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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Maria, Mãe de Jesus: um Iniciado de alto grau

Maria, a mãe de Jesus, foi o coração de compaixão e de compreensão. Quantos de nós têm prestado suficiente atenção à vida e ao trabalho de Maria? Ela veio para cumprir uma missão especial, assim como José e Jesus. Sua missão não foi somente dar à luz o homem Jesus, que mais tarde cedeu seu corpo ao Cristo, mas, também, elevar as condições de toda a humanidade, em virtude do fato de que foi a mãe de Jesus, o indivíduo mais importante que já nasceu em toda a história do mundo.
Quando estudamos as vidas de Jesus e de Maria, ficamos um tanto surpreendidos com a resposta que ela recebeu de Jesus, o Cristo, segundo o Evangelho de São João (2:4), em relação à transformação da água em vinho: Ele lhe respondeu de um modo quase ríspido: “Que tenho eu contigo, mulher? Ainda não é chegada a minha hora“.
Porém fixemo-nos na resposta dela, dirigida aos serventes: “Fazei tudo o que Ele vos ordenar“. Note-se que cuidadosamente ela preparava o caminho para que se consumasse seu primeiro milagre.

Maria e José foram à Jerusalém para a festa da Páscoa, como era costume naqueles dias. Quando voltavam para casa deram falta de Jesus, e O procuraram durante três dias até que O encontraram no Templo entre os sábios e os doutores. Todas as mães sabem o que se sente ao procurar um filho perdido. Maria, conhecendo a missão de Jesus, estava desconcertada com o seu desaparecimento. Quando O encontrou perguntou por que havia se comportado daquela maneira com seus pais. Vejam a resposta dele, conforme o Evangelho de São Lucas (2:49): “Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?“. Isso não indica que Jesus, sendo ainda muito jovem, (pois tinha então 12 anos), estava plenamente inteirado da parte que lhe correspondia representar, isto é, de permitir a Cristo que lhe utilizasse o corpo durante os três anos de Seu ministério?

Maria – seu próprio nome nos traz à Mente muitas coisas que nos são queridas. Vejamos a letra “M”; quantas palavras começam com essa letra: mãe, multidão, maná, matéria, mestre, metafísica, mar e outras tantas mais. Também temos outras Marias relacionadas com a vida de Jesus, e cada uma delas cumpriu sua missão.

De acordo com Max Heindel, sabemos que Maria e José foram Iniciados elevados nos Mistérios, ou seja, alcançaram as elevadas Iniciações. Estavam imbuídos plenamente da missão que lhes tocava, assim como Jesus. Da mesma forma que no caso dos grandes músicos como é de notar nas vidas da célebre família dos Bach. Quando Jesus Cristo falava com Maria e lhe dava aquelas respostas, era o Cristo e não o homem Jesus que falava. Podemos alcançar uma maior compreensão quando Jesus Cristo em Seu último alento deixou Sua mãe aos cuidados de São João evangelista, Seu discípulo, segundo lemos no Evangelho Segundo São João (19:26), demonstrando o laço profundo entre a mãe e o filho. Quase Seu último pensamento e pedido foram nela e para ela.

Nos tempos presentes, vemos a mulher ocupando os postos dos homens, em alguns casos. Porém, se ouvimos a conversa delas nos distintos aspectos da vida, podemos verificar seus fortes desejos de voltar ao lar e viver ao lado de seus familiares. É no lar em que se acha o verdadeiro trabalho da mulher. Sabemos que renascemos umas vezes como homem e outras como mulher, e é necessário que aprendamos tudo o que nos seja possível em cada corpo. Maria cumpriu seu trabalho familiar muito bem. Trabalhou com José, porém não encontramos nenhum indício de que ele tivesse exercido domínio sobre ela. Sem dúvida, encontramos muitos relatos do trabalho de Maria no lar. Sabemos que a túnica de uma só peça que Cristo usava quando foi crucificado havia sido tecida por ela.

A grande influência que as mulheres exercem sobre os homens está indicada no conhecido dito que diz: “A mão que embala o berço governa o mundo”. O êxito do homem é amiúde devido à influência de sua esposa, mãe ou noiva. Temos muitos exemplos disso e todos os grandes homens dão muito crédito aos conselhos maternais. Lincoln disse que tudo o que ele era e esperava ser o devia à sua mãe.

Em todas as grandes crises encontramos uma mulher atrás da cena. Nem todas as mulheres, em sua capacidade, têm sido boas, e é então quando se tem provocado muitos distúrbios ao mundo, porém o fato é que sempre existe uma mulher por detrás dos bastidores.

De acordo com a Bíblia, José era muito mais velho do que geralmente se supõe. Quando lemos sobre sua participação no plano, notamos, sobretudo, seu cuidado com Maria e Jesus, e sua devoção e completa obediência à vontade de Deus. Todos os seus pensamentos convergiam à ternura pela mãe e o Filho. José deu por cumprida sua missão quando Jesus estava preparado para entregar seu corpo ao Cristo. Somente Maria esteve com Jesus, com seu amor e devoção, até que Ele expirou.

Durante os trinta anos da vida como um ser humano – pois utilizava os seus Corpos Denso e Vital – , Jesus obedeceu todas as leis da Terra. Porém, quando Cristo tomou o Corpo Denso e o Corpo Vital dele – com o seu consentimento –, no Batismo, começou a mudar as leis e dar novos ímpetos ao mundo. Tão logo como o Cristo começou Seu ministério, as mudanças foram maiores e nos três curtos anos em que executou a sua missão para a qual havia vindo, ou seja, a de Salvador do Mundo.

Não nos esqueçamos das outras Marias que tomaram parte nas vidas de Maria e Jesus. Não é estranho que as três tivessem o nome de Maria? Cada uma delas ilumina alguma das fases da vida da mulher. A história de Maria e Martha é uma das quais estamos familiarizados. Por que Maria ficou com Jesus enquanto Martha trabalhava na cozinha? Por que Maria Madalena ungiu os pés de Nazareno com azeite perfumado? Por que elas tinham parte na missão de Jesus? Maria Madalena é uma das Marias que mais nos intriga. Ela tomou parte na redenção. Trabalhou seu destino por meio de superação de sua Mente e de sua alma. Todos nós sabemos que Maria Madalena havia quebrado muitas das leis, porém com a ajuda de Jesus Cristo, se redimiu e começou vida nova.

Aproximava-se a hora em que Jesus Cristo tinha de se apresentar aos judeus como seu Rei e Messias prometido. Quantas alegrias sentiria o coração de Maria, ao observar seu Filho fazendo os primeiros milagres de cura! Quanto teria sofrido ao saber que seu Filho bem amado teria que caminhar sozinho os anos restantes de Sua vida! Aqui vai uma avaliação para todas as mães: quantas há que, ao chegar a hora em que seus pequeninos tenham que provar suas próprias asas e começar a viver suas próprias vidas, estão dispostas a dar-lhes a liberdade de que necessitam?

Diz se no Novo Testamento que quando Cristo falava às multidões, Maria e Seus Irmãos vieram e desejaram falar-Lhe, e sua resposta foi: “Quem é minha mãe, e quem são os meus irmãos? Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe“. Maria compreendeu isso porque sabia que já não tinha o mesmo laço familiar com Cristo como o tinha com Jesus. Sabemos que durante os últimos dias e noites de provas, Maria falava com Deus e teve que receber muitas bênçãos porque continuou sua missão até o final.

Como a alegria que Maria teve ao ter o menino entre seus braços, também teve a dor de sustentar o corpo sem vida de Jesus Cristo, enquanto José de Arimatéia ia procurar o pano para envolvê-Lo. Depois que Seu corpo foi levado Maria foi com João, pois sabemos que esse a levou para sua casa e dela cuidou. Maria viveu o suficiente para saber que a missão para a qual Ela e Jesus haviam nascido se havia cumprido, e que tudo se havia feito de acordo com a vontade e guias Divinos.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – maio/1966 – Fraternidade Rosacruz – SP)

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Evidências do Renascimento na Bíblia

Não é sem razão que muitos estudiosos dos Evangelhos encontram dificuldade em compreendê-los, pois é necessário meditar longamente nas entrelinhas. Sem nos alargarmos demasiadamente, segundo nossa capacidade, seguem algumas citações do evangelista São Mateus:

Se, pois, trouxeres ao altar a tua oferta e ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeira reconciliar-te com ele; e então, voltando, faze tua oferta. Entra em acordo com o teu adversário enquanto estás com ele no caminho, para que o adversário não te entregue ao juiz, o juiz ao oficial de justiça, e sejas recolhido à prisão. Em verdade te digo que não sairás dali enquanto não pagares o último centavo (Mt 5; 21-26).

O que é altar senão a nossa consciência, e oferta senão as preces e vibrações que fazemos a todo mundo? Reconciliarmo-nos com o adversário é um convite do Mestre ao Exercício Esotérico noturno de Retrospecção, de consciência e à oração. E caminho, na citação, é um indicativo da nossa presente existência. Interessante é notar, também, que os Senhores do Destino estão figuradamente representados pelo juiz e o oficial de justiça, que nos sentenciam à prisão de novos Corpos, pelo renascimento, até que tenhamos saldado a última parte da dívida perante a Lei de Causa e Efeito.

Mais adiante vemos enunciada uma disciplina preventiva de um renascimento triste: “Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti, pois te convém que se perca um dos teus membros e não seja todo o teu corpo lançado no inferno, (…) e assim também com as mãos” (Mt 5:29-30). Todos sabem das causas remotas de um renascimento num corpo aleijado ou idiota sem possibilidade de recuperação naquela vida, por efeito da lei “o que semeares isto mesmo colherás.” (Ga 6:7). Não é como estar num inferno? No entanto, é uma forma de prevenir que se caia em falta maior e se perca a própria alma.

Há passagens evangélicas que deixam perplexas as pessoas afeitas à sua meditação. Um exemplo é o paralítico trazido num leito perante Cristo-Jesus. E esse lhe disse: “tem bom ânimo, filho, a tua fé te salvou.” (Mt 9:22). Os escribas ficaram escandalizados com essas palavras e ainda hoje pode se julgar que o Mestre quisera exorbitar a Lei de Causa e Efeito. Outro caso é o do cego a quem o Nazareno curou, misturando saliva com a terra e fazendo lama. Outro ainda, o do paralítico que aguardava há muito a possibilidade de alcançar a piscina, quando o Anjo lhe vinha agitar as águas. O Mestre curou-o simplesmente e fora dizendo que seus pecados estavam perdoados. Pois bem, não há de que estranhar. O Cristo vira, em tais casos, a extinção das dívidas de destino pendente.

Quantas vezes uma pessoa que cai enferma é submetida pelo médico à rígida disciplina e, às vezes, impõe a necessidade de uma intervenção cirúrgica, com amputação de um membro para que se salve o restante do corpo! No entanto, isso não livra a vítima de futuras complicações, caso. de novo. ela deslize e caia em pecado.

Semelhantemente o Mestre dava por findas as causas de destino e, como o Grande Médico divino proclamava a cura. Mas não deixava de advertir: “…vai e não peques mais, para que te não suceda coisa pior.” (Jo 5:14), mostrando a cadeia ininterrupta de novas causas.

Aos ouvidos duros de entendimentos, Cristo cita, ainda, o caso de Elias, renascido como João Batista: “E, se o quereis reconhecer, ele mesmo é o Elias que havia de vir. Quem tem ouvidos, ouça” (Mt 11:14-15). Não é preciso dizer que ainda hoje há ouvidos que ainda não querem ouvir, em virtude dos preconceitos, citações tão claras a respeito do renascimento.

Cristo compara, também, esta geração às crianças que brincam nas praças, gritando uns com os outros, sem cultivar os aspectos mais sérios da vida presente e futura, no além.

Vejamos agora em São Mateus capítulo 16 e versículos de 13 a 16: “E, chegando Cristo Jesus às partes de Cesarea de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: ‘Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?’ E eles disseram: ‘Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas’. Disse-lhes Ele: ‘E vós, quem dizeis que eu sou?’ E Simão Pedro, respondendo, disse: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo’”. Se para aquela gente Jesus seria ou João Batista (já decapitado) ou Elias (que o Antigo Testamento cita haver sido arrebatado ao céu num carro de fogo) não revela isso a crença natural, daquela gente, no renascimento?

Muitos mais poderiam dizer das outras partes do Novo Testamento e, também, do Velho Testamento para corroborar a declaração de Max Heindel, de que o renascimento era ensinado antes de Cristo e mesmo por Ele, em secreto, a seus Discípulos.

Outros pontos de ocultismo podem ser igualmente esquadrinhados pela mente inquiridora e lógica do estudante Rosacruz, mercê das chaves que se lhe dão.

(Publicado na Revista: Serviço Rosacruz – 02/64 – Fraternidade Rosacruz – SP)

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Pergunta: Afirma-se que Cristo não comeu carne (incluindo peixe). Como se explica o fato relatado segundo o qual Ele comeu o cordeiro pascal na Ceia do Senhor?

Resposta: Max Heindel responde a essa pergunta: depois da Ressurreição, Cristo apareceu entre Seus Discípulos reunidos em um recinto fechado. Não o reconheceram prontamente, nem creram que Ele estivesse em Corpo Denso. Ele, porém, utilizava o Corpo Vital de Jesus. Dessa maneira podia atrair matéria da Região Química e construir um veículo tangível – um Corpo Denso.

Para convencê-los, pediu algo para comer e lhe foi dado um pedaço de favo de mel e algum peixe. Afirma-se que comeu o mel, mas não o peixe. Todo aquele que tivesse se dedicado ao vegetarianismo, como era comum entre os Essênios, nunca mais teria comido qualquer alimento cárneo (mamíferos, aves, répteis, anfíbios, frutos do mar e afins), incluindo o peixe.

Lembramos também que no Novo Testamento o “peixe” é uma forma simbólica de apresentação. Segundo os Evangelhos, os Discípulos eram pescadores. As passagens bíblicas relatam que eles foram alimentados com pães e peixes, afirmações essas de caráter simbólicos. A história de “Jonas e a Baleia e outras narrações são formas simbólicas reapresentação esotérica e astrológica.

Ao tempo de Cristo o Sol, pelo movimento da Precessão dos Equinócios, encontrava-se a sete graus do Signo de Áries (o Cordeiro) e dentro da Órbita de Influência do Signo seguinte – por Precessão dos Equinócios, que se conta ao contrário -, que é o de Peixes (os peixes). Ele era o Salvador da Nova Dispensação, portanto, nada mais natural seria procurar “pescadores”, e quando os encontrou, afirmou que os tornariam “pescadores de homens”.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – abril/1969 – Traduzido da Revista Rays From The Rose Cross-Fraternidade Rosacruz-SP)

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A Criança Prodigiosa

Tão estranha e interessante como possa parecer, existe uma força mística que é capaz de mudar a tua, as nossas vidas, tão profunda, radical e perfeitamente que, terminando o processo, teus amigos e, mesmo tu, não te conhecerás mais. Tu te perguntarás a ti mesmo: “Será que sou eu aquela mulher ou aquele homem que andou sob meu nome há seis meses ou há seis anos atrás? Será que fui eu aquela pessoa?”

A verdade é que, num certo sentido, és ainda aquela mesma pessoa, porém, noutro sentido, és alguém bem diferente. Essa força mística, absolutamente real, poderá elevar-te ainda hoje, agora, já, neste justo momento, do meio da tua desgraça, da tua angústia, da tua aflição, de toda a tua miséria, e, então, como diz São Paulo, poderás resolver os teus problemas, aplainar as tuas dificuldades, livrar-te das tuas complicações e colocar-te, com segurança, firme e feliz, no caminho da liberdade e das oportunidades de melhoramento.

Essa força mística pode levantar-te do leito da doença, pode curar-te, fortificar-te e tornar-te apto para caminhar livremente no mundo e transformar a tua vida assim como desejarias que ela fosse. Essa força poderá abrir as portas dos presídios e libertar os presidiários, possuindo um bálsamo mágico e curador, será capaz de curar qualquer coração quebrantado. Essa força mística poderá ensinar-te tudo o que devias saber, se fores suscetível e quiseres ser ensinado. Ela poderá inspirar tuas ideias e teus pensamentos e tornar a tua obra realmente original. Ela poderá dar-te uma sabedoria nova e maravilhosa, de toda espécie, se procurares realmente tal sabedoria e tais conhecimentos que nenhuma escola poderá ensinar-te e que não acharás em livro algum. Ela poderá fazer o que para ti, será o mais importante no estado atual de tua evolução.

Ela achará e te colocará em teu verdadeiro lugar na vida. Ela procurará para ti teus verdadeiros amigos, as mesmas almas que estiverem interessadas nas mesmas ideias e se esforçam para fazer o mesmo que tu fazes. Ela poderá construir teu lar ideal e verdadeiro, trazer aquela abastança que significa a liberdade de ser e de fazer o que tua alma aspira.

Essa força incomum é absolutamente real, não é uma imaginação abstrata, mas de fato, o objeto mais prático que existe. A existência dessa força é hoje em dia conhecida por milhares de pessoas em todo o mundo, e certas almas iluminadas já a conheciam há milhares de anos.

Na verdade, essa força não é nada mais senão a primeira força da existência, e o descobrimento dessa força é um direito primordial divino de todos os seres humanos. É também o teu direito e privilégio entrar em relação com essa força e permitir que Ela atue através do teu corpo, do teu espírito, das tuas propriedades, para que, no meio das dificuldades e das restrições não necessites mais rastejar no chão de tua própria ignorância, mas elevar-te, com asas de águia, para as alturas da liberdade e da alegria.

Porém, muitos poderão perguntar, onde e como se poderá entrar em contato com essa força mística, onde poderemos achá-la, como poderá ser transmutada em fatos? A resposta é bem simples. Essa força tu acharás em tua própria consciência, no último, no mais íntimo lugar, em que a maioria das pessoas não a procura. No meio de tua própria mentalidade jaz uma fonte inesgotável, mais forte e de maior força explosiva do que toda eletricidade. Para atuar em todos os teus assuntos, para conseguir os resultados mencionados, nada mais é necessário do que entrar em contato com essa força. O verdadeiro sentido da Bíblia é este: “O Reino de Deus está dentro de vós, procurai primeiro o Reino de Deus e tudo o mais recebereis por acréscimo”. Essa interna força, essa luz interna ou essa ideia espiritual, é denominada na Bíblia, de “a Criança” e através dela em toda santa Escritura, a expressão “Criança” tem sempre o mesmo sentido simbólico. Os símbolos da Bíblia têm a sua própria e bela lógica. A Bíblia simboliza a alma como mulher e, assim, a ideia espiritual nascida da alma, simboliza sempre a Criança. Assim, com a descoberta consciente de que essa força reside dentro de ti se a puseres em atividade conscientemente, nascerá em teu Íntimo a Criança. A razão desse símbolo é facilmente reconhecível no fato de pequeno ser, que deverá nascer em tua consciência, ser tão fraco e desamparado como realmente uma criança recém-nascida. Porém, dia a dia, ela crescerá, tornando-se mais forte, e, com o tempo, já não necessitará mais da ajuda e dos seus cuidados da mãe. Pelo contrário, ao se tornar adulto a situação se modificará, e será ele então, quem doravante cuidará de sua mãe, pagando assim suas dívidas e seus cuidados. Da mesma forma, ao entrares em contato com essa força mística, tuas aptidões, no início, serão fracas e desajeitadas, contudo, desenvolver-se-ão, devagar, mas firmemente, até que um dia chegarás a entregar a essa força, a tua vida, inteira.

A história da vida de Jesus, a principal figura do Novo Testamento, simboliza plenamente essa verdade. Está escrito que Ele nasceu de uma virgem, numa manjedoura miserável, e sabemos que Ele cresceu e tornou-se o Salvador do mundo. No simbolismo da Bíblia, a alma virgem significa aquela alma que está voltada só para Deus, e, nesse estado de alma, será possível nascer a ideia espiritual da criança. Se chegarmos até esse estado, seja através do sofrimento ou da sabedoria, então estaremos preparados, aconteça o que acontecer, a deixar que Deus resolva todos os nossos problemas.

O menino Jesus nasce numa estrebaria quando todo o mundo esperava que Ele nascesse num palácio. Isso significa profundamente que quando essa santa Criança nascer em nossa própria alma, nós, com a consciência de nossa própria dignidade, sentiremos bem claro e pesarosamente, que Ele, o Cristo, nasceu mais uma vez numa estrebaria. Aqui temos a inspirada indicação de que esse fato não poderá impedir que Ele, o Cristo Interno, a Criança, se torne, com o seu crescimento, o Salvador de nossa própria individualidade.

Direta e indiretamente, a Bíblia nos conta muito a respeito do nascimento e crescimento dessa Criança e o que isso significa para nós. Um enunciado importante contém o livro de Isaias, cap. 9, versículos 2, 6 e 7, e vale a pena tomá-lo em consideração. Isaias diz: “Este povo que andava em trevas, viu uma grande Luz, aos que habitavam a região da sombra da morte, nasceu-lhes o dia”.  Essa predição maravilhosa acontece quando a ideia espiritual da Criança tiver nascido em nossa alma. Andar na escuridão moral e fisicamente, habitando o país da sombra e da morte, a morte da alegria e da esperança, e muitas vezes até, do respeito de si mesmo descreve muito bem o estado de muitos homens, antes que a Luz brilhe em suas vidas tristes e dolorosas. E o profeta fala entusiasmado e com palavras de louvor, expondo a salvação que essa força mística cria. “Porquanto já um pequenino se acha nascido para nós, e um filho nos foi dado, e foi posto o principado sobre o seu ombro, e o nome com que se apelidado será, ADMIRÁVEL CONSELHEIRO, DEUS FORTE, PAI DO FUTURO SÉCULO, PRÍNCIPE DA PAZ.” Essa interpretação domina com simplicidade e precisão a semente do assunto inteiro, isto é, que o domínio e o governo foram postos sobre os Seus ombros. A compreensão desse predicado confirma o próprio fato e dispensa comentários. Ela significa que, se conseguiste realmente entrar em contato com essa força mística e se lhe permitiste que tomasse conta de tuas responsabilidades, então ela dirigirá os teus assuntos, por mais insignificantes que sejam, sem qualquer engano ou dificuldade. A direção de tua vida deveria descansar nos Seus ombros! Se estás cansado, se te sentes fraco, doente, deprimido, é, porque tentaste carregar a carga sozinho. E a carga era pesada demais e tu te dobraste sob o seu peso. Mas, assim que entregares a direção de teus problemas, a tua carga de preocupação em ganhar teu pão, curar teu corpo ou apagar as tuas faltas a Ele, ao Cristo Interno, à Criança que jamais se cansa, Ele, o Onipotente, o Onisciente, o Auxiliar de todos os seres, encarregar-se-á, com alegria, da tua carga e de todos os teus problemas. E as tuas preocupações acabam quando ainda nem começaram.

O profeta vai além, e fala dos nomes dessa CRIANÇA. Se conhecermos alguma coisa da simbologia da Bíblia, percebamos que agora aprendemos algo fundamental, porque o nome de qualquer coisa na Bíblia significa o caráter e a natureza do objeto, e, assim, reconhecemos que o nome não significa somente uma denominação arbitrária, mas, na realidade, é o hieróglifo da alma. O profeta deu a essa Criança nada menos do que cinco nomes ou características. Vamos examiná-los um instante, e ver o que eles significam.

Em primeiro plano, diz Isaias que o nome dessa Criança é prodigiosa, e, de fato essa é a primeira e extraordinária denominação. A Criança é uma criança prodigiosa. A palavra prodigiosa, como é empregada aqui, necessita uma interpretação cuidadosa. Como é empregada na Bíblia, significa simples e claramente que é um Prodígio, um Milagre, precisamente isso e nada mais, e temos de levar em consideração que a Bíblia, da primeira à última página, ensina só milagres, e ocorrem mesmo. Assim, ela nos dá tantos pormenores como também descrições detalhadas de casos especiais. Muitas vezes ela repete que milagres ocorrem sempre, principalmente quando achamos isso possível e estamos com vontade de reconhecer e invocar o poder de Deus.

Nas últimas gerações foram feitas muitas tentativas para corrigir a Bíblia e destruir a crença dos milagres. Foram feitas muitas tentativas para provar que a Bíblia podia ser verdadeira e útil, contudo, quanto aos milagres, estaria enganada. Em outras palavras: a Bíblia seria uma coleção misteriosa que contém tanto a verdade como também a mentira. Um crítico afirmou aberta e categoricamente: “Não há milagres”. E assim encerrou o assunto.

A resposta acertada é a seguinte: Se não existissem milagres, então a Bíblia seria do princípio ao fim uma absurda mistura sem sentido, não seria nada mais do que mera fábula. Contudo acontecem milagres, e, como Galileu terminou sua revogação com as palavras, referindo-se à rotação da Terra: “e, contudo, ela se move”, assim também podemos dizer, em relação aos milagres, “quando todas as revogações estiverem suplantadas, de qualquer maneira, ocorrem milagres”.

A primeira característica que Isaias confere a essa criança, é dizer que ela é uma criança prodigiosa, isso é, milagrosa, que pode fazer milagres. Isso significa para ti que, logo que essa criança prodigiosa nascer em tua consciência, começam a ocorrer milagres em tua vida, milagres positivos. Medita: Isso não quer dizer que te submetas às circunstâncias atuais ou que possas enfrentar as mesmas dificuldades com maior coragem e melhor compreensão. Não. Isso se refere só ao milagre. Significa que a criança prodigiosa não atua em tua vida num sentido simbólico, ou mutável, mas certo e verdadeiro, num sentido mais compreensível, efetuando milagres. Essa criança realizará tais coisas independentemente das tuas atuais circunstâncias, sem nenhuma restrição.

O ponto principal é que a criança prodigiosa será capaz de elevar-te das tuas dificuldades, pondo-te em outras circunstâncias. A criança prodigiosa é de fato uma criança prodigiosa,

Vamos contemplar o segundo ponto que o profeta atribui a essa criança. Ele a denomina CONSELHEIRO, e sabemos que Conselheiro é alguém que dá conselhos e pode dirigir a tua conduta. Logo que a criança nascer em teu íntimo, será teu Conselheiro, que nunca falhará e te guiará sempre. Se fores indeciso e não souberes se deves dar um passo importante, aceitar ou rejeitar uma oferta, assinar um documento decisivo, aceitar uma sociedade, abandonar tua posição fazer uma viagem de importância ou preferir ficar em casa. Se podes confiar em alguém, dizer algo, ou se será melhor calar-te, a criança prodigiosa te aconselhará sempre, e podes ter certeza absoluta de que ela nunca se enganará.

No terceiro ponto, o profeta nos revela quem é em realidade essa criança prodigiosa. Ninguém mais senão Deus, o Deus Onipotente, e Isaías nos recorda que esta força mística que transforma e reorganiza, é Deus sempre presente no íntimo de cada ser, e sempre prestativo, principalmente se aceitaste e compreendeste esta grande ideia espiritual. E, por ser Deus, a atividade desta criança é independente de todas as circunstâncias externas.

O quarto nome que o profeta atribui a esta criança é PAI ETERNO. Este ponto assinala nosso parentesco com Deus em termos inequívocos. Também Jesus indicou claramente que Deus é nosso Pai, não só nosso Criador, e nós, como filhos de um Pai bom, podemos esperar que Ele nos abasteça com tudo de que o corpo e a alma necessitam. Porém, cada um tem que reconhecer, por si mesmo, em sua própria consciência, esta realidade, e, como a nossa demonstração é simplesmente a medida de nosso conhecimento, é da nossa compreensão, que esta realidade divina, vem a ser o fruto de nossa própria alma e pode ser misticamente denominado de “nossa criança”.

Enfim, no quinto ponto, a criança é denominada pelo profeta PRÍNCIPE DA PAZ. Experimente meditar o que significa esta denominação na prática. Nada menos do que ser esta criança prodigiosa, a ideia espiritual nascida na tua alma, o PRÍNCIPE DA PAZ. Medita: que significaria para ti a paz de alma perfeita se tu a tivesses já conseguido? Se a tua alma tivesse de fato encontrado a paz, será que poderias admitir que teu corpo haveria de ser vulnerável à doença? Pressupondo que tivéssemos a verdadeira paz na alma, como seria fácil ocuparmos no mundo o nosso verdadeiro lugar! Que não haveria de significar para nós a riqueza, a felicidade, o contentamento? Com quanta facilidade poderias concluir a tua obra? Trabalhos que talvez nunca tenhas feito em tua vida, poderias realizá-los pela metade do tempo usual. Deves ficar bem certo é de que, se conseguires a perfeita paz da alma, então será possível, a esta força mística, a esta criança prodigiosa ensinar-te coisas que aqui na terra ninguém esperava ter capacidade de fazer, porém, ela só te ensinará se tu assim o desejares, e estiveres disposto a fazer tais coisas. Assim, a verdadeira natureza desta criança prodigiosa é dar-te a paz da alma, e por isto denominada de PRÍNCIPE DA PAZ.

Isaias vai além disso e diz: uma vez começado o caminho, não há mais fim, e subimos às alturas mais elevadas no nosso estado de consciência até o dia esperado. O seu império se estenderá cada vez mais, e a paz não terá fim, assentar-se-ia sobre o trono de Davi, e sobre o seu reino, para o firmar e fortalecer em juízo e justiça, desde então e para sempre. “O trono de Davi” significa Jerusalém, a qual é JERUSALÉM, a cidade da paz, daquela paz da qual falamos, e Jerusalém significa simbolicamente, a consciência despertada. De fato, o progresso e o crescimento desse governo, dessa condição, não terão fim e, devido à possibilidade de as almas mais fracas, os ímpios, os desanimados e os medrosos, acharem impossível acreditar que tão boa mensagem possa ser verdadeira, reúne o profeta todo o assunto numa afirmação definitiva: “O zelo do Senhor dos exércitos fará isso”.

Essa explanação deverá remover todo o sentimento de responsabilidade pessoal, porque, teremos então percebido, através dela, que a semente está precisamente escondida nesta afirmativa: “O governo e a direção deviam descansar nos Seus ombros”, nos ombros de Deus, da Criança prodigiosa, que é o Cristo Interno, na Filosofia Rosacruz.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1969-Fraternidade Rosacruz-SP)

(*) Pintura: Detalhe de Ensinamentos no Templo-Boy Jesus in the Temple-Heinrich Hofmman (1881)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Simbologia e Qualidades de Peixes

Peixes é o 12º Signo do Zodíaco e, portanto, nele termina o ano astrológico. Signo Comum, a palavra-chave de sua natureza é: Flexibilidade.

Cristo foi o grande e bom Pastor (Áries), mas chamou a Seus Discípulos “pescadores de homens”, porque o Sol, por Precessão dos Equinócios, estava, então, abandonando o Signo de Áries, o Cordeiro, e entrava em Peixes, o Signo dos peixes. Portanto, se abria uma nova fase da Religião Ária, a Religião Cristã. Para mostrar essa transição, de Áries para Peixes, em que surgiu a Religião Cristã, os bispos da Igreja Católica usam um cajado (Pastor, Áries) e uma mitra, chapéu em forma de uma cabeça de peixe (Peixes).

No Novo Testamento não se faz menção ao touro ou ao cordeiro, mas, em compreensão, alude muitas vezes aos peixes. Encontramos também ali a Virgem Celestial (Virgem), mui proeminente, e a espiga de trigo de Virgem (que rege os grãos). É o pão da vida, conquistado por meio da pureza imaculada. Deste modo, a realização do ideal Cristão está indicada no Zodíaco pelos dois Signos Comuns Opostos, Peixes e Virgem. Aí encontramos a explicação do milagre da multiplicação dos pães e dos peixes[1], isto é, o ideal Cristão dado como alimento para uma nova Era, a multidão.

Na Era de Virgem, a nova Religião do Cordeiro, Áries, não teria sido possível ainda. Moisés, o primitivo líder, não poderia então levar o povo escolhido a “Terra Prometida”. Isto ficou para ser feito por Josué, o filho de Nun. Ora, Josué, em hebraico, significa “Jesus” e Nun significa “Peixes”. Deste modo ficou profetizado que a Religião do Cordeiro (Áries) alcançaria sua proeminência durante a passagem do Sol, por Precessão dos Equinócios, pelo Signo de Peixes (os peixes).

Esta profecia foi totalmente cumprida, pois, durante os mais de 2.000 anos transcorridos desde o nascimento de Jesus, a Religião do Ocidente vem sendo ensinada por um sacerdócio celibatário, adorado na Virgem Imaculada, simbolizada pelo Signo celestial de Virgem, oposto a Peixes. Este mesmo sacerdócio tem se alimentado de peixes e proibido o uso de carne (Áries, Touro) em determinados dias.

Quando os filhos de Israel abandonaram as orlas de carne do Egito, onde o touro foi degolado, fizeram-no pelo sangue do cordeiro (Áries), com que se pintaram as portas das casas israelitas que deveriam passar ilesas pela peste.

(Publicado na Revista: Serviço Rosacruz – fevereiro/1964 – Fraternidade Rosacruz-SP)


[1] N.R.: “Jesus, ouvindo isso, partiu dali, de barco, para um lugar deserto, afastado. Assim que as multidões o souberam, vieram das cidades, seguindo-o a pé. Assim que desembarcou, viu uma grande multidão e, tomado de compaixão, curou os seus doentes. Chegada a tarde, aproximaram-se dele os seus discípulos, dizendo: “O lugar é deserto e a hora já está avançada. Despede as multidões para que vão aos povoados comprar alimento para si”. Mas Jesus lhes disse: “Não é preciso que vão embora. Dai-lhes vós mesmos de comer”. Ao que os discípulos responderam: “Só temos aqui cinco pães e dois peixes”. Disse Jesus: “Trazei-os aqui”. E, tendo mandado que as multidões se acomodassem na grama, tomou os cinco pães e os dois peixes, elevou os olhos ao céu e abençoou. Em seguida, partindo os pães, deu-os aos discípulos, e os discípulos às multidões. Todos comeram e ficaram saciados, e ainda recolheram doze cestos cheios dos pedaços que sobraram. Ora, os que comeram eram cerca de cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.” (Mt 14:13-21)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Os Essênios, Aqueles que Transformaram a Religiosidade

Séculos antes da era Cristã, os essênios, em sua grande ordem mística com ramos em muitas partes do mundo então conhecido, desejavam, como principal objetivo na vida, alcançar o aperfeiçoamento de seus membros em toda a justiça para que pudessem ser dignos de Deus e trazer ao mundo o Grande Messias. De acordo com os registros, tanto esotéricos e exotéricos, Jesus nasceu dentro dessa Ordem e foi treinado por eles durante os “anos ocultos da sua vida”, em seus vários ramos e centros; finalmente, depois foi enviado “para efetuar uma revolução moral e religiosa”.

Assim, com o passar do tempo, veio a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, que marcou época, nas cavernas do distrito de Kirbet Qumran, apresentando esses fatos. De acordo com a sabedoria dos essênios, não existe acaso no universo de Deus — todas os eventos são determinados por um plano ou destino e tudo acontece no tempo normal para eles, nada ocorrendo que não tenha sido predeterminado. Assim declaram os mestres da arte de viver, mestres que produziram um grupo de pessoas que se destacaram na retidão e no desenvolvimento dos “dons do espírito” e na obtenção da consciência cósmica mais do que qualquer um de seus sucessores.

Está registrado que nenhuma profecia deles falhou. Essa precisão significava sua sobrevivência nos dias de Herodes, o Grande, e sua dispensa de fazer os odiados juramentos, até mesmo o de fidelidade. A história nos conta que um essênio, um tal de Menahem, famoso não apenas por sua retidão, mas por sua presciência do futuro, conheceu Herodes quando ele era um menino de escola e se dirigiu a ele como “Rei dos Judeus”. Herodes pensou que Menahem não o conhecesse e estivesse brincando. Mas Menahem sorriu, deu-lhe um tapinha nas costas e disse: “Tu, no entanto, serás rei e começarás teu reinado feliz, pois Deus te achou digno disso. Lembre-se das palavras de Menahem. Essa garantia será salutar para você quando amar a justiça e a piedade para com Deus e a igualdade para com os seus cidadãos. No entanto, eu sei que você não será assim, pois posso enxergar tudo. Você obterá uma reputação eterna, porém se esquecerá da piedade e da justiça, que não serão ocultadas de Deus, e Ele, por isso, vai te visitar em Sua ira até o fim da sua vida”. Herodes deu pouca atenção à profecia do essênio na época, pois ele era um plebeu e não tinha qualquer ideia de que pudesse ser feito rei; mas tudo isso ocorreu, como previsto.

Mais uma vez, outro essênio, certo dia no templo, cercado por seus alunos, que ele havia iniciado na arte apocalíptica de predizer o futuro, um certo Judas, a história nos conta, viu Antígono passar. Judas profetizou uma morte súbita para ele, na hora definida de um dia definido, em um lugar muito especial — tudo ocorreu como previsto.

O grande historiador e judeu Josefo, que viveu no primeiro século d.C., esteve entre os essênios por um ano ou mais, deu os detalhes intrincados de suas vidas e trabalhos, da sua crença na reencarnação, na ressurreição e na comunicação com os Anjos. Ele sabia que estudassem assuntos como astrologia, numerologia, frenologia, profecia, vegetarianismo e saúde, cura, oração, meditação e muitos outros. Os essênios acreditavam que o ser humano devesse estudar os grandes livros sagrados da humanidade, todas as grandes contribuições para a cultura, porque sabiam que todos ensinavam a “mesma sabedoria eterna” e que as únicas contradições aparentes viriam da unilateralidade dos seguidores que tentavam interpretá-los. O objetivo do conhecimento não era fornecer alguns fatos ao indivíduo, mas abrir-lhe as fontes da verdade universal. À medida que o aluno lê, as palavras da verdade criam em seu corpo pensante poderosas vibrações e correntes de pensamento que entram em contato com o corpo pensante do grande Mestre que os deu à luz — tudo isso era bem conhecido por esses místicos.

Estranho narrar como uma profecia de Josefo, o historiador, salvou sua vida na época do levante judeu contra os romanos, quando ele nomeou governador da Galileia o general romano Vespasiano, retirando da resistência judaica a esperança. Josefo fugiu, mas foi levado até Vespasiano, que o teria enviado a Nero para ser destruído, caso o historiador não tivesse profetizado que seu captor, Vespasiano, iria se tornar imperador de Roma — o que se cumpriu conforme previsto.

A razão pela qual o grande historiador Plínio diz que os essênios são “eternos, de antiguidade sem data” e afirma que “eles existiam milhares de anos antes” de sua época é que os essênios não apenas reivindicam origem mosaica para sua Fraternidade, mas afirmam que alguns deles tiveram um começo ainda mais antigo, voltando ao tempo de Abraão e até antes. Alguns historiadores os identificam com os místicos Reis Pastores que governaram o Egito por volta de 2.000 anos a.C. Posteriormente, eles passaram pelo deserto para a Síria e depois para um país conhecido como Judeia, onde entraram em uma cidade chamada Salém, lugar em que, muito mais tarde, Melquisedec concedeu a Abraão os ritos místicos da Ordem a ser conhecida como a ordem dos Essênios. A história judaica de Ewald, entre outras, observa que “os essênios, ou pessoas que deixaram a grande comunidade para viver a vida santa, eram encontrados em Israel desde os tempos mais remotos e eram anteriormente conhecidos como nazireus (ou nazarenos)”. Assim, eles eram conhecidos no Livro dos Juízes e no Livro dos Reis como a “Escola dos Profetas” e nos tempos dos Macabeus como “Hasidees”. A Ordem não se autodenominava “Essênios”, o que significava “aqueles que aguardam” — esse era um nome dado por outros. Eles também eram chamados de “Amigos”, “Os Puros e Silenciosos”, “Os Trabalhadores Milagrosos”, “Campeões da Virtude”, “Nazarenos”, “Terapeutas”, “Aqueles que curam”, “Os Místicos da Roupa Branca”, o terceiro grupo de judeus cuja saudação foi “a Paz seja convosco”.

O historiador Filo concorda com Plínio quanto ao fato de os essênios serem eternos, “sendo um povo único, mais admirável do que qualquer outro no mundo”, e diz que “os membros da irmandade eram chamados de Campeões da Virtude”. Estrabão menciona os essênios em Heliópolis, Egito, “com quem Platão e Eudoxo se consultaram”. Solinus afirma que “os essênios diferem de todos os outros povos em sua constituição maravilhosa (sendo vegetarianos e vivendo, muitos deles, mais de 120 anos) e, segundo minha opinião, foram nomeados pela Providência divina para esse modo de vida. Eles renunciam ao dinheiro, aos prazeres conjugais e, ainda assim, são os mais ricos de todos os homens”.

Deve-se notar que, enquanto muitos dos essênios eram celibatários, homens e mulheres, e que alguns dos assentamentos fossem apenas para homens (os mosteiros), outros eram comunidades onde cada família tinha sua própria casa e jardim, fazia suas contribuições para a comunidade e iam para os edifícios da assembleia geral para certos ritos e cerimônias. Mulheres eram membros associados. Aqueles que não se casavam criavam órfãos para a comunidade essênia. As crianças estudavam de forma prescrita durante dez anos. Com a idade de vinte anos elas se tornavam elegíveis para membros, ocorrendo a admissão depois da aprovação satisfatória em um exame público com base nas disciplinas obrigatórias e em provas aceitáveis de caráter moral e sólido.

Epifânio, famoso historiador da igreja do século IV, ao falar dos essênios e de suas contribuições para a humanidade, declarou que “Jesus se juntou aos essênios” e que a Ordem, em conexão com suas curas, às vezes usava um Livro de Remédios atribuído ao Rei Salomão. Historiadores (ou obras) como Eusébio, Porfírio, Orígenes, Jerônimo, o Talmud, Midrashismo (estudo hermenêutico do Antigo Testamento) e a Bíblia, entre numerosos e diversos relatos, falam dos essênios.

Entre os historiadores modernos e representativos está Dean Humphrey Prideaux, que declara em seu livro sobre os descendentes dos essênios, Antigo e Novo Testamentos Conectados, que os essênios antecederam as Sagradas Escrituras e condenaram a escravidão, os líquidos fermentados, todos os alimentos à base de carne, a guerra e fabricação de instrumentos bélicos; também anteciparam o verdadeiro espírito do Cristianismo e da filosofia superior do século XX.

O Dr. Graetz, em seu livro A História dos Judeus, diz que “os essênios foram os que primeiro proclamaram o Reino dos Céus”, que João Batista viveu a vida de um nazireu, pertencente aos essênios, e passou a morar com outros essênios, próximo às águas do Jordão, aguardando penitentes que, ao serem batizados, ingressavam na Ordem dos Essênios.

Da mesma forma, uma pesquisa histórica mais meticulosa, a de A. A. Schultz sobre os essênios, compilada a partir de numerosos registros da Sociedade Literária e Filosófica de Liverpool, em 1896, encontra as afirmações acima em documentos escritos em hebraico, aramaico e grego.

A Maçonaria Mística, quando ainda era uma Escola iniciática, localiza o Cristianismo puro na doutrina dos essênios e consideram os “Irmãos do Manto Branco e Sem Costura, ou Ordem Mística dos Essênios, a fraternidade mais importante do mundo”.

Entre muitos dos relatos modernos que afirmam que Jesus e muitos dos personagens do Novo Testamento fossem essênios está o de Frederico II em uma carta a d’Alembert, datada de 17 de outubro de 1770. O rei-filósofo escreveu: “Jesus era claramente um essênio; ele estava imbuído da moralidade dos essênios, grande parte da qual vem de Zenão”.

Os Estudantes Rosacruzes sempre souberam que José e Maria, pais de Jesus, e Isabel e Zacarias, pais de João Batista, estivam associados à Comunidade da nova Aliança, às vezes chamada de “A Aliança”, e sob a influência de “Os Eleitos”, como os essênios se consideravam em virtude do que eles realmente sabiam ser sua missão histórica e divina. Eles transcenderam barreiras que dividiam classes, raças e religiões para incorporar o melhor de muitas religiões dentro de sua própria Ordem. Algo do Zoroastrismo poderia ser encontrado na saudação diária dos essênios ao Sol, possivelmente o Grande Espírito do Sol, o Ser Cósmico que brilhava dentro do Sol físico e radiante, o Ser de Luz, pois chegaria o tempo em que essa Individualidade cósmica tomaria a forma humana para Se tornar a Luz do Mundo. Além disso, o Evangelho Essênio de João dá testemunho do Logos Solar, a Luz do Mundo.

Então, em 1945, 1947 e anos posteriores, quando os Manuscritos do Mar Morto, parte da biblioteca dos essênios, foram descobertos nas cavernas perto do seu monastério, enterrados no distrito de Kirbet Qumran, confirmando muito do que apenas esotericamente era conhecido por alguns, a descoberta foi considerada por grandes estudiosos como marcante de uma época, o achado mais importante e notável dos últimos 2.000 anos. Esses pergaminhos tentam transformar o que se entende por religiosidade ou ortodoxia desde a época de Constantino e do Concílio de Nicéia, em 325 d.C. e as datas posteriores dos vários credos feitos pelo ser humano e acrescentados à doutrina da igreja. Os pergaminhos restaurarão a Religião do Mestre Jesus para a sua forma original, que foi temporariamente.

Um grande dia foi para a Religião do Ocidente, quando o menino beduíno chamado de “Maomé, o Lobo” estava cuidando de algumas cabras perto de um penhasco na costa oeste do Mar Morto e, escalando atrás de uma que havia se desviado, notou uma caverna que ele não tivesse visto antes; então, de forma preguiçosa, jogou uma pedra dentro dela. Houve um som desconhecido de algo sendo quebrado. Assustado, o menino fugiu; mas apenas para voltar um pouco depois com outro rapaz. Juntos, eles exploraram a caverna. Dentro, encontraram vários potes altos de barro, entre fragmentos de outros potes. Quando tiraram as tampas em forma de tigela, surgiu um cheiro muito ruim que vinha de protuberâncias oblongas e escuras que foram encontradas dentro de todos os frascos. Quando as retiraram da caverna, viram que estavam embrulhadas em pedaços de linho e revestidos com uma espessa camada de piche preto ou cera. Eles as desenrolaram e encontraram longos manuscritos, inscritos em colunas paralelas de folhas finas que haviam sido costuradas. Eles se maravilharam com os pergaminhos e os carregaram enquanto se moviam, finalmente contrabandeando-os, junto a outros bens, da Transjordânia para a Palestina, até Belém, onde foram vendidos e, finalmente, chegaram às mãos de estudiosos. Mais e mais cavernas com pergaminhos foram descobertas e os manuscritos foram vendidos, até que, em 1949, os beduínos receberam mais de US$ 87.000 pelo que encontraram. Desde então, eles vinham cortando os pergaminhos e vendendo por US$ 7,00, a polegada quadrada, até que finalmente os estudiosos garantiram algum policiamento e controle sobre esses valiosos manuscritos.

Os estudiosos fizeram vários relatórios sobre o grande significado dos pergaminhos. Quando o Dr. Trevor enviou cópias das colunas do rolo de Isaías para o Dr. W. F. Albright, de John Hopkins, um dos maiores arqueólogos vivos, ele escreveu de volta: “Meus parabéns por uma das maiores descobertas de manuscritos de todos os tempos”. Fixando a data da escrita deles por volta de 100 a.C., ele disse: “Felizmente, não pode haver a menor dúvida sobre a autenticidade do manuscrito. Os pergaminhos querem revolucionar nossa abordagem ao cristianismo”.

O grande erudito franco-hebraico Andre Dupont Sommer, professor de línguas semitas na Sorbonne, em Paris, foi ao Museu Palestino em Jerusalém, manipulou e examinou os pergaminhos que tinham 2.000 anos e, então, disse: “Esses textos nos dão conhecimento direto e imediato das crenças históricas e dos ritos da seita essênia; eles revelam numerosas e precisas semelhanças entre ela e a primitiva igreja Cristã. O essenismo, conforme revelado nos pergaminhos, mais do que qualquer outro movimento judaico, abriu caminho para o cristianismo. Os rolos, portanto, esclareceram um dos problemas mais cativantes da história das religiões, o da origem do Cristianismo”.

Mais tarde, sua observação de que “os rolos fizeram Jesus parecer uma reencarnação do grande Mestre Essênio da Justiça, que viveu por volta de 100 anos a.C.” despertou muita controvérsia na França. Essa ideia foi sugerida por outros e parece provável segundo as circunstâncias. Os essênios seguiram os ensinamentos de Melquisedeque, o Príncipe da Paz com quem Abraão conversou e a quem muitos consideram uma encarnação de Jesus, que disse: “Antes de Abraão, Eu sou; seu pai Abraão viu meu dia e se alegrou em vê-lo”. Portanto, se o Mestre foi Melquisedeque, há razão para acreditar que ele tenha sido uma encarnação posterior, conhecida como Mestre da Justiça, antes de finalmente aparecer como Mestre Jesus. (A única encarnação anterior de Jesus mencionada nos Ensinamentos da Bíblia da Sabedoria Ocidental é Salomão).

Marie Harlowe, escrevendo na Progressive World em 1957, diz: “A singularidade de Jesus é desafiada pela descoberta, nos pergaminhos essênios, de um indivíduo anterior e de caráter semelhante. O Mestre da Justiça estava em notável paralelo com a vida e os ensinamentos de Jesus, conforme relatados nas Escrituras Cristãs. Ele era um líder da comunidade e havia experimentado revelações especiais. Seus seguidores eram os pobres, que se autodenominavam ‘Eleitos de Deus’”.

Além disso, esse Mestre estava em desacordo com os sacerdotes e foi muito perseguido por eles. Sua doutrina dizia respeito ao Céu e ao Inferno e seu ritual mais importante era uma festa ou refeição sagrada. Ele foi condenado e executado entre 65-53 a.C.

Os pergaminhos essênios, escondidos em cavernas — alguns deles, sem dúvida, nos últimos dias antes da destruição de Jerusalém pelos romanos, sob Tito, em 70 d.C. — para serem preservados, possivelmente no intuito de, mais tarde, serem removidos para um lugar seguro, foram, alguns deles, mencionados em nossa Bíblia, como em “A Assunção de Moisés” ou um livro que menciona um Enoque, o sétimo a partir de Adão, que profetizava — entre outros registros que as autoridades da igreja ortodoxa descartaram como espúrios e não-canônicos. Também havia livros em que personagens similares a Jesus ensinavam de forma parecida com ele, fornecendo as fontes de suas informações e aprendizados que, junto de todas as referências feitas a eles, a igreja se esforçou para destruir totalmente. Mas,  em algumas ocasiões ela se atrapalhou. Agora, com a descoberta dos Manuscritos Essênios, tudo veio à luz.

Novamente, por causa das autoridades das igrejas ortodoxas, a quem certos estudiosos consultaram sobre a forma em que esse conhecimento da Religião revolucionária deveria ser apresentado ao público, tem havido muito atraso na América em relação à publicação desse conhecimento. Algumas das autoridades da igreja sugeriram, depois de tentar desacreditar os fatos, que se esperasse cinquenta anos ou mais e deixasse as coisas se ajustarem lentamente. Mas, os leigos estão vitalmente interessados e exigem mais verdade — eles encontraram um pouco dela em algum lugar. Eles aprenderam que os originais de muitos dos livros da Bíblia são diferentes dos que temos.

Entre os rolos importantes encontrados nas várias cavernas estão dois de Isaías, O Testamento de Levi, Os Testamentos dos Doze Patriarcas, muitos livros de Enoque, O Documento Zadoquita, o Manual de Disciplina, o Documento de Damasco, o Apocalipse de Lameque (a seção do Gênesis), Os Salmos de Ação de Graças, Hinos, o Comentário Habacuque, Os Apócrifos do Gênesis, Targum de Jó, As Guerras dos Filhos da Luz, um Apocalipse Essênio, entre outros. Os documentos descobertos em 1947 pertencem ao Estado de Israel; os coletados desde 1949 pertencem ao Estado da Jordânia e estão no Museu Palestino, em Jerusalém. Dez outras cavernas e centenas de outros documentos ou fragmentos foram descobertos recentemente.

Muitos dos pergaminhos essênios são escritos em aramaico, a mais antiga de todas as línguas, de acordo com o famoso estudioso sírio, Dr. George M. Lamsa. Ela remonta à planície de Shinar e o nome é derivado de Aram, o filho mais novo de Shem. Será lembrado que o Dr. Lamsa deu ao mundo ocidental a Bíblia dos originais manuscritos aramaicos, os textos da Peshitta — em 1940, o Novo Testamento e em 1957, o Velho Testamento. Essa foi uma tarefa monumental das mais antigas fontes sobreviventes da Bíblia, que foram preservadas na Turquia e no Irã pelos antigos Cristãos chamados de nestorianos. Eles introduziram o Cristianismo na China sob o nome de Doutrina Luminosa em 631, em memória da qual o Monumento Nestoriano foi erguido em Sianfu; da mesma forma, antes, os Cristãos de São Tomé, o discípulo do Mestre, foram os Nestorianos da Índia, sustentando verdades que agora estão sendo descobertas nos pergaminhos essênios.

Em todos os pergaminhos, especialmente no Comentário de Habacuque e no Manual de Disciplina, a pessoa mais importante é o Mestre da Justiça, que entrou em conflito com um rei-sacerdote perverso por quem provavelmente perdeu a vida. Os detalhes ainda não foram encontrados, então a polêmica continua. Muitos estudiosos, usando um fragmento do Comentário de Nahum, que fala do Leão da Ira, em suas suposições, referem-se a Alexander Jannaeus, filho de John Hyrcanus, como o mais provável rei-sacerdote perverso, vivendo como vivia, de 104 a.C. a 78 d.C. Josefo fala dele, indicando a crueldade bárbara usada por esse ímpio — era tão terrível que “ultrajava a sensibilidade dos judeus piedosos, que o viam como uma profanação total da sua Religião, seu templo e a lei”.

O historiador fala sobre o incidente mais interessante e quase inacreditável do arremessos de limão, quando Jannaeus estava celebrando a Festa dos Tabernáculos. Ele estava de pé no altar alto, o lugar mais sagrado em todo o Israel, exceto pelo Santo dos Santos, e estava empenhado em oferecer sacrifícios a Yahweh, em um dos atos mais sagrados de Israel. O sentimento reprimido da população se demonstrou no arremesso de limões contra o perverso rei-sacerdote. O povo tinha limões consigo como parte de suas ofertas votivas. O “sacerdote perverso” dos pergaminhos, no entanto, retaliou matando 6.000 dos mais piedosos do seu próprio povo como vingança, para enfatizar a importância da sua dignidade e autoridade sobre eles. O Mestre da Justiça denunciou tal pessoa. Ele pode ter incitado o incidente do lançamento de limão e, sem dúvida, pagou por isso com sua vida, já que teria exigido abertamente que o rei e sumo-sacerdote de Israel vivesse de acordo com o seu cargo. Nesse e em muitos outros aspectos ele se assemelha ao Mestre Jesus, que agora, em espírito e verdade, em uma espécie de segunda vinda, está retornando para nós em seu eu original e ensinamentos através dos Manuscritos Essênios, após séculos de deturpação e distorção por interesses mundanos e credos feitos pelo ser humano.

Jesus foi educado pelos essênios e atingiu um alto estado de desenvolvimento espiritual durante os trinta anos em que usou seu corpo. Pode-se dizer aqui, entre parênteses, que os essênios fossem a terceira seita que existia na Palestina, além das duas mencionadas no Novo Testamento — os fariseus e os saduceus. Os essênios eram uma ordem extremamente devota, muito diferente dos saduceus materialistas e inteiramente oposta aos fariseus hipócritas, que buscavam publicidade. Eles evitavam qualquer menção a si mesmos e seus métodos de estudo e adoração. A essa última peculiaridade se deve o fato de que quase nada se sabe sobre eles e de não serem mencionados no Novo Testamento”.

(Publicado na Rays from the Rose Cross de dezembro/1956 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Pena de Morte – A Tendência Histórica em Relação à sua Abolição definitiva

A pena de morte está desaparecendo. Um crescente humanitarismo, apoiado por razões baseadas em séculos de experiência, exige a sua abolição.

Essa demanda agora se tornou ruidosa. Desenvolveu-se uma situação extraordinária que colocou a questão em foco e despertou a séria preocupação de povos em todo o mundo. Nunca antes tantas pessoas ao mesmo tempo olharam de forma tão sóbria e profunda para os aspectos sociais, legais, morais e espirituais do assunto.

Os resultados de tal exame popular da moralidade, sabedoria e eficácia da pena de morte como impedimento ao crime e medida de proteção à sociedade certamente efetuarão uma modificação benéfica nos atuais códigos penais e vai acelerar muito o tempo em que a pena de morte será universalmente abolida.

Pode ser útil relembrar brevemente os eventos e circunstâncias mais imediatos e específicos que trouxeram esse assunto de forma tão proeminente à Mente do público, neste momento.

Vamos ver nos Estados Unidos da América: há doze anos, aproximadamente, um jovem da Califórnia foi condenado por crimes pelos quais foi sentenciado à morte. Durante o período que se seguiu à sentença, ele ocupou o “corredor da morte” na prisão de San Quentin, na Califórnia. Por meio de manobras legais e ininterruptas, sua data de execução foi adiada pelo menos oito vezes. No momento em que este texto é escrito, ele vive sob a sombra da nona. Nunca antes na história da jurisprudência um homem, sob o devido processo legal, foi levado tantas vezes, em um período tão longo, até a porta da morte para voltar e enfrentar a provação iminente. Nem pode ter havido um caso que ilustre de forma mais pungente as consequências dolorosas, para o acusado, da demora da lei, por um lado; enquanto, por outro lado, um caso tão evidente na exibição das múltiplas disposições legais e concebidas pela sociedade para proteger um de seus membros da possibilidade de sofrer tal destino por erro judiciário. Mas, o caso também serviu para descobrir lacunas e falibilidades no julgamento humano, na interpretação e administração das complexidades legais, embora cuidadosamente concebidas e meticulosamente formuladas, especialmente quando envolve o destino de uma vida humana.

No entanto, a característica mais impressionante nos prolongados procedimentos deste caso criminal é o caráter do homem condenado em torno do qual tal complexidade e multiplicidade de correntes jurídicas têm girado durante todos esses anos torturantes. Embora haja uma repulsa natural na Mente do público, ao pensar nos crimes dos quais ele é acusado e pelos quais foi encarcerado, com o passar do tempo isso foi bastante amenizado pela maneira como o condenado encontrou seu destino. Ele não era um prisioneiro comum. Ele não aceitou morrer só porque o tribunal o sentenciou a isso. Ele decidiu batalhar por sua vida, embora sua condição fosse tal que, em circunstâncias normais, não haveria praticamente algo a oferecer qualquer esperança de adiar a sentença, muito menos de escapar dela. Ele não tinha posição social ou profissional, nenhuma família devotada ou amigos para trabalhar em seu nome, nenhum dinheiro durante os primeiros anos de sua prisão para contratar um advogado para defender sua causa e nenhum contato influente em altos escalões para favorecê-lo. Ele era um ninguém com nada em seu crédito a não ser as más ações. Ele era, a princípio, um mero número em uma cela de prisão.

Porém não permaneceu assim por muito tempo. Aqui está um homem cujo espírito não foi abatido pela condenação que pairava sobre ele. Contra o que deve ter parecido uma probabilidade desesperadora, ele reuniu coragem, força de vontade e autoconfiança para fazer algo a respeito do próprio caso. Ele fez. Fez disso uma causa célebre.

Fisicamente limitado, sua Mente estava livre e seu espírito, criativo. Ele estudou direito, tornou-se advogado em seu próprio nome. Suas alegações tiveram alguns resultados positivos. “Há um equívoco comum”, disse ele, “de que fui negado cada vez que fui à Suprema Corte dos Estados Unidos. O fato é que ganhei decisões importantes em pontos do devido processo legal que têm significado real para todas as pessoas acusadas de um crime”.

Esse prisioneiro ativo e de Mente fértil também escreveu três livros, que conseguiu publicar e, segundo consta, o quarto está sendo escrito. Em 1954, o primeiro dos três livros foi lançado. Ele é intitulado “Cela 2455 do Corredor da Morte. Seguiu-se então “Julgamento por Aprovação”, em 1955 e “A face da Justiça”, em 1957. A renda da venda desses livros proporcionou meios para empregar auxílio jurídico e ganhar prorrogação após prorrogação. É uma história fenomenal que a indústria cinematográfica não deixou de explorar pelo amplo interesse que seu simples relato factual impunha. A primeira das duas produções teve o mesmo título do primeiro livro do condenado e a segunda, atualmente em exibição, A justiça e Caryl Chessmen. Esses filmes não precisaram de ingredientes adicionais ou situações dramáticas para torná-los ricos em bilheteria e agarrar a Mente, o coração e a imaginação do público que testemunha suas performances.

Aqui está a história de um jovem delinquente que preferia o roubo ao trabalho. Segundo o testemunho de sua ex-mulher, ele não era mesquinho nem cruel, mas rebelde, irresponsável e indiferente às restrições das leis civis e morais. Violações mesquinhas levaram a crimes mais graves, mas segundo seu próprio depoimento, não ao crime pelo qual foi condenado à morte.

Ele não ficou confinado muito antes do seu brilho mental atrair atenção notável. Isso se tornou um trunfo em sua longa luta pela vida. Nem deixou sua Mente se deteriorar em seu isolamento. Ele se desenvolveu. Seu QI aumentou. Quando medido pela última vez, em março deste ano, situou-se em um ponto considerado possuído apenas pelos três por cento do topo da nossa população.

Nunca tinha se resignado, até que o tempo estivesse passando pelas últimas horas antes do seu oitavo encontro com a morte, em fevereiro passado; então ele finalmente aceitou, sem mais resistência ou apelo, cumprir sua condenação. Nem poderia, em seus últimos momentos, ser persuadido a pedir clemência ao único homem que pudesse concedê-la, o governador do estado da Califórnia. Fazer isso, afirmou ele, implicaria a culpa do crime de sequestro pelo qual estava para morrer, mas do qual ele sistematicamente alegou inocência. Ele declarou que conhecia a identidade do “bandido da luz vermelha” e que providenciou para que fosse revelada só depois da sua morte. Isso envolvia muitas pessoas. “Quando eu for executado”, disse ele a seus advogados em 13 de abril, “quero ser capaz de manter minha cabeça erguida e meu respeito próprio”.

Pouco antes da hora marcada para sua execução, em fevereiro passado, ele disse a repórteres que desejava mostrar que não estava sendo desafiador, ao escrever um telegrama ao governador Brown apenas para dizer que o faria agir de acordo com os ditames da sua consciência. A mensagem foi enviada sem qualquer traço aparente de ódio ou amargura. Pelas palavras do telegrama, parecia que nem seu agnosticismo nem seus crimes haviam amortecido seu reconhecimento da operação de uma lei moral relativa ao que chamamos de voz da consciência.

Nesse ponto do processo, algo de significado universal se desenvolveu em relação a esse “homem sem importância” e condenado de longa data. Um indivíduo obscuro tornou-se uma personalidade conhecida internacionalmente. Ele se tornou o símbolo de uma causa. Por uma combinação de qualidades e circunstâncias extraordinárias, ele deu início a um movimento que clama pela abolição da pena capital. Nunca antes tantos milhões levantaram suas vozes em apelo pela abolição da pena de morte. Foi um clamor humano por misericórdia com justiça, pelo maior reconhecimento da sacralidade da vida e em seus níveis mais profundos uma manifestação daquele espírito redentor que o Todo-Compassivo, o Senhor Cristo, implanta no coração da humanidade, mesmo que as pessoas envolvidas estivessem apenas vagamente conscientes da fonte divina e mais íntima do idealismo humanitário o qual forneceu tal expressão enfática neste caso particular.

O sentimento a favor da clemência para o condenado vinha crescendo em um ritmo acelerado tanto aqui quanto no exterior. Ele atingiu o clímax quando o dia da execução, marcada para 19 de fevereiro, aproximou-se. Editoriais pedindo clemência estavam aparecendo em algumas capitais europeias e em toda a América do Sul. Em Londres, seis dos nove jornais diários deram à história o primeiro lugar. Um desses jornais, o Mail, ao fazer seu apelo de clemência ao governador da Califórnia, observou que “qualquer um pode ser persuadido a fazer justiça aos inocentes… É necessária uma verdadeira convicção para ser justo com o culpado”.

O jornal do Vaticano, “Observatore Romano”, protestou contra a execução da pena de morte, alegando que o condenado já havia sido sujeito a penas mais do que suficientes para satisfazer as exigências da lei. Disse seu editor: “Acho uma coisa terrível o que aconteceu… Temos que lidar com isso com um senso de humanidade”.

Em Paris, houve manifestações de rua. Na Noruega e na Suécia, um total de 113.337 pessoas assinaram petições de misericórdia. A Liga Belga para os Direitos Humanos enviou “apelos urgentes” às autoridades americanas. Um jornal de Bruxelas observou que, se a execução iminente fosse realizada “provaria que no país da liberdade existe uma espécie de pena de morte ainda mais terrível do que a morte lenta dos regimes dos campos de concentração que eles condenam”.

Petições assinadas por centenas de milhares vieram do Brasil. E do Uruguai, por meio do nosso Departamento de Estado em Washington, veio uma mensagem de enorme peso. Mais do que qualquer outra comunicação ou manifestação, destacou a preocupação que o caso havia causado nos principais círculos governamentais e o efeito adverso que estava criando em nossas relações internacionais.

E, assim, o caso se espalhou em importância até que criou conotações políticas internas e perturbadores rumores internacionais, cujo efeito gerou uma nova repulsa contra a aplicação da pena de morte.

A hora do clímax havia chegado. Era como se tivesse sido feito sob encomenda com o propósito expresso de promover uma reforma humanitária e específica. A situação favorecia efetivamente sua utilização por inteligências superiores para servir a fins universais e ao propósito espiritual. Podemos muito bem suspeitar que a situação e as circunstâncias que se desenvolveram em torno de um único indivíduo eram tais que foram aproveitadas por poderes superiores, invisíveis, mas sempre presentes, para promover uma importante reforma humanitária cujo tempo havia chegado.

O fato de o próprio condenado ter notado que talvez estivesse servindo exatamente a esse propósito é indicado por uma observação que ele fez aos repórteres na véspera da data de execução, em 19 de fevereiro: “pode muito bem ser que, se ele (o governador) me deixar ir para a morte, isso poderia levar à abolição da pena de morte na Califórnia. Se eu estivesse sentado em sua cadeira, poderia muito bem me deixar ir para esse fim”.

Nessa mesma ocasião, ele expressou o sentimento de que, sem dúvida, existisse também uma clara convicção de que, embora fosse culpado de crimes contra a sociedade, agora, de alguma forma, expiava suas más ações com a morte. Disse ele: “A coisa mais importante que acredito ter feito foi chamar a atenção para a existência dos corredores da morte e a prática da pena de morte. Acho que, uma vez que este fosse um assunto que clamasse por reexame, os muitos e longos anos que fiquei aqui e os livros que escrevi levarão a esse reexame. Todos percebem que as pessoas estejam mais interessadas nas pessoas do que nos problemas. Como resultado, a intensa controvérsia sobre o tipo de pessoa que eu fui e sou levou, acredito, as pessoas a questionar sobre que tipo de pessoa chega ao corredor da morte e por quê. Certamente espero que esta experiência pela qual passei nunca tenha de ser sofrida por alguém mais na história deste país”.

À medida que a hora de 19 de fevereiro se aproximava rapidamente para a realização da execução, uma pressão insuportável estava convergindo sobre o governador da Califórnia, em cujas mãos estava o poder de conceder mais um adiamento. E foi concedido. Um adiamento de sessenta dias. Durante esse período, o povo do Estado, por meio de seus representantes legislativos, convocados em sessão extraordinária, teve a oportunidade de atuar sobre todo o problema da pena capital. Com sua abolição, eles poderiam salvar a vida não apenas do condenado que momentaneamente captou a atenção do mundo, mas também evitar que qualquer outra pessoa, agora ou no futuro, sofresse a punição capital no Estado da Califórnia. A questão foi então ampliada de um único indivíduo para a sociedade em geral.

Que forças invisíveis estavam operando ao lado de pressões externas para, de alguma forma, dar mais força ao movimento para abolir a pena de morte também apareceu no incidente aparentemente casual que levou a esse adiamento. A decisão do governador não foi apenas um acaso, mas, como ele expressou, foi “a mão de Deus”.

De uma pilha de cartas e telegramas não lidos, ele escolheu um que carregava a influência não apenas de um indivíduo, um corpo religioso ou alguma organização reformista que estivesse em cruzada, mas o peso de povos e governos. Era uma mensagem do Uruguai para nosso Departamento de Estado em Washington e, por ele, encaminhada ao Governador, expressando a séria preocupação sobre as nossas relações internacionais, se a execução iminente fosse realizada.

Foi então que o governador transferiu o fardo da responsabilidade para o povo da Califórnia. A questão foi transferida de pessoa para princípio, de um indivíduo para uma sociedade.

Mais tarde, ao discursar na sessão especial do Legislativo, o governador Brown expôs suas razões para abolir a pena de morte. Por se tratar de um documento que certamente assumirá importância histórica nos esforços centenários de humanização do tratamento a todos os infelizes em nosso meio, sejam pela pobreza, doenças, Mentes perturbadas ou delinquência, nós as citamos no discurso fielmente.

“Como um ato de consciência pública e com a experiência de mais de uma década e meia no trabalho de aplicação da lei, peço ao Legislativo que dissolva a pena de morte na Califórnia. Existem razões poderosas e convincentes para que isso seja feito. Não se baseia na simpatia piegas pelos criminosos e depravados. E embora acredite que a pena de morte constitua uma afronta à dignidade humana e brutaliza e degrada a sociedade, não é apenas por isso que exijo este rumo ao nosso Estado”.

“Cheguei a esta importante resolução após 16 anos de experiência cuidadosa, íntima e pessoal junto à aplicação da pena de morte neste Estado. Tive uma convivência direta com o crime e o castigo no dia-a-dia, superada por poucos”.

“A sociedade tem o direito e o dever moral de se proteger contra seus inimigos. Este axioma natural e pré-histórico nunca foi refutado com sucesso. Se, pela morte ordenada, a sociedade estiver realmente protegida e nossas casas e instituições, seguras, então mesmo a mais extrema de todas as punições pode ser justificada”.

“Entretanto, o fato puro e simples é que a pena de morte foi um fracasso total. Além de seu horror e incivilidade, não protegeu os inocentes nem dissuadiu os ímpios. O espetáculo recorrente de assassinato sancionado publicamente barateou a vida e a dignidade humanas sem a graça redentora que vem da justiça aplicada com rapidez, uniformidade e humanidade”.

“A pena de morte é invocada de forma muito aleatória, irregular, imprevisível e muito tarde para ser defendida como um exemplo eficaz de advertência aos malfeitores”.

“Na Califórnia, por exemplo, em 1955, havia 417 homicídios. Mas apenas 52 réus foram condenados por assassinato em primeiro grau. E apenas 8, ou 2%, foram de fato condenados à morte. Não pode haver valor exemplar e significativo em uma punição cuja incidência é de um para 50”.

“Nem a pena de morte deve ser explicada como a arma suprema de desespero da sociedade contra os não regenerados e perversos… Se esta, a mais drástica das sanções, pudesse ser considerada substancialmente para servir aos fins da justiça legal, aumentando a nossa segurança e proteção, ela mereceria um lugar maior em nosso respeito. Mas nenhum dado disponível em qualquer lugar ou época, que eu pude encontrar em pesquisas ao longo de muitos anos, dá suporte ao grande argumento de que a presença ou ausência da pena de morte exerce qualquer efeito substancial sobre a incidência de homicídio. De fato, o relatório da Comissão Real Britânica sobre a Pena de Morte, um dos estudos mais universalmente respeitados e objetivos já feitos sobre o assunto, mostra que não há evidências claras de que a abolição da pena de morte tenha levado a um aumento na taxa de homicidas. A Comissão Real concluiu, como quase todas as outras pesquisas científicas sobre o problema, que outros fatores, além da presença ou ausência da pena de morte, são responsáveis pela taxa de homicídios em qualquer área”.

“Especificamente, a pena de morte foi abolida em alguns estados (Minnesota, Wisconsin, Michigan, Rhode Island, Dakota do Norte) e em 30 países estrangeiros”.

“Em nenhum desses estados houve aumento da taxa de homicidas. E, de fato, em comparação a outros, suas taxas parecem um pouco mais baixas. Um mapa dos Estados Unidos, no qual os vários estados estão sombreados para indicar sua taxa de homicídios em um período de dez anos…, mostra graficamente que os estados sem pena de morte, junto de vários outros que mantêm a pena de morte, têm a menor incidência de homicídio. E em notável contraste, doze estados do sul, todos os quais aplicam a pena de morte de maneira muito dura, têm a maior taxa de homicídio”.

“Este último fato aponta a fraqueza mais gritante de todas, e é que, não importa o quão eficiente e justa a pena de morte possa parecer na teoria, na prática, tanto na Califórnia como em outros lugares, ela é principalmente infligida aos fracos, pobres e ignorantes, contra as minorias raciais. Na Califórnia, e na Nação como um todo, a esmagadora maioria dos executados são psicóticos ou quase psicóticos, alcoólatras, deficientes mentais ou, de outra forma, comprovadamente instáveis mentalmente. Na experiência dos ex-guardas Lewis Lawes de Sing e Clinton P. Duffy de San Quentin, raramente aqueles com fundos ou prestígio são condenados por crimes capitais e ainda mais raramente são executados”.

Enquanto o governador reunia fatos e números adicionais para apoiar sua proposição de que a pena de morte deveria ser abolida, ele disse acreditar que os legisladores encontrariam “evidências convincentes da grande injustiça e iniquidade social que caracterizou a aplicação da pena de morte”. Disse ele, “em grande parte, os executados eram produtos do interior em desvantagem social, econômica e educacional”.

Ele falou sobre os “sacrifícios miseráveis e desnorteantes” feitos ao executor e a responsabilidade que a sociedade, como um todo, deve assumir pelo triste destino dos executados. “Tenho visto nos arquivos, transcrições e livros que, quem eles eram e onde estavam teve um papel tão importante em sua condenação final quanto o que fizeram. Também vi que, por apenas uma ligeira reviravolta das circunstâncias, esses dezenove poderiam ter recebido uma pena de anos, assim como os outros noventa e oito por cento daqueles que mataram e, nesses casos, também existe a terrível chance de que homens inocentes possam ser condenados, por mais cuidadosos que sejam nossos tribunais e júris. Nosso sistema judicial nos dá orgulho, mas temperado pela compreensão de que a humanidade está sujeita ao erro”.

O governador citou então o caso em que um homem condenado à morte foi “perdoado pelo que nunca tinha feito”. Aqui, disse ele, “se não fosse pela graça de Deus, poderia haver agora em nossas mãos o sangue de um homem ignorante, sem amigos e — inocente”.

Os apelos do governador vieram de uma profunda “convicção e consciência”. Ele conhecia a resistência do Legislativo ao seu apelo. Desde 1933, projetos de lei para abolir a pena de morte foram apresentados nada menos que dezesseis vezes, com a maioria das medidas morrendo em comissões. Não havia dúvida na Mente do governador de que seria assim novamente, mas isso não o intimidou de deixar registrado sua posição sobre o assunto. “A liderança pública”, disse ele, “deve enfrentar os problemas humanos, bem como os econômicos e sociais de nossas comunidades. Não é suficiente para aqueles encarregados de responsabilidades públicas se contentarem apenas com o imediato e facilmente alcançável — os valores básicos e de longo alcance da nossa sociedade também devem ser constantemente trazidos para uma realidade mais plena. Eu acredito que toda a história da nossa civilização seja uma luta para criar uma medida maior de humanidade, compaixão e dignidade entre nós. Eu acredito que essas qualidades serão as maiores, quando se concretizar a ação aqui proposta — e não só para os desgraçados cuja execução se transforma em prisão perpétua, mas para cada um de nós”.

Não pode haver dúvida de que aqui estivesse um manifesto de fé, convicção e consciência. Não houve compromisso com segundas intenções. Quaisquer efeitos adversos que a posição do governador sobre essa questão controversa pudesse ter em seu futuro político foram aparente e completamente postas de lado, em obediência a uma compulsão interna de servir ao bem, ao direito, ao nobre. Ele falou não para promover a ambição pessoal, mas para servir ao bem-estar humano e ao propósito divino. Quando chegar o dia, como certamente acontecerá, em que a pena de morte será apagada de todos os códigos penais do mundo e a longa história da sua abolição progressiva for escrita, a mensagem do governador Brown sem dúvida será considerada um dos principais pronunciamentos levando a esta consumação humana.

Muitos dos países europeus aboliram a pena de morte há muito tempo. Por exemplo, não houve uma execução em Luxemburgo desde 1822; na Finlândia, desde 1826; na Romênia, desde 1838, exceto na revolução de 1918; em Portugal, desde 1867; na Noruega, desde 1876; na Dinamarca, desde 1892 e na Suécia, desde 1910. Quase um século atrás, a Bélgica fez o que agora implora que os Estados Unidos façam; exceto por uma execução durante a Primeira Guerra Mundial, a Bélgica não tem execuções desde 1863.

Mais recentemente, os seguintes países europeus aboliram a pena de morte: Áustria, Alemanha Ocidental, Islândia, Itália, Israel, Suíça e vários países menores; trinta ao todo.

Na América Latina, o movimento em direção à abolição da pena de morte vem ganhando força nos últimos anos. A Venezuela promulgou a reforma há quase um século, em 1863. A Costa Rica a seguiu em 1880 e o Equador, em 1897. Após a virada do século XX, Argentina, Brasil, Colômbia, Uruguai e Panamá tomaram medidas semelhantes. A República Dominicana aboliu a pena de morte em 1924 e Porto Rico, em 1929.

Os protestos que surgiram de praticamente toda a América do Sul contra a execução do condenado da Califórnia, que por doze anos lutou tão bravamente por sua vida, sem dúvida fortaleceram as forças que estão progressivamente apagando a pena de morte dos códigos penais em todos os lugares.

Em sua entrevista coletiva, após sua recente jornada com o presidente Eisenhower pela América do Sul, o secretário de Estado Herter comentou sobre o alto sentimento que encontrou sobre o assunto, onde quer que eles fossem, e expressou surpresa com a extensão em que estava prejudicando o prestígio dos Estados Unidos no exterior. Ele observou que a seriedade com que nossos vizinhos latinos estavam observando o caso girava não tanto em torno do destino de um indivíduo, mas em torno do caráter nacional do seu vizinho, supostamente mais avançado, do Norte. De acordo com o Sr. Herter, foram os Estados Unidos que foram julgados pelos povos da América do Sul.

Observe a tendência de longo prazo no afastamento da pena de morte. Na antiga Babilônia, por exemplo, sob as leis de Hamurabi, a pena de morte era administrada de forma indiscriminada. Mais tarde, no antigo Israel, a pena suprema foi definitivamente limitada a crimes específicos e a ideia do grau de culpa entrou na administração da justiça. Isso foi um avanço.

Se olharmos agora para a lei anglo-saxônica, descobriremos que no século XIII quase todos os crimes eram puníveis com a morte. No século XVIII, o número incontável foi reduzido para duzentos; em 1837 para quinze e, em 1861, apenas quatro. Porém a teoria da lei era mais severa do que sua prática. Das duzentas ofensas listadas, a pena nunca foi infligida a mais de vinte e cinco e, quando o número foi reduzido para quatro, em 1861, houve apenas duas aplicações, por assassinato e traição.

Essa variação entre a teoria e a prática na imposição da pena capital permanece verdadeira até hoje. Nos últimos anos, o número de execuções em nosso país caiu abruptamente. Ao longo de um período de anos, até 1950, havia uma média de cento e quarenta por ano. No ano passado, enquanto houve oito mil assassinatos, houve apenas quarenta execuções. O fato sóbrio é que o exame do Estado por aquilo que ele condena em um indivíduo está se tornando cada vez mais abominável. É cada vez mais pronunciado o sentimento de que se trata de um anacronismo, uma relíquia da barbárie que a essa altura já deveria ter sido superada.

Assim, teoria e prática nem sempre andam de mãos dadas. O coração nem sempre sanciona o que a Mente pode conceber. Uma abstração pode ser calmamente entretida, quando sua concretização real não pode ser suportada. Tem sido assim em relação à punição capital. Fornecê-la em um código legal é uma coisa; realizá-la na prática é outra e completamente diferente. Assim, acontece hoje que as leis relativas à pena de morte são mais frequentemente honradas na violação do que na observância.

Justificar a perpetuação da pena de morte porque ela foi ordenada para certos crimes na teocracia do antigo Israel é manter a letra que mata em vez do espírito que dá vida. O argumento não pode ser sustentado de maneira lógica. Nem mesmo o mais severo adepto da velha lei hebraica defenderia para o nosso tempo todo o código penal do antigo Israel. Por seus decretos, a pena de morte era obrigatória para assassinato, adultério, sequestro, blasfêmia, maldição contra o pai ou a mãe, incesto, estupro, profanação do sábado, idolatria, falta de castidade e bruxaria. Também foi imposta a pena de morte a um líder que se comprometeu a impedir as pessoas de seguirem o Senhor e um filho rebelde que se tornou um bêbado habitual foi condenado à morte. Além disso, está escrito: “Se um boi matar um homem ou uma mulher, o boi será morto; mas se o dono soubesse que o animal fosse feroz, então o dono será culpado e sujeito à pena de morte”.

Nem mesmo aqueles que insistem na aceitação e obediência a cada “jota e til” da lei, conforme encontrada tanto no Antigo como no Novo Testamento, aceitariam este código como adequado e correto para o nosso tempo. As condições exatas sob as quais surgiu não existem mais ou foram modificadas pelo avanço da civilização a ponto de tornar-se ilógica a conformidade literal com todas as suas especificações. Os fins almejados por este código não mudaram, mas os meios pelos quais eles podem ser melhor alcançados foram bastante alterados. As disposições da lei mosaica foram adaptadas às necessidades de um povo primitivo. Elas pertencem a outra era. Há muito tempo se tornou impensável aplicar a pena de morte para a maioria dos crimes e fraquezas que exigiam punições tão drásticas sob a lei mosaica. Poucas delas ainda permanecem nos livros de estatutos em qualquer lugar do mundo e se aproxima o tempo em que também serão eliminadas do código mortal.

É paradoxal que haja oposição à abolição da pena capital nos próprios quadrantes que naturalmente esperaríamos encontrar sua defesa mais ardente; a saber, dentro do próprio corpo do Cristianismo. Está em clara contradição com o verdadeiro espírito do Cristianismo, que fundamenta toda reforma humanitária e impulso altruísta. O espírito de Cristo é amor em ação. É um poder cósmico que opera na evolução da humanidade desde o início dos tempos e que “fez-se carne e habitou entre nós” na individualidade humano-divina que conhecemos como Cristo Jesus.

Quando a doutrina Cristã da simpatia, compaixão e perdão substituir as reações mais básicas de condenação e vingança, não haverá mais câmaras de tortura nem punição com a morte. Um código inferior de relações humanas terá dado lugar a um superior.

Argumentos baseados em estudos sobre as causas do crime, inclusive as da hereditariedade e do meio ambiente, têm sido suficientes para induzir os governos a aplicar a pena de morte a cada vez menos crimes, a ponto de aboli-la por completo. No entanto, os mais decisivos de todos os argumentos são aqueles fornecidos pela ciência psíquica e espiritual.

Os fatores ocultos confirmam a validade de todos os argumentos apresentados pelas descobertas no campo das ciências sociais e permitem ver outros de natureza mais convincente. Possui os fatos que mostram exatamente como a execução de criminosos não protege a sociedade de novas depredações e perigos morais, mas, na verdade, leva ao seu aumento.

Nenhum assunto ou problema pode ser imaginado em sua totalidade, se visto apenas em seus aspectos externos. A menos que o lado interno e vital da natureza também seja levado em consideração, as respostas e soluções completas e verdadeiras não serão alcançadas. O homem não vive sozinho em seu Corpo Denso nem neste mundo material externo. Como criatura espiritual, sua vida também está ligada aos planos supersensíveis do ser. O homem trabalha desajeitadamente à meia-luz apenas até que seus olhos sejam abertos para o que também ocorre casualmente sob a superfície da existência material. 

Do ponto de vista oculto, a pena capital é o pior meio possível de lidar com criminosos. Os resultados são exatamente opostos aos pretendidos. O criminoso não foi destruído; ele apenas foi privado de seu Corpo Denso. Como uma entidade consciente, ele sobrevive. Ele foi libertado. Seu caráter não mudou instantaneamente devido à transição. Se as propensões criminosas não foram corrigidas e superadas antes de sua execução, elas persistem depois de passar para o outro lado da vida. Lá, ele está livre para vagar à vontade nos níveis astrais e inferiores para os quais sua natureza maligna o atrai automaticamente e o mantém até o momento em que ele é espiritualmente reabilitado. Enquanto isso, está em posição de influenciar indivíduos psiquicamente negativos e criminalmente dispostos a cometer os crimes que ele poderia ter planejado executar, se não tivesse sido restringido por prisão e morte. Além disso, ele agora pode ter o desejo maligno e adicional de se vingar da sociedade em geral por tê-lo privado de seu tempo natural de vida.

Enquanto um ser humano estiver em seu Corpo Denso, ele pode ser confinado onde não pode fazer mal. Isso dá à sociedade a proteção que ela deve ter contra os irresponsáveis insanos e os criminosos malignos.

A prisão, em vez da execução, também dá ao criminoso a chance de se reabilitar ainda na encarnação, com o duplo benefício para o prisioneiro e para a sociedade: para o criminoso arrependido, antecipa e diminui a rápida e dolorosa experiência purgatorial que se segue à morte e, portanto, ajuda e acelera seu avanço em direção à vida regenerada e construtiva; para a sociedade, remove-se a ameaça de um espírito liberado do Corpo Denso que vai desabafar seu odioso rancor no mundo que deixou para trás.

À medida que a civilização avança, a vida se torna mais significativa, mais valorizada, mais reverentemente considerada. Nesta era de expansionismo, o ser humano começa a funcionar em novas dimensões, tanto interna quanto externamente. A consciência experimenta uma nova extensão. Isso acontece pela sua crescente percepção da maravilha, da beleza e da santidade da vida em qualquer forma que ela apareça. Uma comunidade inteira se reunirá, por exemplo, para salvar a vida de ovelhas ou do gado preso pela neve ou para resgatar um animal doméstico em perigo de perder a vida. Nem sempre foi assim. Testemunhe as lutas de gladiadores na Roma antiga como uma forma de entretenimento popular. Agora, as sensibilidades humanas não apenas superaram essas exibições desumanas, mas quase que universalmente proibiram esportes brutais como a luta de touros e similares, por serem desmoralizantes demais para serem tolerados.

Embora os povos ocidentais não possam reivindicar um grande avanço na criação de uma cultura e civilização que incorporem, na prática, os preceitos e princípios enunciados no Sermão da Montanha, eles são o que o falecido filósofo alemão, Conde Herman Keyserling, chamou de “cristãos biológicos”. Em outras palavras, foram implantadas nas nações Cristãs as sementes da ética Cristã que têm, em si, o poder de crescimento que, na longa passagem dos séculos, pode ser observado em brotos novos que prometem desenvolver-se algum dia naquelas árvores frutíferas e celestiais, ao lado das águas da vida em uma terra regenerada, como imaginado por São João.

Dr. Schweitzer, cujas realizações práticas, poderes intelectuais, realizações culturais e visão espiritual se combinam para elevá-lo a uma eminência da qual brilha uma luz que adiciona fulgor à época em que ele vive, estava em busca de uma ética absoluta que, se totalmente compreendida e aplicada fielmente, daria à humanidade um conceito, uma verdade, um poder pelo qual poderia acelerar enormemente o desenvolvimento de sua natureza superior. Aquilo que ele buscava, ele nos diz, foi encontrado em um momento de iluminação interior. A resposta veio em palavras simples: Reverência pela Vida.

Essa frase, com tudo o que ela implica de forma ética, filosófica e espiritual, é o dom supremo de Schweitzer para a humanidade. Figura mundial que ele é, o conceito cunhado por essas palavras simples, Reverência pela Vida, encontrou ampla aceitação por seu conteúdo espiritual e idealismo corporificado. Um certo poder mágico se liga a tais declarações simples de verdades básicas que inevitavelmente passam a exercer influência transformadora sobre todos os que as ouvem e atendem. De poucos, essa influência se espalha para muitos até que se filtre consciente e inconscientemente na Mente coletiva. A partir das impressões assim recebidas de cima, as forças evolucionárias estão trabalhando para elevar gradualmente o corpo coletivo da humanidade e incutir nele a compreensão e a compaixão que acabarão por trazer uma mudança de atitude, por parte do Estado e da sociedade humana em geral, em relação a malfeitores em seu meio. O esforço será para curar, em vez de punir, para redimir em vez de retaliar. Não haverá como perdoar a tomada daquilo que só Deus pode dar, uma vida humana.

A pena de morte está desaparecendo. A vida, não a morte, detém a última palavra.

(de Theodore Heline – Publicado na New Age Interpreter de abril-maio-junho de 1960 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pergunta: Como conciliar o fato de permanecermos um terço da vida recém-finda no Purgatório com as palavras de Cristo ao ladrão agonizante: “Hoje estarás comigo no paraíso?”

Pergunta: Nos Ensinamentos Rosacruzes, você afirma que permanecemos no Purgatório por um tempo equivalente a um terço da duração da vida terrena, para que nossos pecados possam ser expiados antes de entrarmos para o céu. Como, então, reconciliar esse Ensinamento com as palavras de Cristo ao ladrão agonizante: “Hoje estarás comigo no paraíso[1]?

Resposta: O Novo Testamento foi escrito em grego, uma língua que não se usavam ​​sinais de pontuação. A pontuação foi inserida em nossa Bíblia pelos tradutores posteriores a ela e, muitas vezes, a pontuação muda radicalmente o significado de uma frase, como a seguinte história ilustrará:

Num serviço religioso, alguém entregou um pedido para que o pastor lesse: “Um marinheiro indo para o mar, sua sogra deseja as orações da congregação pelo seu retorno seguro para esposa e filho”. O pedido não estava com pontuação, mas tudo indicava que a sogra do jovem estava muito solícita para que ele voltasse em segurança para sua esposa e filho e, por isso, desejava as orações da congregação. Se o pastor tivesse lido o pedido sem a vírgula, implicaria no fato de que o marinheiro, indo ver sua sogra, desejava as orações da congregação por seu retorno seguro para esposa e filho, e alguém naturalmente pensaria que a senhora, em questão, fosse uma pessoa intratável, uma vez que o jovem achou necessário pedir as orações da congregação antes de enfrentá-la. Nesse caso, se as palavras de Cristo forem lidas assim: “Em verdade vos digo hoje, estarás comigo no Paraíso”, elas implicariam que o ladrão estaria com o Cristo em algum momento futuro não definido. Mas onde a vírgula foi colocada antes da palavra “hoje”, como está na Bíblia, dá a ideia normalmente sustentada pelas pessoas.

O fato de que essa ideia está totalmente equivocada pode ser comprovado pela observação do Cristo logo após Sua Ressurreição, quando Ele disse à mulher: “Não me toque, porque ainda não subi para meu Pai[2]. Se Ele prometera ao ladrão que estariam juntos no Paraíso no dia da crucificação, e três dias depois declarou que ainda não havia ido para lá, o Cristo teria incorrido numa contradição que, naturalmente, é uma impossibilidade. Ao colocar a vírgula, conforme sugerido, reconcilia totalmente o significado das duas passagens e, além disso, São Pedro nos diz que naquele intervalo Ele trabalhou com os espíritos no Purgatório[3].

(Pergunta nº 98 do Livro “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. I – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)


[1] N.T.: Lc 23:43

[2] N.T.: Jo 20:17

[3] N.T.: 1Pe 3,18-19; 4,6

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pergunta: Algo está faltando na sua Bíblia?

A maioria das edições da Bíblia utilizada pelos nossos irmãos e irmãs protestantes tem a versão do Rei James. E mesmo outras versões diferem da Bíblia utilizada pelos nossos irmãos e irmãs católicos e de outras Religiões Cristãs. Muitas pessoas acreditam que a Bíblia utilizada pelos nossos irmãos e irmãs protestantes seja realmente completa. A menos, isto é, que tenham visto a Douay-Rheims (tradução da Bíblia, a partir da Vulgata, em inglês pelos membros do English College Douai, a serviço da igreja católica) ou outra versão católica, que não tem 66, mas 80 livros (isso porque há diferenças entre a Bíblia católica e a Bíblia protestante: católica tem 73 livros e a protestante 66 livros; a Bíblia protestante não tem os seguintes Livros: Tobias, Judite, Sabedoria, Baruc, Eclesiástico, I e II Macabeus, Trechos de Ester – 10, 4-16 – e Trechos de Daniel – 3, 24;20, 13-14).

Entre o Antigo e o Novo Testamento há 14 livros adicionais, classificados pelos nossos irmãos e irmãs protestantes como “apócrifos” (do grego apokryphos, escondido).

Surgem as perguntas: por que eles não estão nas Bíblias protestantes? Como ou por que motivo eles foram removidos? Eles pertencem ao cânone dos livros bíblicos? Um resumo dos fatos essenciais ajudará o leitor a tirar suas próprias conclusões.

No século III a.C., havia no Egito cerca de 70 ou 72 eruditos judeus que, a pedido de Ptolomeu II, prepararam o que veio a ser conhecido como a versão Septuaginta (da palavra 70) do Antigo Testamento. Ela incluía os apócrifos. Esse foi o Antigo Testamento usado por Nosso Senhor e os Apóstolos e sem reservas endossado pelos “pais da igreja primitiva”. Nossas Escrituras não incluem os… livros apócrifos… No entanto, o menino Jesus, provavelmente, estava familiarizado com eles e Ele se lembrou deles quando era adulto, porque são citados em Seus discursos registrados no Novo Testamento. A Igreja antenicena (antes do Concílio de Niceia, em 325 d.C.) os aceitou.

Em 382 d.C., um erudito conhecido como Jerônimo foi comissionado pelo Papa Dâmaso para revisar a versão latina da Bíblia, que conhecemos como a Vulgata. Os livros apócrifos faziam parte dela. Por mais de um milênio foi indiscutivelmente a Bíblia da Igreja. Quando Wyclif e Purvey prepararam a primeira tradução da Bíblia para o inglês, 1382-1388, os escritos apócrifos foram mantidos. Isso também é verdade para a primeira tradução alemã do texto em latim, feita mais ou menos na mesma época.

A primeira Bíblia publicada com os apócrifos separados foi a de 1520, em Wittenberg, Alemanha, por um certo Andreas Bodenstein, mais conhecido pelo nome de sua cidade natal, Karlstadt, e seguidor de Martinho Lutero. Ele acrescentou uma nota informando que esses livros eram “dignos da proibição do censor” — inferiores. Era uma Bíblia escrita em latim.

A primeira Bíblia em vernáculo — o holandês — que segregou os livros apócrifos, colocando-os todos após o Antigo Testamento, apareceu em 1526, em Antuérpia. Também incluía uma nota chamando a atenção para a opinião de que fossem inferiores aos demais livros. Em 1530, uma versão suíça semelhante apareceu; ambas foram emitidas por autores que não eram católicos.

Em 1534, foi publicada uma tradução completa da Bíblia, em alemão, por Lutero. Mais uma vez, esses 14 livros estavam juntos, logo após Malaquias, com um prefácio: “apócrifos — isto é, livros que não são considerados iguais às Sagradas Escrituras, mas são proveitosos e bons de ler”. Ele não explicou quem determinou que esses escritos “não são considerados iguais”, nem o porquê.

No ano seguinte, a primeira Bíblia em francês foi impressa por Pierre Robert Olivetán, perto de Neuchâtel, Suíça. Os apócrifos foram incluídos nessa edição, como também nas publicações francesas que vieram depois. Grande reformador protestante, o francês João Calvino (Jehan Cauvin), citou os apócrifos — embora apenas 10 vezes, enquanto se referiu aos outros 4.000 vezes —, mas nunca para apoiar posições doutrinárias.

Também, em 1535, apareceu a primeira Bíblia em inglês, impressa por Myles Coverdale. Os 14 livros apócrifos foram todos abrigados entre o Antigo e o Novo Testamento. Assim também ocorreu com todas as seguintes Bíblias protestantes em inglês: a Bíblia de Mateus de 1537; a Bíblia de Taverner e a Grande Bíblia de 1539; e a Bíblia de Genebra (produzida pelos puritanos) de 1560.

Enquanto isso, para conter a revolta protestante, a Igreja Católica Romana convocou o Concílio de Trento (1545 — 1563). Lá, os escritos apócrifos receberam o endosso mais forte possível. Naturalmente, isso não passaria despercebido aos protestantes, embora a reação deles viesse com uma lentidão surpreendente. Assim, o Livro de Oração Anglicano Protestante de 1549 ainda aceitava os apócrifos. Treze anos depois, o governo inglês publicou um documento muito interessante, os Trinta e Nove Artigos de Religião, definindo a ortodoxia oficial. Essa foi a época da Rainha Elizabeth I, cujo objetivo transcendente era acabar com a controvérsia religiosa como parte da sua Via Media (Caminho do Meio). Consequentemente, o Artigo VI pode ser interpretado como anti-apócrifo e o Artigo XXXV como pró-apócrifo.

Em 1581, a primeira Bíblia eslava (russa) foi publicada. Aqui, os livros apócrifos foram distribuídos por todo o Antigo Testamento. Mas a Igreja Ortodoxa Russa mudou gradualmente sua posição até que, em 1839, seu “Catecismo Mais Longo” excluiu, por completo, os apócrifos do Antigo Testamento. Voltando nossa atenção mais uma vez para o Ocidente, descobrimos que, em 1599, novas edições da Bíblia de Genebra começaram a omitir os 14 livros. Essa foi uma época de maré alta para os puritanos; eles se propuseram a “purificar” a Igreja da Inglaterra de todas as coisas que eles chamavam de “Romanas”. Isso incluía os livros tão singularmente apoiados pelo Concílio de Trento, 53 anos antes. Como disse o famoso estudioso Sir Frederick Kenyon, “os puritanos perseguiram os apócrifos”.

Mas, 1611 foi um ano de maré baixa para os puritanos, quando a versão do Rei Jaime apareceu. O Rei Jaime, que patrocinou a tradução (por isso que o prefácio ou a introdução, ainda vista em algumas edições da Versão do Rei Jaime, é tão ressaltada), foi também quem fez muitos puritanos fugirem para os Estados Unidos da América. Essa versão incluía os apócrifos. Não apenas isso, mas em 1615 George Abbot, arcebispo de Canterbury e, portanto, o “líder ativo” da Igreja da Inglaterra, sob o rei, ameaçou com um ano de prisão qualquer um que imprimisse uma Bíblia sem os apócrifos! Mas os “omissores” dos apócrifos tinham uma grande vantagem. As Bíblias sem os apócrifos tinham uma regalia competitiva — podiam ser colocadas à venda por um preço mais baixo. E devido às condições instáveis na Inglaterra, sob o governo de Carlos I (1625 — 1649) e o retorno da ascendência puritana sob a Comunidade de Cromwell (1649 — 1659), o decreto de Abbot não foi executado. Bíblias sem os apócrifos circularam em grande número. Exceto entre um grupo, os místicos. No espírito de amor Cristão, eles simpatizaram com as aspirações dos puritanos, embora tivessem sido perseguidos por eles, mas consideraram os 14 livros controversos como estando no mesmo nível dos outros.

Certamente, uma das principais publicações bíblicas e auxiliares por muitos anos tem sido a Concordância de Cruden. Sua primeira edição americana (1806) continha uma seção especial para os apócrifos; edições posteriores começaram a omiti-los. Uma razão pode ter sido que, em 1827, as sociedades bíblicas britânicas e americanas, que vinham incluindo os apócrifos em suas Bíblias, pararam de fazê-lo. Ainda assim, em 1894, quando a “Versão Revisada em Inglês da Bíblia” foi lançada, os 14 livros foram incluídos em algumas edições, embora em letras menores.

Um evento pouco conhecido, mas significativo, ocorreu em 1901, quando Eduardo VII da Inglaterra foi coroado. Por fim, pouco antes de o monarca beijar a Bíblia, antes de assinar o juramento de coroação, descobriu-se que ela, devidamente fornecida pela Sociedade Bíblica Britânica, não contava com os apócrifos. Outra, com os apócrifos, foi adquirida rapidamente, porque a lei do Reino Unido ainda exigia que uma Bíblia de 80 livros fosse usada nas instalações reais.

Não se pode negar que, ao longo dos anos, os livros apócrifos exerceram considerável influência cultural. O famoso poeta inglês do século 7, Caedmon, usou trechos deles. Isso fez Chaucer, sete séculos depois, em seus célebres Contos de Canterbury e outros escritos.

Colombo foi influenciado pelos apócrifos para zarpar em 1492! É um fato bem conhecido que ele foi influenciado pelo Imago Mundi (a forma do mundo) de Pierre d’Ailly para acreditar não apenas que a Terra era redonda, mas também que apenas um sétimo da superfície da Terra é coberto por água; portanto, as terras fabulosas a oeste não podiam estar muito longe. Essa noção foi baseada em uma interpretação errônea de II Esdras 6: 42, 47, 50, 52 de d’Ailly.

Shakespeare faz mais de 80 referências aos apócrifos (veja em Shakespeare and Holy Scripture, Thomas Carter; Shakespeare’s Biblical Knowledge and Use of the Book of

Common Prayer, Richard Noble), embora possa ser mera coincidência que duas de suas filhas tenham recebido o nome de heroínas apócrifas, Susanna e Judite. John Milton também ficou em dívida com esses livros. Por exemplo, seu Paraíso Perdido traz referências à Sabedoria de Salomão, mesmo que o transcendentalista americano Nathaniel Hawthorne possa ser ligado a II Macabeus.

Todos os anos, no Natal, milhões cantam “Noite Silenciosa, Noite Sagrada” e “Ó, Noite Santa”. Ainda assim, em Lucas 2:11, lemos que Jesus nasceu “hoje”. De onde vem a crença popular em um presépio noturno? Pode ser rastreada até a interpretação de Sabedoria 18:14-16, por parte dos pais da igreja primitiva. Os conhecedores de arte sabem que Judite, Tobit, Susanna e Holofernes inspiraram obras-primas. Suas histórias estão todas nos livros controversos da Bíblia.

Mesmo dessa visão geral bastante abreviada, alguns fatos indiscutíveis emergem: por mais de três quartos da era Cristã, os apócrifos foram universalmente aceitos e exerceram uma poderosa influência cultural. Também tem isto: a enorme lacuna de 400 anos entre o Antigo e o Novo Testamento. Se alguém lesse uma história dos EUA que omitisse eventos entre a Guerra Civil e a Segunda Guerra Mundial — menos de um quinto do intervalo de tempo entre Malaquias e Mateus —, perceberia imediatamente que algo estivesse faltando. Isso é verdadeiro, se alguém lê uma Bíblia sem os apócrifos.

“À medida que a videira produziu, eu – Sabedoria – ganhei sabor agradável e minhas flores são frutos de honra e riqueza. Eu sou a mãe do amor justo, do temor a Deus, do conhecimento e da esperança sagrada: Eu, portanto, sendo eterna, dou-me a todos os meus filhos, que têm o nome Dele. Venham a Mim, todos vocês que desejam se alimentar de Mim, e encham-se dos meus frutos. Porque o meu memorial é mais doce do que o mel e a minha herança, mais do que o favo de mel. Aqueles que Me comem ainda terão fome. Quem Me obedece nunca será confundido e os que trabalham por Mim não errarão.” (Eco 24:23-30)

“Pois enquanto todas as coisas estavam em quieto silêncio e aquela noite estava no meio do seu curso rápido, a Tua palavra Todo-poderosa saltou do Céu, do Teu trono real, como um feroz homem de guerra no meio de uma terra de destruição, e trouxe o Teu mandamento honesto como uma espada afiada.” (Sb 18:14-16)

“Temer ao Senhor é o princípio da sabedoria: ela foi criada junto dos fiéis, no ventre. Ela construiu um alicerce eterno com os homens.” (Eco 1:16)

Sabedoria é o sopro do poder de Deus e uma pura fonte que nasce da Glória do Todo-poderoso… o brilho da luz eterna, o espelho imaculado do poder de Deus e a imagem de Sua Bondade.” (Sb 7:2-26)

À margem da versão de 1611 do Rei James, não há menos do que 113 referências a passagens relacionadas nos apócrifos; 102 no Antigo Testamento e 11, no Novo (alguns exemplos: Mt 6:7; Eco 7:14; Mt 23:37; IIEsd 1:30; Mt 27:43; Sb 2:15-16; Lc 6:31; Tob 4:15; Lc 14:13; Tob 4:7; Jo 10:22; IMb 4:59; Rm 9:21; Sb 15:7; Rm 11:34; Sb 9:13; IICor 9:7; Eco 35:9; Hb 1:3; Sb 7:26; Hb 11:35; IIMb 7:7). Para detalhar aqui apenas duas dessa lista: Jo 10:22 fala sobre a Festa da Dedicação; IMb 4:59 relata sua origem pós-Antigo Testamento. E não pode haver dúvida de que o apóstolo Paulo emprestou muito dos apócrifos para sua epístola aos romanos (Rm 1:20-21; Sb 13:5-8; Rm 1:22; Sb 13:1, 12:24; Rm 1:26; Sb 14:24; Rm 1:29; Sb 14:25-27; Rm 9:20; Sb 12:12; Rm 9:21; Rm 9:22; Sb 12:20).

Não há melhor maneira de considerar a relação dos apócrifos com o resto da Bíblia do que os ler. Assim, alguém se perguntará em que base os 14 livros foram afastados dos outros 66. É frequentemente dito que eles não tenham qualidade devocional como os outros 66. Claro que essa é uma forma muito subjetiva de fazer julgamentos. Mas não há muitas partes dos 66 livros que podem ser consideradas deficientes da mesma maneira? As genealogias no Antigo Testamento, por exemplo, ou as histórias de muitas guerras sangrentas? Também é um fato que John Bunyan, famoso autor de Pilgrim’s Progress (O Progresso do Peregrino), em um momento de desânimo espiritual, encontrou um bálsamo para sua alma depois de pesquisar na Bíblia por “mais de um ano”, em Eclesiástico 2:10. Também pode ser observado que um grupo devoto de Cristãos Protestantes dirigiu seu clero, em casamentos, a ler não só o Antigo e o Novo Testamento, mas também o livro apócrifo de Tobias, pois ele “apresenta uma bela lição que fortalece os piedosos e tementes a Deus na Terra, especialmente no que diz respeito ao casamento”.

É certo que os apócrifos possam ser considerados “diferentes”. No entanto, essa é realmente uma afirmação vaga. Os outros 66 livros também são bastante diferentes uns dos outros. No Antigo Testamento, temos os livros históricos, a literatura sapiencial, os profetas maiores e os menores. Algumas partes de apenas um livro dos 66 são muito diferentes, razão pela qual, por exemplo, os capítulos que vão do quarenta ao cinquenta e cinco, no Livro de Isaías, são conhecidos como o Deutero-Isaías… Não da autoria de Isaías, mas obra de outro. No Novo Testamento, existem os Evangelhos, Atos, Epístolas e Apocalipse. Rute e Apocalipse são muito diferentes; também Crônicas e Coríntios, Provérbios ou Filipenses. Qualquer pessoa inclinada a denegrir os apócrifos precisa ser lembrada de que partes do Antigo Testamento, se fossem transformadas em filmes, receberiam uma classificação X, na melhor das hipóteses; porém não são questionadas. Isso é consistente?

Talvez a chave mestra para o que pertence à Bíblia é encontrada no fato de que reais eventos físicos são usados para esconder profundas verdades espirituais. Pode haver outra base viável para permitir certas partes do Antigo Testamento no cânone bíblico? Existe outra maneira pela qual as muitas contradições aparentes da Bíblia, com base em uma interpretação literal, podem ser harmonizadas?

Por causa da sua função como elo entre o Antigo e o Novo Testamento, os estudantes da Bíblia sofrem uma perda por negligenciar os apócrifos — mas, uma ainda maior por ignorar a chave para compreender todos os três: a abordagem esotérica que é apresentada pelo Cristianismo Místico. A literatura da Sabedoria Ocidental tem inúmeras referências aos apócrifos.

A palavra “apócrifo” também pode significar que os escritores dos livros quisessem que seu significado fosse enigmático ou aparente apenas para os Iniciados. Houve muitos escritos desse tipo no período imediatamente anterior e posterior ao início da era Cristã.

Aqueles familiarizados com as Escrituras extracanônicas, além dos apócrifos, estarão interessados em saber que ‘as Pseudoepígrafes’ ou Escrituras ‘falsamente inscritas’ não são fraudulentas; a falsa inscrição é apenas um artifício… pelo qual um escritor posterior poderia expressar suas ideias sob o abrigo de um nome do escritor anterior e aceito.

(publicado na Revista Rays from the Rose Cross de setembro-outubro de 1995 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pergunta: Como um Estudante Rosacruz estuda a Bíblia?

Como um Estudante Rosacruz estuda a Bíblia

A princípio, sempre nos lembremos que a “Bíblia foi nos dada pelos Anjos do Destino, que estando acima de todos os erros, dão a cada um e a todos o que necessitam para o seu desenvolvimento. Por conseguinte, se procurarmos a Luz, encontrá-la-emos na Bíblia”.

Quando se fala dos Mistérios Cristãos deve-se compreender que os quatro Evangelhos que encontramos na Bíblia não são exclusivamente relatos da vida de um único indivíduo, escritos por quatro pessoas diferentes, mas sim que são símbolos de Iniciações distintas. Cada um de nós atravessará algum dia os quatro períodos descritos nos quatro Evangelhos, porque cada um está desenvolvendo o espírito de Cristo no seu interior, o Cristo Interno. E ao dizer isso dos quatro Evangelhos, podemos aplicá-lo também a uma grande parte do Antigo Testamento que é, também, um maravilhoso livro de ocultismo, pois nos relembra o que fizemos naqueles tempos, bem como quantos irmãos e irmãs anteciparam o conhecimento que iria nos ser fornecido na plenitude via o Novo Testamento.

Quando colhemos batatas não esperamos encontrar somente batatas e nenhuma terra; tampouco, devemos esperar, ao nos aprofundarmos no livro chamado Bíblia, que cada palavra seja uma verdade oculta, porque como deve haver terra entre as batatas, assim também deve haver escória entre as verdades ocultas da Bíblia. Os quatro Evangelhos foram escritos de tal maneira que somente aqueles que têm o direito de saber podem descobrir o verdadeiro significado e compreender os fatos subjacentes. Do mesmo modo, no Antigo Testamento encontramos grandes verdades ocultas que se tornam lúcidas quando podemos olhar por detrás do véu.

Deve-se notar que as pessoas que originalmente escreveram a Bíblia não intentaram dar a verdade de uma maneira que todo aquele que quisesse, pudesse lê-la. Nada estava mais afastado de suas Mentes que escrever “um livro aberto sobre Deus”. Os grandes ocultistas que escreveram o Thorah são muito categóricos a esse respeito. Os segredos do Thorah não podiam ser compreendidos por todos. Cada palavra do Thorah tem um significado elevado e um mistério sublime. Muitas passagens estão veladas; outras devem ser entendidas literalmente; e ninguém que não possua a chave oculta pode decifrar as profundas verdades veladas naquilo que, amiúde, apresenta um feio revestimento.

(Publicado na Revista O Encontro Rosacruz – dezembro/1982)

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