Arquivo de tag Siegfried

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Astrologia explica a forma da Religião

Nosso Sistema Solar se move como um todo pelo Cosmos. Isso se chama a Precessão dos Equinócios, o retrocesso do ponto para cada mês de março. A cada 2160 anos, aproximadamente, o nosso Sistema Solar percorre outro Signo que rege a forma da Religião. Essa mudança de um Signo para outro acontece de forma gradual.

Em torno de 6000 a.C. o nosso Sistema Solar, ou o ponto do mês relativo a março ficava em Gêmeos. E oposto a esse está o Signo de Sagitário. Ambos os Signos têm seu papel.Na Pérsia existia, então, a Religião com Ormuzd e Ahriman; e o Deus Nórdico Thor, que era o senhor dos ventos, dirigia sua carruagem, puxada por dois bodes, pelos Céus. Thor também é chamado de Donar e assim reconhecemos donderdag, Donars-dag. Esse dia astrologicamente é regido pelo Planeta Júpiter, que pertence ao Signo oposto de Gêmeos, Sagitário.

Em torno de 4000 a.C. – aproximadamente 2000 anos depois – o ponto do mês relativo a março entrou no Signo de Touro, com seu oposto Escorpião. Touro é um Signo de Terra, e seu oposto Escorpião antigamente era também chamado de Águia. Esse é um Signo de Água, e rege a 8ª Casa, a da morte.
Os Gregos, então, veneravam o Minotauro, o Touro de Minos. O Rei Minos pediu a Poseidon para enviar um Touro que ele pudesse fazer oferendas.

No Egito existia o touro Apis. Então as posses terrenas eram muito valorizadas e ‘os potes de carne do Egito’ ainda é um termo reconhecido atualmente. Os mortos eram presos à Terra com o embalsamento, e nas sepulturas dos ricos, seus servos e todos os pertences eram enterrados juntos para serem usados na vida além. Eles iam até lá de barco.

Para os Edas da Islândia ou os Vedas Nórdicos é Siegfried que mata a serpente. E bebendo do sangue dela se torna sábio. A serpente tem o veneno em seus dentes, a cabeça, um símbolo positivo; no escorpião o veneno fica na cauda, um símbolo negativo.

Nos religiosos Egípcios saía da testa, logo acima da raiz do nariz, no local da câmara escura, em que se encontra o Espírito Humano, a cabeça de uma serpente, chamada Naja, o que simbolizava a sabedoria deles. Iniciados dessa ‘Escola de Serpentes’ eram chamados “filhos da luz”, Free Messen, um termo que conhecemos como Maçons. Esses religiosos também conseguiam realizar milagres, por exemplo, transformando um cajado em uma serpente viva.

Em torno de 2000 a.C. o ponto do mês relativo a março atingiu o Signo de Áries, com seu oposto Balança. Como descrito no Antigo Testamento, os Israelitas ofereciam o carneiro e marcavam as portas com o sangue dele. De Libra, a balança, eles receberam não apenas os Dez Mandamentos, mas muitas outras leis e regras.

A adoração de antigos deuses era considerada uma idolatria. Isso lemos na Bíblia quando Moisés desce da montanha e encontra o bezerro de ouro que fora construído pelos Israelitas. Ouro é a forma mais nobre, lembre-se dos alquimistas que tentavam transformar metais inferiores em ouro. O Bezerro de Ouro simboliza então o mais nobre da Era de Touro. Mas era idolatria e, portanto, Moisés o destruiu.

Moisés conseguia realizar milagres, pois depois que os religiosos Egípcios transformaram seus cajados em serpentes, ele jogou seu cajado no chão e, também, o transformou em serpente. Mas, a serpente de Moisés destruiu as serpentes dos Egípcios. Isso significa que seu conhecimento era superior ao deles.

Moisés era um representante da Era de Áries e não poderia auxiliar o povo escolhido a entrar na Era de Peixes. Isso conseguiria Josué, o filho de Nun, ou melhor, Jesus, o filho de Peixes; a Era de Peixes.

O ano 0 (zero), quando Jesus nasceu, o ponto do mês relativo a março se encontrava, aproximadamente, 7 graus em Áries (um Signo contém 30 graus; ainda levaria aproximadamente 430 anos até a entrada da Era de Peixes). Cristo diz, portanto, que Ele é o Cordeiro, que será imolado e se dizia o Bom Pastor.
Como precursor da Era seguinte Peixes-Virgem ele alimenta o povo com 2 peixes e 7 pães. O símbolo para o Signo de Peixes são dois peixes; o de Virgem é uma mulher deitada sobre um braço num trigal ceifado, com os feixes enfileirados; em sua outra mão estão sete hastes de trigo. Jesus nasceu em Belém, que significa a casa do Pão, de uma virgem, portanto alguém de vida pura e daí a Imaculada Concepção.

Quando Jesus foi batizado no Jordão, desceu através do símbolo da pomba, o Espírito de Cristo em seu Corpo, e aí se inicia uma nova Religião, o Cristianismo. As Religiões anteriores todas apontam para Aquele que vem, mas Cristo disse: “Eu sou a luz do mundo”.

Vemos os primeiros Cristãos que desenham o símbolo de Peixes nas Catacumbas de Roma. Também os religiosos Católicos Romanos têm a cabeça de Peixe, o Mitra, em seu cajado. Na entrada da Igreja tem uma bacia com água, magnetizada pelo Padre, e as pessoas colocam seus dedos nela e passam a água na testa, logo acima da raiz do nariz, em que se encontra o Espírito Humano, e dessa forma indica que está sob o jugo da Igreja. Eles vivem em castidade, em mosteiros, pois a 12ª casa, em que está o Signo de Peixes, é a casa da reclusão, mosteiros, instituições; e os religiosos comiam peixe às sextas-feiras.

Cristo apontou na sua despedida ao tempo que virá, o de Aquário-Leão, em torno de 2600. O Regente de Leão é o Sol, que simboliza o coração, e o Aguador é, portanto, alguém altruísta, que ama todo mundo, não apenas sua família.

Na busca de um local para a Última Ceia, Cristo falou para dois de seus Discípulos que precisavam organizar isto: siga o homem com um Cântaro de Água, que simboliza Aquário. Também, que Ele, Cristo, deve nascer em nossos corações. As Religiões que tratam do Cristianismo popular somente começam a ter seus seguidores reduzindo em número cada vez mais. Apesar de parecer que ainda muitos são crentes, considerando a venda de livros de assuntos espirituais, muitos já escolhem a ‘liberdade’ de Aquário. Deverá surgir outra forma de Religião.

Conforme os últimos cálculos astronômicos a Era de Aquário deve começar por volta de 2660, mas agora já sentimos sua influência, pois estamos nos últimos graus da Era de Peixes, já na Órbita de Influência da Era de Aquário.

(Por Ger Westenberg, Fraternidade Rosacruz da Holanda-traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Ciclo do Anel de Richard Wagner

É um ciclo de quatro obras do compositor alemão Richard Wagner. Os dramas musicais que compõem o ciclo do anel são, em ordem cronológica do enredo: O Ouro do Reno, a Valquíria, Siegfried e o Crepúsculo dos Deuses.

Em uma forma de arte de beleza incomparável, Wagner traça o processo com discernimento profético, revelando as forças que levam à dissolução da velha Ordem e as que estão trabalhando sob os destroços externos, preparando o terreno para um amanhã melhor e mais brilhante.

Se quiser saber mais sobre isso, é só ler esse livreto: O Ciclo do Anel de Richard Wagner – por Corinne Heline

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Carta de Max Heindel: Onde devemos procurar a verdade e como devemos reconhecê-la

Fevereiro de 1914

No final da lição do mês passado vimos que Siegfried, o que procura a verdade, chegou ao fim de sua busca. Ele tinha achado a verdade. Meditando sob o assunto me ocorreu que seria conveniente me servir dessa carta para uma franca e direta resposta sobre a questão: “Onde devemos procurar a verdade e como a reconhecermos, quando a encontrarmos?”

É de vital importância estarmos absolutamente seguros dessa questão. Muitos que, acidentalmente, encontram o caminho do Mundo do Desejo, como os médiuns, por exemplo, estão emaranhados na ilusão e na alucinação, devido à incapacidade deles de reconhecer a verdade. Além disso, os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz fornecem aos Probacionistas um ensinamento científico definitivo sobre esse ponto e, com o objetivo de preservá-los do perigo acima mencionado, preparam uma prova real antes de admiti-los ao Discipulado. Todos devem alcançar um certo padrão nesse assunto. Logicamente, pode surpreender você o fato de não reservarmos essa discussão só para os Probacionistas ou Discípulos, mas a Fraternidade Rosacruz não acredita em segredos ou mistérios. Todo aquele que quiser pode se qualificar para qualquer grau, e essa qualificação não é uma questão de forma, mas de viver a vida.

A respeito da primeira parte da pergunta “Onde devemos procurar a verdade?”, há somente uma resposta: dentro de nós mesmos. Isso se refere absolutamente ao desenvolvimento moral, e a promessa de Cristo de que se vivermos a vida, nós saberemos que a doutrina é verdadeira no sentido mais literal. Você nunca encontrará a verdade estudando seja os livros de minha autoria ou de qualquer outro. Enquanto você correr atrás de mestres externos – eu próprio ou qualquer outro – estará simplesmente desperdiçando energia. Os livros e os mestres podem despertar o seu interesse e impeli-lo a viver a vida, mas somente na medida em que você fizer de seus preceitos uma parte do seu “eu interior”, você realmente buscará na direção certa. O Irmão Maior – a quem eu, talvez equivocadamente, chamo de Mestre – nunca me ensinou diretamente, desde o curto período em que me foi transmitido o que está contido no livro “Conceito Rosacruz do Cosmos”. E no ano passado eu aprendi a não fazer perguntas, pois percebi que sempre que eu as fazia, ele simplesmente me sugeria de como eu mesmo poderia obter as informações desejadas. Agora, em vez de fazer perguntas, peço a orientação sobre como solucionar o problema. Assim, você vê que é pelo uso de nossas próprias faculdades, que podem ser comparadas aos talentos mencionados por Cristo, que alcançaremos as informações que tenham maior valor para nós mesmos.

A segunda parte da pergunta: “Como podemos reconhecer a verdade?” é melhor respondida se referindo ao Exercício noturno Esotérico recomendado na Conferência nº 11, “A Visão e a Percepção Espirituais[1]. Esse exercício pode ser realizado por qualquer pessoa, independentemente de ser ou não Probacionista da Fraternidade Rosacruz. O Mestre disse, no momento de dá-lo, que se fosse possível conseguir que a pessoa mais depravada do mundo realizasse esse Exercício Esotérico fielmente durante seis meses, ela se reformaria para sempre, e aqueles o que fiéis em fazer tal Exercício Esotérico descobriram que ele aguça todas as faculdades mentais, particularmente a memória. Além disso, por meio desse julgamento imparcial de si mesmo, noite após noite, se aprende a discernir a verdade do erro em um grau que não pode ser alcançado de nenhuma outra maneira. Nem todos os nossos Estudantes Rosacruzes estão inclinados a assumir o Probacionismo, e nunca apressamos ninguém a fazer, seja o que for, na Escola da Sabedoria Ocidental. Mas, se você realmente quer conhecer a verdade, eu posso, honestamente, recomendar este método. Esse Exercício Esotérico desenvolve uma faculdade interior e não importa qual afirmação seja feita a você, uma vez que você a tenha desenvolvida, você saberá imediatamente se soa verdadeiro ou não.

(Carta nº 39 do Livro Cartas aos Estudantes – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)


[1] N.T.: CONFERÊNCIA Nº 11 – VISÃO E PERCEPÇÃO ESPIRITUAL

Quando nós falamos de visão espiritual, não estamos falando simbolicamente, ou de uma maneira vaga, como um sentimento de êxtase ou algo semelhante, mas de uma faculdade definida tão real como a visão física, e tão necessária à percepção dos mundos espirituais e à verdadeira habilidade para compreender as qualidades internas das condições suprafísicas, como a visão física é indispensável para uma ampla cobertura de todos os pontos importantes das coisas materiais.

A visão espiritual de que falamos não é para ser confundida com a Clarividência desenvolvida em alguns nos meios espiritualistas. Essa última depende de um estado negativo da Mente onde os Mundos internos são refletidos na consciência do receptor, da mesma forma que uma paisagem é refletida em um espelho. Tal método produz uma visão, mas não há a ampla cobertura indispensável e necessária de todos os pontos importantes do que está sendo visto no Clarividente involuntário, do mesmo modo que não há no espelho. Ele está em uma posição similar àquela de um homem preso a um cavalo sem rédeas nem freios, podendo assim ser levado de um lado para outro, dependendo da vontade do cavalo. Tal faculdade é uma maldição. O clarividente devidamente desenvolvido não está preso: pode ver ou deixar de ver à vontade; maneja as rédeas do seu cavalo; é dono de sua faculdade, enquanto o outro é tão somente escravo dela.

Certas fases negativas de Clarividência são também desenvolvidas através de drogas, bola de cristal, etc. Em todos esses casos, a faculdade torna-se perigosa e prejudicial, uma vez que não se acha sob o controle do espírito. As drogas têm efeito terrivelmente destruidor sobre os diferentes veículos do ser humano. Porém, o mais perigoso de todos os métodos de desenvolvimento é a prática de exercícios respiratórios aplicada de modo indiscriminado. Muitos indivíduos acham-se hoje em manicômios ou até morreram tuberculosos por haverem praticado tais exercícios em aulas de desenvolvimento dirigidas por pessoas tão ignorantes quanto eles mesmos. Exercícios respiratórios, quando necessários, jamais devem ser feitos em conjunto, uma vez que cada discípulo tem constituição diferente dos demais. Assim, cada um requer exercícios individuais, particulares, bem como diferentes exercícios mentais para acompanhar aqueles.

Somente através de instruções individuais dadas por um instrutor competente, pode-se desenvolver com segurança a visão e a compreensão espirituais. Estas advertências referem-se exclusivamente aos exercícios respiratórios como método de desenvolvimento oculto, e nunca aos exercícios físicos que são excelentes quando praticados com moderação.

Surge daí a pergunta: Como achar um instrutor autêntico e como distingui-lo de um impostor? É uma pergunta muito importante, porque quando o aspirante encontra tal mestre, pode considerar-se em perfeita segurança e protegido contra a grande maioria dos perigos que cercam aqueles que, por ignorância ou egoísmo, traçam seus próprios rumos e buscam poderes espirituais, mas sem qualquer esforço para desenvolver fibra moral.

É uma verdade axiomática que os seres humanos são conhecidos “por seus frutos” e, como o mestre esotérico exige de seu pupilo desinteresse nas motivações, infere-se justamente que o instrutor deve possuir esse atributo em grau ainda maior. Portanto, se alguém se arvora em ser instrutor e oferece seus conhecimentos em troca de dinheiro, a tanto por aula, mostra assim que está abaixo do padrão que exige de seus discípulos. Alegar que precisa de dinheiro para viver, ou apresentar outros motivos semelhantes para cobrar pelo ensino, tudo não passa de sofismas. As leis cósmicas cuidam de todo aquele que trabalha com elas. Qualquer ensino oferecido em bases comerciais não é ensino superior, porque este jamais é vendido ou envolve considerações materiais, pois, em todos os casos, chega ao recebedor como um direito em função do mérito. Assim, mesmo que o verdadeiro instrutor tentasse negar o ensino a determinada pessoa que o merecesse, pela Lei de Consequência, seria um dia compelido a ministrar-lhe o mesmo.

No entanto, tal atitude seria inconcebível porque os Irmãos Maiores sentem uma grande e indizível alegria toda vez que alguém começa a palmilhar a senda da vida eterna. Por outro lado, embora ansiosos por tal, eles a ninguém podem revelar seus segredos antes que cada um tenha dado provas de sua constância e altruísmo, pois só assim poderá alguém ser um firme guardião dos imensos poderes resultantes, que tanto podem servir ao bem como podem ser usados para o mal. Se permitimos que nossas paixões se imponham descontroladamente, e se a avareza ou a vaidade são as molas de nossas ações, apenas sustamos o progresso de nosso semelhante ao invés de ajudá-lo. E, até que aprendamos a usar apropriadamente os poderes que possuímos, não estaremos em condições de realizar o trabalho ainda maior exigido daqueles que têm sido ajudados pelos Irmãos Maiores a desenvolverem sua visão espiritual latente, e a conseguirem compreensão espiritual, que é o que torna valiosa aquela faculdade como fator de evolução.

Portanto, a “Senda da Preparação” antecede o “Caminho da Iniciação”. A perseverança, a devoção, a observação e o discernimento são os meios de alcançá-lo, porque tais qualidades sensibilizam o Corpo Vital. Através da perseverança e da devoção, os Éteres Químico e de Vida capacitam-se a cuidar das funções vitais do Corpo Denso durante o sono. E uma separação entre estes dois Éteres e os dois superiores – Éter de luz e Éter refletor – acontece. Quando os dois últimos se espiritualizam suficientemente mediante a observação e o discernimento, uma simples fórmula dada pelo Irmão Maior capacita o Discípulo a separá-los e a levá-los consigo, à vontade, juntamente com seus veículos superiores. Deste modo, ele fica equipado com um veículo de percepção sensorial e memória. Qualquer conhecimento que possua no mundo material pode, então, ser utilizado nos Reinos espirituais, como também pode trazer ao cérebro físico recordações das experiências por que passou enquanto esteve fora de seu Corpo Denso. Isto nos é necessário para funcionarmos separados do Corpo Denso, plenamente conscientes tanto do Mundo Físico quanto do Mundo do Desejo, pois o Corpo de Desejos ainda não está organizado e, se o Corpo Vital não transferisse suas impressões no momento da morte, não poderíamos ter consciência no Mundo do Desejo durante a existência post-mortem.

Os exercícios respiratórios indiscriminados não produzem a divisão acima descrita, mas apenas tendem a separar o Corpo Vital do Corpo Denso. Por isso, as ligações entre os centros etéricos dos sentidos e as células cerebrais rompem-se ou deformam-se em certos casos, resultando ao final em vários tipos de insanidade mental, como a loucura. Em outros casos, o rompimento ocorre entre o Éter de Vida e o Éter Químico e, como o primeiro responde pela assimilação orgânica dos alimentos e é a avenida particular para a especialização da energia solar, essa ruptura resulta em tuberculose. Somente através de exercícios apropriados pode-se efetuar a separação correta. Quando a pureza de vida permite que a força sexual, que é criadora, gerada no Éter de Vida eleve-se até o coração, essa força encarrega-se de manter a quantidade de circulação necessária ao estado de sono. Deste modo, as funções físicas e o desenvolvimento espiritual correm paralelamente ao longo de linhas harmoniosas.

Temos, pois, aí a razão para o voto de celibato feito por aqueles que se dedicam inteiramente à vida superior. Não é necessário que o principiante se torne um asceta. A castidade absoluta por enquanto é só para poucos, especificamente, para aqueles que já alcançaram as Iniciações Maiores. Atualmente, o ato sexual é o método normal de procriação. Não existe outro meio de prover-se Corpos Denso aos Egos que precisam renascer – pois a fila é enorme! –, e é dever de todo aquele que é mental, moral e fisicamente sadio proporcionar veículo e ambiente apropriado a Espíritos, irmãos e irmãs, que desejam e precisam renascer aqui, isto de acordo com seus meios e oportunidades. Deveríamos encarar o ato da procriação como um Sacramento, não um ato para simples gratificação dos sentidos, mas para ser realizado com espírito de oração. A força sexual é exigida para geração apenas umas poucas vezes na vida de qualquer pessoa, de modo que o excedente pode ser legitimamente aproveitável ao autodesenvolvimento, já que ela é criadora.

Discernimento é a faculdade – e um importante Exercício Esotérico, como nos ensinado no livro Conceito Rosacruz do Cosmos – que nos permite distinguir aquilo que é essencial daquilo que não tem importância, separando a realidade da ilusão, e o que é duradouro daquilo que é efêmero. Na vida comum, acostumamo-nos a pensar que somos só corpo. O discernimento ensina-nos que somos Espíritos e que nossos corpos e veículos nada mais são que moradas provisórias, instrumentos para nosso uso. O carpinteiro usa martelo e serra que são importantes instrumentos. Contudo, nunca lhe ocorre que ele próprio seja essas ferramentas. Jamais devemos identificar-nos com o nosso Corpo Denso ou Corpo Vital ou ainda Corpo de Desejos, mas sim aprender, pelo discernimento, a considerá-lo um servidor, valioso tão somente enquanto obedeça a nossas ordens. Quando o considerarmos assim, descobriremos que somos capazes de fazer com facilidade muitas coisas que até então julgávamos impossível realizar. O discernimento gera a Alma Intelectual e imprime em nós o primeiro impulso em direção à vida superior.

A observação – além de ser mais um importante Exercício Esotérico, como nos ensinado no livro Conceito Rosacruz do Cosmos – é o uso dos sentidos como meio de obter-se informações a respeito dos fenômenos que ocorrem ao nosso redor. A observação e a ação geram a Alma Consciente. É de máxima importância para o nosso desenvolvimento que observemos minuciosamente tudo o que se passa em torno de nós; caso contrário, as imagens da nossa Memória Consciente deixam de coincidir com aquelas de nossa Memória Subconsciente ou automática. O ritmo e a harmonia do Corpo Denso são perturbados em proporção à superficialidade de nossa observação durante o dia. Nossas atividades durante o sono restauram parcialmente a harmonia, mas o entrechoque de vibrações dia após dia e ano após ano é uma das causas que, gradualmente, endurecem e destroem nosso organismo até torná-lo impróprio para o uso do Espírito que, então, precisa abandoná-lo e buscar nova oportunidade de desenvolvimento em um corpo novo e melhor. Na mesma proporção em que aprendemos a observar atentamente, ganharemos em saúde e longevidade e precisaremos de menos repouso e sono. Este último é um ponto muito importante, como veremos.

Devoção – além de ser mais um importante Exercício Esotérico, como nos ensinado no livro Conceito Rosacruz do Cosmos – aos elevados ideais restringe os instintos animais, gera e desenvolve a Alma Emocional. O cultivo, pois, dessa faculdade é essencial. Para algumas pessoas, essa é a linha de menor resistência; eis porque são aptos a se converterem em místicos sonhadores. As energias do Corpo de Desejos expressam-se então na forma de entusiasmo e êxtase religioso. Outros há que desenvolvem anormalmente a faculdade de discernimento que os leva ao longo das frias linhas intelectuais da especulação metafísica. Em ambos os casos há desequilíbrio e existe perigo. O sonhador místico pode tornar-se joguete de toda sorte de ilusões por estar dominado pela emoção. Ao intelectual ocultista isso nunca pode acontecer, mas pode terminar na magia negra se perseguir a senda do conhecimento só por desejo de conhecimento e não para poder servir. O único meio seguro é desenvolver simultaneamente a “Cabeça e o Coração”.

O Ocultista desenvolve-se ao longo de linhas intelectuais; procura a verdade pela observação e pelo discernimento, observa e raciocina sobre tudo o que vê. Assim, ele alcança o conhecimento, mas, como diz o apóstolo São Paulo: “O conhecimento ensoberbece, mas o amor edifica.”[1]. Portanto, antes que seu conhecimento possa ser útil ao próprio desenvolvimento espiritual, precisará aprender a senti-lo, pois, de outro modo, não poderá vivê-lo. Quando tiver feito isto, será tanto Ocultista quanto Místico.

O Místico desenvolve especialmente a faculdade de devoção. Ele sente a verdade sem precisar raciocinar. Sabe, mas não tem meios para explicar a razão de sua fé, de modo ajudar os outros. Deve, pois, desenvolver o lado intelectual de sua natureza, a fim de ser o mais útil possível na elevação da humanidade. Assim, o intelecto pode agir como um freio sobre as emoções, e a devoção pode guiar o intelecto com segurança. Se seguirmos unicamente uma das linhas, teremos mais tarde que seguir a outra, caso queiramos ter um desenvolvimento completo e harmonioso. Por isso, é melhor tentar desenvolver agora a faculdade que nos falta, pois assim progrediremos mais rapidamente em direção à meta final e em perfeita segurança.

A clareza e a nitidez de uma fotografia dependem do modo do fotógrafo focalizar as lentes. Uma vez ajustada a objetiva, o foco se conserva. Todavia, se a máquina tivesse vida e vontade próprias, se pudesse modificar sua direção e focalização, as imagens captadas apareceriam sem nitidez. A Mente encontra-se em situação análoga: vagueia sem objetivo como se estivesse literalmente com “dança de São Vito”[1] e resistindo tenazmente a qualquer restrição. Mas ela pode e deve ser subjugada, e a perseverança é o meio de conseguir. Na proporção em que a Mente é aquietada, o Espírito pode refletir-se no Tríplice Corpo, segundo o princípio de que os raios do Sol não se podem refletir num mar encapelado, mas somente em águas tranquilas.

O Corpo Vital é como um espelho, ou melhor, como uma película cinematográfica em movimento: filma o mundo mesmo que esteja em desacordo com a nossa faculdade e observação e com as ideias que brotam do Espírito interno, conforme a clareza e o treinamento mentais. A devoção e o discernimento, ou em outras palavras, a emoção e o intelecto, decidem nossa atitude face a essas imagens, e o equilíbrio entre as ações de ambos conduz a um desenvolvimento perfeito. Alcançado certo grau de aperfeiçoamento, elas realizam inevitavelmente o processo de purificação. O ser humano precisa compreender que, para alcançar a meta, deve pôr de lado tudo o que possa entravar a roda do progresso. O bom mecânico prefere sempre as melhores ferramentas e esmera-se em conservá-las perfeitas, porque sabe quão importantes são para realizar um bom trabalho. Nossos Corpos são as ferramentas de nós, o Espírito, de modo que, na medida em que elas se encontrem obstruídas, estorvam a nossa manifestação. O discernimento aponta-nos o que obstrui. A devoção à vida superior ajuda-nos a eliminar maus hábitos e traços de caráter indesejáveis, suplantando o simples desejo.

A carne animal (mamíferos, aves, peixes, anfíbios, répteis, frutos do mar e afins) obtida à custa da vida e sofrimento de outros seres e, que além de estar impregnada dos desejos e paixões do animal encontra-se já em estado de decomposição, não é um alimento puro. Nenhum sincero Aspirante à vida superior e aos poderes superiores deve escolher este tipo de alimento. Deve estudar, sim, para aprender como atender às necessidades do seu organismo com alimentos puros. Deve também se dar conta da importância de manter seu cérebro lúcido para que sua consciência possa abrir-se completamente à influência espiritual, concluindo-se daí que abandonará o uso do fumo (seja de qualquer espécie e das bebidas alcoólicas que estimulam e entorpecem o cérebro. Moderação é um termo impróprio com relação à bebida alcoólica. O uso do álcool, em qualquer escala, é desastroso ao desenvolvimento espiritual.

Perder a serenidade é prejudicial ao crescimento interno, além de dissipar, em grande escala, utilíssima energia que poderia ser utilizada beneficamente; a raiva envenena o organismo, inutiliza-o e retarda enormemente o progresso espiritual.

Da mesma forma, pensamentos de crítica nos prejudicam, por isso deve o Aspirante à vida superior evitá-los tanto quanto possível. O discernimento ensina-nos, de modo impessoal, o que é bom e o que é mau, mas não imprime em nós nenhum sentimento sobre isso, e isto é um ponto muito importante. O exame de um fato, de uma ideia ou objeto, seguido de uma decisão relativa ao seu valor, é necessário e não deve ser evitado. Porém, os pensamentos não caridosos devem ser evitados, uma vez que geram pensamentos em forma de flecha que, conforme se exteriorizam, atingem e bloqueiam o fluxo de bons pensamentos emanados constantemente dos Irmãos Maiores e atraídos por todos os seres humanos bons.

Dois exercícios específicos são dados ao Aspirante à vida superior que inicia a jornada preparatória. Ambos conduzem ao desenvolvimento da visão e da compreensão espirituais. Um eles levam ao caminho reto e apela mais para o Ocultista, que trabalha mais com o intelecto, mas é de grande valor para o Místico porque desenvolve nele a qualidade que mais lhe falta — a razão. Esse exercício é chamado de Exercício Esotérico matutino de Concentração e produz “poder mental”. O outro produz resultado semelhante de maneira indireta. Agrada mais ao Místico, mas é extremamente necessário ao intelectual Ocultista porque proporciona-lhe o senso da verdade, que está além da razão. Tal exercício é o Exercício Esotérico noturno de Retrospecção, que desenvolve o “poder da devoção”. Ambos são necessários para garantir um desenvolvimento completo e harmonioso.

A filosofia da conquista da visão e compreensão espirituais resume-se em obrigar o Corpo de Desejos a efetuar, dentro do Corpo Denso e em completo estado de vigília, — ou seja, positivo e consciente — o mesmo trabalho que realiza quando se encontra fora durante o sono, ou no estado post-mortem.

Existem certas correntes no Corpo de Desejos de todos. São fortes, bem definidas, e formam sete grandes vórtices nos clarividentes, mas são fracas, descontínuas e destituídas de vórtices no ser humano comum, naquele que não pode “ver”. O desenvolvimento dessas correntes e vórtices conduzem à visão espiritual. Durante o dia, enquanto somos absorvidos pelos nossos interesses materiais, essas correntes fluem muito vagarosamente. Mas, tão logo nos retiramos do Corpo Denso ao dormir, iniciamos o trabalho de restauração, conforme descrito na Conferência IV do Livro Cristianismo Rosacruz, as correntes reativam-se e os vórtices também, fulgurando como se fossem incandescentes, porque então o Corpo de Desejos se encontra no seu elemento de origem, livre do peso embaraçante do Corpo Denso.

O tempo de que o Corpo de Desejos precisa para restaurar o ritmo do Corpo Vital e do Corpo Denso depende do modo que usamos esse último durante o dia. Se o extenuamos nesse período, as desarmonias criadas serão naturalmente maiores, e isso exigirá a maior parte da noite para o Corpo de Desejos poder restaurar a harmonia e o ritmo. Assim, vive o ser humano preso ao seu Corpo Denso, dia e noite. Mas quando ele aprende a controlar a ação, a controlar gastos de energia nas atividades diárias, cessando de malbaratá-las em palavras e atos vãos, quando começa a dominar seus impulsos e a impedir novas desarmonias resultantes de uma observação imperfeita, então o Corpo de Desejos não precisa trabalhar o período inteiro do sono noturno para restaurar o Corpo Denso. Uma parte da noite pode ser empregada para se trabalhar fora. Se os centros sensoriais do Corpo de Desejos estão suficientemente desenvolvidos — como regra geral estão na maioria dos indivíduos inteligentes — o ser humano pode então desatar o cabo e elevar-se ao Mundo do Desejo. Lá ele tem uma visão do que se passa nesse plano, embora geralmente não consiga recordar depois de nada do que viu, até que consiga efetuar a separação entre as partes superior e inferior do Corpo Vital, conforme já explicado.

Vemos, pois, a grande importância da observação correta, da devoção aos elevados ideais, da pureza de alimentação, etc., tudo isso tendendo a harmonizar as vibrações internas com as vibrações externas. Na mesma proporção em que progredimos nessa direção, o tempo empregado na restauração dos veículos é abreviado, sobrando-nos, portanto, uma margem para trabalharmos no Mundo do Desejo.

EXERCÍCIO NOTURNO

O Exercício Esotérico noturno de Retrospecção é o mais eficiente dos métodos existentes para fazer o Aspirante à vida superior avançar na senda da realização espiritual. Seu efeito tem tal alcance que permite ao indivíduo aprender agora não apenas as lições dessa vida, mas também lições que normalmente lhe estariam reservadas para existências futuras.

Após deitar-se à noite, o Aspirante à vida superior relaxa o Corpo Denso e começa a recordar os acontecimentos do dia na ordem inversa, partindo dos da noite, em seguida os da tarde, e depois os da manhã. Deve esforçar-se para “rever” cada cena com a máxima fidelidade e procurar reproduzir ante seus olhos mentais tudo o que aconteceu em cada uma delas, a fim de poder julgar seus atos e certificar-se de que suas palavras transmitiram o sentido desejado ou deram uma impressão falsa, como também se exagerou ou foi omisso ao relatar experiências a outrem. Deve examinar sua atitude moral relativa a cada cena. E quanto aos alimentos, verificar se “comeu para viver” ou “viveu para comer”, para gratificar o paladar. Durante todo o Exercício Esotérico noturno de Retrospecção, o Aspirante à vida superior vai julgando a si mesmo, censurando-se onde couber reprovação e elogiando-se onde couber o louvor.

Os Probacionistas acham, às vezes, difícil permanecer acordados até o fim do Exercício Esotérico noturno de Retrospecção. Em tais casos, é permitido que se sentem na cama, até que lhes seja possível seguir o método comum.

O valor do Exercício Esotérico noturno de Retrospecção é imenso. Vai muito além de nossa imaginação. Em primeiro lugar, realizamos o trabalho de restauração da harmonia conscientemente e em tempo muito mais curto do que o Corpo de Desejos pode fazê-lo durante o sono, sobrando assim uma maior porção da noite para trabalhos fora do corpo. Em segundo lugar, vivemos nosso Purgatório e Primeiro Céu cada noite, incorporando a nós, o Espírito, o senso de retidão como essência das experiências do dia. Escapamos, assim, do Purgatório depois da morte, economizando também o tempo que despenderíamos no Primeiro Céu.

Por último, e não menos importante, tendo dia após dia extraído a essência das experiências que produzem o crescimento anímico, e havendo incorporado essa essência em nós, o Espírito, passamos a vivenciar realmente uma nova atitude mental e a nos desenvolver por linhas que normalmente estariam reservadas a vidas futuras.

Executando fielmente esse Exercício Esotérico noturno de Retrospecção, dia após dia, apagamos de nossa Memória Subconsciente o registro de fatos desagradáveis e eliminamos os nossos pecados, nossas auras começam a reluzir com o ouro espiritual extraído das experiências diárias pela Retrospecção, e aí começamos a atrair a atenção do Irmão Maior.

“Os puros verão a Deus.”[1], disse Cristo, e o Irmão Maior abrirá nossos olhos quando estivermos prontos para entrar no “Templo do Saber” — o Mundo do Desejo — onde obtemos nossas primeiras experiências de vida consciente fora do Corpo Denso.

EXERCÍCIO MATUTINO

O Exercício Esotérico matutino de Concentração, o segundo exercício, é executado pela manhã, tão logo o Aspirante à vida superior desperta. Ele não precisa levantar-se para abrir as janelas ou fazer qualquer coisa desnecessária. Sentindo o Corpo Denso confortável, deve relaxar e começar imediatamente a se concentrar. Esse momento é muito importante porque nós, o Espírito, acabamos de regressar do Mundo do Desejo, podendo termos contato consciente com esse Mundo, bem mais facilmente do que em qualquer outra hora do dia.

Se o Corpo Denso está em desconforto, o Aspirante à vida superior deve se mexer com o objetivo de acomodá-lo melhor antes de iniciar a Concentração, mas muito da eficácia do exercício é perdida em razão de se iniciá-lo com atraso.

Vimos na Conferência IV do Livro Cristianismo Rosacruz que, durante o sono, as correntes do Corpo de Desejos fluem e seus vórtices movem-se e giram com enorme rapidez. Porém, tão logo ele interpenetra o Corpo Denso, suas correntes e vórtices são quase paralisados pela matéria densa e pelas correntes nervosas do Corpo Vital que levam e trazem mensagens ao cérebro. A finalidade deste exercício é levar o Corpo Denso ao mesmo grau de inércia e insensibilidade do estado de sono, embora com o Espírito dentro dele e conservando-se totalmente acordado, alerta, consciente. Deste modo, cria-se uma condição em que os centros sensoriais do Corpo de Desejos podem começar a girar no interior do Corpo Denso.

Concentração é uma palavra enigmática para muitos, por isso tentaremos esclarecer seu significado. O dicionário dá-nos diversas definições, todas aplicáveis à nossa ideia. Uma é “convergir para um centro”, enquanto outra, uma definição química, é “reduzir à extrema pureza e potencialidade pela eliminação de constituintes inúteis”. Aplicada ao nosso problema, uma das definições faz-nos ver que, se convergimos nossos pensamentos para um centro, para um ponto, podemos aumentar sua força, segundo o princípio que estabelece que a força dos raios solares é multiplicada quando focalizada num ponto através de uma lente de aumento. Eliminando-se de nossa Mente todos os demais assuntos, todo o nosso poder mental pode ser completamente aproveitado na consecução de um objetivo ou solução do problema em que nos concentramos. Podemo-nos absorver em nosso assunto a tal ponto que, mesmo um canhão sendo disparado, não o ouviremos. Há pessoas que podem concentrar-se numa leitura de tal maneira que são capazes de esquecer tudo mais. O Aspirante à vida superior deve, igualmente, ser capaz de abstrair-se numa ideia, objeto de concentração, a ponto de fechar por completo sua consciência ao mundo dos sentidos e atentar exclusivamente para os Mundos espirituais.

Quando aprender a fazer isso, ele verá o lado espiritual de um objeto, ou ideia, iluminado por uma luz espiritual e, assim, ele alcançará o conhecimento da natureza interna de coisas nem sequer sonhadas pelo ser humano mundano.

Quando se chega a esse ponto de abstração, os centros sensoriais do Corpo de Desejos começam a girar lentamente no interior do Corpo Denso e a se acomodarem por si mesmos. Com o tempo, esses centros tornam-se cada vez mais definidos e passam gradativamente a exigir menos esforço para pô-los em movimento.

O tema da concentração pode ser um ideal elevado e sublime, mas preferivelmente que seja de uma natureza tal que consiga situar o Aspirante à vida superior acima do tempo e do espaço, afastando-o das sensações ordinárias do Mundo material. Para isto, não há melhor fórmula do que os cinco primeiros versículos do primeiro Capítulo do Evangelho Segundo São João. Tomando-os como base, sentença por sentença, manhã após manhã, com o tempo, o Aspirante à vida superior terá adquirido uma admirável compreensão do princípio do nosso universo e do método da criação — compreensão que está muito longe de ser alcançada em livros.

Depois de algum tempo, quando o Aspirante à vida superior já tenha aprendido a manter sem oscilações, ininterruptamente por uns cinco minutos, a ideia na qual venha se concentrando, pode, um dia, tentar lançar fora repentinamente essa ideia, deixando a Mente “em branco”. Em nada deve pensar então, mas simplesmente esperar que algo venha preencher aquele vazio mental. Com o tempo, as visões e cenas do Mundo do Desejo deverão ocupar essa lacuna. Após ter-se acostumado a essa prática, o Aspirante à vida superior pode desejar que algo se apresente ante seus olhos mentais. A coisa virá e então ele poderá investigá-la à vontade.

Mas o ponto principal é que, seguindo as instruções acima, o Aspirante à vida superior vai purificando a si mesmo. Sua aura começa a brilhar e isso atrairá infalivelmente a atenção do Irmão Maior, que designará alguém para ajudá-lo, quando necessário, a dar o passo seguinte.

Mesmo que passem meses ou anos sem resultados visíveis, estejamos certos de que não nos esforçamos em vão; os Irmãos Maiores veem e apreciam nossos esforços, e vivem eles tão ansiosos por nossa colaboração quanto nós por trabalhar. Os Irmãos Maiores podem ver razões que nos impeçam de empreender o trabalho pela humanidade no momento presente ou mesmo por toda esta vida. Mas, tão logo essas razões desapareçam, poderemos ser admitidos à luz, onde seremos capazes de ver por nós mesmos.

Uma antiga lenda diz que escavações em busca de tesouros devem ser feitas somente na calada da noite e no mais absoluto silêncio; falar uma só palavra antes de os descobrir fará com que desapareçam inevitavelmente. Trata-se de uma parábola mística relativa à busca da iluminação espiritual. Se tagarelarmos ou contarmos a outrem as experiências de nossos momentos de concentração, poderemos perdê-las. Antes de extrairmos delas, pela meditação, pleno conhecimento das leis cósmicas subjacentes, tais experiências podem reduzir-se a nada, uma vez que esta classe de experiências não pode suportar a transmissão oral. A experiência em si, portanto, não conta muito, pois, afinal, não é mais do que uma casca envolvendo e ocultando saboroso fruto. A lei tem valor universal, como vai ficar evidente, porque ela explica os fatos da vida, ensina-nos como tirar vantagem de certas condições e o modo de evitar outras. Em benefício da humanidade, ela pode ser livremente revelada, à vontade de seu descobridor. Então, a experiência que a revelou parecerá, em sua verdadeira luz, apenas uma coisa passageira que dispensa maiores considerações. Por conseguinte, tudo o que aconteça durante o Exercício Esotérico matutino de Concentração deve ser considerado sagrado e guardado no mais absoluto sigilo pelo aspirante.

Finalmente, evitemos considerar os Exercícios Esotéricos Rosacruzes como tarefas desagradáveis. Estimemo-los em seu verdadeiro valor, pois eles são nossos mais altos privilégios. Somente quando assim os considerarmos, poderemos fazer-lhes justiça e colher todo o benefício de sua prática.

*****

Na Fraternidade Rosacruz, os Irmãos Maiores distinguem três classes:

1) Estudantes Preliminares e, depois Estudantes Regulares, aqueles que simplesmente estudam a Filosofia. Pessoas das mais variadas denominações entram em instituições de ensino tais como as Universidades de Harvard ou Yale e ali estudam mitologia, psicologia e Religião comparada sem prejuízo de suas filiações religiosas. Nestas mesmas bases, os candidatos a estudos podem inscrever-se na Fraternidade Rosacruz. Qualquer um pode candidatar-se, se não for hipnotizador ou não esteja profissionalmente comprometido como médium, quiromante ou astrólogo.

2) Probacionistas, que são Estudantes Rosacruzes que aspiram o conhecimento direto a fim de se capacitarem para o serviço. Ao fim de dois anos na condição de Estudante Regular Rosacruz, e caso tenha já se convencido da veracidade dos Ensinamentos Rosacruzes e esteja decidido a cortar toda ligação que eventualmente ainda tenha com qualquer outra entidade esotérica ou ordem religiosa — exceto as igrejas e irmandades Cristãs — o Aspirante à vida superior pode assumir o Compromisso que o fará ser admitido no grau de Probacionista. A estes, a Sede Mundial fornece um formulário mediante o qual o Aspirante à vida superior promete a si mesmo praticar fielmente os dois Exercícios Esotéricos Rosacruzes (noturno de Retrospecção e matutino de Concentração), e registrá-los todos os dias em outro formulário especial que deve ser devolvido mensalmente à Sede. As provas duram no mínimo cinco anos e seu propósito é testar a dedicação e a persistência do Aspirante à vida superior, dando-lhe a oportunidade de purificar-se a si próprio antes de passar aos métodos de treinamento mais diretos pertinentes ao Discipulado. Esse registro diário destina-se também a ajudar o Aspirante à vida superior a fazer os Exercícios Esotéricos Rosacruzes. É próprio da natureza humana tentar fazer o melhor sempre que tenha de mostrá-lo, portanto, sabendo-se observado, o Aspirante à vida superior procura esmerar-se nesses Exercícios Esotéricos Rosacruzes.

Longe estamos de insinuar que as demais escolas de ocultismo não devam ser consideradas. Muitos são os caminhos que levam a Roma, mas lá chegaremos com menos esforço se seguirmos por um só deles ao invés de ziguezaguear de um a outro.

Em primeiro lugar, nosso tempo e energia são limitados e são reduzidos ainda mais pelos deveres sociais e familiares, que não devem ser negligenciados em favor do autodesenvolvimento. Portanto, só com o propósito de economizarmos essa limitada energia — a qual podemos usar de modo mais legítimo — e evitar o desperdício do reduzido tempo à nossa disposição, é que os Irmãos Maiores insistem para renunciarmos a todas as outras ordens.

O mundo é um agregado de oportunidades, mas para aproveitá-las é necessário possuirmos eficiência em certa linha de esforços. O desenvolvimento dos poderes espirituais pode nos capacitar a ajudar ou prejudicar aos nossos irmãos mais fracos. E esses poderes só se justificam quando o objetivo é Servir à Humanidade.

O método de realização Rosacruz difere dos outros sistemas por um pormenor especial: procura desde o princípio emancipar o Discípulo de toda dependência dos outros, tornando-o autoconfiante no mais alto grau, de maneira a poder permanecer só em todas as circunstâncias e enfrentar todas as condições. Somente aquele que for tão bem equilibrado pode ajudar ao débil.

Quando certo número de pessoas se reúne em classe ou círculo objetivando o autodesenvolvimento, mas por meio de métodos negativos, geralmente os resultados são conseguidos em pouco tempo, seguindo o princípio de que é mais fácil deixar-se levar pela corrente, do que lutar contra ela. O médium, contudo, não é senhor dos seus atos, mas escravo do espírito que o domina. Por isso tais reuniões devem ser evitadas pelos Probacionistas.

Mesmo as reuniões em que se mantenha uma atitude mental positiva não são aconselhadas pelos Irmãos Maiores, porque os poderes latentes de todos os membros são amalgamados. Então as visões dos Mundos internos obtidas por quaisquer deles apenas resultam parcialmente da influência das faculdades dos demais. O calor de um carvão no centro de uma fogueira fica aumentado pelo dos carvões que o rodeiam. O Clarividente originado num círculo, mesmo que esse seja positivo, é como uma planta na estufa – demasiado dependente para que se lhe possa confiar os cuidados dos demais.

Portanto, todo Probacionista da Fraternidade Rosacruz efetua seus exercícios sozinho, no isolamento do seu lar. Seguindo esse método, obtêm-se resultados mais lentamente. Porém, quando tais resultados aparecerem, manifestar-se-ão como poderes cultivados por ele mesmo, e poderão ser empregados independentemente dos demais. Além disso, os métodos Rosacruzes constroem o caráter, ao mesmo tempo em que desenvolvem as faculdades espirituais, resguardando assim o Discípulo da tentação de perverter seus poderes divinos em busca de prestígio mundano.

Do que foi dito acima, não se conclua que o candidato deva empregar todo o seu tempo em esforços espirituais. Se não podemos dispor de muito tempo, cinco minutos pela manhã e quinze minutos à noite é quanto basta. De fato, dedicar ao desenvolvimento de faculdades espirituais um tempo que precisaria ser legitimamente usado em responsabilidades materiais é decididamente um erro. Antes de nos entregarmos ao serviço nos mundos espirituais, precisamos cumprir todos os nossos deveres no mundo material. Não se pode esperar fidelidade no trabalho espiritual de quem é infiel aos seus deveres terrenos.

Após a remessa de sessenta relatórios consecutivos, o candidato pode solicitar instruções individuais, as quais, se possível, lhes serão dadas.

3) Discípulos, composta de pessoas que, havendo completado a fase de Probacionista, são consideradas aptas para receberem instruções individuais dos Irmãos Maiores. O ensino é gratuito.

A Filosofia Rosacruz tem conquistado adeptos por toda parte, os quais se mantêm em estreito contato com o movimento e que trabalham para difundir as profundas verdades concernentes à Vida e ao Ser que os estão ajudando.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

“Morro Todos os Dias!”

Meus dias, cada um é toda uma existência. Na manhã de cada um vivo para mundo; pela tarde sou Siegfried, o Buscador; à noite esforço-me por ser ocultista e místico. E ao dormir estou entre um renascimento e outro.

De manhã cuido de mim e do intelecto; à tarde cuido da família e do espírito; à noite cuido do meu semelhante e morro. Pois a manhã é minha juventude insensata e egoísta — quando focalizo apenas mundanismo; a tarde é meu amadurecimento físico-mental e despertar espiritual — quando ergo meus olhos para o céu e me volto para os seres que estão mais próximos; a noite é meu amadurecimento espiritual, minha velhice — quando, reconhecendo que “viver é servir”, passo a existir mais para os outros do que para mim mesmo. E no afã do serviço amoroso findo os meus dias na Escola da Experiência.

Descanso, durmo e sonho.

Sonho com o Purgatório e com as coisas do Primeiro Céu, do Segundo e do Terceiro, onde estiveram “sonhando acordados” vários companheiros de jornada que seguem a estrada muitos passos à minha frente. Inclusive São Paulo e meu Iluminado amigo Max Heindel, aos quais devoto particular estima e admiração. Aliás, foi o primeiro deles quem me levou a essas reflexões, pois foi quem disse há dois mil anos: “Morro todos os dias...”

Após sonhar, desperto e me levanto para um novo dia. Um dia, sem dúvida, melhor que o anterior, pois desperto mais forte, mais saudável, mais bondoso, mais sábio, enfim, mais próximo da perfeição. E até mais bonito…

Antes de despertar, contudo, tudo vi. Em sonhos. Contemplei todo o dia que tenho pela frente, embora de nada me recorde agora que me acordo. E só por não me poder recordar do panorama, agora, é que, às vezes, ainda me aborreço com os percalços da jornada. E em certas horas até me esqueço de louvar a Sabedoria e exaltar o Amor de Deus, que me soube planejar mais este dia!

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de fevereiro/1977-Fraternidade Rosacruz-SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Dos Mitos e das Suas Profundezas

No decurso dos passados milênios, as sublimes Hierarquias Criadoras lançaram mão de vários elementos para educar a humanidade, visando conduzi-la, com segurança, à superação das etapas de seu desenvolvimento. Um desses elementos, por sinal dos mais notáveis, é o mito. Os mitos, através de narrativas, aparentemente inocentes ou fantasiosas, projetam ideias ou imagens arquetípicas de verdades espirituais na mente humana. Revelam, de uma forma sutil e simbólica, as multifaces do caráter humano, suas falhas e virtudes, seus ideais legítimos e os obstáculos que impedem sua concretização. Indicam também os passos a serem dados para que sejam atingidas as metas elegidas pelas aspirações da humanidade.

O conhecimento da mitologia é, assim, conhecimento do próprio ser humano. Os Estudantes Rosacruzes que completaram o Curso Suplementar de Filosofia Rosacruz, familiarizaram-se com alguns mitos e lendas do norte da Europa. Puderam constatar em Lohengrin, Parsifal, Siegfried e outros, as suas próprias lutas, quedas e aspirações.

Outras narrativas, não menos importantes, oferecem-nos profundos ensinamentos. Uma delas, por exemplo, a de Ulisses, imortalizou a “Odisseia” de Homero.

A epopeia de Ulisses constitui o símbolo do ser humano que procura a verdade em si mesmo. O personagem deixa seu lar, onde é feliz com Penélope e o filho Telêmaco, seguindo para Tróia. O rapto de Helena e a guerra não passam de pretexto. Ulisses aceita o desafio imposto naturalmente pela vida. Percebe um mundo de ilusões à sua frente e renuncia a tudo — comodidade e segurança — para romper esse véu de aparências.

Tróia foi derrotada, mas, era apenas o começo da grande jornada. O primeiro obstáculo foi ultrapassado. Porém, o que viria pela frente? Eis a sempre presente indagação, inseparável companheira dos buscadores da verdade.

O que aparentava ser o regresso triunfal, consistia, de fato, na fase mais difícil dos desafios. Os deuses decidiram que nenhum grego vitorioso regressaria ao lar, a menos que arrostasse todos os obstáculos da viagem, ou via interior.

Ulisses depara com a ninfa Calipso, sedutora, mas possessiva; com princesa Nausicaa, e, finalmente, com a feiticeira Circe, com quem teve quatro filhos, embora a odiasse. Mil perigos o espreitam e atormentam, na tentativa de impedir seu retorno a Ítaca. Tentações as mais sutis procuram envolvê-lo. A caminhada é árdua, exigindo, às vezes, do viajante, que não confie nem na sua própria vontade. O canto das sereias costuma ser irresistível.

A crueza das provações parece tornar impossível o prosseguimento. Isso, todavia, é parte dos desafios.

Depois de 20 anos Ulisses retorna à bela Ítaca, encontrando Telêmaco já ser humano feito e Penélope mais formosa do que nunca. Isso significa que, vencidas as dificuldades, desmascaradas todas as sutilezas e falsas aparências, superando digna e estoicamente o sofrimento, o ser humano se renova interiormente, imprimindo mais ampla dimensão ao seu mundo interno. Observa, a partir de então, um sentido superior em todas as coisas. Aprende a contemplá-las em sua formosura e harmonia. Recordemos que Max Heindel sempre nos exortou a fortalecer o bem através de nossos pensamentos e sentimentos.

Assim, uma transformação se opera no ser humano. As agruras da jornada, a dor miraculosa, afastaram-no definitivamente da irrealidade, do superficialismo, da vulgaridade. Não acalenta mais sonhos banais, nem ilusões, nem utopias. Amadurecido internamente, sente o indizível gozo de saborear a verdade em tudo, porque soube encontrá-la em si mesmo. É sempre assim: o mundo exterior é um reflexo do interior. Os mitos também nos ensinam essa verdade.

Com a primeira vinda de Cristo e todo o Ensinamento Cristão que ele nos deixou, a aprendizagem por meio de mitos ficou ultrapassado, por oferecer um ensinamento referencial e, para quem é Cristão, um tanto superficial de quem somos, porque estamos aqui e para onde vamos. É importante conhecer para até compreendermos como o jeito de nos ensinar é trabalhado pelas Hierarquias Criadoras e perfeito para cada estágio que nos encontramos – e, também, para eliminarmos alguma parte de algumas lições que não aprendemos, quando o método de aprendizagem eram por meio de mitos. Sem dúvida, como a escala de evolução é constante e deve abranger a todas as necessidades de todos os irmãos e de todas as irmãs sempre, há irmãos e irmãs que ainda necessitam desse método de aprendizagem para compreender que somos muito mais do que somente esse Corpo Denso, o físico. Mas, todos esses irmãos e todas essas irmãs, um dia, abraçarão o Cristianismo e por meio dele aprenderá tudo o que precisa para caminhar nesse Esquema de Evolução.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de agosto/1977-Fraternidade Rosacruz-SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Tocha da Razão por Guia

Einstein afirmou em certa ocasião: “Nunca perca a sua santa curiosidade”. E que dádiva maravilhosa essa santa curiosidade nos outorgou! Por seu intermédio encontramos ensinamentos capazes de nos explicar tão claramente a época tão conturbada em que vivemos, ajudando-nos a manter uma conduta serena em meio ao rugir das tempestades.

Enquanto aprofundávamo-nos à procura das respostas, nem imaginávamos quão bem ocultas estavam as pérolas tão avidamente almejadas.  Cristo-Jesus asseverou: “Conhecereis a verdade e a verdade vós libertará[1]. Pôncio Pilatos tão somente soube perguntar: “O que é a verdade?” Como não recebia respostas do seu mundo interior, nenhuma resposta lhe foi dada do exterior.

Muitos encontram fragmentos da verdade e por eles combatem tenazmente. Julgando único seu fragmento, investem desabridamente contra todos os outros. Esse não é um bom método para se alcançar a verdade. Há verdades de maior ou menor profundidade. Há ângulos enfocando certas fases dessa verdade e há profundezas que o nosso entendimento não alcança.

O Hino Rosacruz de Abertura[2] nos ensina que, tendo a tocha da razão por guia, compreenderemos pontos até então completamente obscuros. Suas palavras irradiam essa verdade: pelo uso da razão e pela persistência, seremos capazes de anular a discórdia produzida no mundo.

Nesses poucos versos do hino, Max Heindel procurou imprimir ênfase a cada palavra para que obtenhamos respostas às nossas indagações: como? Por quê? Qual o método? Qual o nosso raio de ação? O fundador da Fraternidade Rosacruz sempre destacou o fator tempo. Sua vida nos mostrou essa imagem: cada hora tem de ser aproveitada; não há imobilismo, nem pausas, tampouco saltos ou recuos para outras sendas. Assegurou-nos de que assim agindo, seremos capazes de sublimar o mal do mundo pelo bem do qual somos canais.

Todas as Religiões e todas as ciências ocultas velam as suas verdades transcendentais. Há acesso somente para aqueles conhecedores da chave indispensável à percepção da verdade no meio das falsas explicações, mitos e símbolos. Esses servem para iludir aqueles que merecem ser iludidos, preservando a verdade da qual ainda devem ser afastados. A verdade é perigosa para quem é destituído de mérito ou preparo, da mesma forma como o fogo oferece riscos a uma criança. Siegfried teve de deixar pai e mãe, credo, convencionalismos, ideias preconcebidas, opiniões e desejos mundanos antes de iniciar sua busca, como lemos no livro “Mistérios das Grandes Óperas”.

A esse respeito Max Heindel nos ensina em “Cartas aos Estudantes”: “devemos viver nas condições e ambiente em que nos encontramos, procurando aprender as lições que essas condições proporcionam. Quem flutua nas nuvens em busca de ideias espirituais, negligenciando seus deveres no mundo, erra da mesma forma como aqueles que batalham no lodo do materialismo impelidos pela ambição, atraídos pelas luzes multicores da glória, ou por outros valores mundanos”.

As duas categorias de pessoas necessitam de ajuda, porém em direções diferentes. Uns devem colocar firmemente seus pés na Terra. Outros devem elevar-se até enxergar as luzes do céu, para onde cumprem dirigir seus esforços na acumulação de tesouros de valor mais permanente.

Max Heindel afirma que só há uma Grande Verdade: Deus. Esse, porém, possui infinitas facetas, ou várias formas de manifestação. Essa é a razão de todas as Religiões. Cada agrupamento tem a sua lição a aprender. A criança na fase pré-escolar recebe um ensinamento; no curso fundamental outro; no universitário tem direito a um currículo mais avançado. E o que é verdadeiro para o filósofo, não o será necessariamente para o camponês. Cada Mente recebe a verdade de modo diferente. Todos nós já palmilhamos muitos caminhos em nossas vidas: sob o raio de Marte, impelindo-nos à atividade e à paixão, muitas vezes às custas dos nossos semelhantes; sob a suavidade de Vênus, ou a austeridade de Saturno, ou ainda sob a benevolência de Júpiter. Alegramo-nos na esperança de perceber a amplitude de consciência que nos será outorgada pelo raio de Urano, mesmo que devamos nos contentar, hoje, com o raio de Mercúrio. Estamos ascendendo para a Luz Branca, do Sol, e que unirá todas os outros matizes.

Como podemos considerar-nos afortunados por viver em uma época em que esses conhecimentos foram liberados pelos Irmãos Maiores para todos que os procuram. Antigamente eram acessíveis unicamente aos Iniciados. Após a crucificação de Cristo Jesus, porém, o Véu do Templo rasgou de alto a baixo, revelando-nos que a Luz Branca é um reflexo ainda imperfeito da Grande Luz. Por isso, é exortado que usemos “a tocha da razão por guia”. É por isso que Max Heindel escreveu: “Devemos ser capazes de reconhecer a verdade internamente”.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de setembro/1977 – Fraternidade Rosacruz-SP)


[1] N.T.: Jo 8:32

[2] N.T.: Hino Rosacruz de Abertura

Seguindo a órbita a girar

lei firme, o astro vem mostrar;

do eterno Deus ele é expressão

quais ciclos de alternação.

O Astro dança em linha oval;

no espaço e tempo em espiral,

e as harmonias ao girar

de esferas vão ressoar.

Por não saber a lei geramos dor,

a morte e desarmonia;

sofrendo, agora, procuramos

ter, de novo, paz e harmonia.

A lei buscamos aprender

e a verdade conhecer,

e o que encontrarmos da verdade

dar ao bem da humanidade.

Cumpramos todos o dever

do nobre e reto proceder;

sem ódio por amor agir

e nunca ao nosso dever fugir.

Sabendo por amor obrar

e o repetindo sem cessar,

o medo e o pecado, assim,

iremos dominar enfim.

Co’a tocha da razão por guia

nós buscamos restaurar

a juventude e harmonia

que só a verdade pode dar.

Falhando, embora, vamos ver

a persistência há de vencer,

e num crescendo gradual

o bem sublimará o mal.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pergunta: Os Mitos têm Valor Real ou são, em grande parte, Fantasias da Imaginação?

Resposta: Os mitos contêm profundas verdades ocultas. O antagonismo entre a luz e as trevas é descrito em inumeráveis desses mitos que são bastante semelhantes em suas linhas gerais, embora variem as circunstâncias de acordo com o estágio evolucionário dos povos onde são encontrados. À Mente normal eles geralmente parecem fantásticos porque os fatos são descritos de maneira puramente simbólica e, portanto, em completo desacordo com as realidades concretas do mundo material. Contudo, essas lendas encarnam grandes verdades de suas escamas de materialismo.

Em primeiro lugar, devemos ter em mente que o antagonismo entre a luz e as trevas, existente aqui no Mundo Físico, é apenas a manifestação de um antagonismo semelhante, existente também nos reinos moral, mental e espiritual. Esta é uma verdade fundamental, e todo aquele que conhece a verdade deve saber que o mundo concreto, com todas as suas coisas que julgamos serem tão reais, sólidas e duráveis, não passa de uma manifestação evanescente criada pelo pensamento divino, e que reverterá ao pó dentro de alguns milhões de anos, antes que também se dissolvam os outros mundos que supomos serem irreais e intangíveis, quando então voltarmos mais uma vez ao seio do Pai, para repousar, até que chegue a aurora de um outro e maior Dia Cósmico.

É especialmente por ocasião do Natal, quando há pouca luz e as noites são longas (no Hemisfério Norte), que a humanidade volta sua atenção para o Sol Meridional, e aguarda ansiosamente o momento em que ele recomeçará sua jornada em direção ao norte, trazendo luz e vida ao nosso hemisfério gelado. Vemos na Bíblia como Sansão, o Sol, tornava-se cada vez mais forte à medida que cresciam seus cabelos, como as forças das trevas, os Filisteus, descobriram o segredo de seu poder e cortaram-lhe os cabelos, ou raios, privando-o de sua força: como privaram-no da luz vazando-lhe os olhos e, finalmente, como o mataram no templo, no Solstício de Dezembro.

Os Anglo-Saxões falam da vitória do rei Jorge (1) sobre o dragão; os Teutões recordam como Beowolf (2) matou o dragão ardente e como Siegfried (3) venceu o dragão Fafner. Entre os Gregos encontramos Apolo (4) vitorioso sobre a serpente Pitão, e Hércules (5) sobre o dragão das Hespérides. A maioria dos mitos conta apenas a vitória do jovem Sol, mas há outras que, como a de Sansão acima citado, e Hiram Abiff da lenda Maçônica, contam também como o Sol, ao ficar velho, era vencido após ter completado seu circuito, estando pronto para dar nascimento a um novo Sol, que surge das cinzas da velha Fênix (6) para ser o portador da luz para um novo ano.

É uma lenda semelhante a que lemos na origem do agárico (7), uma história contada na Escandinávia na Islândia, porém, mais particularmente em Yuletide, quando o azevinho (8) vermelho mescla-se num maravilhoso efeito decorativo como o agárico branco – um símbolo vivo do sangue que era escarlate como o pecado, mas que se tornou branco como a neve. A história é a seguinte:

Antigamente, quando os deuses do Olimpo reinavam sobre a região do Sul, Wotan com sua companhia de deuses, imperava no Walhalla onde os pingentes de gelo decompunham a luz do Sol de inverno em todas as cores do arco-íris e o belo manto de neve fazia luzir até mesmo a noite escura, mesmo sem auxílio da flamante Aurora BoreaI. Eles constituíam uma companhia maravilhosa: Tyr, o deus da Guerra, ainda é lembrado entre nós, pois à terça-feira em inglês: Tuesday. Wotan, o mais sábio, é relembrado na quarta-feira: Wednesday; Thor continua conosco como o deus da quinta-feira: Thursday. Era ele quem brandia o malho, e quando o lançou contra os gigantes, os inimigos de deus e dos seres humanos, deu origem ao trovão e ao relâmpago, devido à força terrífica com a qual o martelo chocou-se contra as nuvens. A gentil Freya, a deusa da Beleza, de cujo nome derivou a sexta-feira em inglês Friday, e o traidor Loke cujo nome ainda vive no sábado Escandinavo, são tantos outros fragmentos atuais de uma fé esquecida.

Mas jamais houve algum deus como Baldur. Ele era o segundo filho de Odin e Freya, o mais nobre e mais gentil de todos os deuses, amado por todas as coisas da natureza. Ele excedeu a todos os seres não só em delicadeza como também em prudência e eloquência, e era tão belo e gracioso que a luz irradiava de si. Foi-lhe revelado em sonhos que sua vida estava em perigo, e isto pesou tão fortemente sobre seu espírito que fugiu da sociedade dos deuses. Sua mãe Freya, tendo conseguido que ele lhe contasse a causa de sua melancolia, convocou um concílio de deuses, e ficaram todos cheios de sombrios pressentimentos, pois sabiam que a morte de Baldur seria o prenúncio de sua derrota – a primeira vitória dos gigantes, ou das forças das trevas.

Por isso Wotan traçou “runes”, caracteres mágicos usados para predizer o futuro, mas todos lhe pareciam obscuros. Não podia obter deles um conhecimento mais profundo. O “Vaso da Sabedoria” que podia servi-los na presente conjuntura, estava sob a guarda de uma das Parcas, as deusas do Destino, de maneira que de nada lhes poderia ajudar, então. Ydum, a deusa da Saúde, cujos pomos dourados mantinham os deuses sempre jovens, tinha sido traída e caíra em poder dos gigantes, devido às trapaças de Loke, o espírito do mal, mas foi-lhe enviada uma delegação a fim de consultá-la sobre a natureza da doença que ameaçava Baldur se é que se poderia chamá-la de doença.

Contudo, ela só pôde responder com lágrimas, e finalmente, depois de um solene concílio convocado por todos os deuses, ficou determinado que todos os elementos, e tudo o mais existente na natureza, deveriam ser obrigados a fazer o juramento de jamais magoar ou ferir o deus gentil. Todos obedeceram à ordem, exceto uma insignificante planta que crescia a oeste do Palácio dos deuses; ela parecia tão débil e frágil que os deuses a acharam inofensiva, Contudo, a mente de Wotan avisava-o de que nem tudo estava certo. Pareceu-lhe que as Parcas da boa sorte tinham se afastado. Por isso resolveu visitar uma célebre profetisa chamada Vala. Era o espírito da terra e por ela ficaria sabendo da sorte reservada aos deuses, mas não recebeu nenhum conforto, e voltou ao Walhalla mais deprimido do que antes.

Loke, o impostor, o espírito do mal, era na realidade um dos gigantes, ou uma das forças das trevas, mas vivera durante certo tempo com os deuses. Era um vira-casaca que não dependia de ninguém e, portanto, era geralmente desprezado tanto pelos deuses como pelos gigantes. Um dia em que estava sentado lamentando do seu destino, numa densa nuvem elevou-se do oceano e pouco depois surgiu dela a figura do Rei dos Gigantes. Loke, aterrado, perguntou-lhe o que o trouxera àquele lugar. O monarca increpou-o acerbamente fazendo-lhe ver sua vileza, pois ele, um demônio por nascimento consentia em ser uma ferramenta dos deuses em sua ação contra os gigantes, a quem ele, Loke, devia sua origem. Não foi por afeição a ele que foi admitido na sociedade dos deuses, e sim porque Wotan sabia bem a ruína que ele e sua descendência acarretariam sobre os deuses, e pensava assim apaziguá-lo para adiar o momento funesto. Aquele que, por meio do seu poder e de sua astúcia, poderia ter-se tornado o chefe de um dos partidos, era agora desprezado por todos. O Rei dos Gigantes o repreendeu, além disso, por já ter várias vezes salvo os deuses da ruína e mesmo por já lhes ter fornecido armas a serem usadas contra os gigantes, e finalizou apelando ao proscrito para que inflamasse seu peito contra Wotan e toda a sua raça, como uma prova de que seu lugar natural era entre os gigantes.

Loke recolheu a veracidade de tudo aquilo e prontificou-se a ajudar seus irmãos com todas as suas forças e por todos os meios. O Rei dos gigantes lhe disse então que chegara o momento em que podia selar o destino dos deuses; que se Baldur fosse morto seguir-se-ia, mais cedo ou mais tarde, a destruição dos demais, e que a vida dos deuses pacíficos estava então ameaçada por um perigo ainda desconhecido. Loke lhe respondeu que a ansiedade dos deuses estava se extinguindo, pois Freya tinha obrigado todas as coisas a jurar, comprometendo-se em não ofender seu filho. O monarca negro replicou que deixara de prestar o juramento. Contudo, ninguém sabia o que se ocultava no coração da deusa. Voltou então a mergulhar no seu abismo negro, deixando Loke entregue a pensamentos ainda mais sombrios.

Loke então, assumindo a figura de uma anciã, apareceu a Freya e usando de astúcia extraiu-lhe o segredo fatal, isto é que julgando ser o agárico uma planta de natureza tão insignificante ela deixara de obter da humilde florzinha a promessa com a qual havia sujeitado todas as demais coisas. Loke não perdeu tempo e logo descobriu o local onde medrava o agárico arrancou-o inteiro com todas as raízes, entregou-o aos anões, que eram hábeis ferreiros, para que o transformassem numa lança. Eles fizeram esta arma usando de muitos encantamentos, e quando pronta pediram o sangue de uma criança para temperá-la. Foi lhes trazida uma criança pura, um dos anões mergulhou a lança em seu peito e cantou:

“The death-gasp hear,

Ho! Ho! – now’tis o’er –

Soon hardens the spear

In the babe’s pure gore –

Now the barbed dead feel,

Whilst the veins yet bleed,

Such a deed – such a deed –

Might harden e’en steel”.

Tradução livre:

“Ouve, da morte o exterior!

Haaa! Já terminou! A lança

fica temperada por

sangue puro da criança!

Sente, agora, a ponta afiada

Enquanto dá-se a sangria

tal façanha, consumada,

até o aço temperaria”.

Nesse ínterim os deuses, e os bravos mortos que estavam reunidos a eles para um torneio fizeram mira sobre Baldur, alvejando-o com todas as suas armas, a fim de convencê-lo de que suas apreensões não tinham fundamento, assim o julgavam, agora que estava invulnerável, pois sua vida havia sido protegida por um sortilégio.

Loke também se encaminhou para o local levando a lança fatal, e ao ver o atlético deus cego, Redor, apartado dos dentais, perguntou-lhe por que não honrava, também, a seu irmão aludindo à sua cegueira e à falta de uma arma. Loke colocou-lhe então nas mãos a lança encantada, e Hoedur, não suspeitando da maldade, feriu Baldur no peito com a lança feita do agárico, e Baldur tombou sem vida ao solo, para grande dor de todas as criaturas.

Baldur é o Sol do verão, amado por todas as coisas da natureza, e no deus cego Hoedur, que o mata com a lança, reconhecemos facilmente o signo de Sagitário, pois quando o Sol entra em Dezembro nesse signo emite uma luz muito fraca, e por isso dizemos que é morto pelo deus cego, Hoeduro. A figura de Sagitário, tal como aparece no Zodíaco ao Sul, apresenta simbolicamente a mesma ideia que a lança na história dos Eddas.

A lenda da morte de Baldur nos ensina a mesma verdade cósmica que tantas outras lendas de natureza semelhante, isto é, que o Espírito Solar deve morrer para as glórias do Universo quando, como Cristo, entra na terra para lhe trazer vida renovada, sem a qual cessariam todas as manifestações físicas do nosso Planeta. Assim como aqui a morte precede um nascimento nos reinos espirituais, também ali há uma morte no plano espiritual da existência antes que haja um nascimento num corpo físico. Como Osíris (9) no Egito é morto por Tifon antes que possa nascer Hórus, o Sol do Novo Ano, assim também Cristo deve morrer para o mundo superior antes que possa nascer na terra, trazendo-nos o necessário impulso espiritual anual; mas a nossa Santa Estação não comemora maior manifestação de amor do que aquele da qual o agárico é o símbolo. Sendo fisicamente de uma fragilidade extrema, ele adere ao carvalho, o símbolo da força. É a máxima fraqueza do mais fraco dos seres que fere o coração do mais nobre e pacífico dos deuses, de modo que, impelido por seu amor aos humildes, ele desce às sombras do submundo, como Cristo que, por nosso amor, morre anualmente para o mundo espiritual, para tornar a nascer em nosso planeta impregnando-o novamente com Sua Vida e Energia radiantes.

___________________

(1) Jorge – Trata-se do S. Jorge do hagiológio católico, padroeiro da Inglaterra, Aragão e Portugal. O único elemento histórico a seu respeito parece ser seu martírio em Lydda, na Palestina. Outros elementos de veracidade duvidosa são sua rápida ascensão na carreira militar, sua visita à Grã-Bretanha numa expedição militar e seu protesto contra as perseguições efetuadas por Diocleciano. Calvino impugnou a existência desse santo, mas as igrejas sírias e o cânon do papa Gelásio (494) aceitam-no como real. Sua ligação com um dragão apareceu no século VI. Em Arsuf ou Joppa, Perseu havia morto um monstro marinho que ameaçava a virgem Andrômeda, e Jorge herdou a veneração anteriormente votada ao herói pagão.

(2) Beowulf ou Bjolf – Rei dos Getas, na Jutlândia (século VIII A.D.). Após um reinado de 50 anos vê sua pátria ameaçada por um dragão ardente. Enfrenta-o com onze de seus guerreiros que o abandonam, ficando apenas um, Wiglaf; com sua ajuda mata o dragão, mas é ferido e morre nomeando Wiglaf seu sucessor.

(3) Siegfried – Herói germânico, fruto dos amores incestuosos de Sigmund e Sieglinda. Foi educado pelo anão Mime que dele quer se servir para roubar ao gigante Fafner o anel mágico dos Nibelungos, que dá ao seu possuidor o poder e a fortuna. Siegfried investe contra o gigante transformado em dragão; vence-o e apodera-se do amuleto.

(4) Apolo – Um dos grandes deuses da Grécia; personificava o Sol; filho de Júpiter e Latona nasceu em Delos, segundo Homero. A luta da Luz com as trevas simbolizada pela vitória de um deus ou de uma serpente em todas as mitologias arianas é na mitologia grega, o triunfo de Apolo sobre a serpente Pitão, morta no vale de Crissa, nas proximidades do Parnaso com setas forjadas por Vulcano.

(5) Hércules – Herói e semideus romano, o Héracles da mitologia grega. Filho de Zeus e Alcmena, dentre suas façanhas são famosos os Doze trabalhos, dos quais o décimo primeiro é o roubo das maças de ouro das Hespérides, ninfas filhas de Atlas e Héspero. Habitavam num grande jardim custodiando os frutos dourados com o auxílio do dragão Sadão. Hércules matou o dragão e apoderou-se dos pomos de ouro.

(6) Fênix – Ave fabulosa, animal sagrado entre os egípcios. Este nome, de origem grega, corresponde ao egípcio benu. Diz a lenda que quando se sentia morrer fazia um ninho de ramos de canela e incenso e depois se deixava sucumbir. De seus ossos nascia uma espécie de verme que logo se transformava numa nova ave.

(7) Agárico ou visco – Cogumelo venenoso, em forma de lança que medra de preferência em troncos de carvalho.

(8) Azevinho – Arbusto espinhoso; produz pequenos frutos vermelhos; suas folhas e frutos são muito usados na Europa e Estados Unidos como ornamento por ocasião do Natal.

(9) Osíris – Um dos deuses do antigo Egito; filho de Seb e Nut, marido e irmão de Isis, e pai de Hórus. É o deus do bem, que personifica a vegetação, o Nilo e o Sol. Governava o Egito quando Tifon, seu irmão, assassinou-o, encerrou-o num esquife e o lançou às águas do rio, que o transportaram até Biblos, em cujo local brotou um tamarindeiro. Isis desesperada procura o corpo do esposo até que o encontra. Beija-o e nesse momento supremo toda a terra estremece de alegria. Osíris reanimado levanta-se do ataúde. A terra cobre-se de vegetação e os egípcios, associando-se àquela alegria universal, celebram com ruidosas festas o renascimento do seu protetor.

(Pergunta nº 165 do livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Volume II – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Conscientização e a Cura

A Fraternidade Rosacruz patrocina a emancipação de todos os Aspirante espirituais. Tal autonomia pode ser alcançada por aqueles que, diligentemente, aprimoram a faculdade de OBSERVAR A SI MESMO. Isso implica em conscientizar-se das próprias fraquezas e limitações, bem como das virtudes e potencialidades emergentes.

O exercício da análise própria efetuado de maneira sistemática, sincera e infatigável conduz, insofismavelmente, à iluminação interior.

Gradualmente transmuta a natureza do Aspirante, estimula a humildade, a responsabilidade pessoal, o comprometimento com a Vida. Amplia o Amor pela Verdade.

Na fabulosa obra de Shakespeare, Rei Lear, o personagem Cordelia simboliza a Verdade que é privilégio daqueles que renunciam às barganhas e farisaísmos do mundo. Enquanto a vaidade e o orgulho (Rei Lear) dominarem nossos nervos, Cordelia permanecerá exilada e desterrada de nossa consciência. Seguimos reféns da insanidade mental, dos tormentos emocionais e das deformações físicas.

Cordelia ama a Coroa Espiritual, Lear apega-se à coroa das conveniências humanas.

Não menos eloquente, Richard Wagner, na ópera Siegfried, demonstra as qualidades heroicas da alma francamente desejosa de desposar a Verdade, Brunilde. A saga da alma virtuosa, engajada no Projeto divino, capaz de superar, sem receio ou dúvida, os dragões (provações) que emergem nos momentos mais dramáticos de nossa existência.

Tomar consciência de si mesmo implica uma epopeia inexorável. Contudo, esse é o caminho para o resgate individual. Cristo, anualmente, salva a Terra da destruição. O Cristo Interno, de cada um, salva o Corpo (nosso pequeno Planeta ou microcosmos) da degeneração: “Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida”.

Quanto mais conscientes e lúcidos mantivermos nossos veículos de que somos “Cristos em formação”, maior plenitude alcançaremos tanto na manutenção da saúde física quanto nas esferas emocionais, mentais, morais e espirituais.

(Publicado no Ecos da Fraternidade Rosacruz em São Paulo-SP de setembro-outubro/1999)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Natal e Nós

O Natal e Nós

Novamente o Natal. Sempre os mesmos enfeites coloridos, as músicas, o movimento de compras, os presentes, as ceias, os sinos, os cumprimentos…

Porém, jamais nos encontramos iguais. O desenvolvimento e os frutos da última colheita nos acrescentaram “algo” ao íntimo, tornaram-nos um pouco mais amadurecidos animicamente. Portanto, o íntimo que vê, que discerne, que sente, que avalia, concebe um Natal um pouco mais profundo e ora até às lágrimas para que o doloroso parto se complete: o nascimento do Cristo Interno.

Quanta resistência ainda existe no mundo exterior e interior para o Reino prometido!

Herodes reage enciumado. Ele compreende que o Reino do Príncipe Salvador não é deste mundo, mas também não ignora que não pode servir e ser servido. Um será o regente e o outro, o servidor. E como São Paulo, nos embates da Iniciação, sente aumentar o conflito entre a matéria e o espírito, entre as trevas e a luz.

Procura-nos o ponto sensível, o “calcanhar de Aquiles”, o ponto fraco nas costas de Siegfried, para que sucumbamos uma vez mais, anestesiados pelo ardil de Loges. A verdade, chorosa, adiará uma vez mais a ansiada união.

Enquanto os sinos tocam, parece que ouvimos um galo cantar, o que nos lança na consciência o apelo do Senhor rejeitado. Quantas aspirações mortas em pleno florescimento! Contudo, mesmo assim, graças elevamos porque, no silêncio do mais íntimo recôndito, ainda vive nosso Salvador, prudentemente aguardando que envelheça e morra nosso egoísmo e lhe suceda, pouco a pouco, algo menos ruim.

Natal! Quanto mais te compreendo, mais almejo que te realizes em mim!

Natal! Ainda temo falhar como São Pedro. Ainda urdo as manhas de Judas; ainda falho na resolução de São Paulo; ainda estou precisando de forças para renunciar às três tentações do meu deserto; ainda tenho de fazer esperar o meu Senhor!

Natal! O exterior canta em movimentos, em cores e sons; mas o interior chora no entendimento cada vez mais agudo de uma realização que se protela!

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de 12/1968)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Ciclo do Anel de Richard Wagner – por Corinne Heline-Fraternidade Rosacruz

O mundo está experimentando as convulsões que inevitavelmente acompanham a passagem da humanidade de uma Era para outra, quando o Velho cede lugar ao Novo.

Em uma forma de arte de beleza incomparável, Wagner traça o processo com discernimento profético, revelando as forças que levam à dissolução da velha Ordem e as que estão trabalhando sob os destroços externos, preparando o terreno para um amanhã melhor e mais brilhante.

1. Para fazer download ou imprimir:

Livro: O Ciclo do Anel de Richard Wagner – por Corinne Heline

2. Para estudar no próprio site:

O CICLO DO ANEL DE RICHARD WAGNER

Por

Corinne Heline

Fraternidade Rosacruz

Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP

Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82

Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil

Traduzido de acordo com:

1ª Edição em Inglês, 1961, Part III from book: Esoteric Music of Richard Wagner: Richard Wagner’s Ring Cycle – Issued by New Age Interpreter

Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP

www.fraternidaderosacruz.com

contato@fraternidaderosacruz.com

fraternidade@fraternidaderosacruz.com

ÍNDICE

PARTE I – O OURO DO RENO

A Velha Ordem e a Nova

PART II – A VALQUÍRIA

Introdução aos Pioneiros da Nova Era

PARTE III – SIEGFRIED

O Discipulado na Nova Era

PARTE IV – DIE GOTTERDAMMERUNG

O Crepúsculo dos Deuses

INTRODUÇÃO

O Ciclo do Anel de Wagner será apresentado pelo menos três vezes nesta temporada pela Companhia Metropolitana de Ópera de Nova York[1]. Essas produções têm muito mais a oferecer do que entretenimento e prazer estético. Elas são um comentário profundo sobre os tempos em que vivemos. Neste século, o mundo está experimentando as convulsões que inevitavelmente acompanham a passagem da humanidade de uma Era para outra, quando o Velho cede lugar ao Novo. Em uma forma de arte de beleza incomparável, Wagner traça o processo com discernimento profético, revelando as forças que levam à dissolução da velha Ordem e as que estão trabalhando sob os destroços externos, preparando o terreno para um amanhã melhor e mais brilhante.

A seguir, procuramos chamar a atenção do leitor para as características mais salientes dos dramas musicais, vistas do ângulo de sua história, significado evolucionário e cósmico.

PARTE I – O OURO DO RENO

A Velha Ordem e a Nova

Nos quatro dramas musicais que compõem o que se tornou conhecido como o Ciclo do Anel, Wagner previu o conflito que está destruindo o século XX, uma agitação que tem sua origem na insegurança econômica e uma perda cada vez maior de valores espirituais. Wagner também aponta para uma conclusão centrada na nova Ordem mundial que substituirá o caos existente. A Nova Era estará centrada em igualdade e bem universal, enquanto a velha estava situada no bem de um judeu, independentemente do bem-estar das massas.

Richard Wagner foi um prenúncio verdadeiro e dedicado da Nova Era. Tanto sua vida como sua arte gloriosa carregam a impressão do idealismo da Nova Era. No ano de 1848, ele foi exilado da Alemanha por causa de suas ideias radicais e atividades revolucionárias; ainda assim, a mensagem que deixou pode aparecer em qualquer periódico liberal de hoje.

“Vemos ou cheiramos nisto a doutrina do comunismo? Somos tão tolos ou perversos que declaramos que a necessária redenção da raça humana da escravidão mais grosseira e imoral que foi usada para estruturar o materialismo é o mesmo que colocar em prática a doutrina mais absurda e sem sentido, o comunismo? Não vemos que nesta doutrina de uma divisão matematicamente igual de propriedades e ganhos há uma tentativa impensada de se resolver o problema? Mas vamos, assim, descrever o problema como absurdo e sem sentido? Cuidado!”.

“O resultado de trinta e três anos de paz mostra a sociedade humana hoje em tal estado de ruína e pauperismo que até o final deste ano veremos ao seu redor as figuras medonhas da fome pálida! Tomemos cuidado, antes que seja tarde demais! Não demos esmolas, mas reconheçamos o direito, o direito humano concedido por Deus, ou nós poderemos viver o dia em que a Natureza, violada e zombada, vai se erguer em vingança brutal. Então seu clamor selvagem de vitória poderá anunciar o comunismo; e se durar apenas um breve período, porque é impossível que seus princípios prevaleçam, essa regra temporária seria o suficiente para destruir, talvez por muito tempo, todas as conquistas de uma civilização com dois mil anos de idade. Você supõe que eu lhe esteja ameaçando? Não, estou avisando!”.

No ato de abertura do primeiro drama musical do Ciclo, O Ouro do Reno, o brilho cintilante e derretido do ouro é visto flutuando livremente nas águas do rio Reno. Sua massa de beleza dourada simboliza a consciência do Bem. O anão Alberich — que, com seus gigantes, tipifica a Ordem antiga — tira o ouro das águas e o converte em um Anel, simbolizando assim o confinamento ou limitação do Bem. Entretanto, para fazer isso, ele precisa renunciar ao amor. Em outras palavras, deve sacrificar o bem da humanidade em geral ao engrandecimento de poucos.

Wotan, pai dos deuses, representa a mente das massas de uma Ordem cujos poderes estão diminuindo como resultado de seu mau uso. Sua esposa Fricka caracteriza as regras e regulamentos rígidos pelos quais essa Ordem foi mantida. Sua casa, o magnífico castelo gótico de Valhalla, a fortaleza da Ordem, foi construída para eles pelos gigantes. Wotan se alegra em seu trabalho — pois os de um estado passageiro não podem conceber algo superior a si mesmos e esperam com confiança uma existência eterna.

Desejando aumentar seu poder, Wotan, por astúcia e insinuações, apanha o Anel de Alberich. Antes de abandoná-lo, no entanto, o anão o amaldiçoa: “A morte será a porção de quem o possuir. Ele nunca conhecerá felicidade ou alegria, porém será consumido pelo cuidado e pela ansiedade; enquanto quem não o possuir será dilacerado pela inveja. Quem é dono do Anel se tornará seu escravo até o dia em que for devolvido a sua liberdade no rio Reno”. Podemos notar os efeitos trágicos dessa maldição quase todos os dias, nas manchetes de nossos jornais.

A turbulência mundial é o resultado de um conflito entre duas classes, os “que têm” e os “que não têm”. Desigualdades trágicas podem ser vistas em todas as nossas grandes cidades, onde a minoria vive de luxo, enquanto números incontáveis suportam as condições de pobreza das favelas. Situação semelhante é mantida em toda a América do Sul; nos países do Oriente Próximo e do Extremo Oriente isso, agora, atrai atenção geral. Uma civilização construída sobre essas desigualdades não pode e não vai durar. A consciência da Nova Era não permitirá que aqueles que possuem uma riqueza fabulosa gastem centenas de milhares de dólares em uma noite de prazer egoísta, quando milhões de outros seres humanos quase morrem de fome.

Dois temas musicais, o Amor de Golã e a Maldição do Ouro, estão entre os mais poderosos de todo o Ciclo do Anel. No final de O Ouro do Reno, Wotan e os deuses retornam a Valhalla, significando o apego mental das massas ao padrão estabelecido pela Ordem antiga. Há, no entanto, um raio de luz que se manifesta nesse retorno: eles devem voltar pela ponte do arco-íris. O arco-íris é simbólico e representa um novo dia cheio de beleza e luz. É uma promessa para o futuro. Isso está bem descrito na requintada Música do Arco-íris.

Enquanto Wotan refaz seus passos em direção a Valhalla, um brilho enevoado surge da terra; sob sua luz pode-se discernir a forma de Erda, deusa da terra e mãe dos três destinos: passado, presente e futuro. Seu tema musical é uma expressão da Sabedoria Antiga. Ela representa a Lei imutável e inescapável de Consequência, descrita biblicamente em Gálatas 6: 7 — “Tudo que o homem semear, isso também ele ceifará”. Erda emite um aviso a Wotan: “Fuja do anel amaldiçoado. Há ruína sem fim para você, em seu poder. Tudo que foi, eu conheço. Tudo que será, eu também conheço. Erda, a eterna, convoca-lhe. Tudo que existe chegará ao fim. A noite cairá sobre os deuses. Eu lhe aviso: desista do Anel”.

PART II – A VALQUÍRIA

Introdução aos Pioneiros da Nova Era

Quando a primeira cena de A Valquíria acontece, uma tempestade terrível atinge a floresta e curva as árvores poderosas. No centro do palco, há uma pequena cabana, a casa de Hunding e sua bela esposa, a jovem Sieglinde. À porta da cabana chega um estranho que está ensopado de chuva: é Siegmund, o Andarilho. Ele entra e se joga perto da lareira, diante de um fogo aberto. Quando Sieglinde aparece, ele pede abrigo noturno contra os elementos furiosos, dizendo a ela que foi atacado por inimigos que pegaram sua espada e, então, ele se perdeu.

Logo surge Hunding, sombrio, grosseiro, desconfiado. Quando descobre que o estrangeiro esteja em guerra contra seus parentes, imediatamente declara sua inimizade, jurando que, embora a hospitalidade seja concedida durante a noite, no dia seguinte eles devam se enfrentar em combate.

Hunding tipifica a convenção. Ele mantém as regras e regulamentos da Ordem antiga, demonstrando animosidade imediata em relação a tudo que pertença à Nova Ordem. Siegmund e Sieglinde são pioneiros do Novo Dia; portanto, há reconhecimento instantâneo um do outro, de seus ideais e objetivos comuns.

Quando Hunding se recolhe, Sieglinde retorna e pede a Siegmund que fuja enquanto ainda há tempo. Ele responde que seu nome seja Infortúnio e ela diz que ele não possa trazer mais tristeza à casa do que já existe ali. O preço do pioneirismo é sempre o ridículo, o mal-entendido e a perseguição.

Sieglinde informa ao estranho que, na noite de seu casamento forçado com Hunding, outro desconhecido enfiou uma espada no coração do grande carvalho diante da porta, prevendo que, quando um herói alcançasse o poder para retirar a espada, chamada Nothung, sua escravidão terminaria. Cheio de entusiasmo, Siegmund corre ao local e retira facilmente a arma mágica, quando Sieglinde grita: “Seu nome não é mais Infortúnio, pois agora você é o Vitorioso. Veja”, ela continua, “a tempestade acabou e a primavera chegou!”. De mãos dadas, eles caminham em direção às belezas da floresta.

A espada, que desempenha um papel muito importante em todo o Ciclo do Anel, caracteriza a verdade em sua pureza original. Ela pode ser usada bem e sabiamente apenas por aqueles que possuem a mente iluminada e dedicada. E de toda a música magnífica em A Valquíria, nenhuma é mais requintada do que a Canção do Amor e a Canção da Primavera, ouvidas nesta primeira cena.

Provavelmente as mais familiares e amadas de todas as músicas de Wagner, essas composições o tornaram imortal. As Valquírias são donzelas ousadas que, em corcéis de fogo, correm pelo ar para reunir os guerreiros que tiveram mortes de herói e carregá-los até o Valhalla. A música delas eleva nosso espírito a uma altura que transcende as limitações de tempo e espaço. É verdadeiramente “música infinita”.

Brunnhilde, a líder das Valquírias, simboliza o espírito da verdade. Suas simpatias vão imediatamente para Siegmund e Sieglinde, embora Wotan e Frika exijam que durante o próximo combate ela deva prestar assistência a Hunding. Ela se recusa e, na passagem alta da montanha onde a batalha acontece, é vista pairando sobre Siegmund para lhe proteger dos golpes de Hunding. O sucesso de Siegmund está quase garantido, quando surge um tremendo trovão e Wotan aparece no ar, acima de Hunding. O deus quebra a espada de Siegmund, deixando-o indefeso contra o golpe final de Hunding. Segue um silêncio ofegante, enquanto Siegmund está morrendo. É como se o próprio batimento cardíaco do universo estivesse quieto e toda a natureza prendesse a respiração, aguardando um evento sinistro.

Brunnhilde assenta a chorosa Sieglinde sobre seu corcel e corre para a floresta. Ela então sussurra para a donzela de coração partido: “Mantenha seu rosto sempre em direção ao leste. Seja sempre corajosa e ousada, pois você carrega em seu coração alguém que trará nova luz aos homens. O mundo ainda está preso à Ordem antiga, mas no horizonte surge um brilho de promessa”. O espírito da verdade não declarou, assim, que Siegfried, filho de Siegmund e Sieglinde, seja o portador da luz de um novo dia?

Depois que Brunnhilde esconde Sieglinde na floresta, ela volta e enfrenta Wotan, que está irado. De forma lamentosa, diz a ele que, ao ajudar Siegmund em vez de Hunding, estivesse vivendo mais perto de sua própria natureza superior do que ele mesmo. Wotan, de forma relutante, admite a acusação.

É significativo notar que em O Ouro do Reno os dois gigantes, Fafner e Fasolt, mantêm Freia, deusa do amor e beleza, em cativeiro e se recusam a deixá-la ir até que esteja tão completamente coberta de ouro que não possam vê-la.

Wotan diz a Brunnhilde que, por causa de sua desobediência, ele lançará um feitiço sobre ela — o que significa que a verdade não possa funcionar da maneira ideal, se o mundo estiver preso à antiga Ordem. Ele acrescenta que ela deva dormir em uma montanha alta, cercada por fogo mágico, para que apenas um herói possa despertá-la. Enquanto ela afunda no sono profundo, três vezes Wotan golpeia a pedra com sua lança, enquanto exclama: “Durma até que alguém chegue para despertar quem é mais livre do que eu”. Ao pronunciar essas palavras, o tema de Siegfried, anunciando musicalmente o libertador que está por vir, é ouvido na orquestra.

Na beleza celestial e mágica de sua Música do Fogo, Wagner deu livre reinado a seu gênio. É a música de um fogo sobrenatural que não queima, porém exalta; o fogo celestial do espírito que produz luz, não calor.

PARTE III – SIEGFRIED

O Discipulado na Nova Era

Wagner sempre se referiu a Siegfried como “o homem do futuro”. Todo o alto idealismo com o qual ele dotou a “Nova Ordem das Eras” ele concentrou em Siegfried, seu amado herói.

Dois dos números mais bonitos da ópera são o Filho da Floresta, tema musical de Siegfried, e a Canção da Espada. Em Filho da Floresta, Wagner uniu a beleza da infância ao encanto e harmonia da primavera. Canção da Espada é uma expressão alegre e brilhante do espírito de coragem e liberdade.

Quando Sieglinde morre, ela deixa Siegfried na floresta e coloca ao seu lado os dois pedaços de Nothung, a espada quebrada do seu pai. Aqui ele é descoberto por Mime, irmão do anão Alberich que renunciou ao amor para transformar o ouro do Reno em um anel. Fasolt e Fafner, os dois gigantes que possuíram o Anel pela última vez e um tesouro de ouro resultante, imediatamente começam a brigar por sua posse. Um mata o outro, após o que o vencedor coloca o tesouro dentro de uma caverna e se transforma em um enorme dragão que fica de guarda dia e noite. Essa é uma imagem adequada do egoísmo e da ganância que animam a velha Ordem, qualidades que mantêm a maior parte do mundo em escravidão.

Reconhecendo a magia possuída por Nothung, Mime planeja segurar Siegfried até que ele tenha idade suficiente para consertar a arma — pois o anão se vê matando o dragão e, assim, possuindo o Anel.

Siegfried cresce como um filho da natureza, no meio da floresta encantadora. Ele é capaz de domar animais selvagens porque não tem medo. Pela mesma razão, é fácil para ele refazer a espada quebrada. Quando isso é feito, ele decide matar o dragão e não tem dificuldade em eliminar o monstro que, morrendo, avisa sobre a traição de Mime. Tendo sido avisado, quando Mime lhe oferece uma bebida envenenada, o jovem também mata o falso e deixa seu corpo ao lado do dragão.

Tal ação delineia um passo importante no caminho do discipulado. Mime e o dragão simbolizam os aspectos mais baixos da natureza de desejos do homem. Alguns desejos devem ser eliminados completamente, como Mime foi; outros podem ser transmutados em qualidades mais elevadas da natureza espiritual do homem, como o dragão que auxilia Siegfried. A paixão então se torna compaixão, a intolerância cede à tolerância, o ódio se transforma em amor, o egoísmo é vencido pela abnegação e o espírito de competição é transmutado no de cooperação.

Depois que Siegfried mata o dragão, descobre que se apoderou de muitos segredos da natureza. Ele agora pode entender a linguagem dos pássaros. Assim, à medida que um discípulo refina e sensibiliza suas faculdades puramente humanas, as capacidades superiores tornam-se operacionais, especialmente a intuição. Ele aprende a ouvir sua voz mansa e a seguir sua orientação implicitamente. Na ópera, um passarinho conta a Siegfried que no topo de uma montanha distante jaz uma bela donzela que ele esteja destinado a despertar.

Wotan, a Mente de massa da antiga Ordem, está ciente da vinda de Siegfried. Temendo que seu poder sobre o mundo diminua, ele pede a Erda, deusa da Terra, que lhe diga como parar a “roda rolante”. Ela responde, perguntando por que motivo ele não obtém esse conhecimento de Brunilde, aquela que possui toda a verdade e toda a sabedoria. Wotan é forçado a confessar que, como Brunilde patrocinou uma nova Ordem de eventos, em vez de permanecer leal à antiga, ele a fez dormir. Erda responde tristemente: “Você deveria ser o defensor da verdade; contudo, foi falso, patrocinando o que é injusto e desleal”. Ela então prevê o declínio do seu poder e a chegada de uma nova Era.

Quando Siegfried finalmente chega ao pé da montanha, ele encontra seu caminho barrado pela lança de Wotan. Com sua espada mágica, ele quebra a lança do deus e se vê livre para atravessar. A aparência de Wotan é sempre acompanhada pelos temas de Escravidão e Sono Eterno (cristalização). No início da ópera, o poder de Wotan, a Ordem antiga, é maior. Nesse encontro, no entanto, a Nova Era se aproxima rapidamente, de modo que o poder de Siegfried, a Nova Ordem, permite que ele seja vitorioso.

Em uma carta escrita por Wagner, ele declarou: “Depois que se separou de Brunilde, Wotan na verdade nada mais é do que um espírito apagado; seu objetivo mais alto pode ser apenas deixar as coisas seguirem seu curso, abraçando seu próprio caminho, não mais interferindo definitivamente; por esse motivo, também ele se tornou o ‘Andarilho’. Dê uma boa olhada nele! Ele se assemelha a nós como um fio de cabelo; ele é a soma do intelecto do presente, enquanto Siegfried é o homem do futuro, o homem que desejamos, o homem que queremos e não podemos fazer; ele é o homem que deve se criar mediante a nossa aniquilação”.

Siegfried começa, de forma exultante, a subida da montanha junto da incomparável Música do Fogo. Wagner não estava descrevendo o fogo que queima; a saber, as ilusões e fantasias do mundo material. Ele descreveu o fogo espiritual que inspira, ilumina e exalta. O Caminho do Discipulado, comum a todas as religiões em todo o mundo, leva os aspirantes ao topo da montanha para ficar de frente com o próprio espírito da verdade, pois todas as religiões apontam o caminho para esse mesmo objetivo.

Siegfried passa ileso pelas chamas para se ajoelhar ao lado da Brunilde, adormecida, e a beija nos lábios, quando ela acorda e o aclama como “Senhor da Vida e do Mundo”. De modo contente, ele se dirige a ela como sua estrela e juntos, de mãos dadas, sonham com a nova e mais nobre Ordem, que está por vir.

A mais alta conquista de todos os verdadeiros discípulos é a imortalidade consciente. É nesse clímax que Brunilde e Siegfried cantam seu requintado dueto de amor, onde suas vozes flutuam para cima em êxtase, parecendo até mesmo tocar os reinos celestes:

Amor iluminado

Rindo da morte”

PARTE IV – DIE GOTTERDAMMERUNG

O Crepúsculo dos Deuses

O caos do mundo atual é motivado, em grande parte, pela terrível desigualdade entre os seres humanos. Isso provocou inquietação, o descontentamento das pessoas e contínuas revoltas entre nações e povos. O Planeta Terra está muito atrasado em relação ao desenvolvimento programado para ele. Hoje, deveria haver um Mundo Unido, manifestando harmonia, abundância e paz permanente.

Ao longo dos tempos, grandes apóstolos surgiram, tentando espalhar um evangelho de fé e liberdade. Na maioria das vezes, encontraram o ridículo, a perseguição e a morte. Richard Wagner foi um desses pioneiros da Nova Era. Ele usou seu gênio para esclarecer a humanidade sobre a causa encoberta na crescente turbulência mundial e a cura para ela. Toda a sua mensagem pode ser encontrada no Ciclo do Anel.

Quando alguém é escolhido para executar um serviço abrangente, ele é guiado ao topo da montanha da inspiração para receber sua comissão. Muitas vezes ela é fornecida em uma visão ou por mensagem direta. Em seguida, ele deve ser experimentado e testado, antes de receber a função de mensageiro confiável. Mesmo o Senhor Cristo, Aquele que mostrou o caminho à humanidade, teve que descer entre os seres humanos, está para realizar Seu maior ministério.

E assim aconteceu com Siegfried. Brunilde lhe dá lições de sabedoria sobre as alturas da inspiração; depois, ela o envia para as estradas e caminhos para proclamar as glórias do Novo Dia. Nesta missão, ele vai ao castelo onde vive o rei Gunther e sua irmã, Gutrune, com o mau Hagen, filho do anão Alberich. Hagen preparou Gunther e Gutrune para a vinda de Siegfried, contando-lhes sobre a gloriosa Brunilde e como ela treinou Siegfried para a função que lhe foi destinada. Além disso, Hagen sugere ao rei que ninguém menos que Brunilde seja a companheira adequada para ele; enquanto que, de Gutrune, extrai a promessa de exercer todos os seus artifícios femininos para ajudar a alcançar o fim desejado de conquistar Siegfried por si mesma.

A maldição do Anel ainda se mantém, embora esteja agora na posse de Siegfried. Hagen planeja afastar os jovens da proteção mágica de Brunilde e, assim, livrar-se de sua interferência, ficando livre para obter o Anel. “Então”, ele exclama alegremente, “eu serei o mestre do mundo inteiro!”. Hagen é um antigo conceito familiar que dominou ditadores em todas as épocas. Eles acreditavam que, se pudessem reprimir todo o reconhecimento dos valores espirituais e sufocar os fogos da liberdade, poderiam governar o mundo por meio de suas proezas humanas. Tal é o sonho daqueles que obteriam o poder dentro de uma ordem mundial em rápida desintegração.

Siegfried entra na presença de Gutrune, que lhe dá um copo de hidromel no qual Hagen jogou a “droga do esquecimento”. Enquanto leva a xícara aos lábios, um passarinho avisa sobre o seu conteúdo envenenado, mas ele não lhe dá atenção. Bebe e perde instantaneamente toda a memória da bela donzela que o espera no topo da montanha, porque sob o feitiço da poção ele se apaixona pela mulher sensual e atrativa que está diante dele. Quando Hagen lhe pergunta se entende a linguagem dos pássaros, ele responde, rindo: “Agora que escuto o riso das mulheres, não consigo mais ouvir os passarinhos”.

Não podemos servir a dois senhores ao mesmo tempo. Devemos fazer uma escolha entre a natureza superior e a inferior. Todos os que alcançam um lugar de destaque, riqueza ou liderança são confrontados com o teste sutil de fazer a escolha entre ganho pessoal e autoengrandecimento, por um lado, ou serviço disposto e auto apagamento, por outro. “Todo aquele que for chefe entre vós, que seja seu servo” é uma advertência sussurrada através dos tempos. Infelizmente, poucos têm sido aqueles que, em lugares altos, foram sábios o bastante e fortes o suficiente para cumpri-la.

Siegfried não apenas esquece Brunilde como, sob o disfarce de Gunther, ele a procura e leva ao vale. Lá, ela é forçada a se casar com o verdadeiro Gunther, enquanto ele próprio está casado com Gutrune. Hagen se alegra com o sucesso do seu esquema maligno. Em seguida, ele organiza uma caçada para o entretenimento de Gutrune e Siegfried, durante a qual mata este.

A Jornada do Reno e a Marcha Funeral de Siegfried são dois dos maiores números musicais que destacam o Crepúsculo dos Deuses. Ambos são compostos de vários temas que descrevem os eventos da vida de Siegfried desde o nascimento até a morte, quando estes se desenrolam diante do seu olhar moribundo, em ordem inversa. (Esta fase da ópera foi abordada em detalhes na MÚSICA ESOTÉRICA, com base na participação musical de Richard Wagner).

O esquife onde Siegfried foi posto é colocado no grande salão do castelo, com o Anel ainda brilhando em sua mão. Hagen o reivindica por si próprio. Quando Gunther proíbe que o pegue, ele puxa sua espada e mata seu companheiro de conspiração. Brunilde tira o Anel do dedo de Siegfried e o coloca por conta própria, dizendo: “Agora tomo minha herança por conta própria! Ó, Anel fatal, eu te pego na minha mão para que possa jogar fora. Irmãs Sábias das Águas, filhas sorridentes do Reno, devolvo o que a vós pertence. Levem para vós: as chamas limparão o Anel e a maldição será lavada no rio”.

Hagen pula no rio, gritando: “O Anel é meu! O Anel é meu! Mas ele está muito atrasado. As Donzelas do Reno já recuperaram o Anel. Dois dos espíritos da água o pegam e seguram sob as ondas, enquanto o terceiro devolve o Anel a seu devido lugar. Pela última vez, a música amaldiçoada soa debilmente e não é mais ouvida. As Donzelas do Reno nadam, enquanto cantam alegremente. O ouro do Reno novamente flui livre, porque não está mais sob a maldição do Anel.

A atual Era de materialismo está centrada no eu e meu: tem sido egocêntrica. A Nova Era estará centrada no “nós e nosso”: será altruísta. A Velha enfatizou a individualidade separatista; a Nova enfatizará a unidade coletiva. Chegará o dia em que a ganância e sua inevitável dor não existirão mais. Uma consciência mundial do Todo-Bem prevalecerá, mais uma vez, entre os seres humanos, como aconteceu quando estavam em paz e sem pecado.

Brunilde declara que acenderá a tocha com a qual queimará o esquife de Siegfried entre as torres do Valhalla, o reduto da Antiga Ordem. Então ela o faz. As chamas e a música aumentam cada vez mais, até a Terra parecer uma massa trêmula e crescente de labaredas com sons que sobem até se perderem entre as estrelas. A fumaça se afasta lentamente e as águas do Reno rastejam sobre as brasas fumegantes.

Wotan, o deus de um dia que acabou, olha tristemente para a destruição de Valhalla. Ele percebe que a Ordem Antiga está morta e que ele era o responsável por sua morte. Ele reconhece que seu poder começou a diminuir quando lançou o feitiço do sono em Brunilde (a verdade) e recorda a acusação de Erda, Deusa da Terra: “Tu deverias ser o defensor da verdade, mas foi falso e patrocinou o que é injusto e desleal”. Enquanto observa as brasas moribundas do seu adorado Valhalla, ele murmura consigo mesmo: “Eu não sou mais um servidor; eu sou apenas um observador”.

No entanto, é apenas um modo de vida e não a própria vida que chega ao fim — um modo que foi tão impedido por obstáculos de chegar ao progresso construtivo que o terreno precisou ser limpo para que uma estrada mais ampla pudesse ser construída.

Neste ponto, temos o motivo da promessa: alto, puro, exultante, acima do tumulto das formas estrondosas: é a Redenção pelo Amor, sem dúvida a música mais transcendente e magnífica de todo o Ciclo. É tão pungente e requintada que tira bastante do fôlego do ouvinte. É a melodia que canta no coração de todo pioneiro que trabalha pela liberdade e irmandade; a mesma música que soou no coração daqueles seres humanos corajosos que assinaram a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América em 1776. De fato, é a música que foi cantada por Anjos acima da pequena cidade de Belém, na noite em que nasceu o Abençoado Emancipador, porque é a palestra musical da “Nova Ordem das Eras”, centrada na Paternidade de Deus e na irmandade dos seres humanos.

Richard Wagner dedicou seu trabalho à grande mensagem do Ciclo do Anel com estas palavras: “Meu precioso conhecimento eu lego ao mundo. Não é mais ouro, nem pompa, casas ou tribunais, nem magnificência nobre, nem o engano dos tratados sombrios, nem a lei hipócrita de maneiras duras; entretanto, apenas uma coisinha tão valiosa nos dias bons quanto nos maus — e isso é o Amor”.

F I M


[1] N.T.: em 1961

Idiomas