Quando renascemos neste Mundo Físico, estamos dotados de forças e poderes. É nosso dever, assim como também nossa oportunidade, desenvolvê-los durante a nossa vida aqui na Terra, e utilizá-los em nosso caminho para cima, na perfeição, em nossa jornada de retorno a Deus. Por isso, é nos ensinado: “E não sejas conformado a este mundo, mas sê transformado pela renovação da tua Mente, para que possas comprovar que essa é boa, aceitável, e a perfeita vontade de Deus.” (Rm 12:2).
Quando olhamos o diminuto, terno e quase desamparado Corpo Denso de uma criancinha, é para nós difícil imaginá-lo um indivíduo crescido, e capacitado para usar livre e poderosamente seu organismo. No começo da nossa existência terrena há pouca evidência dos poderes latentes espirituais e morais deste ser pequeno. Porém, ainda quando são invisíveis estas forças, estão prontas para manifestar-se no tempo apropriado.
O Corpo Denso renova-se a cada sete anos. Por analogia podemos deduzir que veículos sutis, têm que renovar-se também. É a presença desses poderes latentes que faz possível a evolução. Conforme renovamos nossos Corpos de Desejos, e os redirigimos, podemos mudar e enriquecer nossa existência fazendo com que a nossa vida se reflita nos Mundos superiores. Quanto mais muda para melhor, mais pertos da perfeição e mais amplos horizontes abrem-se ante nós.
Quando essas forças ocultas dentro de nós, são libertadas, podem produzir um efeito tremendo. Nada permanece estacionário. Nada há em estado permanente. “Nada é mais certo que a mudança”. Temos que escolher, e por um esforço determinado da vontade, cuidadosamente, eleger o caminho que desejamos percorrer.
Depois que a opção tenha sido feita, o investigador da verdade se esforça conscientemente, em trabalhar com as forças ocultas.
O aspecto mais valioso de todas as coisas criadas é a possibilidade de sua mudança para melhor; a potencialidade para seu crescimento e a habilidade para compreender e realizar a verdade. Existe em toda a criação um movimento contínuo para a perfeição. Na Filosofia Rosacruz ensina-se que podemos conseguir a perfeição com a ajuda daqueles que pisaram antes neste caminho: nossos Irmãos Maiores, que estão sempre empenhados em nos ajudar no nosso progresso.
A habilidade criadora é inseparável em nós. Fomos feitos à imagem e semelhança do nosso Criador, Deus. “N’Ele vivemos, nos movemos, e temos o nosso ser” (At 17:28). Com o auxílio da Oração e da Meditação, temos o poder de nos abrirmos às benéficas influências do Universo. Nosso Sistema Solar com tudo o que está em cima e dentro dele, provém do Sol. E recebemos nosso impulso espiritual por meio dos raios espirituais originários do Sol espiritual que vive atrás da órbita física solar. Muito depende da nossa habilidade, para responder a estas emanações.
Temos que saber como receber esse bem que está a nossa volta. Devemos anelá-lo, antes que seja possível utilizar essas forças superiores. Conforme pedimos, assim obteremos, é uma resposta a nossa própria procura.
Os raios que vêm do Sol transmitem iluminação espiritual. Aqueles raios enviados pelos Planetas promovem inteligência, moral e crescimento anímico. E os raios refletidos por nosso satélite, a Lua, assistem o crescimento físico.
Progredimos constantemente, de vida em vida. Conforme mudam os costumes sociais e ambientes físicos, de idade em idade, tornamos a estar em contato com a vida. Com o auxílio e orientação das Hierarquias Criadoras encontramos condições e circunstâncias úteis na obtenção das experiências necessárias. Deste modo temos a oportunidade de desemaranhar o novelo em que nos enrolamos em vidas anteriores. Ao mesmo tempo podemos colocar novas causas em ação. Estudamos nas Epístolas de S. Paulo aos Coríntios: “O homem interior é renovado dia por dia” (IICor 4:16).
No Livro A Teia do Destino – Fraternidade Rosacruz – Max Heindel, aprendemos que desde a puberdade, e durante toda a vida, uma força sexual criadora é gerada internamente em nosso organismo. Esta força pode ser usada para três fins: geração, degeneração ou regeneração. Depende de nós qual dos três métodos escolher. Porém, qualquer que escolhamos terá uma orientação importante em nossa vida, pois o uso dessa força sexual criadora não está limitado em seu efeito ao tempo ou ocasião em que se dispõe dela. Cobre cada um dos momentos de nossa existência e determina nossa atitude em cada uma das fases particulares da vida aqui.
Algumas vezes podemos perder nosso rumo aqui na Terra, e os valores reais e eternos são esquecidos em presença de tantas coisas desanimadoras e transitórias.
É quando nos damos conta desta condição, devemos parar, fazer o inventário da nossa existência, e procurar melhores meios de vida, procurando os valores superiores e a maneira para renovar nossa força.
Esta possibilidade é mencionada de modo bem claro nas Sagradas Escrituras, na Parábola do Filho Pródigo[1]. Ele tinha que dar-se conta por si mesmo do seu estado indigno, método insatisfatório de vida, e deveria procurar internamente, para encontrar a força que o faria retornar ao Pai. E, em verdade, o Pai contava com seu retorno. É evidente que o cultivo de forças e poderes espirituais, requer que também sejam adquiridas sabedoria e compreensão, pois os poderes espirituais não são nem maus nem bons em si, senão o motivo e o caráter de quem os possui, fazem-nos merecer esse qualificativo. Sabemos que as distinções entre o uso legítimo e ilegítimo dos poderes espirituais são superiores e sutis.
Sempre devemos recordar que poder é força para realizar, e o que com ela fazemos, depende de nós. A direção que lhe dermos é de nossa própria e pessoal responsabilidade.
Foi poder sobre todas as coisas o que o diabo, o tentador, prometeu ao Cristo Jesus, quando estiveram juntos no deserto. Sabemos que Cristo Jesus triunfou de todas as tentações e respondeu: “Não tentarás ao Senhor teu Deus.” Neste, como em todas as demais veredas, Ele é nosso único Ideal e Caminho.
Se perdemos nosso rumo, isto é só temporário. As asas cortadas podem crescer de novo, e quando encontrarmos outra vez nosso caminho, aprenderemos também que só o Bem, a Verdade e o Belo sobrevivem afinal, pois um dia seremos testemunhas desse fato: “E aquele que estava sentado no trono disse: E daqui eu faço novas todas as coisas.” (Apo 21:5).
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de agosto/1974 pela Fraternidade Rosacruz-SP)
[1] N.R.: Lc 15:11-32 – “Um homem tinha dois filhos. O mais jovem disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, ajuntando todos os seus haveres, o filho mais jovem partiu para uma região longínqua e ali dissipou sua herança numa vida devassa. E gastou tudo. Sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a passar privações. Foi, então, empregar-se com um dos homens daquela região, que o mandou para seus campos cuidar dos porcos. Ele queria matar a fome com as bolotas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. E caindo em si, disse: ‘Quantos empregados de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome! Vou-me embora, procurar o meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um dos teus empregados’. Partiu, então, e foi ao encontro de seu pai. Ele estava ainda ao longe, quando seu pai o viu, encheu-se de compaixão, correu e lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. O filho, então, disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho’. Mas o pai disse aos seus servos: ‘Ide depressa, trazei a melhor túnica e revesti-o com ela, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e festejemos, pois, este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi reencontrado!’ E começaram a festejar. Seu filho mais velho estava no campo. Quando voltava, já perto de casa ouviu músicas e danças. Chamando um servo, perguntou-lhe o que estava acontecendo. Este lhe disse: ‘É teu irmão que voltou e teu pai matou o novilho cevado, porque o recuperou com saúde’. Então ele ficou com muita raiva e não queria entrar. Seu pai saiu para suplicar-lhe. Ele, porém, respondeu a seu pai: ‘Há tantos anos que eu te sirvo, e jamais transgredi um só dos teus mandamentos, e nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos. Contudo, veio esse teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, e para ele matas o novilho cevado!’ Mas o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois, esse teu irmão estava morto e tornou a viver; ele estava perdido e foi reencontrado!’”
Resposta: Comecemos relatando as Parábolas que descrevem o Reino dos Céus:
“3E disse-lhes muitas coisas em parábolas: 4 ‘Eis que o semeador saiu para semear. E ao semear, uma parte da semente caiu à beira do caminho e as aves vieram e a comeram. 5Outra parte caiu em lugares pedregosos, onde não havia muita terra. Logo brotou, porque a terra era pouco profunda. 6Mas, ao surgir o sol, queimou-se e, por não ter raiz, secou. 7Outra ainda caiu entre os espinhos. Os espinhos cresceram e a abafaram. 8Outra parte, finalmente, caiu em terra boa e produziu fruto, uma cem, outra sessenta e outra trinta’.” (Mt 13:3-8).
“24Propôs-lhes outra parábola: ‘O Reino dos Céus é semelhante a um ser humano que semeou boa semente no seu campo. 25Enquanto todos dormiam, veio o seu inimigo e semeou o joio no meio do trigo e foi-se embora. 26Quando o trigo cresceu e começou a granar, apareceu também o joio, 27Os servos do proprietário foram procurá-lo e lhe disseram: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Como então está cheio de joio?’ 28Ao que este respondeu: ‘Um inimigo é que fez isso’. Os servos perguntaram-lhe: ‘Queres, então, que vamos arrancá-lo?’ 29Ele respondeu: ‘Não, para não acontecer que, ao arrancar o joio, com ele arranqueis também o trigo. 30Deixai-os crescer juntos até a colheita. No tempo da colheita, direi aos ceifeiros: ‘Arrancai primeiro o joio e atai-o em feixes para ser queimado; quanto ao trigo, recolhei-o no meu celeiro.’” (Mt 13:24-30).
“31Propôs-lhes outra parábola, dizendo: ‘O Reino dos Céus é semelhante a um grão de mostarda que um ser humano tomou e semeou no seu campo. 32Embora seja a menor de todas as sementes, quando cresce é a maior das hortaliças e torna-se árvore, a tal ponto que as aves do céu se abrigam nos seus ramos.’” (Mt 13:31-32).
“33Contou-lhes outra parábola: ‘O Reino dos Céus é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e pôs em três medidas de farinha, até que tudo ficasse fermentado’.” (Mt 13:33).
“44O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido no campo; um ser humano o acha e torna a esconder e, na sua alegria, vai, vende tudo o que possui e compra aquele campo.” (Mt 13:44).
“45O Reino dos Céus é ainda semelhante a um negociante que anda em busca de pérolas finas. 46Ao achar uma pérola de grande valor, vai, vende tudo o que possui e a compra.” (Mt 13:45-46).
“47O Reino dos Céus é ainda semelhante a uma rede lançada ao mar, que apanha de tudo. 48Quando está cheia, puxam-na para a praia e, sentados, juntam o que é bom em vasilhas, mas o que não presta, deitam fora. 49Assim será no fim do mundo: virão os anjos e separarão os maus dentre os justos 50e os lançarão na fornalha ardente. Ali haverá choro e ranger de dentes. 51Entendestes todas essas coisas? Responderam-lhe: ‘Sim’.” (Mt 13:47-51).
“52Então lhes disse: ‘Por isso, todo escriba que se tornou discípulo do Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que do seu tesouro tira coisas, novas e velhas’.” (Mt 13:52).
Há sete interpretações para cada parábola bíblica; cada uma em nível mais profundo do que a outra. Estamos familiarizados com as explicações exotéricas aprendidas durante a infância; isso que propomos delinear, encontra-se em segundo plano, pois o primeiro véu foi levantado por meio do estudo do livro Conceito Rosacruz do Cosmos – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz.
O Reino dos Céus não deve ser confundido com o Reino de Deus, o qual é uma esfera completamente diferente. A chave das parábolas nesse capítulo do Evangelho Segundo S. Mateus encontra-se no último versículo citado – algumas são velhas, outras novas, algumas são passadas, outras ainda virão. Os outros Evangelhos dão somente as primeiras quatro. Talvez esse capítulo constitua um símbolo completo.
A primeira parábola refere-se ao semeador, Deus, que semeia a semente de uma nova colheita, ou seja, uma nova onda de vida cujo sinônimo é a primeira ou Período de Saturno em que os Espíritos Virginais representados pela Humanidade atual, foram diferenciados ou “plantados”.
A segunda parábola que historia o fato de que o semeador encontrou joio em seu campo, deixando-o crescer com receio de que os grãos bons pudessem ser destruídos, é uma descrição do Período Solar, quando houve tanto a luz como a treva. Há uma antiga tradição oculta segundo a qual alguns desses líderes originais dessa Onda de Vida recusaram-se a descer à matéria, retardando a nossa evolução. Esse é o primeiro registro de egoísmo ou joio entrando em nossa onda de vida.
A terceira parábola, a do grão de mostarda, a menor semente, corresponde ao Período Lunar, ocasião em que o germe do Corpo de Desejos foi dado à Humanidade infante, relacionando-se também com o seu rápido crescimento. A mostarda é um condimento que excita nosso Corpo de Desejos.
A quarta parábola, do pouco de fermento que leveda três medidas de farinha, descreve o nosso próprio Período Terrestre. No Antigo Testamento todos os pães não eram levedados porque Jeová queria manter o povo passivo, de modo que pudesse ser mais facilmente conduzido. Porém ao cruzarmos o nadir da materialidade e com a vinda do Espírito de Cristo e consequente difusão de um amor altruísta, encontramos uma nova ordem.
“No peito de cada ser humano essa força do altruísmo opera como o fermento. É a transformação do selvagem do ser humano civilizado, que no devido tempo transformar-se-á num Deus” (do Livro: Conceito Rosacruz do Cosmos – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz).
A quinta parábola, aquela do tesouro escondido, reflete antecipadamente o Período seguinte da evolução da Humanidade e da Terra, o Período de Júpiter. Nesse tempo futuro “guiaremos a evolução do Reino Vegetal, porque o mineral atual ver-se-á num estado análogo ao que o vegetal hoje se encontra. O nosso trabalho será idêntico ao que os Anjos atualmente executam em relação ao Reino Vegetal. Quanto à nossa faculdade – a Imaginação – estará tão desenvolvidaque teremos não somente a habilidade de criar formas por meio dela, mas também de vitalizá-las. “Assim para nós os tesouros do Reino dos Céus no Período de Júpiter estarão ocultos num campo”, não na terra ou num animal. Devemos envidar todas as nossas energias para adquirir e desenvolver esse tesouro.
A sexta parábola, aquela da “pérola de alto valor” assinala o Período de Vênus, quanto então as nossas formas minerais atuais, encontrar-se-ão no estágio animal. A pérola é somente uma gema feita por criaturas viventes. Max Heindel diz em relação ao ser humano no Período de Vênus: “No final do Período de Vênus ele estará apto a usar a sua própria força para dar vida aos seus quadros (de cores, objetos e tons) e colocá-los fora de si como formas no espaço”. Podemos certamente concordar que o ser humano tudo dará para obter essa faculdade.
A sétima parábola que se refere às redes e a divisão de seus conteúdos pelos Anjos, trata-se de uma referência ao último dos Períodos – o Período de Vulcano – quando então o Espírito Divino estará mais forte, porque o seu desenvolvimento iniciou-se no primeiro Período de Saturno. Nesse tempo os joios serão removidos do trigo e por isso estaremos todos aptos a um repouso cósmico. “24 A seguir haverá o fim, quando ele entregar o Reino a Deus Pai, depois de ter destruído todo Principado, toda Autoridade, todo Poder.” (ICor 15:24).
O que foi descrito é meramente um esboço. As verdades antigas e tradicionais de todos os Ensinamentos Rosacruzes estão incorporadas em nossas Sagradas Escrituras. Ao crescermos em Sabedoria e Graça elas se tornarão viventes para nós.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de novembro/1971-Fraternidade Rosacruz-SP)