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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pergunta: Jesus não era judeu? Se sim, então, o que ele quis dizer com ‘antes que Abraão existisse, Eu sou’? Pois mesmo que tenha renascido, Abraão foi o pai da raça judia, não?

Resposta: Nos tempos antigos, e mesmo até hoje, o patriotismo é visto como uma das principais virtudes, mas do ponto de vista oculto, é claro, há apenas o Espírito Uno, e as raças são tão somente uma fase evanescente do Esquema de Evolução; na verdade, uma fase muito perigosa, pois enquanto nos Períodos e nas grandes Épocas de evolução há muito tempo, e é possível aos líderes reunirem a maioria dos Espíritos para ajudar a promover a evolução de cada um deles, as raças e nações nascem e morrem num tempo comparativamente curto, e há um grande perigo de que os Espíritos possam ficar enredados nos corpos da raça e não acompanhar a maior parte da Humanidade no seu progresso..

Foi exatamente isso o que aconteceu com os judeus. Eram tão intensamente patrióticos que nenhum judeu se considerava como um indivíduo separado dos outros. Principalmente, quando usavam os termos mais elevados, o judeu fala de si mesmo como a “semente de Abraão”. Em outros momentos, o judeu se considera pertencente a uma determinada tribo e, por último, talvez, ele fosse Salomão Levi[1] ou Moses Cohen[2].

O Cristo combateu essa ideia de identidade com a raça quando afirmou: “Antes que Abraão existisse, eu sou[3]. O Ego existia antes de Abraão; Abraão era um renascimento de um Ego, um Espírito. Ele e a raça judaica descendente dele eram simplesmente Corpos, mas os Egos que os habitavam existiram antes dos Corpos da raça. Assim, o Cristo aconselhou seus ouvintes a olharem do evanescente para o eterno.

Em outro lugar, Ele declarou: “A menos que o homem deixe pai e mãe, não poderá Me seguir[4]. Pai e mãe, também, são Corpos da raça. Não temos o direito de abandonar parentes dependentes de nós para seguir uma vida superior; devemos cumprir com todos os nossos deveres aqui antes de iniciarmos, egoisticamente, o estudo da vida superior, mas não devemos nos identificar com a raça, a nação ou a família em que nascemos. Cada um de nós é um Espírito individual, que existe antes dos Corpos que chamamos de raças e existiremos depois que as raças deixarem de existir. Se esquecermos esse fato, podemos nos cristalizar e nos identificar com a raça, ao invés de progredir. Foi exatamente isso que os judeus fizeram. O seu intenso patriotismo fez com que eles, como Espíritos, renascessem nos Corpos da raça judaica durante milênios.

Os líderes da humanidade procuraram de várias maneiras fazer com que eles se amalgamassem com outros povos, para que pudessem progredir, mas sempre em vão, e Cristo foi enviado a eles, pela mesma razão que Booker T. Washington[5] foi enviado aos negros. Embora fosse uma alma mais avançada do que seus irmãos de raça, ele renasceu em um Corpo Denso de pele negra para poder ajudar os negros de uma maneira mais eficiente. Se ele tivesse renascido em um Corpo Denso de pele branca, sempre teria havido um aparente paternalismo. Razões semelhantes decretaram o nascimento de Cristo como judeu. Esperava-se que eles recebessem Seus ensinamentos porque vinham de alguém de sua própria raça. Mas, em vez de honrar as suas tradições e levantar os olhos para Abraão com uma atitude mental reverente, Ele derrubou os seus ideais, falou de um novo céu e de uma nova terra, afirmou a prioridade do indivíduo em relação à raça e, portanto, eles não quiseram nada d’Ele – “escolheram Barrabás[6].


[1] N. T.: música: Solomon Levi, cantada por Frank Simons de Howard, Kansas, durante o verão de 1949. Ele aprendeu essa música com os irmãos Clayton, Will e Jake, em Eminence por volta de 1890.

Meu nome é Salomão Levi,

E minha loja fica na rua Salem;

É onde comprar seus casacos e coletes

E tudo mais que é legal;

Ulsterettes de segunda mão

E sobretudos tão finos,

Para todos os garotos que negociam comigo

Aos cento e quarenta e nove.

Ó Solomon Levi, Tra la la la la.

Pobre Sollie Levi, Tra la la la la la la la la,

[2] N.T.: Moses Cohen Henriques Eanes (c. 1595) foi um pirata português de origem judaica sefardita, que operou no século XVII na região das Caraíbas. A família finalmente seguiu para Amsterdã e retornou à fé judaica. Henriques ingressou na marinha holandesa e subiu na hierarquia para ser o braço direito do famoso almirante holandês Piet Hein. Juntos, eles derrotaram a frota espanhola na costa de Cuba em 1628. Depois disso, Henriques foi explorar a colônia portuguesa de Pernambuco, no Brasil, como espião, para se preparar para uma invasão holandesa. Ele fez parte dessa invasão em 1630, liderando um contingente de 3.000 homens para capturar a colônia com sucesso. Henriques ajudou a transformar a área num refúgio judaico, trazendo o primeiro rabino da América e estabelecendo a primeira sinagoga, mikveh e yeshiva no Novo Mundo. Quando os portugueses recapturaram a colónia em 1654 e reiniciaram a perseguição aos judeus, Henriques fugiu juntamente com o resto da comunidade judaica. Para sobreviver a tempos difíceis, ele foi forçado a se tornar um pirata, logo se juntando ao infame Henry Morgan. Ele se tornou o conselheiro de confiança de Sir Morgan. Mais tarde, Henriques se aventurou por conta própria, estabelecendo uma ilha pirata na costa brasileira. A Inquisição tentou capturá-lo durante anos, sem sucesso, e Henriques viu como sua missão vingar o mal que os espanhóis e portugueses tinham feito aos judeus. Depois que os ingleses conquistaram a Jamaica, Henriques ali se estabeleceu e viveu o resto da sua vida na ilha, ajudando a estabelecer a sua comunidade judaica. Quando seu velho amigo Henry Morgan se tornou governador da Jamaica, ele concedeu perdão total a Henriques pela pirataria em 1681.

[3] N.T.: Jo 8:38

[4] N.T.: Lc 14:26

[5] N.T.: Booker Taliaferro Washington (1856-1915) foi um educador e líder afroamericano estadunidense. Ele foi uma notável liderança afroamericana que alcançou posição de destaque na história da formação do pensamento da população negra dos Estados Unidos, e sua biografia torna-se mais interessante por ter nascido escravo e conquistado a admiração de muitas figuras influentes daquela sociedade, assumidamente, racista. Entre 1890 e 1915, Washington foi o líder dominante na comunidade afro-americana e na elite negra contemporânea. Washington pertencia à última geração de líderes negros americanos nascidos na escravidão e tornou-se a principal voz dos ex-escravos e seus descendentes. Eles foram recentemente oprimidos no Sul pela privação de direitos e pelas leis discriminatórias de Jim Crow promulgadas nos estados do Sul pós-Reconstrução no final do século XIX e início do século XX. Washington foi um dos principais defensores dos negócios afroamericanos e um dos fundadores da National Negro Business League. Sua base era o Tuskegee Institute, uma escola normal, mais tarde uma faculdade historicamente negra em Tuskegee, Alabama, na qual atuou como diretor. Quando os linchamentos no Sul atingiram o pico em 1895, Washington fez um discurso, conhecido como “compromisso de Atlanta”, que lhe trouxe fama nacional. Ele apelou ao progresso dos negros mediante a educação e o empreendedorismo, em vez de tentar desafiar diretamente a segregação Jim Crow e a privação de direitos dos eleitores negros no Sul.

Washington mobilizou uma coligação nacional de negros de classe média, líderes religiosos e filantropos e políticos brancos, com o objetivo a longo prazo de construir a força econômica e o orgulho da comunidade, centrando-se na autoajuda e na escolaridade. Com as suas próprias contribuições para a comunidade negra, Washington apoiou a elevação racial, mas, secretamente, também apoiou contestações judiciais à segregação e às restrições ao recenseamento eleitoral.

Washington foi ouvido pelos poderosos da América da sua época, incluindo presidentes. O seu domínio do sistema político americano no final do século XIX permitiu-lhe manipular os meios de comunicação, angariar dinheiro, desenvolver estratégias, criar redes, distribuir fundos e recompensar um quadro de apoiantes. Por causa de sua liderança influente, o período de sua atividade, de 1880 a 1915, foi chamado de Era de Booker T. Washington. No entanto, a oposição a Washington cresceu, à medida que se tornou claro que o seu compromisso de Atlanta não produziu a melhoria prometida para a maioria dos negros americanos no Sul. William Monroe Trotter e W. E. B. Du Bois, que os bookeristas perceberam antes da guerra como “negros do norte”, consideraram Washington muito acomodacionista e sua educação industrial (“agrícola e mecânica”) inadequada. Washington lutou vigorosamente contra eles e teve sucesso na sua oposição ao Movimento Niágara que eles tentaram fundar, mas não conseguiram impedir a formação da Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor (NAACP), cujas opiniões se tornaram dominantes.

Os ativistas negros no Norte, liderados por Du Bois, apoiaram inicialmente o compromisso de Atlanta, mas depois discordaram e optaram por criar a NAACP para trabalhar pela mudança política. Tentaram, com sucesso limitado, desafiar a máquina política de Washington pela liderança na comunidade negra, mas construíram redes mais amplas entre os aliados brancos no Norte. Décadas após a morte de Washington em 1915, o movimento pelos direitos civis da década de 1950 adotou uma abordagem mais ativa e progressista, que também se fundamentava em novas organizações de base assentadas no Sul, como o Congresso de Igualdade Racial (CORE), o Comitê de Coordenação Estudantil Não-Violenta (SNCC) e Conferência de Liderança Cristã do Sul (SCLC).

O legado de Washington tem sido controverso na comunidade dos direitos civis. Após a sua morte em 1915, ele foi alvo de fortes críticas por causa da acomodação à supremacia branca, apesar das suas afirmações de que o seu objetivo a longo prazo era acabar com a privação de direitos dos afro-americanos, a grande maioria dos quais ainda vivia no Sul. No entanto, uma visão mais neutra surgiu desde o final do século XX. A partir de 2010, os estudos mais recentes “defendem e celebram suas realizações, legado e liderança”.

Resumindo: Booker T. Washington foi tão aclamado como líder público que o período de sua atividade, de 1880 a 1915, foi chamado de Era de Booker T. Washington. A historiografia sobre Washington, o seu carácter e o valor dessa liderança variou dramaticamente. Após sua morte, ele foi alvo de fortes críticas na comunidade dos direitos civis por sua acomodação à supremacia branca. No entanto, desde o final do século XX, surgiu uma visão mais equilibrada do seu amplo leque de atividades. A partir de 2010, os estudos mais recentes, “defendem e celebram suas realizações, legado e liderança”

[6] N.T.: Mt 27:16

(Pergunta nº 96 do Livro “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. 1 – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)

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