Arquivo de categoria Estudos Bíblicos

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Iniciação Cristã Mística

Além do Método Rosacruz de Iniciação, adequado para aqueles que trilham o caminho por meio da luz da razão, há também o caminho para os que seguem pelo coração, somente. Embora haja grandes vantagens no conhecimento e no deliberado processo consciente da Iniciação Rosacruz, a Iniciação Cristã Mística é tocante e bela. Somente aqueles que estejam livres do domínio do intelecto e que possam se abster de fazer perguntas e tudo receber com uma fé simples e infantil podem seguir por esse caminho.

A Bíblia inteira é um livro que contém diferentes sistemas de Iniciação e iluminação para diferentes fases de desenvolvimento. Não há dúvidas de que Cristo-Jesus viveu e passou pelas experiências descritas nos quatro Evangelhos, mas também é verdade que esses Evangelhos são fórmulas de Iniciação e que o Cristão Místico segue a Cristo-Jesus nesse caminho, embora esteja sempre inconsciente de estar realizando um desenvolvimento oculto. Para um Iniciado, as fundações estabelecidas em vidas anteriores o fazem voltar ao mundo por meio de pais de natureza pura. Assim, o seu corpo é concebido imaculadamente.

Quando a humanidade emergiu das águas atlantes, perdeu o espírito do amor e da fraternidade, tornando-se egoísta e centrada em si mesma. O espírito do amor e da fraternidade universal desce renovado sobre o Cristão Místico, quando ele passa sob as águas do Batismo e sente o pulsar do grande Coração de Deus batendo em seu íntimo.

O egoísmo estendeu um véu entre o ser humano e Deus. Quando restaurado, o amor ilumina o caminho em direção aos lugares secretos. No Monte da Transfiguração, o Cristão Místico vê a continuidade da vida por meio do renascimento em sucessivos corpos. Moisés, Elias e João Batista são expressões do mesmo espírito imortal.

As formas são usadas como degraus para a vida em evolução. O mineral é desorganizado para nutrir as plantas. Portanto, as plantas têm assim um débito de gratidão para com o mineral. As plantas são destruídas para alimentarem o animal e o ser humano, daí sermos gratos a elas. Como o inferior serve o superior, deve haver um retorno. Para restabelecer o equilíbrio, os seres superiores devem servir aos inferiores como instrutores. Para inculcar a lição de que os alunos devem pleitear o seu serviço, o Cristão Místico lava os pés do seu discípulo. Para ele, nada é insignificante. Se uma tarefa desagradável deve ser realizada, ele a realiza com todo o empenho para poupar os outros.

Contudo, embora ele sirva aos outros alegremente, deve aprender a suportar a sua carga sozinho. Quando ele passa pelo Getsemani, até aqueles que lhe são mais próximos dormem. Quando cai no ostracismo e é condenado pelo mundo, eles também o negam. Portanto, ele é ensinado a não olhar para alguém, mas a confiar apenas nele, o Ego, o Espírito Virginal da Onda de Vida Humana manifestado.

Ele, então, percebe que é um Espírito e os seus corpos é uma cruz que deve pacientemente suportar. Os vórtices desenvolvidos por seus atos espirituais e exercícios, de forma lenta, mas segura, separam o seu Corpo Vital do Denso e o crucificado eleva-se às esferas superiores com o grito de alegria: Consummatum est! (Está consumado). Ele é, então, um cidadão dos Mundos visível e invisíveis, tanto quanto um Aspirante à vida superior que trilha o Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz da realização, pois ambas as escolas se encontram na Cruz.

(Por Max Heindel – Publicado em Echoes from Mount Ecclesia – agosto/1913 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)

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O Tabernáculo no Deserto – Antigo Templo de Mistérios Atlante – Vista Externa

A figura mostra as partes externas do Tabernáculo no Deserto: Altar dos Sacrifícios, o Lavabo de Bronze, a Sala Oriental e a Sala Ocidental

O Pai nos fala na linguagem simbólica que ao mesmo tempo encobre e revela as verdades espirituais que devemos entender antes de voltarmos a Ele.

O Tabernáculo no Deserto foi dado para que pudéssemos encontrar Deus quando nos qualificássemos pelo serviço e tivessem subjugado a natureza inferior pelo “eu superior”.

Foi a nossa primeira igreja, quando o “caminho de volta para Deus” tinha que ser começado a ser trilhado por nós (fim da Involução e início da Evolução).

Lemos na Bíblia a história de como Noé e o remanescente de seu povo foram salvos com ele do dilúvio e formaram o núcleo da humanidade da Época do Arco-Íris, na qual vivemos agora. Lá, também, afirma que Moisés conduziu seu povo para fora do Egito, a terra do touro, do Signo de Touro, através das águas que tragaram seus inimigos. Levou-o, a salvo, liberto, como o povo escolhido para adorar o Cordeiro, do Signo de Áries, em cujo signo o Sol entrara por Precessão dos Equinócios. Essas duas narrativas se referem a um mesmo incidente, conhecido como o surgimento da humanidade infantil do continente perdido da Atlântida, atual Era dos ciclos alternantes, onde verão e inverno, dia e noite, fluxo e refluxo, se sucedem ininterruptamente. Como a humanidade havia acabado de ser contemplada com a Mente, começou a notar a perda da visão espiritual que possuía até então, e desenvolveu um anseio pelo Mundo espiritual e por seus guias divinos, sentimento que permanece até os dias de hoje, pois a humanidade nunca deixou de lamentar a perda deles. Portanto, o antigo Templo de Mistérios Atlante, o Tabernáculo no Deserto, foi providenciado aos seres humanos para que pudessem encontrar o Senhor, quando se qualificassem pelo serviço e pela subjugação da natureza inferior pelo “Eu Superior”. Projetado por Jeová, era a personificação das grandes verdades cósmicas ocultas por um véu de simbolismo, o qual falava ao “Eu interno” ou “Eu Superior”. Em primeiro lugar, é digno de nota que esse Tabernáculo, divinamente projetado, foi dado a um povo escolhido, que deveria construí-lo a partir de ofertas voluntárias, doadas do fundo dos seus corações. Eis aqui uma lição bem específica, pois o modelo divino do caminho para o progresso nunca é fornecido a alguém que não tenha feito, primeiro, uma aliança com Deus, em que assume o compromisso de servi-Lo, disposto a Lhe ofertar o sangue de seu coração em uma vida de serviço altruísta.

O próximo ponto que exige nossa atenção prévia é a localização do templo em relação aos pontos cardeais, e verificamos que ele foi colocado na direção do leste para o oeste. Assim, vemos que o caminho do progresso espiritual é do leste para o oeste. O Aspirante entrava pela porta leste e seguia o caminho que passava pelo Altar dos Sacrifícios, pelo Altar de Bronze e pelo Lugar Santo, na parte mais ocidental do Tabernáculo, onde estava localizada a Arca, o maior de todos os símbolos, no Santo dos Santos.

A natureza ambulante desse Tabernáculo no Deserto é, portanto, uma excelente representação simbólica da natureza migratória do ser humano, um eterno peregrino, passando sempre dos limites do tempo à eternidade e vice-versa. À medida que um Planeta gira em sua jornada cíclica ao redor do Sol principal, o ser humano, o pequeno mundo ou o microcosmo, viaja numa dança cíclica ao redor de Deus, que é a fonte e a meta de todos.

O grande cuidado e atenção aos detalhes relativos à construção do Tabernáculo no Deserto mostra que algo muito mais elevado do que os nossos sentidos podiam alcançar foi planejado em sua construção. Em sua mostra terrena e material foi projetada uma representação de fatos celestiais e espirituais que continham instruções ao candidato à Iniciação; e essa reflexão não deveria nos estimular a procurar uma ligação mais íntima e familiar com esse antigo santuário? Certamente ele nos exorta a considerar todas as partes do seu plano com a devida, cuidadosa e reverente atenção, recordando a cada passo, a origem divina de tudo isso e, humildemente, almejar penetrar através das sombras dos serviços terrenos, nas sublimes e gloriosas realidades que, de acordo com a sabedoria do espírito, ele descortina para nossa contemplação solene.

Para que possamos ter uma concepção correta desse lugar sagrado, devemos considerar o próprio Tabernáculo, seu mobiliário e seu átrio, que veremos nas próximas figuras.

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Que as rosas floresçam em vossa cruz

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Os Fariseus e os Saduceus

Ao tempo de Cristo, os fariseus constituíam uma seita predominantemente antipatizada pelos demais, dado o seu rigor pela observância exterior da lei e pelo seu desprezo a todos aqueles que não participavam de suas ideias.

Daí a designação fariseu, que quer dizer: separado. Eram formalistas e hipócritas. Acreditavam na sobrevivência dos espíritos, na encarnação dos justos (segundo eles, os maus ficavam a sofrer os tormentos do fogo eterno) e no livre arbítrio limitado pelo destino. Tinham participação no Sinédrio.

Os saduceus eram um grupo pouco numeroso, mais político do que religioso, formado por pessoas importantes que organizavam um senado com autoridade sobre toda a nação (ano 200 A.C); mas tarde transformado no Sinédrio com a participação dos fariseus.

A sua forma religiosa era associada à lei (Torá). Eram severos na aplicação da lei de Talião, eram materialistas e não acreditavam na sobrevivência dos Espíritos, nem nos Anjos e desprezavam os rituais, o que levava os fariseus a detestá-los.

São João Batista apelidou-os de “geração de víboras” (… quem vos recomendou que fugísseis da ira vindoura?…) para referir que eles eram venenosos e astutos como as víboras.

As víboras previam as enchentes do Mar Morto e antecipadamente fugiam para se refugiarem nos galhos das árvores.

Tal fato é comparado com as atuações deles e sua condição, pois tinham muitos pecados e estavam procurando refugiar-se no Batismo de São João, antes que a Lei de Causa e Efeito lhes trouxesse as consequências.

Pelo simples fato de, por tradição, pertencerem ao “povo escolhido”, os judeus julgavam que já estavam automaticamente salvos. São João Batista esclarece que o laço de sangue nada influi; que o Corpo Denso é constituído por elementos químicos e, constantemente, os espíritos que renascem estão formando novos corpos materiais.

Assim acontecia com eles, filhos de Abraão. Ora, o corpo nada tem a ver com a salvação e tão pouco a descendência, porque a responsabilidade do espírito evoluinte é individual; cada um responde pelos seus atos. Daí que lhes dissesse ser necessário darem frutos dignos da reforma íntima, isto é, mostrarem por atos a sua regeneração interna.

Que as rosas floresçam em vossa cruz

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A Virgem Maria e os Evangelhos

Lembremos, como estudamos no Conceito Rosacruz do Cosmos, que a Virgem Maria é um elevado Iniciado e que possui a mais elevada pureza humana e, por isso, foi escolhida para ser a mãe de Jesus. Como o pai, José, também era um elevado Iniciado, capaz de realizar o ato de fecundação como um sacramento, sem nenhum desejo ou paixão pessoal, assim o formoso, puro e amoroso espírito conhecido pelo nome de Jesus de Nazaré veio ao mundo num Corpo puro e sem paixões. Esse Corpo era o melhor, o mais perfeito que se podia produzir na Terra.

A Virgem Maria pode ser ignorada pelos Estudantes do ocultismo, que são buscadores no “caminho da razão”, do Ocultista (do intelecto, da “cabeça”) do desenvolvimento espiritual. Mas Maria, pelo que sabemos, parece exemplificar o caminho do Místico. Na verdade, ela exemplificava inteiramente o trilhar o Caminho Espiritual pelo Coração. Seu caminho era o da obediência luminosa, da devoção elevada, do silêncio eloquente.

A ênfase fortemente patriarcal, nos últimos três milênios, da cultura ocidental está passando por uma revisão. A imaginação popular sempre intuiu um desequilíbrio na Trindade Cristã, exclusivamente masculina, e tentou retificar isso por meio da devoção e elevação da Virgem, principalmente no catolicismo romano e no oriental. Muito antes de estar na moda, Corinne Heline, aluna de Max Heindel, buscou dignificar todo o ser humano, reabilitando o feminino divino, sendo que o próprio Max Heindel sempre enfatizou a importância da natureza do Coração para o desenvolvimento espiritual.

Se todo o desenvolvimento oculto começa pelo Corpo Vital, devemos concluir que o fortalecimento desse veículo seja o nosso objetivo principal; notamos que nas mulheres o Corpo Vital é positivo, o que as torna naturalmente mais prontas para buscas e realizações espirituais; frequentemente, inclusive, tornando-as os melhores exemplos da fé Cristã e da caridade.

O culto à Virgem começou a permear a piedade Cristã em meados do primeiro milênio. A ela era dirigida uma miríade de títulos honoríficos, incluindo a Mãe da Verdade, Mãe e Filha da Humildade, Mãe dos Cristãos, Mãe da Paz, Cidade de Deus. Visto que ela foi aquela por quem o Salvador veio, passou a ser cada vez mais considerada como aquela por meio de quem ascendemos a Ele; isto é, como mediadora — tanto para a Encarnação quanto para a Redenção.

A estima universal que a Virgem Maria recebe tem suas raízes nas Escrituras. Para melhor apreciar seu apelo a muitas pessoas, consideraremos a Imaculada Conceição de Maria, a Anunciação e o Nascimento Virginal, revisando brevemente a compreensão de Maria pelos pais da Igreja, santos e clarividentes.

Durante séculos, o povo judeu esperou o Messias, o Ungido de Deus. Isaías profetizou como ele viria: “Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe dará o nome de Emanuel” (Is7:14). Esta passagem também é citada no Evangelho Segundo São Mateus em 1:23. A Virgem concebeu e deu à luz um filho a quem o Anjo da Anunciação deu estes nomes: ‘o Filho do Altíssimo’, ‘o Filho de Deus’. Ele, filho de Maria, deveria “reinar sobre a casa de Jacó para sempre; e seu reino não terá fim” (Lc 1:33).

Essa era uma boa notícia, não era? Sim, literalmente. Como bem sabemos, a palavra “evangelho” é uma tradução do grego evangelion, que significa boas novas. Embora o Anjo Gabriel certamente tenha falado com Maria em aramaico e não em grego, o Novo Testamento foi escrito em grego. A palavra grega para “Anunciação”, evangelismos, tem a mesma raiz da palavra “evangelho”. E o que é esse evangelho, essas boas novas? O Anjo saúda Maria: “Salve, agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres” (Lc 1:28). A boa notícia é que, por meio de Maria, um Salvador, o Senhor Cristo, será dado ao mundo.

Quando o Anjo diz “o Senhor é contigo”, ele se refere a Jeová, o Espírito Santo, que é representado e que, ao “cobrir” Maria, inicia a concepção. Essa “sombra”, no entanto, não é um evento único. A Filosofia Rosacruz ensina que o Espírito Santo rege o princípio criativo na Natureza, o Éter de Vida, e tem o poder de frutificar o óvulo humano. Como portadora de um Corpo Vital ou matriz etérica, que é um veículo de forças formativas que organizam a matéria atômica e a impregnam de vida, Maria é a mãe de Deus na Terra. Então, potencialmente, todas as mulheres são mães de Deus. A perspectiva esotérica requer que toda verdade tenha uma aplicação pessoal ou individual. Os próprios Evangelhos são fórmulas de Iniciação e, de fato, como toda a Bíblia retrata o relato da gênese humana, da sua separação de Deus e eventual reunião com Ele, todos os personagens e eventos bíblicos descrevem facetas específicas de todo este processo de Involução e Evolução humana, em um indivíduo único.

A Virgem Maria é o modelo de castidade e a Mãe Santíssima. O público leigo e crente não tem qualquer problema com esse oxímoro. Eles aceitam pela fé. O significado da castidade (em contraste com a virgindade) foi totalmente exposto por Max Heindel. É um requisito para a realização nos estágios superiores de Iniciação, porque é pela retenção e transmutação da sagrada força criativa que o Corpo-Alma pode servir como um veículo independente para a alma e o espírito. Filo de Alexandria, teólogo e contemporâneo de Jesus e Paulo, escreveu sobre os Therapeutae, ascetas judeus que viviam em comunidades monásticas no Egito. Eles incluíam mulheres que eram “virgens no que diz respeito à sua pureza… por admiração e amor pela sabedoria… indiferentes aos prazeres do corpo, desejando não uma prole mortal, mas imortal”.

Esotericamente, é assim que Maria é identificada. Ela representa a natureza purificada da nossa alma, por meio da qual o Cristo, nosso Ser imortal, é em nós concebido e nutrido. Como Max Heindel também deixou claro, é possível ser virgem e não ter virgindade, sendo casto como mãe ou pai. Em outras palavras, a verdadeira virgindade ou castidade é uma condição da alma. Ela designa uma pureza de Coração e Mente que não é manchada pelo ato da geração, quando realizada desapaixonadamente como um Sacramento.

Há uma distinção, muitas vezes esquecida, entre dois dogmas marianos que são afirmados pelos católicos romanos ortodoxos. O Nascimento Virginal refere-se a como Jesus foi concebido, enquanto a Imaculada Conceição refere-se ao modo pelo qual Maria foi concebida. Como escreve Max Heindel (no Livro: Iniciação Antiga e Moderna), a “pureza de propósito na preparação e no ato de procriação preserva a virgindade dos pais, pois a verdadeira virgindade é do Coração e da Mente”. O dogma da Imaculada Conceição afirma que Maria não foi maculada pelo Pecado Original que foi legado a toda a humanidade por Adão e Eva, pelo abuso intencional e ignorante da força sexual criadora. Mais uma vez, a ciência esotérica explica que a isenção da mancha do Pecado Original em Maria não foi única, embora seja rara, exigindo que seus pais, Ana e Joaquim, fossem celibatários, castos e realizassem o ato generativo como um Sacramento.

Dar à luz de maneira virginal a Jesus ocorreu, em parte, pela idade de Maria (14 anos), uma época em que seu casto Corpo Vital, que produz as forças vitais, tinha amadurecido totalmente e seu Corpo de Desejos individual acabara de nascer, o qual, embora sem pecado e puro, deveria ter sido contaminado, na substância de desejo planetária através da qual os Corpos de Desejos humanos são especializados, pela intrusão do elemento luciférico, através de Eva. É esse elemento passional a causa perpétua da degeneração e deterioração da Onda de Vida humana, enquanto é por meio do Cristo que se efetua a purificação da substância de desejo planetária, possibilitando a construção de Corpos de Desejos mais puros. Na teologia católica, a Imaculada Conceição de Maria por sua mãe, Ana, isentou-a da “culpa” do Pecado Original.

O nascimento de Maria por concepção imaculada estava bem estabelecido na Mente popular desde a época medieval.

Quanto ao motivo de Maria ser chamada de Bem-aventurada Virgem, a prescrição é dada no relato no Evangelho Segundo São Lucas sobre o Magnificat: “Pois, eis que, desde agora todas as gerações me chamarão de bem-aventurada” (Lc 1:48).

Depois que o Anjo Gabriel apareceu, trazendo suas notícias importantes, e Maria proferiu as palavras “Faça-se em mim segundo a Tua palavra” (Lc 1:26).

Como Eva é, simbolicamente, a “mãe de todos os que vivem no caminho involucionário e descendente”, Maria é a nova mãe de todos os viventes, também simbolicamente, aqueles que estão no caminho evolucionário e ascendente, aqueles nascidos de novo em Cristo. Maria, como a alma casta, concebe e dá à luz o Cristo interior. Se Cristo-Jesus é o segundo ou novo Adão, Maria é a segunda ou nova Eva. Embora o termo expiação seja geralmente aplicado à ação de Cristo que compensa as transgressões humanas, a vida de pureza sacrificial de Maria também pode ser chamada de expiação vicária. Além disso, ela sofreu a crucificação vicariamente com seu Filho, tornando-se o primeiro e principal modelo de vitória Cristã por meio do exemplo do seu Filho e Salvador.

Eva usou o princípio gerador para motivos egocêntricos. O poder criativo de Maria foi usado para fins centrados em e dirigidos por Deus. Eva é necessariamente restaurada em Maria, que foi uma Virgem, tornando-se advogada de uma virgem, para que possa desfazer e destruir a desobediência virginal pela obediência virginal.

Assim como Eva foi desencaminhada pela palavra de um Anjo Lúcifer, fugindo de Deus quando transgrediu Sua palavra, Maria, por meio de uma comunicação angelical, recebeu as boas novas de que seria portadora de Deus, sendo obediente à Sua palavra — perfeitamente obediente: “Eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a Tua palavra” (Lc 1:38). O nó da desobediência, atado por Eva, foi desatado pela obediência de Maria. O que Eva fixou por meio da incredulidade, Maria eliminou por meio da fé.

Lembramos que, como resultado da Queda, Eva e todas as mulheres que vieram depois estavam destinadas a ter filhos com dor. A “maldição”, como essa proclamação às vezes é chamada incorretamente, também é uma menção para o fluxo mensal de sangue de uma mulher, um uso que retém a visão da sabedoria popular. Após a concepção ou fertilização, o fluxo mensal da mulher para e o sangue é usado para dar substância e nutrição ao embrião em crescimento.

A relação da menstruação feminina com a lenda do Graal, especificamente com Amfortas, o rei do Graal, é altamente instrutiva. Amfortas, o guardião do Graal, sofreu uma ferida que não parava de sangrar, resultante do uso da força criadora (representada pela lança sagrada) para fins egoístas. Ele esperava por alguém mais santo do que ele para reconsagrar o Graal e conferir a cura espiritual. O significado esotérico do fluxo menstrual da mulher diz a ela que ainda não concebeu espiritualmente, assim como o rei do Graal, ferido, continuou a sangrar até que pudesse ser redimido por Parsifal, que, subjugando sua natureza de desejos, havia dominado a força sexual criadora. É esse poder de castidade que evoca o Cristo que inspirou os trovadores a chamar Maria de “Graal do Mundo”.

No simbolismo do Graal, o cálice é o símbolo do receptáculo da flor, que contém o ovário que é castamente fertilizado pelo pólen masculino. Esse cálice representa o Éter da Vida transmutado.

Embora o Santo Graal fosse um vaso que contivesse um pouco da divindade de Deus, é também o ventre de Maria e, por extensão, emblemático da maravilha da formação humana.

A alma pura, a Maria formadora de cada Aspirante à vida superior, busca gerar o Cristo interior. Os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, por meio de suas próprias realizações, visualizam o estado recuperado de uma humanidade hermafrodita que pode gerar seus próprios Corpos Densos, transmutando suas energias de vida etérica. Quando a humanidade tiver atingido coletivamente essa habilidade, a “maldição” terá sido suspensa, o fluxo de sangue cessará e as feridas estigmáticas não sangrarão mais, pois o veículo sideral, o Corpo-Alma, anteriormente travado em seis pontos (mais um sétimo), será libertado da cruz do Corpo Denso. Então, o Cristo planetário nascerá na Terra, enquanto a própria humanidade assumirá o poder e a responsabilidade por sua elevação.

O símbolo supremo de Maria é a rosa. Ela figura em muitos de seus títulos honoríficos, incluindo Rosa do Mundo, Rosa Alchemica e Rainha do Santíssimo Jardim das Rosas, no qual o Graal está oculto.

Para Dante Alighieri, um escritor, poeta e político florentino, nascido na atual Itália, Maria era “a Rosa na qual o Verbo de Deus se fez carne”, identificando-a assim com o objetivo do Aspirante ocultista, purificar o sangue, que é “a expressão mais elevada do Corpo Vital” e “a sede da alma”, que deseja que as rosas da percepção espiritual floresçam ou se tornem ativas e utilizáveis pelo Espírito que habita em nós, o Ego.

A palavra grega para rosa, rhodon, como em rhododendron, cuja tradução é árvore de rosa, deriva de rhein, que significa fluir. Nesse contexto, a relação entre a rosa e o sangue fica clara. É possível, na verdade essencial, que alguém se torne virgem para dar à luz a Cristo. Este requisito é simbolizado pelo “Coração nobre” do lema Rosacruz. É o sagrado Coração de Jesus, cujo pericárdio (de peri do grego (“ao redor”) e do kardia (“coração”), implicando uma estrutura que envolva ou encerre o coração) foi perfurado pela lança, permitindo que o sangue purificado de Cristo fluísse para o Coração da Terra, carregando Seu Ego. A rosa branca no Símbolo Rosacruz representa o Coração purificado do Auxiliar Invisível.

A imaginação criadora, a capacidade de moldar a imagem, que pertence especialmente às mulheres, reflete-se no papel criador da mãe na formação do seu filho, mesmo que no momento ela seja usada de forma inconsciente. Maria é o paradigma esotérico da concepção e nascimento do Cristo individual por meio das forças gêmeas da vontade e imaginação. Formamos imagens da vontade de Deus para nós e decidimos que vamos realizar essa vontade.

As sete rosas vermelho-sangue no Símbolo Rosacruz simbolizam a pureza. A rosa e a estrela de cinco pontas simbolizam o caminho da realização espiritual, da mesma forma que os católicos ortodoxos consideram a Virgem Maria como um vestíbulo, por assim dizer, através do qual alguém possa chegar à presença de Cristo. O Estudante de ocultismo está no processo de interiorizar Maria. Ela é a pré-condição para a concepção da consciência de Cristo. Como afirma Max Heindel, “a pureza é a única chave pela qual ele, o Aspirante, pode ter esperança de destrancar a porta de Deus”. Maria possui um Corpo Vital que é positivo, por ser mulher, corpo cujo Éter de Vida, Éter de Luz e Éter Refletor são mais fortes e servem mais prontamente ao Ego em desenvolvimento. Egos evoluídos que assumem um Corpo Denso masculino também tendem a ter um Corpo Vital mais positivo, do que Egos não tão evoluídos.

A abundância dos serviços de Maria a seu filho Jesus e a seu Senhor Jesus Cristo evocam seu papel paradigmático como Virgo (latim para Virgem), a Servidora, aquela que colhe o sustento da vida. Como mãe, Maria deu à luz ao Pão da Vida e, como mater dolorosa, voltou a segurar no colo o corpo deposto do Pão da Vida.

As palavras stabat mater dolorosa, “ali está a mãe das dores”, que inspirou muita música sacra durante a era Cristã, surgiram anonimamente durante os séculos XII e XIII, época caracterizada como a Idade da Virgem porque, de forma muito proeminente, Maria figurou nas artes e na consciência desse período. Se ela experimentou a crucificação vicária, também conheceu a exaltação e tornou-se, por meio da Assunção e da Coroação (aproximadamente em paralelo com a Ressurreição e Ascensão de seu Filho à Mão direita do Seu Pai entronizado), a mater gloriosa.

O ouro da sabedoria é a dor cristalizada e, podemos acrescentar, esse sofrimento ganhou para Maria o ouro da sabedoria lavrado no cadinho do seu Coração.

Maria foi procurada como intercessora ou mediadora de Cristo e do Pai precisamente porque era, nas palavras do Anjo da Anunciação, “cheia de graça”. Ela possuía a graça de Deus em sua plenitude e, portanto, foi autorizada a atuar como sua distribuidora — entre o ser humano e Deus. Afinal, se ela deu Jesus ao mundo, como não poderia dar graças menores, sendo tão favorecida.

O testemunho de apoio para a função de intercessora de Maria é dado nas palavras que São João, o Evangelista, registra como faladas por Cristo Jesus, na cruz, a Maria: “Mulher, eis o teu filho! Eis a tua mãe” (Jo 19:4). Este é o pronunciamento que confia aos cuidados maternos de Maria aquele a quem Jesus tinha como o Discípulo mais amado.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de setembro-outubro/2000 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pergunta: A que o Cristo se referiu quando disse: “Todo aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, nele não entrará”?

Resposta: No mundo que nos rodeia, vemos o “Reino dos Homens”, onde todos estão se esforçando em manter sua própria posição e, dependendo de suas próprias ideias e de sua autoafirmação, manter essa posição contra todos os que se aproximam. Quando se depara com algo novo, sua atitude mental, geralmente, é impregnada de ceticismo. Pois, ele teme ser enganado.

A atitude de uma criança em relação ao que vê ou ouve é exatamente o oposto da posição dos adultos. A criança pequena não tem um sentimento avassalador de seu próprio conhecimento superior, pois é francamente ignorante e, portanto, perfeitamente ensinável, e foi a essa característica que o Salvador se referiu na passagem citada.

Quando entramos na vida superior, primeiro devemos esquecer tudo aquilo que sabíamos no mundo. Devemos começar a ver as coisas de uma maneira totalmente diferente e quando um novo ensinamento nos é apresentado, devemos nos esforçar para recebê-lo, independentemente de outros fatos previamente observados. Isso para que possamos ser perfeitamente imparciais. É evidente que não devemos acreditar imediatamente que “preto é branco”, mas se alguém afirmar categoricamente que um objeto que julgamos preto é realmente branco, nossa Mente deve estar suficientemente aberta para nos impedir de fazer um julgamento de imediato e dizer: “Ora, eu sei que esse objeto é preto”. Devemos estar dispostos a reexaminar o objeto para verificar se não pode haver um ponto de vista do qual aquilo que pensamos ser preto parece ser branco. Somente quando fizermos um exame minucioso e concluirmos que o objeto é realmente preto, sob qualquer ponto de vista, poderemos retornar à nossa opinião anterior.

Não há nada mais notável numa criança do que a atitude flexível de sua Mente, que a torna tão ensinável, e o Aspirante que se esforça por viver a vida superior deve sempre manter como objetivo a sua Mente nesse estado fluídico, pois, quando as nossas ideias se tornam cristalizadas e incapazes de qualquer mudança, o nosso progresso cessa. Essa era a grande verdade que Cristo estava se esforçando para apresentar aos ouvintes quando fez a observação que gerou a pergunta.

(Pergunta nº 105 do Livro “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas” – Vol. I – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pergunta: Qual é o significado esotérico dos dois ladrões e da Cruz?

Resposta: Contrariando a opinião normalmente aceita, os quatro Evangelhos não são, absolutamente, a biografia de Jesus, o Cristo; são Fórmulas de Iniciação de quatro diferentes Escolas de Mistérios e, para ocultar seu significado esotérico, a vida e o ministério de Cristo também foram mesclados. Facilmente, isso poderia ser feito, porque todos os Iniciados, sendo individualidades cósmicas, possuem experiências similares. É correto dizer que Cristo falava à multidão por parábolas, mas o significado oculto era transmitido a Seus Discípulos em particular. São Paulo também dava leite aos fracos e carne aos fortes. Nunca houve a pretensão de transmitir os símbolos ocultos às pessoas comuns, ou de fazer da Bíblia “um livro aberto de Deus”, como muitos atualmente acreditam.

Ao ler na Memória da Natureza descobrimos que, no momento da crucificação, não houve apenas dois, mas vários, que foram crucificados. Naquela época, se aplicava a pena de morte para as mínimas transgressões e muitos foram penalizados com essas mortes bárbaras. Deste modo, aqueles que quisessem encobrir o significado oculto dos Evangelhos, não encontraram dificuldades em encontrar algo com que pudessem completar a história e obscurecer os pontos que são realmente vitais na crucificação. A parte da história que se relaciona aos ladrões é, portanto, um verdadeiro incidente, não tendo nenhum significado esotérico.

(Pergunta nº 99 do Livro “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. I – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)

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Entendendo a Doutrina do Perdão dos Pecados

Popularmente se ensina, na Religião Cristã, que o Cristo morreu por nossos pecados e que se cremos n’Ele seremos perdoados. A incapacidade de crer – ou mesmo de compreender – o perdão dos nossos pecados levou muitos a crer exclusivamente na Lei de Causa e Efeito. Outros acham, ainda, que por causa das Religiões orientais ensinarem a Lei de Consequência e do Renascimento mais abertamente que as Religiões ocidentais, essas Religiões orientais são melhores, mais desenvolvidas e mais completas.

Procuraremos mostrar aqui como a Lei de Causa e Efeito ou a Lei de Consequência, muitas vezes chamada também de Lei de Compensação ou Lei de Retribuição, harmoniza-se perfeitamente com a Doutrina do Perdão dos Pecados, fornecida por Cristo, e como ambas agem de maneira vital na nossa evolução.

Na Bíblia, no Cap. 6, 7-9 da Epístola de Gálatas, é-nos dito: “Não vos enganeis; com Deus não se brinca porque tudo que o homem semear, isso também colherá.“, mostrando que a Lei de Causa e Efeito é uma realidade no nosso cotidiano e estamos sempre colhendo o que nós semeamos, nessa vida e nas vidas passadas.

Entretanto, podemos colher coisas boas se semeamos coisas boas, ou seja, podemos utilizar do nosso poder criador e colocar em ação causas não geradas antes, causas originais, que não tem nada a haver com o nosso passado, pois como também lemos na continuação em Gálatas (6,9-10): “Não nos cansemos de fazer o bem, pois no momento devido haveremos de colher (…). Enquanto dispomos de tempo, façamos bem a todos“.

Agora, sem dúvida existe um porquê das Religiões orientais possuírem apenas uma parte do ensinamento completo que se encontra na Religião Cristã. Todas as Religiões só existem porque existem pessoas que necessitam do grau de ensinamento que tais Religiões propõem. As Religiões orientais são Religiões muito antigas, dadas a todos nós num tempo em que todos nós precisávamos de tal tipo de ensinamento.

Naquele tempo éramos de natureza mais espiritual do que somos hoje. Todos éramos conscientes que renascíamos, de tempo em tempo, aqui na Terra, sempre construindo novos corpos para evoluirmos mais.

Sabíamos que o nosso verdadeiro lar não era aqui na Terra, que aqui éramos peregrinos e considerávamos a nossa existência aqui: como ruim, desinteressante, restritiva e não dávamos muita atenção para tal existência.

Ou seja, ficávamos inseridos nos nossos veículos, mas vivendo uma realidade espiritual.

O nosso Planeta era insípido, mal-acabado, selvagem, não conquistado. Dominado por vulcões, desertos, terras áridas, terremotos, tormentas, tempestades; era impraticável qualquer tentativa de levar uma existência produtiva e construtiva num lugar assim. Passávamos nossa existência aspirando ao momento de voltar para o nosso verdadeiro lar. Enquanto estávamos de dentro, aprendendo a construir os órgãos e os sistemas do nosso Corpo Denso, ainda tínhamos o que fazer durante a estada nos nossos veículos.

Mas, quando tínhamos aprendido a construir todos os órgãos e sistemas dos nossos Corpos Denso e Vital, nada mais tínhamos que fazer.

Então, passamos a ser indolentes, preguiçosos, aspirando a terminar a existência aqui na Terra, para voltarmos para o nosso Lar. Insistíamos em não dar atenção a esse Mundo Físico e, em particular, ao nosso Planeta. Se tal situação continuasse, todo o trabalho de aprendizagem de construção dos dois veículos para funcionar no Mundo Físico tinha sido jogado fora. Pois, teríamos os dois veículos, mas se não os utilizássemos, a fim de os aperfeiçoarmos, rapidamente eles se cristalizariam e a atrofia total os fariam completamente inúteis.

Sabemos que para um Corpo funcionar em um determinado Mundo, necessitamos tomar material disponível desse Mundo. Como não estávamos focando nosso trabalho nesse Mundo Físico, então tínhamos material muito pobre para construir o Corpo Denso e o Corpo Vital. Portanto, nossos dois Corpos eram incompletos, cristalizados, lentos e ineficientes. Duravam muito pouco aqui na Terra. Não tínhamos material disponível. Assim, se não partíssemos para o domínio desse Mundo, todo trabalho, até então, estaria perdido. Tínhamos que dar continuidade ao nosso caminho, então chamado de Involução, mergulhando e conquistando o ponto mais denso que nós podíamos chegar nesse atual Esquema de Evolução: a Região Química do Mundo Físico.

Foi então que, quando estávamos numa Época, conhecida na terminologia Rosacruz, como Época Atlante, fomos divididos em nações e famílias, a fim de: se tornar mais fácil a orientação para a conquista desse Mundo; desmanchar o sentimento de fraternidade universal que tínhamos (lembrem-se: inocentes e inconscientes do Mundo Físico); atender os diferentes graus de evolução que cada um de nós temos; e tornarmos conscientes desse Mundo Físico, desenvolvendo a nossa individualidade.

Entramos no regime de Jeová (especialista na construção de Corpos Denso e Vital): das Religiões de Raça; da orientação dos Arcanjos, como Espíritos de Raça, de Tribo e de Família, agregando-nos em tais grupos; e dos Anjos, quando Jeová destacou para cada um de nós um Anjo da Guarda perdurando, tudo isso, o tempo necessário para que cada um de nós se torne suficientemente forte para nos emanciparmos de toda a influência externa.

Com todo esse esquema armado, partimos para dominar esse Mundo Físico: aprendemos a construir os pulmões. Com isso pudemos trabalhar em partes da Terra que nos dava mais mobilidade, mais poder de ação, e não mais no meio submerso, enevoado e embaçado da Atlântida; herdamos a Terra Prometida, que nos fala na Bíblia. Aliás, tal termo resultou porque logo após a implantação desse novo esquema houve a necessidade de apropriar um Planeta com as mínimas condições para a nossa aprendizagem.

Condensação das águas, inundações, afloramento de terra firme, foram delineando as partes do Planeta que seria povoada por nós. Quando tudo estava pronto, herdamos essa Terra Prometida.

Com a Terra Prometida foi nos dada a orientação encontrada em no Livro do Gênesis 1,28: “frutificai e repovoai a Terra“, ou seja: naquela época foi necessário construirmos Corpos Denso e Vital para que tivéssemos muitos irmãos e muitas irmãs renascidos aqui. Aprendemos a adquirir bens materiais a fim de focarmos mais no Mundo Físico, esquecendo temporariamente a existência de outra coisa que não a vida terrestre. Impuseram o matrimônio dentro da família, a fim de focarmos mais no Mundo Físico e facilitar a congregação nossa em família.

Estimularam o uso de bebidas fermentadas externamente (alcoólicas) e do fumo, a fim de focarmos mais no Mundo Físico, paralisando a nossa sensibilidade espiritual. Foram dadas as Leis com os seguintes argumentos: se obedecêssemos às ordens dadas pelos vários Espíritos de Raça, seríamos recompensados. Por outro lado, se transgredíssemos e desobedecêssemos às suas Leis, deveríamos pagar: passando fome, sendo acometidos por pestes e outras calamidades de ordem material.

Com isso focamo-nos mais no Mundo Físico, afinal sob esse regime não havia nenhuma promessa de paraíso, pois como lemos no Antigo Testamento: “mesmo os céus pertencem ao Senhor, mas a Terra Ele a deu aos filhos dos homens.“. E foi com todo esse estímulo e motivação que nos aplicamos com a maior diligência para tirar o melhor proveito possível de tudo, pensando ser essa vida aqui a única oportunidade de estarmos aqui.

O grande efeito disso aqui está a nossa volta: convertemos o ocidente num verdadeiro jardim, num paraíso para a evolução material no planeta Terra; construímos, nós mesmos, durante nossos renascimentos, uma Terra fertilíssima e rica de toda espécie e minerais que precisamos para nossas indústrias; e, assim, atingimos o nosso objetivo de conquistar a Região Química do Mundo Físico.

O nadir desse mergulho na Região Química do Mundo Físico, conhecido como Nadir da Materialidade, foi atingido por nós ainda no final da Época Atlante. Ou seja, a conquista total dessa Região já foi feita por nós.

Em outras palavras, já no início da presente Época Ária, que é a Época a seguinte a Época Atlante, como conhecida na terminologia Rosacruz, deveríamos estar no caminho de volta em direção a conquista da Região Etérica do Mundo Físico.

Mas, e esse é um “mas” importantíssimo, havia alguns perigos de apego, de esquecimento, de revolta e de perdição que tal esquema poderia propiciar para nós. Além, obviamente, de que, nós sendo criadores potenciais divinos, dificilmente aceitaríamos ser guiados em tudo, por um longo tempo, por seres externos.

E foi aí que nos atrasamos: com a Lei de Jeová, onde a transgressão deveria ser paga, acumulamos muitas dívidas, porque estávamos sempre transgredindo.

Com isso, cada existência aqui no Mundo Físico estava servindo somente para pagar dívidas. Não sobrava tempo para criarmos nada de original. Somos muito teimosos e curiosos.

Somente sob a Lei de Causa e Efeito não poderíamos mais evoluir: apegamo-nos demais na conquista de bens materiais. Assim, aos poucos, o egoísmo e a autossatisfação tornaram-se soberanos e as boas ações, que são a base da vida celestial onde se realiza o progresso espiritual, foram negligenciadas; quanto mais inteligentes nos tornávamos, mais a astúcia e a cobiça estimulavam-nos a acumular um tesouro na Terra, sem o menor pensamento dirigido para o tesouro do céu, tão necessário para o progresso espiritual; com pouco material para construir Corpos Denso e Vital mais sutis, esses foram se cristalizando cada vez mais e se isso continuasse indefinidamente, a evolução teria sido paralisada, a Terra cristalizada; ainda tomamos a rédea da nossa evolução, atendendo os apelos dos Espíritos Lucíferos, entretanto, usando e abusando da força sexual criadora divina, o que aumentou o grau de cristalização dos nossos Corpos. E, assim, mais uma vez, precisamos de ajuda externa para evitar que nós nos perdêssemos nesse Esquema de Evolução.

E veio, então, o Cristo, que teve como premissa principal mudar a máxima “olho por olho, dente por dente” para “amai os vossos inimigos“.

Ele trouxe a Doutrina do Perdão dos Pecados, que resolveu o nosso problema de transgredir a Lei e acumular dívidas a serem pagas sob a Lei de Causa e Efeito.

Vamos ver como ela permite que façamos isso: obviamente deve haver uma base sólida nessa Doutrina. Vamos a ela: quando observamos em torno de nós notamos os diferentes aspectos da natureza, encontramos com outras pessoas com as quais convivemos e mantemos várias transações e todas as visões, sons e cenas observamos por meio de nossos órgãos dos sentidos. Mas muitos detalhes nos escapam, pois, nossa atenção é, muitas vezes, dividida. Perdemos grande parte das experiências por falta da nossa aplicação.

Além disso, essa nossa Memória Consciente que utilizamos para essas observações, lamentavelmente falha. Mas temos outro tipo de Memória, a Subconsciente. Vejamos como ela funciona: o Éter, contido no ar que respiramos, leva, consigo, até os pulmões e daí até o sangue uma pintura fiel e detalhada de tudo que está em nossa volta: cenas, sentimentos, desejos, palavras e atos. O sangue, saturado por essas imagens etéricas gravadas, chega até o nosso coração. No ventrículo esquerdo do coração, num local chamado ápice se encontra o Átomo-semente do nosso Corpo Denso. Todas as imagens trazidas pelo sangue são gravadas nesse Átomo-semente. Desse Átomo-semente, tais imagens são refletidas no Éter Refletor do nosso Corpo Vital, onde está a Memória Subconsciente. Ou seja: essa Memória possui a recordação de todas as imagens que nós vivemos compostas dos atos, sentimentos, desejos e pensamentos. É esse arquivo de imagens que compõe o Panorama da Vida que revivemos quando morremos e que é a base de toda nossa aprendizagem nos Mundos Espirituais após a morte.

Todos os atos, pensamentos, sentimentos e desejos bons e maus que fizemos para os outros, lá estão gravados. Pelos considerados maus, sofremos no Purgatório e muito teremos que expiar numa nova vida devido essas más ações, tais como restrições, doenças, dificuldades e atraso evolutivo. Os atos bons, por outro lado, são assimilados no Primeiro Céu e formam a base das nossas qualidades, caráter, alegria, oportunidades e avanço evolutivo, para a próxima vida.

E é exatamente na eliminação das imagens que compõe o que passaremos no Purgatório, que atua a Doutrina do Perdão dos Pecados. Se cada um nós, examinarmos todos os dias, as imagens que vivemos e, a cada uma que fizemos mal aos outros com um caráter: piedoso, devoto, com uma disposição de arrependimento e de reforma íntima, tentando ou com novas ações, ou com orações, ou com nova disposição, ressarcir o prejuízo evolutivo causado por nós aos outros, conseguiremos apagar as imagens dos nossos erros que estão registrados no Átomo-semente do Corpo Denso, sejam tais erros por comissão ou por omissão. Está aqui a imensa importância do Exercício de Retrospecção!

Ou seja, após a morte, tais imagens não estarão mais lá para fazerem parte do Panorama da Vida e, consequentemente, não estarão no Purgatório e, nem como novas causas de restrições, doenças, dificuldades e atraso evolutivo a serem expiadas numa nova vida. Afinal: lição aprendida, ensino suspenso.

Com isso concluímos que somente a doutrina da Lei de Causa e Efeito não satisfaz as necessidades do verdadeiro Aspirante a Vida Espiritual. Mas a Doutrina Cristã, composta da Lei de Consequência e a do Perdão dos Pecados, fornece um ensino mais completo do método empregado pelos grandes Líderes que ajudam a humanidade para nos levarmos para frente e para cima no Caminho da Evolução.

Afinal, com a Doutrina do Perdão dos Pecados cada um de nós temos a força necessária para lutar, apesar dos repetidos fracassos e para conseguir a subjugação da nossa natureza inferior que insiste em conquistar a, já muito bem conquistada, Região Química do Mundo Físico.

Que as Rosas Floresçam em Vossa Cruz

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Em Busca da Paz

Cristo-Jesus disse: “Eu não venho trazer a paz, mas uma espada”. Muitas pessoas foram incapazes de conciliar essa declaração com os ensinamentos de Cristo sobre o amor e a paz. No entanto, há, sim, uma explicação dessa afirmação que nos permite conhecer seu verdadeiro significado e, também, saber o que será necessário antes que a paz possa reinar na Terra. No Evangelho Segundo São João, 10:16, lemos que Cristo-Jesus também disse: “Haverá um rebanho e um pastor”. Isso indica que TODAS as pessoas eventualmente devam chegar a um estado de unidade sob Sua liderança.

A história tem sido amplamente um registro de conflitos e guerras entre raças e nações. Diferenças de ideais, religiões, características físicas, idiomas e formas de governo fomentaram a separatividade e desse fato, associado ao egoísmo inato do ser humano imperfeito, resultou a competição contínua e a turbulência ao longo dos séculos.

A primeira raça foi estabelecida no final da Época Lemúrica, quando “havia uma pequena parte da humanidade nascente que estava suficientemente avançada para que a mente germinativa lhe pudesse ser dada e o Espírito pudesse começar lentamente a atrair seus veículos”. O início das nações separadas foi promovido durante a terceira parte da segunda metade na Época Atlante. Grupos de pessoas que tinham hábitos e gostos semelhantes se uniram e fundaram novas colônias. As raças foram colocadas sob os cuidados dos Espíritos de Raça (os Arcanjos), que deram para os líderes delas leis escritas, recompensas instantâneas e punições. Os Arcanjos guiaram as raças para diferentes climas e diferentes partes da Terra. Os Espíritos de Raça promovem o patriotismo e instigam guerras, quando tais medidas drásticas são necessárias, intensificando assim a separatividade que existe entre os diferentes povos.

Obviamente, enquanto a humanidade permanecer dividida em raças e nações, povos e países, falantes de um idioma comum ou filiações nacionais, grupos étnicos ou tipos essenciais de indivíduos com base em traços observáveis (ou quaisquer outras terminologias mais “politicamente correta” do momento), cada uma promovendo agressivamente seus próprios objetivos e propósitos, a “paz na Terra” e a “boa vontade entre os homens” não serão possíveis. Somente quando todas as nações e raças, povos e países acima se unirem em Fraternidade Universal é que a paz será possível.

O ser da onda de vida humana (seja homem ou mulher), cujo destino é crescer, progredir e desenvolver seus potenciais internos respondendo às influências espirituais direcionadas a ele, deve se tornar autossuficiente, emancipado de todas as influências externas, incluindo as dos Espíritos de Raça.

A vinda do Raio de Cristo como Espírito Planetário interno da nossa Terra iniciou a emancipação dos seres humanos não apenas dos poderes envolventes dos Espíritos da Raça, mas também de seus próprios desejos contaminados por Lúcifer. As vibrações do Poder de Amor do Cristo, irradiando de dentro da Terra, purificaram a matéria de desejo do Mundo do Desejo do nosso Planeta e tornaram possível a todos nós garantir substâncias de desejos, emoções e sentimentos mais puras para ser utilizada pelo nosso Corpo de Desejos. Seu Poder de Amor funciona, particularmente, através do nosso Corpo Vital, e “quando nos libertamos das labutas do Corpo de Desejos e vivemos de acordo com as vibrações do Corpo Vital, ficamos imbuídos do Espírito de Cristo. Então e somente então, com certeza, abandonamos o princípio nacional e patriota e nos tornamos capazes de ser irmãos uns dos outros”.

Aqui reside a chave para estabelecer paz e harmonia em nossa Terra. À medida que o poder do divino Amor de Deus, manifestado a nós por meio de Cristo, cresça e se expresse de dentro de cada um de nós, somos capazes de nos libertarmos da nossa escravidão à consciência nacional. O patriotismo não é mais o estreito “meu país, certo ou errado”, mas agora abraçaremos o bem-estar de todas as outras pessoas no mundo. Perdemos o desejo competitivo e começamos a considerar o interesse dos outros tanto quanto o nosso.

Sabemos que as Leis imutáveis do Amor divino e da Justiça operam em nosso universo, trazendo a cada pessoa o que lhe é devido ou o seu imposto. Todo indivíduo criou o que chegou até ele e somente ele pode mudar suas condições ou resgatar. Isso se aplica também às nações. A menos que reconheçamos plenamente esses fatos e ajamos de acordo, não poderemos trazer paz ao mundo.

A nossa paz é verdadeiramente uma herança divina. Somos essencialmente Espírito diferenciado em Deus para revelar os poderes divinos latentes em nós. Somos Deuses em formação e só podemos reivindicar nossa herança divina aprendendo a viver de acordo com a Lei do Amor. Essa Lei move toda a vida manifestada para uma perfeição cada vez maior. A vida “É”; ela não pode morrer. Somente a forma perece ou muda. Chegamos repetidamente à vida na Terra para redimir nossa injustiça passada e transformar a Centelha divina em uma Chama ainda mais gloriosa.

Sempre conosco estão as Forças da Luz e do Amor. “Todo aquele que quiser” pode abrir seu coração ao influxo divino e enviá-lo novamente à humanidade. Os sábios olharão para a vida de Cristo-Jesus e terão coragem. A Vida DELE era perfeitamente positiva. ELE viveu de maneira construtiva. ELE amou. ELE curou. ELE ensinou.

ELE forneceu o poder e apontou o caminho para a unificação de todos os seres da onda de vida humana em paz e amor. SEU caminho é o único caminho para a paz permanente.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de agosto de 1985 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pergunta: Como conciliar o fato de permanecermos um terço da vida recém-finda no Purgatório com as palavras de Cristo ao ladrão agonizante: “Hoje estarás comigo no paraíso?”

Pergunta: Nos Ensinamentos Rosacruzes, você afirma que permanecemos no Purgatório por um tempo equivalente a um terço da duração da vida terrena, para que nossos pecados possam ser expiados antes de entrarmos para o céu. Como, então, reconciliar esse Ensinamento com as palavras de Cristo ao ladrão agonizante: “Hoje estarás comigo no paraíso[1]?

Resposta: O Novo Testamento foi escrito em grego, uma língua que não se usavam ​​sinais de pontuação. A pontuação foi inserida em nossa Bíblia pelos tradutores posteriores a ela e, muitas vezes, a pontuação muda radicalmente o significado de uma frase, como a seguinte história ilustrará:

Num serviço religioso, alguém entregou um pedido para que o pastor lesse: “Um marinheiro indo para o mar, sua sogra deseja as orações da congregação pelo seu retorno seguro para esposa e filho”. O pedido não estava com pontuação, mas tudo indicava que a sogra do jovem estava muito solícita para que ele voltasse em segurança para sua esposa e filho e, por isso, desejava as orações da congregação. Se o pastor tivesse lido o pedido sem a vírgula, implicaria no fato de que o marinheiro, indo ver sua sogra, desejava as orações da congregação por seu retorno seguro para esposa e filho, e alguém naturalmente pensaria que a senhora, em questão, fosse uma pessoa intratável, uma vez que o jovem achou necessário pedir as orações da congregação antes de enfrentá-la. Nesse caso, se as palavras de Cristo forem lidas assim: “Em verdade vos digo hoje, estarás comigo no Paraíso”, elas implicariam que o ladrão estaria com o Cristo em algum momento futuro não definido. Mas onde a vírgula foi colocada antes da palavra “hoje”, como está na Bíblia, dá a ideia normalmente sustentada pelas pessoas.

O fato de que essa ideia está totalmente equivocada pode ser comprovado pela observação do Cristo logo após Sua Ressurreição, quando Ele disse à mulher: “Não me toque, porque ainda não subi para meu Pai[2]. Se Ele prometera ao ladrão que estariam juntos no Paraíso no dia da crucificação, e três dias depois declarou que ainda não havia ido para lá, o Cristo teria incorrido numa contradição que, naturalmente, é uma impossibilidade. Ao colocar a vírgula, conforme sugerido, reconcilia totalmente o significado das duas passagens e, além disso, São Pedro nos diz que naquele intervalo Ele trabalhou com os espíritos no Purgatório[3].

(Pergunta nº 98 do Livro “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. I – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)


[1] N.T.: Lc 23:43

[2] N.T.: Jo 20:17

[3] N.T.: 1Pe 3,18-19; 4,6

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pergunta: Algo está faltando na sua Bíblia?

A maioria das edições da Bíblia utilizada pelos nossos irmãos e irmãs protestantes tem a versão do Rei James. E mesmo outras versões diferem da Bíblia utilizada pelos nossos irmãos e irmãs católicos e de outras Religiões Cristãs. Muitas pessoas acreditam que a Bíblia utilizada pelos nossos irmãos e irmãs protestantes seja realmente completa. A menos, isto é, que tenham visto a Douay-Rheims (tradução da Bíblia, a partir da Vulgata, em inglês pelos membros do English College Douai, a serviço da igreja católica) ou outra versão católica, que não tem 66, mas 80 livros (isso porque há diferenças entre a Bíblia católica e a Bíblia protestante: católica tem 73 livros e a protestante 66 livros; a Bíblia protestante não tem os seguintes Livros: Tobias, Judite, Sabedoria, Baruc, Eclesiástico, I e II Macabeus, Trechos de Ester – 10, 4-16 – e Trechos de Daniel – 3, 24;20, 13-14).

Entre o Antigo e o Novo Testamento há 14 livros adicionais, classificados pelos nossos irmãos e irmãs protestantes como “apócrifos” (do grego apokryphos, escondido).

Surgem as perguntas: por que eles não estão nas Bíblias protestantes? Como ou por que motivo eles foram removidos? Eles pertencem ao cânone dos livros bíblicos? Um resumo dos fatos essenciais ajudará o leitor a tirar suas próprias conclusões.

No século III a.C., havia no Egito cerca de 70 ou 72 eruditos judeus que, a pedido de Ptolomeu II, prepararam o que veio a ser conhecido como a versão Septuaginta (da palavra 70) do Antigo Testamento. Ela incluía os apócrifos. Esse foi o Antigo Testamento usado por Nosso Senhor e os Apóstolos e sem reservas endossado pelos “pais da igreja primitiva”. Nossas Escrituras não incluem os… livros apócrifos… No entanto, o menino Jesus, provavelmente, estava familiarizado com eles e Ele se lembrou deles quando era adulto, porque são citados em Seus discursos registrados no Novo Testamento. A Igreja antenicena (antes do Concílio de Niceia, em 325 d.C.) os aceitou.

Em 382 d.C., um erudito conhecido como Jerônimo foi comissionado pelo Papa Dâmaso para revisar a versão latina da Bíblia, que conhecemos como a Vulgata. Os livros apócrifos faziam parte dela. Por mais de um milênio foi indiscutivelmente a Bíblia da Igreja. Quando Wyclif e Purvey prepararam a primeira tradução da Bíblia para o inglês, 1382-1388, os escritos apócrifos foram mantidos. Isso também é verdade para a primeira tradução alemã do texto em latim, feita mais ou menos na mesma época.

A primeira Bíblia publicada com os apócrifos separados foi a de 1520, em Wittenberg, Alemanha, por um certo Andreas Bodenstein, mais conhecido pelo nome de sua cidade natal, Karlstadt, e seguidor de Martinho Lutero. Ele acrescentou uma nota informando que esses livros eram “dignos da proibição do censor” — inferiores. Era uma Bíblia escrita em latim.

A primeira Bíblia em vernáculo — o holandês — que segregou os livros apócrifos, colocando-os todos após o Antigo Testamento, apareceu em 1526, em Antuérpia. Também incluía uma nota chamando a atenção para a opinião de que fossem inferiores aos demais livros. Em 1530, uma versão suíça semelhante apareceu; ambas foram emitidas por autores que não eram católicos.

Em 1534, foi publicada uma tradução completa da Bíblia, em alemão, por Lutero. Mais uma vez, esses 14 livros estavam juntos, logo após Malaquias, com um prefácio: “apócrifos — isto é, livros que não são considerados iguais às Sagradas Escrituras, mas são proveitosos e bons de ler”. Ele não explicou quem determinou que esses escritos “não são considerados iguais”, nem o porquê.

No ano seguinte, a primeira Bíblia em francês foi impressa por Pierre Robert Olivetán, perto de Neuchâtel, Suíça. Os apócrifos foram incluídos nessa edição, como também nas publicações francesas que vieram depois. Grande reformador protestante, o francês João Calvino (Jehan Cauvin), citou os apócrifos — embora apenas 10 vezes, enquanto se referiu aos outros 4.000 vezes —, mas nunca para apoiar posições doutrinárias.

Também, em 1535, apareceu a primeira Bíblia em inglês, impressa por Myles Coverdale. Os 14 livros apócrifos foram todos abrigados entre o Antigo e o Novo Testamento. Assim também ocorreu com todas as seguintes Bíblias protestantes em inglês: a Bíblia de Mateus de 1537; a Bíblia de Taverner e a Grande Bíblia de 1539; e a Bíblia de Genebra (produzida pelos puritanos) de 1560.

Enquanto isso, para conter a revolta protestante, a Igreja Católica Romana convocou o Concílio de Trento (1545 — 1563). Lá, os escritos apócrifos receberam o endosso mais forte possível. Naturalmente, isso não passaria despercebido aos protestantes, embora a reação deles viesse com uma lentidão surpreendente. Assim, o Livro de Oração Anglicano Protestante de 1549 ainda aceitava os apócrifos. Treze anos depois, o governo inglês publicou um documento muito interessante, os Trinta e Nove Artigos de Religião, definindo a ortodoxia oficial. Essa foi a época da Rainha Elizabeth I, cujo objetivo transcendente era acabar com a controvérsia religiosa como parte da sua Via Media (Caminho do Meio). Consequentemente, o Artigo VI pode ser interpretado como anti-apócrifo e o Artigo XXXV como pró-apócrifo.

Em 1581, a primeira Bíblia eslava (russa) foi publicada. Aqui, os livros apócrifos foram distribuídos por todo o Antigo Testamento. Mas a Igreja Ortodoxa Russa mudou gradualmente sua posição até que, em 1839, seu “Catecismo Mais Longo” excluiu, por completo, os apócrifos do Antigo Testamento. Voltando nossa atenção mais uma vez para o Ocidente, descobrimos que, em 1599, novas edições da Bíblia de Genebra começaram a omitir os 14 livros. Essa foi uma época de maré alta para os puritanos; eles se propuseram a “purificar” a Igreja da Inglaterra de todas as coisas que eles chamavam de “Romanas”. Isso incluía os livros tão singularmente apoiados pelo Concílio de Trento, 53 anos antes. Como disse o famoso estudioso Sir Frederick Kenyon, “os puritanos perseguiram os apócrifos”.

Mas, 1611 foi um ano de maré baixa para os puritanos, quando a versão do Rei Jaime apareceu. O Rei Jaime, que patrocinou a tradução (por isso que o prefácio ou a introdução, ainda vista em algumas edições da Versão do Rei Jaime, é tão ressaltada), foi também quem fez muitos puritanos fugirem para os Estados Unidos da América. Essa versão incluía os apócrifos. Não apenas isso, mas em 1615 George Abbot, arcebispo de Canterbury e, portanto, o “líder ativo” da Igreja da Inglaterra, sob o rei, ameaçou com um ano de prisão qualquer um que imprimisse uma Bíblia sem os apócrifos! Mas os “omissores” dos apócrifos tinham uma grande vantagem. As Bíblias sem os apócrifos tinham uma regalia competitiva — podiam ser colocadas à venda por um preço mais baixo. E devido às condições instáveis na Inglaterra, sob o governo de Carlos I (1625 — 1649) e o retorno da ascendência puritana sob a Comunidade de Cromwell (1649 — 1659), o decreto de Abbot não foi executado. Bíblias sem os apócrifos circularam em grande número. Exceto entre um grupo, os místicos. No espírito de amor Cristão, eles simpatizaram com as aspirações dos puritanos, embora tivessem sido perseguidos por eles, mas consideraram os 14 livros controversos como estando no mesmo nível dos outros.

Certamente, uma das principais publicações bíblicas e auxiliares por muitos anos tem sido a Concordância de Cruden. Sua primeira edição americana (1806) continha uma seção especial para os apócrifos; edições posteriores começaram a omiti-los. Uma razão pode ter sido que, em 1827, as sociedades bíblicas britânicas e americanas, que vinham incluindo os apócrifos em suas Bíblias, pararam de fazê-lo. Ainda assim, em 1894, quando a “Versão Revisada em Inglês da Bíblia” foi lançada, os 14 livros foram incluídos em algumas edições, embora em letras menores.

Um evento pouco conhecido, mas significativo, ocorreu em 1901, quando Eduardo VII da Inglaterra foi coroado. Por fim, pouco antes de o monarca beijar a Bíblia, antes de assinar o juramento de coroação, descobriu-se que ela, devidamente fornecida pela Sociedade Bíblica Britânica, não contava com os apócrifos. Outra, com os apócrifos, foi adquirida rapidamente, porque a lei do Reino Unido ainda exigia que uma Bíblia de 80 livros fosse usada nas instalações reais.

Não se pode negar que, ao longo dos anos, os livros apócrifos exerceram considerável influência cultural. O famoso poeta inglês do século 7, Caedmon, usou trechos deles. Isso fez Chaucer, sete séculos depois, em seus célebres Contos de Canterbury e outros escritos.

Colombo foi influenciado pelos apócrifos para zarpar em 1492! É um fato bem conhecido que ele foi influenciado pelo Imago Mundi (a forma do mundo) de Pierre d’Ailly para acreditar não apenas que a Terra era redonda, mas também que apenas um sétimo da superfície da Terra é coberto por água; portanto, as terras fabulosas a oeste não podiam estar muito longe. Essa noção foi baseada em uma interpretação errônea de II Esdras 6: 42, 47, 50, 52 de d’Ailly.

Shakespeare faz mais de 80 referências aos apócrifos (veja em Shakespeare and Holy Scripture, Thomas Carter; Shakespeare’s Biblical Knowledge and Use of the Book of

Common Prayer, Richard Noble), embora possa ser mera coincidência que duas de suas filhas tenham recebido o nome de heroínas apócrifas, Susanna e Judite. John Milton também ficou em dívida com esses livros. Por exemplo, seu Paraíso Perdido traz referências à Sabedoria de Salomão, mesmo que o transcendentalista americano Nathaniel Hawthorne possa ser ligado a II Macabeus.

Todos os anos, no Natal, milhões cantam “Noite Silenciosa, Noite Sagrada” e “Ó, Noite Santa”. Ainda assim, em Lucas 2:11, lemos que Jesus nasceu “hoje”. De onde vem a crença popular em um presépio noturno? Pode ser rastreada até a interpretação de Sabedoria 18:14-16, por parte dos pais da igreja primitiva. Os conhecedores de arte sabem que Judite, Tobit, Susanna e Holofernes inspiraram obras-primas. Suas histórias estão todas nos livros controversos da Bíblia.

Mesmo dessa visão geral bastante abreviada, alguns fatos indiscutíveis emergem: por mais de três quartos da era Cristã, os apócrifos foram universalmente aceitos e exerceram uma poderosa influência cultural. Também tem isto: a enorme lacuna de 400 anos entre o Antigo e o Novo Testamento. Se alguém lesse uma história dos EUA que omitisse eventos entre a Guerra Civil e a Segunda Guerra Mundial — menos de um quinto do intervalo de tempo entre Malaquias e Mateus —, perceberia imediatamente que algo estivesse faltando. Isso é verdadeiro, se alguém lê uma Bíblia sem os apócrifos.

“À medida que a videira produziu, eu – Sabedoria – ganhei sabor agradável e minhas flores são frutos de honra e riqueza. Eu sou a mãe do amor justo, do temor a Deus, do conhecimento e da esperança sagrada: Eu, portanto, sendo eterna, dou-me a todos os meus filhos, que têm o nome Dele. Venham a Mim, todos vocês que desejam se alimentar de Mim, e encham-se dos meus frutos. Porque o meu memorial é mais doce do que o mel e a minha herança, mais do que o favo de mel. Aqueles que Me comem ainda terão fome. Quem Me obedece nunca será confundido e os que trabalham por Mim não errarão.” (Eco 24:23-30)

“Pois enquanto todas as coisas estavam em quieto silêncio e aquela noite estava no meio do seu curso rápido, a Tua palavra Todo-poderosa saltou do Céu, do Teu trono real, como um feroz homem de guerra no meio de uma terra de destruição, e trouxe o Teu mandamento honesto como uma espada afiada.” (Sb 18:14-16)

“Temer ao Senhor é o princípio da sabedoria: ela foi criada junto dos fiéis, no ventre. Ela construiu um alicerce eterno com os homens.” (Eco 1:16)

Sabedoria é o sopro do poder de Deus e uma pura fonte que nasce da Glória do Todo-poderoso… o brilho da luz eterna, o espelho imaculado do poder de Deus e a imagem de Sua Bondade.” (Sb 7:2-26)

À margem da versão de 1611 do Rei James, não há menos do que 113 referências a passagens relacionadas nos apócrifos; 102 no Antigo Testamento e 11, no Novo (alguns exemplos: Mt 6:7; Eco 7:14; Mt 23:37; IIEsd 1:30; Mt 27:43; Sb 2:15-16; Lc 6:31; Tob 4:15; Lc 14:13; Tob 4:7; Jo 10:22; IMb 4:59; Rm 9:21; Sb 15:7; Rm 11:34; Sb 9:13; IICor 9:7; Eco 35:9; Hb 1:3; Sb 7:26; Hb 11:35; IIMb 7:7). Para detalhar aqui apenas duas dessa lista: Jo 10:22 fala sobre a Festa da Dedicação; IMb 4:59 relata sua origem pós-Antigo Testamento. E não pode haver dúvida de que o apóstolo Paulo emprestou muito dos apócrifos para sua epístola aos romanos (Rm 1:20-21; Sb 13:5-8; Rm 1:22; Sb 13:1, 12:24; Rm 1:26; Sb 14:24; Rm 1:29; Sb 14:25-27; Rm 9:20; Sb 12:12; Rm 9:21; Rm 9:22; Sb 12:20).

Não há melhor maneira de considerar a relação dos apócrifos com o resto da Bíblia do que os ler. Assim, alguém se perguntará em que base os 14 livros foram afastados dos outros 66. É frequentemente dito que eles não tenham qualidade devocional como os outros 66. Claro que essa é uma forma muito subjetiva de fazer julgamentos. Mas não há muitas partes dos 66 livros que podem ser consideradas deficientes da mesma maneira? As genealogias no Antigo Testamento, por exemplo, ou as histórias de muitas guerras sangrentas? Também é um fato que John Bunyan, famoso autor de Pilgrim’s Progress (O Progresso do Peregrino), em um momento de desânimo espiritual, encontrou um bálsamo para sua alma depois de pesquisar na Bíblia por “mais de um ano”, em Eclesiástico 2:10. Também pode ser observado que um grupo devoto de Cristãos Protestantes dirigiu seu clero, em casamentos, a ler não só o Antigo e o Novo Testamento, mas também o livro apócrifo de Tobias, pois ele “apresenta uma bela lição que fortalece os piedosos e tementes a Deus na Terra, especialmente no que diz respeito ao casamento”.

É certo que os apócrifos possam ser considerados “diferentes”. No entanto, essa é realmente uma afirmação vaga. Os outros 66 livros também são bastante diferentes uns dos outros. No Antigo Testamento, temos os livros históricos, a literatura sapiencial, os profetas maiores e os menores. Algumas partes de apenas um livro dos 66 são muito diferentes, razão pela qual, por exemplo, os capítulos que vão do quarenta ao cinquenta e cinco, no Livro de Isaías, são conhecidos como o Deutero-Isaías… Não da autoria de Isaías, mas obra de outro. No Novo Testamento, existem os Evangelhos, Atos, Epístolas e Apocalipse. Rute e Apocalipse são muito diferentes; também Crônicas e Coríntios, Provérbios ou Filipenses. Qualquer pessoa inclinada a denegrir os apócrifos precisa ser lembrada de que partes do Antigo Testamento, se fossem transformadas em filmes, receberiam uma classificação X, na melhor das hipóteses; porém não são questionadas. Isso é consistente?

Talvez a chave mestra para o que pertence à Bíblia é encontrada no fato de que reais eventos físicos são usados para esconder profundas verdades espirituais. Pode haver outra base viável para permitir certas partes do Antigo Testamento no cânone bíblico? Existe outra maneira pela qual as muitas contradições aparentes da Bíblia, com base em uma interpretação literal, podem ser harmonizadas?

Por causa da sua função como elo entre o Antigo e o Novo Testamento, os estudantes da Bíblia sofrem uma perda por negligenciar os apócrifos — mas, uma ainda maior por ignorar a chave para compreender todos os três: a abordagem esotérica que é apresentada pelo Cristianismo Místico. A literatura da Sabedoria Ocidental tem inúmeras referências aos apócrifos.

A palavra “apócrifo” também pode significar que os escritores dos livros quisessem que seu significado fosse enigmático ou aparente apenas para os Iniciados. Houve muitos escritos desse tipo no período imediatamente anterior e posterior ao início da era Cristã.

Aqueles familiarizados com as Escrituras extracanônicas, além dos apócrifos, estarão interessados em saber que ‘as Pseudoepígrafes’ ou Escrituras ‘falsamente inscritas’ não são fraudulentas; a falsa inscrição é apenas um artifício… pelo qual um escritor posterior poderia expressar suas ideias sob o abrigo de um nome do escritor anterior e aceito.

(publicado na Revista Rays from the Rose Cross de setembro-outubro de 1995 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

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