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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Conceito Rosacruz do Cosmos: TERCEIRA PARTE – FUTURO DESENVOLVIMENTO E INICIAÇÃO DO SER HUMANO

TERCEIRA PARTE – FUTURO DESENVOLVIMENTO E INICIAÇÃO DO SER HUMANO   353

CAPÍTULO XV – Cristo e Sua Missão

A Evolução da Religião

Jesus e Cristo-Jesus

Não a Paz, mas uma Espada

A Estrela de Belém

O Coração, uma Anomalia

O Mistério do Gólgota

O Sangue Purificador

CAPÍTULO XVI – Desenvolvimento Futuro e A Iniciação

Os Sete Dias da Criação

Espirais dentro de Espirais

Alquimia e Crescimento da Alma

A Palavra Criadora

Capítulo XVII – Método para Adquirir o Conhecimento Direto

Os Primeiros Passos

Métodos Ocidentais para os Ocidentais

A Ciência da Nutrição

A Lei da Assimilação

Vivei e Deixai viver

A Oração do Senhor

O Voto de Celibato

O Corpo Pituitário e a Glândula Pineal

Treinamento Esotérico

Como os Veículos Internos são construídos

Concentração

Meditação

Observação

Discernimento

Contemplação

Adoração

CAPÍTULO XVIII – A Constituição da Terra e Erupções Vulcânicas

O Número da Besta

CAPÍTULO XIX – CHRISTIAN ROSENKREUZ E A ORDEM DOS ROSACRUZES

Antigas Verdades em Novas Roupagens

Iniciação

A Fraternidade Rosacruz

O Simbolismo da Rosacruz

Exercícios Noturno e Matinal Efetuados Pelo Aspirante Rosacruz

EPÍLOGO – O Poder de Cura Definitiva

TERCEIRA PARTE – FUTURO DESENVOLVIMENTO E INICIAÇÃO DO SER HUMANO

CAPÍTULO XV – Cristo e Sua Missão

Diagrama – Os Sete Dias da Criação

A Evolução da Religião

As duas partes anteriores desta obra familiarizaram-nos com o plano pelo qual o atual mundo externo veio à existência e o ser humano desenvolveu o complicado organismo que o relaciona com as condições exteriores. Em parte, também estudamos a Religião da Raça Judaica.

Consideremos, agora, a maior e divina medida tomada para salvação da humanidade, o Cristianismo, a Religião Universal do futuro.

É um fato notável que o ser humano e suas religiões têm evoluído paralelamente, em estágios iguais. A religião mais primitiva de qualquer raça é tão selvagem como o povo por ela governado. Conforme o povo se civiliza, a religião torna-se mais humana, harmoniza-se com mais elevados ideais.

Disto, os materialistas deduziram que a religião nunca teve uma origem superior ao próprio ser humano. As investigações históricas das eras primitivas deram-lhes a convicção de que o progresso do ser humano “civiliza” seu Deus e o modela à própria imagem.

É um raciocínio defeituoso. Não considera que o ser humano não é um Corpo, mas um espírito interno, um Ego que utiliza o Corpo com crescente facilidade conforme evolui.

Não há dúvida alguma: a lei para o Corpo é a “sobrevivência do mais apto”. Contudo, para o Espírito a lei de evolução pede “Sacrifício”. Enquanto o ser humano acreditar que a “força é um direito”, a Forma prosperará, far-se-á forte, e derrubará todos os obstáculos sem a menor consideração pelos demais. Se o Corpo fosse tudo, tal maneira de viver seria a única possível. Além disso, incapaz de sentir a menor consideração pelos outros, resistiria pela força a qualquer tentativa de usurpação do que considerasse seus direitos: o direito do mais forte, o único tipo de justiça condizente com a lei da “sobrevivência dos mais aptos”. Para coisa alguma teria em conta os demais. Seria absolutamente insensível a qualquer força externa que tentasse levá-lo a executar um ato contrário à satisfação de um momentâneo prazer.

É claro e manifesto: quando o ser humano se inclina para uma diretriz de conduta mais elevada no trato com os demais, o impulso deve vir de dentro, de uma fonte não idêntica à do Corpo. Do contrário não lutaria contra este, para fazer prevalecer esse impulso sobre os interesses mais óbvios do Corpo. Além disso, essa força tem que ser mais forte que a do Corpo, para triunfar e sobrepor-se aos desejos, impelindo ao sacrifício em benefício dos fisicamente mais débeis.

Que tal força existe ninguém poderá negar. E chegou a tal estado de desenvolvimento que, em vez de considerarmos a debilidade física um meio de tornar a vítima presa fácil e proveitosa, reconhecemos nessa mesma debilidade uma boa razão para proteger o débil. O egoísmo vai sendo corroído lenta mais seguramente pelo Altruísmo.

A Natureza é muito segura na realização dos seus propósitos. O processo é lento, mas o progresso é ordenado e certo. Como um fermento, essa força Altruística está trabalhando no peito de todos os seres humanos. Transforma o selvagem em civilizado e, com o decorrer do tempo, o transformará num Deus.

Por meios materiais não se pode compreender perfeitamente o que é verdadeiramente espiritual, mas uma ilustração facilitará esse entendimento.

Quando fazemos vibrar um de dois diapasões afinados exatamente no mesmo tom, o som induzirá a mesma vibração no outro. Esse vibrará fracamente, a princípio, mas continuando a golpear o primeiro, o segundo diapasão emitirá um som cada vez mais alto, até atingir um volume de som igual ao primeiro. Isto ocorre mesmo com os diapasões a vários pés de distância. Ainda que um deles esteja encerrado numa caixa de cristal, o som penetra através do vidro e faz o instrumento emitir um som igual.

As invisíveis vibrações sonoras têm grande poder sobre a matéria concreta. Podem destruir ou criar. Se colocarmos uma pequena quantidade de pó finíssimo sobre a placa de cristal plana e passarmos um arco de violino pela borda da placa, as vibrações produzidas farão o pó assumir belas formas geométricas. A voz humana também é capaz de produzir tais figuras, e sempre a mesma figura para o mesmo som.

Toquemos uma nota depois de outra em um instrumento musical, um piano, por exemplo, ou preferivelmente, um violino, em que se obtêm mais gradações de sons. Encontra-se um som que produz no ouvinte uma vibração clara e distinta na parte inferior da cabeça. Toda vez que se toque a nota, sente-se nesse lugar a mesma vibração. Essa nota ou som é a “nota-chave” da pessoa a quem afeta. Se for tocada lenta e suavemente, descansa e repousa o Corpo, tonifica os nervos e restaura a saúde. Se, ao contrário, é tocada alto e longamente, matará a pessoa tão certamente quanto uma bala de uma pistola.

Recordemos o que acabamos de dizer sobre a música e o som, e relacionemo-lo com o problema do despertamento e fortalecimento da força interna do Altruísmo. Talvez possamos compreender melhor o assunto.

Em primeiro lugar, note: os dois diapasões estavam afinados no mesmo tom. Não fora assim, poderíamos golpear um deles até rompê-lo que o outro permaneceria mudo. Fixemos isto claramente: a vibração pode ser induzida em outro diapasão, mas só por um do mesmo tom. De modo semelhante, qualquer coisa ou ser só pode ser afetado, como foi dito, pela nota-chave que lhe é particular.

Sabemos que aquela força altruística existe; sabemos que tem menor expressão num povo pouco civilizado do que num de elevado padrão social; e que falta quase totalmente nas raças inferiores. Logicamente, conclui-se que em tempo recuado, faltava por completo. Desta conclusão surge a pergunta: que ou quem a induziu?

Sem dúvida, a personalidade material nada tem a ver com ela. Essa parte da natureza humana sente-se até mais à vontade sem a despertada força altruística. Logo, o ser humano devia possuir latente essa força do Altruísmo, dentro de si. De outra maneira não a poderia ter despertado. Ainda mais, deve ter sido despertada por uma força da mesma espécie – uma força similar que já estivesse ativa – tal como a do primeiro diapasão que, “depois” que foi tocado, induziu a vibração no segundo.

Além disso, as vibrações do segundo diapasão tornavam-se cada vez mais fortes sob os contínuos golpes dados no primeiro, e a caixa de cristal que encerrava o segundo não era obstáculo algum à indução do som. Assim também, sob a continuidade do impacto do amor de Deus, dentro do ser humano, se desperta e aumenta a potência da força de igual natureza, o Altruísmo.

Portanto, é razoável e lógico admitir que, primeiramente, foi necessário dar ao ser humano uma religião apropriada à sua ignorância. Teria sido inútil ter-lhe falado, nesse estado, de um Deus todo amor e ternura. Consideraria esses atributos uma debilidade. Não se poderia esperar que reverenciasse um Deus possuidor de qualidades para ele desprezíveis. O Deus a quem reverenciaria seria um Deus forte, um Deus temível, um Deus que tivesse o raio, o trovão e o poder para fulminar.

Primeiramente, o ser humano viu-se impelido a temer a Deus. Para seu próprio bem espiritual, foram-lhe dadas religiões que tinham como base o látego do temor.

Depois, em segundo grau, ele foi induzido a certa classe de desinteresse que o coagiu a dar parte dos seus melhores bens como sacrifício. Isto foi conseguido pelo Deus de Raça ou Tribo, um Deus zeloso que exigia a mais estrita reverência e obediência, além do sacrifício dos bens que o ser humano ciosamente apreciava. Contudo, esse Deus de Raça era um amigo todo poderoso, ajudava os seres humanos em suas batalhas, e devolvia-lhes multiplicados os carneiros e cereais que lhe eram sacrificados. O ser humano não chegara ainda ao estado de compreender que todas as criaturas são semelhantes, mas o Deus de Tribo ensinou-lhe a tratar benevolamente seus irmãos de tribo e a fazer leis equitativas e amplas para os seres humanos da mesma raça.

Não imaginemos que estes progressivos passos do ser humano primitivo foram dados facilmente, sem rebeliões ou desobediências. Deve ter havido muitos fracassos e retrocessos sabendo como, até nossos dias, o egoísmo está enraizado na natureza inferior.

Na Bíblia judaica podemos encontrar bons exemplos de como o ser humano se esqueceu dos seus deveres e de como o Espírito de Tribo o encaminhou, persistentemente, uma e outra vez. Só os extensos sofrimentos ditados pelo Espírito de Raça é que foram suficientemente capazes de encaminhá-lo dentro da lei, essa lei que tão poucas pessoas aprenderam a conhecer e a obedecer.

Avançados há que necessitam de algo mais elevado. Quando são suficientemente numerosos, a evolução dá um novo passo. A evolução apresenta gradações diversas. Em certo tempo dos últimos dois mil anos, os mais avançados da humanidade estavam aptos para mais um esforço e aprender a viver bem a vida, dentro de uma religião que assegurasse uma recompensa futura, um estado de existência em que deviam ter fé.

Foi um grande e trabalhoso passo. Era fácil levar uma ovelha ou novilho ao templo e oferecê-lo em sacrifício. Ao levar os primeiros frutos de suas colheitas, de suas vinhas, de suas hortas, sabia que teria ainda mais e que o Deus da Tribo voltaria a encher seus depósitos abundantemente. Agora, nesse novo passo, já não era questão de sacrificar os bens. Pediu-se que ele próprio se sacrificasse. Não num único supremo sacrifício, como o de um mártir, o que teria sido comparativamente fácil, mas que, dia a dia, de manhã à noite, agisse misericordiosamente com todos. Devia desprender-se do egoísmo e amar o próximo, como tinha amado a si mesmo. Outrossim, não lhe era prometida nenhuma recompensa visível e imediata, devia ter fé numa felicidade futura.

Será de admirar que o povo ache difícil realizar esse elevado ideal de agir bem continuamente? É coisa duplamente difícil porque exige que se relegue completamente o próprio interesse, e pede-se a ele sacrifício sem positiva garantia de recompensa. É gratificante constatarmos a prática do altruísmo e quanto este, para dignificação da humanidade, vem aumentando. A sabedoria dos Líderes, conhecendo a fragilidade do ser humano, a tendência a unir-se com os instintos egoístas do Corpo e os perigos do desânimo diante de tal norma de conduta, deram outro impulso edificante, ao incorporarem na nova religião a doutrina do perdão dos pecados.

Esta doutrina é desprezada por alguns filósofos muito avançados que têm a Lei de Consequência como suprema lei. Se acaso o leitor está de acordo com eles, rogamos que aguarde a explicação que adiante se dará, demonstrando que ambas formam parte do esquema de melhoramento e aperfeiçoamento. Por agora, basta dizer que esta doutrina de reconciliação fornece, às almas fervorosas, força necessária para lutar, apesar dos repetidos fracassos, e para conseguir a subjugação da natureza inferior. Recordemos que, pelas razões já indicadas, ao falarmos das leis de Renascimento e Consequência, a humanidade ocidental nada conhecia praticamente dessas leis. Tendo diante de si um ideal tão grande como o de Cristo, e crendo não ter mais do que curto número de anos de vida para realizar tão elevado grau de desenvolvimento, não teria sido a maior crueldade imaginável deixar a humanidade sem essa ajuda? O grande sacrifício do Calvário, se bem que tenha servido para outros propósitos que serão indicados, converteu-se na Luz de Esperança para todas as almas fervorosas que estão se esforçando por realizar o impossível: efetuar numa única e curta vida a perfeição exigida pela Religião Cristã.

Jesus e Cristo-Jesus

Para obter ligeiro vislumbre do grande Mistério do Gólgota e compreender a Missão de Cristo como fundador da Religião Universal do futuro, é necessário conhecer primeiramente a natureza exata dessa missão. Incidentalmente, conheceremos a natureza de Jeová, a cabeça das Religiões de Raça, como o Taoísmo, Budismo, Hinduísmo, Judaísmo, etc., e a identidade do “Pai”, a quem Cristo, em tempo próprio, entregará o Reino.

No credo cristão encontra-se esta sentença: “Jesus-Cristo, o unigênito Filho de Deus”. Para a generalidade dos seres humanos, estas palavras reportam-se a certa pessoa, aparecida na Palestina há uns dois mil anos, de Quem se fala como Jesus-Cristo, um indivíduo somente, “o unigênito Filho de Deus”.

É um grande erro. Nessa sentença é caracterizado três Seres bem distintos e diferentes. É da maior importância que o Estudante compreenda claramente a natureza exata desses três Grandes e Exaltados Seres, enormemente diferentes em glória, mas que merecem nossa mais profunda e devotada adoração.

Rogamos ao Estudante que observe o Diagrama 6. Notará que “O Único Gerado” (o “Verbo” de que fala São João) é o segundo aspecto do Ser Supremo.

Unicamente esse “Verbo” foi “engendrado por Seu Pai (o primeiro aspecto) antes de todos os Mundos”. “Sem Ele nada do que foi feito se fez”[1], nem mesmo o terceiro aspecto do Ser Supremo, que procede dos dois aspectos anteriores. Portanto, o “único engendrado” é o exaltado Ser que está além de todo o Universo, salvo unicamente o aspecto-Poder d’Aquele que O criou.

O primeiro aspecto do Ser Supremo concebe ou imagina o Universo antes do começo da manifestação ativa, incluindo os milhões de Sistemas Solares e as grandes Hierarquias que habitam os seis planos cósmicos de existência além do sétimo, o campo da nossa evolução (veja-se o Diagrama 6). Esta Força também dissolve tudo o que se tem cristalizado sem mais possibilidade de ulterior crescimento. Quando chega o final da manifestação ativa, ela reabsorve em Si mesma tudo que existe, até o alvorecer de outro novo Período de Manifestação.

O segundo aspecto do Ser Supremo manifesta-se na matéria como forças de atração e coesão, dando-lhe a capacidade de combinar-se em várias classes de formas. Esse é o Verbo, o “Fiat Criador”. Modela a Substância-Raiz-Cósmica primordial de modo semelhante ao que produz as figuras geométricas por meio de vibrações musicais, como antes se indicou o mesmo som originando sempre as mesmas figuras. Assim, o grande e primordial “Verbo” trouxe a existência, em sutilíssima matéria todos os diferentes mundos e suas miríades de formas que, desde esse tempo, foram copiadas e trabalhadas em pormenores pelas inúmeras Hierarquias Criadoras.

Entretanto, o “Verbo” não podia fazer isso antes do terceiro aspecto do Ser Supremo preparar e despertar do seu estado normal de inércia a Substância-Raiz-Cósmica, pondo os inumeráveis átomos inseparáveis a girar em seus eixos, colocando esses eixos em diferentes ângulos uns em relação aos outros, e dando a cada estrutura atômica diferente “grau de vibração”.

Os diferentes ângulos de inclinação dos eixos e as intensidades vibratórias permitem à Substância-Raiz-Cósmica formar diferentes combinações. Tais combinações constituem a base dos sete grandes Planos Cósmicos. Havendo diferentes inclinações dos eixos e diferentes intensidades vibratórias em cada um desses planos, as condições e combinações de cada um dos planos são diferentes das de qualquer outro, em consequência da atividade do “Único Engendrado”.

Segundo o Diagrama 14:

Diagrama 14 – O Pai, o Filho e o Espírito Santo

O “Pai” é o mais elevado Iniciado da humanidade do Período de Saturno. À humanidade ordinária daquele Período pertenciam os que são agora os Senhores da Mente.

O “Filho” (Cristo) é o mais elevado Iniciado do Período Solar. A humanidade comum desse Período pertencia os que são agora os Arcanjos.

O “Espírito Santo” (Jeová) é o mais elevado Iniciado do Período Lunar. À humanidade comum desse Período pertenciam os que são agora os Anjos.

Esse Diagrama 14 mostra também quais eram os veículos dessas diferentes ordens de Seres. Comparando com o Diagrama 8, ver-se-á que seus Corpos ou veículos (indicados por retângulos em negro no Diagrama 14) correspondem aos Globos do Período em que foram humanos. É sempre assim, pelo menos no relativo às humanidades ordinárias. Ao fim do Período em que uma onda de vida se individualiza em seres humanos, esses seres retêm Corpos correspondentes aos Globos nos quais funcionaram.

Por outra parte, os Iniciados desenvolvem veículos superiores, para eles mesmos. Deixam de usar os veículos inferiores quando obtém a capacidade de empregar um veículo novo e superior. Ordinariamente, o veículo inferior de um Arcanjo é o Corpo de Desejos. Cristo, o mais alto Iniciado do Período Solar, emprega geralmente o Espírito de Vida como veículo inferior. Funciona tão conscientemente no Mundo do Espírito de Vida como nós no Mundo Físico. Rogamos ao Estudante que note de modo particular esse ponto porque o Mundo do Espírito de Vida é o primeiro Mundo Universal, conforme explicamos no primeiro capítulo, sobre os Mundos. Nesse mundo cessa a diferenciação e começa a manifestar-se a unidade, pelo menos quanto ao nosso Sistema Solar.

Cristo tem o poder de construir e funcionar num veículo tão inferior como o Corpo de Desejos, o veículo usado pelos Arcanjos, mas não pode descer mais. O significado disso será agora examinado.

Jesus pertence à nossa humanidade. Estudando o ser humano Jesus na Memória da Natureza, podemos segui-lo em suas vidas anteriores. Nelas viveu sob diversas circunstâncias, sob vários nomes, em diferentes encarnações, do mesmo modo que outro qualquer ser humano. Isto não sucede com o Ser Cristo. No Seu caso só pode encontrar-se uma única encarnação.

Todavia, não se imagine que Jesus tenha sido um indivíduo comum. Era de Mente singularmente pura, muito superior à grande maioria da nossa presente humanidade. Esteve percorrendo o Caminho da Santidade através de muitas vidas, preparando-se para a maior honra que poderia ter recebido um ser humano.

Sua mãe, a Virgem Maria, possuía, também, a mais elevada pureza humana, por isso foi escolhida para ser a mãe de Jesus. O pai, José, era um elevado Iniciado, capaz de realizar o ato de fecundação como um sacramento, sem nenhum desejo ou paixão pessoal.

Em consequência, o formoso, puro e amoroso espírito conhecido pelo nome de Jesus de Nazaré veio ao mundo num Corpo puro e sem paixões. Esse Corpo era o melhor, o mais perfeito que se podia produzir na Terra. A tarefa de Jesus, nesta encarnação, era cuidar e desenvolver o seu Corpo até o maior grau de eficiência possível para o grande propósito a que devia servir.

Jesus de Nazaré nasceu mais ou menos no tempo indicado pela História, e não no ano 105 antes de Cristo, conforme indicam algumas obras ocultistas. O nome Jesus era comum no Oriente. Um iniciado chamado Jesus viveu no ano 105 A.C. e obteve a Iniciação egípcia. Não foi Jesus de Nazaré, com quem estamos a relacionar-nos.

O indivíduo que mais tarde se encarnou sob o nome de Christian Rosenkreuz, já estava em grau de evolução muito elevado quando nasceu Jesus de Nazaré. Está encarnado, atualmente. Seu testemunho, assim como o resultado das investigações diretas de outros Rosacruzes, concorda em que o nascimento de Jesus de Nazaré teve lugar no princípio da Era Cristã, na data que geralmente se atribui.

Jesus foi educado pelos Essênios e alcançou um elevado grau de desenvolvimento espiritual durante os trinta anos de uso do seu Corpo.

Podemos dizer, num parêntese, que os Essênios constituíam uma terceira seita na Palestina, além das duas mencionadas no Novo Testamento, os Fariseus e os Saduceus. Os Essênios formavam uma ordem extremamente devota, muito diferente da dos materialistas saduceus e completamente oposta aos hipócritas e vaidosos fariseus. Evitavam toda menção de si e de seus métodos de estudo e de adoração. Esse particular explica por que nada se sabe deles nem são mencionados no Novo Testamento.

É lei do Cosmos: por mais elevado que seja nenhum ser pode funcionar em qualquer mundo sem um veículo construído do material desse mundo (Ver os Diagramas 8 e 14). Por esse motivo, o Corpo de Desejos era o veículo mais baixo do grupo de espíritos que alcançaram o estado humano no Período Solar.

Cristo, um desses espíritos, era incapaz de construir para Si um Corpo Vital e um Corpo Denso. Podia ter trabalhado sobre a humanidade com um Corpo de Desejos, do modo que fizeram como Espíritos de Raça, seus irmãos mais jovens, os Arcanjos. Jeová Lhe teria aberto o caminho para entrar no Corpo Denso do ser humano. Todas as Religiões de Raça foram religiões de leis, originadoras do pecado como consequência da desobediência a essas leis. Tais religiões estavam sob a direção de Jeová que, tendo por veículo inferior o Espírito Humano, está correlacionado ao Mundo do Pensamento Abstrato, onde se origina o separatismo, conducente ao benefício próprio. A unidade era impossível. Precisamente por esta razão, foi necessária a intervenção de Cristo que possuía como veículo inferior o unificante Espírito de Vida. Por esse motivo, devia aparecer como um ser humano entre os seres humanos. Devia entrar num Corpo humano denso, porque unicamente de dentro é possível conquistar a Religião de Raça, que afeta o ser humano de fora.

Cristo não podia nascer num Corpo Denso. Não tendo nunca passado por uma evolução semelhante à do Período Terrestre, teria de adquirir, primeiramente, a capacidade de construir um Corpo Denso como o nosso. Porém, ainda que tivesse essa capacidade, seria inconveniente para um Ser tão elevado empregar energia na construção do Corpo durante a vida pré-natal, a infância, a juventude, e levá-lo até a maturidade indispensável.

Ele deixara de empregar ordinariamente o Espírito Humano, o Corpo Mental e o de Desejos, embora tivesse aprendido a construí-los no Período Solar e retivesse a capacidade de construí-los e de neles funcionar quando fosse necessário.

Cristo usou todos esses veículos próprios e só tomou de Jesus os Corpos Vital e Denso. Quando Jesus atingiu trinta anos de idade, Cristo penetrou nesses Corpos e empregou-os até o final de Sua Missão, no Gólgota. Depois da destruição do Corpo Denso, Cristo apareceu entre os discípulos em Corpo Vital, no qual funcionou ainda durante algum tempo. O Corpo Vital é o veículo que Ele empregará quando aparecer novamente. Nunca tomará outro Corpo Denso.

Com isto se relaciona o objetivo de todo treinamento esotérico, de que falaremos mais tarde, que é trabalhar sobre o Corpo Vital, para construir o Espírito de Vida e acelerar seu desenvolvimento. Quando tratarmos da Iniciação, será possível dar outros pormenores. Agora não é possível dizer mais sobre o assunto. Esse ponto já foi parcialmente tratado ao descrever os acontecimentos relativos à existência pós-morte. Rogamos ao Estudante tenha em conta o seguinte: supõe-se que o ser humano, antes de entrar no esoterismo, já deve ter conquistado em grande extensão o seu Corpo de Desejos. O treinamento esotérico e as primeiras Iniciações são destinados a preparar o Corpo Vital, a fim de ser organizado o Espírito de Vida. Jesus, quando Cristo tomou o seu Corpo, era um discípulo de grau elevado e, por conseguinte, seu Espírito de Vida estava em organizado. Vemos, portanto, que o veículo inferior em que funcionou Cristo e o melhor organizado dos veículos superiores de Jesus eram idênticos. Cristo, ao tomar os Corpo Vital e Denso de Jesus, encontrou-se com uma série completa de veículos, desde o Mundo do Espírito de Vida até o Mundo Físico.

Jesus já alcançara as mais elevadas vibrações do Espírito de Vida e passou por várias Iniciações para obter o necessário efeito sobre o Corpo Vital. O Corpo Vital de um ser humano comum ter-se-ia paralisado instantaneamente sob as intensíssimas vibrações do Grande Espírito que entrou no Corpo de Jesus. Até esse Corpo, puríssimo e ultrassensível como era, não podia suportar durante muitos anos os tremendos impactos vibratórios d’Aquele. Quando lemos que, em certa ocasião, Cristo se afastava dos seus discípulos, ou caminhava sobre o mar em sua procura, o esoterista sabe que Cristo tinha abandonado momentaneamente os veículos de Jesus para dar-lhes descanso, deixando-os ao cuidado dos Irmãos Essênios que, melhor que Cristo, sabia como deviam cuidar de tais veículos.

Esta cessão foi consumada com pleno e livre consentimento de Jesus. Ele soube que, durante a encarnação inteira, estava preparando um veículo para Cristo. Submeteu-se alegremente, para que o desenvolvimento da humanidade pudesse receber o gigantesco impulso que lhe foi dado pelo misterioso sacrifício do Gólgota.

Como se vê no Diagrama 14, Cristo Jesus possuía os doze veículos que formam uma ininterrupta cadeia desde o Mundo Físico até o próprio Trono de Deus. Portanto, Ele é o único Ser do Universo que está em contato, ao mesmo tempo, com Deus e com o ser humano. É capaz desta mediação porque experimentou, pessoal e individualmente, todas as condições e conhece todas as limitações incidentais à existência física.

Cristo é único entre todos os Seres dos sete Mundos. Unicamente Ele possui os doze veículos. Ninguém, a não ser Ele, é capaz de sentir tão elevada compaixão e compreender tão amplamente a situação e as carências da humanidade. Ninguém, só Ele, está qualificado para trazer o remédio que satisfaça todas as nossas necessidades.

Assim, ficamos conhecendo a natureza de Cristo, o Iniciado mais elevado do Período Solar, que tomou os Corpo Vital e Denso de Jesus para poder funcionar diretamente no Mundo Físico e aparecer como um ser humano entre os seres humanos. Se o seu aparecimento se desse de maneira milagrosa, estaria em desacordo com o plano evolutivo porque, ao final da Época Atlante, a humanidade obteve a liberdade de agir bem ou mal. Para aprender a dominar-se não podia ser empregada sobre ela nenhuma coação. Devia conhecer o bem e o mal por meio da experiência. Antes desse tempo, os seres humanos tinham sido conduzidos, voluntariamente ou não, mas, depois se deu a eles liberdade, sob diferentes Religiões de Raça, cada uma delas adaptada às necessidades de cada Tribo ou Nação.

Não a Paz, mas uma Espada

Todas as Religiões de Raça são do Espírito Santo. Baseadas na lei são insuficientes, porque produzem o pecado e acarretam a morte, a dor e a tristeza.

Todos os Espíritos de Raça sabem disso e compreendem que suas religiões são, tão somente, passos necessários para atingir algo melhor. Todas as Religiões de Raça, sem exceção, indicam Alguém que virá, o que demonstra a assertiva anterior. A religião dos persas indica a Mithras; a dos Caldeus, a Tammuz. Os antigos deuses do norte previam a aproximação da “Luz dos Deuses”, quando Surt, o brilhante Sol-Espiritual viesse substituí-los e uma nova e mais formosa ordem se estabelecesse em “Gimle”, a Terra regenerada.

Os egípcios esperavam a Horus, o Sol recém-nascido. Mithras e Tammuz são também simbolizados como órbitas solares e todos os templos principais eram construídos com frente para Leste, para que os raios do Sol nascente pudessem brilhar diretamente através das portas abertas. O templo de São Pedro, em Roma, foi assim edificado. Todos estes fatos demonstram que, geralmente, era sabido que Aquele que viria seria um Sol Espiritual, para salvar a humanidade das influências separatistas das Religiões de Raça.

Essas religiões foram os passos necessários à humanidade a fim de prepará-la para a vinda de Cristo. O ser humano deve primeiramente cultivar um “eu”, antes de poder ser desinteressado e compreender o aspecto superior da Fraternidade Universal, que exprime unidade de propósitos e interesses. Cristo lançou as primeiras bases da Fraternidade Universal em sua primeira vinda. Tal Fraternidade será coisa verdadeiramente realizada quando Ele voltar.

Como o princípio fundamental de toda Religião de Raça é a separação, que indica o engrandecimento próprio a expensas de outros seres humanos e nações, é evidente que, levado às suas últimas consequências, esse princípio teria necessariamente uma tendência destrutiva e frustraria a evolução, a menos que a Religião de Raça fosse substituída por uma religião mais construtiva.

As religiões separatistas do Espírito Santo devem dar lugar à unificante religião do Filho, a Religião Cristã.

A lei deve ceder lugar ao Amor, e as raças e nações separadas devem unir-se numa Fraternidade Universal, tendo Cristo como Irmão Maior.

A Religião Cristã não teve ainda o tempo necessário para realizar esse grande objetivo. Até agora o ser humano está sob a influência do dominante Espírito de Raça. Os ideais do Cristianismo ainda são demasiado elevados para ele. O intelecto pode ver nesses ideais algumas belezas e facilmente admite que devemos amar os nossos inimigos, mas as paixões do Corpo de Desejos permanecem demasiado fortes. Sendo a lei do Espírito de Raça “olho por olho”, o sentimento afirma: “hei de me vingar”. O coração pede Amor, mas o Corpo de Desejos anseia por vingança. O intelecto vê, em abstrato, a beleza de amar os nossos inimigos, mas nos casos concretos, alia-se aos sentimentos vingativos do Corpo de Desejos com a desculpa de fazer justiça, porque “o organismo social deve ser protegido”.

É motivo de satisfação, não obstante, que a sociedade sinta desejo de criticar os métodos empregados. Os métodos corretivos e a misericórdia vão-se tornando cada vez mais preponderantes na administração das leis, como demonstrou a favorável acolhida feita a essa instituição moderna, os Tribunais para Menores. Podemos notar outras manifestações desta tendência na frequência com que são suspensas as sentenças e deixados à prova prisioneiros convictos, e no espírito da humanidade que nos tempos atuais se usa para com os prisioneiros de guerra. É a vanguarda do sentimento de Fraternidade Universal que está fazendo sentir sua lenta, mas segura influência.

Embora o mundo esteja progredindo e, por exemplo, tenha sido fácil ao autor assegurar boa assistência às conferências feitas em diversas cidades que visitou (havendo jornais que lhe dedicou páginas inteiras e até primeiras páginas) enquanto se limitou a falar dos mundos superiores e dos estados pós-morte, pôde comprovar que tão logo era abordado o tema da Fraternidade Universal, seus artigos passavam sempre para o cesto de papéis.

Em geral, o mundo não gosta de considerar coisas que julga “demasiado” altruísta. Deve haver uma razão para isso. Não considera norma de conduta natural a que não ofereça uma oportunidade de “conseguir alguma coisa dos seus semelhantes”. As empresas comerciais são planejadas e conduzidas segundo esse princípio. Ante a Mente desses que estão escravizados ao desejo de acumular riquezas inúteis, a ideia da Fraternidade Universal evoca as terríveis visões da abolição do capitalismo e sua inevitável consequência, a exploração dos demais, e enfim, o fatal naufrágio dos “interesses de negócios”. A palavra “escravizados” descreve exatamente a condição. De acordo com a Bíblia, o ser humano deveria ter domínio sobre o mundo, mas na grande maioria dos casos, o inverso é a verdade: o mundo é que tem domínio sobre o ser humano. Cada ser humano que tenha interesses próprios admitirá, em momentos de lucidez, que as posses constituem uma fonte inesgotável de aborrecimentos, que se vê constantemente obrigado a traçar planos para conservar seus bens, ou pelo menos cuidar deles para evitar perdê-los, pois sabe “por dura experiência” que os outros estão sempre procurando tomá-los. O ser humano é escravo de tudo aquilo que, por inconsciente ironia, chama de “minhas posses” quando, em realidade, são elas que o possuem. Bem disse o Sábio de Concord[2]: “São as coisas que vão montadas e cavalgam sobre a humanidade”.

Esse estado resulta das Religiões de Raça e seus sistemas de leis; por isso, todas elas assinalam “Aquele que deve vir”. A Religião Cristã é a única que não espera Aquele que deve vir, mas sim Aquele que deve voltar. Sua volta se fará quando a Igreja se liberte do Estado. A Igreja, especialmente na Europa, está atrelada ao carro do Estado. Os ministros de Igreja encontram-se coibidos por considerações econômicas, não se atrevem a proclamar as verdades que seus estudos lhes têm revelado.

Recentemente, um viajante assistiu, em uma igreja de Copenhague (Dinamarca), a uma cerimônia de confirmação. Naquele país, a Igreja está sob o domínio do Estado e todos os seus ministros estão sob o poder temporal. Os fiéis nada têm a dizer sobre o assunto. Podem frequentar a igreja ou não, como queiram, mas são obrigados a pagar as taxas que sustentam a instituição.

Além de efetuar os ofícios sob a direção do Estado, o pastor da igreja visitada era condecorado com várias ordens conferidas pelo rei. O brilho das faixas oficiais era um silencioso, mas eloquente testemunho da grande escravidão a que está submetida a Igreja pelo Estado. Durante a cerimônia, o pastor rogou pelo rei e pelos legisladores, para que estes pudessem reger o país sabiamente.

Enquanto existirem reis e legisladores, essa oração será muito apropriada, mas foi muito chocante ouvi-lo exclamar ao final: “…e, o Todo-Poderoso Deus protege e fortifica nosso exército e armada”.

Uma oração semelhante só demonstra claramente que o Deus adorado é o Deus da Tribo ou Nacional, o Espírito de Raça. O último ato de Cristo Jesus foi arrancar a espada das mãos do amigo que queria protegê-lo, todavia, Ele disse que não tinha vindo para trazer a paz, mas uma espada. Disse-o porque previa os mares de sangue que as nações “cristãs” militantes provocariam, em consequência da má interpretação dos seus ensinamentos. Seus elevados ideais não podiam ser imediatamente alcançados pela humanidade. São terríveis os assassínios nas guerras e outras atrocidades semelhantes, mas são também potentes ilustrações daquilo que o amor há de abolir.

É aparente a contradição entre as palavras de Cristo Jesus (“Eu não venho trazer a paz, mas uma espada”[3]) e as palavras do cântico celestial que anunciava o nascimento de Jesus: “Paz na Terra, e boa vontade entre os homens”[4].

É a mesma contradição aparente que existe entre as palavras e os atos de uma mulher que diz: “vou limpar toda a casa e arrumá-la”. E começa a tirar os tapetes, a empilhar as cadeiras, etc., produzindo uma desordem geral na casa anteriormente em ordem. Quem observasse unicamente esse aspecto, poderia exclamar justificadamente: “está pondo as coisas piores do que antes”. Contudo, quando compreender o propósito do trabalho, compreenderá também a momentânea desordem, sabendo que a casa ficará, depois, em melhores condições.

Analogamente, devemos ter presente que o tempo transcorrido desde a vinda de Cristo Jesus não é mais do que um momento, quando comparado com um só Dia de Manifestação. Aprendemos a conhecer, como Whitman[5], “a amplitude do tempo”, e a olhar além das passadas e presentes crueldades e dos zelos das seitas em guerra, a caminho da Fraternidade Universal. Essa marcará o grande novo passo do progresso humano em sua larga e gloriosa jornada desde o barro até Deus, desde o protoplasma até a consciente unidade com o Pai, esse

… distante e divino acontecimento,

para o qual se move a criação inteira.

O pastor anteriormente mencionado, ao receber os fiéis na igreja disse-lhes, durante a cerimônia, que Jesus-Cristo era um indivíduo composto: Jesus era a parte humana mortal, enquanto Cristo era o Espírito imortal e divino. Se o assunto fosse discutido, cremos, ele não sustentaria a afirmação, apesar de ter anunciado um fato oculto.

A Estrela de Belém

A unificante influência de Cristo foi simbolizada na formosa lenda da adoração dos três reis magos ou “sábios do Oriente”, tão maravilhosamente descrita pelo General Lew Wallace[6], em sua encantadora história “Ben Hur”.

Os três sábios, Gaspar, Melchior e Baltazar, representam as raças branca, amarela e negra, e simbolizam os povos da Europa, Ásia e África guiados pela Estrela ao Salvador do Mundo, diante de Quem “todo joelho se dobraria”[7] e a Quem “toda língua louvaria”[8]. Aquele que uniria todas as nações debaixo da bandeira da Paz e da boa vontade. Aquele que levaria os seres humanos a “converter suas lanças em arados e suas espadas em foices”.

Diz-se que a Estrela de Belém apareceu ao nascer Jesus e guiou os três sábios para o Salvador.

Muito se especulou acerca da natureza dessa estrela. A maioria dos seres humanos que estudam a ciência materialista tem declarado que ela não passa de um mito, enquanto para outros, se fosse algo mais do que um mito, seria a simples “coincidência” de dois sóis mortos que, ao chocarem-se teria produzido uma explosão. Não obstante, todo místico conhece a “Estrela”, sim, e a “Cruz” também, não somente como símbolos relacionados com a vida de Jesus e de Cristo Jesus, mas também por meio de suas experiências pessoais. São Paulo disse: “até que o Cristo nasça de vós”[9]; e o místico Angelus Silesius[10] escreveu:

“Ainda que Cristo nasça mil vezes em Belém,

Se não nascer dentro de ti, tua alma segue extraviada.

Olharás em vão a Cruz do Gólgota,

Enquanto ela não se erguer dentro de ti mesmo novamente.”

Richard Wagner mostrou seu conhecimento intuitivo de artista quando, à pergunta de Parsifal[11]: “Quem é o Graal? “ – Responde Gurnemanz:

Não podemos dizer-te;

porém, se foste guiado por Ele,

não te será oculta a verdade.

… Nenhum caminho conduz até Ele

e procurá-Lo é inútil,

salvo se Ele mesmo for o Guia.

Sob a “antiga dispensação” o caminho da Iniciação não estava aberto senão para poucos escolhidos. Alguns podiam procurar o caminho, mas só os guiados ao Templo pelos Hierofantes podiam encontrar a entrada. Antes da vinda de Cristo, não havia convite algum semelhante ao atual: “Todo aquele que queira pode vir”.

No momento em que o sangue fluiu no Gólgotao véu do Templo rasgou-se[12] (por razões que agora serão explicadas) e, daí para diante, quem procura sua admissão, encontra-a.

Nos Templos de Mistérios, os Hierofantes[13] ensinavam aos discípulos que no Sol há uma força espiritual além de energia física. Esta última, a dos raios solares, é o princípio fecundante da Natureza. Produz o crescimento das plantas, sustenta e conserva os Reinos animal e humano. É uma energia construtora, fonte de toda força física. Alcança mais elevada expressão em meados do verão, quando os dias são maiores e mais curtas as noites, porque os raios solares caem diretamente sobre o hemisfério norte, em junho. Nesse tempo, as forças espirituais são mais inativas.

Pelo contrário, em dezembro, durante as longas noites de inverno[14], a força física solar está adormecida e as forças espirituais alcançam seu grau máximo de intensidade[15].

A noite entre 24 e 25 de dezembro é, em todo o ano, a Noite Santa por excelência. O Signo zodiacal da imaculada Virgem Celestial está sobre o horizonte oriental à meia-noite, e o Sol do ano novo nasce e começa sua jornada do ponto mais austral, em direção ao hemisfério norte, para (fisicamente) salvar essa parte da humanidade da obscuridade e da fome inevitáveis, caso permanecesse sempre abaixo do Equador.

À meia-noite de 24 de dezembro, para os povos do hemisfério norte, onde nasceram todas as Religiões atuais, o Sol está diretamente abaixo da Terra e as influências espirituais são fortíssimas.

Em tal momento, nessa noite, aos que desejassem, pela primeira vez, dar um passo na Iniciação, seria muitíssimo mais fácil se porem em contato consciente com o Sol Espiritual.

Por esse motivo, nos antigos templos, os discípulos preparados para a Iniciação eram levados pelas mãos dos Hierofantes dos Mistérios e, por meio de cerimônias que se realizavam no Templo, eram elevados a um estado de exaltação, no qual transcendiam toda condição física. A Terra tornava-se transparente à sua visão espiritual e eles viam o Sol da meia-noite: a “Estrela”! Não era o Sol físico, seu salvador físico, o que viam com os seus olhos espirituais, mas o Espírito do Sol, o Cristo, seu Salvador Espiritual.

Essa Estrela que brilhou na Santa Noite ainda brilha para o místico na obscuridade da noite. Quando o ruído cessa e a confusão da atividade física se aquieta, então ele entra em seu interior e procura o caminho que conduz ao Reino da Paz. A brilhante Estrela está sempre ali para guiá-lo e sua alma ouve a canção profética: “Paz na terra e boa vontade entre os homens” [16].

Paz e boa vontade a todos, sem exceção, não excluindo nem os inimigos. É de admirar que custe muito a educar a humanidade para esse tão elevado tipo de moral? Há algum meio melhor para demonstrar a beleza e a necessidade da paz, da boa vontade e do amor do que compará-los com o estado atual de guerras, egoísmos e ódios?

Quanto mais forte é a luz, tanto mais profunda é a sombra que projeta. Quanto mais altos os ideais, mais claramente podemos ver nossos defeitos.

Lamentavelmente, em nosso atual estado de desenvolvimento, a humanidade só pode aprender por meio de duríssimas experiências. Apegada à raça, tem de sentir-se absolutamente egoísta, para que possa provar as amarguras que lhe produz o egoísmo alheio, assim como é preciso conhecer a enfermidade para reconhecer-se quanto vale a saúde.

A Religião impropriamente chamada Cristã tem sido a mais sangrenta que se conhece, sem excetuar o Maometismo[17] que, a esse respeito, é muito parecido com o nosso mal praticado Cristianismo. Nos campos de batalha e durante a Inquisição, cometeram-se atrocidades inqualificáveis em nome do doce e meigo Nazareno. A espada e o vinho, isto é, a cruz e o cálice da comunhão pervertidos, foram os meios de que se valeram as poderosas nações chamadas cristãs para dominar os povos pagãos e as nações mais débeis que professavam a mesma fé que os seus conquistadores. O mais ligeiro exame da história greco-latina ou das raças teuto-anglo-saxônicas corroborará amplamente essa afirmação.

Enquanto o ser humano esteve plenamente sob o governo das Religiões de Raça de cada nação, cada uma destas era um conjunto unido. Os interesses individuais subordinavam-se voluntariamente aos interesses da comunidade. Todos estavam “na lei”. Todos eram, em primeiro lugar, membros de suas respectivas tribos e, secundariamente indivíduos.

Nos tempos presentes, há tendência para ir ao outro extremo, exaltando-se o “eu” sobre tudo o mais. O resultado é evidente nos problemas econômicos e industriais, surgidos em todas as nações, cujos problemas clamam por pronta solução.

O estado de desenvolvimento em que o ser humano sinta-se uma unidade absolutamente separada, um Ego que segue seu caminho independentemente, é condição necessária. A unidade nacional, de tribo ou de família, precisa ser desfeita para que a Fraternidade Universal possa ser um fato. O regime do paternalismo foi já amplamente sucedido pelo reinado do Individualismo. Agora, conforme a civilização avança, estamos aprendendo o que esse último tem de mau. O desordenado método de distribuir os produtos do trabalho, a avidez de uns poucos e a exploração de muitos, todos esses crimes sociais produzem o enfraquecimento, as depressões econômicas e perturbações nas classes trabalhadoras, destruindo a paz interna. A guerra industrial dos nossos dias é muito pior e mais destrutiva do que as guerras militares entre as nações.

O Coração, uma Anomalia

Nenhuma lição é de valor real como princípio ativo de vida se a sua verdade for aprendida superficialmente. Deverá ser assimilada através do coração, pela aspiração e pela amargura. A lição principal que, por esse modo, o ser humano deve aprender é: o que não beneficia a todos não beneficia realmente a ninguém.

Durante cerca de dois mil anos temos concordado, de boca apenas, em agir e dirigir a vida segundo a máxima: “respondei ao mal com o bem”. O coração pede benevolência e amor. Contudo, a razão pede beligerância e medidas punitivas, se não como vingança, pelo menos como meio de prevenir uma repetição de hostilidades. Esse divórcio entre o coração e a cabeça impede o crescimento do verdadeiro sentimento de Fraternidade Universal e a adoração dos ensinamentos de Cristo, o Senhor do Amor.

A Mente é o foco através do qual o Ego percebe o mundo material. Como instrumento para aquisição do conhecimento é inestimável nesse domínio. Porém, ao arrogar-se o papel de ditador da conduta do ser humano para com os semelhantes, a Mente está em caso análogo ao das lentes do telescópio que, focalizadas para o Sol, dissessem ao astrônomo: “estamos mal enfocadas, não estamos bem de frente ao Sol, não cremos que seja bom focalizar o Sol, preferimos que focalizeis a Júpiter. Os raios do Sol esquentam-nos demasiadamente e podem danificar-nos”.

Se o astrônomo, empregando sua vontade, focaliza o telescópio a seu talante, como que dizendo às lentes para se ocuparem na transmissão dos raios que recebem, deixando para ele os resultados, o trabalho efetuar-se-á devidamente. Porém, se o mecanismo do telescópio estivesse ligado às lentes e elas tivessem uma vontade mais forte, o astrônomo ver-se-ia seriamente coibido e, tendo de lutar para manter o instrumento em boa forma, inevitavelmente as imagens sairiam confusas, fracas, imprecisas ou sem valor.

Assim acontece com o Ego. Trabalha com um Tríplice Corpo que governa, ou deveria governar através da Mente, mas, triste é dizê-lo, esse Corpo, tem uma vontade própria, é ajudado quase sempre pela Mente, e frustra os propósitos do Ego.

Esta antagônica “vontade inferior” é expressão da parte superior do Corpo de Desejos. Quando se deu a divisão do Sol, na Época Lemúrica, e a Terra, que incluía a Lua, se separou, a parte mais avançada da humanidade nascente experimentou no Corpo de Desejos uma divisão em duas partes, a superior e a inferior. O resto da humanidade sofreu divisão semelhante na primeira parte da Época Atlante.

A parte superior do Corpo de Desejos converteu-se numa espécie de alma-animal. Construiu o Sistema Nervoso cérebro-espinhal e os músculos voluntários, dominando por esse meio a parte inferior do Tríplice Corpo, até que o elo de ligação, a Mente, foi agregado. Então, a Mente uniu-se a essa alma-animal fazendo-se co-regente.

Portanto, a Mente está limitada pelos desejos, submersa na egoísta natureza inferior, o que torna difícil ao Espírito o governo do Corpo. A Mente, o foco – que deveria aliar-se à natureza superior – está unida à natureza inferior, escrava do desejo.

As Religiões de Raça e suas leis foram dadas para emancipar o intelecto do desejo. O “temor a Deus” foi posto contra os “desejos da carne”, mas não bastava para conseguir o domínio do Corpo e garantir sua cooperação voluntária. Foi necessário que o espírito encontrasse no Corpo outro ponto de apoio, que não estivesse sob o domínio do Corpo de Desejos. Não nos músculos porque são expressões do Corpo de Desejos, e formam um caminho direto até o ponto principal onde a Mente traidora está unida ao desejo e reina suprema.

Se os Estados Unidos estivessem em guerra com a França não desembarcaria suas tropas na Inglaterra, esperando dominar a França, mas desembarcariam os soldados diretamente na França, para que lutassem ali.

Assim, o Ego, como sábio general, segue uma conduta semelhante. Não começa sua campanha adquirindo domínio sobre alguma das glândulas, porque estas são expressões do Corpo Vital. É-lhe impossível adquirir domínio sobre os músculos voluntários, muito bem defendidos pelo inimigo. A parte involuntária do sistema muscular, sob a direção do Sistema Nervoso simpático, seria também inútil para esse objetivo.

O Ego tem que conquistar um contato mais direto com o Sistema Nervoso cérebro-espinhal. Nesse sentido, para conseguir uma base de operações no próprio campo inimigo, deve dominar um músculo que seja involuntário e que, ao mesmo tempo, esteja relacionado com o Sistema Nervoso voluntário, mas não sob sua direção. Esse músculo é o coração.

Já falamos anteriormente das duas classes de músculos: voluntários e involuntários. Esses últimos têm suas fibras em sentido longitudinal, e são relacionados com as funções que estão fora do domínio da vontade, como a digestão, a respiração, a excreção, etc. Os músculos voluntários, como os das mãos e dos braços, são dominados pela vontade, por meio do Sistema Nervoso voluntário. Suas fibras estão dispostas longitudinalmente cruzando-se com estrias transversais.

Estas particularidades são exatas para todos os músculos menos para o coração, que é um músculo involuntário. Normalmente, nós não podemos controlar a circulação. Sob condições normais, a batida do coração é de uma quantidade constante, ainda que para confusão dos fisiólogos, o coração seja estriado, como se fosse um músculo voluntário. É o único órgão do Corpo que exibe essa peculiaridade, porém, como esfinge, recusará dar aos cientistas materialistas uma resposta que resolva o enigma.

O ocultista pode encontrar facilmente a resposta na Memória da Natureza. Nessa fonte vê que o coração, quando o Ego procurou, pela primeira vez, firmar-se aí, era estriado apenas longitudinalmente, tal como qualquer outro músculo involuntário. À medida que o Ego foi adquirindo domínio sobre o coração, foram-se desenvolvendo gradualmente as fibras transversais. Não são nem tão numerosas nem tão definidas como as dos músculos que estão debaixo do pleno domínio do Corpo de Desejos, mas, conforme os princípios altruísticos do amor e da fraternidade se vigorizem e gradualmente sobre passem a razão, baseada no desejo, essas estrias transversais serão mais numerosas e estruturadas.

Como indicamos anteriormente, o Átomo-semente do Corpo Denso está situado no coração e abandona-o quando a morte ocorre. A obra ativa do Ego está no sangue.

Com exceção dos pulmões, o coração é o único órgão do Corpo através do qual passa todo o sangue em cada ciclo.

O sangue é a expressão mais elevada do Corpo Vital, porque nutre todo o organismo físico. Em certo sentido, é também o veículo da memória subconsciente e está em contato com a Memória da Natureza, situada na divisão mais elevada da Região Etérica. O sangue leva as recordações da vida dos antecessores aos descendentes durante gerações, quando é um sangue comum, como acontece na endogamia.

Na cabeça há três pontos que são o assento particular de cada um dos três aspectos do espírito (veja-se o Diagrama 17). O segundo e terceiro aspectos têm outros pontos de sustentação secundários.

O Corpo de Desejos é expressão deturpada do Ego. Manifesta em “egoísmo” o que é a “individualidade” do Espírito. A individualidade não procura o seu em detrimento dos demais, enquanto o egoísta procura tudo possuir sem ter em conta os demais. O assento do Espírito Humano é, primariamente, a Glândula Pineal[18] e secundariamente, o cérebro, ou antes, o Sistema Nervoso cérebro-espinhal, que domina os músculos voluntários.

O amor e a unidade do Mundo do Espírito de Vida encontram sua contraparte ilusória na Região Etérica, com a qual estamos relacionados pelo Corpo Vital, o originador do amor sexual e da união sexual. O Espírito de Vida assenta, primariamente, no Corpo Pituitário[19] e, secundariamente, no coração, o regente do sangue que nutre os músculos.

O inativo Espírito Divino – o Observador Silencioso – encontra sua expressão material no passivo, inerte e insensível esqueleto do Corpo Denso, o obediente instrumento dos outros Corpos. Não tem o poder de atuar por iniciativa própria e tem sua fortaleza no impenetrável ponto da raiz do nariz.

Em pura realidade, o espírito é um só, porém, observado do Mundo Físico, o Ego refrata-se em três aspectos que se expressam da forma indicada.

O sangue, ao passar pelo coração, ciclo após ciclo, hora após hora, durante toda a vida, grava os acontecimentos nos Átomos-semente, enquanto permanecem frescos. Prepara um arquivo fidelíssimo da vida que, depois, na existência pós-morte, se imprimirá indelevelmente na alma. O coração está permanentemente em estreito contato com o Espírito de Vida, o espírito do amor e da unidade, o que o torna o foco do amor altruísta.

Após as imagens passarem ao Mundo do Espírito de Vida, em que se encontra a verdadeira Memória da Natureza, não voltam através dos lentos sentidos físicos, mas diretamente através do quarto Éter contido no ar que respiramos. No Mundo do Espírito de Vida o espírito pode ver muito mais claramente do que nos Mundos mais densos. Nesse elevado plano que lhe é próprio, está em contato com a Sabedoria Cósmica e, em qualquer situação, sabendo imediatamente o que há de fazer, envia sua mensagem de guia e de ação ao coração. Esse logo a retransmite ao cérebro por meio do nervo pneumogástrico. Assim se formam as “primeiras impressões”, os impulsos intuitivos, sempre bons, porque emanam diretamente da fonte cósmica de Sabedoria e Amor.

Isto é tão instantâneo que o coração tem tempo de efetuá-lo antes da razão, mais lenta, poder, por assim dizer, “considerar a situação”. Crê-se que o ser humano pensa em seu coração e é certo, porque “assim ele é”. O ser humano, inerentemente, em qualquer aspecto, é um Espírito Virginal, bom, nobre, verdadeiro. Tudo o que não é bom pertence à natureza inferior, o ilusório reflexo do Ego. O Espírito Virginal sempre está dando sábios conselhos. Se pudéssemos seguir os impulsos do coração, o primeiro pensamento, a Fraternidade Universal seria realizada agora mesmo.

No entanto, precisamente nesse ponto começam as complicações. Depois do bom conselho dado pela primeira impressão, começa o raciocínio e, na maioria dos casos, o cérebro domina o coração. O telescópio controla o próprio foco e aponta para onde quer, sem atender ao astrônomo. A Mente e o Corpo de Desejos frustram os desígnios do Espírito e tomam a direção, mas, como carecem da sabedoria do Espírito, tanto o Espírito como o Corpo sofrem as consequências.

Os fisiólogos notam que certas áreas do cérebro estão dedicadas a determinadas atividades mentais. Os frenólogos levaram esse ramo da ciência ainda mais além. Sabe-se também que o pensamento destrói o tecido nervoso e que esse desgaste do Corpo, como qualquer outro, é restaurado pelo sangue. Quando o coração se converter em músculo voluntário, a circulação do sangue ficará completamente sob o domínio do unificante Espírito de Vida, o Espírito do Amor. Então, terá o poder de impedir que o sangue flua a essas partes do cérebro dedicadas a propósitos egoístas. Esses centros mentais irão atrofiando-se gradualmente. Por outro lado, ser-lhe-á possível ativar o sangue quando as elaborações mentais foram altruístas, o que restaurará e vigorizará esses centros. A natureza passional será conquistada e, pelo Amor, a Mente será emancipada da escravidão do desejo. Só se emancipando completamente pelo Amor, o ser humano poderá elevar-se além da lei e converter-se, ele mesmo, numa lei. Tendo-se conquistado a si, conquistará então todo o mundo.

As estrias transversais do coração podem formar-se mediante certos exercícios de treinamento oculto. Alguns desses exercícios são perigosos e devem ser levados a cabo unicamente sob a direção de um instrutor competente. É nosso desejo que nenhum leitor desta obra se deixe enganar por impostores habilidosos e desejosos de atrair discípulos. Para evitar esse engano voltamos a repetir, mui seriamente: nenhum verdadeiro ocultista se gaba, anuncia seus poderes ocultos, nem vende lições a tanto cada uma ou a tanto o curso, ou consentirá jamais em fazer exibições. Realiza seu trabalho com a maior discrição possível e somente com o propósito de ajudar legitimamente os demais, sem pensar nunca em si mesmo.

Como dissemos no princípio desse capítulo, todas as pessoas desejosas de obter o conhecimento superior podem ter a mais absoluta confiança: se verdadeiramente o buscam, encontrarão aberto o caminho que a ele conduz. Cristo mesmo preparou o caminho para “quem o deseje”. Ele ajudará e abençoará a todo o verdadeiro investigador que deseje trabalhar pela Fraternidade Universal.

O Mistério do Gólgota

Durante os últimos 2.000 anos, muito se tem escrito sobre o “sangue purificador”. O sangue de Cristo tem sido exaltado nos púlpitos como o soberano remédio do pecado, como o único meio de salvação e redenção.

Se, de acordo com as leis do Renascimento e de Consequência, os seres evolucionados colhem do que têm semeado e, por outro lado, o impulso evolutivo está constantemente elevando a humanidade até alcançar a perfeição, onde está a necessidade de redenção ou de salvação? E, ainda que essa necessidade existisse como pode a morte de um indivíduo ajudar os outros? Não seria mais nobre cada um sofrer as consequências dos próprios atos do que escapar-se atrás do outro?

Eis algumas objeções à doutrina da redenção (ou perdão) dos pecados por meio da substituição e da redenção pelo sangue de Cristo Jesus. Iremos dar-lhes resposta antes de demonstrar a lógica e a harmonia existente na Lei de Consequência e na expiação de Cristo.

Em primeiro lugar, é absolutamente certo que o impulso evolutivo tem em vista levar todos os seres à suprema perfeição. Contudo, alguns estão ficando para trás. Atualmente, estamos ultrapassando o extremo ponto de materialidade e passando através das dezesseis raças. Ao percorrer os “dezesseis caminhos de destruição” estamos em grave perigo de atrasar-nos, muito mais do que em qualquer outro momento da jornada evolutiva.

Considerando em abstrato, o tempo nada é. Certo número de entidades pode ficar tão atrasado que tenha de ser abandonado. E prosseguirá sua evolução em outro plano evolutivo, onde possa continuar sua jornada para a perfeição. Todavia, originalmente, essa evolução não foi projetada para elas. É razoável supor que as exaltadas Inteligências encarregadas da nossa evolução empreguem todos os meios para vitoriosamente conduzir as entidades a seu cargo, tantas quantas lhes sejam possíveis.

Na evolução ordinária, as leis do Renascimento e de Consequência são perfeitamente adequadas para conduzir à perfeição a maior parte da onda de vida, mas não são suficientes para os atrasados das várias raças que têm ficado para trás. Durante o estado de individualização, o pináculo da separatividade ilusória, toda a humanidade necessita de ajuda extra, mas os atrasados necessitam ainda de um auxílio especial.

Para conferir esse auxílio especial, a fim de redimi-los, foi preparada a missão de Cristo. Ele disse que tinha vindo buscar e salvar os que estavam perdidos. Abriu o caminho da Iniciação para todos os que quisessem alcançá-lo.

Os que levantam objeções à doutrina da expiação dizem: é covardia esconder-se atrás de outrem; cada ser humano deve assumir as consequências dos próprios atos.

Consideremos o seguinte caso. As águas dos Grandes Lagos[20] afluem ao rio Niágara[21]. Esse enorme volume de água corre rapidamente para as cataratas, sobre um leito coberto de rochas, numa extensão de vinte milhas[22]. Se uma pessoa vai além de certo ponto e não perde a vida nos redemoinhos vertiginosos, perdê-la-á indubitavelmente ao cair na catarata.

Suponhamos que um ser humano, cheio de piedade pelas vítimas dessas águas, resolvesse colocar uma corda sobre as cataratas, ainda que soubesse serem tais as condições que não poderia depois escapar com vida. Apesar disso, de seu próprio gosto e livremente, sacrifica sua vida e coloca a corda, modificando o estado inicial. As vítimas abandonadas podem agarrar-se à corda e salvar-se.

Que pensaríamos de um ser humano que, tendo caído na água devido à sua falta de cuidado e estivesse lutando furiosamente contra a corrente, exclamasse: “Como? Salvar-me e procurar escapar ao castigo que a minha falta de cuidado merece? Amparar-me no sacrifício de quem sofreu sem culpa alguma e deu sua vida para que outros pudessem salvar-se? Não, nunca! Isso não seria digno de ‘um ser humano’! Assumirei as consequências dos meus erros! “.

Não concordaríamos que esse ser humano deveria estar louco?

Nem todos necessitam de salvação. Cristo sabia que um grande número não necessitaria salvar-se dessa maneira. Porém, tão certo como noventa e nove por cento se deixa conduzir pelas leis do Renascimento e de Consequência e, por essa forma, alcança a perfeição, assim os “pecadores” se submergiram tanto na corrente do materialismo que não lhe poderiam fugir sem aquela ajuda. Cristo veio para trazer paz e boa vontade a todos, e para salvar esses pecadores elevando-os ao ponto necessário de espiritualidade, produzindo uma modificação em seus Corpos de Desejos que tornará mais forte a influência do Espírito de Vida em seus corações.

Os irmãos menores de Cristo, ou Arcanjos, tinham trabalhado, como Espíritos de Raça, no Corpo de Desejos do ser humano. Sua obra foi efetuada de fora. Era uma força solar espiritual refletida através da Lua, tal como a luz lunar é o reflexo da luz solar. No entanto, Cristo, o Maior dos Iniciados dos espíritos solares, influenciou nossos Corpos de Desejos de dentro, ao entrar diretamente no Corpo Denso da Terra, trazendo consigo a força solar direta.

Se o ser humano encarasse o Sol durante muito tempo ficaria cego, porque as vibrações da luz solar são tão fortes que destruiriam a retina do olho. No entanto, pode olhar sem temor a Lua, porque tem vibrações muito mais fracas. A Lua absorve as vibrações fortes do Sol e reflete as restantes sobre nós.

O mesmo acontece com os impulsos espirituais que ajudam a evolução do ser humano. A Terra foi arrojada do Sol porque a humanidade não podia suportar seus tremendos impulsos físicos e espirituais. Apesar de encontrar-se a tão grande distância do Sol, o impulso espiritual seria ainda demasiado forte se não fosse enviado primeiramente à Lua para que Jeová, o Regente da Lua, o empregasse em benefício do ser humano. Certo número de Arcanjos (espíritos solares comuns) seguiu com Jeová, como auxiliares, para refletirem esses impulsos espirituais do Sol sobre a humanidade da Terra, em forma de religiões de Jeová ou de raça.

O veículo inferior dos Arcanjos é o Corpo de Desejos. Nosso Corpo de Desejos foi obtido no Período Lunar, que tinha Jeová como Iniciado mais elevado. Portanto, Jeová pode tratar do Corpo de Desejos do ser humano. O veículo inferior de Jeová é o Espírito Humano (veja-se o Diagrama 14) e sua contraparte é o Corpo de Desejos. Os Arcanjos são seus auxiliares e têm o poder de administrar as forças espirituais do Sol. Trabalham e preparam a humanidade até chegar o tempo em que receba os impulsos espirituais diretamente do Sol, sem intervenção da Lua. Cristo, o Iniciado mais elevado do Período Solar, tem a seu cargo a tarefa de enviar esse impulso. Jeová, ao refleti-lo, preparou a Terra e a humanidade para a admissão direta de Cristo.

A expressão “preparou a Terra” significa que toda evolução num Planeta é acompanhada pela evolução do próprio Planeta. Se algum observador, localizado em alguma estrela distante e dotado de visão espiritual, tivesse contemplado a evolução da Terra, teria notado uma mudança gradual em seu Corpo de Desejos.

Sob a Antiga Dispensação, o Corpo de Desejos humano era aperfeiçoado por meio da Lei. Ainda é desse modo que a maioria se prepara para a vida superior.

A Vida Superior (Iniciação) só tem início quando começa o trabalho no Corpo Vital. O meio empregado para pô-lo em atividade é o Amor ou, melhor dito, o Altruísmo. Tem-se abusado tanto da primeira palavra, amor, que já não sugere o significado aqui requerido.

Durante a Antiga Dispensação, o caminho da Iniciação não estava aberto para todos, e, sim para uns poucos. Os Hierofantes dos Mistérios escolhiam certo número de famílias. Eram levadas ao Templo, postas à parte das demais e guardavam rigorosamente certos ritos e cerimônias. Seus casamentos e relações sexuais eram regulados pelos Hierofantes.

Disso resultou uma raça que tinha o grau apropriado para separar o Corpo Vital do Denso e o poder de despertar o Corpo de Desejos, durante o sono, do seu estado de letargia. Desse modo, alguns foram postos em condições para a Iniciação, dando a eles oportunidades que não podiam ser concedidas a todos. Como exemplo, entre os judeus, encontramos a tribo de Levi, escolhida para prestar serviços no Templo. Entre os hindus, a única classe sacerdotal é a casta dos Brâmanes.

A missão de Cristo, além de salvar os que estavam perdidos, foi tornar possível a Iniciação para todos. Jesus surgiu do povo comum, não foi um levita, classe para quem era uma herança o sacerdócio. Ainda que não surgisse de uma classe de instrutores, seus ensinamentos foram superiores aos de Moisés.

Cristo Jesus não negou Moisés, nem a Lei, nem os profetas. Pelo contrário, confirmando-os, demonstrou ao povo que eles, ao indicarem Aquele que deveria vir, foram seus predecessores. Disse ao povo que tais coisas já tinham servido aos seus propósitos e que, para o futuro, o Amor deveria suceder à lei.

Cristo Jesus foi morto. Relativamente à sua morte, há uma diferença fundamental e suprema entre Ele e os antigos instrutores, em que se manifestaram os Espíritos de Raça. Tais instrutores morriam e deviam renascer uma e outra vez, para ajudar os seus povos no cumprimento de seu destino. Moisés, em quem se manifestou o Arcanjo Miguel (o Espírito de Raça dos judeus), foi conduzido ao Monte Nebo, onde deveria morrer. Moisés renasceu como Elias[23]; e Elias voltou como João Batista. Buda morreu e renasceu como Shankaracharya[24]. Shri Krishna[25] disse: “onde quer que decaia Dharma[26] (…) e (…) surge uma exaltação de Adharma[27], então Eu mesmo venho para proteger o bem e destruir os que fazem o mal, para salvaguardar o firme restabelecimento de Dharma. Eu nasço de tempos a tempos”.

Quando chegou a morte, o rosto de Moisés brilhou e o Corpo de Buda iluminou-se. Todos eles tinham chegado ao estado em que o espírito começa a brilhar de dentro e, então, morreram.

Cristo Jesus chegou a esse estado no Monte da Transfiguração. É sumamente significativo que Seu trabalho real teve lugar depois desse acontecimento. Ele sofreu, foi morto e ressuscitou.

Ser morto é mui diferente de morrer. O sangue, que tinha sido o veículo do Espírito de Raça, devia fluir e ser purificado de toda influência contaminadora. O amor ao pai e à mãe, com exclusão de todos os demais pais e mães, devia ser abandonado. De outra maneira, a Fraternidade Universal e o Amor altruísta que a todos abarca não poderiam jamais converter-se em fatos reais.

O Sangue Purificador

Quando o Salvador, Cristo Jesus, foi crucificado, seu Corpo foi ferido em cinco lugares, nos cinco centros por onde fluem as correntes do Corpo Vital. A pressão da coroa de espinhos produziu um fluxo no sexto centro também (isto é um vislumbre para os que já conhecem essas correntes. Uma explicação ampla não pode, por enquanto, ser dada publicamente).

Quando o sangue fluiu desses centros, o grande Espírito Solar, Cristo, libertou-se do veículo físico de Jesus. Encontrando-se na Terra com Seus veículos individuais, compenetrou os veículos planetários, já existentes e, num abrir e fechar de olhos difundiu Seu próprio Corpo de Desejos pelo Planeta, o que permitiu, daí para diante, trabalhar sobre a Terra e sobre a humanidade, de dentro.

Naquele momento, uma poderosa onda de luz espiritual solar inundou a Terra. O véu do Templo rompeu-se, o véu que o Espírito de Raça tinha colocado ante o Templo, para resguardá-lo de todos, menos dos poucos escolhidos. Desde aquele tempo, o caminho da Iniciação ficou aberto para quem nele queira entrar. Subitamente, como um relâmpago, essa onda transformou as condições da Terra no que diz respeito aos Mundos Espirituais. As condições densas e concretas, obviamente, são afetadas muitos mais lentamente.

Como toda vibração rápida e intensíssima de luz, o brilho fulgurante dessa grande onda de claridade cegou o povo. Por isso se diz que “o Sol se obscureceu”. O acontecido foi precisamente o oposto: o Sol não se tornou obscuro. Ao contrário: brilhava com glorioso esplendor. Foi o excesso de luz que ofuscou o povo. Quando a Terra absorveu o Corpo de Desejos do brilhante Espírito Solar, a vibração baixou a uma intensidade mais normal.

A expressão “o sangue purificador de Cristo Jesus” significa que o sangue que fluiu no Calvário está ligado ao Grande Espírito Solar, Cristo. Por esse meio, assegurou Sua admissão na própria Terra e, desde aquele momento, é seu Regente. Difundiu seu próprio Corpo de Desejos por todo o Planeta, purificando-o de todas as baixas influências desenvolvidas sob o regime do Espírito de Raça.

Sob a Lei, todos pecavam e, mais ainda, não podiam ser ajudados. Não se tinham desenvolvido até o ponto de poderem agir com retidão, por Amor. Era tão forte a natureza de desejos que se tornava impossível dirigi-la. As dívidas contraídas sob a Lei de Consequência tinham tomado proporções colossais. A evolução ter-se-ia demorado terrivelmente e muitos perderiam nossa onda de vida se não fossem ajudados.

Por tais motivos, Cristo veio para “buscar e salvar os que estavam perdidos”[28]. Limpou os pecados do mundo com o seu sangue purificador, o que lhe permitiu entrar na Terra e na humanidade. A Ele, ao fazer essa purificação, devemos a possibilidade de atrair para os nossos Corpos de Desejos matéria emocional mais pura do que antes. Ele continua trabalhando para ajudar-nos, tornando o ambiente que nos rodeia cada vez mais puro.

Que isto se efetuou e continua realizando-se à custa de um grande sofrimento para Ele, é coisa que ninguém pode duvidar; isso se for capaz de formar a mínima ideia das limitações suportadas por esse Grande Espírito ao entrar nas restritivas condições da existência física. A sua atual limitação como Regente da Terra não é menos dolorosa. Certamente, Ele é também Regente do Sol, pelo que só parcialmente fica confinado à Terra. Contudo, as limitações produzidas pelas lentíssimas vibrações do nosso Planeta denso devem ser quase insuportáveis.

Se Cristo Jesus não ressurgisse ter-lhe-ia sido impossível executar Sua obra. Os cristãos têm um Salvador ressuscitado; Alguém que está sempre presente para ajudar os que invoquem o Seu Nome. Tendo sofrido em tudo como nós e conhecendo plenamente todas as nossas necessidades, é o lenitivo para todos os nossos erros e fracassos, enquanto continuarmos lutando e procurando viver uma boa vida. Devemos ter sempre presente que o único verdadeiro fracasso é deixar de lutar.

Depois da morte do Corpo Denso de Cristo Jesus, os Átomos-sementes foram devolvidos a seu primitivo dono, Jesus de Nazaré que, algum tempo depois, funcionando temporariamente em um Corpo Vital que construíra, instruiu o núcleo da nova fé formado por Cristo. Jesus de Nazaré, desde aquele tempo, tem conservado a direção dos ramos esotéricos, existentes em toda a Europa.

Em vários lugares, os Cavaleiros da Távola Redonda foram altos Iniciados dos Mistérios da Nova Dispensação. Os Cavaleiros do Graal, a quem foi confiado o Cálice de José de Arimatéia, que tinha sido empregado por Cristo Jesus na Última Ceia, foram também altos Iniciados desses Mistérios. A estes foram entregues também a Lança que feriu o peito do Salvador e o receptáculo que recolheu o sangue da ferida.

Os Druidas[29] da Irlanda e os Trottes do Norte da Rússia constituíram, também, escolas esotéricas, nas quais trabalhou Jesus na chamada “Idade Média”. Na Idade Média, ainda que bárbara, fluía o impulso espiritual. Do ponto de vista oculto, era, em realidade, uma “Idade Brilhante”, comparada com o crescente materialismo dos últimos trezentos anos que, se aumentou imensamente os conhecimentos físicos, por outro lado, quase extinguiu a Luz do Espírito.

Os relatos do Santo Graal, dos Cavaleiros da Távola Redonda, etc. são considerados como superstições, visto ser olhado como indigno de ser acreditado o que não pode ser demonstrado materialmente. Gloriosas como são, as descobertas da ciência moderna foram adquiridas ao elevado preço do aniquilamento da intuição espiritual. Do ponto de vista superior, nunca amanheceram dias tão tenebrosos como os atuais.

Os Irmãos Maiores, Jesus entre Eles, têm lutado e lutam por equilibrar essa poderosa influência que, semelhante aos olhos da serpente, obriga o passarinho a cair em suas fauces. Cada tentativa para iluminar o povo e para nele despertar o desejo de cultivar o lado espiritual da vida é uma evidência da atividade dos Irmãos Maiores.

Possam seus esforços ser coroados de êxito e apressar o dia em que a ciência moderna, espiritualizada, encaminhe as investigações sobre a matéria, do ponto de vista do espírito. Então, e não antes, compreenderemos e conheceremos, verdadeiramente, o mundo.

CAPÍTULO XVI – Desenvolvimento Futuro e A Iniciação

Os Sete Dias da Criação

Ao Período Terrestre os Rosacruzes chamam Marte-Mercúrio. O grande Dia da Manifestação Criadora, pelos quais têm passado e passarão os Espíritos Virginais, em sua peregrinação através da matéria, deram nome aos dias da semana:

DiaCorrespondente aoRegido porDia da criação
SábadoPeríodo de SaturnoSaturno1
DomingoPeríodo SolarSol2
Segunda-feiraPeríodo LunarLua3
Terça-feiraPrimeira metade do Período TerrestreMarte4
Quarta-feiraSegunda metade do Período TerrestreMercúrio
Quinta-feiraPeríodo de JúpiterJúpiter5
Sexta-feiraPeríodo de VênusVênus6

O Período de Vulcano é o último Período do nosso plano evolutivo. A quintessência de todos os Períodos precedentes é extraída por recapitulação, espiral após espiral. Nenhum novo trabalho é feito até a última Revolução, do último Globo, na Sétima Época. Portanto, pode-se dizer, o Período de Vulcano corresponde à semana, que inclui todos os sete dias.

Está bem fundamentada a afirmação dos astrólogos de que os dias da semana são regidos pelo astro particular que indicam. Os antigos estavam familiarizados com esses conhecimentos ocultos, como demonstram suas mitologias, onde os nomes dos deuses eram associados aos dias da semana. Saturday (sábado) é, simplesmente, o dia de Saturno; Sunday (domingo) está relacionado com o Sol, e Monday (segunda-feira) relaciona-se com a Lua. Os latinos chamavam à terça-feira “Dies Martis”, o que mostra claramente sua relação com Marte, o deus da guerra. O nome Tuesday (terça-feira) deriva de “Tirsdag”, “Tir” ou “Tyr”, o nome do deus escandinavo da guerra. Wednesday (quarta-feira) era Wotanstag, de Wotan, também um deus do norte; os latinos denominavam-no “Dies Mercurii”, demonstrando assim sua relação com Mercúrio, conforme indicamos em nossa lista.

Thursday ou Thorsdag (quinta-feira) chamava-se assim porque “Thor” era o deus do trovão, e os latinos denominavam-no “Dies Jovis”, com o dia do deus do trovão “Jove” ou Júpiter.

Friday (sexta-feira) era assim chamado porque a deusa do norte que encarnava a beleza chamava-se “Freya”. Por análogas razões, os latinos chamavam-no “Dies Veneris”, o dia de Vênus.

Esses nomes dos Períodos nada têm a ver com os Planetas físicos. Referem-se às encarnações passadas, presente e futuras da Terra. Como no dizer do axioma hermético: “assim como é em cima, é em baixo”, o macrocosmo tem suas encarnações como as tem o ser humano, o microcosmo.

A ciência oculta diz que há 777 encarnações, o que não quer significar que a Terra sofra 777 metamorfoses. Significa que a vida que está evoluindo faz:

7 Revoluções em torno dos

7 Globos dos

7 Períodos Mundiais

Esta peregrinação involutiva e evolutiva e o caminho reto da Iniciação estão simbolizados no Caduceu ou “Cetro de Mercúrio” (veja o Diagrama 15). É assim chamado porque esse símbolo oculto indica o caminho da Iniciação, aberto unicamente desde o princípio da metade mercurial do Período Terrestre. Alguns Mistérios Menores foram dados aos primitivos lemurianos e atlantes, mas não as Quatro Grandes Iniciações.

Diagrama 15 – O Simbolismo do Caduceu

A serpente negra do Diagrama 15 indica o caminho cíclico e tortuoso da Involução, e compreende os Período de Saturno, Solar, Lunar e a metade marciana do Período Terrestre. Durante esse intervalo, a vida, que está evoluindo, construiu seus veículos, mas só adquiriu plena e clara consciência do mundo externo na última parte da Época Atlante.

A serpente branca representa o caminho que seguirá a humanidade através da metade mercurial do Período Terrestre e dos Períodos de Júpiter, de Vênus e de Vulcano. A consciência humana expandir-se-á durante esta peregrinação, até alcançar a onisciência, a Inteligência Criadora. Enquanto a grande maioria dos seres humanos segue o caminho serpenteante, o Cetro de Mercúrio em que se enrolam as serpentes mostra o “estreito e reto caminho”, o Caminho da Iniciação. Os que por ele viajam, realizam em poucas vidas o que requer milhões de anos para a maioria da humanidade.

Não é possível fazer qualquer descrição das cerimônias Iniciáticas. O primeiro voto do Iniciado é o do silêncio. Contudo, ainda que o relato fosse permitido, não teria maior importância. Para nós, basta indicar os resultados de tais cerimônias para ter uma visão geral do caminho evolutivo. Em síntese, a Iniciação fornece ao Aspirante espiritual uma oportunidade de desenvolver, em curto tempo e por meio de um treinamento mui severo, suas faculdades e poderes superiores. Por ela se alcança a expansão da consciência que toda a humanidade possuirá num futuro distante. A grande maioria só a conseguirá seguindo o lento processo da evolução comum. Podemos conhecer os estados de consciência e os poderes correspondentes alcançados pelo candidato que passa através das sucessivas Grandes Iniciações. Já demos alguns vislumbres. Outros mais podem ser deduzidos pela lei de correspondências de modo a poderem dar-nos uma visão de conjunto da evolução que nos aguarda e da magnitude dos grandes graus Iniciáticos. Nessa finalidade, talvez possa ajudar-nos a contemplação do passado e dos graus de consciência por que passou a humanidade nos períodos precedentes.

Recordemos que durante o Período de Saturno, o estado de inconsciência do ser humano era semelhante ao do Corpo Denso submerso em transe profundo. No Período Solar, esta consciência foi sucedida pela consciência do sono sem sonhos.

No Período Lunar obteve-se o primeiro vislumbre da atual consciência de vigília. Era uma consciência pictórica interna das coisas externas, uma representação interna dos objetos, das cores e dos sons externos. Por último, na segunda parte da Época Atlante, essa consciência imaginativa deu lugar à consciência plena de vigília atual, em que os objetos podem ser observados fora, distintos e definidos. Quando obteve essa consciência objetiva, o ser humano percebeu a realidade do mundo exterior e, pela primeira vez, vislumbrou a diferença entre si, o “eu” e os outros. O ser humano compreendeu que era separado e, desde então, a consciência do “eu”, o egoísmo, predomina. Anteriormente, não havia pensamentos nem ideias sobre esse mundo externo, pelo que não existia também memória dos acontecimentos.

A mudança da consciência pictórica interna para a consciência objetiva e do “eu”, foi efetuada muito lentamente, em gradação proporcional à sua magnitude, desde a permanência no Globo C, na terceira Revolução do Período Lunar, até a última parte da Época Atlante.

Durante esse tempo, antes de atingir o estado humano, a onda que está evoluindo passou através de quatro grandes estados de desenvolvimento, analogamente ao animal. Esses quatro graus passados correspondem aos quatro graus que ainda teremos de passar, bem como às quatro Grandes Iniciações.

Dentro desses quatro estados de consciência já passados há treze graus. Do estado atual do ser humano até a última das Grandes Iniciações há treze Iniciações: os nove graus dos Mistérios Menores e as quatro Grandes Iniciações.

Uma divisão similar existe na forma dos animais atuais. Como a forma é a expressão da vida, cada grau de desenvolvimento desta corresponde, necessariamente, a um desenvolvimento de consciência.

Primeiramente, Cuvier[30] dividiu o Reino Animal em quatro classes primárias, mas não soube dividir essas classes em subclasses. O embriologista Karl Ernst Von Baer[31], o Prof. Agassiz[32] e outros cientistas classificam o Reino Animal em quatro divisões primárias e treze subdivisões, como a seguir:

 I – RADIADOS
1.     Pólipos (Anêmonas marinhas, Corais)

2.     Acaléfios (Alforrecas[33])

3.     Asteroides (Estrelas Marinhas, Ouriços do mar)

 
II – MOLUSCOS
4.     Acéfalos (Ostras, etc.)[34]

5.     Gastrópodes (caracóis)[35]

6.     Cefalópodes[36]

 
III – ARTICULADOS
7.     Vermes

8.     Crustáceos (lagostas, etc.)

9.     Insetos

 
IV – VERTEBRADOS
10. Peixes

11. Répteis

12. Aves

13. Mamíferos

As primeiras três divisões correspondem às três Revoluções da metade mercurial do Período Terrestre e suas nove subdivisões correspondem aos nove graus de Mistérios Menores, que serão alcançados pela humanidade quando tenha chegado à metade da última Revolução do Período Terrestre.

A quarta divisão na lista do Reino Animal mais avançado tem quatro subdivisões: peixes, répteis, aves e mamíferos. Os graus de consciência indicados correspondem a estados análogos de desenvolvimento que alcançará a humanidade respectivamente ao final dos Períodos: Terrestre, de Júpiter, de Vênus e de Vulcano, mas que o Aspirante pode obter atualmente por meio da Iniciação. A primeira das Grandes Iniciações produz o estado de consciência que alcançará a humanidade comum no final do Período Terrestre; a segunda, o estado que alcançará no final do Período de Júpiter; a terceira, a extensão de consciência que se alcançará ao finalizar o Período de Vênus; e a quarta fornece ao iniciado o poder e a onisciência que alcançará a humanidade no final do Período de Vulcano.

A consciência objetiva, com a qual obtemos conhecimento do mundo exterior, depende do que percebemos pelos sentidos. A isto chamamos “real”. Em contradição aos nossos pensamentos e ideias que nos chegam através da consciência interna, a realidade não se apresenta da mesma forma que se nos apresenta um livro, uma mesa, ou qualquer objeto visível ou tangível no espaço. Parecem nebulosos e irreais e, por isso, falamos deles como “meros” pensamentos, ou “simples” ideias. Todavia, as ideias e os pensamentos atuais têm pela frente uma evolução anterior: estão destinados a tornarem-se tão reais, claros e tangíveis como qualquer objeto do mundo externo que percebemos por meio dos sentidos físicos. Quando pensamos num objeto ou numa cor, o objeto ou cor apresentado pela memória à nossa consciência interna parecem-nos obscuros, sombrios, comparados com as próprias coisas sobre as quais pensamos.

No Período de Júpiter produzir-se-á uma mudança marcante. Voltarão as imagens internas, como de sonho, do Período Lunar, mas estarão sujeitas à vontade do pensador e não serão meras reproduções dos objetos exteriores. Será uma combinação das imagens internas do Período Lunar com os pensamentos e ideias desenvolvidas conscientemente durante o Período Terrestre, isto é, será uma Consciência pictórica consciente de si.

Quando um ser humano do Período de Júpiter disser “vermelho” ou expressar o nome de um objeto, apresentar-se-á à sua visão interna uma reprodução exata e clara do tom particular de vermelho em que esteja pensando ou do objeto de que esteja falando, reprodução essa que será também visível para o interlocutor. Não haverá mal-entendido quanto ao que pretende significar pelas palavras emitidas, porque os pensamentos e ideias serão visíveis e vivos. A hipocrisia e a adulação serão completamente eliminadas, os seres humanos ver-se-ão exatamente como serão. Haverá bons e maus, mas as duas qualidades não se encontrarão mescladas na mesma pessoa. Haverá seres humanos perfeitamente bons e seres humanos completamente malvados, e um dos problemas mais sérios daquele tempo será a maneira de agir com estes últimos. Os Maniqueus, uma Ordem de espiritualidade ainda superior à dos Rosacruzes, estão atualmente estudando esse problema. Pode-se obter uma ideia antecipada dessas condições num curto resumo da sua lenda (Todas as ordens místicas têm uma lenda simbólica enunciadora dos seus ideais e aspirações).

Na lenda dos Maniqueus há dois reinos: o dos Luminosos e o dos Sombrios. Esses últimos atacam os primeiros, são derrotados e devem ser castigados. Contudo, como os Luminosos são perfeitamente bons, como, do mesmo modo, os Sombrios completamente maus, eles não podem lhes infligir nenhum mal, pelo que os castigam fazendo-lhes o Bem. Para isso, uma parte do reino dos Luminosos se incorpora ao dos Sombrios e, desta maneira, com o tempo, o mal é transmutado. O ódio não será dominado pelo ódio; há de sucumbir ante o Amor.

Durante o Período Lunar, as imagens internas eram a expressão do ambiente externo ao ser humano. No Período de Júpiter, essas mesmas imagens serão expressas de dentro, como uma faculdade da vida interna. O ser humano possuirá também a faculdade, cultivada no Período Terrestre, de ver as coisas no espaço fora de si mesmo. Lembremos que no Período Lunar o ser humano não via as coisas concretas, mas as suas qualidades anímicas. No Período de Júpiter verá ambas; terá uma compreensão perfeita de tudo quanto o rodeia. Em um estado posterior, no mesmo Período, dita capacidade perceptiva atingirá uma fase superior. O poder de formar claras concepções mentais acerca de cores, de tonalidades, de objetos, permitir-lhe-á pôr-se em contato com seres suprassensíveis de diversas ordens e, empregando sua força de vontade, assegurar sua obediência. Poderá emitir as forças necessárias à execução dos seus desígnios, mas, sem dúvida, dependerá do auxílio desses seres suprafísicos a seu serviço.

Ao finalizar o Período de Vênus poderá empregar a própria força para dar vida a suas imaginações e para exteriorizá-las no espaço, como objetos. Possuirá, então, uma consciência objetiva, consciente e criadora.

Muito pouco se pode dizer sobre a elevada consciência espiritual que se alcançará ao finalizar o Período de Vulcano. Estaria muito além da nossa atual compreensão.

Diagrama – Como é em cima, é em baixo[37]

Espirais dentro de Espirais

Não se deve supor que estes estados de consciência comecem no princípio dos Períodos a que pertencem, nem que durem até o final. Havendo sempre recapitulação, devem existir correspondentes estados de consciência em escala ascendente. A Revolução de Saturno de qualquer Período, a permanência no Globo A e a primeira Época de qualquer Globo são uma repetição dos estados de desenvolvimento do Período de Saturno. A Revolução Solar, a permanência no Globo B e a segunda Época de qualquer Globo são recapitulações dos estados de desenvolvimento do Período Solar, e assim sucessivamente, durante todo o caminho. Portanto, a consciência, que deve ser o resultado especial e peculiar de qualquer Período, não começa a desenvolver-se até que se tenham efetuado todas as Recapitulações. A consciência de vigília do Período Terrestre não começou até a quarta Revolução, quando a onda de vida havia chegado ao quarto Globo (D) e estava na quarta ou Época Atlante, nesse Globo.

A consciência no Período de Júpiter só começará a desenvolver-se na quinta Revolução, quando o quinto Globo (E) tenha sido alcançado e quando comece a quinta Época desse Globo.

Da mesma forma, a consciência de Vênus só começará na sexta Revolução, quando se tenha alcançado a Sexta Época e o sexto Globo. E a hora especial de Vulcano ficará limitada ao último Globo e Época, um pouco antes do fim do Dia de Manifestação.

O tempo de evolução através de cada um desses Períodos varia grandemente. Quanto mais submersos na matéria estão os Espíritos Virginais, tanto mais lentos são os progressos e mais numerosos são os graus e estados de desenvolvimento. Passado o nadir da existência material, conforme a onda de vida ascende para condições ou estados mais sutis, o progresso gradualmente se acelera. O Período Solar tem maior duração que o Período de Saturno e o Período Lunar maior duração que o Solar. A Metade Marciana (ou primeira metade) do Período Terrestre é a metade mais extensa de todos os Períodos. Depois o tempo encurta, de modo que a Metade Mercurial e as últimas três Revoluções e meia do Período Terrestre ocuparão menos tempo que a Metade Marciana; o Período de Júpiter será mais curto que o Lunar; o Período de Vênus mais curto que o Período Solar; e o Período de Vulcano será o menos extenso de todos.

Os estados de consciência dos diferentes Períodos são os seguintes:

PeríodoConsciência Correspondente
SaturnoInconsciência, correspondente ao transe profundo
SolarInconsciência, correspondente ao sono sem sonhos
LunarConsciência pictórica, correspondente ao sono com sonhos
TerrestreConsciência de vigília, objetiva
JúpiterConsciência própria e de imagens conscientes
VênusConsciência objetiva, autoconsciente, criadora
VulcanoA mais elevada Consciência Espiritual

Tendo examinado de modo geral os estados de consciência que se desenvolverão nos três Períodos e meio restantes, estudaremos, agora, os meios de consegui-los.

Alquimia e Crescimento da Alma

O Corpo Denso começou a desenvolver-se no Período de Saturno; passou através de várias transformações no Período Solar e Lunar e alcançará seu maior grau de desenvolvimento no Período Terrestre.

O Corpo Vital germinou na segunda Revolução do Período Solar; foi reconstruído nos Períodos Lunar e Terrestre e alcançará a perfeição no Período de Júpiter, o seu quarto grau, assim como o Período Terrestre é o quarto estado para o Corpo Denso.

O Corpo de Desejos teve início no Período Lunar; foi reconstruído no Período Terrestre; será novamente modificado no Período de Júpiter e alcançará a perfeição no Período de Vênus.

A Mente nasceu no Período Terrestre; será modificada nos Período de Júpiter e Vênus e alcançará a perfeição no Período de Vulcano.

Examinando-se o Diagrama 8, vê-se que o Globo inferior do Período de Júpiter está situado na Região Etérica. Seria impossível empregar um veículo denso-físico ali, porque o Corpo Vital pode ser usado na Região Etérica. No entanto, não se imagine que, transcorrido tanto tempo para completar e aperfeiçoar o Corpo Denso, desde o começo do Período de Saturno até o final do Período Terrestre, o ser humano abandone completamente esse veículo para funcionar em veículo “mais elevado”.

A Natureza nada desperdiça. No Período de Júpiter, as forças do Corpo Denso, por adição, completarão as do Corpo Vital. Esse veículo possuirá, além das próprias faculdades, os poderes do Corpo Denso. Será um instrumento muito mais útil para expressão do Tríplice Espírito do que limitado somente às próprias forças do veículo.

O Globo D do Período de Vênus está situado no Mundo do Desejo (veja o Diagrama 8). Lá, nem o Corpo Vital nem o Denso podem ser empregados como instrumentos de consciência. As essências dos Corpo Vital e Denso aperfeiçoados serão incorporados e completarão o Corpo de Desejos, o que o converterá num veículo de qualidades transcendentais, maravilhosamente adaptado, sensibilíssimo ao menor impulso do espírito interno, tão superior às nossas presentes limitações que escapa à nossa mais elevada concepção.

Todavia, a eficiência desse esplêndido veículo será transcendida no Período de Vulcano, quando a essência do Corpo de Desejos aperfeiçoada e a dos veículos Vital e Denso se agregarem ao Corpo Mental. Esse se converterá na mais elevada expressão dos veículos humanos, contendo em si a quintessência do melhor que neles havia. Se o veículo do Período de Vênus está tão além da nossa compreensão atual, quanto mais estará o veículo posto ao serviço dos divinos seres do Período de Vulcano!

Durante a Involução, as Hierarquias Criadoras ajudaram o ser humano a despertar à atividade o Tríplice Espírito, o Ego, para construir o Tríplice Corpo e adquirir a ligação da Mente. No sétimo dia, empregando a linguagem da Bíblia, Deus descansa. Agora, o ser humano deve trabalhar por sua própria salvação. O Tríplice Espírito deve completar a obra do plano iniciado pelos Deuses.

O Espírito-Humano, despertado durante a Involução no Período Lunar, será o mais proeminente dos três aspectos do espírito na evolução do Período de Júpiter, o Período correspondente ao Lunar no arco ascendente da espiral. O Espírito de Vida, cuja atividade começou no Período Solar, manifestará sua atividade principalmente no correspondente Período de Vênus. As influências particulares do Espírito Divino serão as mais fortes no Período de Vulcano, porque foi vivificado no correspondente Período de Saturno.

Os três aspectos do Espírito estão em atividade durante a evolução, mas a atividade principal de cada aspecto será desenvolvida nesses períodos particulares. A obra que ali executarão será seu trabalho especial.

Quando o Tríplice Espírito tenha desenvolvido o Tríplice Corpo e obtenha o domínio deles por meio do foco mental, começa a desenvolver a Tríplice Alma, trabalhando dentro. A maior ou menor alma que o ser humano tenha depende da quantidade de trabalho feito pelo espírito em seus Corpos. Isto foi explicado no capítulo que descreve a experiência pós-morte.

A parte do Corpo de Desejos trabalhada pelo Ego fica transmutada em Alma Emocional e, por fim, é assimilada pelo Espírito Humano, cujo veículo especial é o Corpo de Desejos.

A parte do Corpo Vital trabalhada pelo Espírito de Vida converte-se em Alma Intelectual que edifica o Espírito de Vida, porque esse aspecto do Tríplice Espírito tem sua contraparte no Corpo Vital.

A parte do Corpo Denso que tenha sido trabalhada pelo Espírito Divino chama-se Alma Consciente e, por fim, submerge-se no Espírito Divino, porque o Corpo Denso é a sua emanação material.

A Alma Consciente cresce pela ação, pelos impactos externos e pela experiência.

A Alma Emocional cresce pelos sentimentos e emoções gerados pelas ações e pela experiência.

A Alma Intelectual é um mediador entre as outras duas e cresce pelo exercício da memória, que liga as experiências passadas às experiências presentes e os sentimentos por elas engendrados. Origina a simpatia e a antipatia, que não têm existência independente da memória. Sentimentos que resultassem somente das experiências seriam evanescentes.

Durante a Involução o espírito progrediu através da formação e aperfeiçoamento dos Corpos, mas a Evolução depende do crescimento da alma, isto é, da transformação dos Corpos em alma. A alma é, por assim dizer, a quintessência, o poder ou força dos Corpos. Quando um Corpo foi completamente construído e alcançou a perfeição através dos diversos estados e Períodos, na forma já descrita, a alma é extraída dele e absorvida pelo aspecto do Espírito que gerou o Corpo. Assim:

A Alma Consciente será absorvida pelo Espírito Divino na sétima Revolução do Período de Júpiter.

A Alma Intelectual será absorvida pelo Espírito de Vida na sexta Revolução do Período de Vênus.

A Alma Emocional será absorvida pelo Espírito Humano na quinta Revolução do Período de Vulcano.

A Palavra Criadora

A Mente é o instrumento mais importante que o espírito possui, um instrumento especial na obra da criação. A laringe espiritualizada e perfeita falará a Palavra Criadora, mas a Mente aperfeiçoada decidirá quanto à forma particular e volume de vibração. A Imaginação será a faculdade espiritualizada que dirigirá a criação.

Atualmente, existe forte tendência para considerar a faculdade da imaginação de modo superficial, quando, em realidade, é um dos fatores mais importantes da nossa civilização. Sem a Imaginação seríamos ainda selvagens. Pela imaginação desenhamos as casas, modelamos as roupas e meios de transporte. Se os inventores desses melhoramentos não tivessem possuído Mente nem imaginação capaz de formar imagens mentais, ditos melhoramentos nunca se teriam convertido em realidades concretas. No atual tempo de materialismo quase não se faz esforço algum para apreciar a Imaginação, e ninguém sente mais os efeitos desta atitude do que os inventores. Geralmente, são considerados “malucos”, eles que têm sido os agentes fundamentais da subjugação do Mundo Físico e da transformação do meio social no que ele é hoje em dia. Qualquer aperfeiçoamento, tanto no físico como o espiritual, deve ser, primeiramente, imaginado como uma possibilidade de converter-se em coisa real.

Se o Estudante examina o Diagrama 1, compreenderá isto claramente. O desenho exprime a comparação entre as funções dos diferentes veículos humanos e as partes de um estereoscópio. A Mente corresponde à lente, o foco. Por meio dela as ideias produzidas pela Imaginação do Espírito projetam-se no mundo material. Primeiramente são pensamentos-forma, mas quando o desejo de realizar as possibilidades imaginadas põe o ser humano em ação no Mundo Físico, convertem-se no que chamamos “realidades” concretas.

Atualmente, a Mente não está enfocada de maneira a dar uma imagem certa e clara daquilo que o Espírito imagina. Está mesmo desfocada, o que produz quadros confusos e imprecisos. Daí a necessidade da experimentação, que demonstra os defeitos da primeira concepção e produz novas imaginações e ideias, até que a imagem produzida pelo Espírito em substância mental seja reproduzida em substância física.

Atualmente só podemos formar imagens mentais que tenham relação com a Forma, porque a Mente humana começou seu desenvolvimento nesse Período Terrestre, e está no estado ou forma “mineral”. Por esse motivo, nossos labores estão limitados às formas, aos minerais. Podemos imaginar maneiras ou meios de trabalhar com as formas minerais dos três Reinos inferiores, mas nada, ou muito pouco, podemos fazer com os Corpos viventes. Somos capazes de enxertar um ramo numa árvore, ou uma parte viva de um animal ou ser humano em outras partes vivas, mas isto não é trabalhar com a vida; é com a forma. Modificaremos as condições da forma, mas a vida que a habita permanece. Criar vida está além do poder do ser humano. Esta impossibilidade será mantida até que a Mente se torne uma coisa viva.

No Período de Júpiter, a Mente será até certo ponto vivificada. O ser humano poderá imaginar formas que viverão e crescerão como as plantas.

No Período de Vênus, quando a Mente tenha adquirido “Sentimento”, poderá criar coisas com vida, sensíveis e com capacidade de crescer.

Quando alcance a perfeição, ao final do Período de Vulcano, poderá imaginar a criação de seres que viverão, crescerão, sentirão e pensarão. A evolução da onda de vida que atualmente forma a humanidade começou no Período de Saturno. Os Senhores da Mente eram, então, humanos. Trabalharam sobre o ser humano que, nesse Período, era mineral. Agora, nada tem a fazer com os Reinos inferiores, estão relacionados somente com o desenvolvimento humano.

A existência mineral dos animais atuais começou no Período Solar. Nesse tempo, os Arcanjos eram humanos. Agora, os Arcanjos são os dirigentes e guias da evolução animal. Não têm nada a fazer com os minerais nem com as plantas.

A existência dos atuais vegetais começou no Período Lunar. Os Anjos eram humanos, pelo que no presente, estão relacionados especialmente com a vida que ocupa o Reino Vegetal. Guiam-na para atingir o estado humano, mas não têm jurisdição alguma sobre os minerais.

A humanidade atual terá a seu cargo a evolução da onda de vida que começou no Período Terrestre e que, agora, anima os minerais. Atualmente estamos trabalhando com eles por meio da imaginação, dando-lhes formas, fazendo com eles barcos, pontes, trilhos, máquinas, casas, etc.

No Período de Júpiter guiaremos a evolução do Reino Vegetal. O que atualmente é mineral terá, então, uma existência análoga à das plantas. Deveremos trabalhar neles assim como, no presente, os Anjos estão fazendo com as plantas. Nossa faculdade imaginativa estará tão desenvolvida que, por seu intermédio, teremos a capacidade não só de criar formas como também de insuflar-lhes vitalidade.

A atual onda de vida mineral alcançará, no Período de Vênus, um novo grau. Dirigiremos os animais desse Período, como fazem atualmente os Arcanjos com os presentes animais, dando-lhes vitalidade e formas sensíveis; por último, no Período de Vulcano, será nosso privilégio dar-lhes uma Mente germinal, como os Senhores da Mente fizeram conosco. Os minerais de hoje serão a humanidade do Período de Vulcano, e o ser humano terá passado através de estados análogos aos percorridos pelos Anjos e Arcanjos. Será alcançado um ponto evolutivo um pouco superior ao dos atuais Senhores da Mente. Recorde-se, que em nenhuma parte se repete uma condição igual. Na espiral evolutiva há sempre aperfeiçoamento progressivo.

O Espírito Divino absorverá o Espírito Humano ao finalizar o Período de Júpiter e o Espírito de Vida, ao finalizar o Período de Vênus. A Mente aperfeiçoada, encerrando tudo quanto foi adquirido nos sete Períodos, será absorvida pelo Espírito Divino ao finalizar o Período de Vulcano. (Não há contradição alguma nesta afirmação, com referência à afirmação feita em outro lugar, de que a Alma Emocional será absorvida pelo Espírito Humano na quinta Revolução do Período de Vulcano, porque esse último estará, então, dentro do Espírito Divino).

Seguir-se-á um largo intervalo de atividade subjetiva durante o qual os Espíritos Virginais absorverão todos os frutos do Período setenário de Manifestação. Passado esse intervalo, submergir-se-ão em Deus, de Quem vieram, para, ao alvorecer de outro Grande Dia, reemergirem como seus Gloriosos Colaboradores. Durante a passada evolução as possibilidades latentes foram transmutadas em poderes dinâmicos. Tendo adquirido Poder de Alma e Mente Criadora, frutos de sua peregrinação através da matéria, terão avançado da impotência à Onipotência, da ignorância à Onisciência.

Capítulo XVII – Método para Adquirir o Conhecimento Direto

Os Primeiros Passos

Chegou o momento de indicarmos os meios de cada indivíduo poder investigar, por si, todos os fatos estudados anteriormente. Como se disse ao princípio, a ninguém é concedido “dons” especiais. Todos podem adquirir as verdades relacionadas com a peregrinação da alma, a evolução passada e o destino futuro do mundo, sem depender da veracidade de outrem. Há um método de adquirir essa faculdade inestimável, capacitando o investigador para perscrutar esses domínios suprafísicos. Se tal método for seguido persistentemente, pode desenvolver os poderes de um Deus.

Uma simples ilustração indicará os primeiros passos do conhecimento. O melhor mecânico nada poderia fazer sem as ferramentas de seu ofício. Além disso, todo bom trabalhador caracteriza-se por ser muito cuidadoso com as ferramentas que usa, pois sabe que o trabalho depende tanto do conhecimento do ofício como das ferramentas que emprega.

O Ego tem vários instrumentos: um Corpo Denso, um Corpo Vital, um Corpo de Desejos e uma Mente. Estes são as suas ferramentas. De sua qualidade e estado depende o trabalho que possa realizar na aquisição da experiência. Se os instrumentos forem débeis e sem flexibilidade, haverá muito pouco crescimento espiritual e a vida será quase perdida pelo menos no que diz respeito ao espírito.

Geralmente, considera-se o “êxito” de uma vida pela conta corrente do banco, pela posição social adquirida ou pela felicidade resultante de um bom ambiente ou de uma vida sem cuidados.

Quando se encara a vida dessa maneira, ficam esquecidas as coisas principais, as de existência permanente. A pessoa está cega pelo fugaz e ilusório. A conta do banco parece-lhe um êxito real, esquecendo que para o Ego, ao abandonar o Corpo, nada vale o ouro ou qualquer tesouro terrestre, podendo ainda acontecer que tenha de responder pelos meios que empregou para acumular seu tesouro, sofrendo terrivelmente ao ver os demais gastá-lo. Esquece também que toda posição social se perde desde o momento que é cortado o Cordão Prateado, podendo ser que os adulados sejam depois escarnecidos.

Quem tenha fé na vida pode sentir-se estremecer ante o pensamento de dedicar uma única hora em refletir sobre a morte. Todavia, o que só pertença a esta vida é vaidade. De valor real é tão-só o que podemos levar para além do umbral da morte, como tesouro do espírito.

Poderão parecer preciosas as plantas e suas flores protegidas pela caixa de vidro de uma estufa. Contudo, se forem retiradas da estufa que as conserva em boa temperatura, gelar-se-ão e morrerão, enquanto as plantas que crescem sob a chuva e o sol, sob a calma e a tormenta, sobreviverão mesmo no inverno e florescerão cada ano.

Do ponto de vista da alma, a felicidade e o ambiente confortável são, de modo geral, circunstâncias desfavoráveis. O mimado cãozinho de luxo está sujeito a enfermidades que o cão sem casa e sem dono não conhece. A vida do segundo é muito dura, porém obtém experiências que o mantém alerta e cheio de recursos. Sua vida é rica em experiências e recolhe uma grande colheita, enquanto que o cão mimado perde seu tempo numa espantosa monotonia.

Com o ser humano acontece algo semelhante. Será muito duro lutar com a pobreza e com a fome, porém, do ponto de vista da alma, é infinitamente preferível a uma vida de grande luxo. Quando a fortuna é um meio para pensar filantropicamente, para ajudar os demais seres humanos a aperfeiçoar-se, pode constituir uma grande bênção para o seu possuidor. No entanto, quando é utilizada com propósitos egoístas e opressivos não pode ser considerada senão como terrível desgraça.

O Ego está aqui para adquirir experiência por intermédio de seus instrumentos. Essas ferramentas, que recebe em cada nascimento são boas, más ou de pouco proveito, de acordo com o que, para a sua construção, aprendeu nas experiências passadas. Se desejarmos fazer algo vantajoso, temos de trabalhar com elas tais como são.

Quando despertamos da letargia corrente e desejamos progredir, surge, naturalmente, a pergunta: Que devo fazer?

Sem boas ferramentas o mecânico não pode executar nenhum trabalho perfeito. Semelhantemente, os instrumentos do Ego devem ser purificados e afinados. Uma vez isto feito, podemos começar a trabalhar para realizar nosso propósito. À medida que esses maravilhosos instrumentos são usados no trabalho, eles mesmos melhoram com o uso apropriado, e tornam-se mais e mais eficientes na obra em que nos ajudam. O objetivo desse trabalho é a união com o Eu superior.

Há três graus no trabalho da conquista da natureza inferior. Sucedem-se uns aos outros, mas, em certo sentido, vão juntos. No estado atual, o primeiro recebe maior atenção, menos o segundo e menos ainda o terceiro. Quando o primeiro passo tenha sido dado completamente prestar-se-á maior atenção, obviamente aos outros dois.

Há três ajudas fornecidas para alcançar cada um dos três graus. Elas podem ser vistas no Mundo externo, onde os grandes Líderes da humanidade as colocaram.

A primeira ajuda é a Religião de Raça, com a qual a humanidade pôde dominar seu Corpo de Desejos, preparando-o para a união com o Espírito Santo.

A plena operação dessa ajuda pode ser vista no Dia de Pentecostes[38]. O Espírito Santo é o Deus de Raça e todos os idiomas são expressões dele. Esta é a razão por que os Apóstolos, quando estavam plenamente unidos e submergidos no Espírito Santo, falavam diferentes línguas e podiam convencer os seus ouvintes. Seus Corpos de Desejos tinham sido purificados de modo a produzir a desejada união. Isto é um vislumbre daquilo que o discípulo alcançará algum dia: poder falar todos os idiomas. Como exemplo histórico moderno podemos citar o Conde de Saint Germain (uma das últimas encarnações de Christian Rosenkreuz, o fundador da nossa sagrada Ordem) que falava todos os idiomas. Todos aqueles a quem dirige a palavra acreditavam que ele fosse de sua própria nacionalidade. Ele também realizou a união com o Espírito Santo.

Na Época Hiperbórea, antes do ser humano possuir o Corpo de Desejos, havia um único modo de comunicação. Quando os Corpos de Desejos se purificarem suficientemente, todos os seres humanos poderão compreender-se uns aos outros. Então a diferenciação separatista das raças terá desaparecido.

A segunda ajuda, que a humanidade tem atualmente, é a Religião do Filho: a Religião Cristã, cuja finalidade é a união com Cristo, pela purificação e governo do Corpo Vital.

São Paulo refere-se a esses estados quando diz: “até que o Cristo nasça dentro de vós” [39] e exorta seus seguidores a desembaraçarem-se de todos os empecilhos, como os atletas numa corrida.

O princípio fundamental para construir o Corpo Vital é a repetição. As experiências repetidas agindo nele criam a memória. Os Líderes da humanidade, desejando nos prestar uma ajuda inconsciente por meio de certos exercícios, instituíram a oração, como um meio de produzir pensamentos delicados e puros que agem sobre o Corpo Vital. Por isso eles nos recomendaram que “orássemos sem cessar”. Os críticos têm perguntado ironicamente e com frequência porque será necessário estar sempre a orar. Se Deus é Onisciente, dizem, deve conhecer todas as nossas necessidades e, se não é, as orações provavelmente, não chegarão até Ele. Aliás, se não for Onipotente também não poderá, sequer, responder às orações. Pensando de modo análogo, até muitos cristãos têm acreditado que será mal-estar importunando a Deus continuamente com orações.

Tais ideias estão baseadas numa má compreensão. Deus, verdadeiramente é Onisciente, não necessita que ninguém lhe recorde nossas necessidades. No entanto, se, como devemos, Lhe dirigimos orações, somos nós mesmos que nos elevamos para Ele ao prepararmos e purificarmos os nossos Corpos Vitais. Se orarmos como devemos, aí está a grande questão. Geralmente, interessam-nos muito mais as coisas temporais do que elevarmo-nos espiritualmente. As igrejas celebram reuniões especiais para pedir chuva ou para pedir o triunfo do exército ou armada sobre o inimigo.

Essas são orações ao Deus de Raça, o Deus que participa das batalhas do seu povo, que aumenta seus rebanhos, enche os seus depósitos, cuida, enfim, de suas necessidades materiais. Tais orações nem sempre purificam. Surgem do Corpo de Desejos, e podem resumir-se assim: “Senhor, agora estou guardando todos os teus mandamentos da melhor maneira que posso; espero que, em troca, tu farás a tua parte”.

Cristo deu à humanidade uma oração que, tal como Ele mesmo, é a única e universal. Há nela sete orações distintas e separadas, uma para cada um dos sete princípios do ser humano: o Tríplice Corpo, o Tríplice Espírito e, o elo de ligação, a Mente. Cada oração está particularmente adaptada para promover no ser humano o progresso da parte a que é dirigida.

As orações relativas ao Tríplice Corpo têm o propósito de espiritualizar aqueles veículos e deles extrair a Tríplice Alma.

As orações relativas ao Tríplice Espírito preparam-no para receber a essência extraída: a Tríplice Alma.

A oração pela Mente tem por fim conservá-la do modo melhor como laço de união entre a natureza superior e a inferior.

A terceira ajuda a ser dada à humanidade será a Religião do Pai. Vagamente podemos compreender o que será. Somente podemos dizer que seu Ideal será superior à Fraternidade e que, por seu intermédio, o Corpo Denso será espiritualizado.

As Religiões do Espírito Santo, ou seja, as Religiões de Raça, tiveram por objetivo a elevação da raça humana por meio do sentimento de união limitado a um grupo: família, tribo ou nação.

O propósito da Religião do Filho, o Cristo, é elevar ainda mais a humanidade, para formar uma Fraternidade Universal, composta de indivíduos separados.

O ideal da Religião do Pai será a eliminação de toda separatividade, submergindo-se todos no Uno, de modo a não haver mais nem “eu” nem “tu” e a serem todos unos em realidade. Isto não acontecerá enquanto habitamos a Terra física, mas sim num futuro estado em que compreenderemos a nossa unidade com tudo, tendo cada um acesso a todos os conhecimentos adquiridos por todos os indivíduos separados. Assim como, num diamante, uma só faceta tem acesso a toda luz que se filtra por todas as demais facetas, sendo una com elas, ainda que limitada por linhas que lhe dão certa individualidade, sem separatividade, assim também o espírito individual reterá a memória de suas experiências particulares, dando também aos demais os frutos de sua existência individual.

Por meio destes passos e estados a humanidade é guiada inconscientemente.

Nas idades passadas, o Espírito de Raça reinava exclusivamente. O ser humano era limitado por um governo patriarcal e paternal, e nele não tomava parte alguma. Agora, em todo o mundo, vemos inequívocos sinais da queda desses antigos governos. O sistema de castas, que constitui o poder da Inglaterra na Índia, está sendo posto abaixo. Ali, em vez de continuar separado em pequenos grupos, o povo está se unindo e pede ao opressor que se retire e que o deixe viver livremente sob um governo do povo, para o povo e pelo povo. A Rússia, transtornada por lutas internas, pretende derrubar o governo autocrático ditador. A Turquia despertou e já deu um grande passo para a liberdade. Aqui, em nosso país, onde supõem que gozamos plena liberdade, estamos como os demais lutando por ela e não estamos ainda satisfeitos. Vamos aprendendo que há outras opressões, além das monarquias autocráticas. Vemos que ainda nos resta alcançar a liberdade industrial. Encontramo-nos esmagados sob os monopólios e o insano sistema de competição. Encaminhamo-nos para a cooperação que, atualmente, está sendo posta em prática pelos próprios monopólios, dentro dos próprios limites, para seu benefício exclusivo. Desejamos ardentemente uma sociedade na qual “todo ser humano se sentará debaixo da sua parreira e sob a sua figueira, e nada o amedrontará”[40].

Portanto, todos os sistemas paternais de governo estão mudando no mundo inteiro. As nações, como tais, já tiveram a sua vida. Estão agora trabalhando pela Fraternidade Universal, de acordo com os desígnios dos Líderes invisíveis. Certamente, estes não são os menos poderosos na precipitação dos acontecimentos, ainda que não se assentem oficialmente nos conselhos das nações.

Os meios descritos são meios lentos de purificação dos diferentes Corpos da humanidade. O Aspirante ao conhecimento superior, para alcançar esses fins, trabalha conscientemente e emprega métodos bem definidos, de acordo com sua constituição.

Métodos Ocidentais para os Ocidentais

Na Índia empregam-se diversos métodos, sob diferentes sistemas de Ioga. Ioga significa União, e, como no Ocidente, o objetivo do Aspirante é a união com o Eu Superior. Porém, para serem eficazes os métodos de alcançar essa união, devem ser diferentes para um hindu e para um caucásico, tendo em vista que os veículos de um hindu estão diferentemente constituídos dos de um caucásico. Os hindus, durante muitos milhares de anos, viveram em ambiente e clima totalmente diferentes dos nossos e seguiram diferentes métodos de pensamento. Sua civilização, embora de ordem muito elevada, produz efeitos diferentes. Portanto, seria inútil adotarmos seus métodos, aliás, produto dos mais elevados conhecimentos ocultos. São perfeitamente convenientes para eles, mas, sob todos os aspectos, tão inadaptáveis aos ocidentais como um prato de aveia é impróprio para um leão.

Por exemplo, em alguns sistemas pede-se ao iogue para sentar-se em determinadas posições a fim de certas correntes cósmicas poderem fluir de certo modo através do seu Corpo, o que produzirá definidos resultados. Eis uma instrução completamente inútil para um caucásico, cuja maneira de viver torna-o inteiramente insensível a essas correntes. Para obter algum resultado prático deve trabalhar em harmonia com a constituição dos próprios veículos. Por esta razão os “Mistérios” foram estabelecidos em diversas partes da Europa na Idade Média. Os alquimistas eram profundos Estudantes da ciência oculta superior. É crença popular que o objetivo dos seus estudos e experiências era transmutar os metais inferiores em ouro. Essa representação simbólica foi escolhida para encobrir seu verdadeiro trabalho, a transmutação da natureza inferior em espírito. Foi descrita desse modo para evitar as suspeitas dos zelosos sacerdotes, e para não caírem em mentira. É certa a afirmação de que os Rosacruzes formavam uma sociedade dedicada à descoberta e ao uso da fórmula para fazer a “Pedra Filosofal”. Muitas pessoas tiveram em suas mãos, e ainda tem frequentemente, essa maravilhosa pedra. É muito comum, mas não têm nenhum valor a não ser para o indivíduo que a prepara por si mesmo. A fórmula obtém-se do treinamento oculto, não sendo os Rosacruzes, a tal respeito, diferentes dos ocultistas de qualquer outra escola. Todos estão dedicados à construção da cobiçada pedra. Cada um emprega seus próprios métodos. Não havendo dois indivíduos iguais, o trabalho eficaz, na esfera de ação de cada um, é sempre individual.

Há sete escolas de ocultismo, como são os “Raios” de Vida, os Espíritos Virginais. Cada escola, ou ordem, pertence a um desses sete Raios; assim também cada indivíduo da humanidade. Portanto, qualquer indivíduo que procure unir-se a um desses grupos ocultos cujos Irmãos não pertençam a seu Raio, não poderá alcançar qualquer benefício. Os membros desses grupos são irmãos em mais íntimo sentido que a restante humanidade.

Talvez se compreenda melhor a relação de cada um desses raios com os demais comparando-os com as cores do espectro. Por exemplo, juntando um raio vermelho a um verde, produz-se uma desarmonia. O mesmo princípio se aplica aos espíritos. Se bem que todos sejam unos, cada um deve cooperar com os do grupo a que pertence durante a manifestação. Assim como todas as cores estão contidas na luz branca, sendo a capacidade refratora da atmosfera que aparentemente a divide em sete cores, assim também as ilusórias condições da existência concreta fazem que os Espíritos Virginais, unos em essência, se dividam em grupos, aparentemente muito diferentes enquanto permanecerem divididos.

A Ordem Rosacruz foi fundada, especialmente, para aqueles cujo elevado grau de desenvolvimento intelectual lhes obriga a esquecer do coração. O intelecto pede imperiosamente uma explicação lógica de todas as coisas, do mistério do mundo, do problema da vida e da morte. O preceito sacerdotal “não procureis conhecer os mistérios de Deus” não explicou as razões e o modus operandi da existência.

É de suprema importância para todo homem ou mulher que tem a fortuna, ou o que seja, de possuir uma Mente esquadrinhadora, receber todas as informações que deseje, a fim de que o coração possa falar quando a cabeça esteja satisfeita. O conhecimento intelectual é um meio para chegar ao fim, não é a própria finalidade. Portanto, o propósito dos Rosacruzes é primeiramente satisfazer o Aspirante, provar-lhe que, no universo, tudo é razoável, para que triunfe sobre o rebelde intelecto. Quando deixar de criticar e se dispuser a aceitar provisoriamente, como verdade provável, afirmações que, de imediato, não pode constatar, então, e somente então, desenvolverá as faculdades superiores, pelo treinamento esotérico. Deixando de ser um simples ser humano de fé, passará ao conhecimento direto. Apesar disso, conforme progride no conhecimento direto e se habilita a investigar por si próprio, o discípulo verá que há sempre outras verdades além do seu alcance. Sabe serem verdades, mas seu insuficiente avanço não lhe permite investigar.

Seria bom que o discípulo sempre recordasse que a lógica é o guia mais seguro em todos os Mundos. Portanto, o que não seja lógico não pode existir no Universo. Também não deve esquecer as limitações das próprias faculdades, nem que, às vezes, seriam necessários poderes raciocinadores mais poderosos do que os seus para poder resolver alguns problemas. Com efeito, há problemas que só podem ter ampla explicação quando examinados à luz de raciocínios muito além do presente estado de desenvolvimento da capacidade do discípulo. Outro ponto que deve ter sempre presente: é inteiramente necessária a confiança mais absoluta no mestre.

O que acaba de ser exposto recomenda-se muito especialmente a todas as pessoas que tenham em mira dar seus primeiros passos no ocultismo superior. Quem pretende seguir as regras apresentadas, deve depositar toda a confiança nos meios de realização indicados. Não se alcançaria o menor resultado em segui-los parcialmente. A dúvida mataria a mais formosa flor que o espírito pudesse produzir.

O treinamento dos diferentes veículos do ser humano faz-se sincronicamente. Não pode um Corpo ser influenciado sem que os outros sejam afetados, porém, o trabalho principal ou definido pode fazer-se em qualquer deles.

O Corpo Denso é predominantemente afetado quando se presta estrita atenção à higiene e à dieta, contudo, ao mesmo tempo, há também um efeito no Corpo Vital e no de Desejos. Os mais puros e melhores alimentos têm suas partículas envolvidas por mais puro Éter planetário e mais pura matéria de desejos. Se eles forem empregados na construção do Corpo Denso, purificam e melhoram todos aqueles Corpos. Quando o cuidado é dirigido unicamente à higiene e ao alimento, o Corpo Vital e Corpo de Desejos poderão permanecer tão impuros como antes, mas, tal cuidado facilita um pouco o contato com o bem, mais do que o uso dos alimentos grosseiros.

Por outro lado, se a despeito das descomodidades, cultivamos um temperamento equânime e gostos literários e artísticos, o Corpo Vital produzirá aversão aos assuntos materiais e promoverá sentimentos e emoções nobres no Corpo de Desejos.

O cultivo das emoções também reage sobre os outros veículos, melhorando-os.

A Ciência da Nutrição

Se, começando pelo veículo denso, examinarmos os meios físicos para melhorá-lo e convertê-lo no melhor instrumento possível do espírito e, depois, estudarmos os meios espirituais conducentes ao mesmo fim, os demais veículos ficarão incluídos nesse estudo. Esse é o método que seguiremos.

O primeiro estado visível do embrião humano é uma pouca substância gelatinosa, parecida com a albumina ou clara de ovo. Nesse glóbulo gelatinoso aparecem partículas de matéria mais sólida. Estas partículas, gradualmente, aumentam em quantidade, tamanho e densidade, pondo-se em contato umas com as outras. Os diferentes pontos de contato convertem-se no decorrer do desenvolvimento em articulações ou juntas até formar-se gradualmente uma estrutura sólida: o esqueleto.

Durante a formação dessa estrutura, a matéria gelatinosa que o rodeia acumula-se e muda muito a forma, desenvolvendo por último, um organismo conhecido pelo nome de feto. Esse cresce cada vez mais, torna-se firme e organizado, até que chega o nascimento.

Começa a infância; mas o processo de solidificação surgido no primeiro grau visível de existência, continua. O ser passa através dos diferentes estágios da vida: infância, adolescência, juventude, virilidade e velhice, até chegar a mudança denominada morte. Pois bem, esses sucessivos estados são caracterizados por um crescente grau de dureza e solidificação.

Ossos, tendões, cartilagens, ligamentos, tecidos, membranas, pele e, até o estômago, os pulmões e outros órgãos internos sofrem uma gradual densidade e firmeza. As juntas, tornando-se rígidas e secas, começam a ranger com o movimento. O fluído sinovial que as lubrifica e abranda diminui, transforma-se em viscoso e gelatinoso e não pode mais servir bem aos seus fins.

O coração, o cérebro, todo o sistema muscular, a medula espinhal, nervos, olhos, etc., participam do mesmo processo de solidificação, tornando-se cada vez mais duros. Milhões e milhões dos diminutos vasos capilares, que se ramificam como os ramos de uma árvore através do Corpo inteiro, cerram-se gradualmente e transformam-se em fibras sólidas, por onde o sangue já não pode passar.

Os vasos sanguíneos maiores, artérias e veias, também endurecem, perdem a elasticidade, estreitam-se, incapazes de levar a quantidade necessária de sangue. Os fluídos do Corpo tornam-se viscosos e impuros, carregados de matéria terrosa. A pele fica amarelada, seca e áspera. O cabelo cai por falta de gordura. Os dentes cariam-se e desprendem-se por falta de gelatina. Os nervos motores começam a secar, os sentidos debilitam-se e os movimentos tornam-se pesados e lentos. A circulação do sangue retarda-se, paralisa-se e se coagula nos vasos. Os Corpos depois de serem elásticos, cheios de saúde, flexíveis, ativos, sensitivos, ficam tardos, rígidos, insensíveis, e, finalmente, morre-se de velhice.

Surge, logicamente, a pergunta: “o que ocasionou essa solidificação lenta do copo que produz a rigidez, a decrepitude e a morte? “.

Do ponto de vista físico, a opinião dos químicos é unânime: é principalmente um crescente depósito de fosfato de cálcio (substância dos ossos), de carbonato de cálcio (giz comum), de sulfato de cálcio (gesso), ocasionalmente, de um pouco de magnésio e de uma quantidade insignificante de outras matérias terrosas.

A única diferença entre o Corpo infantil e o decrépito é a maior densidade, dureza e rigidez do último, causadas pela quantidade de matérias terrosas, calcárias, depositadas no seu organismo. Os ossos da criança são compostos de três partes de gelatina para uma parte de matéria terrosa. No velho a proporção é inversa.

Qual é a fonte desse acúmulo de matérias que produz a morte? Como o Corpo é nutrido pelo sangue, qualquer substância nele existente deve ter estado primeiramente no sangue. A análise mostra que o sangue tem substâncias terrosas da mesma classe dos agentes da solidificação. Devemos notar que o sangue arterial contém mais substâncias terrosas do que o sangue venoso.

Isto é sumamente importante, porque demonstra que em cada ciclo o sangue deposita substâncias terrosas. Por consequência, o sangue é o veículo das substâncias que destroem o sistema. A quantidade de matérias terrosas nele contida renova-se, pois, do contrário o trabalho de solidificação não continuaria. Como se renova essa mortífera carga? Só pode haver uma resposta: pelo alimento e pela bebida. Não pode tomá-la de outra fonte.

O alimento e a bebida são, portanto, a fonte primária das matérias terrosas, calcárias, logo depositadas pelo sangue em todo o sistema, e que produzirão primeiramente a decrepitude e depois a morte. Dependendo a sustentação da vida de muitas classes de alimentos e bebidas, é conveniente conhecer as espécies de alimentos que contém menor quantidade de substâncias destrutivas. Se usarmos tais alimentos prolongaremos a vida. Aliás, do ponto de vista oculto, é desejável viver o maior tempo possível em cada Corpo Denso, especialmente depois de havermos iniciado o “Caminho”. São precisos bastantes anos para educar cada Corpo que habitamos, até o espírito obter algum domínio sobre ele. É bem claro que vivendo o maior tempo possível num Corpo já dirigido pelo espírito, tanto melhor será para o nosso progresso. Torna-se por consequência, da maior importância que o discípulo tome alimentos e bebidas com a menor quantidade de substâncias destrutivas, devendo, ao mesmo tempo, manter sempre ativos os órgãos de excreção.

A pele e o sistema urinário salvam o ser humano de uma morte prematura. Sem eles, que eliminam a maior parte das substâncias terrosas que absorvemos nos alimentos, não viveríamos nem dez anos.

A água ordinária, não destilada, contém tanto carbonato e outros compostos de cálcio que a quantidade por uma pessoa absorvida, correntemente, em forma de chá, café, sopa, etc., seria suficiente, em quarenta anos, para formar um bloco calcário ou de mármore do tamanho de um ser humano. Em circunstâncias ordinárias, a substância calcária é muito evidente na urina dos adultos. A essa eliminação deve-se o poder viver tanto como vivemos. É significativo encontrar fosfato de cálcio na urina dos adultos e não na urina das crianças. Nestas, a retenção deve-se à necessidade da rápida formação dos ossos. O mesmo acontece durante o período de gestação. Há muito pouca substância calcária na urina da mulher porque é empregada na construção do feto.

A água não destilada usada como bebida é o pior inimigo do ser humano. Quando se usa externamente é o seu melhor amigo, porque mantém os poros da pele abertos e estimula a circulação do sangue. Além disso, evita estancamentos que, originando depósitos das substâncias calcárias (fosfatos, etc.) muitas vezes causam a morte.

Harvey, o descobridor da circulação do sangue, disse que a circulação livre do sangue se traduz em saúde e que a enfermidade é o resultado de obstrução da mesma circulação.

O banho geral é de grande valor como meio de conservar a saúde do Corpo. Deve ser tomado, frequentemente, pelo Aspirante à vida superior. A transpiração, sensível ou insensível, expulsa muito mais substâncias terrosas do que qualquer outra função.

Um fogo a que se lance combustível e se mantenha livre de cinzas, continuará queimando. Os rins são muito importantes: expulsam as cinzas, mas apesar da grande quantidade de matérias calcárias que saem na urina, muitas pessoas retém o bastante para formar cálculos ou pedras nas vias urinárias – causa de dores indescritíveis e até da morte.

Não se deve crer que a água contenha menor quantidade de calcário por ter sido fervida. A crosta que se deposita no fundo da chaleira é deixada pela água evaporada, que sai como vapor.

A água destilada é importantíssima para manter o Corpo jovem. Nesta água destilada, que se obtém pela condensação do vapor, não há absolutamente substância terrosa de nenhuma espécie, nem também, na água da chuva, da neve ou do granizo (salvo a que possa apanhar no contato com o solo, telhado, etc.). O café, o chá ou a sopa, não estão livres de substâncias terrosas quando feitos com água ordinária, por mais que seja fervida. Pelo contrário, quanto mais se ferva, tanto mais carregada fica. Quem sofre de enfermidades urinárias só deveria beber água destilada.

Em termos gerais, dentre os alimentos sólidos, os vegetais frescos e as frutas maduras contêm a maior proporção de substâncias nutritivas e a menor quantidade de substâncias terrosas.

Como estamos escrevendo estas linhas para o Aspirante à vida superior e não para o público em geral, podemos dizer também que os alimentos animais, se for possível, devem ser abolidos completamente.

Nenhum indivíduo que mate pode chegar muito acima no caminho da santidade. Notemos, todavia que, comendo a carne, agimos pior do que se realmente matássemos. Com efeito, para evitar cometer pessoalmente essas matanças, obrigamos um semelhante[41], forçado por necessidades econômicas, a dedicar sua vida inteira ao assassínio. Isso o brutaliza em tal extensão que a lei não lhe permite atuar como jurado nos julgamentos por crimes capitais, porque o seu trabalho o tem familiarizado demasiadamente com a matança.

Os iluminados sabem que os animais são nossos irmãos mais jovens e que serão humanos no Período de Júpiter. Nesse tempo, ajudá-los-emos, tal como os Anjos, que eram seres humanos no Período Lunar, estão a ajudar-nos agora. Matar, para um Aspirante aos ideais elevados, seja pessoalmente ou por delegação, é coisa completamente fora de toda cogitação.

Contudo, podem ser usados vários produtos animais muito importantes, como o leite, o queijo e a manteiga. Tais produtos são o resultado de processo de vida. Transformá-los em alimento não causa nenhum sofrimento. O leite, fator importantíssimo para o Estudante ocultista, não contém substâncias terrosas e, por conseguinte, exerce influência como nenhum outro alimento.

Durante o Período Lunar, o ser humano foi alimentado com o leite da Natureza, alimento universal. O emprego do leite tem certa tendência a pôr-nos em contato com as forças cósmicas, que capacitarão para curar os outros.

Crê-se, geralmente, que o açúcar e outras substâncias sacarinas são prejudiciais à saúde, especialmente para os dentes, onde produzem dores e cárie. Isto é certo, mas sob certas circunstâncias. Podem ser prejudiciais em certas enfermidades como a biliosa ou a dispepsia, ou se é mantido muito tempo na boca, como o açúcar cande. Se for empregado discretamente durante a saúde, aumentando-se gradualmente a dose na medida em que o estômago se vá acostumando, ver-se-á que é muito nutritivo. A saúde dos trabalhadores melhora enormemente durante a safra, apesar de ser a época em que maus trabalham. Isto se atribui à alimentação com o suco doce da cana. O mesmo se pode dizer dos cavalos, vacas e outros animais dessas localidades, que gostam extraordinariamente do melado e dos resíduos da cana. Tornam-se gordos em pouco tempo e o pelo fica suave e brilhante. Os sucos sacarinos das cenouras tornam fino como seda o pelo dos cavalos alimentados durante algumas semanas como cenouras fervidas. O açúcar é um artigo nutritivo e benéfico à alimentação; não contém resíduos de nenhuma espécie.

As frutas são uma dieta ideal. As árvores produzem-nas para induzir o ser humano e os animais a comê-las, de maneira que as sementes se espalhem. As flores atraem as abelhas com análogos propósitos.

A fruta fresca contém água da classe mais pura e melhor, capaz de penetrar no sistema de uma maneira maravilhosa. O suco de uvas é particularmente um dissolvente admirável. Purifica e estimula o sangue e abre-lhe caminho nos capilares já secos e endurecidos, sempre que o processo de endurecimento não tenha ido demasiado longe. O tratamento pelo suco de uvas sem fermentar, torna fortes, vigorosas e cheias de vida as pessoas de olhos cansados, pálidas e de compleição pobre. A crescente permeabilidade permite ao espírito manifestar-se com mais liberdade e com renovada energia. A Tabela seguinte, com exceção da última coluna, foi copiada das publicações do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e dará ao Aspirante alguma ideia da quantidade de alimento que deve comer, conforme os diferentes graus de atividade, assim como mostra os constituintes dos diversos alimentos indicados.

O Corpo, considerando do ponto de vista puramente físico, assemelha-se ao que poderíamos chamar um forno químico, sendo o alimento o combustível. Quanto mais exercício faz tanto mais combustível necessita. Seria loucura alguém mudar seu método ordinário de alimentação, usado durante anos, para seguir outro método, sem observação prévia e cuidadosa do melhor que possa servir aos seus propósitos. A mera alimentação da carne da alimentação ordinária das pessoas carnívoras, com toda a certeza produziria desarranjos na saúde da maioria. A única maneira segura é, primeiramente, experimentar e estudar o assunto com discernimento. A alimentação é uma coisa tão individual que não é possível estabelecer regras fixas. Podemos dar uma Tabela de valores alimentícios e descrever a influência geral de cada elemento químico, mas cada Aspirante deve organizar seu próprio regime.

Não devemos permitir, tampouco, que a aparência de uma pessoa afete o nosso juízo a respeito da sua condição ou estado de saúde. São aceitas certas ideias gerais como determinantes do estado de saúde, mas não há razões de peso para esse juízo. As faces rosadas, num indivíduo, podem ser uma indicação de saúde e, noutro de enfermidade. Não há nenhuma regra particular que permita conhecer a saúde. Não consideremos somente as aparências. Só o sentimento de conforto e de bem-estar que goza o próprio indivíduo.

A Tabela de valores que se fornece mostra os cinco componentes químicos dos alimentos e outras particularidades de interesse.

A água é o grande dissolvente.

O nitrogênio ou proteína é fator essencial na formação da carne, mas contém algumas substâncias terrosas.

Os hidratos de carbono ou açucares são os principais portadores de energia.

As gorduras produzem calor e conservam forças de reserva.

As cinzas são minerais, calcários, terrosos, que endurecem todo o sistema. Não devemos temer a influência desses elementos na formação dos ossos; pelo contrário, devemos ser sumamente cautelosos e absorver somente o mínimo possível.

A caloria é unidade de calor. A Tabela mostra a quantidade contida em cada substância alimentar, no estado em que se encontra nos mercados. Há em uma libra de castanha do Pará, por exemplo, 49,6% de resíduo (cascas). Os 50,4% restantes contém 1.485 calorias. Isto significa que cerca da metade do que se compra é inútil, mas a parte restante contém o número de calorias indicado. Para conseguir a maior soma de energia dos alimentos, devemos prestar atenção ao número de calorias para obtermos a energia precisa para o trabalho cotidiano.

O número de calorias (por dia) necessário para sustentar o Corpo sob diferentes condições, mostra-se na Tabela seguinte:

Ser humano com trabalho muscular muito forte:5.500 calorias
Ser humano com trabalho muscular moderadamente forte:4.150 calorias
Ser humano com trabalho muscular moderadamente ativo:3.500 calorias
Ser humano com trabalho moderadamente leve:3.050 calorias
Ser humano com trabalho sedentário:2.700 calorias
Ser humano que não faz exercício muscular:2.450 calorias
Mulher com trabalho manual leve ou moderado:2.450 calorias

Segundo a Tabela de valores nutricionais dos alimentos, é evidente que o chocolate é o alimento mais nutritivo e o cacau em pó é o mais perigoso de todos os alimentos porque contém três vezes mais cinzas do que qualquer outro e dez vezes mais do que muitos deles. É um alimento poderoso, mas também um veneno poderoso porque endurece o sistema muito mais rapidamente do que qualquer outra substância.

Para elaborarmos um bom regime alimentar é necessário fazer algum estudo. Esse trabalho é amplamente compensado pela saúde e longevidade que, assegurando-nos o livre emprego do Corpo, tornarão possível o estudo e a dedicação a coisas superiores. Depois de algum tempo, o Aspirante ficará tão familiarizado com o assunto que não precisará mais dedicar-lhe muito atenção.

A Tabela anterior mostra as proporções das substâncias químicas contidas em cada substância alimentar nomeada, mas, cabe recordar, nem todas são aproveitáveis pelo sistema. O Corpo recusa-se a assimilar algumas.

Dos vegetais digerimos somente 83% das proteínas, 90 % das gorduras e 95% dos hidratos de carbono.

Das frutas assimilamos 85% das proteínas, 90% das gorduras e 90% dos hidratos de carbono.

O cérebro, órgão coordenador que domina os movimentos do Corpo e expressa as ideias, é constituído pelas mesmas substâncias que as demais partes do Corpo, mas, além delas, tem o fósforo, peculiar somente ao cérebro.

Conclusão lógica a tirar: o fósforo é o alimento particular mediante o qual o Ego pode expressar pensamentos e influenciar o Corpo Denso. A quantidade desta substância é proporcional ao estado de consciência e ao grau de inteligência do indivíduo. Os idiotas têm muito pouco fósforo. Os profundos pensadores têm muito. No Reino Animal o grau de consciência e de inteligência está em proporção direta à quantidade de fósforo contida no cérebro.

Portanto, é de suma importância que o Aspirante ansioso de se empregar em trabalhos mentais e espirituais dê ao cérebro esta necessária substância. A maioria dos vegetais e das frutas contém certa quantidade de fósforo. A maior quantidade encontra-se sempre nas folhas, geralmente desprezadas. O fósforo encontra-se em quantidades consideráveis nas uvas, cebolas, sálvia, feijões, ananás, alhos, e nas folhas e talos de muitos vegetais. Também no suco da cana de açúcar, mas não no açúcar refinado.

A seguinte Tabela mostra a proporção de ácido fosfórico em alguns produtos alimentares:

Em 100.000 partes de:

Cevada seca210 partes
Feijões, favas, ervilhas292 partes
Beterrabas167 partes
Folhas de beterraba690 partes
Trigo mourisco170 partes
Cenouras secas395 partes
Folhas de cenoura963 partes
Linhaça880 partes
Talos de linho118 partes
Chirívia (Pastinaga)111 partes
Folhas de chirívia (Pastinaga)1784 partes
Ervilhas frescas190 partes

Todas as considerações precedentes podem ser assim resumidas:

  • O Corpo está sujeito, durante toda a vida, a um processo de solidificação.
  • Esse processo traduz-se por depósito de substâncias terrosas trazidas pelo sangue, principalmente fosfatos e carbonatos de cálcio, com o que as diversas partes se endurecem, transformando-se em matéria endurecida.
  • Essa transformação arruína a flexibilidade dos vasos, músculos e outras partes do Corpo sujeitas a movimento. Torna o sangue viscoso e, obstruindo completamente os diminutos capilares, restringe a circulação dos fluídos e o labor do sistema, terminando na morte.
  • Esse processo de solidificação pode ser retardado. A vida prolonga-se desde que se evite todo o alimento que contenha muitas cinzas, beba-se água destilada e facilite-se a excreção através da pele por meio de banhos frequentes.
  • O que se disse explica a razão de algumas religiões prescreverem abluções frequentes, como exercícios religiosos, visto promoverem a saúde e purificarem o Corpo Denso. Os jejuns são também prescritos com análogas finalidades. Proporcionam ao estômago um bem necessário e merecido descanso e permitem ao Corpo eliminar as substâncias gastas. Se não são frequentes ou demasiado prolongados, levantam a saúde. Como regra geral, é melhor dar ao Corpo os alimentos apropriados, que são os melhores de todos os remédios.

O primeiro cuidado médico é comprovar se as excreções se efetuam devidamente. É o meio principal que a Natureza emprega para desembaraçar o Corpo dos venenos contidos nos alimentos.

Em conclusão, o Aspirante deve escolher os alimentos que melhor possa digerir porque, facilmente realizada essa função, maior a energia extraída do alimento e por mais tempo será o sistema nutrido antes de ser necessário comer de novo. Não se deve beber o leite como se bebe um copo de água. Ingerindo aos goles, como o chá ou o café, formará no estômago pequenos coágulos, facilmente assimiláveis. Criteriosamente tomado, é um dos melhores elementos da dieta. As frutas cítricas (limões, laranjas, etc.) são poderosos antissépticos. Os cereais especialmente o arroz, são antitóxicos de grande eficiência.

Explicando o que é necessário ao Corpo Denso, do ponto de vista material, puramente físico, consideraremos agora o assunto sob o ponto de vista oculto, relativamente ao efeito que o alimento produz sobre os dois Corpos invisíveis que interpenetram o Corpo Denso.

Como dissemos anteriormente, o ponto de apoio especial do Corpo de Desejos são os músculos e o Sistema Nervoso cérebro-espinhal. A energia desprendida por alguém que se movimenta sob excitação ou ódio é um bom exemplo. Em tais ocasiões, todo o sistema muscular está em tensão e nenhum trabalho, por duro que seja, é tão extenuante como um “acesso de ira”. Às vezes pode deixar o Corpo extenuado durante semanas inteiras. Portanto, é imprescindível melhorar o Corpo de Desejos e controlar o temperamento, evitando ao Corpo Denso sofrimentos que resultam da ação desordenada do Corpo de Desejos.

Sob o ponto de vista oculto, toda consciência do Mundo Físico resulta da luta constante entre os Corpos de Desejos e Vital.

A tendência do Corpo Vital é amolecer e construir. Sua expressão principal encontra-se no sangue, nas glândulas e no Sistema Nervoso simpático. Iniciou o ingresso na praça forte do Corpo de Desejos (o sistema muscular e o nervoso voluntário), quando começou a converter o coração em músculo voluntário.

A tendência do Corpo de Desejos é endurecer e invadir os domínios do Corpo Vital, tomando posse do baço. Produz os corpúsculos brancos do sangue, que não são “policiais” do sistema, como crê atualmente a ciência, mas destruidores de todo o Corpo. Ditos corpúsculos filtram-se pelas paredes das veias e artérias, onde quer que apareça a menor enfermidade. O torvelinho de forças do Corpo de Desejos permeabiliza as veias e artérias, especialmente em momento de cólera, abrindo caminho a esses corpúsculos brancos para os tecidos do Corpo, onde formam as bases para a agrupação das matérias terrosas que matam o Corpo.

Com a mesma classe de alimentos, a pessoa serena e jovial viverá muito mais, gozará de melhor saúde e será mais ativa do que a pessoa melancólica que perde o domínio próprio. A última produzirá e lançará por todo o organismo mais corpúsculos brancos destruidores do que a primeira. Se as pessoas que se dedicam à ciência analisassem os Corpos dessas duas pessoas, notariam que existe uma quantidade muito menor de substâncias terrosas no Corpo da pessoa jovial do que no Corpo do irascível.

Essa destruição é constante porque não é possível evitar totalmente os destruidores, nem essa é, tampouco, a intenção. Se o Corpo Vital pudesse ininterruptamente construir, continuaria empregando todas as energias com esse propósito, mas não haveria consciência ou pensamento algum. A obstrução produzida pelo Corpo de Desejos e pelo endurecimento das partes internas é que desenvolve a consciência.

Em tempo muito recuado, anterior àquele em que criamos as primeiras concreções, tínhamos, como os atuais moluscos, Corpos moles, flexíveis e sem ossos. Porém, a consciência era, como a deles, obscuríssima, vaga e tenuíssima. Para que pudéssemos avançar era necessário retermos as concreções.

O estado de consciência de qualquer espécie está em proporção direta ao desenvolvimento do esqueleto interno. O Ego, para sua expressão, deve possuir sólidos ossos, com medula semifluídica e vermelha, a fim de poder formar corpúsculos sanguíneos vermelhos.

Esse é o maior desenvolvimento do Corpo Denso. Isto não significa que os animais com esqueleto semelhante ao do ser humano, quanto à perfeição, possuam espírito interno. Não têm porque pertencem a uma corrente diferente de evolução.

A Lei da Assimilação

Segundo a lei da assimilação uma partícula forma parte do nosso Corpo quando, como espíritos, a dominamos e sujeitamos a nós mesmos. Nesse caso, recordemos que as forças ativas são principalmente os nossos “mortos”, que entraram no “céu”. Ali aprendem a construir Corpos para usá-los aqui, porém trabalham de acordo com certas leis que não está em seu poder modificar. Em toda partícula de alimento há vida. Antes de podermos incorporá-la pela assimilação, é necessário que a dominemos e a sujeitemos. Em caso contrário, não poderia haver harmonia no Corpo, cada parte agiria independentemente, como acontece quando, pela morte, a vida coordenadora se retira do Corpo. Esse é o processo de desintegração, precisamente o oposto da assimilação. Quanto mais individualizada está a partícula que se há de assimilar, tanto maior energia é necessária para digeri-la e tanto menos tempo permanecerá, procurando logo alguma saída para libertar-se.

Os seres humanos não estão organizados de maneira a viver de minerais sólidos. Ao ingerirmos uma substância puramente mineral, o sal, por exemplo, passa através do Corpo deixando muito pouco atrás. Porém, o pouco que deixa é de natureza perigosa. Se os minerais pudessem ser empregados pelo ser humano como alimento seriam ideais por terem pouca estabilidade e ser necessária pouca energia para dominá-los e subjugá-los à vida do Corpo. Comeríamos muito menos e menor número de vezes do que agora fazemos. Algum dia, os laboratórios fornecerão alimentos químicos de tal qualidade que sobre passarão quaisquer outros, além da vantagem de estarem sempre frescos. Os alimentos obtidos de plantas superiores e, sobretudo dos animais, Reino superior ao vegetal, é positivamente nauseabundo, por causa da rapidez da desintegração. Esse processo resulta dos esforços das partículas para livrarem-se do conjunto.

O Reino Vegetal, o próximo superior ao mineral, tem organização capaz de assimilar os compostos dos minerais da Terra. O ser humano e os animais podem decompor as plantas e assimilar e nutrir-se dos seus compostos químicos, tendo em vista que o Reino Vegetal, que tem consciência de sono sem sonhos, não oferece resistência alguma à assimilação. É necessária pouca energia para assimilar suas partículas, e como tem muito pouca individualidade própria, a vida que se anima não procura escapar-se de nosso Corpo tão rapidamente como as dos alimentos derivados de formas mais desenvolvidas.

A força obtida de uma dieta de vegetais ou de frutos permanece mais do que a derivada de uma dieta de carne. Não é necessário ingerir com tanta frequência quantidades de alimento vegetal. Proporcionalmente, esse alimento fornece mais energia porque, para assimilá-lo, é necessária menor energia.

O alimento obtido de Corpos animais compõe-se de particular trabalhadas e interpenetradas por um Corpo de Desejos individual, e individualizadas. Esta individualização é muito maior que a das partículas vegetais. No animal, cada célula constitui-se numa alma celular individual compenetrada pelas paixões, e desejos do animal. É necessária uma energia considerável, primeiramente para dominá-la e, depois, para poder ser assimilada. No entanto, nunca fica completamente incorporada ao Corpo como os constituintes duma planta, que não tem tendências individuais tão fortes. Resultado: o carnívoro necessita de quantidade maior de alimento que o frugívoro e tem de comer mais frequentemente. Ainda mais: a luta interna das partículas da carne provoca desgaste e destruição maior do Corpo, o que torna o carnívoro menos ativo e menos paciente do que o vegetariano, como tem sido demonstrado em provas realizadas pelos partidários de um e do outro regime.

Portanto, se a carne obtida dos herbívoros é um alimento tão instável, é evidente que seríamos obrigados a consumir quantidades enormes de alimento caso ingeríssemos a carne dos animais carnívoros, que têm as células ainda mais individualizadas. Ocuparíamos a maior parte do nosso tempo comendo e, todavia, estaríamos sempre extenuados e famintos. É o que se pode ver no lobo e no abutre, cuja magreza e fome são proverbiais. Os canibais comem carne humana, mas só em largos intervalos e como guloseima. O ser humano não faz alimentação exclusivamente de carne. Por isso, sua carne não é completamente igual à de um animal carnívoro. Não obstante, a fome dos canibais é também proverbial.

Se a carne de herbívoro fosse a essência do melhor que há nas plantas, a carne dos carnívoros, logicamente, seria a quintessência. A carne dos lobos e dos abutres, muito mais desejável, seria o creme dos cremes. Como sabemos não é assim. Pelo contrário, quanto mais nos aproximarmos do Reino Vegetal tanto mais energia obteremos do nosso alimento. Se a carne dos animais carnívoros fosse aquele creme, seria muito procurada pelos outros animais de presa, mas exemplos tais como “cão comer cão” é raríssimo na Natureza.

Vivei e Deixai viver

A primeira lei da ciência oculta é “não matarás”. O Aspirante à vida superior deve ter isto muito em conta. Não podendo criar sequer uma partícula de barro, não temos o direito de destruir nem a forma mais insignificante. Todas as formas são expressões da Vida Una, da Vida de Deus. Não temos o direito de destruir a Forma, pela qual a Vida está adquirindo experiência, e obrigá-la a construir um novo veículo.

Ella Eheeler Wilcox[42], com a verdadeira compaixão de todas as almas avançadas, defende esta máxima ocultista, nas seguintes e formosíssimas palavras:

Eu sou a voz dos que não falam.
Por mim falarão os que são mudos.
Minha voz ressoará nos ouvidos do mundo
até o cansaço; até que escutem e saibam
os erros que cometem com os débeis
que não podem falar.

O mesmo poder formou o pardal,
o ser humano e o rei.
O Deus do Todo deu uma
Chispa anímica a todos
os seres de pelo e pluma.

Eu sou o guardião dos meus irmãos.
Lutarei sua batalha e farei
a defesa do animal e da ave.
Até que o mundo faça
as coisas como se deve.

Objeta-se algumas vezes que também arrebatamos a vida dos vegetais e frutas que comemos. Objeção baseada numa imperfeita compreensão dos fatos. Quando a fruta está madura, já realizou o seu propósito: agir como matriz da semente. Se não é aproveitada, apodrece e perde-se. Além disso, destinada a servir de alimento ao animal e ao ser humano, ao cair no solo fértil proporciona à semente oportunidade de germinar. O óvulo e o sêmen dos seres humanos são estéreis sem o Átomo-semente do Ego reencarnante e sem a matriz do Corpo Vital. Assim também, qualquer ovo ou semente, se isolados, são desprovidos de vida. No entanto, se lhe são proporcionadas as condições necessárias de incubação, a vida do Espírito-Grupo neles penetra aproveitando a oportunidade para garantir a produção de um Corpo Denso. Se esmagarmos ou cozinhamos o ovo ou a semente, ou não lhe são proporcionadas as condições necessárias para a vida, a oportunidade se perde. Isto é tudo.

Já sabemos que, no estado atual da nossa jornada evolutiva, matar é um mal. O ser humano protege e ama aos animais conforme seus gostos e interesses egoístas (desde que não interfiram em seus direitos). A lei protege até os gatos e cães contra a crueldade desenfreada. Salvo no esporte, a mais desenfreada e covarde de todas as nossas crueldades contra o Reino Animal, sempre se matam os animais para ganhar dinheiro. Porém os devotos do esporte matam as indefesas criaturas só com o objetivo de obter prestígio, falso prestígio, de suas proezas sinergéticas. É muito difícil compreender como certas pessoas que parecem sãs e carinhosas possam, durante um momento, abandonar seus sentimentos humanitários e saciar uma selvagem sede de sangue, matando para satisfazer sua luxúria sanguinária e gozar da destruição. Certamente, isto é um retrocesso aos instintos mais inferiores e selvagens. Não pode nunca dignificar um ser humano e muito menos dar-lhe foros de “superior”, ainda que tal prática seja defendida pelas nações mais poderosas e, em outros sentidos, humanas.

Não seria mais belo o ser humano assumir seu papel de amigo e protetor do fraco? A quem não agrada visitar o Central Park de Nova York, acariciar e dar de comer às centenas de esquilos que correm de um a outro lado, na certeza de que não serão molestados? Quem não se alegra ao ver o letreiro que diz: “Serão mortos os cães que forem apanhados caçando esquilos”? Isto é duro para os cães, sem dúvida, mas evidencia o crescente sentimento favorecedor e protetor do débil contra a força irracional e egoísta do forte. Nada diz o letreiro dos prejuízos que os seres humanos pudessem causar aos esquilos, o que seria inadmissível. Tão grande é a confiança dos pequeninos e alegres animaizinhos na bondade do ser humano que esse não a violaria.

A Oração do Senhor

Voltamos a considerar as ajudas espirituais no progresso humano, podemos comparar a Oração do Senhor (Pai Nosso[43]) como uma fórmula abstrata ao melhoramento e purificação de todos os veículos do ser humano. O cuidado a prestar ao Corpo Denso está expresso nas palavras: “o pão nosso de cada dia dai-nos hoje”.

A oração que se refere às necessidades do Corpo Vital é: “perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores”.

O Corpo Vital é a sede da memória. Nele estão arquivadas subconscientemente as lembranças de todos os acontecimentos passados, bons ou maus, isto é, tanto a injúria como os benefícios feitos ou recebidos. Lembremos que, ao morrer, as recordações da vida são tomadas desses arquivos imediatamente depois de abandonar-se o Corpo Denso e que todos os sofrimentos da existência pós-morte são resultado dos acontecimentos aí registrados como imagens.

Se pela oração contínua obtemos o perdão ou esquecimento das injúrias que tenhamos praticado e procuramos prestar toda compensação possível, purificamos nossos Corpos Vitais. Esquecer e perdoar àqueles que agiram mal contra nós elimina todos os maus sentimentos e nos salva dos sofrimentos pós-morte. Além disso, prepara o caminho para a Fraternidade Universal, que depende mui especialmente da vitória do Corpo Vital sobre o Corpo de Desejos. As ideias de vingança são impressas pelo Corpo de Desejos, em forma de memória, sobre o Corpo Vital. A vitória sobre isso é indicada por um temperamento equânime em meio dos incômodos e sofrimentos da vida. O Aspirante deve cultivar o domínio próprio, porque tem ação benéfica sobre os dois Corpos. A Oração do Senhor exerce o mesmo efeito porque ao fazer-nos ver que estamos injuriando os outros voltamo-nos para nós mesmos e resolvemo-nos a descobrir as causas. Uma dessas causas é a perda do domínio próprio, originada no Corpo de Desejos.

Ao desencarnar, a maioria dos seres humanos deixa a vida física com o mesmo temperamento que trouxe ao nascer. O Aspirante deve conquistar, sistematicamente, todos os arrebatamentos do Corpo de Desejos e assumir o próprio domínio. Isto se efetua pela concentração sobre elevados ideais, que vigoriza o Corpo Vital. É um meio muito mais eficaz do que as orações da igreja. O ocultista cientista prefere empregar a concentração à oração porque a primeira realiza-se com o auxílio da Mente, que é fria e insensível, enquanto a oração, geralmente, é ditada pela emoção. Feita com devoção pura e impessoal, dirigida a elevados ideais, a oração é muito superior à fria concentração. Aliás, nunca poderá ser fria, porque voa para Divindade sobre as asas do Amor, a exaltação do místico.

A oração para o Corpo de Desejos é: “Não nos deixeis cair em tentação”. O desejo, o grande tentador da humanidade, é o grande incentivo para a ação. É bom quando cumpre os propósitos do espírito, mas quando se inclina para algo degradante, para algo que rebaixa a Natureza, certamente devemos rogar para não cair em tentação.

O Amor, a Fortuna, o Poder, a Fama! Eis os quatro grandes motivos de toda ação humana. O desejo de alguma ou várias destas coisas é o motivo por que o ser humano faz ou deixa de fazer algo. Os grandes Líderes da humanidade agiram sabiamente quando lhe deram tais incentivos para a ação, a fim de obter experiências e aprender. O Aspirante deve continuar usando-os como motivos de ação, firmemente, mas deve transmutá-los em algo superior. Por meio de nobres aspirações, deve saber transcender o amor egoísta que busca a posse de outro Corpo, e todos os desejos de fortuna, poder e fama fundamentados em razões pessoais egoísticas.

O Amor pelo qual se deve aspirar é unicamente o da alma; que abarca todos os seres, elevados e inferiores e que aumenta em proporção direta às necessidades daquele que recebe.

A Fortuna pela qual se deve lutar é somente a abundância de oportunidades para servir os semelhantes.

O Poder que se deve desejar é o que atua melhorando a humanidade.

A Fama pela qual se deve aspirar é a que possa aumentar nossa capacidade de transmitir a boa nova, a fim de os sofredores poderem encontrar o descanso para a dor do seu coração.

A oração para a Mente é: “Livrai-nos do mal”. Como vimos, a Mente é a ligação entre as naturezas superiores e inferiores. Admite-se que os animais sigam os seus desejos sem nenhuma restrição. Nisso nada há de bom nem de mau porque lhes falta a Mente, a faculdade de discernir. Os meios de proteção empregados para com os animais que roubam e matam são muito diferentes do empregado em relação aos seres humanos que fazem tais coisas. Mesmo quando um ser humano de Mente anormal faz isso não se considera da mesma forma que ao animal. Agiu mal, mas porque não sabia o que fazia é isolado.

O ser humano conheceu o bem e o mal quando seus olhos mentais se abriram. Aquele que realiza a ligação da Mente ao Eu superior permanentemente, é uma pessoa de elevado entendimento. Se, pelo contrário, a Mente está ligada à natureza emocional inferior, a pessoa tem mentalidade inferior.

Por tais razões, a oração para a Mente traduz a aspiração de nos libertarmos das experiências resultantes da aliança da Mente com o Corpo de Desejos e de tudo quanto tal aliança origina.

No Aspirante à vida superior, a união entre as naturezas superior e inferior é realizada pela Meditação sobre assuntos elevados, pela Contemplação que consolida essa união e, depois, pela Adoração que, transcendendo os estados anteriores, eleva o espírito ao Trono.

No “Pai Nosso” geralmente usado na igreja, a adoração está colocada em primeiro lugar, o que tem por fim alcançar a exaltação espiritual necessária para proferir uma petição que represente as necessidades dos veículos inferiores.

Cada aspecto do Tríplice Espírito, começando pelo inferior, expressa adoração ao aspecto correspondente da Divindade. Quando os três aspectos do espírito estão colocados ante o Trono da Graça, cada um emite uma oração apropriada às necessidades da sua contraparte material. No fim os três unem-se para proferir a oração da Mente.

O Espírito Humano se eleva à sua contraparte, o Espírito Santo (Jeová), dizendo: “Santificado seja o Vosso Nome”. O Espírito de Vida reverencia-se ante sua contraparte, o Filho (Cristo), dizendo: “Venha a nós o Vosso Reino”.

O Espírito Divino ajoelha-se ante sua contraparte, o Pai, e diz: “Seja feita a Vossa Vontade…”.

Então, o mais elevado, o Espírito Divino, pede ao mais elevado aspecto da Divindade, o Pai, para a sua contraparte, o Corpo Denso: “O pão nosso de cada dia, dai-nos hoje”.

O próximo aspecto, em elevação, o Espírito de Vida, roga ao Filho, pela sua contraparte em natureza inferior, o Corpo Vital: “Perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores”.

O aspecto inferior do espírito, o Espírito-Humano, dirige o seu pedido ao aspecto mais inferior da Divindade para o mais elevado do tríplice Corpo, o de Desejos: “Não nos deixeis cair em tentação”.

Por último, os três aspectos do Tríplice Espírito juntam-se para a mais importante das orações, o pedido pela Mente, dizendo em uníssono: “Livrai-nos do mal”.

A introdução, “Pai nosso que estais no Céu” é somente um indicativo de direção. A adição: “Porque Vosso é o Reino, o Poder e a Glória para sempre, Amém” não foi dada por Cristo, mas é muito apropriada como adoração final do Tríplice Espírito por encerrar a diretriz correta para a Divindade.

O Diagrama 16 ilustra a explicação antecedente de forma fácil e simples, mostrando a relação entre as diferentes orações, em suas respectivas cores e os veículos correspondentes.

Diagrama 16 – O Pai Nosso

O Voto de Celibato

O (a) pervertido (a) sexual, ou o (a) maníaco (a) sexual, comprova a afirmação dos ocultistas de que uma parte da força sexual constrói o cérebro. Ele (ela) se converte em um (a) idiota, incapaz de pensar, porque exterioriza não somente a parte negativa ou positiva da força sexual (seja homem ou mulher), empregada normalmente pelos órgãos sexuais para a propagação, mas exterioriza também parte da força que, dirigida ao cérebro, o organizaria e tornaria apto a pensar. Daí as deficiências mentais que apresenta.

Se a pessoa se dedica a pensamentos espirituais, a tendência para empregar a força sexual na propagação é muito pequena. Qualquer parte dela que não use pode ser transformada em força espiritual. Por esta razão, em certo grau de desenvolvimento, o Iniciado faz o voto de celibato. Não é uma resolução fácil de tomar nem pode ser feita à ligeira por qualquer pessoa que deseje desenvolver-se espiritualmente. Muitos seres humanos imaturos para a vida superior encadearam-se quando se sujeitaram a uma vida ascética. Tais pessoas são tão perigosas para a comunidade como os erotomaníacos imbecis.

No estado atual da evolução humana, a função sexual é o meio pelo qual são formados os Corpos usados pelo espírito para obter experiência. Geralmente, as pessoas mais prolíficas e que seguem os impulsos geradores sem reserva, são de categoria inferior. As entidades em via de renascimento dificilmente encontram ambientes que permitam desenvolver suas faculdades de forma a beneficiarem-se e a beneficiarem a humanidade. Muitas pessoas das classes ricas poderiam oferecer condições mais favoráveis, mas em geral têm poucos filhos ou nenhum. Não porque vivam uma vida sexualmente de abstinência, mas por razões completamente egoístas, para maior comodidade e para poderem entregar-se à paixão sexual ilimitadamente, sem arcar com as dificuldades da família. Entre as classes médias, as famílias também são limitadas, mas nestas as razões são predominantemente econômicas. Procuram educar um ou dois filhos, dando-lhes vantagens que não poderiam proporcionar-lhes se tivessem quatro ou cinco.

Dessa maneira anormal, o ser humano exercita a prerrogativa divina de produzir a desordem na Natureza. Os Egos a ponto de renascer têm de aproveitar-se das oportunidades que se apresentam, às vezes sob condições desfavoráveis. Outros que não podem renascer nessas circunstâncias, esperam até apresentar-se ocasião mais favorável. Através dos nossos atos afetamo-nos uns aos outros e, desse modo, os pecados dos pais caem sobre os filhos, porque assim como o Espírito Santo é a energia criadora da Natureza, a energia sexual é seu reflexo no ser humano. O mau uso ou abuso desse poder é um pecado que não se pode perdoar; deve expiar-se, com prejuízo da eficiência dos veículos, a fim de aprendermos que a força criadora é santa.

Os Aspirantes à vida superior, ansiosos por viver uma nobre vida espiritual, muitas vezes olham a função sexual com horror, por causa das misérias que o seu abuso tem trazido à humanidade. Nem querem ver o que consideram uma impureza, esquecendo-se de que seres humanos como eles (os quais deram boas condições aos seus veículos por meio de alimentação apropriada e saudável, de elevados e bondosos pensamentos e de vida espiritual) são, precisamente, os que estão em melhores condições para gerar Corpos Densos apropriados às necessidades de desenvolvimento das entidades que os esperam para renascer. Todos os ocultistas sabem que, atualmente, muitos Egos elevados não podem renascer, em prejuízo da raça humana, por não encontrarem pais suficientemente puros para proporcionar-lhes os veículos físicos convenientes.

A função sexual tem seu lugar na economia do mundo. Quando empregada devidamente, fornece Corpos, fortes e cheios de saúde que o ser humano necessita para o seu desenvolvimento. Não há maior bênção para o Ego. Quando, inversamente, dela se abusa, não há maior desgraça, converte-se num manancial de todos os males, a verdadeira herança da carne.

É uma grande verdade que “nenhum ser humano vive somente para si”. As nossas palavras e ações afetam constantemente os outros. Se agirmos retamente, podemos ajudar ou prejudicar vidas, mas se descuidamos nossos deveres podemos frustrá-las, primeiramente, dos que estão em imediato contato conosco e depois de todos os habitantes da Terra e, talvez ainda, outras além.

Ninguém tem o direito de procurar a vida superior sem ter cumprido antes seus deveres para com a família, o país e a raça humana. Deixar tudo de lado, egoisticamente, e viver unicamente para o próprio desenvolvimento espiritual é tão repreensível como desinteressar-se absolutamente pela vida espiritual. Antes, é ainda pior. Quem cumpre seus deveres na vida ordinária da melhor maneira que pode, dedicando-se ao bem-estar dos que de si dependem, estão cultivando a faculdade fundamental, o dever. E, certamente, avançará tanto que despertará à chamada da vida superior. Apoiado no dever anteriormente cumprido encontrará grande auxílio nesse trabalho. O ser humano que deliberadamente volta as costas aos deveres atuais para dedicar-se à vida espiritual, com certeza será coagido a voltar ao caminho do dever, do qual se afastou equivocadamente. Não poderá escapar sem que tenha aprendido a lição.

Certas tribos da Índia fazem muito boa divisão de sua vida: os primeiros 20 anos são dedicados à educação; dos 20 aos 40 dedicam-se à criação da família, o resto do tempo é aplicado no desenvolvimento espiritual, sem nenhum cuidado físico que incomode ou distraia a Mente. Durante o primeiro período a criança é mantida por seus pais. No segundo, o ser humano, além de sustentar a família, cuida dos pais, enquanto eles estão dedicando sua atenção às coisas elevadas e, durante o resto da vida, é mantido por seus filhos.

É um método muito bom, completamente satisfatório para um povo que, totalmente, do berço ao túmulo, sente necessidades espirituais. Aliás, em tal extensão que equivocadamente descuidam o desenvolvimento material, salvo quando se veem impelidos pelo látego da necessidade. Os filhos sustentam carinhosamente os pais, seguros de que, por sua vez, serão sustentados pelos seus filhos e poderão dedicar-se por completo à vida superior, depois de terem cumprido seus deveres para com o seu país e a humanidade. No mundo ocidental, onde as necessidades espirituais não são sentidas e o ser humano corrente se desenvolve só materialmente, tal norma de vida seria impossível de realizar-se.

A aspiração espiritual precisa ser amadurecida pelo tempo e só chega quando se obtém as condições particulares sob as quais devemos procurar satisfazê-la. É preciso suportar qualquer dever que pareça uma restrição. Se o cuidado da família impede alguém de consagrar-se inteiramente àquilo que deseja, não seria justificado que o Aspirante descuidasse seus deveres, dedicando todo seu tempo e energia a propósitos espirituais.

Devem-se fazer esforços para satisfazer tais aspirações, mas de modo a não interferirem com os deveres da família.

Se o desejo de castidade nasce numa pessoa que mantém relações matrimoniais com outra, as obrigações de tais relações não podem ser esquecidas. Seria um grave erro viver castamente debaixo de tais circunstâncias, procurando fugir do apropriado cumprimento do dever. A respeito desse dever há uma linha de conduta para os Aspirantes à vida superior, diferente da do ser humano comum.

Para a maioria da humanidade, o matrimônio é como que a aprovação de uma licença para a gratificação dos seus desejos sexuais. Talvez seja assim aos olhos das leis humanas, mas à luz da verdadeira lei não, porque nenhuma lei feita pelos seres humanos pode reger esse assunto. A ciência oculta afirma que a função sexual nunca deve ser exercida para gratificar os sentidos, mas somente para a propagação. Portanto, é justo que o Aspirante à vida superior se negue ao ato com seu cônjuge, a menos que seu objetivo seja conseguir um filho. Mesmo assim, devem, ambos, gozarem perfeita saúde física, moral e mental. Em caso contrário, a união produziria um Corpo débil ou degenerado.

Sendo cada pessoa dona do próprio Corpo, é responsável, ante a Lei de Consequência, por qualquer mau uso resultante do abandono do Corpo a outrem, por fraqueza da vontade.

Contemplando o assunto à luz do precedente, do ponto de vista da ciência oculta, as pessoas de Corpo e Mentes saudáveis têm o dever, e ao mesmo tempo o privilégio (que deve ser exercitado com gratidão pela oportunidade) de criar veículos para as entidades, tanto quanto seja compatível com a saúde e com a capacidade de assistência. Com indicamos, os Aspirantes à vida superior têm especialmente essa obrigação, porque a purificação produzida em seus Corpos qualifica-os, mais do que a humanidade comum, para gerar veículos puros. Assim procedendo concedem veículos apropriados a entidades elevadas. Ao facilitarem a esses Egos oportunidades de renascerem e exercerem suas necessárias influências, eles ajudam à humanidade.

Empregando a força sexual do modo indicado, a função terá lugar muito poucas vezes na vida e, praticamente, toda a força sexual poderá ser empregada para fins espirituais. Não é o uso, mas o abuso que produz todas as perturbações e que interfere com a vida espiritual. Não há necessidade alguma de abandonar a vida superior quando não se possa ser casto, nem é necessário ser estritamente casto para passar pelas Iniciações Menores.

O voto de absoluta castidade relaciona-se unicamente com as Grandes Iniciações. Mesmo nestas, um só ato de fecundação pode ser necessário alguma vez, como um sacrifício, como aconteceu quando se preparou o Corpo para Cristo.

Pode-se acrescentar, também, que é pior estar sofrendo o abrasador desejo e pensando constante e vividamente na gratificação dos sentidos do que viver a vida matrimonial com moderação. Cristo ensinou que os pensamentos impuros são maus e talvez piores do que os atos impuros, porque os pensamentos podem ser repetidos indefinidamente, enquanto os atos têm sempre algum limite.

O Aspirante à vida superior só pode triunfar na medida da subjugação da natureza inferior. Contudo, deve guardar-se muito bem para não ir de um extremo ao outro.

O Corpo Pituitário e a Glândula Pineal

No cérebro, aproximadamente na posição indicada pelo Diagrama 17, há dois pequenos órgãos chamados Corpo Pituitário[44] e Glândula Pineal[45]. A ciência médica não sabe quase nada a seu respeito nem de outras glândulas do Corpo.

Diagrama 17 – Caminho das Forças Sexuais não empregada

A ciência chama à Glândula Pineal[46] “terceiro olho atrofiado”. Nenhum daqueles órgãos está se atrofiando. Isto é um manancial de perplexidades para os cientistas. A Natureza nada conserva inútil. Em todo o Corpo encontramos órgãos em desenvolvimento ou em atrofia. Sendo estes assim como marcos milenários no caminho seguido pelo ser humano até o seu estado atual de desenvolvimento, indicando futuros aperfeiçoamentos e desenvolvimentos. Por exemplo, os músculos que os animais empregam para mover a orelha existem também no ser humano. Muitas poucas pessoas podem movê-los, estão atrofiando. O coração pertence à classe dos que indicam desenvolvimento futuro. Como já indicamos, está a converter-se num músculo voluntário.

O Corpo Pituitário[47] e a Glândula Pineal pertencem a outra classe de órgãos, que atualmente não degeneram nem se desenvolvem: estão adormecidos.

Num passado remoto, o ser humano estava em contato com os mundos internos, e esses órgãos eram o meio de ingresso. Estavam relacionados com o Sistema Nervoso simpático ou involuntário. No Período Lunar, última parte da Época Lemúrica e primeira da Atlante, o ser humano via os mundos internos. As imagens se apresentavam a ele completamente independentes da sua vontade. Os centros dos sentidos do Corpo de Desejos giravam em direção contrária à dos ponteiros de um relógio (seguindo negativamente o movimento da Terra, que gira em torno do eixo, nessa direção) como atualmente os dos médiuns. Na maioria dos seres humanos esses centros são inativos, mas o desenvolvimento apropriado pô-los-á em movimento, na mesma direção em que giram os ponteiros de um relógio, com se explicou anteriormente. Essa é a parte difícil no desenvolvimento da clarividência positiva.

O desenvolvimento da mediunidade é muito mais fácil; é simples revivificação da função negativa que possuía o ser humano no antiquíssimo passado, pela qual o mundo externo refletia-se nele e cuja função era retida pela endogamia. Nos atuais médiuns essa faculdade é intermitente. Sem razão alguma aparente, podem “ver” umas vezes e outras não. Ocasionalmente, o intenso desejo do interessado permite ao médium pôr-se em contato com a fonte de informação que procura e nessas ocasiões vê corretamente. Contudo, nem sempre se porta honestamente. Tendo de pagar despesas de aluguel e outras, quando lhe falta o poder (sobre o qual não tem o menor domínio consciente) recorre à fraude e diz qualquer absurdo que lhe ocorra para satisfazer o cliente e não perder o dinheiro, desacreditando aquilo que noutras ocasiões realmente viu.

O Aspirante à verdadeira visão e discernimento espiritual deve, antes de tudo, dar provas de desinteresse. O clarividente idôneo não tem “dias livres” nem, de nenhum modo, é como um espelho negativo, dependente dos reflexos que de qualquer forma o possam atingir. Em qualquer momento, pode olhar e ver os pensamentos e planos dos demais, sempre que dirija sua atenção especialmente para isso.

É fácil de compreender o grande perigo que traria à sociedade o uso indiscriminado desse poder, se estivesse em mãos de qualquer indivíduo, visto que por meio dele, podem ser lidos os mais secretos pensamentos. O Iniciado, pelo voto mais solene, obriga-se a não empregar jamais esse poder para servir seus interesses individuais, sequer em grau mínimo, nem para salvar-se de qualquer dor ou tormento. Pode dar de comer a cinco mil pessoas, se o deseja, mas não pode converter uma pedra em pão para aplacar a própria fome. Pode curar os outros da paralisia ou da lepra, mas não pode usar a Lei do Universo para curar suas próprias feridas mortais. Está ligado a um voto de absoluto desinteresse e, por isso, é sempre certo que o Iniciado, ainda que possa salvar os outros, não pode salvar-se.

O clarividente educado, o que realmente tem algo a dar, não aceitará jamais nenhum donativo ou qualquer compensação para exercer sua faculdade. Contudo, dará e dará desinteressadamente, tudo o que considere necessário ou compatível com o destino gerado ante a Lei de Consequência pela pessoa a quem vá ajudar.

Usa-se a clarividência desenvolvida para investigar os fatos ocultos. É a única que serve realmente para esse objetivo. Portanto, o Estudante deve sentir um desejo santo e desinteressado de ajudar a humanidade e não um desejo de satisfazer uma tola curiosidade. Enquanto esse desejo superior não exista, não se pode fazer progresso algum em direção à clarividência positiva.

Nas idades transcorridas desde a Época Lemúrica, a humanidade construiu, gradualmente, o Sistema Nervoso cérebro-espinhal, o qual está sob o controle da vontade. Na última parte da Época Atlante, o sistema já estava tão desenvolvido que foi possível ao Ego tomar posse plena do Corpo Denso. Isto, como já foi descrito, efetuou-se quando o ponto do Corpo Vital se pôs em correspondência com o ponto da raiz do nariz do Corpo Denso. O espírito interno despertou para o Mundo Físico, e a maior parte da humanidade perdeu a consciência dos mundos internos.

Desde esse tempo, a conexão entre a Glândula Pineal, o Corpo Pituitário e o Sistema Nervoso cérebro-espinhal foi se realizando lentamente e já quase está completa.

Para voltar a obter o contato com os mundos internos tudo se resume em despertar de novo o Corpo Pituitário e a Glândula Pineal. Quando isto se realizar o ser humano possuirá novamente a faculdade de perceber os mundos superiores, porém em mais alto grau do que antes, porque estará em conexão com o Sistema Nervoso Voluntário e, portanto, sob o domínio da vontade. Essa faculdade de percepção abrir-lhe-á todas as fontes do conhecimento. Comparados com estes meios de adquirir conhecimento, todos os demais métodos de investigação não são mais do que brinquedos de crianças.

O despertar desses órgãos efetua-se por meio da educação ou treinamento esotérico, que agora descreveremos, tanto quanto se possa fazer publicamente.

Treinamento Esotérico

Na maioria dos seres humanos, a maior parte da força sexual que, de modo legítimo, deve ser usada pelos órgãos da geração, emprega-se na gratificação dos sentidos. Nesses seres humanos há muito pouca corrente ascendente (Diagrama 17).

Quando o Aspirante à vida domina cada vez mais esses excessos e dedica sua atenção a pensamentos e esforços espirituais, o clarividente educado pode verificar que a força sexual não utilizada começa a subir. Ao subir, em volume cada vez maior, segue o caminho indicado pelas flechas no Diagrama 17, atravessa o coração e a laringe, ou a medula espinhal e a laringe, ou a ambos ao mesmo tempo, passando diretamente entre o Corpo Pituitário e a Glândula Pineal para o ponto obscuro da raiz do nariz, onde o “Vigilante Silencioso”, o mais elevado espírito, tem Seu templo.

Essas correntes não seguem um dos caminhos com exclusão do outro. Geralmente, seguem pelos dois, passando um volume maior de corrente sexual por um deles, de acordo com o temperamento do Aspirante. Nos que procuram a iluminação seguindo linhas puramente intelectuais, a corrente sexual passa especialmente sobre a medula espinhal e a parte menor segue o caminho que passa pelo coração. No místico, que antes “sente” do que conhece, essas correntes seguem preferivelmente o caminho que passa pelo coração.

Seguindo essas vias, o intelectual e o místico desenvolvem-se anormalmente. Para completar-se plenamente, cada um terá que dedicar sua atenção ao desenvolvimento daquilo que antes descuidou. O objetivo dos Rosacruzes é dar ensinamentos que satisfaçam a ambas as classes, se bem que os seus esforços principais se dirijam às Mentes muito desenvolvidas, de maior necessidade.

Essas correntes, em si mesmas, ainda que assumissem as proporções de um Niágara, e fluíssem até o sinal do dia de juízo, seriam inúteis se fossem tão só um complemento. Elas são prévio requisito para o trabalho consciente nos mundos internos e, por isso, dever ser cultivadas em alguma extensão antes de começar o verdadeiro treinamento esotérico. Durante certo tempo, é indispensável ao Aspirante uma vida moral, dedicada a pensamentos espirituais, antes de ser possível começar o trabalho que proporcionará o conhecimento direto dos domínios suprafísicos e o habilitará a converter-se, no sentido mais elevado, num auxiliar da humanidade.

Quando o candidato tenha vivido desse modo o tempo suficiente para estabelecer a corrente de força espiritual, está apto e capacitado para receber instruções esotéricas. São fornecidos a ele, então, alguns exercícios para pôr em vibração a glândula pituitária. Essa vibração faz a glândula pituitária chocar e desviar ligeiramente a linha de força mais próxima (Diagrama 17). Esta se choca com a próxima, e o processo continua até que a força da vibração se esgota. Isto se efetua de maneira parecida ao tocar-se uma nota num piano: ela produzirá certo número de sons harmônicos, a intervalos apropriados, os quais, por sua vez, farão vibrar as cordas correspondentes do piano.

Quando a vibração crescente do Corpo Pituitário desvia suficientemente as linhas de força e estas alcançam a Glândula Pineal, realiza-se o objetivo procurado: estabelece-se uma ponte entre ambos os órgãos. É a ponte entre o Mundo dos Sentidos e o Mundo do Desejo. Construída essa ponte, o ser humano torna-se clarividente e pode dirigir seu olhar à vontade. Os objetos sólidos podem ser vistos por dentro e por fora porque o espaço e a densidade deixaram de serem para ele obstáculos para a observação.

Não é ainda um clarividente exercitado, ou educado, mas é clarividente à vontade, um clarividente voluntário. É uma faculdade muito diferente da do médium, geralmente um clarividente involuntário, isto é, que só pode ver o que se lhe apresenta e que, no melhor dos casos, pouco mais tem além da mera faculdade negativa. Construída essa ponte, a pessoa estará sempre certa de poder pôr-se em contato com os mundos internos, estabelecendo ou rompendo à vontade a conexão com eles. Gradualmente, o observador aprende a dirigir a vibração do Corpo Pituitário, de maneira a poder pôr-se em contato com qualquer das regiões dos mundos internos que deseje examinar. A faculdade está sob completo domínio da sua vontade. Não é necessário pôr-se em transe, ou fazer algo anormal para elevar sua consciência até o Mundo do Desejo. Basta-lhe somente querer ver, e vê.

Como já indicamos no começo desta obra, o neófito deve aprender a ver no Mundo do Desejo ou, melhor dito, deve aprender a interpretar ou compreender o que vê ali. No Mundo Físico os objetos são densos, sólidos e sua forma não muda instantaneamente. No Mundo do Desejo, as formas mudam da maneira mais fugaz e instável. Isto é manancial de confusões sem conta para o clarividente involuntário e negativo e até mesmo para o neófito que nele penetra sob a direção de um instrutor. Porém, os ensinamentos do instrutor cedo colocam o discípulo em condições de perceber a Vida que produz a mudança nas formas e, assim, o discípulo, conhecendo a razão da instabilidade não dá atenção a isso.

Há também outra distinção importantíssima a fazer. O poder de perceber os objetos de um mundo não é idêntico ao poder de agir dentro dele. O clarividente voluntário pode ter recebido algum treinamento e distinguir o verdadeiro do falso no Mundo do Desejo. No entanto, é uma condição parecida à de um prisioneiro atrás da janela gradeada que o separa do mundo externo: pode vê-lo, mas não pode funcionar nele.

Portanto, a educação ou treinamento esotérico abre a visão interna do Aspirante. Há seu tempo, receberá exercícios que organizarão um veículo capaz de funcionar nos mundos internos de maneira perfeitamente consciente.

Como os Veículos Internos são construídos

Na vida comum a maioria das pessoas vive para comer, beber e satisfazer sua paixão sexual da maneira mais desenfreada, perdendo a cabeça à menor provocação. Ainda que na aparência tais pessoas possam ser bastantes “respeitáveis”, quase todos os dias produzem a maior confusão em seu organismo. O período do sono é totalmente utilizado pelos Corpos Vital e de Desejos para repararem os estragos produzidos durante o dia, não sobrando nenhum tempo para trabalho externo de qualquer natureza. Porém, conforme o indivíduo comece a sentir necessidade da vida superior, de controlar a força sexual e o temperamento, e de cultivar uma disposição serena, produzem-se menos perturbações nos veículos durante as horas de vigília, tornando-se menor o tempo de sono necessário para reparar os desgastes. Assim, torna-se possível abandonar o Corpo Denso por longos períodos nas horas dedicadas a dormir, e funcionar nos mundos internos nos veículos superiores. Como o Corpo de Desejos e a Mente não estão ainda organizados, eles são inúteis como veículos separados de consciência. Nem o Corpo Vital pode abandonar o Corpo Denso, pois isto produziria a morte. Portanto, é evidente que deve haver algum meio de prover-se um veículo organizado que seja fluídico, e construído de tal modo que satisfaça às necessidades do Ego nos mundos internos, assim como o Corpo Denso as satisfaz no Mundo Físico.

O Corpo Vital é um veículo organizado para isso, de modo que se encontrássemos um meio de poder separá-lo do Corpo Denso sem causar a morte, o problema estaria resolvido. Além disso, o Corpo Vital é a sede da memória, sem a qual seria impossível trazer de volta, à nossa consciência física, as lembranças das experiências suprafísicas e delas obtermos todo o benefício.

Recordemos que os Hierofantes dos antigos Templos dos Mistérios segregavam das castas e tribos alguns indivíduos, tais como os Brâmanes e os Levitas, com o objetivo de proporcionar Corpos para os Egos suficientemente avançados, prontos para a Iniciação. Isto se efetuava de tal maneira que o Corpo Vital se separava em duas partes, conforme era o Corpo de Desejos de toda a humanidade no começo do Período Terrestre. Quando o Hierofante retirava os discípulos dos seus Corpos, deixava uma parte do Corpo Vital, compreendendo o primeiro e o segundo Éteres, para realizar as funções, puramente, animais (as únicas ativas durante o sono). O discípulo levava então consigo um veículo capaz de percepção, dada a sua conexão com os centros sensoriais do Corpo Denso, e também de recordar. Possuía tais capacidades porque se compunha dos terceiro e quarto Éteres, os meios da percepção sensorial e da memória.

Essa é, pois, de fato, a parte do Corpo Vital que o Aspirante retém vida após vida, e que imortaliza como Alma Intelectual.

Desde que Cristo veio e “limpou os pecados do mundo”[48] (não os do indivíduo), purificando o Corpo de Desejos do nosso Planeta, a conexão entre os Corpos Denso e Vital de todos os seres humanos foram afrouxados, e a tal ponto que, pelo exercício, são capazes de separar-se na forma acima descrita. Portanto, a Iniciação está aberta para todos.

A parte mais sutil do Corpo de Desejos, que constitui a Alma Emocional, é capaz de separação na maioria das pessoas (em realidade ela já possuía essa capacidade antes da vinda de Cristo). Assim, por meio da concentração e do emprego de fórmula apropriada, as partes mais sutis dos veículos foram isoladas para serem empregadas durante o sono ou em qualquer outra hora, deixando as partes inferiores dos Corpos Vital e de Desejos encarregadas dos processos de restauração do veículo denso, a parte simplesmente animal.

Essa parte do Corpo Vital que sai está altamente organizada, como vimos. É a exata contraparte do Corpo Denso. O Corpo de Desejos e a Mente não estão organizados, são úteis unicamente porque estão ligados ao altamente organizado Corpo Denso. Quando separados desse são instrumentos muito pobres. Por isso, antes que possa separar-se do Corpo Denso, o ser humano precisa despertar os centros sensoriais do Corpo de Desejos.

Na vida corrente o Ego está dentro de seus Corpos, dirigindo suas forças para o exterior. Toda a vontade e energia humanas estão empenhadas na tarefa de dominar o mundo externo. Em nenhum momento ele é capaz de livrar-se das impressões do ambiente externo e trabalhar livremente sobre si mesmo nas horas de vigília. Porém durante o sono, quando se apresenta essa oportunidade, porque o Corpo Denso perde a consciência do mundo, o Ego fica fora dos seus Corpos. Se o ser humano tiver que agir sobre os seus veículos, há de ser quando esteja alheio ao mundo externo, como no sono, contanto que o espírito permaneça dentro e no pleno controle de suas faculdades, como sucede nas horas da vigília. Enquanto não obtiver esse estado é impossível ao Espírito atuar internamente e sensibilizar devidamente os seus veículos.

Tal estado é a concentração. Quando a pessoa nela se submerge, seus sentidos ficam inativos, aparentemente na mesma condição que no sono profundo, se bem que o espírito permanece dentro, plenamente consciente. A maioria das pessoas já experimentou esse estado, pelo menos em certo grau, quando absorvidas na leitura de algum livro. Em tais ocasiões vivem as cenas descritas pelo autor, e perdem toda noção do seu ambiente. São insensíveis a todo som, às palavras que lhes dirigem e a tudo que as rodeia. Contudo, estão plenamente conscientes do que leem do mundo invisível criado pelo autor, vivendo neles e sentindo o bater dos corações dos diferentes personagens da narrativa. Não estão independentes, mas sim ligados à vida que alguém criou para elas no livro.

O Aspirante à vida superior cultiva a faculdade de absorver-se à vontade em qualquer assunto que escolha, ou melhor, geralmente não num assunto, mas num simples objeto que ele mesmo imagine. Desta maneira, quando alcança a condição apropriada ou ponto de absorção, quando seus sentidos ficam completamente cerrados, ele concentra seus pensamentos sobre os diferentes centros sensoriais do Corpo de Desejos e estes começam a girar.

A princípio o movimento é lento e laborioso, mas gradualmente esses centros sensoriais do Corpo de Desejos preparam seus próprios lugares dentro dos Corpos Denso e Vital, e estes por si aprendem essa nova atividade. Então algum dia, quando uma vida apropriada tenha produzido a desejada separação entre as partes superior e inferior do Corpo Vital, por um supremo esforço de vontade num movimento espiral de várias direções, o Aspirante vê-se fora do seu Corpo Denso. Nesse momento ele o olha como se olhasse outra pessoa. Está, pois, aberta a porta da sua casa-prisão. É livre para ir e vir, tanto nos mundos internos como no Mundo Físico, funcionando à vontade em ambos, para ajudar a quem precise em quaisquer deles.

Antes de aprender a deixar o Corpo voluntariamente, o Aspirante deve preparar o Corpo de Desejos durante o sono, posto que em algumas pessoas esse Corpo se organiza antes que a separação do Corpo Vital possa ser efetuada. Sob tais circunstâncias é impossível trazer de volta à consciência de vigília essas experiências subjetivas. Contudo, em casos tais, e como primeiro sinal de desenvolvimento, geralmente se nota que todos os sonhos confusos cessam. Então, após algum tempo, os sonhos tornar-se-ão mais vívidos e perfeitamente lógicos. O Aspirante sonhará com lugares e pessoas (conhecidas ou não, nas horas de vigília, pouco importa), conduzindo-se de forma razoável como se estivesse desperto. Se o lugar com que sonhou lhe for acessível, quando desperto, da realidade do sonho, poderá obter provas no dia seguinte se tiver anotado algum detalhe físico da cena.

A seguir descobrirá que pode, durante o sono, visitar qualquer lugar sobre a superfície da Terra e estudá-lo muito melhor do que se lá tivesse ido em seu Corpo Denso, pois em seu Corpo de Desejos ele pode entrar em todos os lugares, a despeito de portas e fechaduras. Se persistir, dia chegará finalmente em que não precisará esperar o sono para desfazer a ligação entre os seus veículos, mas poderá libertar-se deles conscientemente.

Instruções específicas para libertar os veículos superiores não podem ser dadas indiscriminadamente. A separação não se efetua por uma fórmula de palavras, mas sim por um ato de vontade, se bem que a maneira como se há de dirigir a vontade seja individual e só possa ser indicada por um instrutor competente. Como qualquer outra informação esotérica esta jamais se vende, mas alcança o discípulo como resultado de sua qualificação para recebê-la. Tudo que podemos fazer é dar algumas indicações sobre os primeiros passos que conduzem à aquisição da faculdade da clarividência voluntária.

O tempo mais favorável para exercitá-la é imediatamente ao despertar, pela manhã, antes que as preocupações e os cuidados da vida diária se apoderam da Mente. Tendo nesse momento acabado de deixar os mundos internos, a facilidade de voltar a pôr-nos em contato com eles é maior do que em qualquer outra hora do dia. Não precisamos nos vestir ou sentar na cama, mas relaxar o Corpo perfeitamente, permitindo ao exercício ser o primeiro pensamento do dia. Relaxamento não significa apenas uma posição confortável. Se os músculos se mantiverem tensos, em expectativa, isso por si frustra o objetivo, porque nestas condições o Corpo de Desejos está pressionando os músculos. E não pode ser de outra maneira, até que acalmemos a Mente.

Concentração

A primeira prática a efetuar-se é a fixação do pensamento em um ideal e assim mantê-lo, sem permitir que se desvie. Tarefa sumamente difícil, ela deve ser realizada regularmente pelo menos até que se possa alcançar algum progresso. O pensamento é o poder que empregamos na formação de imagens, cenas, pensamentos-formas, de acordo com as ideias internas. É o nosso poder principal, e temos de aprender a mantê-lo sob nosso absoluto controle de modo a produzirmos não absurdas ilusões induzidas pelas circunstâncias exteriores, mas sim imaginações verdadeiras geradas pelo espírito, internamente. (Veja o Diagrama 1).

Os céticos dirão que tudo é imaginação, mas, como já vimos antes, se o inventor não imaginasse o telefone, etc., não possuiríamos tais coisas. De modo geral suas imaginações não foram corretas ou certas no início. Se o tivessem sido, os inventos teriam funcionado com todo o êxito desde o princípio, sem aqueles muitos fracassos e experiências aparentemente inúteis que quase sempre precedem o aparecimento de um instrumento ou máquina utilitária e prática. Tampouco é correta a princípio a imaginação do ocultista novato. A única maneira de imaginar-se corretamente é conseguida pela prática ininterrupta, dia após dia, exercitando-se o pensamento, pela vontade, a manter-se enfocado sobre um assunto, objeto ou ideia, excluindo tudo o mais. O pensamento é um grande poder que costumamos desperdiçar. Permitimo-lo fluir sem qualquer objetivo, do mesmo modo que a água se despeja no precipício sem aproveitamento na movimentação de uma turbina.

Os raios do Sol difundidos sobre a superfície da Terra produzem apenas um calor moderado. Contudo, se alguns poucos forem concentrados através de uma lente, serão capazes de produzir fogo no ponto focal.

A força do pensamento é o meio mais poderoso para obter-se conhecimento. Se for concentrada sobre um assunto, abrirá caminho através de qualquer obstáculo e resolverá o problema. Possuindo-se quantidade necessária de energia mental, nada existe que esteja além do poder da compreensão humana. Enquanto a desperdiçamos, é uma força de pouca utilidade, mas tão logo estejamos prontos a enfrentar as dificuldades para dominá-la, todo conhecimento poderá ser nosso.

Ouvimos com frequência pessoas exclamarem petulantemente: “Oh! Não posso pensar em cem coisas ao mesmo tempo! “. Na realidade era exatamente isso o que estavam fazendo e que lhes causou o aborrecimento de que se queixam. As pessoas vivem pensando constantemente em cem coisas diferentes daquela que têm em mãos. Todo êxito é alcançado através da concentração persistente no objetivo desejado.

Isto é algo que o Aspirante à vida superior deve aprender positivamente. Não há outro caminho. A princípio se achará pensando em tudo quanto há debaixo do Sol, ao invés de pensar no Ideal sobre o qual tenha decidido concentrar-se, mas isso não deve desanimá-lo. Com o tempo verá que já é mais fácil cerrar os sentidos e manter firmemente os pensamentos. Persistência, persistência, sempre PERSISTÊNCIA e vencerá por fim. Sem ela, entretanto, não pode esperar resultado algum. Não será de nenhuma utilidade fazer os exercícios duas ou três manhãs ou semanas, e deixar de fazê-los por outro tanto tempo. Para serem eficazes devem ser praticados fiel e ininterruptamente todas as manhãs.

Escolha-se qualquer assunto, de acordo com o temperamento e convicções do Aspirante, contanto que seja puro e consiga elevar a Mente em sua tendência. Uns concentram-se em Cristo; outros, que tenham predileção por flores, encontrarão mais facilidade tomando-as como assunto da concentração. O objeto em si pouco importa, mas qualquer que seja, precisa ser imaginado vivente em todos os pormenores. Se for o Cristo, devemos imaginar um Cristo real, movendo-se: vida em Seus olhos, e uma expressão não petrificada ou morta. Devemos, enfim, construir um ideal vivente, não uma estátua. Se for uma flor, imaginemos que plantamos a semente no solo, fixando bem nossa Mente sobre ela. Observemos a seguir o seu desenvolvimento, ao deitar raízes que penetram na Terra em forma espiral. Das raízes principais vejamos sair miríades de pequenas raízes ramificando-se em todas as direções. Então o caule começa a surgir, rompendo a superfície da terra, aparecendo como uma pequenina haste verde. Cresce mais: surge um botão, e dois pequenos raminhos brotam do talo. Continua crescendo, outro jogo de raminhos aparece, e desse brotam pedúnculos com folhinhas. Surge um botão na ponta que cresce até abrir-se, dele surgindo uma formosa rosa vermelha por entre o verde das folhas. Esta continua a desabrochar, exalando delicioso perfume que sentimos perfeitamente como se chegasse até nós, trazido pela balsâmica brisa estival que balança suavemente a bela criação ante nossos olhos mentais.

Só quando “imaginamos” do modo acima, sem sombras ou aparência vaga, mas clara e distintamente, é que penetramos no espírito da concentração.

Os que têm viajado pela Índia falam-nos de faquires que mostram uma semente, plantam-na e a planta cresce rapidamente ante os olhos atônitos das testemunhas, produzindo frutos que o viajante pode provar. Isto resulta de uma concentração tão intensa que o quadro se torna visível, não somente para o próprio faquir, mas também para os espectadores. Recordamo-nos do caso em que os membros de uma comissão científica viram essas coisas maravilhosas com seus próprios olhos, e sob condições tais que toda prestidigitação era impossível, mas as fotografias obtidas enquanto se efetuavam as experiências nada mostraram de extraordinário. Nem havia a menor impressão nas chapas sensíveis, pois não existiam objetos materiais concretos.

As imagens produzidas pelo Aspirante serão a princípio obscuras e de fraca semelhança, mas depois, pela concentração, poderá evocar imagens mais reais e viventes do que as coisas do Mundo Físico.

Quando o Aspirante estiver apto a formar tais imagens, e já conseguindo manter a Mente sobre as imagens assim criadas, poderá tentar o desaparecimento súbito da imagem, mantendo a Mente firme, sem pensamento algum, esperando o que possa surgir nesse vazio.

Talvez nada apareça durante muito tempo, mas o Aspirante deve ter o cuidado de não criar visões por si mesmo. Se a prática for seguida fiel e pacientemente todas as manhãs, chegará o dia em que no momento que faça desaparecer a imagem, o Mundo do Desejo que o rodeia abrir-se-á aos seus olhos internos como num relâmpago. A princípio pode não ser mais do que um mero vislumbre, contudo não deixa de ser um sinal daquilo que virá mais tarde, sempre que o deseje.

Meditação

Tendo praticado a Concentração durante algum tempo, enfocando a Mente sobre um objeto simples, construindo um pensamento-forma vivente por meio da faculdade imaginativa, o Aspirante pode aprender pela Meditação tudo o que se refere ao objeto assim criado.

Suponhamos que o Aspirante evocou, na Concentração, a imagem do Cristo. É muito mais fácil reproduzir em meditação os incidentes de Sua vida, Seus sofrimentos e Sua ressurreição, porém muito mais pode ser aprendido pela Meditação. Um conhecimento jamais sonhado inundará a alma com uma luz gloriosa. É melhor praticar com algo que não desperte tanto interesse e não sugira nada de maravilhoso. Procure descobrir tudo o que se refere, digamos, a um fósforo ou a uma mesa comum.

Quando a imagem da mesa se formar com precisão na Mente, pense na espécie de madeira de que é feita e de onde veio. Volte até ao tempo em que, como delicada semente, caiu na terra do bosque, desenvolvendo-se depois na árvore da qual a madeira foi cortada. Observe-a crescer, ano após ano, coberta pelas neves do inverno e acalentada pelo Sol estival, crescendo continuamente enquanto as raízes penetram incessantemente na terra. A princípio é um tenro broto, balançado pela brisa. Depois, um arbusto que gradualmente cresce e se torna cada vez mais alto, buscando o ar e os raios do Sol. Com o passar dos anos a copa e o tronco tornam-se cada vez maiores. Por fim chega o lenhador, com seu machado e serra brilhando aos raios do Sol invernal. A árvore é derrubada e despojada da ramagem, ficando só o tronco que logo é cortado em toras e arrastado pelos caminhos gelados para a margem do rio. Ali tem que esperar a primavera, quando a neve derretida aumenta a correnteza. Faz-se um grande amarrado de toras, entre as quais estão os pedaços da nossa árvore. Conhecendo todas as suas pequenas peculiaridades, reconhecemo-la imediatamente entre milhares de outras, tão claramente temo-la gravado em nossa Mente! Seguimos o curso da balsa pela correnteza, observando as paisagens e familiarizando-nos com os homens que cuidam da balsa e dormem em pequenas barracas sobre a carga flutuante. Por fim, vemo-la chegar a uma serraria. Então, uma a uma as toras são presas a uma cadeia sem fim e içadas da água. Aqui vem uma das nossas toras, de cuja parte mais larga será feito o tampo da nossa mesa. É erguida com alavancas pelos homens e arrastada para o galpão. Ouvimos o ávido chiado das grandes serras circulares. Giram tão rapidamente que parecem torvelinhos aos nossos olhos. A tora, posta sobre um carro, é conduzida a uma dessas serras, e num momento os dentes penetram na madeira, dividindo-a em tábuas e pranchas. Algumas madeiras são separadas para formar parte de algum edifício, mas as melhores são levadas às fábricas de móveis. Metidas em estufas, são secadas pelo vapor para não empenarem depois de feito o móvel. Depois são alisadas por uma grande plaina, provida de muitas lâminas afiadas. Finalmente são cortadas em diversos tamanhos e coladas, para formar os tabuleiros das mesas. As pernas são torneadas das peças mais grossas e encaixadas na armação que suporta o tabuleiro. A seguir todo o móvel é alisado novamente com papel-lixa, envernizado e polido, ficando assim acabada, em todos os seus pormenores. Por último é enviada à loja junto com outros móveis, onde a compramos. Transportada para nossa casa, deixamo-la na sala de jantar.

Dessa maneira, por meio da meditação, familiarizamo-nos com os vários ramos da indústria, necessários para converter uma árvore da floresta numa peça de mobiliário. Observamos todas as máquinas, os homens e as peculiaridades dos diferentes lugares. Até seguimos o processo da vida que fez surgir a árvore da delicada semente, e aprendemos que atrás de toda aparência, por simples que seja, há uma grande e absorvente história interessante. Um alfinete; o fósforo com que ascendemos o gás; o próprio gás; e o aposento em que acendemos o gás; tudo tem histórias muito interessantes que vale a pena aprender.

Observação

Um dos mais importantes auxílios ao Aspirante que se esforça é a observação. A maioria das pessoas atravessa a vida quase às cegas. É, literalmente, certo dizer delas: “têm olhos e não veem… têm ouvidos e não ouvem”[49]. Na maior parte da humanidade há uma deplorável falta de observação.

Até certo ponto, muitas pessoas podem desculpar-se pela sua falta de visão normal. A vida urbana tem causado inúmeros danos aos olhos. No campo a criança aprende a usar os músculos dos olhos em toda a extensão, relaxando-os ou contraindo-os, conforme seja necessário para ver objetos a distâncias consideráveis ao ar livre ou ao alcance da mão, dentro e fora de casa. Contudo, o filho das cidades vê praticamente todas as coisas de perto, e os músculos dos seus olhos raramente são empregados para observar objetos a grandes distâncias. Por conseguinte, essa faculdade se perde em grande parte, resultando disso a miopia e outros problemas da visão.

É muito importante que o Aspirante à vida superior possa ver todas as coisas ao redor de si de maneira clara, nítida, distinta, em todos os pormenores. Para os que sofrem da vista, o uso de lentes é como o abrir-se um mundo novo à sua frente. Em vez da anterior nebulosidade, tudo é visto clara e definidamente. Se a condição da visão requer o emprego de dois focos, não deve a pessoa contentar-se com dois pares de óculos, um para as coisas próximas e outro para as distantes, que obrigam a mudanças frequentes. Não somente porque as mudanças são incômodas, mas também porque se pode esquecer um dos pares ao sair de casa. Podem-se ter os dois focos num só par de lentes bifocais, e esses são os que devem ser usados para facilitar a observação dos pormenores.

Discernimento

Quando o Aspirante tiver cuidado de sua visão, deve observar sistematicamente todas as coisas e todas as pessoas, e tirar conclusões dos fatos a elas relacionadas, a fim de cultivar a faculdade do raciocínio lógico. A lógica é o melhor instrutor no Mundo Físico, assim como é o guia mais seguro em qualquer Mundo.

Quando se pratica esse método de observação, é necessário ter bem presente que deve ser empregado exclusivamente para agrupar fatos, não com o propósito de criticar, nem que seja por brincadeira. A crítica construtiva, que assinala os defeitos e o modo de remediá-los, é à base do progresso. Contudo, a crítica destrutiva, sem nenhuma finalidade superior, que destrói de modo vandálico tudo quanto toca de bom ou de mau, é uma úlcera do caráter que deve ser extirpada. As conversações frívolas e os mexericos são estorvos, obstáculos. Se bem que não é necessário dizer que o branco é negro, e dissimular que não se vê a má conduta alheia. A crítica sempre deve ser feita com propósitos de ajudar, não com o de manchar, irresponsavelmente, o caráter do nosso próximo quando nele encontramos alguma pequena nódoa. Relembrando a parábola do argueiro e da trave, voltemos nossa impiedosa crítica contra nós mesmos. Ninguém é tão perfeito que não necessite melhorar. Quanto mais impecável é o ser humano menos se inclina a encontrar faltas nos demais e atirar a primeira pedra nos outros. Ao assinalarmos alguma falta e indicarmos o meio de corrigi-la, devemos fazer isso impessoalmente. Procuremos sempre o bem que se acha oculto em tudo. O cultivo desta atitude de discernimento é especialmente importante.

Quando o Aspirante ao conhecimento direto, tendo praticado os exercícios de concentração e de meditação durante algum tempo, neles se torna razoavelmente proficiente, deve dar um passo mais elevado.

Vimos que a concentração consiste em enfocar o pensamento num só objeto. É o meio pelo qual construímos uma imagem clara, objetiva e vivente da forma, acerca da qual desejamos adquirir conhecimento.

Meditação é o exercício pelo qual seguimos a história desse objeto, pondo-nos em relação com todos os pormenores a ele relativos e ao mundo em geral.

Esses dois exercícios mentais relacionam-se, da maneira mais profundamente imaginável, com as coisas. Conduzem a um estado mais elevado, penetrante e sutil de desenvolvimento mental, que se refere à alma das coisas.

O nome desse estado é Contemplação.

Contemplação

Diferentemente da Meditação, na Contemplação não é necessário esforço de pensamento ou de imaginação para conseguir-se a informação desejada. Esse exercício consiste simplesmente em mantermos o objeto ante a visão mental e deixar que a alma dele nos fale. Repousando tranquilamente num divã ou na cama – não de modo negativo, mas completamente alerta – esperamos a informação que virá com certeza, se já alcançamos o devido grau de desenvolvimento. Então a Forma do objeto parece desvanecer-se, passamos a ver unicamente a Vida em atividade. A Contemplação ensinar-nos-á tudo relativamente ao aspecto da Vida, assim como a Meditação nos ensinou tudo sobre a Forma.

Quando alcançamos esse estado, e pomos diante de nós, por exemplo, uma árvore na floresta, nós perdemos de vista a forma por completo e só veremos a Vida, que nesse caso é o Espírito-Grupo. Descobrimos então, para nosso assombro, que o Espírito-Grupo da árvore inclui os diversos insetos que dela se alimentam. Assim, tanto o parasita quanto o tronco em que ele se prende são emanações do mesmo Espírito-Grupo, pois quanto mais subimos nos domínios do invisível menos formas separadas e distintas encontramos, e mais completamente a Vida Una predomina, e imprime no investigador a noção suprema de que não há senão Uma Vida – a Vida Universal de Deus, em Quem realmente “vivemos, nos movemos e temos o nosso ser”. Os minerais, as plantas, os animais e o ser humano – todos sem exceção – são manifestações de Deus, e esse fato fornece a verdadeira base da fraternidade, uma fraternidade que inclui tudo, desde o átomo até o Sol, porque todos são emanações de Deus. Fracassaria o conceito de fraternidade que se baseasse em outro princípio qualquer, como o: das distinções de classes, das afinidades de raça ou de ofício, etc. O ocultista compreende claramente que a Vida Universal flui em tudo que existe.

Adoração

Quando, por meio da Contemplação, se alcança esta altura, isto é, quando o Aspirante compreende que de fato ele contempla Deus na vida que tudo compenetra, deve dar um passo ainda mais elevado e atingir a Adoração. Através desse exercício ele se une à fonte de todas as coisas, alcançando assim a maior altura possível de realização pelo ser humano, até que chegue o tempo em que essa união se torna permanente, ao fim do Grande Dia de Manifestação.

É opinião do autor que nem as alturas da Contemplação nem o passo final da Adoração podem ser alcançados sem a ajuda de um Mestre. O Aspirante nunca deve temer que, por falta de um Mestre, seu progresso seja retardado. Nem necessita preocupar-se em procurar um Mestre. Tudo o que precisa fazer é começar a aperfeiçoar-se, e continuar nesse trabalho diligente e persistentemente. Desse modo purificará seus veículos, que começarão a brilhar nos Mundos internos. Esse brilho não pode deixar de atrair a atenção dos Mestres, os quais, sempre atentos a tais casos, estão ansiosos e contentes por ajudar aqueles que, por seus sinceros esforços de purificação, adquiriram o direito de receber ajuda. A humanidade está duramente necessitada de auxiliares que possam trabalhar nos mundos internos. Portanto, “buscai e achareis”[50]. Contudo, não se imagine que a procura consiste em andar passando de um Mestre para outro. “Procurar”, no sentido da palavra, nada significa para esse mundo tenebroso. Nós mesmos é que temos de acender a luz – a luz que seguramente irradia dos veículos do Aspirante diligente. Essa é a estrela que nos conduzirá ao Mestre, ou melhor, que conduzirá o Mestre até nós.

O tempo necessário para se alcançar resultados por meio dos diversos exercícios varia de indivíduo para indivíduo, e depende da sua aplicação, grau de desenvolvimento e dos seus registros no Livro do Destino, pelo que não se pode estabelecer um tempo-padrão. Alguns, que já estão quase prontos, obtêm resultados em poucos dias ou semanas. Outros têm que trabalhar durante meses, anos e talvez durante uma vida inteira, sem obter resultados visíveis. Não obstante, os resultados são uma realidade, de modo que se o Aspirante persistir fielmente obterá algum dia, nesta ou em futura vida, a recompensa de sua paciência e fidelidade: os Mundos internos abrir-se-ão aos seus olhos, tornando-se cidadão de Reinos onde as oportunidades são imensamente maiores do que no Mundo Físico somente.

Daí em diante – desperto ou adormecido, através de tudo que o ser humano chama vida e de tudo o que chama morte – sua consciência será ininterrupta. Levará uma vida de consciência contínua, beneficiando-se de todas as condições que permitem um avanço mais rápido para posições cada vez mais elevadas, e a empregará na elevação da humanidade.

CAPÍTULO XVIII – A Constituição da Terra e Erupções Vulcânicas

Mesmo entre os cientistas ocultistas, a investigação da misteriosa constituição da Terra é considerada um problema dos mais difíceis. Todo cientista ocultista sabe que é muito mais fácil investigar detalhada e profundamente o Mundo do Desejo e a Região do Pensamento Concreto e trazer os resultados de tais investigações ao Mundo Físico, do que investigar completamente os segredos do nosso Planeta físico. Para consegui-lo plenamente é preciso haver passado pelos nove Mistérios Menores e pela primeira das Grandes Iniciações.

Os cientistas modernos sabem muito pouco sobre esse assunto. No que se referem aos fenômenos sísmicos, muitas vezes modificam suas teorias porque descobrem, constantemente, razões que tornam insustentáveis as hipóteses anteriores. Investigaram com minucioso e admirável cuidado a crosta externa, mas só até uma insignificante profundidade. Quanto às erupções vulcânicas, eles tentam compreendê-las do mesmo modo que procuram compreender qualquer outra coisa, isto é, de maneira puramente mecânica, descrevendo o centro da Terra como uma fornalha em ignição e concluindo que as erupções vulcânicas são causadas pela entrada acidental de água e outras explicações semelhantes.

Em certo sentido suas teorias têm algum fundamento, mas, como sempre, negligenciam as causas espirituais, que para o ocultista são as únicas reais. Para este, o mundo está longe de ser uma coisa “morta”. Pelo contrário, qualquer recanto e fenda são compenetrados pelo Espírito, o fermento que causa as mudanças tanto dentro como sobre o Planeta.

As diferentes espécies de quartzos, os metais, a disposição das várias camadas, tudo tem um significado muito maior do que aquilo que o investigador materialista jamais foi capaz de compreender. Para o cientista ocultista, o modo em que estes materiais estão dispostos é sumamente significativo. Nesse assunto, como em outro qualquer, a ciência oculta está para a ciência moderna assim como a fisiologia está para a anatomia.

A anatomia indica minuciosamente a posição de cada osso, músculo, ligamento, nervo etc.; suas posições relativas uns aos outros; e assim por diante; porém, não dá indicação alguma sobre o funcionamento das diferentes partes que compõem o Corpo. A fisiologia, por sua vez, indica não somente a posição e estrutura de todas as partes do Corpo, mas também sua função no Corpo.

Conhecer os diversos estratos da Terra e as posições relativas dos Planetas no firmamento, e não conhecer seu emprego e significado na vida e sua finalidade no Cosmos são tão inúteis quanto apenas conhecer as posições dos ossos, músculos, nervos etc., e não compreender as funções que desempenham na economia do Corpo.

O Número da Besta

Ante a visão do clarividente treinado, do Iniciado nos vários graus dos Mistérios, a Terra apresenta-se composta de camadas, à semelhança de uma cebola, cada camada ou estrato cobrindo outra. Há nove estratos e um núcleo central, dez no total. Tais estratos são revelados ao Iniciado gradualmente, um estrato em cada Iniciação, de modo que, ao final das nove Iniciações Menores domina todas as camadas, mas ainda não tem acesso aos segredos do núcleo central.

Em termos antigos esses nove passos são chamados “Mistérios Menores”. Levam o neófito, conscientemente, através de toda a sua evolução passada, ou seja, por meio de todas as atividades de sua existência involuntária, de modo que ele se torna capaz de compreender os meios e o significado da obra que efetuou, inconscientemente. A ele é mostrado como se constituíram as nove partes atuais (o Tríplice Corpo, a Tríplice Alma e o Tríplice Espírito); como as grandes Hierarquias Criadoras trabalharam sobre o Espírito Virginal, despertando nele o Ego e ajudando-o a formar o Corpo; também o trabalho que ele mesmo efetuou para, do Tríplice Corpo, extrair tanto da Tríplice Alma, como a que atualmente possui. Seguindo os nove estratos, é conduzido através dos nove graus que constituem os Mistérios Menores, um grau por vez.

O número nove é o número raiz do nosso presente estágio de evolução. Em nosso sistema tem um significado que nenhum outro número possui. É o número de Adão, a vida que começou sua evolução como ser humano e que alcançou o estado humano durante o Período Terrestre. Em hebraico, assim como em grego não há algarismos, porque cada letra exprime um valor numérico. Em hebraico, “Adão” é proferido “ADM”. O valor de “A” é 1; o de “D”, 4; e o de “M”, 40. Se somarmos esses algarismos 1+4+4+0=9, teremos o número de Adão, ou humanidade.

Se saltarmos do livro Gênesis, que trata da criação do ser humano em remotíssimo passado, para o Livro da Revelação[51], que trata de sua futura realização, veremos que o número da Besta que o oculta é 666. Somando esses algarismos 6+6+6 = 18, e 1+8 = 9, teremos novamente o número da humanidade, em si mesma a causa de todo mal que obstrui seu próprio progresso. Mais ainda: o número dos que se salvarão se diz que é de 144.000. Somando-se como antes 1+4+4+000 = 9, temos outra vez o número da humanidade, mostrando, praticamente, que ela será salva em sua totalidade, já que é insignificante a quantidade dos incapazes de progredir em nossa evolução atual. Mesmo os poucos que fracassam não estarão perdidos, mas progredirão num esquema evolutivo futuro.

A consciência do mineral e do vegetal é realmente inconsciência. O primeiro vislumbre de consciência começa no Reino Animal. Vimos, também, que, consoante a mais moderna classificação, há treze graus no Reino Animal: três classes de radiados; três classes de moluscos; três classes de articulados; e quatro classes de vertebrados.

Se considerarmos o ser humano comum como um grau em si mesmo, e recordarmos que há treze Iniciações desde o ser humano até Deus, ou desde o tempo em que começou a capacitar-se para se converter em uma Inteligência Criadora Consciente de Si, teremos de novo o mesmo número nove: 13 + 1 + 13 = 27 e 2 + 7 = 9.

O número 9 está também oculto na idade de Cristo Jesus, 33: 3 x 3=9, e de maneira análoga nos 33 graus da Maçonaria. Nos tempos antigos a Maçonaria era um sistema de Iniciação dos Mistérios Menores, os quais, como vimos, têm nove graus, ainda que os iniciados frequentemente os escrevessem 33. Por análogas razões existe o 18º grau dos Rosacruzes, o qual não é mais que um “véu” para o não iniciado, porque nunca há mais do que nove graus nos Mistérios Menores. Os Maçons de hoje conservam muito pouco dos rituais ocultos contidos em seus graus.

Temos também os nove meses da gestação, durante os quais é construído o eficiente Corpo atual. Há também nove perfurações no Corpo: dois olhos, duas narinas, dois ouvidos, uma boca e dois orifícios inferiores.

Quando em seu avanço o ser humano passa pelas nove Iniciações Menores conseguindo, assim, penetrar em todos os estratos da Terra, precisa ainda ter acesso ao núcleo central. Esse se abre para ele mediante a primeira das quatro Grandes Iniciações, na qual aprende a conhecer o mistério da Mente, essa parte do seu ser iniciada na Terra. Quando ele está pronto para a primeira grande Iniciação, sua Mente já foi desenvolvida a um grau que todos os seres humanos alcançarão no final do Período Terrestre. Nessa Iniciação é fornecido a ele a chave do próximo estágio, e todo o trabalho que depois disso ele efetua, será o mesmo que a humanidade em geral efetuará no Período de Júpiter. Isto não nos diz respeito atualmente.

Depois de sua primeira Grande Iniciação ele é um Adepto. A segunda, terceira e quarta das Iniciações pertencem a estágios de desenvolvimento que a humanidade comum alcançará nos Períodos de Júpiter, Vênus e Vulcano.

Essas treze Iniciações são representadas, simbolicamente, por Cristo e seus doze Apóstolos. Judas Iscariotes representa as traidoras tendências da natureza inferior do neófito. O amado João é a Iniciação de Vênus, e Cristo, em Si mesmo, simboliza o Divino Iniciado do Período de Vulcano.

Nas diversas escolas de ciência oculta diferem os ritos Iniciáticos, como também o que dizem sobre o número de Iniciações, mas isto é apenas uma questão de classificação. Observe-se que as vagas descrições que podem ser dadas se tornam ainda mais vagas à medida que se sobe mais. Ainda que se fale de sete ou mais graus, já da sexta Iniciação quase nada é dito, e absolutamente nada das que estão para além. A razão disto advém de outra divisão: os seis graus de “Preparação” e as quatro Iniciações, que ao final do Período Terrestre conduzem o candidato ao grau de Adepto. Portanto, sempre deverá haver mais três, caso a filosofia da escola ou sociedade vá tão longe. O autor, porém, não conhece ninguém, além dos Rosacruzes, que tenha algo a dizer sobre os três Períodos que precederam o Período Terrestre, a não ser a simples afirmação de que esses períodos existiram. Contudo, nem são postos em relação muito definida com a nossa atual fase de existência. De maneira análoga, outros ensinamentos ocultos afirmam, simplesmente, que haverá mais três esquemas evolutivos, porém não fornecem pormenores. Claro, nessas circunstâncias, as três últimas Iniciações não são mencionadas.

O Diagrama 18 dá uma ideia da disposição dos estratos terrestres, omitindo informações sobre o núcleo central para mostrar mais claramente a formação de correntes em forma de lemniscata no nono estrato.

Diagrama 18 – A Constituição da Terra

No Diagrama 18 os estratos são representados como se tivessem igual espessura, mas em realidade uns são muito mais delgados do que outros. Começando pelo mais externo, aparecem na seguinte ordem:

  1. Terra Mineral: é a crosta pétrea da Terra, com que lida a Geologia no tanto que lhe tem sido possível penetrá-la.
  2. Estrato Fluídico: a matéria desse estrato é mais fluídica que a da crosta exterior, mas não é líquida e sim parecida a uma pasta espessa. Tendo a propriedade da expansão, como a de um gás excessivamente explosivo, é mantida em seu lugar pela enorme pressão da crosta externa de modo que, se esta fosse removida, todo o estrato fluídico desapareceria no espaço com uma tremenda explosão. Esses estratos correspondem às Regiões Químicas e Etérica do Mundo Físico.
  3. Estrato Vaporoso: no primeiro e no segundo estratos não há realmente vida consciente. Já nesse existe uma corrente de vida que flui e pulsa continuamente, como no Mundo do Desejo que rodeia e interpenetra nossa Terra.
  4. Estrato Aquoso: nesse estrato estão as possibilidades germinais de tudo quanto existe na superfície da Terra. Aqui estão as forças arquetípicas que se ocultam atrás dos Espíritos-Grupo, como também as forças arquetípicas dos minerais, porque esta é a expressão física direta da Região do Pensamento Concreto.
  5. Estrato Germinal: os cientistas materialistas têm sido frustrados em seus esforços para descobrir a origem da vida, como surgiram coisas viventes de matéria antes morta.

Na realidade, e de acordo com a explicação oculta da evolução, a questão deveria ser como se originaram as coisas “mortas”. A vida existia antes das formas mortas. Ela construiu seus Corpos de substância vaporosa e sutil, muito antes de se condensar na crosta sólida da Terra. Só quando a Vida abandona as formas, podem estas se cristalizar, tornando-se duras e mortas.

O carvão nada mais é do que Corpo vegetal cristalizado. Os corais são também produtos da cristalização de formas animais. A vida abandona as formas e as formas morrem. A vida nunca penetra numa forma para despertá-la à vida. A vida sai das formas e as formas morrem. Foi assim que surgiram as “coisas mortas”.

Nesse quinto estrato existe a fonte primordial da vida, da qual brotou o impulso que construiu todas as formas da Terra. Corresponde à Região do Pensamento Abstrato.

  1. Estrato Ígneo: por estranho que pareça esse estrato possui sensações. O prazer e a dor, a simpatia e a antipatia produzem aqui seu efeito sobre a Terra. Geralmente se supõe que a Terra, em nenhuma circunstância, pode ter qualquer sensação. Contudo, quando o cientista ocultista observa colher o grão maduro, cortar as flores ou, no outono, colher as frutas das árvores, sabe do prazer experimentado pela Terra. É semelhante ao prazer que a vaca sente quando seus úberes cheios são aliviados pelo bezerro sugador. A Terra experimenta o deleite de nutrir sua progênie de Formas, e esse deleite culmina no tempo da colheita.

Por outro lado, quando se arrancam as plantas pela raiz, fica patente ao cientista-ocultista que a Terra sente dor. Por essa razão, ele não come alimentos vegetais que cresçam debaixo da Terra. Em primeiro lugar, porque esses vegetais são plenos de força terrestre e carentes de força solar; segundo, por terem sido extraídos com as raízes, são venenosos. A única exceção a esta regra é a batata, porque em seus primórdios crescia na superfície da terra, e só em tempos relativamente recentes começou a crescer debaixo do solo. Os ocultistas fazem o possível para alimentar seus Corpos com os frutos que crescem ao Sol, pois estes contêm mais força solar, e sua colheita não causa sofrimento algum à Terra.

Poder-se-ia supor que os trabalhos nas minas produzem dor à Terra. Pelo contrário, toda desintegração da crosta dura produz uma sensação de alívio, e toda solidificação é fonte de dor. Quando uma torrente de chuva lava a encosta da montanha, arrastando a terra para os vales, a terra sente-se mais aliviada. Aonde a matéria desintegrada se deposita de novo, como no baixio que se forma na foz de um grande rio, produz-se uma correspondente sensação de opressão.

Assim como a sensação, nos animais e no ser humano, é devida a seus Corpos Vitais separados, assim as sensações da Terra são especialmente ativas no sexto estrato, que corresponde ao Mundo do Espírito de Vida. Para compreender-se o prazer que ela experimenta quando se quebra uma rocha e a dor que lhe produzem as solidificações, devemos recordar que a Terra é o Corpo Denso de um Grande Espírito, o qual, para fornecer-nos um meio em que pudéssemos viver e obter experiência teve de cristalizar seu Corpo até à condição de solidez atual.

Contudo, na medida em que a evolução prossiga e o ser humano aprenda as lições correspondentes aos extremos de concretização, a Terra tornar-se-á mais branda e seu espírito libertar-se-á cada vez mais. Foi isto o que São Paulo quis significar quando disse que toda a criação geme e sofre, esperando o dia da libertação.

  1. Estrato Refletor: esta camada da Terra corresponde ao Mundo do Espírito Divino. Para aqueles que não estão familiarizados com o que na Ciência Oculta se conhece como “Os Sete Segredos Indizíveis”, ou que não tenham pelo menos um vislumbre de sua importância, as propriedades desse estrato parecerão particularmente absurdas e grotescas. Nele, todas as forças que conhecemos como “Leis da Natureza” existem como forças morais, ou melhor, imorais. No princípio da existência consciente do ser humano, essas forças eram piores do que agora. Contudo, tudo indica que tais forças melhoram com o progresso moral da humanidade, e que qualquer falha moral tem certa tendência a desencadear essas forças da Natureza produzindo devastações sobre a Terra, enquanto a busca de elevados ideais torna-as menos inimigas do ser humano.

Por conseguinte, as forças desse estrato são, em qualquer época, um reflexo exato do estado moral da humanidade. Do ponto de vista oculto, a “mão de Deus” que se abateu sobre Sodoma e Gomorra[52] não é uma tola superstição, pois, tão certo como há uma responsabilidade individual ante a Lei de Consequência que traz a cada pessoa o justo resultado de suas ações, sejam boas ou más, assim também existe uma responsabilidade coletiva ou nacional, que atrai sobre os grupos humanos resultados equivalentes aos atos efetuados em conjunto. As forças da natureza são, em geral, os agentes de tal justiça retribuidora, causando inundações ou terremotos a um grupo, ou a benéfica formação de óleos ou carvões a outro, de acordo com os seus merecimentos.

  1. Estrato Atômico: é o nome dado pelos Rosacruzes ao oitavo estrato da Terra, a expressão do Mundo dos Espíritos Virginais. Parece ter a propriedade de multiplicar as coisas que nele estão, porém, isto se aplica somente às coisas já formadas definitivamente. Uma peça informe de madeira ou uma pedra bruta não tem existência ali, mas qualquer coisa já modelada ou que tenha vida e forma, tal como uma flor ou uma pintura, é multiplicada nesse estrato em grau surpreendente.
  2. Expressão Material do Espírito Terrestre: aqui existem correntes em forma lemniscata, intimamente relacionadas com o cérebro, o coração e os órgãos sexuais da raça humana. Corresponde ao Mundo de Deus.
  3. Centro do Ser do Espírito Terrestre: nada mais pode ser dito presentemente a respeito, salvo que é a semente primeira e última de tudo quanto existe tanto dentro como sobre a Terra, e corresponde ao Absoluto.

Do sexto estrato, o ígneo, até a superfície da Terra, há certo número de orifícios em diferentes lugares. Seus terminais na superfície são chamados “crateras vulcânicas”. Quando as forças da Natureza do sétimo estrato são desencadeadas de modo a poderem se expressar por meio de uma erupção vulcânica, elas ativam o estrato ígneo (o sexto), e então a agitação se exterioriza através da cratera. A maior parte do material é tomada da substância do segundo estrato, por ser esse estrato a contraparte mais densa do sexto estrato, assim como o Corpo Vital, o segundo veículo do ser humano, é a contraparte mais densa do Espírito de Vida, o sexto princípio. Esse estrato fluídico, com sua qualidade expansiva e sumamente explosiva, assegura um suprimento ilimitado de material no local da erupção. O contato com a atmosfera exterior endurece a parte que não se volatiliza no espaço, formando a lava e a poeira vulcânicas. E da mesma maneira que o sangue ao fluir de uma ferida coagula-se e estanca, assim também a lava, ao final da erupção, cerra o caminho às partes internas da Terra.

Como é fácil deduzir-se do fato, a imoralidade refletida e as tendências ante espirituais da humanidade é que despertam a atividade destruidora das forças da Natureza no sétimo estrato. Portanto, geralmente são as pessoas dissolutas e degeneradas que sucumbem nessas catástrofes. Essas pessoas, juntamente com outras cujo destino autogerado sob a Lei da Consequência, por várias razões, implica em morte violenta, são conduzidas desde os mais diversos recantos por forças sobre-humanas até o lugar onde deve ocorrer a erupção. Para aquele que pensa seriamente, as erupções vulcânicas do Vesúvio, por exemplo, servem para corroborar a afirmação acima.

A lista dessas erupções durante os últimos 2.000 anos mostra que sua frequência tem aumentado em proporção direta ao crescimento do materialismo. Especialmente nos últimos sessenta anos, na razão em que a ciência materialista cresceu em sua arrogância na absoluta e ampla negação das coisas espirituais, aumentaram a frequência das erupções vulcânicas. Enquanto nos primeiros mil anos depois de Cristo houve apenas seis erupções, as últimas cinco erupções tiveram lugar num período de 51 anos, como veremos.

A primeira erupção da Era Cristã, no ano 79 D.C., destruiu as cidades de Herculano e Pompéia, em que pereceu Plínio, o Velho. As outras erupções tiveram lugar nos anos de: 203, 472, 512, 652, 982, 1036, 1158, 1500, 1631, 1737, 1794, 1822, 1855, 1872, 1885, 1891 e 1906.

Nos primeiros mil anos ocorreram seis erupções; nos seguintes mil anos aconteceram doze, ocorrendo as últimas cinco num período de 51 anos, como dissemos anteriormente.

Do número total de 18 erupções, as nove primeiras ocorreram na assim chamada “Idade das Trevas”[53], isto é, nos 1.600 anos durante o qual o Mundo Ocidental foi dominado pelos comumente chamados “Bárbaros” pela Igreja Romana. As restantes sucederam-se nos últimos trezentos anos, durante os quais o advento e desenvolvimento da ciência moderna, com suas tendências materialistas, quase apagaram os últimos vestígios de espiritualidade, de modo particular na última metade do Século XIX. Portanto, as erupções desse período compreendem quase um terço do número total das ocorridas em nossa Era.

Para contrabalançar essa influência desmoralizadora, uma grande quantidade de informação oculta foi fornecida, durante todo esse tempo, pelos Irmãos Maiores, que estão sempre trabalhando pelo bem da humanidade. Pensou-se que oferecendo esses conhecimentos e educando os poucos que ainda queriam recebê-los, seria possível deter a maré de materialismo a qual, caso contrário, poderia produzir consequências muito sérias aos seus partidários. Com efeito, tendo negado durante tanto tempo a existência espiritual, poderão não serem capazes de manter seu equilíbrio ao perceberem que, embora tendo sido privados do Corpo Denso pela morte, eles continuam mais vivos do que nunca. Tais pessoas podem ter de suportar um destino demasiado triste para ser contemplado com serenidade. Uma das causas da terrível “peste branca”[54] é esse materialismo, talvez não reconhecível na encarnação atual, mas resultado de crenças e afirmações materialistas anteriores.

Falávamos da morte de Plínio, o Velho, quando da destruição de Pompéia. É interessante seguir o destino de tal cientista, não tanto pelo indivíduo em si, mas para compreendermos como o cientista ocultista lê a Memória da Natureza, de como as coisas nela se imprimem e os efeitos das características passadas sobre nossas tendências atuais.

Quando um ser humano morre, seu Corpo Denso desintegra-se, mas a soma total de suas forças pode ser encontrada no sétimo Estrato da Terra – o Estrato Refletor – o qual se constitui num repositório em que, como forças, as formas passadas são armazenadas. Assim, conhecendo-se o tempo em que ocorreu a morte de um ser humano, é possível encontrar sua forma nesse repositório, se ali o procurarmos. E não somente está ali armazenada, mas é também multiplicada pelo oitavo, ou Estrato Atômico, de modo que qualquer tipo pode ser reproduzido e modificado por outros e empregado repetidas vezes para a formação de outros Corpos. Por conseguinte, as tendências cerebrais de um ser humano tal como Plínio, o Velho, podem ter-se reproduzido milhares de anos depois, e ser, em parte, a causa da atual colheita de cientistas materialistas.

Resta ainda muito a aprender e desaprender, para os atuais cientistas materialistas. Ainda que lutem até o último limite contra o que, escarnecendo, qualificam de “ideias ilusórias” dos cientistas ocultistas, estão sendo obrigados a reconhecer suas verdades, a admiti-las uma a uma. É só uma questão de tempo o serem forçados a aceitá-las.

Mesmer, enviado pelos Irmãos Maiores, foi mais do que ridicularizado. Contudo, quando os materialistas, trocando o nome da força por ele descoberta, chamaram-na de “hipnotismo” ao invés de “mesmerismo”, tornou-se “científica”, imediatamente.

Há vinte anos a senhora Blavatsky, fidelíssima discípula dos Mestres Orientais, disse que a Terra tinha um terceiro movimento além dos dois que produzem o dia, a noite e as estações. Indicou também que a inclinação do eixo da Terra é causada por um movimento que, há seu tempo, levará o polo norte para onde atualmente está o equador, e mais tarde ainda o levará ao lugar ocupado agora pelo polo sul. Isto, afirmou ela, era conhecido pelos antigos egípcios, e referiu-se ao famoso planisfério de Dendera[55], onde se encontram registradas essas três Revoluções. Tais afirmações, juntamente com toda a sua insuperável obra “A Doutrina Secreta”, foram escarnecidas.

Há poucos anos atrás um astrônomo, Sr. G. E. Sutcliffe[56], de Bombaim, descobriu e demonstrou, matematicamente, que Laplace[57] havia se equivocado em seus cálculos. Seu descobrimento e a retificação do dito erro confirmaram por demonstrações matemáticas a existência do terceiro movimento da Terra, conforme revelado pela senhora Blavatsky. Isto explica o fato estranho de se encontrarem plantas tropicais e fósseis nas regiões polares, pois tal movimento produziria necessariamente, há seu tempo, períodos tropicais e glaciais em todas as partes da Terra, correspondentes às mudanças de posição em relação ao Sol. O Sr. Sutcliffe enviou sua carta e as demonstrações a “Nature”[58], mas essa revista recusou-se a publicá-las. Quando o autor tornou pública sua descoberta por meio de um folheto, levantou-se contra ele uma tremenda onda de protestos. Acontece que o Sr. Sutcliffe era um profundo e reconhecido Estudante de “A Doutrina Secreta”. Isto explica a recepção hostil e as consequências inevitáveis que teve a sua descoberta.

Mais tarde, todavia, um francês que não era astrônomo, mas sim mecânico, construiu um aparelho que demonstrava ampla possibilidade da existência de tal movimento. O aparelho foi exibido na “Louisiana Purchase Exhibition”, de Saint Louis[59], e foi aprovado calorosamente por M. Camille Flammarion[60] como digno de investigação. Aqui já se via algo “concreto”, algo mecânico, e o editor do “The Monist[61]“, ainda que descrevesse o inventor como um ser humano que trabalhava sob “místicas ilusões” (por acreditar que os antigos egípcios conheciam esse terceiro movimento), esqueceu magnanimamente o fato e disse que isso não lhe tinha feito perder a fé na teoria de M. Beziau[62]. Publicou então um esclarecimento e um ensaio de M. Beziau, em que descrevia o movimento e seus efeitos sobre a superfície da Terra, em termos análogos aos empregados pela senhora Blavatsky e o Sr. Sutcliffe. Como M. Beziau não estava incluído categoricamente no rol dos ocultistas, sua descoberta pôde ser aceita.

Podemos citar muitos exemplos de ensinamentos ocultos que mais tarde foram corroborados pela ciência. Um deles é a teoria atômica, defendida nas filosofias gregas e depois em “A Doutrina Secreta”, mas só “descoberta” em 1897, pelo professor Thompson[63].

Na inestimável obra de A. P. Sinnett [64]– “The Growth of the Soul”[65] publicada em 1896, o autor afirmava que há dois Planetas além da órbita de Netuno, dos quais, ele acreditava que só um seria descoberto pelos astrônomos modernos. Em “Nature” de agosto de 1906, Professor Barnard[66] afirmava que, por meio de um refrator Lick de 36 polegadas, havia descoberto dito Planeta em 1892. Nada de mais nisso, entretanto ele esperou catorze anos para anunciar sua descoberta! Não pretendemos levantar nenhuma questão sobre o assunto. O importante é que o Planeta existe, e que o livro do Sr. Sinnett o anunciava dez anos antes de o Professor Barnard reivindicar a prioridade da sua descoberta. É provável que anunciar a descoberta de um novo Planeta antes de 1906 pudesse ter perturbado alguma teoria popularmente aceita!

Há muitas teorias semelhantes. A teoria de Copérnico[67] não é de todo exata, assim como há muitos fatos que a elogiada Teoria Nebular por si só não explica. Tycho Brahe[68], o famoso astrônomo dinamarquês, recusou-se a aceitar a teoria de Copérnico. Tinha muito boas razões para ser fiel à teoria de Ptolomeu[69], pois, como dizia, através desta os movimentos dos Planetas são vistos corretamente, enquanto que pela teoria de Copérnico é necessário empregar-se uma Tabela de correções. O sistema de Ptolomeu é correto do ponto de vista do Mundo do Desejo e tem aspectos que são necessários no Mundo Físico.

Para muitos, as afirmações feitas nas páginas anteriores podem ser consideradas fantásticas. Que seja assim. Tempo virá em que todos os seres humanos possuirão os conhecimentos aqui oferecidos. Esse livro destina-se aos poucos que, tendo libertado suas Mentes dos grilhões da ciência e da religião ortodoxa, estão prontos a aceitá-lo, até que provem estar ele errado.

CAPÍTULO XIX – CHRISTIAN ROSENKREUZ E A ORDEM DOS ROSACRUZES

Antigas Verdades em Novas Roupagens

Nota-se entre o público um grande desejo de descobrir algo sobre a Ordem dos Rosacruzes. Como em nossa civilização ocidental, e até entre os nossos Estudantes, não se compreenda bem o importante lugar ocupado pelos Irmãos da Rosacruz, é conveniente dar algumas informações autênticas sobre o assunto.

Tudo no mundo está sujeito à lei, inclusive nossa evolução, de modo que os progressos espiritual e físico caminham de mãos dadas. O Sol é o dador de luz física e, como sabemos, caminha aparentemente de Lesse para Oeste trazendo luz e vida a todas as partes da terra. Contudo, o Sol visível é apenas uma parte do Sol, assim como o Corpo visível é apenas uma pequena parte do ser humano composto. Há um Sol invisível e espiritual cujos raios estimulam o crescimento anímico em todas as partes da terra, assim como o Sol visível promove o crescimento da forma. Esse impulso espiritual também caminha na mesma direção do Sol físico, de lesse para oeste.

Seiscentos ou setecentos anos A.C. uma nova onda de espiritualidade iniciou-se nas margens ocidentais do Oceano Pacífico, para iluminar a nação chinesa. Hoje em dia, milhões de habitantes do Celeste Império professam a religião de Confúcio. Notamos o efeito posterior dessa onda na religião de Buda, um ensinamento destinado a despertar as aspirações de milhões de hindus e chineses ocidentais. Em seu curso para Oeste, surge entre os gregos mais intelectuais, nas filosofias elevadas de Pitágoras e Platão, e por último, invade o mundo ocidental e alcança os precursores da raça humana, onde assume a elevada forma da Religião Cristã.

O Cristianismo abriu gradualmente seu caminho para Oeste até a costa do Oceano Pacífico, aonde vem reunindo e concentrando as aspirações espirituais. Ali alcançará um ponto culminante, antes de prosseguir através do Oceano para inaugurar no Oriente um despertar mais elevado e mais nobre, muito mais do que existente até agora nessa parte da Terra.

Assim como o dia e a noite, o verão e o inverno, o fluxo e refluxo, seguem-se uns aos outros em ininterrupta sucessão, de acordo com a lei dos ciclos alternantes, assim também a aparição de uma onda de despertar espiritual em qualquer parte do mundo é seguida por um período de reação material, a fim de que o desenvolvimento não se torne unilateral.

Religião, Arte e Ciência são os três meios mais importantes da educação humana e constituem uma trindade na unidade, não podendo ser separada sem que se altere o nosso ponto de vista sobre qualquer coisa que investiguemos. A verdadeira Religião inclui, por sua vez, a Ciência e a Arte, porque ensina a viver uma vida preciosa em harmonia com as leis da Natureza.

A verdadeira Ciência é artística e religiosa no mais elevado sentido, porque nos ensina a reverenciar e a nos conformar com as leis que governam nosso bem-estar, e explica por que a vida religiosa conduz à saúde e à beleza.

A verdadeira Arte é tão educativa quanto à ciência e tão elevada em sua influência quanto à religião. Na arquitetura encontramos a mais sublime representação das linhas de força cósmica do universo. Imbui o observador espiritual de uma poderosa devoção e adoração, nascida da respeitosa e inspirada concepção da esmagadora grandeza e majestade de Deus. A escultura e a pintura, bem como a música e a literatura, inspiram-nos com um transcendental encanto de Deus, o imutável manancial e meta de todo esse formoso mundo.

Nenhuma outra coisa, a não ser tal ensinamento integral, pode corresponder permanentemente às necessidades humanas. Houve um tempo, na Grécia, em que a Religião, a Arte e a Ciência eram ensinadas conjuntamente nos Templos de Mistérios. Contudo, para o melhor desenvolvimento de cada uma, tornou-se necessário separá-las durante algum tempo.

A Religião reinou suprema nas chamadas “idades das trevas”. Durante esse tempo ela escravizou a Ciência e a Arte, atando-as de mãos e pés. Depois veio o período da renascença, quando a Arte floresceu em todos os seus domínios. Contudo, a Religião era ainda muito forte, pelo que a Arte era frequentemente prostituída a seu serviço. Por último, chegou a vez da Ciência moderna, que com mão de ferro subjugou a Religião.

Foi em detrimento do mundo que a Religião oprimiu a Ciência. A Ignorância e a Superstição produziram males sem conta, mas o ser humano, não obstante, abrigava, então, elevados ideais espirituais, e esperava uma vida superior melhor. É infinitamente mais desastroso que a Ciência esteja sufocando a Religião, porque agora até a Esperança, o último dom deixado pelos deuses na Caixa de Pandora, pode desvanecer-se ante o Materialismo e o Agnosticismo.

Tal estado de coisas não pode continuar. Precisa haver uma reação. Se não a Anarquia dominará o Cosmos. Para evitar tal calamidade a Religião, a Ciência e a Arte devem reunir-se numa expressão do Bem, do Verdadeiro e do Belo, mais elevada ainda do que fora antes da separação.

Os acontecimentos futuros projetam antecipadamente suas sombras. Quando os Grandes Líderes da humanidade viram a tendência para o ultra materialismo, que agora grassa no mundo ocidental, tomaram certas medidas para enfrentá-lo e transmutá-lo. Não desejaram destruir a Ciência florescente, conforme esta última vinha sufocando a Religião, pois divisavam o resultado final que será o bem, quando uma Ciência avançada tornar-se-á novamente colaboradora da Religião.

Uma Religião espiritual, porém, não pode unir-se com uma Ciência materialista, assim como o azeite não pode misturar-se com a água. Portanto, medidas foram adotadas para espiritualizar a Ciência e tornar científica a Religião.

No século XIII um elevado instrutor espiritual, usando o simbólico nome Christian Rosenkreuz – Cristão Rosacruz – apareceu na Europa para iniciar esse trabalho. Fundou a misteriosa Ordem dos Rosacruzes objetivando lançar uma luz oculta sobre a mal-entendida Religião Cristã, e para explicar o mistério da Vida e do Ser do ponto de vista científico, em harmonia com a Religião.

Muitos séculos decorreram desde o seu nascimento como Christian Rosenkreuz, o Fundador da Escola de Mistérios Rosacruzes, cuja existência é, por muitos, considerada um mito. Todavia, seu nascimento como Christian Rosenkreuz marcou o princípio de uma nova era na vida espiritual do mundo ocidental. Esse Ego excepcional tem estado, desde então, em contínuas existências físicas, num ou noutro dos países europeus. Toda vez que seus sucessivos veículos perdem sua utilidade, ou as circunstâncias tornam necessária uma mudança de campo em suas atividades, toma um novo Corpo. Ainda mais, hoje em dia está encarnado. É um Iniciado de grau superior, ativo e potente fator em todos os assuntos do Ocidente, se bem que desconhecido para o mundo.

Trabalhou com os alquimistas séculos antes do advento da ciência moderna. Foi ele que, por um intermediário, inspiraram as, agora mutiladas, obras de Bacon[70]. Jacob Boehme[71] e outros receberam dele a inspiração que tão espiritualmente iluminou suas obras. Nos trabalhos do imortal Goethe[72] e nas obras-primas de Wagner[73] encontramos a mesma influência. Todos os espíritos intrépidos, que se recusam subordinar-se a qualquer ciência ou religião ortodoxa, que fogem das escravidões e procuram penetrar nos domínios espirituais sem pretensões de glória ou de vaidade, tiram sua inspiração da mesma fonte, como fez e faz o grande espírito que animou Christian Rosenkreuz.

Seu próprio nome é a Corporificação da maneira e dos meios pelos quais o ser humano atual é transformado em Divino “Super-homem”. Esse símbolo,

“Christian Rosen Kreuz”

(O) Cristão Rosa Cruz

… mostra o fim e o objetivo da evolução humana, o caminho a ser percorrido e os meios pelos quais alcançará essa meta. A cruz negra, os galhos verdes da planta que a entrelaçam, os espinhos e as rosas vermelho-sangue ocultam a solução do Mistério do Mundo: a evolução passada do Ser Humano, sua constituição presente e, especialmente, o segredo do seu futuro desenvolvimento.

Esse segredo, que se oculta ao profano, é revelado ao Iniciado tanto mais claramente quanto mais esse se esforce, dia a dia, em construir para si mesmo a mais valiosa de todas as gemas, a Pedra Filosofal – mais preciosa que o “Velocino de Ouro”[74] mais preciosa ainda do que todas as riquezas terrestres! O símbolo recorda-lhe como a humanidade, em sua ignorância, está malgastando, a todo instante, o autêntico material concreto que poderia usar na formação desse tesouro inestimável.

Para mantê-lo firme e verdadeiro por meio de todas as adversidades, a Rosacruz se ergue ante ele como uma inspiração, como a gloriosa realização que espera aquele que suplanta, e aponta Cristo como a Estrela da Esperança, “os primeiros frutos”, que lavrou essa maravilhosa Pedra enquanto habitava o Corpo de Jesus.

As investigações mostram que em todos os sistemas religiosos sempre houve um ensinamento reservado ao clero, não acessível à multidão. Cristo também falou ao povo em parábolas, mas só aos discípulos explicou o significado que ocultavam, proporcionando-lhes, assim, uma compreensão mais profunda e adequada às suas Mentes desenvolvidas.

São Paulo dava “leite” às criancinhas, ou membros mais novos da comunidade, mas “carne”[75] para os fortes, os que tinham estudado mais profundamente. Assim, sempre tem havido um ensinamento interno e um ensinamento externo. Os ensinamentos internos foram dados nas, assim chamadas, Escolas de Mistérios, as quais se modificam de tempos em tempos a fim de adaptarem-se às necessidades dos povos entre os quais se destinam a operar.

A Ordem dos Rosacruzes não é meramente uma sociedade secreta: é uma das Escolas de Mistérios. Os Irmãos são Hierofantes dos Mistérios Menores, guardiões dos Sagrados Ensinamentos. Constituem um poder espiritual muito mais potente na vida do Mundo Ocidental do que qualquer governo visível, se bem que não interferem com a humanidade a ponto de privá-la de seu livre arbítrio.

Como a senda do desenvolvimento depende em todos os casos do temperamento do Aspirante, há sempre dois caminhos a seguir: o místico e o intelectual. O místico geralmente carece de conhecimentos intelectuais. Ele segue os ditames do seu coração e esforça-se por fazer a vontade de Deus tal como a sente, elevando-se sem estar consciente de qualquer meta definida, e por fim alcança o conhecimento. Na Idade Média as pessoas não eram tão intelectuais como são hoje em dia. Assim, os que sentiam o chamado para a vida superior seguiam, geralmente, o caminho místico. Nos últimos séculos, contudo, desde o advento da ciência moderna, uma humanidade mais intelectual povoou a Terra. A cabeça venceu completamente o coração, o materialismo dominou todo o impulso espiritual e a maioria das pessoas que pensam, não creem em nada que não possam tocar, provar ou manejar. Portanto, é necessário apelar para o seu intelecto, a fim de que o coração possa crer naquilo que o intelecto haja sancionado. Respondendo a esse anseio, os Ensinamentos de Mistérios Rosacruzes visam correlacionar fatos científicos com verdades espirituais.

No passado esses ensinamentos eram mantidos em segredo para todos, exceto para uns poucos Iniciados, e ainda hoje estão entre os mais misteriosos e secretos do mundo ocidental. Todos os chamados “descobrimentos” do passado, que pretendiam revelar os segredos dos Rosacruzes, não foram mais do que fraude ou resultado de traição de algum profano, que acidentalmente ou de outra maneira conseguiu captar fragmentos de conversações, incompreensíveis para todos, menos para os possuidores da chave. É possível viver sob o mesmo teto, em estreita intimidade, com um Iniciado de qualquer escola, e ainda assim seu segredo permanecer oculto em seu peito, até o amigo alcançar o ponto de poder converter-se num Irmão Iniciado. A revelação dos segredos não depende da vontade do Iniciado, mas da qualificação do Aspirante.

Como as demais Ordens de Mistérios, a Ordem dos Rosacruzes é formada segundo linhas cósmicas: se, com esferas do mesmo tamanho, procurarmos saber quantas são necessárias para cobrir e ocultar da vista uma delas, veremos que são necessárias 12 para cobrir uma décima terceira. A última divisão da matéria física, o átomo verdadeiro que se encontra no espaço interplanetário, está agrupado assim: doze em torno de um. Os doze Signos do Zodíaco que envolve nosso Sistema Solar; os doze semitons da escala musical que contém a oitava; os doze Apóstolos que se agrupavam em torno de Cristo, etc., são outros tantos exemplos desse agrupamento de doze e um. Por essa razão a Ordem dos Rosacruzes é também composta de 12 Irmãos e mais um décimo terceiro.

No entanto, há outras divisões que devem ser notadas. Como vimos da Hoste Celestial de Doze Hierarquias Criadoras que estiveram em atividade em nosso sistema evolutivo, cinco se retiraram à liberação, ficando sete ocupadas com o nosso progresso ulterior. Harmoniza-se com isso o fato de que o ser humano de hoje, o Ego Interno, o microcosmo, atuar externamente por meio de sete orifícios visíveis do seu Corpo: dois olhos, dois ouvidos, duas fossas nasais e a boca, estando os cinco orifícios restantes total ou parcialmente fechados: as glândulas mamárias, o umbigo e os dois órgãos de excreção.

As sete rosas que adornam o nosso formoso emblema e as cinco pontas da radiante estrela, que lhes ficam atrás, simbolizam as doze Grandes Hierarquias Criadoras que têm ajudado o espírito humano que está evoluindo através dos anteriores estados: mineral, vegetal e animal, quando ainda carecia de consciência própria e era incapaz de cuidar de si mesmo no mínimo grau. Destas doze Hostes de Grandes Seres, três classes trabalharam sobre e com o ser humano por sua livre vontade e sem nenhuma obrigação de fazê-lo.

Essas classes estão simbolizadas pelas três pontas da estrela do nosso emblema, que apontam para cima. Mais duas dessas Grandes Hierarquias estão a ponto de retirar-se, sendo simbolizadas pelas duas pontas da estrela que se irradiam do centro para baixo. As sete rosas indicam que ainda existem sete Grandes Hierarquias Criadoras em atividade no desenvolvimento dos seres da Terra. Como todas essas várias classes, da menor à maior, não são mais do que partes de Um Grande Todo, a quem chamamos Deus, todo o emblema é um símbolo de Deus em manifestação.

O axioma hermético diz: “Como em cima, assim é embaixo”. Os instrutores menores da humanidade estão também agrupados segundo as mesmas linhas cósmicas de: 7, 5, e 1. Há sobre a Terra: sete escolas de Mistérios Menores, cinco de Mistérios Maiores e o total está agrupado em torno de um Cabeça Central, que é chamado o Libertador.

Na Ordem dos Rosacruzes, sete Irmãos vêm ao Mundo toda vez que as circunstâncias o requerem. Aparecem como seres humanos entre os seres humanos, ou trabalham em seus veículos invisíveis com ou sobre os demais, conforme seja necessário. Entretanto, deve-se ter bem presente que jamais influenciam qualquer pessoa contra sua vontade ou contra seus desejos. Apenas reforçam o bem aonde quer que o encontrem.

Os cinco Irmãos restantes nunca abandonam o Templo e, ainda que possuam Corpos físicos, executam todo o seu trabalho nos mundos internos.

O Décimo Terceiro é o Chefe da Ordem, o elo com o Conselho Central Superior, composto dos Hierofantes dos Mistérios Maiores, que não tratam absolutamente com a humanidade comum, mas somente com os graduados nos Mistérios Menores.

O Cabeça da Ordem está oculto do mundo externo pelos Doze Irmãos, tal como a esfera central do nosso exemplo anterior. Nem mesmo os discípulos da Escola o veem, porém, nos serviços noturnos do Templo, sua presença é sentida por todos a qualquer momento em que entre, sendo esse o sinal para começarem a cerimônia.

Reunidos em volta dos Irmãos da Rosacruz, como seus alunos, há certo número de “Irmãos Leigos”, pessoas que vivem em diversas partes do mundo ocidental e que são capazes de sair dos seus Corpos conscientemente, comparecerem aos serviços e participar da obra espiritual no Templo. Foram “iniciados” todos e cada um, no método de assim atuar, por um dos Irmãos Maiores, sendo que a maioria é capaz de recordar tudo o que lhe acontece. Todavia, alguns que adquiriram, em vida anterior dedicada ao bem, a faculdade de deixar o Corpo, têm o cérebro incapacitado a receber impressões do trabalho executado pelo Ego fora do Corpo em razão de alguma enfermidade adquirida na presente existência, ou pelo hábito de tomarem drogas.

Iniciação

Sobre a Iniciação tem-se geralmente a ideia de que é apenas uma cerimônia pela qual alguém se converte em membro de uma sociedade secreta e que, na maioria dos casos, pode ser conferida a qualquer um disposto a pagar certo preço ou soma em dinheiro.

Se for verdade que seja assim a chamada Iniciação em ordens fraternais e também na maioria das ordens pseudo-ocultistas, a opinião é completamente errônea quando aplicada às Iniciações nos vários graus das verdadeiras Fraternidades Ocultas, conforme logo esclarecerá uma rápida compreensão dos verdadeiros requisitos exigidos e de sua razoabilidade.

Em primeiro lugar, o ouro não serve como chave para o Templo. Toma-se em conta o mérito, não o dinheiro, pois o mérito não se adquire num dia: é o produto acumulado das boas ações passadas. De modo geral, o candidato à Iniciação é totalmente inconsciente de que é candidato. Quase sempre vive sua vida na comunidade, servindo ao seu próximo durante dias e anos, sem outro pensamento para o futuro, até que um dia aparece em sua vida o instrutor, um Hierofante dos Mistérios Menores, apropriado ao país em que ele reside. Até esse momento o candidato esteve cultivando internamente certas faculdades, acumulando certos poderes para servir e ajudar, dos quais é quase sempre inconsciente ou não sabe como usar corretamente. A tarefa do iniciador é, então, muito simples: mostra ao candidato as faculdades latentes, os poderes adormecidos, e inicia-o no seu uso, explicando-lhe ou demonstrando-lhe, pela primeira vez, como o candidato pode despertar essa energia estática, convertendo-a em poder dinâmico.

A Iniciação pode efetuar-se por meio de uma cerimônia ou não. No entanto, observe-se particularmente que ela é a culminação inevitável de prolongados esforços espirituais do candidato, sejam conscientes ou não, e positivamente nunca pode realizar-se até que, no requerido desenvolvimento interno, tenham sido acumulados os poderes latentes que a Iniciação ensina a empregar dinamicamente, assim como apertar o gatilho de uma arma descarregada não produz nenhuma explosão.

Não se deve temer tampouco que o instrutor deixe de reparar em alguém que alcançou o desenvolvimento requerido. Toda ação boa e desinteressada aumenta enormemente a luminosidade e o poder vibratório da aura do candidato, de modo que, tão seguramente como o ímã atrai a agulha, assim também o brilho da aura luminosa atrairá o instrutor.

Naturalmente é impossível descrever num livro dado ao público em geral os estágios de Iniciação Rosacruz. Fazer isso seria um abuso de confiança, o que, ademais, seria impossível por falta de palavras adequadas para expressar os fatos. Não obstante, é permitido fazer um esboço geral e mostrar o propósito da Iniciação.

Os Mistérios Menores dizem respeito somente à evolução da humanidade durante o Período Terrestre. Nas primeiras três e meia Revoluções da onda de vida em torno dos sete Globos, os Espíritos Virginais não haviam ainda adquirido consciência. Por isso ignoramos como chegamos a ser o que somos hoje. O candidato precisa, pois, ser esclarecido pelos Hierofantes sobre o assunto durante o período de Iniciação. No primeiro grau, sua consciência é dirigida à página da Memória da Natureza que contém os registros da primeira Revolução, na qual se recapitula o desenvolvimento do Período de Saturno. Aí ele permanece em plena posse da sua consciência diária, sabe e recorda os fatos da vida do século XX, mas está agora observando conscientemente os progressos da evolucionante hoste de Espíritos Virginais, da qual era uma unidade na denominada Revolução de Saturno. Desse modo aprende como no Período Terrestre foram dados os primeiros passos para a meta da realização; realização esta que lhe será revelada num grau posterior.

Tendo aprendido a lição praticamente, tal como descrita no Capitulo X, o candidato adquiriu conhecimento direto sobre esse assunto, e pôs-se em contato direto com as Hierarquias Criadoras em sua atividade com e sobre o ser humano. Tornou-se assim capaz de apreciar seus esforços benéficos no Mundo e, até certo ponto, de pôr-se em linha com eles, convertendo-se, de fato, num colaborador.

Quando chega o tempo de passar ao segundo grau, a ele é solicitado dirigir sua atenção às condições da segunda Revolução do Período Terrestre, conforme registradas na Memória da Natureza. Então, em plena consciência, observa os progressos alcançados nesse tempo pelos Espíritos Virginais, tal como Peter Ibbetson (o herói da obra “Peter Ibbetson”, de George du Maurier[76], cuja leitura recomendamos por ser uma descrição gráfica de certas fases de subconsciência) observava sua vida infantil durante as noites em que “sonhava de verdade”.

No terceiro grau o discípulo segue a evolução da terceira Revolução – ou Lunar – e no quarto grau vê os progressos feitos na metade da quarta Revolução, metade acabada de passar.

Há, porém, outro passo a mais em cada grau: o discípulo vê também, além do trabalho executado em cada Revolução, a obra realizada na época correspondente durante a nossa estada no Globo D, a Terra.

Durante o primeiro grau ele segue a obra da Revolução de Saturno e sua última consumação na Época Polar.

No segundo grau ele acompanha o trabalho da Revolução Solar e sua réplica, a Época Hiperbórea.

Durante o terceiro grau, ele observa a obra realizada na Revolução Lunar e vê como esta foi a base da vida na Época Lemúrica.

Durante o quarto grau, ele vê a evolução da última meia Revolução com seu correspondente período de tempo em nossa estada sobre a Terra, a primeira metade da Época Atlante, que terminou quando a atmosfera densa e nebulosa se precipitou e o Sol começou a brilhar, pela primeira vez, sobre a terra e o mar. Então terminou a noite de inconsciência, os olhos do Ego interno abriram-se por completo e pôde dirigir a Luz da razão para o problema da conquista do Mundo. Foi aí que nasceu o ser humano tal como hoje o conhecemos.

Quando, nos antigos sistemas de Iniciação, dizia-se que o candidato era mergulhado em transe durante um período de três dias e meio, isso era apenas uma referência a essa parte da Iniciação que acabamos de descrever: os três dias e meio referem-se a estágios passados, não sendo absolutamente dias de vinte e quatro horas. O tempo empregado varia de um para outro candidato, mas em todos os casos ele é sempre conduzido através do desenvolvimento inconsciente da humanidade durante as Revoluções passadas. Quando se diz que ele é despertado ao nascer do Sol do quarto dia, usa-se a forma mística de expressar que sua Iniciação, na obra da carreira involucionária do ser humano, cessou quando o Sol se elevou sobre a clara atmosfera da Atlântida. Então o candidato é saudado como “primogênito”.

Tendo-se familiarizado com o caminho percorrido no passado, o quinto grau leva o candidato ao final do Período Terrestre, no qual uma humanidade gloriosa estará recolhendo os frutos desse Período, levando-os consigo, dos sete Globos sobre os quais evoluiu em cada Dia de Manifestação, ao primeiro dos cinco Globos obscuros que são a sua habitação durante as Noites Cósmicas. O mais denso deles está situado na Região do Pensamento Abstrato, e é em realidade o “Caos” de que se fala nas páginas anteriores. Esse Globo é, também, o Terceiro Céu. Quando São Paulo fala de ter sido levado ao Terceiro Céu, onde viu coisas que não podia revelar, referia-se a experiências equivalentes às do quinto grau dos Mistérios Rosacruzes atuais.

Uma vez mostrada a finalidade do quinto grau, em que o candidato se familiariza com os meios pelos quais essa finalidade há de ser atingida durante as três e meia Revoluções restantes do Período Terrestre, os quatro graus restantes são dedicados a seu esclarecimento sobre o assunto.

Por meio da percepção, assim adquirida, ele é capaz de cooperar, inteligentemente, com os Poderes que trabalham para o Bem, tornando-se apto para apressar o dia da nossa emancipação.

Para evitar más interpretações desejamos esclarecer aos Estudantes que não somos Rosacruzes pelo fato de estudarmos seus ensinamentos, nem tampouco nossa admissão ao Templo qualifica-nos a adotarmos esse título. O autor, por exemplo, é somente um Irmão Leigo, um aluno, e sob nenhuma circunstância denominar-se-ia a si próprio Rosacruz.

Ao concluir o curso primário um rapaz não está, por isso, capacitado para ministrar esse curso. Deve primeiro frequentar o curso ginasial e a universidade, podendo ainda acontecer que não se sinta inclinado a ser um professor. De modo semelhante, na escola da vida, o fato de um ser humano ter-se graduado na Escola de Mistérios Rosacruzes não significa necessariamente que ele já seja um Rosacruz. Os graduados nas várias escolas de Mistérios Menores escalam as cinco escolas de Mistérios Maiores onde, nas quatro primeiras passam pelas Quatro Grandes Iniciações. Por último alcançam o Libertador, recebendo conhecimentos relativos a outras evoluções. Então, é-lhes dado escolher entre ficar aqui para ajudar seus irmãos ou entrar noutra evolução como Auxiliares. Aos que escolhem ficar aqui como Auxiliares são dadas diversas tarefas, de acordo com seus gostos e inclinações naturais. Os Irmãos da Rosacruz estão entre estes compassivos seres, de modo que é um sacrilégio arrastar o nome Rosacruz no lodo, usando-o como título próprio, quando nada mais somos do que Estudantes de suas elevadas doutrinas.

Durante os últimos séculos os Irmãos têm trabalhado pela humanidade ocultamente. Cada noite, à meia-noite, há um serviço no Templo. Os Irmãos Maiores, assistidos pelos Irmãos Leigos que podem deixar seu trabalho no mundo (pois muitos deles moram em lugares em que ainda é dia quando no local do Templo Rosacruz é meia-noite), colhem de todas as partes do Mundo Ocidental os pensamentos de sensualidade, avareza, egoísmo e materialismo. Então procuram transmutá-los em puro amor, benevolência, altruísmo e aspirações espirituais, enviando-os de volta ao mundo para elevação e fortalecimento do Bem. Não fora esse potente manancial de vibrações espirituais, o materialismo já teria esmagado totalmente todo esforço espiritual, pois nunca houve idade mais obscura, do ponto de vista espiritual, do que os últimos trezentos anos de materialismo.

Agora, entretanto, chegado o tempo dos esforços secretos serem suplementados por um esforço mais direto, promulga-se um ensinamento definido, lógico e consequente, relativo à origem, à evolução e ao desenvolvimento futuro do mundo e do ser humano, apresentando-se, ao mesmo tempo, os aspectos espiritual e científico: um ensino que não faz afirmação alguma irreconciliável com a razão ou a lógica; que satisfaz à Mente, pois apresenta uma solução razoável a todos os mistérios; que não pede nem evita perguntas, oferecendo explicações lúcidas e profundas ao mesmo tempo.

Mas, e esse é um “Mas” muito importante: os Rosacruzes não consideram a compreensão intelectual de Deus e do Universo como um fim em si mesma. Longe disso! Quanto maior o intelecto tanto maior o perigo de empregá-lo mal. Portanto, esse ensino científico, lógico e completo é dado para que o ser humano possa crer em seu coração naquilo que sua cabeça tenha sancionado, e para que comece a viver uma vida religiosa.

A Fraternidade Rosacruz

Com o objetivo de promulgar esse ensinamento, foi organizada a Fraternidade Rosacruz. Qualquer pessoa, desde que não seja hipnotizador, ou que seja por profissão: médium, vidente, quiromante ou astrólogo, pode inscrever-se como Estudante do Curso Preliminar dirigindo-se à Secretaria Geral. Para a Iniciação não há taxas ou outras obrigações. O dinheiro não pode comprar ensinamentos: o avanço depende do mérito.

Depois de completar o Curso Preliminar, o Estudante é matriculado como Estudante Regular por um período de dois anos. Findo esse, caso haja se compenetrado da verdade dos Ensinamentos Rosacruzes, e se preparado para cortar todos os laços com qualquer outra ordem oculta ou religiosa – excetuando-se as Igrejas Cristãs e Ordens Fraternais – pode assumir o Compromisso, que o admite no grau de Probacionista.

Não pretendemos insinuar, no parágrafo anterior, que as demais escolas de ocultismo não contam. Longe disso. Muitos caminhos conduzem a Roma, mas chegaremos com menos esforço seguindo por um só deles do que ziguezagueando de um para outro. Primeiramente porque nosso tempo e energias são limitados e, além disso, reduzidos por deveres familiares e sociais que não devemos descuidar para atender ao próprio desenvolvimento. A fim de economizar o mínimo de energia de que legitimamente gastaríamos para nós mesmos, e evitar a perda dos poucos momentos vagos que temos à nossa disposição, é que os líderes insistem para renunciarmos a todas as demais ordens.

O mundo é um agregado de oportunidades, mas para aproveitá-las é necessário possuirmos eficiência em certa linha de esforços. O desenvolvimento dos poderes espirituais pode nos capacitar a ajudar ou prejudicar aos nossos irmãos mais fracos. E esses poderes só se justificam quando o objetivo é Servir à Humanidade.

O método de realização Rosacruz difere dos outros sistemas por um pormenor especial: procura desde o princípio emancipar o discípulo de toda dependência dos outros, tornando-o autoconfiante no mais alto grau, de maneira a poder permanecer só em todas as circunstâncias e enfrentar todas as condições. Somente aquele que for tão bem equilibrado pode ajudar ao débil.

Quando certo número de pessoas se reúne em classe ou círculo objetivando o autodesenvolvimento, mas por meio de métodos negativos, geralmente os resultados são conseguidos em pouco tempo, seguindo o princípio de que é mais fácil deixar-se levar pela corrente, do que lutar contra ela. O médium, contudo, não é senhor dos seus atos, mas escravo do espírito que o domina. Por isso tais reuniões devem ser evitadas pelos Probacionistas.

Mesmo as reuniões em que se mantenha uma atitude mental positiva não são aconselhadas pelos Irmãos Maiores, porque os poderes latentes de todos os membros são amalgamados. Então as visões dos mundos internos obtidas por quaisquer deles apenas resultam parcialmente da influência das faculdades dos demais. O calor de um carvão no centro de uma fogueira fica aumentado pelo dos carvões que o rodeiam. O clarividente originado num círculo, mesmo que esse seja positivo, é como uma planta na estufa – demasiado dependente para que se lhe possa confiar os cuidados dos demais.

Portanto, todo Probacionista da Fraternidade Rosacruz efetua seus exercícios sozinho, no isolamento do seu lar. Seguindo esse método, obtêm-se resultados mais lentamente. Porém, quando tais resultados aparecerem, manifestar-se-ão como poderes cultivados por ele mesmo, e poderão ser empregados independentemente dos demais. Além disso, os métodos Rosacruzes constroem o caráter, ao mesmo tempo em que desenvolvem as faculdades espirituais, resguardando assim o discípulo da tentação de perverter seus poderes divinos em busca de prestígio mundano.

Quando o Probacionista tenha cumprido os requisitos exigidos e completado o prazo de provação, pode enviar um pedido de instrução individual aos Irmãos Maiores, por meio do Secretário Geral.

Quando esse pedido foi concedido o Probacionista se torna um Discípulo e está gradualmente habilitado para o trabalho como um Auxiliar Invisível.

O Simbolismo da Rosacruz

Quando investigamos o significado de qualquer mito, lenda ou símbolo de valor oculto é absolutamente necessário entendermos que, assim como todo objeto do mundo tridimensional deve ser examinado de todos os ângulos para dele obtermos uma compreensão completa, igualmente todos os símbolos têm também certo número de aspectos. Cada ponto de vista revela uma fase diferente das demais, e todas merecem igual consideração.

Visto em toda sua plenitude, esse maravilhoso símbolo contém a chave da evolução passada do ser humano, sua presente constituição e desenvolvimento futuro, mais o método de sua obtenção. Quando ele se apresenta com uma só rosa no centro simboliza o espírito irradiando de si mesmo os quatro veículos: os Corpos Denso, Vital, de Desejos e a Mente significando que o espírito entrou em seus instrumentos, convertendo-se em Espírito Humano interno. No entanto, houve um tempo em que essa condição ainda não havia sido alcançada, um tempo em que o Tríplice Espírito pairava acima dos seus veículos, incapaz de neles entrar. Então a cruz erguia-se sem a rosa, simbolizando as condições prevalecentes no começo da terça parte da Época Atlante. Houve também um tempo em que faltava o madeiro superior da cruz. A constituição humana era, pois, representada pela Tau (T), isto na Época Lemúrica, quando o ser humano só dispunha dos Corpos Denso, Vital e de Desejos e carecia da Mente. O que predominava, então, era a natureza animal. O ser humano seguia os seus desejos sem reserva. Anteriormente ainda, na Época Hiperbórea, só possuía os Corpos Denso e Vital, faltando o de Desejos. Então o ser humano, em formação, era análogo às plantas: casto e sem desejos. Nesse tempo sua constituição não podia ser representada por uma cruz; era simbolizada por uma coluna reta, um pilar (I).

Esse símbolo foi considerado fálico, indicando a libertinagem do povo que o venerava. Por certo é um emblema de geração, mas geração não é absolutamente sinônimo de degradação. Longe disso. O pilar é o madeiro inferior da cruz, símbolo do ser humano em formação, quando era análogo às plantas. A planta é inconsciente de toda paixão ou desejo e inocente do mal. Gera e perpetua sua espécie de modo tão puro, tão casto, que propriamente compreendida é um exemplo para a decaída e luxuriosa humanidade, a qual deveria venerá-la como um ideal. Aliás, o símbolo foi dado às raças primitivas com esse objetivo. O Falo e o Yona, empregados nos Templos de Mistério da Grécia, foram dados pelos Hierofantes com esse espírito. No frontispício do templo colocavam-se as enigmáticas palavras: “Ser humano, conhece a ti mesmo”. Esse lema, bem compreendido, é análogo ao da Rosacruz, pois mostra as razões da queda do ser humano no desejo, na paixão e no pecado, e dá a chave de sua liberação do mesmo modo que as rosas sobre a cruz indicam o caminho da libertação.

A planta é inocente, porém, não virtuosa. Não tem desejos nem livre escolha. O ser humano tem ambas as coisas. Pode seguir seus desejos ou não, conforme queira, para aprender a dominar-se.

Enquanto foi como as plantas, um hermafrodita, ele podia gerar por si, sem cooperação de outrem; mas ainda que fosse tão inocente e tão casto como as plantas, ele era também como elas: inconsciente e inerte. Para poder avançar, necessitava que os desejos o estimulassem e uma Mente o guiasse. Por isso, a metade de sua força criadora foi retida com o propósito de construir um cérebro e uma laringe. Naquele tempo o ser humano tinha a forma arredondada. Era curvado para dentro, semelhante a um embrião, e a laringe atual era então uma parte do órgão criador, aderindo à cabeça quando o Corpo tomou a forma ereta. A relação entre as duas metades pode-se ver ainda hoje na mudança de voz do rapaz, expressão do polo positivo da força geradora, ao alcançar a puberdade. A mesma força que constrói outro Corpo, quando se exterioriza, constrói o cérebro quando retida. Compreende-se isso claramente ao sabermos que o excesso sexual conduz à loucura. O pensador profundo sente pouquíssima inclinação para as práticas amorosas, de modo que emprega toda sua força geradora na criação de pensamentos, ao invés de desperdiçá-la na gratificação dos sentidos.

Quando o ser humano começou a reter a metade de sua força criadora para o fim já mencionado, sua consciência foi dirigida para dentro, para construir órgãos. Ele podia ver esses órgãos, e empregou a mesma força criadora, então sob a direção das Hierarquias Criadoras, para planejar e executar os projetos dos órgãos, assim como agora a emprega no mundo externo para construir aeroplanos, casas, automóveis, telefones, etc. Naquele tempo o ser humano era inconsciente de como a metade daquela força criadora se exteriorizava na geração de outro Corpo.

A geração efetuava-se sob a direção dos Anjos, que em certas épocas do ano, agrupavam os humanos aptos em grandes templos, onde se realizava o ato criador. O ser humano era inconsciente desse fato. Seus olhos ainda não tinham sido abertos, e embora fosse necessária a colaboração de uma parceira, que tivesse a outra metade ou o outro polo da força criadora indispensável à geração, cuja metade ele retinha para construir órgãos internos, em princípio não conhecia sua esposa. Na vida ordinária o ser humano estava encerrado dentro de si, pelo menos no que tangia ao Mundo Físico. Isto, porém, começou a mudar quando foi posto em íntimo contato, como acontece no ato gerador. Então, por um momento, o espírito rasgou o véu da carne e Adão conheceu sua esposa. Deixou de conhecer-se a si mesmo, quando sua consciência se concentrou mais e mais no mundo externo, perdendo ele sua percepção interna, a qual não poderá ser readquirida plenamente enquanto necessitar da cooperação de outro ser para criar, e não tenha alcançado o desenvolvimento que lhe permita utilizar, de novo e voluntariamente, toda sua força criadora. Então voltará a conhecer-se a si mesmo, como no tempo em que atravessava o estágio análogo ao vegetal, mas com esta importantíssima diferença: usará sua faculdade criadora conscientemente, e não será restringido a empregá-la só na procriação de sua espécie, mas poderá criar o que quiser. Outrossim, não usará os seus atuais órgãos de geração: a laringe, dirigida pelo espírito, falará a palavra criadora através do mecanismo coordenador do cérebro. Assim, os dois órgãos, formados pela metade da força criadora, serão os meios pelos quais o ser humano se converterá finalmente em um criador independente e autoconsciente.

Mesmo presentemente o ser humano já modela a matéria pela voz e pelo pensamento ao mesmo tempo, como vimos nas experiências científicas em que os pensamentos criaram imagens em placas fotográficas, e noutras em que a voz humana criou figuras geométricas na areia, etc. Em proporção direta ao altruísmo que demonstre, o ser humano poderá exteriorizar a força criadora que retiver. Isto lhe dará maior poder mental e o capacitará a utilizar-se de tal poder na elevação dos demais, ao invés de tentar degradá-los e sujeitá-los à sua vontade. Aprendendo a dominar-se, cessará de tentar dominar aos outros, salvo quando o fizer temporariamente para o bem deles, jamais para fins egoísticos. Somente aquele que se domina está qualificado para orientar aos demais e, quando necessário, é competente para julgá-los no modo que melhor lhes convenha.

Vemos, portanto, que, a seu devido tempo, o atual modo passional de geração será substituído por um método mais puro e mais eficiente que o atual. Isto também está simbolizado pela Rosacruz, em que a rosa se situa no centro, entre os quatro braços. O madeiro mais comprido representa o Corpo; os dois horizontais, os dois braços; e o madeiro curto superior representa a cabeça. A rosa está colocada no lugar da laringe.

Como qualquer outra flor, a rosa é o órgão gerador da planta. Seu caule verde leva o sangue vegetal, incolor e sem paixão. A rosa de cor vermelho-sangue mostra a paixão que inunda o sangue da raça humana, embora na rosa propriamente dita o fluido vital não seja sensual, mas sim casto e puro. Ela é, por conseguinte, excelente símbolo dos órgãos geradores em seu estado puríssimo e santo, estado que o ser humano alcançará quando haja purificado e limpo seu sangue de todo desejo, quando se tenha tornado casto e puro, análogo a Cristo.

Por isso os Rosacruzes esperam, ardentemente, o dia em que as rosas floresçam na cruz da humanidade; por isso os Irmãos Maiores saúdam a alma Aspirante com as palavras de saudação Rosacruz: “Que as Rosas Floresçam em Vossa Cruz”; e é por esse motivo que essa saudação é usada nas reuniões dos Núcleos da Fraternidade pelo dirigente, ocasião em que os Estudantes, Probacionistas e Discípulos presentes respondem à saudação dizendo: “E na vossa também”.

Ao falar de sua purificação, São João (IJo 3: 9) diz que aquele que nasce de Deus não pode pecar, porque guarda dentro de si a sua semente. Para progredir é absolutamente necessário que o Aspirante seja casto. Todavia, deve-se ter bem presente que a castidade absoluta não é exigida enquanto o ser humano não tenha alcançado o ponto em que esteja apto para as Grandes Iniciações, e que a perpetuação da raça é um dever que temos para com o todo. Se estivermos aptos: mental, moral, financeira e fisicamente, podemos executar o ato da geração, não para gratificar a sensualidade, mas como um santo sacrifício oferecido no altar da humanidade. Tampouco deve ser realizado austeramente, em repulsiva disposição mental, mas sim numa feliz entrega de si mesmo, pelo privilégio de oferecer a algum amigo que esteja desejando renascer, um Corpo e ambiente apropriados ao seu desenvolvimento. Desse modo estaremos também o ajudando a cultivar o florescimento das rosas em sua cruz.

Incluído em edições posteriores inglesas e brasileiras:

A Sede Internacional da Fraternidade Rosacruz

Tendo a Fraternidade Rosacruz sido fundada para promulgar os ensinamentos dados nesse livro, e para auxiliar os Aspirantes no caminho do progresso, tornou-se necessário sediá-la num lugar permanente que facilitasse o trabalho requerido. Com esse objetivo comprou-se uma gleba de terra na cidade de Oceanside, Califórnia, 90 milhas ao Sul de Los Angeles e 40 milhas ao norte de San Diego, a cidade mais ao sudoeste dos Estados Unidos.

Essa gleba, situada numa elevação, descortina a oeste, maravilhosa paisagem do grande Oceano Pacifico, e a lesse lindas montanhas cobertas de neve.

O sul da Califórnia oferece excepcionais oportunidades para crescimento espiritual porque o Éter contido em sua atmosfera é mais concentrado do que em qualquer outra parte do mundo. A esse respeito Mount Ecclesia, como se chama a Sede da Fraternidade Rosacruz, é particularmente favorecida.

Os Edifícios

O trabalho começou no fim de 1911. Até aqui (1978), numerosas construções foram erguidas, algumas das quais não mais existem. A Pro-Ecclesia, ou Capela, na qual são levados a efeito diariamente dois serviços de 15 minutos desde a sua consagração, em dezembro de 1913, foi totalmente reformada em 1962. Um serviço devocional com conferências continua a ser efetuado aos domingos. Um Edifício de Administração com dois andares foi terminado em 1917, e reformado em 1962. No segundo andar estão as Secretarias de vários departamentos: Esotérico, dos Cursos por Correspondência, Editorial, de Línguas Estrangeiras e Contábil. No primeiro andar situam-se os Departamentos de Expedição e a Oficina Impressora, onde as Lições, a Revista “Rays from the Rose Cross”, os panfletos, etc., são impressos. Em 1972 foi instalada uma impressora “off-set”.

No Refeitório, construído em 1914, ampliado nos anos 30 e renovado em 1962, são servidos pratos vegetarianos. O Templo de Cura, onde um serviço de cura é efetuado todas as noites, foi concluído em 1920. A Hospedaria Rosacruz, reservada aos visitantes e certos funcionários, foi construída em 1924. Presentemente vem sendo muito utilizada na estocagem de livros. O Prédio da Enfermaria foi levantado em 1939 e usado por alguns anos para o tratamento de enfermos portadores de doenças não contagiosas. Agora é a Casa do Visitante. Numerosas habitações individuais, construídas a partir de 1962, algumas já reformadas, são ocupadas por funcionários. A Sede do Departamento de Cura foi construída em 1940. Aqui os trabalhos de cura são conduzidos pelos secretários.

Cursos Por Correspondência

Além de suas publicações constantes da Biblioteca Rosacruz, a Fraternidade proporciona, gratuitamente, cursos por correspondência, para aqueles que aspiram crescimento espiritual e a iluminação pelos estudos, na compreensão de matérias mais avançadas, que capacitarão o Estudante a penetrar mais profundamente nos mistérios da Vida e do Ser.

Curso Preliminar de Filosofia

Composto de 12 lições. Prepara o Estudante ao caminho da espiritualidade. Recebidas as respostas das lições, são estas examinadas, corrigidas e devolvidas ao Estudante com respostas impressas para sua comparação. Para esse curso faz-se necessário o livro básico “Conceito Rosacruz do Cosmos”.

Curso Suplementar de Filosofia

Composto de 40 lições. São estas enviadas após a conclusão do Curso Preliminar, ocasião em que o Estudante se converte em Estudante Regular da Fraternidade Rosacruz. As lições têm também suas respostas devolvidas, depois de examinadas e corrigidas. Com esse curso, o Estudante ainda é inscrito na Sede Mundial – The Rosicrucian Fellowship – de onde também passa a receber correspondência. Depois de decorridos dois anos, o Estudante pode solicitar à Sede Mundial, o ingresso no Probacionismo, um caminho que proporciona estudos mais profundos.

Curso de Estudos Bíblicos

Composto de 28 lições, que serão devolvidas ao Estudante depois de examinadas e corrigidas.

Curso de Astrologia Espiritual Educativa

Elementar – composto de 26 lições

Superior – composto de 12 lições

Superior Suplementar composto de 13 lições.

Todas as lições também são devolvidas ao Estudante depois de examinadas e corrigidas.

Nota – Só depois de terminado o Curso Preliminar pode o Estudante, simultaneamente ou não, inscrever-se nos demais cursos.

Os cursos são ministrados nos idiomas: inglês, francês, alemão, italiano e espanhol, desde que solicitados a:

The Rosicrucian Fellowship

2222 Mission Avenue

Oceanside, CA -92054 – U.S.A.

Os mesmos cursos em português podem ser solicitados, no Brasil:

Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP

Av. Francisco Glicério, 1326 – 8° andar – conj. 82

Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil

E-mail: contato@fraternidaderosacruz.com – Tel.: 19 3886-3943

ou

Fraternidade Rosacruz em São Paulo – SP

Rua Asdrúbal do Nascimento, 196

01316-030 – São Paulo – SP – Brasil

E-mail: esoteric@fraternidaderosacruz.com.br –Tel.: 11 3107-4740

Todos os cursos são inteiramente gratuitos, visto que os gastos são cobertos pelas contribuições voluntárias, conforme os ditames do coração e as posses de cada um, cumprindo-se, assim, a lei de DAR e RECEBER.

Exercícios Noturno e Matinal Efetuados Pelo Aspirante Rosacruz

O Exercício Noturno

O exercício noturno, Retrospecção, é mais valioso do que qualquer outro método para adiantar o Aspirante no caminho da realização. Seu efeito é tão profundo que capacita a quem o pratica a aprender presentemente, não apenas as lições desta vida, mas também lições que normalmente estar-lhe-iam reservadas para vidas futuras.

Após deitar-se, à noite, relaxe o Corpo. Em seguida comece a rever as cenas do dia em ordem inversa, iniciando com os acontecimentos da noite, passando às ocorrências da tarde, e depois às da manhã. Procure rever as cenas com a maior fidelidade possível: reproduza diante do seu olhar mental tudo o que aconteceu em cada cena, sob revisão, com o propósito de julgar suas ações, de certificar-se se suas palavras transmitiram o significado pretendido ou se deram uma falsa impressão, ou se exagerou ou atenuou as experiências relatadas aos outros. Reveja sua atitude moral em relação a cada cena. Durante as refeições, comeu para viver, ou viveu para comer, para agradar ao paladar? Julgue-se a si mesmo, censure-se onde houver culpa, e louve-se onde houver mérito.

Algumas pessoas não conseguem permanecerem acordadas até o fim do exercício. Em tais casos é permitido sentar-se no leito, até ser possível seguir-se o método regular.

O valor da Retrospecção é enorme – ultrapassa a imaginação. Em primeiro lugar, efetuamos o trabalho de restauração da harmonia conscientemente, e em menor tempo do que é necessário ao Corpo de Desejos para realizá-lo durante o sono. Fica, assim, uma maior parte da noite disponível para o trabalho externo, o que não seria possível de outra maneira. Em segundo lugar, vivemos o nosso Purgatório e o Primeiro Céu todas as noites, introduzindo assim no Espírito, como sentimento correto, a essência das experiências diárias. Por conseguinte, escapamos do Purgatório após a morte e também economizamos o tempo de permanência no Primeiro Céu. Por último, mas não menos importante, tendo extraído diariamente a essência das experiências que dão crescimento anímico, e tendo-as amalgamado ao espírito, passamos a vivenciar realmente uma atitude mental e a nos desenvolver por linhas que ordinariamente nos estariam reservadas para vidas futuras. Pela fiel execução desse exercício apagamos, dia após dia, as ocorrências indesejáveis da nossa memória subconsciente, de modo que nossos pecados são apagados, nossas auras começam a brilhar com o ouro espiritual extraído por Retrospecção das experiências diárias, e desse modo atraímos a atenção do Mestre.

Os puros verão a Deus, disse Cristo, e o Mestre abrirá prontamente os nossos olhos quando estivermos prontos para entrar no “Saguão do Saber”, o Mundo do Desejo, onde adquirimos nossas primeiras experiências de vida consciente sem o Corpo Denso.

O Exercício Matinal

Concentração, o segundo exercício, deve ser realizado pela manhã, imediatamente depois que o Aspirante desperta. Não se deve levantar para abrir janelas nem fazer nenhum ato desnecessário. Se a posição do Corpo é confortável, deve relaxar imediatamente e começar a concentrar-se. Isto é muito importante, pois no momento de despertar, o espírito acaba de retornar do Mundo do Desejo, e nessa ocasião é mais fácil retomar o contato consciente com esse Mundo do que em qualquer outro momento do dia.

Lembremos que durante o sono as correntes do Corpo de Desejos fluem, e que seus vórtices giram e se movimentam com enorme velocidade. No entanto, logo que penetra no Corpo Denso, suas correntes e vórtices são quase paralisados pela matéria densa e pelas correntes nervosas do Corpo Vital que transmitem as mensagens do e para o cérebro. O objetivo desse exercício é manter o Corpo Denso no mesmo grau de inércia e insensibilidade que experimenta durante o sono, embora o espírito no interior esteja perfeitamente desperto, alerta e consciente. Estabelecemos desse modo a condição necessária para os centros de percepção do Corpo de Desejos poderem começar a girar dentro do Corpo Denso.

Concentração é uma palavra que confunde a muitos, e que só tem significado para poucos. Por isso tentaremos esclarecer o seu significado. O dicionário dá várias definições, todas aplicáveis à nossa ideia. Uma delas é: “fazer convergir para um centro”. Outra definição, esta aplicável à química, é: “reduzir à máxima pureza e intensidade, removendo os constituintes sem valor”. Aplicadas ao nosso problema, uma das definições acima nos diz que se fizermos convergir os nossos pensamentos para um centro, para um ponto, aumentamos o seu vigor, sob o mesmo princípio pelo qual o poder dos raios solares aumenta quando focalizados num ponto através de uma lente de aumento. Eliminando na ocasião todos os outros assuntos de nossa Mente, a força total do nosso pensamento fica disponível para ser usada em atingir o objetivo, ou para resolver o problema sobre o qual nos concentramos. Podemos, pois, ficar tão absorvidos em nosso tema que se um canhão fosse disparado acima de nossa cabeça não o ouviríamos. Há pessoas que ficam tão perdidas na leitura de um livro que se esquecem de tudo o mais. O Aspirante à visão espiritual deve adquirir a faculdade de se tornar igualmente tão absorvido na ideia sobre a qual se concentra que possa excluir o mundo dos sentidos da sua consciência, e assim dar toda a sua atenção ao mundo espiritual. Quando aprender a fazer isso, verá o lado espiritual de um objeto ou de uma ideia, iluminado pela luz espiritual, e assim obterá um conhecimento da natureza interna das coisas como jamais foi sonhado por um ser humano mundano.

Atingido esse ponto de abstração, os centros de percepção do Corpo de Desejos começam a girar lentamente dentro do Corpo Denso, tomando, portanto, seus próprios lugares. Com o tempo isto se tornará cada vez mais definido, necessitando cada vez menos esforço para pô-los em movimento.

O assunto da concentração pode ser qualquer ideal sublime e elevado, mas deve ser preferentemente de tal natureza que faça com que o Aspirante se afaste das coisas comuns dos sentidos, além do tempo e do espaço, e para isso não há melhor fórmula do que os cinco primeiros versículos do primeiro Capítulo do Evangelho de São João. Tomando-os como assunto de concentração, sentença por sentença, todas as manhãs, com o tempo proporcionará ao Aspirante uma maravilhosa percepção do princípio do nosso Universo e do método da criação – uma compreensão muito além da que se poderia obter através dos livros.

Depois de algum tempo, quando o Aspirante tenha aprendido a manter diante de si por uns cinco minutos ininterruptos o assunto em que se concentra, deve tentar abandonar abruptamente esse assunto, deixando a Mente em branco. Não deve pensar em nada mais, esperando simplesmente que alguma coisa preencha o vazio. No devido tempo, a visão de cenas do Mundo do Desejo preencherá o espaço vazio. Depois que o Aspirante tenha se acostumado a tal, poderá mandar que isto ou aquilo apareça diante de si. O que for, aparecerá, e então ele poderá investigá-lo à sua vontade.

O importante, contudo, é que seguindo estas instruções, o Aspirante está se purificando; sua aura começará a brilhar e inevitavelmente atrairá a atenção do Mestre, o qual enviará alguém para ajudá-lo, onde necessário, a dar outro passo no caminho do progresso. Ainda que passem meses ou anos sem que apareçam resultados visíveis, estejamos certos de que nenhum esforço é feito em vão. Os Grandes Mestres veem e apreciam os nossos esforços. Eles estão exatamente tão ansiosos para terem a nossa ajuda quanto nós o estamos para servir. Podem também ver as razões da inconveniência de servirmos à humanidade nesta vida. No entanto, algum dia as condições inibidoras terão passado e seremos admitidos à luz, onde poderemos ver por nós mesmos.

Diz uma antiga lenda que a procura de um tesouro deve ser feita no sossego da noite e em perfeito silêncio. Pronunciar uma só palavra enquanto o tesouro não estiver completamente escavado causaria, inevitavelmente, o seu desaparecimento. É uma parábola mística que se refere à procura da iluminação espiritual. Se bisbilhotarmos ou contarmos aos outros as experiências de nossas horas de concentração perdê-las-emos. Elas não podem suportar a transmissão oral, por isso dissolver-se-ão em nada. Precisamos, pela meditação, extrair delas o pleno conhecimento das leis cósmicas ocultas. Portanto, a experiência própria não deve ser comentada, haja vista que ela é apenas o invólucro que esconde a semente que contém. A lei é de valor universal, como vai ficar evidente, porque pode explicar os fatos e ensinar-nos como aproveitar oportunidades de determinadas condições e a evitar outras. A critério do seu descobridor, e para benefício da humanidade, ela pode ser revelada livremente. A experiência que revelou a lei aparece, então, em sua verdadeira luz como sendo apenas de interesse passageiro, não mais digna de nota. Por isso o Aspirante precisa considerar tudo o que acontece durante a concentração como sagrado, e deve conservá-lo rigorosamente para si.

Finalmente, evite considerar os exercícios como uma tarefa enfadonha. Repute-os em seu verdadeiro valor: eles são os nossos mais elevados privilégios. Somente quando assim considerados podemos fazer-lhes justiça, e deles colher os mais amplos benefícios.

Conforme publicação na 3ª edição em 1912

EPÍLOGO – O Poder de Cura Definitiva

É uma inegável verdade que “o ser humano tem vida curta e atribulada”[77], e entre todas as vicissitudes da vida nenhuma tem o maior poder de fazer se voltar para Deus do que o sofrimento no Corpo. Podemos perder a nossa posição econômica ou os amigos com relativa equanimidade, mas quando nos falta a saúde e a morte nos ameaça, até os mais fortes vacilam. Compreendendo a impotência humana, e poderosamente movido por uma necessidade premente, sentimos necessidade de apelar para o socorro Divino, e quanto mais severamente a dor física nos aflige, mais insistentemente vamos pedir ajuda à Deus. Nada pode nos fazer orar tão fervorosamente como a dor no Corpo.

Por isso, o ofício sacerdotal sempre esteve intimamente ligado à cura. Entre os selvagens, o sacerdote era também o “homem da medicina”; na Grécia antiga o templo de Esculápio[78] era famoso pelas curas que eram operadas lá; Cristo, em Seus dias, curava totalmente o doente. A igreja primitiva seguiu essa prática, como é evidente nas Epístolas; e certas ordens católicas continuaram no esforço de amenizar a dor, através dos séculos, desde aqueles tempos até os dias atuais.

Nos tempos modernos, a tendência é de se dissociar o consolador espiritual do sacerdote, quando de um Corpo doente. Por isso, o estreito contato e a calorosa simpatia entre o sacerdote e os paroquianos foram perdidos, e, em consequência, ambos empobreceram, nesse sentido. Antigamente, nos momentos de doença, o “bom pai” era tido como um representante de nosso Pai Celeste. Provavelmente ele era não especializado em comparação com nossos médicos modernos, mas, se ele fosse um verdadeiro e santo sacerdote, seu coração seria caloroso e amoroso e suas orientações mais potentes, devido à fé do paciente em seu ofício sacerdotal, e, após a recuperação, seu paciente também seria seu amigo e se aconselharia com ele a respeito das coisas espirituais, coisa que ele nunca faz, onde os “consultórios” do sacerdote e do médico estão dissociados.

Não se pode negar que aquele consultório com essa dupla função deu aos titulares um poder e tanto sobre as pessoas, e que esse poder foi, por vezes, abusado. Também é patente que a arte da medicina atingiu um estágio de eficiência, o qual não poderia ter sido atingido, salvo pela devoção a um determinado fim e objetivo. As leis sanitárias, a extinção de insetos portadores de doenças, e consequente imunidade, são testemunhos monumentais do valor dos métodos científicos modernos. Portanto, pode parecer que tudo esteja bem e que não haveria necessidade de escrever sobre o assunto, mas, na realidade, até que a humanidade, como um todo, desfrute de uma perfeita saúde, não existe nenhum problema mais importante do que a questão: como podemos conseguir e manter a saúde?

Além da escola regular de cirurgia e medicina, que depende exclusivamente de meios físicos para a cura da doença, outros sistemas surgiram que dependem inteiramente da cura total mental. Já se tornou costume corrente nas organizações que advogam a “cura mental”, a “cura natural” e outros a realização das “reuniões de troca de experiências” e a publicação em revistas especializadas com testemunhos de milhares de pessoas agradecidas que foram beneficiadas por tais “tratamentos”, e se os médicos da escola regular fizessem o mesmo não lhes faltariam testemunhos similares acerca das suas eficácias.

A opinião de milhares de pessoas é de grande valor, mas nada prova porque outros tantos milhares de pessoas podem sustentar exatamente o ponto de vista oposto. Ocasionalmente uma só pessoa pode ter razão, enquanto o resto do mundo está errado, como aconteceu quando Galileu[79] afirmou que a Terra se movia. Hoje em dia, todo o mundo converteu-se à opinião pela qual Galileu foi perseguido como herege. Sustentamos que, sendo o ser humano um ser composto, a cura tem êxito na proporção em que se remedeiem os defeitos nos planos: físico, moral e mental do ser, e nós, também, afirmamos que resultados podem ser obtidos mais facilmente nos períodos quando os raios dos Astros são propícios para a cura definitiva de uma doença específica que faz uma pessoa sofrer. Ou doenças podem ser tratadas com mais sucesso por remédios previamente preparados sob condições propícias (ou favoráveis) do que quando o remédio é preparado sob condições astrais desfavoráveis.

É fato bem conhecido do médico moderno que o estado do sangue, e, por conseguinte, de todo o Corpo, muda de acordo com o estado mental do paciente, e quanto mais o médico empregar a sugestão como auxiliar dos remédios, tanto mais êxito obterá. Todavia, são poucos os que aceitariam o fato de que tanto nosso estado mental como o físico são influenciados pelos raios astrais, que mudam com o movimento dos respectivos Astros e, ainda, desde que foi reconhecida a existência da radioatividade, nós sabemos que todos os Corpos celestes lançam partículas radioativas no espaço. Na telegrafia sem fio nos demonstra que as ondas etéreas viajam segura e rapidamente através do espaço, atuando por meio de uma chave, de acordo com a nossa vontade. Sabemos, também, que os raios do Sol nos afetam de modo diferente pela manhã, quando nos atingem horizontalmente, do que ao meio-dia, quando caem sobre nós perpendicularmente. Se os raios luminosos do Sol, que se movem rapidamente, produzem mudanças físicas e mentais, por que não teriam efeito correspondente os raios persistentes dos Astros mais lentos? Se eles têm, então eles são fatores na saúde que não devem ser negligenciados por um verdadeiro curador científico.

A enfermidade é uma manifestação da ignorância, o único pecado, e a cura definitiva é uma demonstração do conhecimento aplicado, que é a única salvação. Cristo é a manifestação do Princípio de Sabedoria e, na mesma proporção em que o Cristo se forme em nós, alcançaremos a saúde. Por conseguinte, a pessoa que cura deve ser espiritualizada e deve procurar infundir em seu paciente elevados ideais, para que gradualmente aprenda a se conformar com as leis de Deus, que governam o Universo, alcançando, assim, saúde permanente na vida atual bem como nas futuras.

No entanto, “a fé sem obras é morta”. Se nós persistimos em viver sob condições não sanitárias a fé não nos salvará da febre tifoide, mas quando nós aplicamos medidas preventivas apropriadas e remédios para os doentes, nós estamos realmente mostrando nossa fé por obras.

Está escrito em várias obras que os membros da Ordem dos Rosacruzes têm o objetivo de ajudar a humanidade em obter a saúde do Corpo, e fazem o voto de curar definitivamente os outros gratuitamente. No entanto, como se vê em muitas das chamadas “revelações”, esta afirmação é inexata. Os Irmãos Leigos fazem o voto de assistir a todos com o melhor de sua capacidade gratuitamente. Esse voto inclui o trabalho de curar definitivamente, para os possuidores dessa aptidão, como foi o caso de Paracelso[80]. Ele tinha uma grande capacidade curadora e procurava combinar a eficiência dos remédios físicos, aplicados em fases astrológicas favoráveis, com a orientação espiritual conveniente. Os que não possuem a faculdade sanadora trabalham em outros setores, mas todos têm uma característica em comum: nunca cobram pelos seus serviços e sempre trabalham em segredo, sem clarinadas e rufos de tambores.

Durante os últimos três anos nós trabalhamos assiduamente para escrever, publicar e disseminar oralmente os Ensinamentos Rosacruzes. Eles alcançaram, rapidamente, os mais remotos lugares da Terra em um ano e meio e agora são estudados desde a África do Sul até o Círculo Ártico e ainda além. Nós temos, também, seguida a prescrição de “não cobrar pelos ensinamentos” e, tendo encontrado “fidelidade em algumas coisas”, o Irmão Maior, que é a nossa inspiração no trabalho, confiou aos nossos cuidados a fórmula pela qual uma panaceia de cura definitiva espiritual pode ser feita, para aliviar o sofrimento e curar a doença – sempre gratuitamente.

Para executar esse serviço para a humanidade será necessário estabelecer a sede e uma escola para educar os Auxiliares qualificados no uso da panaceia espiritual, Astrologia médica e higiene. Eles, então, levarão o auxílio e a cura definitiva para todos os lugares. Um número considerável de médicos já é afiliado à Fraternidade Rosacruz e talvez um número maior sentirá o chamado para praticar o método espiritual em combinação com seus procedimentos médicos tradicionais. Não é preciso que eles propagandeiem suas afiliações à Fraternidade Rosacruz ou as curas conseguidas.

Até o presente momento, estamos prestes a garantir um pedaço de terra no sul da Califórnia, e assim que os fundos se tornarem disponíveis e adequados, a sede será erguida, com uma escola e um lugar para as orações. Enquanto isso, vamos buscar voluntários no trabalho que possam dar seu tempo e seus talentos.

FIM

[1] N.R.: Jo 1:3

[2] N.R.: Ralph Waldo Emerson (1803-1882) – escritor, filósofo e poeta estadunidense

[3] N.R.: Mt 10:34

[4] N.R.: Lc 2:14

[5] N.R.: do poema Song of Myself, part 20 de Walt Whitman (1819-1892) – poeta, ensaísta e jornalista americano

[6] N.R.: Lewis “Lew” Wallace (1827-1905) – escritor, militar, advogado e diplomata dos Estados Unidos da América, autor do romance Ben-Hur.

[7] N.R: Fp 2: 10

[8] N.R: Fp 2: 11

[9] N.R.: Gl 4: 19

[10] N.R.: Pseudônimo de Johannes Scheffler (1624-1667) – Místico cristão, filósofo, médico, poeta, jurista alemão.

[11] N.R.: ópera de três atos do com a música e libreto do compositor alemão Richard Wagner.

[12] N.R.: Mt 27:51

[13] N.R.: os sacerdotes da alta hierarquia dos mistérios

[14] N.R.: o autor se refere ao Hemisfério Norte.

[15] N.R.: isso vale para todo o Planeta Terra, pois tem a haver com a distância entre a Terra e o Sol.

[16] N.R.: Lc 2:14

[17] N.R.: Religião fundada por Maomé. O mesmo que chamar de Islamismo ou Muçulmanismo.

[18] N.R.: também chamada de Epífise Neural

[19] N.R.: também chamada de Hipófise

[20] N.R.: são um conjunto de cinco lagos situados na América do Norte, entre o Canadá e os Estados Unidos.

[21] N.R.: rio no leste da América do Norte, na região dos Grandes Lagos

[22] N.R.: em torno de 16 quilômetros

[23] N.R.: Elias (“Meu Deus é Javé”) foi um profeta e taumaturgo que viveu no reino de Israel durante o reinado de Acab (século IX a.C.).

[24] N.R.: Também grafado como: Sancara, Sankaracharya, Sancaracarya, Shankaracharya, Sankara, Adi Sankara, Adi Shankaracharya e Adi Shankara, sendo também chamado de Bhagavatpada Acharya (788-820) foi um monge errante indiano. Sua vida encontra-se envolta em mistérios e prodígios que a tornam semelhante às de outros insignes mestres espirituais da humanidade.

[25] N.R.: no Hinduísmo, é uma manifestação de Brahma, Vishnu e Shiva.

[26] N.R.: Palavra em sânscrito que quer dizer: significa “Lei Natural”, “Realidade”, “Presente de Deus” ou “vida” no modo geral. Com respeito ao seu significado espiritual, pode ser considerado como o “Caminho para a Verdade Superior”.

[27] N.R.: Antônimo em sânscrito de dharma, e significa vício ou pecado.

[28] N.R.: Mt 18:11

[29] N.R.: povos de origem indo-europeia que habitava extensas áreas da Europa pré-romana, eram sacerdotes do lendário povo celta.

[30] N.R.: Jean Léopold Nicolas Frédéric Cuvier (1769-1832) – naturalista e zoologista francês

[31] N.R.: Karl Maksimovich Baer (1792-1876) – biólogo, geólogo, meteorologista e médico prussio-estoniano

[32] N.R.: Jean Louis Rodolphe Agassiz (1807-1873) – naturalista, geologista e professor suíço

[33] N.R.: ou Acalefos; exe. Celenterados, Águas-vivas

[34] N.R. – “sem cabeça”

[35] N.R. – “pés nos intestinos”

[36] N.R. – “pés na cabeça”; exe. Polvo

[37] N.R.: Grupos – se refere à linha horizontal, na verdade Período, da Tabela Periódica de Química; Capacidade de combinação – nível de energia

[38] N.R.: a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos de Jesus Cristo

[39] N.R.: Gl 4: 19

[40] N.R.: Mq 4: 4

[41] N.R.: um ser humano, um irmão ou irmã

[42] N.R.: 1850-1919: escritora e poeta estadunidense

[43] N.R.: Mt 6: 9-13

[44] N.R.: também chamada de Hipófise

[45] N.R.: também chamada de Epífise Neural

 [47] N.R.: também chamada de Hipófise

[48] N.R.: Jo 1:29

[49] N.R.: Mt 13: 13-14

[50] N.R.: Lc 11:9

[51] N.R.: Livro do Apocalipse

[52] N.R.: duas cidades que foram destruídas por Deus com fogo e enxofre descido do céu, devido à prática de atos imorais

[53] N.R.: A “idade das trevas” é uma periodização histórica que enfatiza as deteriorações demográfica, cultural e econômica que ocorreram na Europa consequentes do declínio do Império Romano do Ocidente. O rótulo emprega o tradicional embate visual luz-versus-escuridão para contrastar a “escuridão” deste período com os períodos anteriores e posteriores de “luz”. É caracterizado por uma relativa escassez de registros históricos e outros escritos, pelo menos para algumas áreas da Europa, tornando-o, assim, obscuro para os historiadores. O termo “Era das Trevas” deriva do Latim saeculum obscurum, originalmente aplicado por Caesar Baronius em 1602 a uma época tumultuada entre os séculos V e IX

[54] N.R.: Também chamada de tísica pulmonar ou ‘doença do peito’ ou tuberculose

[55] Baixo Relevo do Antigo Egito esculpido no teto do pórtico de uma câmara dedicada à Osíris no templo de Hathor de Dendera, no Egito

[56] G. E. Sutcliffe – astrônomo indiano

[57] Pierre Simon Laplace (1749-1827) – matemático, astrônomo e físico francês

[58] Nature: Revista mensal que ilustrava artigos populares sobre a natureza

[59] N.R.: Exposição Universal de 1904 em Saint Louis, Lousiana, EUA

[60] N.R.: Nicolas Camille Flammarion (1842-1925) – astrônomo, pesquisador psíquico e divulgador científico francês

[61] N.R.: Fundado em 1888, por Edward C. Hegeler, é um dos mais antigos e importantes jornais de filosofia

[62] N.R.: M. Pierre Bizeau – artigo publicado no The Monist: The Third Movement of the Earth – 1908

[63] N.R.: John “J. J.” Thomson (1856-1940) – físico inglês

[64] N.R.: Alfred Percy Sinnett (1840-1921) – escrito e teósofo inglês

[65] N.R.: O Crescimento da Alma

[66] N.R.: Edward Emerson Barnard (1857-1923) – astrônomo americano

[67] N.R.: Nicolau Copérnico (1473-1543) – astrônomo e matemático polonês

[68] N.R.: Tycho Brahe (1546-1601) – astrônomo dinamarquês

[69] N.R.: Ptolomeu (90-?) – Cláudio Ptolemeu ou apenas Ptolemeu ou Ptolomeu, cientista grego: trabalhos em matemática, astrologia, astronomia, geografia e cartografia

[70] N.R.: Francis Bacon (1561-1626) – político, filósofo e ensaísta inglês

[71]  N.R.: por vezes grafado como Jacob Boëhme (1575-1624) – filósofo e místico luterano alemão

[72] N.R.: Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) –  autor e estadista alemão que também fez incursões pelo campo da ciência natural

[73] N.R.: Wilhelm Richard Wagner (1813-1883) – maestro, compositor, diretor de teatro e ensaísta alemão

[74] N.R.: na mitologia grega é a lã de ouro do carneiro alado Crisómalo; ele é Áries, o primeiro Signo astrológico do Zodíaco; segundo Higino – autor romano da época de Augusto – acreditava-se que a constelação era o carneiro que carregou Frixo e Hele através do Helesponto. Este carneiro tinha pelo de ouro, e foi sacrificado a Júpiter quando Frixo chegou à corte do rei Eetes

[75] N.R.: ICor 3:2

[76] N.R.: George du Maurier (1834-1896) – cartunista e autor franco-britânico

[77] N.R.: Jo 14:1

[78] N.R.: o deus da Medicina e da cura da mitologia greco-romana

[79] N.R.: Galileu Galilei (1564-1542) – físico, matemático, astrônomo e filósofo italiano.

[80] N.R.: ou Paracelsus – Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim (1493-1521) – físico, botânico, alquimista, astrólogo e ocultista suíço-germânico.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Livro: Os Milagres de Cura de Cristo Jesus – por Corinne Heline

Cristo-Jesus nos ordenou: “Pregai o Evangelho e curai os doentes”.

A cura permanente demanda que esses dois mandamentos sejam obedecidos.

Por meio do “Evangelho” nós temos uma compreensão interna das leis da vida e do ser.

O propósito da vinda de Cristo foi ensinar ao ser humano como se salvar por meio da regeneração, e isto Ele ensinou tanto por exemplos assim como por preceitos, pois, de outra forma, seus ensinamentos não seriam bem-sucedidos.

“Todos as faltas, falhas, todos os erros praticados hoje se cristalizarão como doenças no amanhã. O Espírito é o construtor de seu próprio Corpo.

Os milagres de cura do Mestre são apenas para aqueles que têm ouvidos para ouvir e olhos para ver”.

Assim escreveu o grande Paracelso.

1. Para fazer download ou imprimir:

Os Milagres de Cura de Cristo Jesus – Corinne Heline

2. Para estudar no próprio site:

OS MILAGRES DE CURA DE CRISTO JESUS

Por

Corinne Heline

Fraternidade Rosacruz

Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82

Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil

Traduzido e Revisado de acordo com:

The Healing Miracles of Christ Jesus

1ª Edição em Inglês, 1951, editada por Corinne Heline

O conteúdo desse livro é idêntico ao do Capítulo do mesmo nome na obra New Age Bible Interpretation, Vol. IV, New Testament, Part II de Corinne Heline

Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

www.fraternidaderosacruz.com

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SUMÁRIO

“A PATOLOGIA OCULTA E A TEOLOGIA SÃO UMA SÓ”

O Homem Cego de Betsaida

Bartimeu, o Cego de Jericó

A cura de dois cegos

O cego no Poço de Siloé.

A Cura de um Leproso

Os Dez Leprosos

O Endemoninhado de Cafarnaum

O Surdo-mudo Endemoninhado

O ENDEMONINHADO GERASENO

A Cura de um Endemoninhado aos Pés do Monte Hermon

O Homem Curado de Paralisia

A Cura Definitiva da Sogra de Pedro

Cura da Filha de uma Mulher Cananeia

O Homem Curado de Hidropisia

A Cura Definitiva de um Homem com a Mão Atrofiada

A Cura do Servo de um Centurião

A Cura da Mulher Encurvada

A mulher que O tocou

A Elevação da Filha de Jairo

O Filho de um Homem Nobre

A Ressurreição de Lázaro

A Elevação do Filho da Viúva de Naim

A Cura do Homem Surdo e Gago

“A PATOLOGIA OCULTA E A TEOLOGIA SÃO UMA SÓ”

Cristo-Jesus nos ordenou: “Pregai o Evangelho e curai os doentes”. A cura permanente demanda que esses dois mandamentos sejam obedecidos. Por meio do “Evangelho” nós temos uma compreensão interna das leis da vida e do ser. Os primeiros seres humanos conheciam a si mesmos como Espíritos Virginais, feitos à imagem e semelhança de Deus. Encontravam-se sob a guarda dos Anjos e viviam em harmonia com a música das esferas. O parto era indolor, a juventude eterna e a morte desconhecida. Então, vieram os Espíritos Lucíferes e impregnaram o Corpo de Desejos do ser humano com um novo impulso – a força inferior e destrutiva do fogo; como resultado o ser humano perdeu, gradualmente, o contato consciente da Lei Cósmica. Ele se vestiu com “roupas de pele” e sua consciência focou-se apenas na vida pessoal, ao invés de focar na vida universal, como até então. E isto lhe abriu o caminho do sofrimento, por meio da doença, pobreza e morte.

O Antigo Testamento nos conta a história da vinda de Lúcifer, a Falsa Luz. O Novo Testamento nos apresenta a história de Cristo, a Verdadeira Luz, o Salvador do Mundo, que nasceu de uma Imaculada Concepção e que veio com a cura em Suas Asas.

O propósito da vinda de Cristo foi ensinar ao ser humano como se salvar por meio da regeneração, e isto Ele ensinou tanto por exemplos assim como por preceitos, pois, de outra forma, seus ensinamentos não seriam bem-sucedidos. Pelo despertar do Cristo dentro de si mesmo, o ser humano se ergue sobre e além de todas as limitações, dentro de uma consciência de paz, harmonia e plenitude. Aí então, ele se dará conta de uma nova vida, onde não existe mais o “sofrimento, nem lágrimas, nem morte, porque todas as coisas anteriores terão passado”[1].

O Supremo curador foi, também, o Mestre Ocultista. Seu ministério de cura leva em si um duplo propósito: curar o doente e ensinar, ao mesmo tempo, lições de profunda importância metafísica aos Seus Discípulos. Todas as curas bíblicas contêm uma chave de Iluminação ou Iniciação espiritual.

Se nós estudarmos, cuidadosamente, os vários métodos e palavras que Cristo empregou em Suas curas, nós descobriremos que ele utilizou todas as fases mais importantes de uma lei oculta. Ele não se concentrava somente nas imperfeições do instrumento físico exterior, mas tinha em conta, também, os corpos invisíveis, onde se encontram as origens de todas as doenças, assim como o início de todos os processos de cura.

Qualquer tipo de doença é o esforço da natureza em focalizar a atenção no elo frágil na corrente da perfeita harmonia entre o transformar e o ser. Se nós aprendermos a lição corretamente, a cura permanente é o resultado inevitável. A doença jamais nos deixará, se permanecermos onde atualmente nos encontramos. Esta verdade é enfatizada por meio do ministério de Cristo Jesus. Aquele que se recusa em dar atenção a isto permanecerá doente, “por causa da sua incredulidade”[2]. À luz desse entendimento, lembre-se que não existe esta tal coisa de doença incurável.

O Homem Cego de Betsaida

(Mc 8:22-25[3])

Todo órgão do corpo físico é uma réplica de uma concepção mental e é a projeção dessa concepção dentro de uma manifestação física. Os olhos representam a consciência do saber do Espírito. O Ego em suas muitas peregrinações terrestres frequentemente se esquece da perfeita consonância com o Mundo Ideal que ele uniu antes de sua descida ao renascimento, e a visão imperfeita que normalmente acompanha o amadurecimento através dos anos atestam este fato. Trancafiando-se deliberadamente longe das verdades espirituais, durante uma ou mais vidas, tenderá à cegueira física mais adiante em futura encarnação.

Cristo Jesus prefaciava cada uma de suas restaurações de visão com uma lição, que expressava a importância do conhecimento espiritual. “Tens olhos e não vês? E tendo ouvidos não ouvis? E não te recordas?”[4]. Estas Suas palavras precedem a cura de um homem cego, como nos está descrito no Evangelho segundo São Marcos 8: 22-25.

João se refere ao Cristo como o Pão da Vida. Os Discípulos lamentavam não entendê-Lo melhor porque eles não tinham pão – que é símbolo de sua falta de conhecimento espiritual.

Betsaida significa “a casa ou o lugar de pesca” e o peixe é a representação do Iniciado na Nova Dispensação inaugurada por Cristo Jesus e sublinhada no Novo Testamento. Que esta cura de um homem cego de Betsaida lida com o processo iniciatório é evidente, desde que observado o rito empregado pelo Mestre no evento. O homem cego (ou neófito) foi levado a um lugar sagrado fora da cidade e, ali, o Mestre focou sobre ele Suas grandes forças vitais. Sua visão abriu-se para as épocas evolutivas passadas e ele foi capaz de traçar o caminho da humanidade através das brumas do passado até a clara luz da presente Época Ária, e ele “viu todos os homens claramente”.

Bartimeu, o Cego de Jericó

 (Mc 10:46-52[5])

Das quatro curas de cegueiras, uma é relatada por São Mateus, como ocorrida em Cafarnaum, uma por São Marcos em Betsaida, uma por São João em Jerusalém, e a que vamos considerar agora é descrita nos três Evangelhos[6], como ocorrida em Jericó.

Jericó é a Cidade da Lua, símbolo da vida de sentidos. Aqui se conta a história de um Bartimeu, cego pela intensidade de suas reações emocionais: observe-se que ele lança de si sua capa antes de receber a cura. Então, imediatamente, “ele recebeu sua visão e seguiu Jesus no Caminho”. Através da purificação ele se tornou um dos seguidores do Mestre e iniciou sua caminhada nas sendas do discipulado. A cura em Betsaida e esta (em Jericó) representam graus diferentes de avanço espiritual. Uma, lida com a preparação para o noviciado e a outra define a consecução do desenvolvimento direto.

A promessa do Mestre ao neófito precedeu-se então, como agora e sempre, pelas palavras: “Aquele que quiser ser o primeiro entre vós, seja o servo de todos”[7].

A cura de dois cegos

(Mt 9:27-31[8])

Ninguém é tão cego como aquele que não despertou para as verdades espirituais. A fé é enfatizada muito mais no Novo Testamento porque seu atributo é uma das necessidades essenciais para a iluminação das verdades dos planos interiores; não no sentido da cegueira intelectual de reconhecer determinadas colocações supostamente autoritárias, mas no silêncio, na profunda convicção de que as coisas espirituais realmente existem, e que elas representam o Bem Definitivo.

Sem esta convicção nós não temos o incentivo suficiente para colocar em ação o necessário esforço para alcançar a liberação.

“Seja feita segundo a vossa fé”: assim disse o Grande Médico. Lembrando que em Nazaré Ele não foi capaz de realizar muitos trabalhos por causa da incredulidade do povo de lá.

Os praticantes de todas as escolas de cura definitiva percebem o poder curador da fé, e que a cura permanente é obtida pelo nível que a consciência do paciente vai se tornando centrada na realização do poder do Espírito para a cura.

Vontade, Imaginação e são as três forças por meio das quais as maravilhas da mágica são realizadas.

Colocando-as em ação, a doença pode ser curada. Elas devem, entretanto, serem suficientemente desenvolvidas para alcançar tal resultado, mas nós lembramos que se nós temos uma fé do tamanho de uma semente de mostarda nós podemos efetuar milagres.

No acontecimento que estamos discutindo, a restauração da visão dos dois homens cegos ocorreu imediatamente após a “ressurreição” (ascensão, elevação) da Filha de Jairo, e se refere ao equilíbrio entre os dois polos do Espírito no ser humano, por meio da qual a escuridão da cegueira material e a ignorância são dissipadas para sempre e os poderes da vida eterna se manifestam aqui e agora.

O cego no Poço de Siloé

(Jo 9:1-41[9])

A doença não é uma punição, mas é o inevitável resultado de uma violação das Leis da Natureza. O sofrimento que ela carrega provará, no seu devido tempo, ser uma restauração que nos iluminará no caminho das leis superiores. Quando o Ego desperta sua consciência para a sua falta de sintonia com as Leis Cósmicas, as doenças desaparecem e a harmonia, ou saúde, é restaurada. Este é o significado do evento vivido pelo Mestre relatado no capítulo 9, versículos de 1-7 do Evangelho segundo São João: “Ao passar, Ele viu um homem, cego de nascença. Seus Discípulos Lhe perguntaram: ‘Rabi, quem pecou, ele ou seus pais, para que nascesse cego?’. Jesus respondeu: “Nem ele nem seus pais pecaram”.

“Mas”, continuou o Mestre, “é para que nele sejam manifestadas as obras de Deus. Enquanto é dia, temos de realizar as obras daquele que me enviou; vem a noite, quando ninguém pode trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo. Tendo dito isso, cuspiu na terra, fez lama com a saliva, aplicou-a sobre os olhos do cego e lhe disse: ‘Vai lavar-te na piscina de Siloé – que quer dizer ‘Enviado’’. O cego foi, lavou-se e voltou vendo”.

“O corpo mostra os defeitos da alma”. A cegueira é também o resultado do abandono de esforços para pensar corretamente, no passado. A perversão e a deturpação do ponto de vista mental produzirão sempre condições similares na visão física; assim como a surdez, de certo modo, resulta da recusa às instruções espirituais.

“O corpo sempre representa o passado; mas o passado pessoal de todo ser humano é um fragmento microcósmico de seu passado macrocósmico, e ambos estão impressos em seu corpo”. O Supremo Médico jamais observou as aparentes limitações do Corpo físico. Ele trabalhou sempre com o ser humano interior, lembrando que o espírito exerce seus próprios poderes dados por Deus, pois só desta forma pode manter-se em saúde permanente. Segundo a versão bíblica de Tyndale[10], Sua primeira pergunta ao homem foi: “Você realmente quer ter tudo?” A vontade é o polo masculino do Espírito. A fé pertence ao princípio feminino, simbolizado pela água limpa e pura. Quando estes dois se unem revela-se: “Tudo o que pedires em Meu nome, ser-te-á dado”.

Em todas as cerimônias de Iniciação pré-cristãs eram recomendados ao neófito como exercícios de preparação de purificação o lavar-se em um lago ou poço. Aquelas águas sagradas eram encontradas próximo ao Templo ou lugar santo. O poço de Siloé é um velho Templo Egípcio, termo familiar a todos os aspirantes ao Templo.

Familiar também ao antigo noviciado era ungir os olhos com lama que depois eram lavados nas águas sagradas. Este gesto ritualístico referia-se à abertura dos órgãos internos da visão, por meio dos quais o neófito capacitava-se em ver por sua própria vontade os mundos espirituais, embora não tivesse ainda a capacidade de neles atuar (Isto requer, ainda, preparação maior). A Glândula Pineal é também chamada de terceiro olho, mas a visão equilibrada requer um funcionamento harmonioso entre a Glândula Pineal e o Corpo Pituitário. Destas glândulas, Urano rege o Corpo Pituitário e Netuno a Pineal: o Corpo Pituitário é, em potencial, predominantemente feminino, enquanto a Pineal é masculina. Seu despertar e forma de desenvolvimento determinam a natureza da visão interior que é alcançada pelo neófito.

O trabalho de transfiguração ou regeneração, do qual estas faculdades supranormais são mais que simples sinais, devem acontecer enquanto o Ego habita o Corpo físico. Todo Ego após estar fora da vestimenta carnal, devido ao processo denominado morte, desperta nos Mundos espirituais, e, portanto, possui o mesmo grau de força para ver e experimentar as realidades desses Mundos. Entretanto, este não é o mesmo poder daquele que é Iniciado nos Mistérios de Cristo e que, enquanto em seu Corpo físico, alcançou a consciência da alma separada do Corpo, antes que ocorresse o processo natural da morte. Para que isto ocorra, o neófito deve limpar suas naturezas moral e mental por seus próprios esforços, pois, de outra forma, somente limpará sua natureza inferior quando de sua estada no Purgatório. Então o Iniciado vive tanto o seu Purgatório e o seu Paraíso, enquanto ainda na Terra em seu Corpo de barro. Daí as palavras do Cristo: “Importa que façamos nossas obras enquanto é dia; vem a noite (a morte) quando ninguém pode trabalhar”.

Sua triunfante proclamação final ressoará através de toda a eternidade, um clarim chamará todo aquele que desejar seguir o Caminho do Cristo, o Caminho da Iniciação, que foi aberto pelo Grande Iniciador de todos, o Supremo Mestre da Terra, quando Ele declarou: “EU SOU A LUZ DO MUNDO”.

A Cura de um Leproso

(Mt 8:1-4[11]; Mc 1:40-44[12] e Lc 5:12-14[13])

A lepra[14], cuja causa foi o uso desenfreado das forças sexuais criadoras nas remotas Lemúria[15] e Atlântida[16], é uma das mais terríveis entre todas as doenças.

“Um laço íntimo une o gerador com o que é gerado. As gerações passadas são utilizadas na construção do futuro corpo; estão entrelaçadas no corpo como as tendências a alguma enfermidade, influindo tanto na sua formação como nas forças vitais. O veneno das vidas passadas tem que ser, em algum tempo, trocado por sanidade. Esta batalha vem através de infecções. As epidemias das raças são os males do passado materializados. A Praga da Morte Negra[17] teve sua maior incidência nos países onde a prática da magia negra floresceu, através de feitiçarias e encantamentos passionais” (Paracelso[18]).

Talvez não haja uma fase mais interessante no renascimento do que aquela na qual se revelam as causas passadas das enfermidades. Toda doença é o resultado de uma causa anterior existente. Citando novamente o celebrado médico suíço Paracelso, que nos deu muita luz sobre o problema das doenças em relação ao renascimento, nós lemos: “Nenhum médico deve presumir conhecer o tempo da convalescença, porque não é dado ao ser humano julgar a ofensa de outro, e o templo interior contém mistérios os quais nenhum estranho não Iniciado é permitido enxergar. Se o julgamento terminou, DEUS enviará o Curador: se o paciente se recupera é sinal de que a ajuda foi enviada por DEUS. Se a recuperação não é conseguida, DEUS não enviou o médico”.

A lepra e o câncer são “doenças do fogo”, e têm sua matriz no Corpo de Desejos. Ambas as doenças são consequência de um desejo de natureza desgovernada, na presente encarnação ou em encarnações passadas. O câncer tem grande incidência na vida moderna, enquanto a lepra teve no passado, e pelas mesmas razões.

Ambos os Corpos e Mente do ser humano são compostos de átomos rotativos e circulantes. O mais forte controla o mais fraco. A Mente é superior à matéria, esta é a lei da natureza.

Quando há saúde, os átomos do Corpo giram positivamente da esquerda para a direita. Na matriz de uma doença, como o câncer ou a lepra, por exemplo, eles giram negativamente da direita para a esquerda. No último caso a taxa de rotação é muito baixa, e os átomos também se diferenciam na coloração daqueles que estão em estado saudável. Os átomos negativos da Mente produzem a destruição, a pobreza, a doença, a anarquia e a morte. Os átomos mentais positivos manifestam paz, saúde, felicidade, harmonia e plenitude. Todas as coisas ou evoluem ou involuem. A morte é a dissolução dos átomos do Corpo. A vida é evolução, e sua meta, em ciclos inter-relacionados, é o ser humano espiritualizado.

Durante a Dispensação do Antigo Testamento, a lepra era conhecida como “o dedo de DEUS”. O povo em geral conhecia sua antiga origem e a tornara familiar com sua gente – a função que você usa mal, torna-se sua inimiga. E dessa forma eles entendiam que a lei Jeovística era a reguladora da relação entre o ser humano e seu próprio corpo (Nm 12:10)

A Nova Dispensação, sob a égide do Cristo, trouxe a Graça para substituir a Lei, o Amor para suplantar e tomar o lugar do medo. “E tomado pela compaixão, Ele estendeu a mão e tocou-o, dizendo: Eu quero, sê limpo. E a lepra desapareceu dele e ele tornou-se limpo”. E o leproso, banido da sociedade e isolado devido ao mortal conceito chamado de incurável e intocável, foi capaz, por meio de sua fé, humildade e devoção ao Mestre, de separar os elos do passado e seguiu limpo dali em diante.

Que esta cura é uma simbólica e exaltada preparação espiritual está evidenciada pelo fato de que no Evangelho de São Mateus ela ocorre logo após as palavras do Sermão da Montanha, e pertence a uma das fases mais elevadas no ensinamento esotérico. São Marcos a inclui entre os primeiros trabalhos que sucedem o Rito do Batismo, e São Lucas a coloca logo a seguir ao trabalho profundamente esotérico da Pesca Maravilhosa.

Nem todos os leprosos que se aproximaram do Grande Curador alcançaram a cura, como veremos no caso dos dez leprosos como relatado em São Lucas. Nós podemos entender somente o fato sob a luz de causas passadas. Alguns não foram capazes de quebrar seus elos e ninguém pode fazer isso por nós. Os outros podem nos mostrar o caminho, mas nós mesmos devemos realizar o trabalho individualmente. Não foi difícil para o Mestre ler a aura do pedinte diante de Si e, então, saber que ele estava preparado para saldar seus débitos.

Os Dez Leprosos

(Lc 17:11-19[19])

Nesse caso, o Mestre fez uma demonstração do fato familiar a todos os esoteristas que o ser humano decreta sua própria doença e seu próprio tempo para a cura. Os dez leprosos se aproximaram do Mestre e pediram a Sua misericórdia. Seu amor e sua ternura compassiva os envolveram a todos igualmente, mas apenas um voltou – curado.

Paracelso atesta a universalidade da Lei da Cura quando ele declara: “Nenhuma doença é incurável, exceto quando a morte está presente. Na sabedoria do futuro todas as doenças terão um fim. Os processos regenerativos em uma doença são devidos ao Eterno que existe no ser humano”.

A cura dos dez leprosos é registrada apenas no Evangelho de Lucas. Dez (10) é o número de equilíbrio e o Evangelho de Lucas é um tratado importante sobre o assunto para o esoterista.

O Endemoninhado de Cafarnaum

(Mc 1:23-26[21] e Lc 4:31-37[22])

Há muita controvérsia entre os estudiosos da Bíblia sobre o aumento da crença da possessão demoníaca ocorrido na Palestina, no tempo de Cristo. Os ocultistas sabem, todavia, e não é sem fundamento histórico, que a demonologia era um tema muito familiar dos judeus daquele tempo, como também o era o conhecimento dos seus efeitos sinistros e de longo alcance. Os membros do Sinédrio[23] eram obrigados a conhecer trabalhos de magia, assim como saber lidar com as questões a ela concernentes. A possessão demoníaca estava incluída nessa categoria, além de ser bem conhecida como a causa de muitas doenças. Rabinos e sacerdotes eram instruídos nas artes do exorcismo. E mais, devido a isto, através de todo o Império Romano, a palavra “Judeu” era sinônimo de “mágico”, o que nos ajuda a compreender as frequentes cargas de feitiçarias que eram lançadas contra as nascentes comunidades Cristãs.

A obsessão era prevalecente e de crescimento marcante no mundo inteiro (e não só na Palestina), que estava entre as sete grandes razões para a vinda do Cristo, particularmente naquele tempo, a fim de quebrar o elo entre os seres humanos e os maus espíritos desencarnados, bem como com os espíritos elementais, limpando e purificando as correntes do Mundo do Desejo, e tornando assim a humanidade mais suscetível a um novo e mais elevado impulso evolutivo. A expulsão de demônios ocupou, consequentemente, um lugar de destaque no ministério de cura definitiva[24] do Messias, e sua importância é acentuada como essencial para o elevado treinamento de Seus Discípulos.

Os escritores dos Evangelhos trataram a obsessão de forma particular, sob diferentes aspectos e de modo variado, entre cada descrição daquele mal. As obsessões são, ainda hoje, males predominantes entre povos primitivos, e reconhecidas frequentemente por missionários, muito dos quais têm descoberto o poder do exorcismo usando o nome de Cristo-Jesus. A Senhorita Mildred Cable[25], uma missionária na China, fez observações muito interessantes relativas à obsessão, descritas como se segue:

“Nossa primeira paciente mulher em Hwochou Opium Refuge ficou interessada pelos Evangelhos, e em seu retorno para casa destruiu as imagens, reservando, entretanto, os santuários de ídolos belamente esculpidos que ela colocou no quarto do seu filho. Depois de, aproximadamente, seis meses nós fomos enviados por um mensageiro especial para ver a esposa do filho que tinha ocupado esse quarto. Quando nós chegamos, a garota estava cantando a estranha nota menor do possuído, a voz, como em todos os casos que eu vi, distinguindo-a claramente da loucura. Isso pode, talvez, ser melhor descrita como uma voz distinta da personalidade de alguém possuído. Parece como se o demônio usasse os órgãos da fala da vítima para o transporte da sua própria voz. Ela recusava usar roupas ou se alimentar, e por meio da sua violência aterrorizava a comunidade. Imediatamente quando nós entramos no quarto, ela parou de cantar, e bem devagar apontou o seu dedo para nós, permanecendo nessa postura, durante um tempo. Como nós nos ajoelhamos sobre o kang[26] para orar, ela tremeu e disse: ‘o quarto está cheio de givei (um termo usado pelas pessoas comuns de lá para indicar desencarnados que recebem de cada família certas oferendas)’. ‘Assim que um vai, outro chega’, ela disse. Nós nos esforçamos para acalmá-la e fazê-la repetir conosco: ‘Senhor Jesus, salve-me’. Depois de um esforço considerável, ela conseguiu pronunciar essas palavras, e quando ela assim o fez, nós ordenamos que o demônio a deixasse; seu corpo tremia, e ela espirrou umas cinquenta ou sessenta vezes; então, de repente, ela veio a si mesma, pediu roupas e comida e parecia perfeitamente ter retomado bem o seu controle. Tão insistentemente reiterou a afirmação de que os demônios estavam usando o santuário do ídolo como refúgio, que durante o processo que acabamos de mencionar, seus pais entregaram voluntariamente aos Cristãos presentes essas esculturas, e se uniram a eles para destruí-las. Daí em diante ela estava perfeitamente bem, uma jovem normal e saudável”.

Entre as curas definitivas individuais realizadas por Cristo-Jesus, e descritas no Novo Testamento, sete são de endemoninhados: cinco homens, um menino e uma menina. Em cada um desses casos o Mestre usou métodos específicos e diferentes para obter a cura, os quais enriquecem os estudos cuidadosos do curador definitivo espiritual. Como foi dito anteriormente, Cristo estava empenhado não só em curar definitivamente os enfermos, mas, ao mesmo tempo, em instruir Seus Discípulos como desenvolverem o mesmo trabalho por Ele realizado, e quando Ele os enviou dois a dois nos longos caminhos do serviço, Ele deu-lhes o poder sobre os espíritos impuros (Mc 6:7).

O primeiro ato de exorcismo é relatado por São Marcos e São Lucas, e ambos o citam entre os primeiros eventos do ministério da cura definitiva. Ocorreu em um domingo, na sinagoga, em Cafarnaum na Galileia. Cafarnaum era também conhecida como cidade de Jesus, porque Ele a utilizava como lar sempre que saía de Nazaré. Tornou-se também a cidade de quatro de Seus mais chegados Discípulos, e cenário de muitos de Seus grandes trabalhos.

As palavras que o Mestre endereçava aos endemoninhados mostram-nos, claramente, que ele falava não ao homem propriamente dito, mas a outro ser que, temporariamente, se apossara interiormente daquele homem.

É certamente digno de nota que todas as entidades obsessoras conheciam o Cristo, reconheciam Seu poder sobre elas, e sentiam que elas teriam que sujeitar-se-á Sua vontade para sempre. Essa entidade clamou: “Que temos nós contigo, Jesus de Nazaré?” E, em resposta a firme determinação do Cristo, “Cala-te e sai dele!”, a entidade obedeceu-O e, de acordo com São Lucas, o médico, deixou o corpo daquele homem. Então, todos os que viram este fato falavam sobre uma nova autoridade, e sobre a lei de cura definitiva introduzida por Cristo, dizendo: “Ele ordena aos espíritos imundos e eles O obedecem”.

Neste caso, o espírito obsessivo parecia ter a inteligência de um ser humano, ainda apegado à Terra e aos prazeres dos sentidos, o que conseguiria somente usurpando os órgãos de um Ego incorporado. Daí poder utilizar-se da laringe humana e falar, além de usando o corpo possuído, parecer um humano, embora repleto de maldade.

O Surdo-mudo Endemoninhado

(Mt 9:32-33[27])

No caso do surdo-mudo endemoninhado o demônio possuidor controlava os órgãos da fala e da audição, privando-o de seu uso. Tão logo expulso o mal, o homem pode falar e ouvir de novo normalmente. Então as pessoas que assistiram o evento chamarem Jesus de “Filho de Daniel” e de “Filho de Deus”.

A cura da obsessão ou expulsão de demônios acontecerá novamente, como nos tempos de Cristo, e transformar-se-á em um dos principais ministérios de cura definitiva[28] na Nova Era. Atualmente a obsessão é raramente curada definitivamente, porque é muito pouco entendida, em geral sendo classificada erroneamente como insanidade ou como várias desordens nervosas. Para obter sucesso com esta forma de doença, o curador deve possuir um elevadíssimo grau de espiritualidade. Muitas pessoas que estão confinadas, hoje em dia, em asilos para doentes mentais são deploráveis exemplos de obsessão. Geralmente este terrível mal é fruto de uma causa passada e frequentemente o resultado direto da prática do hipnotismo. Não há pecado maior que a privação, ainda que momentaneamente, da livre vontade de um Ego, sua mais inestimável herança.

O Endemoninhado Geraseno[29]

(Mt 8:28-32[30]; Mc 5:1-20[31] e Lc 8:26-39[32])

“Seu nome é Legião”. Esta cura é de especial interesse uma vez que é descrita em São Mateus, São Marcos e São Lucas, com ligeiras variações de acordo com a fase de desenvolvimento que cada escritor deseja enfatizar. São Paulo aconselha os neófitos orarem sem cessar e, novamente, a vestirem completamente a armadura de Deus, ou em outras palavras, manterem-se totalmente envoltos na aura da oração. Isto é muito necessário ao aspirante quando inicia suas primeiras investigações nos planos internos. Este, então, é confrontado por testes muito mais sutis do que aqueles que ele enfrentou no mundo físico exterior, onde os maus impactos são amortecidos pela matéria densa. Nos planos interiores não existe esta barreira protetora. Há uma profusão de pensamentos, palavras e atos negativos que são constantemente gerados e postos em movimento sobre a Terra, enquanto outros são fortalecidos e usados como canais magnéticos de aproximação a espíritos terrestres que estão ainda imersos no mal de suas recentes vidas físicas.

Sucede que, frequentemente, essas entidades obsessoras apossam-se de alguém que não sabe como controlá-los ou comandá-los. A ajuda do Mestre é então necessária como neste exemplo bíblico: “Sai deste homem, espírito impuro”, ordenou o Cristo. Os maus espíritos não causam danos àqueles que são corajosos e amorosos e àqueles que sabem como usar o Nome de Cristo Jesus, o Sagrado NOME que é um talismã, quer nos planos internos, quer nos externos.

Assim que o Mestre soube o nome do espírito obsessor, este ficou totalmente sob Seu poder, e não teve escolha senão obedecê-Lo. Este foi um caso mais difícil que os anteriormente discutidos, onde o grande Mestre estava instruindo Seus Discípulos no poder secreto (vibração) existente nos nomes e como esse poder pode ser usado na cura e na elevação (física e/ou espiritual).

O homem de Gerasa (ou Jerasa) era controlado alternativamente por muitos demônios, todos exibindo as mais destrutivas características. A pobre vítima, em sua agonia e desespero, cortava-se com pedras, afligia e dilacerava seu próprio corpo. A transformação foi instantânea e completa. Com violência, a besta demoníaca foi possuída de grande medo e retirou-se; e o homem transformou-se em um ser humano normal, e sentou-se como uma criança aos pés de Jesus. Quando o Mestre retornou ao barco, ele O seguiu, somente pedindo-Lhe para permanecer perto de Sua maravilhosa Presença. Reconhecendo sua total dedicação, o Mestre indicou-o como Seu apóstolo e testemunha entre as pessoas daquelas terras; e em obediência aos desígnios do Mestre ele testemunhou em Gerasa e em todas as outras cidades de Decápolis as maravilhosas coisas que aprendeu com Cristo-Jesus e Seus trabalhos.

No antigo simbolismo Egípcio, o suíno era identificado como Marte, a natureza inferior e passional do ser humano. A presença de uma enorme quantidade de porcos, neste caso, talvez seja mais uma reminiscência de um ritual de cura para a obsessão, da antiga Babilônia, na qual a imagem de um animal, usualmente um porco, era colocada ao lado do paciente antes de o curador iniciar o exorcismo; esta inclusão tinha como finalidade determinar que o demônio penetrasse na imagem, que posteriormente era destruída. O Grande Senhor da Vida e do Amor jamais condenaria inocentes animais à morte. O que ele fez foi com que os maus espíritos retornassem ao seu próprio elemento, simbolizado pelo bando de porcos (vara). Ele não veio para destruir o mal, mas para ensinar-nos como elevá-lo com grande poder e transmutá-lo em bem, pois o maior pecador deve, certamente, transformar-se no maior santo.

Este acontecimento da legião de demônios ocorreu quase que imediatamente após o Mestre haver mostrado os poderes de Sua altíssima Iniciação sossegando as águas e acalmando a tempestade.

A Cura de um Endemoninhado aos Pés do Monte Hermon

(Mt 17:14-21[33]; Mc 9: 14-29[34] e Lc 9:37-42[35])

Imediatamente após o glorioso Rito da Transfiguração (que foi testemunhado somente pelos mais avançados Discípulos: Pedro, Tiago e João), ocorreu a mais difícil de todas as curas de obsessão, e que os Discípulos, por si sós, seriam incapazes de realizar.

Embora os Discípulos já houvessem exorcizado com êxito muitos espíritos maus, eles ainda não tinham força suficiente diante desse último. “Frequentemente, tem-se que atirá-lo ao fogo e dentro da água, a fim de destruí-lo”. Eis uma chave mística. Esse menino, na vida anterior, fora um seguidor dos Mistérios, trabalhando nos Templos com os dois elementos: fogo e água. Sem sombras de dúvidas ele fez mal-uso de seus poderes e dedicou-se à magia negra, daí nessa vida, “desde criança” ter ficado sob o controle das poderosas forças do mal emanadas das Irmandades Negras. Por essa razão os Discípulos, apesar de seu elevado desenvolvimento, não podiam livrá-lo daqueles laços. Somente o Mestre, superior a todas as artes negras, podia realizá-lo.

“Por que não pudemos expulsá-lo?” – Perguntaram-Lhe os Discípulos quando Ele retornou. “Esta casta não é expulsa senão com muita oração e jejum”. Em outras palavras, é somente por meio de uma vida de completa dedicação à pureza que o tenaz aperto dos magos negros pode ser quebrado.

Este caso é, geralmente, conhecido como epilepsia. É significativo, neste momento, notar que Areteu[36], em seu Tratado sobre Doenças Crônicas considera a epilepsia como uma doença infame, porque ele pensava ser ela infligida somente sobre as pessoas que houvessem pecado contra a lua. Em seu livro “Os dias críticos”, Galen[37] afirma que a lua governa os períodos de ataques epiléticos (Os Milagres e a Nova Psicologia, Micklen).

O Homem Curado de Paralisia

(Mt 9:2-7[38]; Mc 2:3-12[39] e Lc 5:18-26[40])

Estudando a Bíblia vemos que o ensinamento explicita que o pecado, ou o agir erroneamente, é a causa direta das doenças. De acordo com o Livro do Levítico, a lepra era o resultado da calúnia. Miriam, certa feita, viu surgir-lhe a lepra logo depois de ter falado mal de Moisés durante os anos no deserto (Num 12).

Entre os primeiros cristãos acreditava-se que “as doenças provinham de sete pecados: calúnia, derramamento do sangue no fluxo menstrual, falso testemunho, falta de castidade, arrogância, roubo e inveja”. Cristo Jesus enfatizava, frequentemente, as mesmas verdades em Suas conversas com os Doze Apóstolos, como no caso em que, após curar um paralítico disse: “Tem ânimo, meu filho, teus pecados estão perdoados. Levanta-te toma o teu leito e vá para tua casa”, “Ele lhes perguntou: “O que é mais fácil dizer: teus pecados estão perdoados ou dizer levanta-te e anda?”.

A cura definitiva[41] só é alcançada no final do ciclo de causa, onde a doença é a parte conclusiva. Cristo-Jesus podia facilmente, devido aos Seus poderes cósmicos, curar instantaneamente qualquer pessoa de qualquer doença. Entretanto, se o enfermo não houvesse aprendido a lição concernente aos seus erros, sua enfermidade cedo ou tarde reapareceria. Somente quando o Átomo-semente no coração, que carrega a gravação de todos os esforços mal direcionados (pecados), tiver sido purificado pela repetição, reforma e restauração, Cristo dirá “Levanta-te, estás livre”. Isso porque o Mestre pode mandar “Levanta-te e anda”, mas somente o próprio ser humano pode tornar isso possível, a fim de que Ele declare: “Teus pecados estão perdoados”.

A paralisia, como todos os curadores espirituais sabem, é o resultado de alguma forma de medo. Um profundo e intenso medo centrado na Mente subconsciente[42], talvez por muitas vidas, impede e diminui as funções vitais, até que, finalmente, o corpo físico torna-se inerte e não responde mais às comunicações do Ego: ele se transforma em um paralítico.

Foi imediatamente após essa inspirada cura que aconteceu a chamada de São Mateus, que, entusiasmado com essa sublime manifestação do grande poder de cura do Mestre, renunciou, por vontade própria, à todas as coisas pertencentes a vida pessoal dele anterior, e alegremente O seguiu. Os posteriores eventos ocorridos em sua vida de apostolado dão ênfase e evidência de quão completa e inalterável foi sua dedicação.

A Cura Definitiva da Sogra de Pedro

(Mt 8:14-15[43])

Após a cura definitiva[44] do endemoninhado na sinagoga, em Cafarnaum, em um Dia do Sabbath, Cristo-Jesus retornou à casa com Pedro e André, acompanhado de Tiago e João. A casa estava toda enfeitada e o candelabro de sete braços estava aceso para a Santa Ceia, o almoço ao meio-dia. Essa festividade semanal fora idealizada especialmente para homenagear a presença do amado Mestre. Todavia, quando eles chegaram à casa, como Lucas descreve em seu Evangelho, “a sogra de Pedro estava acamada ardendo em febre”. Ele “acercou-Se dela e desaprovou a febre e essa a deixou, e tomando a mulher pela mão levantou-a, e ela imediatamente passou a servir a todos”.

Em cada evento de cura definitiva o grande Médico utilizava a Palavra de Poder, e, algumas vezes, aumentava esse Poder com o toque de Suas mãos. As mãos são portadoras da cura definitiva e do serviço. Quando o centro do coração é despertado, as mãos tornam-se poderosos canais para as forças de curas definitivas interiores.

Lágrimas, frio e condições físicas semelhantes pertencem ao elemento água, podem ser traços da falta de controle da natureza emocional. A febre relaciona-se com o elemento fogo e origina-se na falta de controle da natureza passional. Pensamentos destrutivos ou negativos, e mesmo a insanidade, pertencem ao elemento ar e representam uma falha no controle de algum processo mental (especialmente a imaginação), e estão intimamente ligados às energias criadoras. O corpo físico é a placa de ressonância dos veículos internos que registra fielmente tanto as notas dissonantes como as harmoniosas.

Cada enfermidade se correlaciona com um dos quatro elementos. Nenhuma doença do fogo pode existir nas forças da água, nem pode qualquer fraqueza relativa à água existir no elemento fogo. Todos os venenos originam-se no fogo e estão centrados no Corpo de Desejos, motivo pelo qual o espírito desses venenos não tem nenhuma força quando os desejos inferiores são transmutados. Para tal, aos Discípulos de Cristo que tinham completado a transmutação, Ele dizia: “Vocês poderão ingerir qualquer bebida mortal e ela não lhes fará mal algum”[45].

A febre é um meio de purificação por meio do Fogo, um processo de purificação da natureza dos desejos carnais. A experiência da sogra de Pedro foi uma dedicatória daquela mulher que imediatamente “levantou-se e pôs-se a servir”.

O amor, o serviço e o sacrifício formam o tríplice caminho que conduz ao trabalho de criação da espiritualidade do verdadeiro discipulado.

Cura da Filha de uma Mulher Cananeia

(Mt 15:21-28[46] e Mc 7:24-30[47])

Cristo-Jesus se retirou por um tempo e desejava que ninguém soubesse onde Ele tinha ido. São Marcos escreve que embora Cristo-Jesus tenha se isolado, pois “entrou em uma casa e não queria que ninguém O visse”, ainda assim, “Ele não pôde Se ocultar”. A compaixão de Seu grande coração sempre abarcava todo infortúnio e sofrimento e, então, Ele não podia permanecer distante quando Seu socorro fosse requisitado. E Ele jamais se ocultaria daqueles que O buscavam sinceramente, nem deixaria de dar atenção a um honesto pedido de ajuda em qualquer plano. “Creiam-Me, Eu estarei sempre com vocês”; é Sua promessa.

Uma mulher fenícia, de nome Justa, de acordo com os escritos de Clementino, viajara cerca de duzentos e cinquenta quilômetros ou mais em busca de Sua ajuda para a filha dela. Ela era seguidora do culto de Astarte, a deusa Lua, mas a fama do Divino Curador chegara até ela em sua longínqua moradia, e quando ela chegou ao local onde estavam os Discípulos, implorou-lhes que intercedessem por ela junto ao Mestre.

Ela foi levada diante de Sua Presença. Em resposta aos seus rogos, disse-lhe Ele: “Não fica bem tirar o pão dos filhos e atirá-lo aos cachorrinhos” – e nessas palavras podemos notar o nível espiritual daquela mulher. Ela não pertencia ao círculo interno de Estudantes, portanto, não estava preparada para receber o pão (ensinamentos profundos) dos filhos (grupo fechado). Ela havia feito, entretanto, a completa renúncia, e seguiria no Caminho que a levaria àquele círculo hermético, haja vista sua reposta: “Isso é verdade, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos!”.

Sua dedicação foi aceita e sua filha foi instantaneamente curada, tendo em vista o que declarou o Mestre: “Mulher, grande é a tua fé! Seja feito como queres!”. Estas palavras carregam a elevada promessa da conquista que mais tarde ela alcançaria.

Nesta cura Cristo-Jesus demonstrou aos Seus Discípulos que, em verdade, o Espírito é todo-poderoso e que transcende a todas as barreiras de tempo e espaço. A menina foi curada por Sua palavra, muito embora ela estivesse a centenas de quilômetros de distância, e sem que Ele tivesse tido qualquer contato anterior com ela.

, humildade e devoção sem reservas, abrirão sempre a porta para todo o aspirante neófito: “Grande é a tua fé! Seja feito como queres!”.

O Homem Curado de Hidropisia

(Lc 14:1-6[48])

Cristo-Jesus, o Senhor do Amor, centralizou Seu serviço na suprema Lei que é o AMOR. Ele não perdia nenhuma oportunidade de ensinar e demonstrar esta verdade fundamental sempre e onde Ele podia. Nesta ocasião, como no Sabá[49] anterior, Ele procurou ensinar aos literalistas a preeminência do Amor sobre o código rígido e formal que continha somente a Lei que eles conheciam. Isso Ele conseguiu curando definitivamente um homem com hidropisia, contrariando as leis sabáticas que os literalistas interpretavam como proibição de qualquer tipo de trabalho no Sabá, ainda que fosse o divino serviço de qualquer tipo de cura.

A observância do Sabá foi um dos muitos costumes que os Hebreus herdaram da Caldéia. Os caldeus contavam cinco Sabás por mês e foram eles que dividiram o período semanal em sete dias, dedicando-os ao Sol, à Lua e aos demais Planetas. Essa divisão de tempo era usada na Caldéia desde os tempos de Abraão, que, como Príncipe dos Caldeus, deve ter-se familiarizado com isso antes de ouvir a Voz da Nova Revelação, chamando-o para seguir para a nova terra. Um calendário Assírio explica que Sabá significa “a conclusão de um trabalho, o dia de descanso da alma”. E determina que é ilegal cozinhar, trocar de roupas ou mesmo oferecer qualquer sacrifício no Sabá; e ao rei era proibido falar em público, dirigir sua carruagem, ou executar qualquer tipo de dever militar ou civil e ainda tomar remédio nesse dia.

Como havia cinco Sabás Babilônicos em cada mês, algumas vezes havia mais de um em uma só semana. Estes Sabás, entretanto, não eram dedicados a nada em particular, mas caíam, regularmente, nos sétimos, décimo quarto, décimo nono, vigésimo primeiro e vigésimo oitavo dia do mês, indiferentemente do dia da semana em que essas datas caíssem. Então as deidades astrais recebiam suas homenagens em sucessão regular, obedecendo a sequência de um Sabá mais sagrado do que um outro, em que uma especial reverência era devida a determinados deuses nos locais a eles sagrados desde remota antiguidade. Não só os assírios e judeus, mas também os fenícios mantinham a observância do Sabá babilônico.

É significativo que desses Sabás os judeus selecionaram para uma observância especial somente o Dia de Saturno (em inglês: Saturday e em português Sábado), o sétimo dia da semana. Sete é o número do término, envolvimento, descanso e da assimilação. Então, com o passar do tempo, suas leis Sabáticas expressaram mais e mais a rigidez dos princípios Saturninos em seus aspectos negativos ou formais. Cristo-Jesus veio trazer uma nova declaração, o poder e a luz de um Novo Dia e de uma Nova Era, baseada no Princípio Solar. Geralmente, é notado pelos Estudantes de astrologia que, na matéria em questão, a palavra “Satã” é derivada de Saturno, e no idioma árabe, “Shaitan” que significa “Aquele que se desespera”. O Árabe e o Hebreu têm muita semelhança assim como acontece com o Espanhol e o Português.

O Dia do Sol, regido pelo Cristo, carrega consigo um profundíssimo significado que a maioria dos indivíduos não compreende. O Sol é o centro da vida, da luz e do amor para o Sistema Solar inteiro e ao qual o Planeta Terra pertence. O Dia do Sol, portanto, deveria ser o dia em que nós nos dedicássemos em nos transformar em sóis em miniatura, centros de irradiação de amor, luz e felicidade tão extensa quanto nossa influência alcançasse.

Domingo é o primeiro dia, o Novo Dia, o princípio de uma nova semana, um momento para a assimilação das essências da alma extraídas das experiências da semana anterior; e essa assimilação é o ponto de partida de um novo processo, para o qual a pedra alquímica é um extrato. As novas Leis Solares de fraternidade, igualdade e unicidade que o Mestre defendeu, e que Ele imortalizou nos Sermão da Montanha, são ainda, mesmo tendo passado mais de dois mil anos, o centro de controvérsias onde quer que haja um indivíduo ou um grupo de indivíduos que tenha captado a visão de seu sentido e tenha conseguido colocá-lo em prática todos os dias de suas vidas. Tivesse a humanidade seguido as Leis Solares de Cristo em lugar das leis de Saturno dos escribas e fariseus o mundo não seria um lugar tão penoso como o é hoje.

Em outro Sabá, o Mestre tentava ensinar a supremacia do Amor sobre a Lei quando ele curou definitivamente e em público um homem com a mão atrofiada. Neste dia de Sabá Ele procurava atenuar o obscurantismo farisaico, curando definitivamente um homem com hidropisia na casa de um dos líderes fariseus, onde Ele fora participar do sagrado almoço de Domingo, mas seus corações e suas mentes estavam fechados para Seus ensinamentos, daí seu destino foi o de terem perdido todas as coisas colocadas diante deles pelo Cristo. A mesma sina aguarda os atuais seguidores das leis farisaicas, sejam judeus, cristãos ou pagãos.

Na lição que o Cristo provê imediatamente após a cura definitiva do homem com hidropisia Ele transmite e fornece a sutil ideia sobre sua causa e sua cura final. E isto é encontrado na parábola da humildade onde Ele adverte aqueles que vêm ao banquete para se contentar com os lugares mais inferiores até serem convidados pelo anfitrião para ocuparem lugares mais elevados. Ele, então, adiciona a fórmula para alcançar a verdade espiritual que todos os Senhores da Sabedoria têm guardada desde o princípio dos tempos, mas que, mesmo nos dias de hoje, é a mais difícil para o aspirante aceitar e seguir: “Pois todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado” (Lc 14:11).

A Cura Definitiva de um Homem com a Mão Atrofiada

 (Mc 3:1-5[50] e Lc 6:6-10[51])

Complementando os ensinamentos das profundas verdades ocultas através dos Seus serviços de cura definitiva[52], o Mestre também deixou algumas verdades práticas consistentes com a vida diária, como no caso do homem com a mão atrofiada. Suas palavras e atos não eram apenas para as pessoas de Seu tempo, mas para serem igualmente aplicados às necessidades do ser humano atual.

Os escribas e fariseus estão sempre conosco, e algumas vezes eles estão até dentro de nós. A intolerância e a condenação da ação dos outros são farisaicas. Ao vivermos apenas em estrito acordo com a letra da lei, nós estamos relegando o perdão, a compaixão e o amor a um segundo plano, que é a característica daqueles literalistas que o Mestre reprimia tão frequente e severamente.

Porque era Sabá, os fariseus se opuseram às atividades de cura definitiva que estavam sendo realizadas. O compassivo Mestre ficou triste devido à dureza de seus corações e os inquiriu: É permitido, no sábado, fazer o bem ou fazer o mal? Salvar a vida ou destruí-la?”. Eles, porém, permaneceram calados diante da Sua questão. Muitas vezes o poder de nosso Cristo interno é subjugado pela rígida aderência à regulamentos que excluem a equação pessoal de piedade, amor e serviço exterior como preceitua o Caminho.

Em toda cura espiritual definitiva a fé é a essência primordial. Foi com muita frequência que Cristo usava esta palavra em Suas atividades; em outros casos, Ele fazia com que o paciente a demonstrasse. Ao homem com a mão atrofiada foi dito: “estenda-a”. Sem qualquer pensamento de recusa, o esforço foi feito – e sua mão se moveu e foi restabelecida completamente.

Nos anais da Maçonaria Mística conta-se esse mesmo caso como relatado por São Lucas, mas adicionando que a mão afetada e sem utilidade era a mão direita. As duas mãos simbolizam os dois caminhos do serviço nos Mundos ocultos. O ser humano, em seu estágio materialista atual, assassinou violentamente a força do Amor, permitindo-a murchar com o desuso. Quando o Supremo Senhor do Amor apareceu, Ele despertou o coração, e assim o fogo daquele coração como que queimou seus caminhos para fora até as mãos, e seu membro atrofiado foi curado definitivamente e tornou possível, uma vez mais, a manifestação do construtivo trabalho no mundo.

É significante notar essa conexão de que a mão atrofiada foi curada no interior do Templo.

A Cura do Servo de um Centurião

(Mt 8:5-13[53] e Lc 7:1-10[54])

A história do Centurião de Cafarnaum está relatada tanto em São Mateus como em São Lucas. Este homem, investido de autoridade militar do governo romano, já havia aprendido, em seus contatos mundanos, a praticar dois princípios que o Mestre agregara aos ensinamentos de seus Discípulos, a saber, humildade ou auto esquecimento e fé vigorosa; verdadeiramente uma conquista inigualável. Assim, ele se qualificara também para seguir o Caminho, e fazer-se, imediatamente, recebedor da atenção e as mercês do Mestre. “Eu vos afirmo que nem mesmo em Israel vi tanta fé” foram as palavras do Mestre, descritivas do Centurião. O servo do Centurião, a quem este queria muito bem, encontrava-se doente, e ele havia enviado amigos para pedirem ajuda ao Grande Curador, uma solicitação prontamente atendida. Quando os mensageiros retornaram a casa, eles encontraram o servo com saúde.

Uma vida dedicada e centrada na humildade e serviços aos demais é a fórmula de trabalho para ao sucesso do discipulado, e seus resultados são sempre produtivos como demonstrado na resposta do Mestre à solicitação do Centurião.

Neste caso, nós temos outra instância de cura à distância, como vimos na história da mulher Cananéia e sua filha. O Espírito envolve todas as coisas e todos os lugares em sua manifestação ativa ou positiva, e a matéria é também Espírito, e a forma dos seres é o resultado das cristalizações em torno do polo negativo do Espírito, que é o Espaço. Por este motivo, os ocultistas declaram que Deus é Espírito e que nenhum ser humano pode ser, em realidade, d’Ele separado. A separação do Ser Humano de Deus, Matéria do Espírito, nada mais é que uma ilusão; a Unidade é a realidade, e o conceito de Unidade desenvolve-se em consciência, e daí a cura torna-se possível. Isto é o que Cristo demonstrou e ensinou aos Discípulos quando efetuou curas, mesmo estando o paciente bem distante.

O versículo oito[55] é uma descrição esotérica do longo e crescente treinamento preparatório que leva à conquista de si mesmo. Os soldados e servos são as faculdades interiores de cada ser humano. Quando um aspirante hodierno afirma: “Eu digo a alguém, vá e ele vai: e a outro vem, e ele vem; e ao meu empregado faça isto, e ele faz”, então ele também está preparado para receber as graças e benesses do Mestre e tornar-se consciente de que sua vida e seu serviço têm-se tornado fortalecidos a tal ponto de penetrar na aura de Sua divina e protetora Presença.

A Cura da Mulher Encurvada

(Lc 13:10-13[56])

Novamente o ministério de cura continuou em um Sabá[57], em uma Sinagoga, e uma vez mais os líderes cegos pela cegueira espiritual continuaram a demonstrar sua rígida aderência às letras da lei enquanto se olvidavam do Espírito nela contido.

Esta cura refere-se a uma mulher que era incapaz de se manter em posição normal, ereta, havia já dezoito anos. Esotericamente, as curas que ocorreram na Sinagoga e no recinto do Templo têm todo um significado especial oculto não encontrado em outras ocasiões. Cabalisticamente, dezoito é a soma de um mais oito, que dá nove, que é o número da liberdade, da liberação e da iluminação. Essa mulher vivia inclinada para a terra (mortalidade), mas, agora, tendo encontrado o Cristo ela se liberta, se ergue, centrada não mais na vida mortal, mas no caminho do Espírito. “Ele lhe impôs as mãos e, instantaneamente, ela se endireitou e glorificava a Deus”.

Na escolha de Seus Discípulos, invariavelmente, as Escrituras dizem: “Ele os chamou e eles vieram até Ele”. É nessa passagem que nós descobrimos o primeiro requisito do Discipulado. Ele chamou e essa mulher veio e ela encontrou a “Luz que ilumina todos os homens”. Ele a chamou, Ele lhe falou, Ele lhe ensinou. Esses são os três primeiros passos dados por quem está preparado para receber um elevadíssimo acréscimo de consciência, e esses passos indicam abertura de seus sentidos às faculdades espirituais por meio dos quais o neófito descobre um novo mundo dentro de si mesmo e dentro da natureza.

A mulher que O tocou

(Mt 9:20-22[58], Mc 5:25-34[59] e Lc 8:43-48[60])

São Mateus, São Marcos e São Lucas contam a estória de uma mulher que sofria de uma enfermidade já por doze anos, e que se encontrava entre as muitas pessoas que se acercavam e se aglomeravam esperando que o Mestre passasse a caminho da casa de um nobre chamado Jairo.

“Se eu puder tocar suas vestes eu estarei totalmente curada”. Essas palavras atribuídas à mulher fazem parte de um mantra iniciatório. As vestes representam o Corpo-Alma em contraparte à personalidade. Para a cura total é necessário passar-se por meio dos portais da Iniciação, onde o neófito não mais “vê através de um espelho escurecido, mas face a face”.

Essa mulher e sua cura representam a elevação do polo feminino e com toda legitimidade pertence ao processo iniciatório, simbolicamente descrito na ressurreição da filha de Jairo. No mesmo sentido, a ressurreição do Filho da Viúva lida com o soerguimento do polo masculino e é uma parte do processo iniciatório descrito na Ressurreição de Lázaro.

A filha de Jairo tinha doze anos de idade. A mulher enferma foi afligida por sessenta e dois anos. As duas ocorrências são relatadas juntas nos três Evangelhos sinóticos.

A fim de entendermos o significado esotérico sublinhado na cura dessa mulher que foi afligida com um fluxo de sangue durante a maior parte de sua vida, vamos dar uma olhada no antigo ensinamento sobre o mistério do sangue. Goethe[61] nos diz que “o sangue é a mais peculiar de todas as essências”, e sua taxa vibratória indica o estado esotérico de cada indivíduo. O fluxo de sangue é o grande higienizador e purificador da natureza dos desejos. Aquele que está preparado para o elevado trabalho espiritual como um profeta, professor ou curador, frequentemente, suporta alguma experiência onde há uma grande perda de sangue. Após essa limpeza, ele encontra menos dificuldades para acalmar a natureza sensual, e silenciar os clamores de seu apetite. O sangue vermelho representa a natureza carnal e materialista do ser humano. Ao final, através da transmutação, o sangue se transformará em uma brilhante essência branca.

Toda doença no sangue se correlaciona com o elemento Fogo, e sempre resulta de uma estimulação demasiada do Corpo de Desejos, seja na presente encarnação ou em alguma anterior.

O Iniciador é sempre muito consciente de Suas responsabilidades, quando Ele instrui alguém sobre essas verdades veladas. Essa é a única passagem gravada onde Cristo-Jesus chamou uma mulher de “filha”. O Mestre se torna um verdadeiro pai e protetor desse “recém-nascido”.

São Mateus escreve Sua saudação a ela como “Ânimo, minha filha”. São Marcos e São Lucas, “Vá em Paz”. Essa Paz que ultrapassa todo entendimento, posto que só é encontrada como o centro do Bem Onipotente e Onipresente.

Eusébio[62], no sétimo volume de seu livro História Eclesiástica[63], nos diz que ele viu em Cesareia de Filipe[64] uma estátua erigida por essa mulher no portão de entrada de sua casa, representando o Cristo com suas mãos estendidas sobre ela ajoelhada em súplicas diante d’Ele.

A Elevação da Filha de Jairo

(Mt 9:18-19[65], 23-26, Mc 5:22-24, 35-43[66] e Lc 8:41-42,49-55[67])

Essa linda história, que oculta o processo de Iniciação do leitor comum, é pontuada nos três Evangelhos de São Mateus, São Marcos e São Lucas.

A Iniciação é, verdadeiramente, morrer para a antiga vida pessoal e nascer para uma nova. São Lucas nos informa que a filha de Jairo, uma menina de doze anos, “estava à beira da morte”. Mas Cristo disse: “A menina não está morta, mas dorme”. Não existem colocações contraditórias quando interpretadas à luz dos Ensinamentos Ocultos, mas se referem à mesma experiência.

Cristo-Jesus procurou mostrar aos Discípulos a cura de muitas e variadas formas de doenças, suas causas pré-existentes e o método de lidar com cada uma. Na presença de Seus Discípulos mais avançados Ele deu assistência a três outros a alcançarem o iluminado estado da Iniciação.

O Ego que habitava o corpo da filha de Jairo era muito adiantado na evolução. Nela nós encontramos um Iniciado dos Antigos Mistérios, retornando como um dos pioneiros da Dispensação Cristã. Ela fora levada aos planos internos, recebendo os sagrados ensinamentos pertencentes ao mais elevado despertar de consciência, enquanto seus amados parentes mantinham sagrada vigília ao lado de seu invólucro físico. E, no devido tempo, Cristo, na presença dos pais da menina adormecida e de Pedro, Tiago e João (evidentemente aqueles que estavam preparados para entender essas verdades ocultas), assistiram a jovem no retorno e reentrada em seu corpo físico.

O Mestre recebeu a menina, quando esta retornou, com uma expressão de infinita beleza e ternura, revelando uma riqueza de entendimento ao ocultista. São Marcos nos diz que Ele disse: “Talita kum. A palavra ‘Talita’ em Aramaico é um diminutivo que significa “pequena ovelha”. Suas palavras para ela foram, pois “Pequena ovelha, levanta”. Cordeiro ou carneiro são usados nos Antigo e Novo Testamentos para descrever os Iniciados. A maioria dos grandes videntes da Era Mosaica era composta de “Pastores”. O Próprio Mestre veio como o Cordeiro de Deus, e na última Iniciação de São Pedro, Sua nota chave soou como “Alimenta minhas Ovelhas”[68].

No ciclo de vida de um indivíduo, a idade simbólica de doze anos é um ponto crucial para a criança. É quando a natureza dos desejos da juventude inicia seu despertar e as tendências e inclinações de vidas passadas começam a se manifestar. E num momento como esse, como na vida da filha de Jairo, uma “alma velha”, para alguém que teve muitas vidas de experiências na escola terrestre, essa idade marca o desenvolvimento definitivo da natureza espiritual. Em vez de despertar os desejos físicos, ocorre um avivar definitivo dos poderes passados na alma. Assim como alguém que trabalhou definitiva e conscientemente com o processo de transmutação por muitas vidas passadas. Esse foi a caso do menino Samuel quando começou a profetizar, e o caso do Mestre Jesus, quando, também com doze anos, ensinava aos anciãos no Templo. Experiências inspiradoras são claramente comuns mesmo entre adolescentes comuns, e psicólogos têm observado que se um indivíduo não se converte a uma religião nesse período da vida será como ele jamais tivesse tido tal experiência.

É significante observar-se que nos três Evangelhos sinóticos a elevação da filha de Jairo é precedida por casos de exorcismo de maus espíritos.

Nas experiências de Iniciação, a expulsão de demônios nada mais é que o “enfrentamento” com o Guardião do Umbral, que é uma entidade formada pela essência de todo o mal ou ações negativas de vidas passadas, e que o novo Iniciado deve encarar, vencer e dissolver (ao menos em parte) pela transmutação, antes que possa passar aos “reinos de luz” e ser agraciado com um “novo nascimento”.

Jairo era um nobre, um administrador da Sinagoga e, portanto, um homem com muita autoridade. Quando alguém alcança o grau que aquela jovem Iniciada alcançou, quase sempre é filho ou filha de um rei ou de um nobre por ter encontrado e reivindicado a verdadeira herança do Espírito, uma verdadeira demonstração de afinidade com o Pai: “Tudo o que é do Pai é meu”[69].

Tudo o que, nas escrituras, se relaciona com a elevação se refere, na verdade, à latente divindade interior do ser humano, que, quando despertada, transforma-o em um iluminado ou um ser espiritualmente esclarecido. Contudo, muitas das referências bíblicas de pessoas “mortas” ou “adormecidas” se referem às inclinações à materialidade.

Quando o Cordão Prateado, que liga o Ego ao corpo, se romper não será mais possível reanimar o corpo. O Mestre explicava claramente esse fato quando dizia quem tem olhos para ver, quem tem ouvidos para ouvir: “a menina não está morta, apenas dorme”, indicando que o Ego estava ainda unido ao Corpo, e, consequentemente, vivo.

O Filho de um Homem Nobre

(Jo 4:46-53[70])

Vimos que os Evangelhos de São Mateus, São Marcos e São Lucas contêm a história da cura da filha de Jairo, que são narrativas semelhantes, uma vez que simbolizam um dos primeiros e mais importantes trabalhos de purificação a serem alcançados. Não há, entretanto, nenhuma menção deste fato, em São João, porque seu Evangelho, o mais profundo e esotérico dos quatro, lida com trabalhos de importância maior ainda. Em lugar da ressurreição da filha de Jairo, São João nos apresenta a do filho de um homem nobre.

Os Evangelhos, quando estudados esotericamente, revelam o caminho da Iniciação nos Mistérios Cristãos, cada sinal representando algum atributo particular no processo de desenvolvimento. O filho de um homem nobre não é mencionado nos trabalhos de São Mateus, São Marcos e São Lucas. A razão disto pode ser encontrada no fato de que no processo de elevação espiritual o princípio feminino deve ser elevado e restaurado a partir de sua queda, como notado na restauração da filha de Jairo. Uma vez isto acontecido, então segue-se o estabelecimento de seu equilíbrio com o masculino. Os três primeiros Evangelhos dedicam-se ao primeiro caso, São João ao último.

A mística festa de casamento em Caná da Galileia, com que São João abre seu Evangelho, contém profundos ensinamentos considerando-se a harmonização desses dois princípios internos no Corpo do Aspirante à Iniciação. O filho do nobre representa alguém que em sua própria vida tinha realizado o serviço dado pelo Cristo. As Escrituras estabelecem que após a ressurreição o nobre e todos os ligados à sua casa tornaram-se seguidores de Cristo-Jesus.

Através de toda a Bíblia os mais profundos ensinamentos encontram-se ocultos sob uma gravação literal que forma a base dos credos ortodoxos.

Quando o princípio masculino (a cabeça: Hermes), representado pela ressurreição do filho do nobre, que não estava morto, mas próximo da morte, e o princípio feminino (o coração: Afrodite), tipificado na filha de Jairo, que não estava morta, mas dormindo, estão novamente em equilíbrio, a Cruz não estará mais longe de se ser o símbolo do Cristianismo. Ela será representada pelas duas colunas, Joaquim e Boaz, que adornam a entrada do Templo de Salomão e representam o Divino Hermafrodito. O neófito ou candidato não será mais o “Filho da Viúva”, mas se tornará o Mestre que encontrou a Luz no Leste.

A Ressurreição de Lázaro

(Jo 11:1-44)[71]

Os nove Mistérios Menores, também chamados de Mistérios Lunares, nos têm sido dados em algum momento da história do ser humano. A vinda do Cristo introduziu as novas ou Iniciações Solares no mundo, e é a essas grandes verdades, destinadas a servirem à humanidade durante o Grande Ano Sideral que se inicia com o Sol em sua última passagem por precessão através de Áries, que esses Mistérios pertencem. A religião do Cordeiro traz um profundo e enorme significado que, geralmente, não é entendido atualmente.

Lázaro era o mais avançado espiritualmente de todos os Discípulos que estiveram sob a tutela de Cristo-Jesus (Os demais só alcançaram esse estágio no Dia de Pentecostes).

Os religiosos exotéricos atrapalham-se em dizer que Cristo “atrasou-se dois dias” antes de ir socorrer Lázaro. O ocultista sabe que Cristo estava ciente de que somente o corpo de Lázaro estava no túmulo, enquanto o espírito dele se encontrava nos planos interiores recebendo o trabalho iniciatório nos profundíssimos Mistérios Cristãos. O Mestre Jesus fora iniciado nesses Mistérios no Rito do Batismo, e Lázaro, o seguinte em consecução espiritual, quando na passagem de sua suposta morte.

Cristo-Jesus descreveu essa Iniciação nas palavras: “Esta doença não leva à morte, mas à Glória de Deus”. Em outras palavras, Lázaro se tornou o canal mais perfeito para receber e disseminar a glória de Deus sobre a Terra.

Maria e Marta, as duas irmãs de Lázaro, estavam entre as mais avançadas espiritualmente entre as mulheres Discípulas de Cristo. Por isso, estavam habilitadas a tomar parte nessa Iniciação ou Rito da Ressurreição de seu irmão, assim como ocorreu com o pai e a mãe da filha de Jairo. Maria simboliza o caminho místico, ou a fé no coração; Marta, o caminho do ocultismo, ou a mente racional.  A união do coração (amor) com a cabeça (conhecimento) gera a Sabedoria, a verdadeira essência da alma. Lázaro representa essa dupla combinação harmônica, que eleva o neófito a um estado de consciência que é o mais transcendental já possuído pela humanidade comum.

“Marta foi encontrá-lo, porém Maria permaneceu na casa (João 11:20). Marta, a Mente, está sempre procurando a luz através de exterioridades. Maria, o coração, em silêncio, volta-se para seu interior para encontrar os Reinos dos Céus.

Cristo-Jesus disse para Marta: “Eu sou a ressurreição e a vida; aquele que crê em Mim, ainda que morto, viverá; e aquele que vive e crê em Mim, jamais morrerá. Crês nisto? “.

E Marta respondeu: “Sim, Senhor. E acredito que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo”.

Dito isso, ela se retirou e foi chamar, secretamente, sua irmã, Maria, e lhe disse: “O Mestre está aqui, e te chama”.

Essas palavras do Mestre para Marta são chamadas de passaporte humano para a imortalidade. Elas não são palavras dirigidas somente para Marta, irmã de Lázaro; elas são o chamado do Cristo à razão ou Mente racional ou concreta de toda a humanidade. “Transforme-se pela renovação de sua Mente”. Essa é a execução para unir a Mente com o “Eu Sou”, a consciência onde reside a realização da ressurreição à vida eterna.

A gloriosa mensagem da interpretação da Bíblia para a Nova Era é que essa consciência pode ser despertada aqui e agora; não é necessário aguardar a morte para trabalhar nessa transformação. “Aquele que crê em Mim, ainda que esteja morto (para a materialidade) viverá” – em um renovado: corpo, ambiente e conceito de vida – uma ressurreição em um novo ser em todos os planos de consciência. Verdadeiramente um passaporte humano para a imortalidade.

Em João 11:38-39; 41-44 lemos:

38 Comoveu-se de novo Jesus e dirigiu-se ao sepulcro. Era uma gruta, com uma pedra sobreposta. 39 Disse Jesus: “Retirai a pedra! “  (…) 41 Retiraram, então, a pedra. Jesus ergueu os olhos para o alto e disse: “Pai, dou-te graças porque me ouviste. 42 Eu sabia que sempre me ouves; mas digo isso por causa da multidão que me rodeia, para que creiam que me enviaste”. 43 Tendo dito isso, gritou em alta voz: “Lázaro, vem para fora!” 44 O morto saiu, com os pés e mãos enfaixados e com o rosto recoberto com um sudário. Jesus lhes disse: “Desatai-o e deixai-o ir embora”.

Todo grande nascimento tem lugar em uma gruta ou em um estábulo: o Cristo pode nascer interiormente somente por meio de um trabalho de regeneração do “homem inferior”. Em Capricórnio, o Cristo nasce na gruta da natureza inferior pela purificação. Em Virgem, Ele nasce na gruta do coração através da transmutação. “Lazare deuro exo! – Lázaro vem para fora! Desatai-o e deixai-o ir”. Essas palavras místicas carregam a mensagem da vitória espiritual de Lázaro.

Os fariseus e sacerdotes estavam cientes da extensão dos Ensinamentos dos Mistérios. Na verdade, Arthur Weigall, mundialmente renomado egiptologista, já falecido, declarou que suas pesquisas sobre religiões antigas o convenceram que o Novo Testamento descreve um ritual no qual um criminoso condenado foi executado como um sacrifício, como na antiga Babilônia, e que Jesus, quando condenado à morte, foi crucificado de acordo com os mandamentos daquele ritual.

Um caso idêntico na história da Grécia fala-nos de Ésquilo que, embora avisado em sonho por Dionísio por escrever uma tragédia, não obstante foi ameaçado de morte por uma multidão irada onde uma de suas peças estava sendo produzida, sob a acusação de que ele havia revelado alguns segredos dos Mistérios. Ele salvou sua vida refugiando-se no altar de Dionísio na orquestra, e mais tarde, obteve sucesso em provar, diante do Areópago, que ele não tinha conhecimento de que o que dissera era secreto. Jesus, entretanto, não procurou Se defender, uma vez que Ele, propositalmente, revelou os Segredos de Israel, e por sua própria vontade sofreu a extrema punição.

A Elevação do Filho da Viúva de Naim

(Lc 7:11-15)[72]

A elevação do Filho da Viúva, como contada por São Lucas, contém também contornos da iluminação ou cristianização de Lázaro. Naim (o nome de uma cidadezinha) significa Nove, e a morte do Filho da Viúva é mística fraseologia descritiva de alguém que havia trilhado o Caminho tortuoso que o levara da morte (do pessoal) à ressurreição (do impessoal). Daí uma pessoa não ser mais “o filho da viúva”. São Lucas explicitamente estabelece que após ele se elevar Cristo “o entregou à sua mãe”. O equilíbrio entre os dois polos do Espírito, masculino e feminino, foi alcançado. Essa é a suprema conquista dos Mistérios Cristãos, demonstrado nos Ritos dos tempos de outrora, mas consumados nos Mistérios estabelecidos por Cristo. Por isso é que Cristo é a Luz do Mundo, a meta de todos os Ensinamentos antigos. O equilíbrio do Espírito foi perdido sob o velho regime; mesmo os Mistérios se degeneraram tornando-se quase que, em muitos casos, inexpressivos (e frequentemente cruéis) rituais. Cristo-Jesus pontuou o caminho de volta: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. Tornar-se Cristianizado ou Iniciado em Seu nome é o supremo propósito da evolução na Terra.

O filho da viúva é uma expressão alegórica que faz referência a alguém que se esforça em desenvolver as polaridades do Espírito interno. Desde os dias do antigo Egito até nossos dias, os membros da Ordem Maçônica são assim conhecidos.

O “filho da viúva de Naim” se refere a alguém que tenha passado pelos nove Mistérios Menores e agora está preparado (como estava Lázaro) para ser elevado por Cristo às Grandes Iniciações dos Mistérios Cristãos. Isto é ultimado no trigésimo terceiro grau (33; 3 x 3=9). É prefigurado no décimo oitavo grau (18; 1+8=9).

Iniciando com o Grau da Rosacruz (18º grau) e continuando através do 33º grau, o Candidato trabalha definitivamente na transmutação de sua própria personalidade, em seu Templo feito sem mãos, mas eterno nos céus. Esse é seu manto dourado de bodas, ou o perfeito Corpo-Alma. Com a consumação desse Trabalho ele não é mais o Filho da Viúva. A Polaridade é alcançada e sua “cura definitiva” é completa.

A Cura do Homem Surdo e Gago

(Mc 7:31-35[73])

Nós estamos sob o jugo da Lei enquanto permanecemos na ignorância de sua verdadeira natureza, mas na sabedoria do Cristo nós nos tornamos livres, porque não existe mais nenhuma dissonância entre nossa nota-chave e a nota- -chave do Universo. Esse é o entendimento dos ensinamentos de São Paulo, o grande metafísico bíblico.

“Eis que Eu faço todas as coisas novas”[74], declarou Cristo. Quando formos suficientemente dignos para nos livrarmos das ligações do destino maduro[75] passado, contataremos a Lei da Libertação. A escolha é nossa, rejeitar ou aceitar, permanecermos sob o jugo ou sermos livres. Todas as curas definitivas[76] bíblicas foram ordenadas de acordo com o merecimento do beneficiário.

“Todos as faltas, falhas, todos os erros praticados hoje se cristalizarão como doenças no amanhã. O Espírito é o construtor de seu próprio Corpo. Os milagres de cura do Mestre são apenas para aqueles que têm ouvidos para ouvir e olhos para ver”. Assim escreveu o grande Paracelso[77].

O impedimento da fala deve-se ao mau uso da sagrada força da vida. Um defeito ou a perda da linguagem é a consequência da blasfêmia, ou injúria lançada contra outros por meio de maledicências, ou a traição à crença sagrada. “A língua é um pequeno órgão repleto de males mortais”[78]. Outras mostras da aplicação da Lei podem ser observadas na perda de dedos, como um resultado de destino maduro, consequência de práticas desonestas; a perda das mãos, como resultado da devassidão cometida, frequentemente, durante as guerras, por exemplo; a perda dos pés é resultante de se ter andado por caminhos errados e liderando outras pessoas para tais caminhos; a deformação do corpo se deve à perpetração de crueldades, tais como as hediondas punições nas câmaras dos horrores da Inquisição; defeitos de coluna, pelo uso das forças espirituais  para propósitos de magia negra ou coisa semelhante; problemas no estômago ou digestivos, por gulodice ou apetite descontrolado; desordens cardíacas são devidas ao enorme egoísmo  e amor pessoal com o qual se falhou no atendimento ao bem-estar dos outros; e a tuberculose é resultante de pensamentos e vida materialistas. Muitas vezes as consequências derivadas do destino maduro ocorrem no período da vida seguinte; na maioria das vezes elas acontecem nas encarnações posteriores, depois dos intervalos pós-morte, quando, então, o indivíduo pode nascer inocente quanto a um período de vida conhecido por ele já sofrendo dessas retribuições trazidas do passado.

No caso do homem surdo e gago, descrito no Evangelho de São Marcos, Cristo-Jesus tocou seus ouvidos e sua língua, e olhando para os céus (símbolo do Eterno), Ele exclamou: “Efatá”, que significa “Abre-te”. E ele escolheu seguir o Cristo no céu de uma nova vida, livre das limitações e restrições da velha vida. Sua escolha pode também ser a nossa com os mesmos resultados.

Efatá” ou “abre-te”, esotericamente se refere à clarividência, à clariaudiência e ao poder de falar a Palavra despertada no Discípulo. Esse ato simbólico do Cristo é relembrado tanto na Igreja Grega como na Romana no Rito do Batismo, onde o sacerdote toca os ouvidos e a boca do penitente com o dedo com que tocou seus próprios lábios, pronunciando a palavra: Efatá.

A Igreja primitiva se referia a Efatá como o mistério de Apertio, ou Abertura, e o conectava aos Mistérios de Cristo-Jesus com o Rito do Batismo, onde o Discípulo recebia também os poderes de estender sua visão e audição. Era possível para o Arcanjo, que nós conhecemos como o Cristo, envolver todos os átomos cristalizados com os poderes de seu próprio Mundo, o Reino do Espírito de Vida, onde tudo é vida, luz e amor. Por isso as curas foram instantâneas em todos os casos em que Ele escolheu realizá-las. Tais eram as forças que emanavam d’Ele e suas radiações tão poderosas que mesmo quem tocasse apenas em suas vestes se curava. Esse fato se evidencia novamente na cura da orelha de Malco[79], quando da prisão do Mestre no Getsemani.

Após o exercício prolongado de Seus poderes, o glorioso Espírito Cristo se afastava para um período de solidão no convívio dos Essênios, a fim de que Suas poderosas vibrações não esmagassem o corpo humano de Jesus, que Ele adotara, quando do Batismo, e o utilizou durante todo o Seu ministério sobre a Terra. Durante esses recolhimentos do ministério público, Ele se afastava daquele corpo mortal, deixando-o aos cuidados dos Essênios, que trabalhavam sobre ele em Sua ausência. Isso era um trabalho especializado dos Essênios, pois eles eram capazes de fazê-lo, em face dos poderes espirituais que irradiavam de si mesmos. Almas avançadas invariavelmente trabalham por projetar suas forças vibratórias. Ora, Cristo também expulsou os maus espíritos com a palavra, curou a todos os que estavam doentes e aqueles cujo destino maduro os dava como curáveis, e isso pode ser entendido por meio do que diz Isaías, o profeta: “Ele tomou sobre Si nossas enfermidades e curou nossas doenças” (Mt 8:17).

Paracelso nos adverte para que nos lembremos que o motivo da doença e da cura definitiva pode ser compreendido somente quando considerado à luz do destino maduro, e seus efeitos não só no corpo físico, mas também nos diversos veículos invisíveis que o interpenetram. “Há um duplo poder ativo no ser humano”, diz ele, “um visível e um invisível. O corpo visível tem suas forças naturais e o corpo invisível tem, também, suas forças naturais – e o remédio para toda doença ou injúria que possa afetar o veículo físico está contido no corpo invisível, porque esse é o assento das forças que infundem vida naquele e sem o qual a forma não teria vida”.

A formação dos corpos visível e invisíveis está dividida em sete ciclos. O primeiro dos sete é pertinente, principalmente, à formação dos Corpos Denso (físico) e Vital, que se correlaciona com o desenvolvimento do sistema glandular. O segundo ciclo se refere ao desenvolvimento do Corpo de Desejos. É ígneo, e se correlaciona com a química do sistema circulatório sanguíneo. O terceiro ciclo é alusivo ao desenvolvimento da Mente. É aéreo. O pensamento agora se torna o supremo poder criador. No subconsciente ele estabelece hábitos, que são uma tendência à cristalização do Corpo etéreo ou Vital. O quarto ciclo é um resumo ou síntese de todos os sete. Ele recapitula o passado e, agindo dessa forma, ele normalmente toca o destino maduro que foi formado durante as existências anteriores na Terra, e que agora são “agendados para serem pagos”.

Os vinte e oito anos de idade marcam o completar desses quatro ciclos setenários quando, no sentido oculto, se considera que a verdadeira vida mental do Ego começou. Marca o final do amadurecimento dos quatro “invólucros” etéreos, que são a matriz do crescimento físico.

“Porque você deve entender que existem sete vidas no ser humano, das quais nenhuma delas alcança a verdadeira vida que está na alma”. Essas sete vidas são os sete períodos setenários desde nascimento até os quarenta e dois anos de idade, conhecida como “meia idade” pelo ocultista, e marca o tempo de profundas e fundamentais mudanças dirigidas a uma nova visão em que se encontrou “a verdadeira vida que está na alma”. Os sete devem ser transformados antes que o total desenvolvimento se realize. Cristo-Jesus expulsou sete demônios de Maria Madalena, o que traz uma referência a esse alcance sétuplo. Após essa experiência ela se transformou na mais adiantada entre os Discípulos do Mestre e foi a primeira de todos eles a ser capaz de elevar sua consciência suficientemente para reconhecê-Lo, quando Ele retornou para as bênçãos do Dia da Páscoa.

“O verdadeiro médico deve entender e perceber”, escreveu ainda Paracelso. “Se ele não enxerga o paciente de maneira astral ele não poderá prescrever qual será a força oposta curativa, que deverá despertar no interior do espírito do paciente. O verdadeiro curador não olha apenas para as causas no visível, ele procura entender o invisível”. Verdadeiramente, o ser humano jamais conhecerá a perfeita saúde, até que aprenda a viver em harmonia com as leis da vida. Ainda nas palavras de Paracelso: “A doença é a expressão de luta que está sendo travada entre o ser humano oculto contra as condições degeneradas de sua natureza”.

Toda verdade é una e eterna, e os ensinamentos do Cristo atravessaram os séculos nos testemunhos dos sábios e dos virtuosos até os nossos dias. As seguintes palavras do Dr. Alexis Carrel[80], um verdadeiro professor da Nova Era, em seu livro tão popular, “O Homem esse Desconhecido”, vão diretamente ao ponto em estudo: “A ciência” – diz ele – “estuda intensivamente o fígado, os rins e todas as funções físicas do ser humano, tudo enfim, exceto sua única e mais importante função, que é o Pensamento”. Isso soa como uma nota-chave para o processo da Nova Era. “Cristianizai vossas mentes”[81], exortou São Paulo. Quando isso é feito, seguem-se a purificação e a perfeição do Corpo. As correntes das causas passadas e jugo da hereditariedade nos prenderão tão somente se nós permitirmos que tal aconteça. Nós estamos sob o jugo da lei; nós seremos livres em Cristo.

“Vai e não peques mais para que mal pior não caia sobre ti”[82]. Essas palavras bem expressam a íntima conexão existente entre a doença e o pecado, sendo o pecado, neste caso, tudo aquilo que não está de acordo com os poderes construtivos da natureza, ou, em outras palavras, com a Lei Divina. Iluminação e regeneração são unas no processo de cura. Conhecer a saúde contínua e radiantemente é viver em constante comunhão com a divindade interior. Essa foi a mensagem do Cristo, assim como é a de todos os verdadeiros Mestres que tanto O precederam como os que vieram após Ele.

Este corpo físico é reflexo do Plano Divino, assim como o universo que se manifesta ao nosso redor. Ele é composto de moléculas envoltas por um ponto central de luz ou poder espiritual que controla as taxas vibratórias ou movimento. Todos os elementos do Universo estão dentro do ser humano. O microcosmo é a criança do macrocosmo. A interação desarmoniosa, ou doença, manifesta-se no Corpo Vital antes de ser notada no Corpo Denso. O tom do veículo vitalizante é reduzido; ele é “dissonante” por parar de vibrar em harmonia com a nota-chave de seu padrão arquetípico.

Atitudes positivas e pensamentos construtivos rapidamente restauram o tom normal do Corpo Vital, e, por outro lado, o medo é o maior inimigo para a restauração da saúde. O Salmo 23[83] nos dá o mágico poder para eliminar o medo. Deixe o ritmo de suas declarações conferir suas harmonia e poder em todo o teu ser. Ele o tornará saudável e curado. “O Senhor é meu pastor… não temerei…Não temerei mal algum porque Tu estás comigo”.

O verdadeiro curador espiritual possui faculdades com as quais os veículos internos do paciente e suas relações com o físico podem ser examinados. “Se nossos Estudantes de medicina” – escreve Franz Hartmann[84], notável escritor ocultista e médico –, “empregasse uma parte do tempo aplicado no estudo das ciências externas, que praticamente não usam, no desenvolvimento de suas percepções interiores, eles se tornariam capazes de ver determinados processos dentro do organismo do ser humano, que são para eles meras matérias especulativas e que não são discerníveis por meios físicos”.

Não está tão distante o dia em que a medicina ortodoxa, como a ciência ortodoxa como um todo, e também a religião ortodoxa, experimentarão o despertar espiritual que os guindará a novos elevados serviços. Uma ativa aceleração está a caminho. Cada vez maior é o número de almas que despertam esforçando-se grandemente para seguir na direção do ideal enunciado pelo Nosso Abençoado Senhor quando Ele nos diz:

Sê perfeito, como é

perfeito teu Pai no Céu”.[85]

FIM

[1] N.T.: Apo 21: 4

[2] N.T.: Mc 6:6

[3] N.T.: 22E chegaram a Betsaida. Trouxeram-lhe então um cego, rogando que Ele o tocasse. 23Tomando o cego pela mão, levou-o para fora do povoado e, cuspindo-lhe aos olhos e impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe: “Percebes alguma coisa?”. 24E ele, começando a ver, disse: “Vejo as pessoas como se fossem árvores andando”. 25Em seguida, Ele colocou novamente as mãos sobre os olhos do cego, que viu distintamente e ficou restabelecido e podia ver tudo nitidamente e de longe.

[4] N.T.: Mc 8: 18

[5] N.T.: 46Chegaram a Jericó. Ao sair de Jericó com os seus Discípulos e grande multidão, estava sentada à beira do caminho, mendigando, o cego Bartimeu, filho de Timeu. 47Quando percebeu que era Jesus, o Nazareno, que passava, começou a gritar: “Filho de Davi, Jesus, tem compaixão de mim! ”. 48E muitos, o repreendiam para que se calasse. Ele, porém, gritava mais ainda: “Filho de Davi, tem compaixão de mim! ”. 49Detendo-se, Jesus disse: “Chamai-o! ”. Chamaram o cego, dizendo-lhe: “Coragem! Ele te chama; levanta-te”. 50Deixando a sua capa, levantando-se e foi até Jesus. 51Então Jesus lhe disse: “Que queres que Eu te faça? ”. O cego respondeu: “Rabbuni! Que eu possa ver novamente! ”. 52Jesus lhe disse: “Vai, a tua fé te salvou”. No mesmo instante ele recuperou a vista e seguia-O no caminho.

[6] N.T.: Mt 20:29-34; Mc 10: 46-52 e Lc 8:35-43

[7] N.T.: Mt 20:27

[8] N.T.: 27Partindo Jesus dali, puseram-se a segui-lo dois cegos, que gritavam e diziam: “Filho de Davi, tem compaixão de nós!”. 28Quando entrou em casa, os cegos aproximaram-se dele. Jesus lhes perguntou: “Credes vós que tenho poder de fazer isso?”. Eles responderam: “Sim, Senhor”. 29Então tocou-lhes os olhos e disse: “Seja feito segundo a vossa fé”. 30E os seus olhos se abriram. Jesus, porém, os admoestou com energia: “Cuidado, para que ninguém o saiba”. 31Mas eles, ao saírem dali, espalharam sua fama por toda aquela região.

[9] N.T.: Ao passar, Ele viu um homem, cego de nascença. 2Seus Discípulos Lhe perguntaram: “Rabi, quem pecou, ele ou seus pais, para que nascesse cego?” 3Jesus respondeu: “Nem ele nem seus pais pecaram, mas é para que nele sejam manifestadas as obras de Deus. 4Enquanto é dia, temos de realizar as obras daquele que me enviou; vem a noite, quando ninguém pode trabalhar. 5Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo. 6Tendo dito isso, cuspiu na terra, fez lama com a saliva, aplicou-a sobre os olhos do cego 7e lhe disse: “Vai lavar-te na piscina de Siloé – que quer dizer ‘Enviado’”. O cego foi, lavou-se e voltou vendo. 8Os vizinhos, então, e os que estavam acostumados a vê-lo antes, porque era mendigo, diziam: “Não é esse que ficava sentado a mendigar? “. 9Alguns diziam: “É ele”. Diziam outros: “Não, mas alguém parecido com ele”. Ele, porém, dizia: “Sou eu mesmo”. 10Perguntaram-lhe, então: “Como se abriram os teus olhos?” 11Respondeu: “O homem chamado Jesus fez lama, aplicou-a nos meus olhos e me disse: ‘Vai a Siloé e lava-te’. Fui, lavei-me e recobrei a vista”. 12Disseram-lhe: “Onde está ele?” Disse: “Não sei”. 13Conduziram o que fora cego aos fariseus. 14Ora, era sábado o dia em que Jesus fizera lama e lhe abrira os olhos. 15Os fariseus perguntaram-lhe novamente como tinha recobrado a vista. Respondeu-lhes: “Ele aplicou-me lama nos olhos, lavei-me e vejo”. 16Diziam, então, alguns dos fariseus: “Esse homem não vem de Deus, porque não guarda o sábado”. Outros diziam: “Como pode um homem pecador realizar tais sinais?” E havia cisão entre eles. 17De novo disseram ao cego: “Que dizes de quem te abriu os olhos?” Respondeu: “É um profeta”. 18Os judeus não creram que ele fora cego enquanto não chamaram os pais do que recuperara a vista 19e perguntaram-lhes: “Este é o vosso filho, que dizeis ter nascido cego? Como é que agora ele vê?” 20Seus pais então responderam: “Sabemos que este é nosso filho e que nasceu cego. 21Mas como agora ele vê não o sabemos; ou quem lhe abriu os olhos não o sabemos. Interrogai-o. Ele tem idade. Ele mesmo se explicará”. 22Seus pais assim disseram por medo dos judeus, pois os judeus já tinham combinado que, se alguém reconhecesse Jesus como Cristo, seria expulso da sinagoga. 23Por isso, seus pais disseram “Ele já tem idade; interrogai-o”. 24Chamaram, então, uma segunda vez, o homem que fora cego e lhe disseram: “Dá glória a Deus! Sabemos que esse homem é pecador”. 25Respondeu ele: “Se é pecador, não sei. Uma coisa eu sei: é que eu era cego e agora vejo”. 26Disseram-lhe, então: “Que te fez ele? Como te abriu os olhos?” 27Respondeu-lhes: “Já vos disse e não ouvistes. Por que quereis ouvir novamente? Por acaso quereis também tornar-vos seus Discípulos?” 28Injuriaram-no e disseram: “Tu, sim, és seu Discípulo; nós somos Discípulos de Moisés. 29Sabemos que Deus falou a Moisés; mas esse, não sabemos de onde é”. 30Respondeu-lhes o homem: “Isso é espantoso: vós não sabeis de onde ele é e, no entanto, abriu-me os olhos! 31Sabemos que Deus não ouve os pecadores; mas, se alguém é religioso e faz a sua vontade, a este ele escuta. 32Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos de um cego de nascença. 33Se esse homem não viesse de Deus, nada poderia fazer”. 34Responderam-lhe: “Tu nasceste todo em pecados e nos ensinas?” E o expulsaram. 35Jesus ouviu dizer que o haviam expulsado. Encontrando-o, disse-lhe: “Crês no Filho do Homem?” 36Respondeu ele: “Quem é, Senhor, para que eu nele creia?” 37Jesus lhe disse: “Tu o estás vendo, é quem fala contigo”. 38Exclamou ele: “Creio, Senhor!” E prostrou-se diante dele. 39Então disse Jesus: “Para um discernimento é que vim a este mundo: para que os que não veem, vejam, e os que veem, tornem-se cegos”. 40Alguns fariseus, que se achavam com ele, ouviram isso e lhe disseram: “Acaso também nós somos cegos?” 41Respondeu-lhes Jesus: “Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas dizeis: ‘Nós vemos!’ Vosso pecado permanece.

[10] N.T.: A Bíblia de Tyndale geralmente se refere ao conjunto de traduções bíblicas de William Tyndale. A Bíblia de Tyndale é creditada como sendo a primeira tradução para o inglês a trabalhar diretamente com os textos hebraico e grego.

[11] N.T.: 1Ao descer da montanha, seguiam-no multidões numerosas, 2quando de repente um leproso se aproximou e se prostrou diante dele, dizendo: “Senhor, se queres, tens poder para purificar-me”. 3Ele estendeu a mão e, tocando-o disse: “Eu quero, sê purificado”. E imediatamente ele ficou livre da sua lepra. 4Jesus lhe disse: “Cuidado, não digas nada a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote e apresenta a oferta prescrita por Moisés, para que lhes sirva de prova”.

[12] N.T.: 40Um leproso foi até Ele, implorando-lhe de joelhos: “Se queres, tens o poder de purificar-me”. 41Movido de compaixão, estendeu a mão, tocou-o e disse-lhe: “Eu quero, sê purificado”. 42E logo a lepra o deixou. E ficou purificado. 43Advertindo-o severamente, despediu-o logo. 44dizendo-lhe: “Não digas nada a ninguém; mas vai mostrar-te ao sacerdote e oferece por tua purificação o que Moisés prescreveu, para que lhes sirva de prova”. Ele, porém, assim que partiu, começou a proclamar ainda mais e a divulgar a notícia, de modo que Jesus já não podia entrar publicamente numa cidade: permanecia fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-Lo.

[13] N.T.: 12Estava Ele numa cidade, quando apareceu um homem cheio de lepra. Vendo a Jesus, caiu com o rosto por terra e suplicou-lhe: “Senhor, se queres, tens poder para purificar-me”. 13Ele estendeu a mão e, tocando-o, disse: “Eu quero. Sê purificado!” E imediatamente a lepra o deixou. 14E ordenou-lhe que a ninguém o dissesse: “Vai, porém, mostrar-te ao sacerdote, e oferece por tua purificação conforme prescreveu Moisés, para que lhes sirva de prova”. 15A notícia a Seu respeito, porém, difundia-se cada vez mais, e acorriam numerosas multidões para ouvi-Lo e serem curadas de suas enfermidades. 16Ele, porém, permanecia, retirado em lugares desertos e orava.

[14] N.T.: Lepra, hanseníase, morfeia, mal de Hansen ou mal de Lázaro é uma doença infecciosa causada pelo bacilo Mycobacterium leprae (também conhecida como bacilo-de-hansen) que causa danos severos a nervos e à pele. A denominação hanseníase deve-se ao descobridor do microrganismo causador da doença, dr. Gerhard Hansen. O termo lepra está em desuso por sua conotação negativa histórica.

[15] N.T.: tempo na evolução onde passamos pela Época Lemúrica.

[16] N.T.: tempo na evolução onde passamos pela Época Atlante.

[17] N.T.: Peste negra é o nome pela qual ficou conhecida, durante a Baixa Idade Média, a pandemia de peste bubônica que assolou a Europa durante o século XIV, e dizimou entre 25 e 75 milhões de pessoas (mais ou menos um terço da população europeia), sendo que alguns pesquisadores acreditam que o número mais próximo da realidade é de 75 milhões, aproximadamente metade da população daquela época.

[18] N.T.: ou Paracelsus – Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim (1493-1521) – físico, botânico, alquimista, astrólogo e ocultista suíço-germânico.

[19] N.T.: 11Como ele se encaminhasse para Jerusalém, passava através da Samaria e da Galileia. 12Ao entrar num povoado, dez leprosos vieram-lhe ao encontro. Pararam à distância 13e clamaram: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!”. 14Vendo-os, ele lhes disse: “Ide mostrar-vos aos sacerdotes”. E aconteceu que, enquanto iam, ficaram purificados. 15Um dentre eles, vendo-se curado, voltou atrás, glorificando a Deus em alta voz, 16e lançou-se aos pés de Jesus com o rosto por terra, agradecendo-lhe. Pois bem, era um samaritano. “Tomando a palavra, Jesus lhe disse: “Os dez não ficaram purificados? Onde estão os outros nove? 18Não houve, acaso, quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?”. 19Em seguida, disse-lhe: “Levanta-te e vai; a tua fé te salvou”.

[20] N.T.: Peste negra é o nome pela qual ficou conhecida, durante a Baixa Idade Média, a pandemia de peste bubônica que assolou a Europa durante o século XIV e dizimou entre 25 e 75 milhões de pessoas (mais ou menos um terço da população europeia), sendo que alguns pesquisadores acreditam que o número mais próximo da realidade é de 75 milhões, aproximadamente metade da população da época.

[21] N.T.: 23Na ocasião, estava na sinagoga deles, um homem possuído de um espírito impuro, que gritava 24dizendo: “Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para arruinar-nos? Sei quem tu és: o Santo de Deus25 Jesus, porém, o conjurou severamente: “Cala-te e sai dele”. 26Então o espírito impuro, sacudindo-o violentamente e soltando grande grito, deixou-o.

[22] N.T.: 31Desceu então a Cafarnaum, cidade da Galileia, e ensinava-os aos sábados. 32Eles ficavam pasmados com seu ensinamento, porque falava com autoridade. 33Encontrava-se na sinagoga um homem possesso de um espírito de demônio impuro, que se pôs a gritar fortemente: 34”Ah! Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para arruinar-nos? Sei quem tu és: o Santo de Deus”. 35Mas Jesus o conjurou severamente: “Cala-te, e sai dele!” E o demônio, lançando-o no meio de todos, saiu sem lhe fazer mal algum. 36O espanto apossou-se de todos, e falavam entre si: “Que significa isso? Ele dá ordens com autoridade e poder aos espíritos impuros, e eles saem!” 37E sua fama se propagava por todo lugar da redondeza.

[23] N.T.: O Sinédrio é o nome dado à associação de 20 ou 23 juízes que a Lei judaica ordena existir em cada cidade.

[24] N.T.: Cura do Corpo, da Alma e do Espírito

[25] N.T.: Alice Mildred Cable (1878-1952) nasceu em Guildford, Inglaterra. Ela foi uma missionária protestante cristã na China.

[26] N.T.: O kang é uma tradicional e longa (2 metros ou mais) plataforma para uso geral: trabalho, entretenimento e dormir, usado na parte norte da China.

[27] N.T.: 32 Logo que saíram, eis que lhe trouxeram um endemoninhado mudo. 33 Expulso o demônio, o mudo falou. A multidão ficou admirada e pôs-se a dizer: “Nunca se viu coisa semelhante em Israel!”.

[28] N.T.: a cura do Corpo, da Alma e do Espírito.

[29] N.T.: também escrito como: Gadarenos

[30] N.T.: 28Ao chegar ao outro lado, ao país dos gadarenos, vieram ao seu encontro dois endemoninhados, saindo dos túmulos. Eram tão ferozes que ninguém podia passar por aquele caminho. 29E eis que se puseram a gritar: “Que queres de nós, Filho de Deus? Vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?”30Ora, a certa distância deles havia uma manada de porcos que estava pastando. 31Os demônios lhe imploravam, dizendo: “Se nos expulsas, manda-nos para a manada de porcos”. 32Jesus lhes disse: “Ide”. Eles, saindo, foram para os porcos e logo toda a manada se precipitou no mar, do alto de um precipício, e pereceu nas águas.

[31] N.T.: 1Chegaram do outro lado do mar, à região dos gerasenos. 2Logo que Jesus desceu do barco, caminhou ao seu encontro, vindo dos túmulos, um homem possuído por um espírito impuro: 3habitava no meio das tumbas e ninguém podia dominá-lo, nem mesmo com correntes. 4Muitas vezes já o haviam prendido com grilhões e algemas, mas ele arrebentava os grilhões e estraçalhava as correntes, e ninguém conseguia subjugá-lo. 5E, sem descanso, noite e dia, perambulava pelas tumbas e pelas montanhas, dando gritos e ferindo-se com pedra. 6Ao ver Jesus, de longe, correu e prostrou-se diante d’Ele, 7clamando em alta voz: “Que queres de mim, Jesus, Filho de Deus altíssimo? Conjuro-te por Deus que não me atormentes! “ 8Com efeito, Jesus lhe disse: “Sai deste homem, espírito impuro! “ 9E perguntando-lhe: “Qual é o teu nome? “ Respondeu: “Legião é o meu nome, porque, somos muitos”. 10E rogava-lhe insistentemente que não os mandasse para fora daquela região. 11Ora, havia ali, pastando na montanha, uma grande manada de porcos. 12Rogava-lhe, então, dizendo: “Manda-nos para os porcos, para que entremos neles”. 13Ele o permitiu. E os espíritos impuros saíram, entraram nos porcos e a manada — cerca de dois mil — se arrojou no mar, precipício abaixo, e eles se afogavam no mar. 14Os que os apascentavam fugiram e contaram o fato na cidade e nos campos. E correram a ver o que havia acontecido. 15Foram até Jesus e viram o endemoninhado sentado, vestido e em são juízo, aquele mesmo que tivera a Legião. E ficaram com medo. 16As testemunhas contaram-lhes o que acontecera com o endemoninhado e o que houve com os porcos. 17Começaram então a rogar-lhe que se afastasse do seu território. 18Quando entrou no barco, aquele que fora endemoninhado rogou-lhe que o deixasse ficar com Ele. 19Ele não deixou, e disse-lhe: “Vai para tua casa e para os teus e anuncia-lhes tudo o que fez por ti o Senhor na sua misericórdia”. 20Então partiu e começou a proclamar na Decápole o quanto Jesus fizera por ele. E todos ficaram espantados.

[32] N.T.: 26Navegaram em direção à região dos gerasenos, que está do lado contrário da Galileia. 27Ao pisarem terra firme, veio ao seu encontro um homem da cidade, possesso de demônios. Havia muito que andava sem roupas e não habitava em casa alguma, mas em sepulturas.28Logo que viu a Jesus começou a gritar, caiu-lhe aos pés e disse em alta voz: “Que queres de mim, Jesus, filho do Deus Altíssimo? Peço-te que não me atormentes”. 29Jesus, com efeito, ordenava ao espírito impuro que saísse do homem, pois se apossava dele com frequência. Para guardá-lo, prendiam-no com grilhões e algemas, mas ele arrebentava as correntes e era impelido pelo demônio para os lugares desertos. 30Jesus perguntou-lhe: “Qual é o teu nome?” — “Legião”, respondeu, porque muitos demônios haviam entrado nele. 31E rogavam-lhe que não os mandasse ir para o abismo.32Ora, havia ali, pastando na montanha, uma numerosa manada de porcos. Os demônios rogavam que Jesus lhes permitisse entrar nos porcos. E ele o permitiu. 33Os demônios então saíram do homem, entraram nos porcos e a manada se arrojou pelo precipício, dentro do lago, e se afogou.34Vendo o acontecido, os que apascentavam os porcos fugiram, contando o fato na cidade e pelos campos. 35As pessoas então saíram para ver o que acontecera. Foram até Jesus e encontraram o homem, do qual haviam saído os demônios, sentado aos pés de Jesus, vestido e em são juízo. E ficaram com medo. 36As testemunhas então contaram-lhes como fora salvo o endemoninhado. 37E toda a população do território dos gerasenos pediu que Jesus se retirasse, porque estavam com muito medo. E ele, tomando o barco, voltou. 38O homem do qual haviam saído os demônios pediu para ficar com ele; Jesus, porém, o despediu, dizendo: 39”Volta para tua casa e conta tudo o que Deus fez por ti”. E ele se foi proclamando pela cidade inteira tudo o que Jesus havia feito em seu favor.

[33] N.T.: 14Ao chegarem junto da multidão, aproximou-se dele um homem que, de joelhos, lhe pedia: 15”Senhor, tem compaixão de meu filho, porque é lunático e sofre muito com isso. Muitas vezes cai no fogo e outras muitas na água. 16Eu o trouxe aos teus Discípulos, mas eles não foram capazes de curá-lo”. 17Ao que Jesus replicou: “Ó geração incrédula e perversa, até quando estarei convosco? Até quando vos suportarei? Trazei-o aqui”. 18Jesus o conjurou severamente e o demônio saiu dele. E o menino ficou são a partir desse momento. 19Então os Discípulos, procurando Jesus a sós, disseram: “Por que razão não pudemos expulsá-lo?”. 20Jesus respondeu-lhes: “Por causa da fraqueza da vossa fé, pois em verdade vos digo: se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta montanha: transporta-te daqui para lá, e ela se transportará, e nada vos será impossível”. [21] “Quanto a essa espécie (de demônio), não é possível expulsá-lo senão pela oração e pelo jejum”

[34] N.T.: 14E, chegando junto aos outros Discípulos, viram uma grande multidão em torno deles e os escribas discutindo com eles. 15E logo que toda a multidão O viu, ficou admirada e correu para saudá-lo. 16Ele perguntou-lhes: “Que discutíeis com eles?”. 17Alguém da multidão respondeu: “Mestre, eu te trouxe meu filho que tem um espírito mudo. 18Quando ele o toma, atira-o pelo chão. e ele espuma, range os dentes e fica ressequido. Pedi aos teus Discípulos que o expulsassem, mas não conseguiram”. 19Ele, porém, respondeu: “Ó geração incrédula! Até quando estarei convosco? Até quando vos suportarei? Trazei-o a mim”. 20Levaram-no até Ele. O espírito, vendo a Jesus, imediatamente agitou com violência o menino que, caindo por terra, rolava espumando. 21Jesus perguntou ao pai: “Há quanto tempo lhe sucede isto?”. — “Desde pequenino, respondeu; 22e muitas vezes o atira ao fogo ou na água para fazê-lo morrer. Mas, se tu podes, ajuda-nos, tem compaixão de nós”. 22Então Jesus lhe disse: “Se tu podes! …Tudo é possível àquele que crê!”. 24Imediatamente, o pai do menino gritou: “Eu creio! ajuda a minha incredulidade!”. 25Vendo Jesus que a multidão afluía, conjurou severamente o espírito impuro, dizendo-lhe: “Espírito mudo e surdo, Eu te ordeno: deixa-o e nunca mais entres nele!”. 26E, gritando e agitando-o violentamente, saiu. E o menino ficou como se estivesse morto, de modo que muitos diziam que ele tinha morrido. 27Jesus, porém, tomando-o pela mão, ergueu-o, e ele se levantou. 28Ao entrar em casa, perguntaram-lhe os seus Discípulos, a sós: “Por que não pudemos expulsá-lo?”. 29Ele respondeu: “Essa espécie não pode sair a não ser com oração”.

[35] N.T.: 37No dia seguinte, ao descerem da montanha veio ao seu encontro uma grande multidão. 38E eis que um homem da multidão gritou: “Mestre, rogo-te que venhas ver o meu filho, porque é meu filho único. 39Eis que um espírito o toma e subitamente grita, sacode-o com violência e o faz espumar; é com grande dificuldade que o abandona, deixando-o dilacerado. 40Pedi a teus Discípulos que o expulsassem, mas eles não puderam”. 41 Jesus respondeu: “Ó geração incrédula e perversa, até quando estarei convosco e vos suportarei? Traze aqui teu filho”. 42Estava ainda se aproximando, quando o demônio o jogou por terra e agitou-o com violência. Jesus, porém, conjurou severamente o espírito impuro, curou a criança e a devolveu ao pai.

[36] N.T.: Areteu da Capadócia, é um dos mais notórios médicos da Grécia Antiga; no entanto, apenas alguns detalhes de sua vida são conhecidos. Existe alguma incerteza com relação à sua idade e país de origem, mas parece provável que exerceu a Medicina no século I, durante o reinado de Nero ou Vespasiano. É geralmente denominado “o Capadócio”.

[37] N.T.: de Galen’s Critical Days (De diebus decretoriis) era um texto que fundamenta a medicina astrológica.

[38] N.T.: 2Aí lhe trouxeram um paralítico deitado numa cama. Jesus, vendo tão grande fé, disse ao paralítico: “Tem ânimo, meu filho; os teus pecados te são perdoados. “ 3Ao ver isso alguns dos escribas diziam consigo: “Está blasfemando”. 4Mas Jesus, conhecendo os seus pensamentos, disse: “Por que tendes esses maus pensamentos em vossos corações? 5Com efeito, que é mais fácil dizer ‘Teus pecados são perdoados’, ou dizer ‘Levanta-te e anda’? 6Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem poder na terra de perdoar pecados. . . “ disse então ao paralítico: “Levanta-te, toma tua cama e vai para casa”. 7Ele se levantou e foi para casa.

[39] N.T.: 3Vieram trazer-lhe um paralítico, transportado por quatro homens. 4E como não pudessem aproximar-se por causa da multidão, abriram o teto à altura do lugar onde Ele se encontrava e, tendo feito um buraco, baixaram o leito em que jazia o paralítico. 5Jesus, vendo sua fé, disse ao paralítico: “Filho, os teus pecados estão perdoados”. 6Ora, alguns dos escribas que lá estavam sentados refletiam em seus corações: 7”Por que está falando assim? Ele blasfema! Quem pode perdoar pecados a não ser Deus? “ 8Jesus imediatamente percebeu em seu espírito o que pensavam em seu íntimo, e disse: “Por que pensais assim em vossos corações? 9O que é mais fácil dizer ao paralítico: ‘Os teus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘Levanta-te, toma o teu leito e anda?’ 10Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem poder de perdoara pecados na terra, 11Eu te ordeno — disse Ele ao paralítico — levanta-te, toma o teu leito e vai para a tua casa”. 12O paralítico levantou-se e, imediatamente, carregando o leito, saiu diante de todos, de sorte que ficaram admirados e glorificaram a Deus, dizendo: “Nunca vimos coisa igual!”.

[40] N.T.: 18Vieram então alguns homens carregando um paralítico numa maca; tentavam levá-lo para dentro e colocá-lo diante dele. 19E como não encontravam um jeito de introduzi-lo, por causa da multidão, subiram ao terraço e, através das telhas, desceram-no com a maca no meio dos assistentes, diante de Jesus. 20Vendo-lhes a fé, ele disse: “Homem, teus pecados estão perdoados”. 21Os escribas e os fariseus começaram a raciocinar: “Quem é este que diz blasfêmias? Não é só Deus que pode perdoar pecados?” 22Jesus, porém, percebeu seus raciocínios e respondeu-lhes: “Por que raciocinais em vossos corações? 23Que é mais fácil dizer: Teus pecados estão perdoados, ou: Levanta-te e anda? 24Pois bem! Para que saibais que o Filho do Homem tem o poder de perdoar pecados na terra, eu te ordeno — disse ao paralítico — levanta-te, toma tua maca e vai para tua casa”. 25E no mesmo instante, levantando-se diante deles, tomou a maca onde estivera deitado e foi para casa, glorificando a Deus. 26O espanto apoderou-se de todos e glorificavam a Deus. Ficaram cheios de medo e diziam: “Hoje vimos coisas estranhas!”

[41] N.T.: Cura do Corpo, da Alma e do Espírito

[42] N.T.: A memória involuntária ou Mente Subconsciente está, atualmente, fora de nosso controle. Relaciona-se totalmente com as experiências desta vida. Consiste das impressões dos acontecimentos no Corpo Vital. Tais impressões podem ser modificadas ou até apagadas, utilizando a doutrina do perdão dos pecados.

[43] N.T.: 14Entrando Jesus na casa de Pedro, viu a sogra deste, que estava de cama e com febre. 15Logo tocou-lhe a mão e a febre a deixou. Ela se levantou e pôs-se a servi-lo.

[44] N.T.: Cura do Corpo, da Alma e do Espírito

[45] N.T.: Mc 16:18

[46] N.T. 21Jesus, partindo dali, retirou-se para a região de Tiro e de Sidônia. 22E eis que uma mulher cananeia, daquela região, veio gritando: “Senhor, filho de Davi, tem compaixão de mim: a minha filha está horrivelmente endemoninhada”. 23Ele, porém, nada lhe respondeu. Então os seus Discípulos se chegaram a ele e pediram-lhe: “Despede-a, porque vem gritando atrás de nós”. 24Jesus respondeu: “Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel”. 25Mas ela, aproximando-se, prostrou-se diante dele e pôs-se a rogar: “Senhor, socorre-me!” 26Ele tornou a responder: “Não fica bem tirar o pão dos filhos e atirá-lo aos cachorrinhos”. 27Ela insistiu: “Isso é verdade, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos!” 28Diante disso, Jesus lhe disse: “Mulher, grande é a tua fé! Seja feito como queres!” E a partir daquele momento sua filha ficou curada.

[47] N.T.: 24Saindo dali, foi para o território de Tiro. Entrou numa casa e não queria que ninguém soubesse, mas não conseguiu permanecer oculto. 25Pois, logo em seguida, uma mulher cuja filha tinha um espírito impuro ouviu falar d’Ele, veio e atirou-se a seus pés. 26A mulher era grega, siro-fenícia de nascimento, e lhe rogava que expulsasse o demônio de sua filha. 27Ele dizia: “Deixa que primeiro os filhos se saciem porque não é bom tirar o pão dos filhos e atirá-lo aos cachorrinhos”. 28Ela, porém, lhe respondeu: “É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos comem, debaixo da mesa, as migalhas das crianças! “ 29E Ele disse-lhe: “Pelo que disseste, sai: o demônio saiu da tua filha”. 30Ela voltou para casa e encontrou a criança atirada sobre a cama. E o demônio tinha ido embora.

[48] N.T.: 1Certo sábado, ele entrou na casa de um dos chefes dos fariseus para tomar uma refeição, e eles o espiavam. 2Eis que um hidrópico estava ali, diante dele. 3Tomando a palavra, Jesus disse aos legistas e aos fariseus: “É lícito ou não curar no sábado?” 4Eles, porém, ficaram calados. Tomou-o então, curou-o e despediu-o. 5Depois perguntou-lhes: “Qual de vós, se seu filho ou seu boi cai num poço, não o retira imediatamente em dia de sábado?” 6Diante disso, nada lhe puderam replicar.

[49] N.T.: Sabá ou sabat é o dia semanal de descanso e/ou tempo de adoração que é observado em diversas crenças. O termo deriva do hebraico shabat, “cessar”, que foi pela primeira vez usado no relato bíblico do sétimo dia da Criação. A observância e lembrança do sabá é um dos Dez Mandamentos (o quarto na tradição original judaica, a cristã ortodoxa e maioria das tradições protestantes, o terceiro nas tradições luterana). Tido como sábado, dia do descanso da religião judaica.

[50] N.T.: 1E entrou de novo na sinagoga, e estava ali um homem com uma das mãos atrofiada. 2E o observavam para ver se o curaria no sábado, para o acusarem. 3Ele disse ao homem da mão atrofiada: “Levanta-te e vem aqui para o meio”. 4E perguntou-lhes: “É permitido, no sábado, fazer o bem ou fazer o mal? Salvar a vida ou matar?”. Eles, porém, se calavam. 5Repassando estão sobre eles um olhar de indignação. E entristecido pela dureza do coração deles, disse ao homem: “Estende a mão”. Ele a estendeu, e sua mão estava curada.

[51] N.T.: 6Em outro sábado, entrou ele na sinagoga e começou a ensinar. Estava ali um homem com a mão direita atrofiada. 7Os escribas e os fariseus observavam-no para ver se ele o curaria no sábado, e assim encontrar com que o acusar. 8Ele, porém, percebeu seus pensamentos e disse ao homem da mão atrofiada: “Levanta-te e fica de pé no meio de todos”. Ele se levantou e ficou de pé. 9Jesus lhes disse: “Eu vos pergunto se, no sábado, é permitido fazer o bem ou o mal, salvar uma vida ou arruiná-la”. 10Correndo os olhos por todos eles, disse ao homem: “Estende a mão”. Ele o fez, e a mão voltou ao estado normal.

[52] N.T.: Cura do Corpo, da Alma e do Espírito

[53] N.T.: 5Ao entrar em Cafarnaum, chegou-se a ele um centurião que lhe implorava e dizia: 6“Senhor, o meu criado está deitado em casa, paralítico, sofrendo dores atrozes”. 7Jesus lhe disse: “Eu irei curá-lo”. 8Mas o centurião respondeu-lhe: “Senhor, não sou digno de receber-te sob o meu teto; basta que digas uma palavra e o meu criado ficará são. 9Com efeito, também eu estou debaixo de ordens e tenho soldados sob o meu comando, e quando digo a um ‘Vai!’, ele vai, e a outro ‘Vem!’, ele vem; e quando digo ao meu servo: ‘Faze isto’, ele o faz”. 10Ouvindo isso, Jesus ficou admirado e disse aos que o seguiam: “Em verdade vos digo que em Israel não achei ninguém que tivesse tal fé. 11Mas eu vos digo que virão muitos do oriente e do ocidente e se assentarão à mesa no Reino dos Céus, com Abraão, Isaac e Jacó, 12enquanto os ‘filhos do Reino’ serão postos para fora, nas trevas, onde haverá choro e ranger de dentes”. 13Em seguida, disse ao centurião: “Vai! Como creste, assim te seja feito!” Naquela mesma hora o criado ficou são (Mt 8:5-13).

[54] N.T.: 1Quando acabou de transmitir aos ouvidos do povo todas essas palavras, entrou em Cafarnaum. 2Ora, um centurião tinha um servo a quem prezava e que estava doente, à morte; 3Tendo ouvido falar de Jesus, enviou-lhe alguns dos anciãos dos judeus para pedir-lhe que fosse salvar o servo. 4Estes, chegando a Jesus, rogavam-lhe insistentemente: “Ele é digno de que lhe concedas isso, 5pois ama nossa nação, e até nos construiu a sinagoga”. 6Jesus foi com eles. Não estava longe da casa, quando o centurião mandou alguns amigos lhe dizerem: “Senhor, não te incomodes, porque não sou digno de que entres em minha casa; 7nem mesmo me achei digno de ir ao teu encontro. Dize, porém, uma palavra, para que o meu criado seja curado. 8Pois também eu estou sob uma autoridade, e tenho soldados às minhas ordens; e a um digo: ‘Vai!’, e ele vai; e a outro ‘Vem!’, e ele vem; e a meu servo ‘Faze isto!’, e ele o faz”. 9Ao ouvir tais palavras, Jesus ficou admirado e, voltando-se para a multidão que o seguia, disse: “Eu vos digo que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé”. 10E, ao voltarem para casa, os enviados encontraram o servo em perfeita saúde (Lc 7:1-10).

[55] N.T.: em São Lucas. Note: em São Mateus é versículo 9.

[56] N.T.: 10Ora, ele estava ensinando numa das sinagogas aos sábados. 11E eis que se encontrava lá uma mulher, possuída havia dezoito anos por um espírito que a tornava enferma; estava inteiramente recurvada e não podia de modo algum endireitar-se.12Vendo-a, Jesus chamou-a e disse: “Mulher, estás livre de tua doença”, 13e lhe impôs as mãos. No mesmo instante, ela se endireitou e glorificava a Deus. 14O chefe da sinagoga, porém, ficou indignado por Jesus ter feito uma cura no sábado e, tomando a palavra, disse à multidão: “Há seis dias para o trabalho; portanto, vinde nesses dias para serdes curados, e não no dia de sábado!” 15O Senhor, porém, replicou: “Hipócritas! Cada um de vós, no sábado, não solta seu boi ou seu asno do estábulo para levá-lo a beber? 16E esta filha de Abraão que Satanás prendeu há dezoito anos, não convinha soltá-la no dia de sábado?” 17Ao falar assim, todos os adversários ficaram envergonhados, enquanto a multidão inteira se alegrava com todas as maravilhas que Ele realizava.

[57] N.T.: Sabá ou sabat é o dia semanal de descanso e/ou tempo de adoração que é observado em diversas crenças. O termo deriva do hebraico shabat, “cessar”, que foi pela primeira vez usado no relato bíblico do sétimo dia da Criação. A observância e lembrança do sabá é um dos Dez Mandamentos (o quarto na tradição original judaica, a cristã ortodoxa e maioria das tradições protestantes, o terceiro nas tradições luterana). Tido como sábado, dia do descanso da religião judaica.

[58] N.T.: 20Enquanto ia, certa mulher, que sofria de um fluxo de sangue fazia doze anos, aproximou-se dele por trás e tocou-lhe a orla da veste, 21pois dizia consigo: “Será bastante que eu toque a sua veste e ficarei curada”. 22Jesus, voltando-se e vendo-a, disse-lhe: “Ânimo, minha filha, a tua fé te salvou”. Desde aquele momento, a mulher foi salva.

[59] N.T.: 25Ora, certa mulher que havia doze anos tinha um fluxo de sangue 26e que muito sofrera nas mãos de vários médicos, tendo gasto tudo o que possuía sem nenhum resultado, mas cada vez piorando mais, 27tinha ouvido falar de Jesus. Aproximou-se d’Ele, por detrás, no meio da multidão, e tocou-lhe a roupa. 28Porque dizia: “Se ao menos tocar as suas roupas, serei salva”. 29E logo estancou a hemorragia. E ela sentiu no corpo que estava curada de sua enfermidade. 30Imediatamente, Jesus, tendo consciência da força que d’Ele saíra, voltou-se à multidão e disse: “Quem tocou minhas roupas? “ 31Os Discípulos disseram-lhe: “Estás vendo a multidão que Te comprime e perguntas: ‘‘‘Quem me tocou ?’ 32Jesus olhava em torno de si para ver quem havia feito aquilo. 33Então a mulher, amedrontada e trêmula, sabendo o que lhe tinha sucedido, foi e caiu-lhe aos pés e contou-lhe toda a verdade. 34E Ele disse a ela: “Minha filha, a tua fé te salvou; vai em paz e esteja curada desse teu mal”.

[60] N.T.: 43Certa mulher, porém, que sofria de um fluxo de sangue, fazia doze anos, e que ninguém pudera curar, 44aproximou-se por detrás e tocou a extremidade de sua veste; no mesmo instante, o fluxo de sangue parou. 45E Jesus perguntou: “Quem me tocou?” Como todos negassem, Pedro disse: “Mestre, a multidão te comprime e te esmaga”. 46Jesus insistiu: “Alguém me tocou; eu senti que uma força saía de mim”. 47A mulher, vendo que não podia se ocultar, veio tremendo, caiu-lhe aos pés e declarou diante de todos por que razão o tocara, e como ficara instantaneamente curada. 48Ele disse: “Minha filha, tua fé te salvou; vai em paz”.

[61] N.T.: Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) –  autor e estadista alemão que também fez incursões pelo campo da ciência natural.

[62] N.T.: Eusébio de Cesareia (ca. 265-339) (chamado também de Eusebius Pamphili, “Eusébio amigo de Pânfilo”) foi bispo de Cesareia e é referido como o pai da história da Igreja porque nos seus escritos estão os primeiros relatos quanto à história do cristianismo primitivo.

[63] N.T.: A História Eclesiástica (em latim: Historia Ecclesiastica ou Historia Ecclesiae) de Eusébio de Cesareia foi uma obra pioneira do século IV por tratar de um relato cronológico do desenvolvimento do cristianismo primitivo entre o primeiro e o quarto século. Ela foi escrita em grego koiné e sobreviveu também em manuscritos em latim, siríaco e armênio. O resultado foi a primeira narrativa extensiva escrita de um ponto de vista cristão

[64] N.T.: Cesareia de Filipe (em latim Caesarea Philippi) era uma antiga cidade, localizada no sopé sudoeste do monte Hermon na atual região arqueológica de Banias. Por volta do ano 20 a.C. o rei Herodes, o grande, construiu aos pés do monte Hermon um templo branco de mármore, e dedicou a César Augusto. Quando Herodes morreu a cidade ficou nas mãos de seu filho, Herodes Filipe, que a ampliou, e embelezou, e a chamou de Cesareia de Filipe, para alcançar graça diante seu imperador Tibério César, e distingui-la da outra Cesareia, a capital romana na Judeia e porto marítimo muito mais conhecida, que ficava na costa. É hoje um local arqueológico perto da fronteira Israel-Síria, junto à nascente do rio Jordão.

[65] 18Enquanto Jesus lhes falava sobre essas coisas, veio um chefe e prostrou-se diante dele, dizendo: “Minha filha acaba de morrer. Mas vem, impõe-lhe a mão e ela viverá”. 19Levantando, Jesus o seguia, juntamente com os seus Discípulos. (…) 23Jesus, ao entrar na casa do chefe e ver os flautistas e a multidão em alvoroço, disse: 24”Retirai-vos todos daqui, porque a menina não morreu: está dormindo”. E caçoavam dele. 25Mas, assim que a multidão foi removida para fora, Ele entrou, tomou-a pela mão e ela se levantou. 26A notícia do que aconteceu espalhou-se por toda aquela região.

[66] 22Aproximou-se um dos chefes da sinagoga, cujo nome era Jairo, e vendo-O, caiu a seus pés. 23Rogou-lhe insistentemente, dizendo: “Minha filhinha está morrendo. Vem e impõe sobre ela as mãos, para que ela seja salva e viva”. 24Ele o acompanhou e numerosa multidão O seguia, apertando-O de todos os lados. (…) 35Ainda falava, quando chegaram alguns da casa do chefe da sinagoga, dizendo: “Tua filha morreu. Por que perturbas ainda o Mestre?”. 36Jesus, porém, tendo ouvido a palavra que acabava de ser pronunciada, disse ao chefe da sinagoga: “Não temas; crê somente”. 37E não permitiu que ninguém o acompanhasse, exceto Pedro, Tiago e João, o irmão de Tiago. 38Chegaram à casa do chefe da sinagoga, e Ele viu um alvoroço. Muita gente chorando e clamando em voz alta. 39Entrando, disse: “Por que este alvoroço e este pranto? A criança não morreu; está dormindo”. 40E caçoavam d’Ele. Ele, porém, ordenou que saíssem todos, exceto o pai e a mãe da criança e os que o acompanhavam, e com eles entrou onde estava a criança. 41Tomando a mão da criança, disse-lhe: “Talitha Kum” — o que significa: “Menina, Eu te digo, levanta-te”. 42No mesmo instante, a menina se levantou, e andava, pois já tinha doze anos. E ficaram extremamente espantados. 43Recomendou-lhes então expressamente que ninguém viesse a saber o que tinha visto. E mandou que dessem de comer à menina.

[67] 41Chegou então um homem chamado Jairo, chefe da sinagoga. Caindo aos pés de Jesus, rogava-lhe que entrasse em sua casa, 42porque sua filha única, de mais ou menos doze anos, estava à morte. Enquanto Ele se encaminhava para lá, as multidões se aglomeravam a ponto de sufocá-lo. (…) 49Ele ainda falava, quando chegou alguém da casa do chefe da sinagoga e lhe disse: “Tua filha morreu; não perturbes mais o Mestre”. 50Mas Jesus, que havia escutado, disse-lhe: “Não temas; crê somente, e ela será salva”. 51Ao chegar à casa, não deixou que entrassem consigo senão Pedro, João e Tiago, assim como o pai e a mãe da menina. 52Todos choravam e batiam no peito por causa dela. Ele disse: “Não choreis! Ela não morreu; está dormindo”. 53E caçoavam d’Ele, pois sabiam que ela estava morta. 54Ele, porém, tomando-lhe a mão, chamou-a dizendo: “Criança, levanta-te!”. 55O espírito dela voltou e, no mesmo instante, ela ficou de pé. E ele mandou que lhe dessem de comer.

[68] N.T.: Jo 21:17

[69] N.T.: Jo 16:15

[70] N.T.: 46Ele voltou novamente a Caná da Galileia, onde transformara água em vinho. Havia um funcionário real, cujo filho se achava doente em Cafarnaum. 47Ouvindo dizer que Jesus viera da Judéia para a Galileia, foi procurá-lo, e pedia-lhe que descesse e curasse seu filho, que estava à morte. 48Disse-lhe Jesus: “Se não virdes sinais e prodígios, não crereis”. 49O funcionário real lhe disse: “Senhor, desce, antes que meu filho morra!”. 50Disse-lhe Jesus: “Vai, o teu filho vive”. O homem creu na palavra que Jesus lhe havia dito e partiu. 51Ele já descia, quando os seus servos lhe vieram ao encontro, dizendo que o seu filho vivia. 52Perguntou, então, a que horas ele se sentira melhor. Eles lhe disseram: “Ontem, à hora sétima, a febre o deixou”. 53Então o pai reconheceu ser precisamente aquela a hora em que Jesus lhe dissera: “O teu filho vive” e creu, ele e todos os da sua casa.

[71] N.T.: 1 Havia um doente, Lázaro, de Betânia, povoado de Maria e de sua irmã Marta. 2 Maria era aquela que ungira o Senhor com bálsamo e lhe enxugara os pés com seus cabelos. Seu irmão Lázaro se achava doente. 3 As duas irmãs mandaram, então, dizer a Jesus: “Senhor, aquele que amas está doente”. 4 A essa notícia, Jesus disse: “Essa doença não é mortal, mas para a glória de Deus, para que, por ela, seja glorificado o Filho de Deus”. 5 Ora, Jesus amava Marta e sua irmã e Lázaro. 6 Quando soube que este se achava doente, permaneceu ainda dois dias no lugar em que se encontrava; 7 só depois, disse aos Discípulos: “Vamos outra vez até a Judéia!” 8 Seus Discípulos disseram-lhe: “Rabi, há pouco os judeus procuravam apedrejar-te e vais outra vez para lá?”. 9 Respondeu Jesus: “Não são doze as horas do dia? Se alguém caminha durante o dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo, 10 mas se alguém caminha à noite, tropeça, porque a luz não está nele”. “Disse isso e depois acrescentou: “Nosso amigo Lázaro dorme, mas vou despertá-lo”. 12 Os Discípulos responderam: “Senhor, se ele está dormindo, vai se salvar!” 13 Jesus, porém, falara de sua morte e eles julgaram que falasse do repouso do sono. 14 Então Jesus lhes falou claramente: “Lázaro morreu. 15 Por vossa causa, alegro-me de não ter estado lá, para que creiais. Mas vamos para junto dele!” 16 Tomé, chamado Dídimo, disse então aos outros Discípulos: “Vamos também nós, para morrermos com ele!” 17 Ao chegar, Jesus encontrou Lázaro já sepultado havia quatro dias. 18 Betânia ficava perto de Jerusalém, a uns quinze estádios. 19 Muitos judeus tinham vindo até Marta e Maria, para as consolar da perda do irmão. 20 Quando Marta soube que Jesus chegara, saiu ao seu encontro; Maria, porém, continuava sentada, em casa. 21 Então, disse Marta a Jesus: “Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. 22 Mas ainda agora sei que tudo o que pedires a Deus, ele te concederá”. 23 Disse-lhe Jesus: “Teu irmão ressuscitará”. 24 Sei, disse Marta, que ele ressuscitará na ressurreição, no último dia!” 25 Disse-lhe Jesus: “Eu sou a ressurreição. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. “ 26 E quem vive e crê em mim jamais morrerá. Crês nisso?” 27 Disse ela: “Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus que vem ao mundo”. 28 Tendo dito isso, afastou-se e chamou sua irmã Maria, dizendo baixinho: “O Senhor está aqui e te chama!” 29 Esta, ouvindo isso, ergueu-se logo e foi ao seu encontro. 30 Jesus não entrara ainda no povoado, mas estava no lugar em que Marta o fora encontrar. 31 Quando os judeus, que estavam na casa com Maria, consolando-a, viram-na levantar-se rapidamente e sair, acompanharam-na, julgando que fosse ao sepulcro para aí chorar. 32 Chegando ao lugar onde Jesus estava, Maria, vendo-o, prostrou-se a seus pés e lhe disse: “Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido”. 33 Quando Jesus a viu chorar e também os judeus que a acompanhavam, comoveu-se interiormente e ficou conturbado. 34 E perguntou: “Onde o colocastes?” Responderam-lhe: “Senhor, vem e vê!” 35 Jesus chorou. 36 Diziam, então, os judeus: “Vede como ele o amava!” 37 Alguns deles disseram: “Esse, que abriu os olhos do cego, não poderia ter feito com que ele não morresse?” 38 Comoveu-se de novo Jesus e dirigiu-se ao sepulcro. Era uma gruta, com uma pedra sobreposta. 39 Disse Jesus: “Retirai a pedra!” Marta, a irmã do morto, disse-lhe: “Senhor, já cheira mal: é o quarto dia!” 40 Disse-lhe Jesus: “Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?” 41 Retiraram, então, a pedra. Jesus ergueu os olhos para o alto e disse: “Pai, dou-te graças porque me ouviste. 42 Eu sabia que sempre me ouves; mas digo isso por causa da multidão que me rodeia, para que creiam que me enviaste”. 43 Tendo dito isso, gritou em alta voz: “Lázaro, vem para fora!” 44 O morto saiu, com os pés e mãos enfaixados e com o rosto recoberto com um sudário. Jesus lhes disse: “Desatai-o e deixai-o ir embora”.

[72] N.T.: 11Ele foi em seguida a uma cidade chamada Naim. Seus Discípulos e numerosa multidão caminhavam com ele. 12Ao se aproximar da porta da cidade, coincidiu que levavam a enterrar um morto, filho único de mãe viúva; e grande multidão da cidade estava com ela. 13O Senhor, ao vê-la, ficou comovido e disse-lhe “Não chores!” 14Depois, aproximando-se, tocou o esquife, e os que o carregavam pararam. Disse ele, então: “Jovem, eu te ordeno, levanta-te!” 15E o morto sentou-se e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe.

[73] N.T.: 31<Cristo Jesus> Saindo de novo do território de Tiro, seguiu em direção do mar da Galileia, passando por Sidônia e atravessando a região da Decápole. 32Trouxeram-Lhe um surdo que gaguejava, e rogaram que impusesse as mãos sobre ele. 33Levando-o a sós para longe da multidão, colocou os dedos nas orelhas dele e, com saliva, tocou-lhe a língua.34Depois, levantando os olhos para o céu, gemeu, e disse Effatha, que quer dizer “Abre-te!” 35Imediatamente abriram-se -lhe os ouvidos e a língua se lhe desprendeu, e falava corretamente.

[74] N.T.: Apo 21:5

[75] N.T.: Destino maduro refere-se à consequência que necessariamente deverão ser vivenciadas pela pessoa. No entanto, a Filosofia Rosacruz, uma Escola de Mistérios Ocidentais, ensina-nos que sempre há certa margem para a pessoa colocar coisas novas em movimento. Em outras palavras, é possível modular a intensidade de um destino maduro, desde que a lição que se deve aprender tenha sido aprendida e o reequilíbrio com as forças da natureza, tenha sido reestruturado. Ver mais no Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas, Vol. II.

[76] N.T.: Cura do Corpo, da Alma e do Espírito.

[77] N.T.: ou Paracelsus – Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim (1493-1521) – físico, botânico, alquimista, astrólogo e ocultista suíço-germânico.

[78] N.T.: Tg 3:5

[79] N.T.: Malco é um personagem secundário no Novo Testamento da Bíblia, mencionado em Jo 18:10 como o servo do sumo sacerdote Caifás que havia sido golpeado na orelha por Simão Pedro durante a prisão de Cristo Jesus no Getsemani. De acordo com os evangelhos, quando Jesus estava para ser preso, um dos Discípulos puxou a espada e feriu o servo de Caifás que estava entre os soldados. No entanto, Cristo Jesus repreendeu ao seu Discípulo, curou a orelha de Malco.

[80] N.T.: Alexis Carrel (1873-1944) foi um biologista francês. Nasceu em Lyon, estudou medicina na Universidade de Lyon e graduou-se em 1900. Depois emigrou para os Estados Unidos.

[81] N.T. Ef 4:23

[82] N.T. Jo 5:14

[83] N.T.: “O Senhor é meu pastor, não me faltará”.

[84] N.T.: Franz Hartmann (1838-1912) escritor e médico alemão, estudioso das doutrinas de Paracelso, Jakob Böehme e a Tradição Rosacruz.

[85]  N.T.: Mt 5:48

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A Perfeita Paz do Eterno…para isso você deve saber quem é o seu mediador

A Perfeita Paz do Eterno…para isso você deve saber quem é o seu mediador

Pelo endereçamento de nossos pensamentos a Deus — que é, ao mesmo tempo, o Centro do universo e de cada indivíduo – contatamos e vivenciamos a paz, harmonia, ordem e beleza perpétua; encontramos perfeito repouso e segurança. Nessa quietude mora o infinito poder. Nesse divino Centro habitam a Vida Eterna, a Integralidade, a Beleza, a Perfeição e a Saúde. Em tal estado, o nosso poder de realização e de felicidade ultrapassa o entendimento. Mas, Deus é sábio. Pela mesma lei que amadurece gradativamente o fruto, assim Ele nos amadurece internamente para admitir mais e mais luz, à medida que nos aproximamos de Sua Presença. O impacto de toda a plenitude luminosa, num contato pleno com nosso Centro, ser-nos-ia desastroso. Por isso, existem os degraus da escada de Jacó, as etapas, na medida em que nos preparamos, sem recalques, para exprimir mais Deus. Daí que todas as religiões e filosofias procurem conduzir nossas aspirações, vontade, desejos e pensamentos, ao Divino Centro, que Cristo Jesus despertou dentro de nós.

Segundo o esforço que façamos no sentido de uma vida mais pura e altruísta, segundo o que o Mestre dos Mestres nos ensinou, assim também será nosso progresso ascensional em direção a um vislumbre dessa vivência suprema. Por certo que nossa vontade se agigantaria, levando-nos resolutamente a concentrar todos os esforços para alcançar a meta. Mas nem é preciso isso. A promessa de Cristo é muito clara: “Buscai e achareis”; “Batei e ser-vos-á aberta a porta”; “Pedi e recebereis”. Contudo, impôs a condição: “Buscai primeiramente o Reino de Deus e Sua Justiça e todas as demais coisas vos serão acrescentadas”… Vigiemos e oremos, pois, buscando metodicamente, sem preocupações, o reino de Deus em nós. Os que buscam sempre encontram; os que batem à sua porta serão admitidos… Não há outro caminho para Deus. Aqueles que buscam o desenvolvimento interno por métodos ocultos e metafísicos, que deixam o Cristo de fora, correm graves perigos.

Cuidado com eles. Cristo Jesus é único mediador “entre Deus e o Homem”. Basta que sigamos os Seus ensinamentos.

(Publicada na Revista Serviço Rosacruz – 01/1978)

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A Fotossíntese da Vida: cuide do jardim da sua vida

A Fotossíntese da Vida: cuide do jardim da sua vida

Esta é a ocasião anual em que toda a natureza leva a efeito o prodigioso e inspirador ciclo do crescimento. Como por um passe de mágica, o arbusto torto, a parreira e a árvore erguem-se em majestosa vida sob o comando silencioso do Mestre Construtor. O drama interior dos elementos manifesta-se agora diante de nós em incontáveis multiplicações de cor, de tonalidade, de botões e de flores. A alma sente que aquilo que os olhos veem — ainda que em toda sua resplendente glória, é apenas uma parte infinitesimal de uma alquimia de vida maior, mais profunda.

Regozijamo-nos com a visão e o odor das flores, das árvores e dos arbustos, embora saibamos que isto é apenas uma pequena parte do invisível processo de vida que tem lugar na flora e com o qual ficamos maravilhados.

De onde veio esse súbito e irresistível impulso de vida na planta? Como pode essa força construir um produto infinitamente perfeito e soberbamente desenhado que excita a humilde admiração e a grosseira imitação dos maiores artesões e arquitetos?

Como em todas as coisas no universo, devemos contentar-nos em ver somente os efeitos de um vasto oceano de sabedoria cósmica e de vida-força. Isto é, enquanto virmos e sentirmos apenas com os olhos e as mãos físicas. Por meio dos nossos sentidos físicos podemos observar e examinar, friamente, praticamente tudo o que existe sobre esta terra; mas é necessário possuir um coração, uma alma e uma visão espiritual para sentir profundamente e misticamente e gozar a verdadeira essência das coisas que vemos. Por trás da manifestação física há uma fonte maior, mais exuberante.

A natureza visível é ainda o nosso melhor instrutor. Sabemos que para termos farta colheita no fim do ano devemos ser cuidadosos com nossa plantação. Vemos os ciclos de vida e de morte nas flores e nas sementes — o maior, mais simples e sublime exemplo da imortalidade da vida para todos, adultos e crianças. Vemos a Lei de Causa e Efeito ensinar-nos quando observamos a reação que existe entre os cuidados que nossas plantas recebem e os resultados obtidos em crescimento e em beleza.

Quando Cristo Jesus eloquentemente nos aconselhava a “observarmos os lírios, como eles crescem”, Ele fazia um apelo ao coração casto que mora dentro de nós.

Dentre todos os mistérios relativos à vida das plantas, o processo da fotossíntese é sem dúvida, o maior. A fotossíntese, mesmo à luz da ciência moderna, é um processo alquímico pouco conhecido, por meio do qual a clorofila — principalmente nas folhas das plantas — utiliza o gás carbônico, a umidade e os raios solares vermelho e violeta para crescer e renovar-se, no mesmo sentido em que nós lançamos alimento no interior do nosso próprio sistema para suster e ajudar o corpo físico a desenvolver-se.

De coisas tão etéricas como a luz, o gás e a umidade, esta humilde vida vegetal compõe carboidratos e outros elementos em estado intermediário — e como se isso não fosse bastante, lança à atmosfera o oxigênio, gás tão necessário à vida. Bastante surpreendentemente, somente cerca de 10% do crescimento da árvore vem, realmente, do solo. Isto significa que 90% do seu crescimento provém da atmosfera.

Às vezes o ser humano sente que recebe toda a sua vida do alimento que consome. No afã de ter uma vida confortável, com televisão esportes e muitas outras atividades, ele se perde no mundo dos efeitos. Hoje, mais do que em qualquer outra ocasião, o ser humano precisa arranjar, diariamente, tempo para criar, para compreender que sua verdadeira vida vem de uma fonte de vida invisível e que aquilo que ele faz por meio da alimentação é, apenas, simples fração daquilo que sustenta seus atributos físicos. Nem mesmo o seu alimento é tão físico quanto ele supõe, pois, também está sobrecarregado com vida etérica e esta é quem verdadeiramente constrói o templo que é o seu corpo. No sentido literal, dentro de cada pessoa tem lugar uma grande fotossíntese de vida. A Luz do Pai, o alimento da Terra, os pensamentos da mente, até mesmo cada elemento que entra em sua vida diária à transmutado naquilo que você é fisicamente, mentalmente, moralmente e espiritualmente.

A mensagem de saúde que nós lhe enviamos este mês é que você deverá cuidar do jardim de sua vida com o mesmo cuidado e amor que você tem por suas flores; regue o ser humano “interior” com a água da fonte perene da oração e do serviço; converta a Luz do Pai em alegria; cultive uma mente serena, cheia de pensamentos de devoção, sabedoria e de estudos e; dê graças, sempre, porque sua única fonte de vida é Deus e sempre que você se ponha em harmonia com ela e com Suas Leis, sua saúde e sua alegria estarão asseguradas.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de abril/1978)

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Sublimação – Falemos sobre o conceito esotérico: Harmonia

Sublimação – Falemos sobre o conceito esotérico: Harmonia

Todos nós já passamos pela experiência de adentrar um recinto onde tudo aparentava a mais perfeita paz. Sentíamos, porém, que as coisas não eram exatamente como pareciam: o ambiente estava realmente carregado de tensões encobertas. Se há desacordo ou ressentimento no coração das pessoas, o disfarce de pequenas frases amáveis não pode ser qualificado de harmonia. A harmonia não é ausência de qualquer coisa; é, sim, a presença do amor.

Ao examinarmos a vida de Cristo-Jesus, vivenciaremos um exemplo de harmonia. Ao procurarmos as fontes dessa harmonia, encontramos uma constante atmosfera, um contato permanente com o Pai, o que Lhe permitia afirmar: “Eu e o Pai somos Um”. São Paulo apóstolo também nos recomendou a orar sem cessar. Começamos a compreender a necessidade de uma disciplina e integração internas, uma incessante abertura do canal espiritual que somos para a Grande Influência Superior.

Na literatura Rosacruz há constantes citações da chamada “harmonia das esferas”. E quando logramos uma pálida noção do mundo em que vivemos, concordamos em que qualquer falta de harmonia em nosso Universo seria, humanamente falando, desastrosa.

Tal harmonia deve ser produzida por uma Fonte Perfeita, porque aqui, mesmo aqui, podemos aplicar o axioma hermético “assim como é no macrocosmos é também no microcosmos”, válido para os nossos corpos finitos que são universos em miniatura.

Desvinculados do emaranhado de nossas mesquinhas “preocupações” do mundo, podemos mergulhar realmente no Grande Desconhecido de que fazemos parte: o “habitat da harmonia”. Examinando o movimento dos astros em suas órbitas, convencer-nos-emos de que tão somente uma total e absoluta harmonia poderia ter produzido as galáxias, onde tudo se movimenta a velocidades incríveis, numa perfeita sincronização. Não necessitamos de grande imaginação para vislumbrar o caos total se houvesse ausência de harmonia na “sinfonia das esferas”.
A Palavra Criadora é uma palavra harmoniosa. E como a Terra deve considerar-se afortunada pelo fato de nossas palavras ainda não terem adquirido essa magnitude de poder. Podemos nos impacientar com a lentidão do nosso progresso espiritual, porém, entendemos porque o Amor Cósmico nos está protegendo de nós mesmos, até aprendermos a manter uma harmonia interna, como aparentamos exteriormente.

(Traduzido de Rays From The Rose Cross e publicado na Revista Serviço Rosacruz de 8/77)

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A Nossa “Bondade” tem que adquirir Força em Si Mesma

A Nossa “Bondade” tem que adquirir Força em Si Mesma

Durante a nossa jornada de purificação, quando nos esforçamos por mudar seriamente de vida e tornar-nos cada vez melhores corremos o risco de acabar parecendo tolos, dando ensejo a que pessoas mal informadas, interpretem nossa bondade baseadas em seus próprios padrões, como sinal de fraqueza. Daí podem surgir situações difíceis que vão exigir tremendos esforços de nossa parte, para que sejam corrigidos todos os enganos, e as coisas colocadas em seus lugares. Na verdade, leva um bom tempo até que nosso esforço para sermos melhores, apareça revestido de sua própria verdade, sob sua real aparência. Antes disso, há um longo incômodo interno até que se chegue a adquirir o aspecto de tranquilidade, paz e desprendimento real, que não poderá mais ser confundido com a aparência de uma pessoa tola e desavisada.

Para isso, nossa “bondade” deve adquirir força em si mesma, criada não só pelos nossos bons propósitos, mas principalmente pelas nossas boas realizações.

O exemplo máximo de força encontramos em Cristo Jesus, que era bom, justo, honesto e manifestava todas as qualidades superiores que eram raras na humanidade de seu tempo. Essas qualidades eram fortes e se sobrepunham às iniquidades e fraquezas dos que O cercavam, fazendo-O amado por uns e temido por outros. E foi por temor à força dessas qualidades que O crucificaram. Mas embora fosse Cristo um enviado do Pai para sacrificar-se por nós, redimindo nossos erros pelo seu sangue derramado na cruz, é seu exemplo que temos de seguir, para que seja possível despertar a força que existe em nós, e que é Deus em nosso próprio íntimo.
Porque, só quando pudermos nos apoiar nesta força, é que alguma coisa começará a dar frutos, no longo caminho de preparação que vimos trilhando. Esses frutos, porém, muitas vezes poderão parecer fugazes, como se a força conquistada em bem, nos esteja escapando, fazendo com que nos sintamos subitamente sós e desamparados. Mas, embora isso aconteça, não será prova de que Deus nos abandonou e retirou de nós a sua força.

Pelo contrário, vem provar que Ele está ainda mais próximo, a ponto de nos permitir experimentar nossa própria solidão, e nos fazer compreender e sentir que Ele é também esta solidão, que Ele também está no nosso desamparo.

Uma coisa é certa: nunca estamos sós. Deus está sempre presente, e é a nossa constância no Bem, nossa permanência na Verdade, que nos levará a sentir cada vez mais real a presença Divina. Mesmo que a impressão dessa Presença mude, que já não se manifeste como apoio, como graça, como auxílio, mas como percalço, como dura experiência, mesmo assim, ela, a Presença, está cada vez mais perto e mais sutil; não como uma força externa, mas como Poder dentro de nós mesmos, como aquisição conquistada pela nossa própria permanência na fé. E esta deve ser a nossa maior esperança quando tivermos que colocar à prova a nossa bondade, num mundo que nem sempre encontraremos preparado para recebê-la.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de junho/73)

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Como Conheceremos Cristo quando Voltar?

A fim de facilitar o estudo desse assunto dividiremos nas seguintes partes:

  1. Quem é Cristo?
  2. Por que Cristo veio à Terra pela primeira vez?
  3. Por que Ele deve vir outra vez?
  4. Como conheceremos Cristo quando Ele voltar?

Deste modo, será mais fácil, para aqueles que não estudaram os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, compreenderem a ideia.

Há 3 meios de você acessar esse Livro:

1. Em formato PDF (para download):

Quando Conheceremos Cristo quando Ele voltar? – Max Heindel

2. Em forma audiobook ou audiolivro:

Como Conheceremos Cristo quando Voltar? – Max Heindel – audiobook

3. Para estudar no próprio site:

COMO CONHECEREMOS CRISTO QUANDO VOLTAR

Relatório Taquigrafado de uma Palestra Proferida em Los Angeles Study Center, Rx. F., em 18 de maio de 1913, por Max Heindel

Fraternidade Rosacruz

Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82

Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil

Revisado de acordo com:

1ª Edição em Inglês, How shall we know Crist at his coming, editada por The Rosicrucian Fellowship

1ª Edição em Português, editada pela Fraternidade Rosacruz São Paulo – SP – Brasil

Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

www.fraternidaderosacruz.com

contato@fraternidaderosacruz.com

fraternidade@fraternidaderosacruz.com

ÍNDICE

INTRODUÇÃO

PARTE I – QUEM É CRISTO?

PARTE II – POR QUE CRISTO VEIO À TERRA PELA PRIMEIRA VEZ?

PARTE III – POR QUE ELE DEVE VIR OUTRA VEZ

PARTE IV – COMO CONHECEREMOS CRISTO QUANDO ELE VOLTAR?

INTRODUÇÃO

Relatório Taquigrafado de uma Palestra Proferida em Los Angeles Study Center, Rx. F., em 18 de maio de 1913, por Max Heindel

Existe um quadro em minha Mente, ele está lá há anos; algumas vezes, quando tenho tempo disponível para voltar-me para dentro de mim mesmo e olhar aquele arquivo, este aparece. Deixe-me descrevê-lo: Acompanhe-me, regredindo no tempo, cerca de dois mil anos. A cena passa-se na Palestina; as colinas estão desertas; vê-se um pequeno grupo de homens e no rosto de cada um reflete-se a tristeza. Eles estão pranteando. Aquele que, pensavam, tinha vindo para fazer grandes coisas foi-lhes tirado por mãos implacáveis e Sua vida parecia-lhes destruída, e eles perguntavam-se: “Será este o fim”? Isto emocionava-os profundamente. Ele os tinha chamado de amigos. Disse-lhes: “Vós sois meus amigos[1], e eles choravam por Ele, como a um amigo. Disse-lhes também: “Se Eu for embora, Eu virei novamente[2], e eles discutiam, ansiosamente, procurando saber quando esse advento ocorreria.

Assim foi o início, mas, desde então, isto continua sendo um assunto de interesse para todos que, pela graça de Cristo, intitulam-se Seus amigos. Tem sido um tema de entusiástica e constante indagação: Quando Ele virá novamente, e como O conheceremos quando Ele voltar?

Ele disse a Seus seguidores na Palestina que muitos viriam para enganar: que se lhes fosse dito para irem ao deserto, a este ou aquele lugar para procurá-Lo, eles não deveriam ir. Disse-lhes, também, que os Anjos no céu não sabiam o dia em que Ele retornaria; que mesmo o Filho não sabia, mas somente o Pai. Como descrevi antes, eles estavam discutindo, procurando saber o tempo aproximado do advento e, particularmente, como cada um poderia conhecê-Lo quando Ele aparecesse.

Pretendentes – tem havido muitos desde aquele dia – têm alegado ser Cristo; alguns enganam-se a si próprios e aos outros, acreditando que são realmente aquele exaltado e elevado Mestre. Existem outros que, deliberada e maliciosamente, procuram usurpar Seu lugar. Portanto, há um interesse permanente na pergunta: Como vamos reconhecê-Lo?

Há um ano atrás, apareceu em uma revista inglesa, um artigo intitulado “Arautos Ocultos”. Nele foram apresentados resumos dos Ensinamentos dos Mistérios Ocidentais como são fornecidos no “Conceito Rosacruz do Cosmos” e do Ocultismo Oriental, representado por uma sociedade que promulga aquela doutrina. Os líderes das duas sociedades e suas obras foram comparados. Semelhanças foram encontradas, mas o autor do artigo também percebeu, com notável perspicácia, o que Estudantes superficiais dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental não perceberam, isto é, a diferença Vital e irreconciliável nos dois ensinamentos, no que diz respeito a Cristo e Sua vinda. Foi mostrado que, de acordo com os ensinamentos Orientais, tanto Cristo quanto Buda foram homens de vida comum, enquanto nos ensinamentos do Mistério Ocidental diz-se, com ênfase, que Cristo é um Hierarca divino, não de nossa evolução, mas, “que por nós, homens, veio” e que, tendo uma vez deixado o Corpo Denso, Ele jamais aparecerá em um veículo físico.

Como esta é uma das principais diferenças entre a Sabedoria do Ocidente e os Ensinamentos Orientais, constituindo isto um dos maiores problemas atuais, parece Vital que todos os Estudantes dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental compreendam perfeitamente o assunto.

Para sistematizar nossa exposição, vamos dividi-la em quatro partes, cada uma dedicada à consideração de uma questão que tenha relação definida com nosso assunto:

  1. Quem é Cristo?
  2. Por que Cristo veio à Terra pela primeira vez?
  3. Por que Ele deve vir outra vez?
  4. Como conheceremos Cristo quando Ele voltar?

Deste modo, será mais fácil para aqueles que não estudaram os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, compreenderem a ideia.

 PARTE I – QUEM É CRISTO?

O primeiro ponto que precisamos colocar é a identidade de Cristo, como é ensinada na Escola dos Mistérios Ocidentais. De acordo com a figura anterior, “Os Sete Dias da Criação”, o ser humano passou por um período de involução compreendendo os Períodos de Saturno, Solar e Lunar, como também metade do Período Terrestre. Nesta peregrinação através da matéria, ele adquiriu os veículos que hoje possui.

Durante o Período de Saturno, quando éramos semelhantes aos minerais, alguns seres eram humanos como nós somos hoje, mas eram de uma onda de evolução diferente. Desde então, eles têm avançado e tornaram-se os Senhores da Mente. O mais elevado daquela evolução – da Onda de Vida que estava, então, no estágio humano – é chamado no esoterismo de o Pai.

O mais elevado Iniciado do Período Solar, quando aqueles seres, que agora são Arcanjos, eram humanos, é chamado o Filho, ou seja, o Cristo.

Os Anjos atuais eram humanos no Período Lunar e o mais elevado Iniciado, que agora chamamos de Jeová, é também chamado Espírito Santo.

Temos aqui a categoria dos três mais ativos grandes seres – os líderes da evolução.

A humanidade do Período Solar não podia descer mais no mar da matéria além do Mundo do Desejo (veja a figura acima), portanto, seu veículo inferior era o Corpo de Desejos e, como é uma lei cósmica que nenhum ser pode criar um veículo que não aprendeu a construir durante sua evolução, era impossível para o Espírito Cristo nascer em um Corpo Denso. Ele não poderia formar tal veículo. Nem poderia formar o Corpo Vital, feito de Éter. Faltava-Lhe também a habilidade de funcionar na última substância, pois Ele nunca a havia adquirido em Sua evolução. Para fornecer os veículos necessários para Cristo, Jesus, um ser humano da nossa evolução – um homem nascido de um pai e de uma mãe, ambos altos Iniciados, que fizeram do ato criador um sacrifício e chegaram à concepção imaculada sem paixão – entregou seus Corpos Denso e Vital no Batismo para o Espírito Sol, Cristo, que, então, entrou no mundo material e tornou-se mediador, possuindo todos os veículos necessários para funcionar entre Deus e o ser humano. Cristo Jesus é, portanto, absolutamente único, e a Bíblia nos diz que não há nenhum outro nome pelo qual devemos ser salvos, a não ser pelo nome de Cristo Jesus. Este é o único Credo Cristão autorizado.

Tendo explicado a identidade de Cristo e de Jesus, como é apresentada nos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, nosso problema seguinte é:

 PARTE II – POR QUE CRISTO VEIO À TERRA PELA PRIMEIRA VEZ?

No Gólgota, o Corpo Denso de Jesus foi destruído, ao mesmo tempo em que se manifestavam certos fenômenos relatados na Bíblia, e o Espírito de Cristo penetrou na Terra. Até aquele momento, a Terra vinha sendo governada de fora. Do mesmo modo que os Espíritos-Grupo guiam os animais de fora, também a Terra foi guiada em sua órbita e a humanidade também o foi, no caminho de evolução, dirigida quase que inteiramente por Jeová, mas, desde aquele momento, o Cristo se tornou nosso Espírito Interno da Terra. Agora, Ele guia nosso Planeta em sua órbita e está procurando substituir o regime de guerra, inaugurado por Jeová de um lado e pelos marciais espíritos Lucíferos de outro, por um regime de altruísmo, um reino de Fraternidade Universal. Ouvimos falar muito sobre Fraternidade Universal, mas não é necessário formarem-se sociedades para proclamar que somos irmãos. Todos sabemos disto, não há necessidade de chamar atenção para este fato. Irmãos e irmãs nem sempre são harmoniosos, mas devem procurar sê-lo, se pretendem ser amigos. Cristo instituiu um ideal muito mais elevado, quando chamou Seus Discípulos de amigos: “Vós sois meus amigos se fizerdes tudo que Eu vos mandar[1].

 PARTE III – POR QUE ELE DEVE VIR OUTRA VEZ

Enquanto temos a promessa enfática do retorno de Cristo, existem muitos Cristãos que não acreditam no Segundo Advento, de maneira que será melhor, analisar se existe alguma razão compelindo Seu retorno.

Para elucidar este ponto, tomemos um episódio iluminador de “Fausto”. Embora escrito por Goethe, este drama não foi uma ficção, pois a lenda de Fausto é mais velha que a história; é um dos mitos que expressa, em termos fantasiosos, pictóricos, a história da alma em busca da luz. Estes contos foram transmitidos à humanidade infantil para que pudesse, subconscientemente, absorver os ideais que, em épocas posteriores, deveria viver. Na verdade, usamos o mesmo método de instrução quando damos a nossos filhos livros com ilustrações para inculcar-lhes ideias que não podem captar intelectualmente, por serem muitos novos.

Fausto leu livros durante sua vida inteira e, gradualmente, aprendeu que nós sabemos somente o que vivemos. Se não for para aplicação prática na vida diária, o aprendizado através de livros não terá nenhum valor. Quando a alma desperta para este fato, coloca-se no limiar do verdadeiro conhecimento olhando em direção à LUZ. Mas, a estrada se bifurca: um caminho é tranquilo e fácil, por toda sua extensão existem guias serviçais e risonhos prontos para encorajar o viajante e assisti-lo em tudo que desejar, e, no final, está Lúcifer, o portador da luz, disposto a dar honras mundanas àqueles que lhe prestam culto. O outro caminho é áspero, escarpado e perigoso; algumas vezes é muito escuro; muitos corações doloridos estão nele e, frequentemente, podemos ouvir o grito de angústia: “Quanto tempo mais, Ó, Senhor! Quanto tempo”? Mas, ainda que a alma lute aparentemente sozinha, sempre escuta uma voz interior, suave, tênue e silenciosa, mas inconfundivelmente clara: “Vinde, vós que estais fatigados e sobrecarregados e Eu vos darei repouso[2]. Às vezes, a “Verdadeira Luz”, Cristo, a meta da alma que procura, é vista através de uma brecha nas nuvens tempestuosas, que precisam ser transpostas para que o aspirante alcance o topo da realização e, a partir da visão beatificada, a alma que busca reúne novas forças.

No caminho escuro, Lúcifer favorece todos os apetites sem restrições ou reserva. Enquanto a alma é levada pela correnteza, tudo aparenta ser fácil e o prazer parece estar a espera a cada passo. No entanto, quanto a alma finalmente chega ao fim do rio da vida, em lugar de voar muito alto em direção à própria meta, é arrastada para baixo pelos apetites vis que se uniram a ela, como a polpa de sua fruta verde está colada na presente; e ela experimenta, com uma intensidade mil vezes maior, a dor que sobrevém quando pretende se libertar dos grilhões consolidados pelo pecado.

Thomas A. Kempis menciona o desejo da maioria de viver uma longa vida e como poucos se preocupam em viver uma boa vida. Eu posso parafrasear isto, exclamando: “Oh, quantos desejam alcançar poderes espirituais, mas como são poucos os que se esforçam para cultivar a espiritualidade”! A história de Fausto dá-nos uma visão daquilo que pode acontecer, se exclamássemos com toda a intensidade de nosso ser, como ele o fez:

“Oh! Há Espíritos no ar,

Que flutuam entre o céu e a terra em domínio atuando?

Inclinai-vos aqui de vossa atmosfera dourada,

Para cenários, nova vida e plena rendição ides me guiando.

Se eu possuísse um manto mágico, simplesmente,

Para transportar-me como que em invisíveis asas, largamente,

Muito mais do que custosas vestes eu prezaria,

E nem por um manto real o trocaria”.

Por esta impaciência e desejo de obter alguma coisa em troca de nada, de colher onde não semeou, ele atrai para si um espírito de natureza indesejável, pois os habitantes dos Mundos invisíveis não são, de modo algum, diferentes das pessoas daqui. Um filantropo não é encontrado a cada curva do caminho neste mundo, nem encontramos Anjos por todos os lados quando atravessamos fronteira, e a única proteção é esforçar-nos para sermos dignos de entrar conscientemente naqueles reinos. Quando tivermos alcançados o caráter requerido, não teremos que esperar.

Não precisamos referir-nos ao tipo de barganha que foi proposta a Fausto por Lúcifer, que seguiu sua vítima em perspectiva até seu gabinete; mas, quando ele se volta para a porta e está prestes a sair, ele vê, aflito, uma estrela de cinco pontas, com duas pontas viradas para a porta e uma ponta à sua frente. Esta, ele pede a Fausto que a remova, mas ao ser rigorosamente interpelado e convidado a sair pela janela ou chaminé, Lúcifer finalmente confessa:

“Para os fantasmas e espíritos é uma lei

Por onde entrarmos, por aí sair devemos”.

Isto é um ponto muito importante, pois, assim como Lúcifer entrou no gabinete de Fausto pela porta e é forçado a sair pelo mesmo caminho, Cristo entrou na Terra por meio do Corpo Vital de Jesus e precisa, em Seu retorno, sair da Terra redimida por esse mesmo caminho em direção ao Sol, Seu lar celestial. Nenhum outro veículo o fará.

Mas existem mais coisas de interesse nesta situação e na ligação entre Fausto e Lúcifer. A porta está aberta, então, por que a estrela de cinco pontas iria barrar a saída de Lúcifer, especialmente quando ele a havia transposto ao entrar no gabinete?

A estrela de cinco pontas é o emblema do ser humano com seus membros separados e braços estendidos; uma ponta está no topo, representando a cabeça que é a porta natural do espírito. Por aí ele entra em seu futuro Corpo cerca de 18 dias depois da concepção, daí saindo quando o Corpo dorme, retornando pela mesma passagem pela manhã. Para os Auxiliares Invisíveis esta é, também, a saída e a entrada. Finalmente, quando a morte chega, o espírito se retira por meio da cabeça.

Por esta razão, a estrela de cinco pontas, com uma ponta para cima, como está representada no emblema da Fraternidade Rosacruz, é o símbolo de magia branca, que trabalha por meios naturais, em harmonia com a lei de evolução.

O Estudante de uma Escola de Mistérios aprende a dirigir a força criadora para cima, para o cérebro e transmutá-la em poder anímico através de uma vida de castidade e auto sacrifício. Esse poder anímico ele o usa para projetar-se nas esferas superiores por meio da cabeça. O seguidor da magia negra, incapaz de auto sacrifício, obtém o poder através do uso pervertido da força de vida de suas vítimas, que o projetam para baixo por meio dos pés, e ele deve retornar pelo mesmo caminho. O Cordão Prateado, então, projeta-se através do órgão inferior. Portanto, a estrela de cinco pontas, com duas pontas apontando para cima e uma para baixo, é o símbolo da magia negra. Foi fácil para Lúcifer entrar no gabinete de Fausto porque as duas pontas da estrela estavam apontando para a entrada, mas, quando ele quis sair e defrontou-se com uma ponta do símbolo, sua alma pervertida foi repelida pelo emblema da pureza e do amor.

Realmente, não temos qualquer prova legal de que Cristo tenha entrado na Terra e esteja lá parcialmente confinado, como estamos confinados em nossos Corpos Densos, mas existe nisto muita evidência mística e, pela Lei da Analogia, está evidente que Cristo, passa Seus dias-santos, parte dentro e parte fora da Terra.

Câncer, regido pela Lua, é o Signo que rege a concepção. Os Egípcios o retrataram como um besouro e, para eles, o escaravelho era o símbolo da alma. Quando a Luz do Mundo, o Sol, entra em Câncer, em Junho, o poder criador do último ciclo que deu vida à Terra foi gasto e, para renovar esta vida, que caso contrário se desvaneceria, o Sol precisa descer novamente. No Equinócio de Setembro, a balança se inclina e a força germinativa entra em nossa Terra, alcançando o Centro no Natal, quando o Sol está em seu ponto mais baixo de declínio, o Solstício de Dezembro. Daí a força germinante, o raio de Cristo, se irradia para frutificar novamente a matéria e alcançar a periferia da Terra no momento em que o Sol cruza o equador celeste, no Equinócio de Março. Então, o Salvador, o Cordeiro de Deus, morre para o Mundo, mas se torna vivo para as esferas superiores.

Assim como estamos confinados em nossos Corpos Densos, de manhã até a noite pelas atividades do dia, também Cristo está confinado na Terra, do Equinócio de Setembro até o Equinócio de Março, que é o período em que as atividades físicas estão bastante inativas, mas onde os esforços espirituais trazem melhores resultados. E, da mesma forma que somos libertados de nossos Corpos à noite e entramos nos Mundos invisíveis para recuperar-nos (para o espírito) das condições difíceis da existência física, o Cristo também é temporariamente libertado da Terra na cruz (cificação) quando vemos o Sol passar o equador celeste e elevar-se às alturas celestiais. Esta é, portanto, a ocasião em que sentimos o impulso espiritual enfraquecer e utilizamos nossa energia nas atividades físicas, no cultivo do solo, fazendo crescer duas folhas de erva onde havia apenas uma.

De acordo com a opinião comum sobre o assunto, Cristo completou o Sacrifício no Gólgota, mas, na verdade, aquilo foi só o início. Ele ainda está confinado à Terra como nós estamos em nossos “Corpos de Morte”. Ele sofre como nós sofremos, mas com uma intensidade que não podemos avaliar. Ele ainda está “gemendo e labutando esperando pela manifestação dos Filhos de Deus[3], que somos nós mesmos. Quando um número suficiente de pessoas sentir o nascimento do Cristo Interno, de modo que possam suportar a carga de seus irmãos e dar suas vidas como Cristo está agora dando a Sua, então, a hora da libertação soará e Cristo poderá retornar permanentemente para o Sol. Mas, da mesma forma que Ele entrou na periferia da Terra quando veio, assim também, sob a lei que acabamos de explicar, Ele deve voltar para a superfície da Terra e isto, em si, é o que constitui a Segunda Vinda.

Não existe na Bíblia aviso mais enfático do que aquele dado por Cristo contra os que pretendem ser Cristos. Ele declarou que alguns produziriam sinais e maravilhas que poderiam enganar o próprio escolhido, e nós devemos lembrar-nos de Suas palavras, quando começamos a considerar nossa última pergunta:

PARTE IV – COMO CONHECEREMOS CRISTO QUANDO ELE VOLTAR?

Cristo disse: “Tende cuidado para que nenhum ser humano vos engane; pois muitos virão em meu nome, dizendo, Eu sou Cristo; e enganarão muitos. E, se algum ser humano vos disser, olhai, aqui está Cristo, ou olhai, ele está lá, não acrediteis nele. Pois falsos Cristos e falsos profetas surgirão e produzirão sinais e milagres para enganar, se isto fosse possível, o verdadeiro escolhido… então, eles verão o Filho do homem vindo nas nuvens com grande poder e glória … Ele enviará Seus Anjos e juntará Seu escolhido dos quatro ventos …, mas, deste dia e hora, nenhum ser humano o sabe, nem os Anjos que estão no céu, nem o Filho, mas só o Pai”.[4]

Por essas passagens, vemos como precisamos ser cuidadosos para não sermos atraídos por impostores. Existe, também, muita luz a guiar-nos para o caminho certo e alguns sinais são os indicadores pelos quais podemos, certamente, reconhecer Cristo dos imitadores. O sinal mais conclusivo dos impostores é que, não importa quanto seu argumento possa ser inteligente, eles vêm revestidos em um Corpo físico. Existem boas razões para entendermos que:

Cristo Não Virá em um Corpo Físico[5]

Nenhum veículo poderia suportar a tremenda vibração de tão grande Espírito. Pelas Escrituras, sabemos que Cristo frequentemente afastava-Se de Seus Discípulos. Nessas ocasiões, Ele levava o Corpo de Jesus para os Essênios, que eram homens de nossa evolução e hábeis médicos esotéricos, peritos nos cuidados com o Corpo. Eles restauravam o seu vigor e energia e, dessa forma, mantiveram o Corpo de Jesus unido por três anos. Do Gólgota, o Corpo foi levado para o túmulo e, como a influência coesiva foi retirada, os átomos espalharam-se em todas as direções e quando o túmulo foi aberto, somente a vestimenta foi encontrada.

Para obter outro veículo físico para a Segunda Vinda, da mesma maneira que o primeiro foi preparado, seria muito difícil, mas poderia ser conseguido. No entanto, sob a lei de que um espírito deve sair por onde entrou, somente aquele único Corpo de Jesus seria utilizado e, como foi destruído, é impossível que Cristo apareça em um veículo físico. Portanto, como já foi dito, possuir tal Corpo revela o impostor.

Supondo que essa “lei” seja uma invenção da imaginação do autor e que a Lei de Analogia, citada como defesa, seja somente uma coincidência, nossa argumentação é ainda apoiada pela Bíblia, não obstante todas as outras evidências. Cristo disse: “Se eles disserem para vós; Olhai, Ele está no deserto; não ides. Olhai, Ele está nas câmaras secretas; não acrediteis[6]. Assim Cristo não deve ser encontrado em nenhum lugar físico. São Paulo também declara enfaticamente que “carne e sangue” não herdarão o reino. Se nós estamos para ser “revestidos com uma casa que nos vem do céu”, por que o líder da Nova Dispensação deveria Ter um veículo físico?

A Bíblia não abandona o assunto e diz-nos onde não procurar Cristo. Ele disse enfaticamente: “O Filho do Homem virá nas nuvens[7]. Quando Ele finalmente deixou Seus Discípulos, “Ele foi levado para cima, e uma nuvem O recebeu, sem ser visto por eles. E, enquanto eles olhavam fixamente para o céu, à medida que Ele subia, dois homens permaneceram perto deles em trajes branco, os quais também disseram: Ele voltará do mesmo modo que O vistes ir para o céu” (At 1:10-11). São Paulo diz: “O Senhor, Ele mesmo descerá do céu… depois nós … seremos arrebatados por entre nuvens para encontrar o Senhor, no ar” (ITes 4:16-17). São João viu o primeiro céu e a terra desaparecerem – o mar secou e uma cidade santa desceu do céu, da qual Cristo era o regente. Estas coisas são, evidentemente, impossibilidades físicas. Um Corpo de carne e sangue não pode elevar-se no ar, e São Paulo afirma, categoricamente, que “carne e sangue não podem herdar o Reino de Deus”. Se nós não podemos entrar naquele traje, como pode Cristo, o líder, usar um Corpo físico em um universo de lei?

Se pudéssemos, agora, descobrir que tipo de veículo Ele usou, saberíamos como reconhecê-Lo e, também, como seremos constituídos, pois “seremos como Ele” de acordo com São João: “Amados, agora nós somos os filhos de Deus, e não aparece ainda o que seremos: mas nós saberemos que, quando Ele aparecer, nós seremos como Ele.” (IJo 3:2). São Paulo diz: “nossa comunidade (não conversação, como foi traduzido; a palavra grega é “politeuma” – forma de governo ou comunidade e é usada pelo apóstolo para se referir ao novo céu e terra) está no céu, de onde também estamos esperando o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso Corpo vil, fazendo-o semelhante ao Seu Corpo glorioso.” (Fp 3:20-21).

O Corpo que Cristo usou depois do evento do Gólgota era também capaz de entrar em uma sala com portas fechadas, pois Ele assim apareceu para Seus Discípulos e deixou Tomás tocá-lo. Podem pseudo-Cristos, em um Corpo físico, fazer isto? Acredito que não.

Este fato requer um veículo mais sutil que o físico e nenhum sofisma poderá invalidar este argumento, isto é, de que Cristo usará um veículo mais sutil que o físico. A Bíblia diz que Cristo usou um Corpo tão sutil depois da ressurreição, que Ele ascendeu ao Céu dentro dele, que Ele deverá voltar neste mesmo Corpo e que, neste aspecto, nós mudaremos para um estado onde seremos como Ele.

Surge a pergunta final: Ensina-nos a Bíblia que veículo é esse e existe alguma informação pela qual possamos obter conhecimento completo e definitivo com respeito a este novo veículo? Devemos procurar a resposta no inimitável capítulo XV da 1ª Epístola aos Coríntios, onde São Paulo ensina a doutrina do Renascimento por meio dos Átomos-semente, tão claramente quanto a dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental de hoje.

Na versão inglesa, o versículo 44 diz: “Existe um Corpo natural e um Corpo espiritual”; mas o Novo Testamento não foi escrito em inglês e, como os tradutores nada sabiam dos ensinamentos internos, não tinham ideia de como traduzir a palavra grega que para eles parecia sem sentido, por isso, a traduziram como a compreenderam. Contudo, deixarei que vocês a traduzam, mesmo que não sejam Estudantes de grego. A palavra que é usada e traduzida como “corpo natural” é soma psuchicon. Soma é uma palavra grega que, todos concordam, é Corpo – não há dúvidas quanto a isto. Mas Psuchicon – psuche – (psyche) – a alma – um Corpo-Alma do qual nunca ouviram falar; provavelmente pareceu-lhes tolice, de maneira que traduziram a palavra como “Corpo natural”. É verdade que São Paulo diz na 1ª Epístola aos Tessalonicenses, 5:23, que o ser de todo ser humano é Espírito, Alma e Corpo, mas, provavelmente, eles interpretaram alma e espírito como sinônimos. Existe, porém, uma grande diferença, como é explicado nos Mistérios Rosacruzes: este Corpo-Alma é o veículo a que São Paulo se refere e no qual encontraremos Cristo. É composto de Éter e, portanto, capaz de levitação e de passar por paredes, uma vez que toda matéria densa é permeada com Éter. Os Auxiliares Invisíveis o usam hoje, como Cristo o fez.

De início, parece muito estranho saber que encontraremos o Senhor “no ar”, que esta terra vai ser deixada para trás. Mas não é estranho se considerarmos que o caminho da evolução sempre foi de dentro para fora. Na última parte da Época Lemúrica, quando esta terra estava em um estado ígneo, o ser humano vivia na crosta que estava sendo formada próxima ao centro ígneo, em um Corpo que começava também a ser formado. Ele viveu na Época Atlante, nas bacias da Terra, sob a densa neblina que se levantava da terra que se esfriava, como é mencionado no capítulo segundo do Livro do Gênesis. Então, a humanidade foi chamada, como relata a história folclórica alemã “Niebelungen” – Niebel, que significa neblina e Ungen, filhos: Filhos da Neblina. A Bíblia conta-nos como eles foram guiados por seus mestres e, gradualmente, como esta atmosfera nebulosa da terra condensou-se quando o Planeta resfriou e, finalmente, como as águas desceram do céu no chamado “o dilúvio”.

Nessa ocasião, sabemos que o ser humano deixou as terras baixas, que estavam submersas pela neblina condensada, o mar, e entrou em uma nova era de desenvolvimento sob as atuais condições. Então, ele viu o arco-íris pela primeira vez, quando o Sol brilhou sobre as nuvens e foi-lhe dito que, enquanto aquele sinal permanecesse, a sucessão de mudanças, que conhecemos como estações, continuaria. Enquanto tivermos as atuais condições atmosféricas, esta era de alternâncias continuará. Devagar, mas seguramente, estamos subindo em direção aos cumes da terra; procuramos níveis cada vez mais altos.

Quanto mais elevada for a evolução das raças, mais elas quererão subir em direção ao ar e, gradualmente, vão deixando as terras baixas.

Como aconteceu na época de Noé, dia virá que ocorrerá uma grande mudança cósmica. Cristo refere-se a isto ao falar de Sua vinda: “Assim como foi nos dias de Noé, assim será nos dias do Filho do homem[8]. Pessoas movimentavam-se como sempre o haviam feito. Casavam-se e eram dadas em casamento; comiam e bebiam e viviam suas vidas mundanas. Mas, de repente, o dilúvio desceu sobre a antiga Atlântida e os veículos que tinham não lhes eram mais úteis. Necessitavam de veículos onde pudessem adaptar-se às novas condições atmosféricas, da mesma maneira que o bebê, quando nasce, precisa instantaneamente adaptar-se, da respiração que tinha dentro da água, à respiração no ar. Se não puder fazer isto, ele morrerá e foi o mesmo no caso dos Atlantes que estavam acostumados a respirar em sua atmosfera aquosa e nebulosa. Aqueles que não estavam fisiologicamente ajustados para esta mudança, afogaram-se.

Cristo disse que uma condição semelhante ocorrerá à Sua vinda. Aqueles que viviam na Atlântida, talvez não tenham percebido o desenvolvimento fisiológico que ocorreu em alguns e que os preparou para mudar da respiração aquosa para a respiração do ar, usando diretamente os pulmões. Do mesmo modo, há uma mudança acontecendo na humanidade, não observável por aqueles que não cultivam a visão espiritual. É um fato que uma atmosfera áurica envolve todo ser humano. Sabemos que, frequentemente, sentimos a presença de uma pessoa que não vemos e sentimos isto porque existe esta atmosfera fora de nossos Corpos Densos. Ela está, pouco a pouco, mudando; está se tornando cada vez mais dourada no Oeste. Quanto mais caminhamos com Cristo, mais esta cor dourada aumentará – esta que é a cor do Cristo e dos semelhantes a Ele: os Santos que os pintores retrataram com uma auréola. Gradualmente, estamos nos tornando mais semelhantes a Ele e esse “soma psuchicon” ou Corpo-Alma está adquirindo forma, está sendo preparada como nosso “traje nupcial”.

Um número crescente de pessoas está se tornando capaz de funcionar neste veículo e muitos estão se preparando para o dia da vinda de Cristo. Esta mudança não é realizada por processo físico, mas pelo serviço, pelo amor, pelo que conhecemos no mundo ocidental como altruísmo, que está se difundindo cada vez mais na sociedade. Estamos ficando mais humanos; cada vez mais iguais a Cristo, embora longe de sermos perfeitos. Talvez o dia da vinda de Cristo não seja nesse século ou no outro, nem no próximo milênio, não obstante, podemos observar uma mudança espiritual acontecendo na humanidade e depende de nós apressarmos o dia da vinda de Cristo, pois como Ele mesmo disse: “Este dia nenhum ser humano conhece[9]. Nenhum ser humano está habilitado a dizer quando e quantas pessoas terão desenvolvido o soma psuchicon, de tal forma que estejam capacitados a fazer a obra que Ele está agora fazendo para nós.

Descemos até ao vale da matéria e, por nossa causa, foi necessário que Cristo entrasse na Terra para nos ajudar de dentro. Por nossa causa, Ele está agora sofrendo e labutando lá, esperando pela manifestação dos filhos de Deus e depende de nós apressarmos ou retardarmos este dia. Cada ato nosso tem algum efeito nesse sentido – cada um de nós tem seu trabalho neste mundo e quanto mais cedo aprendermos a fazê-lo, melhor será para nós. Não deveríamos procurar o Cristo fora – Ele não se encontra lá. Ele mesmo disse, “Não vás para o deserto”. Não O procuremos nestes lugares: o Cristo é formado de dentro. O Corpo-Alma que está, gradualmente, tornando-se capaz de elevar-se sobre as montanhas, é o resultado do esforço de cada aspirante que esforça para ser admitido à vida superior. Como diz Fausto:

“Duas almas, oh! Moram dentro do meu peito,

E aí lutam por um indivisível reino;

Uma aspira pela terra, como vontade apaixonada

À íntimas entranhas ainda está ligada.

Acima das névoas, a outra aspira, de certeza,

Com ardor sagrado por esferas onde reine a pureza”.

Amigos, em cada um de nós há essa luta travada entre a natureza superior e a inferior. São Paulo teve que lutar essa batalha e toda alma que procura deve lutar, também. Mas, não pensem que é saindo para o extenso mundo e nele lutar, que encontraremos o que procuramos. Sir Launfal saiu de sua casa ainda jovem, passou toda uma vida procurando o Graal. Quando voltou para seu castelo, encontrou o mesmo mendigo que ele havia desdenhosamente ignorado quando partiu de casa, mas, quando agiu certo, quando o amoroso espírito do serviço entrou nele, então, o Cristo se manifestou.

“Ele partiu em duas, sua única côdea de pão,

Ele quebrou o gelo da beira do córrego;

E ao leproso deu de comer e beber pela mão”.

O Salvador, diante dele, disse: “Este é meu Corpo e este é meu sangue”.

“Santa Ceia é mantida, na verdade,

Por tudo que ajudamos o outro em sua necessidade”

Não é o que damos, mas é o que compartilhamos que realmente tem valor. Aqueles que dão somente quando têm em abundância, quando dão coisas que não necessitam – coisas que são realmente um peso para eles, coisas de que não sentem falta – não sabem o que é dar a vida por um amigo. Enquanto não se derem, suas dádivas serão estéreis. “Não há maior amor que o do ser humano que dá sua vida por um amigo”. Este não deve ser um único ato – o dar a vida por um amigo – mas sim um auto sacrifício constante, diário. “Eu estava com fome e tu me deste de comer; eu estava com sede e tu me deste de beber … eu estava doente e tu me visitaste[10]. Este é o único requisito. Que nós possamos aprendê-lo, amigos. Não precisamos procurá-Lo tão longe: está perto de nós, ao nosso lado.

Conhecemos aquele pequeno poema sobre deixar nossa luz brilhar exatamente onde estamos. Nem todos podem ser uma estrela, nem podem brilhar, nem ser um líder, mas cada um pode fazer algo, acender sua própria velinha e deixar que ela dissipe um pouco a escuridão ao redor. Isto é o que temos que fazer e se fizermos somente este tanto, descobriremos que aquela vela será como uma estrela ardente para guiar-nos para o Cristo, na Sua próxima vinda. Então, teremos certeza de reconhecê-Lo, pois encontraremos a resposta dentro de nós. Diz-se que O conheceremos porque seremos como Ele e, como Ele não tem Corpo Denso para vir, temos que desenvolver aquele veículo da alma, o soma psuchicon. Para que nós possamos encontrá-Lo quando Ele aparecer, mas deveremos estar trajados com o “Dourado Manto Nupcial”.

F I M


[1] N.T.: Jo 15:14

[2] N.T.: Mt 11:28

[3] N.T.: Rm 8:18

[4] N.T.: Mt 24 4-36 e Mc 13:5-32

[5] N.T.: em um Corpo Denso

[6] N.T.: Mt 24:26

[7] N.T.: Mt 24:30; Lc 21:27 e Mc 13:26

[8] N.T.: Mt 24:37

[9] N.T.: Mt 24:36

[10] N.T.: Mt 25:35-36

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Interpretação Mística da Páscoa

As informações contidas nesse livreto foram trazidas das conferências e de outros escritos de Max Heindel e publicadas de tempos em tempos, em forma de revista ou trechos em livros.

Esse humilde esforço pretende ser uma inspiração para aqueles que tenham vislumbrados a Centelha de Luz e Amor Divinos, e que está se esforçando para alcançar aquela última meta que foi alcançada por Cristo Jesus a mais de dois mil anos no Gólgota.

O que Ele conseguiu, naquela ocasião, é a tarefa que se defronta a todos e a cada um de nós.

Quando tivermos submetido totalmente ao Eu Superior ou Cristo-interno, então virá a ressurreição ou a completa libertação da matéria.

Então, nós podemos dizer com Cristo: “Está consumado”.

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Há 4 meios de você acessar esse Livro:

1.Em formato PDF (para download ou imprimir):

Interpretação Mística da Páscoa – Max Heindel

2.Em formato de audiobook ou audiolivro:

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3. Em forma de videobook ou videolivro no nosso canal do Youtube: https://www.youtube.com/c/TutoriaisEstudosFraternidadeRosacruzCampinas/featured

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Interpretação Mística da Páscoa – Max Heindel em videobook

4. Para estudar no próprio site:

INTERPRETAÇÃO MÍSTICA DA PÁSCOA

 Por

Max Heindel

(1865-1919)

Compilado de vários escritos e conferências de um místico

Fraternidade Rosacruz

Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82

Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil

Revisado de acordo com:

1ª Edição em Inglês, The Mystical Interpretation of Easter, editada por Max Heindel

1ª Edição em Português, editada pela Fraternidade Rosacruz São Paulo – SP – Brasil

Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

www.fraternidaderosacruz.com

contato@fraternidaderosacruz.com

fraternidade@fraternidaderosacruz.com

PREFÁCIO

As informações contidas nesse livreto provêm das conferências e escritos de Max Heindel, e foram publicadas uma e outra vez em forma de artigos de revista e/ou em livros. O Boletim Echoes, editado pela primeira vez em junho de 1913, por Max Heindel, contém uma grande quantidade de conhecimentos e sabedoria sobre esse e outros importantes acontecimentos de significado místico. Alguns capítulos sobre a Páscoa são, também, encontrados nos livros Coletâneas de um Místico e Ensinamentos de um Iniciado.

Esse humilde esforço pretende ser uma inspiração para aqueles que tenham vislumbrados a Centelha de Luz e Amor Divinos, e que está se esforçando para alcançar aquela última meta que foi alcançada por Cristo Jesus a mais de dois mil anos no Gólgota. O que Ele conseguiu, naquela ocasião, é a tarefa que se defronta a todos e a cada um de nós. Quando tivermos submetido totalmente ao Eu Superior ou Cristo Interno, então virá a ressurreição ou a completa libertação da matéria. Então, nós podemos dizer com Cristo: “Está consumado”.

ÍNDICE

CAPÍTULO I

O CRISTO CÓSMICO

CAPÍTULO II

UM ACONTECIMENTO DE SENTIDO MÍSTICO

CAPÍTULO III

O SIGNIFICADO CÓSMICO DA PÁSCOA

Primeira Parte

CAPÍTULO IV

O SIGNIFICADO CÓSMICO DA PÁSCOA.

Segunda Parte

CAPÍTULO V

A LIÇÃO DE PÁSCOA

CAPÍTULO VI

O SÍMBOLO DO OVO

CAPITULO VII

A CRUZ DE CRISTO

CAPITULO VIII

QUE FOI FEITO DO CORPO FÍSICO DE JESUS?

CAPÍTULO I

O CRISTO CÓSMICO

“Ainda que Cristo nascesse mil vezes em Belém,

se não nasce dentro de ti, tua alma segue extraviada.

Olharás em vão a Cruz do Gólgota,

enquanto não fizeres um Gólgota de teu coração também”.

AngelusSilésius[1]

A canção popular de hoje, que todo mundo canta com entusiasmo, mas que é esquecida amanhã; o espetáculo que é levado à cena, talvez, cem noites seguidas, para depois ser abandonado e relegado ao pó, e todas as outras coisas que são evanescentes demonstram, claramente, que não tem um valor intrínseco. O brilho de uma estrela cadente ilumina o céu por um momento, mas embora o brilho das outras estrelas seja mais fraco e atraia menos a nossa atenção, suas luzes confortam ao caminhante, noite após noite, através dos tempos. Somente as canções que, por seu valor, são reproduzidas sempre de novo, cuja música não nos cansa nunca, têm realmente algo de valioso na vida. O mesmo acontece nos ciclos cósmicos que sempre se repetem, marcados pelas festas do ano. Como elas são recorrentes, sempre nos ensinam as mesmas antigas lições, sempre sob um novo ponto de vista.

O impulso de vida do Cristo Cósmico que entrou na Terra no último mês de setembro, manifestou-se no nascimento Místico no Natal e realizou sua maravilhosa magia de fecundação do mês de setembro até março e se libertou da cruz da matéria para ascender novamente ao trono do Pai, na Páscoa deixa a Terra coberta de uma glória verde dos próximos meses, pronta para as atividades físicas[1].

Como é em cima, assim também é em baixo. Os processos que se desenvolvem em larga escala na Terra manifestam-se, também, no ser humano. Durante os meses de setembro a março nós fomos completamente impregnados pelas vibrações espirituais que predominaram nos últimos meses, muito mais do que foi possível sob as condições mais materiais que prevalecem entre março e setembro. Chegou-nos em setembro com um novo impulso para a vida superior; culminou na Noite Santa, e sua magia trabalhou dentro de nós e em nossas naturezas na proporção que aproveitamos nossas oportunidades. De acordo com a nossa aplicação ou descuido no último período, o progresso será acelerado ou atrasado no próximo período, porque não existem palavras mais verdadeiras do que aquelas que nos ensinam que somos exatamente aquilo que fizermos de nós mesmos. O serviço que prestamos ou deixamos de prestar determina se a nova oportunidade, para um serviço maior, nos proporciona um impulso mais forte para cima; e não será nunca demais repetir que é inútil esperar libertação da cruz da matéria, antes que tenhamos usado nossas oportunidades aqui e, então obter uma mais ampla capacidade de sermos úteis. Os “cravos” que prendem a Cristo na Cruz do Calvário prendem você e eu, até que o impulso dinâmico de amor flua de nós em ondas e correntes rítmicas, tal como a maré de amor que, anualmente, entra na Terra, e a impregna com vida renovada.

Conhecemos a analogia entre o ser humano – que entra nos seus veículos, quando desperta pela manhã, vive neles e trabalha por meio deles, e a noite é um Espírito livre, livre da escravidão do Corpo Denso – e o Espírito de Cristo que mora em nossa Terra, uma parte do ano. Nós todos sabemos que grilhão e que prisão esse Corpo representa; como nós somos cerceados pelas doenças e sofrimentos, porque não existe ninguém que esteja sempre em perfeita saúde, de maneira que nunca estamos livres de sentir as ânsias de dor, pelo menos ninguém que esteja no estreito caminho espiritual.

A mesma coisa acontece com o Cristo Cósmico, que dirige Sua atenção para a nossa pequena Terra, focando Sua consciência neste Planeta, para que tenhamos vida.  Ele tem que vitalizar esta massa morta (que nós mesmos cristalizamos fora do Sol) todos os anos; e isso é um grilhão, um peso e um aprisionamento para Ele. Esse é o motivo justo e próprio pelo qual devemos nos alegrar quando Ele chega à época doNatal, todos os anos, e nasce, novamente, no nosso mundo para nos ajudar a transformar para melhor essa massa informe, com a qual nos sobrecarregamos. Nossos corações, nessa época, devem voltar-se para Ele, em gratidão pelo sacrifício que Ele faz por nossa causa, durante os meses de: setembro, outubro, novembro e dezembro, permeando este Planeta com Sua Vida, para despertá-lo da hibernação, no qual permaneceria se não fosse Ele, pelo seu nascimento, para dar-lhe vida.

Durante os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro Ele sofre agonias de torturas, “gemendo, trabalhando e esperando pelo dia da libertação[2], a qual chega no tempo em que nós falamos nas igrejas ortodoxas: Semana da Paixão, mas nós afirmamos que, de acordo com os ensinamentos místicos, essa semana é exatamente a culminação ou ponto mais alto dos Seus sofrimentos, e que Ele, então, sai de Sua prisão; e quando o Sol cruza o Equador, Ele é suspenso na Cruz, exclamando: “Consummatum est!” – “Está consumado!”[3]; ou “Está cumprido!”. Isto quer dizer que o Seu trabalho, para aquele dia, foi cumprido. Não é um grito de agonia, mas um grito de triunfo, um grito de alegria, pois a hora da libertação chegou e, mais uma vez, Ele pode se elevar, por mais um período, se livrando da prisão e do peso do nosso Planeta.

O ponto para o qual desejo chamar vossa atenção é que deveríamos nos alegrar com Ele, nessa grande, gloriosa e triunfante hora, a hora da libertação, quando Ele exclama: “Está cumprido”. Sintonizemos os nossos corações para esse grande acontecimento Cósmico; alegremo-nos com o Cristo, nosso Salvador, que o tempo de Seu sacrifício anual se completou, mais uma vez; sintamo-nos agradecidos, do fundo dos nossos corações, que Ele está, agora, prestes a ser libertado da prisão terrena; pois a vida que Ele imbuiu no nosso Planeta é suficiente para conservar-se até o próximo Natal.

A Natureza é a expressão simbólica de Deus. Por isso, quando queremos conhecer a Deus precisamos estudar a Natureza, lembrando-nos sempre que existe um propósito emtoda a manifestação; que a vida é uma escola e aprendendo suas muitas lições a humanidade evolui lentamente de uma chispa divina para a Divindade. Se tivéssemos aprendido as lições da vida, tal como nos foram dadas, não teria havido necessidade do grande sacrifício que foi feito e que é anualmente repetido pelo Espírito de Cristo, que é a personificação do Amor. Por egoísmo, desobediência às Leis e práticas do mal fomos cristalizando rapidamente, não somente nossos corpos, mas, também a Terra na qual vivemos, a um nível que ambos estavam se tornando inúteis como meios de evolução. Quando já não nos podíamos salvar dos resultados dos nossos próprios erros, o Cristo compassivo ofereceu a Si mesmo e o seu grande Poder de Amor para romper essas condições cristalizadas dos corpos humanos e da Terra. Durante três anos Ele ensinou a Humanidade pela palavra, pelo preceito e exemplo.

Quando Ele foi crucificado no Gólgota o seu Grande Sacrifício pela humanidade apenas começou. Cada ano, desde esse tempo, quando o Sol passa do Signo zodiacal de Virgem para o de Libra, o Espírito de Cristo, retornando à nossa Terra, toca a sua atmosfera. Ele começa a sua jornada de descida em torno de 21 de junho[4], no Solstício de Junho, quando o Sol entra no Signo de Câncer. Ele chega ao centro da nossa Terra à meia-noite de 24 de dezembro. Aí Ele fica por três dias e, depois, começa a voltar. Esta volta completa-se na Páscoa. Da Páscoa até o Solstício de Junho Ele está passando pelos Mundos Espirituais e chega ao Mundo do Espírito Divino, o Trono do Pai, a 21 de junho[5]. Durante julho e agosto, quando o Sol está em Câncer e Leão, Ele reconstrói o seu veículo Espírito de Vida, que Ele trará ao mundo, novamente, e, com esse veículo, Ele voltará a rejuvenescer a Terra e os reinos de vida que nela evolucionam. Do Natal até a Páscoa Ele se dá a Si mesmo sem limitações nem medida, imbuindo com vida, não apenas as sementes adormecidas, mas todas as coisas sobre e dentro da Terra.

Sem essa infusão da vida e energia Divinas, todos os seres viventes da nossa Terra morreriam imediatamente, e todo o progresso seria frustrado, no que concerne à nossa presente linha de desenvolvimento. Essa atividade germinativa da vida do Pai, que nos é trazida por Cristo e entregue amplamente no tempo da Páscoa, que renova o crescimento e intensifica a atividade na planta, no animal e no ser humano, nessa especial parte do ano. Cristo não deixa a Terra na Páscoa senão depois de dar de Si Mesmo até ao máximo. É, então, que a infusão de Sua Vida, junto com os raios quase verticais do Sol, faz as sementes germinarem; as árvores florirem; os pássaros acasalarem, dirigidos pelos seus Espíritos-Grupo, e construírem seus ninhos. A humanidade, então, é fortificada e imbuída com a energia e a coragem necessárias para enfrentar, aproveitar e crescer por meio das experiências inesperadas providas pelos diversos e perplexos problemas da vida.

Para aqueles que se decidiram trabalhar consciente e inteligentemente com a Lei Cósmica, a Páscoa tem um grande significado. Para eles significa a libertação anual do Espírito de Cristo das restrições dolorosas da Terra e Sua gloriosa ascensão ao mundo do Seu verdadeiro lar, para lá permanecer um período junto ao seio do Pai. E se os seus olhos estão verdadeiramente abertos eles podem ver as hostes Angélicas que O estão esperando, prontos para acompanhá-Lo na Sua viagem em direção ao céu; se os seus ouvidos estão sintonizados com os sons celestiais, eles ouvem os coros celestiais cantando Seu louvor e hosanas jubilosos, elevados ao Deus Altíssimo.

Para as almas iluminadas a Páscoa traz uma profunda compreensão do fato de que toda a humanidade é peregrina na Terra; que a verdadeira pátria do Espírito são os Mundos Espirituais e para alcançar esse reino devemos nos esforçar em aprender as lições da escola da vida o mais rápido possível, de maneira que possamos ser capazes de ver para o amanhecer de um dia que nos liberaremos, permanentemente, da escravidão da Terra. Então, da mesma forma como o Cristo libertado, chegaremos a uma realização dessa gloriosa imortalidade, como recompensa da conquista do Espírito perfeito. Para as almas iluminadas, a Páscoa simboliza o amanhecer de um dia feliz, quando toda a humanidade, semelhante ao Cristo, será permanentemente livre das restrições materiais, e ascenderão aos Reinos celestes, tornando-se pilares de força na Casa do Pai, de onde não mais sairão.

CAPÍTULO II

UM ACONTECIMENTO DE SENTIDO MÍSTICO

Para onde eu vou não podes agora seguir-me; mas

depois me seguirás … Aquele que crê em mim

também fará as obras que eu faço

e as fará maiores do que estas.

Jo 13:36; 14:12

Se fôssemos a uma igreja ortodoxa num Domingo de Páscoa, provavelmente ouviríamos a história de Jesus, o Filho de Deus, concebido sem pecado e que, com a idade de 30 anos, assumiu um sacerdócio que durou três anos e que terminou em crucificação e morte por nós; que através de seu sangue podemos ser salvos. Provavelmente, poderíamos ouvir, também, que no dia da Páscoa ele levantou-se novamente dos mortos, subindo depois para o Pai onde está agora sentado à direita da majestade de Deus, de onde retornará para julgar os vivos e os mortos na última Ressurreição.

Porém, mesmo sabendo – em virtude de podermos ler na Memória da Natureza – que Jesus viveu e morreu, que teve uma missão mística da máxima importância para a evolução humana e que os principais acontecimentos daquela grande vida se deram realmente conforme relata o Evangelho, sabemos também que a missão do Cristo Místico é algo infinitamente mais gloriosa do que aquilo que já penetrou no coração dos que conhecem apenas a interpretação ortodoxa dos Evangelhos.

Em primeiro lugar, a festa da Ressurreição, chamada Páscoa, não comemora simplesmente a ressurreição de um indivíduo, mas significa um evento cósmico. Seria extrema tolice celebrar-se a morte e ressurreição de uma pessoa, ocorrida em certo dia do ano, com uma festa móvel que é determinada pelas posições do Sol e da Lua no Signo zodiacal de Áries, o carneiro ou cordeiro.

Cada ano uma onda espiritual de vitalidade invade a Terra no Solstício de Junho, a fim de despertar a semente que hiberna no solo gelado e infundir nova vida ao mundo em que vivemos. Este trabalho se processa durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, enquanto o Sol transita pelos Signos zodiacais de Capricórnio, Aquário e Peixes. Então, ele cruza o equador celestial vindo do Sul, onde esteve durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro; esse cruzamento ou crucificação (crucifixão) é então relacionado, cosmicamente, com a sua entrada no Signo de Áries, o carneiro ou cordeiro. Então, o Sol se eleva para os Signos dos céus setentrionais a fim de promover, com seus raios aquecedores, o crescimento da semente no solo já revitalizada pela onda de vida Crística nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Sem essa onda mística anual de energia vital oriunda do Cristo Cósmico, a vida física seria uma impossibilidade. Sem ela não poderia haver nem pão e vinho físicos, nem a transubstanciada tintura espiritual, preparada pela alquimia vinda do sangue do coração do Discípulo.

O cordeiro foi morto quando da fundação do mundo da Época Ária, em que agora vivemos. Seu sangue foi o símbolo que salvou da morte o povo escolhido de Deus quando este deixou o lendário Egito, a pátria de adoração do boi Touro ou Apis. A partir dali, tornou-se idolatria para todos os que haviam sido salvos pelo sangue do cordeiro, adorar o bezerro de ouro, pois as velhas Religiões do boi Touro tinham sido superadas pela Religião do cordeiro, quando o Sol, por Precessão dos Equinócios, deixou o Signo de Touro e entrou no Signo celestial de Áries, o cordeiro ou carneiro. Completado o tempo em que o Sol, por Precessão dos Equinócios, havia alcançado os sete graus no Signo do carneiro, Cristo veio no corpo de Jesus para estabelecer um novo pacto sob o selo e símbolo dos místicos pão e água da vida. Mas o Cordeiro de Deus precisava morrer, e isto aconteceu individualmente quando Cristo deixou o corpo de Jesus e, cosmicamente quando o Sol, por Precessão dos Equinócios, saiu do Signo de Áries. Então um novo símbolo precisava ser dado àqueles que seriam os mensageiros durante a entrante Era de Peixes, por conseguinte, Ele, Ele próprio representou na última ceia do cordeiro do sacrifício. O pão e a água da vida foram dados como símbolo do seu corpo e do seu sangue, devendo ser usados para recordá-Lo durante a próxima Era. Há, portanto, uma ligação entre o vinho místico e o sangue, como também entre o pão místico e o corpo, que precisamos compreender se quisermos conhecer o verdadeiro sentido místico da morte e da ressurreição.

Em sua evolução o ser humano recebeu o alimento apropriado ao desenvolvimento de cada um dos seus veículos. Um veículo como o nosso corpo físico, formado de compostos químicos, só pode ser nutrido com substâncias químicas. Analogamente, só Espírito pode atuar sobre Espírito, portanto o vinho foi acrescentado à dieta do ser humano para ajudá-lo a dissolver as pesadas moléculas da carne e estimulá-lo na batalha da existência. A isto se refere à história de Noé (Gn 9:2-20), o qual com seus seguidores, representa a humanidade na era do arco-íris em que a assim chamada “dieta mista” e o vinho constituem a alimentação necessária à presente fase de evolução.

Fortalecido pela Mente carnívora e pelo Espírito do álcool, o ser humano se afastou cada vez mais do caminho da fraternidade, pois nutrindo-se com o mesmo alimento dos carnívoros ele se tornou necessariamente tão feroz quanto um animal predador, passando a caçar instintivamente ao seu próprio semelhante. Enquanto o sistema de procriação e casamento dentro da mesma tribo prendia-o firmemente aos seus companheiros de clã, ele ao menos demonstrava amá-los. Mas desde que os casamentos intertribais entraram em voga e ele começou a emancipar-se gradativamente do Espírito de raça, passou a saquear, ao próprio ser humano e até à própria família. O egoísmo tomou-se ilimitado, nada mais foi sagrado aos olhos cobiçosos, e cada ser humano passou a viver em guarda contra todos os outros. Além da ação que tais coisas trazem, não há descanso, não há paz duradoura nem felicidade na senda da paixão e da autogratificação. Portanto, chega a hora em que o ser humano deseja um fim permanente para os seus sofrimentos mais do que qualquer outra coisa, e aí começa a buscar o caminho da paz, que é também o caminho da pureza e da abnegação. Então ele é introduzido nos mistérios do Gólgota, do Sangue Purificador e da Cruz das Rosas, como segue:

Purificar o sangue do egoísmo é o Mistério no Gólgota. O processo começou quando o sangue de Jesus foi derramado e continuou através das guerras entre nações Cristãs todas as vezes que o ser humano lutou por um ideal, e prosseguirá até que o contraste entre os horrores da guerra e a beleza da fraternidade tenham impressionado suficientemente a espécie humana. Abaixo de nós na escala da evolução estão os vegetais e os animais, acima estão os deuses. Anatomicamente nós pertencemos ao reino animal e, em nossas vidas passadas, vivemos abaixo da nossa condição de humanos. Como os animais, gratificávamos nossos desejos sexuais e nossos apetites, mas enquanto aqueles eram mantidos sob controle por um sábio Espírito-Grupo nós não exercemos nenhum domínio sobre os nossos desejos, pelo que a doença, a dor e o sofrimento tornaram-se o nosso quinhão. Agora, contudo, aspiramos palmilhar a senda da paz em direção à serena felicidade dos deuses. Para isso devemos nos tomar como as plantas, isto é, puros e sem paixões. Consideremos o antigo Templo de Mistérios Atlante, também chamado “O Tabernáculo no Deserto”. Na velha Dispensação, quando a carne oferecida em sacrifício pelos pecados era queimada sobre o altar do sacrifício, seu odor elevava-se aos céus como um atestado da repugnante natureza da transgressão, da paixão e da impureza. Mas dentro do Tabernáculo havia o candelabro de sete braços, que queimava a essência das oliveiras sem desprender odor desagradável. Toda carne foi concebida sob a paixão e o pecado, mas a geração da planta é pura e imaculada. Por conseguinte, a flor aromática, especialmente a rosa vermelha, mantém-se em simbólica e direta oposição à carne corrompida. A flor é o órgão gerador da planta. Ela nos diz que a concepção sem mácula, em amor e pureza, é o caminho da paz e do progresso. Em Sua última reunião com seus Discípulos, Cristo estabeleceu os símbolos do novo pacto, do Testamento: deu-lhes pão para comer, simbolizando o Seu corpo, e a taça simbolizando o Seu sangue. Não uma taça comum para qualquer líquido, nem que o líquido por si só tivesse o poder suficiente para ratificar o novo pacto. O mistério jaz no fato de que a taça e seu conteúdo eram partes essenciais e necessárias de um sublime todo. O nome que designava essa taça mística em latim era “Calix”, em grego era “Poterion”.

Na velha Dispensação só a água era usada nos serviços do templo, mas com o tempo o vinho tornou-se um fator na evolução humana. Um deus do vinho – Baco – passou a ser adorado, e orgias da mais brutal natureza eram celebradas para que, sufocando as aspirações do Espírito, o ser humano se voltasse mais para a conquista do Mundo Físico. Mesmo sob a Dispensação mosaica os sacerdotes eram rigorosamente proibidos de usar o vinho enquanto oficiassem no templo, mas Cristo em sua primeira aparição em público mudou a água em vinho, aprovando deste modo o seu uso na ordem de coisas então existentes. Note-se, todavia, que isso foi feito em público, e que esse foi Seu primeiro ato como sacerdote do povo, mas na última reunião esotérica de Cristo com Seus Discípulos, quando o novo pacto foi dado, não havia nem carne de carneiro (Áries) – conforme estabelecia a ordem Mosaica – nem vinho, mas tão somente pão, um produto vegetal e o cálice do qual falaremos após ouvirmos as palavras que Ele proferiu naquela ocasião: “Não mais beberei deste fruto da videira até o dia em que hei de beber, novo, convosco no Reino dos Céus[6]. O suco novo, recém-espremido da uva, não contém o Espírito da fermentação e da decomposição, mas é um alimento vegetal nutritivo e puro. Por conseguinte, os seguidores da doutrina esotérica foram instruídos por Cristo a não consumirem alimentos cárneos nem alcoólicos.

Geralmente supõe-se que o cálice usado por Cristo na Última Ceia continha vinho, muito embora não haja fundamento bíblico para tal suposição. Existem três relatos dos preparativos para a Páscoa. Mesmo que Marcos e Lucas refiram-se aos mensageiros enviados a certa cidade em busca de um homem que carregava um cântaro de água, nenhum dos evangelistas diz que o cálice continha vinho. Além disso, investigações na Memória da Natureza mostram que a água é que foi usada, e no que diz respeito aos esoteristas o vinho não tinha mais vez. Daquele ato, data também a inauguração do movimento de temperança, pois tais mudanças cósmicas envolvem longos preparativos nos Mundos Espirituais internos antes que possam manifestar-se nas sociedades do Mundo externo. Assim, milhares de anos quase nada significam nesses processos.

O uso da água na Última Ceia também se harmoniza com os requisitos astrológicos e éticos. O Sol saía de Áries – o Signo do Cordeiro – e entrava em Peixes, um Signo de Água. Ia soar uma nova nota de aspiração. Na Era de Peixes entrante ia iniciar-se uma nova fase de soerguimento humano. A autoindulgência ia ser suplantada pela autonegação. O pão, a matéria da vida, que é feito do grão gerado imaculadamente, não estimula paixões como a carne, nem nosso sangue se agita tão apaixonadamente quando recebe água do que quando recebe vinho. Portanto, pão e água são os alimentos e símbolos apropriados aos ideais da Era Peixes-Virgem, pois representam pureza. A Igreja Católica dá aos seus fiéis a água de Peixes na porta dos templos, como dá também o pão da Virgem no altar, mas nega-lhes o cálice de vinho do ofício. Todavia, as considerações acima não conduzem no âmago do mistério oculto no “Cálice do Novo Pacto”.

A taça de vinho velho, que nos foi dada no início da Época Ária – terra da geração – estava cheia de destruição, morte e veneno, de modo que a palavra que então aprendemos a falar é morta e destituída de poder.

A taça de vinho novo, mencionada como o ideal da futura época – a Nova Galileia (não a confundir com a Era de Aquário) – é um órgão etérico construído no interior da cabeça e da garganta pela força sexual economizada, o qual órgão é visto pelos Clarividentes como a haste de uma flor que ascende da parte inferior do tronco. Este cálice, ou taça-semente, é verdadeiramente um órgão criador capaz de emitir a palavra, a vida e o poder.

A palavra atual é produzida por movimentos musculares rudimentares que combinam laringe, língua e lábios de tal modo que a passagem do ar saído dos pulmões gera determinados sons. Mas o ar é um veículo pesado, difícil de mover-se, comparado as forças mais sutis da Natureza como a eletricidade, que se propaga no Éter, de modo que, quando este órgão tiver alcançado pleno desenvolvimento, ele terá o poder de falar a palavra da vida e infundir vitalidade nas substâncias que até ali estiverem inertes. Este órgão está sendo agora construído por nós, através do serviço.

Recorde-se que Cristo não deu o cálice ao povo, mas sim aos Seus Discípulos, Seus mensageiros e servos da Cruz. Nos dias atuais, aqueles que bebem do cálice da auto-abnegação para poderem usar a força no serviço aos outros estão construindo esse órgão e, também, o Corpo-Alma, que é o traje nupcial. Estão aprendendo a usá-lo aos poucos, como Auxiliares Invisíveis, quando fora de seus corpos à noite precisam emitir a palavra de poder para dissipar doenças e produzir tecidos sadios.

Quando a Época Atlante se aproximava do seu fim e a humanidade abandonava o lar de sua infância, onde viveu sob a orientação direta de Guias Divinos, o velho pacto foi feito dando ao ser humano carne e vinho, e estes dois elementos, juntamente com o uso descontrolado da força sexual, tornaram a Época Ária uma era de morte e destruição. Agora estamos nos aproximando do fim dessa era. Estamos em busca do Reino dos Céus, da Nova Galileia, e a fim de preparar-nos para essa época. Cristo nos deu o pão e a água da vida, ordenando-nos ao mesmo tempo não cedermos a luxúria. Tendo feito este novo pacto, Ele foi para a cruz da libertação, deixando atrás de Si o corpo da morte e pairando nas alturas em um veículo de vida, o Corpo Vital. Mas Ele deu aos Seus seguidores a certeza de que, embora eles não O pudessem seguir então ao lugar para onde ia, mais tarde o seguirão. Cada pessoa é um Cristo-em-formação e algum dia acontecerá a “Páscoa” para cada um de nós.

CAPÍTULO III

O SIGNIFICADO CÓSMICO DA PÁSCOA

Primeira Parte

“Toda a vida de Cristo foi uma cruz e um martírio,

e tu buscas para ti mesmo folga e prazer? Quanto

maior o avanço espiritual de um indivíduo mais

pesadas as cruzes com que ele se depara frequentemente,

pois as dores do seu desterro aumentam

com o fortalecimento do seu amor”.

Thomas de Kempis[7]

Na manhã da Sexta-Feira Santa de 1857, Richard Wagner[8], o maior artista do século dezenove, sentou-se à varanda de uma vivenda suíça que se debruçava às bordas do lago de Zurich[9]. O panorama que se descortinava ao redor estava banhado por um glorioso brilho do Sol; paz e boa vontade pareciam vibrar por toda a Natureza. A criação inteira palpitava de vida e o ar estava carregado da deliciosa fragrância dos bosques de pinho – bálsamo gratificante para um coração atormentado e uma Mente agitada.

Então, de súbito, como um raio caído do céu azul, surgiu na alma profundamente mística de Wagner a lembrança do execrável significado daquele dia – o mais sombrio e mais doloroso do ano Cristão. Essa lembrança o inundou de tristeza, pelo contraste com o que via. Era uma incongruência marcante entre o alegre cenário que tinha diante de si, a clara atividade notável da Natureza, em luta pela renovação da vida após o longo sono hibernal, e o mortal esforço do Salvador torturado na cruz; entre os gorjeios plenos de vida e amor dos milhares de cantores de pena do bosque, na charneca e no prado, e os hediondos gritos de ódio duma turba enfurecida que insultava e zombava do mais nobre ideal que o mundo já conheceu; entre a maravilhosa energia criadora manifestada pela Natureza na primavera[10] e o elemento destruidor no ser humano, que assassinou o caráter mais nobre que já agraciou a Terra.

Enquanto Wagner meditava assim sobre os paradoxos da vida, ocorreu-lhe a pergunta: “há alguma relação entre a morte do Salvador por crucificação, na Páscoa, e a energia vital que se manifesta tão abundantemente na primavera quando a Natureza começa a vida de um novo ano?”.

Mesmo que Wagner não percebesse, conscientemente, o significado total da relação entre a morte do Salvador e o rejuvenescimento da Natureza, não obstante ele havia dado com a chave de um dos mais sublimes mistérios com que o Espírito humano já deparou em sua peregrinação da Terra à Deus.

Na noite mais escura do ano, quando a Terra dorme mais profundamente no abraço do frio Boreal, quando as atividades materiais descem ao nível mais baixo, uma onda de energia espiritual transporta em sua crista a “Palavra do Céu”, divina e criadora, para um nascimento místico no Natal. Então, como uma nuvem luminosa, o impulso espiritual paira sobre o mundo que “não o conheceu[11] porque ele “brilha nas trevas[12] do inverno, quando a Natureza está paralisada e muda.

Essa divina “Palavra” criadora contém uma mensagem e tem uma missão. Nasceu para “salvar o mundo[13] e “para dar sua vida pelo mundo”. Deve, necessariamente, sacrificar sua palavra para conseguir o rejuvenescimento da Natureza. Gradativamente sepulta-se na Terra e passa a infundir sua própria energia vital nas milhões de sementes que jazem adormecidas no solo. Sussurra a “palavra de vida” nos ouvidos dos animais e pássaros, até que o evangelho das boas novas tenha sido pregado a todas as criaturas. O sacrifício se completa totalmente na época do ano em que o Sol cruza seu nódulo oriental no Equinócio de Março. Então a divina palavra criadora expira. Em um sentido místico, ela morre na cruz da Páscoa, emitindo um último brado de triunfo: “Está Consumado[14] (Consummatum est).

Porém, do mesmo modo que o eco volta a nós, muitas vezes, repetido, assim também o canto celestial de vida se repete sobre a Terra. A criação inteira entoa um cântico de louvor, que é repetido sem cessar pelo coro de uma legião de línguas. As pequeninas sementes no seio da Mãe Terra começam a germinar, brotando e despontando em todas as direções, e logo um maravilhoso mosaico de vida, um tapete verde aveludado bordado de flores multicores, toma o lugar da mortalha do imaculado branco gelado. Dos animais de pelo e pena, em todos a palavra de vida ressoa como uma canção de amor, impelindo-os ao acasalamento. Geração e multiplicação é o lema em toda parte – o Espírito libertou-se para uma vida mais abundante.

Podemos, assim, observar todos os anos, misticamente, o nascimento, a morte e a ressurreição do Salvador como o fluxo e o refluxo de um impulso espiritual que culmina no Solstício de Dezembro – Natal – e sai da Terra logo após a Páscoa, quando a “palavra” sobe ao Céu, no Domingo de Pentecostes. Mas lá não fica para sempre. Foi-nos ensinado que “dali retornará”, “no Juízo”. Portanto, quando o Sol desce pelo equador, em outubro, através do Signo de Libra – época em que os frutos do ano são colhidos, pesados e classificados por tipos – começa a descida do Espírito do novo ano, culminando esta descida no nascimento, no Natal.

O ser humano é uma miniatura da Natureza. O que acontece em grande escala na vida de um Planeta, como a nossa Terra, ocorre em escala menor ao longo da vida do ser humano. Um Planeta é o corpo de um grande, maravilhoso e exaltado Ser, um dos Sete Espíritos diante do Trono (do Pai Sol). O ser humano também é um Espírito “feito à sua imagem e semelhança”. Assim como um Planeta gira em seu caminho cíclico ao redor do Sol, de onde é emanado, assim também o Espírito humano se move numa órbita em volta de sua fonte central – Deus. Sendo elípticas as órbitas planetárias, possuem pontos muitíssimo próximos e pontos extremamente afastados dos seus centros solares. De maneira análoga, a órbita do Espírito humano é elíptica. Nós estamos mais perto de Deus quando nossa jornada cíclica nos leva à esfera de atividade celeste – o Céu – e estamos mais separados d’Ele durante a vida terrena. Tais mudanças são necessárias ao nosso crescimento anímico. Assim como as festividades do ano assinalam o caráter repetitivo de acontecimentos importantes na vida de um Grande Espírito, do mesmo modo nossos nascimentos e mortes são fatos de repetição periódica. É tão impossível para o Espírito permanecer definitivamente no Céu ou na Terra como o é para um Planeta deter-se em sua órbita. A mesma imutável lei de periodicidade que determina a ininterrupta sequência das estações, a alternação do dia com a noite e os fluxos e refluxos das marés, governa também a marcha progressiva do Espírito humano tanto no Céu quanto na Terra.

Dos domínios de luz celestial onde vivemos em liberdade, sem as limitações do tempo e do espaço, onde vibramos em uníssono com a infinita harmonia das esferas, nós descemos para nascer no Mundo Físico, onde nossa visão espiritual torna-se obscurecida pela corda enrolada que nos agrilhoa a esta fase de limitações da nossa existência. Vivemos uns tempos aqui, depois morremos e subimos aos céus, para renascer e morrer outra vez. Cada vida terrena é um capítulo da história seriada da vida, extremamente humilde em seu começo, mas crescendo em interesse e importância à medida que ascendemos para estágios de responsabilidade humana, cada vez mais altos. Nenhum limite é concebível, pois somos divinos em essência e, portanto, temos latentes em nós as infinitas possibilidades de Deus. Quando tivermos aprendido tudo o que este mundo tem para ensinar-nos, uma órbita mais ampla, uma esfera maior de utilidade sobre-humana, abrir-se-á às nossas maiores capacidades.

“Mas, e Cristo?” – Pode alguém perguntar. “Você não acredita n’Ele? Você está discorrendo sobre a Páscoa, o feriado que comemora a morte cruel do Salvador e Sua gloriosa e triunfante ressurreição, todavia parece referir-se a Ele mais como uma alegoria que como um fato.”.

Certamente nós cremos em Cristo; amamo-Lo de todo o coração e com toda a nossa alma, mas queremos enfatizar a crença de que Cristo é a primícia da raça. Ele disse que nós poderíamos fazer as coisas que Ele fez, “e maiores ainda”. Portanto, somos Cristos-em-formação.

Estamos muito habituados a buscar um Salvador externo ao mesmo tempo que abrigamos um demônio interno, mas até que Cristo seja formado EM NÓS, conforme disse São Paulo, buscaremos em vão, porque assim como é impossível para nós percebermos a luz e a cor ao nosso redor sem o registro de suas vibrações pelo nosso nervo ótico, e assim como permanecemos inconscientes do som quando o tímpano dos nossos ouvidos está insensível, do mesmo modo permanecemos cegos à presença de Cristo e surdos à Sua voz enquanto não despertarmos nossa natureza espiritual interna. No entanto, uma vez despertada essa natureza espiritual, o Senhor do Amor se revela como uma realidade primordial, baseado no princípio de que, fazendo-se vibrar um diapasão, outro diapasão de mesmo tom começará também a vibrar, enquanto outros de tons diferentes ficarão mudos. Por isso Cristo disse que Suas ovelhas conheciam-No pelo som de Sua voz, à qual respondiam, mas não ouviam a voz do estranho (Jo 10:5). Não importam nossos credos, todos somos irmãos de Cristo, portanto regozijemo-nos: o Senhor ressuscitou! Busquemos a Ele e esqueçamos nossos credos e outras diferenças de menor importância.

CAPÍTULO IV

O SIGNIFICADO CÓSMICO DA PÁSCOA

Segunda Parte

O sinal da Cruz estará no céu quando o Senhor

vier para julgar. Então, todos os que servem a

Cruz e que na vida se tenham harmonizado com o

Crucificado poderão aproximar-se de Cristo com

toda coragem.

Thomas de Kempis

Mais uma vez chegamos ao ato final do drama cósmico que envolve a descida do Raio solar de Cristo ao interior da matéria de nossa Terra, o qual se completa no nascimento místico celebrado no Natal e na Morte Mística e Libertação, celebradas logo após o Equinócio de Março, quando o Sol do novo ano inicia sua ascenção às esferas superiores dos céus setentrionais, depois de verter sua vida para salvar a humanidade e revigorar todas as coisas sobre a Terra. Nessa época do ano uma nova vida, uma energia intensificada, circula com força irresistível nas veias e artérias de todos os seres vivos, inspirando e instilando neles novas esperanças, novas ambições e nova vida, e impelindo-os a novas atividades pelas quais possam aprender novas lições na escola da experiência. Consciente ou inconscientemente, tudo o que tem vida beneficia-se desse manancial de energia fortalecida. Até a planta responde por um aumento de circulação de seiva, que resulta em uma renovação de folhas, flores e frutos, meios pelos quais esta classe de vida expressa-se a si mesma e evolui para um estado superior de consciência.

Mas ainda que maravilhosas sejam essas manifestações físicas externas, e ainda que possa ser chamada de gloriosa essa transformação da Terra de um deserto de neve e gelo em um formoso jardim florido, isso é insignificante diante das atividades espirituais paralelas que se efetuam ao mesmo tempo. As características salientes do drama cósmico são idênticas em termos de época com os efeitos materiais do Sol nos quatro Signos Cardeais (Áries, Câncer, Libra e Capricórnio), porque os eventos mais significativos ocorrem nos pontos equinociais e solsticiais.

Realmente, é de fato verdadeiro que “em Deus vivemos, nos movemos e temos o nosso ser[15]. Fora d’Ele não poderíamos existir; vivemos por e através de Sua vida; movimentamo-nos e agimos por e através de sua fortaleza; é o Seu poder que sustenta nossa morada, a Terra, e sem Seus incessantes e invariáveis esforços o universo desintegrar-se-ia por si mesmo. Sabemos que o ser humano foi feito à semelhança de Deus, e nos é dado compreender que, consoante a lei de analogia, possuímos internamente certos poderes latentes idênticos àqueles que vemos tão poderosamente manifestados pela Deidade na obra do universo. Isso desperta, em nós, um particular interesse no drama cósmico anual em que envolve a morte e ressurreição do Sol. A vida do Deus-Homem, Cristo-Jesus, foi moldada de conformidade com a história solar e prenuncia, de modo idêntico, tudo o que pode acontecer ao Homem-Deus, a quem Cristo-Jesus profetizou quando disse: “As obras que eu faço vós fareis também, e maiores ainda[16]; para onde vou agora vós não podeis ir, mas depois podereis seguir-me”[17].

A Natureza é a expressão simbólica de Deus. Ela nada faz em vão ou arbitrariamente, mas existe um propósito por trás de todas as coisas e de todos os atos. Por conseguinte, devemos estar alertas e considerar cuidadosamente os sinais nos céus, porque eles possuem um significado profundo e importante referentes às nossas próprias vidas. A compreensão inteligente desses propósitos capacita-nos a trabalhar mais eficazmente com Deus em Seus maravilhosos esforços para emancipar nossa raça da escravidão das leis da Natureza e, mediante essa liberação, alcançarmos a plena estatura de filhos de Deus, coroados de glória, honra e imortalidade; livres do poder do pecado, da doença e do sofrimento que agora encurtam nossas existências terrenas em razão de nossa ignorância e de inconformidade às leis de Deus. O propósito divino visa essa emancipação, e ser ela conseguida através do longo e tedioso processo evolutivo ou ser alcançada através do caminho muitíssimo mais curto da Iniciação, isso depende da nossa vontade de cooperar ou não. A maioria da humanidade atravessa a vida com olhos que não veem e ouvidos que não ouvem. Segue absorvida em seus negócios materiais, comprando e vendendo, trabalhando e divertindo-se sem a devida apreciação ou compreensão dos propósitos da existência e, ainda que tais propósitos se tornassem claros, é provável que dificilmente se conformasse em virtude do sacrifício que isso envolve.

Não é de estranhar que Cristo chame especialmente o pobre e enfatize a dificuldade do rico entrar no Reino dos Céus, pois mesmo hoje, quando a humanidade já avançou dois milênios na escola da evolução desde aquela data, vemos que a grande maioria ainda dá mais valor às suas casas e terras, às suas roupas e chapéus, aos prazeres sociais, festas e banquetes do que aos tesouros celestiais, que se juntam pelo serviço aos outros e sacrifício de si mesmo. Ainda que essa maioria possa perceber intelectualmente a beleza da vida espiritual, a conveniência desta torna-se insignificante aos seus olhos quando comparada ao sacrifício exigido para alcançá-la. Como o moço rico, ela seguiria, voluntariamente, a Cristo não fora a necessidade de tanto sacrifício. Prefere ir-se quando percebe que o sacrifício é a única condição para ingressar-se no discipulado. Portanto, para tais pessoas a Páscoa não é mais que uma ocasião de regozijo porque se trata do fim de um momento especial e começo de outro momento especial diferente, que convida manifestações de alegrias.

Mas para aqueles que escolheram, definitivamente, a senda do auto sacrifício que conduz à libertação, a Páscoa é o sinal anual que evidencia as bases cósmicas de suas esperanças e aspirações.

No Sol da Páscoa, que no Equinócio de Março começa a percorrer os céus setentrionais, após verter sua vida na Terra, temos o símbolo cósmico da veracidade da ressurreição. Quando o consideramos como um fato cósmico enquadrado na lei de analogia, que relaciona o macrocosmo com o microcosmo, o importante é saber que algum dia alcançaremos a consciência cósmica e conheceremos positivamente por nós mesmos, por nossa própria experiência, que a morte não existe, mas o que isso parece é apenas uma transição para uma esfera mais sutil.

É um símbolo anual para fortalecer as nossas almas no afã das boas-obras, para que possamos tecer o manto dourado nupcial requerido para converter-nos em filhos de Deus no sentido mais elevado e mais santo. É literalmente verdadeiro que enquanto não andarmos na luz, como Ele na luz está, não seremos fraternais uns com os outros. Mas, fazendo sacrifícios e prestando os serviços que se requerem de nós para ajudar na emancipação da raça humana, estamos assim construindo um Corpo-Alma de radiante luz dourada, que é a substância especial emanada do e pelo Espírito do Sol, o Cristo Cósmico. Quando esta substância dourada nos envolver com densidade suficiente, então seremos capazes de imitar o Sol da Páscoa e pairar em esferas mais elevadas.

Com esses ideais firmemente impressos em nossas Mentes, a época da Páscoa se converte em uma estação apropriada para revisarmos nossas vidas durante o ano que passou e tomarmos novas resoluções que adiantem nosso crescimento anímico até ao próximo. É uma época em que o símbolo do Sol ascendente deve levar-nos a uma compreensão profunda do fato de que na Terra não somos mais que peregrinos e forasteiros; que, como Espíritos, nossa verdadeira pátria é o Céu; e que devemos esforçar-nos para aprender as lições desta vida tão depressa quanto nos permitam os caminhos apropriados. O Dia da Páscoa marca a ressurreição e libertação do Espírito de Cristo dos planos inferiores, e essa libertação deve lembrar-nos de buscar continuamente a aurora do dia em que estaremos permanentemente livres das malhas da matéria, do corpo de pecado e morte, juntamente com todos os nossos irmãos em escravidão. Nenhum aspirante sincero poderia conceber uma libertação que não incluísse a todos que estivessem na mesma situação.

Esta é uma tarefa gigantesca. Enfrentá-la pode muito bem desalentar o mais valente coração, de modo que se estivéssemos sozinhos não poderíamos realizá-la, mas as Hierarquias Divinas, que têm guiado a humanidade no caminho evolutivo desde o começo da jornada, ainda estão ativas e trabalhando conosco desde os Mundos Espirituais siderais, de maneira que com sua ajuda seremos, oportunamente, capazes de conseguir o soerguimento da humanidade como um todo e alcançar uma condição individual de glória, honra e imortalidade. Com esta enorme esperança dentro de nós mesmos, com esta grande missão no mundo trabalhemos como nunca para sermos melhores homens e mulheres, de forma que, por nossos exemplos, possamos despertar nos outros o desejo de levar uma vida que conduza à libertação.

CAPÍTULO V

A LIÇÃO DE PÁSCOA

“Porque se morreres com Ele, também com Ele

viverás, e se partilhares dos Seus sofrimentos,

da Sua glória também partilharás”.

Thomas de Kempis

Outra vez a Terra alcança o Equinócio de Março, em seu movimento anual de translação em torno do Sol, e assim chegamos à Páscoa. O raio espiritual emitido pelo Cristo Cósmico nesse período, para reativar a esgotada vitalidade da Terra, está quase subindo de volta ao Trono do Pai. Às atividades espirituais de fecundação e germinação, levadas a efeito durante os últimos seis meses, seguir-se-ão os processos de crescimento físico e amadurecimento durante os próximos seis meses, sob a influência do Espírito da Terra. O ciclo termina no “Lar da Colheita”. Deste modo o grande Drama do Mundo é encenado e reencenado ano após ano, numa eterna disputa entre a vida e a morte, sendo cada uma por vez vencedora e vencida na sequência dos ciclos.

Os grandes fluxos e refluxos cíclicos não estão limitados em seus efeitos à Terra, à sua flora e fauna. Exercem igualmente uma influência dominante sobre a humanidade, mesmo que a grande maioria não se aperceba das causas que a impelem a agir numa e noutra direção. Não obstante, essa ignorância, permanece o fato de que a mesma vibração terrestre que adorna vistosamente as aves e outros animais nesses próximos três meses, responde também pelo desejo humano de se vestir com cores alegres e roupas mais claras nessa época do ano. É, também, “o apelo do silvestre campo”, que nos subsequentes três meses convida o ser humano a relaxar no meio rural, onde os Espíritos da natureza exercitaram suas artes mágicas nos campos e florestas, para recuperar-se da tensão das condições artificiais reinantes nas cidades congestionadas.

Por outro lado, é a “queda” do raio espiritual do Sol nos meses de setembro, outubro e novembro que causa o reinício das atividades mentais e espirituais nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. A mesma força germinadora que fermenta a semente na terra e a prepara para reproduzir sua espécie multiplicada, também ativa a Mente humana e fomenta atividades altruístas que tornam o mundo melhor. Caso essa grande onda de desprendido Amor Cósmico não culminasse no Natal, com vibrações de paz e boa-vontade, não poderia haver nenhuma sensação festiva em nossos corações de modo a gerar o desejo de fazer os outros igualmente felizes. O costume universal de dar presentes no Natal seria impossível, e todos nós sofreríamos essa perda.

Quando Cristo andava, dia após dia, pelas colinas e vales da Judeia e Galileia, ensinando às multidões, todos foram beneficiados. Mas Ele convivia mais com Seus Discípulos, e estes cresciam rapidamente cada dia. À medida que o tempo passava esses laços de amor estreitavam-se ainda mais, até que, um dia, mãos impiedosas tiraram o amado Mestre e o levaram a morte desonrosa. Contudo, mesmo que tenha morrido na carne, Ele continuou a conviver intimamente com Seus Discípulos por algum tempo, em Espírito. Mas por fim subiu às esferas superiores, perdendo-se assim o contato direto com Ele, e aqueles homens olharam-se tristemente, cara a cara e perguntaram-se: “É este o fim?”. Eles haviam esperado tanto, haviam alimentado tão elevadas aspirações que, apesar da verdejante paisagem continuar brilhante e beijada pelo Sol como antes de Sua Partida, a Terra parecia fria e monótona, pois sombria desolação oprimia os seus corações.

Algo semelhante também acontece conosco quando buscamos seguir o Espírito e lutar contra a carne, mesmo que a analogia não tenha sido aparente até aqui. Quando, nos meses de setembro, outubro e novembro a “queda” do raio Crístico começa anunciando a época da supremacia espiritual, logo o sentimos e começamos avidamente a banhar nossas almas nessa bendita maré. Experimentamos uma sensação semelhante à dos Apóstolos, quando andavam com Cristo, e à medida que os meses avançam torna-se cada vez mais fácil comungar com Ele, face a face, como antes. Mas, no curso anual dos acontecimentos, a Páscoa e Ascenção do raio de Cristo “ressuscitado” para o Pai, deixa-nos em idêntica posição à dos Apóstolos quando seu querido Mestre se afastou. Nós ficamos desolados e tristes, vemos o mundo como um deserto monótono e não podemos atinar com a razão de nossa perda, que é tão natural como os fluxos e refluxos das marés ou como os dias e as noites – fases da era atual dos ciclos alternados.

Existe um perigo nesta atitude mental. Se permitirmos que ela nos domine, é possível que abandonemos o nosso trabalho no mundo e nos convertamos em sonhadores desiludidos, percamos, nosso equilíbrio e provoquemos, contra nós, a crítica muito justa dos demais. Este tipo de conduta é inteiramente errado, pois, assim como a Terra emprega o seu esforço material para produzir abundantemente em um período, após haver recebido o ímpeto espiritual em outro período, é nosso dever, também, envidar os maiores esforços ao trabalho do mundo quando possuímos o privilégio de comunicar com o Espírito. Assim fazendo, é possível que despertemos nos outros o Espírito de emulação e o de reprovação.

Estamos acostumados a pensar no avaro como alguém que junta ouro, sendo essa classe de pessoas objeto de desprezo, de modo geral. Mas há indivíduos que lutam tão tenazmente para adquirir conhecimento, quanto se esforça o avaro para acumular ouro, não hesitando em usar qualquer meio ou subterfúgio para alcançar seu intento e guardando consigo seus conhecimentos, tão egoisticamente quanto o avaro guarda o seu tesouro. Não compreendem que por tal método eles fecham de fato as portas à uma sabedoria maior. A antiga teologia nórdica continha uma parábola que, simbolicamente, esclarece o assunto. Dizia que todos os que morriam no campo de batalha (as almas fortes que combateram o bom combate até o fim) eram levados ao Valhalla[18], a estar com os deuses, enquanto os que morriam na cama ou por doenças (as almas fracas, que vagavam pela vida) iam para o lúgubre Niflheim. No Valhalla, os valentes guerreiros banqueteavam-se diariamente com a carne de um javali chamado Scrimner, que se caracterizava por uma particularidade: sempre se cortava um pedaço de suas carnes, imediatamente outro crescia no lugar, de modo que seu corpo nunca era consumido, não importa quanto se cortasse dele. Isto simbolizava adequadamente o “conhecimento”, pois, não importa quanto dele possamos dar aos outros, o original sempre fica conosco.

Existe, portanto, certa obrigação de transmitirmos os conhecimentos que possuímos, pois “àquele a quem muito foi dado, muito lhe será pedido”[19]. Se acumularmos as bênçãos espirituais que temos recebido, o mal nos ronda, por isso imitemos a Terra nesta época da Páscoa. Externemos no Mundo Físico da ação, os frutos do Espírito semeados em nossas almas durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Habilitemo-nos a receber bênçãos cada vez maiores de ano para ano.

CAPÍTULO VI

O SÍMBOLO DO OVO

“E quando este corpo incorruptível se revestir de incorruptibilidade,

e o que é mortal se revestir de imortalidade,

e o que é mortal se revestir de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória”.

ICor 15 :54

Para os nossos irmãos e irmãs do hemisfério norte passaram-se os sombrios e monótonos dias do inverno (meses de dezembro, janeiro e fevereiro). A Mãe Natureza remove o manto frio de gelo que cobre a terra, permitindo a milhões e milhões de sementes abrigadas no chão macio, romperem sua crosta e vestirem o solo com trajes de verão numa orgia de cores alegres e vistosas, preparando as “câmaras nupciais” para os animais e aves se acasalarem.

Na presente estação a Mente do mundo volta-se para a festividade que chamamos Páscoa, na qual se comemora a morte e ressurreição do nobre indivíduo que o mundo conhece pelo nome de Jesus, cuja história de sua vida foi escrita nos Evangelhos. Mas um Cristão Místico tem uma visão mais profunda e mais ampla desse evento cósmico que se repete anualmente. Para este, o que existe é uma impregnação anual da Terra com a vida do Cristo Cósmico. Uma inalação que tem lugar durante os meses de setembro, outubro, e novembro, culminando no Solstício de Dezembro, quando celebramos o Natal, e uma exalação que chega ao fim na época da Páscoa.

O drama cósmico de vida e morte é representada anualmente, por todas as criaturas e coisas evoluintes, da maior à menor, porque até o grande e sublime Cristo Cósmico, em Sua compaixão, torna-se sujeito à morte quando entra nas condições enclausurantes da Terra, em um período do ano. Por conseguinte, é oportuno recordar alguns pontos relativos à morte e renascimento que, às vezes, podemos esquecer.

Entre os símbolos cósmicos conservados desde a antiguidade, nenhum é mais comum que o do ovo. Acha-se em toda Religião. Encontramo-lo no Antigo Eddas dos Escandinavos, venerável pela idade, que nos fala do mundano esfriado pelo sopro gelado do Niebelheim, mas aquecido pelo hálito quente do Muspelheim, antes que os vários Mundos Espirituais e o próprio ser humano viessem a existir. Se nos voltarmos para o ensolarado sul, podemos achar nos Vedas da Índia a mesma história no mito Kalahansa, o Cisne do tempo e do espaço, o qual pôs o ovo que veio a ser, finalmente, o mundo. Entre os egípcios encontramos o globo alado e as serpentes ovíparas, simbolizando a sabedoria manifestada neste nosso mundo. Os gregos utilizaram esse simbolismo, reverenciando-o em seus Mistérios. Foi preservado pelos Druidas; tal símbolo era também conhecido dos construtores do grande outeiro da serpente, em Ohio; e conservou seu lugar na simbologia sagrada até hoje, muito embora a grande maioria de seres humanos seja cega ao grande mistério que ela encerra e revela – o mistério da vida.

Quando quebramos a casca de um ovo, achamos apenas fluídos viscosos de coloração variada e consistências diversas. Mas se submetido a uma temperatura adequada logo se dá uma série de mudanças e assim, em pouco tempo, uma criatura viva pode romper a casca e surgir pronta para assumir seu lugar entre os de sua espécie. Os magos dos laboratórios podem duplicar as substâncias do ovo e injetá-las numa casca de maneira que, conforme as experiências feitas até aqui, uma réplica perfeita do ovo natural pode ser produzida. Contudo, este difere do ovo natural em um ponto, isto é nenhuma coisa viva pode ser incubada no produto artificial. Fica evidente, portanto, que alguma coisa intangível deve estar presente em um e ausente em outro.

Esse mistério de todos os tempos que produz o ser vivo é que nós chamamos vida. Visto que a Vida não pode ser detectada em meio aos elementos do ovo, nem mesmo através do mais potente microscópio (ainda que ela ali esteja para produzir as mudanças que se notam), é de concluir-se que ela deve ser capaz de existir independentemente da matéria. Aprendemos, pois, através do sagrado simbolismo do ovo que, apesar da vida ser capaz de modelar a matéria, não depende, entretanto, desta para existir. Ela é autoexistente e não tendo princípio não pode também ter fim. Isto é simbolizado pela forma ovoide do ovo.

Quando nos apercebemos do verdadeiro conhecimento contido no simbolismo do ovo de que a vida nunca teve princípio e nunca terá fim, habilitamo-nos a criar coragem e admitir que aqueles que se retiram agora da existência física estão apenas atravessando uma jornada cíclica idêntica à da vida do Cristo Cósmico, vida que penetra a Terra no outono e a abandona na Páscoa. Vemos assim como a grande Lei da Analogia atua em todas as circunstâncias e em todas as fases da vida. O que acontece no grande mundo ao Cristo Cósmico verifica-se também nas vidas daqueles que são Cristos-em-formação.

Devemos admitir que a morte é uma necessidade cósmica nas atuais circunstâncias, porque se fôssemos aprisionados num corpo como o que agora usamos, e fôssemos colocados num ambiente tal e qual este em que nos encontramos hoje, para assim viver perenemente, as enfermidades do corpo e as condições insatisfatórias do ambiente bem cedo nos fariam cansar da vida e implorar por libertação. Isso impediria todo progresso e tornaria impossível para nós evoluirmos às alturas mais elevadas, tais como os que podemos alcançar por meio do nascimento em novos veículos e novos ambientes que nos permitam novas possibilidades de crescimento. Por conseguinte, devemos agradecer a Deus o fato de que, enquanto o nascimento em um corpo concreto tem sido necessário para um desenvolvimento futuro, a liberação pela morte tem sido proporcionada para libertar-nos do instrumento esgotado pelo uso; e a ressurreição e um novo nascimento sob o céu alegre de um novo ambiente fornecem-nos outras oportunidades para recomeçar a vida com a ficha limpa e aprender as lições que não conseguimos assimilar antes. Por este método seremos, algum dia, perfeitos como o Cristo ressuscitado. Ele assim determinou e nos ajudará a consegui-lo.

CAPÍTULO VII

A CRUZ DE CRISTO

“Se alguém quiser vir após mim,

negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”.

Mt 16:24

De acordo com uma antiga lenda, quando expulso do Paraíso, Adão levou consigo três mudas da árvore da vida, as quais, plantadas pelo seu filho Seth, vingaram e cresceram. De uma delas se fez mais tarde o cajado de Aarão, com o qual este operou milagres diante do Faraó. Outra foi levada ao Templo de Salomão para servir de pilar ou coisa semelhante ali, mas, como não serviu para nada no interior do edifício, foi então utilizada como uma ponte sobre um regato que corria fora do Templo. A terceira foi usada para fazer-se a cruz de Cristo, sobre a qual Ele sofreu por nós, libertou-se finalmente, penetrou na Terra e tornou-se o Espírito Planetário do nosso globo, no qual Ele agora sofre e geme esperando o dia da libertação.

Existe um grande significado nessa lenda antiga. A primeira muda da árvore representa o poder espiritual exercido pelas Hierarquias Divinas na infância da humanidade, isto é, um poder exercido por outrem para o nosso próprio benefício. A segunda era para ser usada no Templo de Salomão. Ninguém pode apreciá-la, exceto a Rainha de Sabá, nenhuma serventia foi achada para ela, pois o Templo de Salomão era a consumação das artes e ofícios e em uma civilização materialista nada que seja espiritual é apreciado. Os Filhos de Caim conseguiam sua salvação ao longo de linhas materiais, portanto não precisavam de poderes espirituais. Assim, “ela foi usada como ponte sobre o regato”. Sempre existiram almas – os reais, os verdadeiros Maçons Místicos – capazes de usar essa ponte que vai do visível ao invisível, e de voltarem ao Jardim do Éden; ao Paraíso, através da mesma. Foi a terceira muda da árvore da vida que deu a cruz de Cristo. Erguido naquela cruz foi que Ele conseguiu se libertar desta existência física e entrar nas esferas superiores. De modo semelhante nós também, ao tomarmos nossa cruz e segui-Lo, podemos desenvolver nossos poderes anímicos e ingressar numa esfera de maior utilidade nos Mundos invisíveis. Esforcemo-nos todos de modo que, dia após dia, sejamos encontrados de joelhos e vencedores, agarrados à cruz de Cristo para que, num dia não muito distante, possamos subir à nossa própria cruz e dali alcançarmos a gloriosa libertação, a ressurreição da vida da qual Cristo foi e continua sendo os primeiros frutos para toda alma crente. Esta é a autêntica, a verdadeira mensagem da Páscoa e devemos compreender que todos somos Cristos-em-formação, e que quando Cristo nasce real e verdadeiramente dentro de nós Ele então nos mostrará o caminho da cruz a partir da Árvore do Conhecimento pela qual conseguimos avançar. Essa cruz trouxe morte à Árvore da Vida no Corpo Vital, mas trouxe também a imortalidade.

CAPÍTULO VIII

QUE FOI FEITO DO CORPO FÍSICO DE JESUS?

“Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste Tabernáculo se desfizer,

temos da parte de Deus um edifício,

casa não feita por mãos, eterna, nos céus”.

IICor 5: 1

Que fim teve o Corpo Denso de Jesus, colocado no túmulo, mas não encontrado na manhã do domingo de Páscoa? E se o Corpo Vital de Jesus foi preservado para ser usado novamente por Cristo, como pode ele, Jesus, estar nesse meio tempo funcionando num Corpo Vital? Não teria sido mais fácil conseguir para Cristo, em Sua segunda vinda, outro Corpo Vital?

Essas perguntas foram respondidas assim, no “Ecos” de 1914[20]:

Estudos nas Escrituras revelam o fato de que Cristo costumava afastar-se de Seus Discípulos e que estes ignoravam para onde Ele ia nessas ocasiões ou, se não ignoravam, isso jamais foi mencionado. O motivo desses afastamentos, porém, era que, sendo Ele um Espírito tão glorioso, Suas vibrações eram demasiado elevadas mesmo para o melhor e mais puro dos veículos físicos, fazendo-se, portanto, necessário retirar-se deste veículo, frequentemente, para um período de completo repouso, de modo que o padrão vibratório de seus átomos pudesse baixar ou voltar ao normal. Por conseguinte, Cristo habitualmente buscava os Essênios em tais momentos, aos cuidados de quem deixava o Corpo, uma vez que eles eram peritos em lidar com o Corpo Denso. Cristo nada sabia de como tratar o veículo que recebera de Jesus. Não fora esses repousos e os cuidados recebidos, o corpo de Jesus ter-se-ia desintegrado bem antes de se haverem completado os três anos do Seu ministério, e assim o Gólgota não teria sido alcançado.

Quando o tempo se esgotou e o ministério terreno chegou ao fim, os Essênios pararam de intervir, então as coisas tomaram o seu curso natural e a tremenda força vibratória que atuava sobre os átomos físicos espalhou-os aos quatro ventos de modo que, quando o túmulo foi aberto poucos dias depois, nenhum sinal do corpo foi encontrado.

Isso se harmoniza perfeitamente com as leis naturais que conhecemos e com o seu modo de atuarem no Mundo Físico. A corrente elétrica de baixa potência queima e até mata, enquanto a alta voltagem pode atravessar o corpo sem prejudicá-lo. A luz, que possui elevadíssimo grau vibratório, é agradável e benéfica ao corpo, mas quando focalizada através de uma lente esse grau vibratório é reduzido, produzindo-se então o fogo que queima e destrói. De modo idêntico, quando Cristo, o Grande Espírito Solar, entrou no Corpo Denso de Jesus, reduzindo Seu padrão vibratório em virtude de resistência da matéria densa, tê-lo-ia queimado – como na cremação – caso não tivessem sido tomadas medidas para evitá-lo. A força era a mesma, os resultados idênticos, exceto num pormenor: o fogo que consumiu o corpo de Jesus não produziu cinzas, conforme aconteceria com o fogo comum que produz chamas. A propósito, é bom recordar que o fogo, embora invisível, encontra-se latente em todas as coisas. É verdade que não o vemos na planta, no animal ou na pedra, não obstante, ele ali está perceptível à visão interna e capaz de manifestar-se a qualquer momento na substância física em forma de chama.

Uma das nossas ilusões é a de que o corpo que habitamos é vivo. Isto de fato não acontece. Pelo menos a porção deste corpo que pode ser verdadeiramente chamada de viva é tão pequena que a afirmação acima é praticamente verdadeira. O resto dele existe absolutamente adormecido, se não inteiramente morto. Este fato é bem conhecido pela ciência e é algo que a razão nos demonstra ser verdade: nosso poder espiritual é tão pequeno que não pode dotar de vida este veículo por tempo suficientemente longo, de modo que, na medida em que nos incapacitamos para vitalizar o corpo, este começa a assemelhar-se a um pesado torrão de barro que devemos arrastar penosamente conosco até que alguns poucos anos depois ele se cristaliza a tal ponto que se nos torna impossível manter o trabalho vibratório por mais tempo. Então, somos forçados a abandoná-lo, e aí se diz que ele morre. Inicia-se, assim, um lento processo de desintegração que devolve o átomo à sua condição original de liberdade.

Confronte agora a condição das coisas quando um desses mesmos corpos terrenos é possuído por um poderoso Espírito como o de Cristo. Pode-se achar uma analogia com o caso de um indivíduo reanimado após um afogamento. Em tais casos o Corpo Vital se retira e a ação vibratória dos átomos físicos quase cessa, quando não para totalmente. Restauradas as condições que permitem ao Corpo Vital voltar a interpenetrar o corpo físico, aquele entra imediatamente a acionar e pôr em vibração todos os átomos deste. Esta tentativa de despertar os átomos inertes provoca aquela intensa e desagradável sensação de formigamento que o afogado descreve depois de reanimado, sensação que persiste até os átomos físicos alcançarem o grau vibratório de uma oitava abaixo daquele em que vibra o Corpo Vital. Chegado a esse ponto acaba a sensação, nada mais é sentido, salvo aquilo que se sente normalmente.

Agora consideremos o caso de Cristo entrando no Corpo Denso de Jesus, cujos átomos naturalmente moviam-se numa velocidade muito inferior àquela das forças vibratórias do Espírito Cristo. Consequentemente, uma aceleração tinha de acontecer, de tal maneira que, durante os três anos de ministério, essa notável aceleração de vibração desses átomos teria desintegrado o corpo não fora a atuação da poderosa vontade do Mestre para conservá-lo inteiro, reforçada pela habilidade dos Essênios. Se os átomos do corpo de Jesus estivessem adormecidos no momento em que Cristo dele se retirou – conforme ocorre aos nossos átomos quando abandonamos nossos corpos – um longo processo de putrefação ter-se-ia feito necessário para desintegrar aquele corpo. No entanto eles estavam altamente sensibilizados e vivos, portanto, era impossível ficarem presos após o Espírito ter-se retirado. Em futuras épocas, quando tenhamos aprendido a manter nossos corpos vivos, não precisaremos mudar átomos nem trocar de corpos tão frequentemente. Quando isso acontecer, o processo de putrefação não exigirá tanto tempo para se completar, conforme acontece presentemente. O sepulcro não foi fechado hermeticamente, portanto não podia oferecer obstáculo à passagem dos átomos.

Ao morrer o Corpo Denso de Jesus, os Átomos-semente retomaram ao seu primitivo dono. Durante os três anos de intervalo entre o batismo, em que ele renunciou a seus veículos, e a crucificação, quando pôde reaver os Átomos-semente, Jesus formou um veículo etérico, do mesmo modo que um Auxiliar Invisível junta matéria física sempre que se faça necessário materializar um corpo ou parte dele. Contudo, matéria que não corresponda ao Átomo-semente não pode ser utilizada de modo permanente: desintegra-se tão logo desapareça a força de vontade que a atraiu. Portanto, aquilo foi para Jesus apenas um expediente de ocasião. Quando o Átomo-semente do seu Corpo Vital retornou, então um novo corpo foi formado, e em tal veículo Jesus vem funcionando desde então, trabalhando com as igrejas. Nunca mais utilizou um Corpo Denso, embora seja perfeitamente capaz de fazer um. Presumivelmente isto se dá em virtude de seu trabalho ser totalmente desligado das coisas materiais e diferir diametralmente da obra de Christian Rosenkreuz, que tem muito a ver com problemas de governos, industriais e políticos, pelo que precisa de um corpo físico em que possa aparecer ao público.

A razão pela qual o Corpo Vital de Jesus é conservado para a segunda vinda de Cristo ao invés de Lhe providenciar um novo veículo pode ser encontrada em “Fausto”, mito que apresenta em sentido figurado grandes verdades espirituais de valor inestimável à alma sedenta. Fausto, em seu esforço para obter poder espiritual antes de merecê-lo, atrai um Espírito disposto a auxiliá-lo em seus desejos mediante uma compensação, pois em tal classe de Espírito o altruísmo é uma virtude que simplesmente não existe. Quando Lúcifer se volta para sair, nota apavorado a existência de um pentagrama diante da porta, uma das pontas em sua direção. Pede, então, a Fausto que retire dali o símbolo para que ele possa sair, ao que este lhe pergunta por que não sai pela janela ou pela chaminé. Lúcifer, relutantemente, admite que:

Para os fantasmas e Espíritos é lei

que por onde entramos, devemos sair.

Quando, no curso natural dos acontecimentos, o Espírito volta a nascer, ele entra no Corpo Denso pela cabeça, trazendo consigo os veículos superiores. Ao deixar o corpo à noite, sai pelo mesmo lugar, para reentrar do mesmo modo na manhã seguinte. O Auxiliar Invisível também sai do seu corpo e nele reentra da mesma maneira. E quando por fim nossa vida terrena chega a seu termo, é pela cabeça que saímos do nosso corpo pela última vez. Vemos, pois, que a cabeça é a porta natural do corpo e, por conseguinte, o pentagrama com uma ponta para cima é o símbolo da magia branca, que atua em harmonia com a lei de progressão.

O mago negro, que atua contrariamente à natureza, perverte a força da vida dirigindo-a para baixo, através dos órgãos inferiores. O portal da cabeça está fechado para ele, mas ele se retira pelos pés, o cordão prateado estendendo-se através dos órgãos inferiores. Portanto, foi fácil para Lúcifer entrar no gabinete de Fausto, pois o pentagrama com duas pontas voltadas para ele representava o símbolo da magia negra, mas ao tentar sair depara com uma só ponta em sua direção, e então se amedronta diante do sinal da magia branca. Ele só podia sair pela porta inferior porque por ali é que havia entrado, por isso ficou preso quando essa porta inferior foi bloqueada.

De maneira análoga, Cristo era livre para escolher Seu veículo para entrar na Terra onde agora se acha confinado, mas uma vez escolhido o veículo de Jesus a este ficou limitado como único meio de sair dela. Se esse veículo houvesse sido destruído, Cristo teria de ficar enclausurado no globo até que a Terra se dissolvesse no caos. Isso seria uma calamidade imensurável, portanto o veículo usado por Ele está sendo guardado com o máximo cuidado pelos Irmãos Maiores.

Nesse meio tempo Jesus perdeu todo o crescimento anímico alcançado durante seus trinta anos na Terra, antes do batismo, e contido no veículo dado a Cristo. Isto foi e continua sendo um grande sacrifício feito por nós, mas redundará em glória maior no futuro, como todas as boas ações. Porque esse veículo, utilizado como foi, e a ser usado novamente por Cristo em Sua vinda para estabelecer e aperfeiçoar o Reino de Deus será tão espiritualizado e glorificado que, quando for devolvido a Jesus na época em que Cristo entregar o Reino ao Pai será também o mais maravilhoso de todos os veículos humanos. E, ainda que isto não tenha sido ensinado, o autor acredita que Jesus será, por isso mesmo, o mais alto fruto do Período Terrestre, seguido de Christian Rosenkreuz. Porque “nenhum homem tem maior amor do que aquele que dá a própria vida[21] e dar não somente o Corpo Denso, mas também o Corpo Vital, e por tempo tão prolongado, certamente é o máximo dos sacrifícios.

F I M


[1] N.R.: Independentemente da inversão das estações, uma coisa que se mantém idêntica no Norte e no Sul: a distância maior ou menor, a que o Sol se encontra da Terra. No Solstício de Dezembro, o Sol se encontra mais próximo da Terra: a Terra é permeada mais fortemente pela aura do Sol Espiritual (inspiração de crescimento anímico nos seres humanos). No Solstício de Junho, a Terra no máximo afastamento do Sol: diminuição de espiritualidade com a intensificação de vitalidade física.

[2] N.R.: Rm 8:22

[3] N.R.: Jo 19:30

[4] O Solstício de Junho varia entre 20 e 21 de junho, dependendo do ano.

[5] N.R.: ou 20, dependendo do ano.

[6] N.R.: Mt 26:26-29

[7] N.R.: Também conhecido como Tomás de Kempen, Thomas Hemerken, Thomas à Kempis, ou Thomas von Kempen (1379 ou 1380-1471) foi Monge e escritor alemão.

[8] N.R.: Wilhelm Richard Wagner (1813-1883) – maestro, compositor, diretor de teatro e ensaísta alemão.

[9] N.R.: ou Zurique é a maior cidade da Suíça, um país do hemisfério norte.

[10] N.R.: a Suíça fica no hemisfério norte, onde, em março, é a estação da primavera.

[11] N.R.: Jo 1:10

[12] N.R.: Jo 1:5

[13] N.R.: Jo 12:47

[14] N.R.: Jo 19:30

[15] N.R.: At 17:28

[16] N.R.: Jo 14:12

[17] N.R.: Jo 13:36

[18] N.R.: Valhala, Valíala, Valhalla ou Palácio dos Einherjar (em português “Palácio dos mortos heroicos”), na mitologia nórdica e nas religiões pagãs nórdicas, como a popular Ásatrú, é um palácio com enorme salão com 540 quartos — situado em Asgard e dominado pelo deus Odin — no qual metade dos guerreiros mais nobres e destemidos mortos em batalha são levados pelas valquírias após a morte para viverem com Odin (enquanto a outra metade vai para os campos Folkvang da deusa Freia), onde participam de combates diários, para manter o exercício da luta e preparar-se para o dia de Ragnarök (em português “o dia do fim do mundo”).

[19] N.R.: Lc 12:48

[20] N.R.: Boletim Echoes de Mount Ecclesia – The Rosicrucian Fellowship.

[21] N.R.: Jo 15:13

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