Aprendemos na Fraternidade Rosacruz que os graus Iniciáticos menores, quando alcançados por meio do Caminho Cristão Místico, não se realizam obrigatoriamente na ordem exposta pela Filosofia Rosacruz (que nos ensina como alcançar as Iniciações Menores pelo Caminho do Cristão Ocultista). Ao mesmo tempo, são experiências que devem ser vivenciadas em todos os graus, desde uma pessoa comum. De fato, o Batismo ou o despertar se efetiva grau a grau, em cada vislumbre, cada nova ideia, cada nova experiência, cada nova vivência emocional. É o nascer gradativo, que sucede ao morrer gradativo.
A Tentação se dá todos os dias. Oportunidades pequenas, mas, expressivas, de autossuperação. Verdadeiro herói não é o que realiza grandes façanhas, com desprezo à vida e temeridade. Não. Verdadeiro herói é o que vence, todos os dias, pequenas falhas, num ritmo seguro, constante, rumo à meta.
A Transfiguração, ou renovação do ser, é decorrente da transformação. A cada falha superada e nova virtude conquistada, ocorre, em grau infinitesimal, uma correspondente eterização dos Corpos Densos.
Assim também com os passos correspondentes à Última Ceia e Lavapés; ao Horto da Agonia; à Estigmata; à Crucifixão; à Ressurreição e Ascensão. A cada pequeno passo, distanciamo-nos do sentido humano e nos aproximamos do “Eu real”, para mais íntima comunhão com Ele. Com isso vamos experimentando a solidão do incompreendido; o sofrimento da Personalidade ao se desligar do sentido humano. É um “morrer todos os dias”, como disse S. Paulo, em graus correspondentes ao nosso nível de Consciência; uma lenta crucifixão, que nos permite ressurgir aos poucos, numa expansão gradual de Consciência. Espirais dentro de espirais, todos os graus Iniciáticos se realizam diariamente, nos mais variados níveis de evolução. Assim como nas matemáticas, o sentido de proporção, de quantidade, de unidade, se desenvolve desde as primeiras noções do curso fundamental na escola e se vai aprofundando gradativamente até o curso superior e além desse; assim, também com os diversos aspectos Iniciáticos: eles vão desabrochando incipientemente em graus pequeníssimos, que se ampliam na medida em que se processa a evolução, até assumirem a proporção de grandes espirais nos níveis Iniciáticos propriamente ditos.
Ora, também a escalada evolutiva, em níveis comuns, se divide em duas etapas, como nos graus das Iniciações Menores:
a) Levando-nos do estado humanamente mal ao humanamente bom;
b) e do humanamente bom à Iniciação.
A cena do calvário, vista na Memória da Natureza, apresenta muitos crucificados junto com Cristo-Jesus. Mas, a tradição Cristã representou-a, simbolicamente, com três cruzes: a de Cristo-Jesus (no meio), a do bom ladrão (à direita) e a do mau ladrão (à esquerda). Tendo em vista que a cruz representa as limitações, extraímos da cena do calvário um expressivo simbolismo: o mau ladrão representa o estado de consciência do humanamente mau, isto é, aquele que está preponderantemente sob a influência do seu “Eu inferior” e vive sob o aguilhão constante da Lei de Causa e Efeito. É uma cruz imposta, que ele carrega com revolta, porque desejaria agir impunemente, sem restrições nem dores, na satisfação de seus impulsos. Um ser nesse nível é ignorante das Leis de Deus e, por isso, peca menos – mas a Lei de Consequência tem de agir mais fortemente sobre ele, para acordá-lo pela dor e reconduzi-lo à justeza. É um pobre estado de ignorância em que o indivíduo não compreende nem aceita as circunstâncias, atribuindo todos os seus problemas aos outros. Revolta-se com os que têm mais e vivem felizes. Inveja-os. Acha que todos têm obrigação de ajudá-lo. Está sempre com a mão na posição errada, vergonhosamente estendida, a pedir, em vez de colocá-la acima do ombro, para segurar e carregar a cruz das limitações que ele mesmo formou com seus desvios às leis da natureza. Foi esse mau ladrão que xingou o Cristo, ironizando: “Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo e a nós” (Lc 23:39). Para um tal estado, a finalidade do espiritualismo é a de nos isentar das dores e nos cumular de conforto. Fora disso, que utilidade teria? Por isso, rouba-se a si mesmo a graça e prolonga o calvário.
O bom ladrão é o ser humanamente bom. Ou conhece as Leis de Deus e as segue como o “moço rico” da Parábola – ou tem consciência do justo. Assume a cruz de suas limitações espontaneamente, compreendendo que ele mesmo gera seu destino e, portanto, ele mesmo pode transformá-lo gradativamente para melhor. Conquistou, por mérito, uma boa Vida, desconforto e harmonia relativos e a conserva zelosamente como um fim. Aí é que ele se rouba também: as boas coisas não representam um fim, mas um meio. “A quem mais for dado, mais lhe é exigido”. Ele tem mais Consciência e responde mais severamente perante a Consciência por se deter numa “Boa Vida” como um fim, em vez de se empenhar mais, a serviço do “Eu superior” – já que tem mais para dar. Ele deve compreender: que “nada lhe pertence”, senão que é mero canal consciente do Cristo Interno, para verter os bens do espírito ao mundo, a fim de colher os frutos d’Alma, decorrentes do serviço prestado. Reserva para si o suficiente apenas e todo o mais põe nos “negócios do Senhor, para render”. Como na Parábola dos Talentos, ninguém tem o direito de tornar deste plano físico ao espiritual, sem levar um acréscimo de capacidades. Nós, Aspirantes à vida superior, somos um “bom ladrão”. Humanamente bons, mas ladrões ainda, porque estamos roubando ao nosso “Eu Superior” a oportunidade de uma evolução maior. Não estamos fazendo tudo o que podemos. Receosos de perder o relativo conforto e a harmonia conquistados, neles nos detemos como um fim. E isso se torna, para nós, uma gaiola de ouro, uma restrição. Seja de bambu, de arame ou de ouro, é sempre gaiola, é sempre uma prisão. Vivemos melhor, mas ainda limitados no humano. É preciso dar o segundo passo: de consagração a uma vida de serviço, amoroso e altruísta. Para esses, para nós enfim, é que o Cristo dirigiu seu apelo de discipulado:
É a lição do despojamento da Personalidade; de transferência do humano ao Cristo Interno, sabendo que o “pão” só nos vem de cima, do céu do íntimo, do Divino em nós – e não dos recursos da Personalidade, de sua esperteza, de sua astúcia, de suas manobras.
É mister assumir nossas limitações e nos dispor, decidida e perseverantemente a um nível gradativamente mais alto de Consciência. Isso é tomar a cruz e se dispor à regeneração e à libertação, nas pegadas de Cristo – o “Eu Superior”. É mister renunciar ao sentido humano de posse, sabendo que tudo pertence ao Divino interno e deve ser posto a serviço da evolução e não para exaltar a Personalidade. Atribuir ao humano o que é do Divino interno é ateísmo. Se não esvaziamos a Personalidade e nem a colocamos em condições de receptividade, não podemos receber “o maná renovado” o “pão transubstancial de cada dia”, que nos impulsione à evolução. Tal um copo vazio, de boca para cima, assim devemos permanecer em relação ao Cristo Interno. Mas, para estar vazios, devemos renunciar ao velho ser, aos triunfos e fracassos de ontem, entregando diariamente ao nosso Melquisedeque os despojos de nosso diário lutar. Eis o sentido de ir vender tudo o que temos e dar aos pobres. Os pobres são nossos “Eu inferiores”, aquelas vivências a quem devemos levar o Evangelho e curar, numa regeneração constante. É mister, finalmente, transcender os laços de sangue, de família, de raça e outras limitações convencionais, para que se estabeleça a “Família Universal de Cristo”, o “único rebanho com um só Pastor”, que pressupõe uma ligação mais profunda, como ensina o Ritual do Serviço Devocional do Templo Rosacruz: “o reconhecimento da unidade fundamental de cada um de nós com todos, a Comunhão Espiritual, é a realização de Deus. Para alcançarmos essa realização, esforcemo-nos, diariamente, por esquecer os defeitos de nossos irmãos e procuremos servir à Divina Essência neles oculta, o que constitui a base da fraternidade”. Tal é o sentido de “deixar pai, mãe, irmãos…”, não como convite para negligenciarmos nossos deveres filiais e fraternos, senão como desafio para superar as conveniências, fanatismos e preferências da Personalidade.
A cruz do meio é a do Cristo – aquele nível em que trabalhamos para o levantamento da Humanidade; em que, voluntariamente ajudamos o Cristo a carregar sua pesada missão. Já não é o natural assumir de nosso destino, senão o desejo de fazer mais ainda. Para tais indivíduos, bem mais raros, há um preparo especial que lhes permita chegar e transpor os portais da Iniciação.
A Páscoa, em níveis comuns, começa no indivíduo humanamente bom.
Aprendemos, também na Fraternidade Rosacruz, que todo trabalho Iniciático começa no Corpo Vital, o veículo dos hábitos, formados pela repetição. Isso nos leva a uma meditação e oportuno esclarecimento: devemos trabalhar pelo Corpo Vital, cuja chave é a repetição, para formar hábitos. É claro, hábitos bons, como disse S. Paulo: “Examinai de tudo e escolhei o melhor”. “Tudo é lícito, mas nem tudo convém”.
O que é o melhor? O que mais nos convém? – Só o nível individual de evolução é quem pode determinar, se bem que haja determinadas coisas que são comprovadamente boas a todos, tais como os Exercícios Esotéricos Rosacruzes recomendados no livro “Conceito Rosacruz-do Cosmos”, a oficiação dos Rituais do Serviço Devocional e, principalmente, a prática de tudo que vai se aprendendo por meio do estudo constante dos Ensinamentos Rosacruzes (Filosofia, Bíblia e Astrologia).
Mas, referindo-nos especificamente às pequenas coisas da vida, o discernimento individual há que determinar o que melhor lhe convém e buscar alcançá-lo; Personalidade viciosa que procura justificar suas dificuldades, de atingir certas virtudes, dizendo: “estão acima de minhas forças… talvez mais tarde…”.
Se vencemos essas manhas, vamos aos novos e melhores hábitos e os realizamos. E depois? Ficamos neles? É o que estamos testemunhando: há muitos Estudantes Rosacruzes que se acomodaram na rotina e nela permanecem como se houvessem alcançado o “Ideal”. É como alguém que, detendo-se num degrau da escada, olha satisfeito para baixo, vê que subiu, regozija-se com sua “superioridade” e permanece ali…Não tira o pé do degrau para colocá-lo no de cima e, desse modo, jamais poderá atingir o topo.
É preciso olhar para cima e dispor-se à escalada gradativa e constante! Cada um de nós é como um parêntesis na eternidade: vencemos uma parte da jornada, estamos num determinado grau de consciência mui individual (por causa da Epigênese) e devemos saber que ainda falta muito para chegar. Se nos dispomos a continuar firmemente, nosso parêntesis se desloca, deixando anteriores estados e alcançando novos níveis. Isso acontece até mesmo na vida prática: o profissional que se acomoda e deixa de se aprimorar, de se atualizar com novos e melhores recursos, fica para trás e paga o seu desleixo. Afinal é uma verdade: “há homens ultrapassados, mas não ideias ultrapassadas”.
Há sempre algo mais a conquistar; um modo melhor de fazer as coisas. Tudo é suscetível de aprimoramento. Tudo! Mas, podemos nos acomodar e nos cristalizar, porque a Natureza não conhece paradas: ou avançamos e evoluímos, ou paramos e retrogradamos e nos cristalizamos.
A mensagem da Páscoa é esse constante morrer para o velho ser seguido de um constante nascer para a novidade de Espírito que nos acena alvissareira.
Se todo trabalho Iniciático começa pelo Corpo Vital – repitamos e adquiramos a disciplina dos Exercícios Esotéricos Rosacruzes e de uma vida mentalmente mais pura, emocionalmente mais nobre a amorosa, fisicamente mais saudável. Todavia, cuidado com a rotina! Estejamos vigilantes para que cada dia traga uma nova e melhor contribuição, pois os próprios exercícios são um desafio: eles vão desvelando maravilhas ao Estudante Rosacruz sincero que se empenha diariamente e se vão tornando cada vez mais novos e profundos, na medida da prática renovada em Epigênese.
Com essa advertência, deixemos de ser o Estudante Rosacruz de ontem e sejamos, hoje, algo melhor em tudo. Esse é o morrer gradativo e racional. Essa é a Páscoa – com seu convite de crucificar o que está ultrapassado (por mais que o apego nos dificulte e implore), ressuscitando para algo maior e ascendendo um pouco mais na evolução.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – abril/1976 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Fevereiro de 1918
O Cristo nos exortou a deixar a nossa luz brilhar[1] e na Parábola dos Talentos[2] Ele enfatizou os pontos que a quem muito é dado, muito é exigido[3] e que cada um, independente de quão pouco tenha recebido, é esperado colocar isso que recebeu em prática, que faça isso sem esperar nem gratidão nem retribuição, a fim de que após algum tempo produza um acréscimo ao que recebeu. Estamos, agora, no início de mais um ano. Temos recebido os inestimáveis e riquíssimos Ensinamentos Rosacruzes. Assim, é exigido de nós que façamos algum uso desse conhecimento, a fim de ajudar aquelas pessoas que ainda não conhecem a solução para o problema da vida e que ainda estão em busca da luz.
Nós dificilmente gostamos de pessoas presunçosas que tem uma ideia exagerada das próprias capacidades delas e que aborrecem as outras pessoas até não poderem mais com os discursos, conversas e posicionamentos delas indesejáveis e inconvenientes. No entanto, os Estudantes Rosacruzes parecem sofrer justamente de uma mania e de um comportamento opostos e isso, geralmente, é muito ruim. A autodepreciação, a timidez e a desconfiança em nós mesmos reprimem nossas habilidades e nossos talentos, nos fazendo atrofiar, assim como acontece com os olhos dos animais que deixaram a luz do sol e foram para as cavernas para viver, ou como acontece com a mão que é mantida inativa, deixada sem movimento, durante anos e que perde a capacidade de se mover. Nossos talentos se atrofiam, se não forem utilizados. Seremos responsabilizados por acumular conhecimento e retê-lo daqueles que o procuram, tanto quanto o servo da Parábola dos Talentos que enterrou o seu talento, ao invés de trabalhar com ele para que se multiplicasse.
Sempre defendemos que questões de crença não deveriam ser impostas à atenção de outras pessoas, mas há milhares de oportunidades, todos os anos, em que podemos dizer uma palavra, pensada em como expressá-la, para suscitar uma investigação relativa à nossa Filosofia Rosacruz por parte de um amigo ou de uma amiga a quem se dirige. É perfeitamente legítimo se apresentar como um meio de acesso aos Ensinamentos Rosacruzes para as pessoas que estiverem interessadas. S. Paulo exortou os seus seguidores a se calçarem com uma preparação do Evangelho, e se seguirmos essa regra, preparando-nos para responder perguntas de forma inteligente, descobriremos que as pessoas estarão interessadas no que temos a dizer.
Atualmente as pessoas estão muito interessadas na vida após a morte. Mas para responder adequadamente às perguntas dessas pessoas, nós devemos ter um conhecimento suficiente dos Ensinamento Rosacruzes e estudá-los assiduamente. Ter somente um pouco de conhecimento é sempre perigoso em questões sobre Religião e Filosofia, bem como em outras coisas. Você dever ter o conhecimento suficiente e necessário para conseguir valer a pena entrar no campo da propaganda. Mas isso não é difícil. Embora possa ser muito interessante e instrutivo para os Estudantes Rosacruzes, que se tornaram profundamente interessados e têm um bom conhecimento prático da Filosofia Rosacruz, entrar nos mistérios dos Períodos e Evoluções, Épocas e Eras, Revoluções e Noites Cósmicas, etc., ainda, tudo o que é necessário para ajudar uma pessoa é um conhecimento profundo das Leis da Consequência e do Renascimento, conforme apresentadas em nossa literatura. Esses são os princípios vitais que mais lhe interessam. Esses são a essência dos Ensinamentos Rosacruzes. Se você puder fornecer esses Ensinamentos a uma pessoa que está desesperada, seja por ter perdido alguém próximo e querido, ou porque o mundo inteiro parece estar de cabeça para baixo e ela não consegue encontrar um lugar onde se encaixar ou nenhuma maneira de superar a situação, você poderá resolver os problemas dela de uma maneira lógica e razoável, mostrando como a Lei do Renascimento, juntamente com a Lei de Consequência, está constantemente trabalhando para o bem da Humanidade, e como se pode obter todo o bem que se deseja trabalhando em harmonia com essas duas grandes Leis. Então, você terá prestado a esta pessoa um serviço notável e obtido um considerável crescimento da sua alma.
Eu também sugeriria que fossem formadas turmas nos vários Grupos de Estudos Rosacruzes e nos Centros Rosacruzes[4] para estudar tudo o que foi dito em nossa literatura a respeito do funcionamento dessas duas grandes Leis, para que os Estudantes Rosacruzes possam se preparar para prestar serviços importantes à comunidade onde vivem, ajudando as pessoas a resolver os problemas da vida que são tão desconcertantes para a grande maioria.
Eu estou confiante de que essa sugestão provará o quão benéfica será para você durante esse ano que começa.
(Carta nº 87 do Livro “Cartas aos Estudantes” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
[1] N.T.: Brilhe do mesmo modo a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, eles glorifiquem vosso Pai que está nos céus. (Mt 5:16)
[2] N.T.: 14Pois será como um homem que, viajando para o estrangeiro, chamou os seus próprios servos e entregou-lhes os seus bens. 15A um deu cinco talentos, a outro dois, a outro um. A cada um de acordo com a sua capacidade. E partiu. Imediatamente, 16o que recebera cinco talentos saiu a trabalhar com eles e ganhou outros cinco. 17Da mesma maneira, o que recebera dois ganhou outros dois. 18Mas aquele que recebera um só o tomou e foi abrir uma cova no chão. E enterrou o dinheiro do seu senhor. 19Depois de muito tempo, o senhor daqueles servos voltou e pôs-se a ajustar contas com eles. 20Chegando aquele que recebera cinco talentos, entregou-lhe outros cinco, dizendo: ‘Senhor, tu me confiaste cinco talentos. Aqui estão outros cinco que ganhei’. 21Disse-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor!’” 22Chegando também o dos dois talentos, disse: ‘Senhor, tu me confiaste dois talentos. Aqui estão outros dois talentos que ganhei’. 23Disse-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor!’ 24Por fim, chegando o que recebera um talento, disse: ‘Senhor, eu sabia que és um homem severo, que colhes onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste. 25Assim, amedrontado, fui enterrar o teu talento no chão. Aqui tens o que é teu’. 26A isso respondeu-lhe o senhor: ‘Servo mau e preguiçoso, sabias que eu colho onde não semeei e que ajunto onde não espalhei? 27Pois então devias ter depositado o meu dinheiro com os banqueiros e, ao voltar, eu receberia com juros o que é meu. 28Tirai-lhe o talento que tem e dai-o àquele que tem dez, 29porque a todo aquele que tem será dado e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem será tirado. 30Quanto ao servo inútil, lançai-o fora nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes!’. (Mt 25:14-30)
[3] N.T.: Lc 12:48
[4] N.T. Fraternidade Rosacruz em vários lugares do mundo, autorizadas oficialmente pela The Rosicrucian Fellowship (no Brasil: Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP; Fraternidade Rosacruz em São Paulo-SP; Fraternidade Rosacruz no Rio de Janeiro-RJ)
Dezembro de 1916
Cristo comparou as almas aspirantes de Seu tempo aos servos que haviam recebido um certo número de talentos do senhor deles e deveriam negociar com eles para aumentar o capital confiado aos cuidados deles[1]. Podemos compreender, por essa Parábola, que a todos os que aspiram servi-Lo é exigido, igualmente, usar os seus talentos fornecidos por Deus, de tal maneira que possam mostrar um aumento de crescimento da alma quando, no devido tempo, forem chamados a prestar contas de sua administração.
Essa contabilidade, ao que diz respeito à maioria da humanidade, é adiada até que o Ceifador tenha fechado o livro de registros da vida e essa grande maioria da humanidade se encontre no Purgatório, para auferir o resultado das ações praticadas durante a vida aqui recém-terminada, tenham sido elas cometidas porque a pessoa quis ou porque nem sabia que fez, o que achou que era para o bem ou para o mal.
Mas, o que pensaríamos de um empresário que praticasse um método tão imprudente, como o simbolizado pela Parábola dos Talentos, em conduzir seus negócios? Não nos pareceria que ele estivesse se encaminhando diretamente para a falência, se não equilibrasse as suas contas e fizesse um balanço dos seus ativos e passivos anualmente? Certamente concluiríamos que ele mereceu o fracasso, devido a sua insistência em não seguir os métodos do seu negócio mais apropriados para a questão.
Se nós percebemos o valor de um sistema e o benefício de constantemente conhecer com precisão, como nos posicionarmos em relação aos nossos assuntos materiais, nós também devemos buscar os mesmos métodos seguros em relação aos nossos assuntos espirituais. Não, devemos ser muito mais circunspectos na conduta dos assuntos celestiais do que na dos assuntos mundanos, pois nossa prosperidade material é tão somente um manter-se acordado em uma noite comparada ao bem-estar eterno do Espírito.
Estamos nos aproximando do Solstício de Dezembro, que é o começo de um Ano Novo do ponto de vista espiritual, e estamos ansiosos pela nova efusão de amor do nosso Pai Celestial por meio do Cristo Menino. Portanto, essa é a melhor época para fazer um balanço e nos questionar de que forma empregamos as ofertas de amor do ano passado, de como temos nos esforçados para juntar tesouros nos céus. E nós devemos experimentar um grande benefício, se abordarmos esse levantamento com o estado de espírito apropriado e no momento mais auspicioso, pois há um tempo para semear e um tempo para colher, e para tudo que está debaixo do Sol há um tempo em que poderá ser feito com maiores chances de êxito do que em qualquer outra época[2].
As estrelas são os marcadores dos tempo celestiais. Delas procedem as forças que nos influenciam ao longo da vida. Na Noite Santa, entre os dias 24 e 25 de dezembro, à meia-noite, no lugar onde você habita, você verificará que a retrospecção e as resoluções engendradas nessa ocasião para o Ano Novo serão mais eficazes.
Em Mount Ecclesia e nos vários Centros Rosacruzes se celebra o Serviço da Meia-noite na Noite Santa[3], e os Estudantes Rosacruzes que participam desse Serviço são, por isso, liberados de quaisquer atividades de comunhão consigo mesmo, como explicada no parágrafo anterior. Outros podem não conseguir ficar despertos até este momento e por várias razões. Para esses, oficiar o Serviço da Meia-noite Santa em qualquer uma das primeiras horas da noite ou da manhã terá a mesma eficácia. Mas, vamos nos unir todos nesta noite num esforço espiritual concentrado de aspiração; e que cada Estudante Rosacruz, não apenas ore pelo crescimento anímico individual no próximo ano, mas que todos se unam em uma oração pelo crescimento coletivo do nosso movimento. Todos da Sede Mundial também solicitam seus pensamentos de ajuda.
Se, neste momento, todos trabalharem arduamente, fazendo um esforço extenuante, nós teremos a certeza de que receberemos uma bênção individual e coletiva excepcional e teremos um ano espiritualmente próspero.
(Carta nº 73 do Livro Cartas aos Estudantes – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
[1] N.T.: A Parábola dos Talentos: Pois será como um homem que, viajando para o estrangeiro, chamou os seus próprios servos e entregou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois, a outro um. A cada um de acordo com a sua capacidade. E partiu. Imediatamente, o que recebera cinco talentos saiu a trabalhar com eles e ganhou outros cinco. Da mesma maneira, o que recebera dois ganhou outros dois. Mas aquele que recebera um só o tomou e foi abrir uma cova no chão. E enterrou o dinheiro do seu senhor. Depois de muito tempo, o senhor daqueles servos voltou e pôs-se a ajustar contas com eles. Chegando aquele que recebera cinco talentos, entregou-lhe outros cinco, dizendo: ‘Senhor, tu me confiaste cinco talentos. Aqui estão outros cinco que ganhei’. Disse-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor!’” Chegando também o dos dois talentos, disse: ‘Senhor, tu me confiaste dois talentos. Aqui estão outros dois talentos que ganhei’. Disse-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor!’ Por fim, chegando o que recebera um talento, disse: ‘Senhor, eu sabia que és um homem severo, que colhes onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste. Assim, amedrontado, fui enterrar o teu talento no chão. Aqui tens o que é teu’. A isso respondeu-lhe o senhor: ‘Servo mau e preguiçoso, sabias que eu colho onde não semeei e que ajunto onde não espalhei? Pois então devias ter depositado o meu dinheiro com os banqueiros e, ao voltar, eu receberia com juros o que é meu. Tirai-lhe o talento que tem e dai-o àquele que tem dez, porque a todo aquele que tem será dado e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem será tirado. Quanto ao servo inútil, lançai-o fora nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes!’ (Mt 25:14-30).
[2] N.T.: “Há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu. Tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar a planta. Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de destruir, e tempo de construir. Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de gemer, e tempo de bailar. Tempo de atirar pedras, e tempo de recolher pedras; tempo de abraçar, e tempo de se separar. Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de jogar fora. Tempo de rasgar, e tempo de costurar; tempo de calar, e tempo de falar. Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.” (Ecl 3:1-8).
[3] N.T.: O Ritual Devocional do Serviço de Véspera de Natal.
Não podemos gozar da verdadeira paz enquanto não tenhamos desprezado tudo que é incompatível com o nosso verdadeiro “Eu”, o Ego (o que somos: um Espírito Virginal da Onda de Vida humana manifestado), a nossa Natureza divina.
Por exemplo, se tentamos encher o vazio que existe dentro de nós, dentro de nossa alma, com apetites sensuais ou com os prazeres da vida material, nada conseguiremos, senão desespero e sofrimento.
Se tentarmos realizar os nossos anseios da verdade através da aplicação da nossa inteligência nos objetos externos, sejam eles: coisas do Mundo Físico; desejos, emoções ou sentimentos do Mundo do Desejo ou pensamentos do Mundo do Pensamento, nada conseguiremos, senão frustração, dor e desânimo.
A solução nós entenderemos cedo ou tarde. Depende somente da nossa própria vontade. Quanto mais demorarmos em mudar, mais sofreremos, mais nos aborreceremos e mais nos entediaremos; mais viveremos no enganoso e na ilusão.
A solução é nos aproximarmos da Luz, obedecendo à lei da Luz, a Lei Divina. Devemos transmutar nossos apetites sensuais em apetites criadores; afinal a energia é a mesma, somente temos de mudar a direção.
Devemos desistir de nos manter dirigidos pelas coisas externas. Devemos dirigir nossa visão espiritual para a Luz, para as coisas espirituais. O nosso despertar para essa verdadeira realidade nos trás um desejo enorme e descontrolável de progredir rapidamente.
É como se quiséssemos recuperar todo o tempo que perdemos vivendo na realidade ilusória de responder somente as coisas externas.
Desejamos rapidamente: ver os Mundos internos, funcionar conscientemente nesses Mundos, conviver com os seres desses Mundos. Rapidamente, acreditamos estarmos perfeitamente aptos para fazer tudo isso e, se possível, de uma só vez.
Aos poucos nos desanimamos e os motivos são sempre os mesmos, variando somente nas suas diversas intensidades e matizes. De qualquer modo, seja qual motivo dermos ênfase, o problema é nosso! Nós é que nos mostramos incapazes e somente nós é que podemos nos corrigir para prosseguir nesse caminho escolhido.
Mas, vamos aos motivos:
1.Largamos tudo e nos dedicamos exclusivamente aos estudos espirituais
Alteramos totalmente a nossa rotina. Reprogramamos nossos horários para termos tempo de fazermos meditações, concentrações, orações. Não admitimos sermos interrompidos. Nosso tempo para tratarmos das coisas exteriores é o menor possível, somente para garantir a nossa sobrevivência e subsistência. O restante do tempo é para estudar. Ler toda a biblioteca. Se possível reler. Participar de todos os seminários, reuniões, conferências. Se possível só ficar escutando para assimilar mais. Negar falar de outro assunto senão o que envolve as coisas espirituais, principalmente se for algum assunto que tenha dúvidas. Neste caso só falta nos isolarmos numa caverna, tal como faz um ermitão (só não o fazemos, porque teríamos que cozinhar, lavar, limpar, enfim, gastar o tempo em coisas que não tem nada a haver com as espirituais, segundo sua percepção!). E mesmo assim não entendemos por que, neste caso, o nosso progresso espiritual não é visível para nós. Mais do que isso, parece que retrocedemos.
Por meio deste motivo, esquecemos de uma coisa importantíssima: o nosso progresso espiritual não depende, de modo algum, de nossos próprios esforços. Ao contrário, quanto menos planejamos estabelecer leis por nós mesmos e quanto mais nos submetemos à Lei Universal, tanto mais rápidos serão nossos progressos. Jamais podemos dirigir nossa vontade num sentido diferente da Vontade Universal de Deus. Se a nossa vontade não é idêntica a vontade divina, nos pervertemos com efeitos funestos. Somente quando a nossa vontade se harmonizar por completo e cooperar com a vontade de Deus, ela será poderosa e efetiva. E qual é essa Lei Universal, essa vontade divina para esse motivo, e que foi a causa do aparente fracasso? O serviço amoroso e desinteressado para com os outros, para os que estão ao nosso redor.
Esquecemos a exortação de Cristo: “que o maior de entre vós seja ao servo de todos”.
Esquecemos, então, de nos esforçarmos, diariamente por servir o nosso semelhante – o nosso irmão e a nossa irmã que estão ao nosso redor –, em qualquer oportunidade que nos apresente, sempre com amor, simplicidade e humildade.
Vamos a um segundo motivo:
2.Quanto mais nos voltamos para a vida espiritual parece que maior adversidade encontramos em nosso entorno, e, muitas vezes, desistimos, desanimados, justamente por isso.
Aqui é o caso de um carro que leva uma grande carga numa descida: pouco esforço é despendido. Mas quando esse mesmo carro leva essa grande carga na subida: despende muito esforço e o progresso não é tão rápido. A mesma coisa ocorre com cada um de nós.
Enquanto caminhamos a favor das circunstâncias externas, das ocasiões, dos problemas, da sociedade e seus compromissos e dos valores materiais, sendo conduzido ao sabor do vento, navegando a favor da corrente da vida, tudo parece fácil.
Mas no momento em que decidimos seguir o caminho espiritual, o caminho para a vida superior, entramos em atrito com as pessoas que insistem em seguir o caminho material, o caminho da busca pela felicidade terrena. Tudo ao nosso redor se rebela. É como se tudo ao nosso redor conspirasse contra nós. Os atritos maiores são com os que estão mais próximos de nós. Por quê? Porque eles foram exatamente aqueles que nós escolhemos para percebermos melhor nossos defeitos e nossas qualidades. E quando decidimos transmutar nossos defeitos em qualidades escolhendo o caminho da vida espiritual, são eles os primeiros a cobrar.
Além disso, cada pessoa que está ao nosso redor também nos escolheu para conviver nessa existência através da afinidade, da semelhança e do desejo de aprender lições conjuntas. A partir do momento que rompemos com a inércia de caminharmos em busca da felicidade material e nos dedicamos à vida espiritual provocamos uma alteração total nesse nosso mundo ao redor. Isso é refletido nas consciências dos que estão ao nosso redor e, como semelhante atrai semelhante, perturbamos as consciências deles e mesmo não havendo resposta imediata, cada vez que nos vêem, é lembrada a necessidade de mudar e de também escolher o caminho da vida espiritual. Portanto, nós incomodamos. Se partíssemos para um mosteiro, um retiro e lá dedicássemos a nossa vida espiritual talvez não houvesse esse problema e a lembrança não seria tão presente e persistente.
Mas como fazer isso, se o destino de cada Aspirante à Vida Superior, de cada Estudante Rosacruz, é se transformar num esteio do ambiente em que se encontra? Se o nosso nascimento no ambiente e com essas pessoas ao redor é justamente para servirmos com o que melhor precisamos, tanto para o nosso desenvolvimento como para o desenvolvimento de cada um do nosso círculo de relacionamento? E se o meio para nos aferirmos se estamos progredindo ou não é justamente a convivência com os que nos cercam? Então, se desistimos de seguir o caminho para a vida espiritual por causa disto, alegando que não gostamos de entrar em atrito com ninguém, que queremos ser bonzinhos com todos, que tudo está bom do que jeito que está, estamos se esquecendo de exemplificar o exercício de uma das maiores qualidades que cada um de nós possui: não viemos nessa existência para buscar a felicidade material, seja ela traduzida em harmonia ilusória numa família, segurança em ter respaldo financeiro dos pais ou tutores e comodidade de estar provido de todo conforto material, ou em qualquer outra coisa que nos sirva de desculpas para nos manter na inércia de viver a vida ao sabor do vento. Estamos esquecendo que as nossas condições atuais são o resultado das ações que praticamos no passado (em vidas passadas) e que podemos construir o nosso futuro destino melhorando-nos por meio de uma atuação reta no presente, dedicando as nossas aspirações a exercitar uma das maiores qualidades que cada um de nós temos e com quanto esforço a obtivemos que é o livre arbítrio, lançando, assim, desde já boas sementes para o amanhã.
Além disso, o caminho não poderia ser diferente, como lemos em Jó (7,1): “É um combate a vida do homem sobre a terra”.
Vamos a um terceiro motivo:
3.Parece que nos tornamos chatos, insociáveis e exigentes na nossa convivência
Conforme vamos progredindo no caminho da realização espiritual – por meio do Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz –, gradativamente cairá o véu da ilusão. Vamos tendo uma visão mais clara da realidade. Tudo continua relativo, mas aprendemos a discernir de modo imparcial. Isso nos trás uma segurança de realizarmos opções, muitas vezes, não entendidas por quem não está seguindo o mesmo Caminho. O fato de: não deixarmos nos envolver por conversas fiadas; de não fazer coro quando nos chamam para participar de algo destrutivo; de selecionarmos os assuntos que gostamos de falar; de levar uma vida mais comedida, cuidando com zelo dos nossos veículos e de utilizar o nosso tempo da maneira mais lógica que conhecemos e que nos faz, muitas vezes, ser vistos como: um pretensioso “santo” ou o “dono da verdade” ou um metido a besta ou uma pessoa “certinha” demais e isso incomoda muito!
Muitas pessoas chegam até a idolatrar a vida em ilusão. E isso não combina com alguém que sempre está cobrando um posicionamento mais real, mais lógico. Muitas pessoas adoram jogar conversa fora, adora gastar todo o tempo com coisas que não comprometem e que dá prazer, principalmente o de desejos, sentimentos e emoções inferiores. Ou, ainda, com coisas que só servem para acumular conhecimento intelectual – e nada ou muito pouco do devocional – e isso não combina com alguém que busca utilizar o tempo da maneira mais lógica que conhecemos. Isso não combina com alguém que já sabe que “intelectualidade nada tem a haver com espiritualidade” (se assim o fosse, Cristo nos mostraria nos Seus ensinamentos). Outras pessoas gostam de falar mal dos outros e isso lhe dá até prazer e isso não combina com alguém que quer ver o bem em tudo.
Afinal o Aspirante à Vida Superior é um eterno questionador, é um eterno investigador. Afiado que é no seu modo de passar tudo pelo crivo da lógica, é natural que sinta certo desconforto de participar de ambientes que nada há de construtivo.
Mas sabemos que “semelhante atrai semelhante” e quão agradável é perceber que pessoas semelhantes, que compartilham dos mesmos novos ideais, se aproximam e formam um belo círculo de convivência! No entanto, não imaginem que nós como Aspirantes a Vida Superior teremos uma vida cheia de admiradores, amigos, cativadores, que estarão sempre nos cortejando nos bajulando ou, até mesmo, ansiosos pela nossa presença. O companheiro mais comum do Aspirante à Vida Superior, do Estudante Rosacruz, é a solidão.
Afinal, a evolução é individual. Os momentos mais importantes da nossa existência são vivenciados na solidão. O Aspirante à Vida Superior busca a autossuficiência como uma virtude fundamental. A fórmula é a seguinte: sempre praticar, tanto através de nossos pensamentos, como de nossos atos, os ideais que buscamos compreender. Sabemos, também, que a nossa divindade interior é o único tribunal real da verdade. Devemos nos esforçar por estabelecer e submetendo todos os assuntos ao seu veredito final.
Muitos outros motivos poderiam ser discutidos aqui. Todos eles levam as desculpas de irmãos e de irmãs que abandonam o Caminho, porque realmente é difícil percorrê-lo. Há obstáculos a vencer e até o menor deles é sentido.
Mas lembremos dos talentos da Parábola que lemos em Mt 25,14-30. O que aconteceu com aquele que aceitou a missão e multiplicou os talentos? “Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, eu te confiarei muito, vem alegrar-te com teu senhor”.
E com aquele que não arregaçou as mangas, que preferiu a inércia e a comodidade? “Tirai-lhe o talento e dai ao que tem dez. Pois ao que tem muito, mais lhe será dado e ele terá em abundância. Mas ao que não tem, até mesmo o pouco lhe será tirado”.
Portanto, o Caminho do Aspirante à Vida Superior é um caminho onde parar, estacionar, ficar, esperar, não existe. Quanto mais ele progride mais talentos ele recebe, mas, também maior é sua responsabilidade.
Uma certeza que temos: jamais desistir diante das inúmeras dificuldades que seguramente temos e teremos. Deus nunca nos dará um fardo mais pesado do que aquele que somos capazes de carregar.
Além do que, sabendo que o fracasso reside apenas em deixar de tentar, como nos ensinou Max Heindel, ante qualquer obstáculo, procuremos, paciente e persistentemente atingir o alvo proposto, procurando realizar os elevados ideais ensinados por Cristo através da nossa vivência diária.
Pois, Cristo é o nosso ideal!
Que as rosas floresçam em vossa cruz
Livre arbítrio e determinismo: em quais proporções cada um destes elementos entra no destino do ser humano?
A definição mais simples é dada pelas Religiões que admitem que Deus criou uma alma virginal à cada nascimento; a partir do momento em que ela é criada, esta alma é livre para escolher entre o bem e o mau; essa escolha determina a vida da alma por toda a eternidade.
Aquele que raciocina constata, imediatamente, que os seres humanos não são iguais desde o nascimento; o meio onde a criança nasceu age profundamente sobre o destino dela. Como consequência, todas as crianças não partem do mesmo ponto; a fortuna dos pais, o ambiente no qual aquela criança cresceu, e outras considerações ainda fazem com que o meio tenha uma influência considerável; a luta pela vida não é a mesma para todos; alguns parecem favorecidos e outros parecem sacrificados.
Nós estimamos que haja uma causa para tal diferença, dado que a ciência materialista admite que isso esteja ligado à evolução da vida nas formas, que é um efeito biológico dado ao acaso.
O Princípio da Causa e Efeito indica que a sorte não é nada além de um nome dado à uma lei pouco conhecida.
A Lei de Causa e Efeito é absoluta; ela é aplicada em tudo. É necessário refletir frequentemente, meditá-la por bastante tempo e admiti-la completamente. Nada escapa a essa Lei. Aplicando o princípio de tal Lei, nós consideramos o nascimento como um Efeito; nós concluímos que deve haver uma Causa pré-existente e que o acaso – inexistente por si só – não pode ser levado em conta.
No entanto, a cadeia de causas e efeitos não é uma repetição monótona. Há sempre um influxo contínuo de causas novas e originais. Esta é a espinha dorsal da evolução – a única realidade que lhe dá sentido e a converte em algo mais que a simples expansão de qualidades latentes. Este importante fator é o único que pode explicar de modo satisfatório o sistema a que pertencemos.
Com a divina prerrogativa do livre-arbítrio, temos o poder da iniciativa, de forma que podemos adotar uma nova linha de conduta a qualquer momento que queiramos!
Lembremo-nos que por muito degradado que seja um ser humano, tem sempre o poder de semear o bem, mas deve esperar até que essa semente possa florescer num ambiente propício. Cada um de nós, ainda que sujeito aos dias passados, é livre no que diz respeito ao amanhã.
Há uma Parábola na Bíblia que nos auxilia a compreender e a aplicar melhor esse conceito:
“Pois será como um homem que, viajando para o estrangeiro, chamou os seus próprios servos e entregou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois, a outro um. A cada um de acordo com a sua capacidade. E partiu. Imediatamente, o que recebera cinco talentos saiu a trabalhar com eles e ganhou outros cinco. Da mesma maneira, o que recebera dois ganhou outros dois. Mas aquele que recebera um só o tomou e foi abrir uma cova no chão. E enterrou o dinheiro do seu senhor. Depois de muito tempo, o senhor daqueles servos voltou e pôs-se a ajustar contas com eles. Chegando aquele que recebera cinco talentos, entregou-lhe outros cinco, dizendo: ‘Senhor, tu me confiaste cinco talentos. Aqui estão outros cinco que ganhei’. Disse-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor!’ “Chegando também o dos dois talentos, disse: ‘Senhor, tu me confiaste dois talentos. Aqui estão outros dois talentos que ganhei’. Disse-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor!’ Por fim, chegando o que recebera um talento, disse: ‘Senhor, eu sabia que és um homem severo, que colhes onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste. Assim, amedrontado, fui enterrar o teu talento no chão. Aqui tens o que é teu’. A isso respondeu-lhe o senhor: ‘Servo mau e preguiçoso, sabias que eu colho onde não semeei e que ajunto onde não espalhei? Pois então devias ter depositado o meu dinheiro com os banqueiros e, ao voltar, eu receberia com juros o que é meu. Tirai-lhe o talento que tem e dai-o àquele que tem dez, porque a todo aquele que tem será dado e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem será tirado. Quanto ao servo inútil, lançai-o fora nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes!‘” (Mt 25:14-30).
Que as rosas floresçam em vossa cruz
Touro é essencialmente a Hierarquia do Destino Maduro. Nos últimos dias dessa Era, tanto os indivíduos como as nações estão limpando suas dívidas de Destino Maduro, precisamente sob esse Signo, assistido pelo seu oposto Escorpião, para a preparação do futuro Novo Dia. A guerra foi acertadamente descrita como uma operação da catarata espiritual. E, se bem que é um terrível flagelo, é também um meio de limpeza inexorável. Por isso nossos dias estão cheios de guerras e de rumores de guerra.
A Parábola dos Talentos é uma lição sobre o renascimento e sobre o Destino Maduro. Um grande nobre foi a uma país longínquo para reclamar o seu reino. Antes de partir chamou os seus dependentes e lhe confiou a cada um deles uma certa quantidade de talentos. Depois de uma longa ausência, ele voltou e os convocou para que eles pudessem lhe prestar contas. O primeiro devolveu os talentos, mas duplicados. “Bem-feito, bom e fiel servidor”, comentou o amo. O segundo apresentou seus talentos com um pequeno ganho, de modo que recebeu, também, a benção do amo. O terceiro servo, que havia recebido só um talento e o havia enterrado, lhe devolveu a seu chefe dizendo: “Tive medo e fui esconder meu talento na terra, assim que aqui tem o que é teu”. Ao que seu amo respondeu: “Tu, servo preguiçoso e malvado…ponham esse servo improdutivo para fora, nas trevas”. A isso seguiu a norma crítica do Mestre: “Porque ao que tem lhe será dado, mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado”.
Essa parábola se refere ao ciclo de vidas terrenas. O propósito de cada peregrinação consiste em que cada ser humano conquiste mais poder anímico, mais vida anímica e mais luz anímica.
Cada talento que o ser humano traz de suas encarnações anteriores há de ser incrementado, ou sua vida será estéril. O primeiro servo, a quem foi dado dez talentos, representa a alma velha que, através de muitas encarnações, conseguiu uma rica colheita de poderes anímicos. Em cada nova vida aprende novas lições, especialmente por meio da meditação, da contemplação e do trabalho, avançando, tanto nos planos internos como no externo. O segundo servo, que recebeu cinco talentos, representa uma alma mais jovem na escola evolutiva de Deus. Está aprendendo suas lições principalmente por meio das atividades nos planos físicos. Sua vida se centra, principalmente, nos cinco sentidos. Note-se que cinco é um número da atividade, enquanto dez é a união do “1” (masculino) com o “0” (feminino), trabalhando ambos harmonicamente. Esse segundo servo representa o estado evolutivo da grande massa da humanidade.
O terceiro servo, que por medo enterrou o único talento que recebeu, representa os que ainda não estão totalmente despertos espiritualmente e se encontram centrados somente nos interesses do “eu mortal”. O fato de ser jogado na obscuridade exterior não é uma maldição, mas o modo de trabalhar da lei divina, pois somente por meio do sofrimento e do trabalho o ser humano pode despertar a natureza superior. Afinal “Antes que os pés possam pousar ante a presença do Mestre, hão de ser lavados com o sangue do coração”.