O Diagrama (seguinte) mostra os três momentos que são detalhados no texto abaixo:
Primeiro Momento (Época Lemúrica): quando cada ser humano era uma unidade criadora completa, macho-fêmea, bissexual e regida por um Hierarca, Melquisedeque, que exercia o duplo cargo de Rei e Sacerdote.
Segundo Momento (Época Atlante e Época Ária): quando a divisão da raça em homens e mulheres, e a divisão de governo em Estado e Igreja, causaram guerras e lutas. Estado abraça a causa da “Paternidade e do Homem” e eleva o ideal masculino das Artes, Ofícios e Indústria, encarnado em Hiram Abiff. A Igreja abraça a causa da Maternidade e da Mulher e mantém erguido o ideal feminino do amor e do lar, encarnado na Madona e seu filho. São os interesses conflitantes entre o homem e a mulher, o lar e o trabalho, a Igreja e o Estado, que causam as lutas econômicas, a guerra e as disputas com as quais a humanidade é atormentada e faz com que todos desejemos e oremos pelo reino da paz.
Terceiro Momento (Época Nova Galileia): quando um Cristo divino que, como Melquisedeque, exercerá o cargo duplo de Rei e Sacerdote e reinará sobre uma humanidade purificada e glorificada que se elevou do amor-sexo ao amor-alma.
Agora, vamos detalhar cada Momento a fim de entendermos como isso se deu e como se dará daqui para frente.
Entre todos os personagens mencionados na Bíblia, nenhum é mais misterioso do que Melquisedeque (ou Melchizedek). Não teve pai, mãe ou outro parente terrestre e mantinha o duplo cargo de rei e sacerdote. São Paulo, em sua Epístola aos Hebreus, nos fornece muita informação a respeito, mostrando a ligação entre Cristo e Melquisedeque, ambos Reis e Sumo-Sacerdotes, ainda que de dispensações diferentes:
“Deus, tendo falado outrora muitas vezes e de várias maneiras aos nossos pais, pelos profetas, a nós falou nestes últimos dias pelo Seu Filho, a quem Ele constituiu herdeiro de todas as coisas, por quem Ele fez também os mundos *** Nenhum homem toma para si esta honra, senão aquele que é chamado por Deus, como foi Arão. Assim também Cristo não Se glorificou para se tornar Sumo Sacerdote, mas Aquele que Lhe disse: `Tu és meu Filho, hoje Te gerei.’ Como Ele também diz em outro lugar Tu és um Sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque, o qual nos dias de Sua carne, quando Ele ofereceu, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que O podia salvar da morte e foi ouvido quanto ao que temia, e, embora fosse o Filho, ainda aprendeu a obediência pelas coisas que padeceu; e, tornando-se perfeito, tornou-se a causa de eterna salvação para todos que O obedecem; chamado por Deus sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, do qual muito temos que dizer, de difícil interpretação. * * * Porque este Melquisedeque, que era rei de Salem, sacerdote do Deus Altíssimo, e que saiu ao encontro de Abraão quando ele regressava de destroçar os reis, e o abençoou; a quem também Abraão deu o dízimo de tudo, e primeiramente é, por interpretação, rei de justiça e depois também rei de Salem, que quer dizer rei de paz; sem pai nem mãe, sem genealogia, sem princípio de dias nem fim de vida, mas sendo feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre. *** E aqui certamente recebem dízimos os homens que morrem (os Levitas); ali, porém, Ele acolhe aquele de quem se afirma que vive. *** De sorte que, se a perfeição tivesse podido ser realizada pela lei e seu sacerdócio, que necessidade havia de que outro sacerdote se levantasse, segundo a ordem de Melquisedeque, e não segundo a ordem de Arão? *** Porque é manifesto que nosso Senhor procedeu da tribo de Judá, tribo da qual Moisés nunca atribuiu o sacerdócio. E muito mais manifesto é ainda se, à semelhança de Melquisedeque, se levantar outro sacerdote que não foi feito segundo a lei do mandamento carnal, mas segundo o poder da vida eterna, porque dele assim se testifica; `Tu és sacerdote através dos séculos, segundo a ordem de Melquisedeque.’ *** Jesus tornou-se, por isso mesmo, o fiador de uma aliança melhor: *** mas este, porque permanece eternamente, tem um sacerdócio perpétuo; *** porque a lei constituiu sumos sacerdotes a homens débeis, mas a Palavra de Deus que era desde a lei, constituiu o Filho, consagrado para sempre. A suma do que temos dito é que temos um sumo sacerdote que está assentado nos céus à direita do trono da majestade, ministro do santuário, e do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor erigiu, e não o homem: *** E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue, e sem derramamento de sangue não há remissão; de sorte que era bem necessário que as figuras das coisas que estão no céu assim se purificassem; mas as mesmas coisas celestiais com sacrifícios melhores do que estes, porque Cristo não entrou num santuário feito por mão de homem, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para agora comparecer por nós diante de Deus; *** Mas agora alcançou Ele ministério tanto mais elevado, quanto é mediador da melhor aliança, que está confirmada em melhores promessas; porque se aquela primeira aliança fora irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para a segunda. Porque, repreendendo-os, lhes diz: Eis que virão dias em que com a casa de Israel e com a casa de Judá estabelecerei uma nova aliança. Não como a aliança que fiz com seus pais no dia em que os tomei pela mão para tirá-los da terra do Egito; como não permaneceram na minha aliança, eu para eles não atentei, diz o Senhor. *** Porque esta é a aliança que depois daqueles dias farei com a casa de Israel, diz o Senhor: “porei as minhas leis no seu entendimento, e em seus corações as escreverei; e Eu lhes serei por Deus, e eles Me serão por povo; e não ensinará cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conheça o Senhor: porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior”.
É necessário juntar inteligentemente a narrativa da Bíblia, para que possamos obter um esboço do futuro desenvolvimento que foi delineado pelas Divinas Hierarquias para constituir nossa evolução. A compreensão deste plano é nossa evolução. A compreensão deste plano é essencial para o completo entendimento da relação Cósmica entre a Maçonaria e o Catolicismo; é também necessário entender integralmente a finalidade do Mar Fundido e aprender como fazer, com discernimento, esta maravilhosa liga. Como diz São Paulo, estas coisas são difíceis de dizer, mas tentaremos apresentar em linguagem simples, o mistério de Melquisedeque e do Mar Fundido, para que possamos, como foi expresso na Bíblia, ajudar a iluminar do menor ao maior dos homens, para que todos conheçam o objetivo da evolução e tenham a oportunidade de alinharem-se com os acontecimentos Cósmicos.
Para compreendermos o mistério de Melquisedeque devemos retroceder à Época relacionada com a existência do ser humano na Terra, a Época Hiperbórea. A Terra estava, então, em uma condição extremamente aquecida. O ser humano em formação era bissexual, masculino-feminino, como muitas das nossas plantas atuais, com as quais se parecia por ser inerte e por faltar-lhe desejo e aspiração. Naquele tempo, o ser humano era o tutelado dócil das Hierarquias Divinas que o guiavam fisicamente, sendo isto veladamente referido na Bíblia como “Reis de Edom”. Mais tarde, na Época Lemúrica, quando o corpo do ser humano se cristalizou e condensou um pouco mais, a humanidade foi dividida fisicamente em sexos. Porém, como a consciência dos homens ainda estava focalizada no mundo espiritual, eles eram inconscientes do ato físico da geração, como somos agora da digestão. Não conheciam nascimento nem morte e eram totalmente inconscientes da posse de um veículo físico, mas, com o tempo, sentiram-no no processo gerador. Então, foi dito que “Adão conheceu Eva”. Nessa época, os Espíritos Lucíferos, os Anjos caídos e habitantes do belicoso Planeta Marte, ensinaram os seres humanos a comer da Árvore do Conhecimento, nome simbólico do ato gerador. Assim, gradativamente, seus olhos abriram-se e tornaram-se conscientes do Mundo Físico, mas perderam o contato com o mundo espiritual e com os Anjos guardiães, que tinham sido, anteriormente, seus guias benevolentes. Somente alguns dos mais espiritualizados conservaram sua visão superior e a comunhão com as Hierarquias Criadoras. Eram os profetas, que agiam como mensageiros entre os divinos guias invisíveis e seus respectivos povos. Porém, com o decorrer do tempo, a humanidade desejou escolher seus próprias guias e exigiu reis visíveis; sabemos que os Israelitas repudiaram a divina liderança e exigiram um rei e daí Saul ter sido designado. A seguir, o duplo cargo de Governante e Sacerdote, abrangendo a liderança temporal e espiritual, foi também dividido, pois nenhum ser humano que estivesse capacitado em problemas do mundo para exercer com eficiência o cargo de Rei, era bastante santo para também exercer a liderança espiritual de seus irmãos e vice-versa. Um verdadeiro sacerdote, capaz de guiar espiritualmente seu rebanho, não pode controlar, ao mesmo tempo e bem, riquezas materiais como governante de um domínio temporal. Assim como a Política, no seu aspecto mais elevado, visa dirigir as massas focalizando somente seu bem-estar físico, o Sacerdócio, exercido benevolentemente, procura guiá-las unicamente para o progresso da alma. Portanto, é natural que o conflito aconteça após essa separação, mesmo que ambos, governantes espirituais e temporais, sejam movidos pelos motivos mais elevados e altruístas. Melquisedeque era o nome simbólico das Hierarquias Criadoras que desempenharam o duplo cargo de sacerdote e rei na orientação dos seus tutelados bissexuais, e enquanto eles reinaram houve paz sobre a Terra. Mas logo que os cargos de Rei e Sacerdote foram separados e os sexos divididos, é fácil compreender pela razão acima apresentada, que o reino cheio de paz de Melquisedeque foi seguido por uma era de guerras e conflitos, tal como acontece na atual dispensação. Antigamente, os fatores unificantes de um cargo duplo no governo e o sexo duplo do seu povo, impediam o conflito de interesses que agora existe, e que continuará até que um outro regente divino se apresente para incorporar as qualidades do duplo cargo de Rei e Sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque e até que a geração pelo sexo seja abolida. É significativo observar-se que a narrativa bíblica começa no Jardim do Éden, onde a humanidade era macho-fêmea e inocente. No capítulo seguinte, falam-nos da divisão dos sexos, da transgressão à ordem de não comerem da Árvore do Conhecimento e dos castigos impostos – o parto doloroso e a morte. Daí por diante, o Antigo Testamento fala de guerras, lutas e contendas, e, no último capítulo, faz a profecia de que um Sol de justiça surgirá trazendo a cura em suas asas. O Novo Testamento começa com um relato sobre o nascimento do Cristo, que proclamou um Reino do céu que está para ser estabelecido. Posteriormente, Ele é chamado de Rei e Sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, unindo em si o cargo duplo. Também é dito que no céu não haverá matrimônio, ninguém será dado em casamento, pois a soma psuchicon, ou corpo-alma, que São Paulo disse ser o veículo que usaremos no Reino do Céus (Icor 15), não está sujeito à morte nem à desintegração. Assim, não haverá morte, e o nascimento dos corpos gerados pelo casamento será dispensável, pois São Paulo nos diz que “a carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus”. Portanto, o casamento será desnecessário e o choque de interesses, devido à luxúria do sexo e do amor ao poder, desaparecerá e o amor das almas será santificado pelo espírito da paz.
Este é o plano que os Filhos de Caim, os Artífices, e os Filhos de Seth, os Sacerdotes, e seus respectivos seguidores devem amalgamar para ficar unidos no Reino de Cristo. Já vimos como Hiram Abiff, o Filho da Viúva, deixou seu pai, o espírito Lucífero Samael, depois do batismo de fogo no Mar Fundido e como recebeu a missão de preparar o caminho do reino para seus irmãos, os Filhos de Caim, pelo desenvolvimento de suas artes e ofícios como construtores do templo – Maçons – ensinando-os a preparação da Pedra Filosofal, ou Mar Fundido. Assim, os fisicamente negativos Filhos de Seth devem aprender a deixar seu pai Jeová e é natural que o primeiro a dar este passo seja uma grande alma.
Como a suprema habilidade dos Filhos de Caim foi focalizada em Hiram Abiff na ocasião do seu batismo de fogo, assim também a sublime espiritualidade dos Filhos de Seth foi centralizada em Jesus na ocasião de Seu batismo nas águas do Jordão. Quando Ele se ergueu dessa água, estava na mesma situação que Hiram ao emergir do fogo; cada um tinha deixado seu pai, respectivamente Jeová e Samael, e cada um estava pronto para servir o Cristo. Por isso, o Espírito Cristo foi visto no Batismo descendo sobre o corpo de Jesus, o qual foi habitado e usado por Cristo durante Seu ministério. Jesus, o Espírito, deixou aquele corpo e foi-lhe dada a missão de servir as igrejas enquanto seu corpo estava sendo usado por Cristo para divulgar os novos ensinamentos e seu sangue estava sendo preparado como um “Abre-te-Sésamo” para o Reino de Deus, uma Panaceia para ser usada pelos Seus irmãos, os Filhos de Seth, do mesmo modo que o Mar Fundido serve os Filhos de Caim.
Na Epístola aos Hebreus, São Paulo deu-nos algumas alusões acerca do Mistério de Melquisedeque na qualidade de Sumo Sacerdote, e enfatizou a necessidade absoluta do sangue como um complemento para o Serviço do Templo. Mostrou que era exigido que o Sumo Sacerdote oferecesse primeiro sangue pelos seus próprios pecados, antes de oferecer sacrifício pelos pecados do povo, e que este sacrifício duplo devia ser efetuado ano após ano. Ele indicou o sacrifício no Gólgota como o que representou isto, uma vez e para sempre, proporcionando um caminho de redenção por meio do sangue de Jesus. Durante o regime de Jeová, o sangue da humanidade tornou-se impregnado de egoísmo, que é o fator separativo nesta era. O sangue deve ser purificado deste pecado antes que a humanidade seja unida e entre no Reino de Cristo. Esta foi uma tarefa gigantesca, pois a humanidade estava tão impregnada de egoísmo, que raramente alguém fazia um favor a outro. Por esta razão, o panorama “post-mortem” da vida, na época de Cristo, nada continha que pudesse impulsionar uma vida no Primeiro Céu ou dar-lhe progresso espiritual. Quase toda existência “post-mortem” das pessoas era consumida na expiação purgatorial de suas más ações, e mesmo suas vidas no Segundo Céu, onde o ser humano aprende a fazer trabalho criativo, era infrutífera. Então, o Rei Salomão foi chamado novamente à arena da vida para cumprir uma missão em benefício e bem-estar dos seus irmãos, os Filhos de Seth. Estava qualificado para este trabalho porque era realmente generoso, como foi revelado pelo pedido que fez quando Jeová apareceu-lhe em um sonho e perguntou-lhe o que ele queria receber, como presente, quando subisse ao trono. Salomão respondeu a Deus: “Tu mostraste grande misericórdia com David meu pai e me colocaste para reinar em seu lugar; agora, Oh! Senhor, confirma Tua promessa dada a David meu pai, porque me fizeste rei de um povo que é como o pó da terra em multidão. Dá-me agora sabedoria e conhecimento para que eu possa sair e estar diante deste povo, pois quem pode julgar Teu povo tão numeroso?” E Deus disse a Salomão: “Porque isto estava no teu coração e não pediste riquezas, opulência, poder ou glória, nem a vida dos teus inimigos, nem ainda pediste vida longa, mas pediste sabedoria e conhecimento para ti, para que possas julgar o meu povo sobre o qual Eu te fiz rei; sabedoria e conhecimento te serão dados e Eu te darei riqueza, opulência e glória como ninguém dos reis possuiu antes de ti, nem haverá ninguém semelhante depois de ti”.
Esta característica de altruísmo desenvolvida em vidas anteriores, preparou o espírito de Salomão, que habitou o corpo de Jesus, para a alta missão a que foi destinado, isto é, servir como um veículo para o generoso e unificante Espírito Cristo, com o propósito de acabar com a divisão entre os Filhos de Seth e os Filhos de Caim, unindo-os na Fraternidade, formando o reino do Céu.
Quando Fausto fez o pacto com Mefistófeles, como é lembrado no antigo mito-alma daquele nome, ele estava prestes a assiná-lo com tinta, quando Mefisto disse: “Não, assina em sangue”. Quando Fausto perguntou a razão disso, Mefistófeles disse esperta e astutamente: “O sangue é uma essência muitíssimo peculiar!”.A Bíblia diz que o sangue dos touros e bezerros não tirará os pecados e isso é compreensível, mas qual a explicação para o sangue de Jesus que é exaltado como uma panaceia? Para compreender esse grande mistério do Gólgota é necessário estudar a composição e função do sangue, do ponto de vista oculto.
Quando o sangue é examinado em um microscópio, parece ter um número de minúsculos glóbulos ou discos, porém, quando um clarividente treinado pode vê-lo enquanto circula através de um corpo vivo, constata que o sangue é um gás, uma essência espiritual. O calor é causado pelo Ego que está dentro deste sangue, pois, como diz a Bíblia, a vida está no sangue. Mefistófeles estava certo quando disse que o sangue é uma essência muitíssimo peculiar, pois contém o Ego e todo aquele que quiser obter um poder sobre o Ego, tem que possuir o seu sangue.
O Ego humano é mais poderoso que o Espírito-Grupo do animal, como podemos ver quando aplicamos o teste científico conhecido como hemólise. Sangue estranho de um animal superior, se inoculado nas veias de um de espécie inferior, causará a morte deste. Se tomarmos sangue humano e o injetarmos em um animal, este será incapaz de suportar as altas vibrações que estão no sangue do ser humano e morrerá. Por outro lado, um ser humano poderá ser inoculado com o sangue de um animal inferior sem sofrer danos. Nos tempos primitivos era rigorosamente proibido alguém pertencente a uma tribo casar-se dentro de uma outra tribo, pois era sabido, então, pelos guias da humanidade, que o sangue estranho mataria alguma coisa; sempre o faz. Lemos que Adão e Matusalém viveram vários séculos; naquele tempo era costume casarem-se em família, casar-se tão próximo quanto possível, para que os laços de sangue ficassem cada vez mais fortes. Assim, o sangue que circulava nas veias das pessoas naquela família continha as imagens de todos os acontecimentos referentes aos seus ancestrais; esses quadros eram guardados na mente, que é agora o subconsciente. Naquela época, eram conscientes e estavam sempre diante da visão interior das pessoas e cada família estava unida por este sangue comum, onde as imagens dos seus ancestrais permaneciam. Os filhos viam a vida dos seus pais e, em consequência, os pais viviam nos filhos; e, uma vez que as consciências de Adão, de Matusalém e de outros Patriarcas viveram durante séculos em seus descendentes, diz-se que viveram pessoalmente essa longevidade.
O matrimônio forada família era considerado um crime, como agora casar-se dentro dela é considerado um mal. Sabemos que entre os primitivos escandinavos, se alguém quisesse se casar em uma família estranha, era obrigado primeiro a misturar o sangue, que devia ser testado para ver se esse sangue se misturaria com o da família na qual desejava entrar. Desta forma, a hemólise foi sentida por muitos, pelo menos em algumas de suas fases. Se o sangue não se misturasse podia trazer “confusão de casta”, como diz o Hinduísmo; uma linha pura de descendência devia ser mantida, pois, de outra maneira, aquelas imagens ou visão interna se misturariam e se tornariam confusas. Este matrimônio na família ou tribo foi o que engendrou o egoísmo, o espírito de clã, o conflito e a luta no mundo. Para acabar com isso, a prática devia ser interrompida, e quando Cristo veio à Terra, Ele advogou a interrupção desse hábito, quando disse: “Antes que Abraão fosse, Eu sou”. De fato, Ele disse: “Eu não me importo pelo pai da raça, mas Eu me glorifico no Eu Sou, o Ego que era há muito tempo antes que ele fosse”. E Ele também disse: “Quem não deixa pai e mãe não pode seguir-Me”. Enquanto estivermos amarrados à família, à nação ou tribo, estamos ligados ao velho sangue, aos velhos caminhos e não podemos fundir-nos em uma fraternidade universal. Isto poderá ser alcançado quando as pessoas se casarem além das fronteiras, porque quando existem tantas nações, a maneira de uni-las é através do casamento. Deixemos Abraão, o pai da raça e da tribo morrer; deixemos o “Eu Sou” viver. Cristo tinha conhecimento do fato oculto de que a mistura do sangue em casamento entre diversas raças e famílias sempre mata algo; quando não mata o corpo, mata alguma outra coisa. Se cruzarmos um cavalo e um burro, teremos um híbrido, a mula; nela alguma coisa está faltando devido à mistura de sangue estranho, a saber, a faculdade da propagação que está faltando em todos os híbridos. De forma análoga, quando os casamentos ocorrem fora do círculo da raça ou família, alguma coisa é destruída, e, neste caso, são os quadros da visão interna. Os diferentes quadros de diferentes famílias se chocam e, em consequência, a clarividência, o contato com o mundo espiritual e com a memória da Natureza foi desaparecendo desde que a prática do casamento dentro do mesmo grupo cessou. Somente os escoceses das montanhas que se casam na clã, e os ciganos, retêm, de certa forma, esta segunda visão. Assim, vemos que o sangue é agora constituído diferentemente do que era nas idades primitivas da evolução humana. O corpo de Jesus era um veículo pioneiro, de máxima pureza, quando o Espírito Cristo entrou nele como um meio de ingressar no centro da Terra pelo idêntico caminho que, previamente, tinha sido percorrido por Hiram Abiff quando se lançou no Mar Fundido e foi conduzido pelo caminho da Iniciação para o centro da Terra, onde Caim, seu antepassado, habitava.
Essa viagem de Cristo é citada na Primeira Epístola de São Pedro 3:18-19, depois de Cristo ter-se libertado da carne pela morte violenta no Gólgota. Quando alguém morre, o sangue venoso com suas impurezas adere firmemente à carne e, portanto, o sangue arterial que corre fica visivelmente mais limpo do que em outras circunstâncias; está mais livre de paixão e de desejo. Sendo eterizado pelo grande Espírito Cristo, o sangue limpo de Jesus inundou o mundo, purificou grandemente a região etérica do egoísmo, e deu ao ser humano uma melhor oportunidade para atrair para si materiais que lhe permitirão formar propósitos e desejos altruísticos. A era do altruísmo foi aí inaugurada. Pela fé neste sangue e pela imitação da vida de Cristo, os Filhos de Seth foram preparados para eliminar de si a maldição do egoísmo; enquanto aos Filhos de Caim foi-lhes dado o emblema da Rosa e da Cruz, para ensinar-lhes como trabalhar fielmente no preparo do Mar Fundido, a Pedra Filosofal, e encontrar a Nova Palavra que os admitirá no reino, pois eles acreditam mais no trabalho do que na fé.
Max Heindel
Hoje em dia, muitas pessoas, geralmente, olham para o oriente, quando empreendem a busca pela Luz Mística. No entanto, na verdade, o curso das estrelas é do leste ao oeste e os doadores de luz celestiais acima, assim como os lugares de luz terrestre, abaixo, são periodicamente movidos em direção ao oeste. Os sábios do Oriente, mencionados na Bíblia, não olharam para o leste em busca da estrela, mas a seguiram e foram com ela para o oeste. No antigo Templo de Mistério da Atlântida, chamado de Tabernáculo no Deserto, havia uma luz dentro do portão oriental, por onde o Aspirante entrava. Ele estava então voltado para o oeste e via a luz lá dentro; ou seja, a luz no Altar dos Sacrifícios.
Ele estava cego e procurando a luz; esta luz o confronta quando olha para o Ocidente. A lei era seu vigia para trazê-lo à luz que, então, brilhava para sua orientação; enquanto ele a seguia em sua jornada e caminhava para o oeste, em direção ao primeiro véu, outra luz aparecia: o Candelabro de Sete Braços no Lugar Santo. Esta era uma luz mais pura e sagrada do que a luz do Altar dos Sacrifícios, onde o fogo era alimentado com as carcaças fumegantes e sangrentas dos sacrifícios. A luz do Lugar Santo era alimentada com o mais puro azeite de oliva, feito especialmente para esse fim; portanto, era uma luz de ordem superior, acima daquela das carcaças que queimavam ao lado de fora. No entanto, o candidato prosseguia mais para o Oeste e, quando ele chegava à parte mais ocidental de todas, o Santo dos Santos, havia escuridão aparente onde estava a Arca da Aliança; mas acima dela havia uma luz espiritual, mencionada na Bíblia como a “Glória de Shekinah”, pairando sobre a Arca como o símbolo do ser humano purificado. Enquanto ele estava no portão leste e a luz brilhava resultado do Altar dos Sacrifícios, o Aspirante estava sem a lei dentro dele e obedecia à lei externa como se ela fosse um seu feitor.
Já nessa extremidade ocidental do Tabernáculo ele encontrava a Arca da Aliança com as tábuas da lei dentro dela, símbolo do fato de que o ser humano que chegou àquela altura tem dentro de si todas as leis da natureza e é um com elas. Portanto, ele as obedece prontamente; elas não são para ele um vigia e ele não agiria contrário a elas, mesmo se pudesse. O Pote de Ouro de Maná, simbolizando o pão que desceu do céu, o Cristo Interno, nos fornece outra chave para decifrar a natureza deste símbolo. A Vara de Aarão, com a qual operou os milagres no Egito, é como a lança do Graal, um símbolo do poder espiritual que pode ser empunhado por um ser humano que atingiu aquela Luz Espiritual do Oeste.
Contudo, o propósito dessa conquista é, e deve ser sempre, o serviço; portanto, as varas estavam sempre colocados nos anéis da Arca, para que ela pudesse ser movida a qualquer momento. Da mesma forma, o homem ou mulher elevado espiritualmente em quem brilha aquela maravilhosa Glória de Shekinah e que tem dentro de si as tábuas da lei, o Maná que caiu do Céu e a Varas Sagradas, está alerta ao menor chamado de serviço, para que ele ou ela possa se apressar em aliviar o sofrimento de seus irmãos e irmãs que estão para trás no Caminho da Evolução, em direção ao Oriente.
Também, sabemos que há seiscentos ou setecentos anos A.C. uma nova onda de espiritualidade iniciou-se nas margens ocidentais do Oceano Pacífico, para iluminar a nação chinesa. Hoje em dia, milhões de habitantes do Celeste Império professam a religião de Confúcio. Notamos o efeito posterior dessa onda na religiãode Buda, um ensinamento destinado a despertar as aspirações de milhões de hindus e chineses ocidentais. Em seu curso para Oeste, surge entre os gregos mais intelectuais, nas filosofias elevadas de Pitágoras e Platão, e por último, invade o mundo ocidental e alcança os precursores da Raça humana, onde assume a elevada forma da Religião Cristã.
O Cristianismo abriu gradualmente seu caminho para Oeste até a costa do Oceano Pacífico, onde vem reunindo e concentrando as aspirações espirituais. Ali alcançará um ponto culminante, antes de prosseguir através do Oceano para inaugurar no Oriente um despertar mais elevado e mais nobre, muito mais do que existente até agora nessa parte da Terra.
Esses são fatos místicos e a visão do autor os percebeu corretamente. Tudo muda à medida que vamos do Leste para o Oeste para promover o desenvolvimento do novo atributo que devemos desenvolver nesta Era de Peixes, para que a Era vindoura, a de Aquário, possa ser utilizada por quem esteja pronto.
Quando o autor foi para a Alemanha, em 1907, ele sentiu, de forma mais aguda, a opressão do Espírito-Grupo ali, como uma nuvem sobre a Terra, segurando o povo em suas garras. Assim como está registrado que nos tempos antigos Jeová foi à frente dos israelitas e estava como numa nuvem, assim o Espírito-Grupo das nações governa o seu próprio povo, refletindo sobre ele e desenvolvendo nele certas características. Portanto, as características dos europeus persistem, apesar da frequência crescente de casamentos internacionais, porque o Espírito-Grupo invariavelmente marca sua prole. Na América é diferente; esse é o caldeirão e nenhum Espírito-Grupo foi desenvolvido para guiar este lugar. Uma nova classe de Egos está renascendo, com traços de caráter e qualidades diferentes das que existem entre as pessoas mais velhas.
Quando investigamos as condições climáticas, também descobrimos que há uma grande diferença entre a atmosfera da América e da Europa; a atmosfera da América é elétrica e, particularmente no sul do estado da Califórnia, nos Estados Unidos, o Éter é abundante em grau nunca experimentado em qualquer lugar da Terra. Isso tem um efeito muito brilhante sobre as pessoas que vivem nos diferentes países e o escritor não pode ilustrar tal característica de maneira melhor do que relatando um certo incidente e uma conversa que aconteceu no Templo da Rosacruz na Alemanha, que ele visitou, por ser convidado, para receber os ensinamentos incorporados no Conceito Rosacruz do Cosmos.
Por meio de um trabalho incessante dia e noite, por muito tempo, o autor conseguira fazer um esboço da filosofia. Isso, ele mostrou aos Irmãos Maiores, que o estavam instruindo, mas seu entusiasmo logo esfriou quando lhe disseram que, embora agora estivesse muito satisfeito com o resultado, assim que chegasse aos Estados Unidos, a atmosfera elétrica da América o faria olhar para as coisas de maneira diferente, que ele iria reescrever e tornar completamente distinto; ele supunha que isso fosse absolutamente impossível, na época; porém os Irmãos Maiores então disseram.
“Você foi convidado a vir para a Alemanha porque a atmosfera deste local, pesada, carregada pelo Espírito-Grupo, leva à persistência e perseverança, favorecendo a concentração, o pensamento profundo e uma grande percepção. Só aqui o esqueleto para tal livro poderia ser escrito; mas para terminá-lo e dar a ele um traço de vida que deve ter para lhe tornar sucesso entre as massas, a atmosfera elétrica da América é necessária”.
A atitude mental de um alemão, devido ao Espírito-Grupo na atmosfera, pode ser comparada a um ser humano que viaja de Berlim a Paris em diligência; vai levar muito tempo para chegar, mas no caminho ele vê pessoas de diferentes nações e se familiariza com cada passo da estrada, percebendo a paisagem e se familiarizado totalmente a cada passo do caminho, de modo que possa dar uma boa descrição, se ele depois precisar. Os processos mentais na América também são como seus métodos de viagem. Quando deseja ir de um lugar na América para outro lugar também na América, ele dorme à noite para não perder qualquer uma das preciosas horas comerciais da luz do dia, corre pelo país a uma velocidade a mais que ele possa e chega ao seu destino na madrugada do dia seguinte; ele não sabe coisa alguma dos locais por onde passou, mas chegou rápido: esse é o ponto essencial.
Vamos a um exemplo: um alemão teria usado, pelo menos, dois volumes para expressar sua opinião sobre todos os detalhes do projeto do Canal do Panamá. O presidente Roosevelt cobriu bem o assunto em um único discurso; ele chegou ao destino sem todos os detalhes.
Em outra ocasião, quando a questão da Sede Mundial estava em discussão, o escritor foi instruído a procurar um lugar com vista para o Oceano Pacífico, no sul do Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, tendo ao fundo montanhas cobertas de neve. Tentamos primeiro comprar um lugar que parecia se adequar à descrição, em parte; mas os obstáculos foram se acumulando de modo que não pudemos aperfeiçoar a compra. Então Mt. Ecclesia foi encontrada e imediatamente reconhecida pelos Irmãos Maiores como cumprindo todas as condições exigidas.
O número de prédios está aumentando, o jardim está ficando mais bonito ano após ano. Este local já se tornou um destino para Estudantes Rosacruzes de muitos lugares que vêm aqui para reunir inspirações e levar de volta para suas casas a luz recebida aqui; com o passar do tempo, não podemos esperar que isso possa, de fato, tornar-se um centro de grande influência espiritual na obra do mundo. Vamos puxar o vagão das aspirações para entregá-lo à Estrela da Esperança; quanto mais elevado for o nosso ideal, melhor talvez vivamos de acordo com ele.
Uma coisa é certa — o templo espiritual que estamos construindo com nossas esperanças e aspirações, ao redor do santuário terrestre que já erigimos, está gradualmente crescendo mais e se tornando mais bonito, luminoso e mais parecido com aquele templo admirável que Manson descreve tão eloquentemente em O Servo da Casa. Pela Graça de Deus continuaremos na alegria e no contentamento. Como disse Manson: “Descobrimos ser verdade que, às vezes, o trabalho continua na escuridão quase total; mas ocasionalmente chegam os raios de esperança, as nuvens se desmancham e o sol da alegria e contentamento brilha para aliviar a carga”. Contudo, quer estejamos construindo nas trevas ou na luz ofuscante, é algo que podemos dizer: nunca cessamos em nossa persistência incansável. Ajudados pelas aspirações de milhares de Estudantes Rosacruzes mentalmente centrados neste lugar, o trabalho prossegue com alegria ou tristeza e, algum dia, a visão será realizada e Mt. Ecclesia, a sede da Fraternidade Rosacruz, dará sua cota total de luz para “o mundo que espera”.
Como o Sol, por precessão, está se aproximando da cúspide do Signo de Aquário, as influências uranianas e netunianas estão ficando cada vez mais fortes. Pessoas em todo o mundo estão atualmente sendo atraídas para o lado espiritual da sua natureza de uma forma, e com uma força, nunca vista. A onda do materialismo e do dogmatismo, tanto o religioso quanto o científico, está gradualmente recuando e, em seu lugar, este novo raio estelar está trazendo mais luz, mais amor pela humanidade.
A necessidade do ser humano é a oportunidade de Deus e não demorará muito para encontrar, aqueles que agora estão se preparando para a tarefa através do estudo adequado e de uma vida consagrada, um público pronto entre os povos onde anteriormente o prazer mundano era o objetivo principal da vida. Possa cada um que vê a luz mística aproveitar a oportunidade de se preparar adequadamente para o grande privilégio de levar luz aos povos e colher, assim, o óleo da alegria como a recompensa, ganhando oportunidades cada vez maiores de serviço no futuro, pelo trabalho do presente.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de junho/1915 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
Quando investigamos o significado de qualquer mito, lenda ou símbolo de valor oculto é absolutamente necessário entendermos que, assim como todo objeto do mundo tridimensional deve ser examinado de todos os ângulos para dele obtermos uma compreensão completa, igualmente todos os símbolos têm também certo número de aspectos. Cada ponto de vista revela uma fase diferente das demais, e todas merecem igual consideração.
Visto em toda sua plenitude, esse maravilhoso símbolo contém a chave da evolução passada do ser humano, sua presente constituição e desenvolvimento futuro, mais o método de sua obtenção. Quando ele se apresenta com uma só rosa no centro simboliza o espírito irradiando de si mesmo os quatro veículos: os Corpos Denso, Vital, de Desejos e a Mente significando que o espírito entrou em seus instrumentos, convertendo-se em espírito humano interno.
No entanto, houve um tempo em que essa condição ainda não havia sido alcançada, um tempo em que o Tríplice Espírito pairava acima dos seus veículos, incapaz de neles entrar. Então a cruz erguia-se sem a rosa, simbolizando as condições prevalecentes no começo da terça parte da Época Atlante.
Houve também um tempo em que faltava o madeiro superior da cruz. A constituição humana era, pois, representada pela Tau (T), isto na Época Lemúrica, quando o ser humano só dispunha dos Corpos Denso, Vital e de Desejos e carecia da Mente. O que predominava, então, era a natureza animal. O ser humano seguia os seus desejos sem reserva.
Anteriormente ainda, na Época Hiperbórea, só possuía os Corpos Denso e Vital, faltando o de Desejos. Então o ser humano, em formação, era análogo às plantas: casto e sem desejos. Nesse tempo sua constituição não podia ser representada por uma cruz; era simbolizada por uma coluna reta, um pilar (I).
Esse símbolo foi considerado fálico, indicando a libertinagem do povo que o venerava. Por certo é um emblema de geração, mas geração não é absolutamente sinônimo de degradação. Longe disso. O pilar é o madeiro inferior da cruz, símbolo do ser humano em formação, quando era análogo às plantas. A planta é inconsciente de toda paixão ou desejo e inocente do mal. Gera e perpetua sua espécie de modo tão puro, tão casto, que propriamente compreendida é um exemplo para a decaída e luxuriosa humanidade, a qual deveria venerá-la como um ideal. Aliás, o símbolo foi dado às Raças primitivas com esse objetivo. O Falo e o Yona, empregados nos Templos de Mistério da Grécia, foram dados pelos Hierofantes com esse espírito. No frontispício do templo colocavam-se as enigmáticas palavras: “Ser humano, conhece a ti mesmo”. Esse lema, bem compreendido, é análogo ao da Rosacruz, pois mostra as razões da queda do ser humano no desejo, na paixão e no pecado, e dá a chave de sua liberação do mesmo modo que as rosas sobre a cruz indicam o caminho da libertação.
A planta é inocente, porém, não virtuosa. Não tem desejos nem livre escolha. O ser humano tem ambas as coisas. Pode seguir seus desejos ou não, conforme queira, para aprender a dominar-se.
Enquanto foi como as plantas, um hermafrodita, ele podia gerar por si, sem cooperação de outrem; mas ainda que fosse tão inocente e tão casto como as plantas, ele era também como elas: inconsciente e inerte. Para poder avançar, necessitava que os desejos o estimulassem e uma Mente o guiasse. Por isso, a metade de sua força criadora foi retida com o propósito de construir um cérebro e uma laringe. Naquele tempo o ser humano tinha a forma arredondada. Era curvado para dentro, semelhante a um embrião, e a laringe atual era então uma parte do órgão criador, aderindo à cabeça quando o Corpo tomou a forma ereta. A relação entre as duas metades pode-se ver ainda hoje na mudança de voz do rapaz, expressão do polo positivo da força geradora, ao alcançar a puberdade. A mesma força que constrói outro Corpo, quando se exterioriza, constrói o cérebro quando retida. Compreende-se isso claramente ao sabermos que o excesso sexual conduz à loucura. O pensador profundo sente pouquíssima inclinação para as práticas amorosas, de modo que emprega toda sua força geradora na criação de pensamentos, ao invés de desperdiçá-la na gratificação dos sentidos.
Quando o ser humano começou a reter a metade de sua força criadora para o fim já mencionado, sua consciência foi dirigida para dentro, para construir órgãos. Ele podia ver esses órgãos, e empregou a mesma força criadora, então sob a direção das Hierarquias Criadoras, para planejar e executar os projetos dos órgãos, assim como agora a emprega no mundo externo para construir aeroplanos, casas, automóveis, telefones, etc. Naquele tempo o ser humano era inconsciente de como a metade daquela força criadora se exteriorizava na geração de outro Corpo.
A geração efetuava-se sob a direção dos Anjos, que em certas épocas do ano, agrupavam os humanos aptos em grandes templos, onde se realizava o ato criador. O ser humano era inconsciente desse fato. Seus olhos ainda não tinham sido abertos, e embora fosse necessária a colaboração de uma parceira, que tivesse a outra metade ou o outro polo da força criadora indispensável à geração, cuja metade ele retinha para construir órgãos internos, em princípio não conhecia sua esposa. Na vida ordinária o ser humano estava encerrado dentro de si, pelo menos no que tangia ao Mundo Físico. Isto, porém, começou a mudar quando foi posto em íntimo contato, como acontece no ato gerador. Então, por um momento, o espírito rasgou o véu da carne e Adão conheceu sua esposa. Deixou de conhecer-se a si mesmo,quando sua consciência se concentrou mais e mais no mundo externo, e foi perdendo a sua percepção interna, a qual não poderá ser readquirida plenamente enquanto necessitar da cooperação de outro ser para criar, e não tenha alcançado o desenvolvimento que lhe permita utilizar, de novo e voluntariamente, toda sua força criadora. Então voltará a conhecer-se a si mesmo, como no tempo em que atravessava o estágio análogo ao vegetal, mas com esta importantíssima diferença: usará sua faculdade criadora conscientemente, e não será restringido a empregá-la só na procriação de sua espécie, mas poderá criar o que quiser. Outrossim, não usará os seus atuais órgãos de geração: a laringe, dirigida pelo espírito, falará a palavra criadora através do mecanismo coordenador do cérebro. Assim, os dois órgãos, formados pela metade da força criadora, serão os meios pelos quais o ser humano se converterá finalmente em um criador independente e autoconsciente.
Mesmo presentemente o ser humano já modela a matéria pela voz e pelo pensamento ao mesmo tempo, como vimos nas experiências científicas em que os pensamentos criaram imagens em placas fotográficas, e noutras em que a voz humana criou figuras geométricas na areia, etc. Em proporção direta ao altruísmo que demonstre, o ser humano poderá exteriorizar a força criadora que retiver. Isto lhe dará maior poder mental e o capacitará a utilizar-se de tal poder na elevação dos demais, ao invés de tentar degradá-los e sujeitá-los à sua vontade. Aprendendo a dominar-se, cessará de tentar dominar aos outros, salvo quando o fizer temporariamente para o bem deles,jamais para fins egoísticos. Somente aquele que se domina está qualificado para orientar aos demais e, quando necessário, é competente para julgá-los no modo que melhor lhes convenha.
Vemos, portanto, que, a seu devido tempo, o atual modo passional de geração será substituído por um método mais puro e mais eficiente que o atual. Isto também está simbolizado pela Rosacruz, em que a rosa se situa no centro, entre os quatro braços. O madeiro mais comprido representa o Corpo; os dois horizontais, os dois braços; e o madeiro curto superior representa a cabeça. A rosa branca está colocada no lugar da laringe.
Como qualquer outra flor, a rosa é o órgão gerador da planta. Seu caule verde leva o sangue vegetal, incolor e sem paixão. A rosa de cor vermelho-sangue mostra a paixão que inunda o sangue da Raça humana, embora na rosa propriamente dita o fluido vital não seja sensual, mas sim casto e puro. Ela é, por conseguinte, excelente símbolo dos órgãos geradores em seu estado puríssimo e santo, estado que o ser humano alcançará quando haja purificado e limpo seu sangue de todo desejo, quando se tenha tornado casto e puro, análogo a Cristo.
Por isso os Rosacruzes esperam, ardentemente, o dia em que as rosas floresçam na cruz da humanidade; por isso os Irmãos Maiores saúdam a alma Aspirante com as palavras de saudação Rosacruz: “Que as Rosas Floresçam em Vossa Cruz”; e é por esse motivo que essa saudação é usada nas reuniões dos Núcleos da Fraternidade pelo dirigente, ocasião em que os Estudantes, Probacionistas e Discípulos presentesrespondem à saudação dizendo: “E na vossa também”.
Ao falar de sua purificação, São João (IJo 3:9) diz que aquele que nasce de Deus não pode pecar, porque guarda dentro de si a sua semente. Para progredir é absolutamente necessário que o Aspirante seja casto. Todavia, deve-se ter bem presente que a castidade absoluta não é exigida enquanto o ser humano não tenha alcançado o ponto em que esteja apto para as Grandes Iniciações, e que a perpetuação da Raça é um dever que temos para com o todo. Se estivermos aptos: mental, moral, financeira e fisicamente, podemos executar o ato da geração, não para gratificar a sensualidade, mas como um santo sacrifício oferecido no altar da humanidade. Tampouco deve ser realizado austeramente, em repulsiva disposição mental, mas sim numa feliz entrega de si mesmo, pelo privilégio de oferecer a algum amigo que esteja desejando renascer, um Corpo e ambiente apropriados ao seu desenvolvimento. Desse modo estaremos também o ajudando a cultivar o florescimento das rosas em sua cruz.
UM LEMBRETE MUITO IMPORTANTE:
A EXPOSIÇÃO PÚBLICA DO SÍMBOLO ROSACRUZ QUE CONTÉM A ROSA BRANCA VISÍVEL deve ser feita publicamente somente nos momentos em que os Rituais Rosacruzes (do Templo, de Cura, dos Equinócios e Solstícios, de Véspera da Noite Santa) forem oficiados com mais um detalhe: descobri-lo depois do Hino Rosacruz de Abertura e recobri-lo antes do Hino Rosacruz de Encerramento.
E Após o Ritual o Símbolo Rosacruz deve ser guardado, em local apropriado, não visível publicamente.
Vamos ver a razão das provas que afligem o Aspirante à vida superior. Perceba a necessidade de abordar esse assunto porquanto, frequentemente, muitos Estudantes Rosacruzes indagam as causas dos sofrimentos que passaram a atormentá-los a partir do momento em que deram os primeiros passos no caminho da espiritualidade.
Considere que as adversidades ocorrem para o bem da alma aspirante, que constituem um sinal de progresso, devendo ser motivo de regozijo. Elas possibilitam-lhe uma rápida liquidação das dívidas contraídas debaixo da Lei de Causa e Efeito. Aceleram o processo de libertação que, no caso do ser humano comum, prolonga-se por várias existências.
As provas não devem ser encaradas como um sofrimento imposto pelas Hierarquias Criadoras, mas sim como um forte medicamento de efeito rápido e eficaz, um aprendizado acima de tudo. Indicam as mudanças que devem acontecer no caráter do Estudante Rosacruz, se efetivamente ele deseja trilhar a senda espiritual.
A evolução ocorre basicamente na consciência da pessoa, elevando-lhe a natureza de seus pensamentos, sentimentos, palavras e atos.
Não basta ao Aspirante à vida superior ampliar seu cabedal de conhecimentos. Isso diz respeito apenas à intelectualidade. É mister vivenciar esses conhecimentos, sem o que os resultados serão nulos. O conhecimento em si mesmo nada produz sem uma efetiva reforma de caráter. A esse respeito, o Cristo proclamou com muita sabedoria: “Não se coloca vinho novo em odres velhos, nem remendo novo em tecido velho”.
As provações geram, também, outros benefícios. Elas, por exemplo, fortalecem o indivíduo, fazendo-o desenvolver recursos de sobrevivência e criatividade. Com o passar do tempo ensejam autoconfiança, qualidade indispensável para o desenvolvimento anímico.
A vida ensina que o crescimento do indivíduo depende da somatória das pequenas vitórias morais do dia a dia. Enquanto outros decidirem por ele, não aprenderá a caminhar com os próprios pés, nem a voar com as próprias asas.
O Aspirante à vida superior deve assumir a responsabilidade pelos seus atos, agindo por vontade própria. Ação é o que muda o rumo das coisas. Ele deve aprender as lições e harmonizar-se com as leis divinas, não aceitando o sofrimento como uma punição, mas considerando-o um estímulo ao seu crescimento.
(Publicado no ECOS novembro-dezembro/2003 da Fraternidade Rosacruz em São Paulo-SP)
Nos dias atuais dá-se muito valor à criatividade. Em alguns campos de atividade humana a ausência do poder criativo causa verdadeiras crises. Quando surge alguém, capaz de inovar ao descobrir algum aspecto inusitado de alguma coisa, recebe o epíteto de “revolucionário”. Isso sem considerar que de tempos em tempos espíritos avançados promovem transformações radicais em seus campos de atuação. Trazem soluções novas, abrem perspectivas nunca dantes imaginadas, rompem novos caminhos, inaugurando patamares mais elevados dentro de determinados ramos de atividade ou conhecimento. A esse processo criativo original os Ensinamentos Rosacruzes chamam de Epigênese.
Há grande tendência em admitir que tudo é resultado de qualquer coisa pré-existente. Isso constitui grande equívoco e desconhecimento das leis que regem a evolução em todos os níveis. Se fosse verdade, não haveria margem para esforços novos e originais, promotores de novas causas.
A Epigênese é a base real da evolução, ou seja, o único elemento a dar-lhe significado, convertendo-a em algo mais que simples desdobramento ou desenvolvimento de qualidades latentes. Não fosse assim, a face da Terra seria um painel por demais monótono e desolador, habitada por seres estereotipados, como que saídos de uma linha de montagem de uma indústria. Incapazes de descobrir novos caminhos, os seres acabariam por perder sua identidade com o Supremo Criador de todas as coisas. Tornar-se-iam imitadores, grotescos imitadores, ao invés de imprimirem a marca da originalidade em seus trabalhos.
A Epigênese, é bom ressaltar, é uma faculdade do Espírito, não da persona (personalidade). Sua capacidade epigenética melhora ou aperfeiçoa a forma, tornando-a elemento maleável e utilizável.
O progresso não é simplesmente desenvolvimento, nem tampouco involução: há um terceiro fator, a Epigênese, completando o trinômio. Quando ela não atua, ou torna-se inativa no indivíduo, na família, nação ou raça, cessa a evolução e começa a degeneração. Isso se aplica também às ideias, aos sistemas, as organizações, etc. Se, pelo menos, não se reciclarem periodicamente perdem sua eficiência e, consequentemente, sua razão de ser.
É interessante notarmos como as dificuldades são fatores capazes de exigir muito da capacidade epigenética das pessoas. Os seres humanos acomodam suas vidas aos princípios ou características da sociedade que pertençam. Com o passar do tempo essas “formas” (características) tornam-se obsoletas. Sobrevêm, então, as crises. A maioria propõe sempre soluções velhas, desgastadas, sem nenhuma eficácia. Quem propõe uma solução inédita, original, resultante de seu espírito criativo, consegue, via de regra, resolver o problema. As crises, portanto, não devem assustar. Indicam que o agrupamento, ou a própria pessoa, encontra-se em fase de transição, de transformação. Quando, porém, o ser humano reage negativamente as soluções novas propostas, quando insiste em formulações bolorentas e ultrapassadas, acaba gerando o impasse. Aí, só mesmo o sofrimento surge como meio de solucionar a questão. E, diga-se de passagem, é um meio irracional. Denota teimosia e inadaptabilidade.
Há, entretanto, outro aspecto a ser considerado: nem tudo o que é novo merece aceitação. Nem sempre representa uma lídima aspiração do Espírito. Talvez não passe de uma manifestação da natureza inferior, ávida de reconhecimento, desejosa de satisfazer a vaidade, o orgulho e a ilusão do ser humano pouco evoluído.
Que o “Tribunal Interno da Verdade”, no dizer de Max Heindel, julgue e decida sempre!
(Gilberto A V Silos – Editorial da Revista Serviço Rosacruz de junho/1980)
Por ser um movimento aquariano, a Fraternidade Rosacruz dispensa, em seu meio, a figura do líder. Sua renovada mensagem procura estimular o trabalho de equipe, sendo que as qualidades individuais se completem e os esforços se somem em torno de um ideal comum. Substitui-se a imposição pelo consenso. Delibera-se a partir do livro debate.
Opta-se pelo trabalho em grupos, ao invés da ação unipessoal. Todo esforço comunitário nada mais é do que uma expressão antecipada da próxima Era, a de Aquário.
No entanto, a consecução desse objetivo maior tem sido uma tarefa das mais difíceis, pois apenas uma minoria encontra-se preparada para tal.
Essa elevada aspiração não será concretizada sem prévia transposição de alguns obstáculos. Removê-los consiste em árduo trabalho, porque arraigados estão na própria natureza humana. O ser humano acomodou-se, desde vidas passadas, a obedecer, transferindo a outrem a responsabilidade de decisão. As comunidades primitivas eram chefiadas pelos mais fortes e corajosos fisicamente. Essa foi a gênese da liderança.
Os modernos líderes reúnem atributos tais como inteligência, visão e, principalmente, uma personalidade forte e arrebatadora. Como raras vezes esses atributos vêm temperados com amor, vias de regra, transformam-se numa tirania, ostensiva ou sub-reptícia.
Tais lideranças, obviamente, acabam por se tornarem nocivas ao grupo. Não obstante, a força da inércia é tão grande, a ponto de as pessoas se acomodarem até àquilo que lhes é prejudicial.
Os povos do oriente, com algumas exceções, é claro, tanto política como religiosamente, encontram dificuldades para se libertar da necessidade de liderança. Basta atentar-nos para suas comunidades religiosas e constatarmos como se obedece fielmente ao chefe ou guru. Não há meio termo. Entretanto, alguns líderes mais avançados, não se atribuem essa condição. Conscientes de sua missão procuram apenas indicar o caminho a seu povo, respeitando-lhe, ao máximo, o livre arbítrio. Mas como a humanidade não resiste ao fascínio de uma personalidade magnética, nem sempre lograram se livrar de seu carisma.
O estudo do carisma constitui um interessante exercício para os modernos psicólogos. O que torna um indivíduo um líder? A grosso modo, uma personalidade forte, atraente, destemida, oratória fluente, somadas a outras qualidades pessoais devidamente inseridas num contexto todo especial – as condições vigentes são importantes – são os ingredientes básicos do espírito de liderança. Certos fenômenos conjunturais servem de campo fértil ao surgimento dessa postura.
Não é justo, entretanto, omitir um ponto importante: alguns seres humanos se converteram em líderes face à sua elevada formação espiritual. Muitas vezes esses são fisicamente frágeis e pouco atraentes, às vezes até com uma voz desagradável, lembrando muito mais um mendigo do que um líder, sabe se impor ao respeito dos seus e do mundo, graças à sua bondade natural. É esse sentimento humanitário que confere a posição de um líder, quando há necessidade de um verdadeiro nessa Era, a de Peixes.
Seja qual for a sua origem, a liderança tende a dar lugar a algo mais elevado. Aos poucos o ser humano vai aprendendo a se libertar de tutelas, assumindo responsabilidades na sociedade em que vive. Quanto maior seu avanço espiritual, tanto mais acentuada sua emancipação em relação a pessoas e sua participação na vida comunitária.
As decisões tomadas em conjunto são, comprovadamente, mais sensatas. Havendo consenso, as responsabilidades pelos erros e acertos serão divididas, evitando-se, ou pelo menos minimizando-se cisões ou traumatismos na coletividade.
Para muitos, esse ideal avançado é considerado como utópico. Nós, Estudantes da Fraternidade Rosacruz, todavia, não pensamos assim. Utopia é a verdade que não foi levada à prática. A distância não torna uma meta inatingível. Tanto estamos convencidos disso, que a Fraternidade Rosacruz tem sido uma das vanguardeiras do desenvolvimento espiritual sem lideranças. Líder é o Cristo, nosso paradigma e Luz do Mundo. Mas, se alguém entre nós deseja destacar que comece sendo o “servo de todos”. Que procure, sinceramente, se identificar com nosso ideário. Tornar-se-á, então, o “maior”, no bom sentido.
Pode ocorrer que Estudantes novos ou menos avisados, impressionarem-se com as qualidades de algum membro mais antigo. Elegendo-o como modelo, acabam, não raro, por decepcionarem-se, tão logo lhe constatem falhas de caráter. Esquecem-se que ele é um ser humano, lutando por aprimorar-se, sujeito a quedas. Se assim não fosse ele não seria membro da Fraternidade, mas sim da Ordem Rosacruz. E mesmo os membros da Ordem, embora se encontrem acima do ser humano comum, também evoluem e queimam etapas.
Alguns Estudantes Rosacruzes – e até simpatizantes – se empolgam com os palestrantes ou conferencistas, deixando-se fascinar por um carisma de que, às vezes, eles nem se dão conta. Quando, no momento de uma maior intimidade, lhe descobrem o lado humano, chegam a desiludir e abandonar o ideal, como se a Fraternidade Rosacruz fosse os seus membros. É uma pena que isso, às vezes, aconteça.
Os palestrantes ou conferencistas, ao tomarem a posição de expositores para falar sobre a nossa amada filosofia, carregam uma grande responsabilidade sobre os ombros. Fazem-nos desprendidamente, conscientes de suas possibilidades e limitações. Procuram apenas colaborar no esforço de divulgação. Não são líderes, não se arvoram em “mestres”, nem se julgam “donos da verdade”. Apenas aspiram a que os Estudantes entendam este posicionamento: numa palestra ou conferência o importante não é o conferencista ou palestrante, mas a mensagem por ele transmitida. Não se conceda destaque ou louvor a “quem fala”, mas ao “que fala”. Como disse Descartes: “É preciso tornar as pessoas discípulas da verdade e não sectárias, obstinados do que o expositor ensina”.
Esperamos, assim, que todos os Estudantes Rosacruzes procurem emancipar de quaisquer influências externas, consolidando, dessa forma, a Fraternidade Rosacruz como a precursora da Era de Aquário.
(Gilberto A V Silos – Editorial da Revista Serviço Rosacruz de 1/79)
Um dos maiores encantos e vantagens reais daquele que trilha o Caminho do desenvolvimento espiritual pela “cabeça” – intelecto, razão – é o grande valor que ela tem como local de retiro mental. Quando um ser humano fez o seu melhor, suportou todas as tensões e sofrimentos da vida mundana e está cansado, sua Mente volta-se com alegria para a ajuda satisfatória proporcionada pelo intelecto. Aquelas coisas que pareciam encher seu horizonte com a sombra negra da dúvida e do medo, então se reduzem à pequenez e a própria vida assume um aspecto mais animador.
O intelecto é universal, em sua aplicação. A pessoa que trilha o Caminho do desenvolvimento espiritual pela “cabeça” – intelecto – tem uma solução racional ou até científica para os mistérios da vida. Ela exige uma explicação semelhante da Religião. A fé, para ela, é assunto de conhecimento. A pessoa que trilha o Caminho do desenvolvimento espiritual pelo “coração” – místico, devoção – deseja um apelo voltado ao coração e não à Mente. Ela não está tão preocupada com o verdadeiro “por quê?” ou “para quê?” de uma ocorrência ou afirmação, mas, sim, com o valor de suas propriedades emocionais.
A primeira se preocupa com a verdadeira razão física de um milagre; a segunda, com a apreciação da maravilha e da beleza real que acompanham sua manifestação. Uma daria ajuda a um semelhante não tanto por compaixão, mas principalmente porque tal ato estaria de acordo com sua própria concepção intelectual da relação da pessoa com a pessoa. A outra, é claro, agiria com sincera simpatia e um desejo emocional de ajudar o necessitado.
A pessoa simpática, que sente amor por todas as criaturas de Deus e não considera nenhuma delas muito pequena ou mesquinha para ajudar, é um tipo bonito e cada traço do seu rosto simboliza uma graça espiritual. Verdadeiramente, o espírito molda a carne à sua semelhança e expressão de suas próprias qualidades.
Atualmente, o intelecto e as realizações materiais dele resultantes parecem ser de importância soberana. Certamente, é um método excelente para atingir certas qualidades de alma que são necessárias; contudo, a história de todas as pessoas que desenvolveram o intelecto e a vontade às custas da emoção e da intuição tem sido de tristeza, decepção e negação espiritual.
Mas, novamente e ao contrário, aqueles que desenvolvem somente pelo “coração” e ignoram a cultura da força de vontade e do intelecto estão, igualmente, sujeitos à tristeza e ao desapontamento.
Um caráter bem equilibrado, nem muito desenvolvido intelectualmente nem devocionalmente, é a coisa certa e um dos assuntos principais de um Estudante Rosacruz que se aplica em aprender e praticar os ensinamentos da Filosofia Rosacruz.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de maio/1915 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
Jamais foram escritas palavras tão expressivas sobre o amor como aquelas de que trata a 1ª Epístola do Evangelista São João: “Quem vive em amor vive em Deus e Deus nele” (IJo 4:16).
Logo, reconhecemos ser o amor um fator espiritual, um potencial de Deus que foi demonstrado pela primeira vez na Terra por Cristo, na Última Ceia, em união com Seus Discípulos. O que encontramos de mais extraordinário na Última Ceia, além da distribuição do Corpo de Deus em forma de “pão e vinho”, é o que Cristo, no auge da Sua exaltação, ofereceu a Seus alunos nas seguintes palavras: “comei, este é o Meu corpo; bebei, este é o Meu sangue”. É a manifestação da sua imensa ternura.
Um singular acontecimento ocorre ao encontrarmos São João, o mais jovem Discípulo do Mestre, inclinando a sua cabeça no coração de Cristo-Jesus, recebendo, assim, toda a bondade expressa do Salvador; sentindo, também, o latejar do Seu coração, o palpitar da Vida de Deus no Corpo do Messias. Se a todos os seres humanos cabe o direito de tomar parte no amor de Deus, qual deve ser nosso comportamento para o merecermos?
Se desejamos confirmar o Cristo em nós mesmos, o Verbo amor deve ser escrito dentro de nossos corações e não no papel, pois esse desaparece, enquanto aquele permanece até que a ternura divina o tenha envolvido.
Em nossas meditações, associando o cérebro ao coração, nós estamos imitando São João, quando inclinava a sua cabeça sobre o próprio coração de Cristo. Esse é o segredo que nos transforma de seres humanos comuns em “Filhos do Homem”. “Filhos do Homem” espiritualizado e não terreno. Aninhemo-nos no peito do Senhor, pois a nossa vida e o nosso amor são a Sua Vida e o Seu Arnor. Ele nos ama e cria na castidade do coração, porque o ninho em que nasce o Cristo é o nosso próprio coração, a flor branca ou dourada, a flor virginal, a Maria Rosa, o coração da nossa Rosa Maria em que, após uma gestação por imaculada concepção, nasce o Cristo. O Espírito Santo que, com a sua Santa Luz, invade o coração do Discípulo torna-se o portador do unigênito, o Salvador do seu Ego, ressuscitando-o da morte.
Se alguém disser que Cristo não está presente em si, podemos afirmar que esse alguém não o procurou em seu coração. Assim, como São João o encontrou, também nós o encontraremos, quando libertarmos o nosso pensamento durante a meditação e formos envolvidos naquela magnificente atmosfera áurica em que se encontrara São João, após recostar-se no coração do Salvador. Durante a oração ou meditação não há limites que possam impedir que, com a nossa ternura, atinjamos os mais elevados sentimentos. É necessária a imaginação para esse fim, porque ela mesma nos leva ao ambiente cristalino da vida espiritual do amor divino.
O principal é que encontremos o nosso coração unido ao Coração Espiritual do Deus Cósmico, o qual não só lateja em todo o Universo, mas também em toda e qualquer criatura que tenha recebido um coração. Portanto, Deus é Amor e onde Deus cria um coração, ali está, também, o amor de Deus e Deus n’Ele.
Note-se que todo espiritualista que se prepara, visando à Iniciação para o conhecimento da Sua existência no Absoluto, já reconheceu antes o Amor de Deus existente em todo o Universo, em todos os seres, e só mediante esse reconhecimento ele se tornou apto para estar firme no Templo Interior, a divina Catedral amorosa do Cristo Universal.
Abençoado é aquele que reconhece ter o coração do ser humano a faculdade de poder recostar no peito de Cristo.
(de Francisco Phelipp Preuss – Publicado na Revista Rosacruz, nº 242 e 243 de 1965 – Fraternidade Rosacruz de Portugal)
Resposta: No estado de vigília, os diferentes veículos do Ego – a Mente, o Corpo de Desejos, o Corpo Vital e o Corpo Denso – são todos concêntricos. Eles ocupam o mesmo espaço e o Ego atua, externamente, no Mundo Físico.
Contudo, à noite durante um sono sem sonhos, o Ego, revestido do seu Corpo de Desejos e da sua Mente, se retira deixando os Corpos Denso e Vital sobre o leito, não havendo mais ligação entre os veículos superiores e inferiores, a não ser por um fio tênue e brilhante chamado Cordão Prateado.
Acontece, às vezes, que o Ego se envolve tanto com o Mundo Físico, que o Corpo de Desejos fica de tal forma excitado que se recusa a abandonar os veículos inferiores e se retira apenas por uma parte. Então, a conexão entre os centros sensoriais do Corpo de Desejos e os centros sensoriais do cérebro físico fica somente parcialmente rompida.
O Ego vê os aspectos e as cenas do Mundo do Desejo, que lhe são extremamente fantásticas e ilusórias, transmitidas aos centros cerebrais sem qualquer conexão racional. Dessa situação é que surgem todos os nossos sonhos absurdos e fantásticos.
Às vezes, acontece que o Ego, ao sair completamente do Corpo Denso em um sono sem sonhos, vê um acontecimento que lhe diz respeito e que está prestes a se materializar, pois os acontecimentos iminentes se apresentam antecipadamente, isto é, antes que qualquer coisa aconteça aqui no mundo material, já aconteceu nos Mundos espirituais.
Se ao acordar após tal experiência o Ego conseguir fixar no cérebro aquilo que viu, terá um sonho profético que, ao devido tempo, se tornará realidade. O Ego também poderá, se o seu destino o permitir, modificá-lo por meio de uma nova ação, isto é, se informado a respeito de um acidente, poderá tomar providências para impedir o desastre iminente.
Quanto à terceira parte da pergunta: “Como podemos atrair ou induzir os sonhos”, podemos dizer que, naturalmente, não há qualquer vantagem em atrair ou induzir sonhos confusos e fantásticos. Na verdade, se chegar um momento na vida de um ser humano em que ele começa a trilhar a vida superior, gradualmente e através de certos exercícios, ele desenvolverá a faculdade de deixar o seu corpo conscientemente à noite ou a qualquer outro momento. Então, ele estará perfeitamente consciente nos Mundos invisíveis, poderá ir para onde lhe aprouver, até mesmo a extremidade da Terra em questão de minutos e, à medida que aprenda a trabalhar conscientemente nestes Mundos invisíveis, não “sonhará” mais, mas passará a viver outra vida mais plena ou mais real do que a que agora vive.
(Pergunta n° 33 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. I – Max Heindel)
Vivendo uma boa vida, aqui e agora, e evitando os diversos perigos de nossa Terra, podemos preparar-nos para o Céu e evitar uma perda de tempo no Purgatório.
Então, quando renascermos, o faremos em melhores circunstâncias, poderemos continuar no caminho, fazer mais rápidos progressos e situar-nos para melhor servir a Deus, onde quer que estejamos. Não podemos avançar sozinhos. Precisamos ser ajudados pelos mais avançados no Caminho, mas nós também devemos ajudar aos outros na senda e socorrê-los em seu avanço.
A vida é uma jornada desde o berço até a tumba e mais além e de novo ao berço; e assim, de vida em vida. Cada vida é como um dia na escola.
Aprendemos umas poucas lições da vida, cada vez que regressamos à Terra e, a seu tempo, devemos tê-las aprendido todas; então estaremos preparados para conhecer a Deus.
Deveríamos nos preparar para o encontro com a morte enquanto gozamos de boa saúde. Se esperarmos até que nos surpreenda alguma enfermidade, pode ser muito tarde para fazer a necessária preparação.
A morte pode vir de repente.
Em nossos dias, milhares de pessoas morrem todo ano em acidentes de automóvel ou de outro tipo. Em tais casos, não há tempo para se preparar para a morte.
Vamo-nos tal como somos, tanto se estamos prontos, como se não.
O Purgatório é um lugar muito real e todos serão julgados depois da morte.
Será fácil, para qualquer um que esteja presente, ver se vivemos vidas boas ou não, pois nossos Corpos de Desejos assim o revelarão.
Cada um de nós deveria se esforçar por construir um bonito Corpo de Desejos sem mancha nem defeito.
Um Corpo de Desejos composto de delicados matizes de ouro, azul, rosa, verde claro, azul claro com traços de lilás e branco brilhante indica um Ego avançado, que viveu uma vida útil, como um auxiliar da humanidade.
Consideremos a história do homem rico e de Lázaro:
“Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e cada dia se banqueteava com requinte. Um pobre, chamado Lázaro, jazia à sua porta, coberto de úlceras. Desejava saciar-se do que caía da mesa do rico… E até os cães vinham lamber-lhe as úlceras. Aconteceu que o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. Na mansão dos mortos, em meio a tormentos, levantou os olhos e viu ao longe Abraão e Lázaro em seu seio. Então exclamou: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo para me refrescar a língua, pois estou torturado nesta chama’. Abraão respondeu: ‘Filho, lembra-te de que recebeste teus bens durante tua vida, e Lázaro por sua vez os males; agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado. E além do mais, entre nós e vós existe um grande abismo, a fim de que aqueles que quiserem passar daqui para junto de vós não o possam, nem tampouco atravessem de lá até nós’. Ele replicou: ‘Pai, eu te suplico, envia então Lázaro até à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos; que leve a eles seu testemunho, para que não venham eles também para este lugar de tormento’. Abraão, porém, respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam’. Disse ele: ‘Não, pai Abraão, mas se alguém dentre os mortos for procurá-los, eles se arrependerão’. Mas Abraão lhe disse: ‘Se não escutam nem a Moisés nem aos Profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não se convencerão’”.” (Lc 16:19-31).
O rico não estava preparado para conhecer a Deus, mas Lázaro sim. Isto nos mostra a vantagem de viver uma vida boa e estar pronto para ir ao Céu em vez de ao Purgatório.
Aqui uma linda passagem da Bíblia que nos faz refletir sobre tudo isso:
“Precavei-vos cuidadosamente de qualquer cupidez, pois, mesmo na abundância, a vida do homem não é assegurada por seus bens”.
E contou-lhes uma parábola: “A terra de um rico produziu muito. Ele, então, refletia: ‘Que hei de fazer? Não tenho onde guardar minha colheita’. Depois pensou: ‘Eis o que vou fazer: vou demolir meus celeiros, construir maiores, e lá hei de recolher todo o meu trigo e os meus bens. E direi à minha alma: Minha alma, tens uma quantidade de bens em reserva para muitos anos; repousa, come, bebe, regala-te’. Mas Deus lhe diz: ‘Insensato, nessa mesma noite ser-te-á reclamada a alma. E as coisas que acumulaste, de quem serão?’ Assim acontece àquele que ajunta tesouros para si mesmo, e não é rico para Deus.” (Lc 12:15-21).
Que as rosas floresçam em vossa cruz