É bom recordar que a Natureza caminha muito devagar, não muda as formas subitamente. Para ela o tempo nada significa, o seu único objetivo é alcançar a perfeição. O mineral não chega ao estado vegetal de um salto, mas por gradações quase imperceptíveis. Uma planta não se converte em animal em uma noite. Milhões de anos são necessários para produzir a mudança. Em todos os tempos poderemos encontrar toda classe de estados e gradações na Natureza. A escala do ser eleva-se, sem descontinuidade, desde o protoplasma até Deus.
No início do Período Lunar não vamos considerar seis Reinos diferentes por corresponderem às seis classes que entraram na arena da evolução ao princípio do Período Lunar. Trataremos somente de três Reinos: o Mineral, o Vegetal e o Animal.
A nova Onda de Vida do Período Lunar era constituída da classe inferior. Era a parte mais densa, o mineral, devendo ficar entendido que não era tão dura como os minerais atuais; sua densidade era análoga à da madeira.
Essa afirmação não contradiz as anteriores, que descreviam a Lua como aquosa, nem está em conflito com o Diagrama 8, que mostra o Globo mais denso do Período Lunar como um Globo etérico, situado na Região Etérica. Como se indicou anteriormente, a espiral do Caminho da Evolução impede a sucessão de condições idênticas. Haverá analogias ou semelhanças, mas nunca se reproduzirão condições iguais. Nem sempre é possível descrever em termos exatos. O melhor termo disponível é usado para expressar uma ideia sobre as condições existentes, na época que estamos considerando.
A classe 5 da nossa lista era mineral, mas por ter passado além do mineral durante o Período Solar, possuía algumas características vegetais.
A classe 4 era quase vegetal, evoluía para planta antes do término do Período Lunar. Todavia, pertencia mais ao Reino Mineral que as duas classes imediatas, que formavam o Reino superior. Podemos agrupar as classes 4 e 5 e formar um Reino de grau intermediário, um Reino “vegetal-mineral”, constituinte da superfície do antigo Planeta do Período Lunar. Era algo semelhante à turfa[1], um estado intermediário entre o vegetal e o mineral, e muito úmido o que concorda com a afirmação já feita de que o Período Lunar era aquoso.
Assim, as classes sexta, quinta e quarta formavam as diversas gradações do Reino Mineral no Período Lunar, estando a mais elevada próxima do vegetal e a inferior da substância mineral mais densa daquele tempo.
As classes terceira e segunda formavam o Reino Vegetal. Elas eram, realmente, algo mais do que plantas, mas não eram de todo animais. Cresciam sobre o solo mineral-vegetal e eram estacionárias como as plantas. Não teriam podido crescer nem se desenvolver sobre terreno puramente mineral, como fazem nossas plantas atuais. Podemos encontrar uma boa semelhança nas plantas parasitas: não podendo desenvolver-se sobre um terreno puramente mineral procuram o alimento já especializado por um arbusto ou árvore.
A classe primeira era composta pelos pioneiros da Onda de Vida dos Espíritos Virginais. No Período Lunar passaram uma existência análoga à do animal. Assemelhavam-se aos animais dos nossos tempos por terem os mesmos veículos e por estarem sob a direção de um Espírito-Grupo, que abrangia toda a família humana. Sua aparência era muito diferente da dos animais atuais, conforme se viu pela descrição parcialmente dada no capítulo anterior. Não pousavam na superfície do Planeta, flutuavam suspensos por uma espécie de cordões umbilicais. Em vez de pulmões tinham brânquias e por elas respiravam o vapor quente da neblina ígnea. Tais condições de existência lunar ainda são recapituladas na atualidade, durante o período de gestação. Em certa altura do desenvolvimento, o embrião possui brânquias. Os seres lunares desse tempo tinham, como os animais, a espinha dorsal horizontal.
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Que as rosas floresçam em vossa cruz
[1] N.T.: é um material de origem vegetal, parcialmente decomposto, encontrado em camadas, geralmente em regiões pantanosas e, também, sob montanhas (turfa de altitude). É formada principalmente por Sphagnum (esfagno, grupo de musgos) e Hypnum, mas também de juncos, árvores, etc. Sob condições geológicas adequadas, transformam-se em carvão, através de emanações de metano vindo das profundezas e da preservação em ambiente anóxico. Por ser inflamável, é utilizada como combustível para aquecimento doméstico.
Às vezes, em momentos de grande esforço altruísta, quando todas as energias de pensamento são direcionadas para um propósito útil, o olho do basilisco é sentido e suas presas ocultas disparam através do silêncio. Todo o ar parece subitamente vibrar com forças malignas. Esse momento testa nossa fibra — e a força da alma.
Nosso altruísmo pode ter mantido uma nota de fraqueza. Nosso amor pela humanidade pode não ter soado claro e verdadeiro — pois mesmo o amor deve ter poder e sabedoria. Pode ter havido um elemento de fraqueza em nossa própria paciência, nossa ternura, nossa amigável calma. Se for assim, o ataque perceberá nossa debilidade ou vai notar a nossa visão aguçada e, em silêncio, ganharemos um poder adicional.
Todos os ataques maliciosos e sutis, todo ódio ciumento e toda animosidade infundada irão, na própria natureza da Lei eterna, alcançar o sofredor e inocente como bênçãos. Eles conferem mais experiência, discernimento e poder.
Nada pode nos prejudicar, se não encontrar uma nota de malícia ou maldade dentro de nós. No entanto, o mal que nos atinge volta para o coração de quem o enviou e destrói sua vida, sua paz.
Para a alma que anda na luz e no amor, todas as experiências vêm como bênçãos. A flecha enviada para prejudicar ou atrapalhar pode, por um breve período, parecer eficaz. Pode diminuir a estima de alguém por nós; pode nos custar a perda de um amigo; pode estragar um relacionamento sagrado e destruir um vínculo ideal. Mas, isso é apenas temporário e, em nossa tristeza, ganhamos uma grande vitória — porque aprendemos a ver e a conhecer.
Com a perspectiva mais ampla, no plano superior, ganhamos todas as coisas. Crescemos fortes para suportar, fortes em autodomínio e renúncia. Depois de um tempo, nossa reivindicação virá; todas as coisas serão restauradas para nós. Mas não precisaremos mais delas. O “eu pessoal” que tanto sofreu terá se expandido para encontrar o “Eu universal” e teremos aprendido o significado da vida e do amor. Somente quando aprendemos a viver com a perda de todas as coisas, somos dignos de reter todas as coisas. Então, em harmonia com a operação da boa lei, atraímos todas as coisas para nós. O amor flui para nós de todos os lados — porque amamos.
Portanto, todas as nossas experiências são boas — até mesmo as cruéis e amargas —, se mantivermos nossos rostos voltados para a luz e não permitirmos que os pensamentos maus entrem no nosso coração. Sentir-se magoado com uma injúria é um mal, porque isso brota de uma pequena raiz de amor-próprio. Fixemos claramente o pensamento nisto: só o ferimento que nós merecemos nos atinge. Talvez tenhamos adquirido uma dívida no passado, mas ela deve ser cancelada. Se a merecemos, podemos lucrar com as lições que ela ensina. Portanto, podemos formar um caráter nobre por meio de nossos próprios erros.
Poder e domínio sobre todas as forças é o que devemos adquirir, antes de sermos realmente vencedores — antes que nossas vidas sejam totalmente aperfeiçoadas. Isso é o que nossas experiências vão ganhar para nós: se tivermos apenas amor e boa vontade em nossos corações.
O mal-intencionado e o vingativo nunca conquistam coisa alguma. Eles são sempre fracos, sempre fúteis, sempre caóticos. O caráter é construído principalmente por nossos pensamentos e motivos. O ataque nascido do ódio, malícia ou rancor ciumento deve ser enfrentado não apenas com paciência silenciosa, mas com a Mente bem aberta para sua força e possibilidades. Pergunte à alma interior: “O que posso aprender com esta provação? Que fraqueza ainda há para ser vencida? Que parte do ‘eu pessoal’ ainda não foi esfolada?”.
Voltando-se, assim, para a luz interior em silenciosa humildade, com sincero propósito de aprender, crescer e evoluir, essa luz inundará a consciência e a visão ficará clara.
Na hora da vitória, o golpe do inimigo não mais será sentido. Todos os impulsos do plano sensorial e inferior murcharão e voltarão ao nada da irrealidade que são. Somente a alma e Deus — todos somos um em Deus — preencherão a visão e a vida se tornará infinitamente rica e abundante.
Não é isso uma vitória? Qualquer retaliação poderia trazer tal recompensa? Poderia o sentimento de ferimento pessoal obter tais resultados em crescimento e progresso?
A conquista de si mesmo deve ser o objetivo de cada alma. No entanto, e por quaisquer meios que isso seja realizado — inclusive injustiças e injúrias incomparáveis —, deve ser alcançada a todo e qualquer custo. Nossas experiências, assim tomadas, serão transmutadas em poder e sabedoria; nossa influência será então cada vez maior, alcançando a luz infinita.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de janeiro/1916 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
Cedo ou tarde chegará um momento em que a consciência será forçada a reconhecer o fato de que a vida, como a conhecemos, é passageira e que, em meio a todas as incertezas da nossa existência, há apenas uma certeza — a Morte!
Quando a Mente é despertada pelo pensamento desse salto no escuro, que em algum momento deve ser tomado por todos, as grandes perguntas — De onde viemos? Por que estamos aqui? Para onde vamos? — devem inevitavelmente surgir. Esse é um problema fundamental com o qual todos devem, mais cedo ou mais tarde, lidar, e é da maior importância como resolveremos isso, porque a opinião que adotarmos vai colorir toda a nossa vida.
Somente três teorias dignas de reconhecimento foram apresentadas para resolver esse problema. Para nos situarmos em um dos três grupos da humanidade que foram separados por sua aderência a uma dessas hipóteses é necessário conhecê-las, analisá-las calmamente, compará-las entre si e a fatos estabelecidos. Concordando ou não com suas conclusões, certamente teremos uma compreensão mais abrangente dos vários pontos de vista envolvidos para podermos formar uma opinião inteligente, quando lermos o Enigma da Vida e da Morte.
Se chegarmos à conclusão de que a morte não acaba com a nossa existência, será muito natural perguntar: onde estão os mortos? Essa questão importante é tratada aqui na A Luz Além da Morte. A lei de conservação da matéria e energia impede a aniquilação, mas vemos que a matéria está constantemente mudando do estado visível para o invisível e vice-versa, como, por exemplo, no caso da água que é evaporada pelo sol, parcialmente condensada em forma de nuvem e depois cai de novo na Terra, como chuva.
Também a consciência pode existir e não ser capaz de fornecer qualquer sinal disso, como nos casos em que as pessoas foram consideradas mortas, porém acordaram e disseram tudo o que foi falado e feito na presença delas.
Portanto, deve haver Mundos invisíveis feitos de força e matéria que são tão independentes da nossa cognição quanto a luz e a cor independem do fato de não serem percebidas pelos cegos.
Nesses Mundos invisíveis, os “mortos” vivem em plena posse de todas as faculdades mentais e emocionais. Vivem aí uma vida tão real quanto a existência aqui, no Mundo visível.
Os Mundos invisíveis são conhecidos por meio de um sexto sentido desenvolvido por alguns, mas latente na maioria das pessoas. Pode ser desenvolvido por todos; no entanto, métodos diferentes produzem resultados variados.
Essa faculdade compensa a distância de um modo bem superior aos melhores telescópios e a falta de tamanho é contrabalançada em um grau inacessível ao microscópio mais poderoso. Ela penetra onde o raio-X não pode. Uma parede ou uma dúzia de paredes não são mais densas para a visão espiritual do que o cristal é para a visão comum.
Aqui, nesse livro e nessa Parte II – Cristo Interno – A Memória da Natureza, a questão da Visão Espiritual como faculdade é descrita e, também, fornece um método seguro para o seu desenvolvimento.
Os Mundos invisíveis são divididos em diferentes domínios: Região Etérica, Mundo do Desejo, Região do Pensamento Concreto e Região do Pensamento Abstrato.
Essas divisões não são arbitrárias, mas necessárias porque a substância de que são compostas obedece a leis diferentes. Por exemplo, a matéria física está sujeita à lei da gravidade; no Mundo do Desejo, porém, as formas levitam tão facilmente quanto gravitam.
O ser humano precisa de vários veículos para funcionar nos diferentes Mundos, do mesmo jeito que necessita de uma carruagem para andar sobre a terra, de um barco para o mar e uma aeronave para o ar.
Sabemos que ele precisa de um Corpo Denso para viver no Mundo visível. Ele também tem um Corpo Vital, composto de éter, que lhe permite sentir as coisas ao seu redor. Um Corpo de Desejos formado pelos materiais do Mundo do Desejo, o que lhe confere uma natureza apaixonada e o incita à ação. A Mente é formada pela substância da Região do Pensamento Concreto e atua como um freio por impulso: ela dá propósito à ação. O ser humano real, o Pensador ou Ego, age na Região do Pensamento Abstrato, operando sobre, e através de, seus vários instrumentos.
Aqui, nesse livro e nesse Capítulo III – No Sono e nos Sonhos, trata das condições normais e anormais da vida como Sono, Sonhos, Transe, Hipnotismo e Loucura. Os veículos mais refinados mencionados anteriormente são todos concêntricos ao Corpo Denso, no estado de vigília, quando estamos ativos em pensamentos, palavras e ações; contudo, as atividades do dia fazem com que o corpo fique cansado e com sono.
Quando o desgaste causado pelo uso de um edifício torna necessário reparos exaustivos, os inquilinos precisam sair para que os trabalhadores possam ter espaço total para a restauração. Portanto, quando o desgaste do dia esgota o corpo, é necessário que o Ego saia. Essa retirada torna o corpo inconsciente, sendo necessário um trabalho preciso para restaurar seu tom e ritmo. Durante a noite, o Ego paira ao lado de fora do Corpo Denso, envolto no Corpo de Desejos e na Mente. Às vezes, o Ego retira-se apenas parcialmente, tendo uma das metades dentro do corpo e a outra, fora; quando isso ocorre, ele vê o Mundo do Desejo e o Mundo Físico, mas de forma confusa como em um sonho.
O hipnotismo é um ataque mental. A vítima desavisada é expulsa do seu corpo e o hipnotizador obtém o controle. As vítimas do hipnotizador são libertadas com a morte dele, no entanto; mas o médium não tem tanta sorte. Os Espíritos que o controlam são realmente hipnotizadores invisíveis. Essa invisibilidade oferece grandes possibilidades de enganar e após a morte eles podem tomar posse do Corpo de Desejos do médium e usá-lo por séculos, impedindo que sua infeliz vítima progrida no caminho da evolução. Essa última fase da mediunidade é elucidada nesse livro e nessa Parte IV – “O Corpo do Pecado” – Possessão por Demônios autocriados – Elementais.
O que chamamos de morte é, na realidade, apenas a mudança de consciência de um Mundo para outro. Temos uma ciência do nascimento com enfermeiras treinadas, obstetras, antissépticos e todos os outros meios de cuidar do Ego que chega; contudo, precisamos muito de uma ciência da morte, pois quando um amigo está saindo da existência concreta, permanecemos impotentes, ignorantes em relação a como ajudar; ou pior, fazemos coisas que tornam a passagem infinitamente mais difícil do que se estivéssemos apenas ociosos. Dar estimulantes é uma das piores ofensas contra os moribundos, porque atrai novamente o Espírito ao Corpo Denso e o faz com a força de uma catapulta.
Depois que o coração parou, pela ruptura parcial do Cordão Prateado (que unia os veículos superiores do ser humano aos inferiores durante o sono e, após a morte, permanece indiferente por um tempo que varia de algumas horas a três dias e meio), o Espírito ainda pode sentir o embalsamamento do corpo físico, sua abertura para exames post-mortem ou a cremação. Esse corpo não deve, portanto, ser incomodado, porque o Ego que passa de um Mundo ao outro está empenhado em revisar as imagens de sua vida passada (que são vistas em um lampejo por pessoas que se afogam). Essas imagens são impressas diariamente e a cada hora no éter do Corpo Vital, independentemente da nossa observação, assim como uma imagem detalhada é impressa na placa fotográfica pelo éter, ainda que o fotógrafo não tenha observado seus detalhes. Elas formam um registro absolutamente verdadeiro da nossa vida passada, que podemos chamar de memória subconsciente (ou Mente) e é muito superior à visão que armazenamos conscientemente em nossa memória (na Mente).
Sob a imutável Lei da Consequência, que decreta que aquilo que nós semearmos nós colheremos, os atos da vida são a base da nossa existência após a morte. O panorama de uma vida passada é o livro dos Anjos do Destino, os organizadores da partitura que fazemos junto à Lei da Consequência.
A revisão do panorama da vida logo após a morte registra as imagens no Corpo de Desejos, que é o nosso veículo normal no Mundo do Desejo, onde o Purgatório e o Primeiro Céu estão localizados.
Esse panorama é o fundamento da purificação do mal, no Purgatório, e da assimilação de boas ações, no Primeiro Céu. É da maior importância que ele seja profundamente gravado no Corpo de Desejos, porque se a gravação for profunda e clara, o Ego sofrerá mais acentuadamente no Purgatório e experimentará alegrias mais intensas no Primeiro Céu. Tais sentimentos permanecerão como consciência nas vidas futuras, impulsionando as boas ações e desencorajando os maus atos.
Se deixarmos o Espírito em paz, tranquilo, para se concentrar no panorama da vida, a gravação será clara e nítida; no entanto, se os parentes desviarem a dele atenção com altas e histéricas lamentações durante os primeiros três dias e meio, período em que o Cordão Prateado ainda está intacto, uma impressão superficial ou borrada fará com que o Espírito perca muitas das lições que deveriam ter sido aprendidas. Para corrigir essa anomalia, os Anjos do Destino são frequentemente forçados a terminar a próxima vida dele na Terra durante a primeira infância, antes que o Corpo de Desejos tenha nascido, conforme descrito nesse livro e nessa Parte IV – Capítulo II – O Efeito das Orações, Rituais e Exercícios, pois o que não foi vivificado não pode morrer; assim, a criança entra no Primeiro Céu e aprende as lições que não aprendeu anteriormente, tornando-se dessa forma equipada a passar pela Escola da Vida.
Como tais Egos mantêm o Corpo de Desejos e a Mente que tinham na vida em que morreram quando crianças, é comum que se lembrem dessa existência, porque só permanecem fora da vida terrena de um a 20 anos.
O sofrimento no Purgatório surge por duas causas: os desejos que não possam ser satisfeitos e a reação às imagens do panorama da vida — o bêbado, por exemplo, sofre as torturas de Tântalo, porque não tem meios de obter ou reter a bebida. O avarento sofre porque lhe falta a mão para impedir que seus herdeiros dissipem seu estimado tesouro. Assim, a Lei da Consequência elimina os maus hábitos até que o desejo se esgote.
Se tivermos sido cruéis, o panorama da vida irradia sobre nós a imagem de nós mesmos e de nossas vítimas. As condições são revertidas no Purgatório: nós sofremos como eles sofreram. Assim, com o tempo, somos expurgados do pecado. A matéria grosseira do desejo que forma a personificação do mal é expelida pela força centrífuga da Repulsão, no Purgatório, e retemos unicamente o puro e o bem, que são corporificados em matéria de desejo mais sutil que é dominada pela força centrípeta — Atração, que no Primeiro Céu une o que é bom, quando o panorama retrata cenas de nossas vidas passadas em que ajudamos outras pessoas ou nos sentimos gratos pelos favores recebidos, conforme descrito aqui em, nesse livro e nessa parte Vida e Atividade no Céu, que também fala da estadia no Segundo Céu, localizado na Região do Pensamento Concreto.
Esse também é o reino do tom, como o Mundo do Desejo é da cor e o Mundo Físico, da forma. O tom, ou som, é o construtor de tudo o que existe na Terra, como lemos no Evangelho Segundo São João: “No princípio era o Verbo (o som), e o Verbo se fez carne”, a carne de todas as coisas, “Sem Ele nada do que foi feito se fez”. A montanha, o musgo, o rato e o ser humano são encarnações dessa Grande Palavra Criadora que desceu do Céu.
Lá, o ser humano se torna um com as forças da natureza; Anjos e Arcanjos o ensinam a construir um ambiente conforme o que mereceu sob a Lei da Consequência. Se ele gastou seu tempo na especulação metafísica, igual aos hindus, deixou de construir um bom ambiente material e renascerá em uma terra árida, onde inundações e fome o ensinarão a voltar sua atenção às coisas materiais. Quando ele focaliza sua Mente no Mundo Físico, aspirando à riqueza e ao conforto material, constrói no Céu um inigualável ambiente material, uma terra rica com instalações que lhe trarão facilidade e conforto, como o mundo ocidental tem feito. Mas, dado que sempre ansiamos pelo que nos falta, as posses que temos nos saciam para além do conforto e estamos começando a desejar novamente a vida espiritual, como os hindus, nossos irmãos mais novos, querem agora a prosperidade material que temos e estamos deixando para trás, o que é mais bem explicado aqui nesse livro e nessa parte Métodos Ocidentais para os Ocidentais, que mostra por que as práticas de ioga hindu são prejudiciais aos ocidentais: eles estão atrás de nós na evolução.
Depois que o Ego ajuda a construir o arquétipo Criativo para o ambiente de sua próxima vida terrena, no Segundo Céu, ascende ao Terceiro Céu, localizado na Região do Pensamento Abstrato. Mas poucas pessoas aprenderam a pensar de forma abstrata como os matemáticos; portanto, a maioria está inconsciente, como no sono, aguardando o Relógio do Destino — as estrelas, para indicar a hora em que os efeitos gerados pela ação das vidas passadas possam ser calculados. Quando os responsáveis pelo tempo celestial, o Sol, a Lua e os planetas, alcançam uma posição adequada, o Ego acorda com o desejo de um novo nascimento.
Os Anjos do Destino examinam o registro de todas as nossas vidas passadas, estampadas na Mente Supraconsciente toda vez que o Ego vai para o Terceiro Céu, conforme descrito nesse livro nesse O Terceiro Céu na Região Abstrata do Mundo do Pensamento. Quando não há uma razão específica para a tomada de um determinado ambiente, o Ego tem várias opções de renascimento. Elas são mostradas a ele em uma visão geral, exibindo o grande esboço de cada vida proposta, mas deixando espaço para o livre-arbítrio individual nos detalhes.
Depois que uma escolha é feita, o Ego deve liquidar as causas maduras que foram selecionadas pelos Anjos do Destino e qualquer tentativa de escapar será frustrada. Deve-se notar cuidadosamente que o mal é erradicado no Purgatório. Somente as tendências restam para nos tentar, até que, de forma consciente, nós as vençamos. Assim, nascemos inocentes e, pelo menos, todo ato maligno é um ato de livre-arbítrio.
Quando o Ego desce em direção ao renascimento, reúne os materiais para seus novos corpos, mas eles não nascem ao mesmo tempo. O nascimento do Corpo Vital inaugura um rápido crescimento entre, o entorno, os sete anos e os catorze, desenvolvendo também a faculdade de propagação. O nascimento do Corpo de Desejos, em torno dos catorze anos, fornece origem ao período impulsivo que vai, em torno, dos catorze aos vinte e um anos. Nessa idade em torno dos vinte e um anos, o nascimento da Mente fornece um freio ao impulso e concede a base para uma vida séria.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de janeiro/1916 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
Durante a vida aqui o nosso Corpo de Desejos não tem a mesma forma que os nossos Corpos Denso e Vital. Somente após a morte ele assume essa forma. Durante a vida tem simplesmente a aparência de um ovoide luminoso que, nas horas de vigília, envolve completamente o Corpo Denso, assim como no ovo a clara envolve a gema. Estende-se em torno de 31 a 41 centímetros além do Corpo Denso.
Nesse Corpo de Desejos existe certo número de centros sensoriais que ainda se encontram em estado latente na maioria dos seres humanos. O despertar destes centros de percepção corresponde ao descerrar dos olhos no cego do nosso exemplo anterior. A matéria do Corpo de Desejos humano permanece em movimento contínuo de incrível rapidez. Nem há nele um lugar estável para qualquer partícula, como no Corpo Denso. A matéria que num determinado momento está na cabeça, encontra-se nos pés ao instante seguinte, para voltar outra vez.
Não há órgão algum no Corpo de Desejos, como nos Corpos Denso e Vital, mas há centros de percepção que ao entrarem em atividade parecem vórtices, sempre permanecendo na mesma posição em relação ao Corpo Denso. A maioria desses vórtices encontra-se em volta da cabeça.
Na maioria das pessoas esses centros não passam de simples remoinhos, sem utilidade como meios de percepção, ou sejam esses centros são inativos.
Podem ser despertados, contudo, ainda que dos métodos usados dependam os resultados conseguidos.
No Clarividente involuntário, desenvolvido no sentido negativo e impróprio, estes vórtices giram da direita para a esquerda, ou seja, na direção oposta à dos ponteiros de um relógio.
No Corpo de Desejos do Clarividente voluntário, devidamente desenvolvido, os vórtices giram na mesma direção dos ponteiros de um relógio, fulgurando esplendorosamente e ultrapassam muito a brilhante luminosidade do Corpo de Desejos comum. Estes centros, como meios de percepção das coisas no Mundo do Desejo, permitem ao Clarividente voluntário ver e investigar à vontade, ao passo que as pessoas cujos centros giram da direita para a esquerda são como espelhos que refletem o que se passa em sua frente e, por isso mesmo, incapaz de obter informações reais.
A razão disso, ou seja, das pessoas cujos centros giram da direita para a esquerda não serem capazes de terem controle, ou ainda, o desenvolvimento da mediunidade é muito mais fácil; é simples revivificação da função negativa que possuía o ser humano no antiquíssimo passado (nas Épocas da história da Terra chamadas Lemúrica e Atlante, todos nós éramos Clarividentes involuntários, situação necessária para aquele momento na Evolução), pela qual o mundo externo refletia-se nele e cuja função era retida pela endogamia. Nos atuais médiuns essa faculdade é intermitente. Sem razão alguma aparente, podem “ver” umas vezes e outras não. Ocasionalmente, o intenso desejo do interessado permite ao médium pôr-se em contato com a fonte de informação que procura e nessas ocasiões vê corretamente. Contudo, nem sempre se porta honestamente.
O que ficou dito acima constitui uma das diferenças fundamentais entre um médium e um Clarividente voluntário desenvolvido de modo apropriado.
Note: um Clarividente voluntário possui uma faculdade muito diferente da do médium, geralmente um Clarividente involuntário, isto é, que só pode ver o que se lhe apresenta e que, no melhor dos casos, pouco mais tem além da mera faculdade negativa.
A faculdade em um Clarividente voluntário está sob completo domínio da sua vontade. Não é necessário pôr-se em transe, ou fazer algo anormal para elevar sua consciência até o Mundo do Desejo. Basta-lhe somente querer ver, e vê.
Afinal, no Mundo do Desejo as formas mudam da maneira mais fugaz e instável. Isto é manancial de confusões sem conta para o Clarividente involuntário.
(Quer saber mais? Faça os Cursos de Filosofia Rosacruz (todos gratuitos) e/ou consulte o Livro Conceito Rosacruz do Cosmos – Max Heindel)
Que as rosas floresçam em vossa cruz
(Revista Serviço Rosacruz – Fraternidade Rosacruz – SP – nov/1976)
Existem dois momentos mais cruciais nessa vida que devemos enfrentar sozinhos: quando nascemos nesse Mundo Físico; e quando dele partimos.
Mais especificamente, estamos sozinhos quando: estamos diante da nova vida que escolhemos viver; ou diante das experiências dessa vida que acabamos de viver.
Portanto, a solidão emprega um papel importantíssimo em nossa evolução. Infelizmente, poucos têm consciência disso. Muitos têm medo dela, fazendo dela uma terrível ameaça. Nem em um ambiente muito silencioso conseguem ficar por muito tempo! Aliás, a solidão se torna ameaça quando não sabemos usá-la. E ela se torna um problema porque não compreendemos o que ocorre quando estamos sozinhos.
Sabemos que a nossa Mente está muito ligada ao nosso Corpo de Desejos, especialmente na sua parte inferior. Se não nos ocupamos com alguma coisa nesse Mundo Físico, começamos a preencher a Mente com assuntos que não gostaríamos de pensar, começamos a nos sintonizar no negativo ou no supérfluo. Tentamos preencher a nossa Mente com algo ou que nos agrada – principalmente o negativo – ou com algo que não nos comprometa, coisas supérfluas. Afinal: “semelhante atrai semelhante”. Entretanto, chega um dia em que nós, se somos Aspirantes à vida superior, temos que enfrentar um dilema: prosseguir sozinho o nosso caminho rumo à Verdade.
Infelizmente, a maioria de nós sente pouco interesse em querer conhecer as verdades ligadas à realidade espiritual. A maioria gosta de viver apegada a sua Personalidade (manifestada pelo conjunto Corpo Denso, Corpo Vital e Corpo de Desejos) e, a sua Individualidade (Tríplice Espírito) fica sempre em segundo plano.
A propósito, já é clássico que para muitos de nós, a Individualidade se manifesta somente quando sofremos. Aí está a importância do sofrimento no nosso Esquema de Evolução.
Infelizmente, a maioria ainda não está disposta a (como lemos em Mateus 16:20): a esquecer-se de si mesmo, a erguer voluntariamente a sua cruz e a seguir os passos de Cristo. Aliás, é em Mateus (7:13-14), que encontramos o importante ensinamento direcionado ao Aspirante a Vida Superior: “Entrai pela porta estreita, pois larga é a porta e espaçosa a senda que leva à perdição, e muitos os que por ela entram. Quão estreita é a porta e apertado o caminho que leva à vida, e poucos são os que o encontram!”.
E isso é o que mais vemos no nosso cotidiano. Para muitos de nós não interessa “entrar pela porta estreita” já que é “difícil o caminho que leva à Vida espiritual”. Por isso que “poucos são os que o encontram”.
Quando nos achamos sozinhos, o que nos vem para pensar é fruto daquilo que nos alimentamos quando não estamos sozinhos. Ou seja: as situações que passamos são assimiladas quando estamos sozinhos.
Portanto, se: renunciamos às curiosidades e escolhemos leituras tais, que mais sirvam para nos compungir, que para nos distrair; nos abstivermos de conversações supérfluas e passatempos ociosos; nos abstivermos da sede insaciável por novidades e por boatos; acharemos tempo mais que suficiente para cuidarmos de nós mesmos, para relembrar os benefícios de Deus, para refletir sobre o nosso papel nesse esquema de evolução e para reforçar o nosso compromisso e a nossa vontade de percorrer o “caminho mais apertado” e “passar pela porta mais estreita que nos leva à Vida espiritual”.
E essa busca pela solidão que nasce em nós, como abraçamos a causa em ser um Aspirante à vida auperior, é causada pelo ardente desejo de nos afastarmos do mundo, mundo esse que acaba não compreendendo as nossas atitudes.
Senão vejamos: a maioria de nós não quer nem se preocupar em pensar nas três intrigantes perguntas que permeiam a nossa existência: de onde viemos; porque estamos aqui; para onde vamos.
Queremos curtir essa vida do que jeito que ela vier. No máximo nos esforçamos para modificá-la materialmente buscando o objetivo de ter muito dinheiro, saúde, uma boa posição social, liberdade para agirmos como quisermos.
Outros de nós, ainda, buscamos ter uma família, filhos, equilíbrio social e financeiro. Tudo voltado à realização no plano do Mundo Físico. Como que, chegando à idade avançada, nos sentiremos realizados, felizes e completada a nossa missão!
Ainda há, entre nós, os que se arriscam no plano espiritual mundano, buscando no Cristianismo popular satisfazer algo que sente que lhe falta, mas que não entende bem. Quando o faz pelo anseio interno de que deve servir aos seus semelhantes, pois todos são Filhos de Deus, significa que já entendeu, pelo menos, que existe algo mais importante nessa vida que a busca pela felicidade material.
Muitos de nós, infelizmente, o fazemos: pela aparência social, ou por lhe trazer algum alívio de consciência, ou ainda, o que é pior, pela possibilidade de ter alguma coisa boa em troca, como se Deus fosse mercenário.
Por não concordar com toda essa insensatez é que nós, quando decidimos ser Aspirante à vida superior, buscamos nos separar de tudo aquilo que é socialmente aceito ao nível da crença ou do comportamento. E isso sempre nos trás problemas, pois, como é possível observar em nosso cotidiano: “meninos passam indiferentes por uma árvore sem frutos, porém, se estiver carregada ricamente, jogarão pedras para despojá-las das frutas”. Do mesmo modo ocorre com cada um de nós: enquanto ocos, andando com a multidão, não há problemas. Quando, porém, atitudes conscientes são tomadas, as mesmas serão sentidas como o caminho certo pela integridade interna das outras pessoas e nos tornamos, sem querer, censura viva, mesmo se os nossos lábios não proferirem uma palavra de censura sequer.
As críticas e as chacotas que recebemos, após ousarmos a separação do que é tradicional, trarão, sem dúvida, um ardente desejo de nos afastarmos do mundo que parece não nos compreender, a ponto de querermos ingressamos no primeiro mosteiro que nos permitisse continuar a nossa vida espiritual em paz e buscando a solidão como a companheira inseparável.
Entretanto, jamais devemos esquecer que o baluarte da nossa evolução é aqui no Mundo Físico. Que somente cumprimos a nossa missão em mais uma estada na Terra quando vencemos esse mundo e não quando dele fugimos.
Cristo sabia da dificuldade que nós teríamos quando decidíssemos começar a voltar para a Casa do Pai e rompêssemos com os dogmas, os costumes, a crença e os hábitos, quando disse no Sermão da Montanha, em Mateus 5:10-11: “Bem aventurados os que sofrem perseguições por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. (…) Bem aventurados sois vós quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus, porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós”.
O meio ambiente em que fomos colocados pelos Anjos do Destino foi de nossa própria escolha, quando estávamos no Terceiro Céu, olhando com os olhos do Espírito, sem o empecilho da cegueira produzida pela matéria, prestes a descer mais uma vez para esse Mundo Físico.
Assim, o nosso ambiente contém lições preciosíssimas e cometeríamos um grave engano evadir do mesmo por completo. Do mesmo modo, todas as pessoas ao nosso redor e com as quais precisamos conviver, oferecem oportunidades de serviço, que não poderão ser encontrados em mosteiros ou outras espécies de retiros. Além disso, essas oportunidades foram feitas sob medida para um nosso nível de evolução, a fim de que aprendamos exatamente o que necessitamos, no grau que podemos assimilar. E é importantíssimo lembrar que o serviço é um componente importante no Caminho da Iniciação.
Além disso, a Fé sem obras – sem o serviço prestado – é morta. Como lemos na Epístola de São Tiago 2,14-26: “De que aproveitará, meus irmãos, a alguém dizer que tem fé, se não tiver obras? Poderá a fé salvá-lo? Se o irmão ou a irmã estiverem nus e carentes do alimento cotidiano e algum de vós lhes disser: ‘Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos’, mas não lhes derdes com que satisfazer à necessidade do corpo, que adiantaria? Assim também a simples fé, se não tiver obras, será morta. Mas alguém dirá: ‘Tu tens fé e eu tenho obras’. Mostra-me tua fé sem as obras que eu por minhas obras te mostrarei a fé”.
A exortação de São Paulo em sua Epístola aos Efésios 6:10-15 é muito atual e deve permear para todo Aspirante à vida superior: “Vistam toda a armadura de Deus… para que possam resistir no dia ruim, e tendo feito tudo fiquem de pé. Estai, pois firmes, tendo cingido os vossos lombos com a verdade e vestido a couraça da justiça e calçados os pés com o zelo do evangelho da paz.”.
Então, como podemos nos fortificar para essas batalhas com as quais devemos contar?
Primeiro: lembre-se do que Cristo disse quando enviou os Seus Discípulos ao Serviço pela humanidade. E que certamente é o mesmo recado para todo Aspirante à vida superior: “Eis que vos envio como ovelhas no meio de lobos; portanto sedes prudentes como as serpentes e inocentes como as pombas.” (Mt 10:16).
Segundo: busque a organização dos nossos instrumentos utilizados para satisfazer as nossas necessidades de evolução, quais sejam: os nossos veículos Corpo Denso, Corpo Vital, Corpo de Desejos e Mente da seguinte maneira: para resistir à crítica, devemos aprender a efetuar a nossa autocrítica, o julgamento de nós mesmos.
Muito nos ajuda o exercício de Retrospecção e o desenvolvimento de um raciocínio abstrato que constitui o uso da Mente não atrelada ao Corpo de Desejos: para resistir à tendência da Mente em divagar quando estamos a sós levando-nos a pensar no que não queremos e nos envolver com matéria das Regiões inferiores do Mundo do Desejo, devemos aprender a fixar o pensamento num ideal e mantê-lo assim, sem permitir que se desvie. É uma tarefa sumamente difícil.
Muito nos ajuda o exercício de Concentração: para resistir à tentação de utilização da Mente como meio de fixar pensamentos que se perdem ao longo do tempo, não deixando nada de aprendizado, ou seja, desperdiçando a força mental, devemos aprender com eles, extraindo de cada pensamento que criamos toda a utilidade que dele pode vir.
A prática de estudos que envolvem a lógica, o Esquema, Caminho e Obra da Evolução (que temos completo no livro Conceito Rosacruz do Cosmos) ou conceitos abstratos, tais como matemática, física e música permitem que nossas Mentes, passem a funcionar menos atrelada a parte inferior do Corpo de Desejos; assim a tendência em preencher a Mente com assuntos divagadores e sem importância que sob os ditames do Corpo de Desejos fica menor.
Com isso tornamos mais práticas as nossas ideias. Se não a utilizamos de imediato ficará disponível para utilização futura. Aos poucos vemos que todo aquele pensamento que nos dedicamos rapidamente aparecerá a oportunidade de utilizarmos. Afinal mostramo-nos pró-ativos, dispostos a ajudar, prontos para servir.
Muito nos ajuda o exercício de Meditação, para resistir à dúvida, devemos utilizar a lógica. Deduzir e tirar conclusões de todos os fatos observados e vividos. É muito fácil chegar a conclusão, sobre a cegueira do Ser Humano nessa Terra, dada por Cristo nos Evangelhos: “têm olhos e não vêem… têm ouvidos, mas não ouvem”. Não deixe que as circunstâncias falem por si. Não se deixe levar ao sabor dos ventos também aqui, no ponto em que você deve ter a sua opinião. Utilize do raciocínio lógico. Como disse Max Heindel: “a lógica é o melhor instrutor no Mundo Físico e o guia seguríssimo em qualquer mundo”.
Muito nos ajuda o exercício de Observação e depois o de Discernimento. Aqui já não importa mais se estamos sozinhos ou no meio de uma multidão. A solidão deixa de ser um refúgio, ou de ser temida para ser apenas mais um momento que vivemos como qualquer um outro. Estamos aonde melhor podemos servir, melhor podemos ser úteis, tendo a certeza de que “Deus mora em meu coração”, como disse São João Evangelista. Toda essa segurança buscada pelo Aspirante à vida superior tem como objetivo ajudá-lo a realizar, nessa presente passagem, tudo que ele escolheu como aprendizado. E se ele conseguir conquistar tal segurança estará como disse Abraham Lincoln: “É difícil a tarefa de derrubar um Ser Humano quando se sente digno e apoiado no parentesco com o Grande Deus que o criou”.
Que as Rosas floresçam em Vossa Cruz
Os três Mundos do nosso Planeta são atualmente o campo onde se processa a evolução de diversos Reinos de vida em vários graus de desenvolvimento. Destes, só quatro nos interessam presentemente, a saber: o Mineral, o Vegetal, o Animal e o Humano.
Estes quatro Reinos estão relacionados com os três Mundos de maneiras diferentes, de acordo com o progresso conseguido por esses grupos de vida em evolução na escola da experiência. No que diz respeito à forma, os Corpos Densos de todos os Reinos são compostos das mesmas substâncias químicas: sólidos, líquidos e gases da Região Química. O Corpo Denso do ser humano é um composto químico tanto quanto o da pedra, se bem que essa última esteja ocupada só pela vida mineral. Todavia, mesmo falando do ponto de vista puramente físico e deixando à margem qualquer outra consideração, notamos várias diferenças importantes se comparamos o Corpo Denso do ser humano com o do mineral da Terra. O ser humano move-se, cresce e propaga a sua espécie, mas o mineral, em seu estado natural, nada disso pode fazer.
Comparando o ser humano com os vegetais verificamos que ambos, planta e ser humano, têm um Corpo Denso, capaz de crescer e propagar-se. Contudo, o ser humano tem faculdades que a planta não possui: sente, tem o poder de mover-se e perceber as coisas que estão fora dele.
Quando comparamos o ser humano com os animais constatamos que ambos possuem as faculdades da sensação, do movimento, crescimento, da propagação e do senso de percepção. Contudo, o ser humano tem, ainda, a faculdade da linguagem, uma estrutura cerebral superior e as mãos, os quais são uma grande vantagem física. É de se notar especialmente o desenvolvimento do polegar que torna a mão humana muitíssimo mais útil do que a do antropoide. O ser humano desenvolveu, além disso, uma linguagem definida com a qual expressa seus pensamentos e sentimentos. Tudo, enfim, situa o Corpo Denso do ser humano em uma classe à parte, mais avançada do que as dos três Reinos inferiores.
Para compreender as diferenças entre os quatro Reinos é preciso buscar nos Mundos invisíveis as causas que dão a um Reino o que a outros é negado.
Para se funcionar em qualquer Mundo e expressar as qualidades que lhe são peculiares, é necessário antes de tudo, possuir um veículo formado de sua matéria. Para funcionarmos no Mundo Físico denso precisamos de um Corpo Denso adaptado ao nosso ambiente. Se assim não fosse seríamos fantasmas, como geralmente dizem, e seríamos invisíveis à maioria dos seres físicos. Assim, também precisamos de um Corpo Vital para poder expressar vida, crescimento ou externar as outras qualidades pertinentes à Região Etérica.
Para expressar sentimentos e emoções é necessário ter um veículo composto de matéria do Mundo do Desejo; e uma Mente, formada por substância da Região Concreta do Mundo do Pensamento é necessária para tornar o pensamento possível.
Ao examinarmos os quatro Reinos em relação à Região Etérica, constatamos que o mineral não possui Corpo Vital separado. Logo compreendemos a razão pela qual não pode crescer, nem se propagar ou nem mostrar vida com sensações.
Como hipótese necessária para sustentar outros fatos conhecidos, a ciência materialista admite que no sólido mais denso, tanto quanto no gás mais rarefeito e atenuado, não se tocam sequer dois átomos; que existe um envoltório de Éter ao redor de cada átomo; e que os átomos no universo flutuam em um oceano de Éter.
O cientista ocultista sabe que isso é exato na Região Química, e que o mineral não possui um Corpo Vital de Éter separado. E, como o Éter planetário é o único que envolve os átomos do mineral, então se compreende a diferença acima. Como já dissemos, é necessário ter um Corpo Vital, um Corpo de Desejos separados, etc., para poder expressar as qualidades correspondentes aos diferentes Reinos, porque os átomos do Mundo do Desejo, do Mundo do Pensamento e até dos Mundos superiores interpenetram o mineral, da mesma forma que interpenetram o Corpo Denso humano. Se a interpenetração do Éter planetário, o Éter que envolve os átomos do mineral, fosse bastante para permitir-lhe sentir e se propagar, sua interpenetração pelo Mundo do Pensamento planetário seria também suficiente para permitir-lhe pensar, o que não pode acontecer por faltar-lhe um veículo separado. O mineral é penetrado somente pelo Éter planetário e é, portanto, incapaz de crescimento individual. Todavia, como o mais inferior dos quatro Éteres – o Químico – é ativo no mineral, a ele são devidas as forças químicas nos minerais.
Tendo observado as relações dos Quatro Reinos com a Região Etérica do Mundo Físico, estudemos agora sua relação com o Mundo do Desejo.
Tanto os minerais quanto os vegetais carecem de Corpo de Desejos separado. Estão compenetrados unicamente pelo Corpo de Desejos planetário, ou seja, pelo Mundo do Desejo. Não possuindo veículo separado, são incapazes de sentir, de desejar, de se emocionar, faculdades estas que pertencem ao Mundo do Desejo. A pedra nada sente quando é quebrada, mas seria errôneo deduzir-se que não há qualquer sentimento relacionado com tal ato. Essa é a opinião do materialista e da massa incompreensiva. O cientista ocultista sabe que não há ato algum, grande ou pequeno, que não seja sentido através do universo. Embora por falta de um Corpo de Desejos individual a pedra não possa sentir, o Espírito da Terra sente, porque é o seu Corpo de Desejos que compenetra a pedra. Se um ser humano corta o dedo, esse não sente dor simplesmente por não ter Corpo de Desejos separado, mas o ser humano sente, porque seu Corpo de Desejos compenetra o dedo. Se uma planta é arrancada pela raiz, o Espírito da Terra sente de modo equivalente ao ser humano a quem arranquem um cabelo. A Terra é um Corpo vivo e sensível. Todas as formas sem Corpo de Desejos separado, por meio do qual o espírito pode sentir, estão inclusas no Corpo de Desejos da Terra, e esse Corpo de Desejos possui sensibilidade. Quebrar uma pedra ou cortar uma flor causa prazer à Terra, ao passo que arrancar uma planta pela raiz causa sofrimento. A razão disto será esclarecida na última parte dessa obra, pois nesse ponto qualquer explicação seria incompreensível para a maioria dos leitores.
O Mundo do Desejo planetário pulsa através dos Corpos Denso e Vital do animal e do ser humano, da mesma maneira que compenetra o mineral e a planta. Contudo, além disso, o animal e o ser humano possuem Corpos de Desejos separados que os capacitam a sentir desejos, emoções e paixões. Contudo, existe uma diferença entre eles: o Corpo de Desejos do animal é inteiramente formado por matéria das Regiões mais densas do Mundo do Desejo, enquanto no do ser humano, mesmo nas Raças mais inferiores, um pouco da matéria das Regiões superiores entra em sua composição. Os sentidos dos animais e das Raças humanas inferiores focalizam-se quase inteiramente na satisfação dos desejos e paixões mais inferiores, cuja expressão se encontra na matéria das regiões inferiores do Mundo do Desejo. Por isso e para que possam ter emoções mais elevadas, educá-las e dirigi-las para objetivos superiores, necessitam da matéria correspondente em seus Corpos de Desejos. À medida que o ser humano progride na escola da vida suas experiências ensinam-no, e seus desejos se tornam melhores, mais puros. Dessa forma, gradativamente, a matéria do Corpo de Desejos passa por uma correspondente modificação. A matéria mais pura e brilhante das regiões superiores do Mundo do Desejo substitui as cores sombrias da parte inferior. O Corpo de Desejos aumenta de tamanho, de modo que o de um santo torna-se verdadeiramente algo glorioso a ser observado, de transparência luminosa, e de uma pureza de cores incomparável, impossível de descrever. Só o vendo é possível apreciá-lo.
Atualmente, na composição do Corpo de Desejos da grande maioria dos seres humanos entra matéria das regiões superiores e inferiores. Ninguém é tão mau que não tenha algo de bom. Isto é expressão da matéria das regiões superiores que encontramos em seus Corpos de Desejos. Por outro lado, são muito poucos os tão bons que não empreguem alguma matéria das regiões inferiores.
Do mesmo modo que os Corpos: Vital e de Desejos planetários interpenetram a matéria densa da Terra, como vimos no exemplo da esponja, da areia e da água, assim também os Corpos: Vital e de Desejos interpenetram o Corpo Denso do vegetal, do animal e do ser humano. Contudo, durante a vida, o Corpo de Desejos do ser humano não tem a mesma forma que seus Corpos Denso e Vital. Somente após a morte ele assume essa forma. Durante a vida tem simplesmente a aparência de um ovoide luminoso que, nas horas de vigília, envolve completamente o Corpo Denso, assim como no ovo a clara envolve a gema. Estende-se de doze a dezesseis polegadas[1] além do Corpo Denso. Nesse Corpo de Desejos existe certo número de centros sensoriais que ainda se encontram em estado latente na maioria dos seres humanos.
Dirigindo a nossa atenção à relação dos quatro Reinos com o Mundo do Pensamento notamos que os minerais, os vegetais e os animais carecem de um veículo que os correlacione com esse Mundo. Todavia, sabemos que alguns animais pensam. Contudo, são os animais domésticos mais avançados que permaneceram gerações inteiras em estreito contato com o ser humano, despertando por isso mesmo faculdades que outros animais, desprovidos dessa vantagem, não possuem. Isto se baseia no mesmo princípio que faz com que um fio altamente carregado de eletricidade “induza” uma corrente mais fraca em outro que lhe esteja próximo, assim como um ser humano de forte moralidade pode despertar uma tendência parecida em outro de natureza mais débil, ou assim como esse pode ser dominado pela influência negativa de caracteres malignos. Tudo quanto fazemos, dizemos, ou somos, reflete-se em torno de nós. Eis a razão por que pensam os mais avançados animais domésticos. Por serem os mais elevados de sua espécie, estão quase no ponto da individualização, e as vibrações da Mente do ser humano têm “induzido” neles uma atividade similar, de ordem inferior. Salvo essa exceção, o Reino Animal não adquiriu ainda a faculdade de pensar. Não estão ainda individualizados. Isto é o que constitui a grande e importante diferença entre o ser humano e os demais Reinos. O ser humano é um indivíduo. Os animais, os vegetais e os minerais dividem-se em espécies. Não estão individualizados no mesmo sentido em que se encontra o ser humano.
Certo é que dividimos a humanidade em Raças, tribos e nações, e que notamos a diferença entre os caucasianos, os negros, os indianos, etc. Contudo, a questão não é esta. Se quisermos estudar as características do leão, do elefante ou de qualquer outra espécie de animais inferiores, é necessário apenas tomar qualquer exemplar da espécie. Conhecidas as características de um animal, conheceremos as características da espécie a que pertence. Todos os membros da mesma tribo animal são semelhantes. Isto é um fato. Um leão, ou seu pai ou seu filho, todos se assemelham, não há diferença alguma na maneira como poderão agir sob as mesmas circunstâncias. Todos têm as mesmas preferências e aversões; um é igual ao outro.
No entanto isto não acontece com os seres humanos. Se quisermos conhecer as características dos negros, não basta examinar um só indivíduo. Seria necessário examinar cada um individualmente e, ainda assim, não chegaríamos a conhecer realmente aos negros “como um todo”. Isso simplesmente porque o que é uma característica do indivíduo não pode aplicar-se à Raça coletivamente.
Se quisermos conhecer o caráter de Abraham Lincoln, de nada nos servirá estudar o caráter de seu pai, de seu avô, ou de seu filho, porque eles difeririam completamente entre si. Cada um tinha suas próprias peculiaridades totalmente distintas das idiossincrasias de Abraham Lincoln.
Por outro lado, podemos descrever os minerais, os vegetais e os animais se prestarmos atenção às características de um de cada espécie, enquanto nos seres humanos há tantas espécies quanto são os indivíduos. Cada indivíduo – cada pessoa, é uma espécie – é uma lei em si mesmo, inteiramente separado e distinto de qualquer outro indivíduo, tão diferente dos seus concidadãos como diferentes são duas espécies distintas do Reino inferior. Podemos escrever a biografia de um ser humano, mas não a de um animal, porque não a poderia ter. Isto resulta de existir em cada ser humano um espírito individual, interno, que dita os pensamentos e ações de cada ser humano individual, enquanto existe apenas um “Espírito-Grupo”, comum a todos os diferentes animais ou plantas da mesma espécie. O Espírito-Grupo atua sobre todos eles agindo de fora. Ambos, o tigre que perambula nas florestas da Índia e o tigre encerrado na jaula de um parque zoológico são expressões do mesmo Espírito-Grupo. Influencia a ambos, de maneira idêntica, o Mundo do Desejo, um dos Mundos internos, onde a distância quase não existe.
Os Espíritos-Grupo dos três Reinos inferiores estão diferentemente situados nos Mundos superiores, como veremos quando investigarmos a consciência dos diversos Reinos. Contudo, para compreender, convenientemente, as posições desses Espíritos-Grupo nos mundos internos, é necessário recordar-se e compreender-se claramente o que foi dito sobre todas as formas do mundo visível: são cristalizações de modelos e ideias dos mundos internos, conforme os exemplos do arquiteto e do inventor de máquinas. Assim como os sucos do Corpo brando e viscoso do caracol se cristalizam na crosta dura que carrega sobre as costas, também os Espíritos nos Mundos superiores cristalizam semelhantemente, fora de si mesmos, os Corpos materiais, densos, dos diferentes Reinos.
Assim, os chamados Corpos “superiores”, tão refinados e sutis que chegam a ser invisíveis, não são, de maneira alguma, “emanações” do Corpo Denso. Os veículos densos de todos os Reinos correspondem à concha do caracol que é a cristalização dos seus sucos. O caracol representa o espírito, e seus sucos em via de cristalização representam a Mente, o Corpo de Desejos e o Corpo Vital. Estes diversos veículos foram emanados pelo espírito de si mesmo, com o propósito de adquirir experiência através deles. É o espírito que move o Corpo Denso à vontade, como o caracol move a sua concha, e não o Corpo que governa os movimentos do espírito. Quanto mais estreitamente pode o espírito pôr-se em contato com o seu veículo, mais pode dominá-lo e expressar-se por seu intermédio, e vice-versa. Essa é a chave dos diferentes estados de consciência nos diferentes Reinos.
Considerando agora o vegetal, o animal e o ser humano em relação à Região Etérica, notamos que cada um deles tem um Corpo Vital separado, além de serem compenetrados pelo Éter planetário que forma a Região Etérica. Existe, não obstante, uma diferença entre o Corpo Vital do vegetal e os Corpos Vitais do animal e do ser humano. No Corpo Vital do vegetal estão em plena atividade somente o Éter Químico e o Éter de Vida. Portanto, o vegetal pode crescer pela ação do Éter Químico e propagar a sua espécie mediante a atividade do Éter de Vida do Corpo Vital separado que possui. O Éter de Luz também está presente, embora parte latente, e falta o Éter Refletor, por completo. Portanto, é óbvio que as faculdades sensoriais e a memória, que são qualidades desses Éteres, não podem ser expressas pelo Reino Vegetal.
Se dirigirmos nossa atenção para o Corpo Vital do animal, constatamos que nele os Éteres Químico, de Vida e de Luz são dinamicamente ativos. Consequentemente, o animal possui as qualidades de assimilação e crescimento, originadas pelas atividades do Éter Químico, e a faculdade de se propagar por meio do Éter de Vida, comuns aos Reinos Vegetal e Animal. Contudo, além disso, e devido à ação do terceiro ou Éter de Luz, ele tem as faculdades de gerar calor interno e de percepção sensorial. O quarto Éter, todavia, é inativo no animal, pelo que carece de pensamento e de memória. O que a isso se assemelha, é de natureza diferente, como adiante demonstraremos.
Quando analisamos o ser humano, vemos que os quatro Éteres são dinamicamente ativos em seu altamente organizado Corpo Vital. Por meio das atividades do Éter Químico ele é capaz de assimilar o alimento e crescer; as forças ativas no Éter de Vida capacitam-no a propagar sua espécie; as forças no Éter de Luz suprem seu Corpo Denso de calor, atuam sobre seu Sistema Nervoso e músculos, abrindo-lhe assim as portas da comunicação com o mundo externo por meio dos sentidos; e o Éter Refletor capacita o Espírito a controlar seu veículo por meio do pensamento. Esse Éter armazena, ainda, experiências passadas sob a forma de memória.
O Corpo Vital do vegetal, do animal e do ser humano estende-se além da periferia do Corpo Denso, do mesmo modo que a Região Etérica, que é o Corpo Vital de um Planeta, estende-se além da parte densa deste, o que demonstra, mais uma vez, a veracidade do axioma Hermético: “Como em cima, assim é embaixo”. A distância dessa extensão do Corpo Vital do ser humano é cerca de uma polegada e meia[2]. A parte que está fora do Corpo Denso é muito luminosa, e aparenta a cor da flor recém-aberta do pessegueiro. Ela é vista muitas vezes por pessoas que possuem certa clarividência involuntária. O autor verificou, ao falar com tais pessoas, que as mesmas, não crendo tratar-se de algo incomum, frequentemente não compreendem o que veem.
[1] N.R.: em torno de 31 a 41 centímetros
[2] N.R.: cerca de 3,8 centímetros
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Que as rosas floresçam em vossa cruz
“Tendes necessidade de paciência para que, depois de haverdes feito a Vontade de Deus, recebais a recompensa.”
Sem dúvida, São Paulo viu a impaciência dos “Pequenos”, como os Estudantes Rosacruzes de hoje, ansiosos por “colher onde não haviam semeado” e reclamando de seu lento progresso. Primeiro o Natural, depois o Espiritual; o crescimento do primeiro e a analogia do superior. Em torno de Vinte e cinco anos de vida terrena leva a Natureza para fazer um ser humano a partir do bebê; isto é, um ser humano físico, maduro e sólido. É provável que o Ser eterno e imortal possa desenvolver um sólido caráter estabelecido e uma profunda raiz espiritual em poucos anos?
O Espiritual só pode se desenvolver quando o Natural cede; como em um jardim, a planta escolhida florescerá na proporção em que as ervas daninhas forem arrancadas e o cultivo completo for concedido a ela.
Nosso Salvador, Cristo, não prometeu transformar um ser humano. Ele prometeu “Poder” para se tornar Filho de Deus quem “acreditar em Seu nome”. O poder de se tornar uma árvore ou flor perfeita está em uma semente e o pequeno começo do crescimento espiritual está na “crença Nele”.
O jardineiro tem trabalho de afastar todas as ervas daninhas e cultivar a terra. A vida na semente realiza o crescimento.
Quando alguém aceita a Cristo com o coração, tem a vida que crescerá até a perfeição espiritual pelo cultivo. Os frutos do Espírito são todas as belas qualidades da alma que tornam uma vida nobre e útil, mas não são imediatamente produzidas em sua plenitude. A aparente mudança pode ser grande em relação a um mundano — egoísta, mercenário, vaidoso e impuro —; porém, leva tempo para arrancar as velhas raízes e ervas daninhas, cujas sementes tendem a aparecer de forma periódica. Muitos que se julgam firmemente fixados em fazer o bem são, pela falta de vigilância, flagrados cochilando e sendo derrubados por alguma falha do passado. A espiritualidade, em seus estágios iniciais, é facilmente desviada do Coração por influências mundanas; nada precisa de cuidados mais ternos para preservar seu domínio sobre as afeições. O cérebro é a ligação entre a Mente e o Corpo Denso e os pensamentos da Mente devem estar fixos numa estrela, ao atingir o seu ideal, a fim de se afastar das inúmeras tentações que o mundo oferece, principalmente aos jovens.
Os Ensinamentos Rosacruzes apelam aos Cristãos, um tanto afastados dos desejos naturais, que talvez tendo sido plenamente experimentados e provados, carecendo de qualidades anímicas, satisfaçam a alma; no entanto, o Natural morre lentamente, as exigências de santidade são difíceis e, especialmente em Cristãos mais velhos, a apostasia não é incomum. Muitos vêm a qualquer novo ensino pelos “pães e peixes”, já que um grande número se juntou a uma igreja muito popular para a cura de suas doenças corporais e permanecem para a continuação das bênçãos da saúde. Esse motivo pode parecer depreciativo para o crescimento da alma, mas não se pode entrar em contato com a espiritualidade sem sentir sua influência para elevação e, assim, com o tempo, aqueles que vêm por motivos egoístas podem se tornar seguidores sinceros da fé. Há muitas almas vacilantes que vão de um culto a outro em busca de descanso para as solas de seus pés e onde a Verdade for encontrada em maior medida a grande multidão irá pelo pão da vida. Eles podem ser muito sérios e sinceros, mas de nenhuma forma estão prontos para a Iniciação. As plantas que vão produzir abundância de flores e frutos devem, às vezes, ser transplantadas várias vezes antes de mostrarem verdadeiro vigor e, quando finalmente chegam ao seu lar permanente, ainda têm de esperar longos meses ou até anos de desenvolvimento, antes que os frutos apareçam. Somente a maturidade do tempo traz produtividade total.
Leia sobre as lágrimas de qualquer um dos pais ou mães da Igreja, os Santos que mantiveram a fé e terminaram seu curso até Deus; o caminho deles não foi de rosas. Morrer diariamente para si, para as paixões naturais, para os destruidores da carne; os sacrifícios diários na cruz do Corpo Denso, com os olhos fixos no Senhor, com Cristo conduzido ao coração, com todos os dons no altar, em consagração à humanidade.
Os Cristãos são de tantos tipos e qualidades quanto as embarcações: alguns são apenas barcos a remo que estão amarrados à costa, com medo de se aventurar sozinhos; outros, mais ousados, porém com medo de águas profundas; finalmente temos um grande navio de longo curso movido por velas ou motores, preparado para a viagem, bem guarnecido, tendo o capitão em seu posto, de olho na bússola. Entretanto, mesmo assim, às vezes bate em uma rocha ou não resiste a um vendaval e afunda. Existem outros — submarinos que exploram os segredos das profundezas.
Esses são os nossos pioneiros da Fraternidade Rosacruz, talvez profundos nos segredos do governo, em missões importantes, guardas avançados de pesquisa, difíceis de encontrar, difíceis de destruir, vencedores do inimigo das almas. Afinal, há dirigíveis; esses são símbolos dos Irmãos Maiores, que navegam em outro elemento. Eles estão no alto, na atmosfera límpida de um ar rarefeito e veem além das brumas que escondem o passado e o futuro da nossa visão limitada. Esses tipos não surgiram em um dia. Existem eras de desenvolvimento entre o frágil barco a remo e o submarino ou dirigível.
A paciência deve realizar seu trabalho perfeito — a alma deve crescer de maneira ordenada; primeiro a folha, depois a espiga, depois o grão inteiro na espiga.
Um dia de cada vez, uma falha superada, um ato altruísta, um pensamento de amor verdadeiramente universal, por meio de cada um de nossos passos no “Caminho”. Não adianta se preocupar, não adianta se apressar; é um caso de “mais pressa menos velocidade”. Só o tempo e a paciência podem curar a alma da sua incapacidade e trazê-la à estatura completa de “um ser humano em Cristo Jesus”. Uma sequoia, a maior árvore da Terra, leva milhares de anos para atingir sua altura elevada, mas outras árvores, de centenas de anos, parecem insignificantes em comparação.
Estruturas fortes e permanentes avançam lenta e deliberadamente, mas são construídas para durar, para suportar os vendavais, o estresse da vida. Os Estudantes da Fraternidade Rosacruz fariam bem em manter essas verdades na Mente de forma constante e não aumentar as muitas preocupações, pensando, falando e mantendo um espírito de crítica ou impaciência, ao invés de viver o pouco que aprenderam nas suas vidas cotidianas.
Os meios de crescimento, de cultivo e poder da alma estão em nossas próprias mãos, em nossas casas, em nossos lares e no ambiente imediato, no nosso entorno. Aqui e agora é o nosso lugar e a hora de começar de novo, sendo cada dia abençoado para fazer crescer um corpo espiritual – o seu Corpo-Alma –, para nos prepararmos para as glórias prometidas àqueles que são fiéis até o fim: “Tereis pouca força, se cairdes no dia da adversidade.”.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de janeiro/1916 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
Na cabeça há três pontos que são o assento particular de cada um dos três aspectos do Espírito (veja-se o Diagrama 17).
Já no cérebro, aproximadamente na posição indicada pelo Diagrama 17, há dois pequenos órgãos chamados Corpo Pituitário e Glândula Pineal. A ciência médica não sabe quase nada a seu respeito nem de outras glândulas do Corpo.
Diferentemente do primeiro aspecto, o segundo e terceiro aspectos têm outros pontos de sustentação secundários.
O Corpo de Desejos é expressão deturpada do Ego. Manifesta em “egoísmo” o que é a “individualidade” do Espírito. A individualidade não procura o seu em detrimento dos demais, enquanto o egoísta procura tudo possuir sem ter em conta os demais. O assento do Espírito Humano é, primariamente, a Glândula Pineal (também chamada de Epífise Neural) e secundariamente, o cérebro, ou antes, o Sistema Nervoso cérebro-espinhal, que domina os músculos voluntários.
O amor e a unidade do Mundo do Espírito de Vida encontram sua contraparte ilusória na Região Etérica, com a qual estamos relacionados pelo Corpo Vital, o originador do amor sexual e da união sexual. O Espírito de Vida assenta, primariamente, no Corpo Pituitário (também chamada de Hipófise) e, secundariamente, no coração, o regente do sangue que nutre os músculos.
O inativo Espírito Divino – o Observador Silencioso – encontra sua expressão material no passivo, inerte e insensível esqueleto do Corpo Denso, o obediente instrumento dos outros Corpos. Não tem o poder de atuar por iniciativa própria e tem sua fortaleza no impenetrável ponto da raiz do nariz.
Em pura realidade, o Espírito é um só, porém, observado do Mundo Físico, o Ego refrata-se em três aspectos que se expressam da forma indicada.
A ciência chama à Glândula Pineal “terceiro olho atrofiado”. Nenhum daqueles órgãos está se atrofiando. Isto é um manancial de perplexidades para os cientistas. A Natureza nada conserva inútil. Em todo o Corpo encontramos órgãos em desenvolvimento ou em atrofia. Sendo estes assim como marcos milenários no caminho seguido pelo ser humano até o seu estado atual de desenvolvimento, indicando futuros aperfeiçoamentos e desenvolvimentos. Por exemplo, os músculos que os animais empregam para mover a orelha existem também no ser humano. Muitas poucas pessoas podem movê-los, estão atrofiando. O coração pertence à classe dos que indicam desenvolvimento futuro. Como já indicamos, está a converter-se num músculo voluntário.
O Corpo Pituitário e a Glândula Pineal pertencem a outra classe de órgãos, que atualmente não degeneram nem se desenvolvem: estão adormecidos.
Num passado remoto, o ser humano estava em contato com os mundos internos, e esses órgãos eram o meio de ingresso. Estavam relacionados com o Sistema Nervoso simpático ou involuntário. No Período Lunar, última parte da Época Lemúrica e primeira da Atlante, o ser humano via os mundos internos. As imagens se apresentavam a ele completamente independentes da sua vontade. Os centros dos sentidos do Corpo de Desejos giravam em direção contrária à dos ponteiros de um relógio (seguindo negativamente o movimento da Terra, que gira em torno do eixo, nessa direção) como atualmente os dos médiuns. Na maioria dos seres humanos esses centros são inativos, mas o desenvolvimento apropriado pô-los-á em movimento, na mesma direção em que giram os ponteiros de um relógio, com se explicou anteriormente. Essa é a parte difícil no desenvolvimento da clarividência positiva.
O desenvolvimento da mediunidade é muito mais fácil; é simples revivificação da função negativa que possuía o ser humano no antiquíssimo passado, pela qual o mundo externo refletia-se nele e cuja função era retida pela endogamia. Nos atuais médiuns essa faculdade é intermitente. Sem razão alguma aparente, podem “ver” umas vezes e outras não. Ocasionalmente, o intenso desejo do interessado permite ao médium pôr-se em contato com a fonte de informação que procura e nessas ocasiões vê corretamente. Contudo, nem sempre se porta honestamente. Tendo de pagar despesas de aluguel e outras, quando lhe falta o poder (sobre o qual não tem o menor domínio consciente) recorre à fraude e diz qualquer absurdo que lhe ocorra para satisfazer o cliente e não perder o dinheiro, desacreditando aquilo que noutras ocasiões realmente viu.
O Aspirante à verdadeira visão e discernimento espiritual deve, antes de tudo, dar provas de desinteresse. O Clarividente idôneo não tem “dias livres” nem, de nenhum modo, é como um espelho negativo, dependente dos reflexos que de qualquer forma o possam atingir. Em qualquer momento, pode olhar e ver os pensamentos e planos dos demais, sempre que dirija sua atenção especialmente para isso.
É fácil de compreender o grande perigo que traria à sociedade o uso indiscriminado desse poder, se estivesse em mãos de qualquer indivíduo, visto que por meio dele, podem ser lidos os mais secretos pensamentos. O Iniciado, pelo voto mais solene, obriga-se a não empregar jamais esse poder para servir seus interesses individuais, sequer em grau mínimo, nem para salvar-se de qualquer dor ou tormento. Pode dar de comer a cinco mil pessoas, se o deseja, mas não pode converter uma pedra em pão para aplacar a própria fome. Pode curar os outros da paralisia ou da lepra, mas não pode usar a Lei do Universo para curar suas próprias feridas mortais. Está ligado a um voto de absoluto desinteresse e, por isso, é sempre certo que o Iniciado, ainda que possa salvar os outros, não pode salvar-se.
O Clarividente educado, o que realmente tem algo a dar, não aceitará jamais nenhum donativo ou qualquer compensação para exercer sua faculdade. Contudo, dará e dará desinteressadamente, tudo o que considere necessário ou compatível com o destino gerado ante a Lei de Consequência pela pessoa a quem vá ajudar.
Usa-se a clarividência desenvolvida para investigar os fatos ocultos. É a única que serve realmente para esse objetivo. Portanto, o Estudante deve sentir um desejo santo e desinteressado de ajudar a humanidade e não um desejo de satisfazer uma tola curiosidade. Enquanto esse desejo superior não exista, não se pode fazer progresso algum em direção à clarividência positiva.
Nas idades transcorridas desde a Época Lemúrica, a humanidade construiu, gradualmente, o Sistema Nervoso cérebro-espinhal, o qual está sob o controle da vontade. Na última parte da Época Atlante, o sistema já estava tão desenvolvido que foi possível ao Ego tomar posse plena do Corpo Denso. Isto, como já foi descrito, efetuou-se quando o ponto do Corpo Vital se pôs em correspondência com o ponto da raiz do nariz do Corpo Denso. O Espírito interno despertou para o Mundo Físico, e a maior parte da humanidade perdeu a consciência dos mundos internos.
Desde esse tempo, a conexão entre a Glândula Pineal, o Corpo Pituitário e o Sistema Nervoso cérebro-espinhal foi se realizando lentamente e já quase está completa.
Para voltar a obter o contato com os Mundos internos tudo se resume em despertar, de novo, o Corpo Pituitário e a Glândula Pineal. Quando isso se realizar o ser humano possuirá, novamente, a faculdade de perceber os Mundos superiores, porém em mais alto grau do que antes, porque estará em conexão com o Sistema Nervoso Voluntário e, portanto, sob o domínio da vontade. Essa faculdade de percepção abrir-lhe-á todas as fontes do conhecimento. Comparados com estes meios de adquirir conhecimento, todos os demais métodos de investigação não são mais do que brinquedos de crianças.
O despertar desses órgãos se efetua por meio da educação ou treinamento esotérico, que agora descreveremos, tanto quanto se possa fazer publicamente.
Na maioria dos seres humanos, a maior parte da força sexual que, de modo legítimo, deve ser usada pelos órgãos da geração, emprega-se na gratificação dos sentidos. Nesses seres humanos há muita pouca corrente ascendente (Diagrama 17).
Quando o Aspirante à vida domina cada vez mais esses excessos e dedica sua atenção a pensamentos e esforços espirituais, o Clarividente educado pode verificar que a força sexual não utilizada começa a subir. Ao subir, em volume cada vez maior, segue o caminho indicado pelas flechas no Diagrama 17, atravessa o coração e a laringe, ou a medula espinhal e a laringe, ou a ambos ao mesmo tempo, passando diretamente entre o Corpo Pituitário e a Glândula Pineal para o ponto obscuro da raiz do nariz, onde o “Vigilante Silencioso”, o mais elevado Espírito, tem Seu templo.
Essas correntes não seguem um dos caminhos com exclusão do outro. Geralmente, seguem pelos dois, passando um volume maior de corrente sexual por um deles, de acordo com o temperamento do Aspirante. Nos que procuram a iluminação seguindo linhas puramente intelectuais, a corrente sexual passa especialmente sobre a medula espinhal e a parte menor segue o caminho que passa pelo coração. No místico, que antes “sente” do que conhece, essas correntes seguem preferivelmente o caminho que passa pelo coração.
Seguindo essas vias, o intelectual e o místico desenvolvem-se anormalmente. Para completar-se plenamente, cada um terá que dedicar sua atenção ao desenvolvimento daquilo que antes descuidou. O objetivo dos Rosacruzes é dar ensinamentos que satisfaçam a ambas as classes, se bem que os seus esforços principais se dirijam às Mentes muito desenvolvidas, de maior necessidade.
Essas correntes, em si mesmas, ainda que assumissem as proporções de um Niágara, e fluíssem até o sinal do dia de juízo, seriam inúteis se fossem tão só um complemento. Elas são prévio requisito para o trabalho consciente nos Mundos internos e, por isso, dever ser cultivadas em alguma extensão antes de começar o verdadeiro treinamento esotérico. Durante certo tempo, é indispensável ao Aspirante uma vida moral, dedicada a pensamentos espirituais, antes de ser possível começar o trabalho que proporcionará o conhecimento direto dos domínios suprafísicos e o habilitará a converter-se, no sentido mais elevado, num auxiliar da humanidade.
Quando o candidato tenha vivido desse modo o tempo suficiente para estabelecer a corrente de força espiritual, está apto e capacitado para receber instruções esotéricas. São fornecidos a ele, então, alguns exercícios para pôr em vibração a glândula pituitária. Essa vibração faz a glândula pituitária chocar e desviar ligeiramente a linha de força mais próxima (Diagrama 17). Esta se choca com a próxima, e o processo continua até que a força da vibração se esgota. Isto se efetua de maneira parecida ao tocar-se uma nota num piano: ela produzirá certo número de sons harmônicos, a intervalos apropriados, os quais, por sua vez, farão vibrar as cordas correspondentes do piano.
Quando a vibração crescente do Corpo Pituitário desvia suficientemente as linhas de força e estas alcançam a Glândula Pineal, realiza-se o objetivo procurado: estabelece-se uma ponte entre ambos os órgãos. É a ponte entre o Mundo dos sentidos e o Mundo do Desejo. Construída essa ponte, o ser humano torna-se Clarividente e pode dirigir seu olhar à vontade. Os objetos sólidos podem ser vistos por dentro e por fora porque o espaço e a densidade deixaram de serem para ele obstáculos para a observação.
Não é ainda um Clarividente exercitado, ou educado, mas é Clarividente à vontade, um Clarividente voluntário. É uma faculdade muito diferente da do médium, geralmente um Clarividente involuntário, isto é, que só pode ver o que se lhe apresenta e que, no melhor dos casos, pouco mais tem além da mera faculdade negativa. Construída essa ponte, a pessoa estará sempre certa de poder pôr-se em contato com os mundos internos, estabelecendo ou rompendo à vontade a conexão com eles. Gradualmente, o observador aprende a dirigir a vibração do Corpo Pituitário, de maneira a poder pôr-se em contato com qualquer das regiões dos Mundos internos que deseje examinar. A faculdade está sob completo domínio da sua vontade. Não é necessário pôr-se em transe, ou fazer algo anormal para elevar sua consciência até o Mundo do Desejo. Basta-lhe somente querer ver, e vê.
Como já indicamos no começo desta obra, o neófito deve aprender a ver no Mundo do Desejo ou, melhor dito, deve aprender a interpretar ou compreender o que vê ali. No Mundo Físico os objetos são densos, sólidos e sua forma não muda instantaneamente. No Mundo do Desejo, as formas mudam da maneira mais fugaz e instável. Isto é manancial de confusões sem conta para o Clarividente involuntário e negativo e até mesmo para o neófito que nele penetra sob a direção de um instrutor. Porém, os ensinamentos do instrutor cedo colocam o discípulo em condições de perceber a Vida que produz a mudança nas formas e, assim, o discípulo, conhecendo a razão da instabilidade não dá atenção a isso.
Há também outra distinção importantíssima a fazer. O poder de perceber os objetos de um mundo não é idêntico ao poder de agir dentro dele. O Clarividente voluntário pode ter recebido algum treinamento e distinguir o verdadeiro do falso no Mundo do Desejo. No entanto, é uma condição parecida à de um prisioneiro atrás da janela gradeada que o separa do mundo externo: pode vê-lo, mas não pode funcionar nele.
Portanto, a educação ou treinamento esotérico abre a visão interna do Aspirante. Há seu tempo, receberá exercícios que organizarão um veículo capaz de funcionar nos mundos internos de maneira perfeitamente consciente.
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Que as rosas floresçam em vossa cruz
Por Max Heindel
Há alguns anos, o escritor visitou Minneapolis para dar um curso em forma de palestras; lá, conheceu a Srta. Margaret S — uma fotógrafa comercial que fez nossos slides (para usar no estereóptico[1]) para “Parsifal”, “O Anel dos Niebelungos”, etc. Nós nos tornamos bem conhecidos e no decorrer das conversas sobre certos gráficos, também sendo feitos em forma de slides, o assunto “Renascimento” entrou em discussão.
A Srta. S. tinha apenas uma vaga ideia do ensino. Parecia mais uma ideia nova de que a vida é uma Grande Escola e que voltamos a ela, vida após vida, para aprender novas lições, como uma criança volta para uma escola terrena, dia após dia, com o mesmo propósito.
Mas, parecia lançar luz sobre um problema que a intrigava há anos. Ela tinha uma irmã mais nova, Anne, que era uma criança muito diferente e “imaginava” coisas muito estranhas; isso era quase angustiante para os outros membros da família. Ela insistiu que já tinha vivido antes e da última vez foi no Canadá, onde, segundo ela, “derrubei os portões”.
Ela era apenas um bebê e não poderia ter ouvido isso de alguém da família, pois ninguém entendia ou acreditava no Renascimento. Portanto, há apenas uma hipótese razoável, a saber, que ela carregou a consciência do passado.
A Srta. S. não sabia, na época, o que significava a expressão “derrubei os portões”, mas um artigo na revista American Magazine, de julho, apresenta a história da “imaginação” da pequena Anne, que ganhou o primeiro prêmio. Reimprimimos o artigo conforme publicado.
“Anne, minha meia-irmã mais nova, quinze anos mais jovem, era uma criança estranha desde o início. Ela nem mesmo se parecia com algum membro da família de quem já ouvimos falar, pois era escura, quase morena, enquanto o restante de nós éramos claros, mostrando nossa ancestralidade escocesa-irlandesa inconfundivelmente.”
“Assim que ela conseguiu falar usando frases conectadas, ela contava histórias de Fadas para si mesma e, apenas para se divertir, eu anotava seus murmúrios com meu lápis em meu antigo diário. Ela era minha responsabilidade especial — minha mãe era uma mulher muito ocupada — e eu estava muito orgulhosa dela. Essas tramas de fantasia nunca foram do tipo usual dos Contos de Fadas infantis, porque, além da imaginação infantil, havia neles fragmentos de conhecimento que um bebê não poderia ter absorvido de forma alguma.
“Outra coisa notável sobre ela era que tudo o que fazia parecia fazer por hábito e, de fato, tal era sua insistência, embora nunca soubesse explicar o que queria dizer com isso. Se você pudesse ver o modo turbulento com que ela levantava sua caneca de leite, quando tinha apenas três anos, e engolia o leite de uma vez, você teria estremecido de tanto rir. Isso deixava minha mãe particularmente constrangida e ela reprovava Anne repetidamente.”
“O bebê era uma boa e pequena alma; parecia tentar obedecer e, então, em um momento de distração, trazia outra ocasião de mortificação. ‘Eu não posso evitar, mãe’, ela dizia repetidamente com lágrimas em sua voz de bebê. ‘Eu sempre fiz assim!’.
“Tantos foram os pequenos incidentes em seus ‘hábitos’ de fala, pensamento, comportamento e memória que, finalmente, paramos de pensar sobre eles e ela própria estava completamente inconsciente de que era diferente das outras crianças.”
“Um dia, quando ela tinha quatro anos, ficou muito indignada com papai sobre algum assunto e, enquanto se sentava no chão, à nossa frente, anunciou sua intenção de ir embora para sempre.”
“‘De volta ao céu, de onde você veio?’, perguntou meu pai com falsa seriedade. Ela balançou a cabeça.”
“‘Eu não vim do céu para você’, ela afirmou com aquela convicção serena a que estávamos bastante acostumados agora. ‘Eu fui para a Lua primeiro, mas — você sabe sobre a Lua, não é? Costumava ter gente nela, mas ficou tão difícil que tivemos que ir embora.’”
“Isso parecia ser um Conto de Fadas, então peguei meu lápis e meu diário.”
“‘Então’, meu pai a conduziu, ‘você veio da Lua para nós, não é?’”
“‘Oh, não’, ela disse a ele de forma casual. ‘Eu estive aqui muitas vezes — às vezes eu era um homem e às vezes eu era uma mulher!’”.
“Ela foi tão serena em seu anúncio que meu pai riu muito, o que enfureceu a criança, pois ela não gostava de ser ridicularizada de forma alguma.”
“‘Eu era! Eu era!’, ela se mantinha indignada. ‘Uma vez eu estive no Canadá, quando era homem! Eu me lembro do meu nome, até’”.
“‘Oh!’, ele zombou, ‘as garotinhas dos Estados Unidos não podem ser homens no Canadá! Qual era o seu nome, de que você se lembra tão bem?’”
“Ela esperou um minuto. ‘Era Lishus Faber’, arriscou-se ela; depois repetiu com mais segurança, ‘é isso — Lishus Faber’. Ela combinou os sons para que isso fosse tudo que eu pudesse entender — e o nome assim permanece no meu diário até hoje, ‘Lishus Faber’”.
“‘E o que você fazia para viver, Lishus Faber, naqueles dias?’. Meu pai então a tratou com a falsa solenidade condizente com sua segurança e acalmou seu corpinho nervoso”.
“‘Eu era um soldado’ — ela concedeu a informação triunfantemente — ‘e eu derrubei os portões!’”.
“Isso é tudo o que está registrado lá. Repetidamente, eu me lembro, tentamos fazer com que ela explicasse o que queria dizer com a frase estranha, mas ela apenas repetiu as palavras e ficou indignada conosco por não entender. Sua imaginação parou nas explicações. Vivíamos em uma comunidade culta, mas, embora eu tivesse repetido a história para perguntar sobre a frase — como se conta histórias de filhos amados, você sabe —, ninguém podia fazer mais do que conjeturar seu significado”.
“Alguém me encorajou a realmente ir mais longe no assunto e, por um ano, estudei todas as histórias do Canadá em que pude ter acesso, histórias sobre uma batalha na qual alguém ‘derrubou os portões’. Tudo em vão. Finalmente, fui dirigido por um bibliotecário a uma história de ‘documentário’, suponho que seja isso — um livro antigo e engraçado no qual a letra “s” é parecida com “f”, você sabe. Isso aconteceu mais de um ano depois, quando eu já havia perdido as esperanças. Era um livro antigo e curioso, curiosamente pitoresco em muitos de seus contos, mas descobri um que tirou todos os outros da minha cabeça por um tempo. Foi um breve relato da tomada de uma pequena cidade murada por uma pequena companhia de soldados; um feito notável, de certa forma, porém sem importância geral. Um jovem tenente, com seu pequeno bando — e a frase saltou aos meus olhos — ‘derrubou os portões’… O nome do jovem tenente era ‘Aloysius Le Febre’”.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de janeiro/1916 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
[1] N.T.: um projetor de slides (tem 2 lentes, normalmente uma em cima da outra) ou uma “lanterna mágica” relativamente poderosa, que possui duas lentes, geralmente uma acima da outra, e tem sido usada principalmente para projetar imagens fotográficas.