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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pergunta: O que é a oração? É equivalente à concentração e à meditação ou é apenas um apelo a Deus?

Resposta: Infelizmente, tal como é comumente praticada, é muitas vezes um pedido a Deus para interferir a favor do suplicante e lhe permitir alcançar um objetivo egoísta. É certamente uma vergonha que pessoas empenhadas em violar os mandamentos de Deus, como “Não matarás”, rezem pela vitória sobre os seus inimigos; se medirmos a maioria das orações oferecidas hoje, pelo padrão estabelecido por Cristo na Oração do Senhor, elas certamente não merecerão o nome de oração. São blasfêmias e seria mil vezes melhor que nunca tivessem sido proferidas.

A Oração do Pai-Nosso nos foi dado como modelo e faremos bem em analisá-la, se quisermos chegar a uma conclusão adequada. Se o fizermos, verificaremos que três das sete orações que o compõem dizem respeito à adoração do Divino: “Santificado seja o Vosso nome; venha a nós o Seu Reino; seja feita a Sua vontade”. Depois vem a petição do pão diário e necessário para manter o nosso Corpo Denso vivo; as três orações restantes são para a libertação do mal e o perdão das nossas dívidas. A partir desses fatos, é evidente que toda oração digna deve conter uma medida esmagadora de adoração, louvor e reconhecimento da nossa indignidade, junto de uma firme resolução de nos esforçarmos para sermos mais agradáveis ao nosso Pai Celestial. O objetivo principal da oração é, portanto, entrar em comunhão com Deus o mais rápido possível objetivando que a Vida e a Luz divinas possam fluir para dentro de nós e nos iluminar para que possamos crescer à Sua imagem e semelhança.

Trata-se de um ponto de vista diametralmente oposto à ideia comum de oração, que considera que, sendo Deus o nosso Pai, podemos nos dirigir a Ele em oração e Ele é obrigado a realizar o desejo do nosso coração. Se não conseguirmos na primeira tentativa, basta continuar rezando e, devido à nossa importunação, o nosso desejo será satisfeito. Tal visão é repelente para o Místico iluminado e, se trouxermos o assunto para uma base prática, é evidente que um pai sábio, tendo um filho capaz de se sustentar, naturalmente se ressentiria se esse filho aparecesse diante dele várias vezes por dia com pedidos importunos para ganhar isso, aquilo ou outra coisa que ele possa facilmente obter pelo trabalho, ganhando os meios para isso.

A oração, por mais séria e sincera que seja, nunca pode tomar o lugar do trabalho. Se trabalharmos para realizar um bom objetivo com todo o nosso coração, a nossa alma, o nosso corpo e, ao mesmo tempo, pedirmos a Deus que abençoe o nosso trabalho, não há dúvida de que o pedido será sempre atendido; mas se não pusermos a mão na massa, não teremos o direito de pedir ajuda à Divindade.

Como foi dito anteriormente, o peso das nossas orações deve ser o louvor a Deus, de Quem todas as bênçãos fluem, porque os nossos Corpos de Desejos são formados de materiais de todas as sete Regiões do Mundo do Desejo na proporção das nossas necessidades, conforme determinado pela natureza dos nossos pensamentos. Cada pensamento se reveste de material de desejo congruente com a sua natureza. Isso também se aplica aos pensamentos formados e expressos na oração. Se forem egoístas, atraem para si um invólucro composto pelas Regiões inferiores do Mundo do Desejo; mas se forem nobres, altruístas e generosos, vibram no tom mais elevado das Regiões da Luz Anímica, da Vida Anímica e do Poder Anímico. Eles, então, se vestem com esse material, dando mais vida e luz à nossa natureza espiritual.

Mesmo quando rezamos pelos outros é prejudicial pedir qualquer coisa material ou mundana; é permitido pedir saúde, mas não prosperidade econômica. “Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça[1] é o mandamento. Quando cumprimos esse mandamento, podemos ter a certeza de que “todas essas coisas[2] também nos serão dadas. Portanto, quando orarmos por um amigo, coloquemos todo o nosso coração e toda a nossa alma na petição para que ele possa buscar permanentemente o caminho, a verdade e a vida, pois uma vez encontrado o maior de todos os tesouros, nenhuma necessidade real será negada. Isso também não é teoria. Milhares de pessoas, incluindo o escritor, descobriram que o “Pai nosso que estais no Céus” cuidará de nossas necessidades materiais, quando nos esforçarmos para viver a vida espiritual. No entanto, em última análise, não é a oração falada que ajuda. Há pessoas que podem conduzir uma congregação em oração que é, ambas, perfeita em linguagem e sentimento poético. Elas podem até adequar suas orações aos princípios estabelecidos pelo Senhor, tal como enunciado nos nossos parágrafos iniciais e, no entanto, essa oração pode ser uma abominação porque lhe falta um requisito essencial. Se toda a nossa vida não for uma oração, não poderemos ser agradáveis a Deus, por mais belas que sejam as nossas petições. Por outro lado, se nos esforçarmos no dia-a-dia para viver de acordo com a Sua vontade, então, mesmo que nós próprios saibamos que estejamos muito aquém do nosso ideal e mesmo que, tal como o publicano no Templo[3], sejamos de fala hesitante e só consigamos bater no peito e dizer “Deus, tem piedade de mim, sou pecador”, mesmo assim descobriremos que o Espírito, conhecendo nossas necessidades, intercede por nós com gemidos indizíveis e que nossa modesta súplica diante do trono da Graça valerá mais que todos os discursos floridos que possamos fazer.

Você também pergunta: “a oração é equivalente à concentração e à meditação?”.

Concentração consiste em focalizar o pensamento em um único ponto, tal como os raios do Sol são focalizados por meio de um vidro. Quando difundidos sobre a superfície de toda a Terra, eles fornecem apenas um calor moderado, mas mesmo alguns raios de Sol, quando focalizados por uma lente comum de óculos, incendeiam o material inflamável no qual são focalizados. Da mesma forma, o pensamento que se move doce e iluminadamente através do cérebro, como a água escorre através de uma peneira, não tem valor, mas quando concentrado em um determinado objeto, ele ganha intensidade e atingirá o objetivo, seja para o bem ou para o mal. Os membros de uma ordem praticaram a concentração contra seus inimigos durante séculos e foi verificado que o infortúnio ou a morte atingiam sempre o objeto do seu desfavor. Nós ouvimos falar, entre certos grupos, atualmente de “magnetismo malicioso” aplicado pela concentração do pensamento. Por outro lado, a concentração do poder do pensamento também pode, também, ser usada para curar e ajudar; não faltam exemplos para fundamentar essa afirmação. Podemos, assim, dizer que a concentração seja a aplicação direta do poder do pensamento para alcançar um determinado objeto, que pode ser bom ou mau de acordo com o carácter da pessoa que o pratica e o propósito para o qual deseja usá-lo.

A oração é semelhante à concentração em certos pontos, mas difere radicalmente em outros. Enquanto a eficácia da oração depende da intensidade da concentração alcançada pelo devoto, ela é acompanhada por sentimentos de amor e devoção de igual intensidade à profundidade da concentração, o que torna a oração muito mais eficaz do que a concentração fria pode ser. Além disso, é extremamente difícil, para a grande maioria das pessoas, concentrar os seus pensamentos de forma fria, calma e sem a menor emoção e, ainda, excluir todas as outras considerações da sua consciência. A atitude devocional é mais facilmente cultivada, pois a Mente é, então, centrada na Divindade.

A meditação é o método de, pelo poder espiritual, obter conhecimento de coisas com as quais não estamos normalmente familiarizados.

No livro Conceito Rosacruz do Cosmos há um capítulo que apresenta minuciosamente o método de aquisição de Conhecimento Direto, o qual elucida longamente esses pontos, e nós aconselhamos um estudo minucioso daquela parte detalhada nesse livro.

(Pergunta 135 do Livro Filosofia Rosacruz por Perguntas e Respostas vol. II, de Max Heindel-Fraternidade Rosacruz)


[1] N.T.: Mt 6:33

[2] N.T.: Mt 6:33

[3] N.T.: O fariseu e o publicano: Contou ainda esta parábola para alguns que, convencidos de serem justos, desprezavam os outros: “Dois homens subiram ao Templo para orar; um era fariseu e o outro publicano. O fariseu, de pé, orava interiormente deste modo: ‘Ó Deus, eu te dou graças porque não sou como o resto dos homens, ladrões, injustos, adúlteros, nem como este publicano; jejuo duas vezes por semana, pago o dízimo de todos os meus rendimentos’. O publicano, mantendo-se à distância, não ousava sequer levantar os olhos para o céu, mas batia no peito dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim, pecador!’ Eu vos digo que este último desceu para casa justificado, o outro não. Pois todo o que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.” (Lc 18:9-14).

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