1ª) “E disse-lhes muitas coisas em parábolas: ‘Eis que o semeador saiu para semear. E ao semear, uma parte da semente caiu à beira do caminho e as aves vieram e a comeram. Outra parte caiu em lugares pedregosos, onde não havia muita terra. Logo brotou, porque a terra era pouco profunda. Mas, ao surgir o sol, queimou-se e, por não ter raiz, secou. Outra ainda caiu entre os espinhos. Os espinhos cresceram e a abafaram. Outra parte, finalmente, caiu em terra boa e produziu fruto, uma cem, outra sessenta e outra trinta.‘” (Mt13:3-8).
2ª) “Propôs-lhes outra parábola: ‘O Reino dos Céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio o seu inimigo e semeou o joio no meio do trigo e foi-se embora. Quando o trigo cresceu e começou a granar, apareceu também o joio. Os servos do proprietário foram procurá-lo e lhe disseram: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Como então está cheio de joio?’ Ao que ele respondeu: ‘Um inimigo é que fez isso’. Os servos perguntaram-lhe: ‘Queres, então, que vamos arrancá-lo?’ Ele respondeu: ‘Não, para não acontecer que, ao arrancar o joio, com ele arranqueis também o trigo. Deixai-os crescer juntos até a colheita. No tempo da colheita, direi aos ceifeiros: ‘Arrancai primeiro o joio e atai-o em feixes para ser queimado; quanto ao trigo, recolhei-o no meu celeiro’.” (Mt 13:24-30).
3ª) “Propôs-lhes outra parábola, dizendo: ‘O Reino dos Céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Embora seja a menor de todas as sementes, quando cresce é a maior das hortaliças e torna-se árvore, a tal ponto que as aves do céu se abrigam nos seus ramos.‘” (Mt 13:31-32).
4ª) “Contou-lhes outra parábola: ‘O Reino dos Céus é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e pôs em três medidas de farinha, até que tudo ficasse fermentado.‘” (Mt 13:33).
5ª) “O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido no campo; um homem o acha e torna a esconder e, na sua alegria, vai, vende tudo o que possui e compra aquele campo.” (Mt 13:44).
6ª) “O Reino dos Céus é ainda semelhante a um negociante que anda em busca de pérolas finas. Ao achar uma pérola de grande valor, vai, vende tudo o que possui e a compra. O Reino dos Céus é ainda semelhante a uma rede lançada ao mar, que apanha de tudo. Quando está cheia, puxam-na para a praia e, sentados, juntam o que é bom em vasilhas, mas o que não presta, deitam fora. Assim será no fim do mundo: virão os anjos e separarão os maus dentre os justos e os lançarão na fornalha ardente. Ali haverá choro e ranger de dentes. Entendestes todas essas coisas?” Responderam-lhe: ‘Sim’.” (Mt 13:45-51.).
7ª) “Então lhes disse: “Por isso, todo escriba que se tornou discípulo do Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que do seu tesouro tira coisas, novas e velhas.” (Mt 13:52).
Há sete interpretações igualmente válidas e verdadeiras para cada parábola. Algumas dessas interpretações são mais profundas em seu significado do que as outras. A maior parte das pessoas está familiarizada com as interpretações exotéricas ou ao pé da letra. Agora, com o “Conceito Rosacruz do Cosmos” foi levantado o primeiro véu e podemos deixar em segundo plano essa forma de interpretação literal. A chave para entendimento das parábolas transcritas está no último versículo; algumas coisas são velhas e outras são novas; algumas são do passado, ao passo que outras virão ainda. Os outros Evangelhos fazem apenas menção das quatro primeiras parábolas. Por isso consideramos esse capítulo como a apresentação completa do símbolo.
A primeira parábola refere-se ao semeador – Deus – lançando a semente de uma nova Onda de Vida, os Espíritos Virginais (a presente humanidade) foram diferenciados pela primeira vez, dentro de Deus ou “plantados”.
A segunda parábola narra o fato de o semeador encontrar joio em seu campo, preferindo deixá-lo crescer juntamente com o trigo, a fim de não haver o perigo de destruir a boa semente. Alude ao Período Solar, onde surgiram pela primeira vez a luz e as trevas. Segundo uma tradição de origem oculta, alguns componentes dessa onda de vida recusaram-se a emergir na matéria, retardando, dessa forma, a nossa evolução. Deram margem a um primeiro esboço de egoísmo ou joio, em nossa onda de vida.
A terceira parábola, do grão de mostarda, refere-se ao Período Lunar, quando o ser humano recebeu o germe do Corpo de Desejos. A semente da mostarda, embora pequenina, desenvolve-se até transformar-se numa árvore de grandes dimensões. A mostarda é um condimento excitante do Corpo de Desejos. Seu uso desmedido pode afetar negativamente nossa natureza emocional.
A quarta parábola, a da pequena quantidade de fermento, corresponde ao Período Terrestre. No Velho Testamento todo o pão sacramentado deveria ser levedado, porque desse modo Jeová poderia manter o povo sob seu jugo. Mas Cristo iniciou a Nova Era – a Era de Aquário, ainda como anunciador – em que, lenta, mas seguramente, o amor altruísta vem sendo difundido. “No peito de cada indivíduo a força do altruísmo trabalha como se fora um fermento. Desse modo transforma-se o selvagem numa pessoa civilizada e com o tempo, esse, num Deus.” (“Conceito Rosacruz do Cosmos”).
A quinta parábola, do tesouro escondido, sugere o Período de Júpiter. Naquele longínquo período futuro, os seres componentes do atual reino mineral passarão por um estado de consciência análogo ao das plantas e nós trabalharemos com eles com a mesma desenvoltura com que os Anjos operam atualmente com o Reino Vegetal.
O desenvolvimento de nossas faculdades imaginativas habilitar-nos-á também a vitalizá-las. Dessa maneira, os “tesouros do reino dos céus no Período de Júpiter, não permanecerão escondidos no campo de nossos corpos nem na Terra. Contudo, deve desde já despender os melhores esforços a fim de desenvolver estas faculdades futuras”.
A sexta parábola, a da pérola de alto preço, assinala as condições do Período de Vênus, quando os minerais atuais alcançarão um estado de consciência semelhante ao dos nossos animais. A pérola é a única gema originária da ação de uma criatura viva: a ostra.
Segundo Max Heindel, no final do Período em questão, o ser humano estará em condições de revestir de cores e tons as formas por ele engendradas e vitalizadas. Assim, tal como o comprador de pérolas, o ser humano tudo fará para adquirir essa faculdade.
A sétima parábola, a da semelhança do escriba instruído com o pai de família, refere-se ao período derradeiro – o Período de Vulcano – quando as influências particulares do Espírito Divino serão as mais fortes, porquanto foi vivificado no correspondente Período de Saturno. Nesse período o joio será removido do trigo e estaremos prontos para o repouso cósmico.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – junho/1968 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Desde o seu início, o Cristianismo vem sendo deturpado por interpretadores levianos, por entidades dogmáticas, por pretensiosos e pseudomestres, desavisados transmissores dos seus ensinamentos, os ensinamentos de Cristo, os ensinamentos Cristãos.
Vem sendo erroneamente ou mesmo inconscientemente confundido nos seus ensinamentos. Confundidos, sim, por aqueles que apenas o leram, sem entendimento e conhecimento de seu profundo significado oculto.
Essa verdade aqui exposta, sem nenhum sentimento ou propósito não fraternal, nós a encontramos se nos transportarmos aos textos do próprio Livro sem prefácio, a Bíblia. Esse livro que se constitui num verdadeiro manancial de ensinamentos revividos pelos apóstolos de Cristo e seguidos, retamente, por aqueles que possuem internamente a sua chave de interpretação.
Até mesmo nas suas traduções, esse fenômeno de deturpação se generalizou, se anotou de maneira muitas vezes grosseira, pois quase que a totalidade dos seus tradutores se julgaram privilegiados portadores da verdade, ao traduzi-la e entregá-la ao sabor de interpretadores menos capacitados.
Entretanto, nós sabemos que nenhum deles, ou melhor, a maioria deles não nos apresentou uma tradução do texto original, havendo, consequentemente, uma disparidade nas suas variadas traduções, encontrando-se, na maioria delas, a marca das funestas e nefastas influências de poderosos grupos da época de escribas, de fariseus interessados numa versão ajustada às conveniências e interesses desses mesmos grupos predominantes e, não raras vezes, fugindo à lógica da sua cristalina interpretação.
Dessa confusão e dessa disparidade caracterizada nas suas traduções surgiu o catolicismo, o protestantismo, enfim, a divisão de centenas de grupos e seitas religiosas, todas elas, porém, mantendo o sufixo “ismo”, o que, vale dizer, sem se afastarem do Cristianismo.
O movimento Rosacruz (cabendo aqui salientar: que não é uma seita ou organização religiosa, mas sim uma grande Escola de Pensamento Filosófica Cristã, também conhecida como a Escola dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental), no entanto, sem se preocupar com tais disparidades de traduções, sem pretender dar novas formas aos seus textos, vem procurando interpretar e “prefaciar” a Bíblia dentro da sua não deturpável realidade oculta, buscando, nas suas entrelinhas, a sua real e efetiva significação esotérico-espiritual, sem se preocupar com as razões ou interesses de variados grupos guiados por preconceitos egoísticos, finalidades não definidas e por vezes danosas aos superiores interesses do Cristianismo, corretamente aplicado.
Com a segurança dessa interpretação, com a convicção das verdades existentes no texto oculto da Bíblia, vem a Fraternidade Rosacruz, com seus respectivos Centros e Grupos de Estudos, conquistando a aprimoração e difusão dos seus ensinamentos, que muito vêm ajudando os nossos irmãos, as nossas irmãs, as nossas amigas e os nossos amigos nessa preocupação constante de sobreviverem na verdade, unicamente na verdade, no desejo de constituir uma humanidade mais Cristã, mais Fraternal, mais humana.
A trajetória percorrida pela Fraternidade Rosacruz, nessa espiral de evolução, vem se pontilhando e se purificando no grande sacrifício de uma luta constante, difícil e, muitas vezes, incompreendida, porém profundamente gloriosa.
Nessas circunstâncias, aos Estudantes Rosacruzes não recomendamos a leitura pura e simples do livro sem prefácio, a Bíblia, porém, que cada um procure estudá-la sem interesses outros que não sejam aqueles de, constantemente, aprender a interpretá-la na imperativa missão de fazer prevalecer a verdade dos seus ensinamentos e nunca as conveniências de grupos que consciente ou inconscientemente vêm contribuindo para dificultar o estabelecimento da tão aspirada Fraternidade humana.
Afinal, não nos esquecemos do que repetimos todas as vezes que oficiamos o Ritual do Serviço Devocional do Templo: “A Bíblia foi dada pelos Anjos do Destino que estando acima de todos os erros dão a cada um e a todos exatamente o que necessitam para o seu desenvolvimento”.
E, mais, como estudamos no Conceito Rosacruz do Cosmos: “Há muito boas razões para que a Bíblia – que contém não uma, mas duas Religiões, a Cristã e a Judaica – fosse dada ao Ocidente. Se procurarmos a luz diligentemente veremos a Suprema Sabedoria oferecida por esta dupla Religião, apropriada como nenhuma outra Religião atual, às nossas necessidades especiais. Esclarecendo melhor esse assunto tratemos, nesse capítulo, de alguns pontos já examinados em outras partes desse livro.”
“A Bíblia, portanto, contém os ensinamentos de que necessitam, especialmente, os povos ocidentais.”
“Não pretendemos defendê-la (na forma atual comumente conhecida) como a única, verdadeira e inspirada Palavra de Deus, não obstante, ser verdade que ela contém muitos conhecimentos ocultos inestimáveis. Isso é, em grande extensão, escondidos sob interpolações e obscurecidos pela supressão arbitrária de certas partes julgadas “apócrifas”. O ocultista cientista que, claro, sabe o que se quis expressar pode ver facilmente quais as partes originais e quais as que foram interpoladas.”
“Antes de proceder com uma análise, é necessário dizer que as palavras da língua hebraica, especialmente no estilo antigo, sucedem-se umas às outras sem a separação ou a divisão que é de uso em nossa língua. Acrescentando a isso, havia o costume de retirar as vogais da escrita, de maneira que sua leitura dependia muito donde fossem colocadas, se verá quão grandes são as dificuldades a vencer para apurar o significado original. Uma ligeiríssima mudança pode alterar inteiramente o significado de qualquer sentença.
Além dessas grandes dificuldades, devemos também saber que dos quarenta e sete tradutores da versão do Rei Jaime (a mais comumente usada na Inglaterra e América) unicamente três conheciam bem o hebraico e, desses três, dois morreram antes da tradução dos Salmos. A ata que autorizava a tradução, tenhamos também em atenção, proibia aos tradutores todo o parágrafo que pudesse desviar grandemente ou perturbar as crenças já existentes. É evidente, portanto, que as probabilidades de se conseguir uma tradução correta eram bem escassas.
Tampouco foram mais favoráveis as condições na Alemanha. Lá, Martin Lutero , o único tradutor, mesmo ele não a traduziu do texto original hebraico, mas tão só de um texto latino. A maioria das versões empregadas pelos protestantes dos diversos países é simples traduções em diferentes idiomas da tradução de Lutero.
Certamente tem havido revisões, mas não tem melhorado grandemente a matéria. Além disso, há grande número de pessoas que insiste em considerar o texto inglês da tradução do Rei Jaime como absolutamente exata, da primeira à última letra, como se a Bíblia tivesse sido escrita originalmente em inglês e a versão do Rei Jaime fosse uma cópia fidedigna do manuscrito original. Assim, os erros subsistem apesar dos esforços que se têm feito para eliminá-los.
Deve-se também notar que os que originalmente escreveram a Bíblia não pretenderam dar a verdade de maneira a poder tê-la quem quisesse. Nada estava mais distante de sua Mente do que a ideia de escrever ‘um livro aberto de Deus’.”
“Originalmente, a Bíblia Judaica foi escrita em hebraico, mas não possuímos nem uma só linha da escritura original. No ano 280 antes de Cristo fez-se uma tradução para o grego, a ‘Septuaginta’. Ainda em tempos de Cristo, havia já uma confusão tremenda e diversidade de opiniões relativas ao que se devia admitir como original e ao que tinha sido interpolado.
Só depois da volta do desterro da Babilônia, começaram os escribas a compendiar as diferentes escrituras. Pelo ano 500 D.C. apareceu o Talmud (um livro sagrado dos judeus, um registro das discussões rabínicas que pertencem à lei, ética, costumes e história do judaísmo. É um texto central para o judaísmo rabínico), com o primeiro texto semelhante ao atual. Em vista dos fatos mencionados, não pode ser perfeito.
O Talmud esteve em mãos da escola Massorética que, desde o ano 590 até 800 D.C., permaneceu, principalmente, em Tiberíades. Depois de enorme e pacientíssimo trabalho, escreveu-se um Antigo Testamento Hebreu, o mais próximo ao original que temos atualmente.
Esse texto massorético será utilizado na elucidação seguinte sobre o Gênesis e, não confiando no trabalho de um único tradutor, será suplementado por uma tradução alemã de três eminentes estudiosos do hebreu: H. Arnheim, M. Sachs e Jul. Furst que cooperou com um quarto, Dr. Zunz, sendo esse último também o editor.”[1]
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – fevereiro/1965 – Fraternidade Rosacruz – SP)
[1] N.E.: atualmente, em português, temos uma versão que atende à fidelidade descrita nesse parágrafo por Max Heindel em uma versão da “Bíblia de Jerusalém, edição brasileira (1981, com revisão e atualização na edição de 2002) da edição francesa Bible de Jérusalem, que é assim chamada por ser fruto de estudos feitos pela Escola Bíblica de Jerusalém, em francês: École Biblique de Jérusalem. De acordo com os informativos da Paulus Editora, a edição “revista e ampliada inclui as mais recentes atribuições das ciências bíblicas. A tradução segue rigorosamente os originais, com a vantagem das introduções e notas científicas.” Essas notas diferenciais em relação às outras traduções prestam-se a ajudar o leitor nas referências geográficas, históricas, literárias etc. Suas introduções, notas, referências marginais, mapas e cronologia — traduções de material elaborado pela Escola Bíblica de Jerusalém — fazem dela uma ferramenta útil como livro de consulta, para quem precisa usar passagens bíblicas como referência literária ou de citações. A Bíblia de Jerusalém é considerada atualmente, pela grande maioria dos linguistas, como uma das melhores bíblias para o estudo, aplicável não apenas ao trabalho de teólogos, religiosos e fiéis, mas também para tradutores, pesquisadores, jornalistas e cientistas sociais, independentemente de serem católicos, protestantes, ortodoxos ou judeus, ou mesmo de qualquer outra religião ou crença e ateus.
O rei David louvava a Deus pela maravilhosa obra que Ele, o Pai, ajudou o ser humano a realizar, dizendo: “Louvar-te-ei porque Tuas obras são formidáveis e maravilhosas. Estou deslumbrado e minha alma o sabe muito bem. Não foi encoberto de Ti o meu corpo, quando no oculto foi feito e entretecido nas profundezas da Terra.” (Sl 139:14-15).
O corpo humano, “o Templo de Deus” referido por São Paulo Apóstolo, é o mais valioso instrumento do ser humano, porque por meio dele, o Espírito (nós), como manifestação da Chispa Divina, obtém experiência.
Entretanto, o que faz a maioria dos homens e das mulheres com esse divino Tabernáculo? Transformam-no em um depósito de vícios, maus hábitos e baixos desejos. Muitos ignoram a sublimidade de sua origem e o elevado custo de seu desenvolvimento passado e, cegados pela ilusão dos sentidos e convicções materialistas, buscam tirar dele o que chamam de proveito e embrutecem-no lamentavelmente. Outros, entretanto, sabem o que ele representa, como obra divina, como laboratório cuja perfeição de funcionamento sabe que não se deve a automatismos, senão à ação de Inteligências Superiores e à regência de Leis da Natureza imutáveis. No entanto, abusam conscientemente, em desafio a essas mesmas divinas Leis, cuja desobediência suscita enfermidades, doenças e todo um cortejo de dores. Aliás, os sinais dessa desobediência podem ser devidos às transgressões nesta vida ou existências anteriores.
Segundo os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, a saúde total abrange não só o físico, senão, também e principalmente, os comportamentos emocional e mental, respectivamente, dos quais geralmente afloram as causas dolorosas de nossas enfermidades e doenças. Nesse amplo sentido todos somos enfermos ou doentes, em maior ou menor grau, e se desejamos recuperar a saúde e conservá-la, precisamos conhecer e respeitar esses princípios fundamentais e regular, por eles, os nossos hábitos todos.
O Adorável Mestre Cristo Jesus ressaltou bem a origem de nossas enfermidades e doenças ao paralítico já curado por Ele: “Eis que já estás são. Vai e não peques mais para que não te suceda alguma coisa pior.” (Jo 5:7-18).
Note-se que até o próprio Senhor não ousava quebrar as Leis da Natureza e não podia assegurar saúde permanente se aquele que a recebesse não deixasse os maus hábitos e vícios transgressores da harmonia cósmica, essa harmonia presente nos Astros como no corpo humano, no macro e no micro e na relação entre toda a criação.
A Fraternidade Rosacruz nos leva a conhecer essas Leis, tornando-se, contudo, o respeito que tem à liberdade individual, um luminoso caminho de regeneração humana. Por isso recomenda a adoção de uma dieta racional em frutas, legumes, verduras, sementes, cereais integrais, leite, queijo e ovos. Alimentação isenta de elementos prejudiciais (excesso em embutidos, alimentos artificiais, carne animais – mamíferos, aves, peixes, répteis, anfíbios, frutos do mar e afins), sem excesso de massas, senão equilíbrio de vitaminas, sais minerais e proteínas, formas saudáveis de preparo, quantidade e qualidade condizentes, com o tipo físico, tipo de atividade, clima, etc. Mostra os efeitos da ira, da apreensão, da angústia, do medo, da crítica ferina, da inveja, do ciúme, do orgulho e todas as demais ramificações irmãs dessa hidra tenebrosa que generalizamos pelo nome de egoísmo. Não apenas tudo isso nos prejudica a saúde e a paz interior como, por decorrência, retarda nosso avanço espiritual.
A Filosofia Rosacruz nos leva a compreender nossa verdadeira identidade, como Espíritos, herdeiros de Deus, cidadãos celestiais, em peregrinação e aprendizagem neste plano, ao qual não nos devemos apegar e cujos elementos têm apenas utilidade transitória, como fatores de experiência, aprendizagem e crescimento interno, que se converterão em faculdades criativas em nossas condições superiores do futuro.
Reconhecendo as manhas e dificuldades impostas por nossa natureza inferior, embora de existência transitória, mas que pode nos atrasar perigosamente no Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz, ensina-nos o mecanismo de nossos desejos, sentimentos, nossas emoções e nossos pensamentos, e nos fornece um método racional e seguro de libertação, pela disciplina desses corpos e domínio de nós mesmos.
Conheça, pois, essa formosa e lógica Filosofia Rosacruz que a todos nós tem trazido imensos benefícios, e a qual desejamos estender a tantas pessoas que nos sejam possível alcançar, de modo a suscitar-lhes os pendores naturais, bons, espirituais, que jazem adormecidos em seu íntimo e armá-los com discernimento e amor para a luta e gradativa vitória contra a tenebrosa natureza inferior rumo ao alvorecer de um novo e radioso dia, à realização de um novo homem e de uma nova mulher, identificados com a luz, com a eterna e verdadeira fonte de que promanaram. Como diz o Novo Testamento: “Deus é Luz. Quem anda na luz está com Deus e Deus nele.” (IJo 1:1). “E já não será mais ele que vive, senão o Cristo em seu interior.” (At 21:13), o qual se dará sem medidas e por ele fará as mesmas obras e maiores ainda do que as que realizaram na Terra.
(Revista Serviço Rosacruz – fevereiro/1967 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Já chegamos a um ponto de nossa evolução em que se torna necessário saber aquilo que o peregrino vai encontrar na Senda que conduz ao Reino, nesse ponto em que a VOZ INTERIOR deve ser reconhecida e aceita como a orientadora.
O solitário viajante se converteu num Discípulo à prova; o “filho pródigo” retorna à casa do Pai.
Após um longo período de provas, tendo demonstrado que nada pode desviá-lo da sua determinação de atingir a meta, deve o Discípulo enfrentar a última prova, a suprema prova desse período. Ocorrerá então uma profunda e íntima experiência anímica, na qual se verá obrigado a fazer uma escolha entre um querido ideal ou um simples e penoso dever.
Se escolhe o “dever”, como certamente acontecerá, se pede auxílio a esse infalível Guia Interior – O Cristo interno – então penetrará em uma nova etapa da sua jornada, mais brilhante, porque sua dedicação demonstrou ser uma consagração espiritual e não uma mera dedicação da Mente ou do Coração humano. É aceito porque se converteu num verdadeiro Discípulo e desse instante em diante vai se tornando cada vez mais consciente de um Guia Interior definido, que vai cada vez falando mais claramente e com maior insistência à proporção que o desinteresse do seu coração vai se acentuando.
Gradualmente, começa a aprender que toda a vez em que concentra a sua atenção no interior de si mesmo encontra um Ser Sábio e Poderoso, sempre pronto a ensinar, auxiliar e fortalecer, sempre que se lhe pede.
A voz que ali reside e que com tanta autoridade diz: “EU SOU O CAMINHO, A VIDA E A VERDADE E NINGUÉM CHEGA AO PAI SENÃO POR MIM”, é a voz do Cristo Interno, sempre falando no íntimo do coração quando a Mente está tão tranquila.
O Discípulo começa então a compreender de um modo definitivo que ele não é a sua Mente, nem as suas preocupações, que aliás devem ser reduzidas a silêncio, mas que, em uma forma maravilhosa e natural, ele mesmo faz parte e pode entrar realmente na Consciência desse Cristo Interno e, desde ali, ordenar que a Mente se aquiete, obrigando-a a obedecer.
E não tarda a descobrir que, enquanto se acha na Consciência, ele é o MESTRE, mas que, quando se acha na sua consciência cerebral então, não é mais que um Discípulo. E descobre, ainda, que quando abre seu coração, deixando que o amor brote nele, pode penetrar no interior, tornando-se ele mesmo – puro amor e que, nesse estado de consciência, ele e o CRISTO são UM, formando-se nessa ocasião a consciência, tal qual a tivera Jesus, que sentia ser o Caminho, o “único” Caminho, a Vida e a Verdade. A consciência cerebral não é mais que uma consciência individual, que ELE está exercitando, desenvolvendo e disciplinando, para convertê-la em Seu perfeito instrumento de expressão.
A “Mente cerebral” começa a conformar-se, se deixar levar, sem resistência, limitando-se ao papel de espectador daquilo que ocorre, que tudo o que é necessário fazer, quando o Discípulo tem que ensinar ou ajudar a outrem é: abrir a boca e dizer as palavras que nesse momento lhe são dadas, ou pôr-se a realizar qualquer tarefa – seja qual for – sem nenhuma preocupação, POIS UM PODER SÁBIO E PODEROSO LHE DÁ, NESSE INSTANTE, a habilidade e a capacidade para realizá-la. Similarmente, se deseja saber algo, basta que peça com calma e oportunamente observa a sabedoria que surge e inunda sua consciência.
E assim é que pouco a pouco, de maneira lenta e gradativa, a “Mente cerebral” vai aprendendo o seu verdadeiro lugar, que consiste simplesmente em “ATENDER-TE A TI, QUE MORAS AGORA NA CONSCIÊNCIA DO CRISTO INTERNO”.
“Quando te encontrares nessa consciência serás verdadeiramente o Mestre, enquanto, a consciência cerebral, esta, que neste momento, está lendo e escutando estas palavras, tratando de compreendê-las, não é mais do que o Discípulo humilde e simples, ou que aspira sê-lo”.
Se pudermos compreender tudo o que isso significa, compreenderemos, também, gradualmente, que à medida que o Discípulo consente que o Mestre obre por seu intermédio vai convertendo a sua consciência de tal forma que o Mestre estará realmente vivendo a sua vida, e fazendo nele a Sua Vontade. Como resultado de tudo isso, o Discípulo se encontra na situação em que o Mestre pode realizar, por seu intermédio, a Obra que Ele veio fazer aqui e para a qual esteve disciplinando e aperfeiçoando, em todo esse tempo, Seu Discípulo.
Agora trabalham como um só, em perfeita harmonia com todos os demais irmãos que compõem o Reino, servindo a grande causa da Fraternidade, sob a direção do Supremo Senhor e Mestre: o Cristo de Deus.
Nada mais se pode dizer sobre o caminho, posto que isso já é o máximo que a Mente pode conceber, de acordo com o seu atual estado de desenvolvimento.
Pelo exposto podereis compreender que o verdadeiro Discípulo se conhece sempre pela obra que faz, pelo seu espírito de abnegação e de sacrifício.
Vive só para servir os demais seres; todos os seus pensamentos e interesses tendem a esse fim, porque agora se converteu numa parte integral da Grande Fraternidade de Servidores que moram em Cristo e só a Ele obedecem.
É assim que o Cristo Interno, o Mestre, se revela àqueles que são dignos de conhecê-Lo: seus Discípulos. Os demais só podem ver no Discípulo uma pessoa sempre disposta a ajudar os outros, a antecipar-se às suas necessidades, e a trabalhar desinteressadamente.
Se compreendermos bem isso, notaremos que são bem poucos os Discípulos realmente aceitos. A maior parte, não são mais do que Discípulos à prova; mas, mesmo assim, é muito maior o número de aspirantes que pouco a pouco, respondendo ao estímulo provocado por nossos trabalhos, chegarão gradualmente à etapa do verdadeiro Discipulado.
Entretanto, essas palavras foram escritas para os Discípulos, para aqueles que, conscientemente, estão procurando o Reino de Deus, obedecendo instintivamente ao impulso que brota do seu interior, embora o seu cérebro especule e diga outra coisa.
Essas palavras têm por objeto descobrir aquilo que intrinsecamente a alma é, com relação à Mente cerebral, de tal forma que ela possa voltar novamente à Casa do Seu PAI – à Consciência Crística – e conhecer ali a Obra que a espera.
Todos aqueles que sentem a virtude dessas palavras, conhecendo instintivamente a verdade que encerram, estão destinados a serem Discípulos ainda nesta vida.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de outubro/1971-Fraternidade Rosacruz-SP)
Maria, a mãe de Jesus, foi o coração de compaixão e de compreensão. Quantos de nós têm prestado suficiente atenção à vida e ao trabalho de Maria? Ela veio para cumprir uma missão especial, assim como José e Jesus. Sua missão não foi somente dar à luz o homem Jesus, que mais tarde cedeu seu corpo ao Cristo, mas, também, elevar as condições de toda a humanidade, em virtude do fato de que foi a mãe de Jesus, o indivíduo mais importante que já nasceu em toda a história do mundo.
Quando estudamos as vidas de Jesus e de Maria, ficamos um tanto surpreendidos com a resposta que ela recebeu de Jesus, o Cristo, segundo o Evangelho de São João (2:4), em relação à transformação da água em vinho: Ele lhe respondeu de um modo quase ríspido: “Que tenho eu contigo, mulher? Ainda não é chegada a minha hora“.
Porém fixemo-nos na resposta dela, dirigida aos serventes: “Fazei tudo o que Ele vos ordenar“. Note-se que cuidadosamente ela preparava o caminho para que se consumasse seu primeiro milagre.
Maria e José foram à Jerusalém para a festa da Páscoa, como era costume naqueles dias. Quando voltavam para casa deram falta de Jesus, e O procuraram durante três dias até que O encontraram no Templo entre os sábios e os doutores. Todas as mães sabem o que se sente ao procurar um filho perdido. Maria, conhecendo a missão de Jesus, estava desconcertada com o seu desaparecimento. Quando O encontrou perguntou por que havia se comportado daquela maneira com seus pais. Vejam a resposta dele, conforme o Evangelho de São Lucas (2:49): “Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?“. Isso não indica que Jesus, sendo ainda muito jovem, (pois tinha então 12 anos), estava plenamente inteirado da parte que lhe correspondia representar, isto é, de permitir a Cristo que lhe utilizasse o corpo durante os três anos de Seu ministério?
Maria – seu próprio nome nos traz à Mente muitas coisas que nos são queridas. Vejamos a letra “M”; quantas palavras começam com essa letra: mãe, multidão, maná, matéria, mestre, metafísica, mar e outras tantas mais. Também temos outras Marias relacionadas com a vida de Jesus, e cada uma delas cumpriu sua missão.
De acordo com Max Heindel, sabemos que Maria e José foram Iniciados elevados nos Mistérios, ou seja, alcançaram as elevadas Iniciações. Estavam imbuídos plenamente da missão que lhes tocava, assim como Jesus. Da mesma forma que no caso dos grandes músicos como é de notar nas vidas da célebre família dos Bach. Quando Jesus Cristo falava com Maria e lhe dava aquelas respostas, era o Cristo e não o homem Jesus que falava. Podemos alcançar uma maior compreensão quando Jesus Cristo em Seu último alento deixou Sua mãe aos cuidados de São João evangelista, Seu discípulo, segundo lemos no Evangelho Segundo São João (19:26), demonstrando o laço profundo entre a mãe e o filho. Quase Seu último pensamento e pedido foram nela e para ela.
Nos tempos presentes, vemos a mulher ocupando os postos dos homens, em alguns casos. Porém, se ouvimos a conversa delas nos distintos aspectos da vida, podemos verificar seus fortes desejos de voltar ao lar e viver ao lado de seus familiares. É no lar em que se acha o verdadeiro trabalho da mulher. Sabemos que renascemos umas vezes como homem e outras como mulher, e é necessário que aprendamos tudo o que nos seja possível em cada corpo. Maria cumpriu seu trabalho familiar muito bem. Trabalhou com José, porém não encontramos nenhum indício de que ele tivesse exercido domínio sobre ela. Sem dúvida, encontramos muitos relatos do trabalho de Maria no lar. Sabemos que a túnica de uma só peça que Cristo usava quando foi crucificado havia sido tecida por ela.
A grande influência que as mulheres exercem sobre os homens está indicada no conhecido dito que diz: “A mão que embala o berço governa o mundo”. O êxito do homem é amiúde devido à influência de sua esposa, mãe ou noiva. Temos muitos exemplos disso e todos os grandes homens dão muito crédito aos conselhos maternais. Lincoln disse que tudo o que ele era e esperava ser o devia à sua mãe.
Em todas as grandes crises encontramos uma mulher atrás da cena. Nem todas as mulheres, em sua capacidade, têm sido boas, e é então quando se tem provocado muitos distúrbios ao mundo, porém o fato é que sempre existe uma mulher por detrás dos bastidores.
De acordo com a Bíblia, José era muito mais velho do que geralmente se supõe. Quando lemos sobre sua participação no plano, notamos, sobretudo, seu cuidado com Maria e Jesus, e sua devoção e completa obediência à vontade de Deus. Todos os seus pensamentos convergiam à ternura pela mãe e o Filho. José deu por cumprida sua missão quando Jesus estava preparado para entregar seu corpo ao Cristo. Somente Maria esteve com Jesus, com seu amor e devoção, até que Ele expirou.
Durante os trinta anos da vida como um ser humano – pois utilizava os seus Corpos Denso e Vital – , Jesus obedeceu todas as leis da Terra. Porém, quando Cristo tomou o Corpo Denso e o Corpo Vital dele – com o seu consentimento –, no Batismo, começou a mudar as leis e dar novos ímpetos ao mundo. Tão logo como o Cristo começou Seu ministério, as mudanças foram maiores e nos três curtos anos em que executou a sua missão para a qual havia vindo, ou seja, a de Salvador do Mundo.
Não nos esqueçamos das outras Marias que tomaram parte nas vidas de Maria e Jesus. Não é estranho que as três tivessem o nome de Maria? Cada uma delas ilumina alguma das fases da vida da mulher. A história de Maria e Martha é uma das quais estamos familiarizados. Por que Maria ficou com Jesus enquanto Martha trabalhava na cozinha? Por que Maria Madalena ungiu os pés de Nazareno com azeite perfumado? Por que elas tinham parte na missão de Jesus? Maria Madalena é uma das Marias que mais nos intriga. Ela tomou parte na redenção. Trabalhou seu destino por meio de superação de sua Mente e de sua alma. Todos nós sabemos que Maria Madalena havia quebrado muitas das leis, porém com a ajuda de Jesus Cristo, se redimiu e começou vida nova.
Aproximava-se a hora em que Jesus Cristo tinha de se apresentar aos judeus como seu Rei e Messias prometido. Quantas alegrias sentiria o coração de Maria, ao observar seu Filho fazendo os primeiros milagres de cura! Quanto teria sofrido ao saber que seu Filho bem amado teria que caminhar sozinho os anos restantes de Sua vida! Aqui vai uma avaliação para todas as mães: quantas há que, ao chegar a hora em que seus pequeninos tenham que provar suas próprias asas e começar a viver suas próprias vidas, estão dispostas a dar-lhes a liberdade de que necessitam?
Diz se no Novo Testamento que quando Cristo falava às multidões, Maria e Seus Irmãos vieram e desejaram falar-Lhe, e sua resposta foi: “Quem é minha mãe, e quem são os meus irmãos? Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe“. Maria compreendeu isso porque sabia que já não tinha o mesmo laço familiar com Cristo como o tinha com Jesus. Sabemos que durante os últimos dias e noites de provas, Maria falava com Deus e teve que receber muitas bênçãos porque continuou sua missão até o final.
Como a alegria que Maria teve ao ter o menino entre seus braços, também teve a dor de sustentar o corpo sem vida de Jesus Cristo, enquanto José de Arimatéia ia procurar o pano para envolvê-Lo. Depois que Seu corpo foi levado Maria foi com João, pois sabemos que esse a levou para sua casa e dela cuidou. Maria viveu o suficiente para saber que a missão para a qual Ela e Jesus haviam nascido se havia cumprido, e que tudo se havia feito de acordo com a vontade e guias Divinos.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – maio/1966 – Fraternidade Rosacruz – SP)
No Evangelho Segundo São João 4:5-10 estudamos que Cristo-Jesus “chegou, então, a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto da região que Jacó tinha dado a seu filho José” e onde se achava o poço (“Ali se achava a fonte de Jacó”) de onde se tirava a água que dessedentara Jacó, sua descendência e seu gado. No versículo 6 lemos que, “fatigado da caminhada, Jesus sentou-se junto à fonte”, quando “Uma mulher da Samaria chegou para tirar água. Cristo-Jesus viu essa samaritana chegar e disse-lhe então: “Mulher, dá-me de beber”. Essa, percebendo tratar-se de um judeu, respondeu: “Como, sendo judeu, tu me pedes de beber, a mim que sou samaritana?”. Porque os judeus não se comunicam com os samaritanos. A isso respondeu Cristo-Jesus: “Se conhecesses o dom de Deus e quem é que te diz: ‘Dá-me de beber’, tu é que lhe pedirias e ele te daria água viva!”.
Preste a atenção a alguns pontos de relevante importância a respeito de sua própria vida e de toda a humanidade.
Esse foi o primeiro passo dado por Cristo em Seu Ministério, para estender fora do povo escolhido, a toda a humanidade, sua doutrina unificadora e redentora. No entanto, até hoje a maioria da humanidade abrasa na sede da insatisfação íntima e de sofrimento de toda a ordem, cuja causa única é a falta de compreensão e, sobretudo, de vivência das grandes e sempre atuais verdades contidas nas entrelinhas dos Evangelhos.
Cristo-Jesus conhecia profundamente as carências humanas quando dizia: “tendes olhos e não vedes, ouvidos e não ouvis.” (Mc 8:18). A evolução do ser humano comum é lenta. Alguns há que entram e saem da aula da vida quase no mesmo estado. Mais de dois mil anos transcorreram e se Cristo hoje voltasse ao mundo teria de dizer as mesmas coisas. Por isso afirmou que não sabia quando voltaria. Depende somente de nós…
Cumprindo a finalidade da Fraternidade Rosacruz é que vimos juntar esta exortação: “não há nada mais essencial nesta vida do que o conhecimento de nossa própria natureza e a razão de nossa existência”. A Fraternidade Rosacruz pode esclarecer integralmente, dando uma real motivação à sua vida e ajudando-o a assentar as bases da verdadeira paz e felicidade.
Quando, em 1909, foi lançado a público a obra fundamental de Max Heindel, o livro “Conceito Rosacruz do Cosmos”, foi justamente para lançar nova luz à má compreendida Religião Cristã, dando a chave para um entendimento racional das verdades evangélicas e sua conciliação com a vida moderna. A Filosofia Rosacruz ilumina a parábola e o simbolismo permitindo-nos penetrar-lhe a essência figuradamente exposta pelo Mestre “para os que a vissem, não a enxergassem, e ouvindo-a, não a escutassem”, isso é, oculta dos que buscam a beleza exterior, o encanto da forma e não a alma, vislumbrada apenas por quem tem amadurecimento interior.
Falamos de uma cidade e de um poço, ao lado do qual se sentou Cristo-Jesus. Falamos também da água viva, referida pelo Mestre à mulher samaritana.
Que significa cidade? Ao pé da letra e num sentido histórico, quase nenhum proveito e sentido trás. Porém, considerando esotericamente o termo, veremos tratar-se de uma parte da nossa natureza, cujos elementos nós, o Ego, busca incorporar a seu Reino. Ali existia um poço, a beira do qual, como Egos cansados da jornada, paramos para repousar. Realmente, nós, o Ego, nos estafamos na luta pela conquista da nossa “natureza inferior”, que se alimenta ainda do poço de suas tradições, de seus hábitos e desconhece o sabor da água viva, que satisfaz permanentemente nossas necessidades reais, pois somos Egos e não há como fugir dos nossos próprios reclamos. Enquanto continuamos a beber da água do poço, teremos necessidade de renascer. Só a água viva da espiritualidade poderá redimir e transubstanciar o que há de humano, espiritualizar o que há de material, eternizar o que há de transitório, conforme nos explica o apóstolo São Paulo em sua Epístola aos Efésios. Realmente, não encontramos tempo para alimentar nossa alma com coisas superiores. Não buscamos uma pausa para uma prece sentida. A vida do ser humano comum decorre numa competição febril e nervosa, cheia de preocupações, angústias, temores, ódio, astúcias, ambições e seu preço logo se evidencia nas mais variadas formas de enfermidades ou doenças modernas, que devastam o Corpo Denso, até muito antes dos cinquenta anos de idade aqui (!). Quem disse que a vida espiritual não tem fundamento prático? Não nos referimos à Religião, tal como é hoje praticada pela maioria. Nem a criticamos. A culpa é daqueles seres que se acomodaram às suas conveniências. Cristo continua em Seu lugar e continua a esperar pelo nosso entendimento e pela prática dos princípios que nos levarão à posteridade. Não há outro Caminho, não há outra Verdade, não há outra vida real senão essa: a água viva que Ele oferece a todos.
Você sofre porque quer, teme porque quer. Está em seu livre arbítrio escolher a solução. Um bom ano novo não pode cair das nuvens ou esperar contar com a sorte. Precisa ser conquistado por cada um de nós.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – janeiro/1967 – Fraternidade Rosacruz – SP)
(*) Pintura: -Jesus asks the Samaritan woman for a draft from the well-Gusatve Dore 1866-1870
E subiu ao monte, e chamou para Si os que Ele quis, e os nomeou doze para que estivessem com Ele… e para que tivessem o poder de curar as doenças e enfermidades e expulsar os demônios. A Simão a quem acrescentou o nome de Pedro, e a Tiago, filho de Zebedeu, e a João, irmão de Tiago, aos quais deu o nome de Boanerges, que significa Filhos do Trovão… (Mc 8:13-17).
A jornada dos Discípulos principia quando foram ordenados por Cristo após suas Iniciações. Podemos segui-los durante os anos de ministério de seu Mestre e Salvador, prosseguindo depois o seu trabalho na Terra.
Durante esses anos todos, foram beneficiados pela presença e profundo amor do Galileu. As chacotas dos populares pouco os atingiam, em comparação com a felicidade que sentiam no trabalho do “Caminho”, na vinha do Senhor. E qual dos Discípulos era o mais próximo do Cristo, o que mais afinidade conseguiu com o Mestre, quem melhor O compreendeu?
De todos os Discípulos, João foi chamado de “amado” pelo Mestre. Em sua juventude era impulsivo, ambicioso e até vingativo. Só quando cresceu em espírito vislumbramos a sua maravilhosa essência, pelo Cristo reconhecida desde o início.
Apesar de ter sido o mais jovem de todos os Discípulos, ele, segundo a história, viveu mais do que todos. Narra a tradição que ao redor de seus noventa anos era levado à Igreja de Éfeso, onde permanecia testemunhando radiantemente a sua fé. Não dizia outra coisa que: “Meus filhinhos, amai-vos uns aos outros”. Para um mais profundo estudo da vivência Cristã desse Discípulo, observemo-lo jovem, porque houve uma marcante diferença entre as duas fases de sua vida, juventude e velhice.
A Bíblia nos diz que esse era o Discípulo amado. Porém, curiosamente Cristo Jesus chamou aos irmãos Tiago e João de “Filhos do Trovão”, literalmente significando aqueles que fazem muito barulho e são a fonte constante de perturbações.
Aparentemente os dois irmãos eram bem conhecidos do Mestre. Os dois “Boanerges” … Filhos do Trovão… (Mc 3:13-17).
Certa vez no caminho de Jerusalém, no meio de Seu pequeno grupo, o Senhor predisse as coisas terríveis que lhe aconteceriam e toda a glória que o Pai lhe reservara. Os dois irmãos, menos interessados nos pormenores da trágica profecia, e visando algo mais grandioso e atraente, qual seja a alta direção de um reinado, de imediato rogaram ao Mestre: “Concede-nos que na tua glória nos assentemos, um à tua direita e outro à tua esquerda” (Mc 10). Mas Cristo Jesus lhes respondeu: “Não sabeis o que pedis, podeis vós beber o cálice que eu bebo, e ser batizados com o batismo com que eu sou batizado?” E eles disseram: “Podemos”. Com essa resposta causaram discórdia naquele grupo ora tão harmonioso. “E os dez, tendo ouvido isso começaram a indignar-se contra Tiago e João” (Mc 10:41). E repreendeu-os Cristo Jesus: “Sabeis que os que julgam ser príncipes das gentes, delas se assenhoreiam e os seus grandes usam da autoridade sobre elas. Mas entre vós não será assim… aquele dentre vós que quiser ser o maior seja o servo de todos”.
Não é, pois, de se admirar que Cristo Jesus lhes apelidasse de “Filhos do Trovão”. Naquele dia os Discípulos aprenderam uma lição valiosa: os Filhos de Deus não exercem autoridade sobre o seu semelhante.
Quando a presença do Senhor pareceu indesejável aos moradores de uma aldeia samaritana, prontamente os dois irmãos reagiram. Movidos pelo amor para com o Mestre, mas ainda carentes de sabedoria, disseram: “Senhor, é de Tua vontade que ordenemos que chamas ardentes desçam dos céus e os consumam, como já aconteceu com Elias?”. A essa demonstração muito humana de solidariedade, que não passava, realmente, de um simples desejo de vingança, revestido de uma aparência de virtude, O Mestre respondeu: “O Filho do Homem não veio para destruir os homens, e sim para salvá-los.”. Essa atitude deve ter parecido muito curiosa aos Discípulos, porém o Caminho Superior exige o conhecimento de certas leis: a disciplina interna no relacionamento com outros seres humanos e o respeito à sua divina essência, apesar de suas manifestações inferiores, ou justamente por causa delas. Os Filhos de Deus devem representar um padrão de humanidade a ser seguido pelos semelhantes.
Escreve Max Heindel: “O Discípulo deve passar por um período de treinamento, através do qual alcança tal ponto de maturidade espiritual em que fica capacitado a viver as verdades assimiladas. Então, no tempo certo, torna-se mais fácil, para o Mestre ou Iniciador, mostrar-lhe pela primeira vez, como aplicar a verdade assimilada, como utilizar o poder acumulado, seguindo-se, realmente, a Iniciação”. Esse é, na verdade, o caminho trilhado pelos Discípulos do Cristo. Através do demorado processo da transmutação, eis que os Filhos do Trovão passaram a ser Iniciados de alto grau. O Evangelho Segundo São João, Cap. 14-17, contém informações a respeito da nova forma de Religião a substituir o Cristianismo, conhecida como Religião do Pai. Ela deverá elevar os Discípulos ao Mundo do Espírito Divino. São João diz a esse respeito: “Quem nega o Filho, não tem o Pai, porém, aquele que confessa o Filho, também tem o Pai”.
O inspirado Browning[1] escreveu estes versos e de sua atmosfera, por vezes enigmática, emerge um personagem que reconhecemos como João, o velho João, já muito cansado, falando através da pena do poeta:
“Já passou tanto tempo… tanto tempo…
Tiago e Pedro já foram libertados pela morte.
E só fiquei eu, o vosso irmão João, que tudo viu,
Que tudo ouviu e que tudo se lembra. Na Terra,
Já não há ninguém vivo que possa testemunhar
Sobre o que viu com os seus olhos, sobre o que tocou
Com suas mãos! Lembro-me DELE, a própria Palavra da Vida,
Dizendo: “Eu sou”, desde o começo do mundo.
Ah! E como será esse Seu mundo,
Quando o último que possa dizer
“Eu conheci”, vos terá deixado?”.
O velho Filho do Trovão… muito cansado e possivelmente só. A cada domingo é conduzido à igreja, lá em Éfeso. Não tem mais outra mensagem para a humanidade. Só diz: “Filhinhos, amai-vos uns aos outros” …
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de abril/1977-Fraternidade Rosacruz-SP)
[1] N.R.: Robert Browning (1812-1889) foi um poeta e dramaturgo inglês.
(*) Pintura: São João e São Tiago maior – El Greco 1610-1614
“Depois disso, vi quatro Anjos, postados nos quatro cantos da terra, segurando os quatro ventos da terra, para que o vento não soprasse sobre a terra, sobre o mar ou sobre alguma árvore. Vi também outro Anjo que subia do Oriente com o selo do Deus vivo. Esse gritou em alta voz aos quatro Anjos que haviam sido encarregados de fazer mal à terra e ao mar: ‘Não danifiqueis a terra, o mar e as árvores, até que tenhamos marcado a fronte dos servos do nosso Deus’. Ouvi então o número dos que tinham sido marcados: cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel.” (Ap 7:1-4).
“Um dos Anciãos tomou a palavra e disse-me: ‘Estes que estão trajados com vestes brancas, quem são e de onde vieram?’. Eu lhe respondi: ‘Meu Senhor, és tu quem o sabe!’. Ele, então, me explicou: ‘Estes são os que vêm da grande tribulação: lavaram suas vestes e alvejaram-nas no sangue do Cordeiro. É por isso que estão diante do trono de Deus, servindo-o dia e noite em seu templo. Aquele que está sentado no trono estenderá sua tenda sobre eles: nunca mais terão fome, nem sede, o sol nunca mais os afligirá, nem qualquer calor ardente; pois o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará, conduzindo-os até às fontes de água da vida. E Deus enxugará toda lágrima de seus olhos’.” (Ap 7:13-17).
A Lei do Renascimento, uma das leis básicas expostas pelos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, está sob a administração de Grandes Seres chamados os Anjos Arquivistas ou Senhores do Destino ou, ainda, Anjos do Destino. Eles cuidam de que todo o indivíduo tenha a chance de obter tanto de experiência quanto ele ou ela possa resistir. Se for necessário para uma pessoa permanecer mil anos nos Mundos invisíveis entre dois nascimentos, ali permanecerá. Os que evoluíram mais depressa precisarão ficar nos planos superiores apenas umas poucas centenas de anos, como sucedeu a Max Heindel, que ficou trezentos. Os Anjos Arquivistas ou Senhores do Destino são os “quatro Anjos” mencionados por São João quando conta a visão que teve.
Os “servos de Deus”, a que São João se refere como “assinalados” em sua testa, num total de 144.000, são aqueles que viveram de acordo com as leis de Deus, de acordo com o que fizeram os “vestidos brancos”, o “Traje Dourado de Bodas” ou Corpo-Alma (composto dos dois Éteres superiores do Corpo Vital), que será essencial como condição de vida na seguinte grande Época, a Nova Galileia. Nove é o número da humanidade (a soma de 144.000 dá esse número: 1+4+4=9). Indica-se que uma porção da humanidade evolucionará através de grande tribulação – suficientemente para fazer a transição para a Sexta Época.
Na Nova Galileia a humanidade terá um corpo mais eterizado do que agora. A Terra será transparente também. Como resultado, esses corpos serão muito mais sensíveis aos impactos espirituais da intuição. Tal corpo nunca se cansará porque não haverá noite. A Nova Galileia será um lugar de paz (Jerusalém). A Fraternidade Universal unirá todos os seres da Terra através do amor. Não haverá morte porque a Árvore da Vida, a faculdade de gerar a força vital, se tornará possível por meio do órgão etérico que existirá na cabeça dos que se tiverem desenvolvido, os quais serão os pioneiros da humanidade daquela época.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – novembro/1965 – Fraternidade Rosacruz – SP)
“Revelação de Jesus Cristo: Deus lha concedeu para que mostrasse aos seus servos as coisas que devem acontecer muito em breve. Ele a manifestou com sinais por meio de seu Anjo, enviado ao seu servo João, o qual atesta tudo quanto viu como sendo a Palavra de Deus e o Testemunho de Jesus Cristo. Feliz o leitor e os ouvintes das palavras desta profecia, se observarem o que nela está escrito, pois o Tempo está próximo.” (Ap 1:1-3).
Na interpretação das Sagradas Escrituras e particularmente no Livro da Revelação ou Apocalipse, nós – antes de mais nada – devemos compreender que é indispensável investigar as verdades ocultas sob a “veste”, em que se escondem internamente, como Max Heindel nos adverte no livro Conceito Rosacruz do Cosmos:
“Deve-se também notar que os que originalmente escreveram a Bíblia não pretenderam dar a verdade de maneira a poder tê-la quem quisesse. Nada estava mais distante de sua Mente do que a ideia de escrever ‘um livro aberto de Deus’. Os grandes ocultistas que escreveram o Zohar (considerado como um dos trabalhos mais importantes da Cabalá, no misticismo judaico. E faz parte dos livros que seriam canônicos para os judeus) são muito categóricos nesse ponto. Os segredos do Thorah não podem ser compreendidos por todos, como provará a citação seguinte: ‘Ai do ser humano que vê no Thorah (Ou Torah, ou, ainda, Torá é o nome dado aos cinco primeiros livros do Antigo Testamento, o Pentateuco: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio e que constituem o texto central do judaísmo) – a lei – só um simples recitativo de palavras comuns! Porque, em verdade, se fosse só isso, poderíamos escrever, ainda hoje, um Thorah muito mais digno de admiração. Contudo, não é assim. Cada palavra do Thorah tem um elevado significado e um mistério sublime…. Os versos do Thorah são como as vestes do Thorah. Ai daquele que toma essas vestes do Thorah pelo próprio Thorah! Os simples só notam os ornamentos e os versos do Thorah. Nada mais percebem. Não veem o que está encerrado nessas vestiduras. O ser humano mais esclarecido não presta atenção alguma às vestes, mas sim ao Corpo que encerram’”.
A significância do Cristianismo tal como Cristo ensinou só foi fornecida para os “seres humanos mais instruídos” – como nos diz São Paulo em suas Epístolas, aos “homens espirituais” (“…não vos pude falar como a homens espirituais, mas tão-somente como a homens carnais, como a crianças em Cristo. Dei-vos a beber leite, não alimento sólido, pois não o podíeis suportar. Mas nem mesmo agora podeis, visto que ainda sois carnais.” (ICor 3:1-3)), isto é, para os Iniciados, nos seus ensinamentos relacionados com a origem, a evolução e futuro desenvolvimento do ser humano e do universo. Aí temos a chave dos segredos íntimos da Bíblia. São João foi um daqueles grandes Iniciados que tão zelosamente seguiram Aquele que disse: “Eu Sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vai ao Pai senão por Mim” (Jo 14:6), isto é, aqueles que estão aptos a lerem na Memória da Natureza (no Mundo do Pensamento e no Mundo do Espírito de Vida) e que adquiriram informações não existentes em nenhuma outra fonte. No livro “Conceito Rosacruz do Cosmos” é enunciado que o bom amado São João simboliza a Iniciação de Vênus. Dessa forma a “Revelação” de São João ou a “visão” das imagens – símbolos – são para aqueles que têm olhos para ver o registro sublime do passado, do presente e do futuro da humanidade, o microcosmos, ou o Deus em formação, e o universo ou o macrocosmo. Essas condições englobam não somente as mudanças materiais nos Corpos visíveis (Corpos Densos) do ser humano e da Terra, como também as metamorfoses menos perceptíveis nos íntimos recessos do ser humano, à medida que ele progride desde a argila a Deus. “A vinda de Cristo como Espírito Planetário Interno de nossa Terra abriu, em toda a sua extensão, as portas da Iniciação para ‘todo aquele que quiser’ e para todo aquele que ouve o perene chamamento: ‘Venham a Mim’ estar entre aqueles ‘redimidos’ a respeito do qual São João profeticamente se refere.
Essa é apenas uma pequena parte da Revelação de São João. Seu total significado somente poderá ser conhecido (porque não pode ser transmitido) por aquele que se dispuser a viver uma vida Cristã-Rosacruz. Essas informações que damos aos irmãos e as irmãs são apenas informações, a direção para a consecução do grau de verdadeiro e real Cristão. Somente quando conhecermos o nosso Cristo Interno seremos realmente Cristãos.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – janeiro/1965 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Quanto a misericórdia, a Primeira Epístola de São Paulo a Timóteo nos ensina, referindo-se a ele mesmo:
“… a mim que anteriormente fui blasfemo, perseguidor e insolente; mas alcancei misericórdia, porque o fiz por ignorância e na minha incredulidade.” (ITim 1:13).
É, na verdade, uma virtude saber mostrar misericórdia aos ignorantes. Quantas vezes por dia nos tornamos perturbados – e com razão – por causa daqueles que não se importam com pessoa alguma e desconhecem o próximo.
Quando um carro nos “corta” subitamente, numa rodovia, qual é a nossa reação? É de raiva ou desdém? Quando, em uma reunião, ouvimos alguém fazer um comentário que para nós não é totalmente válido, por estar sendo encarado do ponto de vista terreno, condenamos esse alguém por sua ignorância ou rimos pela sua falta de compreensão?
Quando vemos um criminoso na T.V. ou lemos sobre ele nos jornais, qual é nossa reação? Dizemos: “bem-feito, era isso que ele merecia”, esquecendo que ele é fraco e está perdido num mundo sensacionalista do crime?
Se respondermos “sim”, com toda a honestidade, a qualquer dessas perguntas, então somos fracos, ignorantes e negligentes em relação aos outros. Ter misericórdia é conscientizarmo-nos da fraqueza do próximo e ajudá-lo com compreensão, enviando-lhe pensamentos positivos, ao invés de negativos. Misericórdia exige que uma coisa esteja ativa: o autoesquecimento, uma vez que encontramos em nosso desdém, raiva e improbidade, um elemento de nosso “Eu inferior” (Personalidade) que, no caso, age como juiz – nós nos arvoramos em juízes. É fácil que nos deixemos “cair” nesse estado de ignorar os outros, até porque estamos cercados de outras pessoas que não ligam para ninguém. No entanto, isso não nos isenta de culpa; somos tão culpados quanto aqueles que nos cercam. Deveríamos, portanto, tentar nos precaver contra esses hábitos, à medida que eles começam a dominar nossos pensamentos, nossos sentimentos, desejos, nossas emoções, palavras, nossos atos, nossas obras e ações.
Uma maneira de começar a trabalhar nisso é dizer-nos, quando alguém nos empurra ao passar por nós: “Quantas vezes já me senti culpado por isso; quantas vezes agi dessa forma?” – lembrando o quanto temos que mudar. Se procurarmos com verdadeira seriedade, descobriremos que nosso desdém, raiva e improbidade refletem uma única coisa: egoísmo.
Assim, misericórdia, segundo Timóteo, é o perdão da ignorância ou do egoísmo. Se pudermos perdoar aqueles que nos ofendem, encontraremos uma compreensão em nosso caráter, pois, aquilo que damos, também conservamos. Se dermos compreensão e misericórdia, retemos a compreensão sob a forma de conhecimento e grandeza interior. Tente agir assim e descobrirá que quanto mais ajudar os outros sob esse aspecto, mais aprenderá sobre você mesmo.
Na verdade, o objetivo de “viver a vida” não devia ser rebaixado a ponto de só se “dar” se houver recompensa. Porém, se seguirmos a fórmula mencionada anteriormente, sentiremos uma reação bastante marcante: quanto mais nos conhecemos, mais procuramos servir nossos irmãos e nossas irmãs. Quanto mais sentirmos a nossa Individualidade atuar em nós, mais perceberemos que estamos aqui para ajudar os outros e, com alegria e regozijo, colocaremos toda nossa energia nisso.
A seguir vem a piedade. O que é piedade? Segundo o Dicionário, piedade é “tristeza pelo sofrimento e desgraça alheia”.
O que isso significa para nós? Para aqueles que anseiam uma vida espiritual, significa muitas coisas que a maioria das pessoas nem percebe. Piedade é o primeiro passo para a compaixão. Precisamos ser capazes de sentir a dor alheia. Como Parsifal (o ser puro que almeja uma vida superior, personalizado na obra Parsifal de Richard Wagner), precisamos sentir a tentação e a dor da “queda”, pois, sem a compreensão do fracasso e da vitória, não poderemos dar consolo àqueles que foram tentados. Piedade, então, deve ser a capacidade de sentir o sofrimento ou a desgraça alheia, como foi definido acima.
Mas, como podemos compreender isso? Como podemos sentir a dor de outra pessoa? Uma das melhores maneiras é através das nossas próprias experiências; o que sentimos em determinada situação poderá ser transmitido para outro, em situação similar. Mas, como nos sentimos quando não experimentamos uma situação similar? O que poderá nos despertar para os sentimentos alheios? O que poderemos usar como modelo?
Sabemos que no passado remoto da nossa existência devemos ter sentido, provavelmente, todas as mágoas, todas as tristezas que alguém possa sentir. Mas, isso não está à nossa disposição assim tão prontamente, de maneira que precisamos encontrar um meio que nos faça lembrar, talvez não detalhadamente, esse sentimento do passado.
Uma maneira ou modelo é a imaginação. Ao nos colocarmos no lugar de outro, talvez possamos perceber como ele se sente e daí, então, compreender seu dilema. “O ser humano é aquilo que seu coração diz”. Se pensarmos ou imaginarmos aquilo que uma determinada pessoa está passando na vida, através de nossa própria experiência nesta vida, seremos capazes de despertar, em nós, a compreensão e o sentimento latente de amor por aqueles que sofrem e são desafortunados.
Descobrimos, assim, um modelo para nos ajudar a sentir piedade e, também, compreensão para a tristeza alheia. Mas, o que significa piedade para nós, em se tratando de grau de evolução? Piedade é um termômetro dos nossos próprios sentimentos, visto que para sentir piedade de alguém, no sentido mais verdadeiro da palavra, precisamos conhecer e estar conscientes dos nossos próprios sentimentos. Mas, sentir piedade é dar um passo mais adiante do que simplesmente sentir pena pela tristeza alheia, pois, nos leva a uma compreensão superior e a maior compaixão.
Quando sentimos “pena” de um amigo ou de uma amiga doente ou de alguém com problemas emocionais, talvez o abracemos e digamos: “Oh! coitadinho!”. Mas isso adianta? Isso lhe dá coragem para continuar vivendo? Talvez, não sei. Mas, quando sentimos uma compreensão ou compaixão verdadeira e desejo de ajudar a minorar o sofrimento diremos: “Está bem, você está doente e precisa de ajuda, o que você quer, o que você pretende fazer?”.
É uma ajuda e um conforto deixar alguém chorar nos nossos ombros, mas, só ajudaremos se fizermos algo para que ele possa vencer sua dificuldade. Há muitas pessoas no mundo que sentem pena dos animais, que até fundaram sociedade para protegê-los contra maus tratos. Mas, essas pessoas continuam comendo essas mesmas criaturas que eles intencionam salvar (ou animais de estimação são “diferentes” dos outros animais, apesar de pertencerem ao mesmo Reino, a Onda de Vida Animal?). Isso é piedade? Compaixão? Até certo ponto talvez, mas será verdadeira quando puderem dizer “eu sinto tanto por eles que estou preparada a renunciar comê-los”. A verdadeira piedade é o desejo de sacrificar ou desistir de algo, por uma ideia. Sentimos muito quando uma pessoa está doente, mas se dermos muita atenção a essa pessoa, ela poderá ficar doente por muito tempo, só pela atenção que lhe damos. Descobrimos, então, que precisamos controlar nosso sentimento pessoal de piedade e ajudá-lo, com amor e inteligência.
Compaixão também tem severidade, mas com a finalidade de ajudar, de algo bom. Sentimos a dor alheia, mas sabemos que ela precisa ser superada e a pessoa tem que lutar para que a saúde vença. Ajudar a pessoa a lutar, com firmeza e interesse.
Uma ótima ajuda e que realmente ajudará a pessoa doente ou enferma é solicitar a ela que se inscreva no Departamento de Cura de um Centro Rosacruz que o possua (mais informações, encontre aqui: Como os Rosacruzes Curam os Enfermos e aqui Como Funciona a Cura Rosacruz e como Solicitar Auxílio.
Vemos, então, que piedade é um passo que nos leva a um melhor entendimento de nós mesmos e a nossa capacidade de ajudar o próximo.
A seguir vem a paz, algo que todos nós almejamos. Thomas Kempis nos diz sobre a paz: “Poderíamos aproveitar a paz se não nos preocuparmos com o que os outros dizem ou fazem, pois isso não é de nossa alçada”.
Como alguém pode ter paz por um longo período se ele se intromete sempre na vida dos outros; vagueia sem sossego e não se esforça em perdoar?
Se procuramos o mundo e seus supostos tesouros, certamente não podemos esperar paz em nossas Mentes e em nossos Corações. A única paz verdadeira é a quietude que nos cerca, onde quer que estejamos ou o que for que estivermos fazendo. A chave para essa paz é sermos honestos. Quando alguém possui essa virtude de verdade, ele está em paz. Mas, o que é a honestidade? Na verdade, enquanto estivermos procurando as muitas diversidades do mundo não podemos estar em paz. Mesmo que nos concentremos em um único objetivo no mundo como ter um carro novo ou uma nova televisão ou um cargo mais alto no trabalho, a paz dura somente até o momento em que aquilo for alcançado; aí passaremos a procurar outra coisa. Consequentemente, o que devemos procurar não está no mundo. Deve estar, se é que está, em algum lugar, dentro de nós.
Quando procuramos essa paz interior, um novo mundo se abre, o mundo de Cristo. Dentro de cada um de nós há essa chama de Luz e quando encontrada, a televisão, o carro, o cargo no trabalho terão a sua validade, mas não como antes, isto é, não serão mais uma pedra dentro da nossa alma. O que realmente estávamos procurando em todas essas coisas era o Maná para saciar uma fome que não sabíamos definir. Perceberemos que, dentro de nossas almas, há desejos e a única maneira de saciar essas dores interiores é a consolação interior. O alimento dessa consolação é a Luz. Podemos perguntar: “o que preciso fazer para conseguir essa fonte interior de alimento e de onde vem esse alimento?” Em poucas palavras podemos dizer: “Orando e vivendo a vida em sua plenitude”.
A prece procura nos elevar a esferas que crescem tanto quanto nós e ainda mais do que nós mesmos, à medida que somos capaz de compreendê-la. Essa grandeza é a expansão eterna, é o nosso desenvolvimento espiritual.
Paz, então, é prece, mas prece que expande e alerta o Espírito – a Individualidade –, além dos confins da Terra, para a realização do todo. Fomos ensinados a orar sem parar e isso é viver a vida (como São Paulo nos ensina); procurar o Cristo Interno e viver de acordo com aquelas Leis de Deus, do qual somos toda uma parte. Quando nossa vida for honesta, para perceber as maravilhas de Deus, teremos paz. Uma paz que supera toda compreensão.
Agora é a vez do maior sentimento de todos: amor. O que se pode dizer sobre amor? Muitas coisas foram ditas sobre amor e todos os anos na época do Natal sua forçaestá mais perto do que imaginamos. Na Noite da Véspera do Natal (Noite Santa) celebramos o simbólico “nascimento do corpo de Jesus” e para a maioria das pessoas, isso é suficiente; suficiente para encher-lhes o coração por algum tempo, com o espírito de dar. Para alguns é a época de comidas sofisticadas, luzes, presentes, reuniões mundanas e enfeites de Natal. Para muitas pessoas é uma época agitada, ocupada em coisas só materiais. É uma época agitada porque há algo mais no ar do que só “pinheiros e comidas”. Há o Cristo!
Cristo, agora, está entre nós, mais próximo do que o ar. Não é dizer que Ele está conosco somente no Natal, mas agora é uma época muito especial porque Ele nos prestou um dos mais lindos serviços que se possam encontrar. Ele nos deu Seu dom de liberdade e está, agora, nos mostrando o caminho para a libertação, embora esteja preso no interior da Terra. Tudo isso e mais ainda. O que Ele está mostrando com o dom da liberdade é o Amor. É aquela força libertadora que abre as correntes e soltas as amarras da Terra. Não aquele tipo de amor que diz que “você é meu e eu sou sua”, mas aquele tipo de amor que diz estarmos aqui para nos ajudar mutuamente a crescer, de modo a podermos nos entender conscientemente. Aprenderemos, pela experiência, que somos um no amor, um individualmente, mas provenientes da mesma fonte.
William Blake diz que “somos postos na Terra para gerar os raios do amor”. Isso é verdade. Precisamos tornarmo-nos flexíveis para a ginástica da vida e quanto mais resistência tivermos, mais fortes serão nossos músculos. Temos que tomar conhecimento das coisas gradualmente, entendê-las bem e estar preparados a resolvê-las quando nos colocarmos em contato com elas. Até atingirmos o ponto de expansão interior, nossa cura é vagarosa, nossos corações não podem, ainda, suportar a verdadeira Paixão de Cristo.
Paixão é dor e a dor do despertar do Cristo Interno eventualmente transcende o corpo e nos encontramos nos Mundos espirituais. É somente com um grande Treinamento Esotérico, com domínio próprio, que compreendemos que nos livramos dos valores do Mundo Físico. Isso não quer dizer que não exista alegria neste Mundo Físico, porque suportando essa Paixão ou Cruz, estamos se alegrando e dilatando o nosso Coração e a nossa Mente para regiões inexplicáveis para os menos atentos. A alegria, no entanto, está em todos os lugares e em todas as coisas. Está sempre perto, como Anjos cantando, suavemente, mas corretamente, no ouvido interior – cantando louvores para outro nascimento de Cristo e para a expansão d’Ele em nós.
(Publicado na Revista “Serviço Rosacruz” – setembro/1980 – Fraternidade Rosacruz – SP)