Arquivo de categoria Relação do Ser Humano com outros Seres

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Assistindo ao Próprio Funeral

Quando chegou ao Mount Ecclesia a notícia de que Frank English, um de nossos membros de Los Angeles, havia se livrado do corpo mortal e que o autor deveria oficiar o Ritual do Serviço de Funeral, antes da cremação do corpo, um grupo foi formado pelos trabalhadores em Mount Ecclesia e fomos para Los Angeles no domingo de manhã, ajudamos nas atividades para cremar o corpo e viajamos de volta, uma distância total de 300 quilômetros, a tempo de Max Heindel falar na reunião noturna diária na Pro-Ecclesia — um dia de trabalho bastante extenuante.

Mas, isso é apenas um incidente registrado para preparar o caminho para contarmos a nossa história e trazer à tona o fato de que as pessoas, geralmente, assistem a seus próprios funerais. Isso foi aprendido quando alguém perguntou ao autor, após a reunião: “Você viu o Frank? Ele está aqui?”.

“Eu nunca oficiei um funeral em que o chamado ‘morto’ não estivesse presente e não fosse um espectador interessado”, respondeu Max Heindel. Ele então começou a contar uma série de experiências interessantes sobre o comportamento dos “mortos”: “Na maioria das vezes”, ele disse, “eles  se sentam quietos em seus assentos, observando o que acontece como qualquer uma das pessoas que nós chamamos de vivas, embora o significado do termo comum ‘os vivos e os mortos’ deva realmente ser invertido; pois nós, que estamos presos neste pesado ‘pedaço de barro’ e sujeitos a inúmeras dores e males, estamos realmente muito mais mortos do que os Espíritos desencarnados que assim designamos; enquanto aqueles, que não conhecem a doença, que não podem sentir fadiga, que se movem mais rápido que o vento sem fazer o menor esforço, devem realmente ser chamados de vivos”.

“Mas, na hora do funeral, muitos deles ainda não se encontraram, por assim dizer, pois acabaram de sair da visão e revisão sobre o panorama da vida passada, que é descortinada diante deles em ordem inversa, da morte ao nascimento, mostrando que os efeitos de suas vidas foram gerados por causas antecedentes; e como na maioria dos casos as pessoas não estudam sobre o assunto vida após a morte, elas geralmente ficam irremediavelmente confusas em todo o processo. Muitas vezes percebem que devem ter ‘morrido’, pois observam o Corpo Denso no caixão, mas se veem com uma forma semelhante, que para eles parece tão sólida e real quanto a coisa que está morta.”.

“Então eles não podem entender por que ainda estão em sua antiga casa e por que eles não viram qualquer coisa do ‘Tribunal, do Céu ou do Inferno’ — isto é, se eles acreditavam nisso. Se foram materialistas, provavelmente, começam a se perguntar como podem pensar ou continuar a existir. Encontrei apenas alguns materialistas do outro lado e não perguntei a eles sobre seus sentimentos a esse respeito, mas todos ficaram muito irritados por serem gradualmente forçados a revisar sua teoria de que a aniquilação do ser segue a morte física. Eles queriam a extinção da consciência e estavam muito infelizes”.

“As pessoas que estudaram os Ensinamentos Rosacruzes, promulgados pela Fraternidade Rosacruz, diferem radicalmente da maioria como grupo, pois instantaneamente reconhecem, ao despertar da visão e revisão do panorama da vida, os fatos essenciais do caso. Eles sabem que entraram nas Regiões inferiores do invisível Mundo do Desejo e que estão entrando em uma nova fase de evolução. A maioria deles está quieta e subjugada, sentindo a importância da mudança, e consideravelmente amedrontada por enquanto. Eles costumam ir para uma parte da sala onde os cultos estão sendo realizados, que fica o mais longe possível de todos.”

“Contudo, sempre notei que, se a conversa na sala é toma um tom de alegria, tem um efeito maravilhoso em alegrar o amigo ou a amiga recém-falecido ou recém-falecida. Várias vezes tive a satisfação de vê-los sair do seu canto e se tornar muito brilhantes, com um aumento correspondente no ânimo de todos os ‘vivos’. Em uma ocasião o ‘morto’ ficou tão interessado e tão alegre que ele quase me atropelou no meio do meu discurso.”.

“Quando entrei na sala, esse homem estava sentado em um canto, muito quieto. Ele conhecia os Ensinamentos Rosacruzes e, evidentemente, estava totalmente atento aos fatos, mas também estava claro que a situação pesava bastante sobre ele. Então, imediatamente eu fiz todos os esforços para administrar ‘consolação aos mortos’ por meio de uma conversa alegre com a viúva sobre a morte e a condição posterior, relatando uma série de experiências para ilustrar os diferentes pontos, e muito em breve o ‘morto’ apurou os ouvidos, aproximou e se sentou ao lado da sua companheira de vida.

“Durante o serviço ele permaneceu lá, sentado, atento e alerta. Ele ouviu atentamente enquanto eu explicava ao público que aquele ‘pedaço de barro” no caixão era apenas uma roupa que nosso amigo havia usado há pouco tempo e, que, com o tempo, seria substituído por um corpo novo e melhor no qual ele aprenderia novas lições na Grande Escola da Vida.”

“Enquanto isso, continuei a apontar com a mão esquerda para o corpo no caixão aberto, enquanto a direita estava suspensa no ar. Eu estava me preparando para citar o poema inimitável de Sir Edwin Arnold que começa com: ‘Nunca nasceu o Espírito! Nunca o Espírito deixará de ser!’. Comecei a dizer: ‘Como diz Sir Edwin Arnold…’”.

“Então veio um clímax que eu não esperava. De repente, o homem ‘morto’ deslizou do sofá em que estava sentado e, em linha reta, passando pela mesa em que eu estava, foi até o caixão, olhou com grande interesse para a forma descartada, evidentemente observando-a de um modo que ele nunca tinha realmente entendido antes; e ele permaneceu assim, perdido em pensamentos por vários minutos.”

“Mas dizer que fiquei surpreso com esse incidente inesperado é dizer o mínimo. Em vez de manter minha Mente no discurso, involuntariamente segui os movimentos do nosso amigo ‘morto’ para ver o que ele faria, com o resultado inevitável de que perdi o fio do meu discurso por um minuto e repeti sem jeito: ‘Como Edwin Arnold diz…’. Então, com um grande esforço, juntei meus pensamentos e continuei.”

“Houve duas coisas notáveis sobre o que ele fez. Em primeiro lugar, as pessoas costumam andar de um lugar para outro por algum tempo depois de deixarem o Corpo Denso, até que gradualmente descobrem que podem planar mais rapidamente que o vento. Elas também parecem ter um pavor instintivo de atravessar uma parede ou uma porta fechada, mesmo que saibam, por seus estudos, que isso pode ser feito. Acima de tudo, elas temem que um amigo ‘vivo’ venha e se sente na cadeira em que estão sentadas. Talvez essa seja a verdadeira razão pela qual elas costumam ficar sentadas em algum canto durante o seu funeral.”.

“Mas, nesse caso o cavalheiro deslizou pela sala, passando diretamente pela mesa e por um vaso de flores, até chegar ao caixão. Isso me mostra que ele deve ter ficado tão absorto na ideia de que seu Corpo Denso descartado era exatamente como um casaco velho e que, durante esse acesso de abstração, inconscientemente obedeceu às leis do movimento do reino invisível, em vez do habitual método físico de locomoção.”

“Ah, e sobre Frank, como ele agiu?”.

“Ora, você deve se lembrar de que ele era um membro dos graus mais elevados (do Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz), no qual foi ensinado a assimilar o panorama da vida dia a dia (por meio dos Exercícios Esotéricos diários: o noturno de Retrospecção e o matutino de Concentração), de modo que, quando ele saiu do Corpo Denso, provavelmente, havia apenas algumas pontas esparsas que precisaram ser cortadas, antes que o Cordão Prateado se rompesse e o deixasse livre, em plena posse de sua consciência. Esse trabalho o familiarizou com os Mundos invisíveis anos atrás, de modo que ele estava bem à vontade. Além disso, quatro dias se passaram desde que ele falecera então, provavelmente, ele se sentia bem, pelo menos é o que pareceu — andando entre nós e parando ora entre um grupo de amigos, ora em outro grupo de amigos. Quando ele me viu, ele acenou com a cabeça e sorriu como se nada fora do comum tivesse acontecido.”

“Eu só gostaria que todos pudessem ver os amigos e as amigas depois do falecimento deles; e é sempre uma maravilha para mim que não possam ainda, pois durante os primeiros dias e as primeiras semanas eles me parecem tão densos quanto as radiações de calor acima de um radiador de vapor. Mas, graças a Deus, esse dia está chegando.”

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de outubro/1916 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Goethe e Sua Contribuição à Humanidade

Goethe[1] é considerado um dos luminares da inteligência humana. Tal foi a amplitude do seu cabedal de conhecimentos, admirável a profundidade do seu pensamento, que constitui tarefa complexa traçar sua biografia. Os traços biográficos de um homem dessa Natureza não podem cingir-se meramente à indicação de sua origem, de seus passos, de sua morte, ao relato de suas imortais obras e ao alcance de seus conceitos mais divulgados. Tornar-se-ia necessário viver suas próprias experiências, beber da fonte da sabedoria da qual ele extraiu as mais belas joias do pensamento humano.

Suas obras, analisadas literalmente, evidenciam sua genialidade. Perscrutadas nas entrelinhas, à luz do espírito, descortinam um verdadeiro universo de conhecimentos ocultos, próprios de um Iniciado. E ele era. Em “Fausto”, por exemplo, encontramos algumas das leis básicas da evolução. Quando Lúcifer pede a Fausto que assine o pacto estabelecido entre ambos com “uma gota de sangue”, surge uma dessas evidências.

Constitui um trabalho fascinante descobrir as várias facetas desse grande espírito. Vamos a algumas delas.

É nesta altura que nos são abertas, pelas ideias de Goethe, perspectivas completamente novas. Goethe não era apenas o grande poeta lírico e dramático, autor do ‘Werther’[2], ‘Iphigenie’[3] e ‘Fausto[4], mas um cientista e filósofo tão profundo e original que ele mesmo considerava sua obra científica superior à sua obra poética. Várias descobertas lhe asseguram um lugar de destaque na história das ciências.

Mas não é como cientista ‘de métier’ que Goethe nos interessa aqui. Tampouco valeria a pena determo-nos demoradamente em suas ideias, se fossem apenas opiniões ou teorias divergentes, em certos detalhes, das de seus predecessores e contemporâneos. Goethe representa muito mais do que isso: sua cosmovisão é uma alternativa, totalmente diferente, para toda maneira de ser e de pensar dos séculos XIX ao XXI. Para quem acompanha, com preocupação cada vez maior, o enfoque da vida e a escala de valores adotados pela humanidade sob a influência do materialismo científico e do pragmatismo utilitarista, o “goetheanismo” constitui uma opção que só não tem merecido atenção maior porque certos conceitos são tão arraigados no ser humano de hoje que ele simplesmente não pode imaginar uma maneira diferente de pensar e de julgar.”

Por esse motivo, analisaremos mais profundamente o “goetheanismo”, sem nos preocuparmos com o que possa ter de inusitado e esdrúxulo para pessoas acostumadas a raciocinar exclusivamente dentro dos moldes e conforme os modelos atualmente aceitos. As ciências têm evoluído por um caminho oposto a Goethe, e o mundo moderno é um fruto dessa evolução.

Para Goethe, as ciências têm a função de explicar ao ser humano os fenômenos com que esse se defronta ao abordar a Natureza. Nesse ponto, Goethe não diverge dos grandes pioneiros das ciências. Mas, o que significa ‘explicar’? Para Goethe, ‘explicar’ um fato novo e desconhecido significa reduzi-lo, dentro da mesma esfera de observação, a outros fenômenos mais simples, até mostrar que ele se integra no contexto do mundo fenomenal restante, sem que haja divergência entre o fato e as ideias subjacentes a esse mundo. Dentro de cada área há fatos tão simples que não podem ser reduzidos a outros ainda mais simples: são evidentes em si. Goethe os chama de ‘fenômenos primordiais’ (‘Urphônomen’).

Nossa curiosidade científica é satisfeita quando conseguimos explicar um fato pelos ‘fenômenos primordiais’ subjacentes. Tais fenômenos primordiais existem em todas as áreas da Região Química do Mundo Físico: na mecânica, na ótica, na termologia, no magnetismo… A explicação científica deve, portanto, descobrir, dentro da mesma área, os fenômenos primordiais que fazem parte do fenômeno indagado. Não se acrescenta coisa alguma a uma explicação quando se procura encontrar uma ‘causa’ situada em outra área. Explicar o fenômeno ótico por uma ‘causa mecânica’, por exemplo, seria não só inadequado, mas contrário à própria função da ciência. Essa atitude seria totalmente ilícita, se a ‘causa’ invocada fosse algo hipotético como, por exemplo, a aceitação hipotética de ‘ondas’ de luz para explicar certos fenômenos óticos.

O cientista deve sempre ficar dentro do âmbito dos fenômenos, e não pode procurar causas teóricas situadas além desse âmbito. Os fenômenos primordiais podem ser enunciados sob forma de ‘Leis da Natureza’, e sua formulação pode conter elementos matemáticos, desde que o aspecto matemático-quantitativo faça parte desse fenômeno. O que não é permitido é reduzir fenômenos qualitativos a estruturas meramente quantitativas e recorrer a leis mecânicas, matematicamente formuladas, para ‘explicar’ um fenômeno. ‘Explicar’ o fenômeno ‘calor’ pelo movimento browniano das moléculas não significa nada, para Goethe. O fenômeno ‘calor’, que existe na percepção de um ser sensível, paralelamente pode ter, na área do universo molecular, um efeito como o movimento browniano, mas não se acrescenta algo à explicação do fenômeno invocado como sua ‘causa’ o referido movimento, ou pior ainda, afirmando que a ‘realidade objetiva’ do fato se verifica no nível do mundo molecular.

A Natureza nos fala, portanto, por meio de linguagens próprias a cada área. Reduzindo os fenômenos observados, dentro de uma área, a ‘causas’ existentes em outras, é procurar obter uma resposta em uma linguagem imprópria. A resposta perde o seu sentido quando formulada em uma linguagem estranha. Ora, quando se dá uma explicação mecanicista e quantificada para um fenômeno que o organismo sensorial do ser humano vivencia como qualitativo, a linguagem da resposta é imprópria. Por esse motivo, a atitude de Descartes[5] de admitir em um objeto apenas as qualidades ‘primárias’, as qualidades secundárias, implica uma abstração ilícita; pois o objeto não é captado em sua realidade, já que tamanho e movimento não podem ser considerados independentemente do resto. Igualmente, o tamanho e as demais qualidades ‘objetivas’ são revelados por nossos sentidos, ou por aparelhos que os substituem.

Convém fazer, nesta altura, uma ressalva. O “goetheanismo” não significa, de modo algum, que o ser humano deixe de raciocinar; significa apenas a negação de um raciocínio unilateralmente matemático e mecanicista, em áreas onde só um pensar mais amplo é capaz de captar toda a realidade. Não é correto que as verdades matemáticas sejam mais simples ou de compreensão mais fácil do que as outras.

Goethe realça, de certo modo, as qualidades ‘secundárias’, porque são elas que afetam, de forma mais intensa, o maravilhoso organismo sensorial do ser humano, que o cartesianismo tacha desdenhosamente de subjetivo.

Nunca devemos esquecer que é o ser humano (o Ego humano, que é um Espírito Virginal da Onda de Vida humana manifestado aqui) que se encontra, com suas perguntas, diante da Natureza e é como ser humano que deve receber as respostas; e deve recebê-las de forma humana. A inobservância desse princípio básico é a causa da alienação do ser humano em relação às ciências e da alienação das ciências em relação à realidade.

Ao enfrentar um fenômeno da Natureza, o ser humano o faz como ser total (um Tríplice Espírito que trabalha em um Tríplice Corpo e uma Mente, todos veículos construídos por ele mesmo em cada vida que ele vive aqui); ele tem diante de si o fenômeno como algo total. Se o raciocínio abstrato for a única função do observador, e se as únicas qualidades captadas do objeto forem as acessíveis a esse pensar mecânico-matemático, a relação do ser humano-objeto nunca poderá ser completa; será restrita e, portanto, falsa. Para que a pergunta — que sempre envolve o ser humano total — possa ser satisfatoriamente respondida, deve haver uma comunhão total entre ele e a Natureza. Goethe afirma que tal comunhão intuitiva — chama-a também de juízo contemplativo — é possível porque o próprio ser humano emana da Natureza e continua a fazer parte dela. O ser humano contém a Natureza; foi ela que plasmou seus órgãos sensoriais — existe, pois, uma afinidade intrínseca entre o seu ser e o ser da Natureza. O olho não apareceu no ser humano ‘por acaso’, permitindo-lhe, depois, enxergar a luz; foi ela que plasmou o olho (afinal, a luz preexistente criou o olho que a pudesse ver, ou ainda, a Natureza construiu os olhos para receberam a luz, em resposta à função já existente, lá na Época Atlante). Existe, portanto, uma afinidade básica, essencial, entre o órgão da visão e o Mundo visível; isto é, iluminado pela luz. A cognição do mundo pressupõe uma correspondência íntima entre o modo de ser da Natureza e o modo de conhecer do observador; de outro lado, essa correspondência é suficiente para se ter a verdadeira contemplação ou intuição, que permite vislumbrar na ‘realidade’ a ideia do que nela se ‘realiza’.

Em sua ‘Teoria das Cores’[6], Goethe dirigiu uma forte crítica a Newton. Não poderemos julgar equitativamente essa polêmica se não tivermos em mente que a maneira de ambos abordarem a Natureza é totalmente diversa. Não há medida comum possível; eles falam, de certa forma, línguas diferentes.

Compreendemos a Natureza nos compenetrando por meio de uma investigação intuitiva junto às leis intrínsecas de cada um dos seus reinos e setores. Captar essas ideias não significa viver uma atitude de misticismo sonhador, mas, sim, de penetrar até os últimos segredos da Natureza.

Em cada setor ou reino, essas ideias se realizam através de graus de intensidade que a vivência íntima do observador permite captar. A Natureza brinca, de certo modo, com formas primordiais, e produz a multiplicidade das suas formas visíveis por meio de uma atividade criadora, que é afim com o impulso criador do artista. E assim como mergulhamos dentro de uma obra de arte sem dissecá-la, identificamo-nos também com a essência dessas formas através de uma atitude de contemplação ativa; ou seja, uma identificação que é, ao mesmo tempo, inteligente e intuitiva, e que nos faz chegar às ideias mestras que se expressam em um fenômeno da Natureza; isso é o que Goethe chama de ser realista e objetivo.

As ideias ativas dentro da Natureza se realizam segundo os princípios da polaridade e da intensificação. Cada ideia produz, em dado momento, uma multiplicidade dentro da unidade. Sem ter a rigidez formal da dialética hegeliana[7], esse princípio da polaridade explica a diversidade das formas. Além disso, cada força pode atuar com um maior ou menor grau de intensidade. Esses dois princípios — o da polaridade acoplado ao da intensidade (‘Polaritât und Steigerung’) — produzem uma quase ilimitada riqueza de formas e fenômenos. São energias intrínsecas que o observador pode e deve vivenciar como tais. Se ele quer analisar um fenômeno, aplicando-lhe um critério exterior — em outras palavras, se o ‘mede’ com um metro proveniente de outro setor (medir é comparar uma grandeza com um ‘metro’ que não lhe é estranho) — ele não capta a realidade intrínseca, mas apenas aquelas qualidades que o fenômeno possa ter em comum com o setor do qual foi tirado o metro.

Também no campo da Natureza orgânica existem formas básicas, que podem servir de critério para a compreensão de qualquer forma particular. Goethe os chama de ‘tipos’, e todas as suas concepções botânicas e zoológicas têm por objetivo a metamorfose desses tipos básicos, que causa a diversidade das formas e fenômenos concretos. Segundo ele, os fenômenos da vida só podem ser compreendidos dessa forma, e nunca por uma análise químico-física que usa exclusivamente parâmetros da Natureza inorgânica. O cientista age também incorretamente quando transpõe os critérios de ‘um’ setor da Natureza inorgânica para a ‘explicação’ de um fenômeno observado em outro setor, também da Natureza inorgânica.

Segundo Goethe, o objetivo das ciências não é a “dissolução” de um fenômeno em uma fórmula (com a perda de todas as suas características individuais), mas sua integração no resto dos fenômenos da mesma área.

Cabe aqui, mais uma vez, uma observação a respeito do uso da matemática nas ciências. Leibniz[8] tinha afirmado que uma ciência é ciência só na medida em que contém matemática. Goethe diverge fundamentalmente dessa opinião — embora negue peremptoriamente ser um inimigo da matemática. Ele lhe reconhece os grandes méritos, dentro de uma determinada área: o objetivo da matemática são as grandezas; ora, há muita coisa no mundo que não é grandeza, ou que é mais do que simples grandeza.

Igualmente, a matemática abrange princípios formais que não são meras ‘grandezas’. Encontramos também em Goethe um profundo respeito perante esse tipo de matemática, que se aproxima do pitagorismo[9].

Sem estar ligado a qualquer dogma, Goethe era um homem profundamente religioso. Para ele, a Natureza é obra divina, e revela a existência e a atuação de forças divinas.


[1] N.R.: Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) foi um polímata, autor e estadista alemão do Sacro Império Romano-Germânico que também fez incursões pelo campo da ciência natural. Como escritor, Goethe foi uma das mais importantes figuras da literatura alemã e do Romantismo europeu, nos finais do século XVIII e inícios do século XIX.

[2] N.R.: Iphigenia in Tauris (alemão: Iphigenie auf Tauris) é uma reformulação de Johann Wolfgang von Goethe da antiga tragédia grega Iphigeneia en Taurois de Eurípides. O título de Eurípides significa “Iphigenia entre os taurinos”, enquanto o título de Goethe significa “Iphigenia in Taurica”, o país dos tauri.  Aqui um resumo da obra: Os sofrimentos do jovem Werther ou no original em língua alemã Die Leiden des jungen Werthers (1774) é um romance de Johann Wolfgang von Goethe. Marco inicial do romantismo, considerado por muitos como uma obra-prima da literatura mundial, é uma das primeiras obras do autor, de tom autobiográfico — ainda que Goethe tenha cuidado para que nomes e lugares fossem trocados e, naturalmente, algumas partes fictícias acrescentadas, como o final. Neste livro, o suposto Werther envia, por um longo período, cartas ao narrador, que, em notas de rodapé, afirma que nomes e lugares foram trocados. O romance é escrito em primeira pessoa e com poucas personagens. Após a sua primeira publicação, em 1774, teria ocorrido, na Europa, uma onda de suicídios, atribuída à influência do personagem de Goethe, que foi chamada “efeito Werther”. No entanto, esse impacto do romance sobre o número de suicídios nunca foi demonstrado. Apenas mais recentemente foram realizadas tentativas científicas de examinar a existência desse possível efeito de Werther.

[3] N.R.: Amado pelos deuses por sua sabedoria, o semideus Tântalo uma vez foi convidado para sua comunhão. Tornando-se turbulento enquanto celebrava com eles, ele começou a se gabar e roubou o néctar e a ambrosia dos deuses, seu alimento de imortalidade. Quando os deuses vieram ver Tântalo, por sua vez, ele testou sua onisciência oferecendo seu próprio filho Pélope a eles como refeição. Ofendido pelo engano, os deuses baniram Tântalo de sua comunidade para o Tártaro e amaldiçoaram ele e sua família, a Casa de Atreus. Isso ficou conhecido como a maldição dos tântalo, na qual os descendentes de Tântalo em todas as gerações subsequentes foram levados por vingança e ódio ao assassinato de seus próprios familiares. Assim Agamenon, comandante do exército e bisneto de Tântalo, ofereceu sua filha mais velha Ifigênia à deusa Diana (em grego conhecida como Ártemis) para garantir ventos favoráveis ​​para a viagem de Áulis, moderna Avlida, a Tróia, onde pretendia travar a guerra. contra Tróia. Na crença equivocada de que seu marido Agamenon havia assassinado sua filha Ifigênia, Clitemnestra então matou Agamenon após seu retorno da Guerra de Tróia. Como resultado, Orestes e Electra, irmão e irmã de Ifigênia, guardaram rancor contra a mãe pelo assassinato de seu pai, e Orestes, com a ajuda de Electra, assassinou sua mãe Clitemnestra. Sendo agora culpado de um assassinato, ele também caiu sob a maldição da família. Em uma tentativa de fugir de seu destino iminente de ser vítima de vingança e de ser morto por seu crime, ele fugiu. Consultando o Oráculo de Delfos de Apolo, ele foi instruído a trazer “a irmã” para Atenas e que essa seria a única maneira de acabar com a maldição. Como supunha que sua irmã Ifigênia já estava morta, Orestes supôs que o oráculo devia significar a irmã gêmea de Apolo, a deusa Diana. Ele, portanto, planejou roubar a estátua de Diana do templo em Tauris e partiu com seu velho amigo Pílades para a costa de Tauris.

[4] N.R.: Fausto (em alemão: Faust) é um poema trágico do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe, dividido em duas partes. Está redigido como uma peça de teatro com diálogos rimados, pensado mais para ser lido que para ser encenado. É considerado uma das grandes obras-primas da literatura alemã. A criação da obra ocupou toda a vida de Goethe, ainda que não de maneira contínua. A primeira versão foi composta em 1775, mas era apenas um esboço conhecido como Urfaust (Proto-Fausto). Outro esboço foi feito em 1791, intitulado Faust, ein Fragment (Fausto, um fragmento) e, também, não chegou a ser publicado. A versão definitiva só seria escrita e publicada por Goethe no ano de 1808, sob o título Faust, eine Tragödie (Fausto, uma tragédia). A problemática humana expressada no Fausto foi retomada a partir de 1826, quando ele começou a escrever uma segunda parte. Esta foi publicada postumamente sob o título de Faust. Der Tragödie zweiter Teil in fünf Akten (Fausto. Segunda parte da tragédia, em cinco atos) em 1832.

[5] N.R.: René Descartes (1596-1650) foi um filósofo, físico e matemático francês.

[6] N.R.: Teoria das Cores é um livro do alemão Johann Wolfgang von Goethe publicado em 1810. Contém uma descrição do fenômeno das cores que veio influenciar fortemente os artistas pré-rafaelistas.

[7] N.R.: O pensamento filosófico de Hegel é um sistema complexo de unidades no qual a mesma estrutura processa-se em áreas diferentes do conhecimento. Hegel, como um grande filósofo sistemático, aplica as mesmas categorias aos mais variados problemas. Sua dialética tríade domina sua forma de apresentar e superar os mesmos.

[8] N.R.: Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) foi um proeminente polímata e filósofo alemão e figura central na história da matemática e na história da filosofia. Sua realização mais notável foi conceber as ideias de cálculo diferencial e integral, independentemente dos desenvolvimentos contemporâneos de Isaac Newton

[9] N.R.: A Escola Pitagórica, fundada por Pitágoras, foi uma influente corrente da filosofia grega à qual pertenciam alguns dos mais antigos filósofos pré-socráticos. Os pitagóricos foram muito importantes no desenvolvimento da matemática grega. A própria palavra “matemática” surgiu com os pitagóricos (mathematikós, em grego), com a concepção de um sistema de pensamento em bases dedutíveis, e deles advêm o conhecido aforisma de que “a matemática é o alfabeto com o qual os deuses escreveram o universo”. Até então, a geometria e a aritmética tinham um caráter utilitário, intuitivo, fulcrado em problemas práticos, sendo fruto dos pitagóricos a classificação dos números em pares, ímpares, primos e racionais (estes são todos os números que podem ser representados na forma de fração). Também dos pitagóricos advêm estudos sistematizados de alguns poliedros e polígonos regulares, sobre proporções, números decimais e a seção áurea ou divina. A sua vez, a matemática influenciou sua posição filosófica concebendo que os números são os princípios de todas as coisas.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de abril/1977-Fraternidade Rosacruz-SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Os Éteres e as Leis da Natureza

Falando do Éter como elemento transmissor de forças, não se diz coisa alguma à mentalidade acadêmica, porque a força é invisível. Mas, para o investigador ocultista as forças não consistem apenas de denominações conhecidas como vapor ou eletricidade. São seres inteligentes, de diversos graus de evolução, tanto sub-humanos como supra-humanos. O que chamamos de “Leis da Natureza” são Grandes Inteligências que guiam e dirigem seres mais elementares, de acordo com certas regras determinadas para acelerar sua evolução.

Na Idade Média, quando muitas pessoas eram dotadas de clarividência negativa, era comum falar-se de Gnomos, Duendes, Fadas etc., que vagavam por montanhas e florestas. Esses eram os Espíritos da Terra. Também se mencionavam as Ondinas e as Ninfas, Espíritos da Água, habitantes dos rios e correntes hídricas; os Silfos ou Sílfides, que moravam nas neblinas, como Espíritos do Ar; etc. Contudo, não se falava muito das Salamandras, pois como são Espíritos do Fogo, não são percebidas com muita facilidade nem acessíveis a muitas pessoas.

Atualmente, as antigas lendas são consideradas tolas superstições. Mas, verdadeiramente, qualquer pessoa dotada de Clarividência pode perceber os pequenos Gnomos elaborando a verde clorofila das plantas e imprimindo às suas flores essa multiplicidade de matizes delicados que constituem o encanto dos nossos olhos.

Os cientistas têm procurado oferecer uma explicação convincente sobre a origem de certos fenômenos, tais como os ventos e as tempestades. Via de regra, fracassam nesse intento. Jamais obterão êxito enquanto recalcitrarem em apresentar soluções meramente mecânicas àquilo que realmente é uma manifestação da vida.

Se pudessem ver as legiões de Silfos ou Sílfides, conheceriam as causas da variabilidade dos ventos. Se conseguissem observar uma tormenta marítima do ponto-de-vista etérico, notariam que o que se chama “luta dos elementos” não é um conjunto de palavras vazias. O tumulto que ocorre no mar é realmente um verdadeiro campo de batalha entre os Silfos e as Ondinas. Os rugidos da tempestade são os gritos de guerra dos Espíritos do Ar.

As Salamandras são encontradas por toda parte e não se pode produzir ou acender fogo sem o concurso delas. Elas se encontram em atividade debaixo da terra, causando as explosões e as erupções vulcânicas.

Essas várias categorias de seres são sub-humanas. Todos eles alcançarão em tempos futuros um estágio evolutivo correspondente ao humano, ainda que em circunstâncias diferentes. Mas, atualmente, as maravilhosas inteligências às quais nos referimos como “Leis da Natureza” são as que dirigem as legiões de entidades menos evoluídas.

Para melhor compreender a natureza desses seres e suas relações conosco, consideremos a seguinte ilustração. Suponhamos que um mecânico esteja construindo uma máquina e um cão esteja observando. O animal vê o homem trabalhando, assim como nota os vários instrumentos empregados para dar a forma adequada aos materiais. Nota, também, como do ferro, do bronze e de outros metais vai surgindo, lentamente, a forma da máquina. O cão é um ser pertencente a uma evolução inferior à nossa e não compreende o propósito do mecânico. Entretanto, vê o trabalhador, como ele desenvolve seu trabalho e o resultado dessa atividade traduzido como uma máquina.

Suponhamos que o cão só fosse capaz de observar os materiais que lentamente mudam de forma, ajustando-se entre si e convertendo-se finalmente no engenho, mas não pudesse ver o trabalhador e seu trabalho. Nesse caso, o animal encontrar-se-ia na mesma circunstância, em relação ao mecânico, que nós nos encontramos em relação a essas “Grandes Inteligências” a quem chamamos de “Leis da Natureza”. Somos capazes de contemplar as manifestações de seus trabalhos como forças que modelam a matéria em distintas formas, mas sempre debaixo de condições imutáveis.

No Éter podemos observar os Anjos, cujo corpo mais denso é formado dessa matéria. Esses seres encontram-se um pouco mais adiantados do que os humanos, assim como nos encontramos em uma etapa superior à dos animais, evolutivamente falando. Nunca fomos animais, como os da fauna conhecida; entretanto, em uma fase anterior do desenvolvimento deste planeta, nosso estado de consciência era semelhante à do animal.

Naquela época os Anjos eram humanos, conquanto nunca tenham possuído um Corpo Denso tal qual o nosso, nem chegaram a viver em matéria mais densa que o Éter. Numa etapa futura, a Terra voltará novamente ao estado etérico e o ser humano, então, viverá uma existência análoga à dos Anjos atuais. Por isso a Bíblia afirma que “o homem foi feito um pouco menor que os Anjos.” (Hb 2-17).

O Éter é o canal ou via condutora das forças vitais e criadoras. E como os Anjos são os mais hábeis manipuladores do Éter, compreendemos facilmente por que são os guardiães das forças de propagação na planta, no animal e no ser humano. Na Bíblia, nota-se bom número de referências a essa verdade. Dois Anjos vieram a Abraão, anunciando o nascimento de Isaac. Eles prometiam filhos aos homens que obedecessem a Deus. Mais tarde, esses mesmos Anjos destruíram Sodoma por causa do abuso da força criadora. Anjos anunciaram aos pais de Samuel e Sansão o nascimento desses gigantes da inteligência e da força. E, a Izabel, o Anjo (não o Arcanjo) Gabriel anunciou o nascimento de João Batista, aparecendo mais tarde a Maria com a mensagem de que ela havia sido eleita para conceber a Jesus.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de novembro/1977-Fraternidade Rosacruz-SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pergunta: Se a mediunidade é tão perigosa, por que os médiuns ainda permitem se deixar controlar?

Resposta: Em primeiro lugar, obviamente que a grande maioria dos médiuns não percebem o perigo que há. Sobretudo, eles não estão conscientes do enorme perigo que os ameaça após a morte. O Corpo de Desejos poderá permanecer sob o comando do Espírito de Controle. Se tentassem frear a influência do Espírito de Controle, enquanto ainda estão aqui no corpo, notariam que essa entidade tem um controle extremamente forte sobre eles, controle esse que será muito difícil de se romper, e eles deveriam perceber que, naturalmente, quando chegar a morte e eles retornarem a este mundo aqui com esses Espíritos de Controle, o perigo ainda será maior.

O autor conheceu alguns casos em que os médiuns hesitaram e tentaram escapar das ciladas dos Espíritos de Controle, mas não conseguiram romper a forte influência dessas entidades. Eles ficaram desamparados e indefesos. Os médiuns procuraram o autor em busca de ajuda e lhe disseram que eram quase irresistivelmente compelidos por esses Espíritos de Controle a cometer suicídio e assassinato; esclareceram haver implorado e sugerido que esses Espíritos de Controle os deixassem em paz, mas foi em vão. Existem casos conhecidos, também, em que os Espíritos de Controle arrastaram impiedosamente suas vítimas para fora da cama no meio da noite, contra a vontade delas e as forçaram a ouvir suas importunações. Muito raramente se ouve dizer que demonstrem alguma misericórdia. Embora o autor tenha conhecido médiuns que adoeceram por causa de tal procedimento, somente soube de um caso em que a doença do médium induziu os Espíritos de Controle a ouvir seu apelo e deixá-lo em paz por alguns meses, enquanto ele se recuperava.

Assim se verá que a mediunidade, uma vez iniciada, não é mais uma questão de escolha dos médiuns; pois, eles perdem o poder de excluir os Espíritos que os controlam. Enquanto eles cumprem as ordens de seus obsessores, permanecendo dóceis, eles podem até não sentir nada; mas, deixe um deles tentar recuar, e ele (ou ela) logo sentirá o freio e a espora do obsessor, que os usará impiedosamente.

(Pergunta nº 130 do Livro “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. I” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)

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Ser Fraternal

Uma coisa evidente na doutrina Cristã, quer para o Cristão popular, quer para o Cristão esotérico, é a missão unificadora do Cristo, em que todos somos chamados a servir.

E como é costume, justamente nesse fundamento, singelo e claro, é que tropeçamos todos, até compreender que isso pressupõe a conquista de muitas virtudes Cristãs secundárias.

Não há do que fugir; harmoniosamente, ou pela dor, um dia chegaremos a sentir necessidade de nos entendermos perfeitamente, uns com os outros, recebendo-nos, sinceramente, como irmãos em essência e em verdade, para formar uma só família mundial, um só rebanho, de um só Pastor: Cristo, o Senhor e a Luz do Mundo!

A questão é interna. Cada um de nós tem de se analisar repetidamente. Como age Ele em seu lar? Em seu trabalho? Na Fraternidade Rosacruz?

Encontra dificuldade em viver harmoniosamente com a esposa, com o marido? É temido pelos filhos? Ou é desrespeitado? Ou, contrariamente, sente, da parte da esposa ou do marido, o amor e a atenção próprios de quem realmente quer bem? Os filhos o consideram um amigo ou uma amiga, um irmão ou uma irmã mais velho ou mais velha, a quem prezam e em cuja presença se sentem à vontade?

No trabalho, tem queixa dos colegas? Acha seu chefe horrível? Ou os estima e por eles é estimado e querido?

Na Fraternidade Rosacruz, espera sempre receber, sem dar? Senta-se comodamente na poltrona e nada faz pelo ideal? Ama o Ideal Rosacruz em si, pelo que de belo e profundo apresenta, como solução de sua felicidade, ou por mero diletantismo intelectual?

Acha um palestrante ou escritor bom e outros não, ou procura tirar o que de bom cada palestra, de cada texto, pode oferecer, independentemente da pessoa que a apresenta?

Desilude-se facilmente com qualquer defeito dos que lá trabalham, ou segue o Ideal Rosacruz impessoal e eterno apresentado pelos Irmãos Maiores, para melhor compreensão do verdadeiro Cristianismo?

Cada um é que deve responder a si próprio. Nosso Ideal Rosacruz busca desenvolver em cada um a consciência do seu valor, da sua responsabilidade espiritual, perante a si mesmo e a humanidade, e mostra como pode servir eficiente, amorosa e desinteressadamente.

O certo é que, se criticamos muito os demais, se estamos desgostosos com uma porção de coisas, se vivemos descontentes e amargurados, nervosos, sempre nos chocando com os outros, é sinal seguro de que ainda não compreendemos o sentido real de Fraternidade Rosacruz, de irmanação, de entendimento e de tolerância.

Recebamos cada qual como ele é e tem direito de ser. Façamos simplesmente nossa parte, sem exigir dos outros retribuição nem imitação. Não façamos para receber. Se assim o fizermos, pouco valor teremos.

Podem notar: o que mais critica e exige, é o que menos dá, em regra geral.

Em todos os Núcleos da Fraternidade Rosacruz, como em qualquer movimento social, há sempre uns dedicados, que lhes formam o alicerce, que sustentam o trabalho. E, mesmo esses, muitas vezes se amarguram com as críticas, não raro, injustas, com as deslealdades e outras provas do trabalho em grupo, retirando sua colaboração.

É uma pena. Quem tem convicção mesmo do Ideal Rosacruz que abraça tem que resistir a esses embates e pôr sua meta acima dos seres humanos. O que vale, no movimento Rosacruz, é que não temos líderes, gurus, instrutores, mestres, governadores a quem nos dependuramos. Cada qual procura se desenvolver ajudado por cursos, estudos, leituras, conversas, reuniões, participações de grupos de Estudos e Centros Rosacruzes, palestras e o estímulo inicial dos companheiros mais seguros. Mas, depois, é orientado a cortar o segundo cordão umbilical. Estão, portanto, menos sujeitos às desilusões que os chamados “mestres”, “instrutores”, “gurus” humanos, que são e às vezes mal-intencionados, costumam pregar.

Todavia, mesmo em nosso meio há os que têm dificuldade de se irmanar com os demais.

Não apenas um, nem dez, mas, muitas dezenas de pessoas e centenas e até milhares, passam nos grandes movimentos coletivos. Se procuram seu “raio”, está bem. O que observamos é que não o encontram nunca, por falta dessa virtude básica, essencialmente Cristã: a fraternidade.

Ela é que se irradia de uma pessoa que julgamos simpática, que é querida por todos, que raramente entra em conflito com os semelhantes, que tem “magnetismo”, que é bem-sucedida. Vem de dentro, da vivência, e não de intelectualismo. Como disse alguém: “prefiro antes sentir o amor, do que saber brilhantemente defini-lo”.

Muitos serão os chamados e poucos os escolhidos. Nós mesmos nos selecionamos, nos capacitamos, nos escolhemos, segundo os nossos atos. E não nos descuidemos, mesmo quando já estivermos no Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz, como convidados para o banquete do Senhor, porque a vaidade e o personalismo nos espreitam e nos lançam os seus cantares de sereia. A tentação é necessária em todos os graus, pois são os exames que revelam nosso proveito na escola da vida.

Bem gostaríamos que todos se analisassem melhor nesse ponto essencial de buscar justificativas para sua inação, para sua falta de entrosamento com os outros. É muito fácil atribuirmos aos outros as causas de nossos fracassos. Mas não é justo.

Pensando bem, o único obstáculo que existe à nossa capacidade de irmanação é a nossa natureza inferior, essa segunda natureza construída através de muitas vidas de vícios e egoísmos de toda ordem. É tão velha, que já a consideramos de casa. Às vezes, chegamos ao cúmulo de a considerarmos nós mesmos, num flagrante desrespeito à nossa natureza espiritual. E quando chegamos a esse ponto, é porque a crosta de materialismo está mesmo grossa e necessitando de uma reação mais violenta da Lei de Consequência, porque, os que não querem aprender pelo entendimento e pelo amor, terão de aprender pela dor…

Como disse São Bernardo: “ninguém pode fazer mal a mim, senão eu mesmo. O mal que trago comigo, esse é que reage mal aos outros, esse é que me prejudica e dificulta a ascensão”.

Partindo do sincero reconhecimento dessa verdade, alertas com nossas falhas, tendo idealizado claramente nosso objetivo superior e esforçando-nos para atingi-lo, teremos certamente um resultado positivo.

A Fraternidade Rosacruz está ansiosamente à espera de colaboradores, sempre! Pessoas sinceras que compreendam bem esses pontos e possam exercitar, no trabalho de equipe, suas qualidades Cristãs, prová-las na prática, a fim de que se capacitem a sair da fase “intelectual” e partir para uma realização mais efetiva, de real vivência, cuja influência se estenderá por todas as esferas de sua vida, com favoráveis reflexos.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de dezembro/1977-Fraternidade Rosacruz-SP)

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Os Mortos Perderam o Interesse em Nós?

Max Heindel

Conta-se a história de um casal de grande coração, no País de Gales, que, desejando adotar uma criança belga refugiada, viajou para Swansea a fim de obter uma do Campo de Concentração de lá. Mas, nenhuma lhes convinha, exceto um irmão e uma irmã; porém, os dois se agarravam um ao outro tão tenazmente que não tiveram coragem de separá-los. Decidiram, finalmente, adotar os dois, levando-os para casa. Quando a senhora despiu a menininha, notou um medalhão pendurado no pescoço da criança e a menininha lhe disse da melhor maneira que pôde que ele continha uma foto da sua mãe, que havia sido massacrada. Ao abrir o medalhão, a mulher viu com espanto e tristeza a foto da sua própria irmã, que havia ido para a Bélgica como governanta anos antes e de quem ela havia perdido o rastro. Dessa forma, descobriu-se que ela havia levado os filhos da sua irmã assassinada para seu coração e lar.

Como isso aconteceu? Isso “aconteceu”? Essa é uma questão de grande importância, pois afeta o destino de todo ser humano, se os eventos em nossas vidas são governados por acaso ou destino. A explicação mais simples é, claro, que “simplesmente aconteceu” e pode parecer muito improvável para a maioria postular o destino. Ainda assim, Cristo disse: “os cabelos da sua cabeça estão contados, nem mesmo um pardal cairá na terra sem que o Pai saiba. Vós sois de mais valor do que muitos pardais” (Lc 12:7). Se Cristo disse a verdade, e não podemos duvidar disso, então o elemento “acaso” é eliminado e tudo o que nos acontece é o resultado do desígnio divino ou humano, operando sob, e em harmonia com a lei imutável da consequência; e os agentes que garantem esse desígnio podem estar nos Mundos visível ou invisíveis. Com essa hipótese, é fácil explicar a ocorrência. Quando nos perguntamos quem estaria interessado em levar essas crianças para a proteção da tia, a resposta é, obviamente, a mãe.

E, se uma ou outra mãe pode fazer isso por seus filhos, segue-se que todas as mães devem ter a mesma capacidade de afetar os destinos de seus filhos, restringidas, é claro, pela Lei de Causa e Efeito, como já foi dito; e se as mães podem fazer tais coisas, os pais ou outros parentes, em suma, o mundo inteiro do outro lado do véu da morte, devem ter o poder de afetar todas as outras pessoas que vivem aqui, e devemos ter o poder de afetá-los. Não pode haver meias medidas.

Para o investigador ocultista é de conhecimento comum que aqueles a que chamamos de mortos continuam por um tempo, variando de acordo com sua inclinação e disposição, a se interessar pelos assuntos daqueles que deixaram para trás, e se esforçam, com variado sucesso, para influenciá-los como influenciamos uns aos outros nas relações físicas. Eles não são livres para fazer isso o tempo todo, porque episódios no panorama da sua vida passada exigem toda a sua atenção enquanto estão sendo expurgados; mas, entre esses períodos nossos amigos dos Mundos invisíveis estão conosco e nos abraçam com a mesma solicitude e amor que tiveram por nós enquanto estavam ao nosso lado, aqui renascidos na Região Química do Mundo Físico.

Infelizmente, o inverso também é verdadeiro: se um inimigo morre, não nos livramos dele por esse fato. Ele pode realmente nos fazer mais mal fora do Corpo Denso e Vital do que poderia fazer enquanto estava aqui renascido na Região Química do Mundo Físico. Isso foi sentido em pequena escala na guerra russo-japonesa, quando alguns dos golpes inteligentes dos japoneses ocorreram em virtude de impressões recebidas do outro lado; métodos semelhantes foram usados em uma extensão que ninguém iria acreditar, se não estivesse ciente dos fatos, no início da presente guerra[1]. Mas, o efeito organizado dos Irmãos Maiores e seus grupos de Auxiliares Invisíveis deram frutos para conter a corrente de ódio entre as vítimas da batalha, de modo que todos os que cruzam o portal da morte são agora instruídos sobre o efeito da malícia sobre si mesmos e o mundo, sua melhor natureza surge e o altruísmo é exaltado como mais nobre do que o patriotismo; o resultado é que a maioria é convertida, pelo menos na medida em que se abstém de esforços ativos para interferir na batalha.

Há muitos anos defendemos a abolição da pena capital por razões semelhantes; o assassino ressentido é, por esse ato de retaliação, liberado do Corpo Denso para influenciar outros de mentalidade semelhante e o resultado é que os assassinatos se multiplicam; ao passo que, se fosse mantido na prisão, seria isolado até os anos passarem e esfriarem o ressentimento dele contra a sociedade; então ele morreria em um estado de espírito menos perigoso e, provavelmente, não faria mal à sociedade.

Portanto, que se perceba que seja um fato e não um sentimento poético, o que John McCreery escreveu:

Embora invisíveis aos olhos mortais,

Eles ainda estão aqui e ainda nos amam.

Os queridos que deixaram para trás,

Eles nunca esquecem.

Sim, sempre perto de nós, embora invisíveis,

Nossos queridos espíritos familiares caminham.

Pois todo o Universo sem limites de Deus é Vida.

Não há mortos.


[1] N.T.: Refere-se à Primeira Grande Guerra Mundial

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de agosto/1915 e traduzido pelos irmãos e irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

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“A Imitação é o ‘Elogio’ Mais Sincero”

Desde que o trabalho da Fraternidade Rosacruz foi iniciado, em 14 de novembro de 1908, os movimentos com nome de “Rosacruz” multiplicaram-se rapidamente. Parece haver uma mania perfeita para anexar a palavra Rosacruz aos seus nomes; mas para garantir a distinção do restante, alguns escrevem com “k “— Rosakruz. Outros usam “ae” em vez do “a” — Rosaecrucianismo. Alguns deles fazem grandes reivindicações. Um até mesmo afirma ter seis milhões de membros, entre os quais estão os chefes coroados da Europa e todas as pessoas ilustres de todas as épocas, incluindo Moisés, Elias, os faraós do Egito e outros grandes demais para serem mencionados.

Tampouco é de admirar que essa deslumbrante fantasmagoria cegue alguns de nossos membros mais fracos, que correm para essas ordens com plena fé de que o chamado Grão-Mestre, Imperator ou qualquer outro nome fantasioso, simplesmente vai mover uma varinha mágica sobre eles e suas asas brotarão, imediatamente os tornando oniscientes como os deuses. Aos poucos eles entenderão melhor: o avanço no Caminho da realização espiritual depende, como já dissemos mil vezes, do crescimento da alma (crescimento anímico); ninguém pode assimilar nosso alimento espiritual para nós, nem crescer por nós, assim como não pode comer nosso café da manhã físico e nos entregar o valor alimentar pelo qual podemos crescer fisicamente mais fortes.

Shakespeare fez a pergunta: o que há em um nome? Pode haver pouco e pode haver muito. Todos nós conhecemos o valor comercial de um bom nome para designar uma marca de produtos; contudo, não importa quão bom seja o nome, a menos que os produtos que ele represente sejam de excelente qualidade, o nome por si só não pode torná-los um sucesso permanente e a mesma coisa é válida para um movimento espiritual — deve ter uma base sólida, uma filosofia robusta.

Os hindus receberam os Vedas; os persas receberam o Zend Avesta; os maometanos, o Alcorão; os Cristãos, a Bíblia. Cada grande Religião teve seu próprio livro-texto particular que é o fundamento da sua fé e esse livro-texto tem três pilares: um relato sobre a nossa origem, uma declaração sobre o futuro reservado para nós e um códigode ética. Mesmo nos tempos modernos descobrimos que os Cientistas Cristãos têm seu livro-texto, Ciência e Saúde, e os Teosofistas têm a Doutrina Secreta.

Antes do início da Fraternidade Rosacruz, os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz deram ao escritor os ensinamentos monumentais contidos no Conceito Rosacruz do Cosmos, que supera todas as filosofias anteriores. Esse é agora o livro-texto da Fraternidade Rosacruz e está se espalhando por todo o mundo da maneira mais maravilhosa, pois encontra em todos os lugares, entre as pessoas pensantes, um assentimento incondicional, porque apela ao fórum interno da verdade.

A Filosofia Rosacruz foi oferecida, pela primeira vez, pelos Irmãos Maiores a Max Heindel com a condição de que ele a mantivesse em segredo e só a revelasse a alguns, através do rito e dos mistérios da Iniciação. Mas, sendo ele mesmo, naquela época, uma alma faminta em busca da solução do mistério da vida, recusou a oferta, embora repetidas propostas fossem feitas para que ele se retratasse. Ele pensou que se esse ensinamento fosse bom para ele, seria bom para milhares de outras almas famintas no mundo; finalmente, foi dado a ele na condição inversa, ou seja, que ele fizesse tudo ao seu alcance para promulgar a Filosofia Rosacruz. Ele foi submetido a um teste para ver se a usaria egoisticamente ou se seria firme em seu propósito de dá-la à humanidade; por isso, a Filosofia Rosacruz está sendo difundida publicamente através desse livro-texto para que todo aquele que busca, venha e beba de graça dessa “água da vida”.

Basta pensar o que teria acontecido se os Apóstolos tivessem conspirado, com sucesso, para manter os ensinamentos de Cristo longe do mundo ou se os primeiros Sábios da Índia ou da Pérsia, que receberam os Vedas e o Zend Avesta, respectivamente, tivessem feito isso. Então todo o mundo teria ficado séculos sem o ensino religioso e, certamente, todos sabem que isso teria sido um grande prejuízo para a evolução espiritual de muitos. Tendo isso em mente, basta aplicar os mesmos argumentos de bom senso às alegações dos chamados “Mestres”, que professam iniciar nos mistérios desta ou daquela Ordem qualquer um que tenha recursos financeiros, mas nada oferecem ao público. É fácil pegar um nome e fazer afirmações, mas peça-lhes para produzirem seu livro e compará-lo com a Bíblia ou o Conceito Rosacruz do Cosmos, veja se ele cobre os três pontos essenciais que mencionamos e nenhum outro teste será necessário para mostrar a sua condição de falso Mestre.

A Fraternidade Rosacruz não tem coisa alguma contra essas pessoas, pois, como se diz que a imitação é a forma mais sincera de elogio, supomos que elas reconhecem o mérito e a força do nosso movimento ou não tentariam imitá-lo.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de abril/1916 e traduzido pelos irmãos e irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)

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Uma Retrospectiva Oculta

Que estamos cercados por Mundos invisíveis, povoados de seres invisíveis e que podemos, sob certas circunstâncias, comunicar-nos com aqueles que passaram para além véu é uma crença tão antiga quanto a civilização humana. Houve momentos na história do Mundo em que foram feitas tentativas de suprimir essa crença, mas ela ainda sobrevive fortemente em nossas comunidades atuais. Embora nos tempos modernos a ciência tenha se esforçado, às vezes, para matar essa crença como sendo ridícula, descobertas científicas e recentes tendem a justificar a fé em fenômenos ocultos, em vez de desencorajá-la.

A Bíblia dá uma justificativa considerável para essa crença de que é possível se comunicar com aqueles que estão nos Mundos invisíveis — os chamados mortos. Conta-nos que a Bruxa de Endor[1] invocou o fantasma de Samuel a pedido de Saul. Podemos raciocinar, é claro, que a Bruxa de Endor fosse uma impostora, mas a Bíblia não diz isso. É possível que essa passagem dramática da Bíblia tenha feito mais do que qualquer outra coisa para preservar a crença popular na comunicação com os espíritos que partiram e essa crença é mantida entre algumas das pessoas mais esclarecidas do mundo. É verdade que a Bíblia condena Saul por tentar invocar o fantasma de Samuel e esse desastre veio de seu experimento ousado. Também pode ser que isso tenha sido um fator para dar má reputação às tentativas de comunicação com os mortos e com todas as relações geralmente conhecidas sob o nome de magia; no entanto, é um fato histórico que os primeiros cientistas eram todos magos e lidavam com espíritos desencarnados e seres que já tinham partido. Os sacerdotes babilônicos e egípcios eram os mais ilustres desses praticantes de magia e, no entanto, sem dúvida fizeram um progresso considerável no que hoje é chamado de ciência natural. Esses primeiros sacerdotes orientais eram sobretudo astrólogos e sempre misturavam o lado oculto com seus estudos de astronomia, como bem demonstrou Richard Proctor[2] em seu livro sobre o Observatório da Grande Pirâmide[3].

Os árabes foram os pioneiros da matemática, a mais exata de todas as ciências, e ainda assim eram astrólogos e crentes profundos na magia. Eles adoravam os Anjos das estrelas, os Espíritos Planetários, que nunca perderam seu lugar na Religião e estão incorporados nos rituais católicos de hoje.

Ao longo da Idade Média, a crença na magia e nos espíritos invisíveis, que estão ao nosso redor, persistiu e não era fomentada apenas entre as classes mais baixas; na verdade, era mais forte entre as pessoas mais civilizadas, embora em lugares frequentados pelo mal e pela degradação. Tanto a Igreja quanto o Estado tentaram eliminá-la, mas sem sucesso; talvez porque muitos dos que tinham autoridade fossem os mais fortes crentes na magia e praticantes da ciência.

O irmão do rei Luís XIV da França, oficialmente conhecido como “o rei mais Cristão”, e muitos membros da corte foram descobertos realizando orgias secretas, sessões espíritas com os espíritos dos mortos e “adorando Satanás”. Segundo a história, os parentes do rei e alguns dos personagens mais importantes da aristocracia da França foram salvos por sua posição, mas os de posição inferior foram torturados e executados por seus pecados. Mágicos famosos como Johannes Trismegisto[4] dominavam comunidades inteiras; até os Rosacruzes foram acusados de praticar ritos misteriosos em segredo e incluíam os membros mais ricos e importantes da sociedade; mas eles, é claro, não estavam preocupados com o fenômeno de conjurar os espíritos dos mortos. Eles tinham outros trabalhos mais importantes a fazer e qualquer magia que praticassem naquela época, ou hoje, seria pura e branca, sem o menor toque da magia impura e negra, o que caracterizava quase todo o resto daqueles que praticavam as sessões secretas.

A ciência moderna, que se diz ter começado com Francis Bacon[5], fez desde o início as mais sérias incursões nas reivindicações dos magos, astrólogos e todos os negociantes do ocultismo; embora o próprio Bacon, sendo adepto do Rosacrucianismo, não estivesse relacionado com essas perseguições de forma alguma. É verdade que os fenômenos dos magos não suportariam a investigação por métodos de laboratório na fria luz do dia e há muitas razões pelas quais esses fenômenos só podem ser produzidos no escuro, mas isso não justifica a alegação de que eles sejam fraudulentos.

Não podemos usar uma câmera para fotografar em um lugar escuro, porque as vibrações no Éter são muito lentas; nem podemos materializar um espírito à luz do Sol, porque as vibrações etéricas são muito rápidas e despedaçariam a estrutura tênue da qual o corpo espiritual é formado. Esse é um fato que nem mesmo a ciência compreende nos dias atuais. Por causa dessas perseguições tolas e falsos apelos à razão e ao intelecto, as classes econômicas-sociais mais elevadas começaram a ficar mais céticas em relação à magia e comunicação com os espíritos que partiram; apenas as chamadas classes “ignorantes” e pessoas de disposição extraordinariamente sensível se apegaram a elas. Deve-se dizer que esses últimos sempre foram numerosos, mesmo nas classes mais altas da sociedade. A rainha Maria Antonieta[6], no final do século XVIII, acreditava e praticava o espiritismo e em nossos dias o Czar da Rússia tem sido muito criticado pela amizade que demonstrava com Rasputin, o monge que, segundo todos os relatos, era um ocultista de primeiro nível, seja da escola negra ou da branca.

Em meados do século XIX, a ciência moderna aparentemente havia esmagado a magia antiga e tudo o que a acompanhava; a própria palavra “ocultista” ou “mágico”, que uma vez causou terror na Mente das pessoas, foi então dada a prestidigitadores e faquires viajantes, gente que retirava coelhos e tigelas de peixinhos dourados da cartola. A ciência havia quase totalmente reprimido a prática de fenômenos ligados ao ocultismo, mas então veio a onda irresistível do espiritismo. De várias partes do mundo, principalmente da América, chegaram relatos de materialização de espíritos em que os falecidos eram vistos e ouvidos em grupos reunidos com o objetivo de evocá-los por meio de um médium.

A ciência travou uma luta dura e amarga, mas a crença não pôde ser derrubada; na verdade, cresceu e se desenvolveu à medida que a ciência gritava “é fraude!”; finalmente, invadiu até as fileiras dos cientistas, transformando alguns dos principais entre eles de escarnecedores a defensores ardentes, pois eles viram que esses fenômenos estavam de acordo com as modernas descobertas científicas e quanto mais a ciência avançou em suas investigações dos segredos da natureza, mais se descobriu que esses fenômenos psíquicos estão de acordo com a operação das leis naturais descobertas.

De fato, as maravilhas das descobertas científicas quase rivalizam com as mais loucas e fantásticas afirmações dos antigos magos: forças invisíveis reproduzem a voz humana e mensagens voam pelo ar ao redor do mundo sem sequer um fio para guiá-las. A levitação foi realizada por meios mecânicos e muitas outras maravilhas modernas, em parte devido à descoberta da eletricidade, a mais maravilhosa de todos os nossos servidores modernos, estão forçando a crença nos Mundos invisíveis e nos espíritos que vivem neles. Aqui está uma força que é invisível, intangível, imponderável, mas capaz de exercer os mais tremendos poderes, capaz de tirar a vida e destruir qualquer obra da mão humana em um segundo. Aqui está um poder que realiza praticamente tudo o que foi reivindicado pelos antigos magos, ao realizar o que chamamos de “milagres”. É bem sabido que os sacerdotes dos templos egípcios, e outros, criaram os efeitos mais inspiradores ao produzir uma voz humana falando do vazio. Hoje, o mesmo fenômeno pode ser visto nas chamadas “sessões de trombeta”[7], em que espíritos desencarnados falam por meio de uma espécie de trombeta; mas, temos em nossas casas instrumentos semelhantes como o telefone e o fonógrafo, que são operados pela voz humana. Então, no que diz respeito à telegrafia sem fio, devido em grande parte às pesquisas de Sir Oliver Lodge[8], que desde então se tornou o mais forte crente em fenômenos psíquicos, por esse uso da eletricidade, as vibrações são feitas para fluir completamente ao redor do mundo, transportando mensagens, sem impedimentos, por montanhas, desertos e todas as obstruções naturais. Isso é semelhante às mensagens e comunicações telepáticas, que são frequentemente registradas como feitos dos antigos magos, feitos que são duplicados todos os dias em milhares e milhares de situações, às vezes conscientemente ou, com mais frequência, de forma inconsciente.

Talvez pensemos em uma certa melodia e alguém na sala comece a cantarolá-la. Às vezes, ao visitar um amigo, somos recebidos com um “Ah, eu estava querendo ver você”, o que mostra, se pensarmos bem, que respondemos a uma mensagem de telepatia. De mil e uma outras maneiras estamos nos tornando pensadores cada vez mais poderosos e mais sensíveis aos pensamentos dos outros. Foi essa faculdade conscientemente cultivada entre os magos do passado que os capacitou a realizar muitos dos seus célebres fenômenos; chegará o tempo, em um futuro não distante, em que seremos capazes de ler os pensamentos uns dos outros e transmiti-los de cérebro em cérebro sem a intervenção da fala, da escrita ou de qualquer um dos métodos de comunicação atualmente conhecidos.

Entre outras maravilhas científicas e relacionadas com a magia antiga, podemos citar também os raios-X, descobertos por Sir William Crookes[9], que nos permitem ver através de um objeto sólido. Isso está de acordo com os poderes descritos como Clarividência ou visão espiritual, possuídos por todos os ocultistas antigos e por um número cada vez maior de pessoas que vivem agora no mundo. Os raios-X também existem por causa dessa grande eletricidade mágica, mas são apenas um pobre substituto para os poderes da visão espiritual, que permitem ao seu possuidor ver igualmente bem o que acontece do outro lado do globo ou na sala em que está sentado. É digno de nota que Sir William Crookes, assim como Oliver Lodge, seja um crente em fenômenos ocultos e foi levado a isso por suas descobertas científicas, que mostraram que deve haver Mundos invisíveis; seus experimentos o convenceram da possibilidade de comunicação com aqueles que partiram desta vida e agora estão vivendo nesses Mundos invisíveis.

É impossível catalogar em um artigo de revista todas as descobertas científicas e a respectiva conexão com, ou influência sobre, o assunto da comunicação com o Mundos invisíveis e os espíritos invisíveis no ar. Mas, em vista de todos os fatos científicos, não podemos escapar da conclusão de que o espírito humano continuará a existir à parte do seu Corpo Denso; essas descobertas científicas apontam para um tempo não muito distante em que todos veremos sem os olhos físicos, ouviremos sem os ouvidos físicos e falaremos sem  a língua física.

Em vista do que foi realizado, não se trata de mera especulação ociosa, mesmo do ponto de vista científico, e há um valor legítimo na entrega a tais sonhos, como os “homens de ciência” os chamariam, pois nada jamais foi alcançado como fato físico sem que antes não tivesse sido objeto de sonho. Se Alexander Graham Bell, o inventor do telefone, não tivesse sonhado com a possibilidade de comunicação por tais meios, não teríamos hoje esse valioso instrumento. Se Morse não tivesse sonhado com a travessia do espaço por um fio para transmitir mensagens ao longo desse minúsculo condutor por meio de eletricidade, não teríamos agora o telégrafo. Se Edison não tivesse sonhado com a luz elétrica, isso hoje não estaria incluído entre as conveniências que empregamos… Esses sonhos ajudam o trabalhador individual a alcançar seu objetivo e estimulam o interesse e o entusiasmo nos outros. Por isso, é útil quando os cientistas de Mente mais aberta olham para o futuro para ver qual poderá ser a linha do progresso e é ridículo ouvi-los dizer que o espírito humano seja uma forma de eletricidade, mas isso pode ajudá-los a enxergar a direção certa. Alexander Graham Bell, por exemplo, imagina que chegará o dia em que as pessoas andarão com bobinas de arame sobre suas cabeças, comunicando pensamentos uns aos outros por indução. Ele não sabe que o ser humano tem a energia dinâmica e interna para transmitir essas vibrações sem outro instrumento além do cérebro; mas é interessante estudar a ideia científica. Resumidamente, a hipótese científica de que as Mentes possam se intercomunicar diretamente se baseia na teoria de que o pensamento ou a força vital seja uma forma de distúrbio elétrico que pode ser captado por indução e transmitido à distância por meio de um fio ou simplesmente através do onipresente Éter, como no caso da telegrafia sem fio.

Há muitas analogias que sugerem que o pensamento seja da natureza de uma perturbação elétrica; isso é para a Mente científica. Um nervo, que é da mesma substância que o cérebro, é um excelente condutor de corrente elétrica. Quando os cientistas passaram pela primeira vez uma corrente elétrica pelos nervos de um homem morto, ficaram chocados e surpresos ao vê-lo sentar-se e mover; os nervos eletrificados produziram a contração dos músculos como faziam em vida.

Os nervos pareciam agir sobre os músculos da mesma forma que a corrente elétrica age sobre um eletroímã. A corrente magnetiza uma barra de ferro colocada em ângulo reto a ela e os nervos produzem (eletricidade) através da corrente intangível de força vital que flui através deles, contraindo as fibras musculares que estão dispostas em ângulo reto a elas.

Seria possível citar muitas razões pelas quais o pensamento e a força vital possam ser considerados, do ponto de vista científico, essencialmente iguais à eletricidade. A corrente elétrica é considerada um movimento de onda no Éter, a substância hipotética que alguns da ciência admitem que preenche todo o espaço e permeia todas as substâncias. Esses cientistas acreditam que deve haver Éter porque sem ele a corrente elétrica não poderia passar pelo vácuo nem a luz do Sol pelo espaço; portanto, é razoável acreditar que apenas um movimento ondulatório de caráter semelhante possa produzir os fenômenos do pensamento e da força vital; eles supõem que as células cerebrais ajam como uma bateria e que a corrente produzida por elas flua ao longo da linha dos nervos. Nessa ideia eles estão muito próximos dos fatos reais, pois é sabido e ensinado pelos ocultistas, que podem ver esses fenômenos por meio da visão espiritual, que a força solar entra no corpo humano através do baço e seja dirigida do Plexo Celíaco, através dos nervos, para todas as diferentes partes do corpo, nas quais aparece como um fluido cor-de-rosa; é esse fluido que produz os fenômenos vitais. Isso é muito parecido com a eletricidade, mas não é de forma alguma o Ego, assim como o operador em uma estação de telégrafo não é idêntico à corrente que flui através do fio elétrico. Do mesmo jeito que o operador do telégrafo direciona a corrente para o fio ou através do Éter e envia a mensagem para o vasto mundo, também o Ego no corpo pode utilizar esse fluido vital para vestir a mensagem-pensamento e enviá-la em qualquer direção que ele queira, depois de passar pelo treinamento adequado de como usar esse fluido, como o operador de telégrafo é submetido a um curso de treinamento funcional para aprender a usar as teclas que controlam a força elétrica que acelera ao longo dos fios ou através do Éter.

No livro Conceito Rosacruz do Cosmos é dada uma tabela de vibrações que foi compilada por cientistas; um estudo dessa tabela revela o fato de que existem muitas lacunas ou taxas de vibração cujos efeitos são desconhecidos. É um fato notável que quase todos os passos recentes da ciência estejam relacionados com descobertas de vibrações até então desconhecidas. Suponha que possamos fazer uma barra de ferro vibrar em qualquer frequência desejada, em um quarto escuro; a princípio, ao vibrar lentamente, seu movimento será indicado apenas por um sentido, o do tato. Assim que as vibrações aumentarem, um som baixo emanará dela, o que apelará a dois sentidos, tato e audição. A cerca de 32.000 vibrações por segundo o som será alto e estridente, mas a 40.000 vibrações por segundo será silencioso e seus movimentos não serão percebidos pelo toque; na verdade, somos incapazes de senti-la. Desse ponto até 1.500.000 de vibrações por segundo, não temos sentido que possa apreciar qualquer efeito das vibrações intervenientes. Atingido esse estágio, seu movimento é indicado primeiro pela sensação de temperatura; depois, quando a haste fica incandescente, pelo sentido da visão; a 3.000.000 de vibrações por segundo emite uma luz violeta; acima disso passa pelos raios ultravioletas e outras radiações invisíveis, algumas das quais podem ser percebidas por instrumentos empregados por nós.

No entanto, quando a ciência aprender a perceber o efeito dessas vibrações nas grandes lacunas em que os sentidos humanos são incapazes de ouvir, ver ou sentir o movimento, então ela estará em contato com aqueles poderes que são exercidos na Clarividência e na Clariaudiência, visão espiritual e audição espiritual, respectivamente. Então, não será uma questão de fé se existem Mundos invisíveis ou se eles são habitados por pessoas que anteriormente viveram entre nós no Mundo Físico, mas todos saberão e verão por si mesmos.

A ciência tem feito um trabalho maravilhoso em seus esforços para lidar com os problemas que a confrontam, mas sempre foi limitada, porque depende de instrumentos. Uma bobina de fio pode ser, e é, usada com esplêndido efeito na transmissão de uma onda sem fio para os cantos mais distantes da Terra; contudo, bobinas de fio são desnecessárias ao redor da cabeça humana para transmitir pensamentos e o que os cientistas precisam reconhecer é a limitação de seus instrumentos para começar a cultivar os poderes dentro de si, pois todo ser humano tem esses poderes espirituais e latentes dentro de si mesmo e nossa evolução futura depende do desenvolvimento deles. O telefone é apenas uma muleta para nos permitir ouvir melhor com nossos ouvidos. O telescópio é outra muleta para nos permitir ver melhor com nossos olhos. O microscópio é outra que nos ajuda a perceber o infinitamente pequeno, assim como o telescópio revela o infinitamente grande; mas, além desses órgãos dos sentidos temos órgãos mais sutis e forças mais sensíveis que algum dia entrarão em uso. Se Alexander Graham Bell tivesse vivido na Idade das Trevas e produzido seu telefone, as chances maiores seria de que ele teria sido queimado como um mago maligno. Se Edison tivesse vivido e produzido sua luz elétrica e fonógrafo naquela época, ele provavelmente teria compartilhado o mesmo destino. Hoje, mesmo aqueles que possuem os sentidos mais apurados são vistos como fraudulentos e excêntricos; apenas o fato de que o sentimento geral é contrário à violência os protege de serem confinados em prisões ou manicômios. No entanto, as lágrimas que fluem de milhões de olhos e o anseio que quase quebra milhões de corações por um vislumbre ou mensagem daqueles que morreram aqui e estão vivendo nos Mundos celestes estão gradualmente desgastando a escama dos olhos e sintonizando um grande número às vibrações da visão e audição espirituais. E os pensamentos dos “mortos”, seu desejo de se comunicar com os amigos que deixaram para trás, são uma força dinâmica e igualmente intensa. Dois grandes exércitos estão, assim, abrindo túneis na parede da grande divisão e logo a fé e a esperança darão lugar ao conhecimento direto, em primeira mão, de que os mortos vivem, pois então veremos e nos comunicaremos com eles à vontade, tão facilmente quanto fazemos agora com os que chamamos de vivos.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de agosto/1918 e traduzido pelos irmãos e irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)


[1] N.T.: A Bruxa de Endor é um personagem bíblico do Antigo Testamento, de aparição principal no Primeiro Livro de Samuel. Trata-se de uma necromante em Endor que aconselha ao rei Saul antes de este batalhar contra os filisteus (ISm 28:7-25).

[2] N.T.: Richard Anthony Proctor (1837-1888) foi um astrônomo inglês.

[3] N.T.: Richard A. Proctor – The Great Pyramid. Observatory, Tomb, and Temple – 1888

[4] N.T.: um autor do século XIX que escrevia sob o pseudônimo Johannes Trismegistos ou Johannès Trismégiste e que praticava a Cafédomancia e o tarô.

[5] N.T.: Francis Bacon, 1°. Visconde de Alban, também referido como Bacon de Verulâmio (1561-1626) foi um político, filósofo, cientista, ensaísta inglês, barão de Verulam (ou Verulamo ou ainda Verulâmio) e visconde de Saint Alban. É considerado como um dos fundadores da Revolução Científica.

[6] N.T.: Maria Antônia Josefa Joana de Habsburgo-Lorena (em alemão: Maria Antonia Josepha Johanna von Habsburg-Lothringen; francês: Marie Antoinette Josèphe Jeanne de Habsbourg-Lorraine; 1755-1793) foi uma arquiduquesa da Áustria e rainha consorte da França e Navarra.

[7] N.T.: Para os que acreditavam nesse método, o ato de mediunidade de trombeta é melhor definido como “mediunidade de voz direta”. Embora não seja comumente usados hoje, os primeiros espiritualistas estariam muito familiarizados com esses objetos misteriosos. O Spirit Trumpet é um cone cilíndrico com um bocal estreito que geralmente se expande em três partes em um megafone semelhante aos tradicionais “trompetes falantes” empregados por líderes de torcida em eventos esportivos. Os espíritas fabricaram as primeiras trombetas espirituais de papelão ou metal, mas depois incorporaram designs mais elegantes e caros usando alumínio ou estanho. Varejistas especializados como Everett Atwood Eckel, de Indiana, lucraram com sua crescente popularidade vendendo os dispositivos estranhos por US$ 2 ou US$ 3 por meio de anúncios publicados em “Psychic Power” e outros periódicos espiritualistas. A “trombeta do espírito” foi originalmente criada por espíritas que afirmavam poder ampliar os sussurros dos espíritos presentes em um círculo. É por isso que alguns espiritualistas descrevem as trombetas espirituais como os “aparelhos auditivos” originais ou “trombetas de ouvido” para as vozes do além.

[8] N.T.: Sir Oliver Joseph Lodge (1851-1940) foi um físico e escritor britânico envolvido no desenvolvimento e detentor de patentes importantes para o rádio. Ele identificou a radiação eletromagnética independente da prova de Hertz e em suas palestras da Royal Institution de 1894 (“O trabalho de Hertz e alguns de seus sucessores”), Lodge demonstrou um detector de ondas de rádio inicial que ele chamou de “coerente”. Em 1898 ele foi premiado com a patente “sintônica” (ou tuning) pelo Escritório de Patentes dos Estados Unidos. Lodge foi diretor da Universidade de Birmingham de 1900 a 1920. Marcado pela morte de seu filho caçula na I Guerra Mundial, Sir Oliver Lodge discorre sobre a sobrevivência da alma, e consequentemente da existência do espírito fora das contingências da vida transitória do corpo físico. A ciência moderna encaminhou suas atividades para o campo dos fatos espirituais a fim de conhecer sua gênese e meios de manifestação, à luz dos processos da experimentação e observação. A sua sentença e resposta é afirmativa: Há espíritos. A sobrevivência é uma realidade.

[9] N.T.: William Crookes (1832-1919) foi um químico e físico britânico. Frequentou o Royal College of Chemistry em Londres, trabalhando em espectroscopia. Em 1861, descobriu um elemento que tinha uma linha de emissão verde brilhante no seu espectro, ao qual deu o nome de tálio, do grego thalos, um broto verde, que é o elemento químico de número atômico 81. Também identificou a primeira amostra conhecida de hélio, em 1895. Foi o inventor do radiômetro de Crookes, vendido ainda como uma novidade, e desenvolveu os tubos de Crookes, investigando os raios catódicos.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Vamos Falar Francamente

É interessante notar, em nossos contatos comuns de cada dia, como reagem as pessoas a determinadas situações. De um modo geral, a maioria parece estar sempre em pé de guerra, com o espírito constantemente prevenido, preparada para defender-se de alguma possível agressão. Se alguém, mesmo em meio de uma conversa banal, usar algum termo capcioso, com ou sem intenção, é quase certo que provocará uma reação à altura, da pior espécie possível. Parece que todo o mundo lá fora, quero dizer, fora da vida espiritual, está empenhado em não se deixar atingir. E não poucos conservam, além de um estado permanente de autodefesa, uma necessidade premente de expressar-se em seu mais alto nível de valores, de talentos, de conhecimentos, de ideias, quando não, de posses e de uma boa situação financeira. Há, em geral, no ar, uma preocupação aflitiva em manter as aparências de parecer melhor, mais sábio, mais inteligente, de sobressair-se, como se o interlocutor, companheiro de trabalho, amigo ou até parente, seja um competidor perigoso, na sua escala de valores. Quase ninguém pensa em acertar, em encontrar o certo, sem preocupações de derrota ou de vitória ao seu próprio ponto de vista. E não raro acontece que, se alguém que já tenha ultrapassado esse estado de egotismo e, enxergando um pouco mais longe, procure atuar, nesses momentos, baseado nos seus princípios altruístas, seja imediatamente considerado um tolo, servindo de alvo da desconsideração ou até da astúcia dos outros.

Esse estado de coisas, entretanto, não deve assustar aqueles que, em face dos contatos humanos heterogêneos, mantêm-se bem-intencionados, embora não recebam a troca de valores que seria cabível no momento. Quem se aprofundar um pouco mais numa melhor e maior filosofia de vida e tiver a felicidade de pertencer a uma escola espiritualista de alto nível, como a Fraternidade Rosacruz, por exemplo, acabará penetrando no valor real de cada coisa, e sabendo como não se deixar atingir por nenhum desentendimento ou nenhum desafeto. Quando chegar, mesmo a esse ponto de ter que enfrentar situações de competição, saberá passar por cima das intenções incorretas, mantendo-se dentro de sua própria serenidade, de sua própria segurança íntima. E, não se deixando atingir, compreenderá com maior exatidão o peso real de cada palavra, de cada intenção, e, em lugar de sentir desconforto, necessidade de se defender ou até de fugir daquela situação, resumirá suas respostas na própria certeza do bem já desenvolvido em amor e compreensão. E é aí que começa a crescer em seu coração o verdadeiro espírito de Fraternidade, e a voz do Cristo interno passará a orientá-lo, cada vez mais viva, para o certo, para o verdadeiro.

Não será fugindo aos contatos da força agressiva da Personalidade alheia e de seus tentáculos, que se chegará à Verdade, mas observando, estudando em silêncio, procurando encontrar no caminho da discrição, o seu próprio dever, a sua real atitude. Tenhamos em mente que a verdadeira meta, Cristo Jesus deixou traçada para a humanidade em Seu caminho de glória e sofrimento. Quem quiser, mesmo, progredir realmente em sua vida espiritual e acertar em todos os momentos, muito aprenderá com a vida de Cristo, mediante os Evangelhos. E, se seguir com cuidado e persistência os ensinamentos de uma filosofia superior como a Fraternidade Rosacruz, encontrará esclarecimento e resposta aos seus pontos fracos, reforço para os pontos fortes e iluminação para realizar-se em seu próprio equilíbrio. Então, não haverá força humana capaz de causar-lhe qualquer sorte de desconforto, e sua firmeza poderá ajudar também aqueles que enxergam menos e ainda estão condicionados a uma série de preconceitos criados pela força da Personalidade.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de outubro/1974 – Fraternidade Rosacruz-SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O que ocorre no Equinócio de Março com o Cristo

Estudamos no seu livreto “A Interpretação Mística da Páscoa” de Max Heindel, que quando Cristo foi crucificado no Gólgota, Seu grande sacrifício pela Humanidade somente tinha começado: “Todos os anos, desde esse tempo, quando o Sol passa do Signo zodiacal de Virgem para o de Libra, o Espírito de Cristo, retornando à nossa Terra, toca a sua atmosfera. Ele começa a sua jornada de descida em torno de 21 de junho (varia entre 20 e 21 de junho, dependendo do ano), no Solstício de Junho, quando o Sol entra no Signo de Câncer. Ele chega ao centro da nossa Terra à meia-noite de 24 de dezembro. Aí Ele fica por três dias e, depois, começa a voltar. Esta volta completa-se Equinócio de Março (varia entre 20 e 21 de março, dependendo do ano). Desse Equinócio até o Solstício de Junho Ele está passando pelos Mundos espirituais e chega ao Mundo do Espírito Divino, o Trono do Pai, a 21 de junho (ou 20, dependendo do ano). Durante julho e agosto, quando o Sol está em Câncer e Leão, Ele reconstrói o seu veículo Espírito de Vida, que Ele trará ao mundo, novamente, e, com esse veículo, Ele voltará a rejuvenescer a Terra e os reinos de vida que nela evolucionam. Do Natal até a Páscoa Ele se dá a Si mesmo sem limitações nem medida, imbuindo com vida, não apenas as sementes adormecidas, mas todas as coisas sobre e dentro da Terra.”.

Numa manhã de uma quarta-feira, 21 de março, então Equinócio de Março, o Grande Espírito Solar Cristo se elevou da Terra. Se o Estudante Rosacruz atingiu a um grau de desenvolvimento no Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz é possível assistir a esse evento anual no Mundo do Desejo.

E junto a isso pode se ver uma quantidade de Seres Exaltados e de Liberados (seres humanos com todas as Iniciações Maiores e/ou a última a do Libertador). Continuando, e ver os Arcanjos, os Anjos e, em seguida, os Iniciados com Iniciações Menores e algumas Iniciações Maiores. Todos estarão rodeados por grandes e lindas auras de cores delicadas, de uma luz branca deslumbrante e de outra luz dourada que é impossível descrevê-las.

É possível ouvir a música das esferas e o canto dos Anjos. O mundo inteiro parece como uma grande esfera de luz branca e, quando Cristo sai da Terra, os seres que iam em procissão, em Sua direção, formaram um quadrado, com Ele no centro.

Os seres radiantes formam, ao redor do Cristo, cinco grandes quadrados de vários tamanhos, que parecem ser uma forte e poderosa guarda pessoal de grandes Seres em seus elevados veículos.

É possível observar o Cristo sair da Terra até se perder de vista.

Devemos lembrar que Ele (ainda que somente um raio do Cristo Cósmico) ficou confinado na Terra por seis meses e sentiu as tristezas, os pecados e sofrimentos de toda a vida durante esse período. A aura de Cristo iluminou toda a Terra.

Que as rosas floresçam em vossa cruz

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