devotamos tanto tempo e energias. De fato, o crescimento anímico é uma de nossas responsabilidades legítimas, e visto que tal crescimento anímico é adquirido mediante o serviço para com os outros, é nosso dever incorporá-lo na rotina de nossas atividades como não olvidamos de alimentar-nos, dormir, trabalhar por dinheiro e do nunca esquecido lazer.
O ritual do serviço, mesmo tendo certas características repetitivas, não requer em absoluto a execução do mesmíssimo serviço, sempre de forma semelhante e a mesma hora do dia. Pelo contrário, o serviço, para ser realmente de primeira ordem deve ser executado quando e onde for verificada a necessidade, sem planejamentos prévios ou programações. Lógico, é excelente devotar um dia particular de cada semana para trabalhar no hospital mais próximo, creche ou instituição parecida. No resto da semana, porém, não temos o direito de ignorar tais ocasiões de servir dando preferência sempre aos nossos interesses pessoais.
Se sabemos que “teremos que servir” como sabemos que “teremos de “comer” ou “dormir”, estaremos mais alertas a discernir as oportunidades para o serviço, conforme apareçam. Incorporadas ficarão, então, às nossas vidas, tal um verdadeiro “ritual do serviço”, a ser repetido muitas vezes. Se determinarmos não deixar um dia passar sem, de alguma forma ter servido alguém, e seguramos esse propósito firmemente em nossas Mentes, ao despertarmos veremos como nossa atenção se voltará automaticamente para as oportunidades de servir que nos foram dadas. Depois de certo tempo, quando nosso campo de ação ficar maior, quando servirmos automaticamente, dia a dia, em cada ocasião que nos for apresentada, então o fato e não a ideia de serviço nos será como um reflexo, espontâneo e natural.
Como já foi mencionado, o ritual do serviço é, ou deveria ser caracterizado por certas qualidades indispensáveis. Como ideal deveria ser encarado o elemento da espontaneidade, que permite o pleno uso de cada oportunidade de serviço. O nosso “olhar do outro lado”, as nossas racionalizações, ou escusas “justificadas” por atividades, aparentemente urgentes, mas atualmente egoístas, não entrarão mais em nosso esquema de serviço. Faremos o máximo de cada oportunidade recebida pelo simples motivo que ela existe e, também, nos encontramos no mesmo lugar, sendo esse o tempo certo e o lugar certo para servir. Poderemos não julgar o trabalho envolvido particularmente atraente e talvez seja até necessário deixarmos de lado umas férias planejadas com muito carinho, a fim de que a tarefa seja executada. Já que a necessidade para o serviço existe e veio ao nosso encontro, faremos o melhor possível para remediá-la com o máximo de naturalidade.
A segunda qualidade, ideal para o ritual de serviço, é a alegria. Um serviço efetuado quando resmungamos por fora e estamos eivados de ressentimentos por dentro só tem um efeito parcial. O beneficiário sente nosso estado negativo e o seu alívio é diminuído pelas nossas reações indesejáveis. Igualmente, o servidor de má vontade não tem a atenção completamente voltada para a tarefa, uma parte dele está em desacordo, em conflito, parte dos pensamentos que deveria se voltar ao caso em pauta, redemoinha ao redor dos seus sentimentos menos desejáveis. Aquele que serve alegremente, dá o que tem de mais elevado em termos de potencialidades. Cada fibra de seu ser contribui à boa execução e os resultados são esplêndidos. Ele serve porque quer, não porque é empurrado pela sua consciência. As correntes, em seu Corpo de Desejos, não são cortadas pelo efeito congelador dos sentimentos negativos, permitindo que a pessoa produza o máximo em termos de Epigênese e ação. Sua qualidade de serviço é, portanto, infinitamente superior, à qualidade produzida pelo colega de pouca boa vontade.
A alegria, como a espontaneidade, são qualidades que não podem florescer no Estudante Rosacruz da noite para o dia. É muito humano o ser incomodado pelo apelo da consciência, mesmo se a pessoa procura atendê-lo. É tão humano ficar irritado quando os próprios os planos vão por água abaixo por causa das necessidades de um outro ser humano. É tão humano, também, o fato de se permitir que o cansaço ou os problemas pessoais oprimam o otimismo. Uma atitude alegre, em tempo integral, não se obtém, como já foi mencionado, da noite para o dia. Contudo, na medida em que o Aspirante à vida superior desenvolva a terceira qualidade necessária para o ritual do serviço, aprenderá a manter seu otimismo em níveis sempre mais elevados.
A terceira qualidade é o sentimento e a expressão do amor. Fala-se muito em nossos Ensinamentos Rosacruzes a respeito do serviço amoroso, que é a mais pura e aceitável forma de agir. O mandamento de amor, o Mandamento do Cristo, é o mais elevado pináculo evolutivo que pode ser atingido pela humanidade de nossos tempos. Definimos como “amor” o sentimento fraterno harmonizado com o amor universal, reconhecedor de que toda Vida procede de Deus e que todos somos parte desse glorioso Uno. Esse amor, levado às suas mais elevadas expressões, nos incentivaria um dia a dar até nossas vidas pelos nossos semelhantes. Esse amor que engendra o altruísmo, dá mais valor aos problemas do seu irmão e da sua irmã do que aos próprios problemas. Essa é, portanto, a qualidade que nos encoraja a tirar o máximo de resultados na hora de auxiliarmos o nosso irmão e a nossa irmã, e oferecer a nossa vida para o seu bem-estar.
Quando esse sentimento cria certa força dentro de nós, tanto a espontaneidade, quanto a alegria ficarão, automaticamente, integradas em nosso ritual de serviço. Se realmente amamos aos nossos irmãos e as nossas irmãs, no sentido expressado por Cristo-Jesus, nossas vidas serão marcadas por uma maneira de ser alegre, espontânea e serviçal, sem outras digressões.
É essa a meta final, porque sabemos que “o serviço amoroso e desinteressado é o caminho mais curto, mais seguro e mais alegre que nos conduz a Deus”. Quando aprendemos a palmilhar esse caminho exclusivamente, sem digressões e alterações de um lado ou de outro, o ritual do serviço será a nossa segunda natureza. Dará sentido às nossas vidas, contentamento íntimo, produzirá crescimento anímico e será a nossa mais importante atividade dentre todas as nossas atividades terrenas. Então, e somente então, os nossos Corpos Vitais ficarão gloriosamente espiritualizados, e nossos Corpos-Alma, formados pelos dois Éteres superiores de nosso Corpo Vital, serão poderosos e radiantes, de fato. Os nossos Corpos de Desejos, hoje tão afinados com tudo que é “diferente” “sensacional”, ou simplesmente novo, serão vistos como uma ferramenta útil e bela pelo sincero Aspirante à vida superior.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de outubro/1974 – Fraternidade Rosacruz-SP)
Você já pensou no porquê de algumas pessoas serem pobres e outras serem ricas; alguns serem deformados, outros serem bonitos; alguns serem azarados, outros serem muito sortudos; alguns serem doentes e outros serem dotados de boa saúde? Você já tentou encontrar uma razão para essa falta de igualdade que se manifesta no mundo? Surpreende você o fato de alguns membros da família humana estarem habitando em corpos negros, outros, em corpos marrons e ainda outros, em corpos brancos? Você já levou em conta a existência dos homens da floresta da Austrália, os pigmeus da África, os esquimós da Groenlândia ou os índios primitivos selvagens da Patagônia?
Esses quebra-cabeças e inúmeros outros foram apresentados a você para solução? Caso sim, qual é a sua resposta?
Por que existem alguns pobres e outros ricos? Alguns doentes e outros em plena saúde? Alguns com Mentes comuns e outros com mentalidades brilhantes? E então? Você já parou para pensar por que estamos todos aqui, qual é o significado da própria vida fugaz? Suponha que você faça essas perguntas a seus amigos, tabule suas respostas e compare-as. Seria um experimento interessante. Alguns diriam que os pobres são pessoas indigentes e os ricos são pessoas econômicas. Outros lhe responderiam que os pobres são natural e justamente azarados e os ricos são sortudos.
Outros lhe dirão que é errado perguntar sobre as condições do mundo de Deus; que o Criador, em sabedoria, ordenou tais coisas e que, por natureza elas devem ser corretas; e ainda outra explicação poderia ser dada, que Deus é responsável por tudo o que é bom, e um ser repreensível comumente conhecido como o diabo é a causa de tudo o que é mau. Há muitos que olhariam para você com olhos cansados e diriam que nada sabem; que os problemas da vida são muito profundos e complicados para serem resolvidos; que os cristãos ortodoxos não satisfazem seu senso de razão; que as conclusões dos ateus os deixaram horrorizados; e, consequentemente, devem ser lançados ao mar, sem saber para onde ir. Se Deus é justo, por que Ele favorece alguns de Sua criação e não outros? Se ele não é justo, então ele certamente não é Deus. Por outro lado, se Deus não existe, então como o mundo veio à existência e tudo o que nele há?
Existe uma resposta para esses vários problemas que se apresentam às Mentes dos homens pensantes, bem como às mulheres de hoje, uma resposta que seja lógica, que resista ao teste da razão? Certamente há uma resposta.
A teoria materialista como postulada pelos ateus nunca pode ser satisfatória para a humanidade. Quando a Mente humana exauriu a ciência, o laboratório e a química retruca em seu desejo de buscar aquele algo intangível que anima a forma humana, e não o tendo descoberto, por despeito declara que o que se busca tão diligentemente é algo ilusório e que nada mais é do que certas correlações da matéria, designadas como Mente, e que perece quando o corpo se desintegra. Porque alguns indivíduos possuem uma qualidade melhor dessas “certas correlações” (Mente) do que outros, essa teoria não tenta explicar.
A teoria postulada pelos teólogos ortodoxos é um pouco melhor. Afirma que todas as coisas vivas foram criadas por Deus e têm apenas uma vida terrena para viver e que somente o ser humano foi dotado de um Espírito que é imortal; que, independentemente da condição em que nasceu, ele é responsável pelas dívidas contraídas durante a vida, e que sua felicidade ou miséria, após a morte, por toda a eternidade, é determinada por suas ações durante o curto período de vida que ocorre entre o nascimento e a morte. Os animais, as plantas, em suma, tudo o que existe, supostamente foi criado para sua conveniência e uso expressos.
É de admirar que a pessoa que realmente pensa agora também rejeite essa teoria e, finalmente, decida se entregar por enquanto a todas as coisas prazerosas que o ajudam a esquecer que um dia terá que enfrentar a morte, que na melhor das hipóteses é um mergulho no escuro?
Felizmente, há outra teoria, uma teoria que se baseia na verdade. É conhecida pelo nome de Renascimento. A doutrina do Renascimento postula um processo lento de desenvolvimento alcançado com persistência constante por meio de repetidas encarnações em formas ou corpos mais eficientes. Por meio desses processos, todos os seres criados, com o tempo, desenvolverão suas potencialidades latentes em poderes divinos.
O Deus do nosso universo criou Ondas de Vida, e os seres pertencentes a cada onda particular de vida não se cruzam com os dos outros. As Ondas de Vida com a qual estamos mais familiarizados são a mineral, a vegetal, a animal e a humana. Cada Onda de Vida é composta de muitos Espíritos Virginais potencialmente dotados de todos os poderes de seu divino Criador, e os seres de cada Onda de Vida finalmente alcançarão a divindade. Cada Onda de Vida se desenvolverá de acordo com sua natureza inerente. Os seres que pertencem à Onda de Vida dos Anjos nunca se tornarão Arcanjos. Eles alcançarão a divindade trabalhando em uma linha diferente de desenvolvimento. Nós nunca nos tornaremos Anjos; nosso desenvolvimento será totalmente diferente. Os animais nunca serão seres humanos como nós, embora passem por um estado que chamamos de “humanidade”, aqui conceituado como o ponto mais denso pelo qual uma Onda de Vida passa durante esse Esquema de Evolução.
Nunca fomos animais e, no entanto, passamos por um estado chamado de “animal”. Da mesma forma, as plantas passarão por um estado “animal” em um período posterior e os minerais atingirão o estado “vegetal”. Em nenhum caso, porém, serão do mesmo tipo que nossos animais e plantas de hoje. Cada Onda de Vida tem seu método de desenvolvimento separado e distinto; porém, no final, os Espíritos Virginais que compõem esta onda alcançarão a perfeição, pois este é o único objetivo da evolução.
Agora vejamos como a teoria do Renascimento responde aos problemas da vida.
Por que algumas pessoas são ricas e outras pobres? Cada vida é um dia na grande escola de Deus. Alguns de nós estão aprendendo um tipo de lição e alguns de nós estão aprendendo outras. Aqueles que são pobres em uma vida estão aprendendo lições sobre o valor real de certos confortos; lições inventivas que ensinam da melhor maneira como obter o máximo benefício com o mínimo de esforço. Eles estão aprendendo a planejar e apreciar tudo o que possuem.
Aqueles que têm riquezas estão aprendendo qual é o real valor delas. Eles estão aprendendo seu real poder de compra; se isso pode trazer felicidade ou dor, bem como exaltá-los ou degradá-los; seja isso uma benção ou uma maldição. Eles estão aprendendo que as riquezas às vezes podem comprar a honra dos homens e a virtude das mulheres; que possam resultar em sua própria queda, mas que as coisas que são realmente valiosas para o Espírito nunca podem ser compradas. Em última análise, todas as pessoas confiantes no valor do dinheiro devem aprender a lição de que são apenas administradores de suas posses e que cabe a elas usar sabiamente e bem o que lhes foi confiado.
Por que alguns têm Corpos Densos deformados? De um modo geral, nenhum Espírito pode habitar um corpo melhor do que aquele que aprendeu a construir em suas vidas anteriores; mas o seguinte é a exceção à regra; no que diz respeito às anormalidades e deformidades físicas, a regra parece ser que a indulgência nas paixões durante uma vida reage sobre o estado de espírito em uma existência posterior; e o abuso de poderes mentais durante uma vida leva a deficiências em vidas subsequentes. Por outro lado, uma bela forma denota que seu dono fez um trabalho especializado na construção do corpo em vidas anteriores; às vezes em detrimento dos processos mentais as pessoas que aqui apresentam problemas são aquelas que deliberadamente negligenciaram suas oportunidades em vidas anteriores. Eles agora são privados de todas as coisas que uma vez obtiveram facilmente, para ensiná-los a apreciar as vantagens quando vierem novamente. O ser humano tido como “sortudo” em uma vida aprendeu que o que parece ter sido tão fácil para ele nesta vida é na verdade um prêmio de mérito.
O indivíduo cujo Corpo Denso está doente quebrou as Leis da Natureza nesta vida ou em qualquer vida passada e está pagando a penalidade. O ser humano saudável prestou muita atenção à formação perfeita de seus órgãos no passado.
O Renascimento responde inteligentemente a todas as desigualdades na vida. As condições em que encontramos muitos são o resultado composto de nossos esforços passados ou da falta deles. Cada ser humano é uma soma exata de todas as suas atividades passadas e não a vítima de um Deus caprichoso ou um planejador do mal. Não temos ninguém para culpar, a não ser nós mesmos, se estragamos as coisas. Se não estamos satisfeitos com a vida que encontramos, agora é a hora de começar a preparar um ambiente melhor para as vidas futuras; e se estivermos realmente bem despertos e sinceramente desejando o final, será possível modificar nosso ambiente na presente encarnação.
O ser humano inteligente hoje não se satisfaz mais com trivialidades na busca da verdade em relação à vida. Por isso, pedimos a cada leitor que procure uma solução para os muitos problemas que a vida nos apresenta. Aplique esta chave mestra, Renascimento, e prove por si mesmo a eficácia de sua verdade.
Que as rosas floresçam em vossa cruz