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12-Mês de Dezembro: Senhor Cristo chega ao Coração do Planeta Terra

Mês de Dezembro: Senhor Cristo chega ao Coração do Planeta Terra

As radiações do Amor de Cristo penetram gradualmente as várias camadas do Planeta até que na ocasião do Solstício de Dezembro elas alcançam seu poder máximo e esplendor no coração da Terra.

Poucas pessoas percebem o prodigioso poder espiritual que inunda a Terra na época do Santo Natal. Os Sábios usam todas as oportunidades e canais para fazer frutificar o Plano Divino na Terra.

É por isso que no Natal somos banhados por vibrações de paz e boa-vontade. Essa imensa onda que irradia Amor Cósmico tem sua culminância em dezembro. Sem essa presença espiritual não haveria suficiente entusiasmo em nossos corações. Não sentiríamos tanta felicidade nem tanto desejo de proporcionar mais felicidade aos outros. O costume universal de dar presentes no Natal empalideceria. Todos seriam drasticamente afetados.

A Estação do Advento se estende pelo mês de dezembro e é anunciada como uma Festividade de Luz. O impulso espiritual da estação prepara a humanidade para o derramamento das forças celestiais acompanhando o renascimento do Cristo Cósmico em nossa esfera terrestre. Esse período é seguido pela estação do Solstício de Dezembro que se estende de 21 de dezembro à 24 de dezembro e culmina com o dia seguinte, o 25 de dezembro, no Natal, o dia mais profundamente reverenciado em toda a Cristandade. A observância da festividade dessa estação santa nunca cessará para os aspirantes, até que o Cristo tenha nascido dentro de nossas próprias almas. O quanto desse êxtase o discípulo tenha experimentado nesse momento depende do degrau que ele tenha alcançado, e o regozijo pela sua participação cada vez mais crescente da mistura nessa estação entre o terreno e o divino é sentido com uma intensidade nunca alcançada em outro momento do ano.

Durante dezembro, os tons do filantrópico Sagitário, nota chave Fá maior, regido pelo otimista e benevolente Planeta Júpiter, cuja palavra-chave é idealismo e o quieto, metódico Capricórnio, nota chave Sol maior, regido pelo conservador e perseverante Saturno, cuja palavra-chave é obstrução com suas sistemáticas atividades construtivas, preparam a Terra para receber o raio do amor de Cristo e nutri-la até que esteja preparada para a liberação no centro da Terra. Então, começa sua viagem para fora, em direção à periferia da Terra, alcançando a na época do Equinócio de Março. Quando os dias são mais curtos e as noites mais longas, na Noite Santa, o raio do Espírito de Cristo alcança o centro da Terra. Aqui, Ele permanece três dias e três noites, libertando de Si mesmo a germinante força do Espírito Santo que, lentamente, vai permear a Terra e frutificá-la para outro ano.

Ou seja: Ele chega ao centro da nossa Terra à meia-noite de 24 de Dezembro. Aí Ele fica três dias e depois começa a voltar.

Em dezembro, durante as longas noites de inverno, a força física solar está adormecida e as forças espirituais alcançam seu grau máximo de intensidade (no hemisfério norte).

A noite entre 24 e 25 de dezembro é, em todo o ano, a Noite Santa por excelência. O Signo zodiacal da imaculada Virgem Celestial está sobre o horizonte oriental à meia-noite, e o Sol do ano novo nasce e começa sua jornada do ponto mais austral, em direção ao hemisfério norte, para (fisicamente) salvar essa parte da humanidade da obscuridade e da fome inevitáveis, caso permanecesse sempre abaixo do Equador.

À meia-noite de 24 de dezembro, para os povos do hemisfério norte, onde nasceram todas as religiões atuais, o Sol está diretamente abaixo da Terra e as influências espirituais são fortíssimas.

Em tal momento, nessa noite, aos que desejassem, pela primeira vez, dar um passo na Iniciação, seria muitíssimo mais fácil porem-se em contato consciente com o Sol Espiritual.

Por esse motivo, nos antigos templos, os Discípulos preparados para a Iniciação eram levados pelas mãos dos Hierofantes dos Mistérios e, por meio de cerimônias que se realizavam no Templo, eram elevados a um estado de exaltação, no qual transcendiam toda condição física. A Terra tornava-se transparente à sua visão espiritual e eles viam o Sol da meia-noite: a “Estrela”! Não era o Sol físico, seu Salvador físico, o que viam com os seus olhos espirituais, mas o Espírito do Sol, o Cristo, seu Salvador Espiritual.

Essa Estrela que brilhou na Santa Noite ainda brilha para o místico na obscuridade da noite. Quando o ruído cessa e a confusão da atividade física se aquieta, então ele entra em seu interior e procura o caminho que conduz ao Reino da Paz. A brilhante Estrela está sempre ali para guiá-lo e sua alma ouve a canção profética: “Paz na terra e boa vontade entre os homens“.

Paz e boa vontade a todos, sem exceção, não excluindo nem os inimigos. É de admirar que custe muito a educar a humanidade para este tão elevado tipo de moral? Há algum meio melhor para demonstrar a beleza e a necessidade da paz, da boa vontade e do amor do que compará-los com o estado atual de guerras, egoísmos e ódios?

Quanto mais forte é a luz, tanto mais profunda é a sombra que projeta. Quanto mais altos os ideais, mais claramente podemos ver nossos defeitos.

(Você pode ter mais material para estudos em: Cap. XII – Ensinamentos de um Iniciado; O Cristo Cósmico – Interpretação Mística da Páscoa; Cap. I – Interpretação Mística do Natal; A Estrela de BelémConceito Rosacruz do Cosmos – Max Heindel; A Escala Musical e o Esquema de Evolução – compilado por um Estudante da Fraternidade Rosacruz; A Festa da Natividade – Ao Longo do Ano com Maria; O Maravilhoso Livro das Épocas – Vol. VI – Vol. VII – Vol. X – Corinne Heline)

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Uma lembrança ao Irmão Maior, Jesus de Nazaré

Uma lembrança ao Irmão Maior, Jesus de Nazaré

 

Com a aproximação do Natal, quando os corações mais de perto se aconchegam em busca de calor humano, sentimos que toda uma ambientação peculiar às comemorações se faz presente: multiplicamos as luzes noturnas, numa profusão multicolorida; enfeitamos as lojas; decoramos a cidade; apressamos nossos passos; compramos presentes; formulamos votos e bons desejos, felicitações são retribuídas.

É Natal. É festa. É alegria.

Contudo, nossos corações se voltam ao passado para reviver as cenas cujo simbolismo estamos habituado a comemorar e cujo sentido mais profundo aprendemos a conhecer na Fraternidade Rosacruz.

Rememoramos não mais o artificialismo das luzes em seus variados matizes, mas a iluminação interior daquele amoroso Ser e dos Seus seguidores diretos, que almejamos alcançar.

Relembramos não mais os enfeites das vitrines, porém o luminoso semblante daqueles que hoje representam os verdadeiros Amigos sinceros, dadivosos, simples, cheios de entendimento cristão e coerentes na prática de sagrados princípios não apenas em uma época especial do ano, mas dia após dia, hora após hora, numa expressiva e ininterrupta oração.

Recordamos não mais as compras de presentes custosos e materiais, mas a dádiva de ajudar os semelhantes com todos os nossos valores físicos, emocionais, mentais, anímicos e espirituais, no sagrado labor desta causa Rosacruz, na convicção de que o fazemos para Ele.

Evocamos, acima de tudo o que nos relembra esta data, a figura inesquecível de nosso amado Irmão Maior, Jesus de Nazaré, que tornou possível o maior trabalho de redenção já realizado neste mundo. E, por associação, a figura luminosa do Cristo, cuja volta anual a nosso planeta regalvaniza em escala ascendente as suas vibrações purificadoras; dá novo alento vital aos seres vivos; enxameia de altruísmo os corações das pessoas na proporção de sua afinidade, mas buscando sempre dissolver a crosta de seu egoísmo e transformá-la na branca, na brilhante joia em que um dia se tornará.

Invocamos a Sua mensagem unificadora, desfraldada como Verdade, Beleza e Bondade acima de todas as limitações e preconceitos, cobrindo todos os povos e condições, espraiando-se na forma do Caminho único de ascensão a Deus, cada vez mais encarecido e evidenciado pelas lutas, discórdias e sofrimentos da humanidade.

E nos dispomos, então, não mais à pressa enganosa dos passos que não conduzem a lugar algum; contudo, ao andar resoluto e bem orientado de quem já conhece o Caminho.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – dezembro de 1966)

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Recordar, a cada ano, o sofrimento de Cristo é útil a um propósito real? Se não é, por que a Igreja Cristã não omite a paixão e a Coroa de Espinhos e concentra seus esforços em celebrar a Páscoa, um tempo de alegria?

Pergunta: Recordar, a cada ano, o sofrimento de Cristo é útil a um propósito real? Se não é, por que a Igreja Cristã não omite a paixão e a Coroa de Espinhos e concentra seus esforços em celebrar a Páscoa, um tempo de alegria?

Resposta: A história do evangelho, como geralmente é lida pelas pessoas nas igrejas, é apenas “a história de Jesus, um personagem único, o Filho de Deus em um sentido especial, que nasceu uma vez em Belém, viveu na Terra pelo curto espaço de trinta e três anos, morreu pela humanidade, depois de muito sofrimento, e agora é permanentemente exaltado à direita do Pai”; por isso, esperam que ele retorne para julgar os vivos e os mortos e celebram seu nascimento e morte em determinadas épocas do ano, porque supõem que ocorreram em datas definidas iguais ao dia do nascimento de Lincoln, de Washington ou da Batalha de Gettysburg.

Contudo, enquanto essas explicações satisfazem as multidões, que não são muito profundas em suas investigações sobre a verdade, há outro ponto de vista que é bastante claro ao místico, uma história de amor divino e sacrifício perpétuo que o enche de devoção ao Cristo Cósmico, Aquele que nasce periodicamente para que possamos viver e ter a oportunidade de evoluir neste ambiente, porque o permite entender que sem esse sacrifício anual a Terra e suas atuais condições de avanço seriam impossíveis.

No momento em que o Sol está no Signo celestial de Virgem, a virgem, a Imaculada Concepção ocorre. Uma onda de luz e vida do Cristo solar é focalizada na Terra. Gradualmente, esta luz penetra cada vez mais no centro da Terra, até que o ponto mais profundo seja alcançado na noite mais longa e escura, que chamamos de Natal. Este é o nascimento Místico de um impulso da Vida Cósmica que penetra e fertiliza a Terra. É a base de toda a vida terrestre; sem ele nenhuma semente germinaria, nenhuma flor apareceria na face da Terra, nem o ser humano ou a fera poderiam existir e a vida logo se extinguiria.

Portanto, há de fato uma razão muito, muito válida para a alegria que é sentida na época do Natal, pois o Autor Divino do nosso ser, Nosso Pai Celestial, deu o maior de todos os presentes ao ser humano, O Filho. Assim, os seres humanos também são impelidos a dar presentes uns aos outros e a alegria reina sobre a Terra, junto à boa vontade e à paz, ainda que as pessoas não entendam as razões místicas e anualmente recorrentes para isso.

Como “um pouco de fermento fermenta toda a massa”, assim também esse impulso de vida espiritual, que entra na Terra durante o Solstício de Dezembro e percorre os meses de dezembro, janeiro e fevereiro em direção à sua circunferência, dando vida a todos com quem entra em contato; até os minerais não poderiam crescer, caso esse leve impulso fosse retido; e quando a Páscoa chega, a Terra está florescendo, os pássaros começam a cantar e os pequenos animais na floresta se acasalam, tudo está imbuído dessa grande vida divina; Ele Se consumiu, morreu e é elevado novamente à mão direita do Nosso Pai.

Assim, o Natal e a Páscoa são momentos decisivos que marcam o fluxo e o refluxo da vida divina, anualmente oferecidos por nossa causa e sem os quais seria impossível viver na Terra. Essa última também encerra a repetição anual do sentimento festivo que experimentamos do Natal à Páscoa, a alegria que emociona nosso ser. Se somos sensíveis, não podemos deixar de sentir o Natal e a Páscoa no ar, pois estão carregados de amor, vida e alegria divinos.

No entanto, de onde vem a nota de tristeza e sofrimento que antecede a Ressurreição da Páscoa? Por que não nos regozijamos com uma alegria sem igual, no momento em que o Filho é libertado e retorna ao Pai? Por que a paixão e a coroa de espinhos? Por que não podemos desconsiderar isso? Estão aí perguntas cujas respostas nosso interlocutor gostaria de conhecer.

Para entender esse mistério é necessário ver a questão da perspectiva do Cristo e  entender completamente que essa onda de vida anual que é projetada em nosso Planeta não é simplesmente uma força desprovida de consciência. Carrega consigo a plena consciência do Cristo Cósmico. É absolutamente verdade que sem Ele nada do que foi feito teria sido feito, como nos é mostrado por São João, no capítulo inicial do seu Evangelho.

No momento da Imaculada Concepção, em setembro, esse grande impulso de vida começa sua descida sobre a nossa Terra e, no tempo do Solstício de Dezembro, quando o nascimento místico ocorre, o Cristo Cósmico está totalmente concentrado dentro e fora deste Planeta. Vocês perceberão que isso deva causar desconforto a um espírito tão grandioso: estar apertado dentro da nossa pequena Terra, consciente de todo o ódio e a discórdia que Lhe enviamos no dia-a-dia, durante o ano inteiro.

É um fato que não se possa contradizer: toda expressão de vida existe através do amor; da mesma forma, a morte vem pelo ódio. Se o ódio e a discórdia que geramos em nossa vida cotidiana, em nossos negócios; se o engano, a infâmia e o egoísmo não fossem remediados, a Terra seria tragada pela morte.

Você se lembra da descrição da Iniciação dada no Conceito Rosacruz do Cosmos: afirma-se que, nos cultos realizados todas as noites, à meia-noite, o Templo é o foco de todos os pensamentos de ódio e perturbação do mundo ocidental, ao qual serve, e que tais pensamentos estejam ali desintegrados e transmutados, sendo essa a base do progresso social no mundo. Sabe-se também que os espíritos santos sofrem e padecem muito com as perturbações do mundo, com a discórdia e o ódio e que enviam de si mesmos, individualmente, pensamentos de amor e bondade. Os esforços associados de ordens como a dos Rosacruzes são direcionados pelos mesmos canais de empenho, quando o mundo ainda está parado no pertinente às atividades físicas e, portanto, é mais receptivo à influência espiritual; ou seja, à meia-noite. Nesse momento, eles se esforçam para atrair e transmutar essas flechas feitas de pensamento de ódio e discórdia, sofrendo assim ao receber uma pequena parte delas, enquanto buscam retirar alguns dos espinhos da coroa do Salvador.

Considerando o exposto, você entenderá que o Espírito de Cristo na Terra está, como afirmou São Paulo, “realmente gemendo e sofrendo, esperando o dia da libertação”. Assim, Ele reúne todos os dardos do ódio e da raiva: eis a coroa de espinhos.

Em tudo que vive, o Corpo Vital irradia correntes de luz da força que se gastou na construção do Corpo Denso. Durante a saúde, elas retiram o veneno do corpo e o mantêm limpo. Condições semelhantes prevalecem no Corpo Vital da Terra, que é o veículo de Cristo: as forças venenosas e destrutivas, geradas por nossas paixões, são retiradas pelas forças vitais do Cristo. No entanto, cada pensamento ou ato maligno traz a Ele sua própria proporção de dor e, logo, torna-se parte da coroa de espinhos — a coroa, já que a cabeça seja sempre considerada a sede da consciência —; devemos perceber que cada um dos nossos atos malignos recai sobre o Cristo da maneira declarada e Lhe acrescenta outro espinho de sofrimento.

Em vista do exposto, podemos notar com que alívio Ele pronuncia as palavras finais no momento da libertação da cruz terrena: “Consummatum est” – foi realizado.

E você poderia perguntar: por que a recorrência anual do sofrimento? Continuamente, à medida que absorvemos em nossos corpos o oxigênio que nos dá vida e, por seu ciclo, vitaliza e energiza o corpo inteiro, ele morre momentaneamente para o mundo exterior, enquanto vive no corpo e é carregado com venenos e resíduos antes de, afinal, ser exalado no formato de dióxido de carbono, um gás venenoso. Assim também, é necessário que o Salvador entre anualmente no grande corpo que chamamos de Terra e tome sobre Si todo o veneno gerado por nós mesmos, para purificar, limpar e dar nova vida, antes que Ele por fim ressuscite e suba ao Seu Pai.

(Perg. 85 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. II – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz SP)

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Natal, uma Lição de Amor

Natal, uma Lição de Amor

O Natal é a época Santa do ano, ocasião em que o Raio Crístico retorna esplendoroso ao nosso Planeta. Sem a aura rejuvenescedora, curativa e fortalecedora do Cristo, penetrando anualmente em nosso globo, grande parte da raça humana estaria inexoravelmente perdida. Esse grande presente Natalino que a humanidade recebe é a mais profunda manifestação do amor nascido eternamente do Pai.

Max Heindel, o grande místico ocultista, descreve de forma divinamente inspirada a natureza do Amor Cósmico, com estas palavras: “O amor nasce eternamente do Pai, dia após dia, hora após hora, fluindo ininterruptamente pelo universo solar, para redimir-nos do mundo material que nos atrasa com suas garras mortais”. Este tema é particularmente oportuno para meditarmos, durante esta época.

Por outro lado, causa-nos compaixão a ideia de que a maioria das pessoas faz do Natal, tornando-o um evento mais social do que místico. É verdade que o relacionamento entre os seres humanos se torna mais ameno, que há uma tendência geral à confraternização. Falta, porém, uma vivência mais mística: as pessoas acabam por preocupar-se mais com presentes, ceias e coisas do gênero.

Falta um aprofundamento no significado desta festividade religiosa que se revestiu de um caráter mundano. Falta, enfim, o verdadeiro espírito do Natal.

Nós, Estudantes dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, não podemos transigir com nossos princípios. Devemos vivenciar os conhecimentos que recebemos. Se as circunstâncias nos obrigam ao cumprimento dos nossos deveres sociais, participando da ceia natalina em companhia dos nossos familiares, façamo-lo dignamente. Abstenhamo-nos de carne (de qualquer “tipo”), bebidas alcoólicas, de uso de quaisquer materiais advindos de partes dos corpos de quaisquer tipos de animais e quaisquer outros excessos. Guardemo-nos contra pusilanimidade de violentar nossos princípios apenas para não desagradar alguém. Sejamos firmes e coerentes em nossas convicções e estaremos contribuindo, com esse exemplo, para o estabelecimento do Reino de Deus aqui na Terra.

Se a tradição nos aconselha a dar presentes materiais, façamo-lo consoante nossas posses e com dignidade. Nada de presentes luxuosos ou fúteis. Porque não dar algo edificante? Dar presentes úteis e que reconhecidamente podem preencher uma necessidade justa de um amigo ou parente é uma postura sensata.

Porém, o Natal verdadeiro constitui-se de presentes espirituais. São aquelas dádivas que revelam a presença do Cristo em nossas vidas. E a maior dessas dádivas é o amor.

O amor deve fluir espontaneamente do nosso coração ao coração das pessoas. Deus é amor. Somos parte de Deus e o amor que DELE se irradia em ilimitada medida também existe dentro de nós, aguardando apenas oportunidade de liberar. Que este Natal nos seja mais intenso em amorosidade.

(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – nov/dez/88)

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O Natal e a Evolução

O Natal e a Evolução

Nessa época do ano, nós, aspirantes aos Mistérios da Sabedoria Ocidental, voltamos nossos pensamentos ao grande Drama Cósmico que se desenrola na Terra, ano após ano.

Aprendemos, pelos iluminadores ensinamentos dos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, que o Natal constitui uma das quatro fases anuais na vida do nosso Espírito Planetário Interno (um Raio do Cristo Cósmico), sendo este, análogo ao nosso próprio nascimento físico.

Os místicos nascimentos e mortes do nosso Salvador são contínuas ocorrências cósmicas: um sacrifício contínuo, necessário para nossa evolução física e espiritual durante a presente fase do nosso progresso.

Assim como o lago que desagua no mar enche-se de novo quando a água evaporada retorna em forma de chuva, para fluir incessantemente rumo ao oceano, assim o Espírito do Amor nasce eternamente do Pai.

E o faz dia após dia, hora após hora, fluindo sem cessar em direção ao universo solar, com a finalidade de redimir-nos do mundo de matéria que nos tem enredado em suas garras mortais. Onda após onda, é assim emitida do sol a todos os Astros, ensejando um impulso rítmico às criaturas que neles evoluem (do Livro Coletâneas de um Místico de Max Heindel).

Na santa época do Natal, os fogos espirituais da Terra são mais brilhantes, de tal maneira que é o melhor período para absorvermos os benefícios do nosso crescimento anímico, assim como para investigar e estudar os mistérios da vida.

Portanto, “cabe-nos”, como asseverou Max Heindel, “aproveitarmos a oportunidade, de forma a utilizarmos o tempo presente com a melhor vantagem possível, paciente e persistentemente. Sabemos que essa grande onda de luz espiritual estará conosco durante as épocas vindouras. E, naturalmente se fará mais e mais brilhante, à medida que a Terra e nós mesmos evoluirmos a graus superiores de espiritualidade.”

Possamos, todos e cada um de nós, empenharmo-nos novamente para que nossa luz alumie a grande Árvore Cósmica do Natal, de modo a ser observada pelos seres humanos, atraindo-os às verdades que sabemos de vital importância para o desenvolvimento da humanidade.

 (Publicado na Revista Serviço Rosacruz de dezembro de 1976)

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As Razões Visíveis e Esotéricas para o Solstício de Dezembro

As Razões Visíveis e Esotéricas para o Solstício de Dezembro

Os Solstícios marcam o momento em que a vibração terrestre é mais elevada e em que os Raios Cósmicos da Vida Crística entram profundamente (Solstício de Dezembro) ou saem definitivamente (Solstício de Junho).

Juntamente com os Equinócios de Março e Setembro, constituem os pontos decisivos na vida do Grande Espírito da Terra, Cristo.

O Solstício de Dezembro – ótimo momento para se fazer um importante exercício esotérico na sua véspera: Ritual do Solstício de Dezembro!

Vamos a explicação exotérica e depois a esotérica:

Razões Visíveis: No Solstício de Dezembro a Terra está se aproximando no máximo PERTO do Sol.

Como sabemos, a Astrologia funciona em projeção geocêntrica, e a declinação dá-nos a maior ou menor angulação que o Astro considerado faz com o Equador, tal como visto da Terra.

Assim, à medida que os dias se vão aproximando de Dezembro, a declinação do Sol vai diminuindo: passa de 00 em 21-22 de Setembro até atingir um máximo de 230 26′ em 20-21 de Dezembro: então parece que fica “parado”, cerca de três dias nos 230 26′ (daí o verbo sistere, que compõe a palavra “solstício”), uma vez que estamos vendo em projeção geocêntrica contra o fundo da Esfera Celeste, e a partir do dia 24-25 volta “para trás” e os dias começam a diminuir.

A razão cosmográfica do Sol ficar “parado” aparentemente, durante três dias por ocasião dos Solstícios, tem a ver com as declinações e não com as longitudes celestes.

Essas razões físicas são as partes visíveis que verificamos como evidências de que o Solstício de Dezembro é o momento em que a Terra está chegando ao seu ponto mais perto do Sol.

Razões Esotéricas: esteja você no hemisfério Norte ou no Sul, independentemente da inversão das estações, uma coisa não muda: é a DISTÂNCIA, maior ou menor, a que o Sol se encontra da Terra. A Terra percorre uma elipse em torno do Sol, ao longo do ano, e não uma circunferência perfeita, e o Sol ocupa um dos focos dessa elipse.

O fluxo e o refluxo do impulso espiritual de Cristo (misticamente, o nascimento, a morte e a ressurreição do Salvador) culmina no Solstício de Dezembro.

Cristo chega ao centro da nossa Terra à meia-noite de 24 de dezembro. Ele rejuvenesce a Terra e os reinos de vida que nela evolucionam.

Aí Ele fica por três dias e, depois, começa a voltar. Esta volta se completa na Páscoa. Assim, do Natal até a Páscoa Ele se dá a Si mesmo sem limitações nem medida, imbuindo com vida, não apenas as sementes adormecidas, mas todas as coisas sobre e dentro da Terra. Sem essa infusão da Vida e Energia Divinas, todos os seres viventes da nossa Terra morreriam imediatamente, e todo o progresso seria frustrado, no que concerne à nossa presente linha de desenvolvimento.

Como dissemos acima, no Solstício de Dezembro, a Terra está no máximo MAIS PERTO do Sol, o que provoca um aumento da espiritualidade com o correlativa intensificação e pujança de vitalidade espiritual.

Inicia-se o renascimento da Luz, ou seja, o dia 25 de dezembro marca o fim do “ciclo solsticial”.

A partir do dia 26 de dezembro se inicia um segundo ciclo de especial significado Iniciático.

Na igreja primitiva cristã, entre o dia 26 de dezembro (Primeiro Dia Sagrado) e o dia 6 de janeiro (Décimo Segundo Dia Sagrado) ocorria a preparação ritual dos catecúmenos que eram batizados no Dia de Reis (Primeira Iniciação). Esses “Doze Dias Sagrados”, que acompanham a fase inicial do renascimento do “Sol Invencível”, eram como que um resumo do ano zodiacal seguinte, e estavam sob a proteção das Hierarquias Celestes que tradicionalmente regem os 12 Signos do Zodíaco.

Que as rosas floresçam em vossa cruz!

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E o Véu do Templo rasgou-se de Alto a Baixo

E o Véu do Templo rasgou-se de Alto a Baixo      

É tempo de Natal. Mais uma vez o Espírito de Cristo, amorosamente, esparge sua energia em nosso Planeta, renovando-o espiritualmente. A época é muito propícia ao recolhimento e introspecção.

Perguntemo-nos sobre nossas vidas. Inquiramo-nos sobre o que temos feito das oportunidades colocadas em nossas mãos. Elas estão sendo aproveitadas edificantemente, tais como os talentos da parábola evangélica, multiplicando-se por seu emprego justo e apropriado?

Não neguemos: temos tido oportunidades. A despeito das cruezas e incertezas da era que vivemos, podemos considerar-nos privilegiados. Quantas bênçãos e oportunidades de crescimento anímico são postas ao nosso alcance.

Contemplemos essa admirável Filosofia Rosacruz! É uma fonte inesgotável de sabedoria, assentada sobre bases adequadas ao nosso desenvolvimento. O  aspecto racional dela projeta luz sobre os mais intrincados problemas da vida, facultando-nos encontrar Deus em todas as coisas e em nós mesmos. Enseja-nos respostas. Delineia-nos um caminho. Disciplina o fluxo das nossas energias.

O aspecto devocional da Filosofia Rosacruz fortalece nossa fé no supremo BEM. Alenta-nos nos difíceis momentos dos desafios: “O único fracasso é deixar de lutar”. Prepara-nos, inspira-nos, revela-nos nossa vocação espiritual.

Ensina-nos, a Filosofia Rosacruz, a dignidade do bom relacionamento, evidenciando a regra de ouro: “não fazer a outrem o que não queremos que nos façam”. Exorta-nos à pureza, advertindo que “o salário do pecado é a morte”.

Estimula o estudo como um meio de conhecermos as Leis da Natureza: “O único pecado é a ignorância, e a única salvação o conhecimento aplicado”. Das entrelinhas de seus ensinamentos faz emergir o Evangelho do Serviço: “O serviço amoroso e desinteressado para com os demais é o caminho mais curto, mais seguro e mais agradável que nos conduz a Deus”.

Seu método de desenvolvimento, se observado com fidelidade, conduz ao portal do Templo da Iniciação. Basta “viver a vida” e amar a todos os seres da criação.

Mas nem sempre essas preciosíssimas oportunidades estiveram ao alcance de todos.

Nos tempos pré-cristãos, o caminho Iniciático era uma realidade para uma minoria. As portas do Templo eram abertas exclusivamente para uns poucos escolhidos, preparados e guiados pelos Hierofantes. A natureza de desejos era muito forte e o egoísmo constituía o denominador comum do relacionamento humano. Um número insignificante de pessoas mostrava-se em condições de acercar-se das realidades espirituais por meio da Iniciação.

Com o advento do Cristianismo, as coisas passaram por substanciais modificações. Quando o sangue fluiu no Gólgota, o “véu do templo rasgou-se de alto a baixo”. E o Cristo tornou-se assim o regente da Terra, iniciando um trabalho de, periodicamente, infundir energia e purificar o Corpo de Desejos planetário. O fim desse ciclo está condicionado ao nosso próprio adiantamento. Abria-se, assim, o caminho da Iniciação para todos aqueles que se dispusessem a trilhá-lo, acumulando para tanto o necessário mérito; agora, só ele conta.

Sensibilizados pelo Amor Universal, sentimos brotar em nosso interior as primícias dessa ação cósmica: a caridade, o sentimento de empatia, o espírito de sacrifício, a fraternidade.

Diariamente somos prodigalizados com inúmeras oportunidades de servir.

Que fazemos delas? A menos que as traduzamos em obras, continuaremos a retardar o dia da libertação, o “consumatum est” coletivo.

O Cristo Cósmico aguarda pacientemente o nascimento, em cada um de nós, de sua réplica microcósmica. É um trabalho árduo, exigindo paciente persistência em praticar o bem. As oportunidades estão aí, mas o mundo com suas ardilosas solicitações ainda nos exerce um perigoso fascínio. O nascimento do Cristo em nós, por certo, resultará de um parto doloroso. Um dia, porém, deverá acontecer.

É Natal. Meditemos sobre isso.

(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 12/74)

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O Natal e a Atualidade

O Natal e a Atualidade

O ano já está quase terminando, com tudo o que nos proporcionou em termos de venturas e tristezas, êxitos e malogros, e quase já faz parte do passado. É mister, entretanto, proceder-se a um inventário espiritual. O estudante Rosacruz sincero, por certo, analisará sua atuação durante o período que está se findando, objetivando verificar a extensão de seu progresso e a estatura de seu patrimônio moral. É uma autoanálise. Seguramente evidenciará as falhas de caráter e as virtudes já conquistadas. Fará vir à tona uma série de distorções subconscientes. Mostrará, enfim, as debilidades a serem substituídas gradativamente pelas qualidades opostas, e os pontos positivos que deverão ser fortalecidos. É um dever ao qual não podemos nos eximir.

Não olvidemos o trabalho empreendido pelo Espírito de Cristo, cujo clímax é atingido pelo Natal. Estejamos cientes de nossa responsabilidade perante essa ajuda. O refrão popular “Deus ajuda a quem se ajuda” tem sua razão de ser. Não poderemos usufruir dessa infusão de energia espiritual se nos mantivermos “impermeáveis” a ela. Nosso crescimento será maior e mais rápido na medida em que agirmos consoante a Lei Cósmica.

É lógico, o ser humano mundano também é envolvido pelo auxílio Crístico, porém em amplitude bem menor do que o espiritualista que se esforça por tornar-se não só um elemento receptivo, mas também um canal a espargir as mais elevadas bênçãos. Na proporção em que se aumenta a capacidade de dar, ampliam-se as possibilidades de receber. É uma Lei!

É importante conscientizarmo-nos de que somos canais. Mas só isso não basta. O canal necessariamente deverá estar limpo e desimpedido para que o fluxo através dele não perca sua pureza e fluidez. Aí encontramos o valor do inventário espiritual. Ele nos propicia o real vislumbre dos detritos a serem eliminados, dando-nos a dimensão exata do trabalho de purificação e regeneração a ser executado.

É louvável nosso desejo de ajudar a humanidade. É compreensível e confortadora nossa ânsia de trabalhar na Vinha do Senhor. Contudo, nós o faremos mais eficientemente se nos libertarmos pouco a pouco de nossas falhas.

Preparemo-nos convenientemente para a labuta do ano entrante, delineando alguns objetivos a serem colimados. E que um deles seja o aprimoramento de nosso caráter.

Nunca, em toda a sua história, a humanidade foi protagonista de mudanças tão acentuadas como agora. Em cada campo de atividade humana político, social, religioso, artístico, filosófico, científico – surgem novas descobertas num espaço de tempo assombrosamente curto. Valores até ontem considerados plenamente válidos, ou são reformulados ou anacronizam-se. Afirmações até há pouco admitidas como axiomáticas dão lugar a verdades mais profundas.

Paralelamente a essas transformações, a humanidade tem passado por uma fase de distúrbios e inquietações. Pessoas extremamente conservadoras atribuem às inovações todas as mazelas que afligem o mundo. Ora, isso seria uma explicação demasiadamente simplista. Incriminar o modernismo, colocando-o no banco dos réus, pura e simplesmente, sem uma análise mais acurada, é agir de forma irracional.

Nós, seres humanos somos os propulsores do progresso e os modificadores do panorama terrestre. A natureza nos oferece um manancial de elementos suscetíveis de serem utilizados. A forma como manipulá-los depende do caráter de cada um. O elemento em si é neutro. Com tijolos pode-se construir um templo ou um prostíbulo. Quando catástrofes se abatem sobre alguns países ou regiões, resultando em um número considerável de mortos, feridos e desabrigados, estes, geralmente recebem auxílios mediante os modernos meios de transporte. Dezenas de aviões rumam às áreas assoladas conduzindo equipes médicas e medicamentos. É o progresso salvando o ser humano! Paradoxalmente, aviões militares carregam bombas em seu bojo, semeando a morte e a destruição nas áreas oponentes. É o progresso aniquilando o ser humano!

Em 1939, Albert Einstein enviou carta ao Presidente Franklin D. Roosevelt, tecendo comentários sobre os benefícios que poderiam advir do sábio emprego da energia atômica. Porém, no final de sua missiva não conseguiu esconder sua preocupação, se ocorresse o contrário.

A força que impele o ser humano a novas conquistas “deve partir de dentro”. É, portanto, necessário educá-lo convenientemente, ensejando a que diferencie o ilusório do real, o relativo do absoluto, o sofisma da verdade. O justo emprego das coisas. A valorização das qualidades morais. O respeito a todos os seres da criação. O vislumbre da humanidade como um todo. Ou, a indissolubilidade de suas partes. Tudo isso merece um lugar de destaque na ação educadora dos pais, no labor doutrinário das igrejas e nos programas de educação estabelecidos pelos órgãos governamentais.

Mediante esse trabalho de base, colimar-se-á o objetivo de orientar as transformações e descobertas em benefício do gênero.

Quando isso se tornará realidade?

(Traduzido da Revista Rays from the Rose Cross e Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 12/76)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Interpretação Mística da Páscoa

As informações contidas nesse livreto foram trazidas das conferências e de outros escritos de Max Heindel e publicadas de tempos em tempos, em forma de revista ou trechos em livros.

Esse humilde esforço pretende ser uma inspiração para aqueles que tenham vislumbrados a Centelha de Luz e Amor Divinos, e que está se esforçando para alcançar aquela última meta que foi alcançada por Cristo Jesus a mais de dois mil anos no Gólgota.

O que Ele conseguiu, naquela ocasião, é a tarefa que se defronta a todos e a cada um de nós.

Quando tivermos submetido totalmente ao Eu Superior ou Cristo-interno, então virá a ressurreição ou a completa libertação da matéria.

Então, nós podemos dizer com Cristo: “Está consumado”.

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Há 4 meios de você acessar esse Livro:

1.Em formato PDF (para download ou imprimir):

Interpretação Mística da Páscoa – Max Heindel

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4. Para estudar no próprio site:

INTERPRETAÇÃO MÍSTICA DA PÁSCOA

 Por

Max Heindel

(1865-1919)

Compilado de vários escritos e conferências de um místico

Fraternidade Rosacruz

Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82

Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil

Revisado de acordo com:

1ª Edição em Inglês, The Mystical Interpretation of Easter, editada por Max Heindel

1ª Edição em Português, editada pela Fraternidade Rosacruz São Paulo – SP – Brasil

Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

www.fraternidaderosacruz.com

contato@fraternidaderosacruz.com

fraternidade@fraternidaderosacruz.com

PREFÁCIO

As informações contidas nesse livreto provêm das conferências e escritos de Max Heindel, e foram publicadas uma e outra vez em forma de artigos de revista e/ou em livros. O Boletim Echoes, editado pela primeira vez em junho de 1913, por Max Heindel, contém uma grande quantidade de conhecimentos e sabedoria sobre esse e outros importantes acontecimentos de significado místico. Alguns capítulos sobre a Páscoa são, também, encontrados nos livros Coletâneas de um Místico e Ensinamentos de um Iniciado.

Esse humilde esforço pretende ser uma inspiração para aqueles que tenham vislumbrados a Centelha de Luz e Amor Divinos, e que está se esforçando para alcançar aquela última meta que foi alcançada por Cristo Jesus a mais de dois mil anos no Gólgota. O que Ele conseguiu, naquela ocasião, é a tarefa que se defronta a todos e a cada um de nós. Quando tivermos submetido totalmente ao Eu Superior ou Cristo Interno, então virá a ressurreição ou a completa libertação da matéria. Então, nós podemos dizer com Cristo: “Está consumado”.

ÍNDICE

CAPÍTULO I

O CRISTO CÓSMICO

CAPÍTULO II

UM ACONTECIMENTO DE SENTIDO MÍSTICO

CAPÍTULO III

O SIGNIFICADO CÓSMICO DA PÁSCOA

Primeira Parte

CAPÍTULO IV

O SIGNIFICADO CÓSMICO DA PÁSCOA.

Segunda Parte

CAPÍTULO V

A LIÇÃO DE PÁSCOA

CAPÍTULO VI

O SÍMBOLO DO OVO

CAPITULO VII

A CRUZ DE CRISTO

CAPITULO VIII

QUE FOI FEITO DO CORPO FÍSICO DE JESUS?

CAPÍTULO I

O CRISTO CÓSMICO

“Ainda que Cristo nascesse mil vezes em Belém,

se não nasce dentro de ti, tua alma segue extraviada.

Olharás em vão a Cruz do Gólgota,

enquanto não fizeres um Gólgota de teu coração também”.

AngelusSilésius[1]

A canção popular de hoje, que todo mundo canta com entusiasmo, mas que é esquecida amanhã; o espetáculo que é levado à cena, talvez, cem noites seguidas, para depois ser abandonado e relegado ao pó, e todas as outras coisas que são evanescentes demonstram, claramente, que não tem um valor intrínseco. O brilho de uma estrela cadente ilumina o céu por um momento, mas embora o brilho das outras estrelas seja mais fraco e atraia menos a nossa atenção, suas luzes confortam ao caminhante, noite após noite, através dos tempos. Somente as canções que, por seu valor, são reproduzidas sempre de novo, cuja música não nos cansa nunca, têm realmente algo de valioso na vida. O mesmo acontece nos ciclos cósmicos que sempre se repetem, marcados pelas festas do ano. Como elas são recorrentes, sempre nos ensinam as mesmas antigas lições, sempre sob um novo ponto de vista.

O impulso de vida do Cristo Cósmico que entrou na Terra no último mês de setembro, manifestou-se no nascimento Místico no Natal e realizou sua maravilhosa magia de fecundação do mês de setembro até março e se libertou da cruz da matéria para ascender novamente ao trono do Pai, na Páscoa deixa a Terra coberta de uma glória verde dos próximos meses, pronta para as atividades físicas[1].

Como é em cima, assim também é em baixo. Os processos que se desenvolvem em larga escala na Terra manifestam-se, também, no ser humano. Durante os meses de setembro a março nós fomos completamente impregnados pelas vibrações espirituais que predominaram nos últimos meses, muito mais do que foi possível sob as condições mais materiais que prevalecem entre março e setembro. Chegou-nos em setembro com um novo impulso para a vida superior; culminou na Noite Santa, e sua magia trabalhou dentro de nós e em nossas naturezas na proporção que aproveitamos nossas oportunidades. De acordo com a nossa aplicação ou descuido no último período, o progresso será acelerado ou atrasado no próximo período, porque não existem palavras mais verdadeiras do que aquelas que nos ensinam que somos exatamente aquilo que fizermos de nós mesmos. O serviço que prestamos ou deixamos de prestar determina se a nova oportunidade, para um serviço maior, nos proporciona um impulso mais forte para cima; e não será nunca demais repetir que é inútil esperar libertação da cruz da matéria, antes que tenhamos usado nossas oportunidades aqui e, então obter uma mais ampla capacidade de sermos úteis. Os “cravos” que prendem a Cristo na Cruz do Calvário prendem você e eu, até que o impulso dinâmico de amor flua de nós em ondas e correntes rítmicas, tal como a maré de amor que, anualmente, entra na Terra, e a impregna com vida renovada.

Conhecemos a analogia entre o ser humano – que entra nos seus veículos, quando desperta pela manhã, vive neles e trabalha por meio deles, e a noite é um Espírito livre, livre da escravidão do Corpo Denso – e o Espírito de Cristo que mora em nossa Terra, uma parte do ano. Nós todos sabemos que grilhão e que prisão esse Corpo representa; como nós somos cerceados pelas doenças e sofrimentos, porque não existe ninguém que esteja sempre em perfeita saúde, de maneira que nunca estamos livres de sentir as ânsias de dor, pelo menos ninguém que esteja no estreito caminho espiritual.

A mesma coisa acontece com o Cristo Cósmico, que dirige Sua atenção para a nossa pequena Terra, focando Sua consciência neste Planeta, para que tenhamos vida.  Ele tem que vitalizar esta massa morta (que nós mesmos cristalizamos fora do Sol) todos os anos; e isso é um grilhão, um peso e um aprisionamento para Ele. Esse é o motivo justo e próprio pelo qual devemos nos alegrar quando Ele chega à época doNatal, todos os anos, e nasce, novamente, no nosso mundo para nos ajudar a transformar para melhor essa massa informe, com a qual nos sobrecarregamos. Nossos corações, nessa época, devem voltar-se para Ele, em gratidão pelo sacrifício que Ele faz por nossa causa, durante os meses de: setembro, outubro, novembro e dezembro, permeando este Planeta com Sua Vida, para despertá-lo da hibernação, no qual permaneceria se não fosse Ele, pelo seu nascimento, para dar-lhe vida.

Durante os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro Ele sofre agonias de torturas, “gemendo, trabalhando e esperando pelo dia da libertação[2], a qual chega no tempo em que nós falamos nas igrejas ortodoxas: Semana da Paixão, mas nós afirmamos que, de acordo com os ensinamentos místicos, essa semana é exatamente a culminação ou ponto mais alto dos Seus sofrimentos, e que Ele, então, sai de Sua prisão; e quando o Sol cruza o Equador, Ele é suspenso na Cruz, exclamando: “Consummatum est!” – “Está consumado!”[3]; ou “Está cumprido!”. Isto quer dizer que o Seu trabalho, para aquele dia, foi cumprido. Não é um grito de agonia, mas um grito de triunfo, um grito de alegria, pois a hora da libertação chegou e, mais uma vez, Ele pode se elevar, por mais um período, se livrando da prisão e do peso do nosso Planeta.

O ponto para o qual desejo chamar vossa atenção é que deveríamos nos alegrar com Ele, nessa grande, gloriosa e triunfante hora, a hora da libertação, quando Ele exclama: “Está cumprido”. Sintonizemos os nossos corações para esse grande acontecimento Cósmico; alegremo-nos com o Cristo, nosso Salvador, que o tempo de Seu sacrifício anual se completou, mais uma vez; sintamo-nos agradecidos, do fundo dos nossos corações, que Ele está, agora, prestes a ser libertado da prisão terrena; pois a vida que Ele imbuiu no nosso Planeta é suficiente para conservar-se até o próximo Natal.

A Natureza é a expressão simbólica de Deus. Por isso, quando queremos conhecer a Deus precisamos estudar a Natureza, lembrando-nos sempre que existe um propósito emtoda a manifestação; que a vida é uma escola e aprendendo suas muitas lições a humanidade evolui lentamente de uma chispa divina para a Divindade. Se tivéssemos aprendido as lições da vida, tal como nos foram dadas, não teria havido necessidade do grande sacrifício que foi feito e que é anualmente repetido pelo Espírito de Cristo, que é a personificação do Amor. Por egoísmo, desobediência às Leis e práticas do mal fomos cristalizando rapidamente, não somente nossos corpos, mas, também a Terra na qual vivemos, a um nível que ambos estavam se tornando inúteis como meios de evolução. Quando já não nos podíamos salvar dos resultados dos nossos próprios erros, o Cristo compassivo ofereceu a Si mesmo e o seu grande Poder de Amor para romper essas condições cristalizadas dos corpos humanos e da Terra. Durante três anos Ele ensinou a Humanidade pela palavra, pelo preceito e exemplo.

Quando Ele foi crucificado no Gólgota o seu Grande Sacrifício pela humanidade apenas começou. Cada ano, desde esse tempo, quando o Sol passa do Signo zodiacal de Virgem para o de Libra, o Espírito de Cristo, retornando à nossa Terra, toca a sua atmosfera. Ele começa a sua jornada de descida em torno de 21 de junho[4], no Solstício de Junho, quando o Sol entra no Signo de Câncer. Ele chega ao centro da nossa Terra à meia-noite de 24 de dezembro. Aí Ele fica por três dias e, depois, começa a voltar. Esta volta completa-se na Páscoa. Da Páscoa até o Solstício de Junho Ele está passando pelos Mundos Espirituais e chega ao Mundo do Espírito Divino, o Trono do Pai, a 21 de junho[5]. Durante julho e agosto, quando o Sol está em Câncer e Leão, Ele reconstrói o seu veículo Espírito de Vida, que Ele trará ao mundo, novamente, e, com esse veículo, Ele voltará a rejuvenescer a Terra e os reinos de vida que nela evolucionam. Do Natal até a Páscoa Ele se dá a Si mesmo sem limitações nem medida, imbuindo com vida, não apenas as sementes adormecidas, mas todas as coisas sobre e dentro da Terra.

Sem essa infusão da vida e energia Divinas, todos os seres viventes da nossa Terra morreriam imediatamente, e todo o progresso seria frustrado, no que concerne à nossa presente linha de desenvolvimento. Essa atividade germinativa da vida do Pai, que nos é trazida por Cristo e entregue amplamente no tempo da Páscoa, que renova o crescimento e intensifica a atividade na planta, no animal e no ser humano, nessa especial parte do ano. Cristo não deixa a Terra na Páscoa senão depois de dar de Si Mesmo até ao máximo. É, então, que a infusão de Sua Vida, junto com os raios quase verticais do Sol, faz as sementes germinarem; as árvores florirem; os pássaros acasalarem, dirigidos pelos seus Espíritos-Grupo, e construírem seus ninhos. A humanidade, então, é fortificada e imbuída com a energia e a coragem necessárias para enfrentar, aproveitar e crescer por meio das experiências inesperadas providas pelos diversos e perplexos problemas da vida.

Para aqueles que se decidiram trabalhar consciente e inteligentemente com a Lei Cósmica, a Páscoa tem um grande significado. Para eles significa a libertação anual do Espírito de Cristo das restrições dolorosas da Terra e Sua gloriosa ascensão ao mundo do Seu verdadeiro lar, para lá permanecer um período junto ao seio do Pai. E se os seus olhos estão verdadeiramente abertos eles podem ver as hostes Angélicas que O estão esperando, prontos para acompanhá-Lo na Sua viagem em direção ao céu; se os seus ouvidos estão sintonizados com os sons celestiais, eles ouvem os coros celestiais cantando Seu louvor e hosanas jubilosos, elevados ao Deus Altíssimo.

Para as almas iluminadas a Páscoa traz uma profunda compreensão do fato de que toda a humanidade é peregrina na Terra; que a verdadeira pátria do Espírito são os Mundos Espirituais e para alcançar esse reino devemos nos esforçar em aprender as lições da escola da vida o mais rápido possível, de maneira que possamos ser capazes de ver para o amanhecer de um dia que nos liberaremos, permanentemente, da escravidão da Terra. Então, da mesma forma como o Cristo libertado, chegaremos a uma realização dessa gloriosa imortalidade, como recompensa da conquista do Espírito perfeito. Para as almas iluminadas, a Páscoa simboliza o amanhecer de um dia feliz, quando toda a humanidade, semelhante ao Cristo, será permanentemente livre das restrições materiais, e ascenderão aos Reinos celestes, tornando-se pilares de força na Casa do Pai, de onde não mais sairão.

CAPÍTULO II

UM ACONTECIMENTO DE SENTIDO MÍSTICO

Para onde eu vou não podes agora seguir-me; mas

depois me seguirás … Aquele que crê em mim

também fará as obras que eu faço

e as fará maiores do que estas.

Jo 13:36; 14:12

Se fôssemos a uma igreja ortodoxa num Domingo de Páscoa, provavelmente ouviríamos a história de Jesus, o Filho de Deus, concebido sem pecado e que, com a idade de 30 anos, assumiu um sacerdócio que durou três anos e que terminou em crucificação e morte por nós; que através de seu sangue podemos ser salvos. Provavelmente, poderíamos ouvir, também, que no dia da Páscoa ele levantou-se novamente dos mortos, subindo depois para o Pai onde está agora sentado à direita da majestade de Deus, de onde retornará para julgar os vivos e os mortos na última Ressurreição.

Porém, mesmo sabendo – em virtude de podermos ler na Memória da Natureza – que Jesus viveu e morreu, que teve uma missão mística da máxima importância para a evolução humana e que os principais acontecimentos daquela grande vida se deram realmente conforme relata o Evangelho, sabemos também que a missão do Cristo Místico é algo infinitamente mais gloriosa do que aquilo que já penetrou no coração dos que conhecem apenas a interpretação ortodoxa dos Evangelhos.

Em primeiro lugar, a festa da Ressurreição, chamada Páscoa, não comemora simplesmente a ressurreição de um indivíduo, mas significa um evento cósmico. Seria extrema tolice celebrar-se a morte e ressurreição de uma pessoa, ocorrida em certo dia do ano, com uma festa móvel que é determinada pelas posições do Sol e da Lua no Signo zodiacal de Áries, o carneiro ou cordeiro.

Cada ano uma onda espiritual de vitalidade invade a Terra no Solstício de Junho, a fim de despertar a semente que hiberna no solo gelado e infundir nova vida ao mundo em que vivemos. Este trabalho se processa durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, enquanto o Sol transita pelos Signos zodiacais de Capricórnio, Aquário e Peixes. Então, ele cruza o equador celestial vindo do Sul, onde esteve durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro; esse cruzamento ou crucificação (crucifixão) é então relacionado, cosmicamente, com a sua entrada no Signo de Áries, o carneiro ou cordeiro. Então, o Sol se eleva para os Signos dos céus setentrionais a fim de promover, com seus raios aquecedores, o crescimento da semente no solo já revitalizada pela onda de vida Crística nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Sem essa onda mística anual de energia vital oriunda do Cristo Cósmico, a vida física seria uma impossibilidade. Sem ela não poderia haver nem pão e vinho físicos, nem a transubstanciada tintura espiritual, preparada pela alquimia vinda do sangue do coração do Discípulo.

O cordeiro foi morto quando da fundação do mundo da Época Ária, em que agora vivemos. Seu sangue foi o símbolo que salvou da morte o povo escolhido de Deus quando este deixou o lendário Egito, a pátria de adoração do boi Touro ou Apis. A partir dali, tornou-se idolatria para todos os que haviam sido salvos pelo sangue do cordeiro, adorar o bezerro de ouro, pois as velhas Religiões do boi Touro tinham sido superadas pela Religião do cordeiro, quando o Sol, por Precessão dos Equinócios, deixou o Signo de Touro e entrou no Signo celestial de Áries, o cordeiro ou carneiro. Completado o tempo em que o Sol, por Precessão dos Equinócios, havia alcançado os sete graus no Signo do carneiro, Cristo veio no corpo de Jesus para estabelecer um novo pacto sob o selo e símbolo dos místicos pão e água da vida. Mas o Cordeiro de Deus precisava morrer, e isto aconteceu individualmente quando Cristo deixou o corpo de Jesus e, cosmicamente quando o Sol, por Precessão dos Equinócios, saiu do Signo de Áries. Então um novo símbolo precisava ser dado àqueles que seriam os mensageiros durante a entrante Era de Peixes, por conseguinte, Ele, Ele próprio representou na última ceia do cordeiro do sacrifício. O pão e a água da vida foram dados como símbolo do seu corpo e do seu sangue, devendo ser usados para recordá-Lo durante a próxima Era. Há, portanto, uma ligação entre o vinho místico e o sangue, como também entre o pão místico e o corpo, que precisamos compreender se quisermos conhecer o verdadeiro sentido místico da morte e da ressurreição.

Em sua evolução o ser humano recebeu o alimento apropriado ao desenvolvimento de cada um dos seus veículos. Um veículo como o nosso corpo físico, formado de compostos químicos, só pode ser nutrido com substâncias químicas. Analogamente, só Espírito pode atuar sobre Espírito, portanto o vinho foi acrescentado à dieta do ser humano para ajudá-lo a dissolver as pesadas moléculas da carne e estimulá-lo na batalha da existência. A isto se refere à história de Noé (Gn 9:2-20), o qual com seus seguidores, representa a humanidade na era do arco-íris em que a assim chamada “dieta mista” e o vinho constituem a alimentação necessária à presente fase de evolução.

Fortalecido pela Mente carnívora e pelo Espírito do álcool, o ser humano se afastou cada vez mais do caminho da fraternidade, pois nutrindo-se com o mesmo alimento dos carnívoros ele se tornou necessariamente tão feroz quanto um animal predador, passando a caçar instintivamente ao seu próprio semelhante. Enquanto o sistema de procriação e casamento dentro da mesma tribo prendia-o firmemente aos seus companheiros de clã, ele ao menos demonstrava amá-los. Mas desde que os casamentos intertribais entraram em voga e ele começou a emancipar-se gradativamente do Espírito de raça, passou a saquear, ao próprio ser humano e até à própria família. O egoísmo tomou-se ilimitado, nada mais foi sagrado aos olhos cobiçosos, e cada ser humano passou a viver em guarda contra todos os outros. Além da ação que tais coisas trazem, não há descanso, não há paz duradoura nem felicidade na senda da paixão e da autogratificação. Portanto, chega a hora em que o ser humano deseja um fim permanente para os seus sofrimentos mais do que qualquer outra coisa, e aí começa a buscar o caminho da paz, que é também o caminho da pureza e da abnegação. Então ele é introduzido nos mistérios do Gólgota, do Sangue Purificador e da Cruz das Rosas, como segue:

Purificar o sangue do egoísmo é o Mistério no Gólgota. O processo começou quando o sangue de Jesus foi derramado e continuou através das guerras entre nações Cristãs todas as vezes que o ser humano lutou por um ideal, e prosseguirá até que o contraste entre os horrores da guerra e a beleza da fraternidade tenham impressionado suficientemente a espécie humana. Abaixo de nós na escala da evolução estão os vegetais e os animais, acima estão os deuses. Anatomicamente nós pertencemos ao reino animal e, em nossas vidas passadas, vivemos abaixo da nossa condição de humanos. Como os animais, gratificávamos nossos desejos sexuais e nossos apetites, mas enquanto aqueles eram mantidos sob controle por um sábio Espírito-Grupo nós não exercemos nenhum domínio sobre os nossos desejos, pelo que a doença, a dor e o sofrimento tornaram-se o nosso quinhão. Agora, contudo, aspiramos palmilhar a senda da paz em direção à serena felicidade dos deuses. Para isso devemos nos tomar como as plantas, isto é, puros e sem paixões. Consideremos o antigo Templo de Mistérios Atlante, também chamado “O Tabernáculo no Deserto”. Na velha Dispensação, quando a carne oferecida em sacrifício pelos pecados era queimada sobre o altar do sacrifício, seu odor elevava-se aos céus como um atestado da repugnante natureza da transgressão, da paixão e da impureza. Mas dentro do Tabernáculo havia o candelabro de sete braços, que queimava a essência das oliveiras sem desprender odor desagradável. Toda carne foi concebida sob a paixão e o pecado, mas a geração da planta é pura e imaculada. Por conseguinte, a flor aromática, especialmente a rosa vermelha, mantém-se em simbólica e direta oposição à carne corrompida. A flor é o órgão gerador da planta. Ela nos diz que a concepção sem mácula, em amor e pureza, é o caminho da paz e do progresso. Em Sua última reunião com seus Discípulos, Cristo estabeleceu os símbolos do novo pacto, do Testamento: deu-lhes pão para comer, simbolizando o Seu corpo, e a taça simbolizando o Seu sangue. Não uma taça comum para qualquer líquido, nem que o líquido por si só tivesse o poder suficiente para ratificar o novo pacto. O mistério jaz no fato de que a taça e seu conteúdo eram partes essenciais e necessárias de um sublime todo. O nome que designava essa taça mística em latim era “Calix”, em grego era “Poterion”.

Na velha Dispensação só a água era usada nos serviços do templo, mas com o tempo o vinho tornou-se um fator na evolução humana. Um deus do vinho – Baco – passou a ser adorado, e orgias da mais brutal natureza eram celebradas para que, sufocando as aspirações do Espírito, o ser humano se voltasse mais para a conquista do Mundo Físico. Mesmo sob a Dispensação mosaica os sacerdotes eram rigorosamente proibidos de usar o vinho enquanto oficiassem no templo, mas Cristo em sua primeira aparição em público mudou a água em vinho, aprovando deste modo o seu uso na ordem de coisas então existentes. Note-se, todavia, que isso foi feito em público, e que esse foi Seu primeiro ato como sacerdote do povo, mas na última reunião esotérica de Cristo com Seus Discípulos, quando o novo pacto foi dado, não havia nem carne de carneiro (Áries) – conforme estabelecia a ordem Mosaica – nem vinho, mas tão somente pão, um produto vegetal e o cálice do qual falaremos após ouvirmos as palavras que Ele proferiu naquela ocasião: “Não mais beberei deste fruto da videira até o dia em que hei de beber, novo, convosco no Reino dos Céus[6]. O suco novo, recém-espremido da uva, não contém o Espírito da fermentação e da decomposição, mas é um alimento vegetal nutritivo e puro. Por conseguinte, os seguidores da doutrina esotérica foram instruídos por Cristo a não consumirem alimentos cárneos nem alcoólicos.

Geralmente supõe-se que o cálice usado por Cristo na Última Ceia continha vinho, muito embora não haja fundamento bíblico para tal suposição. Existem três relatos dos preparativos para a Páscoa. Mesmo que Marcos e Lucas refiram-se aos mensageiros enviados a certa cidade em busca de um homem que carregava um cântaro de água, nenhum dos evangelistas diz que o cálice continha vinho. Além disso, investigações na Memória da Natureza mostram que a água é que foi usada, e no que diz respeito aos esoteristas o vinho não tinha mais vez. Daquele ato, data também a inauguração do movimento de temperança, pois tais mudanças cósmicas envolvem longos preparativos nos Mundos Espirituais internos antes que possam manifestar-se nas sociedades do Mundo externo. Assim, milhares de anos quase nada significam nesses processos.

O uso da água na Última Ceia também se harmoniza com os requisitos astrológicos e éticos. O Sol saía de Áries – o Signo do Cordeiro – e entrava em Peixes, um Signo de Água. Ia soar uma nova nota de aspiração. Na Era de Peixes entrante ia iniciar-se uma nova fase de soerguimento humano. A autoindulgência ia ser suplantada pela autonegação. O pão, a matéria da vida, que é feito do grão gerado imaculadamente, não estimula paixões como a carne, nem nosso sangue se agita tão apaixonadamente quando recebe água do que quando recebe vinho. Portanto, pão e água são os alimentos e símbolos apropriados aos ideais da Era Peixes-Virgem, pois representam pureza. A Igreja Católica dá aos seus fiéis a água de Peixes na porta dos templos, como dá também o pão da Virgem no altar, mas nega-lhes o cálice de vinho do ofício. Todavia, as considerações acima não conduzem no âmago do mistério oculto no “Cálice do Novo Pacto”.

A taça de vinho velho, que nos foi dada no início da Época Ária – terra da geração – estava cheia de destruição, morte e veneno, de modo que a palavra que então aprendemos a falar é morta e destituída de poder.

A taça de vinho novo, mencionada como o ideal da futura época – a Nova Galileia (não a confundir com a Era de Aquário) – é um órgão etérico construído no interior da cabeça e da garganta pela força sexual economizada, o qual órgão é visto pelos Clarividentes como a haste de uma flor que ascende da parte inferior do tronco. Este cálice, ou taça-semente, é verdadeiramente um órgão criador capaz de emitir a palavra, a vida e o poder.

A palavra atual é produzida por movimentos musculares rudimentares que combinam laringe, língua e lábios de tal modo que a passagem do ar saído dos pulmões gera determinados sons. Mas o ar é um veículo pesado, difícil de mover-se, comparado as forças mais sutis da Natureza como a eletricidade, que se propaga no Éter, de modo que, quando este órgão tiver alcançado pleno desenvolvimento, ele terá o poder de falar a palavra da vida e infundir vitalidade nas substâncias que até ali estiverem inertes. Este órgão está sendo agora construído por nós, através do serviço.

Recorde-se que Cristo não deu o cálice ao povo, mas sim aos Seus Discípulos, Seus mensageiros e servos da Cruz. Nos dias atuais, aqueles que bebem do cálice da auto-abnegação para poderem usar a força no serviço aos outros estão construindo esse órgão e, também, o Corpo-Alma, que é o traje nupcial. Estão aprendendo a usá-lo aos poucos, como Auxiliares Invisíveis, quando fora de seus corpos à noite precisam emitir a palavra de poder para dissipar doenças e produzir tecidos sadios.

Quando a Época Atlante se aproximava do seu fim e a humanidade abandonava o lar de sua infância, onde viveu sob a orientação direta de Guias Divinos, o velho pacto foi feito dando ao ser humano carne e vinho, e estes dois elementos, juntamente com o uso descontrolado da força sexual, tornaram a Época Ária uma era de morte e destruição. Agora estamos nos aproximando do fim dessa era. Estamos em busca do Reino dos Céus, da Nova Galileia, e a fim de preparar-nos para essa época. Cristo nos deu o pão e a água da vida, ordenando-nos ao mesmo tempo não cedermos a luxúria. Tendo feito este novo pacto, Ele foi para a cruz da libertação, deixando atrás de Si o corpo da morte e pairando nas alturas em um veículo de vida, o Corpo Vital. Mas Ele deu aos Seus seguidores a certeza de que, embora eles não O pudessem seguir então ao lugar para onde ia, mais tarde o seguirão. Cada pessoa é um Cristo-em-formação e algum dia acontecerá a “Páscoa” para cada um de nós.

CAPÍTULO III

O SIGNIFICADO CÓSMICO DA PÁSCOA

Primeira Parte

“Toda a vida de Cristo foi uma cruz e um martírio,

e tu buscas para ti mesmo folga e prazer? Quanto

maior o avanço espiritual de um indivíduo mais

pesadas as cruzes com que ele se depara frequentemente,

pois as dores do seu desterro aumentam

com o fortalecimento do seu amor”.

Thomas de Kempis[7]

Na manhã da Sexta-Feira Santa de 1857, Richard Wagner[8], o maior artista do século dezenove, sentou-se à varanda de uma vivenda suíça que se debruçava às bordas do lago de Zurich[9]. O panorama que se descortinava ao redor estava banhado por um glorioso brilho do Sol; paz e boa vontade pareciam vibrar por toda a Natureza. A criação inteira palpitava de vida e o ar estava carregado da deliciosa fragrância dos bosques de pinho – bálsamo gratificante para um coração atormentado e uma Mente agitada.

Então, de súbito, como um raio caído do céu azul, surgiu na alma profundamente mística de Wagner a lembrança do execrável significado daquele dia – o mais sombrio e mais doloroso do ano Cristão. Essa lembrança o inundou de tristeza, pelo contraste com o que via. Era uma incongruência marcante entre o alegre cenário que tinha diante de si, a clara atividade notável da Natureza, em luta pela renovação da vida após o longo sono hibernal, e o mortal esforço do Salvador torturado na cruz; entre os gorjeios plenos de vida e amor dos milhares de cantores de pena do bosque, na charneca e no prado, e os hediondos gritos de ódio duma turba enfurecida que insultava e zombava do mais nobre ideal que o mundo já conheceu; entre a maravilhosa energia criadora manifestada pela Natureza na primavera[10] e o elemento destruidor no ser humano, que assassinou o caráter mais nobre que já agraciou a Terra.

Enquanto Wagner meditava assim sobre os paradoxos da vida, ocorreu-lhe a pergunta: “há alguma relação entre a morte do Salvador por crucificação, na Páscoa, e a energia vital que se manifesta tão abundantemente na primavera quando a Natureza começa a vida de um novo ano?”.

Mesmo que Wagner não percebesse, conscientemente, o significado total da relação entre a morte do Salvador e o rejuvenescimento da Natureza, não obstante ele havia dado com a chave de um dos mais sublimes mistérios com que o Espírito humano já deparou em sua peregrinação da Terra à Deus.

Na noite mais escura do ano, quando a Terra dorme mais profundamente no abraço do frio Boreal, quando as atividades materiais descem ao nível mais baixo, uma onda de energia espiritual transporta em sua crista a “Palavra do Céu”, divina e criadora, para um nascimento místico no Natal. Então, como uma nuvem luminosa, o impulso espiritual paira sobre o mundo que “não o conheceu[11] porque ele “brilha nas trevas[12] do inverno, quando a Natureza está paralisada e muda.

Essa divina “Palavra” criadora contém uma mensagem e tem uma missão. Nasceu para “salvar o mundo[13] e “para dar sua vida pelo mundo”. Deve, necessariamente, sacrificar sua palavra para conseguir o rejuvenescimento da Natureza. Gradativamente sepulta-se na Terra e passa a infundir sua própria energia vital nas milhões de sementes que jazem adormecidas no solo. Sussurra a “palavra de vida” nos ouvidos dos animais e pássaros, até que o evangelho das boas novas tenha sido pregado a todas as criaturas. O sacrifício se completa totalmente na época do ano em que o Sol cruza seu nódulo oriental no Equinócio de Março. Então a divina palavra criadora expira. Em um sentido místico, ela morre na cruz da Páscoa, emitindo um último brado de triunfo: “Está Consumado[14] (Consummatum est).

Porém, do mesmo modo que o eco volta a nós, muitas vezes, repetido, assim também o canto celestial de vida se repete sobre a Terra. A criação inteira entoa um cântico de louvor, que é repetido sem cessar pelo coro de uma legião de línguas. As pequeninas sementes no seio da Mãe Terra começam a germinar, brotando e despontando em todas as direções, e logo um maravilhoso mosaico de vida, um tapete verde aveludado bordado de flores multicores, toma o lugar da mortalha do imaculado branco gelado. Dos animais de pelo e pena, em todos a palavra de vida ressoa como uma canção de amor, impelindo-os ao acasalamento. Geração e multiplicação é o lema em toda parte – o Espírito libertou-se para uma vida mais abundante.

Podemos, assim, observar todos os anos, misticamente, o nascimento, a morte e a ressurreição do Salvador como o fluxo e o refluxo de um impulso espiritual que culmina no Solstício de Dezembro – Natal – e sai da Terra logo após a Páscoa, quando a “palavra” sobe ao Céu, no Domingo de Pentecostes. Mas lá não fica para sempre. Foi-nos ensinado que “dali retornará”, “no Juízo”. Portanto, quando o Sol desce pelo equador, em outubro, através do Signo de Libra – época em que os frutos do ano são colhidos, pesados e classificados por tipos – começa a descida do Espírito do novo ano, culminando esta descida no nascimento, no Natal.

O ser humano é uma miniatura da Natureza. O que acontece em grande escala na vida de um Planeta, como a nossa Terra, ocorre em escala menor ao longo da vida do ser humano. Um Planeta é o corpo de um grande, maravilhoso e exaltado Ser, um dos Sete Espíritos diante do Trono (do Pai Sol). O ser humano também é um Espírito “feito à sua imagem e semelhança”. Assim como um Planeta gira em seu caminho cíclico ao redor do Sol, de onde é emanado, assim também o Espírito humano se move numa órbita em volta de sua fonte central – Deus. Sendo elípticas as órbitas planetárias, possuem pontos muitíssimo próximos e pontos extremamente afastados dos seus centros solares. De maneira análoga, a órbita do Espírito humano é elíptica. Nós estamos mais perto de Deus quando nossa jornada cíclica nos leva à esfera de atividade celeste – o Céu – e estamos mais separados d’Ele durante a vida terrena. Tais mudanças são necessárias ao nosso crescimento anímico. Assim como as festividades do ano assinalam o caráter repetitivo de acontecimentos importantes na vida de um Grande Espírito, do mesmo modo nossos nascimentos e mortes são fatos de repetição periódica. É tão impossível para o Espírito permanecer definitivamente no Céu ou na Terra como o é para um Planeta deter-se em sua órbita. A mesma imutável lei de periodicidade que determina a ininterrupta sequência das estações, a alternação do dia com a noite e os fluxos e refluxos das marés, governa também a marcha progressiva do Espírito humano tanto no Céu quanto na Terra.

Dos domínios de luz celestial onde vivemos em liberdade, sem as limitações do tempo e do espaço, onde vibramos em uníssono com a infinita harmonia das esferas, nós descemos para nascer no Mundo Físico, onde nossa visão espiritual torna-se obscurecida pela corda enrolada que nos agrilhoa a esta fase de limitações da nossa existência. Vivemos uns tempos aqui, depois morremos e subimos aos céus, para renascer e morrer outra vez. Cada vida terrena é um capítulo da história seriada da vida, extremamente humilde em seu começo, mas crescendo em interesse e importância à medida que ascendemos para estágios de responsabilidade humana, cada vez mais altos. Nenhum limite é concebível, pois somos divinos em essência e, portanto, temos latentes em nós as infinitas possibilidades de Deus. Quando tivermos aprendido tudo o que este mundo tem para ensinar-nos, uma órbita mais ampla, uma esfera maior de utilidade sobre-humana, abrir-se-á às nossas maiores capacidades.

“Mas, e Cristo?” – Pode alguém perguntar. “Você não acredita n’Ele? Você está discorrendo sobre a Páscoa, o feriado que comemora a morte cruel do Salvador e Sua gloriosa e triunfante ressurreição, todavia parece referir-se a Ele mais como uma alegoria que como um fato.”.

Certamente nós cremos em Cristo; amamo-Lo de todo o coração e com toda a nossa alma, mas queremos enfatizar a crença de que Cristo é a primícia da raça. Ele disse que nós poderíamos fazer as coisas que Ele fez, “e maiores ainda”. Portanto, somos Cristos-em-formação.

Estamos muito habituados a buscar um Salvador externo ao mesmo tempo que abrigamos um demônio interno, mas até que Cristo seja formado EM NÓS, conforme disse São Paulo, buscaremos em vão, porque assim como é impossível para nós percebermos a luz e a cor ao nosso redor sem o registro de suas vibrações pelo nosso nervo ótico, e assim como permanecemos inconscientes do som quando o tímpano dos nossos ouvidos está insensível, do mesmo modo permanecemos cegos à presença de Cristo e surdos à Sua voz enquanto não despertarmos nossa natureza espiritual interna. No entanto, uma vez despertada essa natureza espiritual, o Senhor do Amor se revela como uma realidade primordial, baseado no princípio de que, fazendo-se vibrar um diapasão, outro diapasão de mesmo tom começará também a vibrar, enquanto outros de tons diferentes ficarão mudos. Por isso Cristo disse que Suas ovelhas conheciam-No pelo som de Sua voz, à qual respondiam, mas não ouviam a voz do estranho (Jo 10:5). Não importam nossos credos, todos somos irmãos de Cristo, portanto regozijemo-nos: o Senhor ressuscitou! Busquemos a Ele e esqueçamos nossos credos e outras diferenças de menor importância.

CAPÍTULO IV

O SIGNIFICADO CÓSMICO DA PÁSCOA

Segunda Parte

O sinal da Cruz estará no céu quando o Senhor

vier para julgar. Então, todos os que servem a

Cruz e que na vida se tenham harmonizado com o

Crucificado poderão aproximar-se de Cristo com

toda coragem.

Thomas de Kempis

Mais uma vez chegamos ao ato final do drama cósmico que envolve a descida do Raio solar de Cristo ao interior da matéria de nossa Terra, o qual se completa no nascimento místico celebrado no Natal e na Morte Mística e Libertação, celebradas logo após o Equinócio de Março, quando o Sol do novo ano inicia sua ascenção às esferas superiores dos céus setentrionais, depois de verter sua vida para salvar a humanidade e revigorar todas as coisas sobre a Terra. Nessa época do ano uma nova vida, uma energia intensificada, circula com força irresistível nas veias e artérias de todos os seres vivos, inspirando e instilando neles novas esperanças, novas ambições e nova vida, e impelindo-os a novas atividades pelas quais possam aprender novas lições na escola da experiência. Consciente ou inconscientemente, tudo o que tem vida beneficia-se desse manancial de energia fortalecida. Até a planta responde por um aumento de circulação de seiva, que resulta em uma renovação de folhas, flores e frutos, meios pelos quais esta classe de vida expressa-se a si mesma e evolui para um estado superior de consciência.

Mas ainda que maravilhosas sejam essas manifestações físicas externas, e ainda que possa ser chamada de gloriosa essa transformação da Terra de um deserto de neve e gelo em um formoso jardim florido, isso é insignificante diante das atividades espirituais paralelas que se efetuam ao mesmo tempo. As características salientes do drama cósmico são idênticas em termos de época com os efeitos materiais do Sol nos quatro Signos Cardeais (Áries, Câncer, Libra e Capricórnio), porque os eventos mais significativos ocorrem nos pontos equinociais e solsticiais.

Realmente, é de fato verdadeiro que “em Deus vivemos, nos movemos e temos o nosso ser[15]. Fora d’Ele não poderíamos existir; vivemos por e através de Sua vida; movimentamo-nos e agimos por e através de sua fortaleza; é o Seu poder que sustenta nossa morada, a Terra, e sem Seus incessantes e invariáveis esforços o universo desintegrar-se-ia por si mesmo. Sabemos que o ser humano foi feito à semelhança de Deus, e nos é dado compreender que, consoante a lei de analogia, possuímos internamente certos poderes latentes idênticos àqueles que vemos tão poderosamente manifestados pela Deidade na obra do universo. Isso desperta, em nós, um particular interesse no drama cósmico anual em que envolve a morte e ressurreição do Sol. A vida do Deus-Homem, Cristo-Jesus, foi moldada de conformidade com a história solar e prenuncia, de modo idêntico, tudo o que pode acontecer ao Homem-Deus, a quem Cristo-Jesus profetizou quando disse: “As obras que eu faço vós fareis também, e maiores ainda[16]; para onde vou agora vós não podeis ir, mas depois podereis seguir-me”[17].

A Natureza é a expressão simbólica de Deus. Ela nada faz em vão ou arbitrariamente, mas existe um propósito por trás de todas as coisas e de todos os atos. Por conseguinte, devemos estar alertas e considerar cuidadosamente os sinais nos céus, porque eles possuem um significado profundo e importante referentes às nossas próprias vidas. A compreensão inteligente desses propósitos capacita-nos a trabalhar mais eficazmente com Deus em Seus maravilhosos esforços para emancipar nossa raça da escravidão das leis da Natureza e, mediante essa liberação, alcançarmos a plena estatura de filhos de Deus, coroados de glória, honra e imortalidade; livres do poder do pecado, da doença e do sofrimento que agora encurtam nossas existências terrenas em razão de nossa ignorância e de inconformidade às leis de Deus. O propósito divino visa essa emancipação, e ser ela conseguida através do longo e tedioso processo evolutivo ou ser alcançada através do caminho muitíssimo mais curto da Iniciação, isso depende da nossa vontade de cooperar ou não. A maioria da humanidade atravessa a vida com olhos que não veem e ouvidos que não ouvem. Segue absorvida em seus negócios materiais, comprando e vendendo, trabalhando e divertindo-se sem a devida apreciação ou compreensão dos propósitos da existência e, ainda que tais propósitos se tornassem claros, é provável que dificilmente se conformasse em virtude do sacrifício que isso envolve.

Não é de estranhar que Cristo chame especialmente o pobre e enfatize a dificuldade do rico entrar no Reino dos Céus, pois mesmo hoje, quando a humanidade já avançou dois milênios na escola da evolução desde aquela data, vemos que a grande maioria ainda dá mais valor às suas casas e terras, às suas roupas e chapéus, aos prazeres sociais, festas e banquetes do que aos tesouros celestiais, que se juntam pelo serviço aos outros e sacrifício de si mesmo. Ainda que essa maioria possa perceber intelectualmente a beleza da vida espiritual, a conveniência desta torna-se insignificante aos seus olhos quando comparada ao sacrifício exigido para alcançá-la. Como o moço rico, ela seguiria, voluntariamente, a Cristo não fora a necessidade de tanto sacrifício. Prefere ir-se quando percebe que o sacrifício é a única condição para ingressar-se no discipulado. Portanto, para tais pessoas a Páscoa não é mais que uma ocasião de regozijo porque se trata do fim de um momento especial e começo de outro momento especial diferente, que convida manifestações de alegrias.

Mas para aqueles que escolheram, definitivamente, a senda do auto sacrifício que conduz à libertação, a Páscoa é o sinal anual que evidencia as bases cósmicas de suas esperanças e aspirações.

No Sol da Páscoa, que no Equinócio de Março começa a percorrer os céus setentrionais, após verter sua vida na Terra, temos o símbolo cósmico da veracidade da ressurreição. Quando o consideramos como um fato cósmico enquadrado na lei de analogia, que relaciona o macrocosmo com o microcosmo, o importante é saber que algum dia alcançaremos a consciência cósmica e conheceremos positivamente por nós mesmos, por nossa própria experiência, que a morte não existe, mas o que isso parece é apenas uma transição para uma esfera mais sutil.

É um símbolo anual para fortalecer as nossas almas no afã das boas-obras, para que possamos tecer o manto dourado nupcial requerido para converter-nos em filhos de Deus no sentido mais elevado e mais santo. É literalmente verdadeiro que enquanto não andarmos na luz, como Ele na luz está, não seremos fraternais uns com os outros. Mas, fazendo sacrifícios e prestando os serviços que se requerem de nós para ajudar na emancipação da raça humana, estamos assim construindo um Corpo-Alma de radiante luz dourada, que é a substância especial emanada do e pelo Espírito do Sol, o Cristo Cósmico. Quando esta substância dourada nos envolver com densidade suficiente, então seremos capazes de imitar o Sol da Páscoa e pairar em esferas mais elevadas.

Com esses ideais firmemente impressos em nossas Mentes, a época da Páscoa se converte em uma estação apropriada para revisarmos nossas vidas durante o ano que passou e tomarmos novas resoluções que adiantem nosso crescimento anímico até ao próximo. É uma época em que o símbolo do Sol ascendente deve levar-nos a uma compreensão profunda do fato de que na Terra não somos mais que peregrinos e forasteiros; que, como Espíritos, nossa verdadeira pátria é o Céu; e que devemos esforçar-nos para aprender as lições desta vida tão depressa quanto nos permitam os caminhos apropriados. O Dia da Páscoa marca a ressurreição e libertação do Espírito de Cristo dos planos inferiores, e essa libertação deve lembrar-nos de buscar continuamente a aurora do dia em que estaremos permanentemente livres das malhas da matéria, do corpo de pecado e morte, juntamente com todos os nossos irmãos em escravidão. Nenhum aspirante sincero poderia conceber uma libertação que não incluísse a todos que estivessem na mesma situação.

Esta é uma tarefa gigantesca. Enfrentá-la pode muito bem desalentar o mais valente coração, de modo que se estivéssemos sozinhos não poderíamos realizá-la, mas as Hierarquias Divinas, que têm guiado a humanidade no caminho evolutivo desde o começo da jornada, ainda estão ativas e trabalhando conosco desde os Mundos Espirituais siderais, de maneira que com sua ajuda seremos, oportunamente, capazes de conseguir o soerguimento da humanidade como um todo e alcançar uma condição individual de glória, honra e imortalidade. Com esta enorme esperança dentro de nós mesmos, com esta grande missão no mundo trabalhemos como nunca para sermos melhores homens e mulheres, de forma que, por nossos exemplos, possamos despertar nos outros o desejo de levar uma vida que conduza à libertação.

CAPÍTULO V

A LIÇÃO DE PÁSCOA

“Porque se morreres com Ele, também com Ele

viverás, e se partilhares dos Seus sofrimentos,

da Sua glória também partilharás”.

Thomas de Kempis

Outra vez a Terra alcança o Equinócio de Março, em seu movimento anual de translação em torno do Sol, e assim chegamos à Páscoa. O raio espiritual emitido pelo Cristo Cósmico nesse período, para reativar a esgotada vitalidade da Terra, está quase subindo de volta ao Trono do Pai. Às atividades espirituais de fecundação e germinação, levadas a efeito durante os últimos seis meses, seguir-se-ão os processos de crescimento físico e amadurecimento durante os próximos seis meses, sob a influência do Espírito da Terra. O ciclo termina no “Lar da Colheita”. Deste modo o grande Drama do Mundo é encenado e reencenado ano após ano, numa eterna disputa entre a vida e a morte, sendo cada uma por vez vencedora e vencida na sequência dos ciclos.

Os grandes fluxos e refluxos cíclicos não estão limitados em seus efeitos à Terra, à sua flora e fauna. Exercem igualmente uma influência dominante sobre a humanidade, mesmo que a grande maioria não se aperceba das causas que a impelem a agir numa e noutra direção. Não obstante, essa ignorância, permanece o fato de que a mesma vibração terrestre que adorna vistosamente as aves e outros animais nesses próximos três meses, responde também pelo desejo humano de se vestir com cores alegres e roupas mais claras nessa época do ano. É, também, “o apelo do silvestre campo”, que nos subsequentes três meses convida o ser humano a relaxar no meio rural, onde os Espíritos da natureza exercitaram suas artes mágicas nos campos e florestas, para recuperar-se da tensão das condições artificiais reinantes nas cidades congestionadas.

Por outro lado, é a “queda” do raio espiritual do Sol nos meses de setembro, outubro e novembro que causa o reinício das atividades mentais e espirituais nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. A mesma força germinadora que fermenta a semente na terra e a prepara para reproduzir sua espécie multiplicada, também ativa a Mente humana e fomenta atividades altruístas que tornam o mundo melhor. Caso essa grande onda de desprendido Amor Cósmico não culminasse no Natal, com vibrações de paz e boa-vontade, não poderia haver nenhuma sensação festiva em nossos corações de modo a gerar o desejo de fazer os outros igualmente felizes. O costume universal de dar presentes no Natal seria impossível, e todos nós sofreríamos essa perda.

Quando Cristo andava, dia após dia, pelas colinas e vales da Judeia e Galileia, ensinando às multidões, todos foram beneficiados. Mas Ele convivia mais com Seus Discípulos, e estes cresciam rapidamente cada dia. À medida que o tempo passava esses laços de amor estreitavam-se ainda mais, até que, um dia, mãos impiedosas tiraram o amado Mestre e o levaram a morte desonrosa. Contudo, mesmo que tenha morrido na carne, Ele continuou a conviver intimamente com Seus Discípulos por algum tempo, em Espírito. Mas por fim subiu às esferas superiores, perdendo-se assim o contato direto com Ele, e aqueles homens olharam-se tristemente, cara a cara e perguntaram-se: “É este o fim?”. Eles haviam esperado tanto, haviam alimentado tão elevadas aspirações que, apesar da verdejante paisagem continuar brilhante e beijada pelo Sol como antes de Sua Partida, a Terra parecia fria e monótona, pois sombria desolação oprimia os seus corações.

Algo semelhante também acontece conosco quando buscamos seguir o Espírito e lutar contra a carne, mesmo que a analogia não tenha sido aparente até aqui. Quando, nos meses de setembro, outubro e novembro a “queda” do raio Crístico começa anunciando a época da supremacia espiritual, logo o sentimos e começamos avidamente a banhar nossas almas nessa bendita maré. Experimentamos uma sensação semelhante à dos Apóstolos, quando andavam com Cristo, e à medida que os meses avançam torna-se cada vez mais fácil comungar com Ele, face a face, como antes. Mas, no curso anual dos acontecimentos, a Páscoa e Ascenção do raio de Cristo “ressuscitado” para o Pai, deixa-nos em idêntica posição à dos Apóstolos quando seu querido Mestre se afastou. Nós ficamos desolados e tristes, vemos o mundo como um deserto monótono e não podemos atinar com a razão de nossa perda, que é tão natural como os fluxos e refluxos das marés ou como os dias e as noites – fases da era atual dos ciclos alternados.

Existe um perigo nesta atitude mental. Se permitirmos que ela nos domine, é possível que abandonemos o nosso trabalho no mundo e nos convertamos em sonhadores desiludidos, percamos, nosso equilíbrio e provoquemos, contra nós, a crítica muito justa dos demais. Este tipo de conduta é inteiramente errado, pois, assim como a Terra emprega o seu esforço material para produzir abundantemente em um período, após haver recebido o ímpeto espiritual em outro período, é nosso dever, também, envidar os maiores esforços ao trabalho do mundo quando possuímos o privilégio de comunicar com o Espírito. Assim fazendo, é possível que despertemos nos outros o Espírito de emulação e o de reprovação.

Estamos acostumados a pensar no avaro como alguém que junta ouro, sendo essa classe de pessoas objeto de desprezo, de modo geral. Mas há indivíduos que lutam tão tenazmente para adquirir conhecimento, quanto se esforça o avaro para acumular ouro, não hesitando em usar qualquer meio ou subterfúgio para alcançar seu intento e guardando consigo seus conhecimentos, tão egoisticamente quanto o avaro guarda o seu tesouro. Não compreendem que por tal método eles fecham de fato as portas à uma sabedoria maior. A antiga teologia nórdica continha uma parábola que, simbolicamente, esclarece o assunto. Dizia que todos os que morriam no campo de batalha (as almas fortes que combateram o bom combate até o fim) eram levados ao Valhalla[18], a estar com os deuses, enquanto os que morriam na cama ou por doenças (as almas fracas, que vagavam pela vida) iam para o lúgubre Niflheim. No Valhalla, os valentes guerreiros banqueteavam-se diariamente com a carne de um javali chamado Scrimner, que se caracterizava por uma particularidade: sempre se cortava um pedaço de suas carnes, imediatamente outro crescia no lugar, de modo que seu corpo nunca era consumido, não importa quanto se cortasse dele. Isto simbolizava adequadamente o “conhecimento”, pois, não importa quanto dele possamos dar aos outros, o original sempre fica conosco.

Existe, portanto, certa obrigação de transmitirmos os conhecimentos que possuímos, pois “àquele a quem muito foi dado, muito lhe será pedido”[19]. Se acumularmos as bênçãos espirituais que temos recebido, o mal nos ronda, por isso imitemos a Terra nesta época da Páscoa. Externemos no Mundo Físico da ação, os frutos do Espírito semeados em nossas almas durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Habilitemo-nos a receber bênçãos cada vez maiores de ano para ano.

CAPÍTULO VI

O SÍMBOLO DO OVO

“E quando este corpo incorruptível se revestir de incorruptibilidade,

e o que é mortal se revestir de imortalidade,

e o que é mortal se revestir de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória”.

ICor 15 :54

Para os nossos irmãos e irmãs do hemisfério norte passaram-se os sombrios e monótonos dias do inverno (meses de dezembro, janeiro e fevereiro). A Mãe Natureza remove o manto frio de gelo que cobre a terra, permitindo a milhões e milhões de sementes abrigadas no chão macio, romperem sua crosta e vestirem o solo com trajes de verão numa orgia de cores alegres e vistosas, preparando as “câmaras nupciais” para os animais e aves se acasalarem.

Na presente estação a Mente do mundo volta-se para a festividade que chamamos Páscoa, na qual se comemora a morte e ressurreição do nobre indivíduo que o mundo conhece pelo nome de Jesus, cuja história de sua vida foi escrita nos Evangelhos. Mas um Cristão Místico tem uma visão mais profunda e mais ampla desse evento cósmico que se repete anualmente. Para este, o que existe é uma impregnação anual da Terra com a vida do Cristo Cósmico. Uma inalação que tem lugar durante os meses de setembro, outubro, e novembro, culminando no Solstício de Dezembro, quando celebramos o Natal, e uma exalação que chega ao fim na época da Páscoa.

O drama cósmico de vida e morte é representada anualmente, por todas as criaturas e coisas evoluintes, da maior à menor, porque até o grande e sublime Cristo Cósmico, em Sua compaixão, torna-se sujeito à morte quando entra nas condições enclausurantes da Terra, em um período do ano. Por conseguinte, é oportuno recordar alguns pontos relativos à morte e renascimento que, às vezes, podemos esquecer.

Entre os símbolos cósmicos conservados desde a antiguidade, nenhum é mais comum que o do ovo. Acha-se em toda Religião. Encontramo-lo no Antigo Eddas dos Escandinavos, venerável pela idade, que nos fala do mundano esfriado pelo sopro gelado do Niebelheim, mas aquecido pelo hálito quente do Muspelheim, antes que os vários Mundos Espirituais e o próprio ser humano viessem a existir. Se nos voltarmos para o ensolarado sul, podemos achar nos Vedas da Índia a mesma história no mito Kalahansa, o Cisne do tempo e do espaço, o qual pôs o ovo que veio a ser, finalmente, o mundo. Entre os egípcios encontramos o globo alado e as serpentes ovíparas, simbolizando a sabedoria manifestada neste nosso mundo. Os gregos utilizaram esse simbolismo, reverenciando-o em seus Mistérios. Foi preservado pelos Druidas; tal símbolo era também conhecido dos construtores do grande outeiro da serpente, em Ohio; e conservou seu lugar na simbologia sagrada até hoje, muito embora a grande maioria de seres humanos seja cega ao grande mistério que ela encerra e revela – o mistério da vida.

Quando quebramos a casca de um ovo, achamos apenas fluídos viscosos de coloração variada e consistências diversas. Mas se submetido a uma temperatura adequada logo se dá uma série de mudanças e assim, em pouco tempo, uma criatura viva pode romper a casca e surgir pronta para assumir seu lugar entre os de sua espécie. Os magos dos laboratórios podem duplicar as substâncias do ovo e injetá-las numa casca de maneira que, conforme as experiências feitas até aqui, uma réplica perfeita do ovo natural pode ser produzida. Contudo, este difere do ovo natural em um ponto, isto é nenhuma coisa viva pode ser incubada no produto artificial. Fica evidente, portanto, que alguma coisa intangível deve estar presente em um e ausente em outro.

Esse mistério de todos os tempos que produz o ser vivo é que nós chamamos vida. Visto que a Vida não pode ser detectada em meio aos elementos do ovo, nem mesmo através do mais potente microscópio (ainda que ela ali esteja para produzir as mudanças que se notam), é de concluir-se que ela deve ser capaz de existir independentemente da matéria. Aprendemos, pois, através do sagrado simbolismo do ovo que, apesar da vida ser capaz de modelar a matéria, não depende, entretanto, desta para existir. Ela é autoexistente e não tendo princípio não pode também ter fim. Isto é simbolizado pela forma ovoide do ovo.

Quando nos apercebemos do verdadeiro conhecimento contido no simbolismo do ovo de que a vida nunca teve princípio e nunca terá fim, habilitamo-nos a criar coragem e admitir que aqueles que se retiram agora da existência física estão apenas atravessando uma jornada cíclica idêntica à da vida do Cristo Cósmico, vida que penetra a Terra no outono e a abandona na Páscoa. Vemos assim como a grande Lei da Analogia atua em todas as circunstâncias e em todas as fases da vida. O que acontece no grande mundo ao Cristo Cósmico verifica-se também nas vidas daqueles que são Cristos-em-formação.

Devemos admitir que a morte é uma necessidade cósmica nas atuais circunstâncias, porque se fôssemos aprisionados num corpo como o que agora usamos, e fôssemos colocados num ambiente tal e qual este em que nos encontramos hoje, para assim viver perenemente, as enfermidades do corpo e as condições insatisfatórias do ambiente bem cedo nos fariam cansar da vida e implorar por libertação. Isso impediria todo progresso e tornaria impossível para nós evoluirmos às alturas mais elevadas, tais como os que podemos alcançar por meio do nascimento em novos veículos e novos ambientes que nos permitam novas possibilidades de crescimento. Por conseguinte, devemos agradecer a Deus o fato de que, enquanto o nascimento em um corpo concreto tem sido necessário para um desenvolvimento futuro, a liberação pela morte tem sido proporcionada para libertar-nos do instrumento esgotado pelo uso; e a ressurreição e um novo nascimento sob o céu alegre de um novo ambiente fornecem-nos outras oportunidades para recomeçar a vida com a ficha limpa e aprender as lições que não conseguimos assimilar antes. Por este método seremos, algum dia, perfeitos como o Cristo ressuscitado. Ele assim determinou e nos ajudará a consegui-lo.

CAPÍTULO VII

A CRUZ DE CRISTO

“Se alguém quiser vir após mim,

negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”.

Mt 16:24

De acordo com uma antiga lenda, quando expulso do Paraíso, Adão levou consigo três mudas da árvore da vida, as quais, plantadas pelo seu filho Seth, vingaram e cresceram. De uma delas se fez mais tarde o cajado de Aarão, com o qual este operou milagres diante do Faraó. Outra foi levada ao Templo de Salomão para servir de pilar ou coisa semelhante ali, mas, como não serviu para nada no interior do edifício, foi então utilizada como uma ponte sobre um regato que corria fora do Templo. A terceira foi usada para fazer-se a cruz de Cristo, sobre a qual Ele sofreu por nós, libertou-se finalmente, penetrou na Terra e tornou-se o Espírito Planetário do nosso globo, no qual Ele agora sofre e geme esperando o dia da libertação.

Existe um grande significado nessa lenda antiga. A primeira muda da árvore representa o poder espiritual exercido pelas Hierarquias Divinas na infância da humanidade, isto é, um poder exercido por outrem para o nosso próprio benefício. A segunda era para ser usada no Templo de Salomão. Ninguém pode apreciá-la, exceto a Rainha de Sabá, nenhuma serventia foi achada para ela, pois o Templo de Salomão era a consumação das artes e ofícios e em uma civilização materialista nada que seja espiritual é apreciado. Os Filhos de Caim conseguiam sua salvação ao longo de linhas materiais, portanto não precisavam de poderes espirituais. Assim, “ela foi usada como ponte sobre o regato”. Sempre existiram almas – os reais, os verdadeiros Maçons Místicos – capazes de usar essa ponte que vai do visível ao invisível, e de voltarem ao Jardim do Éden; ao Paraíso, através da mesma. Foi a terceira muda da árvore da vida que deu a cruz de Cristo. Erguido naquela cruz foi que Ele conseguiu se libertar desta existência física e entrar nas esferas superiores. De modo semelhante nós também, ao tomarmos nossa cruz e segui-Lo, podemos desenvolver nossos poderes anímicos e ingressar numa esfera de maior utilidade nos Mundos invisíveis. Esforcemo-nos todos de modo que, dia após dia, sejamos encontrados de joelhos e vencedores, agarrados à cruz de Cristo para que, num dia não muito distante, possamos subir à nossa própria cruz e dali alcançarmos a gloriosa libertação, a ressurreição da vida da qual Cristo foi e continua sendo os primeiros frutos para toda alma crente. Esta é a autêntica, a verdadeira mensagem da Páscoa e devemos compreender que todos somos Cristos-em-formação, e que quando Cristo nasce real e verdadeiramente dentro de nós Ele então nos mostrará o caminho da cruz a partir da Árvore do Conhecimento pela qual conseguimos avançar. Essa cruz trouxe morte à Árvore da Vida no Corpo Vital, mas trouxe também a imortalidade.

CAPÍTULO VIII

QUE FOI FEITO DO CORPO FÍSICO DE JESUS?

“Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste Tabernáculo se desfizer,

temos da parte de Deus um edifício,

casa não feita por mãos, eterna, nos céus”.

IICor 5: 1

Que fim teve o Corpo Denso de Jesus, colocado no túmulo, mas não encontrado na manhã do domingo de Páscoa? E se o Corpo Vital de Jesus foi preservado para ser usado novamente por Cristo, como pode ele, Jesus, estar nesse meio tempo funcionando num Corpo Vital? Não teria sido mais fácil conseguir para Cristo, em Sua segunda vinda, outro Corpo Vital?

Essas perguntas foram respondidas assim, no “Ecos” de 1914[20]:

Estudos nas Escrituras revelam o fato de que Cristo costumava afastar-se de Seus Discípulos e que estes ignoravam para onde Ele ia nessas ocasiões ou, se não ignoravam, isso jamais foi mencionado. O motivo desses afastamentos, porém, era que, sendo Ele um Espírito tão glorioso, Suas vibrações eram demasiado elevadas mesmo para o melhor e mais puro dos veículos físicos, fazendo-se, portanto, necessário retirar-se deste veículo, frequentemente, para um período de completo repouso, de modo que o padrão vibratório de seus átomos pudesse baixar ou voltar ao normal. Por conseguinte, Cristo habitualmente buscava os Essênios em tais momentos, aos cuidados de quem deixava o Corpo, uma vez que eles eram peritos em lidar com o Corpo Denso. Cristo nada sabia de como tratar o veículo que recebera de Jesus. Não fora esses repousos e os cuidados recebidos, o corpo de Jesus ter-se-ia desintegrado bem antes de se haverem completado os três anos do Seu ministério, e assim o Gólgota não teria sido alcançado.

Quando o tempo se esgotou e o ministério terreno chegou ao fim, os Essênios pararam de intervir, então as coisas tomaram o seu curso natural e a tremenda força vibratória que atuava sobre os átomos físicos espalhou-os aos quatro ventos de modo que, quando o túmulo foi aberto poucos dias depois, nenhum sinal do corpo foi encontrado.

Isso se harmoniza perfeitamente com as leis naturais que conhecemos e com o seu modo de atuarem no Mundo Físico. A corrente elétrica de baixa potência queima e até mata, enquanto a alta voltagem pode atravessar o corpo sem prejudicá-lo. A luz, que possui elevadíssimo grau vibratório, é agradável e benéfica ao corpo, mas quando focalizada através de uma lente esse grau vibratório é reduzido, produzindo-se então o fogo que queima e destrói. De modo idêntico, quando Cristo, o Grande Espírito Solar, entrou no Corpo Denso de Jesus, reduzindo Seu padrão vibratório em virtude de resistência da matéria densa, tê-lo-ia queimado – como na cremação – caso não tivessem sido tomadas medidas para evitá-lo. A força era a mesma, os resultados idênticos, exceto num pormenor: o fogo que consumiu o corpo de Jesus não produziu cinzas, conforme aconteceria com o fogo comum que produz chamas. A propósito, é bom recordar que o fogo, embora invisível, encontra-se latente em todas as coisas. É verdade que não o vemos na planta, no animal ou na pedra, não obstante, ele ali está perceptível à visão interna e capaz de manifestar-se a qualquer momento na substância física em forma de chama.

Uma das nossas ilusões é a de que o corpo que habitamos é vivo. Isto de fato não acontece. Pelo menos a porção deste corpo que pode ser verdadeiramente chamada de viva é tão pequena que a afirmação acima é praticamente verdadeira. O resto dele existe absolutamente adormecido, se não inteiramente morto. Este fato é bem conhecido pela ciência e é algo que a razão nos demonstra ser verdade: nosso poder espiritual é tão pequeno que não pode dotar de vida este veículo por tempo suficientemente longo, de modo que, na medida em que nos incapacitamos para vitalizar o corpo, este começa a assemelhar-se a um pesado torrão de barro que devemos arrastar penosamente conosco até que alguns poucos anos depois ele se cristaliza a tal ponto que se nos torna impossível manter o trabalho vibratório por mais tempo. Então, somos forçados a abandoná-lo, e aí se diz que ele morre. Inicia-se, assim, um lento processo de desintegração que devolve o átomo à sua condição original de liberdade.

Confronte agora a condição das coisas quando um desses mesmos corpos terrenos é possuído por um poderoso Espírito como o de Cristo. Pode-se achar uma analogia com o caso de um indivíduo reanimado após um afogamento. Em tais casos o Corpo Vital se retira e a ação vibratória dos átomos físicos quase cessa, quando não para totalmente. Restauradas as condições que permitem ao Corpo Vital voltar a interpenetrar o corpo físico, aquele entra imediatamente a acionar e pôr em vibração todos os átomos deste. Esta tentativa de despertar os átomos inertes provoca aquela intensa e desagradável sensação de formigamento que o afogado descreve depois de reanimado, sensação que persiste até os átomos físicos alcançarem o grau vibratório de uma oitava abaixo daquele em que vibra o Corpo Vital. Chegado a esse ponto acaba a sensação, nada mais é sentido, salvo aquilo que se sente normalmente.

Agora consideremos o caso de Cristo entrando no Corpo Denso de Jesus, cujos átomos naturalmente moviam-se numa velocidade muito inferior àquela das forças vibratórias do Espírito Cristo. Consequentemente, uma aceleração tinha de acontecer, de tal maneira que, durante os três anos de ministério, essa notável aceleração de vibração desses átomos teria desintegrado o corpo não fora a atuação da poderosa vontade do Mestre para conservá-lo inteiro, reforçada pela habilidade dos Essênios. Se os átomos do corpo de Jesus estivessem adormecidos no momento em que Cristo dele se retirou – conforme ocorre aos nossos átomos quando abandonamos nossos corpos – um longo processo de putrefação ter-se-ia feito necessário para desintegrar aquele corpo. No entanto eles estavam altamente sensibilizados e vivos, portanto, era impossível ficarem presos após o Espírito ter-se retirado. Em futuras épocas, quando tenhamos aprendido a manter nossos corpos vivos, não precisaremos mudar átomos nem trocar de corpos tão frequentemente. Quando isso acontecer, o processo de putrefação não exigirá tanto tempo para se completar, conforme acontece presentemente. O sepulcro não foi fechado hermeticamente, portanto não podia oferecer obstáculo à passagem dos átomos.

Ao morrer o Corpo Denso de Jesus, os Átomos-semente retomaram ao seu primitivo dono. Durante os três anos de intervalo entre o batismo, em que ele renunciou a seus veículos, e a crucificação, quando pôde reaver os Átomos-semente, Jesus formou um veículo etérico, do mesmo modo que um Auxiliar Invisível junta matéria física sempre que se faça necessário materializar um corpo ou parte dele. Contudo, matéria que não corresponda ao Átomo-semente não pode ser utilizada de modo permanente: desintegra-se tão logo desapareça a força de vontade que a atraiu. Portanto, aquilo foi para Jesus apenas um expediente de ocasião. Quando o Átomo-semente do seu Corpo Vital retornou, então um novo corpo foi formado, e em tal veículo Jesus vem funcionando desde então, trabalhando com as igrejas. Nunca mais utilizou um Corpo Denso, embora seja perfeitamente capaz de fazer um. Presumivelmente isto se dá em virtude de seu trabalho ser totalmente desligado das coisas materiais e diferir diametralmente da obra de Christian Rosenkreuz, que tem muito a ver com problemas de governos, industriais e políticos, pelo que precisa de um corpo físico em que possa aparecer ao público.

A razão pela qual o Corpo Vital de Jesus é conservado para a segunda vinda de Cristo ao invés de Lhe providenciar um novo veículo pode ser encontrada em “Fausto”, mito que apresenta em sentido figurado grandes verdades espirituais de valor inestimável à alma sedenta. Fausto, em seu esforço para obter poder espiritual antes de merecê-lo, atrai um Espírito disposto a auxiliá-lo em seus desejos mediante uma compensação, pois em tal classe de Espírito o altruísmo é uma virtude que simplesmente não existe. Quando Lúcifer se volta para sair, nota apavorado a existência de um pentagrama diante da porta, uma das pontas em sua direção. Pede, então, a Fausto que retire dali o símbolo para que ele possa sair, ao que este lhe pergunta por que não sai pela janela ou pela chaminé. Lúcifer, relutantemente, admite que:

Para os fantasmas e Espíritos é lei

que por onde entramos, devemos sair.

Quando, no curso natural dos acontecimentos, o Espírito volta a nascer, ele entra no Corpo Denso pela cabeça, trazendo consigo os veículos superiores. Ao deixar o corpo à noite, sai pelo mesmo lugar, para reentrar do mesmo modo na manhã seguinte. O Auxiliar Invisível também sai do seu corpo e nele reentra da mesma maneira. E quando por fim nossa vida terrena chega a seu termo, é pela cabeça que saímos do nosso corpo pela última vez. Vemos, pois, que a cabeça é a porta natural do corpo e, por conseguinte, o pentagrama com uma ponta para cima é o símbolo da magia branca, que atua em harmonia com a lei de progressão.

O mago negro, que atua contrariamente à natureza, perverte a força da vida dirigindo-a para baixo, através dos órgãos inferiores. O portal da cabeça está fechado para ele, mas ele se retira pelos pés, o cordão prateado estendendo-se através dos órgãos inferiores. Portanto, foi fácil para Lúcifer entrar no gabinete de Fausto, pois o pentagrama com duas pontas voltadas para ele representava o símbolo da magia negra, mas ao tentar sair depara com uma só ponta em sua direção, e então se amedronta diante do sinal da magia branca. Ele só podia sair pela porta inferior porque por ali é que havia entrado, por isso ficou preso quando essa porta inferior foi bloqueada.

De maneira análoga, Cristo era livre para escolher Seu veículo para entrar na Terra onde agora se acha confinado, mas uma vez escolhido o veículo de Jesus a este ficou limitado como único meio de sair dela. Se esse veículo houvesse sido destruído, Cristo teria de ficar enclausurado no globo até que a Terra se dissolvesse no caos. Isso seria uma calamidade imensurável, portanto o veículo usado por Ele está sendo guardado com o máximo cuidado pelos Irmãos Maiores.

Nesse meio tempo Jesus perdeu todo o crescimento anímico alcançado durante seus trinta anos na Terra, antes do batismo, e contido no veículo dado a Cristo. Isto foi e continua sendo um grande sacrifício feito por nós, mas redundará em glória maior no futuro, como todas as boas ações. Porque esse veículo, utilizado como foi, e a ser usado novamente por Cristo em Sua vinda para estabelecer e aperfeiçoar o Reino de Deus será tão espiritualizado e glorificado que, quando for devolvido a Jesus na época em que Cristo entregar o Reino ao Pai será também o mais maravilhoso de todos os veículos humanos. E, ainda que isto não tenha sido ensinado, o autor acredita que Jesus será, por isso mesmo, o mais alto fruto do Período Terrestre, seguido de Christian Rosenkreuz. Porque “nenhum homem tem maior amor do que aquele que dá a própria vida[21] e dar não somente o Corpo Denso, mas também o Corpo Vital, e por tempo tão prolongado, certamente é o máximo dos sacrifícios.

F I M


[1] N.R.: Independentemente da inversão das estações, uma coisa que se mantém idêntica no Norte e no Sul: a distância maior ou menor, a que o Sol se encontra da Terra. No Solstício de Dezembro, o Sol se encontra mais próximo da Terra: a Terra é permeada mais fortemente pela aura do Sol Espiritual (inspiração de crescimento anímico nos seres humanos). No Solstício de Junho, a Terra no máximo afastamento do Sol: diminuição de espiritualidade com a intensificação de vitalidade física.

[2] N.R.: Rm 8:22

[3] N.R.: Jo 19:30

[4] O Solstício de Junho varia entre 20 e 21 de junho, dependendo do ano.

[5] N.R.: ou 20, dependendo do ano.

[6] N.R.: Mt 26:26-29

[7] N.R.: Também conhecido como Tomás de Kempen, Thomas Hemerken, Thomas à Kempis, ou Thomas von Kempen (1379 ou 1380-1471) foi Monge e escritor alemão.

[8] N.R.: Wilhelm Richard Wagner (1813-1883) – maestro, compositor, diretor de teatro e ensaísta alemão.

[9] N.R.: ou Zurique é a maior cidade da Suíça, um país do hemisfério norte.

[10] N.R.: a Suíça fica no hemisfério norte, onde, em março, é a estação da primavera.

[11] N.R.: Jo 1:10

[12] N.R.: Jo 1:5

[13] N.R.: Jo 12:47

[14] N.R.: Jo 19:30

[15] N.R.: At 17:28

[16] N.R.: Jo 14:12

[17] N.R.: Jo 13:36

[18] N.R.: Valhala, Valíala, Valhalla ou Palácio dos Einherjar (em português “Palácio dos mortos heroicos”), na mitologia nórdica e nas religiões pagãs nórdicas, como a popular Ásatrú, é um palácio com enorme salão com 540 quartos — situado em Asgard e dominado pelo deus Odin — no qual metade dos guerreiros mais nobres e destemidos mortos em batalha são levados pelas valquírias após a morte para viverem com Odin (enquanto a outra metade vai para os campos Folkvang da deusa Freia), onde participam de combates diários, para manter o exercício da luta e preparar-se para o dia de Ragnarök (em português “o dia do fim do mundo”).

[19] N.R.: Lc 12:48

[20] N.R.: Boletim Echoes de Mount Ecclesia – The Rosicrucian Fellowship.

[21] N.R.: Jo 15:13

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Um Conto de Natal – a história de uma garotinha triste e os olhos de uma criança

Um Conto de Natal – a história de uma garotinha triste e os olhos de uma criança

Era uma vez a história de uma garotinha que era triste porque achava que era totalmente sozinha. Ela não podia falar como os outros, mas tudo falava em torno dela! Tudo era grande demais, forte demais, duro demais. Quando ela tentava dizer algo, o fazia forte demais, com suas mãos, sua cabeça, como podia. Ninguém compreendia; é fácil demais quando podemos falar. Ela? Ela tinha medo demais!

Às vezes, ela ia ver um mágico. Era necessário voar pelos ares, depois partir pela montanha. Lá as árvores sorriam, ela achava que voava acima das nuvens sobre uma balança mágica. Lá ela ouvia, às vezes, uma garotinha cantar, e muito bem! A voz parecia vir da montanha, ela a ouvia apenas quando estava em paz, que sua garganta se relaxava e que o vento passava livremente através dos ramos das árvores.

Era realmente um lugar engraçado. As bonecas e os brinquedos se mexiam sozinhos. Havia sempre alguma coisa de novo a se ver! Mas acima de tudo, ela ouvia a música, ela a via sair também dos dedos calejados do mágico. Podiam-se cantar todos juntos, a paz, a luz…

Naquela noite, ela tinha ainda mais dificuldade para dormir. Ainda tinha medo que a luz não retornasse mais. Entretanto, o mágico havia dito a ela: todas as manhãs o Sol se levanta, sempre! E, porém, naquela noite ela duvidava; tudo parecia ter parado, como que esperando.

Ela não sabia como se encontrava diante daquela grande porta aberta, mas havia uma porta? Era muito difícil de ver com aquela forte luz. O mágico a esperava, pegou sua mão, eles entravam… “Eu nunca vi um lugar como esse, mas ele tem algo de familiar”, pensava ela…

A luz parecia vir de todos os lugares, como a canção da garotinha na montanha. Observando melhor, com seus grandes olhos abertos, ela viu que ela saltava por sobre os muros, mas também sobre os amigos que estavam lá. Eles lhe pareciam todos conhecidos. Que felicidade! Todos compreendiam sem que ela precisasse falar, sem que ela quisesse ver de onde vinha aquela luz. Eles se repartiam e a guiavam na frente, levemente.

A multidão era inumerável e que música! Exatamente o que ela preferia: sem gritos, sem barulhos estranhos que se misturavam. A música fluía como água, levemente, levemente, depois retomava mais forte e mais rápido quando todos cantavam. A música seguia a luz! Ela tinha o hábito de ver aquilo, mas em momentos curtos. Naquele momento, como pássaros, eles passavam no céu oferecendo seu voo tão frágil, mas ainda tão forte.

Ela nunca havia visto criança tão pequena! Suas mãos, acima de tudo suas mãos! Ela abriu seus olhos. A luz vinha bem de lá, de seus olhos, seus olhos de criança. Ela compreendia que como ela, a criança não podia falar, ela respondia ao seu olhar como se soubesse fazê-lo quando ela estava feliz. Agora ela estava certa, sem dúvidas, ela não teria mais medo, ela não estaria mais sozinha. Porque, ao acordar, ela havia compreendido que bastava que ela fechasse os olhos e pensasse muito forte para ver os olhos daquela criança.

(Traduzido do: Conte de Nöel, da Association Rosicrucienne Max Heindel, Centre de Paris – Texte inspiré de l’enseignement rosicrucien légué à Max Heindel par les Frères Aînés de la Rose-Croix)

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