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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Páscoa Interna diferente da Páscoa Externa

Aprendemos na Fraternidade Rosacruz que os graus Iniciáticos menores, quando alcançados por meio do Caminho Cristão Místico, não se realizam obrigatoriamente na ordem exposta pela Filosofia Rosacruz (que nos ensina como alcançar as Iniciações Menores pelo Caminho do Cristão Ocultista). Ao mesmo tempo, são experiências que devem ser vivenciadas em todos os graus, desde uma pessoa comum. De fato, o Batismo ou o despertar se efetiva grau a grau, em cada vislumbre, cada nova ideia, cada nova experiência, cada nova vivência emocional. É o nascer gradativo, que sucede ao morrer gradativo.

A Tentação se dá todos os dias. Oportunidades pequenas, mas, expressivas, de autossuperação. Verdadeiro herói não é o que realiza grandes façanhas, com desprezo à vida e temeridade. Não. Verdadeiro herói é o que vence, todos os dias, pequenas falhas, num ritmo seguro, constante, rumo à meta.

A Transfiguração, ou renovação do ser, é decorrente da transformação. A cada falha superada e nova virtude conquistada, ocorre, em grau infinitesimal, uma correspondente eterização dos Corpos Densos.

Assim também com os passos correspondentes à Última Ceia e Lavapés; ao Horto da Agonia; à Estigmata; à Crucifixão; à Ressurreição e Ascensão. A cada pequeno passo, distanciamo-nos do sentido humano e nos aproximamos do “Eu real”, para mais íntima comunhão com Ele. Com isso vamos experimentando a solidão do incompreendido; o sofrimento da Personalidade ao se desligar do sentido humano. É um “morrer todos os dias”, como disse S. Paulo, em graus correspondentes ao nosso nível de Consciência; uma lenta crucifixão, que nos permite ressurgir aos poucos, numa expansão gradual de Consciência. Espirais dentro de espirais, todos os graus Iniciáticos se realizam diariamente, nos mais variados níveis de evolução. Assim como nas matemáticas, o sentido de proporção, de quantidade, de unidade, se desenvolve desde as primeiras noções do curso fundamental na escola e se vai aprofundando gradativamente até o curso superior e além desse; assim, também com os diversos aspectos Iniciáticos: eles vão desabrochando incipientemente em graus pequeníssimos, que se ampliam na medida em que se processa a evolução, até assumirem a proporção de grandes espirais nos níveis Iniciáticos propriamente ditos.

Ora, também a escalada evolutiva, em níveis comuns, se divide em duas etapas, como nos graus das Iniciações Menores:

a) Levando-nos do estado humanamente mal ao humanamente bom;

b) e do humanamente bom à Iniciação.

A cena do calvário, vista na Memória da Natureza, apresenta muitos crucificados junto com Cristo-Jesus. Mas, a tradição Cristã representou-a, simbolicamente, com três cruzes: a de Cristo-Jesus (no meio), a do bom ladrão (à direita) e a do mau ladrão (à esquerda). Tendo em vista que a cruz representa as limitações, extraímos da cena do calvário um expressivo simbolismo: o mau ladrão representa o estado de consciência do humanamente mau, isto é, aquele que está preponderantemente sob a influência do seu “Eu inferior” e vive sob o aguilhão constante da Lei de Causa e Efeito. É uma cruz imposta, que ele carrega com revolta, porque desejaria agir impunemente, sem restrições nem dores, na satisfação de seus impulsos. Um ser nesse nível é ignorante das Leis de Deus e, por isso, peca menos – mas a Lei de Consequência tem de agir mais fortemente sobre ele, para acordá-lo pela dor e reconduzi-lo à justeza. É um pobre estado de ignorância em que o indivíduo não compreende nem aceita as circunstâncias, atribuindo todos os seus problemas aos outros. Revolta-se com os que têm mais e vivem felizes. Inveja-os. Acha que todos têm obrigação de ajudá-lo. Está sempre com a mão na posição errada, vergonhosamente estendida, a pedir, em vez de colocá-la acima do ombro, para segurar e carregar a cruz das limitações que ele mesmo formou com seus desvios às leis da natureza. Foi esse mau ladrão que xingou o Cristo, ironizando: “Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo e a nós” (Lc 23:39). Para um tal estado, a finalidade do espiritualismo é a de nos isentar das dores e nos cumular de conforto. Fora disso, que utilidade teria? Por isso, rouba-se a si mesmo a graça e prolonga o calvário.

O bom ladrão é o ser humanamente bom. Ou conhece as Leis de Deus e as segue como o “moço rico” da Parábola – ou tem consciência do justo. Assume a cruz de suas limitações espontaneamente, compreendendo que ele mesmo gera seu destino e, portanto, ele mesmo pode transformá-lo gradativamente para melhor. Conquistou, por mérito, uma boa Vida, desconforto e harmonia relativos e a conserva zelosamente como um fim. Aí é que ele se rouba também: as boas coisas não representam um fim, mas um meio. “A quem mais for dado, mais lhe é exigido”. Ele tem mais Consciência e responde mais severamente perante a Consciência por se deter numa “Boa Vida” como um fim, em vez de se empenhar mais, a serviço do “Eu superior” – já que tem mais para dar. Ele deve compreender: que “nada lhe pertence”, senão que é mero canal consciente do Cristo Interno, para verter os bens do espírito ao mundo, a fim de colher os frutos d’Alma, decorrentes do serviço prestado. Reserva para si o suficiente apenas e todo o mais põe nos “negócios do Senhor, para render”. Como na Parábola dos Talentos, ninguém tem o direito de tornar deste plano físico ao espiritual, sem levar um acréscimo de capacidades. Nós, Aspirantes à vida superior, somos um “bom ladrão”. Humanamente bons, mas ladrões ainda, porque estamos roubando ao nosso “Eu Superior” a oportunidade de uma evolução maior. Não estamos fazendo tudo o que podemos. Receosos de perder o relativo conforto e a harmonia conquistados, neles nos detemos como um fim. E isso se torna, para nós, uma gaiola de ouro, uma restrição. Seja de bambu, de arame ou de ouro, é sempre gaiola, é sempre uma prisão. Vivemos melhor, mas ainda limitados no humano. É preciso dar o segundo passo: de consagração a uma vida de serviço, amoroso e altruísta. Para esses, para nós enfim, é que o Cristo dirigiu seu apelo de discipulado:

  1. “Toma a tua cruz e me segue!”
  2. “Vai, vende tudo o que tens, dá aos pobres e depois volta a me seguir!”
  3. “Aquele que não deixar pai, mãe, irmãos, amigos…”

É a lição do despojamento da Personalidade; de transferência do humano ao Cristo Interno, sabendo que o “pão” só nos vem de cima, do céu do íntimo, do Divino em nós – e não dos recursos da Personalidade, de sua esperteza, de sua astúcia, de suas manobras.

É mister assumir nossas limitações e nos dispor, decidida e perseverantemente a um nível gradativamente mais alto de Consciência. Isso é tomar a cruz e se dispor à regeneração e à libertação, nas pegadas de Cristo – o “Eu Superior”. É mister renunciar ao sentido humano de posse, sabendo que tudo pertence ao Divino interno e deve ser posto a serviço da evolução e não para exaltar a Personalidade. Atribuir ao humano o que é do Divino interno é ateísmo. Se não esvaziamos a Personalidade e nem a colocamos em condições de receptividade, não podemos receber “o maná renovado” o “pão transubstancial de cada dia”, que nos impulsione à evolução. Tal um copo vazio, de boca para cima, assim devemos permanecer em relação ao Cristo Interno. Mas, para estar vazios, devemos renunciar ao velho ser, aos triunfos e fracassos de ontem, entregando diariamente ao nosso Melquisedeque os despojos de nosso diário lutar. Eis o sentido de ir vender tudo o que temos e dar aos pobres. Os pobres são nossos “Eu inferiores”, aquelas vivências a quem devemos levar o Evangelho e curar, numa regeneração constante. É mister, finalmente, transcender os laços de sangue, de família, de raça e outras limitações convencionais, para que se estabeleça a “Família Universal de Cristo”, o “único rebanho com um só Pastor”, que pressupõe uma ligação mais profunda, como ensina o Ritual do Serviço Devocional do Templo Rosacruz: “o reconhecimento da unidade fundamental de cada um de nós com todos, a Comunhão Espiritual, é a realização de Deus. Para alcançarmos essa realização, esforcemo-nos, diariamente, por esquecer os defeitos de nossos irmãos e procuremos servir à Divina Essência neles oculta, o que constitui a base da fraternidade”. Tal é o sentido de “deixar pai, mãe, irmãos…”, não como convite para negligenciarmos nossos deveres filiais e fraternos, senão como desafio para superar as conveniências, fanatismos e preferências da Personalidade.

A cruz do meio é a do Cristo – aquele nível em que trabalhamos para o levantamento da Humanidade; em que, voluntariamente ajudamos o Cristo a carregar sua pesada missão. Já não é o natural assumir de nosso destino, senão o desejo de fazer mais ainda. Para tais indivíduos, bem mais raros, há um preparo especial que lhes permita chegar e transpor os portais da Iniciação.

A Páscoa, em níveis comuns, começa no indivíduo humanamente bom.

Aprendemos, também na Fraternidade Rosacruz, que todo trabalho Iniciático começa no Corpo Vital, o veículo dos hábitos, formados pela repetição. Isso nos leva a uma meditação e oportuno esclarecimento: devemos trabalhar pelo Corpo Vital, cuja chave é a repetição, para formar hábitos. É claro, hábitos bons, como disse S. Paulo: “Examinai de tudo e escolhei o melhor”. “Tudo é lícito, mas nem tudo convém”.

O que é o melhor? O que mais nos convém? – Só o nível individual de evolução é quem pode determinar, se bem que haja determinadas coisas que são comprovadamente boas a todos, tais como os Exercícios Esotéricos Rosacruzes recomendados no livro “Conceito Rosacruz-do Cosmos”, a oficiação dos Rituais do Serviço Devocional e, principalmente, a prática de tudo que vai se aprendendo por meio do estudo constante dos Ensinamentos Rosacruzes (Filosofia, Bíblia e Astrologia).

Mas, referindo-nos especificamente às pequenas coisas da vida, o discernimento individual há que determinar o que melhor lhe convém e buscar alcançá-lo; Personalidade viciosa que procura justificar suas dificuldades, de atingir certas virtudes, dizendo: “estão acima de minhas forças… talvez mais tarde…”.

Se vencemos essas manhas, vamos aos novos e melhores hábitos e os realizamos. E depois? Ficamos neles? É o que estamos testemunhando: há muitos Estudantes Rosacruzes que se acomodaram na rotina e nela permanecem como se houvessem alcançado o “Ideal”. É como alguém que, detendo-se num degrau da escada, olha satisfeito para baixo, vê que subiu, regozija-se com sua “superioridade” e permanece ali…Não tira o pé do degrau para colocá-lo no de cima e, desse modo, jamais poderá atingir o topo.

É preciso olhar para cima e dispor-se à escalada gradativa e constante! Cada um de nós é como um parêntesis na eternidade: vencemos uma parte da jornada, estamos num determinado grau de consciência mui individual (por causa da Epigênese) e devemos saber que ainda falta muito para chegar. Se nos dispomos a continuar firmemente, nosso parêntesis se desloca, deixando anteriores estados e alcançando novos níveis. Isso acontece até mesmo na vida prática: o profissional que se acomoda e deixa de se aprimorar, de se atualizar com novos e melhores recursos, fica para trás e paga o seu desleixo. Afinal é uma verdade: “há homens ultrapassados, mas não ideias ultrapassadas”.

Há sempre algo mais a conquistar; um modo melhor de fazer as coisas. Tudo é suscetível de aprimoramento. Tudo! Mas, podemos nos acomodar e nos cristalizar, porque a Natureza não conhece paradas: ou avançamos e evoluímos, ou paramos e retrogradamos e nos cristalizamos.

A mensagem da Páscoa é esse constante morrer para o velho ser seguido de um constante nascer para a novidade de Espírito que nos acena alvissareira.

Se todo trabalho Iniciático começa pelo Corpo Vital – repitamos e adquiramos a disciplina dos Exercícios Esotéricos Rosacruzes e de uma vida mentalmente mais pura, emocionalmente mais nobre a amorosa, fisicamente mais saudável. Todavia, cuidado com a rotina! Estejamos vigilantes para que cada dia traga uma nova e melhor contribuição, pois os próprios exercícios são um desafio: eles vão desvelando maravilhas ao Estudante Rosacruz sincero que se empenha diariamente e se vão tornando cada vez mais novos e profundos, na medida da prática renovada em Epigênese.

Com essa advertência, deixemos de ser o Estudante Rosacruz de ontem e sejamos, hoje, algo melhor em tudo. Esse é o morrer gradativo e racional. Essa é a Páscoa – com seu convite de crucificar o que está ultrapassado (por mais que o apego nos dificulte e implore), ressuscitando para algo maior e ascendendo um pouco mais na evolução.

(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – abril/1976 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Os Nove Degraus na Iniciação Cristã Mística

Há nove degraus definidos na Iniciação Cristã Mística, começando com o Batismo, que é introdutório. A Anunciação e a Imaculada Concepção precedem como temas de curso por razões que serão dadas posteriormente.

Vamos considerar, resumidamente, cada estágio separadamente, nesse glorioso processo de desenvolvimento espiritual, afinal a vida de Cristo, como está delineada nos Evangelhos, corresponde ao padrão cósmico para todos os processos que abrangem a evolução espiritual.

O primeiro grau é o Batismo. Só que quando dizemos Batismo, necessariamente, não estamos nos referindo ao Batismo físico, onde o candidato é aspergido ou imerso e onde ele faz certas promessas àquele que o batiza. O Batismo Místico pode ocorrer tanto em um deserto quanto facilmente em uma ilha, porque é um processo espiritual com o objetivo de atingir um propósito espiritual. Pode ocorrer a qualquer hora da noite ou do dia, no verão ou no inverno; assim, ele ocorre no momento em que o candidato sente, com suficiente intensidade, um intenso desejo, quase uma ansiedade, de conhecer a causa da angústia profunda, tristeza ou do arrependimento alheio e aliviá-la. Então, o Espírito é conduzido sob as águas da Atlântida, onde vê a condição primordial do amor fraternal e da afeição; onde percebe Deus como o grande Pai de Seus filhos, que estão ali envolvidos por Seu maravilhoso amor. E, pelo retorno consciente a esse Oceano de Amor, o candidato se torna tão completamente imbuído com o sentimento de natureza ou caráter semelhante, que o espírito de egoísmo é banido dele para sempre. É por causa dessa saturação com o Espírito Universal que ele, mais tarde, é capaz de dizer: “àquele que quer pleitear contigo, para tomar-te a túnica, deixa-lhe também a veste; e se alguém te obriga a andar uma milha, caminha com ele duas.” (Mt 5:40-41). Sentindo-se um com todos, o candidato nem mesmo considera o seu assassinato como maus-tratos, mas pode dizer: “Pai, perdoai-os[1]. Eles são idênticos a si mesmo, que sofrem com sua ação; ele é tanto o agressor quanto a vítima. Esse é o verdadeiro Batismo Espiritual do Cristão Místico, e qualquer outro batismo que não produza esse sentimento fraterno universal não é digno de ter esse nome.

Ainda estamos na Era do Arco-Íris, sujeitos à sua lei, então podemos perceber que como o “Batismo” do Cristão Místico ocorre num momento de exaltação espiritual, esse deve ser necessariamente seguido por uma reação. A enorme magnitude da revelação o sobrepõe, e ele não pode percebê-la ou contê-la em seu veículo carnal, então, ele foge frequentemente de lugares onde há pessoas e se refugia na solidão, alegoricamente representada como um deserto. Ele fica tão arrebatado em sua sublime descoberta que, durante o tempo em que está em seu êxtase, ele vê o Tear da Vida, em que são construídos todos os corpos de todos os que vivem, do menor ao maior, do rato e do ser humano, do caçador e de sua presa, do guerreiro e de sua vítima. Mas, para ele, eles não estão separados e à parte, pois, também contempla o único divino halo dourado da luz da vida “que atravessa tudo e que a todos une.” (Lc 23:34). Mais ainda, ele ouve em cada um a nota-chave flamejante soando suas aspirações e expressando suas esperanças e seus temores, e ele percebe esse som composto de cores cromáticas como uma canção ou hino de louvor ou alegria mundial de Deus que se fez carne. A princípio, tudo isso está além de sua compreensão, a enorme magnitude da descoberta esconde isso dele, e não pode conceber o que vê e o que sente, pois não há palavras para descrevê-lo e nenhum conceito pode explicá-lo. Mas, aos poucos, se dá conta que está na própria Fonte da Vida, não mais contemplando-a, mas com o SENTIMENTO de cada pulsação dela, e com essa compreensão atinge o clímax de seu êxtase.

Pelos processos místicos do verdadeiro Batismo Espiritual, o Aspirante se torna tão completamente saturado com o Espírito Universal que, de fato, pelo sentimento e pela experiência, ele se torna um com tudo o que vive, o que se move e tem o seu ser, um com a pulsante Vida divina que surge em uma cadência rítmica, através do menor e do maior; e tendo captado a nota-chave da canção celestial, ele então é dotado de um poder de tremenda magnitude, que poderá ser usado para o bem ou para o mal. Devemos compreender e recordar que, embora a pólvora e a dinamite possam ser utilizada para fazer o bem na agricultura, quando usadas para explodir tocos de árvores que, de outra forma, exigiriam grande trabalho manual para serem extraídos, também podem ser usadas para fazer o mal, como na Primeira Guerra Mundial. Os poderes espirituais também podem ser usados ​​para o bem ou para o mal, dependendo do motivo e do caráter de quem os exerce. Entretanto, aquele que passou com êxito pelo ritual do Batismo e, assim, adquiriu o poder espiritual é imediatamente tentado para que possa decidir definitivamente se ele ficará do lado do bem ou do mal. Nesse ponto, ele se tornará um futuro “Parsifal”, um “Cristo”, um “Herodes” ou um “Klingsor”, que combateu os Cavaleiros do Santo Graal com todos os poderes e recursos da Fraternidade das Trevas.

O segundo grau é a Tentação. Tão arrebatado fica o Cristão Místico em sua belíssima aventura, que as necessidades físicas são completamente esquecidas, enquanto durar o êxtase e, portanto, é natural que a sensação de fome seja sua primeira necessidade consciente ao retornar ao estado normal de consciência de vigília e, naturalmente, também chega a voz da tentação: “manda que estas pedras se transformem em pães.” (Mt 4:3).

Poucas passagens das Sagradas Escrituras são mais sombrias do que os versículos iniciais do Evangelho Segundo São João: “No princípio era o Verbo. . .  e nada do que foi feito, foi feito sem Ele”. Um pequeno estudo da ciência do som nos familiariza com o fato de que som é vibração e que os diferentes sons moldarão a areia ou outros materiais leves em figuras de variadas formas. O Cristão Místico pode ignorar completamente esse fato, do ponto de vista científico, mas ele aprendeu na Fonte da Vida a cantar a Canção do Ser, que impulsiona de modo protetor e intimamente para uma criação tudo o que um mestre na arte musical deseja. Há uma nota-chave para a pedra mineral indigesta, porém, uma modificação irá transformá-la em ouro, com o que irá adquirir os meios de subsistência, e outra nota-chave peculiar ao reino vegetal a transformará em alimento, um fato conhecido por todos os ocultistas avançados que praticam legitimamente encantamentos para propósitos espirituais, porém, nunca por ganho material.

Mas o Cristão Místico, que acabou de emergir de seu Batismo na Fonte da Vida, imediatamente se contorce horrorizado com a sugestão de usar seu poder recém-descoberto para um propósito egoísta. Foi a própria qualidade altruística da alma que o conduziu às águas da consagração na Fonte da Vida, e ele preferiria sacrificar tudo, até a própria Vida, do que usar esse poder recém-descoberto para se poupar de um sofrimento doloroso. Ele não viu também a condição de profundo sofrimento por infortúnios, aflições e tristezas do mundo? E não sente isso em seu Grandioso Coração, com tal intensidade que a fome imediatamente desaparece e é esquecida? Ele pode, deseja e usa livremente esse maravilhoso poder para saciar os milhares que se reúnem para ouvi-lo, contudo, nunca para propósitos egoístas, pois, se assim o fizer, ele perturbaria o equilíbrio do mundo.

Entretanto, o Cristão Místico não raciocina assim. Conforme escrito acima, ele não tem nenhuma razão, pois, existe uma orientação muito mais segura, uma voz interior que sempre lhe fala, nos momentos em que se deve tomar uma decisão. “…Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus.” (Mt 4:4) – outro mistério. Não há nenhuma necessidade de partilhar o Pão terreno, quando se tem acesso à Fonte da Vida. Quanto mais nossos pensamentos estiverem centrados em Deus, menos procuraremos os chamados “prazeres da mesa”, e alimentando o nosso Corpo Denso com moderação e alimentos simples e selecionados, adquiriremos uma iluminação espiritual impossível àqueles que se deleitem a uma dieta excessiva de alimentos grosseiros que nutrem a natureza inferior. Alguns santos usaram o jejum e a flagelação como meio de crescimento da alma, mas esse é um método incorreto por razões explicadas em um artigo sobre “Jejum como um fator no crescimento anímico” publicado na Revista “Rays from the Rose Cross de dezembro de 1915”. Os Irmãos Maiores da humanidade, que compreendem a Lei e vivem de acordo com ela, utilizam os alimentos apenas em intervalos calculados durante o ano. A palavra de Deus é para eles um “pão vivo”. A mesma coisa é válida para o Cristão Místico e a tentação, ao invés de trabalhar para sua queda, o leva a alturas cada vez mais elevadas.

É uma força maravilhosa que está centrada no Cristão Místico no momento do seu Batismo, devido ao processo descendente e de concentração em si mesmo do Espírito Universal, e quando ele recusa durante o período de tentação, a profaná-lo em proveito próprio ou poder para si mesmo, ele tem que, necessariamente aspirar por outra direção, pois está impelido por um estímulo interior irresistível que não permitirá que ele se acomode numa vida sem a disposição para até se mover e inativa de oração e meditação. O poder de Deus está sobre ele para que pregue as boas novas à humanidade para ajudar e curar. Sabemos que uma lareira que está cheia, queimando lenha, não pode deixar de aquecer o ambiente ao redor; do mesmo modo o Cristão Místico não pode deixar de ajudar a irradiar a compaixão divina que transborda de seu Coração, não tendo dúvidas sobre a quem amar, a quem servir ou onde buscar a oportunidade para tal. Assim como o fogão cheio aceso irradia calor para todos os que estão dentro de sua esfera de radiação, da mesma forma o Cristão Místico sente o amor de Deus queimando em seu Coração e o irradia continuamente para todos com quem se põe em contato. Assim como a fogão aquecido atrai para si com seu calor aconchegante aqueles que sofrem com o frio físico, também os raios calorosos do amor do Cristão Místico são um ímã para todos aqueles corações que estejam gelados pela crueldade do mundo, ou seja, pela desumanidade do ser humano para com o ser humano.

Se o fogão estivesse vazio, mas dotado da faculdade da fala, poderia pregar para sempre o evangelho caloroso àqueles que se sentem fisicamente frios, mas, mesmo a melhor oratória jamais satisfaria seu público. Quando se está cheio de conteúdo e irradiando calor, o sermão se torna desnecessário. Todos se aproximarão e ficarão satisfeitos. Da mesma forma, um sermão sobre fraternidade feito por alguém que não tenha se banhado na “Fonte da Vida” parecerá sem valor real, sem substância e insincero. O verdadeiro Místico não precisa pregar. Cada ato seu, mesmo com sua presença silenciosa, é mais poderoso do que todos os mais profundos discursos elaborados por doutores em filosofia.

O terceiro grau é a Transfiguração. O verdadeiro Cristão Místico é facilmente distinguido. Ele jamais ocupa os seis dias da semana para se preparar para uma grande alocução para emocionar seus ouvintes no domingo, mas gasta, igualmente, todos os dias num humilde esforço de cumprir a vontade do Mestre, independentemente dos aplausos externos. Assim, inconscientemente, ele trabalha sempre em direção ao grande clímax que, na história dos mais nobres de todos os que percorreram esse caminho, é conhecido como “Transfiguração”.

A Transfiguração é um processo alquímico pelo qual o Corpo Denso, formado pela química dos processos fisiológicos, se converte na pedra viva, tal como é mencionado na Bíblia. Os alquimistas medievais, que buscavam a Pedra Filosofal, não estavam preocupados na transmutação de tais impurezas em ouro significativo, mas visavam o objetivo maior conforme narramos acima.

A umidade concentrada nas nuvens cai na terra em forma de chuva, quando suficientemente condensada e é novamente evaporada pelo calor do Sol em novas nuvens. Essa é a fórmula cósmica original.

O espírito também se condensa em matéria e se torna mineral, mas, embora seja cristalizado numa forma tão dura quanto a pedra, a vida ainda permanece, e pela alquimia da natureza, trabalhando por meio de outra corrente de vida, os constituintes minerais densos do solo são transmutados numa estrutura mais flexível no vegetal, que serve como alimento ao animal e ao ser humano. Essas substâncias se tornam corpos sencientes pela alquimia da assimilação. Quando notamos as mudanças na estrutura do corpo humano, evidenciadas pela comparação dos sãs (ou bushmen são membros de várias etnias de caçadores-coletores da África Austral, cujos territórios abrangem Botsuana, Namíbia, Angola, Zâmbia, Zimbábue e África do Sul), chineses, indianos, latinos, celtas e anglo-saxões, evidentemente está claro que o Corpo Denso do ser humano está, atualmente, passando por um processo de refinamento com a erradicação das substâncias mais rudimentares e grosseiras. Com o tempo, pela evolução, esse processo de espiritualização tornará nosso corpo radiante e transparente pela Luz que brilhará internamente, radiante como o rosto de Moisés, como o corpo de Buda e o de Cristo na Transfiguração. Presentemente, a luz do Espírito interno residente está efetivamente obscurecida por nosso Corpo Denso, mas podemos ter esperanças advindas da ciência da química. Não há nada na terra tão raro e precioso quanto o elemento químico rádio, o extrato luminoso do denso mineral negro chamado pechblenda; e nada há mais precioso e tão raro como o extrato do corpo humano, o Cristo radiante. Presentemente, estamos trabalhando para desenvolver o Cristo interno, mas quando o Cristo dentro de nós estiver plenamente desenvolvido, Ele brilhará através do corpo transparente como a Luz do Mundo.

É um fato anatômico, comumente conhecido, que a medula espinhal está dividida em três seções, através das quais os nervos motor, sensorial e simpático são controlados. Astrologicamente, são regidos por Marte, Mercúrio e a Lua, respectivamente, que são Hierarquias divinas que desempenham papel importante na evolução humana através dos sistemas nervosos citados. Entre os antigos alquimistas, esses eram designados pelos três elementos alquímicos: sal, enxofre e mercúrio. Entre eles, e acima deles, está colocado o Fogo Espiritual espinhal de Netuno. Ele ascende na coluna serpentina através da medula espinhal até os ventrículos do cérebro. Na grande maioria da humanidade, o Fogo Espiritual ainda é extremamente fraco. Porém, quando ocorre um despertar espiritual em alguém é como uma conversão genuína, ou melhor ainda, pelo Batismo do Cristão Místico, como uma queda constante e  intensa do Espírito vindo dos céus, que é um fato real, intensifica o Fogo Espiritual espinhal numa extensão quase inacreditável e, imediatamente, inicia um processo de regeneração, em que as substâncias grosseiras do Tríplice Corpo do ser humano são gradualmente eliminadas, tornando os veículos mais permeáveis ​​e prontamente adaptáveis aos impulsos espirituais. Quanto mais desenvolvido o processo, mais eficientes eles se tornam na “vinha do Mestre”.

O despertar espiritual que inicia esse processo de regeneração no Cristão Místico, que se purifica pela oração e pelo serviço, evidentemente, chega também para aqueles que buscam Deus por meio do conhecimento e do serviço, mas atua de forma diferente, o que é observado pelo investigador espiritual. No Cristão Místico, o Fogo Espiritual espinhal regenerador está concentrado, principalmente, no segmento lunar da medula espinhal, que governa os nervos simpáticos sob a regência de Jeová. Portanto, seu crescimento espiritual é alcançado pela fé, tão simples, infantil e inquestionável como nos dias da primitiva Atlântida, quando os seres humanos ainda não tinham Mentes. Assim, ele atrai a grande Luz da Deidade branca refletida por meio de Jeová, o Espírito Santo, e adquire toda a sabedoria do mundo, sem necessidade de trabalhar por ela intelectualmente. Isso, gradualmente, transmuta seu corpo na branca Pedra Filosofal, a Alma Diamante.

Por outro lado, aqueles cujas Mentes são fortes e insistentes em saber a razão do porquê de cada sentença e dogma, o Fogo Espinhal da regeneração atuará sobre os segmentos do vermelho Marte e do incolor Mercúrio, buscando infundir o desejo com a razão para purificar a antiga paixão primordial, para que se torne casta como a rosa e, assim, transmuta o corpo na Alma Rubi, a vermelha Pedra Filosofal, provada pelo Fogo, purificada, uma individualidade criativa em desenvolvimento.

Todos os que estão buscando o Caminho, seja pelo caminho do ocultista ou pelo do misticismo, estão tecendo o “Dourado Manto Nupcial” por esse trabalho por dentro e por fora. Em alguns, o ouro é extremamente pálido e em outros é profundamente vermelho. Mas, finalmente, quando o processo da Transfiguração tiver sido concluído, ou melhor, quando estiver próximo a isso, os extremos se fundirão e os corpos transfigurados terão uma cor equilibrada, pois o ocultista deve aprender a lição com profunda devoção, e o Cristão Místico deve aprender como adquirir conhecimento por seus próprios esforços, sem a necessidade de recorrer à fonte universal de toda a sabedoria.

Essa perspectiva nos fornece uma visão mais profunda da Transfiguração relatada nos Evangelhos. Devemos nos lembrar claramente que os veículos de Jesus foram transfigurados, temporariamente, pelo residente Espírito de Cristo. Mas, mesmo considerando a enorme potencialidade do Espírito de Cristo em efetuar a Transfiguração, é evidente que Jesus devia ser de um sublime caráter, sem igual. A Transfiguração como é vista na Memória da Natureza revela o Seu corpo com uma brancura deslumbrante, assim evidenciando a sua comunhão com o Pai, o Espírito Universal. Há uma grande diversidade em como tais resultados atualmente são alcançados, porém, no reino de Cristo, essas diferenças desaparecerão gradualmente, e uma cor uniforme, indicando tanto o conhecimento como a devoção, será alcançada por todos. Essa cor corresponderá à cor rosa, vista pelos ocultistas como o Sol Espiritual, o veículo do Pai. Quando isso for alcançado, a Transfiguração da humanidade estará completa. Então, seremos um com nosso Pai, e Seu reino terá chegado.

O quarto grau é a Última Ceia e o Lavapés.  Lemos nos Evangelhos, que relatam a história da Iniciação Cristã Mística, como na noite quando Cristo compartilhou da experiência na Última Ceia com Seus Discípulos, foi mostrando que seu ministério estava terminando naquele momento, e como Ele se levantou da mesa, se cingiu com uma toalha e, em seguida, despejou água numa bacia e começou a lavar os pés de Seus Discípulos, um ato do mais humilde serviço, mas, motivado por uma importante consideração oculta.

Quando ascendemos na escala da evolução, comparativamente, poucos percebem que fazemos isso pisando, ferindo e até destruindo os corpos de nossos irmãos e imãs mais fracos, consciente ou inconscientemente, esmagando-os e usando-os como degraus para atingir nossos próprios objetivos. Essa afirmação é válida para todos os Reinos da natureza. Quando uma onda de vida é conduzida ao nadir da involução e encrustada na forma mineral, é imediatamente aproveitada por outra onda de vida ligeiramente superior, que recebe o desintegrante cristal mineral, adequando-o a seus próprios objetivos como cristaloide e assimila-o como parte de uma forma vegetal. Se não houvesse minerais desintegrados que pudessem ser aproveitados e transformados, a vida vegetal não seria possível. Da mesma maneira, as formas dos vegetais são absorvidas por várias classes de animais, quando são devoradas e trituradas até virar uma pasta e servidas de nutrição para esse reino superior. Se não houvesse plantas, os animais não existiriam e o mesmo princípio é válido na evolução espiritual, pois se não houvesse aspirantes no degrau mais baixo da escada do conhecimento em busca de instrução, não haveria necessidade de um professor. Todavia, existe uma diferença importantíssima. O professor cresce ao doar aos seus alunos e servindo-os. Ascende, dos ombros deles, um degrau mais alto na escada do conhecimento. Ele ascende elevando os demais, no entanto, tem uma dívida de gratidão para com eles, que é simbolicamente reconhecida e extinta com o Lavapés – um ato de serviço humilde com aqueles que o serviram.

Quando percebemos que a natureza, que é a expressão de Deus, está continuamente se esforçando ao máximo para criar e produzir, também devemos compreender que quem mate alguma coisa, mesmo que seja tão pequena e aparentemente insignificante, está frustrando e se opondo ao propósito de Deus. Isso se aplica particularmente ao Aspirante à vida superior e, para tanto, o Cristo exortou os Seus Discípulos a “serem prudentes como as serpentes, mas sem malícia como as pombas.” (Mt 10:16). Porém, não importa o quão sério e intenso é o nosso desejo de seguir o preceito de não ferir, não machucar ou não destruir, as nossas tendências e necessidades relacionadas com a constituição dos nossos Corpos e veículos nos obrigam a matar em determinados momentos de nossas vidas, e não são somente nos grandes feitos que, constantemente, cometemos assassinatos. Era comparativamente fácil para a alma que busca o desenvolvimento espiritual, simbolizada por Parsifal, quebrar o arco com o qual ele havia atirado uma flecha no cisne dos cavaleiros do Graal, quando lhe explicaram do erro que ele havia cometido. A partir daquele momento, Parsifal estava comprometido com uma vida sem ferir, machucar ou destruir, no que diz respeito aos grandes feitos. Todos os Aspirantes sinceros concordam piamente com ele nesse quesito, uma vez que tenham compreendido quão subversiva é, para o crescimento da alma, essa prática de compartilhar alimentos que requerem a morte de um animal.

Contudo, mesmo a pessoa mais nobre e gentil entre a humanidade está, em cada respiração, envenenando aqueles ao seu redor e, que por sua vez, está sendo envenenada por eles, uma vez que todos exalam o dióxido de carbono e, por isso, somos uma ameaça uns aos outros. Não se trata de uma ideia improvável, porém, é um perigo real que se tornará muito mais manifesto no decorrer do tempo, quando a humanidade se tornar mais sensível.

O mesmo princípio é demonstrado no antigo Templo de Mistérios Atlante, o Tabernáculo no Deserto, onde encontramos um odor nauseante e uma fumaça sufocante subindo do Altar dos Sacrifícios, onde os corpos carregados de veneno das vítimas involuntariamente sacrificadas para pagar os pecados foram consumidos, e onde a luz brilhava fracamente através da fumaça envolvente. Isso nós podemos contrastar com a luz clara e brilhante emanada do Candelabro de Sete Braços, alimentado com o puro azeite extraído a partir da planta casta e onde o incenso, simbolizado pelo serviço voluntário de sacerdotes devotados, elevava-se ao céu como um suave aroma. Como já dito em outras ocasiões, isso era agradável à Divindade, enquanto o sangue das vítimas relutantes, os bovinos e os caprinos, eram uma fonte de dor e pesar para Deus, que se deleita mais com o sacrifício da oração, que auxilia o devoto e a ninguém prejudica.

Tem sido explicitamente declarado sobre o fato de alguns dos santos exalarem um suave odor e, como muitas vezes tivemos a oportunidade de dizer, essa não é uma mera história fantasiosa – é um fato oculto. A grande maioria da humanidade inala, durante toda a vida aqui, o oxigênio vitalizante contido na atmosfera circundante. A cada expiração exalamos uma carga de dióxido de carbono que é um veneno mortal e que, certamente e com o tempo, contaminaria todo o ar, se a planta pura e casta não inalasse esse veneno, usando parte dele para construir corpos que, algumas vezes, permanecem por séculos ou até milênios, como exemplificado nas sequoias da Califórnia, devolvendo-nos o restante em forma do oxigênio puro que necessitamos para a nossa vida aqui. Esses corpos carboníferos das plantas, por processos contínuos da natureza, se tornaram mineralizados no passado e se transformaram nas pedras, ao invés de se desintegrarem. Hoje nós os encontramos como carvão, a Pedra Filosofal perecível elaborada por meios naturais no laboratório da natureza. Mas, a Pedra Filosofal também pode ser construída artificialmente pelo ser humano a partir do seu próprio corpo. Isso deve ser compreendido definitivamente: a Pedra Filosofal não é elaborada num laboratório químico externo, mas que o próprio corpo é o laboratório do Espírito, que contém todos os elementos necessários para produzir esse Elixir da Vida, e que a Pedra Filosofal não está fora do corpo, mas ele é o próprio alquimista que se torna a Pedra Filosofal. O sal, o enxofre e o mercúrio, emblematicamente contidos nos três segmentos da coluna espinhal e que controlam os nervos simpático, motor e sensorial são acionados pelo Fogo Espiritual Netuniano espinhal, e constituem os elementos essenciais no processo alquímico.

Não há necessidade alguma de argumentos para demostrar que a indulgência com a sensualidade, a brutalidade e a bestialidade tornam o corpo não refinado em gostos, maneiras e linguagem. Por outro lado, a devoção à Deidade, uma atitude constante de prece, um sentimento de amor e compaixão por tudo que vive e se move, pensamentos de amor enviados a todos os seres e aqueles, inevitavelmente, recebidos em troca, invariavelmente todos têm o efeito de purificar e espiritualizar a nossa natureza. Referimo-nos a uma pessoa desse tipo como respirando ou irradiando amor, uma expressão que descreve muito mais próximo o fato do que a maioria das pessoas imaginam, pois, é uma questão real de se observar que a quantidade de veneno contida na respiração de um indivíduo está na proporção exata do mal existente na sua natureza, na sua vida interior e nos pensamentos que emite. A ioga hindu consiste em uma prática de encerrar o candidato a um certo grau de Iniciação em uma caverna que tem o tamanho não muito maior do que o corpo dele. Lá deverá viver por várias semanas respirando, repetidamente, o mesmo ar para demonstrar na prática que ele cessou de exalar o mortífero dióxido de carbono e que, assim, está começando a construir seu corpo. Então, esse não é um corpo da mesma natureza da planta, embora seja puro e casto, mas é um corpo celestial, como aquele de que São Paulo se refere na Segunda Epístola aos Coríntios, capítulo 5, um corpo que se torna imortal como um diamante ou uma pedra de rubi. Não é duro e inflexível como o mineral; é um diamante macio (ou rubi) e por cada ato executado na natureza, o Cristão Místico está construindo esse corpo, embora provavelmente ele esteja inconsciente disso por um longo tempo. Quando ele atinge esse grau de Santidade, não é necessário para ele executar o ritual do Lavapés, como o é para o aluno que ainda não construiu tal corpo e que o auxilia a se elevar, porém, terá sempre o sentimento de gratidão, simbolizado por aquele ato, para com aqueles a quem teve o privilégio de atrair para si como Discípulos e a quem pode dar o pão vivo que nutre até à imortalidade.

Os Estudantes perceberão que isso é parte do processo que culmina na Transfiguração, mas também devem perceber que na Iniciação Cristã Mística não há graus fixados e definidos. O candidato vê o Cristo como o autor e finalizador da sua fé, procurando imitá-Lo e seguir os Seus passos em todos os momentos de sua existência. Assim, os vários estágios que estamos considerando são alcançados por processos de crescimento da alma que, simultaneamente, o levam a aspectos mais elevados de todas essas etapas que agora estamos analisando. A esse respeito, a Iniciação Cristã Mística difere radicalmente dos processos em voga dos Rosacruzes, em que a compreensão por parte do candidato do que está para acontecer é considerada indispensável. Mas chega o momento em que o Cristão Místico precisa percorrer o caminho que tem pela frente, e é isso que constitui o Getsemani.

O quinto grau é o Getsemani. Na narrativa do Evangelho sobre o Getsemani (Mc 14:26-38) temos uma das mais tristes e difíceis experiências do Cristão Místico, delineada de forma espiritual. Durante toda a sua experiência anterior, ele vagueou cegamente, isto é, cego para o fato de que ele está no caminho, que se consistentemente seguido, o conduzirá a um objetivo definido, embora também se sinta intensamente prevenido ao menor suspiro de cada alma sofredora. Ele concentrou todos os seus esforços em aliviar a dor física, moral ou mental de cada alma sofredora. Ele serviu a cada alma sofredora com toda a sua capacidade e ensinou a cada uma o evangelho do amor: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Lc 1:27)”; e ele foi sempre um exemplo vivo para todos por meio da sua prática. Por isso, atraiu para si um pequeno grupo de amigos, aos quais amou com a mais terna afeição. A eles também ensinou e serviu sem restrições, até mesmo no lava-pés. Entretanto, durante esse período de serviço, ele ficou tão exaurido com as aflições e tristezas profundas do mundo, que ele de fato se tornou um Homem das Aflições e Tristezas Profundas e familiarizado tanto com a aflição, mais do que qualquer outra pessoa.

Essa é uma experiência muito definida do Cristão Místico, e é o fator mais importante para intensificar o seu progresso espiritual. Enquanto nos sentirmos entediados quando as pessoas que vêm até nós e nos contam seus problemas, enquanto fugirmos delas e procurarmos escapar de ouvir suas histórias de tristezas, arrependimentos e angústias, estaremos bem longe do Caminho. Mesmo quando as ouvimos e nos disciplinamos para não demonstrar que estamos entediados, mesmo quando verbalizamos algumas poucas palavras simpáticas que chegam ao ouvido do sofredor, nada ganharemos em crescimento espiritual. É absolutamente essencial para o Cristão Místico que se torne tão sintonizado com os sofrimentos, as aflições e as tristezas do mundo, que sinta cada ataque agudo de dor ou ansiedade extrema como se fosse o seu próprio e o guarde dentro do seu Coração.

O Cristão Místico deve beber abundantemente do cálice da angústia e da tristeza profundas, ele deve bebê-lo até a última gota, de modo que pela dor cumulativa que ameaça explodir seu Coração, ele possa se derramar sem reservas e sem restrições para curar e auxiliar o mundo. Então Getsemani, o Horto da Aflição, se torna um lugar familiar para ele, regado com as lágrimas nascidas das angústias, das tristezas e dos sofrimentos da humanidade.

Porém, durante todos os seus anos de autossacrifício, aquele pequeno grupo de amigos tinha sido seu consolo. Ele já havia aprendido a renunciar aos laços de sangue. “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? Aqueles que fazem a vontade de meu Pai.” (Mt 12:48-50). Embora nenhum verdadeiro Cristão negligencie suas obrigações sociais ou negue o amor a seus familiares, os laços espirituais são, entretanto, os mais fortes, e por meio deles vem a coroa das aflições e, através da deserção de seus amigos espirituais ele aprende a beber até a última gota do cálice das angústias e das tristezas profundas. Ele não os culpa pela deserção deles, mas desculpa-os com as palavras: “O Espírito realmente está pronto, mas a carne é fraca.” (Mt 26:41) pois sabe, por experiência própria, como isso é verdade. Mas ele descobre que na suprema angústia e tristeza profundas eles não podem confortá-lo e, portanto, se volta para a única fonte de conforto, o Pai Celestial. Ele chegou ao ponto em que a resistência humana parece ter atingido o seu limite e ora para ser poupado de uma provação maior, porém, com uma confiança cega no Pai, ele se curva à Sua vontade, oferecendo-se inteiramente, sem reservas.

Esse é o momento da realização. Tendo bebido completamente do cálice da angústia e da tristeza profundas até a última gota e sendo abandonado por todos, ele experimenta o temporário temor terrível de estar absolutamente só, sendo essa uma das piores experiências, senão a mais terrível, que pode ocorrer na vida de um ser humano. O mundo todo parece envolvido em trevas. Ele sabe que, apesar de todo o bem que fez ou tentou fazer, os poderes das trevas estão tentando dizimá-lo. Ele sabe que a turba, que alguns dias antes o havia acenado com “Hosana”, amanhã estará pronta para gritar “Crucifica-o! Crucifica-o!”. Seus familiares e, agora, seus poucos amigos desapareceram e, também, estavam prontos a negá-lo.

Entretanto, quando nos encontramos no pináculo da aflição, é que estamos mais próximos do trono da graça. A agonia, a aflição, a tristeza profunda e o sofrimento acolhidos no peito do Cristão Místico são mais valiosos e preciosos do que todo o dinheiro do mundo, pois quando ele perde toda a companhia humana e se entrega sem reservas ao Pai, uma transmutação ocorrerá: a aflição se transforma em compaixão, o único poder no mundo capaz de fortalecer o ser humano que está prestes a subir até o Gólgota e dar sua vida pela humanidade, não como um sacrifício mortal, mas como um sacrifício vivente, elevando-se na medida em que eleva os outros.

O sexto grau é o Estigmata ou os Estigmas. Pela união da Mente e do Coração, o Cristão Místico está pronto para a próxima etapa, que envolve o desenvolvimento dos estigmas, uma preparação necessária para a morte e ressurreição místicas. A narrativa do Evangelho relata a história dos estigmas nas seguintes palavras, desenrolando-se a cena de abertura no Horto do Getsemani, que podemos encontrar nos Evangelhos.

Temos aqui o relato de como os estigmas ou as punções foram produzidas no Herói dos Evangelhos, embora as suas localizações não estejam descritas corretamente, e o processo é representado em uma forma narrativa, diferindo amplamente da maneira como essas coisas realmente acontecem. Mas, nós estamos diante de um dos Mistérios que devem permanecer selados para o profano, embora os fatos místicos subsequentes sejam tão claros como o é a luz do dia para aqueles que os conhecem. O corpo físico não é de forma alguma o ser humano real. Tangível, sólido e pulsante de vida como o vemos é, na verdade, a parte mais morta do ser humano, cristalizado dentro de uma matriz de veículos mais sutis que são invisíveis à nossa visão física atual. Se colocarmos uma bacia de água numa temperatura suficientemente baixa, a água logo se converte em gelo, e quando examinamos esse gelo, descobrimos que ele é feito de inúmeros pequenos cristais com variadas formas geométricas e linhas de demarcação. Existem linhas etéricas de forças que estavam presentes na água antes de congelar. Assim como a água congelou e modelou ao longo dessas linhas, nossos corpos físicos se congelaram e se solidificaram ao longo das linhas etéricas de força do nosso Corpo Vital invisível, que está, portanto, no curso normal da vida inextricavelmente ligado ao Corpo Denso, ele esteja desperto ou adormecido, até que a morte traga a dissolução dessa ligação. Mas como a Iniciação implica na libertação do ser humano verdadeiro do corpo do pecado e da morte para que ele possa deslizar para as esferas mais sutis à vontade e retornar ao corpo quando desejar, é óbvio que antes que isso possa ser alcançado, antes que o objetivo da Iniciação se realize, o vigoroso entrelaçamento entre o corpo físico e o veículo etérico, que é acentuadamente mais forte e rígido na humanidade comum, deve ser desfeito. Como essa união é mais forte nas palmas das mãos, nos arcos dos pés e na cabeça, as escolas ocultas concentram seus esforços para romper a conexão em tais pontos e produzir os estigmas invisivelmente.

O Cristão Místico necessita do conhecimento de como realizar o ato sem produzir uma manifestação exterior. Os estigmas se desenvolvem nele espontaneamente pela constante contemplação de Cristo e por seus esforços incessantes em imitá-Lo em todas os momentos. Esses estigmas exteriores não compreendem somente as chagas nas mãos, nos pés e aquela no lado do corpo, mas também as marcadas na cabeça pela coroa de espinhos e pela flagelação. O exemplo mais notável de estigmatização é aquele que ocorreu, em 1224, a São Francisco de Assis na montanha de Alverno. Absorto na contemplação da Paixão, viu um Serafim se aproximar, resplandecente em fogo e tendo entre as asas a figura do Crucificado. São Francisco percebeu que nas mãos, nos pés e no lado ele recebeu externamente as marcas da crucificação. Essas marcas permaneceram durante os dois anos até a sua morte, e muitas testemunhas oculares dizem que as viram, incluindo o Papa Alexandre IV.

Os Dominicanos polemizaram o acontecimento, no entanto; fizeram a mesma reclamação de credibilidade em relação a Santa Catarina de Siena, cujos estigmas foram explicados, por ela mesma, como tendo se tornado invisíveis para os outros. Os Franciscanos apelaram a Sisto IV para que proibisse a apresentação em público dos estigmas de Santa Catarina de Siena. Ainda mais, o acontecimento dos estigmas consta no Gabinete do Breviário, e Benedito XIII concedeu aos Dominicanos uma Festa em homenagem à Santa Catarina de Siena para comemorar esse fato. Outras pessoas, especialmente mulheres, que têm Corpo Vital positivo, afirmam ter recebido alguns ou todos os estigmas. A última a ser canonizada pela Igreja Católica, por essa razão, foi Santa Veronica Giuliani (1831). Há casos mais recentes como os de Anna Catherine Emmerich, que se tornou uma freira em Agnetenberg; A “Extática” Maria Von Mörl de Kaltern; Anne-Louise Lateau, cujos estigmas sangravam todas as sextas-feiras; e a Sra. Girling da comunidade Newport Shaker.

No entanto, sejam os estigmas visíveis ou invisíveis, o efeito é o mesmo. As correntes espirituais geradas no Corpo Vital da pessoa são tão poderosas que é como se o corpo fosse flagelado por elas, especialmente, na região da cabeça, em que elas produzem uma sensação essencialmente similar à da coroa de espinhos. Com isso, finalmente desperta na pessoa uma plena compreensão de que o corpo físico é uma cruz que ela suporta, uma prisão e não o ser humano real. Isso o conduz ao próximo passo da sua Iniciação, a saber, a crucificação, que é experimentada pelo desenvolvimento de outros centros em suas mãos e em seus pés, pontos em que o Corpo Vital é, então, separado do Corpo Denso.

O sétimo grau é a Crucificação. Consta, na narração retirada do Evangelho, que Pilatos colocou um letreiro na cruz de Cristo com as palavras: “Jesus Nazarenus Rex Judaeorum” e isso é traduzido, na versão mais utilizada da Bíblia, como “Jesus de Nazaré, o Rei dos Judeus”. Mas as iniciais INRI colocadas na cruz representam os nomes dos quatro elementos em hebraico: Iam, água; Nour, fogo; Ruach, espírito ou ar vital; e Iabeshah, terra. Essa é a chave oculta do mistério da crucificação, pois simboliza, em primeiro lugar, o sal, enxofre, mercúrio e azoth que foram usados ​​pelos antigos alquimistas para fazer a Pedra Filosofal, o solvente universal, o elixir-vitae. Os dois “Is” (Iam e Iabeshah) representam a água lunar salina: a) em um estado fluídico contendo sal em solução e b) o extrato coagulado dessa água, o “sal da terra”; em outras palavras, os veículos fluídicos mais sutis do ser humano e seu Corpo Denso, respectivamente. N (Nour) representa, em hebraico, o fogo e os elementos combustíveis, entre os principais o enxofre e o fósforo tão necessários à oxidação, sem os quais o sangue quente seria uma impossibilidade. O Ego sob essa condição não poderia funcionar no corpo, nem o pensamento poderia encontrar uma expressão material. R (Ruach) é o equivalente a espírito em hebraico, isto é, o Azoth, funcionando na Mente mercurial. Assim, as quatro letras -INRI – colocadas sobre a cruz de Cristo, de acordo com o relato na história do Evangelho, representam o ser humano composto, o Pensador, no ponto de seu desenvolvimento espiritual em que se prepara para a libertação da cruz de seu veículo denso.

Prosseguindo na mesma linha de elucidação, podemos notar que INRI é o símbolo do candidato crucificado pelas seguintes razões adicionais:

Iam é a palavra hebraica que significa água, o fluídico ou elemento lunar, que constitui a parte principal do corpo humano (cerca de 57 por cento). Essa palavra também é o símbolo dos veículos fluídicos mais sutis do desejo e da emoção.

Nour, a palavra hebraica que significa fogo, é uma representação simbólica do sangue vermelho quente, carregado do ferro marcial, do fogo e da energia de Marte, que é visto pelo ocultista circulando como um gás nas veias e artérias do corpo humano, infundindo-lhe a energia e o desejo para agir, para se esforçar, sem os quais não poderia haver progresso, nem material nem espiritual. Também representa o enxofre e o fósforo necessários para a manifestação material do pensamento, conforme já mencionado. Ruach, a palavra hebraica para indicar espírito ou ar vital é um excelente símbolo do Ego revestido pela Mente mercurial, que torna o ser humano em um indivíduo e o capacita a controlar e dirigir seus veículos corporais e suas atividades de uma maneira racional.

Iabeshah é a palavra hebraica para terra, representando a parte carnal sólida que constitui o corpo terrestre cruciforme, cristalizado dentro dos veículos mais sutis no nascimento e separado deles ao morrer, no curso normal das coisas, ou em um acontecimento extraordinário, pelo qual aprendemos a morrer misticamente e ascender às gloriosas esferas superiores, durante um curto período.

Esse estágio do desenvolvimento espiritual do Cristão Místico envolve, portanto, uma reversão da força criadora de seu curso normal para baixo, onde é desperdiçada na geração para satisfazer as paixões, para um curso ascendente através da medula espinhal tripartida, cujos três segmentos são regidos pela Lua, por Marte e Mercúrio, respectivamente, e onde o raio de Netuno acende o fogo espiritual espinhal regenerativo. Essa ascensão provoca o início da vibração do Corpo Pituitário e da Glândula Pineal, abrindo a visão espiritual; e atingindo o seio frontal, ele inicia a coroa de espinhos latejando de dor, enquanto o vínculo com o corpo físico é queimado pelo Fogo Espiritual sagrado, que desperta esse centro de seu sono de letargia, para uma vida ritmicamente vibrante e pulsante que se estende para os outros centros na estrela estigmatizada de cinco pontas. Esses centros também são vitalizados, e todo o veículo se torna brilhante com uma glória dourada. Então, com um movimento final de torção, o grande vórtice do Corpo de Desejos, localizado no fígado, é liberado e a energia marciana contida nesse  veículo impulsiona para cima o veículo sideral (assim chamado, porque os estigmas na cabeça, nas mãos e nos pés estão localizados nas mesmas posições relativas entre si que as pontas de uma estrela de cinco pontas), que ascende através do crânio (Gólgota), enquanto o Cristão crucificado emite seu grito triunfante, “Consummatum est” (está consumado), e desliza para as esferas mais sutis ao encontro de Jesus, cuja vida ele imitou com pleno êxito e de quem, desde então, ele é inseparável. Ele é seu Mestre e seu guia para o Reino de Cristo, onde todos estaremos unidos em um só corpo para aprender e praticar a Religião do Pai, para quem o Reino acabará revertendo, para que Ele possa ser Tudo em Todos.

O oitavo grau é a Ressurreição. Estudamos na Bíblia que o Corpo de Cristo ficou na tumba por toda a sexta-feira, durante todo o sábado e uma parte do domingo. Deste modo, delinearam-se os “três dias místicos” da grande fórmula iniciadora, segundo o qual, o Discípulo é anunciado como renascido, ou ressuscitado para uma nova vida, ou vida superior, o grau mais elevado de consciência e poder espiritual.

Este sublime capítulo do Evangelho de São João pode ser mais bem denominado como a exaltação do feminino que aponta para o futuro, quando o grande trabalho estará completamente realizado.

Saulo de Tarso e Maria Madalena podem ser considerados como exemplos idênticos no que se refere ao poder de transmutação que reside na consciência Crística. São João, entre os Discípulos, representa o poder feminino completo e desabrochado, misticamente indicado na gentileza e beleza de seu semblante.  Tais poderes fizeram-no o Discípulo mais espiritualizado de todos, como o Discípulo mais amado do Mestre e, foi natural o fato de ele ter sido o primeiro a compreender e aceitar a verdade sobre a Ressurreição.

Toda a humanidade espera por este evento, a Ressurreição, que é a culminação da evolução na Terra. Para o neófito, a Ressurreição para os reinos elevados significa o poder de funcionar, conscientemente, fora do Corpo Denso, sem a presença da morte física. Todo Aspirante vitorioso, em que se produz a Ressurreição, ouve a proclamação do Anjo do Senhor (Lei Espiritual): “Ele não está aqui, pois ressuscitou” (Mt 28:6) (Mc 16:6) (Lc 24:6). 

Tal como São Paulo disse, verdadeiramente: “Tu és o herdeiro e todos somos Seus co-herdeiros” (Rm 8:17). Mas a mais abençoada de todas as suas promessas é essa: “Não apenas essas coisas, mas coisas ainda maiores do que estas vocês poderão fazer” (Jo 14:12).

Durante a experiência da Morte Mística, o Cristão Místico se conscientiza das ilusões da matéria e das limitações da vida finita. A consciência da Ressurreição produz a comprovação da unidade de toda a vida em Deus. A pedra da separação foi removida. Por isso, quem passou por essa sublime experiência sabe que nenhum dano pode afetar a uma parte sem ferir o todo, e que nada bom pode suceder a alguém sem que, ao mesmo tempo, beneficie a todos.

Quem chega a conhecer a glória da Ressurreição não pode mais ferir e nem matar, nem sequer a seus irmãos menores do reino animal, posto que eles são expressões viventes da mesma vida que vive e se move e tem seu ser no ser humano. Com a consciência da Ressurreição a paixão do Corpo de Desejos não regenerado se converte na compaixão do espírito, que tudo abarca. O recém-nascido é banhado na dourada refulgência do Cristo Ressuscitado, e se faz um com Ele, na comprovação de que a morte se converteu na vitória da vida eterna.

A meditação sobre a experiência transcendental da Ressurreição proporciona uma compreensão e reverência maiores pelo significado interno daquela saudação que os Cristãos esotéricos se dirigiam, durante a radiação do amanhecer da Páscoa, à luz de sua própria iluminação interior: “Cristo é nossa Luz”.

O nono grau é a Ascensão. O Cristão Místico sabe que o Jardim da Aflição e da Crucificação deve sempre preceder a jubilosa hora do amanhecer da Ressurreição e a branca glória do dia da Ascensão.

Estudamos na Bíblia que Cristo disse: “Todo o poder é dado para Mim no Céu e na Terra”(Mt 28:18), foram as palavras da Sua saudação aos seus Discípulos quando Ele estava no cenáculo superior sagrado, após a Ressurreição. Isto significa que por meio do Seu sacrifício no Calvário, Ele agora tinha se tornado o verdadeiro Senhor e Espírito Planetário da Terra.

O Cristianismo Esotérico ensina que o Gólgota não foi o fim. Na verdade, foi o início do sacrifício redentor anual de Cristo para todo o nosso Planeta.

Durante o intervalo sagrado que constitui os “quarenta dias” místicos entre a Ressurreição e a Ascensão, Cristo se ocupou de muitas obras relacionadas não somente com a raça humana, mas com todas as ondas de vida que vivem na Terra. Este trabalho incluiu as várias raças e Espíritos-Grupo que são os guias das várias ondas de vida em evolução. Para cada um, Ele deu um novo ímpeto de altruísmo e unidade, e Ele também acelerou o tom vibratório de cada um, que vibra no padrão cósmico ou arquétipo. Na realidade, com Sua vinda, toda a Terra canta uma nova canção.

Vão para a Galileia e Eu encontrarei vocês lá”(Mt 28:16). Cada aparição aos Discípulos sustenta um significado profundo e uma promessa de maiores poderes espirituais.

E, levantando as suas mãos, os abençoou, e quando Ele os abençoou, Ele estava à frente deles e foi levado para o céu”(At 1:10).

Na “ressurreição dos mortos”, a cerimônia mística ensina que a morte não existe, e pela “Ascensão” ensina-se que a vida eterna é a herança do Iniciado. “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Irei preparar um lugar para vocês” (Jo 14:2).

Na Ascensão, o Cristo abriu o caminho, deste modo, qualquer pessoa pode ascender com Ele e compartilhar a elevada comunhão dos reinos espirituais.


 

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Páscoa e as 9 Iniciações Menores e as 4 Maiores

Feliz Páscoa! – Dizemos todos os anos, trocando cartões, coelhinhos e ovos. Mas, aproveitemos a pausa da semana santa e meditemos seriamente: por que “Feliz Páscoa”? Que sentido tem ela para nós?

Um religioso nos dirá: “Comemoramos gratamente a Páscoa, em homenagem Àquele que se sacrificou por nós; que demonstrou a vitória sobre a morte, ao ressurgir do túmulo, três dias depois da crucifixão, conforme prometera; que, finalmente, ascendeu aos céus, quarenta dias após. Está à direita de Deus-Pai, intercedendo por nós”.

Insatisfeitos, perguntamo-nos: que significa isto para nós?

A Filosofia Rosacruz ensina que as nove Iniciações Menores representam os nove principais passos da vida de Jesus, pois a biografia do Mestre foi tomada para velar, em cada Evangelho, o caminho de iluminação de cada Aspirante. Os nove passos ou mistérios de Jesus, são:

  1. Batismo;
  2. Tentação;
  3. Transfiguração;
  4. Última Ceia e Lavapés;
  5. Getsemani ou Jardim da Agonia;
  6. Estigmata;
  7. Crucifixão;
  8. Ressurreição; e
  9. Ascensão.

Duas etapas se distinguem nessa luminosa ascese:

  1. a) – a primeira vai da 1ª à 5ª Iniciação Menor. Corresponde à conscientização de toda a evolução humana, desde o Período de Saturno até meados da Época Atlante ou metade do atual Período Terrestre. É a tomada de consciência do que acumulamos na Memória Supraconsciente, contida no Átomo-semente, da primeira metade deste Grande Dia de Manifestação. No fim desta etapa o candidato atinge o grau de primogênito.
  2. b) – a segunda vai da 6ª à 9ª Iniciação Menor (a última). Este período corresponde ao desabrochar da consciência do Iniciado, para o trabalho a ser desenvolvido na metade Mercurial (segunda metade) deste Período Terrestre.

A penetração da consciência do Iniciado na obra evolutiva referente aos Períodos de Júpiter, Vênus e Vulcano, dizem respeito às 1ª, 2ª e 3ª Iniciações Maiores. Na 4ª Iniciação Maior, o Iluminado candidato atinge a condição de Libertador, optando entre permanecer ajudando seus irmãos na Terra ou partir para uma evolução mais alta, em Júpiter. A Páscoa trata da segunda etapa. É o processo de libertação do Período Terrestre. É a superação de todo o trabalho deste Período. É o cortar do cordão umbilical que nos condiciona ao Planeta, quando nos conscientizamos de todas as suas leis ou mistérios.

Começa a Páscoa quando o candidato, no plano mental abstrato, na 5ª Iniciação, deve transcender sua personalidade. São Paulo, o Apóstolo que conheceu essa experiência, que dura mais ou menos tempo, conforme o Candidato. Ele se refere a si próprio quando diz “conhecer um homem que foi arrebatado ao 3º céu e lá viu e ouviu coisas que não lhe é lícito contar”. Estava no plano mental abstrato, onde a universalidade do Espírito se limita a uma consciência egóica.

São Paulo sentiu agudamente o Horto da Agonia, nos embates entre a personalidade e o Divino interno. Mas venceu a prova, pois afinal exclama triunfante: “Não mais eu quem vivo, mas o Cristo vive em mim!”.

O próximo passo – a 6ª Iniciação Menor – foi vivenciada por São Francisco de Assis, que apresentou os sinais interiores das estigmatas (dos ferimentos), naqueles pontos físicos em que o Espírito fica preso ou crucificado à cruz do corpo.

Na 7ª Iniciação Menor, o Candidato experimenta o morrer para o sentido humano. Esse processo dura certo período, simbolizado pelos três dias no túmulo. São três etapas em que dissolvemos os traços humanos dos corpos físico, emocional e mental. Então elevamos o grau vibratório de nossa tripla instrumentação e podemos ressurgir para mais alto estado. Não que a gente suba aos céus. Isto é um sentido simbólico. Não subimos para nenhum lugar, senão que experimentamos uma expansão de consciência e alcançamos mais profundamente os mistérios de nosso ser e de nosso Planeta.

Vem a Ressurreição – a 8ª Iniciação – na qual o Candidato adquire a capacidade de sutilização do corpo, a faculdade plena de materializar-se e desmaterializar-se, mediante o domínio da vontade e poder excepcional de concentração. Eis a explicação de o Mestre haver passado através das paredes e entrado na habitação fechada onde se achavam reunidos dez Apóstolos (Tomé estava ausente); e depois aos onze (Tomé junto). Mas ainda remanescem os sinais da estigmata – os últimos vestígios de influência terrena, que devem ser definitivamente dissolvidos, nos simbólicos quarenta dias (período indeterminado de tempo).

Aí vem a última etapa ou 9ª Iniciação Menor, em que estava João Batista: a Ascensão. Seu mesmo espírito havia animado, em anterior encarnação, a expressiva figura de Elias – o profeta – que subiu aos céus num carro de fogo (Ascensão). João Batista, estava a ponto de passar à primeira Iniciação Maior, como Adepto. Por isso foi dito dele, por Cristo: “Dos nascidos de mulher, João Batista é o maior” – isto é, dos que ainda têm de nascer do ventre materno, porque ligado às leis da Terra, João Batista era o mais alto Iniciado. Quando o Iniciado passa à primeira Iniciação Maior, adquire o mistério da Alquimia Espiritual. Ele domina todas as leis da matéria, e pode reunir elementos restantes da assimilação dos alimentos e conservá-los, para ir formando outro corpo, além do que ocupa. Quando ele termina sua missão num certo país e deve começar outra num país diferente, deixa o corpo antigo e toma o novo, para surgir como uma nova pessoa. Então se diz que “fulano morreu”. Esses elevados Iniciados trabalham no mundo, em missão de equilíbrio, para assegurar os rumos do destino evolutivo humano, dentro de certos limites de respeito ao livre arbítrio.

Todos teremos de passar, a nosso modo, por esses estágios.

 (Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/76 – Fraternidade Rosacruz – SP)

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