A grande mudança normalmente designada como “morte” não faz distinção de pessoas.
Pode acontecer na juventude, na meia idade ou na melhor idade. Contudo, em algum momento da vida, todos são chamados a deixar suas vestes físicas de lado e se fixar, novamente, em reinos além da nossa esfera de conhecimento.
Sabendo que essa mudança é inevitável, certamente, é importantíssimo que aprendamos, o máximo possível, sobre a grande transição.
Há 3 meios de você acessar esse Livro:
1. Em formato PDF (para download):
2. Em forma audiobook ou audiolivro:
Audiobook – A Luz Além da Morte – Dos Escritos de Max Heindel – Fraternidade Rosacruz
3. Para estudar no próprio site (ou para fazer download ou imprimir):
A LUZ ALÉM DA MORTE
Dos Escritos de
Max Heindel
Fraternidade Rosacruz
Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82
Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil
Traduzido e Revisado de acordo com:
1ª Edição em Inglês, 2001, The Light beyond Death, editada por The Rosicrucian Fellowship
Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
contato@fraternidaderosacruz.com
fraternidade@fraternidaderosacruz.com
SUMÁRIO
CAPÍTULO I – PARA AQUELES QUE LAMENTAM… 7
CAPÍTULO II – A CIÊNCIA DA MORTE.. 13
CAPÍTULO III – O ENIGMA DA VIDA E DA MORTE.. 19
CAPÍTULO IV – ONDE ESTÃO OS MORTOS?. 36
Investigando os Mundos invisíveis 38
Provando Hipóteses Científicas 39
Por que Estudar os Mundos invisíveis?. 41
Testemunho de um Cientista. 49
CAPÍTULO V – NOSSA VIDA NO PURGATÓRIO.. 53
A Purgação dos Maus Hábitos 58
CAPÍTULO VI – VIDA E ATIVIDADE NOS CÉUS. 62
Por que as Crianças morrem e para Onde Elas vão?. 63
O Panorama como Juiz da Vida após a Morte. 65
A Experiência Pós-morte do Materialista. 66
Atividades na Região do Pensamento Concreto. 71
CAPÍTULO VII – O MÉTODO ROSACRUZ DE CUIDAR DOS MORTOS. 76
O Átomo-semente do Corpo Denso. 77
CAPÍTULO VIII – NO CASO DE SER LIBERADO DO CORPO DENSO.. 80
CAPÍTULO IX – EFEITOS DO SUICÍDIO.. 82
O Sentimento de estar “Vazio”. 82
Não se zomba da Lei Cósmica. 85
O Arquétipo do Corpo Denso. 85
Não importa que saibamos ser a morte uma benção e libertação, nem o quão preparados estamos, para nos alegrar pelo fato de aquele que se foi estar livre dos grilhões do Corpo Denso; isso tudo geralmente não ajuda, porém pode ser um recurso para nós quando uma pessoa querida passa para o além.
Sabemos que nosso amigo ou nossa amiga está bem e ficamos contentes com isso, mesmo que não possamos ajudá-lo ou ajudá-la e sentimos saudades dele ou dela. Deparamo-nos ouvindo os seus passos na escada ou a sua voz na porta e, como isso não se confirma, inevitável será que a nossa natureza egoísta vá se erguer até o ponto em que nos encontramos lutando contra a solidão. A menos que nos encontremos entre aqueles afortunados, os quais são relativamente poucos, que podem ver e se comunicar com os Egos do outro lado. Muitos de nós somos ainda humanos o suficiente para sentir saudade em certas circunstâncias, mesmo quando olhamos a morte de um ente querido com o positivismo implícito nos Ensinamentos Rosacruzes dados pelos Irmãos Maiores.
Então, é muito bom para cada um de nós saber como tudo isso funciona: vida aqui, morte lá; morte aqui, vida lá.
“Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados.” (Mt 5:4). Essas palavras do grande Consolador que visitou a Terra há mais de dois mil anos são relembradas durante a festa da Páscoa, que causa alegria a milhões, pois a Humanidade está agora despertando cada vez mais para seu verdadeiro significado.
A Páscoa, outrora celebrada por poucos Cristãos, já não é apenas uma festa Cristã. Já não está reservada para aqueles que aceitam o pão e o vinho sacramentais das mãos de seu ministro. Agora ela se tornou um grande dia de alegria para povos de todas as nações e seguidores de todas as Religiões, bem como para aqueles que nunca viram o interior de uma igreja.
Tornou-se um costume para as pessoas nos distritos rurais, e nas cidades, escolher uma colina na qual plantam uma cruz para, no feliz dia de Páscoa, se reunir em comunhão e adoração como uma comunidade, independentemente da raça, credo ou cor, em nome do maior Espírito que já habitou um Corpo Denso, e adorar o Espírito Universal, oferecendo louvor e graças pela vida e luz que eram Sua parte no grande esquema de Deus. Esse Espírito Universal de alegria se expressa em um dia que, na memória, traz a imagem de um homem pregado na cruz. Ele retrata para a Humanidade um rosto desenhado em dor, um corpo humano sofrendo na agonia da morte. Por que toda a Humanidade se regozijaria, em um dia que, na memória, está conectado àquele ato de brutalidade que ocorreu há dois mil anos?
O ser humano, em sua falta de conhecimento e vaga compreensão da justiça de um Pai amoroso, fez da sepultura um sepulcro escuro, uma coisa a ser temida e o fim de todas as suas aspirações e ambições. Por muito tempo ele temeu o fim da existência física e fez disso um período de luto intenso, um período repleto de lágrimas. Mas, esse grande Espírito que tinha poder sobre a vida e a morte Se permitiu ser crucificado. Ele veio à Terra com esse grande propósito. No entanto, a questão pode ser levantada: se afirmamos que Jesus, o Cristo, tinha o poder sobre Sua vida, então por que Ele permitiu as grandes indignidades e crueldades que foram perpetradas contra Ele e por que Ele não se salvou dessa morte cruel e indigna? Na parábola do aprisco de ovelhas, no Evangelho segundo São João, capítulo 10, Cristo-Jesus diz a Seus ouvintes: “Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a vida pelas ovelhas. Portanto, meu Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar. Nenhum homem tira isso de mim, mas eu a coloco de mim mesmo. Tenho poder para abandoná-la e tenho poder para tomá-la novamente. Este mandamento recebi do meu Pai”. Encontramos outra declaração dada pelo Cristo, após a crucificação, depois de ter sofrido a morte na cruz — quando Ele voltou do mundo espiritual para comungar com Seus Discípulos. No capítulo 28 do Evangelho segundo São Mateus, no versículo 18, Ele novamente reivindica o mesmo poder. “E Jesus veio e lhes falou, dizendo: ‘Todo o poder me é dado no Céu e na Terra’”.
O Cristo veio à Terra para ensinar à Humanidade uma lição particular; se Ele estava destinado a Se tornar o Salvador da Humanidade, então a maior lição que Ele poderia ter ensinado ao ser humano foi a fé; fé em Seu Deus e em uma vida após a morte. Por Sua própria morte, Cristo-Jesus deve trazer ao homem a fé e a crença em uma VIDA APÓS A MORTE.
Ele pregou a imortalidade e, para imprimir ainda mais esse fato na Humanidade, Ele teve que passar pelos estertores da morte a fim de voltar à vida e trazer ao homem a prova de uma vida após a morte. Para realizar isso, Ele apareceu a Seus amados Discípulos em Seu corpo espiritual. Na Primeira Epístola aos Coríntios 15:6, São Paulo diz: “Depois disso, Ele foi visto por mais de quinhentos irmãos de uma vez, dos quais a maior parte permanece até o presente, mas alguns já dormiram”. Ele caminhou e conversou com eles para acreditarem que o que Ele havia pregado, a imortalidade da alma, fosse um fato e que, depois que o homem deixa de lado seu Corpo Denso, ele continua a viver em um corpo mais sutil e etéreo.
São Paulo também traz ao ser humano muita esperança em uma vida após a morte no 5º capítulo da Segunda Epístola aos Coríntios, versículos 1:2: “Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita com mãos, eternas nos Céus. Enquanto isso gememos, desejando seriamente ser vestidos com a nossa casa que é do Céu”. No 15º capítulo da Primeira Epístola aos Coríntios, no versículo 44, São Paulo novamente prega para aqueles que não têm fé na vida após a morte. Esse capítulo maravilhoso é usado pela maioria dos ministros para levar consolo e fé aos que estão enlutados pela perda de seus entes queridos. “É semeado um corpo natural; é ressuscitado um corpo espiritual. Há um corpo natural e há um corpo espiritual”.
Durante a velha dispensação e em todo o Antigo Testamento, o ser humano tinha bem pouca esperança de uma vida após a morte; para ele a sepultura acabava com tudo. Encontramos tal desânimo quando lemos o capítulo 9º do Livro do Eclesiastes, versículo 5º, em que a declaração é feita: “Porque os vivos sabem que morrerão; mas os mortos nada sabem, nem têm mais recompensa; a memória deles é esquecida”.
Os Ensinamentos Rosacruzes afirmam que o ser humano é um Espírito imortal, feito à imagem de Deus, já que nos é dito no versículo 26 do 1º capítulo do Livro do Gênesis: “Façamos o homem à nossa imagem”. Ora, se Deus é Espírito e o “homem” é feito à Sua imagem, podemos continuar afirmando que o ser humano possa morrer ou que, se ele pudesse morrer, uma parte de Deus morreria? Alguém pode imaginar que um grande Espírito criasse um ser igual ao ser humano, à Sua imagem, para, então, permitir que ele morresse?
Poderia tal ser tornar-se ele mesmo um criador como Deus o havia destinado a ser, caso uma única vida na Terra fosse tudo e, quando o ser humano tivesse vivido seus três pontos e dez anos, ele deixasse de existir, sem chance de se tornar como seu Pai do Céu, perfeito? Se nós apenas pararmos para raciocinar sobre isso, não poderemos deixar de nos convencer de que o ser humano também deva continuar evoluindo e aprendendo para se tornar todo-sábio como seu Pai celestial é sábio e que isso não pode ser realizado em poucos anos de uma vida curta. Para aprender essas lições na Terra, sobre a qual Deus deu o domínio ao ser humano, ele deve retornar repetidamente e, em cada renascimento, tomar sua cruz de matéria (seu Corpo Denso).
É por meio do veículo físico que o ser humano deve aprender a se tornar um criador semelhante a seu Pai do Céu; é o pedágio que ele usa em seus esforços para dominar as numerosas lições de vida para que ele possa ser reconhecido por seu Pai do Céu como um filho. Essa ferramenta (o Corpo Denso) se cansa e desgasta, sendo necessário que o Espírito tenha um tempo para assimilar e digerir toda a experiência adquirida na Terra. Portanto, Deus providenciou para que o Espírito saísse deste manto velho e gasto e funcionasse em seu corpo espiritual.
Quando isso ocorre, o ser humano, com sua visão limitada, lamenta essa mudança; para ele, ela aparece como a partida final de um ente querido, quando esta vestimenta desgastada se desintegra e o ser amado tem permissão para funcionar em uma túnica, ou corpo, mais fina e etérea em que o indivíduo não é limitado pela distância nem a matéria física pode obstruí-lo em seu progresso. Esse é o corpo espiritual de que São Paulo nos fala na Segunda Epístola aos Coríntios, um edifício não feito por mãos, eterno nos Céus.
Nesse veículo, nossos entes queridos podem nos visitar e, embora em nossa cegueira não tenhamos os olhos espirituais com os quais possamos vê-los, eles estão, no entanto, muito próximos de nós. Eles ainda estão interessados em nosso bem-estar e, quando precisamos deles, não nos decepcionam; eles nos encorajam e ajudam com mais frequência do que imaginamos, embora por nossa própria dor possamos impedir seu progresso na nova vida para a qual foram chamados.
Quando um ser humano entra em sono profundo e seu Corpo Denso está inerte na cama, ele está acordado e ativo no reino do Espírito. Ele não é mais prejudicado pelo Corpo Denso. No entanto, ele está amarrado a esse veículo pelo cordão de prata, que o leva de volta para o corpo, ao acordar. Durante a inconsciência do sono, ele está na terra dos mortos-vivos e, se quiser, pode comunicar-se com seus entes queridos que estão sempre perto dele.
O Estudante da Fraternidade Rosacruz tem a certeza de sua proximidade com aqueles que passaram pelo que é comumente chamado de morte e não sofre como outros, que não têm esperança. Ele sabe que seus entes queridos não foram embora, mas, como John McCreery diz em seu poema, “Não existem mortos”.
Eles não estão mortos. Eles apenas foram,
Além das brumas que nos cegam aqui,
Para uma vida nova e maior
Daquela esfera serena.
O conhecimento real que é adquirido pelos Estudantes, sobre tais ensinamentos avançados, removeu deles o aguilhão da morte e sabem que aqueles que abandonaram seus corpos mortais não estão mortos, mas agora desfrutam da liberdade de vida nos mundos espirituais. Eles estão convencidos de que Deus não construiu a casa da alma do ser humano e inspirou o Espírito humano com fé e amor para derrubá-lo com a morte, destruindo Sua própria obra. O ser humano é a obra-prima de Deus e, como tal, essa centelha de divindade, feita à Sua imagem, não pode morrer, do contrário uma parte de Deus seria destruída.
O Cristo veio voluntariamente à Terra para ser envolto em um Corpo Denso, sabendo que o resultado seria trazer esperança e fé à Humanidade. Ele devia morrer e ressuscitar, provando assim para o ser humano que a morte é apenas uma manifestação física, a libertação de um Espírito do seu Corpo Denso. Ele veio a uma Humanidade que estava cega pelo medo da sepultura, para quem a cova é um abismo para onde o Espírito era tragado e perdido.
Ele considerou a morte o maior dos terrores e sabia que somente Ele poderia restaurar a fé do ser humano em uma vida imortal e lhe dar a certeza de ser um Espírito glorificado. Ele deixou essas palavras de conforto, que devem trazer consolo e fé a todos os que acreditem n’Ele: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, credes também em mim. Na casa do meu Pai há muitas moradas: se não fosse assim, eu teria contado a vocês. E se eu for e preparar um lugar para vocês, voltarei e vos receberei para mim mesmo; para que onde eu estou, vós também estejais.” (Jo 14:1-3).
Quando esperam o nascimento de um filho, os pais se preparam para os próximos meses com antecedência, geralmente com a maior alegria. Às vezes, toda a família, especialmente a parte feminina, ajuda a preparar criações maravilhosas para o conforto do pequeno desconhecido que ainda não apareceu. Por alguns anos, essa pequena vida será protegida, se tiver a sorte de ser atraída por pais que foram abençoados com os bens deste mundo; no entanto, o maior número está entre as classes mais pobres, que são incapazes de fornecer à criança as necessidades materiais para o seu bem-estar. Embora possam recebê-la e amá-la, mesmo assim suas vidas estarão mais cheias ou menos de adversidades e tristezas; assim, a criança cresce em masculinidade ou feminilidade no meio de dificuldades e sofrimentos. No entanto, mesmo com todo esse sofrimento, que muitas vezes torna a vida do ser humano um fardo, nós nos apegamos à vida tenazmente e o pensamento da morte nos enche de horror.
Já visitei alguns idosos inválidos, desamparados e desesperados, em um dos grandes hospitais do condado. Descobri que vários deles encaravam a morte com medo. Alguns leram repetidamente a Bíblia, porém o medo da morte não pôde ser eliminado.
Encontramos idosos fracos e cambaleantes que estavam cercados por netos cujos modos modernos e desrespeitosos muitas vezes provocavam as críticas dos avós negligenciados e solitários. Esses costumam sentir que estejam a caminho da vida pós-morte; contudo, quando chega a hora de viajar para o Grande Além, geralmente encontram nesse momento o medo e o arrependimento. O médico é chamado, e os parentes, que antes sentiam que o avô estivesse a caminho do além, agora fazem o possível para impedir a saída desse Espírito do Corpo Denso para entrar no mundo desconhecido.
Por que o pensamento dessa jornada para a vida, que está além, deve ser preenchido com tanto horror, especialmente em uma nação Cristã que aceita os ensinamentos do Grande Mestre, o Cristo, cuja missão na Terra foi remover o aguilhão da morte?
A história antiga da Humanidade, conforme registrada na Bíblia desde os tempos de Adão e Eva, quando o Senhor os expulsou do Jardim do Éden, mostra que a morte sempre foi associada à ideia de punição. No Livro do Gênesis, capítulo 2, versículo 17, o Senhor ameaçou Adão com a morte, se ele comesse da Árvore do Conhecimento. Ao longo da história dos antigos israelitas, descobrimos que seu Senhor, Jeová, os ameaçava constantemente por seus pecados com o castigo da morte. Esse medo foi implantado nas Mentes das raças anteriores, cuja mentalidade infantil ainda não era capaz de raciocinar e só podia compreender mediante o medo. Eles não podiam imaginar um Deus de amor, respondendo apenas a uma Divindade irada que os lançaria nas trevas desconhecidas por seus pecados.
O povo antigo era muito supersticioso e usava muitas cerimônias para se libertar dos poderes das trevas. O medo da morte criou neles o desejo de preservar seus corpos, o que resultou em vários tipos de embalsamamento. Entre os antigos egípcios, isso tornou-se uma arte. Depois de ser submetido a um processo de preservação pelos sacerdotes, o corpo era colocado em uma caixa de sicômoro moldada na forma do corpo e, finalmente, devolvido aos parentes, que muitas vezes o mantinham em casa, às vezes dentro de um cofre ou sepulcro particular. Algumas dessas múmias podem ser encontradas em nossos museus.
As ideias da morte sofreram várias alterações de acordo com a evolução do ser humano; no entanto, o profundo mistério da vida pós-morte não foi explicado até o advento de Cristo que, por meio de Sua morte na Cruz, trouxe ao ser humano a esperança da salvação. Conforme o Evangelho Segundo São João, capítulo 5, versículo 24: “Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve minhas palavras e crê Naquele que Me enviou tem vida eterna e não entrará em condenação, mas será passado da morte para a vida”. O apóstolo São Paulo declara na Segunda Epístola a Timóteo, no capítulo 1, versículos 9 e 10: “Deus nos salvou e nos chamou não de acordo com nossas obras, mas de acordo com Seu próprio propósito e graça, que nos foram dados em Cristo-Jesus, antes do mundo começar. Mas agora é manifesto pelo aparecimento de nosso Salvador, Jesus Cristo, que aboliu a morte e trouxe vida e imortalidade à luz através do evangelho”.
Como o mundo aproveitou a oportunidade do supremo sacrifício de Cristo para trazer ao mundo a esperança da imortalidade? O medo da morte diminuiu? O método de cuidar dos corpos dos mortos mudou em relação aos antigos judeus ou gregos? A ciência da morte acompanhou a evolução? Analisemos se alguma mudança é perceptível. Entre os mais avançados de nós, as roupas de luto estão desaparecendo lentamente. O método de embalsamamento foi alterado: as vísceras e o cérebro não são mais removidos como antigamente, mas um líquido é injetado nas artérias principais, o que impede temporariamente a putrefação do Corpo Denso. Porém o medo da morte e a grande tristeza ainda prevalecem. Quantias fabulosas são gastas em funerais caros e enfeites florais. Essa extravagância foi levada a extremos e tornou-se um costume que muitas vezes seja embaraçoso para os parentes, que podem não ter condições financeiras. Os parentes devem pagar pelo terreno, o coveiro é pago para fazer a cova e o agente funerário, pelo caixão, roupão e meios de transporte para levar os parentes ao funeral. Para aumentar a perda de seus entes queridos, as despesas com o funeral costumam ser um fardo para os enlutados. Também é habitual que muitos ministros ou padres prolonguem os serviços e, em seu grande zelo pelos convertidos, aproveitem a oportunidade para apelar às emoções dos presentes, aumentando assim a tristeza do enlutado e fortalecendo o medo da morte e da vida além dela.
Desde a Primeira Guerra Mundial, a Humanidade se interessou muito pela vida após a morte. O mundo foi então inundado com livros alegadamente ditados pelos supostos mortos, que usaram médiuns para transmitir a mensagem. As pessoas, por sua grande dor e desejo de se comunicar com os entes queridos, rasgaram o véu e puderam enxergar o além. Contudo, com o medo da morte removido, que é um grande passo à frente e um maravilhoso conforto para a Humanidade, o que está sendo feito para preparar o Espírito para a mudança chamada morte? São feitos tão cuidadosos preparativos para essa jornada como para a entrada do Espírito no Corpo Denso através do nascimento nesse Mundo Físico? Essa passagem da vida física à espiritual se torna agradável pelo amor e pelos bons desejos dos amigos? Aí, não. Essa jornada, a maior de todas ao lar do Espírito, ainda é acompanhada de pesar e o caminho, pavimentado com medo, lavado com lágrimas. O viajante não é ajudado com o amor ou a alegria que aguardavam sua entrada na vida terrena. O Espírito, frequentemente, entra nessa nova vida despreparado e infeliz por causa do sofrimento dos parentes.
A pergunta pode ser feita: qual é a ciência da morte? Responderemos isso do ponto de vista Rosacruz. A “morte” é apenas a passagem do Espírito para uma esfera maior — é um nascimento. Deve ser preparada, por isso, com o maior cuidado. O Corpo Denso é apenas um veículo que o Espírito usa para obter experiência neste dia da escola da vida. No final desta vida, o Ego deve assimilar o que experimentou e para extrair o melhor de suas experiências certas condições devem ser preparadas no momento do rompimento do Cordão Prateado. Isso costuma acontecer nos primeiros três dias e meio após a morte, aproximadamente. Agora, para explicar o porquê o período imediatamente após a saída do Espírito é de vital importância, devemos entender que os veículos do ser humano são quatro, consistindo em: um Corpo Denso – o físico –, um Corpo Vital, um Corpo de Desejos e uma Mente. No evento chamado de morte, o Espírito se retira com os dois veículos superiores, que estão conectados aos Corpos Vital e Denso por um cordão fino que, quando visto com os olhos do Espírito, tem um brilho prateado e a forma de dois números seis conectados pelas pontas dos dois ganchos; a extremidade superior é conectada aos dois veículos superiores, enquanto a inferior permanece em contato com o Corpo Denso.
Quando a morte ocorre, o Corpo de Desejos e a Mente deixam o veículo físico, levando consigo apenas um átomo permanente, o Átomo-semente, que durante a vida estava depositado na região referente ao ventrículo esquerdo do coração. Nesse Átomo-semente, como o filme negativo da câmera, foram gravadas todas as experiências da vida que acabou de terminar. Com a morte, a força desse Átomo-semente deixa o Corpo e todas essas gravações são transferidas do Corpo Vital, que é etérico, e o depósito dessas experiências, para o Corpo de Desejos, que então formam a base da vida do homem ou mulher no Purgatório e no Primeiro Céu. Essa transferência é feita pelo Espírito durante os primeiros três dias e meio após a ruptura da conexão entre o Átomo-semente e o coração, normalmente conhecido como morte. Assim, podemos ver que a morte não está completa até que essa transferência seja realizada. A sensação ainda está presente e o Espírito sofre com um ambiente desarmônico. Ele pode sentir qualquer coisa durante o exame post-mortem ou embalsamamento. Quando o Corpo é mutilado ou cremado antes que o Cordão Prateado seja cortado, o Espírito sofre as dores. Os médicos e agentes funerários, acreditando que a pessoa esteja “morta”, geralmente não lidam com o corpo com o mesmo cuidado que teriam, caso conhecessem esses fatos.
Foram relatados casos em que aqueles cujos corpos foram mutilados, imediatamente após a morte, conseguiram se comunicar e reclamaram que haviam sofrido. Em um desses casos, uma mulher declarou que eles a mataram e ela foi incapaz de fazer o agente funerário entender que pudesse sentir a faca. Se fosse sabido de maneira mais geral que nossos mortos podem sentir dores físicas por certo período, o embalsamamento do Corpo Denso, ou quaisquer outros procedimentos que o machuque, seria interrompido e, em vez disso, o Corpo seria mantido no gelo.
Quando o Panorama da Vida está totalmente gravado no Corpo de Desejos e o Cordão Prateado se rompe, os dois Éteres inferiores do Corpo Vital gravitam em volta ao Corpo Denso, deixando o Espírito livre para prosseguir nos reinos mais elevados. Os dois Éteres superiores se fundem com o Corpo de Desejos, então. Quando o Corpo Denso é enterrado, a parte do Corpo Vital que permanece se desintegra de forma síncrona com ele. Quando o corpo é cremado, o Espírito se torna livre muito mais rapidamente de todos os laços que o prendem ao desgastado manto físico.
À medida que o interesse e a crença na vida depois da morte se tornarem mais universais, a necessidade de um método científico para o cuidado daqueles que estão passando para a vida superior será impressa nas pessoas e, assim, teremos enfermeiros, médicos, padres e ministros que serão versados tanto na ciência da morte quanto na do nascimento. O Espírito será cercado não apenas com amor, mas paz e sossego, no momento da passagem. Ele também terá um registro mais profundo e claro com o qual pode iniciar seu trabalho de vida em seu novo estado.
Em cada nascimento vem ao mundo o que aparenta ser uma nova vida. Lentamente, a pequena forma cresce, vive e se move entre nós e torna-se um fator em nossas vidas; mas finalmente chega um momento em que a forma cessa o movimento e morre. A vida que veio; de onde não sabemos, volta ou passa para o invisível além. Então, com tristeza e perplexidade, nós fazemos as três grandes perguntas relativas à nossa existência: de onde viemos? Por que estamos aqui? Para onde vamos?
Através de cada limiar (ou princípio) o terrível espectro da morte lança sua sombra. E visita igualmente tanto o “palácio quanto o casebre”. Dela ninguém está a salvo: velhos ou jovem, doentes ou sãos, ricos ou pobres. Todos devem passar por este portal sombrio, e ao longo dos tempos soou o grito clamoroso por uma solução ao enigma da vida – ao enigma da morte.
Infelizmente, têm sido vagas as muitas especulações vindas de pessoas que pouco sabem e, portanto, tornou-se popularmente aceita a opinião de que nada em definitivo se pode conhecer acerca da mais importante da nossa existência: a Vida antes de manifestar-se pela porta do nascimento e além dos portais da morte.
Tal ideia é errônea. O conhecimento definido, de primeira mão, está ao alcance de todo aquele que queira se dedicar ao desenvolvimento do “sexto sentido”, latente em todos. Quando adquirimos, abre os nossos olhos espirituais, com os quais podemos perceber tanto os Espíritos próximos a entrar na vida física pelo nascimento, quanto àqueles que acabam de retornar ao além, após a morte. Nós os vemos tão claros e nitidamente como podemos ver os seres físicos com os nossos olhos físicos. Mas nem é necessária a investigação direta nos Mundos internos para satisfazer a Mente indagadora, do mesmo modo que não é necessário ir à China para conhecer as suas condições lá. Conhecemos as nações estrangeiras por meio de informações, de relatos de quem as visitou. E há tanta informação sobre os Mundos internos quanto há sobre o interior da África, da Austrália ou da China.
A solução do problema da Vida e do Ser indicada nas páginas seguintes, baseia-se no testemunho simultâneo de muitos que já desenvolveram a faculdade acima mencionada e que, por isso mesmo, tornaram-se aptos para investigar cientificamente os reinos suprafísicos. Isto está em harmonia com os fatos científicos, e é uma verdade eterna na Natureza, governando o progresso humano, quanto a Lei de Gravidade, também o é na manutenção dos Astros, dentro de suas próprias órbitas, em torno do Sol.
Três teorias foram formuladas para resolver o enigma da vida e da morte, parecendo ser crença universal que uma quarta concepção é impossível. Assim sendo, uma dessas três teorias deve ser a solução verdadeira ou de outro modo o problema permaneceria insolúvel; pelo menos para o ser humano.
O enigma da vida e da morte é um problema básico; todos devem resolvê-lo algum dia, e a aceitação de uma dessas três teorias torna-se, então, importantíssima para cada um dos seres humanos, já que a escolha determinará os rumos de suas vidas. Para que possamos fazer uma escolha inteligente necessitamos conhecê-las, analisá-las, compará-las e pesá-las, conservando a Mente aberta e livre do preconceito de ideias preconcebidas, pronto a aceitar ou rejeitar cada teoria segundo seus méritos. Citemos, primeiramente, essas três teorias e depois vejamos sua concordância com os fatos estabelecidos da vida e até que ponto eles se harmonizam com as outras Leis da Natureza, já conhecidas. Se verdadeiras, podemos racionalmente esperar que se harmonizem, pois a discordância não tem lugar na Natureza.
Comparando a Teoria Materialista com as conhecidas leis da Natureza, constatamos ser ela contrária a essas leis devidamente estabelecidas. De acordo com essas leis, a Mente não pode ser destruída pela morte, como afirma a teoria materialista, porque quando nada pode ser destruído, a Mente tampouco pode.
Além disso, está claro que a Mente é superior à matéria, pois modela a face de tal maneira que esta possa refleti-la; sabemos também que as partículas de nossos corpos estão constantemente sendo trocadas; e que uma mudança completa ocorre, no mínimo, a cada sete anos. Se a teoria materialista fosse verdadeira, nossa consciência também deveria passar por uma mudança completa a cada período desses, nada restando das recordações anteriores. Assim sendo, ninguém poderia relembrar qualquer acontecimento ocorrido há mais de sete anos.
Sabemos que não é esse o caso. Podemos nos recordar de toda a nossa vida; o mais insignificante incidente, embora esquecido na vida ordinária, é vividamente recordado por uma pessoa que se afoga, mesmo no estado do transe. O materialismo não leva em conta esses estados de subconsciência ou supraconsciência, e por não poder explicá-los, simplesmente os ignora, mas em face das investigações científicas que já estabeleceram a veracidade dos fenômenos psíquicos, a política de ignorar, em vez de refutar ou discutir essas afirmações da ciência, é imperdoável falha numa teoria que proclama ter resolvido o maior problema da vida: a própria Vida.
A teoria materialista tem ainda muitas outras falhas que impedem a nossa aceitação, mas já dissemos o bastante para justificar-nos e, deixando-a de lado, passaremos às outras duas teorias.
Uma das maiores dificuldades na doutrina dos teólogos consiste em ser ela total e reconhecidamente inadequada. De acordo com essa teoria, de que uma nova alma é criada a cada nascimento, miríades de almas têm sido criadas desde o princípio de nossa existência – mesmo supondo que esse começo se deu há apenas 6.000 anos. Segundo certas seitas, apenas 144.000 dessas almas serão salvos; as demais serão torturadas para sempre. E isso é chamado de “Plano de salvação de Deus” e exaltado como prova do maravilhoso amor de Deus.
Suponhamos que uma mensagem telegráfica seja recebida em Nova York informando que um enorme transatlântico está afundando em Sandy Hook[1]; e que 3.000 pessoas estão na iminência de morrer afogadas. Consideraríamos como um glorioso plano de salvação enviar em seu socorro um pequeno barco a motor que pudesse resgatar apenas dois ou três náufragos? Certamente que não. Somente quando algum outro meio mais adequado fosse providenciado para salvar pelo menos a grande maioria, é que poderíamos considerá-lo um bom “plano de salvação”.
O “plano de salvação” que os teólogos oferecem é ainda mais precário do que enviar um pequeno barco a motor para salvar as pessoas do transatlântico, pois dois ou três salvos para um total de 3.000 pessoas é uma proporção muito maior do que 144.000 de todas as miríades de almas criadas, segundo os próprios teólogos. Se Deus realmente tivesse elaborado esse plano, pareceria à mente lógica que Ele não seria bom. Se Ele não pode ajudar a si mesmo, Ele não é onipotente. Em nenhum dos casos, então, ele pode ser Deus. Tais suposições, no entanto, são absurdas como realidades, pois isso não pode ser o plano de Deus, e seria uma grande blasfêmia atribuir-Lhe tal coisa.
Se nos voltarmos para a doutrina da reencarnação (renascimento em corpos humanos), que postula um lento processo de desenvolvimento levado a efeito com inabalável persistência através de repetidos renascimentos em formas humanas de crescente eficiência, pelo que todos os seres alcançarão no devido tempo uma estatura espiritual inconcebível à nossa limitada compreensão atual, facilmente poderemos perceber sua harmonia com os métodos da Natureza. Em toda parte, encontramos na natureza essa lenta, mas persistente luta pela perfeição, e em nenhum lugar vemos um processo súbito quer de criação, quer de destruição análogo àquele que os teólogos e materialistas querem fazer-nos crer.
A ciência reconhece que o processo de evolução, como o método de desenvolvimento da natureza, é igual tanto para a estrela do céu quanto para a estrela do mar, para o micróbio como para o ser humano. É o progresso do Espírito no tempo e, à medida que observamos em volta e notamos a evolução em nosso universo tridimensional, não podemos nos furtar da evidência de que o seu caminho também é tridimensional, uma espiral. Cada espiral é um ciclo, e os ciclos seguem em ininterrupta progressão, à medida que as espirais se sucedem umas às outras, sendo que cada ciclo é o produto melhorado do precedente e a base do progresso dos ciclos subsequentes.
Uma linha reta nada mais é do que a extensão de um ponto, e assim também as teorias dos materialistas e dos teólogos. A linha materialista da existência vai do nascimento à morte; a linha do teólogo começa em um ponto imediatamente anterior ao nascimento e prolonga-se para o invisível além da morte. Não há retorno possível. A existência assim vivida extrairia um mínimo da experiência da Escola da Vida, como se o ser humano fora apenas um ser unidimensional incapaz de se expandir ou de alcançar as sublimes alturas da realização.
Um caminho de zigue-zague, de duas dimensões, para a vida evolucionante não seria o melhor, um círculo significaria voltar infindavelmente sobre as mesmas experiências. Tudo na natureza tem um propósito, inclusive a terceira dimensão. Para que possamos viver as oportunidades de um universo tridimensional, o caminho evolutivo deve ser em espiral. E assim é de fato. Em toda parte, quer no céu quer na terra, todas as coisas caminham para frente, para cima e para sempre.
A pequena planta no jardim e a sequoia[2] gigante da Califórnia, com seu tronco de 13 metros de diâmetro mostram a espiral na ordenação de seus ramos, talos e folhas. Se estudarmos a grande abóboda celeste e examinarmos a nebulosa espiralada, que são mundos em formação, ou os caminhos percorridos pelos Sistemas Solares, fica evidente que a espiral é o caminho do progresso.
Encontramos outra ilustração do progresso em espiral no curso anual de nosso Planeta. Na primavera, ela sai de seu período de repouso, desperta de seu sono hibernal. Então, vemos a vida brotando por toda parte. E a Natureza empregando todas as atividades para criar. O tempo passa; os cereais e a uva estão amadurecidos e sendo colhidos, e novamente o silêncio e a inatividade do inverno substituem a atividade do verão; e outra vez o manto de neve envolve a Terra. Mas ela não dormirá para sempre; e novamente despertará ao canto de uma nova primavera, e com isso terá progredido um pouco mais no caminho do tempo.
É possível que uma lei, sendo universal em todos os demais reinos da Natureza, seja revogada apenas no reino humano? Pode a Terra despertar todos os anos de seu sono hibernal; pode a árvore e a flor viver novamente e somente o ser humano morrer? Não, isto é impossível num universo governado por lei imutável. A mesma lei que desperta a vida na planta para um novo crescimento deve também despertar o ser humano para mais um passo rumo à perfeição. Portanto, a doutrina do renascimento, ou repetidas encarnações humanas em veículos de crescente perfeição, está em pleno acordo com a evolução e com os fenômenos da Natureza, quando se afirma que o nascimento e a morte seguem um ao outro em contínua sucessão. E isto se acha em plena harmonia com a lei dos Ciclos Alternantes que estabelece uma sequência ininterrupta, um após o outro: atividade e repouso, fluxo e refluxo, verão e inverno. Está também em perfeito acordo com a fase espiral da Lei de Evolução quando declara que toda vez que o Espírito retorna a um novo nascimento, assume um corpo mais perfeito e, à medida que o ser humano progride em conquistas mentais, morais e espirituais em consequência das experiências acumuladas de vidas passadas, alcança um melhor ambiente para viver.
Quando buscamos solucionar o enigma da vida e da morte; quando buscamos uma resposta que satisfaça tanto a Mente quanto ao Coração, sobre as diferenças nos dons ou condições dos seres humanos, buscando uma razão para a existência de tristeza e dor; quando indagamos por que um indivíduo é criado no regaço de luxo, enquanto outro tem de resignar-se com as miríades migalhas que lhe atiram; Por que um recebe uma educação moral, enquanto o outro é ensinado a roubar e a mentir; por que um nasce com uma feição e imagem venusiana, enquanto o outro nasce com a cabeça de Medusa[3]; por que um desfruta da mais perfeita saúde, enquanto outro jamais conhece um momento de alívio de suas dores; por que um tem o intelecto de Sócrates[4], enquanto outro mal sabe contar “um, dois ou muitos”; assim como os aborígenes Australianos, os materialistas ou teólogos nada podem esclarecer. O materialismo atribui às causas das enfermidades a Lei de Hereditariedade e, com relação às condições econômicas, Spencer[5]nos diz que, no mundo animal, a lei da Sobrevivência é “comer ou ser comido”; e na sociedade civilizada a Lei é “enganar ou ser enganado”.
A hereditariedade explica parcialmente a constituição física. Semelhante produz semelhante, pelo menos no que concerne à forma, mas a hereditariedade não explica as tendências morais e as inclinações mentais, as quais diferem em cada ser humano. A hereditariedade é um fato nos reinos inferiores, onde todos os animais de uma mesma espécie parecem ser iguais, comem o mesmo tipo de alimento e agem de maneira semelhante em idênticas circunstâncias, porque não têm somente vontade própria, mas são dominados por um Espírito-Grupo comum. No reino humano é diferente. Cada ser humano age à sua própria maneira. Cada um requer uma dieta própria. Conforme passam os anos de infância e adolescência o Ego vai moldando o seu instrumento de tal maneira que nele reflete as suas características. Assim, não existem duas pessoas exatamente iguais. Mesmo os gêmeos que não podem ser distinguidos na infância diferenciam-se gradativamente ao crescerem, pois, suas próprias características é que formalizarão o pensamento do Ego interno.
No plano moral prevalecem semelhantes condições. Os registros policiais demostram que os filhos de criminosos incorrigíveis, geralmente, não possuem tendências criminosas; eles quase sempre se conservam afastados dos tribunais, e nas “galerias de criminosos” da Europa e da América é impossível encontrar pai e filho ao mesmo tempo. Assim, os criminosos são filhos de pessoas honestas sendo, portanto, a hereditariedade incapaz de explicar as tendências morais.
Quando considerarmos as elevadas faculdades intelectuais e artísticas, descobrimos que os filhos de um gênio são, muitas vezes, pessoas medíocres e até mesmo idiotas. O cérebro de Cuvier[6] foi o maior, jamais pesado e analisado pela ciência. Seus cinco filhos morreram de paresia[7]. O irmão de Alexandre, o Grande[8], era um idiota, e como esse, muitos outros casos poderiam ser citados de improviso, para mostrar que a hereditariedade explica apenas parcialmente a similaridade da forma, e nada esclarece sobre as condições mentais e morais. A Lei da Atração, que faz com que os músicos se agrupem em salas de concertos e estimula reuniões de pessoas literárias em razão de suas semelhanças e gostos; é a Lei de Consequência, que leva aqueles que desenvolvem tendências criminosas a se associar com criminosos, a fim de que possam aprender a praticar o bem, sofrendo as consequências do mal praticado, explicam, mais logicamente do que a hereditariedade, os fatos de associações e de caráter.
Os teólogos explicam que todas as condições são criadas pela vontade de Deus, que em Sua insondável sabedoria houve por bem tornar alguns ricos e a maior parte pobres; alguns inteligentes e outros tolos etc.; que Ele proporciona dificuldades e provações a todos; sendo que a maioria terá maiores dificuldades e provações e uma minoria terá pouco, dizendo ainda que devemos aceitar nossa parte sem murmurar ou queixas. Mas é quase impossível olhar o céu com amor quando se pensa que de lá vem, por capricho divino, todas as nossas desgraças, sejam grandes ou pequenas. E a bondosa mente humana se revolta ao pensamento de um pai que esbanja amor, conforto e riqueza a uns poucos, e envia tristeza, sofrimento e miséria a milhões. Certamente deve haver outra solução, diferente dessa, para os problemas da vida. Não é mais razoável supor que os teólogos interpretam mal a Bíblia, do que atribuir tão monstruosa conduta a Deus?
A Lei de Renascimento oferece uma solução razoável a todas as desigualdades da vida, isto é, as tristezas e sofrimentos, quando se une à sua lei complementar, a Lei de Consequência mostrando o caminho da emancipação.
A Lei de Consequência é a Lei da Justiça da Natureza. Decreta que aquilo que o ser humano semear isso mesmo colherá. O que somos, o que temos, todas as nossas boas qualidades são resultado do nosso trabalho no passado, daí os nossos talentos. O que nos falta física, moral ou mentalmente é pelo fato de termos negligenciado certas oportunidades no passado, ou mesmo por não termos as tido, mas algum dia e em algum lugar teremos outras possibilidades e então, recuperaremos o que foi perdido. Quanto às nossas obrigações para com os demais e os débitos deles para conosco, a Lei de Consequência prevê isto. O que não pode ser liquidado em uma só vida será liquidado nas vidas futuras. A morte não cancela nossas obrigações, da mesma forma que mudando para outra cidade não liquidamos nossas dívidas contraídas aqui. A Lei do Renascimento provê-nos um novo ambiente, mas nele vamos encontrar nossos velhos amigos e nossos antigos inimigos. Nós os reconheceremos, pois quando encontramos com uma pessoa pela primeira vez e sentimos como se a conhecêssemos durante toda a nossa vida, isso não é mais do que um reconhecimento do Ego que atravessa o véu da carne e descobre o antigo amigo. Por outro lado, quando nos deparamos com uma pessoa que imediatamente nos inspira medo ou repulsa, novamente isso representa uma mensagem do Ego nos advertindo contra o nosso velho inimigo de vidas passadas.
O ensino oculto relativo à vida, que baseia sua solução nas Leis gêmeas de Consequência e Renascimento, diz simplesmente que o mundo que nos rodeia é uma escola de experiência; que assim como enviamos uma criança à escola dia após dia e ano após ano, para que aprenda mais e mais conforme avance através dos diversos graus, do jardim de infância à faculdade, assim também o Ego humano, como filho do Pai, vai à Escola da Vida, dia após dia. Só que nessa vida mais ampla do Ego, cada dia na escola é uma vida terrestre, e a noite que cai entre dois dias de aprendizado corresponde ao sono da morte numa vida mais ampla do Ego humano (o Espírito no ser humano).
Numa escola existem muitos graus. As crianças mais velhas que frequentaram as muitas aulas irão aprender lições muito diferentes daquelas que estão cursando o jardim de infância. Assim também, na Escola da Vida, aqueles que ocupam posições elevadas, dotados de grandes faculdades, são nossos Irmãos Maiores, enquanto as pessoas não civilizadas ainda estão ingressando nas classes mais primárias. O que eles são agora nós também já fomos, e todos alcançarão, no devido tempo um ponto em serão mais sábios, do que aqueles que agora têm o conhecimento. Nem deve surpreender ao filósofo que o poderoso oprima ao fraco; as crianças mais velhas são cruéis com seus companheiros mais jovens, em determinada fase de seu crescimento, porque elas ainda não desenvolveram o verdadeiro senso de justiça, mas, à medida que elas crescem, aprenderão a proteger os mais fracos. O mesmo acontece às crianças de maior idade. O altruísmo floresce mais e mais em toda parte, e dia virá em que todos os seres humanos serão tão bons e benevolentes quanto os maiores santos.
Só existe um pecado: a Ignorância; e apenas uma salvação: o Conhecimento Aplicado. Toda tristeza, sofrimento e dor provêm da ignorância de como agir, e a Escola da Vida é tão necessária para o desenvolvimento de nossas capacidades latentes quanto a escola diária o é para as crianças despertarem suas faculdades.
Quando nos dermos conta de que isso é assim, a vida logo tomará outro aspecto. Não importarão, então, as condições em que nos encontramos, o saber que nós as criamos, ajudar-nos-á a suportar com paciência; e, melhor que tudo, o glorioso sentimento de que somos senhores de nosso destino, e de que podemos fazer o nosso futuro como bem o desejamos, o que seria em si mesmo um poder. Resta-nos desenvolver o que nos falta. Naturalmente que temos que levar em conta nosso passado, e é possível que muitos infortúnios possam dele resultar em consequências de más ações. Mas se deixarmos de praticar o mal, podemos contemplar com alegria qualquer aflição, considerando que elas saldarão velhas dívidas e nos aproximando do dia em que delas teremos uma boa recordação. Não é válida a objeção de que frequentemente o mais correto é o que mais sofre. As grandes inteligências que dão a cada ser humano a soma de suas dívidas passada; as quais devem ser liquidadas em cada vida, sempre o ajudam a liquidá-las sem lhe acrescentar novas, mas apenas dando-lhe tanto quanto ele possa suportar para apressar o dia de sua emancipação; e, nesse sentido é estritamente verdadeiro que “O Senhor castiga a quem ama.”[9].
A doutrina do Renascimento muitas vezes é confundida com a teoria da transmigração, que ensina que o Espírito humano pode encarnar em um animal. Isso não tem fundamento na natureza. Cada espécie de animal é emanação de um Espírito-Grupo, o qual os governa DE FORA, por sugestão. O Espírito-Grupo funciona no Mundo do Desejo, onde a distância não existe; por isso ele pode influenciar qualquer membro da espécie que dirige e em qualquer lugar em que esse se encontre. Por outro lado, o Espírito humano, o Ego, penetra dentro de um Corpo Denso; assim, existe um Espírito individual em cada pessoa, habitando em seu instrumento particular e guiando-o de dentro. Esses dois estágios evolutivos são inteiramente diferentes, sendo tão impossível ao ser humano encarnar em um corpo animal quanto para um Espírito-Grupo tomar a forma humana.
A pergunta “Por que não recordamos das nossas existências passadas?” é outra aparente dificuldade. Mas se compreendermos que a cada nascimento temos um cérebro totalmente novo, e que o Espírito humano é fraco e se acha absorvido pelo seu novo ambiente, não nos deve surpreender afinal que ele não possa impressionar fortemente o cérebro nos dias da infância, quando ele é mais sensível. Algumas crianças recordam seu passado, especialmente nos primeiros anos, e é coisa das mais patéticas o fato de tais crianças serem totalmente incompreendidas nessas ocasiões pelas pessoas mais velhas. Quando falam da vida passada elas são ridicularizadas, e até punidas por serem “fantasiosas”. Se as crianças falam de seus companheiros invisíveis, e de que “veem coisas” – porque muitas crianças são clarividentes – acabam defrontando-se com o mesmo tratamento severo, e o inevitável resultado é que elas aprendem a calar-se até perderem por completo aquela faculdade. Acontece, porém, que algumas vezes, quando a afirmação da criança é ouvida, resultam em espantosas revelações. O escritor ouviu falar sobre esse caso há alguns anos na costa do Pacífico:
Certo dia, na cidade de Santa Bárbara, uma criança vendo um cavalheiro, chamado Roberts, que passava pela rua, pôs-se a correr na sua direção, gritando “Papai”, e insistindo em afirmar que ela vivera com ele e com a ‘outra mãe’ em uma casinha perto do riacho; e que certa manhã ele as deixara para não mais voltar. E que ela e sua mãe haviam morrido de fome e a pequena criança finalizou dizendo estranhamente: “Mas eu não morri, vim para cá”. A história não foi contada em um só fôlego, nem resumidamente, mas sim a intervalos, por uma tarde inteira e em respostas e perguntas intermitentes. A história do Sr. Roberts é a da precipitada fuga de dois jovens namorados; de seu casamento e migração da Inglaterra para a Austrália; da construção de uma casinha próxima a um riacho e num lugar ermo; de sua saída de casa certo dia deixando sua mulher e o bebê, e de sua prisão sem que lhe fosse concedida permissão para avisar a sua esposa – porque os agentes temiam a fuga do prisioneiro – de como foi levado sob a mira das armas até o litoral e embarcado para a Inglaterra, acusado de assalto a um banco na mesma noite em que viajara para a Austrália; de como, chegando à Inglaterra, conseguiu provar sua inocência, e de como só então, atendendo aos insistentes rogos sobre sua esposa e filha, que àquela altura deveriam estar morrendo de inanição, as autoridades concordaram em organizar e enviar um grupo de salvamento, e em resposta soube que o grupo encontrara apenas os ossos de uma mulher e de uma criança. Todas essas coisas corroboraram a história da menininha de três anos; e sendo-lhe mostradas algumas fotografias ao acaso, ela pôde apontar as do Sr. Roberts e as de sua esposa, embora o Sr. Roberts tivesse mudado bastante nos dezoito anos decorridos desde a tragédia até àquele incidente em Santa Bárbara.
Não se deve supor, contudo, que todos os que atravessam os portais da morte renasçam em tão pouco tempo, como aconteceu com a menina. Tão curto intervalo tiraria do Ego a oportunidade de realizar o importante trabalho de assimilar experiências e preparar-se para uma nova vida terrena. Mas uma criança de três anos não tem ainda experiências significativas, podendo, portanto, buscar logo a seguir um novo corpo físico para renascer, geralmente na mesma família. Muitas vezes uma criança morre porque algumas modificações nos hábitos dos pais frustra o cumprimento do destino resultante de seus atos passados. Então é necessário aguardar outra oportunidade, mas também elas podem nascer e morrer a seguir para ensinar aos pais uma lição de que eles precisem. Houve um caso em que um Ego encarnou oito vezes na mesma família com tal propósito, até que eles aprendessem a lição. Depois, renasceu em outro lugar. Era um amigo da família que adquiriu grande mérito, ajudando-os deste modo.
A Lei do Renascimento, quando não é alterada pela Lei da Consequência, em tão grande extensão como no caso acima mencionado, trabalha consoante ao movimento do Sol, conhecido por Precessão dos Equinócios, pelo qual o Sol retrocede através dos doze Signos do Zodíaco, assim chamado Ano Sideral ou Mundial que compreende 25.868 anos solares ordinários.
À medida que o movimento da Terra em sua órbita ao redor do Sol produz as mudanças climáticas conhecidas como estações, as quais por sua vez alteram as nossas condições e atividades, da mesma forma o movimento do Sol por precessão nos grandes anos siderais produz mudanças ainda maiores nas condições climáticas e topográficas, relacionadas com a civilização, sendo necessário que o Ego em seu aprendizado experimente a todas.
Portanto, o Ego renasce duas vezes durante o tempo em que o Sol percorre cada um dos Signos do Zodíaco, e que é aproximadamente 2.100 anos. Portanto, normalmente, transcorre cerca de 1.000 anos entre duas encarnações e, como as experiências de um homem diferem grandemente das de uma mulher – não se modificam materialmente em mil anos as condições terrestres – assim, o Espírito geralmente renasce alternadamente ora como homem e ora como mulher. Mas isto não significa ser a regra rígida e inflexível. Ela está sujeita a modificações sempre que a Lei de Consequência o exija.
Assim, pela experiência por parte do Ego, a ciência oculta soluciona o enigma da vida em todas as condições que se têm esse objetivo, sendo que todos são determinados automaticamente pelos méritos de cada um. Isto arranca da morte o seu aguilhão e o terror que o inspira, colocando-a no lugar que merece e considerando-a como um simples incidente numa que é mais ampla, analogamente ao fato de nos mudarmos para outra cidade por algum tempo; isto torna menos triste à partida daqueles a quem amamos, pois nos garante que o mesmo amor que lhes devotamos será o elemento que a eles nos unirá outra vez, e ainda nos proporciona esperança maior: a de que alcançaremos algum dia o conhecimento que solucionará todos os problemas; que ligará todas as nossas vidas; e melhor que tudo – conforme nos ensina a ciência oculta – que através de sua aplicação temos nela, o poder de apressar o glorioso dia em que a fé será absorvida pelo conhecimento. Então, poderemos compreender em seu sentido mais profundo a beleza do poético enunciado da doutrina do renascimento, de Edwin Arnold[10]:
O Espírito jamais nasceu!
E jamais deixará de existir!
Jamais houve tempo em que deixou de ser,
Princípio e fim são sonhos no sentir.
O Espírito permanece sempre sem nascer e sem morrer.
A Morte jamais o tocou,
Embora possa parecer.
Morta a casa em que habitou
Não! Simplesmente como alguém que tira
Uma roupa usada e a joga além
E ao vestir outra, diz;
Hoje, essa veste vou usar.
Assim também, o Espírito põe à margem
Uma transitória e carnal roupagem
E prossegue para, então, herdar
Outra morada, outro novo lar!
Um pouco de reflexão em breve tornará claro para qualquer investigador que vivemos em um mundo dos efeitos, que é o resultado de causas invisíveis. Nós vemos matéria e forma; mas a força que molda a matéria e a acelera é invisível para nós. A vida não pode ser percebida diretamente pelos sentidos; ela é invisível, autoexistente e independente das formas variadas que vemos como suas manifestações.
Eletricidade, magnetismo e vapor são nomes dados a forças nunca vistas com os olhos físicos; embora, em conformidade com certas leis descobertas por experimentos, nós as tornamos nossos servidores mais valiosos. Vemos suas manifestações movendo bondes, ferrovias e navios a vapor; elas iluminam nosso caminho à noite e transmitem nossa mensagem ao redor do mundo com uma velocidade que aniquila o espaço. Elas estão à nossa disposição a qualquer hora, incansáveis e fiéis no desempenho de inúmeras tarefas; contudo, como foi dito, nunca os vimos, nossos mais fiéis e valiosos servos.
Tais forças da natureza não são cegas nem desinteligentes, como pensamos erroneamente; existem muitas classes delas e trabalham ao longo de diferentes avenidas da vida. Talvez uma ilustração deixe claro seu status em relação a nós. Suponhamos que um carpinteiro esteja fazendo uma cerca e um cachorro esteja parado, observando. O cão vê o carpinteiro e seu trabalho, embora não compreenda o que ele esteja fazendo. Se o carpinteiro fosse invisível para o cão, este veria a cerca sendo construída lentamente e veria todos os pregos sendo usados; perceberia a manifestação, mas não a causa, e estaria, assim, em relação ao carpinteiro como nós estamos em relação às forças da Natureza que se manifestam sobre nós como gravidade, eletricidade ou magnetismo.
Nos últimos séculos e particularmente nos últimos sessenta anos, a ciência deu grandes passos na investigação do mundo em que vivemos e o resultado foi revelar em todas as direções um mundo até então invisível. Com telescópios de poder crescente, os astrônomos têm chegado ao espaço e descoberto cada vez mais mundos; com admirável engenhosidade, eles colocaram a câmera no telescópio e, assim, conseguiram fotografar sóis a distâncias tão enormes que seus raios não impressionam nossos olhos e só podem ser capturados por horas de exposição sobre uma sensível placa fotográfica.
Na direção do minúsculo, a crescente perfeição do microscópio alcançou resultados semelhantes; um mundo que até então era invisível para nós foi descoberto, contendo uma atividade excedente da vida e marcado por uma diversidade de formas dificilmente menos complexa que o mundo que contemplamos apenas com os cinco sentidos.
O esforço de fazer tais investigações através da lente ocular de um microscópio é severo e causa intensa pressão nos olhos; no entanto, também aqui a câmera presta sua ajuda ao ser humano. Com oportunos acessórios mecânicos e a velocidade da luz, ele pode registrar permanentemente os fenômenos microscópicos a uma taxa de, talvez, setenta negativos por segundo. Esses podem ser ampliados e projetados em uma tela como imagens em movimento; eles podem ser vistos por centenas de pessoas ao mesmo tempo, com conforto e facilidade.
Podemos ver como a seiva circula lentamente pelas veias de uma folha ou observar como o sangue corre, igual a um moinho, através das veias semitransparentes da perna de um sapo. As larvas no queijo parecem tão grandes quanto os caranguejos cinzentos que serpenteiam aqui e ali, em busca de presas. Uma gota de água contém muitas bolas escuras que crescem e explodem, lançando numerosos e minúsculos globos que, por sua vez, expandem-se e difundem seus rebentos. O Dr. Bastian, de Londres, viu inclusive como uma pequena mancha negra na espinha de um ciclope (e há muitos em uma gota de água) se transformou em um parasita que se alimentava do ciclope.
Por meio da radiografia, a ciência conseguiu invadir os interiores mais íntimos do Corpo Denso do ser humano, fotografando seu esqueleto e qualquer substância estranha que possa ser localizada ali.
Assim, em muitas direções, um mundo até então invisível se apresentou ao olhar de investigadores persistentes. Quem dirá que o fim foi atingido e que não haja outros mundos no espaço, além daqueles agora fotografados por astrônomos, ou que não haja qualquer vida habitando formas menores que as descobertas pelos melhores microscópios atuais? Amanhã, algum instrumento pode ser inventado e ir além de todos os dispositivos anteriores, mostrando muito do que, hoje, está oculto. A infinidade do espaço, do grande e do pequeno, parece estar além de qualquer dúvida e independe da nossa cognição.
Ao examinar as maravilhosas realizações da ciência física, há uma característica que vale a pena observar de maneira especial: cada nova descoberta foi feita mediante a invenção de dispositivos novos ou do aperfeiçoamento dos dispositivos existentes anteriormente para auxiliar os sentidos físicos; e, por esse motivo, as investigações da ciência foram limitadas ao mundo dos cinco sentidos — o denso Mundo Físico. Os cientistas lidaram com os elementos químicos: os sólidos, líquidos e gases; contudo, para além desse campo eles não têm instrumentos capazes de usar, embora sejam forçados a postular uma matéria ainda mais sutil a qual chamam de “Éter”, porque sem tal meio mais refinado eles deduzem ser impossível explicar a luz, a eletricidade e outros fenômenos. Consequentemente, vemos a ciência física indutivamente reconhecer a existência de Mundos invisíveis como uma necessidade na economia da Natureza.
Logo, tanto a ciência física quanto a ocultista concordam nesse ponto e ambas atingem os Mundos invisíveis na busca de soluções para os problemas. Elas diferem quanto ao método de investigação e à credibilidade a ser dada à evidência obtida. A ciência material tenta apenas explicar os problemas que sejam insolúveis em uma base puramente física, como a passagem das ondas de luz através do vácuo ou a semelhança das flores da estação atual com as dos verões passados. Em tais casos, a ciência postula prontamente algo invisível e intangível como o éter ou a hereditariedade, orgulhando-se da sua perspicácia e da engenhosidade de suas explicações.
A ciência oculta afirma que existe uma causa invisível na raiz de todos os fenômenos visíveis, causa que, quando conhecida, proporciona um conhecimento mais profundo sobre os eventos da vida do que um conceito mecânico possa proporcionar; também afirma que uma ideia mais abrangente sobre vida seja obtida pelo estudo de ambos os fenômenos, o visível e o dos números na filosofia kantiana, é a essência, a realidade, a coisa em si, as causas subjacentes do Mundos invisíveis. Investiga, portanto, os Mundos invisíveis, oferecendo uma solução mais completa e razoável para os problemas da vida do que os meros fatos científicos, derivados apenas da observação de fenômenos físicos.
A ciência material postula o éter e a hereditariedade como soluções para os problemas acima, embora seja incapaz de oferecer uma prova real sobre a verdade de suas hipóteses, exceto a aparente razoabilidade. No entanto, quando a ciência oculta emprega métodos semelhantes e declara a existência do Espírito, sua imortalidade, sua pré-existência ao nascimento e persistência após a morte, sua independência do corpo ou outras declarações desse tipo, a ciência física zomba dela e fala, inconsistentemente, de superstição e ignorância. Ela exige provas, embora a evidência oferecida seja pelo menos tão boa quanto a científica sobre a existência do éter, da hereditariedade ou de inúmeras outras ideias que foram promovidas e aceitas implicitamente pela multidão que, admiravelmente, inclina a cabeça diante de qualquer ditado que seja apoiado pela palavra mágica “Ciência”.
Ninguém pode demonstrar a verdade de uma proposição em geometria para uma pessoa não familiarizada com os princípios da matemática. Por razões semelhantes, os fatos dos mundos internos não podem ser provados ao cientista materialista. Se uma pessoa desprovida de conhecimento matemático estudar matemática, facilmente ficará satisfeita com a solução do problema. Quando o cientista físico se preparar para a compreensão de eventos que estejam além dos físicos, ele terá a prova e será obrigado a defender até mesmo as teorias que agora combate como superstição.
A ciência oculta inicia as investigações justamente no lugar onde a ciência material termina as suas: na porta dos reinos suprafísicos, equivocadamente chamados “sobrenaturais”. Não há algo “sobrenatural” ou “não-natural”; nada pode estar fora da Natureza, embora possa facilmente haver eventos que estejam além dos físicos, pois o mundo físico é a menor parte da Terra. Ao contrário do cientista da matéria, no entanto, o cientista do oculto não prossegue suas investigações por meio de instrumentos mecânicos, mas por melhorar a si mesmo, cultivando faculdades de percepção que estejam latentes em todo ser humano e são passíveis de ser despertadas pelo treinamento adequado. As palavras de Cristo, “procurai e encontrareis”, foram particularmente aplicadas às qualidades espirituais e direcionadas a “quem quiser”. Tudo depende de nós mesmos; não há nenhuma coisa atrapalhando e muitos estão ajudando o buscador sincero a achar o conhecimento. A discussão sobre os meios e maneiras de fazê-lo, no entanto, está fora do presente assunto e deve ser deixada para elucidação em ensaios futuros.
“Mas”, dirá alguém, “qual é a utilidade de perturbarmos os Mundos invisíveis? Nós fomos colocados aqui, neste mundo diariamente material; o que temos a fazer com os Mundos invisíveis? E mesmo que seja verdade que vamos para lá depois da morte, por que não aproveitar um mundo de cada vez? Já basta a cada dia o seu mal; por que pedir mais emprestado?”.
Certamente essa visão é a mais míope. Em primeiro lugar, o conhecimento do estado pós-morte eliminaria o medo da morte, que assombra tantas pessoas mesmo quando elas estão com a saúde mais vigorosa. Mesmo na vida mais descuidada, há momentos em que o pensamento deste salto no escuro, a morte, que em algum momento será dado por todos nós, diminui a sensação de alegria; assim, qualquer explicação que ofereça conhecimento definido e confiável sobre esse importante assunto certamente será bem-vinda.
Além disso, ao olharmos para nós, no mundo, vemos que haja uma lei que deve ser aparente até mesmo aos mais insensíveis: a lei da causalidade. Todos os dias nosso trabalho e nossa condição dependem do que fizemos, ou não, no dia anterior; é absolutamente impossível nos afastarmos do nosso passado ou “começar de novo”. Não podemos realizar um ato que não esteja conectado de alguma forma aos anteriores, estando limitado e restringido por condições prévias; e certamente deve parecer razoável imaginar que, qualquer que seja o modo de expressão da vida nos Mundos invisíveis, estará de algum modo determinado pela nossa vida atual. Também é lógico declarar que, se houvesse informações confiáveis sobre esses Mundos invisíveis, seria prudente que nos preparássemos com elas pelo mesmo motivo que, quando desejamos viajar para outro país, nós nos familiarizamos com sua geografia, leis, costumes, idioma ou outras informações adequadas. Fazemos isso porque sabemos que, quanto mais detalhadamente estivermos preparados com o conhecimento, tanto mais lucraremos com nossa viagem e menos serão os aborrecimentos devido às condições imprevistas. Logicamente, ele deve valer para o estado post-mortem.
Mais uma vez, algum opositor dirá: “Ah, mas esse é justamente o problema! Qualquer que seja a condição após a morte, ninguém sabe ao certo. Aqueles que professam conhecer diferem um do outro em suas histórias e muitas são irracionais, impossíveis”.
Em primeiro lugar, nenhum ser humano tem o direito moral de afirmar que ninguém saiba, exceto que ele próprio seja onisciente e conheça a extensão do conhecimento de todos aqueles que vivem; além disso, é o auge da arrogância tentar julgar a capacidade mental de outras pessoas baseando-se em ideias extremamente curtas, como as que os especialistas que fazem tais afirmações geralmente têm. O sábio sempre tem ouvidos abertos para evidências novas, estando disposto e ansioso para investigar; e mesmo que houvesse apenas uma pessoa professando ter conhecimento sobre os Mundos invisíveis, isso não provaria, de forma necessária, que estivesse enganada. Galileu não ficou sozinho, ao afirmar sua teoria a respeito do movimento dos corpos celestes, teoria à qual todo o mundo ocidental se converteu desde então?
Quanto à diferença nas histórias descritas por quem declara conhecer os Mundos invisíveis, isso não é apenas algo esperado, mas também uma característica valiosa, como nos mostra uma ilustração da vida cotidiana.
Suponhamos que São Francisco tivesse sido inteiramente reconstruída em uma escala imponente, com todas as mais recentes melhorias modernas, e decidisse comemorar a ocasião com um grande festival. Muitos milhares se reuniriam na ponte Golden Gate para se alegrar com a nova Fênix que surgira das cinzas da bela cidade, tão repentinamente varrida da face da terra por uma morte ardente. Entre outros, provavelmente viria um número considerável de jornalistas e repórteres de diferentes partes do país, com o objetivo de enviar relatórios para suas respectivas publicações. É uma conclusão precipitada a de que, embora os repórteres sejam observadores treinados, não haveria dois relatos iguais. Alguns poderiam ter certos pontos em comum. Mas alguns seriam diferentes dos outros em todos os aspectos pela simples razão de que todo repórter veria a cidade a partir do seu ponto de vista, que é particular, e notaria só o que lhe agradasse. Assim, em vez de a diversidade de relatórios ser um argumento contra sua precisão, será fácil perceber que todos eles seriam valiosos como partes diferentes de um todo; e é seguro afirmar que um indivíduo que leu todos os diferentes relatórios teria uma ideia bem mais abrangente de São Francisco do que se tivesse lido apenas um relatório assinado por todos os repórteres.
O mesmo princípio se aplica às diferentes histórias que descrevem os Mundos invisíveis; elas não são necessariamente falsas porque variam, mas formam coletivamente uma narrativa mais completa.
Quanto às histórias “impossíveis”, suponhamos que um de nossos repórteres de São Francisco, em vez de observar a cidade, tenha passado algum tempo se divertindo e tenham enviado um relatório imaginário; certamente isso não invalidaria os relatórios honestos. Ou suponhamos que alguém estivesse usando, sem perceber, um par de óculos amarelos e enviou um relatório sobre as casas e as ruas serem de ouro; isso apenas mostraria a ignorância dele por não saber que os óculos eram daquela cor, mas não a cidade; seu relatório não deve manchar a sanidade ou a veracidade dos outros. Por fim, lembremos que, embora algumas coisas estejam além do nosso poder de raciocínio, isso não prova que elas não sejam razoáveis. O fato de um bebê não entender raiz quadrada não constitui argumento válido contra a matemática. Em resumo, nenhum argumento razoável pode ser proposto pelo materialista para provar que os Mundos invisíveis não existam, assim como o cego não pode debater com sucesso contra a existência da luz e da cor no Mundo ao seu redor. Se a visão dele for obtida, ele as verá. Portanto, nenhum argumento daqueles que são cegos para o Mundos invisíveis pode convencer o vidente da inexistência do que ele vê e, se a percepção adequada for despertada nessas pessoas, elas também notarão um Mundo para o qual antes eram insensíveis, embora estivesse ao redor delas como a luz e a cor permeiam o mundo dos sentidos, sejam percebidas ou não.
Passando desse testemunho negativo para a existência dos reinos suprafísicos e evidências mais positivas, uma ilustração cotidiana mostrará como a matéria esteja constantemente mudando de estados mais densos para mais refinados, na Natureza. Se pegarmos um bloco de gelo, temos um “sólido”; aplicando-lhe calor, aumentamos as vibrações dos átomos que o compõem e ele se torna um “líquido” — “água”. Se aplicarmos mais calor, elevamos as vibrações dos átomos da água a um ritmo que a torna invisível aos olhos; então temos um “gás” que chamamos de “vapor”. A mesma matéria que era visível como gelo e água fugiu da nossa vista, mas não deixou de existir, porque com a aplicação do frio ela será condensada em forma de água e, depois, poderá novamente ser congelada em forma de gelo.
Embora a matéria possa ultrapassar o alcance da nossa percepção, ela ainda persiste. O mesmo acontece com a consciência, embora possa ser incapaz de nos dar qualquer sinal de existência. Isso foi comprovado nos casos em que uma pessoa, aparentemente, morreu e nem o mais fraco movimento do coração ou a menor oscilação respiratória pôde ser percebida. Assim, no último momento, antes do enterro, o “morto” voltou à vida, repetiu cada palavra e descreveu toda ação daqueles que estiveram ao seu redor, enquanto seu corpo físico estava inconsciente.
Portanto, sabendo que a matéria, que é indestrutível, exista em estados invisíveis, intangíveis e, sabendo que a consciência seja bastante alerta, e ainda mais intensa quando o Corpo Denso está inconsciente do que na vida normal de vigília, não é razoável supor que essa consciência possa moldar em corpos não-físicos a matéria que para nós é invisível e funcionar nela, quando estamos sem o corpo carnal, do mesmo jeito que ela dá forma, durante a vida terrena, à matéria deste Mundo, trazendo à existência outro Mundo de forma e consciência que é tão real ao Espírito não-carnal quanto este Mundo o é para os olhos que habitam corpos carnais?
Mesmo durante a vida no Corpo Denso, conhecemos e lidamos com os Mundos invisíveis em todos os momentos da nossa existência e a vida que vivemos lá é a parte mais importante do nosso ser — a base da nossa vida nessa Região Química do Mundo Físico.
Todos nós temos uma vida interior na qual vivemos em meio a nossos pensamentos e sentimentos, vivendo cenas e condições que sejam desconhecidas para o nosso ambiente externo. Lá, a Mente molda nossas ideias em figuras de pensamento que depois externalizamos. Tudo, tudo o que vemos ao nosso redor faz contato com nossos sentidos e o que chamamos de real é apenas a sombra evanescente de um Mundo intangível e invisível. O Mundo visível se consolidou a partir dos reinos invisíveis essencialmente da mesma maneira que a casa dura e insensível do caracol se cristalizou através dos sucos do seu corpo mole. Além disso, a casa do caracol é inerte e permaneceria imóvel, se ele não a movesse; do mesmo modo, os corpos das plantas, animais e humanos são apenas emanações inertes do Espírito que habita o Mundos invisíveis e, não fosse a vida interior estimular a forma e possibilitar sua ação, ela seria incapaz de se mover. Esses corpos são preservados apenas enquanto servem ao propósito do Espírito; quando ele sai deles, não há nada para manter a coesão da forma e, então, ela se deteriora.
Além disso, tudo o que vemos à nossa volta, as casas, bondes, barcos a vapor, telefones, enfim, todos os objetos que foram modelados pela mão do ser humano, é imaginação cristalizada que teve origem no Mundos invisíveis. Se Graham Bell não tivesse conseguido imaginar o telefone, ele nunca teria existido. Foi a “vida interior” de Fulton quem testemunhou o nascimento do barco a vapor muito antes que o visível “Clermont” surgisse.
Quanto à realidade e permanência dos objetos no Mundos invisíveis, são muito superiores às condições visíveis que acreditamos erroneamente ser o auge da “realidade”. Consideramos as imagens mentais e imaginações menos reais do que uma miragem e as menosprezamos como “mero pensamento” ou “apenas uma ideia”, quando, na verdade, elas são as realidades ocultas de tudo o que vemos no mundo à nossa volta. Uma ilustração realçará ainda mais este assunto.
Quando um arquiteto deseja construir uma casa, ele não pede que madeira e outros materiais sejam enviados para o canteiro de obras, nem contrata trabalhadores e manda que eles avancem para construir! Ele formula uma ideia e pensa nela, primeiro construindo a casa “em sua mente” com o máximo de detalhes possível para, a partir desse modelo mental, a casa poder ser construída, se puder ser vista pelos trabalhadores; mas antes de se tornar tangível ainda está nos Mundos invisíveis e, embora o arquiteto a perceba claramente, “o véu da carne” impede que outros a vejam. Assim, torna-se necessário trazê-la para o mundo dos sentidos e fazer um projeto visível que os trabalhadores possam seguir. Essa é a primeira consolidação da imagem mental do arquiteto e, quando a casa é construída, vemos em madeira e pedra o que era uma ideia na mente do arquiteto e invisível para nós.
Quanto à relativa estabilidade da ideia e da construção, é claro que a casa possa ser destruída por dinamite ou outro elemento poderoso de destruição; entretanto, a “ideia” na mente do arquiteto nem ele a pode destruir e, a partir dessa “ideia”, uma casa semelhante pode ser construída a qualquer momento, enquanto o arquiteto viver. Mesmo após sua morte, a ideia pode ser encontrada na Memória da Natureza, da qual mais será explicado no próximo ensaio, por qualquer pessoa qualificada para essa pesquisa, pois não importa há quanto tempo a impressão foi formada, ela nunca será perdida ou destruída.
Embora possamos, assim, deduzir de modo indutivo a existência dos Mundos invisíveis, esse não é o único meio de prova. Há uma abundância de testemunhos diretos para mostrar que esses Mundos existam; depoimentos de homens e mulheres de integridade inquestionável cuja verdade e exatidão nunca são questionadas em outros assuntos e que afirmam que os Mundos invisíveis sejam habitados por aqueles a quem chamamos de mortos; que esses vivem lá em plena posse de todas as suas faculdades mentais e emocionais, vivendo sob condições que tornam sua vida tão real e proveitosa quanto a nossa, talvez mais. Além disso, é passível de amostra que pelo menos alguns deles tenham interesse considerável nos assuntos do Mundo Físico. Basta analisar dois exemplos de fama mundial.
Primeiro, há o depoimento de Joana d’Arc, a “criada de Orleans”, que ouvia “vozes que falaram com ela e a dirigiram”. Vamos considerar a história da sua vida e ver se ela aguenta o selo da verdade. Aqui, temos uma camponesa simples, pura e pouco sofisticada, pouco mais que uma criança, que nunca havia saído de sua aldeia natal antes de seguir sua “missão”. Ela era extremamente tímida e tinha medo de desobedecer ao pai; mas as “vozes” imperiosas a levaram a enfrentar o descontentamento dele e ela partiu para encontrar o rei da França. Depois de muitos problemas, mas constantemente guiada pelas vozes, ela finalmente conseguiu uma audiência com o rei. Quando ela entrou onde o rei estava, ele estava no meio de seus cortesãos, um fantoche estava sentado no trono e todos esperavam vê-la desconcertada, pois nunca tinha visto o rei; contudo, guiada pelas vozes fiéis, Joana caminhou sem hesitar até ele e o saudou. Ela o convenceu da verdade de sua missão sussurrando em seu ouvido um segredo extremamente importante, conhecido apenas por ele.
Em consequência dessa prova, o comando do exército francês foi retirado das mãos de generais experientes, que haviam sido derrotados pelos ingleses em todas as batalhas, e colocado nas dessa criança, que não sabia coisa alguma sobre a arte da guerra; no entanto, ensinada pelos invisíveis que a estimulavam, levou as tropas francesas à vitória. Seu conhecimento de táticas militares era uma maravilha constante para seus acompanhantes e, por si só, uma amostra da orientação que ela alegava receber.
Em seguida, nós a vemos presa, sujeita a anos de ameaças ou persuasão para dizer o que seus perseguidores queriam, conforme o humor dos seus perseguidores cruéis tentava induzi-la a reconhecer que não houvesse vozes; entretanto, os registros dos procedimentos de seus diferentes julgamentos mostram em suas respostas uma singularidade de mente, inocência e franqueza inigualáveis nos anais da história, o que confundia seus juízes a todo momento. Nem mesmo a morte de estaca poderia fazê-la abjurar a verdade como a conhecia e até hoje seu testemunho das vozes orientadoras do Mundos invisíveis permanece inabalável, selado com o sangue da sua vida. Por fim, essa mártir da verdade foi canonizada como santa pela mesma igreja que a matou.
“No entanto”, alguém pode dizer, “embora ela fosse, sem dúvida, honesta era apenas uma simples camponesa que não sabia que estivesse sofrendo de alucinações!”. Alucinações estranhas, essas, que lhe permitiram reconhecer, sem hesitar, o rei que ela nunca havia visto; possibilitaram contar a ele um segredo desconhecido para qualquer outra pessoa; e viabilizaram descrever com precisão as batalhas que estivessem sendo travadas a muitos quilômetros de distância, como posteriormente verificado por seus participantes.
Contudo, passemos à nossa segunda testemunha, que não é de modo algum uma “Mente simples”. Nesse aspecto, Sócrates é um contraste absoluto com Joana d’Arc, porque foi o intelecto mais aguçado e a maior Mente que conhecemos, algo sem precedente até hoje. Ele também selou seu testemunho sobre a voz orientadora do Mundos invisíveis com o sangue de sua vida e podemos interpretar isso como evidência da inteligência da voz, porque não fosse assim jamais teria sido capaz de aconselhar tão bem um sábio como Sócrates.
Dizer que ele fosse louco ou sofresse de alucinações dificilmente ajudará neste caso, pois um homem que, como Sócrates, pesasse todos os outros assuntos com muita honestidade estaria acima de qualquer suspeita a esse respeito; o caminho mais razoável é reconhecer que “há mais coisas entre o céu e a terra” do que saibamos individualmente ou coletivamente para, depois, começar a investigar.
Isso é realmente o que as pessoas mais avançadas estão fazendo em nossos dias, percebendo que seja tão tolo ser cético demais para investigar quanto tornar-se muito crédulo e acreditar em tudo o que ouvimos como se fosse uma verdade bíblica. Somente nos informando adequadamente é possível chegar a uma conclusão digna de nossa masculinidade ou feminilidade, independentemente da decisão tomada.
Reconhecendo esse princípio e a relevante importância do assunto, a Sociedade de Pesquisa Psíquica foi formada há mais de um quarto de século e inclui entre seus membros algumas das mentes mais brilhantes do nosso tempo. Eles não pouparam esforços para separar a verdade do erro nos muitos milhares de casos trazidos à sua atenção e, como resultado, descobrimos que um dos cientistas mais valiosos de nosso tempo, Sir Oliver Lodge, como presidente da sociedade, ofereceu ao mundo, há vários anos, esta afirmação: “A existência de um Mundos invisíveis, habitado pelos chamados mortos, e seu poder de se comunicar com esse Mundo, foram confirmadas além de qualquer acaso em tantos casos que não deixam espaço para dúvida”.
Esse testemunho, de um dos maiores cientistas modernos, alguém que trouxe para seus estudos psíquicos a mente aguçada pela ciência e bem protegida contra qualquer forma de engano, deveria exigir o mais alto respeito por parte de todos os que estão buscando a verdade.
Tendo assim apresentado evidências indutivas, dedutivas e diretas, podemos acrescentar que a existência de outro Mundo, intangível para os cinco sentidos, mas prontamente investigado por meio de um “sexto sentido”, seja um fato da Natureza, quer o reconheçamos ou não, do mesmo jeito que a luz e a cor existem em torno do “cego” e do que “não é cego”. É prejuízo para o cego não poder enxergar a luz e cor ao seu redor. E nosso, se formos “cegos” para os reinos superfísicos; mas para todos os que se esforçam para despertar suas faculdades latentes, a abertura da percepção adequada é apenas uma questão de tempo. Quando chegar a hora, veremos que os chamados “mortos” estão todos ao nosso lado e que, de fato, “não existe morte”, como nos diz o belo poema de John McCreery, a seguir:
Não há morte. As estrelas caem
Para subir em outra margem,
E brilhantes na coroa de jóias do céu
Elas brilham para sempre.
Não há morte. As folhas da floresta
Convertem à vida o ar invisível;
As rochas se desorganizam para alimentar
O musgo faminto que elas nutrem.
Não há morte. O pó que pisamos
Deve se tornar sob os chuveiros de verão
Grãos dourados ou frutos maduros,
Ou flores pintadas de arco-íris.
Não há morte. As folhas podem cair,
As flores podem murchar e desaparecer —
Elas apenas aguardam as horas de inverno
O hálito doce e quente de maio.
Não há morte, embora lamentemos
Quando belas formas familiares
Que aprendemos a amar são arrancadas
Dos nossos braços que abraçam.
Embora com o coração curvado e quebrado.
Com traje de luto e passo silencioso
Nós carregamos seu pó sem sentido para descansar
E dizemos que eles estejam mortos —
Eles não estão mortos. Eles passaram para
Além das brumas que nos cegam aqui
À vida nova e maior
Daquela esfera serena.
Eles deixaram cair sua túnica de barro
Para colocar uma roupa brilhante;
Eles não vagaram para longe,
Eles não estão “perdidos” ou “desaparecidos”.
Embora invisível aos olhos dos mortais,
Eles ainda estão aqui e ainda nos amam;
Os queridos que deixaram para trás
Eles nunca esquecem.
Às vezes sobre nossa testa febril
Sentimos o toque deles, um sopro de bálsamo;
Nosso Espírito os vê e nossos corações
Ficam confortados e calmos.
Sim, sempre perto de nós, embora invisíveis,
Nossos queridos Espíritos imortais caminham —
Pois todo o universo ilimitado de Deus
É vida — não há mortos.
Quando o Ego se liberta do Corpo Vital, seu último vínculo com o Mundo Físico é rompido e ele entra no Mundo do Desejo. A forma ovoide do Corpo de Desejos então é modificada, assumindo a aparência do Corpo Denso, que foi descartado. Há, no entanto, um arranjo peculiar nos materiais dos quais é formado que tem grande significado em relação ao tipo de vida que aqueles que morreram terão lá.
O Corpo de Desejos do ser humano é composto de matéria de todas as sete Regiões do Mundo do Desejo, do mesmo jeito que o Corpo Denso é constituído pelos sólidos, líquidos e gases desse Mundo material. Contudo, a quantidade de matéria de cada região no Corpo de Desejos de uma pessoa depende da natureza dos desejos que ela aprecia. Desejos grosseiros são construídos com as substâncias mais grosseiras, que pertencem à Região mais inferior do Mundo do Desejo. Se a pessoa os tem, está construindo um Corpo de Desejos grosseiro no qual predomina a matéria das Regiões mais inferiores. Se ela, persistentemente, afastar desejos grosseiros de si mesmo, cedendo apenas ao puro e ao bem, seu Corpo de Desejos será formado pelos materiais das regiões superiores.
No momento, nenhum ser humano é totalmente mau e nenhum é totalmente bom; somos todos a mistura de ambos; contudo, pode haver e há uma diferença em nossa constituição. No Corpo de Desejos de alguns há preponderância de substâncias grosseiras e, no de outros, de substâncias sutis; isso faz toda a diferença no ambiente e no estado do ser humano, quando ele entra no Mundo do Desejo após a morte, porque a matéria do seu Corpo de Desejos, assumindo a aparência do Corpo Denso que foi descartado, se organiza ao mesmo tempo para que a substância mais sutil, que pertence às Regiões mais superiores do Mundo do Desejo, forme o centro do seu veículo e a matéria das três Regiões mais inferiores fique ao lado de fora, em sua periferia. Quando a vida terrestre do Ego termina, ele exerce a força centrífuga para se libertar de seus veículos. Seguindo a mesma lei que faz um Planeta jogar no espaço a sua parte mais densa e cristalizada, ele primeiro descarta seu Corpo Denso. Quando entra no Mundo do Desejo, essa força centrífuga também atua para lançar a matéria mais grosseira para fora do Corpo de Desejos e, assim, o ser humano é forçado a permanecer nas Regiões inferiores até que seja expurgado dos desejos mais grosseiros que foram incorporados à matéria de desejos mais densa. A matéria de desejo mais grosseira está, portanto, sempre na periferia do Corpo de Desejos, enquanto ele passa pelo Purgatório e é gradualmente eliminada pela força centrífuga de purgação; a força de Repulsão elimina o mal do ser humano e permite que ele vá para o Primeiro Céu, na parte superior do Mundo do Desejo, onde somente a Força de Atração domina e transforma o bem da vida que terminou em poder anímico para o Ego. A parte descartada do Corpo de Desejos é abandonada como uma “concha” vazia.
Quando o Ego deixa seu Corpo Denso, este morre rapidamente. A matéria física se torna inerte, quando é privada da energia aceleradora e vivificante; dissolve-se então como uma forma sem vida. Não é assim com a substância do Mundo do Desejo; uma vez que a vida lhe seja comunicada, essa energia subsistirá por um tempo considerável, depois que o fluxo de vida cessar, variando quanto à força do impulso. O resultado disso é que, depois que o Ego as abandona, essas “conchas” permanecem por um período maior ou menor. Elas vivem uma vida independente e se o Ego, ao qual pertenceram, esteve muito ligado a desejos mundanos, talvez interrompidos no auge da vida com ambições fortes e insatisfeitas, elas costumam fazer os esforços mais desesperados para voltar ao Mundo Físico. Muitos dos fenômenos das sessões onde se utilizam a evocação dos chamados mortos ou de outros Espíritos ocorrem devido às ações dessas conchas. O fato das comunicações recebidas, por parte de muitos dos chamados “Espíritos”, serem totalmente desprovidas de sentido é facilmente explicado, quando percebemos que, definitivamente, não são Espíritos, mas apenas uma parte sem alma da vestimenta do Espírito que partiu e, portanto, sem inteligência. Elas têm memória da vida passada da pessoa devido ao panorama gravado após a morte, o que muitas vezes lhes permite enganar os parentes do morto, informando incidentes desconhecidos por outras pessoas; entretanto, o fato é que elas não passam de uma peça de roupa, dotada de vida independente e temporária, que foi descartada pelo Ego.
Contudo, não é sempre que essas conchas permanecem sem alma, porque existem diferentes classes de seres no Mundo do Desejo, cuja evolução naturalmente pertence àquele lugar. Eles são bons ou ruins como os seres humanos. Geralmente, são classificados pelo título de “elementais”, embora diferindo muito em aparência, inteligência e características. Só falaremos sobre eles na medida em que sua influência se relacione ao estado post-mortem do ser humano.
Em algumas situações, esses seres tomam posse do Corpo Denso de uma pessoa e a tornam um médium irresponsável, especialmente quando ela tem o hábito de invocar Espíritos. Eles geralmente a atraem, no começo, com ensinamentos aparentemente elevados; porém aos poucos a levam à imoralidade grosseira e, o que é pior, eles podem se apossar do seu Corpo de Desejos, depois que ela o deixou e subiu ao Céu. Como os impulsos contidos no Corpo de Desejos são a base da vida no Céu e a fonte de ações que levam o ser humano a renascer para um crescimento renovado, isso é realmente um assunto muito sério, pois toda a evolução de um ser humano pode ser interrompida durante muitos e muitos anos, antes que o elemental libere seu Corpo de Desejos.
São esses elementos, os criadores de muitos dos fenômenos espiritualistas em que mais inteligência é exibida do que pode ser explicada pela ação de conchas sem alma, pelo menos em materializações. Embora as conchas possam participar, os fenômenos são sempre dirigidos por um ser com inteligência.
A diferença entre um médium materializante e uma pessoa comum é que a conexão entre o Corpo Denso e o Corpo Vital do médium pode ser retirada e alguns dos gases ou até líquidos do seu Corpo Denso podem ser usados para formar os corpos das aparições. Essa retirada e o processo de vestir as conchas geralmente são realizados pelo elemental, que extrai o Corpo Vital do médium através do baço. Como regra, o corpo do médium encolhe terrivelmente em consequência. Quando o Corpo Denso é privado do seu princípio vital, ele fica terrivelmente exausto e, infelizmente, o médium costuma restaurar o equilíbrio com bebidas fortes, tornando-se um autêntico alcóolatra.
Em uma palestra anterior foi mostrado o quão perigoso é permitir que um hipnotizador domine nossa vontade e nos prive da liberdade; contudo, nesse caso a vítima pode pelo menos ver e formar opinião sobre o hipnotizador que a controla. No caso do médium, o perigo é multiplicado por mil, pois a influência dominante não pode ser vista. A morte do hipnotizador liberta suas vítimas, mas o perigo mais grave para o médium surge após a morte. Portanto, um estado negativo (passivo) no qual todo o corpo, ou até a mão de uma pessoa, é usado de forma automática, sem considerar a vontade do indivíduo, é perigoso. Não é negado que, às vezes, haja comunicações genuínas de um Espírito que partiu ou que haja casos de comunicações benevolentes de seres que independem da nossa vontade para agir; no entanto, nosso objetivo é mostrar os perigos para aqueles que se intrometem com o que desconhecem. Os filantropos não crescem nos arbustos do Mundo do Desejo mais do que aqui. Com certeza, não são seres grandiosos e bons, como os Anjos, aqueles que gostam de bater no chapéu de um ser humano, derramar água em seu pescoço ou fazer qualquer outro truque tolo que é exibido na sessão espírita normal: são certamente as conchas sem alma deixadas por malandros ou elementais brincalhões.
Quando um ser humano acorda no Mundo do Desejo ele é, sem nenhuma exceção, o mesmo ser humano, em todos os aspectos, como antes da morte. Qualquer um que o visse lá o conheceria, se o conhecessem aqui. Não há poder transformador na morte e o caráter do ser humano não muda; o ser humano viciado continua viciado, o alcoólatra permanece alcoólatra, o avarento ainda é avarento e o ladrão é tão desonesto como sempre foi; entretanto, há uma grande e importante mudança em todos eles — todos perderam o Corpo Denso e isso faz toda a diferença em relação à gratificação dos vários desejos deles.
O alcóolatra não pode beber; ele não tem estômago e, embora ele possa, e a princípio o faça, entrar nos barris de uísque dos bares, não é uma satisfação para ele, pois o uísque dentro de um barril não exala gases, como ocorre durante a combustão química no canal alimentício. Ele então tenta entrar no Corpo Denso de outras pessoas que tomam bebidas alcoólicas. Ele consegue facilmente, pois o Corpo de Desejos é constituído de tal forma que não é inconveniente ocupar o mesmo espaço que outra pessoa ocupa. As pessoas “mortas”, a princípio, costumam ficar aborrecidas quando seus amigos se sentam na cadeira que ocupam, mas depois de um tempo descobrem que não é necessário sair correndo, porque um amigo ainda na vida terrestre está se aproximando para se sentar. “Sentar sobre” o Corpo de Desejos não o machuca; ambas as pessoas podem ocupar a mesma cadeira sem incomodar os movimentos uma da outra. Assim, o alcóolatra entra no Corpo Denso das pessoas que tomam bebidas alcóolicas, mas mesmo aí ele não recebe satisfação real e, em consequência, sofre as torturas de Tântalo, até que finalmente o desejo se esgota por falta de gratificação, como acontece com todos os desejos, mesmo na vida física.
Isso é o “Purgatório”, e observamos que não é uma divindade vingadora que mede o sofrimento, ou um demônio que executa o julgamento, mas os desejos inferiores cultivados na vida terrena, incapazes de gratificação no Mundo do Desejo, que causam o sofrimento, até que com o tempo eles se esgotem. Assim, o sofrimento é estritamente proporcional à força do mau hábito. Vejamos o caso do avarento; ele ama ouro tão ternamente após a morte como antes, mas não pode mais juntá-lo; ele não tem a mão física com a qual agarrar e, o pior de tudo, não pode proteger o que tinha. Ele pode ficar sentado em frente ao seu cofre observando, e os herdeiros podem vir e atravessá-lo com as mãos, tirar o seu ouro querido, talvez rindo do “velho avarento e idiota”, enquanto ele permanece quase tendo um espasmo de raiva e mortificação. Ele sofre terrivelmente porque não consegue vê-los. Por fim, ele aprende a se contentar e é automaticamente purgado do ato de acumular, como fica o alcóolatra livre da bebida alcoólica, pela Lei da Consequência, que erradica de cada pessoa seus vícios de maneira impessoal. Na verdade, não há punição, todo sofrimento existe inteiramente devido aos hábitos que adquirimos e é estritamente proporcional a eles. Felizmente, a purgação nos livra de nossas falhas de modo que, em consequência, nascemos inocentes e podemos adquirir mais facilmente a virtude, quando tentados de novo, ouvindo a voz que nos adverte. Assim, cada novo ato maligno será, pelo menos, uma ação do livre arbítrio.
Enquanto nossos maus hábitos são geralmente tratados dessa maneira, nossas más ações e específicas na vida passada são tratadas da mesma maneira automática por meio do Panorama da Vida que é gravado no Corpo de Desejos. Esse panorama começa a se desenrolar para trás, da morte ao nascimento, quando entramos no Mundo do Desejo. Ela se desdobra para trás, na velocidade de aproximadamente três vezes a velocidade da vida física, de modo que um ser humano com 60 anos de idade, no momento da morte, viva sua vida passada no Mundo do Desejo em cerca de vinte anos.
Lembramos que, ao ver esse panorama logo após a morte, não sentimos coisa alguma a respeito, permanecendo ali apenas como espectador, vendo as imagens, enquanto se desenrolavam. Não é assim quando elas aparecem em nossa consciência, no Purgatório. Lá, o bem não impressiona, mas todo o mal reage sobre nós de tal maneira que, nas cenas em que fizemos outra pessoa sofrer, nós próprios sentimos o que o ferido sentiu. Ele sofre toda a dor e angústia que sua vítima sentiu na vida e, à medida que a velocidade da vida é triplicada, o mesmo ocorre com o sofrimento. É ainda mais agudo, pois o Corpo Denso é tão lento de vibração que entorpece até o sofrimento, mas no Mundo do Desejo, onde não temos o veículo físico, o sofrimento é mais agudo, e quanto mais clara a impressão panorâmica da vida passada for gravada no corpo de desejos, no momento da morte, tanto mais o ser humano sofrerá e mais claramente sentirá em vidas futuras que a transgressão deva ser evitada.
Há algo característico nesse sofrimento que também aumenta seu caráter desagradável. Se, durante a vida, um ser humano machucou duas pessoas ao mesmo tempo e uma mora no Maine enquanto a outra, na Califórnia, quando o agressor esteja passando pela realização, no Purgatório, dos sofrimentos que ele causou, ele se sentirá presente para os dois ao mesmo tempo, como se uma parte sua estivesse no Maine e a outra, na Califórnia. Isso causa uma sensação particular, mas indescritível, de estar em pedaços.
Existem duas classes de pessoas para as quais o processo purgativo não começa imediatamente com a morte; a saber, o suicida e a vítima de assassinato. No caso do suicida, o sofrimento não começa até o momento em que o Corpo Denso tivesse morrido no decorrer dos eventos naturais; contudo, enquanto isso, ele sofre por seu ato de uma maneira que é tão terrível quanto específica. Ele tem a sensação de ter sido escavado, por assim dizer, e de habitar um vazio que dói, devido à atividade contínua do arquétipo de sua forma, na Região do Pensamento Concreto. No caso das pessoas, jovens ou velhas, que morrem naturalmente ou por acidente, a atividade arquetípica cessa e os veículos superiores sofrem modificação com a morte, de modo que a perda do Corpo Denso, em si mesma, não causa sensação de desconforto; no entanto, o suicida não experimenta essa mudança até que o arquétipo do seu Corpo deixe de funcionar, quando a morte teria ocorrido naturalmente. O espaço onde seu Corpo Denso deveria ficar está vazio, porque o arquétipo está oco e dói de maneira indescritível. Assim, ele também aprende que não é possível brincar de evasão na escola da vida, sem que isso traga consequências desagradáveis; em vidas posteriores, quando o caminho parecer difícil, sua alma lembrará que a tentativa covarde de escapar por suicídio só traz mais sofrimento.
Há pessoas que cometem suicídio por razões altruístas, para livrar outras de um fardo; elas obviamente têm uma recompensa, mas não escapam do sofrimento do suicídio, assim como o ser humano que entra em um prédio em chamas para salvar outros não está imune a queimaduras.
A vítima de assassinato escapa desse sofrimento porque, como regra, permanece em estado de uma inércia letárgica até o momento em que a morte natural deveria ter ocorrido e é, assim, auxiliada do mesmo modo que as vítimas dos chamados acidentes, mas essas sempre estão conscientes imediatamente a morte ou logo após. Se o assassino for executado entre o momento do assassinato e o instante em que sua vítima tivesse morrido naturalmente, o Corpo de Desejos, em uma inércia letárgica dessa última, flutua para o matador por atração magnética e o segue onde quer que vá, sem lhe dar um único momento de descanso. A imagem do assassinato está sempre à sua frente, fazendo com que ele sinta o sofrimento e a angústia que devem inevitavelmente acompanhar a incessante reconstituição do crime, em todos os horríveis detalhes. Isso se prolonga por um período correspondente ao tempo de vida que ele retirou da sua vítima. Se o assassino escapou da punição, de modo que sua vítima atravessou o Purgatório antes que ele morresse, a “concha” da vítima continua a desempenhar o papel de Nêmesis, no drama da encenação do crime.
Assim, o Ego é purgado de todo tipo de mal pela ação impessoal da Lei de Consequência, preparando-se para entrar no Céu e se fortalecer no bem, assim como no Purgatório foi desencorajado de praticar o mal.
Vimos em outra palestra como os maus atos da vida e nossos hábitos indesejáveis são tratados pela impessoal Lei da Consequência e contribuem para o bem, em vidas futuras; para ilustrar isso observamos sua operação em casos como os do assassino, do suicida, do bêbado e do avarento. Esses são casos extremos, no entanto, e há muitas pessoas que viveram boas vidas morais, mais contaminadas pelo egoísmo mesquinho, que é o pecado mais grave da nossa época, do que pelo verdadeiro mal pronunciado; para elas a permanência nas regiões do Purgatório do Mundo do Desejo é, óbvio, correspondentemente reduzida e o incidente do sofrimento, aliviado. Assim, com o tempo, todos vão para as regiões superiores do Mundo do Desejo, onde o Primeiro Céu está localizado.
Esta é a “Terra de verão” dos espíritas. Com a matéria dessa região os pensamentos e as fantasias das pessoas, durante sua vida, constroem as formas reais que elas veem em sua imaginação. É uma característica dos Mundos internos que a matéria neles seja prontamente moldada pelo pensamento e pela vontade. Todas as formas fantásticas que são criadas pelas pessoas se desenvolvem, animadas por elementais, e duram enquanto permanecer o pensamento ou o desejo que as criou. Na época do Natal, por exemplo, o “Papai Noel realmente vive e anda de trenó”. Há muitos tipos e variedades dele que permanecem em vigor por um mês ou mais, até que os desejos das crianças que o criaram deixem de fluir nessa direção; então ele desaparece até ser recriado no próximo ano. A Nova Jerusalém, com suas ruas peroladas, mar de vidro e todas as outras fantasias piedosas e morais do povo da igreja, também está lá. O Purgatório tem seu diabo em forma de pensamento, com chifres e casco fendido, criado pelo pensamento das pessoas; mas nessa parte superior do Mundo do Desejo, encontramos apenas o que é bom e desejável entre as aspirações humanas. Aqui, o aluno se regozija nas bibliotecas e é capaz de prosseguir seus estudos de modo bem mais eficaz do que quando confinado no Corpo Denso. Se ele deseja um livro, pronto, ele aparece. O artista, por sua imaginação, molda seus modelos perfeitamente, ele pinta com cores vivas e ardentes, em vez de usar os pigmentos mortos e sem brilho da Terra, que são o desespero do artista físico, porque aqui, na vida terrena, é impossível para ele reproduzir os tons que vê com sua visão interior, mas o Mundo do Desejo é o mundo da cor por excelência e, portanto, ele obtém o desejo do seu coração no Primeiro Céu, recebendo inspiração e poder para continuar seu trabalho em vidas futuras.
O escultor também considera esta parte do estado post-mortem uma alegria e uma elevação; ele molda com facilidade os materiais plásticos deste mundo nas estátuas com que ele sonhava quando vivia na Terra. O músico também é beneficiado, mas ainda não está no verdadeiro mundo do som: este oceano de harmonia onde a celestial “música das esferas” é ouvida está na parte da Região do Pensamento Concreto que, na Religião Cristã e esotérica, chamamos de Segundo Céu. Assim, o músico apenas ouve o eco dos sons celestiais; no entanto, são mais doces do que qualquer um que já ouviu na Terra e sua alma se deleita com sua harmonia requintada, a mais auspiciosa das melhores coisas que estão por vir.
Aqui também encontramos todas as crianças pequenas, que vão diretamente para este lugar depois de morrer; se seus amigos pudessem vê-las, não haveria luto, porque a vida delas é bastante invejável. Elas sempre são recebidas por algum parente ou amigo que já morreu e recebem todo tipo de cuidado. Há pessoas que constroem um grande tesouro para si mesmas, dedicando grande parte do seu tempo à invenção de jogos e brinquedos para esses pequenos e, assim, a vida neste Primeiro Céu é gasta da maneira mais bonita pelas crianças, sem que sua instrução seja negligenciada. Elas são reunidas em aulas não apenas de acordo com idade e capacidade, mas também temperamento e são particularmente instruídas sobre os efeitos dos desejos e emoções, o que pode ser feito com muita facilidade em um mundo onde essas coisas podem ser objetivamente demonstradas. Assim, elas aprendem, mediante lições objetivas, o benefício de cultivar desejos bons e altruístas; muitas almas que vivem uma vida altamente moral agora devem-na a uma causa como a morte na infância e quinze ou vinte anos no Primeiro Céu, antes do novo nascimento. Muitas vezes se pergunta por que as crianças morrem. Existem muitas causas. Uma é a morte, em vida anterior, sob a terrível tensão do acidente, pelo fogo ou no campo de batalha, porque nessas circunstâncias o Ego que morreu não pôde se concentrar adequadamente na vista panorâmica da sua vida passada. Esse também é o caso, quando os lamentos altos de parentes impedem a concentração. O resultado é, obviamente, uma impressão fraca das experiências de vida no Corpo de Desejos, o que leva a uma vida insípida no Purgatório e no Primeiro Céu.
Nesses casos, o Ego não colhe o que plantou e, portanto, pode cometer as mesmas loucuras ou pecados, vida após vida. Para evitar tal contingência, o novo Corpo de Desejos que o Ego reúne antes do seu próximo nascimento deve ser gravado com a lição necessária. O Ego está sempre inconsciente a caminho do renascimento, cego pela matéria que o envolve, do mesmo jeito que ficamos ofuscados quando entramos em uma casa, em um dia ensolarado. Somente após o nascimento a consciência retorna em alguma medida. Então, quando pela morte ele passa para o Primeiro Céu, é ensinado de maneira objetiva e diferente a lição que deveria ter aprendido em sua passagem externa ou física, na vida anterior. Quando essa lição é dominada e escrita no Corpo de Desejos que ainda não nasceu, o Ego renasce na Terra e prossegue da maneira comum.
As crianças que morrem antes do sétimo ano só nasceram no que diz respeito aos Corpos Denso e Vital e não são responsáveis sob a Lei da Consequência. Mesmo até os doze ou quatorze anos, o Corpo de Desejos está em processo de gestação, como será explicado mais detalhadamente em outra palestra e, como o que não foi vivificado não pode morrer, apenas os Corpos Denso e Vital decaem, quando uma criança morre. Ela mantém seu Corpo de Desejos e a Mente para o próximo nascimento. Portanto, não percorre todo o caminho que o Ego geralmente faz em um ciclo de vida, mas apenas sobe ao Primeiro Céu para aprender as lições necessárias e, após uma espera que varia de um a vinte anos, renasce, frequentemente na mesma família.
É um erro pensar que o Céu seja um lugar de felicidade pura para todos. Ninguém pode colher mais felicidade no Céu do que aquilo que plantou na Terra. A medida de nossa alegria lá serão as boas ações que fizemos aqui. O Panorama da Vida gravado em nossos Corpos de Desejos logo após a morte forma tanto a base da nossa alegria no Céu quanto o decreto do nosso sofrimento no Purgatório.
Lembramos que à medida que o Panorama da Vida passada se desenrolava no Purgatório, apenas as cenas em que havíamos ferido pessoas operavam para produzir sofrimento. No Primeiro Céu, só os bons desejos e ações altruístas produzem sentimento. Ao contemplarmos uma cena em que ajudamos alguém, acalmando sua tristeza e aliviando seu sofrimento, não só sentimos a mais intensa satisfação pessoal, como tudo que a pessoa favorecida pelo nosso favor sentiu, em forma de tranquilidade corporal, alívio mental e gratidão. Não importa se ele soube quem o ajudou, o sentimento que derramou sobre nós quando o ajudamos acontecerá ali, independentemente de outras circunstâncias. Por outro lado, se nós mesmos formos gratos aos nossos benfeitores, sentiremos o mesmo sentimento de alívio da angústia e de gratidão pela ajuda recebida. Como todos esses sentimentos e desejos são construídos no Ego pelas forças alquímicas e espirituais que são geradas quando eles estão sendo realizados e como sofrem uma transformação em faculdades utilizáveis em nascimentos futuros, é facilmente visto o quão importante é para o nosso próprio crescimento de alma que devamos sentir e expressar nossa gratidão pelos favores que recebemos, porque assim lançamos as bases para o recebimento de novos favores nesta vida e nas futuras. Diz-se que o Senhor ama quem dá com alegria; é igualmente verdade que a “Lei” (da Consequência) ama um coração que aprecia receber favores.
Quando “DAR” está em consideração, devemos ter cuidado com a ideia falaciosa de que somente o homem rico possa dar. Presentes indiscriminados em forma de dinheiro são uma maldição tanto para quem dá quanto para quem recebe. Somente quando o doador também dá seu pensamento e coração pode o ouro ter valor. Contudo, o que é o ouro dado descuidadamente, em comparação com a simpatia? A expressão de fé em um ser humano pode dar-lhe coragem para entrar em um desafio e vencer; estimulando sua vontade, nós o ajudamos a se ajudar, quando a ajuda financeira o tornaria impotente e dependente da nossa generosidade. Quando damos, devemos dar a NÓS MESMOS, primeiro.
Existem duas classes para as quais a existência pós-morte é particularmente vazia e monótona: o materialista e o ser humano que estava tão absorto em seus negócios materiais que nunca se importou com os Mundos espirituais. A razão não é difícil de encontrar. Eles geralmente tiveram uma vida boa, ética e não se entregaram a qualquer um dos vícios do Mundo do Desejo inferior, mas também não fizeram um bem que encontrasse seu fruto em forma de sentimentos de alegria, no Primeiro Céu. Dar inclusive grandes somas de dinheiro para a construção de igrejas, bibliotecas ou parques não ajudará de maneira alguma, a menos que o doador tenha interesse particular em sua doação e, assim, dê a si mesmo junto ao dinheiro. Fornecer apenas dinheiro trará riqueza em alguma vida futura, mas dar a si mesmo é mais valioso do que receber dinheiro, pois promove o crescimento da alma. O ser humano de negócios que é materialista, portanto, vai para a quarta região, uma espécie de fronteira entre o Purgatório e o Primeiro Céu. Ele é bom demais para sofrer no Purgatório, mas não é bom o suficiente para ter uma vida alegre no Primeiro Céu. Ele ainda tem um grande desejo por negócios. Sem interesses, exceto desejos que não possam ser satisfeitos ali, sua vida torna-se uma monotonia nada invejável, embora ele não sofra de outra maneira.
O materialista absoluto, que nega a Deus e tem a ideia de que a morte seja a aniquilação do nosso ser, está na pior das dificuldades. Ele vê seu erro, mas tendo se dissociado bastante das ideias espirituais, muitas vezes não consegue acreditar que isso seja mais do que um prelúdio para a aniquilação. O pavoroso suspense pesa terrivelmente sobre essas pessoas e não é incomum vê-las murmurando para si mesmas: “Não será logo o fim?”. E, o pior de tudo, se alguém instruído tentar informá-las, elas negarão a existência do Espírito ali tanto quanto o faziam na vida na Terra, chamando-o de excêntrico por pensar que exista algo além da matéria.
A tendência natural do Corpo de Desejos é endurecer e consolidar tudo aquilo com que entra em contato. O pensamento materialista acentua essa tendência a tal ponto que muitas vezes resulta, em vidas sucessivas, aquela terrível doença, a tuberculose, o endurecimento dos pulmões. Eles devem permanecer macios e elásticos. Às vezes também acontece que o Corpo de Desejos esmaga o Corpo Vital na próxima vida, de modo que ele falha completamente em neutralizar o processo de endurecimento, e então temos uma tuberculose rápida. Em alguns casos, o materialismo torna o Corpo de Desejos frágil, por assim dizer; então, ele não pode realizar seu trabalho de endurecimento adequado no Corpo Denso e, como resultado, temos “raquitismo”, que amolece os ossos. Logo, vemos os perigos que corremos ao abrigar tendências materialistas: ou endurecimento das partes moles do corpo, como no caso da tuberculose, ou amolecimento das duras partes ósseas, como no raquitismo. É claro que nem todos os casos de tuberculose mostram que o sofredor fosse um materialista em alguma vida anterior, mas a ciência oculta ensina que tal resultado frequentemente siga o materialismo. Há, porém, outra causa para a prevalência dessa terrível doença na Idade Média.
Com o passar do tempo, todo homem se prepara para ascender ao Segundo Céu, que está localizado na Região do Pensamento Concreto. Todas as boas aspirações e desejos da vida passada são gravados e marcados na mente, que então contém tudo o que é de valor permanente. O Ego se retira do Corpo de Desejos, que, assim, torna-se apenas uma concha vazia e, revestido apenas com a Mente, sobe ao Segundo Céu.
Lembramos que após o término do panorama, logo após a morte, quando o Ego se retirou do Corpo Vital, ele passou por um período de inconsciência antes de despertar no Mundo do Desejo. Também há um intervalo entre a retirada do Corpo de Desejos, no Primeiro Céu, e o despertar, no Segundo Céu. Entretanto, desta vez não há inconsciência; todas as faculdades estão em alerta agudo e existe um estado de hiperconsciência, à medida que o Espírito passa por esse intervalo, chamado de “O Grande Silêncio”. Não importa o quão materialista um ser humano possa ter sido na Terra, esse estado de Espírito desapareceu e, neste ponto, o ser humano SABE que seja inerentemente divino, ao alcançar o Grande Silêncio, o portal para seu lar celestial. É como quando alguém acorda após um sonho terrível e dá um profundo suspiro de alívio, ao descobrir que as ocorrências do sonho não eram realidades. Do mesmo jeito, o Ego, ao entrar neste Grande Silêncio, desperta dos delírios e ilusões da vida na Terra com uma sensação de alívio infinito, é preenchido com uma percepção de segurança inexpugnável e sente novamente o descanso pacífico por estar nos braços eternos do Grande Espírito Universal.
Em breve brotam no ouvido do Ego as indescritíveis harmonias da música celestial que enche esta Região, incessantemente. Não é fruto de fantasia, quando se fala em música celestial, embora não seja verdade que os mortos que tinham pouco ou nenhum sentido para música durante a vida na Terra de repente desenvolveram, por ocasião da morte, a paixão e a faculdade de expressar música. Fato é que o Mundo do Pensamento Concreto, onde o Segundo Céu está localizado, também seja o reino do som, assim como o Mundo do Desejo é o reino da luz e da cor e o Mundo Físico, o reino da forma. O artista obtém seus esquemas de cores e efeitos de luz do Mundo do Desejo, mas o músico deve recorrer ao Mundo do Pensamento, que é mais sutil, para suas inspirações, e neste fato temos a razão pela qual a música seja a arte mais elevada que possuímos. O pintor desenha um mundo mais próximo e disponível; portanto, é capaz de fixar sua criação de uma vez por todas na tela, para ser vista, a qualquer momento, por todos os que tenham olhos. A música não pode ser fixada desse modo; é mais elusiva, deve ser recriada toda vez que é ouvida e imediatamente desaparece no silêncio. Em troca, no entanto, ela tem muito mais poder de falar conosco do que até mesmo a maior pintura, pois vem diretamente do mundo do Céu, fresca e perfumada com os ecos da casa do Ego, despertando memórias e colocando-nos em contato com aquilo que tantas vezes esquecemos em nossa existência material. Portanto, a música, acima de todas as outras artes humanas, por si só, tem o poder de acalmar os sentimentos selvagens e nos afetar de uma forma que nada mais pode.
Goethe era um Iniciado e, em seu “Fausto”, enfatizou duas vezes o fato de que nos reinos celestiais todas as coisas sejam redutíveis a termos sonoros. A cena de abertura está situada no Céu e o Arcanjo Rafael é representado dizendo o seguinte.
“O Sol entoa sua antiga CANÇÃO,
Intermediando o CÂNTICO rival das esferas-irmãs.
Seu curso prescrito ele acelera então,
De forma estrondosa ao longo das manhãs”.
E de novo, na segunda parte:
“SOM para o Espírito escutar
Proclama que o dia vindouro perto está de chegar.
Portões rochosos estão rangendo, chacoalhando,
As rodas de Febo estão rolando, cantando —
Que SOM intenso está a luz causando”.
A “canção das esferas” de Pitágoras é um fato no Segundo Céu e para alguns músicos isso não é de forma alguma uma ideia rebuscada, porque sabem que cada cidade, lago ou floresta tenha seu próprio som peculiar. O riacho murmurante e o zéfiro de verão, que agita as folhas novas dentro da floresta, falam a língua da Alma Universal. O verdadeiro músico ouve Sua voz grandiosa e majestosa na torrente da montanha e na tempestade sobre o grande abismo. Não há concepção meramente intelectual de Deus, da vida ou das coisas metafísicas que possa alcançar as alturas sublimes que ele conseguiu, porque ele sabe.
No Purgatório, os maus hábitos e os atos ruins da vida produziram o sofrimento, que foi transmutado em sentimento correto no Primeiro Céu. O bem da vida passada foi extraído no Primeiro Céu e quando o Ego entra no Segundo Céu ele medita sobre o bem de forma a transmutá-lo em pensamento correto para que atue como um guia nas vidas futuras na Terra. Assim, a cada novo nascimento, o Ego traz consigo, como capital, a sabedoria acumulada que foi derivada das experiências de todas as suas vidas passadas, que é o seu capital ou estoque comercial. A experiência de cada nova vida são os juros que, no Segundo Céu, são adicionados ao capital.
O ser humano ali também está se preparando para o próximo mergulho na matéria, qualificando-se para a nova batalha contra a ignorância na próxima vida, dentro da grande escola de Deus. Se alguma ambição digna não foi realizada, ele vê em que ponto estava o defeito e aprende a realizar da próxima vez seus projetos, em linhas aprimoradas. O músico leva consigo melodias mais grandiosas quando retorna, para alegrar o coração do ser humano em seu exílio nas condições da Terra. O pintor traz novas aspirações, pois não se deve supor que o Segundo Céu seja desprovido de cor porque foi chamado de região do som. Tanto a cor quanto à forma existe lá, assim como no Mundo Físico, mas o som é a característica predominante do Mundo do Pensamento. A cor é mais acentuada no Mundo do Desejo e a forma, no Mundo Físico, embora também seja verdade que as cores e formas do Segundo Céu sejam muito mais bonitas do que em qualquer um dos outros dois Mundos.
Já falamos sobre esse processo de lamentação no Purgatório e assimilação da parte boa e duradoura extraída das experiências da vida passada como se fosse um processo negativo ou passivo e muitos Estudantes têm a ideia de que a existência no Segundo Céu seja uma experiência sonhadora e ilusória. Nada poderia ser mais errado, porque as atividades reais da vida, no Céu, são múltiplas. O ser humano não apenas revê ou vive seu passado, mas também prepara ativamente o seu futuro.
Costumamos falar sobre evolução, mas alguma vez analisamos o que é responsável pela evolução ou por que ela não para na estagnação? Se o fizermos, deveremos perceber que existam forças por trás do visível que sejam responsáveis pela alteração da flora e da fauna, das mudanças climáticas e topográficas que acontecem constantemente; surge então uma questão natural: o que ou quem são as forças ou agentes na evolução?
Claro, estamos bem cientes de que os cientistas dão certas explicações mecânicas. Eles merecem grande crédito; eles realizaram muito, quando levamos em consideração que a ciência seja apenas uma criança e tenha somente cinco sentidos e instrumentos engenhosos sob seu comando. Suas deduções são maravilhosamente verdadeiras, mas isso não quer dizer que não possa haver causas subjacentes que ela ainda não possa perceber e que dão uma compreensão mais completa do assunto do que a simples explicação mecânica permite. Uma ilustração irá elucidar este assunto.
Dois homens estão conversando quando, de repente, um derruba o outro. Aí temos uma ocorrência, um fato, e podemos explicá-lo mecanicamente dizendo: “Eu vi um homem contrair os músculos do braço, dirigir um golpe contra o outro e derrubá-lo”. Essa é uma versão verdadeira, até onde pode; no entanto, o cientista ocultista veria também o pensamento raivoso que inspirou o golpe e estaria oferecendo uma versão mais completa, caso dissesse que o homem foi derrubado por um pensamento, porque o punho fechado foi apenas o instrumento irresponsável da agressão. Sem a força impulsora do pensamento raivoso, a mão teria permanecido inerte e o golpe nunca teria sido desferido.
Portanto, o cientista ocultista liga todas as causas à Região do Pensamento Concreto e narra como são ali geradas por Espíritos humanos e sobre-humanos.
Lembrando que os arquétipos criadores de tudo o que vemos no Mundo visível estejam no Mundo do Pensamento, que é o reino do som, estamos preparados para entender que as forças arquetípicas estejam constantemente trabalhando por meio desses arquétipos que, então, emitem determinado som ou, onde vários deles se reúnem para criar uma espécie de planta, animal ou formas humanas, diferentes sons que se fundem em um grande acorde. Esse som ou acorde único, conforme o caso, é então a nota-chave da forma assim criada e, enquanto soar, a forma ou a espécie vai perdurar; quando cessa, a forma individual morre ou a espécie é extinta.
Uma confusão de som não é música mais do que palavras agrupadas ao acaso são uma frase; entretanto, o som ordenadamente rítmico é o construtor de tudo o que existe, como João diz nos primeiros versos do seu evangelho: “No princípio era a VERBO […] e sem ela nada foi feito”; também, “o Verbo se fez carne”.
Assim, vemos que o som seja o criador e sustentador de todas as formas e, no Segundo Céu, o Ego se torna uno com as forças da natureza. Com elas, ele trabalha sobre os arquétipos da terra e do mar, da flora e da fauna para provocar as mudanças que alteram gradualmente a aparência e as condições da Terra; assim, garante um novo ambiente feito por ele mesmo, onde poderá colher novas experiência.
Ele é dirigido em seu trabalho por grandes mestres pertencentes às Hierarquias Criadoras, que são chamados de Anjos, Arcanjos ou outros nomes, e são os ministros de Deus. Eles o instruem, então e conscientemente, na divina arte da criação, tanto no que se refere ao mundo quanto aos objetos nele. Eles o ensinam como construir uma forma para si mesmo, dando-lhe os chamados “Espíritos da Natureza” como auxiliares e, assim, o ser humano está trabalhando em seu aprendizado para se tornar um criador, toda vez que vai para o Segundo Céu. Lá, ele constrói o arquétipo da forma que posteriormente vai exteriorizar com o nascimento.
Em uma palestra anterior, falamos sobre os quatro Éteres e dissemos que as forças de assimilação atuam sobre o Éter Químico. Os Egos nos Mundos celestes são essas forças e, portanto, as próprias pessoas que chamamos de mortas são aquelas que constroem nossos corpos e ajudam a viver. Podemos também notar que ninguém possa ter um Corpo Denso melhor do que aquele que pode construir. Se cometemos erros no Céu, descobrimos quando usamos um corpo defeituoso na Terra e, dessa forma, aprendemos a corrigir a falha para não errar na próxima vez.
Isso traz à mente uma fase interessante da Lei de Consequência, como no caso dos Egos que requerem um corpo de construção peculiar, como os músicos, onde não só a mão, mas também os ouvidos têm que ser especialmente ajustados para que seus três canais semicirculares apontem com a maior precisão possível para as três dimensões do espaço e o órgão de Corti[11] devem ser excepcionalmente delicadas; tal instrumento não pode ser formado apenas da matéria-prima pertencente ao Ego; portanto, este deve nascer em uma família onde outros construíram em linhas semelhantes e isso nem sempre é encontrado.
Supondo, então, que uma ocasião ofereça essa chance 100 anos antes do momento em que tal Ego devesse renascer e os Anjos do Destino, os encarregados da administração da Lei de Consequência, vejam que outra oportunidade não ocorrerá por talvez 300 anos, o Ego poderá então nascer 100 anos antes do tempo programado e essa perda de tempo no Céu será compensada em outra ocasião. Assim, vemos que os vivos e os chamados mortos estejam constantemente agindo e reagindo uns aos outros, enquanto viajam ao longo do caminho da evolução.
Tendo assim progredido através do Segundo Céu, o Ego finalmente retira-se do seu invólucro mental, sua vestimenta lá, e, inteiramente livre, desimpedido, entra no Terceiro Céu, o ponto mais alto que possa ser atingido pelo ser humano em seu atual estágio de desenvolvimento.
Durante a vida no Mundo Físico, o Ego humano trabalha por meio de seus quatro veículos, ou seja: os Corpos Denso, Vital, de Desejos e a Mente, todos eles estando conectados um ao outro pelo Cordão Prateado. À noite, o Ego se retira para os Mundos internos, levando consigo a Mente e o Corpo de Desejos, deixando os Corpos Denso e Vital deitados sobre o leito. O Ego primeiro produz um ritmo harmonioso para a Mente e para o Corpo de Desejos. Eles então atuam sobre o Corpo Vital e esse começa a restaurar a saúde, a vitalidade dos átomos físicos, que estão cansados e gastos.
Essa restauração só pode ser feita durante o tempo em que o Corpo de Desejos e a Mente são removidos, porque são suas as atividades que usam a energia física durante o dia e para que o Corpo Vital possa ser liberado e reconstruir este veículo físico, exausto, o Ego e os dois veículos superiores (o Corpo de Desejos e a Mente) separam-se dos dois veículos inferiores, mas permanecem unidos a eles pelo Cordão Prateado. Na morte, quando o Corpo Denso não pode mais se manter em seus veículos superiores, quando a desintegração deve ocorrer, o Ego é forçado a desocupar a casa feita de barro que ele construiu e usou por um determinado período de tempo, na qual aprendeu muitas lições úteis e edificadoras para sua alma. Chegou agora a um período no caminho da evolução em que o Ego deve ter tempo para assimilar as lições que foram aprendidas enquanto funcionava no mundo da matéria. A morte é para a alma o que o sono é para o Corpo Denso: um tempo de descanso e recuperação para que o Ego extraia dessas experiências maior poder anímico.
Quando a morte ocorre, o Ego deixa o Corpo Denso por meio das suturas parietal-occipital, mas em vez de o Corpo Vital permanecer com o Corpo Denso, como é o caso durante o sono, ele também deixa o Corpo Denso, junto ao Corpo de Desejos e à Mente, pois o trabalho do Ego no Corpo Denso está concluído para esta vida na Terra. O Corpo Vital agora tem um trabalho diferente a fazer; não é mais necessário manter saudáveis os átomos físicos.
Na morte, os Corpos Vital, de Desejos e a Mente são vistos deixando o Corpo Denso pela cabeça. O Ego, que está deixando sua prisão terrestre para que ela apodreça, leva consigo seu mais querido pertence, o Átomo-semente, a única parte do Corpo Denso que não pode morrer e que ele traz de volta a cada vida na Terra. Durante uma vida na Terra, existe um minúsculo átomo no ápice do ventrículo esquerdo do coração que é chamado de Átomo-semente permanente. Esse Átomo-semente do veículo físico tem sido usado como o núcleo para o Corpo Denso, desde que o Ego adquiriu seu veículo físico. Quando falamos de um Átomo-semente permanente, não queremos dizer que o átomo físico seja usado, mas que as forças que fluem através dele são usadas. Essas forças permanecem com o Ego por meio dos renascimentos ou até que esse Ego em particular tenha concluído sua evolução no Mundo Físico e, assim, elas serão transferidas para o Átomo-semente do Corpo Vital, que se torna o Átomo-semente permanente da próxima vida.
Voltando à nossa discussão sobre o Ego, ao deixar seu Corpo Denso, no evento que é denominado “morte”, descobrimos que o Ego está passando por um período muito vital, extremamente importante. Amigos e parentes devem ter muito cuidado para que seu ente querido esteja livre de excitação, tristeza ou perturbações de qualquer tipo: o corpo não deve ser mutilado e fluidos de embalsamamento não devem ser usados até 84 horas (3 dias e meio) após o Ego ter deixado de funcionar no corpo. A razão para isso será esclarecida a seguir.
Quando a morte chega, há uma ruptura do Cordão Prateado do qual fala a Bíblia no capítulo 12 do Livro de Eclesiastes no versículo 6[12]. Esse Cordão mantém os veículos superiores e inferiores juntos; na morte, a ruptura ocorre no coração, o que faz com que esse órgão pare de bater. Quando isso ocorre, o Ego e seus três veículos, o Corpo Vital, o Corpo de Desejos e a Mente são vistos pelo Clarividente flutuando sobre a cabeça do Corpo Denso por até três dias e meio. Durante tal período, o Ego está empenhado em revisar as cenas da vida que acabou e foram gravadas no Átomo-semente permanente do coração. Essas impressões foram deixadas no Átomo-semente pelo sangue. Também somos ensinados pela Bíblia que o Ego está no sangue. O sangue é o veículo direto do Ego.
O coração e os pulmões são os únicos órgãos pelos quais passa todo o sangue do corpo do ser humano em cada ciclo e o coração é a fortaleza do Ego humano. Enquanto o sangue corre pelo coração, as cenas de cada momento que passa são carregadas pelo sangue e gravadas no minúsculo Átomo-semente. Esse Átomo-semente também está impregnado com as experiências de todas as vidas passadas e dele muitas impressões vêm ao ser humano: elas lhe ensinam a diferença entre o bem e o mal e, assim, tornam-se sua consciência.
Agora, a razão pela qual afirmamos ser necessário que a quietude reine na casa onde a morte aconteceu é a seguinte. O Corpo Vital é o veículo usado imediatamente após a morte para transferir as impressões do Átomo-semente do coração para o Átomo-semente do Corpo de Desejos. Durante esse período de trabalho, o Cordão Prateado não está rompido. Por isso, o Ego ainda está consciente dos seus veículos, sentindo e sofrendo até certo ponto, quando o corpo é mutilado. Quando o Ego é perturbado durante essa transferência, as impressões são vagamente gravadas e ele, ao retornar à Terra pelo renascimento, na próxima encarnação, não traz consigo um senso de consciência tão aguçado como poderia ser, caso a gravação tivesse sido bem definida, porque no Mundo do Desejo não foi capaz de sentir remorso pelas más ações nem alegria pelos bons atos tão intensamente como sentiria, se não tivesse sido perturbado.
Quando o panorama é totalmente gravado no Corpo de Desejos, o Cordão Prateado se rompe e o Ego está livre da sua casa terrena. O Corpo Denso deve então ser cremado, pois a cremação libera o Ego rapidamente e oferece um método mais higiênico para a sua eliminação.
Esperamos que a Humanidade logo desperte para o cuidado adequado de seus mortos e tenhamos uma ciência da morte, assim como uma do nascimento. É importante que a pessoa que tem conhecimento dos danos decorrentes do manuseio incorreto do corpo, em caso de morte, tenha por escrito as instruções que ela própria deseja que sejam cumpridas.
Um formulário está disponível, explicando o método Rosacruz para o cuidado do Corpo Denso imediatamente após a morte. Eis o procedimento que o seguidor dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental aceita como necessário para a transição adequada rumo à vida após a morte. Veja abaixo:
EM CASO DE MORTE, eu, ___________________________________, CPF:___________________ residente no endereço:____________________
______________________________________________________________,
FAÇO MEU ÚLTIMO PEDIDO; que o procedimento da Fraternidade Rosacruz seja realizado na disposição do meu Corpo físico. Esse pedido é feito por causa da MINHA CRENÇA NOS ENSINAMENTOS ROSACRUZES. Se a morte ocorrer entre estranhos, eles irão gentilmente se comunicar imediatamente com as seguintes pessoas, que são solicitadas a seguir estas instruções, quanto ao método:
NOME: ______________________________________________________________
DADOS PARA CONTATO:______________________________________
NOME: ______________________________________________________________
DADOS PARA CONTATO:_______________________________________
NOME: ______________________________________________________________
DADOS PARA CONTATO:_______________________________________
Assinado:___________________________________
Atestado por:___________________________________________________________
Local e Data:___________________________________________________
MÉTODO:
O embalsamamento NÃO deve ser realizado de forma alguma durante esse período de 3 dias e meio.
O suicida, ao tentar fugir da vida, só descobre que está vivo como sempre, em uma situação das mais lamentáveis. Ele é capaz de observar aqueles a quem decepcionou, e talvez desonrou, com seu ato e, o que é o pior, ele tem uma sensação indescritível de estar “vazio”. A razão para isso é a seguinte.
Quando o Ego está descendo dos Elevados Planos espirituais para renascer, ele é ajudado pelas Hierarquias Criativas a construir o arquétipo do seu próximo corpo e infundir nesse arquétipo uma vida que durará o número de anos que a pessoa normalmente viveria. Esse arquétipo tem um movimento vibratório e musical ou cantante que atrai o material do mundo físico para dentro dele e faz com que todos os átomos do corpo vibrem em sintonia com um pequeno átomo do coração chamado de Átomo-semente, que, como um diapasão, fornece o tom para todo o resto do material no corpo. No momento em que a vida plena foi vivida na Terra, as vibrações do arquétipo cessam, o Átomo-semente é retirado, o Corpo Denso começa a se decompor e o Corpo de Desejos, onde o Ego funciona no Purgatório e no Primeiro Céu, assume a mesma forma do Corpo Denso. Então o ser humano começa seu trabalho de expiar os hábitos e atos negativos no Purgatório e assimilar o bem de sua vida no Primeiro Céu.
O que foi dito anteriormente descreve as condições normais, quando o curso da natureza não é perturbado; no entanto, o caso do suicídio é diferente. Ele tirou seu átomo-semente, mas o arquétipo ainda continua vibrando. Portanto, ele sente como se estivesse “oco” e experimenta uma sensação dolorosa por dentro, que pode ser comparada às pontadas da fome intensa ou a uma dor de dente por todo o corpo. Todo o material para a construção de um Corpo Denso está ao seu redor, mas faltando-lhe o átomo-semente, é impossível para ele assimilar essa matéria e construir um corpo. Essa terrível sensação de “vazio” dura tanto quanto sua vida normal deveria durar.
Assim, a Lei de Causa e Efeito lhe ensina que é errado faltar à Escola da vida e que isso não pode ser feito impunemente. Então, na próxima vida, quando as dificuldades assolarem seu caminho, os sofrimentos resultantes do suicídio anterior impedirão uma recorrência e permitirão que ele passe por experiências de vida que contribuem para o crescimento de sua alma.
À primeira vista e do ponto de vista das pessoas não versadas nos ensinamentos do ocultismo, a eutanásia parece merecer elogios. A maioria das pessoas, ao ver um animal sofrendo agonias, além da esperança de recuperação, sente-se impelida por instintos humanos a acabar com sua miséria e perguntas como estas surgem: “Por que não devemos fazer o mesmo por nossos semelhantes?”; “Por que devemos mantê-los vivos, sofrendo de forma excruciante talvez por meses ou anos, quando sabemos que não tenham chance de recuperar a saúde e que estejam procurando, ansiando pela morte para acabar com sua dor?”. Essas perguntas parecem, do ponto de vista comum, pedir aceitação. No entanto, quando temos conhecimento da Lei de Consequência e temos a certeza de que o que semearmos nós vamos colher, se não for nesta vida, então em alguma existência futura, a questão aparece sob uma luz diferente.
Não podemos escapar de nossas justas obrigações. O sofrimento que vem a nós é necessário para nos ensinar alguma lição ou suavizar nosso caráter. A única maneira de encurtar esse sofrimento é nos esforçarmos para entender por que estamos na condição que nos causa dor. Se for câncer de estômago, como abusamos desse órgão? Por excesso de comida de natureza inadequada ao nosso organismo? Temos “alimentado” nossa consciência com emoções egoístas ou pensamentos negativos? Nosso coração nos está causando problemas? Quantas vezes perdemos a paciência e nos enfurecemos como loucos, colocando uma tremenda pressão sobre essa parte do corpo? Ou outros órgãos do nosso sistema estão fracos e debilitados? Podemos ter certeza de que, nesta vida ou em anterior, vivemos de maneira que os efeitos encontraram manifestação em nossas doenças físicas particulares. Do contrário, não estaríamos sofrendo agora e quanto mais cedo levarmos a lição a sério, começando a viver uma vida melhor que esteja em harmonia com as leis da natureza que violamos, mais cedo nosso sofrimento cessará.
Está sempre ao nosso alcance alterar as condições da nossa vida, embora claramente não possamos consertar em um dia o que demoramos anos ou vidas para quebrar; contudo, certamente não há outra maneira pela qual uma cura permanente possa ser efetuada. Mesmo que agora, pela promulgação de uma lei que apoia a eutanásia (ou o que é erroneamente chamado de “morte por misericórdia”), o sofrimento seja reduzido, podemos ter a certeza de que, quando a pessoa assim libertada do seu corpo renascer, seu novo veículo terá a tendência de desenvolver a mesma doença da qual ela escapou de maneira tão inconveniente.
Além disso, como foi completamente explicado em “O Conceito Rosacruz do Cosmos”, nosso Corpo Denso é formado no Mundo do Pensamento como um molde ou padrão invisível que é chamado de arquétipo; enquanto esse arquétipo persistir, nosso Corpo Denso permanecerá vivo. Quando a morte ocorre por causas naturais, ou mesmo nos chamados acidentes (que geralmente não são acidentes, mas eventos usados para encerrar uma vida de acordo com o desígnio dos guardiões invisíveis dos assuntos humanos), o arquétipo é rompido e o Espírito é libertado. Um suicídio, entretanto, é diferente. Nesse caso, o arquétipo persiste após a morte por vários anos até que essa ocorresse de acordo com os eventos naturais; assim, incapaz de atrair para si os átomos físicos, ele transmite ao suicida durante aqueles anos de sua existência pós-morte um sentimento contínuo de dor, algo como uma fome torturante ou uma dor de dente incômoda, mas extremamente dolorosa, no corpo inteiro. Se a eutanásia se tornasse uma lei e as pessoas pudessem obter os serviços de outras para cometer suicídio (pois é isso que realmente significa), não haveria dúvida de que elas sofreriam em sua existência pós-morte da mesma maneira que o suicida que prescreveu seu próprio veneno ou cortou a própria garganta. A legalização da eutanásia também seria perigosa em outros aspectos e acreditamos que nenhuma prática assim será sancionada por lei.
FIM
[1] N.T.: é uma península barrier de aproximadamente 9,7 km por 800 m, em Middletown, Monmouth County, no leste do estado de Nova Jersey, nos Estados Unidos.
[2] N.T.: A sequoia-gigante é a maior árvore do mundo em termos de volume. Ela atinge em média de 85 – 115 m de altura, e 8–13 m em diâmetro. A sequoia-gigante mais velha conhecida possui 4.650 anos de idade.
[3] N.T.: A Medusa, na mitologia grega, era um monstro ctônico do sexo feminino
[4] N.T.: Sócrates (c. 469 a.C.-399 a.C.) foi um filósofo ateniense do período clássico da Grécia Antiga. Creditado como um dos fundadores da filosofia ocidental
[5] N.T.: Herbert Spencer (1820-1903) foi um filósofo inglês e um dos representantes do liberalismo clássico.
[6] N.T.: Georges Cuvier (1769-1832) foi um naturalista e zoologista francês da primeira metade do século XIX, é por vezes chamado de “Pai da Paleontologia”. Foi uma figura central na investigação em história natural na sua época, comparou fósseis com animais vivos criando assim a Anatomia Comparada.
[7] N.T.: A paresia é a disfunção ou interrupção dos movimentos de um ou mais membros: superiores, inferiores ou ambos e conforme o grau do comprometimento ou tipo de acometimento fala-se em paralisia ou paresia.
[8] N.T.: Alexandre III da Macedônia (português europeu) (356 a.C.-323 a.C.), comumente conhecido como Alexandre, o Grande ou Alexandre Magno foi rei (basileu) do reino grego antigo da Macedônia.
[9] N.T.: Hb 12:6
[10] N.T.: Edwin Arnold (1832-1904), foi um poeta e jornalista britânico.
[11] N.T.: ou “órgão espiral” é o órgão sensorioneural da cóclea, ou seja, é parte da cóclea, da orelha interna. É um composto de células sensoriais (células ciliadas) e fibras nervosas que fazem sinapse entre si, além de estruturas anexas e de suporte. O órgão foi nomeado em homenagem ao anatomista italiano Marquês Alfonso Giacomo Gaspare Corti (1822-1876), que conduziu a pesquisa microscópica do sistema auditivo dos mamíferos e o descobriu em 1850. Esse órgão é encontrado apenas em mamíferos. Nos humanos, o órgão de Corti se desenvolve da 9ª semana à 30ª semana de gestação. O órgão de Corti é a estrutura que transforma a energia mecânica, que chega da orelha média, para energia elétrica. As vibrações mecânicas se tornam ondas de pressão hidráulica que se propagam pela endolinfa, gerando um potencial de ação que é transmitido pela via auditiva para que se processe o som nos centros auditivos do tronco encefálico e do córtex cerebral.
[12] N.T.: “Antes que o fio de prata se rompa e o copo de ouro se parta…”
Resposta: Depois de um tempo mais ou menos longo, chega na vida de cada indivíduo, o momento no qual se completam as experiências que o espírito pôde acumular em seu atual ambiente, e a vida termina com a chamada “morte”.
Essa “morte” pode ocorrer repentinamente, como, por exemplo, devido a um terremoto, no campo de batalha, ou por acidente.
Mas, na realidade, a morte nunca é “acidental”, ou imprevista pelas Forças Superiores. “Nenhum pássaro cai ao solo sem a Vontade Divina”.
Há, no percurso da vida, desvios do caminho, por assim dizer: por um lado a linha principal da existência continua para a frente; o desvio do caminho levará ao que podemos chamar “um beco sem saída”. No caso de o ser humano tomar esse caminho, sua vida em breve terminará com a morte. Estamos aqui com a finalidade de obter experiências, e cada vida tem uma certa colheita a amadurecer. Se organizamos nossa vida de modo apropriado a alcançar esse conhecimento, continuamos vivendo e constantemente nos chegarão oportunidades variadas. Mas, se nos descuidamos delas, e nos deixarmos levar por caminhos que não forem congruentes com o nosso desenvolvimento individual, seria um desperdício de tempo deixar-nos ficar em semelhante atmosfera.
Por isso os Grandes e Sábios Seres que estão por trás do cenário da evolução, encerram a nossa vida, para que possamos recomeçar em um círculo de influência diferente. A lei da conservação da energia não está confinada ao Mundo Físico, senão que opera também nos planos espirituais.
Não há na vida algo que não tenha o seu propósito. Agimos mal em rebelarmo-nos contra as circunstâncias, não importa quão desagradáveis sejam. Pelo contrário, deveríamos nos esforçar por aprender as lições nelas contidas, para que possamos viver uma vida longa e útil. Alguém poderá objetar, dizendo: “Você é inconsequente nos seus ensinamentos. Diz que realmente a morte não existe; que passamos a uma existência mais lúcida e que temos de aprender outras lições lá, numa esfera diferente de utilidade! Por que, então, devemos nos esforçar em viver aqui uma mais longa vida?”.
É certo que fazemos tais afirmações. E elas são perfeitamente consequentes com as afirmações que acabamos de mencionar. Mas há lições que devem ser aprendidas AQUI, e temos de educar nosso corpo físico através dos pouco úteis anos da infância, atravessando o período ardente e impulsivo da juventude, até chegar à maturidade do homem ou da mulher, antes de que esse veículo mostre sua verdadeira utilidade espiritual. Quanto mais tempo vivamos depois de alcançar a maturidade, quando começamos a considerar o lado sério da vida, e começamos realmente a aprender as lições que determinarão o crescimento da nossa alma; quanto mais experiência consigamos acumular, mais rica e proveitosa será a nossa colheita. Depois, em uma existência posterior, estaremos muito mais avançados e capazes de empreender tarefas que estaríamos impossibilitados de realizar numa vida de mais curta amplitude de atividades. Além disso, é muito doloroso para o homem morrer na juventude, com esposas e filhos jovens, a quem ele ama, com ambições de grandeza sem realização, com amigos à sua volta e com interesses todos concentrados sobre o plano material da existência. É triste para o coração da mulher, apegada ao seu lar e aos filhinhos a quem criou, abandoná-los, sem que haja talvez alguém para cuidar deles, sabendo que terão de lutar sozinhos durante todos os anos da infância, quando tão necessários são seus ternos carinhos, ou até vê-los sofrer abusos, sentindo-se incapaz de intervir. Todas essas coisas são tristes e farão o espírito “apegar-se à Terra” por um tempo muito maior do que o comum.
E tudo isso, junto às outras razões anteriormente mencionadas, faz desejável viver-se uma vida bastante longa antes de passar para o além.
A diferença entre aqueles que passam para o além em idade avançada e aqueles que abandonam esta terra na primavera da vida, pode ser ilustrada pela forma em que o caroço de uma fruta se adere à polpa enquanto está verde. É preciso um grande esforço para extrair o caroço de um pêssego verde. Tal é a intensidade com que se adere à fruta que pedaços da polpa ficam presos ao caroço quando ele é extraído à força. Assim também o espírito se prende à carne na metade da vida e uma parte do seu interesse material continua e o retém preso à Terra depois da morte. Por outro lado, quando a vida foi inteiramente vivida, quando o espírito teve de realizar suas ambições, ou comprovar sua futilidade, quando os deveres foram cumpridos e a satisfação se estampa na fisionomia de um homem ou mulher de idade avançada, ou quando a vida foi malbaratada e as dores da consciência surtiram seu efeito no ser humano, apontando-lhe os erros, quando o espírito aprendeu verdadeiramente as lições da vida, como deve acontecer quando se chega à velhice, então pode ser comparado à semente da fruta madura, que salta fora, sem um vestígio de polpa. Assim, pois, repetimos que embora nos esteja reservada uma existência mais brilhante, para todos os que viveram bem, não obstante, é melhor viver uma vida longa e da maneira mais intensa possível…
Também sustentamos: não importa quais sejam as circunstâncias da morte de uma pessoa. Nunca é acidental. Ou foi produzida por suas próprias negligências em aproveitar as oportunidades de crescimento, ou doutro modo, porque a vida foi aproveitada até seu limite possível.
Há uma exceção a essa regra: se vivemos de acordo com o esquema que nos foi traçado, se assimilamos todas as experiências que nos foram designadas pelas Inteligências Criadoras (para o nosso desenvolvimento), deveremos viver o máximo. Mas, geralmente “nós mesmos” abreviamos nossas vidas por não aproveitarmos as oportunidades, podendo também acontecer que “outros seres humanos” interfiram em nossa existência, para abreviá-la ou terminá-la, tão repentinamente como no caso chamado “acidente”. Os Anjos do Destino, valendo-se disso, encerram nossa vida aqui. Em outras palavras, os homicídios, ou acidentes fatais originados pela imprudência humana, são em realidade os únicos fins-de-vida não planejados pelos Guias Invisíveis da humanidade. Jamais alguém foi impelido a assassinar, ou a fazer um outro mal qualquer, pois doutro modo não haveria uma retribuição justa aos seus atos. Cristo disse que o mal deveria acontecer, mas “desgraçado daquele pelo qual o mal se produza”. Para harmonizar isso com a Lei da Justiça Divina,” acrescentamos: “Aquilo que o homem semear, isso também colherá”, devendo haver livre-arbítrio a respeito dos maus atos.
Também há casos em que uma pessoa vive a sua vida de maneira tão proveitosa, ensejando tantos benefícios para a humanidade e a si própria, que verá seus dias prolongados além do limite determinado.
Quando a morte não é repentina, como em casos de acidentes, ocorrendo em casa (ou hospital) em consequência de uma enfermidade, silenciosa e pacificamente, as pessoas moribundas sentem, geralmente, cair sobre elas um manto de grande obscuridade momentos antes do encerramento da vida. Muitos saem do seu corpo sob essas condições, e não voltam a rever a luz até entrar no plano suprafísico.
Porém, existem muitos outros casos, nos quais as trevas se desfazem antes da saída definitiva do corpo. Então o moribundo vê ambos os mundos ao mesmo tempo, estando consciente da presença dos seus amigos, tanto os mortos como os vivos. Sob tais condições acontece frequentemente que uma mãe vê alguns dos seus filhos já falecidos podendo exclamar alegremente: “Oh! — aqui está Joãozinho, aos pés da minha cama; mas como ele cresceu!” Os familiares vivos podem ficar admirados, ou embaraçados; pensando que a mamãe está sofrendo de alucinações. Mas em realidade ela é então mais clarividente do que eles. Vê aqueles que passaram anteriormente para além do véu; e que acodem para lhe dar as boas-vindas; ajudando-a a fim de que se sinta confortada no novo mundo.
Cada ser humano é um indivíduo, separado. E, como as experiências da vida de cada um diferem das de todos os outros no intervalo que vai do berço ao túmulo, assim podemos também racionalmente concluir que as experiências de cada espírito variam das de outro qualquer espírito, quando cruza as portas do nascimento ou da morte. Em continuação, relatamos o que foi transmitido como “mensagem espiritual” pelo falecido professor James, de Harvard, em Boston, na qual descreve o que sentiu quando estava passando o portal da morte. Não podemos atestar sua autenticidade, já que não a investigamos pessoalmente.
O professor James tinha prometido comunicar-se com seus amigos depois de sua morte, e todos os investigadores do psiquismo estavam e ainda estão alertas, esperando receber uma comunicação dele. Diversos sensitivos anunciaram que o professor James havia se comunicado por intermédio deles. Porém a mais notável comunicação foi a apresentada em Boston. Foi a seguinte:
“Se isto é a morte, somente sei que caí adormecido, para despertar na manhã seguinte, e ver que tudo ia bem. Eu não estou morto somente ressuscitei!”.
***
“Senti que fui sacudido fortemente em toda a minha constituição, como se uma forte atadura fosse arrebentada. Por um momento fiquei ofuscado e perdi a consciência. Quando voltei a mim estava de pé, ao lado do meu corpo físico que tão bem e fielmente me serviu. Dizer que fiquei surpreso não indicaria adequadamente a sensação que sobreveio a todo o meu ser. Então compreendi que alguma mudança maravilhosa havia ocorrido.
“De repente, tornei-me consciente de que meu corpo estava rodeado de muitos dos meus amigos e um desejo invencível apoderou-se de mim: falar-lhes e tocá-los, para fazer-lhes saber que eu ainda vivia. “Aproximando-me um pouco mais deles e daquilo que se parecia tanto comigo, e ao mesmo tempo não era eu mesmo, estendi minha mão para frente e toquei-os. Mas eles não me perceberam.
“Então aconteceu que o pleno significado da grande mudança que havia se produzido refletiu-se sobre os meus sentidos novamente despertados. Compreendi então que uma barreira intransponível me separava dos seres queridos e que essa grande mudança era, certamente, a morte. Uma sensação de tristeza e um desejo de descanso apoderou-se de mim. Pareceu-me ser transportado pelo espaço e perdi a consciência, para despertar-me num país tão diferente, e ao mesmo tempo tão estranhamente parecido com aquele que eu, há pouco, deixara atrás. Não me foi possível analisar minhas sensações quando voltei a recuperar a consciência, mas compreendi que, embora morto, eu ainda vivia.
“Quando pela primeira vez tornei-me consciente do meu novo ambiente, repousava em um belíssimo parque, e entendia, como nunca me fora possível, o que significava estar em paz comigo mesmo e com todo o mundo.
***
“Sei que será com a maior dificuldade que serei capaz de exprimir a vocês as minhas sensações quando me apercebi plenamente que havia despertado para uma nova vida. Tudo era silêncio. Nenhum som alterava essa quietude. A escuridão me rodeara. Com efeito, pareceu-me estar envolto por uma densa neblina, e meu olhar não penetrava além dela. Logo mais percebi um fraco resplendor de luz que lentamente se aproximou de mim. Então, para minha surpresa e alegria, distingui a face daquela que fora minha estrela guia nos primeiros dias da minha vida terrena.”
Um dos espetáculos mais tristes que o vidente pode presenciar é o das torturas a que, com frequência, submetemos os nossos amigos moribundos. Isso devido à nossa ignorância quanto à maneira de tratá-los naqueles momentos. Conhecemos a “ciência do nascimento”. Obstetras se especializaram durante muitos anos, desenvolvendo uma extraordinária perícia na assistência ao pequenino forasteiro em sua entrada neste mundo. O engenho de Mentes esclarecidas está focalizado no problema de tornar a maternidade mais fácil: não se poupam trabalhos, nem dinheiro, nesses esforços para a segurança de alguém que nunca vimos. Contudo, quando um amigo de toda a vida, uma pessoa que serviu seu próximo nobremente em sua profissão, seja na sociedade ou na Igreja, está para abandonar o cenário da sua atividade para seguir para outro campo de ação; quando uma mulher que trabalhou com não menos elevado propósito, criando sua família e desempenhando seu encargo nos trabalhos do mundo — tem que deixar esse lar e a família; quando alguém que amamos toda a nossa vida chegou ao momento de despedir-se de nós e dar-nos seu último adeus, então permanecemos ali parados, sem saber absolutamente como ajudá-lo. E talvez façamos exatamente aquilo que é mais prejudicial ao bem-estar e conveniência daquele que está de partida.
Provavelmente não haverá forma de tortura mais comumente imposta aos que morrem do que a que é causada quando administramos estimulantes. Essas drogas têm o efeito de atrair o espírito que ora se retira forçando-o a voltar novamente para dentro do seu corpo, para nele permanecer e sofrer por mais algum tempo. A câmara mortuária deveria ser um lugar da mais absoluta quietude, de paz e de oração (porque desde aquele momento e durante três dias e meio depois o espírito está passando por um Getsemani, e necessitando de todo o auxílio que se lhe possa prestar. O valor da vida que acaba de esvair depende grandemente das condições que então prevaleçam em torno do corpo, e até as condições da sua vida futura serão afetadas pela nossa atitude durante aqueles momentos, de modo que se alguma vez tivemos a pretensão de ser defensores da vida dos nossos irmãos neste mundo, muito mais deveríamos sê-lo na hora da sua morte.
As autópsias, os exames post-mortem, o embalsamamento, ou a cremação, realizados nesse período mencionado, não somente perturbam mentalmente o espírito que se vai como podem até mesmo causar-lhe dor, pois ainda subsiste uma ligeira conexão entre ele e o veículo abandonado.
Se as leis sanitárias julgarem necessária alguma providência para evitar a decomposição, enquanto se espera a hora da cremação, o corpo poderia ser conservado em câmara frigorífica, até que o período de “três dias e meio” seja transcorrido. Depois desse lapso de tempo o espírito já não sofrerá mais, não importa o que possa ocorrer ao seu corpo.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio de 1976)
O Medo Desnecessário da Morte
É realmente patético ver o sentimento de grande tristeza e de falta de esperança das pessoas enlutadas pela morte de alguém próximo e querido, e ver como, em casos extremos, elas dedicam o resto de suas vidas lamentando por aquele que já faleceu. Vestem-se de roupas pretas e mesmo um sorriso é considerado um sacrilégio à memória do falecido, sem considerar que, com essa atitude mental, prolongam a permanência da pessoa que dizem amar, nas regiões inferiores do Mundo invisível, onde tudo o que é mau vive, movimenta-se e permanece em contato estreito com a parte mais inferior e egoísta da humanidade. Isso não é uma mera fantasia, mas um fato real, e pode ser demonstrado a qualquer pessoa que tenha uma mínima visão espiritual.
Uma das maiores bênçãos conferidas àqueles que estudam e acreditam nos Ensinamentos Rosacruzes é de que, gradualmente, são emancipados do medo da morte e do sentimento de que uma enorme calamidade acontece quando alguém muito próximo e querido passa para os Mundos invisíveis. Uma bênção flui tanto para os chamados “vivos”, como para os chamados “mortos”, quando o Espírito que está partindo recebe a ajuda e os devidos cuidados durante essa transição. Será, então, capaz de assimilar o panorama da vida, o que tornará a sua existência ‘post-mortem’ plena e proveitosa, por não ter sido perturbado por um grande pesar, uma grande tristeza e pelo choro histérico dos que estão ainda encarnados, ao seu redor. Durante os anos seguintes, poderá ser auxiliado por meio das orações deles.
Por outro lado, aqueles a quem chamamos “vivos” e que estudam esses Ensinamentos, estão aprendendo a praticar essa atitude altruísta em relação à morte, tão necessária para o crescimento anímico, porque eles percebem, como um fato real, que a morte do corpo, no momento oportuno, é a maior bênção que pode acontecer com a humanidade. Nenhum de nós possui um Corpo Denso que seja tão perfeito e apropriado para viver eternamente. Na maioria dos casos, os anos marcam os pontos fracos dos nossos veículos em grau crescente, cristalizando-os e endurecendo-os, cada dia mais, até tornarem-se um fardo que ficaremos muito satisfeitos em repousá-los. Temos, então, a esperança e o conhecimento de que a nós deve ser fornecido um novo Corpo e um novo começo numa época futura, e assim poderemos aprender muito mais das lições na escola da vida.
Essa é a época do ano[1] quando a Morte Mística, que todos estamos celebrando naturalmente, leva os nossos pensamentos e os da humanidade em geral para a questão da morte e do renascimento. Não há outro ensinamento que seja tão importante e de valor vital como o do renascimento. Atualmente e mais do que nunca, a humanidade precisa disso devido a carnificina de crueldade e matança que foi posto em prática nos últimos dois anos e meio na Europa[2].
A família humana está tão intimamente interligada que, comparativa e provavelmente, há poucas pessoas no mundo que não tenham perdido algum parente nesse conflito titânico. Ao mesmo tempo, é um dever e um privilégio daqueles que conhecem a verdade sobre a morte disseminar tal verdade ao máximo possível, entre aqueles que ainda estão na escuridão em relação a esse fato.
Portanto, eu fortemente sugerido aos Estudantes da Fraternidade Rosacruz a perceberem que somos todos guardiões de tudo o que possuímos, quer sejam bens físicos ou mentais, e que é nosso dever, na medida do possível, explicar esses importantes fatos da vida e do ser com tato e diplomacia para dar a conhecer àqueles que ainda os ignoram. Nunca sabemos quando teremos a oportunidade de fazer o bem sem olhar a quem. É certo que, mais cedo ou mais tarde, esses Ensinamentos, temporariamente esquecidos, devem retornar ao conhecimento de toda a humanidade, e devemos, sempre que possível, compartilhar com outras pessoas a pérola do conhecimento que encontramos. Se negligenciamos isso, realmente, estaremos cometendo um pecado de omissão, pelo qual, em algum momento, seremos cobrados.
Espero que você faça isso de coração e se dedique a difundir esse conhecimento, não somente quando o momento se oferecer, mas aproveitando todas as oportunidades propícias – porém, com toda a diplomacia e tato apropriado, para que o nosso objetivo não seja frustrado pela utilização de um método inadequado. Além disso, não é necessário rotular esse conhecimento. A Bíblia está cheia de exemplos que podem ser mostrados que essa doutrina era aceita pelos Mestres de Israel, que acreditavam nessa doutrina os quais enviaram mensageiros a João Batista perguntando se ele era Elias. Também especulando se Cristo era Moisés, Jeremias ou outro profeta demonstram evidências de sua crença. Cristo acreditava no renascimento, pois afirmou definitivamente que João Batista era Elias. Essa doutrina foi enunciada por São Paulo no capítulo 15 da 1ª Epístola aos Coríntios e também em outros trechos.
Você não pode prestar um serviço maior à humanidade do que lhes ensinando essas verdades.
(Por Max Heindel – livro: Cartas aos Estudantes – nr. 77)
[1] N.T.: próximo à Páscoa.
[2] N.T.: refere-se à Primeira Grande Guerra Mundial.
Vida, Vida, Vida…não existe a morte!
Mês de novembro. Aqueles que professam o Cristianismo popular reverenciam pungentemente seus mortos. Nós, Estudantes da Filosofia Rosacruz, tributamos nosso respeito a essa atitude; porém não a imitamos. Compreendemos o significado da chamada “morte”. Sabemos que seja um processo natural dentro do fluxo evolutivo.
Sob o ponto de vista oculto, somos, antes de mais nada, Espíritos, partes integrantes de Deus, células divinas. Sendo assim, encontramo-nos dotados, em forma latente, de todos os atributos divinos. Assim como uma gigantesca árvore encontra-se potencialmente numa minúscula semente, da mesma forma Deus está em nós e nós, NELE. Possuímos, entretanto, essa energia ainda em fase estática. Cumpre-nos dinamizá-la para emergirmos da impotência para a onipotência.
Um axioma científico assevera que a função cria o órgão. Os atributos inerentes ao Espírito necessitam ser despertados e exercitados. Além disso, todo crescimento anímico é promovido através da experiência. Eis porque, como Espíritos, procuramos meios para expressar e desenvolver nossas divinas faculdades. Os meios aludidos são os nossos veículos e dentre eles aquele que presentemente nos é mais útil é o Corpo Denso, formado de matéria química.
A “morte”, dentro do conceito popular, diz respeito ao fenômeno da paralisia total e definitiva do Corpo Denso e sua posterior decomposição, após o sepultamento.
Esse fato, encarado com horror pela maior parte da humanidade, é um processo natural. O veículo denso, como meio de expressão do Espírito na Região Química do Mundo Físico, presta relevantes serviços à causa evolutiva; porém, com o decorrer dos anos ele paulatinamente se cristaliza, até chegar a um estado em que se torna praticamente inútil, deixando de proporcionar as experiências requeridas pelo ser em evolução. A Chispa Divina é obrigada a abandoná-lo, adentrando então nos Planos internos da natureza (imperceptíveis aos sentidos físicos), onde durante muito tempo assimilará o valor educativo da última encarnação. O corpo, despojado das forças que o animavam, dissolve-se, retornando à economia da natureza. Esse retorno periódico da matéria à substância primordial habilita o ser a evoluir. Se o processo de cristalização prosseguisse indefinidamente, ofereceria um terrível obstáculo à evolução do Espírito. Quando a matéria se cristaliza a ponto de tornar-se demasiada pesada e dura, o ser espiritual, não podendo manejá-la livremente, retira-se para recuperar a energia exaurida. No entanto, retornará futuramente acrescido de novos conhecimentos e experiências, ocupando novas formas, recomeçando seu período de aprendizado no Plano terrenal.
A frase “quanto mais amiúde morremos, tanto melhor viveremos” considera-se um axioma. Goethe, o poeta Iniciado, disse: “Quem não experimenta morrer e nascer para a vida, sem interrupção, sempre será um hóspede triste sobre esta terra infeliz.”. São Paulo afirmou: “Eu morro todos os dias”.
Neste mês em que se pranteia os chamados “mortos”, lembremo-nos mais uma vez: a morte não existe.
No universo de Deus só há uma realidade absoluta: VIDA, VIDA, VIDA…
(De Pereira dos Santos, publicado na Revista Serviço Rosacruz de novembro de 1970)
Em cada nascimento vem ao mundo o que aparenta ser uma nova vida.
Lentamente, a pequena forma cresce, vive e se move entre nós e torna-se um fator em nossas vidas; mas finalmente chega um momento em que a forma cessa o movimento e morre.
A vida que veio; de onde não sabemos, volta ou passa para o invisível além.
Então, com tristeza e perplexidade, nós fazemos as três grandes perguntas relativas à nossa existência: de onde viemos? Por que estamos aqui? Para onde vamos?
1. Para fazer download ou imprimir:
2. Para estudar no próprio site:
O ENIGMA DA VIDA E DA MORTE
Dos Escritos de
Max Heindel
Fraternidade Rosacruz
Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82
Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil
Traduzido e Revisado de acordo com:
1ª Edição em Inglês, 1909, The Riddle of Life and Death, editada por The Rosicrucian Fellowship
Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
contato@fraternidaderosacruz.com
fraternidade@fraternidaderosacruz.com
ÍNDICE
CAPÍTULO I – AS Três Teorias. 6
CAPÍTULO II – A Teoria Materialista.. 8
CAPÍTULO III – A Teoria Teológica.. 9
CAPÍTULO IV – A Doutrina da Reencarnação.. 10
CAPÍTULO V – O Progresso EM Espiral.. 11
CAPÍTULO VI – A Lei dos Ciclos Alternantes. 12
CAPÍTULO VII – Explicando as Tendências Morais. 14
CAPÍTULO VIII – A Lei de Consequência.. 16
CAPÍTULO IX – A Escola da Vida.. 17
CAPÍTULO X – Nós Somos os mestres dos nossos destinos. 19
CAPÍTULO XI – Recordando vidas passadas. 21
CAPÍTULO XII – Frequência do Renascimento.. 23
CAPÍTULO XIII – A Solução para o Enigma.. 25
Em cada nascimento vem ao mundo o que aparenta ser uma nova vida. Lentamente, a pequena forma cresce, vive e se move entre nós e torna-se um fator em nossas vidas; mas finalmente chega um momento em que a forma cessa o movimento e morre. A vida que veio; de onde não sabemos, volta ou passa para o invisível além. Então, com tristeza e perplexidade, nós fazemos as três grandes perguntas relativas à nossa existência: de onde viemos? Por que estamos aqui? Para onde vamos?
Através de cada limiar (ou princípio) o terrível espectro da morte lança sua sombra. E visita igualmente tanto o “palácio quanto o casebre”. Dela ninguém está a salvo: velhos ou jovem, doentes ou sãos, ricos ou pobres. Todos devem passar por este portal sombrio, e ao longo dos tempos soou o grito clamoroso por uma solução ao enigma da vida – ao enigma da morte.
Infelizmente, têm sido vagas as muitas especulações vindas de pessoas que pouco sabem e, portanto, tornou-se popularmente aceita a opinião de que nada em definitivo se pode conhecer acerca da mais importante da nossa existência: a Vida antes de manifestar-se pela porta do nascimento e além dos portais da morte.
Tal ideia é errônea. O conhecimento definido, de primeira mão, está ao alcance de todo aquele que queira se dedicar ao desenvolvimento do “sexto sentido”, latente em todos. Quando adquirimos, abre os nossos olhos espirituais, com os quais podemos perceber tanto os Espíritos próximos a entrar na vida física pelo nascimento, quanto àqueles que acabam de retornar ao além, após a morte. Nós os vemos tão claros e nitidamente como podemos ver os seres físicos com os nossos olhos físicos. Mas nem é necessária a investigação direta nos Mundos internos para satisfazer a Mente indagadora, do mesmo modo que não é necessário ir à China para conhecer as suas condições lá. Conhecemos as nações estrangeiras por meio de informações, de relatos de quem as visitou. E há tanta informação sobre os Mundos internos quanto há sobre o interior da África, da Austrália ou da China.
A solução do problema da Vida e do Ser indicada nas páginas seguintes, baseia-se no testemunho simultâneo de muitos que já desenvolveram a faculdade acima mencionada e que, por isso mesmo, tornaram-se aptos para investigar cientificamente os reinos suprafísicos. Isto está em harmonia com os fatos científicos, e é uma verdade eterna na Natureza, governando o progresso humano, quanto a Lei de Gravidade, também o é na manutenção dos Astros, dentro de suas próprias órbitas, em torno do Sol.
Três teorias foram formuladas para resolver o enigma da vida e da morte, parecendo ser crença universal que uma quarta concepção é impossível. Assim sendo, uma dessas três teorias deve ser a solução verdadeira ou de outro modo o problema permaneceria insolúvel; pelo menos para o ser humano.
O enigma da vida e da morte é um problema básico; todos devem resolvê-lo algum dia, e a aceitação de uma dessas três teorias torna-se, então, importantíssima para cada um dos seres humanos, já que a escolha determinará os rumos de suas vidas. Para que possamos fazer uma escolha inteligente necessitamos conhece-las, analisá-las, compará-las e pesá-las, conservando a Mente aberta e livre do preconceito de ideias preconcebidas, pronto a aceitar ou rejeitar cada teoria segundo seus méritos. Citemos, primeiramente, essas três teorias e depois vejamos sua concordância com os fatos estabelecidos da vida e até que ponto eles se harmonizam com as outras Leis da Natureza, já conhecidas. Se verdadeiras, podemos racionalmente esperar que se harmonizem, pois a discordância não tem lugar na Natureza.
Comparando a Teoria Materialista com as conhecidas leis da Natureza, constatamos ser ela contrária a essas leis devidamente estabelecidas. De acordo com essas leis, a Mente não pode ser destruída pela morte, como afirma a teoria materialista, porque quando nada pode ser destruído, a Mente tampouco pode.
Além disso, está claro que a Mente é superior à matéria, pois modela a face de tal maneira que esta possa refleti-la; sabemos também que as partículas de nossos corpos estão constantemente sendo trocadas; e que uma mudança completa ocorre, no mínimo, a cada sete anos. Se a teoria materialista fosse verdadeira, nossa consciência também deveria passar por uma mudança completa a cada período desses, nada restando das recordações anteriores. Assim sendo, ninguém poderia relembrar qualquer acontecimento ocorrido há mais de sete anos.
Sabemos que não é esse o caso. Podemos nos recordar de toda a nossa vida; o mais insignificante incidente, embora esquecido na vida ordinária, é vividamente recordado por uma pessoa que se afoga, mesmo no estado do transe. O materialismo não leva em conta esses estados de subconsciência ou supraconsciência, e por não poder explicá-los, simplesmente os ignora, mas em face das investigações científicas que já estabeleceram a veracidade dos fenômenos psíquicos, a política de ignorar, em vez de refutar ou discutir essas afirmações da ciência, é imperdoável falha numa teoria que proclama ter resolvido o maior problema da vida: a própria Vida.
A teoria materialista tem ainda muitas outras falhas que impedem a nossa aceitação, mas já dissemos o bastante para justificar-nos e, deixando-a de lado, passaremos às outras duas teorias.
Uma das maiores dificuldades na doutrina dos teólogos consiste em ser ela total e reconhecidamente inadequada. De acordo com essa teoria, de que uma nova alma é criada a cada nascimento, miríades de almas têm sido criadas desde o princípio de nossa existência – mesmo supondo que esse começo se deu há apenas 6.000 anos. Segundo certas seitas, apenas 144.000 dessas almas serão salvos; as demais serão torturadas para sempre. E isso é chamado de “Plano de salvação de Deus” e exaltado como prova do maravilhoso amor de Deus.
Suponhamos que uma mensagem telegráfica seja recebida em Nova York informando que um enorme transatlântico está afundando em Sandy Hook[1]; e que 3.000 pessoas estão na iminência de morrer afogadas. Consideraríamos como um glorioso plano de salvação enviar em seu socorro um pequeno barco a motor que pudesse resgatar apenas dois ou três náufragos? Certamente que não. Somente quando algum outro meio mais adequado fosse providenciado para salvar pelo menos a grande maioria, é que poderíamos considerá-lo um bom “plano de salvação”.
O “plano de salvação” que os teólogos oferecem é ainda mais precário do que enviar um pequeno barco a motor para salvar as pessoas do transatlântico, pois dois ou três salvos para um total de 3.000 pessoas é uma proporção muito maior do que 144.000 de todas as miríades de almas criadas, segundo os próprios teólogos. Se Deus realmente tivesse elaborado esse plano, pareceria à mente lógica que Ele não seria bom. Se Ele não pode ajudar a si mesmo, Ele não é onipotente. Em nenhum dos casos, então, ele pode ser Deus. Tais suposições, no entanto, são absurdas como realidades, pois isso não pode ser o plano de Deus, e seria uma grande blasfêmia atribuir-Lhe tal coisa.
Se nos voltarmos para a doutrina da reencarnação (renascimento em corpos humanos), que postula um lento processo de desenvolvimento levado a efeito com inabalável persistência através de repetidos renascimentos em formas humanas de crescente eficiência, pelo que todos os seres alcançarão no devido tempo uma estatura espiritual inconcebível à nossa limitada compreensão atual, facilmente poderemos perceber sua harmonia com os métodos da Natureza. Em toda parte, encontramos na natureza essa lenta, mas persistente luta pela perfeição, e em nenhum lugar vemos um processo súbito quer de criação, quer de destruição análogo àquele que os teólogos e materialistas querem fazer-nos crer.
A ciência reconhece que o processo de evolução, como o método de desenvolvimento da natureza, é igual tanto para a estrela do céu quanto para a estrela do mar, para o micróbio como para o ser humano. É o progresso do espírito no tempo e, à medida que observamos em volta e notamos a evolução em nosso universo tridimensional, não podemos nos furtar da evidência de que o seu caminho também é tridimensional, uma espiral. Cada espiral é um ciclo, e os ciclos seguem em ininterrupta progressão, à medida que as espirais se sucedem umas às outras, sendo que cada ciclo é o produto melhorado do precedente e a base do progresso dos ciclos subsequentes.
Uma linha reta nada mais é do que a extensão de um ponto, e assim também as teorias dos materialistas e dos teólogos. A linha materialista da existência vai do nascimento à morte; a linha do teólogo começa em um ponto imediatamente anterior ao nascimento e prolonga-se para o invisível além da morte. Não há retorno possível. A existência assim vivida extrairia um mínimo da experiência da Escola da Vida, como se o ser humano fora apenas um ser unidimensional incapaz de se expandir ou de alcançar as sublimes alturas da realização.
Um caminho de zigue-zague, de duas dimensões, para a vida evolucionante não seria o melhor, um círculo significaria voltar infindavelmente sobre as mesmas experiências. Tudo na natureza tem um propósito, inclusive a terceira dimensão. Para que possamos viver as oportunidades de um universo tridimensional, o caminho evolutivo deve ser em espiral. E assim é de fato. Em toda parte, quer no céu quer na terra, todas as coisas caminham para frente, para cima e para sempre.
A pequena planta no jardim e a sequoia[2] gigante da Califórnia, com seu tronco de 13 metros de diâmetro mostram a espiral na ordenação de seus ramos, talos e folhas. Se estudarmos a grande abóboda celeste e examinarmos a nebulosa espiralada, que são mundos em formação, ou os caminhos percorridos pelos Sistemas Solares, fica evidente que a espiral é o caminho do progresso.
Encontramos outra ilustração do progresso em espiral no curso anual de nosso Planeta. Na primavera, ela sai de seu período de repouso, desperta de seu sono hibernal. Então, vemos a vida brotando por toda parte. E a Natureza empregando todas as atividades para criar. O tempo passa; os cereais e a uva estão amadurecidos e sendo colhidos, e novamente o silêncio e a inatividade do inverno substituem a atividade do verão; e outra vez o manto de neve envolve a Terra. Mas ela não dormirá para sempre; e novamente despertará ao canto de uma nova primavera, e com isso terá progredido um pouco mais no caminho do tempo.
É possível que uma lei, sendo universal em todos os demais reinos da Natureza, seja revogada apenas no reino humano? Pode a Terra despertar todos os anos de seu sono hibernal; pode a árvore e a flor viver novamente e somente o ser humano morrer? Não, isto é impossível num universo governado por lei imutável. A mesma lei que desperta a vida na planta para um novo crescimento deve também despertar o ser humano para mais um passo rumo à perfeição. Portanto, a doutrina do renascimento, ou repetidas encarnações humanas em veículos de crescente perfeição, está em pleno acordo com a evolução e com os fenômenos da Natureza, quando se afirma que o nascimento e a morte seguem um ao outro em contínua sucessão. E isto se acha em plena harmonia com a lei dos Ciclos Alternantes que estabelece uma sequência ininterrupta, um após o outro: atividade e repouso, fluxo e refluxo, verão e inverno. Está também em perfeito acordo com a fase espiral da Lei de Evolução quando declara que toda vez que o Espírito retorna a um novo nascimento, assume um corpo mais perfeito e, à medida que o ser humano progride em conquistas mentais, morais e espirituais em consequência das experiências acumuladas de vidas passadas, alcança um melhor ambiente para viver.
Quando buscamos solucionar o enigma da vida e da morte; quando buscamos uma resposta que satisfaça tanto a Mente quanto ao Coração, sobre as diferenças nos dons ou condições dos seres humanos, buscando uma razão para a existência de tristeza e dor; quando indagamos por que um indivíduo é criado no regaço de luxo, enquanto outro tem de resignar-se com as miríades migalhas que lhe atiram; Por que um recebe uma educação moral, enquanto o outro é ensinado a roubar e a mentir; por que um nasce com uma feição e imagem venusiana, enquanto o outro nasce com a cabeça de Medusa[3]; por que um desfruta da mais perfeita saúde, enquanto outro jamais conhece um momento de alívio de suas dores; por que um tem o intelecto de Sócrates[4], enquanto outro mal sabe contar “um, dois ou muitos”; assim como os aborígenes Australianos, os materialistas ou teólogos nada podem esclarecer. O materialismo atribui às causas das enfermidades a Lei de Hereditariedade e, com relação às condições econômicas, Spencer[5] nos diz que, no mundo animal, a lei da Sobrevivência é “comer ou ser comido”; e na sociedade civilizada a Lei é “enganar ou ser enganado”.
A hereditariedade explica parcialmente a constituição física. Semelhante produz semelhante, pelo menos no que concerne à forma, mas a hereditariedade não explica as tendências morais e as inclinações mentais, as quais diferem em cada ser humano. A hereditariedade é um fato nos reinos inferiores, onde todos os animais de uma mesma espécie parecem ser iguais, comem o mesmo tipo de alimento e agem de maneira semelhante em idênticas circunstâncias, porque não têm somente vontade própria, mas são dominados por um Espírito-Grupo comum. No reino humano é diferente. Cada ser humano age à sua própria maneira. Cada um requer uma dieta própria. Conforme passam os anos de infância e adolescência o Ego vai moldando o seu instrumento de tal maneira que nele reflete as suas características. Assim, não existem duas pessoas exatamente iguais. Mesmo os gêmeos que não podem ser distinguidos na infância diferenciam-se gradativamente ao crescerem, pois, suas próprias características é que formalizarão o pensamento do Ego interno.
No plano moral prevalecem semelhantes condições. Os registros policiais demostram que os filhos de criminosos incorrigíveis, geralmente, não possuem tendências criminosas; eles quase sempre se conservam afastados dos tribunais, e nas “galerias de criminosos” da Europa e da América é impossível encontrar pai e filho ao mesmo tempo. Assim, os criminosos são filhos de pessoas honestas sendo, portanto, a hereditariedade incapaz de explicar as tendências morais.
Quando considerarmos as elevadas faculdades intelectuais e artísticas, descobrimos que os filhos de um gênio são, muitas vezes, pessoas medíocres e até mesmo idiotas. O cérebro de Cuvier[6] foi o maior, jamais pesado e analisado pela ciência. Seus cinco filhos morreram de paresia[7]. O irmão de Alexandre, o Grande[8], era um idiota, e como esse, muitos outros casos poderiam ser citados de improviso, para mostrar que a hereditariedade explica apenas parcialmente a similaridade da forma, e nada esclarece sobre as condições mentais e morais. A Lei da Atração, que faz com que os músicos se agrupem em salas de concertos e estimula reuniões de pessoas literárias em razão de suas semelhanças e gostos; é a Lei de Consequência, que leva aqueles que desenvolvem tendências criminosas a se associar com criminosos, a fim de que possam aprender a praticar o bem, sofrendo as consequências do mal praticado, explicam, mais logicamente do que a hereditariedade, os fatos de associações e de caráter.
Os teólogos explicam que todas as condições são criadas pela vontade de Deus, que em Sua insondável sabedoria houve por bem tornar alguns ricos e a maior parte pobres; alguns inteligentes e outros tolos etc.; que Ele proporciona dificuldades e provações a todos; sendo que a maioria terá maiores dificuldades e provações e uma minoria terá pouco, dizendo ainda que devemos aceitar nossa parte sem murmurar ou queixas. Mas é quase impossível olhar o céu com amor quando se pensa que de lá vem, por capricho divino, todas as nossas desgraças, sejam grandes ou pequenas. E a bondosa mente humana se revolta ao pensamento de um pai que esbanja amor, conforto e riqueza a uns poucos, e envia tristeza, sofrimento e miséria a milhões. Certamente deve haver outra solução, diferente dessa, para os problemas da vida. Não é mais razoável supor que os teólogos interpretam mal a Bíblia, do que atribuir tão monstruosa conduta a Deus?
A Lei de Renascimento oferece uma solução razoável a todas as desigualdades da vida, isto é, as tristezas e sofrimentos, quando se une à sua lei complementar, a Lei de Consequência mostrando o caminho da emancipação.
A Lei de Consequência é a Lei da Justiça da Natureza. Decreta que aquilo que o ser humano semear isso mesmo colherá. O que somos, o que temos, todas as nossas boas qualidades são resultado do nosso trabalho no passado, daí os nossos talentos. O que nos falta física, moral ou mentalmente é pelo fato de termos negligenciado certas oportunidades no passado, ou mesmo por não termos as tido, mas algum dia e em algum lugar teremos outras possibilidades e então, recuperaremos o que foi perdido. Quanto às nossas obrigações para com os demais e os débitos deles para conosco, a Lei de Consequência prevê isto. O que não pode ser liquidado em uma só vida será liquidado nas vidas futuras. A morte não cancela nossas obrigações, da mesma forma que mudando para outra cidade não liquidamos nossas dívidas contraídas aqui. A Lei do Renascimento provê-nos um novo ambiente, mas nele vamos encontrar nossos velhos amigos e nossos antigos inimigos. Nós os reconheceremos, pois quando encontramos com uma pessoa pela primeira vez e sentimos como se a conhecêssemos durante toda a nossa vida, isso não é mais do que um reconhecimento do Ego que atravessa o véu da carne e descobre o antigo amigo. Por outro lado, quando nos deparamos com uma pessoa que imediatamente nos inspira medo ou repulsa, novamente isso representa uma mensagem do Ego nos advertindo contra o nosso velho inimigo de vidas passadas.
O ensino oculto relativo à vida, que baseia sua solução nas Leis gêmeas de Consequência e Renascimento, diz simplesmente que o mundo que nos rodeia é uma escola de experiência; que assim como enviamos uma criança à escola dia após dia e ano após ano, para que aprenda mais e mais conforme avance através das diversos graus, do jardim de infância à faculdade, assim também o Ego humano, como filho do Pai, vai à Escola da Vida, dia após dia. Só que nessa vida mais ampla do Ego, cada dia na escola é uma vida terrestre, e a noite que cai entre dois dias de aprendizado corresponde ao sono da morte numa vida mais ampla do Ego humano (o Espírito no ser humano).
Numa escola existem muitos graus. As crianças mais velhas que frequentaram as muitas aulas irão aprender lições muito diferentes daquelas que estão cursando o jardim de infância. Assim também, na Escola da Vida, aqueles que ocupam posições elevadas, dotados de grandes faculdades, são nossos Irmãos Maiores, enquanto que as pessoas não civilizadas ainda estão ingressando nas classes mais primárias. O que eles são agora nós também já fomos, e todos alcançarão, no devido tempo um ponto em serão mais sábios, do que aqueles que agora têm o conhecimento. Nem deve surpreender ao filósofo que o poderoso oprima ao fraco; as crianças mais velhas são cruéis com seus companheiros mais jovens, em determinada fase de seu crescimento, porque elas ainda não desenvolveram o verdadeiro senso de justiça, mas, à medida que elas crescem, aprenderão a proteger os mais fracos. O mesmo acontece às crianças de maior idade. O altruísmo floresce mais e mais em toda parte, e dia virá em que todos os seres humanos serão tão bons e benevolentes quanto os maiores santos.
Só existe um pecado: a Ignorância; e apenas uma salvação: o Conhecimento Aplicado. Toda tristeza, sofrimento e dor provêm da ignorância de como agir, e a Escola da Vida é tão necessária para o desenvolvimento de nossas capacidades latentes quanto a escola diária o é para as crianças despertarem suas faculdades.
Quando nos dermos conta de que isso é assim, a vida logo tomará outro aspecto. Não importarão, então, as condições em que nos encontramos, o saber que NÓS as criamos, ajudar-nos-á a suportar com paciência; e, melhor que tudo, o glorioso sentimento de que somos senhores de nosso destino, e de que podemos fazer o nosso futuro como bem o desejamos, o que seria em si mesmo um poder. Resta-nos desenvolver o que nos falta. Naturalmente que temos que levar em conta nosso passado, e é possível que muitos infortúnios possam dele resultar em consequências de más ações. Mas se deixarmos de praticar o mal, podemos contemplar com alegria qualquer aflição, considerando que elas estarão saldando velhas dívidas e nos aproximando do dia em que delas teremos uma boa recordação. Não é válida a objeção de que frequentemente o mais correto é o que mais sofre. As grandes inteligências que dão a cada ser humano a soma de suas dívidas passada; as quais devem ser liquidadas em cada vida, sempre o ajudam a liquidá-las sem lhe acrescentar novas, mas apenas dando-lhe tanto quanto ele possa suportar para apressar o dia de sua emancipação; e, nesse sentido é estritamente verdadeiro que “O Senhor castiga a quem ama”[9].
A doutrina do Renascimento muitas vezes é confundida com a teoria da transmigração, que ensina que o espírito humano pode encarnar em um animal. Isso não tem fundamento na natureza. Cada espécie de animal é emanação de um Espírito-Grupo, o qual os governa DE FORA, por sugestão. O Espírito-Grupo funciona no Mundo do Desejo, onde a distância não existe; por isso ele pode influenciar qualquer membro da espécie que dirige e em qualquer lugar em que esse se encontre. Por outro lado, o Espírito humano, o Ego, penetra dentro de um Corpo Denso; assim, existe um Espírito individual em cada pessoa, habitando em seu instrumento particular e guiando-o DE DENTRO. Esses dois estágios evolutivos são inteiramente diferentes, sendo tão impossível ao ser humano encarnar em um corpo animal quanto para um Espírito-Grupo tomar a forma humana.
A pergunta “Por que não recordamos das nossas existências passadas?” é outra aparente dificuldade. Mas se compreendermos que a cada nascimento temos um cérebro totalmente novo, e que o Espírito humano é fraco e se acha absorvido pelo seu novo ambiente, não nos deve surpreender afinal que ele não possa impressionar fortemente o cérebro nos dias da infância, quando ele é mais sensível. Algumas crianças recordam seu passado, especialmente nos primeiros anos, e é coisa das mais patéticas o fato de tais crianças serem totalmente incompreendidas nessas ocasiões pelas pessoas mais velhas. Quando falam da vida passada elas são ridicularizadas, e até punidas por serem “fantasiosas”. Se as crianças falam de seus companheiros invisíveis, e de que “veem coisas” – porque muitas crianças são clarividentes – acabam defrontando-se com o mesmo tratamento severo, e o inevitável resultado é que elas aprendem a calar-se até perderem por completo aquela faculdade. Acontece, porém, que algumas vezes, quando a afirmação da criança é ouvida, resultam em espantosas revelações. O escritor ouviu falar sobre esse caso há alguns anos na costa do Pacífico:
Uma História Notável
Certo dia, na cidade de Santa Bárbara, uma criança vendo um cavalheiro, chamado Roberts, que passava pela rua, pôs-se a correr na sua direção, gritando “Papai”, e insistindo em afirmar que ela vivera com ele e com a ‘outra mãe’ em uma casinha perto do riacho; e que certa manhã ele as deixara para não mais voltar. E que ela e sua mãe haviam morrido de fome e a pequena criança finalizou dizendo estranhamente: “Mas eu não morri, vim para cá”. A história não foi contada em um só fôlego, nem resumidamente, mas sim a intervalos, por uma tarde inteira e em respostas e perguntas intermitentes. A história do Sr. Roberts é a da precipitada fuga de dois jovens namorados; de seu casamento e migração da Inglaterra para a Austrália; da construção de uma casinha próxima a um riacho e num lugar ermo; de sua saída de casa certo dia deixando sua mulher e o bebê, e de sua prisão sem que lhe fosse concedida permissão para avisar a sua esposa – porque os agentes temiam a fuga do prisioneiro – de como foi levado sob a mira das armas até o litoral e embarcado para a Inglaterra, acusado de assalto a um banco na mesma noite em que viajara para a Austrália; de como, chegando à Inglaterra, conseguiu provar sua inocência, e de como só então, atendendo aos insistentes rogos sobre sua esposa e filha, que àquela altura deveriam estar morrendo de inanição, as autoridades concordaram em organizar e enviar um grupo de salvamento, e em resposta soube que o grupo encontrara apenas os ossos de uma mulher e de uma criança. Todas essas coisas corroboraram a história da menininha de três anos; e sendo-lhe mostradas algumas fotografias ao acaso, ela pôde apontar as do Sr. Roberts e as de sua esposa, embora o Sr. Roberts tivesse mudado bastante nos dezoito anos decorridos desde a tragédia até àquele incidente em Santa Bárbara.
Não se deve supor, contudo, que todos os que atravessam os portais da morte renasçam em tão pouco tempo, como aconteceu com a menina. Tão curto intervalo tiraria do Ego a oportunidade de realizar o importante trabalho de assimilar experiências e preparar-se para uma nova vida terrena. Mas uma criança de três anos não tem ainda experiências significativas, podendo, portanto, buscar logo a seguir um novo corpo físico para renascer, geralmente na mesma família. Muitas vezes uma criança morre porque algumas modificações nos hábitos dos pais frustra o cumprimento do destino resultante de seus atos passados. Então é necessário aguardar outra oportunidade, mas também elas podem nascer e morrer a seguir para ensinar aos pais uma lição de que eles precisem. Houve um caso em que um Ego encarnou oito vezes na mesma família com tal propósito, até que os mesmos aprendessem a lição. Depois, renasceu em outro lugar. Era um amigo da família que adquiriu grande mérito, ajudando-os deste modo.
A Lei do Renascimento, quando não é alterada pela Lei da Consequência, em tão grande extensão como no caso acima mencionado, trabalha consoante ao movimento do Sol, conhecido por Precessão dos Equinócios, pelo qual o Sol retrocede através dos doze Signos do Zodíaco, assim chamado Ano Sideral ou Mundial que compreende 25.868 anos solares ordinários.
À medida que o movimento da Terra em sua órbita ao redor do Sol produz as mudanças climáticas conhecidas como estações, as quais por sua vez alteram as nossas condições e atividades, da mesma forma o movimento do Sol por precessão nos grandes anos siderais produz mudanças ainda maiores nas condições climáticas e topográficas, relacionadas com a civilização, sendo necessário que o Ego em seu aprendizado experimente a todas.
Portanto, o Ego renasce duas vezes durante o tempo em que o Sol percorre cada um dos Signos do Zodíaco, e que é aproximadamente 2.100 anos. Portanto, normalmente, transcorre cerca de 1.000 anos entre duas encarnações e, como as experiências de um homem diferem grandemente das de uma mulher – não se modificam materialmente em mil anos as condições terrestres – assim, o Espírito geralmente renasce alternadamente ora como homem e ora como mulher. Mas isto não significa ser a regra rígida e inflexível. Ela está sujeita a modificações sempre que a Lei de Consequência o exija.
Assim, pela experiência por parte do Ego, a ciência oculta soluciona o enigma da vida em todas as condições que se têm esse objetivo, sendo que todos são determinados automaticamente pelos méritos de cada um. Isto arranca da morte o seu aguilhão e o terror que o inspira, colocando-a no lugar que merece e considerando-a como um simples incidente numa que é mais ampla, analogamente ao fato de nos mudarmos para outra cidade por algum tempo; isto torna menos triste à partida daqueles a quem amamos, pois nos garante que o mesmo amor que lhes devotamos será o elemento que a eles nos unirá outra vez, e ainda nos proporciona esperança maior: a de que alcançaremos algum dia o conhecimento que solucionará todos os problemas; que ligará todas as nossas vidas; e melhor que tudo – conforme nos ensina a ciência oculta – que através de sua aplicação temos nela, o poder de apressar o glorioso dia em que a fé será absorvida pelo conhecimento. Então, poderemos compreender em seu sentido mais profundo a beleza do poético enunciado da doutrina do renascimento, de Edwin Arnold[10]:
O Espírito jamais nasceu!
E jamais deixará de existir!
Jamais houve tempo em que deixou de ser,
Princípio e fim são sonhos no sentir.
O Espírito permanece sempre sem nascer e sem morrer.
A Morte jamais o tocou,
Embora possa parecer.
Morta a casa em que habitou
Não! Simplesmente como alguém que tira
Uma roupa usada e a joga além
E ao vestir outra, diz;
Hoje, essa veste vou usar.
Assim também, o Espírito põe à margem
Uma transitória e carnal roupagem
E prossegue para, então, herdar
Outra morada, outro novo lar!
FIM
[1] N.T.: é uma península barrier de aproximadamente 9,7 km por 800 m, em Middletown, Monmouth County, no leste do estado de Nova Jersey, nos Estados Unidos.
[2] N.T.: A sequoia-gigante é a maior árvore do mundo em termos de volume. Ela atinge em média de 85 – 115 m de altura, e 8–13 m em diâmetro. A sequoia-gigante mais velha conhecida possui 4.650 anos de idade.
[3] N.T.: A Medusa, na mitologia grega, era um monstro ctônico do sexo feminino
[4] N.T.: Sócrates (c. 469 a.C.-399 a.C.) foi um filósofo ateniense do período clássico da Grécia Antiga. Creditado como um dos fundadores da filosofia ocidental
[5] N.T.: Herbert Spencer (1820-1903) foi um filósofo inglês e um dos representantes do liberalismo clássico.
[6] N.T.: Georges Cuvier (1769-1832) foi um naturalista e zoologista francês da primeira metade do século XIX, é por vezes chamado de “Pai da Paleontologia”. Foi uma figura central na investigação em história natural na sua época, comparou fósseis com animais vivos criando assim a Anatomia Comparada.
[7] N.T.: A paresia é a disfunção ou interrupção dos movimentos de um ou mais membros: superiores, inferiores ou ambos e conforme o grau do comprometimento ou tipo de acometimento fala-se em paralisia ou paresia.
[8] N.T.: Alexandre III da Macedônia (português europeu) (356 a.C.-323 a.C.), comumente conhecido como Alexandre, o Grande ou Alexandre Magno foi rei (basileu) do reino grego antigo da Macedônia.
[9] N.T.: Hb 12:6
[10] N.T.: Edwin Arnold (1832-1904), foi um poeta e jornalista britânico.
A Escola de Sabedoria Ocidental ensina, como sua máxima fundamental, que “todo desenvolvimento oculto começa com o Corpo Vital”, declara Max Heindel.
É por esse motivo e com o propósito de apresentar, numa forma concisa e de fácil compreensão, todas as informações importantes que Max Heindel escreveu em várias cartas, lições e livros a respeito do veículo etérico, que este material compilado se acha publicado em forma de livro.
Para o leigo em estudos ocultos, assim como para o estudante avançado, seu conteúdo é de enorme valor prático.
Há 4 meios de você acessar esse Livro:
1. Em formato PDF (para download):
O Corpo Vital – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz
2. Em forma audiobook ou audiolivro:
O Corpo Vital – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz – audiobook
3. Em forma de videobook ou videolivro no nosso canal do Youtube: https://www.youtube.com/c/TutoriaisEstudosFraternidadeRosacruzCampinas/featured
aqui:
O Corpo Vital – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz – videobook
4. Para ler no próprio site::
O CORPO VITAL
Por
Max Heindel
Fraternidade Rosacruz
Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82
Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil
Revisado de acordo com:
3ª Edição em Inglês, 2011, The Vital Body, editada por The Rosicrucian Fellowship
1ª Edição em Português, editada pela Fraternidade Rosacruz São Paulo – SP – Brasil
Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
contato@fraternidaderosacruz.com
fraternidade@fraternidaderosacruz.com
PARTE I – EVOLUÇÃO PASSADA DO CORPO VITAL DO SER HUMANO 7
Capítulo I – Durante Períodos e Revoluções. 7
Capítulo II – Durante as Épocas. 17
PARTE II – O CORPO VITAL DO SER HUMANO NA ATUAL ÉPOCA ÁRIA 24
Capítulo I – Natureza e Funções. 24
Capítulo II – Na Saúde e na Doença. 46
Capítulo III – No Sono e nos Sonhos. 66
Capítulo IV – Na Morte e nos Mundos Invisíveis. 75
Capítulo V – A Caminho do Renascimento. 99
Capítulo VI – As Crianças. 102
PARTE III – O CORPO VITAL DOS ANIMAIS E DAS PLANTAS. 108
Capítulo I – Natureza e Funções. 108
PARTE IV – A RELAÇÃO DO CORPO VITAL COM O DESENVOLVIMENTO ESPIRITUAL.. 116
Capítulo I – Um Fator Importante. 116
Capítulo II – O Efeito das Orações, Rituais e Exercícios. 129
nota[1]
A Escola de Sabedoria Ocidental ensina, como sua máxima fundamental, que “todo desenvolvimento oculto começa com o Corpo Vital”, declara Max Heindel, um Iniciado da Ordem Rosacruz e fundador da Fraternidade Rosacruz. É por esse motivo e com o propósito de apresentar, numa forma concisa e de fácil compreensão, todas as informações importantes que Max Heindel escreveu em várias cartas, lições e livros a respeito do veículo etérico, que este material compilado se acha publicado em forma de livro. Para o leigo em estudos ocultos, assim como para o Estudante Rosacruz avançado, seu conteúdo é de enorme valor prático.
Muitos Estudantes Rosacruzes zelosos dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental deram de modo desinteressado e amoroso, seu tempo e esforços no preparo desse material para publicação, e eles rogam que cada exemplar possa levar sua mensagem de luz e inspiração a todo Aspirante espiritual, que esteja se empenhando em seguir o Caminho de Cristo.
A Filosofia Rosacruz ensina que o ser humano é um Espírito Tríplice, possuindo uma Mente através da qual ele governa o Tríplice Corpo, que ele emanou de si mesmo para adquirir experiência. Ele transmuta esse Tríplice Corpo numa Tríplice Alma, da qual ele avançada impotência à onipotência. O Espírito Divino emana de si mesmo o Corpo Denso extraindo, como alimento, a Alma Consciente; o Espírito de Vida emana de si mesmo o Corpo Vital, extraindo, como alimento, a Alma intelectual; o Espírito Humano emana de si mesmo o Corpo de Desejos, extraindo, como alimento, a Alma Emocional. O Corpo Vital é feito de Éter e permeia o corpo visível,[2] como o Éter permeia todas as demais formas, com a exceção de que os seres humanos especializam uma maior quantidade do Éter universal que as outras formas. Esse corpo etéreo é nosso instrumento para a especialização da energia vital do Sol.
Também é ensinado pela Filosofia Rosacruz que nosso esquema evolucionário é levado através de cinco dos sete Mundos ou estados de matéria (Físico, do Desejo, do Pensamento, do Espírito de Vida e do Espírito Divino) em sete grandes Períodos de Manifestação (Períodos de: Saturno, Solar, Lunar, Terrestre, Júpiter, Vênus e Vulcano) durante os quais o Espírito Virginal, ou vida evolucionante, torna-se primeiro, um ser humano e depois, um Deus. Estamos, agora, no quarto período, ou Período Terrestre, que se acha dividido em sete Revoluções, assim como as sete Épocas seguintes: a Polar, a Hiperbórea, a Lemúrica, a Atlante, a Ária, a Nova Galileia e o Reino de Deus, essas últimas duas ainda por vir[3]. No começo do Período de Saturno doze grandes Hierarquias Criadoras estavam ativas no trabalho da evolução. Duas dessas Hierarquias fizeram algum trabalho para ajudar bem no início…. E, então, retiraram-se da existência limitada para a liberação. Mais três Hierarquias Criadoras seguiram-nas no início do Período Terrestre: os Senhores da Chama, os Querubins e os Serafins, deixando sete Hierarquias em serviço ativo quando o Período Terrestre teve início: os Senhores da Sabedoria, os Senhores da Individualidade, os Senhores da Forma, os Senhores da Mente, os Arcanjos, os Anjos e os Espíritos Virginais.
A evolução do Corpo Vital e do Espírito de Vida, do qual é uma contraparte, se iniciou no segundo Período ou Período Solar dos sete Grandes Dias de Manifestação. Desde então, foi reconstruído e atingirá a perfeição no Período de Júpiter. Num estágio futuro a Humanidade não mais terá necessidade desse veículo, mesmo assim, sua quintessência será retida.
O Espírito de Vida e o Corpo Vital iniciaram sua evolução no Período Solar e, por conseguinte, são responsabilidades específicas do Filho.
Eles (os Senhores da Chama) forneceram, anteriormente, o germe do Corpo Denso e, na primeira metade da Revolução de Saturno do Período Solar estavam ocupados com certos melhoramentos a serem feitos nele.
No Período Solar a formação do Corpo Vital estava para ter início, com todas as decorrentes implicações de capacidade para assimilação, crescimento, propagação, desenvolvimento das glândulas, etc.
Os Senhores da Chama incorporaram no germe do Corpo Denso apenas a capacidade de desenvolver os órgãos dos sentidos. Na ocasião, agora em consideração, foi necessário mudar o germe de tal modo que permitisse a interpenetração do Corpo Vital, e, também a capacidade de desenvolver glândulas e um tubo digestivo. Isso foi feito pela ação conjunta dos Senhores da Chama, que forneceram o germe original, e os Senhores da Sabedoria, que se encarregaram da evolução material no Período Solar.
Quando os Senhores da Chama e os Senhores da Sabedoria tinham, na Revolução de Saturno do Período Solar, reconstruído conjuntamente o Corpo Denso germinal, os Senhores da Sabedoria, na Segunda Revolução, deram início ao trabalho propriamente dito, do Período Solar, irradiando de seus próprios corpos o germe do Corpo Vital, tornando-o capaz de interpenetrar o Corpo Denso e dando ao germe a capacidade de crescimento ulterior, de propagação e de sensibilização dos centros sensoriais do Corpo Denso e possibilitando-o a se mover. Em suma, eles deram, em germe ao Corpo Vital, todas as faculdades que ele está agora expandindo para tornar-se um instrumento perfeito e flexível para o uso do Espírito.
Notamos também que, como a Primeira Revolução ou Revolução de Saturno, de qualquer período, diz respeito ao trabalho no Corpo Denso (porque este teve início numa primeira Revolução), assim, a Segunda, ou Revolução Solar, de qualquer período se acha relacionada com melhorias no Corpo Vital, porque este teve início numa Segunda Revolução.
Pode-se dizer que o ser humano, no Período Solar, passou pela existência do vegetal. Ele tinha um Corpo Denso e um Corpo Vital, como têm as plantas. Sua consciência, tal como a dos vegetais, era a de um sono sem sonhos.
Então havia duas classes ou reinos no Período Solar, isto é, os atrasados do Período de Saturno, que ainda eram minerais, e os pioneiros do Período de Saturno, que foram capazes de receber o germe do Corpo Vital e tornaram-se semelhantes às plantas.
No meio da sétima Revolução do Período Solar, os Senhores da Sabedoria se encarregaram do Espírito de Vida germinal, dado pelos Querubins na Sexta Revolução do Período Solar. Eles assim o fizeram com o propósito de conectá-lo ao Espírito Divino. Sua maior atividade, nesse trabalho, foi alcançada na Noite Cósmica intermediária entre os Períodos Solar e Lunar. No primeiro despertar do Período Lunar, à medida que a Onda de Vida se pôs em marcha em sua nova peregrinação, os Senhores da Sabedoria reapareceram, trazendo com eles os veículos germinais do ser humano em evolução. Na Primeira Revolução, ou de Saturno do Período Lunar, eles cooperaram com os “Senhores da Individualidade”, que tinham como encargo especial a evolução material do Período Lunar. Juntos eles reconstruíram o germe do Corpo Denso trazido do Período Solar. Esse germe tinha desdobrado os órgãos embrionários dos sentidos, os órgãos da digestão, as glândulas, etc. e foi interpenetrado por um Corpo Vital germinal que difundiu certo grau de vida no Corpo Denso embrionário. Certamente, ele não era sólido e visível como é agora, embora numa certa forma já tivesse algo desenvolvido e era perfeitamente distinguível pela visão Clarividente treinada do investigador competente, que procure na Memória da Natureza por cenas desse distante passado.
Na Segunda, ou Revolução Solar do Período Lunar, o Corpo Vital foi modificado para tornar-se capaz de ser interpenetrado pelo Corpo de Desejos, e, também acomodar-se ao sistema nervoso, muscular, esqueleto, etc. Os Senhores da Sabedoria, que foram os criadores do Corpo Vital, ajudaram também os Senhores da Individualidade em seu trabalho.
Na Sexta Revolução do Período Lunar os Querubins reapareceram e vivificaram o Espírito de Vida daqueles atrasados do Período Solar, mas que desde então tinham alcançado o estágio necessário de desenvolvimento, e, também naqueles atrasados do Período Solar que tinham então desenvolvido o Corpo Vital durante sua existência vegetal no Período Lunar.
Os pioneiros da nova Onda de Vida passaram por um estágio inferior da existência vegetal; entretanto a maioria deles desenvolveu o Corpo Vital suficientemente para permitir o despertar do Espírito de Vida.
Portanto, todos os três últimos mencionados possuíam os mesmos veículos no início do Período Terrestre, embora só os dois primeiros mencionados pertençam à nossa Onda de Vida e têm a chance de até nos ultrapassarem se passarem pelo ponto crítico que virá na próxima Revolução do Período Terrestre. Os que não conseguirem ultrapassar esse ponto ficarão retidos, até que alguma evolução futura alcance um estágio onde eles possam ser incorporados e continuar com seu desenvolvimento em um novo período humano. Eles serão impedidos de prosseguir com a nossa Humanidade, porque esta terá avançado muito além de suas condições e seria um sério entrave ao nosso progresso arrastá-los conosco. Eles não serão destruídos, mas, simplesmente retidos esperando por outro período de evolução.
No fim do Período Lunar essas classes possuíam os veículos como estão classificados no Diagrama 10 e começaram com eles no início do Período Terrestre.
Diagrama 10 – Classes no início do Período Terrestre
Durante o tempo que transcorreu desde então, o reino humano vem desenvolvendo o elo mental, e tem desse modo logrado total consciência de vigília. Os animais obtiveram um Corpo de Desejos; as plantas um Corpo Vital; os atrasados da Onda de Vida, que entraram na evolução no Período Lunar, escaparam das duras e pesadas condições de formações de rochas e agora seus Corpos Densos compõem nossos solos mais macios; enquanto a Onda de Vida que entrou na evolução aqui no Período Terrestre forma as rochas mais duras e as pedras.
Vemos então, que ao término do Período Lunar o ser humano possuía um Tríplice Corpo em vários estágios de desenvolvimento; e, também o germe do Tríplice Espírito. O ser humano possuía Corpos: Denso, Vital e de Desejos, e o Espírito: Divino, de Vida e Humano. Só lhe faltava o elo para conectá-los.
Outra Hierarquia Criadora tinha encargo especial dos três germes dos Corpos: Denso, Vital e de Desejos, conforme estavam evoluindo. Eram aqueles que, sob a direção das mais elevadas ordens fizeram praticamente o trabalho inicial nesses Corpos, usando a vida evolucionante como uma espécie de instrumento. Essa Hierarquia chama-se “Senhores da Forma”.
Eles estavam, então, tão evoluídos que receberam o encargo do terceiro aspecto do Espírito no ser humano, o Espírito Humano, no Período Terrestre que se aproximava.
Vamos, portanto, analisar o assunto e ver o que temos direito de esperar de quem pretende ser um professor. Para fazê-lo temos que primeiro nos indagar: Qual o propósito da existência no universo da matéria? Podemos responder a isso dizendo que é a evolução da consciência. Durante o Período de Saturno, quando éramos como minerais em nossa constituição, nossa consciência era a de um médium afastado de seu corpo por espíritos em uma seção de materialização, onde uma grande parte dos Éteres que compõem o Corpo Vital tenha sido removida. O Corpo Denso fica então num transe bem profundo. No Período Solar, quando nossa constituição era similar a das plantas, nossa consciência era como a de um sono sem sonhos, quando o Corpo de Desejos, a Mente e o Espírito ficam fora do corpo, deixando os Corpos Físico e Vital sobre a cama. No Período Lunar tivemos um quadro de consciência como a que temos nos sonhos, quando o Corpo de Desejos se acha só parcialmente removido do veículo Denso e do Corpo Vital. Aqui, no Período Terrestre, nossa consciência se alargou para sentir os objetos fora de nós, colocando-se todos os veículos numa posição concêntrica, como quando estamos acordados.
O Período Terrestre é proeminentemente o Período da Forma, pois aqui a forma ou a parte material da evolução atinge seu maior e mais pronunciado estado. Aqui o Espírito está mais indefeso e subjugado e a Forma é o fator mais predominante; daí a proeminência dos Senhores da Forma.
Durante essa Revolução (a Segunda ou Revolução Solar do Período Terrestre) o Corpo Vital foi reconstruído para acomodar o germe da Mente. O Corpo Vital foi moldado para ficar mais semelhante ao Corpo Denso, de modo que pudesse tornar-se adequado para uso como o veículo mais denso durante o Período de Júpiter, quando o Corpo Denso terá se espiritualizado.
Os Anjos, a “Humanidade” do Período Lunar, foram ajudados nessa reconstrução pelos Senhores da Forma. A organização do Corpo Vital acha-se agora em uma eficiência próxima ao do Corpo Denso. Alguns escritores deste assunto chamam o Corpo Vital de um elo, e sustentam que ele é meramente um molde do Corpo Denso e não um veículo separado.
Embora não desejando criticar, e admitindo que essa controvérsia se acha justificada pelo fato de que o ser humano, no presente estágio da evolução, não pode habitualmente usar o Corpo Vital como um veículo separado, porque ele sempre permanece com o Corpo Denso, e retirá-lo totalmente iria causar a morte do Corpo Denso, sem dúvida houve uma época em que ele não estava tão firmemente incorporado a este último, como veremos mais adiante.
Durante essas Épocas da história de nossa Terra, que já foram mencionadas como a Lemúrica e a Atlante, o ser humano era involuntariamente Clarividente, e foi precisamente essa debilidade de conexão entre os Corpos Denso e Vital que tornava o ser humano assim (Os Iniciadores daquela época ajudavam o candidato a afrouxar ainda mais essa conexão, como no Clarividente voluntário).
Desde então o Corpo Vital tornou-se muito mais firmemente entretecido com o Corpo Denso na maioria das pessoas, mas em todos os sensitivos essa conexão está frouxa. É essa frouxidão que constitui a diferença entre o parapsíquico e a pessoa comum que é inconsciente de tudo, exceto das vibrações captadas pelos cinco sentidos. Todos os seres humanos tiveram que passar por esse período de estreita conexão dos veículos e experimentar a consequente limitação de consciência. Há, portanto, duas classes de sensitivos, aqueles que não se tenham firmemente enredado na matéria, como a maioria dos hindus, indianos, etc., que possuem certo e pequeno grau de clarividência, ou seja, sensíveis aos sons da natureza, e aqueles que se acham na vanguarda da evolução. Os últimos estão surgindo do nadir da materialidade, e estão também divididos em dois tipos, um dos quais se desenvolve de modo passivo e fraco de vontade. Pela ajuda de outros eles tornam a despertar o plexo solar e outros órgãos de conexão com o sistema nervoso involuntário. Esses são, portanto, Clarividentes involuntários, médiuns que não possuem controle de sua faculdade. Eles retrocederam. O outro tipo é formado por aqueles que, pela própria vontade, desenvolveram o poder vibratório dos órgãos atualmente conectados com o sistema nervoso voluntário e assim tornaram-se ocultistas treinados, controlando seus próprios corpos e exercendo a faculdade de clarividência como desejem. Eles são chamados de Clarividentes voluntários ou treinados.
No Período de Júpiter o ser humano vai funcionar em seu Corpo Vital como agora ele faz em seu Corpo Denso e como nenhum desenvolvimento é súbito na natureza, o processo de separar os dois Corpos já começou. O Corpo Vital irá no futuro alcançar um grau muito maior de eficiência que o que tem o Corpo Denso de hoje. Como ele é um veículo muito mais flexível, o espírito estará então capacitado a usá-lo de um modo impossível de imaginar com nosso atual veículo Denso.
O Corpo Vital começou na Segunda Revolução do Período Solar e foi reconstruído nos Períodos Lunar e Terrestre, e irá alcançar a perfeição no Período de Júpiter, que é o seu quarto estágio, assim como o Período Terrestre é o quarto estágio do Corpo Denso.
Nada é desperdiçado na natureza. No Período de Júpiter as forças do Corpo Denso irão se superpor ao Corpo Vital completado. Este veículo possuirá, então, os poderes do Corpo Denso além de suas próprias faculdades e será, por isso, um instrumento de muito mais valia para o Tríplice Espírito expressar-se do que se fosse construído a partir de suas próprias forças.
De modo similar, o Globo D do Período de Vênus estará localizado no Mundo do Desejo, e daí nem o Corpo Denso nem o Vital poderão ser usados como instrumentos conscientes. Por esse motivo as essências dos Corpos Denso e Vital aperfeiçoadas serão incorporadas ao Corpo de Desejos completo, tornando-se assim, este último, um veículo de qualidades transcendentais, maravilhosamente adaptado e assim sensível ao mais leve desejo do Espírito interno do que em nossas atuais limitações, o que se acha além de toda a concepção.
Até mesmo a eficiência desse esplêndido veículo estará superada quando no Período de Vulcano sua essência, junto com as essências dos Corpos Denso e Vital, agregarão a Mente, tornando-a o mais elevado dos veículos do ser humano, contendo dentro de si a quintessência do que houver de melhor em todos os veículos. Se o veículo do Período de Vênus está tão além de nosso atual poder de compreensão, que dirá aquele que estará a serviço dos seres divinos no Período de Vulcano!
As Épocas Polar, Hiperbórea, Lemúrica e Atlante foram recapitulações das etapas que os Espíritos Virginais atravessaram. Consequentemente, o Corpo Vital sofreu modificações durante aquelas épocas.
Quando o ser humano apareceu na Terra, na Época Polar o Corpo Denso foi constituído e na Época Hiperbórea foi vitalizado pela interpenetração do Corpo Vital. Naquelas Épocas o ser humano era parecido com os Anjos, macho-fêmea, uma completa unidade criadora, capaz de criar por si mesmo projetando toda sua força criadora que é amor.
Quando a Terra surgiu do Caos, encontrava-se primeiramente na etapa vermelho escuro, que conhecemos como Época Polar. Então, a Humanidade desenvolveu primeiro, um Corpo Denso que não era, absolutamente, como nosso corpo atual. Quando o estado da Terra se fez ígneo, na Época Hiperbórea, o Corpo Vital foi agregado e o ser humano se converteu em algo similar às plantas, isto é, tinha os mesmos veículos que têm as plantas atualmente, e, também uma consciência similar, ou melhor, uma inconsciência parecida à que temos durante o sono sem sonhos, quando só os Corpos Denso e Vital ficam no leito.
Os Senhores da Forma apareceram na Época Hiperbórea, juntamente com os Anjos (“Humanidade” do Período Lunar), e envolveram a forma densa do ser humano com um Corpo Vital.
Como a Época Polar era realmente uma recapitulação do Período de Saturno, pode-se dizer que, durante este tempo, o ser humano passou através do estado mineral; tinha o mesmo veículo – o Corpo Denso – e uma consciência semelhante à do estado de transe. Por razões análogas, o estado vegetal foi atravessado durante a Época Hiperbórea, pois o ser humano tinha um Corpo Denso e um Vital, e sua consciência era semelhante à da de sono sem sonhos.
Absorvendo os cristaloides preparados pelos vegetais, o ser humano desenvolveu um Corpo Vital na Época Hiperbórea, e se converteu em algo semelhante às plantas, tanto por sua constituição como por sua natureza, pois vivia sem fazer esforço algum e tão inconscientemente quanto às plantas.
Na segunda época, a Hiperbórea, um Corpo Vital de Éter foi acrescentado, então, o ser humano, em desenvolvimento, já possuía um corpo constituído como o das plantas atuais. Ele não era uma planta, mas algo semelhante à planta.
Caim, o ser humano desta Época, é descrito como um agricultor; seus alimentos vinham unicamente dos vegetais, pois as plantas contêm mais Éter do que qualquer outra estrutura.
Descreve-se Caim como um agricultor. Ele simboliza o ser humano da Segunda Época. Tinha um Corpo Vital análogo ao das plantas, que o sustentava.
Na segunda Época, a Hiperbórea, Deus disse: “Faça-se a Luz”; o calor se converteu numa massa ígnea luminosa semelhante à do Período Solar, e o Corpo Denso humano foi vestido com um Corpo Vital, flutuando aqui e acolá sobre a Terra ígnea, como uma coisa grande em forma de saco ou bolsa. O ser humano era, então, análogo ao vegetal porque tinha os mesmos veículos que têm as plantas atuais, e os Anjos eram seus auxiliares na organização de seu Corpo Vital, e continuam sendo até os dias atuais.
Isto pode parecer uma anomalia, pois os Anjos são a “Humanidade” do Período Lunar, no qual o ser humano obteve seu Corpo de Desejos. Porém, não é assim, porque, só no Período Lunar, a Terra evolucionante se condensou em Éter, tal como o que agora forma nosso Corpo Vital e, lá a “Humanidade”, os Anjos atuais, aprenderam a construir seus corpos mais densos com matéria etérea, assim como, estamos aprendendo a formar os nossos com sólidos, líquidos e gases, da Região Química do Mundo Físico. Eles se tornaram especialistas na construção daqueles corpos, assim como nós o seremos na construção de um Corpo Denso, quando finalizar o Período Terrestre.
Na Época Polar, o ser humano tinha somente um Corpo Denso pobremente organizado; era inconsciente e imóvel como os minerais que agora são assim, constituídos. Na Época Hiperbórea, seu Corpo Denso ficou envolto em um Corpo Vital e o Espírito pairava fora. Os efeitos desta natureza podem ser observados nos vegetais, que agora estão constituídos analogamente.
Neles vemos repetição constante, construção de talos e folhas para cima em sucessão alternada, o que continuaria ‘ad infinitum’, se não houvesse outra influência. Porém, como a planta não tem Corpo de Desejos separado, o Corpo de Desejos da Terra, o Mundo do Desejo, endurece o vegetal e freia seu intenso crescimento na medida certa. A força criadora, que não consegue fazer uma determinada planta continuar a crescer, busca outra saída: forma a flor e se acumula na semente, para que possa crescer outra vez em uma nova planta.
Na Época Hiperbórea, na qual o ser humano se encontrava em condições parecidas, seu Corpo Vital o fazia crescer até alcançar um tamanho enorme. O Mundo do Desejo, agindo sobre ele, fazia com que ele produzisse umas sementes semelhantes a esporos, que ou eram apropriados por outros Egos humanos ou eram empregados pelos Espíritos da Natureza, para formar os corpos animais que começavam a emergir do Caos (a Onda de Vida superior começa primeiro, no princípio de um período, e é a última que vai ao Caos; as ondas de vida que se seguem – animal, vegetal e mineral – surgem mais tarde e se vão mais depressa).
Deste modo, na Época Hiperbórea, quando o ser humano era análogo aos vegetais, seu Corpo Vital formava vértebra, pós-vértebra, e teria continuado assim se não lhe tivesse sido dado um Corpo de Desejos na Época Lemúrica. Esse corpo começou a endurecer a estrutura e a dominar a tendência a crescer, e, como resultado, o crânio, a flor sobre o “talo” da coluna espinhal, foi incipientemente formado.
Impedida em seus esforços de construir uma forma mais alta, fez-se necessário que a força criadora do Corpo Vital buscasse outra saída, pela qual pudesse continuar crescendo para cima em outro ser humano. Então, o ser humano tornou-se hermafrodita, capaz de gerar um novo corpo de si mesmo.
Então chegamos à segunda época, a Hiperbórea, quando o ser humano possuía um Corpo Denso e um Corpo Vital; que era o seu estágio análogo ao vegetal. Alimentava-se de vegetais e se fala de Caim como de um agricultor. Imediatamente depois, temos a Época Lemúrica, quando o ser humano já tinha um Corpo de Desejos, isto é, possuía três veículos, igual aos animais.
Então chegamos à etapa em que o ser humano necessitava de alimentos para manter seus três Corpos. Ele os obtém de animais viventes e se diz que Abel era um pastor.
Quando o ser humano adquiriu seu Corpo Vital, na Época Hiperbórea, o Sol, a Lua e a Terra estavam ainda unidos e as forças solares-lunares penetravam em cada ser uniformemente, de modo que todos podiam perpetuar sua espécie através de brotos e esporos, como fazem as plantas atuais. Os esforços do Corpo Vital para abrandar o veículo denso e mantê-lo vivo, então, não sofriam intervenção, e esses corpos primitivos, parecidos com as plantas, viviam séculos. Porém, como o ser humano era inconsciente e imóvel como as plantas, não fazia nenhum esforço vigoroso. A inclusão de um Corpo de Desejos agregou estímulos e desejos, e a consciência surgiu como resultado do estado de guerra entre o Corpo Vital que constrói, e o Corpo de Desejos que destrói o Corpo Denso.
Então, a dissolução tornou-se só uma questão de tempo, especialmente porque a energia construtiva do Corpo Vital foi também necessariamente dividida, uma parte ou polo sendo usada nas funções vitais do corpo, e a outra para substituir o veículo perdido pela morte. Porém, como os dois polos de um magneto ou dínamo são requisitos para a manifestação, assim também dois seres de sexos diferentes são necessários para a geração; então, casamento e nascimento foram instituídos para compensar o efeito da morte. A morte, então, é o preço que pagamos pela consciência no mundo atual. O casamento e os nascimentos repetidos são nossas armas contra o maior terror da Humanidade, até que mude nossa constituição e nos tornemos seres semelhantes aos Anjos.
Os veículos superiores dos primitivos Atlantes não estavam em posição concêntrica com relação ao Corpo Denso como estão os nossos. O Espírito não era ainda um Espírito interno; estava parcialmente no exterior e, portanto, não podia controlá-los tão facilmente, como quando habita internamente. A cabeça do Corpo Vital estava fora e se mantinha muito mais acima que a do Corpo Denso. Há um ponto entre as sobrancelhas, a meia polegada[1] abaixo da pele, que tem um ponto correspondente no Corpo Vital. Esse ponto não é o Corpo Pituitário[2], que está muito mais dentro da cabeça do Corpo Denso. Pode chamar-se de “raiz do nariz”. Quando esses dois pontos, do Corpo Vital e do Físico se colocam em correspondência, como acontece com o ser humano atual, o Clarividente treinado os vê como uma pequena mancha negra, ou melhor dizendo, como um espaço vazio, semelhante à parte invisível da chama do gás. Este é o assento do Espírito interno do ser humano, o Santo dos Santos (Sanctum Sanctorum) do templo do corpo humano, fechado para tudo o que não seja o Espírito que habita aquele corpo, o Ego. O Clarividente desenvolvido pode ver com maior ou menor clareza, de acordo com sua capacidade e treinamento, todos os diferentes corpos que formam a aura humana. Esse ponto está oculto para ele. É a “Isis”, cujo véu ninguém pode se levantar. Nem mesmo o ser mais evoluído da Terra pode tirar o véu do Ego da mais humilde ou menos desenvolvida criatura. Isto, e unicamente isto, sobre a Terra, é tão sagrado que está completamente a salvo de toda intrusão.
Estes dois pontos que acabamos de citar – um no Corpo Denso e sua contraparte no Corpo Vital – estavam muito separados no ser humano dos primitivos tempos da Atlântida, como estão nos animais atuais. A cabeça do Corpo Vital do cavalo está muito separada da cabeça de seu Corpo Denso. Esses dois pontos estão mais próximos no cachorro do que em qualquer outro animal, com exceção talvez do elefante. Se chegar a juntar-se, acontece o caso dos animais prodígios que podem contar, soletrar, etc.
Devido à distância entre esses dois pontos, o poder de percepção do Atlante era muito mais agudo nos mundos internos do que no Mundo Físico, obscurecida pela atmosfera de neblina densa e pesada. Com o tempo, no entanto, a atmosfera foi ficando gradualmente mais clara, ao mesmo tempo, que o ponto citado no Corpo Vital foi-se aproximando, pouco a pouco, do correspondente no Corpo Denso. Conforme se iam aproximando, o ser humano ia perdendo seu contato com os mundos internos, que ficavam mais escuros à medida que o físico clareava. Finalmente, na terceira e última parte da Época Atlante, o ponto do Corpo Vital se uniu ao do Corpo Denso correspondente. Até esse momento, o ser humano não estava plenamente consciente do Mundo Físico, porém, ao mesmo tempo, que se obteve a plena visão e percepção do Mundo Físico, a maioria da Humanidade, perdeu gradualmente a capacidade de perceber os mundos superiores.
Durante a existência da Raça dos Semitas Originais a atmosfera da Atlântida começou a clarear definitivamente e o ponto, já mencionado, do Corpo Vital se colocou em correspondência com o respectivo ponto no Corpo Denso. A combinação dos acontecimentos deu ao ser humano a capacidade de ver os objetos com clareza e nitidez, com contornos bem definidos; porém, isto também provocou a perda de sua visão dos mundos internos.
Durante as idades que transcorreram desde a Época Lemúrica, a Humanidade desenvolveu, pouco a pouco, o sistema nervoso cérebro-espinhal, que está sob o controle da vontade. Na última parte da Época Atlante, tal sistema se desenvolveu bastante para permitir ao Ego tomar plena posse do Corpo Denso. Então, foi o momento (como já foi mencionado) em que o ponto no Corpo Vital e o ponto no Corpo Denso, se corresponderam na raiz do nariz, e o Espírito interno despertou no Mundo Físico, e a grande maioria da Humanidade perdeu a consciência dos mundos internos.
A Humanidade está evoluindo atualmente na Época Ária. O Corpo Vital tem funções, cor, forma, estrutura atômica e polaridade. Sua existência pode ser provada.
Vimos que o ser humano é um ser complexo e se compõe de:
O objetivo da vida é transformar os poderes latentes do Ego em energia dinâmica, por meio da qual ele poderá controlar, perfeitamente, seus diferentes veículos e atuar como lhe pareça melhor. Sabemos que o Ego não tem domínio completo, pois, se assim fosse, não haveria guerra em nosso interior entre o Espírito e a carne, melhor dizendo, entre o Espírito e o Corpo de Desejos. É esta guerra que desenvolve o músculo espiritual, assim como a luta constrói o músculo físico. É fácil mandar que outros façam isso ou aquilo, mas impor obediência a si próprio é a tarefa mais difícil no mundo, e diz-se, com razão, que “o ser humano que conquista a si mesmo é maior do que o que conquista uma cidade”. Goethe, o grande poeta iniciado, nos dá razão quando diz:
“De todos os poderes que encadeiam o mundo, o ser humano se libertará quando adquirir autocontrole”.
Além do corpo visível do ser humano que vemos com nossos olhos físicos, há outros veículos mais sutis que são invisíveis para a grande maioria da Humanidade. No entanto, não são acessórios inúteis do Corpo Denso; pelo contrário, são muito importantes pelo fato de serem impulsionadores de toda ação. Se não existissem esses veículos sutis, o Corpo Denso ficaria inerte, insensível e morto.
O primeiro desses veículos sutis, o qual chamamos de “Corpo Vital” por ser a avenida da vitalidade, e faz fermentar a massa morta de nossa envoltura mortal em seus anos de vida, e nos dá o poder de nos movermos.
Quando nosso corpo visível atual brotou, primeiramente no Espírito, era um pensamento-forma, porém, gradualmente, foi-se condensando e solidificando até se converter na cristalização química atual. O Corpo Vital foi o próximo emanado pelo Espírito, também como um pensamento-forma, e se encontra agora em seu terceiro grau de solidificação, que é o etéreo.
Além do Corpo Denso, que é visível aos nossos olhos físicos, há outros veículos mais sutis que interpenetra esse Corpo Denso e que impulsiona e vitaliza as atividades daquele. Um deles é o Corpo Vital, composto de Éter, o qual tomou a seu cargo a construção do Corpo Denso, por meio dos alimentos que ingerimos em nosso organismo. Ele controla todas as funções vitais, tais como a respiração, a digestão, a assimilação, etc., trabalhando por meio do sistema nervoso simpático. Outro veículo, ainda mais sutil, é o Corpo de Desejos; é o veículo de nossas emoções, sentimentos e desejos que gasta as energias acumuladas no Corpo Denso pelos processos vitais, graças ao controle que exerce sobre o sistema nervoso cérebro-espinhal ou voluntário. Durante sua atividade, o Corpo de Desejos está destruindo e rompendo continuamente os tecidos formados pelo Corpo Vital: é a guerra entre estes dois veículos que produz o que chamamos de consciência no Mundo Físico. As forças etéreas do Corpo Vital operam de tal maneira que convertem em sangue a maior parte possível dos alimentos, e o sangue é a mais alta expressão do Corpo Vital.
A propagação é uma faculdade do Corpo Vital, que é o reflexo do Espírito de Vida, o segundo aspecto do Espírito Tríplice do ser humano.
Conta-se que dois Querubins com espadas flamejantes se converteram em guardiões do Éden, quando o ser humano foi expulso dali, para que não comesse o fruto da Árvore da Vida, tornando-se imortal. Os Querubins são a grande Hierarquia Criadora que se encarregou da Terra no Período Solar, quando o Corpo Vital germinou e o Espírito de Vida foi despertado.
Em nossa Bíblia, há uma descrição dos primeiros seres humanos da Terra. São chamados de Adão e Eva, porém, interpretando corretamente, Adão e Eva querem dizer a raça humana, à qual pouco a pouco se arrogou a faculdade de procriar, convertendo-se assim em seres livres. Dessa maneira, a Humanidade obteve sua liberdade e se fez responsável perante a Lei de Consequência, pois, arrogando-se o direito de criar corpos, separou-se, então, da Árvore da Vida e de um estado que reconhecemos agora como etéreo. Quando aprendermos que temos um Corpo Vital feito de Éter, e que é a Árvore da Vida de cada ser humano, o qual nos proporciona a vitalidade necessária para nos movermos, então, compreenderemos porque o poder de recriar e regenerar nossos corpos nos foi tirado para que aprendêssemos como vitalizar nosso imperfeito Corpo Denso. E compreenderemos também porque, assim como está na Bíblia, havia Querubins com espadas flamejantes no portão do Jardim do Éden para proteger aquela região.
Foi para um bom propósito que esta faculdade nos foi tirada. Não por maldade, ou para que o ser humano sofresse aflições e dores, mas porque somente por meio de existências ou vidas repetidas em corpos inferiores podemos aprender a construir, para nós, um veículo adequado e bastante perfeito para ser imortalizado. Gradualmente, o ser humano saiu de sua condição etérea até alcançar sua condição sólida atual. Naquela época, podia viver em condições etéreas facilmente, como podemos viver hoje em dia nos três elementos do Mundo Físico. Na sua última etapa etérea estava em contato interno com as correntes de vida que agora contatamos inconscientemente.
Podia, então, centralizar em seu corpo a energia solar, absorvendo-a de uma maneira distinta da que emprega atualmente. Essa faculdade foi sendo retirada gradualmente, à medida que ia entrando na etapa sólida atual.
O Corpo Vital, assim chamado nas Escolas de Mistérios do Ocidente, como já vimos, é composto de quatro Éteres de diferentes densidades e o Éter é a via de ingresso da força vital, proveniente do Sol, e o campo de ação da natureza que promove as atividades de assimilação, crescimento e propagação.
Esse veículo é a contraparte exata de nosso corpo visível, molécula por molécula, órgão por órgão, com uma exceção, da qual falaremos mais tarde. Porém, é um pouco maior e se estende além da periferia de nosso Corpo Denso cerca de uns quatro centímetros.
O baço é a entrada particular das forças que vitalizam o Corpo Denso. Na contraparte etérea desse órgão a energia solar se transmuta em um fluido vital de cor rosa pálido. Daí se estende por todo o sistema nervoso e, uma vez cumprido o seu trabalho no corpo, sai, irradiando torrentes de luz que se eriçam parecidas com os pelos do porco espinho.
Durante o dia, o Corpo Vital especializa o fluido solar incolor que nos rodeia, por meio do órgão a que chamamos baço. Essa força vital permeia todo o organismo e os Clarividentes a veem como um fluido de cor rosa pálido, pois foi transmutada ao entrar no Corpo Denso. Flui por todos os nervos e, quando os centros cerebrais a enviam em quantidades particularmente grandes, aciona os músculos governados pelos nervos.
Durante o estado de vigília, há uma guerra constante entre o Corpo Vital e o Corpo de Desejos. Os desejos e os impulsos do Corpo de Desejos golpeiam continuamente o Corpo Denso, obrigando-o à ação, sem olhar o dano que lhe possa ocasionar, sempre que seja satisfeito o desejo. É o Corpo de Desejos que incita o alcoólatra a encher-se de álcool para que a combustão química acelere as vibrações do Corpo Denso a um diapasão que fará dele um instrumento dócil a todo impulso desenfreado, gastando assim a energia acumulada com imprudente prodigalidade. O Corpo Vital, por outro lado, não tem outro interesse a não ser a conservação do Corpo Denso. Através do baço, especializa a energia solar incolor, que preenche o espaço, e, por meio de um processo químico misterioso, transforma-a em fluido vital em um lindíssimo rosa pálido, enviando-o, então, por todos os nervos e fibras do corpo. O Corpo Vital está sempre tratando de economizar a energia que acumulou no Corpo Denso e, portanto, está constantemente reparando os tecidos que foram destruídos pelos impactos do desenfreado Corpo de Desejos.
Quatro cores do Corpo Vital são indescritíveis, mas a quinta – que fica no meio das cinco – é similar ao matiz da flor de pessegueiro recém-aberta. Essa é realmente a cor do Corpo Vital.
Os Corpos Denso e Vital do ser humano possuem forma definida, mas seu Corpo de Desejos é, ainda, de forma ovoide.
Já foi demonstrado pela ciência que os átomos de nosso Corpo Denso estão mudando constantemente, de tal maneira que todo o material que atualmente compõe nosso veículo terá desaparecido em uns poucos anos. No entanto, é de conhecimento comum que as cicatrizes e outras manchas se conservem desde a infância à velhice. A razão disto é que os átomos etéreos prismáticos que compõem nosso Corpo Vital permanecem inalterados do berço ao túmulo.
Eles estão sempre nas mesmas posições relativas, isto é, os átomos etéreos prismáticos que fazem vibrar os átomos dos dedos dos pés ou das mãos não mudam de situação e não emigram para as mãos, pernas ou outras partes do corpo, senão que permanecem exatamente no mesmo lugar em que foram colocados no princípio. Uma lesão nos átomos físicos implica em uma impressão similar nos átomos etéreos prismáticos. A nova substância física que se modela sobre eles continua, então, tomando a forma e a textura similares aos que tinha originalmente.
Estas observações se aplicam exclusivamente aos átomos prismáticos que correspondem aos sólidos e aos líquidos no Mundo Físico, porque assumem certa forma definida os conservam. Porém, além disso, na atual etapa da Evolução, cada ser humano tem certa quantidade de Éteres Luminoso e Refletor, que são os veículos da percepção sensorial e da memória, entremesclados no seu Corpo Vital. Poderíamos dizer que o Éter Luminoso corresponde aos gases do Mundo Físico; talvez, a melhor descrição que poderíamos dar ao Éter Refletor é a de chamá-lo hiper-etérico. É uma substância vácua, de cor azulada, que se parece, por seu matiz, com o centro azul de uma chama de gás. Apresenta-se transparente e parece revelar tudo o que está em seu interior, mas, na realidade, oculta todos os segredos da natureza e da Humanidade. Nele se encontra um registro da Memória da Natureza.
Os Éteres Luminoso e Refletor são de característica exatamente oposta à dos átomos etéreos prismáticos e estacionários. São voláteis e migratórios. Seja qual for a quantidade que o ser humano possua desses Éteres, sempre são a frutificação das experiências da vida. Dentro do corpo, misturam-se com o sangue, e quando vão crescendo pelo serviço e sacrifício na escola da vida, de modo que já não podem ficar contidos dentro do corpo, pode-se observá-los fora deste como um corpo anímico matizado de ouro e azul. O azul é o que mostra o tipo mais elevado de espiritualidade, por ser o menor em volume e pode comparar-se ao núcleo azul da chama de gás, enquanto a cor dourada forma a parte maior e corresponderia à parte de luz amarela que rodeia o núcleo azul da citada chama de gás. A cor azul não aparece fora do corpo, salvo nas pessoas de extraordinária santidade e somente o amarelo é geralmente observado. Na hora da morte, esta parte do Corpo Vital se grava no Corpo de Desejos, com o panorama da vida que contém. Então, imprime-se no Átomo-semente a quintessência de toda nossa experiência na vida, como consciência ou virtude, que é o que nos induzirá a evitar o mal e a realizar o bem nas próximas vidas.
Quando analisamos o ser humano, vemos que os quatro Éteres são dinamicamente ativos no altamente organizado Corpo Vital. Graças às atividades do Éter Químico, o ser humano é capaz de assimilar os elementos e crescer; as forças que trabalham no Éter de Vida permitem-no propagar sua espécie; as forças do Éter Luminoso proveem o Corpo Denso com calor, trabalham sobre o sistema nervoso e sobre os músculos, abrindo assim as portas de comunicação com o mundo externo por meio dos sentidos; e o Éter Refletor permite ao Espírito governar seus veículos por meio do pensamento. Este Éter também guarda as experiências passadas como memória.
O Corpo Vital da planta, do animal e do ser humano se estende além da periferia do Corpo Denso, como acontece com a Região Etérea, que nada mais é do que o Corpo Vital do Planeta, que se estende além da sua parte densa, mostrando uma vez mais a veracidade do axioma hermético: “assim como é acima, é abaixo”. A extensão do Corpo Vital do ser humano além do Corpo Denso é mais ou menos de uma polegada e meia[3]. A parte que está fora do Corpo Denso é muito luminosa e tem uma cor parecida com a de uma flor de pessegueiro recém-aberta. É vista frequentemente por pessoas que possuem alguma clarividência involuntária. O autor, falando com essas pessoas, notou que geralmente elas não estão cientes de que veem algo incomum e não sabem o que se passa diante de sua visão.
O Corpo Denso é construído na matriz deste Corpo Vital, durante a vida pré-natal e com uma única exceção, é a cópia exata, molécula por molécula, do Corpo Vital. Assim como as linhas de força na água são os condutores para a formação dos cristais de gelo, assim também as linhas de força no Corpo Vital determinam a forma do Corpo Denso. Através da vida toda, o Corpo Vital é o construtor e restaurador das formas densas.
Se assim não fosse, se o coração etéreo não restaurasse o coração físico, logo este se romperia sob a tensão contínua com que o sobrecarregamos. Todos os abusos a que submetemos o Corpo Denso fazem o Corpo Vital reagir, no que está em seu poder, e ele está permanentemente lutando contra a morte do Corpo Denso.
A exceção anteriormente mencionada é que o Corpo Vital do homem é feminino ou negativo, enquanto o da mulher é masculino ou positivo.
Neste fato, temos a chave de numerosos problemas intrincados da vida. A mulher dá saída a suas emoções pela polaridade indicada, porque seu Corpo Vital positivo gera um excesso de sangue e a obriga a trabalhar sob uma pressão interna enorme, que romperia o Corpo Denso se não houvesse uma válvula de segurança, o fluxo periódico, e outra válvula, que são as lágrimas, e que limitam a pressão em ocasiões especiais, pois as lágrimas são realmente uma “hemorragia branca”.
O homem pode ter e tem emoções tão fortes quanto às das mulheres, porém, geralmente, pode suprimi-las sem lágrimas, porque seu Corpo Vital negativo não gera mais sangue do que pode dominar com facilidade.
De modo contrário ao que sucede com os veículos superiores da Humanidade, o Corpo Vital não abandona regularmente o Corpo Denso até a morte deste último. Então, as forças químicas do Corpo Denso já não estão mais sob o domínio da vida evolucionante. Elas prosseguem com seu trabalho para restituir a matéria à sua condição primitiva, desintegrando-a e tornando-a apta para a formação de outros corpos na economia da natureza. A desintegração é, pois, devido à atividade das forças planetárias no Éter Químico.
A textura do Corpo Vital pode comparar-se, até certo ponto, com uma dessas figuras formadas por centenas de peças de madeira entrecruzadas e que apresentam inumeráveis pontos ao observador. O Corpo Vital também apresenta milhões de pontos ao observador. Estes pontos entram nos centros ocos dos átomos densos e, ao lhes imbuir força vital, vibram muito mais intensamente que os minerais da Terra que não foram ainda acelerados e vivificados.
Quando uma pessoa se afoga, ou cai de uma grande altura, ou fica congelada, o Corpo Vital abandona o Corpo Denso, cujos átomos ficam temporariamente inertes em consequência, mas, quando volta a si, os “pontos” tornam a penetrar nos átomos densos. A inércia dos átomos faz com que resistam um pouco a voltar a vibrar como antes, e esta é a causa dessa sensação de intensa dor e formigamento que se nota em tais ocasiões.
Há certos casos em que parte do Corpo Vital deixa o Corpo Denso, como acontece quando uma mão fica dormente, por exemplo. Então, a mão etérea do Corpo Vital pode ser vista flutuando sobre o braço denso, como uma luva, e os pontos produzem uma sensação especial de formigamento quando ela entra novamente na mão física. Em alguns casos de hipnose, a cabeça do Corpo Vital se divide e fica pendurada do lado de fora da cabeça densa, a metade cai sobre cada ombro, ou permanece em torno do pescoço como a gola de um suéter. A ausência de formigamento ao despertar em tais casos é devida a que, durante a hipnose, parte do Corpo Vital da vítima foi substituída pela do hipnotizador.
Os átomos do Éter Químico e de Vida reunidos em torno do núcleo do Átomo-semente, localizado no plexo solar, têm uma forma prismática. Estão todos situados de tal maneira que, quando a energia solar entra no corpo pelo baço, o raio que se refrata é vermelho. Esta é a cor do aspecto criador da Trindade, ou seja, Jeová, o Espírito Santo, regente da Lua, o Astro da fecundação. Por conseguinte, o fluido vital do Sol, que penetra no corpo humano pelo baço, se tinge com uma ligeira cor rosada, que muitas vezes os videntes podem observar circulando pelos nervos como se fosse a eletricidade passando pelos condutores de uma instalação elétrica. Assim carregados, os Éteres Químico e de Vida são vias de assimilação, que preservam o indivíduo, e de fecundação, que perpetuam a raça.
Durante a vida, cada átomo prismático penetra um átomo físico e o faz vibrar. Para se ter uma ideia desta combinação, podemos imaginar uma cesta de arame, em forma de pera, que tivesse paredes de arame curvado espiralmente que fosse de um polo a outro obliquamente. Este é o átomo físico cuja forma é muito parecida com a nossa Terra, e o átomo prismático vital está inserido de cima para baixo, a partir do topo, que é mais amplo e que corresponderia ao polo norte de nossa Terra.
Assim, a ponta do prisma penetra o átomo físico no ponto mais estreito, que corresponde ao polo sul de nossa terra, e todo o conjunto parece com um pião que gira e bamboleia enquanto vibra intensamente. É desta maneira que nosso corpo se enche de vida e é capaz de se mover (É digno de nota que nossa Terra está compenetrada, de maneira similar, por um corpo cósmico de Éter e as manifestações da natureza que chamamos de Aurora Boreal e Aurora Austral são correntes etéreas que circundam a Terra do polo ao Equador como fazem as correntes do átomo físico).
Os Éteres Luminoso e Refletor são as avenidas da consciência e da memória. No indivíduo comum encontram-se um tanto atenuados e não tomaram ainda uma forma definida. Interpenetram o átomo da mesma forma que o ar interpenetra uma esponja e formam algo assim como uma ligeira atmosfera áurica por fora de cada átomo.
Se tivéssemos dito que o Corpo Vital está formado de prismas ao invés de pontos, teria sido mais exato, pois é pela refração através destes diminutos prismas que o fluido solar incolor se transforma em rosáceo, como foi indicado por outros escritores, além do autor.
Foram feitos outros descobrimentos novos e importantes, por exemplo: agora sabemos que nasce um Cordão Prateado novo a cada renascimento e que uma parte dele brota do Átomo-semente do Corpo de Desejos no grande vórtice do fígado; que a outra parte nasce do Átomo-semente do Corpo Denso no coração, que as duas partes se unem com o Átomo-semente do Corpo Vital no plexo solar e que esta união dos veículos superiores e inferiores produz o despertar do feto. O desenvolvimento posterior do Cordão entre o coração e o plexo solar durante os primeiros sete anos tem uma importante relação com o mistério da infância, assim como o seu desenvolvimento mais amplo do fígado ao plexo solar, que tem lugar no segundo período setenário da vida da criança, contribui para a adolescência.
A realização total do Cordão Prateado marca o final da vida infantil e, desde tal momento, a energia solar, que entra pelo baço e se tinge pela refração através do Átomo-semente prismático do Corpo Vital situado no plexo solar, começa a dar um colorido individual e distinto à aura que observamos nos adultos.
Assim como o Éter leva à placa sensível da câmera escura da máquina fotográfica uma impressão fiel da paisagem, em torno em seus menores detalhes, sem ter em conta se o fotógrafo os observou ou não, assim também, o Éter contido no ar que respiramos leva consigo uma imagem fiel e detalhada de tudo ao nosso redor e não somente das coisas materiais, como também das condições que existem em cada momento em nossa aura. O mais fugaz pensamento, sentimento ou emoção se transmite aos pulmões onde é injetado no sangue. O sangue é um dos produtos mais elevados do Corpo Vital porque é o agente que leva alimento a todas as partes do corpo e é também o veículo direto do Ego. As imagens que contém imprimem-se sobre os átomos negativos do Corpo Vital para servir como árbitros do destino do ser humano no estado post-mortem.
Em muitas mulheres, nas quais o Corpo Vital é positivo e nas pessoas mais evoluídas de ambos os sexos, cujos Corpos Vitais estão sensibilizados por uma vida pura e santa, pela oração e concentração, esta memória supra consciente, inerente ao Espírito de Vida, está, até certo ponto, além da necessidade de envolver-se em matéria mental ou de desejos para compelir à ação. Nem sempre necessita correr o risco de ver-se subjugada e até submetida pelo processo de raciocínio. Algumas vezes, em forma de intuição ou de ensinamento interno, imprime-se diretamente sobre o Éter Refletor do Corpo Vital. Quanto mais dispostos nos encontremos para reconhecer e seguir seus ditados, tanto mais amiúde falará, para nosso eterno benefício.
Por suas atividades durante as horas de vigília, o Corpo de Desejos e a Mente estão constantemente destruindo o veículo denso. Cada pensamento e movimento destroem tecidos. Por outro lado, o Corpo Vital se dedica totalmente a restaurar a harmonia e a reconstruir o que outros veículos estão destruindo. No entanto, não é capaz de sempre resistir completamente aos poderosos impactos dos impulsos e dos pensamentos.
Gradualmente, vai perdendo terreno e, por último, chega um momento em que sofre um colapso. Seus “pontos” enrugam-se, por assim dizer. O fluido vital cessa de circular pelos nervos em quantidade necessária; o corpo se torna sonolento; o Pensador se encontra tolhido por sua sonolência e se vê obrigado a sair dele, elevando-se o Corpo de Desejos consigo. Esta saída dos veículos superiores deixa o Corpo Denso, interpenetrado pelo Corpo Vital no estado a que chamamos sono.
Como um sábio general, o Ego segue uma conduta análoga. Não começa sua campanha adquirindo domínio sobre uma das glândulas, pois estas são expressões do Corpo Vital, nem seria possível adquirir domínio sobre os músculos voluntários, porque estão muito bem defendidos pelo inimigo. Essa parte do sistema muscular involuntário que está sob o domínio do sistema nervoso simpático seria também inútil para esse objetivo. O Ego deve conseguir um contato mais direto com o sistema nervoso cérebro-espinhal.
Para fazer isso e assegurar uma base de operações no mesmo campo inimigo, ele deve controlar um músculo que é involuntário e que, não obstante está relacionado com o sistema nervoso voluntário. Este músculo é o coração.
O sangue é a expressão mais elevada do Corpo Vital porque nutre todo o organismo físico. É também, em certo sentido, o veículo da memória subconsciente, e está em contato com a Memória da Natureza, situada na divisão mais elevada da Região Etérea. O sangue carrega as imagens da vida dos antepassados aos descendentes durante gerações quando é um sangue comum como o que se produz pela endogamia.
O amor e a unidade no Mundo do Espírito de Vida encontram sua contraparte ilusória na Região Etérea, à qual estamos relacionados pelo Corpo Vital, sendo este último o que produz o amor e a união sexual. O Espírito de Vida tem seu assento primeiramente no Corpo Pituitário e secundariamente no coração, por onde passa o sangue que nutre os músculos.
Olhando o assunto do ponto de vista oculto, toda consciência no Mundo Físico é o resultado da guerra constante entre os Corpos de Desejos e Vital.
A tendência do Corpo Vital é a de abrandar e construir. Sua expressão principal é o sangue e as glândulas, bem como o sistema nervoso simpático, havendo obtido ingresso na fortaleza do Corpo de Desejos (sistemas: muscular e nervoso voluntário) quando começou a converter o coração em músculo voluntário.
Nós mesmos, como Egos, funcionamos diretamente na sutil substância da Região do Pensamento Abstrato que especializamos dentro da periferia de nossa aura individual. Dali, obtemos as impressões de que nos produz o mundo externo sobre o Corpo Vital através dos sentidos, junto com os sentimentos e emoções gerados por eles no Corpo de Desejos e refletidos na Mente.
Todas as coisas estão em constante vibração. As vibrações dos objetos que nos rodeiam nos alcançam constantemente e levam, a nossos sentidos, o conhecimento do mundo externo. As vibrações do Éter atuam sobre nossos olhos de maneira a que possamos ver e as vibrações do ar transmitem os sons a nossos ouvidos.
O Sol trabalha no Corpo Vital e é a força que desperta a vida e luta contra as forças lunares relacionadas com a morte.
Assim como nas águas de um lago as árvores aparecem invertidas, parecendo que a folhagem se acha no mais profundo da água, assim também o aspecto mais elevado do Espírito (Espírito Divino) encontra sua contraparte no mais inferior dos três corpos (Corpo Denso). O Espírito imediatamente inferior (Espírito de Vida) se reflete no corpo imediatamente superior (Corpo Vital). O terceiro Espírito (Espírito Humano) e seu reflexo, o terceiro corpo (Corpo de Desejos), aparece como o mais próximo de todos ao espelho refletor, que é a Mente, correspondendo essa à superfície do lago, o meio refletor de nossa analogia.
Assim como os Corpos Vital e de Desejos planetários interpenetram a matéria densa da Terra, assim também os Corpos Vital e de Desejos interpenetram o Corpo Denso da planta, do animal e do ser humano.
Um Corpo Vital de Éter compenetra o corpo visível, como o Éter permeia todas as outras formas, com a exceção de que os seres humanos especializam uma quantidade maior de Éter universal do que as outras formas. Este Corpo Etéreo é o instrumento que usamos para especializar a energia vital do Sol. O Corpo Vital, que finalmente se transforma e se espiritualiza convertendo-se em alma, é de polaridade oposta. Está formado, órgão por órgão, exatamente como o Corpo Denso com uma exceção, o que explica muitos fatos que de outra maneira seriam inexplicáveis. Como a mulher tem um Corpo Vital positivo, ela amadurece antes que o homem, e as partes do corpo que têm certa semelhança com as plantas, como o cabelo, crescem mais e são mais exuberantes. Naturalmente, um Corpo Vital positivo gera mais sangue do que um Corpo Vital negativo, como o que possui o homem, daí que exista na mulher uma pressão sanguínea maior, da qual tem necessidade de se livrar mediante o fluxo mensal, produzindo-se, ao cessar na menopausa, uma espécie de segundo crescimento na mulher a qual adquire os caracteres que chamamos “matrona”.
Os impulsos do Corpo de Desejos empurram o sangue através de todo o sistema com diferentes graus de velocidade, de acordo com a força das emoções. Como a mulher tem um excesso de sangue, ela atua sob uma pressão muito mais elevada que o homem, e, se bem que esta pressão diminua durante o fluxo menstrual, há momentos em que necessita de uma válvula de escape extra: são as lágrimas femininas que, em realidade, constituem uma hemorragia branca, que age como uma válvula de segurança para remover o fluido excessivo. O homem, ainda que seja capaz de sentir emoções talvez tão fortes quanto a mulher, não é tão propenso às lágrimas porque não tem mais sangue do que pode utilizar normalmente.
Em consequência de sua polarização positiva na Região Etérica do Mundo Físico, o campo de ação da mulher tem sido a casa e a igreja, onde está rodeada de amor e paz, enquanto o homem atua na luta dos fortes para que sobreviva o mais apto, uma luta sem quartel no denso Mundo Físico, onde seu corpo é positivo.
Desta forma, a mulher foi à precursora da cultura, sendo a primeira a desenvolver a ideia de uma “vida boa”, e graças a isso ela se tornou um expoente muito estimado entre os antigos e tem estado nobremente na vanguarda desde então. Como todos os Egos encarnam alternadamente como homens ou como mulheres, não há, na verdade, proeminência alguma. É simplesmente que os que encarnam num Corpo Denso do sexo feminino têm um Corpo Vital positivo e são, portanto, mais sensíveis às coisas espirituais do que quando o Corpo Vital é negativo como o do varão.
A mulher tem um Corpo Vital positivo e, portanto, está em contato intuitivo com as vibrações espirituais do universo. Ela tem mais ideais elevados e uma imaginação mais fértil que o homem. Em consequência, ela se interessa por todas as coisas que ajudam o desenvolvimento moral da raça. E, hoje em dia, é somente pelo crescimento moral e espiritual que a Humanidade pode se adiantar e a mulher é, realmente, fator primordial na evolução.
Seria de muito proveito para as raças se a mulher obtivesse direitos iguais aos dos homens, pois somente então poderemos esperar ver executadas as reformas que propugnam a união da Humanidade. Se, por analogia, olharmos dentro de uma casa, veremos que a mulher é o pilar central, em torno da qual se agrupam o marido e os filhos. De acordo com suas aptidões e habilidades, ela faz a casa à sua imagem e nota-se sua influência aglutinadora, pois é ela quem mantém a harmonia e a paz do lar. O pai pode abandonar a casa, seja por falecimento ou de outra maneira; os filhos também podem ir-se, mas enquanto a mãe está o lar permanece. No entanto, quando a morte leva a mãe, tudo se desmorona.
Já dissemos, anteriormente, que o Corpo Vital é a contraparte exata do Corpo Denso, com uma única exceção: é de sexo oposto, ou melhor dito, de polaridade oposta. Como sabemos que o Corpo Vital nutre o veículo denso podemos compreender que o sangue é sua mais alta expressão visível e, também que um Corpo Vital positivo deve gerar mais sangue que um corpo negativo. A mulher, fisicamente negativa, tem um Corpo Vital positivo, daí gerar um excesso de sangue que é aliviado pelo fluxo periódico. Está também mais propensa às lágrimas, uma hemorragia branca, que o homem, cujo Corpo Vital negativo não gera mais sangue do que pode normalmente utilizar. Portanto, não necessita ter as saídas que aliviam a mulher do excesso de sangue.
Os Anjos, a “humanidade” do Período Lunar, trabalham no ser humano, no animal e na planta, pois no Período Lunar o universo era de consistência etérea e os Corpos Vitais dos três reinos acima citados estão compostos por esta substância. Os Anjos são, portanto, verdadeiros auxiliares para as funções vitais tais como a assimilação, o crescimento e a propagação e em seu trabalho com a Humanidade, são espíritos familiares. São eles que aumentam a família, multiplicam os ganhos e dão boa colheita nos campos.
Desde os tempos antigos, os Anjos Lunares se colocaram particularmente a cargo dos Corpos Vitais aquáticos e úmidos formados pelos quatros Éteres, cuidando da propagação e alimentação das espécies, enquanto a atividade intensa dos Espíritos Lucíferes se desenvolvia nos secos e ígneos Corpos de Desejos. A função do Corpo Vital é construir e sustentar o Corpo Denso, enquanto a do Corpo de Desejos é a destruição dos tecidos. Deste modo, há uma guerra constante entre o Corpo Vital e o de Desejos, e esta guerra nos céus ocasiona nossa consciência física na Terra.
Por mais estranho que possa parecer nossa afirmação, é verdade que a grande maioria da Humanidade está parcialmente adormecida a maior parte do tempo, não obstante seus corpos físicos pareçam estar sumariamente ocupados, trabalhando ativamente. Sob condições ordinárias, o Corpo de Desejos da grande maioria é a parte mais desperta do complexo ser humano, o qual vive quase completamente de emoções e sentimentos, mas raramente pensa no problema da existência além daquilo que necessita para sobreviver. A maioria destes seres provavelmente nunca pensou seriamente nos três grandes problemas da vida: “De onde viemos, por que estamos aqui e para onde iremos?” de uma forma mais séria e consistente. Seus Corpos Vitais estão trabalhando para reparar os destroços feitos pelo Corpo de Desejos no Corpo Denso e subministrando a vitalidade que será logo malgastada na gratificação de seus desejos e emoções.
Este combate intenso entre o Corpo Vital e o de Desejos é que gera a consciência no Mundo Físico e faz homens e mulheres tão ativos que, do ponto de vista do Mundo Físico, nossa afirmação de que eles estão parcialmente adormecidos parece ser uma mentira. No entanto, examinando todos os fatos, chegamos à conclusão de que é assim e podemos acrescentar que este estado de coisas está de acordo com os desígnios das Grandes Hierarquias que estão a cargo de nossa evolução.
Essa destruição efetua-se constantemente e não é possível salvaguardar-se de todos esses destruidores, nem essa é a intenção. Se o Corpo Vital tivesse um poder ininterrupto, construiria cada vez mais, usando toda a energia com esse propósito. Não haveria consciência ou pensamento algum.
A consciência se desenvolve porque o Corpo de Desejos restringe e endurece as partes internas.
O Tríplice Espírito lançou uma Tríplice sombra sobre o mundo da matéria e assim se desenvolveu o Corpo Denso, como contraparte do Espírito Divino, seguido do Corpo Vital, réplica do Espírito de Vida e logo o Corpo de Desejos, imagem do Espírito Humano. Finalmente, formou-se o elo da Mente entre o Tríplice Espírito e o Tríplice Corpo. Este foi o começo da consciência individual e marca o ponto onde termina a involução do Espírito na matéria e começa o processo evolutivo, através do qual a sua libertação se inicia. A involução envolve a cristalização do Espírito em corpos, porém, a evolução depende da dissolução dos corpos, a extração da substância anímica desses corpos e a alquímica amalgamação da Alma com o Espírito.
Há vários meios para demonstrar a realidade e a existência do Corpo Vital. Em primeiro lugar, existe uma máquina fotográfica. Talvez se possa encontrar entre os espíritas de sua cidade um capaz de tirar fotografia dos espíritos. Embora existam truques bem conhecidos dos fotógrafos para produzir retratos falsos, foi provado que, sob condições, onde a fraude é impossível foram tiradas fotos de pessoas que já haviam morrido. Estas pessoas puderam envolver-se em Éter, matéria com a qual o Corpo Vital é construído e que é visível para a lente fotográfica. Com o próprio autor aconteceu uma vez ser fotografado quando viajava em seu Corpo Vital de Los Angeles a São Pedro para despedir-se de um amigo, a bordo de um navio a vapor. Coincidentemente, ele estava entre aquele amigo e a máquina fotográfica de outro amigo que, naquele momento, fotografava o barco e a semelhança foi tanta que muitos o reconheceram.
Além disso, temos o fenômeno dos cachorros que seguem certas pessoas pelo cheiro de sua roupa usada a qual está impregnada de Éter do Corpo Vital, Éter que se estende mais ou menos uma polegada e meia[4] além do Corpo Denso. Portanto, a cada passo que damos este fluido invisível e radiante penetra a Terra. No entanto, comprovou-se que cães de caça que estavam perseguindo um criminoso em fuga ficaram desnorteados e perderam a pista quando o fugitivo calçou patins e continuou sua fuga sobre o gelo. Os patins o elevaram acima do solo e, então, o Corpo Vital, que se estendia por baixo de seus pés, não pôde impregnar o gelo e, então, ficando sem pista, os cachorros não puderam descobri-lo. Resultados similares foram obtidos com uma pessoa que usou pernas de pau para se afastar do lugar de seu crime.
Temos também o caso do magnetizador que extrai de seu paciente as partes enfermas do Corpo Vital, as quais são substituídas por Éter renovado, permitindo, assim, às forças vitais circularem pelo órgão físico enfermo, efetuando-se a cura. Se o magnetizador não tiver cuidado de tirar de si o fluido etéreo escuro e gelatinoso, isto é, os miasmas humanos que extraiu e absorvê-lo em seu próprio corpo, então, ficará enfermo. Se não houvesse aquele fluido invisível, o fenômeno da cura do enfermo e da enfermidade do magnetizador não se produziria.
Finalmente, poderíamos dizer que, se se reúnem as condições necessárias e não falta à decisão, existe uma possibilidade muito grande para que uma grande quantidade de pessoas veja por si mesma o Corpo Vital. É mais fácil nos países do Sul, onde os defuntos são enterrados logo após seu falecimento. Deve-se escolher um dia que seja o mais próximo da Lua Cheia. Então, deve-se ler os avisos fúnebres nos jornais e ir ao cemitério na noite que se segue ao funeral de alguém falecido nas últimas vinte e quatro horas. Provavelmente, veremos sobre o túmulo, oscilando ao clarão da lua, a forma membranácea do Corpo Vital que fica neste lugar e se desintegra sincronicamente com o corpo dentro da sepultura. O Clarividente pode ver esta forma em qualquer momento, mas, somente na primeira noite depois do funeral ela está bastante densa para ser visível à pessoa comum. Se a forma não aparece logo, pode-se andar em volta do túmulo, olhando fixamente de diferentes ângulos. Então, você conseguirá a prova ocular mais convincente.
Embora a ciência não tenha observado este Corpo Vital humano diretamente, em várias ocasiões ela postulou sua existência como necessária para explicar certos problemas da vida. Suas radiações foram captadas por vários cientistas em diferentes condições e em épocas distintas. Blondot[5] e Charpentier[6] chamaram a essas radiações raios “N”, nome dado por terem sido observados na cidade de Nantes[7]. Outros as chamaram de “Fluido Ódico”. Investigadores científicos, que conduziram pesquisas sobre fenômenos psíquicos, fotografaram o Corpo Vital quando era extraído através do baço por espíritos materializadores. Dr. Hotz, por exemplo, obteve duas fotografias de uma materialização, graças ao médium alemão Minna-Demmler. Sobre uma delas, vê-se uma nuvem de Éter sem forma saindo do lado esquerdo do médium. A segunda foto, tirada uns instantes mais tarde, mostra o espírito já materializado, de pé ao lado do médium.
Outras fotografias tiradas do médium italiano Eusápia Palladino[8] por cientistas mostram uma nuvem luminosa flutuando sobre seu lado esquerdo.
O Corpo Vital tem um papel importante na saúde e na enfermidade. Ele é afetado por amputações, acidentes, anestésicos, afogamentos, choques, arrependimentos e remorsos. Quando não está em posição concêntrica com relação aos outros veículos do Ego, pode resultar em insanidade ou idiotice.
Se estivermos atentos à higiene e à dieta, o Corpo Denso é principalmente o mais beneficiado, porém, ao mesmo tempo, produz-se, também um efeito sobre os Corpos Vital e de Desejos, porque quanto mais puros e melhores forem os alimentos empregados na construção do Corpo Denso, as partículas ficam envoltas em Éter planetário e matéria de desejos mais puros. Desta forma, as partes planetárias do Corpo Vital e do Corpo de Desejos se tornam mais puras. Se se dedica atenção unicamente à higiene e ao alimento, os Corpos Vitais e de Desejos individuais, poderão permanecer quase tão impuros como antes, mas, no entanto, será mais fácil colocar-se em contato com o bem do que se tivessem sido empregados alimentos grosseiros.
Por outro lado, se apesar dos desgostos, cultivar-se um caráter equânime e, também interesses literários e artísticos, o Corpo Vital produzirá uma impressão de delicadeza e de refinamento nos assuntos físicos, e engendrará sentimentos e emoções mais nobres no Corpo de Desejos.
O cultivo das emoções também exerce uma reação sobre os outros veículos, e ajuda a melhorá-los.
As tendências positivas e construtivas do Corpo Vital – veículo do amor – não se prestam facilmente à observação. No entanto, pôde-se comprovar que o contentamento aumenta a vida de cada ser que o cultiva. Portanto, podemos dizer sem medo de enganar-nos, que a criança concebida num ambiente de harmonia e amor tem melhores possibilidades na vida do que aquela que foi concebida num ambiente de paixão, bebida e descontentamento.
O Corpo Vital nasce mais ou menos aos sete anos, isto é, na época da segunda dentição da criança.
Há problemas muito importantes que devem e podem ser tratados, somente durante certos períodos da infância e os pais devem saber quais são. Ainda que os órgãos já estejam formados quando a criatura nasce, as linhas de crescimento se determinam durante os sete primeiros anos e, se não estão bem delineadas, uma criança sadia pode converter-se em um homem ou mulher enferma.
Em tudo o que vive, o Corpo Vital irradia torrentes de luz da força que ele despendeu na construção do Corpo Denso. No estado de saúde, estas irradiações afastam todos os venenos do corpo e o mantêm limpo. Condições similares prevalecem no Corpo Vital da Terra, sendo este o veículo de Cristo. As forças venenosas e destrutivas geradas por nossas paixões são afastadas pelas forças vitais de Cristo, porém, cada pensamento ou ato maléfico traz para Ele uma porção de dor, que se torna parte da Sua Coroa de Espinhos – dizemos coroa porque sempre se considera a cabeça como assento da consciência. Devemos nos conscientizar de que cada má ação que praticamos, por menor que seja, tem um efeito sobre Cristo, como já foi citado, e acrescenta outro espinho de sofrimento em sua coroa.
Não podemos assimilar minerais, pois eles não possuem um Corpo Vital e, portanto, o ser humano não pode elevar as vibrações dos minerais ao seu grau de intensidade. As plantas têm um Corpo Vital, mas não são conscientes de si mesmas, portanto são assimiladas facilmente e permanecem no corpo mais tempo, do que as células dos alimentos animais, que são compenetradas por um Corpo de Desejos. Os corpos dos animais vibram intensamente e, portanto, necessita-se de muita energia para assimilar suas células que se escapam rapidamente. Daí que a dieta carnívora exige que a pessoa se alimente mais frequentemente.
A enfermidade aparece primeiramente no Corpo de Desejos e no Corpo Vital; eles ficam mais tênues em sua textura, e não especializam o fluido vitalizador na mesma proporção, como acontece no estado de saúde. Então, o Corpo Denso cai enfermo. Quando o doente se recupera, os veículos superiores denotam melhora antes que a saúde se manifeste no Mundo Físico.
Quando um vidente examina uma pessoa que está para ficar doente, nota-se que o Corpo Vital está atenuando-se e, quando fica tão tênue que já não pode sustentar o Corpo Denso, este começa a manifestar sinal de enfermidade. Por outro lado, um pouco antes da recuperação física, o Corpo Vital, pouco a pouco, fica mais denso em sua estrutura e logo começa o período de convalescença.
Durante a enfermidade, o Corpo Vital especializa muito pouca energia solar, então, por um período, o corpo visível parece alimentar-se do Corpo Vital e, assim, este veículo fica mais transparente e mais tênue, ao mesmo tempo em que o corpo visível demonstra sinais de extenuação. As radiações eliminadoras faltam quase completamente durante a enfermidade e, portanto, as complicações são frequentes.
O homem tendo um Corpo Denso positivo possui um Corpo Vital negativo, e, portanto, não pode resistir à enfermidade tão bem como a mulher, que tem um Corpo Denso negativo, mas seu Corpo Vital é positivo. Esta é a razão pela qual a mulher pode suportar tantas enfermidades, que matariam um homem que tivesse o dobro de seu peso e aparentasse ter muito mais vitalidade. A mulher sofre mais intensamente que o homem, porém, suporta a dor com mais coragem. Quando ela começa a se recuperar, seu Corpo Vital polarizado positivamente parece sugar a energia solar, como se tivesse milhões de bocas. Ele se incha e começa quase que imediatamente a irradiar as torrentes de luz, tão características da saúde e, como resultado, o Corpo Denso se recupera rapidamente.
Por outro lado, quando um homem se debilitou muito por causa de uma enfermidade, uma vez passada a crise, seu Corpo Vital polarizado negativamente, se parece com uma esponja. Absorverá toda a energia solar que possa, mas sem a avidez que caracteriza o Corpo Vital da mulher. Em consequência, demora-se largo tempo no umbral da morte, mas como é mais fácil desistir do que lutar, sucumbe mais frequentemente que a mulher.
Olhando uma pessoa enferma com a visão espiritual, nota-se que o Corpo Vital está muito debilitado e atenuado, em proporção aos desgastes feitos pela enfermidade. Não se vêm mais as irradiações em linhas retas como quando o corpo é são, e sim emanações débeis que se encurvam formando redemoinhos e espirais, em torno do Corpo Denso. A coloração não é rosada purpúrea, como deveria ser, senão cinzento-opaco na maioria das partes do corpo, e a região particularmente enferma está envolta em algo que se parece uma massa negra gelatinosa. Isto é, como poderíamos chamar a vibração de enfermidade, e, quando o enfermo recebe o tratamento magnético, esta venenosa massa negra é absorvida pelas mãos do curador. Quando ele a arremessa de si com um vigoroso movimento, a massa cai no chão e, se o paciente passar por esse lugar, vai absorvê-la. Portanto, o autor sempre teve o costume de jogar estes miasmas pela janela ou numa lareira, onde se queimam, e, então, não podem fazer mal.
Enquanto um órgão está enfermo, sempre gera esta massa venenosa que flutua a seu redor, e impede as correntes do Corpo Vital de penetrar nele. O trabalho do magnetizador consiste simplesmente em limpar o órgão enfermo e, assim, abrir caminho para o fluxo das correntes de vida e saúde. O alívio geralmente é só temporário, pois o órgão enfermo e debilitado continua gerando os miasmas venenosos, e então, em seguida, se necessita de outra “limpeza” por parte do magnetizador. Este estado de coisas subsiste até que as correntes vitais se fortaleçam o bastante para vencer e jogar fora os eflúvios daninhos, e limpar o órgão por seus próprios esforços. Então, a saúde retorna.
O osteopata vê a enfermidade por outro ângulo, e manipula os nervos que são as avenidas das correntes vitais. Estas massagens fortalecem as correntes e dispersam os miasmas que estão se formando na parte enferma do corpo. No entanto, geralmente, requer uma série de tratamentos da parte do osteopata antes que a saúde seja restaurada, pois o miasma venenoso obstrui outra vez os nervos pouco tempo depois das massagens. Portanto, na opinião do autor, embora ele não tenha experimentado, o melhor seria a combinação dos dois métodos: abrir caminho para as correntes nos nervos, e fortalecê-los por meio de tratamentos osteopáticos, extraindo, ao mesmo tempo, os miasmas envenenados por tratamentos magnéticos, e tendo o cuidado de queimá-los ou jogá-los fora. Estes dois métodos combinados poderiam facilitar extraordinariamente o tratamento da doença.
O baço é a entrada das forças solares, mas, a transmutação da energia solar em um fluido ligeiramente rosado acontece no plexo solar, onde o Átomo-semente prismático do Corpo Vital se localiza.
Com relação ao que ocorre quando o baço foi removido, devemos recordar que o Corpo Denso se acomoda da melhor maneira possível às condições alteradas. Se uma ferida em determinada parte do corpo impossibilita o sangue de fluir por vasos normais, ele encontra outra rede de veias pelas quais possa realizar seu circuito. Porém, um órgão nunca se atrofia enquanto possa servir a um propósito útil. O mesmo acontece com o Corpo Vital formado de Éteres. Quando um membro foi amputado, a parte etérea desse membro já não é necessária na economia do corpo, e gradualmente se dissolve. Porém, no caso de um órgão como o baço, em que a contraparte etérea tem uma função importante, como porta de acesso das energias solares, naturalmente não se produz semelhante desintegração.
Também, deve ser lembrado que, quando uma enfermidade no veículo físico se manifesta, a parte correspondente do Corpo Vital se debilitou e atenuou previamente, ficou doente e foi sua a impossibilidade de suprir à quantidade necessária de energia vital, que provocou a manifestação dos sintomas físicos da doença. Inversamente, quando a saúde retorna, o Corpo Vital é o primeiro que se restabelece, e esta convalescença logo se manifesta no Corpo Denso. Portanto, se o baço físico fica enfermo, é evidente que a contraparte etérea não está bem e, então, é muito duvidoso que a extração do órgão seja útil. No entanto, se é feita, o corpo tratará de acomodar-se às novas condições, e a contraparte etérea do baço continuará funcionando como antes.
A tendência natural do Corpo de Desejos é endurecer e consolidar tudo quanto se põe em contato com ele. O pensamento materialista acentua esta tendência de tal modo que, geralmente, produz como resultado, em vidas futuras, a horrenda enfermidade chamada tuberculose, que é um endurecimento dos pulmões, os quais devem ser brandos e elásticos. Ocorre, algumas vezes, que o Corpo de Desejos comprime o Corpo Vital, de modo que este não pode conter o processo de endurecimento e, então, temos a tuberculose galopante. Em alguns casos, o materialismo torna o Corpo de Desejos frágil, por assim dizer, e, então, ele não pode realizar devidamente seu trabalho de endurecimento do Corpo Denso e, como resultado, produz o raquitismo ou enfraquecimento ósseo. Vemos, portanto, os perigos que corremos ao manter tendências materialistas, que dão origem ao endurecimento das partes brandas do corpo, como na tuberculose, ou o enfraquecimento das partes duras, ósseas, como no raquitismo. Naturalmente, nem todos os casos de tuberculose demonstram que a pessoa foi um materialista em vida anterior, porém, os ensinamentos das ciências ocultas afirmam que esse resultado geralmente é produzido pelo materialismo.
No caso da pessoa que está preparada para receber a Iniciação, a aceleração das vibrações é maior do que para o homem ou mulher comuns. Portanto, não requer exercícios para acelerar esta vibração, mas, necessita de determinados exercícios espirituais, ajustados individualmente para ele, que farão com que se adiante em seu próprio caminho.
Se essa pessoa, nesse período crítico, se encontrasse com um indivíduo que, por maldade ou ignorância, lhe desse exercícios respiratórios que o interessado cumprisse fielmente, com a esperança de obter resultados rápidos, esses resultados seriam obtidos, mas não da maneira que ele buscava. A vibração dos átomos do corpo, em um período muito curto, teria acelerado de tal maneira que pareceria como se estivesse caminhando sobre o ar. Também poderia produzir-se uma indevida separação do Corpo Vital com o Corpo Denso, o que traria a tuberculose ou insanidade como resultado.
Quando anestésicos são usados, o Corpo Vital é expulso parcialmente do Corpo Denso, junto com os demais veículos e, se a aplicação é demasiadamente forte, produz-se a morte. O mesmo fenômeno pode ser observado no caso dos médiuns materializadores. Na verdade, a diferença entre um médium dessa classe e um homem ou mulher comum é que, nestes últimos, o Corpo Vital e o Corpo Denso estão, no atual estado de evolução, estreitamente interligados, enquanto no médium esta relação é débil. Não foi sempre assim, e virá um tempo em que o Corpo Vital poderá abandonar normalmente o Corpo Denso, o que, no presente, não acontece. Quando um médium permite que seu Corpo Vital seja usado por entidades do Mundo do Desejo que querem materializar-se, o Corpo Vital sai pelo lado esquerdo através do baço, que é sua “porta” particular. Então, as forças vitais não podem fluir no organismo, como geralmente o fazem, e o médium fica exausto, e alguns deles se vêm obrigados a fazer uso de estimulantes, o que, com o tempo, faz com que se convertam em alcoólatras incuráveis.
A força vital do Sol que nos rodeia como um fluido incolor, é absorvida pelo Corpo Vital por meio da contraparte etérea do baço, onde sofre uma curiosa transformação de cor. Fica rosa pálido e circula pelos nervos através de todo o Corpo Denso. Com relação aos nervos, é o que a eletricidade é para o telégrafo. Ainda que haja fios, aparelhos e telegrafistas se falta a eletricidade, não se pode enviar as mensagens. O Ego, o cérebro e o sistema nervoso podem estar em perfeita ordem, mas se faltar a força vital que possa levar as mensagens do Ego através dos nervos e dos músculos, o Corpo Denso permanecerá inerte. Isto é precisamente o que acontece quando uma parte do corpo se paralisa; o Corpo Vital fica doente e a força vitalizadora já não pode mais fluir. Em tais casos, como na maioria das enfermidades, a perturbação é dos veículos invisíveis e sutis. O reconhecimento consciente ou inconsciente deste fato, faz com que os médicos mais afamados empreguem a sugestão que trabalha sobre os veículos superiores, como um auxiliar da medicina. Quanto mais fé e esperança possa o médico imbuir em seu paciente, tanto mais rápido se desvanecerá a enfermidade, dando lugar a uma perfeita saúde.
Durante a saúde, o Corpo Vital especializa uma superabundância de força vital a qual, depois de passar pelo Corpo Denso, se irradia em linhas retas em todas as direções desde a sua periferia, como os raios de um círculo irradiam desde o centro; porém, em casos de enfermidade, quando o Corpo Vital se atenua, não pode absorver a mesma quantidade de força e, além disso, o Corpo Denso dela se alimenta. Então, as linhas de fluido vital que se exteriorizam curvam-se e caem, mostrando a falta de força ou a debilidade que se produziu. No estado de saúde, estas irradiações expulsam os germes e micróbios inimigos da saúde do Corpo Denso, mas na enfermidade, quando a força vitalizadora é débil, essas emanações não eliminam tão facilmente os germes nocivos. Portanto, o perigo de contrair uma enfermidade é muito maior quando as forças vitais são escassas, do que quando se está com saúde perfeita.
Nos casos em que se amputam partes do corpo, o Éter planetário é o único que acompanha a parte separada. O Corpo Vital e o Corpo Denso se desintegram sincronicamente depois da morte, e o mesmo acontece com a contraparte etérea do membro ou parte amputada. Ela irá gradualmente se desintegrando na medida em que a parte densa se decompõe, porém, nesse meio tempo, o fato de que o ser humano possui o membro etéreo, faz com que ele afirme sentir os dedos e, também dor neles. Existe certa relação entre o membro amputado e a parte etérea, independente da distância. Sabe-se de um caso em que um ser humano sentiu uma forte dor, como se tivesse cravado um prego na perna que fora amputada, dor que persistiu até que o membro foi exumado, e soube-se que tinham cravado um prego quando o encaixotaram para enterrá-lo. O prego foi removido e a dor instantaneamente cessou. De acordo com este fato, estão todos os casos em que as pessoas sofrem dores nos membros amputados, durante dois ou três anos depois da operação. Depois a dor passa. Isto é devido a que a enfermidade ainda permanece na parte etérea do membro amputado, porém, quando a parte densa amputada se desintegra, desintegra-se, também a etérea e a dor cessa.
É de conhecimento geral entre aqueles que auxiliam os acidentados, que eles não sofrem tanto na hora do acidente quanto sofrem depois; isto é, devido a que o Corpo Vital está são no momento do acidente e, portanto, todo o efeito do acidente só será sentido quando este veículo se atenuar, e não estiver mais em condições de ajudar os processos vitais. Assim, vemos que se produzem mudanças no Éter do ser humano e, de acordo com o axioma místico, “como é acima, é abaixo” e vice-versa, produzem-se, também mudanças no Éter Planetário, que constitui o Corpo Vital do Espírito da Terra. Assim como a recordação consciente dos últimos acontecimentos que são, por algum tempo, muito vivos no ser humano se desvanecem pouco a pouco, assim também o registro etéreo, que é o aspecto inferior da Memória da Natureza, vai apagando-se.
Quando um corpo adquire certa velocidade em sua queda, os Éteres Superiores abandonam o Corpo Denso, deixando a pessoa acidentada insensível. Quando o corpo atinge o chão, ele fica muito machucado, porém, a pessoa pode recobrar a consciência quando os Éteres se organizarem outra vez. Então, começa a sofrer as consequências físicas da queda. Se a queda continua depois que os Éteres Superiores saíram do corpo, a crescente velocidade da queda acaba por desalojar também os Éteres Inferiores, e o Cordão Prateado é tudo o que fica ligado ao Corpo Denso. . . este cordão se rompe ao se produzir o impacto contra o chão e o Átomo-semente passa, então, ao ponto de ruptura, onde se mantém na forma usual.
Com base nestes fatos, chegamos à conclusão, de que é a pressão atmosférica normal que mantém o Corpo Vital dentro do Corpo Denso. Quando nos movemos com uma velocidade anormal, a pressão fica suspensa em algumas partes do corpo, formando-se assim um vazio parcial, resultando que os Éteres abandonem o corpo e penetrem nesse vazio. Os dois Éteres Superiores, que estão menos aderidos, são os primeiros que desaparecem e deixam a pessoa inconsciente depois de haver produzido, como em um relâmpago, o panorama de sua vida. Então, se a queda continua aumentando a pressão aérea diante do corpo e o vazio atrás, os Éteres Inferiores mais apegados ao corpo, também são impulsionados para o exterior, e então o corpo está realmente morto antes de chegar ao solo.
Examinando certo número de pessoas em estado de saúde normal, descobrimos que cada um dos átomos prismáticos que compõem os Éteres Inferiores, irradiavam de si linhas de força que faziam girar o átomo físico, no qual estavam inseridos, dotando todo o corpo com vida. A irradiação de todas estas unidades de força está em direção à periferia do corpo, e constitui o que se denomina “Fluido Ódio”, embora também designado com outros nomes. Quando a pressão atmosférica exterior diminui nas grandes altitudes, manifesta-se certo nervosismo, porque a força etérea é impelida de dentro para fora, sem controle, e, se o ser humano não pudesse conter esse fluxo de energia solar, ao menos parcialmente por um esforço da vontade, ninguém poderia viver nestes lugares.
Agora chegamos ao ponto crucial de nossa explicação. O Éter é uma matéria física e, enquanto os indivíduos feridos no campo de batalha por pequenas armas de fogo, possam às vezes caminhar um pouco atordoados, mas conscientes, as terríveis detonações dos grandes canhões empregados em grande escala, têm o efeito de dar volta aos átomos prismáticos e destroçar a envoltura áurica, formada pelos Éteres Luminoso e Refletor, Éteres que constituem a base da percepção sensorial e da memória. Até que com o tempo tudo volte ao normal, o ser humano fica em estado de choque e em coma, condição que pode demorar semanas. Sob semelhantes condições, a substância sutil etérea não se presta à formação de imagens da vida passada, pois, está congelada até certo grau.
Quando uma pessoa se asfixia ou se afoga, ela se sente muito tranquila e sossegada depois da primeira luta, embora se dê conta, em certa medida, do perigo, o Corpo Vital sai antes da ruptura do Cordão Prateado e, portanto, conserva a capacidade de atrair materiais do Mundo Físico. Por isso, houve casos de pessoas mortas por asfixia ou afogamento, que apareceram a seus parentes a milhares de quilômetros de distância, talvez só por um instante, porém, pareciam estar vivos. Talvez tenha sido o desejo que sentiram por muito tempo de ver seus entes queridos, e voltar até eles, e o fato de que estavam agora livres de suas cadeias corporais, que os transportou ali imediatamente nas asas do desejo. Ao chegar onde queriam, o Corpo Vital atraiu quantidade suficiente de partículas da atmosfera para se fazer visível ao ser querido. Porém, talvez nesse momento, rompeu-se o Cordão Prateado, o Corpo Vital entrou em colapso e, então, a visão desapareceu.
Não é raro que se vejam fantasmas de seres vivos. Tudo o que é necessário é que o Corpo Denso esteja num sono muito profundo ou inconsciente, como normalmente ocorre quando uma pessoa está perto do umbral da morte. Pode ser que esteja se afogando ou sob o choque de uma queda de um cavalo, de um carro, ou condições similares, ou que haja recebido um golpe na cabeça, ou que esteja muito enferma sobre o leito, muito enfraquecida e extenuada, perto da morte. Então, a maior parte do Éter que constitui o Corpo Vital pode ser extraída do Corpo Denso, deixando este em estado de transe, estado que não se prolonga mais que alguns minutos, mas, como a distância não é uma barreira nos mundos invisíveis, então o desejo da pessoa assim momentaneamente liberado, pode levá-la ao fim do mundo, para aparecer ao ser querido a milhares de quilômetros do lugar onde seu corpo jaz.
É muito mais fácil para o Espírito do caso anterior se materializar, do que para os que já abandonaram seu corpo ao morrer, porque os primeiros têm o Cordão Prateado ainda intacto, subsistindo assim a conexão com o Átomo-Semente no coração.
Exercícios respiratórios indiscriminados não produzem o desdobramento, senão que tendem a desconectar o Corpo Vital do Denso. E, desta maneira, em alguns casos, as conexões entre os centros dos sentidos etéreos e as células cerebrais se rompem, ou se estiram, resultando na loucura. Em outros casos, a desconexão se verifica entre os Éteres Químico e de Vida e, como o Éter de Vida é o material básico da assimilação, e a avenida para a especialização da energia solar, essa ruptura produz a tuberculose.
Unicamente mediante os exercícios apropriados se verifica a separação requerida. Quando a pureza de vida levou a força sexual não usada, gerada no Éter de Vida, ao coração, esta força serve para manter a limitada circulação sanguínea necessária durante o sono. Desta maneira, as funções físicas e o desenvolvimento espiritual correm juntos, seguindo linhas harmoniosas.
O autor esteve muito receoso com relação às consequências que a guerra poderia trazer, quanto ao firme entrelaçamento dos Corpos de Desejo e Vital, dando assim, vida a legiões de monstros para aflição das gerações futuras. Porém, agora está muito satisfeito em poder dizer que não devemos ter este tipo de temor. Somente quando as pessoas são premeditadamente maliciosas ou vingativas, e persistentemente abrigam um desejo e um propósito de desforra, se esses pensamentos e sentimentos são fomentados e mantidos, eles endurecem o Corpo Vital, e o relacionam mais estreitamente com o Corpo de Desejos. Sabemos das lembranças, da grande guerra, que nas fileiras dos exércitos não havia mais sentimentos de ódio de um para o outro, e que os inimigos conversavam como amigos quando, por casualidade, se encontravam em condições propícias. Assim, embora a guerra seja responsável pela terrível mortalidade atual e será a causa de uma deplorável mortalidade infantil no futuro, não será culpada com relação aos terríveis males gerados pela obsessão, e os crimes instigados por Corpos de Pecado demoníacos.
Embora as desordens mentais, quando são congênitas, tenham por causa geral o abuso da função criadora em vidas passadas, existe pelo menos uma exceção notável a esta regra, mencionada no Conceito Rosacruz do Cosmos, e em outros escritos, que é a seguinte: quando um Espírito, que tem uma vida especialmente dura diante de si, desce para renascer e, ao entrar na matriz sente ou percebe o panorama da vida que vai começar, e considera essa existência demasiadamente terrível para ser suportada, às vezes, tenta escapar da escola da vida. Naquele momento, os Anjos do Destino ou seus agentes, já tinham feito a conexão necessária entre o Corpo Vital e os centros sensoriais no cérebro do feto em formação, por isso, o esforço do Espírito para escapar da matriz de sua mãe é frustrado, mas, o arranco que o Ego dá, desajusta a conexão entre os centros sensoriais físicos e etéreos, de modo que o Corpo Vital não fica concêntrico com o Corpo Denso, fazendo com que a cabeça etérea saia do crânio físico. Então, é impossível que o Espírito possa usar seu veículo denso, encontrando-se atado a um corpo sem Mente, que não pode utilizar e a encarnação fica praticamente perdida.
Também acontecem casos que, mais tarde, na vida, um grande choque faz com que o Espírito tente escapar com os veículos invisíveis, resultando uma torção similar nos centros sensoriais do cérebro, causando desequilíbrio na expressão mental. Nós todos tivemos uma impressão parecida quando levamos um grande susto: uma sensação como se algo tentasse escapar do Corpo Denso, isto é, os Corpos Vital e de Desejos que são tão rápidos em sua ação, que mesmo um trem expresso parece com uma lesma quando comparado, vêm e sentem o perigo antes que o medo haja sido transmitido ao comparativamente inerte Corpo Denso, no qual estão ancorados, e que os impede de escapar em condições normais.
A insanidade é sempre causada pela ruptura na cadeia de veículos entre o Ego e o Corpo Denso. Esta ruptura pode ocorrer entre os centros cerebrais e o Corpo Vital, ou entre o Corpo Vital e o de Desejos, ou entre o Corpo de Desejos e a Mente, ou entre a Mente e o Ego. Além disso, a ruptura pode ser completa ou somente parcial.
Quando a ruptura se produz entre os centros cerebrais e o Corpo Vital, ou entre este e o Corpo de Desejos, temos os casos de idiotismo. Quando a ruptura é entre o Corpo de Desejos e a Mente, então predomina o violento e impulsivo Corpo de Desejos, e se apresenta o caso dos maníacos desvairados. Quando a ruptura é entre o Ego e a Mente, a Mente é que governa os demais veículos, e este é o caso dos maníacos astutos que podem enganar seus guardiões, fazendo-os crer que são completamente inofensivos, enquanto tramam algum plano diabólico e malicioso. Então, podem demonstrar subitamente sua mentalidade insana e causam uma terrível catástrofe.
Existe uma causa de insanidade que convém explicar, porque, muitas vezes, é possível evitá-la. Quando o Ego regressa do mundo invisível para um novo renascimento, lhe são mostradas as diversas encarnações possíveis. Então, ele contempla sua próxima vida em suas grandes linhas e acontecimentos gerais, como se fosse uma fita cinematográfica passando diante de seus olhos. Geralmente, neste momento, ele pode escolher entre as diferentes vidas. Ele vê as lições que tem de aprender, o destino que criou por si mesmo em vidas passadas, e que parte deste destino pode liquidar em cada uma das reencarnações que lhe são oferecidas. Então, faz sua escolha e logo é guiado pelos Agentes dos Anjos do Destino, para o país e a família em que terá que viver em sua próxima existência.
Esta visão panorâmica lhe é apresentada no Terceiro Céu, onde o Ego está despido de seus veículos, e se sente espiritualmente por cima de toda sórdida consideração material. É muitíssimo mais sábio do que logo parece ser na Terra, onde se encontra fascinado pela carne numa medida quase inconcebível. Mais tarde, quando a concepção já aconteceu e o Ego penetra na matriz da mãe, em torno do décimo oitavo dia depois da concepção, põe-se em contato com o molde etéreo de seu novo Corpo Denso, que foi formado pelos Anjos do Destino, para estruturar o cérebro que dará ao Ego as tendências necessárias para a elaboração e liquidação de seu destino.
Ali, o Ego vê novamente os quadros panorâmicos de sua próxima vida, da mesma forma que a pessoa que se afoga vê o panorama de sua vida passada em um relâmpago. Nesse tempo, o Ego já está parcialmente cego com relação a sua natureza espiritual, de modo que sua próxima encarnação pode lhe parecer muito dura e, às vezes, tenta retroceder e não entrar na matriz, estabelecendo as conexões cerebrais adequadas. Pode tentar escapar em seguida e, então, ao invés dos Corpos Denso e Vital ficarem concêntricos, o Corpo Vital, formado de Éter, pode ficar parcialmente fora do crânio físico. Nesse caso, a conexão entre os centros sensoriais do Corpo Vital e do Corpo Denso fica desajustada e o resultado é o idiotismo, a epilepsia, a doença de San Vito ou outras afecções nervosas congênitas.
A insanidade é a ruptura na cadeia de veículos entre o Ego e o Corpo Denso. Essa desconexão pode ocorrer entre o Ego e a Mente, entre a Mente e o Corpo de Desejos, entre os Corpos de Desejos e o Vital e, também entre este último e o Corpo Denso. Se a ruptura se produziu entre o Corpo Denso e o Vital, ou entre o Corpo Vital e o de Desejos, o Ego estará perfeitamente são no Mundo do Desejo imediatamente após sua morte, porque já terá descartado os dois corpos afligidos.
Quando a ruptura ocorre entre o Corpo de Desejos e a Mente, o Corpo de Desejos está ainda desenfreado depois da morte, e é causa de muitas calamidades durante sua existência no Mundo do Desejo. O Ego, evidentemente nunca está insano. O que parece insanidade, provém do fato de que o Ego não tem nenhum domínio sobre seus veículos; o pior caso é, sem dúvida, quando a Mente está afetada e o Ego está atado à personalidade por muito tempo, até que os veículos se desintegrem.
Vimos que, no estado de vigília, os Corpos Denso e Vital estão rodeados e interpenetrados por uma nuvem ovoide, formada pelo Corpo de Desejos e a Mente. Todos esses veículos são concêntricos e formam como se fossem elos de uma corrente. É a interpolação de um com o outro, de maneira que os centros sensoriais se ajustem corretamente, o que permite que o Ego manipule este complexo organismo e efetue de uma maneira ordenada, os processos vitais a que chamamos de razão, palavra e ação. Se existe um desajuste em alguma parte, o Ego está obstruído em sua manifestação. Este equilíbrio perfeito é a saúde, o oposto da enfermidade.
A enfermidade tem várias formas e uma é a insanidade que, também é de diferentes tipos. Quando a conexão entre os centros sensoriais do Corpo Denso e do Corpo Vital é oblíqua e quando, às vezes, a cabeça do Corpo Vital eleva-se acima da cabeça do Corpo Denso ao invés de ficar concêntrica, o Corpo Vital está fora de ajuste com os veículos superiores e com o Corpo Denso. Então, nós temos um idiota dócil. Quando os Corpos Denso e Vital estão ajustados, mas a ruptura está entre o Corpo Vital e o de Desejos, a situação é a mesma, mas quando a ruptura é entre o Corpo de Desejos e a Mente, nós temos o maníaco delirante que é mais ingovernável que um animal selvagem, pois este último é controlado pelo Espírito Grupo, e neste caso, todas as tendências animais são seguidas cegamente.
Enquanto muito poucos defendem o abuso da função criadora, muitas pessoas que seguem os preceitos espirituais em outras coisas, ainda acham que a indulgência frequente do desejo de prazer sexual não faz mal. Alguns acham que é tão necessário quanto o exercício de uma função orgânica. Isto é errado por duas razões: a primeira é que cada ato criador requer uma quantidade de força que queima tecido, o qual deve ser reabastecido por uma quantidade extra de comida. Isto reforça e aumenta o Éter Químico; a segunda, como a força propagadora trabalha através do Éter de Vida, este elemento do Corpo Vital é também aumentado a cada indulgência. Consequentemente, os dois Éteres Inferiores, enviando a força criadora para baixo, para a gratificação de nosso desejo por prazer, aderem-se mais aos dois Éteres Superiores que formam o Corpo-Alma, e essa aderência se torna maior e mais poderosa à medida que o tempo passa. Como a evolução de nossas forças anímicas e a faculdade de viajar em nossos veículos mais sutis, dependem da separação entre os Éteres Inferiores e o Corpo-Alma, é evidente que frustramos o objetivo que temos em mente, e retardamos o desenvolvimento pela indulgência da natureza inferior.
Nos preparativos para o Renascimento, assim que o Corpo Vital é colocado, o Ego renascente, com sua envoltura em forma de sino, paira constantemente perto de sua futura mãe. Ela, sozinha, trabalha sobre o novo Corpo Denso nos primeiros dezoito a vinte e um dias depois da fertilização e, então, o Ego entra no corpo da mãe, dirigindo sua envoltura para baixo e envolvendo o feto. A abertura na parte de baixo fecha-se, e o Ego é uma vez mais encarcerado em seu Corpo Denso.
O momento da entrada no ventre da mãe é de grande importância na vida, pois, quando o Ego renascente primeiro contata a matriz do Corpo Vital, ele vê outra vez o panorama da vida que foi impresso pelos Anjos do Destino, na referida matriz, para dar a ele as tendências necessárias para trabalhar o destino maduro, que deve ser liquidado na vida que se vai iniciar.
Neste momento, o Ego está tão cego pelo véu da matéria que não distingue o benefício final, da mesma maneira imparcial quando fez sua escolha na Região do Pensamento Abstrato e, quando uma vida particularmente dura se revela diante de sua visão, no momento em que ele está entrando no ventre da mãe, acontece às vezes que ele fica tão apavorado que tenta escapar. A conexão não pode ser cortada, no entanto, pode ser forçada, de modo que, ao invés de ficar concêntrica, a cabeça do Corpo Vital pode ficar acima da cabeça do Corpo Denso. Então, nós temos um idiota congênito.
Assim como um vampiro suga o Éter do Corpo Vital de sua vítima e se alimenta dele, assim também, repetidos pensamentos de arrependimento e remorso se transformam em um elemental de desejo, que age como um vampiro e suga a vida da pobre alma que lhe deu forma e, como semelhante atrai semelhante, ele fomenta a continuidade deste hábito de arrependimento mórbido.
Se nos permitimos arrependimentos e remorsos durante as horas de vigília como certas pessoas o fazem, estamos sobrepujando o Purgatório, pois, embora o tempo que passamos lá seja gasto na erradicação do mal, a consciência surge de cada imagem na medida em que é arrancada pela força de repulsão. Lá, por causa da ligação do Corpo de Desejos com o Corpo Vital, estamos habilitados a dar vida a uma imagem em nossa memória quantas vezes desejamos e, enquanto o Corpo de Desejos é gradualmente dissolvido no Purgatório pela purgação do panorama da vida, certa quantidade foi acrescentada quando nós estávamos vivendo no Mundo Físico, tomando o lugar daquela matéria que foi expulsa pelo remorso. Concluindo, remorso e arrependimento quando continuamente repetidos em nosso interior, têm o mesmo efeito sobre o Corpo de Desejos que os banhos excessivos sobre o Corpo Vital. Ambos os veículos ficam exauridos por limpeza excessiva, e, por esta razão, é perigoso para a saúde moral e espiritual permitir sentimentos de arrependimento e remorso indiscriminadamente, assim como é fatal para o bem-estar físico tomar banhos demais. O discernimento deve prevalecer em ambos os casos.
Assim como a força latente na pólvora e em substâncias explosivas afins, podem ser usadas para promover os melhores objetivos da civilização, ou os mais selvagens atos de barbarismo, assim também essa emoção de remorso pode ser mal-usada, de modo a causar dano e obstáculo ao Ego ao invés de ajuda. Quando nos remoemos diariamente e a toda hora, nós estamos despendendo um grande poder que pode ser usado para a mais nobre finalidade da vida, pois, o constante arrependimento, afeta o Corpo de Desejos de maneira similar à dos banhos excessivos do Corpo Denso. A água tem uma grande afinidade pelo Éter e o absorve vorazmente. Quando tomamos banho em condições normais, ele remove uma grande quantidade de Éter venenoso e miasmático do nosso Corpo Vital, no caso de ficarmos de molho um espaço de tempo razoável. Depois de um banho, o Corpo Vital fica de certa forma, atenuado e consequentemente nos dá uma sensação de fraqueza, mas se estamos em boa forma e não ficamos no banho muito tempo, a deficiência é logo reparada pela corrente de força que flui para dentro do corpo através do baço. Quando o influxo de Éter fresco substituiu a substância envenenada carregada pela água, sentimos com renovado vigor que atribuímos ao banho, embora não soubéssemos nada do que foi dito anteriormente.
Porém, quando uma pessoa que não está em sua perfeita saúde tem o hábito de tomar banhos diários, duas ou três vezes, um excesso de Éter é retirado do Corpo Vital. O suprimento que entra pelo baço é também diminuído por causa da perda de vibração do Átomo-semente, localizado no plexo solar e do enfraquecimento do Corpo Vital. Daí ser impossível para tais pessoas recuperarem-se entre tais frequentes e repetidos esgotamentos e, como consequência, a saúde do Corpo Denso sofre; elas perdem força continuamente e podem se tornar inválidas.
O Corpo Vital é tão ativo nas horas de sono quanto nas horas de vigília e pode ser influenciado pelo poder da sugestão. O sono pode ser induzido pela hipnose.
Nós temos, em nosso Corpo, dois sistemas nervosos, o voluntário e o involuntário. O primeiro é influenciado diretamente pelo Corpo de Desejos e controla os movimentos do Corpo e sua tendência é quebrar e destruir, só parcialmente restringido em sua tarefa cruel pela Mente. O sistema involuntário tem seu campo de ação específico no Corpo Vital. Ele governa os órgãos digestivos e respiratórios que reconstroem e restauram o Corpo Denso.
É esta guerra entre o Corpo Vital e o Corpo de Desejos que produz consciência no Mundo Físico, mas se a Mente não agisse como um freio sobre o Corpo de Desejos, nossas horas de vigília seriam muito curtas e, também nossa vida, pois o Corpo Vital seria logo esgotado em seu trabalho beneficente pelo imprudente Corpo de Desejos, como está evidenciado na exaustão que segue um ataque de nervos, pois a raiva é uma situação em que o ser humano “perde o controle e o Corpo de Desejos reina livremente”.
Apesar de todos os seus esforços, o Corpo Vital, pouco a pouco, perde terreno com o passar do dia, os tecidos envenenados e deteriorados se acumulam e impedem o fluxo do fluido vital e seus movimentos tornam-se cada vez mais lentos. Como consequência, o Corpo visível mostra sinais de exaustão. Finalmente, o Corpo Vital sofre um colapso, o fluido vital cessa de fluir nos nervos em quantidade suficiente para manter o equilíbrio do Corpo Denso e este se rende inconsciente e, portanto, inadequado para ser usado pelo Espírito. É o sono.
O mesmo acontece com o templo do Ego, nosso Corpo Denso, quando fica exausto. É, então, necessário que o Ego, a Mente e o Corpo de Desejos se afastem e deem amplos poderes ao Corpo Vital para que ele possa restaurar o tônus do Corpo Denso e, então, quando o Corpo Denso vai dormir, há uma separação. O Ego e a Mente, envolvidos pelo Corpo de Desejos, se separam do Corpo Vital e do Corpo Denso, estes dois permanecendo na cama, enquanto os veículos superiores pairam sobre ou perto do Corpo adormecido.
O processo de restauração começa agora. Numa luta no Mundo Físico, os ferimentos nunca são de um só lado; o vencedor também tem algumas lesões. Quanto mais violenta é a luta e mais nivelados são os combatentes, mais lesões sofre cada um. Assim acontece com o Corpo Vital e o de Desejos; o Corpo de Desejos vence sempre, embora sua vitória seja sempre uma derrota, pois ele é forçado a deixar o campo de batalha, e o prêmio, o Corpo Denso, nas mãos do derrotado Corpo Vital, retirando-se para reparar sua própria harmonia despedaçada.
Quando o Espírito se afasta do Corpo adormecido, ele entra no mar de força e harmonia chamado Mundo do Desejo. Lá ele repassa as cenas do dia em ordem inversa, dos efeitos para as causas, colocando em ordem o emaranhado do dia, formando imagens verdadeiras para substituir as impressões erradas, devido à limitação da vida no Corpo Denso e, assim como as harmonias do Mundo do Desejo o permeiam e a sabedoria e a verdade substituem o erro, ele readquire seu ritmo e tom. O tempo necessário para a restauração varia de acordo com o dia, se foi ilusório, impulsivo ou extenuante.
Então, e só então, o trabalho de restauração dos veículos deixados na cama começa, e o Corpo de Desejos, restaurado, começa a reavivar o Corpo Vital bombeando energia rítmica dentro dele, e este, por sua vez, começa a trabalhar sobre o Corpo Denso, eliminando os produtos deteriorados, principalmente por meio do sistema nervoso simpático. Como resultado, o Corpo Denso fica restaurado e repleto de vida. O Corpo de Desejos, a Mente e o Ego entram nele pela manhã, fazendo com que ele acorde.
No entanto, às vezes, acontece que nós ficamos tão absorvidos e interessados nas atividades de nossa existência mundana que, mesmo depois que o Corpo Vital entrou em colapso e deixou o Corpo Denso inconsciente, nós não conseguimos nos libertar para que o trabalho de restauração se inicie. O Corpo de Desejos fica aderido, é retirado só parcialmente pelo Ego e começa a ruminar os acontecimentos do dia naquela posição.
Durante o estado de vigília, quando o Ego está funcionando conscientemente no Mundo Físico, seus diferentes veículos são concêntricos – ocupam o mesmo espaço – mas à noite, quando o Corpo se deita para dormir, a separação acontece. O Ego, vestido pela Mente e pelo Corpo de Desejos, libera-se do Corpo Denso e do Corpo Vital que foram deixados na cama. Os veículos superiores pairam acima e perto. Eles estão conectados com os veículos inferiores pelo Cordão Prateado, um cordão fino e brilhante que tem a forma de dois números seis, com uma extremidade ligada ao Átomo-semente no coração e outra no vórtice central do Corpo de Desejos.
Durante o sono, o Ego também sai do Corpo Denso, mas o Corpo Vital permanece e o Cordão Prateado fica intacto.
O Mundo do Desejo é um oceano de sabedoria e harmonia. Quando os veículos inferiores adormecem, o Ego leva a Mente e o Corpo de Desejos para o Mundo do Desejo. Lá, o primeiro cuidado do Ego é a restauração do ritmo e da harmonia da Mente e do Corpo de Desejos. Esta restauração é realizada gradativamente enquanto as vibrações harmoniosas do Mundo do Desejo fluem através destes veículos. Há uma essência no Mundo do Desejo que corresponde ao fluido que permeia o Corpo Denso por meio do Corpo Vital. Os veículos superiores, por assim dizer, embebem-se neste elixir de vida. Quando fortalecidos, eles começam o trabalho sobre o Corpo Vital que foi deixado com o Corpo Denso. Então, o Corpo Vital começa a especializar a energia solar mais uma vez, reconstruindo o Corpo Denso, usando particularmente o Éter Químico como meio no processo de restauração.
No estado de vigília, os diferentes veículos do Ego – Mente, Corpo de Desejos, Corpo Vital e Corpo Denso – são todos concêntricos. Eles ocupam o mesmo espaço e o Ego se manifesta no Mundo Físico. Mas, à noite, durante o sono sem sonhos, o Ego revestido pelo Corpo de Desejos e pela Mente, se retira, deixando o Corpo Denso e o Vital sobre a cama, não havendo conexão entre os veículos superiores e os inferiores, salvo por um fino e brilhante cordão chamado de Cordão Prateado. Acontece, no entanto, que, às vezes, o Ego trabalhou tanto no Mundo Físico e o Corpo de Desejos ficou tão agitado que ele se recusa a deixar os veículos inferiores e só se retira parcialmente ou pela metade. Então, a conexão entre os centros sensoriais do Corpo de Desejos e os do cérebro físico ficam rompidos parcialmente. O Ego percebe as visões e as cenas do Mundo do Desejo que são extremamente fantásticas e ilusórias e elas são transmitidas aos centros cerebrais sem serem conectadas pela razão. Daí resulta todos os sonhos tolos e fantásticos que temos.
Acontece, no entanto, que, às vezes, o Corpo de Desejos não se retira completamente e, assim, parte dele permanece conectado ao Corpo Vital, o veículo de percepção sensorial e memória. O resultado é que a restauração é realizada somente em parte e as cenas e ações do Mundo do Desejo são trazidas para a consciência física como sonhos. Naturalmente, a maioria dos sonhos é confusa porque o eixo da percepção está distorcido por causa da relação imperfeita de um Corpo com o outro. A memória é também confusa pela relação incongruente dos veículos e, como resultado da perda da força restauradora, o sono cheio de sonhos não é reparador e o Corpo se sente cansado ao acordar.
O Corpo Vital, pode-se dizer que é formado de pontos que se estendem em todas as direções, para dentro, para fora, para cima e para baixo, através de todo o Corpo, e cada pequeno ponto passa através do centro de um dos átomos químicos, fazendo-o vibrar mais intensamente que sua velocidade natural. Este Corpo Vital interpenetra o Corpo Denso do nascimento à morte em todas as situações exceto quando, por exemplo, a circulação do sangue para num certo ponto, como quando descansamos a mão sobre a extremidade de uma mesa por algum tempo e ela “adormece”, por assim dizer. Então, se formos Clarividentes, poderemos ver a mão etérea do Corpo Vital pendurada sob a mão visível como se fosse uma luva, e os átomos químicos da mão recaída em seu natural e lento grau de vibração. Quando batemos na mão fazendo com que “acorde”, por assim dizer, a sensação peculiar de formigamento que temos é causada pelos pontos do Corpo Vital que, então, entram novamente nos átomos adormecidos da mão, iniciando uma vibração renovada.
O Corpo Vital deixa o Corpo Denso de modo semelhante à quando uma pessoa está morrendo. Afogados que foram ressuscitados experimentam uma intensa agonia causada pela entrada desses pontos que eles sentem como um formigamento.
Durante o dia, quando o fluido solar está sendo absorvido pelo ser humano em grande quantidade, estes pontos do Corpo Vital são estendidos ou expandidos, por assim dizer, pelo fluido vital, mas à medida que o dia passa e os venenos da deterioração obstruem o Corpo Denso cada vez mais, o fluido vital flui menos rapidamente; à noite, chega a hora em que os pontos no Corpo Vital não conseguem um suprimento completo do fluído vital, eles murcham e os átomos do Corpo movem-se mais vagarosamente em consequência. Então, o Ego sente o Corpo pesado e cansado. Finalmente, chega a hora em que, por assim dizer, o Corpo Vital entra em colapso e as vibrações dos átomos densos se tornam tão vagarosas que o Ego não pode mais mover o Corpo. É forçado a retirar-se para que o veículo possa se recuperar. Então dizemos que o Corpo foi dormir.
No entanto, o sono não é um estado inativo; se fosse, não haveria diferença de manhã e nenhum poder de restauração durante o sono. A própria palavra restauração implica em atividade.
Quando um edifício ficou arruinado após uso constante e é necessário renová-lo e restaurá-lo, os moradores têm que se mudar para dar aos trabalhadores liberdade de ação. Por razões semelhantes, o Ego sai da sua moradia à noite. Assim como os operários trabalham no prédio para que fique adequado à reocupação, assim também, o Ego tem que trabalhar sua moradia antes que ela esteja pronta para ser reocupada. E este trabalho é feito por nós durante a noite, embora não estejamos conscientes dele nas nossas horas de vigília. É esta atividade que remove o veneno do sistema e, como resultado, o Corpo está restaurado e vigoroso de manhã, quando o Ego entra na hora do despertar. Depende da maneira pela qual usamos nosso Corpo Denso durante o dia, o tempo que o Corpo de Desejos necessita para realizar o trabalho de restauração do ritmo do Corpo Vital e do Corpo Denso. Se usarmos nosso Corpo estrenuamente durante o dia, naturalmente as desarmonias serão proeminentes e o Corpo de Desejos levará a maior parte da noite para restaurar a harmonia e o ritmo. Em consequência, o ser humano estará atado ao seu Corpo dia e noite. Mas, quando ele aprende a agir inteligentemente, controla sua energia durante o dia e não gasta sua força com palavras e ações desnecessárias, quando ele começa a dominar seu temperamento e para com a desarmonia proveniente de observações incorretas, o Corpo de Desejos não fica ocupado durante todo o sono restaurando o Corpo Denso. Uma parte da noite pode ser usada para trabalhar fora. Se os centros sensoriais do Corpo de Desejos estão suficientemente desenvolvidos, como acontece com a maioria das pessoas inteligentes, o ser humano pode soltar as amarras e penetrar no Mundo do Desejo. Ele percebe as cenas, embora não se lembre delas até que tenha efetuado a separação entre a parte superior e a inferior do Corpo Vital, como foi previamente explicado.
No sono natural, o Ego, revestido pela Mente e pelo Corpo de Desejos, se retira do Corpo Denso e, geralmente, paira sobre o Corpo, ou pelo menos permanece perto dele, conectado pelo Cordão Prateado, enquanto o Corpo Vital e o Corpo Denso estão descansando sobre a cama.
É, então, possível influenciar a pessoa, instilando no seu cérebro pensamentos e ideias que desejamos comunicar. No entanto, não podemos fazer com que ela faça qualquer coisa ou nutra qualquer ideia, exceto aquela que está de acordo com seu temperamento. É impossível dar ordens para que ela faça algo e forçar obediência, como acontece quando alguém foi tirado de seu estado consciente pelos passes de um hipnotizador, pois, é o cérebro que move os músculos; e, durante o sono natural seu cérebro está interpenetrado por seu próprio Corpo Vital e ele está em perfeito controle de si mesmo, enquanto que, durante o sono hipnótico, os passes do hipnotizador afastam o Éter do seu cérebro, em direção aos ombros da vítima; esse Éter fica em volta do pescoço, lembrando a gola de um suéter. O cérebro denso é, então, aberto ao Éter do Corpo Vital do hipnotizador, que substitui o Éter do próprio dono. Consequentemente, no sono hipnótico, a vítima não tem escolha quanto às ideias que tem, ou aos movimentos que faz com seu Corpo, enquanto, no sono comum, a pessoa é sempre um agente livre. De fato, este método de sugestão durante o sono é algo que as mães acharão extremamente benéfico no tratamento de crianças teimosas, pois se a mãe se sentar perto da cama da criança que dorme, segurar sua mão, conversar com ela como se ela estivesse acordada, instilar em seu cérebro ideias que gostaria que ela tivesse, ela verá que no estado de vigília muitas destas ideias criarão raízes. Também, ao lidar com uma pessoa que é doente ou viciada em bebida, se a mãe, enfermeira ou outra pessoa usar este método, será possível instilar esperança, cura e recuperação futura ou ajudar no seu autocontrole.
Este método pode, naturalmente, ser usado para o mal, mas não podemos deixar de publicá-lo, já que acreditamos que o bem que pode ser feito deste modo irá compensar mais do que os poucos casos em que pessoas, de má índole, possam usar o método com propósito errado.
Do ponto de vista de uma só vida, os métodos, como, por exemplo, aqueles empregados pelos curadores do movimento de Emmanuel[9], são indubitavelmente produtores de um imenso benefício. O paciente, sentado numa cadeira, é posto para dormir e, lá, ele recebe certas “sugestões”, como são chamadas. Ele se levanta e está curado de seu mau hábito. Se for um alcoólatra, ele se torna um cidadão respeitável que se preocupa com sua esposa e família e, sob esse aspecto, o benefício é inegável.
Porém, olhando mais profundamente pela ótica do ocultista, que vê essa vida como sendo uma em muitas, e observando o efeito que isso tem sobre os veículos invisíveis do ser humano, o caso é completamente diferente. Quando um ser humano entra num sono hipnótico, o hipnotizado faz passes sobre ele que têm o efeito de expelir o Éter da cabeça do seu Corpo Denso e substituí-lo pelo do hipnotizador. O ser humano fica então sob total domínio do outro. Não tem vontade própria e, por isso, as chamadas “sugestões” são na realidade comandos que a vítima não tem outra escolha senão obedecer. Além disso, quando o hipnotizador retira seu Éter e acorda a vítima, é incapaz de remover todo o Éter que ele colocou nela. Similarmente, assim como uma partícula do magnetismo infundida num dínamo elétrico, antes de ser ligado pela primeira vez, permanece como magnetismo residual para ativar os campos do dínamo toda vez que ele é ligado, assim também lá permanece uma partícula do Éter do Corpo Vital do hipnotizador na medula oblongada da vítima, que é um bastão que o hipnotizador mantém sobre ela em toda sua vida, e é devido a este fato que as sugestões a serem executadas num período subsequente ao despertar da vítima são invariavelmente seguidas.
Na hora da morte, há uma separação no Corpo Vital e a parte superior entra nos Mundos invisíveis. Seu Átomo-semente é retido pelo Ego ao passar pelos Mundos celeste para ser usado como um núcleo para o Corpo Vital de um futuro renascimento.
Esta vida na Terra dura até que o ciclo de acontecimentos prenunciados na roda do destino, o horóscopo, tenha se completado. E quando o Espírito de novo alcança o reino de Samael, o Anjo da Morte, a mística oitava Casa, o Cordão Prateado se rompe e o Espírito retorna a Deus, até que a aurora de outro dia na Escola da Terra o chame a um novo nascimento para que adquira mais conhecimento nas artes e ofícios da construção do templo.
Por meio da morte foi possível para os Anjos ensinar a Humanidade, entre a morte e um novo nascimento, a construir um Corpo gradualmente melhor. Tivesse o ser humano aprendido, num passado longínquo, a renovar seu Corpo Vital como foi ensinado a gerar um veículo denso à sua vontade, então a morte teria sido de fato uma impossibilidade e o ser humano teria se tornado imortal como os deuses. Porém, ele teria imortalizado suas imperfeições e o progresso teria sido impossível. É a renovação deste Corpo Vital que está expressa na Bíblia como “comer da Árvore da Vida”. Quando o ser humano recebeu esclarecimento relativo à procriação, ele era um ser espiritual cujos olhos não estavam ainda cegos pelo mundo material e podia ter aprendido o segredo da vitalização de seu corpo segundo sua vontade, consequentemente frustrando a evolução. Daí vemos que a morte, quando ela vem naturalmente, não é uma maldição, mas nossa maior e melhor amiga, pois ela nos livra de um instrumento com o qual não mais podemos aprender; ela nos tira de um ambiente que não nos serve mais para que possamos aprender a construir um Corpo melhor em um ambiente de maior amplitude no qual poderemos fazer mais progresso em direção à meta da perfeição.
Durante a vida, o colapso do Corpo Vital à noite limita nossa visão do mundo em torno de nós, e nos perdemos na inconsciência do sono. Quando o Corpo Vital sofre um colapso logo após a morte e o panorama da vida está terminado, nós também perdemos a consciência por um tempo que varia de acordo com o indivíduo. Uma escuridão parece cair sobre o Espírito. Então, após algum tempo, ele acorda e começa indistintamente a perceber a luz do outro mundo, e só se acostuma às novas condições gradualmente. É uma experiência parecida com aquela que temos quando saímos de um quarto escuro para a luz do Sol, que nos cega com seu brilho, até que as pupilas de nossos olhos se contraem de modo a admitir a quantidade de luz suportável por nosso organismo.
Quando um ser humano passa pela morte, ele leva consigo a Mente, o Corpo de Desejos e o Corpo Vital, sendo este último o armazém das cenas de sua vida passada. E, durante três dias e meio após a morte estas cenas são gravadas no Corpo de Desejos para formar a base de sua vida no Purgatório e no Primeiro Céu, onde o mal é expurgado e o bem assimilado. A experiência da vida em si é esquecida, assim como esquecemos o processo de aprender a escrever, mas retemos a faculdade. Assim, o extrato cumulativo de todas as suas experiências, tanto das vidas passadas e das existências anteriores no Purgatório e nos vários Céus, é retido pelo ser humano e formam seu patrimônio no próximo nascimento. As dores que ele suportou falam-lhe como a voz da consciência, e o bem que ele fez lhe dá um caráter cada vez mais altruísta.
Não importa por quantos anos possamos evitar que o Espírito efetue sua passagem, pois, finalmente, chega a hora em que nenhum estimulante pode manter o corpo vivo e o último suspiro é dado. Então, o Cordão Prateado, do qual fala a Bíblia, que mantém os veículos superiores e inferiores juntos, rompe-se repentinamente no coração e faz com que este órgão pare. Sua ruptura liberta o Corpo Vital e ele, com o Corpo de Desejos e a Mente, flutua sobre o Corpo visível por um tempo que vai de um a três dias e meio, enquanto o Espírito está ocupado em rever a vida passada, uma parte excessivamente importante de sua experiência pós-morte. Desta recapitulação depende toda sua existência desde a morte até um novo nascimento.
Todos os povos antigos, tanto no Oriente como no Ocidente, sabiam muito sobre nascimento e morte, o que foi esquecido nos tempos modernos, porque uma segunda visão prevalecia entre eles naquela época. Até o presente (época em que o livro foi escrito), por exemplo, muitos camponeses na Noruega afirmam possuir a capacidade de ver o Espírito saindo do Corpo na morte, como uma nuvem branca e fina que é, naturalmente, o Corpo Vital; e o ensinamento Rosacruz que afirma que os mortos pairam em volta de sua morada terrena, por algum tempo depois da morte, adotam um corpo luminoso e são penosamente afligidos pela dor de seus entes queridos, foi um conhecimento comum entre os antigos que viviam no Norte. Quando o falecido Rei Helge da Dinamarca se materializou para aliviar a dor de sua esposa, e ela exclamou angustiada: “O orvalho da morte banhou teu corpo guerreiro”, ele respondeu:
És tu, Sigruna,
A única causa
De que Helge seja banhado
Pelo orvalho da tristeza.
Não queres pôr fim a teu pesar
Nem as amargas lágrimas secar.
Cada lágrima ensanguentada
Cai em meu peito gelada
Elas não me deixam descansar.
Quando a autora de “O Ministério dos Anjos”[10] tinha seus dezoito anos, uma amiga chamada Maggie, de repente, ficou muito doente e morreu em seus braços. Imediatamente depois que seu coração parou de bater, ela diz, “E vi, distintamente, algo semelhante à fumaça ou vapor que sobe de uma chaleira, na qual a água está fervendo, ascender de seu corpo. A emanação subiu só até uma certa altura e lá tomou a forma de minha amiga que tinha acabado de falecer. Esta forma, indefinida a princípio, gradualmente se transformou até se tornar nítida e revestida por uma roupagem que parecia uma nuvem branco-perolada, embaixo da qual os contornos da pessoa eram distintamente visíveis. A face era a da minha amiga, mas glorificada sem nenhum traço de espasmo da dor que tinha se apoderado dela momentos antes de sua morte”.
Isto é exatamente o que temos ensinado: no momento da morte, quando o Cordão Prateado se rompe no coração, o Corpo Vital se retira através das suturas do crânio e paira alguns centímetros acima do Corpo.
Quando um Espírito está se desprendendo do Corpo, ele leva com ele o Corpo de Desejos, a Mente e o Corpo Vital, e este é, naquela hora, o armazém das cenas da vida que termina. Estas cenas são então gravadas no Corpo de Desejos durante três dias e meio imediatamente após a morte. Então, o Corpo de Desejos transforma-se no árbitro do destino do ser humano no Purgatório e no Primeiro Céu. Os sofrimentos causados pela purgação do mal e a alegria causada pela contemplação do bem são levados para a próxima vida como consciência, para deterem o ser humano da perpetuação dos erros das vidas anteriores e induzi-lo a fazer o que causou alegria na vida anterior de modo mais abundante.
No momento da morte, quando o Átomo-semente do coração que contém toda a experiência da vida passada em uma imagem panorâmica se rompe, o Espírito deixa seu Corpo Denso, levando consigo os Corpos mais sutis. Ele paira sobre o Corpo Denso que agora está morto, como se diz comumente, por um tempo que varia de algumas horas até três dias e meio. O fator determinante do tempo é a força do Corpo Vital, veículo que constitui o Corpo-Alma de que a Bíblia fala. Há então uma reprodução pictórica da vida, um panorama em ordem inversa, da morte ao nascimento, e as cenas são gravadas sobre Corpo de Desejos por meio do Éter Refletor neste Corpo Vital. Durante este período, a consciência do Espírito está concentrada no Corpo Vital, ou pelo menos deveria estar, e não tem, por isso, nenhum sentimento a respeito. As cenas que são impressas sobre o veículo do sentimento e da emoção, o Corpo de Desejos, são a base do subsequente sofrimento da vida no Purgatório pelas más ações, e de satisfação no Primeiro Céu, devido ao que foi feito de bom na vida que passou.
Estes foram os principais fatos que o autor foi capaz de observar, pessoalmente, sobre a morte no período em que os Ensinamentos lhe foram dados e quando ele foi apresentado, por ajuda do Mestre, às reproduções panorâmicas da vida de pessoas que estavam passando pelo portal da morte; investigações de anos mais tarde revelaram o fato adicional de que há um outro processo em andamento durante estes dias importantes que seguem o da morte.
Uma separação acontece no Corpo Vital, semelhante àquela do processo de Iniciação. Grande parte deste veículo, que pode ser chamado de “alma”, une-se com os veículos superiores e é a base da consciência nos Mundos invisíveis depois da morte. A parte inferior, que é descartada, volta ao Corpo Denso e flutua sobre o túmulo, na maioria dos casos, como está declarado no Conceito Rosacruz do Cosmos. Esta separação no Corpo Vital não é a mesma em todas as pessoas, mas depende da natureza da vida vivida e do caráter da pessoa que se vai. Em casos extremos, esta divisão é muito diferente do normal. Este ponto importante foi descoberto em muitos casos de suposta obsessão que foram investigados pela Sede Central. De fato, foram estes casos que desenvolveram as extensas e estarrecedoras descobertas reveladas por nossas mais recentes pesquisas sobre a natureza da obsessão, que pessoas que apelaram para nós estavam sofrendo. Como era esperado, naturalmente, a divisão nestes casos mostrava uma preponderância do mal, e esforços foram então feitos para descobrir se não havia também uma outra classe de pessoas onde uma divisão diferente, com preponderância de bem, acontece. É um prazer registrar que isto realmente acontecia e, depois de pesar os fatos descobertos, comparando um com outro, o que segue parece ser a correta descrição das condições e suas razões:
O Corpo Vital tem o objetivo de construir o físico toda vez que nossos desejos e emoções o destroem. É a luta entre o Corpo Vital e o de Desejos que produz consciência no Mundo Físico e que endurece os tecidos, de forma que o corpo brando da criança se torna rijo e encolhido na idade avançada, seguido pela morte. A moralidade ou imoralidade de nossos desejos e emoções age de maneira similar no Corpo Vital. Quando a devoção a elevados ideais é a mola mestra da ação, quando se permite que a natureza devocional se expresse livremente e frequentemente por muitos anos e, particularmente, quando isto foi acompanhado pelos exercícios científicos[11] dados aos Probacionistas na Fraternidade Rosacruz, a quantidade de Éter Químico e de Vida gradualmente diminui, enquanto os apetites carnais se desvanecem e uma quantidade aumentada de Éter Luminoso e Refletor toma o lugar deles. Como consequência, a saúde física não é tão boa entre aqueles que seguem o caminho superior, como entre aqueles cuja indulgência com a natureza inferior atrai os Éteres: Químico e de Vida numa proporção tal que os leva à parcial ou total exclusão dos dois Éteres Superiores.
Várias consequências muito importantes conectadas com a morte seguem este fato. Como é o Éter Químico que cimenta as moléculas do corpo em seus lugares e as mantém lá durante a vida, quando somente uma mínima parte deste Éter está presente, a desintegração do veículo físico depois da morte é muito rápida.
Na morte, a separação acontece. O Átomo-semente é retirado do ápice do coração pelo saturnino nervo pneumogástrico através dos ventrículos e pelo crânio (Gólgota); todos os átomos do Corpo Vital são liberados da cruz do Corpo Denso pelo mesmo movimento espiral que desatarraxa cada átomo prismático de Éter de sua envoltura física.
Este processo se desenvolve com maior ou menor violência de acordo com a causa da morte. Uma pessoa de idade, cuja vitalidade foi vagarosamente diminuindo, pode dormir e acordar no outro lado do véu sem a menor consciência de como a mudança acontece; uma pessoa devota e religiosa, que se preparou pela prece e meditação sobre o além, também será capaz de fazer uma passagem fácil; pessoas que morrem congeladas encontram o que o autor acredita ser a mais fácil maneira de morrer por acidente, sendo que o afogamento é a segunda melhor situação.
Porém, quando uma pessoa é jovem e saudável, especialmente se tem uma maneira de pensar materialista ou não religiosa, o átomo etéreo prismático está tão fortemente entrelaçado pelo átomo físico que um puxão considerável é necessário para separar o Corpo Vital. Quando a separação entre o Corpo Denso e os veículos superiores foi concluída e a pessoa está morta, como normalmente se diz, os Éteres Luminoso e Refletor se separam do átomo prismático. É esta matéria, como está explicado no Conceito Rosacruz do Cosmos, que é modelada em imagens da última vida e gravada no Corpo de Desejos, que então começa a fazer sentir tudo o que houve de sofrimento ou de prazer na vida. A parte do Corpo Vital composta pelos átomos prismáticos Químico e de Vida então retornam ao Corpo Denso, pairando acima da sepultura e desintegrando-se sincronicamente com ele.
Os veículos superiores – Corpo Vital, de Desejos e Mente – são vistos deixando o Corpo Denso com um movimento em espiral, levando com eles a alma de um átomo denso. Não o átomo em si, mas as forças que trabalharam através dele. Os resultados das experiências passadas por meio do Corpo Denso durante a vida que terminou foram impressos neste átomo específico. Enquanto todos os outros átomos do Corpo Denso se renovaram de tempos em tempos, este átomo é permanente. Permanece estável não só durante uma vida, mas foi parte de todos os Corpos Densos usados pelo Ego. Ele é retirado na morte só para despertar na aurora de uma outra vida física para servir, outra vez, como núcleo em torno do qual é construído o novo Corpo Denso a ser usado pelo mesmo Ego. É, por isso, chamado de Átomo-semente. Durante a vida, o Átomo-semente está situado no ventrículo esquerdo do coração, perto do ápice. Na morte, ele sobe ao cérebro, passando pelo nervo pneumogástrico, deixando o Corpo Denso juntamente com os veículos superiores, pelo caminho da sutura entre os ossos parietal e occipital.
Quando os veículos superiores deixam o Corpo Denso, eles ficam ainda conectados por um fino, brilhante e prateado Cordão em forma muito parecida a dois seis invertidos, um na vertical e outro na horizontal, conectados nas extremidades do gancho.
Uma extremidade se liga ao coração por meio do Átomo-semente, e é a ruptura deste átomo que faz parar o coração. O Cordão não se rompe até que o panorama da vida, contido no Corpo Vital, tenha sido revisto.
Deve-se tomar cuidado, no entanto, para não cremar ou embalsamar o Corpo até pelo menos três dias após a morte, pois enquanto o Corpo Vital está com os veículos superiores e eles estão ainda conectados com o Corpo Denso por meio do Cordão Prateado, qualquer exame pós-morte ou ferimento praticado no Corpo Denso será sentido de certo modo pelo morto. A cremação deve ser particularmente evitada nos três primeiros dias depois da morte porque tende a desintegrar o Corpo Vital, o qual deve permanecer intacto até que o panorama da última tenha sido gravado no Corpo de Desejos.
O Cordão Prateado se rompe no ponto em que os dois seis se unem, metade permanecendo com o Corpo Denso e a outra metade com os veículos superiores. No momento em que o cordão se rompe, o Corpo Denso está morto.
No início do ano de 1906 o Dr. Mc Dougall[12] fez uma série de experiências no Hospital Geral de Massachusetts para determinar, se possível, se alguma coisa invisível deixava o Corpo por ocasião da morte. Para este fim, ele construiu uma balança capaz de registrar diferenças de um décimo de uma onça[13].
A pessoa agonizante e sua cama foram colocadas numa das plataformas da balança que foi equilibrada por pesos colocados na plataforma oposta. No exato momento em que a pessoa deu seu último suspiro, a plataforma que continha os pesos, subitamente e surpreendentemente, desceu, elevando a cama e o corpo, mostrando que algo invisível, mas tendo peso, tinha deixado o corpo. Logo após, os jornais de todo o país anunciaram em brilhantes manchetes que o Dr. Mc Dougall tinha “pesado a alma”.
O ocultismo aclama com alegria as descobertas da ciência moderna, quando elas invariavelmente corroboram com o que a ciência oculta vem ensinando há muito tempo. As experiências do Dr. Mc Dougall mostraram conclusivamente que algo oculto para a visão comum deixou o Corpo na hora da morte, como os Clarividentes treinados têm visto e tem sido afirmado em palestras e literatura muitos anos antes da descoberta do Dr. Mc Dougall.
Mas esta “coisa” invisível não é a alma. Há uma grande diferença. Os repórteres tiraram conclusões erradas quando afirmaram que os cientistas tinham “pesado a alma”. A alma pertence aos planos superiores e não pode nunca ser pesada em balanças físicas, embora eles tenham registrado variações de um milionésimo de um grão em vez de um décimo de uma onça.
Foi o Corpo Vital que os cientistas pesaram. Ele é formado pelos quatro Éteres que pertencem ao Mundo Físico.
Como vimos, uma quantidade de Éter é adicionada ao Éter que envolve as partículas do corpo humano e é confinada lá durante a vida física, aumentando em pequeno grau o peso do Corpo Denso da planta, do animal e do ser humano. Na morte, ele escapa, daí a diminuição do peso notada pelo Dr. Mc Dougall quando as pessoas que ele observou expiraram.
Esta característica da vida após a morte é similar à que acontece quando alguém está se afogando ou caindo de grande altura. Nestes casos, o Corpo Vital também deixa o Corpo Denso e o ser humano vê sua vida num relance porque ele perde a consciência simultaneamente. É evidente que o Cordão Prateado não está rompido ou ele não voltaria à vida.
Quando a força do Corpo Vital atingiu seu limite, ele entra em colapso da forma descrita quando estávamos considerando o fenômeno do sono. Durante a vida física, quando o Ego controla seus veículos, este colapso interrompe com as horas de vigília; depois da morte, o colapso do Corpo Vital conclui o panorama da vida e força o ser humano a entrar no Mundo do Desejo. O Cordão Prateado se rompe no ponto em que os seis se unem e a mesma divisão que se processa durante o sono é feita, mas com uma importante diferença, a de que embora o Corpo Vital retorne ao Corpo Denso, ele não mais o interpreta, mas simplesmente paira sobre ele. Ele permanece flutuando sobre o túmulo, desintegrando-se sincronicamente com o veículo denso. Daí, para o Clarividente treinado ser o cemitério uma visão repugnante e, se mais pessoas pudessem ver, pouco seria preciso para induzir as mesmas a mudar o método não higiênico de acomodar os mortos para o método mais racional da cremação, que retorna os elementos à sua condição primordial sem as desagradáveis características inerentes ao processo de desintegração lenta.
O processo de abandono do Corpo Vital é muito parecido ao do Corpo Denso. As forças vitais de um átomo são levadas para serem usadas como núcleo do Corpo Vital do futuro renascimento. Assim, quando entra no Mundo do Desejo, o ser humano tem os Átomos-semente dos Corpos Denso e Vital além de seu Corpo de Desejos e da Mente.
Quando uma pessoa morre, parece que seu Corpo Vital se avoluma; ela tem a sensação de crescer em imensas proporções. Esta impressão não é devida ao fato de que o Corpo cresça realmente, mas de que as faculdades de percepção recebam tantas impressões de várias fontes, tudo parecendo estar perto e à mão.
Quando o ser humano morre e perde seus Corpos Denso e Vital, a situação é a mesma de quando alguém dorme. O Corpo de Desejos, como foi explicado, não tem órgãos prontos para serem usados. É agora transformado de um ovoide para uma figura que se parece com o Corpo Denso que ele abandonou. Podemos facilmente compreender que deve haver um intervalo de inconsciência parecida com o sono e, então, o ser humano acorda no Mundo do Desejo. No entanto, frequentemente acontece que estas pessoas ficam incapazes de entender o que lhes aconteceu por um longo período. Não compreendem que morreram. Elas sabem que são capazes de se mover e de pensar. É às vezes, muito difícil fazê-las acreditar que estão verdadeiramente “mortas”. Elas sabem que algo está diferente, mas não são capazes de entender o que é.
Quando o momento que marca o fim da vida no Mundo Físico chega, a utilidade do Corpo Denso termina e o Ego retira-se pela cabeça, levando consigo a Mente e o Corpo de Desejos, como acontece todas as noites durante o sono; mas, agora, o Corpo Vital está inútil e se retira também, e quando o “Cordão Prateado” que uniu os veículos superiores com os inferiores se rompe, não pode ser reparado.
Lembramos que o Corpo Vital é composto de Éter, sobreposto ao Corpo Denso da planta, animal e do ser humano durante a vida. Éter é matéria física e, por isso, tem peso. A única razão pela qual os cientistas não podem pesá-lo é porque são incapazes de juntar uma quantidade e colocá-lo numa balança. Mas quando ele deixa o Corpo Denso na morte, uma diminuição de peso acontece, mostrando que algo que tinha peso, embora invisível, deixou o Corpo Denso naquele momento.
O Cordão Prateado que une os veículos superiores e os inferiores termina no Átomo-semente no coração. Quando a vida material finda de maneira natural, as forças do Átomo-semente se desprendem, passam pelo nervo pneumogástrico atrás da cabeça e ao longo do Cordão Prateado, junto com os veículos superiores. É a ruptura no coração que marca a morte física, mas o Cordão Prateado não se rompe em certos casos por vários dias.
Na palestra nº 3, dissemos que o Corpo Vital é o armazém das memórias consciente e inconsciente; sobre o Corpo Vital, todos os atos e experiências da vida que passou são gravados indelevelmente como uma paisagem sobre uma placa fotográfica exposta. Quando o Ego se retira do Corpo Denso, toda a vida registrada na memória é exposta aos olhos da Mente. É o afrouxamento parcial do Corpo Vital que faz com que uma pessoa que está se afogando veja sua vida, mas só de relance, precedendo a inconsciência; o Cordão Prateado permanece intacto, ou não haveria volta à vida. No caso do Espírito passando pela morte, o movimento é mais lento; o ser humano é um espectador enquanto as imagens se sucedem na ordem inversa, da morte para o nascimento, de modo que ele vê primeiro os acontecimentos anteriores à morte e então os anos da vida adulta se desenrolam; juventude e infância seguem até terminar no nascimento. O ser humano, no entanto, não tem nenhum sentimento a respeito. O objetivo é meramente gravar o panorama no Corpo de Desejos, que é o assento do sentimento, e, dessa gravação, o sentimento será extraído quando o Ego entrar no Mundo do Desejo, mas podemos notar aqui que a intensidade do sentimento depende do tempo consumido no processo de gravação e da atenção dada a isso pelo ser humano. Se ele não for incomodado por longo período por barulho ou histeria, uma profunda e clara impressão será feita sobre o Corpo de Desejos. Ele sentirá o mal que fez mais agudamente no Purgatório e suas boas qualidades serão abundantemente reforçadas no Céu e, embora a experiência seja esquecida na vida futura, os sentimentos permanecerão como uma “voz silenciosa”. Quando os sentimentos penetram profundamente no Corpo de Desejos de um Ego, esta voz não falará com palavras vagas ou incertas. Isso, o impelirá, sem dúvida, forçando-o a desistir daquilo que causou sofrimento na vida anterior e compelindo-o a ceder ao que é bom. Por isso, o panorama passa em ordem inversa de modo que o Ego primeiro vê os efeitos e depois as respectivas causas.
No que diz respeito ao que determina a duração do panorama, lembramos que foi o colapso do Corpo Vital que forçou os veículos superiores a se retirarem; assim, depois da morte, quando o Corpo Vital entra em colapso, o Ego tem que se retirar e então o panorama chega ao fim. A duração do panorama depende, por isso, do tempo que a pessoa possa permanecer desperta. Algumas pessoas podem ficar despertas só umas poucas horas, outras aguentam alguns dias, dependendo da força de seu Corpo Vital.
Quando o Ego deixa o Corpo Vital, este gravita de volta ao Corpo Denso, pairando acima do túmulo, desintegrando-se com o Corpo Denso e é realmente uma visão repugnante ao Clarividente atravessar um cemitério e observar todos aqueles Corpos Vitais, cujo estado de decomposição claramente indicam o estado de deterioração do que está na sepultura. Se houvesse mais Clarividentes, a incineração seria logo adotada como medida de proteção aos nossos sentimentos, além das razões higiênicas.
Nossas últimas investigações indicam que, quando um ser humano espiritualiza seus veículos, a constituição do Corpo Vital, formado de Éter, é transformada. No ser humano comum há sempre uma preponderância dos dois Éteres Inferiores – o Éter Químico e o de Vida – que têm a ver com a construção e a propagação do Corpo Denso, e um mínimo de Éter Luminoso e Refletor, que têm relação com a percepção sensorial e com as elevadas qualidades espirituais. Após a morte, o Corpo do ser humano comum é colocado no túmulo e o Corpo Vital paira cerca de dois pés[14] acima do túmulo, gradualmente se desintegrando. O Corpo Denso se desintegra simultaneamente. No entanto, quando dizemos que ele se deteriora, realmente queremos dizer que ele se torna mais vivo do que era quando o ser humano o habitava, pois, cada pequena molécula se encarrega agora de uma vida individual separada. Ela começa a se associar com suas vizinhas e a unidade de uma vida individual é substituída por uma comunidade de muitas vidas.
Portanto, falamos de tais cadáveres em decomposição como estando vivos e cheios de vermes. Quanto mais denso e grosseiro este veículo for, mais tempo ele precisará para se decompor, porque o Corpo Vital pairando acima dele tem um domínio magnético tenaz que mantém as moléculas densas controladas. Os dois Éteres Superiores vibram numa frequência muito mais rápida que os Inferiores e, quando um ser humano, com pensamentos espirituais, reuniu em torno dele um grande volume deste Éteres que compõe seu Corpo Vital, as vibrações do Corpo Denso também se tornam mais intensas. Consequentemente, quando um ser humano deixa seu corpo na morte, há pouco ou nada do Corpo Vital deixado para trás para manter os componentes do Corpo Denso sob controle. A desintegração é, portanto, muito rápida. Isto não pode ser facilmente provado porque muito poucas pessoas são suficientemente espiritualizadas para que a diferença seja notada, mas você deve se lembrar de que na Bíblia está escrito que certos personagens foram trasladados. O corpo de Moisés era tão vibrante que brilhava e não foi encontrado, etc. Estes foram casos em que o corpo rapidamente retornou aos elementos e, quando o corpo de Cristo foi colocado no túmulo, sua desintegração foi quase instantânea.
No entanto, enquanto o arquétipo do Corpo Denso persiste, ele se esforça em atrair para si matéria física que ele modela de acordo com a forma do Corpo Vital. Assim é difícil para o Auxiliar Invisível que sai de seu Corpo abster-se de se materializar. No momento em que ele relaxa a sua vontade de manter longe de si todos os impedimentos físicos, matéria da atmosfera que o circunda se adere a ele, como as limalhas do ferro são atraídas para o ímã, e ele se torna visível e tangível quanto desejar. Consequentemente, ele é capaz de realizar um trabalho físico onde for necessário, não importa que esteja milhares de milhas longe de seu corpo. Por outro lado, o que realmente provoca a morte é o colapso do arquétipo do Corpo Denso. Portanto, os Espíritos que fazem a passagem desta vida terrena são incapazes de se materializar, salvo através de um médium quando eles extraem seu Corpo Vital, revestem-se com ele e, então, atraem as substâncias necessárias para fazê-los visíveis para os espectadores.
Durante a vida e no estado de consciência de vigília, os veículos do Ego estão todos juntos e concêntricos, mas, na morte o Ego, revestido pela Mente e pelo Corpo de Desejos, retira-se do Corpo Denso e, como as funções vitais estão no fim, o Corpo Vital é também retirado do Corpo Denso, deixando-o inanimado sobre a cama. Um pequeno átomo no coração é retirado e o resto do corpo se desintegra a seu tempo. Mas, neste momento, há um processo extremamente importante se realizando e os que velam o Espírito, que se vai, devem ser muito cuidadosos para que a máxima quietude reine lá e em toda a casa, pois as imagens da vida que passou e que estão armazenadas no Corpo Vital estão passando diante dos olhos do Espírito numa lenta e ordenada progressão, em ordem inversa, desde a morte até o nascimento. Este panorama da vida dura de algumas horas até três dias e meio. O tempo depende da força do Corpo Vital, o que determina quanto tempo um ser humano pode ficar desperto sob o mais severo estresse. Algumas pessoas podem trabalhar cinquenta, sessenta ou setenta horas antes de caírem exaustos, enquanto outras são capazes de ficar despertas somente algumas poucas horas. A razão pela qual é importante que deva haver silêncio na casa durante os três dias e meio imediatamente seguintes à morte é: durante este tempo, o panorama da vida está sendo gravado no Corpo de Desejos, que será o veículo enquanto o ser humano permanecer no Purgatório e no Primeiro Céu, onde ele irá colher o bem e o mal que semeou, de acordo com suas ações praticadas quando estava em seu Corpo Denso.
Quando a vida está cheia de acontecimentos e o Corpo Vital do ser humano está forte, mais tempo será dedicado à esta gravação do que sob condições em que o Corpo Vital é fraco, mas durante todo este tempo o Corpo Denso está conectado com os veículos superiores pelo Cordão Prateado e qualquer ferimento no Corpo Denso é sentido de certa forma pelo Espírito; assim, embalsamamento, exames pós-morte e cremação são todos sentidos. Portanto, eles devem ser evitados durante os três dias e meio depois da morte, pois quando o panorama foi completamente gravado no Corpo de Desejos, então o Cordão Prateado se rompe, o Corpo Vital gravita de volta ao Corpo Denso e não há mais conexão com o Espírito que está livre para ir para sua vida superior.
Quando o Corpo é enterrado, o Corpo Vital se desintegra vagarosamente junto com o Corpo Denso de forma que, por exemplo, quando um braço se desintegra, o braço etéreo do Corpo Vital que paira sobre o túmulo também desaparece, e assim acontece com todo o Corpo até que o último vestígio desapareça. Mas, quando a cremação é feita, o Corpo Vital se desintegra imediatamente e, também as imagens armazenadas da vida que terminou. Estas imagens são gravadas no Corpo de Desejos e formam a base da vida no Purgatório e no Primeiro Céu; se elas forem destruídas pela cremação efetuada antes que três dias e meio tenham passado, será uma grande calamidade para o Espírito. A menos que uma ajuda seja dada, o Espírito não poderá manter o Corpo Vital íntegro. E isto é parte do trabalho que é feito pelos Auxiliares Invisíveis a favor da Humanidade. Às vezes, eles são ajudados pelos Espíritos da Natureza e outros indicados pelas Hierarquias Criadoras ou líderes da Humanidade. Há também uma perda quando a pessoa é cremada antes que o Cordão Prateado se rompa naturalmente, a impressão sobre o Corpo de Desejos não é tão profunda quanto deveria ser e isto tem um efeito sobre as vidas futuras, pois quanto mais profundas sejam as impressões da vida que passou sobre o Corpo de Desejos, mais agudo será o sofrimento no Purgatório pelo mal cometido e mais forte será o prazer no Primeiro Céu, resultante do bem que foi praticado em vida. É o sofrimento e o prazer de nossas vidas passadas que criam o que chamamos de consciência, de forma que, se deixamos de sofrer, perdemos a noção que nos impedirá, nas vidas futuras, de cometer os mesmos erros repetidamente. Por isso, os efeitos negativos da cremação prematura são incalculáveis.
Um fenômeno similar ao panorama da vida geralmente acontece quando uma pessoa está se afogando. Pessoas que voltaram à vida dizem que viram sua vida toda num relance. Isto é porque, sob tais condições, o Corpo Vital se afasta do Corpo Denso. Naturalmente, não há ruptura do Cordão Prateado, ou a vida não poderia ser restaurada. Nos casos de afogamento, a pessoa se torna inconsciente, enquanto, na revisão pós-morte, a consciência continua até que o Corpo Vital entra em colapso da mesma maneira como acontece quando vamos dormir. Então, a consciência cessa por um momento e o panorama está terminado.
Portanto, o tempo ocupado pelo panorama também varia de pessoa para pessoa; depende de que o Corpo Vital esteja forte e saudável, ou tenha se tornado fino e definhado por doença prolongada. Quando mais tempo for gasto na revisão e mais silencioso e cheio de paz for o ambiente, mais profunda será a gravação que é feita no Corpo de Desejos.
Como já foi dito, isto tem um efeito importante e incalculável, pois então o sofrimento que o Espírito experimentará no Purgatório, devido aos maus hábitos e más ações, será mais profundo do que se ele tivesse só uma impressão superficial, e, numa vida futura, a voz silenciosa da consciência o avisará mais insistentemente contra os erros que causaram sofrimento no passado.
Desde quando o mundo existe, nunca houve tanto sofrimento universal quanto no presente (1914). E, além disso, não devemos esquecer que estamos armazenando para nós mesmos uma grande quantidade de sofrimento futuro, pois, como foi explicado na literatura Rosacruz, é impossível para estas pessoas que são agora tão cruéis e de repente são afastadas de seu corpo, reverem sua vida que passou porque a gravação do panorama da vida não se processa como deveria. Portanto, estes Egos não colherão o fruto de sua presente existência como deveriam fazê-lo no Purgatório e no Primeiro Céu. Eles voltarão em vida futura com esta experiência a menos e será necessário, para que possam recuperar o que perderam, morrer na infância de modo a terem seu novo Corpo de Desejos e Vital impressos com a essência de sua vida presente.
Vimos que, quando o Ego terminou seu dia na escola da vida, a Força centrífuga de Repulsão expulsou seu Corpo Denso na morte e depois seu Corpo Vital, que é o próximo em densidade. Depois, no Purgatório, a matéria de desejo mais densa acumulada pelo Ego como roupagem pelos seus desejos mais inferiores é purgada por esta força centrífuga. Nos planos mais elevados, só a Força de Atração domina e mantém o bem com ação centrípeta que tende a atrair tudo da periferia para o centro.
No Segundo Céu, tanto quanto no Corpo Vital o Espírito de Vida trabalhou, transformou, espiritualizou, e, portanto, salvou da decomposição a que o resto do Corpo Vital está sujeito, será amalgamado com o Espírito de Vida para garantir um Corpo Vital e um temperamento melhor nas vidas seguintes.
Quando o Ego, em sua peregrinação através dos Mundos invisíveis, chega ao ponto em que alcança o Terceiro Céu, depois de descartar o Corpo Denso na morte, o Corpo Vital logo depois, o Corpo de Desejos ao deixar o Purgatório e o Primeiro Céu e, finalmente, antes de deixar o Segundo Céu, ele, também deixa o revestimento da Mente para trás e, então, entra no Terceiro Céu completamente livre de empecilhos. Todos os veículos descartados se desintegram, só o Espírito persiste, banhando-se no grande reservatório de força espiritual a que chamamos de Terceiro Céu, a fim de se fortalecer para o próximo renascimento na Terra.
O Corpo Vital é composto de quatro Éteres. Os dois Éteres Inferiores são avenidas de crescimento e propagação. No Corpo Vital de uma pessoa cuja preocupação principal é a vida física, que vive inteiramente para o prazer sensual, estes dois Éteres predominam, enquanto numa pessoa que é bastante indiferente à satisfação material e procura avançar espiritualmente, os dois Éteres Superiores formam a parte mais volumosa do Corpo Vital. Eles são o que São Paulo chama de soma psuchicon ou Corpo-Alma que permanece com o ser humano durante suas experiências no Purgatório e no Primeiro Céu, onde a essência da vida é extraída. Este extrato é a alma, cujas principais qualidades são consciência e virtude. A consciência é o fruto dos erros das vidas passadas que, no futuro, guiará o Espírito corretamente e o ensinará como evitar passos errados semelhantes. Virtude é a essência de tudo o que foi bom nas vidas anteriores e age como um incentivo para manter o Espírito se esforçando ardentemente no caminho da aspiração. No Terceiro Céu a virtude é amalgamada e se torna parte do Espírito. Consequentemente, no curso de suas vidas, o ser humano se torna mais espiritualizado e as qualidades anímicas, consciência e virtude, tornam-se mais fortemente operantes guiando os princípios de conduta.
Porém, há pessoas de natureza tão inferior que levam uma vida de vícios e práticas degeneradas, uma vida brutal, tendo prazer em produzir sofrimento. Às vezes, elas cultivam as artes ocultas por propósitos de maldade para que possam ter mais poder sobre suas vítimas. Então, sua perversidade e práticas imorais resultam em um endurecimento do Corpo Vital.
Em tais casos extremos, quando a natureza animal foi predominante, onde não houve expressão de alma na última vida terrena, a divisão no Corpo Vital a que nos referimos antes não acontece na morte, pois não há linha divisória. Neste caso, se o Corpo Vital pudesse gravitar de volta ao Corpo Denso e lá gradualmente se desintegrar, o efeito da vida demoníaca não seria tão grande, mas, infelizmente, há, nestes casos, um entrelaçamento do Corpo Vital e do Corpo de Desejos que evita a separação. Vimos que, quando um ser humano vive mais sua natureza superior, seus veículos espirituais são alimentados em detrimento dos inferiores. Inversamente, quando sua consciência está centrada nos veículos inferiores, ele os fortalece imensamente. Deve-se compreender que a vida do Corpo de Desejos não termina pela partida do Espírito; ele tem uma vida residual e consciência. O Corpo Vital é também capaz de sentir, de certo modo, por alguns dias depois da morte nos casos comuns (daí o sofrimento causado pelo embalsamamento, exames pós-morte, etc., imediatamente depois da morte), mas quando uma vida inferior o endureceu e o alimentou com grande força, ele tem um tenaz apelo à vida e uma habilidade de se alimentar de odores e bebidas. Às vezes, como um parasita, ele age como um vampiro em pessoas com as quais entra em contato.
Estes seres, são, portanto, uma das grandes ameaças à sociedade. Eles já mandaram incontáveis vítimas para a prisão, destruíram lares e causaram uma quantidade inimaginável de infelicidade. Sempre abandonam suas vítimas quando elas são apanhadas pelas garras da lei. Regozijam-se com o sofrimento e a desgraça de suas vítimas, sendo isso uma parte de seu esquema diabólico. Há outras classes de seres que de deleitam em fazer-se passar por “anjos” nas sessões espíritas. Eles também encontram vítimas lá e ensinam-lhes práticas imorais. O chamado “Poltergeist”, que se diverte quebrando pratos, levantando mesas, fazendo voar chapéus sobre as cabeças de um público que vibra com estas brincadeiras, está também incluído neste grupo. A força e a densidade do Corpo Vital de tais seres facilitam mais as manifestações físicas do que naqueles que entram no Mundo do Desejo; de fato, o Corpo Vital deste grupo de Espíritos é tão denso que eles são quase físicos e tem sido um mistério para o autor que pessoas que são incorporadas por tais entidades não as possam ver. Fossem elas descobertas, a visão de suas faces demoníacas e zombeteiras apagariam a ilusão de que são anjos.
Toda vez que morre uma pessoa que abrigou malícia e ódio em seu coração, estes sentimentos entrelaçam o Corpo Vital e o de Desejos, e ela se transforma numa ameaça mais séria para a comunidade do que se pode imaginar.
Espíritos apegados à Terra são atraídos para as regiões inferiores do Mundo do Desejo que interpenetram o Éter e estão em constante contato com pessoas encarnadas mais favoráveis a ajudá-los em seus desejos maléficos. Em geral, eles ficam apegados à Terra por 50, 60 ou 75 anos, mas casos extremos foram encontrados em que tais seres permaneceram por séculos. Segundo o que o autor foi capaz de pesquisar até o presente, parece que não há limite para o que possam fazer ou por quanto tempo permanecerão. Porém, eles estão amontoando para si próprios uma terrível carga de pecado da qual não escaparão sem sofrer, pois, o Corpo Vital reflete e grava profundamente no Corpo de Desejos todas as suas más ações. E quando finalmente entrarem na existência purgatorial, encontrarão a retribuição que merecem. Este sofrimento é naturalmente longo, na proporção ao tempo em que eles continuaram suas práticas nefastas depois da morte do Corpo Denso – outra prova de que “Embora os moinhos de Deus moam vagarosamente, eles não deixam nada sem moer”.
A nuvem vermelha do ódio[15] está se desvanecendo, o véu negro do desespero se foi, não há explosões vulcânicas de paixão nem nos vivos nem nos mortos, mas de acordo com os sinais dos tempos, que o autor é capaz de ler na aura das nações, há um propósito definido de levar o processo até o fim. Mesmo nos lares privados de muitos membros, isto parece ser válido. Há uma intensa saudade dos amigos que estão no além, mas não há ódio pelo adversário na Terra. Esta saudade é compartilhada pelos amigos no Mundo invisível e muitos estão penetrando o véu, pois a intensidade da sua saudade está despertando nos “mortos” o poder de se manifestar, atraindo o Éter e o gás que frequentemente é tirado do Corpo Vital de um amigo “sensível”, da mesma forma como os Espíritos que se materializam usam o Corpo Vital de um médium incorporador. Assim, os olhos cegos pelas lágrimas são frequentemente abertos por um coração terno, de modo que pessoas queridas, agora no mundo do espírito, encontram-se outra vez face a face, coração a coração. Este é o método que a Natureza usa para cultivar o sexto sentido que, finalmente, capacita todos saber que o ser humano é um Espírito imortal e a continuidade da vida é uma realidade na natureza.
Em toda morte, as lágrimas derramadas servem para dissolver o véu que esconde o Mundo invisível de nossa contemplação saudosa. O sentimento de profunda saudade e a dor na partida de pessoas que se amam, tanto as que ficam como as que se vão, estão rasgando o véu e, num dia não muito distante, o efeito acumulado de tudo isto revelará o fato de que a morte não existe, e que aqueles que passaram além deste véu estão mais vivos do que nós. A potência destas lágrimas, desta dor e desta saudade não é igual em todos os casos. Os efeitos diferem muito, de acordo com o despertar do Corpo Vital de pessoas por atos de altruísmo e serviço, e de acordo com a máxima de que todo desenvolvimento ao longo das linhas espirituais começa no Corpo Vital. Ele é a base e nenhuma estrutura pode ser construída sem que esta fundação tenha sido colocada.
Quando um Ego está no caminho para o seu renascimento o Átomo-semente do Corpo Vital reúne novo material. A polaridade deste material determina seu sexo na próxima vida.
O Átomo-semente do Corpo Vital é o próximo a entrar em atividade, mas o seu processo de formação não é tão simples como no caso no caso da Mente e do Corpo de Desejos, pois é preciso lembrar que estes veículos estavam comparativamente não organizados, enquanto o Corpo Vital e o Corpo Denso são mais organizados e muito complexos. O material de quantidade e qualidade determinadas, é atraído de mesma maneira e sob a obediência da mesma lei como no caso dos corpos superiores, mas a construção do novo corpo e sua colocação no ambiente adequado são feitas por quatro grandes Seres de incomensurável sabedoria, que são os Anjos do Destino, os “Senhores do Destino”. Eles impressionam o Éter Refletor do Corpo Vital de tal maneira que nele se refletem os quadros da próxima vida. Ele (o Corpo Vital) é construído pelos habitantes do mundo celestial e os espíritos elementais de tal modo a formar um tipo particular de cérebro. Mas note que, o Ego que retorna, ele próprio, incorpora então a quintessência de seus Corpos Vitais anteriores e, além disso, ainda realiza um pequeno trabalho original. Isso é feito de modo que na próxima vida possa haver lugar para expressão original e individual, não predeterminada por ações passadas.
O Corpo Vital, tendo sido moldado pelos Senhores do Destino, dará forma ao Corpo Denso, órgão por órgão. A matriz ou molde é então colocada no útero da futura mãe. O Átomo-semente do Corpo Denso está na cabeça triangular de um dos espermatozoides no sêmen do pai. Só isso torna a fertilização possível e aqui está a explicação para o fato de tantas vezes as uniões sexuais serem infrutíferas. Os componentes químicos do fluído seminal e dos óvulos são os mesmos todo o tempo e se fossem só esses os requisitos, a explicação do fenômeno da infertilidade, se procurada só no mundo material visível, não seria encontrada. Quando compreendemos que assim como as moléculas d’ água se congelam segundo as linhas de força na água e se manifestam como cristais de gelo em vez de se congelarem numa massa homogênea, torna-se evidente, portanto, como seria o caso se não existissem as linhas de força previamente à coagulação, não poderia assim existir a construção do Corpo Denso enquanto não houvesse um Corpo Vital no qual se construir o material; além do mais precisa haver um Átomo-semente para o Corpo Denso agir como padrão de qualidade e quantidade do material que será moldado naquele Corpo Denso. Também, no atual estágio do desenvolvimento nunca há total harmonia nos materiais do corpo, porque aquele que a tivesse seria um corpo perfeito, porém a desarmonia não pode ser tão grande a ponto de ser destruidora do organismo. Uma vez realizada a impregnação do óvulo, o Corpo de Desejos da mãe trabalha sobre ele de dezoito a vinte-e-um dias, o Ego permanece fora em seu invólucro do Corpo de Desejos e da Mente, embora sempre em estreito contato com a mãe. Após a expiração desse tempo o Ego entra no corpo da mãe. Os veículos em forma de sino dirigem-se para sobre a cabeça do Corpo Vital e o sino fecha-se em baixo. Dessa hora em diante o Ego paira sobre o seu futuro instrumento até o nascimento da criança e a nova vida terrena do Ego, que retorna, começa.
Acha-se escrito no Conceito Rosacruz do Cosmos que o Corpo Vital da mulher é positivo e que o Corpo Vital do ser humano é negativo. Quando os agentes dos Anjos do Destino estão assistindo um Ego que vai renascer, o tipo do sexo já foi determinado, tanto pela lei de alternação como por uma modificação dessa lei por circunstâncias específicas na vida individual do Espírito, e o Ego é então ajudado a captar para si quantidade suficiente de diferentes tipos de Éteres exigidos pelo seu desenvolvimento. Esses materiais são de uma certa polaridade, seja positiva ou negativa. Quando a matriz feita apenas de átomos etéricos positivos é colocada no útero da futura mãe, estes átomos irão infalivelmente atrair para si átomos físicos negativos, e o corpo resultante da criança, torna-se, em consequência, feminino. Se, de outro modo, a matriz que for colocada no útero da mãe for composta de átomos etéricos negativos, irá atrair os átomos densos positivos e o resultado é que os órgãos sexuais masculinos são mais desenvolvidos e, portanto, o sexo é masculino. A vida, como a eletricidade, necessita ambas as expressões positiva e negativa, de outro modo não se pode manifestar.
Quando o Ego no seu caminho para renascer passa pela Região do Pensamento Concreto, o Mundo de Desejo, e a Região Etérica, ele atrai uma certa quantidade de material de cada uma delas. A qualidade desse material é determinada pelo Átomo-semente, pelo princípio de que semelhante atrai semelhante. A quantidade depende da quantidade de matéria requerida pelo arquétipo por nós mesmos construído no Segundo Céu. Da quantidade dos átomos etéricos prismáticos que são apropriados para um certo Espírito, os Anjos do Destino e seus agentes constroem uma forma etérica que é então colocada no útero da mãe e gradualmente revestida com matéria física que depois forma o corpo visível do recém-nascido.
O Cordão Prateado que cresceu do Átomo-semente do Corpo Denso (localizado no coração) desde a concepção, é preso à parte que brotou do vórtice central do Corpo de Desejos, (localizado no fígado), e quando o Cordão Prateado é preso pelo Átomo-semente ao Corpo Vital, (localizado no plexo solar), o Espírito morre para a vida no mundo supersensível e anima o corpo que vai usar em sua futura vida na Terra.
O Corpo Vital de uma criança ao nascer não se acha organizado. Daí, até aproximadamente a idade de sete anos, quando o Corpo Vital individual nasce, ela se abastece do Corpo Vital macrocósmico.
No período logo após o nascimento os diferentes veículos se interpenetram entre si, como, em exemplo anterior, a areia penetra na esponja e a água penetra tanto a areia quanto a esponja. Mas, embora eles estejam todos presentes, como na vida adulta, acham-se meramente presentes. Nenhuma de suas faculdades positivas acha-se presente. O Corpo Vital não pode usar as forças que operam pelo polo positivo dos Éteres. A assimilação, que trabalha pelo polo positivo do Éter Químico, é muito delicada durante a infância, e o que dela existe é devido ao Corpo Vital macrocósmico, cujos Éteres atuam como um útero para o Corpo Vital da criança até aos sete anos, amadurecendo gradualmente durante esse período. A faculdade de propagação, que funciona pelo polo positivo do Éter de Vida, também está latente. O aquecimento do corpo, que é efetuado através do polo positivo do Éter Luminoso, e a circulação sanguínea são devidos ao Corpo Vital macrocósmico, os Éteres agindo na criança e desenvolvendo-a lentamente até o ponto em que ela possa controlar, por si mesma, essas funções. As forças, operando pelo polo negativo dos Éteres, são sem dúvida as mais ativas. A excreção de sólidos efetuada pelo polo negativo do Éter Químico (correspondendo à subdivisão sólida da Região Química) é muito desenfreada, como é também a excreção de fluidos, que é executada pelo polo negativo do Éter de Vida (correspondendo à Segunda ou divisão fluida da Região Química). O sentido passivo da percepção, que é devido às forças negativas do Éter de Luz, é também excessivamente proeminente. A criança é muito impressionável e é “toda olhos e ouvidos”.
Embora o Corpo Vital de uma criança esteja ainda comparativamente não organizado pela ocasião do nascimento, o Éter que deverá ser usado para o seu completamente está dentro da aura pronto para ser assimilado; e se alguém a sua volta acontecer de estar fraco ou anêmico, um vampiro inconsciente, ele ou ela retira do armazenamento não assimilado de Éter do recém-nascido muito mais facilmente do que do de um adulto, cujo Corpo Vital está totalmente organizado. Naturalmente a pessoa fraca retira mais facilmente Éter que está negativamente polarizado, como no corpo de um bebê do sexo masculino, do que Éter positivo de uma menina recém-nascida… Massagem do baço e estímulo dos nervos esplênicos, cuidadosa e conservadoramente praticada, irá ajudar a contraparte etérea deste órgão, em suas atividades de especialização da energia solar da qual os processos vitais são tão dependentes quanto os pulmões são de ar.
Normalmente pensamos que quando uma criança nasce, ela nasce e isso é tudo; mas, assim como durante o período de gestação o Corpo Denso acha-se protegido do impacto do mundo externo, por estar situado dentro do útero protetor da mãe até chegar à maturidade suficiente para enfrentar as condições externas, assim também estão o Corpo Vital, o Corpo de Desejos e a Mente num estado de gestação e nascem em ocasiões posteriores, porque eles ainda não têm atrás de si uma evolução tão longa quanto a do Corpo Denso e, portanto, para eles chegarem a um estado suficiente de maturidade, para tornarem-se individualizados, leva mais tempo. O Corpo Vital nasce no sétimo ano, quando o período de excessivo crescimento marca a sua vinda.
Apenas uma pequena porção do Éter adequada para um determinado Ego é, então, usada e o Corpo Vital remanescente da criança, ou melhor o material do qual esse veículo será feito, fica então fora do Corpo Denso. Por esse motivo, o Corpo Vital de uma criança projeta-se para muito além da periferia do Corpo Denso do que o do adulto. Durante o período de crescimento esse armazenamento de átomos de Éter é retirado para vitalizar os crescimentos dentro do corpo até que ao atingir a idade adulta, o Corpo Vital se projeta apenas de uma a uma-e-meia polegada[16] além da periferia do Corpo Denso.
Do primeiro ao sétimo ano o Corpo Vital cresce e, vagarosamente, amadurece dentro do útero do Corpo Vital macrocósmico e devido à superior sabedoria desse veículo do macrocósmico o corpo da criança é mais roliço e bem construído, que posteriormente na vida.
Enquanto o Corpo Vital macrocósmico guiar o crescimento do corpo da criança ela é resguardada dos perigos que mais tarde a ameaçam quando a insensato Corpo Vital individual descontrola desenfreado. Isso acontece no sétimo ano quando tem início o perigoso período de excessivo crescimento que continua pelos próximos sete anos. Durante esse período o Corpo de Desejos macrocósmico realiza a função de útero para o Corpo de Desejos individual.
Tivesse o Corpo Vital preponderância contínua e irrestrita no reino humano, como tem no vegetal, o ser humano cresceria a um tamanho enorme. Houve ocasião, num passado distante, em que o ser humano tinha a constituição semelhante à de um vegetal, e possuía apenas o Corpo Denso e o Corpo Vital. As tradições da mitologia e folclore em todo o mundo, com respeito a existência de gigantes em tempos remotos, são absolutamente verdadeiras, porque então os seres humanos eram tão altos quanto as árvores, e pelos mesmos motivos.
O Corpo Vital da planta constrói folha após folha, levando o tronco a ficar cada vez mais alto. Não fosse pelo Corpo de Desejos macrocósmico, o crescimento continuaria assim indefinidamente, mas o Corpo de Desejos macrocósmico interfere num ponto determinado e restringe a continuação do crescimento. A força não mais necessária para o crescimento fica disponível então para outros propósitos e é usada para construir a flor e a semente. De igual modo o Corpo Vital do ser humano, quando o Corpo Denso fica sob sua preponderância, após os sete anos, faz o Corpo Denso crescer muito rapidamente, mas por volta dos quatorze anos o Corpo de Desejos individual nasce do útero do Corpo de Desejos macrocósmico e fica, então, livre para trabalhar sobre o Corpo Denso. O crescimento excessivo é, então, restringido e a força, anteriormente usada para este propósito, torna-se disponível para a propagação, para que a planta humana floresça e se multiplique. Portanto o nascimento do Corpo de Desejos pessoal marca o período da puberdade. Desse período em diante é sentida a atração pelo sexo oposto, sendo especialmente ativa e desenfreada no terceiro período setenário da vida: dos quatorze aos vinte e um anos, porque a Mente controladora ainda não nasceu. Vale lembrar que a assimilação e o crescimento dependem das forças operando pelo polo positivo do Éter Químico do Corpo Vital. Este é libertado no sétimo ano, junto com o equilíbrio do Corpo Vital. Só o Éter Químico está totalmente maduro por essa época; as outras partes necessitam de mais amadurecimento. No décimo quarto ano o Éter de Vida do Corpo Vital, que tem a ver com a propagação, acha-se completamente amadurecido. Durante o período dos sete aos quatorze anos de idade a excessiva assimilação armazenou uma quantidade de força que vai para aos órgãos sexuais e está pronta, na ocasião em que o Corpo de Desejos é libertado.
Por volta do sétimo ano o Corpo Vital da criança alcançou suficiente perfeição para lhe permitir receber impactos do mundo exterior. Ela perde sua camada protetora de Éter e começa uma vida livre. E agora tem início a época em que o educador pode trabalhar sobre o Corpo Vital e ajudá-lo na formação da memória, da consciência, dos bons hábitos e um temperamento harmonioso.
Autoridade e Discipulado são os lemas dessa época, quando a criança deve aprender o significado das coisas. Na primeira fase ela aprende como as coisas são, mas não deve ser incomodada sobre os seus significados, exceto naquilo que ela capta por livre vontade; mas na segunda fase, dos sete aos quatorze anos, é essencial que a criança aprenda o significado das coisas, mas deverá aprender a apanhá-las sob a autoridade dos pais e professores, memorizando as explicações, em vez de raciocinando por elas mesmas, pois raciocínio pertence a um desenvolvimento posterior, e pois deve fazê-lo de livre vontade, com proveito. É prejudicial nessa fase forçá-la a pensar.
Não se deve imaginar, entretanto, que quando o pequeno corpo de uma criança nasceu está completo o processo do nascimento. O denso Corpo Denso tem a evolução mais longa, e como um sapateiro que trabalhou no seu ofício por muitos anos é mais especializado que um aprendiz e pode fazer melhores sapatos e mais rápido, assim também o Espírito que construiu muitos Corpos físicos os produz com mais rapidez, mas o Corpo Vital é uma aquisição mais tardia do ser humano. Portanto, não estamos tão especializados na construção deste veículo. Consequentemente demora mais construí-lo a partir de materiais não consumidos na confecção do revestimento do arquétipo, e assim o Corpo Vital não nasce antes do sétimo ano.
Quando o Corpo Vital nasce, na idade de sete anos, um período de crescimento tem início e um novo lema, ou uma relação preferencial, é estabelecida entre os pais e a criança. Isso tem que ser expresso em duas palavras Autoridade e Discipulado. Nesse período é ensinada a criança certas lições que a faz ter fé na autoridade de seus educadores, quer em casa ou na escola e como a memória é uma faculdade do Corpo Vital ele pode, agora, memorizar o que aprendeu.
É, portanto, eminentemente suscetível ao aprendizado, particularmente porque ela é sem preconceito às opiniões preconcebidas que são um obstáculo para que muitos de nós aceitemos novos pontos de vista. No final desse segundo período, por cerca dos doze aos quatorze anos, o Corpo Vital está tão bem desenvolvido que a puberdade é alcançada.
As crianças que morrem antes dos sete anos só nascem no que diz respeito ao Corpo Denso e ao Corpo Vital e não são responsáveis ante a Lei de Consequência. Mesmo depois dos doze ou quatorze anos o Corpo de Desejos acha-se em processo de gestação, como será mais bem explicado noutra ocasião. E, como o que ainda não despertou, não pode morrer, apenas os Corpos Denso e Vital entram em decomposição quando uma criança morre. Ela retém seu Corpo de Desejos e a Mente para o próximo nascimento. Portanto, ela não percorre todo o caminho que o Ego normalmente faz num ciclo de vida, mas apenas ascende ao Primeiro Céu para aprender lições necessárias, e depois de esperar de um a vinte anos ela renasce, frequentemente, na mesma família como um filho mais novo.
Os animais e as plantas também possuem um Corpo Vital. Embora esse veículo falte ao mineral, a desintegração de duras rochas, etc. afeta o Corpo Vital da Terra.
Quando consideramos a planta, o animal e o ser humano, em relação à Região Etérica, notamos que cada um tem um Corpo Vital separado além de serem penetrados pelo Éter planetário que forma a Região Etérica. Há, entretanto, uma diferença entre os Corpos Vitais das plantas e os Corpos Vitais do animal e do ser humano. No Corpo Vital da planta só os Éteres Químico e de Vida estão completamente ativos. Por isso a planta pode crescer pela ação do Éter Químico e propagar suas espécies através da atividade do Éter de Vida do Corpo Vital separado que ela possui. O Éter Luminoso acha-se presente, mas está parcialmente latente ou adormecido e o Éter Refletor está faltando. Então é evidente que as faculdades de percepção sensorial e memória, que são as qualidades desses Éteres, não podem ser expressas pelo reino vegetal.
Dirigindo nossa atenção para o Corpo Vital do animal vemos que nele os Éteres Químico, Vital e Luminoso acham-se dinamicamente ativos. Portanto, o animal tem as faculdades de assimilação e crescimento, proporcionadas pelas atividades do Éter Químico e a faculdade de propagação por meio do Éter de Vida, sendo estas de igual modo que nas plantas. Além disso, em relação à ação do terceiro Éter, o Luminoso, ele tem a faculdade de gerar calor interior e gerar o sentido da percepção. O quarto Éter, entretanto, acha-se inativo no animal, por isso ele não pode pensar, nem possuir memória. O que aparece como tal, mais tarde, será mostrado ser de uma natureza diferente.
O Ego separado está definitivamente segregado dentro do Espírito Universal na Região do Pensamento Abstrato. Isso demonstra que só o ser humano possui a cadeia completa de veículos correlacionando-o a todas as divisões dos três Mundos. Ao animal falta um elo da cadeia: a Mente; à planta faltam dois elos: a Mente e o Corpo de Desejos; e ao mineral faltam três elos na cadeia de veículos necessários para que funcione de modo autoconsciente no Mundo Físico: a Mente, e os Corpos Vital e de Desejos.
Quando um animal está para nascer, o Espírito-Grupo, ajudado pelos espíritos da natureza e os Anjos, moldam o Corpo Vital do animal que vai nascer, que é então depositado no útero da mãe e os Átomos-sementes são depositados no sêmen do macho; então ocorre a gestação e um animal nasce. Sem a presença do Átomo-semente e a matriz do Corpo Vital, o Corpo Denso do animal não pode ser formado. Condições similares governam a fecundação no caso de um ovo, ou de uma semente. Eles são como o óvulo da fêmea: eles são inúmeras oportunidades. Se um ovo é colocado numa incubadora ou sob uma galinha, o Espírito-Grupo envia a vida indispensável, aceitando a oportunidade de Corporificação. Se uma semente é jogada no solo, é também fertilizada, quando as condições adequadas forem conseguidas para o seu desenvolvimento, nunca. Quando um ovo é quebrado ou cozido ou de algum modo desqualificado para a sua designação primordial, ou quando uma semente é armazenada por anos talvez, não há vida, e consequentemente não agimos mal ao usarmos estes produtos como alimento. É até um benefício para as plantas quando os seus frutos maduros são arrancados, porque assim eles deixam de retirar desnecessariamente a seiva da árvore.
O animal ainda não possui Espírito “individual”, mas possui o chamado Espírito-Grupo, que passa informação a todos os membros de uma espécie. Os animais em separado têm três Corpos: um Denso, um Vital e um de Desejos; mas não têm um elo da cadeia: a Mente. Em consequência, os animais normalmente não pensam, mas do mesmo modo que “induzimos” eletricidade num fio colocando-o junto a outro que se acha carregado, assim de forma análoga, quando em contato com o ser humano, algo semelhante ao pensamento está sendo “induzido” nos animais domésticos superiores como o cachorro, o cavalo e o elefante. Os outros animais obedecem ao estímulo (ao que chamamos de instinto) do Espírito-Grupo animal. Eles não vêm os objetos claramente delineados como o ser humano. Nas espécies inferiores, a consciência animal se expressa cada vez mais numa “consciência pictórica” interna, semelhante ao estado de sono do ser humano, exceto que seus quadros não são confusos, mas transmitem perfeitamente para o animal os estímulos do Espírito-Grupo.
O Espírito animal atingiu, na sua descida, apenas o Mundo de Desejo. Ainda não evoluiu ao ponto de poder “entrar” num Corpo Denso. Por esse motivo o animal não tem um Espírito individual, mas um Espírito-Grupo, que o dirige de fora. O animal tem o Corpo Denso, o Corpo Vital, o Corpo de Desejos, mas o Espírito-Grupo que o dirige está de fora. O Corpo Vital e o Corpo de Desejos de um animal não se acham inteiramente dentro do Corpo Denso, especialmente no que se diz respeito à cabeça. Por exemplo, a cabeça etérea de um cavalo se projeta bem além e acima da cabeça do Corpo Denso.
Quando, como acontece em casos raros, a cabeça etérea de um cavalo entra na cabeça do Corpo Denso, esse cavalo pode aprender a ler, contar e resolver exemplos de aritmética elementar. Essa peculiaridade é também devida ao fato de que cavalos, cães, gatos e outros animais domesticados sentem o Mundo do Desejo, embora nem sempre percebendo a diferença entre este e o Mundo Físico. O cavalo se assustará com a visão de uma figura invisível para o cocheiro; um gato fará movimentos de se esfregar em pernas invisíveis. O gato vê o espírito, entretanto, sem perceber que não existem pernas densas disponíveis para o atrito. O cão, mais esperto que o gato e o cavalo, frequentemente perceberá que há algo que ele não compreende na aparência de um dono morto, cujas mãos ele não pode lamber. Vai latir num lamento e retirar-se para um canto com seu rabo entre as pernas.
Dr. McDougall[17] também pesou em suas balanças animais morrendo. Nesse caso não houve diminuição, embora um dos animais fosse um enorme cão São Bernardo. Isso foi feito para demonstrar que os animais não possuem almas. Pouco tempo depois, entretanto, o Professor La V. Twining, chefe do Departamento de Ciência da Escola Politécnica de Los Angeles, fez experiências com ratos e gatinhos que ele encarcerou em vidros hermeticamente fechados. Suas balanças eram as mais sensíveis conseguidas e foram colocadas dentro de uma caixa de vidro da qual foi removida toda a umidade. Descobriu-se que todos os animais estudados perderam peso ao morrer. Um rato bem grande pesando 12,886 gramas, subitamente perdeu 3,1 miligramas ao morrer.
Um gatinho usado em outra experiência perdeu 100 miligramas ao agonizar, e quando exalou seu último alento perdeu mais 60 miligramas. A seguir foi perdendo peso lentamente, devido â evaporação.
Deste modo os ensinamentos da Ciência Oculta relativos aos Corpos Vitais dos animais foram também comprovados quando se empregaram balanças suficientemente sensíveis. O caso mencionado – o das balanças que não acusaram qualquer diminuição de peso quando morreu o cão São Bernardo – deve-se ao fato de que o Corpo Vital dos animais é proporcionalmente mais leve que o do ser humano.
Os Anjos são particularmente ativos nos Corpos Vitais das plantas, porque o sopro de vida vivificando este reino começou sua evolução no Período Lunar, quando os Anjos eram humanos, e trabalhavam com as plantas como hoje trabalhamos com os nossos minerais. Há, portanto, uma afinidade específica entre os Anjos e o Espírito-Grupo das plantas. Assim podemos explicar a enorme assimilação, crescimento e fecundidade das plantas. O ser humano também ficou enorme na Segunda Época, ou Hiperbórea, quando os Anjos tiveram então responsabilidade especial. Assim é com a criança em sua segunda setenária época de vida, porque é quando os Anjos têm total influência, e no final dessa época, aos quatorze, a criança alcança a puberdade e está apta a reproduzir sua espécie; também devido ao trabalho dos Anjos.
Eles foram os modelos que extraíram de si mesmos o material denso para formar os Corpos das plantas atuais e, também as formas das plantas do passado, que estão incrustadas nas camadas geológicas de nosso Globo Terrestre.
Essas formas etéreas vegetais foram ajudadas em suas formações quando o calor veio do exterior, após a separação da Terra do Sol e da Lua. Esse calor deu-lhes a força vital para extraírem para elas próprias a substância mais densa. O Corpo Vital é o princípio mais importante da planta é ele que faz a planta crescer o caule e as folhas em sucessão alternada, fazendo a planta crescer mais e mais; mas não há variedade, a planta segue repetindo o tempo todo. Caule, folha e galho: sempre a mesma coisa.
As plantas têm apenas um Corpo Denso e um Corpo Vital; daí não poderem sentir, nem pensar. Elas não têm Corpo de Desejos nem Mente, e assim um maior distanciamento existe entre a planta e seu Espírito-Grupo do que entre o animal e seu Espírito-Grupo; daí a consciência das plantas ser correspondentemente mais fraca, assemelhando-se ao nosso estado de sono sem sonho.
O mineral possui apenas o Corpo Denso. Faltam-lhe três ligações para conectá-lo com seu Espírito-Grupo. Portanto, ele é inerte e sua inconsciência assemelha-se a do Corpo Denso humano no estado de “transe”, quando o Espírito humano, o Ego, passou correspondentemente além dele.
Como conclusão, notemos que os três Mundos no qual vivemos não se acham separados pelo espaço. Estão todos por aí, como a luz e a cor, encravados na matéria física, como as linhas de clivagem no mineral. Se deixarmos congelar um prato de água, e examiná-lo num microscópio, veremos os cristais de gelo divididos uns dos outros por linhas. Elas estavam presentes na água embora sem serem vistas como linhas de força, invisíveis até que condições adequadas fizeram-nas aparecer. Então um Mundo acha-se encerrado no próximo-superior, sem ser visto por nós até provermos as condições apropriadas; mas quando nos tivermos adaptados, a Natureza, que está sempre pronta a nos revelar suas maravilhas, expressa ardente alegria por todos aqueles que, como auxiliares na evolução, dessa forma alcançam a cidadania nos reinos invisíveis.
Como vimos na Conferência no. 3[18], as plantas têm um Corpo Denso e um Corpo Vital, que as capacitam a executar os seus trabalhos; vimos, também, que suas consciências eram tão profundas como sonhos sem sonhos. Assim é fácil para o Ego dominar as células vegetais e subjugá-las por longo tempo; daí o grande poder nutritivo dos vegetais. Para funcionar em qualquer dos Mundos e expressar as qualidades peculiares a cada um, precisamos primeiro possuir um veículo feito do material de cada Mundo. Para funcionarmos no denso Mundo Físico precisamos possuir um Corpo Denso adaptado ao nosso meio ambiente. De outro modo seriamos fantasmas, como comumente são chamados os invisíveis para a maioria dos seres físicos. Portanto, temos primeiro que ter um Corpo Vital para que possamos expressar vida, crescimento ou exteriorizar as demais qualidades da Região Etérea.
Quando examinamos os quatro reinos em relação à Região Etérica, vemos que o mineral não possui um Corpo Vital separado, e logo constatamos a razão dele não poder crescer, propagar-se ou mostrar vida consciente. Como uma hipótese necessária para justificar outros fatos conhecidos, a ciência material sustenta que no sólido mais denso, assim como no gás mais rarefeito e tênue, não há dois átomos que se toquem; que há um invólucro de Éter em cada átomo; e que os átomos no universo flutuam num oceano de Éter[19].
Assim como a sensação nos animais e no ser humano é devida a seus Corpos Vitais serem separados, assim também a sensibilidade da Terra é particularmente ativa em sua sexta camada, que corresponde ao Mundo do Espírito de Vida. Para compreender o prazer que ela sente quando a rocha dura é desintegrada por processos de mineração, e a dor quando jazidas se acumulam, precisamos lembrar que a Terra é o Corpo Denso de um Grande Espírito, e para nos fornecer um ambiente no qual possamos viver e adquirir experiências, ela teve que cristalizar seu Corpo na atual condição sólida.
O Corpo Vital da planta é composto por apenas dois Éteres mais densos: o Éter Químico e o Éter de Vida, que possibilitam à planta crescer e propagar-se, mas faltam-lhe, os dois Éteres Superiores: o Éter Luminoso e o Éter Refletor. Por isso ela não tem sensação ou memória do que se passa à sua volta. Por esse motivo, a amputação de um ramo não será sentida pela planta, e no caso do rochedo que é dinamitado, só o Éter Químico se acha presente, por isso os cristais nada sentem. Ainda estaria errado inferir que não há sentimento em ambos os casos; já que plantas e minerais não possuem veículos individuais de sentido, eles acham-se envoltos e interpenetrados pelos Éteres e o Mundo do Desejo do Planeta, e o Espírito Planetário sente tudo pelo mesmo princípio de que nosso dedo não pode sentir, por não possuir Corpo de Desejos individual, mas nós, os Espíritos internos que habitamos o Corpo sentimos qualquer corte sofrido pelo dedo.
Para progredir espiritualmente o ser humano precisa desenvolver mais ainda o seu Corpo Vital.
Estamos agora nos preparando para a rápida aproximação da Era de Aquário com seu grande desenvolvimento intelectual e espiritual. Isso requer um despertar do adormecido Corpo Vital, cuja palavra-chave é Repetição.
O Ego tem vários instrumentos: um Corpo Denso, um Corpo Vital, um Corpo de Desejos e uma Mente. Estas são as suas ferramentas e da qualidade e condição delas depende o quanto, para mais ou para menos, o Ego poderá realizar seu trabalho de colher experiência em cada vida. Se os instrumentos são pobres e apáticos vai haver pouco crescimento espiritual e a vida será improdutiva, no que diz respeito ao Espírito.
A vida superior (Iniciação) não começa, entretanto, até que o trabalho no Corpo Vital tenha início. O meio usado para dar início a essa atividade é o amor, ou melhor, o altruísmo. A palavra Amor tem sido tão deturpada que não tem mais o significado requerido aqui.
A segunda ajuda que agora a Humanidade possui é a Religião do Filho, a Religião Cristã, cujo objetivo é a união com o Cristo, pela purificação e o controle do Corpo Vital.
Enquanto os veículos invisíveis, especialmente o Corpo Vital, estiverem adormecidos, o ser humano poderá seguir numa carreira materialista; mas uma vez que esses veículos sejam despertados e provem do pão da vida, é como o Corpo Denso: fica sujeito à fome, fome da alma, e seus anseios não serão negados, a não ser após uma luta extremamente dura.
Tem sido dito aqui que a Humanidade, pelo menos a maior parte dela, está trabalhando hoje em dia sobre seus Corpos de Desejos, e tentando refrear seus desejos por meio da lei. Quando o desenvolvimento oculto ocorrer, quando o ser humano se tornar um pioneiro, será no Corpo Vital que se irá trabalhar. O Corpo Vital é particular e peculiarmente desenvolvido pela repetição.
É necessário educar e trabalhar o Corpo Vital de tal modo que ele possa ser usado em voos da alma. Este veículo, como sabemos, é composto de quatro Éteres. É por meio deste corpo que manipulamos o mais denso de todos os nossos veículos, o Corpo Denso, o qual normalmente imaginamos ser o ser humano completo. O Éter Químico e de Vida formam uma matriz para os nossos Corpos físicos. Cada molécula do Corpo Denso acha-se encerrada numa rede de Éter que o permeia e o impregna de vida.
Através desses Éteres as funções corporais, tais como respiração, etc., são executadas e a densidade e consistência dessas matrizes de Éter determinam o estado de saúde. Mas a parte do Corpo Vital formada pelos dois Éteres Superiores, o Éter Luminoso e o Éter Refletor, é a que podemos chamar de Corpo-Alma; quer dizer, ela é a que está mais intimamente ligada ao Corpo de Desejos e a Mente e, também a mais receptiva ao toque do Espírito do que se acha a parte formada pelos dois Éteres Inferiores. O Corpo-Alma é o veículo do intelecto, e responsável por tudo que faz do indivíduo, um ser humano. Nossas observações, nossas aspirações, nosso caráter, etc., são devidos ao trabalho do Espírito nesses dois Éteres Superiores, que se tornam mais ou menos luminosos de acordo com a natureza de nosso caráter e hábitos. Outrossim, do mesmo modo que o Corpo Denso assimila partículas de alimento e assim adquire carne, os dois Éteres Superiores assimilam nosso bem agir durante a vida e assim também crescem em volume.
De acordo com nossos feitos nessa vida atual, aumentamos ou diminuímos desse modo à bagagem que trouxemos ao nascer. Se nascermos com um bom caráter, expresso nesses dois Éteres Superiores, não nos será fácil mudá-lo porque o Corpo Vital tornou-se muito, muito firme durante as miríades de anos em que o desenvolvemos. Por outro lado, se fomos frouxos, negligentes e indulgentes em relação aos hábitos que consideramos maus, se formamos um mau caráter em vidas anteriores, aí vai ser difícil superá-los porque isso estabeleceu a natureza do Corpo Vital, e anos de constante esforço serão precisos para mudar sua estrutura. É por isso que os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental afirmam que todo desenvolvimento místico tem início no Corpo Vital.
Cada vez que prestamos serviço a alguém nós aumentamos o brilho de nosso Corpo-Alma, que é construído de Éter. É o Éter de Cristo que atualmente movimenta o nosso Globo, e é bom lembrar que se desejamos um dia trabalhar pela Sua libertação, precisamos que um número suficiente desenvolva seus Corpos Alma ao ponto em que eles possam fazer a Terra flutuar. Então, poderemos carregar Seu fardo e libertá-Lo da dor da existência física.
Além do fato de que a Escola Oriental de Ocultismo baseia seus ensinamentos no Hinduísmo, enquanto, a Escola de Sabedoria Ocidental promulga o Cristianismo, a Religião do Ocidente, há uma grande, fundamental, irreconciliável discrepância entre os ensinamentos dos modernos representantes do Leste e o dos Rosacruzes. De acordo com a versão do Ocultismo Oriental o Corpo Vital, que é chamado Linga Sharira, é comparativamente pouco importante, por ser ele incapaz de se desenvolver como um veículo de consciência. Serve somente como um canal para a força solar “prama”, e como uma ligação entre o Corpo Denso e o Corpo de Desejos, que é chamado Kama Rupa e, também, de “corpo astral”. Este, eles dizem, é o veículo do Auxiliar Invisível.
A Escola da Sabedoria Ocidental ensina, como sua máxima fundamental, que todo desenvolvimento oculto começa com o Corpo Vital, e o autor, como seu representante público, tem estado, por esse motivo, muito ocupado desde o início do nosso movimento tentando reunir e disseminar o conhecimento sobre os quatro Éteres e o Corpo Vital. Muita informação foi dada no Conceito Rosacruz do Cosmos e nos livros que o sucederam, mas as lições e cartas mensais transmitem os resultados de nossas atuais pesquisas. Estamos constantemente exibindo este Corpo Vital (vital em um duplo sentido) para as Mentes dos estudantes para que aprendendo e pensando sobre ele, assim como, lendo e observando os agradáveis “pequenos sermões” que usamos para veicular essa informação, eles possam, consciente e inconscientemente, tecer o Dourado Manto Nupcial. Advertiremos a todos que estudem essas lições cuidadosamente ano após ano; pode haver muito refugo, mas há ouro entre elas.
Temos aqui a descrição de como os estigmas ou perfurações foram produzidas no Herói dos Evangelhos, embora as localizações não estejam perfeitamente descritas, e o processo esteja representando em forma de narrativa diferindo amplamente da maneira pela qual esses fatos realmente ocorreram. Mas deparamos aqui com um mistério que deve continuar secreto para o profano, embora os fatos místicos fundamentais estejam claros como o dia para aqueles que têm o conhecimento. O Corpo Denso não é de modo algum o ser humano verdadeiro. Tangível, sólido e pulsante de vida como o vemos, é realmente a parte mais morta do ser humano, cristalizado numa matriz de veículos superiores que são invisíveis à nossa visão física comum. Se colocarmos uma bacia com água numa temperatura de congelamento, a água em pouco tempo vira gelo, e quando examinamos o gelo, descobrimos que é feito de inúmeros pequenos cristais em variadas formas geométricas e linhas de demarcação. Há linhas etéreas de forças que estão presentes na água antes dela congelar.
Assim como a água endureceu e moldou-se entre essas linhas, assim também os nossos Corpos Físicos congelaram e solidificaram em meio às linhas etéricas de força de nosso invisível Corpo Vital, que está assim no curso normal da vida, indissoluvelmente vinculado ao Corpo Denso, acordado ou adormecido, até que a morte traga a dissolução dessa amarra. Mas como a Iniciação acarreta a libertação do ser humano real do Corpo do Pecado e da morte, de modo a que ele possa se elevar às esferas mais sutis e retornar ao Corpo se desejar, é óbvio que antes que isso aconteça, antes que o propósito da Iniciação seja alcançado, o tenaz entrelaçamento entre o Corpo Denso e o veículo etéreo, que é muito forte e rígido na Humanidade comum, tem que ser dissolvido. Como eles estão mais fortemente unidos nas palmas das mãos, nos arcos dos pés e na cabeça, as escolas ocultas concentram seus esforços em romper a conexão nesses três pontos, e produzir os estigmas de modo invisível.
A Maçonaria Esotérica, que é apenas a capa da Ordem Mística formada pelos Filhos de Caim, tem nos tempos modernos atraído o elemento masculino e seus veículos físicos positivamente polarizados, e os educados na indústria e nas funções de Estado, controlando assim o desenvolvimento material do mundo. Os Filhos de Seth, que constituem o clero, têm lançado seus encantos sobre os Corpos Vitais positivos do elemento feminino para dominarem o desenvolvimento espiritual. E, enquanto os Filhos de Caim, trabalhando através da Franco-Maçonaria e movimentos congêneres, têm brigado abertamente pelo poder temporal, o clero tem brigado arduamente, e talvez de modo mais efetivo sub-repticiamente, para reter seu domínio sobre o desenvolvimento espiritual do elemento feminino.
À medida que a Humanidade avança na evolução, o Corpo Vital se torna mais permanentemente polarizado de maneira positiva, dando a ambos os sexos uma maior aspiração de espiritualidade e, embora mudemos do masculino para o feminino, em encarnações alternativas, a polaridade positiva do Corpo Vital está se tornando mais pronunciada, independente do sexo. Isso explica a crescente tendência ao Altruísmo que ainda está vindo à luz pelo sofrimento vinculado à grande guerra que estamos lutando agora (1918), pois todos concordam que as nações estão buscando obter uma paz duradoura, onde as espadas possam ser transformadas em relhas de arado e as lanças em podões.
Sabemos que nosso Corpo Denso gravita na direção do centro da Terra, portanto, uma mudança precisa acontecer; além disso, São Paulo nos diz que carne e sangue não podem herdar o Reino dos Céus. Mas ele, também chama a atenção de que temos um “soma psuchicon” (traduzido incorretamente por corpo natural), um Corpo-Alma, e este é feito de Éter, o qual é mais leve que o ar e por isso capaz de levitar. Isto é o Manto Dourado de Bodas, a Pedra Filosofal, ou a Pedra da Vida, mencionado em algumas filosofias antigas como a Alma de Diamante, por sua luminosidade, brilho e resplendor – uma gema de valor incalculável. Era também chamado de corpo astral pelos alquimistas medievais, por causa da habilidade por ele conferida, ao que o possuía, de poder transpor as regiões estreladas. Mas não se deve confundi-lo com o Corpo de Desejos que alguns pseudo-ocultistas modernos, erroneamente, chamam de corpo astral. Esse veículo, o Corpo-Alma, irá posteriormente ser desenvolvido pelo total da Humanidade, mas durante a mudança da Época Ariana para as condições etéreas da Nossa Galileia, haverá pioneiros que antecederão seus irmãos, assim como os Semitas Originais foram os precursores durante a mudança da Época Atlântica para a Ariana. Cristo mencionou esse grupo no Evangelho segundo São Mateus, Capítulo XI, versículo 12, quando disse: “O Reino dos Céus é tomado por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele.”. Esta não é uma tradução correta.
Deveria ser, “O Reino dos Céus foi invadido” (em grego está biaxetai) e os invasores apoderaram-se dele. Os homens e as mulheres já aprenderam, por meio de uma vida santa e útil, a abandonarem os seus Corpos de carne e sangue, intermitente ou permanentemente, e a caminharem nos céus com pés alados, atentos aos trabalhos do seu Senhor, vestidos pelo manto etéreo de bodas da nova dispensação.
Repetição é a palavra-chave do Corpo Vital e o extrato do Corpo Vital é a Alma Intelectual, que é o alimento do Espírito de Vida, o verdadeiro Princípio Crístico no ser humano. Como o trabalho particular do Mundo Ocidental é desenvolver esse Princípio Crístico, para formar o Cristo interno que poderá brilhar através da escuridão material atual, é absolutamente essencial à reiteração de ideias.
Um impacto muito pequeno é feito sobre o Corpo Vital quando ideias e ideais nele penetram através do invólucro da aura, mas o que ele recebe de estudos, sermões, conferências ou leituras é de natureza mais duradoura, e muitos impactos na mesma direção criam impressões poderosas para o bem ou para o mal, segundo sua natureza.
Não podem ser obtidas informações dos Anjos; eles trabalham com o Corpo Denso, mas não diretamente; eles usam o Corpo Vital como transmissor, e não podem se fazer compreendidos por seres que raciocinam por meio de um cérebro. Eles obtêm conhecimento sem raciocinar, pois, irradiam todo o seu amor em sua obra e a sabedoria cósmica flui de volta. O ser humano também cria por meio do amor, mas seu amor é egoísta; ele ama porque deseja cooperação na reprodução; pois ele usa apenas metade de sua força criadora para a procriação, a outra metade ele guarda egoisticamente para construir seu próprio órgão de raciocínio, o cérebro, e, também usa essa metade de forma egoísta para pensar, porque deseja conhecimento. Por conseguinte, ele tem que trabalhar e raciocinar para obter sabedoria, mas com o tempo ele atingirá um estágio muito mais elevado que os Anjos ou Arcanjos. Terá então superado a necessidade dos órgãos de procriação inferiores; ele criará por meio da laringe, e será capaz de “fazer da palavra, carne”.
A razão é o produto do egoísmo. É criada pela Mente recebida pelos “Poderes das Trevas”, num cérebro construído pelo egoísmo, guardando metade da força sexual, e impelido pelos Lucíferos egoístas, pois ela é “o fruto da serpente”, e embora transmutada em sabedoria por meio da dor e o sofrimento, ela precisa dar lugar a algo mais elevado: a intuição, que significa ensinamento brotado de dentro. Esta é uma faculdade espiritual, também presente em todos os Espíritos, que embora funcionando no momento presente, tanto em homens como em mulheres, se expressa de maneira mais marcante nos encarnados em corpos femininos, pois neles a contraparte do Espírito de Vida, o Corpo Vital, é masculino e positivo. Intuição, a faculdade do Espírito de Vida, pode, portanto, ser chamada apropriadamente de “semente da mulher”, de onde todas as tendências altruísticas brotam, e por meio da qual todas as nações estão sendo lentamente, mas firmemente, trazidas juntas numa Fraternidade Universal do amor, não importando a raça, o sexo ou a cor.
O que é agora o Corpo Denso foi o primeiro veículo adquirido pelo ser humano como uma forma de pensamento; tem passado por um imenso período de evolução e organização até ter se tornando no esplendido instrumento que é agora, servindo-o tão bem aqui; mas é resistente, rígido e difícil de ser trabalhado. O veículo adquirido em seguida foi o Corpo Vital, que, também passou por um longo período de desenvolvimento e foi condensado à consistência de Éter. O terceiro veículo, o Corpo de Desejos, foi comparativamente adquirido mais recentemente e acha-se num estado comparativo de fluxo. Por fim, vem a Mente, que é apenas como uma nuvem sem forma, não merecendo ser chamada de veículo, sendo ainda apenas uma ligação entre os três veículos do ser humano e o Espírito.
Esses três veículos, o Corpo Denso, o Corpo Vital e o Corpo de Desejos, juntos com o vínculo da Mente, são as ferramentas do Espírito em sua evolução, e, contrariamente à ideia comum, a habilidade do Espírito para investigar os reinos superiores não depende dos mais sutis desses corpos tanto quanto do mais denso. A prova dessa afirmação não está muito longe do alcance de qualquer um, e certamente, alguém que já tenha tentado seriamente, já obteve essa prova por si mesmo. Senão ele vai tê-la dentro em breve simplesmente mudando as condições de sua Mente. Digamos que uma pessoa adquiriu certos hábitos de pensamento dos quais ela não goste. Talvez, após uma experiência religiosa, ela descubra que apesar de toda a sua vontade, esses hábitos de pensamento não vão abandoná-la. Mas, se ela decide limpar sua Mente de maneira que ela só tenha puros e bons pensamentos, ela pode fazer isso simplesmente se recusando a admitir pensamentos impuros. Ela vai descobrir que após uma ou duas semanas sua Mente está notadamente mais limpa que no começo de seu esforço; que sua Mente guarda de preferência os pensamentos religiosos que a pessoa vem buscando gerar em sua Mente. Até a Mente mais anormalmente degenerada pode ser totalmente limpa dentro de poucos meses. Isto é conhecimento verdadeiro para os muitos que já o tentaram, e alguém que queira e for suficientemente persistente pode passar pela mesma experiência e apreciar uma Mente limpa em bem pouco tempo.
A parte do Corpo Vital que tenha sido trabalhada pelo Espírito de Vida, converte-se na Alma Intelectual, e esta constrói o Espírito de Vida, porque aquele aspecto do Tríplice Espírito tem sua contraparte no Corpo Vital.
Na vida comum muitas pessoas vivem para comer, elas bebem, gratificam a paixão sexual de modo desenfreado, e se descontrolam à menor provocação. Embora aparentemente essas pessoas possam ser bem “respeitáveis”, elas estão quase todos os dias de suas vidas, causando uma confusão quase que ilimitada em sua estrutura. Todo o período que passam dormindo é gasto pelos Corpos de Desejos e Vital na reparação do dano causado durante o dia, não sobrando, de nenhum modo, tempo para o trabalho exterior. Mas se o indivíduo começa a sentir a necessidade de uma vida superior, controla a força sexual e o temperamento, e cultiva uma disposição serena, assim menos perturbação é causada nos veículos durante as horas que passa acordado; consequentemente menos tempo é requerido durante o sono, para reparar os danos. Assim torna-se possível deixar o Corpo Denso por longos períodos durante as horas de sono, e funcionar nos Mundos internos por meio dos veículos superiores. Como o Corpo de Desejos e a Mente não se acham ainda organizados, eles não são de utilidade como veículos separados da consciência. Nem pode o Corpo Vital deixar o Corpo Denso, pois isso causaria a morte. É evidente que medidas precisam ser tomadas para se proporcionar um veículo organizado, que seja fluído e construído de modo a preencher as necessidades do Ego nos Mundos internos, como assim faz o Corpo Denso no Mundo Físico.
O Corpo Vital é um veículo tão organizado que se de algum modo puder vir a ser separado do Corpo Denso, sem provocar a morte, o problema poderá ser resolvido. Além disso, o Corpo Vital é à base da memória, sem a qual seria impossível trazer de volta à nossa consciência física as lembranças das experiências suprafísicas e delas obterem, assim, total benefício.
Lembremos que os Hierofantes dos antigos Mistérios dos Templos segregaram algumas pessoas em castas e tribos como os Brâmanes e Levitas, com o propósito de fornecer Corpos para o uso desses Egos que já estavam avançados o bastante para a Iniciação. Isso foi feito de tal modo que o Corpo Vital ficou separado em duas partes, como eram os Corpos de Desejos de toda a Humanidade no princípio do Período Terrestre. Quando os Hierofantes tiravam os alunos para fora de seus Corpos, eles deixavam uma parte do Corpo Vital, correspondente ao primeiro e segundo Éteres, para exercer as funções puramente animais (elas são as únicas ativas durante o sono); os alunos levavam consigo um veículo capaz de percepção, por causa de sua conexão com os centros sensoriais do Corpo Denso; e, também, com o poder de memória. Ele possuía essas capacidades porque era composto pelo terceiro e quarto Éteres, que são os meios de percepção sensorial e memória.
Essa é, de fato, a parte do Corpo Vital que o Aspirante retém vida após vida, e imortaliza como a Alma Intelectual.
Desde que Cristo veio e “levou embora o pecado do mundo” (não o individual), purificando o Corpo de Desejos de nosso Planeta, a conexão entre todos os Corpos Densos e Vitais dos humanos tem se afrouxado de tal maneira que, pelo treinamento, eles são capazes de separação como acima descrita. Portanto a Iniciação é possível a todos.
A parte mais sutil do Corpo de Desejos, que constitui a Alma Emocional, é capaz de separação na maioria das pessoas (de fato, elas possuíam esta capacidade antes mesmo da vinda de Cristo). É então, quando, pela concentração e o uso da fórmula apropriada, as partes mais sutis dos veículos terem sido segregadas para uso durante o sono, ou em qualquer outra ocasião, as partes inferiores dos Corpos de Desejos e Vital são, ainda, deixadas para executar o processo de restauração no veículo denso, uma parte meramente animal.
Essa parte do Corpo Vital que se retira é altamente organizada, como vimos. Ela é uma perfeita contraparte do Corpo Denso. O Corpo de Desejos e a Mente, não sendo organizados, são de uso apenas por estarem conectados com o Corpo Denso, altamente organizado. Quando estão separados dele são apenas pobres instrumentos. Portanto, antes que o ser humano possa retirar-se do Corpo Denso, os centros sensoriais do Corpo de Desejos precisam ser acordados.
O Aspirante à vida superior cultiva a faculdade de se absorver, quando desejar, qualquer assunto de sua escolha, ou melhor, não a um assunto normalmente, mas a um simples objeto, que ele imagine. Então, quando as condições apropriadas ou o ponto de absorção tenham sido alcançados com seus sentidos completamente serenos, ele concentra seu pensamento sobre os diferentes centros sensoriais do Corpo de Desejos e eles começam a girar.
Deveríamos ser muito agradecidos pelo instrumento material que temos, pois é o mais útil de todos os nossos veículos. Enquanto, que é perfeitamente verdade que nosso Corpo Denso é o mais inferior de nossos veículos, é também um fato que esse veículo é o mais completo de nossos instrumentos, e sem ele os demais veículos seriam de pouco uso para nós no momento. Pois, enquanto este esplendidamente bem-organizado instrumento nos possibilita enfrentar mil e uma condições na Terra, nossos veículos superiores acham-se praticamente não organizados. O Corpo Vital é formado órgão a órgão como o nosso Corpo Denso, mas até estar treinado pelos Exercícios Esotéricos ele não é um instrumento adequado para funcionar sozinho. O Corpo de Desejos tem apenas certo número de centros sensoriais que não são realmente ativos na grande maioria das pessoas, e quanto a Mente, ela é uma nuvem sem forma para a grande maioria. No momento devemos ter como objetivo espiritualizar o instrumento físico, e deveríamos compreender que temos que treinar nossos veículos superiores antes que possam ser de utilidade. Para o maior número de pessoas isso vai levar muito, muito tempo. Portanto, o melhor é cumprirmos com as obrigações que estão ao nosso alcance. Assim apressamos o dia em que estaremos capacitados a usar os veículos superiores, pois, esse dia depende de nós.
Todos nós nos tornamos muito mais impregnados de materialismo mais do que percebemos, e isso é um obstáculo em nossa conquista. Como Estudantes Rosacruzes da Filosofia Rosacruz, nos acostumamos a considerar a vida individual e intermitente num Corpo Vital como uma conquista possível para poucos, mas o total da Humanidade poderá viver permanentemente por toda uma época no ar! Verdadeiramente, isso me faz prender o fôlego quando percebo que a Bíblia significa exatamente o que diz quando afirma que encontraremos o Senhor no ar e com Ele ficaremos por toda essa Época.
Quando o Cristianismo tiver completamente espiritualizado o Corpo Vital, um degrau ainda mais alto será a Religião do Pai, que como o mais alto Iniciado do Período de Saturno vai ajudar o ser humano a espiritualizar o Corpo Denso que foi iniciado no Período de Saturno. Então até a Fraternidade será ultrapassada; não haverá nem eu nem vós, pois todos serão Unos em Deus conscientemente, e o ser humano terá se emancipado pela ajuda dos Anjos, Arcanjos e Poderes Superiores.
As Orações, os Rituais e Exercícios são importantes na espiritualização do Corpo Vital.
Se, pelas orações frequentes, obtivermos o perdão pelas injúrias que fizemos aos outros e se fizermos toda reparação possível, purificando nossos Corpos Vitais perdoando aqueles que erraram contra nós, e eliminarmos todo mal sentimento, nos livraremos de muitos infortúnios post-mortem, além de prepararmos o lugar para a Irmandade Universal, que depende em particular da vitória do Corpo Vital sobre o Corpo de Desejos. Em forma de memória, o Corpo de Desejos impressiona no Corpo Vital a ideia de vingança. Um temperamento sereno diante dos vários aborrecimentos da vida diária significa vitória, por isso o Aspirante deve procurar controlar o seu temperamento, pois isso inclui trabalho em ambos os corpos. A Oração do Senhor inclui isso também, pois quando vemos que estamos fazendo alguém sofrer, nós observamos e procuramos encontrar a causa. Perda de controle é uma dessas causas com origem no Corpo de Desejos.
Muitas pessoas abandonam a vida física com o mesmo temperamento que trouxeram, mas o Aspirante tem que sistematicamente subjugar todas as tentativas do Corpo de Desejos de assumir o comando. Isso pode ser feito concentrando-se em ideais elevados, que fortalecem o Corpo Vital, sendo muito mais eficaz que as orações comuns da igreja. Os cientistas ocultos usam concentração em vez da oração, porque aquela está acompanhada da ajuda da Mente, que é fria e sem sentimento, enquanto a oração é normalmente ditada pela emoção. Quando ditada por uma devoção pura e altruísta a elevados ideais, a oração é muito superior a uma fria concentração. A oração nunca pode ser fria e sim deve apoiar-se nas asas do Amor para levar os eflúvios do místico para a Divindade.
O Espírito de Vida, na oração do Pai Nosso, roga à sua contraparte, o Filho, pela sua contraparte na natureza inferior, o Corpo Vital: “Perdoa as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tenha ofendido”.
A oração que trata das necessidades do Corpo Vital é “Perdoa as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tenha ofendido”.
O Corpo Vital é o assento da memória. Nela estão armazenados os registros subconscientes de todos os acontecimentos passados de nossa vida, bons ou maus, incluindo todos os sofrimentos infligidos ou sofridos, e os benefícios recebidos, ou os dados. Lembramos que o registro da vida é feito a partir dessas imagens logo após a saída do Corpo Denso por ocasião da morte, e que todos os sofrimentos da existência post-mortem são os resultados dos acontecimentos registrados nessas imagens.
O Corpo Vital sendo o depósito do panorama de nossas vidas, nossos próprios pecados e os erros que sofremos nas mãos dos outros lá estão gravados, daí que a quinta oração, “Perdoa as nossas ofensas assim como nós perdoamos quem nos tenha ofendido”, anuncia as necessidades do Corpo Vital. Ressalta-se que essa oração ensina a doutrina da remissão dos pecados nas palavras ‘perdoa-nos’, e a Lei de Consequência nas palavras ‘assim como nós perdoamos’, fazendo da nossa própria atitude para com os outros a medida de nossa emancipação.
Essa (a Oração Rosacruz) é o modelo de oração que eleva, que enobrece o ser humano, e quanto mais o ser humano cultive essa atitude mental, e alimente essas elevadas aspirações, mais ele elevará os dois Éteres Superiores para fora do Corpo Vital. As igrejas dizem “ore, ore, ore”, e elas estão bem em sintonia com o ensinamento oculto, pois desse modo o Corpo Vital está sendo trabalhado pela constante repetição das elevadas aspirações.
É desse modo que age tudo aquilo que tem Corpo Vital; então quando queremos atuar sobre o Corpo Vital devemos fazê-lo pelo método da repetição. Temos os quatro Éteres presentes no Corpo Vital, e os dois Éteres Inferiores cuidam das funções físicas, como nos lembramos em particular da conferência sobre Visão e Introvisão Espiritual. Vimos nela que os dois Éteres Superiores tinham que ser levados conosco quando queríamos funcionar nos Mundos superiores; e é esse repetido impacto que torna a divisão entre os dois Éteres Inferiores e os dois superiores possível. É nesse aspecto que as igrejas são ainda fatores do desenvolvimento espiritual, porque elas dizem para os devotos que eles têm que orar sem cessar. Mas não devemos orar de modo egoísta, temos que orar altruisticamente, e em harmonia com o Bem Universal. Quando rezamos para chover e nosso vizinho reza pela estiagem, tem que prevalecer o caos, se as orações forem atendidas. Nem devemos supor que seja para se negociar com Deus, como parece ser a concepção daqueles que bradam mais alto nas reuniões de oração. Existe certa atitude espiritual a ser alcançada que o místico conhece muito bem quando ele entra em seus aposentos.
A lei é um freio para a natureza de desejos, mas quando o progresso oculto, ou melhor, dizendo, o espiritual é almejado, a espiritualização do Corpo Vital deve ser também realizada. E isso é conseguido por meio da arte da Religião, em impactos repetidos com frequência, pois a nota chave do Corpo Vital é Repetição, como podemos ver, observando as plantas que possuem apenas um Corpo Denso e um Corpo Vital. Seus galhos e folhas seguem uns aos outros em sucessão contínua; as plantas os fazem crescer alternadamente. Foi o Corpo Vital que construiu as vértebras da coluna espinhal dos seres humanos, uma após a outra em constante repetição. E a memória, por exemplo, que é uma das faculdades do Corpo Vital, é fortalecida e desenvolvida pela iteração e reiteração constantes.
Quando os Protestantes saíram da Igreja Católica, eles em verdade deixaram muitos abusos para trás, mas também abandonaram quase tudo de valor. Eles abandonaram o ritual que todos deviam conhecer e compreender, apesar da má enunciação por parte do padre. Conhecendo o ritual, o leigo poderia enviar seus pensamentos na mesma direção do pensamento do padre que estivesse lendo, e assim uma enorme quantidade de pensamentos espirituais idênticos seriam reunidos juntos e projetados sobre a comunidade para bem ou para mal.
Aqueles que vão a uma igreja Católica compreendendo o ritual são, ainda hoje, capazes de unir seus pensamentos em conclave espiritual e guardar na memória o que se passou. Então, eles estão a todo o momento adicionando um pouco mais à espiritualização de seus Corpos Vitais, enquanto os membros da igreja Protestante foram afetados apenas em suas naturezas emocionais cujo efeito é logo perdido. A Bíblia nos diz para orarmos sem cessar, e muitos escarneceram dizendo que se Deus é omnisciente e Ele sabe do que necessitamos sem orarmos, e se Ele não o é, provavelmente não é onipotente, e por esse motivo nossas orações não serão atendidas, sendo então inútil orar. Mas, aquele mandamento foi estabelecido a partir do conhecimento da natureza do Corpo Vital, que necessita daquela repetição para que seja espiritualizado.
Antes de um ritual atingir seu efeito máximo, entretanto, aqueles que desse modo se destinam a crescer, precisam tornar-se afinados com ele. Isso envolve trabalho em seus Corpos Vitais, enquanto esses veículos estão ainda em formação.
É assunto de conhecimento oculto que o nascimento é um feito quádruplo, e que o nascimento do Corpo Denso é apenas um passo no processo. O Corpo Vital também passa por um desenvolvimento análogo ao do crescimento intrauterino do Corpo Denso. Ele nasce em torno do sétimo ano de vida.
Durante os sete anos seguintes o Corpo de Desejos amadurece e nasce em torno do décimo quarto ano, quando se atinge a adolescência, e a Mente nasce aos vinte e um, quando tem início à idade adulta.
Esses fatos ocultos são bem conhecidos pela Hierarquia Católica, e enquanto os ministros Protestantes trabalham sobre a natureza emocional, que está sempre procurando algo novo e sensacional sem perceber a inutilidade da luta e o fato de que é esse seu veículo mais exuberante que leva as pessoas das igrejas em busca de algo novo e mais sensacional, a Hierarquia Católica ocultamente informada concentra seus esforços nas crianças. “Dê-nos as crianças até sete anos e serão nossas para sempre”, eles dizem, e eles estão certos. Durante esses importantes sete anos eles impregnam os plásticos Corpos Vitais, de que estão encarregados nesse propósito, através da repetição. As orações repetidas, a duração e o tom dos vários cantos, e o incenso, tudo tem um poderoso efeito sobre o Corpo Vital em crescimento.
Então, todos os esforços para elevar a Humanidade trabalhando-se sobre o instável Corpo de Desejos são e sempre serão inúteis. Isso foi reconhecido por todas as escolas ocultas em todos os tempos e elas têm, portanto, se dirigido para a mudança do Corpo Vital, trabalhando com sua nota chave que é a repetição. Para esse propósito, elas escreveram vários rituais adequados à Humanidade nos diferentes estágios de seu desenvolvimento e desse modo elas têm favorecido o crescimento anímico, lenta, mas firmemente, sem se importar se o ser humano estava ou não ciente de estar sendo influenciado desse modo. O Antigo Templo de Mistério Atlante, do qual falamos no Tabernáculo no Deserto, tinha certos ritos prescritos no Monte pela divina Hierarquia que foi seu Mestre particular. Alguns rituais eram realizados durante os dias úteis. Outros ritos eram usados no Sábado, e ainda outros nas épocas de Lua Nova e nos grandes festivais solares. Ninguém abaixo do mais alto sacerdote tinha poder de alterar o ritual, sob pena de punição por morte.
Durante o sono as correntes do Corpo de Desejos fluem, e seus vórtices movem-se e giram com enorme rapidez. Mas logo que entra no Corpo Denso suas correntes e vórtices quase que são parados pela matéria densa e pelas correntes nervosas do Corpo Vital que levam e trazem as mensagens do cérebro. É o objetivo do exercício de retrospecção aquietar o Corpo Denso no mesmo grau de inércia e insensibilidade que prevalece durante o sono, embora o Espírito interno esteja perfeitamente desperto, alerta e consciente. Por isso estabelecemos uma condição em que os centros sensoriais do Corpo de Desejos podem começar a girar, enquanto permanece dentro do Corpo Denso.
Esses exercícios (Concentração e Retrospecção) serão improdutivos em resultados se não forem acompanhados por atos de amor, pois o amor será a nota-chave da idade que se aproxima, assim como a lei é a norma atual. A intensa expressão da primeira qualidade aumenta a luminosidade fosforescente e a densidade dos Éteres em nossos Corpos Vitais, as correntes de fogo rompem a ligação com o traje mortal e o ser humano, uma vez nascido da água ao emergir da Atlântida, agora nasce do espírito no Reino de Deus. A força dinâmica de seu amor abriu um caminho para a terra do amor, e indescritível é o júbilo entre os que já se encontram quando chegam novos invasores, pois cada um que chega apressa a vinda do Senhor e o estabelecimento definitivo do Reino dos Céus.
É uma máxima mística que “todo desenvolvimento espiritual começa com o Corpo Vital”. Esse Corpo é o mais próximo ao Corpo Denso em densidade. Sua nota-chave é a Repetição, e é o veículo dos hábitos sendo isso de certo modo difícil mudá-lo ou influenciá-lo, mas uma vez que a mudança tenha sido feita e um hábito adquirido pela repetição, seu desempenho torna-se automático de algum modo. Essa característica tanto é boa quanto má em relação à oração, pois a impressão gravada nos Éteres desse veículo vai impelir o Estudante Rosacruz a ser fiel à sua devoção em ocasiões estabelecidas, mesmo que ele tenha perdido o interesse no exercício e suas orações se tornado meras fórmulas. Se não fosse por essa tendência do Corpo Vital de formar hábitos, os Aspirantes acordariam para o perigo logo que o verdadeiro amor começasse a diminuir e seria, então, mais fácil reparar a perda e permanecer no Caminho. Por esse motivo o Aspirante deveria se examinar cuidadosamente de tempos em tempos para ver se ele ainda tem asas e poder com os quais sem hesitação e com firmeza possa se elevar ao Pai no Céu. As asas são em número de duas. Amor e Aspiração são seus nomes, e o poder irresistível que as impele é intensa ânsia. Sem esses e uma compreensão inteligente para direcionar a invocação, a oração é apenas um murmúrio; se realizada apropriadamente é o método mais poderoso de crescimento da alma.
Os átomos nos Corpos dos menos evoluídos vibram num ritmo extremamente lento, e quando no decorrer do tempo, uma dessas pessoas se desenvolve ao ponto em que seja possível favorecê-la no caminho da realização, é necessário aumentar essa frequência vibratória do átomo de modo que o Corpo Vital, que é o meio do crescimento oculto, possa de algum modo ser liberado das forças enfraquecedoras do átomo físico. Esse resultado é obtido por meio de exercícios respiratórios, que com o tempo aceleram as vibrações do átomo, e possibilita o crescimento espiritual necessário para o indivíduo realizar-se.
Anos atrás, quando o autor se iniciou no Caminho e estava imbuído da impaciência comum aos buscadores ardentes do conhecimento ele leu sobre os exercícios respiratórios publicados por Swami Vivekananda[20] e começou a seguir as instruções, e o resultado foi que depois de dois dias o Corpo Vital foi expulso do Corpo Denso. Isso produziu uma sensação de andar no ar, de ser incapaz de pôr os pés no chão duro; o Corpo todo parecia estar vibrando em enorme frequência. O bom senso veio em seu auxílio. Os exercícios foram interrompidos, mas foram necessárias duas semanas inteiras até a recuperação da condição normal de andar no chão com passo firme, e até o cessar das vibrações anormais.
O Corpo Vital é como um espelho, ou melhor, como a película de um filme; ele retrata as imagens do mundo externo segundo nossa faculdade de observação, e as ideias internas do Espírito que o habita segundo a clareza e o treino da Mente. Devoção e discernimento, ou ainda emoção e intelecto, determinam a nossa atitude para com essas imagens, e sua ação equilibrada leva a um desenvolvimento harmonioso. Quando suficientemente desenvolvidos, eles inevitavelmente trazem à tona o processo de purificação. O ser humano compreenderá que para alcançar o objetivo ele precisa abandonar tudo o que entrava as rodas do progresso. Um bom mecânico almeja ter as melhores ferramentas e mantê-las em perfeita ordem, pois ele sabe o valor delas na execução de um bom trabalho. Nossos corpos são ferramentas do Espírito e dependendo de como estejam desajustadas, impedem sua manifestação. O discernimento nos ensina o que está entravando o progresso e a devoção a uma vida superior ajuda a eliminar os hábitos os traços de caráter indesejáveis, suplantando o mero desejo.
FIM
[1] N.T.: Em torno de 1,3 cm
[2] N.T.: Ou Glândula Pituitária ou Hipófise: pequena glândula situada na cabeça
[3] N.T.: Aproximadamente 4 cm.
[4] N.T.: Aproximadamente 4 cm.
[5] N.T.: Prosper-René Blondlot foi um físico francês
[6] N.T.: Augustin Charpentier foi um físico francês
[7] N.T.: Uma cidade francesa
[8] N.T.: Eusápia Palladino (1854 – 1918) foi uma médium italiana. Foi a primeira médium de efeitos físicos a ser submetida a experiências pelos cientistas da época.
[9] N.T.: O movimento Immanuel ou Emmanuel é uma abordagem baseada na psicológica para a cura religiosa introduzida em 1906, como uma extensão da igreja Emmanuel em Boston, Massachusetts.
[10] N.T.: Mrs. Joy Snell
[11] N.T.: os chamados Exercícios Esotéricos Rosacruzes, bem detalhado no Livro Conceito Rosacruz do Cosmos
[12] N.T.: Dr. Duncan “Om” MacDougall (c.1866-1920) – médico americano
[13] N.T.: Medida de peso inglesa equivalente a 28,349 g.
[14] N.T.: aproximadamente 60 cm
[15] N.T.: da 1ª Guerra Mundial
[16] N.T.: 2,54 cm a 3,8 cm, aproximadamente
[17] N.T.: Dr. Duncan “Om” MacDougall (c.1866-1920) – médico americano
[18] N.T. do Livro Cristianismo Rosacruz – Max Heindel
[19] N.T.: Esse conceito de Éter prevaleceu na ciência oficial no início do século XX.
[20] N.T.: foi o principal discípulo do místico do século XIX Sri Ramakrishna Paramahamsa e fundador da Ordem Ramakrishna. É considerado uma figura chave na introdução da Vedanta e da Yoga no Ocidente, sobretudo na Europa e América.