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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Corpo de Desejos – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz

O Corpo de Desejos do ser humano é seu veículo dos sentimentos, das aspirações, vontades e emoções.  Ele é responsável por todas as suas ações, vivenciadas em movimentos livres.

Se descontrolado, faz com que o corpo faça todas as coisas desnecessárias e indignas tão prejudiciais ao crescimento da alma.

Entretanto, esse gênio que é um perigo tão grande quando assume o controle pode ser de eficiente serviço sob direção apropriada.

Portanto, o temperamento do Corpo de Desejos deve ser controlado, mas de nenhum modo exterminado.

Há 4 meios de você acessar esse Livro:

1. Para fazer download ou imprimir (com as figuras que tanto facilitam a compreensão):

O Corpo de Desejos – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz – PDF

2. Em forma audiobook ou audiolivro:

O Corpo de Desejos – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz – em audiobook

Em Publicação…

3.Em forma de videobook ou videolivro no nosso canal do Youtube: https://www.youtube.com/@fraternidaderosacruzcampinasbr/videos

aqui:

O Corpo de Desejos – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz – em videobook

4. Para estudar no próprio site somente o texto:

O CORPO DE DESEJOS

Por

Max Heindel

Fraternidade Rosacruz

Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82

Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil

Revisado de acordo com:

2ª Edição em Inglês, 2011, The Desire Body, editada por The Rosicrucian Fellowship

1ª Edição em Português, editada pela Fraternidade Rosacruz São Paulo – SP – Brasil

Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

www.fraternidaderosacruz.com

contato@fraternidaderosacruz.com

fraternidade@fraternidaderosacruz.com

PREFÁCIO

O ser humano, o Espírito residente interno, tem no atual estágio de desenvolvimento quatro veículos através dos quais ele funciona: o Corpo Denso, o Corpo Vital, o Corpo de Desejos e a Mente.  Embora esses Corpos e esse veículo estejam intimamente correlacionados e afetados uns pelos outros, e é de ajuda para o Estudante, para a completa compreensão de suas funções e possibilidades, estudar cada um deles separada e intensamente.  Para facilitar tal estudo, tudo o que foi escrito por Max Heindel sobre o Corpo de Desejos foi juntado e publicado nesse único e conveniente volume.

O Corpo de Desejos do ser humano é seu veículo dos sentimentos, das aspirações, vontades e emoções.  Ele é responsável por todas as suas ações, vivenciadas em movimentos livres.  Se descontrolado, faz com que o corpo faça todas as coisas desnecessárias e indignas tão prejudiciais ao crescimento da alma.  Entretanto, esse gênio que é um perigo tão grande quando assume o controle pode ser de eficiente serviço sob direção apropriada.  Portanto, o temperamento do Corpo de Desejos deve ser controlado, mas de nenhum modo exterminado.

Os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, por conseguinte, enfatizam a transmutação dos desejos inferiores em sentimentos elevados através do serviço motivado por devoção aos ideais superiores. Isso gera a Alma Emocional, nutriente essencial para o Espírito em evolução.

ÍNDICE

PREFÁCIO… 3

PARTE I – O MUNDO DO DESEJO PLANETÁRIO.. 5

Capítulo I – Sua Relação com o Mineral, o Vegetal, o Animal e o Ser humano.. 5

PARTE II – ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DO CORPO DE DESEJOS DO SER HUMANO   13

Capítulo I – Através dos Períodos Setenários. 13

PARTE III – O CORPO DE DESEJOS DO SER HUMANO NO MUNDO FÍSICO.. 21

Capítulo I – Da Infância à Puberdade. 21

Capítulo II – Sua Aparência e Suas Funções. 25

Capítulo III – O Efeito das Emoções no Contorno e na Cor do Corpo de Desejos. 30

Capítulo IV – A Influência do Pensamento.. 38

Capítulo V – Relação com a Consciência. 43

Capítulo VI – Durante o Sono.. 48

PARTE IV – O CORPO DE DESEJOS DO SER HUMANO NOS MUNDOS INVISÍVEIS  52

Capítulo I – Na hora da Morte. 52

Capítulo II – Causas da Mortalidade Infantil 56

Capítulo III – O Purgatório.. 61

Capítulo IV – Espíritos Apegados a Terra e suas Presas. 80

Capítulo V – A Região Limítrofe. 86

Capítulo VI – O Primeiro Céu.. 89

Capítulo VII – O Segundo Céu.. 92

Capítulo VIII – A Caminho do Renascimento.. 95

PARTE V – A ESPIRITUALIZAÇÃO DO CORPO DE DESEJOS DO SER HUMANO.. 97

Capítulo I – Seres Superiores como Fatores. 97

Capítulo II – A Falibilidade do Corpo de Desejos. 105

Capítulo III – Preparação para a Vida Superior. 111

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Capítulo I – Sua Relação com o Mineral, o Vegetal, o Animal e o Ser humano

Nos Ensinamentos Rosacruzes, o universo acha-se dividido em sete Mundos diferentes ou estados de matéria, como se segue:

  1. O Mundo de Deus 
  2. O Mundo dos Espíritos Virginais 
  3. O Mundo do Espírito Divino 
  4. O Mundo do Espírito de Vida 
  5. O Mundo do Pensamento 
  6. O Mundo do Desejo 
  7. O Mundo Físico

Esta divisão não é arbitrária, mas necessária, porque a substância de cada um desses Mundos está sujeita a leis que são praticamente ineficazes nos outros Mundos.  Por exemplo: no Mundo Físico, a matéria acha-se sujeita à gravidade, à contração e à dilatação.  No Mundo do Desejo não existe nem calor nem frio, e as formas levitam com a mesma facilidade com que gravitam.  A distância e o tempo são também fatores preponderantes que existem no Mundo Físico, mas quase totalmente inexistentes no Mundo do Desejo.

A matéria desses Mundos também varia em densidade, sendo o Mundo Físico o mais denso dos sete.

Cada Mundo acha-se subdividido em sete Regiões ou subdivisões da matéria.

A matéria de desejo, no Mundo do Desejo persiste através das sete subdivisões ou Regiões como material para a “incorporação” dos desejos.

Assim como a Região Química é o reino da forma e a Região Etérica é o lar das forças condutoras das atividades vitais nessas formas, permitindo-lhes viver, mover-se e propagar-se, assim também as forças no Mundo do Desejo, trabalhando no Corpo Denso despertado o impelem a se mover nessa ou naquela direção.

Se apenas existissem as atividades das Regiões Química e Etérica do Mundo Físico, haveria formas vivas, capazes de se moverem, mas sem incentivo para agirem dessa forma. Esse incentivo é proporcionado pelas forças cósmicas ativas no Mundo do Desejo e, sem essa atividade agindo através de todas as fibras do Corpo vitalizado, impelindo-o a ação nessa ou naquela direção, não haveria experiência nem crescimento moral.  A função dos diferentes Éteres cuidaria do crescimento da forma, pois é somente em resposta às necessidades do crescimento espiritual que as formas evoluem para estados superiores.  Vemos assim a grande importância desse reino da Natureza.

Desejos, aspirações, paixões e sentimentos expressam-se na matéria das diferentes Regiões do Mundo do Desejo, assim como as formas expressam-se na Região Química do Mundo Físico. Tomam formas que duram por mais ou menos tempo, de acordo com a intensidade do desejo, aspiração ou sentimento que encerram. No Mundo do Desejo a diferença entre as forças e a matéria não é tão definida e visível como no Mundo FísicoPoder-se-ia dizer até que aqui as ideias, força e matéria são idênticas e recíprocas.  Não é bem assim, mas podemos dizer que até certo ponto o Mundo do Desejo se compõe de força-matéria.

Quando se fala da matéria do Mundo do Desejo, é verdade que ela é um grau menos denso que a matéria do Mundo Físico, mas formaremos uma ideia totalmente errada se imaginarmos.

Embora a montanha e a margarida, o ser humano, o cavalo e um pedaço de ferro sejam compostos de uma derradeira substância atômica, não queremos dizer que a margarida seja uma forma de ferro mais fina e sutil.  Semelhantemente, é impossível explicar por palavras a mudança ou a diferença que se opera na matéria física quando ela se converte em matéria de desejos.  Se não houvesse diferença ela seria suscetível às leis do Mundo Físico, o que não acontece.

A lei que rege a matéria da Região Química é a inércia – a tendência a permanecer no “status quo”.  É necessária certa soma de energia para vencer essa inércia, para fazer que se mova um corpo em repouso ou para deter um corpo em movimento, o que não acontece com a matéria do Mundo do Desejo.  Essa matéria por si mesma é quase vivente.  Está em movimento fluídico incessante, assumindo todas as formas imagináveis e inimagináveis, com inconcebível facilidade e rapidez, assumindo ao mesmo tempo cores coruscantes e cintilantes de milhares de tons sempre cambiantes, sendo incomparável com qualquer coisa que conhecemos no estado físico de consciência.  Algo ligeiramente semelhante à ação e ao aspecto dessa matéria poderia ser visto no jogo de cores de uma concha de nácar quando exposta ao sol e posta em movimento.

Assim é o Mundo do Desejo: um Mundo de luz e cor sempre cambiantes no qual as forças do animal e do ser humano se misturam com as forças de inumeráveis Hierarquias de seres espirituais que não aparecem no Mundo Físico, mas que são tão ativas no Mundo do Desejo como nós o somos aqui.

As forças emitidas por essa vasta e variada hoste de Seres modelam a matéria cambiante do Mundo do Desejo em formas inumeráveis e diferentes, de maior ou menor durabilidade, de acordo com a energia cinética do impulso que lhes deu origem.

Os três Mundos do nosso Planeta (Mundo do Pensamento, Mundo do Desejo e Mundo Físico) são atualmente o campo de evolução para diferentes reinos de vida, em diferentes estados de desenvolvimento.  Apenas quatro desses, por ora, nos dizem respeito: o reino mineral, vegetal, animal e humano.

Esses quatro reinos acham-se relacionados com os três Mundos de maneiras diversas, de acordo com o progresso que esses grupos de vida evolucionante tenham feito na escola da experiência.

Para mostrar sentimentos e emoções é necessário possuir um veículo composto por matérias do Mundo do Desejo.

É necessário ter um Corpo Vital separado, um Corpo de Desejos, etc., para expressar as qualidades de um reino em particular, porque os átomos do Mundo do Desejo, do Mundo do Pensamento e mesmo dos Mundos Superiores, tanto interpenetram o mineral como o Corpo Denso.  Se a interpenetração do Éter planetário, que é o Éter que envolve os átomos do mineral, fosse suficiente para fazê-lo sentir e propagar-se, ser interpenetrado pelo Mundo do Pensamento planetário também seria suficiente para fazê-lo pensar.  Isso não pode ser feito por faltar um veículo separado.  O mineral é penetrado apenas pelo Éter planetário e é por esse motivo incapaz de crescimento individual.  Só o mais inferior dos quatro estados do Éter – o Químico – acha-se ativo no mineral.  As forças químicas existentes nos minerais devem-se a esse fato.

Tendo notado as relações existentes entre os quatro reinos e a Região Etérica do Mundo Físico, iremos depois voltar nossa atenção para as suas relações com o Mundo do Desejo.

Aqui descobrimos que tanto os minerais quanto os vegetais não possuem o Corpo de Desejos separado. Eles estão permeados apenas pelo Corpo de Desejos planetário, o Mundo do Desejo.  Sem possuir o veículo separado, são incapazes de ter sentimentos, desejos e emoções, que são faculdades que pertencem ao Mundo do Desejo. Quando se quebra uma pedra, ela não sente; mas seria errado deduzir que não existe sentimento relacionado a essa ação.  Essa é a visão materialista feita por uma multidão de pessoas sem compreensão.  O cientista ocultista sabe que não existe ato, grande ou pequeno, que não seja sentido por todo o universo, e mesmo que uma pedra, por não possuir Corpo de Desejos separado não possa sentir, o Espírito da Terra sente porque é o Corpo de Desejos da Terra que permeia a pedra.  Quando um ser humano corta seu dedo, o dedo, que não possui Corpo de Desejos separado, não sente dor, mas o ser humano sente, porque é o seu Corpo de Desejos que permeia o dedo.  Se uma planta é arrancada pelas raízes, isso é sentido pelo Espírito da Terra como um ser humano sentiria se fosse arrancado um fio de cabelo de sua cabeça.  Esta Terra é um corpo vivo que sente, e todas as formas que estão sem Corpos de Desejos separados, através dos quais os Espíritos que as animam pudessem experimentar sentimentos, acham-se incluídas no Corpo de Desejos da Terra e esse Corpo de Desejos tem sentimentos.  A quebra de uma pedra e o corte das flores produzem prazer à Terra, enquanto o arrancar de plantas pelas raízes causa-lhe dor. 

Na planta não há um Corpo de Desejos separado, por isso ela não tem desejo.  Ela direciona seu órgão de reprodução, a flor, casta e impudentemente em direção ao Sol, uma coisa bonita e deleitosa.

No ser humano, o Corpo de Desejos individual tem necessariamente que provocar paixão e desejo a não ser quando subjugado por meios ocultos. Por isso o ser humano é a inversão da planta casta, tanto figurativa como literalmente, pois ele possui desejo e volta seu órgão reprodutor para a Terra e disso sente vergonha. A planta se alimenta através da raiz; no ser humano o alimento entra pela cabeça.  O ser humano inala o oxigênio dador da vida e exala o dióxido de carbono portador da morte.  Esse é absorvido pela planta que extrai o veneno e devolve o princípio vitalizante para o ser humano.

O Mundo Planetário pulsa através do Corpo Vital e do Corpo Denso do animal e do ser humano, da mesma forma em que penetra o mineral e a planta, mas, além disso, o animal e o ser humano têm Corpos de Desejos separados, que os capacita a ter desejo, emoção e paixão.  Existe, entretanto, uma diferença.  O Corpo de Desejos do animal é formado inteiramente de material das Regiões mais densas do Mundo do Desejo, enquanto no caso das raças humanas, mesmo nas mais inferiores, um pouco da matéria das Regiões mais elevadas entra na composição do Corpo de Desejos.  Os sentimentos dos animais e das raças humanas mais inferiores estão quase que totalmente relacionados com a gratificação dos desejos inferiores e paixões que encontram sua expressão nas Regiões inferiores do Mundo do Desejo.

O Corpo de Desejos tem sua raiz no fígado, assim como o Corpo Vital o tem no baço.

Em todas as criaturas de sangue quente – que são as mais evoluídas e possuem sentimentos, paixões e emoções, que alcançam o Mundo exterior pelo desejo e das quais podem-se dizer que vivem no mais completo significado do termo e não apenas vegetam – as correntes do Corpo de Desejos fluem externamente do fígado.  A matéria de desejo está continuamente se liberando em valores e correntes que viajam em linhas curvas para todos os pontos da periferia do ovoide e depois retorna para o fígado através de vários vórtices, tanto quanto a água fervente está continuamente se liberando da fonte de calor e a ela retornando após completar seu ciclo.

As plantas não possuem esse princípio propulsor e energizante, daí não poderem mostrar vida e movimento como podem os organismos superiormente desenvolvidos.

Onde existe vitalidade e movimento, e inexiste sangue vermelho, não existe Corpo de Desejos separado.  A criatura acha-se simplesmente no estágio entre o vegetal e o animal e, portanto, se move completamente na energia do Espírito- Grupo.

Nos animais de sangue frio que possuem um fígado e sangue vermelho, há um Corpo de Desejos separado e o Espírito-Grupo direciona as correntes para dentro, porque no seu caso o espírito separado (do peixe ou réptil individual, por exemplo) acha-se completamente no lado externo do Corpo Denso.

Quando o organismo tiver evoluído ao ponto em que o espírito separado possa começar a penetrar em seus veículos, então ele (o Espírito individual) começará a dirigir as correntes externamente, e veremos o início da existência apaixonada e do sangue quente. É o sangue quente no fígado do organismo suficientemente evoluído para possuir um Espírito interno que energiza a saída das correntes de matéria de desejo que faz com que o animal ou o ser humano demonstre desejo e paixão.  No caso do animal, o espírito ainda não está completamente interiorizado.  Os mamíferos atuais, que tenham em seu estágio animal alcançado a posse do sangue quente vermelho, acham-se capacitados a experimentar desejo e emoção até certo ponto.

O espírito animal em sua descida alcançou apenas o Mundo do Desejo.  Ainda não evoluiu ao ponto de poder “entrar” num Corpo Denso. Portanto, o animal não possui Espírito interno, mas sim o Espírito-Grupo que o dirige de fora. O animal possui o Corpo Denso, o Corpo Vital e o Corpo de Desejos, mas o Espírito-Grupo que o dirige está do lado de fora.  O Corpo Vital e o Corpo de Desejos de um animal não se encontram inteiramente dentro do Corpo Denso, especialmente no que diz respeito à cabeça.

Todas as formas são impelidas à ação pelo desejo: a ave e o animal quadrúpede vagam por terra e ar no seu desejo de obter alimento e abrigo, ou com o propósito de procriar; o ser humano é também movido por esses desejos, mas tem ainda outros e mais elevados incentivos que o estimulam a se esforçar.  Entre eles, acha-se o desejo de locomover-se rapidamente, o que o levou a construir a máquina a vapor e outros mecanismos que se movem em obediência a seus desejos.

Se não houvesse ferro nas montanhas, o ser humano não poderia construir máquinas. Se não houvesse barro no solo, a estrutura óssea do esqueleto seria impossível, e se não existisse nenhum Mundo Físico, com seus sólidos, líquidos e gases, o nosso Corpo Denso jamais poderia ter existido. Raciocinando de modo similar, torna-se de pronto aparente que, se não existisse Mundo do Desejo composto de matéria de desejo, não teríamos meios de formar sentimentos, emoções e desejos.  Um Planeta composto das matérias perceptíveis a nossos olhos físicos, e de nenhuma outra substância, poderia ser o lar de plantas que crescessem inconscientemente, mas sem o desejo para fazê-las crescer.  O reino humano e mineral, entretanto, seriam impossibilidades.

Tanto o animal quanto o ser humano têm um Corpo de Desejos e acham-se dominados pelos sentimentos gêmeos e as forças gêmeas.  Uma tigresa na floresta passará com indiferença por um pedaço de pão, mas sentirá interesse pelo seu dono. Seu interesse vai fazer surgir a Força de Atração, no entanto, ela vai tentar matá-lo.  O ato destrutivo não é o fim, nem o objetivo, entretanto, apenas um passo necessário em direção à assimilação.  Se ela percebe outro animal predador com interesse no que ela considera sua presa, isso também vai despertar seu interesse.  Mas, nesse caso, o sentimento de interesse vai detonar a força de repulsão, e, se acontecer uma luta, a destruição do seu adversário será o seu objetivo.  No caso acima e nos casos nos quais o desejo animal do ser humano sigam fatores, as forças gêmeas e os sentimentos gêmeos operam de modo semelhante, mas existe a diferença na composição no Corpo de Desejos do ser humano e do animal.

O Corpo de Desejos de um animal é composto exclusivamente de matéria das quatro Regiões inferiores do Mundo do Desejo.  Daí ele ser incapaz de sentir algo mais que desejo animal por comida, abrigo ou algo parecido.  Um santo sentiria o mais penetrante remorso se tivesse inadvertidamente falado uma palavra impensada: a tigresa permanece imperturbável a qualquer sentimento de mal agir, daí ela matar diariamente.  A razão é que o Corpo de Desejos do ser humano é composto de matéria de todas as sete Regiões do Mundo do Desejo, daí ele ser capaz de ter sentimentos mais elevados que o animal.

PARTE II – ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DO CORPO DE DESEJOS DO SER HUMANO

Capítulo I – Através dos Períodos Setenários

O esquema evolutivo é realizado através dos cinco Mundos em sete grandes Períodos de Manifestação durante os quais o Espírito Virginal ou vida evolucionante se converte primeiramente em ser humano e depois em Deus.

Na terminologia Rosacruz os nomes dos sete Períodos são os seguintes:

  1. Período de Saturno
  2. Período Solar
  3. Período Lunar
  4. Período Terrestre
  5. Período de Júpiter
  6. Período de Vênus
  7. Período de Vulcano

Os três primeiros Períodos mencionados (Saturno, Solar e Lunar) pertencem ao passado.  Estamos atualmente no quarto Período, o Terrestre.  Quando este Período Terrestre de nosso Globo se completar, nós e a Terra passaremos através das condições de Júpiter, Vênus e Vulcano antes do Grande Dia Setenário de Manifestação chegar ao fim, quando tudo o que agora existe imergirá, uma vez mais, no Absoluto para um período de descanso e assimilação dos frutos de nossa evolução, para reemergir para um mais elevado desenvolvimento de outro Grande Dia.

Os três Períodos e meio já passados foram empregados na aquisição de nossos veículos e da consciência atual. Os três Períodos e meio restantes serão dedicados ao aperfeiçoamento desses veículos e à expansão da consciência até o ponto equivalente à onisciência.

Vimos que o ser humano é um organismo muito complexo, consistindo em:

  1. Corpo Denso, que é a sua ferramenta em ação;
  2. Corpo Vital, um veículo de “vitalidade” que torna a ação possível;
  3. Corpo de Desejos, de onde vem o Desejo e que impele à ação;
  4. Mente, um freio aos impulsos, proporcionando sentido à ação;
  5. Ego, que atua e ganha experiência da ação.

O Espírito Humano e o Corpo de Desejos começaram sua evolução no Período Lunar e são, portanto, os pupilos especiais do Espírito Santo.

Aprendemos, ao estudar o Livro Conceito Rosacruz do Cosmos, que nosso Corpo de Desejos foi gerado no Período Lunar.  Se desejamos obter um quadro mental da maneira como as coisas eram então, observemos a ilustração de um feto, como mostrada em qualquer livro de anatomia.  Há três partes principais: a placenta, preenchida de sangue materno; o cordão umbilical, que conduz essa fonte vital; e o feto, que é desse modo nutrido, desde o estado embrionário até à maturidade.  Imagine agora, naquela época distante, o firmamento como uma imensa placenta da qual pendiam milhões de cordões umbilicais, cada um com seu apêndice fetal.  Através de toda a família humana, então em formação, circulava uma única essência universal do desejo e da emoção, gerando em todos os impulsos de ação que ora estão manifestados em cada fase do trabalho do mundo.  Esses cordões umbilicais e apêndices fetais foram moldados da matéria úmida de desejo pelas emoções dos Anjos Lunares, enquanto as correntes ígneas de desejo que estavam se esforçando em impulsionar a vida latente na Humanidade, então em formação, eram ígneos guerreiros Espíritos Lucíferes.  A cor daquela primeira e lenta vibração que eles puseram em movimento naquela matéria de desejo emocional era vermelha.

No Período Lunar foi necessário reconstruir-se o Corpo Denso para torná-lo capaz de ser interpenetrado pelo Corpo de Desejos e, também, de desenvolver o sistema nervoso, os músculos, as cartilagens e o esqueleto rudimentar.  Essa reconstrução foi o trabalho da Revolução de Saturno do Período Lunar.

Na segunda ou Revolução Solar, o Corpo Vital foi também modificado para torná-lo capaz de ser interpenetrado por um Corpo de Desejos e, também, foi adaptado ao sistema nervoso, aos músculos, esqueleto etc. Os Senhores da Sabedoria também ajudaram os Senhores da Individualidade em seu trabalho.

Dessa substância úmida (no Período Lunar) foi construído o corpo mais denso desses “Seres humanos-aquosos”.  O pensamento-forma para o Corpo Denso foi consolidado em um gás úmido e o pensamento-forma de nosso Corpo Vital atual desceu ao Mundo do Desejo.  Foi formado de matéria de desejo.  A esse corpo duplo foi adicionado, no Período Lunar, o pensamento-forma para o nosso atual Corpo de Desejos e os Serafins despertaram o terceiro aspecto do Espírito Virginal: o Espírito Humano.  O Espírito Virginal tornou-se um “Ego”; daí que, no final do Período Lunar, o ser humano em formação possuía um tríplice Espírito e um Tríplice Corpo.

Vemos assim que, no final do Período Lunar, o ser humano possuía um Tríplice Corpo em vários estados de desenvolvimento e ainda possuía o germe do Tríplice Espírito.  Ele tinha Corpos: Denso, Vital e de Desejos, e Espíritos: Divino, de Vida e Humano.  Só lhe faltava o elo para uni-los.

No final do Período Lunar, essas classes possuíam os veículos como estão classificados no Diagrama 10 (do Livro Conceito Rosacruz do Cosmos, veja abaixo) e, com eles, principiaram no começo do Período Terrestre.  Durante o tempo decorrido desde então, o reino humano vem desenvolvendo o material do elo mental e tem assim alcançado total despertar de consciência.  Os animais obtiveram um Corpo de Desejos e as plantas, o Corpo Vital.  Os extraviados da onda de vida que entraram na evolução no Período Lunar, escaparam das duras e rápidas condições da formação das rochas e, agora, seus Corpos Densos compõem nossos solos mais macios, enquanto a onda de vida que entrou na evolução no atual Período Terrestre forma as duras rochas e pedras.

Todos da Classe 2 cujos Corpos de Desejos estavam em condições de serem divididos em duas partes (como foi o caso de todos os da Classe 1), e que podiam atuar em veículos humanos, avançaram para o grupo humano.

Diagrama 10 – Classes no início do Período Terrestre

Devemos reparar, cuidadosamente, que nos parágrafos anteriores faz-se referência às formas, não à Vida que habita a Forma.  O instrumento está ajustado para servir à vida que nele habita.  Os da Classe 2, em cujos veículos podia ser feita a divisão acima mencionada, elevaram-se ao reino humano, mas receberam o Espírito interno num momento posterior aos da classe 1.  Por consequência, eles não estão agora tão evoluídos quanto os da Classe 1 e formam as raças humanas inferiores.

Aqueles cujos Corpos de Desejos eram incapazes de divisão foram colocados nas mesmas condições das Classes 3a e 3b.  Eles são os antropoides atuais.  Eles poderão, porém, seguir a nossa evolução se atingir um grau de adiantamento suficiente antes do ponto crítico já mencionado, que virá no meio da Quinta Revolução. Se não nos alcançarem até essa época, eles terão perdido contato com nossa evolução.

Foi dito que o ser humano construiu seu Tríplice Corpo com a ajuda de seres superiores a ele, mas no Período anterior não havia poder coordenador; o Tríplice Espírito, o Ego, estava separado e afastado de seus veículos.  Agora chegou o momento para a união do Espírito com o corpo.

Quando o Corpo de Desejos se separou, a parte superior passou de algum modo a dominar a parte inferior e os Corpos Denso e Vital.  Isso formou uma espécie de alma-animal com a qual o Espírito podia se unir por meio do elo da Mente.  Onde não houve divisão do Corpo de Desejos, o veículo ficava à mercê de desejos e paixões sem nenhum controle, e, portanto, não podia ser usado como um veículo interno capaz de ser a morada do Espírito.  Por isso, ele foi posto sob a direção de um Espírito-Grupo que o governava de fora.  Tornou-se um corpo animal, e essa espécie degenerou-se no corpo de um antropoide.

Quando ocorreu a divisão do Corpo de Desejos, o Corpo Denso assumiu gradualmente a posição vertical, tirando assim a espinha dorsal da influência das correntes horizontais do Mundo do Desejo no qual o Espírito-Grupo age sobre o animal através da espinha dorsal horizontal.  Então, o Ego podia entrar e trabalhar, e expressar-se através da espinha dorsal vertical e construir a laringe vertical e o cérebro para sua manifestação adequada no Corpo Denso.  A laringe horizontal também se acha sob o domínio do Espírito-Grupo.  Embora seja verdade que alguns animais como o estorninho, o corvo, o papagaio, etc. anteriormente mencionados, sejam, por causa da posição vertical de suas laringes, capazes de emitir palavras, eles não podem usá-las com discernimento.  O uso das palavras para expressar pensamentos é o mais elevado privilégio humano e pode ser exercido apenas por um ser capaz de raciocinar e pensar como o ser humano.

Na Época Polar, o ser humano adquiriu o Corpo Denso como um instrumento de ação.  Na Época Hiperbórea foi adicionado o Corpo Vital para dar poder de movimento necessário à ação.  Na Época Lemúrica, o Corpo de Desejos forneceu incentivo à ação.

Na terceira época, a Lemúrica, o ser humano cultivou um Corpo de Desejos, um veículo de paixões e emoções, e possuía a mesma constituição de um animal.  Então o leite, um produto dos animais vivos, foi acrescentado à sua dieta alimentar por ser essa substância mais facilmente influenciada pelas emoções.  Abel, o ser humano dessa época, é descrito como sendo um pastor.  Em nenhum lugar está escrito que ele tenha matado um animal para se alimentar.

A terceira Época, a Lemúrica, apresenta condições análogas às do Período Lunar, porém mais densas.  O coração ígneo da Terra estava no centro, à água fervente em ebulição em seguida, e a atmosfera em vapor ou “névoa-de-fogo” por fora; por conseguinte, “Deus havia separado a terra das águas”, como está no Gênese, a densa umidade do vapor, e ali vivia o ser humano em ilhas da crosta sólida em formação espalhadas no mar de fogo ou água fervente.  Sua forma era, então, bastante firme e sólida, possuía tronco, membros e a cabeça estava começando a se formar.  Foi-lhe adicionado o Corpo de Desejos e o ser humano foi posto sob o domínio dos Arcanjos.

No passado distante, quando o ser humano estava em contato com os Mundos “internos”, o corpo pituitário e a glândula pineal eram os seus meios de ingresso nesses Mundos e irão novamente servir a esses propósitos num estágio posterior.  Estavam conectados com o sistema nervoso involuntário ou simpático.  O ser humano estão viu os Mundos internos, como no Período Lunar, na parte mais recente da Época Lemúrica e nos primórdios da Época Atlante.  As imagens as apresentavam-se bastante independentes de sua vontade.  Os centros de sentidos de seu Corpo de Desejos estavam girando no sentido contrário aos ponteiros dos relógios (seguindo negativamente os movimentos da Terra, que gira em torno do eixo nessa direção) como os centros de sentidos dos “médiuns” o fazem até hoje.  Em muitas pessoas, esses centros sensoriais estão inativos, mas o verdadeiro desenvolvimento vai fazer com que eles se movam no sentido dos ponteiros dos relógios.

A Mente foi dada ao ser humano na Época Atlante para objetivar a ação, mas como o Ego estava extremamente fraco e a natureza de desejo forte, a Mente nascente fundiu-se com o Corpo de Desejos; resultou daí a faculdade de astúcia, que foi a causa de toda fraqueza na terceira metade da Época Atlante.

Num futuro distante, o Corpo de Desejos do ser humano tornar-se-á definitivamente organizado como se encontram os Corpos Vital e Denso.  Quando esse estágio for atingido, todos nós teremos o poder de funcionar no Corpo de Desejos como agora fazemos no Corpo Denso, que é o mais antigo e mais bem organizado dos corpos do ser humano, sendo o Corpo de Desejos o mais novo deles.

Na Época Hiperbórea, antes de o ser humano possuir o Corpo de Desejos, havia apenas um modo universal de comunicação e, quando o Corpo de Desejos se tornar suficientemente purificado, todos os seres humanos estarão novamente capacitados a se entenderem, pois então a separativa diferenciação de Raça terá sido ultrapassada.

O Corpo de Desejos teve sua formação iniciada no Período Lunar, foi reconstruído no Período Terrestre e será modificado para melhor no Período de Júpiter, alcançando a perfeição no Período de Vênus.

O Globo D do Período de Vênus achar-se-á localizado no Mundo do Desejo (veja Diagrama 8 do Livro Conceito Rosacruz do Cosmos, abaixo), por isso, nem  um Corpo Denso nem um Vital será usado como um instrumento de consciência, daí que as essências do perfeito Corpo Denso e do Vital estarão incorporadas no Corpo de Desejos completo, esse último tornando-se um veículo de qualidades transcendentes, maravilhosamente adaptado e tão sensível ao menor desejo do Espírito interno que, em nossas limitações atuais, ultrapassa os limites de nossa concepção.

Diagrama 8 – Os 7 Mundos, os 7 Globos e os 7 Períodos

Porém, a eficiência de até mesmo esse veículo esplêndido será transcendida quando, no Período de Vulcano, sua essência, junto com as essências dos Corpos Denso e Vital, forem adicionadas ao Corpo Mental, que se tornará o mais elevado dos veículos do ser humano, contendo dentro de si a quinta essência de tudo o que for de melhor de todos os veículos.

PARTE III – O CORPO DE DESEJOS DO SER HUMANO NO MUNDO FÍSICO

Capítulo I – Da Infância à Puberdade

Os veículos do recém-nascido não entram em atividade logo de pronto. O Corpo Denso permanece indefeso por um longo período de tempo, após o nascimento.  

O mesmo ocorre com as forças que operam no Corpo de Desejos.  A sensibilidade passiva à dor física acha-se presente, enquanto a sensibilidade às emoções se acha quase que completamente ausente.  A criança mostrará emoções, é certo, à menor provocação, mas a duração dessa emoção é apenas momentânea.  Está tudo na superfície.

O Corpo Vital da planta constrói uma folha após a outra, fazendo o caule crescer sempre mais.  Não fosse pelo Corpo de Desejos macrocósmico continuaria desse modo indefinidamente, mas o Corpo de Desejos macrocósmico intervém em um determinado ponto e interrompe o crescimento.  A força agora necessária para prosseguir o crescimento acha-se disponível para outros propósitos e é usada para construir a flor e a semente.  De modo semelhante, o Corpo Vital do ser humano, quando o Corpo Denso fica sob seu controle, após o sétimo ano, faz o último crescer bem rápido, mas perto do décimo quarto ano o Corpo de Desejos individual nasce do útero do Corpo de Desejos macrocósmico e então está livre para trabalhar no Corpo Denso.  O crescimento excessivo é interrompido e a força anteriormente usada para isso torna-se disponível para a propagação de forma que a planta humana pode florescer e dar à luz.  Portanto, o nascimento do Corpo de Desejos pessoal marca o período da puberdade. A partir desse período, aparece a atração pelo sexo oposto, tornando-se especialmente ativa e desenfreada no terceiro período setenário da vida – do décimo quarto ano ao vigésimo primeiro – porque a Mente controladora ainda não nasceu.

Entretanto, não se deve imaginar que quando o pequeno corpo de uma criança nasce o processo do nascimento esteja completo.  O Corpo Denso físico teve a mais longa evolução e, como o sapateiro que trabalhou muitos anos na sua profissão é mais experiente que um aprendiz e capaz de fazer sapatos mais rápidos e melhores, assim também o Espírito que tenha construído mais corpos físicos os produz mais rapidamente, mas o Corpo Vital é uma aquisição mais recente do ser humano.  Por isso, não somos tão experientes na construção desse veículo.  Consequentemente, leva mais tempo para construí-lo a partir de materiais não empregados na feitura do revestimento do arquétipo, e o Corpo Vital não nasce antes do sétimo ano.  Começa então o período de crescimento rápido.  O Corpo de Desejos é uma aquisição na composição do ser humano que se dá mais tarde ainda, que não nasce antes do décimo quarto ano, quando a natureza de desejo se expressa mais fortemente durante a chamada mocidade “quente”, e a Mente que torna o ser humano adulto, não nasce antes do vigésimo primeiro ano.  Perante a lei, essa última idade é reconhecida como o tempo mais cedo em que o ser humano está pronto para exercer o direito de votar. Aos quatorze anos, temos o nascimento do Corpo de Desejos, que marca o início da autoafirmação.  Nos primeiros anos, a criança se vê mais como pertencente à família e subordinada às vontades de seus pais do que após os quatorze anos.  A razão é a seguinte: na garganta do feto e da criancinha existe uma glândula chamada Timo, que é maior antes do nascimento e que diminui gradualmente durante a infância e, finalmente, desaparece em idades que variam de acordo com as características da criança.  Os anatomistas ficaram confusos quanto ao funcionamento desse órgão e ainda não chegaram a uma conclusão definitiva.  Mas foi sugerido que, antes do desenvolvimento dos ossos vermelhos da medula, a criança não é capaz de fabricar seu próprio sangue, e que, portanto, a glândula Timo contém uma essência, suprida pelos pais, que a criança pode extrair enquanto bebê e durante a infância, até estar apta a fabricar seu próprio sangue.  Essa teoria está próxima da verdade, e, como o sangue da família circula na criança, ela se considera parte da família e não como um Ego. O Ego se afirma quando ela começa a fabricar seu próprio sangue; não é mais a menina do papai ou o menino da mamãe.  Passa a ter um “Eu” identificando-a. Tem início a idade crítica quando os pais colhem o que semearam.  A Mente ainda não nasceu, não há nada para refrear a natureza de desejo reprimida, e mais, muito mais, depende de como a criança foi educada nos primeiros anos e que exemplos os pais deram.  Nesse ponto da vida, a autoafirmação, o sentimento de “Eu sou eu”, é mais forte que em qualquer outra ocasião e, portanto, a autoridade deve dar lugar ao conselho.

Os pais devem praticar a maior tolerância, pois em nenhuma outra fase da vida o ser humano acha-se mais necessitado de compreensão que durante os sete anos que vão dos quatorze aos vinte um, quando a natureza de desejo é exuberante e desenfreada.

O Corpo de Desejos necessita de proteção das investidas violentas do Mundo do Desejo até por volta dos quatorze anos quando ele nasce na fase que chamamos de puberdade; e a Mente não está suficientemente madura para ser solta de sua capa protetora, até que o ser humano atinja sua maioridade por volta dos vinte e um anos.  Esses períodos estão aproximadamente corretos, apenas, pois cada pessoa é diferente das outras quanto à exatidão dos períodos, mas esses dados estão bem próximos da realidade.

Vimos que, quando o Ego chegou ao fim de seus dias na escola da vida, a força centrífuga de Repulsão faz com que ele se descarte do veículo denso por ocasião da morte e, depois do Corpo Vital, que é o mais denso a seguir.  Posteriormente, no Purgatório, a matéria de desejo mais inferior acumulada pelo Ego, como um corpo para seus mais inferiores desejos, é expurgada por essa força centrífuga.  Nos reinos mais elevados só a Força de Atração governa e mantém o bem pela ação centrípeta, que tende a puxar tudo da periferia para o centro.

Essa força centrípeta de Atração também governa quando o Ego está de volta para renascer.  Sabemos que podemos atirar uma pedra mais longe do que uma pena.  Daí que, a matéria inferior é lançada fora após a morte, pela força de Repulsão, e, pela mesma razão a matéria mais inferior na qual o Ego que retorna incorpora as tendências ao mal é arrastada para o centro pela força centrípeta de Atração, resultando que, quando a criança nasce, tudo de melhor e mais puro aparece no exterior.  O mal normalmente não se manifesta até após o nascimento do Corpo de Desejos próximo dos quatorze anos, e as correntes nesse veículo começam a jorrar fora pelo fígado.  Nessa ocasião, o Ego começa a “viver” sua vida individual e mostrar o que tem em seu interior.  O Corpo de Desejos nasce por volta dos quatorze anos, na puberdade.  Esta é a ocasião em que os sentimentos e paixões estão começando a exercer seu poder sobre o jovem ou a jovem, quando o útero da matéria de desejos, que primeiramente protegia o Corpo de Desejos emergente, é removido.  Em muitos casos, esse é um período de tentações, e é um bem para o jovem que aprendeu a respeitar pais e professores, pois eles serão para ele uma âncora de força contra a invasão dos sentimentos.  Se foi acostumado a aceitar a opinião dos mais velhos como verdadeira e deles recebeu sábios ensinamentos, ele terá então desenvolvido o inerente senso de verdade que será um guia seguro, mas, na medida em que tenha falhado, então é capaz de ficar à deriva.

Quando numa vida a pessoa morre quando criança, ela, não raro, se lembra desta vida na próxima, porque as crianças menores de quatorze anos não perfazem o ciclo completo da vida, que necessita da construção de um grupo completo de novos veículos.  Elas simplesmente passam para as Regiões superiores do Mundo do Desejo e lá esperam pela construção de um novo corpo, o que normalmente ocorre entre um e vinte anos após a morte.  Quando voltam a renascer, elas trazem consigo a Mente antiga e o antigo Corpo de Desejos.

Capítulo II – Sua Aparência e Suas Funções

Além do corpo visível e do Corpo Vital, também possuímos um corpo feito de matéria de desejo com a qual formamos nossos sentimentos e emoções.  Esse veículo também nos impele a procurar a gratificação dos sentidos.  Mas, enquanto os dois instrumentos dos quais já falamos estão bem-organizados, o Corpo de Desejos aparece à visão espiritual como uma nuvem ovoide que se estende de, em torno, trinta a quarenta centímetros além do Corpo Denso.  Está sobre a cabeça e abaixo dos pés de modo que nosso Corpo Denso se situa no centro da nuvem em forma de ovo, assim como a gema está no centro do ovo.

A razão do estado rudimentar desse veículo é que ele foi acrescentado à constituição do ser humano mais recentemente que os corpos anteriormente mencionados.  A evolução da forma é semelhante à maneira pela qual os sucos do caracol inicialmente se condensaram em carne e mais tarde se tornaram uma concha dura.  Quando o nosso atual Corpo Denso inicialmente germinou no Espírito, era um pensamento-forma, mas, gradativamente, tornou-se mais denso e mais concreto até ser hoje uma cristalização química.  O Corpo Vital foi em seguida emanado pelo Espírito como um pensamento-forma e está no terceiro estágio de solidificação, que é etéreo.  O Corpo de Desejos é uma aquisição ainda mais recente.  Ele, também, foi concebido por um pensamento-forma que agora se condensou em matéria de desejo.  A Mente, só recebida recentemente, é nada mais que uma simples nuvem do pensamento-forma.

Braços e membros, ouvidos e olhos não são necessários no uso do Corpo de Desejos, pois ele pode deslizar pelo espaço com mais suavidade que o vento, sem os meios de locomoção que nós precisamos no Mundo visível.

Quando observado pela visão espiritual, parece que este Corpo de Desejos possui muitos vórtices rodopiantes.  É uma característica da matéria de desejo estar sempre em movimento.  Do vórtex principal, localizado no fígado, há um fluxo constante e abundante que se irradia para a periferia desse corpo ovoide e que retorna para o centro através de inúmeros outros vórtices.  O Corpo de Desejos exibe todas as cores e matizes que conhecemos e vasto número de outros tons indescritíveis para a linguagem do mundo material.  Essas cores variam para cada pessoa de acordo com suas características e temperamento.  Também variam a cada momento de acordo com as mudanças de humor, fantasias ou emoções que a pessoa experimenta.  Há, porém, certa cor básica para cada um, dependendo do Astro regente na hora do seu nascimento.  O ser humano, em cujo horóscopo Marte esteja particularmente forte, normalmente, terá sua aura de cor carmim.  Quando Júpiter é o Planeta mais forte, a cor predominante parece ser de um tom azulado e, assim por diante, com os demais Planetas, Sol e Lua.

Houve uma época da história passada da Terra, quando a crosta não estava ainda completa, em que os seres humanos viviam em ilhas aqui e ali no meio de mares em ebulição.  Eles ainda não tinham desenvolvido olhos e ouvidos, mas um pequeno órgão protuberante desde a parte de trás da cabeça, a glândula pineal, que os anatomistas chamaram de terceiro olho, era o órgão de sentido localizado que avisava o ser humano toda vez que ele se aproximava de uma cratera vulcânica, permitindo-o escapar assim da destruição.  Desde então, os hemisférios do cérebro vêm cobrindo a glândula pineal e ao invés de apenas um órgão de sentido, o corpo todo em seu interior e exterior tornou-se apto a sentir os impactos, o que, naturalmente, é um estado de desenvolvimento muito superior.

No Corpo de Desejos, cada partícula é sensível a vibrações similares às que chamamos de imagens, sons e sentimentos, e cada partícula está em constante movimento, rodopiando rapidamente de tal forma a poder estar no mesmo instante na parte superior e na inferior do Corpo de Desejos e levando às demais partículas em todos os pontos a sensação por ela experimentada.   Assim, cada partícula da matéria de desejos nesse nosso veículo irá instantaneamente sentir qualquer sensação experimentada por cada uma das partículas.  Por conseguinte, o Corpo de Desejos é de uma natureza excepcionalmente sensível, capaz dos mais intensos sentimentos e emoções.

O Corpo de Desejos é o veículo dos sentimentos e emoções que estão sempre mudando a cada momento. Embora tenha-se dito que o Éter que forma nosso Corpo-Alma esteja em movimento constante e associado à corrente sanguínea, essa movimentação é relativamente lenta se comparada à rapidez da corrente do Corpo de Desejos

A matéria de desejos movimenta-se com inconcebível rapidez, só comparada à luz.

Os impulsos do Corpo de Desejos dirigem o sangue através do sistema a variáveis padrões de velocidade, de acordo com a força das emoções.

Atualmente, os materiais das Regiões inferiores e superiores entram na composição dos Corpos de Desejos da grande maioria da Humanidade.  Ninguém é tão mal que não tenha algo de bom.  Isso está expresso nos materiais das Regiões superiores que encontramos em seus Corpos de Desejos.  Mas, por outro lado, muito poucos são suficientemente bons que não usem alguns dos materiais das Regiões inferiores.

Da mesma maneira que os Corpos Vital e de Desejos macrocósmicos interpenetram a matéria densa da Terra, como está ilustrado na experiência da esponja, da areia e da água, (ver Livro: Conceito Rosacruz do Cosmos), assim os Corpos Vital e de Desejos interpenetram o Corpo Denso da planta, do animal e do ser humano.  Mas durante a vida do ser humano, seu Corpo de Desejos não tem a forma semelhante a seus Corpos Denso e Vital.  Após a morte ele assume essa forma.  Durante a vida, ele tem a aparência de um ovoide Luminoso que nas horas de vigília envolve completamente o Corpo Denso, como a clara envolve a gema de um ovo.  Estende-se cerca de trinta a quarenta centímetros além do Corpo Denso.  Nesse Corpo de Desejos existem inúmeros centros de sentido, mas, na grande maioria das pessoas, eles acham-se latentes.  É o despertar desses centros de percepção que corresponde à abertura dos olhos de um cego.  A matéria no Corpo de Desejos humano está em constante movimento de inconcebível rapidez.  Nele, não existe nenhum local de parada para nenhuma partícula, como há no Corpo Denso.  A matéria, que num momento está na cabeça, pode estar em seguida nos pés e logo retornar.  Não há órgãos no Corpo de Desejos, como nos Corpos Denso e Vital, mas há centros de percepção que, quando ativos, assemelham-se a vórtices, permanecendo sempre na mesma posição relativa ao Corpo Denso, a maioria deles em torno da cabeça.  Na maioria das pessoas, eles são apenas redemoinhos e não são úteis como centros de percepção.  Entretanto, podem ser despertados totalmente, porém, diferentes métodos produzem diferentes resultados. 

No Clarividente Involuntário, esses vórtices desenvolvidos em linhas impróprias e negativas movimentam-se da direita para a esquerda ou ao contrário dos ponteiros dos relógios.

No Corpo de Desejos do Clarividente adequadamente treinado eles se movem na mesma direção dos ponteiros dos relógios, brilhando de forma esplendorosa, sobrepujando sobejamente a brilhante luminosidade do Corpo de Desejos comum.  Esses centros fornecem-lhe meios de percepção no Mundo do Desejo, e ele vê e investiga de acordo com seus desejos, enquanto a pessoa cujos centros se movimentam no sentido oposto aos ponteiros do relógio é como um espelho, que reflete o que passa diante dela.  Tal pessoa é incapaz de obter uma informação de fora.  O que foi dito anteriormente é uma das diferenças fundamentais entre um médium e um Clarividente adequadamente treinado.  Para a maioria das pessoas, é impossível distinguir entre os dois, mas existe uma regra infalível que pode ser seguida por qualquer pessoa: Nenhum vidente verdadeiramente desenvolvido jamais irá exercer essa faculdade por dinheiro ou algo equivalente; nem irá usá-la para satisfazer curiosidades, mas somente para ajudar a Humanidade.

Capítulo III – O Efeito das Emoções no Contorno e na Cor do Corpo de Desejos

Cristo disse: “Deixe que sua luz brilhe[1]. Para a visão espiritual, cada ser aparece como uma chama de luz colorida de acordo com o temperamento, e com maior ou menor brilho na proporção da pureza de seu caráter.  A ciência descobriu que toda matéria está num estado de fluxo, que as partículas que formam nossos corpos deterioram-se e são continuamente eliminadas do sistema, para serem substituídas por outras que ficam por curto tempo até também se deteriorarem. Da mesma forma, nosso humor, emoções e desejos mudam a cada momento, o velho dando lugar ao novo, numa interminável sucessão.  Por isso, eles devem também ser formados por matéria e sujeitos a leis semelhantes àquelas que governam as substâncias físicas visíveis.

Vejamos como o Corpo de Desejos muda sob os vários sentimentos, desejos, paixões e emoções de modo a que possamos aprender a construir sabiamente o templo místico no qual habitamos.

Quando estudamos uma das chamadas ciências físicas, tais como a anatomia ou a arquitetura, que lidam com as coisas tangíveis, nossa tarefa é facilitada pelo fato de termos palavras que descrevem as coisas de que tratamos, mas, mesmo assim, o quadro mental concebido pela palavra difere de um indivíduo para outro.  Quando falamos de uma “ponte”, uma pessoa pode mentalizar uma estrutura de ferro no valor de um milhão de dólares, e outra pode pensar numa prancha sobre um riacho.  A dificuldade que experimentamos ao transmitir impressões exatas do que queremos dizer aumenta substancialmente quando tentamos exprimir ideias sobre as forças intangíveis da Natureza, tal como a eletricidade. Medimos a força da corrente em volts, o volume em ampères e a resistência dos condutores em ohms, mas, de fato, estes termos são somente invenções para encobrir nossa ignorância sobre a matéria.  Todos sabem o que é um quilo de café, mas o maior cientista do mundo tem uma concepção exata do que volts, ampères e ohms sejam sobre os quais ele discursa tão doutamente, tanto quanto um estudante que ouve estas palavras pela primeira vez.

Não é de admirar que assuntos suprafísicos sejam descritos por termos vagos e frequentemente desorientadores, pois não temos palavras, em nenhuma língua física, para descrever exatamente estes assuntos e temos de confessar nossa impotência e perplexidade, por não encontrarmos termos adequados para nos expressarmos a respeito deles.  Se fosse possível projetar sobre uma tela cinematográfica as imagens coloridas do Corpo de Desejos e mostrar como esse incansável veículo muda de contorno e de cor conforme as emoções, nem assim seria compreensível para aquele que não é capaz de ver as coisas por si mesmo, pois os veículos de cada ser humano diferem dos demais na medida em que respondem a certas emoções. Aquilo que induz alguém a sentir amor, ódio, raiva, medo ou qualquer outra emoção pode deixar outro inteiramente insensível.

Inúmeras vezes o autor observou as multidões para estabelecer comparações a este respeito e encontrou, sempre, algo surpreendentemente novo e diferente do que havia observado antes.  Certa ocasião, um demagogo se esforçava em incitar um sindicato de trabalhadores à greve.  Ele mesmo estava muito exaltado e, embora a cor básica laranja escuro fosse perceptível, estava, naquele momento, quase obscurecida por uma cor escarlate de matiz mais brilhante e o contorno de seu Corpo de Desejos era como o de um porco-espinho com as pontas eriçadas.  Havia um forte elemento de oposição naquela reunião e, à medida que falava, podia-se distinguir claramente as duas facções pelas cores de suas respectivas auras.  Um grupo de homens mostrava o escarlate da raiva, mas, no outro grupo, esta cor estava mesclada com o cinza, a cor do medo.

Era também digno de nota o fato de que, embora os homens que apresentavam a cor cinza fossem a maioria, os outros venceram, pois, cada tímido acreditava estar sozinho, ou, pelo menos, com muito poucos o apoiando e, por conseguinte, temia votar ou expressar sua opinião.  Se alguém que fosse capaz de perceber esta condição estivesse presente e tivesse se dirigido a cada um que manifestava em sua aura sinais de divergência, assegurando que ele fazia parte de maioria, o curso das coisas teria caminhado em direção oposta.  Muitas vezes, isso acontece nos assuntos humanos porque, atualmente, a maioria das pessoas é incapaz de ver além da superfície do Corpo Denso e, desta maneira, perceber a verdadeira condição dos pensamentos e sentimentos dos demais.

Em outra ocasião, o autor foi a uma reunião de despertar religiosos onde milhares de pessoas estavam presentes para ouvir um orador de reputação nacional.  No princípio da reunião, era evidente, pelo estado da aura das pessoas, que a grande maioria tinha vindo com o único propósito de passar alguns momentos agradáveis e ver algo divertido.  Os pensamentos, sentimentos e emoções da vida comum de cada um eram plenamente visíveis, mas, em alguns, a cor azul escuro revelava uma atitude de preocupação; era como se tivessem sofrido alguma desilusão na vida e estivessem muito apreensivos.  Quando o orador apareceu, aconteceu um fenômeno curioso.  Sabemos que os Corpos de Desejos estão, geralmente, num estado de constante movimento, porém, naquele momento, toda aquela vasta assistência reteve a respiração em atitude de expectativa, porque as cores variadas dos Corpos de Desejos individuais cessaram e a cor básica laranja foi perfeitamente perceptível por um momento.  Logo em seguida, cada um voltou às suas atividades emocionais anteriores, enquanto o prelúdio estava sendo tocado.  Então, o cântico dos hinos começou e este fato revelou o valor e o efeito da música, pois, ao se unirem cantando as mesmas palavras no mesmo tom, as mesmas vibrações rítmicas em seus Corpos de Desejos fizeram com que parecessem um único ser naquele momento.  Um bom número de pessoas estava em atitude céptica, recusando-se a cantar e a se unir aos demais. À visão espiritual, apareciam como homens de aço, vestindo uma armadura daquela cor, e, de cada um, sem exceção, desprendia-se uma vibração que expressava mais do que as palavras poderiam dizer: “Deixem-me em paz, vocês não me comoverão”.  Algo interior os havia arrastado até ali, porém, estavam mortalmente amedrontados de entregar-se e, por isso, toda sua aura expressava a cor cinzenta do medo, que é uma armadura da alma contra interferências externas.

Terminada a primeira música, a unidade de cor e vibração desapareceu quase imediatamente, cada um voltando à sua atmosfera habitual de pensamento e, se nada mais tivesse sido feito, cada um teria voltado à sua vida interior costumeira.  Porém, o evangelista, embora incapaz de ver isto, sabia, por experiência, que seu auditório não estava preparado ainda e, por isso, uma sucessão de canções foi cantada com o acompanhamento de palmas, batidas de tambores e gestos do regente, ajudado por um coral treinado.  Isto reuniu outra vez as almas dispersas em um laço de harmonia; gradualmente, as pessoas foram dominadas por um religioso fervor e estabeleceu-se a unidade necessária para o trabalho seguinte.  Pela música, pelas palmas do regente e pelo apelo dos cânticos, a vasta audiência tinha-se transformado em uma só, pois os “homens de aço”, os cépticos de cor cinzenta que se acreditavam demasiado sábios para serem enganados (quando na realidade sua emoção era medo) eram parte insignificante naquela vasta congregação.  Todos os outros estavam afinados, como cordas de um grande instrumento, e o evangelista que se erguia diante deles era um artista magistral tocando com as emoções.  Ele os levava do riso às lágrimas, do pesar à vergonha.  Grandes ondas de cores, correspondendo às emoções, pareciam cobrir toda a audiência, tão confusas quanto magníficas.  Então, vieram as invocações de costume: “Levantai-vos para receber Jesus”; o convite para os que se lamentam, etc., e cada um desses chamados extraía de toda assistência uma resposta emocional determinada, mostrada plenamente nas cores dourada e azul.  Seguiram-se mais cânticos, mais palmas e gesticulações que, momentaneamente, promoveram a unidade e deram àquela audiência uma experiência parecida com o sentimento de fraternidade universal e a realidade da Paternidade de Deus.  Os únicos sobre quem a música não surtiu efeito foram os homens revestidos pela armadura azul de aço do medo.  Esta cor parece ser impenetrável a qualquer emoção e, embora os sentimentos experimentados pela grande maioria fossem relativamente fugazes, as pessoas se beneficiaram com o despertar religioso, com exceção dos “homens de aço”.

Pelo que o autor pôde aprender, a sensação interna do medo de se render à emoção — o medo é saturnino em seus efeitos e irmão gêmeo da preocupação — parece exigir um choque que afastará a pessoa, assim afetada, do seu ambiente e a colocará em um novo lugar em novas condições antes que as antigas condições possam ser superadas.

A preocupação é um estado no qual as correntes de desejo não se movem em grandes linhas curvas em nenhuma parte do Corpo de Desejos, senão que o veículo fica cheio de redemoinhos — nos casos extremos, só redemoinhos. A pessoa assim afetada não se esforça em reagir, vê calamidades onde não existem e, ao invés de gerar correntes que levem à ação e que possam evitar o que ela teme, cada pensamento inquietante produz um redemoinho no Corpo de Desejos e, consequentemente, ela não faz nada. Este estado de preocupação no Corpo de Desejos pode ser comparado à água que está próxima do congelamento sob uma temperatura baixa. O medo que se expressa como ceticismo, cinismo e pessimismo, pode ser comparado a esta mesma água quando congelada, pois o Corpo de Desejos dessas pessoas está quase sem movimento e nada do que se possa dizer ou fazer terá poder de alterar essa condição. Usando uma expressão comum que traduz bem esta condição, diremos que elas estão “presas em uma concha” e essa concha saturnina deverá ser quebrada, antes que se possa chegar a elas e ajudá-las a sair deste estado deplorável.

Essas emoções saturninas de medo e preocupações são geralmente causadas pela apreensão dos que sofrem dificuldades econômicas e sociais.  “Talvez este investimento que eu fiz traga prejuízo ou perda total; posso perder minha posição e ficar na miséria; tudo o que empreendo parece dar errado; meus vizinhos estão falando mal de mim e tentando prejudicar minha posição social; meu marido (ou mulher) não se preocupa mais comigo; meus filhos estão me desprezando”. E mil e uma ideias semelhantes se apresentam à sua Mente. Esta pessoa deveria lembrar-se que, cada vez que ela permite um desses pensamentos, isto ajuda a congelar as correntes do Corpo de Desejos e constrói uma concha de aço azulada na qual a pessoa, que habitualmente alimenta o medo e a preocupação, se encontrará, algum dia, isolada do amor, simpatia e ajuda de todos.  Por isso, devemo-nos esforçar em ser alegres, mesmo em circunstâncias adversas, ou poderemos encontrar em uma triste condição aqui e na vida após a morte.

No começo da Grande Guerra (de 1914 a 1918) as emoções na Europa estavam horrivelmente desenfreadas, primeiro entre os chamados “vivos” e depois entre os mortos, quando despertavam.  Este despertar levava muito tempo por causa da detonação dos grandes canhões e mais ainda posteriormente.  Toda a atmosfera dos países envolvidos fervia em correntes de raiva e ódio como uma nuvem de um vermelho escuro que pairava em volta dos seres humanos e sobre o chão.  Então, apareciam faixas tingidas de escuro como mortalhas que sempre aparecem em súbitos desastres, quando a razão fica imobilizada e o desespero domina o coração.  Sem dúvida, isto era causado pelo fato de os povos envolvidos perceberem que uma catástrofe de grandes dimensões, que eram incapazes de compreender, estava acontecendo.  Os Corpos de Desejos da maioria giravam em alta velocidade, em grandes ondas de pulsação rítmica que falavam mais alto que as palavras: “Matem, matem, matem”.

Quando duas ou três pessoas de uma multidão se encontravam e começavam a discutir sobre a guerra as pulsações rítmicas, indicando o firme propósito de agir e desafiar, cessavam e os pensamentos e sentimentos de agitação, gerados pela discussão ou conversa, tomavam forma de projeções cônicas que, rapidamente, cresceriam a uma altura de seis ou oito polegadas e, então estouravam e emitiam uma língua de fogo.  Algumas pessoas geravam uma quantidade dessas estruturas vulcânicas de uma só vez e, em outras, havia só uma ou duas ao mesmo tempo.  Quando uma dessas bolhas estourava, outra aparecia em alguma parte do Corpo de Desejos, enquanto a discussão prosseguia e eram as chamas que emergiam delas que coloriam de escarlate a nuvem sobre a terra.  Quando a multidão se dispersava ou os amigos se separavam, o borbulhar e as erupções diminuíam e se tornavam menos frequentes, finalmente cessando e dando lugar, outra vez, às grandes pulsações rítmicas antes mencionadas.

Estas condições são agora (ano de 1916) raras, se é que são vistas ainda.  A raiva explosiva contra o inimigo é coisa do passado, pelo menos no que se refere à grande maioria.  A cor laranja básica da aura do povo ocidental é visível outra vez, e tanto os oficiais como os civis se acostumaram com a guerra como se fosse um jogo. Cada um está ansioso para superar o outro, utilizando a astúcia.  A guerra é agora, principalmente, um canal para a sua habilidade, mas alguns dos Irmãos Leigos da Ordem Rosacruz acreditam que aquela condição de raiva irá voltar de forma diferente, quando as hostilidades cessarem e começaram as negociações de paz.

Esta forma de emoção nós podemos chamar de raiva abstrata e ela difere do que é observado no caso de duas pessoas que se desentendem na vida privada, quer comecem a brigar fisicamente ou não. Vistas pelo lado oculto da Natureza há hostilidade antes que os golpes sejam dados.  Formas de desejo em feitio das adagas pontudas projetam-se umas contra as outras como lanças, até que a fúria que as gerou se esgote.  Na ira patriótica não existe um inimigo pessoal, por isso as formas de desejo são mais bruscas e explodem sem abandonar a pessoa que as gerou.

Os “homens de aço” tão comuns na vida privada, onde a preocupação por mil e uma coisas que nunca acontecem cristalizam uma armadura ao redor deles, a qual permite que o velho Saturno os aprisione, estavam totalmente ausentes.  O autor crê na hipótese de que a tensão do seu meio-ambiente os forçou a se alistarem e o choque quebrou a concha.  Então, a familiaridade com o perigo chegou a agradá-los.  É certo que estas pessoas se beneficiaram enormemente com a guerra, pois não há estado que impeça mais o crescimento da alma do que medo e preocupação constantes.

É também um fato notável que, embora os seres humanos envolvidos pela guerra sofram terríveis privações, a maior parte deles estão cultivando um matiz de azul celeste pálido que significa esperança, otimismo e um nascente sentimento religioso, dando um toque altruísta ao caráter. É uma indicação de que aquele sentimento de fraternidade universal, que não faz distinção de credo, cor ou país, está crescendo no coração humano.

A nuvem vermelha do ódio está desaparecendo, o negro véu do desespero se foi e não há explosões vulcânicas de paixão nem nos vivos nem nos mortos, porém, até onde o autor é capaz de ler os sinais dos tempos na aura das nações, há um propósito determinado de agir com lisura até o fim.  Mesmo nos lares despojados de vários membros, isto parece ser aceito.  Existe uma intensa saudade pelos amigos que se foram, mas não há ódio pelos inimigos terrenos.  Esta saudade é compartilhada pelos amigos no mundo invisível e muitos estão atravessando o véu, pois a intensidade da saudade desperta no “morto” o poder de manifestar-se, atraindo uma quantidade de Éter e gás que, frequentemente, é extraída do Corpo Vital de um amigo “sensitivo”, da mesma forma que uns espíritos materializantes usam o Corpo Vital de um médium em transe.  Assim, os olhos cegos pelas lágrimas são muitas vezes abertos por um coração saudoso, de modo que entes queridos que estejam no mundo do espírito são encontrados face a face, coração a coração.  Este é o método da Natureza de cultivar o sexto sentido que possibilitará a todos, no futuro, saber que o ser humano é um Espírito imortal e que a continuidade da vida é um fato na Natureza.  

Capítulo IV – A Influência do Pensamento

É uma lei no Mundo do Desejo que, como o ser humano pensa, assim ele é – literalmente e sem restrição.

O Corpo Denso, formado pela substância inerte da Região Química, animado e vitalizado pelo Corpo Vital composto pelos Éteres da Região Etérica, recebe o incentivo para a ação do Corpo de Desejos, incentivo este que os animais seguem incondicionalmente, mas que no ser humano é refreado por outro fator, a razão, que às vezes o leva a agir contrário ao desejo.  Se não existissem outros Mundos na Natureza além do Mundo Físico e do Mundo do Desejo, a razão não existiria. Teríamos o mineral, a planta e o animal, porém, o ser humano, um ser que pensa e raciocina, seria uma impossibilidade na Natureza.

Nós, como Egos que somos, funcionamos diretamente na substância sutil da Região do Pensamento Abstrato, que especializamos dentro da periferia de nossa aura individual.  Dali, visualizamos as impressões feitas pelo Mundo externo sobre o Corpo Vital através dos sentidos, juntamente com os sentimentos e emoções gerados por elas no Corpo de Desejos e refletidas na Mente.

Destas imagens mentais, tiramos nossas conclusões, na substância da Região do Pensamento Abstrato.  Estas conclusões são ideias.  Pelo poder da vontade, projetamos uma ideia através da Mente, onde ela toma uma forma concreta como um pensamento-forma, envolto em matéria da Região do Pensamento Concreto.

A Mente é como as lentes projetoras de um estereoscópio. Ela projeta a imagem em uma das três direções, de acordo com a vontade do pensador que anima o pensamento-forma. A primeira direção, que vamos discutir aqui, é quando a imagem pode ser projetada contra o Corpo de Desejos, num esforço de despertar sentimento que conduzirá à ação imediata.

Se o pensamento despertar Interesse, uma das duas forças, Atração ou Repulsão, será utilizada:

  1. Se a Atração, a força centrípeta, é despertada, ela domina o pensamento, fazendo-o girar dentro do Corpo de Desejos, dá vida àquela imagem e reveste-a com matéria de desejos.  Então, o pensamento está pronto para agir no cérebro e impelir a força vital, por meio dos centros e nervos cerebrais aos músculos voluntários que praticam a ação correspondente.  Assim, a força do pensamento é gasta e a imagem permanece no Éter do Corpo Vital como memória da ação e do sentimento que o causou.
  2. Repulsão é a força centrífuga e, se esta é despertada pelo pensamento, haverá uma luta entre a força espiritual (a vontade do ser humano), dentro do pensamento-forma, e o Corpo de Desejos.  Esta é a batalha entre a consciência e o desejo, a natureza superior e a inferior.  A força espiritual, apesar da resistência, tentará envolver o pensamento-forma com a matéria de desejo necessária para manipular o cérebro e os músculos.  A força de Repulsão se esforçará em dispensar o respectivo material e expulsar o pensamento.  Se a energia espiritual é forte, ela pode forçar seu caminho através dos centros cerebrais e manter sua envoltura de matéria de desejos, enquanto manipula a força vital, deste modo impelindo à ação e, então, deixará sobre a memória uma impressão vivida da luta e da vitória.  Se a energia espiritual é esgotada antes que a ação se concretize, ela será vencida pela força de Repulsão e será armazenada na memória, como estão todos os outros pensamentos-forma após esgotarem sua energia. 

Temos, no nosso Corpo Denso, dois sistemas nervosos – o voluntário e o involuntário. O primeiro é operado diretamente pelo Corpo de Desejos; controla os movimentos do corpo, leva à exaustão e destruição, sendo somente parcialmente refreado pela Mente nas suas obras cruéis.

É essa luta entre o Corpo Vital e o Corpo de Desejos que produz consciência no Mundo Físico, mas se a Mente não atuasse como um freio sobre o Corpo de Desejos, nossas horas de vigília e nossa vida seriam mais curtas. O Corpo Vital seria superado em seus benéficos esforços pelo descuidado Corpo de Desejos, como evidencia a exaustão que se segue após um ataque de ira. A ira é uma condição em que o ser humano perde “seu controle” e o Corpo de Desejos reina desenfreado.

A enfermidade se apresenta de muitas formas: uma é a insanidade, a qual também tem diferentes tipos.  Quando a conexão entre os centros dos sentidos do Corpo Denso e do Corpo Vital está descentralizada, onde, às vezes, a cabeça do Corpo Vital está mais acima da cabeça do Corpo Denso ao invés de estar concêntrico, o Corpo Vital fica desajustado entre os veículos superiores e o Corpo Denso.  Então nós temos o idiota dócil.  Se o Corpo Denso e o Vital estão ajustados, mas a ruptura é entre o Corpo Vital e o de Desejos, uma condição semelhante se verifica, porém, quando a desconexão é entre o Corpo de Desejos e a Mente, temos um maníaco delirante, que é mais incontrolável do que um animal selvagem, porque é governado pelo Espírito-Grupo.  Neste caso, todas as tendências animais são seguidas cegamente.

A tendência natural do Corpo de Desejos é endurecer e consolidar tudo que entre em contato com ele.  O pensamento materialista acentua esta tendência de tal forma que muito frequentemente resulta, nas vidas subsequentes, em doença muito séria, tuberculose, que é um endurecimento dos pulmões.  Estes órgãos devem permanecer brandos e elásticos.  Às vezes, também acontece que o Corpo de Desejos pressiona o Corpo Vital na vida seguinte, de forma que este corpo falha ao contra restar o processo enrijecedor e então nós temos a tuberculose.  Em alguns casos, o materialismo faz o Corpo de Desejos ficar frágil.  Então, ele não pode fazer seu trabalho no Corpo Denso e, como resultado, temos o “raquitismo”, onde os ossos ficam fracos.  Assim, vemos que perigo que corremos por abrigarmos tendências materialistas: ou endurecendo certas partes do corpo, como na tuberculose, ou enfraquecendo os ossos, como no raquitismo.  Naturalmente, nem todos os casos de tuberculose mostram que o doente foi materialista numa vida anterior, mas a ciência oculta nos ensina que frequentemente isto acontece.

Nossos pensamentos são muito mais importantes que nossos atos, pois, se pensarmos sempre corretamente, agiremos sempre certo.  O ser humano que tenha pensamentos de amor para seus amigos, que esquematize em sua Mente como ajudá-los espiritualmente, mental ou fisicamente, irá pôr em prática estes pensamentos em alguma ocasião em sua vida e, se nós só cultivarmos tais pensamentos, em breve teremos a luz do Sol em torno de nós.  Encontraremos pessoas com um estado de espírito igual ao nosso e, se compreendermos que o Corpo de Desejos (que nos envolve e se estende mais ou menos de 40 a 46 centímetros, além da periferia do Corpo Denso) contém todos estes sentimentos e emoções, entraremos em contato com as pessoas de maneira diferente.  Então, entenderemos que tudo que vemos é visto por meio da atmosfera que criamos em torno de nós, a qual colore tudo o que contemplamos nos outros.

Se o astrônomo focaliza o telescópio de acordo com a sua vontade terá os resultados que deseja e o trabalho será um sucesso; porém, se as lentes e o mecanismo do telescópio tivessem vontade mais forte que o próprio astrônomo, este estaria tolhido em obter resultado satisfatório, pois as figuras estariam embaçadas, sendo de pouco ou nenhum valor.

O mesmo acontece com o Ego. Ele trabalha com um Corpo Tríplice, o qual controla, ou devia controlar, por meio da Mente.  Mas, é triste dizer, este Corpo Tríplice tem sua própria vontade e é frequentemente ajudado e induzido pela Mente, frustrando assim os propósitos do Ego.

Esta antagônica “vontade inferior” é uma expressão da parte superior do Corpo de Desejos.  Quando a separação do Sol, Lua e Terra aconteceu, no início da Época Lemúria, a porção mais adiantada da Humanidade em formação sofreu a divisão do Corpo de Desejos em parte superior e parte inferior.  O resto da Humanidade o fez no início da Época Atlante.

Esta parte superior do Corpo de Desejos tornou-se um tipo de alma animal.  Construiu o sistema nervoso cérebro-espinhal e os músculos voluntários, controlando a parte do Tríplice Corpo até que o elo da Mente foi dado.  Então, a Mente uniu-se com esta alma animal e tornou-se uma co-regente.

A Mente está, assim, atada ao desejo, emaranhada na natureza inferior egoísta, dificultando o controle dos Corpos pelo Espírito.  A Mente focalizadora, que devia ser a aliada da natureza superior, está alienada, ligada à natureza inferior e escravizada pelo desejo.  A lei das Religiões de Raça foi trazida para emancipar o intelecto do desejo.  O “medo de Deus” veio para se opor aos “desejos da carne”.  Isto, no entanto, não foi suficiente para capacitar o ser humano a se tornar senhor do Tríplice Corpo e assegurar sua cooperação voluntária.  Tornou-se necessário para o Espírito encontrar, no Corpo Denso, um ponto de apoio que não estivesse sob a influência da natureza de desejos.  Todos os músculos são expressões do Corpo de Desejos e um caminho livre para a traiçoeira Mente que reina suprema, aliada ao desejo.

Capítulo V – Relação com a Consciência

Para entender o grau de consciência que resulta da posse dos veículos usados pela vida que evolui nos quatro reinos, dirigimos nossa atenção para o Diagrama 4 (abaixo, do Livro Conceito Rosacruz do Cosmos) que mostra que o ser humano, o Ego, o Pensador, penetrou na Região Química do Mundo Físico.  Aqui ele dirigiu todos os seus veículos de modo a atingir o estado de consciência consciente.  Está aprendendo a controlar seus veículos.  Os órgãos do Corpo de Desejos e da Mente não estão ainda desenvolvidos.  A Mente não é nem mesmo um Corpo.  No presente, ela é um simples elo, um revestimento para o uso do Ego como um ponto focalizador.  É o último dos veículos construídos.  O Espírito trabalha gradualmente desde a mais fina até a mais densa substância; os veículos também, da mesma forma, estão sendo construídos em substância fina em primeiro lugar, em seguida, em substância cada vez mais densa.  O Corpo Denso foi construído primeiro e agora está no seu quarto estágio de densidade; o Corpo Vital está no seu terceiro estágio. O Corpo de Desejos está no segundo, daí ter ainda a forma de nuvem, e o revestimento da Mente é ainda mais sutil.  Como estes dois últimos veículos ainda não desenvolveram órgãos é claro que eles, sozinhos, seriam inúteis como veículos de consciência.  O Ego, no entanto, penetra no Corpo Denso e conecta estes veículos sem órgãos com os centros dos sentidos e, então, atinge o estado de consciência de vigília no Mundo Físico.

Diagrama 4 – A Consciência dos Quatro Reinos

O Estudante deve, particularmente, notar que é por causa desta conexão com o mecanismo desse Corpo Denso, tão maravilhosamente organizado, que estes veículos superiores se tornam valiosos no presente.  Ele evitará, assim, um erro muito frequente praticado por aqueles que, quando adquirem conhecimento de que há Corpos superiores, começam a desprezar o Corpo Denso, a falar dele como se fosse “baixo” e “vil”, voltando seus olhos para o céu e desejando poder, em breve, deixar esta massa informe de barro e voar em seus “veículos superiores”.

Parece estranho, mas, no entanto, é verdade que a grande maioria da Humanidade está parcialmente dormindo a maior parte do tempo, apesar de seus Corpos Densos parecerem estar intensamente ocupados trabalhando.  Sob condições comuns, o Corpo de Desejos da grande maioria é a parte mais desperta do ser humano, o qual vive quase completamente de sentimentos e emoções, mas raramente pensa no problema da existência, além do necessário para manter seu corpo e sua alma juntos.  Muitos, provavelmente, nunca pensaram seriamente nas grandes questões da vida: “De onde viemos? Por que estamos aqui? Para onde vamos?”. Seus Corpos Vitais são mantidos ativos, reparando a destruição que o Corpo de Desejos provoca no veículo físico e abastecendo com vitalidade, a qual é, mais tarde, gasta ao gratificar os desejos e emoções.

É esta batalha renhida entre o Corpo Vital e o de Desejos que gera consciência no Mundo Físico e faz o homem e a mulher tão intensamente alertas que, do ponto de vista do Mundo Físico, parece ser mentira a nossa afirmativa de que eles estão parcialmente adormecidos.  No entanto, examinando todos os fatos chegaremos à conclusão de que é assim e podemos também dizer que este estado de coisas aconteceu sob o desígnio das Grandes Hierarquias, que têm a seu cargo a nossa evolução.

A fortaleza do Corpo de Desejos está nos músculos e no sistema nervoso cérebro-espinhal.  A energia despendida por uma pessoa quando está trabalhando agitadamente ou irritadamente é um exemplo disto.  Nestes momentos, o sistema muscular está todo tenso e não há trabalho mais exaustivo que um “ataque de mau humor”.  Às vezes, deixa o Corpo Denso prostrado por semanas. Há necessidade de melhorar o Corpo de Desejos, controlando o humor e assim poupando o Corpo Denso do sofrimento resultante de uma ação desgovernada do Corpo de Desejos.

Do ponto de vista oculto, toda consciência no Mundo Físico é o resultado da constante guerra entre o Corpo de Desejos e o Vital.

A tendência do Corpo Vital é suavizar e construir. Sua expressão máxima é o sangue, as glândulas e, também, o sistema nervoso simpático, tendo obtido ingresso na fortaleza do Corpo de Desejos (o sistema nervoso voluntário e o sistema muscular) quando começou a desenvolver o coração como um músculo voluntário.

A tendência do Corpo de Desejos é enrijecer e ele, por sua vez, invadiu o domínio do Corpo Vital, apoderando-se do baço e criando os glóbulos brancos do sangue, que não são “os defensores do sistema” como a ciência pensa, mas destruidores, através de todo o Corpo Denso.  Eles passam pelas paredes das artérias e veias toda vez que temos um aborrecimento e, principalmente, nas horas de muita raiva.  Então, a agitação das forças no Corpo de Desejos faz com que artérias e veias inchem e abram caminho para a passagem dos glóbulos brancos, para o interior dos tecidos do Corpo Denso, onde propiciam a formação de matéria terrosa que mata o Corpo Denso.

Durante o estado de vigília, há uma luta constante entre o Corpo Vital e o de Desejos.  Os desejos e os impulsos estão constantemente invadindo o Corpo Denso, impelindo-o à ação e desprezando o prejuízo que lhe possa ser causado com o objetivo de gratificar o desejo.

É o veículo de desejos que impele o beberrão a encher seu sistema de álcool, de forma que a combustão química da bebida alcoólica eleve as vibrações do Corpo Denso a tal ponto que o torne uma ferramenta de todo impulso desequilibrado, esbanjando sua energia armazenada.

O Corpo de Desejos é o veículo de nossas emoções, sentimentos e desejos que gasta as energias do Corpo Denso pelos processos vitais, através do controle do sistema nervoso voluntário ou cérebro-espinhal.  Nas suas atividades, este Corpo de Desejos está constantemente destruindo o tecido construído pelo Corpo Vital e a guerra entre estes dois veículos causa o que chamamos de consciência no Mundo Físico.  As forças etéricas do Corpo Vital agem de tal forma que convertem o máximo do alimento em sangue, e esta é a maior função do Corpo Vital.

O baço é a porta de entrada do Corpo Vital.  Nele, a força solar, que é abundante na atmosfera, entra fluindo ininterruptamente para ajudar-nos no processo vital, e lá a guerra entre o Corpo de Desejos e o Vital é travada de maneira ainda mais acirrada.

Pensamentos de preocupação, medo e raiva interferem no processo de evaporação do baço.  O resultado é uma partícula de plasma que é imediatamente apoderada por um elemental do pensamento, que forma um núcleo e se incorpora dentro dele.  Então, ele começa a viver uma vida de destruição, unindo-se com outros resíduos e elementos em decomposição formados e fazendo do Corpo Denso uma casa sepulcral, ao invés do templo habitado pelo Espírito.

Esta destruição é constante e é impossível manter os destruidores fora de ação, não sendo essa a intenção.  Se o Corpo Vital tivesse controle ininterrupto, ele cresceria sem parar, usando toda sua energia neste objetivo.  Não haveria consciência ou pensamento.  Isto é devido a que o Corpo de Desejos refreia e endurece as partes interiores que a consciência desenvolve.

Como já foi anteriormente explicado, o Corpo de Desejos é um inorganizado ovoide que envolve o Corpo Denso como se esse fosse uma mancha escura dentro dele, do mesmo modo como a clara de ovo envolve a gema.  Há um número de centros sensoriais no ovoide que apareceram desde o início do Período Terrestre.  No ser humano comum, estes centros aparecem simplesmente como remoinhos em uma corrente e não estão agora despertos; daí o Corpo de Desejos não estar sendo usado como um veículo de consciência separado; porém, quando estes centros sensoriais despertarem, eles se transformarão em vórtices.

Capítulo VI – Durante o Sono

O Mundo do Desejo é um oceano de sabedoria e harmonia.  Para lá, o Ego leva a Mente e o Corpo de Desejos, quando os veículos superiores são deixados durante o sono.  Neste Mundo, a primeira preocupação do Ego é a restauração do ritmo e da harmonia da Mente e do Corpo de Desejos.  Esta restauração é efetuada gradualmente na medida em que as harmoniosas vibrações do Mundo do Desejo fluem através dos veículos.  Há uma essência no Mundo do Desejo, correspondente ao fluido vital, que penetra o Corpo Denso por meio do Corpo Vital.  Os veículos superiores, por assim dizer, ficam embebidos neste elixir da vida.  Quando fortalecidos, eles iniciam o trabalho sobre o Corpo Vital, que foi deixado junto do Corpo Denso que dorme.  Então, o Corpo Vital inicia a especialização da energia solar novamente, reconstruindo o Corpo Denso e usando particularmente o Éter Químico no processo de restauração.

Entretanto, às vezes acontece que o Corpo de Desejos não se retira totalmente e, desta forma, parte dele permanece ligada ao Corpo Vital, o veículo da percepção sensorial e da memória.  O resultado é que a restauração é parcialmente concluída e as cenas e ações do Mundo do Desejo são trazidas para a consciência física em forma de sonhos.  É claro que a maioria dos sonhos é confusa devido ao eixo da percepção estar distorcido, em função da desequilibrada relação entre um Corpo e outro.  A memória fica também confusa devido a esta inconsequente relação entre os veículos e, como resultado da perda da força restauradora o sono é atribulado e cheio de sonhos e o Corpo se sente cansado ao despertar.

O que faz do sono um estado restaurativo?  No próprio termo “restaurativo” está implícita uma atividade.  Se um prédio vai ser restaurado, é necessário que seus moradores o desocupem cessando aí o desgaste pelo uso.  Porém, não é suficiente.  Os operários precisam reparar os danos causados pelo uso do edifício.  Somente quando esse trabalho terminar, a restauração estará completa e o edifício pronto para ser reocupado pelos moradores.

O mesmo acontece com o templo do Ego, nosso Corpo Denso, quando ele fica exausto. É necessário, então, que o Ego, a Mente e o Corpo de Desejos se afastem e deixem o Corpo Vital à vontade para que ele possa restaurar o tom do Corpo Denso.  Assim, quando o Corpo Denso adormece, há uma separação.  O Ego e a Mente, envolvidos pelo Corpo de Desejos, retiram-se do Corpo Vital e do Corpo Denso, que permanecem na cama, enquanto os veículos superiores flutuam acima ou perto do Corpo que dorme.

O processo de restauração começa agora.  Numa luta no Mundo Físico, tanto o perdedor quanto o vencedor se machucam.  Quando mais violenta for à luta e mais valentes os lutadores, mais lesões eles sofrerão.  O mesmo acontece com o Corpo Vital e o Corpo de Desejos; este último sempre vence, no entanto, sua vitória é sempre uma derrota, porque ele é forçado a deixar o campo de batalha, e o prêmio, o Corpo Denso, nas mãos do derrotado Corpo Vital, retirando-se a seguir para reparar sua própria harmonia desfeita.

Quando ele se retira do Corpo que dorme, entra naquele mar de força e harmonia, chamado Mundo do Desejo. Lá ele vive as cenas do dia, mas em ordem inversa, isto é, dos efeitos às causas, colocando em ordem o emaranhado do dia, formando imagens verdadeiras para substituir as impressões distorcidas, devido às limitações da vida no Corpo Denso.  Como as harmonias do Mundo do Desejo compenetram o Corpo de Desejos e a sabedoria e a verdade substituem o erro, ele recupera seu ritmo e seu tom, levando o tempo necessário para restaurá-lo, que varia de acordo com o tipo de vida que teve naquele dia – se ilusória, impulsiva ou extenuante.

Somente então começa o trabalho de restauração dos veículos deixados no leito e o também restaurado Corpo de Desejos começa a reanimar o Corpo Vital, bombeando energia rítmica e este, por sua vez, inicia o trabalho no Corpo Denso, eliminando os produtos do desgaste, principalmente por meio do sistema nervoso simpático.  O resultado é que, o Corpo Denso restaurado, está cheio de vida quando o Corpo de Desejos, a Mente e o Ego entram de manhã e fazem com que ele acorde.

Às vezes, no entanto, acontece que nós estivemos tão absorvidos e interessados nos afazeres da nossa existência no Mundo que, mesmo depois que o Corpo Vital entrou em colapso, deixando o Corpo Denso inconsciente, não conseguimos deixá-lo para começar o trabalho de restauração; o Corpo de Desejos fica aderido como se fosse uma sombria mortalha, o Ego retirando-se só pela metade, e, nessa posição, começa a repassar os acontecimentos do dia.

É evidente que esta é uma condição anormal.  A conexão entre os diferentes veículos é rompida, primeiramente, pelo colapso do Corpo Vital e mais tarde perturbada pelas posições relativamente incomuns dos veículos superiores. E o resultado inevitável são aqueles sonhos confusos onde os sons e as visões do Mundo do Desejo estão misturados com os acontecimentos da vida diária da forma mais grotesca e absurda.

Às vezes, quando algum acontecimento do dia agitou demais o Corpo de Desejos, e este já rompeu a conexão com os veículos inferiores e está envolvido no trabalho de restauração anteriormente descrito, acontece que um desagradável incidente daquele dia aparece e o Corpo de Desejos vê a solução.  Então, ele corre de volta para o Corpo Denso a fim de imprimir as ideias no cérebro, causando um despertar brusco. Somente em alguns poucos casos o Corpo de Desejos é capaz de trazer a solução tão clara como era no Mundo do Desejo. Mesmo que a impressão da solução no cérebro seja bem-sucedida, normalmente a esquecemos pela manhã.

Naturalmente há ocasiões em que os sonhos são proféticos e que se cumprem, mas tais sonhos só se realizam após o total desprendimento do Corpo de Desejos e sobre circunstâncias onde o Espírito talvez veja algum perigo que possa suceder, e então, imprimi o fato sobre o cérebro, no momento do despertar.

Isto também acontece quando o Espírito empreende um voo anímico e deixa de realizar parte do trabalho de restauração.  Então o Corpo não estará refeito e assim permanece dormindo.  O Espírito poderá ficar longe do Corpo por alguns dias ou até semanas antes que entre em seu Corpo Denso e assume a rotina diária normal de dormir e despertar.  Esta condição é chamada de transe e o Espírito poderá lembrar, ao retornar, tudo o que viu e ouviu nos Mundos suprafísicos ou poderá esquecer, de acordo com o estágio de seu desenvolvimento e da profundidade do transe.  Quando o transe é leve, o Espírito permanece no quarto onde seu Corpo está e, quando retornar ao Corpo estará apto a repetir para seus parentes tudo o que eles disseram e fizeram, enquanto seu Corpo jazia inconsciente.  Quando o transe é mais profundo, o Espírito não tem consciência do que aconteceu em volta de seu Corpo, mas poderá contar experiências do Mundo invisível.

Na vida comum, a maioria das pessoas vive para comer. Elas bebem, gratificam a paixão sexual de maneira desenfreada e perdem a cabeça diante da mínima provocação.  Embora externamente essas pessoas possam ser muito “respeitáveis”, elas estão, em quase todos os dias de suas vidas, causando muita confusão na organização de seus veículos.  Todo o período do sono é gasto pelos Corpos de Desejos e Vital reparando os danos causados durante o dia, não sobrando tempo livre para nenhum trabalho fora do Corpo.  Porém, quando o indivíduo começa a sentir a necessidade da vida superior, controla sua força sexual e seu gênio, e cultiva uma disposição serena, causando assim menos desequilíbrio nos veículos durante as horas de vigília.  Consequentemente, menos tempo é necessário para a restauração durante o sono.  Desta forma, passa a ser possível deixar o Corpo Denso por longos períodos, durante as horas de sono, e funcionar nos Mundos internos em seus veículos superiores.  Como o Corpo de Desejos e a Mente não se acham ainda organizados, eles não são usados como veículos de consciência separados.  O Corpo Vital não pode deixar o Corpo Denso, pois isto causaria a morte; desta forma, medidas devem ser tomadas para prover um veículo organizado, que seja fluídico e tão bem construído que atenda às necessidades do Ego nos Mundos internos, assim como o Corpo Denso o faz no Mundo Físico.

PARTE IV – O CORPO DE DESEJOS DO SER HUMANO NOS MUNDOS INVISÍVEIS

Capítulo I – Na Hora da Morte

O Cordão Prateado que se desenvolve do Átomo-semente do Corpo Denso (localizado no coração), desde a concepção, se liga na parte do fígado que brota do vórtice central do Corpo de Desejos.  Quando o Cordão Prateado se liga ao Átomo-semente do Corpo Vital (localizado no plexo solar), o Espírito morre para a vida nos Mundos invisíveis e dá vida ao Corpo Denso que irá usar em sua próxima vida na Terra. Esta vida na Terra dura até que o curso dos eventos prenunciados na roda da vida, o horóscopo, haja terminado. E quando o Espírito novamente alcança o reino de Samael, o Anjo da Morte, a mística oitava Casa, o Cordão Prateado se rompe e ele retorna a Deus, que o criou, até que o alvorecer de outro dia de vida na Escola da Terra o chame para um novo nascimento que o fará mais habilidoso na construção de seu templo – o Corpo Denso.

A serpente disse: “É certo que não morrerás. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como deuses, sereis conhecedores do bem e do mal.” (Gn 3:4-5).  O mal era, naquela época, desconhecido para o ser humano.

Seguindo este conselho, a mulher assegurou a cooperação do ser humano e, pelo poder da vontade, eles libertaram seus Corpos de Desejos. Esta faculdade foi, naquela época, muito maior que agora, porque é lei que cada nova faculdade seja sempre adquirida à custa do enfraquecimento de algum poder já conseguido anteriormente, como aconteceu com a faculdade de pensar que foi adquirida da metade da força criadora. Então, a força de vontade do ser humano era tão grande que a ansiedade de Deus ao dizer “deixe o ser humano também comer da Árvore da Vida para que ele não se tornear imortal” foi bem fundamentada, porque o ser humano tivesse adquirido poder sobre o segredo da renovação do Corpo Vital, bem como do Corpo Denso e, assim, ele teria sido tornou-se capaz de criar o Corpo e vitalizá-lo para sempre. Não haveria verdadeiramente a morte, porém, também não haveria nenhuma evolução. Como o ser humano naquela época não sabia, e ainda hoje não sabe, como construir um Corpo Denso perfeito, isto poderia ter sido uma grande calamidade.  A morte não é uma maldição; é uma amiga quando chega naturalmente, porque nos liberta de um Corpo que nos limita, para que possamos ter uma nova chance em um novo e melhor Corpo Denso para aprender novas lições.

Quando chega o momento que marca o fim da vida no Mundo Físico, a utilidade do Corpo Denso termina e o Ego se retira pela cabeça, levando com ele a Mente e o Corpo de Desejos, como fazia toda noite durante o sono; porém, agora, o Corpo Vital não está mais ativo e, também, se retira e, quando o “Cordão Prateado” que liga os veículos superiores aos inferiores se rompe, o Corpo Denso jamais se recupera.

Os veículos superiores – Corpo Vital, Corpo de Desejos e Mente – são vistos deixando o Corpo Denso em um movimento espiral, levando com eles a alma de um átomo denso – não o átomo propriamente dito, mas as forças que atuaram por meio dele.

A cremação deve ser evitada durante os três primeiros dias após a morte, porque ela tende a desintegrar o Corpo Vital, o qual deveria permanecer intacto até que o Panorama da Vida passada seja gravado no Corpo de Desejos.

Durante a vida no estado de consciência de vigília, os veículos do Ego estão todos juntos e concêntricos, porém, na morte, o Ego, revestido pela Mente e pelo Corpo de Desejos, se retira do Corpo Denso.  Como as funções vitais estão chegando ao fim, o Corpo Vital também se retira do Corpo Denso, deixando-o inanimado sobre o leito.  Um pequeno átomo no coração também se retira e o resto do Corpo Denso se desintegra no seu devido tempo. Neste momento, um importantíssimo processo está se verificando e todos aqueles que assistem o Espírito que desencarna devem ter muito cuidado para que a maior tranquilidade reine no local e em todas as partes da casa.  As cenas de toda a vida passada, que estavam gravadas no Corpo Vital, estão se desenrolando diante dos olhos do Espírito, numa progressão lenta e ordenada em ordem inversa – da morte até o nascimento.  Este Panorama da Vida passada poderá durar de algumas horas até três dias e meio.  Este tempo será determinado pela força do Corpo Vital, que determina o período durante o qual o ser pode permanecer acordado sob o mais severo estresse.  Algumas pessoas podem trabalhar por cinquenta, sessenta ou setenta horas antes que caiam exaustas, enquanto outras aguentam somente algumas horas.  A razão da importância da quietude na casa por três dias e meio é a seguinte: durante este período, o Panorama da Vida passada está sendo gravado sobre o Corpo de Desejos, que passará a ser o veículo do ser enquanto ele estiver no Purgatório e no Primeiro Céu, onde irá colher o mal e o bem que ele semeou, de acordo com as ações praticadas por ele.

Quando o ser morre e perde os Corpos Denso e Vital, há uma condição igual àquela quando está dormindo.  O Corpo de Desejos, como foi explicado, não possui órgãos prontos para serem usados.  Ele está agora transformando do ovoide anterior para a aparência do Corpo Denso recém-abandonado.  Podemos facilmente compreender que um intervalo de inconsciência parecido com um sono é necessário, após o qual o ser acorda no Mundo do Desejo.

Acontece frequentemente, entretanto, que muitos seres ficam durante muito tempo sem saber o que aconteceu com eles.  Não percebem que já morreram.  Eles sabem que podem-se mover e pensar.  E, muitas vezes, uma tarefa difícil é fazê-los acreditar que estão realmente “mortos”.  Compreendem que algo está diferente, porém, não têm capacidade de entender o que é.

Uma separação acontece no Corpo Vital, após a morte, similar ao processo de iniciação.  Boa parte deste veículo, que pode ser chamada de “alma” se adere aos veículos superiores e forma a base da consciência nos Mundos invisíveis após a morte.

Deixar o Corpo Vital é um processo muito parecido com o que aconteceu com o Corpo Denso.  As forças vitais de um átomo são retiradas para serem usadas como núcleo do Corpo Vital para um novo nascimento.  Desta forma, em sua entrada no Mundo do Desejo, o ser possui os Átomos-semente do Corpo Denso, do Corpo Vital, além do Corpo de Desejos e a Mente.

Capítulo II – Causas da Mortalidade Infantil

Muito se pergunta por que as crianças morrem. Existem muitas causas.  Uma delas é quando a morte ocorreu por um terrível acidente, pelo fogo ou no campo de batalha numa vida anterior, pois, nestas circunstâncias, o Ego que partia não pôde concentrar-se no Panorama da Vida que deixava.  Isto também aconteceu quando as lamentações dos parentes atrapalham e o resultado é uma fraca gravação das experiências da vida sobre o Corpo de Desejos com uma vida insípida no Purgatório e no Primeiro Céu.

Nestes casos o Ego não colhe o que semeou e voltará a cometer os mesmos erros ou pecados vida após vida.  Para evitar que isto aconteça, o novo Corpo de Desejos que o Ego recebe, antes de seu próximo nascimento, deve conter o registro das lições necessárias.  O Ego está sempre inconsciente no caminho para o renascimento, cego pela matéria que ele atrai para si, da mesma forma como ficamos cegos quando entramos em casa num dia de Sol.  Só após o nascimento é que a consciência retorna gradualmente. Então, quando pela morte ele vai para o Primeiro Céu, aprende objetivamente a lição que deveria ter aprendido em sua passagem pela vida anterior e, quando aquela lição foi aprendida e gravada no futuro Corpo de Desejos, o Ego nasce na Terra, normalmente.

As crianças que morrem antes de completar sete anos formaram só o Corpo Denso e o Vital e por isso não são responsáveis perante a Lei de Consequência. Mesmo até os doze ou quatorze anos, o Corpo de Desejos está em processo de gestação e, como o que não nasceu não pode morrer, só os Corpos Denso e Vital se desintegram quando a criança morre.   Ela reterá seu Corpo de Desejos e sua Mente para o próximo nascimento.  No entanto, ela não seguirá o caminho que o Ego normalmente trilha num ciclo de vida completo e somente ascenderá ao Primeiro Céu para aprender as lições de que necessita e, após esperar de um a vinte anos, ela renasce, geralmente na mesma família.

Quando os três dias e meio imediatamente após a morte são passados em paz e quietude, o ser está apto a se concentrar muito mais sobre o panorama de sua vida e a gravação é muito mais profunda do que se ele tivesse sido perturbado por lamentações histéricas de seus parentes ou por outras causas.  Ele irá então experimentar um sentimento mais agudo, tanto para o bem quanto para o mal, no Purgatório e no Primeiro Céu e, em vidas posteriores, aquele sentimento falará mais alto, evitando que ele cometa erros.  Porém, quando as lamentações de seus parentes distraem sua atenção, ou quando o ser sofre um acidente – numa rua movimentada, num choque de trens, num teatro em chamas ou outras circunstâncias angustiantes – ele não terá oportunidade de se concentrar adequadamente, o mesmo ocorrendo se a morte acontecer num campo de batalha.  No entanto, não seria justo que ele perdesse as experiências de sua vida por ter morrido em tais circunstâncias e, assim, a Lei de Causa e Efeito oferece uma compensação.

Normalmente pensamos que quando uma criança nasce isto é tudo.  Entretanto, como durante o período de gestação o Corpo Denso está protegido do impacto do mundo exterior no ventre materno até alcançar maturidade suficiente para enfrentar as condições externas, o mesmo acontece com o Corpo Vital, o Corpo de Desejos e a Mente que também passam por um estado de gestação e nascem posteriormente porque não tiveram um período de evolução igual ao do Corpo Denso.  O Corpo Vital nasce no sétimo ano quando se observa um período de grande crescimento.  O Corpo de Desejos nasce na puberdade, aos quatorze anos e a Mente, aos vinte e um, quando se diz que a criança se tornou homem ou mulher por ter alcançado a maioridade. 

Aquilo que não nasce não pode morrer, assim, quando uma criança morre antes do nascimento do Corpo de Desejos, ela vai diretamente para o Primeiro Céu.  Ela não ascende ao Segundo e Terceiro Céu porque tanto o Corpo de Desejos quanto a Mente não nasceram e então não podem morrer.  O Ego simplesmente espera no Primeiro Céu até que lhe seja oferecida uma nova oportunidade para renascer. Se ele morreu na vida prévia sob as circunstâncias perturbadoras acima referidas (por acidente ou no campo de batalha, ou quando as lamentações de parentes tornaram impossível uma gravação profunda do mal cometido e do bem realizado, como seria possível se morresse em paz), ele é instruído, após a morte na vida atual como criança, sobre os efeitos das paixões e desejos, de modo a aprender as lições que deveria ter aprendido na vida purgatorial, se não tivesse sido perturbado.  Renascerá, portanto, com o desenvolvimento apropriado de consciência de modo a poder continuar em sua evolução.

Como no passado o ser humano foi excessivamente agressivo e, por sua ignorância, sem cuidado com os parentes que morriam naturalmente (que eram poucos, comparados com os que morriam nos campos de batalha), há um grande número de mortalidade infantil.  Porém, à medida que a Humanidade adquira maior compreensão e entenda que a maior prova de amizade que podemos dar é ajudar o ser que está deixando esta vida, mantendo silêncio e orando, a mortalidade infantil deixará de existir em tão larga escala como é hoje em dia.

É ostensivo o contraste entre a ação delicada do Corpo Vital e a do Corpo de Desejos num rompante de gênio, quando se diz que a pessoa “perdeu o controle” de si mesma.  Sob tais circunstâncias os músculos se tornam tensos e a energia nervosa é gasta em quantidade suicida, a tal ponto que, após o descontrole, o Corpo pode, às vezes, ficar prostrado por semanas.  O mais desgastante trabalho não trará tanta fadiga quanto um rompante de gênio; da mesma forma, uma criança concebida na paixão, sob as cristalizantes tendências da natureza de desejos, terá uma vida curta.

O Corpo de Desejos se torna o árbitro do destino do ser humano no Purgatório e no Primeiro Céu.  As dores causadas pela purgação do mal e as alegrias causadas pela contemplação do bem, durante a vida, são levadas para a próxima vida como consciência para evitar que o ser humano perpetue os erros das vidas passadas e para estimulá-lo a praticar, em maior abundância, tudo que lhe causou mais alegria na vida anterior.

Quando os parentes próximos de uma pessoa que está morrendo explodem em histéricas lamentações quando o Espírito está deixando o corpo e mantêm esta postura durante os dias seguintes, o Espírito que, neste momento, está extremamente próximo ao Mundo Físico, é atraído pelo sofrimento dos entes queridos e não pode focalizar sua atenção na contemplação da vida que terminou.  Desta forma, o registro feito no Corpo de Desejos não será tão profundo como seria se o Espírito não fosse perturbado.  Consequentemente, o sofrimento no Purgatório não será tão intenso e as alegrias no Primeiro Céu não serão tão grandes.

Assim, quando o Ego retorna a Terra, ele terá perdido parte da experiência da vida anterior, o que significa que a voz da consciência não falará tão alto quanto falaria se o Espírito não tivesse sido perturbado pelas lamentações.

Para compensar esta falha, o Ego é geralmente trazido a renascer entre os mesmos amigos que lamentaram sua partida e depois é levado quando ainda criança.  Então, ele entra no Mundo do Desejo, mas, já que como criança não cometeu nenhum pecado que necessite ser expurgado, seu Corpo de Desejos e a Mente permanecem intactos.  Ele vai direto ao Primeiro Céu para esperar a oportunidade de um novo renascimento, porém, este tempo de espera é usado para ensiná-lo diretamente os efeitos das diferentes emoções, boas e más.  É frequente ser recebido por um parente que fica encarregado da tarefa de ensinar aquilo que ele perdeu pelas lamentações ou então essa tarefa é realizada por outros seres.  De qualquer maneira, a perda é mais que recuperada e, assim, quando a criança volta para o segundo nascimento, terá tanto crescimento moral quanto teria em circunstâncias normais, ou seja, se não tivesse sido perturbado quando morreu.

Quando a pessoa passa para os Mundos invisíveis em circunstâncias tais como fogo, acidente de trânsito, repentinamente, como na queda de um prédio ou montanha e ainda num campo de batalha ou perturbado pelos parentes no momento da morte, é impossível concentrar-se no Panorama da Vida e, desta forma, a gravação nos dois Éteres Superiores, Éter de Luz e Refletor, e sua amalgamação no Corpo de Desejos não se processam.  O ser humano não perde a consciência e, como não há gravação nos Éteres Superiores, não poderá haver vida purgatorial.  Significa dizer que ele não poderá colher o que semeou: não haverá sofrimento pelas más ações, nem alegria pelas boas ações que praticou.  O fruto da vida ficou perdido.

Para compensar este grande desastre, o Espírito, em sua próxima vida, morrerá ainda criança, isto em relação ao Corpo Denso, pois o Corpo Vital, o de Desejos e a Mente que normalmente não nasceu até que o Corpo Denso tenha sete, quatorze e vinte e um anos, respectivamente, são mantidos com o Espírito já o que não nasceu não pode morrer.  Então, no Primeiro Céu, o Espírito fica de um a vinte anos recebendo tantas instruções e lições objetivas que lhe ensinarão tudo o que deveria ter aprendido se sua vida não tivesse terminado por acidente.  Assim, ele renasce pronto para ocupar seu próprio lugar no caminho evolutivo.

No Mundo do Desejo é fácil dar lições objetivas sobre a influência das boas ou más paixões sobre a conduta e a felicidade.  Estas lições são indelevelmente impressas sobre o Corpo de Desejos sensível e emocional das crianças, e permanecem com elas após o renascimento. Deste modo muito de uma vida nobre se deve a todo esse treinamento.  Frequentemente, quando um Espírito fraco nasce, os Seres compassivos (os Líderes invisíveis que guiam a evolução) levam-no a morrer cedo para que receba este treinamento extra e possam prepará-lo para o que poderá, talvez, ser uma vida dura.  Este parece ser particularmente o caso quando a gravação no Corpo de Desejos foi fraca, em função da pessoa que morreu ter sido perturbada pela lamentação dos parentes ou porque morreu por acidente ou no campo de batalha.  Ela não vivenciou as experiências com a intensidade suficiente em sua vida post-mortem.  Desta forma, quando ela nasce, morre cedo, e a perda é compensada como anteriormente explicado.  Normalmente, a tarefa de tomar conta desta criança na vida do céu recai sobre aqueles que causaram esta anomalia.  Eles têm uma chance para reparar o erro e aprender mais, ou, talvez, venham a ser os pais daquele que prejudicaram para cuidar dele nos poucos anos de sua vida.  Neste caso, não importa o quanto eles histericamente se lamentem pela morte do filho porque não haverá nenhuma gravação no Corpo Vital da criança.

Capítulo III – O Purgatório

Após a morte, o Ego gradualmente ascende, atravessando os diversos Mundos espirituais até o Terceiro Céu e, ao se aproximar o renascimento, ele, também, gradualmente descende através da Região do Pensamento Concreto, do Mundo do Desejo e do Éter até o plano físico. O autor afirma que nenhum de seus conhecidos alcançou a parte superior do Mundo do Desejo ou a Região do Pensamento Concreto sem primeiro passar através do Éter e das camadas mais densas do Mundo do Desejo, ou seja, a Região purgatorial.

O Purgatório ocupa as três Regiões inferiores do Mundo do Desejo.  O Primeiro Céu se encontra nas três Regiões superiores.  A Região limítrofe é uma espécie de fronteira – nem céu nem inferno.

A missão do Purgatório é erradicar os hábitos injuriosos, fazendo sua gratificação impossível.  O indivíduo sofre exatamente como ele fez os outros sofrerem através de sua desonestidade, crueldade, intolerância e outras coisas mais.  Devido a este sofrimento, ele aprende a agir gentilmente, honestamente e com paciência com os outros no futuro.

A lei que estamos considerando é a Lei de Consequência.  No Mundo do Desejo, ela opera purgando o ser humano dos desejos mais grosseiros e corrigindo fraquezas e vícios que impedem seu progresso, fazendo-o sofrer de forma a alcançar o objetivo.  Se ele fez outros sofrerem ou se agiu injustamente com eles, irá sofrer de modo idêntico.  É preciso notar, entretanto, que, se uma pessoa foi sujeita a vícios e se arrependeu e o mais rápido possível corrigiu seu erro, este arrependimento e reforma purgaram-na dos vícios e atos inferiores.  O equilíbrio foi restaurado e a lição aprendida durante sua vida terrena e, desta forma, não haverá nenhum sofrimento após a morte.

No Mundo do Desejo, a vida passa aproximadamente três vezes mais rápido do que no Mundo Físico.  Um ser humano que tenha vivido até os cinquenta anos no Mundo Físico levará para passar pelos mesmos eventos no Mundo do Desejo aproximadamente dezesseis anos.  Este é, naturalmente, um exemplo genérico.  Há pessoas que permanecem no Mundo do Desejo muito mais tempo do que o período de sua vida física.  Outros, que viveram com poucos desejos inferiores, despendem muito menos tempo, mas a média dada anteriormente está muito próxima da realidade dos seres que vivem atualmente.

Devemos lembrar que, quando o ser humano deixa o Corpo Denso na morte, sua vida passada se apresenta à sua frente em imagens, porém, neste momento, não há nenhum sentimento envolvido.

Durante sua vida no Mundo do Desejo, estas imagens da vida também se desenrolam de trás para frente como antes; porém, agora, o indivíduo passa por todos os sentimentos, um por um, à medida que as cenas se apresentam.  Cada incidente de sua vida passada é vivido e, quando chega a uma cena em que tenha feito mal a alguém, ele mesmo sente a dor que a pessoa sentiu.  Ele vivencia toda dor e sofrimento que causou aos outros e aprende quão dolorosa foi a ferida e quão difícil foi suportar o mal que ele causou. Além disso, há ainda o fato já mencionado de que o sofrimento é ainda mais agudo porque ele não tem mais o Corpo Denso que entorpece a dor.  Talvez seja essa a razão da vida lá ser três vezes mais rápida – o sofrimento perde em duração o que ganha em intensidade.  As medidas da Natureza são maravilhosamente justas e verdadeiras.

Há outra característica peculiar nesta fase da existência post-mortem que está intimamente ligada com o fato (já mencionado) de que a distância é quase inexistente no Mundo do Desejo.  Quando o ser humano morre, imediatamente se encontra em seu Corpo Vital; ele se sente crescer em grandes proporções.  Esta sensação se deve ao fato, não de que o Corpo Denso esteja realmente crescendo, mas sim pelas faculdades de percepção que chegam com tantas impressões e de diferentes fontes, todas parecendo próximas de suas mãos.  O mesmo também é verdadeiro com o Corpo de Desejos.  O ser humano parece estar perto de todas as pessoas com as quais se relacionou na Terra, relação esta cuja natureza precisa ser corrigida.  Se ele fez mal a alguém em São Francisco e a outrem em Nova York, sentir-se-á como se parte dele estivesse em cada lugar.  Esta situação lhe dá a sensação de estar sendo cortado em pedaços.

O Estudante irá agora entender a importância do Panorama da Vida passada durante a existência purgatorial, onde este panorama é convertido em sentimentos explícitos.  Se ele durou bastante e o ser humano não foi perturbado, a completa, profunda e clara impressão gravada no Corpo de Desejos fará com que a vida no Mundo do Desejo seja mais viva e consciente, e a purgação mais completa do que, por causa da aflição causada pelo pesar dos parentes no momento da morte e durante o período de três dias anteriormente mencionado, seria se o ser humano tivesse só uma vaga impressão de sua vida passada.  O Espírito que obtém uma clara e profunda gravação em seu Corpo de Desejos entenderá os erros de sua vida muito mais claramente do que se as imagens estiverem embaçadas, devido ao desvio de sua atenção pelo sofrimento que o envolvia.

O sentimento gerado pelos fatos que causam o sofrimento no Mundo do Desejo será mais intenso se esses fatos forem extraídos de um panorama cuja impressão for nítida e não de um processo de gravação mais curto.

É possível para os assim chamados mortos, modelar com o pensamento qualquer peça de vestuário que eles desejem.  Eles normalmente pensam em si mesmos vestidos com as roupas convencionais do país em que viveram antes de entrar no Mundo do Desejo e, desta forma, aparecem vestidos sem nenhum esforço particular do pensamento.  Porém, quando desejam obter algo novo ou uma peça de vestuário diferente, eles têm que usar o poder da vontade para consegui-la e ela durará enquanto eles pensarem que estão assim vestidos.

Mas esta característica da matéria de desejos de se amoldar ao poder do pensamento é também usada em outras direções.  De uma maneira geral, quando a pessoa deixa o mundo presente em consequência de um acidente, ela pensa em si mesma como estando desfigurada, talvez sem braço ou perna ou com um buraco na cabeça. Isto em nada lhe atrapalha; ela pode mover-se tão facilmente sem pernas ou braços como se os tivesse; porém, isto mostra a tendência do pensamento de dar forma ao Corpo de Desejos.  No início da guerra (1a. Guerra Mundial) quando um grande número de soldados passara para o Mundo do Desejo com lesões da mais horrível natureza, os Irmãos Maiores e seus ajudantes ensinaram àquelas pessoas que simplesmente concentrando seu pensamento em que estavam em Corpo Densos perfeitos e sadios, eles ficariam imediatamente livres de seus ferimentos desfigurantes.  E eles fizeram isso imediatamente.  A partir daquele momento todos os que chegavam e eram capazes de entender o que estava acontecendo tinham suas feridas e amputações imediatamente restauradas de tal forma que ninguém pensaria que eles tinham morrido em consequência de um acidente no Mundo Físico.

Como resultado, este conhecimento tornou-se tão comum, que muitos seres que morreram se aproveitaram desta propriedade de matéria de desejos e moldaram-na pelo pensamento, modificando a aparência de seu Corpo Denso.  Aqueles que eram corpulentos desejavam parecer mais esbeltos, e vice-versa, os que eram muito magros, mais gordos.  Esta mudança ou transformação não é sempre bem-sucedida, pois depende do arquétipo.  O acréscimo de peso numa pessoa magra ou a perda de peso numa pessoa corpulenta não permanece para sempre; após algum tempo, o ser que era originariamente magro volta a sua estatura anterior, enquanto aquele que era corpulento vai recuperando seu peso gradualmente e tem que passar pelo processo novamente.  É similar ao que acontece com aqueles que tentam modificar suas feições, mudando sua aparência original em outra que mais lhe agrada.  Entretanto, as modificações que afetam as feições são menos permanentes porque a expressão facial, tanto lá como aqui, é uma indicação da natureza da alma.  Por isso, qualquer fingimento é rapidamente disperso pelos pensamentos habituais da pessoa.

Durante a vida física, o Corpo de Desejos tem a forma aproximada de uma nuvem ovoide envolvendo o Corpo Denso.  Porém, tão logo a pessoa adquire consciência no Mundo do Desejo e começa a pensar que tem a aparência do Corpo Denso, o Corpo de Desejos assume esta forma.  Esta transformação é facilitada pelo fato de que o Corpo-Alma, composto pelos dois Éteres superiores, Luminoso e Refletor, ainda permanece com o Ego.  Para tornar mais claro, fazendo uma comparação, devemos lembrar que quando o Ego está descendo para o renascimento, os dois Éteres inferiores que envolvem o Átomo-semente do Corpo Vital são moldados em uma matriz pelos Senhores do Destino – os Anjos do Destino e seus ajudantes.  Esta matriz é colocada no ventre da mãe, onde as partículas físicas são incrustadas, formando gradualmente o corpo da criança que vai nascer.  No momento do nascimento, a criança não tem Corpo-Alma. Tudo o que tenha relação com os Éteres superiores só será assimilado mais tarde durante a vida e será construído pelas boas e verdadeiras ações.  Quando o Corpo-Alma atinge certa densidade, é possível que o ser humano funcione como um Auxiliar Invisível e, durante os seus voos anímicos, o Corpo de Desejos se amoldará nesta matriz já preparada.  Quando ele retorna ao Corpo Denso, o esforço da vontade, por meio da qual ele entra nesse corpo, automaticamente desfaz a íntima conexão entre o Corpo de Desejos e o Corpo-Alma.  Mais tarde, quando a vida no Mundo Físico termina e os dois Éteres mais densos se desfazem junto com o Corpo Denso, o Luminoso Corpo-Alma ou “Manto Dourado de Bodas” permanece com os veículos superiores e, dentro desta matriz, o Corpo de Desejos é moldado em seu nascimento nos Mundos invisíveis.  Da mesma forma como o corpo da criança foi feito de acordo com a matriz dos dois Éteres mais densos antes do nascimento físico, o nascimento nos Mundos invisíveis que segue a morte na Região física é acompanhado pela impregnação de matéria de desejo na matriz formada pelos dois Éteres superiores, formando o veículo que será usado naquele Mundo.

Porém, os assim chamados mortos não são os únicos capazes de moldar a matéria de desejos em qualquer forma que desejem.  Este poder é compartilhado por todos os habitantes do Mundo do Desejo, mesmo nas Regiões inferiores pelos elementais, e eles frequentemente usam esta faculdade de transformação para assustar ou enganar os recém-chegados.  Muitos neófitos sentiram temor quando entraram pela primeira vez neste Mundo porque estes pequenos diabretes reconhecem logo se uma pessoa é estranha e não habituada com a natureza das coisas lá e eles parecem sentir um especial prazer em molestar os recém-chegados, transformando-se nos mais grotescos e terríveis monstros.  Então, podem simular ataques atrozes contra o neófito e se conseguirem encurralá-lo num canto e fazê-lo encolher de medo, isto parece lhes dar o maior prazer, enquanto mostram seus dentes afiados como se estivessem prontos para devorá-lo.  Mas, quando o neófito aprende que, na realidade, não há nada que possa feri-lo e que, em seus veículos superiores, ele está imune a qualquer perigo de ser feito em pedaços ou devorado, aprende que um simples sorriso dirigido às inofensivas criaturas e um severo comando para que se retirem é tudo o que é necessário para desviar sua atenção e deixá-lo sossegado.  Assim, ele aprende a forçá-los a obedecer a sua vontade, porque neste Mundo todas as criaturas que não se individualizaram são impelidas a obedecer à ordem de inteligências superiores e o ser humano está entre elas.

É curioso o fato de que elementais sub-humanos algumas vezes se liguem a certas pessoas, a uma família ou mesmo a uma sociedade religiosa; porém, nestes casos, sempre foi observado que seus veículos não consistiam do Corpo de Pecado composto do entrelaçamento do Corpo de Desejos e Vital, mas sim, obtido através da mediunidade praticada por uma pessoa geralmente de bom caráter, na qual o Éter de seu veículo se encontrava em estado de desintegração.  Para perpetuar e prolongar seu domínio sobre tal veículo, eles exigem, daqueles a quem servem oferendas regulares de comida e queima de incenso.  Embora não possam assimilar a comida física, eles realmente vivem dos vapores e odores que se desprendem e, também, da fumaça do incenso.

Quando o Ego se livra do Corpo Vital, seu último elo com o Mundo Físico se rompe e ele entra no Mundo do Desejo.  A forma ovoide do Corpo de Desejos agora muda, assumindo a forma do Corpo Denso abandonado.  Há, no entanto, uma combinação peculiar dos materiais de que é formado, e que terá grande significação e determinará o tipo de vida que viverá lá.

O Corpo de Desejos do ser humano é composto de material das sete Regiões do Mundo do Desejo, da mesma forma como o Corpo Denso é composto de sólidos, líquidos e gases deste Mundo.  Mas a quantidade de matéria de cada Região no Corpo de Desejos depende da natureza de desejos de que o ser humano se nutre.  Desejos grosseiros são formados pela matéria de desejos mais grosseira que pertence à Região mais inferior do Mundo do Desejo.  Se o ser humano possui tal desejo, ele está construindo um Corpo de Desejos grosseiro, onde a matéria das Regiões inferiores predomina.  Se ele persistentemente se livra de seus desejos grosseiros, permitindo só o que é puro e bom, seu Corpo de Desejos será formado pela matéria das Regiões superiores.

No presente, nenhum ser humano é totalmente mal ou totalmente bom.  Somos todos uma mistura de ambos, mas existe uma diferença nesta composição.  No Corpo de Desejos de uns há preponderância de matéria inferior e, em outros, de matéria superior.  Isto faz toda a diferença no ambiente e na condição do ser humano quando entra no Mundo do Desejo após a morte, porque a matéria de seu Corpo de Desejos, enquanto assume a forma do Corpo Denso abandonado, organiza-se de forma que a matéria mais sutil que pertence às Regiões superiores forme o centro do veículo e a matéria das três Regiões mais densas fica na parte externa.  Quando a vida do Ego na Terra termina, ela põe em ação a força centrífuga para se livrar de seus veículos.  Segundo a mesma lei que faz com que um Planeta arremesse para o espaço sua parte mais densa e cristalizada, o Ego primeiro se livra do Corpo Denso.  Quando entra no Mundo do Desejo, esta força centrífuga também atua de modo a expulsar a matéria mais grosseira do Corpo de Desejos e assim o ser humano é forçado a permanecer nas Regiões inferiores até que tenha purgado os desejos inferiores.  A matéria inferior de desejos fica, por isso, sempre na parte externa de seu Corpo de Desejos enquanto ele está passando pelo Purgatório e é gradualmente eliminada pela força centrífuga – a Força de Repulsão – que extirpa o mal e então permite que o Ego ascenda ao Primeiro Céu, na parte superior do Mundo do Desejo, onde a Força de Atração impera e traz tudo de bom da vida passada como força de alma para o Ego.  A parte descartada do Corpo de Desejos é deixada como uma “concha” vazia.  

Quando o Ego deixa o Corpo Denso, este morre rapidamente.  A matéria física torna-se inerte quando é privada da estimulante energia da vida e se dissolve.  Isto não acontece com a matéria do Mundo do Desejo porque a partir do momento em que a vida é transmitida, a energia subsistirá por um tempo considerável após o seu influxo cessar, variando com a força do impulso. O resultado é que após o Ego ter se afastado, as “conchas” subsistem por um tempo mais longo ou mais curto.  Elas vivem uma vida independente e, se o Ego a quem elas pertenceram tiver tido muitos desejos mundanos, talvez cortados na juventude, com ambições fortes e insatisfeitas, esta “concha” sem alma irá certamente fazer um esforço desesperado para voltar ao Mundo Físico e muitos dos fenômenos das sessões espíritas devem-se às ações destas “conchas”.  O fato de que a comunicação recebida de muitos destes assim chamados “Espíritos” é completamente destituída de sentido, e é facilmente comprovado quando compreendemos que eles não são realmente espíritos, mas somente uma parte sem alma do revestimento do Espírito que partiu e, portanto, sem inteligência.  Eles têm uma memória da vida passada, de acordo com o panorama gravado após a morte, que lhes permite se apresentarem aos parentes contando incidentes que não são do conhecimento de outros, porém, o fato é que eles não são mais do que a vestimenta descartada pelo Ego, dotada de vida independente por algum tempo.

Não é sempre, entretanto, que essas conchas permanecem sem alma, porque há diferentes classes de seres no Mundo do Desejo cuja evolução os prende àquele Mundo.  São bons e maus, da mesma forma que os seres humanos. Geralmente são classificados como “elementais”, embora difiram amplamente em aparência, inteligência e características.  Nós vamos lidar com eles somente se sua influência atingir o estado post-mortem do ser humano. 

Isto às vezes acontece, especialmente quando o indivíduo se acostumou a invocar Espíritos, e estes tomam posse de seu Corpo Denso na vida terrena e fazem dele um médium irresponsável.  Eles geralmente o enganam inicialmente com conhecimentos aparentemente superiores, porém, gradualmente, levam-no para a grosseira imoralidade e, pior que tudo, podem tomar posse do Corpo de Desejos quando o Ego passa para o Primeiro Céu.  Como os impulsos contidos no Corpo de Desejos são a base para a vida no céu e, também, a mola da ação que leva o Ego a reencarnar para um renovado crescimento, este é realmente um sério problema porque toda evolução do Ego pode parar por muitos anos antes que o elementar liberte o seu Corpo de Desejos.

Quando o bem e o mal da vida foram extraídos, o Espírito se livra do Corpo de Desejos e ascende ao Segundo Céu.  O Corpo de Desejos começa então a se desintegrar como aconteceu com o Corpo Denso e o Vital, mas é uma peculiaridade da matéria de desejos que, uma vez formada e vivificada, ela persistirá por um tempo considerável.  Mesmo depois que a vida se afastou, ele vive uma vida semiconsciente e independente. Algumas vezes, é levado por atração magnética até parentes do Espírito que ele abrigava e, em sessões espíritas, estas “conchas” personificam o Espírito que partiu e decepcionam seus parentes.  Como o Panorama da Vida anterior está gravado nestas “conchas”, elas têm a memória de acontecimentos que têm relação com estes parentes, o que facilita a decepção.  Porém como a inteligência se retirou, elas são incapazes de dar um parecer verdadeiro e isto é a razão do vazio e das tolices que transmitem.

Quando o Espírito acorda no Mundo do Desejo, ele é exatamente igual ao que era antes de morrer, mas com uma única exceção.  Qualquer um que o tenha conhecido reconhecê-lo-á.  Não há nenhum poder transformador na morte; o caráter do Espírito não muda, os viciados e alcoólatras continuam iguais, o avarento continua usurário, o ladrão é tão desonesto como nunca, porém, há uma grande mudança neles todos: todos perderam seu Corpo Denso e isso faz toda a diferença na gratificação de seus diversos desejos.

O alcoólatra não consegue beber; ele perdeu seu estômago e, embora tente entrar nas garrafas de uísque dos bares, não sente satisfação nenhuma, já que, não possuindo estômago, não obtém a combustão química necessária a seu prazer.  Tenta, então, tirar proveito penetrando os Corpos Densos dos que bebem aqui na Terra e consegue isso facilmente porque o Corpo de Desejos é constituído de tal modo que pode ocupar o mesmo espaço com outra pessoa.  Os “mortos”, no início, sentem-se incomodados quando seus amigos se sentam na cadeira que eles estão ocupando, mas, depois de algum tempo, compreendem que não há necessidade de se levantarem apressadamente porque alguém deseja se sentar.  “Sentar em cima do Corpo de Desejos” não machuca; ambas as pessoas podem ocupar a mesma cadeira sem que uma prejudique os movimentos da outra.  Assim, o alcoólatra interpenetra o corpo de quem está bebendo, mas nem assim terá satisfação real e, em consequência, ele sofre a tortura de Tântalos, até que, finalmente, o desejo se extinga em sua ânsia de gratificação, como acontece com todos os desejos mesmo na vida física.

Enquanto nossos maus hábitos são tratados desta maneira geral nossas más ações específicas da vida passada são tratadas da mesma maneira automática por meio do Panorama da Vida que foi gravado no Corpo de Desejos.  Este panorama se desenrola de trás para frente, da morte ao nascimento, quando entramos no Mundo do Desejo.  Ele se desenrola em velocidade três vezes maior que a de nossa vida terrestre; assim, um ser humano de 60 anos, ao morrer, viverá no Mundo do Desejo aproximadamente 20 anos.

Devemo-nos lembrar de que, enquanto ele observa este panorama imediatamente após a morte, não há nenhum sentimento, estando lá meramente como um espectador, olhando para as cenas que se desenrolam.  Porém, é diferente quando o panorama aparece à sua consciência no Purgatório.  Lá, o bem não causa impressão, mas todo mal atua sobre o Ego de tal forma que, nas cenas em que ele fez outros sofrerem, sentirá todo o sofrimento.  Ele sofre toda a dor e angústia que sua vítima sofreu na vida e, como a velocidade da vida lá é triplicada, assim também é o sofrimento, que é mais agudo porque, enquanto o Corpo Denso é lento em vibração e embota o sofrimento, no Mundo do Desejo, onde não temos o veículo físico, o sofrimento é mais intenso.  Quanto mais nítida for à gravação do Panorama da Vida sobre o Corpo de Desejos na hora da morte, maior será o sofrimento do Ego e mais claramente ele irá sentir, em vidas futuras, que toda transgressão deverá ser evitada.

O Mundo do Desejo, os Éteres e o Mundo Físico interpenetram-se de forma que o avarento está bem aqui entre nós, como se tivesse um Corpo Denso para usar.  Não é geralmente entendido, e o autor se surpreende com este fato, porque os Espíritos que recentemente deixaram o Corpo Denso não sejam vistos pelos que estão na Terra, já que o revestimento externo deles é composto pela matéria mais densa das Regiões inferiores do Mundo do Desejo, pelo Éter Químico, que é o mais denso dos quatro Éteres, e dos gases físicos extremamente entrelaçados.

Assim, o avarento e todos os outros que recém deixaram o Corpo Denso veem as pessoas neste Mundo muito mais claramente do que as coisas do Mundo do Desejo onde se encontram, porque, assim como o ser humano que ao sair de casa num dia de Sol tem que se acostumar primeiro à luz, assim também os Espíritos que entraram no Mundo do Desejo após a morte necessitam um pouco de tempo para esta adaptação.  E o material mais denso que compõe seu ser, o qual é projetado para a periferia pela força centrífuga de Repulsão mantém-no na Terra por um, mais ou menos, longo período de tempo, até que tenha desprendido este material mais grosseiro e esteja apto a contatar as vibrações mais sutis das Regiões superiores.  Por esta razão, o avarento, o alcoólatra, o sensual e outros seres similares cujos desejos são baixos e depravados, permanecem nestas Regiões inferiores, que bem podem ser chamadas de inferno, por mais tempo que as pessoas com elevados ideais e aspirações espirituais que se dedicaram em vida, a erradicarem seus pecados e sublimar sua natureza inferior.  Seus Corpos de Desejos contêm, comparativamente, menos material grosseiro, o qual é rapidamente dissolvido, deixando-os livres para atingirem as esferas superiores.

Não existem órgãos especializados nos veículos superiores, porém, como somos sensíveis em toda periferia de nosso Corpo Denso, assim também os Espíritos veem e ouvem não somente pela periferia, mas com cada átomo de seu corpo espiritual interna e externamente.  O que eles percebem não são coisas físicas, mas cada cadeira, mesa ou qualquer outro objeto é interpenetrado pelos dois Éteres e matéria de desejos e é isto que eles percebem, e para eles é tão tangível quanto às formas físicas o são para nossos sentidos.

É verdade que a Terra é envolvida pela atmosfera da mesma forma como a matéria de desejos que constitui o Mundo do Desejo envolve nosso Planeta.  Entretanto, os que deixaram o Corpo Denso e estão no Mundo do Desejo veem através da Terra tão facilmente como nós vemos através da vidraça.

A vítima de assassinato escapa deste sofrimento no Purgatório porque, normalmente, se acha em estado de inércia letárgica (parecida com o coma médico) até o momento em que a morte natural deveria ocorrer e é ajudada neste aspecto assim como as vítimas dos chamados acidentes, sendo que estas últimas permanecem conscientes a princípio e pouco depois da morte. Se a pessoa que cometeu o delito é executada entre o momento do assassinato e o tempo em que sua vítima iria morrer naturalmente, o comatoso Corpo de Desejos do que morreu dirige-se para o assassino por atração magnética, seguindo-o para onde ele for sem um momento de descanso. A cena do assassinato está sempre diante dele, causando-lhe o sofrimento e a angústia que inevitavelmente acompanha esta incessante repetição do seu crime em todos os horríveis detalhes. Isto irá durar pelo período correspondente ao que a vítima foi privada de viver. Se o assassino não for executado e sua vítima passou além do Purgatório antes de morrer, a “concha” de sua vítima permanecerá para atuar como Nêmesis[2] no drama da cena do crime.

Os sofrimentos no Purgatório são os resultados da delinquência moral e o ressentimento daqueles que foram assim atingidos. Um cirurgião que obteve sucesso em sua operação ou cirurgia merecerá a gratidão da pessoa operada e a cena desta cirurgia, no Panorama da Vida, atuará sobre ele no Primeiro Céu com a gratidão da pessoa que ele ajudou. Isto fará com que ele se sinta mais desejoso de servir a seu semelhante.

Por outro lado, aqueles inescrupulosos cirurgiões que persuadiram as pessoas a fazerem operações ou cirurgias, executadas meramente pelo amor a novas experiências, ou que retiraram seres de instituições de caridade com essa finalidade, serão severamente castigados como merecem. Quanto ao Purgatório dos vivisseccionistas, vimos certos casos que comparados ao inferno ortodoxo com o diabo e seu garfo, parecem um lugar de diversão. No entanto, não há nenhum agente de natureza demoníaca para punir – só as agonias do animal torturado gravadas em seu Panorama da Vida é que agem sobre ele com tripla intensidade (porque a existência purgatorial dura um terço da vida física). Estas pessoas não imaginam o que estão construindo para si; se assim fosse, as câmaras de tortura seriam logo esvaziadas e haveria um horror a menos no mundo.

Quando uma pessoa tenha sido muito grosseira e rude na vida, quando provocou sofrimento em qualquer lugar e toda vez que teve chance, veremos que seu sofrimento no Purgatório será muito severo, intensificado pelo fato de que a existência purgatorial é mais curta que a vida na terra, mas a dor se intensifica proporcionalmente. Por isso, é evidente que se sua experiência fosse contínua, se a dor gerada por um ato fosse imediatamente seguida pela próxima, muito do efeito do sofrimento seria perdido pela alma, porque ela não sentiria sua completa intensidade. Portanto, as experiências vêm em ondas, de forma que há um intervalo após cada período de sofrimento para que a intensidade total do próximo possa ser sentida.

Deus não é vingativo; Ele somente ensina aqueles que agem erradamente a não repetirem seus atos, dando, ao que errou dor igual. A tendência numa vida futura é que o ser humano venha respeitar o sentimento dos outros e ser misericordioso com todos. Portanto, grande intensidade de dor é necessária para conservação de energia e torná-lo bom e puro mais cedo do que seria se a dor tivesse sido contínua e o correspondente sofrimento reduzido.

Se a pessoa que está morrendo pudesse deixar todos os desejos para trás, o Corpo de Desejos muito rapidamente se libertaria, deixando-o livre para prosseguir para o Primeiro Céu, mas isto normalmente não acontece.  A maioria das pessoas, principalmente se elas morrem ainda jovens, possui muitos laços e interesses na vida na Terra. Elas não modificam seus desejos só porque perderam seu Corpo Denso. De fato, seus desejos são até aumentados pela vontade intensa de retornar. Isto as prendem mais ao Mundo do Desejo de forma desagradável, embora, infelizmente, elas não entendam a realidade deste fato. Por outro lado, os velhos, decrépitos e aqueles enfraquecidos por longa enfermidade se libertaram da vida e passaram rapidamente.

O assunto pode ser ilustrado pelo caroço que se desprende da fruta madura onde nenhuma parte da polpa se adere, enquanto, na fruta verde, o caroço se adere à polpa tenazmente. Assim, é muito difícil para as pessoas que morrem de acidente, estando em plena saúde e força física, ligadas à esposa, família, parentes, amigos e à procura de negócios e prazer.

O suicida, que tenta escapar da vida, irá descobrir que está mais vivo do que nunca e na mais penosa situação. É capaz de ver aqueles a quem desgraçou pelo seu ato e, pior que tudo, sente uma indescritível sensação de vazio.   A parte na aura ovoide onde o Corpo Denso costumava ficar está vazia e, embora o Corpo de Desejos tenha tomado à forma de Corpo Denso abandonado, ele o sente como uma concha vazia, porque o arquétipo criador do corpo na Região do Pensamento Concreto persiste como uma matriz vazia, por assim dizer, por todo o período em que o Corpo Denso deveria viver. Quando uma pessoa morre naturalmente, mesmo no início de sua vida, a atividade do arquétipo cessa, e o Corpo de Desejos se ajusta para ocupar totalmente o seu lugar, porém, no caso do suicida, a terrível sensação de “vazio” permanece até que, no curso natural dos acontecimentos, a morte ocorra.

Enquanto o ser humano manifesta seus desejos ligados à vida na Terra, ele tem que permanecer em seu Corpo de Desejos e à medida que o progresso do indivíduo requer que ele alcance Regiões mais superiores, a existência no Mundo do Desejo tem que ser necessariamente purgatorial, tendendo a purificá-lo de seus pecados. Como isto acontece, pode ser melhor compreendido tomando alguns exemplos radicais: o avarento, que amou seu ouro na vida terrena, continua a amá-lo após a morte, mas, em primeiro lugar, ele não pode adquirir mais porque não tem mais o Corpo Denso para agarrá-lo, e, pior que tudo, não pode sequer manter o que acumulou durante a vida. Ele irá, talvez, sentar-se perto do seu cofre e olhar o ouro e as ações guardadas por ele com tanto carinho. Mas os herdeiros aparecem e talvez zombando do “velho tolo avarento” (que eles não veem, mas que os vê e ouve), abrirão seu cofre e, embora ele se jogue sobre o ouro para protegê-lo, eles passarão suas mãos através de seu corpo, sem perceber ou sentir que ele está ali e irão gastar sua fortuna, enquanto ele sofre de tristeza e impotente raiva.

Ele sofrerá intensamente e seu sofrimento é ainda mais terrível por ser inteiramente mental, porque o Corpo Denso amortece o sofrimento de certa forma. No Mundo do Desejo, no entanto, este sofrimento tem força total e o ser humano sofre até aprender que o ouro pode ser uma maldição. Assim, ele, gradualmente, se contenta com sua sorte e, finalmente, se liberta do Corpo de Desejos e está pronto para prosseguir.

Tomemos o caso do alcoólatra. Ele continua gostando de beber após a morte tanto quanto gostava anteriormente. Não é o Corpo Denso que anseia pela bebida. Ele se torna doente pelo álcool e gostaria de passar sem ele. Em vão, protesta de diversas maneiras, mas o Corpo de Desejos do alcoólatra anseia pela bebida e força o Corpo Denso a ingeri-la, para que o Corpo de Desejos possa ter a sensação de prazer resultante do aumento da vibração.  Aquele desejo permanece após a morte do Corpo Denso, mas o alcoólatra não tem em seu Corpo de Desejos nem boca para beber nem estômago para conter a bebida. Ele procura os bares onde interpenetra os corpos dos que bebem para conseguir um pouco de vibração por indução, porém, isto é demasiadamente fraco para trazer-lhe alguma satisfação. Ele, muitas vezes, entra na garrafa de uísque, mas isto não lhe traz proveito porque não há na garrafa os gases que são gerados pelos órgãos digestivos do beberrão. Não há nenhum efeito que possa sentir e ele é como um ser humano num barco no meio do oceano: “Água, água, para todos os lados, mas nem uma gota para beber”.  Em consequência, ele sofre intensamente. Em tempo, no entanto, ele aprende a perda de tempo que é ansiar pelo que não pode conseguir. Como tantos outros desejos aqui na vida terrena, os desejos no Mundo do Desejo morrem por não poderem ser satisfeitos. Quando o alcoólatra purgou o vício, ele está pronto para deixar esta fase do “Purgatório” e sobe para o Mundo celestial.

Os alcoólatras, no Mundo do Desejo, tentam criar a bebida que anseiam beber quando aprendem que é possível modelar a matéria de desejos e criar o que desejam; porém, todos declaram unanimemente que a mais forte bebida ou as drogas que eles fabricam desta forma não lhes traz nenhuma satisfação. Eles podem imitar o gosto perfeitamente, porém, a bebida assim produzida não tem a capacidade de torná-los bêbados. O máximo que conseguem para sua satisfação é introduzir-se nos corpos dos alcoólatras que ainda estão no Mundo Físico. Por isso, eles estão continuamente rondando os bares e empenhando-se em que os frequentadores destes lugares tomem uma excessiva dose de intoxicantes.

Eles também afirmam que conseguem considerável satisfação pelos gases exalados pela respiração dos alcoólatras em seu Corpo Denso e, quanto mais densa e estimulante a atmosfera nos bares, mais próximo eles chegam à satisfação que procuram. Se os fracos que visitam tais lugares pudessem ver e entender as táticas repugnantes daqueles seres invisíveis perversos que povoam estes lugares, certamente isto seria um alerta que ajudaria aqueles que não foram tão longe a reconduzir seus passos no caminho da decência e vida honesta. Porém, graças a Deus, para ambos os alcoólatras, visíveis e invisíveis, é impossível criar um recanto de vício na matéria de desejos porque a Força de Repulsão tende a destruí-lo mais rapidamente do que eles conseguem criá-lo.  

Para maior ilustração, tomemos o caso de um alcoólatra que, transformado numa besta humana, atinge seus filhos, privando-os das necessidades vitais e da educação, que agride sua esposa, passando para seus filhos um exemplo que eles poderão vir a seguir, baixando seu padrão moral.

Depois da morte, este ser irá sentir no Purgatório, primeiro as torturas da ânsia pela bebida que ele não é capaz de satisfazer e, segundo, todo o sofrimento que causou à sua família. Ele terá pagado por seus erros e é verdade que renascerá com uma vida nova, no que diz respeito ao sofrimento a eles causado. Porém, ele fez um voto de amor e carinho para com a mulher que se tornou sua esposa, e, pelo ato criador, forneceu o núcleo para a formação dos corpos de seus filhos que necessitam de ajuda e ambiente adequado para seu desenvolvimento. As responsabilidades paternas ele negligenciou e, consequentemente existe um laço entre ele e os membros de sua família. Ele ainda tem um débito de amor e serviço que terá que ser pago no futuro e, desta forma, numa vida posterior, estes Egos serão trazidos juntos e tão próximos que ele terá a oportunidade de fazer o bem a todos eles. Se ele não tiver esta oportunidade, ele poderá ainda numa vida posterior prestar um adequado serviço à outra pessoa. É por esta razão que o serviço deve ser praticado e, desta forma, a natureza do amor envolverá e se expandirá, tornando-se universal para todos.

A mesma regra vale para todos os demais casos e, assim como as condições extremas oferecem as melhores ilustrações, podemos tomar como outro exemplo o relacionamento entre o assassino e sua vítima.  Após a morte, ele sofreu no Purgatório e o débito real está pago. Mas um laço foi estabelecido entre estes dois Egos e, numa vida futura, eles voltarão a se encontrar e o assassino terá a oportunidade de servir sua vítima de outrora e de se reconciliar. O sentimento de amizade tem que se tornar universal porque é o princípio básico no Reino de Deus.

Quando o rompimento ocorre entre o Corpo de Desejos e a Mente, o Corpo de Desejos de uma pessoa mentalmente insana está ainda naturalmente descontrolado e sempre causa muito problema para o Ego durante sua existência no Mundo do Desejo, porque o Ego não é absolutamente insano.  O que parece insanidade vem do fato do Ego não ter controle sobre seus veículos; o pior de tudo, obviamente, é quando a própria Mente é afetada e o Ego é atrelado à Personalidade por um longo tempo até que estes veículos se desfaçam.

No início da guerra, os Corpos de Desejos dos combatentes giravam a uma terrível velocidade e foram observado que, enquanto que as pessoas que morriam por doença, velhice ou acidentes comuns recuperavam sua consciência em curto período de tempo, variando de alguns minutos a alguns dias, aqueles mortos durante a guerra ficavam, na maioria dos casos, inconscientes por muitas semanas, e é estranho dizer que aqueles que eram quase estraçalhados despertavam mais rapidamente do que milhares de outros que tinham apenas pequenos ferimentos.  Antes de estudarmos as causas que estão por trás deste fenômeno, primeiramente devemos registrar que, quando as pessoas que morriam com intenso ódio no início da guerra despertavam nos Mundos invisíveis, normalmente continuavam a lutar contra seus inimigos até que o grande trabalho educacional dirigido pelos Irmãos Maiores e seus Auxiliares Invisíveis frutificasse. Estas pessoas permaneciam com seus corpos mutilados e em grande angústia por terem deixados seus entes queridos para trás. Agora, estas ocorrências são extremamente raras e logo corrigidas, porque todos foram ensinados que o pensamento irá criar um novo braço, membro ou face; a ira patriótica se foi e os “inimigos” que falam a mesma língua, frequentemente se confraternizam com benefício para todos.

O Purgatório está muito longe de ser um lugar de punição. Ele é talvez o mais benéfico reino da Natureza porque devido à purgação nós nascemos inocentes, vida após vida.  As tendências para cometer os mesmos pecados pelos quais sofremos permanecem conosco, e as tentações para cometer os mesmos erros serão colocados em nosso caminho, até que tenhamos a consciência de superar os nossos defeitos aqui mesmo.  A tentação não é pecado; o pecado é, no entanto, ceder à tentação.

Assim, nós vemos que não é uma vingativa Divindade que faz o Purgatório ou o inferno para nós e sim nossos hábitos e atos inferiores.  De acordo com a intensidade de nossos desejos, será o tempo de nosso sofrimento justo em sua purgação.  Nos casos mencionados anteriormente, não haveria sofrimento para o alcoólatra se ele fosse privado de suas riquezas materiais.  Se ele tivesse algumas, não ligaria para elas.  Também não causaria ao avaro nenhuma dor ao ser privado de beber.  Pode-se afirmar que ele não se importaria se não existisse uma única gota de bebida no mundo.  Porém, ele defenderia seu ouro e o alcoólatra, sua bebida e, desta forma, a lei infalível dá a cada um, o que ele necessita para purgar seus desejos profanos e hábitos inferiores.

Esta é a lei simbolizada na foice do ceifador, a Morte, a lei que diz que “tudo que o ser humano semear, ele, também, colherá”.  É a Lei de Causa e Efeito que regula todas as coisas nos três Mundos e em todos os reinos da Natureza – físico, moral e mental.  Em todos eles, ela trabalha inexoravelmente ajustando todas as coisas, restaurando o equilíbrio, em qualquer lugar onde, por sua simples ação, um distúrbio tenha sido provocado.  O resultado pode ser manifestado imediatamente ou pode ser retardado por anos ou vidas, porém, em algum tempo, em algum lugar, uma justa e adequada retribuição será feita.  O Estudante deve particularmente observar que este trabalho é absolutamente impessoal.  Não há no universo nem prêmio nem punição.  Tudo é o resultado da lei invariável.

Para resumir, podemos dizer que todos os nossos débitos são pagos no Purgatório, tanto quanto a função do mal é entendida.  Nossos débitos de amor, amizade e serviço permanecem para serem liquidados em vidas futuras.

Capítulo IV – Espíritos Apegados a Terra e suas Presas

Para que se compreenda a mediunidade, é necessário saber que na morte efetua-se a mesma separação de Corpos como no sono, só que de modo permanente.  Os chamados “mortos” possuem: Ego, Mente e Corpo de Desejos e, muitas vezes, permanecem conscientes, por algum tempo, do Mundo que acabam de deixar. Alguns se apegam à vida terrena, mas não podem ajustar suas Mentes ao aprendizado de novas lições.  A esses chamamos “espíritos apegados a Terra”.  Tais espíritos, impossibilitados de funcionar no Mundo visível sem um Corpo, aproveitam-se, vantajosamente, do fato de que nem todos os espíritos estão confinados com o mesmo rigor à prisão do Corpo Denso.  Aqueles que se acham mais fortemente aderidos a seus Corpos são os materialistas e aqueles cujos liames não os prendem tão fortemente são os “sensitivos”, capazes, até certo ponto, de responder às vibrações espirituais.  As pessoas de caráter positivo, caso se desenvolvam, podem sensibilizar-se, por sua própria vontade, tornando-se assim ocultistas exercitados.  Os de vontade fraca só podem desenvolver-se com a ajuda de outros e de maneira negativa.  Estes são presas dos espíritos apegados a Terra, os quais, denominando-se a si mesmos de “guias espirituais”, desenvolvem suas vítimas como “médiuns de transe” ou como “médiuns materializantes”, se as conexões entre os Corpos: Denso e Vital das vítimas são fracas.

Os espíritos apegados a Terra dirigem-se para as Regiões inferiores do Mundo do Desejo, o qual interpenetra o Éter, e ficam em constante e estreito contato com pessoas da Terra, que se encontrem em situação mais favorável para ajudá-los nas suas más intenções.  Permanecem nesta situação durante cinquenta, sessenta ou setenta e cinco anos, porém, têm-se visto casos extremos em que tais pessoas permanecem assim durante séculos.  Com referência às descobertas do autor até o presente, parece que não há limite para o que eles possam fazer, ou quando deixarão de fazê-lo. Mas eles vão amontoando sobre si uma carga horrorosa de pecados, à qual não poderão escapar sem sofrimento, pois o Corpo Vital reflete e grava profundamente no Corpo de Desejos um registro de tais maldades. Quando finalmente abandonam a vida errática e entram na existência purgatorial, encontram o castigo que merecem.  O seu sofrimento será de duração proporcional ao tempo em que permaneceram em suas práticas perniciosas depois da morte do Corpo Denso – o que vem provar mais uma vez que “Os moinhos de Deus moem devagar, mas moem extraordinariamente bem”.

Quando o espírito abandonou o Corpo de pecado – como chamamos este veículo para contrastá-lo com o Corpo-Alma – a fim de ascender ao Segundo Céu, ele não se desintegra tão rapidamente como acontece com o invólucro deixado para trás pelas pessoas normais porque, nele, a consciência se acha aumentada por uma dupla composição, isto é, composta de um Corpo Vital e de um Corpo de Desejos e tem uma consciência individual ou pessoal muito marcante. Não pode raciocinar, mas existe uma astúcia inferior que faz com que pareça ter o aspecto de um espírito, um Ego, e isto lhe facilita viver uma vida separada por muitos séculos.  Entretanto, o Espírito que partiu entra no Segundo Céu, porém, não tendo efetuado nenhum trabalho na Terra que o faça merecer uma prolongada estada ali ou no Terceiro Céu, permanece nestes lugares somente o tempo suficiente para criar um novo ambiente para si.  Então, renasce muito antes do tempo normal para satisfazer seu desejo de coisas materiais que tão intensamente o atraem.

Em tais casos extremos (pessoas de natureza demoníaca) em que a vida animal predominou, quando na vida terrena precedente não houve expressão de alma, a divisão do Corpo Vital não pode ocorrer com a morte, uma vez que não existe linha divisória.  Assim, se o Corpo Vital gravitasse de volta ao Corpo Denso e ali se desintegrasse gradualmente, o efeito de uma vida perversa não teria consequências tão sérias, mas, infelizmente, em tais casos, existe uma algema interna entre os Corpos Vital e de Desejos que evita a separação.  Temos observado que quando um ser humano vive quase exclusivamente uma vida superior, seus veículos espirituais são alimentados em detrimento dos inferiores.  Inversamente, quando sua consciência está enfocada nos veículos inferiores, ele os fortalece imensamente.

Devíamos entender que a vida do Corpo de Desejos não acaba com a partida do Espírito, pois permanece um resíduo de vida e de consciência.

Quando se busca o passado na Memória da Natureza, é espantoso encontrar-se o quanto tem prevalecido, através dos séculos e milênios, esta ligação dos Corpos Vital e de Desejos.  Na própria história atual, a selvageria tem sido tão comum e brutal que seu poder tem representado a medida indiscutível do que seja o certo, e essa verificação constitui, para o autor, uma experiência chocante.

Já foi ensinado que o egoísmo e o desejo foram decididamente estimulados sob o regime de Jeová, para dar incentivo à ação.  Isto, com o transcurso do tempo, endureceu de tal modo o Corpo de Desejos que quando o advento de Cristo aconteceu não existia quase ideia da vida celestial entre a Humanidade daquela época.

Os povos antigos não se contentavam em fazer somente todo o mal possível; tinham também que matar seus cavalos de guerra, colocar suas armas em seus esquifes, fazendo tudo para que se conservassem ali, porque o Éter desses instrumentos de guerra, que lhes havia pertencido durante a vida, exercia uma atração sobre eles e era um meio de mantê-los presos à esfera terrestre.  Isso os permitia assombrar os castelos – pois eles realmente assombravam – por anos e anos não só nas classes ricas e de guerreiros, como também nas outras classes.  Em casos de brigas sangrentas, nas quais os seres humanos se matavam uns aos outros, os fantasmas incitavam seus familiares vivos para que os vingassem, permanecendo a seu lado e ajudando-os a levar a cabo os feitos sangrentos.

Desta forma, perpetuava-se a maldade e o mundo permanecia em constante agitação, com sangue e luta. Esta condição ainda não se dissipou em nossos dias, no chamado tempo moderno.  Toda vez que morre uma pessoa que manteve em seu coração ódio e maldade, estes sentimentos entrelaçam os Corpos de Desejos e Vital, convertendo-a numa séria ameaça para a comunidade.  Uma pessoa que não tenha podido investigar e comprovar este assunto não pode imaginar o que isto realmente é.  Portanto, mesmo que não houvesse outras razões, a pena de morte deveria ser abolida, para que não se deixassem soltas essas entidades tão perigosas, capazes de incitar pessoas moralmente fracas a seguir suas pegadas.

O Mundo do Desejo é, por algum tempo, a moradia daqueles que morreram, e podemos dizer que os chamados “mortos” permanecem por um longo período entre seus amigos vivos.  Sem ser vistos por seus parentes, eles andam pela casa em que moraram.  No início, eles não estão cientes sobre o fato de que “duas pessoas podem estar no mesmo lugar ao mesmo tempo” e quando se sentam numa cadeira ou à mesa, um parente vivo pode sentar-se na mesma cadeira.  O ser que nós erradamente chamamos de morto sairá rapidamente para que a pessoa não se sente em cima dele, mas, em breve, aprende que isto não causará nenhum dano em sua atual condição e que ele pode permanecer em sua cadeira apesar de seu parente estar também sentado nela.

Há outras classes que, por assim dizer, tornam-se imortais no mal. Não tanto assim, mas o entrelaçamento de seus Corpos Vital e de Desejos obrigam-nos a ficar nas Regiões inferiores do Mundo do Desejo, próximo ao Mundo Físico onde vivemos.

Esta classe pode, desta forma, ser encontrada durante um considerável número de anos após sua partida do Corpo Denso.  É de fato curioso que, às vezes, estas pessoas desprezíveis sejam procuradas por antigos amigos que também morreram e necessitam ajuda para contatar o Mundo Físico.  O autor lembra-se de um exemplo ocorrido há alguns anos atrás, quando uma pessoa idosa estava prestes a deixar a vida.  Ela desejava ansiosamente ver seu marido que havia partido antes dela.  Porém, como ele já havia alcançado o Primeiro Céu, seus braços e seu Corpo haviam desaparecido e somente a cabeça permanecia visível.  Por isso, ele dificilmente teria condições de aparecer a ela quando ela deixasse o Corpo, muito menos de influenciar na hora de sua morte, e isso o desgostava. Alguns procedimentos estavam causando o retardamento do desligamento do Espírito e prejudicando ambas as partes.

Em sua ansiedade, o marido procurou ajuda de um amigo, cujo entrelaçamento dos Corpos Vital e de Desejos facilitava sua manifestação.  Este espírito pegou uma bengala pesada, que estava no quarto, e com ela derrubou um livro que estava na mão da filha da senhora, amedrontando tanto as pessoas presentes que pararam a demonstração, permitindo que a senhora deixasse o Corpo Denso.   O pobre ser humano que produziu este fenômeno já estava há mais de vinte anos nos Mundos invisíveis e, segundo o autor pôde perceber, não havia sinal de dissolução do Corpo de pecado do qual ele se revestia.  Ele deve ter permanecido lá por talvez o dobro ou o triplo do tempo mencionado.

O autor, em certa época, esteve muito preocupado com o efeito que a guerra poderia ter no entrelaçamento do Corpo Vital e o de Desejos, pensando que pudesse produzir o nascimento de legiões de monstros que afligiriam as futuras gerações.  No entanto, é com grande gratidão e alegria que ele reafirma que não devemos temer por isso.  Quando o ser humano é premeditadamente mal e vingativo e busca ardentemente ocasiões propícias para vinganças, somente quando tais sentimentos são cultivados, estimulados e mantidos é que produzem o endurecimento do Corpo Vital e causam um entrelaçamento destes veículos.  Sabemos, pelos registros da grande guerra, que as tropas não alimentam sentimento de vingança umas contra as outras; os adversários se relacionam como amigos e são até companheiros, entrando muitas vezes em contato e confraternizando-se.  Assim, ainda que a guerra seja responsável por uma tremenda mortalidade e, em consequência acarrete uma deplorável mortalidade infantil em idade futura, não pode ser acusada pelas doenças terríveis engendradas pela obsessão, nem pelos crimes sugeridos por esses demoníacos Corpos de pecado.

Continuando as investigações, o autor tentou várias experiências com Espíritos que se encontravam nos reinos superiores do Éter e que acabavam de morrer e, também, com seres que haviam estado no Mundo do Desejo por tempo mais ou menos longo, alguns deles já em condições de passar para o Primeiro Céu.  Muitos Espíritos que haviam partido desta vida procuraram cooperar bondosamente como “cobaias”.  O objetivo destas experiências era determinar até que ponto lhes seria possível revestirem-se nos materiais das Regiões etéricas inferiores e até das Regiões gasosas.  Foi comprovado que aqueles que acabavam de morrer podiam aguentar facilmente as vibrações etéricas inferiores, mas, sendo seres de bom caráter, não se sentiam satisfeitos em lá permanecer mais tempo do que o necessário, pois aquela situação lhes era desagradável.  Porém, ao fazer a experiência com espíritos vindos das sucessivas Regiões superiores do Mundo do Desejo, notou-se que se tornou cada vez mais difícil para eles envolverem-se no Éter ou penetrar nele.  A opinião geral foi que sentiram uma sensação semelhante à descida ao interior de um poço profundo, chegando até à asfixia.  Também se comprovou que foi absolutamente impossível às pessoas do Mundo Físico vê-los. Tentamos, por todos os meios de sugestão, dar uma sensação da nossa presença às pessoas congregadas em salões que visitávamos, mas não percebemos resposta às nossas manifestações, embora, em alguns casos, as formas que condensamos fossem tão opacas que pareciam ao autor serem tão escuras como as das pessoas físicas cuja atenção desejávamos atrair.  Colocamos nossos colaboradores entre as pessoas físicas e a luz, mas, mesmo assim, não obtivemos sucesso, nem com os que pertenciam às Regiões superiores, nem com aqueles que tinham acabado de falecer e podiam permanecer durante um tempo considerável naquela posição e densidade.

Capítulo V – A Região Limítrofe

É um engano pensar que o céu é um lugar de pura felicidade para todos.  Ninguém pode colher felicidade além daquela que semeou na Terra. A medida da nossa alegria lá se restringe às boas ações que praticamos na vida terrena.  O Panorama da Vida gravado no nosso Corpo de Desejos, logo após a morte, forma a base da alegria no céu tanto quanto a sentença do sofrimento no Purgatório.

Há duas classes para quem a existência post-mortem é particularmente vazia e monótona: o materialista é aquele que de tal modo deixou-se absorver pelos negócios mundanos que nunca pensou nos Mundos espirituais.  Não é difícil descobrir a razão.  Eles viveram uma vida moralmente equilibrada, jamais cedendo aos vícios que teriam que ser purificados nas regiões purgatoriais do Mundo do Desejo inferior, mas sem praticar aquelas boas ações que resultam em sensações de alegria no Primeiro Céu.  Ter dado grandes somas em dinheiro para a construção de igrejas, bibliotecas ou parques de nada lhe servirá ali, a menos que o doador se tenha interessado particularmente em suas dádivas, dando-se a si mesmo com o seu dinheiro.  Dar dinheiro simplesmente atrairá mais dinheiro na próxima existência, mas dar a si mesmo vale mais que dinheiro – produz crescimento anímico.  O materialista ser humano de negócios vai para a quarta Região, que é uma espécie de fronteira entre o Purgatório e o Primeiro Céu. Ele é bom demais para sofrer no Purgatório, mas não o suficiente para desfrutar o Primeiro Céu.  Ele ainda sente falta dos negócios que realizava na Terra. Sem ter nenhum interesse, salvo aqueles desejos que não pode realizar lá, sua vida é uma monotonia nada invejável, embora não tenha outro tipo de sofrimento.

O materialista convicto que nega Deus e pensa que a morte é uma aniquilação fica em pior situação.  Ele vê seu erro, mas, estando tão dissociado de ideias espirituais, muitas vezes não pode crer que aquilo seja o prólogo do aniquilamento. Pavorosa expectativa pesa terrivelmente sobre tais pessoas, e é comum vê-las murmurando: “Quando isto acabará?”.  E, pior que tudo, se alguém que tem conhecimento tenta esclarecê-las, elas continuarão negando a existência do espírito tanto quanto faziam na vida terrena, chamando-o de visionário por acreditar na existência após a morte.

Há muitas pessoas que crendo que quando um ser humano paga suas dívidas, cuida de sua família e vive uma vida dentro dos padrões morais aqui, ele também se dará bem lá, passam um período nada invejável no Mundo do Desejo após a morte.  Eles têm que ser admirados do ponto de vista só desta vida, mas nós precisamos cultivar pelo menos algumas tendências altruístas para progredir além de nosso status de evolução atual. 

Encontramos pessoas, que negligenciaram as obrigações superiores, na quarta Região do Mundo do Desejo depois da morte.  Há o comerciante que negociou honestamente, que trabalhou pelo desenvolvimento material da cidade e do país como um bom cidadão, pagou seus empregados com justiça, tratou sua mulher e sua família com consideração, dando-lhes todas as vantagens possíveis, etc. Ele pode até ter construído uma igreja ou, pelo menos, ter colaborado liberalmente, ou pode ter construído bibliotecas ou fundado institutos, etc., porém, ele não se deu a si mesmo.  Ele teve interesse na construção da igreja só pelo bem de sua família ou em relação à sua respeitabilidade. Não houve sentimento algum.  Todo seu coração estava em seu trabalho, em ganhar dinheiro ou conseguir uma posição de destaque no mundo.

Quando ele entra no Mundo do Desejo após a morte, ele é bom demais para o Purgatório, mas não suficientemente bom para ir para o Primeiro céu.  Ele foi justo com todos e não ofendeu ninguém, por isso, não tem nada para purgar.  Porém, não fez nada que pudesse lhe dar uma vida no Primeiro Céu onde o bem da vida anterior é assimilado. Daí ele estar na quarta Região, entre o Céu e o Inferno, por assim dizer.  A quarta Região é o centro do Mundo do Desejo e o sentimento lá é muito intenso.  O ser humano ainda sente um intenso desejo de negociar, mas como não pode nem comprar nem vender, sua vida é uma terrível monotonia.

Tudo que ele deu para as igrejas, institutos, etc., não representa nada, devido a sua falta de amor.  Somente quando damos com amor, desfrutamos da alegria no outro mundo.  Não é a quantidade que importa, mas o espírito que acompanha a doação.  Portanto é a força interna de cada um que beneficia a própria pessoa e os outros. Dinheiro dado indiscriminadamente torna as pessoas esbanjadas e indigentes, porém dando amor e simpatia, ajudando as pessoas que caíram a acreditarem em si e a começar uma vida com revigorado ardor, oferecendo-nos no serviço de ajuda à Humanidade, construímos tesouros no céu e damos mais do que ouro. Cristo disse: “Os pobres estão sempre conosco[3].  Nós podemos não estar preparados para tirá-los da pobreza para a riqueza, e isto pode não ser o melhor para eles, mas podemos encorajá-los a aprender a lição que deve ser aprendida com a pobreza.  Podemos ajudá-los a ter uma melhor visão da vida e, a menos que ele faça isso, não se sentirá “bem” quando passar para os Mundos superiores.  Ele sofrerá aquela terrível monotonia para aprender que tem que preencher sua vida com algo de real valor e que, numa vida futura, sua consciência o incitará a construir algo mais do que acumular dinheiro.  Entretanto, ele não deverá negligenciar suas obrigações materiais, porque isto seria tão prejudicial quanto esquecer seu crescimento espiritual.

Capítulo VI – O Primeiro Céu

Nos primórdios de sua evolução, a Humanidade cometeu os mais atrozes crimes devido ao egoísmo e desrespeito pelos sentimentos de seu próximo. Naquelas vidas, nós fomos maldosos, cruéis e raramente praticamos uma boa ação.  De fato, está gravado que naquela época o ser humano passava todo o seu tempo entre uma vida e outra nas regiões purgatoriais, expiando os crimes que praticou durante sua vida física e não havia vida no céu, por assim dizer.  Foi esta a situação de que a Bíblia fala como “perdidos em transgressão e pecado”, que fez com que Cristo penetrasse a Terra e tentasse levantar as vibrações para que o altruísmo, gradualmente, pudesse vencer o egoísmo e nos dar uma vida no céu, sobre a qual o progresso em nossa carreira evolutiva poderia basear-se.

Vimos, no capítulo anterior, como nossas más ações e hábitos indesejáveis são tratados pela impessoal Lei de Consequência que favorece o bem nas vidas futuras e, para ilustrar a atuação desta lei, servimo-nos de casos tais como o do assassino, do suicida, do alcoólatra e do avarento.  No entanto, estes são casos extremos, pois há muitas pessoas que viveram uma existência terrena com bons padrões morais, comprometida pela dose normal de egoísmo, que é o pecado mais comum da atualidade, do que pela real e decidida maldade.  Para estas pessoas, o estágio nas regiões purgatoriais do Mundo do Desejo é naturalmente reduzido e o sofrimento menos penoso.  Deste modo e no devido tempo, todos passam às Regiões superiores do Mundo do Desejo, onde se situa o Primeiro Céu.

Esta é a “Terra de Veraneio” dos Espiritualistas.  Da matéria desta Região, os pensamentos e as fantasias das pessoas, durante a vida, constroem as formas reais que veem na sua imaginação.  Uma característica dos Mundos internos é que sua matéria é facilmente moldável pelo pensamento e pela vontade, sendo que todas estas fantásticas formas assim criadas se movimentam por elementais e duram tanto quanto o pensamento ou o desejo que as gerou.  Na época do Natal, por exemplo, Papai Noel vive realmente e guia seu trenó e é visto em todas as variedades, robusto e saudável, por um mês ou mais, até que os desejos das crianças que o criaram cessem de fluir nesta direção.  Então, ele esmaece e dissolve-se até ser recriado no ano seguinte.  A Nova Jerusalém – com suas ruas de pérolas e mar de cristal – e todas as demais ideias piedosas e morais das pessoas religiosas, também ali se encontram.  O Purgatório tem seu demônio em pensamento-forma, dotado de chifres e cascos fendidos, criado pelo pensamento humano, mas, nas Regiões superiores do Mundo do Desejo, somente encontramos o que é bom e desejável nas aspirações humanas.  Aqui o estudante tem à sua disposição toda sorte de biblioteca, e pode dedicar-se a seus estudos de modo muito mais eficaz do que quando se achava confinado ao Corpo Denso.  Se desejar um livro, logo o tem.  O artista, mediante sua imaginação, cria seus modelos perfeitamente e os pinta com cores luminosas e vivas, ao invés de fazê-lo nas cores inexpressivas e mortas da Terra, coisa que sempre o desespera, porque, na vida terrena, lhe é impossível reproduzir os tons que capta com sua visão interna, pois o Mundo do Desejo é o mundo da cor por excelência, e ele consegue a realização dos anseios de seu coração, onde recebe inspiração e força para continuar seu trabalho nas vidas futuras.

De maneira idêntica, o escultor encontra satisfação e elevação neste estágio de vida post-mortem. Com a maior facilidade ele trabalha sobre a plástica matéria desse mundo, modelando as estátuas com que sonhou na vida terrena.  O músico também é beneficiado, embora não se encontre ainda no verdadeiro mundo do som.  Este oceano de harmonia – onde a celestial “música das esferas” é ouvida – situa-se na Região do Pensamento Concreto, conhecida como Segundo Céu entre os Cristãos esotéricos.  No Primeiro Céu, o músico ouve apenas ecos das melodias celestiais que são mais sublimes do que qualquer uma jamais ouvida na Terra, e sua alma deleita-se nesta primorosa harmonia, prenúncio de melhores coisas que virão.

Aqui se encontram, também, todas as criancinhas que passam direto para este Plano após morrerem e, se seus familiares pudessem vê-las, certamente não se lamentariam, pois elas desfrutam de uma vida verdadeiramente invejável.  Sempre são atraídas por parentes ou amigos que morreram antes e que passam a cuidar delas.  Lá também estão aqueles que acumulam tesouros celestiais, empregando o melhor do seu tempo em inventar recreações e criar brinquedos para os pequeninos.  E, assim, a vida no Primeiro Céu transcorre de modo maravilhoso para as crianças, sem que sua educação seja negligenciada.  Elas são agrupadas em classes, não somente por idade e capacidade, mas também de acordo com o temperamento, e são particularmente instruídas sobre os efeitos dos desejos e emoções, o que se consegue com toda facilidade num mundo onde tais condições podem ser demonstradas objetivamente.  Deste modo, ensinam-lhes, através de lições objetivas, o benefício de cultivar o bem e desejos altruístas.  Muitas almas que vivem agora, aqui na Terra, uma invejável vida moral, devem isso a ter morrido na infância e vivido de quinze a vinte anos no Primeiro Céu, antes de renascerem outra vez.

Nas Regiões inferiores do Mundo do Desejo, o corpo inteiro pode ser visto, mas, nas Regiões superiores, somente a cabeça permanece.  Rafael que, como tantos outros da Idade Média, foi beneficiado com a chamada segunda visão, retratou deste modo a sua Madona Sistina, atualmente na Galeria de Arte de Dresden, onde a Madona e o Menino Cristo são vistos flutuando numa atmosfera dourada, e cercados por uma hoste de cabeças de espíritos, condição que o investigador ocultista sabe estar em harmonia com a verdade dos fatos.

Nas Regiões superiores do Mundo do Desejo, a confusão de línguas cede lugar a um universal modo de expressão, que previne totalmente a possibilidade de má compreensão de qualquer espécie.  Lá cada um de nossos pensamentos toma uma cor e forma definidas, percebida por todos, e este pensamento simbólico emite certo som, que não é uma palavra, mas transmite o que queremos para aquele a quem nos dirigimos, independente da língua que ele falava na Terra.

Capítulo VII – O Segundo Céu

No decorrer do tempo todo ser humano está pronto para ascender ao Segundo Céu, localizado na Região do Pensamento Concreto. Todas as boas aspirações e desejos da vida passada são gravados na Mente que, então, contém tudo o que seja de valor permanente. O Ego retira-se do Corpo de Desejos que será nada mais que um invólucro vazio e, revestido apenas pela Mente, ascende ao Segundo Céu.

Recordemos que ao terminar o panorama, imediatamente após a morte, quando o Ego abandonou o Corpo Vital, ele passou por um período de inconsciência antes de despertar no Mundo do Desejo.  Há, também, um intervalo entre sua saída do Corpo de Desejos, no Primeiro Céu, e seu despertar no Segundo Céu.  Mas, nesta oportunidade, não há consciência; todas as faculdades estão intensamente alertas, há um estado de hiperconsciência enquanto o Espírito passa por esse intervalo chamado “O Grande Silêncio”. Não importando quão materialista um ser possa ter sido na Terra, esta condição de sua Mente agora desaparece, e o ser sabe que ele é inerentemente divino quando alcança este Grande Silêncio, portal de seu lar celestial.  É como quando alguém desperta após um sonho terrível, e dá um profundo suspiro de alívio ao verificar que os fatos ocorridos no sonho não eram reais.  Do mesmo modo, o Ego, quando entra no Grande Silêncio, desperta dos enganos e ilusões da vida terrena com uma sensação de infinito alívio, pleno de inabalável segurança e sente, mais uma vez, a calma repousante de estar nos braços eternos do Grande Espírito Universal.

Com o tempo, um ponto é alcançado no qual o resultado da dor e do sofrimento, relativo à fase purgatorial, junto com a alegria extraída das boas ações da vida passada, se gravam no Átomo-semente do Corpo de Desejos.  Juntos eles constituem o que chamamos de consciência, esta força impulsora que nos alerta contra o mal, como produtor do sofrimento, e nos predispõe para o bem, como gerador de felicidade e alegria.  Então, o Ego abandona seu Corpo de Desejos para que se desintegre, assim como abandonou seus Corpos Denso e Vital.  Ele leva consigo somente as forças do Átomo-semente que formarão o núcleo dos futuros Corpos de Desejos, assim como aconteceu com a partícula permanente de seus anteriores veículos de sentimento.

O tempo habitual de permanência no Mundo do Desejo, depois de abandonado o Corpo Denso na chamada morte, corresponde a um terço da vida neste Corpo, mas tal norma é apenas uma regra geral.   Há muitos casos em que esta permanência é encurtada ou prolongada.  Por exemplo, se um ser pratica os exercícios recomendados pela Fraternidade Rosacruz, especialmente o de Retrospecção à noite, ele pode, por este método científico, desde que tenha sido sério e sincero em sua execução, suprimir inteiramente a necessidade de uma experiência purgatorial.  As imagens das cenas em que prejudicou alguém serão apagadas do Átomo-semente do coração pela contrição e, assim, não haverá, para este ser, expiação purgatorial.  Onde tenha feito algo recomendável, isto é absorvido como alimento para a alma, encurtará substancialmente ou suprimirá completamente sua experiência no Primeiro Céu.  Desse modo, tal ser estaria relativa ou inteiramente livre para dedicar-se ao serviço humanitário no Mundo suprafísico e, nesta condição, ele pode permanecer nas Regiões mais baixas.  Estas, no entanto, não constituiriam para ele nem Purgatório, nem Primeiro Céu. Muitos dos mais devotos discípulos realizam este trabalho humanitário por muitos anos após a morte.  Outros, no entanto, vão imediatamente para o Segundo Céu.  O crescimento anímico alcançado durante a vida de serviço, que os liberou da vivência no Purgatório e no Primeiro Céu, lhes permite, também, levar adiante determinadas investigações no Segundo Céu e passar por certos treinamentos, que os prepararão para uma elevada e melhor posição como Auxiliares da Humanidade numa futura vida.  Por conseguinte, esta classe de seres não poderá ser vista por nenhum amigo ou parente, quando fora do Corpo nas horas de sono.

A “Região Aérea” é a terceira subdivisão da Região do Pensamento Concreto.  Aqui encontramos os arquétipos dos desejos, paixões, anelos e sentimentos, tais como os que conhecemos no Mundo do Desejo.  Nesta Região, todas as atividades do Mundo do Desejo se assemelham a condições atmosféricas.  Como o beijo da brisa de verão, os sentimentos de prazer e alegria chegam aos sentidos do Clarividente; como o suspiro do vento nas copas das árvores, assim parecem as aspirações da alma e, como relâmpagos, as paixões das nações em guerra.  Nesta Região do Pensamento Concreto estão, também, as imagens das emoções do ser humano e dos animais.

Tanto a cor como a forma existem (no Segundo Céu) de modo igual ao Mundo Físico, mas o som é o que predomina no Mundo do Pensamento.  A cor é mais acentuada no Mundo do Desejo e a forma no Mundo Físico, embora seja também verdade que as cores e as formas do Segundo Céu sejam mais belas que nos outros dois Mundos.

Capítulo VIII – A Caminho do Renascimento

Depois de um tempo (no Terceiro Céu), surge o desejo de novas experiências e a contemplação de um novo renascimento.  Antes de submergir-se na matéria, o Tríplice Espírito está desnudo tendo, somente, as forças dos quatro Átomos-semente (que são o núcleo do Tríplice Corpo e da Mente).

O Átomo-semente pode atrair, em cada Região, nada mais que o material com o qual tem afinidade, e nada além de uma definida quantidade da substância de cada Região.   Assim, o veículo construído, em torno de cada núcleo, vem a ser a exata contraparte do correspondente veículo da última vida, com exceção do mal que foi expurgado e com o acréscimo da quinta essência do bem incorporado ao Átomo-semente.

O material selecionado pelo Tríplice Espírito modela-se como uma grande campânula, aberta na base, e com o Átomo-semente no ápice.  Se concebermos esta imagem espiritualmente, podemos compará-la a um sino de imersão descendo num mar composto de matérias fluídas de crescente densidade, correspondentes às diferentes subdivisões de cada Mundo.  A matéria atraída à textura do corpo em forma de campânula torna-o mais pesado, assim ele se submerge na próxima subdivisão inferior, desta tomando sua própria cota de matéria.  Deste modo, se faz mais pesado ainda e mergulha mais profundamente até passar através das quatro subdivisões da Região do Pensamento Concreto, e a forma da nova Mente do ser humano se completa.  A seguir, as forças do Átomo-semente do Corpo de Desejos são despertadas.  Ele se coloca no ápice da campânula, por dentro, e a matéria da sétima Região do Mundo do Desejo se agrupa ao seu redor, até que se submerge na sexta Região, adquirindo o material correspondente, e este processo continua até alcançar a primeira Região do Mundo de Desejo.  A campânula tem, agora, duas camadas: a da Mente, no exterior, e a do novo Corpo de Desejos, interiormente.

Excetuando o caso de um ser altamente evoluído, este trabalho do Ego (a construção de seus veículos) é insignificante no atual estágio da evolução humana. A maior oportunidade lhe é dada na construção do Corpo de Desejos, muito pouco na do Corpo Vital, e quase nenhuma na do Corpo Denso.  Não obstante, esta pouca intervenção é suficiente para fazer de cada indivíduo uma expressão de seu próprio Espírito e, assim, diferente de seus pais.

Quando a impregnação do óvulo tem lugar, o Corpo de Desejos materno trabalha sobre ele por um período de dezoito a vinte e um dias, permanecendo o Ego fora, em seu Corpo de Desejos e na envoltura mental, mas sempre em contato com a mãe.

Sabemos, agora, que nasce um novo Cordão Prateado a cada vida, que uma parte dele brota do Átomo-semente do Corpo de Desejos, no grande vórtice do fígado; que outra parte nasce do Átomo-semente do Corpo Denso, no coração, e que ambas se unem no Átomo-semente do Corpo Vital, no plexo solar, e que esta união dos veículos superiores e inferiores produz os primeiros movimentos do feto.

PARTE V – A ESPIRITUALIZAÇÃO DO CORPO DE DESEJOS DO SER HUMANO

Capítulo I – Seres Superiores como Fatores

Os Arcanjos tornaram-se especialistas na construção de um corpo de matéria de desejos, a mais densa do Período Solar. Portanto, eles são capazes de ensinar e orientar seres menos evoluídos, como o ser humano e o animal, em como moldar e utilizar um Corpo de Desejos.

De novo, temos uma aparente anomalia, pois os Arcanjos eram a “humanidade” do Período Solar quando o Corpo Vital estava em seu início, numa fase em que o ser humano ainda não tinha Corpo de Desejos. A dificuldade, porém, desaparece ao recordarmos que cada um de nossos Corpos é a sombra de um dos Aspectos do Espírito, e que estes Corpos não nos foram dados por estas Hierarquias. Elas são, unicamente, auxiliares do ser humano no aprendizado em determinado veículo, por causa da especial aptidão que possuem.  Assim, os Arcanjos são os que nos instruem a respeito do nosso Corpo de Desejos, porque se especializaram na construção e uso de tal veículo, quando eram humanos no Período Solar, pois construíram seus corpos mais densos com a “matéria de desejos”, assim como nós estamos, agora, construindo nossos corpos de matéria química mineral.

Na Revolução Lunar do Período Terrestre, os Arcanjos (“humanidade” do Período Solar) e os Senhores da Forma se encarregaram da reconstrução de nosso Corpo de Desejos, mas eles não estavam sozinhos neste trabalho. Quando ocorreu a divisão do Globo em duas partes, houve uma divisão semelhante no Corpo de Desejos de alguns seres em evolução. Já observamos que, onde esta divisão teve lugar, a forma estava pronta para tornar-se o veículo de um Espírito Interno e, a fim de favorecer este objetivo, os Senhores da Mente (“humanidade” do Período de Saturno) dedicaram-se à parte superior do Corpo de Desejos, e nela implantaram o “eu” pessoal, separado, sem o qual o atual ser humano, com todas suas gloriosas possibilidades, não teria existido.

Desse modo, na última parte da Revolução Lunar, do Período Terrestre, o primeiro germe da Personalidade independente foi implantado, na parte superior do Corpo de Desejos, pelos Senhores da Mente.

Os Arcanjos agiam na parte inferior do Corpo de Desejos, imprimindo-lhe desejos simplesmente animais. Eles trabalharam, também, no Corpo de Desejos quando nele não havia, ainda, nenhuma divisão.  Alguns desses Arcanjos tornaram-se os veículos dos Espíritos-Grupo dos animais, trabalhando sobre eles desde o exterior, não penetrando inteiramente nas formas animais, ao contrário do que faz o Espírito individual no corpo humano.

O Corpo de Desejos foi reconstruído para torná-lo capaz de ser interpenetrado pela Mente germinal que, durante o Período Terrestre, seria implantada em todos os Corpos de Desejos nos quais fosse possível fazer a divisão antes mencionada.

Os Senhores da Mente se encarregaram da parte superior do Corpo de Desejos e da Mente germinal, impregnando-os com a qualidade do eu individual, sem a qual nenhum ser independente e autossuficiente, como somos hoje, seria possível.

Quando refletidas num lago, as imagens das árvores aparecem invertidas, a folhagem parecendo estar no mais profundo da água, assim, o mais elevado aspecto do Espírito, o Espírito Divino, encontra sua contraparte no mais inferior dos três Corpos, o Corpo Denso. O próximo aspecto mais elevado, o Espírito de Vida, reflete-se no imediato corpo inferior, o Corpo Vital.  O terceiro aspecto do Espírito, o Espírito Humano, e seu reflexo, o terceiro corpo, o Corpo de Desejos, aparecem mais próximos do espelho refletor – a Mente – que corresponde à superfície do lago – o meio refletor de nossa analogia.

O veículo inferior dos Arcanjos é o Corpo de Desejos.  Este veículo, em nossa Humanidade, foi obtido no Período Lunar, no qual Jeová era o mais elevado Iniciado.  Por conseguinte, Jeová pode ocupar-se do Corpo de Desejos humano.  O veículo mais denso de Jeová é o Espírito Humano, a sua contraparte é o Corpo de Desejos.  Os Arcanjos são seus cooperadores, porque são capazes de administrar as Forças Espirituais Solares e o Corpo de Desejos é seu veículo inferior.  Desse modo, podem trabalhar com a Humanidade e prepará-la para a época em que seja capaz de receber os impulsos espirituais diretamente do Sol, sem a intervenção da Lua.

Jeová ajudou o ser humano a controlar a Mente e o Corpo de Desejos, dando-lhe Leis e ordenando punições por sua transgressão.  O temor a DEUS foi lançado contra os desejos da carne.  Desta maneira, o pecado tornou-se manifesto no mundo.

Os Anjos faziam com que o trigo e as uvas, que os humanos plantavam, crescessem ou murchassem; que seu rebanho aumentasse ou não; que sua família se multiplicasse ou morresse, segundo fosse preciso abençoá-los pela obediência à Lei do Espírito de Raça, Jeová, ou puni-los pela transgressão à Lei. Sob seu controle, todas as Religiões de Raça – Confucionismo, Taoísmo, Budismo, Judaísmo, etc. – floresceram e trabalharam sobre o Corpo de Desejos, como Religiões do Espírito SantoJeová ajuda o ser humano a controlar o Corpo de Desejos, porque este veículo teve seu início no Período Lunar.

Os Anjos trabalharam sozinhos com o ser humano, na Época Hiperbórea, quando ele tinha apenas os Corpos Denso e Vital, mas, na Época Lemúrica, quando o Corpo de Desejos foi anexado, os Arcanjos intervieram para ajudar o infante Espírito Humano a controlar seus futuros veículos.  Eles neutralizavam o Corpo de Desejos, de modo a que ele fosse sexualmente ativo, somente em certas épocas do ano.

Em determinados períodos do ano (durante a Época Lemúrica), os Arcanjos retiravam sua restritiva influência sobre o Corpo de Desejos, e os Anjos conduziam a Humanidade a grandes templos, onde o ato gerador era realizado nos momentos em que as constelações eram próprias.  Em nossos dias, as viagens de lua-de-mel são lembranças atávicas dessas migrações com objetivos propagadores, e mostram uma conexão com os corpos celestes, na expressão lua-de-mel.

Quando a propagação tinha sido alcançada, o Corpo de Desejos era novamente neutralizado e, por consequência, não havia sofrimento ligado ao parto, como é o caso, atualmente, dos animais que estão, agora, em condições semelhantes.

O Ego humano era muito débil (na metade da terceira parte da Época Atlante) e tinha de obter ajuda de mais alguém.  Por isso Jeová, o mais elevado Iniciado do Período Lunar, regente de Anjos e Arcanjos que trabalham com o ser humano, soprou nas narinas do ser humano, deu-lhe pulmões e lhe deu o Espírito de Raça no ar, isto é, para conter as tendências endurecedoras do Corpo de Desejos e ajudá-lo a dominar esse Corpo.  O Corpo de Desejos tem o domínio sobre os músculos voluntários.  Cada movimento que realizamos é motivado pelo desejo e todo esforço destrói tecido e endurece, cada vez mais, todas as partículas de nossos tecidos.

Há três fases pelas quais este trabalho (a união com o Eu Superior) conquista a natureza inferior, mas estas fases não se sucedem completamente.  Em certo sentido vão juntas, assim que, no estágio atual, a primeira recebe mais atenção, a segunda, menos e a terceira, menos ainda. A seu tempo, quando a primeira fase se completa inteiramente, maior atenção será dada às outras duas.

Há três ajudas dadas para a realização dessas três fases.  Elas podem ser vistas no mundo exterior, onde os grandes condutores da Humanidade as dispuseram.

A primeira ajuda é a Religião de Raça que, auxiliando a Humanidade a subjugar o Corpo de Desejos, prepara-a para a união com o Espírito Santo.

A máxima realização, desta ajuda, foi vista no Dia de Pentecostes.  Como o Espírito Santo é o Deus da Raça, todas as línguas são expressões Dele. Esta é a razão por que os Apóstolos, quando inteiramente unidos e plenos do Espírito Santo, falavam diferentes idiomas e foram capazes de convencer seus ouvintes.  Seus Corpos de Desejos tinham sido purificados o suficiente para que se efetuasse a desejada união.  Esta é a realidade que o discípulo alcançará um dia – o poder falar todas as línguas.  Pode também ser citado, como um exemplo histórico moderno, que o Conde de St. Germain (que foi um dos últimos renascimentos de Christian Rosenkreuz, o fundador de nossa Sagrada Ordem) falava todas as línguas; assim, todos com os quais se comunicava, pensavam que ele pertencia à mesma nação que eles. Conseguira, também, a união com o Espírito Santo.

O efeito desta Antiga Iniciação era produzir uma raça que tivesse o apropriado grau de desconexão entre os Corpos Denso e Vital; e, também, despertar o Corpo de Desejos de seu estado de letargia durante o sono.  Assim, uns poucos, em especial, foram preparados para a Iniciação e lhes davam oportunidades que não podiam ser dadas a todos.  Encontramos exemplos deste método entre os judeus onde, da tribo de Levi, os escolhidos foram os Templários e, também, no caso dos Brâmanes, que eram a única classe sacerdotal entre os hindus.

Quando o sangue fluiu de determinados centros, o Grande Espírito Solar, Cristo, foi liberado do veículo físico de Jesus, e encontrou-Se na Terra, com veículos individuais.  Os já existentes corpos planetários foram compenetrados por Seus próprios veículos e, num instante, difundiu Seu próprio Corpo de Desejos por todo o Planeta, o que Lhe permitiu, desde então, trabalhar sobre a Terra e sua Humanidade desde o interior.

Naquele momento, uma extraordinária onda de espiritual luz solar inundou a Terra.  Rompeu-se o véu que o Espírito de Raça tinha colocado diante do Templo para resguardá-lo de todos, com exceção dos poucos escolhidos, e tornou o Caminho da Iniciação livre, daí por diante, para quem o desejasse.  No que diz respeito aos mundos espirituais, esta onda transformou as condições da Terra num instante, mas as condições densas concretas são, naturalmente, afetadas muito mais lentamente.

Como todas as rápidas e intensas vibrações de luz, esta grande onda cegou o povo por seu brilho ofuscante, por isso foi dito que “o Sol escureceu”.  Exatamente o oposto aconteceu.  O Sol não foi encoberto, mas brilhou em glorioso esplendor.  Foi o excesso de luz que cegou o povo e, somente quando a Terra inteira absorveu o Corpo de Desejos do resplandecente Espírito Solar, a vibração retornou ao ritmo normal.

No Período Solar, o mais inferior dos Globos estava no Mundo do Desejo, por conseguinte os Arcanjos têm o Corpo de Desejos como seu veículo mais denso. O Senhor Cristo, porém, foi muito além.  Elevou-Se tão alto que hoje tem o Espírito de Vida como seu veículo mais inferior e, comumente, não usa outro mais denso.  Unicamente pelo poder do Espírito de Vida é que a tendência nacional será sobrepujada, e a irmandade universal do ser humano se tornará uma realidade.  Os veículos pertencentes ao Mundo do Pensamento – o Ego e a Mente – promovem o separatismo. Eles têm no separatismo a sua característica.  O Espírito de Vida, porém, é o princípio da unificação no Universo, portanto o Senhor Cristo é o único Ser apto a tornar real a fraternidade.

O Senhor Cristo, como um Arcanjo, aprendera a construir até o Corpo de Desejos, mas nunca aprendeu a construir os Corpos Denso e Vital.  Os Arcanjos tinham trabalhado sobre a Humanidade desde o exterior, como os Espíritos-Grupo fazem-no, mas isto não foi o suficiente.  A ajuda tinha de vir desde o interior. Isto foi possível pela união do Senhor Cristo e Jesus e, portanto, é verdade, no mais elevado e literal sentido, o que São Paulo diz:

Não há senão um mediador entre DEUS e o ser humano: Cristo Jesus, o Justo.” (ITim 2:5).

Os Iniciados progrediram e desenvolveram, também, veículos mais elevados, interrompendo o uso comum de veículos inferiores, quando a habilidade em usar um novo e mais elevado veículo foi atingido.  Comumente, o mais inferior veículo de um Arcanjo é o Corpo de Desejos, mas o Senhor Cristo, que é o mais elevado Iniciado do Período Solar, normalmente utiliza, como veículo inferior, funcionando tão conscientemente no Mundo do Espírito de Vida, como o fazemos no Mundo Físico.  O estudante é solicitado a observar este ponto, de modo especial, por ser o Mundo do Espírito de Vida, o primeiro Mundo universal, como foi explanado no capítulo sobre os Mundos.  Este é o Mundo no qual a diferenciação cessa e a união começa a ser compreendida, até onde concerne ao nosso Sistema Solar.

O senhor Cristo não podia nascer num Corpo Denso, porque Ele nunca passou por uma evolução como a do Período Terrestre.  Ele teria, primeiramente, de adquirir a habilidade em construir um Corpo Denso, tal como nosso veículo, mas, mesmo que possuísse esta habilidade, teria sido inoportuno, para um Exaltado Ser, despender a energia necessária para a construção deste Corpo através da vida antenatal, da infância e juventude, e trazê-lo a suficiente maturidade para seu uso.  O Senhor Cristo tinha deixado de usar, comumente, veículos que corresponderiam a nosso Espírito Humano, Mente e Corpo de Desejos, embora tivesse aprendido a construí-los no Período Solar e conservado esta habilidade, e neles funcionar sempre que o desejasse ou fosse necessário.  Ele usou Seus próprios veículos, tomando somente os Corpos Denso e Vital de Jesus.  Quando este completou 30 anos, o Senhor Cristo penetrou nesses Corpos e usou-os até a culminância de Sua Missão no Gólgota.  Após a desintegração do Corpo Denso, o Senhor Cristo apareceu entre Seus Discípulos em Corpo Vital, no qual funcionou por algum tempo.  O Corpo Vital é o veículo que Ele usará quando surgir novamente, pois nunca mais tomará outro Corpo Denso.

Capítulo II – A Falibilidade do Corpo de Desejos

Como, então, desenvolveremos nosso poder espiritual?  Qual é o Caminho, a Verdade e a Vida?  Temos a tríplice senda que nos é indicada no glorioso ensinamento de Cristo. A Humanidade, comum em toda parte, está sendo trabalhada pela lei que opera sobre o Corpo de Desejos e o mantém controlado. O pensador opõe-se à carne. Mas, sob a lei, ninguém pode ser salvo.

A Religião Cristã não teve tempo, ainda, de alcançar seu grande objetivo – a Fraternidade Universal.  O ser humano, até agora, está sob o pesado trabalho do dominante Espírito de Raça e os ideais do Cristianismo lhe são, ainda, muito elevados.  O intelecto pode perceber algumas de suas belezas e prontamente admitir que amassem nossos inimigos, mas as paixões do Corpo de Desejos são, contudo, demasiado fortes.  A Lei do Espírito de Raça sendo “Olho por olho”, o sentimento é “Eu me vingarei”. O coração roga por amor; o Corpo de Desejos confia na vingança.  O intelecto compreende, abstratamente, a beleza em amar os inimigos, mas, nos casos concretos, alia-se ao sentimento vingativo do Corpo de Desejos alegando, como pretexto para a desforra, que “o organismo social deve ser protegido”.

Enquanto os puros pensamentos levam-nos, a passos largos, ao caminho da realização, as emoções e ânsias do Corpo de Desejos, não são facilmente subjugadas, pois este veículo é consideravelmente mais solidificado que a Mente.  Enquanto essa, regenerada, concorda de pronto com a ideia de que deveríamos amar nossos inimigos, o Corpo de Desejos (a natureza emocional e passional) esforça-se, com todas suas fibras, em vingar-se – olho por olho, dente por dente.  Às vezes, anos e anos passados, julgamos que a serpente adormecida está subjugada, que por fim, ganhamos domínio sobre ela e que não poderá prejudicar nossa paz; a serpente consegue subitamente levantar-se e destruir todas nossas esperanças, tomar a iniciativa de continuar a comportar-se com violência e jurar vingança por erros reais ou imaginários. Tomemos, então, o total poder de nossa natureza superior para subjugar-nos esta parte rebelde de nosso ser.  O autor pensa que este é o espinho na carne, a respeito do qual S. Paulo suplicou ao Senhor, por três vezes, e que lhe respondeu.  “Minha graça é suficiente para vós” (IICor 12:8-9).  De fato, necessitamos de toda graça para vencer, e a eterna vigilância é o preço da salvação, de modo que vamos “vigiar e orar”.

O Corpo de Desejos é o responsável por todas nossas ações boas, más ou indiferentes, e os filósofos orientais, portanto, dão instruções a seus discípulos para matarem o desejo e absterem-se da ação boa ou má, tanto quanto possível, a fim de que possam assim salvar-se da roda de nascimento e morte.  Mas, esta têmpera, que é tão grande ameaça quando assume o controle, pode tornar-se muito eficaz para o serviço, sob nossa própria direção. Não pensaríamos, por um momento, em tirar a têmpera de uma faca; nós a tornaríamos incapaz de cortar qualquer coisa.  A têmpera do Corpo de Desejos deve ser controlada, mas, de nenhum modo, suprimida.  O poder dinâmico de movimento e ação, no Mundo invisível, é armazenado neste Corpo de Desejos e, a menos que ele esteja intacto, não podemos esperar controlá-lo, assim como um transatlântico, cujas máquinas estivessem inutilizadas, não poderia enfrentar as ondas do oceano.

Há determinadas sociedades que ensinam métodos negativos de desenvolvimento, e uma de suas primeiras instruções, para o aluno, é a de deixar cair à mandíbula e colocar-se perfeitamente negativo.  Uma pessoa que lograsse passar do Mundo Físico para os Mundos espirituais por tais métodos, certamente se encontraria como madeira à deriva no oceano, levada de cá para lá pelas ondas, vítima e joguete de todas as correntes.  Há, nos Mundos internos, como aqui, seres que não são nada benevolentes, que estão prontos a tirar proveito de alguém que se aventure nestes Mundos, sem estar preparado para proteger-se contra eles.  Desse modo, vemos a suprema importância de sujeitarmos nossos desejos à vontade do Espírito aqui neste Mundo, de impormos a submissão de nosso Corpo de Desejos de modo que ele possa ser treinado, antes de tentarmos entrar nos Mundos internos.  No Mundo Físico ele está, em grande parte, mantido sob controle pelo fato de encontrar-se inserido no Corpo Denso e, portanto, não pode agitar-nos daqui para acolá na mesma intensidade em que pode fazê-lo quando libertado da casa-prisão física.

Mesmo a sujeição do Corpo de Desejos, difícil como é para alcançá-la, não servirá para tornar-se um ser humano consciente nos Mundos invisíveis, pois o Corpo de Desejos não evoluiu a tal ponto que possa agir como um real instrumento de consciência.  É informe, assemelha-se a uma nuvem, na grande maioria da Humanidade, e somente um determinado número de vórtices se faz presente como centros sensitivos ou centros de consciência, mas ainda não suficientemente desenvolvidos sem alguma outra ajuda.  Portanto, é necessário trabalhar e educar o Corpo Vital de tal maneira que ele possa ser usado em voos anímicos.  A parte do Corpo Vital formada pelos Éteres de Luz (ou Luminoso) e Refletor é o que podemos chamar de Corpo-Alma; isto quer dizer, é o mais estreitamente ligado ao Corpo de Desejos e à Mente e, também, o mais receptivo ao contato do Espírito que os outros dois Éteres.

Grande parte dos seres humanos associa espiritualidade à intensa demonstração de emotividade, mas esta ideia não tem, absolutamente, nenhum fundamento.  Pelo contrário, a espécie de espiritualidade que é desenvolvida e associada à natureza emocional do Corpo de Desejos é precária ao extremo.  É gerada em reuniões para despertar o fervor religioso, onde a emotividade é elevada a grandes alturas, induzindo uma pessoa à exagerada ostentação de fervor religioso, que logo se dissipa, deixando-a exatamente como antes, para dissabor dos propagadores da fé e dos que estão envolvidos neste trabalho de evangelização.  Mas, o que mais podem esperar?  Eles planejam salvar almas com tambores e pífanos, cânticos ritmados, apelos feitos numa voz que se eleva e se reduz em ondas harmônicas, tudo com poderoso efeito sobre o Corpo de Desejos, assim como as tempestades que agitam o mar até a fúria e, depois, se acalmam.

Quando os jornais começam a inculcar certas ideias na Mente do público, eles não esperam alcançar seu objetivo por um único editorial, não importa quão vigorosamente tenha sido escrito, mas, por artigos de repetição diária, eles gradualmente criam o desejado sentimento na opinião pública.  A Bíblia tem anunciado o princípio do amor há dois mil anos, a cada domingo, dia após dia, de milhares de púlpitos.  A guerra ainda não foi abolida, mas o sentimento em favor da paz universal vem crescendo, cada vez mais forte, conforme o tempo passa.  Esses sermões têm tido um efeito apenas leve, no que diz respeito ao mundo, não importa quão poderosamente um determinado público possa comover-se por certo tempo, pois o Corpo de Desejos é aquela parte do complexo ser humano que esteve impressionado na ocasião e incitado desse modo.

O Corpo de Desejos é uma aquisição posterior a do Corpo Vital, por conseguinte não tão cristalizado e, portanto, mais impressionável.  Por ser de estrutura mais delgada que a do Corpo Vital, é menos retentivo e as emoções tão facilmente geradas são, também, facilmente dissipadas.

Afirma-se, às vezes, que o hipnotismo pode ser usado beneficamente para a cura da embriaguez e de outros vícios, e é fácil admitir tal fato, visto somente do ponto de vista material, porque aparenta ser verdade.  Mas, do ponto de vista da ciência oculta, é diferente.  Como todos os outros desejos, a avidez pela bebida alcóolica está no Corpo de Desejos e é dever do Ego dominá-la pelo poder da vontade.  Esta é a razão pela qual ele está na escola da experiência chamada vida, e nenhum outro ser pode crescer moralmente por ele, como, também, ninguém mais pode digerir o alimento por ele.  A Natureza não pode ser ludibriada; cada um deve solucionar seus próprios problemas, superar as faltas por sua própria vontade.  Se, portanto, um hipnotizador subjuga o Corpo de Desejos de um alcoólatra, o Ego deste alcoólatra terá de aprender sua lição numa futura vida, se morre antes do hipnotizador.  Mas, se este falece primeiro, o alcoólatra inevitavelmente voltará a beber, pois a parte do Corpo Vital do hipnotizador, que mantinha o mau desejo do alcoólatra sob controle, gravita de volta ao hipnotizador e a cura resulta em nada.  O único caminho permanente, para vencer-se um vício, é pela própria vontade.

O Corpo de Desejos é a deturpada expressão do Ego. Converte a “Individualidade” do Espírito em “egoísmo”.  A Individualidade não procura seus interesses a expensas de outros.  O egoísmo procura ganhar, indiferente aos demais.  O assento do Espírito Humano está, primeiramente, na Glândula Pineal e, secundariamente, no cérebro e no sistema nervoso cérebro-espinhal, que controlam os músculos voluntários.

O Corpo de Desejos, que percebemos como nossa natureza emocional, está sempre procurando alguma coisa nova.  Essa necessidade por mudanças de condição, de ambiente, de ânimo, de amor às emoções e sensações, é devida às atividades do Corpo de Desejos que é como o mar numa tempestade, cheio de ondas, agitando-se de cá para lá, a esmo e sem objetivo, cada uma mais poderosa e destrutiva quando descontrolada e sem submissão ao poder central diretor.

A Mente, na verdade, é o foco através do qual o Espírito se esforça em dominar a Personalidade e guiá-la de acordo com a habilidade adquirida durante seu período evolutivo.  Mas, presentemente, entre a grande maioria de pessoas, esta habilidade é tão indefinida que não se pode contar com ela, e os seres são, portanto, levados principalmente por seus sentimentos e emoções, sem muita receptividade à razão e ao pensamento.

Reconhecendo o grande e maravilhoso poder do corpo emocional e sua facilidade ao “ritmo” que, pode-se dizer, é sua nota-chave, a teologia progressista tem-se dirigido e focalizado seus esforços em apelos a este veículo.  É esta parte de nossa natureza que aprecia o espetáculo do pastor sensacionalista.  Este veículo é o que se agita e geme sob o discurso bombástico do evangelizador, vibrante pela emoção, elevando-se e decaindo sob a bem calculada medida da voz do orador.  A unificação da altura do som é logo estabelecida, um estado de verdadeira hipnose onde a vítima não pode mais deixar de penitenciar-se, assim como a água não pode conter sua descida da montanha.  Os seguidores dessas práticas compreendem, intensamente, por momentos, a enormidade de seus pecados e estão igualmente ansiosos para começar uma melhor vida.  Mas, infelizmente, a nova onda de atração para sua natureza emocional apaga tudo o que o pregador disse como também suas resoluções, e esses seguidores permanecem exatamente onde estavam antes, para dissabor e sofrimento do pregador evangelista. 

Assim, todos os esforços para elevar a Humanidade pelo trabalho sobre o instável Corpo de Desejos são, e sempre provam ser, ineficazes.  As escolas ocultistas, de todas as épocas, reconhecem tal resultado e, portanto, têm-se dedicado à transformação do Corpo Vital pelo trabalho com sua nota-chave, que é a repetição.

Capítulo III – Preparação para a Vida Superior

A expressão “preparou a Terra” significa que toda evolução num Planeta é acompanhada pela evolução do próprio Planeta.  Se algum observador dotado de visão espiritual observasse a evolução de nossa Terra de uma estrela distante, teria notado uma mudança gradual acontecendo no Corpo de Desejos da Terra.

Sob a antiga dispensação, o Corpo de Desejos dos humanos era aperfeiçoado por meio da lei. Este trabalho continua ainda com a maioria das pessoas que estão preparando-se para a vida superior.

O Espírito-Grupo trabalha sobre os animais através de seus Corpos de Desejos, evocando imagens que dão ao animal um sentimento e uma sugestão sobre o que ele deve fazer.  De modo semelhante, as imagens alegóricas contidas nos mitos deixaram o fundamento para seu atual e futuro desenvolvimento.  Subconscientemente, estes mitos trabalharam sobre ele e trouxeram-no para o estágio em que se encontra.  Sem essa preparação, ele teria sido incapaz de executar o trabalho que agora realiza.

O Ego tem vários instrumentos – um Corpo Denso, um Corpo Vital, um Corpo de Desejos e uma Mente.  Eles são suas ferramentas, e de sua qualidade e condições depende o muito ou o pouco que ele pode desempenhar em seu trabalho de reunir experiência em cada vida.  Se os instrumentos são pobres e grosseiros, haverá pouco conhecimento espiritual e a vida será infrutífera, pelo menos no que concerne ao Espírito.

Se cuidadosa atenção é dada à higiene e à dieta, o Corpo Denso é o veículo principalmente beneficiado, mas, ao mesmo tempo, há também um efeito nos Corpos Vital e de Desejos, porque quanto mais puros e melhores forem os materiais que constroem o Corpo Denso, as partículas serão envolvidas em Éter planetário e matéria de desejo mais puros. Portanto, as partes planetárias do Corpo Vital e de Desejos tornam-se mais puras.  Se a atenção é dada somente ao alimento e à higiene, o Corpo Vital e o de Desejos individuais podem permanecer quase tão impuros quanto antes, mas se tornam um pouco mais fáceis de entrar em contato com o bem do que se alimentos grosseiros fossem usados.

Não importa o que as pessoas digam a nós ou a nosso respeito, suas palavras não têm poder intrínseco de ferir-nos – é nossa própria atitude mental em relação ao que elas dizem que determina o efeito de suas palavras sobre nós para o bem ou para o mal. São Paulo, quando enfrentou perseguição e calúnia, afirmou: “Nenhuma dessas coisas me comove”.  Todos os que desejam avançar espiritualmente devem cultivar o equilíbrio porque, sem ele, o Corpo de Desejos ou fica desenfreado ou se congela, de acordo com a natureza das emoções geradas pela comunicação com as pessoas, seja de preocupação, raiva ou medo.  Sabemos que o Corpo Denso é nosso veículo de ação, que o Corpo Vital lhe dá o poder para agir, que o Corpo de Desejos fornece o incentivo para a ação e que a Mente foi dada como um freio para o impulso.

Aprendemos no Conceito Rosacruz do Cosmos que os pensamentos-forma do interior e exterior do corpo estão sendo continuamente projetados sobre o Corpo de Desejos num esforço de despertar o sentimento que conduzirá à ação, e esta razão deve guiar a natureza inferior e deixar a natureza superior livre para expressar suas divinas inclinações.  Sabemos também que o pensamento habitual tem poder até para moldar a matéria física, pois a natureza do ser sensual é claramente perceptível em suas feições que são brutas e grosseiras enquanto as do ser espiritualizado são delicadas e finas.  O poder do pensamento é ainda maior em sua potência para modelar as vestimentas mais transparentes.

Já vimos como nossos pensamentos de medo e preocupação congela o Corpo de Desejos de quem tem indulgência com esses hábitos, e é igualmente certo que, pelo cultivo de um estado mental otimista em todas as circunstâncias, podemos harmonizar nosso Corpo de Desejos com a nota que desejamos. Depois de um tempo, isso se tornará um hábito. Deve-se confessar que é difícil manter o Corpo de Desejos inferior em certas linhas de ação, mas isto pode ser feito e deve ser tentado por todos aqueles que aspiram um adiantamento espiritual.

Criamos uma aura sutil a nosso redor sob a guarda das Hierarquias Divinas que dirigem os sete Astros: Saturno, Sol, Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter e Vênus.  O Universo, ou grande mundo, é chamado em linguagem mística de lira de sete cordas de Apolo.  Nosso organismo, ou microcosmo, é uma réplica ou imagem de Deus e nos incumbe de despertar em nós um eco desta música das esferas.  A maioria dos humanos aprendeu a responder demasiadamente às vibrações saturninas de tristeza, desânimo, medo e preocupação que congelam o Corpo de Desejos, e seria de benefício duradouro para todos tentar cultivar as vibrações espirituais do Sol, preenchendo nossas vidas com otimismo e alegria que dissiparão o desalento e a melancolia saturninos e evitarão que tais pensamentos entrem em nossa aura no futuro.

A primeira necessidade para nosso adiantamento é o equilíbrio.  Todos que o aspiram devem adotar o lema de São Paulo: “Nenhuma dessas coisas me comove”.

É uma prova do benefício da Religião que ela faz as pessoas felizes, mas a maior felicidade é geralmente muito profunda para uma expressão exterior.  Ela preenche todo nosso ser tão completamente que é impressionante, e uma maneira impetuosa de ser e nunca vai bem com esta verdadeira felicidade, porque é sinal de superficialidade.  A voz alta, o riso vulgar, o pisar forte que soa como marretas, o bater das portas e o barulho de pratos são características dos incorrigíveis, pois eles adoram barulho, quanto mais, melhor, já que ele agita seu Corpo de Desejos.  Para eles, a música sacra é anátema; uma banda de música barulhenta é preferível e a dança, quanto mais selvagem, melhor.  Mas acontece o contrário com o aspirante à vida superior, ou deveria ser.

Assim como o alimento apropriado nutre o corpo no sentido material, assim a atividade do Espírito no Corpo Denso, que resulta em ação correta, promove o crescimento da Alma Consciente.  Como as forças do Sol trabalham no Corpo Vital e o nutrem de modo a que ele possa agir no Corpo Denso, assim a memória das ações praticadas no Corpo Denso – os desejos, sentimentos e emoções do Corpo de Desejos e os pensamentos e ideias à Mente – causam o crescimento da Alma Intelectual.  De igual modo, os mais elevados desejos e emoções do Corpo de Desejos formam a Alma Emocional.

A Alma Emocional, que é o extrato do Corpo de Desejos, aumenta a eficiência do Espírito Humano que é a contraparte espiritual do Corpo de Desejos.

Tendo sido expulso do Jardim do Éden, a Região Etérica, para aprender a conhecer o mundo material em consequência do repetido abuso da função criadora que focalizou a atenção do ser humano aqui, este uso intensificado do Corpo de Desejos endureceu o Corpo Denso e este começou a exigir alimento e abrigo.  Assim, a engenhosidade do ser humano foi encarregada de prover a subsistência do corpo.  Fome e frio eram açoites do infortúnio que exigiram a engenhosidade do ser humano, eles o forçaram a pensar e agir para suas necessidades.  Assim, o ser humano está gradualmente adquirindo sabedoria; ele se prepara para estas contingências da vida antes que elas cheguem, porque as dores agudas da fome e do frio ensinaram-no a se proteger.  Consequentemente, sabedoria é sofrimento cristalizado.  Nossos sofrimentos, quando eles passam e nós podemos calmamente visualizá-los e extrair as lições que eles contêm, são minas de sabedoria e berços de futuras alegrias, porque, através deles, aprendemos a ordenar nossas vidas.  Aprendemos a deixar de pecar, pois a ignorância é o único pecado e o conhecimento aplicado é a salvação. Parece uma afirmação vaga, mas, se a experimentarmos em pensamento, encontrá-la-emos tão absolutamente verdadeira e capaz de demonstração como dois e dois são quatro.

O Corpo Vital esforça-se em construir o físico, enquanto nossos desejos e emoções destroem.  É a luta entre o Corpo Vital e o de Desejos que produz consciência no Mundo Físico e endurece os tecidos, de modo que o corpo delicado da criança gradualmente se torna duro e enrugado na velhice, seguida pela morte.  A moralidade e a imoralidade de nossos desejos e emoções agem de maneira similar no Corpo Vital.  Onde a devoção a altos ideais é o motivo principal da ação, onde foi permitido que a natureza devocional se expressasse, durante anos, livre e frequentemente e, particularmente, onde isto foi acompanhado pelos exercícios dados aos Probacionistas da Fraternidade Rosacruz, a quantidade de Éter Químico e de Vida gradualmente diminui ao se desvanecerem os apetites inferiores, e um aumento dos Éteres Luminoso e Refletor toma seu lugar.  Como consequência, a saúde física não é boa entre os que seguem o caminho superior quanto a daqueles, cuja indulgência em relação à natureza inferior atrai o Éter Químico e de Vida, proporcional à extensão e natureza de seu vício, com total ou parcial exclusão dos dois Éteres superiores.

Quando o ser humano morre leva consigo a Mente, o Corpo de Desejos e o Corpo Vital, este sendo o registro das imagens de sua vida recém-terminada.  Durante os três dias e meio seguidos à sua morte, estas imagens se imprimem no Corpo de Desejos para formar a base da vida do ser humano no Purgatório, onde o mal é expurgado, e no Primeiro Céu, onde o bem é assimilado.  A experiência da vida em si é esquecida, assim como esquecemos o processo de aprendizagem da escrita, mas retemos a faculdade de fazê-la.  Assim, o extrato cumulativo de todas as experiências, não só das vidas passadas na Terra como as existências anteriores no Purgatório e nos Céus, é retido pelo ser humano e constitui as ferramentas no próximo nascimento.  O sofrimento que suportou fala como a voz da consciência e o bem que realizou lhe dá um caráter cada vez mais altruísta.

Da mesma forma como as cenas do Panorama da Vida, que se desenrola diante dos olhos do Ego depois da morte, causam sofrimento no Purgatório e limpam a alma do desejo de repetir as ofensas que as geraram, assim também o sal que era usado nas oferendas sobre o altar do sacrifício no Tabernáculo do Deserto e o fogo pelo qual eram consumidas junto ligava a dupla e abrasante dor, semelhante à sentida pelo Ego no Purgatório.  Confiantes no axioma Hermético “Como é acima, assim é abaixo”, Eles (os Mestres Rosacruzes) desenvolveram o Exercício Esotérico noturno de Retrospecção em harmonia com as leis cósmicas do crescimento anímico e capaz de realizar, dia após dia, o que a experiência purgatorial executa somente uma vez em cada vida, isto é, limpando a alma do pecado pelo fogo do remorso.

No Purgatório, o processo de limpeza é realizado pela força centrífuga da repulsão que arranca e rasga a matéria de desejo, na qual a imagem é formada sobre sua matriz de Éter, fora do Corpo de Desejos.  Nesse momento especial, o Ego sofre como fez sofrer a outros, por causa de uma condição singular das Regiões inferiores do Mundo do Desejo onde está localizado o Purgatório.  Alguns videntes que são incapazes de ter contato com as Regiões superiores falam do Mundo do Desejo como ilusório e eles têm razão no que diz respeito a estas Regiões, pois lá todas as coisas aparecem invertidas como se fossem vistas em um espelho.  Esta peculiaridade não é sem propósito – nada no reino de Deus o é; tudo serve a um sábio fim.  Esta reversão coloca a alma errante na posição de sua vítima e, deste modo, quando a cena se desenrola no Panorama da Vida passada, o Ego, quando fez mal a alguém, não está como um mero espectador e vê a cena reapresentada. Porém, naquele momento, ele se torna vítima de seu erro e sente o sofrimento sentido pelo que foi prejudicado, porque a força centrífuga de repulsão, empregada para destruir a imagem do Corpo de Desejos do que praticou o mal, deve, pelo menos, igualar o ódio e a raiva da vítima que imprimiu a imagem sobre o átomo-semente na hora da ocorrência.

Durante o Exercício Esotérico noturno de Retrospecção, o Aspirante à vida superior esforça-se em imitar estas condições; ele tenta visualizar as cenas em que cometeu erros e o remorso que ele procura sentir e deve pelo menos igualar-se ao ressentimento sentido por aquele que ele prejudicou.  Este Exercício Esotérico tem o mesmo efeito de eliminar a gravação da injúria como faz a força centrífuga de repulsão, que realiza a erradicação do mal no Purgatório, com o propósito de extrair, dali a qualidade da alma que conhecemos como consciência e que serve de freio nas horas de tentação.  Assim usada, a emoção do remorso limpa e purifica o Corpo de Desejos, deixando o Ego livre e fomentando o crescimento de múltiplas virtudes que florescem no adiantamento espiritual e trazem maiores oportunidades para o serviço na vinha do Senhor.

Porém, como a força latente na pólvora e em substâncias explosivas similares pode ser usada para promover os grandes objetivos da civilização, ou executar os mais selvagens atos de barbarismos, assim também este sentimento de remorso pode ser distorcido de tal maneira que se torna um prejuízo e um obstáculo para o Ego ao invés de ajuda.  Quando nos permitimos sentir remorso diariamente e em todas as horas do dia, estamos realmente desperdiçando um grande poder que podia ser usado para fins mais nobres da vida, pois a constante indulgência com lamentações afeta o Corpo de Desejos de maneira similar ao que acontece com o Corpo Denso após banhos em excesso.

“Como é acima, assim é abaixo e como é abaixo, assim é acima” diz o aforismo Hermético, enunciando assim a grande Lei da Analogia que é a chave-mestra para todos os mistérios.  Quando usamos a força centrífuga do remorso para erradicar a maldade de nosso coração durante o exercício vespertino de retrospecção, o efeito é semelhante à ação da água que remove o Éter miasmático de nosso Corpo Vital durante o banho, e assim deixa lugar para um influxo de Éter puro gerador de saúde.  Após termos queimados nossas más ações no fogo do remorso, as substâncias venenosas, assim erradicadas, deixam espaço para o influxo de matéria de desejo que é moralmente mais saudável e melhor terreno para nobres ações. Quanto mais completamente formos purgados pelo remorso, maior será o vácuo produzido e melhor o grau de novo material que atrairemos para nossos veículos mais sutis.

Mas, por outro lado, se temos indulgência com lamentações e remorso durante as horas de vigília, como alguns o fazem estamos excedendo o Purgatório, porque, embora o tempo lá seja gasto na erradicação do mal, a consciência se desvia de cada imagem quando esta foi arrancada pela força de repulsão.  Aqui, por causa da interligação dos Corpos de Desejos e Vital, estamos capacitados a revivificar a imagem na memória quantas vezes quisermos, e, enquanto o Corpo de Desejos é gradualmente dissolvido no Purgatório pela purgação do Panorama da Vida, no Mundo Físico, uma pequena quantidade de matéria de desejo é acrescentada enquanto vivemos, para tomar o lugar da que foi ejetada pelo remorso. Assim, o remorso e o arrependimento quando continuamente sentidos têm o mesmo efeito sobre o Corpo de Desejos como os banhos excessivos têm sobre o Corpo Vital.  Ambos os corpos esgotam suas forças pela excessiva limpeza e, por esta razão, é tão perigoso para a saúde moral e espiritual ter indulgência indiscriminadamente nos sentimentos de arrependimento e remorso como é fatal para o bem-estar físico banhar-se demasiadamente.  O discernimento deve prevalecer em ambos os casos.

Assim como um vampiro suga o Éter do Corpo Vital de suas vítimas e dele se alimentam, assim também pensamentos incessantes de arrependimento e remorso, a respeito de certas coisas, se converte em um elemental de desejo que age como um vampiro e extrai a própria vida do pobre ser que o formou e, como os semelhantes se atraem, ele fomenta a continuidade deste mórbido hábito de remorso.

Se, pela oração contínua, obtemos perdão das injúrias que infligimos a outros seres e se fazemos toda a restituição possível, se purificamos nosso Corpo Vital perdoando aqueles que nos fizeram mal e eliminando todos os maus sentimentos, nós nos salvamos de muitos dos sofrimentos post-mortem, além de prepararmos o caminho para a Fraternidade Universal que é particularmente dependente da vitória do Corpo Vital sobre o Corpo de Desejos.  Na forma de memória, o Corpo de Desejos imprime sobre o Corpo Vital a ideia de vingança.  A manutenção do equilíbrio entre os vários aborrecimentos de vida diária indica tal vitória, por isso o aspirante deve cultivar o controle do temperamento, portanto, representa um trabalho sobre ambos os Corpos.  A oração O Pai-Nosso inclui isto também, pois, quando vemos que estamos prejudicando outros, olhamos em torno de nós e tentamos encontrar a causa.  Perder o domínio de si mesmo é uma das causas e se origina no Corpo de Desejos.

A maioria dos seres humanos deixa a vida física com o mesmo temperamento que trouxe ao nascer, mas o aspirante sistematicamente deve subjugar todas as tentativas do Corpo de Desejos de assumir o comando.  Isto pode ser feito pela concentração em elevados ideais, que fortalece o Corpo Vital, e é muito mais eficaz que as orações comuns da Igreja.  O ocultista científico usa a concentração de preferência à oração, porque a primeira é alcançada com a ajuda da Mente que é fria e insensível, enquanto a oração é geralmente ditada pela emoção.  Quando é ditada por uma emoção pura e altruística a elevados ideais, a oração é superior à fria concentração.  Ela nunca pode ser fria por conduzir nas asas do amor o que o místico extravasa para a Divindade.

A oração para o Corpo de Desejos é “Não nos deixeis cair em tentação”.  O desejo é o grande tentador da Humanidade. É o grande incentivo para toda ação e, até onde as ações servem aos propósitos do Espírito, ele é bom; mas quando o desejo é usado para algo degradante, que envelhece a natureza, é de fato apropriado que oremos para não cairmos em tentação.

Não nos deixeis cair em tentação” é a oração para o Corpo de Desejos, que é o depósito de energia e fornece incentivo para a ação através do desejo.  Uma máxima oriental diz: “Mate o desejo”, e os orientais fornecem bons exemplos de indolência, resultante da tentativa de assim agir. “Mate seu temperamento” é a tola advertência dada, às vezes, aos que perdem o domínio de si mesmos.  O desejo ou temperamento é um precioso trunfo, valioso demais para ser paralisado ou morto; o ser humano sem desejo é como o aço desprovido de têmpera – sem nenhum valor.  No Apocalipse, enquanto as seis igrejas são louvadas, a sétima é completamente anatematizada por ser “nem quente, nem fria”, uma comunidade sem Personalidade.  “Maior pecador, maior santo”, é um adágio verdadeiro, porque, para pecar, precisa-se de energia, e quando esta energia é desviada para a direção certa, é maior o poder para o bem do que previamente foi para o mal.

Um ser humano pode ser bom porque ele não pôde concentrar suficientemente energia para ser mau e então ele é tão bom que não é bom para nada, assim como os nicolaus[4].  Enquanto somos fracos, nossa natureza de desejos nos domina e pode levar-nos à tentação, mas quando aprendemos a controlar nossa natureza de desejos, nosso temperamento, podemos dirigi-la em harmonia com as leis de Deus e do ser humano.

O mais inferior aspecto do Espírito, o Espírito Humano roga ao mais inferior aspecto da divindade pelo mais elevado dos três corpos, o Corpo de Desejos: “Não nos deixeis cair em tentação”.

Quando a morte ocorre e o ser humano se encontra no Mundo do Desejo, os poderes magnéticos do átomo-semente são gastos, o arquétipo está se dissolvendo e, por isso, a força centrífuga de Repulsão força a matéria do Corpo de Desejos para fora, em direção à periferia.  A matéria pertencente às Regiões inferiores é expulsa primeiramente pelo processo de purgação que purifica o ser humano de todas as más ações de sua vida passada.

Este é o resultado da mesma lei natural que no Mundo Físico fez com que o Sol expulsasse a matéria que formou os Astros.  Interferir com esta lei seria desastroso para qualquer ser humano, supondo-se que isto fosse possível, o que não é. Assim, é inútil tentar ajudar alguém desta maneira.

É diferente com o Iniciado que vai ao Mundo do Desejo durante sua vida.  O átomo-semente do seu Corpo de Desejos forma um centro natural de atração ou gravitação que mantém a matéria de desejos deste veículo em suas habituais linhas.  Também é diferente para quem realiza os exercícios científicos dados pelas Escolas de Mistérios.  Esta pessoa está constantemente purgando seu Corpo de Desejos da matéria mais grosseira, de modo que, ao morrer, ela não é afetada no mesmo grau pela força centrífuga de Repulsão, como naqueles que não tiveram este treinamento.

Há, porém, outro caminho pelo qual podemos ajudar alguém próximo e querido, desde que tenhamos sua cooperação.  Para esclarecer, é necessário mencionar primeiramente que quanto mais grosseira é a matéria de desejo, mais tenaz é sua influência sobre o ser humano.  Por isso, a expurgação pela força de Repulsão causa grande sofrimento e é o que sentimos na experiência purgatorial.  Se estivermos perfeitamente dispostos a deixar fluir e reconhecer nossas faltas, quando as imagens delas aparecem no Panorama da Vida, ao invés de tentar desculpar a nós mesmos, ou nos agitarmos outra vez pela raiva e ódio do passado, então isso envolverá muito menos sofrimento para erradicá-las de nosso Corpo de Desejos.  Se este fato puder ser impresso em alguém que ansiamos ajudar, se conseguirmos que ele se coloque em um estado mental em que deseje reconhecer seus erros realmente, de todo seu coração, o processo de purgação será então mais curto e menos doloroso e ele ascenderá às Regiões superiores, onde a Força de Atração domina, em menos tempo do que do outro modo.

O mesmo resultado pode ser atingido pela oração e, também, por pensamentos bondosos, elevados e de ajuda, pois estes têm o mesmo efeito sobre aqueles que estão fora do corpo que as palavras bondosas e os gestos de ajuda têm sobre os que vivem neste Mundo Físico.

A devoção a elevados ideais é um freio para os instintos animais; ela gera e desenvolve a Alma Emocional.  O cultivo da faculdade de devoção é essencial.  Em algumas pessoas esta é a linha de menor resistência e elas estão aptas a se tornarem místicos sonhadores.  As energias do Corpo de Desejos são expressas como entusiasmo e êxtase religioso.  Há também aqueles que desenvolvem anormalmente a faculdade do discernimento, que os conduz ao longo das linhas intelectuais frias da especulação metafísica.  Em ambos os casos há falta de equilíbrio – um perigo.  O místico sonhador, dominado pela emoção, pode tornar-se sujeito à toda sorte de ilusões. Ao ocultista intelectual, isso nunca acontecerá, mas ele pode acabar na magia negra se perseguir o caminho do conhecimento pelo conhecimento em si, e não pelo serviço.  O único caminho seguro é desenvolver tanto o intelecto quanto o coração.

Desde tempos antigos (época de Hiram Abiff), os Anjos lunares tiveram principalmente o encargo do úmido e aquoso Corpo Vital, composto dos quatro Éteres e envolvido na propagação e na nutrição das espécies, enquanto os Espíritos Lucíferos estiveram singularmente ativos no seco e ígneo Corpo de Desejos.  A função do Corpo Vital é construir e sustentar o Corpo Denso, enquanto o Corpo de Desejos acarreta a destruição dos tecidos.  Daí a constante guerra entre os Corpos de Desejos e Vital, e é esta guerra nos céus que produz nossa consciência física na Terra.  Através de muitas vidas, temos trabalhado em todas as épocas e climas, e de cada vida temos extraído certa quantidade de experiência acumulada e guardada como poder vibratório nos átomos-semente de nossos vários veículos.

Desse modo, cada um de nós é um construtor, construindo o Templo do Espírito imortal, sem som de martelo; cada um é um Hiram Abiff reunindo material para o crescimento da alma e lançando-o no forno de sua experiência de vida para ser trabalhado sobre fogo e paixão do desejo.  Este material está sendo derretido lentamente, mas seguramente; a escória sendo purgada em cada experiência purgatorial e a quintessência do crescimento da alma sendo extraída através de muitas vidas.  Cada um de nós está, portanto, preparando-se para a Iniciação, sabendo ou não, e aprendendo a combinar as paixões ígneas com as emoções mais suaves e nobres.  O novo martelo, o martelo do juiz, com o qual o mestre construtor governa seus subordinados é agora a cruz do sofrimento, e a nova palavra, o autocontrole.

A natureza de desejos tem evoluído desde então; o substrato ígneo marcial da paixão e a base lunar aquosa da emoção tornaram-se capazes de numerosas combinações. Como o pensamento sulca o cérebro em circunvoluções e a face em rugas, assim também as paixões, desejos e emoções dispuseram a versátil matéria de desejos em linhas curvas, espirais, remoinhos e vórtices, como uma torrente vinda de uma montanha, no momento de maior perturbação – jamais em repouso. Esta matéria de desejos tem, em sucessivos períodos de sua evolução, respondido às vibrações astrológicas do Sol, Vênus, Mercúrio, Lua, Saturno, Júpiter e Marte, uma após a outra. Cada Corpo de Desejos individual, durante este tempo, tem sido tecido num único modelo e como a lançadeira da sorte se move para frente e para trás incessantemente sobre a tecelagem do destino, este modelo está sendo ampliado, enfeitado e embelezado, embora não possamos percebê-lo.

Como o tecelão sempre faz seu trabalho pelo avesso de sua tapeçaria, assim estamos nós também tecendo sem entender completamente o desenho final ou ver a sublime beleza, porque está ainda no lado oposto a nós, o lado oculto da Natureza.

Qualquer coisa que aconteça no Mundo Físico reflete-se em todos os outros reinos da Natureza e, como temos visto, constrói sua apropriada forma no Mundo do Desejo.  Quando um relato verdadeiro do ocorrido é feito, outra forma é construída, exatamente como a primeira.  Elas se atraem e se unem, fortalecendo-se mutualmente.  Se, no entanto, um relato não verdadeiro é feito, uma forma diferente e antagônica da primeira, ou verdadeira, é criada.  Como se relacionam com a mesma ocorrência, elas se unem, mas como suas vibrações são diferentes, elas agem entre si com mútua destruição. Portanto, mentiras perversas e maliciosas podem matar qualquer coisa que seja boa se forem bastante fortes e repetidas.  Mas, inversamente, procurando o bem no mal, com o tempo, o mal se converterá em bem.  Se a forma que é construída para minimizar o mal é fraca, ela não produzirá nenhum efeito e será destruída pela forma de mal, mas, se é forte e repetida com frequência, terá o efeito de desintegrar o mal e de substituí-lo pelo bem.  Este efeito não é produzido mentindo ou negando o mal, mas procurando o bem.  O ocultista científico pratica rigidamente este princípio de buscar o bem em tudo, porque sabe o poder que isso possui de reprimir o mal. Desse modo, gradualmente, a matéria de seu Corpo de Desejos passa por uma mudança correspondente.  A matéria mais pura e mais brilhante das Regiões mais elevadas do Mundo do Desejo toma lugar das cores sombrias da parte inferior.  O Corpo de Desejos também cresce em tamanho, de forma que o de um santo é verdadeiramente algo glorioso de se contemplar, a pureza de suas cores e a transparência luminosa estando além de qualquer comparação.

Quando, pela crescente vibração do Corpo Pituitário, as linhas de força foram desviadas suficientemente até alcançar a glândula pineal, o objetivo alcançado e a distância entre estes dois órgãos será eliminada.  Esta é a ponte entre o Mundo dos Sentidos e o Mundo do Desejo.  A partir do momento em que ela é construída, o ser humano se torna um Clarividente e está apto a dirigir sua visão para onde quiser.  Os objetos sólidos são vistos tanto interna como externamente.  Para ele, o espaço e a solidez, como obstáculos para a observação, deixaram de existir.

A filosofia da aquisição da visão e percepção espiritual é impelir o Corpo de Desejos a realizar o mesmo trabalho dentro do Corpo Denso enquanto estamos completamente despertos, positivos e conscientes, como faz o Ego quando está fora, ao dormir ou no estado post-mortem.

Há certas correntes no Corpo de Desejos de todos.  Elas são fortes, bem definidas e formam sete grandes vórtices nos Clarividentes, mas são fracas, descontínuas e desprovidas de vórtices no ser humano comum que não pode “ver”.  O desenvolvimento dessas correntes e vórtices conduz à visão espiritual.  Durante o dia, quando estamos absorvidos nas ocupações materiais, estas correntes são vagarosas.  Mas logo que o ser humano abandona seu Corpo Denso durante o sono e começa o trabalho de restauração, as correntes revivem e os vórtices giram e brilham intensamente.  O Corpo de Desejos está, então, em seu elemento nativo, livre do peso bloqueador do Corpo Denso

Quando o ser humano alcança o ponto de abstração (durante a concentração), os centros sensoriais do Corpo de Desejos começam a girar lentamente dentro do Corpo Denso e assim fazem um lugar para si.

Com o tempo, isto será cada vez mais definido e requererá cada vez menos esforço para pô-los em movimento.

Recordemos que os Hierofantes dos antigos Templos de Mistérios isolavam alguns seres em castas e tribos, como os Brâmanes e os Semitas, com o propósito de prepararem corpos para o uso de tais Egos quando estavam suficientemente avançados e prontos para a Iniciação.  Isto era feito de tal modo que o Corpo Vital se separava em duas partes, como os Corpos de Desejos de toda a Humanidade no começo do Período Terrestre.  Quando o Hierofante retirava os discípulos de seus corpos, ele deixava uma parte do Corpo Vital, compreendendo o primeiro e segundo Éteres para realizar as funções puramente físicas (são os únicos ativos durante o sono), levando o discípulo, com ele, um veículo capaz de percepção, por causa da sua conexão com os centros sensoriais do Corpo Denso e, também, com capacidade de memória.  Este veículo possuía estes recursos porque era composto do terceiro e quarto Éteres que são os meios da percepção sensorial e da memória.

Desde que Cristo veio e “tirou os pecados do mundo” (não o do indivíduo), purificando o Corpo de Desejos de nosso Planeta, a conexão entre os Corpos Denso e Vital de todos os humanos têm sido afrouxada a tal ponto que, pelo exercício, eles são capazes de se separarem, como acima foi descrito.  Portanto, a Iniciação está aberta a todos.

A parte mais elevada do Corpo de Desejos, que constitui a Alma Emocional, é capaz de uma separação na maioria dos seres humanos (de fato, possuía esta capacidade mesmo antes da vinda de Cristo) e desse modo, quando, pela concentração e o uso da fórmula apropriada, as partes mais sutis dos veículos tenham sido separadas para serem usadas durante o sono, ou em qualquer outra oportunidade, as partes inferiores dos Corpos de Desejos e Vital são ainda deixadas para cuidarem dos processos de restauração do Corpo Denso, a parte meramente física.

Aquela parte do Corpo Vital que sai é altamente organizada, como vimos.  É uma exata contraparte do Corpo Denso.  O Corpo de Desejos e a Mente, não estando organizados, são úteis apenas porque estão ligados ao altamente organizado Corpo Denso. Quando separados dele, são apenas pobres instrumentos.  Por isso, antes que o ser humano possa retirar-se do Corpo Denso, os centros sensoriais do Corpo de Desejos devem ser despertados.

O Aspirante à vida superior cultiva a faculdade de absorver-se, por sua vontade, em qualquer assunto que escolha – ou melhor, em geral, não em um assunto, mas num simples objeto que ele imagine.  Dessa maneira, quando a condição apropriada ou o ponto de concentração tenha sido alcançado, seus sentidos absolutamente serenos, ele concentra seu pensamento sobre os diferentes centros sensoriais do Corpo de Desejos e eles começam a girar.

No início, seu movimento é lento e difícil de efetuar, mas, gradualmente, os centros sensoriais do Corpo de Desejos irão tomando lugar dentro dos Corpos Denso e Vital, os quais aprendem a acomodar-se a esta nova atividade.  Então, em determinado dia, quando a própria vida desenvolveu a separação indispensável entre as partes superior e inferior do Corpo Vital, há um supremo esforço da vontade; um movimento em espiral tem lugar em muitas direções e o aspirante se encontra fora de seu Corpo Denso.  Olha-o, como se fosse outra pessoa.  A porta de sua casa-prisão foi aberta.  É livre para ir e vir, livre tanto nos mundos invisíveis como no mundo físico, funcionando à sua vontade em ambos os mundos, como um auxiliar de todos os que desejarem seus serviços.

Antes do Aspirante à vida superior aprender a deixar seu corpo voluntariamente, ele pode ter trabalhado em seu Corpo de Desejos durante o sono, pois, em muitos seres, este veículo se torna organizado antes que a separação possa ser efetuada no Corpo Vital.  Sob tais condições, é impossível trazer estas experiências subjetivas de volta à consciência de vigília, mas, geralmente, em tais casos, notar-se-á, como primeiro sinal de desenvolvimento, que os sonhos confusos cessam.  Então, depois de certo tempo, os sonhos se tornam mais vívidos e perfeitamente lógicos.  O aspirante sonhará que está em lugares e com pessoas (se conhecidos dele nas horas de vigília ou não, pouco importa), conduzindo-se como se estivesse no estado de vigília.  Se o lugar com o qual sonha lhe é acessível nas horas de vigília, pode às vezes obter prova da realidade de seu sonho se observar algum detalhe físico da cena e verificar sua impressão noturna no dia seguinte.

Em seguida, ele verá que pode, durante as horas de sono, visitar qualquer lugar que deseje sobre a face da Terra e investigá-lo muito mais minuciosamente que se tivesse ido até lá em seu Corpo Denso, porque em seu Corpo de Desejos ele tem acesso a todos os lugares, independente de fechaduras e grades.  Se persistir, chegará finalmente um dia em que não necessitará esperar pelas horas de sono para dissolver a conexão entre seus veículos, mas poderá conscientemente libertar-se.

Um estágio do desenvolvimento espiritual do Cristão Místico envolve uma reversão da força criadora de seu curso normal para baixo, onde é gasta para satisfazer as paixões, para um curso ascendente através da tripartida medula espinhal, cujos três segmentos são regidos pela Lua, Marte e Mercúrio, respectivamente, e onde os raios de Netuno acendem o Fogo Espiritual espinhal regenerador. Este processo de ascensão da força criadora põe o corpo pituitário e a glândula pineal em vibração, abrindo a visão espiritual; e, golpeando o seio frontal, começa a coroa de espinhos, latejando de dor enquanto o elo com o Corpo Denso é queimado pelo sagrado Espírito do Fogo, que desperta este centro de seu sono secular para uma palpitante e pulsante vida, movendo-se rapidamente para cima em direção aos outros centros da estrela estigmática de cinco pontas. Eles também são vitalizados e todo o veículo torna-se incandescente em dourado esplendor.  Então, com um movimento brusco final, o grande vórtice do Corpo de Desejos, localizado no fígado, é liberado, e a energia marcial contida neste veículo impele para cima o veículo sideral (assim chamado porque os estigmas na cabeça, mãos e pés estão localizados nas mesmas posições relativas a cada uma das pontas da estrela de cinco pontas) que ascende através do crânio (Gólgota), enquanto o Cristão, crucificado, emite seu grito triunfante: “Consumatum est” (Está consumado), e se eleva a esferas mais sutis à procura de Jesus cuja vida ele imitou com tanto êxito e de quem ele é daí por diante inseparável.

FIM


[1] N.R.: Jo 12:35

[2] N.T.: É a deusa grega que personifica o destino, equilíbrio e vingança divina. Apesar de Nêmesis ter nascido na família da maioria dos deuses trevosos, vivia no monte Olimpo e figurava a vingança divina.

[3] N.T.: Jo 12:8

[4] N.T. Nicolau é uma moeda de níquel de pouco valor.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Interpretação Mística da Páscoa

As informações contidas nesse livreto foram trazidas das conferências e de outros escritos de Max Heindel e publicadas de tempos em tempos, em forma de revista ou trechos em livros.

Esse humilde esforço pretende ser uma inspiração para aqueles que tenham vislumbrados a Centelha de Luz e Amor Divinos, e que está se esforçando para alcançar aquela última meta que foi alcançada por Cristo Jesus a mais de dois mil anos no Gólgota.

O que Ele conseguiu, naquela ocasião, é a tarefa que se defronta a todos e a cada um de nós.

Quando tivermos submetido totalmente ao Eu Superior ou Cristo-interno, então virá a ressurreição ou a completa libertação da matéria.

Então, nós podemos dizer com Cristo: “Está consumado”.

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Interpretação Mística da Páscoa – Max Heindel

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4. Para estudar no próprio site:

INTERPRETAÇÃO MÍSTICA DA PÁSCOA

 Por

Max Heindel

(1865-1919)

Compilado de vários escritos e conferências de um místico

Fraternidade Rosacruz

Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82

Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil

Revisado de acordo com:

1ª Edição em Inglês, The Mystical Interpretation of Easter, editada por Max Heindel

1ª Edição em Português, editada pela Fraternidade Rosacruz São Paulo – SP – Brasil

Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

www.fraternidaderosacruz.com

contato@fraternidaderosacruz.com

fraternidade@fraternidaderosacruz.com

PREFÁCIO

As informações contidas nesse livreto provêm das conferências e escritos de Max Heindel, e foram publicadas uma e outra vez em forma de artigos de revista e/ou em livros. O Boletim Echoes, editado pela primeira vez em junho de 1913, por Max Heindel, contém uma grande quantidade de conhecimentos e sabedoria sobre esse e outros importantes acontecimentos de significado místico. Alguns capítulos sobre a Páscoa são, também, encontrados nos livros Coletâneas de um Místico e Ensinamentos de um Iniciado.

Esse humilde esforço pretende ser uma inspiração para aqueles que tenham vislumbrados a Centelha de Luz e Amor Divinos, e que está se esforçando para alcançar aquela última meta que foi alcançada por Cristo Jesus a mais de dois mil anos no Gólgota. O que Ele conseguiu, naquela ocasião, é a tarefa que se defronta a todos e a cada um de nós. Quando tivermos submetido totalmente ao Eu Superior ou Cristo Interno, então virá a ressurreição ou a completa libertação da matéria. Então, nós podemos dizer com Cristo: “Está consumado”.

ÍNDICE

CAPÍTULO I

O CRISTO CÓSMICO

CAPÍTULO II

UM ACONTECIMENTO DE SENTIDO MÍSTICO

CAPÍTULO III

O SIGNIFICADO CÓSMICO DA PÁSCOA

Primeira Parte

CAPÍTULO IV

O SIGNIFICADO CÓSMICO DA PÁSCOA.

Segunda Parte

CAPÍTULO V

A LIÇÃO DE PÁSCOA

CAPÍTULO VI

O SÍMBOLO DO OVO

CAPITULO VII

A CRUZ DE CRISTO

CAPITULO VIII

QUE FOI FEITO DO CORPO FÍSICO DE JESUS?

CAPÍTULO I

O CRISTO CÓSMICO

“Ainda que Cristo nascesse mil vezes em Belém,

se não nasce dentro de ti, tua alma segue extraviada.

Olharás em vão a Cruz do Gólgota,

enquanto não fizeres um Gólgota de teu coração também”.

AngelusSilésius[1]

A canção popular de hoje, que todo mundo canta com entusiasmo, mas que é esquecida amanhã; o espetáculo que é levado à cena, talvez, cem noites seguidas, para depois ser abandonado e relegado ao pó, e todas as outras coisas que são evanescentes demonstram, claramente, que não tem um valor intrínseco. O brilho de uma estrela cadente ilumina o céu por um momento, mas embora o brilho das outras estrelas seja mais fraco e atraia menos a nossa atenção, suas luzes confortam ao caminhante, noite após noite, através dos tempos. Somente as canções que, por seu valor, são reproduzidas sempre de novo, cuja música não nos cansa nunca, têm realmente algo de valioso na vida. O mesmo acontece nos ciclos cósmicos que sempre se repetem, marcados pelas festas do ano. Como elas são recorrentes, sempre nos ensinam as mesmas antigas lições, sempre sob um novo ponto de vista.

O impulso de vida do Cristo Cósmico que entrou na Terra no último mês de setembro, manifestou-se no nascimento Místico no Natal e realizou sua maravilhosa magia de fecundação do mês de setembro até março e se libertou da cruz da matéria para ascender novamente ao trono do Pai, na Páscoa deixa a Terra coberta de uma glória verde dos próximos meses, pronta para as atividades físicas[1].

Como é em cima, assim também é em baixo. Os processos que se desenvolvem em larga escala na Terra manifestam-se, também, no ser humano. Durante os meses de setembro a março nós fomos completamente impregnados pelas vibrações espirituais que predominaram nos últimos meses, muito mais do que foi possível sob as condições mais materiais que prevalecem entre março e setembro. Chegou-nos em setembro com um novo impulso para a vida superior; culminou na Noite Santa, e sua magia trabalhou dentro de nós e em nossas naturezas na proporção que aproveitamos nossas oportunidades. De acordo com a nossa aplicação ou descuido no último período, o progresso será acelerado ou atrasado no próximo período, porque não existem palavras mais verdadeiras do que aquelas que nos ensinam que somos exatamente aquilo que fizermos de nós mesmos. O serviço que prestamos ou deixamos de prestar determina se a nova oportunidade, para um serviço maior, nos proporciona um impulso mais forte para cima; e não será nunca demais repetir que é inútil esperar libertação da cruz da matéria, antes que tenhamos usado nossas oportunidades aqui e, então obter uma mais ampla capacidade de sermos úteis. Os “cravos” que prendem a Cristo na Cruz do Calvário prendem você e eu, até que o impulso dinâmico de amor flua de nós em ondas e correntes rítmicas, tal como a maré de amor que, anualmente, entra na Terra, e a impregna com vida renovada.

Conhecemos a analogia entre o ser humano – que entra nos seus veículos, quando desperta pela manhã, vive neles e trabalha por meio deles, e a noite é um Espírito livre, livre da escravidão do Corpo Denso – e o Espírito de Cristo que mora em nossa Terra, uma parte do ano. Nós todos sabemos que grilhão e que prisão esse Corpo representa; como nós somos cerceados pelas doenças e sofrimentos, porque não existe ninguém que esteja sempre em perfeita saúde, de maneira que nunca estamos livres de sentir as ânsias de dor, pelo menos ninguém que esteja no estreito caminho espiritual.

A mesma coisa acontece com o Cristo Cósmico, que dirige Sua atenção para a nossa pequena Terra, focando Sua consciência neste Planeta, para que tenhamos vida.  Ele tem que vitalizar esta massa morta (que nós mesmos cristalizamos fora do Sol) todos os anos; e isso é um grilhão, um peso e um aprisionamento para Ele. Esse é o motivo justo e próprio pelo qual devemos nos alegrar quando Ele chega à época doNatal, todos os anos, e nasce, novamente, no nosso mundo para nos ajudar a transformar para melhor essa massa informe, com a qual nos sobrecarregamos. Nossos corações, nessa época, devem voltar-se para Ele, em gratidão pelo sacrifício que Ele faz por nossa causa, durante os meses de: setembro, outubro, novembro e dezembro, permeando este Planeta com Sua Vida, para despertá-lo da hibernação, no qual permaneceria se não fosse Ele, pelo seu nascimento, para dar-lhe vida.

Durante os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro Ele sofre agonias de torturas, “gemendo, trabalhando e esperando pelo dia da libertação[2], a qual chega no tempo em que nós falamos nas igrejas ortodoxas: Semana da Paixão, mas nós afirmamos que, de acordo com os ensinamentos místicos, essa semana é exatamente a culminação ou ponto mais alto dos Seus sofrimentos, e que Ele, então, sai de Sua prisão; e quando o Sol cruza o Equador, Ele é suspenso na Cruz, exclamando: “Consummatum est!” – “Está consumado!”[3]; ou “Está cumprido!”. Isto quer dizer que o Seu trabalho, para aquele dia, foi cumprido. Não é um grito de agonia, mas um grito de triunfo, um grito de alegria, pois a hora da libertação chegou e, mais uma vez, Ele pode se elevar, por mais um período, se livrando da prisão e do peso do nosso Planeta.

O ponto para o qual desejo chamar vossa atenção é que deveríamos nos alegrar com Ele, nessa grande, gloriosa e triunfante hora, a hora da libertação, quando Ele exclama: “Está cumprido”. Sintonizemos os nossos corações para esse grande acontecimento Cósmico; alegremo-nos com o Cristo, nosso Salvador, que o tempo de Seu sacrifício anual se completou, mais uma vez; sintamo-nos agradecidos, do fundo dos nossos corações, que Ele está, agora, prestes a ser libertado da prisão terrena; pois a vida que Ele imbuiu no nosso Planeta é suficiente para conservar-se até o próximo Natal.

A Natureza é a expressão simbólica de Deus. Por isso, quando queremos conhecer a Deus precisamos estudar a Natureza, lembrando-nos sempre que existe um propósito emtoda a manifestação; que a vida é uma escola e aprendendo suas muitas lições a humanidade evolui lentamente de uma chispa divina para a Divindade. Se tivéssemos aprendido as lições da vida, tal como nos foram dadas, não teria havido necessidade do grande sacrifício que foi feito e que é anualmente repetido pelo Espírito de Cristo, que é a personificação do Amor. Por egoísmo, desobediência às Leis e práticas do mal fomos cristalizando rapidamente, não somente nossos corpos, mas, também a Terra na qual vivemos, a um nível que ambos estavam se tornando inúteis como meios de evolução. Quando já não nos podíamos salvar dos resultados dos nossos próprios erros, o Cristo compassivo ofereceu a Si mesmo e o seu grande Poder de Amor para romper essas condições cristalizadas dos corpos humanos e da Terra. Durante três anos Ele ensinou a Humanidade pela palavra, pelo preceito e exemplo.

Quando Ele foi crucificado no Gólgota o seu Grande Sacrifício pela humanidade apenas começou. Cada ano, desde esse tempo, quando o Sol passa do Signo zodiacal de Virgem para o de Libra, o Espírito de Cristo, retornando à nossa Terra, toca a sua atmosfera. Ele começa a sua jornada de descida em torno de 21 de junho[4], no Solstício de Junho, quando o Sol entra no Signo de Câncer. Ele chega ao centro da nossa Terra à meia-noite de 24 de dezembro. Aí Ele fica por três dias e, depois, começa a voltar. Esta volta completa-se na Páscoa. Da Páscoa até o Solstício de Junho Ele está passando pelos Mundos Espirituais e chega ao Mundo do Espírito Divino, o Trono do Pai, a 21 de junho[5]. Durante julho e agosto, quando o Sol está em Câncer e Leão, Ele reconstrói o seu veículo Espírito de Vida, que Ele trará ao mundo, novamente, e, com esse veículo, Ele voltará a rejuvenescer a Terra e os reinos de vida que nela evolucionam. Do Natal até a Páscoa Ele se dá a Si mesmo sem limitações nem medida, imbuindo com vida, não apenas as sementes adormecidas, mas todas as coisas sobre e dentro da Terra.

Sem essa infusão da vida e energia Divinas, todos os seres viventes da nossa Terra morreriam imediatamente, e todo o progresso seria frustrado, no que concerne à nossa presente linha de desenvolvimento. Essa atividade germinativa da vida do Pai, que nos é trazida por Cristo e entregue amplamente no tempo da Páscoa, que renova o crescimento e intensifica a atividade na planta, no animal e no ser humano, nessa especial parte do ano. Cristo não deixa a Terra na Páscoa senão depois de dar de Si Mesmo até ao máximo. É, então, que a infusão de Sua Vida, junto com os raios quase verticais do Sol, faz as sementes germinarem; as árvores florirem; os pássaros acasalarem, dirigidos pelos seus Espíritos-Grupo, e construírem seus ninhos. A humanidade, então, é fortificada e imbuída com a energia e a coragem necessárias para enfrentar, aproveitar e crescer por meio das experiências inesperadas providas pelos diversos e perplexos problemas da vida.

Para aqueles que se decidiram trabalhar consciente e inteligentemente com a Lei Cósmica, a Páscoa tem um grande significado. Para eles significa a libertação anual do Espírito de Cristo das restrições dolorosas da Terra e Sua gloriosa ascensão ao mundo do Seu verdadeiro lar, para lá permanecer um período junto ao seio do Pai. E se os seus olhos estão verdadeiramente abertos eles podem ver as hostes Angélicas que O estão esperando, prontos para acompanhá-Lo na Sua viagem em direção ao céu; se os seus ouvidos estão sintonizados com os sons celestiais, eles ouvem os coros celestiais cantando Seu louvor e hosanas jubilosos, elevados ao Deus Altíssimo.

Para as almas iluminadas a Páscoa traz uma profunda compreensão do fato de que toda a humanidade é peregrina na Terra; que a verdadeira pátria do Espírito são os Mundos Espirituais e para alcançar esse reino devemos nos esforçar em aprender as lições da escola da vida o mais rápido possível, de maneira que possamos ser capazes de ver para o amanhecer de um dia que nos liberaremos, permanentemente, da escravidão da Terra. Então, da mesma forma como o Cristo libertado, chegaremos a uma realização dessa gloriosa imortalidade, como recompensa da conquista do Espírito perfeito. Para as almas iluminadas, a Páscoa simboliza o amanhecer de um dia feliz, quando toda a humanidade, semelhante ao Cristo, será permanentemente livre das restrições materiais, e ascenderão aos Reinos celestes, tornando-se pilares de força na Casa do Pai, de onde não mais sairão.

CAPÍTULO II

UM ACONTECIMENTO DE SENTIDO MÍSTICO

Para onde eu vou não podes agora seguir-me; mas

depois me seguirás … Aquele que crê em mim

também fará as obras que eu faço

e as fará maiores do que estas.

Jo 13:36; 14:12

Se fôssemos a uma igreja ortodoxa num Domingo de Páscoa, provavelmente ouviríamos a história de Jesus, o Filho de Deus, concebido sem pecado e que, com a idade de 30 anos, assumiu um sacerdócio que durou três anos e que terminou em crucificação e morte por nós; que através de seu sangue podemos ser salvos. Provavelmente, poderíamos ouvir, também, que no dia da Páscoa ele levantou-se novamente dos mortos, subindo depois para o Pai onde está agora sentado à direita da majestade de Deus, de onde retornará para julgar os vivos e os mortos na última Ressurreição.

Porém, mesmo sabendo – em virtude de podermos ler na Memória da Natureza – que Jesus viveu e morreu, que teve uma missão mística da máxima importância para a evolução humana e que os principais acontecimentos daquela grande vida se deram realmente conforme relata o Evangelho, sabemos também que a missão do Cristo Místico é algo infinitamente mais gloriosa do que aquilo que já penetrou no coração dos que conhecem apenas a interpretação ortodoxa dos Evangelhos.

Em primeiro lugar, a festa da Ressurreição, chamada Páscoa, não comemora simplesmente a ressurreição de um indivíduo, mas significa um evento cósmico. Seria extrema tolice celebrar-se a morte e ressurreição de uma pessoa, ocorrida em certo dia do ano, com uma festa móvel que é determinada pelas posições do Sol e da Lua no Signo zodiacal de Áries, o carneiro ou cordeiro.

Cada ano uma onda espiritual de vitalidade invade a Terra no Solstício de Junho, a fim de despertar a semente que hiberna no solo gelado e infundir nova vida ao mundo em que vivemos. Este trabalho se processa durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, enquanto o Sol transita pelos Signos zodiacais de Capricórnio, Aquário e Peixes. Então, ele cruza o equador celestial vindo do Sul, onde esteve durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro; esse cruzamento ou crucificação (crucifixão) é então relacionado, cosmicamente, com a sua entrada no Signo de Áries, o carneiro ou cordeiro. Então, o Sol se eleva para os Signos dos céus setentrionais a fim de promover, com seus raios aquecedores, o crescimento da semente no solo já revitalizada pela onda de vida Crística nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Sem essa onda mística anual de energia vital oriunda do Cristo Cósmico, a vida física seria uma impossibilidade. Sem ela não poderia haver nem pão e vinho físicos, nem a transubstanciada tintura espiritual, preparada pela alquimia vinda do sangue do coração do Discípulo.

O cordeiro foi morto quando da fundação do mundo da Época Ária, em que agora vivemos. Seu sangue foi o símbolo que salvou da morte o povo escolhido de Deus quando este deixou o lendário Egito, a pátria de adoração do boi Touro ou Apis. A partir dali, tornou-se idolatria para todos os que haviam sido salvos pelo sangue do cordeiro, adorar o bezerro de ouro, pois as velhas Religiões do boi Touro tinham sido superadas pela Religião do cordeiro, quando o Sol, por Precessão dos Equinócios, deixou o Signo de Touro e entrou no Signo celestial de Áries, o cordeiro ou carneiro. Completado o tempo em que o Sol, por Precessão dos Equinócios, havia alcançado os sete graus no Signo do carneiro, Cristo veio no corpo de Jesus para estabelecer um novo pacto sob o selo e símbolo dos místicos pão e água da vida. Mas o Cordeiro de Deus precisava morrer, e isto aconteceu individualmente quando Cristo deixou o corpo de Jesus e, cosmicamente quando o Sol, por Precessão dos Equinócios, saiu do Signo de Áries. Então um novo símbolo precisava ser dado àqueles que seriam os mensageiros durante a entrante Era de Peixes, por conseguinte, Ele, Ele próprio representou na última ceia do cordeiro do sacrifício. O pão e a água da vida foram dados como símbolo do seu corpo e do seu sangue, devendo ser usados para recordá-Lo durante a próxima Era. Há, portanto, uma ligação entre o vinho místico e o sangue, como também entre o pão místico e o corpo, que precisamos compreender se quisermos conhecer o verdadeiro sentido místico da morte e da ressurreição.

Em sua evolução o ser humano recebeu o alimento apropriado ao desenvolvimento de cada um dos seus veículos. Um veículo como o nosso corpo físico, formado de compostos químicos, só pode ser nutrido com substâncias químicas. Analogamente, só Espírito pode atuar sobre Espírito, portanto o vinho foi acrescentado à dieta do ser humano para ajudá-lo a dissolver as pesadas moléculas da carne e estimulá-lo na batalha da existência. A isto se refere à história de Noé (Gn 9:2-20), o qual com seus seguidores, representa a humanidade na era do arco-íris em que a assim chamada “dieta mista” e o vinho constituem a alimentação necessária à presente fase de evolução.

Fortalecido pela Mente carnívora e pelo Espírito do álcool, o ser humano se afastou cada vez mais do caminho da fraternidade, pois nutrindo-se com o mesmo alimento dos carnívoros ele se tornou necessariamente tão feroz quanto um animal predador, passando a caçar instintivamente ao seu próprio semelhante. Enquanto o sistema de procriação e casamento dentro da mesma tribo prendia-o firmemente aos seus companheiros de clã, ele ao menos demonstrava amá-los. Mas desde que os casamentos intertribais entraram em voga e ele começou a emancipar-se gradativamente do Espírito de raça, passou a saquear, ao próprio ser humano e até à própria família. O egoísmo tomou-se ilimitado, nada mais foi sagrado aos olhos cobiçosos, e cada ser humano passou a viver em guarda contra todos os outros. Além da ação que tais coisas trazem, não há descanso, não há paz duradoura nem felicidade na senda da paixão e da autogratificação. Portanto, chega a hora em que o ser humano deseja um fim permanente para os seus sofrimentos mais do que qualquer outra coisa, e aí começa a buscar o caminho da paz, que é também o caminho da pureza e da abnegação. Então ele é introduzido nos mistérios do Gólgota, do Sangue Purificador e da Cruz das Rosas, como segue:

Purificar o sangue do egoísmo é o Mistério no Gólgota. O processo começou quando o sangue de Jesus foi derramado e continuou através das guerras entre nações Cristãs todas as vezes que o ser humano lutou por um ideal, e prosseguirá até que o contraste entre os horrores da guerra e a beleza da fraternidade tenham impressionado suficientemente a espécie humana. Abaixo de nós na escala da evolução estão os vegetais e os animais, acima estão os deuses. Anatomicamente nós pertencemos ao reino animal e, em nossas vidas passadas, vivemos abaixo da nossa condição de humanos. Como os animais, gratificávamos nossos desejos sexuais e nossos apetites, mas enquanto aqueles eram mantidos sob controle por um sábio Espírito-Grupo nós não exercemos nenhum domínio sobre os nossos desejos, pelo que a doença, a dor e o sofrimento tornaram-se o nosso quinhão. Agora, contudo, aspiramos palmilhar a senda da paz em direção à serena felicidade dos deuses. Para isso devemos nos tomar como as plantas, isto é, puros e sem paixões. Consideremos o antigo Templo de Mistérios Atlante, também chamado “O Tabernáculo no Deserto”. Na velha Dispensação, quando a carne oferecida em sacrifício pelos pecados era queimada sobre o altar do sacrifício, seu odor elevava-se aos céus como um atestado da repugnante natureza da transgressão, da paixão e da impureza. Mas dentro do Tabernáculo havia o candelabro de sete braços, que queimava a essência das oliveiras sem desprender odor desagradável. Toda carne foi concebida sob a paixão e o pecado, mas a geração da planta é pura e imaculada. Por conseguinte, a flor aromática, especialmente a rosa vermelha, mantém-se em simbólica e direta oposição à carne corrompida. A flor é o órgão gerador da planta. Ela nos diz que a concepção sem mácula, em amor e pureza, é o caminho da paz e do progresso. Em Sua última reunião com seus Discípulos, Cristo estabeleceu os símbolos do novo pacto, do Testamento: deu-lhes pão para comer, simbolizando o Seu corpo, e a taça simbolizando o Seu sangue. Não uma taça comum para qualquer líquido, nem que o líquido por si só tivesse o poder suficiente para ratificar o novo pacto. O mistério jaz no fato de que a taça e seu conteúdo eram partes essenciais e necessárias de um sublime todo. O nome que designava essa taça mística em latim era “Calix”, em grego era “Poterion”.

Na velha Dispensação só a água era usada nos serviços do templo, mas com o tempo o vinho tornou-se um fator na evolução humana. Um deus do vinho – Baco – passou a ser adorado, e orgias da mais brutal natureza eram celebradas para que, sufocando as aspirações do Espírito, o ser humano se voltasse mais para a conquista do Mundo Físico. Mesmo sob a Dispensação mosaica os sacerdotes eram rigorosamente proibidos de usar o vinho enquanto oficiassem no templo, mas Cristo em sua primeira aparição em público mudou a água em vinho, aprovando deste modo o seu uso na ordem de coisas então existentes. Note-se, todavia, que isso foi feito em público, e que esse foi Seu primeiro ato como sacerdote do povo, mas na última reunião esotérica de Cristo com Seus Discípulos, quando o novo pacto foi dado, não havia nem carne de carneiro (Áries) – conforme estabelecia a ordem Mosaica – nem vinho, mas tão somente pão, um produto vegetal e o cálice do qual falaremos após ouvirmos as palavras que Ele proferiu naquela ocasião: “Não mais beberei deste fruto da videira até o dia em que hei de beber, novo, convosco no Reino dos Céus[6]. O suco novo, recém-espremido da uva, não contém o Espírito da fermentação e da decomposição, mas é um alimento vegetal nutritivo e puro. Por conseguinte, os seguidores da doutrina esotérica foram instruídos por Cristo a não consumirem alimentos cárneos nem alcoólicos.

Geralmente supõe-se que o cálice usado por Cristo na Última Ceia continha vinho, muito embora não haja fundamento bíblico para tal suposição. Existem três relatos dos preparativos para a Páscoa. Mesmo que Marcos e Lucas refiram-se aos mensageiros enviados a certa cidade em busca de um homem que carregava um cântaro de água, nenhum dos evangelistas diz que o cálice continha vinho. Além disso, investigações na Memória da Natureza mostram que a água é que foi usada, e no que diz respeito aos esoteristas o vinho não tinha mais vez. Daquele ato, data também a inauguração do movimento de temperança, pois tais mudanças cósmicas envolvem longos preparativos nos Mundos Espirituais internos antes que possam manifestar-se nas sociedades do Mundo externo. Assim, milhares de anos quase nada significam nesses processos.

O uso da água na Última Ceia também se harmoniza com os requisitos astrológicos e éticos. O Sol saía de Áries – o Signo do Cordeiro – e entrava em Peixes, um Signo de Água. Ia soar uma nova nota de aspiração. Na Era de Peixes entrante ia iniciar-se uma nova fase de soerguimento humano. A autoindulgência ia ser suplantada pela autonegação. O pão, a matéria da vida, que é feito do grão gerado imaculadamente, não estimula paixões como a carne, nem nosso sangue se agita tão apaixonadamente quando recebe água do que quando recebe vinho. Portanto, pão e água são os alimentos e símbolos apropriados aos ideais da Era Peixes-Virgem, pois representam pureza. A Igreja Católica dá aos seus fiéis a água de Peixes na porta dos templos, como dá também o pão da Virgem no altar, mas nega-lhes o cálice de vinho do ofício. Todavia, as considerações acima não conduzem no âmago do mistério oculto no “Cálice do Novo Pacto”.

A taça de vinho velho, que nos foi dada no início da Época Ária – terra da geração – estava cheia de destruição, morte e veneno, de modo que a palavra que então aprendemos a falar é morta e destituída de poder.

A taça de vinho novo, mencionada como o ideal da futura época – a Nova Galileia (não a confundir com a Era de Aquário) – é um órgão etérico construído no interior da cabeça e da garganta pela força sexual economizada, o qual órgão é visto pelos Clarividentes como a haste de uma flor que ascende da parte inferior do tronco. Este cálice, ou taça-semente, é verdadeiramente um órgão criador capaz de emitir a palavra, a vida e o poder.

A palavra atual é produzida por movimentos musculares rudimentares que combinam laringe, língua e lábios de tal modo que a passagem do ar saído dos pulmões gera determinados sons. Mas o ar é um veículo pesado, difícil de mover-se, comparado as forças mais sutis da Natureza como a eletricidade, que se propaga no Éter, de modo que, quando este órgão tiver alcançado pleno desenvolvimento, ele terá o poder de falar a palavra da vida e infundir vitalidade nas substâncias que até ali estiverem inertes. Este órgão está sendo agora construído por nós, através do serviço.

Recorde-se que Cristo não deu o cálice ao povo, mas sim aos Seus Discípulos, Seus mensageiros e servos da Cruz. Nos dias atuais, aqueles que bebem do cálice da auto-abnegação para poderem usar a força no serviço aos outros estão construindo esse órgão e, também, o Corpo-Alma, que é o traje nupcial. Estão aprendendo a usá-lo aos poucos, como Auxiliares Invisíveis, quando fora de seus corpos à noite precisam emitir a palavra de poder para dissipar doenças e produzir tecidos sadios.

Quando a Época Atlante se aproximava do seu fim e a humanidade abandonava o lar de sua infância, onde viveu sob a orientação direta de Guias Divinos, o velho pacto foi feito dando ao ser humano carne e vinho, e estes dois elementos, juntamente com o uso descontrolado da força sexual, tornaram a Época Ária uma era de morte e destruição. Agora estamos nos aproximando do fim dessa era. Estamos em busca do Reino dos Céus, da Nova Galileia, e a fim de preparar-nos para essa época. Cristo nos deu o pão e a água da vida, ordenando-nos ao mesmo tempo não cedermos a luxúria. Tendo feito este novo pacto, Ele foi para a cruz da libertação, deixando atrás de Si o corpo da morte e pairando nas alturas em um veículo de vida, o Corpo Vital. Mas Ele deu aos Seus seguidores a certeza de que, embora eles não O pudessem seguir então ao lugar para onde ia, mais tarde o seguirão. Cada pessoa é um Cristo-em-formação e algum dia acontecerá a “Páscoa” para cada um de nós.

CAPÍTULO III

O SIGNIFICADO CÓSMICO DA PÁSCOA

Primeira Parte

“Toda a vida de Cristo foi uma cruz e um martírio,

e tu buscas para ti mesmo folga e prazer? Quanto

maior o avanço espiritual de um indivíduo mais

pesadas as cruzes com que ele se depara frequentemente,

pois as dores do seu desterro aumentam

com o fortalecimento do seu amor”.

Thomas de Kempis[7]

Na manhã da Sexta-Feira Santa de 1857, Richard Wagner[8], o maior artista do século dezenove, sentou-se à varanda de uma vivenda suíça que se debruçava às bordas do lago de Zurich[9]. O panorama que se descortinava ao redor estava banhado por um glorioso brilho do Sol; paz e boa vontade pareciam vibrar por toda a Natureza. A criação inteira palpitava de vida e o ar estava carregado da deliciosa fragrância dos bosques de pinho – bálsamo gratificante para um coração atormentado e uma Mente agitada.

Então, de súbito, como um raio caído do céu azul, surgiu na alma profundamente mística de Wagner a lembrança do execrável significado daquele dia – o mais sombrio e mais doloroso do ano Cristão. Essa lembrança o inundou de tristeza, pelo contraste com o que via. Era uma incongruência marcante entre o alegre cenário que tinha diante de si, a clara atividade notável da Natureza, em luta pela renovação da vida após o longo sono hibernal, e o mortal esforço do Salvador torturado na cruz; entre os gorjeios plenos de vida e amor dos milhares de cantores de pena do bosque, na charneca e no prado, e os hediondos gritos de ódio duma turba enfurecida que insultava e zombava do mais nobre ideal que o mundo já conheceu; entre a maravilhosa energia criadora manifestada pela Natureza na primavera[10] e o elemento destruidor no ser humano, que assassinou o caráter mais nobre que já agraciou a Terra.

Enquanto Wagner meditava assim sobre os paradoxos da vida, ocorreu-lhe a pergunta: “há alguma relação entre a morte do Salvador por crucificação, na Páscoa, e a energia vital que se manifesta tão abundantemente na primavera quando a Natureza começa a vida de um novo ano?”.

Mesmo que Wagner não percebesse, conscientemente, o significado total da relação entre a morte do Salvador e o rejuvenescimento da Natureza, não obstante ele havia dado com a chave de um dos mais sublimes mistérios com que o Espírito humano já deparou em sua peregrinação da Terra à Deus.

Na noite mais escura do ano, quando a Terra dorme mais profundamente no abraço do frio Boreal, quando as atividades materiais descem ao nível mais baixo, uma onda de energia espiritual transporta em sua crista a “Palavra do Céu”, divina e criadora, para um nascimento místico no Natal. Então, como uma nuvem luminosa, o impulso espiritual paira sobre o mundo que “não o conheceu[11] porque ele “brilha nas trevas[12] do inverno, quando a Natureza está paralisada e muda.

Essa divina “Palavra” criadora contém uma mensagem e tem uma missão. Nasceu para “salvar o mundo[13] e “para dar sua vida pelo mundo”. Deve, necessariamente, sacrificar sua palavra para conseguir o rejuvenescimento da Natureza. Gradativamente sepulta-se na Terra e passa a infundir sua própria energia vital nas milhões de sementes que jazem adormecidas no solo. Sussurra a “palavra de vida” nos ouvidos dos animais e pássaros, até que o evangelho das boas novas tenha sido pregado a todas as criaturas. O sacrifício se completa totalmente na época do ano em que o Sol cruza seu nódulo oriental no Equinócio de Março. Então a divina palavra criadora expira. Em um sentido místico, ela morre na cruz da Páscoa, emitindo um último brado de triunfo: “Está Consumado[14] (Consummatum est).

Porém, do mesmo modo que o eco volta a nós, muitas vezes, repetido, assim também o canto celestial de vida se repete sobre a Terra. A criação inteira entoa um cântico de louvor, que é repetido sem cessar pelo coro de uma legião de línguas. As pequeninas sementes no seio da Mãe Terra começam a germinar, brotando e despontando em todas as direções, e logo um maravilhoso mosaico de vida, um tapete verde aveludado bordado de flores multicores, toma o lugar da mortalha do imaculado branco gelado. Dos animais de pelo e pena, em todos a palavra de vida ressoa como uma canção de amor, impelindo-os ao acasalamento. Geração e multiplicação é o lema em toda parte – o Espírito libertou-se para uma vida mais abundante.

Podemos, assim, observar todos os anos, misticamente, o nascimento, a morte e a ressurreição do Salvador como o fluxo e o refluxo de um impulso espiritual que culmina no Solstício de Dezembro – Natal – e sai da Terra logo após a Páscoa, quando a “palavra” sobe ao Céu, no Domingo de Pentecostes. Mas lá não fica para sempre. Foi-nos ensinado que “dali retornará”, “no Juízo”. Portanto, quando o Sol desce pelo equador, em outubro, através do Signo de Libra – época em que os frutos do ano são colhidos, pesados e classificados por tipos – começa a descida do Espírito do novo ano, culminando esta descida no nascimento, no Natal.

O ser humano é uma miniatura da Natureza. O que acontece em grande escala na vida de um Planeta, como a nossa Terra, ocorre em escala menor ao longo da vida do ser humano. Um Planeta é o corpo de um grande, maravilhoso e exaltado Ser, um dos Sete Espíritos diante do Trono (do Pai Sol). O ser humano também é um Espírito “feito à sua imagem e semelhança”. Assim como um Planeta gira em seu caminho cíclico ao redor do Sol, de onde é emanado, assim também o Espírito humano se move numa órbita em volta de sua fonte central – Deus. Sendo elípticas as órbitas planetárias, possuem pontos muitíssimo próximos e pontos extremamente afastados dos seus centros solares. De maneira análoga, a órbita do Espírito humano é elíptica. Nós estamos mais perto de Deus quando nossa jornada cíclica nos leva à esfera de atividade celeste – o Céu – e estamos mais separados d’Ele durante a vida terrena. Tais mudanças são necessárias ao nosso crescimento anímico. Assim como as festividades do ano assinalam o caráter repetitivo de acontecimentos importantes na vida de um Grande Espírito, do mesmo modo nossos nascimentos e mortes são fatos de repetição periódica. É tão impossível para o Espírito permanecer definitivamente no Céu ou na Terra como o é para um Planeta deter-se em sua órbita. A mesma imutável lei de periodicidade que determina a ininterrupta sequência das estações, a alternação do dia com a noite e os fluxos e refluxos das marés, governa também a marcha progressiva do Espírito humano tanto no Céu quanto na Terra.

Dos domínios de luz celestial onde vivemos em liberdade, sem as limitações do tempo e do espaço, onde vibramos em uníssono com a infinita harmonia das esferas, nós descemos para nascer no Mundo Físico, onde nossa visão espiritual torna-se obscurecida pela corda enrolada que nos agrilhoa a esta fase de limitações da nossa existência. Vivemos uns tempos aqui, depois morremos e subimos aos céus, para renascer e morrer outra vez. Cada vida terrena é um capítulo da história seriada da vida, extremamente humilde em seu começo, mas crescendo em interesse e importância à medida que ascendemos para estágios de responsabilidade humana, cada vez mais altos. Nenhum limite é concebível, pois somos divinos em essência e, portanto, temos latentes em nós as infinitas possibilidades de Deus. Quando tivermos aprendido tudo o que este mundo tem para ensinar-nos, uma órbita mais ampla, uma esfera maior de utilidade sobre-humana, abrir-se-á às nossas maiores capacidades.

“Mas, e Cristo?” – Pode alguém perguntar. “Você não acredita n’Ele? Você está discorrendo sobre a Páscoa, o feriado que comemora a morte cruel do Salvador e Sua gloriosa e triunfante ressurreição, todavia parece referir-se a Ele mais como uma alegoria que como um fato.”.

Certamente nós cremos em Cristo; amamo-Lo de todo o coração e com toda a nossa alma, mas queremos enfatizar a crença de que Cristo é a primícia da raça. Ele disse que nós poderíamos fazer as coisas que Ele fez, “e maiores ainda”. Portanto, somos Cristos-em-formação.

Estamos muito habituados a buscar um Salvador externo ao mesmo tempo que abrigamos um demônio interno, mas até que Cristo seja formado EM NÓS, conforme disse São Paulo, buscaremos em vão, porque assim como é impossível para nós percebermos a luz e a cor ao nosso redor sem o registro de suas vibrações pelo nosso nervo ótico, e assim como permanecemos inconscientes do som quando o tímpano dos nossos ouvidos está insensível, do mesmo modo permanecemos cegos à presença de Cristo e surdos à Sua voz enquanto não despertarmos nossa natureza espiritual interna. No entanto, uma vez despertada essa natureza espiritual, o Senhor do Amor se revela como uma realidade primordial, baseado no princípio de que, fazendo-se vibrar um diapasão, outro diapasão de mesmo tom começará também a vibrar, enquanto outros de tons diferentes ficarão mudos. Por isso Cristo disse que Suas ovelhas conheciam-No pelo som de Sua voz, à qual respondiam, mas não ouviam a voz do estranho (Jo 10:5). Não importam nossos credos, todos somos irmãos de Cristo, portanto regozijemo-nos: o Senhor ressuscitou! Busquemos a Ele e esqueçamos nossos credos e outras diferenças de menor importância.

CAPÍTULO IV

O SIGNIFICADO CÓSMICO DA PÁSCOA

Segunda Parte

O sinal da Cruz estará no céu quando o Senhor

vier para julgar. Então, todos os que servem a

Cruz e que na vida se tenham harmonizado com o

Crucificado poderão aproximar-se de Cristo com

toda coragem.

Thomas de Kempis

Mais uma vez chegamos ao ato final do drama cósmico que envolve a descida do Raio solar de Cristo ao interior da matéria de nossa Terra, o qual se completa no nascimento místico celebrado no Natal e na Morte Mística e Libertação, celebradas logo após o Equinócio de Março, quando o Sol do novo ano inicia sua ascenção às esferas superiores dos céus setentrionais, depois de verter sua vida para salvar a humanidade e revigorar todas as coisas sobre a Terra. Nessa época do ano uma nova vida, uma energia intensificada, circula com força irresistível nas veias e artérias de todos os seres vivos, inspirando e instilando neles novas esperanças, novas ambições e nova vida, e impelindo-os a novas atividades pelas quais possam aprender novas lições na escola da experiência. Consciente ou inconscientemente, tudo o que tem vida beneficia-se desse manancial de energia fortalecida. Até a planta responde por um aumento de circulação de seiva, que resulta em uma renovação de folhas, flores e frutos, meios pelos quais esta classe de vida expressa-se a si mesma e evolui para um estado superior de consciência.

Mas ainda que maravilhosas sejam essas manifestações físicas externas, e ainda que possa ser chamada de gloriosa essa transformação da Terra de um deserto de neve e gelo em um formoso jardim florido, isso é insignificante diante das atividades espirituais paralelas que se efetuam ao mesmo tempo. As características salientes do drama cósmico são idênticas em termos de época com os efeitos materiais do Sol nos quatro Signos Cardeais (Áries, Câncer, Libra e Capricórnio), porque os eventos mais significativos ocorrem nos pontos equinociais e solsticiais.

Realmente, é de fato verdadeiro que “em Deus vivemos, nos movemos e temos o nosso ser[15]. Fora d’Ele não poderíamos existir; vivemos por e através de Sua vida; movimentamo-nos e agimos por e através de sua fortaleza; é o Seu poder que sustenta nossa morada, a Terra, e sem Seus incessantes e invariáveis esforços o universo desintegrar-se-ia por si mesmo. Sabemos que o ser humano foi feito à semelhança de Deus, e nos é dado compreender que, consoante a lei de analogia, possuímos internamente certos poderes latentes idênticos àqueles que vemos tão poderosamente manifestados pela Deidade na obra do universo. Isso desperta, em nós, um particular interesse no drama cósmico anual em que envolve a morte e ressurreição do Sol. A vida do Deus-Homem, Cristo-Jesus, foi moldada de conformidade com a história solar e prenuncia, de modo idêntico, tudo o que pode acontecer ao Homem-Deus, a quem Cristo-Jesus profetizou quando disse: “As obras que eu faço vós fareis também, e maiores ainda[16]; para onde vou agora vós não podeis ir, mas depois podereis seguir-me”[17].

A Natureza é a expressão simbólica de Deus. Ela nada faz em vão ou arbitrariamente, mas existe um propósito por trás de todas as coisas e de todos os atos. Por conseguinte, devemos estar alertas e considerar cuidadosamente os sinais nos céus, porque eles possuem um significado profundo e importante referentes às nossas próprias vidas. A compreensão inteligente desses propósitos capacita-nos a trabalhar mais eficazmente com Deus em Seus maravilhosos esforços para emancipar nossa raça da escravidão das leis da Natureza e, mediante essa liberação, alcançarmos a plena estatura de filhos de Deus, coroados de glória, honra e imortalidade; livres do poder do pecado, da doença e do sofrimento que agora encurtam nossas existências terrenas em razão de nossa ignorância e de inconformidade às leis de Deus. O propósito divino visa essa emancipação, e ser ela conseguida através do longo e tedioso processo evolutivo ou ser alcançada através do caminho muitíssimo mais curto da Iniciação, isso depende da nossa vontade de cooperar ou não. A maioria da humanidade atravessa a vida com olhos que não veem e ouvidos que não ouvem. Segue absorvida em seus negócios materiais, comprando e vendendo, trabalhando e divertindo-se sem a devida apreciação ou compreensão dos propósitos da existência e, ainda que tais propósitos se tornassem claros, é provável que dificilmente se conformasse em virtude do sacrifício que isso envolve.

Não é de estranhar que Cristo chame especialmente o pobre e enfatize a dificuldade do rico entrar no Reino dos Céus, pois mesmo hoje, quando a humanidade já avançou dois milênios na escola da evolução desde aquela data, vemos que a grande maioria ainda dá mais valor às suas casas e terras, às suas roupas e chapéus, aos prazeres sociais, festas e banquetes do que aos tesouros celestiais, que se juntam pelo serviço aos outros e sacrifício de si mesmo. Ainda que essa maioria possa perceber intelectualmente a beleza da vida espiritual, a conveniência desta torna-se insignificante aos seus olhos quando comparada ao sacrifício exigido para alcançá-la. Como o moço rico, ela seguiria, voluntariamente, a Cristo não fora a necessidade de tanto sacrifício. Prefere ir-se quando percebe que o sacrifício é a única condição para ingressar-se no discipulado. Portanto, para tais pessoas a Páscoa não é mais que uma ocasião de regozijo porque se trata do fim de um momento especial e começo de outro momento especial diferente, que convida manifestações de alegrias.

Mas para aqueles que escolheram, definitivamente, a senda do auto sacrifício que conduz à libertação, a Páscoa é o sinal anual que evidencia as bases cósmicas de suas esperanças e aspirações.

No Sol da Páscoa, que no Equinócio de Março começa a percorrer os céus setentrionais, após verter sua vida na Terra, temos o símbolo cósmico da veracidade da ressurreição. Quando o consideramos como um fato cósmico enquadrado na lei de analogia, que relaciona o macrocosmo com o microcosmo, o importante é saber que algum dia alcançaremos a consciência cósmica e conheceremos positivamente por nós mesmos, por nossa própria experiência, que a morte não existe, mas o que isso parece é apenas uma transição para uma esfera mais sutil.

É um símbolo anual para fortalecer as nossas almas no afã das boas-obras, para que possamos tecer o manto dourado nupcial requerido para converter-nos em filhos de Deus no sentido mais elevado e mais santo. É literalmente verdadeiro que enquanto não andarmos na luz, como Ele na luz está, não seremos fraternais uns com os outros. Mas, fazendo sacrifícios e prestando os serviços que se requerem de nós para ajudar na emancipação da raça humana, estamos assim construindo um Corpo-Alma de radiante luz dourada, que é a substância especial emanada do e pelo Espírito do Sol, o Cristo Cósmico. Quando esta substância dourada nos envolver com densidade suficiente, então seremos capazes de imitar o Sol da Páscoa e pairar em esferas mais elevadas.

Com esses ideais firmemente impressos em nossas Mentes, a época da Páscoa se converte em uma estação apropriada para revisarmos nossas vidas durante o ano que passou e tomarmos novas resoluções que adiantem nosso crescimento anímico até ao próximo. É uma época em que o símbolo do Sol ascendente deve levar-nos a uma compreensão profunda do fato de que na Terra não somos mais que peregrinos e forasteiros; que, como Espíritos, nossa verdadeira pátria é o Céu; e que devemos esforçar-nos para aprender as lições desta vida tão depressa quanto nos permitam os caminhos apropriados. O Dia da Páscoa marca a ressurreição e libertação do Espírito de Cristo dos planos inferiores, e essa libertação deve lembrar-nos de buscar continuamente a aurora do dia em que estaremos permanentemente livres das malhas da matéria, do corpo de pecado e morte, juntamente com todos os nossos irmãos em escravidão. Nenhum aspirante sincero poderia conceber uma libertação que não incluísse a todos que estivessem na mesma situação.

Esta é uma tarefa gigantesca. Enfrentá-la pode muito bem desalentar o mais valente coração, de modo que se estivéssemos sozinhos não poderíamos realizá-la, mas as Hierarquias Divinas, que têm guiado a humanidade no caminho evolutivo desde o começo da jornada, ainda estão ativas e trabalhando conosco desde os Mundos Espirituais siderais, de maneira que com sua ajuda seremos, oportunamente, capazes de conseguir o soerguimento da humanidade como um todo e alcançar uma condição individual de glória, honra e imortalidade. Com esta enorme esperança dentro de nós mesmos, com esta grande missão no mundo trabalhemos como nunca para sermos melhores homens e mulheres, de forma que, por nossos exemplos, possamos despertar nos outros o desejo de levar uma vida que conduza à libertação.

CAPÍTULO V

A LIÇÃO DE PÁSCOA

“Porque se morreres com Ele, também com Ele

viverás, e se partilhares dos Seus sofrimentos,

da Sua glória também partilharás”.

Thomas de Kempis

Outra vez a Terra alcança o Equinócio de Março, em seu movimento anual de translação em torno do Sol, e assim chegamos à Páscoa. O raio espiritual emitido pelo Cristo Cósmico nesse período, para reativar a esgotada vitalidade da Terra, está quase subindo de volta ao Trono do Pai. Às atividades espirituais de fecundação e germinação, levadas a efeito durante os últimos seis meses, seguir-se-ão os processos de crescimento físico e amadurecimento durante os próximos seis meses, sob a influência do Espírito da Terra. O ciclo termina no “Lar da Colheita”. Deste modo o grande Drama do Mundo é encenado e reencenado ano após ano, numa eterna disputa entre a vida e a morte, sendo cada uma por vez vencedora e vencida na sequência dos ciclos.

Os grandes fluxos e refluxos cíclicos não estão limitados em seus efeitos à Terra, à sua flora e fauna. Exercem igualmente uma influência dominante sobre a humanidade, mesmo que a grande maioria não se aperceba das causas que a impelem a agir numa e noutra direção. Não obstante, essa ignorância, permanece o fato de que a mesma vibração terrestre que adorna vistosamente as aves e outros animais nesses próximos três meses, responde também pelo desejo humano de se vestir com cores alegres e roupas mais claras nessa época do ano. É, também, “o apelo do silvestre campo”, que nos subsequentes três meses convida o ser humano a relaxar no meio rural, onde os Espíritos da natureza exercitaram suas artes mágicas nos campos e florestas, para recuperar-se da tensão das condições artificiais reinantes nas cidades congestionadas.

Por outro lado, é a “queda” do raio espiritual do Sol nos meses de setembro, outubro e novembro que causa o reinício das atividades mentais e espirituais nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. A mesma força germinadora que fermenta a semente na terra e a prepara para reproduzir sua espécie multiplicada, também ativa a Mente humana e fomenta atividades altruístas que tornam o mundo melhor. Caso essa grande onda de desprendido Amor Cósmico não culminasse no Natal, com vibrações de paz e boa-vontade, não poderia haver nenhuma sensação festiva em nossos corações de modo a gerar o desejo de fazer os outros igualmente felizes. O costume universal de dar presentes no Natal seria impossível, e todos nós sofreríamos essa perda.

Quando Cristo andava, dia após dia, pelas colinas e vales da Judeia e Galileia, ensinando às multidões, todos foram beneficiados. Mas Ele convivia mais com Seus Discípulos, e estes cresciam rapidamente cada dia. À medida que o tempo passava esses laços de amor estreitavam-se ainda mais, até que, um dia, mãos impiedosas tiraram o amado Mestre e o levaram a morte desonrosa. Contudo, mesmo que tenha morrido na carne, Ele continuou a conviver intimamente com Seus Discípulos por algum tempo, em Espírito. Mas por fim subiu às esferas superiores, perdendo-se assim o contato direto com Ele, e aqueles homens olharam-se tristemente, cara a cara e perguntaram-se: “É este o fim?”. Eles haviam esperado tanto, haviam alimentado tão elevadas aspirações que, apesar da verdejante paisagem continuar brilhante e beijada pelo Sol como antes de Sua Partida, a Terra parecia fria e monótona, pois sombria desolação oprimia os seus corações.

Algo semelhante também acontece conosco quando buscamos seguir o Espírito e lutar contra a carne, mesmo que a analogia não tenha sido aparente até aqui. Quando, nos meses de setembro, outubro e novembro a “queda” do raio Crístico começa anunciando a época da supremacia espiritual, logo o sentimos e começamos avidamente a banhar nossas almas nessa bendita maré. Experimentamos uma sensação semelhante à dos Apóstolos, quando andavam com Cristo, e à medida que os meses avançam torna-se cada vez mais fácil comungar com Ele, face a face, como antes. Mas, no curso anual dos acontecimentos, a Páscoa e Ascenção do raio de Cristo “ressuscitado” para o Pai, deixa-nos em idêntica posição à dos Apóstolos quando seu querido Mestre se afastou. Nós ficamos desolados e tristes, vemos o mundo como um deserto monótono e não podemos atinar com a razão de nossa perda, que é tão natural como os fluxos e refluxos das marés ou como os dias e as noites – fases da era atual dos ciclos alternados.

Existe um perigo nesta atitude mental. Se permitirmos que ela nos domine, é possível que abandonemos o nosso trabalho no mundo e nos convertamos em sonhadores desiludidos, percamos, nosso equilíbrio e provoquemos, contra nós, a crítica muito justa dos demais. Este tipo de conduta é inteiramente errado, pois, assim como a Terra emprega o seu esforço material para produzir abundantemente em um período, após haver recebido o ímpeto espiritual em outro período, é nosso dever, também, envidar os maiores esforços ao trabalho do mundo quando possuímos o privilégio de comunicar com o Espírito. Assim fazendo, é possível que despertemos nos outros o Espírito de emulação e o de reprovação.

Estamos acostumados a pensar no avaro como alguém que junta ouro, sendo essa classe de pessoas objeto de desprezo, de modo geral. Mas há indivíduos que lutam tão tenazmente para adquirir conhecimento, quanto se esforça o avaro para acumular ouro, não hesitando em usar qualquer meio ou subterfúgio para alcançar seu intento e guardando consigo seus conhecimentos, tão egoisticamente quanto o avaro guarda o seu tesouro. Não compreendem que por tal método eles fecham de fato as portas à uma sabedoria maior. A antiga teologia nórdica continha uma parábola que, simbolicamente, esclarece o assunto. Dizia que todos os que morriam no campo de batalha (as almas fortes que combateram o bom combate até o fim) eram levados ao Valhalla[18], a estar com os deuses, enquanto os que morriam na cama ou por doenças (as almas fracas, que vagavam pela vida) iam para o lúgubre Niflheim. No Valhalla, os valentes guerreiros banqueteavam-se diariamente com a carne de um javali chamado Scrimner, que se caracterizava por uma particularidade: sempre se cortava um pedaço de suas carnes, imediatamente outro crescia no lugar, de modo que seu corpo nunca era consumido, não importa quanto se cortasse dele. Isto simbolizava adequadamente o “conhecimento”, pois, não importa quanto dele possamos dar aos outros, o original sempre fica conosco.

Existe, portanto, certa obrigação de transmitirmos os conhecimentos que possuímos, pois “àquele a quem muito foi dado, muito lhe será pedido”[19]. Se acumularmos as bênçãos espirituais que temos recebido, o mal nos ronda, por isso imitemos a Terra nesta época da Páscoa. Externemos no Mundo Físico da ação, os frutos do Espírito semeados em nossas almas durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Habilitemo-nos a receber bênçãos cada vez maiores de ano para ano.

CAPÍTULO VI

O SÍMBOLO DO OVO

“E quando este corpo incorruptível se revestir de incorruptibilidade,

e o que é mortal se revestir de imortalidade,

e o que é mortal se revestir de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória”.

ICor 15 :54

Para os nossos irmãos e irmãs do hemisfério norte passaram-se os sombrios e monótonos dias do inverno (meses de dezembro, janeiro e fevereiro). A Mãe Natureza remove o manto frio de gelo que cobre a terra, permitindo a milhões e milhões de sementes abrigadas no chão macio, romperem sua crosta e vestirem o solo com trajes de verão numa orgia de cores alegres e vistosas, preparando as “câmaras nupciais” para os animais e aves se acasalarem.

Na presente estação a Mente do mundo volta-se para a festividade que chamamos Páscoa, na qual se comemora a morte e ressurreição do nobre indivíduo que o mundo conhece pelo nome de Jesus, cuja história de sua vida foi escrita nos Evangelhos. Mas um Cristão Místico tem uma visão mais profunda e mais ampla desse evento cósmico que se repete anualmente. Para este, o que existe é uma impregnação anual da Terra com a vida do Cristo Cósmico. Uma inalação que tem lugar durante os meses de setembro, outubro, e novembro, culminando no Solstício de Dezembro, quando celebramos o Natal, e uma exalação que chega ao fim na época da Páscoa.

O drama cósmico de vida e morte é representada anualmente, por todas as criaturas e coisas evoluintes, da maior à menor, porque até o grande e sublime Cristo Cósmico, em Sua compaixão, torna-se sujeito à morte quando entra nas condições enclausurantes da Terra, em um período do ano. Por conseguinte, é oportuno recordar alguns pontos relativos à morte e renascimento que, às vezes, podemos esquecer.

Entre os símbolos cósmicos conservados desde a antiguidade, nenhum é mais comum que o do ovo. Acha-se em toda Religião. Encontramo-lo no Antigo Eddas dos Escandinavos, venerável pela idade, que nos fala do mundano esfriado pelo sopro gelado do Niebelheim, mas aquecido pelo hálito quente do Muspelheim, antes que os vários Mundos Espirituais e o próprio ser humano viessem a existir. Se nos voltarmos para o ensolarado sul, podemos achar nos Vedas da Índia a mesma história no mito Kalahansa, o Cisne do tempo e do espaço, o qual pôs o ovo que veio a ser, finalmente, o mundo. Entre os egípcios encontramos o globo alado e as serpentes ovíparas, simbolizando a sabedoria manifestada neste nosso mundo. Os gregos utilizaram esse simbolismo, reverenciando-o em seus Mistérios. Foi preservado pelos Druidas; tal símbolo era também conhecido dos construtores do grande outeiro da serpente, em Ohio; e conservou seu lugar na simbologia sagrada até hoje, muito embora a grande maioria de seres humanos seja cega ao grande mistério que ela encerra e revela – o mistério da vida.

Quando quebramos a casca de um ovo, achamos apenas fluídos viscosos de coloração variada e consistências diversas. Mas se submetido a uma temperatura adequada logo se dá uma série de mudanças e assim, em pouco tempo, uma criatura viva pode romper a casca e surgir pronta para assumir seu lugar entre os de sua espécie. Os magos dos laboratórios podem duplicar as substâncias do ovo e injetá-las numa casca de maneira que, conforme as experiências feitas até aqui, uma réplica perfeita do ovo natural pode ser produzida. Contudo, este difere do ovo natural em um ponto, isto é nenhuma coisa viva pode ser incubada no produto artificial. Fica evidente, portanto, que alguma coisa intangível deve estar presente em um e ausente em outro.

Esse mistério de todos os tempos que produz o ser vivo é que nós chamamos vida. Visto que a Vida não pode ser detectada em meio aos elementos do ovo, nem mesmo através do mais potente microscópio (ainda que ela ali esteja para produzir as mudanças que se notam), é de concluir-se que ela deve ser capaz de existir independentemente da matéria. Aprendemos, pois, através do sagrado simbolismo do ovo que, apesar da vida ser capaz de modelar a matéria, não depende, entretanto, desta para existir. Ela é autoexistente e não tendo princípio não pode também ter fim. Isto é simbolizado pela forma ovoide do ovo.

Quando nos apercebemos do verdadeiro conhecimento contido no simbolismo do ovo de que a vida nunca teve princípio e nunca terá fim, habilitamo-nos a criar coragem e admitir que aqueles que se retiram agora da existência física estão apenas atravessando uma jornada cíclica idêntica à da vida do Cristo Cósmico, vida que penetra a Terra no outono e a abandona na Páscoa. Vemos assim como a grande Lei da Analogia atua em todas as circunstâncias e em todas as fases da vida. O que acontece no grande mundo ao Cristo Cósmico verifica-se também nas vidas daqueles que são Cristos-em-formação.

Devemos admitir que a morte é uma necessidade cósmica nas atuais circunstâncias, porque se fôssemos aprisionados num corpo como o que agora usamos, e fôssemos colocados num ambiente tal e qual este em que nos encontramos hoje, para assim viver perenemente, as enfermidades do corpo e as condições insatisfatórias do ambiente bem cedo nos fariam cansar da vida e implorar por libertação. Isso impediria todo progresso e tornaria impossível para nós evoluirmos às alturas mais elevadas, tais como os que podemos alcançar por meio do nascimento em novos veículos e novos ambientes que nos permitam novas possibilidades de crescimento. Por conseguinte, devemos agradecer a Deus o fato de que, enquanto o nascimento em um corpo concreto tem sido necessário para um desenvolvimento futuro, a liberação pela morte tem sido proporcionada para libertar-nos do instrumento esgotado pelo uso; e a ressurreição e um novo nascimento sob o céu alegre de um novo ambiente fornecem-nos outras oportunidades para recomeçar a vida com a ficha limpa e aprender as lições que não conseguimos assimilar antes. Por este método seremos, algum dia, perfeitos como o Cristo ressuscitado. Ele assim determinou e nos ajudará a consegui-lo.

CAPÍTULO VII

A CRUZ DE CRISTO

“Se alguém quiser vir após mim,

negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”.

Mt 16:24

De acordo com uma antiga lenda, quando expulso do Paraíso, Adão levou consigo três mudas da árvore da vida, as quais, plantadas pelo seu filho Seth, vingaram e cresceram. De uma delas se fez mais tarde o cajado de Aarão, com o qual este operou milagres diante do Faraó. Outra foi levada ao Templo de Salomão para servir de pilar ou coisa semelhante ali, mas, como não serviu para nada no interior do edifício, foi então utilizada como uma ponte sobre um regato que corria fora do Templo. A terceira foi usada para fazer-se a cruz de Cristo, sobre a qual Ele sofreu por nós, libertou-se finalmente, penetrou na Terra e tornou-se o Espírito Planetário do nosso globo, no qual Ele agora sofre e geme esperando o dia da libertação.

Existe um grande significado nessa lenda antiga. A primeira muda da árvore representa o poder espiritual exercido pelas Hierarquias Divinas na infância da humanidade, isto é, um poder exercido por outrem para o nosso próprio benefício. A segunda era para ser usada no Templo de Salomão. Ninguém pode apreciá-la, exceto a Rainha de Sabá, nenhuma serventia foi achada para ela, pois o Templo de Salomão era a consumação das artes e ofícios e em uma civilização materialista nada que seja espiritual é apreciado. Os Filhos de Caim conseguiam sua salvação ao longo de linhas materiais, portanto não precisavam de poderes espirituais. Assim, “ela foi usada como ponte sobre o regato”. Sempre existiram almas – os reais, os verdadeiros Maçons Místicos – capazes de usar essa ponte que vai do visível ao invisível, e de voltarem ao Jardim do Éden; ao Paraíso, através da mesma. Foi a terceira muda da árvore da vida que deu a cruz de Cristo. Erguido naquela cruz foi que Ele conseguiu se libertar desta existência física e entrar nas esferas superiores. De modo semelhante nós também, ao tomarmos nossa cruz e segui-Lo, podemos desenvolver nossos poderes anímicos e ingressar numa esfera de maior utilidade nos Mundos invisíveis. Esforcemo-nos todos de modo que, dia após dia, sejamos encontrados de joelhos e vencedores, agarrados à cruz de Cristo para que, num dia não muito distante, possamos subir à nossa própria cruz e dali alcançarmos a gloriosa libertação, a ressurreição da vida da qual Cristo foi e continua sendo os primeiros frutos para toda alma crente. Esta é a autêntica, a verdadeira mensagem da Páscoa e devemos compreender que todos somos Cristos-em-formação, e que quando Cristo nasce real e verdadeiramente dentro de nós Ele então nos mostrará o caminho da cruz a partir da Árvore do Conhecimento pela qual conseguimos avançar. Essa cruz trouxe morte à Árvore da Vida no Corpo Vital, mas trouxe também a imortalidade.

CAPÍTULO VIII

QUE FOI FEITO DO CORPO FÍSICO DE JESUS?

“Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste Tabernáculo se desfizer,

temos da parte de Deus um edifício,

casa não feita por mãos, eterna, nos céus”.

IICor 5: 1

Que fim teve o Corpo Denso de Jesus, colocado no túmulo, mas não encontrado na manhã do domingo de Páscoa? E se o Corpo Vital de Jesus foi preservado para ser usado novamente por Cristo, como pode ele, Jesus, estar nesse meio tempo funcionando num Corpo Vital? Não teria sido mais fácil conseguir para Cristo, em Sua segunda vinda, outro Corpo Vital?

Essas perguntas foram respondidas assim, no “Ecos” de 1914[20]:

Estudos nas Escrituras revelam o fato de que Cristo costumava afastar-se de Seus Discípulos e que estes ignoravam para onde Ele ia nessas ocasiões ou, se não ignoravam, isso jamais foi mencionado. O motivo desses afastamentos, porém, era que, sendo Ele um Espírito tão glorioso, Suas vibrações eram demasiado elevadas mesmo para o melhor e mais puro dos veículos físicos, fazendo-se, portanto, necessário retirar-se deste veículo, frequentemente, para um período de completo repouso, de modo que o padrão vibratório de seus átomos pudesse baixar ou voltar ao normal. Por conseguinte, Cristo habitualmente buscava os Essênios em tais momentos, aos cuidados de quem deixava o Corpo, uma vez que eles eram peritos em lidar com o Corpo Denso. Cristo nada sabia de como tratar o veículo que recebera de Jesus. Não fora esses repousos e os cuidados recebidos, o corpo de Jesus ter-se-ia desintegrado bem antes de se haverem completado os três anos do Seu ministério, e assim o Gólgota não teria sido alcançado.

Quando o tempo se esgotou e o ministério terreno chegou ao fim, os Essênios pararam de intervir, então as coisas tomaram o seu curso natural e a tremenda força vibratória que atuava sobre os átomos físicos espalhou-os aos quatro ventos de modo que, quando o túmulo foi aberto poucos dias depois, nenhum sinal do corpo foi encontrado.

Isso se harmoniza perfeitamente com as leis naturais que conhecemos e com o seu modo de atuarem no Mundo Físico. A corrente elétrica de baixa potência queima e até mata, enquanto a alta voltagem pode atravessar o corpo sem prejudicá-lo. A luz, que possui elevadíssimo grau vibratório, é agradável e benéfica ao corpo, mas quando focalizada através de uma lente esse grau vibratório é reduzido, produzindo-se então o fogo que queima e destrói. De modo idêntico, quando Cristo, o Grande Espírito Solar, entrou no Corpo Denso de Jesus, reduzindo Seu padrão vibratório em virtude de resistência da matéria densa, tê-lo-ia queimado – como na cremação – caso não tivessem sido tomadas medidas para evitá-lo. A força era a mesma, os resultados idênticos, exceto num pormenor: o fogo que consumiu o corpo de Jesus não produziu cinzas, conforme aconteceria com o fogo comum que produz chamas. A propósito, é bom recordar que o fogo, embora invisível, encontra-se latente em todas as coisas. É verdade que não o vemos na planta, no animal ou na pedra, não obstante, ele ali está perceptível à visão interna e capaz de manifestar-se a qualquer momento na substância física em forma de chama.

Uma das nossas ilusões é a de que o corpo que habitamos é vivo. Isto de fato não acontece. Pelo menos a porção deste corpo que pode ser verdadeiramente chamada de viva é tão pequena que a afirmação acima é praticamente verdadeira. O resto dele existe absolutamente adormecido, se não inteiramente morto. Este fato é bem conhecido pela ciência e é algo que a razão nos demonstra ser verdade: nosso poder espiritual é tão pequeno que não pode dotar de vida este veículo por tempo suficientemente longo, de modo que, na medida em que nos incapacitamos para vitalizar o corpo, este começa a assemelhar-se a um pesado torrão de barro que devemos arrastar penosamente conosco até que alguns poucos anos depois ele se cristaliza a tal ponto que se nos torna impossível manter o trabalho vibratório por mais tempo. Então, somos forçados a abandoná-lo, e aí se diz que ele morre. Inicia-se, assim, um lento processo de desintegração que devolve o átomo à sua condição original de liberdade.

Confronte agora a condição das coisas quando um desses mesmos corpos terrenos é possuído por um poderoso Espírito como o de Cristo. Pode-se achar uma analogia com o caso de um indivíduo reanimado após um afogamento. Em tais casos o Corpo Vital se retira e a ação vibratória dos átomos físicos quase cessa, quando não para totalmente. Restauradas as condições que permitem ao Corpo Vital voltar a interpenetrar o corpo físico, aquele entra imediatamente a acionar e pôr em vibração todos os átomos deste. Esta tentativa de despertar os átomos inertes provoca aquela intensa e desagradável sensação de formigamento que o afogado descreve depois de reanimado, sensação que persiste até os átomos físicos alcançarem o grau vibratório de uma oitava abaixo daquele em que vibra o Corpo Vital. Chegado a esse ponto acaba a sensação, nada mais é sentido, salvo aquilo que se sente normalmente.

Agora consideremos o caso de Cristo entrando no Corpo Denso de Jesus, cujos átomos naturalmente moviam-se numa velocidade muito inferior àquela das forças vibratórias do Espírito Cristo. Consequentemente, uma aceleração tinha de acontecer, de tal maneira que, durante os três anos de ministério, essa notável aceleração de vibração desses átomos teria desintegrado o corpo não fora a atuação da poderosa vontade do Mestre para conservá-lo inteiro, reforçada pela habilidade dos Essênios. Se os átomos do corpo de Jesus estivessem adormecidos no momento em que Cristo dele se retirou – conforme ocorre aos nossos átomos quando abandonamos nossos corpos – um longo processo de putrefação ter-se-ia feito necessário para desintegrar aquele corpo. No entanto eles estavam altamente sensibilizados e vivos, portanto, era impossível ficarem presos após o Espírito ter-se retirado. Em futuras épocas, quando tenhamos aprendido a manter nossos corpos vivos, não precisaremos mudar átomos nem trocar de corpos tão frequentemente. Quando isso acontecer, o processo de putrefação não exigirá tanto tempo para se completar, conforme acontece presentemente. O sepulcro não foi fechado hermeticamente, portanto não podia oferecer obstáculo à passagem dos átomos.

Ao morrer o Corpo Denso de Jesus, os Átomos-semente retomaram ao seu primitivo dono. Durante os três anos de intervalo entre o batismo, em que ele renunciou a seus veículos, e a crucificação, quando pôde reaver os Átomos-semente, Jesus formou um veículo etérico, do mesmo modo que um Auxiliar Invisível junta matéria física sempre que se faça necessário materializar um corpo ou parte dele. Contudo, matéria que não corresponda ao Átomo-semente não pode ser utilizada de modo permanente: desintegra-se tão logo desapareça a força de vontade que a atraiu. Portanto, aquilo foi para Jesus apenas um expediente de ocasião. Quando o Átomo-semente do seu Corpo Vital retornou, então um novo corpo foi formado, e em tal veículo Jesus vem funcionando desde então, trabalhando com as igrejas. Nunca mais utilizou um Corpo Denso, embora seja perfeitamente capaz de fazer um. Presumivelmente isto se dá em virtude de seu trabalho ser totalmente desligado das coisas materiais e diferir diametralmente da obra de Christian Rosenkreuz, que tem muito a ver com problemas de governos, industriais e políticos, pelo que precisa de um corpo físico em que possa aparecer ao público.

A razão pela qual o Corpo Vital de Jesus é conservado para a segunda vinda de Cristo ao invés de Lhe providenciar um novo veículo pode ser encontrada em “Fausto”, mito que apresenta em sentido figurado grandes verdades espirituais de valor inestimável à alma sedenta. Fausto, em seu esforço para obter poder espiritual antes de merecê-lo, atrai um Espírito disposto a auxiliá-lo em seus desejos mediante uma compensação, pois em tal classe de Espírito o altruísmo é uma virtude que simplesmente não existe. Quando Lúcifer se volta para sair, nota apavorado a existência de um pentagrama diante da porta, uma das pontas em sua direção. Pede, então, a Fausto que retire dali o símbolo para que ele possa sair, ao que este lhe pergunta por que não sai pela janela ou pela chaminé. Lúcifer, relutantemente, admite que:

Para os fantasmas e Espíritos é lei

que por onde entramos, devemos sair.

Quando, no curso natural dos acontecimentos, o Espírito volta a nascer, ele entra no Corpo Denso pela cabeça, trazendo consigo os veículos superiores. Ao deixar o corpo à noite, sai pelo mesmo lugar, para reentrar do mesmo modo na manhã seguinte. O Auxiliar Invisível também sai do seu corpo e nele reentra da mesma maneira. E quando por fim nossa vida terrena chega a seu termo, é pela cabeça que saímos do nosso corpo pela última vez. Vemos, pois, que a cabeça é a porta natural do corpo e, por conseguinte, o pentagrama com uma ponta para cima é o símbolo da magia branca, que atua em harmonia com a lei de progressão.

O mago negro, que atua contrariamente à natureza, perverte a força da vida dirigindo-a para baixo, através dos órgãos inferiores. O portal da cabeça está fechado para ele, mas ele se retira pelos pés, o cordão prateado estendendo-se através dos órgãos inferiores. Portanto, foi fácil para Lúcifer entrar no gabinete de Fausto, pois o pentagrama com duas pontas voltadas para ele representava o símbolo da magia negra, mas ao tentar sair depara com uma só ponta em sua direção, e então se amedronta diante do sinal da magia branca. Ele só podia sair pela porta inferior porque por ali é que havia entrado, por isso ficou preso quando essa porta inferior foi bloqueada.

De maneira análoga, Cristo era livre para escolher Seu veículo para entrar na Terra onde agora se acha confinado, mas uma vez escolhido o veículo de Jesus a este ficou limitado como único meio de sair dela. Se esse veículo houvesse sido destruído, Cristo teria de ficar enclausurado no globo até que a Terra se dissolvesse no caos. Isso seria uma calamidade imensurável, portanto o veículo usado por Ele está sendo guardado com o máximo cuidado pelos Irmãos Maiores.

Nesse meio tempo Jesus perdeu todo o crescimento anímico alcançado durante seus trinta anos na Terra, antes do batismo, e contido no veículo dado a Cristo. Isto foi e continua sendo um grande sacrifício feito por nós, mas redundará em glória maior no futuro, como todas as boas ações. Porque esse veículo, utilizado como foi, e a ser usado novamente por Cristo em Sua vinda para estabelecer e aperfeiçoar o Reino de Deus será tão espiritualizado e glorificado que, quando for devolvido a Jesus na época em que Cristo entregar o Reino ao Pai será também o mais maravilhoso de todos os veículos humanos. E, ainda que isto não tenha sido ensinado, o autor acredita que Jesus será, por isso mesmo, o mais alto fruto do Período Terrestre, seguido de Christian Rosenkreuz. Porque “nenhum homem tem maior amor do que aquele que dá a própria vida[21] e dar não somente o Corpo Denso, mas também o Corpo Vital, e por tempo tão prolongado, certamente é o máximo dos sacrifícios.

F I M


[1] N.R.: Independentemente da inversão das estações, uma coisa que se mantém idêntica no Norte e no Sul: a distância maior ou menor, a que o Sol se encontra da Terra. No Solstício de Dezembro, o Sol se encontra mais próximo da Terra: a Terra é permeada mais fortemente pela aura do Sol Espiritual (inspiração de crescimento anímico nos seres humanos). No Solstício de Junho, a Terra no máximo afastamento do Sol: diminuição de espiritualidade com a intensificação de vitalidade física.

[2] N.R.: Rm 8:22

[3] N.R.: Jo 19:30

[4] O Solstício de Junho varia entre 20 e 21 de junho, dependendo do ano.

[5] N.R.: ou 20, dependendo do ano.

[6] N.R.: Mt 26:26-29

[7] N.R.: Também conhecido como Tomás de Kempen, Thomas Hemerken, Thomas à Kempis, ou Thomas von Kempen (1379 ou 1380-1471) foi Monge e escritor alemão.

[8] N.R.: Wilhelm Richard Wagner (1813-1883) – maestro, compositor, diretor de teatro e ensaísta alemão.

[9] N.R.: ou Zurique é a maior cidade da Suíça, um país do hemisfério norte.

[10] N.R.: a Suíça fica no hemisfério norte, onde, em março, é a estação da primavera.

[11] N.R.: Jo 1:10

[12] N.R.: Jo 1:5

[13] N.R.: Jo 12:47

[14] N.R.: Jo 19:30

[15] N.R.: At 17:28

[16] N.R.: Jo 14:12

[17] N.R.: Jo 13:36

[18] N.R.: Valhala, Valíala, Valhalla ou Palácio dos Einherjar (em português “Palácio dos mortos heroicos”), na mitologia nórdica e nas religiões pagãs nórdicas, como a popular Ásatrú, é um palácio com enorme salão com 540 quartos — situado em Asgard e dominado pelo deus Odin — no qual metade dos guerreiros mais nobres e destemidos mortos em batalha são levados pelas valquírias após a morte para viverem com Odin (enquanto a outra metade vai para os campos Folkvang da deusa Freia), onde participam de combates diários, para manter o exercício da luta e preparar-se para o dia de Ragnarök (em português “o dia do fim do mundo”).

[19] N.R.: Lc 12:48

[20] N.R.: Boletim Echoes de Mount Ecclesia – The Rosicrucian Fellowship.

[21] N.R.: Jo 15:13

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Porque os Apóstolos que tiveram morte violentas, bem como os primeiros Cristãos, não sofreram na carne

 

Muitos dos primeiros Cristãos sofreram por causa de suas crenças religiosas.

Dos onze Discípulos fiéis, todos, exceto São João, teve morte violenta.

Enquanto em Roma, São João foi jogado em um caldeirão de óleo em chamas, mas estava protegido por um Auxiliar Invisível e saiu ileso, São Paulo e dez dos seus Discípulos foram mortos de diferentes maneiras.
Muitos dos primeiros Cristãos foram executados.

Neste contexto, gostaria de dizer algo que os Estudantes Rosacruzes devem saber: foi dito que os Apóstolos não sofreram, como as pessoas comuns sofrem quando são mortos, porque eles foram assistidos pelos Seres Superiores.

Com isso um grande sofrimento foi evitado por meio do envio do Anjo da Morte para cortar o Cordão Prateado, no momento que eles estavam prestes a serem torturados e, portanto, os egos foram retirados de seus Corpos a tempo de salvá-los do sofrimento.

Grupos de Auxiliares Invisíveis e Anjos levaram seus Egos e seus veículos superiores para o céu, deixando seus inanimados Corpos Densos à ira de seus inimigos.

É um grande alívio saber isso.

(IH – de Amber M. Tuttle)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Quais os Efeitos da Dieta Carnívora

Quais os Efeitos da Dieta Carnívora

Os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental afirmam que “os vícios provenientes de uma alimentação carnívora são: a preguiça, a ferocidade, a astúcia e a imoralidade”. Porém, e citando ainda, “o hábito de comer carne animal promoveu o progresso do mundo”. “A alimentação carnívora ajudou o ser humano na afirmação de si mesmo em relação ao meio ambiente sobre ele”. Ajudou também no desenvolvimento da inventividade, no uso da Mente, pois foi “através das nações que aderiram à uma alimentação carnívora, que os mais notáveis índices de progresso foram alcançados”.

Podemos dizer que o ser humano comum ingere carne animal para obter rapidamente o teor necessário de albumina, como ovos, leite, queijo, nozes e legumes, que promovem a saúde do Corpo Denso, sendo também mais favorável ao progresso espiritual. Outrossim, o efeito dessas albuminas perdura por tempo mais extenso. Os tempos estão chegando, quando a albumina não será mais necessária à humanidade, e uma nova substância tomará o seu lugar. A humanidade está sendo preparada gradualmente para essa mudança e a carne será gradualmente eliminada da alimentação. Há aqueles que ainda não estão preparados para aderir a esta importante mudança dietética, e para eles, uma mudança radical e abrupta não é recomendada. Essa alteração para um novo tipo de dieta deveria ter sua origem no ser interno da pessoa, originada pela compaixão para com as vítimas mortas para atender sua gula.
Aqueles que consomem carne forçam alguns de seus irmãos a providenciarem o mesmo. Tornam-se assim responsáveis pelos sentimentos cada vez mais rudes e embolados daqueles forçados a trabalhar nos matadouros, frigoríficos e açougues, cuja aspiração para uma vida mais elevada torna-se praticamente nula. A dieta carnívora torna, sem dúvida alguma, o ser humano mais grosseiro, tendo a fomentar um interesse voltado exclusivamente para o campo material, impedindo assim, o desenvolvimento espiritual numa certa extensão. Tanto o intelecto, como a lógica e a ciência são atributos maravilhosos. Devem outrossim, subordinar-se ao desenvolvimento espiritual.

Já foi provado conclusivamente que é possível a contaminação do ser humano através de carne animal ingerida proveniente de um animal enfermo.

Existem casos, sem dúvida, em que a moléstia foi prevenida através da vacinação, e também casos em que a morte não ocorreu, tendo havido tratamento adequado por antitoxinas. Também existem casos em que a vacina e as antitoxinas produzam o resultado fatal que deveriam ter prevenido. Do ponto de vista oculto, porém, a vacinação e aplicação de antitoxinas obtidas pelos processos usados nos institutos bacteriológicos são métodos nocivos. A obtenção dos materiais prejudica os animais indefesos, e envenenam o corpo humano, dificultando o uso do mesmo pelo espírito, o que consubstancia a afirmação acima.

Quando estudamos a composição química dos alimentos, vemos que a Natureza providenciou todos os medicamentos necessários, e se comermos e pensarmos corretamente, ficaremos imunes à doença, sem vacinação e uso de antitoxinas.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – 11/1974 )

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Carta de Max Heindel: Aproveitar Nossas Oportunidades

Agosto de 1913

Um dos pontos mais interessantes da nossa última lição refere-se ao fato de que nós temos poder para prolongar a nossa vida material por uma dedicação sincera no propósito da existência: a aquisição de experiências. Quer o saibamos ou não, cada ato das nossas vidas apressa ou prolonga o fim, na medida em que a nossa atitude esteja ou não em harmonia com a lei. Se não nos aplicarmos no trabalho da vida, ou se, persistentemente, seguirmos um caminho que é inadequado ao crescimento da alma, nossa vida discordante destrói o arquétipo. O renascimento, num ambiente diferente, nos dará a chance de recuperar as oportunidades negligenciadas. Por outro lado, quando vivemos em harmonia com o plano de vida inscrito no Arquétipo do nosso Corpo Denso, produz-se uma construtiva consonância em suas vibrações, o que aumenta a vida do Arquétipo e, consequentemente, também a vida do Corpo Denso.

Quando nos apercebemos que nossa vida na Terra é o tempo de sementeira, e que o valor da nossa existência “post-mortem” está em razão direta do incremento que tenhamos dado aos nossos talentos, é evidente reconhecer a suprema importância em usar as nossas faculdades numa direção correta. Esta lei é extensiva para toda humanidade, mas é de vital valor para os Aspirantes à vida superior, pois quando trabalhamos para o bem com todas as nossas forças, cada ano acrescentado de vida aumenta enormemente o nosso tesouro celestial. Os anos adicionados darão mais tempo para o cultivo da alma, e o fruto dos últimos anos poderá, facilmente, superar os colhidos na primeira parte da vida.

Se sentirmos que isto é verdade e se estivermos ansiosos por alcançar o máximo grau de realização, naturalmente, faremos esta pergunta: “Como conhecerei o caminho verdadeiro?” A resposta não é difícil; os Astros relatam a história. Eles mostram nossas faculdades e o momento mais propício, tanto para plantar as sementes da alma como para auxiliar e curar. Por isso, a Fraternidade Rosacruz tem muito empenho no estudo dos Astros. No horóscopo, esses assuntos estão claramente assinalados. O conhecimento dessa escrita astrológica é força para melhor agir, e assim obter um maior crescimento anímico. Isto está ao alcance de qualquer pessoa que queira estudar o sistema simplificado dos nossos cursos de Astrologia Rosacruz. Assim, poderá aprender como dirigir sua vida para um maior progresso em todos os sentidos.

Enquanto sugiro determinados passos para o desenvolvimento, é oportuno chamar a atenção do Estudante para o fato que, quando completar o Curso Preliminar de Filosofia Rosacruz se torna aptos para a solicitação de ingresso na The Rosicrucian Fellowship (ingressando no segundo grau do Caminho de Preparação Rosacruz: Estudante Regular).

(Carta nº 33 do Livro “Cartas aos Estudantes” – de Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Esotérico “Pequeno Príncipe” de Antoine de Saint-Exupéry

O “Pequeno Príncipe” de Antoine de Saint-Exupéry é uma das joias da literatura esotérica destinadas a crianças (grandes).

Vamos o simbolismo por parte de algumas partes, personagens e coisas.

1. Para fazer download ou imprimir (ter acesso às figuras que muito ajudam na compreensão):

O Esotérico “Pequeno Príncipe” de Antoine de Saint-Exupéry

2. Para estudar no próprio site:

O esotérico “Pequeno Príncipe”

O “Pequeno Príncipe” de Antoine de Saint-Exupéry é uma das joias da literatura esotérica destinadas a crianças (grandes).

Como não temos espaço para explanar longamente a estória, vamos sintetizá-la em seus pontos essenciais:

  1. Um menino se impressionou com a ilustração de uma cobra “boa” engolindo um animal. Faz o desenho de uma cobra estufada pela forma de um elefante que engolira. Mostra-os aos “adultos” e eles o interpretam como um chapéu.

Ele se entristece e faz outro desenho em “raio x”, mostrando o elefante de pé, dentro da cobra.

Aí os adultos o dissuadem de desenhar e aconselham-no a estudar as coisas humanas para ser “pessoa sensata”.

  • O menino se torna moço e aviador. Um dia, como piloto de prova, seu avião sofre uma “pane” e é obrigado a fazer um pouso de emergência no deserto de Saara.
  • Está tentando reparar o defeito do motor quando lhe aparece, em meio à solidão do deserto, um menino trajado de príncipe, com uma espada na mão,

a pedir que lhe faça um desenho de ovelha.

Ele faz um e o menino rejeita porque lhe parece uma ovelha triste;

faz outro e também recusa porque parece velha;

faz outra, mas ele alega que é muito grande para seu pequeno país; então desenha uma caixa furada e diz que a ovelha está lá dentro. O menino fica satisfeito.

  • O menino se preocupa com a possibilidade da ovelha comer a única flor que ele tem em seu asteroide. O aviador, impaciente, retrucava-lhe que isto não tem importância. O menino fica triste e desaparece. Ele fica desesperado e se põe a procurá-lo. Quando está outra vez a consertar o avião, o menino reaparece e ele se desculpa e busca soluções para o asteroide.
  • Conversavam à noite. O menino começa a relatar sua vida no asteroide, onde ele vivia só, com seus três vulcões (um extinto e dois que ele limpava sempre); seus baobás (plantas que podiam crescer e ele tinha de cortar, para que não tomassem conta do asteroide) e a rosa que florescera.

Com a rosa aprendera como era ignorante. Saiu, pois, de seu asteroide para aprender alguma coisa do Universo que o tornasse capaz de melhor dirigir seu asteroide.

  • Levado pelas aves pousa em sete planetas:
  • Planeta do Rei que estava triste porque não tinha sobre quem reinar
  • Planeta do vaidoso megalomaníaco
  • Planeta do bebedor que fugia de si mesmo
  • Planeta do negociante preocupado com seus lucros
  • Planeta do homem que acendia os lampiões
  • Planeta do geógrafo
  • Na Terra conheceu em primeiro lugar a serpente, cuja picada tinha o condão de levar a alma aos céus.

Depois conheceu um jardim cheio de rosas

e finalmente uma raposa arisca, a quem domesticou e do qual se tornou amigo.

  • Neste ponto da narrativa acaba a água do aviador e ele fica transtornado. O menino disse que há um poço. O aviador receia perder-se no deserto e o menino vai à frente, guiando-o com segurança até as águas.

Bebem muita água, a ponto de ela ficar chocalhando na barriga. Voltam ao avião e, finalmente, o aviador consegue por o avião em funcionamento.

  • O menino se afasta e ao procurá-lo, o aviador o encontra dependurado em um muro, onde havia uma serpente, que tinha lhe picado.

Chora de tristeza e o leva ao avião. Conversam um pouco, o menino se despede, dizendo que ele não fique triste, porque continuará ouvindo seu riso, não apenas de seu asteroide, mas de todas as estrelas do céu.  Vão dormir. O menino desaparece. O aviador o procura em vão, pelo deserto. É noite. Das estrelas chegam o riso do pequeno príncipe.

O aviador decola e vai ao encontro do céu.

Os simbolismos:

  1. O aviador representa uma pessoa pura e elevada, que busca algo essencial como razão da vida. A serpente é símbolo de sabedoria. A figura do elefante dentro da cobra é a imensidão que existe escondida na sabedoria do mundo e do ser. Mas ninguém enxerga. Todos veem apenas a aparência, a superfície. Assim a sociedade abafa os anseios puros de uma criança elevada.
  2. Essa pessoa cresce insatisfeita com a superficialidade do mundo e vai buscar coisas elevadas (voar). Em uma de suas investigações mais sérias, não encontrando solução externa, entra em crise. Permanece em solidão (deserto) buscando uma solução interna (procura consertar a pane). Mas a solução não está na Mente.
  3. Ele clama e tem a revelação interna que lhe corrige e os conceitos condicionadores de que a criatura deva ser uma pessoa triste ou pensar em idade (porque o espírito é eterno) ou ter ideias de grandeza. Leva-o a compreender as coisas essenciais, além das aparências, que ele mesmo via em criança (a ovelha dentro da caixa).
  4. Mas a tendência de continuar buscando solução humana continua sem dar a devida importância aos lampejos internos (pequeno príncipe), e, por não dar interesse maior a eles, perde contato com o íntimo que deseja preservar as faculdades nascentes (a rosa desabrochada). Depois cai em si e retorna à busca do Ser interno e o reencontra quando está em quietude nos seus esforços de elevação (consertando o avião). Dedica mais interesse, então, aos reclamos divinos,
  5. Conversar à noite com o menino significa a comunhão interna, para conhecimento de si. O asteroide em que o “pequeno príncipe” mora é nosso corpo. Os três vulcões representam três veículos que temos (o Corpo Denso – já eterificado no Corpo Vital, o Corpo de Desejos e a Mente). Um deles já estava purificado (Denso eterificado) e permitiu o voo. Os baobás são os vícios que podem crescer pelo hábito e escravizar-nos, devendo ser cortados pela raiz. A rosa é o florescimento das faculdades divinas latentes. No início de nossa evolução espiritual é que tomamos consciência de nossa ignorância. “Não saber que nada sabemos” é ignorância: “saber que nada sabemos” é o começo da sabedoria. É o ponto inicial da Busca.
  6. Levados pela intuição e pelos pequeninos “Eus” nobres que formamos em nós (os pássaros), vamos tomar consciência de nosso íntimo (sete indica uma série). Aí chegamos à triste constatação do quanto ainda somos sedentos de poder (rei); escravos da vaidade (vaidoso); escapista (bebedor que fugia de sua própria realidade); apegados à segurança e sedução dos bens (negociante); dominados pelos fatores terrenos de tempo e espaço, que nos aumenta cada vez mais o ritmo febricitante das atividades e desenvolve a impaciência (homem do lampião); o quanto estamos condicionados pelos conceitos humanos da realidade do ser (geógrafo) e, finalmente resolvemos conhecer nossa parte humana (Terra) que deve ser transmutada.
  7. Só, então, nos advém a sabedoria (serpente) e a prudência (raposa) que nos ensinam a lidar com a natureza humana e transformá-la. Neste ponto veremos em cada semelhante o mesmo ser espiritual e a humanidade como um imenso jardim de rosas. Oportuno lembrar a carta de despedida da raposa: “O essencial é invisível para os olhos. Não se vê bem, a não ser com o coração”.
  8. Assim preparado, o Ser pode ser guiado pelo íntimo (pequeno príncipe) a fonte de água viva do Cristo interno. Acaba-se a água do conhecimento humano e passamos a nos dessedentar daquela água que Cristo prometeu à Samaritana. Aí restauramos os recursos para voar, agora em melhores condições (o avião consertado).
  9. Elevando-nos internamente (menino que se dependura no muro) chegamos ao despertar espiritual para esferas mais altas. É o picar da serpente, ou seja, o fogo espinhal que se eleva e toca os centros superiores da cabeça. Aí nos elevamos a outros planos e passamos a ver a divina essência em tudo (decolar com o avião e escutar o riso do “pequeno príncipe” em cada estrela).

 (Publicado na Revista Serviço Rosacruz de out/1975)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

UMA PALAVRA AO SÁBIO

O fundador da Religião Cristã emitiu uma máxima oculta quando disse: “Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele” (Mc 10:15). Todos os ocultistas reconhecem a imensa importância desse ensinamento de Cristo, e tratam de “vivê-lo” dia a dia.

Quando uma nova filosofia se apresenta ao Mundo é encarada de forma diferente pelas mais diversas pessoas. Algumas se apoderam avidamente de qualquer novo esforço filosófico, procurando ver em que proporção ele serve de apoio às suas próprias ideias. Para essas a filosofia em si mesma é de pouca valia. Terá valor se reforçar as SUAS ideias. Se a obra os satisfizer a esse respeito, adotá-la-ão entusiasticamente, a ela aderindo com o mais desarrazoado partidarismo. Caso contrário, afastarão o livro, aborrecidos e desapontados como se o autor os tivesse ofendido pessoalmente.

Outras adotam uma atitude cética tão logo descobrem que a obra contém alguma coisa a cujo respeito nada leram nem ouviram anteriormente, ou sobre a qual ainda não lhes ocorrera pensar. E, provavelmente, repelirão como extremamente injustificável a acusação de que sua atitude mental é o cúmulo da autossatisfação e da intolerância. Contudo, esse é o caso, e desse modo fecham suas Mentes à verdade que eventualmente possa estar contida naquilo no que rejeitam.

Ambas as classes se mantêm na sua própria luz. Suas ideias pré-estabelecidas os tornam invulneráveis aos raios da Verdade. A tal respeito “uma criança” é precisamente o oposto dos adultos, pois não está imbuída do sentimento dominador de superioridade, nem inclinada a tomar aparência de sábio ou ocultar, sob um sorriso ou um gracejo, sua ignorância em qualquer assunto. É ignorante com franqueza, não tem opiniões preconcebidas nem julga antecipadamente, portanto é eminentemente ensinável. Encara todas as coisas com essa formosa atitude de confiança a que denominamos “fé infantil”, na qual não existe sombra de dúvida, conservando os ensinamentos que recebe até comprovar para si mesmo a certeza ou o erro.

Em todas as escolas ocultistas o aluno é primeiramente ensinado a esquecer de tudo o que aprendeu ao ser-lhe ministrado um novo ensinamento, a fim de que não predomine o juízo antecipado nem o da preferência, mas para que mantenha a Mente em estado de calma e de digna expectativa. Assim como o ceticismo efetivamente nos cega para a verdade, assim também essa calma atitude confiante da Mente permitirá à intuição ou “sabedoria interna” apoderar-se da verdade contida na proposição. Essa é a única maneira de cultivar uma percepção absolutamente certa da verdade.

Não se pede ao aluno que admita de imediato ser negro determinado objeto que ele observou ser branco, ainda que se lhe afirme. Pede-se a ele sim, que cultive uma atitude mental suscetível de “admitir todas as coisas” como possíveis. Isto lhe permitirá pôr de lado momentaneamente até mesmo aquilo que geralmente se considera um “fato estabelecido”, e investigar se existe algum outro ponto de vista até então não notado sob o qual o objeto em referência possa parecer negro. Certamente ele nada considerará como fato estabelecido, porque compreenderá perfeitamente quanto é importante manter a sua Mente no estado fluídico de adaptabilidade que caracteriza a criança. Compreenderá, com todas as fibras do seu ser, que “agora vemos como em espelho, obscuramente” e, como Ajax, estará sempre alerta, anelando por “luz, mais luz”.

A grande vantagem dessa atitude mental quando se investiga determinado assunto, ideia ou objeto, é evidente. Afirmações que parecem positivas e inequivocamente contraditórias, e que causam intermináveis discussões entre os respectivos partidários, podem, não obstante, conciliar-se, conforme se demonstra em exemplo mais adiante. Só a Mente aberta descobre o vínculo da concordância. Embora essa obra possa parecer diferente das outras, o autor solicitaria um auditório imparcial, como base, para julgamento subsequente. Se, ao ponderar esse livro, alguém o considerasse de pouco fundamento, o autor não se lamentaria. Teme unicamente um julgamento apressado e baseado na falta de conhecimento do sistema que ele advoga, ou que diga que a obra não tem fundamento, sem, previamente, dedicar-lhe atenção imparcial. E deve acrescentar, ainda: a única opinião digna de ser levada em conta precisa basear-se no conhecimento.

Há mais uma razão para que se tenha muito cuidado ao emitir um juízo: muitas pessoas têm suma dificuldade em retratar-se de qualquer opinião prematuramente expressa. Portanto, pede-se ao leitor que suspenda suas opiniões, de elogio ou de crítica, até que o estudo razoável da obra convença do seu mérito ou demérito.

O Conceito Rosacruz do Cosmos não é dogmático nem apela para qualquer autoridade que não seja a própria razão do Estudante. Não é uma controvérsia. Publica-se com a esperança de que possa ajudar a esclarecer algumas das dificuldades que no passado assediaram a Mente dos Estudantes das filosofias profundas. Todavia, a fim de evitar equívocos graves, deve ser firmemente gravado na Mente do Estudante que não há, sobre esse complicado assunto, qualquer revelação infalível que abranja tudo quanto está debaixo ou acima do sol.

Dizer que essa exposição é infalível seria o mesmo que pretender que o autor fosse onisciente. Até os próprios Irmãos Maiores nos dizem que eles mesmos enganam-se, às vezes, nos juízos que fazem. Assim, está fora de qualquer discussão um livro que queira proferir a última palavra sobre o mistério do mundo, e é intenção do autor dessa obra apresentar apenas os ensinamentos mais elementares dos Rosacruzes.

A Fraternidade Rosacruz tem a concepção mais lógica e ampla sobre o mistério do mundo, e a tal respeito o autor adquiriu algum conhecimento durante os muitos anos que consagrou exclusivamente ao estudo do assunto. Pelo que pôde investigar por si próprio, os ensinamentos desse livro estão de acordo com os fatos tais como ele os conhece. Todavia, tem a convicção de que o Conceito Rosacruz do Cosmos está longe de ser a última palavra sobre esse assunto e de que, à medida que avançamos, apresentam-se aos nossos olhos novos aspectos e esclarecem-se muitas coisas que, antes, só víamos “como em espelho, obscuramente”. Ao mesmo tempo crê firmemente que todas as outras filosofias do futuro seguirão as linhas mestras dessa filosofia, por lhe parecerem absolutamente certas.

Ante o exposto, compreender-se-á claramente que o autor não considera essa obra como o Alfa e o Ômega, ou o máximo do conhecimento oculto. Embora tenha por título “O Conceito Rosacruz do Cosmos”, deseja o autor salientar com firmeza que essa filosofia não deve ser entendida como uma “crença entregue de uma vez para sempre” aos Rosacruzes pelo fundador da Ordem ou por qualquer outro indivíduo. Convém enfatizar que essa obra encerra apenas a compreensão do autor sobre os ensinamentos Rosacruzes relativos ao mistério do mundo, revigorados por suas investigações pessoais nos mundos internos, a respeito dos estados pré-natal e pós-morte do ser humano, etc. O autor tem plena consciência da responsabilidade em que incorre quem, bem ou mal, guia intencionalmente a outrem, desejando ele precaver-se contra tal contingência e também prevenir aos outros para que não venham a errar.

O que nessa obra se afirma deve ser aceito ou rejeitado pelo leitor segundo o seu próprio critério. Pôs-se todo o empenho em tornar compreensíveis os ensinamentos e foi necessário muito trabalho para poder expressá-los em palavras de fácil compreensão. Por esse motivo, em toda a obra usa-se o mesmo termo para expressar a mesma ideia. A mesma palavra tem o mesmo significado em qualquer parte. Quando pela primeira vez o autor emprega uma palavra que expressa determinada ideia, apresenta a definição mais clara que lhe foi possível encontrar. Empregando as palavras mais simples e expressivas, o autor cuidou constantemente de apresentar descrições tão exatas e definidas quanto lhe permitia o assunto em apreço, a fim de eliminar qualquer ambiguidade e para apresentar tudo com clareza. O Estudante poderá julgar em que extensão o autor logrou o seu intento. Entretanto, tendo-se esforçado o possível para sugerir as ideias verdadeiras, considera-se também na obrigação de defender-se da possibilidade de a obra vir a ser considerada como uma exposição literal dos Ensinamentos Rosacruzes. Sem essa recomendação esse trabalho teria mais valor para alguns Estudantes, mas isto não seria justo nem para a Fraternidade nem para o leitor. Poder-se-ia manifestar certa tendência para atribuir à Fraternidade a responsabilidade dos erros que nesse trabalho, como em toda obra humana, possam ocorrer. Daí a razão dessa advertência.

Segundo uma narrativa hindu, aquele que tenha duas linhas semicirculares na palma da mão, na articulação exterior do polegar “leva consigo um grão de arroz”. Isto quer dizer que será bem recebido e hospitaleiramente tratado onde quer que vá. O autor tem o sinal mencionado, e, no seu caso, o prognóstico se cumpriu maravilhosamente. Em todos os lugares encontrou amigos, e por eles foi bem tratado. O mesmo aconteceu com o “Conceito Rosacruz do Cosmos”. A Dra. Alma Von Brandis facilitou os meios para a primeira aproximação com os ensinamentos Rosacruzes. Comandante Kingsmill e Jessie Brewster auxiliaram-no lealmente na parte literária, Mrs. M. E. Rath Merril e Miss Allen Merril executaram certo número de desenhos, e quanto a Wm. M. Patterson não só prestou ao autor serviços pessoais, mas ainda prestou o seu auxílio financeiro para que esse livro pudesse ser oferecido pelo preço de custo. Esse trabalho foi, portanto, produzido com Amor. Ninguém, com ele relacionado, recebeu e deve receber um centavo de recompensa. Todos, desinteressadamente, deram tempo e dinheiro. Portanto, o autor deseja expressar todo o reconhecimento a eles, esperando que venham a encontrar outras e maiores oportunidades de exercerem os seus préstimos com igual desinteresse.

Max Heindel

Acréscimo nas Edições Posteriores: Durante os quatro anos decorridos, desde que foram escritos os parágrafos anteriores, o autor continuou suas investigações nos Mundos invisíveis e experimentou a expansão de consciência relativa a esses Reinos da natureza, o que se consegue mediante a prática dos preceitos ensinados pela Escola de Mistérios do Ocidente. Outros que também seguiram o método de desenvolvimento anímico aqui prescrito, e particularmente apropriado aos povos ocidentais, de igual modo foram capazes de constatar, por si mesmos, muitas das coisas expostas nessa obra. Desse modo o autor teve certa confirmação do que compreendera dos ensinamentos ditados pelos Irmãos Maiores, parecendo-lhe que os mesmos foram substancialmente corretos, pelo que se julga no dever de dar essa explicação para que sirva de estímulo aos que ainda não são capazes de ver por si próprios.

Seria mais exato dizer que o Corpo Vital é formado por prismas em vez de pontos, posto que, refratando-se através desses minúsculos prismas é que o fluído solar incolor muda para um tom rosáceo, tal como outros escritores, além do autor, têm indicado.

Fizeram-se outras novas e importantes descobertas. Por exemplo: sabemos agora que em cada vida nasce um novo Cordão Prateado; que uma parte do mesmo surge do Átomo-semente do Corpo de Desejos, situado no grande vórtice do fígado; que a outra parte surge do Átomo-semente do Corpo Denso, no coração; que as duas partes se encontram no Átomo-semente do Corpo Vital no plexo solar, e que essa união dos veículos superiores com os inferiores produz o despertar do feto. O desenvolvimento ulterior do Cordão entre o coração e o plexo solar, durante os primeiros sete anos, tem importante relação com o mistério da infância, assim como o seu maior desenvolvimento, do fígado ao plexo solar, que ocorre no segundo período setenário, é fator contribuinte para a adolescência. A formação total do Cordão Prateado marca o fim da vida infantil. A partir desse momento a energia solar que entra pelo baço, e que se cobre pela refração através do Átomo-semente prismático do Corpo Vital situado no plexo solar, começa a dar um colorido individual e característico à aura que observamos nos adultos.

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