Pergunta: Admite-se, geralmente, que cada Alma individual teve um princípio, mas está de tal forma constituída que seja imperecível. Essa ideia foi questionada por alguém que acredita que a morte seja o fim de tudo. Gostaria de encontrar algum argumento ou passagem da Bíblia que possa convencê-lo do seu erro. Poderiam me ajudar?
Resposta: Embora haja várias maneiras possíveis de demonstrar que a morte não seja o fim de tudo, receamos que não existam argumentos que possam convencer alguém que não queira ser convencido. Recordam-se da parábola de Cristo a respeito do homem rico e de Lázaro? Quando o homem rico pediu que Lázaro retornasse dentre os mortos a fim de avisar os seus irmãos, Cristo disse: “Se eles não acreditam em Moisés e nos profetas, não acreditarão também que alguém ressuscite dentre os mortos.” (Lc 16:31). Esse é o problema. Ouvimos alguns “cientistas” dizerem que, mesmo que vissem um fantasma, não se convenceriam da existência de uma vida após a morte, pois tendo eles, baseados na razão e na lógica estabelecidas por eles próprios, chegado à conclusão de que não existam fantasmas, considerariam estar sendo vítimas de uma alucinação qualquer, se realmente chegassem a ver tal aparição.
Tampouco é possível indicar declarações tiradas da Bíblia. A palavra “imortal” não é encontrada no Antigo Testamento. Aqui lemos: “Morrendo, morrerás”; e uma longa vida era concedida como recompensa pela obediência. Essa palavra também não é encontrada nos quatro Evangelhos, mas nas Epístolas de São Paulo ela é citada seis vezes. Em uma passagem, ele fala que o Cristo trouxe à luz a questão da imortalidade através do Evangelho. Em outra, ele nos diz que: “Este corpo mortal deve ser revestido de imortalidade”. Na terceira passagem, ele torna claro que essa imortalidade seja conferida àqueles que a procuram. No quarto trecho, ele fala da nossa condição: “E quando este corpo mortal revestir-se de imortalidade”. No quinto, declara: “Somente Deus possui a imortalidade”. A sexta passagem é uma adoração ao Rei Eterno, Imortal e Invisível. Assim, a Bíblia não ensina que a Alma seja imortal; contudo, e por outro lado, ela diz enfaticamente: “A Alma que pecar deve morrer”.
Se a Alma fosse inerente e intrinsecamente imperecível, isto seria uma impossibilidade. Nem podemos provar a imortalidade baseados em passagens da Bíblia, como a de Jo 3:16, “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito para que todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Se nos basearmos nessas palavras para provar que a Alma seja imortal, dotada de vida eterna, teremos que aceitar, também, as passagens que citam que as Almas estejam fadadas a um suplício eterno, como é afirmado por algumas das seitas ortodoxas. No entanto, na realidade, essas passagens não provam a existência de uma felicidade ou suplício eterno. Se recorrermos ao dicionário grego de Liddel e Scott e procurarmos o termo, veremos que foi traduzido por “eterno” na Bíblia a palavra grega “aionian”, que significa “algum tempo”, “uma era”, “um curto período”, “uma vida”. Vemos isso imediatamente na Carta de São Paulo a Filemon, quando lhe devolve o escravo Onésimus: “Talvez tenha sido bom que o perdesses por algum tempo, para que retornasse a ti para sempre”. Essas palavras, “para sempre”, só poderiam significar os breves anos que duraria a vida de Onésimus na Terra e não uma duração infinita.
Então, qual é a solução? A imortalidade é apenas uma utopia criada pela imaginação e incapaz de ser provada? De nenhuma forma. Entretanto, devemos diferenciar nitidamente entre a Alma e Espírito. Essas duas palavras são consideradas, na maioria das vezes, sinônimos; entretanto, não são. Temos na Bíblia a palavra hebraica ruach e a palavra grega pneuma, ambas significando Espírito, enquanto a palavra hebraica neshammah e a palavra grega psike significam Alma. Além disso, temos a palavra hebraica nephesh, que significa sopro; porém foi traduzida por vida em alguns trechos e por Alma em outros, conforme isso se adequava aos propósitos dos tradutores da Bíblia. É isso que cria a confusão. Por exemplo, é-nos dito no Gênesis que Jeová criou o homem a partir do pó da terra, soprou em suas narinas a vida (nephesh) e ele se tomou uma criatura vivente (nephes chayim), mas não uma Alma vivente.
A respeito da morte, diz o Ecl 3:19-20 e outros trechos que não há diferença entre o homem e o animal: “Do mesmo modo que morre o homem, assim morre também o outro o animal: todos respiram do mesmo sopro” (nephesh, novamente). Desse modo é mostrado que o “homem” não ocupa um lugar privilegiado em relação à fera e que todos caminham para o mesmo lugar. Mas há uma distinção bem definida entre o Espírito e o corpo, pois é dito que: “Quando o Cordão Prateado se rompe, o corpo volta para a terra, de onde veio, e o Espírito volta para Deus, que o deu”. A palavra morte em trecho nenhum está ligada ao Espírito e a doutrina da imortalidade do Espírito é ensinada de forma contundente pelo menos uma vez na Bíblia, em Mt 11:14, onde o Cristo disse a respeito de São João, o Batista: “Este é Elias”. O Espírito que animou o corpo de Elias renasceu como São João, o Batista. Ele deve ter sobrevivido à morte corporal e ter tido acesso à continuidade da vida, portanto.
Quanto a ensinamentos mais profundos e definidos a respeito desse assunto, precisamos recorrer ao místico. No Conceito Rosacruz do Cosmos aprendemos que os Espíritos Virginais, enviados para o deserto do mundo como chispas de luz da Chama Divina, que é o nosso Pai no Céu, primeiro se submeteram a um processo de involução na matéria, cada chispa se cristalizando em um Tríplice Corpo. Então, a Mente foi dada e se tornou o sustentáculo sobre o qual a involução passou para evolução. A Epigênese, habilidade criadora, divina e inerente ao Espírito interno, é a alavanca por meio da qual o Tríplice Corpo se espiritualiza, torna-se Tríplice Alma e é amalgamada com o Tríplice Espírito, constituindo-se a Alma o extrato da experiência por meio do qual o Espírito é alimentado, passando da ignorância para a onisciência, da impotência à onipotência, tornando-se, desse modo, finalmente, semelhante ao seu Pai Celestial.
É impossível, devido às nossas atuais capacidades limitadas, conceber a grandiosidade dessa missão, mas conseguimos entender que estejamos muito, muito longe da onisciência e da onopotência, de forma que isso deve requerer ainda muitas vidas. Por essa razão, frequentamos a escola da vida exatamente como a criança frequenta as nossas escolas. E, da mesma forma que noites de descanso se intercalam entre os dias escolares, noites de morte também se intercalam entre os dias, na Escola da Vida. A criança retoma os seus estudos a cada dia, a partir do ponto em que os deixou no dia anterior. E nós também, voltando a renascer, retomamos as lições de vida no ponto em que paramos na nossa existência prévia.
Se a pergunta fosse “por que não nos lembramos das nossas existências prévias, se é que as tivemos”, a resposta seria fácil. Não nos lembramos do que fizemos um mês atrás, um ano ou alguns anos. Como poderíamos lembrar coisas que remontam há tanto tempo? Tínhamos um cérebro diferente sintonizado com a consciência da vida anterior. Contudo, há pessoas que lembram de suas existências passadas e muitas outras estão cultivando essa faculdade a cada ano, pois ela está latente em cada ser humano.
Contudo, como São Paulo diz tão apropriadamente no décimo quinto capítulo da Primeira Epístola aos Coríntios: “Se os mortos não ressuscitam, é vã a nossa fé e somos nós os mais infelizes de todos os homens”. Por essa razão, o neófito que passou pela porta da Iniciação, adentrando os Mundos invisíveis, é sempre levado à cabeceira de uma criança que esteja prestes a morrer. Ele assiste à saída do Espírito e é solicitado a acompanhar esse Espírito nos Mundos invisíveis, até que procure um novo renascimento. Com esse propósito é que se escolhe, geralmente, uma criança destinada a procurar o renascimento dentro do período de um ano ou dois. Assim, em um período relativamente curto, o neófito verifica, por si mesmo, o modo pelo qual um Espírito passa através do portal da morte e retorna à vida física pelo útero. Então, ele tem a prova. A razão e a fé devem bastar àqueles que não estejam preparados a pagar o preço pelo conhecimento direto, que não pode ser comprado por ouro. Esse preço é pago com o esforço de uma vida.
(Pergunta nº 29 do Livro “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas” – Vol. II – Max Heindel)
Aprendemos na Fraternidade Rosacruz que os Evangelhos são, na verdade, fórmulas de Iniciações.
Sob o panorama de Cristo-Jesus, os Evangelhos apontam para caminhos de libertação e Iniciação nos Mistérios do ser, aproximam o contato com o divino em nós e representam a vida nova, impulsionada com o regenerador Batismo de Fogo, no reverenciado dia de Pentecostes.
Os três primeiros Evangelhos, de São Mateus, de São Marcos e de São Lucas, são sinóticos (sin – conjunto; ópticos – visão). Portanto, descrevem, empregando uma narrativa histórica, os episódios que fundamentam os ensinamentos do glorioso Mestre, o Cristo. Algumas passagens são ilustradas de forma praticamente idêntica pelos três evangelistas.
Por outro lado, o Evangelho Segundo São João aborda o Ministério do Salvador com mais profundidade e abrangência cósmica. Enaltece o poder luminoso de Cristo como o Unigênito Filho de Deus, como Co-criador e herdeiro das moradas celestes. Não apenas como mensageiro de verdades espirituais, mas como o Caminho, a Verdade e a Vida em Si mesmo.
Os Evangelhos sinóticos relatam com mais ênfase os aspectos exotéricos e humanos da vida do Messias da Galileia. O Evangelho Segundo São João se concentra na visão esotérica: os sublimes e íntimos ensinamentos na Judeia.
O Evangelho Segundo São Marcos (FOGO-AR, com predominância do FOGO) realça a força pró-realizadora do caráter enobrecido pelo Fogo Crístico e focaliza o poder transmutador e purificador capaz de subjugar a natureza inferior. Demonstra o calor penetrante e disseminador da Boa Nova que estenderá o reino do amor a todas as criaturas. Ele fala pouco sobre a Lei. Seu livro foi direcionado mais aos não judeus, pois sabia conviver com os gentios. Alguns teólogos afirmam que ele escreveu para os romanos, um povo cujo ideal concentrava-se no poder. Assim, descreve o Cristo como conquistador poderoso. É o mais curto, o mais simples e talvez o mais antigo de todos. Apresenta Cristo-Jesus vencendo a força titânica dos demônios, dominando as tempestades, enfermidades e até a morte. Faz apologia do verdadeiro serviço, realizado de forma espontânea e desinteressada.
O Evangelho Segundo São Mateus (AR – FOGO, com predominância do elemento ar) combina o bom senso e a lógica (qualidades aéreas) como norteadores da Lei e da Ordem. Também ressalta os dilemas e crises provenientes do calor ígneo que inflama na consciência do fervoroso aspirante espiritual em pleno processo de iluminação. São Mateus enfatiza o cumprimento da Lei, pois seu Evangelho tinha por alvo os judeus. Como sabia que aguardavam ansiosos a vinda do Prometido, anunciado no Antigo Testamento, anuncia Cristo-Jesus como o Messias e, por meio das citações dos profetas, mostra o esperado Messias conforme já prenunciava a própria tradição hebraica. São Mateus apela à razão, à natureza masculina do ser humano. Destaca os confrontamentos inerentes à realização interna. Revela os choques entre as forças espirituais e terrenas. Seu Método Iniciático adverte sobre os percalços e desafios a serem ativamente superados durante o glorioso processo de cristificação da personalidade humana.
O Evangelho Segundo São Lucas (ÁGUA-TERRA, com predominância da ÁGUA) enaltece a simplicidade, a sensibilidade, e o olhar voltado para as mazelas humanas. Engrandece a natureza devocional, evidenciando o poder inspirador do elemento Água. Também destaca a importância da ciência do conhecimento corretamente aplicado (Terras Altas) como superação das trevas da ignorância (Terras Baixas). São Lucas apresenta em seu Evangelho um Messias voltado a todos os seres humanos, especialmente os humildes, revelando um Deus misericordioso. É um Evangelho mais singelo, toca nos valores mais internos, fala de Anjos, dos Profetas e do Templo Sagrado. Ensina o recolhimento, a oração, a tranquila jornada pelo íntimo. Contrapondo São Mateus, é místico e acolhedor, eleva os padrões femininos da natureza humana. São Lucas, mesmo sendo médico e homem de ciência, não encobre os milagres operados pelo Mestre, inclui o maior número de curas entre os evangelistas. São Lucas apresenta Cristo-Jesus como o “Filho do Homem”. Nele encontramos a mais terna simpatia humana e a perspectiva de libertar a humanidade da cegueira espiritual. Seu método é dirigido aos gentios, ressaltando a benevolência de Deus e o amor dedicado a seus filhos.
O Evangelho Segundo São João (TERRA-ÁGUA, com predominância da TERRA) alia ensinamentos que mergulham nas profundezas da divina essência humana (ÁGUA), com uma incomparável compreensão das Dimensões Arquitectônicas que permeiam as forças geradoras e sustentadoras do Cosmos (TERRA). São João tinha em mente as necessidades dos Cristãos de todas as nações. Nesse sentido, apresenta as verdades mais profundas do Novo Testamento dentre as quais se destacam os ensinamentos sobre a Divindade do Cristo e do Espírito Santo. Inaugura o Evangelho discorrendo sobre o Verbo e a Luz dos Homens (o Filho). O mesmo Verbo, em expressão menor, se encontra no íntimo de cada ser humano. O Amor-Sabedoria emanado pelo Filho, o Cristo, é o próprio Poder Coesor empregado como força atrativa para tornar possível a edificação de qualquer forma manifestada. Se o Verbo é vida, cuja vida é a luz dos seres humanos, então as trevas são ausência de luz e vida. As trevas são a morte. Contudo, as trevas são ilusão, porque Deus está em tudo e Deus é Luz. Sem o Verbo nada foi feito, Ele é o Fiat Criador que amolda a substância-raiz-cósmica primordial, dando origem às formas. O Verbo assim se faz carne no sentido de manifestação. Bastaria o primeiro capítulo para revelar a profundidade do Evangelho Segundo São João.
Que as Rosas floresçam em vossa cruz
Conta-se algo de Cristo estava caminhando com Seus Discípulos quando passaram pelo cadáver de um cachorro em estado de putrefação. Os Discípulos voltaram o rosto, comentando com aborrecimento o nauseante espetáculo, mas Cristo olhou o cadáver e disse: “As pérolas são menos alvas que seus dentes”.
Qual o fundo moral desse relato?
Ora, é muito fácil. O Cristo deu a entender que devemos atentar sempre para o lado positivo de todas as coisas. Seria esse modo de pensar uma terapêutica para estabelecer a harmonia e alegria de viver no ser humano e na sociedade humana? Perfeitamente! Devemos observar que a razão de ser e a essência de tudo resume-se no Bem. Tudo se encontra debaixo de leis divinas, imutáveis e sábias. A ação dessas leis intentando estabelecer o equilíbrio gera, muitas vezes, aquilo que chamamos de Mal. Na realidade não é assim. Logo, não há razão para encararmos a vida e os acontecimentos que a dinamizam através de ângulos negativos.
A vida é uma experiência maravilhosa. Por que desperdiçá-la? Por que não a tornar mais ampla? Por que evidenciar a sombra, se a luz é uma realidade? Nas pequenas coisas, nos fatos aparentemente insignificantes, nas pessoas desconhecidas com que cruzamos diariamente nas ruas, brilha a luz. Por que não contribuímos para difundir essa luz? Sim, essa luminosidade resplandecendo ativa ou potencialmente em cada ser, em cada átomo.
Tudo na vida tem o seu lado positivo. Realçá-lo, constitui o dever do Aspirante a vida superior. Contudo, realçá-lo em condições especiais? Não! Evidenciá-lo nos acontecimentos marcantes ou triviais da vida quotidiana. Marden (N.R.: Orison Swett Marden (1850–1924), autor americano) afirma com muita propriedade que não devemos nos restringir a tirar partido das condições ideais da existência, senão, aproveitar, principalmente, as condições da vida vulgar.
O diretor de uma destacada firma de Nova Iorque tinha por hábito reunir, anualmente, os gerentes das filiais espalhadas por todo o país, para uma espécie de orientação e balanço.
Houve uma época em que a empresa enfrentou uma séria crise econômica. A reunião anual foi convocada. Os gerentes apresentaram-se, denotando certa apreensão e pessimismo. Cada um expôs, detalhadamente, os seus problemas e como não poderia deixar de ser, não faltaram às lamúrias e expressões de desânimo. Em dado momento, o diretor suspendeu na parede um grande cartaz branco com um pequeno ponto preto no centro e perguntou a um dos gerentes:
– Que é que está vendo?
– Um ponto preto – respondeu o interrogado.
– E você? – perguntou a outro.
– Um ponto preto num papel branco.
– E você?
– O mesmo.
– E você?
– Um ponto preto num cartaz branco.
– É incrível – afirmou o diretor – que vocês observem apenas um pontinho preto num cartaz branco? Será que não enxergam um enorme cartaz branco com um simples pontinho escuro no meio? Será que esta crise que atravessamos não lhes trouxe experiências e maiores conhecimentos? Será que as dificuldades surgidas não lhes despertaram o senso de previsão e de prudência, essenciais para se alcançar êxito em qualquer empreendimento? Senhores, quando uma pessoa trabalha e vive de uma maneira positiva, nenhuma crise poderá amedrontá-lo. Tudo nesse mundo encerra uma lição valiosa.
Sejamos firmes em nossas convicções otimistas, a despeito de circunstâncias aparentemente adversas, e jubilosas com as lutas e triunfos de nossos semelhantes.
Sejamos positivos. Tenhamos a disposição de São Paulo, o Apóstolo, ao afirmar: “TUDO POSSO NAQUELE QUE ME FORTALECE“.
(Publicado na Revista: Serviço Rosacruz – fevereiro/1969 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Imaginem um lugar bem antigo onde existia um moinho, pessoas que trabalhavam nele, os moeiros, onde existiam guardas que guardavam uma casa.
“Lembra-te do teu Criador, nos dias da juventude, antes que cheguem os dias nefastos e se aproximem os anos dos quais dirás: ‘Não gosto deles! ‘
Antes que se obscureçam a luz do sol, a lua e as estrelas, e voltem às nuvens depois da chuva!
– Naquele dia os guardas da casa começarão a tremer, e os homens robustos a se encurvar; os moleiros, por serem poucos, cessarão de moer, e ficarão embaciados os que olham pelas janelas; as portas sobre a rua se fecharão, e diminuirá o ruído do moinho até tornar-se como o pipiar de um pássaro e extinguir-se o som das canções; haverá medo das alturas e sobressaltos no caminho plano; a amendoeira há de florescer, o gafanhoto engordar, e a alcaparra estalar; então o homem seguirá para a morada eterna, e pelas ruas andarão os carpidores – antes que se solte o fio de prata e se despedace a taça de ouro, quebre-se o cântaro na fonte e se parta a roldana da cisterna; o pó volte a terra, onde estava, e o espírito volte para Deus, seu autor”.
Os parágrafos precedentes podem ser encontrados no capítulo 12 do Livro do Eclesiastes, também conhecido como o “Poema sobre a velhice”.
Ele descreve a simplicidade de sentimentos e apegos que deve envolver esse período de nossa peregrinação nesse Mundo Físico e o seu fim, com a morte, com o término de mais uma peregrinação. Percebam o que envolve o ser humano nesse período: declínio da vida física: “antes que obscureçam a luz do Sol, a Lua e as Estrelas e voltem as nuvens depois da chuva!”.
O Corpo Denso, o físico, começa a fraquejar: “naquele dia os guardas da casa começarão a tremer, e os homens robustos a se encurvar, os moleiros, por serem poucos, cessarão de moer (os sistemas e os órgãos do nosso Corpo Denso), e ficarão embaciados os que olham pelas janelas (os nossos olhos), as portas sobre a rua se fecharão (o nosso cérebro) e diminuirá o ruído do moinho até tornar-se como o pipiar de um pássaro e extinguir-se o som das canções (diminui a importância das coisas externas e que estão ao nosso redor)”.
E o medo que a muitos aparecem nesse período: “haverá medo das alturas e sobressaltos no caminho plano (…) então o homem seguirá para a morada eterna e pelas ruas andarão os carpidores (chega o momento no qual as experiências que o Espírito pode adquirir em seu ambiente atual ficam esgotadas)”.
E, finalmente, a morte como destino final de mais uma passagem por esse Mundo Físico: “antes que se solte o fio de prata (rompimento do Cordão Prateado) e se despedace a taça de ouro (morte do Corpo Denso) (…) o pó volte a terra, onde estava, e o espírito volte para Deus, seu autor”.
Está aí a única certeza dessa vida: a Morte.
Nesse exato momento revemos todos os acontecimentos que ocorreram nessa última peregrinação. É o panorama dessa última existência.
O objetivo desse panorama é a gravação, no Corpo de Desejos, de tudo que aqui fizemos.
E como é feita essa gravação? Durante a nossa existência nesse Mundo Físico, tudo que fazemos é gravado num átomo que permanece durante toda essa nossa existência no coração, mais precisamente próximo a uma região conhecida como ápice, no ventrículo esquerdo do coração. Ele é conhecido como: Átomo-semente do Corpo Denso.
Ao contrário de todos os outros átomos do nosso Corpo Denso que são todos substituídos de 7 em 7 anos, esse Átomo-semente nunca é substituído.
Cada um de nós o carrega o que hoje conhecemos como o Átomo-semente do Corpo Denso, que ganhamos de seres muitos avançados – conhecidos, na Bíblia, como os Tronos e, na terminologia Rosacruz como Senhores da Chama – num passado longínquo conhecido como Período de Saturno.
Esse Átomo-semente é também conhecido como o Livro dos Anjos do Destino, devido a possuir todos os registros dessa nossa existência aqui na Terra e que, devidamente gravados e assimilados, nos ajudarão, posteriormente, junto com os Anjos do Destino, a escolhermos o próximo destino que gostaríamos (e necessitaremos) de viver nas próximas vidas.
Esses registros compõem a Memória Supraconsciente de cada um de nós. Aquela Memória que se encarrega de gravar tudo aquilo que vemos e percebemos ou não. Aquela nossa Memória que parece com uma foto de uma máquina fotográfica. Não importa se na cena que estamos tirando tal foto observamos cada detalhe. A foto terá todos esses detalhes.
Portanto, essa Memória é muito mais completa do que aquela que costumeiramente utilizamos e que conhecemos como Memória Consciente, aquela que utilizamos para ver o que queremos ver e, portanto, lembrar daquilo que nós queremos lembrar.
Está aqui a importância do exercício da observação dado no Conceito Rosacruz do Cosmos. A sua prática melhora sensivelmente a Memória Consciente de modo que aprendemos a ver muito mais do que queremos ver e a lembrar muito mais do que queremos lembrar.
A assimilação da diferença desses dois tipos de Memória que cada um de nós temos, faz-nos entender porque Cristo disse que: “temos olhos, mas não vemos”.
Portanto, as cenas, com seus sentimentos, suas peculiaridades e todos os seus milhões de detalhes, chegam até a esse Átomo-semente por meio do ar, carregado de Éter, que respiramos e, após passar pelos pulmões, chega ao coração através do sangue.
Então, a qualquer momento, temos nesse Átomo-semente do Corpo Denso, todo o panorama dessa última existência até esse instante.
É a gravação desse panorama no Corpo de Desejos que nos dará material para assimilarmos, na nossa passagem nos Mundos Suprafísicos, tudo que aprendemos aqui nessa nossa peregrinação pelo Mundo Físico.
Este momento é de extrema importância para a nossa vida post-mortem. Desta revisão depende toda a nossa existência desde a morte até o nosso novo nascimento.
A duração desse panorama varia de pessoa para pessoa, ou melhor, varia de acordo com a saúde e a força do Corpo Vital. Por exemplo, se o Corpo Vital se encontrar extenuado devido a uma longa enfermidade antes da morte do Corpo Denso, então o panorama pode ter uma duração mais curta.
Outro exemplo de curta duração desse panorama é para aqueles aspirantes à vida superior que fazem sincera e diariamente o Exercício de Retrospecção, todas as noites como indicado no livro O Conceito Rosacruz do Cosmos, de Max Heindel.
Por isso que é importantíssimo durante até 3 dias e meio, após o falecimento, deixarmos a pessoa que acabou de morrer num ambiente sem nenhuma perturbação exterior, sem nenhuma comoção (como por exemplo: choro, lamentações, histerias), num ambiente onde reine a quietude, a paz e a oração.
A atitude correta e que muito ajudará o espírito que acaba de partir, deve ser animadora, esperançosa e encorajadora. O sentimento egoísta de perda deve ser controlado para que o Espírito que acaba de partir seja encorajado a seguir nessa nova jornada.
Ao invés de pensar nesse momento: “O que farei agora sem essa pessoa que perdi? Não sei viver sem ela”, devemos pensar assim: “Torço para que essa pessoa esteja ciente das novas condições que a cercam e consiga desprender-se de tudo isso que a rodeia, desse Corpo Denso que já não mais lhe serve, sem se preocupar por nos ter deixado”.
Afinal a morte não existe. Ou será que o que entendemos por morte não é um novo nascimento nos Mundos Suprafísicos? Como, do mesmo modo, o que entendemos por nascimento é uma nova morte nos Mundos Suprafísicos.
Porque no momento do desprendimento do Espírito de seu Corpo Denso e da revisão dessa sua última existência na Terra, ele está passando o seu Getsemani, que nos fala a Bíblia no Evangelho Segundo São Mateus 26:36-46, e aqui, nesse momento, cada um nós necessita de todo o auxílio que possam nos prestar.
Devemos entender que no momento da morte, a colheita está começando; semeamos a via inteira e colhemos o fruto ao chegar à morte.
O valor de toda essa existência que está prestes a terminar depende grandemente das condições que prevaleçam em torno do corpo.
Durante até os três dias e meio que compõe a passagem do panorama, o Ser Humano sentirá qualquer intervenção no seu Corpo Denso, além de atrapalhar a perfeita assimilação da contemplação desse panorama.
Assim, a cremação, as autópsias, o embalsamento ou qualquer outra intervenção no Corpo Denso durante esses até três dias e meio, não só perturbam mentalmente o espírito que se vai como podem até mesmo causar certa quantidade de dor, porque ainda existe uma ligeira conexão entre ele e o veículo físico abandonado.
Só após ocorrer a revisão desse panorama em sua totalidade é que se rompe o Cordão Prateado, aquele que liga o Átomo-semente do Corpo de Desejos, situado no grande vórtice na posição referida do fígado, ao Átomo-semente do Corpo Denso, situado na posição referida do coração, e que juntos se unem com o Átomo-semente do Corpo Vital, situado na posição referida do Plexo Celíaco.
Aquele que liga os nossos três Corpos e que serve de conexão entre eles durante toda a nossa vida.
Aquele que nos mantém conectados ao nosso Corpo Denso quando, à noite, saímos do nosso Corpo Denso, levando conosco nossos Corpos Suprafísicos.
Portanto, o Cordão Prateado só se rompe após a contemplação de todo o panorama. E isso pode durar até 3 dias e meio após o acontecimento que conhecemos por Morte.
Após o rompimento do Cordão Prateado deixamos o nosso Corpo Denso, levando conosco: o Átomo-semente desse Corpo Denso (ou seja, a quintessência de tudo que o Corpo Denso é), o Corpo Vital, o Corpo de Desejos e a Mente.
A partir desse momento esse Corpo Denso começa a voltar de onde ele foi formado, ou seja, como diz no poema: o pó volte a terra, onde estava.
Portanto, o rompimento do Cordão Prateado determina o fim de mais uma existência no Mundo Físico. E não há nada que o possa restabelecer.
Este panorama é iniciado primeiro por aquilo que acabou de acontecer assim que demos o último alento e assim por diante até chegarmos ao primeiro alento, a primeira respiração que inalamos, quando nascemos nesse Mundo Físico mais uma vez.
Dessa forma gravamos primeiro os efeitos dos nossos atos e depois as causas. Desse modo fica mais fácil, num passo posterior da nossa existência nos Mundos Suprafísicos, entendermos porque cada efeito foi provocado por determinada causa.
Nesse panorama vão passando os acontecimentos e podemos perceber tudo o que fizemos, tudo aquilo que fizemos aos outros, todas as angústias, todas as gratidões, todas as alegrias, todas as tristezas, todas as maldades, todas as bondades, todas as ações, todas as omissões.
Aqui no momento desse panorama temos o primeiro vislumbre que nos dá a certeza de que a finalidade dessa vida é tão somente obter experiências, mostrando que cada vida tem algum fruto a ser colhido.
No momento desse panorama temos o primeiro vislumbre da dificuldade que tivemos ao educar nosso Corpo Denso durante os anos da infância com toda a falta de habilidade; da dificuldade em controlar o Corpo de Desejos no período ardente e impulsivo da juventude, até chegarmos a maturidade, quando então pudemos utilizar verdadeiramente esses veículos para o uso espiritual.
E ainda aqui na maturidade, quantos não percebem essa oportunidade, quantos não conseguem considerar o lado sério dessa existência, e quantos nem começam realmente aprender as lições que determinam o crescimento da nossa alma, quantos passam pela maturidade sem perceber a quantidade enorme de oportunidades que perdem.
E quando percebem é porque estão sofrendo fisicamente, porque seu Corpo Denso já não obedece mais, porque já está definhando, esperando a morte chegar.
Por isso que na nossa presente existência na Terra, devemos viver intensamente, dando-nos tempo de satisfazer todas as nossas ambições ou comprovar sua futilidade, de cumprir todos os nossos deveres, de aprendermos as lições que escolhemos aprender.
Por isso que é imprescindível tentarmos viver uma vida longa e da maneira mais intensa possível.
Cuidarmos muito bem do nosso Corpo Denso, instrumento maravilhoso de aprendizagem nesse Mundo Físico.
Que satisfação terminarmos mais uma existência nesse Mundo Físico com a certeza do dever cumprido!
QUE AS ROSAS FLORESÇAM EM VOSSA CRUZ
A Religião Cristã e as outras Religiões
Um capítulo da Epístola aos Hebreus nos fala de um tempo futuro no qual será desnecessário ministrar o conhecimento de Deus, porque todos, da mais simples a mais elevada criatura, terão as Leis inseridas em seus Corações e Mentes. No presente, essa percepção é prejudicada, em diferentes gradações, pelo véu da carne e do sangue, os quais não podem herdar o Reino de Deus. Agora, desejamos a Verdade, o meio pelo qual nos libertaremos dos grilhões carnais e nos revestiremos das faculdades espirituais, requisitos indispensáveis para conhecer a Deus. Essa é a promessa de Cristo, quando afirmou que se “buscarmos”, encontraremos.
Não fez exceção alguma. Por essa razão, o medo não deve nos angustiar: ninguém se perderá. Contudo, poderemos poupar muito esforço se empreendermos nossa busca em direção reta. Desejamos auxiliar os sinceros investigadores da verdade, mas compreendemos que, quando se força a convicção de uma pessoa, contrariando sua vontade, ela conserva sua opinião anterior. A convicção nunca é tão firme como quando provém do interior do ser, portanto, limitamo-nos a apresentar algumas opiniões pessoais, deixando a cargo do leitor formular suas próprias conclusões:
1 — Cremos que todas as religiões foram ensejadas pela Divindade, por obra de um dos Mensageiros de Deus, estando cada uma perfeitamente adaptada à nação onde se originou.
2 — Sabemos que o caminho da civilização se desenvolve de Leste para Oeste e que os povos mais avançados vivem agora no mundo ocidental.
3 — Admitimos como razoável supor que a religião mais avançada foi dada aos povos mais evoluídos. Por conseguinte, nossa Religião, a Cristã, hoje é a mais sublime forma de adoração.
4 — Cremos que cada uma das antigas religiões encerre uma escola esotérica para as almas mais adiantadas, assim como Cristo ministrou a Seus Discípulos eleitos o conhecimento referente aos ministérios do Reino dos Céus. Todavia, manifestou-Se às multidões através de parábolas.
5 — Se a Religião Cristã é a mais avançada, seus ensinamentos ocultos devem ser mais profundos e de alcance maior do que os de qualquer outra.
Como aprendemos na Fraternidade Rosacruz, a Religião Cristã é a mais elevada do que qualquer uma de suas precursoras; os ensinamentos esotéricos e cristãos que foram promulgados pela Ordem dos Rosacruzes, por meio da Fraternidade Rosacruz, são os mais profundos e científicos do que quaisquer outros publicados até o momento; assim REPUDIAR A RELIGIÃO CRISTÃ em nome dos antigos sistemas religiosos é como preferir os antigos livros científicos às edições modernas e atualizadas que abarcam todos os descobrimentos realizados até o presente.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de agosto/1975)
Quem é o “O cego vê e o surdo ouve” e quem não é
Enquanto a incapacidade física causada pela cegueira é, sem dúvida, uma grande aflição, há uma cegueira que tenha efeito mais prejudicial sobre aqueles que dela sofrem: a cegueira do coração. Um velho provérbio diz: “Ninguém é tão cego quanto aquele que não quer ver”. Toda grande religião trouxe ao povo a quem foi dada certas verdades vitais e necessárias para o seu desenvolvimento e o próprio Cristo nos disse que a Verdade nos libertaria. Muitas das sublimes verdades contidas nos ensinamentos cristãos foram, no entanto, obscurecidas por credos e dogmas com os quais as várias seitas e denominações se contentaram. Contrata-se um ministro e o encarregam de expor a verdade da Bíblia, mas sua língua está atada ao credo de sua denominação específica; ele é proibido, sob pena de desgraça pública e dispensa, de publicar ou pregar algo que não esteja em estrito acordo com o tipo particular de religião desejado por aqueles que lhe pagam o salário. Cada ministro recebe um par de óculos que são coloridos de acordo com o credo específico que ele representa, e ai dele, se ousar enxergar a Bíblia com outros óculos sobre o nariz: fazer isso significa sua ruína financeira e ostracismo social, que poucos são corajosos o suficiente para enfrentar.
Enquanto o ministro mantiver seus óculos denominacionais, não haverá perigo; contudo, às vezes algum ministro retira os óculos, porque planejou ou por acidente. Ele pode ser de natureza aventureira e, de alguma forma, tem a sensação de que haja alguma coisa fora da sua esfera de visão particular, ou pode ter acidentalmente perdido seus óculos. Mas, em ambos os casos, se ele tropeça na verdade nua da palavra de Deus, torna-se infeliz. Este escritor falou com vários ministros que confessaram ter a ciência de certas verdades, mas não ousavam pregá-las porque isso jogaria a fúria de sua congregação sobre eles, por perturbar as condições estabelecidas. E isso não é de se admirar; mesmo o rei James, um monarca e autocrata, advertiu os tradutores da Bíblia para não a traduzirem de maneira que a nova versão perturbasse as ideias estabelecidas, porque ele sabia que, no momento em que novos pontos fossem introduzidos, haveria uma controvérsia entre os defensores da antiga visão religiosa e os da nova, o que provavelmente resultaria uma guerra civil. A maioria das pessoas sempre está pronta para sacrificar a verdade pelo bem da paz; portanto, hoje estamos presos, apesar de nossa liberdade vangloriada, e não importa o quanto seja aguçada a nossa visão física, um grande número entre nós está cego por uma escama tão opaca que quase obscurece completamente sua visão espiritual.
No entanto, apesar de tudo, a verdade surge e às vezes nos lugares mais inesperados, como mostra o recorte a seguir. Isto soa mais como as reflexões de um místico do que os escritos de um ministro presbiteriano, anotações ligadas à terrível doutrina da predestinação e ao compromisso das almas com o fogo eterno do inferno, onde torturas terríveis são suportadas pela eternidade, mesmo por bebês que foram predestinados a sofrer para sempre pelo seu criador. Foi escrito por J. R. Miller, um conhecido pastor da Filadélfia, e é apenas outra indicação do fato de que um sexto sentido esteja se desenvolvendo lentamente e, frequentemente, como dito, nos lugares mais inesperados, esmagando o credo com evidências e conhecimentos místicos. O reverendo Miller diz:
“Todos nós projetamos uma sombra. Há sobre nós uma espécie de penumbra — algo estranho e indefinível — que chamamos de influência pessoal e tem efeito em todas as outras vidas que ela toca. Vai conosco aonde quer que vamos. Não é algo que possamos ter ou retirar quando quisermos, como uma roupa. É uma coisa que sempre brota da nossa vida, como a luz de uma lâmpada, o calor de uma chama, o perfume de uma flor”.
Certa vez, quando Cristo estava sozinho com seus Discípulos, Ele lhes perguntou: “Que dizem os homens que Eu, o Filho do Homem, sou?”. E eles responderam e disseram: “Alguns dizem que Tu és Elias; outros, Jeremias; e outros dizem que és um dos profetas”. E Cristo respondeu e disse: “Mas quem dizeis que Eu sou?”. E Pedro disse em resposta a essa pergunta: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Ele havia descoberto a verdade, tinha visto o Cristo. E a resposta de Cristo veio rapidamente: “Bendito és tu, Simão, filho de Jonas, porque a carne e o sangue não te revelaram isso, mas meu Pai que está no Céu; a ti darei as chaves do Reino dos Céus e do Inferno”.
Aqui, a religião materialista, que tantas vezes desvalorizou a Arte a seu serviço, pode ver apenas uma chave material e, portanto, encontramos fotos em que Pedro esteja com uma chave enorme na mão; porém o místico descobre nesse incidente que os discípulos receberam o ensinamento de uma grande verdade da natureza: o renascimento! Pela chave da iniciação, esse mistério foi descoberto, as portas do Céu e do Inferno foram abertas para mostrar a imortalidade do Espírito e nossa volta a essa esfera de ação para aprender novas e maiores lições vida após vida, como uma criança aprende suas lições na escola, dia após dia.
Se o renascimento não fosse um fato natural, o retorno de espíritos que partiram, como Jeremias, Elias e outros, para então ocupar o corpo de Jesus, seria um absurdo e teria sido o dever de Jesus, como Mestre dos discípulos, explicar que tais ideias fossem ridículas. Em vez disso, Ele mantém o assunto para descobrir a profundidade do seu discernimento e pergunta — “Quem então você diz que Eu sou?”. E quando a resposta chega, mostrando que eles percebem n’Ele alguém acima dos profetas e da raça humana, o Cristo, o Filho do Deus vivo, Ele nota que estejam prontos à Iniciação que resolve, na Mente dos discípulos, o problema do renascimento para além de qualquer disputa. Nenhuma quantidade de leitura de livros, conversas ou explicações pode solucionar esse ponto para além de qualquer possibilidade de confusão. O candidato deve saber por si mesmo. Portanto, nas atuais Escolas de Mistérios, após a primeira Iniciação abrir-lhe o mundo invisível, ele tem a oportunidade de se satisfazer com o renascimento e lhe é mostrada uma criança que recentemente saiu do corpo físico. Por causa de seus poucos anos, ela renasce rapidamente, provavelmente dentro de um ano após a morte. O recém-iniciado observa essa criança até que finalmente ela entre no útero da mãe para emergir como um bebê recém-nascido de novo. A razão pela qual ele assiste a uma criança e não a um adulto é porque este fica fora da vida física por aproximadamente mil anos, enquanto um bebê renasce em poucos anos; alguns chegam a encontrar um novo ambiente depois de alguns meses e renascem dentro de um ano. Durante esse período, o iniciado também tem oportunidades de estudar a vida e as ações daqueles que estão no Purgatório e no Primeiro Céu, que são o Céu e o Inferno mencionados na Bíblia. Foi isso que Cristo ajudou seus Discípulos a fazer: ver e saber. Sobre a rocha dessa verdade a Igreja foi fundada, pois se não houvesse renascimento, não haveria progresso evolutivo e, consequentemente, todo avanço seria uma impossibilidade.
Contudo, qual é o caminho para a realização? Eis a grandíssima questão e, para isso, existe e pode haver apenas uma resposta — o desenvolvimento do sexto sentido por meio do qual o místico descobre essa sombra imortal da qual o reverendo Miller fala. O Céu e o Inferno são relativos a nós: nossas vidas passadas e as vidas de nossos contemporâneos foram jogadas na tela do tempo e estão prontas para serem lidas a qualquer momento, mas devemos construir nossos sentidos para poder ler.
A luz elétrica, quando focada através de uma lente estereótica, projeta a imagem brilhante de um slide, quando há escuridão; contudo, não deixa marcas visíveis quando os raios do Sol atingem a tela. Nós também, se quisermos ler o pergaminho místico de nosso passado, devemos aprender a acalmar nossos sentidos para que o mundo externo desapareça nas trevas. Então, pela luz do espírito, veremos as imagens do passado tomarem o lugar do presente.
Tal sombra, vista pelo pastor Miller ao redor do corpo, é análoga à fotosfera, a Aura do Sol e dos Planetas. Cada um desses grandes corpos tem uma sombra invisível; ou melhor, invisível em condições normais. Vemos a fotosfera do Sol quando a esfera física é obscurecida durante um eclipse, mas em nenhum outro momento. O mesmo acontece com a sombra ou fotosfera do ser humano; quando aprendemos a controlar nosso senso de visão para que possamos observar um ser humano sem ver sua forma física, então essa fotosfera ou aura pode ser vista em todo seu esplendor, pois as cores da Terra são opacas em comparação com os fogos vivos e espirituais que envolvem e emanam de cada ser humano.
O fantástico jogo da aurora boreal nos dá uma noção de como essa fotosfera, ou sombra, age. Está em movimento incessante; dardos de força e chamas estão constantemente disparando de todas as suas partes, mas particularmente ativos ao redor da cabeça; e as cores e tons dessa atmosfera áurica mudam a cada pensamento ou movimento. Essa sombra é observável apenas para quem fecha os olhos a todas as visões da Terra; quem deixou de se preocupar com o louvor ou a culpa dos seres humanos, mas está concentrado apenas no Pai Celestial; quem está pronto e disposto a defender a verdade e somente ela; quem vê com o coração e no coração dos seres humanos que eles possam descobrir dentro de si mesmos o Cristo, o Filho do Deus vivo.
Tampouco é o que nos rodeia uma sombra que desaparece quando o Sol da vida deixa de brilhar no corpo físico. Longe disso, é o vestuário resplandecente do espírito humano, obscurecido durante a existência material pela roupa opaca feita de carne e sangue. Quando John L. McCreery escreve sobre os amigos que faleceram, que: Eles deixaram cair o manto de barro para colocar uma roupa brilhante, ele está incorreto. Seu traje é realmente “brilhante”; no entanto, eles não o colocam na ocasião da morte. Seria mais correto conceber a nós mesmos como vestindo uma roupa de substância de alma que seja intensamente brilhante, porém escondida por uma “camada de pele” escura e sem brilho: um corpo físico. Quando o deixamos de lado, a magnífica Casa do Céu mencionada por Paulo no quinto capítulo da Segunda Carta aos Coríntios torna-se nossa habitação normal de Luz. É o soma psuchicon ou Corpo-Alma, traduzido de forma incorreta como “corpo natural”, no capítulo 15 da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, no quadragésimo quarto verso, onde encontraremos o Senhor em Sua vinda, mas “carne e sangue”, como usamos atualmente, não podem herdar o Reino de Deus.
Há muita diferença nessas emanações áuricas que foram observadas pelo reverendo Miller; de fato, existem tantos tipos áuricos diferentes quanto pessoas. O jogo das cores nunca é o mesmo. Se assistíssemos ao nascer e ao pôr do Sol por toda a vida, nunca encontraríamos dois exatamente iguais quanto à cor, efeito das nuvens ou tantos outros detalhes. Da mesma forma, quando observamos o jogo das emoções humanas, revelado na aura, há uma variedade incontável inclusive na mesma pessoa, quando em posições e condições idênticas, porém momentos diferentes. Em certo sentido, todos os pores do Sol são iguais; certas pessoas não percebem diferenças, mas para o artista o jogo de cores variado às vezes é realmente doloroso em sua intensidade. Alguns também podem não apreciar a importância dessa nuvem áurica e luminosa. Contudo, quando um Cristo vê as lutas prometeanas da pobre humanidade cega, que maravilha que Ele grite: “Jerusalém, Jerusalém, quantas vezes Eu lhe teria reunido sob minhas asas!”. A menos que estejamos preparados para nos tornar “homens de dor”, não devemos desejar a extensão da visão que permite ao seu possuidor penetrar a opacidade do corpo que revela, assim, a alma, pois a partir de então seremos obrigados a suportar, além das nossas, também as dores de nossos irmãos. No entanto, quem assim se tornar um “Servo” terá, ao lado de toda essa tristeza, também alegria e paz que ultrapassam qualquer entendimento.
Quando abrirmos os olhos espirituais e aprendemos a ter a visão celestial do Cristo dentro dos corações dos seres humanos, haverá outros passos que nos levarão mais adiante no caminho. Quando aprendemos a fechar nossos ouvidos à multidão que só clama e reclama, às brigas de indivíduos sobre isto, aquilo ou qualquer outra coisa que não seja essencial; quando aprendemos que os credos, dogmas e todas as opiniões terrenas não tenham valor e que exista apenas uma voz no universo que seja digna de ouvirmos, a voz de nosso Pai que fala sempre aos que buscam o Seu rosto — então seremos capazes de ouvir a Canção das Esferas mencionada no imortal “Fausto”, nestas inspiradas palavras:
O Sol entoa sua velha canção,
Entre os cânticos rivais das esferas irmãs,
Seu caminho predestinado vai trilhar
Através dos anos, em retumbante marchar.
O que ocorre no caso da fotosfera do Sol, que é vista apenas durante um eclipse, quando sua esfera física é obscurecida, também acontece com a Canção das Esferas: ela não é ouvida até que todos os outros sons tenham sido silenciados, pois é a voz do Pai. Nesta sublime harmonia, as notas-chaves de Sabedoria, Força e Beleza reverberam por todo o Universo e, nessas vibrações, nós vivemos, nós nos movemos e temos o nosso ser. O Amor divino Se derrama sobre nós em medida irrestrita através de cada acorde cósmico para animar os desanimados e instigar os retardatários. “São vendidos dois pardais por quase nada e nenhum deles cai no chão sem que o Pai saiba; sois mais do que muitos pardais”. “Vinde a mim, vós que sois fracos e carregam peso”. Repousem sobre o grande coração cósmico do Pai. Sua voz confortará e fortalecerá a alma.
A cada ano e idade, esse grande Canto Cósmico muda; a cada vida aprendemos a cantar uma nova música. Deus, em todos e através de todos, opera Seus milagres na natureza e no ser humano. Geralmente, estamos surdos à mágica produzida pelo som silencioso da Palavra divina; entretanto, se pudermos aprender a “ouvir”, sentiremos a verdadeira proximidade de nosso Pai, que está mais perto do que as mãos e os pés, e saberemos que nunca estejamos sozinhos, nunca fora do Seu cuidado amoroso.
Assim como o Sol e os Planetas produzem luz e som, o ser humano também tem sua estrutura de luz e som. Na Medula, queima uma luz como a chama de uma vela, mas não de maneira constante, silenciosa e quieta. Ela pulsa e, ao mesmo tempo, emite um som que varia do nascimento à morte e pode-se dizer que nunca seja o mesmo. À medida que muda, também mudamos, pois é a tônica do ser humano. Aí estão expressas nossas esperanças e medos, nossas tristezas e alegrias como foram trabalhadas no mundo físico, porque esse fogo é aceso pelo arquétipo do Corpo Denso. O arquétipo é uma esfera vazia; contudo, ao soar uma nota específica, atrai para si todas as concreções físicas que vemos aqui como manifestação — o Corpo Denso que chamamos de ser humano. Nessa chama sonora o maior número dos nervos do corpo humano tem sua raiz e origem. Esse lugar é o ponto vital do ser humano, a sede da vida, o núcleo da sombra da qual o pastor Miller falou. Quando atingimos esse ponto, quase chegamos ao coração do ser humano.
Para alcançar esse local supremo são necessários outros passos; no entanto, geralmente estamos tão envolvidos com nossos próprios interesses, independentemente dos negócios e cuidados das outras pessoas, que somos egocêntricos. Isso deve ser superado; precisamos aprender a enterrar nossas próprias tristezas e alegrias, a sufocar nossos próprios sentimentos, porque assim como a luz do Sol esconde a fotosfera e o opaco corpo físico do ser humano oculta a bela atmosfera áurica, assim também nossos sentimentos, emoções pessoais e interesses nos tornam insensíveis aos sentimentos dos outros. Quando aprendemos a acalmar o sentimento de nossos próprios corações, a pensar pouco em nossas próprias tristezas e alegrias, começamos a sentir as batidas do grande Coração Cósmico que agora está trabalhando para trazer muitos filhos à glória.
As dores do nascimento de nosso Pai-Mãe no Céu são sentidas apenas pelo Místico em seus momentos mais altos e sublimes, quando ele sufoca inteiramente os gemidos egoístas de seu próprio coração, pois esse é o inimigo mais forte e mais difícil de superar. No entanto, quando isso é alcançado, ele sente, como foi dito, o Grande Coração do nosso Pai Celestial. Assim, passo a passo, nós nos aproximamos da Luz, até mesmo do Pai das Luzes em quem “não há sombra”. É importante que deixemos o seguinte muito claro, portanto:
Pode ser uma marca de conquista ser capaz de ver “a sombra”.
Pode marcar um passo mais alto na conquista poder ouvir “a voz no silêncio”.
Acima de tudo, porém, vamos nos esforçar para sentir as batidas do coração de nossos semelhantes, para tornar nossas as suas tristezas, regozijar-nos em suas realizações e guiá-las ao seio de nosso Pai, por paz e conforto.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de outubro/1915 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
O Equilíbrio entre os Dois Polos
3 — Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem e o homem, o cabeça da mulher e Deus, o cabeça de Cristo.
4 — Todo homem que ora ou profetiza tendo a cabeça coberta desonra a sua própria cabeça.
5 — Toda mulher, porém, que ora ou profetiza com a cabeça sem véu desonra a sua própria cabeça, porque é como se a tivesse rapado.
6 — Portanto, se a mulher não usa véu, nesse caso que raspe o cabelo. Mas, se lhe é vergonhoso tosquiar-se ou rapar-se, cumpre-lhe usar o véu.
7 — Porque, na verdade, o homem não deve cobrir a cabeça por ser ele imagem e glória de Deus, mas a mulher é glória do varão.
8 — Pois o homem não foi feito da mulher e, sim, a mulher, do homem. Porque também o homem não foi criado por causa da mulher e, sim, a mulher por causa do homem.
9 — Portanto, deve a mulher, por causa dos Anjos, trazer véu sobre a cabeça como sinal de autoridade.
10 — No Senhor, todavia, nem a mulher é independente do homem, nem o homem é independente da mulher.
11 — Porque, como provém a mulher do homem, assim também o homem é nascido da mulher e tudo vem de Deus.
12 — Julgai entre vós mesmos: é próprio que a mulher ore a Deus sem trazer o véu?
13 — Ou não vos ensina a própria natureza ser desonroso para o homem usar o cabelo comprido?
14 — E que, tratando-se da mulher, é para ela uma glória? Pois o cabelo comprido lhe foi dado em lugar de mantilha.
(ICor 11:3-14)
A Bíblia foi escrita de modo a apresentar um significado para as massas e outro para o estudante esoterista. No capítulo acima, do ponto de vista esotérico, o homem e a mulher referem-se aos princípios masculino e feminino, não aos dois sexos em suas formas físicas. A “vontade” denota a qualidade masculina da alma e a “imaginação”, o princípio feminino.
Quando a vontade é o atributo mais forte, o Ego constrói um corpo masculino. Quando a imaginação predomina, o corpo é feminino. Contudo, seja o sexo masculino ou feminino, as qualidades opostas encontram-se presente em um estado rudimentar.
Mediante a Iniciação, ambos os polos são desenvolvidos equilibradamente (vide o versículo 2: Eu vos felicito, porque em tudo vos lembrais de mim e guardais as minhas instruções tais como eu vo-las transmiti). Essa é a mensagem oferecida por São Paulo no presente capítulo. Os versículos 5 e 6 têm um belo significado espiritual, quando analisados à luz da compreensão interna; é impossível traduzir literalmente de um idioma para outro. Assim como “desnudo” significa esotericamente estar sem Corpo-Alma, a cabeça da mulher, coberta, significa o desenvolvimento espiritual do princípio do coração, que é feminino. Compreende o despertar da Glândula Pineal, do Corpo Pituitário e o funcionamento harmonioso do ventrículo cerebral, formando no neófito a coroa de espinhos e no espiritualmente desenvolvido, a coroa da eterna glória.
Ao homem aconselha-se permanecer descoberto porque esse desenvolvimento é a obra essencial do princípio feminino. Através de todas as operações da natureza, o princípio masculino é o que planta a semente, enquanto o propósito da mulher, ou princípio feminino, é nutrir e desenvolver o que foi plantado.
No versículo 7 lemos isto: “O homem é a imagem e a glória de Deus, mas a mulher é a glória do varão”. O “varão”, aqui, diz respeito ao equilíbrio de ambos os princípios, pois só o Adepto é feito realmente à imagem e semelhança de Deus. “A mulher é a glória do varão” significa que nenhum homem, nenhum humano possa chegar a tal estado de desenvolvimento até que o princípio feminino, o coração, seja despertado inteiramente, pois esse é o grande princípio de Cristo.
O versículo 9 não se refere à inferioridade ou submissão da mulher, como foi ensinado durante muito tempo. Significa que a parte mais importante do desenvolvimento é o despertamento do grande princípio feminino, o Cristo interno.
O desejo de explicar literalmente este capítulo deu lugar a muitos conceitos errôneos. O versículo 10, por exemplo, segundo alguns dos padres primitivos, significa que uma concepção santa poderia ter lugar através dos ouvidos: “Tu, que concebeste através dos ouvidos”, reza um antigo hino em latim e dedicado a Maria. Há também uma antiga superstição oriunda do Talmud, segundo a qual tanto os bons como os maus espíritos poderiam fecundar a mulher através dos ouvidos. E mesmo nos dias de hoje algumas dessas interpretações permanecem tão literais ao ponto de, em algumas igrejas, não se permitir a entrada de mulheres, a menos que estejam com a cabeça coberta. A formosa verdade espiritual ensinada por São Paulo no versículo 10 alude à elevação do fogo espinhal à cabeça por meio de uma vida pura e regenerada, despertando os órgãos espirituais ali situados. Então, a vida do homem torna-se como a dos Anjos: isenta da mácula passional. Vive e ama como os Anjos e as flores.
Os versículos 14 e 15 são os mais interessantes à luz do presente desenvolvimento. O cabelo é um produto do Corpo Vital e simboliza as qualidades femininas. A mulher tem usualmente os cabelos longos, porque evidencia preponderantemente as qualidades femininas. O cabelo do homem é curto, representando em maior escala as qualidades masculinas.
A aproximação da Era de Aquário, chamada de a Era da Mulher, marcará a realização do trabalho de elevação do, agora decaído, polo feminino, tanto no homem como na mulher; ou seja, um maior equilíbrio entre os dois princípios.
O fortalecimento do polo masculino na mulher é a causa de suas atitudes masculinas nos tempos atuais; isto é, o uso de cabelos curtos e a competição com o homem no trabalho do mundo. O homem, por sua vez, mediante um processo oposto, está expressando mais as qualidades femininas.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de abril/1975)
Será que almejar ideias elevadíssimos é presunção?
“Eu Sou a videira e Meu Pai é o lavrador. Como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós não podeis, se não estiverdes em Mim.” (Jo 15:1-4).
Aprendemos que “estar” seja sinônimo de morar, encontrando-se em certo local. Assim, estamos adotando a disciplina de estar, de “morar” na Consciência Crística.
Suas palavras constituem novamente segura orientação para as nossas vidas, se desejamos alcançar resultados espirituais que sejam positivos. Ele simplificava o processo chamando-o de “dar frutos”. Repetimos: para “dar frutos” temos de “estar n’Ele”.
Os frutos que almejamos consistem na habilidade de fazer as mesmas obras que Ele fez, conforme afirmou que poderíamos. E nos lembramos, com toda a humildade, consoante Suas palavras, que as obras que faremos poderão ser maiores ainda.
Tal ideia causa impacto tão forte que, de imediato, recorremos a desculpas para justificar nossas fraquezas, raciocinando covardemente que, por certo, seria demais esperar por “isso” nesta mesma vida. Concordamos tratar-se de uma promessa um pouco aterradora. Ele, porém, não nos deixou sem um Consolador. E São Paulo faz ruir as eventuais desculpas quando diz: “Eis AGORA o tempo aceitável, eis AGORA o dia da salvação”.
Esse tipo de justificativa em relação a nossos pontos falhos causa o mau uso do conhecimento que recebemos em relação ao renascimento. A recusa em maximizar o aprendizado e progresso nesta vida, mediante o argumento de que isso poderá ser logrado em existências futuras, constitui mau uso do conhecimento. No livro Mistérios Rosacruzes Max Heindel afirma: “Após a morte que sucede a vida, retornamos mais tarde ao Plano material, suportando circunstâncias criadas segundo nosso aproveitamento em vidas anteriores”. Assim, almejar ideais elevadíssimos não é presunção, constituindo, ademais, um dever cujo cumprimento respaldará nossa evolução espiritual não somente nesta, mas em vidas futuras.
É de capital importância para o Estudante “ficar ligado à Vinha”, à Consciência Crística. E isso deve ser feito AGORA.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1975)
Não dê esmolas diante de outras pessoas
“Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte não tereis galardão junto de vosso Pai que está nos céus. Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa, Tu, porém, ao dares a esmola, ignore a tua mão esquerda o que faz tua mão direita; para que a tua esmola fique em segredo: e teu Pai, que vê em segredo, te recompensará”. (Mt 6:1-4)
Aqui encontramos também a distinção feita entre o “exterior” e o “interior”, entre a forma de conduta humana e a realidade da consciência espiritual.
O desejo de quererem ser vistos é um dos traços mais comuns dos seres humanos; esse traço pertence essencialmente à personalidade e ao velho regime de estado de separação e cumprimento externo da lei, que será descartado inteiramente sob a religião unificadora de Cristo. O altruísmo é a nota-chave da nova ordem das coisas, e toda recompensa por nosso serviço a Deus mediante o serviço a nosso próximo será somente o crescimento espiritual interno que não é visto pelos demais seres humanos.
A hipocrisia, a falsa assunção de virtude, foi tratada por nosso Mestre, que podia ler o coração e conhecer imediatamente se o ser humano era sincero. Aos hipócritas Ele lhes disse:
“Comeis nas casas das viúvas, e por pretexto fazeis longas orações: por isso levareis um julgamento mais sério… dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas tendes descuidado dos preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé: isso tinha que ser feito, e não deixar o outro… limpais o exterior do copo e do prato, mas por dentro, estes estão repletos de avareza e cobiça… sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia”.
Felizmente, o próprio Espírito é sincero e desinteressado e, à medida que ganha domínio sobre a personalidade, ele pode dar aos outros o amor sem pensar em agradecimentos. A chispa individualizada de Deus compreende que é parte do Todo, e que a ideia separatista é uma ilusão adquirida durante a nossa permanência através da materialidade. Quando amamos e servimos aos demais mantemos o fogo interior aceso brilhantemente e dessa maneira se sente o impulso para compartilhar com outros o que temos, se não for feito pensando na aparência exterior, nós obtemos uma recompensa invisível para o desenvolvimento da consciência.
Na vida do Sir Launfal encontramos o Cristo Ideal expressado nas palavras do leproso:
“Melhor para mim é a côdea de pão que o pobre me dá,
e melhor a benção deste
Ainda que de mãos vazias de sua porta me deva afastar.
As esmolas que só com as mãos ofertadas, não são as verdadeiras.
Inúteis são o ouro e as riquezas dadas
Só porque lhe parece um dever fazê-lo.
Mas o que parte sua pobreza
E dá para quem está fora de sua vista
Esse fio de Beleza, sustentador Universal,
Que tudo penetra e o une.
A mão não consegue abarcar todas suas esmolas,
O coração estende seus braços ansiosos
Porque um Deus acompanha a doação e provê a alma
que antes estava padecendo na escuridão. ”
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross Nov-Dez/1983 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz – Campinas – SP – Brasil)
Almas perdidas ou atrasadas na evolução?
Não existe, absolutamente, nenhum fundamento que justifique a ideia generalizada a respeito de “almas perdidas”. Não há, na Bíblia, uma só palavra que exprima a ideia a que todos nos habituamos sobre eternidade com o sentido de para sempre. A palavra grega aionian significa “um período indefinido de tempo”, “um longo período de tempo” e, quando lemos na Bíblia as palavras “eternamente” ou “para sempre”, deveríamos interpretá-las como “pelos séculos dos séculos”. Além disso, como é uma verdade que “em Deus vivemos, movemos e temos o nosso ser”, uma alma perdida seria o mesmo que se tivesse perdido uma parte de Deus e isto não é possível!
Desde que escrevi a lição anterior ocorreu-me outro ponto que mostrará como a perda de um período de anos está relacionada ao próximo período, sendo até mesmo compreendida por ele. Lembremos que no Período Lunar desse atual Esquema de Evolução que espíritos lucíferos não puderam achar campo para a sua evolução no presente esquema de manifestação.
Os Arcanjos habitam o Sol; os Anjos têm a seu cargo todas as luas; porém os espíritos de Lúcifer foram incapazes de residir em qualquer desses luminares. Não podiam ajudar a geração pura e desinteressadamente como fazem os Anjos, mas atuavam sob o império do desejo, da paixão vil e egoísta, pelo que foi necessário separá-los dos seus irmãos mais adiantados e fixá-los num lugar apropriado às suas condições.
O ambiente que necessitavam era o de Marte, a quem os antigos astrólogos atribuíram o poder sobre o signo zodiacal de Áries, o Carneiro, que tem domínio sobre a cabeça dos seres humanos — convém recordar que o cérebro foi construído com as energias subvertidas dos órgãos sexuais —, o que comprova que aquele planeta exerce igualmente o seu domínio sobre o signo zodiacal de Escorpião, o regente dos órgãos da reprodução. Carneiro é a primeira casa do horóscopo, regendo o começo da vida; Escorpião é a oitava casa do horóscopo, a que nos fala da morte. Em tudo isso está contida uma lição, ensinando-nos que tudo aquilo que foi gerado pelos desejos vis é chamado à dissolução, à morte.
Assim, pois, Marte é, esotérica e astrologicamente, o que se chama de diabo e Lúcifer, o mais notável dos Anjos caídos, é realmente o adversário de Jeová, quem dirige o poder fecundante do Sol por meio da ação lunar. Todavia, os espíritos de Lúcifer estão ajudando a nossa evolução. Deles recebemos o ferro que, por si só, torna possível a vida em uma atmosfera oxigenada. Foram e continuam sendo os agitadores das forças que impulsionam o progresso material e, por isso, não temos o direito de os anatemizar. A Bíblia tacitamente nos proíbe ultrajar os deuses. O próprio apóstolo Judas declara que mesmo o Arcanjo Miguel não se atreveu a denegrir Lúcifer — Porém o Arcanjo Miguel, quando, lutando contra o diabo, disputava o corpo de Moisés, não ousou pronunciar contra ele juízo blasfemo, mas disse: ‘Repreenda-te o Senhor’. E no livro de Jó vemos Lúcifer como um dos filhos de Deus. O seu embaixador na Terra, Samael, é o Anjo da morte, representado pelo signo zodiacal de Escorpião, mas também é o anjo da vida e ação, simbolizado pelo Carneiro: a vida que desabrocha.
Se não fossem os impulsos marcianos, agitadores e belicosos, talvez não sentíssemos as aflições tão ao vivo como sentimos, mas também não poderíamos progredir na mesma proporção e é seguramente melhor “gastar-se ao criar bolor”.
Desse modo, podemos compreender que a essas “ovelhas perdidas” de uma era anterior foi concedida a oportunidade para recuperar, no atual esquema de evolução, o tempo que perderam. Ficaram atrasadas e, por esse motivo, são consideradas más, como no caso dos Anjos caídos; entretanto, “não se perderam; apenas afastaram-se da redenção”. Podem se salvar e certamente conseguirão, servindo-nos e provavelmente ajudando a transmutar a natureza de Escorpião na de Carneiro, levando-nos a sublimar em nós mesmos tudo que for grosseiro e mau.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de julho/1970)